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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL - PLANTERR
MESTRADO PROFISSIONAL

REGYS FERNANDO DE JESUS ARAUJO

A ETNOECOLOGIA DE PESCADORAS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS EM BOM


JESUS DOS POBRES, SAUBARA – BA.

FEIRA DE SANTANA - BA
2015
REGYS FERNANDO DE JESUS ARAUJO

A ETNOECOLOGIA DE PESCADORAS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS EM BOM


JESUS DOS POBRES, SAUBARA – BA.

Relatório de Pesquisa apresentado ao Programa


de Pós-Graduação em Planejamento Territorial –
PLANTERR/UEFS, como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre em Planejamento
Territorial, sob orientação do Prof. Dr. Fábio
Pedro Souza de Ferreira Bandeira e coorientação
da Prof. Dr.ª Acácia Batista Dias.

FEIRA DE SANTANA - BA
JULHO, 2015
Ficha Catalográfica – Biblioteca Central Julieta Carteado

Araujo, Regys Fernando de Jesus


A687e A etnoecologia de pescadoras e as políticas públicas em Bom Jesus dos Pobres,
Saubara – BA / Regys Fernando de Jesus Araujo. – Feira de Santana, 2015.
148 f. : il.

Orientador: Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira.


Coorientadora: Acácia Batista Dias.

Relatório (Mestrado Profissional em Planejamento Territorial) –


Universidade Estadual de Feira de Santana, Programa de Pós-Graduação em
Planejamento Territorial – PLANTERR/UEFS, 2015.

1. Pescadoras – Bom Jesus dos Pobres, Saubara - Bahia. 2. Etnoecologia. 3.


Etnomapeamento. 4. Pesca artesanal - Políticas públicas. I. Bandeira, Fábio
Pedro Souza de Ferreira, orient. II. Dias, Acácia Batista, coorient. III.
Universidade Estadual de Feira de Santana. III. Título.

CDU 577.4:639.2(814.22)
“O que é ser mulher pescadora? Ser mulher é luta, é garra... força!”

Ana Cristina Santana Santos


AGRADECIMENTO

Para a concretização desta pesquisa recebi diversos auxílios, que foram fundamentais
para obtenção de resultados positivos: auxílios espirituais; auxílio da família; auxílios
acadêmicos; auxílio das pescadoras de Bom Jesus dos Pobres; auxílios de colegas e
amigos e principalmente o auxílio da fé, que nunca foi se quer abalada!

Agradeço aos Orixás, forjados pelas as energias da natureza, principalmente aos meus
guias que sempre me fortaleceram: MO ADÚPÉ WÚRE IBA GBOGBO (Eu agradeço
pedindo a benção e saudando a todos). Ao babalorixá Adelson Ferreira, zelador dos
meus Orixás, e guias espirituais, pela compreensão e apoio. Agradeço aos meus irmãos
e irmãs de asè, pela força, energia e acolhimento.

Agradeço a meu pai Reginaldo (em memória), a minhas mães Maria Alvanir e Ariodilza
Maria, pelo amor e a confiança depositados em mim. A minha esposa Silvani, pelo
apoio incondicional, pelo amor, carinho e atenção. Meus irmãos Ana Paula e Luis
Gustavo, meus avós Everaldo e Lizaldete, tia Vane, e meus primos que me transmitiram
muitas energias positivas. Agradeço a meu filho João Vitor Araujo, por me mostrar e
relembrar sempre a simplicidade da vida.

Agradeço ao meu orientador, professor Fábio Bandeira, e a minha coorientadora,


professora Acácia Dias, pela orientação, aprendizados e dedicação.

Agradeço a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – Fapesb, pelo apoio


financeiro.

Agradeço a CONDER, por disponibilizar a imagem de satélite (Ortofoto Landsat, 2010)


do distrito de Bom Jesus dos Pobres, fundamental para a pesquisa.

A Primeira Turma do Mestrado em Planejamento Territorial da UEFS e demais colegas


Amigos e amigas do PLANTER pela união e foça, onde um sempre auxiliou o outro.
A Regina Santos, Secretária do Sindicato dos Trabalhadores, Trabalhadoras Rurais e
Marisqueiras de Saubara – STTRMS, pela dedicação e apoio durante a pesquisa. Ao
Luís Carlos, presidente do STTRMS, pelo apoio.

Agradeço a Associação das Marisqueiras e Pescadores de Bom Jesus dos Pobres –


AMAPEB, Associação de Marisqueiras de Saubara – AMS, Colônia de Pescadores e
Aquicultores z-16 de Saubara, e Associação de Pescadores e Pescadoras de Saubara –
APPS, pela disponibilidade e apoio à pesquisa.

Agradeço a Prefeitura Municipal de Saubara e as suas Secretarias pelo auxílio e


disponibilidade das informações durante a pesquisa.

Dedico esta pesquisa e deixo o meu agradecimento especial às mulheres pescadoras


artesanais de Bom Jesus dos Pobres. Agradeço a Aurelina e a sua filha Carmem
(Carminha), que me cederam um lugarzinho no lar e nos corações, me acolhendo
durante toda a pesquisa em Bom Jesus dos Pobres. Agradeço a Raimunda Oliveira
(Mumu) e Ana Cristina (Tina) pela força de vontade, pelo amor à profissão e
principalmente, pelos aprendizados que construímos juntos e principalmente pela
dedicação e disponibilidade de participar da pesquisa. Agradeço a todas que
participaram das oficinas, pela atenção e carinho na construção participativa durante a
pesquisa.
RESUMO

O foco desta pesquisa foram as pescadoras artesanais do município de Saubara,


especificamente do distrito de Bom Jesus dos Pobres. Saubara é um dos municípios do
Território do Recôncavo, situado no interior da Baía de Todos-os-Santos,
aproximadamente a 94 km de Salvador, próximo à foz do Rio Paraguaçu. Nos seus
limites destaca-se o distrito de Bom Jesus dos Pobres, a 8 km da sede do município,
local que mantem viva a cultura da pesca e a coleta de organismos aquáticos realizada
pelos nativos. Este relatório de pesquisa analisa as políticas públicas que beneficiaram
as mulheres pescadoras artesanais do referido distrito, no período de 1988 a 2013,
contribuindo com informações sobre a pesca do Recôncavo da Bahia, na promoção do
desenvolvimento desta prática, na identificação da existência de mudanças na atividade
sociocultural das pescadoras como, por exemplo, a evolução de equipamentos e
ferramentas utilizadas na pesca e mariscagem; no registro do conhecimento das
mulheres da comunidade quanto às políticas públicas que as contemplam, bem como a
interferência causada por tais políticas na vida social destas mulheres. O recorte
temporal da pesquisa compreende o período de 1988 (ano da promulgação da última
Constituição Brasileira) até o ano de 2013. Realizou-se uma caracterização sobre as
políticas públicas através de entrevistas com 36 mulheres, o que corresponde a
aproximadamente 5% das pescadoras de Bom Jesus dos Pobres, segundo informações
sobre o número de pescadoras associadas em organizações sociais do distrito. Foram
realizadas oito oficinas de etnomapeamento, subsidiando a construção de uma
Cartografia Social e um Resumo de Políticas, com o objetivo de dar voz e visibilidade
às mulheres pescadoras da comunidade de Bom Jesus dos Pobres. Observou-se que o
Seguro-Desemprego (defeso do camarão) é uma das políticas classificadas pelas
pescadoras como uma das mais importantes, também se verificou a existência de 20
programas, sendo nove no âmbito social, oito na saúde e três na educação. Foram
identificadas mudanças na atividade sociocultural das pescadoras artesanais quanto aos
apetrechos utilizados na atividade pesqueira. A participação das pescadoras foi
fundamental para realização da pesquisa e produção dos resultados, que traduziram o
empoderamento das participantes enquanto mulheres e pescadoras pertencentes à
comunidade, que se apropriaram de ferramentas de gestão. Tais ferramentas revelaram
conhecimentos manifestados na necessidade do fortalecimento da luta pela igualdade de
gênero na atividade pesqueira.

Palavras-chaves: Pescadoras, políticas públicas, etnomapeamento.


ABSTRACT

This research focused on artisanal fisherwomen in the municipality of Saubara,


specifically those from the Bom Jesus dos Pobres district. Saubara is a municipality
within the Reconcavo Bay region, situated within All Saints Bay, approximately 94 km
from Salvador and close to the Paraguaçu River. The district of Bom Jesus dos Pobres
is located at the municipal limits, 8 km from the municipal centre, and is a region in
which the culture of fishing and the collection of aquatic organisms remain alive, and
are carried out by local residents. This research report analyses public policies, between
1988 and 2013, intended to benefit artisanal fisherwomen within the district and
provides information about fishing in the Reconcavo Bay region, promoting the
development of this practice, identifying the existence of changes to the socio-cultural
activities undertaken by the fisherwomen, such as the evolution of equipment and tools
used in fishing and shellfish picking, recording both the knowledge that women from
the community have about the public policies aimed at them and the ways such policies
disrupt their social lives. The research time frame covers the period between 1988 (the
year of the promulgation of the most recent Brazilian Constitution) and 2013. We
obtained details of these public policies through interviews with 36 women, constituting
approximately 5% of the fisherwoman in Bom Jesus dos Pobres, according to
information about the number of fisherwomen who are members of social organizations
within the district. Eight ethno-mapping workshops were held, supporting the
construction of a Social Cartography map and a Policy Summary in order to give voice
and visibility to the fisherwomen from the community of Bom Jesus dos Pobres. We
observed that the fisherwomen consider the Unemployment Benefit (Prawn Closed-
Season) Policy to be one of the most important policies, and we confirmed the existence
of 20 programmes - nine in social care, eight in health and three in education. Changes
to the socio-cultural activities of the artisanal fisherwomen were identified in terms of
the instruments they use for fishing. The fisherwomen’s participation was essential to
the research and the production of results, which translated the empowerment of the
participants as women and fisherwomen belonging to the community; these results have
now been appropriated as management tools. Such tools reveal knowledge which
demonstrates the need to strengthen the struggle for gender equality in fishing activities.

Key words: Fisherwomen, public policies, ethno-mapping.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Praia de Bom Jesus dos Pobres, Saubara – BA......................................... 31


Figura 2 – Ladeira da Rua Nova, Bom Jesus dos Pobres, Saubara – BA................... 32
Figura 3 – Apresentação da Barquinha, Praia de Bom Jesus dos Pobres................... 33
Figura 4 – Marisqueira catando o siri na praia da bica, Bom Jesus dos Pobres......... 34
Figura 5 – Apresentação do projeto de pesquisa de mestrado no distrito de Bom
Jesus dos Pobres, 2014................................................................................................ 37
Figura 6 – Agrupamento das organizações sociais em que as entrevistadas de Bom
Jesus dos Pobres estão associadas, em 2014............................................................... 55
Figura 7 – Famílias do Distrito de Bom Jesus dos Pobres beneficiadas pelo
programa Bolsa Família em julho de 2013................................................................ 63
Figura 8 – Etnomapa representando a Baía de Todos-os-Santos, elaborado por
associadas da AMAPEB, Saubara, Bahia, durante realização de Diagnóstico
Rápido Participativo - DRP em 22 de julho de 2009................................................. 76
Figura 9 – Etnomapa de Bom Jesus dos Pobres......................................................... 77
Figura 10 – Construção do mapa dos Recursos Pesqueiros de Bom Jesus dos
Pobres........................................................................................................................ 77
Figura 11 – Compartilhando conhecimentos sobre pontos cardeais......................... 78
Figura 12 – Etnomapa dos recursos pesqueiros de Bom Jesus dos Pobres................ 79
Figura 13 – Etnomapa dos problemas e dificuldades de Bom Jesus dos Pobres........ 81
Figura 14 – Finalização dos etnomapas: A – Inserção do título do etnomapa de
Bom Jesus dos Pobres; B, C e D – Construção das legendas dos mapas dos de
Bom Jesus dos Pobres, políticas públicas e recursos pesqueiros, respectivamente.... 82
Figura 15 – Construção do mapa das políticas públicas.......................................... 83
Figura 16 – Etnomapa das políticas públicas que beneficiam as pescadoras de Bom
Jesus dos Pobres ........................................................................................................ 85
Figura 17 – Revisão sobre as camadas inseridas nos etnomapas.............................. 87
Figura 18 – Imagem georreferenciada de Bom Jesus dos Pobres............................... 88
Figura 19 – Construção do mapa consensual de Bom Jesus dos Pobres.................. 89
Figura 20 – Construção do EtnoSIG de Bom Jesus dos Pobres................................ 91
Figura 21 – Construção da linha do tempo entre os anos de 1988 a 2013............... 92
Figura 22 – Continuação da construção do mapa consensual de Bom Jesus dos
Pobres..................................................................................................................... 95
Figura 23 – Construção do etnomapa consensual de Bom Jesus dos Pobres............. 96
Figura 24 – Etnomapa consensual de Bom Jesus dos Pobres.................................... 97
Figura 25 – Contracapa e capa da Cartografia Social................................................. 98
Figura 26 – EtnoSIG de Bom Jesus dos Pobres....................................................... 99
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Locais de nascimento/naturalidade das entrevistadas........................... 48


Gráfico 2 – População residente por sexo no ano de 2010, Bom Jesus dos Pobres,
Saubara – BA............................................................................................................ 49
Gráfico 3 – Declaração de raça/cor entrevistadas....................................................... 50
Gráfico 4 – Representação do nível escolarização..................................................... 50
Gráfico 5 – Componentes da renda familiar das pescadoras entrevistadas em Bom
Jesus dos Pobres, Saubara, 2014.............................................................................. 52
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Instituições visitadas e as respectivas datas........................................ 42


Quadro 2 – Lista de documentos resultante da pesquisa documental..................... 45
Quadro 3 – Políticas Públicas Sociais, tipo de benefício, origem e principais
indicadores, em Bom Jesus dos Pobres, Saubara, em 2014....................................... 61
Quadro 4 – Políticas públicas de saúde, tipo de benefício, origem e principais
indicadores, em Bom Jesus dos Pobres, Saubara, em 2014..................................... 67
Quadro 5 – Políticas públicas de educação, tipo de benefício, origem e principais
indicadores, em Bom Jesus dos Pobres, Saubara, em 2014.................................... 70
Quadro 6 – Relação das enfermidades segundo informações de agentes
comunitários, Bom Jesus dos Pobres, Saubara, em 2014............................................ 73
Quadro 7 – Linha do tempo construída pelas pescadoras durante a sétima oficina
de etnomapeamento................................................................................................... 93
Quadro 8 – Princípios e recomendações contidas no Resumo de Políticas............... 101
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Relação de associadas (os) por organização social, sexo e origem em


Bom Jesus dos Pobres, 2014.................................................................................. 49
Tabela 2 – Relação dos filhos (as) das entrevistadas agrupados por faixa etária
segundo classificação da situação escolar.................................................................. 51
Tabela 3 – Relação do estado civil, raça/cor e nível escolar das entrevistadas
agrupados por faixa etária...................................................................................... 51
Tabela 4 – População residente, por sexo, segundo compartilhamento da
responsabilidade pelo domicílio, em Bom Jesus dos pobres, 2010......................... 53
Tabela 5 – Distribuição da renda e estrutura de moradia familiar segundo
classificação dos responsáveis pelo sustento da família, em Bom Jesus dos Pobres,
Saubara, 2014........................................................................................................... 54
Tabela 6 – Relação geral dos bens duráveis declarados pelas entrevistadas em
Bom Jesus dos Pobres, Saubara, 2014........................................................................ 54
Tabela 7 – Relação dos cinco primeiros estados que são beneficiados pelo defeso
do camarão, por valor acumulado, 2014................................................................ 58
Tabela 8 – Dados sobre a transferência do Programa Bolsa Família, Saubara, 2004
- 2014........................................................................................................................ 62
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AEPAB Associação de Empreendedorismo de Pesca e Mariscagem artesanal


AMAPEB Associação de Marisqueiras e Pescadores de Bom Jesus dos Pobres
AMS Associação de Marisqueiras de Saubara
APPS Associação de Pescadores e Pescadoras de Saubara - APPS
BTS Baía de Todos-os-Santos
CAE Conselho da Alimentação Escolar
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
CI Conselho do Idoso
CM Conselho da Mulher
CMAS Conselho Municipal da Assistência Social
CMC Conselho Municipal de Cultura
CMDCA Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente
CME Conselho Municipal da Educação
CMS Conselho Municipal da Saúde
CPF Cadastro de Pessoa Física
CRAS Centro de Referência de Assistência Social
CTS Conselho Tutelar de Saubara
DAP Declaração de Aptidão ao Programa Nacional da Agricultura Familiar
EBDA Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S. A.
EMBASA Empresa Baiana de Água e Saneamento S. A.
EUA Estados Unidos da América
FEAPER Fundo de Amparo ao Pequeno Estabelecimento Rural
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Fundeb
Valorização dos Profissionais da Educação
Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e
HIPERDIA
Diabéticos
ICM-Bio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
Índice de Gestão Descentralizada do Sistema Único de Assistência
IGD SUAS
Social
IHS Instituto Hand Social
MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
MPA Ministério da Pesca e Aquicultura
NAM Núcleo de Atenção à Mulher
PACS O Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PBF Programa Bolsa Família
PET Programa de Educação Tutorial
Programa de Integração Social e Complementação de Renda de
PISS
Saubara
PNCSA Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia
PNDH Programa Nacional de Direitos Humanos
PPA Plano Plurianual
PRONAF Programa Nacional da Agricultura Familiar
RG Registro Geral
SCFV Programa de Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vinculo
SEAGRI Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária da Bahia
SEAP Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca
SEI Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia
SEPROMI Secretaria de Promoção da Igualdade Racial
SIG Sistema de Informações Geográficas
SISCAM Sistema de Informação do Câncer
SISCOLO Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero
SM Salário Mínimo
SPM Secretaria de Política para as Mulheres
SPM-PR Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da Republica
Sindicato dos Trabalhadores, Trabalhadoras Rurais e Marisqueiras de
STTRMS
Saubara
SUS Sistema Único de Saúde
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TOPA Programa Todos pela Alfabetização
SOBRE O AUTOR

Em 2006 iniciei o curso de bacharelado em Engenharia de Pesca na


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, no campus de Cruz das Almas,
o que me possibilitou contato com o Recôncavo da Bahia. Em 2007 assumi a Diretoria
de Marketing e Movimento Estudantil do Diretório Acadêmico - DA de Engenharia de
Pesca. No ano seguinte participei da construção do Diretório Central dos Estudantes –
DCE. Em 2009 fui eleito Presidente do DA de Engenharia de Pesca. Na UFRB realizei
estágios na área de Extensão e Pesquisa junto aos pescadores de Cabaçeiras do
Paraguaçu (Associação de Agricultores e Pescadores de Tupiaçu, Cabaceiras do
Paraguaçu). Participei do Programa em Educação Ambiental - PRODEA, implantado
pela Pró-Reitoria de Extensão da UFRB. Nos últimos dois anos de graduação fiz parte
da equipe técnica da Incubadora de Empreendimentos Solidários INCUBA/UFRB,
como bolsista de Inovação Tecnológica – IT-1, acompanhando três empreendimentos
do Território do Recôncavo da Bahia que lidam com o artesanato, a mariscagem e a
pesca artesanal: No Distrito de Acupe no município de Santo Amaro, na Sede de
Saubara e em Bom Jesus dos Pobres, um dos seus distritos. A experiência desenvolvida
com as mulheres destes três empreendimentos despertou em mim a vontade de construir
algo a mais, foi quando tive a ideia de aprofundar a pesquisa sobre o conhecimento da
arte da pesca, buscando na etnoecologia o subsidio necessário para prosseguir com a
pesquisa. A vontade se tornou realidade quando iniciei a pesquisa monográfica
intitulada “Pescando Saberes: Conhecimento dos pescadores e marisqueiras tradicionais
sobre a dinâmica dos recursos naturais de Bom Jesus dos Pobres, Saubara - Ba”.
Após conclusão do bacharelado em Engenharia de Pesca, minha principal
atuação profissional foi como Educador Social na Fundação de Apoio ao
Desenvolvimento Sustentável da Região Sisaleira - Fundação APAEB, realizando um
acompanhamento Técnico Pedagógico aos empreendimentos econômicos e solidários de
mulheres da Região Sisaleira, atuando nos municípios de Valente, Santaluz, Queimadas,
Nordestina e Itiúba. Os empreendimentos constituídos por mulheres produziam
alimentos e/ou artesanatos com matéria prima da Região Sisaleira. Embora me
distanciasse da Engenharia de Pesca, a convivência com o semiárido e com as mulheres
mantenedoras da riqueza cultural e da luta pela igualdade de direitos. As atividades
eram realizadas de forma participativa e respeitando as necessidades e particularidades
de cada grupo, buscando o envolvimento coletivo para construção do conhecimento.
Ao concluir o contrato com a Fundação APAEB fui bolsista AT2 FAPESB do
Projeto de Identificação Geográfica do Sisal de Valente executado pela Universidade
Estadual de Feira de Santana - UEFS, possibilitando o contato com a Geografia e
posteriormente com o Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial –
PLANTER.
Em 2013 cursei o curso Aperfeiçoamento em Gestão de Políticas Públicas de
Gênero e Raça, pela Universidade Federal da Bahia – UFBA, que me possibilitou
trabalhar com as relações de Gênero e voltar à comunidade das Pescadoras de Bom
Jesus dos Pobres, a qual já tinha realizado pesquisa na graduação. Neste mesmo ano
iniciei o curso de Mestrado em Planejamento Territorial na UEFS, onde pude unir
planejamento territorial, geoprocessamento, políticas públicas, a participação social das
pescadoras de Bom Jesus dos Pobres, e a vontade de contribuir com o fortalecimento da
luta das pescadoras pela igualdade de gênero.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 13
2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................ 20
2.1 Conhecimentos Tradicionais das Pescadoras e Etnobiologia ................................................ 23

3. OBJETIVOS .......................................................................................................................... 25
3.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................................. 25

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................................ 25

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................................... 26


5. BOM JESUS DOS POBRES ................................................................................................ 31
6. ATIVIDADES REALIZADAS ............................................................................................. 35
6.1 CONTATOS COM LIDERANÇAS POLÍTICAS DE SAUBARA...................................... 35

6.2 APRESENTAÇÃO DO PROJETO NA COMUNIDADE .................................................... 37

6.3 PESQUISA DOCUMENTAL ............................................................................................... 39

6.4 REALIZAÇÃO DE ENTREVISTAS ................................................................................... 41

6.4.1 Caracterização sociodemográfica ................................................................................... 42

6.4.2 Saúde.................................................................................................................................51

6.4.3 Políticas públicas .............................................................................................................. 51

6.4.4 Caracterização das políticas públicas ............................................................................. 53

6.4.4.1 Políticas sociais ............................................................................................................... 54

6.4.4.2 Políticas de saúde ............................................................................................................ 60

6.4.4.3 Políticas de educação....................................................................................................... 64

6.4.5 Entrevistas informais ....................................................................................................... 66

6.5 OFICINAS DE ETNOMAPEAMENTO .............................................................................. 69

6.5.1 Primeira oficina: rabiscando conhecimento .................................................................. 69

6.5.2 Segunda oficina: dos recursos pesqueiros aos problemas e dificuldades .................... 72

6.5.3 Terceira oficina: construindo as legendas ...................................................................... 75

6.5.4 Quarta oficina: interpretando uma imagem de satélite ................................................ 80

6.5.5 Quinta oficina: construindo um EtnoSIG ...................................................................... 84

6.5.6 Sexta oficina: percorrendo os manguezais ..................................................................... 84


6.5.7 Sétima oficina: tecendo uma linha do tempo ................................................................. 85

6.5.8 Oitava oficina: finalizando rabiscos ............................................................................... 89

7. RESULTADOS: ELABORAÇÃO DOS PRODUTOS....................................................... 92


7.1 CARTOGRAFIA SOCIAL ................................................................................................... 92

7.2 RESUMO DE POLÍTICAS................................................................................................... 94

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................ 96
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 98
APÊNDICES ............................................................................................................................ 108
PRODUTOS............................................................................................................................. 114
13

1. INTRODUÇÃO

Neste Relatório Descritivo será abordado, de forma técnica, um estudo sobre as


políticas públicas que beneficiam as pescadoras do distrito de Bom Jesus dos Pobres,
em Saubara – BA, elucidando o processo de elaboração de uma Cartografia Social e um
Resumo de Políticas. Este relatório que descreve a elaboração destes dois produtos foi
escolhido como Trabalho de Conclusão de Curso de Mestrado em Planejamento
Territorial, sendo a forma considerada ideal para garantir o retorno da pesquisa, que
ocorreu de forma participativa, à comunidade das pescadoras de Bom Jesus dos Pobres,
analisando as políticas públicas, com o auxílio de técnicas de geoprocessamento no
planejamento territorial com a participação popular.
Em toda a costa oceânica do Brasil, bem como em suas águas interiores (lagoas,
estuários e rios), encontram-se pessoas que fazem da pesca sua principal fonte de
subsistência familiar e atividade econômica. Estima-se que no território nacional dois
milhões de pessoas sejam pescadores (SEAP, 2004). No Brasil a pesca artesanal surgiu
da falência na economia dos ciclos cafeeiro e açucareiro do Brasil Colônia e, também,
devido à necessidade de exploração de outros meios de recursos (DIEGUES, 1973).
Para Diegues (1973), pescadores artesanais são aqueles que na captura e desembarque
de toda classe de espécies aquáticas, trabalham sozinhas e/ou utilizam mão-de-obra
familiar ou não assalariada, explorando ambientes ecológicos litorâneos e ribeirinhos. A
captura da pesca artesanal é feita através de técnicas de baixo rendimento relativo e sua
produção é total ou parcialmente destinada ao mercado local (DIEGUES, 1973). Em
2006, a atividade foi responsável por 48,3% da produção de pescado do país, que
registrou 507.702,5 toneladas, que representa 50% do pescado consumido em todo
território nacional (VASCONCELLOS, 2004).
No Nordeste do país, a produção de pescado, em 2006, chegou a 213.528,5
toneladas e contribuiu com 29,3% da produção brasileira, onde aproximadamente
66,2% das capturas regionais são oriundas da pesca artesanal (BRASIL, 2008). Em
relação ao número de pescadores, a região ocupa a primeira posição no país, com um
cadastro de 485.465 trabalhadores, o que representava 46,99% dos pescadores do país,
sendo 22,10% do gênero feminino (MPA, 2012).
14

