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CELSO FURTADO

FORMAÇÃO ECONÔMICA
DA AMÉRICA LATINA
SEGUNDl\. EDIÇÃO

Outras obras do Autor:

A ECONOMIA BRASILEIRA (Rio de Janeiro, 1954)


UMA ECONOMIA DEPENDENTE (Rio de Janeiro, 1956)
PERSPECTIVA DA ECONOMIA BRASILEIRA (Rio de Janei-
ro, 1957)
FORMAÇAO ECONóMICA DO BRASIL (Rio de Janeiro, 1959)
A OPERAÇAO NORDESTE (Rio de Janeiro, 1960)
DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO (Rio de Ja-
neiro, 1961)
A PRÉ-REVOLUÇAO BRASILEIRA (Rio de Janeiro, 1962)
DIALÉTICA DO DESENVOLVIMENTO (Rio de Janeiro, 1964)
SUBDESENVOLVIMENTO E ESTAGNAÇAO DA AMÉRICA LA-
TINA
TEORIA
(São
(Rio de Janeiro,
E POLíTICA
Paulo,
UM PROJETO
1967)
1966)
DO DESENVOLVIMENTO

PARA O BRASIL (Rio de Janeiro,


ECONó:M:ICO

1968)
li!I
LIA, EDITOR S. A. / RIO DE JANEIRO / GB / 1970
hú 11111110 dClIIlP;IIT('\',n O fato de que, na mesma época, se
,/\prrULO lII -Ictuuu ,I III'Poll,U'[\Odo Brasil de Portugal, embora o govêrno
dl''1I., poli'!, ,,1I.ldo d/l 1IIIIIuterra, haja se instalado de 1808
.1 IX)I li/I IlIúpd" lolõnt", põe a claro o fundo mesmo do
, Al'o 1\11\'"" llllllli<,;()cs criadas pelo avanço da Re-
p I'llhk 11111
A Primeira Metade do Século XIX VOIU<';dOIlIduIIl1 inl 11'1 111010111'/'1'(\ e pelo contrôle progressivo
IJlH' i'l1lt: pai:! ptHlj~ I~X':II;I~;sl'lbl'l' transportes marítimos, teriam \
que )\'",1111/11' elll UIII'I polllllol til' portos abertos em todo o
Encerramento da era colonial coutuuuu- ,1I111~'II~{liI(I,polit!I?" C.'1"''' incompatível cOfl o tipo
de 1'1'1,1<';(\1''''
qlll' pli,:vldl'cizlIlI (~1I1 re " Espanha e suas colônias,
A desorganização dos impérios espanhol e português, A vastid.h) dt"'1t'1N C " jll<:lIp:lI~ídlld(~da Metrópole para su-
na época das guerras napoleônícas, constitui o ato final de pri las til- Jlroduto~ Illrlllld[lIt\l(ldo~, (:xinirium necessàríamen-
complexo processo histórico que se estende por todo o sé- te JllOdafi('l<,;ik14 plnlllllllllll 11/1 C!.IIIIIUI',I de um império or-
culo XVIII e se liga diretamente às transformações eco- ganizado ('111 tlimo [I .~XJlllll'tlt;1i(1d,~ metais preciosos, três
nômicas e políticas ocorridas na Europa, As tentativas es- século» ,11111'/1.
panholas de diversificar as economias das colônias america- No l'oIS0 d~~1'01'11111111, .I tl'llll'lll"oIl1 tiVI:"jl inicio CII1 fase
nas enfrentaram dois obstáculos maiores: as barreiras pro-, multo 1I1l1t'f'lO!'. O oIu")nlo d,' Mr t luu-u , fírlllildo cru 1703,
tecionistas criadas nos principais mercados europeus pelo dera fi I"ul"tcl'J'H IIllIiI Sllllill,.IO IHivil'~\Iiild/l 110 comércio
mercantilismo e a incapacidade da própria Espanha de abas- brasileiro, Por esse ncôrclo, Porltl!)ill, (~"I troC,1 til' alguns
tecer as colônias de produtos manufaturados, ..Em face dessa favores no mercado ingks pllla os ",,'tlS vinhos. abriu o pró-
situação, as colônias tenderam a buscar uma saída, seja na prio mercado e das colômns, de [(lIlIIiI irrcverstvcl, its ma-
procura direta de mercados (o que se realizava através do nufaturas inqlêsas. A produç.io hl.t~rlell'" de ouro. que co-
contrabando), seja na produção interna dos artigos de que meçou no segundo decênio do sr' ulo XVIII. imprimiu um
aecessitavam. Um ou outro caminhos levavam ao conflito di- grande dinamismo à demanda luso brnslleíra de manufaturas.
reto com a Metrópole, Nas regiões de desenvolvimento agrí- criando possibilidades extraordinárias para os produtores in-
cola para a exportação, como a Venezuela, ou de intensa ati- qlêses. Dcstn Iorma, o ouro do Brnsil encaminhou-se em sua
vidade comercial, como Buenos Aires, a tomada de consciência totalidade para a Inglaterra, permitindo que êste país acumu-
dêsses problemas Iêz-se precocemente, ao impulso da penetra- lasse vultosas reservas internacionais, sem as quais não lhe
ção das idéias liberais que se irradiavam da Inglaterra e da teria sido fácil enfrentar as guerras napoleõnícas.' A pe-
França, Aberto o processo das guerras napoleônícas, o isola- netração inglêsa no Brasil, se possibilitou a Portugal sobre-
mento da Espanha e a rápida penetração comercial inqlêsa viver como potência colonial durante o século XVIII, pre-
criaram situações de difícil reversibilidade, ao instalarem-se go- parou a liquidação dos vínculos da Colônia com a Metrópole,
WfIlOS locais autônomos em distintas regiões, Na maioria dos cuja posição de entrepôsto excrescente se fêz cada vez mais
UlSOS, êsses governos nasceram de situações em que não ha- notória, Transferindo-se a Coroa portuguêsa para o Rio de
via qualquer hostilidade à Metrópole, então ocupada pelos Janeiro, em 1808, os ínterêsses inglêses articularam-se dire-
r rnnceses. Entretanto, a dinâmica mesmo do processo le- tamente com a Colônia, transformada em sede do império
""ri •• fi ruptura, a qual em certos casos tomaria a forma de
11110 cruel e prolongada em razão da obstinação com que
I cr. w. Cunnlngham The Growth ot Modern Industry and Oomm erce,
O~ ••.sp.mhóis pretenderam restaurar uma situação que de fato Morlem Times parte I (Cambrldge, 1921) pp. 460-1.

