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Universidade Estadual do Ceará – UECE

Sebastião Lopes Araújo

A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO


INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL: estudo de caso

FORTALEZA – CEARÁ

2009

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Universidade Estadual do Ceará – UECE

A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO


INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL: estudo de caso

Sebastião Lopes Araújo

FORTALEZA – CEARÁ

2009

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Sebastião Lopes Araújo

A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO


INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL: estudo de caso

Dissertação apresentada à Coordenação do


Curso de Mestrado Profissional em
Planejamento e Políticas Públicas, como
requisito parcial para obtenção do título de
Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Horácio da


Silva Frota

FORTALEZA - CE

2009

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A662m Araújo, Sebastião Lopes

A Metodologia da Capacitação Massiva como Instrumento de Inclusão Social: estudo


de caso/Sebastião Lopes Araújo. – Fortaleza, 2009.

110p.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Horácio da Silva Frota

Dissertação (Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas) –


Universidade Estadual do Ceará, Centro de Estudos Sociais Aplicados.

1. Capacitação Massiva. 2. Participação. 3. Laboratórios Organizacionais. I.


Universidade Estadual do Ceará, Centro de Estudos Sociais Aplicados.

CDD: 320-6

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SEBASTIÃO LOPES ARAÚJO

A METODOLOGIA DA CAPACITAÇÃO MASSIVA COMO INSTRUMENTO DE


INCLUSÃO SOCIAL: estudo de caso

Banca Examinadora

______________________________ __________________________________

Prof. Dr. Jourbert Max Maranhão Prof.a Dr.a Maria Helena de Paula Frota
Piorsky Aires

____________________________________________

Prof. Dr. Francisco Horácio da Silva Frota

Orientador

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AGRADECIMENTOS

Inicialmente agradeço a meus pais e a Tia Rita, pela grande contribuição na minha
formação como cidadão e profissional.

Ao mestre Prof. Clodomir Santos de Morais, pela criação do método da capacitação


massiva, de longo alcance social, por contribuir para a melhoria das condições de
vida de milhares de pessoas no Brasil e no exterior e pela capacitação que me
proporcionou.

À equipe de Coordenação do PRONAGER Nacional, com destaque para Vera Nacif


e Roberto Leão.

Aos participantes dos laboratórios organizacionais, equipes técnicas e alunos, e em


especial aos participantes dos laboratórios organizacionais da Ilha do Ferro e de São
José dos Campos, e respectivamente membros das Cooperativas Art-Ilha e Mult-
Tex, pela troca de saberes, dedicação e apoio na coleta de dados para a conclusão
deste estudo de caso.

À Terezinha Oliveira e a nossa filha Maíra, pela compreensão da minha falta ao


convívio familiar, pelos longos períodos, desenvolvendo a capacitação massiva nos
laboratórios organizacionais.

Aos professores do mestrado, pelas contribuições na elaboração de um novo saber.

À companheira Fátima Lourenço, pela paciência e colaboração em todos os


momentos.

A Isabel Cristina, pela colaboração nas discussões teóricas e ao Prof. João Vianney
Campos de Mesquita, pela correção ortográfica.

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Não haverá existência humana sem a
abertura de nosso ser ao mundo, sem a
transitividade de nossa consciência.

Paulo Freire (in memoriam)

RESUMO

O fenômeno da pobreza compromete o desenvolvimento local e as


estratégias tradicionais até então utilizadas para a sua superação nem sempre se
mostram efetivas. Assim compreendendo, este estudo investiga o alcance da
Metodologia da Capacitação Massiva como instrumento de inclusão social,
considerando particularidades que a diferenciam de outras metodologias,
empregadas tradicionalmente com a mesma finalidade. A pesquisa qualitativa foi
desenvolvida mediante estudo de caso, tomando-se como referência o
desenvolvimento de dois laboratórios organizacionais e a situação atual das duas
empresas cooperativas oriundas dos referidos laboratórios, com o intuito de avaliar o
seu nível de desenvolvimento e resultados na formação dos participantes e inserção
no mercado de trabalho. Os pressupostos levantados inicialmente serviram de base
para a consolidação deste trabalho em cinco capítulos. O segundo deles descreve
os caminhos da pesquisa, nele destacando-se métodos e técnicas selecionados
para dar suporte aos seus achados. O terceiro faz uma incursão teórica,
privilegiando as seguintes categorias: capacitação massiva dos laboratórios
organizacionais, participação social e capital social. O quarto relata as experiências
que serviram de abrangência neste estudo. Uma concentra o caso da Ilha do Ferro,
no Município de Pão de Açúcar – Alagoas, meio rural onde foi realizado o
Laboratório Organizacional de Terreno (LOT) e a outra no Município de São José
dos Campos – São Paulo, onde aconteceu o Laboratório Organizacional de
Empresa (LOE). Os achados da pesquisa permitem confirmar as hipóteses
levantadas, podendo-se afirmar a validade da metodologia da capacitação massiva
nos dois casos observados: Primeiro por se configurar como alternativa concreta de
capacitação de excluídos sociais. Segundo, pela sua capacidade de mobilizar
pessoas e recursos da própria comunidade para o desenvolvimento de ações
concretas de geração de trabalho e renda.

Palavras-chave: Capacitação Massiva; participação; laboratórios organizacionais.

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ABSTRACT

The phenomenon of poverty compromises local development and traditional


strategies used till then in order to surpass itself are not effetive at all. In such case,
this study investigates the importance of Methodology of Massive Qualification as an
instrument of social inclusion, considering special characteristics that makes it
different from others traditionally applied with the same purpose. The qualitative
research was developed through a case study taking as reference the development
of two Organizational Laboratories and the current situation of two cooperatives
arised from the above mentioned Laboratories, with the purpose of evaluate its level
of development and results to form end insert the participants in the world of labor.
The presupposed arised at first were useful as the main element to consolidate this
work in three chapters. The first one describes the ways of the search, emphasizing
methods and technics selected to give support to its findings. The second makes a
theoric incursion, covering the following cathegories: massive qualification of
organizational laboratories, social participation, and social capital. The third chapter
refers to the experiences that served to enlarge this study. One concentrates the
case of Ilha do Ferro, in Pão de Açúcar – rural place in Alagoas/Brazil, where the
Laboratório Organizacional de Terreno (LOT) happened. The other one took place in
São José dos Campos – São Paulo/Brazil, where the Laboratório Organizacional de
Empresa (LOE) happened. The findings of the search make possible to validate the
hypothesis raised up, being able to asseverate the authenticity of Methodology of
Massive Qualification in both cases: first because it is a concrete alternative to qualify
people excluded socially. Second for its capacity to mobilize people and resources of
the proper comunity to develop concrete actions to generate income and work and
productive and social insertion.

Keywords: Massive Qualification; participation; organizational laboratories.

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SUMÁRIO

(COLOCAR Nº DE PÁGINAS NOS ITENS erir nova numeração a partir da introduço

1 INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------------------- 10

2 OS CAMINHOS DA PESQUISA ------------------------------------------------------ 14

2.1 Métodos e Técnicas ------------------------------------------------------------------- 14

2.2 O Estudo de Caso como Recurso Metodológico ------------------------------- 17

2.3 A Estrutura do Trabalho -------------------------------------------------------------- 19

3 INCURSÃO TEÓRICA ----------------------------------------------------------------- 21

3.1 A Capacitação Massiva dos Laboratórios Organizacionais ----------------21

3.2 A Participação Social como Essência para a Transformação

da Realidade --------------------------------------------------------------------------------- 47

3.3 O Capital Social como Condição Inclusiva ------------------------------------ 52

4 RELATO DE EXPERIÊNCIAS: Estudo de Caso ----------------------------- 57

4.1 O Laboratório Organizacional de Terreno da Ilha do Ferro/AL

e a Cooperativa dos Artesãos ART-ILHA. ------------------------------------------- 57

4.2 O Laboratório Organizacional de São José dos Campos/SP e a

Cooperativa dos Trabalhadores MULTI-TEX. ---------------------------------------74

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ---------------------------------------------------------- 88

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ------------------------------------------------- 92

APÊNDICES -------------------------------------------------------------------------------- 98

I – Questionários aplicados ------------------------------------------------------------- 99


II – Plano do Laboratório Organizacional ------------------------------------------ 107

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1. INTRODUÇÃO

A escolha do tema delineado nesta dissertação está relacionada à


experiência profissional deste pesquisador, acumulada ao longo de 20 anos, por
quando da sua participação, em 1988, no Laboratório Organizacional de Terreno
(LOT) de Mirassolzinho - MT (um dos tipos de eventos de capacitação massiva). Tal
experiência possibilitou o desencadear de um processo de estudo e aplicação da
referida metodologia em outros estados da Federação na qualidade de Diretor de
Laboratório Organizacional, até 1998, oportunidade em que este foi convidado pelo
Governo Brasileiro (Ministério da Integração Nacional) e a Organização das Nações
Unidas para a Agricultura e Alimentação – FAO, para exercer a função de Perito
Nacional em Capacitação Massiva no Programa Nacional de Geração de Emprego e
Renda em Áreas de Pobreza (PRONAGER). O Programa tinha por objetivo principal
acelerar o desenvolvimento social e econômico das áreas de alta concentração de
pobreza (urbanas ou rurais), mediante investimentos em empreendimentos
geradores de empregos e renda, especialmente aqueles associativos/cooperativos.

Nesta oportunidade teve o privilégio de acumular mais experiências mediante


a direção de três laboratórios organizacionais de curso e de um laboratório
organizacional de empresa, os quais possibilitaram ampliar os seus conhecimentos
e a sua percepção da importância de estudar e investigar com maior profundidade a
metodologia utilizada, pelos resultados constatados no decorrer dessas
experiências, bem como após a sua realização, as quais sinalizam se tratar de uma
tecnologia social importante para as sociedades contemporâneas.

Assim, este trabalho acadêmico contextualiza a problemática da exclusão


social, atualmente o principal desafio dos governantes e da sociedade civil,
contribuindo com o debate sobre opções para o seu enfrentamento que apena, a
cada dia, milhares de pessoas.

A situação de pobreza no Brasil é visível nas estatísticas produzidas e


disseminadas por diferentes institutos de pesquisa. Dados do IBGE concorrem para
que se possa identificar no país uma população total de 187 milhões, 672 mil, 898

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habitantes. Dentre eles há um contingente representado por 25% de pessoas em


situação de pobreza, sendo 19% abaixo da linha de pobreza (Estimativas do IBGE e
IPEA, 2008).

A problemática torna-se mais agravante, considerando a naturalidade com


que a sociedade encara essa questão, fruto de uma cultura resultante de um “acordo
social excludente” que não reconhece a cidadania para todos, sendo, ainda, distintos
os direitos, oportunidades, possibilidades e horizontes para os “incluídos” e para os
“excluídos”, apesar do aparato legal vigente.

O fenômeno da pobreza compromete o desenvolvimento local e as


estratégias tradicionais até então utilizadas para a sua superação nem sempre se
mostram efetivas.

As causas e consequências da pobreza são multifacetárias, tendo-se


observado na literatura sobre a matéria diferentes abordagens e metodologias
aplicadas no sentido de mensurá-la, compreendê-la e na apresentação de
proposituras para o seu enfrentamento.

Compreender essa questão pressupõe a busca do entendimento abrangente


desse fenômeno. Na literatura, há argumentos de que a pobreza não significa uma
manifestação natural própria da condição humana, mas resultante do modelo de
desenvolvimento econômico e social adotado por parte de cada sociedade.
Comporta, portanto, noções de recursos, necessidades e escassez e, como
consequência, a premente necessidade de se adotar estratégias capazes de superá-
la, visto que, não sendo condição humana natural, pressupõe intervenções
planejadas capazes de promover mobilidade da condição de pobres para não-
pobres. Este é o pensamento que encontra ressonância nas produções teóricas de
variados estudos, tomados como referência para este trabalho, a exemplo de Santos
(1979), Demo (1988), Dupas (2000), Sen (2000) e Santos de Morais (2002), dentre
outros.

Neste sentido, entende-se que a pobreza não constitui simplesmente uma


categoria econômica, pois comporta, além da privação de recursos necessários à
sobrevivência digna, privações de ordem moral e política.

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A concepção de pobreza formulada pelo prêmio Nobel de Economia Amartya


Sen (2000) sustenta que a desigualdade social não se limita à diferença de renda e
que existem outras dimensões, cujas interações com esta traduzem verdadeiros
circuitos de pobreza e exclusão social, não sendo possível entender sua natureza,
isolando seus impactos econômicos de outros aspectos tais como políticos, sociais e
culturais.

Diante dessa realidade, interessa investigar o alcance da Metodologia da


Capacitação Massiva como instrumento de inclusão social, por ter uma
particularidade que a diferencia de outras metodologias, mesmo guardando o
mesmo objetivo, uma vez que sua implementação e sua prática antecedem a teoria.
Assim, baseia-se, fundamentalmente na atividade-objetivada, categoria da
Psicologia Social, desenvolvida pelo psicólogo russo A. N. Leontiev (1975). O
conceito de atividade objetivada integra o sujeito (o indivíduo), objeto (meios de
produção/insumos indivisíveis), e, na relação entre as duas partes, a atividade vai
transformando os dois; ou seja, a atividade do indivíduo vai dar forma a sua mente.
Para explicar as características psicológicas dos homens e mulheres, tem-se que
identificar as características das atividades realizadas por estes.

Criada pelo sociólogo Dr. Clodomir Santos de Morais, traduz-se numa


experiência de intervenção na pobreza, por ser uma metodologia desenhada
especialmente para alcançar o excluído social, a qual capacita centenas de pessoas
em um só tempo, por meio dos laboratórios organizacionais, possibilitando também
a participação de pessoas com baixo nível de escolaridade e de qualificação
profissional. Tem como eixo norteador a “Teoria da Organização”, que trata de
conceitos básicos de Sociologia da Organização, Economia Política e de Psicologia
Social, além de instrumentos de gestão empresarial associativa.

Este estudo articula fundamentação teórica e experiência que, inter-


relacionadas, vão compor um quadro de referência que dão sentido à formulação
deste relatório de pesquisa.

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A preocupação com a natureza histórica e cultural da pobreza no Brasil e a


ineficiência de metodologias até então adotadas para seu enfrentamento animaram
a produção desta investigação.

Sua relevância se articula em quatro pontos fundamentais, em cujas bases se


justificam a idealização deste estudo.

Para a academia, sua importância está em produzir referência inovadora,


centrada na experiência da aplicação da Metodologia da Capacitação em 30 países,
inclusive no Brasil, e seu reconhecimento por diferentes organismos
(governamentais, agências especializadas das Nações Unidas, como a Organização
das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e a Organização
Internacional do Trabalho (OIT) e organizações não governamentais (ONGs), por
considerar a organização social o elemento substantivo para a construção das bases
e o desencadeamento do desenvolvimento sustentável.

Seu relevo para o Estado se justifica pelas possibilidades que se vislumbram


quanto à sua efetiva contribuição na formulação e implementação de políticas
públicas de geração de trabalho e renda, com vistas à constituição de uma
sociedade mais justa e equânime.

Para a sociedade de modo geral, sua relevância está nas possibilidades


concretas de seus resultados para a formação de capital social e transformação
positiva da realidade local.

É de realce ainda e se justifica pelo interesse deste pesquisador em contribuir


para o debate sobre possíveis opções de enfrentamento da pobreza e desigualdade
social, desafio maior dos governantes e da sociedade civil.

Assim, os seus achados se apresentam como importante contribuição para as


políticas públicas, os movimentos populares, a sociedade e a academia.

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2. OS CAMINHOS DA PESQUISA

Para consolidar os objetivos deste estudo, algumas decisões foram se


apresentando como determinantes no percurso da investigação. Dentre os métodos
referendados, o estudo de caso se mostrou mais compatível com a intenção que se
configurava em torno dos objetivos descritos.

2.1. MÉTODOS E TÉCNICAS

A teoria e o método se articulam, são interdependentes e visam a realizar o


objetivo da pesquisa que pode ser de descrever, descobrir, compreender e predizer
determinado fenômeno (VERGARA, 2006).

Conforme Minayo (2007, p.12), o objeto de estudo das ciências sociais é


histórico e, como tal, cada sociedade possui uma organização particular, embora
quando contemporâneas tenham alguns traços em comum. O passado influencia o
presente e este por sua vez determina a consolidação do futuro. Ainda de acordo
com a autora, a “provisoriedade, o dinamismo e a especificidade são características
de qualquer questão social”.

Minayo (2007, p. 13) acentua que em ciências sociais há uma identidade


entre o objeto e o sujeito da pesquisa, pois lida com seres humanos e, portanto,
comprometidos. Conforme Lévy-Strauss (1975 apud MINAYO, 2007, P. 13), “numa
ciência, onde o observador é da mesma natureza que o objeto, e o observador é ele
próprio, uma parte de sua observação”.

Em ciências sociais, não há neutralidade científica, pois ela é extrínseca e


intrínseca ideologicamente. Portanto, o objeto desta ciência é essencialmente
qualitativo (MINAYO, 2007).

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A realidade social é a cena e o seio do dinamismo da vida individual e


coletiva com toda riqueza de significados dela transbordante. Essa mesma
realidade é mais rica que qualquer teoria, qualquer pensamento e qualquer
discurso que possamos elaborar sobre ela. Portanto, os códigos das
ciências sociais que por sua natureza são sempre referidos e recortados
são incapazes de conter a totalidade da vida social (MINAYO, 2007, p. 14).

Minayo (2007, p. 14) assim conceitua metodologia:

O caminho do pensamento é a prática exercida na abordagem da realidade.


Ou seja, metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem
(método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as
técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade
pessoal e sua sensibilidade). A metodologia ocupa um lugar central no
interior das teorias e está referida a elas.

A pesquisa qualitativa, portanto, é a mais apropriada para este trabalho, pois


é considerada pela maioria dos autores como o tipo indicado para estudar
determinado fenômeno social. Neste estudo, interessa, em termos gerais, descrever
a dinâmica relacional entre diferentes dimensões do comportamento humano para a
estruturação organizacional e seus determinantes para o enfrentamento da pobreza.

A esse respeito, Minayo (2007), assinala:

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se


preocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode
ser ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de
significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das
atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como
parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir,
mas por pensar sobre o que faz parte e por interpretar suas ações dentro e
a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. O universo
da produção humana que pode ser resumido no mundo das relações, das
representações e da intencionalidade e é objeto da pesquisa qualitativa
dificilmente pode ser traduzido em números e indicadores quantitativos. Por

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isso não existe um ‘continuum’ entre abordagens quantitativas e


qualitativas, como muita gente propõe, colocando uma hierarquia em que as
pesquisas quantitativas ocupariam um primeiro lugar, sendo objetivas e
científicas. E as qualitativas ficariam no final da escala, ocupando um lugar
auxiliar e exploratório, sendo ‘subjetivas e impressionistas (MINAYO, 2007,
p. 21).

Minayo (2007) conceitua pesquisa como uma atividade básica da ciência na


constituição da realidade, pois ela vincula pensamento e ação.

De acordo com Costa (2001, p. 39), a pesquisa qualitativa procura captar a


situação ou o fenômeno em toda a sua extensão, daí ela ser considerada como
globalizante e holística. “Em lugar de identificar a priori algumas variáveis de
interesse, trata de levantar todas as variáveis possíveis existentes, numa tentativa
de enxergar, na sua interação, o verdadeiro significado da questão sob exame.” A
pesquisa levada a efeito neste estudo identifica-se com esta abordagem.

Vieira e Zouain (2004, p. 18) considera que pesquisa qualitativa geralmente


oferece descrições ricas, bem fundamentadas e explicações sobre os processos em
realidades locais, além de oferecer maior flexibilidade ao pesquisador para
adequação da estrutura teórica, mesmo tendo uma natureza subjetiva.

Com base nos conceitos apresentados, esta pesquisa adota o estilo


qualitativo em virtude de sua validade para o alcance dos objetivos que se pretende
alcançar.

O instrumento de coleta de dados é de suma importância para a pesquisa,


pois, por seu intermédio, se recolhe informação de forma seletiva, ou seja, apenas o
que é de interesse, descartando o que não é importante para a pesquisa.

De acordo com Costa (2001, p. 67), a técnica define o modo de realizar algo.
Portanto, classificam-se como técnicas, neste estudo, as coletas de informação por
meio de questionário, entrevistas, observações e análise de documentos.

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Collis e Hussey (2005, p. 145) mencionam que a coleta de dados para a


pesquisa qualitativa ocorre sobre o significado de um fenômeno, portanto, os dados
qualitativos são nominais.

A escolha pelo instrumento de pesquisa depende de seus objetivos, mas o


fato é que existem diversos instrumentos de coleta de dados à disposição do
pesquisador. Neste estudo, optou-se por utilizar os instrumentos de coleta há pouco
mencionados e a técnica de análise dos achados.

Os itens dos questionários (Apêndice I) foram relacionados aos objetivos da


pesquisa. Todo o material coletado passou por análise qualitativa, método mais
adequado para investigação em ciências sociais.

A coleta de dados foi realizada junto aos participantes dos dois laboratórios,
sócios(as) das cooperativas, em destaque neste estudo, sendo finalizada no 2º
semestre de 2008 com a aplicação dos questionários.

