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Definição

A modernidade artística e a ruptura com a tradição. Novas práticas


arquitetônicas, artísticas e culturais no entre séculos XIX-XX. Os efeitos da
Grande Guerra nas artes visuais e a participação dos artistas nas trincheiras. O
sistema da arte na modernidade.

PROPÓSITO

 Compreender as transformações e
 Os lugares da Arte na modernidade sob os efeitos da Revolução
Industrial,
 Da Primeira Guerra Mundial e de regimes totalitários como
 O nazismo,
 Fascismo e
 Comunismo.
OBJETIVOS

Módulo 1

Identificar a produção artística na modernidade entre fins do século XVIII – com


a Revolução Industrial – e as primeiras décadas do século XX

Módulo 2

Identificar os efeitos da Primeira Guerra Mundial na produção plástico-visual

Módulo 3

Reconhecer os impactos do nazismo, fascismo e comunismo na Arte


Introdução

Figura 1. O Três de Maio de 1808, por Francisco Goya

Em um período relativamente extenso, como foi o marcado pela Revolução


Industrial, mais especificamente entre 1760 e 1840, compreender a produção
artística em toda sua extensão de práticas, técnicas e repertórios é, sem
dúvida, uma tarefa desafiadora. Isso se deve em virtude da grandiosidade
cronológica – marcada ainda por inúmeros outros eventos importantes e fatos
isolados –, mas também pelas dimensões geográficas e peculiaridades – tendo
em vista seu início na Inglaterra e, posteriormente, extensivo a toda Europa
ocidental e aos Estados Unidos.

Não há dúvida de que inúmeros foram os impactos da Revolução Industrial na


Arte e no campo cultural, como veremos a partir de agora.

 A transição do processo artesanal para a produção em larga escala


pelos novos maquinários,
 O crescimento urbano com o êxodo rural,
 A produção de novos bens de consumo e
 O forte crescimento econômico em países capitalistas impactaram o
campo cultural-artístico por diferentes formas,
Cujas consequências (benéficas) técnicas e plástico-visuais são vistas até os
dias atuais.

MÓDULO 1

Identificar a produção artística na modernidade entre fins do século XVIII


– com a Revolução Industrial – e as primeiras décadas do século XX

Impactos da Revolução Industrial na Arte

Embora não seja possível indicar com exatidão a data de seu surgimento (via
de regra, admite-se o período em torno de 1760 como datação histórica para a
irrupção da Revolução Industrial), a chamada Revolução Industrial eclodiu
inicialmente na Inglaterra, durante o século XVIII, quando a convergência de
condições políticas favoráveis, de recursos naturais disponíveis e de fatores
sociais específicos impulsionaram o desenvolvimento das atividades
comerciais do país. Nesse momento, surgiram as primeiras máquinas movidas
por energia artificial, substituindo o trabalho do homem.

As aldeias inglesas se transformaram em cidades populosas com as


primeiras chaminés das fábricas; surgiram as primeiras estradas amplas,
os trilhos de ferro para rápidas locomotivas, bem como os navios a vapor
carregados de matérias-primas e mercadorias.

As transformações desencadeadas a partir de então modificaram de forma


brusca a vida das sociedades humanas, dando forma e vigor à sociedade
industrial que conhecemos. Elas marcam a etapa decisiva de transição de um
esquema pré-capitalista para um estado em que as características
fundamentais do capitalismo se impõem:

 O progresso técnico continuado.

 Capitais mobilizados para o lucro.

 A separação mais clara entre uma burguesia, possuidora dos bens de


produção, e o proletariado, que vende no mercado sua força de
trabalho.

A organização do trabalho produtivo foi drasticamente alterada, ou seja, a


produção de manufaturas familiares e que atendiam a pequenos mercados foi
substituída pela fábrica. Com as novas máquinas a vapor, a produção passou
a ser em larga escala, empregando centenas de trabalhadores.

Da Inglaterra, essas transformações se


estenderam, de forma e em ritmo
desiguais, para os países da Europa
continental e outras poucas áreas de
além-mar, revolucionando, no espaço de
poucas gerações, a natureza da história
dos homens e as relações entre eles.

Figura 2. A estação de Saint-Lazare, por Claude Monet

A partir de 1850, teve lugar a chamada Segunda Revolução Industrial, que


foi uma aceleração das transformações em curso, impulsionadas pelo
aparecimento de diversas inovações técnicas, tais como

 O aperfeiçoamento da indústria química;


 O surgimento de novas fontes de energia motriz (eletricidade);
 Os processos de transformação do ferro em aço.

No final do século XIX, o desenvolvimento industrial alcança um estágio jamais


imaginado.

Período de grande prosperidade econômica, de fé inabalável na Ciência, na


técnica e no progresso da civilização, tais valores se tornaram de grande
aceitação e disseminação no âmbito da sociedade burguesa. A tecnologia
possibilitava a produção em massa de mercadorias e benfeitorias que geravam
conforto aos seus compradores.

Ferro e Carvão (figura 3), obra produzida pelo artista escocês William Bell
Scott (1811-1890) – um dos primeiros artistas a descrever detalhadamente em
suas obras os processos da Revolução Industrial –, é um excelente exemplo
para compreender os impactos desse momento na produção artística,
especialmente na pintura.

Nessa obra, vemos toda a ação centrada nos trabalhadores, na estrutura e nos
instrumentos (observe a marcação feita por meio do triângulo em amarelo). A
posição dos corpos e os gestos dos braços demonstram a força produtiva em
dois elementos: ferro e carvão, tema da própria obra, e elementos cruciais
nesse novo processo de industrialização.

Figura 3. Ferro e Carvão, por William Bell Scott

Há ainda outros elementos que nos indicam os impactos dessas


transformações, como a presença dos navios a vapor, as pontes – grandes
obras de engenharia –, inúmeras pessoas pelas ruas e, ainda, a presença de
uma criança no canto inferior esquerdo no ambiente de trabalho com dois
elementos de destaque: o peão e a marmita. Cena dos novos tempos, dos
novos hábitos e de espaços de convívio, especialmente dos processos de
trabalho.

Segundo J. Guinsburg (2013), o romantismo e o realismo, movimentos


artísticos importantes desse período, são fruto de dois grandes acontecimentos
na história da humanidade, ou seja,

 A Revolução Francesa e suas derivações,


 E a Revolução Industrial.

As duas revoluções provocaram e geraram novos processos, desencadeando


forças que resultaram na formação da sociedade moderna, moldando em
grande parte os seus ideais (sociais). As artes receberam os novos
elementos gerados em tais circunstâncias, incorporando-os em suas
várias formas de expressão, já anteriormente preparados com a
revolução intelectual dos séculos XVII e XVIII.

São essas diversas e emblemáticas “formas de expressão” que veremos nas


construções pictóricas do extenso período que compreende os impactos e
efeitos da Revolução Industrial.

O Vagão da Terceira Classe (figura 4),


obra do artista francês Honoré Daumier
(1808-1879), realizada entre 1863 e 1865,
é um importante exemplo para
compreensão da chamada “ruptura” da
tradição na pintura.

Figura 4. O Vagão da Terceira Classe, por Honoré Daumier

Embora os parâmetros técnicos e, por


vezes, as inspirações estejam presentes
– como o pintor Daumier que se dedicou
aos estudos das obras de mestres como
Peter Paul Rubens (1577-1640) e
Ticiano Vecellio (c.1473/1490-1576) –,
o que muda na arte com os efeitos da
Revolução Industrial e dos impactos na sociedade à época é o repertório e
a forma de apresentação. Toda a carga narrativa está na visualidade dos
corpos, na expressão dos rostos, na atitude do artista para além das questões
de estilo – fator de peso até o século XVIII.

O que vemos (as marcações em amarelo e vermelho sinalizam essa


construção visual em primeiro e segundo planos) é a apresentação de uma
cena que se tornará comum. Vagões de trem – objeto de deslocamento de
massa – com pessoas/trabalhadores cansados; um espaço pictórico que
também sinaliza a divisão de classes, os novos tempos e as novas realidades.
A carga expressiva do cansaço e das condições socioeconômicas está posta
nos rostos, nas vestimentas, na posição dos corpos e até mesmo no pequeno
espaço onde se encontra um número grande de pessoas.

A tomada de consciência do papel da arte e da sua estreita relação com a


sociedade será muito explorada, mas isso não impedirá a continuidade das
pinturas de gênero histórico e as grandes encomendas religiosas. O que
teremos a partir de então – que será ainda mais questionado com as
vanguardas artísticas – é a chegada de novos temas e de uma arte com
espaço para cenas e indivíduos não representados ou não representativos:

 As pessoas que viajavam na terceira classe,


 Os camponeses,
 Os trabalhadores do campo e da cidade,
 As mulheres e as crianças.

No século XX, período em que as vanguardas artísticas estavam em voga na


Europa, o Brasil vivia o modernismo. A pintora paulista Tarsila do Amaral
(1886-1973) se dedicou a termas sociais em suas obras, à semelhança dos
propósitos de Daumier, no século anterior. Tarsila pintou a obra Segunda
Classe (figura 5), em 1933, um óleo sobre tela, exposta na mostra Tarsila
Popular, em 2019, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.

