sauuesguie> A Educagao sob o Prisma da Economia “As caracteristicas mentais geralmente denominadas de analiticas $40, em si mesmas, pouco suscetiveis a uma anilise. Podemos aprecid-tas somente através de seus efeitos.” Edgar Allan Poe, Assassinatos na Rua Morgue 1. Introdugado Existem poucas associagdes estatisticamente tao fortes como aquela que vincula rendimentos (salarios) com nivel de escolaridade (ver Gra- fico 1). Um individuo pode ter reduzida familiaridade com bases de dados ou com séries econdmicas, mas ele saber, com relativa certeza, que mais anos de estudo elevario suas possibilidades de ocupar pos- tos de trabalho melhor remunerados. A esta vantagem de se usufruir maiores salarios podemos agregar outras (ocupagdes menos pentveis, maior status social, hierarquia mais elevada no interior das empresas, maior possibilidade de encontrar emprego, menor chance de cait no desemprego etc.), mas, em todos os casos, 0 imaginario popular outorga A maior dedicagao aos estudos mais retornos econdmico e social. | Gratico 1 | Rendimento do Trabatho segundo Anos de Estudo Rendimento do Trabathoseuuesguie> xiv Introdugao 4 Economia da Educa¢do a BiBLioGRAFIA CITADA M. (Eds) Essays in the Economics of Crime and BECKER, G.S; LANDES, W- jc Research, 1974. Punishment, Nation Bureau of Econom INER, N.; KNOWLES, J.A. More on Marriage, Income. International Economic Review, v. 44 GREENWOOD, J; GU tility, and the Distribution of n.3.p 27-862, 2003. POLLAK, R.A., Gary Becker's contributions to family and household eco- romics, NBER Working Paper n 9232, Oct, 2002, Disponivel em: . Acesso em: 13 mar, 2015 RICARDO, D. Principios de Economia Politica Trtbutagao. Abril Cultural, 1982 ‘sauuesguie> 2. Um Pouco de Historia rezd ¢ as Causas da Riqueza das Nagoes (1776), livro tido como 0 inicio das modernas reflexdes sobre a ciéncia econdmica, ja fazia referencias a educacao. Suas reflexdes sobre o tema, contudo, sao ambivalentes e articulam aspectos econdmicos e sociais. Adam Smith foi pioneiro na identificacdo das vantagens da divisao do trabalho e seu impacto sobre a produtividade. Hoje, ¢ usual mencionar seu exemplo sobre a fabricacao de alfinetes e a divisao do trabalho para sua producio como sendo uma singularidade das modernas formas de organizagao. Seu posicionamento era ambivalente por diversos motivos. Por um lado, ele mencionou a necessidade de qualificacao no trecho: Um operdrio nao treinado para essa atividade (que a divisio do trabalho transformou em uma industria especifica) nem familia- rizado com a utilizag3o das maquinas ali empregadas (cuja inven- 40 provavelmente também se deveu 4 mesma divisdo do traba- tho) dificitmente poderia talvez fabricar um Ginico alfinete em um dia, empenhando o maximo de trabalho. (SMITH, 1983a, p. 41), A divisao do trabalho ¢ 0 conseguinte treinamento especifico teriam impactos positivos sobre a produtividade, assim, Se, porém, tivessem trabalhado independentemente um do ou- tro, e sem que nenhum deles tivesse sido treinado para esse ramo de atividade, certamente cada um deles nao teria conse- guido fabricar vinte alfinetes por dia [..]" (SMITH, 1983a, p. 42). Ou seja, a forma moderna de organiza¢ao da produgao exigiria cer- to treinamento dos trabalhadores, que, articulado com essa divisao do trabalho, geraria enormes ganhos de produtividade. [..] vejamos como o aprimoramento da destreza do operdrio ne- cessariamente aumenta a quantidade de servigo que ele pode realizar; a divisdo do trabalho, reduzindo a atividade de cada pessoa a alguma operagao simples e fazendo dela o Unico em- prego de sua vida, necessariamente aumenta muito a destreza do operdrio. (SMITH, 1983a, p. 43). * poderiamos nos estender nas citayBes. Contudo, por uma questa de espace, remetemos ao leitor interessado o Capitulo de A Riqueze das Nagdes, Primeiro Volume,sauuesguie> Capitulo | A Educacao sob 0 Prisma da Economia Neste capitulo, nosso objetivo sera apresentar os funcamentas destes vinculos. Ou seja, tentaremos desenvolver os argumentos pelos quais 0s economistas justficam esta correlagio ou, desde uma perspectiva mais geral, 05 custos e beneficios da educagio em termos de magnitu- des monetirias. Dado esse nosso objetivo, estruturamos nossa exposicio da seguinte forma: na proxima segio, faremos uma breve resenha das primeiras tentativas de introduzir um olhar econdmico sobre a educa- Gao, tentativas que remontam aos fundadores da economia com ciéncia ¢ singularidades proprias, no século XVIII. Especificaremos as transi- des até a consolidagao do pensamento moderno; consolidacio que se concretiza entre as décadas de 1950 e 1970 do século XX. Na Segio 3, veremos como, no que denominamos de modelo padtrio, ou seja, a pers- pectiva econmica hoje prevalecente, a educagao adquire status teoricos proprios. Na Segdo +, aprofundaremos essa perspectiva, sofisticando a anilise, a medida que desagregamos a educagio para sua subsivisio, fragmentacao que tera importantes desdobramentos. Por tltimo, fina- lizamos 0 capitulo na Segio 5, com um balango do exposto. Comple- ‘mentamos este capitulo com um anexo sobre o valor do tempo em eco- nomia, Na medida em que a educacao é, como veremos, um processo de poupanga/investimento com um horizonte temporal para que seus beneficios se concretizem, compreender o valor do tempo em termos scondmicos constitui um pré-requisito essencial para a leitura deste ca- vitulo, a partir da Secdo 3. Nesse sentido, sugerimos aos leitores nao :miliarizados com conceitos como Valor Presente a realizarem uma lei- ra prévia desse anexo, Um Pouco de Historia 2.1. A Escola Classica ‘feréncias 4 educacdo e seus desdobramentos econdmicos ja po- 2rencontradas nas primeiras tentativas de tornar a economia uma ina passivel de ser abordada com certo rigor cientifico. Adam 0 economista e fildsofo escocés do século XVIII, em sue obra hecida, A Riqueza das Nagdes — Uma investigacao sobre a Natu-sauuesguie> 2. Um Pouco de Historia consagrada a uma atividade muito limitada redundaria em individuos sem formacio geral, incapazes de desenvolver todas as potencialidades de um ser humano, O Estado teria de promover a educagao (indepen- dentemente da idade) visando ampliar o horizonte limitado imposto pela divisio do trabalho, divisio intrinseca a moderna organizacao da producao e fonte dos ganhos de produtividade. Contudo, Adam Smith chegou a sofisticar sua perspectiva na medi- da em que essa visio geral que outorgou a divisio do trabalho, papel crucial nos ganhos de produtividade, tem nuances quando distingue as diferentes qualificagdes entre os individuos. Nesse sentido, um indivi- duo mais qualificado geraria um produto com mais valor. Fsse maior retorno, por um dado tempo de trabalho, seria uma compensagao e nomica ao tempo