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Sem

PUDOR
JULIANNA COSTA

Sem
PUDOR
© 2016 by Universo dos LivrosTodos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de
19/02/1998.
Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida
ou transmitida sejam quais forem os meiosempregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos,
gravação ou quaisquer outros.

Diretor editorial: Luis Matos Editora-chefe: Marcia Batista Assistentes editoriais: Aline Graça
eLetícia Nakamura
Preparação: Juliana Gregolin
Revisão: Rinaldo Milesi
Arte: Francine C. Silva e ValdineiGomes
Capa: Zuleika Iamashita

Dados Internacionais de Catalogação naPublicação (CIP)


Angélica Ilacqua CRB-8/7057

Costa, Julianna
Sem pudor / Julianna Costa. – São
Paulo: Universo dos Livros, 2016.352 p.
ISBN: 978-85-503-0005-4
1. Literatura brasileira 2. Ficçãoerótica brasileira I. Título
16-0704 CDD B869.93

Universo dos Livros Editora Ltda.


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Um
Jeito de superar a ex-namorada

Desempregada.
Dobrei meu braço ao lado do tecladoe apoiei a testa na dobra do cotovelo.
Eu estava exausta.
Não era sequer uma exaustão física, era apenas uma desistência mental, filosófica e
espiritual.
Nunca estive desempregada daquele modo antes. Até então, todos os momentos da
minha vida em que havia precisado de um emprego tinham sido normais. Eu saía do
emprego anterior por causa de uma proposta melhor ou pela ambição pessoal de
acreditar que merecia uma proposta melhor. E nunca estive enganada.
Estive no meu emprego anterior nos últimos dois anos, antes de ser sumariamente
demitida por “máconduta profissional”.
Claro que meus empregadores não eram imbecis cruéis, incapazes de compreender
que eu fugi da cidade quatro meses atrás porque corria risco de ser assassinada por um
chefe do crime organizado. Essa parte eles seriam perfeitamente capazes de
compreender.
Era a versão oficial dos fatos queeles tinham problemas em aceitar. Expirei
longamente,sentindo meucorpo inteiro doer. Fiquei horas e horas na internet, enviei
currículos,agendei entrevistas… apenas paradescobrir uma inevitável verdade: eu
não ia conseguir um emprego tão cedo. Para conseguir voltar à minha vida normal e
honrar o acordo que fizeracom o agente Zahner para manter YuriKulik bem longe
de mim, preciseimentir para todas as pessoas ao meuredor, apresentando–lhes
uma novaversão dos fatos e uma j ustificativa plausível para o meu
desaparecimento.
O problema recorrente, no entanto, é que o “plausível”, no meu caso, não inspirava
qualquer tipo de simpatia aos meus empregadores, antigos e eventuais. Eu tinha
deixado de ser a garota corajosa que enfrentou a máfia russa, colaborou com uma
investigação policial e tirou a roupa para salvar uma boate às vésperas da falência
para me tornar a garota maluca com um severo grau de ansiedade generalizada que,
em um ataque de pânico, tinha abandonado emprego, família e amigos, sem
qualquer explicação ou adeus, para fugir por algumas semanas com um gigolô que lhe
tirara a virgindade, em umas férias não planejadas.
A nova versão oficial dos acontecimentos trazia até fotos, especialmente
preparadas, minhas e de Devon em um barco qualquer. “Navegando para o horizonte
em um iate com um deus do sexo para esquecer as mazelas da minha vida.”
Essa era a resposta que, com palavras mais rebuscadas e educadas, eu era obrigada
a fornecer ementrevistas de emprego sempre que me era feita a pergunta de “E por que
abandonou seu emprego anterior?”.
É… Eu não ia conseguir um emprego tão cedo. E era melhor me conformar com
isso.
- É por isso que não arranja emprego, sua preguiçosa! – Monique estava em
nosso apartamento há dois segundos e eu já queria matá-la. – Fica cochilando quando
deveria estar procurando o que fazer. – recriminou.
Eu empurrei para o lado a caixa com meus documentos, certificados, diplomas e
currículos, só para encará- la.
- Quem te deu a chave? –resmunguei.
- E quem precisa de chave? Afechadura dessa porta está frouxa. Já disse a vocês que
isso é um perigo. Mas como estou lidando com a Mina preguiçosa e a Elise
desmiolada, acho que vocês nunca vão resolver esse problema.
– O que você quer, Mon? – Elisesurgiu do seu quarto para me resgatar.
– Não incomode a Mina, ela está muito estressada.
Monique me irritava, sem dúvidas. Mas acho que eu preferia a sua agressividade ao
zelo excessivo de Elise. Minha melhor amiga tinha ficado verdadeiramente
preocupada com meu desaparecimento e, então, com a descoberta do meu surto
mental. Ela sabia que esse tipo de fuga não condizia com minha personalidade e para
que eu tivesse recorrido a umasolução desse porte eu deveria estar bem afetada.
Quatro meses tinham se passado e ela tinha exigido que eu me mudasse para
sua casa. Elise usou como desculpa o fato de eu estar desempregada e sem nenhum
dinheiro além de minhas economias, mas eu sabia que, na verdade, ela só queria ficar
de olho em mim.
– Vim devolver isso. – Tirou da bolsa alguns colares. – E quero saber se vocês vão
sair hoje!
– Eu não tenho planos. – Elise levantou um ombro.
– Então vai para a festa de aniversário do Cristian comigo!
– Monique, se você não gosta dos amigos dele, precisa dar um jeito. Ou falar pra
ele. Não podemos ficar servindo de escudo para você sempre que…
– O Gerard vai estar lá – cantarolou.
Elise mordeu o lábio, controlando osorriso.
– Maldita. – Ela havia tomado adecisão e Monique desatou a rir.
– E você, Mina? Vem com a gente ouvai sair com o namorado?
Namorado.
Eu não gostava de pensar em Lance como meu namorado. Era cedo demais para
chamá-lo de namorado. Mas depois de dois meses conversando com ele quase todos
os dias e encontrando-o todos os fins de semana… era tarde demais para chamá-lo de
qualqueroutra coisa.
– Não é o namorado dela. – Elise me defendeu. Tivemos umas duas ou oito
discussões irritadas assim: Mon se referia a Lance como meu “namorado”, eu
dizia que não queria que o chamasse assim e, por fim, acho que Elise começou a
temer que eu tivesse outro surto mental e então resolveu interferir sempre que a
conversa ameaçasse ressurgir.
– Foi só uma pergunta, Elise! Não precisa ficar trabalhando como guarda-costas da
Mina sempre que ela ouvir uma pergunta de que não gosta.
– Mina não está bem, Monique! Parede ser inconveniente!
– Mina estava muito bem há alguns meses, quando resolveu mandar o trabalho se
foder e fugir com o
prostituto. Mas agora não está bem para responder a uma simplespergunta?
– Cala a boca, garota!
– Você tem que parar de tratá-la como se ela fosse uma flor delicada! Bault é uma
mulher adulta que vai ter que lidar com as consequências do que…
– Vou sair com o Lance – interrompi.
– Já temos planos para hoje à noite.
As duas se calaram, Elise desenhou um sorriso simpático no rosto e Monique fez
uma expressão de vômito.
As duas se puseram a combinar horários e etiquetas. Aproveitei a distração delas
para puxar meu celular e enviar uma mensagem para Lance.

Na verdade, eu não tinha planos para aquela noite. Mas Elise…


Elise era minha melhor amiga.
Ela se preocupava. Estava desesperada, na verdade.
E eu sabia disso.
Ela era a última família que eu tinha e se sentia pessoalmente responsável por não
ter previsto minha crise de loucura. Foi Elise quem achou que eu deveria sair com um
gigolô e, na cabeça dela, o fato de ter sido ela quem arranjara o encontro que me
levaria à fuga apenas aumentava a sua culpa.
O único detalhe é que não houvera nenhuma crise de loucura.
Havia um gigolô. Havia uma fuga. Mas nada tinha sido como ela imaginava.
Mesmo que seu cuidado me irritasse, eu sabia que era apenas uma preocupação
carinhosa. Ela me amava. Nos primeiros dias depois que voltei, suas perguntas eram
tão intensas queeu imaginei que ela suspeitasse da minha mentira. Mas uma visita do
agente Zahner e uma história elaborada e bem montada tinham bastado para
conquistar a confiança de Elise em nossa pequena ficção. Agora, só me restava tentar
diminuir suas preocupações e assegurá-la de que eu estava bem.
O que era injusto comigo: agora não apenas eu tinha que esconder a verdade,
procurar um novo emprego,lidar com o julgamento dos outros… mas ainda tinha que
tomar conta das emoções da minha melhor amiga.
Era coisa demais para manter sobcontrole e eu só queria…
Eu só queria mandar tudo se foder, como a Monique tinha dito.
Queria fugir com um gigolô que me dissesse que o melhor modo de viver é
perdendo o controle.
Mas não seria em um iate.
Não seria por uma crise de loucura. E, definitivamente, não seria com o
Devon.
Seria ele.
Não importava para onde. Nemquando. Ou por quê.
Se fosse ele, eu fugiria de novo. Para onde ele quisesse me levar.
Eu mandaria toda a confusão da minha nova vida se foder.
Deixaria uma carta para Elise dessa vez e iria embora sem intenção de voltar.
Desde que fosse com ele.
De muitos modos, não poder falarsobre Ryker era a pior parte.
Era como se eu tivesse acabado de perder um braço e não pudesse contar a
ninguém. Como se tivessem enfiado uma prótese em mim e todos esperassem que eu
fosse continuar a viver como se nada tivesse acontecido.
Mas uma parte de mim estava faltando, e a prótese nunca seria capaz de funcionar
do mesmo jeito que antes.
Foi a experiência mais arrebatadora da minha vida.
O amor mais intenso. A intimidade mais visceral. O contato mais profundo.
E acabara.
Agora só me restava lembrar e tentar esquecer. Eu tinha descoberto para que servia
meu coração, tinha o colocado para funcionar, apenas para vê-lo destruído. E sequer
podia conversar com minha melhor amiga sobre isso.
Só o que eu tinha era Lance: uma prótese.
Ele era um jornalista que aparecera para falar com as vítimas que tinham perdido
suas casas na explosão misteriosa que resultara em muitos mortos e feridos. O jovem
jornalista estava investigando o desastre e quase tropeçara em uma ou outra
informação que o levaria para o lado errado da legalidade se eu não o tivesse
impedido.
Eu sabia o que Kulik era capaz de fazer quando alguém farejava o seu rastro. Achei
melhor tentar proteger o desavisado Lance.
Mas ele confundiu minha preocupação com interesse. E meureceio com carinho.
E logo eu não conseguia mais melivrar dele.
Lance respondeu minha mensagem com uma animação desnecessária, confirmando
nosso encontro para
aquela noite.
Acho que se eu fosse realmente me livrar de Lance algum dia… não seria hoje.
– Grazie. – Sorriu. Era um sorriso sexual.
Daqueles bem óbvios e descarados. Seria mais fácil se ela apenas me chamasse de
gostoso e perguntasse quando acabava o meu turno.
Mas não era isso que ela fazia.
Ela apenas se sentava na parte externa do café a cada dois ou três dias, puxava
assuntos que não meinteressavam, demorava demais para
pedir a conta e agradecia com um sorriso largo de sexo. Semana após semana.
Pelo menos me deixava gorjetasgenerosas e eu não tinha do quereclamar.
Eu não conseguia lembrar o seu nome, apesar de já tê-lo ouvido em algumas
ocasiões. Para mim, ela era a “Mesa 8”.
– Acho que ela te daria a calcinha junto à gorjeta, se você pedisse – Colin riu
quando coloquei a bandeja em cimado balcão.
– Acho que ela ainda vai fazer isso, mesmo sem eu pedir.
– Ai! – Gargalhou. – Você é gay? – perguntou, encarando Mesa 8, quando ela
acenou para mim antes de sair.
Sorri de volta para a mais assídua cliente do café.
Ela tinha uma boa bunda.
E acho que me chuparia por horas com uma boa disposição.
Mas eu simplesmente não estava no clima.
O que era peculiar diante do fato de que eu não tinha uma mulher ao redor do meu
pau havia meses.
Menos de um ano atrás, depois de duas semanas de exclusiva masturbação, eu já
estaria pronto para foder Mesa 8 ali na frente do Colin,sem pedir licença. Mas hoje…
Hoje, bastava eu fechar os olhos e pensar em sexo que a única coisa que me vinha à
mente era ela.
Ela na minha frente.Por cima de mim.
Embaixo de mim.
Com a boca no meu pau. Tirando a roupa no palco.Me oferecendo a
bunda.
Chamando meu nome enquantogozava.
Ela.
E então eu abria os olhos e nada era bom o suficiente para me manter ereto.
O único modo de aliviar o esporro que se concentrava violentamente no meu
escroto era pensando nela.
Enfiava a mão na cueca e me sacudia sem educação, sonhando com um
reencontro impossível.
A merda da garota me estragou para sempre.
Me incomodou bastante nosprimeiros meses… Depois da terceira mulher que levei
para a cama e não consegui comer, eu estava pronto para voltar a Paris, encontrá-la e
xingá-la com os piores nomes que eu conseguisse imaginar. Logo depois de fodê-la,
claro.
Arrancaria minha masculinidade de volta de suas mãos delicadas e nunca mais a
entregaria para mulher nenhuma.
Mas nas últimas semanas, eu aprendera a aceitar.
Passei o pano por cima do balcão, mantendo-o limpo.
Ia levar tempo pra esquecê-la. Principalmente por que que eu não parecia ser capaz
de parar de bater uma furiosa punheta após a outra com ela no meu mais imediato
pensamento.
– Estou cansada.
Virei de lado para encontrar Mesa 8 atrás de mim, com um sorriso sensual e os
braços cruzados no colo, empinando os seios.
– O que disse?
– Estou cansada – repetiu devagar. – De vir aqui quase todas as noites. E eu nem
gosto de café.
– Não sei se estou entendendo. – Sorri.
Eu estava entendendo.
É claro que eu estava entendendo.
Eu estava entendendo desde a primeira noite que ela errara o pedido três vezes,
sorrindo para mim, antes de pedir um “café preto”.
– Quero saber o que preciso fazer para você me chamar pra sair. – Levantou um
ombro, sedutora.
Reencarnar como uma francesaenvergonhada e irritante seria um bom começo.
– Ah… – Devolvi o sorriso sedutor que saía de meus lábios de forma mais natural
que qualquer outro sorriso.
Eu poderia levá-la para a minha cama, foder sua bunda com força, murmurar o
nome de Mina antes de esporrar. Mesa 8 me daria um tapa,mandaria eu tomar no cu
e iria embora.
O café ia perder uma cliente e eu ia perder as gorjetas.
Mas pelo menos eu ia gozar.
– E então? – questionou com urgência.
– Eu… acabei de sair de um relacionamento complicado – expliquei. – Não sei
se tenho cabeçapara me envolver em outro agora.
– E quem disse algo sobre “se envolver”? – Ela piscou um olho.
– Não sei se sou o tipo de cara que consegue só fazer sexo com uma mulher.
É, eu sou safado.Um putão.
Eu nem queria transar com ela.
Mas minha boca estava adestrada para dizer exatamente o que uma mulher precisa
ouvir para responder com um: – Então... – sussurrou. – Deixa eu te ensinar a fazer
“só sexo” com uma mulher. – Mordeu o lábio inferior.
Eu estava rindo. Fingi um constrangimento digno de Oscar.
Em qualquer outro dia do ano anterior, eu fingiria hesitar e pegaria seu telefone.
Marcaria uma hora. Treparia com ela o fim de semana inteiro.
Mas hoje eu só conseguia ficar ali parado, escutando a voz de Mina na minha
memória…
– Está querendo dizer que não gosta de mim? É sério? É esse o argumento que vai
usar?
– É! É esse o argumento que vou usar. Não te tenho mais. Vou te esquecer. Não
vou mais sentir essa porra dessa aflição no meu peito sempre que penso em ficar com
outra mulher e sinto como se estivesse te traindo. Não vou me importar mais!
– Mentiroso.
– Sinto muito – expirei, educado. – Obrigado pelo convite, mas… acho que preciso
de um tempo.
Mesa 8 entreabriu os lábios sem acreditar no que estava ouvindo. Ela insistiu e me
ofereceu seu número. Diante da recusa, ela estava ainda mais desesperada para abrir
as pernas
para mim. Eu tinha certeza disso.
O problema é que não queria que elaabrisse as pernas para mim.
Não fazia nenhuma questão.
Só havia uma mulher que eudesejava.
E ela tinha demorado como o infernopara abrir aquelas benditas pernas.

– Estava com saudades. – Lance beijou minha boca.


A primeira vez que eu o tinha beijado fora com um propósito calculista. Ele queria
me adicionar ao rol de entrevistados na matéria que estava escrevendo sobre o
escapamento
de gás e a explosão e eu… bem, eugostaria muito que ele não fizesse isso. Eu
conseguia imaginar agente Gareth Zahner espumando óleofervente
pela boca se visse meu nomeem um dos jornais de maior circulaçãode Paris,
associado a um incidente
causado por Yuri Kulik.
Meu bom senso não tinha me abandonado a esse ponto e fui especialmente
manhosa ao pedir a Lance que mantivesse minhaprivacidade, usando um pseudônimo
no artigo. Em vez disso, ele citou apenas minhas iniciais e deixou todos os detalhes de
fora. Eu lhe agradeci com um jantar e… com dois meses da minha vida,
aparentemente.
– Como foi o trabalho?
– Consegui a entrevista com o CEO daFerrer!
– Nossa! Parabéns! – Ele veio me dar mais um beijo, mas eu tinha intenção de
abraçá-lo. Foi um segundo longo e constrangedor. Segurei seu rosto e juntei nossos
lábios desajeitadamente. – Você trabalhouduro por isso.
– Muito! – Aceitou a taça de vinho que lhe ofereci. – Esses caras são inacessíveis!
– Vai ter que me explicar o problema todo de novo qualquer dia… Foi tão
complicado que não entendi.
– Esquema de lavagem de dinheiro. – Deu de ombros. – Não tenho provas
suficientes ainda, mas é estranho uma construtora do porte da Ferrer investir tanto
dinheiro em uma agência deturismo desconhecida.
Engoli em seco. Eu não gostava desse tipo de problema. Um jornalista
investigativo enfiando sua lanterna no meio de uma operação criminosa era
justamente o tipo de coisa da qual eu queria distância. Acabava sendo mais um motivo
para me afastar de Lance.
Minha questão é que o pobre Lance parecia ser a única coisa que cortava o efeito
Ryker ultimamente.
Ele não era meu gigolô encantado nem o homem dos meus sonhos. Mas quando eu
estava com ele, a saudade não era tão grande.
Acho que era melhor ter uma prótesedo que ter braço nenhum.
E era por isso que eu tinha comprado algumas garrafas de vinho e decidido que
hoje seria a noite.
Hoje seria a noite que eu transaria com um cara que não era Ryker.
Ele não seria tão bom quanto, eu provavelmente não gozaria e teria de mentir
depois.
Só era algo que precisava ser feito.
Algo que eu precisava superar.
Mas, antes, eu precisava ficarbêbada.
Lance perguntou como estava a minha busca por emprego; e como aquele era o
pior dos assuntos, puxei a boca dele para a minha e o beijei com fome.
Ou pelo menos “fome” era a intenção.
Seus lábios finos, porém, quase não se encaixavam nos meus e sempre escapavam
com facilidade.
Ele enfiava a língua na minha boca para tentar me segurar, mas era língua demais e
eu logo ficava incomodada.
A hiperconsciência me arrebatou quando ele passou a mão no meu seio e me veio a
vontade de lhe dar um tapa.
Era errado. Tudo errado.
O modo, a intensidade, o ritmo, ohomem.
Estávamos no sofá e tentei imaginar que ele era Ryker. Tentei com todas as minhas
forças, Mas a lembrança do toque perfeito do meu gigolô servia apenas para
contrastar com odesinteresse que eu sentia pela minha companhia atual.
Mantinha os olhos abertos enquanto Lance me beijava com paixão e tentava, pela
minha vida, ficar excitada em vez de nervosa. Mas parecia impossível parar de listar
mentalmente para quais empresas eu tinha mandado currículos e quais ainda não
tinham respondido.
Inferno.
Eu não era mais uma virgem.
A ansiedade diante do desconhecido não deveria mais existir, mas lá estava eu:
nervosa, ansiosa, desesperada. Ansiando que aquilo tudo acabasse.
Eu não estava excitada. Eu nãoconseguia ficar excitada.
Ótimo.
Ryker parecia ter descoberto qual parte do meu corpo estava quebrada e a
consertara. Mas, só de birra, deve ter mexido nos fios quando me deu adeus,
desligando alguma conexãoimportante.
Me deixou sem funcionar mais uma vez.
Por isso, foi um alívio quando a porta do apartamento se abriu, sem anúncio,
dando passagem a uma Elise em vias de despir-se envolvida por um cara que eu
suspeitava ser o Gerard.
– Mina! Ah…! – assustou-se. – Eu… eu achei que você ia sair.
– Não! – Sentei no sofá e ajeitei minha blusa, recolocando meu decote no lugar.
Um segundo constrangedor se prolongou.
– Boa noite. – Lance cumprimentou Gerard, tentando evitar aquele
constrangimento inevitável Eu senti vontade de rir.
Lance queria quebrar o gelo. Gerard parecia pálido e sem palavras. Elise não sabia
o que fazer.
Eu era a única que já tinha ficado nua em público, aparentemente, e me alegrou
perceber que minha recém- adquirida sem-vergonhice não tinha meabandonado.
Consegui ser a única pessoa do quarteto presente em nossa sala que não estava
absolutamente boquiaberta.
De certo modo, me senti orgulhosa.
Se Ryker estivesse ali, ficaria orgulhoso também. Apesar de que… eu suspeitava
com algum grau de convicção que se Ryker estivesse ali,ele pioraria a situação e aí eu
ficaria, de fato, envergonhada, assim como o restante do grupo.
Mas eu estava sozinha. E sozinha, eu conseguia me sentir à vontade com o tema o
suficiente para falar sobre ele, embora não para fazê-lo com meu namorado.
Se alguém parasse para me estudar, perceberia que eu não faço sentido. Até eu
canso a mim mesma, às vezes.
– Bem, acho que… Acho que é melhor a gente sair – sugeri para Lance.
Ele pareceu decepcionado e inspirou profundamente como se fosse argumentar que
nós estávamos ali primeiro. Então sorri, lembrei-o discretamente que era melhor
fazermos aquilo pela nossa primeira vez em uma situação mais confortável e me odiei
por me encontrar, de novo, organizandouma primeira vez.
Sinceramente… quantas dessas uma mulher pode ter?
Abri a geladeira para pegar o leite.O pote de morangos estava ali.
Eu nunca os comia. Não queriamorrer.
Mas eu os olhava todos os dias, quando abria minha geladeira para o que quer que
fosse. Zahner se enfiou aomeu lado e arrancou uma cerveja do refrigerador.
– Vai pagar por isso?
– Não seja mesquinho – chiou, sentando no sofá. – Vim até aqui te visitar e é
assim que você me recebe?
Ele era pouco mais velho do que eu, mas seu porte e suas palavras sempre o faziam
soar como um adulto cercado decrianças.
– Veio com más notícias. Deveria ter trazido cervejas para não ficar roubando as
minhas.
– Herbeck é um idiota. Não vai muitolonge.
– Queria ter a sua confiança, Gary.
Herbeck era o único ponto falho em nosso plano para proteger Mina, e a mera
lembrança dela me causava poderosos arrepios. Ele era o único inspetor francês que
sabia sua identidade e conhecia seu envolvimento com o assassinato no Grand
Classique, responsável por ter começado todaaquela confusão.
Eu te pedi para não falar com a polícia, Bault!
Mas eu não podia culpá-la. Não nos conhecíamos bem naquela primeira noite. Ela
não tinha motivos para confiar em mim e, em sua inocência, ir à polícia realmente
parecia a coisa mais sensata a fazer.
– Ele não sabe nada que possa te prejudicar. Mina não deu detalhes sobre você
quando foi à polícia, não é? Não vão te encontrar.
– Mas ele falou com Mina e nosso acordo…
– Eu sei, eu sei! Sua namorada está a salvo. – Girou a garrafa, vertendo o líquido
garganta abaixo.
– Como pode ter certeza?
Zahner me olhou de soslaio. Ele estava escondendo algo. – O que foi? Como sabe
que Mina está bem, Zahner?
– Mantenho uma equipe com ela. Nada demais! – acrescentou com pressa. – Só
um ou dois homens,observando à distância.
Era o tipo de informação que deveria me acalmar, mas, em vez disso, me lançou
ao mais absoluto frenesi de pânico.
– Você disse que a história era coesa, que preparou todos os documentos! Por que
precisa mantê-la sob observação se me certificou que ela estava a salvo? – Eu estava
de pé e pronto para lhe dar um murro.
– Jesus! Acalme-se, homem. – Torceuo nariz. – Eu só preferi ter certeza.
– Preferiu mantê-la por perto caso precise dela – rosnei. – Isso não faz parte do
acordo, Zahner!
– Ah! Você está tão desagradável... O que há com você? Falta de sexo? – brincou, e
eu engoli em seco. – Não vou fazer nada para quebrar o acordo. As informações que
você nos forneceu sobre Simak foram excepcionais. Estou transformando a vidinha
medíocre e arrogante dele em seu próprio inferno particular.
– Eu vi as notícias no jornal – confirmei. – Mas fale sobre Herbeck, Gary! Ele
falou com Mina, ele pode saber que…
– Ele não vai prejudicá-la, Ryker. Ele sabe o risco que corre comigo e com a
Interpol se fizer isso. E ele não sabe onde ela está. Deve imaginar que está no
programa de proteção à testemunha também. Nada mais fariasentido. Ela está a salvo.
E, caso não esteja, tenho homens cuidando dela.
Não se preocupe. Tome aqui! – Ofereceu-me sua cerveja pela metade e foi buscar
outra.
– Obrigado. – Sorri, sarcástico.
– Por que você tem morangos na geladeira? – resmungou. – Está planejando se
suicidar?
– Não é da sua conta.
– Você é a testemunha-chave de dois dos meus principais casos. É da minha conta,
sim.
– Até hoje não sei como descobriu sobre minha alergia.
– Sei até qual é sua cor preferida, garoto, é o meu trabalho. Mas nunca entendi qual
é a dos morangos. – Sentou-se mais uma vez. – Você sempre os compra e guarda na
geladeira até estragarem. E aí joga fora e compramais.
– Muito observador.
– Por que faz isso?
– Já disse. Não é da sua conta. Querque eu repita?
– Não, senhor Mau Humor. Obrigado.
– O que veio fazer aqui, Gary? Além de trazer más notícias e roubar minhas
cervejas?
– Herbeck pode ser insignificante, como também pode não ser. Mas o fato é que
ele desapareceu, é uma peça que mudou de lugar. E eu não queroarriscar.
– Não quer arriscar o quê?
– Você.Vamos mudar você de lugar.
Vou mudar toda a equipe encarregada também. Nova identidade, novo endereço,
novo tudo.
– Eba – exclamei sem qualquerempolgação.
– Que bom que está tão feliz, porque vamos fazer a mudança amanhãmesmo.
– Tudo bem, mas...
O telefone de casa tocou e eu melevantei para atender, gesticulando para Gary que
eu voltaria em breve. Meu chefe, Colin, era a única pessoa que tinha aquele número e,
se ele estava ligando, seria legal eu me despedir com educação antes dedesaparecer na
manhã seguinte.
Puxei o gancho do aparelho branco colado na parede da cozinha.
– Alô?
– Olá, filho. Quanto tempo.
Uma sensação ruim se espalhou pelo meu corpo.
– Sei que está muito ocupado contando segredos de família para a polícia, mas
espero que possa arranjar um tempo para seu velho pai.
Eu sentia a amargura em sua voz.
Sua carreira estava em pedaços, sua vida estava destruída e ele deveria estar tendo
reuniões ininterruptas com advogados para tentar se livrar da cadeia.
Ele me odiava e sua voz deixava isso perceptível.
Bem perceptível.
– Fique em silêncio e só me escute, ouviu?
– Não preciso te obedecer, seu puto. Ele tinha me achado… Tudo bem.
Parabéns para ele. Mas a Interpol já estava ali com tudo organizado parame remover.
Parabéns, papai. Parabénspor nada. Ele chegou quando eu estava de saída e agora, por
mim, ele podia se foder.
– Se você disser mais uma palavra, sua namoradinha morre.
Meu lábio inferior tremeu num ato involuntário e tive certeza de que tinha ouvido
algo errado.
– Achei que só estava fazendo isso para se vingar de mim, mas, quando descobri
sua namorada francesa, não foi difícil imaginar outros motivos por trás do seu
acordo com a polícia. Muito romântico de sua parte.
– Não sei do que…
– Ah, sabe, sim. Sua namorada francesa, aquela que estava com você quando
Kulik cometeu o assassinato. Ela também viu tudo. Ela procurou a polícia, sabia?
Herbeck. O filho da puta doHerbeck.
– O que você quer, Edgar?
– Quero que você pare de falar com a polícia. Quero que você desapareça. Quero
parar de me arrepender por não ter te afogado quando você era um pirralho.
– Não, obrigado. Acho que prefiro continuar te incomodando.
– Não acho que vai fazer isso.
– Eu não ligo pra garota – blefei. – Se essa é sua única carta, então você não tem
nada.
– Isso é o que nós vamos ver… Acabei de descobrir isso e posso não saber onde ela
está ainda, Ryker. Mas ainda tenho alguns bons amigos e sei que ela não está no
programa com você. E se ela está solta em algum lugar do mundo, eu vou encontrá-
la. E aí a gente vai descobrir o quanto ela significa para você. – Eu podia senti-lo
trincando os dentes de fúria do outro lado da linha. – A gente vai descobrir bem
depressa.
O sinal interrompido da linha do telefone informou que ele tinha desligado.
Era mais que apenas uma ameaça.
Era uma promessa.
– Strome? – Zahner chamou, da sala.
– Algum problema?
– Não – respondi, esfregando meuqueixo.
Se eu contasse para o Gary o que tinha acabado de acontecer, ele ia me enfiar em
um bunker no núcleo da Terra e eu nunca mais ouviria notícias de Mina. Zahner
poderia dizer que ela estava bem e segura, mas será que eu acreditaria?
Os homens que ele tinha por perto de Mina… será que eles seriam incorrompíveis?
Ou venderiam minha menina para a melhor oferta?
Será que algum dia eu conseguiria ter paz sem ter a certeza de que ela estava a
salvo da merda que eu tinha colocado ao nosso redor?
Se Edgar queria Mina, só havia um jeito de protegê-la.
Apenas um jeito de ter certeza que ela estava bem.
Um único modo de garantir sua segurança.
Eu precisava me livrar do Zahner.Eu precisava voltar a Paris.
Dois

Técnicas para reencontrar sua ex

– E então? Como foi ontem à noite?


Amarrei o cordão do robe e sentei-meao lado de Elise na mesa.
– Normal. – Peguei uma maçã sementender o motivo de seu interesse.
– Mina. – Ela largou os punhos insatisfeitos sobre a mesa. – Me conta! Foi sua
primeira noite com um homem desde… – ela hesitou. Ela sempre hesitava ao abordar
aquele tópico – … desde o gigolô.
– Humm... – Percebi que eu não ia gostar dessa conversa. – Não fizemos nada. Só
fomos a um restaurante.
Me concentrei na minha maçã, mas Elise não ia deixar aquela conversa acabar.
– Um restaurante? Você estava se agarrando com ele no sofá e saiu para ir a um
restaurante?
– É. Qual o problema?
– Mina Bault! – rugiu. – Você faz eu me sentir horrível por ter interrompido!
– Elise, você está exagerando. – Mordi a fruta com descaso.
– Um quarto de hotel! A casa dele! O banheiro de alguma boate! Qualquer lugar,
Mina! – chiou.
– Não quero transar pela primeira vezem qualquer lugar!
– Primeira vez? – Arregalou os olhos.
– Primeira vez com o Lance – acrescentei.
Elise tomou seu café e me permitiu um pouco de silêncio.
Eu já estava começando a ficar confortável quando ela estalou mais umavez: – Você
tem certeza que não é mais virgem?
– Ai, Elise… – gemi, exausta.
– Porque olha… se você for, amiga, é claro que não tem problema! – Não sou mais
virgem, eu juro! – Abri os olhos, forçadamente, para dar ênfase às minhaspalavras.
– Essa coisa toda sua com o gigolô foi tão estranha... – murmurou.
– Devon. O nome dele é Devon.
– Às vezes – ela me ignorou e continuou tagarelando: – eu me pego pensando se é
verdade mesmo. Serealmente aconteceu ou se…
– Ou se o quê?
– Sei lá… Talvez… talvez tenha acontecido alguma coisa que você não queira me
contar.
– Tipo… – Revirei os olhos – Eu e o gigolô presenciamos um assassinato de um
chefão do crime e aí fugimos para salvar nossas vidas como em um filme de ação
clichê. Nos apaixonamos e ele teve que ir embora para salvar minha vida, inventando
uma história furada sobre um iate e um ataque de pânico para que eu pudesse ficar em
casa a salvo?
– Tá – reclamou,em meio a risadas.– Também não precisa exagerar.
Deixei meus ombros caírem.
– Mas talvez você tenha tido uma crise de pânico porque não conseguiu perder a
virgindade e tenha fugido para tentar. Olha, eu estava lendo um artigo sobre pessoas
assexuadas e…
– Eu tenho que sair. – Levantei da mesa, revirando os olhos mais uma vez.
– É sério! – avisou. – É uma coisa que acontece.
– Você é louca – respondi com um carinho exagerado. – Mas eu te amo mesmo
assim.
– Mina, me escuta.
– Olha! – Peguei meu celular de cima da mesa. – Presta atenção – avisei antes de
comandar ao aparelho que ligassepara Lance. – Lance? – chamei, dengosa.
- Estou te atrapalhando? – Como eraque Ryker falava? – É algo sério, sim. Não
aguento mais,Lance.
A gente sempre fica adiando… – gemi. – Mas eu estou com fome. Acho que você tem
que vir jantar aqui em casa hoje. Eu te preparo uma refeição deliciosa. E algo especial
para você comer de sobremesa.
– Elise tinha os olhos arregalados e o queixo caiu no chão, dando vazão a um
sorriso imenso.
Moveu as mãos em umas palmasmudas e eu pisquei um olho para ela.
Lance não tinha palavras suficientespara concordar com meus planos.
E era isso.
Lá ia Mina mais uma vez.

Por favor, não tenha se mudado!


Elise era minha única chance de encontrar Mina e eu não teria muito tempo.
Certamente, Zahner estava furioso e à minha procura e, a não ser que eu corresse,
ele me pegaria antes que eu
chegasse até ela.
O problema é que a casa de Mina tinha explodido e o único contato que eu ainda
poderia ter com ela se chamava Elise Rion, sua melhor amiga.
Meu plano era seguir Elise até encontrar Mina. Não era um plano infalível, mas
meus planos sempre eram uma merda mesmo. Eu tinha aprendido a me adaptar. Já
começava a escurecer quando eu me encontrei na esquina do prédio de Elise. Parado
contra uma parede, analisando os arredores.
Os dois homens que Zahner tinha colocado para vigiar Mina não poderiam ser
mais óbvios: dois caras de atitude suspeita e camisa de manga comprida, um deles
estava sentado no carro estacionado com a porta aberta, o outro estava de pé,
terminando de tomarum café.
Esperei alguns segundos para me certificar e, quando ele acabou de tomar seu café e
voltou a entrar no carro, apenas para continuarem parados ali, eutive certeza.
Certo, Ryk, boas e más notícias.
A má era que eu não podia deixar elesme verem ou Zahner saberia exatamenteonde
eu estava e ia chegar em cinco minutos como um cão raivoso.
A boa era que, se os homens que Garycolocou para ficarem perto de Mina estavam
ali, isso só podia significar umacoisa.
Se eu fizesse a coisa do jeito certo, ou seja, se não chamasse a atenção dos dois
bulldogs da polícia francesa, e Mina estivesse em casa, em vinte minutos ela estaria
nos meus braços. Engoli em seco e não permiti que o pensamento ficasse confortável
demais em meu cérebro ou eu não conseguiria encontrar um modo de chegar até o
apartamento… e aquela era a primeira parte.
A senhora que saiu do prédio de Elise parecia ter uns setenta anos. Ela mexia na
bolsa e na lista de papel que carregava nas mãos. Ignorou a parada de ônibus e virou a
esquina na direção oposta à entrada de metrô mais próxima.
Tinha achado minha entrada.
Ia demorar um pouco mais de tempo do que eu tinha previsto… mas o
resultado seria ideal.
Peguei um pacote de morangos apenas para apreciar minha própria piada e me
certifiquei de que ficaria na fila bematrás dela.
– Para lavar as janelas? – Aproximei- me com polidez, indicando um dos potes em
suas compras.
– Oh, ah, sim! – Ela sorriu, ajeitando os óculos. – Uns pombos danados fizeram seu
ninho bem em cima da minhajanela – reclamou.
– Ah, é horrível quando isso acontece
– concordei, sério. – Tem um produto que eu uso que acho bem melhor do que
esse.
– É mesmo? – Virou-se, interessada.
– Sim, com certeza.
– Qual é?
– Eu posso pegar, se a senhora quiser.Pode segurar para mim por um instante?
– Entreguei-lhe meus morangos, que elasegurou com gratidão e corri para trocaro pote
dela por outro qualquer. – Esse aqui. – Voltei à fila. – Sempre uso esse!
– menti. – É excelente.
– Oh, muito obrigada, rapaz.
– Imagina. – Sorri, educado.
– E você vai pegar essa fila apenaspara comprar morangos?
– Minha namorada adora! – avisei. –Não posso deixá-la ficar sem.
– Que garota de sorte.
– A Elise me enlouquece. – Dei de ombros. – Principalmente sem os seus
morangos. E a Mina, a garota que divide apartamento com ela, gosta muito deles
também – arrisquei.
– Oh! Elise e Mina? Elise Rion é sua namorada?
– É, sim, senhora – fingi surpresa. – Asenhora a conhece?
– Sim, ela é minha vizinha! Oh, que mundo minúsculo!
– Minúsculo mesmo – repeti com umsorriso.
Ajudei-a a embalar as compras.
– Está indo para lá agora? – perguntei. – Posso ajudá-la a carregar. – ofereci, para
me mostrar prestativo.
– Ah, que bom garoto você é.
Agradeço! Estou indo para lá, sim, obrigada!
Peguei as sacolas e lhe ofereci o braço enquanto andávamos pela rua, percorrendo
o caminho de volta até o prédio de Elise, passando despercebido, portanto, pelos
seguranças que me viram apenas como um neto ajudando a avó. Ela abriu a porta do
prédio e nós entramos.
Sucesso.
Acho que, no fim, meus planos nemsão assim tão maus.

~~

Toquei a campainha pela terceira veze ninguém atendeu. Elas não deveriam estar
em casa.
Isso não era bom.
Eu não podia ficar parado no meio docorredor.
Talvez minha nova amiga do supermercado me oferecesse abrigo até alguém
chegar. Sacudi meus cabelos, irritado. Era minha melhor opção. Dei um soco de
frustração na porta e já ia me virar de costas quando ouvi o rangido da madeira
cedendo.
Senti a testa enrugando ao perceber que a fechadura estava frouxa, o que não
permitia que a porta ficasse trancada.
Isso era péssimo para Mina e Elise. O que diabos aquelas duas estavam pensando?
Morando sozinhas em uma casa com uma porta que não tranca? No entanto, era
ótimo para mim.
Me enfiei no apartamento depois de verificar rapidamente os arredores e ter certeza
de que ninguém me observava.
O lugar era… estranho. Não era exatamente aconchegante como euimaginava que o
apartamento de Mina seria. Era tudo muito anguloso e aleatório. Abri a porta que
supus ser um dos quartos e o caos de roupas em cima da cama, sapatos espalhados
pelo chão e maquiagens em cima do móvel gritou em alto e bom som que minha Mina
controladora nunca poderia habitar um ambiente tão entrópico.
Testei a outra porta, me sentindo um pouco como Cachinhos Dourados na casa dos
ursos e vi algo que me pareceu bem mais familiar.
O lugar tinha um cheiro gostoso de velas aromáticas e estava arrumado com
metódica perfeição. As almofadas coloridas sobre a cama e a grande poltrona fofa
conferiam um ar envolvente ao quarto. Uma ideia de lar.
Todavia, foi a parede repleta de pôsteres daqueles filmes de drama que ela adorava
que me deram plena segurança de que minha garota morava ali.
Lavei o rosto e as mãos em seu banheiro e considerei esta ação um banho. Fora
uma longa viagem e um homem sempre deve tomar banho quando sexo oral é uma
possibilidade. Não é uma questão de safadeza. É uma questão de respeito. Não há
nada pior do que a ideia de uma garota quererfazer sexo oral em você e seu pênis estar
com cheiro de queijo.
Abri a porta do móvel embaixo da piana busca por uma toalha e…
Um vibrador.
Singelo, lilás, discreto, comprido. E um rabbit, ainda por cima!
Minha boca se abriu com um sorriso de surpresa.
Mina Bault, sua danadinha.
Tirei o vibrador de seu esconderijo e o coloquei em cima da cama. Era o tipo de
coisa que para a qual se precisariater acesso fácil.
Optei por tomar um banho completo e nem me incomodei em colocar a roupa de
volta. Eu queria ver Mina com vergonha. Ela ficava um espetáculo de tão linda
quando ficava com vergonha e já estava em crise de abstinência depois de tanto tempo
sem vê-la corar, dar seus socos desajeitados no meu braço e me chamar de
“impossível”. Eu precisava muito daquilo.
Deitei na cama e senti seu perfume nos travesseiros.
Quando dei por mim, estava com o nariz enfiado em um deles, apertando-o contra
o rosto, em uma típica atitude babaca que, até então, eu pensava que só existia
naquelas comédias românticas que fazem as mulheres mais inocentes chorarem pelos
olhos e pela vagina.
Se meu cunhado me visse agora, ia se sentir decepcionado.
Se minha irmã pudesse me ver agora,ia rir e dizer um “eu avisei”. Era o jeito dela…
Enquanto Sven sabia que eu era um predador, Lexa insistia em afirmar que eu era um
cara romântico que fingiaser algo que não era.
Mas, sozinho ali, envolvido por mais Mina do que eu jamais pensara em ter nos
últimos meses, eu me permiti aquelepequeno prazer proibido.
Meu pau começou a acordar e senti vontade de acariciar-lhe e dizer “isso, garoto, se
acalme, sua hora chegou”. Mas algo no criado-mudo chamou minha atenção e ligou
um botão no meu corpo me inundando em incômodo.
Estiquei o braço e peguei o porta- retrato que descansava embaixo doabajur.
Era uma foto de Mina… Minha Mina em um iate vestindo nada além de um
biquíni.
Com os braços gananciosos de Devonao seu redor.
Lance era legal.
Ele era até divertido.
Gentil, adequado, prestativo.
A cor de seus olhos era bonita e seu sorriso era quase charmoso.
Entramos em casa entre meios sorrisos e meias conversas, ele me ajudou a carregar
as compras e despejamos tudo ruidosamente em cimado balcão.
Lance acariciou meu braço e apertou minha mão. Eu tinha desenvolvido um
carinho por ele que era quase atrativo. Beijou minha bochecha e arregaçou as mangas
fazendo alguma piada boba sobre culinária.
Ele era bom para mim.
Nunca seria Ryker, mas seria bom.
E, simples assim, com um olhar em meio perdido entre as compras da cozinha,
resolvi que ia tentar fazer aquilo funcionar.
Tentar de verdade.
– Vai separando as coisas? – pedi.
– Vou. Para onde você vai?
– Vou só me refrescar e colocar algo mais confortável. – Sacudi os ombros,
indicando a roupa que eu tinha usado naminha primeira entrevista de emprego de
sucesso em meses – E aí eu volto pra gente comemorar.
Estalou um beijo no canto da minha boca e me permiti ficar feliz.
As engrenagens da minha vida estavam voltando ao seu devido lugar.
Pelo menos até eu abrir a porta domeu quarto, e o que me esperava ládentro
explodir a máquina da vida, arremessando as engrenagens, emcompleta desordem,
para todos os lados.Eu podia estar só alucinando pela falta de sexo. Ou Ryker
poderia estar no meio do meu quarto só de cueca?
Eu não sabia qual das duas versões eu preferia.
Se estivesse apenas alucinando, eupoderia ter minha vida de volta.
Se não estivesse, eu poderia terRyker.
Mentira… eu sabia muito bem qualera a minha preferência.
Abri a boca com um grito mudo.
– Eu posso explicar! – Ele correu para perto de mim. – Não grita, Mina, pelo amor
de Deus! – Juntou as mãos e entrelaçou os dedos.
– Ryker? – Eu queria abraçá-lo, mas o choque e a descrença eram tão grandes que a
primeira coisa que saiu da minha boca foi: – Por que diabos está só de cueca?
Ele se afastou apenas um passo e riu com vontade.
– É a primeira coisa que você nota, não é, safada?
Eu lembrava do seu cheiro. Lembravados seus olhos. Lembrava do seu sorriso.
Foi mais forte do que eu. Dei um passo adiante, vencendo a distância e passando
meu braço pelos seus ombros. Ele apertou minha cintura no mesmo instante e me
envolveu.
Eu não conseguia respirar.Eu não conseguia pensar.
O fato de que eu não podia contar para ninguém o que tinha acontecido me fez
sufocar os sentimentos que eu tinha por ele em algum lugar onde pudessem parar de
doer em silêncio.
Mas vê-lo ali, tão próximo… A saudade que eu sentia dele começou a me destruir e
eu soube que não importava mais: mesmo que ele fosse embora naquele segundo, meu
relacionamento com Lance não teria mais chances.
Eu nunca sentiria por homem nenhumo que eu sentia por ele.
Mas Lance ainda era um bom homem… eu não queria magoá-lo. Não poderia.
E além do mais… eu não tinha como saber se Ryker ficaria. Eu não tinha a menor
ideia do que estava acontecendo.
– O que está fazendo aqui? – Me afastei, segurando seus braços. – Não é perigoso?
O Zahner sabe que veio para Paris? E por que está só de cueca?
– Você não consegue ignorar a cueca,não é?
E como se minha situação não fosse ruim o suficiente, Ryker fez o que ele fazia
melhor: piorou tudo.
Me puxou, engolindo minha boca, meenchendo daquela saliva perfeita que eu tinha
aprendido a venerar. Seu corpo se aqueceu sob a palma das minhas mãos e eu soube
que meu sangue deveria ter descido inteiro, se concentrando na minha vagina e se
preparando rápidodemais.
Por dois meses Lance me tocou, e pordois meses meu corpo se recusou a colaborar.
Ryker me tinha por dois segundos. E o que eu poderia dizer? Será que havia alguma
parte de mim que ainda duvidavaque eu era dele?
Enfiou a língua na minha boca e perdi o chão. Seus braços me seguravam pela
cintura e eram o único apoio que eu tinha contra a gravidade. Segurei sua nuca com
desespero. Eu preferia morrer a vê-lo se afastar. Chupou minha boca, mordiscou meus
lábios, me tomou pela boca com violência até a tensão começar a se acalmar. O tesão
era imenso; a saudade, porém, era maior. E saudade pedia beijos, abraços, olhares e
palavras antes de nudez e cama.
Ryker segurou meu pescoço em suas mãos, passeando os polegares pelo meu
queixo, acariciando minha bochecha com as costas dos dedos e voltando e me
segurar.
– Eu estava precisando disso – suspirou ainda de olhos fechados. – Pronto. –
Abriu os olhos. – Pode voltara ficar estressada e fazer suas perguntas agora.
– O que está fazendo aqui? – murmurei.
– Acho que você está em perigo.
– É o quê? – exaltei-me.
– Não tenho certeza! – Abanou as mãos. – Mas vim porque… – Olhou para os
lados, à procura de uma resposta. – Vim porque queria ter certeza.
– Por que acha que estou em perigo? E não é mais perigoso para você? Onde está o
incompetente do Zahner? Ele sabe que você está aqui? Ele deixou você vir? Ou veio
com você?
– Mina, Mina, Mina! – pediu. – Calma. Faz quatro meses que a gente nãose vê. Me
dá alguns minutos para pegar o seu ritmo na velocidade nível desespero, tá? Zahner
não sabe onde estou, vim sozinho porque ele não ia medeixar vir.
– Por um bom motivo! Você precisa ligar pra ele! – Enfiei as mãos nos cabelos.
– Ele não pode vir aqui! Podecomprometer seu disfarce!
– E você não compromete?
– Eu sou sagaz. – Sorriu.
– Tenho certeza de que é – rosnei, sem paciência.
– Ninguém mais sabe que estou aqui.
– Mina? – uma voz lá fora me chamou. – Tem alguém aí com você?
– Merda! – sussurrei, empurrando Ryker pelo ombro.
Eu não queria magoar Lance e… eu nem pensei. Seja lá qual fosse o cenário, um
homem só de cueca no meu quarto era uma péssima cena.
Ele seguiu minha deixa, embora a contragosto, e se jogou no chão, ao ladoda cama,
longe da visão de Lance, que abriu a porta do meu quarto, curioso.
– Ahm… Está tudo bem?
– Está! – falei, sem fôlego.
– Ouvi você falando com alguém.
– Comigo mesma. – Minha boca estava funcionando sozinha. – Eu gosto de
falar comigo mesmo para me animar. Vai lá Mina – fingi. – Vai fazer um jantar
delicioso. Vai sim, eu confio em você. – Ai, Mina, cala a boca, por favor.
– Essas coisas. – Sorri.
Eu queria chorar.
Lance levantou os olhosinspecionando meu quarto.
– Quer ajuda com alguma coisa?
– Não, não. – Fiquei à sua frente para impedir que entrasse. Mais um passo e ele
veria Ryker no chão em toda a sua majestosa nudez. – Tudo certo.
Livre-se dele, Mina. Livre-se dele rápido.
Diga algo que o deixe constrangido.
Mas o que diabos deixa uma pessoa constrangida em poucos segundos?
Eu queria que Ryker me desse uma dica.
– Ahm… O que é aquilo? – Sorriu, eeu vi suas bochechas ficarem vermelhas.
Virei de lado e me deparei com o meuvibrador novo em cima da cama.
É… ele não precisava se preocupar com a máfia russa. Quem ia matar o Strome era
eu.
– Um vibrador. – Minha boca continuou, mesmo sem minha permissão.
– Vou me masturbar, era isso que eu ia fazer. Gosto de me masturbar antes dos
encontros. – Eu estava empurrando Lance para fora do meu quarto, plenamente
consciente que ficara mais envergonhada do que ele.
– Ah, Mina… – Segurou meu braço com intensidade. – Eu posso… ficar?
– Eu deixaria. – Minha voz era um ganido de desespero. – Deixaria de verdade.
Mas estou menstruada – menti.
– É muito desagradável. Preciso cobrir tudo com um plástico. – Continuei
empurrando-o para fora do quarto. – Parece um tsunami vermelho. Olha, me espera lá
na cozinha, tá? – Consegui colocá-lo além do limite da porta e me fechei dentro do
quarto sem esperar umaresposta.
Fiquei encarando a maçaneta e pensando em como era humanamente possível
alguém se meter nas coisas em que eu me metia. Ouvi a risada incontrolável e abafada
de Ryker contra o chão.
– Calado – resmunguei, sem me virar.
– Nem uma palavra.
– Vou ficar em silêncio. – Começou a se levantar. Estava vermelho, provavelmente
de tanto segurar o riso. –Mas só porque estou com medo do tsunami. – Tapou a boca e
não conseguiuparar de rir.
– Eu te odeio. – Balancei a cabeça.
– Mentirosa. Venha aqui. – Puxou-me de novo. Beijou-me de novo. Eu já estava
começando a esquecer dos problemas quando ele parou e… – Ele queria ficar –
hesitou, procurando meus olhos. – Você disse que ia se masturbar e ele pediu pra ficar.
Oh, Bault! – Distanciou-se de mim. – Quem é o palhaço?
- Quer me dizer que você não ficoucom mulher nenhuma nos últimos meses?
Ele mordeu o lábio inferior, me encarando com raiva.
– Quero que se livre dele.
– É um jornalista, é uma boa pessoa e…
– Não me importa. Livre-se dele.
– Ryker, eu não sei exatamente o que aconteceu ou como você voltou. Mas lembro
que nós estávamos em uma situação bem ruim antes.
Espremeu os lábios daquele jeito infantil que fazia quando contrariado.
Achei que ele ia continuar a reclamação, mas em vez disso, só segurou meu rosto
entre as mãos e raspou o nariz no meu.
Foi tão brusca aquela mudança... Da discussão infantil para o carinhoabsoluto.
Mas eu entendia.
Ele não queria brigar. Só queria me beijar, e foi isso o que fez. Eu agradeci, já que
estava na mesma situação.
O momento foi lento e íntimo.
Seus dedos nos meus cabelos guiavam meu rosto e posicionavam minha boca,
mantendo nossos corpos juntos. Arranhei seu abdome antes de chegar ao tórax e aos
ombros. A saudade que eu sentia daquele corpo conseguia ser ainda maior que o
tesão. Ryker escorregou a mão pela minha bunda e precisei incluir um quase em
minha afirmação. A saudade quase conseguia ser maior que o tesão.
Deveria ter sido só um beijo. No entanto, quando era Ryker quem estava ali, me
tocando e tomando-me para si, a química se transformava em algo a mais. Era uma
sensação que se espalhava pelo meu corpo inteiro, causando espasmos e arrepios. Uma
intensidade que parecia atravessar o caminho oposto à concentração do orgasmo que
liquefaziameu corpo e me derretia por completo.
Um beijo. Interminável.Maravilhoso.
Como Lance poderia algum dia secomparar?
Lance.
– Ryk… não… – gemi. Ele demorou a me soltar, mas finalmente cedeu.
Não completamente… Seus lábios raspavam nos meus, dentadas superficiais na
minha pele, lambidas deliciosas… Mas eu podia falar.
– Ryker, pare… – gemi, sem ar.
– Não – devolveu, dengoso. – Por favor, não peça isso. – Sua boca estava no meu
pescoço e minha razão começoua falhar.
– Ryker, não… O Lance… ele é um cara legal. Não posso fazer isso com ele. Não
posso agir assim.
– Eu não ligo nem um pouquinho pro Lance – sussurrou, rouco. Eu conhecia bem
aquela rouquidão e um tremor de reconhecimento desceu pela minha espinha. – Só
ligo para aquele vibrador em cima da cama. Aquilo é novo, Mina?
– Sorriu e eu o mordi. Seu sorriso tinha um sabor único.
– A gente tem que parar – avisei, sem conseguir parar de morder linha do seu
queixo. Senti a barba por fazer raspando na minha pele cada uma de minhas
terminações nervosas ficou excitada.
– Humm… Estou percebendo. – Riu, sarcástico, transbordando safadeza. – Você
não respondeu à minha pergunta. Quero saber se teve a coragem de roubar de mim a
chance de te ver usandoum vibrador pela primeira vez.
– Estou falando sério, Ryker. –Beijos, tantos beijos.
– Eu também. – Estava ficando embriagada de tesão. Eu precisava
trazer nós dois de volta pra realidade.
– Eu tenho um namorado. – Empurreiseus ombros com o poder de decisão que me
restava.
– Tem sim – sussurrou. – E agora que voltou, ele está com ciúmes. Então, é melhor
você se livrar do jornalista e voltar para que ele te ensine como usar um vibrador.

Três

Motivos para comprar um vibrador

Lance estava sentado na cadeira em frente ao meu computador, suas bochechas


estavam avermelhadas de um modo peculiar e eu me peguei imaginando qual seria o
pensamento quepercorria sua mente naquele momento.
Você apontou para um vibrador e disse que ia se masturbar, Mina. Ele deve estar
com sexo em mente. Ele deveestar com sexo no corpo todo.
Eu tinha conseguido nos levar de um clima leve, íntimo e divertido de umjantar que
seria seguido por sexo, para um clima tenso e pesado que ia terminar de um jeito que
Lance não teria como antecipar.
Porém, seria hipocrisia colocar qualquer homem na frente de Ryker na minha lista
de prioridades. Seria hipocrisia com meu coração, que tinha se aquecido até derreter
no meu peito, dando voltas aluadas de alegria. E seria hipocrisia com minha vagina,
que não parava de se contrair desde que ouvira a palavra “vibrador”.
– Você acabou? – Lance se levantou. Ele queria puxar um assunto para recuperar a
intimidade de antes, mas os dois segundos que eu passei me perguntando como
responder àquilo devem ter refrescado sua memória de que eu estava, supostamente,
me masturbando e que a pergunta era estranha se proferida por qualquer homem na
minha vida que não fosse o gigolô à minha espera, no interior do quarto. – Ah! Não
quis… Não quis ser… Ah, droga! – Seu sorriso tinha um aspecto cansado, como se
me implorasse para ignorá-lo.
Gesticulei para dissipar sua preocupação. Quando Ryker estava no mesmo
quilômetro quadrado que eu, ninguém mais conseguia me deixar com vergonha. Ele
era o único que tinha essepoder.
– Achei que você ia colocar algo mais confortável.
– Hã? – Olhei para baixo, seguindo sua indicação com o olhar e lembrei que esse
fora meu motivo inicial para ter meretirado para o quarto. – Ah, eu… ahm…
Talvez eu devesse ter decidido o que dizer antes de sair do quarto.
– Se quiser voltar lá e trocar de roupa, eu espero. – Ele expôs um sorriso agradável,
como se acreditasse, do fundo da sua alma, que era ele o responsável pela desordem
em meu pensamento.
Inspirei fundo e o observei por apenas um segundo antes de perceber que eu não
precisava ensaiar qualquer discurso. Eu já vinha pensando naquilo há muito tempo.
– Estamos indo rápido demais – informei.
Ele manteve a boca aberta como se o que eu acabara de dizer não fizesse qualquer
sentido. Eu estava acostumada a ver os homens terem essa reação perto de mim.
Principalmente quando o assunto “sexo” surgia.
– Não fui completamente sincera comvocê, Lance.
Ele se sentou mais uma vez, preparando-se para minhas próximas palavras.
– Há uma pessoa… Um homem do meu passado e eu… acho que nunca consegui
superá-lo – admiti, dando de ombros. – Não acho justo dar o próximo passo com você.
Não quero te magoar. – Arrisquei me aproximar. – Você é uma ótima pessoa e…
merece mais do que posso oferecer! Eu quis tentar mas…
– Mina. – Levantou a mão quando engoliu em seco. – Tudo bem. Eu entendo. –
Ele abriu um sorriso que expressava muitas coisas, embora nenhuma delas fosse “eu
entendo”. – Acho melhor eu ir, então? A não ser que você queira fazer sexo por
vingança – brincou. – Se ele te traiu, posso ajudar com isso.
Me inclinei e apliquei um beijo em sua bochecha.
– Você é uma boa pessoa, Lance.
– É o cara no seu quarto, não é?
– O quê? – Arregalei os olhos. Se fosse possível uma pessoa se petrificar em um
instante, naquele minuto eu era uma séria candidata a estar sofrendo desse processo.
– O cara na foto, no seu quarto? Comvocê, no iate?
Eu respirei como se tivesse acabado de nascer e Lance enrugou a testa.
– É. – Dobrei o lábio quando menti. – Ele mesmo. Está sendo muito difícil superá-
lo. – Balancei a cabeça.
– Posso perguntar o motivo de vocês terem acabado?
Ergui os olhos rumo ao vazio, procurando uma justificativa que não fosse mentira.
Não queria precisar deuma.
– Ele foi embora. Para me proteger.Lance riu.
– Tudo bem. – Sua risada foi alta e descrente. – Então, acho que vou embora, tá? –
Apontou para a porta.
– Sinto muito.
Ele se virou como se fosse me dizer mais alguma coisa. Talvez me pedir para ligar,
ou insistir, ou me mandar à merda. Mas, após alguns segundos, apenas fechou a boca,
gesticulou um cumprimento e se foi.
Seja lá o que ele ia dizer, no fim,preferiu guardar para si.
Expirei o cansaço dos meus pulmõese voltei para o quarto, me sentindo um pouco
pior. Eu sabia que havia uma grande chance de o nosso envolvimento terminar assim,
mas nem por isso queriavê-lo triste.
O que esperava por mim no meu quarto, no entanto, era um Ryker de cueca
segurando um vibrador. Tinha aquele sorriso no rosto que me fazia tremer e imaginar
o que ele não faria comigo.
– Se livrou do jornalista?
– Ryk, não seja assim. Ele é uma boapessoa. Eu não queria magoá-lo e acho que foi
inevitável. – Ergui um ombro.
– “Não queria magoá-lo?” – Fez uma careta irritada. – Mina, ele é um homem
adulto, não um filhote de sharpei. Vai ficar bem. E por quanto tempo você ficou com
ele, no fim das contas? Dois meses? Três?
– Dois.
– Quase nada – reclamou.
– Foi mais tempo do que fiquei com você.
Ele abriu a boca exageradamente, simulando estar ofendido.
– Bault, se você comparar meu impacto com o dele, vai apanhar – chiou. Revirei
os olhos e imediatamentesua careta irritada se desfez em gozação.
– Na verdade, acho que isso seria até legal. – Puxou-me pela cintura com força,
prendendo meu corpo ao dele. – Não experimentamos isso ainda – sussurrou,
desenhando a curva do meu pescoço com os lábios. – Vai. Me compara com ele.
Sua boca chegou ao meu queixo e logo se afastou poucos centímetros. Um ímpeto
se apoderou de mim e fez com que eu me inclinasse e lambesse sua boca com gosto.
Ryker ficou duro imediatamente. Contemplei seu rosto, admirado e satisfeito com
minha ousadia, quando passou a língua pelos lábios experimentando minha saliva.
– O que foi? – Ri. – Te peguei desprevenido?
– Você sempre me pega desprevenido.
– Sua voz mudou, preenchida por aquelaintensidade que me atormentava as entranhas
nos sonhos mais libidinosos. – Mas agora… – Tinha algo duro subindo pela barra da
minha saia, algo comprido, com a superfície suave e arredondada. – Diz pra mim,
menina. – O vibrador atingiu minha calcinha e Ryker o usou para afastar o pano do
caminho, atingindo meu clitóris e minha entrada. Eu tive certeza de que minha vagina
estava começando a transpirar. –Onde é que a gente parou?
Eu não queria apenas fazê-la gozar.Não queria apenas fazê-la gritar.
Não queria apenas fazê-la gemer esalivar.
Eu queria fazê-la morrer.
Ali, debaixo do meu toque, da minha pressão, da minha boca… para minha menina
se lembrar de quem ela era putinha. E quem era o putinho dela.
Desabotoei os botões como se desembrulhasse um presente. Meu presente. Aqueles
peitinhos arrebitados escondidos no sutiã cor de creme.
– Outra cor – mandei, mordendo sua orelha e escorregando o vibrador pela linha
entre seus seios – Não gosto de bege. Você veste vermelho. Veste preto. Veste verde.
Me deixou louco com um sutiã verde bem clarinho. – Eu mordia meus próprios
gemidos, porque só a ideia de Mina nua com uma lingerie de uma cor que me
agradasse e, mais do que isso, porque eu tinha pedido, me deixava com um tesão que
minha cueca não conseguia conter. Eu estava me esfregando em suas coxas, trepando
na pele dela como um animal incapaz de controlar os hormônios. Fechei os olhos,
deixando minha língua no seu rosto.
Eu queria que fosse para ela.Queria deixá-la fora de si.
Mas sua pele atingiu minha língua e eu não conseguia mais pensar com coerência.
Apertei seus seios com força,espremendo o vibrador contra um deles enquanto engolia
o outro. Abri minha boca inteira, retraindo minha língua para dar mais espaço para a
carne de seus mamilos. Eu era sugador crônico de peitos. Não tinha parte da pele
que tivesse um sabor mais delicioso.
E, ao contrário da maioria dos homens, eu não gostava deles grandes demais.
Pequenos demais também eram interessantes, mas eu preferia os médios. Aqueles
arrebitados e discretos como os da Mina, fartos o suficiente para me deixar doido, e
modestos o suficiente para caber na minha boca. Eu me esforçava com vigor enquanto
ela gemia: se um único pedacinho daquele peitinho ficasse fora da minha boca, seria
umdesperdício imperdoável.
Lambi o mamilo e o prendi entre meus dentes, observando a marca em sua carne
avermelhada, porque eu a tinha sugado por tempo demais. Eu tinha começado há
menos de um minuto e já deixava chupões em Mina. Bom, era melhorassim.
Ela colaborou como uma boa meninaquando comecei a arrancar suas roupas.
Havia blocos negros na minha visão,prejudicada pela ausência de sangue nomeu
cérebro. Todo o sangue do meucorpo tinha descido em um épico trabalho biológico
em equipe e eu nãoestava mais pensando como uma pessoa.Eu era só uma criatura de
necessidades: necessidades guiadas pelo meu membro que se erguia emdesespero,
magneticamente atraído emdireção às curvas de Mina. Eu era sófome; só sede.
Estapeei seu peito e elareclamou. Não era um gemido sensual,mas uma reclamação
genuína. Acho que pedi desculpas antes de engolir sua orelha. Espero que eu tenha
pedido desculpas… Ela não me perdoaria depois.
O vibrador ainda estava na minha mão, mas eu estava preocupado demais com
minha boca para tomar qualquer atitude que o incluísse. Minha boca encontrou a dela
e o mundo acabou. Larguei o vibrador em cima da cama e agarrei as extremidades de
sua bunda, livrando-me de sua saia, deixando-a só com a calcinha. Nem vi a cor. Não
me importei. Puxei seu lábio inferior entre os dentes até ouvi-la reclamar. Minha
vontade era arrancar um pedaço dela pralevar comigo, assim ia ter mais materialpara a
masturbação.
– Deita na cama. – Minha voz era um pedido rouco e urgente. – Tira a calcinha e
deita na cama.
Ela me observou atordoada, como se ainda não tivesse se recuperado dos beijos,
mordidas e sugadas para compreender e responder.
Enfiei minhas mãos nos meus cabelos,sacudindo com desespero.
– Deita logo, Mina, porque suas pernas não vão aguentar o que eu tô querendo
fazer com você.
Deitou-se na cama, puxou a calcinha pelas longas pernas e eu descobri que quem ia
morrer não era ela: era eu.
– Você depilou essa porra?
Fechei meus olhos e os escondi atrás das palmas das mãos para evitar que eu
gozasse ali mesmo.
– Eu… ahm…
Não abra os olhos, Ryk. Não abra. Se abrir, ela vai estar depilada e com vergonha e
você vai foder aquela bocetinha rosada e esporrar dentro dela. Vai deixá-la roxa e
dolorida, não vai conseguir segurar a tempo para ela gozar e isso não vai ser legal.
Não abra os olhos. Ela vai estar vermelha de vergonha e você não vai aguentar: ou
vai comer ela com fúria ou vai esporrar na cueca.
Me joguei na cama por cima dela e só abri os olhos quando era seguro. Eu estava
beijando sua boca e seu pescoço.
– Ryk! – chamou, nervosa. – Isso é ruim? – Ela estava vermelha como um
morango. – Eu ter me depilado? – perguntou, em desespero. – É ruim pro sexo quando
uma mulher faz isso?
Alisei seu rosto e a beijei de novo com profundo amor.
– Sabe de uma coisa? Senti uma saudade do cacete dessas suas perguntas. –
Escorreguei minha mão para senti-la lisinha. Meu pau ameaçou explodir e achei que
seria melhor não voltar a tocá-la diretamente. – Acho que não consigo mais foder uma
mulher se ela não estiver me entrevistando. – Alcancei o vibrador em cima da cama.
– Você está mais excitado. – Sorriu, lambendo os lábios. – É isso! Ficou excitado
porque eu me depilei! – Ela ficou toda satisfeita com a descoberta e
eu quis foder sua garganta.
– É, meu amor... – Beijei sua boca. – Me pegou desprevenido de novo.
– Acho que gosto de te pegar desprevenido. – Enfiou as mãos pela minha cueca à
procura da minha bunda edeu um beliscão.
Mordi seu ombro e liguei o vibrador.
– Já usou isso aqui? – gemi quando oouvi vibrar, ainda devagar.
– Claro que não – ela gemeu dengosa,se contorcendo de prazer. – Estava esperando
por você. – Seu sorriso era um misto de safadeza e timidez, e não sei qual das duas
metades eu apreciava mais.
Lambi o vale entre seus seios e desci minha língua pelas costelas dela. Onde quer
que minha saliva atingisse, era rapidamente seguida pelo vibrador. Mina começou a
tremer e seus espasmosconseguiram me excitar ainda mais.
Não havia parte do seu corpo pela qual eu não tivesse passado o vibrador. Demorei
em seu umbigo, descendo pelo quadril e escorregando em deliciosas vibrações até os
seus pés delicados. Atingi todo o corpo. Todo, menos a virilha.
Sempre que eu aproximava o vibrador da parte interna de suas coxas ou do topo do
seu osso púbico, ela gemia mais alto, como se implorasse, e um arrepio insuportável se
agarrava aos meus pelospubianos.
Beijei seus seios de novo, enquanto arrodeava suas auréolas com o vibrador e
apertei o botão para aumentar em um nível a vibração.
O barulho aumentou, bem como o gemido de Mina. Eu mal a tinha tocado;a reação
fora resultado apenas do som, que estava mais intenso. Mesmo que ela nunca tivesse
usado um vibrador antes, eu podia sentir seus instintos assumindoo controle.
Deslizei o vibrador entre seus seios, cobrindo o corpo dela com o meu. Desci pelas
costelas e o umbigo… O vibrador empostado entre nós. Suas unhas cravaram-se em
meu pescoço, se enfiando na minha carne quando sorri e desci mais um pouco. Atingi
o espaço entre suas pernas, sem penetrá-la, porém: apenas encaixei a extensão do
brinquedo na sua bocetinha, lambuzando-o com seu doce. Ela já estava bem úmida e
não resisti: levantei o corpo com um braço, me afastando dela, e puxei o vibrador para
a altura de seus olhos. Estirei a língua e derrapei o aparelho da base próxima ao botão,
até sua ponta arredondada. Depois o chupeicomo se fosse um dedo.
Eu podia morrer por aquele gosto.
Trocaria cada oral que já fiz em cada uma das mulheres com quem trepei na vida e
o excelente sexo que se seguiu em cada uma dessas ocasiões, apenas pelo gosto do
néctar de Mina.
Girei a língua na boca, misturandominha saliva ao seu lubrificante.
Puta que pariu.
Como alguém conseguia ser tão saborosa?
– No ponto – murmurei.
Ela arfava, boquiaberta. Ficara hipnotizada pelos movimentos da minha língua e do
meu corpo, consumida pelo meu desejo.
Seu corpo brilhava de suor e eu sequer tinha começado. Apertei o botão para
intensificar a vibração em mais um nível e ela começou a gemer meu nome em um
ganido interminável de tesão. Continuei a provocá-la, girando o vibrador ao redor de
sua entrada e assistindo-a rebolar de encontro ao equipamento que lhe escapava.
Mina rebolando embaixo de mim,
somado à proximidade do meu pau àquela boceta depilada não era uma equação com
o resultado que eu queria. Pelo menos não por enquanto. Rastejei por seu corpo,
movimentando-me para baixo e comecei a massagear seu clitóris com o vibrador. Ora
com a ponta, ora com a extensão. Movi o aparelho até encontrar o ponto que a fazia
gritar mais alto, então pressionei-o bem ali e segurei as pernas trêmulas, contraídas em
desespero. Assisti seu pé convulsionar em espasmos involuntários e urgentes quando
atingi um ponto específico e aproveitei o seu prazer concentrado para lambê-la. O
estímulo da minha língua em adição ao brinquedo foi demais e Mina berrou meu
nome, uma vez após a outra.
Eu adorava quando ela gritava daquele jeito: perdendo seu precioso controle e se
deixando levar.
– Por que comprou esse? – provoquei. – Por que um rabbit?
– Ryker… – pediu. – Ry-ker! – Girei o vibrador.
– Responda. Por que um rabbit? – Enfiei a cabecinha do vibrador em sua vagina e
assisti seus olhos revirarem e desaparecerem quando ela jogou a cabeça para trás,
enfiando-se nos travesseiros – Não sabe como funciona, Mina? – Lambi sua entrada
inteira. – Ouresponde, ou não te deixo gozar.
– O… O… O… – ela tentava articular palavras, mas o fôlego nunca era
suficiente. – O quê? – conseguiubalbuciar, enfim.
– Um rabbit? Esse vibrador quecomprou é um rabbit.
– Promoção – gemeu em um grito finoe eu ri.
– Ah, foi por acidente, então? Maravilha. Deixa eu te mostrar pra que ele serve.
Mordi sua coxa e enfiei o vibradorinteiro nela, até a ponta superior dorabbit
atingir seu clitóris, estimulando-o.
Mina gritou e agarrou meus cabeloscom força.
– Divertido, não é? – Voltei a lambersua entrada, nas bordas do vibrador.
Suas pernas tinham criado vidaprópria ao meu redor e eu precisei
colocar uma delas por cima do meu ombro para poder trabalhar em paz. Passei a
estocá-la com o vibrador, fazendo a ponta do rabbit estimular seu clitóris, enquanto o
lubrificante natural se misturava à minha saliva, esguichando suavemente com um
barulho baixo que me inebriava de luxúria.
Ela estava tão perto… Não ia precisar de muito mais. Urrava meu nome como se
fosse um mantra.
Belisquei seu clitóris que ainda recebia uma bela surra do rabbit e suas pernas me
apertaram contra seu corpo, avisando-me que ela chegara ao clímax. O que se seguiu
foi um grito longo e alto. Seu corpo estava coberto de suor.
Levantei a tempo de ver sua cabeça jogada para trás e a garganta esticada, delineando
as veias em demonstração daintensidade do prazer.
Sua careta de tensão se desfez, e vi um sorriso delicioso de alívio à medida que eu
tirava o vibrador de dentro dela, devagar.