Figura 5. Segunda Classe, por Tarsila do Amaral

A comparação entre as obras de Honoré Daumier (figura 4) e de Tarsila do


Amaral (figura 5) evidencia a importância da temática, pois, para além das
diferenças nas escolhas pictóricas de cada artista e da distância cronológica
que separa as obras – a primeira datada de 1863, e a segunda, de 1933 –, o
que está em questão é o repertório visual, a importância do tema, que passa a
fazer parte das pinturas dos séculos XIX e XX, estritamente ligadas às novas
perspectivas sociais e econômicas observadas por esses e tantos outros
artistas.

Segunda Classe, centrada em uma família que desembarca de um trem, foi


uma cena real presenciada por Tarsila, transformada mais tarde em uma
pintura cujo peso expressivo de tristeza e simplicidade está no rosto e na
postura dessa família, bem como nas vestes e nos pés descalços.

Há também a representação de símbolos emblemáticos para o período. Uma


delas é o caso da pintura sobre madeira, um autorretrato da pintora russa
Tamara de Lempicka (nascida Maria Górska) intitulado Autorretrato (Tamara
no Bugatti verde – figura 6), um ótimo exemplo para a compreensão desse
impacto no campo pictórico, mais especificamente na construção de outras
narrativas visuais para além do repertório amplamente conhecido dentro da
tradição de pintura até o século XVIII.

Sobre essa obra, Santos et al. (2007) descrevem


que, no decorrer dos últimos 25 anos, esse quadro
ficou famoso e tem sido muito reproduzido. Não é
um retrato no sentido de representar a aparência
de uma mulher específica. É improvável que, a
partir dessa imagem altamente estilizada, alguém
fosse capaz de reconhecer a pintora na rua. Trata-se, antes, de um momento e
de um tipo de mulher que surgiu naquela época.

Figura 6. Autorretrato (Tamara no Bugatti verde), por Tamara de Lempicka

Por meio do sacrifício de toda uma geração de homens, a Primeira Guerra


Mundial provavelmente foi o evento histórico que mais colaborou para o
progresso e a emancipação das mulheres. Na agitada década de 1920, o
símbolo máximo da emancipação feminina – para as mulheres que podiam
dar-se a esse luxo – era o automóvel. O relato de Tamara de Lempicka sobre
como ela pegou a bela Rafaela no Bois de Bologne e levou-a a seu ateliê é um
exemplo de como o automóvel podia ser usado como adjutório para
independência sexual.

A professora Adriana Nakamuta aprofunda as questões que aqui


apresentamos.

 Três temas dentro da modernidade artística;


 Dois estilos internacionais Art Déco, Art Nouveau
 Como estes estilos e os movimentos entre os séculos XVIII e XX
anunciam as questões do modernismo nas artes;
 Modernismo nas artes, ao mesmo tempo agrega materiais e modifica o
lugar do artista;
 O papel da mulher não somente com artista mas como protagonista;
 Art Nouveau – Ideia de uma arte nova que começa em 1890 e vai até a
primeira guerra mundial;
 Mudanças desde a revolução industrial;
 Tentativa de reação ao historicismo marcante no século XIX
 Uma arte nova trazendo materiais diferenciado, uso de materiais
luxuosos;
 Materiais utilizados na arquitetura, arquitetura de interiores e artes
gráficas;
 Antonio Gaudi – Arquiteto Espanhol;
 Abstração como forma de arte nova;
 Art Déco – Começa um pouco depois da primeira guerra mundial e vai
até maios ou menos 1930;
 Declínio em 1935;
 Mesma proposta com mais elementos e mais material luxuosos,
bastante obras arquitetônica como monumentos;
 Cristo Redentor um exemplo de Art Déco;
 Chamados de estilos internacional por vir da Europa e Estados Unidos e
ressonâncias no Brasil;
 Adoção de materiais não utilizadas em artes aplicadas;
 Soluções plásticas e arquitetônicas;
 Uso de ferro, vidro e pedras preciosas;
 Art Nouveau - Mulher representadas com modelo, símbolo do ponto de
vista masculino;
 Antonio Parreira uso de nu artístico femina;
 Art Déco - Mulher ocupa espaço por meio da emancipação e
protagonismo;
 Preocupação com a representatividade da mulher na arte;

Art Déco, Art Nouveau e as novas tecnologias

Figura 7. Cartão Postal da Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas


Tamara de Lempicka, nascida em Varsóvia em 1898, foi uma importante
pintora do estilo conhecido como Art Déco, que teve impacto nas artes visuais
– decorativas e gráficas –, na arquitetura e no design. O nome dado a esse
estilo tem origem na abreviação de artes decorativas da Exposição
Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas (figura 7) realizada
em 1925, em Paris. Combinado aos movimentos e estilos modernistas já em
voga, o Art Déco foi marcado por exuberância, luxo e requinte associados à
expectativa que havia sobre o progresso social e tecnológico já implantado com
a Revolução Industrial. No padrão decorativo desse estilo, vemos uma
predominância de linhas retas ou circulares estilizadas, formas geométricas e
design abstrato; entre os motivos mais explorados estão os animais e as
formas femininas; esse estilo clean e puro Art Déco dirige-se ao moderno e às
vanguardas do começo do século XX.

Figura 8. Cartaz da Feira Mundial de Chicago / Figura 9. Escadas do hotel particular de Jacques Doucet

Art Déco (figuras 8 e 9) e Art Nouveau foram dois estilos que se fizeram
presentes no entres séculos XIX-XX, especialmente na arquitetura, frutos da
implementação de processos e produtos decorrentes da Revolução Industrial,
tais como ferro, cimento, vidro, entre outros elementos que alcançaram
produção e qualidade em larga escala. No Brasil, bons exemplos são a
Estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, e o conjunto urbano Art Déco,
preservado na cidade de Goiânia, no estado de Goiás.

O advento das novas tecnologias implicou, portanto, mudanças substanciais na


esfera da cultura e das artes, com profundas consequências no fazer artístico.
Se, desde seus primórdios, a arte esteve intimamente relacionada com a
técnica, a ponto de que os povos antigos não faziam distinção entre o artesão e
o artista, as imensas inovações tecnológicas rapidamente se fizeram sentir no
âmbito da produção artística.

A influência das descobertas tecnológicas tornou-se mais expressiva na arte de


fins do século XIX e início do século XX, com o advento de novas
possibilidades, novos suportes foram postos à disposição dos artistas,
ampliando o mercado e o sistema da arte.

Sistema da arte

No ensaio A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica, o crítico cultural,


filósofo e sociólogo Walter Benjamin (1892-1940) apresenta uma reflexão sobre os
efeitos da reprodutibilidade técnica na arte.

Podemos citar o exemplo do crescimento da imprensa e da edição, com o


surgimento de novas prensas que, com poucas modificações, permaneciam
quase idênticas às dos tempos de Johannes Gutenberg (prensa de tipos
móveis; figura 10). Em 1795, Stanhope criou a prensa de ferro e, em 1811,
König inventou a prensa rotativa que, juntamente com a energia e o vapor,
substituiu a força humana: a tiragem tecnicamente possível, de 150 folhas
(retroverso), em 1795, passou para mil folhas por hora.
Figura 10. Prensa de tipos móveis de 1811 em exposição em Munique, na Alemanha

No ramo editorial aparecem também mudanças significativas. Em Paris, o


número de livrarias triplica entre 1815 e 1845, crescimento superior ao da
própria população da cidade. A impressão de livros alcança tiragens até então
inauditas e, juntamente com a disseminação dos jornais e periódicos, o
mercado de livros e impressos atinge grandes proporções. Surgem também
nesse período os chamados romances folhetins, que deliciam os leitores com
suas aventuras e reviravoltas, publicados de forma parcial e sequenciada.

Figura 11. Câmara de daguerreótipo

Em 1839, surge o daguerreótipo, aparelho fotográfico inventado por Louis


Daguerre (1787-1851), físico e pintor francês, que fixava as imagens obtidas na
câmara escura numa folha de prata sobre uma placa de cobre. A descoberta
causa uma verdadeira inflexão na produção de imagem.

O daguerreótipo (figura 11) possuía, no entanto, vários inconvenientes. Era


pesado – cerca de 50 quilos –, custava caro – entre 300 e 400 francos –, a
placa, sensibilizada pelo vapor, tinha de ser preparada na hora, e o tempo de
exposição do objeto fotografado girava em torno de meia hora. Havia ainda
outra limitação: ele não fornecia cópias.

Entre 1839 e 1841, uma série de aperfeiçoamentos técnicos é realizada,


diminuindo o peso do aparelho, seu preço, melhorando o aproveitamento ótico
das lentes. A descoberta de novas substâncias aceleradoras torna as placas
mais sensíveis à luz, reduzindo o tempo de exposição (embora sem ainda
atingir a instantaneidade):

 1840: 13 minutos;
 1842: 24 segundos;
 1855: 3 segundos.

Esse progresso incentiva a criação de ateliês, que, desde 1841, começam a


proliferar em Paris. Em 1842, são produzidos na cidade cerca de 1800 retratos
que, embora ainda artesanais, já nos dão a dimensão de um quadro pré-
industrial que se anunciava.

