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FEIRA DE SANTANA - BA
2015
REGYS FERNANDO DE JESUS ARAUJO
FEIRA DE SANTANA - BA
JULHO, 2015
Ficha Catalográfica – Biblioteca Central Julieta Carteado
CDU 577.4:639.2(814.22)
“O que é ser mulher pescadora? Ser mulher é luta, é garra... força!”
Para a concretização desta pesquisa recebi diversos auxílios, que foram fundamentais
para obtenção de resultados positivos: auxílios espirituais; auxílio da família; auxílios
acadêmicos; auxílio das pescadoras de Bom Jesus dos Pobres; auxílios de colegas e
amigos e principalmente o auxílio da fé, que nunca foi se quer abalada!
Agradeço aos Orixás, forjados pelas as energias da natureza, principalmente aos meus
guias que sempre me fortaleceram: MO ADÚPÉ WÚRE IBA GBOGBO (Eu agradeço
pedindo a benção e saudando a todos). Ao babalorixá Adelson Ferreira, zelador dos
meus Orixás, e guias espirituais, pela compreensão e apoio. Agradeço aos meus irmãos
e irmãs de asè, pela força, energia e acolhimento.
Agradeço a meu pai Reginaldo (em memória), a minhas mães Maria Alvanir e Ariodilza
Maria, pelo amor e a confiança depositados em mim. A minha esposa Silvani, pelo
apoio incondicional, pelo amor, carinho e atenção. Meus irmãos Ana Paula e Luis
Gustavo, meus avós Everaldo e Lizaldete, tia Vane, e meus primos que me transmitiram
muitas energias positivas. Agradeço a meu filho João Vitor Araujo, por me mostrar e
relembrar sempre a simplicidade da vida.
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 13
2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................ 20
2.1 Conhecimentos Tradicionais das Pescadoras e Etnobiologia ................................................ 23
3. OBJETIVOS .......................................................................................................................... 25
3.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................................. 25
6.4.2 Saúde.................................................................................................................................51
6.5.2 Segunda oficina: dos recursos pesqueiros aos problemas e dificuldades .................... 72
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................ 96
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 98
APÊNDICES ............................................................................................................................ 108
PRODUTOS............................................................................................................................. 114
13
1. INTRODUÇÃO
território para Santos (2002) configura-se pelas técnicas, pelos meios de produção,
objetos e coisas, conjunto territorial e pela dialética do próprio espaço.
Segundo Haesbaert (2004), território, tem a ver com poder, mas não apenas ao
tradicional “poder político”, mas poder no sentido mais concreto, de dominação, e no
sentido mais simbólico, de apropriação. Para Lefebvre (1986), a apropriação é um
processo simbólico, carregado das marcas do “vivido”, do valor de uso, já a dominação
é algo mais concreto, funcional e vinculado ao valor de troca. Seguindo este raciocínio
Haesbaert observa que, enquanto “espaço-tempo vivido”, o território é sempre múltiplo,
“diverso e complexo”, ao contrário do território “unifuncional” proposto pela lógica
capitalista hegemônica.
Desse modo, o Governo da Bahia passou a reconhecer, em seu Planejamento
Territorial, a existência de 27 Territórios de Identidade, constituídos a partir da
especificidade dos arranjos sociais e locais de cada região, onde a divisão vem sendo
utilizada para a implementação de políticas públicas no Estado.
Ao se tratar da classificação de Território de Identidade, o Recôncavo abrange
20 municípios (Cabaceiras do Paraguaçu, Cachoeira, Castro Alves, Conceição do
Almeida, Cruz das Almas, D. Macedo Costa, Governador Mangabeira, Maragogipe,
Muniz Ferreira, Muritiba, Nazaré, Santo Amaro, Santo Antônio de Jesus, São Felipe,
São Félix, São Francisco do Conde, São Sebastião do Passé, Sapeaçu, Saubara e
Varzedo) que ocupam uma área de aproximadamente 5.221,1 km² (SEI, 2007).
A extensão marítima do Recôncavo é cerca de 300 km, tendo afluentes, rios e
canais que favoreceram as navegações no período colonial, permitindo o escoamento da
produção agrícola da região, como o açúcar, fumo, mandioca e algodão (SILVA, 2010).
Atualmente seus cursos d’águas são utilizados para o transporte de petróleo e seus
derivados, além da produção primária, embora em volume bem inferior ao do período
colonial. Desta forma, a diversidade de solo, clima, relevo e manifestações culturais
inferem ao Recôncavo uma singularidade (OLIVEIRA, 1993). Singularidade essa fruto
também dos grupos étnicos que ocuparam as terras no período colonial, habitadas por
índios (tupinambás, kiriris, tupis, jês), europeus (portugueses) e negros africanos.
Os portugueses iniciaram a colonização da região Nordeste da Bahia no início
do século XVI, ocupação seguida por outros europeus que imigraram para o Brasil na
condição de trabalhadores assalariados desde a primeira metade do século XIX, além
dos vários grupos étnicos de nações africanas trazidas ao Brasil como escravos, como
16
O art. 2º para os efeitos da Lei consideram-se [...] inciso III – pesca: toda
operação, ação ou ato tendente a extrair, colher, apanhar, apreender ou
capturar recursos pesqueiros. [...] no Capítulo III, Seção II - Da Atividade
Pesqueira, Art. 4º “A atividade pesqueira compreende todos os processos de
pesca, explotação e exploração, cultivo, conservação, processamento,
transporte, comercialização e pesquisa dos recursos pesqueiros. Parágrafo
único. Consideram-se atividade pesqueira artesanal, para os efeitos desta Lei,
os trabalhos de confecção e de reparos de artes e petrechos de pesca, os
reparos realizados em embarcações de pequeno porte e o processamento do
produto da pesca artesanal (BRASIL, 2009).
1
Aglomeração de microplânctons dinoflagelados segundo Peixoto (2008), o fenômeno ocorreu na BTS
em março de 2007, produzindo um desastre socioambiental deixando a região em colapso econômico.
18
2
Produção de mapas numa base cartográfica que retrata o cotidiano da comunidade e suas referências
(UFPA, s.d.).
