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MARIA APARECIDA FELICIA LARUCCIA

PARQUES URBANOS E A CIDADE DE SÃO PAULO -


O Parque Estadual Villa Lobos

Dissertação apresentada ao Departamento de Geografia da


Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Universidade de São Paulo, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Geografia Humana.

Área de Concentração: Geografia Humana

Orientadora: Profª Drª Nídia Nacib Pontuschka

São Paulo
Novembro/2004
1
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO

CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Catalogação-na-Publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo

L336 Laruccia, Maria Aparecida Felicia


Parques urbanos e a cidade de São Paulo: o Parque Estadual Villa
Lobos. / Maria Aparecida Felicia Laruccia ; orientadora Nídia Nacib
Pontuschka. – São Paulo, 2004.
205 f. ; il. : maps. : fots.

Dissertação (Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Geografia


Humana) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo.

1. Parques estaduais – São Paulo (SP) 2. Meio ambiente urbano


3. Paisagem urbana 4. Áreas metropolitanas 5. Planejamento territorial
urbano 6. Espaços verdes 7. Parque Estadual Villa Lobos 8. Bairro
Boaçava – São Paulo (SP) I. Título II. Pontuschka, Nídia Nacib

2
Maria Aparecida Felicia Laruccia

PARQUES URBANOS E A CIDADE DE SÃO PAULO -


O Parque Estadual Villa Lobos

Dissertação apresentada ao Departamento de Geografia da


Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Universidade de São Paulo, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Geografia Humana.

Área de Concentração: Geografia Humana

Orientadora: Profª Drª Nídia Nacib Pontuschka

Aprovado em:

Banca Examinadora

Profª Drª Nídia Nacib Pontuschka

Profª Drª Odette Carvalho de Lima Seabra

Profª Drª Catharina Cordeiro Lima

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DEDICATÓRIA

Ao Modesto e Myrte, meus pais, com carinho

A Nídia Nacibi Pontuschka, minha mestra, com administração e carinho

A Paola, minha filha, com amor

ERRATA

Na página 79 onde consta:


 “Foto 1– D. Pedro 4”, deve-se ler: “Foto 1 – Ilha dos Amores”
 “Foto 2– D. Pedro 5”, deve-se ler: “Foto 2 – Ilha dos Amores”

Na página 91 onde consta:


 “Foto 1– D. Pedro II”, deve-se ler: “Foto 1 – Parque D. Pedro II”
 “Foto 2– Pedro 3”, deve-se ler: “Foto 1 – Parque D. Pedro II”

Pelos erros de impressão aqui ficam as nossas desculpas aos leitores.

4
AGRADECIMENTOS

Serei grata eternamente à minha orientadora Nídia Nacib Pontuschka, por quem
tenho grande admiração e carinho e a quem devo
 meu ingresso ao Mestrado e por todos os ensinamentos e crescimentos que
dele vieram,
 pela minha formação como professora de geografia,
 por ter sido muito mais que uma mestra,
 por ter compreendido pacientemente as dificuldades de uma aluna que ficou por
um tempo afastada da Universidade,
 pelas conversas e incentivos constantes que não faltaram, e
 por ter confiado em mim e no meu trabalho.
Devo agradecer especialmente às professoras Catharina Cordeiro Lima da FAU-
USP e Léa Francesconi do Depto. de Geografia da USP, membros da banca de
qualificação, pelas contribuições que, na, ocasião me ofereceram.
Devo estender os agradecimentos ao professor Manoel Seabra pelas reflexões, com
seriedade e competência, no aprofundamento do meu trabalho.
Aos professores Odette Carvalho de Lima Seabra, Nelson Dela Corte e Judite Dela
Corte pelas entrevistas concedidas repletas de reflexões, inerentes a esses
profissionais, e que foi de grande valia para pesquisa.
Agradeço igualmente ao casal Gaspar e Anita Marzzoco, amantes do Parque Villa
Lobos, pela entrevista proporcionada com momentos de alegria e desconcentração.
Ao arquiteto Décio Tozzi pelas informações valiosas sobre seu projeto.
Ao membro da Associação Amigos do Bairro Boaçava pelas informações sobre esta
entidade e por documentos cedidos.
A administração do edifício Villa Lobos que permitiu o acesso ao heliporto para
registro fotográfico aéreo.
Agradeço aos alunos do curso Metodologia do Ensino de Geografia pela
oportunidade de me concederem o contato com o trabalho que realizaram na área de
estudo.

5
Agradeço a Isaias Vieira da Silva por ceder gentilmente seu acervo documental e
pela edição da minha dissertação.
Ao Flávio Scavasin, administrador do Parque Villa Lobos, pelas conversas e material
fotográfico cedido um pouco antes do término desta pesquisa.
A Regina Fátima de Matos do DEPAVE, que se dispôs a conceder entrevista e o
acesso às fontes de documentos.
Agradeço aos colegas do grupo da Pós-Graduação por terem me auxiliado, direta
ou indiretamente, na preparação da dissertação.
A professora Eulina Pacheco Lutfi na orientação para a realização das entrevistas.
A escola Pioneira pela compreensão da minha ausência.
Aos meus irmãos Mauricio e Marcello pelo suporte na informática.
Aos meus irmãos Moacyr e Mylene que torceram por esta pesquisa, mesmo estando
longe.
Finalmente, agradeço com grande admiração aos meus pais Modesto e Myrte, pelo
suporte e apoio incondicional, em todos os sentidos e momentos desta trajetória, que
tornaram possíveis a concretização desse trabalho. Sem esse apoio esse trabalho não
teria se tornado realidade.
E a minha filha Paola que soube, carinhosa e pacientemente ser companheira em
todas as horas no curso de Mestrado, compreendendo a sua importância.

6
“Sim, sou brasileiro e bem brasileiro.
Na minha música eu deixo cantar os rios
e os mares deste grande Brasil.
Eu não ponho mordaça na exuberância
tropical de nossas florestas
e dos nossos céus,
que eu transponho instintivamente
para tudo que escrevo”

Heitor Villa Lobos


(1887-1959)

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RESUMO

O Parque Estadual Villa Lobos, na zona oeste da cidade, no Bairro Boaçava, foi
escolhido como objeto deste estudo.
O objetivo foi analisar a implantação deste parque urbano em determinada área
e buscar averiguar as transformações espaciais e sociais que ocorreram no bairro. Para
tanto, foram estudados os parques urbanos na cidade de São Paulo e no mundo, suas
origens e as diversas funções atribuídas a este equipamento urbano, no decorrer dos
tempos, a fim de contextualizar o significado dos parques na cidade de São Paulo.
O contexto urbano do Parque Estadual Villa Lobos foi analisado na perspectiva
da produção e reprodução do espaço da cidade, do avanço da mancha urbana
ocasionado pela industrialização e urbanização aliados à especulação do mercado de
terras.
O Parque Estadual Villa Lobos foi estudado sob a perspectiva de seu projeto,
usos, manutenção, administração e freqüência e também da transformação espacial e
social que sua construção trouxe para as áreas adjacentes.
O trabalho foi dividido em três capitulos: o primeiro trata da produção e
reprodução dos espaços da cidade realizada pelo Capital com a tutela do governo e
discorre sobre a expansão da mancha urbana da cidade de São Paulo; o segundo trata
da ação do governo e da iniciativa privada no provimento de parques urbanos; o
terceiro aborda a implantação e a manutenção do Parque Villa Lobos assim como as
transformações socioespaciais ocorridas em suas imediações.

Palavras chave: Área Metropolitana - Paisagem Urbana - Espaços Urbanos - Meio


Ambiente Urbano - Bairro Boaçava-São Paulo (SP) - Parque Estadual Villa Lobos-São
Paulo (SP).

8
ABSTRACT

The State Public Park Villa Lobos, in the west zone of the city, in the Boaçava
quarter, was chosen as object of this research.
The objective was to analyze the implantation of this public park in determined
area and search to verify the spatial and social transformations that occurred in the
quarter. For that, it was studied the urban public park of the city of São Paulo and
around the world, by their origins and the several functions attributed to this urban
equipment, in course of time, in order to put on context the meaning of the public park in
the city of São Paulo.
The urban context of the State Public Park Villa Lobos was analyzed in the
perspective of production and reproduction of the city space, from the advance urban
spot occasioned by the industrialization and urbanization allied to the speculation of the
land market.
The State Public Park Villa Lobos was studied under the perspective of its
project, uses, maintenance, administration and frequency; it was also studied by the
spatial and social transformation that its construction has brought to the adjacent areas.
This research was divided in three chapters: the first deals with the production
and reproduction the city spaces performed by the Funds in ward to the government and
it discourses about the expansion of the urban spot of São Paulo city. The second
chapter deals with the governmental action and the private enterprise in the provisioning
of the urban park. The third approaches the implantation and the maintance of the Villa
Lobos State Public Park as well as the socio and spatial transformations occurred in its
immediacies.

Key-word: Metropolitan area – Urban landscape – Urban spaces – Urban environment –


Boaçava Quarter–São Paulo (SP) - The State Public Park Villa Lobos-São Paulo (SP)

9
LISTA DE FOTOS

Edificações ........................................................................................................... 41
Ibirapuera ............................................................................................................ 41
A Avenida Paulista em 1950 ............................................................................. 52
A Avenida Paulista hoje .................................................................................... 52
Jardim da Luz .................................................................................................... 70
Ilha dos Amores ................................................................................................. 79
Ilha dos Amores ................................................................................................. 79
Parque Antártica ................................................................................................ 81
Bosque da Saúde 1940 ..................................................................................... 81
Dom Pedro II ....................................................................................................... 91
Dom Pedro II ....................................................................................................... 91
Parque Ibirapuera ............................................................................................... 107
Retificação do Rio Pinheiros ............................................................................ 129
Meandros do Rio Pinheiros ............................................................................... 129
Imagem aérea do Parque Villa Lobos............................................................... 131
Localização da área do Parque Villa Lobos..................................................... 131
Projeto do Parque Villa Lobos .......................................................................... 146
Parque Villa Lobos ............................................................................................. 164
Parque Villa Lobos ............................................................................................ 164
Áreas vazias a serem ocupadas no Parque Villa Lobos................................. 165
Áreas vazias a serem ocupadas no Parque Villa Lobos ................................ 165
O comércio na frente dos portões do Parque Villa Lobos ............................. 167
Batalhão da Polícia Militar no Parque Villa Lobos .......................................... 167
Entrada do Parque cimentada ......................................................................... 169
Entrada do Parque cimentada .......................................................................... 169
Parque Infantil ................................................................................................... 172
Parque Infantil ................................................................................................... 172
Quadra Poliesportiva ......................................................................................... 173
10
Aparelhos de ginástica ...................................................................................... 173
Lazer .................................................................................................................... 175
Lazer .................................................................................................................... 175
Esporte ............................................................................................................... 176
Esporte ................................................................................................................ 176
Comgás ............................................................................................................... 177

LISTA DE TABELAS

Parques Urbanos (Rosa Grena Kliass)................................................................. 121

LISTA DE FIGURAS

Mapa de divulgação do Parque Villa Lobos.......................................................... 146

LISTA DE IMAGENS DE SATÉLITE

A Mancha urbana (2004)...................................................................................... 48

LISTA DE MAPAS

A evolução da mancha urbana............................................................................. 47


Localização do Parque Villa Lobos....................................................................... 179

SUMÁRIO
11
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 13

CAPÍTULO I – A PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DO ESPAÇO NA CIDADE


DE SÃO PAULO................................................................................................... 21

O ESPAÇO COMO CONDIÇÃO / PRODUTO DE ACUMULAÇÃO.................................................. 27


O ESPAÇO DA REPRODUÇÃO DA VIDA.................................................................................. 34
A METRÓPOLE PAULISTA E AS ÁREAS VERDES DA CIDADE................................................... 40
A CONSTRUÇÃO DA CIDADE DE SÃO PAULO........................................................................ 43
LOGRADOUROS E PARQUES PÚBLICOS 49
A MORFOLOGIA DA CIDADE SE METAMORFOSEIA................................................................ 53

CAPÍTULO II – PARQUES URBANOS E AS TRANSFORMAÇÕES NO


TEMPO.................................................................................................................. 63
OS CONCEITOS DE PARQUES ATRAVÉS DOS TEMPOS........................................................... 66
PARQUES PÚBLICOS URBANOS EM SÃO PAULO................................................................... 69
O MERCADO E A CONSTRUÇÃO DE PARQUES....................................................................... 80
O CRESCIMENTO URBANO-INDUSTRIAL E O LAZER DE MASSA............................................... 98
SÃO PAULO – A MAIOR METRÓPOLE DO PAÍS....................................................................... 108
A MANCHA URBANA AVANÇA E AS ÁREAS VERDES DECRESCEM........................................... 111

CAPÍTULO 3 – O PARQUE VILLA LOBOS – TRANSFORMAÇÕES ESPACIAIS E


SOCIAIS........................................................................................ 122
AS TRANSFORMAÇÕES ESPACIAIS E SOCIAIS ANTES DO PARQUE......................................... 125
O PROJETO E A CONSTRUÇÃO DO PARQUE VILLA LOBOS.................................................... 132
O PARQUE VILLA LOBOS E OS PARQUES EM SÃO PAULO.................................................... 151
O PARQUE VILLA LOBOS E O BAIRRO DE BOAÇAVA............................................................ 153
AS TRANSFORMAÇÕES ESPACIAIS E SOCIAIS APÓS O PARQUE............................................. 157
PARQUE VILLA LOBOS: USOS, INFRA-ESTRUTURA, MANUTENÇÃO........................................ 162

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 180


BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 194
ENTREVISTAS..................................................................................................... 12203
ANEXOS............................................................................................................... 204
INTRODUÇÃO

O Parque Villa Lobos, do qual sou freqüentadora, sempre chamou a minha


atenção pela sua aridez e pela quantidade de concreto existente, sobretudo, em sua
parte frontal, apesar das aléias existentes em seu interior.
Quando pensei em realizar um projeto para candidatar-me à Pós-Graduação na
Geografia, surgiram na mente vários temas que, em princípio, tinham relevância para
mim como pesquisadora. Como interesse pessoal dentre eles constava o Parque Villa
Lobos, o qual foi escolhido para a elaboração de meu projeto inicial.
Ao ingressar no Mestrado comecei a realizar conversas informais na tentativa de
entender um pouco daquele espaço e levantar questões de ordem geográfica sobre ele.
Essas observações permitiram o levantamento de questões específicas sobre o parque
e ao mesmo tempo mostrou a necessidade de entrar em contato com bibliografia que
abordasse problemas de parques urbanos, vinculados a regiões metropolitanas; assim
como a elaboração de uma metodologia de pesquisa, que pudesse me auxiliar no
desvendamento das várias questões que, gradativamente, iam sendo levantadas.
O objetivo maior desta pesquisa é analisar o impacto da implementação de um
parque público urbano num determinado bairro da região metropolitana e averiguar as
transformações espaciais e sociais que ali são desencadeadas.
Analisar os parques urbanos da cidade de São Paulo foi preciso para que
tivéssemos parâmetros no sentido de entender o que vem acontecendo com o Parque
Villa Lobos. Antes de contextualizar os parques na cidade de São Paulo foi realizado
um retrospecto de alguns parques localizados em grades regiões metropolitanas como
em Nova York, Londres e Paris, desde as origens dos parques, assim como as diversas
funções a eles atribuídas no decorrer dos tempos.
Importante igualmente foi conhecer os hábitos de lazer da população de São
Paulo, desde meados do século XIX, a fim de contextualizar o equipamento parque
dentre as opções de lazer em diferentes épocas.
A qualidade de vida na metrópole de São Paulo está comprometida por conta da
urbanização galopante. O crescente processo de aglomeração urbana que ocorreu e
13
vem ocorrendo nesta, uma das maiores metrópoles do mundo, perdendo apenas para
Tóquio, Mumbai e Cidade do México, faz pensar no comprometimento do convívio
humano em nível social e ambiental. Esta abordagem, porém, pensa do lado da vida
das pessoas e da população, mas será que é a melhor para explicar certas
transformações espaciais observadas? A própria criação de um Parque está
diretamente vinculada às necessidades e interesses da reprodução do capital e não da
reprodução da vida? Estes são questionamentos que a pesquisa tentou responder.
A partir da década de 1970, a crescente importância das questões ambientais e
da preservação dos patrimônios culturais e paisagísticos em todo o mundo contribuíram
para revigorar as propostas de valorização das áreas verdes nos centros urbanos e de
conservação dos seus espaços naturais, ganhando notoriedade no Brasil com a
realização da ECO 92 realizada no Rio de Janeiro.
Embora os parques ganhem notoriedade, no município de São Paulo as áreas
destinadas ao lazer são insuficientes para atender à demanda da população, dos seus
1.509 km², apenas 10,2%, são ocupados por áreas verdes, entre públicas e
particulares. Os parques e praças públicas somam 42,3 km² ou 4,23 m² por habitante.
Temos 35 parques urbanos públicos para uma população de, aproximadamente, 12
milhões de habitantes. Estes dados já mostram a urgência da criação de parques e
áreas verdes.
Muitos dos nossos parques não têm tratamento adequado pelas instituições
responsáveis. Verificam-se parques na cidade sem manutenção; com utilizações
indevidas, infra-estrutura insuficiente para população visitante e bosques tornando-se
matagais. Isso é verdadeiro para a cidade de São Paulo. Como garantir a manutenção
das diferentes áreas verdes? Como encaminhar a pesquisa tendo tais considerações
preliminares?
A primeira preocupação era entender o conceito de parque urbano na atualidade,
assim como a trajetória histórica deste equipamento tanto no Brasil como no mundo.
A primeira autora consultada foi Rosa Grená Kliass que trazia seu conceito de
parque além de trabalhar com conceitos de outros autores expoentes deste
conhecimento como Frederick Law Olmsted. Este foi o primeiro contato com o assunto

14
e comecei a reconhecer a importância social deste equipamento urbano para uma
cidade, as sociedades e o capital.
A literatura demonstrou a trajetória histórica dos vários parque surgidos na
cidade de São Paulo, desde o século XIX até a atualidade, simultaneamente, com o
crescimento populacional, seu adensamento e expansão da mancha urbana.
Um outro autor importante no qual embasei este trabalho foi Vladimir Bartalini,
que relata a história da concepção de parque em São Paulo e como essa concepção foi
sendo modificada no decorrer dos tempos com as transformações urbanas. O autor
analisa este equipamento urbano desde o final do século XIX refletindo como os
setores privados e públicos constroem e destroem os parques segundo os interesses
do capital. Bartalini reflete com detalhes a história do. lazer e o interesse da iniciativa
privada em seu provimento e na sua relação com a administração pública, no sentido
de conseguir as concessões. Compara a criação de parques em São Paulo com o resto
do mundo e relaciona-os à história da cidade de São Paulo, baseando-se nos planos,
projetos e quadros técnicos.
A literatura sobre parques foi se ampliando com abordagens e posturas teóricas
diferenciadas, encontradas principalmente nas bibliotecas da geografia e da arquitetura
da Universidade de São Paulo.
Os escritos de Ana Fani Alessandri Carlos revelaram-se de importância pelo
tratamento analítico que dá à produção e reprodução da cidade pelo jogo de interesses
entre Estado, Capital e a tensão existente com a reprodução da vida humana,
buscando explicações para as transformações tão aceleradas que ocorrem na
paisagem, sobretudo, na cidade de São Paulo. A apropriação do espaço pelo capital
resulta em relações sociais cada vez mais esvaziadas. Ana Fani produz um trabalho
teórico baseado, principalmente, na teoria da produção do espaço de Henri Lefebvre.
Odette Carvalho de Lima Seabra analisa a várzea do rio Pinheiros e sua
apropriação pelo setor privado desde o inicio do século XX até os dias atuais,
abordando as atividades econômicas e usos do espaço urbano. A trajetória dessa
ocupação foi importante para conhecermos a parte da várzea onde foi implantado o
Parque Villa Lobos.

15
Amélia Luisa Damiani que também trabalha no campo da Geografia Humana e
tem em Lefebvre um dos destacados autores na orientação teórica de suas pesquisas
sobre o urbano. As reflexões de Damiani tiveram importância na pesquisa porque ao
estudar a apropriação do espaço pela sociedade demonstra que esta é uma prática de
conquista da cidadania.
Para entender a expansão da mancha urbana na cidade, um autor de postura
teórica diferente das autoras mencionadas foi consultado, Francisco Capuano Scarlato,
que estuda a expansão horizontal da cidade e a ampliação da mancha urbana pela
ocupação de áreas vazias, na perspectiva do desenvolvimento industrial e do advento
do automóvel repercutindo no adensamento da malha viária. Francisco traz o histórico
da evolução industrial em São Paulo relacionado ao processo de urbanização, e
expansão da cidade para suas diferentes zonas.
Após essas leituras e outras tantas, o momento de realizar o trabalho de campo
havia chegado. Que orientação dar à pesquisa? Por que o Parque Villa Lobos está
localizado naquela área? O que era o terreno antes de ser o Parque? Como foi no início
do século? Que atividades eram exercidas na várzea do rio Pinheiros? A quem
pertenciam aquelas terras? Como foi a desapropriação da área?
Essas questões encaminharam inicialmente a pesquisa de campo. Agora não só
com observações e conversas informais como já fizera, mas com entrevistas,
observações mais sistematizadas e consultas em acervos documentais específicos que
relatassem a história da construção do Parque.
Foram realizadas observações com registros escritos e fotográficos do Villa
Lobos e das imediações. Foram planejadas visitas em dias alternados da semana e
horários diferentes, como também nos finais de semana e feriados. O intuito foi de
observar a intensidade da freqüência, as camadas sociais que freqüentavam o Parque
em dias e horários diferentes, a sua infra-estrutura e manutenção. O objetivo era
entender o movimento existente no Villa Lobos e as relações estabelecidas entre os
agentes sociais ali presentes fossem como usuários, trabalhadores ou comerciantes
que desenvolvem seu trabalho à frente de seus portões principais.
A seguir, fez-se a tentativa de entrar em contato com as instituições
responsáveis pelos parques e áreas verdes de São Paulo e especificamente, do Villa

16
Lobos. O DEPAVE (Departamento de Parques e áreas verdes) da Secretaria Municipal
do Meio Ambiente, órgão visitado, forneceu o panorama dos parques na cidade e as
propostas de futuros projetos. A Secretaria do Estado de Esportes e Turismo, em 2002,
responsável pelo Villa Lobos, na época, não concedeu entrevista. Desde o início de
2004, o órgão responsável por esse Parque é a Secretaria de Estado do Meio
Ambiente, e seu administrador é o Senhor Flávio Scavasin, que concedeu entrevista
relatando a situação atual e futuras melhorias a serem implantadas.
Na fase seguinte da pesquisa de campo foram significativas as entrevistas com
moradores do Bairro Boaçava, que revelaram a relação da comunidade com o Parque,
as interferências que o elemento Parque ocasionou no espaço cotidiano dos residentes,
assim como suas críticas, aspirações e os desejos dos entrevistados em relação ao
Parque. Dentre os entrevistados do Boaçava havia pessoas que tinham maior
intimidade com o interior do Parque e moradores que tinham pouco ou nenhum contato
com o seu interior e também moradores, do outro lado da avenida, no bairro de Vila
Leopoldina que, com exceção das crianças, revelaram ir raramente ao Parque.
Um membro da Associação Amigos do Boaçava relatou sobre os transtornos
causados aos moradores do bairro pelo uso indevido que o espaço Parque Villa Lobos
vinha tendo e sobre o movimento da Associação contra estes usos.
O autor do projeto do Parque Villa Lobos, o arquiteto Décio Tozzi relatou com
detalhes a origem da concepção do projeto, a articulação política para a construção do
Parque, a razão da escolha do nome e do tema musical e, principalmente, os
acontecimentos contraditórios da desapropriação da área.
Boaçava é um bairro residencial com predomínio de classe média-alta e alta, que
teve seu início, há aproximadamente 35 anos, ali foram entrevistados moradores
freqüentadores ou não do Villa Lobos: os professores e geógrafos Odette Carvalho de
Lima Seabra, Manoel Fernando Gonçalves Seabra, Judite de La Corte, Nelson de La
Corte, a bióloga Anita Marzzoco, o médico nefrologista José Gaspar Marzzoco trabalha
no Posto de Saúde da região e se utiliza do parque para realizar atividades corporais e
de relaxamento com seus pacientes e outras pessoas que não permitiram a divulgação
de seus nomes, embora tenham dado informações preciosas para a pesquisa.

17
Do lado da Vila Leopoldina, bairro de estratos sociais de poder aquisitivo bem
mais baixo foram realizadas entrevistas pelos alunos do curso de Licenciatura de
Geografia, sob a responsabilidade da Professora Nídia Nacib Pontuschka. com
objetivos diferentes aos realizados por esta pesquisadora, pois as entrevistas versavam
sobre o bairro e suas relações com a Escola Estadual "Dilermando Dias dos Santos",
mas que puderam ser aproveitadas porque no elenco das questões havia itens que
buscavam saber sobre as mudanças ocorridas naquele espaço e a relação que tinham
com o Parque Villa Lobos.
O conjunto dessas entrevistas ofereceram subsídios para a pesquisa, uma vez
que além de moradores antigos no bairro – vinte a trinta anos -, relataram sua relação
com o Parque e como vivenciaram as transformações espaciais ocorridas no Boaçava e
nas vizinhanças.
Era preciso saber o que a mídia colocou sobre o Parque durante a sua
inauguração e nos entreveros posteriores relacionados com a desapropriação de parte
do terreno e a compra de seu antigo "dono". Para desvendar o processo foram
consultados jornais e revistas de grande circulação que continham matéria sobre o
projeto.
Após a pesquisa bibliográfica e de campo, algumas questões começaram a
nortear o trabalho. Quais foram as transformações espaciais e sociais que a construção
do Parque Villa Lobos trouxe para a área? Qual a relação dos setores públicos na
construção de parques e especificamente do Parque Villa Lobos? Por que o setor
privado participa no provimento de equipamentos de lazer para a população? Qual o
interesse? Por que o Parque Villa Lobos foi entregue inacabado e o projeto não
concretizado? Como o Parque Villa Lobos interferiu na vida dos moradores do Bairro
Boaçava? Quais são os usos que se faz no Parque hoje? Como e quem faz a
manutenção do Parque? Qual o imaginário e vontades dos freqüentadores?
O texto está estruturado em três capítulos, acrescidos da introdução e das
considerações finais.
O primeiro capítulo denominado A produção do espaço na cidade de São Paulo
é mais teórico e aborda a produção e reprodução do espaço da cidade de São Paulo,
no qual é discutido o processo de sua apropriação no embate entre capital e trabalho.

18
Ele busca mostrar como o mercado se apropria do espaço de vida das populações,
reduzindo as relações sociais estabelecidas. Aborda também as transformações
espaciais urbanas que são constantes, mudando a paisagem urbana, às vezes, em
ritmo acelerado conforme o interesse dos grupos ligados ao capital. Neste texto, ainda
há a preocupação em mostrar como o processo de industrialização da cidade está
relacionado com o de urbanização e da especulação imobiliária, ocupando espaços
antes vazios, mas integrados aos interesses capitalistas e promovendo o avanço
horizontal da cidade de São Paulo, adensando as áreas ocupadas em tempos
anteriores através da verticalização e complexização da malha viária.
O segundo capítulo Parques Urbanos e a s transformações no tempo trata da
instalação de Parques urbanos nas grandes metrópoles e mostra as inúmeras
concepções sobre este equipamento urbano no Brasil e no mundo, faz um retrospecto
desde suas origens até os dias atuais.. Apresenta a relação do setor público no
provimento de parques e contextualiza este equipamento dentre as atividades de lazer
existentes em cada época. Mostra também o lazer ofertado pelos setores privados e a
ausência, muitas vezes, do setor público na criação e sobretudo, em sua manutenção.
O terceiro capítulo O Parque Villa Lobos - construção, apropriação e embates faz
um estudo de caso do Parque Villa Lobos, localizado na zona oeste da cidade de São
Paulo, aproveitando-se das análises dos dois primeiros capítulos. Enquanto os
capítulos iniciais foram o produto de reflexões levantadas por meio de trabalhos
escritos, este texto é fruto de uma metodologia diferenciada baseada, principalmente,
em entrevistas com os moradores do entorno do Parque, com o arquiteto responsável
pelo Projeto aprovado e com os órgãos estaduais gestores. Essas entrevistas mostram
as relações dos vários agentes sociais que se embrenharam nas discussões sobre o
Projeto Parque, relatando a história da formação do bairro e a trajetória do local em que
o Parque foi construído, desde as primeiras atividades como porto de areia, bota fora
e, a seguir, o Parque em um processo de embate político, pela apropriação daquele
local para a sua construção. O Villa Lobos visava ser um espaço para a população, mas
salvaguardando os interesses dos empresários que conseguiram mudar até mesmo a
lei de zoneamento para a área, a fim de construir um shopping. Trata das
transformações espaciais e sociais que ocorreram com a implantação do Parque. Os

19
anos de 1990, a pesquisa também analisa questões ligadas à infra-estrutura e à
manutenção; os usos indevidos que fogem à proposta inicial, as aspirações e os
desejos dos freqüentadores, desde a abertura ao público até os dias atuais.

20
Capítulo I - A PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DO ESPAÇO NA
CIDADE DE SÃO PAULO

21
A produção e reprodução do espaço na cidade de São Paulo

Compreender como a sociedade produz e reproduz a cidade e a forma pela qual


a sociedade se relaciona e se apropria do espaço, produzindo-o, é compreender a
metrópole e sua morfologia atual.
Segundo DAMIANI (1999b), conhecer o espaço é conhecer a rede de relações a
que se está sujeito, da qual se é sujeito. Ter acesso a esse conhecimento é ter o
domínio das próprias condições de vida o que permite caminhar para a prática da
cidadania. O contrato de cidadania, segundo Groupe de Navarrenx propõe a cidadania
definida “para cada indivíduo e para cada grupo social, como possibilidade (como
direito) de conhecer e dominar (pessoal e coletivamente) suas condições de existência
(materiais e intelectuais), e isto como ator político, como produtor e como citadino-
usuário-consumidor...”
O cidadão se definiria como tal, quando vive a condição de seu espaço enquanto
espaço social, reconhecendo sua produção e se reconhecendo nela. É infracidadão
aquele que não se reconhece em sua obra e vivencia, de forma alienada, suas relações
humanas, sendo seu espaço vivido reduzido ao espaço geométrico. Essa restrição da
vivência não atinge somente os mais pobres, embora os alcance preferencialmente. Os
termos da produção do espaço envolvem a redefinição da qualidade dos espaços
produzidos. Prevalecem os espaços redutores, que já não são espaços de vida, mas
espaços ressecados de relações sociais e afetivas reduzidas.
Para Lefebvre (1986), deve-se “pensar” a cidade como lugar onde grupos podem
reencontrar-se, onde haja conflitos, mas também alianças, onde eles concorram a uma
obra coletiva, onde o direito à cidade se coloque como participação de todos no
controle e na gestão da cidade e na plena participação social, onde a diferença se
realize na obra como atividade criadora.
É possível realizar um trabalho educativo, visando esclarecer os indivíduos sobre
sua condição de cidadãos, quando se apropriam do mundo, do país, da cidade, da casa
e ao mesmo tempo, decifrando os inúmeros limites decorrentes das alienações. É
importante faze-los reconhecer a si mesmos como sujeitos sociais, cidadãos.

22
A análise da metrópole se dará a partir das relações sociais estabelecidas que
constroem o espaço. Segundo CARLOS a apropriação na prática socioespacial ocorre
de forma desigual e com segregações, porque as relações sociais são hierarquizadas e
divididas em classes.
A forma desigual de apropriação dos espaços da cidade vai revelar uma luta
intensa constituída de conflitos, afrontamentos-confrontações, desejos, entre outros.
As relações sociais se compõem de elementos que compreendem o da
dominação política, o da acumulação do capital e da realização da vida humana, que se
modificam num processo contínuo, modificando a cidade. As relações sociais ocorrem
em um lugar determinado, sem a qual não se concretizariam, em um tempo fixado ou
determinado que marcaria a duração da ação, transformando-se ao longo dos tempos.
As mudanças dependem da articulação daquilo que Lefebvre chama de ordem
próxima e ordem distante. De um lado, transformações que se estabelecem no plano do
vivido, o lugar como momento de reprodução da vida, e, de outro, a mundialidade que
se constitui determinando padrões, concretizando-se na ordem próxima. É no plano do
processo de reprodução que a análise da realidade urbana envolve o cotidiano, que
aparece como produto histórico.
Assim, a gestação da sociedade urbana determina novos padrões que se
impõem de fora para dentro, pelo poder da constituição da sociedade de consumo
(assentada em modelos de comportamento e valores que se pretendem universais,
pelo desenvolvimento da mídia, que ajuda a impor os padrões e parâmetros para a
vida, pela rede de comunicação que aproxima os homens e lugares), em um espaço-
tempo diferenciado e desigual. O choque entre o que existe e o que impõe como novo
está na base das transformações da metrópole, onde os lugares vão-se integrando de
modo sucessivo e simultâneo com uma nova lógica, aprofundando as contradições
entre o centro e a periferia.
Ao mesmo tempo em que a produção do espaço realiza um movimento que
constitui o processo de mundialização da sociedade urbana, acentua-se a
fragmentação tanto do espaço quanto do indivíduo.
Hoje se acelera a industrialização do espaço, capturado como mercadoria de
primeira. A casa de cada um entra no circuito das trocas, de forma privilegiada, e deixa

23
de ser, irrevogavelmente, de todos ou de qualquer um. A perda do espaço da casa está
entre as perdas do homem atual, que sofre também a perda da cidade, segregado nas
periferias que está, em maioria.
Nesse processo se delineia a tendência à submissão dos modos de apropriação
do espaço ao mundo da mercadoria; conseqüentemente, o esvaziamento das relações
sociais, pela redução do conteúdo da prática socioespacial. Nesse plano da realidade, o
lugar da vida, transformado, adquire a característica de um espaço amnésico em sua
relação direta com o tempo efêmero. É a expressão do movimento cadenciado da
reprodução do capital, trabalho social concreto, materialização de relações sociais,
econômicas, políticas e jurídicas que produzem o espaço como forma de apropriação,
modo de pensar e de sentir, constituindo-se como prática socioespacial, no momento
atual.
O espaço na metrópole é apropriado pela iniciativa privada com aparato do
Estado, no sentido de viabilizar os processos de produção, distribuição, circulação,
troca e consumo e, com isso, permitir que o ciclo do capital se desenvolva e possibilite
a continuidade da produção, logo, sua reprodução. Para o habitante o espaço é
reduzido ou resta a periferia, expulsado pela ação do Estado, criando um espaço de
dominação. A perda do espaço para o sujeito é a perda do cidadão no mundo, é a
perda da cidadania. Então surge o paria, a sujeição, a frustração.
O Estado em comunhão com o capital tem o poder de modificar o uso, a função
e o sentido dos lugares e, com isso, interfere nos modos de apropriação da vida, pois o
processo de produção da vida também e principalmente se dá, assim como os outros
elementos sociais (Estado e Capital), pela apropriação do espaço. Aqui, o indivíduo
perde ou fica reduzido a um de seus pertences mais caros: o lugar, o solo, a cidade,
enfim, a memória social (não-identidade metropolitana).
O lugar é, assim, a porção do espaço apropriável para a vida, pois criam
possibilidades de encontro e guardam uma significação como elementos de
sociabilidade, criando laços profundos de identidade, habitante-habitante e habitante-
lugar, marcada pela presença. São portanto, os lugares que o homem habita dentro da
cidade e que dizem respeito a sua vida cotidiana, lugares como condições da vida, que
vão ganhando o significado dado pelo uso (em suas possibilidades e limites). São as

24
relações que criam o sentido dos lugares na metrópole. A relação habitante-lugar é
produtora de identidade do indivíduo. Limitar seu uso é reduzir a vida a atos sem
significados.
Neste plano, há uma ordem estabelecida que define o modo como a cidade vai-
se reproduzindo a partir da reprodução, realizada pela ação dos promotores
imobiliários, das estratégias do sistema financeiro e da gestão política orientando e
organizando o processo de reprodução espacial por meio da realização da divisão
socioespacial do trabalho, da hierarquização dos lugares e da fragmentação dos
espaços vendidos e comprados no mercado.
A mobilização do espaço tornou frenético o fluxo de capital, produzindo a
destruição dos antigos lugares tornando-os homogêneos, em função da realização de
interesses imediatos em nome de um presente programado e lucrativo, trazendo como
conseqüência a mudança nos usos e funções de áreas que passam a fazer parte,
novamente, do fluxo do valor de troca. É a necessidade de expansão desenfreada
proveniente da acumulação de capital, que reproduz o espaço metropolitano em seu
processo de implosão.
A aliança entre o Estado e os setores modernos da economia contorna a barreira
que o processo de urbanização elevou ao plano do desenvolvimento de uma área de
expansão do centro empresarial-comercial de São Paulo, voltado à construção de
edifícios de escritórios e de infra-estrutura compatível.
A contradição no processo de reprodução espacial está entre a eliminação
substancial e a manutenção persistente dos lugares de encontros e reencontros, da
festa da apropriação do público para a vida.
O espaço reproduzido na perspectiva do eminentemente reprodutível é o campo
em que triunfa o homogêneo, conseqüência da repetição indefinida de um modelo que
vai limitando os usos e reduzindo o modo de vida a atos e gestos sempre repetitivos,
comportamentos orientados e vigiados. A acumulação tende a produzir uma
racionalidade homogeneizante inerente ao processo, que não se realiza apenas
produzindo objeto/mercadorias, mas a divisão e organização do trabalho, modelos de
comportamentos e valores que induzem ao consumo, revelando-se como norteadores
da vida cotidiana. Desse modo, esta se apresenta, tendencialmente, invadida por um

25
sistema regulador, em todos os níveis, que formaliza e fixa as relações sociais,
reduzindo-as a formas abstratas.
Como conseqüência desse processo, da normatização das relações sociais, da
rarefação dos lugares de encontros decorrentes das mudanças na morfologia da
metrópole, estabelece-se o estranhamento do indivíduo na metrópole. Nesse sentido, a
vida urbana impõe conflitos e confrontos e aponta para a instauração do cotidiano, em
que a atomização, ao mesmo tempo em que a superorganização da vida se impõe sem
resistência.
Campo da auto-regulação voluntária e planificada, o cotidiano aparece como
construção da sociedade, que se organiza segundo uma ordem fortemente
burocratizada, preenchida por repressões e coações imperceptíveis no lugar, revelando
articulações espaciais mais amplas (o plano do local se acha cada vez mais invadido
pelo plano global).
O cotidiano também se liga à noção de reprodução. A reprodução tem o sentido
da constante produção das relações sociais estabelecidas a partir de práticas espaciais
como acumulação, preservação, renovação. Os problemas postos pela urbanização
ocorrem no âmbito do processo de reprodução geral da sociedade. Por isso mesmo a
mundialização também produz modelos éticos, estéticos, gostos, valores, moda,
constituindo-se como elemento orientador, fundamental à reprodução das relações
sociais. Se de um lado esse processo ocorre em lugares determinados do espaço,
manifesta-se, concretamente, no plano da vida cotidiana.
O cotidiano se estabelece por meio do conflito entre a imposição de novos
modelos culturais e de comportamento, agora invadidos pelo mundo como mercadoria
estabelecida no plano do mundial, e pelas especificidades da vida no lugar com a
persistência de antigas relações.
O plano da produção articula a produção voltada para o desenvolvimento das
relações de produção de mercadorias e da produção da vida.
No plano da produção da vida, a noção de produção se vincula a produção do
homem, às condições de vida da sociedade, em sua multiplicidade de aspectos, e como
é por ela determinado. A noção de produção está articulada àquela de reprodução das

26
relações sociais lato sensu – em determinado tempo e lugar. Abrange o mundo da
mercadoria, trabalho, habitar, lazer, à vida privada.
No plano da reprodução de mercadorias, o processo envolve o reprodutível e o
repetitivo, referindo-se, diretamente, à atividade produtiva (bens materiais e imateriais),
que realiza coisas no espaço (criando as condições para a realização das atividades)
ao mesmo tempo que produz o espaço como mercadoria. Esse desenvolvimento tem
potencializado a aglomeração como exigência técnica decorrente ora do gigantismo das
unidades produtivas, ora da constituição de unidades complexas, pela formação do
capital financeiro, que comanda as operações e pelo processo crescente de
internacionalização do capital e mundialização das trocas.
Para efeito de análise da produção e reprodução da metrópole é necessário
separar em dois planos os elementos que constituem as relações sociais que produzem
o espaço: o espaço como condição/produto da acumulação e o espaço da reprodução
da vida. Em primeiro abordaremos sobre o espaço da acumulação e posteriormente o
espaço da vida.

O espaço como condição/produto da acumulação

A reprodução do ciclo do capital exige, em cada momento histórico,


determinadas condições especiais. A dinâmica da economia metropolitana, antes
baseada no setor produtivo industrial, vem-se apoiando, agora, no amplo crescimento
do setor terciário moderno – serviços, comércio, setor financeiro -, como condição de
desenvolvimento, em uma economia globalizada. Tal transformação requer a produção
de outro espaço, condição da acumulação, que se realiza a partir da expansão da área
central da metrópole (até então lugar precípuo à realização dessa atividade) em direção
à região Sudoeste da metrópole. As áreas tradicionais se encontram densamente
ocupadas, o sistema viário congestionado; além disso, os novos padrões de
competitividade da economia, apoiada em um profundo desenvolvimento técnico, impõe
outros parâmetros para o desenvolvimento dessa atividade. A superação dessa
situação requer a construção de um novo espaço, como área de expansão, porque a
27
centralidade é fundamental nesse tipo de atividade, não podendo instalar-se em
qualquer lugar do espaço metropolitano. Todavia, na metrópole capitalista, densamente
edificada, a expansão dessa área não se fará sem problema.
Em primeiro lugar porque a ocupação do espaço se realizou sob a égide da
propriedade privada do solo urbano, onde o espaço fragmentado é vendido em
pedaços, tornando-se intercambiável a partir de operações que se realizam no
mercado. Tendencialmente produzido como mercadoria, o espaço entra no circuito da
troca, generalizando-se em sua dimensão de mercadoria. Por outro lado, o espaço se
reproduz como condição da produção, atraindo capitais que migram de um setor da
economia para outro de modo a viabilizar a reprodução.
No momento atual do processo histórico, a reprodução espacial, com a
generalização da urbanização, produz uma nova contradição: aquela que se refere à
diferença entre a antiga possibilidade de ocupar áreas como lugares de expansão da
mancha urbana (com o parcelamento de antigas chácaras ou fazendas, caso de muitos
bairros na metrópole) e sua presente impossibilidade diante da escassez. Nesse
processo, o espaço, na condição de valor, entra no circuito da troca geral da sociedade
(produção/repartição/distribuição), fazendo parte da reprodução da riqueza e
constituindo raridade. Vivemos, hoje, um momento do processo de reprodução em que
a propriedade privada do solo urbano – condição da reprodução da cidade sob a égide
do capitalismo – passa a ser um limite à expansão econômica capitalista.
O processo de reprodução do espaço urbano em São Paulo, a existência da
propriedade privada do solo urbano é um dos elementos geradores da raridade do
espaço em lugares específicos da metrópole paulista que entram em choque com as
necessidades da reprodução do espaço para a realização do capital – mas não é uma
condição suficiente: a raridade não ocorre em qualquer lugar da metrópole, mas em
determinados pontos, associada à centralidade, no contexto determinado do processo
de urbanização.
Nesse contexto o desenvolvimento do ciclo do capital necessita de uma aliança
com o poder político, na medida em que só este pode atuar em grandes parcelas do
espaço, produzir infra-estrutura e “colocar em suspensão” o estatuto da propriedade
privada do solo urbano, liberando as áreas ocupadas para novas atividades.