2.2 O ESTUDO DE CASO COMO RECURSO METODOLÓGICO

Esta pesquisa constitui estudo de caso, com quantitativo amostral restrito. Do


Laboratório Organizacional de Terreno da Ilha do Ferro – AL, participaram 109
pessoas, enquanto do Laboratório Organizacional de Empresa de São José dos
Campos, fizeram parte 32 trabalhadores. Portanto, essa amostra não permite fazer
inferência dos seus achados, mas aprofundamento e reflexão (COSTA, 2001, P. 34).

Fachin (2001) caracteriza estudo de caso como um exame intensivo. Ele


anota que neste método é levada em consideração a compreensão como um todo
do assunto investigado. Este método possibilita entendimento completo das relações
dos fatores em cada caso, permitindo a utilização de formulários ou a entrevista e,

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em último caso, o questionário. Sua função principal é a explicação sistemática das


coisas.

Fachin (2001) sugere que a vantagem deste método consiste na possibilidade


de fazer inferências de estudos de todos os elementos, pois é uma descrição
analítica de um evento ou uma situação in loco. As desvantagens deste método
concorrem para limitar seus resultados a considerações, restringindo suas
possibilidades de apresentar conclusões. A falta de objetividade e o envolvimento do
pesquisador poderão levar a análise de dados mais para o campo da intuição.

O método de estudo de caso deve ser escolhido quando se pretende


examinar acontecimentos contemporâneos, mas não se tem controle dos
comportamentos relevantes. O que diferencia o estudo de caso dos demais métodos
é sua capacidade de lidar com ampla variedade de evidências (YIN, 2001, p. 27).

A definição de estudo de caso dada por Schramm, (1971, apud YIN, 2001, p.
31) refere-se à sua essência nos seguintes termos: “A essência de um estudo de
caso, é que ela tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões: o motivo
pelo qual tomadas, como foram implementadas e com quais resultados.”

Embora o estudo de caso seja uma forma de investigação empírica, alguns


pesquisadores fazem critica ao método, dizendo que não é confiável pela
possibilidade da falta de rigor por parte do pesquisador e que fornece pouca base
para fazer generalizações (YIN. 2001, p. 29).

Diante do exposto, esta pesquisa adota o método de estudo de caso como


estratégia, por sua viabilidade de elucidar os achados relacionados aos seus
objetivos, quais sejam: investigar o alcance da capacitação massiva como
instrumento de fomento à inclusão social; e descrever e analisar o desenvolvimento
de laboratórios organizacionais e suas repercussões na melhoria das condições de
vida de grupos vulneráveis.

A escolha pelo estudo de caso dos dois laboratórios organizacionais em


destaque não se deu ao acaso. Justifica-se, primeiramente, por se haver constituído
campo fértil de experiência profissional deste pesquisador, que neles atuou no ano
de 1998.

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A experiência acumulada despertou inquietação que convergiu para a


formulação de pressupostos, ancorados nas seguintes hipóteses: os métodos
tradicionais de qualificação não atendem as características e/ou necessidades da
população vulnerabilizada econômica e socialmente, uma vez que, pela seletividade,
e por não relacionar demandas locais às potencialidades de absorção de
trabalhadores no mercado de trabalho reforçam o estigma da exclusão. Outra
hipótese levantada é a de que as pessoas têm potencialidades que podem ser
desenvolvidas, e as comunidades pobres dispõem de recursos humanos e materiais,
os quais, se mobilizados e inseridos na capacitação massiva, concorrem para a
geração de trabalho e renda e a redução da pobreza.

Os sujeitos participantes desta pesquisa são de trabalhadores com as


seguintes características:

A amostra da Ilha do Ferro está composta por 109 trabalhadores rurais na


faixa etária de 22 a 44 anos, que têm como ocupação principal o artesanato e
agricultura de subsistência. Na sua maioria, possui o ensino fundamental
incompleto.

A amostra de São José dos Campos está composta por 32 trabalhadores, a


maioria na faixa etária entre 26 e 45 anos, todos com experiência profissional na
indústria, sendo que, destes, 22 encontravam-se desempregados (68,7%).

2.3 A ESTRUTURA DO TRABALHO

Os pressupostos norteadores desta pesquisa partem da formulação de duas


hipóteses convergentes, já descritas. Para o alcance de seus objetivos, métodos e
técnicas se tomou como desafio consolidar este trabalho em cinco capítulos.

Esta dissertação está assentada na fundamentação teórica produzida sobre


as seguintes categorias: capacitação massiva dos laboratórios organizacionais,
participação social e capital social.

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Os capítulos contidos neste estudo se articulam e se complementam.

A introdução é o primeiro. O segundo capítulo, comporta os caminhos da


pesquisa, com a descrição dos métodos e técnicas selecionados para dar suporte
aos seus achados. Nele se descrevem o estudo de caso como recurso metodológico
e seus procedimentos e instrumentos. A seleção deste método se deu com base na
literatura produzida pelas possibilidades que anunciava de concretizá-lo.

O terceiro segmento, da incursão teórica, cobre as seguintes categorias:


capacitação massiva dos laboratórios organizacionais (origem e evolução e seus
aspectos conceituais, técnico-metodológicos e operacionais); participação social
como essência para a transformação da realidade; e o capital social com condição
inclusiva.

O quarto módulo, apresenta o relato das experiências vivenciadas na


comunidade rural de Ilha do Ferro, no Município de Pão de Açúcar - Alagoas e no
Município de São José dos Campos – São Paulo, quando foram realizados,
respectivamente, um laboratório organizacional de terreno (LOT) e um laboratório
organizacional de empresa (LOE), os quais culminaram com o desenvolvimento de
empresas cooperativas autogestionárias.

A decisão de se apresentar, neste estudo de casos, o relato de dois tipos de


laboratórios organizacionais (LOT e LOE) tem por base tratar-se de dois grupos
sociais com perfis e comportamentos diferenciados em função do contexto social,
econômico, político e cultural de cada grupo, com repercussões distintas, tanto no
desenvolvimento das experiências, como na condução dos empreendimentos
econômicos após a realização dos referidos laboratórios.

A abordagem acerca de seus achados está empreendida no decorrer de sua


consolidação, que culmina nas considerações finais – o quinto capítulo.

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3. INCURSÃO TEÓRICA

3.1 A CAPACITAÇÃO MASSIVA DOS LABORATÓRIOS ORGANIZACIONAIS

As instituições de cooperação técnica enfrentam dificuldades para


desenvolver metodologias adequadas à capacitação dos excluídos sociais.

Os métodos tradicionais de qualificação, quase sempre, não atendem


efetivamente às características e/ou necessidades das populações pobres, uma vez
que, pelos seus princípios e metodologias adotadas, não chegam aos chamados
excluídos sociais, pela seletividade e por não relacionar demandas locais às
potencialidades de inserção dos trabalhadores no mercado de trabalho.

Outro aspecto a considerar é que, muitas vezes, instituições promotoras da


qualificação, nas suas propostas pedagógicas, valorizam mais as didáticas do
ensino do que as da capacitação. Na primeira, o educador transfere o conhecimento
ao aluno na intenção de transformá-lo, havendo uma artificialização na geração da
necessidade do conhecimento, uma vez que não parte de uma realidade concreta e,
portanto, contextualizada, como bem tratou Correia (1994). Nas didáticas da
capacitação é o inverso - o facilitador atua como meio, elaborando e repassando as
entregas teóricas em atendimento à demanda do aluno, que as requer em função da
necessidade ditada pelo objeto, no caso do laboratório organizacional, a empresa
dos alunos, como se verá mais adiante.

Assim não conseguem incorporar a participação na sua essência como um


valor intrínseco à formação de sujeitos, como bem situa Frei Betto (1998, p. 47)
quando trata de educação em direitos humanos na América Latina:

[...] costuma-se dizer que, nas escolas, a pedagogia se distingue entre o


método Piaget e o método Pinochet.. Isto quer dizer os métodos de ensino
nem sempre são verdadeiramente pedagógicos. Por vezes opressivos,

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inibem potencialidades, reprimem a criatividade, e tornam o educando


covarde frente à realidade da vida.

Com base nesse argumento, fica reforçada a necessidade imperiosa de uma


educação libertadora, a exemplo da Pedagogia da Autonomia, de Freire (1998),
fundada no respeito à autonomia e à dignidade de cada um, e que vai à essência
das causas da existência de tão poucos “sujeitos falantes” na conjuntura social,
como bem define Ranciére (1995, p 78): “personagens que não comparecem na
cena política como sujeitos portadores de uma palavra e que exigem o seu
reconhecimento”.

Vale ressaltar que tal realidade resulta do modelo de desenvolvimento em


curso no País, cuja consciência social e política de grande parte da população
reproduz as formas de dominação histórico-cultural, que, apesar de alguns avanços,
ainda carece de uma educação inclusiva universalizada, como bem exprime Freire
(1987):

[...] Em regime de dominação de consciências, em que os que mais


trabalham menos podem dizer a sua palavra e que em multidões imensas
nem sequer tem condições de trabalhar, os dominadores mantém o
monopólio da palavra, com que mistificam, massificam e dominam. Nessa
situação, os dominados, para dizerem a sua palavra, têm que lutar para
tomá-la. Aprender a tomá-la dos que a detêm é um difícil, mas
imprescindível aprendizado – é a pedagogia do oprimido (P. .21).

Os chamados excluídos sociais, pela sua própria realidade socioeconômica,


apresentam um perfil com as seguintes características:

– quase sempre, não têm acesso aos meios de produção;


– são pessoas desempregadas ou subempregadas, com baixo nível de
escolaridade e de qualificação profissional;

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– normalmente, têm uma relação de dependência com o Poder público,


autoridades e lideranças, achando sempre que estes “sabem o que é
melhor para eles”;
– por terem uma consciência ingênua, muitas vezes, acreditam que a sua
condição social é determinada por Deus ou alguma outra divindade, e
apenas identificam os problemas - pobreza, doenças, falta de alimentação,
de moradia etc., e esperam que as soluções venham de fora;
– normalmente, moram nas periferias das cidades, morros e favelas, expulsos
do campo ou de áreas mais valorizadas, neste último caso, em decorrência
da espoliação urbana;
– em geral, têm alta dependência da assistência social e são alvos fáceis de
práticas assistencialistas e paternalistas;
– a maioria não consegue romper o círculo vicioso da pobreza, baixando cada
vez mais a autoestima, muitos enveredando para o alcoolismo e outras
drogas, contribuindo para o aumento dos índices de violência;
– têm difícil acesso aos mecanismos oficiais de crédito; e
– falta-lhes a consciência do seu potencial e da sua capacidade de contribuir
para a redução do seu quadro de pobreza.

Pela sua concepção, a Capacitação Massiva apresenta-se como uma


alternativa para alcançar o excluído social, mediante a sua participação no
desenvolvimento de laboratórios organizacionais que, dependendo da sua tipologia,
conforme se verá mais adiante, capacita centenas de pessoas, fomentando a
estruturação de empreendimentos sociais e econômicos.

O Laboratório Organizacional promove o acesso da população vulnerabilizada


social e economicamente à qualificação social e profissional, pois a seleção é
natural - todos podem participar.

A origem da Metodologia da Capacitação Massiva, conhecida


internacionalmente como a metodologia dos laboratórios organizacionais, teve início
em 1954, com a realização de um curso sobre Legislação Agrária, na área urbana
da cidade do Recife, com a participação de 45 pessoas, em regime de internato,

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objetivando a capacitação de quadros dirigentes das Ligas Camponesas. O reduzido


espaço físico e a necessidade de realizá-lo sem despertar suspeitas pelas
circunstâncias políticas de então exigiram grande disciplina e coordenação para
dividir e realizar as atividades inerentes ao cotidiano dos participantes.

Decorridos seis meses, os organizadores resolveram avaliar o nível de


aprendizagem dos participantes quanto aos conteúdos ministrados e constataram
que os resultados não haviam sido os esperados, todavia, eles tinham desenvolvido
qualidades de liderança e capacidade de organização, o que possibilitou a diversos
egressos se tornarem excelentes quadros nas suas organizações de base.

A vista de tais resultados interpretados por um dos participantes do curso -


Clodomir Santos de Morais, ele constatou que a metodologia adotada (organização
em comissões - limpeza, alimentação, saúde, infraestrutura, apoio pedagógico,
disciplina, cultura e lazer etc.), determinada pelas necessidades do grupo e em
função do contexto político (Ligas Camponesas desenvolvendo suas atividades na
clandestinidade) foi decisiva para os resultados obtidos, internalizando princípios
básicos de organização.

Com a realização dos primeiros laboratórios organizacionais em 1964, ainda


no Nordeste do Brasil, em caráter experimental, iniciam-se a concepção e a
formulação da “Metodologia da Capacitação Massiva dos Laboratórios
Organizacionais de Terreno”, o qual foi sistematizado posteriormente.

Apesar da metodologia ter sido criada por um brasileiro de Santa Maria da


Vitória, Estado da Bahia, e desenvolvida em 30 países, somente em 1988 ela foi
aplicada no País, após o retorno do autor a esta Nação, beneficiado pela anistia,
oportunidade em que fundou, com o apoio da Universidade de Brasília (UnB), o
Instituto de Apoio Técnico aos Países do Terceiro Mundo (IATTERMUND),
instituição responsável pela sua aplicação, desenvolvimento e aperfeiçoamento.

Como pode ser visto, o seu desenvolvimento inicial se deu mais na América
Central e na América do Sul, com a contribuição de vários profissionais, inclusive do
meio acadêmico, que atuaram ou ainda atuam com a referida metodologia, conforme
cronologia das experiências realizadas, a seguir:

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1971 no Programa de Reforma Agrária - implantação em 285


assentamentos rurais – Panamá.

1973/76 no Programa de Capacitação Camponesa para a Reforma Agrária


de Honduras (PROCCARA) - mais de 400 LOTs – 24.000
camponeses e técnicos da região capacitados (ONU/FAO).
Aplicada também na Costa Rica, Venezuela, México, Haiti, São
Domingos, Colômbia, Nicarágua, Dominica e Belize.

1977 no Programa de Desenvolvimento Rural Integrado do Trópico


Úmido – PRODERITH – México (ONU/FAO).

1978/79 no Instituto de Cooperativas Antônio Sérgio - INSCOOP –


Portugal. Mais de 3.000 pessoas capacitadas – (ONU- OIT-
PNUD).

1980/83 no Programa de Capacitação para a Organização e o Emprego na


Reforma Agrária – COPERA (Nicarágua – Sandinista).

1984/87 em Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e


Zimbábue, tendo como instituições promotoras: Cáritas
Moçambicana e Fundação HIVOS.

no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, - MST em


Palmeiras das Missões/RS, Brasil, mediante a realização, em
1987, do Laboratório Organizacional de Centro (LOCEN).

1988/89 No Programa POLONOROESTE nos Estados de Mato Grosso e


Rondônia – Brasil, mediante Acordo de Cooperação Técnica entre
o Governo brasileiro e a FAO.

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no Instituto de Apoio Técnico aos Países do Terceiro Mundo


(IATTERMUND), instituição responsável pelo desenvolvimento e
aperfeiçoamento da Metodologia da Capacitação Massiva no
Brasil e no Exterior.

1992/96 no PROGER - Programa de Geração de Emprego e Renda em


Áreas de Pobreza – com atuação nos Estados da Paraíba e São
Paulo – mediante Acordo de Cooperação Técnica entre o
Governo brasileiro e a FAO.

no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST mediante a


realização de Laboratório Organizacional de Curso (LOC) para
formação de técnicos em desenvolvimento Cooperativo (TDCs),
mediante Acordo de Cooperação Técnica entre o Governo
brasileiro e a OIT.

realização de Laboratório Organizacional de Curso (LOC) para


formação de TDEs e APIs - Convênio IATTERMUND com a
Secretaria de Planejamento do Estado de Rondônia – Rondônia,
Brasil.

no Programa Nacional de Geração de Emprego e Renda em


Áreas de Pobreza – PRONAGER, mediante Acordo de
Cooperação Técnica entre o Governo brasileiro e a FAO.

1998 na realização do 1º Laboratório Organizacional de Empresa –


LOE, em São José dos Campos – SP, para reestruturação da
Cooperativa dos Trabalhadores MULTI-TEX (PRONAGER
Nacional em parceria com IATTERMUND, PRONAGER-
SP/BNDES, Prefeitura Municipal de São José dos Campos,
Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem
de SJCAMPOS e dos Mestres e Contra-Mestres). Desta data em

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diante o PRONAGER definiu utilizar a Metodologia da


Capacitação Massiva como eixo-central da Metodologia de
Atuação do PRONAGER.

2000/03 no Programa Nacional de Geração de Emprego e Renda em


Áreas de Pobreza - PRONAGER (MI/SPRI-ONU/FAO), mediante
Termo de Cooperação Técnica com o IATTERMUND.

na implantação do Sistema de Geração de Emprego e Renda no


México (PRONAGEI), mediante Convênio com a Universidade de
Chapingo.

na implantação do Sistema de Geração de Emprego e Renda na


República da Guatemala (PRONAGEI), mediante convênio do
Ministério da Agricultura da Guatemala com a Universidade de
Chapingo (México).

A capacitação massiva tem como instrumento técnico-operacional e


metodológico, o Laboratório Organizacional que, de acordo com Santos de Morais,
tem o seguinte conceito:

Um ensaio prático e real no qual se busca introduzir a consciência


organizativa que necessita para atuar em forma de empresa ou ação
organizada. A consciência organizativa é introduzida no grupo social por
intermédio de uma aceleração preconcebida da práxis de organização
através da análise teórico-prática dos fenômenos quer sejam os que dão
forma ou os que buscam desintegrar o todo orgânico programado, ou seja a
empresa ( 1986 p. 40).

A dinâmica do processo de capacitação em organização se desenvolve com a


interação dos diversos agentes sociais – Diretor (a), Estrutura Primária, Empresa
dos Alunos, instrutores - em articulação com as instituições públicas e privadas

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locais e regionais, desencadeando uma grande sinergia social, conforme fig. 1 a


seguir, cuja descrição das funções e responsabilidades estão referidas no decorrer
deste ensaio.

DIRETOR(A) DO
LABORATÓRIO

A EMPRESA

DOS

A ESTRUTURA ALUNOS
PRIMÁRIA E/OU
COMITÊ
PEDAGÓGICO

OS INSTRUTORES

Fig. 1 – O fluxo das ações de capacitação desenvolvido no Laboratório Organizacional.

O(a) Diretor(a) do Laboratório deve ser um(a) especialista em Capacitação


Massiva, com formação teórica e experiência na condução de laboratórios
organizacionais e, portanto, o coordenador geral do evento. É responsável pela
elaboração do Plano Técnico do Laboratório com o apoio da equipe técnica ( EP)
com base no diagnóstico da área de abrangência. Ele deve ter uma visão precisa
sobre a realidade em que vai atuar no que se refere aos aspectos sociais,
econômicos, políticos, culturais e ambientais, bem como sobre a composição social
do grupo participante, para que possa agir como facilitador na capacitação. A leitura
da composição social do grupo tem por base os quatro estratos sociais citados mais
adiante.

É fundamental que este conheça e se guie pelos princípios que norteiam a


metodologia e, sobretudo, tenha internalizado o sentido pedagógico dos
procedimentos para garantir os resultados esperados. Deve ter domínio dos

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conteúdos teóricos da Teoria da Organização e segurança no seu repasse, pois é


quem ministra essas aulas. Tal ação é um dos procedimentos metodológicos
importantes e contribuirá para que o(a) Diretor(a) tenha a autoridade legítima e
necessária, constituída durante o período em que estiver no Laboratório, com a
relação e atitude ante o grupo social, exercendo o seu papel como sujeito
heterônomo, essencial no estabelecimento da autonomia desejada.

O(a) Diretor(a) de Laboratório Organizacional de Terreno (LOT) deverá deixar


o Laboratório, no máximo, após a realização da 3ª Assembléia Geral da Empresa
dos Alunos, retornando para a solenidade de encerramento do evento de
capacitação, etapa denominada como “o desmame”. Esse é mais um procedimento
metodológico que deve ser observado; faz-se necessário, para que a Estrutura
Primária e/ou Comitê Pedagógico e a Empresa dos Alunos possam avançar na
conquista da sua autonomia. A permanência do Diretor frustra a capacitação dos
participantes (EP e Empresa dos Alunos) e pode ser um indicador da insegurança
quanto a sua capacidade de facilitador, ou quanto à capacidade de autogestão dos
grupos sociais.

Durante o período em que o(a) Diretor(a) permanecer no LOT, participará das


reuniões diárias da Estrutura Primária (EP), fazendo uso da palavra ao final para
avaliação do desenvolvimento da reunião e realização de entregas teóricas, e,
quando for o caso, antecipar situações cruciais que a Empresa dos Alunos
vivenciará nos próximos dias, orientando-os quanto aos devidos encaminhamentos
pela EP para a garantia da unidade e disciplina no grupo. Todas as considerações e
entregas teóricas efetuadas pelo Diretor nessas reuniões serão incluídas na crônica
diária, que compõe o documento final, a memória do Laboratório.