3
Abordagem de um conteúdo sobre as políticas públicas que as mulheres de bom Jesus dos Pobres podem
ter acesso e serem beneficiadas direta ou indiretamente. Um Resumo de Políticas é um breve apanhado
sobre uma questão em particular, assim como apresenta alternativas políticas para lidar com essa questão,
além de oferecer algumas recomendações (BRICS Policy Center, 2014).
20
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Uma das abordagens científicas para estudar a relação do ser humano com a
natureza é a etnobiologia5, que é uma ciência interdisciplinar derivada da antropologia
cognitiva e de áreas das ciências biológicas, como a ecologia (BEGOSSI, 1993). O
4
O Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007.o Art. 3º, inciso I, define que: “povos e comunidades
tradicionais são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas
próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua
reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e
práticas gerados e transmitidos pela tradição” como, por exemplo, os indígenas, as comunidades
extrativistas, de pescadores, remanescentes de quilombos, etc. (Brasil, 2007b).
5
Ramo da Biologia que trata da relação entre sociedades humanas, comumente primitivas, e as plantas e
animais do seu ambiente.
24
3. OBJETIVOS
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa pode ser definida como uma atividade voltada para a solução de
problemas e para suprir a necessidade do homem em conhecimento, empregando
processos científicos (CERVO; BERVIAN, 1977; GIL, 1999). A abordagem da
pesquisa, aqui descrita, será baseada nas características das pesquisas qualitativas e
quantitativas, abordagens complementares (DESLAURIERS, 1991, p. 58 apud
GERHARDT; SILVEIRA, 2008, p. 32).
Na pesquisa qualitativa, a observação é participante, sem a preocupação com
representatividade numérica, mas com o aprofundamento da compreensão de um grupo
social através da participação na vida cotidiana do grupo ou da organização que estuda
para descobrir as interpretações sobre as situações que observou. Já na pesquisa
quantitativa os pesquisadores buscam exprimir as relações de dependência funcional
entre variáveis (GOLDENBERG, 1999).
Esta pesquisa se dividiu em três etapas: 1) coleta de dados secundários na
realização de uma pesquisa documental; 2) realização de entrevistas, e 3) oficinas de
cartografia social. Dados estatísticos e legislações foram as principais informações da
pesquisa documental e foram encontradas nas seguintes fontes: Diário Oficial do
Município de Saubara; Núcleo de Atenção à Mulher – NAM; Sistema IBGE de
Recuperação Automática – SIDRA; Diário Oficial da República Federativa do Brasil;
Ministério do Desenvolvimento Social – MDS; Ministério da Pesca e Aquicultura;
Controladoria Geral da União e Senado Federal.
Foram utilizadas entrevistas semiestruturadas, procedimento este relacionado à
análise qualitativa, tendo como informantes 36 mulheres do distrito de Bom Jesus dos
Pobres, maiores de 18 anos, vinculadas a Associações de pescadoras e marisqueiras,
Sindicato e/ou Colônia de Pescadores de Saubara, para auxiliar na composição do perfil
sociodemográfico e político destas, assim como identificar as mudanças nas atividades
ligadas a pesca e mariscagem, conhecimento e benefício das políticas públicas. Para
realização das entrevistas foi utilizado um roteiro (Apêndice A) para cada entrevistada,
sendo a posse de determinadas informações apenas do pesquisador responsável.
Informações estas que possam identificar as entrevistadas como, por exemplo, os
27
6
Construção coletiva de mapa desenhados.
28
7
Sistema Etnográfico de Informações Geográficas – EtnoSIG, ferramenta importante na análise
socioambiental, a partir de dados etnográficos e técnicos.
29
8
A cartografia social é um enfoque metodológico baseado na análise textual e na representação de
fenômenos sociais através de mapas que reinscrevem e estruturam uma multiplicidade de perspectivas.
Paulston define a cartografia social como “a arte e a ciência de mapear formas de ver” (PAULSTON,
1996, p.15), com o uma forma de ilustrar “a profusão de narrativas” que compõem o meio social
(PAULSTON, 1996, p.18).
30
com essa questão, além de oferecer algumas recomendações (BRICS Policy Center,
2014). Resumo de Políticas é destinado aos formuladores de políticas governamentais e
outros atores interessados na formulação ou em influenciar tais políticas. O Resumo de
Políticas construído de forma coletiva com as mulheres marisqueiras e pescadoras
participantes das oficinas de etnomapeamento reúne informações sobre a existência de
políticas públicas voltadas para o gênero feminino e que beneficiam as pescadoras da
comunidade, assim como também reúne informações sobre as necessidades sociais e
políticas citadas pelas participantes da pesquisa e será uma ferramenta que a
comunidade poderá utilizar juntamente com o poder público para melhor gestão das
políticas públicas existentes e/ou futuras.
Durante toda a execução do projeto, o diálogo com a comunidade ocorreu de
forma participativa. Fotos, gravações de áudio e vídeo das participantes da pesquisa
produzidas durante as entrevistas e atividades de construção da Cartografia Social e do
Resumo de Políticas foram feitas mediante a autorização de uso de imagem. A
exposição de tais registros foi feita de forma a não identificar as participantes das
entrevistas, compromisso entre entrevistadas e pesquisador, firmado antes da execução
das entrevistas. Os dados obtidos durante o trabalho de campo foram apresentados para
as mulheres da comunidade, na forma de dois momentos de debate, de forma que os
resultados pudessem ser padronizados a partir de discussões em grupos e avaliações
para sanar dúvidas quanto à localização dos dados.
O retorno dos resultados da pesquisa foi sintetizado em dois instrumentos de
gestão de políticas públicas: O Resumo de Políticas e a Cartografia Social. Ambos serão
entregues as representações da comunidade que participaram da pesquisa: Associação
de Marisqueiras e Pescadores de Bom Jesus dos Pobres - AMAPEB, Colônia de
Pescadores e Aquicultores z-16 de Saubara, Sindicato dos Trabalhadores, Trabalhadoras
Rurais e Marisqueiras de Saubara – STTRM, Associação de Marisqueiras de Saubara –
AMS e Associação de Pescadores e Pescadoras de Saubara - APPS, assim como as
representações da Prefeitura Municipal de Saubara. Não serão expostos nomes de
pessoas e entidades que não participaram da pesquisa ou que não autorizaram a referida
citação, como estabelecido junto ao CEP/UEFS.