A Bahia aparece no cenário nacional como quarto maior produtor de pescado


marinho ficando atrás de Santa Catarina, Pará e Rio de Janeiro, assim como na pesca
continental classificado posteriormente aos Estados do Amazonas, Pará e Maranhão. A
produção baiana é marcante, em virtude do Estado possuir um litoral com 1.188 Km de
extensão, 44 cidades litorâneas e 348 localidades pesqueiras, tendo a maioria do seu
pescado oriundo da pesca extrativa marinha (BRASIL, 2011a). Segundo Accioly (2009
apud KUNH, 2009) a plataforma marinha da Bahia é pobre em termos de água e
produtividade, o que não a torna atrativa para a pesca industrial.
No Estado, a pesca artesanal é realizada predominantemente por embarcações de
pequeno porte, a maior parte delas canoas, movidas à vela ou a remo. A frota
motorizada é constituída por saveiros que se dedicam à captura de peixes, com linhas e
redes de espera, e à captura de camarão, com redes de arrasto (BRASIL, 2005a;
BRASIL, 2005b; BRASIL 2009a).
A Baía de Todos-os-Santos - BTS, localizada nas bordas da terceira maior
cidade brasileira, Salvador, capital da Bahia, é o segundo maior acidente geográfico da
costa do Brasil com uma área de 1223 km² (GENZ et al., 2004) resultante de uma longa
cadeia de eventos geológicos, que inicia com a separação entre a América do Sul e a
África, que permitiu a formação do seu contorno e fisiografia, uma série de enseadas,
ilhas, canais, sub-baías, penínsulas, recifes de corais, costões rochosos e praias
(DOMINGUEZ; BITTENCOURT, 2009). No interior da BTS existem exuberantes
manguezais situados nos diversos rios que para ela convergem, como o Paraguaçu, o
Subaé e o Jaguaripe (BARTOLOMEU et al. 2009). Essa baía apresenta ainda uma
diversidade cultural e um passado colonial que serve de fonte para estudos acadêmicos e
produções literárias, tendo em seu entorno o Recôncavo Baiano. Na Bahia os índios
tiveram um papel fundamental na construção da cultura marítima dos trópicos. Contudo
foram os africanos e seus descendentes que vieram a configurar o início do que
denominamos comunidades pesqueiras na BTS, em outras regiões do litoral da Bahia e
em todo o litoral do Nordeste, bem como possivelmente as comunidades pesqueiras de
águas interiores ou ribeirinhas continentais do Estado (BANDEIRA; BRITO, 2012).
Para Santos (2002), a formação do território se dá pelo espaço e a forma do
espaço é encaminhada segundo as técnicas vigentes e utilizadas no mesmo. O território
pode ser distinguido pela intensidade das técnicas trabalhadas, bem como pela
diferenciação tecnológica das técnicas, uma vez que os espaços são heterogêneos. O
15

território para Santos (2002) configura-se pelas técnicas, pelos meios de produção,
objetos e coisas, conjunto territorial e pela dialética do próprio espaço.
Segundo Haesbaert (2004), território, tem a ver com poder, mas não apenas ao
tradicional “poder político”, mas poder no sentido mais concreto, de dominação, e no
sentido mais simbólico, de apropriação. Para Lefebvre (1986), a apropriação é um
processo simbólico, carregado das marcas do “vivido”, do valor de uso, já a dominação
é algo mais concreto, funcional e vinculado ao valor de troca. Seguindo este raciocínio
Haesbaert observa que, enquanto “espaço-tempo vivido”, o território é sempre múltiplo,
“diverso e complexo”, ao contrário do território “unifuncional” proposto pela lógica
capitalista hegemônica.
Desse modo, o Governo da Bahia passou a reconhecer, em seu Planejamento
Territorial, a existência de 27 Territórios de Identidade, constituídos a partir da
especificidade dos arranjos sociais e locais de cada região, onde a divisão vem sendo
utilizada para a implementação de políticas públicas no Estado.
Ao se tratar da classificação de Território de Identidade, o Recôncavo abrange
20 municípios (Cabaceiras do Paraguaçu, Cachoeira, Castro Alves, Conceição do
Almeida, Cruz das Almas, D. Macedo Costa, Governador Mangabeira, Maragogipe,
Muniz Ferreira, Muritiba, Nazaré, Santo Amaro, Santo Antônio de Jesus, São Felipe,
São Félix, São Francisco do Conde, São Sebastião do Passé, Sapeaçu, Saubara e
Varzedo) que ocupam uma área de aproximadamente 5.221,1 km² (SEI, 2007).
A extensão marítima do Recôncavo é cerca de 300 km, tendo afluentes, rios e
canais que favoreceram as navegações no período colonial, permitindo o escoamento da
produção agrícola da região, como o açúcar, fumo, mandioca e algodão (SILVA, 2010).
Atualmente seus cursos d’águas são utilizados para o transporte de petróleo e seus
derivados, além da produção primária, embora em volume bem inferior ao do período
colonial. Desta forma, a diversidade de solo, clima, relevo e manifestações culturais
inferem ao Recôncavo uma singularidade (OLIVEIRA, 1993). Singularidade essa fruto
também dos grupos étnicos que ocuparam as terras no período colonial, habitadas por
índios (tupinambás, kiriris, tupis, jês), europeus (portugueses) e negros africanos.
Os portugueses iniciaram a colonização da região Nordeste da Bahia no início
do século XVI, ocupação seguida por outros europeus que imigraram para o Brasil na
condição de trabalhadores assalariados desde a primeira metade do século XIX, além
dos vários grupos étnicos de nações africanas trazidas ao Brasil como escravos, como
16

descrevem Araujo (2009) e Tavares (2001). A presença da população afrobrasileira no


Recôncavo é marcante ao observamos atualmente os cultos de religiões de matriz
africana como o candomblé e a existência de diversos quilombos, possuindo, portanto,
um expressivo contingente populacional de negros (SILVA, 2010).
Saubara é um dos municípios do Território do Recôncavo, localizado entre as
longitudes 038°45’32” a 038°44’14” W e latitudes 12°43’59” a 12°47’06” S (JESUS;
PROST, 2011), situado no interior da Baía de Todos os Santos, aproximadamente a 94
km de Salvador (capital do estado), próximo à foz do Rio Paraguaçu. A região apresenta
características paisagísticas diversificadas, reunindo praias de areias alvas, falésias,
áreas de manguezais e de Mata Atlântica, rios e cascatas, cercada de vilarejos de
veraneio nos quais os pescadores e marisqueiras se fazem presentes tirando seus
sustentos do mar e do manguezal. Nos seus limites, por estar próxima ao canal da foz do
rio Paraguaçu, destaca-se o distrito de Bom Jesus dos Pobres, localizado na latitude de
12°48”0.00” S e longitude 038°46’60.00” W, a 8 km da Sede do município de Saubara.
As marisqueiras (mulheres que praticam atividades à beira mar, nos mangues, estuários
e rios), as pescadoras artesanais (mulheres que praticam atividades ligadas a pesca no
mar ou rios) e os pescadores (homens que também realizam tais atividades) e que vivem
neste distrito mantêm contato direto com o ambiente natural e possuem conhecimento
acerca de sua classificação, história natural, comportamento das espécies capturadas,
biologia e utilização dos recursos naturais da região onde vivem.
O reconhecimento jurídico da condição de pescadora das mulheres é tão recente
que, até o ano de 1980, as mulheres não eram aceitas na Marinha brasileira, devido aos
riscos que implicam as atividades das Forças Armadas. Como a mulher não poderia se
alistar na Marinha, devido um mito de que mulher embarcada daria azar, também não
eram reconhecidas como pescadoras, mais um argumento para negar o papel da mulher
em atividades pesqueiras. Com a promulgação da Lei n.º 6.807/1980, que criou o Corpo
Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha (CAFRM), a mulher passa a ser admitida na
Marinha, sendo assim também consideradas pescadoras artesanais as mulheres
embarcadas ou proprietárias de embarcações (SILVA; LEITÃO, 2012).
Em 2006 os pescadores e marisqueiras eram classificados como agricultores
familiares. Segundo a Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, que forneceu o marco legal
da agricultura familiar, dispõe sobre a definição desta e traz no Art. 3º, § 2, que
pescadores que atendam simultaneamente aos requisitos previstos nos incisos I, II, III e
17

IV do caput deste artigo e exerçam a atividade pesqueira artesanalmente, são


caracterizados como agricultores familiares (BRASIL, 2006).

Na Lei nº 11.326 a agricultura familiar foi assim definida: Art. 3o Para os


efeitos desta Lei, considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar
rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultânea
mente, aos seguintes requisitos: I - não detenha, a qualquer título, área maior
do que 4 (quatro) módulos fiscais; II - utilize predominantemente mão de
obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou
empreendimento; III - tenha renda familiar predominantemente originada de
atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou
empreendimento; IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com
sua família (BRASIL, 2006).

Em 29 de junho de 2009 entra em vigor a Lei nº 11.959 (Lei da pesca), dispondo


sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca,
regulamenta as atividades pesqueiras. Em seu capítulo II, apresenta definições sobre
recursos pesqueiros (BRASIL, 2009).

O art. 2º para os efeitos da Lei consideram-se [...] inciso III – pesca: toda
operação, ação ou ato tendente a extrair, colher, apanhar, apreender ou
capturar recursos pesqueiros. [...] no Capítulo III, Seção II - Da Atividade
Pesqueira, Art. 4º “A atividade pesqueira compreende todos os processos de
pesca, explotação e exploração, cultivo, conservação, processamento,
transporte, comercialização e pesquisa dos recursos pesqueiros. Parágrafo
único. Consideram-se atividade pesqueira artesanal, para os efeitos desta Lei,
os trabalhos de confecção e de reparos de artes e petrechos de pesca, os
reparos realizados em embarcações de pequeno porte e o processamento do
produto da pesca artesanal (BRASIL, 2009).

O “ser pescador” é uma categoria masculinizada por um sistema de dominação


cultural através das normas e condicionamentos estabelecidos pela sociedade
(ANDRADE, 2006). Este autor considera que “a ciência fortalece a opinião de senso
comum que tende a enxergar apenas o pescador, do sexo masculino, como a única
forma de experiência de trabalho na pesca”. Se tratando da condição feminina na pesca
artesanal, esta se configura de forma bastante delicada, como demonstram alguns
estudos (ARAUJO; LEITÃO, 2010; VERAS; LEITÃO, 2011).
A partir de 2007 o Estado reconhece como pescadoras as marisqueiras da Baía
de Todos-os-Santos, devido à ocorrência da maré vermelha1 assegurando a obtenção do
registro da pescadora artesanal, com o intuito de enquadrá-las como beneficiárias do

1
Aglomeração de microplânctons dinoflagelados segundo Peixoto (2008), o fenômeno ocorreu na BTS
em março de 2007, produzindo um desastre socioambiental deixando a região em colapso econômico.
18

seguro desemprego em períodos de proibição da pesca, política que antes apenas os


homens acessavam. Contudo esse reconhecimento não auxiliou na desmistificação do
trabalho feminino como complementar às atividades domésticas.
Diferentemente da pesca que abrange a coleta do pescado no mar ou rios, a
mariscagem se caracteriza pela captura e desembarque de classes de moluscos e
crustáceos encontrados nas regiões próximas à costa e manguezais, que é realizada
principalmente por mulheres designadas marisqueiras e que retiram do ambiente natural
espécies de importância econômica. Geralmente são esposas de pescadores e membros
mais jovens da família que realizam a mariscagem, utilizando utensílios domésticos
como, por exemplo, facas e colheres, ou instrumentos simples, confeccionados pelas
próprias marisqueiras (MELO; LIMA; STADTLER, 2009).
A ausência do trabalhador da pesca no cenário da discussão das políticas que
deveriam apoiar a produção pesqueira reflete-se na própria invisibilidade destes como
profissionais e cidadãos, e contribui para as muitas dificuldades que encontram para ser
tomados em conta (LEITÃO, 1997). Se tratando da invisibilidade dos homens
pescadores e das mulheres em comunidades de pesca, no caso dos homens, esta se dá de
fora para dentro, no nível mais formal e público do Estado e do capital, atingindo,
através deles, as mulheres. Noutro caso (das mulheres), existe desde dentro, no nível
interno da hierarquia entre os gêneros, mas se dá também de fora para dentro, atingindo
as mulheres em consonância, ou numa relação de homologia com a distinção
hierárquica interna que sobrepõe os homens às mulheres (ANGELICA, 1999). Neste
contexto são apontados caminhos para diversos estudos em comunidades tradicionais,
mas neste projeto os estudos foram focados nas políticas públicas destinadas às
marisqueiras e pescadoras do distrito de Bom Jesus dos Pobres, Saubara - BA,
principalmente nas políticas voltadas para o gênero feminino. Para analisar as políticas
públicas destinadas às pescadoras de Bom Jesus dos Pobres, valorizando os saberes
locais, se fez necessário a abordagem através da percepção destas mulheres no que
tange o campo das políticas públicas. Uma das ferramentas utilizadas para coleta de
informações em estudos em comunidades tradicionais são as entrevistas que para Freitas
(2002, p. 29) “Na entrevista é o sujeito que se expressa, mas sua voz carrega o tom de
outras vozes, refletindo a realidade de seu grupo, gênero, etnia, classe, momento
histórico e social”.
19

Diante do exposto, o presente estudo visa analisar as políticas públicas que


beneficiaram as pescadoras do distrito de Bom Jesus dos Pobres/Saubara – BA, no
período de 1988 a 2013, trazendo contribuições sobre a pesca do recôncavo da Bahia, na
promoção do desenvolvimento da atividade de pesca localmente e no território de
identidade do Recôncavo, identificando a existência de mudanças na atividade
sociocultural das pescadoras como, por exemplo, a evolução de equipamentos e
ferramentas utilizadas na pesca e mariscagem, verificando se as mulheres da
comunidade conhecem e se são beneficiárias das políticas públicas, e qual a
interferência que as políticas públicas causam na vida social destas mulheres. Neste
sentido optou-se por fazer um recorte temporal à pesquisa, partindo do ano da
promulgação da constituição brasileira de 1988 até o ano de 2013. Assim foi proposto a
construção coletiva de uma Cartografia Social2, com o objetivo de dar voz e visibilidade
às mulheres pescadoras da comunidade de Bom Jesus dos Pobres, bem como a
construção de um Resumo de Políticas3 que registrou os resultados da pesquisa,
reunindo informações sobre as políticas públicas que beneficiam as mulheres de Bom
Jesus dos Pobres. Estes documentos são apresentados como Trabalhos de Conclusão de
Curso, na modalidade de produções técnicas acompanhados de relatório descritivo de
todas as etapas do processo.

2
Produção de mapas numa base cartográfica que retrata o cotidiano da comunidade e suas referências
(UFPA, s.d.).
3
Abordagem de um conteúdo sobre as políticas públicas que as mulheres de bom Jesus dos Pobres podem
ter acesso e serem beneficiadas direta ou indiretamente. Um Resumo de Políticas é um breve apanhado
sobre uma questão em particular, assim como apresenta alternativas políticas para lidar com essa questão,
além de oferecer algumas recomendações (BRICS Policy Center, 2014).
20

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A partir das Revoluções Americana (1776) e Francesa (1789) o poder político e


a construção do Direito Público passavam a ser consideradas ciências e as constituições
desta época fizeram parte da instituição do Direito Público, instituindo o Estado de
Direito em que o Estado realizou suas atividades respeitando as normas jurídicas e
acabava com o Estado-Polícia, tais normas previnem também sistema de fiscalização de
Administração Pública (HEILBORN; ARAUJO; BARRETO, 2010).
Durante 164 anos o Brasil promulgou seis constituições (1824 a 1988), que
refletem o contexto econômico, social e político de cada momento. Na década de 1950 o
setor pesqueiro entra na agenda do governo brasileiro, seguindo a ideologia
desenvolvimentista a qual o país estava vivendo.
A partir da redemocratização no Brasil, ocorrida com a promulgação da
constituição de 1988, os movimentos de mulheres, movimentos feministas, e
movimento negro entre outros movimentos sociais, passaram a exigir a implementação
de políticas públicas que combatessem o preconceito de gênero e raça. A resposta do
governo começou a ser dada com a criação das primeiras delegacias da mulher e a
instituição dos Conselhos de Direitos da Mulher, fortalecendo a luta contra a violência
doméstica e as desigualdades de gênero, processo que auxiliou no combate à
intolerância religiosa.

Nos anos 60, os norte-americanos viviam um momento de reivindicações


democráticas internas, expressas principalmente no movimento pelos direitos
civis, cuja bandeira central era a extensão da igualdade de oportunidades a
todos. No período, começam a ser eliminadas as leis segregacionistas
vigentes no país, e o movimento negro surge como uma das principais forças
atuantes, com lideranças de projeção nacional, apoiado por liberais e
progressistas brancos, unidos numa ampla defesa de direitos. É nesse
contexto que se desenvolve a ideia de uma ação afirmativa, exigindo que o
Estado, para além de garantir leis anti-segregacionistas, viesse também a
assumir uma postura ativa para a melhoria das condições da população negra
(MOEHLECKE, 2002).

A pesca artesanal, atividade que os povos que habitam as regiões costeiras e as


águas interiores mantêm tradicionalmente, permaneceu marginalizada politicamente até
meados da década de 1980, período em que o Sistema Nacional de Crédito Rural, criado
em 1965, passa a atender também o pescador artesanal.
21

Em 22 de fevereiro de 1989, a Lei nº 7.735 é promulgada, criando o Instituto


Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA,
integrando a gestão ambiental. Desde sua criação os temas ambientais vêm alcançando
novos espaços no Brasil e no mundo. No contexto do processo de gestão do uso
sustentável dos recursos pesqueiros, cabe ao IBAMA à execução das algumas ações no
âmbito das suas competências institucionais como, por exemplo, examinar e propor
normas, critérios e padrões para a gestão compartilhada do uso sustentável dos recursos
pesqueiros.
Na década de 1990, incentivos financeiros com o surgimento do Programa
Nacional da Agricultura Familiar - PRONAF e algumas políticas públicas estaduais
para os pescadores artesanais do Rio Grande do Sul como, por exemplo, o Fundo de
Amparo ao Pequeno Estabelecimento Rural – FEAPER, aliados à extensão do Seguro-
Desemprego ao pescador artesanal, pela Lei nº 8.287 de 20 de dezembro de 1991,
incluem o pescador artesanal na agenda de políticas públicas do governo, garantindo o
direito ao benefício de um salário mínimo mensal durante o período em que a pesca fica
proibida, devido ao período reprodutivo e recrutamento das espécies pesqueiras.
Para se concretizar o ideal de igualdade de acesso a bens fundamentais como a
educação, os EUA criam as ações afirmativas na década de 1970, sendo que no Brasil
esta discussão teve início na década de 1990, através da luta do movimento negro e das
mulheres contra a discriminação. As ações afirmativas, que possuem caráter temporário
e que podem partir do poder público ou privado sofrem reações contrárias da classe
social dominante, assim para que os direitos sejam garantidos depende da reivindicação
social e sensibilização do poder executivo na elaboração e implementação de políticas
públicas que auxiliem na promoção de cidadania. Além de exigir governos
comprometidos com o avanço da sociedade, a construção do Estado Democrático de
Direito requer uma política de inclusão, uma atuação pública eficiente e a tradução desta
através das políticas públicas que garantam a promoção da cidadania, principalmente
quando essas políticas são construídas juntamente com a sociedade civil organizada.
Esta construção deve ocorrer de forma que o governo implemente as políticas para
concretizar os objetivos e direitos concedidos na constituição como instrumento de
execução de programas políticos, que podem se transformar em uma política de Estado
que se configura numa política permanente na forma de lei independentemente do
22

governo eleito. Esta possibilidade nos mostra a necessidade de incorporação de aspectos


técnico-administrativos e respaldos jurídicos.
No início da década de 2000, a criação de espaços como as Conferências
Nacionais de Aquicultura e Pesca traz para o foco a questão social dos pescadores
artesanais (HELLEBRANDT, 2012).
A criação, em 2003, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência
da Republica – SPM-PR, o primeiro órgão para as mulheres, se fortalece ainda mais a
luta pela igualdade plena dos direitos das mulheres. A SPM iniciou os trabalhos em
2003 e com oito anos de atuação foram realizadas articulações com os Ministérios: da
Justiça, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, da Saúde, além do Poder
Judiciário, Legislativo e apoio das Defensorias Públicas e do Ministério Público para a
criação de Núcleos Especializados no atendimento às mulheres vítimas de violência.
Também houve a promulgação da Lei Maria da Penha em 2006, trazendo mecanismos
para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher (SILVA, 2012).
A luta do movimento feminino possibilitou a conquista do direito da terra que
antes era apenas do homem enquanto chefe de família, assim como direito ao crédito,
em especial o PRONAF Mulher (HEILBORN; ARAUJO; BARRETO, 2010). No
campo da educação foi criado o Projeto Gênero e Diversidade na Escola em parceria
com a Secretaria de Educação, o curso Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça,
Programa Mulher e Ciência, e o Curso de Formação Política para espaços de poder e
decisão (SILVA, 2012).
Paralela às discussões e ações de políticas de gênero no Brasil, surgem às
políticas de combate ao racismo a partir da Constituição de 1988 e da definição de
políticas afirmativas na década de 1990, marcado pela Marcha do tricentenário da morte
de Zumbi dos Palmares com mais de 30 mil pessoas, assim como pelo Programa
Nacional de Direitos Humanos - PNDH I, entre outros espaços de discussão e
construção de um conhecimento e defesa dos direitos a igualdade efetiva de mulheres,
negras e negros, em busca de uma secularização nas atitudes em geral e na construção
de políticas públicas.
A partir destas lutas, outros espaços estruturantes para fomento e implementação
das políticas públicas foram conquistados pelas mulheres, espaços voltados para o
desenvolvimento econômico e sustentável como, por exemplo, a Secretaria Especial de
Aquicultura e Pesca – SEAP/PR, constituída em 2003 com a intenção de desenvolver de
23

forma sustentável o setor pesqueiro, contribuindo para melhoria da renda, segurança


alimentar, diversidade e produção de alimentos, valorização do conhecimento, incentivo
para construção e consolidação de formas associativas (LIMA, 2008).
Em 2007 é criado o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICM-Bio) e o ordenamento pesqueiro aparece como pauta. Em 2008, políticas públicas
são lançadas através do Plano Mais Pesca e Aquicultura, com o objetivo de fortalecer a
cadeia produtiva (HELLEBRANDT, 2012).
Borghetti (2000), estima que estejam envolvidos na pesca artesanal
aproximadamente 700.000 pescadores, reunidos em 400 colônias distribuídos entre 23
Federações Estaduais. Desses pescadores, 21% atuam na Região Norte; 39% na Região
Nordeste; 18% na Região Sudeste e 22% na Região Sul. O Ministério da Pesca – MPA
estima que a cada 200 brasileiros um é pescador artesanal, abrangendo homens e
mulheres, sendo aproximadamente 954.000 pessoas que se declaram pescadoras (es).
Pertencentes ao que pode ser definido como “comunidades tradicionais”4, em
situação de isolamento geográfico, e com divisões sexuais do trabalho bastante
definidas. Além da divisão sexual do trabalho, onde o serviço doméstico apresenta-se
como determinante e exclusivo exercício feminino, elas ainda habitam um lugar no
trabalho da pesca bastante diferenciado do papel dos homens, pois geralmente são as
mulheres que mariscam, catam o marisco, catam o siri, vendem na praia pratos típicos
da região como, por exemplo, sardinha frita e moquecas de mariscos preparados pelas
próprias mulheres nas suas residências.