Eu me sentia como uma boneca de pano: jogada em cima da cama e


completamente à mercê das intenções dequem quer que fosse.
Naquele momento, seria à mercê de Ryker, então sequer me incomodei.
Ele colocou o vibrador de lado e me lambeu.
Por Deus, homem, já chega.
Gemi baixinho, reunindo o resto de minhas forças para me agarrar aos lençóis.
Sua língua derrapava pela parte interna das minhas coxas, desenhando toda a parte
da minha virilha, maculada pelo meu lubrificante natural.
Lambidas longas e gostosas.
Ele está me limpando.
Era isso que estava fazendo. Me lavando como um gato, lambendo cada gota do
tesão que tinha pingado de mim. Mantinha minhas pernas abertas, com as mãos
fechadas em punhos. Permiti que ele assumisse o controle, porque, sinceramente, que
outra opção eu tinha?
Quando sua língua voltou para a parte interna da minha boceta, o prazer
recomeçou. Acumulando-se ainda bem discreto, embora não fosse demorar muito para
que eu pegasse fogo de novo.Bastava que ele continuasse aquilo.
Aquele carinho maravilhoso que sua língua dedicava à minha intimidade.
Meus dedos desenhavam um contínuo cafuné em seus cabelos, um agradecimento
silencioso de quem não tinha força para muitas outras coisas.
Ele desferiu uma última lambida ao longo da extensão de minha entrada e sugou
meu clitóris a ponto de me fazer tremer.
– Pronto – decidiu com um sorriso sacana. – Está limpinha. – Veio para a minha
boca e senti meu gosto nele. Sua mão apertou minha cintura. Ah, aquela mão larga e
forte sabia me pegar do jeito certo. Eu estava despertando de novo. – Minha vez –
sussurrou e me arrepiei por completo.
Uma batida grosseira na porta me fez sobressaltar e Ryker me cobriu com seu
corpo. Me abraçou instintivamente, como se almejasse me proteger de um perigo que
ele sequer sabia se existia.
– Mina! Você está errada! – Era a voz de Lance, que batia a porta do meu quarto
com força.
– Vocês precisam consertar a porta decasa! – reclamou baixinho e eu o mandeicalar a
boca.
- Está me ouvindo? – Bateu novamente na porta. – Um cara não largauma
mulher como você para “te proteger” – disse e, dentro do meu quarto, Ryker
apontou para si mesmo com um questionamento no olhar. – Issoé o tipo de coisa que
homens descaradosdizem para mulheres boas quando querem se livrar delas. Não
acredite nesse tipo de coisa.
– Por que ele voltou? – Rykerreclamou com um suspiro.
Eu dei de ombros, mostrando minha idêntica confusão. Lance prosseguia com seus
argumentos do lado de fora da minha porta, mas Ryker o ignorava.
– Por que ele voltou justo quando era minha vez? – chiou e tive que me controlar
para não rir de sua agonia. – Você está rindo porque já gozou – rosnou baixinho –
Depois os homens é que são egoístas.
– Mina, por favor... – Dava para perceber em sua voz: Lance desconheciaa história
por trás de tudo. Ele sequer sabia que Ryker estava ali… Em sua mente, ele estava
apenas sendo cuidadoso e romântico. Que tipo de ser humano eu seria se me livrasse
dele sem qualquer consideração? – Não vale a pena você interromper sua vida por
causa de um gigolô qualquer que nunca teve cuidado com você.
Ryker emitiu um rosnado ameaçador disfarçado de risada.
– Tô sentindo que, antes de a noite acabar, o jornalista ainda vai levar um murro
– reclamou.
– Ryker, preciso ir lá fora falar com ele – murmurei.
Ryk se virou de lado, puxou um dos travesseiros e enfiou a cabeça nele, com raiva,
por alguns segundos. Parecia maiscalmo quando o travesseiro se foi.
– Vai ficar me devendo, sabe disso, não é?
– Estou indo, Lance – avisei alto. – E vou bem rápido! – prometi baixinho para
Ryker.
– Vai coisa nenhuma… – Apoiou a testa na mão. – Eu te conheço, garota. Ainda
me lembro que transar com você é difícil como o inferno.
– Ryk…
– O jornalista tá aí pra provar que o cara tem que te merecer umas doze vezes
antes de poder te experimentar – concluiu, desiludido. Sua ereção ainda erguida
mostrava o quanto aquela separação seria irritante.
– Não seja assim. – Ri, beijei sua bochecha, depois sua boca. – Bem rápido! –
prometi de novo.
– Vai ficar me devendo.
– O que você quiser. – Levantei e comecei a me vestir. – Só me dá um minuto! –
pedi alto para Lance.
– Vai me chupar quando voltar – reclamou com infantilidade. – Antes de eu te
comer!
– Sem problemas.
– Até a garganta! – Arregalou os olhos.
– Vou precisar ir devagar, mas tudo bem. – Sorri, puxando sua bochecha e dando-
lhe mais um beijo.
– Vou te comer com força, está me ouvindo? – sussurrou, fazendome rir.
– Tudo bem.
– E vou comer sua bunda também!
Revirei os olhos e lhe ofereci umacareta de negativa como resposta.
– Achei que valia a pena tentar. – Riu,sacudindo os ombros.
– Tá, agora se esconde! – Gesticulei.
– Não.
– Ryker! – sussurrei, dando um murrono seu joelho.
– Não! – repetiu, birrento. – Se ele não quer me ver nu, que não atrapalhe atrepada.
– Abriu um sorriso amarelo.
Ele não ia cooperar. Ficou sentado nomeio da minha cama com as pernas cruzadas
e eu quis lhe dar um tapa. E depois morder aquela bunda gostosa. Ainda não tinha
feito isso…
Sacudi a cabeça para organizar os pensamentos. Travei os lábios para deixar claro
que ele tinha me irritado, mas ele apenas fez graça da minha careta me imitando.
Eu me aproximei da porta e saí do quarto o mais rápido que pude para não correr o
risco de deixar Lance ver qualquer pedacinho do Ryker.
E eu realmente precisava consertarminha porta.
Quatro
Receitas irresistíveis

Foi o barulho do liquidificador que me acordou. Espremi os olhos para afastar o


sono, espreguiçando o corpo sobre o colchão. O travesseiro ao meu lado estava
abarrotado e a cama ainda estava um pouco quente.
Ryker!
A fração de segundo que minhamente precisou para lembrar dele foi o tempo exato
que o resto do meu corpo
precisou para acompanhar e ficarcompletamente desperto.
– Ryk? – chamei baixinho, correndopara o banheiro.
Ele não estava lá.Banheiro vazio.
Chuveiro vazio.Quarto vazio.
O liquidificador soou alto e estremeceu minha espinha.
Que horas são?
Eu queria correr para a cozinha, rezando aos céus para que Elise não estivesse mais
em casa ou eu ia ter que dar mais algumas explicações. As necessidades fisiológicas
do meu corpo, no entanto, gritavam estridentes e eu precisei me trancar no
banheiro por alguns instantes.
Se Elise estivesse em casa, ela já teria visto Ryker. Era inevitável. Alguns segundos
a mais ou a menos não fariam diferença, de modo que preferi prender os cabelos e
escovar os dentes de uma vez.
Ainda usava a camisa comprida do Strome, propositalmente comprada três
tamanhos maiores do que o meu e o short lilás bem curto do pijama. Abri uma fresta
da porta para verificar os arredores e preparar o que precisaria ser dito antes de sair do
quarto.
Eu estaria mentindo se dissesse que aquela bunda linda não foi a primeira coisa que
vi.
Virou-se em uma das laterais da cozinha americana, cortando coisas, mexendo
coisas, colocando coisas no liquidificador. Senti saudade disso: de assistir ao Ryker
nu. Apoiei o ombro naporta aberta, relembrando do Lucky’s. Ryker como gigolô era
uma ideia genial, mas ele como stripper era uma ideia milionária. Eu pagaria para
passar o dia assistindo àquela bundana minha cozinha. Àquela curvatorneada sob a
qual suas costas acabavam. À entrância antes de os contornos da bunda darem
espaço para o começo das coxas fortes. Ao músculo rígido que ficava em evidência a
cada passo que ele dava.
Ele tinha encontrado o avental e o vestira por cima da nudez, amarrando
as tiras vermelhas na metade das costas. Bastava ele entreabrir as pernas e eu podia
ver aquele membro maravilhoso flácido, balançando pesadamente entre suas coxas.
Puxouuma frigideira e vi o músculo do seu braço se contrair.
Eu não sabia se isso acontecia com todas as mulheres, mas eu tinha uma quedinha
por músculos.
Mal podia ver qualquer desenho se formar sob a pele de Ryker indicando a presença
de um músculo poderoso e já imaginava como ele poderia usar aquela parte do seu
corpo para me comprimir, apertar, esfregar ou espremer. E de preferência com força.
Percebi que estava mordendo meu lábio inferior.
– Se vier até aqui, pode ver minha bunda mais de perto – cantarolou, sem se virar.
Ri, lambendo os lábios.
Claro que ele tinha notado minhapresença.
– O que está fazendo? – Andei até acozinha.
– Café da manhã. – Piscou um olhopara mim.
– Ia levar pra mim na cama se eunão tivesse acordado? – brinquei.
– De jeito nenhum. – Fez uma caretasafada. – Você não merece.
– Por que não? – me ofendi.
– Me deixou duro e foi embora. –Passou geleia nas torradas. – De novo.
– Sacudiu a cabeça em descrença. – Me prometeu que ia voltar rápido, chupar meu
pau e me dar a bunda.
– Mentiroso. – Revirei os olhos.
– E...! – reclamou alto, me interrompendo. – Demorou tanto que eu dormi e aqui
estou com pau que não foi chupado e diante de uma bunda quenão foi fodida.
– Vai me deixar sem comer só por causa disso? – exagerei.
– Só por causa disso? Só? Você chama isso de “só”? Por que demorou tanto com o
jornalista, Bault? – Torceu o nariz.
– Lance é uma pessoa boa.
– Já ouvi essa parte. Pule para a parte em que você não transou com ele enquanto
eu estava te esperando, nu,na sua cama.
– Não transei com ele. – Estirei a língua. – E só não me ofendo porque já te
conheço. Se não, batia essa frigideira na sua cabeça. – lembrei.
– E fez o quê? – Ignorou-me e o ciúme era perceptível em sua voz – Se não transou
com ele?
– Fomos comer alguma coisa. – Roubei uma das torradas com geleia.
Ele largou a frigideira ruidosamente sobre a pia.
– Pois eu venho aqui, te faço gozar com um vibrador, te lambo TODA e ele é quem
recebe a atenção e a comida. – Tomou-me a torrada e enfiou-a por inteiro na boca. –
Me diga de novo por
que eu devia ficar com você? – rosnou por cima das mordidas.
Mordi a linha do seu maxilar e enfiei a mão pela lateral do avental acariciando sua
masculinidade.
– Nem vem – reclamou, manhoso, mas não se afastou. – Você não me engana com
isso – sussurrou, fechando os olhos.
– Tudo bem – gemi. – Eu paro quando você pedir.
– Combinado – murmurou.
Movi a mão pela extensão do membro e seu joelho se dobrou, levantando uma das
pernas involuntariamente.
Acho que estou aprendendo. – Mordi seu lábio.
Não sei se foi a brincadeira, a lembrança do nosso primeiro encontro ou
simplesmente a natureza, mas Ryker desistiu da gentileza rápido demais emal eu tinha
terminado de proferir as palavras, ele já tinha me devorado a boca e enfiado as mãos
entre meus cabelos, desfazendo meu rabo de cavalo.
Mantive a mão em sua ereção, sem usar muito força enquanto o massageava.
– Aqui. – Lambeu minha boca e me entregou uma torrada. – Você está começando
a merecer.
Mordi a comida que me era oferecida, lambendo a geleia de seusdedos. Ryk estava
se esfregando em mim. As únicas coisas que nos separavam eram o seu avental e meu
short. Nenhum dos dois apresentaria grande resistência.
E, como eu tinha previsto, rapidamente minha roupa se foi. Ou a maestria de Ryker
para despir uma mulher era impressionante, ou eu já estava tão tonta de tesão que mal
dei por mim enquanto minhas roupas caíam no chão.
Suas mãos eram largas. Eu sentira falta disso. Aquelas mãos fortes e imponentes
guiando meus quadris eram garantia de um orgasmo bem providenciado. E eu estava
precisando de orgasmos. Sentira falta deles também. A sua língua se empostou na
minha, experimentando o sabor de uva direto da minha boca. Puxou meu joelho e
apoiou uma das extremidades da minha bunda na pia, empurrando minha canela para
cima, me mantendo exposta. Eu sabia para onde nós estávamos indo e adorava a
ideia.
Meu corpo se jogou para trás até minha cabeça atingir a parede, que passei a usar
como apoio. Ryker segurava a espátula miúda e usava-a para espalhar geleia de uva
pela minha vagina. Mordi o lábio com tanta força que era certo que fizera um corte
ali. O frescor gelado contra minha pele quente e a antecipação da língua que viria
resolver aquela contradição estava me enlouquecendo de tesão.
Mas ele não tinha acabado.
A espátula alcançou meus mamilos, cobrindo um deles com geleia… e depois o
outro. Ryker estava tão excitado que o avental não conseguia mais ficar esticado;
erguia-se como uma barraca firme e robusta. Ele raspava a cabeça do pau em minha
coxa. Eu observava suas pálpebras caírem pesadas de desejo sempre que ele fazia isso,
o que só servia para misturar mais lubrificante natural à dose de geleia em minha
vagina.
Os dedos de Ryker estavam no pote e ele lambuzou meus lábios.
– Não coma – rosnou, seu corpo inteiro se contraía. – Quem vai comer sou eu. –
As palavras saíam de sua boca de um modo forçado, como se manter a comunicação
exigisse cada gota de seu autocontrole. – Vou comer tudo. – A ponta de sua língua se
aproximou dos meus lábios e eu queria me esfregar na sua ereção. – Vou te comer
todinha.
Ele me beijou, degustando toda a geleia que tinha distribuído na minha boca, me
alimentando de volta com meu gosto e seu sabor. Uma mistura que me deixava
embriagada.
A mão ao redor do meu tornozelo me puxou, ocasionando um sobressalto. Ryker
me colocou quase deitada. Sua mandíbula travada daquele jeitofaminto. Ele queria me
deixar roxa, eu sabia que ele queria… Queria me foder do jeito que fazia quando
perdia o controle: me pedia desculpas e dizia que eu deveria pedir para ele parar se
estivesse indo forte demais.
Mas eu estava gostando.
Estava me acostumando com seu “forte demais” e me deliciando com ele.
Eu queria que ele se soltasse. Que me engolisse por completo.
O frio se apossou de meu estômago quando ele emborcou um pouco de sucono vale
em minha barriga e sorveu-o direto do meu umbigo.
Enfiei as mãos em seus cabelos.
Eu sentia que Ryker não fazia nada daquilo por mim. Ele queria me fazer gozar,
claro. E conseguiria, quantas vezes tentasse. Mas quando ele travava a mandíbula e
me encarava com aquela gula psicótica, eu sentia que não estava mais fazendo por
mim. O erotismo em servir de bandeja, para sua refeição, os alimentos gelados na
minha pele, as promessas obscenas sussurradas… Nada daquilo tinha o objetivo de
me deixar excitada ou deme fazer gozar.
Era tudo a mais absoluta verdade: ele estava com fome e queria comer em mim e
depois me comer. Era o seu apetite voraz e avassalador que não pouparia reféns. Ele
ia me abocanhar e morder e engolir. Ia beber o suco da laranja e o meu
indiscriminadamenteporque considerava os dois igualmente
saborosos. Ia travar os dentes sobre meus mamilos quando limpasse a geleia que lhes
cobria. Ia me possuir ali, no meio da minha cozinha.
E, naquele momento, ia fazer isso tudo porque me desejava. Não porque queria me
fazer gozar, mas porque eu podia fazê-lo gozar.
Receber prazer é espetacular. Contudo, ser o recipiente da luxúria transbordante de
outra pessoa fazia com que não houvesse escapatória: eu me sentia gostosa.
Me sentia gostosa além do que qualquer palavra seria capaz dedescrever.
Era como ele conseguia fazer com que eu me sentisse. E fazia isso sem nem tentar.
Ficava ali, me observando, me lambendo… e eu me sentia uma delícia. Ele gemia com
suas pálpebras caídas e eu ia à lua. Sua língua desceu o percurso pelo meu corpo,
bebendo mais do suco que por ele escorria e eu soube que gozaria assim que sua língua
atingisse a região entre minhas pernas. Mas ele voltou a subir e a se concentrar nos
mamilos. Estava me provocando. Ganhando tempo, talvez… Mas ele não precisava
fazer isso. Eu estava mais do que pronta para gozar e estar em um momento da
minha vida em que poderia reconhecer e antecipar um alívio como aquele fez com que
eu me sentisse ainda mais sensual.
– Ryk… – gemi, com os lábios ressecados. – Vou gozar...
– Não vai, não. – reclamou com urgência, beliscando meu mamilo e piorando a
tensão na minha virilha. – Vai gozar só quando eu deixar.
Deu dois toques no meu clitóris como se testasse as cordas de um violão e depois
levou o dedo médio à boca. Eu podia ver a geleia ali.
– Espere por mim – pediu.
Fechei os olhos com força e quis prometer, mas a verdade é que eu não sabia sequer
como tinha resistido àquele último toque sem me desfazer em um orgasmo. O
próximo toque seria fatal.
– Quero gozar dentro de você enquanto te ouço chegar lá comigo – implorou
na minha boca. – Você geme meu nome tão gostoso quando tá gozando, amor. – Eu
não conseguia respirar. – Quero gozar com som dos seus gemidos no meu ouvido.
Deixa… – Ele se esfregava em mim com fúria. – Por favor. – Suas palavras eram
insanas como um delírio. Encontrávamo-nos perdidos no prazer do corpo um do
outro.
Serviu o copo de suco na minha boca para me acalmar e eu bebi dois goles. Gotas
escaparam pelos cantos da minha boca, descendo pelo meu pescoço e alcançando
meus seios.
Ryker inspirou fundo antes de descer,fazendo sua língua perseguir o suco.
Eu estava gemendo, suando e tremendo.
– Camisinha – pediu e eu soube que ele não aguentava mais. – Onde tem?
Eu arregalei os olhos em expressão do meu típico desespero e vi a expressão de
Ryker afundar.
– Você não tem camisinha?
– Ai, meu deus! – Eu ia levar as mãos à cabeça e começar a entrar em desespero,
mas Ryker estava cheio de tesão e não conseguia mais esperar.
Ele me puxou pela perna e me virou de costas, pressionando minha coluna para me
manter curvada, apoiei meus cotovelos na pia com um estalo.
– Ryker, não! – pedi. – Por trás, não.
– Mina... – Sua voz estava no meu ouvido. – Se você acha que eu comeria sua
bunda sem seu consentimento, muito lubrificante e sem responde às suas milhões de
perguntas, está me confundindo com alguém.
Enfiou a ereção entre minhas coxas e me forçou a prendê-lo. Sua mão escorregou
pelo meu abdome e atingiu meu clitóris. Não houve penetração de dedos… não houve
mão me agarrando por completo…
Havia apenas seus dedos, dedilhando meu clitóris como se produzissem uma
sinfonia. Diferentes dedos me tocando. Me fazendo cantar. Até encontrar uma
pressão, um momento.
Ryker fodia minhas pernas, atrás de mim, inclinando o corpo contra o meu, me
apertando contra a pia com seu peso. Dedilhando seus acordes no meu clitóris e
arfando sem ar.
Eu estava gemendo seu nome. Sussurros baixos e apressados. Os olhos fechados,
entregues ao momento.
– Isso – implorou quando sussurros já não eram suficientes e eu estava gritando seu
nome. – Isso.
Seu queixo estava no meu ombro, oouvido alinhado para escutar meus
gemidos. Ele fodia minhas coxas, maise mais rápido. Seus dentes se cravaramno
meu ombro e o alívio tomou meucorpo me fazendo perder a força naspernas.
Ryker me agarrou pela cintura.
Ele estava bem perto também, mas precisava de mais um pouco.
– Eu quero – gemi. – Ryk – rebolei, tentando me livrar de suas mãos.
Me virei e beijei sua boca. Eu lia a confusão nos seus lábios. Ele estava tão perto
de chegar lá e eu escapei roubando seus preciosos últimos momentos. Era quase
decepção o que havia ali. Quase frustração.
Até eu me colocar de joelhos diante dele.
Até eu tocar a cabeça do seu paucom a língua.
Até eu enfiá-lo na boca.
Eu era sua bandeja e ele tinha sealimentado de mim. Agora eu queria mealimentar
dele. E, pela minha vida, eu nunca quis tanto experimentar uma coisa como queria
agora.
– Mina… – ele disse, incrédulo, enquanto eu o mantinha na boca. Não até a
garganta, como ele impusera, masfodendo minha boca e minha língua devagar.
Ouvi um baque alto e ruidoso quando ele agarrou a pia com uma força
monstruosa. Seu quadril se moviaao meu encontro, mais desesperado agora, na minha
boca, do que há poucos instantes, entre minhas pernas.
– Mina… eu vou gozar, amor. Sai… Sai… Sai… – Ele sequer respirava.
Mas eu queria aquilo.
Não tínhamos conversado antes, como era nosso hábito, e Ryker estava tentando
dar um passo para trás para esporrar no chão da minha cozinha.
Foi apenas quando eu o agarrei pelas bolas e o mantive na minha boca que ele
entendeu minha intenção e aceitou.
Ele urrou, alto e delicioso. O líquido quente invadiu minha boca e senti seu gosto.
O reflexo de regurgitação chegou para a festa rápido demais e eu acabei deixando sua
ereção escapar e expulsar as últimas gotas do seu esporro pelo chão da minha
cozinha.Cuspi no chão, tossindo para me recuperar.
Ryker jogou as costas contra os armários e escorregou até o chão como se a vida
tivesse fugido de seu corpo para sempre.
– Achei que você ia querer perguntar…
– O quê? – Ri, limpando a boca.
– Perg… Pergunt… – Ele não conseguia recuperar o fôlego e abanou a mão em
um gesto de “deixa pra lá” que me causou outra risada.
Ryker Strome desistindo de me deixar com vergonha por falta de forças.
Eu realmente devia ter feito umexcelente trabalho.

Eu me vesti e limpei os resquícios de nossa brincadeira do chão da cozinha.


– Como você não tem camisinha em casa? – ralhou e eu revirei os olhos,
percebendo que ele recuperara as
forças. – Como uma pessoa pode viver sem ter camisinha em casa?
– Olhe pelo lado bom. – Levantei o indicador. – Isso significa que eu estava
despreparada para transar com qualquer outro homem enquanto você esteve longe.
Ele me abraçou e quase sorriu, antes de desistir.
– Não… o jornalista tem aquela cara de tarado que anda com um pacote de
camisinha na carteira, outro no bolso e outro no carro.
– E você não? – Ri.
– Eu saí de casa apressado pra salvar sua vida, você me dá licença? – respondeu,
sarcástico.
– Ah, mas agora que minha vida está salva... – exagerei. – Não está pensando em ir
comprar umas camisinhas?
– Vai ser necessário, não é? Esqueci que tudo com você é complicado. – Torceu o
nariz, birrento, mas me beijou. Inspirou como se fosse continuar a me provocar com
qualquer coisa, mas desistiu e voltou a me beijar.
Eu ficava sorrindo. Era idiota, mas era isso que eu fazia: ele me beijava e eu ficava
sorrindo como uma imbecil.
Era lindo porque ele também sorria.Talvez, em sua mente, pensasse o mesmo que
eu e ainda assim não conseguisse tirar o sorriso idiota do rosto.
Beijei sua bochecha e me afastei.Foi obra do destino que eu tivesse
me afastado porque, no segundoseguinte, a porta se abriu, dando passagem à Elise. Eu
estava pensando que tivemos sorte por ela não ter chegado segundos ou minutos
antes… até lembrar que Ryker ainda estava nu no meio da nossa sala, a não ser pelo
avental.
– Mina, você não vai acreditar, eu… oh! Olá.
Se ele ou ela se movessem apenas um centímetro, a bunda nua e gostosa dele estaria
à disposição da minha amiga.
Ótimo. Mais uma para a minha enciclopédia de Situações Absurdas em que a Mina
se Mete.
– Mina… quem é o seu amigo? –perguntou, sem graça.
Ryker colocou as mãos atrás dascostas e esperou que eu me decidisse.
Mas…
Meu… o que ele era? Eu não fazia a menor ideia. Mas arranjar uma explicação com
Ryker seminu ao meu lado, rindo e com a certeza de que eu estava morrendo de
vergonha e sem saber o que fazer não era uma boa opção.
– Boa tarde. – Ryker deu um passo à frente, mantendo sua bunda ainda escondida
atrás de si e apertou a mão de Elise.
– Ahm… e você é...? – Minha amiga quis saber.
Uma resposta precisava ser dada. Ryker inspirou fundo e achei melhor me meter.
Qualquer resposta que eu desse seria melhor que qualquer resposta queele poderia dar.
– O diarista – decidi. Ryker hesitou, espremendo os lábios e eu soube… eu soube…
que ele ia gargalhar enfurecidamente da minha escolha assim que estivéssemos a sós.
– Diarista? – Elise me observou com incredulidade. – Mina, posso falar com você
um instante? – Apontou para ocanto e Ryker a cumprimentou com um gesto, andando
de ré até o sofá, no qual se sentou.
– Mina, quem é esse cara? – Elise levantou uma sobrancelha assim que me
aproximei.
– Achei que a gente podia precisar de uma ajuda com a limpeza. – dei de ombros.
Havia algo nos seus olhos.
Eu não sabia determinar se era descrença, frustração ou medo de que eu estivesse
louca.
– Olha… – gesticulou de modo definitivo. – Tudo bem, a casa é sua também. Se
você acha que a gente precisa disso, eu entendo. Mas… será que a gente podia
conversar antes de um homem… – Ela engoliu em seco – ... sem camisa vir trabalhar
na nossa casa?
– Claro! Me desculpe! Eu queria… – Ai, merda. – ... te fazer uma surpresa. –
Levantei um ombro. – Não sabia que você ia chegar agora. – Sorri, tentando
tranquilizá-la.
Ela acenou devagar, como se esperasse que eu fosse dizer mais alguma coisa.
– Tudo bem – expirou, finalmente. – Eu preciso ir. Só esqueci umas coisas em
casa… Cometi o pecado de comentar com a Monique e ela deu com a língua nos
dentes… – Balançou oscabelos. – Enfim… por que a gente é amiga dela mesmo?
– Nem me pergunte. Você é quem gosta de sair com ela. – Abri os olhos,
exagerada, e ela riu.
Abriu a porta e se despediu de Ryker a distância.
– Prazer em conhecê-lo. – Ela abriu um meio sorriso e o observou por alguns
segundos.
Se não fosse minha melhor amiga, eu ficaria com ciúme da encarada prolongada
que lhe ofereceu.
– Mina? – Virou-se de volta.
– Hum?
Ela inspirou como se fosse dizer algomuito difícil.
– Sabe que eu estou aqui, né? Se… precisar de alguma coisa – murmurou.
– Qualquer coisa.
– Sei, claro. Elise, está tudo bem?
Ela me encarou quase do mesmo modo como tinha feito com Ryker antes de
sacudir os cabelos de novo, como se estivesse estalando de volta para a realidade.
– Está, está. – Acenou para Ryker, sorriu para mim e se foi.
Estranho.
Elise parecia mais preocupadacomigo a cada dia que passava e…
– Diarista? – Ele riu.
Agora era eu quem expirava, exausta. Tinha esquecido que essa conversa estava à
minha espera.
– O que você preferia que eu dissesse? – ralhei.
– Um amigo. – Abriu as mãos, apontando quão ridícula era minha situação. – Um
primo distante? Um colega?
– Não ia funcionar.
– Parece que você pensa em todas as possibilidades na hora de mentir e escolhe a
pior. – Levou a mão à testa, ainda rindo, e eu lhe dei um tapa na barriga.
– Elise conhece todos os meus amigos e sabe que não tenho família! Como eu ia
aparecer com um colega donada?
– Um cara que você pegou no bar! Eu estou nu, Bault! NU! – gargalhou. – E você
achou que seria mais convincente se dissesse que eu ia trabalhar aqui?
– Fez sentido na hora! – reclamei.
– Humm… tenho certeza de que fez.
– Abraçou-me, cheio de sarcasmo. – Olha, trabalhando como garoto de programa eu
já fui pego em algumas situações bem constrangedoras e já fui chamado de muitas
coisas. Mas diarista foi a primeira vez.
Eu estava começando a rir também, embora ainda estivesse preocupada…
– Você é cheia de “primeiras vezes” pra mim. – Beijou minha boca. – É a sua
sina – decidiu.
– Você acha que ela não acreditou? – Movi a cabeça em direção à porta, indicando
Elise.
– Se eu acho que ela não acreditou?
– Baixou os olhos para mim. – Amor, eu tenho certeza. Acho que você está
subestimando sua amiga. – Ele espremeu os lábios e encarou a porta com um pesar
comedido.
– O que eu digo, então? Pra ela?
– Diga que terminou com o jornalista e começou a ficar com um cara novo,
mas que não sabia como contar.
Eu considerei a sugestão por alguns segundos.
– Sua ideia é melhor – concordei.
– Não é? – Abriu os olhos, arrogante, e ganhou mais um tapa na barriga.
Estava reclamando e já ia receberoutro quando meu celular tocou.
Foi uma ligação rápida. Objetiva. Mas me preencheu com a mais absoluta dose de
ânimo.
Desliguei o telefone e enfiei uns oito beijos em Ryker.
– O que foi? – Riu.
– Consegui um emprego! – Levantei os braços acima da minha cabeça.
– Viva! – Ele me puxou pela cintura eme beijou, mesmo que não soubesse de minha
saga de desempregada, sem dúvida percebeu que era uma notícia muito boa. – Achei
que você já tinhaum trabalho.
– Longa história – justifiquei. – Mas isso é uma notícia ótima.
– Certo! – animou-se. – A gente vai comemorar agora ou você tem que ir?
– Encarou-me, safado, indicando oquarto.
– Tenho que ir. – Levantei um ombro.
– Você acha mesmo que ia conseguir ficar duas vezes seguidas comigo assim tão fácil?
– exagerei.
– Verdade! – Balançou a cabeça, seus cabelos se agitaram e me fizeram sorrir.
Ele era lindo. – É melhor euaceitar minhas vitórias. Posso teesperar aqui?
Eu sorri. A ideia de voltar para casa no fim do dia e ter Ryker me esperando era…
– Ryk?
– Eu não faço bagunça! – Agitou as mãos.
– Não é isso – toquei seu peito. – Você fugiu do Zahner. – Lembrei. Sua expressão
assumiu um tom sombrio e eu soube que tinha estourado nossa bolha de alegria. Era
horrível… masnecessário.
– Fugi – expirou.
– A gente precisa conversar sobre isso. – Acariciei seu braço. – Quando eu
voltar? – pedi.
Ele levantou os ombros com um meiosorriso que me fez querer abraçá-lo e mantê-lo
grudado comigo pelo resto da vida.
– Não vou a lugar algum – prometeu.

As risadas dentro do apartamento chamaram minha atenção assim que me


aproximei da porta. Puxei as chaves sentindo minha testa se enrugar de dúvida e mal
toquei na fechadura e a porta cedeu macia, abrindo-se e liberando minha visão para a
sala que eu compartilhava com Elise, onde Ryker estava sentado no sofá ao lado
de uma Monique que era só mãos, toques, sorrisos e jogadas de cabelos.
Pelo menos, ele estava vestido.
– O que está fazendo aqui? – Ignorei a educação enquanto atravessava a sala. Ryker
abriu os olhos, exagerado, com um sorriso sacana e percebi que minha encenação
“mulher enciumada” tinha começado rápido demais. – Não estava te esperando,
Monique – tentei corrigir, diminuindo a velocidade da minha investida.
– Ah, eu vim te devolver aquele livro.
– Que livro?
Ela tinha uma taça de vinho nas mãos. Os joelhos dobrados por cima do sofá,
virando-se de lado, quase montada no colo de Strome. Um dos cotovelos apoiados
no encosto do sofá e a mão apertando o ombro de Ryk, aproveitando-se de seus
músculos. Ela riu e eu soube que minha boca estava torta e meu nariz retorcido em
uma careta de indignação.
– Que livro? – repeti.
O que diabos ela estava fazendo ali? E… eu sei que a suportara quando
trabalhávamos juntas, pelo bem da boa convivência, e que – sabe-se lá por quê
– Elise gostava de sair com ela… mas eu não precisava tolerar essas visitas
espontâneas na minha casa.
– E aí quando cheguei aqui... – continuou, com sua patinha irritante no ombro do
meu homem – ... conheci o Ryker. – Abaixou o rosto e lhe ofereceu um sorriso
indiscreto, como se os dois estivessem compartilhando algumabrincadeira interna. – E
acabei ficando para uma taça de vinho.
Strome espremeu os olhos, me analisando. Decidindo se ia me absolver ou
condenar e eu esperei profundamente que ele me absolvesse. Não suportaria sua
condenação ali na frente de Monique.
Dei mais alguns passos e me inclinei sobre eles.
– Que. Livro.
– Ah… – sorriu para ele, revirando os olhos, como se me considerasse louca e
insuportável. – Aquele, Mina. O que você me emprestou – murmurou, me encarando.
Enchendo as palavras de significado como se me pedisse para entender e ficar quieta.
Como se quisesse que eu colaborasse.
Colaborasse para ela pegar meu homem no meu sofá.
Eu só precisava de uma gota de “quese foda” e aquela folgada ia apanhar.
– Não, não sei – avisei. – Por que não pega pra me mostrar? – Presenteei-lhe com
um imenso sorriso amarelo.
– Mina... sempre neurótica. – Riu. – Eu não te disse? – Virou-se para Ryk, que
concordou, educado.
– Disse o quê? – O pânico começoua subir pela minha espinha.
– Deixa eu te mostrar o livro. – Levantou.
– Disse o quê? – Ryker ria com gostoe eu tive certeza que essa parte era importante.
Estávamos de costas para o sofá quando ela me beliscou.
– Elise disse que você tinha um amigo gato em casa. Mas, nossa, Bault!
– Olhou de soslaio para trás. – Uau! – Deixou o queixo cair.
– Monique…
– Então, olha… Elise disse que ele só estava ajudando com umas coisas da casa,
mas vocês liberam ele mais cedo hoje, não é? Tenho umas coisas para ele arrumar lá
em casa, também – sussurrou.
– No meu quarto, pra ser mais precisa. – Balançou os dedinhos nojentos em um
cumprimento que Ryker retribuiu com um brinde silencioso e o último gole do seu
vinho.
Ele estava bebendo com ela?Ele ia apanhar também!
Ia apanhar, ele. Ia apanhar, ela. Ia apanhar, a Elise.
Todo mundo ia apanhar! Travei as mãos em punhos.
– Mais vinho, Ryk? – Buscou a taça vazia de suas mãos.
Não deixa a vagabunda pegar seuhomem.
Eu conseguia ouvir Spider gritando no meu ouvido. Ali, diante de Monique, como
tinha feito diante de Skye.
– Por favor, querida. – Ele lhe entregou a taça e piscou para mim. – Algum
problema? – perguntou, falso.
Estava me dando o troco por causa de Lance. Eu o tinha deixado com ciúme e
ele estava aproveitando para retribuir. Era a nossa brincadeira.
O problema é que a moça da padaria e Skye eram mulheres desconhecidas com
quem eu não precisava competir porque não estava com ele. Não naquela época.
Dessa vez era diferente. Era diferente porque estávamos juntos agora. E era
diferente porque não se tratava de uma prostituta profissional que eu mal conhecia ou
de uma garota da padaria de quem eu sequer lembrava o nome.
Agora era Monique.
Era a amiga que tinha surgido em nossas vidas por proximidade e ficado porque
Elise se divertia com ela e eu não tinha forças para mandá-la para o inferno. Era a
mulher que me distribuía patadas e destruía minha autoconfiança sempre que
entrávamos em uma boate. Era a idiota que ria de mim a cada nova tentativa de
primeira vez. A minha própria inimiga pessoal que nunca me dava espaço para
respirar quando o assunto era “homens”.
E ali estava ela.
Trazendo mais uma taça de vinho para Ryker e sentando-se ao seu lado.
Eu tinha em emprego novo e tinha acabado de voltar do trabalho, na certeza de que
ele estaria esperando por mim. Era o primeiro dia em meses que as coisas pareciam
certas. Pareciam boas. A conversa sobre Zahner ainda precisaria acontecer e,
eventualmente, ele precisaria ir embora para ficar a salvo, eu sabia disso tudo. Mas
eu achava que hoje ia ser um dia bom.
Pelo menos até abrir a porta.
Agora eu só sentia um peso me espremendo contra o chão e um desejo imenso de
que Spider estivesse ali ao meu lado.
Spider…
Mãos gigantes e invisíveis apertavam meus pulmões e eu não conseguia respirar.
Sentei na cadeiradiante deles e os ouvi rir. Ryker
mantinha um olho em mim como se meu ciúme lhe causasse êxtase e eu o odiei por
isso.
Me senti ficar miúda sentada naquela cadeira. Esmagada e minúscula.
Ele ia dar em cima dela para me provocar e teria um sucesso monstruoso em sua
empreitada.
Duas semanas de striptease não tinham mudado minha personalidade a ponto de
me deixar confiante para competir com ela.
Eu precisava de uma taça de vinho também.
Quis correr e me esconder no meu quarto. Quis colocar Monique para fora da
minha casa. Quis ligar para Elise só para poder gritar com alguém.
Mas, por fim, desisti de tudo.
Eu queria que Spider estivesse ali comigo.
De algum modo estranho e quase sobrenatural, suas forças passavam para mim.
Spider…
Spider caída no chão.Lucy chorando.
Eu não conseguia respirar.
A vida era uma coisa tão fugaz. Os problemas da vida eram imensos e eu me senti
despreparada e desprotegida.
Quando dei por mim, estava de pé.
Era maior do que Ryker e Monique no sofá da minha sala.
Foi quando tudo girou ao meu redor,e eu achei que ia desmaiar, que percebi o
quanto aquela sensação era maior que um pouco de ciúme.
– Mina? – Acho que eu deveria estar pálida, porque Ryker se moveu com seriedade.
O sorriso safado tinha desaparecido.
– Eu… – O quê? O que eu queria? – Eu esqueci de pegar… – Apontei para a porta,
sem rumo. Eu precisava de ar. – Esqueci uma coisa.
Estava na porta quando ouvi Monique fazer alguma piada sobre “sozinhos
finalmente”. Desci as escadas para a rua e senti as lágrimas no meu rosto assim que o
vento me atingiu. Eu estava andando pelacalçada. Para qual direção, eu não
sabia. Não importava.
Uma pressão no meu cotovelo, uma força me puxando.
– Mina?
Eu me virei de volta. Meu olhar se perdia no vazio.
– Mina? – Ryker tinha me seguido e apertou meus braços procurando meus olhos. –
Você está bem? Desculpa, amor. – Riu, sem jeito e me puxou para perto. – Eu estava
só te provocando. Não quis te magoar. Eu sou imbecil, você sabe. Não faço isso de
novo e… Mina?
Eu tentava respirar pela boca, mas o ar entrava e saía em lufadas irregulares que
não me traziam oxigênio suficiente.
– Mina, o que houve? – Ele me apertou e eu soube que estava preocupado. – O que
aconteceu?
– Spider morreu, Ryker – murmurei.
Ele se afastou um pouco, piscando os olhos em silêncio, tentando entender como eu
tinha ido de Monique e taças de vinho para Spider.
– O funeral foi… foi… – Levei as costas da mão para aparar as lágrimas e Ryker
me soltou.
– Eu queria ter ido – suspirou.
Há quantos anos eles se conheciam? Ela significava muito mais para ele do que para
mim.
– Eu estava lá. Quando aconteceu – continuou. – Eu devia ter feito alguma coisa.
Não devia ter sido daquele jeito.
– Nada aconteceu do jeito que deveria ter sido – confortei-o. – Nãofoi culpa sua.
A culpa foi…
– Não foi sua. – Segurou-me pelos braços de novo. – Mina, não foi! – Sacudiu-me
com cuidado. – A gente não pode se culpar por ter tentando salvar nossas vidas e ter
feito a coisa certa. Não é justo – completou.
– Eu sei – inspirei profundamente. – Mas é perigoso, Ryk. Isso tudo que aconteceu
com a gente. Que ainda podeacontecer. Você não devia ter fugido doZahner.
– Tive um bom motivo.
– E eu preciso saber qual é! Precisa me contar.
– Vou te contar tudo, mas não aqui fora, está bem? – Olhou ao redor, como se
temesse ser perseguido e só entãoseus olhos assumiram um tom nervoso. Como se
algo tivesse escapado discretamente de sua memória e retornado agora com um
grito e um estouro. – Vamos entrar? A gente se livra da sua amiga estranha e
conversa. A gente conversa a noite toda. Mas vamos entrar.
Ele me puxou pelo braço e permiti que me guiasse.

– É ele?
Puxou meu casaco, querendo olhar afoto.
Estreitei os olhos, focando no homemdo outro lado da rua que passava obraço pelos
ombros da garota ruiva e a puxava de volta para o prédio. Ele olhava ao redor,
preocupado. Tentava desvendar os perigos das sombras e, ao mesmo tempo, estava
completamente alheio aos verdadeiros riscos.
Olhei para a foto mais uma vez. Mesmo na penumbra, não havia dúvida.
– Uspekh, camarada. É ele.
Cinco

Caminhos para retornar àcasa

Monique estava de pé no apartamento, no meio da minha sala, próxima à janela e eu


desejei ter beijado Ryker na rua. Ela estava nos assistindo… Pela minha vida, eu tinha
certeza de que estava.
Tamborilou os dedos nos braços, revirando os olhos para mim como se quisesse
gritar:“Acabou seu showzinho,
virgem?”
A lembrança de Spider tinha destruído um pedaço de mim e eu quase esqueci que
Ryker precisaria ser punidopelo comportamento infantil. Um erroque eu não repetiria.
Eu entrei primeiro e ele me seguiu deperto.
– Está mais calma, Mina? – Riu, debochada. – Parece que ela precisa de um pouco
de vinho também, Ryk.
Ryker pegou a garrafa em cima da mesa e encarei sua nuca com ódio.
Se você a obedecer e me servir uma taça dessa porcaria, eu estouro a garrafa na sua
cabeça.
Não duvide!
– Pode dar a minha para ela. – Monique indicou sua taça vazia. – Eu e você
dividimos a outra.
Chega. Eu dei um passo para a frentesentindo o rosnado subir minha garganta.
Mas Ryker apenas a ignorou.
Ignorou-a tão completamente que foi como se ela sequer existisse. Não era como se
quisesse fazê-la se sentir mal, não era por vingança, infantilidade ou mesquinharia. Era
simplesmente umnovo dia e Monique não existia mais.
Ele apanhou a garrafa e seguiu para o meu quarto em silêncio. Eu observei suas
costas se afastarem ainda sem entender suas intenções. Vi quandocolocou a garrafa em
cima da penteadeira. E aí meu olhar se perdeu, ao encarar as entrâncias pélvicas
daquele abdome deliciosamente malhado quando ele arrancou a camisa pelo pescoço,
sem qualquer cerimônia ou aviso. Piscou um olho safado para mim e fechou a porta.
Monique estava boquiaberta.E eu estava salivando.
Juro que queria ignorar Monique de propósito. Ela estava falando algo. Talvez
fosse uma crítica, talvez uma pergunta… e eu queria sorrir para ela, revirar os olhos,
dizer “é meu” e mandá-la sumir do meu apartamento. Ou algo igualmente à altura…
Mas Ryker tinha tirado a camisa eminha língua estava formigando.
Estava na minha cama… segurando
aquele vibrador… revirando minhas gavetas em busca de alguma camisinha
esquecida… planejando qual era a próxima coisa que eu precisava experimentar…
E Monique restou, totalmente esquecida e sem importância diante das minhas
perspectivas.
Eu queria ter debochado dela como ela fazia de mim.
Mas meus pés estavam me conduzindo rumo ao interior do quarto em algum tipo de
piloto automático e se Monique queria me dizer alguma coisa, teve que ir embora
querendo.
Naquele momento, ela também nãoexistia mais para mim. A única coisa que existia
era Ryker.
E, quando ele tirava a roupa, raramente outros assuntos tinham importância.

– Isso foi um pedido de desculpa?


Sentado sobre minha cama, sem camisa. Ele não tinha terminado de se despir, o
que me fez pensar que talvez a camisa tivesse sido retirada apenas para provocar
minha “amiga”.
Parte de mim ficou feliz porque ele resolveu colaborar.
Parte de mim ficou infeliz porque ele não estava nu.
– Está querendo que eu tire as roupas sempre que faça algo que te desagrada?
– Riu. Mas seu sorriso não foi safado como geralmente o era em situações do tipo.
Ele estava contido. Delicado. Como se houvesse muito mais em sua mente do que
apenas sexo e me peguei surpreendida. – Porque, se esse for o caso, é melhor eu ficar
logo nu o tempo inteiro.
– Isso pode funcionar – brinquei.
Do lado de fora, a porta bateu num estalo alto. Monique tinha decidido ir embora,
salientando bem sua fúria para quem quisesse percebê-la. Ela ia descontar em Elise
depois. Ia estressar minha amiga até deixá-la preocupada com minha sanidade mais
uma vez.
– Mina… senta aqui. – Seus lábios estavam espremidos e eu soube que estava na
hora de conversarmos. Ryker me encarou com cuidado, como se tentasse decidir quais
palavras causariam menor impacto.
– Ryk, só me conta – pedi. – Não sepreocupe em como vai falar. Só fale.
Ele balançou a cabeça e respiroufundo.
– Lembra das histórias que te conteisobre o meu pai?
Um gosto de bile subiu-me à garganta.
– Não acho que é o tipo de coisa que eu conseguiria esquecer.
– Certo… – murmurou. – Ele se envolveu com algumas coisas ilegais. Eu tenho
conhecimentos sobre algumas delas e… – Sua risada foi desconfortável. – Acho que
essa parte não importa muito. O que é importa é o acordo que fiz com Zahner.
– Informações sobre seu pai para que eu pudesse voltar pra casa. Eu lembro dessa
parte. – Revirei os olhos, tentando exagerar e descontrair o momento, mas Strome
estava rígido como uma estátua.
– Foi uma ideia ao mesmo tempo boa e ruim. Porque assim eu podia ajudar a
polícia a fazer justiça, mas em troca teria não apenas o Kulik atrás de mim, mas
também o meu pai.
– Veio atrás de mim porque percebeu isso? – Levantei uma sobrancelha. – Porque,
se foi por isso, demorou um pouco para fazer as contas. – Ri, amigável.
– Antes fosse. – Colocou minha mão entre as suas. – Ele ligou pra mim.
Ryker estava encarando nossas mãos entrelaçadas e eu não consegui compreender.
– Zahner? Ele ligou? Você atendeu?
– Não, Mina… Simak, meu pai… eleligou.
Seguiu-se uma sensação estranha, daquelas que faz seu corpo inteiro dilatar. Eu sei
como é quando os músculos se contraem diante de uma notícia ruim: aquela sensação
de adrenalina passando pelo corpo e te preparando para fugir. Quando o instinto se
resume a levantar e correr para longe do perigo.
Mas essa sensação era diferente. Umasensação de dilatação.
De se derreter em qualquer superfíciee esperar pelo fim.
Uma sensação de desistência.
– Seu pai… onde? Como ele… como? – balbuciei e esperei que Ryk conseguisse
traduzir minhas meiaspalavras.
– Ligou para mim no meu apartamento. Na Itália.
– Estava na Itália! – Arregalei os olhos e enfiei um tapa no seu braço. – Strome!
Não deveria me contar isso! Não pode dizer isso para ninguém! Ah meu Deus! –
Enfiei os dedos nos olhos, esfregando-os como se essa atitude pudesse nos fazer voltar
no tempo. –Precisamos falar com Zahner! Ele precisa te levar para outro lugar! Você
vai ter q…
– Mina – Ryker falou muito baixo, muito suave e muito devagar. – Mina, meescuta.
Meu queixo tremia.
– Ele sabe sobre você.
– Sobre mim? – sussurrei.
– Não sei como ele descobriu. Nem sobre você, nem onde eu estava… Tenho uma
suspeita, mas não tenho certeza. Ele ligou para mim e falou sobre você. Zahner disse
que mantinha uns homens por perto para se certificar de que você estava bem, mas…
– Zahner fez O QUÊ? – exclamei comminha boca aberta de indignação.
– Mina, ele só estava preocupado e fazendo o trabalho dele. – Subiu e
desceu as mãos pelos meus braçostentando me reconfortar com seu carinho.
– Preocupado com o quê? – Espremi os olhos, exasperada. – Achei que não havia
mais nenhum risco para mim.
Vi seu pomo de adão se movendo e eusoube que tinha sido enganada.
– Eu não estava a salvo?! RYKER! Coloquei Elise em perigo! – Eu já estava de pé.
Não lembrava de ter levantado, mas me pusera a andar de um lado para o outro no
quarto.
– Eu não sabia! – defendeu-se. – Foi só quando perguntei por você que… Zahner
deixou escapar. Foi um dos motivos para eu ter resolvido vir! Eu já achava que você
estava em perigo antes, aí meu pai me ligou dizendo que sabe que você existe e eu…
eu precisava saber se você estava bem.
Ryker girava ao meu redor, sem nuncame tocar. Como se quisesse desesperadamente
que eu me acalmasse,mas temesse que eu fosse explodir se eleme tocasse. Foi uma boa
decisão.
Cravei os dentes no lábio, sentindo o pânico invadir meu corpo mais uma vez,
naquela sensação insana que eu imaginara que nunca mais precisaria experimentar.
Mas ali estava ela: subindo pela minha espinha e congelando meus músculos.
Mas tinha algo…
Tinha algo que não somava.O que era?
– Eu fui à polícia – murmurei para mim mesma.
– Eu sei. Falou com o inspetor Herbeck, na noite do assassinato. Simak
mencionou, acho que Herbeck contou para ele. Zahner fez um acordo com ele, que
desapareceu há pouco tempo. Pode ter sido só para começar uma vida nova. Ou pode
ter sido outra coisa... – levantou suas suspeitas, sombrio.
– Eu liguei pra casa – continuei meu raciocínio, ignorando Ryker.
– Ligou pra casa? Quando? Mina, do que está falando?
– Liguei para a casa de Elise! Não para a casa que eles explodiram...
– Minha voz escapava quase inaudível. Eu não estava falando para
Ryker, estava falando para mim mesma.
– Mina, você não está fazendo sentido.
– Eles explodiram a casa achando que era sua? – calculei. – Eles não sabiam da
minha existência, devem ter descoberto o endereço por causa do taxista e explodiram
minha casa achandoque era sua. Mas, se Herbeck falou com eles, eles saberiam que eu
existo e teriam o número de Elise.
– Mina, será que eu posso participar da conversa? – irritou-se.
Eu levantei o indicador.
– Eles não sabiam que eu existo, só viram você no estacionamento – listei. – E não
teriam como saber sobre mim semHerbeck.
– Então Herbeck falou com eles. Foi o que eu disse.
– Shh!
Enfiei a mão em seu rosto, forçando sua boca a se fechar. Eu precisava que ele
ficasse em silêncio para que eu conseguisse pensar.
– Eu liguei para a casa de Elise da delegacia, naquela noite. Herbeck sabe da
ligação. Eu estava na delegacia, na frente dele quando liguei. Se foi ele quem falou
para o seu pai da minha existência, ele deve ter visto a ligação. –Parte de mim já tinha
terminado o cálculo e era por isso que eu tremia tanto. – Como nos encontraram em
Amsterdã?
– Não faço a menor ideia.
– Seu pai pode estar trabalhando comKulik?
– Nada faria mais sentido.
– Eles estão aqui. – Esfreguei minhastêmporas. – Ryker! – chamei, em pânico.
– Eles estão aqui!
– O quê? Não… eu tomei cuidado! E os homens do Zahner estão lá em baixo.Eu os
vi! Tive que despistá-los para entrar no seu prédio, não me viram.
– Homens do Zahner? – Eu parara derespirar não sabia há quanto tempo.
– É. Eles não vão deixar nada ruim acontecer com a gente.
– O que você viu?
– Dois caras suspeitos encarando o seu prédio. – Deu de ombros.
– E como sabe que eram do Zahner? – chiei. Seus olhar de incredulidade se
transformou em uma careta de pavor.
– Herbeck é o único que sabe sobre mim! – Segurei seus ombros e o sacudi.
– E ele sabe que fiz uma ligação!
– Qual o problema com essa maldita ligação? – reclamou.
– Herbeck pode ver para qual número eu disquei e encontrar o endereço no registro
de ligações da delegacia! Ele teria acesso a essa informação, Ryker! Ele saberia o
endereço!
Eu estava gritando, completamente sem rumo. O olhar de Ryker se perdeu pálido
no horizonte quando ele enfimacompanhou meu raciocínio.
– Para qual número você ligou? – perguntou, mas no seu olhar identifiquei que já
sabia a resposta.
– Para cá – gemi, sofrível. – Liguei para a casa de Elise. Se eles têm o número, eles
têm o endereço. – Eu sabia que Ryker já tinha entendido, mas as palavras estavam na
minha boca e eu acabei por dizê-las – Se Herbeck contou uma coisa para o seu pai, ele
pode ter contado as duas! O que significa que se ele sabe que eu existo, então sabe
onde eu estou. Sabia o tempo todo. Poderia chegar até mim quando quisesse. Mas ele
não me quer! Ele quer você.
Ryker deu um passo para trás e acho que, assim como eu, ele também estava
tremendo.
– Seu pai só quis te assustar. Ele sabia onde eu estava. Mas não sabia onde você
estava. Ou não tinha como chegar até você. E aí fez você vir até ele. Só precisava
fazer você vir atrás de mim e te esperar na minha porta.
Eu achei que Ryker poderia chorar quando olhou para mim, como se implorasse
meu perdão.
Inspirou como se fosse me prometer algo. Como se quisesse dizer que me amava.
Como se estivesse à beira dodesespero.
Mas não houve tempo para nada disso. Um barulho ensurdecedor invadiu nossa
sala. Uma explosão de madeira e vidro e muitas coisas se quebrando.
O perigo que nós temíamos tinha batido à minha porta e a tinha encontrado
destrancada.
Ryker me puxou de um jeito involuntário, me protegendo em seu abraço. Mas a
carne dele, como a minha,não era à prova de balas.
Nós íamos morrer.
Minha sala deveria estar destruída.
O barulho fora tão alto que eu cheguei a pensar que fosse uma bomba: os russos
tinham chegado e iam explodir meu apartamento de novo…
Mas não foi uma explosão. Eram só barulhos altos de tudo sendo quebrado e
destruído.
– Aqui. – Ryker me puxou, veloz,abrindo a janela.
– Ryker, eu preciso pegar algum dinheiro.
– Mina! – rugiu com os dentes
travados. – Saia daqui, agora! – Ele me empurrou pela janela do quarto para a escada
de emergência. Caminhei apressada e me equilibrei no apoio de metal que servia de
parapeito. A escada não passava exatamente pela minha janela, mas era larga o
suficiente para que eu pudesse me pendurar nela sem medo de cair do sexto andar. Eu
já estava praticamente apoiada e pronta para fugir quando Ryker hesitou e eu o vi
desaparecer para dentro do quarto sendo puxado de volta por um par de mãos pouco
amigáveis.
Usei o pé de apoio para me impulsionar de volta pela janela.
Não, eu não sei o que eu poderia fazercontra matadores russos.
Eu nem sequer sabia se eram, de fato,matadores russos.
Eu precisava parar de pensar nas palavras “matadores russos”. Elas faziam com que
eu me sentisse ridícula e potencialmente morta. E eu não era uma fã em particular de
nenhuma das duas sensações.
Senti o carpete do meu quarto sob meus dedos, quando perdi o equilíbrio e caí de
joelhos atrás da minha cama. O homem agarrava Ryker por trás e eleenfiou o cotovelo
em suas costelas. Meu corpo reagia sem esperar minha autorização, verificando os
arredores e buscando qualquer objeto que pudesse ser usado como arma, e encontrou
nada além do longo vibrador em cima do
criado-mudo.
Agarrei sua empunhadura sem pensar duas vezes e usei-o como um porrete contra a
cabeça do nosso agressor. Ryker tinha enfiado uma cotovelada em seu estômago e se
abaixou, permitindo que meu golpe encontrasse o alvo em cheio.
Em seguida, ouvi um baque surdo e ohomem caiu sobre minha cama, que se moveu
com o impacto.
Ryker se levantou me segurando pelo braço e correndo para a janela mais uma vez.
Coloquei o pé para fora e...
– Esperem!
Virei para trás e vi o homem caído sobre minha cama, agarrando o nariz
ensanguentado com as mãos. Ele gemeu de dor, se movendo, irritado. Então soltou o
nariz e agarrou a caixa de lenços sobre o meu criado-mudo.
– Juro por Deus que um dia aindaparo de ajudar vocês dois.
– Zahner! – Eu me joguei aos seus pés em sinal de um alívio que não poderia ser
expressado com palavras e tentei lheajudar com o machucado. – Sinto muito,eu não…
– É, eu sei! – rosnou, distanciando-sede mim com um gesto.
– O que houve? – Ryker se inclinou para observar além da porta do quarto e segui a
linha do seu olhar. Podia ver pedaços de vidros quebrados… Minha mesa de centro.
Os pés calçados com largas botas negras e rústicas estavam jogados de modo que
o corpo sumia do meu campo de visão. Ele parecia ter caído por cima da minha
mesa.
– Você ainda me pergunta “o que houve”? – Zahner avançou, furioso. – Strome!
Você perdeu o cacete do seu juízo?
– Meu pai descobriu sobre Mina, Gary, o que você queria que eu fizesse?
– Não sei… – começou, dissimulado.
– Contar para o responsável pela sua segurança, talvez?
– Temos que ligar para a polícia. – Encontrei meu celular, mas Zahner o tirou do
meu alcance.
– Não, a gente precisa dar o fora daqui.
– Zahner, eu sei que são corruptos, mas não vão poder ser corruptos abertamente!
Um meio sorriso atravessou seu rosto, embora não houvesse qualquer graça em seu
olhar.
Cores sombrias tremeluziam em seus olhos.
– O mundo é mesmo belo para vocês dois, não é? – Riu. – Vocês veem o dono da
máfia russa e maior chefe do crime organizado da Europa cometer um assassinato,
mas não é problema algum.
– Ridicularizou, dando de ombros. – Se escondem na casa de um amigo e achamque o
problema vai se resolver. Então, querem fugir juntos pelo mundo e, quando percebem
que não vai dar certo,
me convencem a manter a vida normal para pelo menos um de vocês, apenas para que
depois o outro – olhou para Ryker com raiva e continuou: – possa me enganar depois
e fugir.
– Não foi isso que…
–VOCÊS SÃO TESTEMUNHAS DE UM ASSASSINATO! – berrou. –
Quando vão enfiar isso nessas cabeças de merda? – Dei um passo para trás e Ryker
tentou argumentar, mas a fúria de Zahner mal tinha começado. – Não podem
simplesmente fugir por aí. Não podem entrar em contato um com o outro. Não
podem esconder coisas de mim. Vocês querem morrer? É isso? Porque, se for, só me
avisem! Eu paro de me envolver.
– Riu. – Prometo.
– Olha aqui… – Strome começou.
Mas tinha pelo menos um homem caído na minha sala destruída e a verdade é que
Zahner estava completamente certo.
– Não queremos morrer – interrompi Ryk, decidindo por nós dois. – Nos digao que
temos que fazer.
Zahner me encarou por um segundo.
– Eu preferia ter feito um acordo com ela. – Indicou-me com o polegar. – E deixado
você pra trás – ralhou. – Ela é muito mais coerente.
– Está querendo me explicar que a vida é uma merda? Porque eu já sei disso, Gary.
Zahner esfregou a cabeça, sacudindo seus cabelos e desfazendo o topete.
Eu estive tão preocupada com nossos próprios problemas que sequer dediqueialgum
tempo para observar a situação do pobre Gary. Sua camisa estavarasgada na altura da
manga e ele parecia ter levado um murro no rosto, além do golpe do meu vibrador no
seu nariz.
– Discutimos depois. Agora a gente precisa dar o fora daqui. Eram só dois atrás de
vocês, dessa vez. Se fossem mais, acho que nem estaríamos tendo essa conversa.
Vamos embora. Agora.
Agora era Gary quem me empurrava para a saída de emergência.
– Desçam. Vão.
– Zahner… – Engoli em seco. Eu ia embora de novo, deixando uma bagunça para
Elise mais uma vez. – Os homens na sala… estão…?
– Mortos? Não – falou sem cuidados.
– Agora, desçam!
– Por que não esperamos a polícia chegar?
Desci pela escada de metal com os dois logo atrás de mim. Alcançamos a rua fria e
vimos o aglomerado de pessoas que seguia na direção oposta, provavelmente atraídos
pelas sirenes de polícia que começavam a se aproximar.
– Vocês estão processando o pai de Ryker e mais um monte de gente, não é?
– perguntei rapidamente, enquanto andávamos apressados. – Não pode ser tão fácil
assim para um agente corrupto agir agora.
– Mas meu pai sabe onde estamos, Mina.
– Eu sei! Fui eu que percebi isso, lembra? – Senti vontade de lhe dar um peteleco na
testa. – Mas a gente já tentoufugir uma vez e isso não nos levou a lugar algum.
– Levou, sim! Eu só voltei porque souidiota.
– Não foi idiota, só estava preocupado.
– Chega! – Zahner rosnou. Ele nos observava como se não acreditasse que éramos
reais. – Herbeck desapareceu. Eu fiz um acordo com ele antes: ele ficaria quietinho e
eu não o denunciaria por corrupção, colocando-o na cadeia. Mas eu precisava manter
escondida a identidade de Mina por causa do acordo com o Ryker – murmurou com
uma velocidade tão grande que eu mal conseguia compreender suas palavras. – Então,
eu não podia dizer para ninguém COMO eu sabia que Herbeck era corrupto, sem
explicar o envolvimento de Mina. Herbeck deve ter percebido que eu estava só
blefando e fez um acordo melhor com Simak.
– Foi por isso que mandou alguém ficar de olho nela – Ryker compreendeu.
– Estava preocupado com Herbeck.Queria garantir.
Zahner se desviou do caminho e nos puxou para um canto mais afastado da praça,
no qual ninguém podia nos ouvir.
– A notícia que recebi hoje de manhã piorou tudo – resmungou, impaciente, nos
conduzindo por um beco para o outro lado da rua. – Herbeck reapareceu em Paris,
cheio de promoções e contatos, o que tornou minha vida mais difícil.
– Mas como ele conseguiu ser promovido? Com Simak ou Kulik? Eles não estão
sendo investigados? Ainda conseguem pedir favores?
– Não há provas, garotinha! – reclamou. – Será que vocês não entendem isso?
Ainda não há provas definitivas contra Simak e não há provasdefinitivas contra Kulik.
Nenhuma, foravocês dois. Os dois idiotas apaixonados
– rugiu com uma careta. – A investigação prejudica Simak politicamente, mas, por
enquanto, não vai além disso. Herbeck contou para Simak que tinha mais alguém
envolvido.
– Apontou para mim. – Agora, Simak está se defendendo das acusações e da
investigação com uma nova teoria, que envolve o testemunho de Mina.
– Meu testemunho? – Ri. – Como eu poderia afirmar algo para inocentá-lo?
– Ele já conseguiu provar que você existe e que tem um relacionamento próximo
com Ryker: testemunho de Herbeck, ligação da delegacia e eles encontraram filmagens
da estação em Bruxelas em que vocês dois aparecem. Simak está dizendo que você
pode refutar todas as informações contra ele porque era confidente de Ryker e sabe que
Ryker está mentindo para se vingar do pai.
– Mas isso é mentira!
– É, as pessoas mentem. – Revirou os olhos, furioso. – Horrível, não é? O problema
é que eu te ajudei a desaparecer dessa história – recitou cada palavra como se as
amaldiçoasse.
– E esse processo não foi feito exatamente dentro do protocolo.
– E o que tem? – Eu estava confusa, mas Ryker estava apertando meu braço e eu
percebi que, dessa vez, era ele quem já tinha entendido.
– Simak está se defendendo ao alegar que Zahner escolheu provas contra ele para
incriminá-lo em vez de analisar todas as provas. Ou seja, a tese do meu pai se baseia
em afirmar que Zahner se limitou a me usar como testemunha e a se livrar da Mina.
Estão te investigando? – Fui suspenso. E pra piorar, justo quando você deveria ser
trazido para um novo depoimento…
– ... eu fui embora… – completei. – Você teve que adiar o depoimento e eles acham
que você está tentando enganá- los.
– Precisamente.
– Calma! – Eu precisava fazer uma lista porque estava começando a me perder,
mas os dois me puxaram por umaárea movimentada da rua e eu preferi permanecer em
silêncio.
Respirei fundo.Liste...
Herbeck contou para Simak a meu respeito Simak disse que Ryker está mentindo
por pura raiva dele e que Mina Bault é a confidente que pode provar isso.
Aproveitou-se da situação para acusar Zahner de parcialidade.
Ryker foi convocado para um novo depoimento, mas Zahner não pôde levá- lo de
volta porque ele tinha fugido para me procurar.
As informações nas mãos da Interpol indicam que Zahner escondeu uma
testemunha e depois sumiu com a outra.
Simak está agindo como se fosse o injustiçado da história e Zahner acabou se
tornando o vilão.
Para variar, estamos todos fodidos.
– Perdi meu emprego e minha reputação para que vocês dois pudesses trocar uns
beijinhos – murmurou. – Estão satisfeitos?
– Mas que absurdo! – Eu ri. – Se o problema todo é esse, então me levem até o juiz!
Meu depoimento obviamente não vai inocentar Simak.
Ryker e Zahner se entreolharam e eu sabia que não receberia boas notícias.
– Mina… eles não querem que você testemunhe. Eles só precisam que você exista
para que possam te usar como argumento de defesa. Faz sentido: você me conhece,
procurou a polícia e, logo depois, quando Zahner começou a investigação contra meu
pai, você desapareceu. A sua existência é um ponto ótimo para o caso deles. Mas se
você testemunhar…
– Vão me matar – compreendi.
– Vão tentar. – Ryk segurou minhas mãos, mas não precisava. Minha vida era uma
montanha-russa e eu já tinha dado tantas voltas que ficar de cabeça para baixo mais
uma vez não ia me fazervomitar.
– Mas por que não me mataram logo? Eles sabiam onde eu estava! – Olhei de um
para o outro à procura de uma justificativa.
– Não tinham acesso a Strome – explicou.
– Queriam reunir nós três? – Ryker voltou-se para Zahner.
– Matar vocês dois e colocar a culpa em mim, provavelmente. Obrigado por
colaborar com eles, por sinal.
– Mas não nos mataram! Por que nãovamos à polícia agora e...
– Garota, desista da polícia! Eles não vão ajudar! Vão nos foder! Assim que você
aparecer na frente deles, metem uma bala na sua cabeça, jogam a mim e Ryker na
cadeia e alegam ter sido legítima defesa porque um de nós parecia estar armado. O
sistema está contra a gente agora. Consegue entender?
– Ei! Não fale assim com ela!
– Isso, moleque, brigue comigo, a única pessoa no mundo que ainda quer salvar
sua vida.
– Parem, vocês dois! – Tapei os olhos com as mãos e ouvi os dois se calarem. Senti
que ia chorar e Ryker me enfiou em seus braços. A voz de Zahner estavamais amena
quando ele continuou.
– Só o que nós precisamos agora é de um esconderijo seguro. Um lugar onde a gente
possa se sentar, colocar as ideias em ordem e organizar o que fazer a seguir. Não estou
mais na polícia, mas ainda tenho alguns amigos. Gente que vai me ouvir. Mas não
podemos circularpor aí como loucos. Precisamos de um plano.
– Você conhece algum lugar seguro? – Ryker quis saber.
– Meus contatos com a polícia. O problema é que…
– São contatos da polícia?
Não ouvi a resposta de Zahner, já que ainda estava com o rosto afundado no
peito de Ryker, mas imagino que eletenha confirmado.
– Bem… – Ryk apertou meus braços e eu me permiti um ligeiro afastamento para
respirar melhor. Ele estava olhando para mim. Aqueles imensos olhos claros que
conseguiam me acalmar mesmo no meio de um furacão. O mesmo sorriso que me
ofereceu quando nos conhecemos… diante da cesta de sacanagens de Elise e de toda a
minha vergonha. O mesmo sorriso de todos aqueles dias que passamos juntos. Cada
problema. Cada solução. Estávamos enfiados em um inferno de novo, mas pelo menos
dessa vez íamos ficar juntos. Eu sorri de volta e ele reuniu coragem para continuar: –
se o que a gente precisa é de um abrigo seguro e de pessoas confiáveis para ajudar... –
Ele piscou um olho descarado para mim, deixando claras suas intenções. – Então acho
que conheço um lugar.
Zahner usou meu celular uma única vez antes de retirar o chip e jogar tudo no lixo.
Eu apenas confiei que suas atitudes fariam sentido e me limitei a sentar no banco
traseiro de seu carro ao lado de Ryker e esperar que o ex- inspetor assumisse a direção.
Ele acelerou pelas ruas, deixando Paris para trás.
Escorreguei as pontas dos dedos pela janela fria.
Estava indo embora de novo. Eperdendo mais um emprego.
Era melhor mesmo que Zahner mecolocasse no programa de proteção à testemunha
dessa vez… Eu ia precisar de uma nova identidade porque Mina Bault nunca mais
conseguiria emprego em lugar nenhum de Paris.
Eu estava preocupada com Elise. Minha melhor amiga no mundo e eu ia fazê-la
passar por aquilo de novo. Sem me despedir… A diferença é que dessa vez não
importava mais: meu rosto ia aparecer na televisão e todo mundo ia saber o que tinha
acontecido.
Pelo menos, a mentira ia acabar.
A viagem foi longa. Foi cansativa. E em mais de um aspecto foi, principalmente,
surreal.
Era surreal estar a caminho de Amsterdã de novo e era especialmente surreal querer
ir para Amsterdã. Há um ano, eu nunca cogitaria fazer uma viagem como aquela com
tanta resignação e até um pouco de alegria. Eu confiava no pessoal do Lucky’s e seria
ótimo rever todo mundo. Tínhamos Zahner conosco dessa vez como nosso próprio
guia pessoal em assuntos da criminalidade. E, além disso, era um guia armado. Já
tínhamos passado por aquilo antes e sobrevivido. Eu já tinha perdido meu emprego,
eu já tinha arriscado minha vida. Já tinha visto alguém morrer.
Eu estava preparada dessa vez.
Mais preparada do que jamaisimaginei estar.
E além de tudo… eu tinha Ryker. E ele me tinha.
Qualquer que fosse o problema, era sempre mais fácil encarar quando ele estava ali:
pronto para sorrir, me constranger e me deixar excitada. Relaxei dentro do seu abraço
e vi Amsterdã chegar.
Eu me lembro de ter dado dois abraços muito fortes na minha vida. Apenas dois.
O abraço que tinha dado em Ryker há pouquíssimo tempo não entrava na lista
apenas porque contra Strome não havia concorrência. Ele era único para mim, então
tudo o mais que o envolvia era igualmente único.
Em minha lista não constava Ryker ou qualquer contato físico com ele. Minha lista
somava apenas dois abraços que me fizeram sentir como se o universo inteiro tivesse
derrubado um véu sobre mim.

O primeiro abraço fora o do meu avô, logo depois que os meus pais morreram. Eu
estava na casa de Elise naquela noite. Eles tinham saído e me deixado com a família
dela. Eu lembro que a casa estava cheia quando acordei. Lembro que a mãe de Elise
me segurou pelos ombros e lembro do seu olhar antes de me enfiar em um abraço
maternal. Ela não sabia o que me dizer… É o tipo de coisa que você não aprende na
escola, faculdade ou pós- graduação: como contar a uma criança que os pais dela
morreram. Meu avô chegou o mais rápido que pôde. A única pessoa viva da minha
família, além de mim. Ele era a única família que eu ainda tinha.
Quando paro para me lembrar, acho que ele me abraçou muito mais do que eu o
abracei. Acho que era porque eu ainda era jovem e faz parte das expectativas sociais
assumir que os mais velhos vão morrer antes. Meu avô deveria sentir o oposto… Sua
expectativa deveria ser que fosse morrer antes dos mais jovens. Sob essa perspectiva,
acho que eu era muito mais a última integrante da família para ele do que ele para
mim. É por isso que acho que foi ele quem me abraçou e que eu fui a abraçada. Seja
como for, foi ummomento singular que permanecia em primeiro lugar para mim.