dedicado a adquirir maiores habilidades. [.J se um tipo de trabatho exige um grau incomum de destreza e engenho, a estima que a pessoa tem por esses talentos natu- ralmente dard ao respectivo produto um valor superior aquele que seria devido ao tempo nele empregado. Tais talentos rara~ mente podem ser adquiridos sendo mediante longa experiéncia € 0 valor superior de seu produto muitas vezes nao pode con- sistir em outra coisa sendo numa compensagao razodvel pelo tempo e trabatho despendidos na aquisigdo dessas habilidades. (SMITH, 1983a, p. 77). Nessa mesma linha de raciocinio, esta a famosa frase que equipara um homem a uma maquina, na qual o retorno do investimento na acu- mulagao de habilidades tem seu equivalente no investimento realizado em uma maquina. Em ambos os casos, trata-se de um investimento, seja em capital fisico ou em capital humano, e nos dois, deve-se esperar por compensagio financeira, Vamos repreduzir esta chissica passagem de Adam Smith, em A Ri- queza das Nagoes Quando se instala uma maquina cara, deve-se esperar que 0 trabalho extraordinério a ser executado por ela antes que se desgaste permita recuperar o capital nela investido, no minimo, ‘com 0 lucro normal. Uma pessoa formada ou treinada a custosauuesguies 4 Capitulo! A Educagao sob o Prisma da Economia Alem desse aspecto estritamente econdmico, Adam Smith Ssinalo, alguns desdobramentos morals na divisio do trabalho nas modeys industras. O trabalho na agricultura tradicional seria irregular, espe dico ec, 0 que redundaria em um individuo “indolente e preguigosy e que acabaria afetando sua produtividade.? Dessa forma, a modern. zagdo na organizacdo do trabalho, concentrado em grandes Unidades de producao, significativa divisdo de trabalho etc. teria como Tesultady assalariados bem treinados, com habitos dignos de elogios (regularidy, de no tempo) etc., um perfil de personalidade que acabaria, também, tendo desdobramentos sobre a produtividade. : Contudo, sua posi¢ao era ambivalente, uma vez que essa maior des. treza em uma tarefa, produto da divisio do trabalho, acabava limitands suas possibilidades de desenvolver-se intelectualmente. O entorpecimento de sua mente o torna tao somente incapaz de saborear ou ter alguma participagao em toda conversacao racional, de conceber algum sentimento generoso, nobre ou terno, e, consequente- mente, de formar algum julgamento justo até mesmo acerca de muitas das obrigagdes normais da vida privada. Ele é totalmente incapaz de formar juizo sobre os grandes e vastos interesses de seu pais, (SMITH, 1983b, p. 213), Justamente ai, interviria a educagao, que teria de ser promovida pelo Estado a fim de desenvolver aspectos impossiveis dle serem add ridos apenas no processo de trabalho. O ensino de Ciéncias ¢ Filosofia possibilitaria apreciar a beleza da literatura, musica, danga etc. e evitar as superstigdes, fanatismos etc. Assim, a moderna organizacdo do trabalho requereria assalariacos bem treinados para tarefas muito especificas, com habitos regulates, mas justamente essa habilidade muito especifica, e uma vida muito * Gm suas palavras “0 habito de vadiare de apicar-se 20 trabatho indolente e descuidadamente ada aturaimente — equasenecessariamente — por todo trabalhador do campo que ¢ obrigado a mudar de rab? de feramentas a cada meia hora ea fazer vnte trabalhos diferentes a cada dia, durante a vida tod, 6. sempre o torna indolente e preguigoso,além de faré-o incapaz de aplicar-se com intensidade, mes%0 0s cases de maior urgéncia.Independentemente, portanto, de sua deficiéncia no tecante § destreza ou rap et ssa razdo sufiiente para redutie sempre e consideravelmente a quantidade de trabilho que ele ¢ cps learacato”sauuesguie> 2. Um Pouco de Historia hoje, para maior consumo no futuro; seja do proprio individu, seja das geragdes futuras) viabilizaria elevaco no investimento, ampliando a capacidade de producto no tempo. Vemos, em Senior, uma correlagio mais estreita entre educacdo e magnitudes econdmicas; seja diretamen- te (maior poupanca), seja indiretamente (paz social contribuindo para regras de jogo estaveis que propiciariam crescimento). Senior também mencionou correlagées entre trabalho infantil, nivel de renda da familia e educagao, que podemos considerar como sendo 0 berco de atuais interpretagoes. Fle citou, explicitamente, o trabalho das criancas como comprometedor da educagio e, nesse sentido, a regula- mentagao e desincentivo no ingresso ao mercado de trabalho de crian- as foi sugerido. Se, por uma parte, o trabalho infantil afeta o nivel de educagao das criangas e jovens, a incorporacao a vida ativa destes seria pautada pelo rendimento familiar.’ Indiretamente, na medida em que os filhos sao fonte de renda na familia, e, ai, poderia ser identificado um aspecto que alimenta o crescimento demografico, a educagdo obrigaté- ria poderia ter impactos no tamanho da familia (reduzindo o mesmo), Em John R. McCulloch (1789-1864) observamos uma mudanga um tanto radical na leitura das consequéncias da educagao. Contra- riamente aos autores anteriores, McCulloch acreditava que na igno- rancia residia uma sorte de resignagao, achando os pobres que a alte- ragdo em sua situagdo estava além do alcance de suas possibilidades. De outro modo, um individvo educado podia associar sua cond na estratificagdo como produto social nao natural, abrindo espaco para a transformacao mediante a agdo humana. Por outra parte, este pensador classico chegou a estabelecer vinculos entre as habilidades dos individuos, a produtividade e o dinamismo de uma nagdo. Ele diagnosticou o progresso da Holanda durante o periodo de auge do mercantilismo como resultado do ingresso de imigrantes (refugiados) > Em reaidade, em Senior, também vemos um confit dstibutivo” no Selo do grupo familiar. Orendimnento das ‘tangas serla gasto pelos pas, em parte para beneticio proprio, sendo estabelecido um confito de interesses ‘entre os pais (que procurariam consumo presente 4 escolarizagio dos fihos) com os Interesses das ciangas {mais educag3o para assegurarganhosfuturos ques seriam propiciados com maior frequéncia escola), Ou sea, fem termos da moderna lnguagem em economia, © madela de Senior ndo seta de pas altrustas. A educacso obrigatéeia reduatiaaintensdade desse suposto confit,sauuesguie> ] 6 Capitulo 1 A Educagao sob o Prisma da Economia de muito trabatho e tempo para qualquer ocupagdo que exija 2. Um Pouco de Historia 2.2. A Tradicao Socialista Observamos, assim, que nesse conjunto de fildsofos~economistas 05 quais integraram o que corriqueiramente ¢ conhecido como Escola Classica, 05 argumentos econdmicos s6 comecavam a ser insinuados € permeavam as posigdes de cunho mais filoséfico. De alguma forma, a escola marxista conserva essa tradicao. A determinacao