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Comunicação
Comunicação
Lara Campos
Comunicação
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Lara Campos
Comunicação
São Paulo
Rede Internacional de Universidades Laureate
2015
05
© Copyright 2015 da Laureate. É permitida a reprodução total ou parcial,
desde que sejam respeitados os direitos do Autor, conforme determinam a Lei
n.º 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituição Federal, art. 5º, inc.
XXVII e XXVIII, “a” e “b”.
Introdução.....................................................................................................................13
Síntese...........................................................................................................................25
Referências Bibliográficas.................................................................................................26
Introdução.....................................................................................................................27
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2.3.2 Os elementos estruturais de um texto..................................................................34
Referências Bibliográficas.................................................................................................42
Introdução.....................................................................................................................43
Referências Bibliográficas.................................................................................................62
Introdução.....................................................................................................................63
Referências Bibliográficas.................................................................................................78
Minicurrículo da autora...................................................................................................79
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Apresentação
Apresentação
Desde os tempos pré-históricos, o homem se comunica. A comunicação é, portanto, uma prá-
tica antiga. O homem só é o que ele é hoje pela evolução de seus processos comunicativos. A
tecnologia e os sistemas de informação evoluíram consideravelmente nos últimos anos, mas a
falta de comunicação, acredite, ainda gera problemas em contextos específicos. Atualmente, um
dos maiores obstáculos nas corporações e no contexto do trabalho é estimular e garantir uma
comunicação assertiva e clara.
Até o final desta disciplina, você não somente aprenderá a importância e as vantagens de se co-
municar bem, mas, principalmente, conhecerá os aspectos técnicos da nossa língua portuguesa.
Com os conhecimentos que terá adquirido, você poderá se comunicar melhor, na sua vida pes-
soal, no meio acadêmico e no ambiente de trabalho.
Assim como a matemática, a língua portuguesa aparece entre os principais bichos-papões dos
estudantes. Isso ocorre por muitos motivos, inclusive pela falta de metodologias mais adequadas
ainda nas primeiras fases do ensino escolar. A língua portuguesa é muito ampla e permite às
pessoas uma grande variedade linguística – é preciso, contudo, dominar esses padrões social-
mente aceitos e acolher as diversas variações possíveis que as pessoas utilizam ao se comunicar.
Bom estudo!
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Capítulo 1
Variedades linguísticas e uso
literário-artístico da linguagem
Introdução
Você já deve ter notado que há muitas formas de se comunicar e que as pessoas se expressam e
se comunicam de formas distintas em ambientes específicos; que pessoas de diferentes regiões
do país utilizam palavras e expressões bem variadas para expressar a mesma coisa; que os ges-
tos físicos dizem tanto ou mais que as palavras proferidas; e que, no ambiente de trabalho, os
profissionais primam por usar uma linguagem mais apurada e objetiva, para garantir o processo
comunicativo.
Comunicar-se bem é uma das competências solicitadas a qualquer pessoa, tanto no meio acadê-
mico como no profissional – é, no entanto, um dos desafios mais recorrentes nesses ambientes.
Dessa forma, neste capítulo, você irá analisar o conceito de comunicação a partir de uma con-
cepção de linguagem cujo caráter é semiótico e social. Isso implica a compreensão do processo
comunicativo no cotidiano e o uso das variantes orais e escritas no contexto pessoal, acadêmico
e profissional.
Você já passou por alguma destas situações: fez curso de datilografia? Trocou agulha de vitrola?
Conheceu o toca-fitas? Usou uma ficha telefônica? Sabe o que é um mimeógrafo? Evoluímos e
estamos em constante evolução com as nossas tecnologias. O tamanho do seu aparelho de TV
já não é mais o mesmo. Hoje, mais de mil músicas cabem no seu iPod. E já não é mais neces-
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sário andar com ficha telefônica no bolso. A tecnologia certamente diminuiu a distância entre os
continentes. Temos acesso a muita informação diariamente.
Albert Einstein, conhecido como um dos homens mais inteligentes do século XX, disse certa vez
que a bomba atômica não seria a pior de todas as bombas. A maior delas ainda ocorreria pela
desintegração das relações humanas (STAMATEAS, 2012). Nota-se, dessa forma, que a comu-
nicação é essencial para as relações entre as pessoas e entre estas e o mundo que as cerca.
As novas tecnologias da comunicação, por exemplo, com o avanço da internet e dos aparelhos
eletrônicos, permitiram que as pessoas organizassem e transformassem suas vidas e tivessem
acesso ao conhecimento.
Comunicar-se, portanto, é uma habilidade essencial nas sociedades contemporâneas, pois per-
mite compreender e se expressar de modo mais assertivo em qualquer contexto, além de manter
o foco diante de uma infinidade de informações que atravessam o cotidiano acadêmico ou pro-
fissional.
A Comunicação é uma daquelas atividades humanas que todos reconhecem, mas que poucos
sabem definir satisfatoriamente. As dúvidas subjacentes [...] poderão dar lugar à ideia de
que a comunicação não é um objeto no sentido acadêmico [...] mas uma área de estudo
multidisciplinar. Assumo que a comunicação é passível de estudo, mas que necessitamos de
várias abordagens disciplinares para conseguirmos estudá-la exaustivamente. (FISKE, 1995,
p. 13).
Muita gente confunde informação com comunicação ou acha que esses conceitos significam a
mesma coisa. No entanto, informar não é o mesmo que comunicar. Há muito mais por trás disso.
Informação só se torna comunicação quando está agregada ao relacionamento, à interação, ao
processo de comunicação no qual todos os interlocutores precisam estar em sintonia, ou seja, o
falante/escritor precisa averiguar, constantemente, a competência linguística e o conhecimento
acerca do assunto de seu ouvinte/leitor. Uma comunicação está em constante movimento, ou,
como diz Marcondes Filho,
Em outras palavras, comunicação é diálogo entre pessoas e entre estas e o mundo. Para ilustrar
essa relação entre comunicação e relações humanas, uma triste constatação: o Instituto Gallup,
especializado em comportamento humano, após pesquisar 163 países e entrevistar mais de 6
milhões de empregados, identificou que muitos deles trocam de empresa em função da insatis-
fação no relacionamento com seus chefes imediatos. Nota-se que as pessoas estão se demitindo
dos seus chefes, não de suas empresas!
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Para Mendes e Junqueira (1999, p. 34), comunicar é “trocar informações, partilhar ideias, sen-
timentos, experiências, crenças, valores por meio de gestos, atos, palavras, figuras, imagens e
símbolos”. Isso demonstra que não nos comunicamos apenas com palavras, mas com um con-
junto de sinais corporais, produzidos de forma voluntária ou não. No processo de comunicação,
a linguagem corporal precisa estar em conformidade com a linguagem verbal.
Saber se comunicar é imprescindível em um mundo cada vez mais acelerado, em que a todo o
momento são usados diversos meios de comunicação com diferentes objetivos e, muitas vezes,
sem que o próprio indivíduo se dê conta desse impacto – o uso de e-mails, redes sociais, blogs,
dispositivos de mensagens de texto em tempo real, etc., é constante no cotidiano da maioria das
pessoas, seja no trabalho ou na vida pessoal. Nas últimas décadas, viu-se um aumento sem pre-
cedentes de novas tecnologias aplicadas à comunicação, que aproximou as pessoas.
Um estudo realizado por Albert Mehrabian na década de 1970 concluiu que as palavras re-
presentam apenas 7% de importância na comunicação, o nosso tom de voz representa 38% de
importância e a nossa linguagem corporal representa 55% (PEACE; PEACE, 2005). Então, quem
pensa que se comunica mais pela palavra falada, está enganado: o nosso corpo (linguagem
corporal ou não verbal) fala mais do que nossas próprias palavras.
Essa análise realizada na década de 1970 é também comprovada por uma recente pesquisa
realizada por Dustin York, em 2013 (PEGN, 2014), que contribui para o site Entrepreneur. Ele re-
alizou um experimento com quatro salas de aula universitárias, sendo que cada uma destas con-
tinha 80 alunos. O objetivo foi verificar a eficiência da comunicação não verbal. Cada turma re-
cebeu um palestrante, dois deles utilizaram o recurso da comunicação não verbal, com discursos
idênticos, mas cada um dos profissionais usou táticas expressivas diferentes ao se apresentarem.
• Contato visual – Estabelecer o contato visual com cada aluno, em vez de focar no
material de PowerPoint, por exemplo.
• Uso de diferentes tons de voz – Usou-se a variação da fala, mesmo do ritmo, para
captar a atenção do público.
Esses técnicos, portanto, escreveram o material com termos técnicos e em tópicos pouco articu-
lados, o que causou grande confusão. O que aconteceu? Bem, esses profissionais não tinham
o entendimento de que é preciso se colocar no lugar do usuário final para compreender a sua
leitura do manual.
Como pessoas de todos os tipos utilizam esse sistema – pessoas que compreendem a linguagem
técnica da programação de sistemas e pessoas leigas –, a empresa que desenvolvia o produto
decidiu contratar redatores para tornar a linguagem contida nos manuais mais acessíveis a to-
dos, ou seja, preservando os termos técnicos, mas explicando-os e dando exemplos de seu uso.
Com isso, a empresa aumentou o seu faturamento em 60% e conquistou novos clientes.
As propagandas são outro exemplo do uso de figuras de linguagem, sentidos figurados, metáfo-
ras e diversos recursos que tornam o texto publicitário atrativo e expressivo.
Mas como identificar um texto literário? Um de seus aspectos é a sua função poética, que possui
ritmo e musicalidade, uma ordem específica das palavras e um grande nível de criatividade. O
que o diferencia do texto não literário é o fato de que estes são mais informativos e objetivos – o
que é o caso das dissertações, dos relatórios científicos, das notícias, etc., e o literário requer
uma função estética.
Texto literário
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(BANDEIRA, 2007)
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Kuazaqui (2000, p. 186) define o marketing como sendo uma “ciência humana que, por
meio da pesquisa de mercado, procura identificar, quantificar e qualificar as necessidades
de um determinado mercado”.
O processo comunicativo deve ser compreendido a partir de um processo cultural amplo no qual
os sentidos são negociados entre os interlocutores (enunciador e co-enunciador), constituídos
como participantes ativos dos processos de interação. A interação social implica um espaço de
constituição dos envolvidos no processo de comunicação por meio da linguagem e de outros
elementos da cultura.
Para entender esse processo cultural e histórico-social, é preciso, com base em Wolf (2003),
ultrapassar o paradigma comunicativo que apresenta lacunas quando reduz o processo de co-
municação a um processo de transmissão de mensagens e traduz-se por
[...] existir sempre uma fonte ou nascente da informação, a partir da qual é emitido um sinal,
através de um aparelho transmissor; esse sinal viaja através de um canal, ao longo do qual
pode ser perturbado por um ruído. Quando sai do canal, o sinal é captado por um receptor
que o converte em mensagem que, como tal, é compreendida pelo destinatário ECO, 1972,
p. 10 apud WOLF, 2006, p 114)
Esse esquema se dá entre pessoas, máquinas ou entre estas duas, e é preciso que o sinal seja
entendido corretamente. Para isso, deve haver um código comum baseado em um sistema de
regras. Nesse modelo, o emissor se constitui em agente e o receptor, em paciente. Essa ideia
simplista do processo comunicativo deixa de evidenciar que nem sempre o enunciador garante
que os sentidos produzidos pelo texto sejam aceitos pelo co-enunciador, uma vez que o texto ou
a mensagem é sempre carregado de múltiplos sentidos e o co-enunciador é um sujeito histórico
e social, que pensa e se posiciona.