O mercado ainda se transformaria radicalmente com o advento da fotografia. A


sua invenção, por Henry Fox Talbot (1800-1877), na Inglaterra, possibilitava a
produção de cópias, além de fornecê-las em papel, não em placas, barateando
o procedimento e tornando o transporte mais fácil.

A incorporação de novas tecnologias na produção de imagens contribuiu para


essa transformação no modo de conceber a produção artística. A divisão social
do trabalho tornou as atividades manuais de produção cada vez mais simples e
desprovidas de qualquer significado criativo e, consequentemente,
desvalorizadas.

A automação só fez aumentar essa dicotomia entre criar e fazer, e a


progressiva transposição do estético do gesto para a ideia criativa.

Embora tenham sido recebidos com desconfiança e pessimismo pelos artistas


plásticos, a fotografia e, anos depois, o cinema não representaram uma
ameaça à pintura, que passou a conviver e dividir com as novas linguagens o
interesse do público. As diversas formas de manifestação artística da
atualidade convivem, influenciam-se e se referem mutuamente.
No final do século XIX, outros inventos propiciaram novas formas de olhar o
mundo – o telescópio, o microscópio – e trouxeram para a arte novos temas
e outros pontos de vista. O surgimento de máquinas e dispositivos que tinham
por função principal a gravação, reprodução e transmissão de sons e
imagens, como

 O telefone,
 O telégrafo,
 O gramofone,
 A máquina fotográfica,
 O rádio
 E o cinema,

Também influenciaram diretamente a produção artística.

Se a produção foi radicalmente transformada em seus mais consagrados


princípios, o que se dirá da capacidade de reprodução que as novas
tecnologias abriram à atividade artística? A possibilidade de, a partir de uma
obra, obter milhares de cópias iguais feria um dos valores tradicionais da arte
desde o Renascimento – a importância atribuída ao original. As novas
tecnologias trouxeram consigo a reprodutibilidade infinita da imagem.

Assim como a pintura, a fotografia também tem marcas fortes ligadas à


construção social do indivíduo e à imagem eternizada, haja vista os retratos de
personalidades, eventos históricos importantes, as cenas do cotidiano, entre
outros registros desde a sua descoberta.
Figura 12. Entrada da baía e da cidade do Rio a partir do terraço do Convento de
Santo Antônio, por Nicolas-Antoine Taunay

A profissionalização do ensino de arte e a constituição disciplinar da História


da Arte também farão parte do campo artístico, ampliando os propósitos
centrados nas eras da razão e da máquina, ou seja, os séculos XVIII e XIX
foram um período áureo das academias – filosóficas, científicas e literárias –
com intenso apoio do Estado às instituições de ensino artístico.

No Brasil, por exemplo, em 1816, recebemos a Missão Artística Francesa –


fruto da revalorização das instituições artísticas na França – e, em 1826, foi
formalizado o ensino de arte por meio da criação da Academia Imperial de
Belas Artes (AIBA), com nomes e artistas de grande relevância nessa
empreitada:

 Nicolas Antoine Taunay (1755-1830),


 Debret (1768-1848) e
 Grandjean de Montigny (1776-1850).
Figura 13. Projeto da fachada da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro

Já no campo da História da Arte, o movimento científico relativo ao campo da


estética e das ciências da arte moderna iniciou-se na Alemanha, em meados
do século XVIII, sendo que a constituição desse campo de conhecimento foi
determinada por duas correntes:

 Histórica, representada principalmente pelas contribuições do


historiador da arte e arqueólogo alemão Johann Joachim Winckelmann
(1717-1768).
 Teórica, feita pelo filósofo e crítico de arte também alemão Gotthold
Ephraim Lessing (1729-1781).

Deve-se ainda ao trabalho do filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-


1804), que proporcionou a base da formação do campo da estética,
seguidamente pelo aprofundamento feito pelo filósofo alemão Georg
Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831).

Figura 14. Irmãos Lumière

A invenção do cinematógrafo, no final do século XIX, provocou outra


revolução, que avançou pelo século XX. O aparelho permitia registrar imagens
em movimento e projetá-las sobre uma tela. As primeiras realizações dos
irmãos Lumière (figura 14) causaram espanto e sucesso imediato.
É provável que eles não soubessem que estavam inventando um meio de
expressão importante. Como qualquer nova arte, que ao começar se inspira em
artes e conhecimentos anteriores, os filmes do início do século XX imitavam
os espetáculos teatrais. A câmera ficava de frente para os acontecimentos,
imóvel, e os espectadores ficavam sentados em poltronas, como para assistir a
uma peça. Aos poucos, o cinema se transformou e assumiu uma linguagem
particular que, por sua vez, influenciaria as outras artes.

Verificando o aprendizado

1. Marque a alternativa correta a partir da análise das afirmativas listadas:

I. Art Déco e Art Nouveau foram dois estilos que se fizeram presentes no
entres séculos XIX-XX, especialmente na arquitetura, frutos da
implementação de processos e produtos decorrentes da Revolução
Industrial.

II. Ferro e Carvão é uma obra produzida pelo artista escocês William Bell
Scott, que foi um dos primeiros artistas a descrever detalhadamente em
suas obras os processos da Revolução Industrial.

III. Considerado como o “Michelangelo da caricatura”, Honoré Daumier


(1808-1879) transmitiu em suas obras o romantismo da Revolução
Industrial.

IV. A Segunda Revolução Industrial foi um período de grande


prosperidade econômica, de fé inabalável na Ciência, na técnica e no
progresso da civilização.

V. Apesar da importância da classe operária para a expansão da


produção industrial do período, poucas são as produções artísticas que
a retratam.

Assinale a alternativa correta:


a) V-V-F-V-F
b) V-F-F-V-F
c) V-V-V-F-F
d) F-F-V-F-F

Comentário

Parabéns! A alternativa "A" está correta.

Considerado como o “Michelangelo da caricatura”, Honoré Daumier (1808-


1879) transmitiu, em suas obras, seu olhar crítico às injustiças e desigualdades
sociais provocadas pela industrialização. Muitos artistas da época buscaram
representar a classe operária, fosse exaltando sua força produtiva, fosse
representando sua desigualdade perante a elite burguesa.

2. A incorporação de novas tecnologias, assim como a divisão social do


trabalho, trouxe para o campo das artes um aprofundamento da dicotomia
entre criar e fazer. A fotografia, o cinematógrafo, o telescópio, o
microscópio, entre outras tecnologias contribuíram com o repensar da
produção artística e impulsionaram novos movimentos de vanguarda. Ao
mesmo tempo, podemos considerar que a reprodutibilidade técnica da
arte trouxe um dilema para a importância atribuída aos originais. Tal
dilema ocorre por quê:

a) As novas tecnologias melhoram a qualidade de reprodução, tornando as


obras originais obsoletas.
b) Perde-se a unicidade do objeto artístico original e, por consequência,
seu “valor de culto”.
c) Desde a destruição causada pelas guerras mundiais, a arte passou a
dar maior ênfase à produção em escala.
d) Os movimentos de vanguarda passaram a produzir obras efêmeras,
irreprodutíveis.
Comentário

Parabéns! A alternativa "B" está correta.

Uma concepção importante sobre os debates do papel da arte é que as obras


de arte tinham uma função ritual e, por isso, um “valor de culto”, ligado
essencialmente à unicidade. Mas, com a entrada do processo industrial na
produção artística e o advento da reprodutibilidade técnica, ocorreu a
emancipação das obras de arte da sua função ritualística. E, por conseguinte, o
“valor de culto” deu lugar ao “valor de exposição”.
MÓDULO 2

Identificar os efeitos da Primeira Guerra Mundial na produção plástico-


visual

A Euforia que precede a dor: Belle Époque

 Modernidade Histórica;
 Diferente de modernidade artística em termos cronológicos;
 Mas em projetos parecidos e complementares, no entanto em
momentos distintos;
 Modernidade histórica é ideia dos tempos modernos;
 Ruptura com o pensamento medieval;
 Inauguração da ideia da razão
 Começa no renascimento, com propostas ligadas ao humanismo;
 Até os dias atuais, tempos modernos ou pôs modernos;
 Modernidade Artísticas, uma marca mais forte;
 Começa no final do século XVIII;
 Modernidade artística no século XIX;
 Uma Arte moderna no século XX;
 Coisas relacionada ao espirito;
 Cultura Belle époque;
 Ligada a Europa;
 Sociedade Francesa;
 Arte;
 Literatura;
 Cinema;
 Base a revolução industrial e Revolução francesa;
 Cultura da vida urbana;
 Abertura de exposição de arte, galeria de arte;
 Igrejas doando acervos ao estado
 Século XIX, colecionismo;
 Proposito de apresentar a cultura do País;
 Ideia de Estado Nação, apresentando valores sobre aquela sociedade;
 Valores de uma nação por meio da arte;
 Institucionalização da arte por meio de escolas de artes, academias de
arte, aberturas de galerias;
 Financiamento de obras;
 Capitalismo e burguesia por meio de arte;
 Artistas trabalhando para classes de alta sociedade;
 Período emblemático pensando a arte como ela reflete em terno de
questões sociais;
 Ligação da arte com as demandas da sociedade;
 Imagens de nação por meio de museus e galerias;
 Apresentação objetos de artes de uma nação;
 Cultura ajuda a criar a ideia de estado nação.
A França tornou-se o mundo!