A Estrutura Primária (EP) e/ou Comitê Pedagógico é constituído por uma


equipe técnica multidisciplinar, que possa atender as demandas imediatas da
população-objetivo (integrantes da empresa dos alunos), pois todos os seus
integrantes serão, igualmente, facilitadores durante o LOT. Participam desse grupo
especialistas em Capacitação Massiva, técnicos da instituição promotora e/ou
parceiras, responsáveis pelo acompanhamento às empresas surgidas do LOT e

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pessoas indicadas por entidades da sociedade civil, sendo todos selecionados


pelo(a) Diretor(a) do Laboratório.

Este coletivo é a referência de organização para os participantes da Empresa


dos Alunos. É um coletivo que presta serviços a outro coletivo em condições de
igualdade. Portanto, a atitude profissional – ética, moral, organizacional e disciplinar
é o conjunto de qualidades indispensáveis aos seus integrantes.

É imprescindível que a Estrutura Primária e a Empresa dos Alunos, durante


todo o desenvolvimento do Laboratório, assumam “atitude de análise frente a tudo o
que está sucedendo-se, por meio de um elemento que deve ser descoberto e
utilizado sistematicamente pelo grupo, ou seja, a crítica”. (SANTOS DE MORAIS,
1986, p. 42).

Outro ponto fundamental para a EP é compreender que “ensinar exige a


convicção de que a mudança é possível”, e ainda “não sou apenas objeto da
história, mas seu sujeito igualmente. No mundo da História, da cultura, da política,
constato não para me adaptar, mas para mudar” (Freire,1998, p. 85), numa alusão
ao não-determinismo.

A Empresa dos Alunos, no caso do Laboratório Organizacional de Terreno,


tem uma estrutura orgânica constituída de uma Junta Diretora/Conselho de
Administração, um Conselho de Representantes das Comissões1 (Produção,
Comercialização, Construção Civil, Tecnologia da Informação, Memória e
Documentação, Disciplina, Limpeza e Manutenção, Elaboração de Projetos etc.)

Realiza assembléias gerais semanalmente, oportunidade em que fazem a


prestação de contas dos recursos gerados e a aprovação do Plano de Trabalho
Semanal por Comissão, consolidado pela Direção da empresa e reproduzido para
todos.

Os laboratórios organizacionais, derivados dos fundamentos da Capacitação


Massiva, podem ser desenvolvidos em quatro tipologias distintas, em função dos
objetivos pretendidos tal como se apresenta a seguir:

1
Essas comissões variam de acordo com os cursos realizados no L.O.

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− LABORATÓRIO ORGANIZACIONAL DE CENTRO – LOCEN - tem por


objetivo a formação de quadros organizadores de empresas associativas. A
média de participantes é de 40 pessoas, os quais integram a “empresa dos
alunos”. Este tipo de evento de capacitação tem uma duração que varia de
20 a 30 dias, dependendo da composição social dos participantes e a sua
carga horária é de no mínimo 140h (teoria e prática).

Como conteúdo programático, além da Teoria da Organização, realiza-se


em média de cinco a seis cursos, de acordo com as necessidades das
organizações promotoras e de seus participantes.

Na implementação do LOCEN, além do Diretor, faz-se necessária a


existência de um Comitê Pedagógico, formado em média por seis pessoas,
para que se instaure a dinâmica própria da capacitação massiva.

− LABORATÓRIO ORGANIZACIONAL DE TERRENO – LOT - foi


concebido para acelerar a consciência organizativa de grupos sociais e criar
as bases de empreendimentos econômicos. Deste tipo de laboratório,
participam de 100 a 500 pessoas. A formação teórico - prática ocorre em
cursos, como de Teoria da Organização, que é ministrado para todos os
alunos em única turma durante sete dias, com duas horas-aula dia, e de
outros na área de produção de bens e serviços, definidos pelo conjunto dos
participantes. Todos esses cursos compõem a estrutura produtiva da
“empresa de produção de bens e serviços” criada no interior do Laboratório
Organizacional, que ao final já dispõe de capital de giro inicial. Outros cursos
são ministrados para a direção da empresa, como custos, noções de
comercialização e outros de que a empresa venha a necessitar. A
capacitação se efetua com a análise dos fenômenos ocorrentes na empresa.

Neste tipo de LOT, além do Diretor, é imprescindível a existência de uma


equipe de apoio denominada de Estrutura Primária, que cumpre a mesma
função do Comitê Pedagógico anteriormente citado. A definição da
quantidade de pessoas que vão compor a estrutura primária acontece em

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função do tamanho do LOT. No caso de um LOT com 500 pessoas, a média


de componentes da estrutura primária é de aproximadamente quinze
pessoas.

− LABORATÓRIO ORGANIZACIONAL DE CURSO – LOC - para a


capacitação de pessoas integradas em uma empresa de serviços destinada
à autocapacitação. Por meio deste, são formados os técnicos em
Desenvolvimento Econômico (TDEs) ou técnicos em Desenvolvimento
Cooperativo (TDCs),

Com esse tipo de Laboratório, podem ser formados, também, os diretores


de laboratórios organizacionais de terrenos (1ª etapa: teórico - prática). O
LOC tem aproximadamente 540 horas, sendo 300h/aulas teóricas e
240horas práticas, na gestão da empresa de autocapacitação criada no
interior do LOC. Quando o seu objetivo é a formação de diretores de LOTs, o
seu conteúdo programático envolve disciplinas, tais como: Teoria da
Organização, Sociologia da Sociedade Brasileira, Introdução à Economia,
Introdução à Economia Política, Sociologia do Trabalho, Sociologia das
Organizações, Organização e Gestão de Empresas, Elaboração e Análise
de Projetos de Investimentos e Planejamento de Laboratório Organizacional
de Terreno. Tem duração de aproximadamente 70 dias (3 turnos), com uma
participação média de 65 pessoas.

Na implementação do LOC, além do Diretor, tem-se um Comitê Pedagógico,


formado em média por seis pessoas.

− LABORATÓRIO ORGANIZACIONAL DE EMPRESA – LOE - para a


capacitação de empresas associativas, inclusive aquelas originadas de
LOTs, bem como para a implantação e/ou fortalecimento de empresas
autogestionárias, com vistas à geração de trabalho e renda. A sua duração
varia de 20 a 30 dias, dependendo do estágio de desenvolvimento da
empresa, com uma carga horária média de 160horas (prática e teoria). Os
cursos são definidos com base na vontade dos alunos em compatibilização

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com as necessidades identificadas pelos facilitadores no diagnóstico da


empresa. Aqui também necessita a formação de uma Estrutura Primária.

É uma exigência da metodologia em todos os tipos de laboratórios:

− assistir às aulas da Teoria da Organização;

− frequência mínima de 90%, nos demais cursos e atividades da


empresa; e

− devolver formalmente à instituição promotora, em estado de uso, as


máquinas e equipamentos cedidos para a operacionalização da empresa
durante o Laboratório.
Segundo a concepção da metodologia, são três os pré-requisitos para
realização de um Laboratório Organizacional, na sequência descritos:

1º) No mínimo 40 pessoas

Justifica-se pela própria concepção do método que, ao ser massivo,


possibilita a incorporação de centenas de trabalhadores desempregados ou
subempregados nos eventos de capacitação, favorecendo, portanto, a ampliação
das oportunidades de inserção da grande massa de excluídos. A capacitação em
autogestão empresarial exige o exercício da divisão social e técnica do trabalho
(processo produtivo socialmente dividido), o que requer um número considerável de
pessoas, contribuindo para a transição do comportamento ideológico de cunho
individualista para o da cooperação e da solidariedade (visão coletivista).

2o) Os meios de produção em mãos dos integrantes da empresa, ou seja, os


insumos indivisíveis em poder do grupo social.

Todos os recursos (humanos, financeiros e materiais) denominados de


insumos indivisíveis devem estar à disposição dos participantes do Laboratório
Organizacional. Assim, não pertencem ao indivíduo, e sim ao coletivo. Estes, por si,
impõem a necessidade de organização e o exercício da divisão do trabalho, sendo a
“mola mestra” do processo de capacitação em organização empresarial

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autogestionária, pois, da relação com o objeto é que o homem se capacita. Neste


sentido, quanto mais indivisíveis forem os insumos, maior a capacitação. (SANTOS
DE MORAIS 1986).

Ressalte-se que, quando a quantidade de alguns insumos é inferior às


necessidades da empresa (principalmente matérias-primas), esse problema estimula
a criatividade e capacidade da gestão do grupo.

É importante incorporar ao inventário dos insumos indivisíveis aqueles


pertencentes à própria comunidade ou cedidos por instituições parceiras. Este
procedimento estimula a participação e concorre para continuidade dos “embriões”
de empresas surgidas nos laboratórios organizacionais.

Outro aspecto importante na definição e aquisição dos insumos indivisíveis é


“não criar escala de valores na população pobre uma vez que esta quase sempre
não pode ter acesso aos mesmos logo após a finalização do Laboratório
Organizacional”, dificultando a continuidade dos embriões de empreendimentos
econômicos (SANTOS DE MORAIS, 1997, p. 10).

Dessa forma, na estruturação dessa metodologia, “os insumos indivisíveis são


utilizados com a intenção expressa e pré-concebida de introduzir mudanças na
atividade e conseqüentemente na psicologia social dos que participam do
Laboratório Organizacional” (LABRA, 1984, p. 22).

3º) O pleno direito de organizar-se.

Esse requisito garante ao conjunto dos participantes a plena liberdade de


organização, respeitando o marco legal vigente. Organização não se ensina, se faz
na vivência e necessidades sentidas pelo grupo, no exercício da participação,
decorrente da vivência coletiva e não individual. Sabe-se que os membros de um
grupo participam mais intensamente quando percebem que o objetivo da ação é
relevante para seus interesses. Assim se capacitam na práxis grupal, uma vez que
só participando é que se aprende a participar, ou seja, a participação estimula a
organização que leva à participação, uma vez que, a organização não é um fim em
si mesma, mas uma condição necessária para a participação transformadora.

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Assim, o nível de organização e participação é diretamente proporcional ao


nível de consciência social e produtiva do grupo. É na prática da autogestão (desde
o ponto zero) que a participação social começa a se efetivar, que a organização
empresarial vai se consolidando.

É fundamental a observância aos requisitos descritos, sob pena de


comprometimento de toda a capacitação, bem como fragilizando a própria
metodologia.

A Capacitação Massiva fundamenta-se, principalmente, no materialismo


histórico e na psicologia social, tendo a atividade objetivada (fig. 2) como
desencadeadora da aprendizagem e de elaboração do conhecimento.

Como Método de Capacitação, a ação pedagógica se desenvolve com base


na relação dialética – PRÁTICA-TEORIA-PRÁTICA, possibilitando aos participantes
a apreensão do conhecimento e a transformação positiva da realidade, com a
inserção dessas pessoas em experiências concretas de geração de trabalho e
renda, mediante a realização dos laboratórios organizacionais. A experiência
contribui para a elevação dos níveis de consciência - ingênua (quando consegue
identificar apenas o problema); crítica (quando logra identificar a causa do
problema); e organizativa, (quando tem a capacidade de definição de ações
concretas para a superação do problema), favorecendo o rompimento do círculo
vicioso da pobreza.

A ATIVIDADE OBJETIVADA

Sujeito Objeto

(Prática – teoria –prática)

Fig. 2 – A elaboração do conhecimento no Laboratório Organizacional.

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Neste sentido tem como princípios pedagógicos:

a) o Objeto capacita – primeiro, tem que se criar o Objeto de forma real, no


caso, a Empresa dos Alunos. No embate Sujeito x Objeto, o Sujeito vai
percebendo o Objeto por meio da análise. Dessa forma, o Sujeito é guiado
para aperfeiçoar-se nas suas intervenções sobre o Objeto, uma vez que este
dita a necessidade das entregas teóricas. Assim, a prática é enriquecida
pela teoria e vice-versa, contribuindo de forma efetiva para a formulação do
conhecimento.

b) As diferenças e contradições equilibram e impulsionam a


capacitação – a heterogeneidade dos comportamentos ideológicos - visão
de mundo e expectativas diferenciadas, interesses pessoais diversos,
capacidade de fazer a leitura da realidade também diferenciada e o espírito
empreendedor de alguns criam as contradições e os conflitos, fenômenos
esses que o(a) Diretor(a) do Laboratório Organizacional e a Estrutura
Primária devem explorar como instrumentos de capacitação. Isto justifica a
importância dos diretores e das estruturas primárias serem rigorosos na
leitura da composição social do grupo, para que as ações de capacitação
sejam potencializadas.

Com o enfrentamento dos conflitos que se apresentam, em decorrência das


contradições postas pela realidade social, é que as coisas são criadas,
recriadas e transformadas como produto desse embate e, portanto,
apropriadas pelos sujeitos da ação, como menciona Freire (1998) em
Pedagogia da Autonomia.

A capacitação desenvolvida no Laboratório Organizacional consolida-se


mediante as etapas de formulação do conhecimento, que vão se superando,
conforme descrição a seguir.

A SÍNCRESE – caracteriza-se, inicialmente, por uma anomia, pela


desorganização total e incerteza quanto à própria capacidade de organizarem-se,
diante da surpresa de encarar uma responsabilidade e sentirem-se desafiados a

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conduzir o processo, haja vista que as decisões serão tomadas por eles. Nesta
etapa, chegam a propor soluções ou ações sem análises críticas: A ANÁLISE – na
qual começam a manejar elementos de Administração, iniciando-se o exercício da
análise sobre o objeto, no caso, a Empresa Associativa. E a SÍNTESE - na qual
conseguem o melhor nível organizativo, pois aliam a teoria à prática, ou seja, o
processo pedagógico qualifica-se mediante ciclos recorrentes, tendo cada etapa
suas características, conforme na sequência mencionadas.

SINCRESE

– Desorganização quase que generalizada;

– expectativas diferenciadas quanto à realidade que se apresenta;

– tendência à formação de grupos e subgrupos em torno de lideranças


políticas, religiosas e comunitárias que, na maioria das vezes, tentam
reproduzir o clientelismo, paternalismo e assistencialismo;

– visão individualista e imediatista dos participantes quanto aos interesses


pessoais;

– identificação de conflitos relativos à questão de gênero, ao surgimento de


lideranças (contrariando o poder estabelecido – associações e conselhos de
moradores etc.);

– pouca utilização da crítica;

– tendência a decidirem por modelo a gestão vertical, reproduzindo


experiências;

– estrutura organizacional inadequada;

– instrumentos de planejamento, gestão e controle com tendência autoritária;

– persistência da ação de grupos e subgrupos que se consideram mais


capazes, reproduzindo uma relação de dominação perante o conjunto dos
participantes; e

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– a autoestima começa a despontar em um número significativo de


participantes do Laboratório Organizacional.

ANÁLISE

– Inicia-se a análise sobre a ação desenvolvida pela empresa (decodificação


dos elementos teóricos baseados na prática);

– conseguem manejar algumas categorias teóricas presentes na Teoria da


Organização (divisão do trabalho, valor do tempo, da disciplina, plano de
trabalho e Informe e Balanço Crítico (IBC);

– começam a despontar o conhecimento lógico e a racionalidade quanto a


alguns processos, porém ainda de forma fragmentada, faltando a
internalização da visão sistêmica da empresa;

– a estrutura organizativa e os planos de trabalho são mais adequados à


necessidade da empresa;

– o uso da crítica é mais constante;

– maior eficiência e racionalidade na utilização de recursos;

– os subgrupos começam a se fragilizar pela compreensão maior, por parte


do conjunto dos participantes, do conteúdo da Teoria da Organização; e

– a autoestima começa a se elevar, mostrando-se visível por meio da atitude


e comportamento dos participantes ante os desafios que se apresentam.

SÍNTESE

– Maior segurança na gestão da empresa, fundamentada na autoestima


resgatada/conquistada e na apreensão de categorias teóricas, com base na
própria vivência;

– visão de conjunto/sistema pela interdependência dos diversos setores da


empresa, fortalecida pela prática permanente da divisão social e divisão
técnica do trabalho;

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– participação mais organizada nas reuniões e assembléias;

– utilização dos elementos essenciais à gestão da empresa - análise,


planejamento, distribuição e controle;

– maior uso e aceitação da crítica, como algo inerente ao crescimento


individual e grupal;

– a estrutura organizativa e os planos de trabalho estão mais adequados às


necessidades da empresa, o que demonstra maior eficiência na gestão;

– desmistificação da figura do Diretor e da Estrutura Primária pela segurança


conquistada e capacidade de resolubilidade do próprio grupo.

A duração da etapa de Síncrese dependerá da composição social do grupo e,


portanto, de suas experiências acumuladas, com base no seu contexto social,
econômico, político e cultural, podendo durar de um a cinco dias. Podem-se repetir
certas características de anomia durante o desenvolvimento do Laboratório
Organizacional, as quais serão superadas gradativamente de acordo com o grau de
organização que o grupo tenha atingido, após as aulas de teoria da Organização.

Vencer o estado de anomia é o ponto de partida para o início da conquista de


uma nova forma de convivência social e produtiva, embasada na participação, e na
autogestão. Caso o Laboratorista ou a Estrutura Primária indique ou tome alguma
decisão pelo grupo nesse momento, a autonomia que se busca com a metodologia
já está prejudicada.

A Teoria da Organização é o leitmotiv para a aceleração da consciência


organizativa, pois transmite a lógica do objeto com o qual o coletivo está
trabalhando: a grande empresa. Constitui-se para os participantes uma referência,
uma vez que nessas aulas são explicados os elementos da teoria que aborda os
aspectos históricos da organização humana e sua evolução na sociedade,
evidenciando a relação de causas e efeitos, assim como alguns princípios de
sociologia da organização, economia política e de psicologia social, bem como

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elementos fundamentais da gestão associativa. Assim, possibilita uma reflexão pelo


grupo sobre a realidade atual, e de como pretendem se organizar para revertê-la.

Segundo Santos de Morais (2002), a Teoria da Organização é:

(...) uma interpretação particular do materialismo histórico que incorpora de


maneira muito original uma tipologia própria de estratos sociais (artesãos.
operários, semi-operários e lúmpen) cujo comportamento e capacidade
organizacional estão determinadas pela natureza do trabalho que
participam. É a constatação da importância da experiência laboral na
configuração das “estruturas ideológicas organizacionais” (modelos mentais
organizacionais) a que leva-lhe propor a necessidade de que exista
correspondência entre a composição social dos grupos atendidos com as
formas organizativas que assumem os projetos de desenvolvimento, assim
como a desenhar processos de capacitação para adequar, aí onde seja
necessário, os modelos mentais organizativos dos beneficiários às
exigências da divisão social do trabalho (P.48)

Ainda sobre a Teoria da Organização, Chaves (2003) considera que

A teoria da organização deve ser tomada como um elemento de


desenvolvimento específico do materialismo histórico. Visto sob essa
dimensão, constitui um enriquecimento operacional para o materialismo
porque realça a importância do lugar do indivíduo no processo produtivo ao
incorporar sua estrutura ideológica”. Este aspecto do ser social foi pouco
valorizado pelos cientistas sociais, pois quase a totalidade dos estudiosos
dessa área concentra a ênfase no impacto que tem na estrutura ideológica
o fato de pertencer a uma classe social. A teoria da organização não vem
discutir a importância e o caráter prioritário deste fato e sim complementá-lo,
mostrando a importância da natureza do processo produtivo como elemento
a mais da estrutura e da consciência (CHAVES, 2003, p. 10).

Os estratos sociais surgiram com o advento da Revolução Industrial, que


abarcou também a agricultura, transformando-a em indústria agrícola, e, para efeito

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de análise ou estudo da organização do trabalho, a Sociologia da Organização


considera os produtores assim divididos: o artesão é o tipo de produtor que começa
e termina todo o processo produtivo de determinada mercadoria; o assalariado é
aquele que está inserido em uma empresa com domínio da divisão técnica do
trabalho (faz apenas uma pequena parte da mercadoria); o semiassalariado é o tipo
de produtor envolvido nos dois processos produtivos anteriormente citados
(normalmente durante o dia é operário e à noite ou finais de semana produz de
forma artesanal); o lúmpen é o indivíduo que não está envolvido em nenhum tipo de
processo produtivo, vivendo da generosidade dos que trabalham,
independentemente da classe social a que pertençam. Cada um desses estratos
tem a própria estrutura ideológica organizativa ou capacidade organizacional
derivada de sua atividade e experiência, ou seja, a forma de agir, pensar e se
relacionar com os outros e com as organizações (SANTOS DE MORAIS 1986). Este
conjunto de valores é o que determina maior ou menor adequação do indivíduo aos
processos organizativos.

Assim, a Teoria da Organização, ministrada no âmbito dos laboratórios


organizacionais, contribui para que os participantes reconheçam a origem de suas
limitações organizacionais e identifiquem as razões pelas quais se encontram em
desvantagem em relação a outros grupos e setores sociais com uma prática social
mais desenvolvida e complexa (SANTOS DE MORAIS, 2002).

A leitura da composição social do grupo tem por base os estratos sociais há


pouco mencionados.

Para que ocorra a mudança de mentalidade, faz-se necessário o


desenvolvimento de uma nova prática, que gradativamente possibilite que o
comportamento individualista vá se transformando em uma nova forma de pensar e
agir com base na cooperação e solidariedade. Consequentemente, há o avanço
também na transformação do nível de consciência ingênua e crítica à consciência
organizativa (CORREIA, 2001).