De acordo com Wolf (2003), há mais dois paradigmas: o semiótico-informacional, que amplia
o anterior quando passa a evidenciar os efeitos de sentido produzidos pelas mensagens; e o
semiótico-textual, que ultrapassa a ideia da mensagem como a única unidade responsável pelos
sentidos. No entanto, a ênfase nesse modelo recai apenas na dimensão simbólica e nos sentidos,
deixando de fora os papéis assumidos pelos interlocutores e o trabalho realizado por eles no
processo de comunicação.
O contexto acadêmico é um bom lugar para compreender esse processo. O aluno não é um
mero receptor do conhecimento produzido na sala de aula. Ele, assim como o professor e os
outros alunos, é sujeito do processo de comunicação, e os textos trocados entre eles evidenciam
sentidos que os constituem como sujeitos históricos e sociais.
Assim, o processo comunicativo, nessa concepção, procura demonstrar uma dinâmica ativa de
interação social entre interlocutores que compartilham sentidos por meio da língua e de outras
manifestações culturais e se inserem em contextos nos quais passam a constituir-se como sujeitos.
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Embora a oralidade seja historicamente anterior à escrita, é possível destacar que não há pri-
mazia daquela sobre esta nem que a oralidade e a escrita se constituem como modos de uso da
língua. O relevante está no fato de compreender como as práticas sociais determinam a função
de cada uma delas nos mais diversos eventos comunicativos.
Mas, verdadeiramente, há essas diferenças entre as duas práticas? Ou devemos considerar que as
“diferenças entre fala e escrita se dão dentro do continuum tipológico das práticas sociais de pro-
dução textual e não na relação dicotômica de dois polos opostos”? (MARCUSCHI, 2010, p. 37).
Antes de você apontar argumentos em defesa de sua resposta, vejamos exemplos dessas duas
práticas sociais.
Agora é possível responder: as diferenças se dão dentro do contínuo que passa a distinguir e
relacionar os gêneros da modalidade oral e escrita quanto às condições de produção e funcio-
namento da língua. Perceba, no gráfico, que temos na modalidade oral/fala o gênero exposição
acadêmica e, logo acima, na modalidade escrita, o gênero artigos científicos. Eles se cruzam sob
vários aspectos, como o uso de uma linguagem culta formal, planejamento prévio, interlocutor
definido e etapas definidas como introdução, desenvolvimento, síntese e considerações finais.
Outro exemplo se daria com dois gêneros orais: a conversa espontânea e a entrevista. Ambos
são eventos típicos da modalidade oral com foco na interação entre interlocutores que relatam
suas experiências. Mas são práticas sociais distintas, pois se distanciam quanto à linguagem. A
conversa faz uso da linguagem informal e é um gênero típico da oralidade, enquanto a entrevista
se utiliza da linguagem formal e pode ser considerada de um domínio misto, uma vez que pode
ser transcrita para publicação em meios impressos.
Agora, escrita, fala e imagem desconstroem a ideia que porventura ainda existia acerca da dico-
tomia entre fala e escrita. É preciso compreender que gêneros escritos, como a “quase conversa”,
que ocorrem nos fóruns, blogs, apresentam marcas típicas da oralidade, como risos, hesitações,
entonações, emoticons, que facilitam a “conversa” entre os interlocutores. Isso demonstra um jeito
novo de se comunicar que está presente em todos os contextos acadêmicos e profissionais, consta-
tando a capacidade de adaptação dos usuários da língua às exigências do mundo contemporâneo.
É todo e qualquer ato ou pensamento que leve a uma comunicação. A intenção comunicativa
refere-se não apenas ao que se quer comunicar, mas à forma de interagir na tentativa de que o
enunciador consiga a adesão, reação, interação de seu interlocutor.
Por exemplo, uma pessoa produz sons específicos para atrair a atenção daqueles que estão ao
seu redor. Uma propaganda faz uso de músicas e cores específicas para chamar a atenção de
determinado público. Um pesquisador faz uso de jargões técnicos para enaltecer o seu discurso
junto a outros indivíduos de um grupo que conhecem esses jargões. Os sinais de trânsito usam
cores, símbolos e palavras para avisar ou alertar sobre determinada situação ou ação dos con-
dutores e pedestres.
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Outra vantagem é ganhar credibilidade. Sim, falar bem é como vestir-se bem. Você se sente
autoconfiante e inspira credibilidade. Já imaginou um palestrante que, na hora do seu discurso,
fala com erros gramaticais e informalidade? Você com certeza perderá o interesse no que ele tem
a dizer. Conheça agora os diferentes contextos e usos da linguagem e as suas variações.
O imperativo para se mostrar culto ou ser visto como privilegiado socialmente é fazer uso da
norma culta ou da língua padrão. Fazer uso da norma culta de uma língua é quando você se
utiliza dos recursos gramaticais de determinada língua para redigir, falar ou, principalmente,
para se adequar socialmente. Norma culta é aquela que usamos em situações formais em que
se exigem vocabulários mais técnicos, como redações científicas, acadêmicas e/ou profissionais.
Podemos chamar a norma culta de “o dialeto de maior prestígio social”. Há, sem dúvida, um
enorme preconceito quanto à questão de a norma culta ser considerada a forma correta de se
falar e de se escrever.
A grande verdade é que temos que eliminar o preconceito do certo e errado. Há formas diferentes
de se falar e em situações distintas. Temos, sim, que nos preocupar com o certo e o errado do pon-
to de vista gramatical, no sentido de que há uma exigência de certos contextos para que o uso da
normatização seja realizado – é o que ocorre, por exemplo, nos meios acadêmico e profissional.
Quando um palestrante se veste de forma apropriada para uma apresentação, ele se veste
conforme o contexto. O mesmo ocorre em diversas situações do cotidiano do acadêmico e do
profissional – seja nos e-mails que envia, nas apresentações, na produção de uma tese, etc. A
linguagem tem a ver com o objetivo e com o contexto em que está inserida.
Em nossas relações afetivas, com familiares e amigos, nos comunicamos de maneira mais infor-
mal, ou seja, utilizamos a linguagem coloquial, o que não nos impede de usar um linguajar mais
formal também. Essa variação da linguagem permite o uso de gírias, omissão dos “s” no plural
e uso de um vocabulário menos diversificado ou rebuscado.
• Variação diacrônica – A palavra diacrônica vem de chronus (em latim) que significa
tempo. Assim, variação diacrônica é a variação da linguagem que se percebe com o
passar do tempo. Pense em algumas palavras que seus pais e avós utilizavam e que hoje
já não usamos mais. Talvez você reconheça exemplos como: “ela é uma moça prendada”,
“o rapaz é um pão”. Algumas formas verbais como “dar-lhe-ei” e “procurar-me-iam”
estão praticamente obsoletas. Você conseguirá encontrá-las apenas em livros antigos.
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Assim, se você participa do tão esperado congresso de medicina, não espere que as pessoas
traduzam seus jargões para você. Se você se insere em um determinado contexto, deve obedecer
à linguagem daquele contexto da mesma forma que obedecemos ao código de vestimenta da
empresa que vamos visitar.
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Referências Bibliográficas
BANDEIRA, M. Belo Belo e outros poemas. São Paulo: José Olympio, 2008.
MENDES, E.; JUNQUEIRA, L. A. C. Comunicação sem medo. São Paulo: Editora Gente,
1999.
STAMATEAS, Bernardo. Gente tóxica: como lidar com pessoas difíceis. São Paulo, Thomas Nel-
son Brasil, 2012.
Introdução
Você tem o hábito de ler? Saiba que ler possibilita que o ser humano amplie sua visão de mun-
do, dialogue com o autor sobre as suas experiências e amplie o seu senso crítico. No contexto
acadêmico, permite que o estudante alcance diferentes perspectivas sobre determinado tema e
fundamente melhor o seu projeto científico, bem como possibilita a este ter maior amplitude em
sua área de conhecimento ou na prática futura de sua profissão. Neste capítulo, investigaremos
a função social da leitura, compreendendo que o ser humano é impactado pelo modo como lê
e atua no mundo a partir de suas leituras e perspectivas. Veremos como utilizar mecanismos de
coerência e coesão na produção oral e escrita de diferentes gêneros.
As estrelas passam o dia todo cavando oportunidades de ir mais à frente, aprender um pouco
mais, exercitar um pouco mais, crescer um pouco mais. São inconformadas com o ritmo
das coisas. Investem o tempo no aproveitamento dos espaços deixados pela concorrência.
(BENDER, 2009, p. 17).
É preciso investir tempo para aprimorar a competência comunicativa. Como você investe seu
tempo para o aprimoramento da sua comunicação? Bender (2009) cita uma estratégia bastante
conhecida para se obter mais conhecimento e consequentemente um maior vocabulário. Essa
estratégia é a leitura. A média calculada pelo especialista é de que uma pessoa tem condições
de ler até 36 livros por ano. Vamos pensar em livros com, em média, 200 páginas. A maioria
das pessoas leva em média três a quatro minutos para ler uma página – uma boa média para
estudantes e profissionais. Pense no poder que isso representa para a sua marca pessoal.
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Visto que o nosso tema é leitura, vamos começar pela definição. O que é ler? Ao contrário do
que se acredita, leitura não é apenas uma decodificação de palavras. A leitura é interpretação,
compreensão, deduções, inferências, transformação de significados. A leitura é o desenvolvimen-
to de capacidade de raciocínio e criticidade. Todo indivíduo que lê deveria atuar como o que
se chama de “leitor crítico e criativo”, ou seja, aquele capaz de participar do texto, apontando
soluções aos problemas apresentados.
De acordo com Solé (1998, p. 22), a leitura é também a “[...] interação entre o leitor e o texto;
neste processo tenta-se satisfazer [obter uma informação pertinente para] os objetivos que guiam
sua leitura”. A interpretação que nós fazemos dos textos lidos depende em grande parte do ob-
jetivo da nossa leitura. Ou seja, ainda que o conteúdo de um texto permaneça invariável, é pos-
sível que dois leitores com finalidades diferentes extraiam informação distinta a partir dele – essa
informação deve ser considerada quando se trata de ensinar as crianças a ler e a compreender.
Grande parte das escolas brasileiras não têm desenvolvido um trabalho sistemático de leitura
com a preocupação de se formar leitores, pois o livro é compreendido como um divulgador de
informações e como um instrumento necessário ao cumprimento de tarefas escolares, através
de exercícios, privilegiando-se a memorização e a repetição do já ensinado. (SOUZA, 1993,
p. 20).
Para Bakhtin (2003, p. 271), o ato de ler é parte de um processo dialógico, ou seja, o leitor é
participante ativo, de “compreensão ativa e responsiva” (pois dialoga com o texto), devendo ser
capaz de interpretar, discutir ideias e se posicionar perante o que lê.