A frase faz uma referência ao significado da Belle Époque francesa. Seus


movimentos e suas transformações se disseminaram pelo mundo de forma
intensa. Os fenômenos de troca e comunicações foram absolutamente
gigantescos entre o fim do século XIX e o início do século XX. Os principais
fatores foram o telégrafo e a possibilidade de viagens cada vez mais
velozes entre a Europa e o resto do mundo, o que fazia as modas
circularem.

Outro fenômeno eram os eventos mundiais. Os mais famosos eram

 As feiras de ciência e
 Tecnologia,

Nas quais foram lançados produtos muito conhecidos, como

 O telefone,
 A luz elétrica e
 As tecnologias de aço,

Que mudaram o mundo e a arte.

A Torre Eiffel, por exemplo, é fruto de um evento mundial – aliás muito


contestado, pois destoava completamente da arquitetura de Paris. Outros
eventos ganharam notoriedade, como os Jogos Olímpicos e as feiras e
galerias de arte que se multiplicam no mundo.
Figura 15. Edifício Chrysler em Nova York, obra do arquiteto William Van Alen

A nova arquitetura era a arquitetura imponente das grandes estruturas de


aço para erigir os prédios a ferro fundido como forma de arte nos gradis,
parapeitos e nas portas. Sempre que se vê as grandes estruturas de gradis
retorcidos, fortes, com lanças, arcos, maças, trata-se de um gradil Art Déco; e
aqueles repletos de folhas e flores representam gradis e estruturas Art
Nouveau.

Ao andar pelas cidades, tente encontrar e ver se, de alguma forma, essas
tradições ainda estão presentes. Essa herança é fruto de um momento, quando
a arquitetura mundial passa a ser influenciada pelos modelos franceses entre o
fim do XIX e início do XX.

Art Déco e Art Nouveau são estilos decorativos, manifestados principalmente


em formas arquitetônicas, mas não só.

 O primeiro é marcado pela força da nova era, é pesado, robusto e visa


afirmar solidez.
 O estilo Nouveau – não é exatamente sucessório, mas se consolida
depois – tem a mesma estrutura técnica, mas o reforço do estilo, do
detalhamento, de como a arte se estabelece com esses novos
materiais.

Ambos são filhos da Revolução Industrial e se consolidam nos espaços do


Estado-nação.
As Revoluções Industriais e o Estado-nação disseminam o capital e o estilo
de vida urbano, que passam a ressaltar a arte como uma iconografia burguesa,
simbólica e poderosa. O estilo de vida burguês se baseia nessas tradições
francesas. Cresce de forma intensa a vida em cafés, bares, cinema, entre
outros. Começamos a falar das propagandas em que a arte também aparece
de forma vívida, gerando identidades de marca.

Para uma elite burguesa importante, o mundo vivia seu auge e as tecnologias
tornavam o mundo cada vez melhor. Ainda que bolsões de miséria e pobres
operários existissem, eles podiam almejar atingir e reproduzir aquele estilo.
Parecia o certo, parecia o mais perfeito dos mundos. As grandes nações
disputavam, afirmavam-se, viam-se como inatingíveis, mas a roda girou.

Figura 16. Cartaz de propaganda da água de colônia Granado

A arte ganhou contornos burgueses. Vale o quanto o “mercado” diz que vale.
Pela primeira vez, são compradas e vendidas por fortunas, fazem parte dos
interesses dos países. A arqueologia mundial multiplica e se concentra, e os
grandiosos museus europeus se afirmam como uma força singular (Louvre,
British Museum, Prado, Orsay, entre muitos outros). A arte é o espaço de
encontro, debatida em ciclos intelectuais, tão ícone da burguesia quanto ter
efetivamente capital, ou andar com as roupas da moda de Paris.

A Nação e a Guerra

A eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 28 de julho de 1914, e suas


consequências vindouras marcam não apenas os principais acontecimentos
geopolíticos que abalaram a Europa até meados do século XX, como também
são fundamentais para a compreensão do impacto desse cenário na produção
artística que já estava evidenciada com as novas tendências proporcionadas
pela arte moderna. Não seria exagero afirmar que a experiência da guerra,
especialmente das trincheiras, integrou-se profundamente na linguagem e no
imaginário dos artistas europeus que dela participaram ou que cresceram à sua
sombra, como veremos adiante.

As razões da irrupção do conflito resultam de um conjunto articulado de fatores


ligados, sobretudo, a rivalidades econômicas e comerciais, questões
nacionalistas e interesses geopolíticos envolvendo parte das principais
potências europeias.

Seu estopim foi o assassinato do arquiduque do Império Austro-Húngaro,


Francisco Ferdinando, e sua esposa, Sofia, em Sarajevo, na Bósnia, em
junho de 1914 (figuras 17, 18 e 19).

Figura 17. Representação do assassinato do arquiduque Francisco Fernando da Áustria-Hungria, por Gavrilo Princip

Nas imagens apresentadas a seguir, vemos uma fotografia pouco antes do


atentado e o carro, conservado no Museu de História Militar, em Viena, Áustria,
com a marca desse acontecimento fatal. Ambas aqui contribuem para a nossa
compreensão sobre os fatos e eventos marcantes da história política e social
por meio de imagens e objetos. Não por acaso, muitos museus guardam em
suas coleções inúmeros “objetos de crime”, de luxo, de apreciação, entre
tantas outras justificativas para sua conservação e exposição. O que importa é
a possibilidade de criar narrativas, de diversas perspectivas, por meio de
objetos e imagens: objetivo central da História da Arte.

Figura 18. Ferdinando e Sofia saindo da Camara Municipal de Saravejo, pouco antes do atentado que os levou à morte e Figura 19.
Carro usado por Ferdinando e Sofia no dia do atentado – o círculo indica a marca do projétil que matou Sofia

A partir daí ocorreu uma escalada de acontecimentos que levam à formação de


blocos militares (os Aliados e as Potências Centrais) e o conflito armado nas
linhas de trincheira da região fronteiriça que dividia a França e a Alemanha e
em outras partes do mundo. Nos combates, foi usado o que havia de mais
avançado em termos de poderio bélico: canhões, metralhadoras, lança-
chamas, substâncias tóxicas, tanques de guerra e aviões. O desenvolvimento
da indústria bélica foi impulsionado no decorrer da Primeira Guerra Mundial,
como a produção de carros de combate, mais conhecido como “tanque de
guerra” (figura 20).
Figura 20. Tanque Mark I, 1916, usado durante a Primeira Guerra Mundial

V vvf

A arte em tempos de guerra

Ao contrário da expectativa inicial, que previa um confronto rápido entre as


potências envolvidas – alguns juravam que até o Natal de 1914 a paz seria
selada –, a Primeira Guerra Mundial se prolongou por quatro anos, deixando
um saldo de milhões de mortos e prejuízos bilionários. Nenhuma guerra, até
então, havia provocado tamanha destruição e ceifado tantas vidas em tão curto
espaço de tempo.

A promessa de um confronto rápido e capaz de proporcionar um novo tempo


levou muitos jovens artistas a se alistarem voluntariamente para fazer parte dos
exércitos. Houve ainda aqueles que foram contratados pelos militares para
registrar os combates e as vitórias.

Dos jovens entusiastas, voluntariamente dedicados à Primeira Guerra Mundial,


em 1915, destaca-se Umberto Boccioni (1882-1916), um dos mais célebres
artistas futuristas italianos. Na obra Cargo dos Lanceiros (figura 21), de 1915, o
artista retrata toda a ação do combate promovendo essa “sensação” com o uso
de linhas diagonais (uma espécie de lança) e dos soldados com essas formas
sólidas em cinza e preto, em forma de cilindro, elipse, círculos. Essa estratégia
pictórica é fruto do movimento futurista (também abstracionista) que promove,
por meio da construção de narrativas da identificação do homem com a
máquina, a velocidade, o dinamismo, a ruptura tão almejada com o passado no
século XX.
Figura 21. Carga dos Lanceiros, de Umberto Boccioni

Manifesto Futurista
O Manifesto Futurista foi publicado em 1909, no jornal Le Figaro, na França, e foi escrito pelo poeta
Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944).

Apesar do empenho de Boccioni – na arte e na guerra –, a vida lhe reservou


um fim trágico. Em 1916, durante exercícios militares, seu cavalo se assustou
com um caminhão, provocando a queda do artista e sua morte devido a uma
fratura no crânio.

Formas Únicas de Continuidade no Espaço (figura 22), escultura de 1913, é


uma das principais obras do artista. Nela, vemos a dissolução da forma
figurativa que tradicionalmente era perceptível na prática de escultura; contudo,
apesar dos aspectos abstratos, podemos observar a estrutura que nos remete
a um corpo em movimento, três dimensões postas nessa obra, juntamente com
uma quarta, que se traduz na força “invisível” que ela nos proporciona ou
sugere.