2.1 Conhecimentos Tradicionais das Pescadoras e Etnobiologia

Uma das abordagens científicas para estudar a relação do ser humano com a
natureza é a etnobiologia5, que é uma ciência interdisciplinar derivada da antropologia
cognitiva e de áreas das ciências biológicas, como a ecologia (BEGOSSI, 1993). O
4
O Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007.o Art. 3º, inciso I, define que: “povos e comunidades
tradicionais são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas
próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua
reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e
práticas gerados e transmitidos pela tradição” como, por exemplo, os indígenas, as comunidades
extrativistas, de pescadores, remanescentes de quilombos, etc. (Brasil, 2007b).
5
Ramo da Biologia que trata da relação entre sociedades humanas, comumente primitivas, e as plantas e
animais do seu ambiente.
24

estudo etnobiológico investiga, analisa e sistematiza o rico e detalhado conhecimento


das populações, apresentando resultados que acrescentam na construção do saber, em
que os peixes compõem um grupo animal de grande diversidade biológica e importante
recurso alimentar (BEGOSSI, 2002).
Os países de grande biodiversidade, como o Brasil ou outros países tropicais,
apresentam diversificadas características físicas, climáticas e biológicas que abrigam
variadas formas de vida e ecossistemas. Através de estudos ecológicos junto às
comunidades, são abordadas estratégias que tratam da importância da preservação da
biodiversidade, a importância dos estudos etnobiológicos, da conservação e do
desenvolvimento sustentável para as gerações presentes e futuras. Os estudos sobre a
interação das comunidades e o ambiente levam em conta dois principais componentes
inter-relacionados e interdependentes: as situações concretas de vida da comunidade
estudada, atentando para a cultura local, e a utilização sustentável dos recursos naturais.
Segundo Ribeiro (2004), é impossível planejar e ordenar um território
desconhecendo a dinâmica das comunidades tradicionais. Várias experiências de
elaboração de planos de ordenamento territorial não têm produzido os benefícios sociais
esperados, e muitos autores atribuem este insucesso ao caráter puramente tecnicista
destes planos. Para Diegues (2000), os modelos comumente usados atribuem aos
cientistas naturais a prerrogativa de elaborar os planos e propostas, sem considerar a
participação das comunidades. Para Soares et al. (2004), os novos modelos
metodológicos de planejamento e gestão territorial devem aliar conhecimentos
científicos, tecnológicos, artísticos e culturais com uma nova consciência de valores, de
respeito aos seres humanos e aos recursos naturais. No mapeamento participativo, ou
cartografia social, ferramenta de gestão de políticas, se insere o conhecimento, espacial
e ambiental de populações locais em modelos convencionais de representação
(HERLIHY; KNAPP, 2003, apud ACSELRAD; COLI, 2008), atrelado ao
conhecimento cultural e do conhecimento científico. Com a participação popular a
cartografia aperfeiçoa os meios de produção do espaço social, gerando mapas que
servem a finalidades de identificação e gestão de recursos naturais (ACSELRAD,
2010).
25

3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Analisar as políticas públicas que beneficiam as pescadoras e marisqueiras do distrito de


Bom Jesus dos Pobres/Saubara – BA, entre os anos de 1988 a 2013, buscando fortalecer
a luta pela igualdade de gênero na atividade pesqueira.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Identificar as mudanças na atividade sociocultural das pescadoras/marisqueiras


quanto à rotina de mariscagem, a influência das marés e os afazeres domésticos, durante
o período de 1988 a 2013;

 Verificar se as mulheres da comunidade conhecem e se são beneficiárias das


políticas públicas;

 Verificar qual a interferência que as políticas públicas causam na vida social


destas mulheres;

 Mediar à construção de uma cartografia e um Policy Brief (Resumo de Políticas)


que reunirá as informações sobre as políticas públicas que beneficiam as mulheres do
distrito de Bom Jesus dos Pobres/Saubara – BA.
26

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa pode ser definida como uma atividade voltada para a solução de
problemas e para suprir a necessidade do homem em conhecimento, empregando
processos científicos (CERVO; BERVIAN, 1977; GIL, 1999). A abordagem da
pesquisa, aqui descrita, será baseada nas características das pesquisas qualitativas e
quantitativas, abordagens complementares (DESLAURIERS, 1991, p. 58 apud
GERHARDT; SILVEIRA, 2008, p. 32).
Na pesquisa qualitativa, a observação é participante, sem a preocupação com
representatividade numérica, mas com o aprofundamento da compreensão de um grupo
social através da participação na vida cotidiana do grupo ou da organização que estuda
para descobrir as interpretações sobre as situações que observou. Já na pesquisa
quantitativa os pesquisadores buscam exprimir as relações de dependência funcional
entre variáveis (GOLDENBERG, 1999).
Esta pesquisa se dividiu em três etapas: 1) coleta de dados secundários na
realização de uma pesquisa documental; 2) realização de entrevistas, e 3) oficinas de
cartografia social. Dados estatísticos e legislações foram as principais informações da
pesquisa documental e foram encontradas nas seguintes fontes: Diário Oficial do
Município de Saubara; Núcleo de Atenção à Mulher – NAM; Sistema IBGE de
Recuperação Automática – SIDRA; Diário Oficial da República Federativa do Brasil;
Ministério do Desenvolvimento Social – MDS; Ministério da Pesca e Aquicultura;
Controladoria Geral da União e Senado Federal.
Foram utilizadas entrevistas semiestruturadas, procedimento este relacionado à
análise qualitativa, tendo como informantes 36 mulheres do distrito de Bom Jesus dos
Pobres, maiores de 18 anos, vinculadas a Associações de pescadoras e marisqueiras,
Sindicato e/ou Colônia de Pescadores de Saubara, para auxiliar na composição do perfil
sociodemográfico e político destas, assim como identificar as mudanças nas atividades
ligadas a pesca e mariscagem, conhecimento e benefício das políticas públicas. Para
realização das entrevistas foi utilizado um roteiro (Apêndice A) para cada entrevistada,
sendo a posse de determinadas informações apenas do pesquisador responsável.
Informações estas que possam identificar as entrevistadas como, por exemplo, os
27

endereços e telefones, registros que têm a finalidade de possibilitar a realização de


contatos futuros, outras investigações relacionadas com a atual pesquisa, sendo mantido
total sigilo sobre tais informações. Outro roteiro de entrevista semiestruturada
(Apêndice B) foi utilizado pala coleta de informações referente às políticas públicas,
junto aos órgãos vinculados a Prefeitura Municipal de Saubara, com a participação de
oito gestores municipais. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa – CEP/UEFS, sob CAAE: 15920813.4.0000.0053.
Um mapeamento participativo6 foi realizado durante oito oficinas seguindo
metodologia descrita por SZTUTMAN (2006), propondo auxiliar na construção coletiva
de etnomapas com o objetivo de substituir as anotações tradicionais, como se fossem
árvores com muitos galhos, usando associações, com símbolos, com ícones, com cores e
com desenhos. Com o objetivo de estimular a criatividade, as participantes foram
convidadas a construírem um etnomapa do distrito de Bom Jesus dos Pobres e dos
locais onde são realizadas as atividades de pesca e mariscagem, utilizando papel em
branco e materiais de desenho.
Um etnomapa, produzido em 2009 pelas mesmas participantes das oficinas,
durante uma atividade de um projeto da Incubadora de Empreendimentos Solidários da
UFRB – Incuba/UFRB realizada na AMAPEB, foi utilizado para abertura da primeira
oficina, estimulando a memória de cada pescadora presente. Houve a necessidade de
ampla discussão sobre “mapas”, e de suas potencialidades. A discussão foi conduzida e
estimulada através de perguntas direcionadas às pescadoras, favorecendo a participação
e a construção de um patamar comum a todas.
Após a discussão sobre os mapas de maneira geral, foi abordada, de forma direta
pelo pesquisador a proposta do etnomapeamento da comunidade, com o auxílio de
alguns questionamentos: como seria um mapa desta comunidade? Que tipo de
informações esse mapa poderia ter? Quais seriam seus objetivos? Quem poderia se
beneficiar deste mapa? A discussão em torno destas perguntas guiaram os processos e
informações e construção dos mapas ao longo do etnomapeamento.
Após construção dos etnomapas, uma imagem de satélite da região foi
apresentada às participantes. As participantes foram induzidas a observarem a imagem
utilizando informações prioritárias preestabelecidas, permitindo o foco na construção do
etnomapa, garantindo que nenhuma informação prioritária fosse esquecida.

6
Construção coletiva de mapa desenhados.
28

Informações necessárias para construção do etnomapa:


Informações históricas e culturais dos informantes:
 Rotas de pesca e mariscagem
 Localização de lugares ligados a mitos e histórias;
 Nomes de rios, localidades etc;
 Estradas e principais caminhos;
 Caracterização do entorno;
Informações de recursos vegetais:
 Tipos de vegetação
 Áreas de extração de diferentes espécies, (alta, média, baixa);
 Áreas degradadas;
Informações de recursos da fauna:
 Áreas utilizadas para caça e pesca, e sua intensidade (alta, média, baixa).

Após definida estas camadas de informações, o próximo passo foi a definição


dos símbolos utilizados em suas representações, aprimorando os símbolos criados nos
etnomapas, criando-se um sistema padrão. Definidas as informações prioritárias e as
convenções a serem utilizadas, foi realizada discussão e coleta sistemática de
informações a partir da leitura e interpretação da imagem de satélite previamente
georreferenciada. A imagem de satélite foi colocada sobre folha de papel vegetal para
extração das principais informações e construções de um EtnoSIG7. As ferramentas
disponibilizadas pelos EtnoSIGs vem sendo empregadas mundialmente em diferentes
regiões, na preservação cultural, mediação de conflitos, manejo e gestão dos recursos
naturais, e desenvolvimento econômico em áreas habitadas por comunidades
tradicionais (ESRI/Intertribal GIS Council, 2001 apud PAESE et al., 2012, p.108). A
etapa final do etnomapeamento culminou na inserção das informações dentro de um
EtnoSIG, através do ArcGIS, software para Sistemas de Informações Geográficas –
SIG.
Os etnomapas produzidos serviram como fontes de informações para serem
utilizadas durante a fase em que as imagens de satélite foram interpretadas pelas
participantes da oficina.

7
Sistema Etnográfico de Informações Geográficas – EtnoSIG, ferramenta importante na análise
socioambiental, a partir de dados etnográficos e técnicos.
29

Se os agentes externos possuem planos e mapas, as comunidades também


possuem os seus. Além disso, os etnomapas possuem um papel interessante nos casos
em que existem grandes obras de infraestrutura que afetam seus territórios, pois as
comunidades passam a ter suas ferramentas próprias de indicar o tamanho e a extensão
dos impactos socioambientais. Também foram analisados a forma de representação dos
mitos, suas lendas, fatos históricos, e como os etnomapas retratam a cultura da
comunidade em estudo, seu modo de vida e as relações sociais, econômicas e políticas,
favorecendo o envolvimento das líderes comunitárias, jovens e anciães, as quais
participaram ativamente nas decisões sobre os locais a serem mapeados, o conteúdo
destes mapas e a estrutura de organização das informações mapeadas.
O processo de escolha dos representantes responsáveis por colher, organizar e
acomodar as informações que nutriram o etnomapa foi realizado levando-se em conta
critérios tais como conhecimento da região a ser trabalhada e da cultura local. Todas as
etapas do processo foram discutidas e enriquecidas com contribuições das marisqueiras
e pescadoras como fatos históricos, lendas, referências geográficas e curiosidades,
possibilitando ainda a solução para problemas gerais e isolados.
Com objetivo de contribuir no processo de autoidentificação da comunidade
pesqueira de Bom Jesus dos Pobres, legitimando a presença das pescadoras, com vistas
à preservação e promoção do patrimônio cultural dessas comunidade, destacando o
olhar das pescadoras sob as políticas públicas, foi construída uma cartografia social8
com as fotografias, depoimentos, informações coletadas em campo e escolhidas pelas
pescadoras e marisqueiras. O padrão adotado foi o formato A1, apresentando oito
dobras, sendo duas páginas destinadas à capa e contracapa, uma à folha de rosto e à
ficha catalográfica, cinco destinam às informações sistematizadas nas oficinas, aos
depoimentos dos entrevistados e às fotografias das oficinas de etnomapeamento e da
paisagem do território comunitário, e no verso o EtnoSIG construídos pelas pescadoras.
Para registro das informações sobre as políticas públicas que beneficiam as
mulheres da comunidade, foi construído um Resumo de Políticas, um breve apanhado
sobre uma questão em particular, assim como apresentar alternativas políticas para lidar

8
A cartografia social é um enfoque metodológico baseado na análise textual e na representação de
fenômenos sociais através de mapas que reinscrevem e estruturam uma multiplicidade de perspectivas.
Paulston define a cartografia social como “a arte e a ciência de mapear formas de ver” (PAULSTON,
1996, p.15), com o uma forma de ilustrar “a profusão de narrativas” que compõem o meio social
(PAULSTON, 1996, p.18).
30

com essa questão, além de oferecer algumas recomendações (BRICS Policy Center,
2014). Resumo de Políticas é destinado aos formuladores de políticas governamentais e
outros atores interessados na formulação ou em influenciar tais políticas. O Resumo de
Políticas construído de forma coletiva com as mulheres marisqueiras e pescadoras
participantes das oficinas de etnomapeamento reúne informações sobre a existência de
políticas públicas voltadas para o gênero feminino e que beneficiam as pescadoras da
comunidade, assim como também reúne informações sobre as necessidades sociais e
políticas citadas pelas participantes da pesquisa e será uma ferramenta que a
comunidade poderá utilizar juntamente com o poder público para melhor gestão das
políticas públicas existentes e/ou futuras.
Durante toda a execução do projeto, o diálogo com a comunidade ocorreu de
forma participativa. Fotos, gravações de áudio e vídeo das participantes da pesquisa
produzidas durante as entrevistas e atividades de construção da Cartografia Social e do
Resumo de Políticas foram feitas mediante a autorização de uso de imagem. A
exposição de tais registros foi feita de forma a não identificar as participantes das
entrevistas, compromisso entre entrevistadas e pesquisador, firmado antes da execução
das entrevistas. Os dados obtidos durante o trabalho de campo foram apresentados para
as mulheres da comunidade, na forma de dois momentos de debate, de forma que os
resultados pudessem ser padronizados a partir de discussões em grupos e avaliações
para sanar dúvidas quanto à localização dos dados.
O retorno dos resultados da pesquisa foi sintetizado em dois instrumentos de
gestão de políticas públicas: O Resumo de Políticas e a Cartografia Social. Ambos serão
entregues as representações da comunidade que participaram da pesquisa: Associação
de Marisqueiras e Pescadores de Bom Jesus dos Pobres - AMAPEB, Colônia de
Pescadores e Aquicultores z-16 de Saubara, Sindicato dos Trabalhadores, Trabalhadoras
Rurais e Marisqueiras de Saubara – STTRM, Associação de Marisqueiras de Saubara –
AMS e Associação de Pescadores e Pescadoras de Saubara - APPS, assim como as
representações da Prefeitura Municipal de Saubara. Não serão expostos nomes de
pessoas e entidades que não participaram da pesquisa ou que não autorizaram a referida
citação, como estabelecido junto ao CEP/UEFS.
31

5. BOM JESUS DOS POBRES

Após percorrer 8 km do município de Saubara encontra-se o distrito de Bom


Jesus dos Pobres, local que mantem viva a cultura da pesca, a coleta de organismos
aquáticos realizada pelos nativos. Um ambiente de Mata Atlântica natural, rico em
biodiversidade, rios, manguezais, praias e falésias. Ao entrar em Bom Jesus dos Pobres
atravessa-se uma ponte sustentada pela terra, pelo mangue que se faz vivo em meio ao
rio que o corta (Figura 1).

Figura 1 – Praia de Bom Jesus dos Pobres, Saubara – BA

Fonte: Pesquisa de campo (2015).

Ao partir sobre os paralelepípedos em direção à praça é possível visualizar as


ladeiras, bordadas pelas casas, que rasgam a cidade em direção contrária à maré.
As ruas de Bom Jesus abrigam uma diversidade cultural, expressa na
religiosidade e nas manifestações culturais existentes ou em memória (Figura 2).
32

Figura 2 – Ladeira da Rua Nova, Bom Jesus dos Pobres, Saubara – BA

Fonte: Pesquisa de campo (2015).

As igrejas evangélicas, a igreja católica, os terreiros de candomblé e umbanda


estampam as ruas com a fé dos seus seguidores. Assim a Barquinha (Figura 3), uma das
manifestações mais populares, que ocorre no primeiro dia do mês de janeiro de cada
ano, ou em momentos festivos, contagia a comunidade e a quem à visita.
Chegando à praça se podem trilhar caminhos distintos em direção à praia de
Bom Jesus, à cascata no caminho da fonte, à associação de marisqueiras, a estrada de
barro que leva à praia do Araripe. Em direção à praia do Araripe, ao passar por duas
pousadas a beira mar, encontra-se a bica, local frequentado por turistas e moradores do
local.
33

Figura 3 – Apresentação da Barquinha, Praia de Bom Jesus dos


Pobres

Fonte: (ARAUJO, 2010).

Chegando ao Araripe, a parte mais cercada de vilarejos de veraneio, depara-se


com o local preferido para realizar atividades de pesca, por estar próximo à foz do rio
Paraguaçu, com muitos manguezais e pouco acessado por turistas.
As mulheres surgem colorindo o local, realizando atividades de pesca, mantendo
no olhar o brilho do trabalho cumprido ao chegar a suas casas, carregando muitas vezes
o balde com o alimento do dia (siri mole, a ostra, o bebe-fumo e outros pescados que
conseguiu capturar), continuam o trabalho ao cozinhar, catar (Figura 4) e ensacar para
comercialização em casa ou nas peixarias.
34

Figura 4 – Marisqueira catando siri em Bom Jesus dos Pobres

Fonte: Pesquisa de campo (2015).

Muitas vezes durante o verão esse pescado é preparado e vendido nas praias
pelas pescadoras que recebem o nome de muquequeira, que com o auxílio do dendê,
leite de coco e outros temperos, agregam valor ao pescado. A conquista da mulher no
ambiente da pesca se concretiza, ganhado visibilidade, a tradição é passada de mãe para
filha, a luta pela igualdade é vivenciada e a história construída. Assim é a rotina das
pescadoras do distrito de Bom Jesus dos Pobres, município de Saubara – BA.
35

6. ATIVIDADES REALIZADAS

6.1 CONTATOS COM LIDERANÇAS POLÍTICAS DE SAUBARA

Durante a pesquisa de campo, foram realizadas visitas em instituições sociais e a


órgãos ligados a Prefeitura Municipal de Saubara para apresentação dos objetivos do
projeto de mestrado e realização da pesquisa documental (Quadro 1). As visitas foram
realizadas na Secretaria Municipal de Pesca e Aquicultura, Secretaria Municipal de
Turismo e Meio Ambiente, Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Secretaria
Municipal de Educação, Secretaria Municipal de Administração, e Secretaria Municipal
de Cultura, Esporte e Lazer e no Núcleo de Atenção à Mulher – NAM. Nas
organizações sociais foram visitadas a AMAPEB, Colônia z-16, STTRM, AMS e
APPS.
36

Quadro 1 – Instituições visitadas e as respectivas datas.


Instituições Número de Data das visitas
visitas
Sindicato dos Trabalhadores, 04
5 e 7 de maio, 1 de agosto, 12
Trabalhadoras Rurais e Marisqueiras de
de dezembro de 2014
Saubara- STTRMS
Associação de Marisqueiras de Saubara – 03 5 e 7 de maio e 01 de agosto
MAS de 2014
Colônia z-16 04 5, 6 e 7 de maio e 1 de agosto
de 2014
Associação de Marisqueiras e Pescadores 06 5, 6 e 7 de maio, 24 de abril, 1
de Bom Jesus dos Pobres - AMAPEB de agosto e 12 de dezembro
de 2014
Secretaria Municipal de Pesca e 01
5 de maio de 2014
Aquicultura e Agricultura
Secretaria Municipal de Turismo e Meio 01
6 de maio de 2014
Ambiente
Secretaria Municipal de Desenvolvimento 03 6 de maio, 6 de novembro e
Social 12 de dezembro de 2014
Secretaria Municipal de Educação 02 7 de maio de 2014 e 10 de
fevereiro de 2015
Núcleo de Atenção à Mulher - NAM 03 8 de maio de 2014, 06 de
janeiro e 10 de fevereiro de
2015
Secretaria Municipal de Administração 02 9 de maio de 2014 e 10 de
fevereiro de 2015
Secretaria Municipal de Cultura, Esporte 02 1 de agosto de 2014 e 5 de
e Lazer fevereiro de 2015
Secretaria de Promoção da Igualdade 01
5 de fevereiro de 2015
Racial
Gabinete da Prefeitura Municipal de 01
1 de agosto de 2014
Saubara
Associação de Pescadores e Pescadoras de 02 1 de agosto, 12 de dezembro
Saubara – APPS de 2014
Posto Médico de Bom Jesus dos Pobres 03 9 de janeiro, 13 de janeiro e
23 de fevereiro de 2015
Secretaria Municipal de Saúde 01 6 de fevereiro de 2015
Associação de Mulheres em Ação de 01
5 de fevereiro de 2015
Saubara
Conselho Tutelar de Saubara 02 10 de fevereiro de 2015
Fonte: Registros de atividades de campo (2014 – 2015).
37

6.2 APRESENTAÇÃO DO PROJETO NA COMUNIDADE

Primeiramente foi realizado um contato com a presidente da Associação de


Marisqueiras e Pescadores de Bom Jesus dos Pobres- AMAPEB, instituição social de
representação da maioria das pescadoras que fica localizada no distrito de Bom Jesus
dos Pobres, para agendar a apresentação do projeto de mestrado para o dia 27 de março
de 2014, reunião que foi remarcada para o dia 02 de abril de 2014 devido a realização
de uma reunião no Ministério da Pesca e Aquicultura, na qual a presidente da AMAPEB
e demais representantes da sociedade civil deveriam estar presentes. Sendo assim, a
reunião ocorreu no dia 02 de abril, na Escola Municipal Prof.ª Zilmar Garcia Ferreira,
com a participação de 80 mulheres, marisqueiras e pescadoras da comunidade,
associadas à AMAPEB (Figura 5).

Figura 5 – Apresentação do projeto de pesquisa de mestrado no


distrito de Bom Jesus dos Pobres, 2014

Fonte: Associação de Marisqueiras e Pescadores de Bom Jesus dos


Pobres (2014).

Como as demais organizações sociais e os órgãos da Prefeitura Municipal de


Saubara, convidados através de carta impressa e correio eletrônico, não estiveram
presentes no dia da apresentação do projeto, foi agendada outra reunião para o dia 24 de
abril de 2014, com o intuito de apresentar novamente o projeto e de iniciar uma roda de
diálogo sobre as políticas públicas que beneficiam de forma direta e indireta as
marisqueiras e pescadoras do distrito.
38

Devido ao cadastramento da Declaração de Aptidão ao PRONAF - DAP


realizado pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S. A. - EBDA e da
reunião sobre ampliação do Sistema de Abastecimento de Água pela Empresa Baiana de
Água e Saneamento S. A. - EMBASA, que ocorreram no dia 24 de abril, no mesmo dia
e horário da apresentação do projeto de mestrado, e percebendo a importância destes
dois eventos para comunidade houve uma mudança da data da apresentação do projeto
para o dia 8 de maio de 2014, na sede provisória da AMAPEB. No dia 8 de maio
estavam presentes apenas representantes da AMAPEB e do Sindicato, assim como
algumas marisqueiras associadas às duas organizações, e na oportunidade foi feita uma
roda de conversa sobre o projeto de pesquisa. A apresentação do projeto foi também
realizada nas visitas ocorridas no dia 1º de agosto de 2014 ao Gabinete da Prefeitura
Municipal de Saubara, à Colônia de Pescadores e Aquicultores z-16 e à Associação de
Pescadores e Pescadoras de Saubara – APPS.
39

6.3 PESQUISA DOCUMENTAL

Foram reunidos documentos de cunho público: relatórios, leis, decretos,


portarias, resolução e outros como fontes estatísticas: tabelas e ortofoto - imagem de
satélite (Quadro 2).

Quadro 2 – Lista de documentos resultante da pesquisa documental


Fonte Documento
Tabela 202 - População residente por sexo e situação do domicílio
Sistema IBGE de
Recuperação Tabela 1378 - População residente, por situação do domicílio, sexo e idade,
Automática – SIDRA segundo a condição no domicílio e compartilhamento da responsabilidade pelo
domicílio.
Núcleo de Atenção à Relatório Técnico Administrativo de 2013.
Mulher
Relatório de Programas e Ações, e Relatório de Informações do Programa Bolsa
Família e Cadastro Único.
Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia – CONDER:
Ministério do Ortofoto Landsat (2010), distrito de Bom Jesus dos Pobres, Saubara - BA, na
Desenvolvimento escala 1:10.000.
Social - MDS Ministério da Saúde, Coordenação Geral de Desenvolvimento de Recursos
Humanos para o SUS/ SPS/MS. Coordenação de Atenção Básica/SAS/MS:
Diretrizes para elaboração de programas de qualificação e requalificação dos
Agentes Comunitários de Saúde, 1999.
Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura. – 2011.

Ministério da Pesca e
Aquicultura
Boletim do Registro Geral da Atividade Pesqueira – 2012.

Senado Federal Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.

Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a


promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento
dos serviços correspondentes e dá outras providências.
Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS. Lei 8.742 de 7 de dezembro de
Diário Oficial da
1993.
República Federativa
Lei nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996. Que regula o § 7º do art. 226 da
do Brasil
Constituição Federal, que trata do planejamento familiar, estabelece penalidades
e dá outras providências.
Lei no 10.438, de 26 de abril de 2002. Dispõe da criação da Tarifa Social de
Energia Elétrica.
Fonte Documento
40

Lei No 10.779, de 25 de novembro de 2003. Regulamenta o Seguro-Desemprego


ao pescador artesanal durante o período do defeso.
Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004. Unifica os procedimentos de gestão e
execução das ações de transferência de renda do Governo Federal.
Diário Oficial da Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005. Institui o Programa Universidade para
República Federativa Todos - PROUNI.
do Brasil Lei n° 11.326, de 24 de julho de 2006. Estabelece as Diretrizes para a
Formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos
Familiares Rurais.
Lei Maria da Penha. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Dispõe sobre
mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.
Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007. Dispões sobre a implementação do
Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União Federal, em
regime de colaboração com Municípios.
Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. Dispões sobre a Política Nacional de
Desenvolvimento Sustentável dos povos e Comunidades Tradicionais.
Portaria Interministerial nº 17, de 25 abril de 2007. Dispõe sobre o Programa
Mais Educação.
Portaria nº 2.583, de 10 de outubro de 2007. Dispõe sobre o elenco de
medicamentos e insumos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde.
LEI nº 11.947, de 16 de junho de 2009. Dispõe sobre o atendimento da
alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da
educação básica.
Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009. Dispõe sobre a Política Nacional de
Diário Oficial da
Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca.
República Federativa
Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009. Dispõe sobre o Programa Minha Casa,
do Brasil
Minha Vida.
Portaria Nº 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único
de Saúde – SUS, a Rede Cegonha.
Lei nº 12.513, de 26 de outubro de 2011. Institui o Programa Nacional de Acesso
ao Ensino Técnico e Emprego – PRONATEC.
Lei nº 12.732, de 22 de novembro de 2012. Dispõe sobre o primeiro tratamento
de paciente com neoplasia maligna comprovada e estabelece prazo para seu
início.
Resolução nº 01, de 21 de fevereiro de 2013. Reordena o Programa de Serviço de
Convivência e Fortalecimento de Vinculo - SCFV.
Lei nº 12.871, de 22 de outubro de 2013. Institui o Programa Mais Médicos,
altera as Leis no 8.745, de 9 de dezembro de 1993, e no 6.932, de 7 de julho de
1981, e dá outras providências.
Controladoria Geral Transparência de Recurso por Ação do Governo, 2014.
da União
SAUBARA. Lei nº10/2013 em 10 de julho de 2013. Dispõe sobre a criação do
Diário Oficial do Programa de Integração Social e Complementação de Renda de Saubara – PISS.
Município de Saubara

Fonte: Pesquisa documental, 2014.


