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Adolescentes. Entre 1875 e 1945, houveram muitas tentativas de definir o que era, de fato,
juventude. Muitos adultos, preocupados com o que viam como uma fase selvagem e
desregrada da vida, fizeram esforços para alinhar os adolescentes por meio de políticas
nacionais. Outros tentaram capturar e redefinir o potencial da juventude, em visões artísticas
que refletiam o desejo dos jovens de viver a vida em seus próprios termos. Esses foram os
primórdios do que ficou conhecido no início da década de 1940 como cultura jovem. Dentro de
todas essas definições, havia uma distinção entre idade biológica e cultural. A puberdade já era
reconhecida como um estado físico, mas até o século XX, pessoas passando pela puberdade
continuavam a ser chamadas de crianças. Da mesma forma, adultos na faixa dos vinte e trinta
anos participaram ativamente da cultura jovem das décadas de 1910 e 1920, e ainda eram
considerados jovens. Até a popularização do termo teenager (adolescente em inglês) em 1944,
a maioria das discussões sobre juventude oferecia definições fluidas de idade e nome. Mas
para que inventar a Adolescência?

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Desde o início, Teenager era um termo de marketing que reconhecia o poder de compra dos
adolescentes. Dentro de uma cultura que pensava nos negócios em termos de identidade
nacional e liberdade individual, o fato de a juventude ter se tornado um mercado também
significava que ela se tornara uma faixa etária distinta e separada, com seus próprios rituais,
direitos e demandas. E boa parte disso surgiu com a segunda revolução industrial e suas novas
práticas de produção e consumo. Era necessário criar uma nova categoria de consumo porque
um novo grupo havia surgido entre as novas classes médias no tecido social de países
industrializados.

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Aquilo que nós chamamos de II Revolução Industrial, de um ponto de vista tanto social quanto
tecnológico, pode ser lido como um desdobramento, uma nova fase, do processo que se iniciou
na Primeira Revolução Industrial do Século XVIII, aquela que trouxe o desenvolvimento da
Máquina à Vapor de James Watt e o modo de produção fabril. O período que compreende a II
Revolução Industrial é demarcado entre o início da segunda metade do Século XIX (entre 1850
e 1870) e a II Guerra Mundial (1939 a 1945) e foi ao longo dele que aconteceram uma série de
desenvolvimentos dentro da indústria química, elétrica, de petróleo e de aço. As Revoluções
Burguesas sobre as quais eu falei algum tempo atrás foram responsáveis pelo fim do Antigo
Regime e também pelo fortalecimento do capitalismo, o que acabou possibilitando o
desenvolvimento industrial. Houve um grande avanço tecnológico, a instalação de novas
indústrias e a ampliação da produção. O capitalismo passa então a uma nova fase, assim como
passa a representar esse período da Revolução Industrial. E com todas essas novidades, as
classes dominantes e as recém-surgidas classes médias europeias sentem que o mundo é
delas. Não que não fosse, em grande parte. Mas estava tudo do jeitinho que eles queriam. Era
uma... Bela Época pra se viver.

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A expressão Belle Époque tem origem francesa traduzindo para Bela Época em português. É
usada para designar um período da história na Europa marcado por uma sensação de paz,
entre o fim da Guerra Franco-Prussiana, em 1871 e julho de 1914, quando começou a primeira
Guerra Mundial. O período da Belle Époque foi uma fase de grande otimismo entre a
população de países como França, Alemanha, Itália, Reino Unido entre outros que
aproveitaram este período para se desenvolver em âmbito econômico, tecnológico e cultural.
Nesse período, são marcantes o surgimento de movimentos artísticos como o Art Nouveau.
Marcado pelas formas de inspiração orgânica, reproduzindo elementos da natureza baseados
em desenhos curvilíneos e padrões florais. Um bom exemplo, e bastante famoso aqui no Brasil,
de um design inspirado no Art Nouveau, embora talvez um pouco antigo pra sua idade, é o
Castelo Ra-Tim-Bum. A arquitetura do próprio Castelo do programa infantil transmitido pela TV
Cultura entre 1994 e 1997 é fortemente inspirada nas criações do arquiteto espanhol Antoni
Gaudí, um estilo único do período da Belle Époque, transitando entre características do Art
Nouveau até o Modernismo.