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111Mil/III!), Também neste caso o processo seria irreversível, tendentes a romper as estruturas de dominação impostas pelo
I) (1111:um tempo compreendeu a própria Coroa portuguêsa, regime colonial, que visatn a integrar as massas indígenas
P(IIIt1l1 um de seus membros à frente do movimento separa- no quadro político-socinl e a definil' uma personalidade cul-
11/11.1
, tural autônoma, O pI'ÍIllCII'O dos movimentos indicados pre-
A primeira metade do século XIX está marcada, na dominou illllplnlllt'lItl' dUI'illltl' n scculo XIX, Veremos mais
Amcrica Latina, pelas lutas de independência e pelo processo ndlnní c 11111',.~()IIIt·IItt- lIil Hl'l1Ulllla metade dêsse século, veio
de formação dos estados nacionais. Nas colônias espanholas dI' .1 flUtililtlr JlIt'lhlllll:lltl', O s('\Jundo movimento passou ao
o movimento independentísta irradiou-se de três pólos: Ca- Jldlllí~il'ClJlltlllCl IHl /l1"{IIICIIIt uni, que Soe iniciou para a América
racas, Buenos Aires e México, Os dois primeiros eram as I..fltfllll 111111.r Rrvoluç.io Mcvícanã.
regiões que mais rápido desenvolvimento haviam tido no sé-
culo XVIII, desenvolvimento êsse em grande parte reflexo
do debilitamento do poder naval espanhol e da penetração Formação dos estados nacionais
dos interêsses ínqlêses. A independência, nessas regiões,
deveria permitir a ascensão de uma burguesia mercantil, de A estruturação dos estados nacionais ocorreu de for-
idéias liberais, progressistas, no sentido de europeizente, mas ma acidentada em quase tôda a América Latina. As bur-
prisioneira da ideologia do leissez-jeire. A situação no México guesias liberais que lideraram ou apoiaram os movimentos
era diversa, pois a produção de prata, em fase de relativa pros- de independência em Buenos Aíres e em Caracas, não esta-
peridade, continuava a constituir a base da economia reqío-' vam em condições de organizar sistemas de poder capazes
na1. Demais, a população indígena mexicana, que voltara a de substituir-se à antiga Metrópole. Conforme já assinala-
crescer no último século da dominação colonial. começava mos, a evolução geral vinha se fazendo no sentido da auto-
a pressionar a estrutura latifundiária, de poder baseado na nornízação regional. decorrência do debílítamento dos anti-
grande propriedade e na exploração das comunidades indí- gos pólos de crescimento. Na ausência de vínculos econô-
genas, introduzindo nas lutas de independência um caráter micos mais significativos, o localismo político tendia a pre-
social que permaneceu como um fermento e marcou a evo- valecer. No norte, onde o pólo mineiro se mantivera mais
lução dêsse país por mais de um século. Assim, .,!1as lutas vigoroso, e onde preexistira à conquista espanhola uma tra-
de independência, são perceptíveis dois movimentos que estão dição de centralismo administrativo, conservou-se a unida-
presentes na evolução subseqüente latino-americana: de um de política do que fôra a Nova Espanha. No sul. as ca-
lado, surge uma burguesia europeízante, que pretende liqui- pitànias de Venezuela e Chile transformaram-se em unida-
dar com decretos o passado pré-colombíano e colonial 2, que des políticas independentes, a Nova Granada dividiu-se em
busca integrar as distintas regiões nas correntes em expansão Colômbia e Equador e o recém-criado Více-Reínado do Rio
do comércio internacional; de outro, manifestam-se Iôrças da Prata desarticulou-se dando origem à Argentina, ao
Uruguai, ao Paraguai e à Bolívia.
Rompidos os vínculos com a Metrópole, por tôda parte
2 Representante conspícuo dessa corrente liberal é o Libertador Simão o poder tendeu a deslocar-se para a classe de senhores da
uortvar que em decretos de 1824 e 1825, expedidos em Trujlllo e Cuzco, terra, A estruturação dos novos Estados foi condicionada
IlrrroLa a dissolução de comunidades Indígenas, constituindo a proprie-
rllll1l' privada camponesa e declarando proprietários das terras que tinham por dois fatôres: a ínexístência de interdependência real
nm 8\H\ posse aos "denominados índios", a fim de que possam "vendê-Ias
1111 IIll011l\-lasde qualquer modo". Essas medidas não chegaram a ser postas entre os senhores da terra, que se ligariam uns aos outros ou se
NI\ Ill'lHlca nessa época mas constltu:m uma clara Indicação do espí-
'"0 europeízante dos l!deres das guerras de Independência. Veja-se a submeteriam a um dentre êles em função da luta pelo poder;
~~"" TMpNLo Arturo Urquldl Borales, "Las Comunidades Indígenas y su a ação da burguesia urbana, que manteria contactos com
""l'ftlll'rLlva htstóríca" ln Les Problemes Agraires des Amériques Latine3
II'ur!ft. 1067), o exterior e exploraria tôda possibilidade de expansão do