das remu- neragdes, nessa corrente, basicamente estipulada pelo conflito dis- tributivo. Nesse sentido, a educagdo € assumida como uma forma de livrar a classe operaria da alienacdo potencializar a sua capacidade de negociacdo. As escolas, as tarefas educativas, os jornais ¢ a publicagao de livros, propiciados pelos sindicatos e partidos socialistas, deveriam ser assumidos como parte da conscientizagao. Conscientizagao que so seria factivel mediante atividades pensadas para este fim, uma vez que as economias de mercado (via fetichismo da mercadoria) impediriam que a exploragao da classe trabalhadora (entendida como apropriacio privada do excedente ou mais-valia) fosse inferida. No longo prazo, na medida em que a sociedade capitalista seria circunscrita no tempo, @ educagao cientifica e tecnica seria crucial para determinar 0 progresso na futura sociedade socialista. Essa diferenciagao entre uma educagio assumida como instrumen- to de luta social e conhecimentos e habilidades identificados como uma variavel econdmica fica evidente quando fazemos referéncia ao sempre mencionado artigo de Strumilin, de 1924. Nele, a educacao, em um pais socialista é explicitamente assumida como um fator econd- mico. Referindo-se aos primeiros anos da URSS ele sustenta que “For example, the rudimentary instruction gained in one year of primary education increases a worker's productivity on the average by 30 per cent |...!" (1962, p. 634).* Essa tentativa de assumir explicitamente a educagao como um fator suscetivel de elevar a produtividade, com retornos passiveis de serem calculados, ¢ uma perspectiva moderna, s6 popularizada por uma cor “0 artigo de Strumilin foi originatmente publicado em 1924 na eXURSS. Posteriormente, foi tradurido para iversos idiomas e repredusido em diversas ocasibes, Aqui estamos nos apolando em uma versdo em inglés © publicagdo pela UNESCO em 1982.sauuesguie> 8 Capitulo | A Educagdo sob o Prisma da Economia com conhecimentos e habilidades (além de capitais) capazes de con. tribuir para seu desenvolvimento John Stuart Mill (1806-1873) foi o grande (¢ talvez ultimo) eco. nomista da denominada escola classica. Como genuino representante do pensamento liberal, conforme J.S. Mill, a educacdo era assumida como o instrumento fundamental para tornar o homem livre e autono- mo. Nesse sentido, defendia a escola aberta a todos e 0 poder publica poderia ajudar financeiramente certas classes sociais para viabilizar a sua frequéncia ao sistema escolar. Coerente com sua ideologia liberal, o Estado poderia financiar a educagio, mas nao impor seu contetido nem mesmo induzir um monopdlio. A fiscalizagao do Estado deveria limitar-se a controlar o desenvolvimento cognitive do ensino, mas nao o contetido. A educagio deveria ser assumida como uma forma de igua- lar as oportunidades e, nesse sentido, a posigao de J.S. Mill no tocante as mulheres era ilustrativa. Ele fez um paralelo entre subordinagao dos pobres aos ricos com a subordinagéo das mulheres aos homens. Em ambos 0s casos, a igualdade e autonomia deveriam ser privilegiados ea educagdo ocupava um papel central na redugdo dessa desigualdade. A maior educacdo das mulheres teria, inclusive, impactos na natalidade. seja pela sua maior participacao no mercado de trabalho seja pela ado- Gao de métodos contraceptivos, que teriam, consequentemente, desdo- bramentos no ambito econdmico. Fora desses aspectos nos quais 0 prisma filosofico liberal pauta ar- gumentos econdmicos, J.S. Mill acompanhou a posigao de A. Smith, assumindo que um trabalho mais qualificado deveria apresentar salario maior para remunerar o investimento realizado pelo individuo. Esse di- ferencial, oriundo de diversas qualificagoes (niveis de educagao), podia chegar a ser uma segmentacao social, definindo classes, e a edu (ou falta dela) poderia, assim, ser uma barreira institucional para a mo- bilidade social. Nesse sentido, a educacdo poderia ser o instrumento a ser privilegiado no combate as desigualdades de oportunidades, deven- do o papel do Estado limitar-se a um controle, desincentivando mono- polios e imposigao de contetidos, e gerando mecanismos que, comple- mentarmente as doacées de origem privada, permitissem um concreto acesso de todos ao sistema escolar.sauuesguie> 2. Um Pouco de Historia sas oportunidades no transcurso deste livro) entre educagio ¢ salarios € explicita. Como afirmou Marshall, Os que sio deixados atras, nos campos, tém recebido muito methor educacao do que em tempos anteriores e, embora ten- do talvez uma média menor de capacidade natural, ganham sa- Larios reais muito mais elevados que seus pais.” (MARSHALL, 1982, p. 278). Entre a relevancia econdmica da educagdo que observamos em A. Marshall e a incorporagio dessa perspectiva dentro de um paradigma tedrico consolidado, passou-se quase meio século. Desde o inicio do século XX e fins da década de 1950, 0 crescimento econdmico de longo prazo foi olhado basicamente como uma questio restrita a dupla pou- panca-investimento, que possibilitaria ampliar a capacidade de produ- ¢ao (produto potencial) e a renda. O investimento seria complementado pelo desenvolvimento tecnolgico e este seria exdgeno, ou seja, nao se tinha uma teoria sobre a origem deste. Poder-se-ia imaginar que o mesmo se nutria de cientistas ¢ engenheiros que produziam avancos cientificos/tecnologicos por iniciativas préprias, espiritos inquietos que, aleatoriamente, descobririam novos produtos, nas formas de produzir etc. Esses avangos se difundiriam pelo aparelho produtivo, tendo como corolirio ganhos de produtividade. Dessa forma, os avangos nos niveis de renda na maioria dos patses na primeira metade do século XX foram interpretados como uma virtuosa articulagao entre investimento e de- senvolvimento tecnologico, sendo este ultimo gerado por processos que seriam alheios a iniciativas com vistas a rentabilidade financeira. Foi no fim dos anos 1950 ¢ ao longo das duas décadas posteriores que a educacdo comecou a ter um tratamento especifico. Nesses anos, a economia dominante (corriqueiramente denominada de mainstream) ti- nha consolidado um modelo relativamente robusto teoricamente e que os economistas denominam de modelo neoclassico.’ Nesse modelo pa- drao, a educagao era negligenciada, sendo marginalizada por magnitu- des muito agregadas (poupanca, investimento, capital, forca de trabalho A denominagio de neoclissico surge como uma tentativa dese diferenciar da escolaclissica (A, Smith, Ricardo ete), mas reconhecendo nesta suas rales. "sauuesguie> / 10 Capitulo | A Educacao sob o Prisma da Economia rente de pensamento que esta nas antipodas do marxismo © que se sera abordado na tornou corriqueita a partic dos anos 1960, Esse te Seqio + deste capitulo. Voltando nossa atengio a abordagem de cunho marxista/socialista, a ceducagao assumida como um instrumento de “desalienacdo" e subsidio as lutas sociais foi se alterando na medida em que, nos pafses de maior desenvolvimento relativo, a mesma vai se tornando compulsoria e ad- quirindo um perfil de massas. A educacio, para as correntes situadas a esquerda do espectto ideologico, comega a ser assumida como uma das diversas instancias de reproducao da estratificagdo social. Sob esta perspectiva, 0 sistema educativo seria diferenciado segundo a origem social de seu publica. Escolas de elite, por exemplo, de dificil acesso, seja por restrigdes financeiras seja por exigéncias académicas, forma- riam recursos humanos para posig¢des de mando. No outro extremo, es- colas mais populares formariam individuos para tarefas subordinadas Nesse olhar, o sistema educativo forma tecnicamente, mas também em termos de valores, gostos, atitudes, expectativas etc., de maneira que 0 resultado seria umm perfil de formacéo determinado pela origem social e que tenderia a se reproduzir (Bowles; Gintis, 1977). Assim, o sistema educativo, diferentemente do que afirmavam pensadores classicos e li- berais, como J.S. Mill, nao seria um mecanismo de mobilidade social, ‘ocontrario, refletiria e reproduziria a estratificagao existente (Bordieu; asseron, 1970). 2.3. O Surgimento da Moderna Viséo Econémica da Educagéo Ifred Marshall (1842-1924) foi o economista da transicdo entre a mia classica e a denominada economia moderna. Sua obra mais tante foi Principios de Economia, publicada em 1890, Nela, foram Azidos elementos que, até hoje, permeiam a perspectiva econdmi- ducagao. Esta é assumida como um investimento com retornos ros bem concretos ¢ 0 elo entre o investimento e esses retornos anhos de produtividade que a acumulagao de anos de estudo Arelacao de causalidade (sobre a qual retornaremos em diver-sauuesguie> 3. 0 Corpo Tedrico A partir do modelo padrao da economia moderna que foi se con solidando desde Marshall, nas Universidades de Chicago ¢ Columbia (BUA), entre fins dos anos 1950 e 1970, uma abordagem, que comple- menta o pensamento econdmico consolidado até entao, vai tomando corpo. Os economistas Jacob Mincer (1922-2006), Theodore Schultz (1902-1998) e Gary Becker (1930-2014) sao nomes associados a uma revolugao interna da escola neockissica que acabou sendo conheci- da como a Teoria do Capital Humano (TCH). A transcendéncia da obra desses autores é de tal magnitude que dois deles (Schultz em 1979 e Gary Becker em 1992) foram laureados com o Prémio Nobel de Economia. 3. O Corpo Teérico 3.1. Educagao, Produtividade e Rendimentos-Salarios ATCH faz uma leitura da educacao que parte de uma relagao cru- cial no modelo econdmico padrao: a remuneragao de cada fator de pro- dugao tem estreitos vinculos com sua contribuigao ao produto, ou seja, com sua produtividade.’ A firma ou empresa contrata fatores de produ- ¢do (basicamente, trabalho e capital) e, utilizando uma dada tecnologia, os combina para atingir 0 maximo produto. Na medida em que uma firma tem como objetivo a maximizacao do lucro, a contratacao de um assalariado s6 sera interessante se valor da oferta que ele gere for su- perior (ou no maximo igual) ao custo de sua contratagao (ou seja, ao salario, no caso de um trabalhador). Se esse principio geral € valido, temos um corolario légico no caso de abrir o fator de produgdo “trabalho” em fungao de seu grau de es- * Entre as diversas contribuigBes desses autores, talvez as mais relevantes sejam Mincer (1958), Schult (1960, 1961) e Becker (1975). " Em reatidade, colocados de forma mais robusta termos mals consistentes teoricamente, a remuneragio de cada fator estaria dada por sua produtividade marginal, ou Se, a contribuigd0 ao produto da Ultima unidade de cada fator contratado. Provar que &, especiicamente, a produtividade marginal a magnitude relevante para temunerar fatores de produgio nos dstancisra de nostos objetivo. Dessa forma, podemos manter nossa afirmagSo do vinculo entre produtividade erendimentos sem que a mesma contronte as proposigBes teoricas da escola que estamos apresentando.sauuesguie> Capitulo | A Educacao sob o Prisma da Economia atc). Essa agregacao deixava a desejar quando se pretendiam analisar particularidades intrinsecas a ela. Por exemplo, o modelo podia tentar explicar o rendimento do trabalho e do capital. Mas olhar 0 agrega- do ou, alternativamente, o rendimento médio de um assalariado tipico nito iluminava aspectos mais especificos. Por exemplo, por que alguns assalariados apresentavam salarios muito elevados e outros mal conse- guiam preencher as necessidades basicas? Por que os jovens ganham menos que as pessoas adultas? Por que, em certas conjunturas, a distan- cia entre salirios tende a crescer e em outras a diminuir? As perguntas poderiam se estender. Apresentamos as anteriores como mera ilustra- cao a fim de evidenciar que o modelo padrao nao poderia dar resposta a certas questées que naturalmente deveriam ter alguma explicacao em termos econdmiicos, Assumir o trabalho como um fator de produgio similar ao capital (maquinas) sem diferenciar as singularidades de um conjunto heterogéneo nao parecia ser uma escolha adequada para ten- tar responder a certas questes particularmente sensiveis (por exemplo, por que 0 desemprego dos jovens é, estruturalmente e na maior parte dos paises, maior que aquele verificado entre a populagao adulta?). Lo- gicamente, imaginar uma forca de trabalho uniforme nao introduz pro- blemas quando abordamos quest6es macro (por exemplo, 0 custo em termos de emprego de uma politica de estabilizacao). Contudo, aspec- tos distributivos ou desigualdades de renda individuais nao podem ser entendidas, sendo, mediante algum tipo de paradigma tedrico que nos permita explicar a formacdo dos rendimentos em suas particularidades (por exemplo, por que um engenheiro recebe um salério superior a um outro assalariado que tenha apenas o segundo grau completo). Por outra parte, em termos de crescimento de longo prazo, assumir a hipotese de um desenvolvimento tecnoldgico exégeno, produto de mentes inquietas ou de um processo aleatério, nao parecia ser instigan- te teoricamente € tampouco dava resposta a estreita correlagdo entre desenvolvimento dos paises e educagio de sua forca de trabalho ou entre crescimento e recursos alocados & pesquisa e ao desenvolvimen- to. A educacao devia ter algum tipo de vinculo com as perspectivas de aumento de renda no longo prazo. Tanto a intuigdo quanto os dados induziam a pensar que esse vinculo existiria.sauuesguie> 3. O Corpo Tedrico ao sistema escolar possibilita socializar valores comuns a uma determi- nada sociedade, induzir a internalizagao de normas de comportamen- to, moldar perfis de personalidade que propiciem trabalho em equipe, atenuar condutas que resistam a convivéncia com diferencas etc., todos elementos que podem ser, no cotidiano, tao cruciais quanto a dimensio técnica na determinagao da produtividade.