31
Muitas vezes durante o verão esse pescado é preparado e vendido nas praias
pelas pescadoras que recebem o nome de muquequeira, que com o auxílio do dendê,
leite de coco e outros temperos, agregam valor ao pescado. A conquista da mulher no
ambiente da pesca se concretiza, ganhado visibilidade, a tradição é passada de mãe para
filha, a luta pela igualdade é vivenciada e a história construída. Assim é a rotina das
pescadoras do distrito de Bom Jesus dos Pobres, município de Saubara – BA.
35
6. ATIVIDADES REALIZADAS
Ministério da Pesca e
Aquicultura
Boletim do Registro Geral da Atividade Pesqueira – 2012.
61% Salvador
11%
São Francisco do
Iguape
Alagoinhas
Antônio Cardoso
Gráfico 2 – População residente por sexo no ano de 2010, Bom Jesus dos
Pobres, Saubara – BA
População residente, por sexo, no Distrito de Bom
Jesus dos Pobres
2000
População em 2010
1500
Total
1000 Homens Mulheres
1945
500
945 1000
0
Sexo
Tabela 1 – Relação de associadas (os) por organização social, sexo e origem em Bom
Jesus dos Pobres, 2014
Organizações Mulheres em Homens em Total de Total de Total de
sociais Bom Jesus Bom Jesus homens mulheres mulheres e
associados associadas homens
associados
AMAPEB 348 23 23 417 440
APPS 80 - 300 320 620
AMS 30 18 326 814 1140
Sindicato 110 0 762 730 1492
Colônia 110 103 - - >1000
AEPAB 20 - - - -
Fonte: Pesquisa de campo (2014).
Ensino Fundamental
incompleto
61%
Ensino Médio
incompleto
Tabela 2 – Relação dos filhos (as) das entrevistadas agrupados por faixa etária segundo
classificação da situação escolar
Filhos das entrevistadas agrupados por idade Nº de filhos Estudam Não
estudam
2 - 6 anos 4 100% -
7 -11 anos 13 100% -
12 - 17 anos 17 94% 6%
18 - 25 anos 33 45% 55%
25 - 29 anos 25 12% 88%
Fonte: Pesquisa de campo (2014).
A partir da relação do estado civil, raça/cor e nível escolar das entrevistadas agrupadas
por faixa etária (Tabela 3), é possível afirmar que o maior número de mulheres com o
ensino médio completo está na faixa etária de 26 a 35 anos. Na faixa etária de 36 a 45
anos se encontram o maior percentual de mulheres solteiras, 55%, sendo que na faixa
etária de 46 a 59 anos o percentual de mulheres que declararam união estável se destaca
com 58,3%.
Tabela 3 – Relação do estado civil, raça/cor e nível escolar das entrevistadas agrupados por
faixa etária
Idade das Nº de Estado civil Raça/cor Nível escolar
entrevistadas entrevistadas
25% solteira 25% ensino médio incompleto
75% união 25% ensino fundamental
18 - 25 anos 4 100% preta
estável incompleto
50% ensino médio completo
29% solteira 43% preta 71% fundamental incompleto
26 - 35 anos 7 71% união
57% parda 29% ensino médio completo
estável
55% solteira 64% preta 9% educação infantil
36% união
27% parda 55% fundamental incompleto
estável
36 - 45 anos 11 9% viúva 9% amarela 18% ensino médio completo
9% ensino médio incompleto
9% técnico em radiologia
8,3% casada 67% preta 25% educação infantil
58,3% união
33% parda 75% fundamental incompleto
46 - 59 anos 12 estável
25% separadas
8,3% viúva
50% preta 50% fundamental incompleto
≥ 60 2 100% casado
50% parda 50% educação infantil
Fonte: Pesquisa de campo (2014).
46
Quanto à renda familiar das entrevistadas, 61% afirmaram possuir uma renda
familiar menor que um salário mínimo, 33% afirmaram ter renda entre um e dois
salários mínimos e apenas 6% afirmou possuir renda familiar superior a dois salários
mínimos.
Quando questionadas sobre a fonte de renda familiar, 92% relataram que a
atividade pesqueira é um dos principais componentes da renda familiar, 61% citaram o
programa Bolsa Família como componente da renda e 19% citaram o Seguro-
Desemprego correspondente ao defeso do camarão como um dos componentes da renda
familiar (Gráfico 5).
92
Composição da renda (%)
61
19
11
6
6
3 Pesca e mariscagem
3 Bolsa família
Seguro desemprego (defeso do camarão)
Algum tipo de pensão
PISS
Aposentadoria
Algum tipo de auxílio
Bolsa escola
Com relação aos principais responsáveis pelo sustento da família, 53% das
mulheres entrevistadas afirmam serem as principais responsáveis pelo sustento das suas
famílias, 25% afirmam que o cônjuge é o principal responsável, 16% a entrevistada e o
cônjuge, uma entrevistada afirma divide a responsabilidade do sustento da família com
o pai, e uma entrevistada relata dividir a responsabilidade com a sogra e o sogro. O
Censo 2010 do IBGE revela que o número de mulheres residentes em Bom Jesus dos
Pobres e que declaram ser responsável pelo domicílio é em maior comparado com o
número de homens que declaram o mesmo, sendo a responsabilidade compartilhada ou
não (Tabela 4).
47
Tabela 6 – Relação geral dos bens duráveis declarados pelas entrevistadas em Bom
Jesus dos Pobres, Saubara, 2014
Bens duráveis Quantidade Bens duráveis Quantidade
Computador/Notebook 9 Rádio 20
Tablet 5 Máquina de 14
Lavar ou
tanquinho
TV 39 Geladeira 31
DVD 24 Freezer 2
Telefone fixo 1 Carro 2
Celular 68 Moto 3
Fonte: Pesquisa de campo (2014).
49
Com relação ao destino do lixo, 86% das entrevistadas afirmam que o lixo
residencial é coletado pela Prefeitura, 8% queimam o lixo devido a distância entre o
domicílio e o ponto de coleta e 6% afirmam que quando não conseguem destinar o lixo
para coleta pública, realizam a queima.
Quando questionadas sobre a alimentação 28% das entrevistadas citaram o peixe
como o alimento que consomem com maior frequência e 25% consomem com maior
frequência o marisco, 17% afirmam comer ambos (Gráfico 6).