O segundo abraço fora o de Elise, logo quando voltei para Paris, depois da minha
experiência insana no Lucky’s. Eu tinha perdido tanta coisa… Tinha perdido minha
inocência, minha virgindade, minha vergonha e, acima de tudo, tinha perdido meu
Ryker. Abraçar Elise trouxe a sensação de recuperar algo que eu pensava ter perdido,
mas que ainda estava lá. A sensação incomparável de ainda possuir algo no mundo.
Aquele abraço simbolizou que nada poderia me separar dela. Acho que eu estava
errada… Seja como for, dessa vez fui definitivamente eu quem abracei e ela quem foi
abraçada. Ou sufocada.
Eu nunca imaginei que algum outro abraço no mundo pudesse concorrer com esses
dois. Nunca imaginei que outro abraço sequer seria considerado para entrar na minha
lista minúscula e especial.
Porém, assim que vi Luckas parado à porta principal da boate que levava seu nome,
o letreiro em neon com luzes falhando, seus óculos modestos, sua postura longa e
arrebitada como sua casa de Amsterdã, seus olhos quentes e seu sorriso amigo…
Corri em sua direção, lancei meus braços ao redor de seu pescoço e o abracei com
força, bem apertado.
Eu me lembrava de suas palavras para mim e Ryker. A ajuda que ofereceu a bom
amigo e a uma completa estranha. Eu me lembrava de suas poucas palavras no funeral
de Spider e de como senti um arrepio pelo corpo inteiro quando ele abriu uma garrafa
de cerveja no meio do cemitério e bebeu um gole direto do gargalo oferecendo um
brinde silencioso. Acho que teria jogado uma boa quantidade do líquido sobre o
caixão como uma homenagem à nossa peculiar amiga, se a irmã de Spider não tivesse
feito algo semelhante primeiro.
Nila era o nome dela. Três anos mais nova, tinha acabado de se lançar à profissão
da irmã. Estava linda e sorridente, mesmo no funeral. Lembro que cheguei a imaginar
se havia alguma indisposição entre elas para que Nila apresentasse um sorriso tão
verdadeiro naquela situação. Pelo menos até me aproximar e ver que se formavam
lágrimas em seus olhos, apesar do sorriso. Um sorriso transcendental e uma atitude de
“eu sei que minha irmã me espancaria com chicotadas na bunda se me pegasse
fazendo qualquer coisa que não fosse cultuar a vida, principalmente em seu enterro”.
Serviu duas doses de tequila e sorveu um gole antes de oferecer outro ao chão. Vi seus
lábios se moverem em um diálogo querido e apressado com a lápide de sua irmã. Mas
não me atrevi a me aproximar. Não era um momento meu, mas de Nila. Era um de
seus abraços. Mesmo que não houvesse braços envolvidos.
Lucky apertou minha bochecha comose fosse um tio que eu não via há anos.
– Não conseguiu ficar longe de nós? – brincou. Ryker o cumprimentou e agradeceu.
Ele apenas pediu-lhe que deixasse de formalidades e nos ofereceu a chave do quarto no
primeiro andar. – Vão se ajustar bem lá.
– A boate está funcionando? – Zahner observou, por cima de nós. Sempre atento e
observador. Eu sentia um nervosismo quando ele apoiava as mãos na cintura daquele
jeito… como se ele estivesse sempre pronto para levar uma mão à arma.
O curioso era que Gareth Zahner era um dos homens mais charmosos que eu já
conhecera. Não se comparava ao meu Ryk, claro. Mas ele era alto, tinha um porte que
chamava a atenção, olhos profundos e aquele topete de cabelos finos e arrepiados que
não era exatamente de propósito, mas também não era completamente acidental.
Exibia um sorriso agradável e sedutor e seria um homem que suscita admiração e
suspiros não fosse sua obstinada intensidade. O homem exalava estresse. Ele falava
qualquer coisa e eu esperava que os arredores explodissem, balas voassem ou
sequestros acontecessem. Quando levava a mão à cintura, eu esperava que ele fosse
sacar a arma e atirar em alguém. Não importava em quem… Seria apenas para aliviar
o insistente estresse que carregava consigo. Eu me senti ridícula por pensar assim…
mas talvez ele precisasse de sexo.
Seria legal poder afirmar que a ideia de Zahner e sua suposta necessidade de sexo
tinha me encantado e me feito pensar em seu corpo nu se, por mais nada, pelo menos
para me dar a ideia de que Zahner era apenas um ser humano com quem eu poderia
fantasiar.
Mas nem isso…
Me detive naquele pensamento e até considerei imaginar seu corpo nu e…
absolutamente nada.
E não era apenas porque eu estava irremediavelmente apaixonada por Strome, mas
porque havia algo em Zahner que não pedia pena. Não pedia carinho. Não pedia
desejo.
Havia algo nele que solicitava apenas que estivesse atento, que não fizesse nenhuma
besteira e, acima de tudo, que não morresse. Não havia alívio ao seu redor. Só tensão.
– Está funcionando. – Lucky abriu um sorriso triste e eu imaginei que ele ainda
resistia bravamente, e que os meses não tinham mudado o fato de que ele precisaria
vender tudo para alguémcomo o Allender. Pelo seu sorriso murcho, imaginei que não
demoraria a fazê-lo.
– Precisamos colocar os dois ládentro sem chamar atenção – Zahner decidiu.
– E você? Não vai entrar?
– Não. Vou me livrar do carro primeiro.
Ryk tinha a mão na minha cintura e estava seguindo Lucky para entrarmos na boate
quando Gary puxou-o com força pelo braço.
– Posso confiar que vocês dois vão ficar aí dentro, escondidos, em silêncio e sem
fazer nenhuma idiotice até eu voltar?
Seu olhar era duro e eu quis revirar os olhos.
A gente sabe que você é o policial que está tentando resolver tudo e provavelmente
é quem tem mais conhecimento para nos tirar dessa, Zahner, mas não precisa agir
como um arrogante imbecil o tempo inteiro.
– Pode. – Ryker ofereceu-lhe um imenso sorriso de “eu queria que você fosse ali
tomar no seu cu e me deixasse em paz” que reproduziu com precisão os meus
sentimentos.
Zahner ainda hesitou e nos encarou por mais alguns segundos antes de soltarStrome
e nos deixar seguir. Eu sentia seu olhar cravado em nossas costas e tive certeza de que
ele só foi embora depois que nos viu entrar em segurança na boate.
Eu poderia dizer que o quarto no primeiro andar era exatamente como eu me
lembrava, mas não era.
Era completamente diferente.
O bom e velho ditado já dizia que nunca se pode voltar para casa. Não de verdade.
Ou sua casa mudou, ou quem mudou foi você. De um jeito ou de outro, nunca há um
retorno. Era assim que eu me sentia.
Talvez o quarto estivesse idêntico. Talvez nada tivesse sido movido nem um
milímetro. Mas eu tinha mudado, e muito. E todo o processo de metamorfose
começou ali: entre aqueles lençóis.
Ryker estava se despindo e eu nem me incomodei em recriminá-lo. Se ele quisesse
transar agora, seria muito bem- vindo. Na verdade, acho que mesmo que ele não
quisesse, eu iria sugerir.
Passei os nós dos dedos pelo topo de sua bunda onde a barra da cueca acabava,
dando passagem à curva na parte baixa de suas costas. Ele se virou com reflexos sobre-
humanos, puxando- me pelo braço.
– Safada – recriminou, apertando-meentre seus braços. Eu ri e ele me beijou.
Reagiu tão rápido que eu imagino que já estaria planejando algo semelhante antes
mesmo de meus dedos terem alcançado seu traseiro.
– Eu me lembro da primeira vez que te vi nua nesse quarto – suspirou.
– Quando arrancou minhas roupas e me fez gozar com a boca pela primeira vez –
completei, gulosa.
– Não! – exclamou, ofendido. – Não se lembra?
Estreitei os olhos, vasculhando minhamemória e…
– Eu estava tomando banho! – Lembrei, desferindo um tapa em seu ombro. – E
você veio me assistir porque é um pervertido – exagerei e me afastei. Ele me agarrou
pela cintura, me virou de costas e alinhou sua virilha à minha bunda, roçando nossos
desejos com sua fome característica.
– Ia ficar decepcionado se você tivesse esquecido – murmurou, mordendo minha
orelha, fazendo sua rouquidão me excitar.
– De como você é pervertido? – provoquei. – Jamais!
Ele riu e se afastou tão subitamente que, por um segundo, imaginei que a
brincadeira poderia tê-lo ofendido.Ryker estava vestindo a camisa de volta e subindo o
zíper.
– O que houve? – perguntei, preocupada.
– Vamos fazer isso. – A sacanagem em seu sorriso deixava evidente que estava tudo
bem. Ele tinha planos… masestava tudo bem.
– O que você quer? – Levantei uma sobrancelha.
– Quero que você vá tomar banho. – Lambeu minha boca. – Quero assistir com
calma desta vez.
Travei os dentes nos meus lábios e despi o casaco que Zahner me oferecera no
caminho. Eu e Ryker fugimos sem muitos pertences. Larguei o casaco sobre a cama e
o encarei enquanto decidia.
– E então? – pediu com urgência.
– Afaste-se – resolvi provocar. – Não me toque a não ser que eu peça, ok?
Ryker arregalou os olhos e abriu a boca, indignado.
– Não! Que brincadeira horrível!
Claro que não. Peça outra coisa.
Eu estava rindo.
Andei até o banheiro e ele me seguiu como um fiel animal de estimação.
Me livrei de tudo, menos da roupa íntima. Ainda estava em frente à porta do
banheiro. Tentei voltar ao quarto para repousar o resto das minhas roupas sobre a
cadeira ou a cama, mas Ryker estava quase em cima de mim. Não me tocava, mas
também não permitia que eu me movimentasse, de modo que eu só pude me esgueirar
ao seu redor para lançar as peças de roupa sobre seu ombro ou pelo canto entre sua
cintura e a porta. Eu ria enquanto ele mantinha as mãos enfiadas nos bolsos. Pelo
volume em sua calça, eu tinha ciência de que ele estava duro e que as mãos que enfiara
nos bolsos estavam cerradas em punhos.
Ele gostou da brincadeira.
Não vai me tocar a não ser que eu permita.
Estava me sentindo ótima e orgulhosa do meu conforto com meu corpo seminu. E
então… girei devagar na porta do quarto e seus dentes se enfiaram no lábio inferior
com tanta força que percebi os sulcos se formarem.
Ele estava com raiva? Ah, porcaria… Eu tinha tirado a roupa rápido demais, não
era?
Coloquei os braços longos e lentos sobre o meu corpo… Não ia servir para me
tapar, mas pelo menos iria conter meu constrangimento momentâneo.
– Acho que não sou boa nessa coisa de striptease. – Senti meus dentes baterem uns
contra os outros quando travei minha mandíbula. – Tirei tudo rápido demais, não foi?
Acho que não sei fazer sem Lucy e Spider… – Tentei rir e ajeitei o cabelo atrás da
orelha, tirando os fios soltos do meu campo de visão. Queria observá-lo melhor, no
entanto, ele não tinha soltado os dentes do lábio e eu não tinha certeza se isso era bom
ou ruim. Comecei a tremer de um jeito horrivelmente familiar, de quando a tensão de
véspera de prova meatingia.
– Coloco de volta? A minha roupa? – Ele ficou mudo. – Coloco, não é? Você disse
que queria me ver tomar banho, aí eu tirei de vez! Porém, se fosse pra me ver tirar
devagar, deveria… Por que não me disse? Tem que me avisar! – reclamei, sentindo
um ardor horrível subir pelas bochechas à medida que eu ficava mais e mais
consciente do excesso de roupas dele e da ausência das minhas.
– Coloco de volta? Ou só tiro o resto e entro no chuveiro? – ele não me respondia.
Eu atropelava minhas perguntas umas sobre as outras e ele se recusava a me
conceder uma resposta, de modo que meu pânico aumentou e aumentou: – Acho
melhor eu me vestir. Você me dá licença? Eu coloco de volta, aí tiro de novo e
depois…
Senti a parede do banheiro quando minha nuca e minhas costas se chocaram contra
ela. Ryker estava ao meu redor, me espremendo contra os azulejos frios. Não estava
me beijando, mas nossa distância não passava de uma fração de centímetro. Estava
tão perto que eu sentia seu hálito aquecendo os lábios quando ele respirava em mim.
– Estou tentando obedecer. – Inspiroucom dificuldade. – Estou tentando não tetocar,
já que você pediu. Estou agindode acordo com essa sua brincadeirinha desagradável,
mas está sendo bem difícil. – suspirou quente.
– Ah! – respirei aliviada. – Então eu estava fazendo tudo certo?
Ryker encarou o teto com uma risada breve e logo estava no meu pescoço… Rápido
demais. Raspando os dentes na linha do meu queixo como se não me morder
demandasse toda a sua força de vontade.
– Isso foi um sim? – Eu quis saber. A animação estava começando a me esquentar,
afastando o gélido receio temporário.
– Deixa eu te explicar como é – suspirou, fazendo nossos narizes se tocarem. – A
gente conversou sobre você tirar a roupa e eu fiquei duro. Vocêtirou a roupa e meu pau
cresceu no jeansa ponto de doer. Aí você...
– Não tem problema se foi rápido? – interrompi, preocupada.
– Bault! Estou tentando ser sensual! – reclamou, alto. – Você deixa? – exagerou na
indignação e eu estava rindo. Gesticulei um floreio para que ele, por favor,
continuasse.
– Onde é que eu estava?
– Ahm… – Estreitei os olhos. – Falar sobre tirar a roupa e ficar duro. Tirar a roupa e
ficar mais duro – revisei.
– Isso – proferiu cada sílaba com umacalma infinita. – Obrigado.
– Disponha.
– Não vá vestir a roupa de volta – decidiu com simplicidade. – Vá tirar o resto e
entre no chuveiro.
– Tem certeza? Porque eu posso tirara roupa mais devagar.
– Mina… eu já te vi tirar a roupa devagar vezes o suficiente. Juro. Acho que prefiro
quando você fica nua rápidomesmo. É mais seguro.
– Ok! Eu tiro? Você tira? Tanto faz? –Ergui os ombros.
Ryker se empurrou para trás e se sentou sobre a tampa do vaso.
– Você tira. – Indicou o chuveiro comum gesto e se recostou contra a parede.
Coloquei os braços para trás para abrir o fecho do sutiã.
Acontece que eu não tiro o sutiã assim… Acho horrível encontrar o fecho sem estar
olhando para ele, então eu geralmente dispo as alças, giro o sutiã e desataco com o
fecho na parte da frente, atividade essa que não exige nada da minha coordenação
motora. Entretanto, abrir um fecho sem vê-lo, com os braços estirados para trás das
costas, e um Ryker me assistindo com o olhar praticamente na altura da minha virilha,
era muito diferente.
A ação rapidamente se mostrou impossível e Ryker estava rindo daquele jeito
delicioso quando se levantou.
– Não ria! – Estalei um tapa no seu peito.
– Aqui. – Me abraçou. – Deixa eu te ajudar.
– Deixa eu virar de costas – sugeri, tentando escapar dos braços que me
esmagavam para que eu pudesse virar o fecho do sutiã para ele.
Sua pele subiu pelas minhas costas, seus dedos arranhando minha coluna. Para ele,
bastou apenas uma mão para abrir meu sutiã.
– Nossa! – Mantive a boca exageradamente aberta para indicar minha admiração.
– Acho que não deve ter sido sua primeira vez, não é? – Torcio nariz, brincalhona.
Mas Strome deteve meu sutiã nas mãos e os olhos nos meus seios daquele modo
predador que ele assumia quando a nudez era demais para que resistisse. Umedecia os
lábios com a língua enquanto dedicava longos segundos de observação, divididos entre
os seios, umapós o outro.
Eu me inclinei para tirar a calcinha e foi somente quando seu olhar se inclinou,
acompanhando os movimentosda minha nudez, que eu percebi o nível de sua hipnose.
Engoli em seco e me dirigi ao chuveiro.
Ele ficou de pé dessa vez, os braços cruzados com o ombro apoiado contra aparede.
Os cabelos bagunçados e aquele sorriso lindo. Seus olhos não encontravam os meus,
o que significava que ele estava se divertindo ao inspecionar cada centímetro da minha
pele. Liguei o chuveiro e deixei a água encharcar meus cabelos.
A água escorria pelo corpo dela, formando um fluxo contínuo entre os seios e
escorrendo até o meio de suas pernas.
Eu estava salivando. Achava avergonha de Mina excitante. Até ela tirara roupa com
tanta animação girando pelo banheiro, foi então que percebi que gostava dela sem
vergonha, também. Aí ela se atrapalhou com o fecho do sutiã e eu estava latejando
com tanta força que achei que ia romper as calças, porque aparentemente eu gosto até
de Mina desajeitada. Ela sorriu, ligou o chuveiro e eu quis beijá-la. Quis fodê-la. Quis
medeclarar e fazer amor. Qualquer coisa. Oque ela quisesse e do jeito que ela quisesse.
Foi então que percebi que eu gostava de Mina de qualquer jeito. E o mais curioso é
que ela não precisava nem estar nua. Desde que ela estivesse por perto, eu gostava dela
de qualquer jeito.
Se ela estivesse nua era melhor, obviamente. Mas se estivesse vestida, eu não iria
reclamar. Ela apertou os cabelos para que o excesso de água escorresse. Sorriu,
sapeca, afastando as gotas de água do rosto.
Eu não conseguia desviar o olhar. Não conseguia pensar em nada que não fosse
ela. Tirei a blusa sem dedicar muita atenção às minhas ações e chutei os sapatos para
o lado.
– Achei que só ia se aproximar quando eu pedisse. – Riu e eu quis apertá-la
todinha.
– Eu não prometi nada. – Empurrei as calças para baixo e peguei seu olhar curioso
em busca da minha ereção. – Quer ver mais de perto? – Sempre! – Deu um passo para
trás de modo a abrir espaço embaixo do chuveiro.
Ela era tão linda que me dava vontade de gritar. E quando ela ria desse jeito, sem
vergonha, sussurrando algo safado para mim, eu ficava tonto. Meu quadril se
aproximou primeiro e eu estava raspando nossas mais deliciosas partes uma na outra.
Um passo adiante e Mina estava apoiada nos meus ombros.
Beijou minha boca e se pressionou contra o meu tórax, encaixando o rosto na curva
do meu pescoço. Eu a abracei edeixei a água cair sobre nós.
Aquilo era bom. Aquele abraço quente, aquele banho gostoso, aqueles braços ao
meu redor.
Aquilo era tão bom. Apertei o abraço e fechei os olhos. Minha ereção perfurava a
carne da sua cintura, mas ela não reclamou. Minha Mina envergonhada que tinha se
acostumado com paus duros. Estava sorrindo.
Desfrutava do meu momento e da minhamenina.
Estiquei o braço e peguei o sabonete no apoio lateral. Ensaboei suas costas primeiro
enquanto ela permanecia abraçada comigo. A curva de sua bunda, o alto de suas
coxas… O sabonete escorregava suave e eu aproveitava para passar minha mão logo
em seguida. Eu poderia usar o pretexto de que queria apenas lavá-la melhor, mas…
quem eu estaria enganando?
Me ajoelhei e ensaboei o resto de suas pernas. Ela riu baixinho e se moveu para me
ajudar. Beijei o joelho antes de cobri-lo de sabão. Lavei seus pés com cuidado antes de
me levantar. Ela mantinha aquele sorriso comedido que me dava vontade de mordê-
la. Escolher uma porção de carne, de preferência a dos seios, e abocanhá-la com força.
Todavia, em vez disso, continuei minhas carícias com bolhas de sabão, dedicando um
cuidado especial a cada um dos mamilos. São partes delicadas do corpo feminino… e
precisam, portanto, de uma atenção especial.
Beijei seu pescoço e, com as mãos em concha, lavei-a por inteiro. Movendo seus
braços para colocá-la debaixo do jato, lavando cada parte do seu corpo.
Quando me dei por satisfeito, depositei de volta o sabonete no recipiente e alcancei
o pote que ficava ao seu lado. Mina enrugou a testa e eu compreendi sua dúvida.
– Shampoo? – Quis saber.
Eu ri antes de deixar a resposta escorrer com uma luxúria incontrolável:
– Sabonete íntimo.
Sua expressão se contraiu em uma preocupação intensa e a senti hesitar em meus
braços.
– Shh… – Pedi e a fiz se virar, mantendo sua bunda contra minha virilha,
esfregando minha ereção contra aquela curva perfeita…
Apliquei uma boa quantidade do líquido em minha mão antes de derrubar o pote
ruidosamente no chão molhado. Deslizei a mão por sua barriga e notei quando ela
prendeu a respiração.
Minha mão explorou cada canto da sua vagina. Ensaboando-a com dedos lentos,
girando ao redor do clitóris, percebendo os pequenos movimentos de contração em
suas pernas, que começavam a ansiar por mais. Prendi o lóbulo de sua orelha entre
meus dentes eenfiei a cabeça do meu cacete entre as bandas de sua bunda.
– Ryk… – gemeu.
– Não vou fazer nada, amor – acalmei-a. – Não vou fazer nada. Só é gostosinho
deixar aqui… nem que seja um pouquinho.
Mina inspirou profundamente e arrebitou a bunda o suficiente para que meu pau se
escondesse um pouco mais entre suas bochechas e eu estava de olhos fechados de
novo. Com sua boceta inteira em uma de minhas mãos, levantei a outra para agarrar
seu seio. Ela estava gemendo mais alto e eu não estava mais conseguindo controlar
meus dentes.
– Vocês voltaram!
O grito alto fez meu coração disparar em desespero, tomando a frente de Mina. O
pânico fez meu corpo inteiro se contrair e eu ia precisar de minutos – ou horas – para
superar a sensação de que meu peito ia explodir.
– Lucy? – reclamei.
Mina emitiu alguma exclamação alta ese enfiou atrás de mim.
Na nossa frente, a porta estava abarrotada de curiosos. Liderados por Lucy, quase
todos os nossos amigos da boate tinham aparecido para nos prestigiar.
E malditos fossem. Todos eles.

– Não é possível. – Ryker abriu a boca, enquanto eu me tapava, envergonhada. –


Realmenteinacreditável. – Ele não parecia ultrajado ou envergonhado. Só estava
verdadeiramente incrédulo. – A gente não vai conseguir transar nunca mais?
– Shhh! – exclamei, em pânico.
– Você tem alguma maldição. Não épossível.
– Será que você pode se vestir? –implorei, angustiada.
– Algo como: “Um dia se aproximaráde você um homem chamado Ryker.” –
anunciou com uma frustração que seria cômica se eu não estivesse tão desesperada. –
“E deste dia em diante, Ryker nunca mais conhecerá os prazeresdo sexo.”
– Bem específica essa sua maldição, hein? – reclamei.
– E irritante! – Arregalou os olhos.
Eu me enrolei em uma toalha e Lucy logo me abraçou.
– Vocês voltaram! – repetiu.
Atrás dela estavam Skye, Tonya, Joanie, Devon, Roy e Tim, seguidos de perto por
um Lucky que ergueu as mãos para mim como se pedisse desculpas e explicasse que
era impossível impedir aquele grupo de fazer seja lá o que fosse.
Abracei Lucy de volta e ela começou a empurrar todos para trás, assim que me
soltou.
– Vocês esqueceram que ela tem vergonha? – ralhou alto. – Deixem que ela volte
para o quarto para se vestir. Trouxe roupas dessa vez, bebê? – Apertou meu braço. –
Ou vai precisar dealgumas emprestadas de novo?
Ah… tinha isso também…
– Eu… ahm…Lucy sorriu.
– Tudo bem! Eu te empresto!
– O que aconteceu? – Devon quissaber. – Vocês conseguiram se livrar dorusso?
– Que russo? – Roy perguntou.
– O russo que eles viram matar um cara, Roy, presta atenção. – Joanie revirou os
olhos.
– Como vocês sabem disso? – Ryker avançou pelo quarto.
– O policial me contou. – Devon deu de ombros. – Quando eu fui ajudar Mina.
– E você resolveu divulgar? – exclamou, irritado.
– Você já tentou manter algum segredonessa boate? – Arregalou os olhos.
– Pode se vestir? – pedi para Ryker, baixinho.
– Coloca a vida da gente em riscoquando faz algo assim, Höfler!
– Ah, vá pro inferno, Strome! Fiz o que pude para ajudar sua namorada! E você
me retribuiu comendo minha mulher!
– Não te retribuí! – berrou. – Isso aconteceu antes, seu animal!
– Pior ainda! Porque eu te ajudei,apesar disso.
– Meninos, chega! – Lucy pediu.
– E eu não comi sua mulher! – Ryker revidou. – Se você não era suficiente e ela
precisou contratar um garoto de programa, a culpa não foi minha.
– Cala essa boca! – Devon avançou eeu tive certeza que eles iam brigar.
– O QUE É ISSO?
Era uma voz imponente.
O tipo de voz que se obedece, nãocom a qual se discute.
Zahner estava parado na porta doquarto com sangue nos olhos.
– Qual parte… QUAL PARTE do “fiquemem silêncio e escondidos” vocês dois têm
problemas para entender? – Levou as mãos à cabeça. – É impossível. – Ele deu dois
passos e se sentou na borda da cama. – Impossível. Vocês vão morrer. Eu não consigo
proteger vocês.
– Gary, tira a cueca da bunda – Ryker rosnou, furioso. – São nossos amigos. São
pessoas de confiança.
– Tenho certeza de que são. – O inspetor torceu o nariz. – Estou aqui há dois
segundos e já vi pelo menos um cara que não te quer muito bem. E foi ele quem você
indicou para servir de álibi pra Mina. Perdeu o juízo? – Ele se levantou. Por um
segundo, achei que elefosse entrar em combustão espontânea.
No entanto, respirou fundo e nos ofereceu uma risada de desespero. – Não importa! –
decidiu, mais para si mesmo do que para o resto da plateia. – Não importa! O que
importa é o que nósvamos fazer agora.
– Vocês precisam de provas para prender o russo? – Joanie quis saber. – Ou só
precisam fugir?
Zahner abriu os olhos e boca com uma indignação que não poderia ser descrita em
palavras. Mas depois apenas se calou, resignado. Sentou-se de volta e, com o cotovelo
apoiado no joelho, escondeu a boca atrás da mão e ali permaneceu.
– Conta a história desde o começo pra gente! – Lucy pediu. – A gente pode
ajudar!
– Não quero colocar vocês em risco.
– Acenei, preocupada.
– Mina. – Lucy segurou minhas mãos.
– A gente adora você e o Ryker e, não me leve a mal, ajudaríamos vocês só por isso.
Somos uma família. Eles não estão apenas ameaçando nossa família. Eles... já
machucaram nossa família. – Engoliu em seco com os olhos firmes nos meus e eu
soube.
Spider.
O pessoal da Lucky’s podia ter um jeito insano de lidar com problemas, mas sua
união nunca foi um aspecto a ser questionado. Spider morrera. O culpado poderia ser
punido. Eles não iriam a lugar algum.
– Acho que eles não podem contar! –Luckas tentou defender.
– Mas nem pra gente? – Tim pareceu ofendido.
– Não, não podem! – Zahner interferiu. Esfregava os dedos nos olhos como se
aquilo fosse capaz de fazê-lo acordar de toda aquela insanidade. – Nem eu sei ainda o
que pode ser feito para solucionar o problema. Estamos em uma merda bem grande e
agora Strome e Bault precisam ficar bem quietos e me deixar resolver.
Lucy ensaiou um “uhh” que certamente irritaria Gary mais ainda, mas sua revolta
foi interrompida pelapergunta de Ryker: – Por quê?
Todos se calaram para observá-lo.
– “Por que” o quê? – Zahner devolveu.
– Por que temos que deixar você resolver?
– Está me chamando de incompetente, garoto? Porque eu me lembro de ter salvado
sua vida pelo menos umas duas vezes.
– Pare! – reclamou. Era bizarro o fatode que ele ainda estava nu e eu precisei…
– Ryk, por que não veste algo?
– Fazia sentido te deixar resolver antes, Gary! – Ele me ignorou. Eu podia perceber
que tinha algo em mente. O traçar de um pensamento o estava guiando, então resolvi
deixá-lo em paz.
– Fazia sentido quando você era da Interpol, quando tinha contatos, quando tinha
um plano! Mas agora você é apenas um de nós.
Ele fez silêncio por um segundo, como se esperasse que Zahner refutasse suas
afirmações. Mas, em vez disso, ele apenas engoliu em seco.
Ryker respirou fundo e um silêncio tomou conta do quarto.
– Certo… – Ryk balançou a cabeça. –Então acho que agora é a hora de pedir ajuda.
– A quem? – Zahner levantou os olhos para Strome. – Não pode confiar em qualquer
um!
– O que você acha? – Ele me encarou. Um olhar calmo e profundo de quem tem tudo
sob controle. De alguém que sabe exatamente o que fazer.
– O que você achar melhor. – Acenei.
– Eu concordo.
– Preciso de um celular – murmurou.
Zahner estava reclamando sobre alguma coisa quando Tonya ofereceu seuaparelho a
Ryk. Ele apertou números demais e aguardou em silêncio. Do outro lado, alguém deve
ter atendido porque ele disse com uma voz alta e firme.
– Olá. Preciso falar com Sven Delvak, por favor.
Seis

Novos planos

– Eu ainda não entendi quem é esse Herbeck de quem vocês tanto falam.
– Joanie! – Luckas pediu.
– Foi só uma pergunta! – ela se defendeu.
– Eu sei! E Ryker e Mina já concordaram que, desta vez, todo mundovai ficar por
dentro dos acontecimentos… Mas a irmã dele já está chegando. Vamos segurar as
perguntas por alguns minutos para que ele não precise explicar tudo duasvezes, sim?
– A gente já esperou quase um dia inteiro! Pode ser que ela entenda essa parte bem
rápido – Joanie reclamou, torcendo seu nariz afilado e cheio de sardas. – Ele podia ir
adiantando, caso eu seja mais lenta.
Quase um dia inteiro de espera e antecipação. Eu não sabia se estava mais nervosa
com a perspectiva de ser apresentada à irmã de Ryker, que era uma das minhas
autoras eróticas favoritas, ou ao cunhado dele, o presidente da maior empresa
pornográfica do planeta e que parecia ser algum tipo de super-homem que ele
idolatrava.
Luckas ofereceu a Joanie uma caretade desagrado como resposta e Devon inspirou
fundo para dizer alguma coisa enquanto Ryker se movia como se fosse pedir calma.
Zahner estava sentado porperto, prestes a entrar em ebulição,quando um barulho na
porta nos fez calar. Pela luminosidade na lateral do salão, era de se imaginar que
a porta estivesse aberta. Pude ouvir a voz de Brout cumprimentando alguém, seguida
por uma voz masculina intensa eprofunda. Prendi a respiração. Os estalos do
salto alto ecoaram pelo salão. Ela se aproximou e entrou no meu campo de visão
primeiro.

Lexa Strome.

Tinha algo imperial no modo como ela se portava e se movia. Diante de sua
presença forte, que indicava que nada a poderia atingir, era difícil acreditar que ela já
tinha passado por um trauma. Os longos cabelos loiros escuros lhe caíam até a cintura.
Uma mistura de fios cor de mel com um castanho muito claro em cachos soltos,
longos, pesados e invejáveis. Sua elegância seria considerada esguia, não fosse pelas
curvas angulosas em todos os lugares certos. Sua saia justa descia até os joelhos e
perpassava a cintura, delineando o corpo inteiro.
A camisa de seda, metodicamente colocada por dentro da saia, tinha as mangas
compridas dobradas em três quartos. Apenas um botão desatacado exibia o pingente
delicado de seu colar discreto, um pouco de pele e nada mais. Não havia decote a ser
exibido, não havia abertura na saia que comprometesse a integridade das coxas. Ela
era o símboloda pureza com um gosto incompreensível por sacanagem.
Talvez fossem os lábios que se entreabriam em um sorriso peculiar. Ou os olhos.
Um verde-azulado que lembraria com segurança o tom dos de Ryker, embora os dele
estivessem mais próximos do verde enquanto os dela se agarravam ao azul.
Foi então que notei as semelhanças…
Não fosse pela cor dos cabelos: os dele permeavam um castanho muito escuro eos dela
eram uma mescla inusitada de tons de loiro. Desconsiderando isso, eles seriam
perfeitamente reconhecíveis como membros da mesma família. Além da tez
semelhante, os traços sugeriam uma mesma ascendência, associados ao sorriso que eu
não conseguia exatamentedefinir.
Ela abriu o sorriso e os braços, e Ryker se levantou.
– Você deveria ligar com mais frequência. – Colocou o irmão mais novo dentro do
seu abraço e lhe ofereceu um beijo na bochecha que ficou registrado pela marca
vermelha do seu batom.
– Não gosto de incomodar.
– Não seja bobo, Ry. – Recriminou-o com um olhar que seria condescendente, se
não exalasse carinho.
– Ahm, Lex. – Virou-se para mim comum sorriso. – Essa é Mina. Ela é uma fã.
– Riu e eu tive certeza que a vermelhidão tinha assumido minhas bochechas para
sempre.
Eu me pus de pé com um solavanco eLexa me estendeu a mão.
– Como vai? – Seu sorriso era deslumbrante. Eu retribuí o gesto de simpatia e já
tinha a mão estendida no arquando ele se aproximou.
Seria impossível afirmar com certeza,mas acho que senti seu cheiro antes mesmo de
vê-lo. Percebi sua presença antes mesmo de saber como era seu rosto ou me certificar
de seu nome. Havia algo na sua mera existência que me fazia tremer. Como se ele
fosse capaz de infectar alguém com uma perigosa dose de feromônios por meio do ar
que respirava.
Ele abriu um sorriso e eu esqueci quedeveria apertar a mão de Lexa.
Em cima de seus saltos altos e finos, Lexa deveria beirar um metro e noventa. O
homem atrás dela era levemente mais alto. Seu físico era evidente mesmo por baixo de
paletó e casaco. Sua barba clara estava rala e por fazer. O maxilar quadrado e a
expressão descarada. O loiro de seus cabelos arrepiados era de um tom diferente dos
de Lexa.
Era um loiro mais claro e evidente. O tom de seus olhos também era diferente…
bem diferente… Um azul-claro que assumia uma profundidade tectônica, provocando
em mim um ardor que queimava em locais bastante inapropriados.
Ele se aproximou mais do que eu poderia imaginar e já invadia meu espaço pessoal
quando tomou para si a mão que eu mantinha no ar estendida para Lexa.
– Sven – sussurrou, antes de beijar meus dedos. – É um prazer conhecê-la.
Por que ele precisava pronunciar apalavra “prazer” daquele jeito?
Seus lábios se foram dos meus dedos, mas ele ainda sustentava o aperto em minha
mão, com os olhos fixos nos meus como se para prolongar a hipnose. E seja lá o que
fosse… estava funcionandoperfeitamente bem.
– Sven? – Ryker limpou a garganta e eu despertei com um estalo, tomei minha mão
de volta com educação. Mas meu captor não pareceu se incomodar ou se constranger.
Em vez disso, apenas aproximou o rosto do meu e respirou fundo, como se pudesse me
compreendermelhor pelo olfato. Nossos hálitos semisturaram e eu assisti à sua testa se
enrugar em uma proximidade perigosa.
– Virgem? – Ele estreitou um olho e eu entrei em pânico.
– Delvak! – Lexa estourou um livro contra suas costas e a hipnose se quebrou. Eu
dei um passo para trás e o vi sorrir antes de tirar o foco de mim e levá-lo a outra
pessoa.
Eu não era mais virgem, mas era consideravelmente inexperiente. Mas como ele
sabia? Como era possível saber? Pelo cheiro?
Virei o rosto para o lado, aproximando o nariz das minhas roupas na altura do
ombro e tentei fungar discretamente… Como era possível?
– Eu estava apenas dizendo “olá” – defendeu-se.
– Vá dizer “olá” para outra pessoa. – Lexa revirou os olhos e ele se foi. Lucy estava
de pé, o que era extremamente curioso.
Engoli em seco e recuperei o ar.
- Eu… sinto muito. – Meu rosto explodia em um vermelho que me fazia arder de
vergonha. Eu tinha encaradolibidinosamente o namorado da Dama Imperial do
Erótico. Que, por sinal, era minha cunhada. E tinha feito isso nafrente do meu
namorado.
Ter Ryker nu era uma coisa boa, mas vou te contar… Fora isso, ser eu era uma
merda.
– Não se preocupe, querida. – O modo descontraído com o qual ela sorriu me fez
crer que tudo estava realmente bem. – Ele faz isso.
– E você não se incomoda? Oh, desculpe! – Levei a mão à boca quando percebi
que a pergunta indevida tinha escapado rápido demais. – Não é da minha conta.
– Por que me incomodaria? – ela se limitou a responder.
Meu queixo caiu enquanto eu tentavaencontrar o sentido.
– Vocês… ahm… Ryker disse que você e ele…
– Não estamos juntos. – Ela puxou a orelha do irmão e Ryk chiou, irritado. – Ry
tem essa alucinação de que eu e Svennamoramos. Mas não é verdade.
– Não tenho alucinação nenhuma. Vocês dois só tem problemas paraassumir.
Ela poderia ter respondido. Poderia ter revidado e refutado. Usado argumentos que
pessoas normais usariam. Ou poderia ter ficado com vergonha e fugido do assunto.
Porém, em vez disso, ela apenas o segurou pelo queixo e sorriu, encarando seus olhos
com cuidado.
Sorriu como se ele fosse uma criança muito pequena que não entende
absolutamente nada de sexo ou relacionamentos. Como se a opinião dele sobre os
dois temas servisse tanto quanto a opinião de uma criança de dois anos sobre física
espacial.
Nunca tinha visto alguém tratar Ryker assim. Ele sempre tinha sido o deus-de- todo-
o-conhecimento até onde eu sabia, e ver que havia alguém no mundo que não apenas
ficava mais à vontade com o assunto do que ele, mas também era incapaz de se
constranger com algo ditopor ele foi realmente uma boa dose de ar fresco.
Eu me virei de volta para o grupo, tomando o cuidado de não fazer contato visual
direto com o senhor Delvak. Ele tinha acabado de cumprimentar todos aonosso redor,
de modo que só faltava Zahner.
– Gareth Zahner. – Eles apertaram asmãos com cordialidade. – Interpol.
– Ah, então você é o incompetente?
– Como é? – rosnou.
– O incompetente – Delvak repetiu, sem problemas. – É você?
– Não me conhece o suficiente para fazer esse tipo de ofensa. – Mordeu o lábio. Ele
estava tentando ser educado, mas estava exigindo tudo de si.
– Conhece a definição de incompetência, senhor Zahner? Significa inabilidade.
Inaptidão. Incapacidade de realizar algo.
– Depende do contexto – Lexa assoviou baixinho, fazendo Delvak interromper
seu discurso, controlando uma careta de irritação. Expirou fundo e lhe ofereceu um
sorriso de desagrado.
– Você quer falar por mim? –convidou.
– Acho que eu faria um trabalho melhor do que o seu na maior parte das vezes. –
Sorriu, absoluta, passando um braço pelos ombros de um Ryker que claramente se
divertia com a dinâmica entre os dois. – Mas ainda estou matando as saudades do
meu irmão. Pode continuar, obrigada.
Delvak abriu um sorriso mais amplo de quem estava lutando para ser agradável e se
voltou para Zahner.
– Até onde sei, você era responsável por cumprir um acordo, que era manter
aqueles dois a salvo. E, até onde sei, você foi incapaz de realizá-lo. Estou errado? –
continuou.
– Não gosto de você. – Gary decidiu em alto e bom tom.
– Homens geralmente não gostam – sorriu. – A não ser que eles sejam
homossexuais. Neste caso, não conseguem se distanciar. – Ele piscou um olho para
Lucy e tenho certeza que avi corar, o que não fazia qualquer sentido.
Delvak despiu o casaco e, quando ele desatou os botões do paletó para se sentar em
uma das cadeiras perto de Luckas, eu soube que ele era o tipo de pessoa impossível
de descrever.
O homem era sexo em um terno caro.
Sexo muito bom, por sinal.
– Então, moleque! – Riu para Ryker e ele foi se sentar ao seu lado. Me puxou pela
mão quando passou por mim. Senteiperto do meu namorado e respirei fundo.
– O que houve? A parte de ter visto o Kulik matar alguém eu já entendi. Explique o
resto.
Ryker falou rápido e suave, poupando apenas os detalhes que pertenciam apenas a
nós dois e seriam irrelevantes a terceiros. Começou repassando os eventos da
primeira noite em Paris, ignorando o motivo que nos unira naquela noite e eu lhe fui
profundamentegrata por isso.
Delvak e Lexa se entreolhavam em breves espaços de tempo, aguardando a
conclusão da narrativa que seguia com seriedade, mas sem maiores problemas. Pelo
menos, a cena se desenvolveu assim até Ryker chegar na parte da ligação que recebeu
na Itália. Ele fez uma pausa para respirar fundo e algo na sua postura deve ter
indicado a Lexa e a Delvak que as más notícias se aproximavam.
A explicação daquela parte da história fez o clima no salão mudar. Ryk murmurou,
em meio a doses precisas de nojo e fúria, a participação de Simak no nosso reencontro
com os russos, a mortede Spider e o motivo de estarmos fora do programa.
A menção ao nome do pai de Ryker fez Delvak cerrar as mãos em punhos. Seu
semblante alterou-se e o safado brincalhão tinha desaparecido. Ele estava sério como o
dia depois do Apocalipse e Lexa apoiou a mão em seu ombro, apertando-o em uma
carícia de conforto.
Sven esfregou os olhos por dois segundos.
– Não vou te enganar, moleque. Vocêse meteu em um problema bem sério.
– Eu sei. E detesto envolver vocês, mas…
– Deveria ter nos envolvido antes – Lexa falou com intensidade. – No entanto,
estamos aqui agora e vamos resolver.
– Ela está certa – Delvak falou. – Não acontece com frequência. – Sorriu e Lexa
ofereceu-lhe a língua em resposta,suavizando o clima de tensão ao nosso redor.
– Sven… – Ryker pediu devagar. – Não conhece algum policial por aqui?
Delvak expirou sem pressa, antes de se recostar na cadeira.
– Conheço muitos policiais, garoto. Mas os conheci quando eles estavam me
prendendo. Esse tipo de coisa não é umaboa fundação para uma relação deconfiança.
– Prendendo? – murmurei. – Você já foi preso?
– Atentado ao pudor mais do que qualquer outra coisa – explicou, gesticulando,
como se não fosse nada. – Mas isso não importa. Não é com a polícia que vamos
resolver o problema desta vez.
Ryker fechou e abriu a boca como se não soubesse qual era a intenção de Delvak.
– Nosso problema não é recuperar a reputação do agente Zahner nem transformar
vocês em testemunhas protegidas – suspirou. – O verdadeiro problema ainda é o fato
de vocês dois terem testemunhado um chefe da máfia russa cometer um assassinato.
Esse é o seu problema que nunca foi devidamente resolvido. Esqueça o resto! Esqueça
o Herbeck e Simak – cuspiu o último nome. – Esqueça o programa de proteção à
testemunha ou as politicagens da Interpol. Esqueça tudo. Seu problema é que a máfia
russa quer vocês dois mortos. Suas opções, de acordo com a polícia, sempre vão ser:
morrer ou passar o resto da vida escondidos. Masa polícia nunca vai lhes contar que
existe uma terceira porta.
Eu não tinha entendido. Contudo, pelas testas enrugadas, olhares estreitos e narizes
torcidos ao meu redor, tinha certeza que não era a única.
– Sven… – Lexa pediu baixinho. Ao contrário do resto de nós, ela tinha entendido
perfeitamente bem.
– Vocês estão tentando encontrar a solução na lei. – Ele pegou a mão que Lexa
posicionara em seu ombro e a segurou nas suas, numa tentativa de acalmá-la. – Mas
as soluções da lei são uma merda! Agora, nós precisamos procurar uma solução no
crime.
Dizer que todo mundo começou a falar ao mesmo tempo seria uma gentileza.
As pessoas estavam gritando. A começar por Zahner, que transformou sua
gargalhada de escárnio em uma interminável sequência de ofensas dirigidas a Delvak.
O baque alto fez todos se calarem mais uma vez. Lexa Strome tinha dado um
murro ruidoso em uma das mesas com tanta força que foi difícil imaginar que ela
não teria se machucado.
– Calem-se todos! – ralhou. – Vocês estão aqui há meses tentando resolver esse
problema e não tiveram sucesso.
– Bem, alguns de nós… – Höfler começou.
– Silêncio! – ela rosnou e ele se calou de imediato. – Errar é compreensível, só que
persistir no erro é estupidez. O modo como lidaram com tudo até agora foi ineficiente.
– Ou incompetente. – Svenacrescentou.
– Cale-se você também! – rugiu, e elelevantou as mãos em um pedido de desculpas.
– Nós vamos experimentar algo novo agora e eu não quero ouvir reclamações.
Todos sabemos a gravidade da situação. Não é brincadeira, não é festa. O que vai
acontecer a partir de agora vai ser ainda mais grave e só por optarem estar aqui,
aqueles de vocês que ainda não estão envolvidos, estão arriscando as próprias vidas
também. E eu não vou permitir queessa situação piore ainda mais por causade baderna
e infantilidades. Sven tem um plano, vamos ouvi-lo sem interromper, a não ser que
tenhamos algoprodutivo a acrescentar ou uma crítica construtiva pertinente. Fui clara?
O modo assustador como ela se impôs deixou todos nós aflitos e ávidos para
concordar. Delvak esperou alguns segundos antes de ter certeza que era seguro
continuar.
– O plano é tornar Yuri Kulikirrelevante. Dessa forma, mesmo que elequeira matar
vocês, não poderia fazer isso.
– E como você pretende fazer isso? –Zahner interrompeu e Lexa ficou lívida.
– Porque nós temos tentado há anos e…
– Vocês têm tentando dentro das leis – Delvak lembrou. – Não preciso fazer isso e
posso ser mais criativo.
– Criativo? É outra palavra para “ilegal”? – Zahner não parecia confortável com a
ideia e eu não o culparia por isso. Pelo contrário, senti- me aflita por ele. Não poderia
ser fácil estar naquela situação: ele era apenas um cara honesto que tentou nos ajudar
e que agora estava pagando por isso de todas as formas possíveis. Ele queria nos
manter a salvo e acabar com Kulik, certamente. Mas havia muito mais em risco. Sua
carreira, sua reputação. Sua vida...
Sven inspirou fundo como se Gary o deixasse exausto, mas Lexa tocou seu ombro e
falou por ele, talvez sentindo por Zahner a mesma empatia que eu.
– Senhor Zahner? – ela chamou. – Qual solução o senhor vê? – convidou, mais
polida desta vez. – Procurar ajuda da polícia? Por que eles acreditariam em qualquer
um de nós? Colocar tudo nainternet e correr o risco de sermos todos assassinados ainda
assim? Conseguir um empréstimo e fugir para Bali pelo resto de suas vidas? Qual é o
seu plano?
Gary a encarou em silêncio. Eu vi sua postura mudar. Não era mais defensiva e
estressada. Ele estava considerando…
– Eu não sei – admitiu, finalmente. – Não sei. – Enfiou a mão nos cabelos e eu
senti por ele… O homem que sempre tinha um plano estava completamente perdido e
isso deveria ser mais difícil para ele do que nós poderíamos compreender. Uma parte
de mim desejou ter sido mais paciente com ele nos últimos dias. – Eu queria poder
consertar a situação – admitiu para si mesmo. – Mas não sei como. – Largou- se na
cadeira e apoiou a testa no punho. Foi aí que percebi que ele estavadisposto a escutar.
– Eu tenho um amigo. – Lexa se sentou ao lado do agente com um sorriso
simpático. – Ele dizia uma coisa muito interessante, senhor Zahner…
– Gary – pediu. – Pode me chamar deGary.
– Gary – ela concordou com uma reverência breve. – Ele dizia que, ao se deparar
com um problema, a melhor coisa que se pode fazer é a coisa certa. A segunda
melhor coisa que se pode fazer é a coisa errada. E a pior coisa que se pode fazer é
não fazer nada.
– Não tenho certeza se estou entendendo aonde quer chegar. – Gary expirou,
cansado.
– Ela está dizendo que vocês já tentaram fazer a coisa certa. – Sven sorriu com
simplicidade. – Porém, agora, está na hora de fazer a coisa errada.

As pizzas demoraram a chegar, mas se foram em uma velocidade impressionante.


Espalhamos folhas depapel-ofício pelo chão de modo a facilitar a visualização da parte
daestrutura da máfia russa que Zahner conhecia.
– Trabalhei nisso durante um bom tempo, Delvak, e é bom que sua criatividade
seja farta mesmo, porquenão vejo nenhuma alternativa.
– Não preciso de alternativas, Zahner. - Ele tinha despido o paletó e a gravata.
Arregaçou as mangas e, mesmo que eu me amaldiçoasse para sempre, uma parte de
mim desejou que ele viesse me cheirar de novo. – Na verdade, nem precisava desse seu
resumo. Isso foi insistência da Lexa, pois é escritora e tem essa mania de roteiros, mas
eu já seio que precisa ser feito.
– Quer dizer que esse trabalho todo foi pra nada? – Lucy reclamou, indicando as
folhas no chão.
– Não importa quanto poder Kulik tenha. Sua influência, seus conhecimentos, sua
força bruta...
– Força bruta? – Devon se interessou.
– Homens e mulheres que trabalham para ele – Delvak esclareceu antes de
continuar. – Nada disso importa porque tudo isso é sustentado por uma mesma
fragilidade absoluta: dinheiro. – Sorriu ao atingir o clímax de sua explicação. Ao seu
redor, o resto de nós permanecia em silêncio e seu sorriso de conquista se transformou
em uma careta de frustração. – Sinceramente! Vocês não estão prestando atenção?
Sem dinheiro, as influências dele acabam, ele não tem mais como pagar o pessoal.
Mesmo seus conhecimentos e contatos seriam insignificantes por si só. Tudo o que
precisamos fazer é tirar o dinheiro de Kulik e ele se tornará irrelevante.
– Então a gente vai roubar ummafioso? Em vez de matá-lo? – Tim quissaber.
– Acho uma péssima ideia – Devon começou e logo Roy estava concordando: –
Com certeza! A gente não pode votar? Porque, se for para escolher entre roubar um
chefão da máfia ou matá-lo, acho que matar é maisseguro.
– Vocês ficaram loucos? – Tonya levou a mão ao peito. – Não vamos matar
ninguém! É uma vida humana!
– O pobre coitado que Mina e Ryker viram ser assassinado também era uma vida
humana! – Roy lembrou.
– E ele matou a Spider!
– Foi ele quem matou a Spider? – Tonya arregalou os olhos e Lucy travou os
lábios, em fúria.
– Tonya, sinceramente, você precisa parar de ficar lendo TMZ no celular e
começar a prestar atenção.
– Shh, shh! – Sven pediu. – O plano étirar o dinheiro dele.
– Pensei que a gente ia votar. – Joanieolhou ao redor à procura de apoio.
– É, eu voto por matarmos ele! – Roy levantou a mão e a concordância se espalhou
pelo salão. Delvak estava escondendo os olhos atrás da mão e Zahner continuava com
sua risada de desespero como se tivesse certeza desde o início que aquilo não ia dar
certo.
– Eu ainda acho que toda essa gente não deveria estar aqui. – Gary virou-se para
nós.
– É bom que estejam. Vamos precisarde ajuda – Delvak decidiu.
– Gente, por favor! – levantei a voz. –Sei que todo mundo quer ajudar e somosgratos
pela preocupação. Já entendi que é uma questão de honra para o clube por causa de…
– respirei fundo – ... Spider. Mas a gente precisa ser inteligente. O senhor Delvak
parece ter um entendimento melhor do que está acontecendo, então… vamos tentar…
sópor um segundo… ouvir?
Menos de um segundo depois do meu discurso, todos estavam falando ao mesmo
tempo novamente e percebi que minha razão não ia alcançar ninguém.
Delvak e Zahner pareciam se encontrar nas imediações de uma desistência,
enquanto Lexa tentava atraira atenção de todos.
Entretanto, eu sabia o que ia funcionar. Peguei a garrafa de vodca mais próxima e
arremessei-a com força no chão. O vidro se espalhou junto ao líquido transparente e
todas as pessoas se calaram.
– Calem a boca! Ou ficam e escutam ou saem.
– Poxa, Mina – Roy chiou. – Precisava ter estragado uma garrafa de vodca?
– E se derem mais um pio eu começoa quebrar as de tequila! – esbravejei.
Meus colegas não pareciam felizes, mas estavam resignados e – mais importante –
calados.
– Tudo bem – Lucy aceitou. – Então, agente vai roubar o chefão do crime?
– Precisamente. – Delvak cruzou os braços.
– Isso não parece nem um pouco simples. – Ryker coçou a cabeça olhando para a
irmã.
Lexa tocava o lábio inferior com o indicador como se considerasse uma
possibilidade particularmente interessante. O grupo tinha dúvidas quanto à estrutura
representada nas folhas de papel ofício e Zahner seocupou de explicar.
– Delvak? – Lexa chamou baixinho, fazendo-o parar de rabiscar alguma coisa em
uma folha de papel para voltarsua atenção a ela. – Por que não chamamos Lola?
Ele se apoiou sobre um cotovelo e, embora fingisse considerar, estava claro que já
tinha resolvido.
– Acho melhor a gente cuidar de tudodessa vez.
– Por quê? – perguntou, incisiva. – Vamos chamar a Lola! – Sorriu. – É a ideia
perfeita!
– Quem é Lola? – perguntei, observando Ryker que não aparentava saber mais do
que eu.
– Lola é uma pessoa... de condutaquestionável. No entanto, é muito boa noque faz.
Sven já a contratou algumas vezes quando precisou que algo delicado fosse feito.
– Tipo um assalto?
– Mais investigações. Eu espero –acrescentou, demonstrando seu desejo de que seu
amigo não tivesse cometido alguma ilegalidade. – Por que não chamamos Lola? –
repetiu, empolgada.
– Ahm… – Ele encarou o chão como se a resposta estivesse anotada em um dos
papéis aos seus pés.
– Sven… – Lexa murmurou com um tom de poucos amigos.
– Digamos que… – bagunçou os cabelos loiros com as mãos – ...talvez eu tenha
transado com ela e, por um motivo que não foi culpa minha – enfatizou, abanando as
mãos com os olhos arregalados –, tenha, talvez, esquecido de ligar para ela depois.
Lexa levou as mãos às têmporas e respirou fundo.
Eu achei que ela ia superar e seguir em frente, como fez com Ryker. Todavia, desta
vez, Delvak deve ter ido longe demais e os tapas fortes que ela deu em seu torso,
costas e braços chamou a atenção de todos.
– SÓ VOCÊ! – bradou. – Para transar com uma espiã mercenária e não ligar no dia
seguinte! VOCÊ… – Lexa parecia pronta para espumar e então se calou. Respirou
fundo como se transcendesse e levantou um indicador ameaçador para um Sven
verdadeiramente assustado. – Você vai ligar para Lola e vai pedirdesculpas.
– Não foi culpa minha…
– Nunca é culpa sua! – exclamou, sarcástica. – A vida é linda pra você, não é
mesmo, raio de sol? Nunca faz nada de errado! E ainda assim o universo explode
para todos os lados. Vai ligar para ela, sim! – repetiu. – Vai pedir desculpas. Vai se
colocar à disposição dela para quantos orgasmos ela achar conveniente – exagerou. –
E vai pagar o que ela solicitar pelo nosso serviço.
– Lexie, você sabe como ela é. – Levantou os ombros. – Teimosa como uma porta.
E se ela resolver se vingar?
O lábio inferior de Lexa tremia de fúria.
– Um dia seu pinto vai apodrecer e cair! – amaldiçoou e ele levou as mãos a virilha
como um reflexo irracional. – Eu vou rir e dizer que foi bem-feito. E nada disso vai
funcionar! – Apontou para os papéis no chão. – Precisamos de mais informações
sobre as finanças de Kulik antes de sequer pensar em montar um plano.
O silêncio se espalhou pelo salão, com risadas baixas direcionadas a um Delvak
que só parecia ser capaz de calar a boca se por uma ordem de Lexa. Mas eu não
estava pensando na interação dos dois… Estava pensando em um modo de obter mais
informações. Quem pode saber o que precisamos sobre Kulik? Somente uma pessoa de
dentro. Alguém da equipe dele. Mas como poderíamos saber quem é da equipe dele?
E como poderíamossubmetê-las a um cenário sob nosso controle?
Uma imagem me vinha à mente. Uma memória, na verdade. Nebulosa e distante a
princípio, foi ficando progressivamente mais palpável e definida. Eu sabia! Eu sabia
como prosseguir a partir dali.
– Precisamos de alguém da equipe do Kulik. Alguém que possa nos dar
informações.
– Sim – Delvak sorriu. – Essa é a ideia. Tem algum plano em mente, meu amor?
Pisquei diante do tratamento carinhoso e do mel que escorria de suas palavras. Me
senti gaguejar por um segundo ou dois, piscando os olhos, tentando recuperar o foco.
– Mina? – Ryker me segurou pelo cotovelo e consegui sentir o solo firme sob
meus pés de novo. Ele sorriu, amoroso. – Pare com isso, Sven – pediu.
– Ela se envergonha com facilidade. – Piscou um olho protetor para mim e sorri com
gratidão.
– Nós já recebemos homens do Kulikaqui antes! – afirmei.
– Quando eles mataram a Spider e levaram o Ryker? – Lucy levantou uma
sobrancelha. – Mina, não sei…
– Não só dessa vez! Teve outra ocasião. – Olhei para Tim, sugestiva, e ele
entendeu.
– Eu os trouxe! – lembrou. – Eles queriam ver a Tímida.
– Mais do que isso! – continuei. – Dessa vez, eles estão procurando por nós.
Eles já conhecem esse lugar, foi daqui que nos tiraram antes! Claro que eles devem
pensar que seria estupidez buscar esconderijo em um lugar que seu inimigo já conhece
e não devem imaginar que a gente estaria aqui… mas seria uma estupidez maior ainda
não verificar esse lugar, só por segurança.
– Eles vão mandar homens para comprovar se estamos aqui. – Ryker meseguiu.
– Mas não podem fazer isso abertamente. Não podem mais mandar um monte de
russos invadir o lugar porque agora esse problema envolve muito mais que uns
capangas do Kulik. Agora, envolve a Interpol, um senador, toda a máfia russa e sabe-
se lá quantas polícias locais.
– Precisam ser discretos. – Ryker já tinha entendido tudo. – Vai ser arriscado
– murmurou.
– Mas é o melhor plano. Além da necessidade de averiguar a boate de um modo
discreto, será necessário um motivo.
– E eu posso lhes oferecer um motivo.
– Tim espremeu as mãos. – Posso perder dinheiro no jogo e lhes convidar paraver a
Tímida como pagamento da minhadívida, como da última vez.
– Tim vive se metendo nessas. – Ryker bateu uma mão na outra. – Com todo o
respeito – acrescentou para o amigo. – Eles não vão suspeitar.
– E quando eles chegarem aqui – eu ri. - Nós estaremos à sua espera.
– Eu não faço a menor ideia do que seja a Tímida. – Sven balançou a cabeça. –
Mas estou adorando tudo.
– Só tem um problema nesse plano. –Ryker se virou para mim, enquanto o resto da
gangue comemorava nosso primeiro avanço. – Para que eles venham até aqui,
precisam estar bem interessados. Precisa ser algo que valha a pena para eles, para que
aceitem como pagamento do Tim. Vamos precisar gerar curiosidade sobre o show.
Tudo denovo.
– Eu sei. – Engoli em seco e levantei meu queixo com o máximo de resolução que
consegui reunir. – Parece que vou precisar ficar nua no palco de novo.
O lugar estava consideravelmentecheio.
Seja lá quem fosse o contato de Lexaem Amsterdã para divulgação de eventos,
deveria ser um excelente profissional. O fato de que seu encontro deveria ter
terminado na metade da tarde e ela ainda não tinha voltado me fez imaginar como ela
poderia ter retribuídoa ajuda de seu contato com uma prolongada sessão de
sexo sujo e suado. O que seria uma bela merda levando em consideração que eu
passei horas em um avião para acompanhá-la em uma jornada através da
criminalidade da máfia para ajudar seu único irmão. Para piorar, eu não tinha
recebido nem um boquete pelo meu trabalho.

Todavia, lá estávamos nós. A boate estava lotada, os avisos sobre o show da Tímida
tinham sido devidamente espalhados e o stripper viciado em jogo já havia sido
enviado em sua missão há mais de uma hora. Gareth Zahner estavaparado em um dos
cantos do salão principal e parecia mais um segurança do que os próprios seguranças.
Era bom que ele nunca tivesse trabalhado disfarçado. Seria sumariamente identificado
e assassinado em questão de segundos.
Eu ia recriminá-lo pelo seu comportamento, mas a baderna contida perto da porta
dos fundos chamou minha atenção.
– Não é bom você ficar por aqui, Nila. Você precisa ir!
– Sei que eles estão aqui, Luckas! Eu falei com a Joanie!
– Joanie não deveria ter te contado nada. Menina, por favor, me escute…
– Era minha irmã! Eles mataram minha…
– Shhh! – O dono do estabelecimento puxou a bela jovem negra pelo braço e se
enfiou em seu escritório. Ia fechar a porta atrás de si, mas eu a barrei com o pé e entrei
com ele.
– O que está havendo aqui?
– Senhor Delvak. – Luckas encarou ochão, coçando a testa. – Nada, Nila apenas…
– Não é da sua conta. – Virou seus imensos olhos negros, me expulsando da
discussão.
– Por que não me diz qual é o assuntoe eu mesmo decido se é da minha conta?
– convidei.
– O assunto é o novo creme vaginal que eu quero usar para controlar a infecção na
minha boceta. É da sua conta? – rosnou.
Lambi meu sorriso, discreto.
Gostei de você, garota.
– Tem um novo chamado Ingensy que é muito bom. Ainda está na fase de teste, mas
posso te conseguir uns tubos, sequiser.
Enfiei as mãos nos bolsos e esperei sua reação. Ela apenas focou o olhar em meu
rosto com uma boca entreaberta de dúvida, acho que ela não deveria conhecer
ninguém mais inapropriado que ela mesma. Mas agora eu estava ali e isso ia mudar.
– Nila, o senhor Delvak é amigo de Ryker. Está aqui para nos ajudar com… bem,
com tudo.
– Qual é o plano? – ela sequer hesitou.
– O plano é você sair daqui e não se meter – decidi.
– Eu já pedi a ela, mas…
– Não vou embora. E, se não me deixarem participar, eu vou gritar na porta que a
máfia russa deveria vir até aqui. Vou até o jornal, se precisar!
Esfreguei minhas têmporas enquanto ela terminava a frase. Acho que Zahner estava
certo: Ryker deveria ter sido mais cuidadoso. A quantidade de pessoas que sabia
sobre aquele assunto, que deveria ser secreto, era cada vezmaior.
– E posso perguntar por quê?
– Era minha irmã! – sibilou.
– Sua irmã?
– Ela trabalhava aqui – Luckas explicou. – Os russos a assassinaram... –
murmurou, como se as palavras doessemquando estalavam em sua língua.
– Entendo…
– Nila, você está muito envolvida com isso. Emocionalmente…
– Estamos todos envolvidos, Lucky! Não venha com esse papo para cima de mim!
Spider era minha irmã. Ela morreu nesse buraco, assassinada por aqueles putos de
merda e se vocês tem um planopara vingá-la, eu tenho o direito de participar!
Luckas estava à beira de ser razoável mais uma vez. Eu o interrompi, porém.
– Vai ser feio – avisei.
– Não me importa. – Seus olhos brilharam de esperança.
– Vai ser ilegal.
– Meu jeito favorito!
Mordi o canto do lábio enquanto considerava.
Se ela já sabia de detalhes, eramelhor mantê-la por perto, de qualquer modo.
– Ela fica – resolvi e a vi sorrir pela vitória.
– Nós temos um problema. – Zahner abriu a porta e avistei Tim logo atrás dele.
– Timothy! – exclamei quando eles entraram. – Mas que merda! Não deveria estar
perdendo muito dinheiro em um jogo?
– Eles não foram! – alertou,apressado. – Os russos não estavam lá.
– Como não?
– Eles estão aqui. – Zahner apontou o polegar para o salão. – Estão sentados em
uma das mesas na esquerda há um tempo. Tim acabou de identificá-los.
– São os putos de merda que mataramAdrill?
– Quem é Adrill? – Tim estreitou os olhos.
– Spider. – Nila revirou os olhos antes de puxá-lo pela gola. – Foram eles?
– Não sei.
– A gente precisa sair daqui. Pegar Ryker e Mina…
Luckas estava concentrado em sua pequena crise de pânico enquanto Zahner
parecia se resumir a um pequenoponto geométrico cheio de ansiedade.
– Shhh, shhh! – pedi, gesticulando com firmeza. – Vocês estão enxergando asituação
pelo lado errado. São boas notícias. – Ri.
– É melhor você se esconder, Gareth
– Luckas pediu. – Se eles te virem, vão saber quem é.
– Ei, ei! Calma – avisei. – Nós queremos que eles vejam o Zahner.
– Mas o que diabos, Delvak?
– Vamos fazer o seguinte – coordenei.
– Está armado, Zahner?
– Claro.
– Esconda a arma direito, não os deixe perceber que está armado. Quero que se
sente no bar, peça uma bebida e se comporte como se estivesse desoladoe embriagado.
Pode fazer isso?
– Posso, mas como vou ajudar assim?
– Só obedeça. – Tirei o celular do bolso. Achara que ia ter mais tempo antes de
precisar fazer essa ligação, mas estava errado. – Agora… – Examinei ao redor, quando
coloquei o aparelho no ouvido. – Qual de vocês sabe usar uma arma?

Eu não estava com vergonha. Isso era um problema. Um problema muito sério. Ficou
decidido que Ryker ia me despir sozinho, já que a combinação com Devon da vez
anterior não tinha dado certo. Quando Tim saiu para uma noite de jogo com seus
colegas russos e eu me vi vestida no camarim por trás do palco sob a perspectiva de
ficar nua em público mais uma vez, a sensação que se apoderou de mim foi de
confiança.
Tínhamos um plano dessa vez. Não éramos cegos desesperados. Ter um foco e um
objetivo tinha me preenchido com a sensação de que podíamos concluir a missão com
sucesso. Podíamos aplicar um golpe, como nos filmes antigos, e podíamos roubar um
chefão da máfia e sair ilesos. Contávamos com o elemento-surpresa a nosso favor e
depois dos últimos meses e de todos os eventos que marcaram presença na minha
vida, eu não estava mais com medo.
Eu tinha me deparado com o corpo ensanguentado de uma amiga. Tinha
sobrevivido ao pânico da notícia sobre o sequestro de Ryker. Encarei minha velha
vida como uma pessoa nova e recebi de braços abertos os preconceitos e julgamentos
que vieram com a mentira que eu contei para me proteger.

Então, agora eu não tinha mais medo. Não tinha medo de fazer algo ilegal para me
vingar de um criminoso que roubara minha vida, nem de um político corrupto e
pedófilo. Não tinha medo de contar com amigos inusitados, não tinha medo de
homens grandes, nem de armas barulhentas. Em menos de um ano, eu tinha
sobrevivido a mais problemas do que muitas outras pessoas encontram em uma vida
inteira, e essa percepção me injetou com uma dose incalculável de confiança.
O que seria ótimo em qualquer noite do ano. Exceto em uma noite na qual eu teria
que apresentar um show chamado “Tímida”.
– Tudo bem com você? – Ryker beijou minha bochecha.
– Tudo está bem até demais – murmurei. – Acho que esse é o problema, Ryk…
Não sei se vou ficar com vergonha.
– Acho que posso resolver isso – sorriu, passando a língua pelos lábios. Eu gostaria
de dizer que fiquei receosa diante de seus planos, mas não fiquei. Não conseguia
imaginar uma frase dita por ele que pudesse transformar minha confiança em
vergonha.
– Não sei, não – constatei, nervosa.
– Olha só para você, duvidando das minhas capacidades! – cantarolou. – Vouter que
fazer o possível para te mostrar que está errada – prometeu. – Talvez eu te deixe
completamente nua.
– Pro Höfler me ver? – Ri de suas ameaças vazias.
– Ou eu te como no palco.
– Sem camisinha?
– Eu fiz uma bateria de exames na Itália e você nunca ficou com outro cara,ficou? –
Ergueu uma sobrancelha.
– Strome, se quer saber se fiquei comalguém depois de você, esse não é o jeito certo
de perguntar.
– E qual é o jeito certo de perguntar?
– quis saber.
– Boa sorte! – Lucy se aproximou com um sorriso, mas eu enxerguei através de seu
nervosismo antes que ela explicasse qualquer coisa.
– O que houve? – Ryker se adiantou, deixando claro que notou o mesmo que eu.
– Os russos já estão aqui – murmurou.
– O quê? Como? – indaguei. Ryker deu um passo adiante e me tomou em umabraço
protetor.
– O plano já era, Mina. Vamos só seguir com o combinado e deixar os capangas do
Kulik bem à vontade. Vamos fazê-los acreditar que venceram.
Eu sabia que era tudo parte do plano. Mesmo assim, ele tinha caminhado mais
rápido do que eu pude me preparar. Ryker segurou minha mão daquele modo
carinhoso que lhe era típico, sempre me suscitando a dúvida se ele queria me
reconfortar ou se queria serreconfortado. Talvez um pouco dos dois.
Apertei sua mão de volta.
– Como está sua confiança agora? – murmurou quando a música mudou,
anunciando que deveríamos subir ao palco. – Um pouco abalada? – Sorriu, gentil.
Eu acenei, confirmando. Mas “pouco abalada” era realmente uma gentileza. Duas
frases de Lucy e minha confiança estava completamente destruída.
– Olhe pelo lado bom – sugeriu. – O show não precisa mais ser bom e chamar
atenção. Pode ser sem-vergonhao tanto que quiser.
Ele estava certo. Pisquei um olho para ele apesar do nervosismo e senti seus lábios
nos nós dos meus dedos.
A boate ficou escura do outro lado da cortina e a luz clara do holofote iluminou o
lugar por onde entraríamos. Não queríamos penumbra dessa vez. Queríamos ter
certeza que qualquer um poderia nos identificar.
– Pronta? – Ryker me perguntou antesde entrar no palco.
Mas eu não respondi, apenas respireifundo.
Se eu estava pronta? Não faziadiferença.

A cadeira esperava por nós no centro do palco. Eu deveria me sentar nela e assistir
enquanto Mina dançava, resistir alguns segundos e depois começar a passar a mão
em seu corpo macio enquanto a despia.
A música tocava sedutora e, depoisde bons anos trabalhando comstriptease, apesar
de meu corpo estar acostumado a seguir seu ritmo de forma involuntária, eu me
percebi calmo e firme.
Meu quadril não se moveu. Minhas pernas não acompanharam a batida sensual
com um rebolado que eu sabia fazer, e que motivava as mulheres a travarem os dentes
nos lábios. Eu apenas atravessei o palco, puxando Mina atrás de mim, impelindo-a a
me seguir. Andei devagar o suficiente para que o público pudesse demorar o seu olhar
nela.
Me virei quando chegamos à cadeira e eu vi suas bochechas enrubescidas.
Não vai ficar com vergonha, não é?Até parece…
Puxei sua cintura esguia e lambi seu lóbulo antes de sussurrar.
– Você disse que não estava mais comvergonha, não é? – provoquei.
Sentei, permitindo que meus dedos escorregassem pelo seu quadril, seguindo meu
movimento, delineando a barra de sua saia como um moleque levado. Brincando com
meu indicador em uma das pontas, fingindo indecisão quanto a levantar ou não o
pano que a cobria.
– Dança pra mim – pedi, dengoso.
Ela levou as mãos à barriga e tentou assumir um gingado delicado, mas não era
isso que eu queria. Puxei seu quadril com violência, forçando-a a montar em uma de
minhas pernas. De frente para mim, contemplei suas bochechas vermelhas e seu
ofegar nervoso.
– Não quero essa merda que você dá pra eles todas as noites – murmurei em seu
ouvido, indicando a plateia com um movimento do meu queixo. – Quero algoespecial.
Algo só pra mim.
A luz iluminou seu rosto quando ela se virou de lado observando seus espectadores
e sua vergonha ficou ainda mais avassaladora sob os tons azuis e vermelhos dos
holofotes.
– Ryker… – pediu baixinho. – Não tem como ser só pra você. – suspirou, ainda
nervosa.
– Esquece que eles estão aqui. – Enfiei meus dedos por baixo de sua saia,agarrando
a popa de sua bunda. Apoiada em meus ombros, ela se ergueu por um segundo,
sobressaltada diante do meutoque. Seu olhar voltou-se para o mesmoponto na plateia e
eu o segui.
Delvak estava em uma das mesas na primeira fila. Tinha um copo de bebida à sua
frente, o cotovelo na mesa e o queixo apoiado na mão. Observava nossa apresentação
com zelo.
– Quer dar um show pra ele? – Mordi seu queixo. – Deixa eu te ajudar. – Belisquei
sua coxa e ela rebolou no meu colo. – Quero mostrar pra ele o que a minha virgem
sabe fazer.
– Sua virgem não sabe fazer nada! – sussurrou em seu típico desespero e eu tive que
lembrar que, embora risadasfossem uma parte constante dos nossos encontros sexuais,
elas provavelmente não agradariam ao público. Mordi língua e lábio e empurrei seu
quadril. Guiei-a para que se levantasse. Ela obedeceu.
– Rebola pra mim. – Mina olhou ao redor, hiperconsciente. – Ei! – chamei alto e
ela estalou de volta. – Rebola – sibilei, rude. – Devagar.
Apoiei o cotovelo em um dos meus joelhos e assisti Mina rebolar aquela bundinha
linda. Girou devagar fazendo o tecido leve saltar exibindo um pouco mais de pele.
Raspei meus dedos aqui e ali, sentindo-a se arrepiar.
Olhei para cima, assistindo aomovimento de seu corpo sob a luz da boate, deixando
minha mão se perder emsua pele.
É aquele calor maldito. As mulheres têm um calor bem no meio das pernas, antes
da boceta… Quando você sobe a mão pelo meio de suas coxas, direto ao ponto
especial entre suas pernas… antes de atingir o seu destino, sua mão capta um calor
exalado pela virilha. Um ardor febril que se apodera de sua mão como se estivesse
próxima ao fogo, num prenúncio do que está por vir. Aquele maldito calor que você
sente na mão quando a coloca entre as pernas de uma mulher e sabe que a bocetinha
está logo ali. Poucos centímetros mais acima evocê atinge o objetivo.
Mina rebolou no meio de uma plateia inteira. Mas não era para eles que ela
rebolava. Era para mim.
E, quando aquele calor da minha mulher atingiu minha mão, foi impossível não
ficar imediatamente duro.
Aproximei o nariz do seu joelho e estirei a língua para atingir sua pele. Lambidas
leves de saliva e desejo. Ela terminou sua volta e ficou de frente para mim. Aquela
postura rígida e ávida por novas instruções.
– Já fez uma dança no colo de alguém? – murmurei e ela balançou a cabeça em
uma negativa. – Então venha aqui porque eu quero uma.
Coloquei-a de costas para mim. De pé, com uma de minhas pernas entre as suas.
– Rebola de novo, amor. Só que dessa vez, até sentar na minha perna. – Mordi a
bochecha da sua bunda e ela emitiu um grito rápido que quase me fez esporrar nas
calças. – E depois sobe de novo.
Ela obedeceu. Desceu devagar e, quando sua bunda tocou minha perna, fui eu quem
rebolei. Esfregando parte da minha ereção nela. Qualquer parte. Raspei os dentes em
seus ombros quando ela se ergueu novamente e forceio movimento para que ela ficasse
defrente para mim.
- Aqui. Assim. – Puxei um de seus joelhos e coloquei seu pé apoiado na cadeira
ao meu lado. Sentei na ponta do assento, enfiando as mãos por baixo de suas coxas,
puxei-a para mim pelabunda.
Mina vestia uma calcinha, mas não me importava. Enfiei nariz e boca entre suas
pernas e me esbaldei em seu calor delicioso. Lambi, mordisquei e rosnei. Senti suas
mãos nos meus cabelos, embora não soubesse determinar se foi porque ela buscava
mais equilíbrio ou mais prazer. Mordi seu clitóris e suas unhas se enterraram no meu
couro cabeludo.

Mais prazer.
Puxei o pano da calcinha para fora do caminho da minha língua, usando os dentes
desajeitados. Respirei fundo e comecei a sentir meu corpo tremer e falhar. Eu tinha
gozado naquelas pernasgostosas não fazia muito mais de dois dias.
Mas naquela bocetinha… naquela bocetinha rosada, depilada e suculenta… Fazia
muito tempo que eu não gozava ali.
A sensação provocada pela lembrança tomou o controle do meu corpo como um
ataque de pânico. Um frenesi de fúria. Um descontrole irremediável. Meus dedos
agarrados nas bandas de sua bunda puxando-a mais para dentro de minha boca. Eu
sentia a perna ao meu lado, apoiada na cadeira, tremendo involuntariamente.
Ela começou a gemer e eu soube que queriaengoli-la ali mesmo.
Enfiei a pontinha da língua dentro dela, só para provocá-la. Desferi uma lambida
longa e a empurrei para trás, com cuidado para que ela não perdesseo equilíbrio.
– Fique nua – pedi. Agora era eu quem ofegava em desespero.
– Ryker – gemeu, miúda. – Você tem que tirar. – Tentou recuperar o controle me
lembrando dos tópicos do show.
– Hoje não – rosnei. – Hoje você tira. Você tira pra mim. – Eu não consegui
controlar minha mão e só percebi que tinha estapeado sua nádega quando o golpe
estalou alto, assustando Mina e fazendo-a arregalar os olhos. – E vai tirar tudo –
gemi.
Eu não tirei os olhos dela. Não perdi um segundo. Não deixei que ela esquecesse
que só ela conseguia aliviar aquela minha fome.
E ela se despiu. A puta da minha virgenzinha se despiu toda como um presente pra
mim. Tirou cada uma das peças sem qualquer sensualidade. Despindo-as com tensão,
como se fizesse isso dentro do banheiro de sua casa quando estava com pressa para ir
para algum outro lugar. Mas eu estava duro. Eu estava irreparavelmente duro.
Latejando dentro das calças, meu coração explodia enquanto bombeava cada gota de
sangue exatamente para o lugar certo.
Mina tirou tudo menos a calcinha e o sutiã. Pretos.
Dei dois tapinhas no meu colo e ela obedeceu. Montando sobre minhas pernas,
envolvendo-me com suas coxas.
Seus braços passaram pelos meus ombros e eu senti o cheiro do seu hálito.
– Desabotoe a minha blusa – decidi.
Seus dedos frágeis e vacilantes assumiram minha camisa e eu enfiei o nariz na curva
do seu pescoço. Apertando sua bunda, sua cintura, o topode suas pernas… Lembrando
da geleia que comi de seus seios. Lembrando do sabonete que passei em sua entrada.
Enfiei a mão pela parte de trás de sua calcinha e escorreguei meu dedo entre suas
bandas, provocando a entrada de seu cu. Mina arfou e rebolou. Eu não saberia
precisar quando comecei a mover o quadril como se a estivesse fodendo, mas aí
estava…
Seus dedos tocaram meu tórax quandominha camisa estava aberta. Enfiando-sepelas
mangas e expulsando o tecido do meu torso.
– Minha calça – gemi. Mas Mina parecia estar envolvida exatamente pela mesma
sinfonia que eu e, mal eu tinha terminado meu pedido e suas mãos já estavam em
meus botões, libertando meupau ereto e faminto.
– Onde você quer que eu coloque?
Eu fechei os olhos. É incrível como aquela frase podia ser ridícula ao ponto de ser
anticlímax quando suspirada por uma atriz pornô ruim, logo depois de gemer que
aquele era o pau mais delicioso que ela já tinha chupado. Mas quando Mina as dizia…
Ela piscava seus olhos doces para mim, ficava vermelha e perguntavaapenas porque
ela realmente queria saber.
Não era falso. Era o exato oposto.
Não havia nada mais verdadeiro do que as dúvidas de Mina e uma coisaficou muito
clara para mim: eu não ia conseguir ver minha virgem tirar a roupa na minha frente,
rebolar sua bundinha exclusivamente para mim, me perguntar onde eu queria que ela
colocasse meu pau e, depois disso tudo, não comê-la. Seria impossível.
Pus-me de pé rápido demais e o passo para trás que Mina deu me avisou que ela
tinha se assustado.
Mas eu não parei. Eu não conseguia parar.
Avancei com brutalidade, enfiando minhas mãos por baixo de seus joelhos, apoiei
suas costas contra o pole dance à minha frente e a mantive colada comigo, alinhando
nossas virilhas.
– Quero que você coloque aquidentro.
– Ryker… – Um sorriso, seus olhos fechavam como se suas pálpebras fossem
pesadas demais para que ela os mantivesse abertos. – Coloca... – pediu. Lambi seus
lábios e Mina abriu a boca me deixando entrar com a minha língua. Bebi sua saliva,
gemendo com seu sabor.
Puxei sua calcinha para o lado. Mina forçou as costas contra o pole e me encarou
com a boca entreaberta para facilitar a respiração vacilante. Raspei a cabeça do meu
pau em seu suco, mordendo minha boca em um pedido mudo. Eu queria ter certeza
que ela queria.
O gesto de permissão que ela fez foi simples, mas claro. Então, ela segurou o pole
atrás de sua cabeça com uma das mãos e fechou os olhos, levantando o queixo rumo
ao teto.
Um movimento. Apenas um.
Meu quadril se jogou inteiro na direção dela e eu a penetrei.
Eu a penetrei em cima do palco.No meio daquela gente.
Sob os olhares dos russos, do Delvake do Höfler.
Mina manteve os olhos fechados e eutravei os dentes em seu queixo.
Ela me absorveu exatamente como eutinha antecipado: quente e suculenta.
Muito quente. Muito suculenta.
Daquele jeito que faz o homemamaldiçoar a mais fina das camisinhas por jamais ser
capaz de oferecer prazer remotamente próximo àquele.
Pressionei meu rosto contra o vale dos seus seios por dois segundos. Deixando a
sensação se firmar e aquietar. Tomando maior segurança nos impactos e no meu
movimento. Tudoaquilo não me serviria de nada se minhas pernas falhassem e eu não
conseguisse mais foder Mina porque estávamos os dois caindo pelo palco.
No entanto, verdade seja dita, era preciso que a queda me deixasse paralisado da
cintura para baixo para que me impedisse de continuar fodendo a Mina.
Principalmente depois de tanto tempo. Principalmente depois de tanta coisa.