28
Essa necessidade – que aparece como condição de realização da reprodução –
é produto do fato de que determinada atividade econômica só pode realizar-se em
determinados lugares do espaço da metrópole, enquanto o uso para moradia é mais
flexível. É exatamente nesses lugares que o espaço se torna raro, entrando em
contradição com as necessidades de reprodução.
A realização da Operação Urbana Faria Lima (OUFL) na metrópole São Paulo,
acabou por representar a conquista de importante parcela do espaço, que antes
ocupado por residências, que, ao se libertar das amarras impostas pela propriedade
privada, pode ser lançado novamente no mercado imobiliário, impelido pelas mudanças
da função da área decorrentes das desapropriações, da construção do sistema viário,
das mudanças no uso do solo e da lei de zoneamento, que permitiram a verticalização.
A criação desse espaço como prolongamento do eixo empresarial e de lazer a partir de
novas estratégias interfere na produção de novas centralidades, tendo em vista que
produzem pólos de atração que redimensionam o fluxo das pessoas no espaço, por
meio de mudanças no uso.
O processo de transformação espacial promovido pela realização da OUFL traz
profundas metamorfoses ao plano de realização da vida cotidiana dos habitantes das
áreas atingidas. Bairros inteiros foram descaracterizados ou mesmo destruídos pela
necessidade de expansão desenfreada proveniente da acumulação de capital, que
reproduz o espaço metropolitano em seu processo de explosão/implosão.
As transformações provocadas no espaço paulistano pela operação urbana, que
aparece como extensão da então avenida Brigadeiro Faria Lima, atingindo três bairros
da capital, não se limitam à ampliação do sistema viário, surgindo no plano da prática
socioespacial como alteração da morfologia urbana pela transformação dos usos e
funções das áreas afetadas, que provocou o fenômeno da implosão dos bairros.
Nesse processo, a necessidade de expansão das áreas construídas voltadas ao
setor de serviços na metrópole, em direção ao sudoeste, “tropeça” na existência de dois
bairros residenciais consolidados, que se elevam como barreira (Itaim e Vila Olímpia),
que, nesse trecho, apresentavam ocupação residencial horizontal, com casas
construídas em terrenos pequenos, muitas delas em vilas ocupadas por antigos
moradores. Havia uma certa estabilidade no mercado imobiliário; o que significa que a

29
propriedade mudava pouco de mãos, pois a dinâmica do mercado estava na
dependência dos pequenos proprietários.
O processo aparece sob a forma de uma operação urbana, que aparece como
estratégia de intervenção espacial, em que uma parcela significativa de solo urbano
ocupado é liberada para outro uso, com a destruição de imóveis e o deslocamento
(e/ou expulsão) dos habitantes. No caso em questão o Estado se utiliza de seu poder
de planejador para, “em nome do interesse público”, desapropriar áreas imensas da
metrópole (fazendo a terra mudar de mãos), instalando, na seqüência, a infra-estrutura
necessária ao desenvolvimento da nova atividade, e, com isso, mudando o uso, a
função e o sentido dos lugares.
Esse processo não só permite o estabelecimento de uma nova atividade no lugar
– o que gera a transformação do uso residencial (substituída pela de serviços), mas
sobretudo desencadeia um processo de valorização do solo urbano por meio dos
investimentos em infra-estrutura e do aumento do potencial construtivo da área (até
então interditada pela lei de zoneamento vigente na cidade). A essa situação ainda se
deve acrescentar o fato de que as mudanças na área obrigam antigos proprietários a
vender suas pequenas propriedades, criando um aquecimento no mercado imobiliário.
Com isso, novas áreas readquirem o valor de troca, redefinidas por sua trocabilidade.
Nesse contexto as parcelas do espaço, sob a forma de mercadoria, encadeiam-se ao
longo dos circuitos da troca a partir de uma estratégia e de uma lógica que
transcendem o livre jogo do mercado. A possibilidade de remembramento de lotes,
antes ocupados por pequenas casas, sinaliza os processos atuais que transformam a
metrópole em meio de realização da acumulação por meio das transformações na
propriedade privada do solo urbano. Assim, com estratégias bem definidas, o solo
urbano muda de proprietários, o que garante a reprodução espacial segundo as
necessidades da reprodução do capital.
Com esse processo se constitui em São Paulo um novo eixo empresarial que
contorna a contradição provocada pelo fenômeno da raridade do espaço, pela
interferência do Estado no livre jogo do mercado imobiliário, por meio de mecanismo de
gestão capazes de “criar novos espaços”. A extensão do processo de mercantilização
do espaço produz uma mobilização frenética do capital no espaço, desencadeada pelos

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promotores imobiliários, que leva à deterioração ou mesmo à destruição de antigos
lugares (que passam a fazer parte do fluxo de realização do valor de troca), como
decorrência da realização de interesses imediatos, em nome de um presente
programado e lucrativo. Produz-se com isso a especialização dos lugares,
determinando e redirecionando fluxos, produzindo centralidades novas.
Desse modo, o espaço dominado, controlado, impõe novos modos de
apropriação, pelo estabelecimento de novos usos que excluem/incluem os habitantes. A
operação urbana foi o mecanismo encontrado para contornar o problema da raridade
do espaço e superar os limites impostos pela propriedade privada, em determinado
momento do processo de reprodução espacial da metrópole, e que, ao fazê-lo, redefine
os modos de apropriação passíveis de serem lidos na vida cotidiana. Esta, com a
intervenção do Estado, ganha novas matizes, uma vez que as possibilidades de uso do
espaço – que repousa na propriedade privada do solo – se alimentam, em uma
metrópole superedificada de transformações do Plano Diretor, sob a tutela do Estado.
Por sua vez, esse processo aprofunda outra contradição do espaço, qual seja, a
passagem do espaço produzido como valor de uso para um espaço que se reproduz
visando a realização do valor de troca.
Em São Paulo, o Executivo vem recorrendo às operações urbanas e/ou
operações interligadas (atualmente suspensas) para permitir transformações no uso do
solo da metrópole em lugares proibidos pelo plano diretor (que disciplina o uso do solo
urbano), o que causa mudanças pontuais, mas profundas, no uso do espaço
metropolitano. Nesse contexto, torna-se necessário contornar não apenas a existência
da propriedade privada, mas também as limitações existentes no Plano Diretor da
cidade.
Nessa perspectiva, a operação urbana, que aparece como instrumento de
gestão, revela uma estratégia pela qual o Estado se estende à sociedade pelo nível da
reprodução do espaço, revelando o fato de que a compra e venda do solo urbano não é
deixada somente ao livre jogo do mercado imobiliário, o que significa dizer que a
reprodução espacial, na metrópole, reflete um pensamento institucionalizado, já que o
espaço aparece como instrumento político intencionalmente manipulado, como
estratégico, nas mãos do poder. Nesse sentido a intervenção do Estado é imperativa à

31
reprodução ampliada do capital; é onde a operação urbana revela uma aliança de
compromissos entre promotores imobiliários (aliados à indústria da construção), o setor
financeiro (que tem no imóvel um elemento de investimento) e o poder de dominação
do Estado, que, ao reorientar o processo de produção do espaço, permite a reprodução
das relações sociais, em outro patamar. Desse modo, a OUFL aparece como estratégia
espacial imposta pelos imperativos da reprodução.
Com extensão da avenida Brigadeiro Faria Lima se instala em São Paulo um
eixo viário que surge como possibilidade de um amplo campo de investimento,
produzido como condição da realização da atividade econômica que se expande. Novo
modo pelo qual a propriedade privada vai-se realizar como investimento, em uma
economia globalizada. Aqui o espaço aparece como espaço objetivo e neutro dos
planejadores, encobrindo-se em uma névoa de “racionalidade”, exigência de uma
economia que ruma para o século XXI. Com isso se encobre a contradição que existe a
partir dos interesses diferenciados de classes conflitantes – idéias e interesses -,
alojados em níveis diferenciados da reprodução, dissimulando as contradições no
interior do processo de reprodução do espaço urbano.
Essas contradições explodem na vida cotidiana no plano da apropriação do
espaço, em que os usos se deparam com a questão da raridade dos lugares no espaço
para a reprodução do capital; com isso, o choque é eminente.
A localização dos modernos escritórios na cidade de São Paulo revela uma
atividade que requer a concentração, o que gera uma centralidade efetiva. As
exigências de um novo eixo empresarial na metrópole, em virtude das transformações
do processo de produção, criam a necessidade de um espaço determinado, com
características que permitam não só o adensamento da região com a construção em
altura, mas com moderna tecnologia, apoiada em densa rede viária, ligando pontos-
chaves da metrópole, como a proximidade com o aeroporto e serviços novos. O eixo
empresarial que se vinha esboçando ainda de forma interrompida no espaço ganha
com a OUFL o que lhe faltava: contigüidade espacial e, com isso, a articulação entre
pontos de concentração dos serviços. Assim, realiza-se uma nova centralidade tendo
por base a concentração do setor financeiro, serviços, sedes de indústrias em
escritórios construídos para esse fim específico, com uma tecnologia definida para esse

32
tipo de atividade, em um mercado globalizado, em decorrência de novas demandas do
setor produtivo.
Esse espaço inicialmente se constitui como centro que entra em disputa com os
centros tradicionais – caso do centro histórico da cidade e da região da avenida
Paulista -, mas se trata efetivamente de um movimento de expansão e deslocamento e
não de criação de “outra coisa”. Na realidade a extensão da avenida liga dois
subcentros de escritórios em São Paulo, criando uma área de expansão que se
constitui no eixo empresarial, o que significa dizer que o fenômeno da raridade se
associa ao da centralidade e das necessidades de sua área de expansão. A
centralidade da atividade econômica faz com que importantes transformações espaciais
ocorram iluminando o jogo estratégico de classes diferenciadas da sociedade urbana.
É conveniente insistir que o espaço geográfico articula duas dimensões: a da
localização (de um ponto no mapa) e a que dá conteúdo a essa localização, que
qualifica e singulariza o lugar, dando-lhe conteúdo. Este é determinado pelas relações
sociais que aí se estabelecem – o que confere ao espaço a característica de produto
social e histórico. Mas, por ter uma materialidade indiscutível, o processo espacial
possui uma dimensão aparente, visível, que se materializa na morfologia marcada pela
heterogeneidade própria dos lugares, mas que também aponta o reprodutível. Nesse
caso o mundo de imagens, formas e aparências aponta para a tendência à
homogeneização de nossa sociedade, que pode ser mais bem apreciada na paisagem
urbana da grande metrópole.
Convém sublinhar que as estratégias que percorrem o processo de reprodução
espacial são estratégias de classe, desejos e necessidades diferenciados, o que torna
as estratégias conflitantes. O Estado, por sua vez, desenvolve estratégias que orientam
e asseguram a reprodução das relações no espaço inteiro (elemento que se encontra
na base da construção de sua racionalidade). Assim o espaço se revela como
instrumento político intencionalmente organizado, e manipulado pelo Estado; é portanto
meio e poder nas mãos de uma classe dominante que diz representar a sociedade, sem
abdicar de objetivos próprios de dominação. Nessa perspectiva, o Estado, por meio da
OUFL, reorganiza as relações sociais e de produção. A socialização da sociedade, que
tem por essência a urbanização, revela-se na planificação racional do espaço,

33
organizando o território da produção. Desse modo, as contradições da apropriação para
a realização da vida humana entram em conflito com as dos grupos sociais que
exploram o espaço como condição da reprodução do capital.
A OUFL se inscreve, assim, em um conjunto de estratégias políticas, imobiliárias
e financeiras, com orientação significativa no processo de reprodução espacial, que
converge para a segregação e a hierarquização no espaço a partir da destruição da
morfologia de uma área da metrópole que ameaça/transforma a vida urbana,
reorientando usos, estruturas e funções dos lugares da cidade. Isto porque cada projeto
de renovação urbana não realça somente a questão das “estruturas existentes na
sociedade, as relações imediatas (individuais) e cotidianas, mas também aquela que se
pretende impor pela via da coação e institucional ao resto da realidade urbana”
(LEFEBVRE, 1974, p.16).
Desse modo, a operação urbana estabelece uma estratégia espacial de
dominação em aliança com setores econômicos, o que, de um lado, revela a imposição
do setor imobiliário como elemento dinâmico da economia, tornando patente a
mobilização da riqueza fundiária e imobiliária, compreendida como extensão do
capitalismo financeiro; de outro, as transformações recentes da economia capitalista, a
entrada do setor da construção civil no circuito industrial moderno, associada ao
desenvolvimento maciço da tecnologia em função da imposição dos novos padrões de
realização da atividade econômica nas cidades mundiais.

O espaço da reprodução da vida

A metrópole, em sua grandiosidade esmagadora, exuberante e ensurdecedora,


aparece como o lugar das profundas transformações, um processo inebriante de
mudanças ainda em curso. As profundas e rápidas transformações em suas formas
ocorre concomitantemente com uma profunda transformação da vida cotidiana, que
agora, constitui paisagem em metamorfose. Nesse contexto, se pode dizer que a
metrópole aparece, hoje, como manifestação espacial concreta do processo de
constituição da sociedade urbana, apoiada no aprofundamento da divisão espacial do
34
trabalho, na ampliação do mercado mundial, na eliminação das fronteiras entre os
Estados, na expansão do mundo da mercadoria e da instauração1 do cotidiano.
A metrópole reproduz-se de forma incessante e ininterruptamente. Ela não se
refere mais ao lugar único, primeiro porque contém o mundial, a constituição de valores,
de uma estética, de comportamentos e hábitos que são comuns a uma sociedade
urbana em constituição; segundo porque aí temos a articulação de todos os lugares, na
medida em que os aproxima; terceiro, a metrópole caracteriza-se como forma da
simultaneidade.
Por sua vez, podemos dizer que cada momento da vida na metrópole traz
consigo um acúmulo de fatos novos, dos quais cada um cria uma série de
conseqüências, o que permite pensar a sociedade urbana em sua complexidade com
base na vida cotidiana, na metrópole.
Na realidade o que se coloca como perspectiva analítica é a construção da
problemática a partir do entendimento da reprodução da sociedade como reprodução
espacial. No momento atual a realidade urbana se generaliza em um processo
conflituoso e contraditório que engloba as esferas da reprodução social, isto porque o
fenômeno urbano tem o sentido da produção humana como processo em realização,
tecendo-se como produto da reprodução da sociedade, como reprodução da vida, isto
é, as relações sociais se realizam e ganham concretude, materializando-se no espaço.
O processo de constituição da sociedade urbana produz transformações radicais
nas relações espaço-tempo que podem ser entendidas, em toda a sua extensão, no
lugar, nos atos da vida cotidiana, enquanto a paisagem urbana aponta para a existência
de formas sempre cambiantes.
Essa contradição produz o estranhamento. Diante de uma metrópole onde as
formas mudam e se transformam de modo cada vez mais rápido, os referenciais dos
habitantes da metrópole se modificam, produzindo a sensação do desconhecido, do
não identificado; aqui as marcas da vida de relações e dos referenciais da vida se
esfumaçam, ou se perdem para sempre. O estranhamento provocado pelas mudanças
no uso do espaço e por uma nova organização do tempo na vida cotidiana coloca o
indivíduo diante de situações mutantes inesperadas.
1
Termo traduzido diretamente do francês, tal qual utilizado por Henri Lefebvre em De l’Etat. Paris: Union Générale
d’Editions, 1978. v. IV.
35
Como o processo da produção da vida se dá pelos modos de apropriação do
espaço, para o uso, no caso específico da metrópole São Paulo, há uma profunda e
rápida transformação no espaço urbano, passível de ser apreendido no plano da
morfologia, que aponta mudanças radicais nas formas de vida.
A construção da metrópole torna visíveis os usos e as formas de apropriação do
espaço, que se associa diretamente às formas de propriedade privada do solo urbano,
apontando para uma hierarquização socioespacial. Em uma metrópole superedificada
como São Paulo, onde o ritmo do que se chama “progresso” destrói constantemente e
ininterruptamente áreas urbanas pelo ato incessante de construção de novas formas,
esse movimento provoca o desaparecimento das marcas e referenciais do passado
histórico, presente nas construções, nas fachadas, nas ruas e praças, destruindo
bairros inteiros. A construção das vias rápidas, pontes, viadutos, linhas de metrô,
fragmenta o espaço urbano, mudando a relação dos cidadãos com a cidade. Aqui as
transformações do espaço vividas pela destruição da memória social, dão-se em virtude
da liquidação dos referenciais individuais e coletivos, produzindo a fragmentação da
identidade, a perda da memória social, pois os elementos conhecidos e reconhecidos
impressos na paisagem da metrópole se esfumam.
A análise se baseia no fato de que as relações sociais têm sua realização ligada
à necessidade de um espaço onde ganha concretude a casa como universo do homem
privado; a rua como acessibilidade possível aos espaços públicos, lugar dos encontros,
dos percursos, bem como as possibilidades de uma miríade de trocas (onde o comércio
local ganha significado especial); os lugares de trabalho; os pontos de lazer, etc.,
lugares onde se realiza a vida humana em determinado tempo. É nesse nível que
espaço e tempo se articulam de modo indissociável como prática socioespacial (a
realização da vida como produção/apropriação dos lugares).
Assim, as relações que os indivíduos mantêm com os espaços habitados se
exprimem todos os dias nos modos do uso, nas condições mais banais e acidentais, na
vida cotidiana. Revela-se como espaço passível de ser sentido, pensado, apropriado e
vivido pelo indivíduo por meio do corpo, pois é com todos os seus sentidos que o
habitante usa o espaço, cria/percebe os referenciais, sente os odores dos lugares,
dando-lhes sentido.

36
O lugar é a porção do espaço apropriável para a vida, revelando o plano da
microescala: o bairro, a praça, a rua, o pequeno e restrito comércio que pipoca na
metrópole, aproximando seus moradores, que podem ser mais do que pontos de troca
de mercadorias, pois criam possibilidade de encontro e guardam uma significação como
elementos de sociabilidade. A análise da vida cotidiana envolve o uso do espaço pelo
corpo, o espaço imediato da vida das relações cotidianas mais finas: as relações de
vizinhança, o ato de ir às compras, o caminhar, o encontro, os jogos, as brincadeiras, o
percurso reconhecido de uma prática vivida/reconhecida em pequenos atos corriqueiros
e aparentemente sem sentido que criam laços profundos de identidade, habitante-
habitante e habitante-lugar, marcada pela presença. São, portanto, os lugares que o
homem habita dentro da cidade e que dizem respeito a sua vida cotidiana, lugares
como condição da vida, que vão ganhando o significado dado pelo uso (em suas
possibilidades e limites). São as relações que criam o sentido dos “lugares” da
metrópole.
Nesse processo se desvendar a base da reprodução da vida passível de ser
analisada pela relação habitante-lugar (pela mediação do uso), como produtora de
identidade do indivíduo. A construção da cidade, hoje, revela a dupla tendência entre a
imposição de um “espaço que se quer moderno”, logo homogêneo e monumental,
definido, ou melhor, “desenhado” como espaço que abriga construções em altura
associadas a uma rede de comunicação densa e rápida, e de outro “as condições de
possibilidade”, que se referem à realização da vida (quase se acham à espreita, de
modo contestatório), revelando uma luta intensa em torno dos modos de apropriação do
espaço e do tempo na metrópole – um processo que ocorre de modo profundamente
desigual, revelando-se em seus fragmentos.
Assim, no uso do espaço, é possível apreender o imprevisto, a improvisação, o
espontâneo, que criam os pontos de referência da cidade, onde a multidão improvisa a
festa, a reunião, superpondo-se à rotina no igual e no repetitivo. Desse modo, as ruas,
praças e avenidas, com suas marcas particulares e identificadoras marcam o convívio e
apresentam modos diferenciados de apropriação. As ruas podem ser um elemento
importante a partir do qual se pode pensar o lugar da experiência, da rotina, dos
confrontos, conflitos e dissonâncias.

37
Mas, ao lado dos espaços públicos, há, na metrópole, os espaços semipúblicos,
que tendem a substituir o público, como os espaços comerciais, galerias, shopping
centers, por exemplo, onde os encontros, organizados e normatizados, são locais de
exclusão. Têm horário de funcionamento, abrem e fecham, são vigiados, não são
acessíveis a qualquer hora ou dia, nem a “qualquer um”, contêm códigos e normas de
uso (muitos deles são espaços abertos a encontros organizados em torno de signos,
como aquele do ritual da mercadoria, onde o habitante se transforma, potencialmente,
em consumidor). Isso ocorre o tempo tende a se restringir ao universo do trabalho
produtivo, desaparecendo no espaço, inscrevendo-se apenas como quantitativo, o dos
aparelhos de medida; o único tempo que se impõe é o do trabalho, o que significa que o
uso se restringirá, marcado pelos ritmos da vida urbana (LEFEBVRE, 1986 p. 452).
Nesse, contexto esses espaços se tornam o domínio por excelência de relações sociais
entre estranhos, locos de sociabilidades polidas, frias e distantes.
Portanto, o uso refere-se também às maneiras de freqüentar determinado lugar,
e permite desvendar a relação espaço-indivíduo no mundo moderno, onde os
referenciais vindos de um passado distante tendem a desaparecer.
As transformações ocorridas na metrópole paulista apontam uma tendência,
segundo a qual os espaços se reproduzem cada vez mais em função das estratégias
imobiliárias, e com isso limitam as condições e as possibilidades de uso do espaço
pelos habitantes; isto é, cada vez mais os espaços urbanos, transformados em
mercadoria, são destinados à troca, o que significa que a apropriação e os modos de
uso tendem a se subordinar ao mercado.
A predominância do valor de troca como extensão do mundo da mercadoria se
revela como produto de lutas que surgem a partir de relações sociais contraditórias
criadas e aprofundadas pelo desenvolvimento do processo de reprodução lato sensu
em que as batalhas se resolvem pelo jogo político das forças sociais. Nesse sentido, o
espaço aparece como obra histórica que se produz, continuamente, a partir das
contradições inerentes à sociedade, produzidas com base em relações sociais
assentadas em relações de dominação-subordinação/uso-apropriação, que produzem
conflitos inevitáveis que tendem a questionar o entendimento da cidade
exclusivamente, como valor de troca e, conseqüentemente, as formas de parcelamento

38
e mercantilização do solo urbano. Por outro lado, a reprodução das relações sociais se
processa pela lógica de ações políticas e pelo controle sobre a técnica e o saber. A
presença contraditória do Estado no espaço, fundada em uma estratégia que se quer
hegemônica, organiza as relações sociais e de produção por meio da reprodução do
espaço, como ação planificadora em que o espaço do “habitar” aparece como algo
secundário.
O uso do solo urbano será disputado pelos vários segmentos da sociedade de
forma diferenciada, gerando conflitos entre indivíduos e usos, pois o processo de
reprodução espacial envolve uma sociedade hierarquizada, dividida em classes,
produzindo de forma socializada; desse modo a cidade, como trabalho social
materializado, é apropriada de forma diferenciada pelo mercado, mediador fundamental
das relações que se estabelecem nessa sociedade, produz um conjunto limitado de
escolhas e condições de vida.
Portanto, a localização de uma atividade só poderá ser entendida no contexto
urbano como um todo, na articulação da situação relativa dos lugares, na metrópole.
Nesse sentido, o uso nos remete à análise das relações sociais estabelecidas a partir
da produção do espaço, onde os mecanismos do mercado determinarão o acesso à
propriedade privada, pela possibilidade de pagamento do preço do solo urbano. Os
fatores que determinarão a formação do preço vinculam-se, principalmente, à inserção
de determinada área no espaço urbano global, tendo como ponto de partida a
localização do terreno (no bairro, e deste na metrópole); a acessibilidade em relação
aos lugares ditos privilegiados (escolas, shopping centers, centros de saúde, de
serviços, de lazer, áreas verdes, etc.); acesso à infra-estrutura existente (água, luz,
esgoto, asfalto, telefone, vais de circulação, transporte); a privacidade e os fatores
vinculados ao relevo que se refletem nas possibilidades e custos de construção. A
evolução dos preços, todavia, inter-relaciona-se com as condições de reprodução do
espaço urbano no que se refere ao modo como se desenvolve a produção das
condições gerais de reprodução; dos custos gerados pela concentração no solo urbano,
bem como pelas políticas de zoneamento ou de reservas territoriais, além das
modificações do poder aquisitivo dos habitantes. Assim, no embate entre o que é
necessário ao processo de reprodução do capital e o que a sociedade exige, deseja e

39
sonha, a metrópole se estrutura, a paisagem ganha sua configuração, novos conflitos
eclodem.
Finalmente, a análise da metrópole, feita a partir de um fragmento, indica a
presença de uma tendência: a instauração do cotidiano na metrópole, ainda de modo
desigual e contraditório, mas presente nos interstícios da vida, como condição da
reprodução das relações sociais, hoje, que se dá ainda de forma diferenciada nos
lugares e em determinados estratos da sociedade, revela-se como processo
contraditório, indicando os limites e possibilidades de reprodução das relações sociais
em nossa sociedade. A noção de cotidiano se eleva no plano da explicação da
realidade (não sem dificuldades), permeando/definindo as relações sociais na
metrópole, em constituição, de modo contraditório, fragmentário, como decorrência das
possibilidades que o processo de reprodução assume no Brasil. Assim o cotidiano, em
constituição, vai revelando seu processo em um fragmento do espaço metropolitano.
Não se revela como totalidade, mas aponta um momento do processo desigual e
contraditório, iluminando uma tendência irreversível, como processo histórico, produto
determinado de uma época.

A metrópole paulista e as áreas verdes da cidade

A partir da década de 70, a crescente importância das questões ambientais e de


preservação dos patrimônios culturais e paisagísticos em todo o mundo contribuíram
para revigorar as propostas de valorização das áreas verdes nos centros urbanos e
conservação dos seus espaços naturais, ganhando notoriedade no Brasil com a
realização da ECO 92 realizada no Rio de Janeiro.
Os grandes centros urbanos brasileiros como São Paulo, Rio de Janeiro,
Curitiba, Belo Horizonte, entre outros, começaram, pelo menos no discurso, a
considerar a importância dos Parques para os espaços extremamente urbanizados do
país.
Apesar da valoração desse equipamento no que diz respeito ao ambiente físico e
social e da necessidade de atividades voltadas ao lazer, exercícios, descanso pela
40
população em decorrência da vida sedentária da grande maioria dos cidadãos e já
tendo sido constatada com base em diversas pesquisas científicas; o que se verifica é a
carência de áreas verdes, especificamente, para a cidade de São Paulo. Essa
insuficiência existe desde o momento em que a população desta cidade acelerou o seu
ritmo de crescimento populacional até a atualidade.
A seguir, analisaremos as diversas refuncionalizações do espaço urbano da
cidade, que abrangeram também os parques assim como as suas concepções no
processo histórico da administração pública de São Paulo, do final do século XIX até o
século XX, a fim de entender a fragilidade do seu provimento e manutenção pelo setor
público, mesmo sendo considerando tão importante para o ambiente social e urbano da
cidade.

41
Foto 1 - A verticalização de São Paulo

Foto 2 - Parque Ibirapuera

42

Fonte: Laruccia
A construção da cidade de São Paulo

Para compreendermos a importância dos parques públicos para a cidade de São


Paulo, objetivo central deste trabalho, faz-se necessário entender, mesmo que de
maneira resumida, e com cortes que pecam pelo rigor histórico, a produção e
reprodução desta cidade desde o século XIX até o momento atual.
Dentre todas as regiões metropolitanas brasileiras, a de São Paulo é a mais
gigantesca, não somente pelo número de habitantes mas também pela extensão da
área de sua mancha urbana, sendo considerada, até recentemente, como metrópole
nacional e por muitos pensadores do urbano como metrópole mundial, pela expressão
que apresenta nas mais diferentes dimensões da vida do país.
Os 8.051 km² que constituem a Grande São Paulo forma um aglomerado urbano
de 38 municípios, em grande parte polarizados pela cidade São Paulo. Essa região
metropolitana constitui-se hoje no pólo da maior rede urbana do país, como produto de
sucessivos processos de desenvolvimento do capitalismo, verificados a partir da
economia do café no século XIX, o crescimento de São Paulo deu-se com rapidez,
acelerando-se no século XX, com o capitalismo industrial em suas diferentes etapas.
No entanto, hoje a fase do capitalismo industrial transformou-se com o aumento
do terceiro setor, em que o universo financeiro e do grande comércio vem tomando o
lugar da indústria. Mas a diminuição da indústria não empobreceu economicamente a
cidade, pois 60% das sedes das multinacionais estão localizadas na capital,
constituindo-se em centro de gestão do grande capital. O mesmo não se pode falar do
desenvolvimento socioeconômico e socioespacial da região metropolitana de São Paulo
e, especificamente, da Capital que apresenta um desenvolvimento desigual repleto de
contradições, em que as relações sociais se acham minadas e o direito aos
equipamentos urbanos, não existem ou se são criados pelo poder público não são
apropriados pela população.
Há necessidade de um pouco da história da cidade para entendermos como o
capitalismo desde a época do café vem produzindo e reproduzindo a Capital paulista.
No primeiro recenseamento do País, 1972, a cidade colocava-se em último lugar
entre as dez maiores do Brasil em população, com 31.385 mil habitantes. Situada numa
43
região economicamente periférica, durante o século XVII e o XVIII, quando o açúcar e o
ouro levavam à consolidação de cidades de grande valor arquitetônico (Salvador, Ouro
Preto), São Paulo era formada por inexpressivas casas de taipa. Suas igrejas e os
edifícios que abrigavam as instituições públicas eram marcados pela simplicidade. A
velocidade e a intensidade com que ocorreu o processo de acumulação capitalista
gerado pelo café encontraram pouca ou nenhuma resistência contra a derrubada das
antigas habitações de taipa. O desenvolvimento econômico que acarretou a entrada de
novas tecnologias vindas da Europa abriu a possibilidade da criação de uma nova
cidade construída com aço, concreto e tijolos. Na virada do século XIX, a cidade já
havia atingido as colinas situadas à margem esquerda do riacho do Anhangabaú e não
parou mais de crescer, extravasando o sítio onde nascera, isto é, a colina entre os
vales do Anhangabaú e do Tamanduateí, onde hoje está localizado o chamado “centro
velho”, perto do qual se consolidou o mais antigo núcleo da cidade – o triângulo
formado pelas ruas Direita, São Bento e XV de Novembro. Essa área ainda guarda os
restos dos muros de taipa do colégio em torno do qual se deu sua fundação, em 25 de
janeiro de 1554, como o solar da marquesa de Santos, datado de 1802.
No final do século XIX, a área compreendida pelo triângulo, com os capitais
gerados pelo comércio do café, havia se tornado uma compacta área de grandes
palacetes construídos em dois andares além do piso térreo. Alguns deles ainda
sobreviveram ao tempo e testemunham como morava a classe dominante da época.
A construção de viadutos, interligando as diferentes áreas, mudou a paisagem
urbana paulistana e facilitou o acesso e a criação de novos loteamentos urbanos. O
crescimento da cidade em direção à margem esquerda do vale do Anhangabaú foi
possível graças à construção de um viaduto de estrutura metálica, ligando as duas
colinas do centro da cidade: o viaduto do Chá – inaugurado em novembro de 1892. Um
ano antes havia sido inaugurada a avenida Paulista, no topo do espigão central que, na
época, era considerado um dos pontos mais distantes do centro e representou um
marco significativo no crescimento da cidade, ao seu redor e em direção aos terraços
fluviais do rio Pinheiros, foram surgindo os loteamentos dos sofisticados bairros dos
Jardins.

44
Em 1913, foi inaugurado o viaduto Santa Ifigênia, ligando o centro da cidade ao
bairro da Luz e ao aristocrático bairro dos Campos Elíseos, sede das residências da
nova aristocracia paulistana.
Os bairros tanto da elite cafeeira e industrial como dos imigrantes e brasileiros
operários expandiam-se para áreas ocupadas por lavouras, de chácaras e sítios. No
entanto, havia eixos orientadores da expansão dos loteamentos representado pela
maior proximidades com as ferrovias.
O trem era para a época o símbolo da modernidade. Os fazendeiros e a
sociedade do café instalados no interior paulista serviam-se desse excelente e moderno
meio de transporte. Assim, a grande maioria dos fazendeiros de café, quando foi
implantar suas residências na cidade de São Paulo, no final do século XIX, procurou
localizar-se justamente nas proximidades da estação ferroviária, do Jardim da Luz.
A partir dos anos vinte, a industrialização e o uso dos bondes e dos automóveis
fizeram surgir, em direção às encostas do espigão da avenida Paulista, o elegante
bairro de Higienópolis, havendo a substituição gradativa da ferrovia pelo automóvel
como o meio de transporte mais importante. Os bairros da Luz e dos Campos Elíseos
sofreram um processo de transformação, quando a maioria de seus moradores
mudaram-se para bairros mais novos, considerados mais nobres.
O antigo e aristocrático bairro dos Campos Elíseos foi gradativamente dando
lugar à ocupação pelas camadas de menor renda da cidade resultando na entrada de
atividades do setor terciário. Hoje, ainda vêem-se alguns poucos testemunhos da fase
aristocrática do bairro, através de seus palacetes, já há algumas décadas, deteriorados
e transformados em cortiços e pensões .
Nas primeiras décadas do século XX, acentuou-se o processo de verticalização
da cidade, surgindo inicialmente edifícios , em média de oito pavimentos. Eles
testemunhavam a modernidade da cidade criada pelo café e pela indústria revelavam,
pelo estilo e pelas técnicas construtivas, a dependência em relação ao exterior e à
presença da mão-de-obra do imigrante europeu.
À medida que a valorização dos terrenos nas áreas centrais foi ocorrendo,
edifícios com padrão cada vez mais alto foram ocupando o centro. Exemplo disso foi a

45
construção do edifício Martinelli, com trinta pavimentos, no ano de 1930. Em 1934, o
censo acusava que viviam na capital mais de um milhão de habitantes.
As condições do espaço da cidade não condiziam, no entanto, com a nova
situação econômica e social. A cidade apresentava grandes problemas de saneamento
e de abastecimento de água, de insuficiência de vias públicas para facilitar a
comunicação entre os setores, de pavimentação das ruas e mesmo de expansão da
área urbanizada, além de manter um aspecto algo provinciano.
Damiani reflete sobre essa fase da cidade e oferece sua interpretação,
considerando que a indústria já se fazia presente e apresentava-se consolidada.
Da Cidade de taipa de pilão, da época colonial, à Cidade do tijolo houve,
nesta passagem do fim do século XIX ao início do Século XX, a
importância do café, da industrialização, da ferrovia, depois do bonde
elétrico e uma extraordinária especulação imobiliária, envolvendo o
Centro. O que implicou a destruição de igrejas de taipa, de edificações e a
expulsão da população negra e parda das redondezas, na base da
administração de Antônio Prado. Esse processo também implicou a venda
de antigas chácaras transformadas em loteamentos de características
mais abstratas, como em Campo Elíseos ou Higienópolis, e mais
populares, como Barra Funda e Bom Retiro. Pierre Monbeig menciona
uma epidemia de urbanização. Caio Prado Jr. também acentua a
influência da especulação imobiliária na expansão urbana, inclusive com
grilagem de terrenos: bastava traçar ruas, às vezes no papel apenas, e
passar os terrenos aos compradores. (DAMIANI, 2004, p. 21)

É no século XX que se consolida a industrialização no Brasil, vinculada, de modo


direto, à concentração de população nas cidades como São Paulo, que conhece uma
concentração populacional e um crescimento acelerado de seu parque industrial. O
tecido industrial consolida-se pela espessa divisão do trabalho industrial e suas
decorrentes interdependências.

46
Mapas 1 - A evolução da mancha urbana (1910-1972)

47
Imagem de Satélite 1-A mancha urbana (2004)

48
Logradouros e parques públicos

A nova sociedade paulista surgida na cidade de São Paulo, em fins do século


XIX até as primeiras décadas do século XX, passou a demandar da cidade uma nova
feição, novos equipamentos e novas formas de lazer; mas não resta dúvida que quem
iria comandar essa nova feição eram os empresários da indústria, os fazendeiros do
café, os banqueiros e o comércio maior já necessário para o atendimento da população.
Até 1900, a cidade contava com apenas cinco logradouros que, mais tarde,
seriam transformados em parques públicos: o Jardim da Luz, a Ilha dos Amores, o
Horto Florestal e o Museu Paulista, este último construído pelo poder público. Na esfera
particular foi erigido o atual parque Tenente Siqueira Campos, na avenida Paulista.
É importante lembrar que, nessa época a construção de parques pela iniciativa
pública era quase inexistente, no entanto já era notória a segregação socioespacial,
pois a preferência era pela instalação de parques nas áreas mais nobres da cidade.
Com a criação do elegante bairro residencial de Higienópolis, o poder público
municipal criou a praça Buenos Aires, atestado da íntima relação entre Estado e a elite
cafeeira e industrial da época.
As populações dos bairros mais populares estabelecidos junto às linhas férreas,
geralmente, nos terraços fluviais não dispunham de parques ou áreas de lazer para seu
entretenimento, mas nem por isso deixaram de se divertir.
Para entender as opções de lazer dessa população, ajudam-nos os depoimentos
de velhos registrados por Ecléa Bosi.
Senhor Amaral - Naquele tempo tinha mais de mil campos de várzea. Na Vila
Maria, no Canindé, na Várzea do Glicério, cada um (dos bairros) tinha mais ou menos
cinqüenta campos de futebol. Penha, pode por cinqüenta campos, Barra Funda, Lapa,
entre vinte e vinte e cinco campos. Ipiranga, junto com Vila Prudente, pode pôr uns
cinqüenta campos. Vila Matilde, uns vinte (...)“Quem tinha um campo de sessenta por
cento e vinte metros acabou vendendo pra fábrica.(...) Cada campo tinha um clube; a
maior parte dos campos eram dados pelos donos para o lugar progredir, popularizar. O
dono é que pedia pra fazerem um campo nesses terrenos baldios. Quando tinha um

49
clube, vinha o progresso. No domingo vinham duas mil pessoas assistir, e começava o
comércio, o progresso”(BOSI, 1983, p.88-89).
A Senhora Alice também faz seu depoimento: "Os rios paulistanos, apesar dos
transtornos das enchentes, eram uma fonte de prazer para as crianças. Quando chovia
muito, a baixada do Bom Retiro ficava a Veneza brasileira. A enchente tomava conta de
tudo. As famílias todas tinham barco e, durante a noite, cantando e fazendo serenata.
Para nós, os moços, aquilo era uma alegria, quando o Tietê transbordava" (BOSI, 1994,
p.62).
Um outro dado significativo depoimento, embora sem validade estatística, é que
nenhum dos oito entrevistados por BOSI (1983), então já septuagenários, ao
recordarem os espaços de sua infância e juventude, tenha se referido ao Parque Dom
Pedro II como área de lazer, embora o fizessem para o Jardim da Luz.
Esses depoimentos embora não tenham valor estatístico oferecem informações
preciosas para se conhecer o cotidiano e o uso do espaço nos fins de semana pela
população dos bairros populares, demonstrando o papel da rua, dos rios e suas
várzeas na época.
SEVCENKO (1992) menciona fragmentos de artigos de um jornalista do O
Estado de São Paulo, que complementam as informações dadas pelos idosos,
publicados no final da década de 1910, que descrevem um domingo no Brás:
“(...) O Brás é um bairro interessantíssimo, sem dúvida o mais interessante e
curioso da cidade. Separado do centro pelo "deserto" da Várzea do Carmo, parece
outra cidade, com outra gente e outra vida, como se já vivesse por si e a si mesmo se
bastasse. (...) E como há gente por aqui! Para além da Várzea do Carmo o que vai
nesta cidade de domingo é um torpor de cidade em repouso, as ruas desertas, as
casas fechadas, raros automóveis de luxo a passeio. Aqui, ao contrário, é o povo a
formigar pelas ruas, a enchê-las e animá-las de burburinho e alegria, dando a
impressão de estar toda gente fora das casas. E crianças, sobretudo, crianças em
número incalculável, num vai e vem de grupos barulhentos e álacres (...)”.
O mesmo jornalista foi visitar também o Bexiga, tendo publicado matéria sobre o
passeio na edição do dia 15 de agosto de 1919 de O Estado de São Paulo. Viu que a
população vivia “mal acomodada” e, lançando o olhar para o cotidiano nas ruas,

50
observou que, à tarde, elas “formigam de crianças” e que “à frente das casas se formam
grupos de famílias que vêm respirar para a rua”. Nota que não há um só jardim público
no bairro e exorta os vereadores a pressionar pela execução ali “de um bom jardim,
onde de quando em quando, aos domingos, vá tocar uma banda de música – ao menos
para que se não diga que os vereadores só cuidam dos bairros em que habitam os
ricos(...)”.
E, num outro artigo, este de 27 de julho de 1920, em O Estado de São Paulo, o
mesmo jornalista queixa-se do desprezo que os vereadores voltavam à questão do
verde na cidade de São Paulo.
Há a dúvida se os parques e jardins públicos diziam algo para as camadas
populares naquele tempo, ou se os parques e jardins não eram antes de tudo
elementos importantes para a imagem que as classes dominantes queriam passar de
uma cidade que já se firmara como a mais dinâmica e importante do país.
É provável que o espaço para passeios sociais e galantes, que era tudo o que os
parques e jardins públicos até então ofereciam, não fizesse muita falta para os que
moravam nos bairros populares próximos do centro da cidade. Para o cotidiano, ou
para os domingos normais o espaço da rua não só bastava, como também era
importante para a afirmação e manutenção dos laços sociais entre os moradores
daqueles bairros; ainda se podia encontrar nas cercanias da cidade “os grandes
bosques” e em fins de semana, jogar futebol nas várzeas.

