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Eu Moacir, para alguns Moa, para outros Rogério, para toda família sou o 14° de uma

lista de 15 filhos. Nasci no interior do Paraná e na década de 70 toda família migrou


para São Paulo em busca de dias melhores, cresci na cidade de Osasco e aos 12
anos pedi ao meu pai dinheiro para pagar um ônibus para ir jogar bola, e o mesmo me
disse: – Vai trabalhar vagabundo. Então fui em busca de trabalho. Sempre trabalhei de
dia e estudei à noite, já fui ajudante de funileiro, office boy, arquivista, auxiliar de
expedição. Quando já estava na fase do exército, não conseguia serviço e fui trabalhar
de faxineiro numa empresa de ônibus até entrar na milícia onde fiquei por nove meses
e fui liberado na primeira baixa. Foi quando trabalhei de cobrador até arrumar emprego
numa transportadora de alimentos, neste período encontrei a mulher da minha vida e
comecei a namorar, decorreu também nesta época numa missa do dia dos pais em
que percebi a falta que um pai faz na vida de uma criança, pois o meu morreu quando
eu tinha 13 anos. Mas a vida que segue. A distribuidora de alimentos que trabalhava
fechou, então fui trabalhar de digitador à noite, durante o dia trabalhava de auxiliar de
cobrança num escritório e nos finais de semana fazia bico como açougueiro. Em 1998
me casei e fui trabalhar na telefônica logo me destaquei devido minha dedicação e
comprometimento. Fiz um curso de técnico em eletrônica e participei de curso de
liderança logo me tornei líder da equipe, fui convidado para ser coordenador, mas na
reunião as propostas iam contra meus princípios, portanto preferi não seguir em frente,
fui em busca de um emprego à noite em tele atendimento. Foi quando minha esposa
me aconselhou a fazer o curso de técnico em enfermagem, quando terminei a primeira
faze do curso já consegui um serviço de cuidador como folguista que durou 18 meses,
em que o paciente veio a óbito, logo me encontrei na procura de um emprego fixo em
hospital neste meio tempo continuei fazendo bico de cuidador e trabalhando a noite
em tele atendimento. Mas precisava de alguma coisa estável com garantias, já que
estava casado. Foi quando consegui meu primeiro trabalho em um hospital também de
folguista chegava no hospital, ia para a UTI, aguardava fazer a chamada e era
encaminhado para o setor que estava precisando de funcionário, nesta época trabalhei
em todos os setores: pronto socorro, centro cirúrgico, clinica médica, maternidade [...],
mas uma vez me destaquei e fui fixado na UTI e consegui outro serviço à noite em
outro hospital, também passei pelo mesmo processo de setores, isso na cidade de
Osasco. Por um tempo estava tudo bem, após algum tempo nasceu minha filha então
tinha que estar em casa à noite para ajudar minha esposa. Comecei a trabalhar em
um emprego noturno e em outro matinal, com a redução no salário voltamos a ficar
financeiramente apertados, decidi arrumar emprego em hospitais maiores em São
Paulo. Enfim entrei em um hospital na Lapa e passei a trabalhar de manhã e tarde,
depois arrumei emprego em outro hospital no Morumbi, e segui na busca de dias
melhores pra minha família, era muito corrido porque trabalhava das 6h ás 19h em
dois hospitais. Achei que estava tranquilo nesta luta recebi uma ligação do
departamento de pessoal do Sírio, pelo fato de que há muito tempo havia deixado um
currículo com eles nem acreditei, achei que fosse um trote. No fim fui realizar a prova
no dia marcado sem compromisso, pois já tinha dois empregos e pensei: ´´Quem sou
eu par trabalhar no sírio libanês?´´. Quando a moça me chamou perguntou se tinha
achado a prova difícil e em seguida disse que eu tinha tirado 9,75 e que era uma vaga
para UTI que estava sendo expandida e me ligaria para realizar a dinâmica de grupo
com a coordenadora que na época era a dona Simone. Na dinâmica tinha varias
pessoas todas mais novas que eu e no decorrer todos diziam que queriam fazer
faculdade e crescer na instituição, quando chegou a minha vez, disse que ia trabalhar
em dois empregos, pois tinha que dar uma vida melhor para minha família, e se não
fosse no Sírio seria em outro hospital então ela me perguntou: – Você não acha que
essa vida é cansativa? E eu disse: ´´Quem corre porque gosta não se cansa´´. Fui pra
casa na certeza que não seria aprovado, após dois dias recebi uma ligação do RH
marcando o exame admissional e aqui estou até hoje. Já se foram 14 anos de luta,
sempre na UTI CARDIO. O hospital cresceu muito já passaram por mim várias
coordenadoras, enfermeiros, técnicos... E muitas coisas mudaram algumas para
melhor outras para pior, mas a vida e assim mesmo nada e perfeito, porém temos que
valorizar aquilo que temos e nos dedicar a cada dia para fazer o nosso melhor sempre
na prática do altruísmo e em busca da equidade. Somente assim teremos uma
sociedade mais justa para todos e até hoje continuo correndo porque gosta para
prover a minha família que e a coisa mais importante na minha vida.

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