* Obviamente, existe uma série de fatores que podem ter origem na idiossincrasia de cada individuo e influenciam tanto os salarios quanto o lugar de cada pessoa no processo produtivo, mas que sao alheios 20 que pode ser acumulado no sistema escolar. Simpatia, capacidade de lideranca, iniciativa, beleza etc. podem ser variaveis que serio obser- vadas ao longo da vida ativa, que nao estao alheias aos rendimentos, podendo ser aleatoriamente distribuidos e, nesse sentido, nao parecem suscetiveis de serem acumulados ou adquiridos de forma intencional ¢ submetidos a um calculo de racionalidade econdmica.® A educagao nao tem impactos sobre a produtividade, exclusivamen- te, pela formagao dos individuos em funcao das necessidades dos pos- tos de trabalho ou por seu papel na socializagao e na formatacdo de valores e atitudes. Existe consenso que o perfil sanitario de um pais tem influéncias sobre a produtividade do trabalho ¢ sobre a economia em geral, ou seja, as externalidades do investimento em educacao (60- bre 0 conceito econdmico de externalidade, ver box). Gastos em sauide comprometem recursos que poderiam ser alocados ao consumo ou a outros investimentos que nao a educagio. Por outra parte, os beneficios das despesas no sistema escolar vao além do aumento direto da produ- tividade. A educagdo, por exemplo, condiciona o perfil sanitario de um pais (Kenkel, 1991). Uma populagao que permanece mais tempo no sis- * justamente, nesta funcionalidade do sistema escolar em internalizar aspectos de carder mais social ests 3 polémica sobre lealidade ou ndo da escolarizasdo de criangase jovens no lr. Er certos paises essa priica ¢ proibida (rai, por exemple, onde a educagdo das ciancas ¢ compulséria} enquanto em outros ela é possivel (GUA, Inglaterra ou Argentina, por exemple) ° Estamos flando em termosgerais.Logicamente se um indviduo recorte a uma cturga estética para methorar sa imagem visando retornos econdmicos, esse “investimento” pade ser avalado €om os mesmos criteros de ‘um investimento em edueago, Podemos apresentaro mesmo raciocinio no caso de cursoxnos quais se pretende rmethorat a oratéria ou desenvolver a capacidade de lideranga. Estamos aqui dlante de aspectos nos quais a divisdo entre qualidades voluntariamente adquiidas, condicionantes socicecondmicos e genéticos ¢ ténue. Voltaremos nestes aspectos no proximo capitulo, 1Ssauuesguie> 4 Capitulo | A Educacao sob o Prisma da Economia colaridade: as distintas remuneragées refletirao diferentes produtivida. des, Paralelamente a esse principio tedrico geral, temos que, em toda, as economias do mundo, sem excecdo, quanto maior for a escolaridade de um ocupado, maior sera seu rendimento (ver 0 Gritfico 1 a0 qual jg fizemos referéncia). A inclinagao dessa relacdo (ou seja, o impacto que tum ano a mais de estudo tem sobre o salatio) pode mudar de pats para pais ou, dentro de uma mesma economia, com o passar do tempo, mas sempre teremos uma relacio positiva: quanto maior o nivel de educacao de um individuo, maiores serdo os rendimentos. a do indivi- Neste ponto, é pertinente introduzir duas perspectivas duo e a da firma. a partir das premissas teoricas A visio da firma pode ser sintetizada que apresentamos nos paragrafos anteriores. Ela observara os salirios de mercado segundo cada nivel de escolaridade e 0 preco do capital, para, posteriormente, combinar os diferentes tipos de trabalho com di ferentes alternativas de capital de tal forma a maximizar seu lucro." Em todos os casos, teremos que o principio basico deve ser preenchido cada contratagao sera paga em fungdo de sua produtividade. xO entre escola- Resulta mais ou menos obvio que, se existe um ni ridade (anos de estudo) ¢ rendimentos, em thima instancia vai ser a produtividade a explicacdo dos rendimentos, sendo a trilha de causali- dade a seguinte: Escolaridade © Produtividade «> Salarios A escolaridade elevaria a produtividade dos individuos na medida em que aumenta a capacidade cognitiva, suas habilidades em adminis- trar tecnologias, conhecimentos de processos, capacidade de comuni- cacao etc, A esse conjunto de qualidades, que podemos denominar de técnicas, podemos agregar outras de cunho mais social. A frequencia esse raciocino, temas viros supostos implicits: o empregadar ¢ tomador de pregos no mercado de fatores (ou seja, para ele os saliris pagos s4o dados pelo mercado}, existe a possibilidade de substituigio entre Os trabathadores de diferentes nives de escolaidade e entre estes distintasintensidades de capital. Relaxar e3835 hipoteses ndo chega aaltera deforma radical os argumentos que estamos apresentando.sauuesguie> 3. O Corpo Teérico + As escolas de ensinos fundamental e médio publicas seriam de qualidade duvidosa, sendo que os conhecimentos nelas acumulados nJo facilitariam 0 acesso ao sistema de ensino superior publico e gratuito. Esse aspecto Qualitativo limitaria as chances de ingressa nas universidades estatais, Contornar essa timitagao requer uma renda familiar minima, o que tornaria, 05 estabelecimentos de ensino superior elitistas. Esse funil (representado pelo vestibular ou agora pelo ENEM) desloca a demanda de ensino superior nas familias de baixos rendimentos para o setor privado que, além de ser ppago, aaresenta um patamar de qualidade interior ao pablico. + Uma sequéncia contréria se observaria nas familias com capacidade de pagamento. Os filhos concorreriam a estabelecimentos privados de quati- dade no ensino fundamental e médio, sendo formados com uma densida- de analitica que thes permitiria transitar no vestibular/ENEM e ascender a uma universidade publica gratuita e de qualidade. Este tipo de diagndstice fundamentaria as politicas de discriminago positiva € cotas socials. Avaliar os custos, beneficios e desdobramentos em termos de direitos ¢ igualdade dessas iniciativas estio fora de nosso escopo neste livto, 3.2. O Processo de Decisdo na Acumulacao de Educacgao Para a TCH, em cada momento do tempo um individuo esta diante de uma decisao: estudar ou nao. Em caso de nao estudar ele calculara valor presente do fluxo futuro de rendimentos. Caso estude, ele esti- mara 05 custos (subjetivos e financeiros) ¢ calculara o valor presente do fluxo futuro de rendimentos. Comparara os dois fluxos e escolhera a alternativa com maior valor presente. Vamos ilustrar esse processo mediante um exemplo que contém certa dose de realismo. Imaginemos um jovem de mais ou menos 18 anos que finalizou 0 ensino médio. Ele tem de decidir se vai ingressar em algum curso superior, ir diretamente ao mercado de trabalho ou tentar combinar trabalho e estudo."" No caso de ficar restrito ao ensino médio, tera um fluxo "Estamos supondo, obviamente, que ele ests dlante dessas trés alternativas. Caso no possa se dedicat caclusivamente aos estudos, devido 3 necessidade de complementar o orgamento familar, ocensrio se redu dduas possbilidades. 