Ela era minha agora. Toda minha. E um ataque nuclear me mataria com impacto
ou radiação, mas eu não parariao que estava fazendo para me proteger.
Seus dentes prendiam o lábio inferior com força suficiente para arrancar carne e,
mesmo assim, não eram suficientes para deter os gemidos que ainda escapavam com
sua respiração e quando coloquei a mão entre nossos corpos para estimular seu
grelinho, girando-o como uma azeitona carnuda entre meu indicador e polegar, Mina
me deu um soco no ombro com força e exclamou um palavrão delicioso. Me agarrou
pelo pescoço com força e escondeu o rosto no meu corpo. Ela me embalou e eu a
comi. Levantando suas pernas,espremida contra o pole.
Não sei se por vergonha, tensão ou prazer… mas Mina tinha um jeito de contrair os
músculos vaginais de uma maneira que me enlouquecia. Eu não tinha esquecido
daquilo… A cada vez que, nos últimos meses, eu tinha tentando levar uma mulher
para a cama, tinha lembrado desse apertão perfeito nomeu pau e no modo involuntário
como ela conseguia causar tamanho efeito.
E agora, sem camisinha. Sentindo a carne dela na minha carne… Tudo que eu
conseguia fazer era urrar e gemer. Lambendo seu suor frio, sussurrando minhas juras
ao seu ouvido, me derretendo; seu.
Havia passado meses sem ela.
Mina gritou meu nome alto e eu soubeque ela tinha atingindo o clímax.
Senti meu orgasmo se aproximando em uma retrospectiva de todo o tempo que
passara sem ela e de todo o tempo que passei tentando tê-la.
Meu esporro foi libertado com violência, me levando a um dos maiores êxtases que
eu já tinha experimentado na vida, apenas para me fazer perceber que Mina dava um
trabalho do cacete, mas que, assim como daquela vez na estufa de Bessie, nos
cobertores no chão e entre as flores mal-arranjadas… para mim, ela sempre seria a
mulher pela qual valia a pena esperar.
Sete
Coisas erradas para sedizer

Acenei devagar para Valerik e um meio sorriso arranhou seu rosto rude, maltratado
pelo sol e pelo gelo. Era o moleque que o senhor Kulik queria vivo e a menina que o
senhor Kulik queria morta. Eles foram imbecis para voltar ao mesmo lugar onde
haviam sido capturados da outra vez.
E ainda por cima tinham nos oferecido um pequeno show antes de se separarem
para sempre. Era poético,de certo modo. Um último adeus.
Eles se dirigiram para os bastidores quando o show acabou e eu lancei um olhar de
volta para o bar e para o inspetor da Interpol, curvado sobre o balcão e seu oitavo
copo de vodca desde que chegáramos. Ou pelo menos, deveria ser o oitavo. Eu tinha
perdido a conta em algum lugar perto do seis. E, pelo olhar bêbado em seu rosto, o
agente Zahner deveria ter perdido a conta também.
Ele não seria um problema para nós. O que também era poético, já que também
não pretendíamos ser um problema para ele. O garoto Strome desapareceria. A garota
Bault ficaria morta para trás. A polícia holandesa seria acionada e chegaria em suas
bicicletas, pedalando velozes pelos becos estreitos e ruas entre canais eencontraria um
ex-agente desertor procurado internacionalmente sobre o corpo ensanguentado da
jovem parisiense que ele sequestrara.
Simak e Kulik respirariam aliviados. Simak bradaria a todos os pontos cardeais que
jamais desistiria de buscar seu filho enquanto Kulik o manteria sob seus cuidados
como eterno refém… Vantagem sobre um político influente.
Justiça poética.
Bem… talvez não justiça.Mas poesia.
Ordenei à garçonete que trouxesse a conta. Levantaria apenas depois de pagar,
atraindo o mínimo possível de atenção e acabaria com tudo aquilo.
O garoto teria que ser forte, mas a garota… a garota ia receber a partefácil.
Não é difícil morrer nesta vida, é o que Maiakóvski diria, viver é muito mais difícil.
Assim que saímos do palco, Mina seescondeu atrás das mãos.
– Ai, minha nossa – murmurou, temerosa. – Ai, minha nossa… minha
nossa.
– Mina, calma – ri, afagando seu ombro.
– Ótimo espetáculo. – Nila se aproximou e…
– Nila? O que está fazendo aqui? Estou com vocês, explico depois –abanou a mão
no ar. – Eles estão vindo.Delvak estava logo atrás dela, seguido de perto por Lucky, e
Mina se escondeu ainda mais atrás das mãos.
– Estou ofendido – Sven começou,com a testa enrugada. – Se tivessem me contado
o que era o show da Tímida, eu teria vindo antes – reclamou. – Ryker, ótimo trabalho.
– Aproximou-se e colocou uma mão fraternal sobre o meu ombro. – Gostei do modo
como deu as instruções, foi claro, mas ao mesmo tempo misterioso. Ótimo trabalho,
moleque!
Eu abri a boca para agradecer, mas… agradecer a Delvak por achar que eu tinha
feito um bom trabalho comendo minha namorada não me pareceu razoável.
– E você. – Ele apontou um dedopara Mina. – Eu achei que era virgem.
– Espremeu os lábios. – Não é comum eu me enganar com essas coisas. – Mina
emitiu um gemido baixo de dor e constrangimento e eu comecei a sorrir, gesticulando
para Delvak ao sugerir que se calasse, mas ele me ignorou. – Da próxima vez, tente
caprichar nos gemidos, sim?
– Próxima vez? – Mina levantou os olhos arregalados para ele.
– Caprichar nos gemidos – repetiu a instrução. – Sinceramente – irritou-se.
– Eu estava na primeira fileira e mal conseguia te ouvir. Tem que lembrar que tem
uma música tocando, e precisa ser, no mínimo, mais alto do que a música, ou então
vai parecer que Ryker está tendo uma péssima performance.
Eu já tinha visto Mina vermelha e com vergonha em outros momentos. Mas nunca
daquele jeito. Ela tinha encontrado uma nova coloração na sua paleta de timidez e o
rosto assumiu um rubor tão vivo e intenso que tive certeza que ela explodiria.
– Delvak, não faça isso – pedi, tentando salvar minha namorada.
– Ah, perdão. – Ele revirou os olhos.
– Fez um bom trabalho também – elogiou, cansado, e eu percebi que meu pedido
tinha sido mal compreendido. – Conseguiu rebolar mesmo quando pressionada contra
um pole e com os dois pés fora do chão, e isso não é fácil.
Mina desistiu.
Desistiu de mim, do show, da conversa.
Mas acima de tudo, ela desistiu de Delvak. Passou por nós, chocando o ombro
contra o meu braço e correu para as escadas e o quarto, ainda contida em seu novo
tom de vermelho.
– Por que precisa fazer isso? – sorri, recriminando meu amigo.
– Não preciso. – Pareceu ofendido. –Foi você quem me mandou elogiá-la.
– Não mandei elogiá-la! – Levantei as mãos.
– Eu estava fazendo críticas construtivas sobre a performance sexual dela e você
me mandou parar.
– Parar de falar! – exclamei. – Não mudar de assunto!
– Ah. – Estreitou os olhos numa expressão confusa.
– Acho que não conhece Sven bem o suficiente, irmãozinho. – Lex se aproximou. –
Ele é incapaz de parar de falar.
– Onde você estava? – Delvak rosnou, percebendo a chegada da minha irmã.
– Sabe que horas são?
– Respondo suas duas perguntas se perguntar de novo com educação. – Seus olhos
brilharam por trás dos óculos, Sven respirou fundo e deixou os ombros caírem.
– Estávamos preocupados – generalizou, embora eu não estivesse nem um pouco
preocupado. Lexa sabia se cuidar muito bem e não era ela quem ia servir de isca para
mafiosos russos.
– Pierre quis jantar em um lugar afastado e eu não poderia negar depois de toda
sua ajuda com a divulgação do evento de hoje.
– Da próxima vez, dê meu número e eu nego por você.
– Ei! Vocês dois! – Nila chamou, irritada. – Russos. Plano. Alguém se lembra de
alguma coisa? – resmungou, sarcástica.
– Sim, Ryker. Vá para o camarim.
– Não é melhor ele ficar fora do caminho? – Lexa perguntou, eu podia ouvir a
preocupação com minhasegurança em sua voz.
– É melhor você não fugir com seu namoradinho no meio da minha operação, da
próxima vez. – Delvak recriminou.
– Sua operação?
– Porque assim saberia todo o plano. Mas agora não temos tempo: Ryker vai
sozinho, nós voltamos para o salão e você só fica quieta e me obedece.
Lexa tinha os braços cruzados sob os seios e os lábios apertados em uma única linha
rígida, como se desafiasse Delvak a lhe dar uma ordem. Qualquer que fosse.
– Temos que sair agora – continuou.
– Ryker vai para o camarim sozinho – sussurrou. Ele estava realmente tentando
manter a resolução, mas era perceptível que o foco firme de minha irmã começava a
constrangê-lo. Olhou ao redor por um segundo, ciente do perigo que se aproximava
antes de expirar longamente em desistência. – Por favor? – pediu. – Eu te explico em
um segundo.
Ela se virou e lhe deu as costas em resposta. Sven gesticulou para que eu andasse
depressa e a seguiu de voltapara o salão.

Eu estava no camarim fingindo arrumar alguma coisa e sentia ossegundos se


arrastarem demoradamente. Os dois homens de Kulik não devem ter demorado mais
do que dois ou três minutos, mas, para mim, era como se a Terra tivesse completando
sua volta ao redor do sol umas oito vezes.
Quando finalmente vi seus reflexosno espelho iluminado do camarim, nem me dei
o trabalho de fingir surpresa.
– Boa noite, cavalheiros.
Um deles sorria, mas o outro deve ter percebido na minha naturalidade que algo
saíra do seu controle. Mostrou-me a arma com autoridade.
– Está de bom humor! Ótimo. – Sua risada era gutural e deselegante. – Vamos
buscar sua amiga e dar uma volta.
Era impossível não lembrar daquela noite, há poucos meses. Tinha sido idêntica à
de hoje e, ao mesmo tempo, completamente diferente. Homens de Kulik tinham vindo
atrás de mim naquela noite também. Estavam armados e dispostos a matar.
Tudo seria exatamente igual, se não fosse por um detalhe.
– Não, obrigado. – Cruzei os braços.
– Acho que vou preferir ficar aqui. Por que vocês não me entregam suas armas?
Eles riram e se entreolharam.
- Garoto, se vier conosco em silêncio e chamar sua namorada, nós levamos vocês até
o Kulik. Se der trabalho, a gente te mata e leva só sua namorada para o Kulik.
– E se diverte com ela no caminho – o outro acrescentou e eu senti o sorriso
presunçoso abandonar meu rosto pela primeira vez. – Esse show todo nos deixou com
vontade.
– Olhe para isso, Valerik. Agora ele se calou. Acho que seu argumento foi bom.
Mantive meus braços cruzados e não senti mais vontade de rir.
– Vocês deviam me entregar suas armas. Agora – avisei.
– Ah… eu entrego – riu, debochado. - Se você pedir por favor.
Eu ri ao ver Zahner se aproximar por trás deles, a arma alinhada com a cabeça de
um deles.
– Por favor – pediu por mim.
Os homens se sobressaltaram e seviraram.
Nila, Luckas, Brout e Delvak seguiam Zahner de perto, Nila e Brout empunhando
armas, Luckas com umbastão velho e Delvak com seu sorriso.Espalharam-se assim
que entraram nocamarim, cercando os homens de Kulik. Um deles se rendeu
primeiro. O outro rosnou um ou dois palavrões em russo antes de estender a arma à
sua frente.
– E eu estava preocupado que não falássemos a mesma língua. – Delvak brincou ao
esticar a mão para lhe tomar a arma. – Mas acho que ameaça é uma língua
internacional.
Ele se distraiu com o som da própria voz e Valerik lançou o punho contra o seu
rosto. Sven tinha bons reflexos e conseguiu escapar do golpe por um mísero
centímetro. Meu coração explodiu dentro do peito quando a mão do nosso inimigo se
firmou na arma, o dedo buscando o gatilho. Delvak perdeu o equilíbrio, mas mesmo
que estivesse firme, seus reflexos não seriam capazes de mantê-lo longe do percurso
da bala.
Minha boca estava aberta, mas não tive tempo para gritar.
O som estalou poderoso, me fazendo levar as mãos à cabeça. Meus ouvidos
apitavam ruidosamente, mas eu ainda conseguia ouvir a sequência de baques abafados
pela potência da música eletrônica que tocava lá fora.
Eu gostaria de, ao narrar esta história, contar que fui de maior serventia. Todavia, a
verdade é que, enquanto eu ainda estava tentando me adaptar a mudança e decidir o
que fazer, os instintos de Zahner já tinham reassumido o controle da situação.
Valerik caíra no chão. Sangrava pelo nariz e boca, depois de receber três golpes de
Gary, um deles usando a própria pistola. O homem estava desarmado e quase
inconsciente.
– Aqui. – Ofereceu algemas para Nila e ela ajudou Brout a neutralizar o outro… O
que tinha se rendido primeiro.
– Olhe pra isso. – Delvak tinha o lábio dobrado de admiração. – O agente serve
para alguma coisa no fim das contas. – Impressionou-se.
Zahner apenas lhe ofereceu um olharimpaciente e uma careta desgostosa.
– De nada – resmungou, enquantoguiavam os homens para fora.
– E agora? – Enfiei as mãos nos bolsos, enquanto Luckas nos confirmava que
poderíamos prosseguir com o plano, após conferir que o resto da gangue tinha
mantido o salão sob controle e ninguém desconfiava denada.
– Agora você sobe para ficar com a garota – Sven murmurou. – Eu cuido doresto.
– Cuida como? – Zahner quis saber.
Delvak olhou para a porta dos fundos, calculando o melhor caminho para sair sem
ser visto por ninguém.
– Com um pouco de ajuda. – Sorriu, misterioso.

Fiquei de pé, encostado na porta fria do carro estacionado. Assistindo aos meus oito
seguranças dançarem ao meu redor, em constante vigilância para se certificar que
nenhum perigo nos surpreenderia.
O beco do lado de fora da boate era mal iluminado, elemento imprescindível
para um bom lugar de negócios. No letreiro, lia-se a inscrição “Lucky’s” desenhada
em um vermelho irritante de neon.
Seja lá qual fosse o presente que Sven Delvak tinha para mim, aquele era um
lugar peculiar, diferente das luxuosas boates e clubes eróticos em que ele geralmente
conduzia seus negócios.
Mas… desde que fosse um bomcavalo dado, eu não olharia seus dentes.
Verifiquei as horas. Ia precisar lembrá-lo de que eu era um homem ocupado e que,
da próxima vez que precisasse de minha ajuda, iria precisar ligar com maior
antecedência.
– Hideki-sama.Sama.
Ele nunca se dirigia a mim com respeito a não ser quando queria algo. Era seu
modo arrogante de pedir “por favor”, sem nunca realmente dizer as palavras.
– Senhor Delvak. – Apertei a mãoque ele estendia.
Atrás dele, dois homens armados conduziam dois outros algemados.
– O que temos aqui?
– Temos dois cavalheiros russos –anunciou.
– Russos? – Senti meus olhos se abrindo forçosamente.
– Sim. – Ele me ofereceu seu melhor sorriso sedutor e empresarial. – Hideki, tenho
uma proposta de negócios para lhe fazer.
Apertei a mão de Delvak e o assisti fechar a porta da boate depois de deixar seus
prisioneiros sob o controle dos meus homens. Os detalhes de nosso acordo ainda
precisariam ser estabelecidos, mas eu não via como aquilo poderia beneficiá-lo mais
do que a mim.
Observei meus cativos nos olhos.
Aquela seria uma ótima noite.
– Acabei de fechar um negócio muitobom envolvendo vocês dois.
– Sorri.
– Não vamos te contar nada.
– Ah, vão sim. – Ri da inocência deles. – Vão me contar tudo o que eu quero saber
e vão passar para Kulikexatamente a informação que eumandar.
– Vai nos ameaçar, agora? Nós sabemos como funciona, japonês. Não vai fazer
conosco nada que já não tenhamos feito com outros homens.
– Não se incomoda se eu discordar, não é mesmo? – Tirei o lenço do meu bolso. –
Nós, japoneses, podemos ser bem criativos. – Usei o lenço para proteger meus dedos
de sua imundície quando enfiei meu indicador sob o queixo do seu colega, verificando
seu rosto. Os que ficavam em silêncio quando capturados geralmente eram mais
difíceis de submeter. Encarei seus olhos frios por um segundo, aceitandoo desafio.
– Vai nos matar? – o silencioso quis saber.
– Matar? Não. De modo algum. – Soltei seu rosto e lhe ofereci um sorriso
reconfortante. – Vou lhe oferecer umemprego.

Mina estava deitada na cama com a cabeça enfiada embaixo dos travesseiros, como
um avestruz.
– Amor? – chamei, tentando não rir.
– O mundo acabou? – choramingou.
– O quê?
– O mundo? – chiou, debaixo dos travesseiros. – Acabou? Todo mundo morreu?
Porque eu só saio daqui quando isso acontecer.
Me coloquei de quatro sobre a cama e fui engatinhando até cobrir seu corpo com o
meu. Me deitei por cima dela, esmagando-a com meu peso.
– Onde está Mina? – murmurei, escavando o caminho até ela através dos
travesseiros. Faltava apenas um, que eu empurrei para o lado o suficiente para poder
ver seu rosto quando rolei, me deitando ao seu lado.
– Não foi tão mal assim.
– Ryker – gemeu. – A gente tem definições diferentes de “mal”.
– Podia ter sido pior.
– Ah, na minha vida abençoada? – reclamou, sarcástica. – Eu não duvido que nada
possa ser pior! No entanto, acho pouco provável que dessa vez isso fosse possível.
– A boate podia ter pegado fogo.
– As pessoas iriam embora e não teriam assistido até o fim! Teria sido melhor.
– Mas... você estaria distraída comigo e nós seríamos interrompidos por
bombeiros com jatos de água.
– Eu preferia isso aí.
– Ou o Höfler podia ter subido no palco – arrisquei o pior cenário que eu poderia
imaginar.
– Você ia ter ficado com raiva, brigado com ele e a gente teria saído do palco
mais cedo – decidiu. – Eu preferia isso também.
Mordi o lábio pensando em algo que poderia ser verdadeiramente horrível. Encostei
minha testa na dela arregalando os olhos em antecipação a pior das hipóteses: – Você
podia não ter gozado.
Mina emitiu um longo rosnado de dor e puxou o travesseiro de volta para cobrir o
próprio rosto.
– É sério! Já imaginou? Eu lá em cima do palco fazendo o meu melhor e você não
gozar? – continuei a piada na tentativa de fazê-la rir. – Ia ser horrível.
– Eu gozei na frente daquela gente. – Eu mal conseguia compreender suas palavras,
abafadas pelo travesseiro. – Aquela gente lá fora sabe o que eu grito em um orgasmo.
Quero morrer.
– Por que não disse que não queria?
– Porque eu queria – resmungou, dolorida. – Mas agora eu queria não querer.
– Amor! – Esperneei na cama, devagar, fazendo o impossível para não rir de sua
situação. – Já passou. Então, é melhor aproveitar e se preparar pra próxima.
– Próxima? – Ela se livrou do travesseiro e me encarou com olhos felinos. –
Strome, eu nunca mais subo naquele palco com você! Nunca mais nem fico perto
daquele palco com você!Nunca mais faço nada em público pertode você! – Eu acenava
em concordância com suas afirmações desesperadas. – Na verdade, decidi que vou
passar o resto da minha vida aqui dentro desse quarto.
– Posso ficar também? – perguntei temeroso, quando ela se escondeu em sua
caverna improvisada mais uma vez, porém, não sem antes arremessar um dos
travesseiros na minha cara. – Você nem perguntou se a coisa com os russos deu certo
– lembrei.
– Tomara que tenha dado errado – gemeu, escondida. – Deixa a porta destrancada,
se eles quiserem entrar pra me matar é mais rápido.
– Mina! – Tirei os travesseiros do caminho. – Não diga isso! – Me chateei.
– Eu não sou como você! – arfou. Seu rosto ainda estava perigosamente vermelho.
– Não sei o que fazer agora!
Larguei os travesseiros na cabeceira da cama e me apoiei sobre eles antesde abrir
o braço.
– Agora você me abraça – resolvi. – A gente acabou de fazer amor, eu gosto de
ficar abraçado depois que faço amor.
– Eu nem sei para o que eu reviro os olhos primeiro! – exclamou indignada. Mas
pelo menos ela estava se sentando na cama. Animação era bom sinal. – Para o fato de
que você considera “fazer amor” um sexo em cima de um palco, contra um pole, na
frente de uma plateia. Ou para essa sua conversa fiada de que gosta de ficar
abraçadinho depois de…
Eu a puxei com força para o meu colo. Tapei sua boca com uma de minhas mãos e
usei minhas pernas paramantê-la imobilizada.
– Pronto. – Afaguei seus cabelos com a outra mão, exagerando na intimidade de
nosso momento, claramente forçado para ela. – Você é tão romântica, minha linda.
Obrigado por ficar abraçadinha comigo depois que fizemos amor.
Foi impossível não rir.
Mas bem… considerando que eu tinha conseguido sobreviver até esse ponto sem
emitir nenhuma risada, acho que eu já estava pronto para sercanonizado.
Ela gemeu irritada, com minha mão tapando sua boca, balbuciando palavras
incompreensíveis.
– Ah, é verdade – provoquei. – Foi um sexo muito gostoso.
Seus olhos se estreitaram e suas palavras ficaram mais afiadas. Acho que escutei um
“Ryker” no meio de seus rosnados sob minha mão.
– Eu também quero de novo, amor. Mas um homem precisa descansar. – Eu podia
ver nos seus olhos que ela estava detestando minha brincadeira. – Você precisa ser um
pouco menos insaciável
– reclamei. – Gosto desse seu jeito safado, mas um cara precisa de um pouco de
tempo. Só uns minutos ou…
Ela lançou o joelho contra minha virilha e a brincadeira perdeu a graça. Toda a
graça.
– Pronto – chiou. – Pode ter os minutos que quiser agora. Satisfeito?Protegi minha
virilha com as mãos e lhe lancei um olhar de revolta antes de girar para o outro lado
para meproteger de sua personalidade maldita.
– Sua mulher cruel – sussurrei.
Mina espremeu os lábios, observando meu sofrimento por dois segundos e então se
aproximou.
– Desculpa! – pediu, alto demais. – É que você me irrita! – Passou as mãos pelos
meus cabelos com um olhar verdadeiramente arrependido e eu exagerei a careta de dor
para receber maiores cuidados. – Por que precisa fazer isso justo quando estou com
vergonha?
– Está doendo – choraminguei.
– Sinto muito. – Beijou minha testa e escorregou a mão pelo meu tórax. Eu
conheço Mina bem o suficiente para ter certeza de que, quando afagou minha virilha
atingida, foi apenas com aintenção de fazer um agrado em um zona machucada. Mas
é claro que meu pênis não recebe afagos em silêncio…
– Seu descarado. – O tapa no meu ombro estalou alto.
– Ai! Por que eu apanhei? – Arregalei os olhos. – A joelhada no saco até entendi
– admiti. – Mas esse tapa agora eu não mereci!
– Está ficando… – Abanou as mãos rapidamente, sugerindo palavras que não
queria pronunciar. – …animado – escolheu, me fazendo revirar os olhos.
– Sério que você não consegue dizer “ereto”, “excitado” ou “de pau duro”, Bault? –
recriminei, incrédulo. – A gente acabou de foder na frente de umas sessenta pessoas e
você está preocupada com vocabulário?
Apanhei de novo.
– Certo – aceitei. – Esse eu mereci.
– Você fingiu que tinha doído, mas estava duro! – reclamou.
– “Fingi”? Você me deu uma joelhada!
– Não foi tão forte assim.
– Não importa! Pênis não foram feitos para receber qualquer tipo de impacto, sua
maluca! Foram feitospara ser tratados com carinho. – Alisei minha ereção com amor
e ela começou a rir.
– Dramático.
– E ele só levantou porque você veio com essa sua mão safada e o acordou.
– Pare de tratar seu pênis como se fosse uma pessoa. – Riu.
– Fale mais baixo! – Balancei as mãos. – Senão ele te escuta, se ofende eaí você vai
reclamar quando ele se recusar a colaborar.
– Até parece que ele alguma vez na vida se recusou a colaborar.
– E é exatamente por ser um trabalhador tão fiel que deve ser respeitado.
Mina se jogou nos travesseiros, rindo, e eu repousei minha cabeça em seu
estômago, bem abaixo dos seus seios.
– Eu sei o que está fazendo. – Suspirou. – Obrigada.
– Por ter te explicado como pênisfuncionam? De nada. Não foi a primeira vez.
– Não. – Riu e deu um tapa leve e brincalhão em meus cabelos. – Por me distrair.
Me virei rapidamente, plantei um beijo rápido na sua barriga e enlacei sua cintura
com meus braços.
– Não sei como vou encarar todo mundo depois, Ryk… – confessou.
– Quer vê-los transando também? Porque, se isso ajudar, tenho certezaque pode ser
arranjado.
– Ryker, é sério. A gente transou na frente de todo mundo. Como pode estar tão
tranquilo com isso?
Me apoiei sobre o cotovelo, forçando meu corpo para cima até alinhar nossas
bocas. Eu a beijei sem pressa.
De início, meu plano era beijá-la e dizer algo que eu sabia que iria acalmá-la.
Entretanto, nossas bocas se juntaram e eu esqueci o que ia fazer depois. Posicionei a
mão em sua nuca e a mantive por perto. Prologamos o toque de lábios e salivas.
Colocar a boca de Mina na minha era um ato sacro. Eu podia fechar os olhos e
sentir toda a capacidade sensitiva do meu corpo se concentrar no ponto entre nossos
lábios. Aquela pequena porção de carne macia e gostosa que eu podia mordiscar e
lamber, me enchendo desatisfação.
Foi assim no dia na estufa de Bessie. Não no dia em que fui seu primeirohomem…
mas no dia em que a beijei. No dia em que nos escondemos e Mina se tornou minha
primeira mulher… A primeira para quem eu tinha contado tantos detalhes da minha
vida. A primeira com quem eu tinha me sentido completamente vulnerável e
protegido de verdade. A primeira que tinha sido não apenas amante ou amiga, mas
uma companheira. A primeira mulher que eu tinha beijado por horas sem pensar em
sexo.
Era aquela boca.
Aquela boca perfeita que era minha maldição em tantos sentidos.
Aquela boca que sorria e me fazia esquecer as palavras, que se espremia de
vergonha suscitando o meu riso, que deixava escapar uma língua descarada estirada
para mim ou que me beijava como se eu fosse o único homem do mundo. Me
beijava como se visse em mim exatamente o que eu via nela, e não havia sensação no
mundo mais plena ou satisfatória do que aquela.
Meu polegar girava por sua pele causando arrepios. Sua mão no meu tórax. As
unhas se movendo de leve em um arranhão suave.
Enfiei os dedos pelos seus cabelos, mal conseguindo continuar o beijo, tamanha era
minha vontade de sorrir.
Mina mordeu meu lábio inferior e o sacudiu de leve para os lados, antes de me
soltar.
– O que foi? – Ela riu.
– Eu te amo.
– O quê? – Seu sorriso sumiu. O quê? Eu não sabia o quê.
– Hum? – consegui exalar um gemido curto e pela primeira vez desejei que ela
não estivesse tão perto.
– O que você disse? – sussurrou com os olhos arregalados.
É, imbecil, o que é que você disse?
O que é que você abriu essa porra dessa sua boca imensa para falar sem pensar nem
por um segundo?
– Nada – murmurei. – Você ouviualguma coisa?
Ela estava perto demais. Eu não conseguia pensar.
Mina manteve seus olhos fixos em mim, sem conseguir entender o que estava
acontecendo comigo.
Uma pena que ela não estivesse entendendo, porque, se estivesse, ela poderia me
ajudar, já que eu estava completamente perdido.
Por que eu tinha resolvido dizer aquilo?
Por que agora?
Não houve um momento de realização. Não houve ato ínfimo ou demonstração
grandiosa. Nada deespecial tinha acontecido. Eu apenas a beijei, abri a boca e…
E agora?
Eu queria inverter os papéis e pedir para ela me explicar o que eu deviafazer.
Me ajoelhar no chão?
Isso, Ryker, seja um imbecil.
E mais que um imbecil! Seja um imbecil de um filme de época, em que as
mulheres se casavam na adolescência com homens escolhidos por seus pais. Que
ótima ideia.
Beijo a mão dela?
Tenho quase certeza que isso tambémdeve ser cena de algum filme idiota.
Se Mina gostasse de comédias românticas eu poderia, no mínimo, passar uma
imagem adorável com uma dessas atitudes. Mas a maldita gostava daqueles filmes de
drama em que alguém sempre vai embora em alguma jornada de autodescoberta. Será
que essa era a expectativa dela? Que eu levantasse da cama e fosse passear pela boate
enquanto pensava no que fazer e tentava descobrir minhasverdadeiras intenções antes
de voltar com uma conclusão apoteótica em que nem eu nem ela saberíamos o que eu
diria?
Seria uma linda jornada.E bem curta também.
Principalmente se eu topasse com Delvak ou Lucy assim que descesse o último
degrau da escada. Seria épico explicar para eles dois o motivo do meu passeio. Digno
de uma comédiapara eles e um drama para mim.
Contudo, não houve joelho no chão. Nem beijo nas mãos. Nem jornada de
autodescoberta.
Eu só fiquei ali, parado e perdido. Me sentindo preso e violado por uma emoção
que eu não lembrava de jamais ter experimentado… E certamente nunca naquela
intensidade: um sorriso de Mina, três palavras minhas, seus olhos nervosos fixos em
mim.
Eu estava morrendo de vergonha.
Era péssimo. A pior sensação do mundo.
Como diabos Mina conseguia viver com isso o tempo inteiro?
Ela estava certa: deveria ser horrível conviver com alguém como eu, que se
divertia de sua situação.
Eu queria reagir. Queria mudar de assunto. Queria lhe dirigir uma pergunta. Estava
disposto a qualquercoisa que acabasse com aquela minha sensação terrível.
Mas os segundos se prolongaram.
Se prolongaram longamente, até a expressão de Mina se suavizar em uma
desistência contida e hesitante.
Ela respirou fundo.
Meu coração parou de bater até eu ouvir suas palavras.
– Achei que tinha dito alguma coisa. - Suspirei. Ryker estava prendendo a
respiração.
Eu sabia o que ele tinha dito. Sabiamuito bem. Eu não tinha ouvido errado.
Mas, se ele tinha preferido voltar atrás, era melhor respeitar sua vontade.
Organizar uma trama para roubar um mafioso, transar na frente de um monte de
gente e me deparar com um “eu te amo” de Ryker era mais do que eu podia aguentar
naquele momento.
Tentei lhe oferecer um sorriso natural, mas tive certeza da falsidade estampada em
meu rosto. Ele ainda me observava como se esperasse uma continuação da conversa.
– Vai me contar o que houve com os russos? – Engoli em seco.
Seus olhos fitavam os meus, aguardando, silenciosos. Como se mantivessem uma
constante esperança que eu fosse dizer mais alguma coisa.
Mas o quê?
O que ele queria que eu dissesse? “Eu também te amo “? Logo depois
que ele retirou o que disse? E o que ele responderia depois?
Eu gostava muito dele. Estavaapaixonada. O sexo era divino. Eu confiava nele.
Mas se era amor?Eu não sabia.
E, verdade seja dita, sempre imaginei que, se nosso relacionamento se
prolongasse, seria eu quem diria algo assim primeiro. Ou pelo menos, seria eu quem
perguntaria a ele.
Nunca imaginei que ele pudesse simplesmente soltar essas palavras assim. Do nada.
“Se nosso relacionamento se prolongasse…”
Tudo com Strome tinha sido intenso e maravilhoso. Mas tinha sido igualmente
rápido. Poucas semanas juntos, seguidas de meses sem nos ver. Sempre cercados por
esse clima de tensão e desespero que tornava todas as experiências mais urgentes.
Será que nós resistiríamos a uma semana normal? Será que ele ainda acharia minha
vergonha linda depois de um dia de trabalho? Será que o sexo continuaria tão
excitante depois de meses juntos? Será que eu seria suficiente para ele, mesmo com
todas as minhas inseguranças? Será que ele seria suficiente para mim, apesar de todas
as suas incertezas?
Eu estava acostumada a cultivar raízes grossas e profundas. Mesmo que eu não
tivesse uma família além de Elise, tinha um lar e gostava dessa sensação. Ryker era o
oposto: conduzia uma vida nômade, sem planos, vivendo no improviso depois do
trauma que experimentou em sua infância. O único lar que ele já experimentou tinha
sido pervertido.
Quando todo aquele calor de uma situação emergencial, de quase morte e de
novidade após novidade se esvaísse, será que nosso sentimento aindaexistiria? Ou será
que nós dois apenas tínhamos encontrado conforto um nos braços do outro em um
momento ruim, não por opção, mas porque não tínhamos mais ninguém a não ser
um ao outro?
Ele ainda sustentava um sorriso esperançoso e eu quis dizer.
Quis dizer as palavras que imaginei que ele quisesse ouvir.
Eu queria amar Ryker. Queria que ele me amasse.
Queria que o plano de Delvak desse certo para que eu e Ryker pudéssemos nos
amar pelo resto de uma vida bem longa e tranquila.
Liste, Mina.Liste.
1 – Ryker disse que me ama.
2 – Ryker retirou o que disse antesde me dar a chance de responder.
Se ele apenas tivesse dito que me amava eu poderia… poderia compartilhar com ele
todos os meus medos. Poderia expressar tudo.
Mas ele voltou atrás. Ele se arrependeu.
Um cara como Ryk é acostumado a muito sexo e pouco sentimento. Se eu
desrespeitasse seu arrependimento e quisesse conversar mais, eu poderia acabar por
afastá-lo. Ou pior… forçá- lo a confessar um sentimento que me obrigaria a
corresponder.
Eu não queria dizer “eu te amo” para ele só por medo de morrer.
Não era justo.
E talvez fosse exatamente isso queele tivesse feito…
Ryker se curvou e riu para o chão.
Um sorriso triste e desolado.
As palavras se amontoaram em minha língua. Mas não era certo proceder desse
jeito. Se um dia eu confessasse aquelas três palavras para alguém não seria por medo
ou pânico.
Ele se moveu na cama e eu inspirei, pronta para lhe pedir que conversasse comigo,
mas ele me segurou pelo braço e me beijou. Foi feroz e súbito, me puxou para si,
mordendo meus lábios.
Desejei me entregar, mas nãoparecia natural. Algo no modo comoele me olhava…
Como o Ryker dos primeiros dias naquele quarto, o Ryker que me provocava e queria
me comer para provar um ponto. Não era o Ryker que me fazia sentir a salvo, o
Ryker queme chamava de “amor”…
Pressionada contra o colchão, ele colocou minhas mãos acima da minha cabeça,
mordendo meu queixo. Suspirando no meu pescoço. Afogando sua frustração no meu
corpo.
Eu não queria aquilo. Não o queria daquele jeito.
Queria meu Ryk de volta.
Por favor, que eu não o tenhaquebrado! Por favor, que eu não tenha destruído tudo.
Segurei seus ombros sentindo a pressão avassaladora de todos os problemas que
nos cercavam. O medo, a tensão, a raiva, a ousadia… Cada etapa de cada problema
que superamos juntos e que ainda teríamos que superar.
Era demais. Era uma tensão insuportável que se espalhava pelo meu corpo inteiro.
Toquei os ombros de Ryker e o empurrei devagar. Sua mão atingiu o meio das minhas
pernas no mesmo momento. Seus dedos bem treinados alcançaram meu clitóris. O
beliscão foi rápido e firme e meu corpo se desfez em ondas e vibrações.
Todo o desespero e tensão que assumia meu corpo de forma descontrolada se
concentrouimediatamente naquele ponto mágico atrás do meu umbigo.
Entretanto, meus lábios já tinham deixado escapar: – Ryk, não. Para.
Ryker se afastou e tirou as mãos do meu corpo. Seu semblante preocupado, suas
mãos nas minhas bochechas, procurando no meu olhar a resposta para o que estava
errado.
Ah, ele está aqui.Meu Ryker.
Estava ali.
Estava triste, decepcionado, arrependido.
Talvez até com medo.Mas estava ali.
Estava usando sexo como uma distração.
Talvez não fosse o meu primeiro reflexo depois de um “eu te amo” não
correspondido, mas agora que ele tinha apertado meu botão, eu estava ligada e
querendo mais.
Ele se inclinou para trás, de modo a sair de cima de mim. Obedecendo a minha
vontade.
Mas agora eu tinha mudado de ideia.Ainda tinha as mãos em seus ombros quando
o puxei de volta e o beijei.
Puxando sua nuca, cravando as unhas na sua pele.
– O quê? – suspirou quando nossos lábios se soltaram. – Você pediu para eu
parar.
– Mudei de ideia. – Sorri. – Fica comigo.
Seus lábios eram uma única linha rígida. A expressão indecifrável demonstrava que
ele estava fazendo algum cálculo impossível por trás de seus olhos esverdeados.
Sacudiu a cabeça, apoiando a testacontra a minha.
– Está com pena de mim? –sussurrou.
– O quê? Ryk! Não! – eu me prepareipara o monólogo mais apressado daminha
vida, mas palavra alguma foidita. Ele tomou minha boca mais umavez. Despiu o
roupão que eu tinhavestido precariamente e me estimulouem todos os lugares de
que eu gostava.
Em todos os lugares de que ele gostava.Eu ainda não tinha tomado banho depois
do show e ainda estava molhada, resquício dos líquidos sexuais meu e dele. Ryker
estava eretoe eu fechei os olhos quando uma de suas mãos guiou meu joelho para
lhe dar passagem. Esperei que ele se enterrasse em mim, mas em vez disso, senti-o
ao meu lado, rolando para alateral da cama.
Abri os olhos e vi seu braço estirado para o criado-mudo, a mão enfiada na gaveta
procurando…
Ele pescou uma tira curta de preservativos que deveria estar lá há alguns meses.
Rompeu uma das embalagens e vestiu a si mesmo, antes de me penetrar.
É ridículo, não é? Como coisas minúsculas conseguem assumir proporções
monstruosas?
Sempre usamos camisinha. Nossa! Até tínhamos desistido de penetração há poucos
dias, mesmo depois de tanto tempo de saudade, apenas porque não tínhamos
preservativo.
Ele me fizera vesti-lo em uma ou outra ocasião que eu detestei sumariamente. Era
complicado colocar aquela coisa em um pênis ereto; eu não sabia qual lado desenrolar
e sempre mesentia boba precisando de instruções.Preferia que ele mesmo colocasse.
Mas não hoje.
Hoje nós tínhamos transado semcamisinha e ele tinha dito que me amava.
Eu queria que ele me cobrisse e fizesse amor comigo.
Era estúpido… Preservativo era umaquestão de proteção e respeito, mas…
mas depois de tudo… eu sabia que era irracional, mas queria que ele tivesse retomado
de onde havíamos parado.
Ou, se era para usar a camisinha, que ele me fizesse vesti-lo. Que fizesse suas
brincadeiras irritantes e me deixasse com vergonha.
Era nossa dinâmica. Nossa interaçãoíntima.
Sem ela, eu sentia como se eu fosse mais uma.
Só mais uma das incontáveis mulheres que ele comeria em silêncio. Vestindo a
camisinha em si mesmo paraatingir seu próprio prazer mais rapidamente.
Ryker gozou de forma modesta e eu ainda não o tinha acompanhado.
Eu senti lágrimas caindo dos meus olhos, arrastando-se pela lateral do meu rosto.
– Não gozou ainda... – Sorriu. – Vou cuidar disso imediat... Mina?
Ryker se afastou, preocupado, tomando minhas lágrimas com os polegares, secando
meu rosto.
– Mina? – repetiu, alarmado. – O que houve? O que aconteceu? Eu devia ter
parado? Mina, sinto muito!
– Não, não foi nada. – Consegui sorrir. – Eu só… só fiquei triste. Mas já passou. –
Empenhei-me mais no sorriso.
Ele ainda resfolegava e me observou por alguns segundos, analisando minhas
palavras.
– Não passou. Eu sei que não passou. Fala pra mim.
Respirar começou a ficar difícil e eu ia chorar se continuasse assim.
– Acho… acho que sempre fizemos amor até hoje. Ou pelo menos era assim que
me sentia e agora… agora parece que estamos só… só… fodendo
– murmurei a palavra, sentindo-a doer na minha língua.
Ryker piscou duas vezes e então abriu aquele seu sorriso gostoso, ao deixar a
cabeça cair.
– Então, vibradores e sexo exibicionista foram sinônimo de fazer amor. Aí eu
digo que te amo e é foder?
– Senti algo dentro de mim congelar, mas o modo calmo como ele riu me fez
perceber que estava tudo bem. – Nunca tive problemas para entender as mulheres,
Bault, mas você é algo especial.
– Você disse que não tinha dito nada
– lembrei.
– Eu falei sem pensar. – Engoliu em seco. – Acho que foi a hora errada, não foi?
– Ah, Ryk! – choraminguei, me pendurando em seus ombros. – É só isso que eu
pensei. Acho que tem tanta coisa acontecendo… não me parece o momento para…
– Shh, shh. Eu sei. – Desceu a mão pela minha coluna. – Esquece que eu disse
qualquer coisa, está bem? – Raspou o nariz no meu com um sorriso simples e limpou
o que restava de minhas lágrimas, me fazendo sorrir. – Mas eu tenho permissão para
continuar? – Tinha um pouco mais de safadeza no seu sorriso agora, o que me
tranquilizou ainda mais. – Não gosto dessa ideia de gozar sozinho.
Beijei sua boca e senti sua mão voltar ao meu clitóris. Mas dessa vez… dessa vez
eu me entreguei. Gemi seunome baixinho e ele manteve sua testa contra a minha. Seu
nariz contra o meu.
– Não vou sair daqui – sussurrou,antes de me beijar.
Eu gozei na sua mão, entre seu beijo e sua carícia, sentindo o mundo inteiro
derreter ao nosso redor. Ele me abraçou, gentil, sem abandonar aquele beijo
carinhoso e suave.
— De novo? – A voz aguda na porta fez Ryker me soltar, assustado. Eu puxei os
lençóis me envolvendo, com raiva. – Quanta saúde, hein, Strome? – Nila estava na
porta do quarto e a lembrança do que tinha acontecido no palco há pouco tempo me
enfiou de volta na enchente de vergonha.
Sven vinha logo atrás dela e eu notei que ele levantara os polegares.
– Só vim avisar que está tudo resolvido. Eu e sua irmã estamos voltando para o
hotel. Nos vemo samanhã.
– Interrompeu meu sexo pra isso? – reclamou. – Achei que isso era pecado na sua
religião.
– Na minha religião, pecado é saber que sexo está acontecendo nas proximidades e
não ir me meter. E de nada. Sua irmã ia subir para se despedir, mas eu senti o cheiro
de sexo e achei melhor vir na frente.
– Obrigado. – Riu.
Eu olhei de um para o outro, indignada, antes de dar dois tapas com força no
ombro de Strome.
– ESSA GENTE NÃO BATE NA PORTA! –
rosnei. – Bota eles para fora, Ryker!Agora! Como pode ficar tão tranquilo?
– Mina… – Ele se virou para mim com exagerada desolação. – Vamos pensar pelo
lado bom… Pelo menos dessa vez, a interrupção foi depois que nós dois gozamos.
Com nossa sorte, acho que isso é o máximo que a gente pode pedir.
Oito

Jogos de sedução

Eu desci com o queixo erguido na manhãseguinte. Demonstrar a vergonha que eusentia


não ia me ajudar em nada e, por mais estranho que pudesse parecer, eu estava mais
incomodada com o fato de Ryker não ter me acordado pela manhã do que com o fato
de toda aquela gente ter me visto durante uma intensa sessão de sexo.
– Por que não me chamou? – Belisquei seu braço.
– Você parecia cansada. – Sorriu de maneira breve e inquieta. Eu conhecia aquele
sorriso. Algo estava errado.
Muito provavelmente, era só porque ele tinha declarado seu amor por mim e eu o
tinha feito desistir disso como uma bruxa sem coração.
Muito provavelmente.
Nós íamos precisar conversar sobre isso.
Eu não estava particularmente ansiosapor esse diálogo, mas seria necessário.
Depois.
Porque agora, Delvak estava explicando as informações que ele tinha adquirido dos
russos.
– Como você descobriu isso tudo? – Zahner torceu o nariz.
– Você não vai querer saber.
– Foi o seu amigo japonês, não foi?
Quem é o cara, Delvak?
– Não tem importância agora.
Sven tinha transformado o salão principal da boate em uma sala de reuniões. Um
quadro branco apoiado precariamente contra um dos poles era ofoco de todos nós.
– O importante é que conseguimos duas informações bem importantes! – ele
rascunhou o número “1” no quadro, seguido de palavras resumidas. – Uma das
principais bases de Kulik é aqui em Amsterdã por causa de uma pessoa muito
importante: seu contador. Dois! – Rabiscou o número e mais algumas palavras… Eu
estava me sentindo presa em alguma franquia de George Clooney.
– Ele usa os seus restaurantes defachada para muitas de suas operações.
– São as duas informações mais aleatórias que eu já ouvi. – Gary coçoua cabeça.
– Os dois homens que a gente… conheceu ontem não fazem parte do círculo
íntimo do mafioso, agente Zahner, eles só puderam oferecer informações mal ouvidas.
– E eles traíram Kulik assim tão rapidamente? A gente vai apenas confiar que eles
não estão nos enganando? – Lucy soou preocupada. Com razão. Sua lógica fazia
bastante sentido.
– Kulik não mandaria homens de confiança para cá. – Zahner deu de ombros.
– Por que não? – eu quis saber.
– Porque não é seguro. Você e Ryker são assunto quente no momento. Kulik está
procurando vocês como um maluco, mas não pode ser visto perto de vocês. Homens de
confiança geralmente podemser vinculados a ele pelos arquivos da polícia. Mesmo que
não oficialmente… Mas nós, que o perseguimos há mais tempo, temos uma longa lista
de associados próximos. Ele precisaria mandar rostos novos atrás de vocês.
– Mas será que eles não têm medo do Kulik? – Nila interrompeu. – Medo pode ser
um argumento mais forte que lealdade.
– É por isso que a gente precisou encontrar alguém de quem eles teriam ainda mais
medo. – Delvak concluiu com um sorriso.
– Seu amigo japonês. – Zahner rosnou e eu tive certeza de que aquele tópico o
incomodava imensamente e que se tornaria, então, recorrente em nossas vidas.
– Se a gente conseguir encontrar esse contador, podemos obter informações
importantes. – Ryker se inclinou, estava sentado quase na ponta da cadeira. Não tinha
me tocado uma única vez. Desviei os olhos de sua figura e encontrei a de Lexa. Seu
olhar me perfurava com um brilho que era todo seu. – Sabemos algosobre ele?
– Sabemos várias coisas sobre ele. – Delvak piscou um olho. – No entanto, as mais
importantes são seu nome, seu sobrenome e um lugar que ele frequentaassiduamente.
– Algum clube de sexo pervertido e estranho, não duvido – Zahner acrescentou. –
Por que criminosos precisam ter esses gostos bizarros?
– O que diabos você chama de “sexo bizarro”? – Delvak pareceu ofendido.
– Meninos! – Lexa reclamou. – Agora não é hora. Precisamos encontrar um jeito de
conseguir as informações de Viktor Trummer – ela ter mencionado o nome do
contador com tanta naturalidade me fez imaginar que deveria ter discutido o plano
com Delvak antes de terem decidido apresentá-lo. Eles eram uma dupla. Uma dupla
bem peculiar e esquisita, mas funcionavam juntos. Assim como eu e Ryk. Fitei meu
namorado com o canto doolho, observando-o a distância…
Ou… pelo menos, como eu e Ryk costumávamos ser.
– Alguém pode resumir o plano? – Tonya pediu.
– Pegar as informações do contador e fechar os restaurantes do Kulik. – Delvak deu
de ombros. – Dificultamos suas operações e pegamos mais informações que levem ao
dinheiro que queremos roubar ou fazer desaparecer.
– Assim, ele vai ficar pobre e desarmado. – Zahner suspirou.
– Lex? – Ryker chamou. – Conhece alguém da vigilância sanitária para fechar os
restaurantes?
– Não. – Ela lambeu o próprio sorriso. – Conheço a próxima melhor coisa: todos
os críticos e comentaristas da mídia local.
– Vai destruir a reputação dos restaurantes dele? – Eu estava admirada. Ela apenas
sorriu em resposta.
– Só isso não vai funcionar – Nila avisou. – Tim nos deu a lista dos locais dos
russos que ele conhece. Um ou dois são locais chiques que vão sentir o impacto da má
publicidade… mas o resto é um monte de buracos imundos…
– É aí que o Zahner entra. – Delvak piscou um olho para ele. O agente da Interpol
apenas sorriu e acenou. Eu não identifiquei qual era o plano, mas eles claramente
tinham um e preferi confiar que, se aqueles dois finalmente tinham se entendido,
deveria ser um bom plano.
– Quando pode ir encontrar seus amigos críticos? – Zahner perguntou.
– Agora mesmo, só preciso trocar duas palavras com meu irmão antes. – Ela se
levantou e Ryker a encarou, confuso.
– Tudo bem! – Delvak bateu as mãos.
– O resto de nós se concentra em achar um modo de arrancar informações de um
contador em um bar.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntei assim que fechei a porta do escritório do


Luckas.
– Não sei. – Minha irmã cruzou os braços. – Era isso que eu queria te perguntar.
Abri e fechei a boca como um peixe.
– Estou confuso, Lex. O que você quer?
– Quero saber por que brigou com sua garota menos de doze horas depois do coito
no palco.
– Coito? – Ri. – Por Deus, você consegue ser pior do que a Mina com sua escolha
de palavras.
– Foda, sexo, transa, trepada – listou, entediada. – Não tente me enganar com
semântica, Ry. Se o assunto for vocabulário, eu vou ganhar e você vai perder. –
Levantou uma sobrancelha.
– É por isso que o Delvak é prepotente. – Ergui o indicador em acusação. – O cara
precisa ser megaconfiante para sobreviver perto de você.
– Se o assunto for o Delvak, também vou ganhar. Se for para mudar de assunto
com essa cara de pau, irmãozinho, pelo menos escolha um quevocê domine melhor do
que eu.
– Vamos falar de sexo, então. – Ergui as mãos e ela gargalhou como se me
desafiasse a dominar esse assunto melhor do que ela. – Vamos falar do sexo com a
Mina, ao qual você não assistiu.
– Não assisti. Mas ouvi Delvak descrever com, acredite, mais detalhes do que seria
adequado. E agora vocêmal olha para ela.
– Lexa! – Esfreguei minhas têmporas.
– Você sequer conhece Mina!
– Conheço você.
– Nós estamos bem!
– Por que não olha para ela?
– Eu estava… – Gesticulei em desespero. – Estava prestando atenção no seu
namorado e no discurso dele.
– Delvak não é meu namorado e se isso foi uma tentativa de me constranger para
que eu esqueça o assunto do seu relacionamento, foi uma tentativa pífia e estou
decepcionada.
– Você diz que Delvak não é seunamorado, mas o carrega em todos os lugares.
– Vamos, Ry, você consegue fazer melhor do que isso – provocou.
– Não estou tentando te constranger, Lexa! É impossível, ok, eu aceito! – me
exaltei.
– Está tentando mudar de assunto! Porquê?
– Porque você quer que eu tenha um problema quando eu sequer tenho um
relacionamento. – Dei de ombros.
– Você a apresenta como sua namorada, Ry. Nunca te vi fazer isso antes.
– Faz tempo que a gente não se vê. Reparei em como vocês se olham. Não tente me
enganar! Até Delvak concorda, ele ficou impressionado como sexo de vocês. – Abriu
os braços. – E olha, moleque… pro Delvak se impressionar com sexo é porque o coito
– provocou – foi intenso.
– Sempre sou intenso com sexo. – Sorri, arrogante.
– Intenso o suficiente para impressionar Delvak? – A incredulidadevoltou ao seu
rosto.
– E por que não?
– Suspeito que você não conheça bem o Delvak – murmurou. – Ou o significado da
palavra “intenso”.
– Eu e o Sven somos iguais, Lex. – Segurei seus braços com cuidado. – É por
isso que nos damos bem. Entendo o que sexo é para ele, porque é assim para mim
também. Estou com Mina agora, é verdade. Mas isso não é definitivo. – Sorri,
tentando manter no olhar uma calma que eu não sentia. – Não é nada contra a garota.
– Levantei os ombros. – É só como eu sou. Quando parar de funcionar para mim, não
ficaremos mais juntos e pronto. Isso não é um de seus romances, Lex. Pare de tentar
enfiar mistério onde só existe simplicidade.
Ela piscou algumas vezes, com uma expressão ilegível antes de me oferecer um
meio sorriso: – Você acredita nessas bobagens que está falando? – Abriu os olhos. –
Porque, se acredita, o problemaé mais sério do que imaginei.
– Acredite no que quiser… – Tentei reproduzir o sorriso descontraído de Delvak,
embora sem a certeza queestava tendo sucesso.
– Você não é como o Sven, Ryker.
Não tem nada a ver com ele.
– Acho que não me conhece bem o suficiente, então, irmã.
– E não é como o Simak, Ry. – Sua expressão ficou séria e eu me senti congelar na
sua frente. – Não tem nada a ver com ele, também.
Mantive minha boca aberta, com nojo, por dois segundos inteiros. Agora, era ela
quem tocava meus braços com carinho, tentando conter minha indignação.
– Não tenho nada a ver com um estuprador pedófilo? – rosnei, sarcástico. –
Poxa, Lexa, muito obrigado!
– Ryker…
– Não acredito que você fez essa comparação!
– Eu não fiz! – Apertou meus ombros.
– Mas você faz, moleque. Você faz o tempo inteiro.
Levei minhas mãos à cabeça. Eu estava destruído pelo silêncio de Mina e ultrajado
pelo barulho de minha irmã. Eu só queria que aquilo acabasse. Acho que preferia os
russos, as armas e os sequestros…
– Ryker, me escuta!
– Não, Lexa! – Abanei as mãos.
– Ele é a referência que você tem. Nosso… pai. – Torceu o nariz ao som da
palavra. – Ele foi a única referência que você teve de um homem de família. Um
homem que afirmava amar uma mulher,que se casou e teve filhos. Teve que
assistir esse homem se transformar no monstro das nossas vidas. – Puxou meu
rosto, igualando a altura de nossos olhos. – Teve que assistir ele tentar abusar de
mim…
– Lex, por favor… – gemi, com os dentes semicerrados.
– Teve que assistir ele tramar para te matar. – Manteve o toque firme no meu rosto.
– É compreensível que odeie Simak e tudo o que ele representa. Na verdade, é a única
reação compreensível, Ry. – Seu olhar se suavizou, fraternal. – Mas, em algum
momento da sua infância, você fez a associação absurda de que um homem de
família não presta e que o cara safado era o superprotetor decente.
– Não tem nada a ver – murmurei, mas minha voz foi tão baixa que eu mesmo mal
a escutei.
– Simak era o nosso pesadelo; Sven apareceu e… – Ela sorriu. Foi inevitável e…
lindo. Será que eu sorria daquele jeito quando pensava em Mina?
– E ele foi o nosso herói. Meu e seu. – Bateu a mão espalmada de leve contra meu
peito. – Você era muito pequeno. Vilões e super-heróis assumiram outra identidade
para você. Por isso, você tenta se espelhar no Sven. Não vê, Ry? – Seu sorriso
aumentou.
– Você faz isso porque é um homem bom. – Apertou minha bochecha. – Faz isso
porque quer ser sempre um homem bom. E me preocupa porque… você nunca foi
como o Sven. – Riu. – Lembra da sua primeira namorada?
– Lexa… – Balancei a cabeça.
– Você não tinha dez anos, Ryker! – Riu. – Não era sequer um namoro de verdade
e você já estava planejando onde iria morar quando se casassem.
– Eu era uma criança idiota.
– Você era uma criança romântica. Que cresceu e se tornou um homem romântico.
E não tem nada de errado com isso. O mundo está repleto de homens de todos os
tipos.
– Você está errada.
– Não estou, querido. Sabe que não estou. Eu li seus contos! Seus poemas. Mesmo
que nunca tenha permitido que eu te ajudasse a publicá-los…Você é bom, Ry! Muito
bom. Sven viveria toda a vida sem nunca conseguir acumular uma gota da
sensibilidade que você transmite em um parágrafo. Você não é como ele. E também
não é como o Simak. – Passou os dedos pelos meus cabelos. – Você é como eu.
Eu respirei fundo.
– Você é romântico e safado. – Riu. – E bom. E decente. Pare de se esconder atrás
dessa máscara de Sven que pintou para si.
– Não estou me escondendo!
– Está mentindo para si mesmo.
– Não estou! – me irritei.
– E está magoando Mina no caminho.
Se gosta dela, Ry, por que não…
– Eu a amo! – Segurei Lexa pelos braços, sentindo a indignação tomar conta do
meu corpo. – Confessei isso a Mina ontem e ela me mandou calar a boca – regurgitei.
– Pronto. – Expirei, sentindo a dor me rasgar. – Satisfeita?
– Ela te mandou “calar a boca”? – Mordeu os lábios, incrédula.
– Não com essas palavras. – Revirei os olhos perante sua calma diante de uma
circunstância que quase me fazia explodir.
– Com quais palavras?
– Importa? – rosnei.
– Claro que importa! – disse, ultrajada. – É só o que importa! Palavras têm poder,
sabia?
– Ela não disse nada! E aí me perguntou o que eu tinha dito. Eu fingi que não
tinha dito nada e ela aceitou. Mas ela sabe que eu disse alguma coisa.
– Isso não é o mesmo que te mandar calar a boca.
– Depois eu repeti – balancei o indicador, avisando que não tinha terminado – e
ela disse que era melhor não pensar nisso agora, porque tínhamos coisas demais nos
preocupando no momento. Foi um “cala a boca” educado. Mas eu conheço Mina,
Lexa, foi um “cala a boca”.
– Dê um pouco de tempo a ela. Realmente, há muito acontecendo ao mesmo
tempo e…
– Lexa! – Comecei a rir e acenei para interrompê-la. – Dê um pouco de tempo a ela?
Esse é seu conselho? A rainha dos relacionamentos quer que eu compreenda e dê um
tempo?
– Ryker…
– Precisei reunir todos os meus esforços para não começar uma briga com ela na
cama mesmo! Eu contei que a amava! E ela ficou muda! Por uma eternidade! E depois
deixou para lá. – Gesticulei. – Como se eu só tivesse perguntado que horas são.
– Você está encarando isso do jeito errado!
Basta.
Eu estava cansado dessas contínuas conversas que só serviam para me espancar
ainda mais.
– Chega, Lexa. – Coloquei a mão na maçaneta.
– Você não pode decidir o momento certo para ela, Ryker! Você estava pronto para
dizer “eu te amo”, mas ela não estava. Não é justo exigir isso!
– Você nem a conhece, Lexa! Por queessa defesa?
– Ela te faz bem, moleque! Não é qualquer mulher que sobreviveria a toda essa
situação com a dignidade que ela demonstra. E sem te abandonar ou perder o carinho.
Situações horríveis mostram o que as pessoas têm por dentro. E o que Mina tem é bom.
Eu sabia que o que Mina tinha era bom.
Era o melhor.
Ela era decente e corajosa e linda. Mas também era indecisa e insegura.
Eu tinha olhado nos seus olhos e sentido o vazio do seu silêncio depois que eu
despejei meu coração naqueles lençóis.
Máscara ou não… Agir como o Sven nunca tinha me magoado daquele jeito.
– Lexa. Eu te amo. – Girei a maçaneta. – E é por isso que eu te peço para não me
levar a mal… mas não se meta na minha vida.

– O que ainda está fazendo aqui? – Delvak estreitou seus olhos inquisitivos.
– Achei que você já tinha ido atrás dos seus amigos críticos.
– Não são amigos, no plural. É um crítico só que pode resolver tudo – expliquei. –
E eu já estou indo, mas preciso te pedir algo antes.
– Se tiver a ver com sexo, a gente pode fazer no palco na frente de todo mundo? –
Tocou minha cintura. – Não quero que seu irmão me deixe para trás
– concluiu com um dengo falso.
– Preciso que você converse comRyker.
– Sobre o sexo no palco? O dele ou onosso?
– Delvak! – vociferei. – Você pode dar uma pausa nas suas besteiras pordois
minutos? Por favor?
Seus ombros caíram quando ele expirou fundo. Seu toque na minha cintura ficou
mais pesado.
– O que houve? – Ele se declarou para Mina e não foi retribuído no momento.
– Isso nunca é bom. – A seriedade pacífica em sua voz me agradou. Saber que ele
não tinha feito alguma piadaridícula me informava que ele estavarealmente tendo uma
conversa sóbria. E eram muito raros os momentos em que ele não estava embriagado
pelo sexo.
– Ele está interpretando tudo errado, Sven – suspirei. – Continua com essa ilusão
perigosa que o único jeito de ser uma pessoa decente é sendo como você.
– Que fique claro que nunca concordei completamente com essa sua análise,
Lexie. – Balançou a cabeça devagar. – O garoto só está experimentando a vida. Sei
que eu exagero. – Abriu os olhos forçadamente.
– Mas ele não é como eu. Ryker tem a cabeça no lugar. Mesmo quando se mete em
um problema colossal como esse com que estamos lidando. Ele continua focado,
concentrado… Seu irmão é um bom menino.
– Eu sei disso tudo.
– Então por que está se metendo na vida dele? – recriminou. – Deixa eleencontrar o
próprio caminho.
– Não é isso, Sven! – Esfreguei minha testa com as mãos e ele soltou minha cintura
para apertar minhas mãos, tentando me acalmar. – Simak se meteu na vida dele
primeiro. Destruiu o garotomeigo e romântico que tinha lá dentro e agora… Agora
Ryker não tem rumo. Eleacha que é errado ser quem ele é.
– Tenho certeza que não acha isso.
– Não conscientemente. Mas eu conheço meu irmão! – Dobrei o lábio, birrenta. –
Svenie, por favor! Só faça o que estou te pedindo. Por favor? – Coloquei as mãos em
seus ombros, deixando meu olhar lhe explicar o quanto era verdadeiro meu pedido.
– O que quer que eu diga?
– Só converse com ele. – Dei de ombros. – Veja se ele está bem. Tente acalmá-lo.
Tenho medo que ele destrua tudo com Mina no calor do momento. Vai fazer isso?
Ele sorriu com aquela doçura que quase nunca demonstrava. Colocou os fios soltos
dos meus cabelos atrás daminha orelha.
– Sabe que faço qualquer coisa por você – sussurrou. Não havia qualquer dose de
sedução no seu tom. E eu adorava quando ele falava assim.

– O celular dele! – lembrei. – As pessoas guardam tudo nos celulares hojeem dia.
– É, Mina… Mas guardam tudo em um celular com senha. – Devon deu de
ombros. – Sem a senha do contador, a gente não consegue acessar asinformações.
– Você não conhece algum hacker, Interpol? – Lucy tocou seu ombro.
– Conheço. O departamento de informática da agência.
– Só? Não tem ninguém underground
que trabalhe por dinheiro ou drogas?
– Ah, claro! – Zahner deu um tapa naprópria testa. – Esqueci que estávamos em um
filme da Disney. Claro que conheço.
– Você é o agente secreto mais inútil que eu já vi. – Lucy torceu o nariz para acareta
de Gary.
– E que filme da Disney é esse que tem drogas? – Joanie parecia chocada.
– O seu amigo japonês não conhece ninguém? – Zahner quis saber. Ele sempre
voltava a esse assunto. Estava curioso para descobrir mais sobre a procedência das
amizades de Delvak.
– Não precisamos de nada disso. – Sorriu, calculista. – Só precisamos decorar sua
senha antes de roubar o celular.
– E como vamos fazê-lo nos mostrar asenha?
– Eu tenho um plano. – Piscou um olho. – Mas, para isso, vou precisar de uma
voluntária.
– Para dar em cima do contador? – Lucy riu. – Isso aqui é uma boate de prostitutas,
meu amor, voluntárias não vão faltar.
– Ótimo! – Bateu palmas. – Então vamos agir essa noite. Temos que atacar em
todas as frentes ao mesmo tempo. Lexa e Zahner cuidam dos restaurantes e o resto de
nós consegue as informações com o contador. Acabamos aqui? – Ele espiou Ryker com
uma urgência estranhaque chamou minha atenção.
Quer falar com Ryk, Delvak? Entra na fila.
Assim que essa reunião acabar, quem vai ter uma conversa com o Strome sou eu.
Lidar com sentimentos profundos seria estressante no meio de nossas tramas contra
a máfia. Mas qualquer coisa era melhor do que receber esse gelo de Ryker. Eu não
ia conseguir me concentrar para nada até resolver isso.
– Não acabamos – Joanie avisou. – Seduzir o cara não vai ser problema, mas você
ainda precisa explicar seu plano sobre como conseguir a senha dele.
Delvak inspirou profundamente e se preparou para falar. Eu não precisaria estar
presente para essa parte da lição. Não quando havia por perto pelo menos três ou
quatro mulheres muito mais capacitadas para seduzir um estranho doque eu.
– Ryker? – Toquei seu braço e notei oolhar de Delvak sobre nós mais uma vez. – A
gente precisa conversar. – Eu mantinha o canto do olho em Sven, tentando entender
o motivo do seu interesse discreto. Ele geralmente era mais evidente e barulhento que
aquilo.
Talvez tivesse algo a ver com a conversa que Lexa tivera com Ryker…
– Sobre? – Ele levantou uma sobrancelha.
O celular de Delvak tocou em seu bolso e ele se afastou, cumprimentando Lexa, do
outro lado da linha.
– Ryker – reclamei. – Vai mesmoquerer jogar esse jogo?
– Mina, eu…
– É O QUÊ? – A exaltação de Sven do outro lado do salão chamou nossa atenção.
Todos pararam suas atividades e ninguém sequer respirava. – Como assim, “uma de
cada”? De onde diabos você conhece esse homem, Lexa? – Ele ficou em silêncio
enquanto a esperava responder. – Então, você vai ficar? É isso? – Mordeu os lábios
com força. Eu toquei o braço de Ryker instintivamente, buscando proteção. – Ótimo,
volte e aí… Como assim não vai voltar? Eu não estou… – Esfregou a testa, irritado. –
Merda! Que bela merda! Ok. Eu ligo pra você em dois minutos. – Ele desligou o
telefone com raiva. – Mudança de planos, pessoal! O crítico, “amigo” da Lexa está
cobrando para nos ajudar a destruir a reputação dos restaurantes do Kulik em menos
de dois dias.
– Quanto? – Levei a mão aos olhos. Se fosse uma quantia alta teríamos que pedir
dinheiro emprestado… e à Lexa, provavelmente.
– Não é dinheiro que ele quer. Ele conhece Lexa e quer uma experiência única com
várias prostitutas. Negra, loira, morena, ruiva e asiática. Aomesmo tempo. – Sven nos
ofereceu um sorriso amarelo.
– Que diabo de amigo é esse? – Rykersoou preocupado com as amizades da irmã.
– Exatamente o que eu gostaria de saber – Delvak rosnou. – Mas, no momento,
não temos tempo. – Olhou para o relógio. – Jornalistas funcionam com prazos
apertados demais e nós queremos que ele tenha tempo para escrever um artigo bem
gordo. Quais de vocês topam? – Procurou ao redor.
Lucy, Joanie e Nila se entreolharam casualmente. Três prostitutas que fariam
qualquer coisa por Spider.
– Quem vai nos pagar pela hora? – Tonya quis saber. — Não me levem a mal, eu
também amo Spider e quero vingança pelo que aconteceu com ela. Mas trabalhar de
graça é contra minha filosofia.
– Eu pago! – Delvak deu de ombros. –Estamos resolvidos?
– Sem problemas, por mim. – Tonya sorriu.
– Precisamos de uma morena – Sven avisou.
– Skye! – exclamei, interrompendo-o.
– Skye vai ajudar.
– Tem certeza? – Ryker me olhou, incerto.
– Tenho. Ela é uma boa pessoa – decidi. – Não se dava bem com Spider, mas vai
ajudar. Sei que vai. Ela veio nos ver quando chegamos, lembra? E foi me visitar em
Paris. E… – Tentei lembrar outras ocasiões que confirmassem a veracidade de sua
amizade por nós. – Não importa! Eu ligo para ela! – Eu já ia seguir para pegar o
telefone, quando mevirei de volta, girando sobre meus pés para observar Sven. – Pode
ser que ela cobre também – avisei, sem jeito.
Ele riu e concordou com um gesto.
– Acho que ela é bem cara. – Enruguei minha testa, percebendo que, mesmo com
toda minha experiência recente, a verdade é que eu não fazia a menor ideia de
quanto uma prostitutadeveria cobrar.
Considerando minha breve e angustiante experiência com Ryker em nossa primeira
noite, eu também não sabia exatamente quanto cobrava um garoto de programa.
– Não é problema. – Sven acenou e eu confiei que minhas palavras sobre uma
prostituta “ser cara” teriam um significado para ele que não tinham para mim. Ele
deveria saber quanto custava, não é?
– Vou ligar para ela agora mesmo!
– Depois volte, preciso te ensinarcomo pegar o código do celular – disse. Eu tinha
dado dois passos completos antes de perceber que eu não conseguia compreender o
que ele dissera.
– O quê? – Virei de volta para ele.
– O código do celular. Preciso te ensinar como convencer o contador a te mostrar.
– Mas… mas… – Eu sabia que minha boca estava se movendo… mas minha mente
ainda estava preocupada demais em tentar colocar sentido nas palavras de Delvak.
Ele não precisava de mim para seduzir um estranho! Não quando estava cercado por
mulheres lindas e experientes no assunto. – Uma das meninas não pode…?
– Elas vão precisar ir. Todas. – Seu tom era de obviedade. – O idiota tarado quer
“uma de cada”. Parece que coleciona sexo. – Havia um tom brincalhão na
afirmação, mas a lembrança de Allender me fez tremer. Delvak não deveria fazer ideia
do quanto sua bobagem tinha um peso de realidade. – Não é problema para você, não
é, querida? Se conseguiu transar em público, consegue fazer um mísero homem
acreditar que está interessada por ele.

Ele fazia soar simples.Talvez até fosse.

Mas não era.

Não era nem um pouco.

Era completamente diferente!

O sexo em público tinha sido comRyker.

Com Ryker eu tinha coragem de fazerqualquer coisa. Me sentia segura e confortável.


Mas Ryker não poderia ficar do meu lado, me emprestando sua ousadia, enquanto
eu dava descaradamente emcima de outro homem. Seria contra producente.

– Lexa… – implorei. – Lexa não podeseduzir o contador?


– Lexa precisa esperar as meninaschegarem lá para apresentá-las ao idiota
– Sven lembrou. – Não sabe se vai conseguir voltar a tempo.
– Por que não deixamos para amanhã, então? – Apertei minhas mãos, tentando me
acalmar. – Acho que não é uma boa ideia eu ir… Vou acabar estrag...
– Mina, se fosse só uma brincadeira ou pequena reunião de negócios, eu não veria
problemas em adiar – ele continuou. – Mas a vida de vocês dois está em risco. Quer
mesmo esperar maisum dia?
– Delvak, você não me conhece bem o suficiente. Não julgue minha personalidade
pelos últimos dias. – Lembrei da nova versão do show da Tímida e percebi que estava
entrando em pânico. – Eu sou tímida e introvertida. Não sou nem um pouco sensual!
Vou falar alguma besteira, derrubar bebida no cara e fazê-lo rir da minha desgraça.
– Então, nós temos um problema… porque não há mais ninguém que possa fazer
isso. – Deu de ombros.
– Você consegue, Mina. – Joanie sorriu.
– A gente te dá umas dicas antes de sair. – Lucy tentou ajudar.
Rápido demais, todos estavam falando ao mesmo tempo. Tonya conhecia algum
canal no YouTube com dicas que eu poderia incorporar nas próximas horas, Devon
sugeriu que eu praticasse com alguns dos caras da boate e Tim estava certo de que o
plano ia dar errado.
– Mina.
Era aquela voz doce. Aquela voz constante.
Aquela voz que me enchia de segurança.
Fazia poucas horas que eu não a ouvia com tanto carinho e já começava a sentir
saudade.
Ryker se aproximou com seu típico cuidado e eu quis abraçá-lo, pedir desculpas,
dizer “eu te amo” e mandar tudo se foder.
– Calma – sorriu.
Era um sorriso comedido.
Como se ele estivesse chateado comigo, mas, apesar de estar se policiando para não
ser gentil, não conseguisse evitar.
Eu amava aquele sorriso.
Amava cada minúscula parte dele.
– Eu te ajudo.
Claro que ele me ajuda.
Claro que ele sempre me ajuda.Eu sou idiota.
Qual era o meu problema? Por que não consegui simplesmente dizer “eu também te
amo” quando o momento se apresentou? Por que não consegui gritar essas palavras?