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illfí:rCl\lIIhro externo. ao qual se iriam vinculando segmentos I 11I1(IIJ'IllIlIdnd/l JlI'I'''l'nc;a inglêsa para
10 /lCI()J' rural. Assim, na medida em que surgiriam possi- U"II~I dnl I~ 11 1.-1111,:10de interêsses
hillll ••dcs para uma ou oufrãIinha de exportações, o grupo CI)IIV~III, I~IIII•.1"1110, observar que a
11111,1110 tendeu a consolidar-se, ao mesmo tempo que se in- pliill('i,üft d"el'IIÍlI" do 5(·(\110 XIX,
Icijrou com algum subgrupo rural. criando-se condições para 11111rlrlllCIII" de Ih"UI\PI'\Tllçlln da or-
1 cstruturação de um efetivo sistema de poder. Nos países inll.'lIlC, ..111 qlle (1I1ÓI' ,':1)1,1: ele con-
em que a economia mineira era predominante, co~ o Mé- ilovon I!"I/ldnfl CIIl (IIrlllil\;.'IO. A
xico, o Peru e a Bolívia, o contrõle dessa atividade era su- cilcjnllllclIll~ 'I /mlllll dI' orqa-
ficiente para definir o poder estatal. Os vínculos dêste com dOI'. SIII\li:1I11 11:1 ril<;ilS irn-
grande parte da população, organizada nos grandes domí- ili IlInllllr~flll'lI:1 cllropéiOl!l. priu-
nios rurais, eram pràticamente ínexistentes. Contudo, ne- 111do II"!tilo!l de CI)II!llIIl\Oe acar-
nhum senhor regional dispunha de meios para desafiar a II\,jdrttll~1I IlIlc:;anais locais. Em
autoridade do Estado, cujo contrôle constituía o principal IIIIIII!I\III 11l: Importnções le-
objetivo das lutas políticas. Nas regiões de econômia agrí- Ijlllillllll n:1 \IOV\:1'1l0$iI contrair
cola .. a consolidação do poder estatal estêve na dependência IItlfll iWI' fi t>ÍlIIIH';,\()dil balança
da abertura de linhas de exportação que, favorecendo uma Ifte.!." fi!! I .I'iil'l unportudoras de
região, permitia a esta sobrepor-se às demais. Na Colôm- hqutdas e se trans-
bia, onde nenhuma região chegou a possuir uma base eco- íumncclros.
nômica suficientemente grande para sobrepor-se, as guerras ••••• se ligavam aos interêsses
'111(' in-
civis se prolongaram, dizimando contingentes da população. nuport.tç.ro. deviam fazer face ao pro-
Na Argentina a posição privilegiada do pôrto de Buenos 11I~ltfh II'nd,l d.I capacidade de pagamentos no ex-
Aires permtiu à região do litoral. após prolongadas guerras 11\ 111111110 de dívida externa e as crises de balança
civis, impor-se como centro de um Sistema nacional de po-
ele p:llIl\llll'nlos engendravam problemas fiscais e cambiais.
der. 3
lI'IIITI'loIndo emissões de papel-moeda inconversível e perma-
Assinalamos que. o isolamento em que se encontraram
ue nt e depreciação do poder aquisitivo externo e interno, das
as colônias da Metrópole espanhola. provocado pelas cir-
cunstâncias da política européia, abriu o caminho às guerras moedas nacionais. As populações urbanas. mais penalizadas
de independência, sob a influência de burquesías locais for- Iwlns altas periódicas de preços, chegaram muitas vêzes a
madas ao influxo da diversificação comercial durante o úl- revoltar-se. Essa situação. que requeria aumento das expor-
timo século da era colonial. as quais se localizavam em zonas tnçõcs, induziu as burguesias locais a voltarem-se para o in-
benefícíárías de um comércio mais diversificado. O México tcrior, na busca de produtos exportáveis, e para o exterior.
constituiu um caso à parte, no sentido de que o isolamento na procura de mercados potenciais. Ora, durante a primeira"
da Metrópole teve projeções mais profundas, abrindo um metade do século passado. os mercados exteriores resultaram
processo de contestação à própria ordem social. o que deu limitados e de difícil acesso. A Revolução Industrial. nessa
maior profundidade à luta pelo poder e criou uma situação primeira fase, apresentou duas características que se refle-
de instabilidade que se prolongou por todo o século XIX. tifãin negativamente nos países latino-americanos. A primeira
era sua concentração na Inglaterra, país possuidor de colô-
nias capacitadas para suprí-lo de produtos primários, parti-
()hro o papel da "autocracIa unlflcadora" na formação do Estado Na- cularmente os tropicais. A segunda era sua concentração na
"',,''"\ nn Argentina, veja-se Olno Oermanl, Polftica 1/ 30ciedad en una indústria têxtil algodoeira, cuja matéria-prima pôde ser pro-
1'''''" tll1 tran8lolón, (Buenos Alres. 1962).