7sauuesguie> 16 Capitulo A Educagao sob o Prisma da Economia ‘ema escolar permite reduzir a mortalidade infantil (um impacto, mais ou menos, esperado), assim como o perfil epidemiol6gico dos individu. os em sua vida adulta. Existem fortes evidéncias de que a pobreza afeta positivamente o habito de fumar (Bobak; Jha; Nguyen; Martin, 2000 — por exemplo). Os nexos entre obesidade e nivel de educacao tam- bém sao robustos (Devaux; Sassi; Church; Cecchin; Borgonovi, 2011), A educagdo (ou a falta dela), na medida em que condiciona tanto os rendimentos quanto a capacidade de adquirir e processar informagoes, acaba pautando estilos de vida prejudiciais a satide, Existem evidencias quea educacao tem impacto sobre a esperanca de vida: quanto maior a educagio, menor a mortalidade (Lleras-Muney, 2005). AAs externalidades nao estio limitadas a esfera da satide, Existem evidéncias de que o miimero de crimes (especialmente em homicidios, assaltos ¢ roubos de carros) € uma variavel que pode ser afetada pela educagao (MacMahon, 2000). Em termos de longo prazo, a literatura que associa educacao (via produtividade) a crescimento é ampla e muito especifica. Aspecto que nos levaré a dedicar um capitulo (Capitulo IV) a esse tema. Porém, ha uma externalidade que, por caminhos algo tortuosos, vincula edi ¢do a crescimento. Um pais com uma populacdo educada é sindni- mo de uma ampla classe média, reduzida pobreza etc., que tem comio consequéncia um ambiente politico estavel e um sistema de governo democratico, aberto e tolerante as diferencas. Essa estabilidade insti- tucional é sindnimo de regras de jogo também estaveis, gerando um ambiente que alavanca o investimento e 0 crescimento de longo prazo. Assim, uma externalidade da educa¢ao no contexto institucional e po- litico de uma sociedade acaba tendo efeitos positivos pautando, no lon- 30 prazo, pardmetros macroecondmicos (ver, por exemplo, McMahon, 000; Barro e Sala-i-Martin, 1995). Desigualdade e Perfil das Instituicdes de Ensino no Brasil perf institucional do sistema de ensino no Brasit é muitas vezes assinalado como sendo um reprodutor da hierarquia social, apresentando um viés contrério ‘0 que seespera de um arranjo que induza aigualdade de oportunidades. A mica desse processo seria, mais ou menos, a seguinte:sauuesguie> 3. 0 Corpo Teérico sio muitas, mas as expostas servem de exemplo do tipo de dilemas a serem enfrentados. Na estimacdo desse cenario futuro, a dose de incerteza é grande (poderiamos dizer que imensa), uma vez que estamos lidando com um horizonte temporal que pode chegar a quase cinquenta anos. Em termos de aplicabilidade, que corolarios poderiamos identificar a par- tir da consciéncia dessa imprevisibilidade? Poderfamos mencionar vi- rias, Por exemplo, no processo de escolha, um jovem deveria optar por aquela formacao que outorgue a maior flexibilidade possivel no futuro, de tal forma que, diante de choques nao previsiveis (por exemplo, um. choque tecnolégico que reduza a demanda por sua formagio), ele pos- sa alterar seu perfil profissional sem incorrer em custos que tornem essa mudanga inviavel. Nos proximos paragrafos, nos dedicaremos a detalhar essas particu- laridades do processo de investimento em educagio, desde a perspecti- va individual ou familiar ou desde um olhar de toda a sociedace 3.3. A Educagao como Poupanga e Investimento a) O individuo como um espaco de investimento em si proprio ou os problemas dos investimentos nos seres humanos Olhar a educacao como um “bem” que pode estar sujeito a calculos econdmicos (custos e beneficios) pode nao ser tarefa trivial. Primeiro nao ¢ trivial porque nao é um bem tangivel (nao é uma maquina, um computador). Outros bens nao tangiveis podem merecer tratamento econdmico sem introduzir maiores questionamentos. Por exemplo, um software, 0 direito autoral sobre uma misica, o design etc. sio bens intangiveis sobre os quais podem ser realizados calculos econémicos. A forma de estabelecer um prego, sua forma de comercializagio, os di- reitos que envolvem transagdes podem ser bem mais complexos que a compra e venda de um carro, por exemplo, mas com instituigdes bem desenhadas é possivel haver regulacdo. Enxergar a educagdo como um bem econdmico nao ¢ uma tarefa trivial porque ela esta indissoluvelmemte ligada a um individuo, a 19sauuesguie> 18 Capitulo | A Educacao sob o Prisma da Economia de rendimentos dado pela média do salario de um trabalhador com, ensino medio completo, que podera se elevar no futuro em fungay da experiéncia que ele adquira em sua vida profissional.” Ele ter, uum periodo de transigao entre 0 ensino que acabou de finalizar ¢ y consolidagdo de sua vida no mercado de trabalho, transicao que se singulariza por um elevado desemprego.” Em outros termos: nip sera facil encontrar um emprego que o satisfaga de forma imediata e 0 futuro préximo pode apresentar periodos de desemprego que devem ser contabilizados (ou seja, periodos nos quais o rendimento sera zero ou, no caso de ter direito a um seguro-desemprego, esse valor devera ser considerado no fluxo). Por outra parte, o individuo, no proceso de avaliagao, necessitard fazer algum tipo de projecio de futuro: tendo unicamente um diploma de ensino médio, poder ascender a postos de trabalho que permitam ganhos futuros? Quais serdo as chances de desemprego e de retornar a condigao de empre- gado na vida adulta? Os salarios dos trabalhadores com ensino médio terdo maior valorizagdo e demanda no futuro ou sofrerao a concor- réncia de individuos com maior educagao formal? Poderiamos nos estender nas perguntas, mas essas dao ideia das questoes que teriam de ser colocadas no processo de decisdo. Esse cenario devera ser comparado a possibilidade de continuar seus estudos. Nesse caso, enfrenta diversas questes: Que curso esco- Ther? Quais sao suas habilidades naturais e gostos?* Optara por uma universidade mais exigente, que pode requerer mais tempo de estudo para o ingresso ou uma universidade com menos requisitos? Em que medida a op¢to de uma universidade mais exigente pode redundar em maiores rendimentos futuros no mercado de trabalho e/ou menores chances de cair no desemprego? Da mesma forma que as opgdes que colocamos no pardgrafo anterior, as questées que podemos levantar " Yoltaremos as hablidades que wSo sendo acumuladasna vida ativa na Segdo 4 deste capitulo. "ssa transcdo tem alto custo, individual e soca, manvfestando-se em elevadas taxas de desemprego ent jovens que acabom de finaizar Um ciclo escolar. iste ampla literatura internacional que estuda essa transis? {conhecida como schoo!