51
Foto 3 - A Avenida Paulista em 1950

Fonte:

Foto 4 - Avenida Paulista (2003)

52
A morfologia da cidade se metamorfoseia

A expansão da cidade se fazia cada vez mais célere. Nas encostas das colinas
do sul, em direção ao grande espigão que separa os vales dos rios Pinheiros e do
Tietê, instalaram-se novos bairros residenciais aristocráticos e surgiram outros da
classe média paulistana. As regiões localizadas fora das áreas de inundação
apresentavam melhores condições físicas e terrenos de preços mais caros, o que levou
a um padrão de loteamento mais nobre para abrigar a residência das novas classes
dominantes.
O enorme crescimento de São Paulo pode ser expresso através de um indicador
que é o crescimento do seu espaço urbano. Os 130 km² que a cidade possuía em 1940
passaram para 420 km² em 1954. A partir de então, a extensão desse espaço mais que
triplicou.
No Brasil entre 1940 e 1950, o crescimento da população aumentou em 24%,
porém o das cidades cresceu em 39%. Em 1950 e 1960 o crescimento da população foi
de 30%, porém o da urbana chegou a 54% (FORACCHI, 1982, p. 18)2.
Quando se comemorou, em 1954, o quarto centenário da cidade, marcando
também o início do período da grande industrialização, seus limites de urbanização
passaram a integrar-se com os municípios vizinhos através de um complexo sistema de
rodovias e ferrovias em várias direções. Para leste, a RFFSA (antiga Central do Brasil)
e a via Dutra, integrando São Paulo com municípios como Guarulhos, Moji das Cruzes
e Ferraz de Vasconcelos, de grande industrialização.
Neste período o lazer passou a merecer maior consideração por parte de
empresários e políticos. Mesmo porque a cidade não contava, então com mais do que
cinco parques municipais e nem todos com diversidade de atrações que pudesse atrair
grande freqüência – para uma população que passou de 1.060.120 habitantes, em
1934, para 5.924.615 em 19703. A área de parque (m²) por habitante em 1930 era de

2
Citado em DAMIANI, 2004, p.26.
3
O dado da população de 1934 foi extraído de SINGER,1977, 2ª ed.,p.58 e o de 1970 do IBGE, citado in
PREFEITURA DO MUNICÌPIO DE SÂO PAULO – SEMPLA, Dossiê São Paulo/95,p.49
53
0,75 e havia três áreas verdes municipais hoje consideradas parques e em 1965,
a área de parque (m²) era de 0,50 e havia seis áreas verdes municipais.
Nos fins da década de 1950, afirmava Pasquale Petrone que São Paulo possuía
um elevado número de “trechos vazios” e que eles se localizavam não só nas várzeas
do Tietê e do Pinheiros, mas também “em numerosos vales dos córregos e ribeirões
paulistanos, mesmo perto do centro da cidade, sobretudo quando se trata de suas
cabeceiras” (PETRONE, 1958, p.155).
Apesar de canalizados, os vales dos rios Tietê e Pinheiros ainda apresentavam,
em 1965, extensas faixas não ocupadas, que podiam ser apropriadas para o lazer
esportivo o que, quase sempre, equivale dizer clubes de futebol de várzea, uns mais
equipados, outros mais improvisados.
Segundo o PUB – Plano Urbanístico Básico, em 1967, apesar da prefeitura ter
ampliado toda a rede de equipamentos do setor recreativo, cultural e esportivo,
verificavam-se várias lacunas, sendo uma delas a má distribuição das áreas destinadas
a praças, parques e jardins pelos diversos bairros.
Nesse processo de expansão, a cidade acabou incorporando ao seu espaço
contínuo antigos núcleos que cresciam isoladamente, como o de Pinheiros, na zona
oeste, porta de saída para São Roque e Sorocaba; o da Lapa, a noroeste, no caminho
para Jundiaí e Campinas; o da Penha, a leste, nas vertentes do rio Aricanduva, fazendo
a ligação com a estrada velha para o Rio de Janeiro. Até o final do século passado,
esses núcleos constituíam verdadeiros subúrbios distantes da capital. Em poucos anos
integraram-se ao núcleo central da cidade e às demais áreas da região metropolitana
de São Paulo, fortalecendo o plano viário radial-concêntrico de expansão da cidade de
São Paulo.
Essa região cresceu em direção à Baixada Santista, com a via Anchieta e mais
recentemente a rodovia dos Imigrantes, concentrando a maior região industrial do país,
o ABCD (Santo André, São Bernardo, São Caetano do Sul e Diadema). Aí estão
localizadas as maiores montadoras do país, como a Autolatina, a General Motors e
indústrias de autopeças e acessórios. O eixo Anchieta abrigou a grande e moderna
industrialização do país nos anos cinqüenta.

54
A estrutura radial-concêntrica do plano de São Paulo, integrada a um complexo
sistema de transporte rodoviário/ferroviário, centro polarizador de uma vasta rede
urbana, gerou uma verdadeira “implosão” dos seus espaços interiores. A isto deve-se
associar o crescente envelhecimento do antigo centro, também designado de CBD
(Central Business District), e a perda do caráter nobre dos Jardins. A nova fase do
capitalismo impulsionado pelas multinacionais estava a exigir novos espaços para
garantir seus negócios e portanto a ampliação do capital.
Assim, o centro financeiro antigo foi deslocado para o espigão da avenida
Paulista, constituindo-se um novo centro de negócios. Além dos fatores que
favoreceram esse deslocamento deve-se ressaltar a posição favorável da avenida como
via perimetral, permitindo a ligação de dois grandes extremos da cidade em expansão:
em direção a Sudeste, pode-se chegar aos municípios industriais de São Caetano do
Sul, Santo André, São Bernardo e Diadema. Na direção Oeste, no outro extremo do
espigão, faz-se a ligação com os subcentros de Pinheiros, Lapa e com município
industrial de Osasco.
No final da década de 1960, São Paulo era a maior metrópole do país, tanto em
área como em população. O desenvolvimento econômico atraíra correntes migratórias
internas, sem que o município estivesse preparado para atender ao grande crescimento
da demanda por serviços de equipamentos e por empregos.
Entre 1968 e 1973, ocorria a fase expansiva do modelo industrial brasileiro, com
reflexos positivos no município, também nos primeiros anos que se seguiram ao
chamado “milagre brasileiro”.
Apesar da situação favorável, praticamente nada foi feito em termos de áreas
verde até 1974. A gestão de Olavo Setúbal, foi a que mais investiu na obtenção de
terrenos e na construção de parques públicos, o que possibilitou a realização de várias
obras e as desapropriações necessárias para a implantação do plano viário elaborado
há décadas por Prestes Maia.
Em 1988, a população estava em torno de 11.000.000 de habitantes e com 900
km² de área urbanizada, praticamente nada sobrara de áreas verdes junto aos cursos
d’água. O pouco que se manteve de área verde nas planícies fluviais ficou isolado das
margens pela implantação de avenidas de “fundo de vale”, ou pela urbanização das

55
várzeas, correspondendo aos poucos clubes privados e aos ainda mais raros parques
públicos, como o Estadual, mais conhecido como Parque Ecológico do Tietê.
No começo de 1990, o esforço na procura de melhoria econômica e social era
ainda mais penoso. Se há vinte anos São Paulo alavancava a industrialização brasileira
e promovia o “crescimento com desigualdade”, agora a “estagflação” 4 levava ao
empobrecimento “os setores da pequena burguesia e do proletariado que mais
dependiam do crescimento” e fazia diminuir os investimentos públicos, piorando as
condições de vida da maior parte de seus habitantes.
Resultante de políticas públicas não suficientes para o atendimento de moradias
para as categorias mais desfavorecidas do ponto de vista econômico, também cresceu
o número de favelas, principalmente, em áreas verdes públicas, à beira de córregos ou
em encostas mais íngremes.
Paralelamente à dilapidação do patrimônio verde de caráter público verificou-se,
nas últimas três décadas (1970 a 1990), o aumento da demanda por áreas verdes para
o lazer, não só pelo crescimento da população, mas também pela progressiva
incorporação de hábitos de lazer praticados em áreas verdes.Vê-se assim que os
parques ocupam, ou reconquistam, um lugar nas preocupações sobre a cidade
contemporânea.
É importante ressaltar que São Paulo presencia atualmente, ainda que de forma
tímida, a recuperação tanto do Centro Velho como do prestígio dos Jardins enquanto
local para imóveis de alto luxo. Isto é, a cidade parece viver um fenômeno de "sístole e
diástole" no processo de valorização do seu espaço urbano. Bairros antes valorizados
perdem sua posição de prestígio, em geral devido à própria intensidade do
adensamento urbano e à conseqüente deterioração ambiental. Por sua vez, outras
áreas vão adquirindo esse prestígio, tendo seu espaço valorizado ou revalorizado.
Para isso veio contribuir a construção do metrô, em boa parte subterrâneo. Seus
dois grandes eixos, formados pelas linhas norte-sul e leste-oeste, superpondo-se ao já
existente plano viário radial-concêntrico e cruzando-se na parte mais central da cidade,
a praça da Sé, permitem hoje, de forma rápida, a ligação do velho centro com vários

4
Novo Dicionário Aurélio, Estagflação significa: palavra surgida nos E.U.A, no início da década de 70 para designar
a situação de uma país caracterizada pela estagnação das atividades econômicas e da produção e pela inflação dos
preços.
56
bairros importantes, inclusive com o novo centro da avenida Paulista, através da
variante, Ana Rosa-Clínicas.
A construção de grandes avenidas perimetrais e radiais cortando a cidade em
várias direções associou-se à criação de várias auto-estradas ligando a metrópole às
várias regiões do Estado de São Paulo e transformando antigas avenidas que cortavam
os bairros aristocráticos da zona sul da cidade em verdadeiros corredores de
circulação.
Os fundos de vale tiveram que ser terraceados para abrigar grandes vias de
circulação rodoviária, roubando aos rios suas áreas de ajustamento aos ciclos de
cheias e vazantes. Com a impermeabilização das ruas e avenidas e o aumento do fluxo
das águas pluviais sobre elas, sérios problemas de inundação acabaram sendo criados
e os restos de vegetação ciliar também desapareceram.
O sistema de avenidas radiais e perimetrais, bem como as grandes avenidas
marginais dos rios Tietê e Pinheiros, criou no seu interior bairros cuja qualidade de vida
foi-se deteriorando. As classes sociais que puderam deslocar-se desses bolsões de
trânsito acabaram-se transferindo para os condomínios fechados localizados na
periferia verde da cidade. Assim surgiram os luxuosos condomínios fechados, como
Alphaville e Tamboré, junto à rodovia Castelo Branco, e Granja Viana, junto à rodovia
Raposo Tavares, para alojar as classes sociais que, dispondo de automóvel, puderam
beneficiar-se dessas rodovias modernas de alta velocidade.
Esses novos padrões de loteamento não significaram somente uma solução para
o problema dos moradores de alto padrão. Eles representaram uma nova concepção de
urbanismo. Integrando os planos elaborados, foram previstas áreas pra a implantação
de setores industriais, onde estão localizadas empresas de natureza não-poluidora,
junto às residências construídas nesses loteamentos residenciais.
Antigos bairros aristocráticos, como Pacaembu, Higienópolis e Jardins, que
representavam formas nobres de morar antes da grande industrialização dos anos
cinqüenta, viram-se invadidos pelo processo de adensamento, pela verticalização e
pelos fluxos viários. Em decorrência disso, surgiram alguns bairros de alto padrão
distantes do centro que se expandia, como o Morumbi, implantado em colinas ainda
cobertas por vegetação natural e, mais recentemente, os condomínios fechados.

57
Para as populações de baixa renda, constituídas pelos operários e trabalhadores
em serviços menos qualificados, restou a possibilidade de ocupar as antigas
residências daqueles que se transferiram para outras áreas mais bem localizadas para
a função residencial. A acelerada formação de cortiços no centro e seus arredores, bem
como de favelas nas áreas públicas ou privadas outrora vazias, criou verdadeiros
bolsões de pobreza no interior da região metropolitana, que funcionam como reservas
imobiliárias e aguardam sua valorização decorrente do contínuo crescimento da cidade.
Aos demais trabalhadores que não aceitaram viver nessas condições precárias
de habitação, a opção foi a compra a prestação de pequenos terrenos e a auto-
construção na periferia da cidade: essa alternativa foi intensificada com o crescimento
da industrialização e da migração procedente de outras regiões do País. A expansão do
processo de autoconstrução, apresentando casas quase sempre inacabadas, gerou na
periferia uma paisagem onde as construções, apesar de novas, aparecem como um
cenário em ruínas ou como bairros inacabados.
A grande demanda de habitações no interior da região metropolitana de São
Paulo levou as Cohabs (Cooperativas de Habitação) a ocupar de forma contínua
grandes áreas vazias, com gigantescas construções de habitação popular localizadas
em pontos distantes do centro, transformado-as em “cidades-dormitório”, praticamente
desconhecendo a necessidade de reservar as áreas verdes ou livres para o lazer das
crianças, jovens e adultos.
Essas grandes concentrações que se distribuíram por toda a Grande São Paulo
quase sempre eram primeiramente construídas para depois sobre um mínimo de
urbanização (serviços de abastecimento, transporte e pavimentação). São geralmente
construções feitas com materiais de baixa qualidade e situadas em terrenos nem
sempre de acordo com as exigências da legislação. Sua padronização e a maneira
como são alinhados os edifícios, sem nenhum cuidado na criação de uma paisagem
integradora do indivíduo com o seu espaço, fazem com que uma grande parte desses
conjuntos de casas e edifícios se apresente como uma massa de cimento desprovida
de praças e jardins, com um visual de profunda monotonia e localizada distante dos
lugares de trabalho e de lazer que a cidade pode oferecer.

58
O adensamento do anel interior e do intermediário foi conseqüência do processo
de verticalização ocorrido em bairros como Pinheiros, Perdizes, Jardim Paulista, Jardim
América e em bairros localizados ao longo do metrô e nos seus terminais, desde
Santana até o Jabaquara. Paralelamente ao adensamento por verticalização, essas
áreas presenciaram a transformação acelerada de antigos espaços residenciais e
nobres em cortiços.
O crescimento das áreas centrais de São Paulo representa um dos grandes
desafios para os urbanistas. A cidade se transforma numa bomba-relógio, com o
crescimento de populações miseráveis que hoje ocupam os logradouros públicos,
instalando-se sob pontes, viadutos e marquises; que se alojam em favelas e cortiços,
disputando espaços quando estes são cada vez mais valorizados e destinados a
edifícios inacessíveis a essa população.
Ultrapassando as colinas de terrenos terciários, sítio inicial onde se implantou a
urbanização da metrópole paulistana, a expansão das edificações invadiu os terrenos
cristalinos que circundam a Grande São Paulo. As áreas de contato entre esses dois
domínios geológicos, quando não ocupadas de forma adequada, quando não
respeitados os níveis de declividade para a realização das escavações, podem tornar-
se perigosas, acelerando a erosão. Nas colinas dessas áreas de contato ocupadas de
forma desordenada, proliferam poços e fossas sanitárias. Sua abertura e instalação,
quase sempre inadequadas, contaminam as águas do lençol freático da propriedade e
das vizinhanças. Ao mesmo tempo em que acelera os processos de desmatamento e
de erosão, o avanço da urbanização sobre os terrenos cristalinos da periferia acaba
comprometendo as áreas de mananciais que abastecem a Grande São Paulo. A região
de Mairiporã e de Guarulhos, na serra da Cantareira, situadas ao norte da região
metropolitana, a região de Cotia, na sua porção oeste, e as de Guarapiranga e Rio
Grande, na porção sul, próximas à serra do Mar, onde estão localizados os grandes
mananciais, encontram-se ameaçadas pela invasão de loteamentos clandestinos, lixões
por ocupações feitas pela população dos “sem-teto”, desenvolvendo práticas que
contaminam os lençóis freáticos e os mananciais.
Todo esse processo de urbanização que caracterizou e caracteriza o
crescimento da metrópole paulista e sua região metropolitana não pode ser dissociada,

59
em nenhum momento, de um fato já registrado anteriormente, ou seja, de que essa
região representa a maior concentração financeira e industrial do país e de que toda a
sua expansão espacial foi comandada por essa concentração, gerando a especulação
imobiliária e a polarização das desigualdades no processo de apropriação do solo
urbano.
Desde a época do café e dos primeiros anos da industrialização, o processo de
acumulação capitalista já havia definido o espaço dos ricos e dos pobres em São Paulo.
Paralelamente ao surgimento de bairros nobres como Campos Elíseos, Higienópolis e
Jardins, surgiram também o Brás, o Bexiga, a Mooca, a Barra Funda e o Bom Retiro,
ocupados por trabalhadores e pelas indústrias.
Com a implantação do grande capital industrial, a produção das desigualdades,
com o passar do tempo, simplesmente ampliou de escala e de lugar. No mesmo
momento em que se consolidaram novos bairros aristocráticos, como Morumbi, Granja
Viana e os condomínios fechados, surgiu de forma perversa o caótico cenário de uma
cidade que, apesar de nova, se apresenta como se estivesse em ruínas – a periferia
metropolitana.
Dentro desta cidade há cerca de uma centena de áreas verdes. No entanto,
embora todas pudessem ser chamadas parques ou, como na linguagem vernacular,
praças, entorno de trinta e cinco destas áreas são consideradas parques do ponto de
vista administrativo.
São Paulo, desde os fins do século XIX até a década de noventa passou de
5.200 hectares para 90.000 hectares e sua população, que era de 240 mil pessoas,
ultrapassou a casa dos 10 milhões.
Nos anos setenta ocorre a chamada revolução das telecomunicações. A mídia e
as formas de propaganda torna-se nacional. Nesse processo, a força das corporações
automobilística na organização da produção nacional e paulistana, nos modelos de
circulação, urbanismo e na financeirização, a partir da profusão de créditos e seguros,
se faz sentir presente. Por outra parte, a permanente expulsão de culturas para mais
longe da cidade e a formação de alguns belts de agricultura globalizada no Estado, com
os conseqüentes processos de concentração da propriedade da terra e de expulsão de

60
mão-de-obra, contribuíram nas migrações e na especialização do trabalho na metrópole
e na rede urbana paulista.
Um novo período histórico, a globalização, desenha uma nova divisão territorial
do trabalho. À indústria como variável motora do dinamismo brasileiro e do
extraordinário crescimento de São Paulo, sucede o papel da informação e das finanças
no comando dos processos. Verifica-se, a partir dos anos 1980, uma dispersão das
indústrias dinâmicas, da agricultura moderna e de um crescente e diversificado setor de
serviços no território nacional.
Mas é, sobretudo nos anos 1990, que se instalam e consolidam nexos
extrovertidos, funcionais às divisões territoriais do trabalho, particulares das
corporações globais. A sofisticação de um circuito superior da economia metropolitana
de São Paulo revela a necessidade histórica da formulação das bases técnicas,
políticas e normativas, precisas e funcionais às exportações, privatizações,
fiscalizações, etc. Essa cidade moderna, pivô central das geometrias das grandes
empresas, amplia suas tarefas e os horizontes das ações que ela abriga.
A necessidade de informação precisa e de diversos tipos de dinheiro atribui
novos papéis à metrópole e consolida, mesmo com base na segmentação
socioespacial, a sua existência como um grande mercado. Aceleram-se, as
valorizações e desvalorizações dos pedaços da cidade, ensejando a possibilidade de
instalação, de atividades menos capazes de dar valor aos seus produtos.
Diante das unicidades produtoras da globalização (SANTOS, 1996) – a unicidade
das técnicas, da informação e do dinheiro -, a cidade de São Paulo, chamada a ser
moderna a cada momento histórico, entra em crise por não poder, enquanto viabiliza as
condições para a reprodução das novas manifestações do modo de produção, manter
as mínimas condições de vida para a grande massa trabalhadora.
Em virtude da velocidade dos processos vividos pela metrópole, a produção de
carências tem sido recorrente e, por isso, responsável por crises sucessivas. A cada
substituição de uma divisão territorial do trabalho hegemônica há uma mudança na
cidade, evidenciada não apenas nos papéis econômicos, mas também na incapacidade
de dar respostas às necessidades de moradia, circulação, ensino, saúde, lazer, entre
outras.

61
Para entender esta crise é necessário compreender como a cidade vem se
produzindo e se reproduzindo no seu espaço e quem são os responsáveis pela atual
morfologia.

62
Capítulo II - Parques urbanos e as transformações no tempo

63
Parques urbanos e as transformações no tempo

O parque é obra do contexto urbano tornando-se com o passar dos anos além de
importante, vital para as metrópoles. Sua relevância atualmente está relacionada a dois
fatores: primeiro pela escassez de espaços de uso público voltados para o lazer,
descanso, prática de esporte, entre outros, fenômenos provocados pelo movimento de
expansão do capitalismo que resulta na redução dos espaços públicos na cidade e
segundo, pela emergência do movimento ambientalista mundial devido à deterioração
dos ambientes urbanos.
Outrora, a importância desse equipamento esteve relacionada a outros fatores
que correspondiam à necessidade de cada sociedade em determinada época. Os
primeiros embriões dos parques surgiram na Europa – século XVIII, com os jardins dos
palácios que eram utilizados para as pessoas se exibirem e serem vistas durante as
caminhadas. Esses jardins eram uma adaptação para o uso público dos requintados
espaços, a céu aberto, em torno dos palácios e das mansões senhoriais, que serviam
para o deleite dos seus proprietários e convidados.
No meio urbano, os primeiros tipos de parques a surgir foram o “passeio” por
onde, entre árvores, desfilava a aristocracia européia no século XVIII e, no século
seguinte, um público mais diferenciado, formado, além da aristocracia urbana, pelos
artistas e intelectuais que, não raramente, provinham de famílias burguesas.
Este hábito de lazer cortesão, tipicamente urbano, de passear e refrescar-se
vigorou por muito tempo. Mais tarde, com a deterioração dos centros urbanos advindos
da revolução industrial, conseqüentemente, o agravamento das condições de vida da
população, o parque abre seus portões para a população tornando-se público.
A Inglaterra, no século XIX, onde em primeiro lugar se deu a revolução industrial,
também foi pioneira na readaptação dos jardins em parques públicos. Os espaços
urbanos usados pelas classes abastadas para encontrar-se e exibir-se passa a ser
usado pela grande massa trabalhadora. Em 1840, o parque público mais famoso foi o
de Birkenhead, projetado por Joseph Paxton.

64
Esses parques eram sucedâneos das paisagens rurais, representava a vida
campestre na cidade e tinha como principal função o lazer para o alívio das tensões e o
restabelecimento da saúde física e mental da população.
O caráter social e a salubridade ambiental imprimido nos projetos de parques
ingleses influenciaram parques em diversas partes do mundo como na Alemanha,
Berlim com a construção do Treptow, Paris, Estados Unidos, entre outros.
Nesta época, os Estados Unidos estavam em plena revolução industrial, século
XIX, quando a utilização desse equipamento vinha a atender os interesses da indústria.
O caráter ideológico dos parques europeus aparece impresso nos projetos de
Frederick Law Olmsted, importante precursor dos parques nos Estados Unidos, líder do
movimento que ficou conhecido como o Movimento dos Parques Americanos no século
XIX. No relatório de implantação do Central Park de Nova York, em 1858:
Melhoramentos da área, no entanto, dirigidos para algo mais do que
meramente atender às condições urbanas, especialmente para a
formação de uma categoria oposta de condições saneadoras das
influências urbanas... Duas classes de melhoramentos deveriam ser
planejadas com este propósito: uma, dirigida a assegurar o ar puro e
integral para atuar sobre os pulmões; outra, para atuar como paliativo, por
impressões na mente e estimulando a imaginação. (OLMSTED, 1928,
p.45-46)

Foi na Inglaterra também que o parque passa da função de “parque


contemplativo”5 para “parque equipado”6, com a introdução de atividades lúdicas e
esportivas. Esses parques foram projetados por Joshua Major, na cidade de
Manchester.
Esse modelo de parque vigorou até o início do século XX, inspirando a criação
de praticamente todos os parques também na América do Sul, inclusive no Brasil,
projetados por paisagistas europeus. Eles evidenciaram a transição do “parque
contemplativo” para o “parque equipado”, obtendo maior complexidade no programa,
passando a incorporar múltiplas atividades.
Cabe salientar que a importância de se introduzir o lazer nessas áreas verdes foi
pelo fato de – o lazer – ter se tornado um problema social na sociedade industrial que

5
Terminologia adotada por Vladimir BARTALINI para designar parques com funções apenas contemplativas.
6
Terminologia adotada por Vladimir BARTALINI para designar parques com funções lúdicas e esportivas.
65
então nascia. O capital industrial temia o ócio, pois este podia conduzir ao vício com
conseqüências indesejáveis para o mundo do trabalho e comprometedores à
estabilidade social. “foi de algum modo esta preocupação que levou os filantropos do
início da era industrial na Europa – sobretudo na Inglaterra e nos Estados Unidos - a
encetar o chamado park movement"7.(BARTALINI, 1999, p. 04)
A exploração da necessidade de diversão do povo já estava presente na Roma
antiga: “os Césares não deixavam a plebe bocejar nem de fome nem de tédio”.
(YURGEL, 1983) Os governantes e empresários, a fim de aliviar as tensões,
proporcionavam ao povo espaços de lazer com atividades recreativas, como: jardins,
clubes esportivos e programadas atividades de ginástica e educação física, em
detrimento do botequim, das atividades que deslizavam à sombra das reuniões
informais e encontros em que a gratuidade dos contatos e práticas sobrepunham-se às
regras de higiene e de conduta moral que as autoridades civis e religiosas esforçavam-
se para implantar nas cidades.

Os conceitos de parques através dos tempos

No Brasil, segundo SEGAWA, o governador-geral da Nova Holanda (1637-1644)


no Recife, construiu junto ao seu palácio um jardim que era aberto ao público quando
este sentia vontade. Mas, efetivamente, espaço preparado para o uso público foi
construído no Rio de Janeiro – o Passeio Público, entre 1779 e 1783.
Somente na segunda metade do século XIX, com a emergência da cidade de
São Paulo no cenário político e econômico nacional, as áreas verdes públicas
passaram a receber maior importância e a merecer mais atenção por parte dos poderes
constituídos, quando se criou um órgão específico para se tratar do assunto. Em 1838,
São Paulo ganha seu primeiro jardim público com a abertura dos portões do Horto
Botânico da Luz que, mais, tarde levaria o nome de Jardim da Luz.
Outros parques viriam a surgir somente no início do século XX, contendo além
da função de contemplação, a de recreio. Exceção se fez à Ilha dos Amores que data
7
Park Movement contém atividades outras além da contemplação.
66
de 1870 e foi extinta em 1893. Os espaços vazios na cidade de São Paulo
escasseavam neste século, aumentava o tráfego de veículos nas ruas, expandia a
malha viária e vários parques foram implantados.
Muitos dos nossos parques foram inspirados no modelo francês. Como por
exemplo, no início do século XX, o parque do Anhangabaú funcionava como um
complemento do projeto viário e o da Várzea do Carmo, projeto de Cochet que possuía
extensa rede de passeios, um lago com ilha, quiosque, área de recreio infantil e
quadras esportivas. Ambos faziam parte do plano assinado por Joseph-Antoine
Bouvard. Entre eles, outros profissionais deixavam seus ensinamentos nas elaborações
de projetos de parques.
A urbanização despontava como resultado do espaço produzido pela indústria,
tornando-se relevante a implantação de parques. Nossos parques nasceram em épocas
diferentes, com finalidades diferentes e de modos diferentes. Portanto, os parques na
cidade de São Paulo abrigaram e abrigam diferentes modalidades de lazer, não
existindo uma fórmula única a seguir na sua concepção. Isto ocorria não só no Brasil
como no restante do mundo, visando a atender as demandas sociais que cada época
demandava.
Entretanto, pessoas responsáveis pela concepção dos projetos, instituiram
alguns elementos fundamentais que deviam constar em todos os parques. Frederick
Law Olmsted, no seu relatório do projeto de implantação do Central Park, se refere ao
parque como:
reservo a palavra parque para lugares com amplidão e espaço suficientes
e com todas as qualidades necessárias que justifiquem a aplicação a eles
daquilo que pode ser encontrada na palavra cenária ou na palavra
paisagem, no seu sentido mais amplo e radical, naquilo que os aproxima
muito do cenário. (KLIASS, 1993, p.19).

Eckbo conceitua parques como espaços livres para: “determinados usos de


forma flexível, desenvolvido com o mínimo de edificações e o máximo de materiais
naturais não processados que visam o relaxamento, contemplação, meditação,
socialização (1964, p. 99).

67
Kliass define parques urbanos como “espaços públicos com dimensões
significativas e predominância de elementos naturais, principalmente, cobertura vegetal,
destinados à recreação”.
Magnoli “associa parques públicos a determinado grau de desenvolvimento
social de um núcleo urbano, a partir do qual são requeridos e implantados, associados
à função de área recreacional" (MARIANO, 1992, p.18).
As palavras recreação e vegetação aparecem praticamente em quase todos eles
como elemento fundamental, podendo concluir que são equipamentos destinados à
população e têm como função o descanso, contemplação, espaço de contato com a
vegetação, lazer e prática de esportes. Todas as condições básicas para que o
indivíduo possa revigorar suas energias, adaptando-se ao meio urbano em que vive
através do lazer e tornando-se apto ao mundo do trabalho nas fábricas.
Segundo KLIASS, os parques surgem para responder a uma demanda:
O parque urbano responderá às demandas de equipamentos para as
atividades de recreação e lazer decorrentes da intensificação da expansão
urbana e do novo ritmo introduzido pelo tempo artificial – tempo da cidade
industrial -, em contraposição ao tempo natural, inerente à vida rural. Ao
mesmo tempo, o parque vai atender à necessidade de criação de espaços
amenizadores das estruturas urbanas, compensando as massas
edificadas. (1993, p.19).

Vários planos e projetos foram elaborados, mas apenas alguns foram


executados e muito do que foi executado, muitas vezes, não fazia parte de um projeto
aprovado.
O Plano de Avenidas na época de Prestes Maia elaborado em 1929 e, em 1950
o Plano de Robert Moses contavam com inúmeros projetos de parques para a cidade
de São Paulo, porém, somente uma ínfima parte foi contemplada, assim mesmo sem
atender as recomendações que os projetos explicitavam.
Mesmo com a expansão da mancha urbana, recomendação para construção
deste tipo de equipamento público por diversos profissionais não surtiu efeitos.
Constata-se que “o Sistema de Áreas verdes e de Parques apresenta uma grande
fragilidade frente à práxis urbana, respondida pelo binômio administração pública e
iniciativa privada" (KLIASS, 1993). Deixando a desejar o provimento deste equipamento
para a cidade.
68
Quais foram as transformações que os projetos sofreram no final do século XIX e
no século XX? Nas diferentes épocas a quem serviam os parques e para quê? Como
os parques eram distribuídos no espaço urbano da cidade? Como foi o provimento de
parques pelo setor público neste período? Por que os projetos elaborados não eram
executados, e quando executados não seguiam à risca suas recomendações? Por que
era frágil o sistema de áreas verdes e parques? Estas entre outras questões podem
elucidar a evolução dos parques na cidade de São Paulo.
A seguir, faremos um retrospecto da evolução dos parques urbanos em São
Paulo desde o final do século XIX e século XX, fazendo uma análise dos projetos,
funções, distribuição, atuação dos órgãos responsáveis, entre outros fatores
importantes que contribuem para uma maior clareza da situação dos parques na
cidade. Necessário se faz conhecer os hábitos de lazer da população e o provimento de
áreas verdes de lazer no transcorrer do tempo para contextualizar os parques dentro do
conjunto de opções que a sociedade realizava.

Parques públicos urbanos em São Paulo

O Jardim da Luz, primeiro parque público, inaugurado em 1825 como Horto


Botânico da Luz desempenhou inicialmente a função botânica original, porém, em 1838,
a Assembléia Provincial alterou seu nome para Jardim Público, abrindo oficialmente
para o passeio público.
Entretanto a mudança de nome não alterou os hábitos paulistanos que era de
uma pequena cidade, pobre e isolada em relação aos valores e hábitos europeus.
O passeio público, como lugar de exercício da sociabilidade e como ato de
exibição mútua a que se entregam seus praticantes, ficava prejudicado em
São Paulo, onde o recato feminino impedia ou limitava a participação
destas parceiras essenciais ao desenrolar daquele jogo. (BARTALINI,
1999, p.15)

A postura machista da época prejudicava a utilização deste equipamento. Havia,


até a década de 1870, rótulas nas janelas e nos balcões das residências para que as

69
mulheres ficassem longe dos olhares públicos, quanto menos elas poderiam se expor a
um passeio no Jardim da Luz. Desse modo, o Jardim ficou abandonado sendo
reabilitado somente com a reforma do presidente da província, João Theodoro, na
década de 1870.

Foto - Jardim da Luz

70
Os passeios e atividades de lazer praticadas pela população, na segunda
metade do século XIX, eram realizados em: banhar-se no rio Tamanduateí, caçar,
pescar, jogar peteca no antigo largo da Forca, atual praça da Liberdade, jogar malha no
largo de São Francisco. Passear nos “tívolis”8 e nos “recreios de tipo alemão”9 como o
Stadt Bern na rua São Bento.
As atividades esportivas e recreativas eram realizadas nas várzeas do
Tamanduateí10, Tietê e Pinheiros em clubes ou chácaras privadas, mas abertas ao uso
público e continham restaurantes, passeios de barco e espaços para piqueniques.
Como exemplo, temos a Chácara da Floresta, à margem esquerda do Tietê, na altura
da Ponte Grande, citado no Almanaque da Província de São Paulo, em 1885.
Todas as formas de lazer eram providas pelo setor privado ou eram em áreas
livres sem qualquer ocupação11, como as várzeas, nas quais se desenvolveram os
inúmeros campos de “futebol de várzea”. Na década de 1890, ocorreu aumento do
número de chácaras de recreio privadas em São Paulo, evidenciando a procura por
este tipo de atividade que a população em crescimento demandava.
Por iniciativa do governo, mas não objetivando recreação pública, foram abertos
dois novos locais públicos: parque e o horto na serra da Cantareira para abastecimento
de água e o Museu Paulista, no Ipiranga, que se transformou mais tarde em parque
municipal da Independência, anexando a ele um jardim fronteiriço e um bosque em sua
parte posterior.
Embora a razão fundamental da reserva florestal da Cantareira fosse o
abastecimento de água, parte dela recebeu tratamento paisagístico e foi equipada para
receber os visitantes, contando com locais para piqueniques e prática de esportes. Em
1898, foi implantado ali o Horto Botânico, com finalidade científica, idealizado por
Octavio Becchi, e depois se dedicou ao reflorestamento econômico, chamando-se
Horto Florestal. Começavam aparecer algumas iniciativas governamentais.
No final do século XIX, as várzeas do Tietê e Tamanduateí continuaram a
acolher formas de lazer espontâneas, ou informais, próximas aos bairros ou em torno

8
Tívoli é o nome genérico que se dá a lugares de diversão com ambientação natural.
9
Áreas ao ar livre como bebidas e danças.
10
Nesta várzea se realizaram em 1888 os primeiros treinos e partidas de futebol amador.
11
Nessas áreas livres das várzeas tinham inúmeros campos de futebol.
71
das fábricas que timidamente começavam a se instalar. No Tietê e na confluência com
o Tamanduateí se formaram os clubes privados, onde se praticava o passeio como
forma de lazer e esportes, dentre eles os náuticos12. Não se tem notícia de qualquer
tentativa do governo para a implantação de áreas de lazer pública nas várzeas.
Em termos de jardins públicos, a cidade apresentou um retrocesso em relação à
gestão de João Theodoro na província (década de 1870). No “Mappa da Capital da
Província de São Paulo”, havia onze praças ou largos ajardinados e cinco ruas
arborizadas. No relatório enviado à Câmara Municipal em 1893, quando largos, praças
e jardins já estavam sob administração municipal, o Intendente Municipal Cesário
Ramalho da Silva reconheceu apenas sete deles: Luz, Ilha dos Amores, Palácio do
Governo, São Bento, Memória, Municipal e taludes do Carmo, nem todos em boas
condições de conservação.
Em relação à iniciativa privada foi inaugurado, o parque Villon em 1892,
conhecido como parque da Avenida ou parque Paulista. Alguns anos mais tarde se
tornou público com o nome Trianon, atualmente, com o nome parque Tenente Siqueira
Campos.
O parque Villon não era propriamente um parque, na acepção do termo que os
países industrializados empregaram, como a Inglaterra, França, Alemanha e Estados
Unidos, no século XIX.
O que ele oferecia não eram extensos gramados suavemente ondulados,
pontilhados por grupos de árvores e arbustos; nem lagos ou piscinas para
natação, nem campos de jogos para homens, mulheres e crianças, mas
sim quatro hectares de vegetação luxuriante, entremeada de cipós, que os
caminhos sinuosos expunham aos visitantes e, ‘para pessoas inimigas do
spleen’, uma ‘excelente orquestra que se faz ouvir aos domingos, a
esplêndida cozinha, seus vinhos escolhidos, os preços razoáveis
(BARTALINI, 1999, p.21).

Lugares de lazer ao ar livre com várias atrações, exalando uma atmosfera


campestre ou “natural”, eram aqui chamadas, até então, chácaras ou tívolis. O nome

12
Os banhos nos rios, foram reprimidos nas últimas décadas do século XIX, por isso tornavam-se mais raros, e que
propiciaram o surgimento dos clubes náuticos privados nas várzeas.
72
“parque” surgiu pela primeira vez em São Paulo neste empreendimento de Paul Villon 13
que, por sua vez, estava compreendido dentro de um empreendimento imobiliário mais
vasto, a abertura da Avenida Paulista, encabeçado por Joaquim Eugênio de Lima, João
Augusto Garcia e José Borges de Figueiredo.
Os parques nos Estados Unidos e Europa já haviam passado pela transição do
“parque contemplativo” para o “parque equipado”. No Brasil, o provimento de parques
era mais no sentido do public walks, ou seja, o parque contemplativo para passeio. O
governo não se preocupava com práticas de esportes ou outras atividades, deixando
isto para o setor privado.
De 1872 a 1900, a cidade de São Paulo teve sua população aumentada em 7,6
vezes, devido ao incentivo à imigração européia para o trabalho nas fazendas de café,
após a abolição da escravidão negra. Muitos desses imigrantes permaneceram na
cidade, aumentando assim sua população.
No que se refere ao setor público, tendo que incrementar a infra-estrutura da
cidade, tomou providências como: a reforma do Jardim da Luz, a construção da Ilha
dos Amores, o Horto Florestal e o Museu Paulista considerados como espaços de lazer.
Eram quatro logradouros públicos voltados para o lazer.
As competências provinciais e municipais na época eram confusas no que diz
respeito às áreas verdes urbanas. Tornava-se difícil precisar de que esfera
administrativa partia a iniciativa em qual delas recaia a responsabilidade pela execução
e administração de cada um dos logradouros ajardinados e arborizados desde 1871 até
1893, ano em que foi transferida à municipalidade a administração dos jardins públicos
da capital.
Sabe-se que em 1892 três dos logradouros estavam sob o domínio da Câmara
dos Vereadores: o largo Municipal, hoje parte da praça João Mendes, o do São Bento e
o da Memória; e outros três, anteriormente administrados pelo governo provincial (ou
estadual, depois de proclamada a república) à Câmara foram passados: o Jardim
Público da Luz, a Ilha dos Amores e o largo do Palácio.

13
Arquiteto paisagista da Diretoria dos Jardins Públicos, Arborização de Florestas do Rio de Janeiro – foi discípulo
de Auguste Glaziou. Trabalhou no Service des Promenades et Plantations de Paris, dirigido por Jean-Charles-
Adolphe.

73
Áreas verdes para a prática de exercícios físicos ou de esportes, ou espaços
bucólicos, preservados ou especialmente projetados para passeios e piqueniques, eram
garantidos, nas cidades da Inglaterra, da Alemanha, dos Estados Unidos, por claras
políticas do poder público voltadas para a saúde física e moral dos citadinos,
principalmente, dos trabalhadores. Tais políticas seguiam de perto os processos de
industrialização daqueles países e ofereciam-se como compensação pela degradação
da paisagem urbana, das condições de habitabilidade e da relação com a “natureza”.
Em São Paulo a situação era outra. Apesar do crescimento populacional
averiguado no final do século XIX e mesmo no início do séc. XX e da expansão urbana,
as condições sociais eram outras e o processo de urbanização conservara recantos
bucólicos suficientes nas proximidades e mesmo dentro da cidade. A indústria ainda era
incipiente. O poder público ficou assim desobrigado do provimento de um tipo
específico de área verde de lazer, próprio da sociedade industrial, que associa
passeios, jogos e esportes como atividades inerentes ao parque.
Aqui no Brasil, o provimento de áreas verdes estava ligado mais às praças,
largos, arborização de ruas com a finalidade de embelezamento e de ser um espaço
para passeio, como o Jardim da Luz e o parque Villon.
Mesmo não tendo a importância dada aos parques europeus, verificamos que
algumas iniciativas em relação às áreas verdes já estavam germinando dentro das
políticas voltadas para a infra-estrutura da cidade.
Entre as necessidades do município no final do século XIX avultavam o controle
das enchentes do Tamanduateí. Em 1856, a Câmara iniciara, com fundos da
Assembléia Provincial, a abertura de um canal de drenagem para desviar o rio da base
da colina histórica e aumentar sua velocidade de escoamento. À beira de uns destes
canais, duas décadas após, foi construída, pelo governo provincial, a segunda
importante área verde pública paulista, considerarando que o Jardim Público da Luz foi
a primeira: a Ilha dos Amores.
Porém, no que se refere à manutenção desses equipamentos urbanos, a
iniciativa privada, não só como no provimento, também se fez presente. Para zelar
pelos largos arborizados a Câmara aprovou proposta de um vereador, Dr. Camargo, de
entregá-los aos cuidados de cidadãos que nada cobrariam por isso, porque a

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arborização dos logradouros públicos era algo que interessava, a ponto de obter o
apoio gratuito, de cidadãos com certa projeção social na época, uma vez que entre eles
figuravam ‘doutores’, alferes, tenentes, coronéis e conselheiros.
No início de 1873, João Theodoro Xavier enviou à Câmara Municipal um pedido
para que fossem listadas e pré-orçadas as obras consideradas prioritárias para o
município, com o fim de obter da Assembléia Provincial o assentimento a um auxílio
para sua execução. Entre os itens arrolados pelos vereadores, um deles levantava a
necessidade de “regularizar o morro do Carmo com tabuleiros de muro de pedra,
escadas de uns para outros e arborização das mesmas”. O outro tratava da
“desapropriação de um terreno que pertencia a diversos, mas que havia sido
conservado sempre aberto e em abandono na rua da Constituição (atual Florêncio de
Abreu) (...) que com árvores e assentos, torna-se, de um precipício e lugar de despejo,
um lugar aprazível para o público que dali gozará a bela vista da várzea do Carmo.”
(SÃO PAULO, M. 1947, p. 45) As medidas tomadas evidenciavam o início de uma
preocupação por parte do governo em prover este tipo de lazer para a população.
Em 1893, todos os jardins públicos da capital passaram a ser administrados pela
Câmara Municipal. E, mesmo não sendo considerados prioridades pelas entidades
públicas, frente ao que se gastava com eles no total da despesa orçada, variando entre
0,78% a 2,60%, essas áreas tinham um órgão específico para serem cuidadas,
mostrando já um grau de importância que o assunto havia já adquirido.
Mesmo que essas atitudes concentravam-se exclusivamente na zona oeste do
centro da cidade: no “centro novo” e nos Campos Elíseos – espaços então associados
às classes de alta renda – e nos bairros da Luz, Liberdade e Vila Mariana, de classe
média, aonde foram arborizados várias praças e largos. Atitudes desiguais em relação
aos bairros mais pobres quanto ao provimento dessas áreas.
Nessa época, iniciou-se a distribuição desigual no espaço em relação ao
provimento de áreas verdes, evidenciando assim uma segregação socioespacial que
viria se acentuar até os dias de hoje. Os bairros ricos eram equipados, enquanto, os
bairros pobres sequer eram citados.
É importante salientar que, como a importância que o verde ia adquirindo para o
embelezamento da cidade, os parques, aos poucos, foram entrando no rol das

75
preocupações públicas. Entretanto, apesar dessas preocupações, também começavam
a aparecer os problemas de adequação entre os jardins públicos e os contextos
urbanos. O governo acabava por priorizar mais a malha viária em prejuízo dos parques.
Foi a argumentação de que o jardim do Largo Municipal atrapalhava a fluidez do
trânsito de pedestres, que foi dado apoio à idéia de substituí-lo por uma alameda. Foi a
utilização do largo de São Bento como ponto de partida de bondes elétricos, que levou
ao encolhimento do seu jardim na virada do século. Mais recentemente o Parque D.
Pedro II desapareceu para dar a vez para viadutos.
Do mesmo modo, o contexto espacial em que se implantou a Ilha dos Amores
pode ser visto como um dos motivos do seu desaparecimento precoce, apesar de ter
sido um dos passeios mais aprazíveis e saudáveis de São Paulo.
ELAZARI pronuncia-se sobre a Ilha dos Amores como:
linda, muito florida e garrida, com seus canteiros perfumados, com sua
pontezinha alta e recurva, à moda chinesa, deixando lá em baixo a água
clara do Tamanduateí. (...) se pode descansar à sombra das árvores, ouvir
música tocada por bandas e comer bem no seu restaurante, o ‘Chalé da
Ilha dos Amores (1979, p.71-72).