Peixe
Marisco
3% 3% 3%
3% 3%
Peixe e marisco
5%
28% Peixe e carne
5%
Peixe e frango
Carne
5%
17% 25% Peixe, carne e frango
Marisco e carne
Carne e frango
Frango
Ovo e marisco
6.4.2 Saúde
Tabela 7 – Relação dos cinco primeiros estados que são beneficiados pelo
defeso do camarão, por valor acumulado, 2014
Estado Valor acumulado Porcentagem referente
ao total de pagamentos
no âmbito nacional
Pará 1.693.839.483,97 25%
Maranhão 1.258.855.304,34 19%
Bahia 812.768.286,30 12%
Amazonas 669.369.050,86 10%
Piauí 275.695.034,46 4%
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (2014).
nunca exerceram atividades ligadas à pesca e mariscagem, mas que são beneficiadas
pelo seguro defeso.
Durante as entrevistas surgiram dois relatos da substituição de uma ferramenta
de trabalho utilizada pelas marisqueiras para “fachear” 9. Há alguns anos a captura do
siri mole (Callinectes sp.) era realizada com um facho feito com palha que quando
aceso iluminava o local e possibilitava a visualização do crustáceo. Eram necessárias
duas pessoas uma para segurar os vários fachos bem como de outra pessoa que com um
balde realizava a captura do siri. O facho foi se modificando ao longo do tempo. Desse
modo, até 2010 as capturas do siri mole ocorriam com o auxílio de uma lanterna a gás
(ARAUJO, 2010), atividade ainda realizada em dupla, pois a lanterna é pesada e
segundo as pescadoras, devido ao horário, é mais seguro andarem acompanhadas. Duas
entrevistadas relataram que as lanternas a gás já foram substituídas por lanternas de led,
com pilhas recarregáveis. Segundo as marisqueiras, a mudança proporcionou eficiência
na captura do siri, pois a lanterna não é pesada como a lanterna a gás bem como é mais
fácil recarregar para uso no dia seguinte. Tais mudanças refletem diretamente na rotina
das mulheres, proporcionando melhores condições de vida e agilidade na atividade
pesqueira.
9
Captura do siri (Callinectes sp.) realizada durante a noite quando o siri está com a carapaça mole,
utilizando um facho de luz.
54
10
Os dados das entrevistas foram complementados com dados coletados durante a pesquisa documental.
55
Quantidade de matrículas de
PRONATEC x x Federal beneficiários do Programa Bolsa
Família no PRONATEC por ano
Tarifa Social de x Federal -
água e luz
x Federal
PROUNI
Programas de -
Serviço de
Convivência e x Federal, Estadual
Fortalecimento de e Municipal
Vinculo, antigo
PETI Projovem
x Municipal Número de famílias que estão
PISS
abaixo da linha da pobreza
Núcleo de Atenção à x Federal, Estadual
Mulher - NAM e Municipal
LOAS – x Federal
Aposentadoria
temporária
Fonte: Pesquisa de campo (2014). Elaborado pelo autor.
Em julho de 2013, Saubara possuía 3.606 (três mil, seiscentos e seis) famílias
cadastradas no CadÚnico, destas 2.274 (dois mil, duzentos e setenta e quatro) famílias
eram beneficiadas pelo Programa Bolsa Família com valores de R$ 32,00 a 500
(Gráfico 7). Em Bom Jesus dos Pobres o número de famílias beneficiadas pelo
programa, no ano de 2013, chegou a 346 (Figura 7).
Segundo o MDS, aproximadamente 140 indicadores são utilizados na gestão do
programa. O Painel de Indicadores de Condicionalidades baseados em Temas ou
dimensões: I. Vulnerabilidades Sociais; II. Acesso aos Serviços; III. Gestão da Saúde;
IV. Gestão da Educação; e V. Gestão do PBF. As ferramentas de gestão utilizadas são o
Sistema de Gestão do Programa Bolsa Família - SIGPBF e o Índice de Gestão
Descentralizada do Sistema Único de Assistência Social - IGD SUAS, com o objetivo
de aperfeiçoar a gestão e aferir a qualidade do programa, respectivamente.
11
Renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa; ou renda mensal total de até três salários
mínimos.
57
12
Conjunto de medidas referentes à organização como um todo, às suas partições, seus processos e
atividades organizadas em blocos bem definidos, de forma a refletir certas caraterísticas do desempenho
para cada nível gerencial interessado (MOREIRA, 1996, p.17).
60
unidade que recebeu o nome de Maria da Cruz dos Santos em homenagem à popular
Maria das Folhas, que aos 90 anos continua influenciando as manifestações culturais e
populares locais, oriunda de uma família de mulheres negras que, há décadas,
movimentam o comércio entre Saubara e Salvador, principalmente, no ramo de plantas
e folhas medicinais, que são utilizadas em ritos religiosos. A ação fez parte do Pacto
Estadual de Políticas para as Mulheres, assinado pelos (as) dirigentes municipais do
território de identidade do Recôncavo da Bahia, em junho de 2009. As principais ações
do Núcleo são baseadas na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida como a
“Lei Maria da Penha” que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher (BRASIL, 2006b).
A regulamentação do benefício de assistência social foi instituído pela Lei
8.742/93, conhecida como Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), e do Decreto
1.744/95. Tal benefício será prestado, a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, conforme prevê o art. 203, inciso V da Constituição
Federal (BRASIL, 1993).
Uma parceria com o Instituto Hand Social - IHS também foi citado durante a
entrevista por existir uma parceira com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Social na manutenção do Projeto Arremesso para Vida, projeto financiado pela
Petrobrás e que atende 100 crianças e adolescentes do Município de Saubara, através da
realização atividades socioeducativas e esportivas ligadas ao handebol.
disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde, nos termos da Lei nº 11.347, de 2006,
aos usuários portadores de diabetes mellitus através da Portaria Nº 2.583, de 10 de
outubro de 2007 (BRASIL, 2007d).
O Planejamento Familiar que dispões a Lei nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996,
regula o § 7º do art. 226 da Constituição Federal, que trata do planejamento familiar,
estabelece penalidades e dá outras providências (BRASIL, 1996).