A peça original, em gesso, encontra-se no Brasil, no Museu de Arte


Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP). Há também
fundições em bronze, posteriores à peça original, que se encontram em vários
museus internacionais e também no MAC-USP.
Figura 22. Formas Únicas de Continuidade no Espaço, de Umberto Boccioni

Entre civis e militares, um número expressivo de escritores também tomou


parte do conflito. Se não foram convocados, alistaram-se voluntariamente,
entusiasmados com a pregação nacionalista que antecedeu o conflito ou
movidos pelo fervor juvenil com as glórias militares. Alguns sobreviveram às
trincheiras, como o compositor e pianista francês Joseph-Maurice Ravel (1875-
1937), o violonista austríaco Fritz Kreisler (1875-1962) e o pianista Paul
Wittgenstein (1887-1961) – que voltou para casa com o braço direito amputado.

Outros não tiveram a mesma sorte, como Boccioni, e morreram no campo de


batalha. Dentre eles, os pintores alemães de orientação expressionista August
Macke (1887-1914) e Franz Marc (1880-1916) e os poetas Edward Thomas
(1878-1917) e Isaac Rosenberg (1890-1918). Também passaram pelo campo
de batalha o pintor francês Georges Braque (1882-1963) e o crítico e escritor
Guillaume Apollinaire (1880-1918). Ambos foram gravemente feridos, mas
resistiram: Braque ficou temporariamente cego, recuperando a visão e
retomando a profissão anos depois; Apollinaire acabou morrendo logo depois,
vitimado pela gripe espanhola que se alastrou pela Europa a partir de janeiro
de 1918.

Em pouco tempo, artistas e escritores se deram conta dos horrores provocados


pela guerra e do absurdo em que estavam engajados. Ainda nas trincheiras,
confrontados pela carnificina que se espalhava ao redor, alguns escritores se
insurgiram contra o absurdo que ocorria. Isso também começou a ser visto nas
pinturas, um retrato real do que acontecia, censurado posteriormente em
muitas exposições.
Figura 23. Gás, de John Singer

John Singer Sargent (1856-1925), artista italiano filho de emigrantes


americanos, pintou, em 1919, a obra Gás (figura 23) – uma encomenda –, com
referência às consequências provocadas pelo gás mostarda durante a Primeira
Guerra Mundial, especialmente com a perda de visão de muitos soldados. Em
uma disposição de cortejo, como um cortejo fúnebre (marcações em azul), os
soldados estão deitados, enfileirados e amontoados (marcação em vermelho),
à espera de um socorro médico. Os olhos vendados sinalizam as
consequências do gás. Observe também que a tela é predominantemente
pintada com tonalidades de amarelo-mostarda (sob os efeitos do gás) e verde-
militar (para identificar os soldados). No céu, aviões minúsculos apontam que
as operações militares continuam, apesar de todo dano que elas vêm
causando. Aí estão as dores das tropas, as consequências da guerra, as armas
químicas e tecnológicas. Em um cortejo fúnebre, Singer utilizou sua bagagem
de aquarelista e excelente pintor para camadas pictóricas de dor, luta, tristeza
e melancolia.
Passados a euforia dos primeiros meses com a Guerra e o inalcançável sonho
depositado na expectativa de um novo tempo, o que mais veremos será uma
pintura da realidade, dos fatos ocorridos. Mesmo com a bagagem dos “ismos” –
futurismo, cubismo, expressionismo –, cada artista trará para o espaço pictórico
toda a dor causada pela Guerra.

As obras The Menin Road e Spring in the Trenches – A Estrada Menin e


Soldados na Trincheira – são dois importantes exemplares de Paul Nash, pintor
militar oficial do governo britânico. No primeiro caso (figura 24), há um cenário
de destruição, de “terra arrasada” pintado. Os troncos das árvores destruídas
são como cruzes em um cemitério, a fumaça e as luzes sinalizam os
bombardeios.

Figura 24. The Menin Road, de Paul Nask

Na segunda obra (figura 25), vemos os soldados nas trincheiras – espaço


reservado para o ataque e a defesa – em observação e descanso, ao mesmo
tempo em que as expressões marcam o cansaço imposto. Ao redor, o mesmo
princípio que vemos na imagem anterior, uma natureza destruída, a terra
revirada, poucos galhos com folhas e um cenário de campo de batalha.

Paul Nash, pintor britânico surrealista, ficou conhecido pelos seus


emblemáticos quadros de paisagens, em especial na guerra. O mesmo ocorreu
durante a Segunda Guerra Mundial, quando o artista se dedicou à pintura com
inúmeras cenas de aviões.

Na segunda obra (figura 25), vemos os soldados nas trincheiras – espaço


reservado para o ataque e a defesa – em observação e descanso, ao mesmo
tempo em que as expressões marcam o cansaço imposto. Ao redor, o mesmo
princípio que vemos na imagem anterior, uma natureza destruída, a terra
revirada, poucos galhos com folhas e um cenário de campo de batalha.

Paul Nash, pintor britânico surrealista, ficou conhecido pelos seus


emblemáticos quadros de paisagens, em especial na guerra. O mesmo ocorreu
durante a Segunda Guerra Mundial, quando o artista se dedicou à pintura com
inúmeras cenas de aviões.

Figura 25. Soldados na trincheira, de Paul Nash

Em 1929, surgia um retrato poderoso do cotidiano da guerra de grande


sucesso editorial: o romance Nada de novo no front, do escritor alemão Erich
Maria Remarque (1898-1970) – que participou de combates e se feriu várias
vezes. A partir do relato de um soldado raso alemão, Paul Bäumer, o livro
questionou até que ponto a pátria poderia dispor de seus cidadãos a fim de
colocar em prática decisões elaboradas por lideranças políticas no conforto de
seus gabinetes.
Figura 26. Capa da edição de 1929 do livro Nada de novo no front

As descrições dos mais intensos sofrimentos, como a fome, o frio, o medo e a


morte formam um panorama do que realmente foi o primeiro maior conflito do
século XX, diferentemente da visão oficial. O embrutecimento do ser, a
impossibilidade de perspectiva quanto ao futuro e a noção da falta de sentido
dos conflitos são o mote desse romance.

Enquanto o mundo assistia, estupefato, a escalada de um conflito que


multiplicava mortes e prejuízos, um grupo de jovens escritores, capitaneados
pelo romeno Tristan Tzara (1896-1963), fundava em 1916, na Suíça, o
Dadaísmo, um dos mais radicais movimentos de vanguarda, por sua ênfase na
destruição das formas e dos valores tradicionais.

Em Zurique, no Cabaret Voltaire, criado em 1916 por Hugo Ball (1886-1927),


reunia-se um grupo de cinco refugiados –

 O próprio Ball e Richard Huelsembeck (1892-1974), Alemães;


 Hans Arp (1886-1966), Alsaciano;
 Marcel Janco (1895-1984) e Tristan Tzara, romenos –

aos quais, posteriormente, se uniriam

 O francês Francis Picabia (1879-1953)


 E o chileno Vicente Huidobro (1893-1948).

Naquele pequeno teatro de variedades promoviam happenings inovadores,


sempre para um público reduzido. Diziam-se discípulos de Rimbaud, liam
poemas de Apollinaire e Max Jacob, recitavam os expressionistas e discutiam
os futuristas.

Figura 27. A fonte, de Marcel Duchamp, 1917

As palavras de ordem do Dadaísmo eram a antiarte, a destruição, o ser


contrário, o repúdio ao bom senso e o caráter de improviso atribuído à arte
dadaísta, sempre lúdica e reaproveitando materiais que, deslocados de seu
contexto original, mudam de função e efeito.

É fruto desse movimento a utilização de objetos do cotidiano para inserção no


contexto artístico, como a obra A fonte, de 1917, do francês Marcel Duchamp
(figura 27) e a irreverência artística, como na obra do alemão Max Ernst, Édipo
Rei, de 1922. Duchamp foi o criador do termo ready-made, cujo objetivo era
inserir um objeto do cotidiano (comum) de um circuito ou sistema da arte,
elevando-o à categoria de arte.

Figura 28. Édipo Rei, de Max Ernst, 1922


Modernidade da arte

A ascensão dos regimes totalitários na Alemanha e Rússia provocou uma


mudança radical na direção das tendências artísticas correntes na Europa, que
pode ser entendida a partir da compreensão do surgimento do nazismo, do
fascismo, do comunismo e dos impactos desses regimes no campo cultural.

Vamos resolver uma confusão histórica.

A modernidade em História e Arte não se referem ao mesmo momento. Na


História, moderno é exatamente aquilo que vem ao fim da Idade Média, o
sentido é ser o novo, aquilo que rompe. Na Arte, a modernidade ocorre na
transição entre as velhas técnicas e os novos objetos, no fim do século XIX e
nos primeiros anos do século XX. Então, se, em História, a modernidade
rompeu com o medievo, na Arte, a modernidade é fruto da consolidação da
arte burguesa, comercial, “pública”, que rompe com as tradições de arte dos
séculos anteriores.

A arte do capital, arte burguesa, passa a ter outros vieses, outros compromissos e outras
visões. A arte passa a ser vista como uma manifestação da diversidade, que corrobora e
renega, e os artistas discutem a estilística a partir de diversos pontos de vista.

A arte moderna é formada pela modificação e pelas dinâmicas do contexto


entre o fim do século XIX e o início do século XX, mas é consolidada após os
impactos das guerras e dos grandes conflitos. Então, se foi temperada pelas
mudanças que relatamos nos dois primeiros módulos, assume efetivamente
sua nova face a partir dos impactos poderosos gerados pelas Guerras
Mundiais.