– Lucy! – Ryker se virou, assumindo uma postura muito similar à de Sven. Ele era
o líder agora. – Pegue as meninas e encontre Lexa. Sven tem o endereço? – Delvak
sorriu como se apreciasse ver Ryk assumir as rédeas. – Ótimo. Escreva para as
meninas. O resto de vocês, vão logo para o maldito bar para onde o contador
geralmente vai nos dias de hoje. Cheguem separados, finjam que não se conhecem.
Deem uma olhada ao redor. Vou ligar para todos vocês antes de sairmos. A gente
precisa ter o mínimo de certeza de que o lugar é seguro. Sven… eu e você ficamos
para trás. – Sven acenou, compreendendo.
Eu olhei para Ryker, sentindo o pânico se diluir. Mas aquela horrível sensação de
que eu ia sufocar ainda estava lá… me atormentando. Se eu falhasse, poderia colocar
todo o plano a perder. Toda a dedicação dos meus amigos, todo o risco que tinham
assumido…
Era demais: colocar toda a responsabilidade do nosso sucesso em uma tentativa de
sedução a ser realizada por uma garota que teve uma crise histérica de riso na primeira
vez que viuum pênis ao vivo.
Delvak se virou para as meninas, enquanto os rapazes se preparavam parasair.
Apertei a mão de Ryker à espera deinstruções.
Ele apertou minha mão de volta.
– Vem comigo? Eu apenas sorri.Vou.
Claro que vou.
Vou com você para qualquer lugar.

Mina não soltava minha mão. Eu não saberia dizer se era apenas por causa do
receio criado diante da situação recente ou se por causa de toda a situação de
confissão de sentimentos e mais toda aquela merda.
– Vai conseguir. – Encarei seus olhos,transmitindo segurança.
Eu queria me manter minimamente afastado. Eu a amava. Não era recíproco.
Minha cabeça girava em turbilhões inconstantes, principalmente depois de minha
conversa com Lexa. Será que ela estava certa? Será que eu nunca tinha conseguido ver
o amor com bons olhos? Ou era só sexo?
Não… Eu cedi ao que sinto por Mina, não foi? Admiti tudo. Eu não poderia fazê-lo
se Lexa estivesse certa.
Mina espremeu os lábios, nervosa, e eu quis me manter distante.
Mas era difícil. Era quase impossível.
– Ryker – murmurou muito séria. – Da primeira vez que tentei te seduzir, acabei te
causando um choque anafilático.
– E espremendo minhas bolas no punho, não esqueça essa parte. – Sorri diante da
lembrança. Eu não conseguia me manter apático com Bault.
– Pois é! Esse plano está fadado ao fracasso! A gente tem mais chances de seduzir o
contador se colocar você em um vestido e saltos.
– Não zoe comigo, Bault. Eu consigo fazer um vestido e saltos funcionarem muito
bem, ouviu? – brinquei, fingindo arrogância e ela riu. – Você vai conseguir. – Apertei
sua mão. – Vai dar tudo certo.
– Como pode ter tanta certeza?Eu não tinha certeza…
Senti um meio sorriso atingir meu rosto junto com a ideia.
– Finja que sou eu. – Levantei o ombro. – Finja que está falando comigo e
querendo me convencer a fazer algo.
– Eu sou péssima em te convencer. – Levantou uma sobrancelha e eu soube que ela
estava gostando da ideia.
– Faça isso e vai dar certo – prometi.
Mina acenou devagar e nos perdemos em silêncio, presos um ao olhar do outro
durante alguns segundos que passaram rápido demais.
– Está distante porque disse que me amava e eu não respondi? – sussurrou, como
se cada palavra doesse para sairda boca.
Um nó se atou na minha garganta, naquele local inconveniente bem abaixo da
glote.
– Não é uma boa ideia fazer isso agora.
– Ryk, diante da nossa atual situação em que cada dia pode ser o último, achoque o
melhor momento é agora – lembrou.
Sentei na cama, expirando. Cotovelos sobre os joelhos, afundei meus dedos nos
cabelos.
– Sempre achei relacionamentos tão simples – confessei. – E, de repente, ficou tudo
tão complicado.
– Relacionamentos sempre foramcomplicados. Sexo que é simples. – Sentou–se ao
meu lado, tocando meu joelho e eu abaixei os braços para observá-la. – Quer
dizer… – Arregalou os olhos. – Pelo menos para um de nós.
– Me fez rir.
Eu queria levar a mão à sua bochechae tocá-la. Queria acariciar seus braços, colocá-
la no meu colo e beijá-la a noite toda.
– Por que precisa ser tão complicado? – suspirei.
– Porque a gente nunca sabe o que a outra pessoa está pensando. “É de verdade?
Ele está me enganando? Ele está se enganando?”… Se eu soubesse tudo que está na
sua cabeça e você soubesse tudo que está na minha seria mais simples.
Sua explicação me divertiu.
– O segredo para um relacionamento saudável é a telepatia, então? Por que não me
avisou antes, Bault? – Estreitei os olhos.
Ela mordeu o sorriso, sustentando meu olhar como se arquitetasse um plano.
– Vamos fazer assim. – Ela se levantou e pegou o despertador na cabeceira. Girou
os ajustes na parte de trás e colocou o relógio sobre a cama antes de se sentar. –
Quinze minutos de absoluta honestidade.
– Do tipo: como eu gosto que uma mulher me chupe?
Ela fez uma careta para minha brincadeira.
– Acho melhor eu começar – decidiu.
– Mina… – Coloquei minha mão sobre a sua antes que ela ativasse o alarme. –
Tanta coisa pode dar errado nesse seu plano.
– Ryker. – Ela assumiu a coragem que eu não tive e sua mão estava no meu rosto,
espalhando eletricidade pela minha bochecha. – Você mal olhou para mim hoje. Eu
quero saber por quê – decidiu. – Só quinze minutos. Eu digo tudo. Você diz tudo. Sem
medo ou julgamento. E, quando os quinze minutos acabarem, a gente finge que nada
aconteceu e segue a partir dali.
– Quinze minutos?
– É menos tempo do que a gente passou no palco. – Sorriu.
– Mas suspeito que vá ser bem menosdivertido. – Suspirei.
Não tive tempo para me preparar ou sequer respirar fundo: Mina apertou o botão e a
contagem regressiva começou.
– Eu te amo – ela confessou e eu tremi. Cada pedacinho de pele vibrava de acordo
com as batidas pesadas do meu coração. – É assim que me sinto. É assim que eu acho
que me sinto. – Balançou a cabeça. – Mas eu tenho medo. Tenho medo porque a
gente se conhece há pouco tempo e tudo aconteceu de um jeito muito conturbado.
Tenho medo porque você é uma das pessoas mais descaradas que eu conheço. Top 5 –
afirmou, tentando nãosorrir.
– Não tenho sequer certeza sevocê sabe o que é estar apaixonado por alguém. E se você
estiver confuso? E se for apenas a intensidade de toda essa situação? Eu digo que te
amo também, você me beija, a gente faz amor e esqueço que o mundo existe. E depois?
E depois do sexo? E depois da máfia russa e da boate de striptease? O que sobra pra
mim? Antes, você tinha a novidade da caça pela minha virgindade. – Arregalou os
olhos, defronte à escolha de palavras.
– Teve a emoção da separação, do reencontro, da trama e do risco de vida… mas e
quando isso acabar? Se a gente ainda estiver vivo… você vem pra Paris comigo? Eu fico
em Amsterdã com você? Você vai continuar se prostituindo? Porque, sinceramente,
não sei como me sentiria com isso. Você abriria mão do seu jeito moleque- safado-
garanhão e stripper por mim? Seus rendimentos como garoto de programa? Ou
desistiria de mim? Desistiria daqui a uns meses assim que eu estivesse completamente
apaixonada por você? Admitir torna o sentimento mais real e tenho medo dessa
realidade, Ryker, porque você é sempre tão… imprevisível – gemeu e eu senti sua
angústia.
– Eu gosto de controle. Você sempre soube disso! E com você… com você não há
controle nunca! Transei na frente de um monte de gente ontem mesmo! – exclamou.
– Eu gosto do modo como você me faz sentir. Eu amo! Mas isso tudo pode dar tão
errado. Você achamesmo tão incompreensível e tão…
inaceitável… que eu tenha resolvido tomar um pouco de cuidado com meu coração?
Sua pausa se prolongou e eu suspeiteique era minha vez. Esfreguei a palma contra a
testa, lutando bravamente para puxar as palavras para fora.
Se ela fosse em algum aspecto como eu, estaria entrando em desespero diante do
meu silêncio a qualquer segundo. Seria ela a ficar com raiva e me ignorando, dessa
vez.
– Calma. – Entrelaçou nossos dedos, me surpreendendo. – Não é uma prova.
– Seu sorriso me enchia de paz. Ela era maravilhosa: toda ela. Seu jeito, sua
personalidade, sua voz, seu sorriso, sua beleza. – Não tem resposta errada. Apenas
diga a primeira coisa que vier à sua mente. Eu sabia exatamente o que estava na
minha mente.
– Sou mais inseguro do que você – meu sussurro mal se fazia ouvir.
Senti seu toque em minha mão hesitar, confuso. – Acho que por causa do modocomo
a gente se conheceu e do lugar onde a gente veio parar. Acabamos reduzindo tudo a
sexo, não foi? E aí você me considerou autoconfiante e eu te considerei inexperiente e
foi isso. Mas a vida é muito mais que duas pessoas nuas e suadas em uma cama. Ouno
sofá. Na cozinha… – Tentei lembrar.
– Em um palco…Ryk… – Riu, baixinho.
– Lexa me chamou para conversar hoje mais cedo.
– Eu vi.
– Ela me disse muitas coisas que eu odiei ouvir, mas… acho que ela tem razão.
Simak foi… – Passei os dedos na linha dos meus cabelos… Minha visão se embaçou e
eu senti que poderia chorar. Qual era o meu problema? – Não tive uma boa infância. –
Decidi usar outras palavras e o mundo voltou a entrar em foco. – Acho que passei
minha vida inteira fugindo do homem que eu temia me tornar. Acho que exagerei e…
acabei me forçando a ser algo completamente diferente.
– Algo como o Delvak?
– Talvez. – Me permiti respirar fundo.
Eu conseguia fazer isso. Eu conseguia desabafar e abrir o jogo. Não teria conseguido
com Lexa. Mas com Mina sempre foi diferente. – Sexo foi simples. Ser garoto de
programa, ser stripper, reduzir minha interação com mulheres a sexo, mesmo em
relacionamentos mais longos como foi com Skye. Eu não precisava pensar. Não
precisava encarar o medo ou a insegurança. Não sei por que foi diferente com você,
mas foi. Consegui contar sobre o que aconteceu com Simak e Lexa pela primeira vez
na minha vida e… foi bom. Com você não era só sexo. Apesar de ter muito sexo. –
Agora era ela quem ria. – Eu confio em você. Sinto como se tivesse alguém comigo.
De verdade.
Alguém que gosta de mim e que… não sei… Eu sempre estive sozinho e quando você
apareceu, pode ter sido rápido, mas… de repente eu não me sentia mais só. A cada dia
quepassa eu gosto mais de você. – Comprimi sua mão. – Mas você está certa, Mina. É
amor? Não sei. – Dei de ombros. – Acho que é… O que eu te disse foi só… foi natural
– decidi. – Só escapou. Eu não estava pensando no futuro, nem fazendo grandes
conjecturas. Foi só uma constatação. Algo que eu tive vontade de dizer. Espero que
você não me entenda mal, mas eu me arrependi.
– Se arrependeu? – Seu olhar caiu e segurei suas duas mãos com força.
– Não porque meu sentimento mudou, mas porque você está certa de novo: é
complicado demais. Principalmente na nossa situação. Você me fez um monte de
perguntas e eu… não sei responder metade delas. E acho que você também não saberia
responder se eu te perguntasse coisas parecidas. Acho quea gente… precisa conversar.
Mas não agora. Quero dizer… Se a gente morrer amanhã, não faz diferença a gente ter
decidido morar em Paris ou Amsterdã, não é? – lembrei, as articulações dosdedos pelo
seu rosto.
– Faz sentido.
Acenei devagar. Ela sorriu. Puxei suanuca para mim e beijei sua boca.

Soltei o beijo e Mina me deu umúltimo selinho que estalou bem alto. Meu sorriso
se abriu, imenso.
Ela me abraçou e nós deixamos os minutos restantes escorrerem devagar. Raspando
meu nariz no dela até o alarme soar estridente e ela se mover, rindo, para desligá-lo –
Não doeu, né?
Puxei sua cintura e deitamos na cama, um de frente para o outro, mantive sua mão
na minha, tocando seus dedos com carinho.
Vivi minha vida toda um dia de cada vez.
Mina foi a primeira pessoa na minha vida que me fez querer pensar em termo de
“anos”.
Era por isso que era diferente comela.
Sem saber, ela tinha me feito encarar os traumas da minha infância a fim de superá-
los. Enfrentar o fato de que a vida nem sempre dá o que a gente quer: às vezes ela nos
dá uma mulher que a gente ama e que não responde a declaração no mesmo segundo.
Ou nos dá um pai violento e uma irmã vítima. Nos dá impotência e nos mantém presos,
impossibilitados de nos defender ou de acolher as pessoas que amamos.
– Vem cá, eu quero te beijar de novo
– pedi.
Ela me beijou, e meu sorriso sedesfez em uma risada deliciosa.
– O que foi? – ela quis saber.
– Não, não – brinquei. – Seus quinzeminutos acabaram.
– Ah, isso é fácil de resolver! – Ela se esticou na cama, brincalhona, procurando o
relógio mais uma vez e eua segurei pela cintura. Fiz coceguinhas em suas costelas,
informando-a de que ela estava roubando.
– Me conta! – pediu. Eu sentia nossos hálitos se misturando e soube que eu não
poderia negar.
– Tem uma autora de que minha irmã gosta muito. Em uma passagem de um livro
dela, há uma citação que Lexa ama. Essa autora diz que muitas pessoas passam a vida
inteira hibernando. Você se levanta da cama, vai trabalhar, acha que está fazendo tudo
certo na vida… Aí, um dia, algo simplesmente acontece e você acorda. Percebe tudo
que estava fazendo errado. Tudo que era sem sentido. Tudo que você quer mudar. É
meio louco ver assim. – Mantive Mina bem perto, sua testa contra a minha. – Mas
acho que era isso. Eu estava hibernando. E você, com esse seu jeito maluco, sem
querer me fez repensar minha vida inteira. Acho que é por isso que eu te amo. – Sorri
e a beijei rapidamente. – Mesmo que dê errado, mesmo que você quebre meu coração
ou eu quebre o seu: eu sempre vou te amar. Vou te amar porque, sem você, eu teria
passado minha vida inteira alheio a mim mesmo. Vou te amar porque foi você quem
me acordou.
– E espremi suas bolas no punho! – lembrou.
– Claro! Não podemos esquecer essa parte. – Girei sobre ela. – Qual o homem que
não se apaixona por uma mulher que o deixa infértil?
– Ei! – Delvak estava na porta – Temos que ir ao hotel, para pegar um vestido da
Lexa para Mina. Vai ajudar no elemento sedução – explicou. – Estãoprontos?
Mina revirou os olhos e se esticou para encarar Delvak.
– Acho que a gente ia transar, mas você interrompeu tudo!
Eu gargalhei muito alto diante de sua ousadia.
– Ah, nesse caso eu espero. – Ele piscou um olho.
Mina beijou minha bochecha, antes dese levantar.
– Controle-se, Delvak – sugeriu, passando por ele. – Ou peço pra Lexa te dar uma
surra quando ela voltar – desafiou e eu arregalei os olhos em descrença.
A vida é assim… Te dá traumas, uma infância horrível repleta de abusos e uma
rotina de fugas. Aí, um dia, ela chega e te oferece uma Mina também.
Eu sorri ao assistir à minha namorada e ao meu amigo descerem as escadas
enquanto trocavam ofensas e elogios de duplo sentido. Eu não estava mais sozinho.
Talvez nunca tivesse estado.Talvez tivesse sido apenas uma opção. Talvez eu estivesse
fugindo tão rápido que nunca parei para notar os amigos e família que se dispunham
ao meu redor e que buscavam me alcançar.
Mas agora eu tinha acordado e estavapronto.
Agora eu não era mais impotente. Podia me defender e podia defender as pessoas
que eu amava.
Eu finalmente tinha compreendido que a vida não é apenas uma vadia nojenta. Ela
joga coisas horríveis para cima de você? Sim. Mas então, quando você menos espera,
ela entra em um quarto de hotel, disfarçada de uma cliente virgem, e te dá um presente
maravilhoso.

O plano de Delvak era bem simples.E a melhor parte é que podia ser dividido
em etapas facilmente listáveis:
1. Seduzir o contador.
2. Fazer o contador pedir meu telefone.
3. Exagerar na proximidade enquanto sussurrava o telefonefalso no ouvido dele.
4. Prestar atenção quando eledesbloqueasse o aparelho.
5. Decorar o número pela minhavida.
6. Distrair o contador enquanto Tim roubava o aparelho do seu bolso.
7. Roubar todo o dinheiro do mafioso e deixá-lo sem condições de perseguir
qualquer um de nós.

Ok. Havia um pequeno abismo entre as etapas 6 e 7. Embora eu não soubessecomo


pulá-lo, esperava profundamenteque o plano de Delvak desse conta dele.O mesmo
Delvak que tinha me garantido além de quaisquer dúvidasque as etapas 1 a 6
seriam facilmente executáveis.
“Facilmente” ele tinha dito. Claramente não me conhecia.Mas ia conhecer.
E não ia acreditar.
Não que isso importasse agora.
Agora, eu estava enfiada em um vestido de Lexa que me supervalorizava.Não de um
modo óbvio e direto, mas do jeito sexy e provocante da irmã mais velha de Ryk. Era o
tipo de sensualidade que mostra muito sem mostrar nada e que funcionava
perfeitamente nela.
Nela.
Não em mim.
Lexa sabia se comportar. Até o andar da maldita era sensual. Ela ficaria linda até
em um saco de estopa rasgado depois de tanto carregar batatas, enquanto eu podia
vestir alta-costura e ainda comprimiria meus membros em uma corcunda tímida e
desesperada em confronto com a necessidade de seduzir alguém.
Acho que eu preferia a blusa oferecida por Lucy com um decote que ia até o
umbigo ou a camisa levemente comprida da Forever 21 que Nila insistia em me
garantir que era um vestido.
Eu ainda achava que algum funcionário da Forever 21 deveria ser demitido,
porque o vestido da Nila veio sem a parte de baixo, mas o que é que eu entendo de
moda?
Provavelmente tanto quanto eu entendia de sedução. Aproximadamente “zero”. E
em um dia bom.
No geral, minha designação era negativa.
Acho que é por isso que eu preferia as roupas sensuais mais óbvias. Meu corpo era
bem decente e seria preferível apenas ficar de pé, em silêncio, deixando meu corpo
trabalhar por nós dois enquanto meu cérebro se ocupava em me convencer a não
desmaiar.
As roupas sensuais de Lexa, porém, exigiam mais trabalho.
Delvak murmurou um “exagerada” antes de se afastar.
Era fácil para ele.
Minha experiência com sedução se resumia a sorrir para algum cara em um bar ou
contratar um garoto de programa.
E agora, não apenas eu tinha que abordar um desconhecido, mas conquistá-lo o
suficiente para fazê-lo pedir meu número.
– Tenho certeza que vários caras já pediram seu número antes. – Devon fez questão
de brincar, ainda na boate, ao perceber meu desespero.
Claro, meu bem, claro que já pediram. Mas nunca quando eu os persegui,
precisando que eles me cobiçassem desesperadamente para conseguir arquitetar um
assalto e salvar a minha vida e a do meu homem.
Era responsabilidade demais para sedução de menos.
Respirei fundo, aproveitando para me esbaldar de oxigênio já que aquela seria,
provavelmente, a última vez que eu respiraria na noite. Delvak e Ryker tinham ficado
para trás, apoiando as bebidas em uma mesa e se mantendo de pé para observar os
arredores. As caixas de som em cada centímetro do lugar estouravam com uma
músicaeletrônica que, no momento, era lenta e sensual.
Isso deveria me ajudar, não é?
Talvez eu começasse a dançar e pedisse para alguém tirar minha roupa na frente
dele. A considerar pelo meu histórico, acho que eu teria mais chancesdesse jeito.
Virei o rosto para o lado, em busca da confirmação de Sven que o homem ao meu
lado era com certeza absoluta o contador do Kulik.
Ele acenou, exagerado, e eu tive certeza que sua paciência havia seesgotado.
Eu não estava errada em querer ter certeza, não é? Ia ser uma perda de tempo –
para não dizer um esforço horrível – fazer o impossível para seduzir um cara e lhe dar
um telefone falso para, apenas então, descobrir que tinha batido meus cílios para o
cara errado.
Tudo bem que perguntar se Delvak tinha certeza apenas por duas ou três vezes seria
mais aceitável do que as doze ou quinze perguntas que lhe apontei, mais os oito
pedidos para ver fotos e as verificações de descrições físicas. Uma das quais o impeliu
a apenas rir em desistência antes de virar as costas.
Apoiei os cotovelos sobre o balcão no qual o contador estava e esperei alguma
coisa acontecer. Espremendo meus lábios.
A cerveja que ele pedira chegou e elese foi depois de pagar.
Nada aconteceu.
Claro que nada aconteceu. Eu não fiz nada. Estava esperando o quê,
Bault? Que ele dissesse “olha, você é tão linda e silenciosa que eu vou
até te dar o códigodo meu celular aqui, sem você precisar nem pedir”?.
Eu queria dizer que revirei os olhos diante desse pensamento. Contudo, ele foi tão
quente e agradável que eu me agarrei a ele. Ia ser tão lindo se eu simplesmente
conseguisse fazer aquilo por algum milagre ou graça do destino.
Mordi o lábio e o segui devagar.
Em algum lugar ao meu redor, eu tinha certeza que os strippers do Lucky’s estavam
apostando quanto tempo eu levaria para desistir.
Vamos, Universo, colabora, porfavor! Uma mísera vez!
Ele se sentou em uma poltrona e quando eu dei por mim já estava a uns vinte
centímetros dele.
Hora de agir, Mina. Sacode essa bunda, empina esses peitos, usa uma fala mansa…
QUALQUER COISA, só não fica aí parada.
Ótima ideia, cérebro, valeu pela colaboração. Mas será que dá pra avisar minhas
pernas?
Coloquei uma mão sobre o braço da poltrona, na mais ousada tentativa de sedução
que me ocorreu.
Pois é. Minha mais ousada tentativa de sedução era acariciar o braço da cadeira em
que o cara estava.
Não é de estranhar que a perda da minha virgindade tenha sido uma verdadeira
saga.
Ele levantou os olhos e notou minha presença.
Ok.
Agora eu faço o quê?
Abaixa! É. Ficar na linha de visão dele, parecia bom.
Comecei a me abaixar, mas o vestido colado de Lexa não concordou com o
movimento e minhas coxas começaram a se espremer uma contra a outra daquele jeito
que ou rompe a circulação ou os ossos.
Levanta.
Comecei a levantar de volta, mas já estava mais para baixo do que para cima e
aquela dança de minhoca não estava ajudando o escasso elemento “sedução”
de minha presença. Ele estreitou um dosolhos e eu tive certeza que minhas habilidades
corporais o deixaram confuso.
Estou contigo, amigo.
Eu também fico confusa com minha idiotice.
Todo mundo fica.
Meu corpo estava inclinado naquela posição “galinha que não sabe se coloca o ovo
ou sai pra ciscar” e eu ponderei se, entre abaixar ou levantar, era melhor escolher a
porta número 3 e fingir que aquela “meia abaixada” tinha sido proposital: sentei no
braço da cadeira e coloquei meu braço ao redor dele.
O contador olhou para mim como se me desafiasse a ser ainda mais inapropriada
sem sua autorização.
E não de um jeito bom.
Não daquele jeito “eu te desafio a ser mais ousada e lamber meu pau”.
Mas do jeito “tá me confundindo com quem, magricela?”, que contribuiu ainda mais
para minha autoconfiança.
Eu não sei por que cacete resolvi dizer “você vem sempre aqui?”, mas acredito que
é o tipo de frase imbecil que ninguém, NINGUÉM no mundo usa para uma cantada,
embora você sempre escute como exemplo.
O que encaixava perfeitamente com aMina: superengajada na teoria, uma merda na
prática.
Mas eu não demorei a perceber que o que realmente me destruiu não foi o que eu
disse, mas como eu disse.
Queria sussurrar, mas isso não daria certo por causa do barulho do ambiente.Então,
decidi falar alto. E, como eu queria acabar com aquilo de uma vez, pensei em me fazer
ouvir rapidamente.
E bem… posso ou não ter gritado altodemais no ouvido dele.
Considerando o sobressalto do homem e o modo irritado como me olhou depois…
é bem provável que eu tenha gritado.
E me conhecendo… eu gritei. Certeza.Ainda estava gelada com minha cara de
pastel encarando o vazio e tentandoachar uma saída que, de preferência, não
envolvesse levantar e abaixar como umpistão com problemas mentais, nem
estourar os tímpanos de um ser humano.Ele se moveu em evidente sinal de
desconforto e eu pulei no seu colo.
Por que eu fiz isso?
Qualquer pessoa que me conhece o mínimo poderia apostar que eu não sei.
Nunca sei como me enfio nessas situações embaraçosas. Entretanto, quando eu dou
por mim, já estou lá: enfiada e submersa.
Eu olhei para o contador.
O contador olhou para mim.Eu estava no colo dele.
Ele tinha as mãos nos braços da cadeira e era a representação física da indignação.
Eu queria dizer alguma coisa.Ele parecia prestes a gritar.
Eu olhei para ele. Ele olhou para mim. Eu sorri.
Veja bem, eu não tinha um espelho na minha frente, mas eu tenho certeza que abri
algum sorriso amarelo e idiota.
– Pode me dar licença? – ele pediu e tive certeza que não havia circunstâncias reais
ou imaginárias que pudessem fazer com que aquela noite acabasse com o contador
pedindo meu número de telefone.
Não. Havia. Chance.
Por um lado, eu tinha certeza que Ryker deveria estar no meio de umaincontrolável
crise de risos bem atrás de mim.
Por outro lado, ia ser legal olhar paraDelvak e dizer “EU TE AVISEI!”.
– Me dá uma chance – miei. – Você étão lindo.
As palavras saíram constrangidas assim que eu as disse.
Tentei rebolar no colo dele, mas acho que só devo ter levantado e sentado de algum
jeito que não o deixou à vontade.
– Com licença. – Ele se levantou semesperar que eu me manifestasse. Ele se foi e eu
voltei a sentar no braço da cadeira, reunindo forças para encarar Delvak e chorar para
que Lexa chegassebem depressa. Ela conseguiria fazer aquilo em um instante, não era?
– Não fique assim, querida. – A garçonete se aproximou, recolhendo o copo
que ele tinha deixado para trás. – Você só não é o tipo dele.
Pisquei os olhos, colocando-a em foco.
– Ele preferia que eu fosse loira? – perguntei, esperançosa. Não que Lexa precisasse
de ajuda… mas se ele preferisse loiras seria ainda mais fácil.
– Não. – Ela riu com gosto. – Ele preferia que você tivesse… – encarou minha
virilha – ...mais bagagem. – Saiu rindo e senti minhas bochechas seaquecerem.
Bagagem?
Ela queria dizer experiência?
Como DIABOS todo mundo sabia queeu era quase virgem?
O comentário da garçonete me deixou tão irritada que sequer fiquei envergonhada
ao me aproximar da mesaonde Ryker e Sven riam sem qualquer pudor.
– Acho que se você tivesse ido até o chão ele se apaixonava. – Strome me puxou
pela cintura.
– Homens gostam disso? – Esqueci a garçonete, voltando à realidade dos meus
problemas.
Ryker arregalou os olhos e ficou alguns segundos em silêncio antes de rir.
– Foi uma piada, amor.
– Vai nos explicar qual foi a da dancinha? – Sven pediu, inclinando-se sobre a
mesa, na minha direção. – Ou prefere manter seus segredos de sedução bem
armazenados?
– Onde está a Lexa? – implorei.
– A caminho. Vamos esperar que ela chegue a tempo, ou teremos que tentar denovo
amanhã. – Ryker deu de ombros.
– Próxima semana – Delvak corrigiu.
– A informação é que ele vai estar fora da cidade nos próximos dias.
– É por isso que você insistiu que viéssemos hoje? – Ryker levantou a sobrancelha.
– Precisamente. Então… vamosesperar que sua irmã chegue bem depressa. A não
ser que sua garota queira ir até lá e não rebolar até o chão de novo.
– Acho que prefiro morrer –resmunguei.
– Você realmente estava certa quandocontou que não era boa nisso.
– Eu te avisei! – rosnei, antes de lembrar de um detalhe. – Mas parece que não foi
completamente culpa minha.
– Não? – O teor de incredulidade na voz de Delvak me chateou.
– Não! – Estirei a língua e ele se limitou a rir, antes de beber mais um gole, sem
tirar os olhos de mim ou da minha língua. Guardei-a de volta na boca, por medo que
ele conseguisse roubá-la só com o olhar. Seus olhos azuis tinham um magnetismo
muito peculiar. Quase sobrenatural. Deixavam o ar denso e tornavam a respiração
difícil.
– Mina? – Ryker pediu com um sorriso. – Estava dizendo…?
– Ah! Sim! – Fechei os olhos com força. – A garçonete disse que eu não era o tipo
dele. Que o tipo dele eram mulheres mais experientes.
Apesar de que… não sei como elasabia que eu sou inexperiente.
– Não sabe? – Ryker soltou o copo, rindo. – De verdade? Não faz ideia do que pode
ter causado essa impressão? – Riu, puxando minha cintura na tentativa de me
reconfortar.
– Como assim “mais experiente”? – Delvak nos interrompeu. – Acha que ela quis
dizer “mais velha”?
– Não! – afirmei, com segurança.
– Por que não? – Delvak sacudiu a cabeça, como se não confiasse nos meus
instintos. – O que ela disse, exatamente?
– Ela disse que eu não era o tipo dele. - Levantei um ombro. – E que ele preferia
mulheres com mais “bagagem”.
– Bagagem? – Havia um sorriso torto na boca de Delvak. – Essa foi a palavra que
ela usou?
– Foi. Por quê? – Mudei o foco de minha atenção de Sven para Ryker. – Isso é
código para alguma coisa?
– O que mais ela disse? – Sven continuou.
– Mais nada. Só disse que ele preferia alguém com mais bagagem – expliquei. – E
olhou pra minha virilha na hora. Acho que ela deve ter imaginado que eu não tenho
tanta experiência na cama e… O que foi?
Ryker e Sven estavam se entreolhandoe sorrindo.
– O que foi?
– Pedra, papel ou tesoura? – Ryker sugeriu.
– Não, eu vou. – Delvak piscou um olho para nós. – Assim é mais seguro.
– O que foi que houve? – perguntei.
– Assim você me ofende, Sven.
– Não se ofenda, garoto. Não é pessoal. Não importa quem seja a alternativa, eu
sou sempre a opção mais segura.
– Será que vocês podem me informar o que está acontecendo? – reclamei, puxando
Ryker pela manga.
– O cara é gay, amor – Ryk sorriu.
Gay.
– Você. – Apontei para Sven. – Você me disse que seria fácil! – Pelo menos, a culpa
não era toda minha. – Só dar em cima dele e pegar o número. E o cara é gay! Não
parece mais tão fácil agora, não é? – rosnei baixinho.
Delvak estava enrolando as mangas para cima, prendendo-as nos antebraços largos,
evidenciando-os de uma maneiradeliciosa.
– Querida, se o cara é gay... – piscou um olho ao abrir os dois botões no topo da
camisa – ...então vai ser mais fácil ainda.

– Vem dançar comigo – pedi.


– Não – resmungou, enfiando as mãos embaixo dos braços, para que eu não as
pegasse. – Já preenchi minha cota de danças por hoje, obrigada.
Sven já estava próximo ao contador eeu soube que ele não iria demorar.
Se eu não precisaria de muito tempo para suscitar o interesse do cara, Sven
precisaria de menos ainda. Nossa operação estava segura e eu me peguei puxando a
mão da minha namorada e empurrando-a em direção à pista de dança.
– Quero ver aqueles movimentos sensuais de novo.
– Você está pedindo para apanhar – avisou.
– Humm, gostosa – gemi, mordendo o lábio. – Me comportei como um garoto
levado e mereço apanhar? – gemi no seuouvido.
– ISSO! – Bateu um pé no chão, se exaltando. – Era isso que eu queria saber fazer!
– chiou. – Usar palavras normais desse jeito que faz todo mundo ter certeza que você
está falando de sexo! Você faz parecer tão fácil! Mas quando eu tento fazer, pareço
uma perturbada inconveniente com algum problema mental.
– Você se esforça demais – expliquei,acariciando seus braços. – Tem que ser suave.
– Gostoso – falou baixinho, balançando o corpo de um jeito completamente não
natural.
Arregalei os olhos para o seu movimento e os pisquei várias vezes.
– Fiz merda, não foi? – Seus ombros caíram, causando-me uma crise de riso.
– Pare de rir! – Deu um murro no meu ombro.
No entanto, era impossível atender a seu pedido. Eu estava dobrado sobre o meu
estômago, sentindo as lágrimas se formarem nos meus olhos.
– Acho que pra ser mais sensual... – trouxe-a de encontro ao meu abraço assim que
me recuperei – ...você vai precisar de umas aulas.
– Vou precisar reencarnar – resmungou.
– Você é sensual quando não tenta – constatei. – Quando se esforça, é um
desastre! – Arregalei os olhos, exagerando no medo e ela me ofereceu a língua como
resposta.
– Morro de inveja da sua irmã. – Torceu o nariz. – Basta ela andar e já dápra sentir
a sensualidade emanando.
– Lexa é uma espécie diferente deanimal, amor.
– Do tipo que não entra em pânico quando tem que seduzir um cara? – Do tipo que
não teve uma virgindade intransponível.
– Ah! – sorriu. – Se o quesito de definição é esse, então eu sou uma espécie muito
única!
– Exclusiva. – Puxei sua boca para beijá-la. O comum é imaginar que emoções
estão vinculadas ao coração. Afinal, foi o órgão que nós elegemos para representar um
sentimento mais profundo.
Eu peço licença para discordar.
Desde que conheci Mina, percebi que as emoções são muito mais vinculadas às
pálpebras. Acontece quando eu sinto o cheiro dela. O toque de sua pele macia que
sempre parece estar um pouco mais quente do que a minha, me abraçando emseu calor.
O som do seu sorriso desajeitado ou sua voz carinhosa. Aquele segundo em que
nossos narizes se tocam.
O peso nas minhas pálpebras é insuportável. Eu quero manter os olhos abertos para
vê-la ali, perto de mim. Assistir à perdição de seus olhos nos meus, ver os fios revoltos
caídos pela sua testa, saber quando nossos lábios se fundem.
Mas as pálpebras… as malditas pálpebras…
Elas parecem engordar três toneladas em um instante. Um meio olhar é tudo que
me resta. Uma vista inebriada e embriagada que desconhece qualquer coisa que não
seja a mulher na minha frente e seu nariz entrelaçado ao meu, a iminência do toque
entre nossos lábios eo calor de nossos hálitos misturados.
Aquilo era o que eu sentia por Mina.
Um carinho capaz de cegar, pois bastava a proximidade de sua boca e eu me
entregava ao momento, abandonando um de meus sentidos para descobrir outro ainda
mais poderoso.
Minhas pálpebras pesaram e eu a beijei, fechando os olhos e sentindo as linhas da
sua boca no meu polegar. Prolonguei o beijo até senti-la ofegante.
– Gostoso – murmurou, baixinho, ainda de olhos fechados. Ela também estava
entregue ao momento.
– Assim – parabenizei. – Melhor.
– É? – Lambeu parte do sorriso satisfeito, ainda de olhos fechados.
– Bem melhor. – Lambi o mesmo lugar que ela, antes de mordiscar seus lábios. –
Você fica bem mais sensual quando não tenta. – Enfiei minha línguaem sua boca e ela
sugou, animada. – Bem mais – completei.
– Humm? – gemeu, me fazendo perceber que ela não estava mais prestando
atenção às minhas palavras.
– Olha só pra isso… – ri baixinho. – Está excitada, Bault?
– Detesto quando você faz perguntas retóricas.
– E detesto quando você abandona gemidos para responder com palavras
articuladas. – Passei a língua pela sua boca. – Geme de novo pra mim?
– Descarado. – Mordeu minha línguae quem gemeu fui eu.
– Gosto quando você me morde –confessei, apertando minha testa contra adela.
– Gosto quando você me chupa.Ri alto diante de sua ousadia.
– Mina Bault, sua safadinha! Há um tempo, você nem conseguia dizer “pau”.
– Você quer conversar sobre o que eu não fazia há um tempo ou sobre o que eu vou
fazer daqui a pouco?
– Estou intrigado. – Forcei uma aparência concentrada, tentando me manter firme
no diálogo. Minhas pálpebras, porém, não estavam colaborando. Nem meu pau. Não
que isso fosse novidade: nessas horas, ele nunca colaborava. – Elabore – pedi,
fechando os olhos e mordendo seu queixo.
– Estou tentada a te morder bem aqui.
Se você me chupar, é claro.
– Um acordo muito justo. – Já estava ficando duro. – Mas não faça promessas que
não pode cumprir, Bault. Ou eu te como no meio de um salão cheio de gente. De
novo.
– Sinto uma pressão estranha na minha virilha toda vez que você fala algo assim,
sabia?
– Claro que sabia. É a minha intenção. – Pisquei um olho. – Vamos até ali… –
Raspei a língua no seu lóbulo, deixando minhas palavras dançarem. – Colocar um
pouquinho mais de pressão no lugar certo.
Ela se contraiu em meus braços quando o arrepio tomou conta de seu corpo e eu
arrisquei um toque em seu joelho. Minha mão solta mal a tocava, quando meu polegar
atingiu a barra do seu vestido e além. Não aumentei a força da fricção. Em termos de
sexo, existem dois toques que funcionam: ou você aperta a carne dela como sequisesse
abocanhar um pedaço com os dedos, ou você mal a toca, deixando a ponta dos dedos
fazerem cócegas leves.
Era esse segundo efeito que eu buscava, no momento. Apenas as pontas dos dedos
repousando no ponto de suas coxas, onde o vestido começava a cobri- la. Uma
promessa de que bastaria um leve incentivo e eu a engoliria com as mãos. Uma
provocação suave. Seus olhos fechados provavam que minha intenção tinha sido
perfeitamente recebida e eu passei um braço pelo seu corpo quando a senti se desfazer
em anseios.
Uma esfregada.
Foi tudo que eu precisei.
Um movimento do meu quadril contra o arrebitar do seu quadril e meu pênis saltou
na direção do seu corpo, possuídopor vontade própria. Apertei sua bundae a virei com
força, meus dedos cravados nas suas ancas, empurrando sua cintura com os polegares,
encoxandosua bunda, raspando meu pau para cima e para baixo. Um leve movimento
na minha visão periférica e parte de mim soube que estávamos sendo observados. Não
ia ser exatamente algo inédito e por isso não tive qualquer pudor em continuar a
desabrochar minha libido nacarne suculenta dela.
Mina gemeu, cobrindo minhas mãos com as suas. Voltou suas costas para mim,
forrando-me, alongando-se em meu tórax. Mordi sua orelha e foi como se eu tivesse
ativado um botão, fazendo com que ela rebolasse.
Você precisa ser homem para entender o nível do desespero de ter uma mulher
deliciosa rebolando contra seu pênis ereto.
Suas pernas tremem, sua visão sai de foco e seu corpo inteiro é submetido a uma
vontade incontrolável de fazê-lo avançar pelas carnes macias das nádegas. Minha mão
subiu à procura de sua calcinha, dois dedos passeando entre as bochechas de sua
bunda e Mina emitiu um gritinho tão baixo que só pude ouvir porque seu rosto estava
de lado e seus dentes cerrados em minha orelha.
– Isso… não vai… acabar… bem… –ofegou.
– Ah, amor… – Dancei o indicador pela fresta entre suas pernas, a mão toda
enfiada em sua calcinha. – Eu discordo.
Meu pulso estalava contra sua bunda enquanto eu movia a mão até fazer as pontas
dos dedos roçarem no alto dos seus pequenos lábios. Provoquei os arredores do clitóris
sem nunca atingi- lo. Usei a mão sobre sua boceta como o controle das rédeas,
guiando-a para obanheiro, entre beijos no pescoço e urros roucos ao pé do ouvido.
O banheiro masculino estava concorrido. Um casal rodopiava contra a parede dos
fundos, se alternando entre espremer e ser espremido, enquanto toda a aventura ficava
disponível para o homem que lavava as mãos com um sorriso no canto da boca, o que
erguia as calças atacando o cinto, e um terceiro, girando o gelo dentro do seu copo de
uísque, com as costas apoiadas contra a parede oposta. Ele observava o desenrolar da
situação, sem pressa.
Alguns dos olhares se voltaram para nós, Mina deu um passo para o lado e minha
ereção ficou evidente.
– Ryker… – Ela tinha aquele tom nos olhos de quem começa a ser invadida pela
realidade e eu soube que, ou eu a deixava excitada a ponto de não conseguir recusar,
ou voltava duro e frustrado para o salão principal e esperava que Delvak terminasse
logo seu assunto com o contador para que eu pudesse voltar para o nosso quarto e
fodê-la na cama.
Afastei a mão apenas o suficiente para poder estapear sua boceta com fome, ouvi o
som rouco e abafado do ar escapando entre minha mão e sua entrada. Meus passos
foram largos e definitivos, empurrando-a contra a parede, ao lado do casal de
desconhecidos que se divertiam de forma invejável.
– Aqui fora com eles ou lá dentro sozinhos? – Indiquei a cabine,autoritário.
Sua boca estava entreaberta e os olhos arregalados.
– Ryker… – murmurou, só para mim. Havia o princípio de um sorriso ali, se
deleitando na minha atuação.
– Minha mão tá enfiada em você, Bault. Não me diz que não está excitada que eu
vou saber que é mentira. Está molhada como uma prostitutazinha que acabou de
descobrir que foi contratada por um tarado gostoso. – Raspei os dentes no seu queixo.
– Não minta pra mim.
– Se a gente… ficar aqui… eles vão me ver nua – suspirou, explicando o seureceio.
Em cima de um palco, à meia luz, tinha sido impessoal. Espremida contra uma
parede compartilhada a centímetros de distância era diferente. Seu sorriso, no
entanto, se alargou,contraditoriamente. Passando a línguanos lábios.
Estourei a costura da calcinha entre meus dedos, abandonando o pano amorfo no
chão. Levei os dentes à alça fina do vestido e, entre o fechar da mandíbula e um puxão
com meu punho,as alças se desfizeram. Enfiei os dedos no bojo do vestido abaixando-
o até a barriga, expondo seus seios no banheiropúblico.
Eles pularam arrebitados com o movimento do pano, os mamilos rosados e
endurecidos apontando para minha boca. Lambi um de cada vez, usando minha saliva
para acalmar a pele eriçada ao redor das auréolas, enquanto minhas mãos se
espalharam pelas suas coxas, puxando a saia do vestido para cima, libertando sua
virilha aos espectadores e transformando seu vestido composto em um cinto largo na
altura do estômago, única parte do seu corpo que se mantinha coberta.
– Pronto. Já te viram nua. – Dei um meio passo para trás para poder, eu também,
apreciar a vista. Ela não se escondeu ou se cobriu. Manteve as palmas contra a parede,
os olhos nos meus e um quase sorriso divertido na boca, como se não acreditasse que
estava fazendo aquilo, apesar de felizpela ousadia. – Problema resolvido –resmunguei,
doido de tesão e só percebi que estava prendendo a respiração diante da nudez
angelical de Minaquando comecei a ficar tonto.
Arreganhei suas pernas, elevando-a pelos joelhos e jogando-a contra a pia. Me
ajoelhei na sua frente e cobri sua boceta com minha boca. Sua coxa deslizava contra
minha orelha, seu suco tinha descido pesadamente por ali enquanto eu a despia. Virei
o rosto de lado e a lambi na parte interna da coxa.
Mina abandonou a cautela e gemeu alto, com muita força.
Ao nosso lado, o jovem rapaz de cabelos castanhos tirou o pênis das calças e se
enfiou na sua companheira que, ao contrário de Mina, ainda estava quase
completamente vestida. Ela gritou e percebi falsidade em seu gemido. Ela queria
competir com a gente? Ah… boasorte para ela.
Enfiei a língua, entortando-a dentro de Bault como um anzol, procurando as áreas
mais delicadas.
– Ah… – ela gritou, sem conseguir respirar. – Por favor… Por favor… – Suas
pernas se apertaram ao meu redor e eu ri com a boca encharcada pelo seu líquido, ouvi
o gemido alto e desconhecido da mulher que tentava nos superar e levei para o lado
pessoal.
Abracei as coxas de Mina e prendi seu clitóris entre o indicador e o polegar. O
ideal é começar a estimular o grelinho de uma moça sempre devagar e dar tempo para
que ele se engorde e estique. Mas quando o toquei ele já estava grande e roliço de
desejo entre meus dedos. Apetitoso como uma azeitona. Acelerei de imediato,
esfregando seu grelo com velocidade e força, mas ainda com cuidado para não
machucá-la com um movimento brusco.Ela gozaria logo. E gozaria bem alto.
Eu podia chupar Mina em silêncio, mas resolvi emitir rosnados, deixar que meus
toques ecoassem sons altos de sexo, o ar escapando, o estalar da minha saliva
misturada ao seu suco. Ouvi Minagritar um som interminável. Seu ar parecia ter
acabado, mas o seu grito não. Fiz minha língua trabalhar por mais alguns instantes
antes de levantar os olhos para assisti-la em sua glória. Amão que agarrava o seio
de Mina não era a minha e eu tive pensamentos homicidas imediatos. O puto ao
nosso lado fodia sua garota enquanto assistia aminha gozar.
Estapeei sua mão com tanta força quesenti a minha latejar.
– Tira a mão, imbecil! – Empurrei-o para o lado com o ombro e ele perdeu o
equilíbrio, com o pênis escapulindo da namorada e gemendo um pedido de desculpas.
Não detive minha atenção neles para ouvir: agarrei Mina pela bunda e a enfiei em
uma das cabines, me espremendo contra ela para fechar a porta.
– Desistiu da audiência? – provocou.
– Estava ficando concorrido demais.
– Eu queria voltar a chupá-la. Ainda não tinha terminado e queria mais um pouco. Os
dedos ágeis na minha cintura se desfazendo de cinto e braguilha é que me
convenceram a mudar de ideia. Me impressionou como ela conseguiu me despir com
velocidade. Acho que estavase acostumando.
– Ficou com ciúmes? – Corou à medida que me fez perceber que ela não tinha
notado no toque do outro homem até eu ter interferido. Cega de tesão.
– Não – menti, forçando um bico mimado que ela lambeu. – Mas eu prefiro te
fazer gozar sem ajuda de ninguém, obrigado.
Ela não esperou minhas mãos para guiá-la e apoiou um dos pés sobre o vaso.
– Olha só pra isso! – Ri. – Estou me sentindo tentado a não te deixar gozar só para
prolongar esse momento.
– Vem logo. – Puxou-me pela gola ao morder minha boca. – Estou pingando tanto
que daqui a pouco alguém escorrega nesse chão.
Sensual quando não tenta.
Era isso que Mina conseguia.
Tomei meu pau encorpado que ela mantinha nas mãos e estapeei sua entrada com
minha glande. Esfreguei a pontinha contra seu clitóris. Mina mordeu o lábio inferior,
emitindo um gemido agudo e incontrolável. Lá fora, o intrometido parecia ter
encontrado o caminho de volta para a boceta da sua mulher e o som de impactos
deixava claro que ele tinha encontrado um ritmo contra a parede. Com a competição a
distância, a moça podia gemer com honestidade e, embora modesto, o som do seu
prazer ali tão perto de nós começou a me excitar ainda mais.
Mina tinha os olhos fechados e parecia ter desistido das funções em quaisquer partes
do seu corpo que não fossem o ponto exato de sua vagina que recebia os impactos
curtos da minha cabecinha.
Coloquei a ponta da minha carne contra a abertura da dela e pressionei. Suas unhas
se enfiaram em meus ombros enquanto eu me enfiava nela. A cada novo centímetro
percorrido, ela exalava um novo suspiro. Um que misturava desespero com alívio.
Encontrei, eu também, um ritmo só nosso. Um que fazia nossos gemidos se
misturarem em uma rouquidão que prenunciava o que estava por vir, de um modo tal
que eu ouvia os gemidos, mas não distinguia mais se eram meus ou dela.
Mina jogou as mãos para trás, se apoiando na divisória entre as cabines, buscando
uma posição que a deixasse se abrir mais sem perder o equilíbrio. Unidos pelos nossos
sexos, os tórax afastados em um vale para que eu pudesse assistir seus seios saltarem.
O suor cobria seu corpo e uma gota particularmente resiliente pendurada no bico
rígido do seio engordava, se recusando a cair, e prendendo minha atenção. A linha de
suor descia como um córrego pela curva do seio, reunindo mais peso à gota que
vacilava, mas não desaparecia, apesar do balançar dos peitos.
Pensei em levar minha boca e chupar seu suor, mas foi tarde demais. Aquele
milésimo de segundo indescritível que acontece imediatamente antes do esporro se fez
sentir, levei a mão ao clitóris de Mina em um reflexo automático e o belisquei. Ela
gritou em desesperado alívio enquanto eu derramava meu líquido quente dentro doseu
corpo, sentindo aquele recuo delicioso contrair os músculos das minhas coxas e
nádegas enquanto eu melibertava dentro dela.
Mina arfou uma última vez e eu vi a gota de suor pingar do seu seio antes de
conseguir enfiar meu rosto na curva do seu pescoço, lutando para que minhas pernas
resistissem e não nos derrubassem no chão do banheiro.

Eu não conseguia pensar direito. Minhas pernas tremiam, minha cabeça girava. Eu
só queria tomar um banho, fechar os olhos e dormir.
Talvez pular o banho.
A mão de Ryker me puxando era a única coisa que me mantinha firme na
realidade. Mas eu escapava a cada segundo.
– Acho que vou ter que te comer em boates mais vezes para você se acostumar –
constatou. Pisquei os olhos e percebi que não era uma piada. Ryker me ofereceu uma
garrafa de água que bebi inteira. Devolvi-a vazia e ele riu.
– O que foi? – perguntei, recobrando a consciência.
– Eu queria um gole. – Levantou um ombro, ainda sorrindo.
– Ai, amor! – Levei as mãos aos lábios. – Me desculpa! Eu pego uma para você!
– Não se preocupa. – Me abraçou antes de se inclinar no balcão.
Sven estava a poucos passos de nós e contador estava claramente mais satisfeito com
ele do que comigo. Tocava os antebraços expostos e o tórax na altura dos botões
abertos. Svensorria, enquanto o contador girava, preso ao seu campo gravitacional.
O maldito fazia parecer muito fácil.
– Ali. – Ryker apertou o abraço sugestivo e eu me virei para ver Lexa apoiada em
uma das mesas, a distância.
– Onde estavam? – Sorriu antes de dar um gole em sua bebida e eu soube que ela
não precisava de uma resposta.
– Como está? – Ryker perguntou, indicando Sven com o queixo. – Acha que ele
consegue o código?
– Ah, já conseguiu. – Lexa piscou os olhos com obviedade. – E já distraiu o
homem para que Tim roubasse seucelular.
Ryker enrugou a testa, confuso.
– E o que ainda está fazendo lá? - Já tentou escapar três vezes. – Riu.
– Mas o contador parece irreparavelmente apaixonado. Se recusaa deixá-lo ir.
– Não tem como a gente ajudar? – perguntei.
– Tem sim. Eu e Sven temos um código – explicou, passando a língua no lábio
inferior. Ela estava se divertindo.
– Um gesto para pedir auxílio em uma situação assim.
– E ele ainda não usou o gesto?
– Ah, já usou! – Riu alto. – Umas quatro vezes. Ryker riu, entendendo a
brincadeira da irmã.
– Não acha melhor ir até lá? – sugeriu, com calma.
– Não. – Torceu o nariz, risonha. – Ele sobrevive.
O contador virou–se para o balcão para pagar alguma bebida e Delvak lançou um
olhar firme e irritado para Lexa, com uma careta de indignação. Eu podia ler o “você
me paga por isso” na expressão dele. Seu novo amigo se virou, oferecendo-lhe um
copo da bebida e um brinde. Ele sorriu e observei a careta voltar ao seu rosto antes de
virar a dose.
– Ele vai se vingar de você depois – avisei.
– Vai. – Lexa me ofereceu um sorriso deslumbrante. – Mas não acha que vale a
pena? – Riu com gosto. – É tão raro ver Delvak perdido – suspirou.
– Por que ele simplesmente não dá o fora? – Höfler se aproximou de nós.
– Ainda está aqui? – Ryker mal se virou.
– Estamos todos aqui – resmungou. –Alguém pode responder? Por que ele não dá o
fora?
Eu e Ryker nos entreolhamos. Eu não entendia nada do mundo de seduções doresto
da gangue então era compreensível que eu não soubesse. Mas o fato de que Ryker
também não sabia me deixou confusa.
Lexa pigarreou antes de explicar: – Ele passou todo esse tempo demonstrando
interesse pelo homempara que anotasse seu telefone. Se simplesmente fosse embora, se
tornaria suspeito. Quando notar que seu telefone desapareceu, ele pode lembrar de
Sven. Para que o homem não suspeite, ele precisa simular que está realmente
interessado e que foi embora por algum motivo válido.
– E como vai fazer isso?
O contador estava próximo demais de Delvak, sussurrando algo em seu ouvido e, se
aquela não tinha sido uma propostapara irem para algum lugar mais reservado juntos,
eu não sabia o que mais poderia ser. Delvak sorriu beliscando o queixo do seu novo
amigo de um jeito envolvente, antes de passar os dedos pela orelha em um gesto
peculiar, que imaginei ser o código entreos dois.
Lexa abanou os dedos para ele em um“tchau” divertido e riu como se presenciasse a
piada da sua vida.
– A gente precisa do código que ele decorou – lembrei. – Para ativar o celular.
– Pegamos amanhã. – Lexa gargalhou.
– Lex… – Ryker pediu. – Não faz isso!
Ela expirou profundamente, irritada por não deixarmos que ela continuasse a se
divertir.
– Está bem, está bem.
Sven estava andando ao lado do contador em direção à saída da boate, e Lexa os
alcançou no meio do caminho. Três passos largos para alcançá-lo e lhe deu um ruidoso
tapa no meio do rosto.
Delvak parecia desorientado, entre uma irritação pela sua demora e uma satisfação
por ela finalmente ter se manifestado.
– SEU CANALHA! – berrou a plenos pulmões. O susto me fez segurar o braço de
Ryker num ato involuntário. – Você jurou que tinha acabado com essa vida.
O pânico que Delvak simulou foi bastante crível.
– Querida, eu posso explicar… – Ergueu as mãos, mas não antes de Lexa o
estapear mais uma vez.
– Você tem três filhos! Três! Estão em casa, esperando por você! E enquanto eu lavo
suas cuecas e explico para os seus filhos por que você tem que trabalhar até tarde, você
fica aqui… nessa… nessa… sodomia! – berrou, indignada. Ela era uma excelente atriz.
– Meu bem, me escuta...
– Não vou escutar! Seu canalha! Vou voltar pra casa! E você vai voltar comigo! Vai
explicar pro Junior por que perdeu a festa de aniversário dele! A Anaïs levou o
namorado para a festa! Queria te apresentar! Mas onde você estava? – Outro tapa. –
Onde?!
Delvak entortou o rosto, mordendo os lábios como se não acreditasse que Lexa ia
continuar a estapeá-lo.
–Estava aqui! – Indicou os arredores. Ela deveria estar se divertindo tanto. –
Confraternizando com… com… Eu não consigo nem falar em voz alta! Seu cafajeste!
O que o seu pai vai dizer? Os nossos vizinhos? O pessoal da igreja? – Vi os ombros de
Sven caírem, sem acreditar que ela iria tão longe. – Meu Deus! – Lexa levou a mão à
boca.
– O que o pastor vai dizer? Você vai ser expulso da congregação! Expulso! –
exclamou antes de se virar para se afastar.
Sven murmurou duas palavras para o contador, que parecia tão chocado quanto o
resto de nós. Eles se despediram rapidamente e Sven correu atrás de Lexa.
Eu, Ryker e Höfler nos entreolhamos.
Nenhum dos três conseguia comentar o que quer que fosse. Mas cada um correu mais
rápido que o outro para o lado de fora para encontrar Sven e Lexa.
Ela estava curvada sobre o próprio corpo e não conseguia parar de rir. Sven não
parecia compartilhar da sua alegria.
– Muito engraçada. Muito.
– A gente pode fazer isso de novo amanhã? – ela pediu, sem conseguir parar de rir.
– Junior e Anaïs, Lexa? Sério?
– Não sou boa para inventar nomes. Foram os primeiros que eu pensei – defendeu-
se.
– Não é boa para inventar nomes?
Você é escritora!
– Não sou boa para inventar nomes sob pressão – acrescentou. – Mas fora esse
detalhe, meu roteiro foi impecável
– afirmou, exuberante.
– Impecável – Ryker concordou, rindo.
– Que bom que se divertiram. Onde está o telefone?
– Peguei com o Tim. – Devon entregou o aparelho.
– Ótimo. Tenho o código, vou dar umaolhada nisso e elaborar o que podemos fazer.
Acho que está na hora de convidarmais adultos para a brincadeira. Porque eu, sozinho,
não consigo cuidar de todos vocês. – Torceu o nariz, oferecendo um olhar
recriminador para Lexa.
– Se a situação fosse o inverso e eu é que estivesse com o contador, você teria feito
pior. – Piscou um olho descarado.
– Não teria te dado um tapa!
– Três – ela corrigiu, rindo.
Ele fingiu rir, se aproximou, perigoso, e beliscou uma porção de carne na barriga
dela, bem abaixo do seio. Não foi a mim que ele beliscou, mas eu senti a pontada
intensa ainda assim.
– Quero ver você rir – a boca dele estava no canto do ouvido dela, suspirando em
sua pele – quando eu me vingar.
Eles entraram no táxi e Lexa ainda estava rindo das ameaças de Sven.
Eu não sabia como ela conseguia.
Não foi comigo que ele falou, masminha boca estava seca.
Ela sorriu e me desejou boa noite, mas eu segurei a porta do quarto para não
permitir que se fechasse entre nós.
– Quer entrar, Sven? – sorriu, provocando.
– Não sei se posso. – Mantive a seriedade. – Porque, se entrar, vou querer te punir
pelo seu comportamento essa noite. – Sorri. – E não sei se posso
– confessei.
Lexa espremeu os lábios em uma linha rígida.
– Você sabe que eu e ele temos um relacionamento muito aberto.
– Sei. – Acenei, ainda me apoiando na porta. – Mas também sei que você me
recusou da última vez. Então, não sei, Lex. – Passei a mão pelos cabelos, tentando ser
sedutor. Mas com ela... com ela nunca era fácil tentar nada. A única pessoa no mundo
que enxergava por baixo de toda minha merda sem qualquerdificuldade. – Quero entrar
– decidi. – Posso?
– Você é diferente para ele, Svenie – sussurrou. – Nosso relacionamento é aberto,
mas sei que ele tem ciúmes de você. Não sei se ficaria confortável se você me tocasse.
Concordei com um gesto, xingando o maldito de todos os nomes mais sórdidos
que eu conseguia imaginar. Uma mulher como Lexa não foi feita para um
relacionamento monogâmico. E ela tinha encontrado um poligâmico, mas ainda assim
não poderia se envolver comigo? Em que universo sádico algo assim seria justo?
– Sabe, Lex, quando eu toco uma mulher – suspirei, meu hálito em seu rosto. –
Meu objetivo não é conforto. – Toquei sua cintura. Ainda longe de suas nádegas,
apenas uma sugestão, não uma insistência. – Angústia, desespero, necessidade... –
Estreitei os olhos quando minhas palavras faltaram.
– Sofreguidão, anseio, tormenta... – ajudou.
– Isso, obrigado. Todas essas coisas, sim. Duas de cada, por favor. Mas conforto? –
Revirei os olhos e ela riu. – Você ficaria mais confortável se eu não te tocasse? –
desafiei, maléfico.
– Está dizendo que vai me punir sem me tocar, Delvak? – Piscou os olhos,
duvidando. – Levar uma mulher ao orgasmo sem um único toque? – A curiosidade
tinha fisgado a pesquisadora erótica e ela precisaria ir até o fim. – Impossível. Mesmo
pra você – decidiu.
– Quer me dar uma chance de tentar? - Mordi o lábio. – Pelo bem da ciência e da
literatura? – arrisquei.
Lexa me encarou com devota fixação.
– Sem um único toque?
– Se você tirar as próprias roupas. Se não, vou precisar fazer isso por você –
considerei. – Fora isso, nenhum toque.
– Eu tiro – resolveu e eu fiquei duro.Instantaneamente.
– Tudo bem. – Lambi os lábios. – Vamos descobrir se eu consigo.
Lexa não esperou que eu a conduzisse ao quarto ou indicasse que poderíamos
começar. Ela nunca esperava por homem algum. Para mim, a mulher decidida era o
fator máximo de sedução e meu pau, como bom companheiro que era, não discordava
de mim.
Não houve dança sensual, não houve espera por iluminação adequada, não houve
troca de olhares inseguros em um misto de timidez e hesitação. Ela se despiu sem
pressa como se estivesse sozinha no quarto. Seu olhar não desviava do meu por um
segundo que fosse, me mantendo hipnotizado e preso ao seu olhar, mesmo que seios
igualmente divinos e diabólicos já estivessem à minha disposição.
Eram os seus olhos. Era a sua convicção.
No despir. No falar. No caminhar.
Atravessando o quarto até onde a cama nos aguardava. Nua, acendendo as luzes
pelo caminho. Reconhecendo o meu olhar, atraindo minha atenção. Expondo seu
corpo enigmático, indiferente às próprias imperfeições com um poder tal que me fazia
crer que ela não as tinha. A sedução sempre esteve nas atitudes. Não nos corpos. Não
nos gestos. Não nos movimentos que os corpos fazemquando se amam ou se fodem.
Era a porra da atitude daquela mulher, que exalava a certeza de que poderia me
prostrar de joelhos, bem abaixo dos seus saltos, e me fazer rezar não a uma divindade,
mas a ela.
Sentou-se na cama e cruzou as pernas.
– Onde você me quer?
– Ao redor do meu pau. Rebolando, de preferência. Mas essa parte é opcional.
– Isso envolveria toque – recriminou,balançando o indicador.
– Coisa pouca. – Dei de ombros. – Eucoloco as mãos para trás.
Ela riu alto.
– Sven!
Aproximei meu rosto do dela. Respirei fundo. Sentindo seu hálito, fiz com que ela
sentisse o meu. Ela se calou. Nada de risadas, nada de sorrisos.
Ela me sentia.
Os dedos enfiados nos lençóis.Ela me sentia.
Fechou os olhos, entreabriu os lábios e deixou nossas respirações se misturarem.
Eu a sentia.
O calor do hálito maculava minha pele embora seus lábios nunca me tocassem,
prolongando eternamente a sensação insuportável que antecedia o beijo. Os instantes
eram ainda mais desesperadores, pois vinham recheados a convicção que o beijo não
aconteceria.
Levantei as mãos ao redor do seu rosto, mantendo as palmas próximas às suas
bochechas, mas sem tocá-las. Apenas circundando os fios de seus cabelos, impedido
pela áurea invisível eimpenetrável que nos separava.
Segurei os lençóis bem perto de onde estavam suas mãos, milímetros separavam
nossos dedos. Uma distância imensa. Me inclinei sobre ela, Lexa não cedeu. Os seios
firmes oscilando em suarespiração compassada.
Meus dedos flutuaram leves entre nós, delicados. Sem tocá-la, movi a mão em
direção ao seu pescoço. Devagar. Guiando.
Ela compreendeu sem que qualquer palavra fosse necessária e permitiu que minha
ameaça de toque a conduzisse. Afastando-se de meus dedos, seguindo adireção que eu
sugeria. Com ela deitadana cama, movi os dedos no ar, ao longo dos seus joelhos e ela
os afastou. Lenta no abrir-se, aguardando minha atenção. Expondo o rosa entre suas
pernas creme. Ela se movia, obedecendo a cada um de meus não toques como uma
coreografia ensaiada, transformando cada uma deminhas intenções em movimento.
Aberta para mim.Na cama.
Minha.
Me fazendo tremer e transpirar.
- Você me deixa guloso. – gemi, perdendo o controle. – Não é natural. – Ajoelhei na
cama. – Faz isso comigo. Me causa uma gula. – Me curvei sobre seu corpo,
desenhando seus arredores com meus lábios, fazendo-a sentir meu hálito, mas nunca
meus lábios. – E gula faz a gente querer lamber – sussurrei. – Querer morder – gemi,
alcançando seus mamilos eretos. – Querer comer.
– Sem falar – devolveu meus gemidos. Seus olhos estavam fechados.
– Você devia ser proibido de falar. – Tinha o lábio inferior preso entre os dentes. –
Sua voz tem uma coisa eróticaque não dá pra definir. Não há palavras no dicionário.
– Me explique com gemidos, então. Desci o rosto por seu abdome, encontrando o
ponto correto entre suas coxas e soprei. Muito, muito devagar. Senti o ar sair de
mim cheio de desejo e atingi-la, causando o exato efeito que eubuscava.
– Se você falar, vai ser fácil me fazer gozar – considerou. – Silêncio, Delvak.
– Maldita seja, mulher – recriminei, com uma careta. – Não posso nem falar?
– Achei que você gostava de desafios
– riu, agarrando os travesseiros, e eunão consegui resistir.
Com o nariz entre ela, respirei fundo. Tragando-a. Sentindo-a me possuir do único
jeito que me era permitido. Estirei a língua sem tocá-la, mas deixei uma única gota de
saliva escapar. Ela se curvou, tentando me observar, um meio sorriso que me deixava
mais duro que sua nudez.
O movimento em seu ventre foi fácil de identificar. Ela estava se contraindo por
dentro. Pompoarismo. Esticando e contraindo os músculos circunvaginais para tentar
aliviar o tesão que invadia sua pele.
Eu podia trabalhar com isso.
Apoiei meus braços no colchão, abraçando suas coxas, fazendo o impossível para
não tocá-la. A boca encaixada sobre sua bocetinha, quase depilada e os poucos pelos
querevestiam sua entrada.
Entreabri os lábios apenas o suficiente para abocanhar o seu grelinho, fosse essa
minha intenção, e deixei o ar sair de minha garganta. Quente e estimulante, cobrindo
seu ponto mais excitado com meu hálito febril. Lexa estremeceu, seu gemido foi se
intensificando.
Um sorriso impossível de conter.
Ela se contraiu e eu soprei. O ar quente acariciava sua intimidade, estimulando os
movimentos intensos quefuncionavam quase como umamasturbação.
Substituí o ar quente por um sopro frio e delicado, e Lexa agarrou os próprios seios,
gemendo mais alto.
Subi em direção à sua barriga, usandominha respiração para excitar ainda mais seus
mamilos hipersensíveis e a ouvi implorar. Uma interminável sequência de por
favores.
Por favor.Por favor.
Eu não sabia pelo que ela implorava.Para que eu a tocasse?
Para que eu a fodesse?Não importava.
Eu não tinha tempo para perguntar e duvidava que ela se desse o trabalho de
responder.
Foi meu hálito que cobriu seu corpo, estimulando o que mãos e beijos não
poderiam estimular. Meu hálito nos seus seios, na sua boca, na sua barriga, nos seus
braços, descendo pelo seu umbigo. De volta em sua bocetinha encharcada, pingando
entre os lençóis, aberta apenaso suficiente para que eu soubesse onde respirar.
Quis enfiar os dedos nela, ao menos para abri-la. Terminei por buscar meu pau e
acariciá-lo, apenas para manter minhas mãos ocupadas, se por nada mais.
Mas o que minhas mãos encontraram foi um cacete firme e duro como jamais antes.
Eu sentia cada uma das veias esticadas, pulsando, coléricas. Me amando por ter criado
a oportunidade. Me odiando pelos termos do acordo estabelecido.