O Programa de Agentes Comunitários de Saúde - PACS iniciou em 1991 e foi o
precursor de importantes programas de saúde, dentre eles o Programa Saúde da Família
- PSF (VIANA; POZ, 2005). O PACS tem na pessoa do agente de saúde o elo entre os
serviços de saúde e a comunidade. Em 1999, o Ministério da Saúde lançou um
documento que estabelece sete principais funções para o agente de saúde. Dentre as
principais funções dos agentes de saúde destacam-se as seguintes: levar à população
informações capazes de promover o trabalho em equipe; visita domiciliar; planejamento
das ações de saúde; promoção da saúde; prevenção e monitoramento de situações de
risco e do meio ambiente; prevenção e monitoramento de grupos específicos; prevenção
e monitoramento das doenças prevalentes; acompanhamento e avaliação das ações de
saúde (BRASIL, 1999). Dadas estas funções espera-se que o PACS tenha um impacto
positivo sobre os indicadores de saúde, principalmente aqueles mais associados às
famílias carentes.
A Lei nº 12.871, de 22 de outubro de 2013, institui o Programa Mais Médicos,
altera as Leis no 8.745, de 9 de dezembro de 1993, e no 6.932, de 7 de julho de 1981, e
dá outras providências (BRASIL, 2013b).
A Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes e dá outras providências (BRASIL, 1990), garantindo o
tratamento de DST como a AIDS e outras doenças como a tuberculose e a hanseníase.
Segundo a Diretora da Atenção Básica, os pacientes que possuem alguma DST estão
procurando os postos de saúde para fazer o tratamento, “confiando, percebendo que tem
acompanhamento, tem medicamento.” (G2: Diretora da Atenção Básica da Secretaria
Municipal de Saúde, 34 anos de idade, 2 anos no órgão público).
64
O entrevistado afirma que a atual gestão herdou uma parceria de creche com
uma associação, que não durou muito tempo, pois a associação estava deixando o
município, assim em 2013 a Prefeitura assume a creche como um todo.
Nos distritos de Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres não existem creches e a creche
de Saubara só recebe crianças a partir de 3 anos. Segundo o entrevistado, em Bom Jesus
dos Pobres não existe prédio disponível para a instalação de uma creche. O entrevistado
relata que foram abertas matrículas para creche em tempo parcial em uma sala
disponível na Escola Municipal Zilmar Garcia em Bom Jesus dos Pobres. Inicialmente
foram disponibilizadas 15 vagas, destas 11 foram preenchidas, destas apenas oito
crianças permaneceram. O entrevistado afirma que ao criar a estratégia para depois
transformar em creche, percebeu que a demanda não existe. Contudo a partir da
pesquisa de campo percebeu-se que houve uma inconsistência na divulgação da
disponibilidade dessas vagas.
As avaliações de ações realizadas pelos programas contam com a participação
dos técnicos da Secretaria Municipal de Educação e o CAE eleito de forma democrática,
constituído por servidores das escolas e pessoas da sociedade civil (associações, pais de
aluno, aluno quando maior de idade). Para o entrevistado, o CAE é atuante, mas existem
dificuldades para marcar as reuniões, que são agendadas pela própria secretaria,
inciativa que deveria ser do conselho.
Foram realizadas duas entrevistas informais com agentes de saúde de Bom Jesus
dos Pobres, com o objetivo de analisar a percepção deles sobre as suas atividades
profissionais e sobre os problemas ligados à saúde que acometem as pescadoras. Os
entrevistados relataram que fazem visitas domiciliares para realização do Planejamento
Familiar, acompanhamento das gestantes e realizam atividades internas de planejamento
67
Fonte: O autor.
Fonte: O autor.
72
Fonte: O autor.
73
O mapa dos recursos pesqueiros (Figura 12) foi composto pelas artes de pesca
utilizadas pelas mulheres: puçá, jereré, cavador, facão, proteção, rede, balde; os
pesqueiros; as pontes; os rios: rio limpo e rio poluído; o posto de saúde; a AMAPEB; o
manguezal; a ilha do medo; as peixarias, os pescados que são capturados por elas: aratu
(Goniopsis cruentata), bebe-fumo (Anomalocardia brasiliana), camarão-rajado
(Farfantepenaeus subtilis), sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri) e camarão-branco
(Litopenaeus schmitti), lambreta/sarnambi (Phacoides pectinatus), ostra (Crassostrea
sp.), peixes, rala-coco (Trachycardium muricatum), siri (Callinectes sp.) e a tarioba
(Ephigenia brasiliensis). O Posto de Saúde foi inserido novamente, retratando a relação
de dependência existente entre as pescadoras e os serviços oferecidos pelo posto de
saúde. Segundo as pescadoras na ocorrência de alguma emergência médica ou acidente
durante a atividade de pesca elas procuram o posto de saúde para realização dos
primeiros socorros.
Fonte: O autor.
74
O que bem tem aqui é pesqueiro, o povo agora só quer pescaria fácil.
Capricha aí! O sururu, cadê o rio? Cadê os mangues? Botou os mangues no
rio? Bote o mangue. Esse é o rio da gente! Não é? Tem um bocado de
mangue aí na beira desse rio. Em cima dos mangues tem que botar os aratus,
em baixo tem que botar o sururu, e os caranguejos também, tudo no mangue.
O caranguejo e o sururu são em baixo e o aratu é em cima das galhas do
mangue, a ostra também, tem as da pedra, mas têm as que ficam no mangue,
agarradas com mangue, o siri de mangue pode botar um ou outro que ainda
se acha. Não é? Na praia, o pesqueiro em seguida o peixe, aí mesmo vai ter
que botar o bebe-fumo, o puçá, o jereré, a tarioba, tudo isso é na areia, perto
do pesqueiro, ao redor do pesqueiro, o siri pode perto e fora, pode botar ostra.
(Pescadora A).
Fonte: O autor.
É o terceiro mapa que a gente faz da nossa região. A gente já fez o quê? Não
é meninas? Aqui onde a gente vai mariscar, aqui são os mariscos: camarão,
ostra, bebe-fumo, sururu, siri, tarioba, caranguejo. Os materiais que a gente
vai mariscar. E aqui é o mapa da cidade, não é? Bom Jesus! Aqui é nosso rio,
rio limpo. O da gente, aqui vem, aqui é a igreja, chega aqui tem o rio da
praça, aquele rio poluído. Isso aqui Raimunda é muito bom, aqui não é pra
mim, não é pra Dane, não é pra Roquilda, não é pra Manuela, é pra todo
mundo, só que o povo não se interessa. (Pescadora A)
enquanto duas finalizavam os primeiros mapas, três iniciavam a construção do mapa das
políticas públicas. As participantes tiveram o primeiro contato com uma imagem de
satélite extraída do Google Earth. Ao concluírem a construção das legendas e inserção
dos títulos, as cinco pescadoras continuaram a construção do mapa das políticas (Figura
15).