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não
possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem
dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a
percepção das relações entre texto e contexto.
Nas avaliações acadêmicas, por exemplo, é requerido do aluno um “olhar crítico” ou “consciente
dialogicamente” para a leitura. Espera-se que ele faça considerações a respeito do texto, que
concorde ou discorde, ou seja, que se coloque ativamente perante o texto. A leitura não é uma
ação passiva. Trata-se de interação e participação. “Ler é, na sua essência, olhar uma coisa e
ver outra” (LEFFA, 1996, p. 10).
Como você já deve ter visto, os modelos mentais são tudo aquilo que acumulamos no decorrer
da nossa vida e que faz sentido para nós. É como se cada pessoa enxergasse a vida com um par
de óculos, cada qual com um grau diferente nas lentes. E isso impacta diretamente no modo de
ler do indivíduo, de interpretar aquilo que ele lê. Mais adiante falaremos de algumas técnicas que
nos ajudarão na interpretação de textos.
Após interpretar o texto de maneira a fazer sentido para o mundo dele, o leitor passará para a
fase da aplicação do conteúdo da sua leitura, levando para o seu contexto aquilo que compre-
endeu em forma de aprendizado.
Para que a leitura aconteça, é necessário que haja, obviamente, um texto. Em geral, achamos
que um texto pode ser materializado apenas através da linguagem verbal – um memorando, uma
dissertação, uma exposição oral, por exemplo. Mas um texto pode ser formado também pela
linguagem visual (através de imagens), como uma logomarca, um quadro e as placas de trânsito.
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Há também a possibilidade de se formar textos misturando linguagem verbal com linguagem não
verbal (como uma história em quadrinhos com diálogos ou sinais de trânsito); linguagem verbal
com linguagem musical (como em uma música); e linguagem verbal com linguagem visual (como
teatro ou cinema). Quando um indivíduo assiste a um filme, por exemplo, algo que mistura a
linguagem verbal e visual, ele interage de modo próprio, faz a sua interpretação e a sua “leitura”
de forma única, conforme o seu mapa mental, ou seja, o modo como enxerga o mundo.
Pois é claro! Não nos interessávamos por aquilo que ele havia memorizado nos livros. Muitos
idiotas têm boa memória. Interessávamo-nos por aquilo que ele pensava. Poderia falar sobre o
que quisesse, desde que fosse aquilo sobre que gostaria de falar. Procurávamos as ideias que
corriam no seu sangue! (ALVES, 2004, p. 10).
Alves (2004) conclui a história observando que nunca havia passado pela cabeça dos entrevis-
tados a hipótese de que alguém um dia se interessaria pelos seus pensamentos. Ele continua:
Uma candidata, inclusive, teve um surto e começa a “papaguear” o que havia lido nos livros,
quando foi interrompida pela banca: “- Eu já li esse livro. E você está repetindo direitinho o
que contém dentro dele. Nós queremos ouvir o que não sabemos. Conte-nos o que você está
pensando...”. E a candidata não conseguiu. [...] “Os eruditos só fazem uma coisa: passar as
páginas dos livros. E com isso perderam a capacidade de pensar por si mesmos.” (NIETZSCHE
apud ALVES, 2004, p. 19).
Para Alves (2004, p. 62), comentando ainda sobre a pertinência da leitura, “[...] muitas pessoas,
de tanto repetirem as receitas, metamorfosearam-se de águias em tartarugas. E não são poucas
as tartarugas que possuem diplomas universitários”.
Ainda falando de Rubem Alves (2004), o professor conta ter aprendido, quando menino, que o
Brasil teria um futuro extraordinário por conta de suas riquezas naturais. Quanta inocência, ele
mesmo comenta! Seria o mesmo que dizer que alguém seria um Steve Jobs por ser dono de uma
loja de computadores.
Para citar um exemplo do impacto da leitura, a verdade é que nós, brasileiros, somos reco-
nhecidos pela nossa extensa criatividade, porém nos falta ainda incentivos quanto à inovação.
E inovação se trata de conhecimento. Você sabe dizer por que países desenvolvidos que não
Para Halliday e Hasan (1976 apud KOCK, 1996, p. 17), o termo coesão significa “[...] um
conceito semântico que se refere às relações de sentidos existente no interior do texto e o que
permite distinguir um texto de um não texto”. Contudo, a textualidade é assegurada não apenas
pelo ordenamento metódico das palavras, mas também pelos significados que possui na relação
de seus interlocutores, na prática social efetiva. Para exemplificar, o termo coesão é um “jargão”
comumente utilizado por técnicos de futebol. Quando se diz: “o nosso time está coeso”, quer se
dizer que as funções de cada membro do time estão devidamente interligadas, ou seja, que a
equipe trabalhou como uma engrenagem.
Vejamos nesta frase um exemplo de falta de coesão textual: O avião decolou os passageiros dor-
miam. De uma forma geral, mal ou bem, conseguimos entender o que está escrito (há coerência),
porém, não há coesão textual. E por quê? Porque falta um elemento coesivo para dar um melhor
sentido ao texto. Neste caso, o elemento faltante é uma conjunção. Veja a mesma frase escrita
agora com a conjunção: O avião decolou enquanto os passageiros dormiam.
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Comunicação
Veja mais alguns exemplos de conjunções: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, pois, por-
tanto, desse modo, nem, mas também, ainda que, mesmo que, quer dizer, isto é, aliás, além do
mais, além disso etc.
Mas a coesão textual vai além do uso de conjunções. Confira alguns destes elementos!
• Preposições: as preposições são elementos que estabelecem relações entre dois termos
ou mais em uma oração. Estas são algumas preposições: a, ante, após, até, com, contra,
de, desde, em, entre, para, per, perante, por, sem, sob, sobre etc. Exemplo: “O pesquisador
aguardou com disposição para apresentar os seus resultados”.
Fique atento: ao ler ou redigir um texto, veja se você está sendo coerente com tudo que o está
exposto e se as ideias podem ser compreendidas com facilidade. Informe-se, inclusive, sobre os
textos relacionados ao seu texto, fazendo assim o uso do que chamamos de intertextualidade.
Em resumo, a coesão de um texto não garante sua lógica ou sua coerência; assim como um texto
coerente não garante a sua coesão. Coerência e coesão são processos relativamente diferentes,
mas fundamentais para a construção de uma obra de qualidade.
Ao dizermos, por exemplo, “O gato da minha irmã subiu no telhado, caiu e morreu”, estou atri-
buindo para a palavra “gato” um sentido denotativo, ou literal, ou seja, entende-se gato como
um animal. Mas, o “pulo do gato” na leitura e na boa interpretação do texto está em saber inter-
pretar a linguagem metafórica que o texto apresenta. A linguagem metafórica é a linguagem de
palavras de sentido figurado, ou conotativo.
Isto que dizer que as palavras também se apresentam no texto em um sentido divergente daquele
que nos é comum ou familiar. Assim, se eu digo “O filho da minha vizinha é um gato”, quero
dizer que ele é bonito, e não um animal.
Vemos nessas duas frases referentes à palavra “gato” um exemplo de polissemia (poli = vários,
semia = significados), ou seja, a palavra “gato” apresenta mais de um significado, sendo este
segundo de sentido conotativo, ou figurado.
Em um canto de superquadra da Asa Norte de Brasília, existe uma pizzaria que tinha tudo
para ser mais uma na multidão de estabelecimentos comerciais. Modesta, espremida entre um
restaurante por quilo e uma loja de nutrição esportiva, fica a cerca de 500 metros do campus
da Universidade de Brasília (UnB) – mais adiante, aliás, um bar é conhecido pela aglomeração
dos universitários, clientes potenciais à procura de uma boa calabresa.
Mas voltemos à pizzaria, cercada pelo ambiente acadêmico de uma das principais universidades
do país – atmosfera que o ex-senador Darcy Ribeiro (1922-1997) tão bem conhecia. O saudoso
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antropólogo só não poderia imaginar que, ali tão próximo ao palco de históricos levantes de
insurreição contra a ditadura, seria aberta uma pizzaria com um slogan que, embora clichê,
tão bem representa o espírito de indignação do brasileiro com a política: “Aqui tudo acaba em
pizza” [...]. (CONGRESSO EM FOCO, 2010).
Eis a pergunta: o texto infere que existe um sentido não literal para a expressão “acabou literal-
mente em pizza”? Você saberia dizer que sentido é esse? Você só poderá compreender o texto e
responder à questão se for capaz de pressupor o que significa “acabar em pizza” (que é referente
ao seu conhecimento de mundo) e também se for capaz de compreender o que significa sentido
“literal e não literal” (que se refere ao seu conhecimento da língua que está sendo falada).
E finalmente a parte do fechamento, que é o momento em que se conclui as ideias. Para Aris-
tóteles (ANDRADE; HENRIQUES, 1994, p. 57), o fechamento “[...] é o que pede alguma coisa
antes e nada depois.” A conclusão de um texto traz, em geral, um resumo das ideias previamente
desenvolvidas.
Além disso, são três também os elementos estruturais. Os elementos estruturais são os ingredien-
tes que dão sustentação aos textos. Quando se constrói um edifício, por exemplo, é essencial
que se faça uma fundação de estacas e vigas baldrames. As estacas e vigas serão a sustentação
do edifício. Podemos dizer que, para a construção de um bom texto, é necessário que ele seja
desenvolvido sob as regras do seguinte tripé: estrutura, conteúdo e expressão.
• Conteúdo: é o elemento que exige clareza de ideias e que estas devam ser pertinentes
ao tema escolhido. Por exemplo, se o tema em questão é sobre Física Nuclear, dificilmente
trataremos sobre Linguística no texto.
O elemento expressão exige mais alguns outros aspectos. A originalidade é uma competência
essencial para se dar um “toque” de modernidade ao texto. Por exemplo: evitar chavões (como
“sem sombra de dúvidas”), clichês (como “neste momento memorável”); saber usar da substitui-
ção de pronomes possessivos pelos pessoais (por exemplo, “a saudade doía sua alma” para “a
saudade doía-lhe a alma.”).
A concisão é outro aspecto da expressão. Ser conciso é ser simples. A concisão consiste em
eliminar palavras ou expressões desnecessárias, evitando-se assim a prolixidade. Uma pessoa
prolixa é aquela que dá mil e uma voltas em torno do assunto até chegar onde pretende chegar.
CASO
Você sabia que quem lê mais tem um vocabulário muito mais rico? Isso interfere na comunicação
no meio corporativo. Imagine um gerente que precisa definir demandas com urgência e utiliza
diversos meios para se comunicar: e-mail, linguagem oral, quadro de recados etc. É preciso que
ele domine a norma padrão da língua para garantir a comunicação adequada. Para isso, uma
das soluções mais eficientes é a leitura.
Os sete erros mais comuns de português cometidos no ambiente corporativo poderiam ser evita-
dos pelo hábito de leitura. Entre os mais populares estão: trocar “em longo prazo” por “a longo
prazo”, usar “a nível de” ao invés de “em nível de”, “entrega a domicílio” ao invés de “entrega
em domicílio” etc. O mau uso da crase, por exemplo, que tem mais impacto na linguagem es-
crita, é um dos erros mais comuns. O seu uso pode ser amplamente compreendido através da
prática de leitura frequente.