No próximo módulo, você conhecerá a arte modificada, transformada, a


fundamentação da arte moderna temperada diante da propaganda, do cinema,
das novas manifestações artísticas e sociais que passam a fazer parte do
mundo.

Verificando o aprendizado
1. A Belle Époque (“Bela Época”, em francês) foi o período de cultura
cosmopolita que abrangeu o final do século XIX e início do século XX e
caracterizou-se, sobretudo, pelo otimismo gerado pela modernização
tecnológica derivada da Segunda Revolução Industrial (1850-1945).
Assinale, dentre as alternativas abaixo, aquela que corresponde ao estilo
artístico muito apreciado durante esse período:

a) Romantismo
b) Expressionismo
c) Gótico
d) Art nouveau

Comentário
Parabéns! A alternativa "D" está correta.

O Art nouveau é um estilo decorativo da época e sua relação com a Segunda


Revolução Industrial se dá, sobretudo, pelo uso de novos materiais, tais como o
ferro e o vidro. Caracteriza-se formalmente pelo uso de formas orgânicas (flores,
folhagens, animais), linhas curvas e assimetria.

2. A atmosfera de decadência e destruição vivida e deixada pelos


conflitos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) inspirou a criação da
arte como negação, como um engajamento que, de alguma forma,
desprezava o ideal de arte anterior, burguesa, um movimento artístico de
reação negativa aos horrores e à insensatez da guerra. Assinale a
alternativa que corresponde ao movimento artístico mencionado:

a) Cubismo
b) Dadaísmo
c) Impressionismo
d) Expressionismo

Comentário
Parabéns! A alternativa "B" está correta.

O dadaísmo foi um movimento artístico formado em Zurique, durante a Primeira Guerra


Mundial. As produções artísticas desse movimento buscavam desafiar a racionalidade, a
lógica, no intuito de romper com os valores tradicionais que levaram a sociedade
europeia a dar início e prolongar a guerra mundial. Propunha a “antiarte” – através da
espontaneidade, do humor, e também da irracionalidade na produção – para provocar,
chocar e indignar a sociedade da época em relação à sua própria condição de
habilitadora da destruição em massa.

MÓDULO 3

Reconhecer os impactos do nazismo, fascismo e comunismo na Arte

Assista agora a uma performance sobre o tema arte em tempos de guerra.

O surgimento do nazismo, fascismo e comunismo

e seus impactos na Arte

O regime nazista esteve em vigor na Alemanha entre 1933, ano da ascensão


de Adolf Hitler ao poder, e 1945, ano da derrota da Alemanha na Segunda
Guerra Mundial e da consequente queda do governo após a morte de Hitler
(1889-1945). Em 1918, a Alemanha havia saído derrotada da Primeira Guerra
Mundial, e os vencedores impuseram ao país, como condição de negociação
da paz, a implantação de um governo democrático.

Nesse contexto, vale a pena observar os efeitos da Grande Guerra na Arte.


Junto a esse sentimento de derrota nota-se, no campo da Arte, uma produção
ligada aos sentimentos de religiosidade, como é o caso da Capela Memorial
Sandham (figura 29), que fica na Inglaterra e foi pintada em 1920 pelo artista
britânico Stanley Spencer (1891-1959).

Figura 29. A ressurreição dos soldados, por Stanley Spencer

A encomenda foi feita por Mary e Louis Behrend para abrigar um memorial ao
irmão dela, o tenente Henry Willoughby Sandham, que morreu na Primeira
Guerra Mundial. As pinturas feitas a partir da própria experiência de Spencer
na guerra tinham o objetivo de homenagear os mortos esquecidos que não
foram lembrados em nenhum memorial oficial. Destaca-se ainda que a
capela é dominada pela cena da Ressurreição atrás do altar, na qual
soldados mortos carregam as cruzes de madeira brancas que marcam
seus túmulos para Cristo (figura 30).
Figura 31. Juízo Final, por Giotto di Bondone, que adorna a Capela Arena, em
Pádua, na Itália

Vale ainda destacar que tivemos ao longo da História da Arte importantes


exemplares de pintura em espaços como esse, ou seja, capelas
encomendadas a grandes artistas. Um exemplo crucial é a Capela Arena
(Capella degli Scrovegni), que conta com afrescos executados por Giotto com
tema da vida da Virgem, celebrando o seu papel na salvação da humanidade.
Dentre os temas que estão na Capela Arena, temos o Juízo Final – muito
representado na pintura histórica e religiosa – e a Ressurreição (figuras 31 e
32).
Figura 32. Imagem da Ressurreição na Capela Arena, em Pádua, na Itália

Voltando aos aspectos políticos desse período, podemos afirmar que a


República foi então proclamada e a rendição assinada em 11 de novembro de
1918. O acordo de paz, contudo, não se restringia apenas ao tipo de regime
que deveria vigorar na Alemanha. Pelos termos do Tratado de Versalhes, além
da Alemanha ser responsabilizada do ponto de vista moral e financeiro, no
plano territorial ela perdia suas colônias (Togo, Camarões e sudoeste africano)
e cerca de um oitavo de seu território, que compreendia a disputada região da
Alsácia-Lorena, conquistada em 1871.

Houve ainda a concessão para exploração de minas de carvão – fonte básica


de energia – para a França por um período de quinze anos. Outras cláusulas
estabeleciam o seguinte:

 A desmilitarização da margem esquerda do Reno e de uma parte a leste


desse rio.
 A abolição do serviço militar obrigatório.
 A limitação do Exército e da Marinha.
 A redução de armamentos e a possibilidade de julgamento que levaria à
extradição dos considerados responsáveis pelo conflito, desde o
imperador Guilherme II até os oficiais mais modestos.

O montante da indenização foi decidido posteriormente. A Alemanha propusera


50 bilhões de marcos-ouro, e os aliados exigiram 132 bilhões. A França,
especialmente, exigiu o pagamento de pesadas indenizações e isso trouxe
enormes dificuldades financeiras para os alemães, que responsabilizaram o
governo pela situação.

Entre 1918 e 1933, a Alemanha tornou-se uma República. A revolução que


determinou a queda do Kaiser (imperador, em alemão), em novembro de 1918,
levou ao poder uma coalização de socialistas, centristas e democratas. Em
1919, os líderes desses partidos redigiram a Constituição de Weimar (figura
33), de caráter progressista e democrático, contra a qual se insurgiu a extrema
direita nacionalista, favorável a um governo autoritário.

Durante sua existência, a chamada República de Weimar assistiu a uma


intensa efervescência artística. São inúmeras as contribuições nos campos da

 literatura,
 pintura,
 teatro,
 arquitetura,
 música e cinema.

Apesar da grave crise econômica, social e política, pode-se afirmar que,


durante a República de Weimar, a sociedade alemã foi palco de intensa
criatividade cultural e artística, totalmente reprimida com a ascensão do
nazismo.
Figura 33. A Constituição de Weimar em forma de livreto

Entre os movimentos de vanguarda surgidos durante a República de Weimar,


destaca-se o Expressionismo, que propunha novas maneiras de perceber e
expressar a realidade, destacando a preponderância do eu sobre a realidade.
Nesse contexto, pintores como

 Paul Klee (1879-1940) (figura 34),


 Wassily Kandinsky (1866-1944) (figura 35) e
 Oskar Kokoschka (1886-1980)

Difundiram novas formas de percepção e expressão da realidade.

Figura 34. Fuga, de Kandinsky, 1914


Figura 35. Senecio, de Paul Klee, 1922

As obras de Paul Klee e Kandisnky – Senecio e Fuga –, ambas das primeiras


décadas do século XX, produzidas antes e depois da Primeira Guerra Mundial,
são bons exemplos para compreensão das novas perspectivas pictóricas
impostas pelos artistas à época.

O naturalismo, romantismo e realismo dão lugar às experimentações com


materiais diversos, temas cômicos, personagens dos sonhos ou imaginários.
Essas e tantas outras experiências serão a marca da arte moderna,
expressões que serão consideradas impróprias no período que estamos
estudando, como veremos mais adiante.

Outro exemplo de cunho institucional é a Bauhaus (figura 36), escola de


arquitetura fundada na Alemanha, em 1919, por Walter Gropius (1883-1969),
que teve entre seus professores Paul Klee, Wassily Kandinsky, Mies van der
Rohe (1886-1969). Na década de 1920, tornou-se o centro da produção do
moderno desenho industrial, adaptando a forma dos objetos às novas técnicas
de produção. Foi fechada pelos nazistas em 1933, quando seus professores
começaram a se espalhar pelo mundo, divulgando os preceitos ali elaborados.
As correntes artísticas de esquerda surgidas na Alemanha nesse período
seguiram outra direção, tendo como meta o engajamento político. Procuravam
representar a cultura proletária por meio do cinema, do teatro, da música.

Faziam propaganda da revolução socialista tentando atrair as massas. Esses


movimentos denunciavam a opressão cotidiana, o terror, o militarismo, a
exaltação da guerra. O teatro e a poesia de Bertold Brecht (1898-1956)
expressam isso de maneira nítida.