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.Iuzida \,111 larqa escala nos Estados Unidos, à base de mão-
Ic.nhril c~crava e a uma distância muito menor, numa época
11\ que os transportes marítimos eram precários.
De uma maneira geral, os países latino-americanos en-
!rcntnram grandes dificuldades para-ábrir Uiilias Clê:co-
mércío nos três ou quatro decênios que se' seguiram. às guer-
ras de independência. Afora os metais preciosos e os couros
peles, nenhum outro produto encontrou condições favorá-
veis de mercado. QyI9.Qdão, cujo consumo cresceu na Ingla-
terra de duas mil para um quarto de milhão de toneladas,
vinha sofrendo uma forte baixa de preços, sendo impraticável
concorrer com os produtos do sul dos Estados Unidos. O
açúcar e demais produtos tropicais sofreram acentuada baixa
de preços, a partir do fim das guerras napoleônicas. Tem-se
argumentado que o desenvolvimento das exportações foi di-
ficultado pela instabilidade política que prevalecia na quase
totalidade dos países. Entretanto, o argumento inverso tam-
bém pode ser defendido: as dificuldades encontradas nos
mercados externos, para abrir linhas de exportação, deixou
os qrupos urbanos, que haviam liderado as lutas de índepen-
dência, sem -condições para organizar de forma estável um
sistema de poder. Exceção interessante a esta regra, que a
confirma, constitui o caso do Chile. Êste país, capitania au-
tônoma na época colonial, singularizava-se pelo fato de que
~ era centro exportador de metais preciosos (sua produção
de ouro declinara ràpidamente), nem era região exportadora
para o exterior de produtos agropecuários. Na verdade, o
Chíle era uma região agropecuária articulada com o pólo
peruano. Â diferença de outras burguesias comerciais, for-
madas no comércio de contrabando e sob forte influência
inglêsa, os interêsses exportadores chilenos estavam integra-
dos com os ínterêsses aÇJropecuários da região e se haviam
formado no quadro legalista do monopólio organizado pela
Metrópole. Por esta e outras razões a classe dirigente chi-
lena não sofreu conflitos internos maiores e um decênio de-
pois das guerras de independência lograva estruturar um
,.,istema de poder estável. A Constituição de, l'ortales, de
I R13. formalizou um sistemade poder répresentativo de base
4 Para uma síntese da evolução econOmlca chilena no século XIX, veja-se
o!inúrquica, que se manteve estável até fins do século XIX. Anlbal Pinto Santa Cruz, Chile, un ccso tte dClarrollo frustrado (San-
POl' outro Indo, o Chile pôde tirar partido de condições par- tiago de Chlle. 1962).