35
Comunicação
Assim, podemos dizer que o leitor competente é aquele capaz de fazer uma relação entre o que
lê com imaginação e o que de fato é realidade. Conheceremos agora algumas técnicas que
ajudarão no processo de interpretação dos textos.
Andrade e Henriques (1994) sugerem que a técnica de sublinhar o texto é bastante eficaz, não
só para uma melhor apreensão do conhecimento, mas também para uma melhor memorização,
revisão e preparação para se resumir um texto.
O ato de sublinhar implica em riscar ou grifar as ideias e, para isso, o leitor precisa saber quais
são as ideias primárias e quais são as ideias secundárias do texto.
• Faça uma leitura inspecional do texto. Como o nome sugere, trata-se de uma rápida
“inspeção” sobre o texto proposto. Faz-se uma leitura inspecional quando se tem por
objetivo principal a visão macro do texto. Esse tipo de leitura também pode ser útil
quando se tem pressa ou quando um prazo já está esgotado pois se trata de uma leitura
• Faça uma releitura do texto com o objetivo de identificar as ideias principais, sublinhando,
nesta etapa, palavras ou pequenas frases que você julga serem as mais importantes.
Quando o texto é impresso, você terá a opção de fazer vários apontamentos, colocar
asteriscos destacando os pontos críticos e até colar post-its coloridos.
• Leia o seu resumo de forma crítica e analítica um ou dois dias antes da avaliação.
37
Comunicação
Para Buzan (2005), a elaboração de mapas mentais ajuda a organizar as nossas ideias, pois
a sua técnica se baseia em como o cérebro trabalha naturalmente. E como o cérebro trabalha
naturalmente? Fácil de exemplificar. Leia a palavra em negrito, feche os olhos e pense nessa
palavra por apenas 15 segundos:
BRINQUEDO
Agora responda: em que você pensou? Certamente, várias imagens de brinquedos lhe passaram
pela cabeça – talvez os seus favoritos de infância. Não importa. O que certamente não aconte-
ceu foi você ter visualizado a palavra brinquedo em forma de impressão preto e branca, certo?
Com certeza as imagens que lhe vieram à mente foram coloridas também. É assim que o cérebro
trabalha naturalmente, através de associação e imaginação. Nos processos de leitura, este é um
fator importante. É o que leva uma pessoa a imaginar a cena descrita em um romance literário,
por exemplo.
Ao elaborar os mapas mentais, você terá a sua “biblioteca mental” mais organizada do que
nunca, porque este sistema permite que você “enganche” uma ideia na outra em prateleiras co-
loridas de fácil identificação. Além disso, o mapa mental ajuda na concentração, memorização,
estimula a capacidade de abstração e ajuda a estudar ou ler com maior eficiência e rapidez.
Então, mãos à obra! Você só precisa de uma folha de papel em branco e canetas coloridas para
rabiscar o seu primeiro mapa mental. Conheça as principais dicas para a elaboração de mapas
mentais de Buzan (2005, p. 46-47).
• Sempre comece seu mapa mental com uma folha de papel em branco virada na horizontal
e, em seguida, utilize o centro da folha para escrever a ideia central do texto. Iniciando no
meio da folha, você dá ao cérebro liberdade de expandir as ideias em todas as direções.
Pergunte-se: qual é a ideia central deste texto? Anote-a em forma de figura ou palavra-
chave no centro da folha.
• Utilize figuras ou desenhos para retratar suas ideias centrais. Lembre-se sempre de que
no processo de aprendizagem uma imagem vale mais do que mil palavras. O desenho
mantém o cérebro mais interessado e mais focado e, como consequência, você terá
um cérebro menos disperso. Mas atenção: você não precisa ser um Pablo Picasso para
fazer seus desenhos. As imagens nos mapas mentais podem ser qualquer símbolo que
represente a ideia principal daquilo que você está lendo. Um rabisco simples já é o
suficiente.
• Use e abuse das cores. Como dito anteriormente, impossível o cérebro pensar “preto e
branco” A cor dá estímulo ao cérebro criativo. Ao criar um tema primário, por exemplo,
utilize a mesma cor para o tema secundário e até o final do raciocínio. Esta técnica fará
com que você memorize cada ideia em particular. Veja o exemplo a seguir.
• Utilize ramificações, que são similares a “ganchos” que associam ou “engancham” uma
ideia na outra, fazendo com que você se lembre mais facilmente das coisas. Perceba na
ilustração anterior que os ramos são conectados a uma imagem ou a uma palavra-chave.
Ao contrário da linearidade, as linhas curvas estimulam o olhar, tornando o objeto de
aprendizado mais atrativo para o cérebro. Os ramos também ajudam você a separar as
ideias primárias das ideias secundárias.
• Use uma única palavra-chave por ideia. As palavras-chave são como multiplicadores de
ideias e incentivam o cérebro a ser mais flexível.
39
Comunicação
Aqui vão algumas dicas finais que podem ajudá-lo na leitura de textos.
• Leia as frases estruturais do texto com atenção. Nem sempre você precisará fazer uma
leitura analítica do texto inteiro para compreendê-lo. A leitura analítica sugere analisar, ler
criteriosamente com o objetivo de apreender mais conhecimento. Para Souza e Carvalho
(2007, p. 65) a leitura analítica é “[...] a leitura atenta, reflexiva, vertical, pausada com
possíveis releituras, que visa a apreender e criticar toda a montagem orgânica do texto,
sua coerência informativa e seu valor de opinião”.
• Pergunte-se: o que realmente se quer saber sobre este texto? A leitura inspecional é um
atalho e por isso economiza o tempo do leitor.
• Seja seletivo: em vez de ler uma palavra por vez, leia grupos de palavras, frases e até
linhas inteiras. Quando você aprende a digerir blocos de informação, sua velocidade de
leitura aumentará.
VOCÊ O CONHECE?
Paulo Freire foi um educador brasileiro de grande prestígio no Brasil e internacional-
mente. No cerne de sua pedagogia, estava a leitura e a escrita, em uma visão mais
ampla, que tivesse a ver com as expectativas individuais do aluno. Em sua obra A im-
portância do ato de ler (1988), coloca a leitura, não apenas das palavras escritas, mas
também do mundo que cerca o indivíduo, como de essencial importância no desenvol-
vimento do homem e da sociedade.
• Vimos que o processo da leitura é formado por quatro fases: decodificação, intelecção,
interpretação e aplicação.
41
Referências Bibliográficas
ALVES, Rubem. Ao professor, com o meu carinho. Campinas: Versus, 2004.
ANDRADE, Maria M.; HENRIQUES, Antonio. Língua Portuguesa: noções básicas para cursos
superiores. São Paulo: Atlas, 1994.
A PALAVRA CONTA. Direção: Duto Sperry e Leo Gambera. Java 2G. DVD (30 min), 2010.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BUZAN, Tony. Mapas mentais e sua elaboração. São Paulo: Cultrix, 2005.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 22. ed. São
Paulo: Cortez, 1988.
_______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 15. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1985.
FREIRE, Paulo; FREIRE, Antonio F. Por uma pedagogia da pergunta. 7. ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2011.
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KOFMAN, Fredy. Metamanagement: a nova consciência dos Negócios. São Paulo: Antaka-
rana, 2002.
SILVA, Thamires de Oliveira e. Alcoolismo entre os jovens: quando a diversão pode se tor-
nar um problema de saúde pública. Disponível em: <http://www.portalcae.com.br/?p=1805>.
Acesso em: 30 maio 2015.
SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS. Direção Peter Weir. Produção: Steven Haft. Buena Vista
Home Entertainment; Tochstone Home Entertainment. DVD (129 min), Wisdescreen, son. color,
NTSC, 1989.
SOUZA, L.M; CARVALHO, S.W. Compreensão e produção de textos. Rio de Janeiro: Vozes,
2007.
SOUZA, Maria Salete Daros de. A conquista do jovem leitor: uma proposta alternativa.
Florianópolis: UFSC, 1993.
Capítulo 3
Produção de textos no meio
acadêmico e profissional
Introdução
Este capítulo é dedicado à produção de textos, à compreensão dos usos e conceitos das estra-
tégias textuais, principalmente no contexto acadêmico e profissional. Você sabe como os textos
surgiram? Vamos conhecer um pouco da história dos textos e da escrita? Neste capítulo, você
verá também como planejar sua escrita e organizar-se para a produção textual otimizando a
compreensão, além das diferentes tipologias textuais.
Em diferentes as civilizações, a escrita sempre foi sinônimo de poder e status. O Antigo Egito foi
uma das primeiras civilizações a adotar a escrita em seu sistema escolar. Para eles, a escrita era
uma dádiva concebida por Thoth, o deus da sabedoria na mitologia, e foi considerada pelos
egípcios como uma arte misteriosa. Aquele que soubesse escrever, portanto, tornava-se dotado
de poder (ELIAS, 2000).
Os escribas eram muito respeitados na comunidade egípcia, pois eram eles que disseminavam o
poder (a escrita) para os demais. Graças à escrita, os egípcios puderam registrar todo o seu co-
nhecimento e história através de caracteres típicos, chamados de hieróglifos, que significa “grafia
sagrada”. Foram também os egípcios que introduziram a divisão da escrita em duas formas: uma
para representar a fala (símbolos), e outra para representar as ideias (gravuras) (ELIAS, 2000).
Mas foi do alfabeto grego que nasceu o nosso alfabeto latino. Você sabia que os gregos inventa-
ram também o caderno? Em forma de tabuletas cobertas de cera, os alunos podiam escrever com
estilete e reutilizá-las, apagando o conteúdo sempre que preciso. Estas tabuletas eram chamadas
de ardósias. Sabe-se que os cadernos foram criados para não só facilitar a escrita e a leitura,
mas para articular melhor o que é escrito em textos (ELIAS, 2000).
A escrita é mais do que um mero conjunto de sinais que representam a forma como falamos, é
também uma extensão de nossas ideias, pensamentos e sentimentos. Conhecer as regras gra-
maticais, regras de pontuação e acentuação é importante, mas não fará muita diferença se você
não souber organizar e pensar sobre aquilo que está escrevendo.
Assim, neste módulo, você poderá compreender melhor os diferentes instrumentos gramaticais
para o desenvolvimento do texto, com foco nas situações de concordância (nominal e verbal),
regência (nominal e verbal), colocação pronominal e nos aspectos etimológicos. Identificará
também as principais características da redação técnico-científica, literária e profissional e seu
uso em multimeios, através de técnicas efetivas para a construção do texto.
43
Comunicação
Produzir um texto é uma atividade bastante complexa e pressupõe um sujeito não apenas atento
às exigências, às necessidades e aos propósitos requeridos por seu contexto socio-histórico
e cultural, mas também capaz de realizar diversas ações e projeções de natureza textual,
discursiva e cognitiva, antes e no decorrer da elaboração textual. (MARCUSCHI, 2010, p. 65).
Os gêneros textuais primários são aqueles que fazem parte do nosso dia a dia e que não preci-
sam ser ensinados, pois os aprendemos através do exemplo de outras pessoas e por repetição
(uma lista de compras ou uma conversa telefônica informal, por exemplo).