Figura 36. Bauhaus Dessau

A produção cinematográfica ocorrida durante os catorze anos da República de


Weimar foi inestimável para a consolidação e expansão da sétima arte. Entre
os alemães, o cinema tornou-se o divertimento de massas por excelência.
Nesse período, surgiram grandes obras-primas do cinema mundial, assim
como diretores e atores de enorme destaque – dentre outros,

 Fritz Lang (1890-1976),


 F.W. Murnau (1888-1931),
 Georg Wilhelm Pabst (1885-1967),
 Marlene Dietrich (1901-1992),
 Peter Lorre (1904-1964).

Influenciados pela estética expressionista, os filmes mudos alemães


exploravam, em tramas cheias de ação e reviravoltas,

 O lado sombrio da natureza humana,


 O interior dos seres,
 Seus sonhos,
 Fantasias,
 Angústias,
 O subconsciente,
 O aspecto sensitivo-subjetivo,

Considerados mais importantes que a realidade objetiva.

Figura 37. Pôster do filme O Gabinete do Dr. Caligari

Marco do cinema expressionista alemão, O Gabinete do Dr. Caligari, lançado


em 1919 e dirigido por Robert Wiene, impressiona por sua estética inovadora,
seus cenários retorcidos, a iluminação promove um jogo de sombras constante,
e um enredo que gira em torno da história de um médico que manipula um
sonâmbulo e o induz a um crime.

De igual maneira, o filme Nosferatu, dirigido em 1922 por F.W. Murnau, adapta
para as telas de cinema uma versão livremente inspirada na obra Drácula
(1897), de Bram Stocker, com cenários sombrios, iluminação oblíqua e
personagens sinistros, atrelados ao desejo e à sensualidade, que ainda
provocam nos espectadores a sensação de temor e suspense.

Adaptações de lendas e de obras literárias nacionais de grande valor também


ganharam destaque nesse período. Em 1926, Murnau filma a tragédia Fausto,
encenada em 1829 e de autoria de Johann Wolfgang von Goethe, um dos
pilares da literatura alemã. Fritz Lang, por sua parte, adapta para as telas Os
Nibelungos (1924), o mais famoso poema épico da literatura alemã, escrito em
1200.

A partir de 1933, com a ascensão do nazismo ao poder, toda essa


efervescência chegaria ao fim. O Partido Nacional-Socialista, surgido na
Baviera, contava entre seus membros com Adolf Hitler, que rapidamente se
transformou no principal líder da nova agremiação. O programa partidário era
baseado nos seguintes pontos:

 Fortalecimento do Estado
 Engrandecimento da Alemanha
 Intensificação do antissemitismo
 Nacionalização dos trustes

Em abril de 1920, Hitler decidiu alterar o nome do partido (que vinha crescendo
desde que ele assumira sua liderança) para Partido Nacional-Socialista dos
Trabalhadores Alemães (NSDAP). A denominação socialista foi dada para
atrair operários e fazer frente aos grupos socialistas e comunistas; seus
membros, na verdade, combatiam a bandeira da esquerda. Em meados de
1921, a agremiação já contava com 3.300 membros; no final de 1922, estava
com 20 mil.

Ao longo da década de 1920, impulsionado pela crise econômica e pelo clima


de humilhação e injustiça provocados pelas sanções oriundas do Tratado de
Versalhes, o pequeno partido cresce à medida que a crise se aprofunda, o que
favorece os nazistas, canalizando o desespero e o descontentamento do povo
alemão. A votação no partido evolui com o descontentamento até que, em
1933, os nazistas se tornam o partido mais forte do parlamento. Devido ao
intenso apoio popular aos nazistas, Hitler foi convidado pelo presidente Paul
von Hindenburg a ocupar o cargo de chanceler. A ascensão dos nazistas ao
poder, em janeiro de 1933, foi por eles chamada de a “revolução legal”.

A Arte na cultura nazista


As artes desempenhavam um papel de destaque no projeto cultural nazista.
Considerando a estética anterior expressão fruto de uma sociedade decadente
– a arte moderna –, os nazistas planejaram destruí-la, substituindo-a por uma
que representasse a “nova idade de ouro da cultura alemã”. A partir de 1933,
com a ascensão de Hitler ao poder, ele empenhou-se em redirecionar a
produção artística de acordo com os ideais, o estilo de vida e a renovação
ideológica em curso. Incentivadas e controladas pelo regime, as produções
artísticas deveriam expressar a “alma ariana” e desempenhar função
pedagógica na formação do novo homem alemão.

Na Alemanha, os artistas que aderiram ao regime tinham uma concepção


passadista de arte e se esmeravam em copiar modelos gregos. Acreditavam
que o belo deveria encarnar o espírito da comunidade racial e das tradições
populares. Os estilos acadêmicos, neoclássico e romântico eram os mais bem
aceitos porque se inspiravam em temas caros ao regime: batalhas, heróis,
cenas ou figuras mitológicas e lendárias que serviam como modelos de
bravura.

Ajude-nos a vencer! cartaz de autoria de Fritz Erler (figura 38), as esculturas de


Arno Breker, o busto de Albert Speer – Ministro do armamento do Reich –
(figuras 39 e 40) e as pinturas de Ludwig Dettmann (figuras 41) são exemplos
da participação e produção dos artistas nazistas, dentro dos propósitos que
citamos.
Figura 38. Ajude-nos a vencer! Pôster de Fritz Erter

Figura 39. Arno Breker, Escultor nazista


Figura 40. Arno Breker, escultor nazista e Albert Speer, Ministro do armamento
do reich.

Figura 41 Nenúfares, pelo pintor nazista Ludwig Dettmann

Em 1937, por toda a Alemanha foram realizadas exposições de arte (figuras 42


e 43). Em 19 de julho desse ano, inaugurava-se em Munique a exposição
oficial de “arte degenerada”, como eram chamadas as obras não vinculadas ao
regime (e atribuídas a comunistas, marginais, negros e judeus), um dia depois
da inauguração da primeira grande exposição de arte alemã, valorizada pelos
nazistas. O público deveria fazer o contraponto entre as duas.
Figura 42. Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda da Alemanha em visita à
exposição “Arte Degenerada”, em 1938

Os catálogos explicativos agrupavam as obras a partir dos seguintes temas:

 Arte racista,
 Arte judaica,
 Invasão do bolchevismo na arte,
 Mulher alemã enlouquecida,
 Ultraje aos heróis,
 Loucura erigida em método,
 Natureza vista por espíritos enfermos.

Ao lado das telas dos artistas de vanguarda, eram expostos desenhos de


doentes mentais internos em hospitais psiquiátricos.
Figura 43. Exposição de arte nazista em Salzburg, em 1938

Os artistas nacionalistas participaram da grande exposição de arte alemã,


organizada paralelamente à exposição da arte degenerada para gerar
contraste. As exposições de arte, sólida tradição alemã, eram realizadas
anualmente. Durante o nazismo aconteceram oito, e o Estado tornou-se
promotor desses eventos: no papel de mecenas, Hitler comprou grande
número de obras para decorar edifícios e locais públicos.

Os critérios de seleção das obras para essas exposições eram:

 Ser popular,
 Retratar o heroísmo e
 Enaltecer os ideais nórdicos de beleza e pureza da raça.

Os temas privilegiados contemplavam imagens de trabalhador, soldado,


agricultor, da família e do líder. Em 1937, foi criada, em Munique, a Casa de
Arte Alemã, um templo nos moldes greco-latinos, especialmente para expor a
“verdadeira arte alemã”. Ela serviu de modelo para a criação de outras.

Na Alemanha, os artistas que aderiram ao regime tinham uma concepção


passadista de arte e se esmeravam em copiar modelos gregos. Acreditavam
que o belo deveria encarnar o espírito da comunidade racial e das tradições
populares. Todos os esforços foram feitos para a popularização e massificação
da arte. Foram produzidos cerca de 2 mil filmes, milhares de romances,
centenas de poemas, exposições de pintura, monumentos, estátuas,
esculturas, afrescos.

Em vez de considerar, de acordo com certos representantes das vanguardas,


que o papel da arte é levantar questões, os nazistas acreditavam que ela
deveria afastar a angústia existencial. Por isso, em vez de supor que o artista
deveria usar a forma para expor uma ideia, concebia-se a arte como expressão
da beleza e harmonia porque seu objetivo era decorar, enfeitar, elevar o
espírito e incentivar os valores da raça ariana.

Os músicos judeus foram proibidos de se apresentar, e os contemporâneos não eram


apreciados. Arnold Schönberg (1874-1951), o principal representante de uma nova corrente, foi
expulso do país. Os nazistas preferiam as obras clássicas. Beethoven (1770-1827) era
respeitado pela composição de uma obra forte e vigorosa. Alguns grandes compositores
chegaram a apoiar o regime, como Richard Strauss (1864-1949), que se tornou presidente da
Câmara de Música.

Richard Wagner (1813-1883) foi festejado no 3º Reich e considerado precursor


e iniciador de novos tempos. Hitler o tomava como modelo e se identificava
com ele, não só pelas composições musicais nas quais glorificava o passado
mitológico e heroico da Alemanha, mas também por suas ideias nacionalistas e
antissemitas.

O compositor se valia de mitos nórdicos e germânicos em suas obras. Os


dramas líricos wagnerianos apresentavam sua concepção de vida marcada
pelo pessimismo. Mas o artista superou sua descrença na humanidade
apelando para a imaginação heroica regeneradora do universo. A luta do Bem
contra o Mal está representada em suas criações artísticas.