Fonte: O autor.
77
Política pública é o defeso, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Luz para
Todos. Como é que chama? Tem o benefício que diminui a taxa de energia, é
Tarifa Social. O Mais Educação vai ser o dia todo as crianças, viu? De manhã
até de tarde vai funcionar como uma creche. O Seguro-Desemprego é do
defeso do camarão, abril e setembro, demos entrada em março, para receber
em abril e maio, vamos dar entrada em agosto para receber em setembro e
outubro. Mesmo com o defeso do camarão o camarão está sumindo, tem
época, depende da maré, tem maré que tá boa, tem maré que não tá. Só faz
tirar, tirar, tirar, os pequenininhos, os filhotes. Responsabilidade da
população. Tem pescador que não respeita o defeso não, quando solta a
bomba e os peixes aparecem mortos e apodrecem a ninguém aparece,
imagine. Não tem nenhum órgão para fiscalizar, nenhum desses órgãos
fiscaliza. Quando o marido morre, a mulher fica recebendo pensão,
pensionista. (Pescadora A)
Falta o TOPA, Licença Maternidade, Auxílio Doença, Aposentadoria
também por tempo de serviço e por idade, que às vezes não tem tempo de
serviço, mas já tem idade. (Pescadora B)
Fonte: O autor.
Remédio eu recebo, tem mês que tem, tem mês que não tem, é no posto que
pega. HIPERDIA, Programa de Acompanhamento para hipertensos e
diabéticos. (Pescadora C)
Até 2013 tinha agora não tem mais. O PET não tem mais, agora é o Mais
Educação. O PET e o TOPA foram até o ano passado. Se esse programa
voltar eu vou estudar. (Pescadora B)
Eu me formei no TOPA, tenho certificado e tudo. (Pescadora D)
Sim minha gente, tem aquele que os meninos jogam bola, o handebol, coloca
na praia. (Pescadora A).
O símbolo da bolsa família coloca nas casas, aposentadoria coloca por casa,
[...] aposentado, o negócio da bolsa família também. As mulheres
aposentadas vão pra maré. Auxílio doença bota nas casas, se tá doente, o
auxílio é uma espécie de ajuda, é um benefício [...] bote o nome PISS,
Programa de Inclusão Social de Saubara, não bota muito não, bota no
Araripe. O Conselho Tutelar bote mais pra aquela área pra cima, da invasão,
o Conselho age mais do lado de lá, pelo menos o que eu sei, graças à Deus
aqui age pouco. Creche bota nas escolas. O TOPA é no colégio, no Isaura
Barroso, Tarifa Social nos postes, falta de saneamento bota nas ruas. O
PRONATEC teria que fazer um ônibus com os estudantes dentro [...] ações
do NAM seriam próximas as casas também, o NAM é que protege a mulher.
Onde vive a família? Nas casas, não é? (Pescadora E)
O mapa das políticas públicas foi finalizado com as seguintes camadas: Ações
do NAM, TOPA, Aposentadoria, Auxílio Doença, Tarifa Social, Mais Educação,
Licença Maternidade, Seguro Desemprego, Ações do Conselho Tutelar e Bolsa Família
(Figura 16).
Os etnomapas apresentaram uma riqueza de detalhes, durante as três primeiras
oficinas foram construídos quatro etnomapas com um total de 68 camadas.
Fonte: O autor.
80
Hoje eu fico assim besta, porque muita gente hoje abre a boca e diz assim: eu
sou marisqueira! Antigamente a mais ou menos 10, 12 anos atrás tinha
vergonha era dona de casa, doméstica. Se tinha um documento botava dona
de casa, doméstica, marisqueira tinha vergonha, depois de 10 anos pra cá que
começou a ter marisqueira. Depois dessa época as marisqueiras nenhuma
delas pagavam, tem pessoas com 60, 70 anos e não podia se aposentar,
porque não podia provar, sendo que a comunidade sabe que a vida toda viveu
de maré. (Pescadora E).
Fonte: O autor.
Fonte: O autor.
84
Tem um bocado de mangue aí na beira desse rio. Em cima dos mangues tem
que botar os aratus, em baixo tem que botar o sururu, e os caranguejos
também, tudo no mangue. O caranguejo e o sururu são em baixo e o aratu é
em cima das galhas do mangue [...]. Não lembraram do malvado do
gorogondé, não foi? Não tem nada não, é um marisco afrodisíaco, acha
dentro do casco dos outros. Eu como ele frito, o povo faz muito com farinha,
aqui. (Pescadora A).
13
Arquivo digital que representa uma feição ou elemento gráfico, em formato de ponto, linha ou polígono
contendo uma referência espacial (coordenadas geográficas) de qualquer que seja o elemento mapeado.
85
Fonte: O autor.
colher.” (Pescadora E). O facho, um dos apetrechos utilizado para captura do siri mole
sofreu duas grandes mudanças.
Fonte: O autor
87
Em 2007 foi a decepção do mundo todo, foi aquela maré vermelha, foi aquela
“desgraceira no caminho da feira”, parou a pesca, até hoje está fazendo
miséria aí no mar, e ninguém está fazendo nada. Aí foi que acabou com o
costeiro, e o índice de câncer em Bom Jesus aumentou, que hoje só é câncer,
não tem outra doença não, foi depois desse desespero de vida que teve. Teve
o defeso, mas em compensação a maré ficou poluída o tempo todo e as
doenças atacando a gente, o dinheiro não tá tirando a doença, nem a poluição
que tá na maré. Que doença que não tinha? Desde quando a gente vai pra
maré? (Pescadora F)
se auto afirmando como marisqueiras. “Pescadora pesca tudo, a gente recebe o defeso
do camarão, se disser que a gente é marisqueira, marisqueira o quê? Marisqueira estava
catando siri! (Pescadora A) “Hoje todo mundo tem orgulho de abrir a boca pra dizer:
pescadora sim. Porque recebe o defeso, assegurada especial no INSS, aposenta com uns
15 anos de contribuição.” (Pescadora F). Algumas pescadoras ainda afirmam que são
marisqueiras, mas enfatizam que além de serem marisqueiras são pescadoras,
assumindo ambos os papeis, marisqueira atuando na coleta de moluscos e crustáceos e
pescadora, participante da pesca, beneficiamento e venda do camarão.