A empresa associativa, quando implantada sem que os trabalhadores tenham


tido a oportunidade de vivenciar uma prática dessa natureza, tende a não dar certo,

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pois serão grandes os conflitos decorrentes dos comportamentos ideológicos,


normalmente individualistas, que não se coadunam com a natureza da empresa.

Segundo Teresa Cristina Rego, (1995), as características do funcionamento


psicológico do ser humano não são transmitidas por hereditariedade nem adquiridas
passivamente graças à pressão do ambiente externo. Elas resultam da interação do
homem com seu meio físico e social, que possibilita a apropriação da cultura
elaborada ao longo da história. Reforçando este pensamento, “cada indivíduo
aprende a ser homem. O que a natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para
viver em sociedade”. É-lhe ainda preciso adquirir o que foi alcançado no decurso do
desenvolvimento histórico da sociedade humana” (LEONTIEV, 1975, p. 267).

A obra de Vygotsky, analisada por Rego, (1995), vai ao encontro dos


princípios pedagógicos da capacitação massiva, em sua interação com o
materialismo dialético nos seguintes termos:

De acordo com essa abordagem, o pressuposto primeiro de toda a história


humana é a existência de indivíduos concretos , que na luta pela
sobrevivência organizam-se em torno do trabalho estabelecendo relações
entre si com a natureza. Apesar de fazer parte da natureza (é um ser
natural, criado pela natureza e submetido às suas leis), o homem se
diferencia dela na medida em que é capaz de transformá-la
conscientemente segundo suas necessidades. È através dessa interação,
que provoca transformações recíprocas, que o homem se faz homem.
Dessa forma, a compreensão do ser humano implica necessariamente na
compreensão de sua relação com a natureza, já que é nesta relação que o
homem constrói e transforma a si mesmo e a própria natureza, criando
novas condições para a sua existência (P. 96).

Para Leontiev (1975), todo reflexo psíquico “resulta de uma relação de


interação real entre um sujeito material vivo, altamente organizado e a realidade
material que o cerca”. (…) A consciência é então “ o reflexo da realidade, refratada
através do prisma das significações e dos conceitos linguísticos, elaborados
socialmente”, ou seja, a consciência é a forma histórica concreta de seu psiquismo.

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Como bem situa LABRA (1993, p. 82), o reflexo psíquico forma-se das
relações que o indivíduo estabelece com os objetos e meios de sua atividade, as
formas de trabalho e as condições materiais de existência. Essas relações estão
“determinadas pelo papel que o indivíduo ocupa no processo produtivo, como
expressão de um modo de produção, no interior de uma dada formação econômica
e social”. Neste sentido, o comportamento ideológico do indivíduo consistiria então
em um “complexo de valores culturais, morais e políticos, determinado pelo papel
que desempenha dentro de um determinado processo produtivo, já citado quanto se
tratou dos estratos sociais emergentes da revolução industrial”.

No laboratório organizacional, surgem as diversas contradições postas pelos


comportamentos ideológicos. É o ponto de partida para a compreensão dessa
realidade concreta e também real, que oprime e exclui, mas que, por meio da
organização social, poderá ser transformada, conquistada na luta por maior
igualdade entre os homens, mediante formas superiores de organização.

O evento de capacitação se estrutura desde a articulação com as instituições


financiadoras, o Poder Público municipal, entidades da sociedade civil e demais
entidades públicas e privadas.

Para a sua implantação faz-se necessária a elaboração de um plano técnico,


com base no diagnóstico local, elaborado pelo(a) Diretor(a) do Laboratório, com a
efetiva participação da Estrutura Primária (equipe técnica).

Na solenidade de abertura deste evento de capacitação, imediatamente após


os discursos oficiais, dá-se inicio aos trabalhos técnicos2.

Nesta oportunidade, o Diretor(a) do Laboratório exprime alguns pontos, tais


como:

– as pessoas presentes querem realmente melhorar as suas condições de


vida ?

2
Para a realização do LOT, faz-se ampla mobilização dos moradores da área de abrangência do evento.

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– estão dispostas a se organizarem com esse objetivo ? Um dos aspectos


fundamentais para que isso ocorra é a organização de homens e mulheres
para a geração de trabalho e renda.

– neste momento são apresentados os insumos indivisíveis (máquinas e


equipamentos, utensílios de escritório, matérias-primas, material de
consumo e de expediente e membros da estrutura primária) os quais
estarão à disposição das pessoas, desde que demonstrem realmente que
querem se organizar mediante o desenvolvimento de atividades produtivas
geradoras de trabalho e renda.

O(a) Diretor(a) faz as perguntas a seguir mencionadas em um quadro3, e


avisa que somente retornará ao local, caso os participantes apresentem as
respostas para essas perguntas ao técnico por ele indicado. Em seguida, retira-se
do local, ficando os participantes e a estrutura primária (equipe técnica) a qual não
poderá decidir nada por eles, mas observar como se deu todo o processo.

a) Que cursos querem fazer?

b) Qual o horário de funcionamento de cada curso?

b) Quem vai participar de cada curso ?

c) Quem serão as três pessoas indicadas por vocês, para representá-los e


serem os responsáveis pelos equipamentos e materiais ali expostos ?

Após três ou quatro horas (ou até um dia), dependendo da composição social
do grupo, o Diretor(a) retorna ao recinto, pois os participantes, após muita confusão
(parte da etapa de anomia/síncrese tratada anteriormente), conseguem apresentar,
de forma superficial e por escrito, as respostas. Essa dificuldade sucede em razão
das práticas anteriores, com resquícios do assistencialismo e paternalismo, e de
como estiveram envolvidos nas atividades produtivas. Por exemplo, os camponeses
demandam mais tempo para iniciar o processo de organização do que os operários,

3
No caso do LOCEN, LOT e LOE, pois no LOC analisam o regimento do curso e indicam os três
representantes dos alunos.

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em virtude do comportamento, na sua maioria, individualista. Ao contrário destes, os


operários com experiências na divisão social e técnica do trabalho, facilitam a
cooperação resultando em processo organizativos mais rápidos.

Um ponto que merece atenção especial é a “representação” indicada por eles,


principalmente no Laboratório Organizacional de Terreno (em média, 300 pessoas)
onde surgem vários nomes. Diante disso, todos os indicados são chamados à frente
pelo Diretor(a). Cada um se identifica e em seguida é feita a eleição dos três
representantes mediante contagem de votos (mãos levantadas). Após a aclamação
pela “assembleia”, a representação dos participantes, faz o inventário de todas as
máquinas e equipamentos e demais materiais na presença do coletivo e assinam o
Termo de Responsabilidade. Assim, transfere-se desde o primeiro momento o "DNA"
da autogestão. Autogestão para efeito deste estudo é entendida como o modelo
administrativo onde as decisões e o controle da empresa é exercido pelos
trabalhadores, de conformidade com o conceito utilizado pela Associação Nacional
dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária –
ANTEAG.

É a busca de soluções coletivas para problemas sociais, notadamente do


desemprego, por meio do controle das empresas. É a participação direta e
inteligente do coletivo nas tomadas de decisões, no poder da empresa
(ANTEAG/SP, 1997 p. 4).

Nos dias seguintes, sistematizam as outras respostas com o apoio de outros


membros do grupo. Após isso, iniciam-se as aulas sobre a Teoria da Organização
para todos os participantes, com carga horária de 15h/aulas, durante sete dias, com
duas horas-aula dia.

Decorrido esse prazo, iniciam-se os demais cursos escolhidos pelos


participantes, os quais vão compor as unidades operacionais e/ou administrativas da
Empresa dos Alunos.

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Com suporte nessas condições, entra em funcionamento a engrenagem da


participação social, na qual o coletivo começa a ter força em decorrência da
imposição da necessidade da divisão social e técnica do trabalho, ditada pelos
próprios insumos indivisíveis (os meios de produção, que pertencem ao coletivo, e
não ao indivíduo). Isso possibilita a superação gradual das dificuldades, passando o
indivíduo a acreditar mais em si e no grupo do qual faz parte, promovendo a auto-
estima e contribuindo para a transição da óptica imediatista e individualista (com
base nos interesses pessoais) para a consciência de grupo e da própria coletividade.

Na maioria dos casos, é a primeira vez que essas pessoas exercitam a


participação genuína, tomando decisões e sendo reconhecidas como homens e
mulheres capazes e “idôneos”, aspectos fundamentais na conquista da autonomia.
Instaura-se outro processo social, que contribuirá para uma nova existência social,
acelerando o desenvolvimento da consciência organizativa. A transformação da
consciência ocorre com base no princípio dialético, defendido por Marx, de que as
condições de existência determinam a consciência social.

Neste sentido, o método apresenta na sua essência uma educação


libertadora, e o seu fundamento alia-se, portanto, ao pensamento de Freire (1987)
de que “a prática da liberdade só encontrará adequada expressão numa pedagogia
em que o oprimido tenha condições de descobrir-se e conquistar-se como sujeito de
sua destinação histórica” (P.9).

Ao final de cada Laboratório Organizacional, produz-se um documento, que


descreve de forma sistematizada toda a sua dinâmica. Segundo Santos de Morais
(1986), constitui-se peça de fundamental importância para a análise e compreensão
das consequências da aplicação da metodologia, porque o registro do dia-a-dia e de
tudo o que ocorre dentro de Laboratório é a fonte mais fidedigna para expressar os
êxitos e as falhas do evento de capacitação.

Este documento é elaborado sob a coordenação da Comissão de Memória da


Estrutura Primária, da qual todos os membros têm oportunidade de participar, uma
vez que há rodízio semanal. Assim sendo, constitui-se um dos principais produtos da
Estrutura Primária e a sua elaboração possibilita o exercício da divisão técnica do

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trabalho, constituindo-se um desafio organizacional complexo. A sua distribuição na


solenidade de encerramento para os participantes do LOT é um dos indicadores
positivos de avaliação da equipe técnica responsável pelo evento de capacitação,
Diretor (a) e membros da Estrutura Primária.

A organização na solenidade de encerramento do Laboratório, contrastando


radicalmente com a solenidade de abertura; o teor dos discursos do presidente da
Empresa, do representante dos alunos e do representante dos instrutores; a entrega
de certificados e da memória do Laboratório; a exposição do balanço físico-
financeiro da empresa; os perfis de empreendimentos econômicos e sociais
elaborados; a exposição para venda dos produtos da empresa; e o Plano de
Trabalho elaborado para os próximos seis meses são indicadores de resultados da
capacitação,

3.2 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO ESSÊNCIA PARA A TRANSFORMAÇÃO


DA REALIDADE

A participação social é condição sine qua non para o empreendimento da


metodologia de Capacitação Massiva. Sua abordagem neste ensaio está
relacionada às possibilidades de fundamentar a compreensão em torno da
importância desta prática para o alcance da inclusão social na perspectiva da
superar a condição de pobreza. Ela é o caminho natural para o homem exprimir sua
circunstância inata de realizar, afirmar-se e atuar na natureza em busca do
atendimento de suas necessidades básicas, a própria reprodução material da vida.
Neste sentido, a frustração de não poder participar constitui uma mutilação para o
homem social. Este somente desenvolverá seu potencial numa sociedade que
facilite a participação.

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O tema da participação social é recorrente em sociedades democráticas.


Assim, para melhor contextualização, exige, antes de mais nada, demarcar o
contexto social, econômico e político-instituciional.

Nesse sentido, tomar-se-á por base de análise, para o caso brasileiro, o


período do final dos anos 1980 até a atualidade, fase denominada de Brasil
Contemporâneo, por ter como referência dois marcos na história nacional: a
redemocratização no País e sua concretização na Constituição Federal de 1988; e o
processo de inserção do Brasil na economia globalizada. O primeiro, como
expressão de lutas sociais, oficializa mudanças no Estado Brasileiro, mais
especificamente nas alterações no modo de o Estado operar e de se relacionar com
a sociedade civil, fortalecendo o poder local. E o segundo, contraditoriamente,
restringindo a relação Estado - sociedade, negando direitos conquistados,
principalmente com relação ao mundo do trabalho, restringindo políticas sociais,
desarticulando e fragilizando mecanismos de democratização dessas políticas. De
acordo com Carvalho (1996),

(...) tendo como conseqüência a existência de uma dinâmica contraditória


na própria atuação do Estado - um avanço no plano jurídico-institucional
com um sistema de proteção social mais universalista e igualitário x uma
crescente restrição e desestruturação no plano da ação estatal, com
políticas de caráter seletivo e residual (P. 48).

Diante da realidade brasileira, ainda com índices elevados de exclusão social,


somente com profundas mudanças nas relações Estado - sociedade, é possível
vislumbrar um país com desenvolvimento traduzido em efetiva melhoria das
condições de vida da população, tendo como pressupostos a inclusão na pauta
política, a participação da sociedade civil na formulação e implementação de
políticas públicas, não transferindo o que compete ao Estado para outras instâncias
e entendendo a importância do controle social sobre a gestão pública.

Para tanto, faz-se necessário que as instituições públicas quebrem


paradigmas na sua forma de gestão. Muitas apresentam resquícios autoritários e

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não conscientes das mudanças necessárias no trato da coisa pública e da relação


com seus clientes (principal foco de sua atuação). Assim perdem a dimensão
estratégica de desenvolvimento sustentável e utilizam práticas de participação
concedida e/ou manipulação. Tal comportamento apenas contribui para a
fragilização da consciência política, necessária à consolidação de um país, com
elevação da auto-estima e sentimento de pertença/nacionalidade. Nesse sentido,
torna-se imperativo disseminar o sentido e a importância da participação em todas
dimensões da sociedade.

Por outro lado, cabe à sociedade civil assumir o seu papel, cada vez mais de
forma consciente, o que somente será possível com o exercício de participação
constante, mais afetiva e menos instrumental, mais ativa e menos passiva. Partindo
da microparticipação à macroparticipação. Esse exige uma atitude individual e
coletiva para que se possa responder: quem sou e qual o meu papel na sociedade ?
Que país se almeja? Que contribuição se pode oferecer? Isso facilitará o
desencadeamento de uma construção e permanente reconstrução nacional, tendo
como referência a Modernidade.

Considerando a estrutura social do País, estratificada em classes sociais e


com interesses antagônicos, onde a maioria sobrevive em condições de pobreza, é
difícil a participação, que somente é verdadeiramente materializada numa relação
entre iguais, um dos princípios da autogestão. É na autogestão que se encontra o
mais alto grau da participação, na qual o grupo determina seus objetivos, escolhe os
meios e estabelece os controles pertinentes, sem referência a uma autoridade
externa.

Na análise de meios acadêmicos e políticos e entre lideranças de movimentos


sociais, existe a sinalização de que o Brasil atualmente passa por um momento de
refluxo dos movimentos sociais. Nessa perspectiva, a participação dos movimentos
na política institucional envolve uma “ameaça de cooptação ou institucionalização
burocrática dessas organizações, em decorrência de uma apropriação da lógica ou
racionalidade estatal. Esta participação acarretaria, nesta visão, a perda da
vitalidade rebelde e revolucionária dos movimentos sociais e o afastamento de suas
lideranças das demandas e da dinâmica social de suas bases”.(ALBUQUERQUE,

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2004, p. 53). Nessa percepção, os canais institucionais de participação popular se


constituem na sua maioria em iniciativas estatais.

Neste contexto, uma das maiores exceções é “o Movimento dos Sem Terra-
MST, que “ é muitas vezes apontado como o único movimento social que consegue
fugir do “refluxo” e mostrar-se como alternativa capaz de impor às elites no poder
uma agenda de questões de interesse popular”.ALBUQUERQUE, 2004, p. 53).

Como consta nos ensaios teóricos de Santos de Morais (1986), as coisas são
feitas por homens e mulheres adequadamente organizados, tendo como
pressuposto a participação. Neste sentido, precisam vivenciar experiências
concretas de participação social, entendida como capacidade do grupo ou
organização de intervir na produção de bens e serviços, usufruto ou gestão política.

A qualidade da participação eleva-se quando as pessoas conhecem a


realidade, aprendem a refletir, a superar contradições reais ou aparentes, a exercitar
a dialogia, a antecipar consequências e a distinguir efeitos de causas. Assim o
processo vai se qualificando na superação de conflitos, ou seja, aprende-se na
chamada práxis, na interação da prática com teoria, colocando-as a serviço da
coletividade.

Na realidade, ao se fazer uma retrospectiva histórica da dinâmica social, a


luta pela participação é permanente. São inegáveis os avanços desde a evolução
urbana que acarretou a concentração de pessoas e o aperfeiçoamento das técnicas
de comunicação e da própria Constituição que garante e igualdade de direitos.
Mesmo assim, faz-se necessária uma vontade individual e coletiva para fazer valer a
legislação pertinente, buscando ampliar cada vez mais os espaços de participação
social.

Afinal, qualquer mudança mais profunda na sociedade, pressupõe uma


mudança na consciência dos indivíduos. Neste sentido, considerando ainda o
elevado índice de excluídos sociais no País (os que menos participam), é importante
que exista uma prática mais incisiva das entidades da sociedade civil e de outros

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setores organizados da sociedade, principalmente junto a esse segmento


populacional, tendo como objetivo a formação da consciência cidadã.

A definição de políticas e programas e as prioridades de investimentos, ainda


que sob a responsabilidade do Poder Público, devem resultar de uma ação conjunta
entre governo e sociedade, na busca de opções e soluções que venham a se
adequar melhor às necessidades da coletividade.

Já existem no País inúmeras instituições públicas governamentais e não-


governamentais que experimentam uma reestruturação jurídica e administrativa,
com revisão de procedimentos e formas de atuação e passam formas de
administração que vão ao encontro do estreitamento e do fortalecimento das
relações com a sociedade. Isso indica uma mudança de visão, ao perceberem a
importância da participação como imprescindível recurso gerencial, para uma ação
mais eficiente, eficaz e efetiva; entretanto muito há que se avançar nesse sentido.

De acordo com Teixeira (2004), a criação e/ou ampliação de espaços públicos


que possibilitem o aumento da participação social para o fortalecimento das relações
entre o Estado e a sociedade na busca de um bem comum ainda é um dos aspectos
desafiadores no País.

Assim sendo, observando as diferentes formas de participação da sociedade


brasileira, constatam-se alguns avanços, por meio dos conselhos setoriais, nos
planejamentos participativos e orçamentos participativos.

Entende-se que é um processo em andamento e que participação implica


transformação da cultura político-institucional brasileira, um fenômeno sistemático e
desafiador, que exige determinação e controle social eficaz.

Por fim, vale a pena reforçar a noção de que a participação contribui para a
geração da autonomia e vice-versa, tendo como horizonte mais amplo a autogestão,
a capacidade dos movimentos sociais influírem nas decisões do Estado e das
classes dominantes. Isto porque autonomia implica o aumento do grau de
consciência política dos cidadãos, o reforço popular sobre a autoridade e o
fortalecimento do grau de legitimidade do poder público quando este responde às
necessidades reais da população.

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3.3 O CAPITAL SOCIAL COMO CONDIÇÃO INCLUSIVA

A literatura mais recente produzida sobre desenvolvimento incorpora a


perspectiva teórica de capital social nas abordagens formuladas por Bourdieu
(1984); Coleman (1988); Putnam (2000) e Fukuyama (2000).

Segundo Fukuyama (2000), a expressão “capital social” foi empregada pela


primeira vez em 1916, por Lyda J. Harfan, para descrever centros comunitários de
escolas rurais.

Com o passar do tempo e em meio às transformações das sociedades, o


termo foi adquirindo diferentes significados até culminar com a abordagem de
Bourdieu (1984), quando a categoria “capital social” passou a configurar nova
percepção e a ser descrita como “capital social de relações”. Segundo esse
pensador, é nas relações institucionais, aí compreendidos a família, os clubes etc.,
onde o capital social é transmitido e acumulado. “É no contexto das relações, das
redes sociais que um ator pode se mobilizar em proveito próprio”. (BOURDIEU,
1985, apud STEIN, 2003, p. 176).

Para Bourdieu (1985) o capital social se origina do capital econômico, tal


como todos os demais. Sua preocupação se centra em avaliar como diferentes tipos
de capital se subordinam ao capital econômico e como interagem com estruturas
mais amplas que produzem desigualdades sociais.

A abordagem de Coleman (1990) sobre o conceito de capital social difere da


compreensão de Bourdieu. Em Coleman, o capital social compreende aspectos da
estrutura social disponíveis ao indivíduo. Nessa perspectiva, o capital social está
contido na estrutura de relações entre as pessoas e nas pessoas, coexistindo
simultaneamente no plano individual e no cotidiano.

Como anota Coleman (1990) o capital social tem propriedades que o


diferenciam do privado, tal como compreendido pela teoria econômica neoclássica.
“Como atributo da estrutura social na qual uma pessoa está envolvida, o capital

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social não constitui propriedade privada de nenhuma das pessoas que dele se
beneficiam”. (COLEMAN, 1990, p. 315).

Segundo essa abordagem, o capital social é o elo, com origem nos outros
tipos de capital são derivados e destaca que o capital social de uma família
influencia no desempenho da escolaridade de sua prole. A vida social está revestida
de obrigações recíprocas, das normas sociais e das relações de confiança. Em
Coleman (1990) as instituições primárias são criadoras e depositárias do capital
social constituindo-se de recurso que se acumula e se amplia à medida que dele se
utiliza.