41

6.4 REALIZAÇÃO DE ENTREVISTAS

As entrevistas ocorreram entre 15 de abril e 15 de maio de 2014, a maioria delas


realizadas nas casas das marisqueiras e pescadoras, que durante a tarde catam o siri
(Callinectes sp) sentadas em frente a casa em que moram, nas varandas e passeios das
ruas. Algumas entrevistas foram realizadas na sede provisória da AMAPEB durante
uma visita. As entrevistadas foram abordadas e convidadas a participarem da pesquisa,
sendo que a escolha das entrevistadas foi feita de forma aleatória, obedecendo alguns
critérios: tendo como informantes as mulheres do distrito de Bom Jesus dos Pobres,
maiores de 18 anos, não associadas e associadas às organizações comunitárias ligadas a
atividade pesqueira, para auxiliar na composição do perfil sociodemográfico, político
destas, assim como identificar se existem mudanças culturais nas atividades ligadas a
pesca e mariscagem, conhecimento e benefício das políticas públicas.
Foram realizadas 36 entrevistas semiestruturadas utilizando um roteiro
(Apêndice A). Para cada entrevistada foi apresentado o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido - TCLE que depois de lido e com a anuência da entrevistada foi assinado
em duas vias, uma ficava em posse da informante e outra do pesquisador. Utilizando
outro roteiro (Apêndice B) foram realizadas seis entrevistas com funcionários da
Prefeitura Municipal de Saubara para caracterização das políticas públicas existentes no
município, que beneficiam direta e indiretamente as mulheres do distrito de Bom Jesus
dos Pobres. Não houve a necessidade da utilização do TCLE, pois baseado na Lei nº
12.527/2011, de 18 de novembro de 2011, conhecida como Lei de Acesso à Informação
– LAI (BRASIL, 2011d), é direito, previsto na Constituição, de qualquer pessoa
solicitar e receber dos órgãos e entidades públicos, informações públicas por eles
produzidas ou custodiadas. Contudo a Prefeitura de Saubara assinou um termo
concordando em participar da pesquisa, independe dos resultados obtidos.
42

6.4.1 Caracterização sociodemográfica

Após a sistematização das informações contidas nas entrevistas, verificou-se que


61% das entrevistadas nasceram na comunidade de Bom Jesus dos Pobres, 11% em
Santo Amaro, 11% em Salvador e 17% em outras localidades (Gráfico 1). Segundo o
Censo do IBGE, em 2010 a população em Bom Jesus dos Pobres chegou a quase 2.000
habitantes, sendo que a população feminina é maior que a masculina (Gráfico 2).
Informações sobre o número de pescadoras associadas, coletadas durante a pesquisa de
campo, revelam que existem 698 pescadoras associadas (Tabela 1), sendo possível
afirmar que na pesquisa foram entrevistadas aproximadamente 5% das pescadoras de
Bom Jesus dos Pobres que são associadas a algum tipo de instituição não governamental
ligada à atividade pesqueira.

Gráfico 1 – Locais de nascimento/naturalidade das


entrevistadas
Local de nascimento
3%
3% 3% 3% 3% Bom Jesus dos
2% Pobres
Santo Amaro
11%

61% Salvador
11%

São Francisco do
Iguape
Alagoinhas

Antônio Cardoso

Fonte: Pesquisa de campo (2014).


43

Gráfico 2 – População residente por sexo no ano de 2010, Bom Jesus dos
Pobres, Saubara – BA
População residente, por sexo, no Distrito de Bom
Jesus dos Pobres

2000
População em 2010

1500
Total
1000 Homens Mulheres
1945
500
945 1000
0
Sexo

Fonte: Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA.

Tabela 1 – Relação de associadas (os) por organização social, sexo e origem em Bom
Jesus dos Pobres, 2014
Organizações Mulheres em Homens em Total de Total de Total de
sociais Bom Jesus Bom Jesus homens mulheres mulheres e
associados associadas homens
associados
AMAPEB 348 23 23 417 440
APPS 80 - 300 320 620
AMS 30 18 326 814 1140
Sindicato 110 0 762 730 1492
Colônia 110 103 - - >1000
AEPAB 20 - - - -
Fonte: Pesquisa de campo (2014).

Quando questionadas quanto ao estado civil, 53% das entrevistadas declararam


possuírem uma união estável, 25% declararam ser solteiras, 8% casadas, 8% separadas e
6% viúvas.
Ao total, 64% das entrevistadas consideram possuir a pele negra, 33% pele parda
e apenas 3% pele amarela e nenhuma das entrevistadas se declarou branca (Gráfico 3).
Com relação à posse de documentos pessoais como Certidão de Nascimento, RG, CPF,
Carteira de Pescador e Carteira de Trabalho, 81% possuíam a Carteira de Trabalho, e
todas possuíam os demais documentos.
44

Gráfico 3 – Declaração de raça/cor entrevistadas

Fonte: Pesquisa de campo (2014).

No momento da pesquisa, nenhuma das entrevistadas estava estudando, e se


tratando do nível de instrução, 61% possuíam o ensino fundamental incompleto, 17%
com o ensino médio completo e 14% concluíram apenas o nível de educação infantil
(Gráfico 4).
Apenas duas entrevistadas não possuíam filhos e das 34 que informaram serem
mães, 71% afirmaram que alguns ou todos os filhos estudam e 32% afirmaram que
alguns ou todos os filhos já concluíram o ensino médio e apenas 6% afirmaram que
alguns ou todos os filhos concluíram o ensino superior. A faixa etária dos filhos variou
de 0 a 29 anos (Tabela 2).

Gráfico 4 – Representação do nível escolarização


Nível de escolarização
3%
14% Educação Infantil
17%
5%

Ensino Fundamental
incompleto
61%
Ensino Médio
incompleto

Fonte: Pesquisa de campo (2014).


45

Tabela 2 – Relação dos filhos (as) das entrevistadas agrupados por faixa etária segundo
classificação da situação escolar
Filhos das entrevistadas agrupados por idade Nº de filhos Estudam Não
estudam
2 - 6 anos 4 100% -
7 -11 anos 13 100% -
12 - 17 anos 17 94% 6%
18 - 25 anos 33 45% 55%
25 - 29 anos 25 12% 88%
Fonte: Pesquisa de campo (2014).

A partir da relação do estado civil, raça/cor e nível escolar das entrevistadas agrupadas
por faixa etária (Tabela 3), é possível afirmar que o maior número de mulheres com o
ensino médio completo está na faixa etária de 26 a 35 anos. Na faixa etária de 36 a 45
anos se encontram o maior percentual de mulheres solteiras, 55%, sendo que na faixa
etária de 46 a 59 anos o percentual de mulheres que declararam união estável se destaca
com 58,3%.

Tabela 3 – Relação do estado civil, raça/cor e nível escolar das entrevistadas agrupados por
faixa etária
Idade das Nº de Estado civil Raça/cor Nível escolar
entrevistadas entrevistadas
25% solteira 25% ensino médio incompleto
75% união 25% ensino fundamental
18 - 25 anos 4 100% preta
estável incompleto
50% ensino médio completo
29% solteira 43% preta 71% fundamental incompleto
26 - 35 anos 7 71% união
57% parda 29% ensino médio completo
estável
55% solteira 64% preta 9% educação infantil
36% união
27% parda 55% fundamental incompleto
estável
36 - 45 anos 11 9% viúva 9% amarela 18% ensino médio completo
9% ensino médio incompleto
9% técnico em radiologia
8,3% casada 67% preta 25% educação infantil
58,3% união
33% parda 75% fundamental incompleto
46 - 59 anos 12 estável
25% separadas
8,3% viúva
50% preta 50% fundamental incompleto
≥ 60 2 100% casado
50% parda 50% educação infantil
Fonte: Pesquisa de campo (2014).
46

Quanto à renda familiar das entrevistadas, 61% afirmaram possuir uma renda
familiar menor que um salário mínimo, 33% afirmaram ter renda entre um e dois
salários mínimos e apenas 6% afirmou possuir renda familiar superior a dois salários
mínimos.
Quando questionadas sobre a fonte de renda familiar, 92% relataram que a
atividade pesqueira é um dos principais componentes da renda familiar, 61% citaram o
programa Bolsa Família como componente da renda e 19% citaram o Seguro-
Desemprego correspondente ao defeso do camarão como um dos componentes da renda
familiar (Gráfico 5).

Gráfico 5 – Componentes da renda familiar das pescadoras entrevistadas em


Bom Jesus dos Pobres, Saubara, 2014

Componentes da renda familiar das pescadoras

92
Composição da renda (%)

61
19
11
6
6
3 Pesca e mariscagem
3 Bolsa família
Seguro desemprego (defeso do camarão)
Algum tipo de pensão
PISS
Aposentadoria
Algum tipo de auxílio
Bolsa escola

Fonte: Pesquisa de campo (2014).

Com relação aos principais responsáveis pelo sustento da família, 53% das
mulheres entrevistadas afirmam serem as principais responsáveis pelo sustento das suas
famílias, 25% afirmam que o cônjuge é o principal responsável, 16% a entrevistada e o
cônjuge, uma entrevistada afirma divide a responsabilidade do sustento da família com
o pai, e uma entrevistada relata dividir a responsabilidade com a sogra e o sogro. O
Censo 2010 do IBGE revela que o número de mulheres residentes em Bom Jesus dos
Pobres e que declaram ser responsável pelo domicílio é em maior comparado com o
número de homens que declaram o mesmo, sendo a responsabilidade compartilhada ou
não (Tabela 4).
47

Tabela 4 – População residente, por sexo, segundo compartilhamento da


responsabilidade pelo domicílio, em Bom Jesus dos pobres, 2010
Sexo Total Pessoa Pessoa Pessoa responsável /
responsável responsável / responsabilidade não
responsabilidade compartilhada
compartilhada
Homens e 1945 645 114 531
mulheres
Homens 945 282 53 229
Mulheres 1000 363 61 302
Fonte: Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA.
Elaborado pelo autor (2014).

Referindo-se sobre as propriedades em que moram, apenas 3% reside de aluguel,


5% residem em casa adquirida através de herança, 6% residem em casa emprestada
contra 86% que possuem casa própria.
Se tratando da infraestrutura das residências e números de moradores, 97% das
residências possuem pelo menos um banheiro, todas as residências têm energia elétrica,
água encanada e fossa, 47% das residências possuem dois quartos, 44% três quartos, 3%
um quarto, 6% não possuem quartos e 3% um quarto na residência, comparando com o
número de moradores verificou-se que 28% das entrevistadas afirmam que em suas
residências moram cinco ou mais pessoas, 22% residem quatro pessoas, 25% três
pessoas, 17% duas pessoas e 8% com apenas uma pessoa.
A análise da distribuição da renda e estrutura de moradia familiar, a partir da
classificação por responsável pelo sustento da família (Tabela 5), evidenciou que
quando a responsabilidade do sustento da família é dividida entre as entrevistadas e seus
respectivos cônjuges, a renda familiar pode chegar a ser maior que dois salários
mínimos e a percentagem do número de famílias, que possuem renda menor que um
salário mínimo é inferior comparando-se com as demais categorias.
Quando a responsável pelo sustento é apenas a entrevistada, cerca de 80%
possuem renda menor que um salário mínimo, refletindo na situação da moradia e na
estrutura física da casa como, por exemplo, menor número de quartos.
48

Tabela 5 – Distribuição da renda e estrutura de moradia familiar segundo classificação dos


responsáveis pelo sustento da família, em Bom Jesus dos Pobres, Saubara, 2014
Responsável Nº de Renda familiar Situação da Nº de
pelo sustento entrevistadas moradia dormitórios
familiar
Entrevistada 19 79% < 1 SM1 11% 58% com dois
1% entre 1 e 2 SM Emprestada 32% com três
5% > 2 SM 5% alugada 5% não possuem
5% herança 5% com um
79% própria
Cônjuge 9 56% entre 1 e 2 100% própria 56% com três
SM 33% com dois
44% < 1 SM 11% não possuem
Entrevistada e o 6 33% < 1 SM 100% própria 67% com três
cônjuge 50% entre 1 e 2 33% com dois
SM
17% > 2 SM
Outros 2 100% entre 1 e 2 100% própria 100% com dois
SM
SM = Salário Mínimo
Fonte: Pesquisa de campo (2014).

Apenas 36% das entrevistadas acessam a internet, destas aproximadamente 36%


acessam em celular, 14% acessam em casa pelo computador, 22% acessam de ambos,
21% em lan house, e 7% acessam em casa de parentes. O tablet foi citado como
utilitário em quatro das 36 entrevistas, sendo que em uma delas foi citado duas vezes
(Tabela 6). Aproximadamente 81% utilizam os jornais televisionados como forma de
acesso a informação.

Tabela 6 – Relação geral dos bens duráveis declarados pelas entrevistadas em Bom
Jesus dos Pobres, Saubara, 2014
Bens duráveis Quantidade Bens duráveis Quantidade
Computador/Notebook 9 Rádio 20
Tablet 5 Máquina de 14
Lavar ou
tanquinho
TV 39 Geladeira 31
DVD 24 Freezer 2
Telefone fixo 1 Carro 2
Celular 68 Moto 3
Fonte: Pesquisa de campo (2014).
49

Com relação ao destino do lixo, 86% das entrevistadas afirmam que o lixo
residencial é coletado pela Prefeitura, 8% queimam o lixo devido a distância entre o
domicílio e o ponto de coleta e 6% afirmam que quando não conseguem destinar o lixo
para coleta pública, realizam a queima.
Quando questionadas sobre a alimentação 28% das entrevistadas citaram o peixe
como o alimento que consomem com maior frequência e 25% consomem com maior
frequência o marisco, 17% afirmam comer ambos (Gráfico 6).

Gráfico 6 – Alimentos mais consumidos pelas entrevistadas


Tipos de alimentos consumidos com maior
frequência

Peixe
Marisco
3% 3% 3%
3% 3%
Peixe e marisco
5%
28% Peixe e carne
5%
Peixe e frango
Carne
5%
17% 25% Peixe, carne e frango
Marisco e carne
Carne e frango
Frango
Ovo e marisco

Fonte: Pesquisa de campo (2014).

Quando o assunto foi participação social, todas as entrevistadas afirmaram ser


associadas a alguma organização social (Figura 6).
Cerca de 44% avaliaram a organização em que participam como ótima, no
sentido de cumprirem com o seu papel social, 53% avaliaram como boa e afirmam que
estas cumprem o seu papel, mas poderia melhorar no que diz respeito às prestações de
contas e ações coletivas para o desenvolvimento do distrito de Bom Jesus dos Pobres e
3% avaliaram como péssima e ressaltam a necessidade de melhorias nas ações coletivas
que deveria beneficiar as associadas e associados.
50

Ao serem questionadas sobre a atuação das organizações sociais, ligadas às


atividades pesqueiras, 44% avaliaram a atuação como ótima, 50% boa, 6% péssima.
Quanto à avaliação da participação nas organizações sociais, 42% auto-avaliaram a
participação como ótima, mas afirmaram que apenas participam das reuniões, 44%
auto-avaliaram a participação como boa, 8% ruim e 6% péssima.

Figura 6 – Agrupamento das organizações sociais em que as


entrevistadas de Bom Jesus dos Pobres estão associadas, em 2014

Fonte: Pesquisa de campo (2014).


51

6.4.2 Saúde

Quanto à saúde, as entrevistadas puderam assinalar mais de uma alternativa,


78% das entrevistadas citaram buscar serviços médicos em hospitais, 56% também
citaram os postos de saúde, 8% citaram as clínicas particulares e 3% citaram as
farmácias.
Quanto ao tipo de atendimento 92% das entrevistadas citaram o SUS, 39%
utilizam os serviços médicos particulares e 14% afirmaram que possuem convênios.
Cerca de 97% fazem uso da medicina tradicional, na utilização de medicação natural
como, por exemplo, chás e xaropes, 81% utilizam medicamentos receitados pelo
médico, e 17% das entrevistadas utilizam remédios indicados por terceiros.

6.4.3 Políticas públicas

Com relação às políticas públicas 67% das entrevistadas informaram não


entender sobre o assunto, 11% tentou explicar, mas demonstrou não entender e 22%
demonstrou algum entendimento sobre o assunto. Após escutarem uma explicação dada
pelo pesquisador sobre as políticas públicas, todas as entrevistadas afirmam ser
beneficiadas por algumas políticas. Ao falar destas políticas as entrevistadas citaram as
seguintes: Bolsa Família, Bolsa Escola, o Seguro-Desemprego durante o período de
defeso do camarão, o Programa Todos pela Alfabetização - TOPA e o
Programa de Integração Social de Saubara – PISS, auxílio doença, aposentadoria e
Mais Educação.
O Seguro-Desemprego (defeso do camarão) é uma das políticas classificadas
pelas pescadoras como uma das mais importantes. Dados do Ministério do Trabalho e
Emprego de 2014 revelam que a Bahia é a terceira no ranking dos estados com maior
número de beneficiários desta política, ficando atrás do Pará e Maranhão (Tabela 7). É
possível perceber que a soma do percentual de pagamentos no âmbito nacional dos
cinco estados apontados na tabela, equivalem a 70% do recurso destinado as famílias
beneficiarias no Brasil.
52

Tabela 7 – Relação dos cinco primeiros estados que são beneficiados pelo
defeso do camarão, por valor acumulado, 2014
Estado Valor acumulado Porcentagem referente
ao total de pagamentos
no âmbito nacional
Pará 1.693.839.483,97 25%
Maranhão 1.258.855.304,34 19%
Bahia 812.768.286,30 12%
Amazonas 669.369.050,86 10%
Piauí 275.695.034,46 4%
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (2014).

Quando estimuladas a pensar na possibilidade de discutir sobre a criação de uma


política pública que beneficiasse as mulheres do distrito de Bom Jesus dos Pobres, as
entrevistadas manifestaram interesse em poder discutir com as representações políticas
locais, 60% das respostas foram relacionadas às melhorias na saúde, pois segundo elas
existem dificuldades em realizar exames como, mamografia e consultas, principalmente
ginecológicas e pediátricas. Também citaram a necessidade de médicos urologistas para
atenderem os maridos, a presença de médico no posto de saúde, de um hospital com
melhor infra-estruturara, maior oferta gratuita de remédios, e citaram a necessidade de
ter maior acesso a tratamentos dentários, além disso, também foram citadas doenças
ocupacionais, problemas de coluna e câncer de útero que precisavam receber maior
atenção dos governantes. Aproximadamente 43% das entrevistadas pontuaram a
necessidade de mais emprego para os moradores do distrito e de valorização de
alternativas para aproveitar as cascas dos mariscos como uma fonte complementar na
renda familiar. As entrevistadas falaram também sobre a necessidade de melhorias na
educação, da realização de cursos para autonomia das mulheres como, cursos de
formação política, cursos na área da construção civil, cursos de designer de bolsas e
sapatos, e cursos de beneficiamento e processamento para melhorar a qualidade do
pescado. Foi citado a necessidade da implantação de creche para seus filhos e filhas,
além de saneamento básico e qualidade das vias públicas. Segurança pública foi um dos
assuntos citados, as entrevistadas relataram que a violência está invadindo a
comunidade e não se sentem seguras em realizar algumas atividades como, a coleta de
siri mole que é feita durante a noite.
A problemática de falhas nas políticas que beneficiam as mulheres da
comunidade também foi mencionada pelas entrevistadas, afirmam existir mulheres que
53

nunca exerceram atividades ligadas à pesca e mariscagem, mas que são beneficiadas
pelo seguro defeso.
Durante as entrevistas surgiram dois relatos da substituição de uma ferramenta
de trabalho utilizada pelas marisqueiras para “fachear” 9. Há alguns anos a captura do
siri mole (Callinectes sp.) era realizada com um facho feito com palha que quando
aceso iluminava o local e possibilitava a visualização do crustáceo. Eram necessárias
duas pessoas uma para segurar os vários fachos bem como de outra pessoa que com um
balde realizava a captura do siri. O facho foi se modificando ao longo do tempo. Desse
modo, até 2010 as capturas do siri mole ocorriam com o auxílio de uma lanterna a gás
(ARAUJO, 2010), atividade ainda realizada em dupla, pois a lanterna é pesada e
segundo as pescadoras, devido ao horário, é mais seguro andarem acompanhadas. Duas
entrevistadas relataram que as lanternas a gás já foram substituídas por lanternas de led,
com pilhas recarregáveis. Segundo as marisqueiras, a mudança proporcionou eficiência
na captura do siri, pois a lanterna não é pesada como a lanterna a gás bem como é mais
fácil recarregar para uso no dia seguinte. Tais mudanças refletem diretamente na rotina
das mulheres, proporcionando melhores condições de vida e agilidade na atividade
pesqueira.

6.4.4 Caracterização das políticas públicas

Foram realizadas oito entrevistas com funcionários de seis secretarias


municipais: uma entrevista com o Assessor Técnico da Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Social e com a coordenadora do Núcleo de Atenção à Mulher –
NAM, subordinada a esta secretaria; Secretário de Promoção da Igualdade Racial;
Secretária Municipal de Administração; Secretário Municipal de Cultura, Esporte e
Lazer; Secretário Municipal de Educação; Diretora da Atenção Básica da Secretaria
Municipal de Saúde e com a Enfermeira do Posto de Saúde de Bom Jesus dos Pobres. O
tempo de experiência no órgão público variou de 02 a 12 anos enquanto o tempo dos
servidores nos atuais órgãos variou de um mês a 02 anos. As políticas públicas

9
Captura do siri (Callinectes sp.) realizada durante a noite quando o siri está com a carapaça mole,
utilizando um facho de luz.
54

identificadas10 foram ligadas diretamente a três Secretarias Municipais: Secretaria de


Desenvolvimento Social; Secretaria de Saúde e Secretaria de Educação. Com a
finalidade de preservar a identidade dos entrevistados, estes receberam codificação ao
serem inseridas no presente trabalho. Os gestores municipais: G1, G2 e G3; e os agentes
comunitários: Ag1 e Ag2. Foram feitos levantamentos das legislações de cada uma das
políticas, complementado os dados coletados durante a entrevista.

6.4.4.1 Políticas sociais

Durante a entrevista com o Assessor Técnico da Secretaria Municipal de


Desenvolvimento Social, foram citados oito programas sociais, sendo que sete
beneficiavam de forma direta as mulheres residentes em Bom Jesus dos Pobres (Quadro
3).

Através dos programas sociais da rede socioassistencial, rede que envolve os


três entes: município, estado e governo federal. Esses programas necessitam
do cadastro das pessoa como pessoa física ou da entidade se essa pessoa
estiver representando alguma entidade socioassistencial e esses programas de
forma direta beneficiam essas pessoas, não há uma interferência direcionada
do município nesse sentido, um exemplo prático, é o Cadastro Único –
CadÚnico que engloba o programa de maior visibilidade que é o Bolsa
Família (G1: Assessor Técnico da Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Social, 45 anos de idade, 2 anos no órgão público).

10
Os dados das entrevistas foram complementados com dados coletados durante a pesquisa documental.
55

Quadro 3 – Políticas Públicas Sociais, tipo de benefício, origem e principais


indicadores, em Bom Jesus dos Pobres, Saubara, em 2014
Política/Programa Benefício Benefício Responsabilidade Principais Indicadores
Direto Indireto
Painel de Indicadores de
Condicionalidades baseados em
Temas/Dimensões: I.
Vulnerabilidades Sociais;
II. Acesso aos Serviços;
Bolsa Família x Federal III. Gestão da Saúde;
IV. Gestão da Educação; e
V. Gestão do PBF. Composto por
aproximadamente 140 indicadores.

Quantidade de matrículas de
PRONATEC x x Federal beneficiários do Programa Bolsa
Família no PRONATEC por ano
Tarifa Social de x Federal -
água e luz

x Federal
PROUNI
Programas de -
Serviço de
Convivência e x Federal, Estadual
Fortalecimento de e Municipal
Vinculo, antigo
PETI Projovem
x Municipal Número de famílias que estão
PISS
abaixo da linha da pobreza
Núcleo de Atenção à x Federal, Estadual
Mulher - NAM e Municipal
LOAS – x Federal
Aposentadoria
temporária
Fonte: Pesquisa de campo (2014). Elaborado pelo autor.

O Programa Bolsa Família foi o primeiro programa citado durante a entrevista,


criado através da Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004, este programa unifica os
procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do Governo
Federal, especialmente do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação -
Bolsa Escola, criado em 2001, Programa Nacional de Acesso à Alimentação - PNAA,
criado em 2003, do Programa Nacional de Renda Mínima vinculada à Saúde - Bolsa
Alimentação de 2001, do Programa Auxílio-Gás, instituído por Decreto em 2002, e do
Cadastramento Único do Governo Federal, que foi instituído pelo Decreto em 2001
(BRASIL, 2004).
Uma das ferramentas de caracterização da renda familiar é o Cadastro Único
para Programas Sociais do Governo Federal – CadÚnico, um instrumento que identifica
56

e caracteriza as famílias de baixa renda11. Dados do Portal da Transparência Federal


(Tabela 8) revelam que entre 2004 e 2006 não houve crescimento significativo no
número de beneficiadas (os), ocorrendo um decréscimo deste número entre 2007 e 2010
e um crescimento exponencial entre 2011 e 2013. Tais variações ocorrem devido a
novos cadastros e ao desligamento de algumas famílias que não mais se encontram no
perfil dos beneficiários do programa (BRASIL, 2014).