Os gêneros textuais podem ser utilizados em conjunto com os três tipos textuais principais: texto
narrativo, descritivo e dissertativo. Mais adiante, trataremos destes três tipos de textos.
Mas antes, veja um exemplo: quando você sai a campo para coletar informações para a sua
pesquisa acadêmica, você utiliza recursos textuais – orais e escritos. Se fizer uma entrevista com
o uso de um aparelho de gravação de voz, estará usando o gênero textual oral. Quando trans-
crever este material em seu relatório ou projeto de pesquisa, o fará de forma textual escrita.
Figura 1 – Ao usar as redes sociais ou o e-mail, você faz uso de diferentes gêneros e tipos textuais.
Fonte: Shutterstock, 2015.
O mais importante é saber quando utilizar os devidos gêneros e como mesclá-los aos demais
tipos textuais. Para a produção de texto assertiva, verifique primeiramente qual é a intenção do
texto, o contexto, o gênero e o tipo textual mais adequado.
Ribeiro (2010) afirma que a escola do campo vai se configurando entre os trabalhadores que se
percebem diferentes; eles reconhecem a importância da luta para a sua formação, mas veem que
a escola de seus filhos não valoriza os saberes do campo.
O público-alvo é composto por mulheres de classe média, com formação superior, idade entre 30
a 55 anos e que ocupam por mais de 10 anos cargos de liderança. Possuem visão empreendedo-
ra e buscam oportunidades de abrir o negócio próprio dentro dos próximos 12 meses.
É possível dizer que descrever algo é como fazer uma “fotografia verbal”. Podemos descrever
uma pessoa, um ambiente, uma paisagem ou uma cena de crime, por exemplo. Você também
pode utilizar esse tipo de texto para redigir um relatório de pesquisa, para expor as caracterís-
ticas de um Estudo de Caso ou para elaborar um memorando profissional com detalhes de um
procedimento realizado por uma equipe, por exemplo.
45
Comunicação
Texto narrativo é aquele que relata as mudanças progressivas de estado que vão ocorrendo com
as pessoas e as coisas através do tempo. Nesse tipo de texto, os episódios e os relatos estão
organizados numa disposição tal que entre eles existe sempre uma relação de anterioridade ou
de posterioridade. Essa relação de anterioridade ou posterioridade é sempre pertinente num
texto narrativo, mesmo quando ela venha alterada na sua sequência linear por uma razão ou
por outra. (SAVIOLI; FIORIN, 2002, p. 289)
Para se construir um texto narrativo são necessários elementos descritivos. Estes elementos são
essenciais em uma narrativa, pois dão ao autor a possibilidade de “pintar” ou colorir a sua his-
tória. Os elementos descritivos são como o “pincel” do autor enquanto ele colore o seu texto. Os
principais elementos de uma narrativa são:
Você pôde perceber, ao contemplar os elementos descritivos desta narrativa, que o texto fica mais
claro e organizado, mais adequado à leitura, e que a narração se torna mais rica em detalhes
se eles estão presentes. Utilize este processo de questionamento ao descrever uma situação, fe-
nômeno, personagens, ambientes, objetos etc., pois o texto narrativo é contextualizado, possui
fatos, insere razões e modos, e flui de forma gradativa e sequencial.
Todo texto dissertativo tem um elemento comum e importante, que é o tema da dissertação. O
tema em um texto dissertativo é uma reflexão abstrata da realidade e por isso, é necessário que a
dissertação apresente dados da realidade conectados a esta abstração. O padrão de linguagem
exigido em um texto dissertativo deve ser invariavelmente a norma culta.
As principais variáveis de eficiência financeira do segmento industrial de móveis são, por ordem: o
índice de liquidez; o endividamento geral; a imobilização do patrimônio líquido; a participação de
capital de terceiros ou grau de endividamento e a imobilização de recursos não correntes. As em-
presas mais eficientes têm um perfil de alta liquidez e elevado grau de endividamento, possivel-
mente junto a fornecedores, além disso, contam com boa presença de capital circulante líquido.
47
Comunicação
É impossível dizer que os três tipos textuais não se misturam – o descritivo, o narrativo e o disser-
tativo. A redação de um bom texto mescla dois ou mais tipos textuais. Com a prática, você irá
perceber, em diferentes momentos do seu trabalho acadêmico ou na sua rotina profissional, a
aproximação de diferentes tipologias textuais na mesma ocasião.
As línguas também possuem as suas leis, ou melhor, as suas regras. As regras de uma língua
existem para que as pessoas possam se entender da melhor maneira possível. Na língua portu-
guesa, por exemplo, temos muitas regras: gramaticais, ortográficas, regras de acentuação etc.,
mas estas regras não nos podem levar a pensar que a língua é rígida.
Como você já sabe, a língua portuguesa não é uniforme e nem inflexível. Apesar de sermos todos
brasileiros, temos “falares” diferentes. O sotaque muda a cada região, e em diferentes partes do
país existem variações linguísticas.
Nós adaptamos nosso modo de falar de acordo com quem estamos falando. Não usamos o
mesmo tipo de linguagem com todo mundo. Com os amigos, falamos de um jeito, e com o juiz
de um tribunal, falamos de outro completamente diferente.
Ao produzir um texto, você vai precisar utilizar algumas regras e ser flexível, do contrário, seu
texto ficará um caos. Mas, se encarar a produção de um texto de forma rígida, seu texto ficará
muito sem graça e austero. Um texto que não chama a atenção não terá muitos leitores.
CASO
Na década de 1970, dois pesquisadores, George Land e Beth Jarman (apud PREDEBON, 2008),
revelaram algo impressionante sobre o declínio da criatividade nos seres humanos adultos. A
pesquisa consistiu em aplicar testes de criatividade em 1.600 crianças de três a cinco anos de
idade. Estes testes nada mais eram que os mesmos testes utilizados pela Nasa para seleção de
engenheiros e cientistas.
O resultado impressionou: 98% dessas 1.600 crianças foram consideradas altamente criativas.
Cinco anos se passaram e essas mesmas crianças, agora com dez anos de idade, passaram pelos
mesmos testes. Os resultados surpreenderam: apenas 30% dessas crianças foram consideradas
altamente criativas, e quando completaram quinze anos, apenas 12% se mantiveram no ranking
da criatividade.
Não satisfeitos, os pesquisadores, então, aplicaram os mesmos testes com 200.000 adultos
maiores de vinte e cinco anos de idade e os resultados foram ainda mais impressionantes: apenas
2% destes adultos foram considerados altamente criativos.
30%
12% 2%
Até Até Até Mais de
5 anos 10 anos 15 anos 25 anos
49
Comunicação
A conclusão da pesquisa é que o ser humano aprende a ser “não criativo”. Eles concluem que
O declínio da criatividade não é devido à idade, mas aos bloqueios mentais criados ao longo
de nossa vida. A família, a escola e as empresas têm tido sucesso em inibir o pensamento
criativo. Esta é a má notícia. A boa notícia é que as pesquisas e a prática mostram que este
processo pode ser revertido; podemos recuperar boa parte de nossas habilidades criativas.
Melhor ainda, nós podemos impedir este processo de robotização. O desenvolvimento da
criatividade requer que abandonemos nossa zona de conforto e nos libertemos dos bloqueios
que impedem o pleno uso de nossa capacidade mental. (PREDEBON, 2008)
Agora que você já sabe que todos somos seres criativos, é muito importante estimular a sua
criatividade independentemente do contexto em que ela é requerida.
Para produzir um texto original e criativo, é preciso saber utilizar alguns recursos linguísticos
disponíveis. Estes recursos nos possibilitam flexibilizar as regras, dando um “toque de cor” e ori-
ginalidade ao texto, ajudando-nos também a dar emoções ou um toque poético ao que estamos
escrevendo.
Um dos recursos mais conhecidos é, por exemplo, a linguagem metafórica, que é a linguagem
de palavras de sentido figurado ou conotativo. Como vimos anteriormente, compreender este tipo
de linguagem é condição imprescindível para a boa interpretação do texto e, consequentemente,
é importante para quem deseja construir um texto com mais originalidade e mais expressividade.
Veja que quando se escreve uma expressão que se quer ressaltar, como o “pulo do gato” (que
indica algo que otimiza algum processo qualquer), podemos colocar a expressão entre aspas. As
aspas são um recurso interessante para quem precisa ou deseja utilizar a linguagem metafórica.
As aspas nos indicam que a palavra está sendo usada ou em uma língua diferente da que está
sendo produzido o texto, ou que contém um aspecto figurado (conotativo). Lembre-se: a manei-
ra de se escrever é tão importante quanto o que vai se escrever, e os recursos são imprescindíveis
para se dar um “tom” especial à escrita.
Metáforas e analogias
As metáforas e analogias podem ser consideradas irmãs gêmeas, mas apresentam carcterísticas
diferentes, ainda que tênues. Se conhecermos o sentido etimológico da palavra “metáfora”, en-
Então, utilizar uma metáfora em um texto significa comunicar indiretamente um sentido e utili-
zar uma frase ou uma palavra para dar um outro significado e/ou para fazer comparações. Por
exemplo: ele é mau como o diabo / ele é como o diabo.
O ex-presidente da Apple, Steve Jobs, gostava muito de utilizar metáforas em seus discursos e
apresentações – veja como as metáforas podem estar presentes também nos discursos falados, e
não apenas escritos. Jobs era conhecido como um orador que sabia “vender bem o seu peixe”,
pois tornava a sua comunicação a mais acessível possível de forma a abranger todos os públicos.
Veja algumas frases que Jobs utilizava quando apresentava seus produtos: “O iPod tem o tama-
nho de um baralho.” ou “O iPod Shuffle é menor e mais leve que um pacote de chicletes.”
(apud GALLO, 2010, p. 122).
Leia o seguinte exemplo: “Visto de perfil, o MacBook Air mede 0,4 centímetros na sua parte mais
fina, tem 1,9 centímetros de largura com um ecrã LED de 13,3 polegadas e pesa 1,3 kg.” (apud
GALLO, 2010, p. 122).
Este é um texto tipicamente técnico, cujo sentido atingirá apenas uma pequena parte da popu-
lação (somente os entusiastas de informática). O que Jobs teria a dizer sobre esta informação?
Ele de fato disse: “O MacBook Air é tão fino que cabe dentro de uma caixa de chicletes.” (apud
GALLO, 2010, p. 122).
Esta simplicidade de discurso e sabedoria na utilização de sentido figurado fez de Jobs um dos
melhores oradores de sua geração. No entanto, algumas metáforas já se tornaram clichês, ou
seja, foram incorporados ao “patrimônio linguístico”. Por isso, tome cuidado para que seu texto
não se torne enfadonho e genérico.
Os clichês são expressões geralmente formadas a partir da relação com certos objetos, animais,
parte do corpo humano etc. Veja estes exemplos bem típicos: “berço da nação”, “maçãs do ros-
to”, “minha sogra é uma víbora”, “esperta como uma raposa” etc.
Por outro lado, as metáforas podem esclarecer o que nos é desconhecido, relacionando a palavra
nova com algo que já supostamente conhecemos. Aí, temos a analogia, a irmã gêmea da metáfora.
51
Comunicação
Catacrese
As chamadas catacreses servem para compensar a falta de uma palavra específica na língua.