O processo de acumulação e ampliação do capital social é identificado por


Putnam (2000) como “ciclo virtuoso” o qual “redunda em equilíbrios sociais com
elevados níveis de cooperação, confiança, reciprocidade, civismo e bem-estar
coletivo”. (PUTNAM, 2000, p. 186).

A contradição do “ciclo virtuoso” se assenta justamente na falta de confiança


que corrói a cooperação, promove a desconfiança, a exploração e a desordem,
culminando com o “ciclo vicioso”. (IDEM, 2000).

A teoria de Putnam (2000) foi formulada com apoio em uma questão básica:
“por que alguns governos democráticos têm bom desempenho e outros não”. Com
base neste questionamento, e observando a experiência italiana, passou a examinar
o potencial de uma reforma institucional como estratégia de mudança política e
também os limites apresentados pelo contexto social para o desempenho
institucional, tendo concluído que confiança, reciprocidade e cooperação se
agregam para constituir relações e instituições dotadas de capital social.

Neste estudo sobre a experiência de 15 anos de descentralização na Itália,


Putnam constata que o fator mais importante para o alcance da eficácia institucional
e do desenvolvimento econômico e social das regiões é o capital social, entendido
como a capacidade de auto-organização solidária, capaz de estabelecer redes de
cooperação nas comunidades. Demonstra, assim, que o capital social tem inclusive
mais importância para o desenvolvimento que mesmo o nível educacional da
população (CHAVES, 2002).

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Uma vez gerador de confiança e baseado em redes horizontais que facilitam


a ação coordenada, Putnam (2000) identificou que existe uma elevada correlação
entre ação civil e boa administração (governo). Onde quer que se encontrem
tradições fortes de ação civil, o povo tem tendências muito maiores a expressar
demandas elevadas ao seu governo. Putnam inclusive vai mais longe, ao assinalar
que o capital social não é somente um dos muitos elementos que constituem uma
democracia, senão que também é um ingrediente vital para um desenvolvimento
econômico sustentável.

A perspectiva de Fukuyama (2000) sobre o conceito de capital social tem na


confiança a ideia força para a sua compreensão.

Capital social é uma capacidade que decorre da prevalência da confiança


numa sociedade ou em certas partes desta sociedade. Pode estar
incorporada no menor e mais fundamental grupo social, a família, assim
como no maior de todos, a Nação e em todos os demais grupos
intermediários. (FUKUYAMA apud FRANCO, 2000, p. 128).

A confiança é, portanto, componente imprescindível para as relações de


fomento ao capital social. Esse conceito em Fukuyama também pode ser definido
como “um conjunto de valores ou normas informais, comuns aos membros de um
grupo que permite a cooperação entre eles” (IDEM, 2000, p. 28). Nessa perspectiva,
todas as sociedades possuem algum capital social, entretanto, “as normas
cooperativas como honestidade e reciprocidade podem ser comuns a número
limitado de pessoas e não ser a outros na mesma reciprocidade” (IDEM, 2000, p.
29). A confiança pode ser o diferencial entre elas e destaca as famílias como fonte
de capital social em toda e qualquer cultura.

O conceito de capital social, por sua dimensão subjetiva e intangível, enseja


questionamentos acerca de sua aplicabilidade na qualidade de método capaz de
responder com legitimidade, por exemplo, se uma sociedade é dotada de maior
capital social do que outra.

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A preocupação dos estudiosos do tema em mensurar o capital social de


nações democráticas diferentes encontra em Lechner (2000) algumas noções
explicativas. Mesmo considerando a relevância desse conceito, Lechner sugere a
necessidade de se observar três requisitos fundamentais: a dimensão de
indicadores e sua viabilidade operacional; a necessidade de analisar empiricamente
as relações informais de confiança e cooperação; a associabilidade formal e o marco
institucional normativo e valorativo e discriminar formas positivas e negativas de
capital social a partir de critérios.

Lechner (2000) se mostra contrário ao conceito de capital social, tal como


definido por Putnam (2000). Em suas considerações, argumenta que o conceito de
capital social em Putnam (2000) é equivocado e possibilita diferentes interpretações
convergentes para o estilo neoconservador que se apóia no conceito das virtudes da
comunidade historicamente acumuladas e agora ameaçadas; o enfoque neoliberal
que deposita na sociedade auto-organizada e autorregulada a possibilidade de
resolver as falhas do mercado sem a necessidade de maior intervenção do Estado;
e a apropriação desse conceito pelos partidários da “terceira via”, que tomam para si
os vazios deixados pelas políticas públicas.

A discussão do conceito de capital social formulada pelo Banco


Interamericano de Desenvolvimento (BID, 2000) abre um capítulo onde procura
compreender as razões pelas quais a democracia nem sempre funciona
adequadamente. Tendo desenvolvido pesquisas em diferentes países latino-
americanos o BID chegou à conclusão de que diversas são as variáveis associadas
à confiança nas instituições democráticas, porém, as sociedades mais participativas
e homogêneas tendem a ter melhores governos (BID, 2000, p. 208).

Retomando-se o pensamento de Lechner (2000), pode-se sugerir que a


capacidade de organização e participação de determinada sociedade democrática
pode ensejar traços de confiança e cooperação convergentes para o fomento do
capital social.

Milhares de dólares são investidos para investigação e busca de métodos


para ensejar capital social. Percebem-se divergências quanto ao conceito, não

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existindo portanto um consenso quanto aos seus alcances e significados


(DURSTON 2001), existe consenso sim quanto à importância de gerá-lo para
alcançar o desenvolvimento.

Considera-se fundamental, no entanto, que as comunidades devem traduzir


capital social, mas, enquanto não mudem as relações desiguais, não haverá
condições para que os amplos setores da população alcancem o patamar de
cidadania e se constitua uma nova base social que sustente a democracia e o bem-
estar. As divergências quanto ao conceito decorrem da carência as dimensões
sociológicas do conceito de capital social que limita a sistematização e
enriquecimento das experiências, existindo, ainda, uma imprecisão na incorporação
de conceitos estratégicos que contribuem para a geração de capital social, tais
como organização, participação e capacitação, conforme defendem Chaves e
Carmen, (2002).

Com arrimo nos elementos expostos, esta dissertação avança para o


detalhamento das experiências da Ilha do Ferro - AL e de São José dos Campos,
nas quais o método de estudo de caso colabora para o alcance dos objetivos do
estudo.

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4. RELATO DE EXPERIÊNCIAS: Estudo de Caso

Inicia-se o relato de experiências de conformidade com o método de estudo


de caso, considerando a sua aplicabilidade teórico-prática à concretização deste
trabalho.

No decorrer deste capítulo, serão descritas as etapas de implementação dos


laboratórios organizacionais desenvolvidos na Ilha do Ferro/AL e em São José dos
Campos/SP, seus resultados após os referidos eventos de capacitação, bem como a
situação atual das cooperativas implantadas e/ou fortalecidas, com destaque para os
aspectos mais significativos.

4.1 O LABORATÓRIO ORGANIZACIONAL DE TERRENO DA ILHA DO FERRO/AL


E A COOPERATIVA DOS ARTESÃOS ART-ILHA

O projeto desenvolvido no Município de Pão-de-Açúcar, Estado de Alagoas,


em 1998, originou-se da articulação, em maio de 1998, da Presidência do Conselho
do Programa Comunidade Solidária com a ex-SUDENE e com o Programa Nacional
de Geração de Emprego e Renda em Áreas de Pobreza - PRONAGER. Buscou
potencializar recursos e esforços do Poder Público e da sociedade civil na área da
seca, aliando ações emergenciais do Programa de Combate aos Efeitos da
Estiagem no Nordeste do Brasil com ações efetivas de geração de trabalho e renda,
com resultados sustentáveis, em comunidades empobrecidas,

Na elaboração da matriz de integração institucional, foi definido o papel de


cada instituição envolvida conforme especificação a seguir.

Programa Comunidade Solidária - utilização de seu poder de articulação e


mobilização da sociedade e dos poderes públicos; SUDENE - disponibilização de
recursos financeiros das ações emergenciais de combate aos efeitos da seca,

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notadamente no que se refere à infraestrutura das atividades produtivas


estruturantes; PRONAGER - coordenação técnica e metodológica, incluindo as
ações de capacitação dos trabalhadores em empresas associativas autogestionárias
de produção de bens e serviços e/ou de outros tipos; e da Prefeitura Municipal - o
apoio logístico ao desenvolvimento das atividades.

Assim, o trabalho desenvolvido na Ilha do Ferro, povoado do Município de


Pão-de-Açúcar - AL, ora apresentado, foi uma das dez experiências realizadas no
Nordeste, com foco no desenvolvimento de estratégias de convivência com a seca e
em busca de melhoria das condições de vida da população nordestina.

Pão-de-Açúcar, município do sertão alagoano e semiárido nordestino, está


localizado na região centro-oeste do Estado de Alagoas, a 240km de Maceió –
capital do Estado, fazendo parte da bacia do rio São Francisco, ao oeste do Estado
e tem como limites: ao norte, os Municípios de São José da Tapera, Palestina e
Jacaré dos Homens; ao oeste, o de Piranhas; ao leste, o de Belo Monte; e ao sul, o
rio São Francisco, o qual margeia cerca de 45% do Município e ao oeste com
Piranhas. A área municipal ocupa 659,12 km² (2,37% de AL), inserida na
mesorregião do Sertão Alagoano e na microrregião de Santana do Ipanema.

Segundo o censo do IBGE (1991), a população total residente era de 24.351


habitantes, dos quais 11.965 do sexo masculino (49,10%) e 12.386 do sexo feminino
(50,90%). São 10.806 os habitantes da zona urbana (44,40%) e 13.545 os da zona
rural (55,60%), distribuídas em 67 comunidades. A densidade demográfica é de
36,94 hab/km².

Na etapa de conhecimento da realidade, o Diretor do Laboratório, juntamente


com a Estrutura Primária, identificou no Município o seguinte cenário.

Dentre as potencialidades do Município, destacam-se suas belezas naturais,


ainda não exploradas economicamente pelo segmento turístico. Além do rio São
Francisco, com suas praias e ilhas, possui um monumento de concreto armado – O
Cristo Redentor, com 12,8m de altura e 40 toneladas, construído por João Lisboa
(artista local) – erguido no morro que deu origem ao nome do Município. Conta ainda
com uma escola de música e uma banda musical com tradição de mais de 50 anos.

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Destacam-se, ainda, os sítios arqueológicos e fósseis de paquidermes


antidiluvianos.

A culinária típica da região baseia-se no pescado, camarão pitu, carne-de-


sol, galinha-de-capoeira, feijoada, buchada de caprinos. Entre os doces, destacam-
se o de cabeça-de-frade, leite, mamão, banana, goiaba e a cocada. E há, ainda,
iguarias como broa de goma, mungunzá, arroz doce, bolo de milho, cuscuz,
pamonha, macaxeira e umbuzada.

O artesanato é rico, herança dos índios urumarys, acrescida da cultura


europeia trazida pelos colonizadores e, mais tarde, por imigrantes espanhóis. O
maior centro de produção artesanal é o da Ilha do Ferro, situada às margens do São
Francisco, cujas tipologias são a renda, o bordado e os trabalhos em madeira, tendo
destaque também em outras comunidades os artigos de couro e de fibras vegetais,
bem como instrumentos de pesca.

A economia do Município baseia-se principalmente na agropecuária, no


comércio e em algumas poucas atividades semi-industriais. A agricultura de
subsistência produz feijão, milho e mandioca, predominando os pequenos
produtores familiares, parceiros e assalariados. Na pecuária, destacam-se os
rebanhos bovinos, caprinos, ovinos, suínos e aves, sendo mais numerosos os dois
primeiros. Destaca-se o extrativismo mineral (pedra utilizada na fabricação de
paralelepípedos) e o animal com a pesca de peixe e camarão. O setor informal da
economia é composto por vendedores, inclusive os ambulantes, costureiras,
artesãos e prestadores de serviços domésticos.

O Município dispõe também de uma agência do Banco do Brasil e oito postos


comunitários dos Correios.

Com relação ao setor saúde, o índice de mortalidade infantil é inferior ao da


região Nordeste, com 30/1.000 nascidos. A rede de saúde dispõe de um hospital, 54
leitos hospitalares e 11 unidades ambulatoriais e oito postos de Saúde (fonte:
Secretaria Municipal de Saúde).

Dados da Secretaria Municipal de Educação indicavam que o Município tinha


18 escolas de ensino pré-escolar, com 820 alunos matriculados, 53 escolas de

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ensino fundamental, com 6.225 alunos matriculados e quatro escolas de ensino


médio, com 765 alunos matriculados. Da população total residente, 10.937
habitantes com dez anos ou mais de idade são alfabetizados (44,90%). O índice de
analfabetismo é significativo – 11.076 pessoas de mais de cinco anos de idade, o
que corresponde a 55.1%% da população.

O Programa Alfabetização Solidária alfabetizou mais de 1.000 pessoas no


Município.

Quanto às organizações sociais, o Município contava com 30 associações


comunitárias, inclusive com uma Federação de Associações, Sindicato de
Trabalhadores Rurais, Sindicato dos Trabalhadores da Educação, Sindicato dos
Proprietários Rurais, uma Colônia de Pescadores, um Núcleo de Desenvolvimento
Comunitário, Maçonaria, Igrejas Católica e Protestante, Associação Amigos do
Velho Chico (OnG que luta pela preservação do rio São Francisco) e a Visão
Mundial.

Quanto à infraestrutura contava com telefonia fixa e celular, uma emissora de


rádio, e tinha como meios de transporte – rodoviário (alternativo e ônibus) e fluvial
(lanchas, barcos, canoas e balsas). No que se refere ao abastecimento d’água,
dispõe de adutora que abastece a Sede municipal e oito comunidades rurais, além
de outros dez municípios vizinhos. Existiam no Município 5.219 domicílios
particulares permanentes, dos quais 3.810 (73,00%) tinham banheiro ou sanitário e,
destes, apenas 26 (0,50%) possuíam banheiro e esgotamento sanitário via rede
geral. Cerca de 3.409 (65,30%) eram abastecidos pela rede geral de água, enquanto
111 (2,13%) abastecidos por poço ou nascente e 1.699 utilizavam outras formas de
abastecimento (46,45%). Mais de 80% das comunidades tinham energia elétrica. O
número de consumidores de energia era de 3.468 domicílios (Fonte IBGE 1991).

Apenas 2.871 (55,00%) domicílios eram atendidos pela coleta de lixo,


evidenciando a existência de sérios riscos de problemas ambientais e de saúde
pública para a população.

Apesar de estar situado às margens do rio São Francisco, constatou-se que


os efeitos da estiagem são muito sentidos na região. Somente nesse município,

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estavam inscritas nas frentes de serviços 1.300 pessoas, o que indicava a


necessidade imediata de ações para o desenvolvimento de atividades de geração de
trabalho e renda, articuladas com as ações emergenciais em execução.

Dando prosseguimento ao aprimoramento do conhecimento da realidade,


essencial para o desenvolvimento do Laboratório, foram identificadas
características particulares na comunidade Ilha do Ferro, onde foi realizado um
Laboratório Organizacional de Terreno, tal como se descreve a seguir:

O povoado situa-se a 18 km da Sede do Município, e nele residem 143


famílias, que sobrevivem da agricultura de subsistência, pecuária, pesca, artesanato,
fabricação de telhas e tijolos e de pequenas mercearias.

A comunidade ficou conhecida como Ilha do Ferro, em razão do afundamento


de um navio moxotó, em 1917, perto de uma Ilha do rio São Francisco, que fica
localizada em frente a esse povoado, e sua carcaça estar soterrada no mesmo
lugar. O acesso por terra era precário e quase toda a população utilizava o
transporte fluvial.

Dispunham de um grupo escolar, quatro escolas municipais (apenas uma sala


de aula), capela e de uma associação comunitária.

Na época, não havia coleta sistemática de lixo, existindo lixo, principalmente


papel e plásticos espalhados por toda a área urbana.

Rebanhos bovinos, ao serem recolhidos aos currais, trafegavam pela rua


principal do povoado, com calçamento, deixando um rastro de dejetos. Nas margens
do rio São Francisco, existia um cercado com porcos acarretando poluição ambiental
e precárias condições de higiene no local, uma vez que muitas mulheres lavavam os
utensílios domésticos e roupas próximas ao local, além de ser um dos pontos
utilizados pela população para o banho diário.

As casas, na sua maioria, eram de alvenaria e muitas sem acabamento. Os


banheiros eram construídos nos quintais. A comunidade tinha energia elétrica, mas
não existia serviço de telefonia.

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As mulheres produziam o bordado, denominado “boa-noite” e alguns homens


confeccionavam pequenas peças de madeira – esculturas de pássaros da fauna
local e miniaturas de embarcações.

Na realização da 1ª reunião com as artesãs na comunidade, apenas 12


compareceram, bastante desestimuladas com a atividade artesanal, em razão de:

- descrédito da população das ações de governo, em virtude da ineficiência


de outras ações anteriormente desenvolvidas, no sentido de revitalização
do artesanato, e que, segundo as mulheres, não foram revertidas na
melhoria da qualidade de suas vidas. “Traziam os panos, as linhas, e
depois levavam as peças já feitas. Quando vendiam é que a gente
recebia o nosso ganho. E às vezes, demorava muito para o dinheiro
chegar”;

- a produção não era valorizada, fazendo com que não se esforçassem para
confeccionar o bordado, executando-o da forma mais simples possível,
influenciando na baixa qualidade do produto. Além disso, utilizavam um
tecido bastante fino, de poliéster. Tudo isso concorreu para a não-
agregação de valor ao produto. Um lençinho era vendido por R$ 1,00 (um
real). Chegavam a explicitar: “com isso, não vamos conseguir melhorar a
nossa vida. Não queremos que nossas filhas tenham esse tipo de
trabalho. O que ganhamos com isso até agora foi gastar a nossa vista, já
tem gente aqui quase cega. E continuamos todas pobres”.

- da existência de atravessadores da própria comunidade e de outras


localidades que se apropriavam de parte do valor da mercadoria.

Os homens, quase na sua totalidade, desenvolviam a agricultura de


subsistência e a pesca. A agricultura em pequenos lotes de terra (em torno de ½
ha), normalmente às margens do rio e de forma individual. Reclamavam das
condições de trabalho, bastante precárias em termos de resultados. Diziam que:
“antes da construção da barragem de Xingó, que represou as águas do rio São

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Francisco, nas épocas de cheias, as águas enchiam as nossas terras, formavam


verdadeiras lagoas, e a gente plantava o arroz. Eram tempos bons. Isso tudo
acabou. Até a pesca foi muito prejudicada”.

Queriam que fossem desenvolvidos projetos agrícolas, com recursos do


Governo a fundo perdido, sem terem uma visão clara quanto à viabilidade
econômica e financeira, reproduzindo as práticas em curso.

Um aspecto positivo da realidade local, segundo os moradores, era a não-


existência de consumo de drogas nem gravidez precoce. Os jovens ajudavam as
famílias nas atividades de consumo básico e, em geral, frequentavam a escola
pública.

Diante das condições objetivas, em época de seca, uma das opções era a
participação nas frentes de serviços do Governo federal. Estavam cadastrados
nesse programa 65 homens da Ilha do Ferro, sem atividades definidas.

Para a elaboração do Plano Técnico do Laboratório Organizacional, foram


desenvolvidas as seguintes atividades:

– articulação com o Poder Público local, para efetivação da parceria e


definição de plano de mobilização para a realização de um seminário, com a
participação do Poder Público, representantes de todas as comunidades
rurais e entidades públicas e privadas;

– realização de um Seminário com representantes do PRONAGER Nacional,


PRONAGER-Alagoas (Módulo Estadual vinculado à ex-SUDENE), prefeito,
secretários municipais, sindicatos, Comissão Municipal de Combate aos
Efeitos da Seca, Câmara de Vereadores, Universidade Federal de Alagoas,
associações e lideranças comunitárias da área urbana e rural e técnicos
municipais, que teve por objetivo:

a) apresentar o Programa, seus objetivos, população-objetivo, metodologia,


parcerias firmadas, contrapartida municipal, e a importância do
desenvolvimento local integrado, como estratégia para redução da

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pobreza, com vistas à geração de trabalho e renda e melhoria da qualidade


de vida da população; e

b) identificar, com a leitura dos participantes, as potencialidades


socioeconômicas e vocações produtivas do Município áreas prioritárias de atuação
do Programa, e que atividades econômicas deveriam ser por este apoiadas.

Após essa etapa, foi formada uma equipe técnica composta por dez
membros: quatro técnicos do PRONAGER (Nacional e Módulo Estadual), dois
técnicos em Desenvolvimento Econômico (TDE), em formação pelo PRONAGER,
um representante da Prefeitura Municipal e duas pessoas da Sede do Município,
selecionadas pelo Diretor do LOT, com base em critérios pré-estabelecidos.

Foram visitadas pela equipe técnica, no decorrer dos 12 dias subsequentes,


sete áreas priorizadas no Seminário. Uma na Sede do Município e seis da área rural
para a elaboração dos diagnósticos. Com base nas análises, foram selecionadas
como áreas para a realização de Laboratórios Organizacionais de Terreno as
comunidades de Ilha do Ferro e Machado, este último com foco em atividades na
área da construção civil e melhorias urbanas.