Tabela 8 – Dados sobre a transferência do Programa Bolsa


Família, Saubara, 2004 - 2014
Ano Beneficiados Recurso destinado (R$)
2004 1722 706.908,00
2005 1731 908.121,00
2006 1737 934.004,00
2007 1427 994.892,00
2008 1368 1.218.076,00
2009 1597 1.434.503,00
2010 1662 1.796.338,00
2011 2044 2.190.230,00
2012 2175 2.804.020,00
2013 2461 3.599.100,00
Fonte: Procuradoria da União - Portal da Transparência Federal
(2014). Elaborado pelo autor.

Em julho de 2013, Saubara possuía 3.606 (três mil, seiscentos e seis) famílias
cadastradas no CadÚnico, destas 2.274 (dois mil, duzentos e setenta e quatro) famílias
eram beneficiadas pelo Programa Bolsa Família com valores de R$ 32,00 a 500
(Gráfico 7). Em Bom Jesus dos Pobres o número de famílias beneficiadas pelo
programa, no ano de 2013, chegou a 346 (Figura 7).
Segundo o MDS, aproximadamente 140 indicadores são utilizados na gestão do
programa. O Painel de Indicadores de Condicionalidades baseados em Temas ou
dimensões: I. Vulnerabilidades Sociais; II. Acesso aos Serviços; III. Gestão da Saúde;
IV. Gestão da Educação; e V. Gestão do PBF. As ferramentas de gestão utilizadas são o
Sistema de Gestão do Programa Bolsa Família - SIGPBF e o Índice de Gestão
Descentralizada do Sistema Único de Assistência Social - IGD SUAS, com o objetivo
de aperfeiçoar a gestão e aferir a qualidade do programa, respectivamente.

11
Renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa; ou renda mensal total de até três salários
mínimos.
57

Gráfico 7 – Valores do benefício referente ao Programa Bolsa


Família, Saubara, em Julho de 2013.
Valores do beneficio - Programa Bolsa
Família/Cadastros no CadÚnico - Saubara
- BA
2% 7% 1%
R$ 0
37% R$ 32 a 100
R$ 100 a 200
40%
R$ 200 a 300
13%
R$ 300 a 400
R$ 400 a 500

Fonte: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (2014).


Elaborado pelo autor

Figura 7 - Famílias do Distrito de Bom Jesus dos


Pobres beneficiadas pelo programa Bolsa Família
em julho de 2013

Fonte: Pesquisa de campo: dados da Secretaria


Municipal de Desenvolvimento Social (2014).
Elaborado pelo autor.
58

A avaliação é feita utilizando dados do acompanhamento mensal de 30 % das


famílias cadastradas no município. Para o entrevistado o programa se destaca por ser
uma política de transferência direta de recurso e a mulher se torna mais independente. A
divulgação da política é realizada para comunidade através do Plano Plurianual - PPA e
do diário oficial. Para o entrevistado a população obtém conhecimento sobre as políticas
e programas através dos órgãos sociais e das mídias em geral, através do Centro de
Referência de Assistência Social - CRAS e NAM. O entrevistado evidencia ainda que a
partir do cadastro no Programa Bolsa Família se abre um leque de informações que as
beneficiárias podem usufruir.
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - PRONATEC
foi instituído pela Lei nº 12.513, de 26 de outubro de 2011 com a finalidade de ampliar
a oferta de educação profissional e tecnológica, por meio de programas, projetos e ações
de assistência técnica e financeira (BRASIL, 2011c). O principal indicador de gestão é a
quantidade de matrículas de beneficiários do Bolsa Família no PRONATEC, por ano.
Outros indicadores também foram citados durante a entrevista com, população por
frequência escolar, segundo a idade; número de matrícula de EJA por etapa de ensino;
evolução das matrículas em cursos técnicos; matrículas por esfera administrativa, e
evolução de matrículas da Rede Federal. A ferramenta utilizada para aferir a qualidade
do programa é o IGD SUAS. O planejamento das ações é realizado através do Plano de
Ação que está dentro do Plano Plurianual - PPA da Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Social. Participam do PPA da Secretaria pelo Conselho Municipal de
Assistência Social e o PPA municipal pela comunidade em uma audiência pública de
aprovação do PPA com as entidades representativas do poder público e da Sociedade
Civil Organizada. O principal impacto é o empoderamento das mulheres que na sua
maioria são responsáveis pelo lar (G1: Assessor Técnico da Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Social, 45 anos de idade, 2 anos no órgão público).
A Tarifa Social de Energia Elétrica, criada pela Lei no 10.438, de 26 de abril de
2002, beneficia os consumidores contidos na Subclasse Residencial Baixa Renda,
caracterizada por descontos incidentes sobre a tarifa aplicável à classe residencial das
distribuidoras de energia elétrica (BRASIL, 2002). Os principais indicadores de
59

desempenho utilizados através do Sistema de Medição de Desempenho12, estão


classificados em dois blocos: Indicadores de Resultado - IR e Indicadores de Controle -
IC.
A Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005 institui o Programa Universidade para
Todos - PROUNI, destinado à concessão de bolsas de estudo integrais e bolsas de
estudo parciais para estudantes de cursos de graduação e sequenciais de formação
específica, em instituições privadas de ensino superior (BRASIL, 2005). Os principais
indicadores são vinculados à quantidade de bolsistas existentes, por sexo e raça/cor e o
número de concluintes. Segundo um entrevistado, em Bom Jesus dos Pobres, as filhas e
filhos das pescadoras já acessam este programa, informação confirmada por uma
pescadora participante da pesquisa.
Reordenado pela Resolução nº 01, de 21 de fevereiro de 2013, o Programa de
Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vinculo - SCFV é um serviço de proteção
social básica realizado em grupos, complementando o trabalho social com famílias e
prevenir a ocorrência de situações de vulnerabilidade e risco social (BRASIL, 2013a).
Desde a Constituição Federal de 1988 a Assistência Social foi instituída como política
pública de direito do cidadão e dever do estado, determinação regulamentada pela Lei
Orgânica da Assistência Social – Lei nº 8.742/1993 e complementada pela aprovação da
Lei nº 12.435/2011 (BRASIL, 1988).
O Programa de Integração Social e Complementação de Renda de Saubara –
PISS criado pela Lei nº10/2013 em 10 de julho de 2013, visa complementar a renda das
Famílias vinculadas ao Programa Bolsa Família (SAUBARA, 2013). O PISS tem como
principal indicador o número de famílias, contempladas pelo Programa Bolsa Família,
que estão abaixo da linha da pobreza. O programa beneficiou 425 pescadoras em
Saubara e aproximadamente 50 pescadoras em Bom Jesus dos Pobres, seguindo os
mesmos princípios da avaliação e divulgação do Programa Bolsa Família (G1: Assessor
Técnico da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, 45 anos de idade, 2 anos
no órgão público).
Em 22 de junho 2010 Saubara inaugurou o Núcleo de Atenção à Mulher –
NAM, integrando a Rede Estadual de Enfrentamento à Violência contra a Mulher,

12
Conjunto de medidas referentes à organização como um todo, às suas partições, seus processos e
atividades organizadas em blocos bem definidos, de forma a refletir certas caraterísticas do desempenho
para cada nível gerencial interessado (MOREIRA, 1996, p.17).
60

unidade que recebeu o nome de Maria da Cruz dos Santos em homenagem à popular
Maria das Folhas, que aos 90 anos continua influenciando as manifestações culturais e
populares locais, oriunda de uma família de mulheres negras que, há décadas,
movimentam o comércio entre Saubara e Salvador, principalmente, no ramo de plantas
e folhas medicinais, que são utilizadas em ritos religiosos. A ação fez parte do Pacto
Estadual de Políticas para as Mulheres, assinado pelos (as) dirigentes municipais do
território de identidade do Recôncavo da Bahia, em junho de 2009. As principais ações
do Núcleo são baseadas na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida como a
“Lei Maria da Penha” que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher (BRASIL, 2006b).
A regulamentação do benefício de assistência social foi instituído pela Lei
8.742/93, conhecida como Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), e do Decreto
1.744/95. Tal benefício será prestado, a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, conforme prevê o art. 203, inciso V da Constituição
Federal (BRASIL, 1993).
Uma parceria com o Instituto Hand Social - IHS também foi citado durante a
entrevista por existir uma parceira com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Social na manutenção do Projeto Arremesso para Vida, projeto financiado pela
Petrobrás e que atende 100 crianças e adolescentes do Município de Saubara, através da
realização atividades socioeducativas e esportivas ligadas ao handebol.

6.4.4.2 Políticas de saúde

Durante as entrevistas foram citados nove programas, todos beneficiando de


forma direta as pescadoras (Quadro 4). As entrevistadas focaram na avaliação dessas
políticas baseando-se no Sistema de Informação do Ministério da Saúde - SISPACTO,
além da participação no planejamento das ações, divulgação, impacto, entraves
encontrados na execução das políticas e soluções para estes. As avaliações são
realizadas através da análise dos índices de acompanhamento gerado através do
SISPACTO, quando ocorre queda de algum índice a secretaria é notificada.
61

Quadro 4 – Políticas públicas de saúde, tipo de benefício, origem e


principais indicadores, em Bom Jesus dos Pobres, Saubara, em
2014
Política/Programa Origem Principais Indicadores
Federal Número de grávidas
atendidas;
Rede Cegonha (Pré-natal)
Número de atendimentos
por ano.
Federal Número de mulheres
SISCOLO/antigo atendidas;
SISCAM Número de diagnósticos
de câncer.
Federal Número de pessoas
cadastradas no programa;
HIPERDIA Quantidade de
medicamentos repassados
para a população.
Federal Número de pessoas
cadastradas no programa;
DST/AIDS
Número de pessoas que
fazem o tratamento.
Federal Número de famílias
Atendidas;
Percentagem da
Planejamento Familiar
diminuição de DSTs;
Diminuição de gravidez
na adolescência.
Municipal Número de famílias
PACS – Programa de
atendidas pelo programa;
Agente Comunitário de
Número de famílias
Saúde
carentes atendidas.
Federal Número de pessoas
atendidas pelo programa;
Tuberculose Projeção das prevenções
da doença.

Federal Número de pessoas


atendidas pelo programa;
Número de famílias
Hanseníase atendidas;
Número de diagnósticos
anuais.

Federal Número de famílias


Mais médico atendidas pelo programa;
Número de atendimentos.
Fonte: Pesquisa de campo (2014). Elaborado pelo autor.
62

A Secretaria Municipal de Saúde de Saubara faz avaliação com as equipes de


trabalho separadamente, abordando as deficiências na gestão e execução das políticas,
para construir soluções e melhorias na prestação dos serviços e acompanhamentos às
famílias. A população participa de forma indireta da avaliação, pois, segundo a Diretora
da Atenção Básica, a população tem liberdade em procurar a Secretaria para fazer
reclamações. A população também participa da avaliação através do Conselho
Municipal de Saúde que é formado por pessoas da sociedade civil e poder público.
A divulgação das políticas é feita através dos agentes comunitários, quando há
eventos utilizam carros de som, panfletos e boca a boca. Contudo existem entraves
associados ao pouco recurso que o município possui para a gestão da saúde, como
afirma a Diretora da Atenção Básica, para ela a resolução de alguns entraves passa pelo
diálogo com a comunidade, funcionários e com o Ministério de Saúde.

Em 2013 o Hospital de Saubara foi descredencializado. A prefeitura está


sustentar os postos e o hospital. A população está acostumada com o hospital
e não estão acostumados com o posto, não querem prevenção e sim a parte
curativa. As pessoas precisam participar, ter mais paciência que tudo que é
preventivo não é imediato. O funcionário tem que querer atuar, não é só
prescrever e ir embora, é participar da comunidade. (G2: Diretora da Atenção
Básica da Secretaria Municipal de Saúde, 34 anos de idade, 2 anos no órgão
público)

Um dos recursos que chega até o município para auxiliar na saúde é do


programa Rede Cegonha, Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011 institui, no âmbito
do Sistema Único de Saúde – SUS, que visa beneficiar, de forma direta, as mulheres
através do planejamento reprodutivo e o atendimento às gravidas no pré e pós-parto,
bem como assegurar às crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e
desenvolvimento saudáveis (BRASIL, 2011b). Em Saubara os principais impactos
foram relacionados com a redução dos casos de adolescentes grávidas.
Outro programa importante é o SISCOLO Programa Nacional de Controle do
Câncer do Colo do Útero, antigo SISCAM Sistema de Informação do Câncer, baseado
na Lei nº 12.732, de 22 de novembro de 2012, que dispõe sobre o primeiro tratamento
de paciente com neoplasia maligna comprovada e estabelece prazo para seu início
(BRASIL, 2012).
Assim como o Programa Rede Cegonha e o SISCOLO, o Sistema de
Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos – HIPERDIA também
auxiliam as pescadoras, sendo este com um elenco de medicamentos e insumos
63

disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde, nos termos da Lei nº 11.347, de 2006,
aos usuários portadores de diabetes mellitus através da Portaria Nº 2.583, de 10 de
outubro de 2007 (BRASIL, 2007d).
O Planejamento Familiar que dispões a Lei nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996,
regula o § 7º do art. 226 da Constituição Federal, que trata do planejamento familiar,
estabelece penalidades e dá outras providências (BRASIL, 1996).
O Programa de Agentes Comunitários de Saúde - PACS iniciou em 1991 e foi o
precursor de importantes programas de saúde, dentre eles o Programa Saúde da Família
- PSF (VIANA; POZ, 2005). O PACS tem na pessoa do agente de saúde o elo entre os
serviços de saúde e a comunidade. Em 1999, o Ministério da Saúde lançou um
documento que estabelece sete principais funções para o agente de saúde. Dentre as
principais funções dos agentes de saúde destacam-se as seguintes: levar à população
informações capazes de promover o trabalho em equipe; visita domiciliar; planejamento
das ações de saúde; promoção da saúde; prevenção e monitoramento de situações de
risco e do meio ambiente; prevenção e monitoramento de grupos específicos; prevenção
e monitoramento das doenças prevalentes; acompanhamento e avaliação das ações de
saúde (BRASIL, 1999). Dadas estas funções espera-se que o PACS tenha um impacto
positivo sobre os indicadores de saúde, principalmente aqueles mais associados às
famílias carentes.
A Lei nº 12.871, de 22 de outubro de 2013, institui o Programa Mais Médicos,
altera as Leis no 8.745, de 9 de dezembro de 1993, e no 6.932, de 7 de julho de 1981, e
dá outras providências (BRASIL, 2013b).
A Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes e dá outras providências (BRASIL, 1990), garantindo o
tratamento de DST como a AIDS e outras doenças como a tuberculose e a hanseníase.
Segundo a Diretora da Atenção Básica, os pacientes que possuem alguma DST estão
procurando os postos de saúde para fazer o tratamento, “confiando, percebendo que tem
acompanhamento, tem medicamento.” (G2: Diretora da Atenção Básica da Secretaria
Municipal de Saúde, 34 anos de idade, 2 anos no órgão público).
64

6.4.4.3 Políticas de educação

Durante a entrevista com o Secretário de Educação foram listados três


programas, dois com benefícios diretos, um com benefício indireto e outro com ambos
(Quadro 5).

Quadro 5 – Políticas públicas de educação, tipo de benefício, origem e


principais indicadores, em Bom Jesus dos Pobres, Saubara, em 2014
Política/Programa Benefício Benefício Origem Principais
Direto Indireto Indicadores
x Estadual Estado e IBGE
TOPA – – Número de
Programa Todos analfabetos no
pela município para
Alfabetização focar

x x Estadual Senso escolar


Merenda escolar

Mais Educação x Federal Senso escolar


Fonte: Entrevista com poder público e pesquisa documental (2014).
Elaborado pelo autor.

O Programa de alfabetização de jovens e adultos Todos Pela Educação – TOPA


implementado pelo Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007, dispõe sobre a
implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União
Federal, em regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, e a
participação das famílias e da comunidade, mediante programas e ações de assistência
técnica e financeira, visando a mobilização social pela melhoria da qualidade da
educação básica (BRASIL, 2007a). A avaliação das ações é realizadas pelas
Coordenação geral do programa e pela Secretaria Municipal de Educação. A divulgação
é feita nas redes sociais, mobilizando e apropriando a comunidade escolar. É possível
medir o impacto deste programa, desde o avanço e a inserção dessas pessoas na
sociedade até a valorização da autoestima. “Uma pessoa que está no TOPA e aprende a
ler e escrever, a autoestima dela é aumentada de forma considerável e isso faz com que
essas pessoas ascendam, tanto quanto cidadão, quanto economicamente e socialmente.”
(G3: Secretário Municipal de Educação, 30 anos de idade, 2 anos no órgão público).
65

A Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, dispõe sobre o atendimento da


alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação
básica; altera as Leis nº 10.880, de 9 de junho de 2004, Lei nº 11.273, de 6 de fevereiro
de 2006, 11.507, de 20 de julho de 2007; revoga dispositivos da Medida Provisória nº
2.178-36, de 24 de agosto de 2001, e a Lei nº 8.913, de 12 de julho de 1994; e dá outras
providências (BRASIL, 2009). A avaliação do programa é feita pelo controle social do
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação - Fundeb, que verifica a aplicação do recurso, além do
Conselho da Alimentação Escolar – CAE, que acompanha como está sendo utilizada a
verba na alimentação escolar no município. Quanto à avaliação da qualidade e
administração da merenda escolar, esta é realizada pela nutricionista, equipe pedagógica
e diretiva da escola.
O Programa Mais Educação, criado pela Portaria Interministerial nº 17/2007 e
regulamentado pelo Decreto 7.083/10, visa fomentar a educação integral (no mínimo 7
horas diárias) de crianças, adolescentes e jovens, por meio do apoio a atividades
socioeducativas no contra-turno escolar, com acompanhamento pedagógico; educação
ambiental; esporte e lazer; direitos humanos em educação; cultura e artes; cultura
digital; promoção da saúde; comunicação e uso de mídias; investigação no campo das
ciências da natureza e educação econômica (BRASIL, 2007). O entrevistado relata que
os principais indicadores estão relacionados com o número de crianças matriculadas na
rede básica de ensino, número de escolas participantes e os recursos pagos às escolas de
educação integral. Quanto ao impacto social, o entrevistado revela que consegue
perceber impactos positivos, segundo ele o Mais Educação tem várias oficinas como,
por exemplo, oficina de reforço matemático, oficina de letramento e oficinas ligadas às
artes, percussão, dança, canto coral. O entrevistado afirma que existem alguns pais que
entendem o programa como uma estratégia para que os meninos possam adquirir esses
conhecimentos, mas tem alguns pais que até pela questão cultural, entendem que
algumas oficinas são como um momento de lazer descompromissado, construindo uma
imagem negativa do programa. “O Mais Educação não trabalha com a educação
tradicional, mas uma educação contemporânea, onde os jovens tem que estar antenados
para que tenham o interesse de voltar à escola.” (G3: Secretário Municipal de Educação,
30 anos de idade, 2 anos no órgão público).
66

O entrevistado afirma que a atual gestão herdou uma parceria de creche com
uma associação, que não durou muito tempo, pois a associação estava deixando o
município, assim em 2013 a Prefeitura assume a creche como um todo.

A creche é da prefeitura, ela foi cadastrada como creche municipal, só que na


gestão passada a prefeitura só dava os funcionários e uma parte da
alimentação, que arcava com a refeição principal, que era o almoço, era esta
instituição e com parte dos funcionários e com o aluguel também do espaço,
pagamento de água e luz (G3, 30 anos, homem, 2 anos no órgão público)

Nos distritos de Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres não existem creches e a creche
de Saubara só recebe crianças a partir de 3 anos. Segundo o entrevistado, em Bom Jesus
dos Pobres não existe prédio disponível para a instalação de uma creche. O entrevistado
relata que foram abertas matrículas para creche em tempo parcial em uma sala
disponível na Escola Municipal Zilmar Garcia em Bom Jesus dos Pobres. Inicialmente
foram disponibilizadas 15 vagas, destas 11 foram preenchidas, destas apenas oito
crianças permaneceram. O entrevistado afirma que ao criar a estratégia para depois
transformar em creche, percebeu que a demanda não existe. Contudo a partir da
pesquisa de campo percebeu-se que houve uma inconsistência na divulgação da
disponibilidade dessas vagas.
As avaliações de ações realizadas pelos programas contam com a participação
dos técnicos da Secretaria Municipal de Educação e o CAE eleito de forma democrática,
constituído por servidores das escolas e pessoas da sociedade civil (associações, pais de
aluno, aluno quando maior de idade). Para o entrevistado, o CAE é atuante, mas existem
dificuldades para marcar as reuniões, que são agendadas pela própria secretaria,
inciativa que deveria ser do conselho.

6.4.5 Entrevistas informais

Foram realizadas duas entrevistas informais com agentes de saúde de Bom Jesus
dos Pobres, com o objetivo de analisar a percepção deles sobre as suas atividades
profissionais e sobre os problemas ligados à saúde que acometem as pescadoras. Os
entrevistados relataram que fazem visitas domiciliares para realização do Planejamento
Familiar, acompanhamento das gestantes e realizam atividades internas de planejamento
67

e avaliação no posto de saúde local. Os entrevistados relataram que a falta de recurso e


estrutura atrapalham o desempenho e a realização de algumas ações: “O principal
problema é que a gente quer oferecer algo a mais, não conseguimos, pois faltam
algumas coisas para desenvolver o trabalho, mas improvisamos para poder realizar o
trabalho” (Ag1, sexo feminino, 15 anos no órgão público).
Os entrevistados relacionaram 13 doenças que acometem às pescadoras no
distrito de Bom Jesus dos Pobres (Quadro 6).

Quadro 6 – Relação das enfermidades segundo informações de agentes comunitários,


Bom Jesus dos Pobres, Saubara, em 2014
Doenças Descrições
Resposta imunológica que aparecem no corpo e vão
aumentando. Existem suspeitas que desequilíbrios no
Alergia no pescoço ou nos braços
ácido úrico podem agravar as lesões. Quando são
expostas à maré piora
Acidente Vascular Cerebral - AVC -
Diabetes -
Hipertensão -
Muitas vezes é preciso cauterizar feridas, muitas se
Inflamação no útero queixam que é de tá dentro d’água, pescando na maré
quente
Lesão por Esforço Repetitivo - LER Doença ocupacional da pescadora
Mal de Ausaimer -
Mal de Parkinson -
Ocorreram mais de 20 caos nos últimos 15 anos. Podem
Mioma
ocorrer hemorragias
Problema de coluna
Doença ocupacional da pescadora
Reumatismo Doença degenerativa
Peguei até esse vírus da tuberculose, mas não desenvolvi
Tuberculose
a doença, mas tenho o vírus
Não sabe se é alergia e tem dificuldade de mariscar, vive
Tumores
realmente da maré e fica difícil
Fonte: Entrevistas com agentes de saúde, 2015. Elaborado pelo autor.

Segundo outro entrevistado (Ag2), houve melhoras, mas faltam medicamentos, e


é necessário mais médicos, principalmente no hospital de Saubara. A entrevistada relata
que de 2001 a 2012 não havia médico no distrito de Bom Jesus dos Pobres. “Precisava
de Laboratório médico, que só vem pra aqui na época da política, mas já é alguma
coisa” (Ag2, sexo masculino, 5 anos no órgão público).
68

O Ag1 relata que as pescadoras registram queixas ligadas à saúde e ao


atendimento no posto, horários, qualidade dos profissionais, atendimentos que
precisaram ser desmarcados pelo posto, entre outros.
Os entrevistados afirmam que a construção de uma unidade do Programa Saúde
da Família – PSF, que já está em andamento, irá resolver muitos problemas, pois a
unidade contará com médico (a), enfermeiro (a), técnico (a) em enfermagem,
odontólogo (a) e agentes comunitários.
Foi realizada uma conversa coletiva e informal com funcionários do Conselho
Tutelar de Saubara - CTS, na ocasião eles afirmaram que 20% das ocorrências tem
origem em Bom Jesus dos Pobres. Além do CTS, existem mais oito conselhos:
Conselho Municipal da Assistência Social – CMAS; Conselho dos Direitos da Criança e
do Adolescente – CMDCA; Conselho do Idoso – CI; Conselho da Mulher – CM;
Conselho Municipal da Educação – CME; Conselho da Alimentação Escolar – CAE;
Conselho Municipal da Saúde – CMS e Conselho Municipal de Cultura – CMC. A
participação Social é exercida pela comunidade através da atuação destes conselhos.
69

6.5 OFICINAS DE ETNOMAPEAMENTO

Ao todo ocorreram oito oficinas, todas com o áudio gravado e transcrito, a


primeira em 20 de setembro de 2014 e a última em 04 de fevereiro de 2015. Durante as
oficinas 15 mulheres participaram no total: as associadas à Associação de Marisqueiras
e Pescadores de Bom Jesus dos Pobres – AMAPEB: Ana Cristina S. Santos, Antonia
Ferreira Reis, Crispina Santos Chagas, Daniela das Mercês da Cruz, Letícia L. Lemos,
Lícia L. Lemos, Manoela Pedreira da Silva da Conceição, Raimunda S. de Oliveira, e
Roquilda Lima Santos; as associadas à Associação de Pescadores e Pescadoras de
Saubara – APPS: Elianaide A. S. da Silva; as associadas à Colônia de Pescadores e
Aquicultores Z-16: Joelma de Jesus Cruz, Raimunda Cardoso, e Rosenilda M. dos
Santos; a secretária do Sindicato dos Trabalhadores, Trabalhadoras Rurais e
Marisqueiras- STTRM, Regina S. Santos, e a associada Solange Almeida Santos. Houve
um rodízio na participação durante as oficinas e foram produzidos um total de quatro
etnomapas temáticos, um etnomapa consensual e um EtnoSIG. As oficinas foram
registradas através de fotografias e de áudios que subsidiaram a construção da
Cartografia Social e do Resumo de Políticas. Para não expor as participantes, estas
receberam codificação ao serem citadas nas transcrições das oficinas: Pescadora A, B,
C, D, E e F.