-to-wark transition) e prope medidas para paliar os custos, As habildades naturals © 08 gastos infuenciar30 nos custos subjetivas dos estudos e poderso cheval @ comprometer ou nio sua finalzagdo20 Capitulo! A Educacao sob o Prisma da Economia um ser humano. Hoje (felizmente) a etapa historica na qual seres humanos podiam ser comprados ¢ vendidos esta superada. Nesse sentido, uma pessoa s6 pode fazer um investimento em educacig nela mesma, uma vez que fazer um investimento em outra pessoa seria similar a comprar um trator e outorgar a propriedade a ou- trem.” Esse indissoltivel vinculo entre 0 que se denomina de capital humano e o ser humano introduz sérios desdobramentos que tratare- mos no transcurso dos proximos paragrafos. Por exemplo, € racional um empregador investit em seus assalariados se eles podem deixar a empresa levando o investimento realizado? Se um estagiario vai se beneficiar (acumulando conhecimentos e credenciais) mais que con- tribuir com a producao em um estabelecimento, nao seria légico ele pagar pelo estagio no lugar de ser pago? Estes problemas devem ser colocados na perspectiva individual ou privada. Quando deslocamos nosso olhar do individuo ou do empregador para a sociedade, parte dessas dificuldades se dissipam, uma vez que desde a perspectiva co- letiva a comunidade pode assumir seus membros como permanentes e fazer um paralelo entre investir em uma estrada, por exemplo, ou destinar esses recursos a aperfeigoar seus recursos humanos."" Desde a perspectiva do individuo, podemos remitir & constatacao ja insinuada por A. Smith ha dois séculos: a educacdo tem custos. Os custos para o individuo podem ser de diversas ordens. O mais dbvio é ‘© custo no caso de ter de pagar por frequentar um estabelecimento es- colar. Mesmo que a educacio seja gratuita, educar-se tem custos, sejam subjetivos (0 empenho nos estudos além do esforgo em assistir aulas) sejam financeitos (compra de material escolar, gastos com transporte etc.). Nao podemos esquecer o custo de oportunidade (ver box): 0 que deixamos de fazer para alocar nosso tempo a educagao? Caso a oferta de educacao seja gratuita, os custos para a sociedade serio superiores aos custos do individuo ou familia (sobre este ponto voltaremos nos proximos pardgrafos). Lopicamente, estamos restrngindo nossa andise a uma perspectva econdmica, Um pal pole “investir” feducagio de um Uo, um sobriaho ete. ou mesmo em um amigo ou fater caridade a um estabelecimento, ‘conduta muntofrequente no Hnanclamento da educacdo em certos palses (EUR, por exemplo) Mas mesmo desde a perspectiva da coletvidade a dscuss¥o no banal Por exemple, um pals ov um municipio val investi a Formagdo de um inividuo se 0 mesma pode migra levando consigo o“investimento” realizado? esse sentido poder ser waladas a tentativas (de duvidosa legaldade) de obrigar 208 beneficirios de bolsas 6e um pals no exterior aretorna e trabalhar por determiado periodo. Essa seria uma forma de “amortza", sinda que parcaimente, © nvestimento jd concretzado, CamScanner3. O Corpo Tedrico 21 A pergunta mais ou menos dbvia é: por que um individuo have de incorrer nesses custos? Duas respostas sito possiveis. A primeira diz respeito a beneficios nado econdmicos. Por exemplo, um individuo pode frequentar cursos ou estabelecimentos para acu- mular conhecimentos ¢ habilidades que the possibilitem ampliar sua capacidade de apreciar determinado consumo. Nesse sentido, simples- mente a titulo ilustrativo, podemos imaginar um publico frequentando um curso (pago) de degustacao de vinhos a fim de apreciar melhor essa bebida, Outra possibilidade consiste em consumir educagao para e seu “status social”. Em todos os casos a educagao é assumida como um. consumo, um servigo apreciado em si mesmo, nao em suas consequén- cias sobre futuros ganhos econdmicos."” A outra perspectiva reduz a demanda por educagao ao usual prisma economico da relagdo poupanga-investimento, perspectiva que concen- trara nossa atengio a seguir. b) A educagao como poupanca Um individuo (ou um pais) aloca recursos em educagdo visando retornos financeiros futuros. Mas essa alocagao de recursos no presente nada mais € que poupanga, Devemos entender a poupanga como uma atitude ou comportamento que se resume ao abrir mao do consumo presente. A educagao representa, em quase todos os aspectos, a dispen- sa do consumo no tempo presente. No caso de a educagaio ser paga pelo individuo, associar as despesas financeiras a uma poupanga é mais ou menos direta, uma vez que poderiamos direcionar essa parte de nosso orcamento doméstico ao consumo. Ou seja, abrimos mao do consumo hoje para ter retornos financeiros no futuro, sendo essa a definigao de poupanga. Outros custos (deslocamento para frequentar 0 estabeleci- mento escolar, livros, material etc.) devem ser compreendidos sob o mesmo olhar: gastos hoje que poderiamos direcionar ao consumo ou © No caso do exemplo que apresentamos, também pode set realitada uma leitura em termos e¢ondmncos Frequentar um curso de degustacdo pode ser Util para realzagdes no Ambito profissional fevidenciar certos £oit0s ou tipos de convivencia socal pode ser util ou mesma um pré-requisito em certo’ postos de trabalho) ‘04 uma forma de estabelecer redes de contato com possives beneticios no mercado de trabalho, Voltaremos & ‘estes aspectos no préximo capitulo CamScanner€& 219 epupioi‘owsugn ap sowuapee apres 102 ssn> $9,0u9ueaN9 09 sapepyeuiaia se sin, sowIora1s9FF9U JMU! 9p 1999NOEDSOWRNDP O ‘se69]00 snes ap aovewojsad e oyuenb oyuadusasap nas 0 01Uey ‘}9\Wo 1dw09 eynpucd ess3 "e]ne ap eyes Wo aquaa)dsIp oun|e wn ap oWUaWIEYIOd -tu09 0 195 apod ojdwaxo win “seanebou sapepneusayxe waysyxa ‘aquawtens} ‘aqarquie 0 exed opuejodesixa wegese ode ewn ap sojaijauag so anb zaA ewin ‘sennysod sapepn -2wi3}¥9 ap sojdwaxa os sop, “opSejndod ep owun{ueo 0 ajuawennisod s613}0 20d opuegese ‘sjed wn ap oquawiasaio 0 ses9}208 apod ejouya J0}OW Essa a ‘2pepiannpoid ens seAaj9 apod ‘oeSeanpo srew eynuunoe onpyAipul wn ag “ey9 104 ‘opewno} 10} anb sopeyjeqen wn warerwuos osea ‘sewny sesjno ayuawern!sod 2e 946 ‘opow OWSOW 9p ‘2 EANe!aIU| eSsap o1OM sem apod ‘sopeUEyesse snas op -ueujan “esosduia ewin ‘ouso\ua nas opuesouro ‘wequiey opuas ‘opUE}a4aU—q {35 a]uawIea|UN Ogu eqese ‘searesd sens sevoWLde oy ‘auaIGIy ap soyiqey snas seJ04}9W 2 opdeonpa ens seAa}2 apod onpralpul wn “wabune so oPU s!049U9q SO ‘no/a (apeplyeuiayxa © wese1a6 anb sesaidwa se exed no sonpyaipul so eued elas) ‘soysno wi9) ogu anb zak ewin ‘oesiaap ap sasopewoy sap soqnayeo sou senesapIs 09 ogs ogu sejanbas sess3 ‘soudoud saya e wapuaasues) anb (conneBau