Por exemplo: “pé da mesa”, “nariz do avião”, “virar o copo de cabeça para baixo” etc. Não é
muito usada em textos científicos ou na comunicação profissional.
Antíteses
Encontradas em texto poéticos, as metáforas antitéticas, ou antíteses, acontecem quando uma
figura de linguagem se opõe à outra. Veja os exemplos:
O trabalhador que era quase escravo do seu fazer, hoje é rei e tem poder aquisitivo.
Ironia
A ironia trata de dar às palavras um significado diferente do original, sugerindo exatamente o
oposto daquilo que se quer dizer. Vejamos um exemplo:
Diante do exposto estamos inteiramente “convencidos” pelo argumento apresentado pelo autor,
que de forma pedante, apresenta suposiões superficiais à sua teoria.
Usa-se, neste exemplo, entre aspas, a ironia para ressaltar que os autores discordam parcialmen-
te da superficialidade apresentada pelo autor citado.
Eufemismo
Trata-se da forma de atenuar o sentido literal e desagradável de uma palavra, o que não é muito
comum nos textos profissionais ou acadêmicos. Por exemplo, lemos no seguinte texto de Chico
Buarque: “Meninos ficando azuis e desencarnando lá no Brejo da Cruz.” (ANDRADE; HENRI-
QUES, 1994). As palavras “ficando azuis e desencarnando” amenizam ou suavizam o peso da
palavra “morte”.
Hipérbole
O recurso da hipérbole é muito utilizado em textos poéticos. É quando se exagera na expressão
de uma ideia (especialmente quando essa ideia é o amor). Novamente, um exemplo na poesia
de Chico Buarque: “Passava um verão / A água e pão / Dava o meu quinhão pro meu grande
amor.” (ANDRADE; HENRIQUES, 1994). Um pouco exagerado passar o verão só vivendo de
água e pão por causa de um amor, não? Mas é justamente esta a sensação que o autor quis
transmitir.
Hipérbato
Consiste no recurso de inversão da ordem natural das palavras. Por exemplo, o hino nacional
brasileiro está coberto deste recurso: “Ouviram do Ipiranga às margens plácidas / De um povo
heroico o brado retumbante”. Se ousássemos colocar as palavras na sua sequência natural,
talvez o texto ficaria assim: “Ouviram o brado retumbante de um povo heroico nas margens
plácidas do Ipiranga.”.
Pleonasmo
Do latim pleonasmu, significa redundância, e em geral é evitado em textos científicos ou profis-
sionais. Utiliza-se este recurso quando se quer enfatizar ou reforçar o significado de uma ideia.
Veja um exemplo no poema de Manuel Bandeira (1970):
Onomatopeia
Consiste em representar, através da escrita, os sons produzidos pelos animais, objetos ou seres
humanos.
Por exemplo:
Diante desta situação, vê-se a importância de projetos que não só exponham a tecnologia, mas
que ensinem a extrair e gerar o conhecimento.
Projetos está na terceira pessoa do plural. Assim, o verbo expor e ensinar devem concordar em
número.
53
Comunicação
Vejamos um exemplo:
As comunidades do campo estão sendo esvaziadas e a evasão dos jovens para a área urbana é
certa.
Regência verbal
É quando o regente é um verbo. Na regência verbal, o foco está na relação que o verbo esta-
belece com os termos que o complementam (objeto direto e objeto indireto) ou o caracterizam
(adjunto adverbial). Veja o exemplo:
Dos indivíduos entrevistados nesta pesquisa, 83% afirmam que obedecem à lei sobre o uso de
cigarro em ambientes coletivos e fechados.
Obedecem é o termo regente de lei, o termo regido. Em alguns casos, o termo regente é ligado
ao termo regido por um preposição. Veja a seguir:
É importante dizer que alguns verbos apresentam mais de uma regência, dentre eles: aspirar,
assistir, custar, esquecer, implicar, lembrar, informar, pagar, perdoar, proceder, querer, visar etc.
Regência nominal
A regência nominal refere-se à relação entre um substantivo, adjetivo ou advérbio e o seu com-
plemento nominal, respectivamente. Vejamos um exemplo:
Há uma preposição (a/ao) ligando o termo regido (que é um substantivo − debate) ao seu
complemento – a comunidade pesquisada está “alheia à/ao” alguma coisa ou a alguém, neces-
sariamente.
Outro exemplo:
A alfabetização digital como direito democrático de acesso às informações ainda é projeto não
concretizado na maioria das escolas do campo, principalmente as de difícil acesso.
O termo acesso sempre refere-se a algo/alguém. Então, neste caso, há regência para com a
palavra “informações”.
55
Comunicação
A construção deste tipo de texto começa com a existência de um tema. Sem um tema, não existe
sobre o que dissertar. Assim, você deve, não somente estar ciente da problemática, mas também
ter conhecimento sobre o assunto acerca do qual irá escrever, sendo que estes podem apresen-
tar aspectos políticos, sociais, filosóficos, científicos ou culturais. Veja que escrever não é uma
tarefa fácil, e que ela depende principalmente da sua habilidade de leitura.
Imagine que você tenha que dissertar sobre o tema: o uso de drogas na adolescência (um tema
de cunho social). Lembre-se: não se pode escrever sobre aquilo que não se sabe e sobre o que
não se lê. A primeira pergunta a se fazer é: o que sei sobre este tema? O que já li a respeito?
Colete todas as informações possíveis.
Nos trabalhos acadêmicos de conclusão de curso (TCC), é necessário que o tema seja bastante
específico. Quanto mais específico seu tema, mais fácil será a construção de ideias a respeito
dele. Utilizando o mesmo exemplo, o uso de drogas na adolescência, poderíamos fazer um re-
corte ainda melhor: o uso de drogas na adolescência na cidade de Palmas (TO).
Vejamos um exemplo: suponha que o tema da dissertação seja “redução da maioridade penal”.
Utilize as seguintes palavras para provocar respostas e mais perguntas: O quê? Como? Quando?
Por quê? Quem? De que forma? Qual? Quanto? Onde?
Por exemplo:
Vamos supor novamente o exemplo do tema específico: redução da maioridade penal. A dica
aqui consiste em você se imaginar em um fórum de debates em que há pessoas que são contra
a redução da maioridade penal, e há outras que são a favor da redução. Pergunte-se, então: eu
sou contra ou a favor?
Veja abaixo um mapa mental feito a partir de um assunto específico com o objetivo de se obter
um posicionamento sobre o tema.
Motivos
Não resolve
o problema
Redução da Familiares
maioridade penal
Educacionais
Cultural
Sistema prisional
falido
Jovem sai pior
do que entrou
Visto que temos trabalhado com o exemplo do tema “a redução da maioridade penal”, listemos
as ideias principais, levando em conta que somos contra a redução, por exemplo.
• A redução não resolve problemas ainda maiores, como a pobreza, o uso de drogas, as
falhas no sistema educacional e as leis retrógradas, por exemplo.
• O país tem um sistema prisional falido e o detento sai de lá pior do que quando entrou,
pois não existe programa de reabilitação.
A título de exemplificação, suponha que o item com o qual mais você compactua (lembre-se de
que, por exemplo, escolheu ser contra) é de que não existe um programa social sério de reabilita-
ção. Assim, o indivíduo sairá mais marginalizado do que quando entrou no sistema prisional, tra-
zendo uma desvantagem ainda maior para a sociedade, pois entraremos em um círculo vicioso.
Como podem perceber, há um tema pronto para se dissertar a respeito: “o sistema prisional brasi-
leiro, a questão da redução da maioridade penal e as suas consequências desastrosas para a so-
ciedade”. Agora preciso defender o tema com argumentos consistentes e coerentes. Como fazê-lo?
59
Comunicação
Perceba que o seu argumento deve conter estes três elementos, mas não necessariamente nesta
ordem. Você é livre para começar a escrever por onde quiser, basta ter em mente o que não
pode faltar na sua argumentação. A primeira premissa trata de uma evidência, ou algo que todo
mundo sabe e não se precisa nem comprovar; a segunda complementa ou justifica a sua evidên-
cia (neste caso, você pode inclusive utilizar o argumento de alguma autoridade no assunto); e
finalmente, uma conclusão apresenta a sua opinião quando se somam as duas premissas.
• Falamos das regras da língua portuguesa, que existem para que as pessoas possam se
entender da melhor maneira possível. Mesmo conhecendo e sabendo aplicar as regras da
língua, precisamos saber escrever com criatividade, caso contrário, nosso texto se tornará
monótono.
• Você compreendeu os principais recursos que podem ajudar a criar um texto: as figuras
de palavras, de construção e as figuras de som.
• Observou que para fazer sentido, o texto possui sentenças que devem ser coesas, seja por
concordância ou regência.
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Referências Bibliográficas
ANDRADE, Maria M.; HENRIQUES, Antonio. Língua Portuguesa: noções básicas para cursos
superiores. São Paulo: Atlas, 1994.
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BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Frontei-
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GALLO, Camille. Faça como Steve Jobs: e realize apresentações incríveis em qualquer situa-
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HOUAISS, Antonio; SALLES VILLAR, Mauro de. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
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KOCH, Stephen. Oficina de escritores: um manual para a arte da ficção. São Paulo: Martins
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LEITE, M. Dinâmica Evolutiva do Processo Criativo. In: VIRGOLIM, Angela M. e ALENCAR, Eunice
S. M. L. (orgs.). Criatividade: Expressão e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Vozes, 1994.
PREDEBON, José. Criatividade: abrindo o lado inovador da mente. São Paulo: Atlas, 2008.
RIBEIRO, Marlene. Movimento camponês: trabalho e educação. São Paulo: Expressão Popular,
2013.
RILKE, Ranier Maria. Cartas a um jovem poeta. Porto Alegre: L&PM, 2010.
SANTOS, Lulu; MOTA, Nelson. Certas coisas. Intérprete: Lulu Santos. Rio de Janeiro: WEA,
1985. 1 CD.
Introdução
Trataremos agora de técnicas de comunicação que poderão ser usadas tanto no meio acadêmico
quanto no meio profissional. Vamos identificar os fundamentos e modos da comunicação oral
e sua organização, considerando oralidade, clareza, concisão, coerência e asseio na apresen-
tação. Em seguida, descreveremos como ocorre a comunicação em grupo, enfatizando a sua
importância no trabalho coletivo e a divisão de tarefas ou instruções.
Bom estudo!
Tracemos duas colunas imaginárias referentes à nossa comunicação: uma coluna à esquerda
e uma coluna à direita. Na coluna da esquerda, fica toda a conversação interior (aquilo que
pensamos, mas não falamos) e, na coluna da direita, a nossa conversação pública (transcrição
literal do que dizemos).
63
Comunicação
Para Kofman (2002), compreender essas duas colunas permite investigar o porquê de às vezes
decidirmos não dizer algumas coisas que pensamos e sentimos.
Existem pessoas que acreditam ser muito ‘honestas’, sinceras e falam tudo o que pensam,
portanto, acham que não têm coluna da esquerda. Dizer ao outro, por exemplo, ‘vá para
o inferno’ pode ser uma expressão autêntica dos sentimentos; mas raramente essa explosão
terá consequências positivas para a tarefa e para a relação interpessoal. ‘Vomitar’ a coluna
esquerda pode fazer a pessoa se sentir melhor, talvez até lhe permitir acreditar que é ‘honesta’.