6.5.1 Primeira oficina: rabiscando conhecimento

A primeira oficina foi realizada na Escola Municipal Profª Zilmar Garcia


Ferreira, situada próxima a Praça de Bom Jesus dos Pobres, no dia 20 de setembro de
2014. A oficina iniciou com uma prévia apresentação dos participantes, possibilitando o
entrosamento das pescadoras com os facilitadores da oficina. Houve a participação de
quatro assessores: dois facilitadores, uma fotógrafa e uma responsável pelos registros
escritos.
70

Após atividade de apresentação, com o auxílio de algumas imagens, as


participantes foram estimuladas a relembrarem a construção de etnomapas realizada em
agosto de 2009, durante uma atividade de um projeto da Incubadora de
Empreendimentos Solidários da UFRB – Incuba/UFRB realizada na AMAPEB (Figura
8).

Figura 8 – Etnomapa representando a Baía de Todos-os-Santos, elaborado por


associadas da AMAPEB, Saubara, Bahia, durante realização de Diagnóstico Rápido
Participativo - DRP em 22 de julho de 2009

Fonte: (SAMPAIO; VELLOSO; ARAUJO, 2010).

Após reverem as imagens da construção dos etnomapas, as mulheres foram


convidadas a construírem novos etnomapas com o objetivo de transpor para o papel o
distrito de Bom Jesus dos Pobres através da percepção delas, enquanto mulheres,
marisqueiras e pescadoras. O primeiro etnomapa foi construído com o objetivo de
retratar o distrito de Bom Jesus dos Pobres como um todo (Figura 9).
Neste etnomapa foram destacados pelas mulheres as ruas, casas, central de
abastecimento de água potável, pontes, rios, posto de saúde, escolas, igrejas, cemitério e
um campo de futebol. Durante a oficina foram discutidas noções de escala, através de
comparações dos tamanhos dos desenhos feitos pelas participantes.
71

Figura 9 – Etnomapa de Bom Jesus dos Pobres

Fonte: O autor.

Após construírem o etnomapa de Bom Jesus dos Pobres, como o auxilio do


papel vegetal, as mulheres iniciaram a construção do mapa dos recursos pesqueiros
(Figura10).

Figura 10 – Construção do mapa dos Recursos Pesqueiros de


Bom Jesus dos Pobres

Fonte: O autor.
72

Alguns símbolos que apareceram no etnomapa, não foram inseridos na legenda,


pelo fato desses símbolos pertencentes à camada dos recursos pesqueiros como, uma
área de manguezal próxima ao Araripe, sede da AMAPEB, uma cascata, próxima a
central de abastecimento e a ilha do medo. Este último símbolo, mesmo fazendo parte
do território do município de Itaparica, é considerada pelas mulheres como importante
local de pesca e mariscagem.

6.5.2 Segunda oficina: dos recursos pesqueiros aos problemas e dificuldades

Na segunda oficina, realizada na casa da pescadora Antonia Ferreira, no dia 25


de setembro de 2014, as mulheres deram continuidade na construção da camada dos
recursos pesqueiros, dando formatos e colorindo ao etnomapa, bem como inseriram
novos símbolos e construíram a legenda. A oficina contou com a participação de um
mediador, uma relatora e uma fotógrafa. As mulheres foram estimuladas a falarem sobre
a orientação espacial que elas utilizam para reconhecimento dos pontos cardeais (norte,
sul, leste, oeste). Elas utilizam o sol como referência, relatando que o sol nasce no lado
da praia. Após discussão sobre o nascimento e o pôr do sol, o norte foi inserido no mapa
pelas mulheres (Figura 11).

Figura 11 – Compartilhando conhecimentos sobre pontos cardeais

Fonte: O autor.
73

O mapa dos recursos pesqueiros (Figura 12) foi composto pelas artes de pesca
utilizadas pelas mulheres: puçá, jereré, cavador, facão, proteção, rede, balde; os
pesqueiros; as pontes; os rios: rio limpo e rio poluído; o posto de saúde; a AMAPEB; o
manguezal; a ilha do medo; as peixarias, os pescados que são capturados por elas: aratu
(Goniopsis cruentata), bebe-fumo (Anomalocardia brasiliana), camarão-rajado
(Farfantepenaeus subtilis), sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri) e camarão-branco
(Litopenaeus schmitti), lambreta/sarnambi (Phacoides pectinatus), ostra (Crassostrea
sp.), peixes, rala-coco (Trachycardium muricatum), siri (Callinectes sp.) e a tarioba
(Ephigenia brasiliensis). O Posto de Saúde foi inserido novamente, retratando a relação
de dependência existente entre as pescadoras e os serviços oferecidos pelo posto de
saúde. Segundo as pescadoras na ocorrência de alguma emergência médica ou acidente
durante a atividade de pesca elas procuram o posto de saúde para realização dos
primeiros socorros.

Figura 12 – Etnomapa dos recursos pesqueiros de Bom Jesus dos Pobres

Fonte: O autor.
74

O que bem tem aqui é pesqueiro, o povo agora só quer pescaria fácil.
Capricha aí! O sururu, cadê o rio? Cadê os mangues? Botou os mangues no
rio? Bote o mangue. Esse é o rio da gente! Não é? Tem um bocado de
mangue aí na beira desse rio. Em cima dos mangues tem que botar os aratus,
em baixo tem que botar o sururu, e os caranguejos também, tudo no mangue.
O caranguejo e o sururu são em baixo e o aratu é em cima das galhas do
mangue, a ostra também, tem as da pedra, mas têm as que ficam no mangue,
agarradas com mangue, o siri de mangue pode botar um ou outro que ainda
se acha. Não é? Na praia, o pesqueiro em seguida o peixe, aí mesmo vai ter
que botar o bebe-fumo, o puçá, o jereré, a tarioba, tudo isso é na areia, perto
do pesqueiro, ao redor do pesqueiro, o siri pode perto e fora, pode botar ostra.
(Pescadora A).

Ao finalizar o mapa dos recursos pesqueiros, as pescadoras iniciaram a


construção do mapa dos problemas e dificuldades. As participantes foram estimuladas a
pensarem nos problemas enfrentados pelas mulheres, marisqueiras, donas de casa,
problemas que afetam a comunidade de Bom Jesus dos Pobres. Foram citados alguns
problemas como, por exemplo, poluição na maré e do rio, o peixe venenoso chamado de
niquim (Thalassophryne nattereri), a diminuição dos estiques de mariscos, sendo o siri
e o camarão como principais organismos a sofrerem baixa populacional.

O niquim é venenoso e tem três espinhos, agora a beatriz é cheio de espinhos,


pior que o niquim, o niquim parece um sapo, aquele sapinho de rabo quando
bota os filhotes. (Pescadora D)
O niquim se come, não é muito delícia não, que a carne é muito doce, o povo
pega pra secar, eu gosto dele seco, qualquer um que me espetar eu trago pra
casa. (Pescadora A)

Na sequência, o mapa dos problemas e dificuldades foi finalizado com a seguinte


composição de símbolos: ouriço (Lytechinus variegatus), o peixe venenoso beatriz
(Scorpaena brasiliensis), niquim (peixe venenoso), diminuição do aratu (Goniopsis
cruentata), diminuição do camarão (Litopenaeus schmitti, Farfantepenaeus subtilis e
Xiphopenaeus kroyeri), diminuição do caranguejo (Ucides cordatus), diminuição do siri
(Callinectes sp.), pesca com bomba, conflitos entre associações e colônia, falta do
Conselho Tutelar, falta de colégio de ensino médio, falta de creche, falta de espaço de
lazer, falta estrutura no posto médico, falta farmácia, falta lotérica ou banco, falta
pavimentação, falta espaço físico do NAM, saneamento básico, oscilação na energia,
problemas na iluminação pública e poluição no rio e segurança pública (Figura 13).
75

Figura 13 – Etnomapa dos problemas e dificuldades de Bom Jesus dos Pobres

Fonte: O autor.

6.5.3 Terceira oficina: construindo as legendas

A terceira oficina, ocorrida no dia 02 de outubro de 2014, contou apenas com


um facilitador e foi realizada na casa da pescadora Ana Cristina S. Santos, que deu
início às atividades apresentando os mapas que já tinham sido elaborados para uma das
pescadoras que não tinha participado das duas oficinas passas.

É o terceiro mapa que a gente faz da nossa região. A gente já fez o quê? Não
é meninas? Aqui onde a gente vai mariscar, aqui são os mariscos: camarão,
ostra, bebe-fumo, sururu, siri, tarioba, caranguejo. Os materiais que a gente
vai mariscar. E aqui é o mapa da cidade, não é? Bom Jesus! Aqui é nosso rio,
rio limpo. O da gente, aqui vem, aqui é a igreja, chega aqui tem o rio da
praça, aquele rio poluído. Isso aqui Raimunda é muito bom, aqui não é pra
mim, não é pra Dane, não é pra Roquilda, não é pra Manuela, é pra todo
mundo, só que o povo não se interessa. (Pescadora A)

Durante a oficina as participantes construíram as legendas e inseriram os títulos


nos primeiros mapas, finalizando-os (Figura 14). Inseriram também o símbolo do norte
no mapa dos problemas e dificuldades. As pescadoras se dividiram em dois subgrupos e
76

enquanto duas finalizavam os primeiros mapas, três iniciavam a construção do mapa das
políticas públicas. As participantes tiveram o primeiro contato com uma imagem de
satélite extraída do Google Earth. Ao concluírem a construção das legendas e inserção
dos títulos, as cinco pescadoras continuaram a construção do mapa das políticas (Figura
15).

Figura 14 – Finalização dos etnomapas: A – Inserção do título do etnomapa


de Bom Jesus dos Pobres; B, C e D – Construção das legendas dos mapas
dos de Bom Jesus dos Pobres, políticas públicas e recursos pesqueiros,
respectivamente

Fonte: O autor.
77

Política pública é o defeso, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Luz para
Todos. Como é que chama? Tem o benefício que diminui a taxa de energia, é
Tarifa Social. O Mais Educação vai ser o dia todo as crianças, viu? De manhã
até de tarde vai funcionar como uma creche. O Seguro-Desemprego é do
defeso do camarão, abril e setembro, demos entrada em março, para receber
em abril e maio, vamos dar entrada em agosto para receber em setembro e
outubro. Mesmo com o defeso do camarão o camarão está sumindo, tem
época, depende da maré, tem maré que tá boa, tem maré que não tá. Só faz
tirar, tirar, tirar, os pequenininhos, os filhotes. Responsabilidade da
população. Tem pescador que não respeita o defeso não, quando solta a
bomba e os peixes aparecem mortos e apodrecem a ninguém aparece,
imagine. Não tem nenhum órgão para fiscalizar, nenhum desses órgãos
fiscaliza. Quando o marido morre, a mulher fica recebendo pensão,
pensionista. (Pescadora A)
Falta o TOPA, Licença Maternidade, Auxílio Doença, Aposentadoria
também por tempo de serviço e por idade, que às vezes não tem tempo de
serviço, mas já tem idade. (Pescadora B)

Figura 15 – Construção do mapa das políticas públicas

Fonte: O autor.

As pescadoras demonstraram conhecimento sobre as políticas públicas e os


programas sociais os quais elas estão inseridas. Discutiram sobre o papel do NAM e do
Conselho Tutelar na comunidade e da necessidade de terem uma sede dos dois órgãos
no distrito de Bom Jesus dos Pobres. “Tem o NAM em Saubara, Núcleo de Atenção à
Mulher pra mulher que sofre violência, e o Conselho Tutelar.” (Pescadora A). “Falta
atenção à mulher em Bom Jesus e falta Conselho Tutelar.” (Pescadora C).
78

As pescadoras se referiram ao PISS como um auxílio que a Prefeitura Municipal


de Saubara criou em 2013. O programa surgiu com o intuito de complementar a renda
de algumas famílias que recebiam o Bolsa Família e classificadas pelo município como
inseridas abaixo da linha da pobreza, que mesmo com o recurso recebido do Bolsa
Família continuavam vivendo em condições econômicas precárias. “O PISS que a
prefeitura paga é uma ajuda de custo que a Prefeitura paga pra gente.” (Pescadora A).
Foram citados também o HIPERDIA, o antigo Programa de Educação Tutorial - PET , o
TOPA e o Mais Educação e o Hand Social.

Remédio eu recebo, tem mês que tem, tem mês que não tem, é no posto que
pega. HIPERDIA, Programa de Acompanhamento para hipertensos e
diabéticos. (Pescadora C)
Até 2013 tinha agora não tem mais. O PET não tem mais, agora é o Mais
Educação. O PET e o TOPA foram até o ano passado. Se esse programa
voltar eu vou estudar. (Pescadora B)
Eu me formei no TOPA, tenho certificado e tudo. (Pescadora D)
Sim minha gente, tem aquele que os meninos jogam bola, o handebol, coloca
na praia. (Pescadora A).

As integrantes destacaram o Seguro-Desemprego, que surgiu em 2008 após a


ocorrência da maré vermelha e permaneceu devido ao defeso do camarão, como um
benefício que mudou a vida delas. Contudo as pescadoras relatam que mesmo o Seguro-
Desemprego sendo um benefício importante, ele chegou à vida delas após um desastre
socioambiental: “Foi uma tragédia, tem o lado ruim e o bom. Houve uma grande
mudança na vida de muita gente.” (Pescadora E).
A criação dos símbolos e a suas localizações no mapa foram realizas de forma
coletiva onde as participantes elegeram responsáveis aquelas mulheres com maior
conhecimento e experiência na atividade pesqueira.
79

O símbolo da bolsa família coloca nas casas, aposentadoria coloca por casa,
[...] aposentado, o negócio da bolsa família também. As mulheres
aposentadas vão pra maré. Auxílio doença bota nas casas, se tá doente, o
auxílio é uma espécie de ajuda, é um benefício [...] bote o nome PISS,
Programa de Inclusão Social de Saubara, não bota muito não, bota no
Araripe. O Conselho Tutelar bote mais pra aquela área pra cima, da invasão,
o Conselho age mais do lado de lá, pelo menos o que eu sei, graças à Deus
aqui age pouco. Creche bota nas escolas. O TOPA é no colégio, no Isaura
Barroso, Tarifa Social nos postes, falta de saneamento bota nas ruas. O
PRONATEC teria que fazer um ônibus com os estudantes dentro [...] ações
do NAM seriam próximas as casas também, o NAM é que protege a mulher.
Onde vive a família? Nas casas, não é? (Pescadora E)

O mapa das políticas públicas foi finalizado com as seguintes camadas: Ações
do NAM, TOPA, Aposentadoria, Auxílio Doença, Tarifa Social, Mais Educação,
Licença Maternidade, Seguro Desemprego, Ações do Conselho Tutelar e Bolsa Família
(Figura 16).
Os etnomapas apresentaram uma riqueza de detalhes, durante as três primeiras
oficinas foram construídos quatro etnomapas com um total de 68 camadas.

Figura 16 – Etnomapa das políticas públicas que beneficiam as pescadoras de Bom


Jesus dos Pobres

Fonte: O autor.
80

6.5.4 Quarta oficina: interpretando uma imagem de satélite

Realizada no Centro Comunitário N. Sr.ª da Conceição, no dia 17 de dezembro


de 2014, a quarta oficina foi composta por cinco pescadoras e a secretária do STTRMS,
com apenas um facilitador. As discussões iniciaram em torno da constituição da
primeira associação de marisqueiras e pescadores de Bom Jesus dos Pobres a
AMAPEB, fundada em 2002, quando as mulheres começaram a ter o entendimento que
poderiam ser reconhecidas como marisqueiras e garantir seguridade social, como a
aposentadoria e outros benefícios. Contudo as pescadoras demonstraram preocupação
com a quantidade de mulheres que afirmam serem pescadoras, que são associadas a
alguma organização social ligada à pesca, recebem Seguro-Desemprego devido ao
defeso do camarão, mas não exercem atividades ligadas à pesca.

Hoje eu fico assim besta, porque muita gente hoje abre a boca e diz assim: eu
sou marisqueira! Antigamente a mais ou menos 10, 12 anos atrás tinha
vergonha era dona de casa, doméstica. Se tinha um documento botava dona
de casa, doméstica, marisqueira tinha vergonha, depois de 10 anos pra cá que
começou a ter marisqueira. Depois dessa época as marisqueiras nenhuma
delas pagavam, tem pessoas com 60, 70 anos e não podia se aposentar,
porque não podia provar, sendo que a comunidade sabe que a vida toda viveu
de maré. (Pescadora E).

Para a Pescadora E existem duas maneiras de visualizar o defeso e categorizou


as mulheres que recebem, mas não possuem relações com a maré: “Ajudou? Ajudou,
ajuda muito a pescadora, mas também através desse defeso houve muita marisqueira de
araque [...]”.
Nesta oficina as participantes foram convidadas a fazerem um apanhado geral
dos mapas elaborados por elas e verificaram que estavam faltando unificar as
informações: “Tá faltando fazer um mapa com todos esses problemas, unificar. Se tem
um mapa de cada problema vai ter que unificar tudo em um só.” (Pescadora E).
Sinalizaram também que estavam faltando algumas representações simbólicas nos
mapas como, as religiões de matrizes africanas, a bica, um ponto turístico, a cascata,
hotéis, pousadas, o Centro Comunitário N. Sr.ª da Conceição, a associação de
empreendedores AEPAB, os programas sociais PRONATEC, PISS e Hand Social, que
foram citados nas oficinas anteriores, mas não foram inseridos nos mapas (Figura 17).
81

No mapa de Bom Jesus está faltando os terreiros de candomblé, têm um


bocado. Têm as igrejas evangélicas e católica, estão aí, é o que nós temos,
então se nós temos isso ninguém vai tapar o olho e dizer que em Bom Jesus
não existem esses terreiros de candomblé. (Pescadora E).

Figura 17 – Revisão sobre as camadas inseridas nos etnomapas

Fonte: O autor.

As participantes trouxeram para discussão um fator preocupante para elas, que é


a pesca com bomba, assunto da segunda oficina, evidenciando a necessidade de
fiscalização na região, relatando que as pessoas que realizam esta pesca são de outras
localidades e que pescam e vendem o peixe em Bom Jesus: “Quem joga bomba não é
nem os daqui, são os de fora, eles vendem aqui, se eles vendem aqui é porque eles têm
como vender o peixe de bomba.” (Pescadora E).
Após concluírem a relação representações simbólicas precisavam estar no mapa
consensual, as participantes receberam um mapa da região feito pelo pesquisador
(Figura 18) utilizando uma ortofoto Landsat (2010), na escala 1:10.000, cedida pela
CONDER.
82

Figura 18 – Imagem georreferenciada de Bom Jesus dos Pobres

Fonte: (CONDER, 2010). Elaborado pelo autor.


83

As participantes foram convidadas a analisarem a imagem e comparar os mapas


elaborados por elas, com a imagem georreferenciada. Incentivadas pelo pesquisador, as
participantes puderam dialogar sobre a escala da imagem georreferenciada e sobre as
coordenadas geográficas do mesmo. Percebendo algumas similaridades da imagem com
os etnomapas, com o auxílio de um papel vegetal, lápis de cor, canetas coloridas e a
própria imagem, as mulheres iniciaram a elaboração do mapa consensual de Bom Jesus
dos Pobres (Figura 19).

Figura 19 – Construção do mapa consensual de Bom Jesus dos Pobres

Fonte: O autor.
84

6.5.5 Quinta oficina: construindo um EtnoSIG

No dia 08 de janeiro de 2015, na casa de Raimunda Oliveira, foi realizada a


quinta oficinas com o objetivo de continuar a construção do mapa consensual e,
simultaneamente, as participantes iniciaram a construção de um EtnoSIG, utilizando os
etnomapas como norteadores da construção e inserções dos shapes13 no ArcGis 10.1. As
participantes foram apresentadas ao software e puderam manuseá-lo com o auxílio do
pesquisador. Os shapes foram criados e adicionados ao projeto do mapa e
posteriormente os símbolos foram digitalizados. Tomando como base os símbolos
criados pelas participantes, estes foram inseridos como representações de cada shape
específico. As participantes perceberam a ausência da praia de Araripe, parte de Bom
Jesus dos Pobres, no mapa consensual. Para solucionar o problema a praia de Araripe
foi adicionada no projeto do EtnoSIG no ArcGis.

6.5.6 Sexta oficina: percorrendo os manguezais

Sediada na casa de Raimunda Oliveira, no dia 09 de janeiro de 2015, a sexta


oficina foi realizada com o objetivo de continuar a elaboração do mapa consensual e do
EtnoSIG. Ao inserir os símbolos do manguezal no etnomapa, as mulheres perceberam a
ausência do caranguejo (Ucides cordatus) e do sururu (Mytella sp), assim como a ausência
do Peguari (Strombus pugilise) e do Anomura conhecido por elas como Gorogondé.

Tem um bocado de mangue aí na beira desse rio. Em cima dos mangues tem
que botar os aratus, em baixo tem que botar o sururu, e os caranguejos
também, tudo no mangue. O caranguejo e o sururu são em baixo e o aratu é
em cima das galhas do mangue [...]. Não lembraram do malvado do
gorogondé, não foi? Não tem nada não, é um marisco afrodisíaco, acha
dentro do casco dos outros. Eu como ele frito, o povo faz muito com farinha,
aqui. (Pescadora A).

13
Arquivo digital que representa uma feição ou elemento gráfico, em formato de ponto, linha ou polígono
contendo uma referência espacial (coordenadas geográficas) de qualquer que seja o elemento mapeado.
85

Após instruídas de como de todo processo desse construção do EtnoSIG, desde a


criação dos shapes à inserção dos símbolos no projeto, as pescadoras manusearam o
programa identificando os locais e inserindo os símbolos nos devidos lugares (Figura
20).

Figura 20 – Construção do EtnoSIG de Bom Jesus dos Pobres

Fonte: O autor.

6.5.7 Sétima oficina: tecendo uma linha do tempo

A sétima oficina foi realizada no dia 20 de janeiro de 2015, no Centro


Comunitário N. Sr.ª da Conceição com o objetivo de continuar a construção do mapa
consensual e a construção de uma linha do tempo envolvendo os principais
acontecimentos da comunidade entre os anos de 1988 a 2013 (Figura 21 e Quadro 7).
As pescadoras relataram sobre os apetrechos que utilizavam para captura do pescado em
1988 e como estes apetrechos foram sendo modificados ao longo do tempo: “Em 1988
ia pra maré, eu facheava, era naquela época que fazia facho. A gente usava cofo e
balaio. Nós cavávamos bebe-fumo de colher, não tinha esse negócio de cavador, era de
86

colher.” (Pescadora E). O facho, um dos apetrechos utilizado para captura do siri mole
sofreu duas grandes mudanças.

A gente tinha que ir ao mato pegar palha de coqueiro, de dendezeiro, do


licurizeiro. Na realidade a gente não conhecia puçá, não conhecia jereré, não
tinha nada disso, era linha, puxava na isca, não tinha nada disso, era linha de
licuri. Hoje está tudo avançado, só falta a gente ficar sentado e dizer pro siri:
Venha, tome! O puçá veio lá pra 1999. Aqui em 1995 a lanterna de bujão de
gás de 18 kg substitui o facho, 18 kg pra ir todo dia com aquele peso
medonho que quando vinha, vinha torta de um lado só. Em 2010, lanterna de
luz amarela, pra fachear, pegar siri mole; em 2011, lanterna de LED até hoje.
(Pescadora F)

Figura 21 – Construção da linha do tempo entre os anos de 1988 a 2013

Fonte: O autor
87

Quadro 7 – Linha do tempo construída pelas pescadoras durante a sétima oficina de


etnomapeamento
Período Acontecimento importante relatado pelas pescadoras
As pescadoras utilizavam faixo feito com palha de licuri, coqueiro e dendezeiro para
capturar o siri mole. Segundo elas, às vezes, queimavam as roupa e os cabelos
1988 a Toda a comunidade utilizava barcos a vela
1992 As mulheres carregavam saco com marisco na cabeça
Já utilizavam cofo, faca, balaio, colher e facão na captura do pescado
A pesca era realizada com linha e jereré
1993 O Puçá é introduzido na comunidade
O Muzuá passa a ser utilizado para captura do pescado
1994
A pesca começa a ser realizada com canoas a motor
1995 a
A lanterna de bujão a gás de 18 kg substitui o faixo utilizado na captura do siri mole
1997
1998 As mulheres começaram a contribuir com Sindicato Rural
Os homens da comunidade já recebiam o Seguro-Desemprego referente ao defeso
1999
do camarão
O puçá foi adaptado, ficou menor e menos pesado. Segundo as pescadoras o
2000
manuseio ficou melhor
Em 06 de agosto foi fundada a 1ª associação das marisqueiras de Bom Jesus:
2001
Associação de Marisqueiras e Pescadores de Bom Jesus dos Pobres - AMAPEB
Houve um recadastramento da profissão de marisqueiras
2002 a
As mulheres afirmaram possuírem mais reconhecimento enquanto marisqueiras e
2003
pescadoras.
Implantação do Projeto Manatí, da Petrobrás, com a passagem do gasoduto na
2004
comunidade
2005 a
A comunidade começa a receber apoio das universidades
2006
Ocorreu a chamada “maré vermelha”, tornando o mar impróprio para pesca
As mulheres começaram a se associar e voltar a pagar a Associação e ao Sindicato
2007
AMAPEB obtém a inscrição do CNPJ
As marisqueiras passam a querer reconhecimento
Associação passou a ser reconhecida
As mulheres, marisqueiras começam a receber o Seguro-Desemprego do defeso do
2008
camarão
Aumento de índice de câncer
2009 AMAPEB recebe duas canoas (projeto UFRB/FAPESB)
O bojão a gás foi substituído pela lanterna à pilha, luz amarela utilizada para captura
2010
do siri mole
Depois de um ano a lanterna de luz amarela deu lugar a lanterna de LED, luz branca,
2011 utilizada para captura do siri mole facilitando a captura, por ser menos pesada e
possuir boa iluminação
Fundada em Bom Jesus dos Pobres a Associação de Empreendedorismo de Pesca e
2012
Mariscagem artesanal - AEPAB
Em Outubro foi fundada, em Saubara, a Associação de Pescadoras e Pescadores de
2013
Saubara - APPS
Fonte: O autor.
88

Em 2007, com a ocorrência de uma maré vermelha, a rotina, a qualidade de vida


das pescadoras e a economia local sofreram modificações significativas. A rotina de ir
para maré foi interrompida, as pescadoras começaram a receber o Seguro-Desemprego,
melhorando a qualidade de vida. Essas mudanças trouxeram consequências positivas e
negativas como relatam as pescadoras.