Os jardins desses locais públicos eram feitos por pessoas que entendiam do
assunto e caprichosas, porém, parece que a conservação e a própria existência desses
logradouros não eram de responsabilidades dos mesmos, e que deveria estes mesmos
ter influência reduzida, visto o desaparecimento e maus tratos, imperando os reclamos
de uma cidade que crescia.
A Ilha dos Amores se destaca na história dos espaços verdes públicos de São
Paulo, principalmente, por dois motivos: primeiramente por sua localização à beira do
rio Tamanduateí que, até então, não tinha sido merecedor de uma valorização
paisagística por parte dos órgãos oficiais, em segundo lugar porque, construída à beira
de um braço do rio, puxado rente à rua Vinte e Cinco de Março, oferecia entre outras
opções de recreio, local para banhos públicos. Era a oficialização de um hábito de lazer
que os paulistanos (homens e crianças; não há notícias de mulheres) praticavam no
Tamanduateí de modo informal e mesmo transgressivo pois, já em 1864, os banhos
diurnos em locais públicos e nos rios estavam proibidos por uma postura municipal.

76
O que os depoimentos revelam é ter sido ele um espaço que atendia as
camadas sociais menos privilegiadas. Quanto às críticas à administração do espaço
revela o grau de descaso do setor responsável. A Ilha dos Amores desapareceu
paulatinamente, ficando ao descaso da cidade como se fosse um espaço de pouco
importância e beleza insignificante. Não apareceu qualquer registro de indignação por
parte daqueles que a conceberam. A não conservação da Ilha também ficou em
evidência.
Veja-se agora a paisagem da várzea do Carmo, retratada em óleo sobre
tela por Benedito Calixto em 1892. Lá está a Ilha dos Amores já
decadente, com touceiras de bananeiras nascidas ao acaso e capoeiras
em formação espontânea nas suas extremidades. A estátua do ‘Pajem’
encimando a coluna, última testemunha do que fora um jardim, figura
como artefato deslocado no tempo e no espaço, fora de escala, uma vez
que se perderam os limites do espaço que o abrigava. De modo
semelhante, despojada de seus traços distintivos de jardim, a Ilha se
perde na vastidão da várzea, confundindo-se com outros elementos da
natureza. De fato, a ‘renaturalização’ da ilha é indício dos anos que se
passaram sem qualquer cuidado, conferindo-lhe o aspecto de mera
extensão da paisagem de ‘fundo de quintal’ que a encosta da colina
histórica exibia então, e da rudeza própria da zona do
mercado.(BARTALINI, 1999, p.37-38).

Um espaço como a Ilha dos Amores, tão bem falado caindo no abandono até seu
desaparecimento, assim como outros parques, mostram-nos a pequena importância
que esse tipo de equipamento tinha nas prioridades governamentais.
Nossos jardins públicos eram peças isoladas. Não pertenciam a um sistema de
áreas verdes ao qual se agregavam os grandes parques, plenos de atrações, e
boulevards como nos squares parisienses. Tal sistema de áreas verdes, que era
indissociável dos sistemas viários e de infraestrutura, abrangia a cidade inteira.
Importamos o elemento, mas não o sistema. Esboços de sistemas espacialmente
integrados, mas isolados uns dos outros, podem ter existido, de modo embrionário, em
dois casos. Um deles, no conjunto formado pelo Jardim Público e a grande alameda da
avenida da Luz (atual avenida Tiradentes). O outro, pelos taludes do Carmo, rua Vinte e
Cinco de Março e Ilha dos Amores. Nos dois casos, o que fazia às vezes de parque não
era nenhum espaço criado por iniciativa governamental. Nos dois casos apontados
eram, respectivamente, as várzeas do Tietê, in natura – ou a Chácara da Floresta, mais
77
equipada, porém, privada e paga – e a várzea do Carmo que, mais tarde, chegou a ser
um parque efetivamente. Mas ambos não resistiram às transformações que se
operaram na cidade.

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Foto 5 – Ilha dos Amores

Foto 6 - Ilha dos Amores

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O mercado e a construção de parques

Com o passar dos anos, as formas de lazer foram se transformando na cidade.


Entre 1899 até meados de 1935, as pessoas passaram a fazer piqueniques nas
chácaras dos arredores da cidade, no parque da Cantareira, no parque Antártica, ou no
Bosque da Saúde. Já não mais se passeava somente, podia correr, subir em árvores,
deitar na relva, brincar, cantarolar árias de óperas, namorar à sombra das árvores, jogar
bocha, patinar, jogar ou assistir futebol e andar de bicicleta. Havia bares-restaurantes e
bondes e trens que faziam idas e vindas à cidade, sendo à volta, muitas vezes, sujeita à
espera de mais de uma hora por um bonde menos lotado.
O hábito de passeios com piqueniques e outras diversões teve duração longa,
podendo ser observado ainda hoje em alguns parques públicos de São Paulo. Novos
locais para o exercício deste tipo de lazer foram acrescentados aos anteriormente
existentes nessa época. Porém, nenhum deles foi implantado pela prefeitura.
Logo no início do século, em 1900, foi inaugurado o parque Antarctica de
propriedade da Companhia Antarctica Paulista, na Água Branca. Era um parque
projetado com o fim específico de proporcionar sombra aos visitantes. Ficava a cerca
de 4,5 Km do centro da cidade e era servido por linha de bondes da Light, com tarifas
reduzidas, de modo a estimular a freqüência ao parque. Afirma Jorge Americano que ali
existiram pelo menos dois bares-restaurantes, locais sombreados para piquenique,
cancha de bocha, cimentado para patinação, carrinhos de passeio para crianças
(puxados por bodes), roda gigante, cavalinhos de pau, teatro de marionetes,
competições de corrida a pé e mesmo campo de futebol.
Mas o parque teve vida curta pois primeiramente, em 1916, foi alugado pelo
Palestra Itália para a realização de jogos de futebol, sendo, posteriormente, comprado
pela mesma associação em 1920.
Também pertence à Companhia Antártica o Bosque da Saúde, coberta por
vegetação residual da mata Atlântica, na qual se abriram algumas clareiras e trilhas.

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Foto 7 - Parque Antártica

Foto 8 - Bosque da Saúde - 1940

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Distava mais ou menos 6,5 km do centro da cidade e também era servida por linha de
bondes elétricos. O local podia acolher um bom número de visitantes e, além das trilhas
e dos lugares sombreados para piqueniques, oferecia espaço para bailes.

Em 1925, com a abertura do loteamento do Bosque da Saúde, os paulistanos


deixaram de contar com esta área verde de recreação.
O parque Antártica e o Bosque da Saúde foram dois importantes espaços de
lazer e que desapareceram sem que fossem substituídos por outros, para que a
população pudesse se direcionar nos finais de semana.
Outra área verde, também particular, já bastante freqüentada na virada do
século, era o Jardim da Aclimação, que atingiu seu auge na década de 1920, quando
oferecia ao público, além da sombra das árvores, botes de aluguel, remo e natação,
que se desenvolviam na lagoa, o salão de baile, restaurante e ‘terrasse’, barracões para
piqueniques, conjuntos musicais de sanfoneiros e violeiros, rinque de patinação,
barracas e feira de diversões. Além dessas atividades de recreação, o Jardim da
Aclimação possuía uma ‘vacaria’ e uma ‘cremerie’, que eram espaços destinados à
exposição de animais e venda de laticínios. E contava ainda com um zoológico que
despertava grande interesse do público. No entanto, na década de 1930, o zoológico já
estava decadente.
Além destes havia outros parques de propriedades privadas, como os do
Jabaquara e da Granja Julieta, sem contar os “tivolis” e os recreios.
Sendo propriedades particulares, tais parques duraram enquanto serviam aos
interesses de seus proprietários. Dentre eles, apenas parte do parque Aclimação seria
revertida para uso público, mediante desapropriação, enquanto que o da Floresta,
depois de desapropriado pela prefeitura com finalidade recreativa, seria tragado pela
retificação do rio Tietê. Realmente estes espaços e o lazer para a população não eram
prioridades nas políticas governamentais, visto o desaparecimento da maioria deles.
A grande novidade em termos de lazer ao ar livre na época ora em pauta foi o
considerável aumento verificado na prática dos esportes. O preço das entradas para
espetáculos desportivos era relativamente baixo e mais barato do que os ingressos
para outro tipo de divertimento, levando à popularização das atividades desportivas. Na

82
primeira década do século eles se disseminaram de tal modo que os jornais lançaram o
neologismo “esportemania”.
A canoagem e a natação foram modalidades de esporte pioneiramente lançadas
em 1903 pelo Clube Espéria, implantado à beira do Tietê. As regatas e a natação no rio
Tietê atravessaram décadas, chegando até os anos 50 do século XX. Além dos
chamados esportes náuticos eram os rios utilizados também para passeios de barco e
para a pesca recreativa. Com os trabalhos de retificação do rio Tietê, que se seguiram
pelos anos 20, esta forma de lazer definhou até desaparecer por completo.
Paralelamente a estas novas formas de lazer, continuavam a ser usados os
jardins públicos para os tradicionais passeios, animados por bandas musicais e, muitas
vezes , no Jardim da Luz prestigiada pelo comparecimento da família do prefeito
Antônio Prado. Conta Jorge Americano que a Banda da Força Pública dava dois
concertos por semana: aos domingos no Jardim da Luz e às quintas-feiras, no Jardim
do Palácio.
O relato de Jorge Americano recordando os passeios no largo do palácio do
governo e no Jardim da Luz, dá uma boa idéia sobre a formalidade que envolvia estes
acontecimentos e sobre a estratificação social que se refletia nos espaços públicos,
apesar de serem utilizados por pessoas de todas as classes:
terminando o jantar, as cinco, as famílias dos bairros vinham vindo.
Sentavam nos bancos do jardim. Os vadios eram escorraçados, e ficavam
para o lado de fora das grades. No jardim da Luz ao cair da tarde vinham
chegando os apreciadores de música, de todas as classes sociais. Todos
os homens, mesmo operários, usavam colarinho, gravata e chapéu, todas
as mulheres usavam chapéu. À proporção que chegavam os
‘funcionários’, os operários, embora de colarinho, cediam-lhes os bancos,
e ficavam passeando em redor do repuxo e do lago (...) Os ‘abastados’
chegavam mais tarde, às seis e vinte, encontravam vazias as mesas ao ar
livre, do bar, onde sentavam. Os operários não compravam nada. Os
funcionários compravam por um tostão um cartucho de pipocas,
amendoins e balas dos vendedores ambulantes. Os ‘abastados’ pediam
‘gasosas’ (um tostão), chopes (220 réis), ‘sandwiches’ (200 réis) e
sorvetes (300 réis), sentados às mesas a que atendiam os garçons do bar.
(AMERICANO, 1957, p.215-218)

Afora estes usos mais formais que se davam nos jardins públicos e os mais
descontraídos que se davam nos parques recreativos privados e na Cantareira, ou

83
então nos clubes de várzea, ocorria o lazer cotidiano nos bairros operários, já não em
áreas verdes, porque eles não as possuíam, mas nas calçadas - espaços de
sociabilidade para os adultos – ou na própria rua, onde as crianças brincavam ou
jogavam.
A classe mais abastada se utilizava dos logradouros públicos que permaneciam
com a finalidade do passeio e destinava-se à elite, dos clubes e chácaras privadas que
tinham uma gama enorme de atrações, entre eles o esporte que estava na moda. Os
parques Antártica, Bosque da Saúde, Jardim da Aclimação, utilizados pelas classes
sociais com menor poder aquisitivo, foram fechados ou reduzidos.
O setor público ainda não se incumbira da responsabilidade de oferecer espaços
com a introdução de novas atividades de lazer que fosse accessível à população em
geral, mantendo aqueles que serviam à elite ainda de uma forma discriminatória.
Aponta-se aqui a desigualdade no provimento de áreas para lazer para as diferentes
classes sociais.
Em 1900, a área urbanizada cobria 5.200 hectares, em 1930 atingia quase
17.700 ha. Os corpos d’água e os vales fluviais têm caráter propício para a implantação
de áreas verdes. As planícies dos maiores cursos d’água que atravessam o município
estavam praticamente livres de urbanização, com exceção da margem esquerda do rio
Tamanduateí. A mancha urbana contínua não ultrapassava, ao norte, a margem
esquerda do Tietê, na planície da margem direita a urbanização era ainda esparsa,
havendo grandes extensões de planície aluvial não ocupadas em ambos os lados do
Tietê.
Nos primeiros terraços da margem direita do rio Pinheiros estavam implantados
os bairros Santo Amaro, Brooklin Novo, Itaim, Jardim Europa e Pinheiros, mas nenhum
deles chegava até a várzea. Do bairro de Pinheiros até a foz nada estava urbanizado. A
margem esquerda do rio Pinheiros contava com poucos e pequenos núcleos
urbanizados. De mais de trinta quilômetros era a extensão das faixas de áreas livres de
urbanização em ambos os lados do rio Pinheiros.
Pode-se assim ter uma idéia do potencial ainda existente no fim da terceira
década do século XX para a implantação de áreas verdes, não só com finalidade
ambiental mas também recreativa, visto que vários bairros populares já estavam

84
estabelecidos nas planícies dos maiores rios. É bem verdade que diferentes usos – as
ferrovias, as indústrias, a mineração – competiam pelo espaço das várzeas e dos
terraços fluviais, mas ainda havia lugar para os clubes recreativos e esportivos, uns
mais equipados – Tietê, Espéria, Floresta – outros mais precários – os chamados
“clubes de várzea”, voltados para o futebol.
A oferta de áreas verdes de recreação pela iniciativa privada – de que são
exemplos a Chácara da Floresta, o parque Antártica, o Bosque da Saúde, o Jardim da
Aclimação, o parque da Avenida -, a disponibilidade de vazios ainda não alcançados
pela urbanização – que possibilitavam a apropriação informal para o recreio ou mesmo
a formação de clubes e associações em diversos bairros ribeirinhos -, assim como a
reversibilidade para o lazer de terrenos do Estado em princípio destinados a outras
finalidades – como o Horto da Cantareira e o Jardim Botânico nas cabeceiras do
Ipiranga -, devem ter contribuído, num primeiro momento para evitar pressões
incômodas sobre a prefeitura, no sentido de prover espaços verdes para recreação
pública e gratuita.
Nos últimos anos da década de 1920, ações pontuais da prefeitura para a
implantação de um parque serviram de argumento para justificar sua omissão na
formação de um sistema de parques, tantas vezes proposto, no seu principal vale
fluvial. A respeito disto vale lembrar que Ulhoa Cintra, no plano que elaborara em 1922
para o rio Tietê, propunha diversos espaços públicos ao longo do vale, conectados por
parkways, enquanto Saturnino de Brito, em 1924 reservava 930 hectares de terras não
construídas, formadas por lagos e matas para a regularização do regime do Tietê e
também por parques e “jardins acessórios”.
Em 1927, o mesmo Ulhoa Cintra, preocupado com os custos de desapropriações
e alegando estar a prefeitura já empenhada em construir um grande parque na “várzea
de Santo Amaro”, ou seja, o futuro parque Ibirapuera, dispensou todos os espaços
livres propostos no vale retificado do Tietê. E isto apesar de o prefeito Pires do Rio
afirmar à Câmara, no mesmo ano de 1927, que “à margem do Tietê, a municipalidade
defende com energia, por atos e por ação judiciária, a posse de grandes áreas em que
alguns jardins serão possíveis” (SÃO PAULO, M., 1928, p. 25).

85
No entanto, por tímidas e por mais localizadas que fossem, algumas medidas
foram tomadas pelo poder municipal, nas três primeiras décadas do século XX, para
assegurar aos munícipes áreas verdes de lazer públicas e gratuitas. Ainda assim que
estas medidas se restringissem ao centro e aos chamados “bairros nobres” da cidade,
evidenciando uma desigualdade na distribuição desses logradouros no espaço e o
consentimento de que parques privados, importantes para a sociedade,
desaparecerem.
As intervenções no espaço da cidade em relação às áreas verdes de lazer nessa
época foram desdobramentos do plano de melhoramentos que incluíam no seu
planejamento: o circuito de “passeios interiores” e “três grandes parques” proposto por
Joseph-Antoine Bouvard, em 1911.
Para tanto, medidas foram tomadas pelo poder municipal, visando as áreas
verdes, que puderam ser agrupadas nas seguintes categorias: acordos com os
proprietários de áreas verdes de lazer privadas para garantir entrada franca ao público;
desapropriação de áreas verdes de recreação já existentes ou de terras para a abertura
de novas áreas verdes públicas; dispositivos legais para tornar obrigatória a doação de
espaços livres públicas nas operações de loteamento; abertura, reforma e manutenção
de áreas de lazer em terras de propriedade pública; ações judiciais para preservar o
patrimônio municipal; ações conjuntas com o governo do Estado.
A ação do poder municipal para garantir o acesso público e gratuito a áreas
verdes de lazer privadas limitou-se a um único caso, o do parque Antarctica. Envolveu a
concessão de vantagens aos proprietários como isenção de impostos. No entanto, o
acordo durou o tempo do interesse do capital. “Antes de completar os vinte anos
previstos na lei o parque foi alugado, em 1916, para os treinos do Palestra Itália, sendo
finalmente vendido àquela associação esportiva em 1920.
Para o Bosque da Saúde e o Jardim da Aclimação, duas importantes áreas de
lazer privadas na década de 1920, utilizadas pelo público, não houve acordo
semelhante. O Bosque desapareceu com a abertura do loteamento do bairro homônimo
e o Jardim mais tarde foi desapropriado.
Ocorreram desapropriações para implantação de áreas verdes de recreação no
parque Villon, na praça Buenos Aires e na Chácara da Floresta. O parque Villon, ou

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parque da Avenida, foi comprado pela prefeitura em 1911 do então proprietário
Francisco Matarazzo. Era conhecido como Trianon tendo sido seu nome mudado para
Tenente Siqueira Campos, em 1931.
A Chácara da Floresta, era uma área de lazer de propriedade privada junto à
Ponte Grande do rio Tietê, foi comprada com objetivo de implantar um parque público.
Tratava-se de um parque de grandes dimensões, composto pelas duas áreas
desapropriadas mais os terrenos municipais devolutos, situados nos fundos, mais os
terrenos do patrimônio municipal em torno da Chácara que foram autorizados,
chegando a um total em torno de 300.000 m². Os gastos com a compra de terras para a
formação do parque e com as indenizações das benfeitorias existentes nos terrenos
que estavam autorizados, deu quase 15% do total da receita do ano.
O significado deste parque para a cidade veio expresso nas palavras do prefeito:
Apesar de ser um melhoramento esse de não pequena monta, para os
cofres do município, a administração não hesitou em iniciá-lo, fazendo
essas aquisições de terrenos, convencida como está de que é preciso
dotar São Paulo de reservatórios de ar, principalmente numa zona como
essa, entre os bairros do Bom Retiro e da Luz, de grande aglomeração de
habitantes de acordo com o projeto Bouvard”. (SÃO PAULO, M., 1928, p. 25)

No entanto, aquela “grande aglomeração de habitantes”, na sua maior parte


constituída de trabalhadores e suas famílias, ficou sem seu “reservatório de ar” e sem
sua área de recreação, utilizando, enquanto foi possível, os terrenos deixados ao
abandono na várzea do Tietê como área de lazer improvisada.
Por outro lado, os habitantes de Higienópolis ganharam da prefeitura a praça
Buenos Aires e um mirante sobre o vale do Pacaembu, e os da avenida Paulista não só
o parque mas também o Trianon, fronteiro a ele, com seu grande salão de festas.
Enquanto que nos terrenos baldios às margens do rio Tietê na Luz e no Bom Retiro as
áreas de lazer se arranjavam ao sabor do acaso; na praça Buenos Aires e no parque da
Avenida eram executados projetos de paisagismo da chancela Bouvard e Barry Parker,
respectivamente.
Novamente nesta época nota-se que os planos para os bairros de poder
aquisitivo elevado eram contemplados e para os de poder aquisitivo menor, como o da
Ponte Grande, caíam no esquecimento.

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Quanto aos dispositivos legais para doação de espaços livres nas operações de
loteamento, a Lei nº 2.611 de 20 de junho de 1923 obrigava o loteador ao apresentar
seu plano de arruamento, nas glebas de superfície igual ou superior a 40.000 m², a
deixar para espaços livres (praças, jardins, squares, etc.) de domínio público uma área
correspondente, pelo menos: a 5% da área total – na zona urbana; a 7% da área total –
na zona suburbana; e a 10% da área total – na zona rural.
Observe-se aqui a curiosa inversão dos índices, exigindo menos área verde na
zona em que supostamente elas eram mais raras e mais necessárias devido à maior
densidade habitacional. De qualquer modo, foi das terras compulsoriamente doadas
nestas operações que se originou boa parte das áreas verdes hoje oficialmente
consideradas parques municipais.
Em 21 de setembro de 1923 foram estabelecidos novos limites das zonas urbana
e suburbana dando, teoricamente, condições ao poder municipal para controlar e exigir
dos loteadores as áreas que passariam ao domínio público. Porém não previu qualquer
forma de controle para a expansão horizontal da cidade e nem sanções para os
transgressores.
Em 1930, sete anos após a promulgação da lei, a urbanização já se espalhara
por toda a zona urbana e, na zona suburbana, apenas deixava livres glebas
correspondentes aos bairros-jardim, que resultavam áreas verdes em maior número do
que nos bairros convencionais. Mas nenhum dos parques municipais hoje existentes
nasceu daqueles loteamentos pois, se por um lado havia maior disseminação das áreas
verdes, por outro elas eram de pequenas dimensões ou de proporções e declividades
inadequadas para o seu aproveitamento como parques.
Em 1934, o Ato nº 663 de 10 de agosto de 1934, consolidou o Código de Obras
“Arthur Saboya” que impunha condições para a aprovação dos projetos de arruamento,
abriu também possibilidades de regularização de loteamentos já executados nos quais,
“a juízo da Diretoria de Obras e Viação”, não fosse mais possível a aplicação integral
dos dispositivos do Ato. Ficava assim instituído um procedimento que, na prática,
legalizava o ilegal e abria caminho para a proliferação de loteamentos clandestinos e,
por conseqüência, a não aplicação do disposto na lei a respeito da doação de áreas
verdes de uso público.

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Quanto às reformas, reconstruíram-se coretos, mobiliaram-se os jardins,
instalaram-se protetores de ferro para as árvores, substituiu-se parte da arborização
antiga, reformaram-se completamente, além dos logradouros citados acima, os largos
do Carmo (desaparecido), Sete de Setembro, General Osório, Guaianazes (praça
Princesa Isabel) e a praça São Paulo (praça Almeida Junior).
A criação de áreas verdes mais expressivas viria com a execução de parte do
plano Bouvard, notadamente os parques do Anhangabaú e da Várzea do Carmo.
Quase metade do total de largos e praças da cidade ainda não tinha sido tratada
pela Administração dos Jardins nas duas primeiras décadas do século XX. Após 1918 a
situação não se alterou significativamente. Apenas alguns largos e praças foram
acrescentados, sendo que algumas desapareceram com a construção do metrô e
abertura de avenidas.
No entanto, em 1922 já estaria entregue à população o parque da Várzea do
Carmo e, em 1927, teriam início as gestões para viabilizar “a construção de um grande
parque” nos terrenos do Ibirapuera.
O parque da Várzea do Carmo, com seus quase cinqüenta e cinco hectares, fez-
se faceando de um lado o centro da cidade e a Várzea do Glicério e, de outro, os
terrenos mais baixos do bairro do Brás e da Mooca, situados nos dois distritos mais
populosos de São Paulo, segundo o censo de 1920: 67.856 habitantes na Moóca e
66.883 no Brás. Supondo que o distrito da Liberdade também poderia se beneficiar da
proximidade do parque, foram acrescentados mais 38.097 moradores, de acordo com o
mesmo censo. Chega-se assim a 172.836 potenciais fruidores do parque, morando em
distritos espacialmente a ele relacionados, para uma população de 579.033 habitantes,
ou seja, 29,85% da população paulistana.
É forçoso reconhecer que o parque da Várzea do Carmo, ou Dom Pedro II, como
passou a ser chamado a partir de 1921, abria-se para bairros populosos e populares,
oferecendo-se como área de lazer pública e gratuita. Seria uma das primeiras grandes
obras voltada para a população de poder aquisitivo baixo, realizada pelo governo
destinada ao lazer.
Mas aqui vem ao caso, justamente, o tipo de lazer oferecido pelo parque. No
projeto de Cochet estavam previstos, além da avenida-passeio externa e dos passeios

89
internos, espaços para jogos e esportes – tênis, futebol, hockey, beisebol, boliche,
patinação -, ginásio coberto, um conjunto de banhos públicos, um estádio, áreas de
jogos e de ginástica específicas para as crianças, amplos gramados para recreação em
geral, lago, ilha e até um cine-teatro e um anfiteatro ao ar livre. Contaria ainda com as
construções indispensáveis aos parques públicos: abrigos contra chuva, pavilhão de
música, restaurante na ilha, café-sorveteria perto do teatro, pavilhão para
administração, pequenas estruturas para usos diversos, bebedouros, etc. No entanto,
as classes mais pobres jogavam tênis, beisebol, portanto, permanece a dúvida se o
projeto tinha como objetivo realmente as camadas mais pobres da população.
Ocorre que o parque foi aberto ao público em 1922, não só faltando parte das
obras de ajardinamento, como também tudo o que requeresse grandes investimentos –
ginásio coberto, cine-teatro, banhos-públicos – ou nem tanto, como as quadras
esportivas e áreas de recreio para crianças. O lazer ofertado, portanto, não era
essencialmente diferente daquele que se realizava no Jardim de Luz, no parque
Siqueira Campos ou na praça Buenos Aires. O espaço do lúdico, da descontração, da
informalidade, do cultivo ou do gozo do corpo, ainda estava nas sobras da urbanização
– os terrenos baldios nas várzeas.

90
Foto 9 – Parque D. Pedro II

Foto 10 - Parque D. Pedro II

91
A primeira iniciativa do governo para estes bairros, no entanto, não foi completa,
além do projeto não ter sido contemplado – apesar de se colocar em dúvida sua real
validade para àquela população, o lazer oferecido foi o mesmo das classes mais
abastadas.
Entretanto, uma outra atitude o governo tomou na gestão do prefeito José Pires
do Rio, de 1926 a 1930, providências para garantir a posse dos terrenos da prefeitura
na chamada “Várzea de Santo Amaro”, onde se inauguraria, duas décadas e meia
adiante, o parque do Ibirapuera. No relatório que encaminhou à Câmara sobre o
exercício de 1927 relatava o prefeito que:
Contígua aos terrenos da Invernada dos Bombeiros, propriedade do
governo do Estado, possui a Municipalidade uma considerável extensão,
por onde correm as avenidas França Pinto e Rodrigues Alves e que, além
desta via ocupada pelos trilhos da linha de santo Amaro, constitui a zona
de Vila Clementino e os terrenos do Matadouro Municipal.
Já o Município vendeu grande parte de suas terras na Vila Clementino,
possui,entretanto, quase toda a superfície que vai da avenida França Pinto
ao córrego do sapateiro. Por permuta com o Governo do Estado, adquiriu
a zona compreendida entre esse córrego e o do Caaguassu, parte maior
da Invernada dos Bombeiros. Por compra adquiriu o terreno situado entre
esse córrego e o fim da rua Abílio Soares.
Sobre toda essa vasta extensão, que mede perto de 2.000.000 de metros
quadrados, estamos construindo um grande parque, futuro logradouro de
valor incomparável para a cidade de São Paulo.
Uma audaciosa tentativa de esbulho, fundada em documentos falsificados
retardou a obra que estamos realizando; mas já começamos o amanho
das terras para o parque e o plantio de árvores já foi iniciado.
A defesa judiciária da Municipalidade prestes será concluída e os
criminosos punidos com a lei. A ação judiciária, como dissemos, retardou
mas não impediu a obra que temos realizado para o preparo do terreno
destinado ao grande parque. Despendeu a Municipalidade para aquisição
de mais 182.000 metros quadrados compreendidos pela rua Abílio Soares,
rua Curitiba e córrego Caaguassu, 650:000$000 ou menos de 4$000 o
metro quadrado.
Esse parque, com parte de 2.000.000 metros quadrados virá triplicar a
superfície dos jardins da nossa magnífica cidade-capital. Temos agora, em
São Paulo, apenas 926.839 metros quadrados de parques e jardins para
uso de uma população de quase 1.000.000 de habitantes. Com o parque
de Ibirapuera, triplicaremos a superfície atual. (SÃO PAULO, M., 1928)

Com a construção da Várzea do Carmo, a desapropriação para a construção do


parque da Floresta, as legislações destinando espaços de loteamentos para áreas
92
verdes de recreação, a desapropriação para construção do parque Ibirapuera, revelam
atitudes do governo com a atenção de prover a cidade desse tipo de lazer, porém, as
atitudes não representavam um resultado satisfatório dada a irregularidade dos
loteamentos, projetos não contemplados, a morosidade da intenção de se fazer um
parque até o início de sua construção, abandono de projetos, entre outros. Outros
interesses provavelmente deveriam estar em jogo fazendo com que as intenções
iniciais se desviassem, demonstrando uma fragilidade do setor responsável ao
provimento de áreas verdes, devendo ser este um setor de pouca relevância no
contexto das políticas públicas da época.
Mesmo sendo um país de elite culturalmente francófila, como a brasileira, que
recebia administradores públicos e os urbanistas, ou planejadores urbanos de Paris,
que passavam ensinamentos e conselhos advindos da experiência parisiense, da
importância que esse equipamento adquiria nas cidades.
Um dos ensinamentos trazidos pelos urbanistas e planejadores urbanos de Paris
foi o entendimento do parque urbano não mais como representação da natureza ou do
ruralismo, nem como extensão da arquitetura, mas sim como extensão da cidade, ou
seja, os parques passariam a expor a cidade. Os parques tornaram-se urbanos não só
porque usados pelos cidadãos, mas porque passaram a ser pensados, projetados e
realizados em função da cidade. Isto implicou uma mudança dos saberes tradicionais
ligados ao projeto dos jardins, ao vinculá-los, a uma disciplina mais abrangente: a do
projeto urbano ou urbanismo.
A cultura urbanística da época, influenciada pelos parisienses, não só apareceu
no plano de Bouvard para São Paulo, no que se refere aos parques e aos “passeios
interiores” como também, alguns anos depois, as sugestões de Barry Parker para a
formação de um sistema de parques e a própria concepção da rede de parques e
parkways formulada por Prestes Maia no “Estudo de um plano de avenidas para a
cidade de São Paulo, de 1930. A relação mesma que se estabeleceu entre sistema
viário e sistema de parques – presente desde o plano de melhoramentos principiado na
gestão de Antônio Prado até o de Prestes Maia – é devedora da experiência parisiense.
Também o são as iniciativas de formar no âmbito administrativo um setor específico
para os parques e jardins, ainda que a estrutura e as atribuições fossem menos

93
complexas, menos abrangentes e o órgão muito menos poderoso e prestigiado do que
o congênere em Paris.
As principais áreas verdes implantadas nessa época foram aquelas que
integravam o sistema proposto por Bouvard. Não que todas as áreas verdes do plano
Bouvard tivessem sido executadas, mas as mais importantes dentre as realizadas
estavam incluídas nele.
Os três grandes parques daquele plano – Anhangabaú, Várzea do Carmo e
Ponte Grande ou Floresta – cumpririam as funções de “reservatórios de ar”, de “lugares
de passeio”, de “focos de higiene e de bem estar, necessários à saúde pública, tanto
moral como física”.
As áreas verdes públicas municipais com ofertas de lazer mais diversificadas
estariam restritas à da Várzea do Carmo – cujos equipamentos para a prática de jogos
e esportes nunca foram implantados – e ao da Floresta, ou Ponte Grande, nunca
construído.
O parque da Várzea do Carmo foi a obra mais importante e inovadora levada a
efeito até então, quer pela estratégia adotada para sua construção – associando um
empreendimento imobiliário à implantação do parque – quer por sua dimensão (51 ha)-
o maior, quer por sua localização – contígua ao centro da cidade e lindeira aos
populosos bairros do Brás e da Mooca – quer pelo programa – que incluía áreas para
jogos e esportes – quer pelo requinte formal do seu estilo paysager, conforme o
denominou Cochet.
O próprio Cochet incumbiu-se de descrever o projeto: “grandes extensões
gramadas, suavemente onduladas; aléias pouco numerosas, traçadas em curvas de
grandes raios, alternadamente cobertas e descobertas; o emprego decorativo dos
vegetais dos trópicos; o agrupamento das plantações dispostas em ‘bastidores de
teatro’ e o efeito sedutor das águas”.
Porém, para os moradores dos bairros populares, o tipo de lazer ofertado pelo
Parque Dom Pedro II, dada à supressão de importantes equipamentos projetados, não
interessava, ou que o próprio projeto do parque era inibidor de formas mais
espontâneas de lazer que ocorriam naqueles bairros.

94
A par da criação dos parques do Anhangabaú e da Várzea do Carmo e das
reformas das áreas verdes existentes, conjeturava-se a formação de mais áreas verdes
– tanto de recreação como “sanitárias” – a reboque das pretendidas intervenções na
planície do rio Tietê.
Assim foi com o plano proposto por Fonseca Rodrigues, em 1922, de cavar duas
bacias para natação e remo. No mesmo ano Ulhoa Cintra propunha a manutenção das
sinuosidades do rio Tietê para conter os gastos com desapropriações e a criação de
vários espaços públicos ao longo do rio, interligados por parkways. Formou-se uma
Comissão de Melhoramentos do Rio Tietê que Saturnino de Brito apresentou uma
proposta: quarenta quilômetros de rios – vinte e seis do rio Tietê e catorze do rio
Pinheiros – com seus lagos e matas, concebidos como reservatórios naturais de
regularização do regime fluvial, além dos parques e jardins a eles associados. Os
parques e os lagos do plano apresentado por Saturnino não foram aprovados. O
relatório da Comissão de Melhoramentos do rio Tietê de 1927 justificava a supressão
daqueles itens, em função dos custos que representariam para os órgãos públicos as
desapropriações necessárias para a sua execução, além do que eles em nada
afetariam a solução hidráulica pois serviriam apenas ao “aformoseamento” e não à
“utilidade” e à “higiene”. Justificava ainda o presidente da Comissão, o engenheiro
Ulhoa Cintra, que a municipalidade já iria investir no futuro parque nos terrenos do
Ibirapuera, dispensando-se maiores gastos com este tipo de equipamento nos rios Tietê
e Pinheiros. (GUARALDO, 1995)
Em 1911, Victor da Silva Freire expunha na Revista Polytechnica sua visão sobre
o assunto: o correto seria distribuir “muitos pequenos logradouros, mas dispostos de
forma que todos ali possam ir, descansar, passear, sentar-se, respirar”, e distantes não
mais do que um quilômetro uns dos outros. Na visão a maior parte dos espaços livres
paulistanos não cumpria a função de “verde sanitário”; tratava-se quase tão somente de
“verde decorativo”. Era necessário que a cidade tivesse um “sistema de parques” o que,
para ele, significava “em cada cidade, a forma por que ela satisfaz a necessidade de
distribuição de ar puro, luz, repouso e recreio ao melhor das suas forças vivas, às
crianças. E não é só “, prosseguia Freire “É a salubridade moral que se procura também
obter” (FREIRE, 1915).

95
Foi deste movimento que saíram as propostas de parques contidas num anexo
do Estudo de um Plano de Avenidas para São Paulo, de Francisco Prestes MAIA,
elaborado em 1929 e publicado em 1930.
Ao reservar um apêndice do Estudo de um Plano de Avenidas para a Cidade de
São Paulo aos parques, Prestes Maia, então engenheiro da secretaria de Obras e
Viação, deixou claro que estes só interessavam na medida em que contribuíam para a
estética viária. No entanto, o que propôs foi bem além do declarado, pois apresentou
um verdadeiro sistema de parques, constituído por “grandes parques” conectados por
parkways, “parques médios” e pequenas áreas para recreação infantil nos bairros.
Os “grandes parques” seriam os das Cabeceiras do Ipiranga seria o mais
completo e, embora fosse estadual, para ele Prestes Maia dedicou especial atenção,
prevendo-o com quatro seções: um pavilhão de festas, uma esplanada ao longo dos
quais se disporiam o restaurante, o bar, as piscinas, as instalações esportivas; a
“pitoresca”, tratada em “estilo colonial”, correspondendo a 80% da área do parque, na
qual a mata deveria ser integralmente respeitada, apenas cortada por caminhos em
quatro círculos concêntricos, interligados por ruas, revelando, à meia encosta, vistas
belas e variadas e, finalmente, a “zoológica”.
O Parque da Cantareira teria um programa mais simples, um tratamento sumário
para atender a uma freqüência que, segundo Prestes Maia, deveria ser limitada.
Entre os “parques médios” incluíam-se: Dom Pedro II/Pari (no pátio ferroviário
que seria desativado), Moóca (na área do hipódromo, que seria transferido para a
Cidade Jardim), Ponte Grande, Coroa, Tatuapé e Lapa (todos à beira do rio Tietê),
Aclimação (então parque privado), Butantã (estadual). Os “playgrounds” seriam
instalados nas vizinhanças das quadras mais densamente habitadas e, na medida do
possível, junto a escolas (Parque da Luz e Dom Pedro II).
Por fim, haveria os “parques recreativos”, para adolescentes e adultos, em áreas
mais afastadas e maiores, onde o custo do terreno permitisse grandes campos e “ampla
cercadura de vegetação”, como os propostos na Mooca e no Ibirapuera. Para Prestes
Maia estes parques recreativos, em regra, seriam públicos, mas adverte, “Há esportes
que exigem monopólio ou uso exclusivo das instalações. Nestes casos propõe-se o
arrendamento a clubes fechados, mediante condições e certo controle municipal”.

96
O atendimento às necessidades de áreas verdes, ou a criação de um sistema de
áreas verdes, dar-se-ia, segundo aquele estudo, em três frentes: pequenos e
numerosos parques no centro e nas áreas mais densamente habitadas; parques
maiores, acessíveis e interligados por parkways, por vias perimetrias ou por radiais de
primeira ordem; alargamento e arborização de vias radiais e previsão, mediante
zoneamento, de bairros-jardins cuneiformes, no interior dos setores de círculo em que
as radiais dividiriam a cidade.
Porém, as propostas de Prestes Maia – e mesmo de realizações suas e de
outros prefeitos – no referente aos parques públicos, com as experiências européias e
norte-americanas, não foram além das questões estilísticas e não ultrapassaram o nível
do discurso.
Em São Paulo, nos parques públicos, nunca chegariam a se realizar tais
objetivos propostos. Se houve empenho em colocar em prática propostas que
revelavam preocupação com a formação mais integral dos cidadãos, ele recaiu, nas
gestões de Fábio Prado e Prestes Maia, nos “parques infantis”, nos “centros
educacionais e recreativos” ou nos “clubes de menores”, que atendiam apenas a uma
minúscula parcela da população. Quanto aos parques sugeridos no estudo de Prestes
Maia nenhum viria a se concretizar com exceção, obviamente, dos já existentes.
Vê-se inúmeros e grandes projetos, estudos da distribuição e tamanho dos
parques, a função que deveriam alcançar, propostas de atividades lúdicas e de lazer
diferenciadas, utilização das várzeas do Tietê, estudos de tipos de parques e a qual
público se destinava, enfim, muito se fez em questões de estudos, planos e projetos,
porém, destes conselhos muito pouco foi aproveitado. Isso nos leva a crer que dentre
as prioridades do governo nesta época não estava o provimento de parques para a
cidade.
No entanto, após 1935 o lazer passa a merecer maior consideração por parte de
empresários e políticos, provavelmente, no rastro de Lei nº 4.982 de 1925, que obrigava
a concessão anual de quinze dias de férias aos trabalhadores.