Fonte: O autor.
90
Fonte: O autor.
91
Fonte: O autor.
92
Fonte: O autor
93
Fonte: O autor.
94
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com relação às políticas públicas verificou-se que 78% das entrevistadas não
demonstraram entendimento sobre o assunto. Evidenciando a necessidade da ampla
divulgação sobre o tema e criação de espaços de debate sobre o mesmo, promovido
principalmente pelo movimento social ligado à pesca e do poder público municipal do
distrito.
Os produtos previstos inicialmente (Cartografia Social & Resumo de Políticas)
foram elaborados com a participação das pescadoras e podem se constituir em
ferramentas de gestão de políticas públicas.
A participação das pescadoras foi fundamental para realização da pesquisa e
produção dos resultados, que traduziram o empoderamento das participantes, enquanto
mulheres e pescadoras pertencentes à comunidade, que se apropriaram de ferramentas
de gestão, que traduzem conhecimentos e apontam a necessidade de fortalecimento da
luta pela igualdade de gênero na atividade pesqueira.
Esta pesquisa possibilitou o reconhecimento de que há necessidade de estudos
referentes à gestão das políticas públicas de gênero que auxiliem o poder público na
tomada de decisões. Assim como em estratégias de amadurecimento das formas de
participação social na construção dessas políticas.
98
REFERÊNCIAS
_______. Lei Maria da Penha. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Dispõe sobre
mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Diário Oficial
da República Federativa do Brasil. Brasília. 7 ago. 2006b.
BRICS Policy Center - Centro de Estudos e Pesquisas BRICS. Policy Brief, 2014.
Disponível em: <http://bricspolicycenter.org/homolog/publicacoes/index/1?tipo=Policy
%20Brief>. Acesso: 14 jul. 2014.
GENZ, F.; LESSA, G. C.; CIRANO, M. The Impact of an Extreme Flood upon the
Mixing zone of the “Todos os Santos” Bay, Northeastern Brazil. Journal of Coastal
Research, Itajaí, SC, Brazil, p. 707-712. 2004.
103
GIL, A. C.; Método e técnicas de pesquisa social. 5ª Edição. São Paulo. Editora Atlas
S.A. 1999. 206 p.
MPA, Equipe Técnica (org.). Boletim do Registro Geral da Atividade Pesqueira – RGP.
Brasília: MPA, 2012. 50 p. Disponível em:
<http://www.mpa.gov.br/files/Docs/Pesca/Boletim%20do%20Registro%20Geral%20da
%20Atividade%20Pesqueira%20-%202012%281%29.pdf>. Acesso: 15 jul. 2014.
SÁ, Elma Pereira de. Estudo exploratório sobre a pesca artesanal e a cadeia de
distribuição do pescado em comunidades de São Francisco do Conde – BA. 2011.
88 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado em Alimentos, Nutrição e Saúde,
Escola de Nutrição, Universidade Federal da Bahia, Bahia, 2011. Disponível em: <
<https://twiki.ufba.br/twiki/pub/PGNUT/DissertacoesDefendidas2011/Disserta%E7%E
3o_Elma_Pereira_de_S%E1.PDF>. Acesso: 11 jul. 2014.
APÊNDICES
109
Apêndice A
Endereço:________________________________________Contato:______________
DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS
Apêndice B
5. E sobre as (PP) que beneficiam de forma indireta as mulheres de Bom Jesus dos
Pobres?
PRODUTOS
A etnoecologia de pescadoras e as políticas públicas de
em Bom Jesus dos Pobres, Saubara – BA.
Agradecimentos
Autores
Profª. Drª. Acácia Batista Dias, Universidade Estadual de Feria de Santana - UEFS
2
Resumo de Políticas Públicas
A FAPESB, o MPPT e a comunidade de Bom Jesus dos Pobres não são responsáveis
pelo uso que pode ser feito dessa publicação. As visões aqui expressas são de
responsabilidade apenas do autor e não refletem necessariamente as visões da
FAPESB ou do PLANTERR/UEFS.
A reprodução e tradução para propósitos não comerciais são autorizadas, desde que se
refira e agradeça à fonte.
3
Resumo de Políticas Públicas
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 5
ESTRUTURA / SEÇÕES............................................................................................6
DETALHES DA PRODUÇÃO...................................................................................7
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 8
4
Resumo de Políticas Públicas
INTRODUÇÃO
5
Resumo de Políticas Públicas
ESTRUTURA / SEÇÕES
6
Resumo de Políticas Públicas
DETALHES DA PRODUÇÃO
O Resumo de Políticas foi elaborado ao longo dos dois anos do projeto, pelo
pesquisador responsável, com a colaboração dos pesquisadores Dr. Fábio Pedro
Souza de Ferreira Bandeira, e Drª. Acácia Batista Dias, professores da Universidade
Estadual de Feria de Santana – UEFS. O conteúdo do Resumo está baseado na
revisão de literatura sobre temas como, políticas públicas de gênero feminino,
técnicas de etnomapeamento, geotecnologias, papel do conhecimento tradicional na
gestão dos recursos, assim como nas entrevistas com pescadoras e gestores
municipais de Saubara, bem como nas lições aprendidas durante o projeto.
O informativo sobre as política será para uso e divulgação entre os gestores públicos e
ONGs. O arquivo será disponibilizado na forma impressa e digital nos sites do
PLANTERR (http://www2.uefs.br/mppt) e NUPAS (http://www2.uefs.br/nupas). Será
realizada uma entrega qualificada com as pescadoras artesanais de Bom Jesus dos
Pobres, representantes da sociedade civil organizada e representações políticas do
município.
7
Resumo de Políticas Públicas
REFERÊNCIAS
BANG, M., MEDIN, D.; ATRAN, S. Cultural mosaics and mental models of nature.
PNAS 104 (35): 13868-13874. 2007.
BRICS Policy Center - Centro de Estudos e Pesquisas BRICS. Policy Brief, 2014.
Disponível em: <http://bricspolicycenter.org/homolog/publicacoes/index
/1?tipo=Policy %20Brief>. Acesso: 14 jul. 2014.