Mas essa honestidade dessa forma é lamentável. Tal honestidade ‘expressada de forma literal’
é totalmente improdutiva e antissocial: dificulta a resolução dos problemas, destrói as relações
humanas e contradiz nosso princípio acerca do respeito que nos merece o outro. É por essa
razão que tanta gente conserva escondida a sua coluna esquerda. (KOFMAN, 2002, p. 31)
Mas “engolir sapos”, como diz a expressão popular, também não nos traz resultados muito
produtivos. Ficar em silêncio não significa trazer soluções. O que fazer então? Como podemos
nos comunicar sem prejudicar a reputação? Os teóricos sobre práticas comunicativas para a
linguagem oral em geral indicam o caminho do meio: no contexto profissional e acadêmico,
espera-se dos interlocutores clareza, bom senso, dinamismo no uso dos recursos expressivos (in-
clusive quanto ao gestual), preparo prévio (para dizer com propriedade) e outras competências
que veremos a seguir.
Em nosso dia a dia, adotamos estilos diferentes para nos comunicar. Veja se você reconhece as
seguintes situações:
Situação 1 – Você possui muitas tarefas a cumprir em sua jornada de trabalho. O líder de sua
equipe solicita um relatório para ser entregue no mesmo expediente. Por mais que você não te-
nha tempo para executá-lo, você aceita a tarefa.
Situação 2 – Seu chefe lhe pede para que você trabalhe no final de semana. Você nem se ir-
ritaria muito se não fosse pela segunda vez consecutiva que você perde o dia de descanso para
passar com a sua família. Para não contrariá-lo, você diz que vai fazer a hora extra, mas, ao virar
as costas, sai reclamando com os colegas.
Situação 3 – Você está preparando uma apresentação importante – a sua tese de conclusão de
curso. Por infortúnio, o computador estraga e tudo o que você havia preparado se perde, sem
solução. Você esbraveja sozinho e fala coisas que muitas pessoas diriam ser sem sentido, mas
você nada pode fazer. Então, xinga a pessoa que está ao seu lado, seja quem for.
Você conseguiu se identificar em alguma dessas situações? Note que a comunicação perpassa
pelas relações interpessoais e o modo como nos dispomos no mundo. Para ter com bom preparo
comunicativo, ainda mais na linguagem oral em determinados contextos, é importante ter essa
consciência. Logo, a qualidade do modo de comunicar deve ser coerente com as boas práticas
dessas relações.
Estilo agressivo
A priori, o estilo agressivo pode aparentar ser um estilo “sincero”, ou seja, aquele que diz a ver-
dade nua e crua, como tem de ser dita. Mas vimos que dizer tudo que nos vem à mente ou ser
absolutamente sincero pode resultar em incompreensões e desentendimentos.
No comportamento agressivo, o indivíduo tem pouco ou nenhum interesse na opinião dos outros
(e pelo feedback – termo emprestado da cibernética que diz respeito aos mecanismos de ajustes
da fonte às expectativas do destinatário – dessa comunicação), fazendo valer a sua opinião mui-
tas vezes no berro, e expõe a sua verdade como sendo a verdade.
65
Comunicação
Mas como chegar a um consenso quanto ao melhor modo de se expressar pela comunicação
oral e interpessoal? Fachada (1998) sugere o estilo assertivo como boa prática de comunicação
oral interpessoal no ambiente profissional ou acadêmico.
Estilo assertivo
Quando conseguimos expressar as nossas opiniões, pensamentos e sentimentos sem agredir o
outro, de forma firme e tranquila, estamos colocando em prática a assertividade. No mundo do
trabalho, é esperado que você, na grande maioria das vezes, coloque em prática o comporta-
mento assertivo, que diz respeito também à clareza, à concisão, à coerência e ao asseio na sua
apresentação ou no relacionamento com as demais pessoas.
A pessoa de comportamento assertivo tem respeito pelas suas próprias ideias e sentimentos, tem
autoconfiança, não sente medo de discordar, de dizer “não” nem de perguntar o porquê. Busca
sempre os melhores meios do discurso oral, fazendo uso de um vocabulário contextualizado e
adequado aos seus interlocutores. O comportamento comunicativo assertivo está relacionado
também com como a própria pessoa se sente ao se expressar, evitando o estresse, os ruídos
comunicativos e outros problemas.
Podemos praticar a assertividade? De que forma? Bower (FACHADA, 1998) desenvolveu uma
técnica denominada de DEEC. O objetivo da técnica DEEC é exercitar a habilidade de nos co-
municar de forma mais assertiva, ou seja, de expressar nossa opinião fazendo bom uso da lin-
guagem oral e de seus recursos. Essa técnica refere-se a um acrônimo de palavras que indicam
na sequência: DESCREVER, EXPRESSAR, ESPECIFICAR e CONSEQUÊNCIAS.
Antes, um lembrete que já dissemos no início: há inúmeras variáveis na comunicação. Não pode-
mos prever a reação do outro mediante nossas considerações. A técnica poderá ser interessante
no contexto profissional ou acadêmico, mas não significa que você conseguirá acertar sempre.
Você compreendeu também que o modo como nos comunicamos expressa quem somos, mas
que, em grande parte das vezes, passamos uma ideia errada pelo fato de agirmos de maneira
67
Comunicação
que não traduz de fato as nossas intenções. Mas você viu também que é possível tomar consci-
ência de nosso comportamento e manter um padrão assertivo de comunicação oral.
A comunicação oral, assim como a escrita, ocorre também pela relação entre agente emissor
(enunciador) e agente receptor (co-enunciador), em um contexto e um meio específico, pela men-
sagem que é integrada por códigos comuns aos interlocutores. Na comunicação oral, a mensa-
gem pode ser mais interativa, com a possibilidade de um feedback mais rápido, uma passagem
imediata do agente receptor a agente emissor e vice-versa, permitindo a utilização de comuni-
cação não verbal. Há ainda a possibilidade de recursos não existentes na comunicação escrita,
como as expressões faciais e corporais, os gestos, a mímica, a entonação na voz, etc. Contudo, e
para que esses recursos sejam utilizados de modo vantajoso, é necessário o conhecimento do as-
sunto que se quer falar, da clareza, do ritmo, do uso adequado da voz agradável e da boa dicção,
da linguagem adaptada aos interlocutores e ao meio e da disponibilidade de ouvir.
Entre as principais desvantagens da comunicação oral destaca-se o fato de ser efêmera, não
permitindo qualquer registro automático e, consequentemente, não se adequando a mensagens
longas para que haja a análise cuidada por parte do co-enunciador.
Clareza – Clareza tem a ver com objetividade. Trata-se de se expressar por meio da comu-
nicação oral com um bom direcionamento do que é dito, com um vocabulário adequado aos
interlocutores, evitando expressões, assuntos ou palavras irrelevantes.
Coerência – O que é dito precisa ser coerente – as partes pelo todo. Trata-se da relação lógica
entre ideias, situações ou acontecimentos, buscando adequação nos recursos formais da língua,
como os aspectos gramaticais ou lexicais, e no conhecimento a ser transmitido.
Entonação – É preciso saber usar a voz conforme o contexto. Nem sempre é fácil para a pes-
soa perceber que está falando alto demais ou baixo demais. Uma dica importante é verificar a
entonação de voz do seu interlocutor, quando isso é possível.
Ritmo – Falar com pausas esporádicas, colocar entusiasmo ao que é enunciado, conectar os
temas de modo agradável aos interlocutores – tudo isso se refere ao ritmo. Para usar como pa-
râmetro, compreenda o seu discurso oral com pausas como se fosse iniciar um novo parágrafo
ao escrever. O texto escrito tem um ritmo e a linguagem oral também, evidenciando inclusive
uma gradação.
Movimento – O movimento corporal pode apoiar aquilo que está sendo dito. Ter movimentos
suaves, conforme o que é dito, envolvendo a atenção visual do interlocutor é uma forma de
captar a sua atenção.
Contato visual e expressões faciais – Para muitas pessoas, o contato visual é imprescindí-
vel. Transmite clareza e a sensação de veracidade. Além disso, estreita distâncias entre os inter-
locutores. As expressões faciais devem ser um recurso para o discurso oral, evitando-se traços
expressivos desnecessários.
Atitudes – Sobre as atitudes, repare o seu comportamento na relação com os seus interlocuto-
res. Uma atitude positiva tem mais chances de feedbacks mais assertivos. Uma atitude agressiva,
como já vimos, pode passar a impressão errada sobre quem somos ou o que queremos.
Saber ouvir é um dos aspectos mais importantes da comunicação em grupo. Como você já sabe,
há cinco habilidades da inteligência emocional: a quarta habilidade é a empatia e a quinta é a
competência social. Dentro dessas duas habilidades, está invariavelmente a capacidade de ouvir
ativamente. Afinal, como conseguimos ser empáticos se não soubermos ouvir a outra parte?
Aquele que ouve o tempo todo não é bom comunicador, assim como aquele que fala o tempo
todo também não o é. Bom comunicador é aquele que fala e ouve na exata proporção de
entender e se fazer entender. O negociador precisa ser um bom ouvinte, mas também deve
saber verbalizar as suas ideias por meio de argumentos convincentes. (ERVILHA, 2008, p. 56)
Escutar atentamente tem duas vantagens principais: a primeira é que, além de conhecer os in-
teresses reais da outra pessoa, permite propor soluções relevantes para o interesse de ambas
as partes; a segunda é que, quando a outra parte sente que foi ouvida e compreendida, estará
imediatamente pronta para nos ouvir também.
69
Comunicação
Relacionamos, a seguir, algumas dicas valiosas para você escutar melhor e se sair bem nos rela-
cionamentos afetivos, sociais e profissionais, principalmente em suas negociações e na relação
com pessoas de um grupo – seja de trabalho ou de estudo.
Concentração – Pare tudo o que estiver fazendo para ouvir a outra parte. Silencie toda con-
versação interna dentro de você. Somente ouvindo você conseguirá reconhecer os interesses do
outro.
Controle-se, nada de interrupções – Quando você interrompe a outra parte, ou não per-
mite que ele chegue às suas conclusões, você demonstra que aquilo que você tem a dizer é mais
importante do que aquilo que você tem para ouvir.
Ouça com os olhos e você falará com o coração – As palavras representam apenas 7% da
importância na comunicação verbal contra 55% da linguagem corporal. Portanto, as pessoas que
estão atentas à linguagem corporal de seu interlocutor têm muito mais chance de dizer aquilo
que realmente precisa ser dito.
Use a técnica backtracking – Trata-se de uma maneira simples de identificar se você real-
mente entendeu o que o outro está dizendo e mostra, sobretudo, bastante empatia pela pessoa.
Ela funciona desta forma: ao final de algumas conclusões do seu interlocutor, repita com suas
próprias palavras aquilo que ele acabou de dizer.
Exemplo: “Entendo, o que você acaba de me dizer é que não conseguirá me apresentar os re-
latórios no prazo porque duas pessoas da área acabam de ser demitidas. Posso imaginar seu
desespero. Como nossa área pode ajudá-lo até a contratação do novo pessoal?”.