Considerando que este pesquisador definiu como uma das áreas para o
estudo de caso a comunidade de Ilha do Ferro/AL, deste momento em diante será
apresentado o desenvolvimento do LOT nesta comunidade.

Inicialmente foi definida a Estrutura Primária do LOT. Esta procedeu, com o


apoio do Diretor, ao “refinamento” do diagnóstico da área, com vistas à elaboração
do Plano Técnico do Laboratório, a qual se estruturou nos moldes de “Empresa
Associativa Autogestionária”.

Com base no conhecimento da realidade, foram adquiridos insumos e outros


foram cedidos por instituições públicas e privadas.

Após a mobilização dos moradores da Ilha do Ferro, realizou-se a solenidade


de abertura do LOT, com a participação de aproximadamente 140 pessoas (jovens e

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adultos). Mesmo com as dificuldades, decorrentes da composição social do grupo


bastante homogêneo (quase na totalidade sem experiência em divisão social e
técnica do trabalho), ao final de três horas, definiram os seguintes cursos: corte e
costura, produção artesanal e construção civil, sem especificar quais nessa área.
Também indicaram as três pessoas, todas mulheres, para representá-los perante
ao Diretor do LOT e a Estrutura Primária. Os homens quase não se envolveram nas
discussões. Na oportunidade, o Diretor, após a aclamação da representação pelos
participantes, fez o repasse dos insumos, inclusive uma pequena quantia em
dinheiro, e apresentou a equipe técnica que estaria à disposição do grupo. Também
foi definido por eles que as aulas sobre a Teoria da Organização teriam início no
terceiro dia, turno da noite (18h30min.).

Com a eleição dessas mulheres, foi visível a insatisfação dos homens, pois
alguns identificaram que o processo seria coordenado pelas mulheres, um
comportamento decorrente da cultura machista.

No dia seguinte, os representantes da empresa continuaram com as


inscrições dos cursos.

No terceiro dia, o local já estava preparado pela “Empresa dos Alunos” e as


18h30min. as aulas sobre a Teoria da Organização foram iniciadas, com a presença
de 109 pessoas.

Após a aula da Teoria da Organização, que trata da primeira divisão social do


trabalho (agricultura e pecuária), em razão de tecnologias desenvolvidas
inicialmente pelas mulheres, inicia-se o “empoderamento” das mulheres. Segundo
alguns depoimentos de mulheres, seus companheiros que não estavam participando
do Laboratório queriam que elas abandonassem o projeto, o que não foi aceito por
nenhuma delas. Falavam, “nós temos valor, daqui pra frente vai ser diferente, pois a
agricultura e a pecuária que desenvolvemos hoje, foi inventada por nós”.

Os homens que participavam do Laboratório estavam meio “acuados”, não


conseguiam definir com clareza os cursos que iriam fazer na área da construção
civil.

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Os seis artesãos, escultores que também participavam do LOT, continuaram


firmes e, juntamente com as mulheres, conseguiram por fim uma “adesão” dos
outros.

Outro ponto a considerar, é que grande parte dos homens, em número de 59,
estavam inscritos nas frentes de serviços de combate aos efeitos da seca e as
experiências anteriores (tipos de serviços prestados não incluíam ações de
qualificação profissional) contribuíram para que somente no 5º dia, após abertura do
LOT, definissem os cursos na área da construção civil (pedreiro, eletricista
residencial, bombeiro hidráulico e pintor de parede), aliando a necessidade da Ilha
com a prestação de serviços exigida pelas referidas “frentes de serviços”.

Com o desenvolvimento das aulas da Teoria da Organização, que prevêem a


elaboração de planos de trabalhos por comissões criadas nos cursos, os homens
que integraram a Comissão de Construção Civil, definiram que os serviços
prestados seriam os seguintes: a limpeza urbana da Ilha do Ferro, a construção da
praça (com pedras) na beira do rio S. Francisco, que dá acesso à comunidade pelo
Rio. Essa definição foi fruto de uma discussão do conjunto dos participantes.

Com a finalização das aulas de Teoria da Organização, a empresa que até


então só contava com a representação dos alunos (três pessoas) e a Comissão de
Disciplina, definiram a 1ª estrutura organizacional como empresa (Junta Diretora e
Comissões de Disciplina, Limpeza e Higiene, Construção Civil/Obras, Produção,
Comercialização, Finanças e Memória e Divulgação). Em seguida, após a aula
sobre como se elabora um plano de trabalho, cada comissão foi elaborar o seu 1º
plano de trabalho. Os 1ºs planos de trabalho, por comissão, foram bastante simples,
de acordo com a percepção de cada grupo. Nesse momento, a Estrutura primária se
dividiu e deu uma assessoria a todas as comissões, o que possibilitou alguns ajustes
nos referidos planos, os quais foram consolidados pela Junta Diretora da Empresa e
distribuídos para todos os participantes, e aprovados pela assembléia da Empresa.

Iniciaram-se os demais cursos definidos pelo grupo, em instalações da própria


comunidade e com parte significativa de insumos indivisíveis cedidos pelos
participantes. A exemplo de material de construção (carros-de-mão e outros

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instrumentos, bem como pedra, areia e madeira) e todas as máquinas de costura). A


partir da 3ª semana do Laboratório, em função da necessidade surgida, foi
incorporada ao LOT uma consultoria na área de estilismo para definição das
coleções de peças com o bordado denominado “boa-noite” e de outros tipos. Para
isso ficou acordado que não haveria interferência na tradição local quanto aos
desenhos criados pelas próprias artesãs, singulares no Brasil. Seria realizada uma
ação de resgate da produção de bordados, enfocando, efetivamente, a produção de
mercadorias, discutindo inclusive a embalagem que seria confeccionada na própria
comunidade.

Todos os sábados à tarde, a empresa realizava a assembléia geral, para a


prestação de contas e aprovação dos planos de trabalhos da Empresa por
Comissão as quais compõem o todo orgânico.

Com o desenvolvimento dos cursos na área da construção civil, e o início das


obras da praça bem como a limpeza urbana da ilha, os homens assumiram esse
processo, o que contribuiu para maior equilíbrio nas relações entre homens e
mulheres, bem como na gestão da empresa.

Outros cursos foram sendo realizados na área da gestão da produção,


comercialização, controle de estoques e custos, ministrados pelos membros da
estrutura primária, com base na dinâmica da empresa.

Após a 3ª assembléia geral da Empresa, o Diretor do LOT deixou o


laboratório ( desmame), retornando somente para o encerramento.

Durante o processo, o grupo foi enfrentando as contradições e os conflitos, e


qualificando a gestão, sendo visíveis as etapas da síncrese, análise e síntese
(recorrentes), contribuindo para a internalização de conhecimentos sobre
organização autogestinária, alicerçadas pela participação social.

Todo o processo instaurado possibilitou aos moradores o entendimento de


uma visão de futuro, percebendo a Ilha na sua totalidade, tornando-se visível o
desenvolvimento das etapas de capacitação, pré-concebidas na metodologia da
Capacitação Massiva. Ao final do LOT, o qual durou 45 dias, com ações intensivas e
ininterruptas, os resultados foram os seguintes:

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a) capacitação de 109 pessoas, sendo, na área do artesanato, 44


bordadeiras e seis escultores em madeira (aperfeiçoamento) e oito em
corte e costura, totalizando a elaboração de129 peças; na área da
construção civil, capacitação de 59 homens (no curso de pedreiro e
servente de pedreiro, noções de eletricista residencial, bombeiro
hidráulico e pintor de parede). Alguns alunos participaram em mais de
um curso. Também foram iniciadas as obras de construção da sede da
Cooperativa;

b) definição da estrutura orgânica da Cooperativa de Artesãos da


Ilha do Ferro – ART-ILHA, denominação escolhida pelas suas 31 sócias;

c) criação de coleções de peças de cama, mesa e banho


bordadas, com padronização de acordo com referencia internacional e
ainda a confecção de etiquetas e de embalagens rústicas utilizando
material local e elaboração de fichas técnicas por produto.

d) integração de ações de políticas públicas locais, com assistência


médica/social, mediante a realização de consultas médico-oftalmológicas
para 30 artesãs e aquisição de óculos, tendo sido priorizadas pelo grupo
as sócias com maiores problemas de visão;

e) desenvolvimento de ações de Educação Ambiental, para a preservação e


conservação do meio ambiente, com a participação da Associação
Amigos do Velho Chico. Isso desencadeou a limpeza pública e coleta de
lixo, limpeza do ancoradouro e das margens do rio, além da limpeza de
outros pontos de acesso à comunidade;

f) melhorias urbanas, com a construção da praça às margens do rio São


Francisco (área de esporte e lazer, praça com arborização e sede da
Cooperativa ART-ILHA, considerado ponto de encontro e mirante da Ilha

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do Ferro), pintura em fachadas de algumas casas e encanação hidráulica;


e

g) planejamento e realização da solenidade de encerramento do Laboratório


Organizacional pela própria Empresa, com visita à praça e ao prédio da
Cooperativa em fase de acabamento, entrega de certificados e da
memória do LOT para cada família participante, mural com mostra
fotográfica da Ilha do Ferro (antes e ao final do evento de capacitação) e
exposição para venda de produtos confeccionados pela Empresa.
Somente nessa ocasião foram vendidos 40% dos produtos.

Segundo o depoimento das mulheres da Cooperativa, com a saída da equipe


técnica, sentiram-se desoladas. Isso já é esperado na metodologia; é o momento da
transição da “co-gestão” para a autogestão.

Após a realização do LOT, no decorrer de dez anos, foram desenvolvidas as


seguintes ações:

- legalização da Cooperativa;

- realização de curso sobre custos e formação de preços pelo SEBRAE/


AL;

- realização de uma oficina de gestão, da qual participaram as 31 sócias


da Empresa, para discutir a situação da ART-ILHA - avanços e limitações
e elaboração de plano de providências;

- elaboração do ”Projeto Fortalecimento da Cooperativa ART-ILHA,“ com a


participação de todas as sócias, tendo como objetivo a melhoria das
instalações físicas, aquisição de móveis, matérias-primas e material de
divulgação, o qual foi financiado pelo Programa Comunidade Solidária;

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71

- participação em diversas feiras estaduais, nacionais e uma internacional,


na Argentina. Vale salientar que por ocasião da participação em uma
exposição de produtos artesanais em Brasília/DF, uma Curadoria formada
por especialistas, área do artesanato, classificou o produto da ilha do
Ferro como o melhor do País; e

- início da Implantação de um Projeto de Agricultura Orgânica, coordenado


pelos homens, com o apoio da ONG Visão Mundial, que vislumbrou na
organização da comunidade o principal pré-requisito para o
desenvolvimento dessa atividade produtiva.

Atualmente a Cooperativa ART-ILHA, que foi fundada com 31 sócias, conta


com 38 artesãs, o que representa uma ampliação no seu quadro da ordem de
22%%. Dispõe de uma sede com salão de reuniões/produção, cantina, dois
banheiros, almoxarifado, bem como de móveis e equipamentos básicos. Somente no
final de 2001 é que adquiriu telefone, pois antes na localidade não existia nem
telefonia celular rural. Esse avanço na área de comunicação contribuiu para o
escoamento da produção.

Além dos produtos de cama, mesa e banho, a Cooperativa introduziu um


novo produto – cortes de tecidos bordados para confecção de peças de vestuário
feminino e bicos com o mesmo bordado (boa-noite).

A Empresa está com a sua capacidade de produção quase esgotada. Produz


atualmente 410 peças/mês, principalmente sob encomenda, as quais são vendidas
para Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, RG do Norte, Bahia, Goiás,
Pernambuco, Ceará, Alagoas, Itália (Milão) e Estados Unidos (Nova Iorque).

A retirada referente à mão-de-obra é feita logo após a venda do produto e a


Cooperativa está sempre em dia com a sua folha de pagamento. Segundo as
artesãs, “A Cooperativa é importante para nós, hoje somente a mão-de-obra pelo
bordado de um pano de bandeja custa R$ 12,00”.

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A renda mensal das sócias varia de R$ 100,00 a R$ 410,00 sendo de R$


221,00 o valor médio de retirada/mês. Segundo a Presidente da ART-ILHA, nos
meses de maior movimento, por ocasião das férias, dia das mães, natal etc., tem
artesã que retira em torno de um salário mínimo. Considerando-se que
anteriormente ao LOT a renda familiar quase não tinha a participação da mulher,
produtora de uma mercadoria com valor de troca, houve um incremento significativo,
o que pode ser percebido nos próprios depoimentos das sócias da Cooperativa.

Conforme informações da ART-ILHA, a Cooperativa conta com um estoque


de matéria-prima no valor de R$ R$ 7.280,00 e de produtos acabados na ordem de
R$ 4.122,00, totalizando um montante de R$ 11.402,00 (Dados de out/2008).

Quanto à realização das ações de capacitação iniciadas no LOT, 100% das


sócias da ART-ILHA afirmam que: “foi muito importante, antes a gente não sabia o
que era organização. Não sabia trabalhar de forma associativa. Hoje sabemos o
que é uma Cooperativa e como se dá o funcionamento. Aqui tudo é transparente,
cada uma sabe o valor da sua produção, quanto vai tirar no final do mês. Pois a
tabela de pagamento da mão-de-obra pelo bordado é exposta na entrada da
empresa. No nosso galpão de trabalho. O cálculo é feito de acordo com a
quantidade de centímetros de bordado que cada peça leva”.

Ainda sobre o Laboratório Organizacional, consideram que “com tudo que foi
realizado na ilha do Ferro, melhorou e muito a nossa capacidade de entender as
coisas. Nossas famílias tem melhores condições de vida, pois adquirimos fogão a
gás, geladeira, televisão, antenas parabólicas, móveis, peças de vestuário, e outras
coisas mais. As casas aqui agora são mais arrumadas. A nossa auto-estima foi lá
pra cima. Hoje quando um filho pede algo, a gente tem o orgulho de atender pois
antes não se tinha quase nada para oferecer. A nossa produção era muito
desvalorizada, nossas filhas não queriam mais saber de produzir artesanato. Não
se tinha mais nenhuma esperança que com o artesanato a nossa vida melhorasse.
A união, a valorização do nosso trabalho e a possibilidade de melhorar de vida com
a nossa renda foi muito importante. Hoje nós sentimos orgulho de pertencer a Ilha
do Ferro” .

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Ao referir-se à limpeza urbana, implantada durante o Laboratório


Organizacional, dizem “a Ilha do Ferro continua bem limpinha”.

Sentem-se orgulhosas quando falam que a ART-ILHA já foi alvo de


reportagem por duas vezes na rede Globo de Televisão. Eis parte da matéria
veiculada no dia 03/09 às 8h27min no programa Ação Global: ”Além de retratar
minuciosamente o ofício do bordado, a reportagem mostrou como esse trabalho
ganhou força desde que as artesãs se organizaram numa cooperativa, a ART-ILHA,
que reúne mais de quarenta mulheres. A presidente da cooperativa, Cíntia
Nascimento, fez questão de enfatizar que a união fez crescer a renda e a qualidade
das peças que produzem. Foi a partir da criação da ART-ILHA, há dez anos, que o
bordado feito às margens alagoanas do Velho Chico começou a percorrer o país em
Estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e o Distrito Federal. Hoje, é
com orgulho que as bordadeiras dizem, na reportagem do Ação Global, que o
estoque de peças está praticamente vazio e que correm contra o tempo para
atender a encomenda de uma feira em Pernambuco”.

Segundo o Programa Comunidade Solidária, instituição parceira do projeto,


“além da recuperação e valorização do artesanato, percebe-se que as ações na Ilha
do Ferro transformaram a relação dos moradores com o meio ambiente,
desenvolveram a auto-estima da comunidade e construíram as bases para a auto-
sustentabilidade econômica da população”. (Revista Artesanato e Geração de
Renda – Comunidade Solidária, SEBRAE e SUDENE – Brasília, Ano 2000).

E ainda ”a geração de renda associada ao revigoramento das tradições


populares brasileiras tem grande potencial para mobilizar a sociedade, o comércio, a
indústria e a mídia para, em seus distintos “fazeres”, incorporarem o tema Brasil e
colaborarem com essa proposta de valorização da expressão cultural para o
desenvolvimento econômico e social do país”. (RUTH CARDOSO, Presidente do
Conselho do Programa Comunidade Solidária, Brasília 2000).

Vale ressaltar que todas as ações desenvolvidas na Ilha do Ferro foram fruto
do diálogo com a comunidade, tendo-se o cuidado de auscultá-la para a
identificação de seus anseios e aspirações, numa relação de transparência e

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formulação de conhecimento, aliada à vontade e determinação da equipe técnica em


contribuir para a transformação positiva da realidade encontrada.

A atitude democrática e participativa, não colonialista, defendida pela


metodologia da Capacitação Massiva, reconhece que todos são detentores de um
saber. O saber dos moradores da Ilha do Ferro (verdadeiros sujeitos da ação)
aliando-se aos saberes dos outros atores envolvidos no LOT, tendo como eixo os
princípios da metodologia adotada, foi decisivo para os resultados alcançados. Além
do mais foi uma operação que incluía ações complementares como o apoio à
comercialização e acesso ao crédito, o que contribuiu significativamente para o seu
êxito.

A Comunidade de Ilha do Ferro, hoje, é motivo de orgulho para os moradores


do Município de Pão-de-Açúcar, pois a ART-ILHA se tornou um dos principais
ícones de identidade cultural do Município. Como experiência exitosa, já foi motivo
de matérias diversas veiculadas em jornais, revistas de circulação nacional e
televisão. Por essa razão, recebe visitas de outros municípios de Alagoas, de outros
Estados e do Exterior. Os participantes do LOT chegam a falar: “Pão de Açúcar hoje
é conhecido no Brasil e no Exterior graças à Ilha do Ferro “

Por fim, pode-se acentuar, então, que o aspecto primordial no


desenvolvimento local integrado e sustentável está ligado à capacidade de a
comunidade ser a própria autora dos processos de mudanças necessárias ao seu
crescimento, com ações inovadoras de capacitação, apoiadas nos “saberes locais”,
desenhadas para a geração de autonomia cidadã.

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75

4.2 O LABORATÓRIO ORGANIZACIONAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP E A


COOPERATIVA DOS TRABALHADORES MULTI-TEX

A ideia do “Projeto de Revitalização da Cooperativa dos Trabalhadores


MULTI-TEX” surgiu de uma apresentação no “Programa Comunidade Solidária”
sobre a Metodologia da Capacitação Massiva, realizada pelo PROGER
(SEPRE/MPO), antes Programa Nacional de Geração de Trabalho e Renda em
Áreas de Pobreza – PRONAGER. Na ocasião, o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES conheceu as ações desenvolvidas
pelo PRONAGER em prol da organização de comunidades, para geração de
trabalho e renda.

Assim, o BNDES, por meio da Coordenação da Área de Autogestão, iniciou


as negociações com o PRONAGER, com vistas à realização de um Laboratório
Organizacional de Empresa – LOE na MULTI-TEX, evento da Metodologia da
Capacitação Massiva, em atendimento à demanda da Secretaria de
Desenvolvimento Econômico – SDE, da Prefeitura Municipal de São José dos
Campos, junto ao BNDES, quanto ao apoio creditício à referida cooperativa.

A parceria então delineada adequava-se às preocupações do BNDES, que


entendia ser necessária uma capacitação prévia em gestão empresarial associativa,
de cunho autogestionário, em face de a experiência profissional dos sócios da
Cooperativa ter sido até então apenas na área operacional. Estabeleceram-se, pois,
as condições necessárias para a realização do LOE. .

Para o LOE, diversas instituições foram articuladas, resultando em um plano


de ação e a efetivação de parcerias, tais como:

- PRONAGER – Nacional - levantamento de informações sobre a empresa,


possibilidades e limitações e realização do Estudo de Viabilidade
Econômica e Financeira da Empresa, bem como disponibilidade de dois
consultores do IATTERMUND.

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- Governo do Estado de São Paulo, por meio do Módulo Estadual do


PRONAGER - São Paulo, vinculado à Secretaria do Emprego e Relações
do Trabalho – SERT - cessão de insumos básicos (matérias-primas) e
disponibilidade de um técnico para integrar a equipe de consultores, com
ônus para o próprio Estado;

- BNDES - assegurar o financiamento do Projeto da MULTI-TEX, ao final da


realização do Laboratório Organizacional de Empresa (LOE); e

- Prefeitura Municipal de São José dos Campos - apoio logístico para o


desenvolvimento das atividades.

Esperava-se que, com o desenvolvimento do LOE, fossem alcançados os


seguintes resultados:

a) recuperação da autoestima dos trabalhadores;

b) aceleração no nível de consciência organizativa dos participantes,


pressuposto para a qualidade da tomada de decisões e gestão da empresa;

c) capacitação em autogestão empresarial, abordando a organização dos


processos de trabalho desde o planejamento estratégico, produção,
comercialização, custos e formação de preços, dentre outros conteúdos;

d) máquinas e equipamentos testados e em fase de pré-operação;

e) reestruturação organizacional da Cooperativa (análise e ajustes do


estatuto, regimento elaborado, elaboração de organograma, custos e
tributação, definição de equipes de trabalho por setor, fluxos de matérias-
primas e mercadorias, planos de trabalho e a previsão de retirada mensal); e

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f) planejamento das ações de monitoramento e acompanhamento à


Cooperativa, numa perspectiva de capacitação continuada.