a Son 150) 50}!3}9 ways)xa esasdwa ewn no onpiAspul wn sod sepewoy sagde SEN APEpI|eUsAIXg BP ODWOUOD3 0182U0) 0 “opnisa ap sour steur ou no sejnuunse ap s2osioap se Luerape SapepLtet] -noad sessa epipau anb wo 9 o1z90u1 ominy 9659 F arUv01 ow OLDEN? ep sapepuivjnorued sv rriojdxa souea ‘sojeaSpsed sounxord son "vz2U120 -ut 9 apeprxajdutoo ap owuours 9 omy ‘ordruyap sod *2 ominy 0 Wod epi] ‘ezaanteu vudoad ens sod ‘ouuawnsaaut-vduednod ap ossao0xd © sfOPO1 twin OWLIOD eIUIOUODA Up 2 oRSeINpa vss9 aqaoa1 [enb o onptatput op (@peptannpoid via) ogdnpoid ap apeproeded v vydue anb Ud vpIpaut vu olUaUINSAaLE uM v opeyjawasse 198 apod ‘ope| OLIN Jog “somimy sousora1 puesta aiuasaid oumsuoD ap orw! ge Wap apeparsos v 9 onplaipur o anb zaa eum eduednod eum q ‘ouaumsaaut ~vSuvdnod ap ossasoad ot vS1omo as auauteatanbi09 anb ov ouxord iq seyjo um za9az9W apod ovS_onpo v anb ‘wise ‘sounfUC} ‘onpiatpur wm ap ouvwmny pendeo op aued eum ap ouop 495 apod wanSuru ‘ose opor wa ‘9 sexajduios ors seuss sv sel ‘({uepmsy OluauIE!DULUT ap Opun.| — S3]J 0 Wod [IseIg OP owisatt No eIpUy EP ‘2[1YD Op Osv> OU oUNOd) sopnisa ap OUaUIEIDULUT onugay odsoy O*€ CamScanner—- ap Seyury woo sagdinyjisuy weistxa anb Jaatioe] q “souvUNY Saas Wa an -saaul apod ogu seu 'sootsyj sowaunpusaiduia wa nsaaut apod onpja -Ipul win ‘Sreude ap opeaiaut owso>) sadimnsul opunisixa a eduednod opuar ‘opnuas assay ‘vossad euin v ope] a1uauiyaanjossipul visa our -ny yeudvs o ‘soureiuaryes vf outos ‘ojdwiaxa Jog ‘oo1syy feuded op weIs -ua1ajip 0 anb sapepurjnsuis war oueumny youdeo o ‘nuaweo1%07 “oluaumnsaaul owod sepeayisse]> 43s wapod sulj sassa & sepeuotsautp sesadsap se ‘sose9 so sopon wry “sepensa no saiuod owtoo sooisy soizadse seyjduie v sopeaBesuoo sopuny sop wa1ayip peu Wa Ogdeonpa & SOpeUO!daIIp Sosinda1 So ‘oprluas IssaN “odwiay ap odedsa opeutuuaiap wo sod1ai9s 2 suaq a1znpoad ap onpraiput wn ap apepioedes v viuauine va ‘apepiatinpoud v vaaya opdvanpa v 2s ‘elas NO “sod1Asas 2 suaq 4v1a8 ap apepisedes ens ‘oyjeqen ap orsod ou ‘vr0w ude wo ‘vanoadsiad exo apsap ‘no apeprannpoud ens seyjdume voy -ludjs svossad wa oiaunsaaut Q ‘soueumy sosindai no seoLqyy ‘(19 sepezsa ‘so1iod ‘saiuod) vininnsavayut wa soafoid 13s wapod sosinoa1 sassap OUNsap Q “OININY OU SodtIAJas 2 suaq ap vI1a]0 ap apeprorded uupuedxa v sopeunsop steuuareut 9 souvumy sosin3a1 $0 os “soUt91 $011 =no wa ‘no ovdnpoad ap apepisedes v sexjdute ap owutuouis 9 o1uauisar -ut anb souraiquia7 go1uatursaaut wn euas opdeonpa v anb sod seyy O}UawWISaAU! 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A familia, via seu nivel de renda, sua educacao, 0 ambiente socioecondmico (familia estendida, amigos, bairro etc.), o ambiente escolar (colegas, professores etc.) moldam um perfil individual com certas singularidades técni- cas (habilidades e competéncias, por exemplo) ¢ humanas (disciplina, gostos, expectativas, valores, capacidade de trabalhar em equipe, ca- pacidade de lideranca etc.) que posteriormente serao valoradas ou nao pelo mercado, Logicamente, aqui estamos diante de uma série de variaveis que interagem entre elas. Por exemplo, uma familia com elevados rendi- mentos tera, muito provavelmente, um capital humano no seio familiar (educacao do pai, mae, tios etc) clevado. Esse fato possibilitara que os filhos frequentem estabelecimentos de qualidade, nos quais interagi- rao com colegas oriundos de familias similares. Esse convivio, neces- sariamente, influenciara em seu perfil humano e serao internalizadas expectativas econdmicas ¢ sociais para seu futuro, além de gostos ¢ aspectos mais associados a educagdo propriamente dita (raciocinio, por exemplo), Esse conjunto de fatores sera primordial na mobilidade social que induza ou limite o sistema educativo, tema que abordaremos no proximo capitulo,” : b) A capacidade de acumular CHE especifico depende do CHG Se o CHG de um individuo resulta da soma do ambiente e do sis ma escolar, esse perfil humano limitara ou potencializara futuras acu- mulagdes de habilidades e competencias especificas por meio de dois caminhos, O primeito diz respeito ao acesso a postos de trabalho de qualida- de — esta, sendo entendida como rendimentos elevados mas, também, possibilidades de acumular conhecimentos em sua vida ativa, Em ou- tros termos: existe postos de trabalho que oferecem perspectivas de crescimento profissional e outros nao (ou oferecem em menor medida). ‘esses aspects fatem parte oq denomina de Capital Soca CamScanner4, Classificagao do Capital Humano e suas Fontes A qualidade do posto de trabalho dependera muito do CHG inicial. Assim, temos que um elevado CHG na ocasiio de ingressar ao mercado de trabalho clevara as chances em ocupar postos de trabalho que robus- tecam seu perfil profissional, além de permitir a interacdo com grupos sociais que restrinjam ou ampliem espaco para futuras competitivida- des, Contrariamente, um reduzido CHG (reduzido em termos de quan- tidade ¢ qualidade), no momento de incorporacao a vida ativa, limita as chances de ser um candidato a um posto de trabalho de q que circunscreve seu futuro profissional alidade, fato O segundo aspecto que articula CHG ¢ CHE esta associado direta mente & capacidade individual em acumular habilidades e competén- cias. Um exemplo para ilustrar: se um individu tem reduzidas des- trezas na leitura ¢ operacdes matematicas (CHG) dificilmente podera beneficiar-se de um curso de formagao profissional oferecido pelo em- pregador. Ou seja, um limitado CHG circunscreve a possibilidade de acrescentar habilidades especiticas. ©) O CHE tem menos flexibilidade que o CHG O CHE pode ser complementar ao CHG e, como salientamos em pa- ragrafos anteriores, ser wil para a etapa inicial do ciclo de vida, quando se transita do sistema escolar ao mundo do trabalho. Contudo, lembre- mos que 0 CHE esta vinculado a habilidades especificas associadas a uma tarefa ou atividade, No caso de choques tecnolégicos, por exem- plo, se essas tarefas ou atividades entram em decadéncia (cornam-se arcaicas), a flexibilidade dos conhecimentos adquiridos no posto de trabalho ou em um curso de formagao profissional tem menor utilidade no momento da reciclagem, Contrariamente, 0 CHG oferece maior fle- xibilidade, permitindo que diante de choques (mais ou menos dbvios quando trabalhamos com horizontes de tempo proximos aos cinquen- ta anos, intervalo no qual as tecnologias, gostos, formas de produgio etc. se alteram) 0 individuo apresente capacidade de mudanga. Assim, jovens que privilegiaram a formagao técnica observam menores taxas de desemprego nas primeiras faixas etarias da vida ativa (16-24 anos) Vis-a-vis os que receberam formagao geral, mas suas taxas de desempre- 80 sdo superiores na vida adulta. Por que? Simplesmente porque suas CamScanner