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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

HISTÓRIA – LICENCIATURA – NOTURNO


FCH356 – HISTÓRIA DO BRASIL III
PROFª KATIA VINHATICO PONTES
2021.2
Leslie Madureira Sá1

RESENHA2

O Velho – A História de Luiz Carlos Prestes. Direção de Toni Venturi. Rio de Janeiro: Rio
Filme, 1997. YouTube (104 min). Disponível em <https://youtu.be/1u02uqMK6Ek>

Produzido em 1997, sete anos após a morte de Luiz Carlos Prestes, o


documentário “O Velho – A História de Luiz Carlos Prestes” conta a história deste que se
tornou um dos principais nomes da história política do Brasil. Com atuação relevante e
vivência política de acontecimentos que foram desde o “Tenentismo” na década de 1920
até o movimento das “Diretas Já” na década de 1980, com participação relevante na
“Intentona Comunista” de 1935 e figura de liderança do Partido Comunista Brasileiro em
várias fases de sua existência, seja legalmente ou na clandestinidade.
Dirigido pelo conhecido cineasta Toni Venturi, o documentário foi exibido também
na TV, sendo dividido em quatro partes. Como elemento narrativo, conta com a utilização
de vários depoimentos dados diretamente para o filme, mas, também, gravações prévias
de outras figuras, como o próprio Prestes, com um material colhido de um depoimento
dado ao cineasta Nelson Pereira dos Santos em 1985, quando estava já com seus 87
anos de idade. Também há a intercalação de depoimentos dos filhos de Prestes e alguns
historiadores e jornalistas com momentos fictícios, como a encenação da leitura de uma
carta pela mãe de Luiz Carlos Prestes, dona Maria Leocádia. Para além dos depoimentos
já citados de outros filhos, um deles, o historiador Yuri Ribeiro Prestes, é citado também
como um dos responsáveis pela pesquisa para o filme e parece orientar a narrativa da
história a ser contada.
O material audiovisual narra, com alguma criticidade, a saga de Prestes desde a
sua participação no movimento Tenentista. Em depoimento, ele chega a relatar a
participação das mulheres no movimento e como elas foram relevantes em alguns
momentos, relata também com algum tom de nostalgia a sua passagem pela Bolívia ao
final do movimento e sua relação com o partido comunista soviético. Longe de manter
uma idolatria ao Prestes, o documentário também o critica lembrando do caso da morte

1 Licencianda em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC | Bacharela em Comunicação Social –
Radio e TV pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC| lmsa.hit@uesc.br
2 Atividade avaliativa parcial para a disciplina.
da jovem Elvira Cupelllo Colônio, acusada de trair o partido comunista e assassinada,
supostamente, a mando de Prestes.
A passagem do documentário sobre Olga Benário é bastante relevante para se
compreender a importância da relação do Partido Comunista Russo com as intenções de
Prestes na tentativa da Revolução de 1935. O depoimento de Prestes e dos demais
entrevistados deixa claro que não havia, pelo menos no início, nenhuma relação afetiva
entre o casal e não fica claro ao longo do filme se esta relação passou a ter esta
conotação nos anos que se passam. As falas de jornalistas e historiadores no filme
deixam claro que Olga estava no Brasil para supervisionar Prestes, que seria um
“tenente” patrocinado pela internacional comunista. Também é citado, com certa
relevância, as tentativas de revolução com movimentos em Natal e Recife, que logo foram
suprimidas pelo governo. O ódio anticomunista, que começa a se formar neste período,
acaba se tornando elemento relevante para entender os movimentos políticos brasileiros
que ocorreriam nos anos que se seguem.
A relação entre Prestes e Vargas é também elemento de destaque no
documentário, depoimentos criticam a postura do líder comunista ao tratar o Vargas horas
como rival e horas como aliado político, mesmo após o caso da deportação de sua ex-
esposa, executada pelo governo alemão nazista e também das tentativas de assassinato
e tortura realizadas contra o próprio no período em que ficou preso. As críticas quanto às
tomadas de decisões do Prestes, e do próprio PCB, aliás, são elementos interessantes na
narrativa do documentário. Em vários momentos é citado que Prestes tomava decisões
equivocadas em momentos cruciais da história política do Brasil, o que colocava-o como
figura dúbia em relação à opinião popular.
A militância de Prestes no Partido Comunista fica explicitada ao longo de todo
documentário com a luta dele, e de seus partidários, ao longo dos períodos em que
entrava e saía da legalidade, com Luiz Carlos Prestes chegando a ser o senador mais
votado do país e tendo ao seu lado, na bancada comunista, um nome interessante e
conhecido pelos ilheenses: Jorge Amado. Esta legalidade do partido, porém, dura pouco e
um ano depois o PCB retornou para a ilegalidade após uma decisão do STE. Entre as
idas e vindas entre legalidade e clandestinidade, Prestes se viu na maior parte do tempo
precisando se esconder, ainda mais com a crescente influência estadunidense em solo
brasileiro. A atuação de Prestes durante a ditadura militar, com a chamada para a luta
armada, e os movimentos da “Diretas Já”, na década de 1980, são elementos adicionais
que servem para apimentar ainda mais as narrativas ao redor desta figura tão relevante
da história política brasileira.
Em linhas gerais, o documentário serve como um excelente material para
compreender sobre a atuação de Luiz Carlos Prestes e a passagem de vários momentos
da história, com sua forte influência dentro do Partido Comunista e as ações tomadas ao
longo dos diversos governos, fica fácil de compreender como ele se tornou tão importante
para o estudo da História do Brasil. Ao mesmo tempo, o lado pessoal de Prestes é mais
explorado, com depoimentos dos filhos que revelam um certo incomodo com a ausência
do pai no dia a dia, em um distanciamento da família, provocado pelas inúmeras idas e
vindas entre a legalidade e a clandestinidade do Partido Comunista e que foi atenuado
apenas durante o exílio vivido na União Soviética durante a ditadura militar.
Prestes é, sem sombra de dúvidas, um dos nomes mais relevantes da história do
Brasil, mesmo com atitudes que possam ser consideradas duvidosas, “O Velho”, como
era conhecido nos seus anos finais, fez um relevante papel na chamada para a revolução
e nas lutas pela democracia em períodos autoritários da história do Brasil.
Ao se tratar do Brasil durante a primeira república e na Era Vargas, não há como
deixar de lado a atuação dele como um elemento propulsor desta efervescência política
de um país dotado de uma república tão jovem e tão frágil. Seja nas marchas pelo Brasil
ao lado dos colegas da coluna ou nas movimentações revolucionárias com influências
soviéticas, este é um homem que ficou para a história, com erros bastante importantes
que se tornam passíveis de críticas, mas com uma ideologia que segue inspirando as
mentes ao longo do tempo. Um grande fato é que sua história se confunde, em vários
momentos, com a própria história do Brasil.

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