Era Lexa.
Com Lexa, tudo sempre era mais intenso.
Fosse o toque ou sua ausência.
Eu não ia precisar de muito tempo.
Alternei a temperatura do único contato que me era permitido e seu gemido evoluiu
em um grito.
Acho que continuei respirando sobre ela.
Acho que consegui me impedir detocá-la.
Mas eu só acho.
Ela rebolou sob meus lábios, me fazendo querer lambê-la.
Me fazendo imaginar como seria lambê-la.
Me fazendo lembrar de como era lambê-la.
Eu explodi em minhas mãos. Espalhando esporro pelos lençóis e por suas pernas.
Em algum momento eu desisti, e meus lábios atingiram sua virilha. Acima do clitóris.
Sobre seus pelos. Apoiando meu queixo sobre seu osso púbico.
Ela terminou de gozar, antes de me lembrar que eu não deveria tocá-la e me fazer
levantar.
Eu amava sexo mais que qualquer coisa. E ir embora depois do orgasmo sempre fez
parte do meu sexo.
Mas não quando era sexo com ela, quando era orgasmo com ela.
Nesses casos, ir embora sempre era uma parte desagradável.
Principalmente em uma noite como aquela, que me dava a certeza que eu estava
indo embora depois de ficar com Lexa pela última vez.
Nove

Detalhes para um roubo bem planejado

Sven entrou na boate fazendo barulho e eu ainda estava com um pouco da dor de
cabeça da noite anterior.
– Onde está? – perguntou a Ryker.
– Zahner? Ele já foi. Assim que os jornais saíram com a denúncia. Acha que vai
funcionar?
– Vamos esperar que sim. Foi trabalho demais para que não dê certo.
– E o telefone? – Ryker quis saber.
A boate estava muito cheia e sempre tinha gente demais falando ao mesmo tempo.
Peguei um copo de água no bar e tomei uma aspirina.
– Se for ressaca, dançarina – Sven sugeriu –, é melhor beber mais um pouco de
álcool. Prefiro você bêbadaque incapacitada.
Eu queria lhe oferecer uma careta, entretanto, assim que levantei o rosto me
surpreendi por não encontrar Lexa atrás dele. Pelo barulho na entrada, ela também
tinha chegado e estava conversado com Brout. Mas a mulher atrás de Sven era
morena, com grandes olhos amendoados e uma boca desenhada que parecia estar
sempre na iminência de um sorriso.
A curiosidade nos meus olhos ointerrompeu.
– Ah, pessoal está é… – Virou-separa ela. – Qual nome está usando hoje?
– Lola está bem. – Sorriu.
– Lola! Todo mundo, esta é Lola. Lola, todo mundo. – Gesticulou. – Ela é uma
amiga do Hideki.
Lola. Eu lembrava desse nome.
– Seu amigo japonês de origens suspeitas? – Ryker provocou, cumprimentando
Lola com um aceno.
– Eu vivo de sexo, todos os meus amigos têm origens suspeitas.
Lola ergueu uma sobrancelha para o seu comentário e eu lembrei que Delvak
mencionou algo sobre os dois já terem se envolvido. Era sobre a morena que ele
estava falando, não era?
– É seguro trazer mais alguém para a equipe? – Joanie murmurou. – E se ela tiver
contato com o Kulik?
– Não tem – Sven decidiu. – Lola vai nos ajudar com a parte que não podemos
completar sozinhos.
– E que parte é essa? – alguém perguntou. Mas eu não estava prestando atenção,
minha cabeça latejava, incomodada.
– Zahner vai balançar seu distintivo da Interpol para a vigilância sanitária e, com
sorte, eles não vão verificar que ele foi suspenso. Se o blefe der certo, os
restaurantes de Kulik vão ser fechados em poucas horas. Mas isso é só uma das suas
fontes de renda. As outras três estão aqui. – Balançou o celular no ar. –Investimentos
pesados por meio de uma multinacional, lavagem de dinheiro através de uma agência
de turismo e um cofre bem grande e gordo entupido de notas e moedas de uns oito
países diferentes.
E assim, de repente, minha dor decabeça tinha piorado.
O plano era deixar Kulik pobre para torná-lo irrelevante. Mas como diabos a gente
ia fazê-lo perder todo aquele dinheiro?
– Quer dizer que estamos fodidos? – Ryker expressou meus pensamentos com
palavras mais objetivas.
– Zahner acabou de ligar. – Lexa se aproximou. – Deu certo. Ele já está a caminho.
– Não era melhor ele acompanhar o fechamento das unidades? Mande o
preguiçoso trabalhar! – Delvak reclamou.
– Fui eu quem pediu para ele voltar, Svenie. A polícia pode fazer isso sozinha. Ele
ficar passeando pela cidade no meio das forças policiais só aumenta o risco de alguém
reconhecê-lo.
Ele inchou como se quisesse esbravejar que ela estava errada, mas, em vez disso
apenas engoliu a própria angústia, me deixando muito confusa.
Eu brigava com Ryker daquele jeito quando a gente não transava. Desse jeito
impetuoso como se estivesse constantemente tentando se livrar da tensão sexual. Mas
Sven e Lexa não pareciam pertencer ao tipo de ser humano que guardaria qualquer
gota de tensão sexual mal resolvida.
Mas… o que eu entendia desse assunto? Ainda mais com essa dor de cabeça me
incomodando.
– Você está bem? – Ryker alisou meuscabelos, beijando minha bochecha.
– Pouco sono, pouca comida e acho que bebi um pouco antes de dar em cima do
contador ontem.
O sorriso que ele deu só para mim mefez melhorar muito mais que a aspirina.
– Vamos só sobreviver a mais isso e já cuido de você, combinado?
Eu acenei a cabeça, afirmando, embora tivesse certeza que o sorriso que devolvi já
deveria ter respondido pormim.
Delvak não tinha parado de falar e estava explicando os detalhes do seu plano.
Parece que ele e Hideki poderiam cuidar de uma parte, e Lola cuidaria do cofre. Nós
teríamos que resolver a parte da agência de turismo e Delvak tinha arquitetado um
plano muito elaborado ao longo de um intervalo de tempo muito pequeno. Não era de
se admirar que ele era CEO de uma multinacional.
O homem conseguia resolver problemas como um realizador de milagres e delegava
tarefas como um verdadeiro líder.
Ela já estava bem avançado em sua explicação quando ouvi a porta dos fundos se
abrir. Zahner acenou brevemente para mim e para Ryker quando entrou na boate e
então tudo aconteceu rápido demais.
Seus olhos passearam pelo salão e sua mão treinada estava no coldre,
desembainhando a arma. Seu olhar se cruzou com o de Lola e ela mergulhou para trás
do palco no momento preciso para escapar do tiro que Zahner disparou em sua
direção.
O barulho alto no ambiente fechado fez meu corpo inteiro vibrar. Minha cabeça
latejou como se fosse explodir e fiquei completamente sem reação. Ryker tomou minha
frente por instinto e eu meagarrei à sua camisa.
Delvak gritou em fúria, mas Zahner parecia possuído por um demônio quando
atirou de novo, buscando umângulo mais favorável.
Era diferente agora. Desde o começo, Zahner podia ter sido irritante e mandão, mas
fora sempre frio e lógico.
Agora ele tinha enlouquecido. Puxou o gatilho uma terceira vez e eu soube que ele
estava atirando para matar. Ninguém ousou se aproximar dele durante o frenesi de
insanidade, a não ser, curiosamente, a própria Lola que, com um movimento rápido
digno de ilusão de ótica fez parecer que tinha corrido para um lado do palco, mas se
arrastou pelo chão até o outro. Correu como um animal para cima de Zahner,
derrubando-o no chão com um chute firme e uma chave de braço. O cotovelo de Gary
atingia um ângulo não natural, enquanto Lola o forçava a se manterajoelhado. Tomou
a arma do agente queurrava em fúria.
Luckas pediu a Brout que olhasse os arredores para ver se os tiros não teriam
atraído atenção, mas Bessie estava lembrando que o lugar todo tinha isolamento
acústico por causa do som do DJ. Lucky pediu que ainda assim ela se certificasse,
enquanto Lola fazia o que só poderia ser descrito como desmontar toda a arma de
Gary com uma única mão, até não restarem mais que balas e pedaços de metal
espalhados pelo chão.
– Se acalmou? – Lola provocou.
– Assassina! – berrou e ela lhe deu um murro no nariz fazendo sangue escorrer. Eu
parei de respirar.
– E agora? – perguntou mais uma vez.
– Zahner, ela está com a gente! – Delvak se abaixou, imaginando que olhar nos
olhos de Gareth fosse uma atitude capaz de acalmá-lo. Não tenho certeza se
funcionou. – Ela vai roubar o cofre do Kulik para a gente. O plano não funciona sem
isso.
– Ela está no topo da lista de pessoas mais procuradas da Interpol. Você sabia disso?
– Gary falava depressa, movendo o braço, tentando fugir da imobilização à qual Lola
o tinha submetido.
– Não está, Gary – Delvak falou.
– Não está porque ela é problema demais! – Sua fúria lhe estremecia todo o corpo
como se ele tivesse perdido o controle dos músculos. – Alta espionagem
governamental! A lista na qual o nome dela consta não pode sequer ser aberta ao
público!
Lola sorriu como se ele lhe tivesse feito um elogio.
– Isso não nos importa. – Delvak virou-se para Brout, recebendo a confirmação de
que estava tudo certo. – Só nos importa que ela rouba coisas muito bem.
– E sabe o que ela cobra? Sabe como ela cobra?
– Já temos um acordo, Gary, não precisa se preocupar.
– E posso saber qual é? – urrou.
– Promete se comportar se Lola tesoltar?
Zahner trincou os dentes, forçando umgrito rouco para dentro do corpo.
Eu estava agarrada à camisa de Rykere sequer tinha percebido.
– Isso foi um sim? – Delvak esperou enquanto Zahner se manteve em silêncio.Depois
acenou para Lola indicando que o soltasse.
– Eu quero ouvir ele dizer “sim” – eladisse.
– Vá se foder! – rosnou.
– Gary, você não está colaborando! – Delvak estava perdendo a paciência.
Estávamos todos perdendo a paciência. Menos Lola. Lola parecia poder continuar ali
por dias.
– Sim, está bem? Merda! Eu espero vocês explicarem antes de matá-la.
Lola o soltou e não deu sequer um único passo para trás. Ele se levantou, forçando
o tórax contra o corpo esguio da morena. Tinha os lábios apertados emuma única linha
branca, e isso parecia ser a única coisa que o impedia de mordê-la. Até rasgar sua
carne ou até ficar duro. Eu não saberia dizer qual dos dois. Havia fogo nos olhos dele.
Umfogo que ódio puro não consegue se sustentar sozinho.
– Lola trabalhou para Hideki. Também já me conhece de… outros lugares –
explicou.
– Eu não confio em você, nem no seu amigo japonês, Delvak. Se essas são as duas
credenciais dela, a coisa não está boa.
– Cale-se, Zahner! Precisamos de Lola e vocês vão se comportar.
– Eu sempre me comporto. – Ela sorriu, ainda a milímetros dele. Não era apenas
que ela parecesse não ter medo da morte. Era como se ela tivesse certeza que a morte
tinha medo dela.
– Lola, por favor. – Sven soltou os ombros como um adulto implorando a duas
crianças que, por favor, parassem de brigar por bobagens. – Precisamos dela e
precisamos de você – continuou.
– Então, comportem-se como adultos e, quando tudo isso acabar, vocês retomam seja
lá qual for o problema que tinham antes.
– Quando isso acabar, vou te levar presa de volta pra Interpol – decidiu.
– Ah, achei que eles tinham te demitido. – Uma piscadela e Zahner estava
perdendo a razão de novo.
– Ora, mas que inferno! – Delvak se enfiou no meio dos dois. – Vocês não precisam
trabalhar um do lado do outro, mas vão precisar trabalhar juntos! – exclamou com
veemência e voltou-se para o inspetor. – Zahner, você quer seuemprego e credibilidade
de volta?
Entendi que Sven imaginasse que aquela era uma boa pergunta para incentivá-lo.
Mas nos olhos de Gary, a gente podia ver que ele não tinha certeza se preferia limpar o
próprio nome ou se lambuzar no sangue de Lola.
– E Lola, você não quer o dinheiro docofre?
– Foi isso que você prometeu pra ela?
– Zahner avançou para Delvak. – Esse dinheiro precisa ser retido como evidência.
Lola riu como se tivesse escutadouma piada particularmente engraçada.
– Está rindo da justiça. – Abanou asmãos. – Claro.
– Você chama de justiça, eu chamo deenganação de ignorantes.
– Você cala a boca, sua criminosa.
– Aposto que você está doido para vir calar. – Havia sensualidade no seu tom e isso
pareceu irritar Gary mais do que qualquer ameaça.
– Zahner… – Agora era Lexa quem seenvolvia. – Seja razoável.
– ELA TENTOU ME MATAR!
Lola revirou os olhos como se estivesse sem paciência para esse argumento
específico.
– E roubou uma coisa muito importante – acrescentou, com a boca cheia de
angústia como se nenhum dos presentes fosse capaz de compreender.
– É um transmissor de sinal tão potente que pode influenciar em determinadas
características climáticase até causar algumas catástrofes – ela explicou rapidamente.
– ISSO É INFORMAÇÃO CONFIDENCIAL!
– Ele queria, mas eu peguei e agora ele não consegue lidar com a frustração.
– CALA A BOCA!
Sven se sentou, esfregando as têmporas em uma evidente desistência.
– Fique calminho, Gar. – Lola expirou. – Sei que você só late e não morde, mas
não precisa se humilhar na frente dos seus amigos.
– Criminosa! Você traiu minha equipeinteira e nos deixou lá para morrer!
– Nunca traí ninguém. Eu nunca estivecom vocês, o que é bem diferente.
– Fui condenado a trabalho burocrático pelo resto da minha vida depois da sua
brincadeira!
– Bem feito. – Acenou. – Não é muito bom em seu trabalho, Gar. Se fosse, teria
notado a maníaca infiltrada na sua equipe usando um nome falso. – Piscou um olho.
– Vou te enfiar na cadeia e vou pegara Harpa de volta.
– Se pequenas mentiras assim te ajudam a dormir melhor à noite, eu não ligo.
– Sua mau-caráter do inferno. Nosdeixou lá para morrer.
– Eu deixei um revólver com você! – exclamou, indignada. – Se tivesse te deixado
para morrer, estaria morto agora.
– Vou te enfiar na cadeia. Vai apodrecer onde você merece.
– Ai, docinho. – Revirou os olhos. – A gente jogou e eu ganhei. Se quiser jogar de
novo, a gente joga. Mas precisa superar.
– Não vou trabalhar com você. Apanhe os pedaços da minha arma do chão, sua
vagabunda, e me devolva ela inteira. E depois volte pro buraco de lodo de onde você
saiu. Não preciso de você para…
Observei Lola revirar os olhos uma última vez antes de puxar Gary pela gola da
camisa. Passou a língua longamente pela boca dele, fazendo-o calar a boca. Zahner
engoliu em seco, a expressão perdida entre indignação e vontade de lambê-la de volta.
– Yuri Kulik – ela disse com sua voz suave e definitiva. – Você me odeia e pode me
pegar agora ou não. E se nós conhecemos seu histórico, docinho, não vai me pegar –
lembrou. – Mas pode pegar Kulik. Pode pegar Kulik essa semana. Depois, a gente
zera tudo e você vem atrás de mim de novo. – Levantou um ombro. – Peixe grande
como a máfia russa e quem sabe? Pode ser até que te tirem da burocracia e te
coloquem de volta em campo.
– Não vai me convencer – resmungou,com os dentes semicerrados.
– Não seja ridículo, Gar – ela sorriu.
– Já convenci.

Sven passou boa parte do dia falando apressadamente ao telefone com um milhão
de pessoas diferentes. Zahner parecia ter sido submetido a um feitiço perverso que o
esculpira em pedra, e elepermaneceu sentado em uma cadeira, com o corpo rígido e os
lábios travados. O olhar vidrado no horizonte ou em qualquer coisa que não fosse
Lola.
A atitude parecia exigir toda sua forçae ninguém o perturbou por isso.
Ninguém a não ser, é claro, a própria Lola.
Ela posicionou uma cadeira exatamente ao lado da dele, puxou assuntos que
mesmo à distância era certo que o incomodavam e, em um momento repleto de
adrenalina, arriscou-se a acariciar seus cabelos. O que foi respondido com um tapa
forte de um Zahner que se virou na direção dela, perdendo o controle e precisando ser
apartado por quase todos os presentes.
O resto de nós se sentou a uma distância segura e só não fez pipoca porque não
havia milho.
Era interessante como Zahner sempre tinha aparentado ser uma figura forte,
experiente e racional e ali, ao lado de sua velha conhecida, parecia um adolescente
perdido que puxa as trançasda coleguinha para não precisar pegar na sua mão.
Avaliando a conduta dos dois, acabei por perceber que nunca tinha atentado
verdadeiramente para a idade de Zahner. Ele era o agente da Interpol que andava
armado e sabia lutar alguma coisa. E, principalmente perto de nós, grupo de pessoas
insanas que aposta a virgindadedos outros, ele era um adulto.
Mas a verdade é que não deveria ter mais de 30 anos. Mesmo com as rugas de
preocupação, sua expressão não passava dos 27, talvez 28. Seus olhos azuis eram
escuros como se alguém tivesse jogado um bocado de escuridão na sua íris, os traços
firmes, o corpo largo esculpido em músculos excepcionalmente bem treinados, os
cabelos que subiam como um topete mal-educado apenas para cair logo em seguida
sob o peso dos fios lisos. Ele era bem bonito quando não estava carrancudo. E era
sempre charmoso, envolto em seu ar de perigo. Não que seu charme em algum
momento houvesse me atingido, mas eu não ignorava sua existência.
– Está se divertindo? – Ryker me empurrou com o ombro para indicar a dupla
composta pelo policialconcentrado e pela criminosa irritante.
– Ah, mas é claro! É relaxante assistir a uma situação de tensão sexual que não me
envolve. É bem raro poder aproveitar uma dessas.
Ele se afastou um pouco e parecia orgulhoso.
– Olhe para você! Identificando uma situação de tensão sexual!
Balancei a cabeça.
– Não é mérito algum, Ryk. Esses dois estão praticamente berrando um “me fode”
na cara do outro.
– Será que a gente estava assim também? – divertiu-se. – No começo? Quando você
queria morrer virgem antesde deixar eu te pegar? Será que todomundo que olhava para
a gente achava que a gente estava gritando um “me fode” para o outro?
– Eu estava – admiti com simplicidade e ele entalou com a própria gargalhada.
– Não vou nem tentar mentir. Mas não sei se alguémpercebeu.
– Todo mundo percebeu. – Lucy suspirou e percebi que nossa conversa era
pública.
– Todo mundo – Joanie concordou.
– Algum de vocês percebeu e contou para os outros – reclamei. – É isso que deve
ter acontecido, seu bando de fofoqueiros.
O clube inteiro me encarou com descrença.
– Sério? – pedi.
– “Eu não quero perder minha virgindade com o Ryker”. – Tim começou a fazer
uma interpretação aguda de minha voz que me assustou pela precisão. – “Tenho medo
que ele destrua meu coração” – terminou seu monólogo com a mais épica revirada de
olhos.
– Fala sério, bebê – Lucy riu. – Nem você acreditava nessa sua ladainha.
– Eu? E por que ninguém fala do Ryker? – Apontei. – Ele disse que eu ia me
apaixonar antes dele e mimimi e que queria ficar longe por causa disso.
– Vocês lembram que ela quase perdeu a virgindade com o Devon? – Joanie
apontou e estavam todos rindo, indicando que minha tentativa de reverter o jogo tinha
falhado severamente.
– Ei! Qual o problema? – Devon abriu os braços em sinal de indignação.
– E o Allender! – Skye lembrou. – Poxa, Mina, bem que você podia ficar virgem de
novo, hein? Foi tão divertido!
– Só está dizendo isso porque ganhouo dinheiro. – Lucy fez uma careta.
– Skye! – Esfreguei as têmporas. – Oque ainda está fazendo aqui?
– Não é culpa minha se vocês não sabem fazer apostas inteligentes – ignorou.
– A gente pode parar de conversarsobre minha virgindade? – pedi alto.
– Spider me contou que ela apostou em você pra tirar a virgindade dela, Lucy. –
Mal Nila fechou a boca e todos estavam repetindo em quem tinham apostado e eu
percebi que meu pedido tinha sido completamente ignorado. De novo.
– Obrigada. – Sorri, sarcástica, para ninguém.
– Ei! – Joanie bateu palmas. – A gente podia apostar alguma outra virgindade da
Mina, que tal? – Seus olhos brilharam e a animação se espalhou pelosalão.
– Não! – reclamei. – Não, não podem! Vocês são pessoas horríveis! Ryker,
manda eles pararem!
Ryker tinha os lábios espremidos emdúvida.
– Se dessa vez me falarem antes,quero participar da aposta – resolveu.
– STROME! – rosnei.
– Amor, a gente combina e ganha o dinheiro! – sussurrou, indiscreto.
– Anal? – o resto da boate ainda discutia.
– Será que ela já não experimentou isso?
Silêncio absoluto se fez ouvir quando todos pararam para me observar enquanto
consideravam. Eu engoli em seco e eles se desfizeram em uma risadade escárnio.
– Não.
– É. De jeito nenhum.
– A gente pode apostar o “quando”. Ou vocês querem apostar o “com quem”?
– Ei! – Ryker reclamou.
– Ah! Agora você reclama? – Desferium tapa no joelho dele.
– Mas o Ryker não pode participar, não é justo – Tim lembrou.
– Até parece que é ele quem vai decidir isso… – Devon ironizou.
– Eu odeio todos vocês – constatei. Eles estavam rindo e Ryker me abraçou,
beijando minha bochecha.
– Estou tentando resolver o problemada agência de turismo – Sven anunciou.
– Ainda não consegui falar com Oliver… É o cara que trabalha comigo. Vamos
precisar dele para essa parte do plano.
– Essa é a parte na qual a gente entra,não é?
– Exatamente. Agora só falta elaboraro jeito certo para convencer o investidordele a
fazer o dinheiro desaparecer. Depois, Lola rouba o cofre e o nosso problema acaba.
– Pode considerar a parte do cofrefeita. – Lola sorriu.
– Vamos considerá-la feita quandoestiver feita – Zahner rosnou.
– E como vamos fazer isso? Vai dar em cima do investidor também, Delvak?
– Ryker coçou a cabeça.
– Não vai ser tão difícil. Mas também não vai ser tão fácil. Primeiro, preciso de um
motivo para falar com o Allendere só depois…
– Allender? – Imaginei que tinha falado sozinha, mas o som saiu tão alto que
percebi que, ao meu redor, quase todos os meus amigos tinham ecoado a minha
surpresa.
– É. Cashel Allender – Delvak explicou. – A Allender Global é a investidora que
faz as aplicações financeiras do Kulik depois que o dinheiro é lavado na agência.
– Será que ele sabe disso? O senhor Allender? – Luckas levantou-se. – Se ele
soubesse que era ilegal, ele…
– Ele não liga. – Lexa levantou um ombro. – Allender sabe muito bem o que está
fazendo. A linha da ética dele é bemnebulosa.
– E por “nebulosa”, ela quer dizer“inexistente” – Sven concluiu.
– É, e… – Comecei a falar antes mesmo de decidir como ia terminar. – Ele
coleciona… – Engoli em seco. – Sexo. E mulheres… Sei que parece loucura e não
culpo vocês se nãoacreditarem, mas ele…
– Confie em mim, eu acredito – Delvak murmurou, sombrio.
– Vocês o conhecem? – Soube que o tema ainda era sensível para Ryker pelo modo
arredio como deu um passo na direção de Sven. Como se apenas o nome do homem
pudesse lhe colocar emmodo de alerta.
– Sim, e eu sei como eu o conheço. – Delvak estreitou os olhos, confuso. – Mas
como vocês o conhecem?
– Uma longa história… – Ryker expirou. – A versão mais curta é que ele queria
transar com a Mina. – Torceu o nariz. – E comprar o clube do Lucky.
O queixo de Sven caiu em um sorriso.
– Conte-me mais.
– Não, Delvak! – Ryker gesticulou de forma definitiva. – Não vou deixar Mina perto
dele, arranje outro plano.
– Não, não. – Balançou a cabeça, sem perder o sorriso. – Nada disso, garoto. É
sobre a parte do comprar o clube que eu quero saber.
– Ele estava interessado em comprar o estabelecimento – Luckas explicou. – Acho
que tem outros negócios por aqui.Eu fiquei bem sem opções, mas ainda estou tentando
resistir.
Delvak tinha um sorriso majestosamente atravessado pelo rosto e, pela expressão
no rosto de Lexa, ela deveria entender exatamente qual o plano traçado por ele.
– Onde acha que ele está? Em casa? –perguntou, à meia voz, para Lexa.
– A convenção em Düsseldorf é essa semana. Ele deve estar lá.
Sven ficou em silêncio por um instante antes de bater palmas, com empolgação: –
Luckas, preciso que ligue para Allender. Preciso que o faça agora. Diga a ele que
recebeu uma oferta melhor que a dele e que vai fechar a venda. Diga que vai fazer
isso essa noite. E… – Ele passou a língua pelo sorriso como se ele mesmo soubesse o
quanto é delicioso. – Essa parte é a mais importante – avisou. – Não deixe de
mencionar que o comprador interessadosou eu.
– E ele vai vir só porque ouviu seu nome? – Ao contrário de Delvak, Ryker não
parecia confiante.
– Vai – concluiu. – Ele vai vir correndo.

O filho da puta de um cacete mole doSven Delvak.


Ninguém mais.
Ninguém menos.
Meses querendo aquela porra daqueleponto.
Um maldito clube de merda que mal valia os impostos que pagava, mas cuja
localização era um luxo. Provavelmente o único motivo pelo qual o lugar não tinha
sido possuído por teias de aranha: a localização era excelente e tinha garantido uma
clientela fiel.
E aquele caralho daqueles funcionários que trabalhavam como uma família. Alguém
precisava estapear aquela gente e lembrá-los que, em um mundo capitalista, se
trabalha por lucro.Não por satisfação pessoal nem para ajudar os amiguinhos.
Mas não importava. Rendesse pouco ou muito dinheiro, os funcionários
continuavam voltando. As contas quase tinham engolido o dono da espelunca, mas
em algumas semanas o Show da Tímida tinha revivido suas esperanças e lhe
conferido um novo fôlego.
A puta da Tímida.
Ficou nua e quase entrou na minha coleção.
Até o meu quarto ser invadido. Eu devia ter chamado a polícia.
Devia ter processado toda aquela gente.
Talvez eu ainda tivesse perdido o pudor que eu tinha pela minha credibilidade no
mundo financeiro, assumido para o mundo que tipo de artigo eu colecionava e
processado toda aquela gente.
Mas nada disso tinha se concretizado.Tudo que eu pude fazer para me vingar tinha
sido colocar o dedo emcima do clube e esperar que eles sufocassem. Mesmo depois
que umassassinato aconteceu no lugar e a máfiarussa se envolveu…ainda assim o
merda do Luckas continuou sobrevivendo.
Sobreviveu tempo suficiente para encontrar outro merda.
Um maior ainda.
Contudo, se a Willex Adult Entertainment queria entrar no meu caminho, eu ia
fazer Delvak se arrepender. Mostrar para ele que, presidente de uma empresa ou não,
ele precisa aprender a não entrar no meu caminho.
Mal meu motorista tinha freado o carro, eu já estava com a porta aberta.
Lexa Strome estava conversando com um homem na calçada. Virou-se para o
barulho do freio do meu carro e firmou o olhar em mim. Percebi sua hesitação e
angústia no momento em que me viu. O modo acelerado como cumprimentou o
homem oriental com quem falava chamou minha atenção.
Estava querendo se livrar dele. Senti um sorriso nos meus lábios.Lexa Strome.
Uma das mulheres mais lindas que já conhecera na vida e uma das mais deliciosas
que já tive o pleno prazer de experimentar.
Talvez a peça mais exuberante da minha coleção. Uma pena que ela não fosse
namorada do Delvak quando a levei para a cama. Teria sido uma satisfação e um item
adicional para possuir. No entanto, até aquele dia, Delvak só tinha estado preso a uma
namorada em toda sua vida… e não tinha sido Lexa.
Paciência. Foi um belo prêmio ainda assim.
A noite mais cara da minha vida.E eu pagaria de novo.
Cada centavo.
Mas agora ela não estava linda e nua na minha cama.
Ela estava preocupada querendo se livrar de alguém antes que eu pudesse
descobrir quem era.
– Cash. – Sorriu, me oferecendo os braços abertos. Tinha praticamente enfiado o
homem para dentro do carro.
Eu a abracei, com iguais quantidades de gula e falsidade, o queixo em seus cabelos,
e observei o carro que se afastava. O motor morreu por alguns segundos ainda perto
de nós e eudecorei a placa com cuidado.
– Que coincidência. – Beijou minha bochecha. – Venha! Vamos tomar alguma coisa.
– Olhou ao redor, à procura de umtáxi. – Não se pode ignorar uma coincidência assim.
Venha me contar as novidades.
Não, querida. Não vai me enganar.
– Quem era seu amigo?
– Ninguém importante. – Torceu o nariz, abanando a mão.
– Tenho certeza – suspirei. – Se me dálicença.
– Achei que íamos procurar um lugarpara conversar.
– Que tal lá dentro? – Indiquei o clube Lucky’s com um sorriso. – Sven pode se
juntar a nós. – Sorri com simplicidade, me divertindo ao vê-la perdida diante dos meus
conhecimentos.
Sua expressão mudou completamenteenquanto me seguia.
Delvak se levantou, atacando os botões do paletó, ao me ver.
– Eu bem que senti uma pressão. – Gesticulou. – Como se a gravidade tivesse
mudado – provocou. – Acho que acontece quando uma pessoa do seu porte entra em
um ambiente.
– Ouvi dizer que queria comprar minha boate, Sven.
– Ouvi dizer que o dono era o Luckas,Cash. Mas tenho certeza que podemos acertar
uma sociedade.
Eu ri até tossir.
– Achei que não estava interessado em uma parceria. – Balancei o indicador,
repreendendo seu desespero.
– O Negligê não é minha responsabilidade, Allender. Sabe disso. Se quiser
parceria com outra parte da Willex, podemos conversar. Para o Negligê, você precisa
conversar com o Oliver. Mas é uma pena que você comeua namorada dele. – Torceu o
nariz, olhando para Lexa. – Acho que ele não vai ser muito amigável.
– O que quer que ele tenha te oferecido. – Olhei para Luckas. – Eu pago cinco
vezes mais. É suficiente?
Luckas engoliu em seco e gaguejou.
– Imaginei que você diria isso. – Nãoo deixei concluir. – E já trouxe os contratos.
– Eu ofereci 100 milhões de euros.
Senti a fúria nos músculos do meu rosto antes de deixá-la transparecer na minha
voz.
– Se você acha que vai me enganar para pagar meio bilhão por esse buraco, perdeu
o juízo, Delvak.
– Não foi isso que te ofereci?
Luckas respirou fundo. Eu o conhecia bem o suficiente para perceber que ele tinha
sentido o cheiro de vantagem e nãoia abandonar a possibilidade.
– Na verdade, estávamos conversando sobre 150. – Levantou o ombro.
– É verdade. – Delvak acenou. – Essedaqui é bom em negociações.
Lexa estava sorrindo atrás de mim e eu quis estrangular todos eles.
– Seu filho da puta. Estou negociando para conseguir esse lugar há eras. O que você
fez, Delvak? Conquistou o homem com seu charme? Pagou um boquete para ele? Ou
mandou sua puta fazer isso por você? – indiquei Lexa.
O pomo de Adão de Delvak se moveu.
Lexa.
O ponto fraco dele.
A ferida que sempre o tirava do sérioe acalmava meu ego.
Eu tinha fodido ela.Ele não.
Esperei que ele esbravejasse eperdesse a razão, mas, ao invés disso…
– Trouxe uma caneta junto ao seu contrato, Cash? – Ele bateu nos bolsos
procurando o item necessário. – Porque eu também trouxe o meu. – Balançou o papel
no ar antes de entregá-lo a Luckas.
– Mas parece que esqueci a caneta.
– Vá se foder.
– Eu tenho uma caneta – Luckas avisou.
– Ah, ótimo! – Ele sorriu e agradeceu.
– Parece que não precisamos de você, então, Cash.
O ódio me consumiu inteiro, me deixando cego de fúria enquanto dava as costas
para aquela gente.

– Funcionou?
Zahner tinha os braços eternamente cruzados, uma algema biológica que o impedia
de avançar em Lola.
Delvak fitou Lexa, buscando confirmação.
– Funcionou.
– Tem certeza?
– Tenho. Ele estava doido para saber quem era o Hideki, tenho certeza que anotou
a placa.
– Pedi para o motorista estancar o carro. Qualquer coisa para lhe dar mais alguns
segundos para decorar.
– Longe de mim ser pessimista. – Eu conhecia o nível de nervosismo de Ryker pelo
modo como ele apertava minha mão. Era suave e carinhoso quando queria me
acalmar. Porém, quando ele imprensava meus dedos como se quisesse quebrá-los, é
porque estava em pânico. – Vocês irritaram o cara, mas o que garante que ele vai
partir em uma Cruzada de vingança?
Delvak era o oposto de Ryker e exalava uma tranquilidade budista, deixando claro
que ele acreditava que aquela seria a parte mais fácil de todo o plano.
– Cashel Allender é um adolescente.
– Tirou o paletó caro que tinha vestido exclusivamente para sua exibição diante do
velho amigo. – Ele só pensa em duas coisas: na próxima conquista e em como vai se
gabar dela. É um garoto mimado que considera a vida toda como se fosse apenas um
jogo. Para ser sincero, às vezes eu até gosto dele. – Alongou o corpo na cadeira,
esticando a coluna e esfregando os joelhos.
– Gosta dele? – Ryker parecia ter perdido um pouco da admiração que tinha por
Sven.
– Quando ele não está chamando sua irmã de… – rosnou, torcendo o nariz para
Lexa e engolindo a raiva. – Porque, quando ele menciona você... – manteve os olhos
nela – ...tenho vontade de abrir a barriga dele com uma navalha cega e enforcá-lo com
suas tripas. – Girou o gelo no copo de uísque sem elevar o tomde voz.
– Simpatizo com a ideia. – Ryker sentou-se ao seu lado, olhando para mim, e eu
soube que a admiração voltara.
– Mas no dia a dia, ele é só umacriança. Está sempre buscando se livrar do tédio, o
que faz dele uma companhia muito divertida. E sua coleção de sexo faz dele um bom
cliente.
– Então, vocês sabem dessa parte?
– Se sabem? – Lexa levantou uma sobrancelha em desaprovação. – Foram eles
que deram a ideia.
– Eles?
– Sven e Oliver – explicou, amarrando o longo cabelo loiro em um nó. – Deram a
sugestão a ele como uma brincadeira idiota que ele levou a sério demais.
– Porque ainda não passou da puberdade – Sven ironizou.
– Você também não – Lexa devolveu.
– E não sai por aí fazendo propostas indecentes para… – ela hesitou quando percebeu
a falha no próprio raciocínio.
– Nada não – desistiu. – Esquece.
– Será que a gente pode voltar ao problema principal? – Nila estalou os dedos,
trazendo-nos de volta à realidade.
– Cash acha que Lex tentou esconder Hideki dele. Acha que ela fez isso em meu
benefício. Ele quer ganhar de mim, então vai descobrir quem Hideki é, vai conversar
com ele e vai tentar um acordo melhor que o meu. Para nossa satisfação, Hideki está
sabendo de tudo e vai fazer exatamente o acordo que nós queremos que ele faça. Um
acordo bem lindo que vai foder os investimentos do Kulik.
– Ótimo. Então só falta a agência de viagens e o cofre.
– Já disse que o cofre não vai ser problema. – Lola se manifestou e Zahner tremeu
inteiro.
– Por que você não deixa para falar só quando alguém te perguntar alguma coisa?
– Porque, ao contrário de você,ninguém manda em mim. – Abriu uma barrinha de
cereais que trazia no bolso e a mastigou com alegria. Zahner não a encarava, o que
parecia diverti-la imensamente.
– Prender Yuri Kulik – Gary murmurou para si mesmo como um mantra. –
Prender Yuri Kulik Prender Yuri Kulik.
– A parte da agência vai ser complicada. Vamos precisar organizar uma festa
insana nessa boate e fazê-la atrair muito sucesso. Vamos precisar vender pacotes
adiantados queinteressem a agência.
– O Show da Tímida? – perguntei, infeliz.
– Obrigado por oferecer, querida. – Delvak segurou meu queixo com seu sorriso
hipnótico. – Mas creio quevocês dois transando no palco não vão ser suficientes para
o que eu planejo.
– Quem falou em transar no palco? – me sobressaltei.
– A gente pode fazer umas coisas diferentes, Sven. – Ryker levantou um ombro. –
Usar uns brinquedos.
– Que brinquedos? – Bati o pé.– Não,não! – Gesticulei.– Nada disso.
– Se acalme, querida. Não seria suficiente, garoto. Vamos precisar trazer uma festa
de gente grande para cá para atrair a atenção necessária.
– Vai ligar para o Oliver? – Lexa quissaber.
– Vou. Preciso coordenar com ele e solicitar que mande um monte de coisaspara cá
e bem rápido. Vai ser um gasto vultoso, mas não tem problema.
Lucy e Nila já estavam planejando a festa que a Willex ia fazer na boate do Luckas.
Por algum motivo, estavam imaginando que a festa seria delas e se divertindo muito
com isso. Ninguém teve coração frio o suficiente paradestruir seus sonhos e lembrá-las
queteriam que trabalhar durante o evento.
Ryker me abraçou e apoiou o queixo no meu ombro.
Estalei um beijo na sua bochecha, fazendo-o sorrir.
– Estou orgulhosa.
Ele apenas enrugou as sobrancelhas em sinal de dúvida.
– De nós! – expliquei. – Estamos encarando a morte de um jeito mais ativo. –
Fechei o punho em uma péssima imitação da força de Lola e ele riu mais alto. – Nada
de se esconder e esperar a sorte nos salvar. Estamos resolvendo.
– É! Acho que dessa vez vai dar certo, hein?
– Não! – exclamei. – Alguma coisa ainda vai dar errado. – Levantei o ombro e ele
não conseguia parar de rir.
– Certeza. Sempre dá.
– E aí, o que a gente vai fazer?
– A gente vai resolver.
– Ah, claro.
– A gente sempre resolve.
Outro beijo na sua bochecha, mas dessa vez ele se virou e prendeu minha boca na
dele. Lambeu meus lábios e mordeu minha pele.
– Se tudo der certo – murmurei com a testa apoiada contra a dele –, daqui a uma
semana, o único problema que tereiserá o desemprego.
– Com suas habilidades de dança sensual, acho que podemos te arranjar alguma
atividade.
– Ou, pelo menos, continuar o Show da Tímida!
– Mina, sinto muito, mas acho que sua timidez não dura muito mais tempo. –
Gargalhou. – Está quase extinta a pobrezinha.
Enfiei o cotovelo nas suas costelas enquanto ele se contorcia, puxando meu queixo
com a mão para mais um beijo.
Era difícil saber qual beijo me agradava mais. Acho que eu preferia aquele beijo
assim: descontraído, entre sorrisos do dia a dia. Um beijo roubado seguido de um
cotovelo enfiado nas costelas. Nossa própria dinâmica de relacionamento. Era nossa.
Funcionava. Ele falava algo para me deixar constrangida, eu o surpreendia com meus
novos conhecimentos, ele apanhava, eu ganhava um beijo.
Era nossa definição. E servia para nós dois.
Servia muito bem.
Mas não serviria para sempre.Pelo menos não daquele jeito.
– Uma hora a gente vai precisar conversar. – Apliquei um selinho rápido nos seus
lábios quando ele deixou o beijo terminar.
– Quer acabar comigo, Bault? – Riu. Mas eu me mantive séria. Ofereci-lhe apenas
um meio sorriso educado.
Não estou brincando, agora, amor.
Precisamos conversar de verdade.
Seu tórax se pressionou contra mim quando ele inspirou profundamente.
– Sobre depois?
– Sobre depois.
– Achei que íamos deixar para fazer isso depois do Kulik. – Raspou as pontas
dos dedos pela minha testa, me libertando do meu próprio cabelo.
– Tenho medo que as coisas aconteçam rápido demais. – Busquei seu corpo,
ansiando pelo apoio dos seus ombros. – Se for assim que vai acabar… não quero ter
que me despedir em poucos segundos, como da outra vez.
– Mina…
– Ryk, a gente não pode se esconder. Preciso ouvir suas verdades e você precisa
ouvir as minhas.
– Mina, tudo está se encaixando. Daqui a poucos dias vamos estar livres do Kulik.
Foi você mesma quem disse que era melhor conversar sem essa sentença de morte
pairando sobre nossascabeças.
– Não precisa ser uma sentença de morte, Ryk. Mas se qualquer coisa der errado…
– O quê? – arriscou, demonstrando confiança em nosso plano.
– A gente precisa que Allender fale com Hideki, que Lola tenha sucesso e que a
festa dê certo. São peças demais. Se a gente perder qualquer uma delas, tudo cai por
terra. Não espero que isso acabe com o Kulik matando nós dois, Ryk. Mas pode
acabar com fugas. De novo. E eu não quero te ouvir suspirar um adeus apressado no
meu ouvido porque a gente não tem tempo para mais nada. Não vou passar por aquilo
de novo.
– Tá bem, tá bem. – Segurou meu rosto entre as mãos. – Então a genteconversa.
Hoje? Depois que todo mundofor embora?
– Outros quinze minutos dehonestidade? – brinquei.
– Acho que vamos precisar de uma boa hora dessa vez. – Experimentamos um tipo
novo de beijo.
Misturado com receio.Eu não gostava desse. Preferia o outro.
Nossas mãos se conservavam entrelaçadas quando Delvak desligou o telefone. Senti
as más notícias em seu rosto antes mesmo que ele falasse.
– Precisamos ir embora. – Despido da arrogância. Desconfiança. Despido das
constantes palavras descaradas.
Delvak parecia uma casca de um homem pequeno e sem rumo. Lexa o segurou pelos
braços, buscando os seus olhos.
– Sven? – ofegou.
– Harrel piorou. – Engoliu em seco.
– O que houve? – Estava tão perdida me desesperando com o medo de Sven que
sequer tenho certeza sobre quem perguntou. Talvez tenha sido eu.
– É o meu chefe. – Um breve sorriso dançou na sua expressão triste, como uma
lembrança saudosa. – Ele não está bem. Esteve internado. – Sua boca estava ressecada
e ele não conseguia pronunciar mais que algumas palavras de cada vez. – Piorou
muito. – Encarou o chão. – Vocês estão bem aqui… vão ficar seguros. Hideki… –
Gesticulou, tentando ordenar o pensamento. – Hideki vai voltar mais tarde. Ele vai
ajudar.
– Seu amigo japonês… – Zahner insistiu. – Se você precisa ir… nós precisamos
saber com quem estamos lidando. – Apoiou o punho na mão, arranhando o próprio
queixo, considerando os fatos. – Ele é Yakuza, não é? – Sua mandíbula estava travada
de ódio. – Seu plano é se livrar da máfia russa entregando o poder para a máfia
japonesa.
– Touchè, detetive – Delvak confirmou, simplesmente.
– Idiota – suspirou. – Substituir uma máfia pela outra não resolve o problema.
– Resolve o problema do Ryker. – Delvak estava seco. Ríspido. Como se a
notícia sobre seu amigo tivesse destruído sua disposição para discutir qualquer outra
coisa. – E não sei sobre qual problema você está se referindo. Mas esse é o problema
que eu vim até aqui resolver.
O silêncio sacro se prolongou até Delvak olhar para Lex mais uma vez.
– Sven… – Ela alisou o braço do empresário e observou Ryker, dividida entre se
despedir de um velho amigo ou ficar para proteger o irmão.
– Está tudo bem, Lexie. – Ryker me abandonou para segurar a mão dela e lhe
oferecer um abraço rápido, mas firme. – A gente se vira sozinho a partir daqui. Vou te
visitar quando isso acabar. – Sorriu e ela acenou, grata.
– Talvez se a gente esperar até Hidekivoltar? – pediu a Delvak.
– A gente precisa ir agora, Lex – murmurou. Suave e dolorido – Oliver acha que
ele não sobrevive a esta noite.
– Onde está o Delvak?
– Ele precisou resolver problemas pessoais. – Zahner assumiu a liderança assim
que Hideki cruzou a porta.
Piscou seus olhos estreitos em desconfiança e escutei as palavras em minha mente.
Ele vai dizer que só lida com Delvak.
– Ele nos contou quem você é. – Zahner adiantou-se como se tivesse antecipado
o mesmo problema que eu. – Nos informou para quem trabalha e qual o plano
completo.
Atrás dele, um de seus seguranças se moveu preparando-se para lutar ou intimidar.
Era mais alto e mais forte que Brout. O cabelo liso cortado muito curto se arrepiava
como uma penugem malcomportada. Seu nariz era enfiado para dentro do rosto e
havia uma pequena cicatriz de queimadura descendo pelo pescoço largo, mantinha os
braços cruzados com as mãos enfiadas nas axilas, a pressão em seu casaco delineava a
arma que ele trazia próxima às costelas e eu notei que talvezsuas mãos não estivessem
próximas às axilas e sim ao coldre. O outro segurança era mais peculiar.
Esguio e baixo, sentou-se em uma das mesas, comendo balinhas coloridas retiradas
de dentro de um saco plástico vermelho com estampas infantis. Seus olhos atentos
deslizavam, alegres e curiosos, sobre todos nós, mas sempre se detiam sobre Lola com
maior nível de sobriedade. Era como se ele tivesse analisado tudo e percebido nela a
única possibilidade real de perigo. Ela lhe devolvia sorrisos e olhares, mas não parecia
nem um pouco preocupada.
Era irônico imaginar que o pior e mais arriscado problema da minha vida deveria
ser só uma terça-feira para Lola. E exatamente por isso era reconfortante tê-la por
perto. Talvez não para Gary, mas para o resto de nós.
– Ele também me contou quem você é
– Hideki continuou, objetivo. – Por que devo acreditar que alguém da Interpol
cooperaria comigo?
– Já suspeitava antes de receber a confirmação e trabalhei com você ainda assim,
não foi?
Hideki olhou para Lola, permanecendo em silêncio.
– Não se preocupe com ele – ela garantiu.
Zahner inspirou fundo como se preferisse que Hideki desconfiasse de sua lealdade
do que tê-la garantida por Lola.
– Senhor Zahner. – O japonês alinhou o blazer. – Preciso da absoluta certeza que
Kulik não terá como reagir quando eu anunciar o prêmio pela sua cabeça.
Engoli em seco.
Esse é o plano.
Nós tiramos o poder de Kulik e Hideki cuida do seu assassinato.
Mesmo que ninguém o matasse, sem dinheiro e com uma recompensa pela sua
morte, ele se tornaria obsoleto. E nada daquilo poderia ser rastreado até mim ou
Ryker. Ele imaginaria que fora tudo obra da máfia japonesa.
Um golpe.
Puro e simplesmente. Delvak merecia os parabéns.
– Se Kulik tiver meios para reagir, a minha tomada da região vai se transformar em
uma guerra de máfias. – Balançou a cabeça. Ele nunca elevava a voz. Sempre
controlado e paciente. – E uma guerra não seria inteligente. Só aceitei participar
porque Delvak me ofertou uma garantia: Kulik saberia que fora tudo um golpe da
Yakuza apenas quando já tivesse perdido tudo. Nem um segundo antes. E agora ele se
foi. Você pode me fornecer a mesma garantia?
Era como nos filmes. Hideki sustentava uma eloquência que fazia comque cada uma
de suas palavras tivessem um peso obscuro causador de arrepios. Não era uma simples
pergunta. Ele queria que Zahner lhe fizesse uma promessa. Uma que, se não fosse
cumprida, traria consequências. E, ao contrário de Kulik, Hideki sabia nossos nomes,
sobrenomes e endereço.
– Posso. Tivemos apenas um contratempo – lembrou.
– Qual?
– A agência de turismo onde Kulik lava dinheiro. Pretendíamos levá-la à falência,
mas esse plano dependia da ajuda de Delvak.
– Para quê?
– Ele ia fazer uma festa.
O segurança magro abriu um sorriso gostoso de balinhas coloridas, divertindo-se
com o plano absurdo. Hideki apenas acenou, incrédulo.
– Só Delvak para planejar derrubar uma máfia com uma festa. A agência não será
um problema – resolveu. – Não posso oferecer algo tão glamouroso quanto sua festa,
mas posso resolver de forma igualmente eficaz.
– Ótimo. – Zahner juntou as mãos. – Então temos um acordo.
– Não comuniquei todos os meus termos ainda, senhor Zahner. Para resolver o
problema da agência, precisarei gastar um bom dinheiro. Preciso pagar alguém para
executar oplano por mim. Não quero minhas digitais nesse problema.
– Porque, se eu não cumprir minha parte do plano, um Kulik ainda poderosovai ser
problema para sua família – Gary concluiu.
– E eu não levo problemas para minhafamília – concordou.
– Tudo bem. Acho que o gasto vai valer a pena, não? Depois de tirar Kulik de
circulação, você será hegemônico.
– Meu acordo com Delvak não incluía isso, senhor Zahner. Não vou pagar por uma
parte do acordo que não concordei. O mais honrado seria você e os seus pagarem pelo
prejuízo.
Gary inspirou profundamente.
O potencial de lucro para Hideki era incontável, mas ele era um negociante. E
qualquer bom negociante veria que ele contava com todo o tempo e espaço paraobter o
melhor acordo possível, enquanto o resto de nós tinha uma arma metafórica apontada
para as cabeças. Nós não tínhamos tempo. Não tínhamosvantagem.
– E de quanto estamos falando? Hideki enfiou as mãos nos bolsos,
olhando para ninguém em particular. Fingia pensar em uma cifra, mas eu tinha certeza
que ele já tinha calculado.
– Delvak me contou o plano. Deve teraproximadamente 2 milhões de euros no cofre
que vocês pretendem roubar. Por aproximadamente 2 milhões de euros, eu resolvo o
problema da agência.
– Você resolve o problema da agênciapor uns 50 mil – Lola reclamou.
– Depende de quem contrataríamos.
– Hideki-san. – Gesticulou. Aquelaera a primeira vez que eu a via irritada.
– Jogue um corpo lá dentro e faça uma denúncia anônima para a polícia. O lugar vai
ficar interditado por semanas e não importa quão incompetente a polícia seja, com
certeza, vai achar algo suspeito.
– Quero algo mais definitivo.
– O dinheiro daquele cofre já me foi prometido.
– Não por mim, senhorita Ox. Eu cumpro apenas as promessas que eu mesmo fiz.
Lola rodou sobre os próprios pés, mordendo o lábio. A sugestão era contrária ao
plano dela e, se ela nãotopasse o roubo, todos nós estaríamos fodidos.
– Eu não vou atrás de você. – Zahner estava esfregando as têmporas, aquela
sugestão exigiu toda sua força de vontade. – Assim que voltar para a Interpol, te dou
uma semana antes de incluir sua presença nos relatórios. Te dou uma semana de
vantagem. Isso pagaos seus serviços?
– Não preciso de vantagem.
– Tire uma semana de férias, Lola! – Berrou com os dentes semicerrados. – Não
seria bom passar uma semana sem medo da polícia te engolir?
– Medo? – ridicularizou. – Se me derseis meses, eu considero.
– Eu te digo em que prisão ele está – decidiu. – E te garanto que não será uma
armadilha.
Eu consegui enxergar as veias no seu pescoço quando ela segurou a respiração.
Estava nervosa. Em pânico.
Pela primeira vez.
– Foi uma armadilha das outras duas vezes que o encontrei, Gar. Não vou confiar
em você dessa vez.
O resto de nós se entreolhou e até o homem das balinhas prendia a respiração para
evitar perder alguma informação.
– Vou com você roubar esse cofre – determinou. – Assim que você me entregar o
dinheiro, eu te digo qual é a prisão. Você conseguiria chegar até ele antes de eu ser
reinstituído na Interpol.
Lola sequer piscava.
– Não vou ter tempo para organizar uma armadilha. Você me dá o dinheiro. Eu te
dou o nome de uma prisão. – Estendeu a mão. – Temos um acordo?
O lábio de Lola tremia quando ela otocou.
– Um acordo, Zahner.

Lola carregou os blocos maciços de notas do cofre para a bolsa escura antes de
guardar os instrumentos que usou para arrombar a segurança em outra bolsa preta.
Eu sabia exatamente o que ela pretendia fazer e me senti até um pouco ofendido
que ela tivesse me considerado estúpido a ponto de cair naquele truque. Ia ser o fim da
noite, ela ia trocar as duas bolsas quase idênticas e me entregar a que contivesse os
instrumentos e não o dinheiro.
– Isso foi fácil – decidi, quando ela fechou o zíper e se virou para trancar o cofre.
Havia apenas uma diferença entre as duas bolsas compridas, uma pequena tarja branca
com a marca da mochila em uma delas. A dos instrumentos. Essa era a que eu
precisaria evitar.
– Diz isso porque eu me livrei de dois deles. – Indicou os três homens caídos no
chão com o queixo. – E você teve quecuidar de um só.
– Está querendo me convencer de quefoi difícil pra você?
– Não. – Sorriu. – Estou querendo dizer que não seria fácil para você. Ainda
amarrei os três e arrombei o cofre enquanto tudo que você fez foi ficar aí parado
sendo rabugento.
– Não ia te deixar vir sozinha.
– Sua preocupação com minha segurança me sensibiliza.
– Não é com sua segurança que estou preocupado – rosnei. – O que vai fazer com
ele depois de tirá-lo da prisão?
– Quem disse que vou tirá-lo da prisão?
– Vai precisar, não? Para...
– Shh. – Levou os dedos à boca. – Ouviu isso? – Alinhou o ouvido em uma das
direções e eu me virei para verificar. Eu sabia exatamente o que ela estava fazendo e
aceitei participar dojogo.
– Vamos sair daqui logo. O contador vai voltar para casa a qualquer instante.
Troca feita.
Trocou as duas bolsas quando eu não estava olhando.
Boa garota.
Levei a mão às duas mochilas, mas fuiimpedido pelo toque de metal na minha testa.
Lola apontava sua arma para minha cabeça.
– O nome da prisão, Gar – solicitou. O barulho do lado de fora ficou mais alto,
chamando minha atenção. – É a polícia – explicou. – Denúncia anônima. Estão vindo
buscar o ex-agente da Interpol que desapareceu sequestrando duas testemunhas. Não
facilite a vida deles – sugeriu, maldita, e eu quis enforcá-la. – Me diga o nome da
prisãoe eu te deixo ir. Talvez até te deixe levar o dinheiro.
Encarei seus olhos escuros.
– 2 a 0 pra você, hein?
– Eu sou boa assim. – Não havia alegria em seu rosto. – A prisão, Zahner.
– Fizemos um acordo, Ox. O acordo não incluía polícia ou arma. Só dinheiro em
troca de um nome.
– A polícia e a arma são para garantirque você vai cumprir sua parte.
– E o que me garante que você vai cumprir a sua?
Estreitou os olhos, pensando por um minuto.
– AQUI EM CIMA! – gritou, antes de se voltar para mim. – Que escolha você tem?
Senti meu rosto inteiro se espremer em uma careta de fúria.
– Calabouços de Domokos – menti.
– Já procurei lá.
– Não procurou bem o suficiente – rosnei, colérico.
Passos do outro lado da porta fizeram-na hesitar. Um único segundo. Agarrei-a pela
cintura e arremessei-a contra os policiais. Busquei a bolsa sem a tarja branca em um
instinto cego e me joguei pela janela por onde tínhamos entrado, deixando Lola para
trás edesaparecendo na noite.
– Acha que eles vão se matar? –Sentei na borda do palco ao lado de Ryker, depois
que todos se foram.
– Acho mais provável eles abandonarem o plano para ficarem nus.
– Na casa de um estranho? – Torci o nariz.
– Qual o problema? Nunca transou nacasa de um estranho?
– Todas as vezes que transei foram com você, Ryker. – Revirei os olhos e ele abriu
um imenso sorriso de satisfação.
– Precisamos mudar isso. – Lambeu o sorriso. – Você não ter transado na casa de
um estranho – explicou, muito rápido.
– Não a parte de só ter transado comigo.
– Tem algum lugar em mente? – Ri, deixando ele me beijar. A melhor sensação do
mundo: eu sempre detestei a temática sexo em qualquer outro contexto. Menos com
Ryk. Com ele, sexo era um de meus assuntos favoritos.
– Na casa do Devon ia ser genial!
– Ainda não sei qual o problema entrevocês dois.
– Sabe de uma parte.
– Ficou com a mulher dele?
– Fiquei.
– Ryker! – reclamei, dando um tapa no seu ombro.
– Não é como você está pensando! Não foi uma traição. Pelo menos não da minha
parte.
– Não consigo imaginar qualquer cenário em que isso seja possível – recriminei. –
Tem que pedir desculpas.
– Não vou pedir desculpas.
– Ryker! – reclamei de novo e ele segurou meu rosto com as mãos.
– Você também fica vermelha quando fica irritada. – Raspou a língua no meu
queixo, começando a se desfazer ao meuredor. – Tão linda.
– Não me engana! – Seus dedos escalaram a região do meu joelho ao meu quadril,
desviando da rota para desbravar entre minhas pernas e eu estava amolecendo.
– Com quantas mulheres casadas você acha que o Devon já ficou? – defendeu- se. –
Faz parte da profissão. Uma cliente te contrata e você não pergunta estado civil. Você
só diz quanto cobra e ela dizse aceita ou não.
Engoli em seco, sentindo minha vagina ressecar.
Era aquela realidade tão óbvia que você nunca para e se questiona. O céu é azul, a
grama é verde. Você só aceita. Nunca para um momento no seu dia para olhar e dizer
“Nossa, é mesmo! Como agrama é verde!”.
Ryker era um garoto de programa. Eu sempre soube disso.
Desde o primeiro segundo em que nosconhecemos.
Então, eu me apaixonei e ele foi meue nunca parei para considerar.
Eu o amava, e o trabalho dele nuncame impediria de amá-lo.
Desde que fosse no passado. Mas... e se fosse no presente?
Há quanto tempo ele era garoto de programa? Com quantas mulheres dormiu?
Tinha clientes regulares? Será que alguma delas já se apaixonou por ele? Será que ele
se apaixonou por alguma delas? Algum marido, namorado, noivo… já descobriu?
Algum já o agrediu? Será que ele já tinha sido preso por causa de sua profissão? Será
que tinha algum país em que ele não podia mais entrar? Ele tinha vontade de trabalhar
com outra coisa? Ele sempre pareceu tão feliz sendo stripper… sendo garoto de
programa… será que estava em seus planos exercer outra atividade? E se não estivesse?
Ele passaria suas noites na rua conferindo prazer a mulheres casadas enquanto eu
esperava que ele voltasse para me dar prazer?
Eu ainda o amaria nessas condições?
– A mulher do Devon te contratou. – Não era uma pergunta.
– Devon a traiu – explicou. – O que é um feito bem grande se você considerar que a
porra do cara já era um garoto de programa. Ele trabalhava com isso e a mulher dele
sempre soube e aceitou.
Eu estava sentindo uma fraqueza nas pernas.
Era possível, então… Estava na realidade de Ryker que uma mulher aceitasse estar
com um garoto de programa. Ele esperava que eu aceitasse também? Seria só
preconceito meu? Ou era algo que eu realmente não conseguiria suportar?
– Mas o Devon foi e ficou com uma das amigas dela enquanto ela estava viajando
a negócios. Ela descobriu depois. A amiga tirou uma foto e contoupra ela.
Monique.
Íamos sair para um jantar só de garotas e Monique ia sacar seu celular da bolsa e me
mostrar uma foto de Rykernu beijando suas coxas magras. “Ele me deu um desconto”,
ela iria dizer. “Já marquei de novo, acho que vou fazer dessas experiências algo
semanal”.
Talvez fosse preconceito.Mas eu não iria aguentar.Não ia suportar.
– E como… – Minhas pernas ainda tremiam. – E como ela sabia que a amiga não
era uma cliente? Devon podia estar só trabalhando. – Tentei soar casual, mas cada
palavra saía exasperada.
– Eles tinham um acordo. – Ryker levantou uma sobrancelha. – Ele não podia
trabalhar com pessoas próximas a ela: família, amigos, colegas de trabalho. Desde que
ele soubesse quem eram, lógico. Mas ela sempre fazia questão que soubesse.
– Então ele não estava trabalhando?
– Não. Foi de graça. Só porque ele quis.
– Ela ficou com raiva e se vingou ao te contratar.
– Exatamente.
– Você sabia disso? Quando ela te chamou?
– Imaginei. Mas faz parte da profissão não perguntar, Mina. A vida de um cliente
não é da minha conta. Se a gente tivesse ficado junto naquela primeira noite no hotel,
eu nunca teria te constrangido e perguntado por que você era virgem ou qualquer
detalhe.
– Não, não iria me constranger. – Sorri, amarela. – Fui bem capaz de fazer isso
sozinha, obrigada.
Ele riu. Seu braço encaixava na curva da minha bunda de um jeito estável. Como se
a gente se complementasse como duas peças de um quebra-cabeça. O problema é que
eu ainda não sabia que peça a gente formava.
– Como ele descobriu?
– Ela me chamou na casa deles, em um horário que sabia que ele voltaria. Eu não
fui informado dessa parte e quase levei um murro de graça.
– Devia ter deixado ele te dar ummurro.
– Não, não devia. – Apoiou a testa na minha, me encarando com suavidade. – Não
é assim que funciona, Mina. Se você trabalha em uma loja de revelarfotos…
– Loja de revelar fotos, em que séculovocê vive?
– Se você trabalha em um departamento de tecnologia! – Revirou os olhos. – E vê
nos e-mails de um cara casado que trabalha pra empresa que ele está tendo um caso,
você não denuncia para a mulher dele. Se você é recepcionista de um motel,
psicóloga, terapeuta, médica… e descobre que um paciente ou cliente está tendo um
caso, não cabe a você interferir. Não é sua vida. Não é ético em nenhuma profissão.
Com prostituição também não. Se Devon traiu a mulher dele ou se a mulher dele quis
devolver, não é da minha conta. Elame contratou, me ofereceu mais do que cobro e eu
geralmente aceito trabalhos assim de bom grado.
– Aceita?
– Claro! – Riu, sem entender o sentido da pergunta. – Você não faria o mesmo na
sua área?
– ...ou aceitava? – continuei a pergunta e ele ficou sério assim que compreendeu.
– Mina… não trabalhei com isso desde que nos conhecemos. – Eu sei.
– E a parte do strip você já sabe melhor do que ninguém. – Apontou parao palco.
– Eu sei.
– O único trabalho de sexo que tive nos últimos meses foi transar com você nesse
palco. – Deu dois tapinhas com o indicador.
– Eu sei.
– E por que está agindo como se não soubesse?
– É estranho, Ryker. – Me afastei,cruzando os braços.
– É estranho? O quê? – Ele abriu os braços, estava indignado. – Transar comigo o
tempo todo não foi. Perder a virgindade comigo ou dizer que me amava. E agora, de
repente, é?
– Não foi isso que eu quis dizer.
– Não posso voltar no tempo e mudaro que já fiz, Mina. E, sinceramente, mesmo se
pudesse, não faria isso. A prostituição permitiu que eu me afastasse da minha família
tóxica e criasse a vida que eu queria. Livre. – Sua ênfase na última palavra murchou
meu coração. Eu não queria ser a mulher a cortar suas asas e destruir sua liberdade.
Mas não poderia impedir, se ele optasse por encarar meu pedido desse modo. – Nunca
imaginei que fosseum problema para você.
– Está dizendo que vai continuar trabalhando com isso?
– Estou dizendo que não sei. – Ele parecia igualmente triste e irritado com o rumo
da conversa. – O que espera de mim, Mina? Não vou me tornar um empreendedor
rico e bem-sucedido do dia pra noite. Não tenho qualquer conhecimento específico em
algo que seja rentável. Eu gosto de escrever, certo… mas sequer mostrei para alguém
que não fosse um amigo ou dois. Não fiz uma faculdade de Letras rebuscada como a
minha irmã, eu mal terminei a escola! E não vou aceitar a ajuda dela, porque ela só vai
fingir que meus escritos venderam para me dar dinheiro e eu não quero viver minha
vida dependendo de ninguém desse jeito.
– Então está dizendo que vai continuar a se prostituir? – Minha voz enganchou na
garganta.
– Não! Estou dizendo que não sei – repetiu. – Não sei o que eu sei fazer, Mina.
Não sei como eu poderia sobreviver senão a partir disso.
– Eu posso te ajudar. Quando conseguir um emprego, posso…
– Não quero. Obrigado. – Virou-se decostas.
– Vai ser esse cara, então, Ryker? O cara que não aceita ajuda de mulheres?
– Não tem nada a ver com isso.
– Com o que tem a ver, então? – exclamei, sofrendo.
– Tem a ver comigo! Com o fato de eu ter assistido aos crimes do meu pai contra
minha irmã prescreverem diante da Justiça porque eu dependia dele para sobreviver e
não tinha coragem de encará-lo. Tem a ver com a independência que a gente adquire
quando não precisa de ninguém.
– É bom não depender de ninguém, Ryk. Mas também é muito solitário.
– Está dizendo que não vai querer ficar comigo se eu decidir continuar me
prostituindo?
– Estou dizendo que não sei – tomei suas palavras emprestadas.
Ele acenou, magoado, e o silêncio se prolongou desconfortável.
– Acho que temos nossa resposta. – Seu meio sorriso carregava tanta dor que
sequer devia ter existido. Havia desprezo no seu olhar quando se aproximou de mim,
mas eu não soube se era para mim ou para si mesmo. Estava tão perto, me forçando a
olhar para baixo para evitá-lo, para fugir da sua esfera. Mas ele já estava ali… tão
perto que, ao olhar para baixo, tudo que vi foram nossos corpos se aproximando
lentamente, adestrados a executar aquele movimento. Suas mãos se posicionaram em
meus cotovelos quando sua boca me encontrou. Havia um toque de amargo na nossa
eterna doçura e senti que poderia chorar.
Ryker, em sua eterna compreensão sobre o meu funcionamento, soltou meus lábios
para dedicar sua trilha de beijos aos meus olhos. Um beijo longo em uma das
pálpebras, selinhos curtos nas bochechas descendo o caminho que teria sido
preenchido por lágrimas se ele não estivesse sorrindo contra meu rosto e agarrando
minha bunda.
– O que está fazendo? – Ri.
– Me despedindo. Não era esse seu plano? – Mordeu meu pescoço.
– Não era a isso que estava me referindo.
– Era sim. Você estava se referindo asexo, sua safada.
A gargalhada aliviou a angústia carregada em meus pulmões por todo aquele
assunto desagradável e eu logo tinha me esquecido da profundidade de nossos
problemas mais uma vez.
– Eu quis dizer que a gente deveria conversar. – Enfiei meus cotovelos entre nossos
corpos, tentando salvar o que restava de nosso foco. – Decidir o que a gente vai fazer
depois.
Ele acenou, fingindo compreender, mas sem prestar verdadeira atenção.
– Você quis dizer que queria transar da última vez que a gente se separou, mas não
teve tempo. Não quer arriscar perder a chance de novo. Eu te entendo, amor –
continuou, brincalhão, me fazendo rir em meio a mordidas.
– Você entendeu tudo errado, seu tarado.
– Não quer sexo, então? – Afastou-se, enfiando as mãos no bolso. – Tudo bem. Sem
sexo. – Seu escrutínio analítico caiu sobre mim enquanto ele esperava, com um meio
sorriso perverso e divertido, que eu me desfizesse em inevitável frustração. Que foi,
óbvio, exatamente o que eu fiz.
– Quer mudar de ideia? – provocou, sorrindo.
– Não. – Minhas bochechas pegavam fogo. Estavam envergonhadas pela minha má
atuação e decepcionadas pela minha vagina. – Eu quero conversar. Mas agora… agora
– Sexo faz alguma coisa bizarra com uma parte específica do seu cérebro responsável
pela comunicação. O sangue desce para irrigar suas terminações nervosas e o
metabolismo do cérebro é diminuído a um ritmo digno de uma lesma indecisa. – Ah!
Você me fez esquecer o que eu ia dizer!
Sua mão larga e forte agarrava meu pescoço.
– Então venha aqui que eu te ajudo a lembrar.
O modo com o qual ele movia sua língua macia contra o céu da minha bocame fazia
suspirar e perder a razão. Espremia meu quadril contra a lateral do palco e descia as
mãos até minha cintura.
Antes de Ryker, nunca tinha notado o tesão muito peculiar que eu aparentemente
sentia por bundas masculinas. Uma curva gostosa que serve para prender uma calça
mais folgada e para preencher mãos gulosas. Agarrei suas nádegas com os dedos e
meus lábios com os dentes. O gemido emitido como um miado morno, derretendo
minha boca: – Gostoso… – murmurei.
– Era isso que você esqueceu de dizer? – Ofereceu a língua para que eu mordesse. –
Como pode ter esquecido isso? – divertiu-se, aceitando minhas mordidas intercaladas.
– Ryker, cala a boca.
– E me fode.
– Hum?
– É assim que se diz – explicou, acadêmico. – Cala a boca e me fode. Um
pedaço da frase não faz sentido semo outro.
Sua digressão me irritou.
– Vou te mandar calar a boca de novo.
– E eu só vou calar se você pedir pra eu te foder. – Riu.
Respirei fundo e abri a boca, reunindo coragem para me jogar na sua armadilha.
– Ficou com vergonha, foi? – provocou de novo. – Posso abrir as portas e
convidar o pessoal da rua para assistir. É assim que você gosta, não é? Quando eu faço
você gozar na frente de uma plateia. Vai ter que gemer mais altodessa vez, como…
– Ryker… – Revirei os olhos. – Cala a boca e me fode.
Ele agarrou seio e bunda com invejável apetite, mas não me beijou. Sua boca estava
ocupada demais se abrindo em uma risada interminável de satisfação.
– Minha garota!
– Cala a boca. – Belisquei sua bunda.
– Minha garota safada!
Não sei até que ponto foi de propósito, mas Ryker se dobrou sobre mim, fazendo
com que tropeçássemos ecaímos os dois sobre o palco.
– A gente vai subir para o quarto? – A pergunta era quase nula, já que a invasão de
seus dedos na parte interna de minha calcinha deixavam suas intenções bem claras.
– Ou... – Arregalou os olhos, animados com sua exclamação. – Pra casa do
Devon! Experimentar essa novidade para você.
– É. – Fingi tédio. – Sinceramente, Strome, já transamos no palco, estou
decepcionada. Está começando a ficar repetitivo… Ah! – Seus dedos encontraram
aquele ponto bem na lateral do meu clitóris que parecia fazer minha virilha se derreter
em lubrificante e arfei.
– Ah, desculpe. – Sarcástico. – Eu te interrompi. Estava dizendo alguma coisa?
Não era acidental.
Ele sabia exatamente qual era o maldito ponto, porque estava esfregando o polegar
nele de um jeito que deveria ser ou proibido por lei, ou obrigatório. Porque depois de
conhecê-lo uma vez, mulher nenhuma deveria ser obrigada a viver sem aquele toque.
Joguei a cabeça para trás, olhos fechados, sentindo meus cabelos searrastarem no
chão do palco.
– Esqueceu de novo? – Ele apertou com tanta força que teria doído se não estivesse
me fazendo encontrar o nirvana. – Eu te ajudo a lembrar, de novo. – Um beliscão e eu
não conseguiaparar de gemer. – Estava falando algo sobre decepção? – Ele girava meu
clitóris preso entre seus dedos, sem parar de esfregar o polegar no ponto perfeito.
Mordi a parte interna do meu lábio. Eu ia gritar. Era só uma questão de tempo. – E
repetitivo. – Seu dedo me invadiu, mas seria mentira dizer que gostei mais dele do que
do aperto do seu polegar. Aquele dedo suave e curvado dentro de mim era uma
delícia. Mas nada se comparava à copiosa massagemclitoriana à qual ele me submetia.
Ryker me despiu com a mão livre e eucolaborei como pude, o que não foi muito. Ele
não soltava minha virilha mesmo que eu debatesse as coxas contrao braço dele.
– Quero te ensinar outra coisa. – Lambeu meu pescoço logo abaixo da orelha,
antes de me forçar a ficar de quatro sobre ele. Soltou meu clitóris, parte de mim quis
reclamar por causa disso, outra parte porque temeu que ele quisesse sexo anal. Mas
sua língua me lambeu inteira e eu estava fechando os olhos para curtir o momento de
novo.
– Já ouviu falar dessa posição aqui? – Seu sussurro abafado foi de encontro à
minha vagina e seu hálito transformou o ar ali em um arrepio que percorreu minha
coluna, apressado. Desabotoei suas calças e Ryker me engoliu. Puxando meu quadril
para baixo, me forçando a sentar sobre sua boca. Como ele estava conseguindo
respirar, é algo que eu nunca saberia.
Sexo para mim sempre tinha sido difícil e complicado. Mesmo com Ryker, com
quem tudo era mais fácil, tive minhas complicações em um momento ou outro. Mas
instinto é uma coisa engraçada, delicada e curiosa que chega para assumir o controle
quando vocênão está esperando.
Era perceptível para mim porque era a primeira vez que acontecia. Eu sempre tive
certeza que era deficiente no quesito “instinto sexual” até Ryker me fazer aquela
pergunta curta antes de meengolir em cima daquele palco vazio.
Algo se apoderou do meu corpo comoum desejo que não conseguia mais ser contido
e rasgaria minha pele para fugir se não fosse controlado. E o único modode controlá-lo
era enfiando Ryker naboca. Ele estava rígido e imenso. Era tão delicioso que me fazia
ter vontade de gritar uma obscenidade.
Como um pedaço de carne cheia de sangue que o homem esconde dentro dascuecas
pode ter uma aparência tão gostosa? Antes de Ryker me parecia absurdo e até um
pouco nojento.
Mas ali estava ele, o membro tão grande que não conseguia ficar completamente
linear e, ereto, fazia um curva suave para a esquerda. Fechei o punho ao seu redor e
meus dedos não se fechavam. Eu o engoli de uma vez e, na minha gula, só percebi que
tinha sido ávida demais quando o reflexo de regurgitação se fez perceber. Recuei, mas
a vontade subsistia. Lambi a cabeça e Ryker gemeu entre minhas coxas, o que me
deixou ainda mais molhada. O chupão que ele me deu parecia servir para dar vazão
ao seu próprio prazer e eu o imitei, usando seu pau para aliviar a minha tensão.
Engoli-o bem fundo mais uma vez. Senti um pouco de orgulho da minha capacidade,
apesar de ser notável que a posição claramente facilitava a entrada de sua ereção na
minha boca. Segurei a base para controlá-lo melhor, era impressionante como ele
ficava mais largo e mais duro sob meu toque sempreque eu fazia algo certo.
Será que era assim que as pessoasliam umas às outras na cama?
Eu podia tentar…
Transformar Ryker no meu laboratóriopessoal.
Dei uma longa lambida de baixo acima. Duro.
Raspei os dentes na base. Duro. Deslizei os dedos na sua extensão.
Duro.
Cocei seus testículos, muito de leve,ainda possuída pelo trauma.
Mais duro.
Certo…
Raspei os dentes na glande. Mais duro.
Lambi sua cabecinha. Mais, mais duro.
Usei os lábios para empurrar a pele de sua cabecinha para baixo em uma
masturbação dócil e provocante, usandoapenas a pressão dos meus lábios. Tão duro.
Ryker se esticou e aumentou como nunca tinha feito antes. Ou talvez, eu não
estivesse prestando atenção das outras vezes. Talvez eu não soubesse nem em que
prestar atenção.
Eu já tinha elementos suficientes para trabalhar e acariciei seus testículos enquanto
o masturbava com os lábios entre mordidas e lambidas, arriscando engoli-lo o
máximo que eu conseguia emintervalos regulares. Ele não conseguia mais ficar parado
e impulsionava o quadril contra mim.
Está gostando.
Eu estou aprendendo.
Estava realmente desenvolvendo um ritmo interessante, mas foi aí que Ryker me
chupou com força. Sugou meu suco inteiro, estapeando meu clitóris com a língua e eu
soltei seu pau. Minha boca se abriu em um grito nervoso e tive que me dobrar com
esforço para conseguir colocá-lo na boca de novo. Ele me mordeu quando começou a
gozar e sentimeu corpo inteiro vibrando.
Seguiu-se um momento mágico em que toda a tensão se desfaz, espalhando
espasmos pelo corpo a partir da virilha e trazendo a certeza que, se o Paraíso existe,
ele tem que ser tão bom quanto um orgasmo, ou seria frustrante.
Me joguei para o lado assim que consegui parar de tremer, ainda tentando recuperar
o fôlego.
– Não te ensinei a fazer isso – Ryker gemeu. – Quem te ensinou a fazer isso?
– Ele parecia sofrer de prazer, o que me deixou realizada ao ponto de não conseguir
descrever.
– Estava só experimentando –confessei.
Ryker respirou fundo duas vezes completas.
– Pois experimente mais vezes. – Sorriu.
Dei um tapa em sua barriga antes de levantar para me vestir. Foi só aí que percebi o
líquido escorrendo pelo meu queixo. Limpei minha boca com as costas da mão.
– Desculpe. – Tomou meu rosto, alisando minhas bochechas e lábios com os
polegares. – Me perdi. Não te avisei.
Ainda estava tentando processar o fato…
– Eu… engoli?
– Acho que não tudo. – Riu, ajudandoa me limpar. – Mas um pouco.
Estalei a língua na boca testando ogosto e Ryker gargalhou com força.
– Quer mais um pouquinho? Me dáuns cinco minutos – brincou e ganhou
outro tapa.
Eu ainda estava vestindo a calça quando a porta bateu, anunciando que tínhamos
companhia. Apressei-me em me recompor enquanto Ryker se rearrumava sem pressa,
rindo do meu desespero.
– Estão acordados. Bom. – Zahner chegou carregando uma bolsa escura. – O
dinheiro do Hideki. Parece que finalmente acabou. – Respirou fundo.
– Lola?
– Lola é problema de Lola. – Sorriu sem alegria, atirando a bolsa em cima do
palco.
Ela estalou com um som desagradável de metal batendo em metal e Zahner
arregalou os olhos em pânico.
– Não. Não, não, não!
Puxou o zíper e despejou o conteúdo ao nosso redor. Diversas ferramentas
estranhas que eu não sabia para que serviam.
– PUTA DO CACETE! – Zahner enfiou as mãos nos cabelos com muita força,
como se estivesse realmente disposto a arrancá-los pela raiz. – Aquela puta… – repetiu
em um sussurro baixo. – Não pode ser… – Virou a bolsa à procura de algo. Ryker
segurou meu pulso, indicando que eu desse um passo para trás.
Ele tomou minha frente por talvez temer algum episódio de insanidade de Gary,
demonstrando, assim, o ímpeto de me proteger. – Ela trocou as bolsas! – falou
sozinho. – Mas a que tinha os instrumentos tinha uma tarja branca bemali. – apontou,
irritado. Eu não sabia se ele estava nos explicando ou tentando aceitar a verdade, mas
me encolhi para ver a bolsa e passei o dedo na região que ele indicou.
– Tinha um adesivo aqui – avisei. – Édisso que está falando?
Havia insanidade nos olhos de Zahner quando ele puxou a bolsa para verificar a
verdade em minha constatação.
Passou o dedo pelos resquícios de cola de um adesivo que deve ter sido arrancado
rapidamente e começou a rir. Um riso de homens loucos.
– Era falsa. – As mãos estavam de volta nos cabelos. – Ela não trocou a bolsa, ela
trocou as tarjas. Colocou o adesivo na outra bolsa. A criminosa do caralho arrancou
a tarja de uma e colocou na outra.
Ele se sentou no palco. Nós nos abaixamos perto dele. Coloquei a mão em seu
ombro na tentativa de consolá-lo. O pobre Gary nunca iria admitir, mas gostava dela.
Mesmo que em um nível doido, psicopata e doentio… gostava de Lola. Eu entendia a
fúria e a revolta. Não era apenas por ter sido enganado, mas por ter sido enganado por
uma pessoa em quem ele queria acreditar. Eu tinha sentido fúrias e revoltas
semelhantes por Ryker um dia. Conseguia entender.
Mas independente da incômoda frustração que Gary sentia, Lola parecia não se
importar.
Hideki ia aparecer no dia seguinte querendo seu dinheiro.
E, a não ser que aqueles instrumentos espalhados pelo palco valessem
aproximadamente dois milhões de euros,estávamos todos fodidos.
Dez