A técnica backtracking nos ajuda a compreender melhor o outro e nos dá mais segurança sobre
a nossa interpretação. Se por acaso você repetir algo que o seu interlocutor não quis dizer, este,
por sua vez, poderá lhe sinalizar: “Não foi isso que eu quis dizer, deixe-me explicar novamente”.
Faça perguntas – As perguntas são o caminho mais rápido para encontrar o norte nas suas
conversas. Além do mais, quando você participa com perguntas no diálogo, atesta que toda sua
atenção está focada no assunto que está em pauta. Se você não pergunta, não há respostas. Se
não há respostas, não há o que ser ouvido. Se não há o que ser ouvido, não há como compre-
ender do que a outra parte necessita.
• Ao estabelecer um contato com um grupo de pessoas – seja em uma pesquisa acadêmica, em uma
apresentação de banca ou para os seus colegas, ou ainda em uma apresentação no ambiente de
trabalho, prepare uma pauta para não se esquecer de abordar os assuntos mais importantes.
• Não espere para conversar oralmente. Sempre que tiver algo a ser definido de modo
pessoal, faça o quanto antes. A comunicação oral muitas vezes está envolta em uma
urgência, já que os interlocutores precisam estar presentes para que ela ocorra – e nem
sempre isso é possível no mundo profissional.
• A comunicação oral pede um fluxo de informações. Dessa forma, exponha o que necessita
expor e dê espaço para que os seus interlocutores falem. Lembre-se de que comunicação
refere-se sempre a uma relação entre emissor e receptor, e o feedback é uma parte
importante.
71
Comunicação
• Nem sempre as pessoas estão preparadas para receber uma informação. Como você
pôde compreender, algumas pessoas não têm consciência de seus comportamentos em
relação à comunicação com os outros. Mantenha-se aberto às informações aos membros
do grupo.
Como você deve saber, a linguagem oral precede em muito a escrita. Mesmo não tendo acesso à
escrita de forma abrangente, o homem contribui culturalmente para a sociedade em que vive – é
o caso, por exemplo, de alguns grupos reconhecidos de cultura popular. Afinal, o homem não
precisa da escrita para se expressar, mas ela é importante para retratar e transmitir as produções
culturais e levá-las mais adiante.
Para a maioria daqueles que pertencem a uma cultura escrita, pensar nas palavras como
totalmente desvinculadas da escrita é uma tarefa simplesmente árdua demais, até mesmo quando
estudos linguísticos ou antropológicos especializados possam exigi-lo. As palavras continuam
vindo à mente na sua forma escrita, por mais que se tente o contrário. (ONG, 1998, p. 23).
Sabe-se que seria muito difícil chegarmos neste momento da história sem a escrita, mas seria
ainda impensável sem a comunicação oral. Todo o processo produtivo do homem perpassa pelo
desenvolvimento de sua comunicação com os demais. A comunicação oral sempre exerceu gran-
de influência na história da humanidade e foi predominante na cultura ocidental, e até mesmo
as demais linguagens surgiam como substitutos da fala.
Por muito tempo, a academia rejeitou a oralidade como um conhecimento vulgar, porque é legi-
timada pelo hábito. Com o desenvolvimento dos estudos da linguagem, aqueles que sempre se
dedicaram mais à escrita passaram a observar a oralidade mais de perto. Os documentos orais
e as memórias passaram a ser objeto de estudo de muitas áreas do conhecimento.
E a oralidade faz parte das práticas acadêmicas e profissionais de modo inalienável. Vejamos al-
guns exemplos? Para se ter uma noção, é a palavra falada que dá maior credibilidade a um texto
escrito, como uma monografia e as apresentações realizadas à banca – no mundo acadêmico
– ou na hora de conhecer um cliente ou fechar um negócio – no mundo profissional. Mesmo que
nesses contextos haja a produção escrita, a oralidade ainda predomina.
Outro exemplo é a publicidade, em que apelo visual e oral ainda é maior e mais abrangente que
os recursos publicitários escritos. Em uma entrevista de emprego, por exemplo, não basta o envio
do currículo por e-mail, como na maioria dos casos acontece. É preciso haver o tête-à-tête, ou
seja, o contato pela oralidade. Nas relações sociais, é a comunicação oral que predomina. Veja
como a comunicação oral é fundamental para o desenvolvimento e para o bom funcionamento
de uma sociedade e desenvolvimento humano.
73
Comunicação
Vamos começar pelas técnicas que podem nos ajudar a nos sentir mais autoconfiantes ao falar
em público. Reynolds (2012) diz que, quando removemos o desconhecido, reduzimos a nossa
ansiedade. Isso é a mais pura verdade. Um dos principais motivos geradores do medo e da an-
siedade é a falta de preparação.
Preparação
Você já deve saber que ninguém escreve sobre aquilo que não conhece. Também não falamos
sobre algo que não entendemos ou não sabemos. Logo, uma boa apresentação – seja no con-
texto profissional, acadêmico ou em qualquer situação – começa com o planejamento. Bastam
alguns minutos para se preparar para uma apresentação de uma hora, por exemplo.
No caso de uma apresentação que requer informações técnicas, a exemplo de uma reunião de
trabalho ou um seminário temático em sala de aula, é preciso pesquisar, buscar argumentos,
organizar as ideias e materiais de apoio – tal como você faz quando prepara a sua pesquisa
científica. A ideia de outras pessoas, assim como em uma produção escrita, de modo referido e
organizado, serve para dar credibilidade e enriquecer a sua exposição.
Domínio do tema
Dominar o assunto é muito importante. Você não vai defender uma ideia que não conhece em
seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). O mesmo vale para as suas reuniões profissionais,
apresentação de um produto, uma conversa com alguém importante do seu convívio de trabalho,
seminários, etc.
Organização do discurso
Organizar o discurso oral é outra parte importante do processo de apresentação oral. A introdu-
ção, o desenvolvimento e as conclusões são as etapas básicas na transmissão das ideias. Na in-
trodução, fale sobre o assunto lançando questionamento e faça o seu público pensar a respeito.
Vale ainda fazer uma citação impactante ou uma afirmação ampla sobre o tema. Em seguida, é
comum que o palestrante exponha em pontos básicos o que vai falar, os seus objetivos.
• A letra P para PERSONAL (pessoal) – Faça uma introdução contando algo bastante pessoal
que o aproxime da sua plateia como pessoa e não como orador. Um fato com seu filho,
uma frase preferida ou uma foto do seu álbum de família (desde que relacionada ao tema)
tocará o coração da plateia e a trará mais perto de você. No caso das apresentações
acadêmicas, uma imagem referente ao objetivo central de sua pesquisa.
• A letra U para UNEXPECTED (inesperado) – Traga ou revele algo inesperado. Você gosta
de surpresas? Sua plateia também. Traga um objeto, uma ilustração ou uma música. Use
os recursos midiáticos e as diferentes funções da linguagem. No caso da apresentação
acadêmica, um teórico pertinente ao assunto ou uma citação bem colocada pode ter um
bom efeito.
• A letra N para NOVEL (fato ou história) – Não há ser humano que não goste de ouvir
uma boa história, uma parábola ou uma fábula. Pense nas novidades e pesquisas recentes
sobre o assunto do qual vai falar. Inclua esses dados na sua introdução. No caso do meio
acadêmico, utilize esses recursos apenas se forem realmente bem contextualizados com o
tema, primando pela clareza e objetividade.
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Comunicação
• H para HUMOROUS (humor) – Não é preciso ser comediante para se utilizar do humor.
Aliás, não é da habilidade de contar piada que estamos falando aqui. Às vezes, o final
de uma história ou o trecho de um filme pode ser tão engraçado quanto o ato de contar
piada. Tenha cuidado ao usar essa técnica, que não é pertinente ao meio acadêmico.
CASO
Um médico, que esporadicamente dava palestras sobre cardiopatia para outros profissionais da
área e pessoas alheias aos jargões técnicos, foi chamado para se apresentar em determinado
instituto. O tema estava relacionado à prevenção de doenças cardiovasculares. Ele sabia da
grande rejeição do público por palestras maçantes, prolongadas e demasiado técnicas. Fez uma
breve análise do seu público e percebeu que algumas pessoas desconheciam os termos comuns
na área médica. Decidiu, para atender ao público diversificado, utilizar a técnica PUNCH de
Reynolds, que aprendera lendo a obra O homem nu.
Todo mundo gosta de ouvir uma boa história (N = novel), e ele continuou a sua apresentação
dizendo que, no Dia dos Namorados, decidiu fazer um jantar romântico e íntimo em sua casa
para a sua esposa. Depois, de modo bem romântico, a convidou para assistir a um filme. Em
um ambiente descontraído, conectou, então, o cabo do seu notebook na tela da TV e disse a ela
para prestar a atenção.
Uma música romântica, porém melancólica, começou a tocar no auditório da palestra, a mesma
que foi apresentada à esposa. A imagem do telão também era similar a que o médico preparou
em sua noite de Dia dos Namorados. Apareceu a imagem de um senhor idoso e muito simpático
com roupa de paciente, dizendo: “Lúcia, sou paciente do seu marido. Aproveitei uma vida de farra,
bebidas, cigarros, comidas gordurosas e muita diversão, mas agora estou com uma doença cardí-
aca. Mesmo diante dos maus hábitos, as consequências da doença poderiam ter sido evitadas se
eu me encontrasse regularmente com o seu marido no consultório. Estou internado há 18 meses,
passei por 5 cirurgias e preciso de um novo coração. Você ainda tem a chance de ter uma vida
maravilhosa com quem você ama e comprovar que não tem doença alguma. Torço por você!”.
O palestrante respirou profundamente e ficou alguns segundos em silêncio. Contou que a sua
mulher chorou e prometeu fazer exames no dia seguinte. O palestrante falou à plateia que as
pessoas que deram os seus depoimentos eram seus pacientes reais e todos estão muito bem, pois
se trataram, buscaram ajuda. Falou sobre as doenças mais comuns e seus sintomas. Aconselhou
bons hábitos de vida e saúde. E, no final, ironizou com humor (H = humour): “OK, já convenci
a minha esposa sobre as doenças cardíacas com a ajuda dos meus pacientes. Preciso convencê-
-la agora de não ter medo de viajar de avião. Algum voluntário?”.
• a comunicação inicia no interior da pessoa e perpassa pelo modo como ela reage diante
do mundo – nem sempre a pessoa tem consciência de suas expressões faciais ou de suas
reações automáticas, o que impacta no modo como estabelece a comunicação com as
pessoas;
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Referências Bibliográficas
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POLITO, R. Assim é que se fala: como organizar a fala e transmitir ideias. São Paulo: Saraiva,
2005.
Possui 17 anos de experiência como Secretária Executiva. Há dez anos, atua como coach, de-
signer instrucional, professora e instrutora de programas de desenvolvimento de competências,
como comunicação profissional, liderança, negociação, relacionamento interpessoal, entre ou-
tros. É co-autora dos livros Coaching, a Solução – Grandes gurus mostram os caminhos para
vencer” e “Equipes de Alto Desempenho, da Editora Ser Mais (2012 e 2013). Link para o lattes:
<http://lattes.cnpq.br/7940318404141426>.
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