Em 2007 foi a decepção do mundo todo, foi aquela maré vermelha, foi aquela
“desgraceira no caminho da feira”, parou a pesca, até hoje está fazendo
miséria aí no mar, e ninguém está fazendo nada. Aí foi que acabou com o
costeiro, e o índice de câncer em Bom Jesus aumentou, que hoje só é câncer,
não tem outra doença não, foi depois desse desespero de vida que teve. Teve
o defeso, mas em compensação a maré ficou poluída o tempo todo e as
doenças atacando a gente, o dinheiro não tá tirando a doença, nem a poluição
que tá na maré. Que doença que não tinha? Desde quando a gente vai pra
maré? (Pescadora F)

As pescadoras relatam que em 1999 os pescadores da comunidade já recebiam o


defeso. A concessão do benefício de Seguro-Desemprego a pescadores artesanais,
durante os períodos de defeso, foi estabelecida pela Lei Nº 8.287, de 20 de dezembro de
1991, e foi revogada a partir da sanção da Lei No 10.779, de 25 de novembro de 2003,
que regulamenta o Seguro-Desemprego ao pescador artesanal durante o período do
defeso (BRASIL, 2003).

Aqui assim, 1999 os homens já recebiam o defeso na Colônia. Foi de 1999


pra cá que começou a reconhecer a desova do camarão, porque a desova do
camarão sempre teve, mas antes o povo pagava a pesca e não recebia nada, só
aposentava. É um direito que a pessoa conquistou de ser pescador e se
aposentar, mas não que recebia defeso. (Pescadora F)

As pescadoras, conhecidas como marisqueiras, tinham vergonha de declarar a


sua atividade, principalmente nos cadastros escolares dos filhos. Após a maré vermelha,
em 2008, as marisqueiras começam a receber o defeso e a valorizar a atividade de
mariscagem como uma profissão, neste momento muitas mulheres se assumem
marisqueiras. As marisqueiras exercem principalmente atividades costeiro-estuarinas,
através da coleta de crustáceos e moluscos, mas também participam da pesca do
camarão e do beneficiamento deste. Pelo fato de não ter legislação que trate
especificamente da atividade de mariscagem, o Estado categorizou a marisqueira como
pescadora. A partir dessa categorização as mulheres criaram certo tipo de aversão ao
termo marisqueira e se auto identificam como pescadoras. Esta mudança identitária
ocorreu devido ao receio de perderem os direitos em quanto pescadoras se continuassem
89

se auto afirmando como marisqueiras. “Pescadora pesca tudo, a gente recebe o defeso
do camarão, se disser que a gente é marisqueira, marisqueira o quê? Marisqueira estava
catando siri! (Pescadora A) “Hoje todo mundo tem orgulho de abrir a boca pra dizer:
pescadora sim. Porque recebe o defeso, assegurada especial no INSS, aposenta com uns
15 anos de contribuição.” (Pescadora F). Algumas pescadoras ainda afirmam que são
marisqueiras, mas enfatizam que além de serem marisqueiras são pescadoras,
assumindo ambos os papeis, marisqueira atuando na coleta de moluscos e crustáceos e
pescadora, participante da pesca, beneficiamento e venda do camarão.

6.5.8 Oitava oficina: finalizando rabiscos

A oitava e ultima oficina foi realizada no dia 04 de fevereiro de 2015, com


participação de um facilitador e cinco pescadoras, no Centro Comunitário N. Sr.ª da
Conceição (Figura 22). O objetivo da Oficina foi finalizar a construção do mapa
consensual, mas devido à riqueza de detalhes as participantes não conseguiram terminá-
lo.

Figura 22 – Continuação da construção do mapa


consensual de Bom Jesus dos Pobres

Fonte: O autor.
90

É digno de nota, que durante todas as oficinas as pescadoras demonstraram total


interesse em construírem os mapas e dialogarem sobre os quatro temas principais das
oficinas. Duas das participantes das duas primeiras oficinas tiveram sua participação
interrompia, pois no verão elas exercem atividades que impossibilitava a participação.
Quatro das 13 participantes levavam seus filhos para as oficinas, pois não tinham com
quem deixar e precisavam exercer os papeis de mãe e pescadora. Muitas das pescadoras
relataram que em quanto estavam participando das oficinas, as bacias de siri às
aguardavam, assim como a preparação da janta e/ou café. A Figura 23 demostra a
representação dessas mulheres, pescadoras e mães, que participaram desse processo de
construção coletiva do saber.

Figura 23 – Construção do etnomapa consensual de Bom Jesus dos Pobres

Fonte: O autor.
91

O etnomapa consensual ficou na comunidade como os demais mapas, assim as


mulheres tiveram mais tempo para poder finalizá-lo. O mapa foi concluído no dia 23 de
fevereiro de 2015 (Figura 24).

Figura 24 – Etnomapa consensual de Bom Jesus dos Pobres

Fonte: O autor.
92

7. RESULTADOS: ELABORAÇÃO DOS PRODUTOS

Os resultados desta pesquisa foram reunidos em duas ferramentas de gestão de


políticas públicas: Uma Cartografia Social e um Resumo das Políticas (informativo
sobre as políticas públicas que beneficiam as pescadoras artesanais de Bom Jesus dos
Pobres). Tais produtos serão disponibilizados na forma impressa e digital, seguidos de
uma descrição do processo de elaboração destes.

7.1 CARTOGRAFIA SOCIAL

A partir dos registros audiovisuais das oficias realizadas com as pescadoras


foram extraídos depoimentos, informações sobre a infraestrutura e características
socioculturais do distrito de Bom Jesus dos Pobres assim como sobre os recursos
pesqueiros, os problemas, as dificuldades e as políticas públicas. Tais registros foram
essenciais para construção da Cartografia Social (Apêndice C), na Figura 25 é possível
visualizar a capa e contra capada do documento.

Figura 25 – Contracapa e capa da Cartografia Social

Fonte: O autor
93

O documento impresso possui formato A1 (594 × 841), contendo oito dobras,


reduzindo o formato para A4, apresentando cinco páginas e as seguintes divisões: capa;
contracapa; folha de rosto e ficha catalográfica; Bom Jesus dos Pobres; Pesca ou
mariscagem?; Recursos Pesqueiros; Problemas e Dificuldades; Políticas Públicas;
Organização social; Juntando informações em um só mapa; Linha do tempo; Glossário
e Siglas; Identificação das espécies citadas. No verso da Cartografia um EtnoSIG
representado na Figura 26.
Foram utilizados softwares livres para tratar os áudios (Audacity 2.0), auxiliar
nas transcrições (Express Scribe Transcription 5.69), criação dos símbolos digitas do
EtnoSIG (GIMP 2) e na elaboração da Cartografia Social (Inkscape 5.1). Antes da
impressão do documento será realizada uma reunião com as participantes das oficinas
para sua validação.

Figura 26 – EtnoSIG de Bom Jesus dos Pobres

Fonte: O autor.
94

7.2 RESUMO DE POLÍTICAS

Os registros das oficinas e a caracterização das políticas públicas auxiliaram na


elaboração do Resumo de Políticas (Apêndice D) que foi organizado em um documento
com quatro seções, contendo 10 páginas. A primeira seção, a Introdução, apresenta os
conceitos básicos de que trata o documento e seu foco principal. A segunda seção,
Evidências e Análises, apresenta dados da literatura bem como lições aprendidas da
experiência da pesquisa de Mestrado Profissional em Planejamento Territorial, na
execução do projeto intitulado “A etnoecologia de pescadoras e as políticas públicas de
gênero feminino em Bom Jesus dos Pobres, Saubara – BA”. Essa pesquisa foi realizada
com o objetivo de analisar as políticas públicas que beneficiam as pescadoras e
marisqueiras do ambiente em estudo, entre os anos de 1988 a 2013, buscando fortalecer
a luta pela igualdade de gênero na atividade pesqueira. Também apresenta de maneira
sintética ferramentas e técnicas de geração de dados. A terceira seção, Implicações e
Recomendações, trás recomendações para orientar políticas públicas relacionadas ao
tema tratado no documento. A quarta e ultima seção, os Créditos, apresenta os
pesquisadores e a equipe de apoio, bem como outras informações relevantes, tais como:
contato da universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS e do Núcleo de Pesquisa,
Ambiente, Sociedade e Sustentabilidade - NUPAS, leituras recomendadas, correio para
contato etc.
O conhecimento das pescadoras artesanais, sistematizado e analisado a partir da
interpretação dos dados coletados durantes as entrevistas bem como na elaboração de
mapas temáticos sobre a comunidade, os recursos pesqueiros, problemas e dificuldades
políticas e programas permitiram estabelecer princípios e recomendações ao poder
público (Quadro 8).
95

Quadro 8 – Princípios e recomendações contidas no Resumo de Políticas


Áreas Princípios e Recomendações
Gestão das Ampliação da participação popular no planejamento de ações e avaliação
Políticas das políticas públicas.
Públicas
Fiscalização do cumprimento do defeso do camarão e acompanhamento dos
beneficiários do seguro desemprego referente a este defeso;
Garantia da
Fiscalização de ações que incentivam a pesca predatória com explosivo,
manutenção da
conhecida pelas pescadoras com “pesca com bomba”;
biodiversidade
Criação de políticas de proteção à reprodução e recrutamento do siri
marinha
(Callinectes sp);
Revitalização do rio da praça.
Construção de espaços de lazer;
Construção de um posto policial;
Infraestrutura Pavimentação das ruas;
Saneamento básico;
Melhorias na rede de iluminação pública em todo o distrito.
Investimentos na construção de um espaço físico de atendimento do NAM e
Políticas Sociais Conselho Tutelar.
Melhorias na Segurança Pública.
Melhorias na estrutura física e profissional do posto de saúde;
Saúde Regularização do funcionamento dos programas HIPERDIA;
Implantação de uma Farmácia Popular.
Retorno do Programa TOPA - Divulgação e mobilização da comunidade;
Educação Construção de uma Creche que permita às pescadoras deixar seus filhos
para poder realizarem suas atividades diárias.
Emprego e Ampliação dos investimentos para qualificação de jovens e adultos.
Renda
Elaboração de um plano de turismo, de forma participativa, que contribua
Turismo na preservação ambiental do distrito, na exploração e fortalecimento da
cultura local.
96

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da análise das políticas públicas que beneficiam as pescadoras do


distrito de Bom Jesus dos Pobres, entre os anos de 1988 a 2013, verificou-se a
existência de 20 programas, sendo nove no âmbito social, oito na saúde e três na
educação. Durante as oficinas, as pescadoras citaram oito destes programas: Bolsa
Família, Bolsa Escola, o Seguro-Desemprego durante o período de defeso do camarão,
o Programa de Integração Social de Saubara – PISS, Auxílio Doença, Aposentadoria,
o Programa TOPA e o Mais Educação. Sendo que duas dessas são consideradas pelas
pescadoras como as principais políticas que as beneficiam: Seguro Desemprego,
referente ao defeso do camarão que beneficia aproximadamente 4.500 famílias no
distrito e o Programa Bolsa Família que beneficia 346 famílias em Bom Jesus dos
Pobres.
A participação das pescadoras na elaboração e avaliação das políticas públicas
ocorre, de forma precária, durante atividades de planejamentos do município e em
assembleias bem como através dos conselhos municipais.
Foram identificadas mudanças na atividade sociocultural das pescadoras
artesanais quanto aos apetrechos utilizados na atividade pesqueira como, por exemplo: a
introdução do puçá na comunidade em 1993; do muzuá; o surgimento de barcos a motor
em 1994; a substituição do faixo de palha, já utilizado em 1988 para capturar siri mole
(Callinectes sp), por botijão de gás de 18 kg em 1995, em seguida por lanterna de luz
amarela à pilha em 2010, e mais recentemente em 2011 a lanterna LED começou a ser
utilizada. Estas e outras mudanças decorrentes das necessidades e adequações
tecnológicas influenciaram na melhoria de qualidade de vida das pescadoras, devido à
diminuição do esforço de pesca. Contudo, o avanço tecnológico que chegou à
comunidade e contribuiu para maior produção na captura do pescado, não garantiu a
sustentabilidade dos recursos pesqueiros. Isto porque, fenômenos como a maré
vermelha e os impactos antrópicos refletiram na diminuição dos recursos pesqueiros.
Neste sentido políticas públicas surgiram para auxiliar a resolução de problemas sociais
e garantir a manutenção de recursos pesqueiros como, por exemplo, o Seguro
Desemprego referente a defeso do camarão.
97

Com relação às políticas públicas verificou-se que 78% das entrevistadas não
demonstraram entendimento sobre o assunto. Evidenciando a necessidade da ampla
divulgação sobre o tema e criação de espaços de debate sobre o mesmo, promovido
principalmente pelo movimento social ligado à pesca e do poder público municipal do
distrito.
Os produtos previstos inicialmente (Cartografia Social & Resumo de Políticas)
foram elaborados com a participação das pescadoras e podem se constituir em
ferramentas de gestão de políticas públicas.
A participação das pescadoras foi fundamental para realização da pesquisa e
produção dos resultados, que traduziram o empoderamento das participantes, enquanto
mulheres e pescadoras pertencentes à comunidade, que se apropriaram de ferramentas
de gestão, que traduzem conhecimentos e apontam a necessidade de fortalecimento da
luta pela igualdade de gênero na atividade pesqueira.
Esta pesquisa possibilitou o reconhecimento de que há necessidade de estudos
referentes à gestão das políticas públicas de gênero que auxiliem o poder público na
tomada de decisões. Assim como em estratégias de amadurecimento das formas de
participação social na construção dessas políticas.
98

REFERÊNCIAS

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_______. Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004. Unifica os procedimentos de gestão e


execução das ações de transferência de renda do Governo Federal. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil. Brasília. 9 jan. 2004.

_______. Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005. Institui o Programa Universidade


para Todos - PROUNI. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília. 13
jan. 2005.

_______. Lei n° 11.326, de 24 de julho de 2006. Estabelece as Diretrizes para a


Formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos
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_______. Lei Maria da Penha. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Dispõe sobre
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_______. Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007. Dispões sobre a implementação do


Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União Federal, em
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_______. Lei nº 12.513, de 26 de outubro de 2011. Institui o Programa Nacional de


Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – PRONATEC. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil. Brasília. 26 de out. 2011c.

_______.Lei nº 12.527, DE 18 de novembro de 2011. ; altera a Lei no 8.112, de 11 de


dezembro de 1990; revoga a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei
no 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. 18 de nov. 2011d.

_______. Lei nº 12.732, de 22 de novembro de 2012. Dispõe sobre o primeiro


tratamento de paciente com neoplasia maligna comprovada e estabelece prazo
para seu início. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília. 22 de nov.
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Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vinculo - SCFV. Diário Oficial da
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102

BRASIL. Lei nº 12.871, de 22 de outubro de 2013. Institui o Programa Mais


Médicos, altera as Leis no 8.745, de 9 de dezembro de 1993, e no 6.932, de 7 de
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Programa de Saúde da Família. Physis vol.15 suppl.0 Rio de Janeiro 2005.
108

APÊNDICES
109

Apêndice A

ROTEIRO DE ENTREVISTA DE CARACTERIZAÇÃO EM BOM JESUS DOS


POBRES, SAUBARA - BA

Endereço:________________________________________Contato:______________

DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS

1. Número:________ Data de nascimento:___/________/_____


2. Local de nascimento:________________________
3. Estado Civil:
4. Origem da pescadora:
5. Estado:__________Cidade:__________________ Tempo na comunidade:________
6. Raça/Cor:
7. Documentação pessoal:
8. Nível de escolarização:
9. Atualmente você está estudando?
10. Qual nível? (caso a resposta anterior seja positiva)______
11. Tem filhos: Quantos:____________________
12. Os filhos estudam:
13. Qual a fonte de renda da família? _________________________________________
14. Quanto é a renda familiar?
15. Qual o principal responsável pelo sustento da sua família?
16. Qual a situação da casa em que mora:
17. Quantos dormitórios/quartos existem na casa?
18. Quantos banheiros existem na casa?
19. Quantas pessoas moram na casa?
20. crianças (idade)________________ adolescentes (idade)_______________ adultos
(idade)_________________ idosos (idade)__________________
21. Tem energia elétrica?
22. Qual a procedência da água de consumo?
23. Pra onde vai os dejetos?
110

24. Qual o destino do lixo acumulado na casa?


25. Bens duráveis:
Bens
Bens duráveis Quantidade Quantidade
duráveis
Computador
Rádio
/Notebook
Máquina de
Tablete
Lavar
TV Geladeira
DVD Freezer
Telefone fixo Carro
Celular Moto
26. Que alimento consome com maior frequência durante a semana
27. Que animal possui em casa?
28. Assiste jornais com frequência?
29. Acessa a internet? De onde? ______________
30. Você participa de algum tipo de organização comunitária?
31. Qual (is)?____________________
32. Qual a função?_________________________________________________________
33. Como você avalia a organização
34. Como você avalia sua participação?

DADOS DE SAÚDE PÚBLICA

1. Que locais utiliza para realizar serviços médicos?


2. Qual o tipo de atendimento que utiliza?
3. Existem postos de saúde públicos próximo à sua residência?
4. Leva seus filhos para vacinar?
5. Leva seus animais (cachorro e gato) para vacinar?
6. Quais as doenças que mais afetam as mulheres da sua casa?
a) nas crianças:
_____________________________________________________________________
b) nos adultas:
______________________________________________________________________
c) nos idosas:
_______________________________________________________________________
7. Qual tipo de medicação utiliza?
111

8. Quais medicações naturais utiliza e pra quais finalidade?


_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS


1. O que entende sobre políticas públicas?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
2. É beneficiada por alguma política pública?
Sim (a) Não(b)
Qual(is)?________________________________________________________________
________________________________________________________________________
3. Caso pudesse discutir sobre a criação de uma política pública, que beneficiasse as
mulheres da comunidade, qual política criaria?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
112

Apêndice B

ROTEIRO DE ENTREVISTA DE CARACTERIZAÇÃO SOBRE AS


POLÍTICAS PÚBLICAS,
SAUBARA – BA
Órgão Público:_________________________________________________________
Representante:_________________________________________________________
Cargo/Função:_________________________________________________________
Tempo no órgão público (em anos):________________________________________
Telefone:______________________________________________________________
E-mail:________________________________________________________________

SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS


4. Quais são e como se implementam as políticas públicas (PP) que beneficiam de
forma direta as mulheres de Bom Jesus dos Pobres?

5. E sobre as (PP) que beneficiam de forma indireta as mulheres de Bom Jesus dos
Pobres?

Para cada PP, sinalizar a sua origem:

6. Nacional (a) Estadual (b) Municipal (c)

7. Quais os principais indicadores utilizados para realização do diagnóstico da PP,


com relação à situação vivenciada pela população?

8. Houve Planejamento? Se sim, quem participou?

9. Como e quando esta política foi implementada?

10. Como ocorre a sua avaliação? Quem participa?


113

11. Como essa política é divulgada para a comunidade?

12. Qual impacto causado por essa PP?

13. Quais os principais gargalos/entraves encontrados?

14. Como acha que esses entraves podem ser resolvidos?


114

PRODUTOS
A etnoecologia de pescadoras e as políticas públicas de
em Bom Jesus dos Pobres, Saubara – BA.

Gênero e Políticas Públicas no etnomapeamento da comunidade


pesqueira de Bom Jesus dos Pobres

Descrição que acompanha o Resumo de Políticas Públicas

Série do Mestrado Profissional em Planejamento Territorial – PLANTERR


Resumo de Políticas Públicas

Agradecimentos

Agradecemos a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – Fapesb, pelo


apoio financeiro.
Agradecemos a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia -
CONDER, por disponibilizar a imagem de satélite (Ortofoto Landsat, 2010) do
distrito de Bom Jesus dos Pobres.
Agradecemos a Prefeitura Municipal de Saubara e as suas Secretarias pelo auxílio
durante a pesquisa.
A Regina Santos, Secretária do Sindicato dos Trabalhadores, Trabalhadoras Rurais e
Marisqueiras de Saubara – STTRMS, pela dedicação e apoio durante a pesquisa. Ao
Luís Carlos, presidente do STTRMS pelo apoio.
A Associação das Marisqueiras e Pescadores de Bom Jesus dos Pobres – AMAPEB,
Associação de Marisqueiras de Saubara – MAS, Colônia de Pescadores e
Aquicultores z-16 de Saubara, e Associação de Pescadores e Pescadoras de Saubara –
APPS, pela dedicação e apoio.

Dedicamos esta pesquisa e deixamos um agradecimento especial às mulheres


pescadoras artesanais de Bom Jesus dos Pobres.

Autores

Regys Fernando de Jesus Araujo


Mestrando em Planejamento Territorial na Universidade Estadual de Feria de Santana
– MPPT/UEFS

Profº. Dr. Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira, Universidade Estadual de


Feria de Santana - UEFS

Profª. Drª. Acácia Batista Dias, Universidade Estadual de Feria de Santana - UEFS

2
Resumo de Políticas Públicas

A FAPESB, o MPPT e a comunidade de Bom Jesus dos Pobres não são responsáveis
pelo uso que pode ser feito dessa publicação. As visões aqui expressas são de
responsabilidade apenas do autor e não refletem necessariamente as visões da
FAPESB ou do PLANTERR/UEFS.

A reprodução e tradução para propósitos não comerciais são autorizadas, desde que se
refira e agradeça à fonte.

3
Resumo de Políticas Públicas

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 5

ESTRUTURA / SEÇÕES............................................................................................6

DETALHES DA PRODUÇÃO...................................................................................7

ACESSO E AUDIÊNCIA ESPERADA..................................................................... 7

MENSAGEM PRINCIPAL A SER DIFUNDIDA................................................... 7

REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 8

4
Resumo de Políticas Públicas

INTRODUÇÃO

O problema da pesca no país reúne um conjunto de questões como, por exemplo, a


carência de uma política pública voltada para a atividade pesqueira, a falta de
incentivos, a deterioração dos estoques pesqueiros, os censos mal elaborados e a
situação social dos pescadores artesanais (BRONZ, 2005). Para o autor, esses, entre
tantos assuntos, passaram a formar um novo cenário político para pesca no Brasil.
Diferentes culturas representam e gerenciam o ambiente nos seus territórios de
diferentes maneiras (MORIN-LABATUT; AKATAR, 1992; GADGIL et al., 1993;
TILLEY, 1994; BERKES, 1999; BANG et al., 2007). Experiências de gestão
pesqueira com a participação de pescadores têm ocorrido em diversas regiões do
Brasil (SEIXAS; KALIKOSKI, 2009).
O Resumo de Políticas tem uma abordagem metodológica baseada em pesquisa
documental, aplicação de entrevistas semiestruturadas e técnicas de mapeamento
participativo ou etnomapeamento (BRICS, 2014; ACT BRASIL, 2008; SZTUTMAN
2006). Ferramentas tecnológicas foram usadas para identificação e classificação dos
principais recursos pesqueiros, problemas e dificuldades, e políticas públicas,
complementada pela utilização de modelos de representação espacial. Foram
realizadas oficinas de etnomapeamento tendo como produtos a produção de
etnomapas (descrição do território físico e de pesca, problemas e dificuldades e
políticas públicas); um EtnoSIG construído a partir da interpretação de imagem de
satélite e da sobreposição dos etnomapas compõe uma Cartografia Social que foi
produzida unido as informações coletada durante a pesquisa de campo. As ferramentas
disponibilizadas pelos EtnoSIGs vem sendo empregadas mundialmente em diferentes
regiões, na preservação cultural, mediação de conflitos, manejo e gestão dos recursos
naturais, e desenvolvimento econômico em áreas habitadas por comunidades
tradicionais (ESRI/Intertribal GIS Council, 2001 apud PAESE; UEZU; LORINI;
CUNHA, 2012). O Resumo de Políticas foi construído de forma coletiva com as
mulheres marisqueiras e pescadoras participantes das oficinas de etnomapeamento e
reúne informações sobre a existência de políticas públicas voltadas para o gênero
feminino e que beneficiam as pescadoras da comunidade, assim como também reúne
informações sobre as necessidades sociais e políticas citadas pelas participantes da
pesquisa. Isto se constitui em uma ferramenta que a comunidade poderá utilizar
juntamente com o poder público para melhor gestão das políticas públicas existentes
e/ou futuras.