Como parte da etapa de conhecimento da realidade, após a realização do


estudo de viabilidade econômico-financeira da empresa, a equipe técnica elaborou
uma síntese do perfil socioeconômico do Município, conforme a descrição a seguir.

São José dos Campos, no Estado de São Paulo, onde está localizada a
Cooperativa dos Trabalhadores MULTI-TEX, é uma cidade privilegiada. Situa-se
estrategicamente entre as cidades de São Paulo (distância: 84km) e Rio de Janeiro
(321Km). Com 250 anos de fundação, conta com uma população de 609.229
habitantes (IBGE 1991), sendo 286.946 do sexo masculino (47.10%) e 322.282 do
sexo feminino (52.9%) e tem uma densidade demográfica de 540,89 hab/km².

Quanto a faixa etária da população, segundo o IBGE (1991), 28.06% das


pessoas tinham menos de 24 anos, 38,52% de 24 a 49 anos e 13,4% com 50 anos
ou mais.

O Município é composto por três distritos: São José dos Campos, Eugênio de
Melo e São Francisco Xavier. O último é conhecido pelos locais naturais e pelo
ecoturismo em função das cachoeiras, trilhas e regiões alpinas.

Dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico indicavam


que o Município possuia um respeitável tecnopólo de material bélico e metalúrgico,
constituindo-se no maior complexo aeroespacial da América Latina. Dispõe de um
signicativo parque industrial, onde se destacam grandes empresas nacionais e
internacionais (Philips, Panasonic, Johnson & Johnson, General Motors - GM,
Petrobrás, Ericsson, Monsanto, EMBRAER, entre outras), e um importante centro
de ensino e pesquisa sediando o CTA, ITA, ICEA, INPE, o IEAV, IAE, UNIFESP,
FATEC e a UNESP. Todos esses fatores lhe permitem ser a 7ª maior cidade do
Estado de São Paulo, 30ª maior do País, a 3ª maior cidade do interior do Brasil, e a
4ª cidade do Estado em arrecadação. A área total é de 1.099,60 km², sendo 673,39
km² na área rural.

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Segundos dados do IBGE (1991), no Município existiam 460 unidades


escolares (205 de pré-escolas, 177 de ensino fundamental, 71 de ensino médio e 7
de ensino superior, sendo uma pública) onde estão matriculados, respectivamente,
17.411crianças, 86.531 alunos no ensino fundamental, 26.723 no ensino médio e
15.098 no nível superior.

Com relação ao setor saúde, a rede de atendimento dispõe de 189 unidades.

Como se pode depreender, a economia do Município estava baseada na


agropecuária, na indústria extrativa e de transformação e no comércio e serviços,
com destaque para os dois últimos setores econômicos, pois são 1988
estabelecimentos industriais e 21.598 na área do comércio e serviços (IBGE 1991).

Tem uma topografia montanhosa, com colinas ao norte que variam de 660 a
975m, denominadas “Mar de Morros”; terraços e colinas tubulares, onde se encontra
a parte urbana da cidade; as serras do planalto Atlântico, cujas altitudes atingem
800m, além das regiões alpinas, compostas por morros, serras e picos, com
altitudes que variam de 619 a 2.082m, figurando entre os 32 pontos mais altos do
País.

O clima é úmido e tropical. As chuvas abundantes vão de novembro a março,


correspondendo a 72% do volume anual, ficando os 28% restantes entre maio e
outubro. A unidade relativa do ar é de 76%. As massas de ar tropical predominam
durante 50% do ano, seguidas pelas de ar frio. A temperatura média anual está
perto de 21ºCº, sendo julho o mês mais frio (média de 15Cº) e o mais quente
fevereiro (média de 23Cº).

Quanto à infraestrutura, São José dos Campos contava com ampla malha
rodoviária, no caso, a Via Dutra (BR116), que permite um rápido acesso à Capital
paulista, Rio de Janeiro, litoral norte e serra da Mantiqueira, e o tráfego de pessoas
e escoamento da produção se dá também através de cinco rodovias estaduais
interligadas ao Município. Apesar de dispor de um aeroporto, normalmente o
joseense utiliza-se dos serviços do Aeroporto Internacional de Cumbica, em
Guarulhos, que se localiza a apenas 70km da Sede. Conta ainda com a Estrada de

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Ferro Central do Brasil, que corta São José dos Campos ao norte, próximo ao rio
Paraíba do Sul.

Considerando que o LOE estava direcionado à reativação da Cooperativa dos


Trabalhadores MULTI-TEX, a equipe técnica elaborou um diagnóstico complementar
sobre o seu objeto de trabalho, cujas informações se apresenta a seguir.

A Cooperativa dos trabalhadores MULTI – TEX tinha como atividade produtiva


a prestação de serviços industriais (tinturaria industrial) ao setor têxtil. Foi criada em
julho de 1996, com 32 sócios, mediante o apoio da Associação Nacional dos
Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária –
ANTEAG/SP.

Eram trabalhadores desempregados em virtude de falência da empresa em


que trabalhavam (PRÓCION) cuja atividade era a prestação de serviços industriais
também ao setor têxtil. Essas 32 pessoas, buscando solucionar as questões
trabalhistas, articularam-se com os Sindicatos dos Trabalhadores da Indústria Têxtil;
e Sindicato dos Mestres e Contra-Mestres do Município de São José dos Campos,
os quais encamparam a luta pela posse de equipamentos e cessão, mediante
comodato, de instalações físicas (um galpão) como pagamento das dívidas
trabalhistas desse grupo de trabalhadores. Assim, poderiam dispor de um módulo
industrial que garantisse seus postos de trabalho.

Paralisada até fevereiro de 1998, um ano e meio após a sua constituição,


principalmente por falta de capital de giro, e com os seus sócios em péssimas
condições de vida, a empresa demandou junto a Prefeitura Municipal de São José
dos Campos – SP o apoio para o acesso ao crédito por meio do BNDES. O Banco
exigiu, como condição à empresa, sua capacitação em Autogestão Empresarial.

No levantamento do perfil dos sócios da MULUT-TEX, foram encontrados as


seguintes características:

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Valor Valor em
Variáveis
absoluto percentual (%)

Masculino 30 93,7
Gênero
Feminino 02 6,3

Até 25 anos 03 9,4

de 26 a 35 anos 10 31,3
Idade
de 36 a 45 anos 11 34,4

Acima de 45 anos 08 25,0

Casado 24 73,9

Estado Civil Solteiro 05 16,1

Outros 03 10,0

Sem escolaridade 03 9,4

1º grau incompleto 26 81,3

Escolaridade 1º grau completo 01 3,1

2º grau incompleto - -

2º grau completo 02 6,2

Não tem 05 15,6


Quantidade de
de 1 a 2 14 43,8
filhos
3 ou mais 13 40,6

Situação de Tem emprego 10 30,5


Trabalho Não tem 22 69,5

Não tem 10 31,2

Até R$ 200,00 03 9,7


Renda Familiar
de R$ 201,00 a R$ 350,00 01 3,1

> que R$ 351,00 18 56,0

Fonte: Memória do Laboratório Organizacional de Empresa – MULTITEX.

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Como pode ser visto, a faixa etária predominante situava-se entre 26 e 45


anos, o equivalente a 65.6%, e, destes, oito com mais de 45 anos. Havia 22
desempregados, o correspondente a 68,7% , dez sócios não dispunha de nenhuma
renda familiar (31,2%), e 30 tinham até o 1o grau, o equivalente a 93,7%, o que
tornava a situação bastante precária.

Considerando a realidade brasileira, no que se refere às exigências do


mercado de trabalho, quanto ao perfil requerido ao trabalhador, sobretudo em
tempos de globalização, os dados há pouco apresentados demonstram a fragilidade
desses trabalhadores, ante à oferta de trabalho existente no Brasil. A determinação
deles em juntar forças para a criação de sua própria empresa foi uma ação singular,
a qual poderá servir de efeito-demonstração para outros trabalhadores em situação
similar, sobretudo diante da atual crise econômica com dimensão internacional que
produz altos índices de desemprego e contribui para a precarização das relações de
trabalho.

O contexto no qual foi criada a Cooperativa MULTI-TEX não possibilitou que


houvesse uma discussão mais aprofundada sobre o que são uma cooperativa e seu
funcionamento, pois apenas dois sócios diziam saber o que é uma cooperativa e
outros dois sabiam sobre o seu estatuto social. Em autogestão, ninguém ainda tinha
ouvido falar.

Assim, pode-se dizer que havia sido criada uma cooperativa nos moldes
tradicionais, contrariando os princípios de uma empresa que se propõe ser
autogestionária segundo o interesse dos participantes.

A situação encontrada reflete a realidade do cooperativismo brasileiro.


Normalmente nas cooperativas, existe um pequeno número de associados que se
consideram “iluminados”, trazendo para si a responsabilidade pela gestão da
empresa, fortalecendo uma estrutura de poder verticalizada, na qual “uns pensam e
mandam e outros obedecem e executam”. Isso inibe a participação e impossibilita a
apropriação da organização pelo conjunto dos sócios, que não se percebem como
donos da empresa. Falta-lhes o sentimento de pertença à empresa.

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Isso de certa forma reflete o modelo de qualificação profissional que tem por
objetivo a implantação e/ou fortalecimento de empresas cooperativas no País, que
muitas vezes têm na sua essência o adestramento de trabalhadores, dissociando os
atos de pensar do de fazer, não incorporando a participação como conceito básico
estratégico na proposta pedagógica, fundamental para a constituição da autonomia
individual e coletiva, fundamentada na autogestão.

Os sócios da MULTI-TEX tinham domínio na área da produção dos serviços,


mas faltava-lhes a habilitação em gestão de empresa associativa.

Com a finalização dos acordos interinstitucionais, deu-se início à preparação


e implementação do referido Laboratório Organizacional de Empresa – LOE.

Na primeira visita à MULTI-TEX para aprofundamento do conhecimento da


realidade, deixou-se claro que o papel dos consultores seria o de ”facilitadores” e
que a responsabilidade do sucesso ou não da Cooperativa MULTI-TEX seria
exclusivamente do conjunto de associados. A elaboração do Plano Técnico do
Laboratório refletiu, portanto, as necessidades da empresa: aquisição de matéria-
prima e reestruturação organizacional para o enfrentamento do mercado com a
devida competência e competitividade, e assim garantir os postos de trabalho aos
seus sócios.

A equipe técnica do LOE foi formada por seis membros: o Diretor e mais cinco
técnicos que integraram a Estrutura Primária (dois desses com experiência na
Capacitação Massiva). A seleção dos outros técnicos teve como critério a
competência técnica nas áreas de Engenharia da Produção, Custos Industriais, e
Logística.

Na solenidade de abertura do LOE, no galpão da própria empresa,


participaram todos os 32 sócios, dentre esses o seu Conselho de Administração, o
qual foi confirmado como a representação legal.

Como já era de se esperar, passaram por uma fase de anomia, a qual foi
mais tênue do que na Ilha do Ferro/AL (experiência apresentada anteriormente),
considerando que já existia um comportamento mais cooperativo e disciplinado em
função das vivências como operários. Os cursos definidos foram: gestão da

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produção, gestão financeira, custos e tributação, comercialização, noções de


Contabilidade, controle de estoques, segurança do trabalho, e elaboração de
projetos de investimentos. Logo em seguida, foram repassados os insumos
indivisíveis complementares, tais como: dois computadores, matérias-primas,
material de expediente, material de higiene e limpeza e recursos financeiros da
ordem de R$ 1.000,00 para despesas eventuais da empresa.

Ao final das aulas da Teoria da Organização, foram formadas as Comissões


de Administração e Patrimônio, Produção, Finanças, Custos, Segurança no
Trabalho, Memória e Divulgação, que se exercitaram na elaboração do primeiro
Plano de Trabalho da Empresa, o qual, após ajustados mediante assessoria da
equipe técnica, foi consolidado pelo Conselho de Administração e aprovado na
Assembleia Geral.

No Plano de Trabalho, priorizaram as seguintes atividades: limpeza geral das


instalações físicas, inclusive das áreas externas; levantamento de todo o patrimônio
imobilizado da empresa que já se encontrava no galpão, inclusive com custos
atualizados, os quais foram colocados à disposição do LOE; identificação da
necessidade de reparo das máquinas e equipamentos; identificação dos possíveis
fornecedores e consumidores. Assim, no período da manhã, participavam das aulas
da Teoria da Organização e no restante do tempo executavam essas atividades.

Como se pode perceber, o nível de organização dos trabalhadores da MULTI-


TEX era superior aos do LOT da Ilha do Ferro, o que resultou na capacidade de
decisões mais rápidas e com maior qualidade, a exemplo das atividades priorizadas
por eles no 1º plano de trabalho. Afinal todos tinham experiência na divisão social e
técnica do trabalho, o que concorreu mais facilmente para a “unidade” e “disciplina”,
pilastras nas quais se assenta qualquer organização empresarial. No caso da Ilha do
Ferro, essa vivência iniciou-se no LOT.

Após essa etapa, foram iniciados os demais cursos, os planos de trabalho


continuaram sendo elaborados semanalmente, bem como realizadas as
assembleias gerais.

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Após 15 dias do início do Laboratório, a empresa foi aberta a todos os


familiares dos associados, ocasião em que ofereceram um almoço, nas condições
que podiam. A autoestima de todos era visível e a vontade de acertar de cada um
mais ainda.

A etapa de síncrese foi tênue, pelas vivências acumuladas. Ao final da 2ª


assembleia, já se percebia a mudança pela internalização dos conhecimentos
gerados com inter-relação entre as duas estruturas - Cooperativa dos Trabalhadores
MULTI-TEX e Estrutura Primária. As etapas de análise, planejamento, distribuição e
controle foram-se qualificando gradativamente.

Na solenidade de encerramento do Laboratório, conduzida pela própria


empresa, estavam presentes todos os parceiros, sócios e familiares. No seu
discurso, o presidente da Cooperativa fez uma síntese do que tinha acontecido,
dentro da sua compreensão, assumindo publicamente o compromisso de continuar
na luta para que a MULTI-TEX se torne exemplo para os trabalhadores brasileiros.
Foram distribuídos os certificados e o documento de memória do LOE para todos os
sócios e instituições parceiras.

Por fim, vale ressaltar, a capacitação desenvolvida em 27 dias, com os


diversos “sujeitos” - cooperados e técnicos - possibilitou o surgimento de um novo
modelo de administração embasado na participação coletiva, genuinamente
autogestionário, cujos resultados serão apresentados a seguir.

- capacitação em autogestão empresarial de 20 trabalhadores, com ênfase


nas áreas específicas dos demais cursos;

- estruturação da empresa, com lay out adaptado em função dos fluxos de


produção e distribuição e com capacidade de funcionamento. Vale ressaltar
que, na fase pré-operacional, foram processados 800 kg de tecidos
(tingimento), estimando-se para o mês seguinte (março-1998) a marca de
cinco toneladas;

- implantação dos instrumentos - controles financeiros, de custos, de


estoques e ordens de produção;

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- realização de uma assembleia geral extraordinária para aprovação dos


ajustes no Estatuto Social da Empresa;

- articulação com os mercados (fornecedor e consumidor);

- autoestima dos trabalhadores recuperada, assim como determinação em


lutar pelo fortalecimento da empresa e melhoria permanente dos seus
processos operacionais e de gestão; e

- elaboração do plano de trabalho para os próximos seis meses.

Em março/1998 o plano de negócios da empresa no valor de R$ 228.700,00


foi aprovado pelo BNDES, porém, a 1a parcela, no valor de R$ 68.000,00, somente
foi liberada após seis meses da realização do Laboratório Organizacional, por
questões burocráticas.

Durante o período que antecedeu a liberação da 1ª parcela, os trabalhadores


unidos decidiram investir na formação do capital de giro da empresa, com base nos
resultados financeiros oriundos das operações iniciadas no Laboratório
Organizacional. Assim, no 1o mês subsequente ao evento de capacitação, optaram
por uma retirada mensal no valor de R$ 50,00. Isso demonstrou o espírito
associativo, o compromisso e a determinação em lutar pela empresa.

Após 12 meses da realização do Laboratório Organizacional, a MULTI-TEX já


estava inserida no mercado. Cada sócio já contava com uma retirada mensal no
valor de R$ 250 reais.

Decorridos dez anos da realização do Laboratório Organizacional de Empresa


– LOE, a MULTI-TEX gerou 46 postos de trabalho, entre sócios e prestadores de
serviços.

A produção média mensal é de 90 tonelada/mês, o equivalente a 90% da


sua capacidade total de produção, e o faturamento médio mensal é da ordem de R$
257.000,00. A prestação de serviços industriais se materializa no tingimento de
tecidos (poliéster, malha e cotton) para a indústria téxtil.

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Segundo a empresa, “pretendem aumentar a capacidade de produção com a


aquisição de novos equipamentos.”

Quanto à remuneração, segundo a MULTI-TEX (dados de out/2008), a


retirada mensal varia de R$ 700,00 a R$ 1.200,00, o que representa um aumento
significativo na renda dos trabalhadores.

A cooperativa dispõe de um patrimônio imobilizado no valor de R$ 283.785


reais, um estoque de matéria-prima avaliado em R$ 18.752,00 e um capital de giro
de R$ 67.000,00 (dados de out/2009)

Existe um compromisso assumido pelo grupo quanto à preservação e


conservação do meio ambiente, conforme depoimento do presidente da Empresa:
“Considerando os poluentes utilizados na produção, já tínhamos ampliado, em 2002,
o tanque receptor da água usada no processamento, para que a mesma receba o
tratamento adequado. Para realização desse serviço contamos em nossos quadros
com um especialista, pois continuamos compromissados com a preservação do
meio ambiente, inclusive no momento, estamos com obras em nosso tanque de
tratamento de efluentes, para nova adequação, conforme indicação da Cetesb”.

No que se refere à prevenção de acidentes, a MULTI-TEX informou que


“atualmente não temos a CIPA, porém seguimos à risca todas as exigências de
materiais de EPIs, fazendo advertências para aqueles no caso da falta e de uso dos
equipamentos necessários.

Um aspecto importante detectado durante o estudo é que todos os sócios são


contribuintes da previdência social, têm seguro de vida e plano de saúde. O que
diferencia a MULTI-TEX da realidade das cooperativas brasileiras, por ter sido
implantada considerando os princípios da autogestão, que perdura até a realização
deste estudo, denotando a solidez dos princípios da cooperação e da solidariedade.

Outro ponto a considerar é que, quando da realização do LOE, somente dois


sócios tinham o 2º grau completo e atualmente nove já concluíram o ensino médio.

Quanto à importância do Laboratório Organizacional, ressaltam que “sempre


acreditamos que uma empresa para ser sólida, necessita ter um bom alicerce. O
Laboratório Organizacional foi nosso alicerce. Nas horas de turbulências, porque é

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claro que nestes anos todos tivemos nossos momentos de dificuldades, nos
recordamos de todo o esforço dos integrantes do Laboratório, da perseverança que
tivemos e de quão longe vieram para nos apoiar e acreditar em nós, quando muitos
não acreditavam. E assim seguimos adiante certos de que tudo daria certo e
realmente deu”.

Os resultados constatados no estudo de caso, sistematizado com base em


método e instrumentos de análise qualitativa, mostram que, quando as ações de
capacitação se realizam, com base em propostas pedagógicas, adequadas ao perfil
dos participantes e com vistas a mudanças qualitativas na realidade local e com
visão de futuro, tendem a ser mais relevantes.

Por fim, vale ressaltar, no desenho da operação realizada com moradores da


Ilha do Ferro/AL e com os trabalhadores da Cooperativa Multi-Tex/SP estava
prevista a capacitação em gestão autogestionária, com os meios necessários ao
funcionamento inicial das empresas, bem como o acesso ao crédito. Como se pode
constatar nas duas experiências, não se criaram escalas de valores na população
participante que dificultassem a continuidade das ações de geração de trabalho,
razão pela qual os recursos financeiros demoraram a chegar e nem por isso as
empresas, mesmo com dificuldades, não pararam de funcionar. Isso demonstra o
espírito de coesão e confiança entre os membros, o que sinaliza a existência de
capital social conforme a concepção de Putnam, sobre esse tema tratado
anteriormente no terceiro capitulo desta dissertação.

Neste sentido, sugere-se que os projetos de qualificação social e profissional,


na perspectiva de inserção ao mercado de trabalho, mediante a implantação de
empreendimentos econômicos, tenham a complementaridade de ações de crédito e
cooperação técnica, possibilitando a capacitação continuada, a exemplo das
experiências apresentadas.

