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Quebrar uma vareta é fácil. Junte 10 e torna-se muito mais difícil. A união faz a força... Unidos
venceremos, nada pode deter o povo forte unido. Bonito esse discurso, não é?

O nome que se dá a esse conjunto de varas presas juntas é feixe, do latim fasces, que em
italiano deu origem ao termo fascio. Na década de 1920, na Itália, Benito Mussolini se utilizou
da figura do Fascio Littorio para basear a ideologia do Fascismo. O Fascismo é uma ideologia
política ultranacionalista e autoritária caracterizada por poder ditatorial, repressão da
oposição por via da força e forte controle da sociedade e da economia. Existe muito debate
entre historiadores, sociólogos e outros especialistas sobre uma possível definição única do
Fascismo. Fala-se em FascismoS, no plural. Muitas aplicações diferentes de ideias que tem uma
base comum. Uma dessas aplicações aconteceu aqui no Brasil... mais ou menos. Com Getúlio
Vargas.

A ascensão de Getúlio Vargas à presidência do Brasil foi resultado do enfraquecimento do


arranjo político que sustentava as oligarquias do Brasil durante a Primeira República. No final
da década de 1920, Getúlio Vargas era uma figura política bastante conhecida. Com a
aproximação da eleição de 1930, houve um desarranjo entre as oligarquias paulista e mineira
por conta da sucessão presidencial. O presidente Washington Luís tinha um acordo para
indicar o mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, mas acabou indicando o paulista Júlio
Prestes.

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Isso fez com que as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais rompessem. Os mineiros
colocaram-se como oposição aos paulistas e negociaram com os gaúchos e os paraibanos para
lançarem uma chapa de oposição. Essa era a Aliança Liberal, chapa eleitoral que lançou Getúlio
Vargas como presidente e João Pessoa como vice.

A eleição de 1930 aconteceu como qualquer eleição da Primeira República e foi recheada de
fraudes eleitorais dos dois lados. Após meses de campanha, a Aliança Liberal foi derrotada e
seu candidato, Getúlio Vargas, obteve somente 742 mil votos, enquanto Júlio Prestes obteve
quase 1,1 milhão de votos.

Uma parcela da Aliança Liberal recusou-se a aceitar a derrota e logo partiu para a conspiração.
O estopim para um levante militar patrocinado pela Aliança Liberal deu-se quando João
Pessoa, o vice da chapa, foi assassinado em Recife. O crime teve motivação passional, mas fez
com que, em 3 de outubro, um levante militar contra o governo de Washington Luís se
iniciasse. O levante estendeu-se por boa parte do mês de outubro, e, no dia 24 desse mês, o
presidente Washington Luís foi deposto do cargo e partiu para exílio na Europa. O candidato
vitorioso da eleição, Júlio Prestes, foi impedido de assumir a presidência, e um governo
provisório foi formado com Getúlio Vargas assumindo o comando. Esse golpe ficou conhecido
como Revolução de 1930.

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Esse chocolate aqui foi batizado em homenagem a, talvez, o primeiro grande craque do
futebol brasileiro, lá na década de 1930. Leônidas da Silva, o Diamante Negro. Atacante do São
Paulo e da Seleção Brasileira, Leônidas foi usado por Getúlio Vargas para propaganda política.
O discurso era de que o jogador unia a técnica e a esperteza europeias com a malandragem e a
ginga do africano, justamente como todo o povo brasileiro. O que o governo de Vargas estava
tentando, de fato, era criar uma identidade nacional. Até aquele momento, na jovem república
que herdara muito da cultura da colônia e do império, não existia um Brasil. Não era comum o
sentir-se brasileiro, parte de um só povo, de uma só nação. Haviam sulistas, paulistas,
cariocas, mineiros, baianos, pernambucanos... O Brasileiro mesmo, ninguém achava. E Getúlio
precisava dele. Seria muito difícil governar de maneira autoritária e rígida como ele pretendia,
um povo que não se reconhecesse como um. Era necessário, para implementar sua ideologia
proto-fascista, uma noção de unidade. Ninguém se faria fasco entre divergentes. E assim,
Getúlio Vargas instituiu a execução do Hino Nacional nas escolas, o culto aos símbolos
nacionais, ordenou a fixação de fotografias do presidente da república em prédios públicos.
Tudo com um mesmo objetivo: criar o país que ele queria para governar da forma como ele
desejava.

No fim, isso também não deu tão certo. Após o fim da segunda guerra mundial, onde quase se
aliou à Alemanha de Hitler – e se dependesse de seu ministro da guerra, o General do Exército
Eurico Gaspar Dutra, o Brasil teria de fato entrado do lado dos Nazistas. Dutra depois foi eleito
presidente, só para vocês saberem. Como eu dizia, após o fim da guerra, Vargas foi deposto
pelo exército – o terceiro golpe de estado perpetrado pelas forças armadas. Ele voltaria ao
poder em 1951, dessa vez eleito pelo processo democrático, mas seu projeto de Brasil fascista
nunca chegou, de fato, a acontecer. Ouvem-se ecos aqui e ali vez ou outra, mas nada de
concreto dentro do modelo varguista realmente aconteceu. De herança, mesmo, temos as leis
trabalhistas, as férias, o 13º salário, a Petrobrás, a CSN, que foi privatizada, a Vale do Rio Doce,
que foi privatizada, a FNM, que fechou e uma certeza. Uma certeza de que não importa como
se analise, o Brasil não é para amadores. Mas a gente o ama mesmo assim. E como sempre,
obrigado por assistir.

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