Maneiras de perder o pudor

– E então? – Estávamos todos espalhados pelo beco atrás da boate, esperando


Zahner se despedir deHideki, que mal tinha descido do carro.
– Dois dias – falou em uma comemoração estúpida.
– Dois dias para conseguir dois milhões. Alguém aí tem uma moeda? – Ryker
bateu as mãos nos bolsos. – Porque eu vou ali no orelhão ligar pro Kulik e contar onde
a gente está. – Fez uma careta, ranzinza. – Já que vai acabar assim, pelo menos quero
dar a notícia.
Esfreguei seus ombros nos esquentando do frio do clima e da falta de esperança.
– Não precisamos dos dois milhões – Zahner garantiu. – Hideki só quer lucrar o
máximo que puder em cima da situação. Ele é um criminoso e é inteligente. Nós
estamos fodidos e qualquer um pode sentir o cheiro. Ele quer Kulik preso e quer o
controle sobre essa região. Dois milhões não vão mudar isso agora, os russos já estão
muito enfraquecidos. – Balançou o jornal. A leitura da manhã tinha aumentado sua
disposição consideravelmente, de modo que mal se identificava sua ressaca. Ou isso ou
ele tinha uma resistência bem forte a álcool.Um terço da vodca que ele tomou na noite
anterior em sua fúria contra Lola seria suficiente para me fazer tirar a roupa de bom
grado e querer transar com Ryker na frente de todo mundo. Não que eu tenha
precisado de vodca da última vez.
A situação estava ruim. Mas já estivera pior.
Lucy se recostava à parede com as mãos enfiadas nos cabelos enquanto Time Devon
cogitavam se Kulik teria ou não uma esposa de quem eles pudessem tirar vantagem.
Joanie os chamou de idiotas por considerarem que toda mulher seria um alvo fácil
para eles dois.
– Você não conhece meu charme. – Devon piscou um olho, com arrogância e
sensualidade.
– Bebê – Lucy se intrometeu na discussão, sem paciência –, seu charme não foi
suficiente nem pra tirar a virgindade da Mina, então fica quietinho aí que você é mais
bonito de boca fechada.
– Vocês estão vendo isso do jeito errado! – Zahner ainda estava agarrado ao jornal,
como um totem. A única peça que lhe trouxera boas notícias nos últimos dias: uma
manchete falando sobre quedas súbitas de investimentos que nós sabíamos ser
referentes à maiorparte das aplicações do dinheiro de Kulik.
Allender tinha derrubado as ações para levar o nosso colega russo à falência. – A
gente está quase lá!
– Quase por dois milhões de euros, Interpol. – Nila abraçou os próprios joelhos. –
Quero me vingar dos escrotosmais do que você, mas dois milhões nãocaem do céu.
– Não precisamos dos dois milhões! –repetiu, batendo o pé no chão. – Não estão me
ouvindo?
Luckas se aproximou de Ryker com sugestões de como contrabandear nós dois para
fora da Europa, para algumlugar onde Lexa pudesse nos buscar depois.
Ninguém estava ouvindo Zahner.Menos eu.
Eu estava ouvindo cada palavra.
– A festa – murmurei para mim mesmaem minha própria epifania digna de eureca. –
A festa! – Levantei do chão. – A gente pode fazer a festa que o Delvaktinha planejado.
Lucy esfregou as têmporas: – A festa que o Delvak tinha planejado incluía doze
übermodels de agências da Noruega e África do Sul despindo peças exclusivas do
Oscar de la Renta no palco do Lucky’s, alguns quilos de caviar Beluga, três artistas do
Cirque du Soleil em uma performance exclusiva envolvendo uma cachoeira interna de
Veuve Clicquot adornada com cristais Swarovski, que nenhum de nós faz a menor
ideia de onde ele iria arranjar, e uma participação especial de David Guetta. –
Expirou. – Nada contra seu show da Tímida, Mina, mas acho que a gente não vai
lucrar nem perto do plano do Delvak.
– Não é o show da Tímida. – Abanei as mãos. – Vamos supor que o Zahner esteja
certo e que a gente só precise lucrar alguns milhares para convencer o Hideki. Lola
disse 50 mil, não foi? Vamos tentar conseguir o mais perto de 50 mil em um fim de
semana!
– Mina, sei que você é uma boa administradora e economista, amor, masisso…
– Shh, Ryker! – Coloquei a mão nos seus lábios. – A gente só precisa de algo
diferente, que atraia a atenção de todo mundo! Algo que todo mundo queira participar.
E depois o marketing… – Comecei a sorrir quando a ideia se formou na minha cabeça.
– A gente já tem o marketing pronto! – Ri sozinha.
– Mina, quando você quiser compartilhar o plano – Devon avisou. – O resto de
nós está curioso.
– Eu era virgem quando eu vim para cá.
– Ai meu Deus, ela endoidou. – Tonya arregalou os olhos diante da minha falta de
sentido.
– Bebê, não sei se agora é a hora paraa gente dar as mãos e ter conversas íntimas.
– Mas eu mudei! – tentei explicar.
– Não tanto pra quem viu a dança erótica pro contador. – Tim riu e Ryker lhe deu
um soco no ombro. Ele mesmo tinha feito uma piada semelhante antes, mas parecia
considerar que ele era oúnico com tal direito.
– CALEM A BOCA! – mandei. – As pessoas vêm para Amsterdã querendo algo
diferente. Se lhes oferecermos algodiferente de tudo, elas vão querer, não vão?
– Teoricamente, sim – Luckas concordou. – Mas o que pode ser diferente em
Amsterdã?
– O show da Tímida. – Dei de ombros e todos se calaram.
– É uma crise de ego – Joanie explicou. – Já li isso em uma revista, quando a
gente fala demais pra uma pessoa que ela está indo bem, ela começa a se
supervalorizar… Acho que ultrapassou o limite.
O pessoal da boate estava ao seu redor concordando.
– Não, seus perturbados! Prestem atenção! – Bati palmas. – A gente faz uma festa
exclusiva e oferece a todos osconvidados a chance de ser a Tímida.
O silêncio que se seguiu foi mais convidativo. Eles estavam me escutandoagora.
– Um show de strippers amadores? – Ryker estava sorrindo. – Exatamente! Como
um karaokê safado! – expliquei, animada.
– A gente disponibiliza máscaras para as pessoas que não quiserem mostrar o
próprio rosto, faz uma equipe de figurino no camarim para vestir os turistas-strippers e
eles levam para casa o dinheiro que ganharem no palco! A gente pode cobrar um
ingresso muito mais caro que o normal, faz pacotes de luxo, monta uma área VIP,
consegue umas bebidas melhores e superfatura todas. E fazemos todos esses gastos
adicionais valerem a pena para os clientes por causa da experiência! É isso que as
pessoas buscam nessa cidade. Eles querem a experiência. E a gente pode fornecer isso
a elas.
– A gente pode fornecer mais – Lucy sugeriu. – A gente pode montar um show de
sexo entre profissionais que permita a participação dos clientes por um preço. –
Observou ao redor. – A maior parte de nós é profissional do sexo mesmo, quem
toparia sexo em público por um extra? – E levantou a própria mão. Praticamente todos
a acompanharam, inclusive Ryker, que levantou a mão rindo para mim. Mas eu o
segurei pelo cotovelo e coloquei sua mão malcomportada de volta para baixo.
– A gente pode fazer isso também – concordei.
– Mas como vamos fazer as pessoas saberem da festa?
– Vocês conheceram o amigo de Lexa, o do jornal, não foi? – Voltei-me para as
meninas e elas confirmaram com um sorriso. – Acham que podem… convencê-lo a
chamar a atenção da mídia para nossa novidade?
Joanie respondeu um “com certeza” que me deixou satisfeita.
– E temos também o cara do Twitter –lembrei. – Que gostou do show da Tímida.
– Posso mandar uma mensagem pra ele – Lucky concordou.
– Falem com seus clientes. Turistas são o foco, mas os residentes na cidade
também devem gostar da ideia. Vamos fazer uns panfletos e deixar em todos os hotéis
que pudermos. Devon, você… ahm… disse que postou uma foto do seu… ahm…
– Do pau dele – Ryker sussurrou, me atrapalhando mais do que ajudando.
– Isso. – Engoli em seco. – Disse que postou uma foto íntima no Twitter uma vez e
teve boa resposta. Ainda tem muitos seguidores?
– Tenho. – Riu satisfeito e Ryker revirou os olhos.
– Pode fazer uma postagemparecida… para propaganda? – acrescentei depressa.
– Quer que eu poste uma foto do meupau com um convite para a festa de amanhã à
noite?
– É – respondi, sentindo a pancada devergonha e constrangimento.
– Normal ou ereto?
Eu tinha minha expressão congelada em uma careta de descrença. Como diabos
eu deveria responder àquilo?
– Ereto geralmente é maior – Ryker sussurrou de novo, tentando me ajudar. Mas
sua assistência não estava colaborando.
– Eu sei! – reclamei. – Obrigada. Como você preferir, Devon. – As palavras saíram
engasgadas.
– Ereto, então. – Ele se afastou na direção do banheiro e eu preferi não perguntar.
Apenas fui grata por ele não ter abaixado as calças ali mesmo.
– Assim a gente já tem turistas – contei. – Locais, pessoas que verão a notícia no
jornal e os… pervertidos que acompanham o Devon. É só esperar quea notícia corra.
– E os panfletos? – Tim lembrou.
– Se for algo simples, a gente pode fazer aqui mesmo – Bessie ofereceu.
– Pode ser algo simples. Só coloquem algo como “últimas reservas” na propaganda.
As pessoas tendem a correrquando acham que não vão conseguir lugar.
Luckas abanou o indicador, concordando.
– Tudo bem. – Sorri. – Temos um plano.
Zahner acenou um misto de gratidão e respeito. Devolvi o aceno e respirei fundo.
Um último segundo de paz antes de correr para ajudar Luckas com os fornecedores.
– Tente o Simak de novo! – berrei.
Meus restaurantes fechados. Meu dinheiro roubado. Meus investimentos perdidos.
Era um ataque. Restava descobrir de quem.
– Ele não atende, senhor.
– Nem vai atender – Viktor comentou com singela amargura. – Ele morreu
politicamente, Yuri. Havia rumores demais com o nome dele envolvendo aqueles dois.
E em política, fofoca vira realidade com uma velocidade impressionante.
– Vamos achar o filho dele e a garota
– resmunguei. – E, quando fizermos isso, vamos fazer parecer que o filho dele morreu
um herói ou um pária. Como ele preferir! Desde que o puto não me abandone
agora! – Acorde, Yuri! – elevou a voz. Você sabe que está perdendo a firmeza sob seus
pés quando até seu contador encontra confiança para se dirigir a você com tamanha
insubordinação. – Ele não pode ser visto perto de você. Tem que ficar longe para se
salvar e mesmo assim não é certo. O concorrente dele está recebendo um patrocínio
pesado de novos investidores.
– Ligue para Allender! Eu tinha um acordo com ele!
– E ele deve ter feito um acordo melhor com outra pessoa. Provavelmente a
mesma pessoa que fechou seus restaurantes e roubou seu dinheiro.
Enfiei os dentes no meu lábio inferior até sentir o gosto ferroso que indicava que ele
tinha se rachado.
– E como sei que não foi você? – Cuspi saliva e sangue em meu discurso de ódio. –
Guardo meu dinheiro na sua casa e ele desaparece assim?
Viktor se levantou. Ele também estava irritado. Furioso. Mas se conteve em respeito
à nossa história.
– Como você não tem mais dinheiro para me pagar, prefiro ir embora a ficar e
ouvir esse tipo de acusação. Mas antes de ir, vou te dar um conselho, Yuri. Um último
conselho. Uma cortesia entre velhos amigos. – Suspirou. – Vá embora. Fuja bem
depressa.
– Não sou covarde como você!
– Pois então fiquei e morra com sua bravura.
Ele virou as costas para mim.
O puto de merda me virou as costas. Avancei com força em passos pesados para
informá-lo que eu não estava vencido.
– Não me dê as costas quando ainda estou falando!
– A pessoa que armou isso tudo contra você veio para ficar. Depois que terminar
de destruir tudo que você tem, vai querer te eliminar. É a jogada mais inteligente. É o
que você faria. Minha única sugestão é que você vá…
– Senhor? – Michkin entrou recuperando o fôlego. – Quase não temos mais
amigos na polícia, e tão rápido… mas consegui uma declaração de um dos oficiais.
– Diga de uma vez!
– Ele disse que chegaram à casa de Viktor não por causa da invasão ao cofre. Não
foi uma denúncia feita por nenhum vizinho ou barulho suspeito. A denúncia foi que o
ex-agente da Interpolprocurado pelo sequestro de duas testemunhas estava lá.
Em Amsterdã.De novo?
Eu podia me sentir espumar como um animal raivoso. Eu mandei homens até lápara
verificar se não teriam voltado… Alguém tinha me enganado nisso também! Se o
agente estava aqui, os doistambém estavam.
Era ele? Era ele quem estava me destruindo?
Meu corpo inteiro estava trêmulo e incontrolável. A não ser por uma única ideia.
– Junte os homens, Michkin. Cerquem aquela boate de merda. Quero confirmação
de que eles estão lá, primeiro. Depois quero que vocês entrem e matem todos.

Para quem estava preocupada com desemprego, Mina parecia desatenta aos seus
muitos talentos. O Lucky’s podia não ser a boate de maior prestígio na cidade, mas
não era um lugar pequeno e insignificante. Pelo contrário… as instalações tradicionais
tinham o seu porte e o seu allure, mas a jovem administradora não se deixava
intimidarpor nenhum desses aspectos.
Cinco minutos no telefone com um dos fornecedores e ela já tinha conseguido
negócios melhores que Luckas em cinco anos.
– Eles lembram dela. – Lucky bateu no meu ombro, rindo. – Quando eu disseque ia
passar o telefone pra ela, um deles chegou a xingar. – Riu.
– Ela negocia muito bem.
– É impressionante – concordou. – Ryker… acha que quando isso tudo acabar, ela
estaria interessada em um emprego?
Foi uma pergunta inocente. Luckas não tinha poderes sobrenaturais que lhe
permitissem ouvir pensamentos ou ler intenções. Mas sua inocência não impediu que
um incômodo se espalhassepelas minhas entranhas.
Mina amarrou os cabelos para mantê- los longe do ouvido que ela dedicava ao
telefone. Falava apressada, olhando para o relógio com frequência e rascunhando
números com um lápis de madeira. Mesmo em um clube de striptease, cercada pelo
cheiro de sexo, ter uma tarefa que ela podia realizar sem morrer de vergonha tinha lhe
conferido um ar profissional que eu achava igualmente sensual e intimidante.
Eu sabia lidar com a garota perdida que não sabia o que fazer com o homem só de
cueca no seu apartamento.
Mas e quando ela olhasse para mim com seus números e lápis de madeira? Quando
ela tivesse um emprego fixo e colegas de trabalho contadores, advogados e
economistas. O que diabos eu deveria fazer? Quais histórias eu ia contar na festa de fim
de ano da empresa dela? O que eu ia dizer quando o círculo de colegas engravatados se
apertasse até ficar claustrofóbico e me engolisse com perguntas sobre o que eu fazia, no
que eutinha me formado e onde já tinha trabalhado.
Mina não ter família tinha se tornado uma bênção para os meus delírios de
pesadelos diurnos. Como se apresenta um namorado garoto de programa para o seu
pai? Para sua mãe? Irmãos? Meus relacionamentos nunca tinham sido duradouros o
suficiente para que eu precisasse me preocupar com esse tipo de apresentação e, agora,
com uma mulher com quem eu planejava passar longos anos, a ríspida verdade é que
a maldição da garota órfã era um alívio para o namorado que não teria assunto para
debater com o sogro durante o chá.
Ela queria que eu largasse minha ocupação.
Não era um pensamento novo para mim. Eu não queria fazer isso para sempre.
Mas também não tinha exatamente um plano definido sobre como eu poderia parar.
Todavia, acampar no sofá de Mina, desempregado e ocioso, enquanto considerava
todas as possibilidades, não era uma ideia atraente. Teria que ser do meu jeito: eu
precisava me manter ocupado enquanto procurava outro meiode subsistência.
Claro que Mina não ia curtir essa ideia nem um pouco.
Eu não curtiria se estivesse na posição dela e é por isso mesmo que não podia
culpá-la por seu receio. Restava descobrir como eu ia desatar o nó que minha vida
tinha dado um jeito de amarrar.
Ela sorriu sozinha, fechando o punho em vitória, depois de uma boa notícia dooutro
lado da linha e eu me peguei rindo
com ela, mesmo que ela sequer estivessenotando minha presença.
Eu te amo e quero ficar com você.
Mas talvez um pouco de distânciafosse necessário em algum momento.
Um pouco de Paris para você. Umpouco de Amsterdã para mim.
Pelo menos até tudo se aquietar.Ia ser horrível.
Seu sorriso ainda estava lá, dançando vitorioso naquele rosto lindo. Eu queria me
sentar na cadeira à sua frente e assisti-la trabalhar a tarde toda. Roubar um beijo de
vez em quando não seria nada mal.
Eu quis que todos fossem embora à noite, para poder levá-la para a cama e contar-
lhe, olhos nos olhos. Mas os preparativos avançaram pela madrugada e acabaram
com metade de nós dormindo de qualquer jeito sobre sofás ou encostados nas mesas
quando o sol surgiu no céu.
E quando o dia se foi de novo, nós estávamos prontos.
Eu não tinha roubado beijos suficientes. Não tive tempo suficiente. Não falei
verdades suficientes.
Mina surgiu de volta no salão poucos minutos antes das portas se abrirem usando
um vestido curto e folgado com um decote imoral.
A piscadela que ela me deu de presente teve doses similares de purezae descaração.
Seu jeito Mina de ser nunca parava de me encantar. Devolvi com outra piscadela. A
minha, com certeza, bem mais indecente, com direito a uma leve passeada de língua
pelos lábios, indicando a fome em resposta à sua roupa. Ela revirou os olhos antes de
me lançar um beijo pelo ar.
Talvez a gente precisasse de um tempo afastado quando tudo aquiloterminasse.
E ia, sim, ser horrível.
Mas se fosse necessário para que ficássemos juntos no fim, eu faria.
Eu faria qualquer coisa.

A palavra “lotado” estava desenvolvendo um novo significado para mim. Nunca


antes eu tinha visto tanta gente nos salões do Lucky’s e, pela expressão nos rostos do
resto da gangue,eu suspeitava que eles também não.
O show de striptease amador tinha sido um sucesso automático, as máscaras eram
alugadas ou vendidas para mulheres e homens de todas as partes do mundo que
subiam ao palco para experimentar a adrenalina de tirar a roupa na frente de um
público. As inscrições foram tantas que precisamos colocar as pessoas agrupadas em
trios ou não haveria tempo para todos se apresentarem.
A ideia de Nila foi excelente e abrimos um ponto de troca de moeda. Turistas
chegavam com seus 50 euros e nós os trocávamos por 45 notas de 1. A taxa de 5 euros
era cobrada pela troca e isso estava rendendo boa parte dos lucros da noite. As 45
notas de 1 rapidamente desapareciam nas roupas íntimas de desconhecidos
mascarados e os clientes estavam de volta em buscade mais algumas notas trocadas.
Tim transformou tudo em um jogo: roletas, lançamento de dardos, brincadeiras de
bar… Tudo virava motivo para apostas e a prenda era sempre a mesma: subir no palco
e tirar a roupa. Brout precisou chamar outros cinco colegas para trabalharem de
seguranças e estávamos todos atentos para que fotos não fossem tiradas. Era
impossível ter certeza… mas fazíamos o que estava ao nosso alcance.
O auge da noite não seria o show da Tímida, afinal, ele tinha se tornado
completamente obsoleto diante da quantidade de novas pessoas que subiam no palco
com iguais quantidades de determinação e vergonha para se expor. Era libertador,
divertido, único… mas não seria a atração principal.
O sexo ao vivo ia ser apenas um aperitivo. Um demonstrativo para incentivar os
clientes a pagarem um pouco mais pela chance de algo ainda mais exclusivo. E essa
sim seria a atração principal.
Devon e Lucy seriam os primeiros. Depois disso, Devon ficaria disponível para
clientes e Lucy faria uma nova apresentação, dessa vez com Nila, antes de ficarem as
duas também disponíveis para clientes. Joanie mudou o valor no quadro três vezes e a
noite mal tinha começado. Quanto mais o lugar enchia, mais ela acreditava que
poderíamos cobrar mais caro pela participação no show de sexo. E ela não estava
errada. Na terceira vez que aumentou em cinco dólares o valor da entrada, três turistas
nas imediações de uma embriaguez compraram seus ingressos para sexo com uma das
garotas sem sequer saber exatamente do que se tratava a atração. Queriam apenas
garantir seus lugares antes que o preço subisse demais.
Eu contei o caixa duas vezes, mas o dinheiro não parava de entrar e eu logo
perdia a conta. Então percebi que era melhor esperar a noite terminar. Virei as duas
doses de tequila que Tonya trouxe e resolvi me divertir. Em determinado momento,
Ryker se afastou para atender uma ligação de Lexa e eu me encontrei dançando com
Devon no meio da pista. Só parei quando notei que suas mãos estavam ousadas
demais. Ele não tinha superado a ideia de se vingar de Ryker eeu não queria ter nada a
ver com suas ideias pervertidas.
Os cartazes pendurados por todos os lados descreviam a festa que nós tínhamos
criado e o nome usado para batizá-la: Sem Pudor. Duas palavras que definiam
perfeitamente o clima do lugar, principalmente quando o DJ acalmou a música e
Joanie pegou o microfone paraperguntar quem queria sexo.
Pergunta completamente retórica naquele ambiente. Tim e Devon tinham
espalhado potes com camisinhas por todos os lados, grudaram notas em todas elas que
pediam aos amantes para “usarem os banheiros” e eu apenas ri deles por pensarem
que todos os seres humanos do planeta eram tão propensos a sexo em qualquer lugar
como eles. No entanto, o ânimo da festa se adensou e esquentou. Homens e mulheres
sentiam uns aos outros em mesas, cadeiras, cantos do palco e contra a parede. Em
duplas ou grupos. A tensão sexual começou a crescer e sufocar.
A boate do Lucky ia se transformar em um clube de sexo bem rápido e os potes de
camisinhas de Tim e Devon seriam postos a bom uso. Bem como os pedidos de uso
dos banheiros, que eu começava a questionar se alguém obedeceria.
Enfim, quando você oferece sexo ao vivo em um palco para seus clientes, não pode
ser exatamente seletivo com o nível de pudor que eles demonstrarem. Se essa festa
tivesse uma segunda edição, precisaríamos colocar avisos sobre DSTs em todas as
paredes e contratar uma equipe que fizesse uma limpeza e esterilização digna de uma
sala de cirurgia após o evento.
Lucy subiu ao palco ainda completamente vestida, dançando e provocando os
clientes que urravam aos seus pés. Devon pulou da plateia para o palco, tirando a
camisa quase de imediato e fazendo as mulheres gritaremmais alto que os homens.
Eu comecei a hiperventilar ao encararseu abdômen dividido. Eu era comprometida,
sei disso. No entanto, o aroma de sexo era tão forte que precisei virar mais uma dose
de qualquer coisa só para manter minhas pernas retas. Não ia ser saudável para mim
assistir àquilo.
Menos ainda no meio do público.
Circulei o salão devagar até chegar aos bastidores. Quando alcancei meu
esconderijo seguro, Devon já posicionara as mãos na bunda de Lucy e movia o rosto
em busca do beijo que ela lhe recusava. Girava, fingindo não querer aceitá-lo e
perguntava ao público qual atitude tomar. Eles respondiam um coro de “beija”, “se
você não quiser, eu quero”, “não beija ele, me beija” e até um “fode logo” que
considerei bastante sincero. Devon se aproveitou da proximidade de sua virilha com o
quadril da amiga e se perdeu em uma esfregada cheia de lascívia. Quando o beijo
finalmente aconteceu e ela agarrou seus ombros, esqueci que Lucy era gay e o público,
com certeza, sequer suspeitou.
Existe um formigamento bem típico que atinge sua intimidade quando você começa
a ficar excitada. Uma palpitação discreta pelos músculos internos de sua vagina que
começa com um golpe rápido e delicioso bem abaixo do seu umbigo, causando o
ímpeto de se contrair inteira antes da sensação de formigamento se desfazer e
contaminar o corpo inteiro. Uma cutucada abstrata em uma região sensível, uma
perdição de desejo quecomeça sem que qualquer toque seja necessário.
Devon estava agarrando Lucy e eu estava ficando excitada como ela.
Ele estava sem camisa e claramente ereto, mas eram as mãos dele que me
seduziam. As mesmas mãos ousadas que eu tive a convicção para recusar há pouco
tempo agora espremiam a carne farta dos peitos da loira à sua frente, virando-a para
alinhar bunda e ereção em uma dança tântrica. Ele sussurrou alguma coisa só para
ela e eu me arrepiei.
Não era necessário saber qual tinha sido a frase. Os olhos fechados enquanto as
palavras eram pronunciadas manifestavam uma ideia muito boa do que elas deveriam
significar. Expressavam êxtase. Não importava qual idioma ele tivesse utilizado ou
quais palavras concretizaram a sensação. Eu podia não saber o que ele tinha dito, mas
eu sabia o que ele queriadizer.
Os olhos dele se fecharam logo antes do sussurro. Os dela, logo depois. Ambos
estavam unidos pela exposição perante o público e, ao mesmo tempo, pela
manutenção de um segredo singelo.
Os corpos deles eram compartilhadospor todos nós.
O sussurro era só deles.
A mistura do permitido com o proibido era embriagante, como um perfume
delicioso que invade todo o ambiente e que permanece pairando no ar muito após a
fonte ter ido embora. A imagem dos dois, despindo um ao outro entre sorrisos
públicos e palavras secretas, permaneceria na minha mente por dias.
Raspei minhas pernas, tentando pôr fim ao prazer da minha carne ou saciar a
vontade da minha mente. Apertei os lábios com os dentes e minha cintura com os
dedos.
Era estranho assisti-los. Principalmente ali. Escondida.
Era como se a performance fosse para o público e eu não tivesse autorização para
ver.
É para os clientes com dinheiro, Bault. Não para você.
Mas ainda assim… lá estava eu. O olhar hipnotizado pela cena além da brecha das
cortinas, assistindo a dois amigos ficarem nus e suados. Devon segurou o mamilo
rígido de Lucy entre os dentes e eu soube que os meus próprios deveriam estar tão
duros quanto os dela. Tão desejosos por uma saliva quanto os dela.
Estava esquecendo de respirar.
Me perdi na agradável tortura a que Höfler submetia a outra mulher. Enfiei
minhas mãos pelos cabelos como se fosse um pau que meus dedos agarrassem. Não sei
por qual motivo… mas experimentei o sabor de um de meus dedos enquanto a outra
mão descia pela minha barriga, explorando o caminhoentre minhas pernas.
Um puxão gostoso no meu clitóris… Meus dedos tinham encontrado seu próprio
caminho me ajudando a encontrar o mesmo prazer que os dois amantes no palco. Meu
dedo médio foi oprimeiro a se alongar pela minha abertura, ainda por cima do vestido
leve e da calcinha fina. Assistindo aos meus colegas se apalparem enquanto eu mesma
desfrutava de um segredo só meu e um prazer que não poderia ser compartilhado.
Olhei para baixo, contemplando o decote que exibia parte dos meus seios e minha
mão enfiada entre as coxas, e fui arrebatada pela familiar sensação de vergonha. Mas
foi apenas quando levantei o rosto para descobrir que Devon estava olhando
diretamente para mim que senti o prazer se transformar em embaraço.
Estava certa de que ele iria rir. Não agora… pois estava entretido demais com sua
masculinidade entre os dedos experientes de Lucy. Mas depois… depois, quando a
festa acabasse e estivéssemos contando o dinheiro eespólios. Ele ia apontar, dizer que
sabia que eu estava me divertindo e iria rir.
Ele estaria certo. Eu ficaria vermelha.
Ryker ficaria irritado.
Tudo aquilo era errado por muitosmotivos diferentes.
Era o sexo de outras pessoas. Fechei os olhos com força e me virei. Decidida a
encontrar água gelada para beber ou tomar um banho. Desde que estivesse gelada,
qualquer alternativa iria servir.
Com o corpo inclinado, Ryker apoiava o ombro contra a parede.
– Ah, não. Não pare – pediu, sem se mover.
– Ai, meu Deus! – Levei a mão ao peito, meu corpo inteiro vibrando da tensão
acumulada e dos disparos do coração. – Como você consegue ser tão silencioso?
– Não fui silencioso. – Lambeu oslábios. – Você que estava entretida.
– Ryker, eu não… – Lancei um olharde soslaio para Devon além do vão da cortina.
Ele iria ficar chateado e eu não poderia culpá-lo. Como me sentiria se o pegasse se
masturbando diante da nudezde Skye?
– Não estava assistindo Lucy foder o Devon? Então, você é a única.
– Se aproximou, macio. – Porque eu não estava conseguindo tirar os olhos –
gemeu, morno, no meu ouvido.
Eu me inclinei contra seu corpo com um gemido sofrido.
Seus dentes tocaram minha orelha.
– Estava pensando no dia em que te comi nesse palco. – Seu hálito esquentava
minha pele, resfriada pela ausência do sangue que parecia ter descido inteiro para
minha virilha. – E pensando em inscrever nós dois para a atração principal. – Riu. – O
que acha? Pagar algum dinheiro para foder alguémda gangue?
Parei de respirar.
– Lucy? Nila? Tim? – sugeriu, a língua dançando no meu pescoço. – Quem você
quisesse. Menos o Devon, éclaro.
– Quer dizer que gostaria de ver outrohomem comigo.
Ele inspirou profundamente.
– Vi como você ficou com o cara no banheiro do clube no outro dia. – Lembrei
e ele ofegou, irritado.
– É… você tem razão. A gente podia deixar um dos caras ajudar.
– Ou uma das meninas?
– Seria hipocrisia se eu dissesse que não queria te ver com um dos caras, mas não
ligaria de assistir você com uma dasmeninas?
– Seria.
– Então eu sou um hipócrita fodido.
Eu ri e ele chupou a pele na curva do meu pescoço. As mãos imóveis, fundidas ao
meu quadril quando apoiou o queixo no meu ombro.
– Continua? – pediu, manhoso. – Continua pra eu te assistir?
Fechei os olhos, perdida em sua voz. Eu não podia recusar. Até porque, antes
mesmo do seu pedido, minhas mãos já estavam se enfiando por baixo do vestido.
Ryker puxou o pano mais para cima, dobrando-o na altura de minha cintura, para
poder acompanhar melhor a cena. Eu me enfiei na minha calcinha e gemi. Ele ecoou
os sons do meu prazer, sem setocar, sem me tocar, mas completamenteenvolvido pelos
toques que eu ofereciaa mim mesma.
Para mim, ele sussurrou segredos, elogios e promessas como os que Devon deveria
ter compartilhado com Lucy no palco. Sempre com sua voz rouca de tesão, sem ousar
esfregar qualquer partedo seu corpo no meu por receio de se desfazer em um orgasmo
rápido e poderoso. E realmente não me importavam as palavras manifestas. Assim
como as que Devon sussurrou no ouvido da minha amiga: o importante é o que Ryker
queria expressar. O que ele dizia era apenas simbólico. Desejo sentido pelo meu corpo
concretizado emfonemas.
Tudo fazia parte da nossa dança: cada beijo, cada toque, cada sussurro. Cada
movimento da minha mão sob minha calcinha que Ryker, sem conseguir ver, podia
apenas imaginar. E pelos seus gemidos, eu estava certa que ele imaginava muito bem.
Sua mão cobriu a minha. Eu por baixo da calcinha, ele por cima. Um movimento
sutil do seu quadril e ele começou um movimento rítmico. Apenas me acompanhando.
Levemente. Qualquer coisa a mais poderia levá-lo além e para o fim. Seus dedos
tremiam.
Seu sussurro ficou ainda mais rouco. Mais pesado. Mais firme. Mais intenso.
Enfiei um dedo em mim e ele emitiu um rosnado grave, impulsionando a ereção
contra minha bunda, enfiando a mão livre por baixo do meu vestido para agarrar
minha coxa.
Eu também estava gemendo palavras de desejo em resposta às suas carícias. Mas
não me importava quais fossem. Eu estava implorando enquanto seus dentes
encontravam minha orelha mais uma vez. Um pedido bastou para Ryker explodir.
Empurrou minha nuca, me inclinando de quatro, me fazendo precisar agarrar as
cortinas para não perder o equilíbrio. Bem devagar, chutou um de meus pés, enfiando
o joelho entre minhas coxas. Eu obedeci sentindo sua mão puxar minha calcinha para
baixo. Eu queria tanto que Ryker me possuísse ali que por um segundo insano minha
mente chegou a processar que, mesmo que minha bunda fosse o alvo, não me
importaria. A viscosidade que escorria pelas minhas pernas deixou claro para nós dois
o quanto eu o queria e o barulho de saliva depois de seu toque cheio de tara me
causou arrepios… Ele estava sugando meu sucodos dedos, como sempre fazia.
Fechei os olhos. Com as mãos nos meus peitos, ele me controlava.
Me mantinha na altura, inclinação e velocidade desejadas. A cabeça de seu pau se
chocou contra a parte errada das linhas da minha boceta, pressionando contra o
clitóris, fora da entrada. Ele girou o quadril, mas eu estava tão encharcada que seu
pênis deslizava de um lado para o outro, passando direto pela minha abertura, sem
nunca penetrá- la. Ryker precisou segurar sua base com uma das mãos e pressionar a
glande contra minha vagina. Desfrutei de uma pressão mais forte e comecei a engoli-
lo.
Centímetro por centímetro.
Ele fez questão de entrar bem lentamente.
Ainda não estava todo dentro de mim quando eu comecei a rebolar. Apertou as
bandas da minha bunda para melhor se enfiar no meu calor. Um tapa leve esquentou a
pele fria. O estalo me assustou, mas eu queria outro. Rebolei mais rápido.
Seus dedos encontraram meu clitóris, o outro polegar raspou no meu ânus por um
breve segundo, enquanto ele apertava minhas bochechas, me tomando de quatro.
Puxando as cortinas com força, sentindo o êxtase que se aproximava. Ryk urrou mais
alto, aumentando a violência do impacto. Minha boca entreaberta, sem conseguir
controlar a saliva, uma contradição inexplicável se meus lábios ressecados fossem
levados em conta.
Dessa vez, Ryker gozou primeiro, mas eu estava tão perto que a diferença foi quase
imperceptível. Permaneci rebolando e me jogando contra os resquícios de sua ereção
ainda forte e larga, à medida que seus dedos estimulavam o ponto mais sensível do
meu corpo. Um aperto em um dos mamilos, uma mordida no meu pescoço.
Gozei alto, agarrando as cortinas com ainda mais força, sentindo-as se abrirem,
aumentando a brecha que nos separava do público. Se alguém nos viu, eu não saberia
dizer.
Mas não me importava.Nem um pouco.
Dezenas de milhares de euros.
Poucas dezenas de milhares de euros.

Tinha sido uma excelente noite para o negócio do Luckas, mas não tinha sido
suficiente para resolver nossos problemas. Talvez Hideki aceitasse qualquer valor,
como eu acreditava que ele faria. Talvez não.
Strome ligou para a irmã como um golpe de misericórdia, mas nem ela nem o
namorado tinham dois milhões líquidos. A empresa de Delvak poderia fazer um
empréstimo… mas o chefe dele tinha falecido e todos os bens da empresa estavam
congelados devido a alguma cláusula do testamento.
Sven e Lexa iam voltar para conversar com Hideki, mas eu duvidava que fizesse
qualquer diferença. Ou ele aceitaria o dinheiro, ou não. A presença dos dois não iria
interferir em muita coisa.
Para todos os efeitos, a noite acabou se revelando melhor do que todos
imaginávamos e estava quase amanhecendo quando os convidados se foram e eu me
fechei no escritório do Luckas para tentar dormir algumas horas antes de precisar lidar
com a máfia japonesa.
A presença de um movimento desconhecido no escuro me fez puxar a arma por
instinto.
– Vamos fazer isso de novo? – ecoou suave e quente.
Segurei a arma com firmeza.
– Me dê um bom motivo para não atirar em você agora. E pode ser que eu atire
mesmo assim.
Lola sorriu na penumbra, balançando-se na cadeira do outro lado da mesa.
– Vim pedir desculpas, como uma boa garota, e você vai atirar em mim? O que isso
diria sobre você?
– Não estou preocupado com isso.
– Não… Está preocupado com isso aqui. – Ela se levantou para me mostrar a bolsa
escura e comprida.
– É meu dinheiro? O que você roubou? – Não ousei baixar a arma.
– É, e ainda te fiz um favor. – Sorriu.
– Eu troquei… Dá pra você apontar isso para outro lugar? – resmungou. – Sei que
não vai atirar em mim, mas está me incomodando.
Julguei sua expressão por algunsinstantes e apenas guardei a arma devolta no coldre
por um senso mórbido de curiosidade. Poderia ser tudo um golpe, mas eu queria saber
para onde elaia com toda aquela conversa.
– Me traiu de novo.
– Ah, não seja assim, Gar! – resmungou, arisca. – Você me jogou pra cima dos
policiais e fugiu!
– Policiais que você chamou para me cercar.
Ela ficou em silêncio. Tinha aquele sorriso curto e prepotente de quem sabe coisas
que não deveria saber e não tem medo de contar.
– Acho que estamos quites, então?
– Nem perto – exclamei, ouvindo as palavras autoritárias ecoarem nas paredes.
– Nem se eu te der isso? – Colocou a bolsa em cima da mesa. – Troquei as notas
para você. São sequenciais agora.
Minha boca se entortou em um sorriso antes que eu pudesse impedi-la. Não queria
demonstrar minha satisfação a Ox, no entanto meu reflexo foi quase instantâneo.
– Vou poder rastrear o Hideki depois que der esse dinheiro para ele.
– E se ele usar com qualquer coisa ilegal, você consegue prendê-lo. – Piscou um
olho para mim. – De nada.
– Pensei que ele era seu amigo.
– Já me pagou bem por alguns serviços. – Deu de ombros. – Me pagou mal por
outros. E você devia saber: eu não tenho amigos.
– Não, não tem. – Acenei antes de sersubitamente possuído por uma dúvida. –Onde
arranjou notas sequenciais assim tão rápido?
– Quer mesmo saber? – Ergueu uma sobrancelha.
– Não. – Gesticulei. – Estou bem, obrigado.
– Com medo de um pouco de ilegalidade? – Não resistiu à provocação. – Achei
que tinha superadoisso com sua carreira de fugitivo e tudo o mais.
– Vá se foder.
Sentei no sofá, passando a mão pelos cabelos. Lola sentou-se na borda da mesa.
Nós dois, no escuro, esperando. Acho que nenhum de nós sabia exatamente pelo quê.
Mas, quanto mais osilêncio se prolongava, mais eu sentia o calor que se espalhava pelo
meu esôfago, um desconforto que tomava conta do meu corpo sempre que ela estava
por perto.
– Por que voltou, Lola? – Eu estava com raiva. Não era uma fúria cega, mas uma
raiva contida. Uma capacidade de escolher o melhor momento para a violência, mas
ciente de que a violência seria inevitável. Nós dois não éramos feitos de materiais
compatíveis e não poderíamos ficar no mesmo ambiente por muito tempo sem que
algum desastreacontecesse.
– Crise de consciência? – arriscou, me fazendo rir alto. – Eu não queria ter te
passado para trás de novo.
– Se queria só trocar as notas, não precisava ter me enganado. Eu teria concordado
com esse plano.
– Eu não ia trocar as notas, a princípio. – Revirou os olhos. – Ia pegar o dinheiro
para mim e pronto.
– Acabou de dizer que não queria me enganar – apontei a contradição. – Qual dos
dois, Lola? Queria me enganar ou não?
– Eu não queria te enganar quando decidimos tudo. Tinha dito a mim mesma que ia
deixar você ganhar dessa vez.Mas… quando chegou a hora, eu…
– É da sua natureza – suspirei.
– Perdão?
– Não conhece a história da enchentena floresta?
Ela espremeu o sorriso.
– O escorpião vai se afogar e pede ajuda ao sapo para atravessar o rio – contou,
demonstrando que conhecia. – O sapo se recusa porque tem certeza que o escorpião vai
lhe picar. O escorpião promete e promete. Implora e implora.
O sapo acaba aceitando. – Gesticulou, simbolizando a travessia do rio.
– E, assim que chegam do outro lado e o escorpião está a salvo, ele pica o sapo –
concluí. – Enquanto morre envenenado… – dramatizei. – O sapo pergunta “Por quê?
Por que você fezisso?” E o escorpião simplesmente responde…
– “Desculpe” – enunciou. – “Mas é daminha natureza”.
– É da sua natureza – repeti. Ela sorriu de um jeito que parecia quase genuíno.
Teria me enganado se eu não aconhecesse tão bem. – Você é uma filhada puta incapaz
de compaixão ou lealdade.
– Ele não está nos Calabouços, não é?
– ignorou.
– Não – repliquei, sem arrodeio.
– Vai me dizer onde ele está?
– Não.
Ela acenou como se esperasse aquele tópico desde o começo.
Mas eu precisava saber…
– O que vai fazer com ele, Lola?
Quando o encontrar?
– Gosto que você diz quando e não se.
– Você é uma garota esperta. E ele não está tão escondido assim – provoquei. –
Estou decepcionado quenão o tenha encontrado ainda.
– Seja razoável, Zahner. – Riu e veio sentar-se ao meu lado. – Estou me
comportando.
Ela estava perto demais e, em breve, meus impulsos violentos não estariammais sob
controle. Levantei-me, por nenhum motivo além de me afastar dela.
– O que vai fazer com ele, Lola?
Ela tocou o lábio inferior, ainda perdida em pensamentos.
– Por que está protegendo um estuprador, Gary? – seu sussurro foi quase
inaudível.
– Não estou protegendo umestuprador, Lola. Só acontece que ele éa última isca
que me restou para te atrair.
– Me entregue ele e eu te arranjooutra isca.
– Não.
Ela estapeou os próprios joelhos.Esperava conseguir aquela informação, eu a estava
frustrando. Era uma sensaçãogostosa.
– Posso terminar o que comecei naquele dia, sabia? Posso enfiar duas balas na sua
cabeça e uma lâmina afiada no seu coração. – Ela precisou de dois passos para ficar a
centímetros de mim.
– Gostaria de ver você tentar.
– Eu me lembro de você ajoelhado e submisso no chão da última vez quetentou me
enfrentar.
– Me pegou desprevenido. Não vai acontecer de novo. – Eu sentia meu nariz se
retorcendo em uma careta irritada.
– Vai acontecer de novo. Quantas vezes eu quiser. – Respirou no meu rosto, me
contaminando com seu hálito delicioso, o que me fez travar os punhoscomo força. Era
uma tentativa de me impossibilitar de agarrar seu pescoço e espremê-lo.
– A única coisa que vai acontecer da próxima vez vai ser você levando uma surra.
– Rá!
– Uma que você já está merecendo hámuito tempo.
– Quer me espancar, Gar? – Inseriu um calor inapropriado às palavras. – Fui uma
garota má?
– Cale a boca. – Segurei seu maxilar com força. – Pare de jogar comigo, sua
criminosa. Não sou seu brinquedo.
– Não. Você é só o brinquedo do governo que paga seu salário. – Segurou meu
pulso, cravando as unhas na minha carne.
– Você não me conhece, vagabunda. –Salivei, meu queixo tremia.
– Nem você me conhece, seu animal. O segundo inteiro que nos encaramos em
silêncio pareceu uma hora.
– Quer transar comigo, Gareth? – sussurrou e sua expressão mudou.
As palavras escorreram, pesando no ar.
Posso ter gaguejado por um segundo,mas consegui rebater: – Não vai me convencer
a informar a localização dele.
– Já entendi essa parte. Não é a isso que estou me referindo. – Elevou um ombro. –
Estou dizendo que eu vou embora agora. – Eu ainda tinha os dedos nas suas
bochechas, o queixo dela contra o meu punho. – Não acho que vamos nos encontrar de
novo. Nunca mais. – Acenou. – Não podemos continuar cruzando o caminho um do
outro.
– Por que não? – arrisquei, embora já soubesse a resposta.
Lola levantou o rosto, senti seu hálitomorno quando respirou a centímetros demim.
– Naquele dia, na cabana – suspirou.
– Eu queria. E você também.
Engoli em seco. Se eu conseguisse encontrar minha voz, eu negaria. Seria mentira,
mas eu não daria o gosto da vitória a ela.
– Me arrependi depois que fomos embora. – Doía ouvir aquela confissão. Sempre
imaginara que seria satisfatório ouvi-la dizer palavras assim. Principalmente porque,
na minha imaginação, eu sempre ria na cara dela e a mandava se foder. Mas ali,
ouvindo cada palavra… não era o que eu queria de verdade. Ódio era mais fácil. –
Você me detesta, Gar – constatou. – E eu te detesto, também. – Travou a mandíbula.
– De um jeito que não dá nem pra descrever. Você me irrita e complica minha vida.
Meu trabalho. Meus clientes. – Minha garganta ressecara. – Mas naquele dia…
naquela cabana… eute quis. Então, estou te informando que pode me detestar amanhã
e todos os diasem sequência. Estou contando que vou fugir e que nunca mais pretendo
te encontrar de novo. Mas também estou dizendo que, se quiser me foder, essa noite é
sua única chance.
Eu não tremia mais. Nenhuma parte de mim.
O toque da minha mão no seu queixo ficou mais suave. Não muito… Ainda tinha
algo violento nas minhas intenções.Embora fosse um tipo diferente de violência. Minha
outra mão encontrou ocaminho pelos seus cabelos no mesmo instante que sua boca
tocou a minha.
Ela era saborosa como nada jamais tinha sido.
Suas mãos agarraram meus ombros com violência, cravando as unhas na minha
camisa até atingir a carne. Minha consciência nublada, meus sentidos acentuados.
Cada raspão de sua pele mefazia enlouquecer com o calor, o arrepioque meu hálito lhe
causava, as pálpebras pesadas mantendo seus olhos fechados. Um único gemido
escapou pelos seus lábios em um sinal de fraqueza que ela nunca ousava demonstrar.
Segurei seus cabelos escuros, um nó em minhas mãos, com força, erguendo seus lábios
rumo à minha boca.
Havia saliva. Havia língua. Mas, mais que tudo, havia dentes. Eu a mordia,
destilando o ódio de anos e ela devolvia como se quisesse provar um ponto: não havia
fúria contida por mim que ela nãopudesse imitar.
Nos odiamos e nos amamos em carícias contínuas de calma desesperada e furiosa
lentidão. Suas mãos estavam no meu pescoço enquanto eu a despia. Não estava me
sufocando, mas minha respiração já ofegante estava ainda mais prejudicada. Havia um
animal dentro de mim, uma besta enlouquecida, que eu mal conseguia controlar.
Então, eu me livrei de suas roupas, seus seios estavam expostos na penumbra e a
besta se libertou. Enfiei-os na boca, um de cada vez e depois repeti a ação, urrando em
rouquidão. Sua bunda estava nas minhas mãos. Pele em pelo, suscitando adúvida de se
ela mesma teria tirado a calcinha para me receber ou se a calcinha nunca existira.
Aquela dúvida me assombraria pela eternidade. Cada vez que a caçasse, ansioso por
apreendê-la, por encontrá-la, apenas para vê-la diante de mim e entrar em desespero,
me perguntando se a ausênciade roupa íntima era um hábito permanente para ela.

Não havia salvação com Lola.


Nunca houve.
Mordi seu pescoço e suas mãos se moveram no sentido de minha ereção. Sentia a
vibração do seu coração sob a pele, enquanto meu próprio sangue pulsava, fervente,
expandindo a parte demim que ela prendia nas mãos.
O calor irradiava. Dos seus dedos. Do seu toque. Pelo meu pau ereto e
desesperado, subindo pela virilha e explodindo em meu peito. Um desejo quente que
me obrigava a encontrar uma nova definição para a palavra “insuportável”, porque a
que eu carregava até então já não servia mais.
Suas mãos intensas contra meu tórax, dispararam-me contra a parede. Agarrei suas
coxas, enlaçando-a à minha cintura. Guiou minha rigidez para dentro de si, gemendo
alto enquanto eu a sentia ao meu redor.
Quente.
Quente como o inferno que ela semprefazia questão de ser.
Não havia prazer com Lola.Apenas danação.
Uma danação sublime e maravilhosa que te faria se perder no submundo e nunca
mais encontrar o caminho de volta.
Ela me desferiu um tapa. Primeiro no braço, depois no rosto. Foi forte, violento,
delicioso. Eu queria que ela me batesse mais, mas sabia que ela jamais aceitaria uma
ordem.
Belisquei sua bunda, enfiando meus dedos fundo entre suas bochechas. Ela
agarrou meus ombros e rasgou minha camisa. O corpo retorcido sobre mim,
arqueando os mamilos duros na direção dos meus lábios.
Estapeei sua bunda e ela rebolou. Foi apenas então que percebi. Estava ali,
brilhando mesmo no escuro, atraindo toda a minha atenção apesar de todas as suas
curvas irresistíveis: um sorriso deslumbrante que me causava arrepios por dentro e por
fora. Maligno e rebelde. Um sorriso magnífico que me desencadeou um rompante de
beijá-la e abraçá-la. Com força.
Eu estava me desfazendo. Era mais Lola do que eu podia suportar. Quente eúmida,
rebolando ao meu redor. Sua saliva na minha língua. Seu suor na minha língua.
Minha língua onde elaquisesse.
– Me conta uma verdade – murmurei, sem acreditar que estava realmente
proferindo as palavras. Seu olharesfriou sobre o meu. Questionando o mesmo que eu:
não era seguro. Intimidade entre nós dois nunca seria seguro. Contudo, ali estava ela:
nos meus braços. Me fazendo gemer e implorar. E implorar era exatamente o que eu
faria. – Só uma – pedi.
Seu movimento se intensificou ainda mais, seus olhos se fecharam em antecipação
ao orgasmo. Agarrei sua cintura, me enterrando em seu corpo, tentando memorizar
cada detalhe do que seria nossa primeira e última vez. O orgasmo a levou. O orgasmo
me levou.
Com os dois caídos ao sofá em busca de paz na respiração um do outro, tentávamos
nos prender a um breve momento de calmaria entre nossas tempestades.
Sua testa suada pressionou-se contra aminha. Ela não me fitou nos olhos.
– Eu gosto de lírios – confessou.
Não consegui ver seu sorriso, emboratenha conseguido senti-lo.
O motivo de seu sorriso seria porque me contava uma verdade? Ou porque me
contava uma mentira?
Eu nunca saberia. Com Lola, eu nuncapoderia saber.
Ainda assim, me deliciei em seu sorriso.
Segurei seu queixo e a beijei. Foimais forte do que eu.
Mentirosa.
– Fica essa noite? – murmurei.
Ela se espremeu dentro do meuabraço.
– Fico.

A boca. Os seios. O cabelo.O sorriso.


O maldito sorriso.
Afastei o sonho com um misto depesar e frustração. Minhas pálpebras se
moveram, ainda pesadas, afastando o que restava da noite, aceitando que era hora de
acordar e enfrentar o dia. Meu braço estava caído… frouxo e solitário sobre o espaço
frio do sofá onde elaestava antes de o sono me invadir.
Me conta uma verdade, Lola.
Meu pedido para ela na noite anterior ainda se debatia sobre o ar. Uma criatura
afogada, buscando oxigênio. Desespero sem esperança. Se afundando no destino… A
pobre criatura que nuncativera chance de sobreviver.
Me conta uma verdade. Só uma.
Eu ainda podia sentir seu lábio macio sob a carne do meu polegar. Quis mordê-la.
Beijá-la. Mantê-la por perto até conseguir obrigá-la a me conceder o que eu queria.
Uma única e mísera verdade.Eu gosto de lírios.
Simples.Lírios.
Ela gostava de lírios.Eu não acreditei.
Mais uma mentira.
Ou talvez fosse verdade. Por mais simples que fosse, eu era simplesmente incapaz
de acreditar nela.
Fica essa noite?
Eu soube que iria me amaldiçoar por esta súplica no momento em que a fiz.
Fico.
Prometeu.
Acordei sozinho no sofá frio.
Outra mentira.
Mais uma de… quantas?
Vesti a roupa, reparando no barulho do lado de fora do escritório. Os outros tinham
acordado e já estavam ali. Era hora de aceitar o dia.
Em cima da mesa, um pedaço de papel rasgado trazia palavras rascunhadas. Meu
coração bateu mais forte antes mesmo de ler a mensagem.
O desenho rascunhado de um escorpião servia como assinatura, num formato muito
parecido com a tatuagemque ela levava na nuca. Marcada pelo seu dono, como gado.
As palavras eram poucas e insatisfatórias.
Mas significam mais do que eu esperava.
Não posso ficar, Gar. E não voupedir desculpas por isso.
Não é da minha natureza. Nenhuma das duas coisas.
– Vamos agora?

– Não, imbecil. Aqueles caras aliestão armados, não está vendo?


– Os japoneses? – Empurrou-mecontra a parede para enxergar.
Bloqueei seu movimento com ocotovelo.
– É. Fique quieto, mudak! Idiota! Oueles vão te ver.
– Qual é o plano, Michkin? – Não mevirei para ver quem tinha perguntado.
– O plano é esperar os japoneses armados irem embora e depois entrar naquela
boate e finalmente dar um jeito naquele casal amaldiçoado.
– E se houver mais gente armada lá dentro?
Estreitei os olhos, reconhecendo o homem alto que entregou uma bolsa escura para
o japonês alinhado antes de apertar sua mão.
O cara da Interpol.
– Não tem. Só um segurança.
– E se ele atirar?
– Ele é um. Nós somos cinco. Gosto das nossas chances. – Cuspi, restos da minha
saliva amarga no chão.
– Vai matar todos? Ou vai levar algumpara o chefe?
– O chefe teve que ir embora. – Expirei. – Vamos matar todos.
– Eu não entendo, Michkin… Se o chefe foi embora, por que vamos fazer isso?
– Não é óbvio? – Virei-me, irritado. –Vingança.
Levei a mão ao interruptor e fui barrado pelo punho firme que segurava meu pulso.
– Não acenda a luz.
– Você está paranoico, Matvey.
– Paranoia é saudável hoje em dia, Nicolai.
Deixei a mão cair e dei alguns passos no escuro. Três mesas estreitas ocupadas por
computadores de tela plana recém-adquiridos. Um deles ainda tinha o plástico
envolvendo o cabo.
– Comprou material novo? – Ri.
– A empresa andava bem. Achei que seria interessante melhorar o material do
trabalho.
Minha gargalhada se confundiu com uma tosse e um rosnado.
– Cuida muito bem das aparências, Matvey.
– Esse lugar pode ser só uma fachada para lavagem de dinheiro para todos vocês,
mas eu estava conseguindo lucrarbem com isso.
– Ouvi dizer que o mercado não estava bom para turistas. – Dei um peteleco em
um mapa-múndi repleto de avisos de pacotes turísticos para diferentes locais. Passei o
dedo médio pelo logo da agência.
O fim de uma era.
– Vai querer discutir pacotes deviagem, Nicolai?
– Não. – Respirei fundo, esfregandoas têmporas. – O que você ouviu?
– A Yakuza chegou.
– Então é verdade?
– Você duvidava?
– Eu não chamaria de dúvida. –Gesticulei. – Chamaria de “esperança”.
– Kulik perdeu quase tudo em umasemana, Nicolai. Foi a Yakuza.
– E parece que não agiram sozinhos –disse, mais para mim mesmo que para
Matvey.
– Do que está falando?
– Não importa mais. Michkin vai cuidar disso agora. Nós precisamos fechar tudo,
nos livrar dos documentos e ir embora. Vou para a Ucrânia amanhã mesmo. Quanto
eles ofereceram pelo Kulik?
– Quase dois milhões de euros. – Acenou.
– Vivo ou morto?
– Morto. – Engoliu em seco. – A notícia já se espalhou. Eles não têm utilidade para
Kulik vivo.
– Se não fosse a lealdade à família, hein? – brinquei, mas Matvey não sorriu.
– Relaxe! – Bati uma mão na outra. – Yuri já está bem longe daqui a essa altura.
– Não importa. É da Yakuza que estamos falando, Nic. Acha que não vão
encontrá-lo?
– É isso que não importa, Matty. Yuri está morto. Mesmo que fique vivo, está
morto. Temos que recuar e nosreorganizar…
– Você acha mesmo que…
O barulho do tiro soou abafado. Calibre baixo com um silenciador. Foram três
tiros. Vi a mancha escura de sangue na camisa clara de Matvey antes de notar que um
dos tiros tinha atingido sua cabeça. Mesmo com a penumbra, eu podia ver sua camisa
se encharcando do líquido escuro e viscoso antes de ele cair de joelhos no chão. Mais
três tiros soaram baixos. Oardor atingiu meu peito devagar.
Não tive sequer chance de determinarde onde tinham vindo os tiros.
Onze

Formas de acabar umahistória

– Como é que uma mulher linda e safada como você ainda é virgem? Olhos verdes
e brincalhões procuravam me tirar do sério.
– Ah! – comecei, dissimulada. – É porque eu tenho mania de espremer testículos.
– Humm? – fingiu interesse.
– É tipo um fetiche incontrolável. – Arregalei os olhos e ele riu.
– Acho que eu suportaria isso, se pudesse ficar com você.
– Não sei não, viu? – Bebi um gole decerveja direto da garrafa.
– O último cara que me disse isso, ó… – gesticulei – ...caiu na cama agarrado à
virilha.
– Foi mesmo? – Roubou minha cerveja.
– Ficou vermelho como um morango.
Enfiou a mão nos meus cabelos e me beijou.
Não se afastou quando o beijo acabou, em vez disso, ficou raspando o sorriso no
meu, colando nossas testas. Ao nosso redor, a gangue inteira bebia, falava alto,
trocava as músicas… Uma comemoração acolhedora e genuína.
– Acabou, Ryk?
– Acabou. – Um selinho suave. – Zahner acabou de falar com Hideki. É Kulik
quem vai ter que fugir agora.
– E a gente?
– A gente espera um pouco. As influências que Kulik tem na polícia vão
desaparecer assim que os pagamentos pararem. As influências de Hideki vão se
conservar mais fortes e nós nos entregamos para um policial da confiança dele.
Depois, prestamosnossos testemunhos e livramos o Gary.
– Quer dizer que temos um tempinho de férias, então? – Lambi meu sorriso,
descarada. – Acha que essa gente toda vai nos dar uns dias a sós?
Ele olhou ao redor, infeliz.
– Esse bando de desocupados? Dejeito nenhum.
Ryker me abraçava de maneira confortável. Uma maneira íntima de casal que se
conhece e está junto há tempo demais para perder tempo com trivialidades como ficar
separados quando tudo o que se quer são toques intermináveis. Acariciava cada parte
do meu corpo que alcançava, mas não com sua típica luxúria. Era apenas um carinho
sossegado.
Beijei sua bochecha.
– A gente dá um jeitinho.
– Hum! – concordou, durante o gole. – Atrás daquelas cortinas ali. – Apontou a boca
da garrafa para o ponto atrás do palco onde ele tinha me agarrado dequatro.
– Ou um lugar novo – sugeri.
– A casa do Höfler?
– Ryker!
– Nada mais justo. Ele fica aqui incomodando o tempo todo.
– Não é nossa casa, Ryk. É a boate doLucky.
– Quando tivermos nossa casa, vou te comer na sala. Vou até deixar a porta
destrancada.
Meu sorriso se abriu, tão doce e gostoso… Sua frase foi tão gentil que euaté ignorei
seus eternos impulsos exibicionistas.
– Nossa casa? – Eu quis fingir recriminação, mas era impossível parar de sorrir.
– É. – Levantou um ombro, levementeconstrangido. – Um dia… quem sabe.
Então seus olhos encontraram os meuse ele sorriu.
Doce e gostoso assim como eu.Todo doce.
Todo gostoso.
Eu o beijei devagar. Lábios cheios e macios se dobrando ao encontro dos meus.
Massageando minha língua entre um desejo e uma mordida brincalhona.
– Estive pensando… – começou. –Sobre o que conversamos e… minhaprofissão.
– Hum? – Prendi meu lábio inferior com os dentes para não arriscar que ele
tremesse.
– Vou levar um tempo para… – Engoliu em seco. – Conseguir outra coisa para
fazer. Depois que isso tudo acabar, vou precisar de um tempo para me organizar e
descobrir outra atividadeque eu saiba fazer.
– Mas vai querer exercer outra atividade?
Desenhou meu rosto com indicador e polegar, da sobrancelha ao queixo.
– Algo me deu a impressão que você não ficaria comigo se eu continuasse no
mesmo ramo.
Ri baixinho.
– Não – exagerei. – O que te deu essa impressão? – Segurei sua mão nas minhas. –
Só não quero te dividir com ninguém – murmurei.
– Eu entendo. – Seu sorriso se traduzia em uma afirmação que ele sentia o mesmo
por mim. – Mas clientesnão seriam uma divisão, Mina. É só meutrabalho.
– Sei que isso é verdade. Mas de uma forma prática e impessoal, Ryk. Eu não acho
que ia conseguir lidar com isso muito bem.
Ele encarou o chão.
– O que foi?
– Não sei se você vai gostar.
– Não importa. – Eu estavapreocupada. – Me conta.
O que era agora? Algum outro mafioso russo também tinha nos visto? Ele achava
que a Yakuza ia nos trair e tentar nos matar? Algo pior?
– Acho que a gente vai precisar ficar separado por um tempo.
Algo pior.
– Por quê? – Me afastei um pouco, e ele não me prendeu pela cintura como sempre
fazia.
– Até eu me reorganizar, Mina… vouprecisar trabalhar com algo para me sustentar.
E não acho que você ia me querer em Paris fazendo isso, ia?
O baque alto e abafado ressoou, fazendo meu corpo tremer. Por um instante, eu
imaginei que a falta de controle sobre meu próprio corpo tinha sido causada pela
descoberta de que Ryker pretendia continuar a se prostituir por um tempo e não pela
descarga de adrenalina.
A porta principal pendia em sofrida inclinação, presa pelas poucas dobradiças que
tinham restado e os homens invadiram a boate tão rápido que não consegui sequer
contar quantos eram.
A lembrança do corpo ensanguentado de Spider nas escadas me fez congelar. Uma
memória tão recente e ao mesmo tempo tão distante em contraste com as
circunstâncias que se seguiram. Meu coração explodia em desespero, acelerado no
meu peito.
Eu e Ryker éramos a primeira linha deresistência diante da porta.
Se é que era possível se referir a nós dois como qualquer tipo de resistência.
Lá no fundo da minha mente, eu tinha conhecimento que Zahner estava armado em
algum lugar atrás de nós e quis me abaixar para deixá-lo lidar com a situação.
Mas o instinto tinha feito meu corpo agir antes de qualquer decisão.
Ryker apertou minha mão.Ele queria me proteger.
De novo.
Como sempre fazia.Eu o amava.
Eu o amava independentemente desuas intenções, profissões ou desejos.
E, mesmo que eu tivesse receio emadmitir aquilo, era verdade.
Eu o abracei, tomando sua frente, impedindo que o mal inevitável chegasse a ele.
Ou que, se chegasse, levasse a mim primeiro, porque eu não ia conseguir encarar seus
olhos frios e vidrados como fiz com Spider.
Um único momento me fez descobrir que a vontade de morrer a ter de viver sem a
outra pessoa não era um exagero propagado por romances. Era realmente uma coisa
real. Uma verdade absoluta.
Se nós íamos morrer, eu preferia ir primeiro.
Seus dedos, em pânico, se enfiaram na minha cintura tentando tomar minha frente,
mas era tarde demais. Eu já estava agarrada aos seus ombros, protegendo-o com meu
corpo, os olhos fechados e o nariz enfiado na sua camisa. Sentindo seu cheiro.
Sentindo seu coração bater tão veloz quanto o meu.
Esperei o estalar de um tiro que não veio. E, quando o grito grave ecoou pelo ar, eu
achei que era uma alucinação. Minha mente desesperada substituiu o pavor de
antecipação a um tiro por um som de esperança.
– Parados! Polícia!
O barulho atrás de mim se intensificou, me despertando.
Os resquícios da adrenalina em meu corpo me estremeciam de forma descontrolada.
Minhas pernas falharam ao ver os policiais fardados renderem os invasores e Ryker
tentou me segurar. Mina!
Nós estávamos no chão.
Levei um tiro.
Foi isso que aconteceu.
– Mina, você está bem? – Ryker passava as mãos pelas minhas costas emdesespero,
verificando minha integridade física. – Você está bem.
Precisei de alguns segundos para compreender que ele não estava perguntando.
Estava afirmando.
Eu estou bem.
– Estou bem – murmurei.
Ele levantou o rosto tentando entendero que tinha acontecido, embora sem sucesso.
Os invasores armados foram algemados e retirados da boate enquanto policiais de
capacete e investigadores de paletó e gravata entravam na boate. Paramédicos os
seguiram assim que a polícia atestou a segurança do lugar.
Eu ainda estava atordoada. Não tinha conseguido processar o perigo, quem dirá a
solução.
Nila e Lucy estavam de pé, abraçando uma à outra em um dos cantos da boate.
Pareciam tão confusas quanto eu. Tim, Devon, Luckas… Listei todos os meus amigos
de forma rápida e só consegui me acalmar depois de me certificar de que estavam
todos de pé.
Zahner tinha sido rendido. Ele deve ter puxado a arma durante o caos e, em sua
entrada, a polícia holandesa não parece ter feito distinção.
– Soltem-no! Tirem essas algemasimediatamente!
O homem que gritara tinha cabelos grisalhos e usava um sobretudo bege com barras
enlameadas. A boca formava uma linha rígida escondida pela barba malfeita de fios
prateados. Devia ter mais de sessenta anos, se movia como um homem sedentário e
esquecido. Massua voz portava a autoridade de um oficial no auge da vida.
– Soltem-no agora! – ordenou e os policiais obedeceram, livrando Zahner.
– Gareth Zahner?
– Sou eu – concordou.
– Onde estão os dois que estava protegendo?
Eu não conseguia respirar ou raciocinar. Assisti ao Zahner apontar para nós dois
como se fosse um filme. Uma história que acontece com outras pessoas.
O senhor autoritário seguiu a indicação de Gary e acenou para nós antes de se virar
para um dos policiais.
– Deixe-a entrar. – Sorriu.
Minha testa estava enrugada pela mais absoluta confusão mental. Eu queria muito
que alguém começasse a me explicar o que estava acontecendo em vez de só incluir
mais mistério à receita.
– Mina… – Ryker suspirou, chamando minha atenção para a pessoa que estava
barrada no que restava da porta da boate.
O policial deu um passo para o lado e deixou se aproximar de nós a mulher mais
linda e maravilhosa que eu já tinhavisto na vida.
Só percebi que tinha abandonado os braços de Ryker quando me joguei nos dela.
– Elise!
Ela me abraçou de volta entre lágrimas e sorrisos. Meu coração começou a se
acalmar enquanto eu recuperava o fôlego.
Tudo tinha sido rápido, insano e incompreensível.
Mas minha melhor amiga estava ali.Ia ficar tudo bem.

Paramédicos lançaram cobertores sobre alguns de nós como faziam nos filmes e eu
não entendi qual o propósitodaquilo. Eu não estava com frio.
Lucy e Joanie gritaram com alguns policiais que tinham interditado o bar e
conseguiram convencê-los a deixá-laspassar e pegar garrafas para todo mundo.
Nos sentamos no chão. O beco nos fundos da boate tinha sido fechado pela polícia,
mas estava menos lotado que o salão principal. Devon e Nila emitiam declarações a
oficiais atentos, Luckas acompanhava de perto a inspeção de seu prédio e Zahner tinha
desaparecido paraalgum lugar com o homem que o libertara.
– Como você chegou aqui? – Eu não conseguia parar de apertar Elise e era
recíproco.
– O inspetor Alfoit.
Eu conhecia aquele nome…
– É um amigo antigo dos meus pais, não se lembra?
Era verdade… Procurei por ele nos arredores, tentando inspecionar seu rosto com
mais cuidado, mas ele nãoestava por perto.
– Aquele senhor é o inspetor Alfoit?
– Ele mesmo. Ele é tipo uma lenda pra Interpol. – Riu. – Conhece muitagente.
– Mas como… Como você soube que poderia nos encontrar aqui? E… por que falou
com ele? Ele acreditou em você? Nós estávamos fugindo! – constatei, acelerada. –
Você deveria ter ficado longe, Elise, não era seguro! Ficou louca? – Outro pensamento
me ocorreu de repente. – Eu perdi meu emprego novo, não foi? Me demitiram?
Ela me abraçou com força.
– Estava com saudades de você, sua desesperada.
Eu também estava com saudades dela e a abracei de volta. Mas abanei a cabeça
pedindo respostas.
– Você está me ofendendo, Bault. – Revirou os olhos. – Acha que sou burra?
– Não, claro que não! Eu só…
– Te conheço desde que erámos pirralhas que fingiam ser adultas. – Deu um
peteleco irritado no meu nariz. – Achou mesmo que eu ia acreditar que você teve
algum colapso nervoso e desapareceu com um gigolô?
Eu sorri, desconcertada.
– Não – murmurei.
– Sabia que tinha acontecido alguma coisa. – Deu de ombros. – Principalmente
porque você deixou uma mensagem na minha secretária eletrônica antes de desaparecer
pela primeira vez.
Minhas sobrancelhas se uniram em questionamento.
– Não se lembra? – indignou-se.
– Da delegacia! – Estapeei minha própria testa. – Eu liguei para você! Mas você
ainda estava no hotel!
– É! – Balançou a cabeça, meridicularizando.
– Esqueci! Acho que tanta coisa aconteceu depois disso que…
– É, mas eu não esqueci! Me deixou desesperada, Bault! – Ela também deu um tapa
na minha testa. – Falando sobre como alguém morreu e sobre o estacionamento do
hotel. Não saiu nada no jornal, mas voltei lá e tinha uma parte do estacionamento
interditada pela polícia. As pessoas da recepção não davam qualquer resposta direta e
eu soube que havia algo errado. Eexplodiram seu apartamento! – exclamou, revivendo
um pânico que certamente deve ter sentido. – Disseram que foi escapamento de gás,
mas não sou idiota. Tentei falar com a polícia, mas ninguém me ouvia. Só o inspetor
Alfoit. - Alisou os cabelos, respirando fundo. – Aí, ele me mandou falar com um cara
daInterpol que trabalhava com máfias.
– O Gary! Foi você que mandou ele atrás da gente! – lembrei.
– Ele foi o único que me escutou de verdade. Aí desapareceu e pouco tempo depois
reapareceu afirmando que tudo não passara de um mal-entendido e que você fugiu
com o gigolô. Aparentemente, ele, assim como você, achou que eu era idiota –
recriminou.
– Eu só queria te proteger, Elise.
– Eu sei. – Beijou minha bochecha. –É por isso que nunca perguntei nada. Durante
nossa vida toda, era sempre eu quem nos metia em encrencas e você quem nos tirava.
Então, imaginei que se estava mentindo deveria ter um ótimo motivo e me limitei a
confiar em você.
– Eu te amo, sabe disso?
– Sei, sua maluca. Também te amo.
Fiquei preocupada com você.
– Achei que estava preocupada por causa do meu colapso nervoso e da fuga.
– Ri, lembrando. – Achei que estava estressada imaginando que eu poderia surtar de
novo.
– Estava desesperada porque você estava envolvida em um caso de assassinatos e
máfias! Foi por isso que insisti que ficasse lá em casa. Você não queria me contar, mas
isso não me impedia de tomar uma atitude.
– Você é a melhor amiga do planeta.
– Eu sei. Você me compra um presente caro quando conseguir um emprego novo.
– Combinado.
– Quando cheguei em casa e vi o apartamento destruído, tive certeza que ia te
achar morta. Quase morro junto, Mina!
– Sinto muito! Eu queria ter deixado alguma mensagem.
– Mas não podia, eu sei. Quando vi a história nos jornais e soube que você tinha
sido sequestrada pelo diarista e pelo agente da Interpol, fui direto falar com Alfoit e ele
ligou os pontos.
– Foi assim que nos achou aqui?
– O Matt. – Sorriu, piscando um olho para mim ao fazer referência ao garoto de
programa de quem era cliente regular.
– Ele é amigo do garoto de programa que ficou com você. O de verdade. – Revirou os
olhos. – Não aquele modelo que você colocou nas fotos.
Eu limpei a garganta, rindo de sua dedução e apontei para Devon do outro lado do
beco.
O queixo de Elise caiu copiosamente.
– Você conhece ele de verdade? – Deu três tapas com força no meu braço para
expressar sua descrença. – Me apresenta! Ele trabalha com isso? – sussurrou,
sugestiva.
Segurei a gargalhada enquanto Elise me beliscava.
– Matt me disse que eu podia tentar encontrar vocês aqui.
– Você é um gênio.
– Eu sei. De nada.
Ryker se aproximou devagar, trazendoduas garrafas de cerveja.
– Comemorar? – arriscou. Aceitei uma e Elise aceitou a outra, analisando- o de
cima a baixo.
– Vai me apresentar? – resmungou. – Ou vai manter a história de que o homem
seminu era um diarista?
– Você sabia que ele estava seminu?
– Bault, acha mesmo que sou idiota? – reclamou alto e Ryker acenou em
concordância.
– Te disse que ela tinha percebido.
– Eu não sabia o que dizer!
– Ela não pensa bem sob estresse – Elise explicou.
– E fala as besteiras mais engraçadas da história! – Ryker completou.
– Uma vez, na faculdade, faltei em uma prova porque estava de ressaca e Mina
tentou me livrar de um zero querendo convencer o professor que eu tinha
desenvolvido estresse pós- traumático temporário depois de pular de bungee jump no
fim de semana.
– Ela levou o amigo jornalista pra sua casa e me encontrou esperando por ela no
quarto. Aí, impediu que o amigo desse de cara comigo dizendo que precisava se
masturbar e pedindo praele esperar na sala.
Elise ponderou por alguns segundos encarando o vazio, enquanto eu mantinha uma
expressão emburrada, ansiosa para que um dos dois notasse que eu não estava
gostando da brincadeira.
– Tá – ela decidiu. – Sua história ganha. Não dava pra ter apresentado ele pro
jornalista como um amigo? – Virou-se para mim.
– Eu estava seminu na hora – explicou.
– Nossa, garoto. Você fica seminu o tempo todo, hein?
– Eu fico bem seminu. – Riu, galante.
– Não faça gracinhas comigo, rapaz. – Elise levantou o indicador e Ryker se
encolheu diante da minha amiga brava. –Peguete da Mina pra mim é mulher.
– Respeito isso. E pode chamar de namorado.
– Não, não posso. – Estirou a língua.
– Ainda não decidi se aprovo você. Só é namorado se for aprovado. Não explicou pra
ele como funciona, Bault?
Sorvi três goles da cerveja ignorando os dois.
– Salvei a vida dela umas duas vezes - contou, erguendo o indicador. –Convenci o
Zahner a levá-la de volta pra casa e elaborei um plano para que ela ficasse a salvo com
você. Voltei quando descobri que ela estava em perigo e ainda ajudei a tirar a gente da
confusão com a máfia de uma vez por todas.
Elise estreitou os olhos em uma minuciosa análise dos fatos.
– Foi você quem tirou a virgindade dela, não foi? – falou, mansa, ignorandotodo o
resto. – O cara que ela diz que estragou sexo pra ela com qualquer outro homem? O
fofinho que espalhou asflores?
Ryker abriu e fechou a boca em uma típica demonstração de peixe indignado diante
do elogio “fofinho”. Por fim, se resignou.
– Sou eu mesmo.
– Tudo bem. – Elise sorriu, dando umtapinha no seu ombro. – Gosto de você.
– Estou aprovado?
– A quem estamos enganando? – Ela riu. – Depois de compartilhar a história da
Mina dizendo que ia se masturbar para fugir do ex, quem seria capaz de te reprovar?