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A distinção entre design e atividades ligadas ao artesanato, artes gráficas, tem sido constante
na história. A ideia que temos atualmente de artesanato é fruto da noção de produção da
Revolução industrial, que criou uma distinção entre trabalho manual e trabalho fabril.
Inicialmente, no Século XIX, o emprego da palavra design surgiu na Inglaterra principalmente
na confecção da padronagem para tecidos, originalmente feitos a mão, individualmente. O
design é fruto de três grandes processos em escala mundial que culminaram no período em
questão: Industrialização, Urbanização e Globalização.

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Esse foi o período que, com grande senso de si, criou a Torre Eiffel. Uma síntese de tecnologia
e ânimo, essa construção bizarra foi um compêndio de métodos de engenharia e materiais
desenvolvidos durante os primeiros cem anos da Revolução Industrial, entre os séculos XVIII e
XIX. Foi também, pode-se afirmar, a mais expressiva declaração de como uma parte da
humanidade se sentia em um ponto importantíssimo de sua História. Muitas obras bastante
famosas da atualidade são ou originárias desse período, ou adaptam material da época ou
bebem da mesma fonte. Além do Castelo Ra-Tim-Bum, nós temos a arquitetura do prédio do
Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro, que eu conheço muito bem. A construção,
iniciada em 1880, abrigava originalmente a sede da Associação Comercial do Rio de Janeiro,
tendo sido inaugurada em 1906. Os detalhes dos trabalhos em metal presentes na fachada e
interior do prédio são característicos do período. E os elevadores. Esses elevadores aparecem
também em um grande sucesso de Hollywood, Titanic, lançado em 1997. Os sets do filme são
reproduções bastante fiéis do navio real, de acordo com os projetos e fotografias disponíveis. A
grande escadaria, aquela de uma das cenas mais famosas do filme, era uma verdadeira obra
de arte. A obra-prima de carvalho inglês foi projetada no estilo neoclássico William e Mary,
enquanto as balaustradas de ferro forjado apresentavam um estilo Art Nouveau. Pela grande
escadaria, os passageiros podiam acessar quase todas as instalações disponíveis para a
primeira classe. De fato, uma grandiosíssima realização. Titânico.

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No dia 15 de Abril de 1912, pouco mais de 110 anos atrás, o Titanic naufragou durante sua
viagem inaugural; esse nome aliás, traduz para Titânico em português, ou seja, grandioso,
imponente, assim como tantas construções, obras e realizações do período da Belle Époque.
Assim como a falsa sensação de paz que reinava na Europa enquanto os governos criavam
arsenais bélicos cada vez maiores e a população tinha certeza de que nada de errado poderia
acontecer, o navio inafundável afundou. Em 28 de julho de 1914 começou a Primeira Guerra
Mundial e a paz que parecia reinar em todo o continente se foi. E até hoje sinais de sua
ausência são vistos em toda parte. Assim como no Titanic, os mais pobres foram deixados para
trás e tiveram suas necessidades ignoradas por falta do devido planejamento por parte dos
responsáveis. O navio zarpou com botes salva-vidas suficientes para acomodar pouco mais da
metade de seus mais de 2000 passageiros. A Belle Époque acabou com o começo da Guerra e
deixou para trás um legado de desigualdades sociais crescentes, fortaleceu o domínio
imperialista dos Estados Unidos e acirrou rivalidades que eclodiram na Segunda Guerra 15
anos depois. Só que mais do que tudo isso, ficou uma pontinha de esperança. Um pequeno
exemplo de que a humanidade pode ser diferente, de que podemos ser grandiosos sem a
necessidade de ser maldosos. Hoje quando olhamos para trás lembramos das melhores coisas
e esperamos ter aprendido com os erros de nossos antepassados. Temos as ferramentas para
muitas mais Belas Épocas diante de nós. E sem esquecer a responsabilidade deles, lá atrás,
pelos próprios erros, o futuro somos nós que vamos fazer. É só fazer. E como sempre,
obrigado por assistir.

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