97
O crescimento urbano-industrial e o lazer de massa

Levantamentos que precederam a elaboração do Plano Urbanístico Básico,


realizados, em 1967, revelaram que, os hábitos de lazer incluíam cinema, futebol e
televisão. Ir às praias também se tornou um hábito depois da construção da Via
Anchieta, em 1950. Essas formas de lazer certamente seriam capazes de retirar-lhe
parte da demanda, há de se considerar a grande mudança que a televisão provocou,
introduzida em 1950, nos costumes em geral e nos de lazer em particular, por ser ela
própria uma alternativa de entretenimento.
Classes empresariais propuseram ao governo federal que autorizasse a
Confederação Nacional da Indústria e a Confederação Nacional do Comércio a criarem,
respectivamente, o Serviço Social da Indústria – SESI- e o Serviço Social do Comércio
– SESC – a serem mantidos por contribuição compulsória dos industriais e
comerciantes. Vários sindicatos de trabalhadores passaram a assumir a função de criar
recursos para o lazer dos seus afiliados em sedes campestres ou em centros sócio
recreativos urbanos com eventos e equipamentos presumivelmente ocorrentes e
encontráveis em parques públicos.
Após 1950, período de aceleração urban0-industrial, o lazer de massa ganha
força em detrimento de outros formas de lazer popular como as manifestações lúdicas,
folclóricas e religiosas.
Entre as crônicas e documentos consultados sobre São Paulo neste período,
foram encontradas poucas referências ao uso de parques públicos municipais para o
exercício do lazer. Mesmo porque a cidade não contava, então com mais do que cinco
parques municipais: Luz, Tenente Siqueira Campos, Dom Pedro II, Aclimação e
Ibirapuera, e nem todos com diversidade de atrações que pudesse atrair grande
freqüência – para uma população que passou de 1.060.120 habitantes, em 1934, para
5.924.615 em 197014. Deve-se observar, porém, que espaços de lazer de outro tipo,
mais restritivos no acesso, foram abertos pela prefeitura no período, como os “parques
infantis”, os “clubes de menores” e os “Centros Educacionais e Recreativos”, que nunca
chegariam a atender se não uma ínfima parcela da população.
14
O dado da população de 1934 foi extraído de SINGER, 1977, 2ª ed., p.58 e o de 1970 do IBGE, citado in
PREFEITURA DO MUNICÌPIO DE SÂO PAULO – SEMPLA, Dossiê São Paulo/95,p.49
98
Enquanto isto os piqueniques na Cantareira – não só no Horto Florestal, situado
na reserva estadual, mas nos diversos sítios na encosta da serra – atraíam ainda
grande público, a ponto de serem citados na descrição de Antonio Rocha Penteado
sobre a região:
A tranqüilidade do local, aliada ao clima saudável dessa região serrana,
em contraste com a vida agitada e a atmosfera saturada da cidade,
acabaram por eleger a Cantareira como uma pequena estação de saúde,
com que podem contar os paulistanos....
Aquelas mesmas razões fazem com que a região se apresente como um
dos mais apreciados locais de recreio para a população da cidade,
particularmente aos sábados, domingos e dias feriados. Para ali se
dirigem os que possuem automóveis de passeio, como ainda os que se
utilizam dos ônibus e do ramal da ‘sorocabana’, por serem menos
abastados. Regurgitantes de gente ficam o ‘Horto Florestal’ e a Repesa da
Cantareira, para além do Tremembé. Muito freqüentes são os convescotes
ou piqueniques, promovidos por clubes esportivos ou sociedades
dançantes, que chegam a congregar 100 ou 200 pessoas...
Mais refinado é o comércio que, em tais ocasiões, se desenvolve
sobretudo ao longo da Estrada da Água Fria e do caminho para o Horto
Florestal. (1958)

Outras formas de lazer, freqüentemente associadas às áreas verdes foram os


zoológicos. Uma vez que o Jardim Zoológico do Estado foi inaugurado somente em
meados da década de 1950, zoológicos particulares supriam até então a demanda por
este tipo de espaço de lazer, como o do Jardim da Aclimação, o de Vila Maria e o da
Granja Julieta, tendo este último feito parte da propriedade da qual se originou o atual
Parque Municipal Severo Gomes.
Nesse período, várias reformas administrativas foram empreendidas, criando
novos setores e eliminando antigos, tornando-se mais complexos. Mudanças de maior
vulto só seriam sentidas na reforma administrativa de 1968. Até lá pouco se
acrescentou ou subtraiu das atribuições da Divisão de Parques e Jardins, embora
pudesse ter ocorrido aumento significativo na quantidade de serviço, dado o
crescimento da cidade.
Apesar de canalizados, os vales dos rios Tietê e Pinheiros ainda apresentavam,
em 1965, extensas faixas não ocupadas, que podiam ser apropriadas para o lazer
esportivo o que, quase sempre, equivale dizer clubes de futebol de várzea, uns mais
equipados, outros mais improvisados.
99
À margem esquerda do Tietê situavam-se terrenos que mais tarde comporiam o
atual Parque Estadual (Ecológico do Tietê). No ribeirão Tatuapé, na década de 1970, se
implantaria o parque municipal do Piqueri, entre Pari e Canindé, construiria alguns anos
depois a Associação Portuguesa de Desportos. Na margem direita do Tietê, entre Vila
Maria e Vila Guilherme o atual parque municipal de Vila Guilherme; entre o Limão e o
Piqueri o parque Anhembi, e as terras entre os bairros Parque São Domingos, City
América, Vila Fiat Lux e Jardim Belaura, nos quais estavam incluídos os terrenos em
que hoje se localizam os parques municipais São Domingos, Cidade de Toronto e Vila
dos Remédios.
Na margem esquerda do rio Pinheiros foi construído o atual parque municipal
Burle Marx. Na margem direita foi construído o parque do Povo (estadual) junto à ponte
Cidade Jardim; e nos anos de 1990 se implantou o parque estadual Villa Lobos, objeto
de nossa pesquisa.
As áreas restantes livres de urbanização foram, aos poucos, ocupadas pelos
bairros ao serem disponibilizadas para o mercado imobiliário.
Os parques municipais Burle Marx (130.000 m²) e Guarapiranga (152.600 m²), no
vale do Pinheiros, Cidade de Toronto (109.100 m²) e Piqueri (97.200 m²), no vale do
Tietê, perfazem 488.900 m². Este é o total da área dos quatro parques municipais
implantados junto às várzeas dos principais rios, para 40.000.000 m² de áreas
“liberadas das águas”, na expressão de Prestes Maia, que foram lançadas no mercado
de terras com a canalização dos dois rios.
Pode-se alegar que, às margens do Tietê e do Pinheiros, há dois grandes
parques: o parque Estadual (Ecológico do Tietê), com 14.000.000 m² e o Villa Lobos,
com 717.000 m², sendo abertos 350.000m². São ambos estaduais e recentes, e
passaram a integrar o patrimônio público por desapropriações, ainda que parciais, ou
como pagamento de dívidas com o Estado.
O mesmo se pode dizer do parque do Piqueri, comprado pela prefeitura em
1976. Os parques Burle Marx e Cidade de Toronto integrariam o patrimônio público do
município só bem mais tarde, mas por doação compulsória para abertura de
loteamentos. Resta, portanto, como única providência da municipalidade para a reserva
de áreas destinadas a parques públicos, junto a corpos d’água, a desapropriação dos

100
terrenos que viriam a constituir o atual parque municipal de Guarapiranga. Foram os
únicos 152.600 m² de terra pública, situada à beira de um dos principais corpos d’água
do município que a prefeitura reteve, contra 40.000.000 m² de terras que seriam
gradativamente entregues ao mercado, a partir de meados da década de 1940.
Na visão de Moses os centros recreativos municipais eram equipamentos “caros
e luxuosos”. Somente sete eram excelentes dos vinte e quatro, contando com postos de
saúde, auditórios, salas de ginástica, piscinas e áreas livres para jogos.
Segundo o PUB – Plano Urbanístico Básico, em 1967, apesar da prefeitura ter
ampliado toda a rede de equipamentos do setor recreativo, cultural e esportivo,
verificavam-se várias lacunas, sendo uma delas a má distribuição das áreas destinadas
a praças, parques e jardins pelos diversos bairros. Além disto tais áreas, sob a
responsabilidade do recém criado Departamento de Parques e Jardins, da então
Secretaria de Serviços Municipais, apresentavam insuficiência de equipamentos e
conservação precária, “acarretando uma constante aparência de abandono”. (SÃO
PAULO, M., 1969, p.471)
Entre os nove “parques maiores” de São Paulo, pelos critérios do PUB – Horto
Florestal, Zoológico, Ibirapuera, Aclimação, Butantã, Dom Pedro II, Fernando Costa,
Luz e do Museu do Ipiranga – somente os do Ibirapuera, Aclimação, Dom Pedro II e
Luz eram municipais, sendo que, no mesmo ano, o Dom Pedro II deixara de existir. O
mesmo relatório afirmava que estes parques atraíam “realmente a população, nos fins
de semana”.
Na realidade, o atendimento público municipal mais qualificado às necessidades
de recreação da população ficava praticamente por conta dos “parques infantis” sob a
responsabilidade da Secretaria do Bem Estar Social. Mais de uma centena de “parques
infantis” atendia a mais ou menos 10.000 crianças de nível econômico muito baixo – 0,5
e 1,5 salários mínimos. Os oito “Centro Educacionais e Recreativos” – Moóca,
Pacaembu, Vila Maria, Ibirapuera, Santo Amaro, Vila Manchester, Pirituba e Vila Alpina
– equipados com ginásio esportivo, piscina, vestiários e campos de futebol e de
basquete, tinham algo em torno de 100.000 inscritos, 2% da população do município.
Nessa época houve duas desapropriações que geraram futuros parques
municipais – o da Aclimação e o Guarapiranga – e a ampliação do parque da

101
Independência. Foi aberto o bosque do Morumbi (atual parque Alfredo Volpi) em área
verde de loteamento, a implantação de um parque em terreno municipal – Ibirapuera –
e a destruição do Dom Pedro II. Também neste período abriu-se a maior parte dos
loteamentos de cujos espaços livres nasceram vários parques que seriam construídos a
partir da década de 1970.
As ações da prefeitura no período podem então ser agrupadas da seguinte
forma: implantação e reforma de áreas verdes associadas à execução de planos viários
e construção de parques em propriedades municipais; obtenção e administração de
áreas verdes públicas obtidas através das leis de parcelamento do solo;
desapropriações para a implantação de áreas verdes públicas de recreio; produção de
áreas verdes para fins educacionais e recreativos.
Acontece que, no parcelamento do solo, muitos dos loteamentos eram
clandestinos e caso existissem áreas verdes públicas nesses loteamentos,
corresponderiam, provavelmente, às áreas impossíveis de ser loteadas: charcos e
encostas altamente declivosas. Mas isso não ocorria só em parcelamentos irregulares.
Somente a partir de 1981, pelo artigo 2º da Lei nº 9.413, a Prefeitura ganhou o direito
de localizar, em um só perímetro e em áreas com declividade menor que 30%, metade
do percentual exigido para áreas verdes em loteamentos. E só mais tarde ainda, em
1987, pelo Artigo 6º da Lei nº 10.365, o Departamento de Parques e Áreas Verdes –
DEPAVE foi autorizado a escolher 15% da área destinada às áreas verdes, dentre os
50% que a Lei nº 9.413 permitia à prefeitura indicar.
O Ato nº 663 de 1934, que vigiu até o início da década de 1970, não alterou as
proporções de áreas verdes fixadas pela Lei Municipal nº 2.611 de 1923. Neste lapso
de tempo de quase quarenta anos, sob as “vistas grossas” do poder municipal, a cidade
de São Paulo passou de 17.635 hectares de área ocupada, em 1930, para 91.340
hectares, em 1963 e atingiu as mais baixas taxas de densidade populacional de sua
história.
Apenas o então chamado Bosque do Morumbi, atual parque Alfredo Volpi, foi
implantado em área verde originada de parcelamento do solo. A abertura do loteamento
se deu em 1949, mas apenas em 1966 a área recebeu tratamento sumário e foi
oficialmente aberta ao uso público.

102
Embora ainda não fossem parques públicos na época que está sendo analisada,
outras oito áreas verdes, que mais tarde se tornariam parques municipais, originaram-
se de terrenos compulsoriamente doados à prefeitura pelos empreendedores quando
da abertura de loteamentos executados entre 1949 a 1960. São elas, os atuais parques
municipais: São Domingos, Previdência, Rodrigo de Gasperi, Lions Club Tucuruvi,
Santa Amélia, Luis Carlos Prestes, Jardim Felicidade e Severo Gomes.
Cabe referência aos “parque infantis” – espaços educacionais e recreativos que
contavam com áreas verdes construídos nas gestões de Fábio Prado e Prestes Maia,
juntamente por terem se constituído nos únicos feitos da municipalidade, relativos à
recreação em áreas verdes, que obedeceram a um plano coerente, com uma política
razoavelmente definida de lazer associado à educação.
Fábio Prado, que criou o Serviço Municipal de Jogos e Recreio para Crianças,
em cuja exposição de motivos se fazia à apologia da educação ao ar livre “contra os
maus hábitos e a criminalidade” e se afirmava à convicção de que os parques infantis
estariam recuperando para as crianças “os espaços livres de que necessitam”, mas que
lhes são negados pelo “trânsito das ruas, nas habitações coletivas e nas casas de
apartamentos”. Os parques infantis obedeciam à lógica de uma política cultural e
assistencial, montada dentro do Departamento de Cultura e Recreação.
Tendo como base este discurso, mas também as primeiras experiências já
concretizadas de amalgamar educação, recreação e cultura, o Departamento Municipal
de Cultura foi organizado pelo Ato nº 861, de 30 de maio de 1935. No artigo 41 deste
Ato vem expresso o vínculo pretendido entre os “parques infantis” e os parques e
praças públicas, estando provavelmente ali a origem do costume de açambarcar
porções de áreas verdes públicas, de “uso comum do povo”, portanto irrestrito, para
nelas instalar equipamentos institucionais - O serviço de Parques Infantis estudará e
organizará um plano conjunto, de construção de parques infantis e de localização de
zonas destinadas exclusivamente a este fim, nos parques e praças públicas,
aproveitados os trabalhos já existentes.
O então prefeito não regateou no orçamento destinado ao novo departamento.
Afirmou inclusive ter sabido posteriormente, pelo próprio Mário de Andrade, seu

103
primeiro diretor, que o orçamento do departamento foi majorado por ele, quando de sua
elaboração, já prevendo os costumeiros cortes nas verbas.
Na prefeitura de São Paulo nunca se chegou a esboçar e levar à realização um
plano semelhante ao dos “parques infantis” para os parques públicos propriamente
ditos, ou seja, abertos a todos os munícipes, de qualquer condição social e de qualquer
faixa etária. Ao contrário do que sucedera no primeiro pós-guerra em países como
Alemanha ou os Estados Unidos; em São Paulo os parques públicos quando não
relacionados a aberturas ou alargamentos de vias, foram frutos de ações isoladas.
Segundo Moses, estes equipamentos eram “desejáveis”, porém, dispendiosos,
impossíveis de existir em número suficiente para atender a uma população de mais de
2.000.000 habitantes. Recomendou parques mais simples e econômicos, com
equipamentos padronizados, de fácil execução. Sugeriu vincular a construção de
parques de bairro à construção de escolas, atendido pela mesma verba orçamentária,
dado o pretenso relacionamento entre estes dois tipos de equipamentos. Vê-se que,
embora caros, os “parques infantis” chegaram a ser executados, dando consecução a
uma política de educação e recreio. Já os parques públicos, mesmo que simples, não o
foram, nem foram objeto de uma política coerente por parte dos mesmos governantes
que implantaram os “parques infantis”.
Não podemos desconsiderar a qualidade que esses equipamentos – parques
infantis – foram projetados e a finalidade para que foi projetado. Mesmo sendo um
projeto dispendioso, ele não deixou de ser relevante dado o novo conteúdo que passou
a integrar seu programa - a educação associada ao lazer – e à classe a quem era
destinada. Pela primeira vez na história dos parques urbanos públicos, são realizados
projetos e concretizados, voltados para a população que mais necessita deles. Apesar
da manutenção que deixava a desejar, foi a primeira atitude voltada para as classes
menos favorecidas, mesmo ainda que atendessem 2% da população.
A iniciativa privada, Sesc e Sesi, assim como no início do século continuavam
provendo o lazer da população na cidade de São Paulo, porém, agora com uma outra
preocupação – a de ocupar os trabalhadores em atividades que não viesse a prejudicar
a produtividade nas fábricas e no comércio, como o ócio por exemplo que poderia levar

104
à bebedeira ou a encontros não salutares. Foi uma forma encontrada de direcionar o
lazer dos trabalhadores.
Quanto à legislação, loteamentos, construção de parques que atendessem a
massa ainda as medidas eram pontuais, espaçadas no tempo, e pouco controladas
pelo governo.
Durante as três décadas que separam a administração de Fábio Prado (1934-
1938) que começou a por em prática o Plano de Avenidas, de Faria Lima (1965-1969),
que marcou o seu encerramento, outros planos foram feitos para São Paulo, incluindo
sempre propostas para a implantação de sistemas de áreas verdes com finalidades
recreativas, ambientais ou estéticas.
Depois da proposta de Bouvard de implantar um circuito de parques e passeios,
o plano concebido por Prestes Maia foi o único que se preocupou em dar forma a um
pretendido sistema de parques, forma nascida do próprio desenho viário e
intrinsecamente ligada ao desenho urbano. Daí em diante, os critérios de distribuição
dos parques adotados pelos planos, seriam quantitativos e baseados em raios de
atendimento.
Desde 1967, vigorando até hoje, foi proposta uma organização hierárquica em
parques de vizinhança, parques de bairro, parques setoriais e parques metropolitanos.
Dos parques que integravam o plano de Prestes Maia, muitos existiam, faltando
alinhavá-los num circuito, que não se consumou e, dentre os novos parques municipais
propostos, apenas o do Ibirapuera seria realizado e o da Aclimação adquirido e
reformado.
A reforma do Jardim da Aclimação não se fez por ocasião da compra, em 1939;
ele conheceu anos de decadência antes de ser recuperado em 1955. O projeto de
reforma acrescentou-lhe alguns equipamentos mas não chegou a alterar seus traços
principais, que já vinham do fim do século XIX, nos parâmetros do estilo paisagístico.
Entre a intenção e a construção do parque Ibirapuera decorreria um intervalo de
vinte anos. No meio tempo algumas obras já foram condicionando o aspecto do futuro
parque. Em 1937 estava-se cavando a bacia em que se formaria o lago, ruas sinuosas
eram abertas, suaves ondulações do relevo começavam a tomar forma e principiou-se o
plantio de grandes maciços arbóreos. O local do Monumento às Bandeiras, de autoria

105
de Victor Brecheret, já estava definido pela Lei Municipal nº 3543 de 10 de dezembro de
1936. Anos mais tarde, em 1949, outro monumento, o da Revolução Paulista de 1932,
do escultor Galileu Emendabile, teria sua posição fixada pelo Decreto nº 1078. Deste
modo, em dezembro de 1951, quando se constituiu a comissão mista incumbida de
organizar as comemorações do IV Centenário da Cidade, de elaborar o programa de
necessidades do parque que culminaria as comemorações e de contratar o seu projeto,
parte das feições do parque já estavam definidas, sem que pudesse creditar a algum
autor um plano de conjunto.
O editorial do número 6 da revista Habitat, de 1951 mostra o panorama cultural
de São Paulo e, criticava a atuação da Comissão do IV Centenário.
O Snr. Francisco Matarazzo Sobrinho é pessoa de boa vontade, no
entanto não se pode considerá-lo capaz de dar a São Paulo algo de
grandioso e memorável, de original e fantástico. (...)
Constatamos isto na Bienal onde, para fazer alguma cousa, teve que
copiar literalmente um fato italiano de 1896, para uma São Paulo de 1951.
Não queremos agora que a fim de se por mais em dia e na moda, copie
para São Paulo de 1954, os esquemas e regulamentos da Exposição de
Paris de 1900 (...). Esses fatos de exposições devem ser entregues a
poetas, artistas, arquitetos, a pessoas de fantasia, e não a ótimos
industriais(...)
Compreendemos que mais uma vez está se confundindo o grande com o
formato grande.
Sabemos que pessoas ladinas estão se atarefando para arranjar
‘pavilhões’ comemorativos de uma ou outra entidade, naturalmente em
‘estilo colonial’ e se agitam ventilando uma pobreza de idéias que é a
proporção inversa do alcance do fato. (...) Festejar à moda do Oitocentos,
com exposições nos moldes daquela época, pavilhões, etc., significa não
entender o sentido de orgulho e regozijo ocasionado pelo aniversário
duma cidade.

106
Foto - Parque Ibirapuera

Na realidade, a proposta contida no editorial era a de marcar o IV Centenário


com a formação de uma universidade. Não saiu uma universidade e sim um parque, e o
fato de chamar o arquiteto Oscar Niemeyer para a coordenar a equipe que trabalharia
no projeto do parque do Ibirapuera foi, de algum modo, uma resposta às pressões dos
círculos culturais mais vanguardistas. Círculo este que mudou os rumos dos
preparativos para a comemoração do centenário da cidade. Mostra que a sociedade
estava tomando consciência da importância desse equipamento e pressionando as
instâncias governamentais pela sua construção.
Em 1966, abriu-se ao público o então denominado bosque do Morumbi, hoje
parque Alfredo Volpi. Esta área verde com pouco mais de 140 hectares doada ao
município quando da abertura do loteamento levado a efeito pela Companhia Cidade
Jardim S. A., em 1949, como o próprio nome aponta, tem como principal característica
uma densa cobertura vegetal, constituída por exemplares arbóreos típicos das matas
secundárias do planalto Atlântico. Foi entregue ao público praticamente sem
“melhoramentos”, ou seja, sem o cumprimento das indicações do projeto que a
prefeitura contratara, em 1966.

107
Estas inovações conceptivas passavam ao largo do que se fazia no espaço
público de São Paulo, em matéria de áreas verdes. Tampouco a administração pública
tomou providências para a reserva de áreas que pudessem futuramente integrar o
sistema de parques públicos. O modo de lidar com as áreas verdes, de pensa-las, de
operá-las continuava o mesmo há décadas. A mesma estrutura funcional, as mesmas
atribuições, as mesmas idéias, a mesma porcentagem do orçamento anual, para uma
cidade que já não era a mesma.

São Paulo, a maior metrópole do país

No final da década de 1960, São Paulo era não só a maior metrópole do país,
em área e em população, como também uma das maiores do mundo. A área do
município se estendia por 700 km² e a sua população chegava perto de 6.000.000 de
pessoas.
Entre 1974 e 1981 foram construídos onze parques, num total de 1.200 hectares,
dos quais 1.150 hectares corresponderam a terrenos incorporados ao patrimônio
municipal por meio de desapropriação, ou como forma de pagamento de dívidas para
com o município, dos quais se originaram seis parques. Mesmo descontando a área do
parque Anhanguera, excepcionalmente grande chega-se a 220 hectares de parques.
Na fase final, de 1981 em diante, também foram construídos onze parques, mas num
total um pouco maior de 60 hectares.
Estudos mais recentes da história do lazer em São Paulo localizam na década de
1970 a “proliferação discursiva” sobre a necessidade e os benefícios do lazer,
considerado como forma positiva do uso do tempo livre em oposição ao ócio, este
associado à indolência e ao atraso. Não seria coincidência que o interesse pelo uso do
tempo disponível fora do trabalho, com vistas a educar e disciplinar física e moralmente
sobretudo a juventude – como vem expresso na regulamentação dos Centros
Educacionais e Esportivos Municipais – tivesse ocorrido na época do chamado “milagre
econômico”, durante a ditadura militar, momento em que, na linguagem empresarial de

108
então, era necessário acionar todas as turbinas, de aquecer a máquina, de juntar
esforços de todos para fazer o país decolar rumo ao desenvolvimento.
Em torno de um lazer voltado ao culto do corpo e da saúde perfeita, em 1969, foi
criada a Secretaria Municipal de Esportes, houve a reestruturação dos Centros Juvenis
Noturnos congregando as atividades de cunho esportivo e educativo e a instituição dos
Jogos da Grande São Paulo, realizados anualmente no mês de novembro sob a
organização da Secretaria de Turismo e Fomento. A Secretaria do Bem Estar Social,
em 1970, criou o projeto Ruas de Recreio, quando foram implantadas 188 ruas de lazer
pela prefeitura.
A adoção de hábitos de lazer que valorizam a boa forma física teve seus reflexos
nas áreas verdes públicas, com a implantação das denominadas “pistas de cooper” e
das quadras poliesportivas, sempre que as condições físicas das áreas verdes
municipais permitiam. Desde a década de 1970, estes passaram a ser elementos quase
que obrigatórios nas praças e nos parques públicos projetados pelo Departamento de
Parques e Áreas Verdes (DEPAVE).
Na década de 1980, ocorreu a explosão de um roteiro iniciado na década
anterior, que é o de modelar o corpo nesses novos templos de cultura física (as
academias de estimulação e musculação), agora presentes em quase todas as partes
da cidade. Mas também fora deste “templos” as novas práticas de lazer, baseadas no
desempenho corporal e na recuperação da fadiga mental encontraram lugares para a
sua realização; os parques públicos são um deles.
Espantosamente e de repente se verifica o governo interessado em prover lazer
para a população de São Paulo com seus programas de esporte, ruas de recreio,
inclusão de aparelho para esportes nos parques, entre outros, coincidindo com o
milagre econômico.
Tão importante é este equipamento que em pesquisa realizada pelo Serviço
Social do Comércio – SESC, em 1996, revela que 70% das pessoas freqüentam áreas
verdes, sendo que as preferidas foram o parque Ibirapuera, o parque do Carmo e o
Horto Florestal. Foram ainda citados parques menores como o da Aclimação e o
Fernando Prestes (Água Branca), entre vários outros. O relatório ainda faz a
observação de que o parque Villa Lobos foi pouco lembrado pelos entrevistados.

109
Na mesma enquete, a pergunta “o que você faria num dia de folga?” trouxe como
resultado que 13% optariam por passear em parques. Outra questão colocada referia-
se a onde o entrevistado levaria um amigo recém-chegado a São Paulo; as respostas
foram: 22% a parques. Por fim, quando indagados sobre o tipo de espaço cultural que
mais sentiam falta em seus bairros, os entrevistados apontaram: centros esportivos –
42% e áreas verdes – 31%.
Portanto, a ida aos parques é ainda uma importante opção de lazer que tem por
finalidade e valoriza o estar em meio ao “verde” num ambiente supostamente saudável.
A Lei Municipal nº 7.108 de 10 de janeiro de 1968 criou o Departamento de
Parques e Jardins. Não se tratou de mera mudança de nome, implicou na alteração
das atribuições daquela unidade administrativa. Criado o Departamento ele passou a
contar com uma equipe pluridisciplinar, composta de arquitetos, engenheiros
agrônomos, engenheiros civis, agrimensores, projetistas e orçamentistas, com
atribuição de programar a implantação e elaborar integralmente os projetos de
paisagismo das áreas verdes municipais. O Departamento de Parques e Jardins
funcionou com este nome até a promulgação da Lei nº 8.491 em 14 de dezembro de
1976, que reestruturou a Secretaria de Serviços e Obras, passando a existir dentro dela
quatro departamentos, entre os quais o Departamento de Parques e Áreas Verdes
(DEPAVE).
Na mudança introduzida pela nova lei, o departamento passou a contar – além
da Divisão Técnica de Projetos e Fiscalização e da Divisão Técnica de Produção e
Execução, cujas atribuições não foram modificadas na essência – com mais duas
divisões: a Divisão Técnica de Experimentação, Treinamento e Divulgação e a Divisão
Técnica de Manejo e Conservação de Parques.
O DEPAVE manteve esta estrutura até 1993 quando, pela Lei nº 11.426, de 18
de outubro de 1993, foi criada a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente –
SVMA. A nova Secretaria foi estruturada em três departamentos: o de Parques e Áreas
Verdes – DEPAVE, o de Controle de Qualidade Ambiental – DECONT e o de Educação
Ambiental – DEAPLA.
Nota-se na nova estrutura a introdução de assuntos que anteriormente não eram
contemplados, ligados ao manejo biofísico, refletindo as preocupações de ordem

110
ambiental que, despontando mundialmente na década de 1970, ganharam notoriedade
no Brasil a partir da realização da ECO 92 no Rio de Janeiro.
De 1968, ano da criação do Departamento de Parques e Jardins, a 1993, quando
se tornou um departamento da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente – por sinal
mais importante em tamanho e em verbas, dentro da nova secretaria – sua composição
e suas funções não se alteraram, essencialmente, apesar das trocas de nome das
secretarias a que esteve subordinado, firmando-se como órgão produtor e executor de
projetos e administrador de áreas verdes públicas municipais. No entanto, já nos
primeiros anos da década de 1990, abriu-se uma exceção ao que ocorrera com o
DEPAVE desde 1968, o que pode ser tido como um prenúncio dos novos tempos.
Trata-se da implantação do parque Burle Marx, com projeto contratado por terceiros e
cuja administração também passou a ser terceirizada.

A mancha urbana avança e as áreas verdes decrescem

Em 1988, a população de São Paulo estava em torno de 11.000.000 de


habitantes e com 900 Km² de área urbanizada, praticamente nada sobrara de áreas
verdes junto aos cursos d’água e as manchas de vegetação na região das represas
Billings e Guarapiranga estavam bastante recuadas para o sul. O pouco que se
manteve de área verde nas planícies fluviais ficou isolado das margens pela
implantação de avenidas, ou pela urbanização das várzeas, correspondendo aos
poucos clubes privados e aos ainda mais raros parques públicos, como o Estadual,
mais conhecido como Ecológico do Tietê, o parque Villa Lobos. Dos parques
municipais, o único a se instalar à beira de um corpo d’água de grandes dimensões e a
aproveitá-lo plenamente como equipamento de lazer foi, e ainda é, o Guarapiranga.
Paralelamente à dilapidação do patrimônio verde de caráter público verificou-se,
nas últimas três décadas do século XX, o aumento da demanda por áreas verdes para
o lazer, não só pelo crescimento da população, mas também pela progressiva
incorporação, entre a população urbana, de hábitos de lazer praticados em áreas
verdes.
111
As ações da municipalidade para o provimento de áreas verdes no período
podem ser agrupadas nas seguintes categorias: dispositivos legais para obtenção de
áreas verdes; áreas verdes de recreação em espaços livres de loteamentos; áreas
verdes de recreação em próprios municipais; áreas verdes de recreação em terrenos
desapropriados.
Até 1972, as doações de áreas verdes em loleamentos obedecia aos termos do
Código Arthur Saboya que definia 5% na zona urbana; 7% na zona suburbana e 10%
na zona rural. Já na Lei nº 7805, de 1972, estipulou-se a porcentagem de 15% para as
áreas verdes em qualquer espaço urbanizável. Os efeitos da nova lei, no referente às
áreas verdes, foram na prática anulados pela grande quantidade de loteamentos
clandestinos abertos de 1972 em diante e pela sistemática ocupação dos terrenos
destinados às áreas verdes por favelas.
Mesmo em loteamentos regulares, as vantagens da lei foram abatidas pela
localização, bastante freqüente, de áreas verdes em beiras de córregos ou em terrenos
com excessiva declividade.
Apenas três dos parques municipais inaugurados neste período originaram de
áreas verdes de loteamentos abertos depois de 1972: os parques Raul Seixas e Santo
Dias, ambos em conjuntos habitacionais da Companhia Metropolitana de Habitação –
COHAB, e o parque Burle Marx, produto do empreendimento imobiliário Panamby. Os
demais parques inaugurados no período, cujas áreas resultaram de doações de
loteamentos, provém de empreendimentos abertos entre 1951 e 1970, com forte
concentração nos anos que vão de 1951 a 1960.
Foram inaugurados neste período doze parques provenientes de áreas verdes
de loteamentos, sendo oito deles de loteamentos abertos entre 1951 e 1960, já tratados
anteriormente. Os quatro restantes, abertos entre 1970 e 1990 foram: Cidade de
Toronto, Raul Seixas, Santo Dias e Burle Marx, correspondentes, nesta ordem, aos
bairros City América (subdistrito de Pirituba-Jaraguá), Conjunto Habitacional José
Bonifácio (subdistrito de Itaquera), Conjunto Habitacional Adventista (subdistrito de
Campo Limpo) e ao empreendimento imobiliário Panamby (subdistrito de Campo
Limpo).

112
Se a legislação de loteamento gerou poucos parques, até pela pulverização dos
terrenos destinados às áreas verdes, ela originou, por outro lado, um número razoável
de “praças” que foram equipadas e receberam tratamento paisagístico pelo
Departamento de Parque e Jardins, criado em 1968. Muitas destas “praças”, de
dimensões variáveis foram fartamente arborizadas e, na dependência de suas
características topográficas, equipadas com quadras de uso múltiplo e com áreas de
recreio para crianças, caracterizando-se, às vezes, como pequenos parques locais.
Porém, só o fato da legislação ir se alterando, já evidenciava uma preocupação
com o assunto no meio governamental. Alguns dos parques hoje oficialmente
considerados como tais, inaugurados no período em tela, já haviam recebido,
anteriormente, tratamento como “praças”. São os casos dos atuais parques Cidade de
Toronto, Lions Club, Luís Carlos Prestes e Santa Amélia, que passaram por reformas
para se tornarem “parques”.
Nessa época três propriedades municipais não originadas de parcelamento do
solo, mas sim confiscadas ou mesmo adquiridas para fins que, inicialmente, eram
alheios aos parques públicos, foram usadas para a construção de parques municipais:
a do Guarapiranga, comprada entre 1937-1938; a do antigo aterro sanitário, na altura
do quilômetro 15 da rodovia Raposo Tavares, comprada em 1964, a do antigo sitio
Santa Fé, na altura do quilômetro 24 da rodovia Anhanguera, na região de Perus,
obtida em 1978 mediante confisco.
O nascedouro da principal mudança no que se refere a planos e projetos foram
em 1966, quando o então chefe da Divisão SERV 1 solicitou a uma equipe de
arquitetos, externa ao quadro da prefeitura, a elaboração de projetos de “praças” e
“parques” em áreas municipais. O escopo de trabalho apresentado pela equipe ampliou
o objetivo inicial, propondo a execução de um plano de áreas verdes de recreação e,
dentro dele, a confecção de projetos específicos de paisagismo complementados por
projetos de comunicação visual e de equipamentos passíveis de pré fabricação. A
equipe coordenadora foi constituída pelas arquitetas Miranda Martinelli Magnoli e Rosa
Grená Kliass.
No levantamento da situação das áreas verdes que a equipe fez soube-se que
São Paulo, em 1967, possuía 3.260 espaços livres municipais, e que apenas 210

113
espaços estavam tratados, equipados, ajardinados ou arborizados. A cidade contava
como 280 campos de futebol e 180 campos de malha e bocha em áreas públicas.
A equipe contratada deixou preparados para execução mais de quarenta projetos
de praças, parques e de tratamento paisagístico de avenidas, além de projetos de
equipamento como bancos, lixeiras, brinquedos, mesas para piqueniques, bebedouros,
floreiras grelhas e tutores para árvores, luminárias, sinalização, quiosques, coberturas
para quadras, etc. guardados até hoje no arquivo técnico do DEPAVE. Segundo
relatório da equipe, em 1969, quinze projetos já estavam em execução e quatro em
concorrência.
Em relação ao plano de áreas verdes públicas para recreação, a equipe propôs
um sistema nuclear, composto por parques de vizinhança, de bairro, setoriais e
metropolitanos, definidos pelos seus raios de atendimento e por seus equipamentos, de
complexidade crescente. A nomenclatura foi consultada na fonte: Verde per lê Città, de
CALZOLARE & GHIO (1961);
A) Parques de vizinhança: pequenos espaços dentro dos setores, limitados por vias de
trânsito intenso – de acordo com o Plano Urbanístico Básico de 1968 – ou por
acidentes geográficos muito acentuados, com raio de influência menor que 500 m,
equipados para recreação ativa infantil e recreação passiva de adultos.
B) Parques de bairro: espaços livres capazes de atender a um equipamento de
recreação ativa e passiva para crianças, jovens e adultos com raio de influência
menor que 1.000m e com dimensão de 5000 m² até 100.000 – 150.000 m² (sic)
C) Parques setoriais: grandes espaços livres capazes de atender a um equipamento
maior e concentrando as atividades esportivas mais importantes (ginásio coberto,
piscinas, etc.) atividades culturais (teatros, bibliotecas, etc. ) com raio de influência
maior que 1.000 m, com dimensão superior a 100.000/150.000 m².
D) Parques metropolitanos: grandes espaços livres equipados para receber toda a
população metropolitana em fins de semana, promovendo um reencontro com a
natureza, contendo equipamentos esportivos, grandes bosques para piqueniques,
lagos, áreas de camping, etc.

114
A maioria dos projetos da equipe contratada, embora denominados “praças”,
apresentavam em seu programa equipamentos como quadras poliesportivas, locais
para recreação infantil com vários tipos de brinquedos, pequenos anfiteatros com arena
e arborização relativamente farta, que permitiriam classifica-los como parques de
vizinhança.
O projeto proposto foi enorme, estudos foram realizados, orientações dadas
quanto à escassez em áreas carentes, porém, novamente os projetos quando
contemplados, não eram realizados na íntegra e os motivos para a não contemplação,
como das outras vezes, eram problemas orçamentários. Entretanto uma consciência
ambiental estava surgindo dado o aumento da degradação do ambiente urbano,
provocado pela industrialização, principalmente, após o milagre econômico. Os parques
estavam entrando no rol das preocupações no que se refere à salubridade do ambiente.
Para a localização destes diferentes tipos de parques foram aproveitadas as áreas
municipais já existentes e, nos casos em que elas não existiam, sugeriu-se a
desapropriação de terrenos ainda não edificados. Para a execução das praças e
parques o plano dava prioridade a setores carentes de áreas verdes de recreação no
norte e no leste do município. Segundo depoimento do arquiteto Ary Albano, o plano foi
enviado na época à Câmara dos Vereadores para votação, não tendo sido aprovado.
Os projetos elaborados pela equipe externa tiveram que ser remanejados internamente
para adequar-se às limitações orçamentárias.
O período de 1974 e 1981 foi o mais fecundo em projeto e execução dos
chamados parques municipais. Concomitantemente, foram projetadas e executadas
dezenas de “praças” que, por seus equipamentos recreativos e esportivos e pela densa
arborização, seriam equivalentes a “parques de vizinhança” e “parques de bairro”.
Os partidos de projeto variavam igualmente, no entanto, em geral, obedecia-se à
norma de reservar aos espaços pavimentados no máximo 30 % da área, ficando o
restante destinado à vegetação. Entre as espécies vegetais utilizadas dava-se
prioridade às árvores autóctones, sendo os arbustos e forrações, exceto a grama,
usados com parcimônia.
Duas eram as justificativas que amparavam estas escolhas: uma, os custos de
implantação e manutenção da “praças”, que deveriam ser necessariamente baixos, uma

115
vez que as verbas destinadas às áreas verdes foram sempre modestas. Os custos da
construção civil eram muito mais altos do que os de plantio. Dentre as espécies
vegetais, as arbóreas exigiam menor manutenção do que as arbustivas e herbáceas.
A outra era uma justificativa apoiada no papel que as áreas verdes poderiam
desempenhar na melhoria das condições ambientais urbanas, e ao mesmo tempo, na
necessidade de propagar as espécies vegetais nativas recriando, supostamente,
pequenos enclaves ou embriões de “natureza” dentro do ambiente urbano. Este tipo de
“consciência ecológica” já começava a se fazer sentir no Departamento em meados da
década de 1970.
Este período, da maior introdução de parques na cidade e do envolvimento do
governo com reformulação de suas administrações (DEPAVE) e o provimento de
parques, necessariamente coincide com o milagre econômico, quando a indústria vai
conhecer um grande desenvolvimento e precisar muito de uma força de trabalho que
esteja apta ao novo ritmo de trabalho. Não é por acaso que o governo começa a prover
a cidade deste tipo de lazer. Na verdade, ele está visando o avanço industrial do país e
fornecendo as condições necessárias para que o capital se reproduza em aliança com
o Estado.
O projeto do parque Anhanguera tenta sintonizar-se com as técnicas então em
voga, a construção do parque foi se dando aos poucos e, muitas vezes, sem no
entanto, consultar o vultoso anteprojeto, nem mesmo quanto à localização dos setores
que o comporiam. Novas construções e equipamentos implantaram-se, de acordo com
as necessidades e as possibilidades, e ao sabor de solicitações vindas, ora dos
moradores da região – como a da Sociedade Amigos do Distrito de Perus, que pedia a
construção de um anfiteatro no parque, ora de outras unidades da prefeitura – como a
Secretaria Municipal de Esportes, reinvindincando a implantação de uma pista de
cooper, da própria administração do parque. Tratava-se quase sempre de soluções
simples e baratas, executadas com os escassos recursos disponíveis e, por vezes,
encetadas pelo próprio administrador.
Uma vez ou outra eram aplicados questionários na vizinhança imediata ao se
pensar na construção de um futuro parque buscando sugestões de equipamentos, mas
não era procedimento costumeiro no DEPAVE.

116
Vê-se que, junto ao interesse em ouvir o desejo e necessidade da sociedade,
estava também surgindo uma consciência ecológica nas preocupações do governo,
visto a quantidade de parques que começaram a aparecer: várias chácaras se
transformam em parques, procurava-se reduzir o orçamento para a construção. Este
esforço, em detrimento de seguir grandes projetos, mostra-nos que este equipamento
estava adquirindo uma importância tal que não podia mais deixar que algumas barreiras
impedissem a sua construção para a cidade que cada vez mais se urbanizava com a
crescente industrialização. Nesta época os grandes projetos são questionados e
começa a se priorizar o que a população deseja e necessita; a população, timidamente,
passa a ser ouvida. Uma nova maneira, na verdade, de pensar estava germinando na
sociedade. O parque nessa época passa a ter múltiplos usos demonstrando também
mudanças nos hábitos de lazer da população: esportes, shows, atividades educativas e
recreativas.
Atualmente a cidade de São Paulo possui cerca de uma centena de áreas verdes
municipais que contam, ou contaram, com equipamentos de lazer, adotando-se como
critério distintivo de área verde de lazer o predomínio da área vegetada sobre a
construída ou pavimentada e a existência no mesmo terreno de, pelo menos, uma área
voltada à recreação infantil e um campo ou cancha para esportes e jogos.
No entanto, embora todas pudessem ser chamadas parques - de vizinhança, de
bairro, distritais ou qualquer outra classificação existente nos compêndios técnicos – ou,
como na linguagem vernacular, praças, apenas vinte nove destas áreas são
consideradas parques municipais do ponto de vista administrativo, o que significa, na
prática, estarem cercadas e contarem com uma sede administrativa própria no seu
interior e estarem sob a tutela do Departamento de Parques e Áreas Verdes –
DEPAVE, enquanto as outras, as praças, são da alçada das Administrações Regionais.
Sob a tutela da esfera estadual, são seis parques. Perfazendo um total para a cidade
de 35 parques urbanos públicos.
As áreas verdes municipais de recreio diferem, na sua origem, da maioria dos
parques estaduais sediados no município, que tiveram motivos de outras ordens para a
sua criação: proteção de mananciais de água, como os da Cantareira, Capivari-Monos,
Fontes do Ipiranga, Serra do Mar; local para exposições de gado, como o Fernando

117
Costa; produção de espécies para reflorestamento, como o Horto Florestal. Nestes, o
atendimento ao lazer, quando existe, é função secundária, sujeita a fortes restrições.
Exceção se faz ao mais recente parque estadual Villa Lobos que foi criado com o
objetivo de lazer para a população.
BARTALINI (1999), ao avaliar o desempenho atual dos parques públicos
municipais de São Paulo no atendimento às necessidades ou hábitos de lazer em áreas
verdes públicas, revelou que os parques municipais têm lugar de importância entre as
opções de lazer. Nos parques pesquisados15 foi possível constatar que a assiduidade
dos freqüentadores é considerável: no geral, mais da metade dos entrevistados visita
os parques pelo menos uma vez por mês e permanece neles, no mínimo, durante duas
horas.
Outro dado extraído da pesquisa foi o grande raio de alcance de alguns parques,
que chegam a atrair mais de 30% de freqüentadores que residem a mais de 10 Km de
distância. É portanto, um contingente grande de pessoas que se desloca, aos
domingos, de distâncias consideráveis para se recrear nos parques.
Pode constatar também que em torno de 50% dos freqüentadores dos parques
analisados provinham de distritos com baixo índice de qualidade de vida. Diante disto,
não é nada desprezível o papel que os parques desempenham, ou poderiam
desempenhar, no lazer de pessoas que, dada sua condição de exclusão social,
provavelmente não teriam opções de lazer além dos parques públicos e gratuitos.
A pesquisa ainda revelou pontos que, na maioria dos parques estudados, o
desfrute dos aspectos paisagísticos e ambientais foi mencionado espontaneamente por
mais de 20% dos entrevistados como o motivo central que os leva a exercer neles seu
lazer dominical. Em todos os parques o desfrute do ambiente empatou estatisticamente
ou superou o motivo expresso de praticar esportes ou exercícios físicos em geral. Na
outra ponta, ao observar as avaliações negativas, notam-se em metade dos parques
pesquisados índices expressivos de reprovação ao estado de abandono da paisagem e
ambiental em que se encontram.
Levando-se em conta todas as considerações feitas desde o final do século XIX e
século XX, o parque vem desempenhando um papel importante no que se refere ao

15
Parques pesquisados: Aclimação, Anhanguera, Carmo, Guarapiranga, Ibirapuera, Luz, Piqueri e Previdência.
118
lazer gratuito, principalmente para as classes sociais com poder aquisitivo baixo. No
discorrer desses anos a sociedade se transformou demandando diferentes usos em
diferentes épocas. O parque foi se remodelando conforme as transformações da
sociedade sob o comando do capital na tensão com as demandas sociais. Os múltiplos
usos de hoje, diferentes do início do século, com projetos que aos poucos foram se
tornando mais simples para se tornarem viáveis.
Apesar da legislação, assim como os setores responsáveis pelo provimento de
parques serem frágeis quanto à concepção, manutenção, entre outros, repara-se que
no final do século XX atitudes foram tomadas com o intuito de viabilizar a construção
dos parques – praças e antigas chácaras tornaram-se parques, pensavam em modos
econômicos de construção, grandes projetos foram questionados pelos órgãos
públicos, valoriza-se mais as necessidades imediatas que a população demanda no
momento.
Portanto, a construção de parques passa nessa época ser de interesse do capital,
para que os trabalhadores reponham suas energias, com o aparato do governo.
Construir parques significa prover espaços com condições onde as pessoas possam
exercer atividades lúdicas, repondo suas condições físicas para uma nova semana de
trabalho.
Esses espaços dado à população para que as relações sociais aconteçam e se
reproduzam, não objetiva simplesmente o bem-estar da população, na verdade objetiva
a reprodução do sistema capitalista. Nota-se que a construção ou não de equipamentos
de uso da população para recrear-se nos finais de semana após dias consecutivos de
trabalho, está diretamente ligada às necessidades do capital, seu surgimento está
vinculado às vontades do empresariado e não às vontades da população trabalhadora.
As necessidades sociais estão relegadas a um segundo plano.
Durante o discorrer de toda a história dos parques em São Paulo, sempre o setor
privado esteve à frente do público, quanto ao provimento de lazer à população.
Na consulta à população o Parque foi apontado pelos entrevistados como uma das
principais forma de lazer. A freqüência de utilização do Parque, a importância da
paisagem para os freqüentadores e a diversidade de categorias sociais que o
freqüentam e o raio de influência que atinge, mostravam que o parque cada vez mais

119
se consolida como um elemento imprescindível para a sociedade urbana e, sobretudo
para as camadas mais desfavorecidas da sociedade que não contam com outra opção
de lazer.
O capital e o Estado em comunhão não disponibilizam orçamentos suficientes para
a criação e conservação dos parques paulistanos. É de interesse do Governo em
mantê-los, mesmo em precárias condições de conservação e de infra-estrutura
incompleta, porque são espaços que servem como válvulas de escape sociais,
principalmente para as classes operárias, evitando assim situações ameaçadoras à
ordem pública dada a degradação das condições de vida da grande massa de
trabalhadores, mantendo assim a estabilidade social.
Com o objetivo de entender o provimento e a gestão do equipamento parque,
optamos por estudar o caso parque Villa Lobos com intuito de analisar em que
condições surgiu, a viabilidade de seu projeto, a função que exerce para a população,
desempenho da administração quanto à manutenção e administração, relação parque e
seu entorno, vontades e desejos dos freqüentadores, os usos realizados no espaço
parque.