5
Resumo de Políticas Públicas

ESTRUTURA / SEÇÕES

O Resumo de Políticas, versão traduzida do inglês Policy Brief, está redigido em


português, apresenta dez páginas, formatado segundo as normas da Comissão
Europeia para este tipo de material, e estruturado em quatro seções:
A primeira seção, a Introdução, apresenta os conceitos básicos de que trata o
documento e seu foco principal.
A segunda seção, Evidências e Análises, apresenta dados da literatura bem como
lições aprendidas da experiência da pesquisa de Mestrado Profissional em
Planejamento Territorial, do projeto intitulado “A etnoecologia de pescadoras e
marisqueiras sob a ótica das políticas públicas de gênero feminino em Bom Jesus dos
Pobres, Saubara – BA”, pesquisa realizada com o objetivo de analisar as políticas
públicas que beneficiam as pescadoras e marisqueiras do ambiente em estudo, entre
os anos de 1988 a 2013, buscando fortalecer a luta pela igualdade de gênero na
atividade pesqueira. Esta seção também apresenta de maneira sintética ferramentas e
técnicas de geração de dados.
A terceira seção, Implicações e Recomendações, traz recomendações para orientar
políticas públicas relacionadas ao tema tratado no documento.
A quarta seção, os Créditos, apresenta os pesquisadores e a equipe de apoio, bem
como outras informações relevantes, tais como: contato da Universidade Estadual de
Feira de Santana - UEFS e do Núcleo de Pesquisa, Ambiente, Sociedade e
Sustentabilidade - NUPAS, leituras recomendadas, correio para contato etc.

6
Resumo de Políticas Públicas

DETALHES DA PRODUÇÃO

O Resumo de Políticas foi elaborado ao longo dos dois anos do projeto, pelo
pesquisador responsável, com a colaboração dos pesquisadores Dr. Fábio Pedro
Souza de Ferreira Bandeira, e Drª. Acácia Batista Dias, professores da Universidade
Estadual de Feria de Santana – UEFS. O conteúdo do Resumo está baseado na
revisão de literatura sobre temas como, políticas públicas de gênero feminino,
técnicas de etnomapeamento, geotecnologias, papel do conhecimento tradicional na
gestão dos recursos, assim como nas entrevistas com pescadoras e gestores
municipais de Saubara, bem como nas lições aprendidas durante o projeto.

ACESSO E AUDIÊNCIA ESPERADA

O informativo sobre as política será para uso e divulgação entre os gestores públicos e
ONGs. O arquivo será disponibilizado na forma impressa e digital nos sites do
PLANTERR (http://www2.uefs.br/mppt) e NUPAS (http://www2.uefs.br/nupas). Será
realizada uma entrega qualificada com as pescadoras artesanais de Bom Jesus dos
Pobres, representantes da sociedade civil organizada e representações políticas do
município.

MENSAGEM PRINCIPAL A SER DIFUNDIDA

Este instrumento pretende demonstrar o panorama atual da comunidade de Bom Jesus


dos Pobres, acerca das Políticas Públicas sob o olhar das pescadoras artesanais,
revelando as principais recomendações sugeridas por estas mulheres durante a
pesquisa.

7
Resumo de Políticas Públicas

REFERÊNCIAS

ACT BRAZIL. Methodology of collaborative cultural mapping. Brasília: Amazon


Conservation Team editions, 2008.

BANG, M., MEDIN, D.; ATRAN, S. Cultural mosaics and mental models of nature.
PNAS 104 (35): 13868-13874. 2007.

BERKES, F. Sacred ecology, traditional ecological knowledge and resource


management. Taylor and Francis,Philadelphia, Pennsylvania, USA. 1999

BRICS Policy Center - Centro de Estudos e Pesquisas BRICS. Policy Brief, 2014.
Disponível em: <http://bricspolicycenter.org/homolog/publicacoes/index
/1?tipo=Policy %20Brief>. Acesso: 14 jul. 2014.

BRONZ, D. Pesca e petróleo na Bacia de Campos, RJ políticas de licenciamento


ambiental no mar: atores e visões. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do
Rio de Janeiro, UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, 2005. p. 177.

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conservation. Ambio 22:151-156. 1993.

MORIN-LABATUT, G.; AKATAR, S. Traditional Knowledge: a resource to manage


and share. Development 4: 24- 30. 1992.

PAESE, A.; UEZU, A.; LORINI, M. L.; CUNHA, A. Conservação da


biodiversidade com SIG. São Paulo: Oficina de Textos, 2012.

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Meio Ambiente, n. 20, p. 119-139, jul./dez. 2009. Editora UFPR.

TILLEY, C. A. Phenomenology of Landscape: Places, paths and monuments.


Oxford: Berg Publishers, 221p., ill., [Explorations in Anthropology Series]. 1994.

8
Regys Fernando de Jesus Araujo---
Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira---
Acácia Batista Dias---

GÊNERO E POLÍTICAS PÚBLICAS COM BASE


NO ETNOMAPEAMENTO DA COMUNIDADE
PESQUEIRA DE BOM JESUS DOS POBRES

RESUMO DE POLÍTICAS
Série do Mestrado Profissional em Planejamento Territorial – PLANTERR

1
Feira de Santana, BA
Universidade Estadual de Feira de Santana
2015
Regys Fernando de Jesus Araujo
Pesquisador Responsável
Universidade Estadual de Feria de Santana

Profº. Dr. Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira,


Universidade Estadual de Feria de Santana, Nupas/DCBIO
Equipe da Pesquisa
Profª. Drª. Acácia Batista Dias, Universidade Estadual de
Feria de Santana/GPTIS/DCHF

Milena Souza de Oliveira


Damiana dos Santos de Jesus
Equipe de Apoio Rebeca de Oliveira Santos
Regina S. Santos
Silvani Honorato Barbosa

Contato do Mestrado
Profissional em
E-mail: planterr@uefs.br
Planejamento Territorial -
PLANTER

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – Fapesb


Apoio

Duração da Pesquisa Maio 2013 a maio de 2015

www2.uefs.br/nupas/
Website
Contato: Regys Fernando de Jesus Araujo.
Para mais informações E-mail: regysfernando@hotmail.com

Ficha Catalográfica: Biblioteca Central Julieta Carteado - UEFS

Araujo, Regys Fernando de Jesus


A691g Gênero e políticas públicas com base no etnomapeamento da
comunidade pesqueira de Bom Jesus dos Pobres / Regys Fernando
de Jesus Araujo, Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira, Acácia
Batista Dias. – Feira de Santana - BA: Universidade Estadual de
Feira de Santana, 2015.

10 p.;il.:25cm. (Série Mestrado Profissional em Planejamento


Territorial – PLANTERR; 1)

ISBN: 978-85-7395-254-4

1. Etnologia. 2. Comunidade – políticas públicas 3. Bom Jesus dos


Pobres, BA. I. Araujo, Regys Fernando de Jesus. II. Bandeira, Fábio
Pedro Souza de Ferreira. III. Dias, Acácia Batista. IV. Título.

CDU: 39 (814.22)
Autores: Regys Fernando de Jesus Araujo, Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira &
Acácia Batista Dias
1 | RESUMO DE POLÍTICAS

Gênero e Políticas Públicas com base no etnomapeamento


da comunidade pesqueira de Bom Jesus dos Pobres
RESUMO DE POLÍTICAS
Série do Mestrado Profissional em Planejamento Territorial - PLANTERR
INTRODUÇÃO

Etnoecologia e Políticas Públicas para Pescadoras

Vários estudos no Brasil ressaltam a importância de incorporari o conhecimento das


comunidades tradicionais na formulação de políticas públicas sobre recursos naturais
regionais. Um exemplo é a utilização de conhecimentos tradicionais de comunidades
extrativistas juntamente com o conhecimento científico na elaboração de planos de
manejo e delineamento de programas de apoio à pesca artesanal. Vale salientar que
determinadas evidências, indicam que para serem eficazes, as ações
conservacionistas devem agregar conhecimentos tradicionais e acadêmicos em seu
planejamento e execução.ii

Alguns autoresiii comparam os conhecimentos tradicionais, com os obtidos na


literatura acadêmica a fim de promover essa integração, porém essa estratégia possui
o risco de estabelecer uma hierarquia e não uma equidade epistemológica entre
saberes, fundamental para o diálogo entre diferentes formas de se conceber o
ambiente e os recursos naturais. No processo de integração de conhecimentos, uma
das ferramentas utilizadas é a Cartografia Social, que por sua vez consiste na
participação de grupos populacionais no processo de elaboração da representação
espacial do território em que vivem, visando à compreensão da complexidade dos
processos socioambientais, econômicos e culturais subjacentes à construção
histórica desse território.

Este documento é fruto da pesquisa desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-


Graduação em Planejamento Territorial – Mestrado Profissional, intitulada “A
etnoecologia de pescadoras e políticas públicas em Bom Jesus dos Pobres, Saubara
– BA”- realizada com o objetivo de analisar as políticas públicas que beneficiam as
pescadoras e marisqueiras dessa comunidade, entre os anos de 1988 a 2013,
buscando fortalecer a luta pela igualdade de gênero na atividade pesqueira. Saubara
está localizada na Baía de Todos-os-Santos (BTS) uma região de grande importância
histórica, ambiental e sociocultural para o Brasil. Apresenta alta diversidade biológica
Foco principal associada aos remanescentes de mata atlântica, manguezais, restingas e áreas
úmidas, base da subsistência de centenas de comunidades ribeirinhas que nela
habitam.iv
Foi possível verificar a interferência que as políticas públicas causam na vida social
destas mulheres, e a partir desse resultado, mediou-se à construção de uma
Cartografia Social e deste Resumo de Políticas. Tais ferramentas desenvolvidas junto
às pescadoras da comunidade reúnem informações sobre as políticas públicas que
beneficiam estas mulheres e também ilustram as possíveis aplicações desta
metodologia para elaboração de novas políticas e gestão das existentes.
2 | RESUMO DE POLÍTICAS

EVIDÊNCIAS E ANÁLISE

Políticas públicas no cenário da pesca artesanal

O “ser pescador” é uma categoria masculinizada por um sistema de dominação


cultural através das normas e condicionamentos estabelecidos pela sociedade
dominante.v A ausência das trabalhadoras e trabalhadores da pesca no cenário da
discussão das políticas que deveriam apoiar a produção pesqueira reflete-se na
própria invisibilidade destes como profissionais e cidadãos, e contribui para a
desvalorização da pesca artesanal.vi

A partir de 2007 o Estado reconhece como pescadoras as marisqueiras da Baía de


Apresentação Todos-os-Santos, devido à ocorrência da maré vermelha1 assegurando a obtenção do
teórica do registro da pescadora artesanal, com o intuito de enquadrá-las como beneficiárias do
tema seguro desemprego em períodos de proibição da pesca, vale salientar que antes
apenas os homens tinham acesso a essa política. Contudo esse reconhecimento não
auxiliou na desmistificação do trabalho feminino como complementar às atividades
domésticas.

Em 29 de junho de 2009 entra em vigor a Lei nº 11.959 (Lei da Pesca), dispondo


sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca,
que regulamenta as atividades pesqueiras. Em seu capítulo II, apresenta definições
sobre recursos pesqueiros.vii

Os países de grande biodiversidade como o Brasil ou outros países tropicais,


apresentam diversas características físicas, climáticas e biológicas que abrigam
variadas formas de vida e ecossistemas. Através de estudos ecológicos junto às
comunidades, são abordadas estratégias e metodologias que tratam da importância
da preservação e uso sustentável dessa biodiversidade, da importância dos estudos
etnobiológicos e da conservação comunitária.
Participação
social e as
Os estudos com comunidades tradicionais e sua interação com o ambiente levam em
ferramentas de
conta dois principais componentes inter-relacionados e interdependentes: as
mapeamento
situações práticas de vida da comunidade estudada, atentando para a cultura local, e
participativo
a utilização sustentável dos recursos naturais. No mapeamento participativo, ou
cartografia social, se insere o conhecimento espacial e ambiental de populações
locais em modelos convencionais de representação.viii Com a participação popular a
cartografia aperfeiçoa os meios de produção do espaço social, gerando mapas que
servem a finalidades de identificação e gestão de recursos naturais.ix

Pesquisa Participativa: O Olhar das pescadoras de Bom Jesus dos Pobres

Antes de dar início à pesquisa, o projeto foi apresentado à comunidade numa reunião
com a participação de 80 pescadoras e lideranças da comunidade. Foram realizadas
oito entrevistas com o poder público municipal, 36 entrevistas com pescadoras e oito
oficinas de etnomapeamento. Realizou-se uma pesquisa documental, com o objetivo
Aprendizados
de cruzar os dados coletados nas entrevistas com o poder público, complementado as
informações obtidas. A experiência da triangulação dessas fontes de informação na
construção de ferramentas de gestão de políticas públicas partiu do princípio de que
os conhecimentos científico e tradicional, igualmente válidos, podem ser considerados
cada um em seus contextos e em seus significados.

1
Aglomeração de microplânctons dinoflagelados segundo Peixoto (2008);o fenômeno ocorreu na BTS em março de 2007,
produzindo um desastre socioambiental deixando a região em colapso econômico.
3 | RESUMO DE POLÍTICAS

As entrevistas com o poder público foram essenciais para caracterizar as políticas e


programas, identificando ao todo vinte programas: oito programas sociais, nove
ligados à saúde e três à educação.

As oficinas de etnomapeamento foram realizadas com o objetivo de construir um


mapa representativo dos recursos pesqueiros, problemas, dificuldades e políticas
públicas do distrito de Bom Jesus dos Pobres.
Foram elaborados cinco etnomapas durante as oficinas, sendo que o primeiro retratou
o distrito de Bom Jesus dos Pobres; o segundo representou os recursos pesqueiros
do distrito; o terceiro reuniu os problemas e dificuldades encontrados pelas
pescadoras; o quarto tratou-se das políticas públicas que beneficiam as pescadoras
do distrito e por fim foi elaborado um etnomapa consensual que reuniu as informações
dos quatro primeiros mapas.

Figura 1 – Etnomapa dos problemas e dificuldades de


O mapa dos problemas e dificuldades (Figura 2)
Bom Jesus dos Pobres elaborado em oficina realizada
construído pelas pescadoras artesanais revelou a
em 2 de outubro de 2014 diminuição do recursos pesqueiros, a saber: aratu
(Goniopsis cruentata), camarão (Litopenaeus
schmitti, Farfantepenaeus subtilise, Xiphopenaeus
kroyeri), caranguejo (Ucides cordatus) e siri
(Callinectes sp.). A poluição no rio e a pesca com
bomba também foram identificadas, assim como os
conflitos entre associações e colônia. Ficou evidente
no mapa a falta de uma estrutura física do Núcleo de
Atenção à Mulher - NAM e do Conselho Tutelar, de
um colégio de ensino médio, creche, espaço de
lazer, falta de estrutura no posto médico,
inexistência de farmácia, lotérica ou banco,
Fonte: Oficinas de etnomapeamento (2014). deficiência na pavimentação, problemas na
segurança pública, deficiência no saneamento
Figura 2 – Etnomapa das políticas públicas que básico, problemas na oscilação na energia elétrica
beneficiam as pescadoras de Bom Jesus dos Pobres das casas e na iluminação pública.
elaborado em oficina realizada em 2 de outubro de
2014

As políticas públicas foram retratadas em outro


etnomapa contendo políticas e programas citados
pelas pescadoras e finalizado com a seguinte
composição: Ações do NAM, Todos pela
Alfabetização - TOPA, Aposentadoria, Auxílio
Doença, Tarifa Social, Mais Educação, Licença
Maternidade, Seguro Desemprego, Ações do
Conselho Tutelar e Bolsa Família.
Após conclusão do etnomapa consensual, através
do uso do computador, as pescadoras iniciaram a
construção do EtnoSIG2. A Figura 4 exemplifica o
Fonte: Oficinas de etnomapeamento (2014). processo de geração de EtnoSIGs sobrepondo
etnomapas e imagens de satélite e com outros
dados.

2
Sistema Etnográfico de Informações Geográficas – EtnoSIG, ferramenta importante na análise socioambiental, a
partir de dados etnográficos e técnicos.
4 | RESUMO DE POLÍTICAS

Figura 3 – Passos metodológicos do desenvolvimento de um EtnoSIG

Mapas, imagens de
satélite, bases de dados Integração das
Conhecimento técnico- cartográficos, modelos informações
científico de terreno Digital,
outros dados

EtnoSIG

Oficinas de
Conhecimento tradicional etnomapeamento,
Transcrição e
etnomapas, entrevistas,
digitalização das
construção da linha do
informações
tempo

Figura 4 – Contracapa e capa da Cartografia Social

A partir dos registros audiovisuais das oficias


realizadas com as pescadoras foram extraídos
depoimentos, dados ambientais e sociais do
distrito de Bom Jesus dos Pobres, como os
recursos pesqueiros, os problemas, as
dificuldades e as políticas públicas. Tais
registros foram essenciais para construção da
Cartografia Social (Figura 4).

.Fonte: Oficinas de etnomapeamento (2014 – 2015). A cartografia foi finalizada no formato A1 (594 ×
841), contendo oito dobras, possibilitando a
Figura 5 – EtnoSIG de Bom Jesus dos Pobres inserção do EtnoSIG (Figura 5).

O EtnoSIG apresentou grande riquezas de


detalhes, sendo uma potencial ferramenta para
futuras intervenções do poder público, seja na
esfera municipal, estadual ou federal,
garantindo a participação da comunidade.

Fonte: Oficinas de Etnomapeamento (2015).


5 | RESUMO DE POLÍTICAS

Caracterização das políticas

A caracterização das políticas públicas foi feita a partir das entrevistas com
funcionários do poder público municipal. Foram realizadas oito entrevistas com
funcionários de seis secretarias municipais: Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Social; Secretaria de Promoção da Igualdade Racial; Secretaria Municipal de
Administração; Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer; Secretaria Municipal
de Educação; Secretaria Municipal de Saúde. O tempo de experiência desses
servidores no órgão público variou de 2 a 12 anos. As políticas públicas identificadas3
foram ligadas diretamente a três Secretarias Municipais: Secretaria de
Desenvolvimento Social; Secretaria de Saúde e Secretaria de Educação.

Dos oito programas sociais, sete beneficiam de forma direta as mulheres residentes
Políticas
em Bom Jesus dos Pobres (Quadro 1).
Sociais

Quadro 1 – Políticas públicas Sociais, tipo de benefício, origem e principais indicadores, em Bom Jesus
dos Pobres, Saubara, 2014
Política/Programa Benefício Benefício Responsabilidade Principais Indicadores
Direto Indireto
Federal Painel de Indicadores de
Condicionalidades baseados
em Temas/Dimensões: I.
Vulnerabilidades Sociais;
II. Acesso aos Serviços;
Bolsa Família x
III. Gestão da Saúde;
IV. Gestão da Educação; e
V. Gestão do PBF. Composto
por aproximadamente 140
indicadores.
Federal Quantidade de Matrículas de
beneficiários do Programa
PRONATEC x x
Bolsa Família no PRONATEC
por ano
Tarifa Social de água e Federal -
x
luz
PROUNI x Federal
Programas de Serviço de Federal, Estadual -
Convivência e e Municipal
Fortalecimento de x
Vinculo, antigo PETI
Projovem
Municipal Número de famílias que
PISS x estão abaixo da linha da
pobreza
Núcleo de Atenção à Federal, Estadual
x e Municipal
Mulher - NAM
LOAS – Aposentadoria Federal
x
temporária
Fonte: Elaborado pelo autor (2014).

3
Os dados das entrevistas foram complementados com dados coletados durante a pesquisa documental.
6 | RESUMO DE POLÍTICAS

O Seguro-Desemprego (defeso do camarão) é uma das políticas classificadas pelas


pescadoras como um das mais importantes. Esta política chegou à comunidade em
Seguro
2008 após a ocorrência da maré vermelha e permaneceu devido ao defeso do
desemprego
camarão, como um benefício que, segundo as pescadoras, melhorou a qualidade de
vida da comunidade.

Uma parceria entre o Instituto Hand Social - IHS e a Secretaria Municipal de


Desenvolvimento Social também foi citada durante a entrevista, parceria esta
visando à manutenção do Projeto Arremesso para Vida, projeto financiado pela
Hand Social
Petrobrás e que atende 100 crianças e adolescentes do Município de Saubara com
a realização de atividades socioeducativas ligadas ao esporte handebol.

Durante as entrevistas foram citados nove programas, todos beneficiando de forma


direta as pescadoras (Quadro 2). As entrevistadas falaram sobre avaliação dessas
políticas baseando-se no Sistema de Informação do Ministério da Saúde -
SISPACTO, além da participação no planejamento das ações, divulgação, impacto,
entraves encontrados na execução das políticas e soluções para estes. Estas
Avaliações são realizadas através da análise dos índices de acompanhamento
gerado através do SISPACTO, quando ocorre queda de algum índice a secretaria é
notificada.

A Secretaria Municipal de Saúde faz avaliação com as equipes de trabalho


separadamente de maneira informal, abordando as deficiências na gestão e
A Saúde em
execução das políticas, para construir soluções e melhorias na prestação dos
Bom Jesus
serviços e acompanhamentos às famílias.
dos Pobres
A população participa de forma indireta da avaliação, pois, segundo a Diretora da
Atenção Básica, a população tem liberdade em procurar a Secretaria para fazer
reclamações. A população também participa da avaliação através do Conselho
Municipal de Saúde que é formado por membros da sociedade civil e do poder
público.

A divulgação das políticas é feita através dos agentes comunitários, quando há


eventos utilizam carros de som, panfletos e o“boca a boca”.

Os entraves são basicamente associados ao pouco recurso que o município possui


para a gestão da saúde.
7 | RESUMO DE POLÍTICAS

Quadro 2 – Políticas públicas de saúde, tipo de benefício, origem e principais


indicadores, em Bom Jesus dos Pobres, Saubara, 2014
Política/Programa Origem Principais Indicadores
Rede Cegonha (Pré-natal) Federal Número de gravidas atendidas;
Número de atendimentos por ano.
SISCOLO/antigo SISCAM Federal Número de mulheres atendidas;
Número de diagnósticos de câncer.
HIPERDIA Federal
Número de pessoas cadastradas no
programa; Quantidade de medicamentos
repassados para a população.
DST/AIDS Federal Número de pessoas cadastradas no
programa;
Número de pessoas que fazem o
tratamento.
Planejamento Familiar Federal Número de famílias atendidas;
Percentagem da diminuição de DSTs;
Diminuição de gravidez na adolescência.
PACS – Programa de Municipal Número de famílias atendidas pelo
Agente Comunitário de programa;
Saúde Número de famílias carentes atendidas.
Tuberculose Federal Número de pessoas atendidas pelo
programa;
Projeção das prevenções da doença.
Hanseníase Federal Número de pessoas atendidas pelo
programa;
Número de famílias atendidas;
Número de diagnósticos anuais.
Mais médico Federal Número de famílias atendidas pelo
programa;
Número de atendimentos.
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

Dos três programas, mencionados durante entrevista, o TOPA beneficia as


Políticas de pescadoras diretamente, o Mais Educação indiretamente e a Merenda escolar
Educação apresentou os dois benefícios, direto quando as pescadoras estão estudando e
benefício indireto quando apenas os filhos estão estudando (Quadro 3).

Quadro 3 – Políticas públicas de educação, tipo de benefício, origem e principais indicadores,


em Bom Jesus dos Pobres, Saubara, 2014
Política/Programa Benefício Benefício Origem Principais
Direto Indireto Indicadores
Estado e IBGE –
TOPA – Programa de
Número de
alfabetização de jovens e x Estadual
analfabetos no
adultos
município
Merenda escolar x x Estadual Senso escolar
Mais Educação x Federal Senso escolar
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).
8 | RESUMO DE POLÍTICAS

IMPLICAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

O conhecimento das pescadoras artesanais, explicitado e sistematizado a partir da


interpretação dos dados coletados durantes as entrevistas e na elaboração de
mapas temáticos sobre as comunidades, os recursos pesqueiros, os problemas e
dificuldades bem como as políticas e programas, permitiram estabelecer os
seguintes princípios e recomendações ao poder público:

Gestão das  Ampliar a participação popular no planejamento de ações e avaliação das


Políticas políticas públicas.
Públicas

 Fiscalizar o cumprimento do defeso do camarão e acompanhamento dos


Garantia da beneficiários do seguro desemprego referente a este defeso;
manutenção  Fiscalizar as ações que incentivam a pesca predatória com explosivo,
da conhecida pelas pescadoras com “pesca com bomba”;
biodiversidade  Criar programas de proteção à reprodução e recrutamento do siri (Callinectes
marinha sp);
 Revitalizar o rio da praça do distrito.

 Criar espaços de lazer;


 Implantar um posto policial;
Infraestrutura  Pavimentar as ruas;
 Implantar saneamento básico;
 Revitalizar a rede de iluminação pública em todo o distrito.

 Investir na construção de um espaço físico de atendimento do NAM e


Políticas Conselho Tutelar;
Sociais  Melhorar a segurança pública.

 Melhorar a estrutura física e o corpo de profissionais do posto de saúde;


Saúde  Regularizar o funcionamento dos programas HIPERDIA;
 Implantar uma Farmácia Popular.

 Incentivar o retorno do Programa TOPA, com divulgação e mobilização da


comunidade;
Educação
 Construir uma creche que permita às pescadoras deixar seus filhos para
poder realizarem suas atividades diárias.

Emprego e  Ampliar os investimentos para qualificação de jovens e adultos.


Renda
 Elaborar um plano de turismo, de forma participativa, que contribua na
preservação ambiental do distrito, na valorização e fortalecimento da cultura
Turismo local.
9 | RESUMO DE POLÍTICAS

REFERÊNCIAS

PEIXOTO, J. A. S. BAÍA DE TODOS OS SANTOS: Vulnerabilidade e Ameaças. 2008. 191 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
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Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/9714/1/José.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2015.

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Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, 2010.
Resumo de Políticas resultante de Projeto de
Pesquisa de Mestrado Profissional em Planejamento
Territorial

REALIZAÇÃO

Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial –


PLANTERR/UEFS

Núcleo de Pesquisa
Ambiente, Sociedade e Sustentabilidade

APOIO

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