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11
lI.se consideràvelmente. formou-se e consolidou-se uma r.1lI'1II01l no Brasil. En-
d.I'I,'1t. de comerciantes de gado. com contactos em várias
1l'\Jiôcs do país. Ssses homens transportavam grandes récuas
de mulas do Rio Grande do Sul para São Paulo. onde. em • que possibilitou a \
grandes feiras de animais. vinham abastecer-se os tropeíros lell.1Illil'! "l'51ioes res- I
que serviam à região das minas e que asseguravam a ligação IccÜCllltillkp do poder
desta com o litoral. Com a Independência. os interêsses do
comércio exterior permaneceram em mãos de portuguêses. que
se sen{iam cobertos pela continuidade da Coroa. ou transfe-
riram-se para o contrôle inglês. Desta forma. na região açu-
careira não houve modificação sensível. conservando-se as
velhas estruturas sob um contrõle mais direto de interêsses
inglêses. As modificações mais significativas ocorreriam no
sul. onde a economia mineira vinha em declínio desde fins do
século XVIII, A redução progressiva da produção de ouro
a uma têrça ou quarta parte. ao mesmo tempo que cresciam
as despesas administrativas com o trabalho da Cõrte e em
seguida com a criação de um govêrno autônomo. criaram
um desequilíbrio geral na economia. o qual se traduziu em
endividamento externo e emissões de papel-moeda que ràpí-
damente se depreciava, A inflação criou descontentamento
nas zonas urbanas e Iôrças centrífugas se manifestaram em
várias regiões. Contudo. o desenvolvimento da produção de
café. cujas possibilidades se manifestaram já nos anos qua-
renta do século passado. permitiu a formação do núcleo que
deveria servir de base à nova estrutura de poder. Os homens
que estabeleciam a ligação entre as regiões mineiras e o litoral
foram um fator decisivo na implantação da economia cafeeira
no vale do Paraíba, de onde ela se expandiu meio século
depois para o altiplano paulista. Desta forma. o café se de-
senvolveu fora das estruturas latifundiárias estabelecidas em
fases anteriores. pela iniciativa de indivíduos de mentalidade
mercantil. Assim. a atividade econômica que. foi o ponto de
apoio do Estado brasileiro em sua fase de formação e con- li '"' lipu scntnçl\o sintética da história latino-americana no perfodo da
IlIoII'lllhcclllne!t1 encontra-se em Víctor-L, Tapté, Histolre de Z'Amerlque La-
solidação. surgiu diretamente como uma atividade agrícola- r'/I" /lU :OOX" SiCcle (Paris, 1945). Essa obra possui amplas Indicações bí-
1,1I1I1\lIIrt"II",1'l\rll referências bibl10gráflcas gerais veja-se a Bibliográfica
exportadora. o que lhe facultou apresentar uma frente per- liI~I, 1/,'" (/u E"paf!a y Hispano-América publ1cada em Barcelona a partir
,lU III~:I pUI' J!Ilmo Vlcens Vives e também Robert A, Humphreys, Lat tn.
feitamente consolidada de interêsses agrários e mercantis. à "I/I!//"IIII Ill"torv: A Guide to the Líterature in Englísh (Londres 1960),
I uvr •• eln JlIcques Lambert, Amérlque Latine, structures socuue« et tns-
semelhança do ocorrido no Chile. O latifúndio tradicional. tt uttnn« /'olttlqucs. cuja segunda edição atualizada apareceu em 1968. cons-
de economia principalmente de subsistência, seria sempre 111111111I:\lmOlltevalíosa fonte de referências bibliográficas,

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