– Eu diria que posso explicar, mas algo me diz que o senhor já está ciente de tudo o
que aconteceu – sugeri.
– Sim – o Inspetor Alfoit concordou sem hesitar. – O político tcheco está envolvido
de algum modo nesta história, não é? A testemunha que você estava protegendo estava
envolvida em denúncias contra ele também.
– Sim. A testemunha é o filho dele e estou certo de que vai continuar cooperando.
– Ótimo. Fez um bom trabalho. – Mergulhou a mão em um bolso largo na lateral
do casaco e devolveu meu distintivo e minha arma. – Notei que você tem duas. –
Indicou a que eu tinha usado durante a invasão da boate.
– Quer me dizer que o senhor não tinha?
– Tinha umas três. – Acenou e eu ri.
Era uma honra estar na companhiadaquele homem.
– Já está tudo resolvido com a Interpol. Tive que gritar com alguns homens que se
acham grandes até eles perceberem que são pequenos.
– Acho que devo uma ao senhor.
– Acho que deve algumas – brincou, me fazendo sorrir.
– Algumas, então. Notícias do Kulik?
– Ele foi apreendido na tentativa de sair da Europa em um barco.
Temos provas suficientes para uma condenação bem longa, então ele fez um acordo
conosco.
Vai entregar fontes da família russa em outros locais em troca de uma sentença
mais branda.
A informação me fez rir.
– Falei algo engraçado?
– Engraçado, não. Irônico.
– Irônico?
– É… – Cocei o queixo. – Considerando a maneira como chegamos aqui, é no
mínimo irônico que Kulik vá passar o resto da vida no programa de proteção a
testemunhas.
– Ah, sim – compreendeu. – Irônico.
– O que mais? – Expirei. – Será que vou ser responsável por ele? – continuei me
divertindo.
– Não sei. O que acharia de voltar ao trabalho em campo?
Notícias boas podem nos fazer pular, gritar, nos exaltar. Mas algumas notícias
verdadeiramente boas nos fazem murchar. Como se todas as nossas forças fossem
economizadas naquele segundo antes da confirmação, de modo a extravasar em
uma comemoração posterior.
– Trabalho em campo, senhor?
– Acho que já passou tempo demais em funções burocráticas e em proteção de
testemunhas, Zahner. O que acha de retomar sua antiga posição?
– Contraespionagem?
– Uhum – confirmou. – O que acha?
– É… – Eu sabia as palavras, mas não conseguia encontrá-las. – É tudo o que eu
queria, senhor. – Suspirei.
– Ótimo. Acho que podemos dar um jeito. Um de seus antigos casos veio à tona.
Acho que não vou ter problemas em convencer seus superiores de que você seria o
melhor candidato para o trabalho.
– Qual caso, senhor?Ele respirou fundo.
– A rede de espionagem dos Escorpiões. Encontramos o símbolo deles em uma
cena do crime aqui em Amsterdã. Coincidência, hein? Que o lugar onde você escolheu
para se esconder foi justamente o lugar no qual um dos assassinos dos Escorpiões
resolveu aparecer.
Engoli em seco.
Ela não faria isso…
– Como foi essa cena do crime? – perguntei com cuidado, como um operador
aproximando-se de uma bombaarmada.
– Uma agência de turismo aqui em Amsterdã, há pouco tempo. Recebemos uma
ligação anônima sobre atividade suspeita lá dentro, a polícia chegou e encontrou as
portas abertas e escancaradas. Dois corpos lá dentro. Assassinato profissional. Dois
tiros no peito, um na cabeça.
– Dois corpos e uma ligaçãoanônima? – Eu tive que rir.
Filha da puta…
– É. Quer ouvir o mais curioso? Eramdois homens do Kulik.
Como ele tem caído nos últimos dias, a polícia achou que ele tinha ordenado
assassinato de dois de seus comandantes, para mantê-los emsilêncio. A teoria é boa: o
lugar estava todo revirado, muitos documentos desapareceram. Mas um ou outro foi
deixado para trás.
– E foram suficientes para descobrir que o lugar era uma fachada para lavagem de
dinheiro?
– Muito fácil, não acha?
– Muito – concordei.
– Também deixaram um papel amassado para trás. Um escorpião rascunhado. O
modus operandi da sua velha conhecida rede de espionagem.
– O senhor disse que estava tudo revirado. Acharam o papel amassado no meio do
caos? Não poderia ser algo antigo que um dos homens de Kulik tinhaguardado?
– Foi o que eu imaginei, no entanto, os oficiais que chegaram primeiro informaram
que a folha chamava atençãono ambiente. Parecia um recado deixadode propósito.
– Chamava atenção?
– Foi colocado em cima da única mesa que não tinha sido revirada. Com uma flor
em cima.
Uma flor…
Eu ri, balançando a cabeça.
– Deixa eu adivinhar… Um lírio? Nem precisei ouvir sua confirmação.

O rádio de pilhas ligado em uma estação qualquer tocava uma música doce e
preguiçosa. Cortei um pedaço do queijo que meu namorado guloso comeu da minha
mão antes que eu pudesse impedir. A toalha aberta no chão da estufa de Bessie,
comidas e bebidas espalhadas em nosso piquenique improvisado.
– De volta ao lugar onde tudo começou, hein? – Alisei seus cabelos quando ele se
reclinou, apoiando a cabeça no meu colo.
– Não começamos aqui! Começamosno hotel lá em Paris.
– Não de verdade… – defendi. – Foiaqui que eu e você começamos mesmo.
– Está querendo fingir que a noite no hotel nunca existiu, é? – Estreitou osolhos e
eu soube que ele ia me provocar.
– Querendo apagar da minha mente que a insaciável da Mina Bault agarrou o pobre
servente do hotel na mesma noite em que contratou um garoto de programa?
– Foi um mal-entendido! – Plantei umtapa na sua testa.
– E aqui vou eu: apanhando de novo. Você é a safada e eu apanho. Sempre assim.
– Achei que ele era você.
– Você achou que era eu? – Levantou- se. Havia tanta felicidade na sua expressão
que, apesar de irritada, precisei rir. – Calma, calma, calma. – Abanou as mãos. –
Nunca tinha me contado essa parte. Você beijou o garçom porque achou que ele fosse
o gigolô que você tinha contratado?
– É.
Eu não estava entendendo a graça. Mas Ryker, com certeza, estava. Porque se
curvou agarrado ao estômago em umatentativa fútil de controlar a gargalhada.
– Então você abre a porta pra um cara e o agarra sem nem perguntar quem é? –
Limpou as lágrimas que se formavam nos olhos. – E aí o gigolô de verdade… Eu… –
apontou para si mesmo com orgulho – ...chega e você oferece a mão para ele apertar,
cruza os braços e fica com aquela cara de entrevistadora?
– Fiquei constrangida.
– Você é muito engraçada quando fica constrangida! Posso contar essa história pra
Elise também? Vou ficar dois pontosna frente dela.
– Você e a Elise podem é parar de fofocar sobre minha vida.
– Não dá.Você não deixa! Não para de dar munição. – Ele estava rindo de novo.
Puxei seu rosto para mim com força.
Mordi seu lábio inferior e o beijei.
– Cala a boca – sussurrei.
– Sim, senhora. – Abriu a boca para me sugar, me impelindo a fechar os olhos e me
entregar. Perdida nele. – Viu como é fácil me fazer calar a boca? – murmurou. – Não
precisa gritar, nem mebater. – Alternava palavras com beijos.
– Bem mais fácil e eficiente.
– Ryker, cala a boca.
– Uhum. – Seu toque ficou mais intenso, ele me puxou para o seu colo, me
engolindo devagar.
O modo como cobriu meu corpo com o dele foi suave, despindo minha pele com
ternura. Roupas saíram do caminho aos poucos, de um modo descansado e inevitável.
Ambos sabíamos para onde estávamos indo, como da outra vez. Mas agora
caminhávamos com mais confiança.
Segura de que ele me amava.Segura de que eu o amava.
Demorou-se em beijos nos meus seios e ria sobre meus mamilos quando fiquei
arrepiada. Acariciei seu cabelo, assistindo aos arranhões de seus dente na minha pele
e me permitindo rir com ele. Raspando as unhas na sua carne, impulsionando-o pelo
caminho que eu queria, apenas para alisá-lo logo depois sobre as linhas vermelhas que
se formavam em sua pele.
Uma tarde longa e dócil. Sem preocupações.
Elise me esperava no hotel para irmosembora, mas isso seria mais tarde.
Agora, éramos só nós dois. Mais nada.
Dedilhei seus cabelos e massageei sua nuca. Com a boca na minha, ele retribuía a
massagem, porém em minha língua.
– Você me ama. – Riu, safado. Sua nudez, como a minha, era completa. Sentindo
o ar frio resfriando nossos corpos especialmente quentes. Minha pele vibrava sob a
batida conjunta de nossos corações, separados por poucas dezenas de centímetros. Um
enlace de pernas e ele estava tão perto de me penetrar quanto poderia ficar sem
efetivamente me possuir.
– E você me ama – devolvi.
Pensei que ele ia me lamber. Ou morder. Ou me oferecer seu sorriso safado e umas
palavras ousadas.
No entanto, em vez disso, ele apenas se manteve sério. Ele apenas acariciou meu
rosto com um toque tranquilo e gentil. E me beijou.
Daquele jeito maravilhoso que te faz fechar os olhos antes mesmo de as bocas se
tocarem porque você sabe exatamentecomo vai ser intenso.
Sua ereção se comprimiu timidamente no meu espaço apertado. Me tomando sem
pressa enquanto seu beijo me envolvia mais que a fusão de nossas virilhas. Agarrei seu
pescoço com um ardor doentio de necessidade. Não queria que ele se afastasse agora.
Não queria que ele se afastasse nunca.
– Não vá embora – pedi.
Ryker beijou minha boca entendendoalém do meu pedido.
– Poucas semanas, amor – suspirou, ondulando o corpo sobre o meu. Alternando a
dor que eu sentia pela separação iminente com o prazer que se concentrava cada vez
mais voluptuoso abaixo do meu umbigo.
Ele respirava contra minha boca, me entregando seu hálito e saliva, me encarando
enquanto eu transpunha meus limites para descobrir que êxtase pleno não era uma
mera expressão.
Êxtase pleno era o que acontecia quando Ryker me beijava. Quando me tomava
daquele jeito. Quando me chamava de sua. Quando me fazia promessas. Quando me
tocava.
Ryker era meu êxtase. E ele era pleno.
Pleno como o que se construía dentrode mim.
Aquele prazer que começa modesto até se mostrar arrebatador além de qualquer
nível de suportabilidade. Que me fazia estourar em gemidos loucos, mordidas de
lábios que não conseguiam me calar. Explodi ali: devagar, espiralando fora de
controle, sentindomeu corpo inteiro se abstrair em plenitude.
Olhei nos olhos dele. Recuperava meu fôlego enquanto ele perdia o dele. Sobre
mim e em mim. Apertando nossos lábios não em um beijo, mas em uma súplica. Um
desejo que não podia ser contido, reproduzindo o meu.
– Quantas? – gemi, quando ele caiu aomeu lado. – Quantas semanas?
– Poucas – repetiu, também ele ofegando.
Ryker tomou minha mão e a beijou antes de agarrá-la em um abraço contra seu
peito. As nuvens nos observavam através dos vidros translúcidos da estufa.
Separando-se de nós por uma cortina de plantas e flores.
Eu ainda sentia o gosto dele na minhaboca.
– Me prometa uma coisa.
Ryker se virou de lado, me puxando de encontro ao seu peito.
– Não beije outra mulher – pedi.
Ele enfiou os dedos pelos meus cabelos, acariciando minha face com o polegar.
– Mina, eu provavelmente vou ficar só com strip.
– Tudo bem. Mas prometa ainda assim.
– Prometo. – Apoiou-se no cotovelo para segurar meu rosto, contemplando o
fundo dos meus olhos. – Não vou beijarmais ninguém.
Balancei a cabeça devagar.Era péssimo.
Era pior do que péssimo.
Talvez fosse muito pior do que péssimo.
Mas eu o amava e há pouco tempo atrás estava disposta até mesmo a levar uma
bala por ele.
Que tipo de insanidade era aquela em que eu preferia morrer em seu lugar do que
aceitar um breve momento de separação no qual ele, talvez, transasse com outras
mulheres?
No entanto era isso… Eu realmente preferia morrer a imaginá-lo com outra mulher.
Não é sua escolha. É escolha dele.
A sua escolha é apenas decidir se quer ficar com ele ainda assim ou não.
– Não precisa se prostituir –murmurei.
– Eu preciso descobrir minhas alternativas, Mina. E preciso fazer isso sozinho.
– Só por orgulho? – falei, baixinho, para que ele não confundisse minha
preocupação com raiva.
– Independência é importante pra mim. – Beijou minha bochecha, levemente. –
Pode entender isso? Por mim?
– Vai fazer strips aqui no Lucky’s atéarranjar outra coisa?
– É o plano.
– E não vai se prostituir.
– É o plano.
– E se algo for contra o plano? –choraminguei.
– Mina, o que você quer que eu diga?
– Quero que diga que vem para Paris comigo – admiti. – Quero que diga que não
vai mais se prostituir. Quero que diga que a gente não precisa ficar separado.
Esperei sua resposta, no entanto ele apenas ficou em silêncio. Me observando, sem
saber o que responder. Enfim, sua falta de palavras disse mais do que qualquer palavra
poderia ter dito.
– Ninguém morreu! Veja só como tudodeu certo!
– Bem-vindo de volta, Sven. – Abracei meu amigo antes de beijar a bochecha da
minha irmã. – Como foram as coisas com o seu chefe? – Bem… – Ele enfiou as mãos
nos bolsos e encarou o chão com uma dor resignada. – Acho que alguém morreu,
afinal – murmurou muito baixo.
– O funeral foi… Ele tinha filhos? – mudei a pergunta, coçando a cabeça.
– História muito longa, moleque. Outro dia eu te conto. E por aqui tudo acabou
bem? Interpol voltou para a Interpol? Hideki ajudou vocês?
– Sim, sim! Tudo fantástico, seu planofoi incrível – agradeci.
– Ryker! – Lexa me recriminou. – Não massageie o ego dele mais do que o
necessário, por favor. Não é você que vai ter que conviver com ele depois.
– Perdão – me rendi, rindo.
– E onde está Mina? – ela quis saber.
– Voltou para Paris. – Engoli em seco.
Mina…
– E você? – Lexa piscou seus grandesolhos claros, me julgando. – Quandovai?
– Não sei ainda. – Ergui um ombro. –Tenho umas coisas para fazer aqui.
– Tipo o quê?
– Lexa! Tipo arranjar um emprego antes de ir embora para Paris.
– Já foi embora para Paris outras vezes sem emprego definido.
– Para me prostituir! Não vou meprostituir na cidade onde ela mora.
– Posso te ajudar a conseguir outroemprego – disse com simplicidade.
– Quero fazer isso sozinho.
– Por quê?
– Porque eu quero.
– Ryker…
– Lexa! Será que pode me deixar cuidar da minha vida sozinho?
– Sim! Porque você faz isso tão bem! Não é mesmo? Precisa de ajuda, Ry, mesmo
que não queira admitir.
– Não preciso. Sei me virar. – Esfreguei meus olhos, sentindo-os arder. Lexa
conseguia me tirar do sério.
– Não há nada de errado em precisar de ajuda, Ry!
– Eu sei. Obrigado. – Segurei seus ombros, tentando assegurá-la de algo que eu
sequer tinha certeza. – Me dá licença um instante?
Lucy e Joanie se aproximaram para cumprimentar os recém-chegados. Sven sorriu,
parabenizando nossos esforços com a festa e oferecendo para as garotas o que parecia
ser uma proposta de emprego. Ou um curso de algum tipo.
Fechei-me no escritório, largandomeu corpo cansado sobre o sofá.
Mina…
Nós nos falávamos o tempo inteiro. Pelo menos nos primeiros dias… Depois, ela
ficou ocupada com algumas coisas do trabalho. Parecia que nossa sincronia tinha
acabado: eu sempre ligava quando ela não podia atender e ela devolvia a gentileza.
Há três dias nos falávamos apenas por mensagens de texto e recados deixados na caixa
postal.
Ela parecia bem.Parecia feliz.
Não parecia sentir minha falta.
Estava ocupada demais recolocando avida nos eixos para sentir minha falta.
O jornalista estava de volta. “Apenas para uma matéria”, ela assegurara. Claro…
todos os jornalistas do planeta queriam a nossa história. Tinha sido apenas uma
cortesia dela cedê-la ao cara a quem ela tinha oferecido um pé nabunda.
A mim, restava ficar cozinhando em ciúmes. Esperando que a entrevista fosse
desagradável e desconfortável eque a presença dele a deixasse constrangida.
Ou pelo menos seria essa a minha expectativa se não soubesse que Mina fica ainda
mais linda e safada exatamente quando está constrangida.
Olhei meu celular mais uma vez.Eu queria fazer aquilo sozinho.
Eu sabia que todos iriam me apoiar se eu apenas falasse, mas queria… queria muito
merecer.
Não queria conseguir por causa da minha irmã, por causa do meu amigo, por causa
da minha namorada.
Não queria nem mesmo conseguir porque eu era o “cara do escândalo com a máfia
russa e o pai corrupto”.
Foi por isso que enviei o manuscrito para o meu amigo, Nick, com um pseudônimo.
Nicholas se prostituía assim como eu. Mas, ao contrário da minha atual situação, ele
não tinha qualquer intenção de abandonar a carreira. Uma de suas clientes trabalhava
para uma grande editora e… Não faria mal, não é?
Enviar o meu manuscrito mais razoável: a breve história da minha própria vida. Os
desfortúnios com minha família, minha interminável fuga, alguns elementos picantes
daprofissão… e Mina. Mais sobre Minado que qualquer outra coisa.
Arranjei um pseudônimo para ela também, ou eu correria o risco de apanhar de
novo.
Deter-me naquele pensamento me fez sorrir. Fiquei sentado, encarando meus pés,
me divertindo com meu próprio sorriso silencioso e a imagem da reação de Mina se
descobrisse que eu estava tentando ser um escritor.
– Estou entrando – avisou, antes de fechar a porta atrás de si.
– Sven, eu já estava saindo. – Engoli em seco, afastando as divagações. – Só
precisava de um segundo.
– Sua irmã consegue pressionar um homem até esmagar seus colhões, não é?
– Puxou uma cadeira para sentar-se na minha frente.
– Acho que você saberia disso melhor do que qualquer um. – Ri. Ele apenas acenou
por um instante.
Espremeu as mãos com os dedos entrelaçados.
– Ela mandou você vir aqui falar comigo?
– Mandou – confessou, sem hesitar. –Antes de irmos embora, na verdade. Mas não
tive tempo… A coisa toda commeu chefe aconteceu rápido demais.
Concordei com um gesto.
– E sobre o que ela quer que você converse comigo?
– Sobre sentimentos, propósitos devida e mais todas essas bobagens.
– E vai fazer isso?
Ele fez uma careta, como se dissesse “vamos, você me conhece melhor do que isso”.
– Tudo bem. – Ri. – E sobre o que vamos conversar, então?
– O que está fazendo, moleque? –Levantou uma sobrancelha, analítico.
– Sei o que estou fazendo.
– Ótimo, então me explique e assim eu me acalmo.
– Está preocupado comigo?
– Acalmo sua irmã – corrigiu.
– Por que todo mundo acha que não consigo me virar? – A indignação
transpareceu, evidente.
– Porque você é uma criança.
– Não sou uma criança. – Me pus de pé, – Sou um homem, Delvak. Mesmo que
você e minha irmã tenhamdificuldade em enxergar isso.
Eu falei ríspido e duro, mas ele não se abalou. Nem se moveu na cadeira em que
estava.
– Por que a deixou ir? – perguntou, me fazendo tremer.
– Porque primeiro preciso resolver algumas coisas sozinho. Preciso da minha
independência. Sou como você, Sven – tentei explicar de um jeito que ele
compreendesse.
– Isso de novo – resmungou. – Garoto, que alucinação insana é essa que você
tem? Precisa ser como eu ou está fodido, é isso? Não me entenda mal,é compreensível.
É óbvio que muitos homens seriam como eu, se pudessem. Mas por que você precisa
tanto disso?
– Não é uma necessidade. É um fato.
– Não, não é.Você não é como eu.
Não existe ninguém como eu.
Só eu. Eu sou único, exclusivo e patenteado. Consegue entender isso?
– Eu é que te pergunto por que você não aceita que alguém possa ser como você?
Ele respirou fundo, sacudindo os cabelos loiros e penteados com a mão irritada e se
levantou.
– Pare com a conversa de merda, moleque. Guarde essas bobagens pra suairmã e as
psicanálises dela. Diga pramim: por que deixou a namorada ir embora?
Mordi meu lábio, lutando contra meu instinto.
– Quero escrever – confessei antes que desistisse.
Sven piscou em descrença. Demorou alguns longos segundos antes de falar
novamente.
– É isso? – Abriu os braços. – Só isso? A grande coisa que você quer fazer sozinho
e que não quer ninguém por perto para ajudar? – Acenei, confirmando, embaraçado. –
Meu Deus, garoto. Do jeito que você estava dramatizando, pensei que estava
envergonhado porque tinha desenvolvido algum fetiche maluco em que
seu pau era sua namorada e você o chamava de Cecília e passava batom na cabecinha
antes de se masturbar.
– O quê?
– E daí que você quer escrever, qual o problema? Fale pra sua irmã não se meter –
avisou. – Não vai adiantar. Ela vai se meter. Mas fale.
– Não tenho nenhuma formação, Delvak. – Não considerei que seria necessário
explicar para ele a origem domeu constrangimento, mas aparentemente eu
precisava. – Mina se formou em Paris, tem mestrado e sabe- se lá mais o quê. Um
currículo gordo e invejável. Eu mal terminei a escola. Não sou minha irmã. Não vou
ser um autor premiado. Provavelmente vou vender exemplares de impressão barata
em algum sebo na margem do Sena! – exclamei, salivando. Colocar todos aqueles
receios para fora doía como uma ferida grande e purulenta que é espremida sem
pudor. Bastava esperar que ela se esvaziasse e um dia parassede doer. – Sendo gigolô
e stripper, sou diferente, sensual, erótico. Tenho um senso de aventura. Mas se eu vou
virar um escritor parisiense frustrado, como Mina vai me ver? E se escrever não der
certo? O que vou fazer? Poderia trabalhar como garçom pelo resto da vida, me
divertindo nos fins de semana com Lucy, Tim e Joanie, mas e Mina? Como ela vai me
apresentar aos amigos?
– Do mesmo jeito que sua irmã me apresentou – sussurrou e meu corpo congelou
na exata posição em que estava, como se Sven tivesse derrubado um balde de água
gelada na minha cabeça. Eu podia sentir o gelo correndo pelas minhas veias. – É com
esse nível de insegurança que você pensa ser iguala mim?
– Pra você é fácil falar. – Engoli em seco.
– Qual parte é fácil pra mim, Ryker? – Espremeu os lábios. – Nasci em um puteiro,
nunca conheci meu pai e nem poderia: minha mãe nunca soube qual camisinha de
qual cliente foi a que falhou. Você mal terminou a escola? Bem ou mal, pelo menos
terminou. Eu não cheguei nem perto. Você não tem graduação superior? Eu também
não. Você teve que se virar para conseguir alguma independência, sobreviver e ajudar
as pessoas que ama? Eu também.Você ficou nu em um palco nos fins de semana para
ganhar algum dinheiro? Eu também. Você ficou sozinho no mundo e sem família? Eu
também. E sabe onde euestou agora?
Na presidência de uma das maiores multinacionais do planeta. Você está
preocupado em não conseguir publicar um livro porque não tem diploma? Um
diploma é um recibo, Strome. Não tem nada que possam te ensinar na faculdade que
você não possa aprender sozinho. Vai ser mais difícil? Vai. Não tenha dúvidas. Mas
homens como eu e você não fomos forjados pra vida fácil. – Parou para respirar e eu
notei que ele estava ficando vermelho.
– Acho que você estava certo. Parece que eu e você temos muito em comum,
mesmo. A grande diferença entre nós vai ser esse ponto agora. – Apontou o indicador
para o chão – Quando eu era mais novo, conheci o amor da minha vida. Mas agi
como um pirralho imbecil que achou que independência era a coisa mais importante
que eu tinha. Eu era o garanhão fodedor que não precisava de ninguém: as pessoas é
que precisavam de mim. Eu a deixei ir embora e fodi tudo. – Balançou a cabeça, cheio
de rancor pelas próprias atitudes. – Agoraé sua vez, moleque. Não seja igual a mim.
Ele se sentou no sofá. Parecia destruído de um modo muito peculiar e eu imaginei
que nos poucos dias desde a última vez que nos vimos algo muito delicado devia ter
acontecido entre ele e Lexa.
– Eu menti – sussurrei, ao sentar ao seu lado. – Menti pra Mina. Eu contei a
história toda do Simak pra ela, mas… mas não consegui contar que ele era realmente
pai da Lex. Falei que ela era adotada. Por algum motivo… as palavras soaram
melhores desta maneira. Soaram como se um pai de verdade não fosse capaz de
trazer tamanha brutalidade à vida de um filho.
– Você é um homem melhor do que Simak, Ryk. – Apertou meu ombro. – Você
sempre foi. Não há nada do seu paiem você.
– Como pode ter certeza?
– Porque eu o conheci. E conheço você. Não precisa achar que o cara safado e
independente é o único tipo de homem bom no mundo. Não precisa ter medo de se
apaixonar e começar uma família, garoto. Não o deixe roubar isso de você.
Acenei devagar e me mantive um silêncio. Minha mente exibia diante dos meus
olhos toda a minha infância… A história da minha vida. Os primeiros capítulos do
meu livro. O lugar destruído e sem luz onde tudo começou.
– Nunca tive coragem… – engasguei. - nunca tive coragem de perguntar pra ela.
– Perguntar o quê?
– Perguntar pra Lex se ele… se ele realmente fez… algo. Eu dormia no quarto ao
lado, Sven. Se ele estuprou minha irmã a metros de distância demim, não sei se…
– Ele não fez. Parei de respirar.
– Não precisa ter medo de perguntar, Ry, e eu vou responder mesmo que não tenha
perguntado: ele não estuprou Lexa. Nunca. Mas abusou dela em quatro ocasiões. As
duas primeiras só a deixaram constrangida. Foi logo quando ele começou. Na terceira,
dei um chute no saco dele e quebrei seu nariz com um murro. Mandei-o pro hospital.
Na quarta, quem o mandou pro hospital foi a Lex. Sua irmã é a mulher mais incrível
que já conheci na minha vida. E já conheci muitas mulheres.
– Por que não estão juntos, Sven? Se é possível ser um homem bom em um
relacionamento, por que você nunca ficou com ela? Por que fodeu tudo? – usei suas
palavras.
– Porque eu não sou um homem bom. Não pra ela. – Sorriu com uma tristeza
palpável. – Mas nunca entendi por que étão importante pra você que eu e elaestejamos
juntos.
– Não sei. Acho que… ela ficou a salvo quando você entrou nas nossas vidas. – Ri,
discreto. – Parte de mim sempre teve certeza que ela estava segura com você. Que
você tomaria conta dela se eu não pudesse.
– Ah, Ryk… A vida mudou todos nós. Mas nenhum de nós ficou tão forte quanto
sua irmã. Ela não precisa de ninguém para cuidar dela. Ela é uma mulher. Deus sabe
que ela acaba cuidando de mim muito mais do que eu cuido dela. Ela não precisa de
nós, moleque. Mas se precisar… ela sabe que pode contar conosco. Sabe que estamos
aqui. Ela não precisa de você. No entanto, pelo que ouvi, tem uma jovem garota que
precisa. Ouvi que ela foi embora e que você a deixou ir, Ryk… Conta pra mim: você a
ama?
– Amo.
– Então o que diabos você ainda está fazendo aqui conversando comigo?
Lance sorriu ao guardar o gravador de volta na mochila. Sorriu diretamente para
mim, me obrigando a desviar o olhar.
Foi só uma gentileza. Por favor, não transforme isso em algo que não é.
Apertei meu celular nas mãos.
Eu queria falar com Ryker. Queria falar com ele o tempo inteiro.
Mas Strome era como um peixe. Eu não podia ficar agitando a isca sempre ou ele
iria embora. O maior problema é que agora eu temia que meu receio em afastá-lo era
justamente o que estava nosdistanciando.
Monique estava sorrindo para Lance e perguntando se ele queria beber alguma
coisa.“Agora ou mais tarde”.
O tipo de Monique era um cara bem específico: qualquer um que estivesse
interessado em uma amiga dela. Sua insegurança deveria ser avassaladora para ela
precisar ser sempre o centrodas atenções.
Sua insegurança ou sua chatice. Eu nunca sabia julgar com precisão.
Ela e Elise tinham transformado minha entrevista em uma pequena festa. Elise fez
isso em meu benefício, já que preferi contar toda a história de uma vez só e não ter que
repetir a narrativa sempre que um novo curioso do meu círculo de convívio mais
próximo aparecesse. Monique fez isso em benefício dela mesma, pois queria ser a
organizadora do evento, de modo que parte da luz do meu modesto holofote
sobrasse para ela.
Respondi às perguntas de Lance, de colegas de trabalho, vizinhos e alguns amigos,
muitos dos quais eu sequer lembrava os nomes. Pessoas que mal faziam parte da
minha vida tinham brotado do nada ansiosos por detalhes do caso mais comentado da
Europa.
Eu não fazia questão de ficar em evidência, por isso recusei educadamente todos os
jornalistas interessados. Mas Lance… eu devia umaa Lance. Em Amsterdã, o clube do
Luckas estava crescendo com o sucesso e aquele seria só o começo. Delvak tinha
chegado na Holanda e parecia querer investir no negócio como um parceiro
silencioso. Ia ser bom para todos.
Todos…
– Toda essa história é ótima, não é? – Monique cercou Lance. – Principalmente a
parte de Mina precisarde um gigolô para perder a virgindade!
– Exagerou no riso. – Essa parte é inesquecível! E tão verdadeira para quem a
conhece.
Elise revirou os olhos, mas Monique não me incomodava mais. Foi impossível
evitar a emoção sempre que eu mencionava Ryker.
Não era só a saudade de não o ver há quase duas semanas… Era a incerteza sobre
nossa situação atual. O não saber.Ele sempre conseguia ser irritantementevago quando
eu perguntava o que estava fazendo. Como se estivesse escondendo algo, por receio ou
vergonha, apenasreforçando minha ideia de que ele tinha voltado a se prostituir.
– Claro que deve ter sido horrível para o pobre rapaz ficar com Mina pendurada
nele durante todo esse tempo.
– Monique levou a mão ao peito se compadecendo por Ryker.
Mas eu não estava lhe oferecendo atenção. Estava ocupada demais em navegar
perdida em meus próprios devaneios.
Como esse relacionamento poderiadar certo?
Do outro lado da sala, Lance sorriu para mim me fazendo desviar o olhar, mas era
impossível não considerar os elementos: como seria um relacionamento com ele e
como seria umrelacionamento com Ryker?
Com Strome, tudo era sempre incerto e desconhecido. Quanto tempo uma viciada
em controle como eu poderia suportar algo do tipo?
Escutamos um baque alto contra a porta e uma voz irritada do outro lado.
– Ah, agora vocês resolvem consertara porta!
Ryker!
Elise o deixou entrar e eu me levanteipor instinto.
Era tão singelo esse efeito entre agente. Tão delicado e curioso.
Uma troca de olhares, por mais rápida e insignificante que parecesse, e estávamos
os dois sorrindo. Era a troca íntima de um sentimento forte. Verdadede um que só o
outro conhecia. Trejeitos, suspiros, anseios. Tão pouco tempo e tanta coisa.
Tudo se concentrava no sorriso que ele me concedeu, o qual tenho certeza de ter
retribuído.
Na sala cheia, eu só conseguia enxergá-lo.
Não conseguia pensar em convidados,em jornalista, em amigas ou inimigas.
Só o meu gigolô sem-vergonha sorrindo para mim.
Venceu a distância entre nós, me enfiando em seu peito, fazendo eu me sentir a
coisa mais preciosa que ele possuía. Eu o abracei de volta com a mesma intenção.
Meu bem mais precioso é esse teu sorriso.
Que me faz tremer os joelhos e encharcar a outra metade das minhaspernas.
Inspirei fundo para perguntar o que ele estava fazendo ali, mas ele me beijou e
palavras perderam a importância. Elas sempre perdiam a importância nessas ocasiões.
– Cheguei – suspirou quando me soltou.
– Percebi. – Deixei-o beijar meu sorriso. Eu precisava elaborar mais perguntas,
precisava tirar todas as minhas dúvidas. Sabia que ele ia rir e me chamar de
desesperada, mas eu precisava saber. Mais do que qualquer outra coisa. Inspirei mais
uma vez, pronta para o meu monólogo.
– Não me prostituí – respondeu o que seria a primeira de minhas perguntas, antes
mesmo que eu a fizesse. – Não fiz strips também. Porque… – enfatizou a palavra
como se soubesse que eu iria perguntar. E estava certo. – Não parecia certo, sem você
pra ficar lá me assistindo e se embebedando para conseguir sobreviver a toda minha
gostosura. – Piscou um olho. – Estive tentando publicar um de meus livros. Uma
autobiografia. Com pseudônimo. Um pra você também. Sim, você está na história.
Não, eu não inventei nada. Não sei se vou conseguir e pode ser que eu seja ruim.
Pode ser que eu seja um desastre, por isso não te falei nada. Estava com um pouco de
vergonha – admitiu, balançando a cabeça como se soubesse que era bobagem. – E com
um pouco de receio de te decepcionar. Você nunca me decepcionou, não queria ser o
primeiro. Apesar de que, se eu fosse o seu primeiro nisso também, seria até apropriado
– divagou. Eu podia notar que nossos convidados tinham nos cercado com uma
curiosidade intensa. Deixei que nos observassem, eu não conseguia fazer nada que
não fosse me perder em Ryker. – E é isso – constatou, baixinho. – Não sei se vou ser
um desastre, é possível que eu seja. Mas prefiro ser um desastre aqui perto de você.
Prefiro ser qualquer coisa perto de você. As coisas sempre dão certo quando você está
por perto. – Desceu os dedos pelo meu rosto, aquecendo minha pele. – Quer dizer: dão
errado. – Forçouos olhos. – Mas depois dão muito certo.
– Ele se desfez em um sorriso e eu o acompanhei, gloriosamente. – Acho que isso é
tudo. Mais alguma pergunta que você ia fazer? Ou já cobri todas? Ah, e eu te amo –
lembrou, casualmente. – Quer ficar comigo até a próxima coisa dar errado? –
Enroscou nossos narizes.
– A gente resolve juntos?
– Melhor maneira.
Entreabriu os lábios e me beijou de novo.
– Olha que ótimo! Mais material pra história! – Monique começou, aguda, se
intrometendo em nosso beijo. – Ryker, por que não conta um pouco como foi para…
– Você dá licença? – Ele a afastou com a mão, demonstrando um pouco de polida
rispidez. – Tô tentando agarrar a mulher que amo. Não a vejo nua há mais de uma
semana e você está incomodando.
– Ryker… – pedi baixinho. – Não precisa fazer isso. – Sorri. Ele lembrava de
Monique e talvez quisesse ajudar na vingança.
– Fazer o quê? – Piscou devagar.
Ele não lembrava.
Estava apenas sendo genuíno e espontâneo. Sua mão se empostara em minha
bunda quando me beijou, uma vez que terminara a pergunta. Ele não solicitava uma
resposta, não seria necessário. Ele queria me beijar.
E, muito provavelmente, me ver nua.
Sua língua invadiu minha boca e eu arecebi com saudade.
Não sei se foi de propósito ou se nós apenas nos desequilibramos, mas caímos, eu e
ele, pelo sofá e por cima dealguém.
Como ele não se incomodou, eu apenas o segui. Suas mãos escalavam minhas
pernas, afastando a saia e se arriscando pela minha calcinha. O rugido desesperado
que eu ouvi deve ter sido de Elise, que se pôs a colocar as pessoas para fora de casa.
Diante das circunstâncias, a maioria dos visitantes deve ter cooperado e os que não
cooperaram foram expulsos pela minha melhor amiga ainda assim.
Eu precisaria pedir desculpas.
Eu precisaria ficar com vergonha.
Mas isso seria depois. Agora, a salaestava silenciosa e deserta.
Ou, pelo menos, era o que euimaginava.
Não que eu me importasse.
Ryker tirou minha calcinha, me cobriucom seu corpo e me beijou inteira.
Eu não me importava com nada.
Doze

Novos começos

Um ano depois Luckas estourou um champanhe e Tim começou a distribuir as


taças.
– Mina. – Ryker se aproximou por trás e abraçou minha cintura, me fazendovirar o
rosto para beijar sua bochecha. –Quero te apresentar umas pessoas.
Ela tinha longos cabelos ruivos, mais escuros que os meus. Usava saltos longos e
afiados e um vestido quase tão sedutor quanto o acompanhante oriental que trazia
entrelaçado em seu abraço.
– Meu anjo da guarda. – Sorriu. – A editora responsável pela publicação de Sem
Vergonha.
– Olá! Nossa! – Abri os braços, desajeitada, mas ela assumiu o controle e me
devolveu o cumprimento. – É um prazer.
– O prazer é meu. – Ela sorriu. – Estávamos todos muito curiosos para conhecer a
Tímida.
Os sorrisos se espalharam enquanto Ryker me apresentava a outras pessoas da
editora e de livrarias. Todos reunidos para comemorar a marca de cem mil exemplares
vendidos do seu primeiro livro. Sem usar o nome da irmã ou a fama que se seguiu à
nossa história coma máfia.
Sozinho.
O mérito era todo dele.
Eu estava morrendo de orgulho.
Um ano.
Há um ano ele se enfiou no meu apartamento, expulsando as visitas para fora e me
agarrando no sofá. Me pediu em namoro mais por protocolo que por necessidade.
Eu era dele há tanto tempo.E ele era meu.
Mas hoje, um ano depois, eu me sentia amparada pela tranquilidade ao saber que
nosso relacionamento tinha sobrevivido a mais do que a máfia russa: ele tinha
sobrevivido à normalidade. Tinha sobrevivido à rotina. Aos trabalhos, às pequenas
discussões, às grandes brigas… enfim, tínhamos sobrevivido. Estávamos ainda mais
fortes. Eu o amava mais. E quando ele me olhava… eu poderia estar errada, mas
apostaria minha vida no fato de queele me amava mais também.
– Lex! Orgulhosa do irmão mais novo?
– Você não faz ideia! – Ela me abraçou. – E você, leu o livro? As referências do
menino são impressionantes. A descrição da primeira vez de vocês dois foi sublime,
estou quase com inveja do estilo dele.
– Lexa, Lexa… – pedi, abanando as mãos. – Podemos não entrar em detalhessobre
o assunto?
Ela riu com gosto. Sua eterna desenvoltura com assuntos sexuais superava a do
irmão.
– Me desculpe. Acho que é a convivência com o Sven… Acabo me tornando
inapropriada também. – Piscouum olho.
Desviei a atenção para o meio do salão, onde Ryker cumprimentava diversos
profissionais e referências do mercado editorial. Usava um conjunto verdadeiro de
paletó e gravata, não do tipo que vem preso com velcro para despir em público. Esse
último tipo ele ainda usava, mas agora só para mim.
O modo como Lexa me encarava chamou minha atenção.
– O que foi? – gaguejei.
– Nada. – Ela sorriu. – Você o ama mesmo.
– Eu estava babando, foi? – Ri.
– Um pouquinho. – Arranhou a taça dechampanhe com delicadeza. – É difícil resistir
a um bad boy que no fundo é umhomem bom.
Agora era eu quem parava para analisá-la.
– Essa é a definição de Delvak também? – arrisquei. – No fundo, ele é um homem
bom?
– Ah, não! – Ela riu alto. – Sven não presta! Nem um pedacinho dele.
– E por que ele é tão difícil de resistir? – Manifestei uma careta, e ela alargou o
riso ainda mais.
– Porque ele foi geneticamente abençoado com um sorriso safado, um corpo que
pede línguas e um pênis de comprimento severamentedesnecessário.
Pus-me a rir junto enquanto Ryker se aproximava, curioso.
– Sobre o que estão fofocando?
– Coisas de mulheres. – Lexa piscou o olho para mim mais uma vez e eu abracei
meu namorado, plantando umbeijo descontraído na sua bochecha.

Ver Mina interagindo com minha irmã me dava ainda mais segurança em
relação aos meus planos.Ela já era da família.
Beijou minha bochecha e eu me virei,segurando seu queixo para beijar sua boca. Ela
protestou, argumentando sobre algo que tinha a ver com o batom, mas eu não ligava
para isso nem um pouquinho. Eu queria meu beijo e queria na hora. Lançou um tapa
brincalhão no meu ombro quando a soltei.
Caminhei até o bar, dedilhando a caixa do anel em meu bolso.
Reformulando o discurso que eu planejara. Verificando se eu tinha decorado as
palavras certas.
– E aí, vai falar agora?
– Falar o quê? – Levantei uma sobrancelha para Höfler.
– Pedir Mina em casamento. E nem inventa de negar.
– Shh! – Puxei-o pelo braço, observando ao redor. – É surpresa! Vai estragar tudo!
– Não vou. Só queria te pedir uma coisa – explicou, manso.
Devon me fazendo um pedido de forma educada era o tipo de coisa que chamava
minha atenção.
– O quê?
– Pode pedi-la em casamento amanhã?
– Por quê? – Ergui os ombros,levemente ultrajado com a intromissão.
– É porque a gente fez um bolão – justificou baixinho.
– É claro que fizeram.
– E eu apostei que ia pedi-la no dia depois da festa.
– É claro que apostou. Não vou mudarmeus planos para pedir minha namorada em
casamento porque vocês são um bando de desocupados viciados emjogos.
– Você me deve uma, Strome.
– Por qual motivo?
Apertou os lábios. Ele não se atrevia a proferir as palavras.
Respirei fundo… Com Mina, eu me tornei uma pessoa diferente. Uma pessoa mais
adulta do que antes. Ela diz que não e ri de mim. Mas percebo a mudança em
situações como essa.
– Se amava tanto sua mulher, nãodeveria tê-la traído, Dev.
– Não estou te culpando, Ryker.Encarei-o com descrença.
– Não estou te culpando mais – acrescentou. – Sei que foi culpa minha. Mas você
teve uma participação nisso.
– Está dizendo que vai deixar o rancor para trás se eu atrasar meu pedido de
casamento?
– É um bolão bem gordo. – Acenou.
– Não posso prometer nada. – Ri.
Ele deu dois tapinhas de “parabéns” no meu ombro antes de se afastar.
– E vocês dois? – Mina enlaçou minha cintura com o braço. – Sobre o que estavam
fofocando?
– Coisas de homens. – Devolvi a brincadeira, estirando a língua. Ela me beijou e
eu fechei os olhos. Deixei minhas pálpebras pesarem para mostrar a todos os
presentes o quanto eu a amava.
A minha pequena tímida descarada. Acariciei seu rosto ainda entretido no beijo,
puxando-a para bem perto, apertada no meu peito.
– Quero te perguntar uma coisa –suspirei, ainda considerando o pedidode Devon.
– É? O que foi? – Sorriu.Linda.
Tão linda.
Aquele sorriso deslumbrante quefazia o tempo parar.
Eu te amo tanto.
– Vou te perguntar amanhã – decidi,sorrindo.
– E falou agora só para me deixar curiosa? – Beliscou meu braço, indignada.
– É.Você fica linda quando curiosa – provoquei.
– O que é? Ryker! Uma dica!
– É uma coisa… – Encarei o teto na tentativa de ser o mais abstrato possível.
– Quero saber se você quer fazer uma coisa comigo.
– Humm! – Considerou, tocando o queixo. – E vai ser uma primeira vez? – Riu,
sapeca.
– Vai.
– E vou querer repetir? – Havia umasafadeza delicada no seu tom.
– Não. – Balancei a cabeça, fingindodecepção para confundi-la. – É o tipo de coisa
que você vai querer fazer uma vezsó e nunca mais!
– Tudo bem. Eu quero – decidiu,envolvendo meus ombros.
– Mas você ainda nem sabe o que é! –Ri.
– Não importa. Se é uma primeira vez com você, é claro que eu quero. – Beijou
minha boca demoradamente. Umcarinho sempre misturado a uma pitada de safadeza.
– Vai dar tudo errado! – exagerou, sorrindo. – Mas no fim, vaiser perfeito.
Epílogo

Alguns meses depois Dois dias.

Em dois dias, eu seria uma mulher casada.


Isto é, se eu conseguisse superar a ressaca em 48 horas.
Lucy enfiou uma taça de champanhe nas minhas mãos e convocou o brinde, me
forçando a beber um único gole, como manda a etiqueta, antes de abandonar o resto.
Disparei um punhadode amendoins à boca, temendo pelo vazio do meu estômago.
A ideia de celebrar a despedida de solteira foi divertida. Infelizmente, não se
pode afirmar o mesmo sobre a ideia de visitar todas as boates na rua para engolir
todos os drinques do cardápio que englobassem a palavra “sexo” nonome.
Sexo na praia. Sexo no elevador. Sexo no fogo. Sexo febril. Sexo vermelho. Sexo
rosa. Sexo azul. Sexo maluco. Sexo Infernal. Sexo Angelical. Sexo entre garotas.
Muitas coisas podiam faltar em um bar, mas a palavra “sexo” realmente não era
uma delas.
E nós bebemos.E bebemos.
Desisti da brincadeira no terceiro lugar que entramos, usando todas as técnicas
conhecidas para me livrar de um copo de bebida. Até inventei umas novas.
Quando finalmente voltamos à imensa suíte cinco estrelas especialmente reservada
para a ocasião, Elise já beirava as perigosas imediações em que a embriaguez
demanda nudez. O casaco desapareceu em algum lugar entre o Sexo Angelical e o
Infernal, o que era igualmente poético e apropriado. O resto das roupas ficava cada
vez mais alheio ao seu corpo e, quando minha melhor amiga começou a reclamar do
calor, aumentei a ventilação do ar condicionado, antes que ela resolvesse se despir
apenas para se arrepender no dia seguinte. Entre as garotas da boate, a amiga de
infância e as colegas de trabalho, somávamos quinze mulheres espalhadas pelo sofá e
tapetes da luxuosa antessala da suíte. Estourando garrafas de champanhe e prendendo
na minha cabeça o minúsculo véu que se recusava a cooperar. Denny, uma de minhas
colegas de trabalho mais chegadas, já tinha bebido o suficiente para ultrapassar a
barreira da vergonha e me puxava pelo braço para confessar o quanto ela achava meu
noivo gostoso. Preferi ignorar, não apenas porque eu tinha noção que o efeito do
álcool adeixaria sem graça no dia seguinte, mas também porque minha atenção estava
dedicada a manter Elise vestida.
– Mina, deixa ela ficar pelada – Tonya reclamou, virando a taça de champanhe
e servindo-se de mais uma. – Ela está bêbada e só tem mulher aqui. Se ela quer ficar
pelada, deixa ela ficar pelada. Lucy não vai dar em cima dela.
– Riu alto.
Lucy riu baixinho, mas Nila não gostou da brincadeira. Com o braço envolto na
cintura da namorada, Nila resmungou em holandês, palavras que não compreendi,
mas que, pela entonação, só poderiam ser ofensas.
– A Mina é controladora mesmo quando está exalando álcool pelos poros. – Elise
me abraçou, estalando um beijo na minha bochecha. – Pare de se preocupar! Divirta-
se! Depois de amanhã você será uma mulher casada! Um único homem pelo resto da
vida!
– Como uma pessoa pode querer um único homem pelo resto da vida? – Tonya
balançou a cabeça.
– Como uma pessoa pode querer um homem pelo resto da vida? – Lucy provocou e
Nila a beijou com carinho. Na comoção da ausência de Spider, Lucy e Nila tinham
encontrado, uma na outra, uma amizade sutil e um amor furioso.
– Ryker é mais que homem suficiente pra me manter ocupada. – Ao meu redor,
minhas amigas riram, crentes que se tratava de uma brincadeira. Entretanto, quando
ofeguei, foi por verdadeiro cansaço.
– Não duvido. – Denny largou-se em um dos sofás. – Se eu tivesse aquele homem,
eu o lamberia todinho, toda noite. Tá ali um gosto que eu não ia reclamar em repetir. –
Riu.
Cerrei os olhos, me controlando para não lhe oferecer uma careta e um murro.Tudo
bem que ela estava bêbada e iriase arrepender amanhã, mas se ela continuasse a citar
as atividades que desejava praticar com meu homem, eu a faria se arrepender no
mesmo instante.
– Não vamos falar de Ryker! – Skye bateu palmas antes de me abraçar, talvez
percebendo que minha colega não estava sendo exatamente educada. – Qual é o
problema de vocês? Querem falar de marido na despedida de solteira da menina?
– Tá. – Nila sorriu. Ela tinha um sorriso perigoso, como se sempre estivesse
planejando algo que envolvesse safadeza. Uma versão feminina do sorriso descarado
e sem-vergonha de Ryker. – Então, acho que está na hora da surpresa?
– Que surpresa? – Estreitei os olhos. O que mais poderia haver? Até ali, minha
despedida de solteira já tinha envolvido galões de bebidas, apostas,brinquedos eróticos
e conversas sobresexo em público. Tinha rolado até mesmo um striptease estrelado por
Lucy e Skye em cima do balcão de um dos bares que, apesar de ter feito a noite de
muitos rapazes e ter deixado algumas deminhas colegas de trabalho coradas, não pode
ser classificado como algo “especial”, a considerar de quemestávamos falando.
– Pra começar a festa. – Tonya piscou um olho para mim e Skye abriu a porta que
dava para o quarto conjugado.
Tantos homens passaram pela porta aberta por Skye que perdi a conta e a razão.
Pareciam quase clones uns dos outros, não fosse a ligeira diferença de altura e as cores
dos cabelos. Os rostos cobertos por máscaras, brancas e impessoais, cobriam-lhes da
testa ao queixo. Vestidos com paletós, gravatas e calças sociais que pareciam
esnobemente caras em seus cortes impecáveis, ao contrário da porcaria barata de
tecido vagabundo e velcro que os meninos usavam no Lucky’s.
Lexa.
Meu olhar correu para ela, sentada em um dos sofás brancos e felpudos. Sorvendo
seu champanhe devagar. As pernas cruzadas exibidas pelo decote na frente da sua saia
justa. Parecia uma imperatriz quando me ofereceu um brinde.
Strippers contratados por ela.
Entretenimento feminino de altíssimoluxo.
Sorri para mim mesma.
Por mais que parecessem chiques e caros... ainda eram strippers.
Ri, encarando as meninas.
– Desde quando strippers são “surpresa”? – Ri.
– Esses são caros! – Lucy dobrou o lábio. – Até eu, que não incluo linguiça na
minha dieta, estou curiosa para assistir.
– Acho que Mina merece uma dança sensual só pra ela, de um cara que não seja o
Ryker, hein? – Skye percorreu a fila, analisando rapidamente as opções antes de
segurar um deles pela mão e conduzi-lo até mim. Os outros strippers se espalharam
pela sala, divertindo a todas. Não consegui ignorar o indicador elegante de Lexa,
erguendo-se no ar,indicando ao stripper ajoelhado aos seus pés que fosse entreter outra
dama.
Então, minha visão foi tomada pelo stripper aleatoriamente escolhido por Skye, que
me guiou pela cintura, sentando-me na poltrona quase no meio da sala. Com as
pernas entreabertas, ele rebolou de maneira sensual, despiu o paletó e ergueu a camisa
social, retirando-a da proteção das calças, ainda sem exibir nenhum pedaço de pele.
Eu adorava quando Ryker dançava daquele jeito para mim. Aquele jeito de rebolar
parecendo que o homem está fodendo o ar e faz imaginar todo aquele movimento por
cima de você, na cama. É comum que as mulheres associem dança a sexo e, pelo
menos no meu caso, era inevitável. Ryker rebolava e eu o imaginava se enfiando em
mim. Minhas coxas de espremeram à medida que o stripper causava em mim efeito
semelhante, levando-me a amaldiçoar meu plano idiota.
Um mês sem sexo antes do casamento.Sei que tive um motivo por trás dessa decisão,
mas pela graça dos céus, eu nunca conseguia lembrar qual era.
O lado bom é que Ryker tinha uma capacidade seletiva de entendimento e, quando
sugeri “um mês”, ele escutou “duas semanas”.
Assim, trabalhou arduamente para me convencer que era ele quem estava certo, de
modo que, em vez de trinta longos dias, tive que sobreviver a apenas quinze à
abstinência.
Skye e Lucy seguraram minhas mãos, forçando-me a explorar o tórax rígido do
dançarino por cima de sua camisa e algo dentro de mim se contraiu, querendo mais.
Ele parece ter notado minha intenção como um convite e se aproximou, me levantou
da cadeira, apertou minha cintura e desceu as mãos até quase atingir minhas nádegas.
Seu aperto foi familiar, porémindecoroso, e eu o empurrei com uma negativa, assim
como Lexa tinha feito, deixando claro que estabelecera um limite que não deveria ser
ultrapassado. Ele ergueu as mãos, rendido, dedicando seu foco e seu delicioso
rebolado a uma de minhas colegas ao seu lado.
A gravata permanecia presa ao pescoço quando seus dedos desceram pelos botões,
abrindo-os e expondo o peitoral másculo. Algo na situação me incomodava e não
demorei a descobrir oque era.
Foi o modo como ele me envolveu com os braços. Como apertou minha cintura.
Como suas mãos gulosas se adiantaram na direção de minha bunda. Era seu cheiro,
sua altura, a cor do cabelo.
Então, a camisa se foi e o jeito com o qual despiu um tórax que eu conhecia melhor
que o meu destruiu a pouca dúvida que ainda me restava. Ryker fazia essa coisa com
os braços e os ombros quando tirava a camisa. Movia- os devagar, abrindo-os, numa
espécie deconvite para tocá-lo e lambê-lo só por estar despido.
Denny tinha uma mão erguida na direção do seu peito.
– Ei, ei, ei – reclamei, chamando sua atenção. Ele parou a dança, virando o rosto
ainda mascarado para mim. – O senhor pode voltar pra cá – ordenei, impaciente, com
um movimento do indicador.
Ele curvou o rosto, ainda acreditando em seu anonimato e caminhou de volta para
mim, fazendo cada passo balançar de um jeito sensual que ardia minhas entranhas.
Parou na minha frente, as mãos mergulhadas nos bolsos, a coluna levemente curvada
para ficar da minha altura. Enrolei sua gravata em uma das mãos.
– Me deixou com tesão e vai embora?
– Segurei o sorriso para não entregar a brincadeira. – Onde já se viu? Deixar uma
pessoa excitada e virar as costas? Absurdo.
Desferiu um passo adiante e hesitou antes de tocar minha cintura mais uma vez.
As mãos fortes apertaram minha carne.
Meu Ryker.
Meu Ryker bobinho. Achou mesmo que ia conseguir se esconder? Sua máscara
próxima ao meu ouvido. O sussurro abafado, rouco, mas audível.
– Está com tesão? Acho que seu noivo não deve estar fazendo um bom trabalho. Foi
impossível não rir, enquanto ele se esfregava em mim. Eu conhecia bem o
movimento do seu corpo, a pressão de sua mão contra a parte baixa de minhas costas,
unindo nossas virilhas.
– Ah, ele não dança muito bem – falei alto. – Depois que virou escritor, perdeu a
prática e ficou enferrujado. Desaprendeu tudo. Agora, quando ele tenta dançar parece
uma minhoca nervosa.
Ele travou imediatamente e, apesar da máscara, eu conseguia sentir sua decepção.
Os ombros tesos e rígidos.Sequer respirava.
– O que houve? – indaguei, sonsa.
Ele apenas balançou a cabeça indicando que não havia problema e voltou a dançar.
Dessa vez, sustentou uma dança nervosa e inquieta.
– Estava dançando melhor antes, senhor – provoquei. – Mas deve ser porque
está respirando do jeito errado.
– Ele interrompeu sua dança assim que ouviu minhas palavras. – Se estivesse
respirando do jeito certo, estaria me fodendo. – Assisti à queda de seus ombros,
indicando um tipo diferente de decepção, e não consegui controlar oriso. – Mas não! –
ironizei. – Você precisava respirar do jeito errado e estragar minha dança erótica. –
Levantouo rosto mascarado para o teto antes de se afastar um pouco.
– Você sabe – afirmou, frustrado.
– Quase certeza. – Espremi os lábios. Desabotoei sua calça, enfiando a mão por
dentro de sua cueca.
Ele tinha as mãos nos bolsos e tive certeza que estava rindo.
– Um pau. – Lembrei de outro de nossos momentos.
– Não está constrangida? – brincou.
– Nem um pouquinho. – Encarei os olhos verdes fixos em mim, deixando-o
perceber que, apesar do público ao nosso redor, eu era uma mulher diferenteagora. Ele
tinha me transformado emuma mulher diferente. Uma sem- vergonha assim como ele.
Desbravei seumembro, da cabecinha às bolas, sentindo-o se esticar na minha mão. Ele
gemeu baixinho. – Pronto. – Soltei-o e ele se moveu, chateado. – Agora eu tenho
certeza.
Esperou apenas um segundo antes de me agarrar pela cintura, girando no ar.
Removi sua máscara com cuidado, apenas para descobrir aquele rosto que eu amava
mais que qualquer outro.
– Aí está ele – sussurrei, raspandonossos narizes. – Minha minhoca nervosa.
Ryker beijou minha boca, pousando- me no chão.
– Ei, isso não vale! – Lucy reclamou eeu vi Skye sorrir, sugerindo que sua escolha de
stripper não tinha sido nem um pouco aleatória. – Ele não vale!
– Boa noite pra vocês – desejou depressa, antes que Lucy pudesse impedi-lo,
agarrando minha mão e me puxando para dentro do quarto.
– Só mais dois dias! – implorei, quando ele me prendeu contra a porta
fechada, beijando meu pescoço. Seu quadril ainda mantinha um rebolado proibido
que me fazia tremer em todos os lugares errados.
– Você tem as piores ideias – resmungou, ainda com a boca enfiada na curva do
meu pescoço.
– Falou o homem que tentou fazer um striptease anônimo pra mulher que transacom
ele há mais de um ano.
– Como conseguiu perceber? – Abriu os olhos, sua chateação relativa ao plano
falho era perceptível.
– Quer dizer que você não conhece meu corpo de cor e salteado? Ele fechou os
olhos e grudou nossas testas.
– Cada centímetro dele. – Sorriu sozinho e eu o beijei. – Ah, Mina, chega desse
negócio de esperar, por favor! – Simulou uma dancinha cômica de desespero, se
esfregando em mim e eu belisquei sua bunda. – Você e essa sua mania de me fazer
esperar. – Entrelaçounossos dedos, ranzinza.
– Só mais um pouquinho, amor. – Mordi seu lábio inferior.
– Tá – resmungou. – Mas não aperta meu pau, né? Você quer esperar, mas
apertando meu pau fica difícil. Desse jeito não dá certo, mulher.
Ri, aprofundando as mãos em seus cabelos e apertando-o em meu abraço.
Sexo não ia acontecer, mas beijos não estavam fora dos limites e nós dois não nos
poupamos.
Um beijo que se prolongava e aquecia.
– Amor... – gemeu, entre os beijos. – Amor... quero te pedir uma coisa. – Era um
murmúrio quieto. Quase tímido. Receoso.
– O que foi?
Segurou meus braços, encarando o chão.
– Um dos caras lá fora – suspirou. – Foi uma indicação de Lexa. Ele é garoto de
programa. Ela disse que ele é muito bom. Profissional.
– Ele quer um emprego no Lucky’s? Eu só volto pra lá no próximo semestre, Ryk,
mas posso...
– Não, não. – Oscilou a cabeça. – É que... – Bagunçou os cabelos com as mãos e
me puxou para a cama. Não houve lascívia quando se sentou sobre os lençóis.
Apenas aquietou-se de modo a contemplar o chão por um segundo, convidando-me
para ficar ao seu lado. – Você só ficou comigo a vida inteira. – Apertou minha mão. –
Isso me incomoda. Me incomoda que você não conheça como é ficar com nenhum
outro homem. Me preocupa que um dia isso se torne algo desagradável pra você. Algo
insuportável.
– Ryker... – Engoli em seco, compreendendo o rumo da conversa. – Você está
errado.
– Você não sabe como é. – Virou-se para mim com carinho. – Não sabe porque
nunca ficou com outro homem. Não tem com o que comparar. Tenho medo que
um dia você olhe ao redor, decida que não sou mais o suficiente e se pergunte como
outros homens poderiam ser. Esse tipo de pensamento gera frustração, Mina, gera
curiosidade.
– Ryker! Ficou louco? Está preocupado com um problema que pode ou não
acontecer daqui a sabe-se lá quanto tempo? É um problema muito improvável. – Fiz
uma careta.
– Essas coisas acontecem em crise de meia-idade! Vai que você repense sua vida e
fique nervosa porque só ficoucom um homem toda a vida.
– Sua irmã tem alguma coisa a ver com essa conversa? Porque ela não parece o tipo
de pessoa que concordariacom isso.
– Não. Só pedi a indicação de umprofissional.
– E ela não imaginou que seria praisso?
– Você sabe como é a Lexa, amor. Orelacionamento dela é aberto.
Esse tipo de coisa, pra ela, é normal. Talvez ela imagine que a gente também...Parei
por alguns instantes, o olhar fixo no seu, à espera do momento em que ele
anunciaria que tudo não passarade uma brincadeira. E quando esse momento
finalmente chegasse, ele iria apanhar.
Mas o momento não veio e Ryker seguardou em silêncio.
– Está falando sério? Quer chamar umestranho lá fora para transar com a gente?
– Eu já fui um estranho que você convidou pra cama. E não seria com a gente.
Seria... pra você. Ele faria o que você quisesse. Eu posso ficar ou... – engoliu em seco,
sua ereção minguava à medida que o assunto avançava, deixando claro o quanto a
conversa o incomodava – ...posso sair. Como você preferir. Mas acho que você precisa
dessa experiência. Acho que... – respirou fundo – ...precisa conhecer outro homem.
Para ter certeza que o melhor sou eu. – Sorriu, ensaiando uma brincadeira cuja graça
nunca atingiu seus olhos.
Ele estava racionalizando. Racionalizando sexo, que era o que ele conhecia.
Tentava antecipar sentimentos, algo que nunca foi sua zona de conforto. Era lindo que
ele quisesse se submeter a algo assim por mim. Pelo nosso relacionamento. Mas
também era idiota. Como a maior parte das coisas que Ryker fazia quando se tratava
de lidar com emoções.
– Você é um idiota. – Beijei sua boca.
– Não quero.
– Mina. – Inclinou-se, abraçando a si mesmo. – Deixa pelo menos o cara entrar?
Olha pra ele. Deixa ele... – Engoliu em seco de novo, como se algo lhe ardesse a
garganta. – Deixa ele... – Gesticulou para o meu corpo, o movimento parecia causar-
lhe dor. – Deixa ele tocar em você. Se não quiser, tudo bem.
Mas acho que pode gostar. Pode tentar? Eu me sentiria melhor.
– Você é um idiota! – Não havia raiva na minha voz, apenas carinho. – Se sentiria
melhor se um homem transasse comigo antes do nosso casamento?
– Me sentiria melhor se você tivesse experimentado outros homens antes do nosso
casamento para que não ficasse curiosa para experimentar depois. Não estou
afirmando que é certo, Mina. Masé realmente tão incompreensível? – murmurou.
Mordi o lábio, tentando respirar fundo.
– Tudo bem. Mande-o entrar.
Ele se ergueu e abriu a porta, convidando o estranho a se juntar a nós.
– Ele pode ficar com a máscara. – Ryker parecia miúdo e reduzido,apontando para
o estranho com o polegar. – Para manter as coisas num nível mais impessoal. Ou pode
tirar, se você preferir. – Sua voz falhava até quase desaparecer. As mãos enfiadas
embaixo das axilas, como se ele temesse que, ao liberá-las, fosse capaz de avançar e
esmurrar o estranho assim que ele me tocasse. – Só não o beije, tá? – sussurrou.
Ficou parado no canto enquanto o mascarado avançava pelo quarto.
Seus olhos castanhos eram intensos e sedutores. Tão intensos que, mesmo que ele
tirasse a máscara, seria possível que eu não enxergasse qualquer outra parte de seu
rosto além de seus olhos.
Tocou minha cintura e, por um instante, temi que fosse idêntico.
Igual a Ryker. Me assustaria notar que eu não conhecia o toque do meu homem,
reduzindo-o a um mero toque, considerando-os todos iguais.
Mas seus dedos atingiram minha carne e eu sorri.
Era pesado demais, desagradável. Sua ereção chegou rápida, suas mãos escorreram
pelas minhas costas, pressionando seu peito contra meus seios e...
Não... não, não, não.
Minha vagina ressecara. Parecia uma esponja, sugando de volta para dentro do
meu corpo cada gota de lubrificante liberado apenas para Ryker. Meu corpo não
parecia capaz de ficar molhado ou relaxado para qualquer homem que não fosse
Ryker. O mascarado tocou minhas coxas e sua rouquidão ecoava em meus ouvidos,
sussurrando palavras que me deixavam mais constrangida que excitada.
Era o nervosismo de véspera de prova mais uma vez. Até mesmo sua boca,
mesmo que protegida pela máscara, me incomodava. Perto demais do meu corpo.
Ryker tinha sido estranho um dia. Ryker tinha me tocado em um quarto de hotel
quando eu não sabia nada além de seu nome e sua ocupação.
Mas não foi daquele modo. Havia algo nos olhos do meu Ryk que eram
diferentes da intensidade dos castanhos que agora me observavam. Algo que me
promovia excitação.
Mas o castanho era diferente. O contexto era diferente.
Sorri ao ver Ryker rígido no canto do quarto. Ele me devolveu um sorriso amarelo
de incentivo. Não tinha compreendido o motivo da minha risada.
Empurrei o dançarino com educação.
– Obrigada. – Acenei. – Já pode ir.
Ryker estava ao meu lado em um instante.
– Algo errado? Ele fez algo que você não gostou? O que ele fez? – Me tomara nos
braços.
– Calma. Obrigada. – Indiquei a porta. O desconhecido apenas gesticulou uma
breve reverência para nós dois e se foi. – Não é culpa dele, Ry. É culpa sua.
– Minha? – Ele me soltou para enfiar as mãos de volta embaixo das axilas. Eu
conseguia sentir o cheiro forte do seu ciúme e desconforto. – O que eu fiz? Eu estava
quieto ali no canto e olha que nãofoi fácil!
– Culpa sua por ter me estragado, seu idiota. – Revirei os olhos. – Eu ia fazer uma
piada. – Gesticulei e ele respirou, compreendendo. – Você foi o primeiro homem com
quem fiquei mas me estragou de um jeito que não me dá vontade de ter mais nenhum.
– Apoiei- me em seus ombros, abraçando-o devagar. – Acho que algumas mulheres
têm esse azar – provoquei. – De encontrar o idiota certo logo de primeira. Tira a
diversão de procurar outros idiotas – expliquei devagar e ele riu. – Mas a gente ganha
tempo. E você sabe que, pra mim, eficiência vem em primeiro lugar. – Pisquei um olho.
– Tem certeza?
– Amor – Gargalhei baixinho. – No que você estava pensando? A gente nem
namorava quando Devon me tocou no palco e você lhe deu um murro. Você me viu
nua na cama do Allender e depois nem conseguia olhar pra mim! A gente transou na
frente de todo mundo no banheiro do bar, mas no segundo que o cara do casal ao lado
tentou me tocar, você me agarrou e me levou para longe de lá antes que eu percebesse
o que tinha acontecido. Você é exibicionista enunca se incomoda com público. Mas no
segundo em que alguém me toca, você começa a passar mal.
– Não gosto – resmungou, dando de ombros. – Mas não sou seu dono.
– Ninguém acha isso, amor. Mas você é ciumento. No que estava pensando quando
resolveu sugerir que eu ficasse com outro homem?
– Você precisa experimentar, Mina. Não é certo uma mulher conhecer só um
homem na vida.
– E certo é você querer definir o queé bom ou ruim para mim?
– Você não sabe porque só transou com um. Ter parceiros diferentes é uma
experiência importante.
Travei os lábios, sentindo a irritação que finalmente me atingiu.
– Strome, senta aqui. – Indiquei a cama e ele obedeceu, cansado. – Você e seus
amigos confundem liberdade sexual com necessidade sexual. É a minha virgindade,
tudo de novo! – reclamei. – Perder a virgindade cedo, perder a virgindade tarde, perder
a virgindade em uma grande ocasião com o homem da sua vida, perder a virgindade
com um desconhecido em um bar... Não faz diferença! O que importa é o que a
pessoa quer. É o que nos faz bem. – Segurei seu rosto em minhas mãos. – Não é
porque prezamos a liberdade sexual que devemos cumprir todos os quesitos da lista
de “sexo livre”.
Ryker apertou minha mão com carinho, beijando o canto da minha boca. Não
devolvi o beijo, porém, assim que ele se afastou, passei o polegar pelos seus lábios
deixando-o beijar meus dedos. Apoiei um joelho de cada lado de seu quadril, estirado
sobre a cama. Pressionei meu nariz contra o dele, montada em seu colo. Fechou os
olhos, inspirou meu cheiro. Coloquei seu pescoço entre minhas mãos em busca de sua
boca.
– Gosto de sexo safado e exibicionista. – Ri, Ryker não abriu os olhos, ainda
procurando minha boca. – Mas só gosto de sexo com você – admiti com um sussurro.
– Se a mulher transa com três homens por noite ou se transa com um só a vida
inteira, também não faz diferença! Desde que seja a vontade dela. O que lhe faz bem.
E eu... – Beijei sua boca. – Eu sou apaixonada pelo meu idiota e não quero outro.
Obrigada. Entendeu? Ou quer que eu use palavras mais fáceis?
– Tanto faz. – Raspou a língua no meu queixo. – Não consegui ouvir mais nada
depois do “sexo safado e exibicionista”.
– Ah, é?
– Humm. – Seu gemido de concordância se transformou em um gemido de algo
mais e suas mãos estavam apertando minhas nádegas, por baixo do vestido. Eu me
movi em seu colo, montando em sua ereção e estimulando-a com minha virilha.
Ryker apertou minha cintura com força suficiente para atrapalhar minha respiração.
Escorreguei minha língua pela sua garganta, bebendo sua saliva, piscando os olhos
pesados, me entregando ao momento. Toque rápidos de lábios molhados e olhos
abertos, Ryker me observou com um meio-olhar. Me desejando. Implorando. Beijos
intensos de bocas sedentas e olhos cerrados. Segurando-o pelas orelhas, engoli sua
aflição. Agarrei seu pescoço e ele se levantou, pegando-me por baixo dos joelhos antes
de me jogar de volta na cama.
– Amor, dois dias para o casamento –lembrei, rindo.
– Que casamento, senhorita? – Eleriu. Muito, muito safado. – Eu só fui contratado
para vir até aqui. Dançar pra você.Te deixar molhada. Te comer, se tivesse a chance. –
Lambeu meu queixo.
– A senhorita está noiva? – Beijou meu pescoço, raspando os dentes na minha pele,
me fazendo suspirar até transpirar.
– Seu noivo tem coragem de te deixar sozinha assim, às vésperas do casamento? – Ele
se pôs a me despir, com os dentes no meu mamilo.
– Ah, fiz um acordo com ele – gemi. – Nada de sexo por um mês antes do
casamento.
– E ele aceitou esse absurdo? – Fingiu estar chocado.
– Deu trabalho.
– Imagino. – Engoliu um de meus seios. – Não deve ser fácil abrir mão de ter esses
peitinhos lindos na boca. – Mordiscou a carne ao redor da auréola.
– Mas ele acabou aceitando. – Apertei minhas pernas, sentindo-o entre elas.
Crescendo. Esfregando-se em umaparte que ficava mais e mais sensível.
– Como pode um homem aceitar um acordo desses? Deve ser um idiota. – Riu.
– É o que eu vivo dizendo – provoquei e ele me mordeu no seio, com um pouco
mais de força. – Ai! – Ri, dando-lhe um tapa no topo da cabeça.
– Mas é um idiota que sabe dançar? – Voltou para minha boca e apenas consegui
gemer em resposta. – E comer? Ele sabe te comer?
– Como ninguém – gemi, desesperada. Ryker tinha tirado minha calcinha e despido
meu vestido. Eu já estava abertae encharcada.
– Ah, então é um desafio. Tenho que te foder melhor do que ele, não é isso? Para
você se despedir da vida desolteira antes de casar com o idiota?
– Vai ser difícil. – Balancei a cabeça.
– Ninguém jamais me enlouqueceu como ele. Em cima da cama ou fora dela. Ele é o
único que me deixa molhada.
– Humm... – Deslizou a boca pelo meu estômago, me fazendo arquear as costas
enquanto ele agarrava meus seios.
– Se você não ficar molhada sozinha, vamos ter que fazer algo a respeito.
Sua boca atingiu o meio de minhas pernas. Eu estava pingando tão
incontrolavelmente que, quando sua língua me atingiu, suas lambidas mais removiam
meu suco do que me molhavam. Contudo, sua saliva em minha pele causava um
eterno efeito sobre minha libido e eu explodi. Enfiei as mãos em seus cabelos só para
gemer seu nome.
– Quem é Ryker? – Beliscou minha bunda à medida que afundava o nariz emminha
bocetinha. – Sou só um stripper, senhorita.
Ryker me engolia pela vagina enquanto prosseguia com sua brincadeira de
interpretação. Eu urrava baixinho e ele me lambeu e mordeu até me fazer atingir o
limite, de modo que mal me penetrou e eu atingi um orgasmoviolento. Seu movimento
continuou enquanto ele me cobria com seu corpo. Exatamente como a dança que
tinha me oferecido: movia as nádegas em golpes fluidos e constantes, me fodendo
devagar, me impelindo a arreganhar pernas e boca mesmo que o orgasmo já tivesse
me atravessado. Algo voltou a se formar em meu estômago. Intenso e poderoso.
Agarrei seus cabelos com força.
– Humm... mais um? – Ele mordeu o lábio, se segurando para não terminar. –Com
dois seguidos assim, acho que eu ganho do idiota, não?
Eu quis continuar a brincadeira, mas o grito foi mais forte que eu. Berrando seunome
a plenos pulmões, eu estava certa de que o resto da festa nos escutaria sem
problemas.
Ele me beijou e gemeu na minha pele. Meu nome misturado com seu sentimento de
posse.
Mina... Minha...
Mordi seu queixo largo, sentindo sua barba por fazer furar meus lábios. A explosão
de alívio foi ainda mais forte que a anterior, sentindo-o derramar seu prazer dentro de
mim.
Ryker resfolegava, visivelmente sem ar. Uma gota de seu suor escapou de sua testa
para a minha antes de ele grudar nossos rostos em um beijo ainda ofegante. Ele não
saiu de mim e as palavras que escaparam de seus lábios foram mais doces que seus
lábios em si.
– Sou teu – sussurrou. Tão baixo. Tãodoce.
– Eu sei. – Acariciei seu rosto, apenas para ter minha mão roubada por sua boca e,
assim, coberta de beijos. – Épor isso que não quero mais homem nenhum.
Ele sorriu e se voltou para a cama, saindo de mim. Nos deitamos um sobre o outro,
uma mistura de corpos tão completa que era difícil determinar se quem me abraçava
era ele ou se era eu quem o envolvia. Corpos entrelaçados.
Entre beijos e sorrisos, olhares e confidências, nos esquecemos das pessoas que nos
aguardavam do lado de fora.
Eu e Ryker.
Era isso que acontecia.
Nós esquecíamos todo o resto. Entrelaçados, nós deitamos.
Entrelaçados, nós esquecemos.
E entrelaçados, nós dormimos.
Naquela e em todas as outras noites de nossas vidas.

FIM.

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