Tabela 1-Parques Urbanos (Rosa Grena Kliass)

120
121
Capítulo 3 - O PARQUE VILLA LOBOS – TRANSFORMAÇÕES
ESPACIAIS E SOCIAIS

122
O PARQUE VILLA LOBOS – TRANSFORMAÇÕES ESPACIAIS E
SOCIAIS

Para compreender as transformações espaciais que um parque público urbano


provoca numa área de uma cidade como São Paulo, desde a definição de seu projeto
até a abertura ao público, foi escolhido o Parque Villa Lobos como um estudo de caso.
Para o entendimento dos acontecimentos ocorridos com a construção do Parque
Villa Lobos e as implicações espaciais em seu entorno houve necessidade de conhecer
o atual momento do processo de urbanização da cidade de São Paulo sob a ótica do
capital em suas relações com o Estado e, especificamente, conhecer a história do lugar
no processo contraditório e combinado de sua construção, assim como, dos elementos
implantados em sua vizinhança após sua instalação.
Na análise das implicações espaciais foi preciso pensar na gestão do Parque,
nos moradores que dele usufruem para o descanso e recreação e também nas
instituições responsáveis pelo financiamento e gestão.
Com essa perspectiva, foram entrevistados moradores das vizinhanças,
freqüentadores ou não do Parque e pessoas ligadas às instituições. As conversas
informais feitas durante as visitas ao Parque serviram de verdadeiros filtros para
entrevistas mais sistematizadas.
Nas entrevistas foram privilegiadas as questões abertas permitindo à pessoa
relatar sua história de vida e sua relação com o Parque. Realizou-se levantamento em
jornais e revistas de grande circulação, a fim de fazer uma retrospectiva das etapas
pelas quais o parque passou.
Várias visitas foram feitas ao Parque Villa Lobos em dias e horários diferentes
(fins de semanas/durante a semana/manhã/tarde) com o objetivo de verificar a
freqüência em diferentes dias da semana e horários. As visitas objetivaram a
observação, o registro, a documentação com fotos, conversas informais com os
usuários, funcionários e comerciantes do parque. Essas visitas nos revelaram como os
moradores vêm exigindo os equipamentos ausentes no parque e a sua manutenção
como espaço público.
Foram entrevistados moradores do bairro Boaçava, freqüentadores ou não do
parque: professores Odette Carvalho de Lima Seabra, Judite de La Corte, Nelson de La
123
Corte, Anita Marzzoco, José Gaspar Marzzoco que trabalha no Posto de Saúde da
região e se utiliza do parque para realizar atividades corporais e de relaxamento com
seus pacientes.
Estas entrevistas ofereceram subsídios para a pesquisa uma vez que além de
moradores antigos no bairro – vinte a trinta anos -, relataram sua relação com o parque
e como vivenciaram as transformações espaciais ocorridas no Boaçava, o que permitiu
aprofundar a compreensão das relações do parque com o bairro.
No entorno do bairro foram entrevistados trabalhadores e comerciantes do
CEAGESP, do cemitério da Lapa, comerciantes da Lapa, Vila Leopoldina e Vila
Hamburguesa. Estas entrevistas foram realizadas por alunos da graduação do curso de
Metodologia do Ensino de Geografia ministrado pela Profa. Nídia Nacib Pontuschka, na
Faculdade de Educação da USP, no segundo semestre de 2003.
Na esfera governamental, visitamos a Secretaria Municipal do Meio Ambiente –
DEPAVE – onde entrevistei Fátima Regina que nos deu um panorama da situação dos
parques urbanos municipais da cidade de São Paulo, dos existentes e dos parques a
serem implantados. Na esfera estadual, tanto na secretaria do parque Villa Lobos como
na Secretaria de Esportes e Turismo, órgão da administração do parque até início de
2004 não foi possível fazer contato. Entretanto, após março de 2004 o parque passou
para a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, sob a administração de Flávio
Scqavasim, que encontrou tempo para ser entrevistado.
Foi realizada entrevista com o autor do projeto do Parque Villa Lobos, o arquiteto
Décio Tozzi, juntamente com morador do bairro Boaçava Dr. J., advogado que atua
junto à Sociedade Amigos do Bairro, na ação civil pública, a favor do término da obra do
Villa Lobos. Relataram o histórico da implantação do parque, os motivos da paralisação
das obras, forneceram o projeto do parque e Acórdão realizado pelo Movimento
Defenda São Paulo, da Sociedade Amigos do Bairro proibindo alterações no projeto
inicial de uso público do Parque.
Os conteúdos do diálogo entre material bibliográfico acadêmico e de divulgação
nas revistas e jornais relacionados às entrevistas com moradores possibilitou o
aprofundamento das questões que envolvem o Parque Villa Lobos.

124
A seguir, tentaremos realizar um diálogo entre a produção escrita existente e as
entrevistas realizadas em um processo de sistematização decorrente das exigências de
uma pesquisa acadêmica.
Porém, inicialmente se faz necessário fazer um retrospecto histórico da área
desde o início do século XX.

As transformações espaciais e sociais antes do Parque

A construção do Parque surgiu com a manifestação dos moradores do bairro de


Boaçava contra a construção de um conjunto habitacional que comportaria oitenta
torres de edifícios.
A reação ocorreu provavelmente devido aos problemas de trânsito que viria com
a quantidade de pessoas que passariam a residir na área. A pressão contra a ocupação
da área, feita pela população contra a construção dos edifícios, foi realizada através
dos deputados junto ao governador Estadual Orestes Quércia, com causa de ganho
para os moradores.
Aquela área estava em litígio, há muito tempo, entre o governo do Estado e o
grupo Abdalla. O Governo, na década de oitenta, por pressão da população encampou
a área que pertencia aos Abdallas, como pagamento de dívida de impostos contraída
pelo grupo ao governo. Porém, não era a totalidade da área que seria destinada ao
parque, o restante foi cedido pelos órgãos governamentais e/ou desapropriados por
decreto de área de interesse público.
Noventa por centro da área do Parque, 967 m², pertencia à família Abdalla que
adquiriu esta área no pagamento de uma dívida da Brazilian Traction Light & Power CY.
Ltd por compra de cimento da Cimento Perus16. A Light no início do século ganhou a

16
Cimento Perus pertencia à família Abdalla e, a Light comprava material da Perus para suas obras. Informações
sobre o assunto, vide: SEABRA, Odette C.L. Os Meandros dos Rios nos Meandros do Poder: Tietê e Pinheiros:
valorização dos rios e das várzeas na cidade de São Paulo. Tese de Doutorado em Geografia Humana apresentada ao
DG-FFLCH-USP, São Paulo, 1987.

125
concessão de toda a várzea do rio Pinheiros para sua retificação, que mais tarde
vendeu ou repassou como pagamento de dívida a outras.
Antes da retificação do Pinheiros, era uma área de várzea com lagoas de
meandros abandonados remanescentes da extração de areia. Inicialmente, a atividade
que se desenvolvia era a extração de areia; posteriormente essa área serviu como
depósito de material proveniente da dragagem do rio Pinheiros e de resíduos sólidos,
conhecidos como bota-foras.
Com a deposição desses materiais, a área transformou-se em um relevo
irregular. Nelson de La Corte relembra:
Esse espaço era vazio, porém, a meninada ia brincar. A freqüência não
era muito grande porque era espaço muito ermo e de difícil acesso, tinha
áreas inundadas e não inundadas com muito entulho. Era usado pelos
marrecos e paturis, nós tínhamos aqui toda tarde o hábito de marreco e
paturi que faziam dessas lagoas seus locais de descanso. (Entrevista,
2003)

Décio Tozzi comenta sobre as condições da área antes da implantação do Parque:


Existiam lagoas naturais com a água do rio, os meandros chegavam até o
Boaçava. A primeira fase predatória foi a venda de areia que formava as
lagoas, depois veio a segunda fase predatória, percebeu-se que ali
serviria para bota fora para outras áreas que precisavam jogar material. A
maior parte não é só lixo de material de construção, inorgânico, havia lixo
orgânico também, ácidos. Quando o projeto chegou estava tão cheio de
lixo que formavam montanhas. O projeto inicial era mais baixo. (Entrevista,
2003)

O Parque se encontra dez metros de altura em relação à várzea por causa do


"lixo"17 encontrado na área no início da construção do projeto. Para remover o "lixo",
segundo a construtora Camargo Correa, seria necessária uma verba muito alta que
encareceria demais construção do Parque, tornando-a inviável.
Aquela área, no início do século XX, várzea do rio Pinheiros, era ocupada por
chacareiros e leiteiros. A primeira atividade econômica na década de vinte que ocorreu
foi a extração de areia e cascalhos do fundo do leito do rio Pinheiros com técnica
bastante rudimentar. O material extraído era depositado nos portos de areia, próximos à

17
O que é chamado de "lixo" são principalmente resíduos sólidos ou entulho.
126
várzea, onde eram comercializados. Próximo à ponte do Jaguaré, portanto próximo ao
Parque Villa Lobos havia um desses portos de areia.
A medida em que o tempo passou, o instrumento rudimentar foi substituído por
dragas se transformando numa esfera de trabalho social, já que os produtos se
convertiam em matéria-prima essencial para outros circuitos produtivos da cidade. Já
não era mais um trabalho simples e rudimentar.
Em 1927, esta atividade começa a desaparecer no rio Pinheiros porque o
governo passa à Companhia Light a concessão de canalizar o rio e drenar suas
várzeas com o intuito de aumentar a geração de energia, invertendo o curso original do
Pinheiros para lançar suas águas na vertente oriental da Serra do Mar, em Cubatão-SP.
Esse fato resultou na mudança dos barqueiros para o rio Tietê porque a Light. estava
interferindo nas condições de navegabilidade do rio, abrindo e fechando as comportas
da Represa Billings, dificultando as condições de trabalho.
A concessão do governo à Light objetivava a canalização do rio, alargamento de
seu leito, retificação e aprofundamento dos leitos dos rios Pinheiros e seus afluentes.
Para isso a Light gozou do direito de desapropriação das terras inundáveis com fins de
utilidade pública, passando a ter a posse de todas as terras da várzea necessárias para
realização das obras.
Profa. Dra. Odette Seabra em sua tese de Doutorado apresentada à Faculdade
de Geografia da USP relata que em 1929 uma enchente ficou famosa pela quantidade
de área que foi coberta, nunca vista antes. Desconfia-se que esta enchente teria sido
provocada pela própria Light com a intenção de, através da abertura das comportas
para que as águas invadissem uma grande quantidade de terras, ampliando ao máximo
as áreas da várzea, garantindo assim os direitos na concessão que obtivera sobre as
terras inundáveis com a ajuda da marcação das áreas por engenheiros da USP.
Com a intervenção da Light para realização de suas obras o Pinheiros mudou
seu desenho, foi realizado sua retificação, as várzeas foram aterradas ao nível dos
terrenos adjacentes desaparecendo assim seus meandros abandonados. Grande parte
dessa área aterrada era utilizada para deposição de material de assoreamento,
havendo ao longo do canal treze botas foras. Estas terras cedidas à Light, com o tempo
tornaram-se suas propriedades particulares.

127
Existiam ao longo do Pinheiros grandes proprietários que idealizavam
grandes projetos como é o caso da Companhia City, que desde 1914
fizera grandes aquisições tanto na margem esquerda como na margem
direita do rio. A exemplo de Dumont Villares que planejou a criação de um
distrito industrial em suas terras no Jaguaré. No entanto, antes mesmo
que fossem baixadas as cláusulas que regulamentaram a concessão junto
ao Decreto 4487, a Companhia Light já se constituía na maior proprietária
de terras na área de concessão (SEABRA, O., 1987, p.201).

Apesar do decréscimo do volume da atividade de extração mineral na várzea por


conta da Light, por muito tempo, algumas empresas permaneceram na várzea
exercendo a mesma exploração.
A Companhia City, entre as aquisições de terras que fizera nos primeiros anos
deste século em direção à várzea do rio Pinheiros, estavam as terras situadas entre o
Butantã e a Ponte do Comércio, margeando o rio Pinheiros à esquerda e à direita.
Nessas condições a linha de enchente fixada pela Light englobou parte das terras da
City. Logo a Light mobilizou-se para cobrar os benefícios das terras da City e esta
retrucou dizendo que a área sujeita à melhoria não deveria ser aquela coberta pela
cheia de 1929 e sim pela cheia de 1927(ano da concessão). Ao defrontar-se com a
City, desencadeava a Companhia Light um embate entre iguais. A Companhia City foi a
única empresa que questionou a legitimidade dos limites da enchente de 1929 para
concretização dos direitos assegurados pela Lei de concessão. Em novembro do
mesmo ano firmavam a Light e a City um acordo amigável para resolver a questão. A
Light comunicava que receberia como pagamento de melhoria 436.848 m² de terra.

Foto 11 - Retificação do Rio Pinheiros

128
Foto 12 -Os meandros do Rio Pinheiros

129
Na década de 1950, a Companhia City começou a lotear os bairros que se
transformaram hoje na alta burguesia da região: Alto de Pinheiros, Alto da Lapa e
Boaçava.
Na década de 1960, as áreas de várzeas do rio Pinheiros começaram a valorizar
com o avanço da mancha urbana. O poder público pressionou a desapropriação para
incorporar essas terras ao sistema viário que se encontrava em plena expansão para a
construção de trevos, passagens, viadutos, conexões de todo tipo e para as vias
marginais expressas.
A Light, prevendo perder suas terras, rapidamente propôs permutas de terras ao
poder público para vender suas propriedades na tentativa de não ter prejuízos. Foram
vendidas à SANBRA (hoje centro empresarial), aos MOFARREJ onde estão várias
indústrias, o Colégio Santa Cruz.
O processo de ocupação da mancha urbana resultou do encontro de dois
núcleos em expansão, de um lado o velho núcleo de Pinheiros, de fundação muito
antiga, de outro, o processo de expansão partindo do centro da cidade. A Lapa é outro
grande centro da zona oeste. Lapa e Pinheiros funcionam como importantes centros de
serviços das áreas periféricas da zona oeste da Região Metropolitana de São Paulo.
A zona oeste atualmente é composta por bairros com características
paisagísticas, históricas e sócio-econômicas diferenciadas. Há bairros com alto poder
aquisitivo como: Alto de Pinheiros, Boaçava, City Lapa; bairros com poder aquisitivo
médio: Pinheiros, Lapa, Bonfiglioli, Parque Continental, Butantã e bairros com poder
aquisitivo baixo: Rio Pequeno, Jaguaré, Imperatriz Leopoldina.
O crescimento da mancha urbana da cidade e a expansão da malha viária, com
a utilização crescente do automóvel, fizeram com que o bairro Boaçava passasse a ter
uma situação muito favorável ao acesso a importantes áreas da cidade: próximo à
Universidade de São Paulo, ao CEAGESP e ao Centro de São Paulo. Isso fez com que,
após a década de 1970, o bairro conhecesse uma valorização muito grande de seus
lotes de terra.

Foto 13 - Imagem aérea do Parque Villa Lobos


130
Foto 14 - Localização da área do Parque Villa Lobos

131
Fonte: Dpto. de Geografia - USP/1962
Os fatores que determinam a formação do preço de uma área vinculam-se,
principalmente, à inserção de determinada área no espaço urbano global, tendo como
ponto de partida a localização do terreno (no bairro, e deste na metrópole); a
acessibilidade em relação aos lugares ditos privilegiados (universidade, shopping
centers, centros de saúde, de serviços, de lazer, CEAGESP, áreas verdes, etc.); acesso
à infra-estrutura existente (água, luz, esgoto, asfalto, telefone, vias de circulação,
transporte).
A evolução dos preços inter-relaciona-se com as condições de reprodução do
espaço urbano no que se refere ao modo como se desenvolve a produção das
condições gerais de reprodução; dos custos gerados pela concentração no solo urbano,
bem como pelas políticas de zoneamento ou de reservas territoriais, além das
modificações do poder aquisitivo dos habitantes. Segundo Odette Seabra, “até hoje a
Companhia City tem lotes de reserva como estratégia de valorização.” (Entrevista,
2003)
Após a valorização do Boaçava, os antigos proprietários que adquiriram seus
terrenos na década de 1960 e início de 1970, começaram a ser especulados para a
venda de suas propriedades, com o objetivo de juntar dois ou três lotes, construindo no
lugar verdadeiras mansões.
Antigos proprietários que ainda residem no bairro compostos por professores da
Universidade de São Paulo, engenheiros, arquitetos, funcionários e/ou donos de box no
CEAGESP, reclamam dos altos impostos de IPTU, luz, lixo, que são cobrados
normalmente em bairros centrais de alto poder aquisitivo, que aumentaram no decorrer
das décadas de 1980 e 1990.

O projeto e a construção do Parque Villa Lobos

O Parque Villa Lobos durante o curso desta pesquisa foi administrado pela
Secretaria de Esporte e Turismo do Estado e atualmente está com a Secretaria
Estadual do Meio Ambiente. Está localizado na zona oeste da cidade de São Paulo,
especificamente no bairro de Boaçava em frente à Cidade Universitária e entre a Praça
132
Panamericana e o Ceagesp. Sua área pertence à várzea do rio Pinheiros próximo à
ponte do Jaguaré e é delimitado pela avenida Prof. Fonseca Rodrigues, Queiroz Filho
(ponte do Jaguaré), rua Arruda Botenho e marginal Pinheiros. Os bairros do entorno
são Alto de Pinheiros e City Lapa, bairros de classe alta; Jaguaré, Lapa, Vila
Leopoldina, são bairros de classe média baixa. Sua área é de 717.000m², sendo
abertos: 350.000 m² (MACEDO, 2002, p.199).
O parque foi proposto em 1987, na época pelo então vereador Walter Feldman
com projeto de Décio Tozzi ao governador Orestes Quércia que concordou em construí-
lo. De acordo com o projeto, o parque seria gerenciado por uma fundação particular e
não pela administração pública para maiores facilidades, principalmente, na
apresentação de shows.
O Parque contaria com um grande centro de lazer com quadras de futebol,
ciclovia, pista de cooper, coretos e brinquedos para as crianças, formando um imenso
bosque, típico das matas brasileiras, com mais de trezentas espécies de árvores,
cortado por lâmina d’água com lago para pedalinhos e pequenos riachos para prática
de esqui aquático. Numa alameda longa chamada Passeio Uirapuru seriam erguidos
três prédios, com salas de ensaio para orquestras e balé, seria um centro de
convivência e aprendizagem destinado ao ensino de música com dependências para o
ensino prático e teórico. No centro do bosque seria construída uma ilha musical,
circundada por um lago e destinada a espetáculos, uma tenda translúcida ficaria no
centro disso tudo e poderia abrigar até quinze mil pessoas em grandes shows, uma
espécie de concha acústica na entrada do parque – espécie de mirante para que
fossem realizados shows de música clássica, regional, popular e jazz – esta construção
até foi comparado à tenda que existe no aeroporto de Jeddah, na Arábia Saudita,
utilizada para abrigar peregrinos que vão à Meca. Na outra ponta iria ficar a Praça Mario
de Andrade, com três edifícios – dois auditórios cobertos para a música com
capacidade para 1.700 lugares e acústica super avançada e um museu diferente, uma
espécie de Disneylândia da arquitetura que seria um espaço iconográfico com
constantes espetáculos audiovisuais e holografia com uma pequena cidade semelhante
à São Paulo dos séculos passados contando a história da arquitetura e urbanismo em
São Paulo, desde o século XVII até XX, além de lanchonetes, vestiários, restaurantes.

133
Numa parte anexa seria construído pela iniciativa privada o maior teatro de São
Paulo, com capacidade para três mil pessoas, o dobro de lugares do Municipal numa
área de 130 mil m². O teatro foi orçado em trinta 30 milhões de dólares que seria
custeado por um grupo de empresários interessados, entre eles José Ermírio de
Moraes, do grupo Votorantim e José Mindlin da Metal Leve com previsão para ser
concluída em cinco anos. Tudo estaria numa área de 912.398 m²18, equivalente a 60%
da área do parque do Ibirapuera.
Na época, o custo do projeto foi orçado em 2,25 bilhões19 de cruzados (dinheiro
da época) incluindo as desapropriações que incluía terrenos particulares e público. Para
Décio Tozzi preservaria um dos poucos vazios urbanos de São Paulo.
Um terço do terreno pertencia à prefeitura, na época Jânio Quadros, o restante
era de propriedade da Eletropaulo e de empresas particulares. O prazo mínimo de
conclusão do projeto seria de dois anos.
Em setembro de 1987, o valor do terreno havia sido congelado pela Lei de
Zoneamento, permitindo sua utilização apenas para fins institucionais. Em abril de
1988, o então governador Orestes Quércia assinou decreto declarando de utilidade
pública a área. Dos 912.398 m² foram desapropriados 654 mil m² sendo que 95% dos
654 mil m² pertencia à família Abdalla e o restante a outros particulares. As áreas
adjacentes que faltavam para integrar o projeto foram doadas pela prefeitura e
Eletropaulo.
A real propriedade do terreno foi colocada em dúvida num artigo da revista Veja
publicado em 10 de janeiro de 1990.
A história do terreno que vai se tornar a segunda maior área verde da
cidade é complicada. O governo do Estado acabou pagando uma quantia
equivalente a 239.000 cruzados novos pela desapropriação de um terreno
que nem mesmo pertencia a J. J. Abdalla, um empresário já falecido que
ficou conhecido como mau patrão – ele tinha uma extensa ficha negra
com 260 processos, todos por acusações de calotes. A região que vai se
transformar no Parque Villa Lobos era chamada antigamente de Sítio de
Boaçava e pertencia a Escholástica Honorata, uma mulher que foi uma
grande proprietária de terras na cidade. Escholástica vendeu dois milhões
de metros quadrados da região para a Companhia City, empresa que fez
grandes loteamentos planejados em São Paulo. Dias depois da venda, ela

18
Esta metragem consta no artigo publicado no Jornal a Folha de São Paulo de 19 de setembro de 1987.
19
Este custo consta no artigo publicado no Jornal a Folha de São Paulo de 19 de setembro de 1987.
134
voltou atrás e resolveu vender por escritura apenas um milhão de metros
quadrados. O restante da área ficou abandonado durante anos, até que J.
J. Abdalla descobriu isso e, segundo o que se comenta, falsificou um
certificado de compra das terras em leilão judicial. Com isso, acabou
ficando com o terreno. Os Abdalla tentaram mudar a Lei de Zoneamento,
para construir ali dezenas de prédios e um shopping center. ‘Eles
chegaram a me procurar para conseguir alguma coisa, mas eu nem os
atendi’, diz Leiva. ‘São Paulo não precisa de outro shopping, e sim de
mais árvores'.

Este artigo mostra que o Governo não tem controle sobre os loteamentos de
terra e seus respectivos proprietários na cidade de São Paulo. Foi fácil manobrar as
instituições públicas visto a falsificação de um documento de compra de terras ter sido
aceito, como aparece no artigo exposto, sem maiores dificuldades, demonstrando uma
total ineficiente dos órgãos responsáveis.
Segundo o secretário de Obras do Estado, na época João Oswaldo Leiva, a
assinatura do decreto foi mantida em sigilo, até o último minuto, “a fim de evitar
manobras políticas ou jurídicas por parte da família Abdalla”, que pretendia construir no
terreno um shopping center, um hipermercado e prédios comerciais e residenciais. Com
a desapropriação, segundo Leiva, a família Abdalla deverá receber cerca de “600
milhões de cruzados – dinheiro na época (aproximadamente 1.000 por m²) e os outros
quarenta e quatro proprietários (5% do terreno) deverão receber cerca de 10 mil
cruzados por m², por ser zona 1”.20
O terreno que “pertencia” à família Abdalla, há anos, vinha sendo objeto de litígio
judicial. O terreno não era muito valioso, porque a Lei de Zoneamento só permitia a
construção em 5% de sua área total – por isso seu valor não ultrapassava a 1 milhão de
cruzados. No entanto, se a lei fosse modificada – e a família Abdalla tentou isso por
vários anos -, o metro quadrado daquela área poderia estar valendo até 2.000 dólares,
o preço médio da região. Assim, o valor do terreno, pelo menos no papel, saltaria para
1,5 bilhão de dólares.
Nota-se aqui um esforço da iniciativa privada em se apropriar do espaço para as
construções que lhes interessam – shoppings, conjunto de edifícios, entre outros,

20
Esse tema foi matéria de artigo do jornal “Folha de São Paulo” em 16 de abril de 1988.
135
instalando nova centralidade num espaço que ainda está sem uma função definida,
visando obviamente a reprodução do próprio capital.
Em 1987, quando o projeto foi lançado estava se comemorando o centenário de
nascimento do maestro Heitor Villa-Lobos. Para Décio Tozzi, o brasileiro é um povo
musical, segundo pesquisa que realizou para elaborar o projeto, portanto o parque
presidiria a música e a poética do compositor, e partindo desse princípio, dos 754 mil m²
previstos para o parque – 97% seria destinada ao verde e apenas 3% a construções,
com temas e equipamentos musicais. O Parque era uma homenagem ao maestro e
compositor Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e por isso, a fauna e a flora, tão importantes
nas obras do músico, seriam ressaltadas. O projeto previa a criação de um parque bem
brasileiro, com vegetação densa e floresta tropical, contendo no meio dez a doze
clareiras para que a população pudesse andar no bosque, onde haveria também um
local reservado à exposição permanente de flores e plantas, além de mais quinze
espaços destinados a artistas plásticos. Também previa um coreto e um jardim com
árvores frutíferas que serviriam para atrair os pássaros, dizia Tozzi que queria um
viveiro natural, sem aprisionar nenhuma ave.
Através de debates e exposições nas câmaras comunitárias estabeleceu-se um
diálogo com a população dos bairros vizinhos: Pinheiros, Vila Madalena, Boaçava,
Butantã, Jaguaré, Vila Romana, Alto da Lapa que levou à decisão de acrescentar no
projeto um setor esportivo, pista de cooper, skate, ciclovias, campos de futebol.
A participação da comunidade na construção do projeto, segundo Décio Tozzi:
Comecei a fazer um proselitismo do parque, fui em câmaras comunitárias
das favelas do entorno, do CEAGESP, Jaguaré, etc. Fui em vários clubes
de futebol, associações atléticas, várias associações de bairro e
fundamentalmente o centro das discussões com Aluísio Nunes, o
Goldman, outros vereadores, no Santa Cruz, etc. As coisas foram
crescendo... fizemos reuniões na Praça Boaçava e muitas pessoas que
tinham dúvidas foram sanadas ali. As coisas que eles não gostavam foram
tiradas como por exemplo uma ponte que atravessa a avenida que liga o
Bairro Boaçava ao Parque, eles não queriam e tiramos. Não é um Parque
de esportes é um Parque de cultura e de lazer e por pressão do pessoal
da favela e dos times de futebol é que colocamos um campo de futebol e
umas quadras poli esportivas para atendê-los. O programa do Parque foi
construído de acordo com o desejo da comunidade. (Entrevista, 2003)

136
Moradora do bairro, há muitos anos, a geógrafa Odette Seabra não teve
conhecimento de nenhuma consulta à população. Segundo ela, as decisões foram
tomadas em gabinete e não na comunidade.
Sua obra iniciou-se em novembro de 1989 com o trabalho de terraplenagem pela
construtora Camargo Corrêa, com previsão de término para 1991. Na fase inicial de
construção foi previsto um investimento do governo de 25 milhões de dólares em
terraplenagem, construção de passeios, quadras poliesportivas, criação de um bosque
de quarenta alqueires que viria cercar a área com 35 mil árvores de 300 espécies
diferentes e obras de infra-estrutura com vários prédios de dois pavimentos, anfiteatros
e a instalação dos sistemas hidráulico e elétrico. O custo total da obra giraria em torno
de 30 milhões de dólares21 e o edital de concorrência estava à disposição das
empreiteiras. Segundo o governo, o prazo para a conclusão da obra seria de treze
meses.
A construção foi dividida em duas fases. A primeira com a terraplenagem,
construção de galerias de águas pluviais, instalação de grades em torno da área e a
criação de lagos, que formariam os espelhos d’água.
Na segunda etapa estava prevista a construção de espaços para shows e
ensaios de orquestras, corais e balés. Seria formado também o bosque com árvores de
médio e grande porte, como jequitibás, angicos, jacarandás, pau-brasil e cedros. O
trabalho teria coordenação do paisagista Rodolfo Gêiser, com apoio do Departamento
de Águas e Energia Elétrica (DAEE).
Para Décio Tozzi, era a primeira vez que se fazia um parque a partir do nada, o
que era um enorme depósito de lixo seria em breve, um pulmão verde para a cidade.
Dizia ele que o palco ficaria ao Sul e a platéia ao Norte para que o vento levasse o som,
como nos teatros gregos.
Ao lado do bosque haveria uma alameda, o Passeio Uirapuru, com piso do
calçadão feito em mosaico português, sobre desenhos do pintor Cláudio Tozzi.
Unidades modulares para restaurantes, lanchonetes, cafés e vão livre para exposições
de artistas plásticos ladeariam a alameda. No seu final, três edifícios formariam uma

21
Idem.
137
praça: dois abrigariam auditórios e o terceiro, equipamento para exibição de imagens
em terceira dimensão (holografia).
Para as crianças seria construído um centro de convivência, um museu e uma
‘oficina de pensar’, onde elas receberiam noções de química, física, biologia, ecologia e
comunicações.
Tudo foi projetado para beneficiar o pedestre: os automóveis ficariam do lado de
fora, num estacionamento com 1.200 vagas. Um trenzinho circularia permanentemente
e haveria um monumento a Heitor Villa Lobos feito pelo escultor Bruno Giorgi. Até
março, quando o governador Orestes Quércia deixaria o governo, as obras estariam em
estágio irreversível e teria continuidade assegurada no próximo governo. Era o que se
previa.
O projeto realmente esplendido, merecedor de prêmio internacional, porém, o
que se coloca aqui é exatamente a sua grandiosidade e sua real possibilidade de
concretização. Tantos outros projetos magníficos foram formulados no século XX e uma
pequena parte foi contemplada e assim mesmo não obedecendo a todas as orientações
contidas no projeto. Pode também ser aventado se este projeto corresponde à
demanda da população ou não, se é esta grandiosidade que a sociedade atual
reivindica e a que público ele se destina. Será que as classes de poder aquisitivo baixo
(as que mais precisam de lazer) fariam uso desse espaço?
Segundo artigo do Jornal da Lapa, datado de 24 de novembro de 1990, o
governador Orestes Quércia assinou contrato no valor de 110 milhões de dólares,
destinados à segunda fase das obras, na etapa inicial foram gastos 30 milhões de
dólares pelo DAEE referentes a terraplenagem, cercamento com gradis metálicos,
construção de galeria para canalização do córrego Boaçava, a portaria e uma parte do
estacionamento. Ainda segundo o artigo, a segunda fase das obras previa a construção
de quadras poliesportivas, cantinas e restaurantes, pista de cooper, teatro e auditórios,
além de praças e bosques, ilha musical e um prédio para abrigar o Museu da Criança.
No entanto, em 1989 estavam previstos gastos de 25 milhões de dólares na fase
inicial. Os gastos previstos foram isuficientes, não dando sequer para a primeira fase do
parque, levando o Governo a assinar contrato de 110 milhões de dólares para o término
da obra.

138
No mínimo, é de se estranhar que o gasto previsto para o total da obra – 30
milhões de dólares – passasse para 110 milhões, perfazendo um total de 140 milhões
de dólares no total da obra, isso no decorrer de um ano.
O Parque Villa Lobos não foi aberto à população em julho de 1991, como havia
sido prometido, segundo o superintendente do DAEE tiveram que readaptar o
cronograma à disponibilidade de recursos, prometendo terminar as obras em março de
1994.
Do projeto original do parque que previa o plantio de 35 mil árvores, de mais de
300 espécies da flora brasileira e o esboço de algumas pracinhas, só se concluiu a
terraplenagem até julho de 1991 – data prevista para ser entregue à população. Do lado
de fora do parque, próximo ao cruzamento da Marginal Pinheiros com a avenida
Queirós Filho, uma imensa placa anunciava o que não se fez: o Parque Villa Lobos, era
na verdade era um monte de terra delimitado por uma contínua grade verde.
O problema de recursos acompanhou todo o processo histórico de concepção
dos parques na cidade de São Paulo como também a demora na entrega dos mesmos
à população.
Porém, discutia-se o início da construção do Teatro de Ópera, uma obra
polêmica, que resultou em 1988-89 em muita preocupação para os integrantes da
Sociedade Amigos do Parque Villa Lobos, que enxergavam nela o perigo de um maior
afluxo de carros e constantes engarrafamentos na região.
O Teatro de Ópera, projeto do arquiteto Jorge Wilheim, Secretário Estadual do
Meio Ambiente no governo Quércia, ocuparia uma das quinas do quadrilátero, mas a
obra foi adiada devido à sua própria localização. Situada numa Z8-4022, de
preservação, a área só poderia abrigar uma construção mediante autorização prévia da
prefeitura. A solução foi encontrada quando a Câmara dos Vereadores decidiu aprovar
a mudança de zoneamento, autorizando o Teatro de Ópera e suas vias de acesso. O
projeto devia tomar corpo em seis meses e estaria concluído em quatro anos, quando
foi prometido entregar à população uma área construída de cerca de 30 mil m² mais
estacionamento-bosque com capacidade mínima para mil veículos. O teatro iria abrigar

22
Tipo de zoneamento urbano.
139
três mil lugares e oferecer à cidade espetáculos de música sinfônica e erudita, ópera e
dança.
Segundo Vinício Pasquim, presidente da Sociedade Amigos do Parque Villa
Lobos, os moradores do Alto do Pinheiros, City Boaçava e Butantã, mais atingidos pela
obra, não tinham mais nada contra ela, a única preocupação que permanecia era o
trânsito e o zoneamento, que poderiam alterar o perfil da região, como acontece de
costume quando o comércio vai se insinuando em bairros tipicamente residenciais.
O temor de Vinício Pasquim, no entanto, tinha outra justificativa, talvez até mais
consistente. Como explica o ex-vereador e representante do movimento Proteja São
Paulo, Carlos Ergas, a partir da mudança de zoneamento se estará abrindo uma porta
de fácil acesso a iniciativas do porte de uma CBPO, empreiteira interessada em dotar a
região de novos atrativos como um conjunto de onze torres de edifícios, compondo um
centro empresarial. O advogado e morador do Alto de Pinheiros até garantiu que a
empresa já havia vendido partes do empreendimento.
Mas, enquanto os primeiros tijolos não se assentavam e os carros não se
afunilavam nesses bairros, seus moradores passeavam por ruas tranqüilas e
arborizadas, sonhando com o dia em que teriam mais lazer e cultura por perto: Sou a
favor do teatro porque ele é cultura e eu, como aposentado, poderia me aproveitar
desse benefício por aqui”, argumenta Manoel Sardinha Freitas, do Boaçava. “Seria
ótimo se concluíssem o parque e o Teatro de Ópera. Acho que compensa: um pouco
mais de trânsito em troca de mais cultura e exercício físico”, definem Lúcia Regina
Marques e Camila Tosello, ambas com 16 anos.23
No entanto atualmente a área onde era para ser construído o teatro foi cedida ao
Metrô para construção da linha 4.
Os cálculos do custo do projeto também foram modificados. A previsão em 1989
era de 30 milhões de dólares. Em 1990 o Estado previa que o parque custaria
aproximadamente 70 milhões de dólares24, porém o Jornal da Lapa fala em 110 milhões
de dólares. No governo Fleury arredondaram quase duas vezes mais: 130 milhões de
dólares dos quais 30 milhões de dólares já foram investidos somente na primeira fase

23
Entrevista realizada pelo jornal “Shopping News/ City News/Jornal da Semana” de 28 de julho de 1991.
24
Informação obtida no artigo do jornal “O Estado de São Paulo” de 22 de setembro de 1991.
140
do projeto que realizou a terraplenagem, construção de cercas e galerias de águas
pluviais.
Para transformar em realidade o parque o governo iria necessitar de mais 100
milhões de dólares e da ajuda de pelo menos 15 bilhões de minhocas correspondente a
130 mil toneladas de vermífugo, porque sem as minhocas não seria possível fazer do
Villa Lobos, um parque com 35 mil árvores semeadas. O solo é heterogêneo, não
absorve a água das chuvas e é praticamente estéril, explicou o engenheiro Paulo Emílio
Tito Pereira, do DAEE. A explicação é que até 1988, quando foi desapropriada pelo
Estado, a área do futuro parque era utilizada como lixão. “O parque está sendo
construído sobre uma montanha de detritos”, observava Pereira25.
O término das obras que era para o ano de 1991 no governo Quércia passou
para março de 1994, já no final do governo Fleury. Segundo o DAEE devido à falta de
verbas e a má qualidade do solo atrasou a entrega do parque.
Durante os trabalhos de terraplenagem, foram removidos cerca de 400 mil
metros cúbicos de entulho – grandes pedaços de concreto, ferro e tijolos. Outros 1,6
milhão de metros cúbicos foram espalhados pelo terreno, formando uma camada de
sete metros. Ali estavam enterrados desde argila retirada do rio Pinheiros até pneus e
pedaços de vidro. Para transformar essa montanha de lixo em solo fértil, o DAEE
recorreu ao auxílio de uma variedade de minhoca importada da Califórnia, nos Estados
Unidos, para recuperar a qualidade do solo. As minhocas também serviriam para
melhorar a drenagem da área, porque elas perfuram galerias na terra e permite maior
infiltração de água no solo. Previu-se que o parque não estaria totalmente pronto em
1994, porque o bosque deveria estar completamente formado após três ou quatro anos
depois dessa data.
A falta de verba indica que o contrato de 110 milhões de dólares assinado pelo
governador Quércia para o término das obras não deve ter sido consumado, já que não
havia verba para terminar.
As obras avançaram na proporção dos recursos, relatou um diretor da
empreiteira Camargo Corrêa: “Infelizmente quem determina a velocidade das obras não
somos nós, mas o governo... para iniciar a construção dos prédios previstos no projeto,

25
Entrevista realizada pelo jornal “O Estado de São Paulo” de 22 de setembro de 1991.
141
teremos de contar com pelo menos mil operários.” As obras contavam com pouco mais
de cem operários.
Novamente o problema do recurso aparece como impedimento para a população
ganhar um novo espaço de lazer dentro da cidade de São Paulo.
Ao lado do parque foi aprovado a construção do shopping Villa Lobos, projeto de
Julio Neves, aprovada pela Operação Interligada que prevê alterações no zoneamento
para projetos específicos, já que a Lei de Zoneamento proibia a construção de
shoppings na região, pela Comissão Normativa de Legislação Urbana (CLNU), órgão
vinculado à Secretaria Municipal de Planejamento.
Os representantes das associações tentaram questionar a legalidade das
Operações Interligadas, entrando com uma ação de inconstitucionalidade contra essa
operação junto como a Ordem dos Advogados do Brasil, pois, os moradores
acreditavam que o projeto traria prejuízos ao tráfego e à qualidade de vida na região.
Estes mesmos tentaram adiar a aprovação do projeto alegando que nenhum morador
sabia da existência do projeto, já que a intenção dos investidores era erguer no terreno
um centro empresarial, disse o presidente da época da Associação Amigos do parque
Villa Lobos, Pedro Motta de Barros. “Todas as Operações Interligadas realizadas até
agora só trouxeram problemas de trânsito para as regiões onde foram implantadas”
segundo Ari Albano, representante, na época do Movimento Defenda São Paulo.
Durante a apreciação do projeto, os integrantes da CNLU argumentavam que o
shopping não traria prejuízos para a região. “A instalação de um pólo comercial numa
região só traz benefícios e melhorias”, afirmava Ronald Dumani, representante do
Sindicato das Empresas de Compra e Venda de Imóveis (Secovi). “A tentativa de
acabar com a Operação Interligada, um instrumento que garante um melhor
desenvolvimento para a cidade, é uma atitude que lesa São Paulo”, disse Arnaldo
Pauliello, representante da CNLU na época. Flamínio Camargo – presidente da
Associação de Moradores do Alto de Pinheiros em 1993 rebateu “Vamos ver o que a
Justiça vai dizer a respeito”.
Vê-se aqui a luta dos empreendimentos imobiliários para se apropriarem do
espaço em conflito com os moradores que tentam também se apropriar, tentando

142
direcionar seu uso, contra a instalação de comércios e outros elementos que
descaracterizaram o bairro que é residencial da elite econômica paulistana.
A Comissão Normativa de Legislação Urbana (CNLU) em 28 de setembro de
1993 aprovou através da Operação Interliga a construção do shopping Villa Lobos na
marginal Pinheiros ao lado do parque. A Lei de Zoneamento que proíbe a construção foi
alterada, porém a CBPO, empresa responsável pela obra, teve que construir um
número de casas populares para a prefeitura, como prevê a Operação Interligada, que
ainda estava por ser definida por técnicos da Secretaria Municipal de Planejamento.
Junto ao shopping foi feito um prédio de dezoito andares para escritórios. O presidente
do Movimento Defenda São Paulo, que reúne 255 sociedades de bairros, na época
Roberto Saruê, disse que estaria preparando uma ação de inconstitucionalidade para
impedir a Operação Interligada: “Vamos tentar anular a decisão porque fere a legislação
e descaracteriza o bairro”.
Com a construção do parque novas construções foram surgindo dando uma nova
função ao bairro, descaracterizando-a como atentou o presidente do Movimento
Defenda São Paulo. Concomitantemente, às novas funções, transformações espaciais
foram ocorrendo através do setor financeiro imobiliário e de construção com o aparato
do governo, legalizando Leis para construções antes não permitidas, redefinindo o uso
daquele espaço. Este viabilizando o uso do espaço para aquele, assim como na
Operação Faria Lima.
O importante é que, mesmo com o aval do Governo para a instalação no espaço
pelo setor financeiro, a sociedade continuou reivindicando aquele espaço com ações
civis, por meio da mídia como também por outros canais.
Esta ação, a de apropriação do espaço pelo capital com o aparato e controle
pelo Governo se contrapõe ao aparecimento das associações de bairro. Aparece então
nos interstícios da vida, os moradores, lutando pela apropriação desse espaço através
de reivindicações junto à Justiça, pelo direito do uso em prol da realização da vida,
tentando definir o destino do uso daquela área.
Este acontecimento produz e reproduz o espaço da cidade, que se dão no
cotidiano, aparecendo nos conflitos entre apropriação da terra pelo capital com o
gerenciamento do governo em contraponto com a apropriação pelos habitantes. Como