Outro ponto que merece destacar é que, tomando por base o


desenvolvimento de vários laboratórios organizacionais de terreno, realizados no
âmbito do PRONAGER, ou como na condição de perito em Capacitação Massiva do

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referido Programa, teve-se a oportunidade de identificar algumas questões que


merecem atenção:

a) a metodologia da Capacitação Massiva apresenta um grande avanço para a


educação profissional, ao utilizar a atividade-objetiva como desencadeadora de
todo o processo de capacitação;

b) o fato de seus fundamentos teóricos serem complexos, merecem maior


aprofundamento teórico na capacitação de diretores de laboratórios
organizacionais, para que entendam a dinâmica social e a capacidade de
analisar os fenômenos que ocorrem durante os laboratórios, à luz da teoria, o
que certamente potencializará os seus resultados, não transformando o método
em técnica e/ou executando de forma mecânica;

c) a cultura político-institucional, em muitos casos, não valoriza métodos como


esse, pela falta de percepção da importância da participação como princípio na
gestão de políticas públicas, ou por questões ideológicas;

d) que seja condicionada à realização de laboratórios organizacionais a garantia


de ações complementares, tais como crédito e cooperação técnica, as quais
contribuírão para o desenvolvimento mais rápido dos embriões de
empreendimentos econômicos surgidos dos referidos laboratórios; e

e) por último, que se avance quanto ao monitoramento e avaliação das políticas


públicas, para que se tenha melhor aproveitamento do saber constituído por
diversas instituições públicas e privadas, no direcionamento da melhoria da
qualidade de vida do povo brasileiro, bem como para maior otimização dos
recursos públicos aplicados nas políticas públicas.

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89

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão central abordada nesta dissertação é a Metodologia de


Capacitação Massiva, como estratégia de enfrentamento da problemática da
pobreza e da exclusão social, pela via da qualificação de mão-de-obra e inclusão, na
vida produtiva, de populações em situação de desemprego e desqualificadas para o
acesso ao mercado, principal desafio das sociedades contemporâneas.

Neste sentido, considerando que as estratégias até então adotadas pouco


tem sido efetivas, tomou-se como desafio contribuir com o debate sobre a questão,
mediante o estudo de duas experiências desenvolvidas por intermédio da
Metodologia de Capacitação Massiva, expressa como alternativa concreta para o
enfrentamento dessa problemática.

Para compor um quadro de referências analíticas sobre o problema


investigado, este estudo se desenvolveu baseado na busca de respostas para duas
hipóteses formuladas e cujos achados se passa a discutir.

Sem a intenção de apresentar conclusões definitivas, este estudo orienta a


formulação de algumas considerações julgadas oportunas, para que se prossiga
investigando tanto a metodologia da Capacitação Massiva como de outros métodos
de capacitação que se configurem como opções para o êxito de intervenções de
combate à pobreza mediante a geração de trabalho e renda.

A metodologia da Capacitação Massiva, pelas suas peculiaridades, foi


idealizada com a finalidade de acelerar a consciência organizativa de pessoas,
especialmente do segmento populacional que vive em situação de pobreza,
mediante a realização de laboratórios organizacionais, cuja fundamentação teórica
já foi tratada no decorrer deste trabalho.

Os achados nesta pesquisa permitem confirmar a hipótese de que os


métodos tradicionais de qualificação não atendem as características e/ou
necessidades da população vulnerabilizada econômica e socialmente, uma vez que,
pela seletividade, e por não relacionar demandas locais às potencialidades de

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absorção de trabalhadores no mercado de trabalho, reforçam o estigma da exclusão.


Tal confirmação se apóia nos dados da pobreza no Brasil, cuja população total de
187.672.898 habitantes concentra um percentual de 25% pessoas em situação de
pobreza, sendo 19% abaixo da linha de pobreza, apesar dos esforços até então
empreendidos por sucessivos governos no sentido de atenuar os extremos das
desigualdades e injustiças sociais.

Destaca-se que as metodologias tradicionais de capacitação para o trabalho


que se desenvolvem no País não alcançam a população empobrecida, por
diferentes motivos, sendo mais evidente o fato de que esse contingente
populacional, em expressiva maioria, não tem ou apresenta baixo nível de
escolaridade. Mesmo assim, quando pessoas pobres conseguem se inserir nas
oportunidades de qualificação profissional de estilo tradicional, percebem-se
incompatibilidades entre a tipologia dos cursos ofertados e a demanda potencial de
absorção de mão-de-obra pelo mercado de trabalho. O que contribui para a
existência de fileiras de desempregados ou os “desnecessários” que, apesar de
“qualificados” e “habilitados” para o desempenho de uma função, permanecem
excluídos do mundo do trabalho, gerando nas pessoas o sentimento de
incapacidade por não conseguirem atingir a chamada “empregabilidade”. Vale aqui
considerar que o termo “tradicional” se aplica àquelas metodologias de qualificação
onde a teoria antecede a prática; ou ainda, uma correspondência de visão
institucional ultrapassada no tempo, pelas rápidas transformações contemporâneas
que exigem o repensar das práticas ineficientes e incapazes de responder
positivamente aos seus próprios objetivos,

Outro agravante nas práticas de qualificação de estilo tradicionalmente


efetivadas no País, consiste no fato de que não conseguem fomentar nas pessoas o
espírito criativo e de superação de suas dificuldades, porque não utilizam a
Psicologia Social como um recurso que, associado a técnicas pedagógicas,
concentra potencial de interferir positivamente na capacidade individual e coletiva
para a organização social e produtiva, na busca de soluções dos problemas com
suporte nos recursos disponíveis na própria comunidade. Muito menos ensejam o
potencial do individuo de protagonizar sua estratégia de inserção na vida produtiva

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nacional, em função de incorporarem princípios que, muitas vezes, situam-se na


contramão da participação, do “empoderamento”, essencial para a consolidar a
consciência organizativa.

Assim, não incorpora em suas propostas pedagógicas a participação como


essência, restringindo as possibilidades de preparar o sujeito para o desempenho
profissional alicerçado em sua própria capacidade de desenvolver atitudes e
habilidades. A capacitação para o trabalho de estilo tradicional dificulta que os
sujeitos assumam a condução plena dos processos de produção, gestão
empresarial e comercialização e muito menos os valores solidários que concorrem
para o associativismo ou formas outras de consciência coletiva capazes de animar
um grupo de pessoas empobrecidas a unir esforços em busca de soluções
conjuntas para reverter o problema da miséria e da pobreza que vivenciam.

“Dentro do horizonte temporal de uma época histórica, a natureza das


mudanças institucionais é influenciada principalmente por uma visão de mundo
dominante. Se esta visão é questionada, e chega a se transformar rápida e
profundamente, a humanidade enfrenta a crise de percepção, porque seu método de
observação se torna obsoleto.” (SOUZA SILVA,2003, p.56).

Estudos mais recentes (Hobsbawm, 1969, CASTELLS, 1996, dentre outros)


sobre a crise econômica mundial dão conta de que, contemporaneamente, muitos
persistem aplicando as mesmas regras do jogo da era do industrialismo, insistem
nas mesmas ideias, aplicam as mesmas técnicas, sem se darem conta de que o
mundo vive uma “mudança de época”, pois antigas práticas organizacionais,
institucionais etc. não encontram mais correspondência. “Desde a década de 60, as
“regras do jogo” da época do industrialismo estão sendo questionadas de forma
inexorável pela vulnerabilidade gerada como conseqüência de sua prática. “
(SOUZA SILVA, 2003, p.57)

A segunda hipótese, levantada por esta pesquisa, destaca: “as pessoas têm
potencialidades que podem ser desenvolvidas, e as comunidades pobres dispõem
de recursos humanos e materiais, os quais, se mobilizados e inseridos no processo

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de capacitação massiva concorrem para a geração de trabalho e renda e a redução


da pobreza.”

Os achados neste estudo permitem confirmar a segunda hipótese, pois, como


pode se depreender no estudo de caso, as experiências efetivadas, tanto na Ilha do
Ferro como em São José dos Campos onde se promoveu a Capacitação Massiva,
os resultados mostram-se satisfatórios no que se refere à capacidade metodológica
de envolvimento das pessoas empobrecidas ou desempregadas de protagonizarem
práticas e estratégias de inserção na vida produtiva.

Assim, a Metodologia da Capacitação Massiva, de acordo com seus


princípios e pressupostos metodológicos e suas características, integra na prática, a
economia local com a Sociologia e a Psicologia Social formando capacidades.
Enseja a auto-organização solidária, componente básico do capital social,
considerado pelo Banco Mundial como elemento estratégico para o
desenvolvimento, ponto de partida para o fortalecimento da coesão no plano local,
que resulte em proveito da coletividade. Pois capital social se forma na prática social
cotidiana, ou seja, o mesmo só existe com a participação social, sendo um é
decorrente do outro (CHAVES, 2001).

Baseados nos elementos expostos, este estudo chega o seu termo, tendo-se
absoluta compreensão de seus limites, pela própria dinâmica da realidade
contemporânea, cujas transformações em evidência não permitem conclusões
definitivas. Espera-se, no entanto, que outros pesquisadores, comprometidos com o
enfrentamento da problemática da pobreza e desigualdade social, tenham a
possibilidade de contribuir para o aprofundamento desta análise, haja vista se tratar
de uma tecnologia social que poderá convergir para a redução dos indicadores
nacionais de pobreza por sua confirmada capacidade de reunir valor à capacitação,
com vistas à geração de oportunidades de trabalho e renda para seus participantes,
independentemente da sua condição social. Por último, percebe-se que a
metodologia de capacitação massiva transcende a implantação de projetos
específicos, pelos resultados que se vislumbram com base na sua concepção.

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APÊNDICES

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APENDICE I

QUESTIONÁRIOS APLICADOS NAS COOPERATIVAS

QUESTIONÁRIO APLICADO NA COOPERATIVA DOS ARTESÃOS ART- ILHA

ILHA DO FERRO/AL

1. O Laboratório Organizacional foi importante para a Comunidade da Ilha do Ferro?

Sim ( ) quantas responderam sim:________

Não ( ) quantas responderam não:________

2. Por que o Laboratório Organizacional foi importante? (Somente responder se alguém do


grupo responder que sim)
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

3. Qual é a situação atual da Cooperativa ART-ILHA , quantos aos seguintes aspectos:

Quantidade de sócios

Quantidade de peças produzidas por mês

Qual o valor do estoque de matéria-prima

Qual o valor de estoque de produtos acabados

Qual o valor mensal da menor retirada pela sócia

Qual o valor mensal da maior retirada pela sócia

Qual o valor do capital de giro

Qual o valor médio da retirada mensal

Qual valor do faturamento – média mensal

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4. Que outros produtos a ART-ILHA passou a confeccionar após o Lab. Organizacional?

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

5. Para onde a ART-ILHA vende sua produção?___________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

6. A ART-ILHA participa de Feiras? Caso a resposta seja positiva, quais :_____________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

7. Como a ART-ILHA está divulgando os seus produtos? ____________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

8. Com a implantação da Cooperativa ART-ILHA a vida de vocês melhorou?

Sim ( ) Quantos______ Não ( ) Quantos______

Em que melhorou (Somente responder se alguém do grupo considerar que sim)

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

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102

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

9. A experiência da ART ILHA contribuiu para o desenvolvimento de outras atividades

produtivas na comunidade? (Sim ( )_______ Não ( )______

Quais: ________________________________________________________________

______________________________________________________________________

10. A ART-ILHA tem participado de cursos, oficinas ou seminários?

SIM ( ) Não ( )

11. O capital inicial da ART-ILHA foi acrescido de algum outro financiamento?

Sim ( ) Não ( ) – Caso positivo, qual o valor? R$_____________________

12 . As mulheres da Ilha do Ferro, são mais respeitadas pelos seus maridos a partir da
Cooperativa ? Sim ( ) Quantos________ Não ( ) Quantos_______

13. Seus familiares valorizam a Cooperativa ? Sim ( )_______ Não ( )_______

14. De tudo que foi trabalhado durante o Laboratório Organizacional, o que vocês acharam
mais importante ? ________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

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15. Existe mais confiança entre vocês depois do Laboratório Organizacional ?

Sim ( ) _______ Não ( ) __________

15. Quanto a limpeza urbana, a Ilha do Ferro continua limpa ? Sim ( )____ Não ( )_____

16. Quantas sócias estudam hoje? __________ Especifique o grau de ensino que cursam:

______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

Obs: Caso o espaço seja insuficiente para as respostas, favor utilizar o verso da folha.

Data do preenchimento:____/____/2008

Assinatura de responsável pelo preenchimento: _________________________________

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104

QUESTIONÁRIO APLICADO NA COOPERATIVA DOS TRABALHADORES MULTI-TEX


(S. J. DOS CAMPOS/SP)

1. O Laboratório Organizacional foi importante para a MULTI-TEX?

Sim ( ) quantos responderam sim:________

Não ( ) quantos responderam não:________

2. Por que o Laboratório Organizacional foi importante? (Somente responder se alguém do


grupo responder que sim).
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

3. Qual é a situação da Cooperativa MULTI-TEX atualmente, quantos aos seguintes


aspectos:

Quantidade sócios

Quantidade da produção mensal (Ton)

Qual a capacidade de produção/mês

Valor do faturamento médio mensal

Qual o valor de estoque de produtos acabados

Qual o Qual valor mensal da menor retirada pelo(a) sócio(a)

Qual o valor mensal da maior retirada pelo(a) sócio(a)

Qual o valor do capital de giro

Qual o valor médio da retirada (média - mensal)

Qual o valor do estoque de matéria-prima

Qual o valor do patrimônio (imobilizado)

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4. A MULTI-TEX tem prestadores de serviços ? Sim ( ) Não ( ). Caso positivo,


quantos?_________ Qual a média de salários? R$_____________________

5. Que outros serviços a MUITI-TEX passou a realizar após o Lab. Organizacional?


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

6. Para onde a MUITI-TEX vende sua produção?__________________________________


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

7. Como a MULTI-TEX faz a divulgação dos seus produtos (Estados) ? ________________


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

8. Com a implantação da Cooperativa MULTI-TEX a vida de vocês melhorou?

Sim ( ) Quantos______ Não ( ) Quantos______

Em que melhorou (Somente responder se alguém do grupo considerar que sim):

_______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
________________________________________________________________________
__________________________________________________________________

8. A MUITI-TEX tem participado de cursos, oficinas ou seminários?

SIM ( ) Não ( )

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9. O capital inicial da MUITI-TEX foi acrescido de algum outro financiamento, após o LOE?
Sim ( ) Não ( ) – Caso positivo, qual o valor? R$______________________________

10. Seus familiares valorizam a Cooperativa ?

Sim ( ) Quantos _______ Não ( ) Quantos _______

11. De tudo que foi trabalhado durante o Laboratório Organizacional, o que vocês acharam
mais importante ? ________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

12. Existe mais confiança entre vocês depois do Laboratório Organizacional ?

Sim ( ) _______ Não ( ) __________

13. Continuam com as ações de preservação do meio ambiente ? Sim ( ) Não ( )

14. A CIPA esta funcionando ? Sim ( ) Não ( )

15 Os sócios pagam a Previdência Sócia l ?

Sim ( ) Quantos:_____Não ( ) Quantos:____

16. Existem outros benefícios para os cooperados. Em caso positivo especifique?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

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17. Quantos sócios estudam atualmente ? _________ Especifique o grau de ensino:

______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

13. De tudo que foi trabalhado durante o Laboratório Organizacional, o que vocês acharam
mais importante ?

__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

Data do preenchimento:____/____/2008

Assinatura de responsável pelo preenchimento:_________________________________

Obs: Caso o espaço seja insuficiente para as respostas, favor utilizar o verso da folha.

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108

APENDICE II

PLANO DO LABORATÓRIO ORGANIZACIONAL

Clodomir Santos de Morais

A. Atos Operativos do Plano: os atos operativos são aqueles que levam à


consecução dos fins e propósitos do Plano que nesse caso, resume-se em
CAPACITAR ou HABILITAR. Eles, por sua vez, incluem Atos Técnicos e
Atos Administrativos.

α. Atos Técnicos consistem em: pesquisar e definir as necessidades; organizar o


evento de capacitação; e avaliar os resultados.
β. Atos Administrativos tem em vista: propiciar apoio para a realização dos atos
técnicos; estabelecer instrumentos ou mecanismos de controle; e armazenar
os dados da experiência.

1. Atos Técnicos – estão distribuídos desde o momento da concepção do Plano


de Capacitação Massiva, estendendo-se por todo o “Laboratório
Organizacional até depois de sua finalização. Assim que eles aparecem:

- antes do “Laboratório” - na concepção da metodologia (baseada na


montagem artificial e real da existência social) determinadora da consciência
organizativa que pretende-se gerar no grupo social;

- durante o “Laboratório” – nas entregas teóricas e “orientação” da prática; e

- depois do “Laboratório” - no informe e balanço crítico referente à aplicação


da metodologia e na análise da memória do evento.

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2. Atos Administrativos – também sucedem nos três campos:

- antes, através do Plano tentativo no ensinamento que ir-se-á completar com


os cursos definitivos a serem realizados no transcorrer do “Laboratório”; na
inscrição dos alunos; na confecção de materiais didáticos; na definição e
obtenção dos “insumos indivisíveis”, imprescindíveis a realização do
“Laboratório”;

- durante, os “controles de freqüência” e os “controles de leitura” e as


avaliações dos cursos pelos participantes (alunos e instrutores/facilitadores);

- depois, (uma vez concluídas as atividades docentes) – a confecção de


certificados de participação e o recebimento dos “insumos indivisíveis”
(inventariados da capacitação).

B. Elementos das Didáticas

1. Didática do “Laboratório Organizacional”

Consideradas como a combinação das condições objetivas (meios materiais e


marcos institucionais predominantes) e fatores subjetivos (hábitos culturais e graus
de consciência do grupo social), a didática do “Laboratório” está condicionada aos
seguintes elementos:

- aos homens que o integram (o sujeito);

- às finalidades do evento de capacitação;

- à empresa a ser estruturada e administrada (o objeto);

- a pré-concepção das atividades (o projeto);

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- aos meios de produção – de possessão comunitária – (ou o instrumento de


transformação);

- aos meios de consumo para reposição da “força de trabalho” e de bens do


“Laboratório”;

- à duração do “laboratório” – sujeita à composição social do grupo;

- ao “Laboratorista” e aos instrutores;

- às “entregas teóricas”;

- ao deteste.

2. Didática dos Cursos

Realizada no interior do “Laboratório Organizacional”, ela é considerada como


o conjunto de técnicas através das quais realizam-se o aprendizado e a educação
que permitem aos alunos apropriar-se dos conhecimentos transmitidos pelos
instrutores ou professores. Esta didática tem em conta os seguintes elementos: os
alunos, os objetivos e finalidades e os componentes do “Laboratório”.

3. Componentes do “Laboratório” e dos Cursos

a. Os componentes teóricos correspondem aos conhecimentos que se pretende


transferir aos alunos através de: palestras, leituras programadas,
audiovisuais, e painéis de discussão, etc.

b. Os conteúdos fundamentais baseiam-se nas explicações e documentos


técnicos de cada curso de currículo invariavelmente composto de 5 unidades:
- localização histórica da instituição e do produtor que vai exerce-las;

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- a unidade da introdução ao ofício ou a técnica que se aprende;

- a unidade dos passos metodológicos da aprendizagem teórica propriamente


dita;

- a unidade da avaliação.

c. Os conteúdos subsidiários têm de basear-se no documento “ Princípios da


Teoria da Organização”, tratada pelo “Laboratorista” nas experiências de
capacitação locais tratados por “alunos expositores” e discípulos em
conferências extras de convidados especiais.

4. Componentes práticos

Os componentes práticos obedecem ao propósito de libertar os alunos do


período de síncrese proveniente da assimétrica confrontação de suas experiências
pessoais com os novos conhecimentos que vão-se lhes entregando ao longo do
“Laboratório Organizacional”. A liberação conduz ao imediato período de análise e
vai para o de síntese com que se avalia o rendimento do aprendido.

a. Fundamentos: Os componentes práticos práticos (ou práxicos)


fundamentais que vão coadjuvar na “metabolização” dos componentes
teóricos serão:

a. A co-gestão do “Laboratório (gestão compartilhada entre professores e


alunos);

b. A estrutura orgânica de participação social dos integrantes do


“Laboratório”, marcada pelas comissões d gestão a nível de base;

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c. A “massa de atividades letivas, atividades de produção e atividades de


serviços que o grupo social assumem;

d. Os pré-perfis de projetos, os pré-projetos e os projetos de factibilidade de


elaboração compartilhada (alunos e professores); e

e. A elaboração da “ memória” sintética do “Laboratório Organizacional”.

Subsidiários: Os componentes práxicos subsidiários estarão estabelecidos


basicamente nos seguintes meios de trabalho postos ao alcance dos alunos e
em forma de “insumos indivisíveis” – instalações físicas, equipamentos e
materiais permanentes, pessoal de apoio, e materiais didáticos.

b. Professores e Instrutores: os professores ou instrutores devem


funcionar como orientadores de ensinamentos, procurando guiá-lo no
sentido de alcançar os objetivos desejados. Esta orientação não se limita
apenas à aplicação dos passos metodológicos que tornam via processo
de ensinamento e da capacitação; ela deve considerar, também, os
aspectos conjunturais do desenvolvimento do “Laboratório
Organizacional”.

c. Mecânica da aula: As aulas dos instrutores serão autênticas na


proporção que estes vão abandonando a atitude tradicional de transmitir
os conhecimentos e. concomitantemente, vão adotando o papel de levar o
aluno, ao aprender-fazendo, de maneira tal eu perceba que a
aprendizagem é obtida com a sua participação.

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