8
Regys Fernando de Jesus Araujo---
Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira---
Acácia Batista Dias---
RESUMO DE POLÍTICAS
Série do Mestrado Profissional em Planejamento Territorial – PLANTERR
1
Feira de Santana, BA
Universidade Estadual de Feira de Santana
2015
Regys Fernando de Jesus Araujo
Pesquisador Responsável
Universidade Estadual de Feria de Santana
Contato do Mestrado
Profissional em
E-mail: planterr@uefs.br
Planejamento Territorial -
PLANTER
www2.uefs.br/nupas/
Website
Contato: Regys Fernando de Jesus Araujo.
Para mais informações E-mail: regysfernando@hotmail.com
ISBN: 978-85-7395-254-4
CDU: 39 (814.22)
Autores: Regys Fernando de Jesus Araujo, Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira &
Acácia Batista Dias
1 | RESUMO DE POLÍTICAS
EVIDÊNCIAS E ANÁLISE
Antes de dar início à pesquisa, o projeto foi apresentado à comunidade numa reunião
com a participação de 80 pescadoras e lideranças da comunidade. Foram realizadas
oito entrevistas com o poder público municipal, 36 entrevistas com pescadoras e oito
oficinas de etnomapeamento. Realizou-se uma pesquisa documental, com o objetivo
Aprendizados
de cruzar os dados coletados nas entrevistas com o poder público, complementado as
informações obtidas. A experiência da triangulação dessas fontes de informação na
construção de ferramentas de gestão de políticas públicas partiu do princípio de que
os conhecimentos científico e tradicional, igualmente válidos, podem ser considerados
cada um em seus contextos e em seus significados.
1
Aglomeração de microplânctons dinoflagelados segundo Peixoto (2008);o fenômeno ocorreu na BTS em março de 2007,
produzindo um desastre socioambiental deixando a região em colapso econômico.
3 | RESUMO DE POLÍTICAS
2
Sistema Etnográfico de Informações Geográficas – EtnoSIG, ferramenta importante na análise socioambiental, a
partir de dados etnográficos e técnicos.
4 | RESUMO DE POLÍTICAS
Mapas, imagens de
satélite, bases de dados Integração das
Conhecimento técnico- cartográficos, modelos informações
científico de terreno Digital,
outros dados
EtnoSIG
Oficinas de
Conhecimento tradicional etnomapeamento,
Transcrição e
etnomapas, entrevistas,
digitalização das
construção da linha do
informações
tempo
.Fonte: Oficinas de etnomapeamento (2014 – 2015). A cartografia foi finalizada no formato A1 (594 ×
841), contendo oito dobras, possibilitando a
Figura 5 – EtnoSIG de Bom Jesus dos Pobres inserção do EtnoSIG (Figura 5).
A caracterização das políticas públicas foi feita a partir das entrevistas com
funcionários do poder público municipal. Foram realizadas oito entrevistas com
funcionários de seis secretarias municipais: Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Social; Secretaria de Promoção da Igualdade Racial; Secretaria Municipal de
Administração; Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer; Secretaria Municipal
de Educação; Secretaria Municipal de Saúde. O tempo de experiência desses
servidores no órgão público variou de 2 a 12 anos. As políticas públicas identificadas3
foram ligadas diretamente a três Secretarias Municipais: Secretaria de
Desenvolvimento Social; Secretaria de Saúde e Secretaria de Educação.
Dos oito programas sociais, sete beneficiam de forma direta as mulheres residentes
Políticas
em Bom Jesus dos Pobres (Quadro 1).
Sociais
Quadro 1 – Políticas públicas Sociais, tipo de benefício, origem e principais indicadores, em Bom Jesus
dos Pobres, Saubara, 2014
Política/Programa Benefício Benefício Responsabilidade Principais Indicadores
Direto Indireto
Federal Painel de Indicadores de
Condicionalidades baseados
em Temas/Dimensões: I.
Vulnerabilidades Sociais;
II. Acesso aos Serviços;
Bolsa Família x
III. Gestão da Saúde;
IV. Gestão da Educação; e
V. Gestão do PBF. Composto
por aproximadamente 140
indicadores.
Federal Quantidade de Matrículas de
beneficiários do Programa
PRONATEC x x
Bolsa Família no PRONATEC
por ano
Tarifa Social de água e Federal -
x
luz
PROUNI x Federal
Programas de Serviço de Federal, Estadual -
Convivência e e Municipal
Fortalecimento de x
Vinculo, antigo PETI
Projovem
Municipal Número de famílias que
PISS x estão abaixo da linha da
pobreza
Núcleo de Atenção à Federal, Estadual
x e Municipal
Mulher - NAM
LOAS – Aposentadoria Federal
x
temporária
Fonte: Elaborado pelo autor (2014).
3
Os dados das entrevistas foram complementados com dados coletados durante a pesquisa documental.
6 | RESUMO DE POLÍTICAS
IMPLICAÇÕES E RECOMENDAÇÕES
REFERÊNCIAS
PEIXOTO, J. A. S. BAÍA DE TODOS OS SANTOS: Vulnerabilidade e Ameaças. 2008. 191 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008. Cap. 7.
Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/9714/1/José.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2015.
i
MOURÃO, J.S.; NORDI, N. Pescadores, peixes, espaço e tempo: uma abordagem etnoecológica.Interciencia, v. 31, p. 358-
363, 2006.
LINHARES, J. C. S.; GOES, L. C. F.; GOES, J. M.; LEGAT, J. F. A. Perfil socioeconômico e saber etnobiológico do catador de
caranguejo-uçá, Ucidescordatus (Linnaeus, 1763) da Área de Proteção Ambiental do Delta do Rio Parnaíba. Sitientibus, Série
Ciências Biológicas, v. 8, n. 2, p. 135-141, 2008.
EL-DEIR, S. G. Estudo da mariscagem de Anomalocardia brasiliana (Mollusca: Bivalvia) nos bancos de coroa do Avião,
Ramalho e Mangue Seco (Igarassu, Pernambuco, Brasil). 2009. 123f. Tese (Doutorado em Oceanografia) Universidade Federal
de Pernambuco, Recife.
REALIZAÇÃO
Núcleo de Pesquisa
Ambiente, Sociedade e Sustentabilidade
APOIO