143
no caso analisado, o bairro Boaçava, observamos a reivindicação do destino do uso do
espaço pelas associações de bairro - um direito que lhes cabe - na área onde o
shopping Villa Lobos se localiza. Em prol da realização de justiça e democracia no uso
do espaço, a reivindicação aparece, não deixando sem resistência a ação do capital
sobre o espaço que lhes pertence.
É deveras importante que a sociedade se coloque e defenda seus interesses
porque são essas reivindicações que ela luta pela apropriação de seu espaço, quando
o conflito aparece e a cidade se reproduz (metamorfoseando), não só com o domínio
total dos setores financeiros com a tutela do Estado, mas nas tensões que envolvem os
diferentes interesses incluindo os de seus moradores.
O espaço não se produz com um único agente da sociedade, mas sim com todos
os agentes que nele estão inseridos. Através das reivindicações da sociedade civil, com
suas manifestações de apropriação do espaço, a cidade se produz e reproduz,
entrando em conflito com a apropriação desenfreada pelo capital sob o domínio do
Estado, ganhando espaço ou às vezes perdendo-o, como no caso do shopping.
Necessário se faz apropriar-se do espaço da cidade para que as relações sociais
ganhem conteúdo, o espaço ganhe sentido, o lugar readquira significado para a vida,
porque as pessoas moram na cidade. Se as pessoas não fazem uso dela, não se
apropriam dela, as relações sociais tendem a se esvaziar, e perdem seu conteúdo.
Assim, as relações sociais se empobrecem na cidade mas não desaparecem,
continuam existindo segundo Damiani:
Quando se retira o direito ao espaço, estão comprometidas não somente a
subsistência material das pessoas, que necessitam morar, habitar, mas
também as suas condições de união, reunião, as suas relações. Mesmo
aos que ainda moram, ou têm lugar para morar, as suas condições de
moradia podem ser compatíveis com uma forma de viver reduzida, com a
estreiteza real da vivência, com a privação da vida social, com a privação
da vida. Dessa forma geometrizada, o espaço social se esvazia; somente
nos labirintos da vida diária é possível vislumbrá-lo. Em resumo, é
possível e mesmo fundamental, relacionar estudos sobre o espaço, a
condição e o exercício da cidadania. (1999, p.61)

O espaço público, como um parque por exemplo, deve ser encarado como um
lugar a ser apropriado pela totalidade dos habitantes de seu entorno, fomentando o

144
calor das relações sociais, a fim de fortalecê-las, já que no espaço da cidade dominam,
principalmente, as relações de mercado.
Portanto, atitudes como as citadas acima, associações de bairro tentando definir
o destino de um espaço, exercendo a cidadania, são de extrema importância para a
vida, para o homem, adquirir seu lugar no mundo, consolidando a sua cidadania em um
processo de conquista.
O governador de São Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho, inaugurou o parque em
dezembro de 1994, com um tamanho diferente da área prevista, somente contendo
áreas de lazer e esporte. Foram gastos, segundo a Secretaria Estadual de Recursos
Hídricos, Saneamento e Obras, 50 milhões de dólares, equivalentes apenas à metade
do parque. Alegaram falta de verba e a não previsão para o seu término. O espaço
inaugurado incluiu 1.200 m de ciclovia, 100 mil m² de clareiras, seis quadras
poliesportivas, um campo de futebol, playground, coreto, duas quadras de tênis, 20 mil
m² para caminhada e dois estacionamentos com 650 vagas. O bosque com 13 mil
árvores, contra os 35 mil propostos, uma futura mata atlântica, ainda deveria demorar
para ficar pronto, porque as árvores estavam em forma de mudas e segundo o DAEE a
falta de chuvas dificultou o desenvolvimento da vegetação. A área de 8.000 m²
destinada a espetáculos também ganhou um formato provisório com um palco. Porém,
segundo a moradora e bióloga Anita Marzzoco:
Acho que o projeto não deve ser uma mini mata atlântica, eu não conheço
o projeto, mas aquilo ali não é mata atlântica, ali tem árvores do cerrado, é
impossível porque nessa região com essa umidade é impossível imaginar
que ali seria um protótipo de mata atlântica, você não vê nenhuma epífita,
não tem nada a ver com mata atlântica, pelo que estou enxergando, você
vê muitas espécies do campo, do cerrado, se fosse mata atlântica você
teria outro tipo de planta. (Entrevista, 2003)

Foto 15- Projeto do Parque Villa Lobos


145
Figura 1- Mapa de divulgação do Parque Villa Lobos

146
Como em tantos outros projetos, Villa Lobos além dos problemas costumeiros
referente à verba, também não teve contemplado as indicações contidas em seu projeto
como demonstra o relato de Anita Marzzoco que não reconhece ali um protótipo de
mata Atlântica.
Ficaram faltando para o restante da área: a ilha musical, o teatro, a pista de
cooper, o paisagismo, os restaurantes, a choperia, a pizaria, o auditório, o museu, entre
outros equipamentos, ou seja, quase tudo do projeto, como em tantos outros casos de
parques na cidade de São Paulo.
Após a inauguração do Villa Lobos, o campus da USP, na chamada Cidade
Universitária “Armando Salles de Oliveira” utilizada como “oásis” pela população do
entorno, aproximadamente 80.000 pessoas26, que nos finais de semana transformava-
se num grande parque, no qual a família podia jogar bola, andar de bicicleta, fazer um
piquenique e até mesmo assistir a um show musical, é fechado no início de 1995. Toda
essa população passa então a se dirigir ao Villa Lobos que, em seguida, também fecha
por falta de infra-estrutura e segurança. Segundo a administração a capacidade do
parque não chegava a 5.000 pessoas. “Não há condição de atender esse público...
faltam vestiários, banheiros, bebedouros, entre outras coisas” disse Antonio de Pádua
Perosa, superintendente do DAEE na época, que não via previsão para abertura
alegando que o parque comportaria 1.500 pessoas e estava recebendo um público de
8.000.
No projeto de Décio Tozzi, o parque comportaria muito mais do que 8.000
pessoas.
O fechamento da USP foi polêmico. A USP é um centro científico de pesquisa,
ensino e extensão, seu espaço não apresenta infra-estrutura exigida por um parque
público para abarcar uma grande parcela da população. A UNE (União Nacional dos
Estudantes) e a UBEs (União Brasileira de Estudantes Secundaristas) contestaram seu
fechamento.
O fecahamento de área verde como da USP, utilizada para o lazer que abrigava
em torno de 80.000 pessoas não só do entorno, mas de outras áreas da metrópole

26
Informação obtida em artigo do jornal “Folha de São Paulo” de 17 de janeiro de 1995
147
paulista causou transtornos em outros lugares. O Ibirapuera transformou-se num
formigueiro de 20.000 pessoas causando problemas com o lixo e o Villa Lobos com
15.000 pessoas sem infra-estrutura.
As pessoas que passaram a ir ao Villa Lobos se deparavam com uma paisagem
diferente daquela da Universidade de São Paulo, com grandes bosques e gramados
extensos e diversidade de pássaros. “É um cenário triste, de muito concreto, com pouca
vegetação e impressão de abandono, não parece um parque, falta muita coisa, como
bebedouros e sombra, é muito esquisito,” conta a enfermeira Angélica Silva
Quem como a família Silva chega pela primeira vez ao Villa Lobos tem a
impressão de estar numa pista de pouso. A entrada principal, toda
concretada parece uma praça de pedágio. Segue-se o equivalente a
alguns quarteirões, por uma alameda pavimentada, até aparecerem os
primeiros vestígios de vegetação crescida. As mudas plantadas estão
raquíticas, e apenas na área do bosque se encontram árvores formadas.
‘Uma obra como essa leva em média dez anos para ficar pronta’, diz o
arquiteto Cândido Malta Campos Filho. ‘É boa para empreiteira ganhar
dinheiro’, explica.”27

O impacto causado pela nova paisagem e a indignação de não se parecer com


parque aparece nos relatos dos primeiros freqüentadores. A justificativa dada pelo
paisagista, Rodolfo Gêiser, que decidiu plantar árvores da Mata Atlântica como
jequitibás, perobas, cabriúvas, foi de essas espécies só crescem de 50 a 80
centímetros por ano. “Fui completamente contra a abertura do parque inacabado... A
inauguração foi política”, diz Gêiser.
Parece que não houve diálogo entre o paisagista e o Governo, expresso nas
palavras de Gêiser. Também antigamente assim ocorria – o paisagista não tinha o
mínimo de influência sobre o trabalho que projetara, ficando os jardins ao sabor das
decisões institucionais, de acordo com o jogo de interesses.
As obras do parque, em 1992, paralisaram por falta de verbas e foi retomado no
ano seguinte e inaugurado às pressas, na gestão Fleury. Não se sabe se o parque
abriu para atender os freqüentadores da USP com seu fechamento e/ou como nos
depoimentos na imprensa por razões políticas ou se a USP fechou por causa da

27
Artigo “Lazer sem sombra” da revista “Veja”, de 09 de agosto de 1995.
148
inauguração do parque, um local para a população nos finais de semana próximo à
universidade.
Soa mais como um monótono sambinha de uma nota só da dupla 'Quércia
e Fleury’ alfineta o presidente do Sindicato dos Arquitetos, Ives de Freitas.
Inaugurado às pressas pelo ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho,
quando faltavam três semanas para acabar seu mandato, o Villa Lobos
prometia grandiosidades.... por enquanto, porém, não passa de uma ilha
deserta de atrações. Em sua área total ... floresciam mais de 50.000
árvores de 300 espécies. 'O que era um enorme depósito de lixo será um
pulmão verde para a cidade’, dizia há cinco anos o arquiteto Décio Tozzi...
Cinqüenta milhões de dólares depois, pouco pode ser visto hoje pelo
visitante. O empreendimento começou em 1989, na gestão de Orestes
Quércia, e duraria cinco anos. Na época muito se falou sobre a
coincidência de o então governador possuir uma cobertura com vista para
o parque. O ex-governador chegou a morar lá até 1994. 28

Segundo Antonio Perosa - DAEE, a inauguração do parque foi uma decisão


política do então governador Fleury que precisava dar uma justificativa para tanto
dinheiro gasto (50 milhões). Perosa voltou atrás na sua decisão de fechamento pois
disse que a população não podia ser penalizada pela falta de áreas verdes, referindo-se
a interdição da Cidade Universitária, e justificava que apesar de inaugurado ele ainda
não estava pronto para atender à população, sua vegetação estava em formação, a
infra-estrutura do local era precária, o número de banheiros e bebedouros não era
suficiente.
Porém, Perosa disse que deveria iniciar obras em caráter de emergência com
vinte sanitários, erguer vinte quiosques, aumentar o número de lixeiras, reforço da
segurança, entretanto não descartava a hipótese de fechar novamente caso não tivesse
condições de atender. E disse que no final, a administração poderia ser repassada para
a Secretaria Estadual do Meio Ambiente ou até mesmo à prefeitura de São Paulo.
Foram entregues ao visitante seis quadras poliesportivas, campo de futebol,
playground e teatro de arena, nunca usado. Para jogar basquete era preciso pegar as
tabelas na administração. Futebol de campo só nos fins de semana, depois de
inscrições dos times, na primeira terça-feira de cada mês.

28
Idem nota 38
149
Por trás das grades com arame farpado que isolavam a parte que ainda estava
em construção, a visão era de obras paradas com mato crescendo e montes de terra.
Muitos visitantes nem sabiam a dimensão total do parque. “Venho aqui desde a
inauguração e fico sempre neste espaço”, dizia a estudante Marla de Paula Neto.
A administração e construção do parque corriam por conta do Departamento de
Águas e Energia Elétrica, DAEE, a quem cabe cuidar do rio Pinheiros. Na gestão do
governador Mario Covas, foi determinado que o parque passaria aos cuidados da
Secretaria de Cultura. Então o Secretário de Cultura Marcos Mendonça, 1995, afirmava
que faria uma parceria com a iniciativa privada e terminaria o projeto, recomeçando as
obras no final do ano.
O Parque foi entregue à população sem as mínimas condições que um parque
deva ter no que tange à infra-estrutura e à sua paisagem. O governo não pensava em
terminar suas obras e sim fazer parceria com a iniciativa privada para que ela
assumisse a continuidade das obras.
Em 1995, quando Márcio Sotelo Felippe, então procurador-geral do Estado,
analisou o processo referente ao parque, concluiu que se tratava de uma dívida
impagável. O juiz Roberto Barioni, do Fórum da Fazenda, chegou a bloquear o
pagamento de quantia elevadíssima, inusual em qualquer desapropriação.
Impressionado, o próprio governador, então Mario Covas, mandou que fosse feito novo
laudo de avaliação da área. Havia, no entanto, o risco da intervenção e o acordo
acabou sendo assinado, para que “o governo não ficasse de mãos vazias”, disse um
auxiliar do governo.
O então governador Mario Covas não concordava com o preço e chegou a
avaliar a possibilidade de devolver o terreno ao proprietário, o que não aconteceu pois a
devolução acarretaria despesas equivalentes ao valor da desapropriação.
Segundo Márcio Sotelo Felippe, informava que o governo do Estado ainda devia
56 parcelas e 4 milhões de reais ao empresário Antônio João Abdalla Filho pela
desapropriação do terreno. Os valores da indenização deixaram o governador Mário
Covas irritado: “Tem correção sobre correção que não acaba mais, como uma corrente
da felicidade”.

150
A forma de pagamento foi acertada em 1997 por meio de um acordo entre o
governo e o credor, que havia pedido à Justiça a intervenção federal no Estado. A título
de sinal, foram pagos 25 milhões de reais a Abdalla Filho. Onze parcelas de um total de
67 foram quitadas até então. Essa parte da dívida só deveria ser saldada totalmente no
ano 2002; quando a Secretaria da Fazenda do Estado deveria realizar acerto dos juros.
No ano de 1998, a dívida com Villa Lobos superava a 700 milhões de reais.

O Parque Villa Lobos e os parques em São Paulo

Um parque maravilhoso era para ser viabilizado naquela empreitada, última


reserva passível de ser transformada em magnífica área arborizada para o lazer
oxigenado de uma grande metrópole, área de várzea tantas vezes recomendadas em
projetos no início e durante o século XX propícia para parques, projeto vencedor de
prêmio internacional contava com área para música ao vivo, centros culturais, museus,
teatro, escola de música, restaurantes entre outras benfeitorias.
Assim como este, tantos outros parques foram prometidos para a população no
decorrer do século XX e jamais concretizados. Bruce Crawfor, presidente da
Metropolitan Opera House (MET) esteve em São Paulo, em 1995, dando o aval para a
construção do teatro anexo ao parque Villa Lobos, que seria financiado pela iniciativa
privada, tendo ficado muito impressionado com o projeto.
Igualmente ocorreu com o parque Dom Pedro II ou conhecido inicialmente como
Várzea do Carmo, assim como o Villa Lobos, o parque Dom Pedro II foi considerado
uma das obras mais importantes e inovadoras levada a efeito na época, quer pela
estratégia adotada para sua construção – associando um empreendimento imobiliário à
implantação do parque – quer por sua dimensão - o maior, quer por sua localização –
contígua ao centro da cidade e lindeira aos populosos bairros do Brás e da Mooca –
quer pelo programa – que incluía áreas para jogos e esportes – quer pelo requinte
formal do seu estilo paysager.

151
Assim como o Parque Villa Lobos, em 1922, o parque Dom Pedro II foi entregue
ao público não só faltando parte das obras de ajardinamento, como também tudo o que
requeria investimentos grandes – ginásio coberto, cine-teatro, banhos-públicos.
O projeto de Cochet apresentava semelhanças com o Villa Lobos projetado por
Décio Tozzi. No projeto estavam também previstas as construções indispensáveis aos
parques públicos: abrigos contra chuva, pavilhão de música, restaurante na ilha, café-
sorveteria perto do teatro, pavilhão para administração, pequenas estruturas para usos
diversos, bebedouros, entre outros.
O Villa Lobos também foi entregue incompleto. Nos intervalos entre ciclos
governamentais a obra é paralisada. “A empreiteira vai embora e deixa atrás concreto.
Acabou-se a verba. O que seria mais que suficiente para arborizar e ajardinar todo um
Central Park...”29. Como BARTALINI discorreu em sua tese de Doutorado - Parques
Públicos Municipais de São Paulo, como tantos outros projetos de parque, se realizado
não correspondia ao proposto pelo projetista, o Villa Lobos é mais um desses projetos
inacabados.
Todos os casos relatados, no capítulo II, trataram ou se tratam de parques
importantes para a cidade, abarcando parcela significativa da população. O fechamento
ou a subtilização destes trazem transtornos e perda para a população como
observamos no caso do fechamento da USP, embora tivesse razões para o seu
fechamento que não constituem objeto de discussão neste trabalho.
Avisos e recomendações durante todo o século XX foram propostos para a
cidade de São Paulo, no entanto, atualmente temos aproximadamente 12 milhões de
habitantes no município de São Paulo para 35 parques públicos, 6 estaduais e 29
municipais.
É evidente o desinteresse no provimento e a manutenção dessas áreas públicas
de lazer pelas diferentes instâncias do governo, seja para atender aspectos sociais e/ou
ambientais. A malha viária, a falta de verba, entre outros fatores, são considerados
prioridades.

29
Gilberto Dupas sobre o parque Villa Lobos em artigo “Pobre Parque Villa Lobos”. Jornal da Tarde de 6 de
dezembro de 1999.
152
A apropriação do espaço na cidade se dá de forma desigual. Na medida em que
um parque deixa de existir por motivos maiores impostos pelo Estado, a sociedade sai
perdendo no que diz respeito à apropriação desse espaço.
O Estado têm o poder de modificar o uso, a função e o sentido dos lugares e,
com isso, interfere nos modos de apropriação do espaço pela vida, no momento em
que um parque é extinto ou um outro uso dele é feito que não de interesse da
sociedade. O processo de produção e reprodução da vida se dá nas suas relações, do
qual prescinde de um espaço para que isto aconteça. Quando se perde um parque está
se perdendo na verdade um espaço de relações sociais. O único espaço que resta é
aquele que passa a ser vivido geometricamente - de casa para o trabalho, do trabalho
para o supermercado.
Portanto, é importante que a Vida Humana se aproprie de espaços tais e
reivindique-os aos governantes e/ou capitalistas, e lute contra sua extinção e/ou a
destinação do uso de um espaço, pois assim está enriquecendo suas relações e
criando sua própria condição de reprodução.
O espaço da cidade não pode e não deve ser apropriado somente pelo capital
com gerenciamento do Governo. Os modos de apropriação têm de ser democráticos, a
sociedade tem de procurar os meios de viabilizar essa democracia, garantindo assim a
prática da cidadania.

O Parque Villa Lobos e o Bairro de Boaçava

O Villa Lobos foi entregue incompleto e seu espaço começou a ser apropriado
por outros, não pelas pessoas, mas sim pelo capital da seguinte forma: enormes pistas
de concreto que com o tempo começam a ser utilizadas para empréstimo ao comércio,
lançamento de produtos, pistas de testes de marcas famosas ou maratonas, shows
comemorativos e patrocinados por empresas, megaeventos publicitários. Como se não
bastasse a apropriação dos espaços da cidade pelo capital com a tutela do Estado,
reduzindo o espaço apropriado pela vida, este invade o espaço público, utilizando-o

153
segundo seus interesses, reduzindo o espaço que deveria ser apropriado pelas
relações sociais.
Em entrevista realizada com Nelson de La Corte torna-se claro a perda que há
na tensão entre capital e Estado:
quando as pessoas de visão mais pública assumem o poder e verificam
que o Estado não tem poder frente ao poder do sistema, porque o Estado
é uma superestrutura mais subjugada à infra-estrutura definitivamente,
você em lugar de assistir ao movimento de oposição a esta natureza você
começa assistir um movimento de funcionalização do Estado a essa
natureza. Nos últimos quatro anos o que se têm visto em São Paulo. Não
há dinheiro para fazer as coisas então começa-se a privatizar o que ainda
não está privatizado, privatiza-se o jardim da esquina, a rua tal, a
conservação da rua tal, nada disso é feito de graça está sendo feito em
troca de alguma coisa e você sabe que ninguém troca nada perdendo,
seguramente em princípio o poder púbico está perdendo, ganha
oportunidade do jardim ficar mais bonito. Eu reclamei para você de que o
Villa Lobos teve uma época que foi privatizado por eventos para iniciativa
privada que fez dele um espaço para grandes shows para empresas. Eu
faço algumas objeções, acho que um parque público originalmente não foi
concebido para servir de espaço de aluguel para empreendimentos
privados. Tenho em mente esta figura da privatização do público numa má
troca seguramente ... Eu gostaria de saber o que a prefeitura deu em troca
para a instalação do Shopping Villa Lobos, para ele cuidar da avenida, não
deu muita coisa, deu o direito de fazer dela um grande tapume de
propaganda, sabe quanto custa fazer propaganda? Vá saber quanto
custam os out doors nas ruas, seguramente a prefeitura está sendo uma
agência pior de propaganda do que as... (Entrevista, 2003)

Neste depoimento fica claro a perda do espaço público para uso do setor
privado, no momento em que lhe é concedido. Além de ser uma má troca a população
está perdendo a apropriação daquele espaço para seu uso de forma a entender os
seus interesses em direção à continuidade da vida.
Em entrevista com advogado membro na Sociedade Amigos do Bairro de
Boaçava que trabalha no sentido da finalização do projeto do parque Villa Lobos, relata
que a Philips, no dia 17 de dezembro de 1999 às 22:horas patrocinaria um show – “A
Rave Urbana que São Paulo ainda não viu” que seria realizado em 10 pistas cobertas
para a população “bombar” a noite inteira, no valor de 10 a 30 reais. A Sociedade
Amigos do Bairro de Boaçava convocou uma assembléia extraordinária onde foi
decidido enviar um telegrama ao presidente da Phillips mundial, na Holanda informando
154
do evento. Segundo J., o presidente mundial da Phillips em contato com o presidente
da Phillips do Brasil, solicitando que o show fosse cancelado30.
Além disso, o referido advogado tem cinco ou seis pastas com comprovantes de
uso indevido do Parque contendo venda de veículos da Cauá, eventos de esporte da
Córpore, entre outros. Décio Tozzi, acredita que para a realização desses eventos no
Parque não houve concorrência pública.
Junto à privatização do Parque, vieram os reclamos dos moradores do bairro
devido aos eventos acompanhados de enormes equipamentos de som de milhares de
quilowatts até a madrugada, a invasão dos automóveis para estacionamento já que a
capacidade de seu estacionamento é bastante limitada.
Em entrevista com residentes do bairro de Boaçava, Nelson De La Corte e Judite
De La Corte, que apreciam muito a presença do Parque no Boaçava, relataram que o
som dos eventos era demasiadamente alto sem levar em consideração às pessoas do
entorno, também não devia ter nenhum controle pelo poder oficial, virando nos finais de
semana algo assustador.
Após esses acontecimentos, os moradores do bairro, pertencentes à uma classe
de poder aquisitivo elevado31, decidiram por uma ação civil pública contra os usos
indevidos do parque e a favor da concretização do projeto inicialmente proposto.
Segundo o advogado todas as fases da ação civil pública para a finalização do
parque movida pela Associação Amigos do Boaçava, Alto de Pinheiros e entidade
Defenda São Paulo, “foram ganhas e o importante é que há respaldo da participação
dos moradores, que os deixam bastante otimistas”. Há diversos documentos sob a
tutela desse advogado de usos indevidos do Parque e uma liminar culminando multa
diária por toda atividade que estiver fora da finalidade. Segundo o entrevistado o poder
público está onerado em cento e trinta mil reais até a data da entrevista – 06 de maio
de 2003.
Porém, antes mesmo destes transtornos e durante esses transtornos ocorreu um
movimento para fechamento do bairro, o que não se realizou porque também houve

30
Vide ingresso em anexo.
31
O Bairro de Boaçava atualmente é considerado um bairro de poder aquisitivo elevado por ter sofrido alta
valorização nas últimas décadas do século XX. Nem sempre foi assim segundo relato dos nossos entrevistados,
moradores antigos do bairro.
155
um movimento dentro do próprio bairro contra, que encontrou respaldo na lei impedindo
o fechamento.
Alguns entrevistados fizeram considerações relativas ao movimento a favor do
fechamento do bairro:
Eles começaram a fazer reuniões para fechar o bairro, tornar um
condomínio fechado, haveria uma entrada e uma saída talvez no mesmo
lugar ou em lugares separados mas só com porteiros, isso foi antes de
funcionar o Villa Lobos, porque eles já estavam se prevenindo com
problemas de assaltos para ficar mais seguro em relação ao problema que
o futuro Parque Villa Lobos iria trazer: congestionamento de veículos nos
fins de semanas, muitos ambulantes para as periferias das entradas, etc.
uns dez anos mais ou menos, em 1985. Fizeram uma pesquisa com
questionário e debate entre os moradores chegando a conclusão que
deveria permanecer aberto. Eu sempre fui favorável a ser aberto”. (LA
CORTE, J., Entrevista, 2003)

É muito declarado, começa muito barulho logo cedo, as ruas ficam


completamente cheias de carro, houve um movimento para fechar o bairro
por causa do Parque Villa Lobos, fechar as ruas para não deixar os carros
entrarem. Eu votei contra e mais duas professoras que moram no bairro,
até fui chamada a atenção pelos vizinhos. Ninguém se conversa, mas
numa hora dessas... meu vizinho me chamou para perguntar como eu
podia ter assinado contra o fechamento... Existe uma convivência danosa
porque eles não querem show porque não querem barulho, porque não
querem carros... não conseguiram por causa da lei, eu não sei qual é a lei
que não permitiu o fechamento do bairro. (SEABRA, O. Entrevista, 2003)

Se você deixa por conta dos moradores do bairro eles fecham com muros
de 5 m de altura e se torna condomínio fechado. Só não fechou por
legislação e porque no fim houve movimento contrário de moradores que
encontrou respaldo na lei para impedir que fechasse. (LA CORTE, N.,
Entrevista, 2003)

Sobre o histórico do movimento de fechamento do bairro Boaçava há registroS


na Gazeta de Pinheiros e na Biblioteca de Pinheiros da Sub-Prefeitura. O parque trouxe
barulho, problemas de estacionamento e as pessoas que vem junto. Ocorreram
também reclamações da Associação para a Regional de Pinheiros na tentativa de
fechar o bairro.
O bairro, segundo Odette Seabra, cabe uma análise no que se refere à vida
social:

156
O bairro tem uma auto segregação administrada, as pessoas não têm
convívio entre si, nem se respeitam e nem se cumprimentam. Cada um na
sua. É o individualismo moderno que entre os americanos é uma
conquista, e que consideram isso uma liberdade. O resultado nessa vida
segregada, quando aparece a história do Parque, quebra a liberdade
porque pessoas diferentes estarão circulando na rua. Esse individualismo
que ascende e que cresce é que vai exigir seguir caminhos que não
tenham shows, etc. Tentaram por todos os meios fechar o bairro mas não
conseguiram. (SEABRA, O. Entrevista, 2003)

Apesar das características sócio econômicas do bairro Boaçava, os problemas


que vieram com o uso do espaço pela iniciativa privada, serviu para unir os moradores,
levando a uma ação civil pública contra os usos indevidos do Parque. A construção do
Parque Villa Lobos, de certa forma, alterou o modo de vida dos moradores do bairro
Boaçava, exigindo que as pessoas conversassem.

As transformações espaciais e sociais após o Parque

O bairro do Boaçava e suas adjacências tornaram-se mais conhecidos após a


construção do Parque Villa Lobos, que passou a ser local referência dentro da cidade.
O Villa Lobos passou a ser um elemento de valorização para aquelas áreas adjacentes
ao Parque atraindo novos comércios e investimentos pelo setor de construção civil.
Está em processo a construção de mais uma centralidade na cidade de São Paulo, sob
o comando do capital, apesar das tensões existentes com moradores do lugar.
Na medida em que o comércio e empresas construtoras se instalaram no
espaço, este foi se transformando ganhando uma nova paisagem e também uma nova
função. Os bairros adjacentes ao Villa Lobos eram bairros até uns dez anos atrás
residenciais, passando atualmente para comerciais, modificando radicalmente o
cotidiano das pessoas que residiam nesses bairros. Geralmente eram moradores
antigos por serem bairros antigos da cidade.
Com a chegada dos novos estabelecimentos, a população teve de ceder espaço
para que eles pudessem se fixar, removendo os moradores para outros locais, com isso
destruiu bairros e antigas relações sociais que existiam ali.

157
A área do entorno do Parque foi adquirindo novos usos. Com a intervenção
espacial, uma parcela significativa do solo urbano foi liberada para o mercado
imobiliário e a construção do Shopping Villa Lobos, supermercado Carrefour, conjunto
de edifícios, entre outros, que se apropriaram do espaço de uma forma desigual,
destruindo antigas relações, em prejuízo destas.
A deterioração de antigos lugares e a expulsão de pessoas residentes na área
não se fez sem problemas. Podemos evidenciar em alguns relatos esses prejuízos e a
forma como o espaço foi apropriado desigualmente pelo setor de comércio e de
construção, modificando o cotidiano da população.
D. Lourdes, liderança dos moradores do Cingapura, localizado em terreno da
antiga favela do CEAGESP, em entrevista cedida aos alunos do curso de Metodologia
do Ensino de Geografia, em 2003, relata sobre a erradicação da favela e a liberação de
espaços para a construção do Cingapura e posterior construção do supermercado
Carrefour. Os moradores de acordo com o cadastramento das unidades familiares, no
governo Pitta, foram divididas em três grupos: um grupo deslocou-se para um bairro da
zona Norte de São Paulo; outro para o Parque Continental, em área desapropriada pela
Prefeitura, no governo da Prefeita Luisa Erundina, que pertencia a antiga "Urbanizadora
Continental e os que estavam foram destinados ao conjunto Cingapura se
amontoavam" em armazéns cedidos pelo CEAGESP.

Um problema muito sério que ocorreu no conjunto habitacional foi a


entrega dos apartamentos sem piso e sem azulejos. Muitas famílias não
conseguiram fazer o acabamento. A quadra esportiva foi entregue sem
piso, com areia das praias, com mau cheiro, ocasionando doenças nas
crianças. Através de mutirão e quatro funcionários da subprefeitura foi
possível fazer o piso, contando principalmente com a ajuda das crianças,
na maioria com doze anos. A falta de iluminação dentro do Cingapura e
nas calçadas é muito ruim. Alguns apartamentos chegam a ter dez
moradores. O lixo é outro problema... (LOURDES, Entrevista, 2003)

Além de remover os antigos moradores daquele espaço, a eles foi deixada uma
pequena parcela e assim mesmo sem condições de abrigar todos os antigos
moradores. O setor financeiro se aloja num determinado espaço, que outrora era
apropriado por outros, sem ao menos repor os prejuízos causados pelo seu

158
estabelecimento. Muitas dessas pessoas que trabalhavam no CEAGESP e foram para
a periferia da cidade tiveram que passar a utilizar meios de transportes tendo que
dispor de um gasto não condizentes com os respectivos orçamentos das famílias.
A construção do shopping Villa Lobos em área antes não permitida, a
verticalização de condomínios em bairros residenciais (esses até com nome Villa
Lobos), aparecimento de comércios como hotel Villa Lobos, faculdade Villa Lobos,
demandaram a destruição e/ou descaracterização de várias áreas da região
acompanhada da remoção da população para dar espaço para que o Capital se
apropriasse com aparato do Estado. No entanto a favela não sumiu inteiramente,
porque as famílias não cadastradas se comprimiam em um estreito espaço, nos fundos
do grande depósito de cimento Votoran, do Grupo Votorantin.
Esse processo de substituição das funções da área se deu devido à própria
contradição que o setor financeiro cria, a raridade do espaço, ou seja, sua escassez.
Isso ocorre porque o processo de reprodução da cidade tornou o espaço uma
mercadoria, sendo apropriado de forma privada, criando limites à reprodução do próprio
capital. Para tanto removeu antigos proprietários para poder se instalar, se apropria do
espaço desigualmente da população, impondo suas regras.
O espaço foi apropriado de forma desigual pelos agentes da sociedade: Estado
legalizou leis e reorientou a função do espaço, o capital que implantou seus
estabelecimentos como shopping, supermercado, entre outros e a Sociedade Civil que
assistiu a tudo deslocando-se para dar espaço aos primeiros. Esse deslocamento se
deu respectivamente nas áreas ocupadas pelas famílias de migrantes, originários de
diferentes partes do Nordeste e chegadas em deferentes épocas, após a construção do
CEAGESP.
Este processo de apropriação pelo setor financeiro reduziu, além da apropriação
do espaço pela população, as relações sociais. Quem reside nessa região assistiu
dissolver antigos modos de vida, a transformação das relações entre as pessoas e do
espaço.
Sr. Luiz Alberto de Oliveira, morador do bairro da Lapa, em entrevista com
alunos do curso de Metodologia do Ensino de Geografia II, relata sobre as

159
transformações que ocorreu no bairro e a apropriação pelo setor de construção e
comércio:
Apareceram os ‘ninhos de passarinho’, ou seja, os edifícios residenciais, a
verticalização é crescente, as fábricas que aqui existiam até a década de
setenta mudaram-se para o interior. No espaço ocupado por elas
encontramos supermercados das grandes redes e principalmente os
condomínios edifícios residenciais. O pequeno comércio e as feiras livres
estão desaparecendo também pouco a pouco com a presença dos
supermercados. (OLIVEIRA, Entrevista, set. 2003)

A paisagem mudou, não é mais a mesma, também não são as mesmas relações
sociais que se dão naquele espaço. Os moradores dessas áreas percebem as
mudanças porque elas interferem no seu espaço de vida. Antônio Cardoso, também
entrevistado pelos alunos da graduação, nasceu no local onde hoje é o Condomínio Ilha
do Sul, bairro Boaçava, conta como a transformação do bairro mudou a relação e os
hábitos da população:
No passado havia lagoas, córregos, pântanos, várzeas e chácaras.
Debaixo dessas casas passa um córrego que dava umas traíras enormes.
O rio Pinheiros era limpo e piscoso. O bairro era muito mais tranqüilo e
seguro. Quando criança com a idade de oito anos trabalhava como
entregador de leite, a confiança das pessoas era tão grande que eu
entrava nas casas e colocava o leite no fogão para ferver. O CEAGESP
deslanchou o crescimento dessa área. Mas foi um crescimento
desordenado, sem estrutura alguma para acolher os migrantes, cuja
maioria são trabalhadores do próprio CEAGESP. Outra transformação é o
aparecimento dos prédios residenciais, que não existiam há dez anos
atrás e hoje estão por toda parte. (Entrevista, 2003)

Até que ponto a iniciativa privada com a tutela do governo tem o direito de
desapropriar antigos moradores em nome do interesse público? Até que ponto esses
moradores tem de assistir tudo sem poder lutar pela apropriação de um espaço que
lhes pertence? Até que ponto as relações sociais podem ser destruídas em nome da
mercadoria?São perguntas que os moradores de Baixo poder aquisitivo se fazem, mas
que não têm o poder de reinvindicação que os moradores do Boaçava possuem e
acabam se rendendo às pressões dos empresários e do Estado.
A apropriação do espaço pelo Capital produz relações sociais esvaziadas.
Odette Seabra, analisa as relações sociais na atualidade:

160
É uma socialização segregada, atomizada. O pior de tudo é que tem uma
corrente na antropologia que acha que essa é a maior conquista: a
separação, a socialização fragmentada; sustentam que o individualismo
moderno é a liberdade do indivíduo, ele não sabe o nome do vizinho, não
precisa do nome, não precisa conhecer o vizinho. O indivíduo realizado na
sociedade moderna seria a liberdade individual. Nós ficamos no meio do
caminho porque fica numa discussão lamentando a perda da
sociabilidade. Enquanto consumidores eles consomem espaço, moda,
arte. Não é a nossa opinião, nós lidamos com uma idéia de que a
comunidade foi perdida, nos encontramos como sujeitos estranhos.
(Entrevista, 2003)

Para o desenvolvimento do ciclo do capital no local, necessitou de uma aliança


com o poder político, na medida em que este deu condições modificando a Lei de
Zoneamento da área onde foi construído o shopping Villa Lobos, outrora a Lei não
permitia usos comerciais. Dessa forma, o Estado atuou em grandes parcelas do espaço
dessa região, produzindo infra-estrutura e “colocando em suspensão” o estatuto da
propriedade privada do solo urbano, liberando as áreas ocupadas ou não para novas
atividades.
A essa situação ainda se acrescenta o fato de que as mudanças na área
obrigaram antigos proprietários a vender suas pequenas propriedades, dando lugar a
conjunto de edifícios ou casas enormes, criando um aquecimento no mercado
imobiliário. A possibilidade de remembramento de lotes, como no caso do bairro
Boaçava, a transformação de casas médias em verdadeiras mansões, a verticalização
de bairros como Vila Leopoldina.
O processo de reprodução espacial na região envolveu segmentos diferenciados
da sociedade, com interesses e desejos conflituosos. Aqui recordamos sobre a ação
junto à Ordem dos Advogados que a Sociedade Amigos do Boaçava entrou para
impedir a mudança da Lei de Zoneamento que passaria a permitir a construção de
shopping na área onde hoje é o shopping Villa Lobos. A Sociedade perdeu, mostrando
o controle do Estado e do capital sobre o espaço, apropriando-se de forma desigual do
espaço urbano.
Também lembremos da ação civil para o término das obras do parque Villa
Lobos e ação contra todas as atividades indevidas (uso por empresas privadas no
parque) em que todas as ações foram ganhas até então, culminadas com multas diárias
161
segundo a legislação. Neste momento, a Sociedade ganhou e está lutando para se
apropriar do espaço parque que lhe pertence, contra a apropriação indevida do Capital,
havendo conflito entre o setor privado e Estado, através das ações civis públicas.

Dr. J. relata a luta da Sociedade Civil na apropriação do espaço parque:


Iniciado pelas comunidades, pelos bairros levará rapidamente exigir do
poder público formal a complementação das obras do parque Villa Lobos.
Esse trabalho junto com o poder judiciário, uma ação civil pública, o poder
judiciário aceitou todos os argumentos levados ao processo. Todas as
provas também fundadas caracterizam que o parque Villa Lobos, além de
se preservar o espaço hoje, requer a complementação de suas, dito pela
própria decisão do poder judiciário. (Entrevista, 2003)

As transformações espaciais ocorreram, porém, não foi sem conflito. É no


conflito que a população luta pelo seu direito de apropriar-se do seu espaço.

Parque Villa Lobos: usos, infra-estrutura, manutenção

As observações que seguem sobre a infra-estrutura do Parque foram realizadas


durante a pesquisa de campo no ano de 2002. Algumas informações mais recentes e
observações foram obtidas em conversa com o atual administrador do Parque, Flávio
Scavasin, poucos dias antes do término desta pesquisa.
O parque Villa Lobos permaneceu abandonado por muito tempo. Em 1997, Mário
Covas (in memória), o governador na época, entregou-o aos cuidados da Secretaria de
Esporte e Turismo. Em 1999, o parque recebia em torno de 20 mil pessoas oferecendo
segurança, equipamentos desportivos (3.100 m pista de caminhada, 1.650 de ciclovia,
quatro quadras poliesportiva, uma quadra de futebol society, duas quadras de tênis)
lanchonete, sanitários, dez quiosques, uma ambulância, quinze bebedouros, dois
playground e arborização.
Entre as atividades que o Parque promoveu de maior vulto foi a realização de
shows e eventos. Segundo secretário de Esportes e Turismo – Marcos Arbaltman,
dezembro de 1997 a dezembro de 1999 foram realizados oitos shows, sendo o que
alcançou maior público foi o de Caetano Veloso com, aproximadamente, 70 mil

162
pessoas. Ainda segundo o Secretário esses shows, todos no período da tarde, foram
realizados em parceria com a iniciativa privada, como BCP, Subaru, Rádio Cidade,
Koch Tavares e muitos outros o que tem permitido realizar melhorias em favor do
Parque, trazendo resultados a curto prazo, sem ônus ao Estado.
No relato do Secretário não aparece o show que seria realizado com patrocínio
da Phillips e que se iniciaria a partir das 22:00 horas no dia 17de dezembro de 1999 “A
Rave Urbana que São Paulo ainda não viu”, evento que não aconteceu devido a
pressão da Sociedade Amigos do Boaçava. Este evento apareceu na Veja São Paulo –
01/12/99 e na Folha de São Paulo – 10/12/99.
No decorrer do século XX, em todo o histórico dos parques a iniciativa privada
sempre se fez presente, contribuindo ora para a construção de áreas de lazer, ora para
manutenção de nossos parques. No caso do Villa Lobos, o espaço do Parque estava
sendo utilizado pela iniciativa privada para promoção de eventos, o que segundo o
Secretário, contribuía para melhorar o Parque.
Uma liminar do desembargador Barreto Fonseca, do Tribunal da Justiça pediu
pela ordem judicialmente em plena vigência, que “o governo estadual deve parar
imediatamente com a irreversível descaracterização do parque”. Essa liminar foi
conseguida por pressão dos moradores do Bairro Boaçava.
Quanto à manutenção do Parque, em 16 de maio de 2003, o jornal, O Estado de
São Paulo, publicou uma matéria com o título “Mato alto irrita freqüentadores do Villa
Lobos”: “Quem mora nos arredores não fica nem um pouco satisfeito com isso, uma vez
que o mato alto atrai assaltantes e acumula sujeira, é muito descaso do poder público”
disse uma moradora que não quis se identificar. No mesmo artigo a administradora da
época – Silvia Cordeiro disse que a limpeza estava em andamento, acertando com uma
empresa para serviços de emergência, portanto terceirizando este tipo de trabalho.
Segundo ela os trabalhadores do regime semi-aberto do sistema carcerário eram
responsáveis pela poda da grama, mas somente do lado de dentro.
Durante as observações realizadas viu-se que as grandes extensões de grama
converteram-se matagal de um metro e meio de altura e as cantoneiras abandonadas
constituíam o cenário do Parque. Porém, segundo o atual administrador, o Parque
conta hoje com uma empresa que cuida de sua parte interna.

163
Foto 16-Parque Villa Lobos

Foto 17- Parque Villa Lobos

164
Foto 18-Áreas vazias a serem ocupadas no Parque Villa Lobos

Foto 19- Áreas vazias a serem ocupadas no Parque Villa Lobos

165
Um dos elementos de maior significado para os freqüentadores do parque é a
vegetação. A manutenção dos jardins tem sido um problema freqüente no Parque. Um
dos poucos espaços cuidados é o jardim que chama “A Melhor Idade”. Este jardim
cercado, foi construído em homenagem a Dimas de Melo Pimenta (DIMEP), em 2001
pelo então governador. Os cuidados com o jardim são feitos pela própria família.
Da área inicial prevista pelo projeto, restaram na verdade menos do que 350.00
m². A não abertura desses espaços ociosos é motivo de indignação por Nelson de La
Corte.
Não tem sentido uma cidade como São Paulo tão carente de espaços
públicos ter espaços fechados, sem ocupação. Por que não abrir e plantar
gramas para visitação pública? Acabaram com os campos de várzeas em
São Paulo, o futebol em São Paulo foi durante longo tempo alimentado
pela várzea, as marginais acabaram com as várzeas. Temos espaço aí
para dez campinhos, porque não abrir? (Entrevista, 2003)

Décio Tozzi comenta sobre a subtilização do espaço do Parque com as quadras


de tênis. Segundo ele, num espaço onde caberiam muitas pessoas é utilizado durante
duas horas do dia somente por duas pessoas, diminuindo o uso coletivo durante um dia
inteiro.
Também as conversas informais realizadas no Parque revelaram a indignação
dos freqüentadores quanto a utilização desses espaços ociosos por mais quadras
poliesportivas. Espaços ociosos no Parque não faltam, porém, não está esclarecida a
não ocupação dessas áreas.
Quanto à manutenção da infra-estrutura do Parque, as placas para indicações
e/ou educativas encontravam-se, em 2002, bastante reduzidas e as que existiam
estavam apagadas ou escritas a mão. A única placa educativa que existia era
orientando os donos de cães para que recolhessem os excrementos dos animais. Até a
administração da Secretaria de Esporte e Turismo quando foram feitas as observações,
não havia nenhum controle por parte da administração ou mesmo da segurança no que
se referia aos animais e seus excrementos. Não se viam pessoas com cães carregando
kit para limpeza e às vezes, até sem coleira, principalmente nos dias de feriados e fins
de semana. Segundo o novo administrador, Flavio Scavasin, que assumiu o cargo em
março de 2004, providências neste sentido estão sendo tomadas e inclusive já existe o
projeto de placas para o Parque.
166
Foto 20-O comércio na frente dos portões do Villa Lobos

Foto 21-Batalhão da Polícia Militar no Parque Villa Lobos

As torneiras utilizadas como refrigério dos praticantes de cooper estavam na


maioria danificadas e/ou com vazamentos, assim como os banheiros. Segundo
Scavasin foram recuperadas tanto as torneiras como os banheiros. Outro problema
apontado nas conversas informais foram as lixeiras que são espaçadas e não contam
com coleta seletiva de lixo, dificultando o freqüentador manter o parque em condições
de higiene adequado. Todos esses problemas, aparentemente pequenos, quando não

167
estão em condições de uso em dias de grande movimento acabam prejudicando o uso
do espaço pelo freqüentador.
No que se refere às questões de alimentação, o Parque tem uma única
lanchonete. Porém, na parte externa, antes dos portões de entrada, mas em terreno do
parque, há em torno de 20 barracas para lanches e aluguéis de bicicleta. Os
comerciantes que estão na área do parque têm uma associação cujo presidente é o Sr.
Walter que não permite a entrada de mais nenhuma barraca naquele espaço e como
pagamento do uso da área eles forneciam cestas básicas aos funcionários do Parque.
O administrador Flávio Scavasin, desde que assumiu o cargo, não permite mais que as
cestas básicas sejam entregues e questiona o uso do espaço somente por esses
comerciantes desconhecendo os critérios anteriormente estabelecidos.
Percebe-se que por muito tempo o espaço do Villa Lobos estava sendo
privatizado não só para espaço de grandes empresas mas também por pequenos
comerciantes.
No que se refere ao lazer, as atividades principais do parque são o esporte e a
recreação. Para o esporte existe uma ciclovia, uma pista de Cooper, sete quadras de
tênis, duas quadras de tênis de areia, quatro quadras poliesportivas, um campo de
futebol gramado, quatro campos de futebol de areia e aparelhos para ginástica. Porém,
esses aparelhos, em 2002 (de ferro e madeira, como barra por exemplo) estavam
espalhados pelos gramados e cobertos pelo mato, mas, mesmo em condições
precárias, as pessoas os utilizavam.

168
Foto 22-Entrada do Parque cimentada

Foto 23- Entrada do Parque cimentada

169
Para o lazer há um grande cimentadão para empinar pipas, andar de patins ou
skate, entre outros; nas clareiras entre o bosque pode se jogar frescobol, tomar sol, ler
e fazer piqueniques. Para as crianças bem pequenas há no centro um parquinho de
ferro com seis balanços, um trepa-trepa e duas gangorras e um parquinho de madeira,
inutilizado por muito tempo e reformado recentemente.
O tamanho do parque infantil é demasiadamente reduzido pelo número de
freqüentadores com crianças que o parque recebe nos finais de semana. Além dessas
atividades, andar de bicicleta é um dos principais lazeres do Parque. Porém, apesar de
situar-se em terrenos do Parque é um divertimento pago. O valor por uma hora de
passeio atualmente é 4,00 reais. Este foi um dos itens também questionado por
freqüentadores do Parque.
Quanto à segurança, no início ocorreram alguns problemas que depois foram
amenizados com a presença do Batalhão. Judite de La Corte pronuncia-se sobre a
segurança no parque:
Teve inclusive um caso de estupro durante a semana, ocorreu porque é
um deserto. Eu não ia sozinha de jeito nenhum e ainda hoje não vou
sozinha ao Parque. Eu já ouvi comentários de moradores dizendo que
melhorou a segurança no Parque por causa do batalhão instalado. No
começo não tinha árvores, era só matagal.
Há uma trilha no meio do mato – parte da área não ocupada do Parque -
sem fiscalização, que por muito tempo permaneceu aberta permitindo a
entrada de pessoas. Conforme depoimentos da própria segurança do
Parque e do edifício Villa Lobos (de onde foram realizadas fotografias
aéreas do Parque) vários estupros ocorreram naquele espaço. Atualmente
a área está gradeada com cerca de arame.
Quanto à administração do Parque ocorrem também problemas. Nos finais
de semana e feriados, quando o local recebe maior número de visitantes,
a organização do estabelecimento se faz sentir nos freqüentadores.
(Entrevista, 2003)

A bióloga Anita Marzzoco, freqüentadora assídua do Parque, reclama da


organização das pistas de ciclovia e cooper:
Esse é um outro problema sério de organização do parque. Eles não
conseguem separar os usos de cada pista. Estava escrito no chão: um
lado era pedestre e outro lado para bicicleta. Simplesmente apagou um
pouco a parte que indicava bicicleta e as pessoas ficam sem orientação de
onde podem andar. Domingo tem pessoas com crianças na pista e é um
problema sério porque as bicicletas vão passando no meio, se torna muito
perigoso. (Entrevista, 2003)
170
Pequenos detalhes como o envelhecimento de uma placa causa grandes
transtornos em locais que recebem um número grande de pessoas.
Sr. Sérgio, freqüentador assíduo do Parque e morador do Bairro Boaçava, em
conversa informal relatou que vem todos os dias pela manhã, exceto aos sábados e
domingos porque tem muita gente. Reclamou da administração do parque devido ao
problema de congestionamento das pistas nos finais de semana: “ Todos andam nas
duas pistas, bicicletas e pessoas, sempre acontecem acidentes”. Acredita que a falta de
orientação por parte da administração nos finais de semana é o maior problema do
Parque.
Comum também é encontrar famílias não só de moradores próximos ao parque
como de outros bairros ou municípios como Osasco. Em conversa informal com uma
família do município de Osasco, que freqüenta o parque de vez em quando, para
passar o dia e fazer piqueniques, relatam que sentem falta de mais atividades para as
crianças, eles gostariam que os espaços ociosos fossem ocupados por mais quadras,
os bebedouros e banheiros são muito distantes.
A infra-estrutura insuficiente, a não manutenção da estrutura existente e
problemas com a administração aparecem em todas as reclamações dos
freqüentadores. O casal Dela Corte sente falta de infra-estrutura definitiva no parque,
instalação para bar, lanchonete, restaurante e banheiros.
Anita Marzzoco e Gaspar Marzzoco colocam que o equipamento do Parque deve
melhorar muito, muitas vezes a conservação não é adequada, mato crescido, quando
chove não há vazão adequada de água, ficando com muito barro nas pistas, o único
relógio que tem no parque está permanentemente quebrado, entre outros. Gostariam
que o Parque fosse aproveitado para educar e qualificar as crianças. Acham que o
parque nesse sentido poderia oferecer para a comunidade outros projetos, como de
jardinagem para fins de profissionalização.

171
Foto 24-Parque Infantil

Foto 25- Parque Infantil

172
Foto 26-Quadra poliesportiva

Foto 27-Aparelhos de ginástica

173
O parque, durante a semana é freqüentado principalmente por adolescentes que
praticam esportes nas quadras ou andam de bicicleta, pessoas que caminham ou
correm são, na maioria, adultos.
Durante a semana o parque recebe crianças de escolas, em média 5 ônibus por
dia. O objetivo da visita ao parque é lazer, espaço onde as crianças correm, brincam no
play ground, etc, não existem atividades voltadas à educação. O parque não oferece
atividades para as crianças visitantes, sendo monitoradas pelas próprias professoras
que as acompanham.
O maior número de visitantes, porém, acontece aos sábados, domingos e
feriados. As crianças, jovens, adultos e idosos passeiam ou praticam algum esporte.
Andar de bicicleta, fazer Cooper, jogar futebol, tênis ou basquete são as principais
atividades.
A maioria das quadras ficam totalmente ocupadas. As de futebol, são as mais
lotadas, são freqüentadas por classe social de baixo poder aquisitivo, do outro lado da
avenida, onde está a Cooperativa Agrícola de Cotia, o supermercado Carrefour, está a
favela escondida no fundo do armazém de cimento da Votorantim e sobressaindo o
conjunto de prédios do Cingapura. As quadras de tênis não lotam totalmente durante a
semana e são freqüentadas por classe social de elevado poder aquisitivo, entre jovens
e adultos, devido ao custo elevado deste esporte, levando só uma parcela da
população a praticá-lo. Porém, nos finais de semana à espera para jogo.
Sobre a população que o Parque se destina, Nelson de La Corte assim se
pronuncia: “o parque é da pequena burguesia muito mais do que um parque popular, as
pessoas com bicicletas, cachorros, a quantidade de automóveis que toma conta da rua,
todo mundo com tênis de 100 -150 reais no pé, portador de pulsação.” (Entrevista,
2003)
Anita Marzzoco e Gaspar Marzzoco, moradores do Boaçava, são freqüentadores
assíduos do Parque. Segundo o casal, todos gostam muito e sentem enorme prazer de
ver a área utilizada para o lazer da população da cidade de São Paulo, já que os
parques são tão raros.
174
Foto 1-Lazer

Foto 2 -Lazer

175
Foto 1-Esporte

Foto 2-Esporte

176
Foto 1-Comgás

40

177
Nenhum dos entrevistados se opôs à quantidade de automóveis nas ruas, devido à falta
de estacionamento no parque e nem aos eventos que ocorrem. Sem exceção, todos os
entrevistados sentem um enorme prazer em ver nos finais de semana o Parque ser
utilizado por grande parcela da população.
Difícil é um lugar no parque onde não se aviste edifícios, não proporcionando a
sensação de estar longe da cidade (concepção de alguns arquitetos ao projetar um
parque), há poucas flores, o bosque e um cimentadão enorme. Porém, com todos os
problemas apontados, este espaço é um refúgio para o cidadão. Ninguém ignora a
quantidade insuficiente de verde na cidade de São Paulo e o avanço ininterrupto da
mancha urbana que transforma as paisagens e não reserva espaços para usos da
coletividade. As pessoas deitam no gramado, conversam, descansam como podem, ao
som dos passarinhos. As opções de lazer do Parque são poucas e precárias, mas a
necessidade das pessoas em descansar e relaxar é grande, tornando-se em espaço de
extrema importância.
Atualmente, o Parque passa por uma nova reestruturação administrativa que tem
o objetivo de revitaliza-lo enquanto espaço Parque colocando em condições satisfatória
a infra-estrutura existente incluindo novas benfeitorias, que não necessariamente
devam constar do projeto inicial proposto.
Segundo Scavasin, a primeira fase já foi cumprida: recuperar bebedouros,
floreiras, banheiros, adaptações para deficientes, reforma do parque de madeira e
plantio de 10 mil mudas. Na segunda fase, sem prazo definido, está previsto o plantio
de mais 15 mil mudas, substituição e manutenção de brinquedos, reformulação de
placas de mapas, recuperação das pistas e criação de 400 novas vagas no
estacionamento que atualmente tem capacidade para 750 carros.
O governo procura parceria para poder realizar a revitalização do Parque.
Segundo Secretário do Meio Ambiente José Goldemberg, da qual o Parque é
subordinado sob a administração de Flávio Scavasin, desde março de 2004, o governo
firmou parceria com a Companhia de Gás de São Paulo (Congás) e com outras
empresas para participar na recuperação do Parque.

178
Mapa 2 – Localização do Parque Villa Lobos

179
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas considerações finais serão pontuados alguns aspectos revelados pela


pesquisa que merecem ser retomados na relação entre o que acontece no processo de
metropolização e na produção da cidade associada à apropriação da iniciativa privada
sob a tutela do Estado, a fim de que os processos de produção e reprodução do
espaço, no sentido de garantir que o ciclo do capital se desenvolva e possibilite a
continuidade da produção e de sua reprodução
A economia da metrópole paulista relacionada à produção de seu espaço
durante o final do século XIX e XX foi baseada no setor produtivo industrial. No entanto,
nas últimas décadas do século XX e início do XXI, vê mudando a dinâmica de sua
economia, apoiada no amplo crescimento do setor terciário moderno – serviços,
comércio, setor financeiro. Essa transformação exige a produção de outro espaço,
condição da acumulação, que se realiza a partir da expansão da área central da
metrópole em direção a outras regiões da cidade. As áreas ocupadas em momentos
históricos anteriores foram muito adensadas, o sistema viário congestionado, outros
lugares precisam ser buscados para o desenvolvimento das atividades terciárias.
Deve-se acrescentar que, os novos padrões de competitividade da economia, apoiados
em um desenvolvimento técnico, impõem outros parâmetros para o desenvolvimento
dessas atividades..
Esse processo permite o estabelecimento de uma nova atividade no lugar – o
que gera a transformação do uso residencial (substituída pela de serviços), mas
sobretudo desencadeia um processo de valorização do solo urbano por meio dos
investimentos em infra-estrutura e do aumento do potencial construtivo da área,
interditada pela lei de zoneamento vigente na cidade.
Em São Paulo, o Executivo vem recorrendo às operações urbanas e/ou
operações interligadas para permitir transformações no uso do solo da metrópole em
lugares antes proibidos pelo plano diretor (que disciplina o uso do solo), o que causa
mudanças pontuais, mas profundas, no uso do espaço metropolitano.
As profundas e rápidas transformações em sua morfologia ocorre
simultaneamente com a transformação da vida cotidiana e das paisagens urbanas.
180
Entre todas as regiões metropolitanas brasileiras, a de São Paulo é a mais
gigantesca, não somente pelo seu número de habitantes mas também pela extensão da
área abrangida. Essa grande região constitui-se hoje no pólo da maior rede urbana do
país e é uma metrópole nacional ou mundial como querem alguns. Produto de
sucessivos processos de desenvolvimento econômico verificados a partir da economia
do café no século XIX, acrescida ainda no final do mesmo século pela pequena
indústria e acelerada no século seguinte pelo grande crescimento do setor industrial do
País. Basta lembrar que cerca de 60% das sedes das multinacionais estão localizadas
na cidade de São Paulo. Esse fato contribui hoje para explicar sua crescente
terciarização, pois transformou-a em centro de gestão do grande capital.
O crescente congestionamento espacial da cidade, que impede a implantação de
novas indústrias e a expansão das existentes, faz com que os estabelecimentos
industriais das grandes empresas sejam deslocados em direção a seus limites externos
ou a outras cidades médias de sua rede urbana. Desse modo mesmo nas áreas de
concentração de indústrias até os anos de1980, vê -se seus prédios adaptados a outras
atividades e sendo refuncionalizados. Antigas fábricas transformadas em grandes
escolas (o que não quer dizer boas), supermercados, e até mesmo igrejas ou demolidas
para abrigar atividades do terciário moderno.
A metrópole não se refere mais ao lugar único, primeiro porque contém o
mundial, a constituição de valores, de uma estética, de comportamentos e hábitos que
são comuns a uma sociedade urbana em constituição; todos os lugares acham-se
articulados.
Diante de uma metrópole onde as formas mudam e se transformam de modo
cada vez mais rápido, os referenciais dos habitantes da metrópole se modificam,
produzindo a sensação do desconhecido, do não identificado
Como o processo da produção da vida se dá pelos modos de apropriação do
espaço, para o uso, no caso específico da metrópole São Paulo, há uma rápida
transformação no espaço urbano, passível de ser apreendido no plano da morfologia,
que aponta mudanças radicais nas formas de vida de seus habitantes.
Outra feição da cidade que sofreu um processo de mudança desde a primeira
década do século XX, foi o processo de verticalização da cidade, surgindo inicialmente

181
edifícios de oito pavimentos em seu centro e eles testemunhavam a modernidade da
cidade criada pelo café e pela indústria que já se impunha como setor produtivo e
revelavam, pelo estilo e pelas técnicas construtivas, a dependência em relação ao
exterior e à presença da mão-de-obra do imigrante europeu. As condições do espaço
da cidade de São Paulo não condiziam, no entanto, com a nova situação econômica e
social. A cidade apresentava grandes problemas de saneamento e de abastecimento
de água, de insuficiência de vias públicas para facilitar a comunicação entre os setores,
de pavimentação das ruas e mesmo de expansão da área urbanizada. A área urbana
precisava se expandir e a infra-estrutura urbana necessita ser melhorada.
O sistema ferroviário criou em seu percurso dentro do município de São Paulo
bairros nobres como os campos Elíseos, hoje totalmente degradado e grandes bairros
industriais operários, como os da Barra Funda, Brás, Mooca, Ipiranga, estabelecidos em
terrenos baixos, geralmente, terraços fluviais ocupados pelas ferrovias, ao longo das
quais foram crescendo.
Mas a cidade se amplia em outra direção ocupando as colinas e chegando ao
espigão central valorizando as terras de seus proprietários, loteamentos para os ricos
servidos pelos bondes da Light. O governo e os setores privados se associam nessa
expansão, Isto para citar um exemplo, criando praças e jardins públicos e infra-estrutura
urbana sobretudo nos bairros ricos e deixando à margem os bairros mais pobres que
dependiam do bonde.
O enorme crescimento de São Paulo pode ser expresso através de um indicador
que é o crescimento do seu espaço urbano. Os 130 km² que a cidade possuía em 1940
passaram para 420 km², em 1954.
Quando se comemorou, em 1954, o quarto centenário da cidade, marcando o
início do período da grande industrialização, seus limites de urbanização passaram a
integrar-se com os municípios vizinhos através de um complexo sistema de rodovias e
ferrovias em várias direções. A cidade ganha um Parque: o Ibirapuera que até hoje é
muito freqüentado por pessoas vindas de diferentes partes da cidade, sobretudo, nos
fins de semana e feriados.
No final da década de 1960, São Paulo era a maior metrópole do país, tanto em
área como em população e no desenvolvimento econômico não mais atraindo fluxos de

182
migrantes, mas importantes correntes migratórias sobretudo do Nordeste do Brasil e do
norte de Minas Gerais, sem que o município estivesse preparado para atender ao
grande crescimento e a demanda por serviços e equipamentos urbanos.
Entre 1968 e 1973, ocorria a fase expansiva do modelo industrial brasileiro, com
reflexos positivos no município. Com o crescimento da grande indústria também
cresceu o número de favelas e cortiços instaladas, principalmente, em áreas verdes
públicas, à beira de córregos ou em encostas mais íngremes.

A cidade cresce, políticas públicas em relação aos transportes valorizam certas


áreas em detrimento de outras sempre ao sabor dos setores mais produtivos da cidade
que exigem transporte cada vez mais modernos: do bonde puxado por animais;
passou-se para o bonde elétrico, concomitantemente, começa a ser valorizado o
transporte por ônibus e mais tarde, o transporte individual, deixando os trens cada vez
mais deteriorados para a massa de trabalhadores que realizaram e ainda realizam um
movimento pendular em direção a bairros distantes e até mesmo, a outros municípios.
Na década de 1970, a construção do metrô, em boa parte subterrâneo é vista como a
solução mas caminha lentamente e não modifica o plano viário radial-concêntrico,
cruzando-se na parte mais central da cidade, a praça da Sé. E ainda hoje os diferentes
bairros ainda não estão interligados pelo metrô que sendo em sua maioria subterrâneo
resolveria em parte os grandes congestionamentos da cidade, a prioridade continua ser
pelos veículos movidos à gasolina ou à diesel em atendimento às grandes montadoras
instaladas no País.

Nos anos setenta ocorre a chamada revolução das telecomunicações. À indústria


como variável motora do dinamismo brasileiro e do extraordinário crescimento de São
Paulo, sucede o papel da informação e das finanças no comando dos processos.
Verifica-se, a partir dos anos 1980, uma dispersão das indústrias dinâmicas.
A metrópole com o seu terciário moderno pelas novas tecnologias amplia a
segmentação socioespacial, a sua existência como um grande mercado. Como a
expansão de seu espaço construído aceleram-se, as valorizações e desvalorizações
dos pedaços da cidade. A cidade têm que dar conta em suas várias dimensões das

183
novas exigências do capital. A verticalização não apenas nos bairros mais centrais,
expande-se para os bairros, muitas famílias de classe média optam por morar em
apartamentos considerados mais seguros e mais fáceis de limpar. Antigas mansões são
demolidas e em seus terrenos são construídos prédios de apartamentos. Nas décadas
seguintes a verticalização vai além rio Pinheiros e rio Tietê, adensando-se cada vez
mais pelo alto valor do m2 no mercado de terras.
A vida confinada no interior de um apartamento e durante as horas de trabalho,
no interior de escritórios ou bancos exige para a reposição da energia despendida
durante a semana que os cidadãos tenham horas de descanso em ambientes verdes,
onde possam realizar atividades relaxantes e esportivas, daí a necessidade de parques
urbanos públicos e gratuitos que atendam as necessidades físico-corporais em lugares
próximos à moradia.

O Parque urbano surgiu no contexto urbano tornando-se com o passar dos anos
além de importante, vital para as metrópoles.Sua relevância atualmente está
relacionada, principalmente, à escassez de espaços de uso público voltados para o
lazer, descanso, prática de esporte, entre outros, fenômeno provocado pelo movimento
de expansão do capitalismo que resulta na redução dos espaços públicos na cidade, e
pela emergência do movimento ambientalista mundial devido à deterioração dos
ambientes urbanos.

A Inglaterra, no século XIX, onde em primeiro lugar se deu a revolução industrial,


também foi pioneira na readaptação dos jardins dos reis em parques públicos. Foi na
Inglaterra também que o parque passa da função de “parque contemplativo” para
“parque equipado” com a introdução de atividades lúdicas e esportivas. A importância
de se introduzir o lazer nessas áreas verdes foi pelo fato de – o lazer – ter se tornado
um problema social na sociedade industrial que então nascia. O capital industrial temia
o ócio, pois este podia conduzir ao vício com conseqüências indesejáveis para o mundo
do trabalho e comprometedores à estabilidade social.

184
Esse modelo de parque vigorou até o início do século XX, inspirando a criação
de praticamente todos os parques também na América do Sul, inclusive no Brasil,
projetados por paisagistas europeus.

Somente na segunda metade do século XIX, com a emergência da cidade de


São Paulo no cenário político e econômico nacional, as áreas verdes públicas
passaram a receber maior importância e a atenção por parte dos poderes constituídos,
quando se criou um órgão específico para se tratar do assunto, São Paulo ganha seu
primeiro jardim público com a abertura dos portões do Horto Botânico da Luz, em 1838,
que mais tarde levaria o nome de Jardim da
Vários planos e projetos foram elaborados, mas apenas alguns foram
executados e muito do que foi executado não constava do plano inicial. Aqui damos o
exemplo do Plano de Avenidas na época de Prestes Maia elaborado em, 1929 e o
Plano de Robert Moses em 1950, contavam com inúmeros projetos de parques para a
cidade de São Paulo, porém, somente uma ínfima parte foi contemplada, assim mesmo
sem atender as recomendações que os projetos explicitavam.
Entretanto, apesar das preocupações com os problemas de adequação entre os
jardins públicos e os contextos urbanos, os governos acabavam por priorizar mais a
malha viária em prejuízo dos parques e áreas verdes.
A Ilha dos Amores se destaca na história dos espaços verdes públicos de São
Paulo. Os depoimentos revelam que esse espaço atendia as camadas sociais menos
privilegiadas e desapareceu paulatinamente, ficando ao descaso da cidade como se
fosse um espaço de pouco importância e beleza insignificante, até ser desativada tendo
pequena duração.

Com o passar dos anos, as formas de lazer foram se transformando na cidade,


entre 1899 até meados de 1935, as pessoas passaram a fazer piqueniques nas
chácaras dos arredores da cidade, no parque da Cantareira, no parque Antártica, ou no
Bosque da Saúde, os dois últimos espaços privados. Já não mais se passeava
somente, podia correr, subir em árvores, deitar na relva, brincar, cantarolar árias de

185
óperas, namorar à sombra das árvores, jogar bocha, patinar, jogar ou assistir futebol e
andar de bicicleta. Este hábito teve longa duração, podendo ser observado ainda hoje
em alguns parques públicos de São Paulo.
No entanto, os parque construídos pelo setor privado têm vida curta e
desaparecem no momento em que interesses dos empresários dêem outros destinos
àquelas terras, como ocorreu com muitas áreas verdes, a exemplo, do Palestra Itália,
comprado pela mesma associação em 1920, para a realização de jogos de futebol. O
mesmo ocorreu com o Bosque da Saúde, quando em 1925, o proprietário promove o
loteamento de sua área verde, áreas de recreação das classes sociais de menor poder
aquisitivo, foram fechadas ou reduzidas.
No entanto, por tímidas e por mais localizadas que fossem, algumas medidas
foram tomadas pelo poder municipal, nas três primeiras décadas do século XX, para
assegurar aos munícipes áreas verdes de lazer públicas e gratuitas. Ainda assim que
estas medidas se restringissem ao centro e aos chamados “bairros nobres” da cidade,
evidenciando uma desigualdade na distribuição desses logradouros no espaço e o
consentimento de que parques privados, importante para a sociedade, desaparecerem .

É forçoso reconhecer que o parque da Várzea do Carmo, ou Dom Pedro II,


aberto para bairros populosos e populares, como área de lazer pública e gratuita seria
uma das primeiras grandes obra voltadas para a população de poder aquisitivo baixo,
realizada pelo governo destinada ao lazer, foi aberto ao público em 1922, não só
faltando parte das obras de ajardinamento, como também tudo o que precisasse de
investimentos grandes – ginásio coberto, cine-teatro, banhos-públicos – ou nem tanto,
como as quadras esportivas e áreas de recreio para crianças, mas também teve curta
duração ao dar-se prioridade aos planos viários.
As propostas de Prestes Maia e de outros prefeitos – no referente aos parques
públicos, inspirados em experiências européias e norte-americanas, não foram além
das questões estilísticas e não ultrapassaram o nível do discurso.

Apesar de canalizados, os vales dos rios Tietê e Pinheiros ainda apresentavam,


em 1965, extensas faixas não ocupadas, que podiam ser apropriadas para o lazer

186
esportivo o que, quase sempre, equivale dizer clubes de futebol de várzea, uns mais
equipados, outros mais improvisados. Na margem esquerda do rio Pinheiros foi
construído o atual parque municipal Burle Marx. Na margem direita foi construído o
parque do Povo (estadual) junto à ponte Cidade Jardim; e décadas mais tarde se
implantou o parque estadual Villa Lobos, objeto de nossa pesquisa de campo.
Pode-se alegar que, às margens do Tietê e do Pinheiros, há dois grandes
parques: o parque Estadual (ex Ecológico do Tietê), com 14.000.000 m² e o Villa Lobos,
com 717.000 m². São ambos estaduais e recentes, e passaram a integrar o patrimônio
público por desapropriações, ainda que parciais, ou como pagamento de dívidas com o
Estado, durante a década de 1980.
Segundo o PUB – Plano Urbanístico Básico, em 1967, verificavam-se várias
lacunas, sendo uma delas a má distribuição das áreas destinadas a praças, parques e
jardins pelos diversos bairros. Além disto tais áreas apresentavam insuficiência de
equipamentos e conservação precária, “acarretando uma constante aparência de
abandono”. Muitas vezes, os parques públicos são criados mas a manutenção não é
garantida.
A construção e ampliação de Parques municipais na cidade de São Paulo, em
decorrência do adensamento do espaço construído assim como a abertura de ruas e
avenidas exige desapropriações como já ocorreu com os parques municipais da
Aclimação, do Guarapiranga e a ampliação do parque da Independência.
As ações da prefeitura no período podem então ser agrupadas da seguinte
forma: implantação e reforma de áreas verdes associadas à execução de planos viários
e construção de parques em propriedades municipais; obtenção e administração de
áreas verdes públicas obtidas através das leis de parcelamento do solo;
desapropriações para a implantação de áreas verdes públicas de recreio; produção de
áreas verdes para fins educacionais e recreativos.
Acontece que, no parcelamento do solo, muitos dos loteamentos eram
clandestinos e caso existisse áreas verdes públicas nesses loteamentos,
corresponderiam, provavelmente, às áreas impossíveis de ser loteadas: charcos e
encostas altamente declivosas.

187
Durante as três décadas que separam a administração de Fábio Prado (1934-
1938) que começou a por em prática o Plano de Avenidas, da de Faria Lima (1965-
1969), que marcou o seu encerramento, outros planos foram feitos para São Paulo,
incluindo sempre propostas para a implantação de sistemas de áreas verdes com
finalidades recreativas, ambientais ou estéticas.
O plano concebido por Prestes Maia foi o único que se preocupou em dar forma
a um pretendido sistema de parques, forma nascida do próprio desenho viário e
intrinsecamente ligada ao desenho urbano. Daí em diante, os critérios de distribuição
dos parques adotados pelos planos, seriam quantitativos e baseados em raios de
atendimento.
Dos parques que integravam o plano de Prestes Maia, muitos existiam, faltando
alinhavá-los num circuito, que não se consumou e, dentre os novos parques municipais
propostos, apenas o do Ibirapuera seria realizado e o da Aclimação adquirido e
reformado.
Desde 1967, vigorando até hoje, foi proposto uma organização hierárquica de
parques de vizinhança, parques de bairro, parques setoriais e parques metropolitanos.

A adoção de hábitos de lazer que valorizam a boa forma física teve seus reflexos
nas áreas verdes públicas, com a implantação das denominadas “pistas de cooper” e
das quadras poliesportivas, sempre que as condições físicas das áreas verdes
municipais permitiam. Desde a década de 1970 estes passaram a ser elementos quase
que obrigatórios nas praças e nos parques públicos projetados pelo DEPAVE.
Tão importante é este equipamento que numa pesquisa realizada pelo Serviço
Social do Comércio – SESC, em 1996 revela que 70% das pessoas freqüentam áreas
verdes, sendo que as preferidas foram o parque Ibirapuera, o parque do Carmo e o
Horto Florestal. Foram ainda citados parques menores como o da Aclimação e o
Fernando Prestes (Água Branca), entre vários outros. O relatório ainda faz a
observação de que o parque Villa Lobos foi pouco lembrado pelos entrevistados.
Portanto, a ida aos parques é ainda uma importante opção de lazer que tem por
finalidade e valoriza o estar em meio ao “verde” num ambiente supostamente saudável.

188
Nota-se na nova estrutura a introdução de assuntos que anteriormente não eram
contemplados, ligados ao manejo biofísico, refletindo as preocupações de ordem
ambiental que ganharam notoriedade no Brasil, a partir da realização da ECO 92, no
Rio de Janeiro.
Em 1988, pouco que se manteve de área verde nas planícies fluviais ficou
isolado das margens pela implantação de avenidas, ou pela urbanização das várzeas,
correspondendo aos poucos clubes privados e aos ainda mais raros parques públicos,
como o Estadual, mais conhecido como Ecológico do Tietê e o parque Villa Lobos. Dos
parques municipais, o único a se instalar à beira de um corpo d’água de grandes
dimensões e a aproveitá-lo plenamente como equipamento de lazer ainda é o
Guarapiranga.
As ações da municipalidade para o provimento de áreas verdes no período
podem ser agrupadas nas seguintes categorias: dispositivos legais para obtenção de
áreas verdes; áreas verdes de recreação em espaços livres de loteamentos; áreas
verdes de recreação em próprios municipais; áreas verdes de recreação em terrenos
desapropriados.
O período de 1974 e 1981 foi o mais fecundo em projeto e execução dos
chamados parques municipais. Tendo sido projetadas e executadas dezenas de
“praças” que, por seus equipamentos recreativos e esportivos e pela densa
arborização, seriam equivalentes a “parques de vizinhança” e “parques de bairro”.

Ainda sobre o método de projeto, uma vez ou outra foram aplicados


questionários na vizinhança imediata de um futuro parque para recolher sugestões de
equipamentos, no entanto, este não é um procedimento habitual no DEPAVE.
No entanto, embora todas pudessem ser chamadas parques - de vizinhança, de
bairro, distritais ou qualquer outra classificação existente nos compêndios técnicos – ou,
como na linguagem vernacular, praças, apenas vinte nove destas áreas são
consideradas parques municipais do ponto de vista administrativo, o que significa,
na prática, estarem cercadas e contarem com uma sede administrativa própria no seu
interior e estarem sob a tutela do Departamento de Parques e Áreas Verdes –
DEPAVE, enquanto as outras, as praças, são da alçada das Administrações Regionais.

189
Sob a tutela da esfera Estadual, são seis parques. Perfazendo um total para a cidade
de 35 parques urbanos públicos.
Em 1999, ao avaliar o desempenho atual dos parques públicos municipais de
São Paulo no atendimento às necessidades ou hábitos de lazer em áreas verdes
públicas, revelou que os parques municipais têm lugar de importância entre as opções
de lazer. Nos parques pesquisados foi possível constatar que a assiduidade dos
freqüentadores é considerável: no geral, mais da metade dos entrevistados visita os
parques pelo menos uma vez por mês e permanece neles, no mínimo, durante duas
horas.
Pode constatar também que em torno de 50% dos freqüentadores dos parques
analisados provinham de distritos com baixo índice de qualidade de vida. Diante disto,
não é nada desprezível o papel que os parques desempenham, ou poderiam
desempenhar, no lazer de pessoas que, dada sua condição de exclusão social,
provavelmente, não teriam muitas opções de lazer além dos parques públicos e
gratuitos.
Considerando-se as avaliações positivas constata-se a liderança, em todos os
casos, da opinião de que aquilo que os parques têm de melhor a oferecer são sua
paisagem e seu ambiente. Na outra ponta, ao observar as avaliações negativas, notam-
se em metade dos parques pesquisados índices expressivos de reprovação ao estado
paisagístico e ambiental em que se encontram.
Levando-se em conta todas as considerações feitas desde o final do século XIX
e século XX, o parque vem desempenhando um papel importante no que se refere a
lazer gratuito, principalmente para as classes sociais com poder aquisitivo baixo. No
discorrer desses anos a sociedade se transformou demandando diferentes usos em
diferentes épocas. O parque foi se remodelando conforme a sociedade foi se
metamorfoseando. Os múltiplos usos de hoje, diferente do início do século, os projetos
que aos poucos foram se tornando mais simples para se tornarem viáveis, entre outros,
mostram que, apesar de não ser prioridades governamentais, devido ao pouco
orçamento que é destinado, visto na pouca manutenção de suas áreas, é conveniente
que se mantenha a presença deste tipo de equipamento na cidade.

190
O Parque Villa Lobos
Apesar de canalizados, os vales dos rios Tietê Pinheiros ainda apresentavam,
em 1965, extensas faixas não ocupadas, que podiam ser apropriadas para o lazer
esportivo o que, quase sempre, equivale dizer clubes de futebol de várzea, uns mais
equipados, outros mais improvisados.
Foram feitos vários projetos que não se concretizaram. Na atualidade, às
margens do Tietê e do Pinheiros, há dois grandes parques: o parque Estadual (ex-
Ecológico do Tietê), com 14.000.000 m² e o Villa Lobos,, com 717 m², sendo abertos
350.000 m². São ambos estaduais e recentes, e passaram a integrar o patrimônio
público por desapropriações, ainda que parciais, ou como pagamento de dívidas com o
Estado, durante a década de 1980.
A adoção de hábitos de lazer que valorizam a boa forma física teve seus reflexos
nas áreas verdes públicas, com a implantação das denominadas “pistas de cooper” e
das quadras poliesportivas, sempre que as condições físicas das áreas verdes
municipais permitiam. Desde a década de 1970 estes passaram a ser elementos quase
que obrigatórios nas praças e nos parques públicos projetados pelo DEPAVE.
Nota-se na nova estrutura a introdução de assuntos que anteriormente não eram
contemplados, ligados ao manejo biofísico, refletindo as preocupações de ordem
ambiental que, despontando mundialmente na década de 1970, ganharam notoriedade
no Brasil a partir da realização da ECO 92 no Rio de Janeiro.
A população exerceu a sua cidadania ao não aceitar certas colocações dos
poderes públicos. A construção do Parque Villa Lobos surgiu com a manifestação dos
moradores do bairro de Boaçava contra a construção de um conjunto habitacional que
comportaria oitenta torres de edifícios. A reação ocorreu provavelmente devido aos
problemas de trânsito que viria com a quantidade de pessoas que passariam a residir
na área.
Aquela área estava em litígio há muito tempo entre o governo do Estado e o
grupo Abdalla. O Governo, na década de oitenta, por pressão da população encampou
a área que pertencia ao Abdalla, como pagamento de dívida de impostos contraída pelo
grupo ao governo.

191
Em setembro de 1987, o valor do terreno havia sido congelado pela Lei de
Zoneamento, permitindo sua utilização apenas para fins institucionais e logo assinou
um decreto declarando de utilidade pública. Dos 912.398 m² pertencia à família Abdalla
e o restante a outros particulares. A real propriedade do terreno foi colocada em dúvida.
Os Abdalla tentaram mudar a Lei de Zoneamento, para construir ali dezenas de prédios
e um shopping center.
Ao lado do parque foi aprovada a construção do shopping Villa Lobos, aprovada
pela Operação Interligada que prevê alterações no zoneamento para projetos
específicos, já que a Lei de Zoneamento proibia a construção de shoppings na região,
pela Comissão Normativa de Legislação Urbana (CLNU), órgão vinculado à Secretaria
Municipal de Planejamento.
Os representantes das associações tentaram questionar a legalidade das
Operações Interligadas, entrando com uma ação de inconstitucionalidade contra essa
operação junto com a Ordem dos Advogados do Brasil, pois, os moradores acreditavam
que o projeto traria prejuízos ao tráfego e à qualidade de vida.
Vê-se aqui a luta dos empreendimentos imobiliários para se apropriar do espaço
em conflito com os moradores que tentam também se apropriar, tentando garantir o
espaço da vida.
O Estado têm o poder de modificar o uso, a função e o sentido dos lugares, e,
com isso, interfere nos modos de apropriação do espaço pela vida, no momento em
que um parque é extinto ou um outro uso dele é feito que não de interesse da
sociedade. O processo de produção e reprodução da vida se dá nas suas relações, do
qual prescinde de um espaço para que isto aconteça. Quando se perde um parque está
se perdendo na verdade um espaço de relações sociais. O único espaço que resta é
aquele que passa a ser vivido geometricamente – de casa para o trabalho, do trabalho
para o supermercado, etc.
Portanto, é importante que a Vida Humana se aproprie de espaços tais e
reivindique-os aos governantes e/ou capitalistas, e lute contra sua extinção e/ou a usos
indevidos.
Apesar do bairro Boaçava ter uma característica da sociedade moderna -
individualista, os problemas que vieram com o uso do espaço pela iniciativa privada,

192
serviu para unir os moradores levando a uma ação civil pública contra os usos
indevidos do Parque.
A construção do Parque Villa Lobos alterou o modo de vida dos moradores do
bairro Boaçava.
O bairro do Boaçava e suas adjacências tornaram-se mais conhecidas após a
construção do Parque Villa Lobos, que passou a ser local de referência dentro da
cidade. Uma nova centralidade está se formando: o Parque, o Shopping e os altos
edifícios de elevado padrão, um espaço que antes não existia, margens direita do rio
Pinheiros.
O espaço público, como um parque por exemplo deve ser encarado como um
lugar a ser apropriado na sua totalidade pelos habitantes, fomentando o calor das
relações sociais a fim de fortalecê-las, já que o espaço na cidade está cada vez mais
raros para estas práticas socioespaciais, dominando no espaço as relações que
envolvem mercadoria, uso pelo capital e governo.
Levando-se em conta todas as considerações feitas desde o final do século XIX e
século XX, o parque vem desempenhando um papel importante no que se refere a lazer
gratuito, principalmente para as classes sociais com poder aquisitivo baixo. No discorrer
desses anos a sociedade se transformou demandando diferentes usos. O parque foi se
remodelando conforme a transformação da sociedade. Os múltiplos usos de hoje,
diferentemente do início do século, os projetos foram se tornando mais simples para se
tornarem viáveis, entre outros, mostram que, apesar de não ser prioridades
governamentais, devido escasso orçamento destinado a esse equipamento, visto na
pouca manutenção de suas áreas, é conveniente que se mantenha a sua presença na
cidade.

193
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202
ENTREVISTAS

CARDOSO, Antônio. Entrevista concedida a alunos do curso de Metodologia do Ensino de


Geografia II da Faculdade de Educação da USP. São Paulo, 25 out. 2003.
DeLA CORTE, Judite. Entrevista concedida do bairro Boaçava. São Paulo, 01 abr 2003.
DeLA CORTE, Manoel. Entrevista concedida do bairro Boaçava. São Paulo, 01 abr
2003.
LOURDES, Entrevista concedida a alunos do curso de Metodologia do Ensino de Geografia II
da Faculdade de Educação da USP. A entrevista aconteceu na casa da entrevistada no
Cingapura, próximo ao CEASA, na Rua São Paulo, 25 out. 2003
MARZZOCO, Anita. Entrevista concedida pela bióloga para a pesquisa no bairro Boaçava. São
Paulo, 11 abr. 2003
MARZZOCO, Gaspar. Entrevista concedida pelo médico nefrologista para a pesquisa no bairro
Boaçava. São Paulo, 11 abr. 2003
MATOS, Fátima Regina. Entrevista concedida no DEPAVE (Departamento de Áreas Verdes do
município de São Paulo). São Paulo, 11 de abr 2003.
OLIVEIRA, Luiz Alberto de. Entrevista concedida a alunos do curso de Metodologia do Ensino
de Geografia II da Faculdade de Educação da USP. A entrevista aconteceu na casa do
entrevistado na Vila Leopoldina. São Paulo, 25 out. 2003.
SCAVASIN, Flávio. Entrevista concedida pelo administrador do Parque Villa Lobos. São Paulo,
19 out 2004.
SEABRA, Odette Carvalho de Lima. Entrevista concedida pela professora da Faculdade de
Geografia da USP. São Paulo, 31 mar 2003.
TOZZI, Décio. Entrevista concedida pelo autor do Projeto do Parque Villa Lobos. São Paulo, 06
mai 2003

203
ANEXOS

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