O mundo glorioso criado por Wagner, no século XIX, foi povoado por arianos e
semitas.

Arianos e Semitas

Termos utilizados naquele período para fazer referência a indivíduos oriundos de raças
diferentes: “arianos” designava um pseudopovo originado na Renânia, e “semitas”, os
descendentes de Sem, os que vêm do Oriente, como outro povo, inferior ao primeiro.

Para o músico, os judeus mantinham sob sua dominação uma sociedade


degenerada, principalmente em relação à Arte. Propunha que o mais urgente
era a emancipação da opressão judaica. O judaísmo para ele representava a
má consciência da civilização moderna.

O cinema foi o setor que recebeu mais atenção e investimentos do regime


nazista. Desde o início de sua carreira política, Adolf Hitler considerava o
cinema, por suas próprias características, o instrumento ideal para influenciar
as massas:

 O apelo emocional subjetivo,


 A possibilidade de ilustrar a ideologia do regime,
 A contínua e uniforme repetição de uma mensagem.
Como exemplo do enorme interesse de Hitler e Goebbels pelo cinema, cabe
destacar que a Câmara de Cinema foi fundada no dia 14 de julho de 1933,
antes de todos os outros departamentos da Câmara de Cultura do Reich,
ficando sob o controle direto do Ministério da Propaganda. Mesmo antes de
chegar ao poder, o movimento nazista valeu-se do cinema como arma de
propaganda política. Isso se deve, principalmente, à enorme possibilidade
que o cinema sonoro abriu para a reprodução em massa dos discursos dos
líderes e da divulgação das mensagens político-ideológicas dos partidos.

Durante os doze anos de regime nazista, estima-se que tenham sido produzidos cerca de 1350
longas-metragens, que buscaram, de várias formas, enaltecer o nazismo, estimulando a grande
maioria da sociedade alemã a participar da experiência nazista, além de colocar a Alemanha
em segundo lugar na produção cinematográfica mundial, depois de Hollywood.

O regime buscou produzir seu autorretrato no grandioso documentário O


Triunfo da Vontade (1935), dirigido pela ex-bailarina e cineasta Leni
Riefenstahl, sobre o VI Congresso do Partido Nazista em Nuremberg, realizado
em 1934. Encomendado diretamente por Hitler, esse documentário épico e
mistificador fez uso de uma profusão de recursos para garantir os efeitos da
imagem cinematográfica e talvez conquistar o posto da propaganda mais
impressionante de todos os tempos.

O filme demonstra com perfeição o domínio da técnica, desde os engenhosos


ângulos visuais e uma composição de cena grandiosa, até o ritmo determinado
de sua montagem, tudo convergindo para impor uma falsa estética à
propaganda política partidária.
Figura 44. Pôster do filme O Triunfo da Vontade

A concepção de política como espetáculo foi novamente trabalhada por


Riefenstahl em Olímpia (1938), um longo documentário dividido em duas partes
– Festival das Nações e Festival da Beleza – sobre os Jogos Olímpicos
realizados em Berlim. Mais que um simples documentário da Olimpíada de
1936, trata-se de um hino de exaltação à Alemanha nazista, mediante a
glorificação da força física, da saúde e da beleza racial, miticamente retratadas.
Figura 45. Pôster do filme Olímpia – Festival das Nações

Figura 46. Pôster do filme Olímpia – Festival da Beleza

No começo da década de 1940, eram produzidos tanto filmes que exaltavam a


superioridade da raça ariana como filmes que enfatizavam a inferioridade de
outras etnias. Os primeiros seres mostrados como inferiores pelo cinema
nazista foram certamente os judeus.
Todas as representações cinematográficas de judeus colocavam o espectador
diante de personagens feios, maldosos, demoníacos e animalescos. Filmes
antissemitas como Os Rothschilds (1940), Judeu Süss (1940) e o documentário
O judeu eterno (1940) tinham como objetivo incitar o ódio e o desprezo aos
membros dessa etnia, ressaltando assim a necessidade de deportá-los e
exterminá-los.

Para a arquitetura também foi reservado um lugar especial. Hitler, arquiteto e


pintor frustrado, considerava-a a mãe das artes pelo seu poder de interferência
na vida das pessoas. As obras produzidas no período se caracterizavam pela
monumentalidade. Acreditava-se que as grandes construções suscitariam
adesão por despertarem orgulho e entusiasmo nacionalista. Inspiravam-se nas
ruínas das civilizações greco-romanas e eram decoradas com esculturas que
representavam atletas, soldados, figuras mitológicas. Buscavam expressar a
harmonia do corpo, as virtudes másculas e a virilidade. Tanto essa arte quanto
a arquitetura eram superdimensionadas, seus elementos criados fora da escala
humana faziam parte dos projetos de Hitler.

Revolução Russa e a Arte

A Revolução Russa, de 1917, que aboliu o regime czarista e estabeleceu no


poder o socialismo, abriu caminho para uma extraordinária atmosfera de
inquietude e renovação nos campos social, político e cultural. Nas artes visuais,
na literatura e no cinema, jovens artistas manifestam uma tendência acentuada
em direção a novos procedimentos estéticos e ao descontentamento em
relação à linguagem convencional e passadista. Essa renovação foi
acompanhada, ao mesmo tempo, pela exigência de um retorno às origens, às
fontes primeiras da cultura russa e da negação de valores considerados
ultrapassados.

Antes mesmo da Revolução Russa, também conhecida como Revolução de


Outubro, os artistas visuais na Rússia czarista já estavam completamente
imersos nos paradigmas estéticos modernos. O simbolismo e o decadentismo
produziram em solo russo, no campo da poética e do pensamento filosófico,
proposições e experiências estéticas de impacto decisivo na cultura russa,
desempenhando um papel determinante para o surgimento de tendências e
correntes estéticas que conformariam, poucos anos depois, um amplo
movimento que se convencionou chamar de Vanguardas Russas.

Sob o impulso do grupo Mir iskusstva (O mundo da arte), que passa a veicular,
no início do século XX, por meio de uma revista de mesmo nome, dirigida por
Serguéi Diáguilev (1872- 1929), são divulgadas as novas tendências artísticas
europeias, como

 O impressionismo,
 O cubismo francês e ainda
 O expressionismo alemão.

O ímpeto da Revolução projetou um florescimento artístico espantoso entre


1918 e 1923 e ainda depois. Os anos da Nova Política Econômica (NEP),
entre 1922 e 1928, também favoreceram a liberdade das artes, a
experimentação e a excentricidade.
Figura 48. Membros de Mir iskusstva, de Boris Kustodiev (1916-1920).

No campo das artes plásticas, as correntes russas da pintura de vanguarda,


opondo-se a seus predecessores realista-positivistas (os assim chamados
artistas “ambulantes”, em russo, peredvíjniki) e contrárias também aos
simbolistas, considerados apocalípticos e místicos, vão encontrar em sua
pesquisa formal uma inspiração criativa em perfeita sintonia com os aspectos
da nova civilização urbana. A derrocada do velho mundo, com o final da
Primeira Guerra Mundial, reclama ao artista outras soluções e uma nova visão
do real.

As vanguardas russas abrigavam diferentes correntes, que iam desde

 O nadismo ou niilismo até


 O futurismo,
 O expressionismo e
 O cubismo.

Uma de suas mais importantes manifestações se deu com o surgimento do


movimento cubo-futurista, que articulava as propostas do futurismo italiano às
do cubismo francês. Dentre seus princípios estéticos fundamentais, destacam-
se a pesquisa formal.

Exemplo recente da apresentação da produção artística desse período foi a


exposição realizada pelo Museu Reina Sofia, em Madri, no ano de 2018. Sob o
título de Dadá Russo, a mostra foi dedicada à apresentação de obras desde
seus primeiros artistas e experimentos até os diálogos e as influências
possíveis na arte da contemporaneidade, como nas obras da artista americana
Dorothea Tanning. Dentre os bons resultados de pesquisa para a mostra,
vemos a apresentação das obras Escondidas, como as pinturas de Ivan
Kudriashov, de 1919, Retrato de mulher e Composição não objetiva (figuras 49
e 50).
Figura 49. Composição não objetiva e Figura 50. Retrato de mulher, ambas de
Ivan Kudriashov, de 1919

Em paralelo à pintura, as artes gráficas também assumem uma posição de


destaque após a Revolução de 1917. Os cartazes ornavam a cidade,
celebrando festividades políticas, como o aniversário de Revolução de Outubro,
e propagando o ideário da nova realidade advinda da instauração do
socialismo. O esmero da produção gráfica, repleta de inventividade estética no
uso de cores e formas geométricas, transformava os panfletos políticos em
peças artísticas de grande valor.

No cinema, surgem diretores e obras-primas que marcariam a história do


cinema mundial. Dentre os grandes cineastas soviéticos, destacam-se os
nomes de

 Dziga Vertov (1896-1954),


 Vsevolod Pudovkin (1893-1953) e
 Serguei Eisenstein (1898-1948).

Todos eles desenvolveram ideias importantes sobre a montagem.

Desenhista de talento e grande conhecedor de pintura, Eisenstein dava grande


atenção à composição das imagens. Em O Encouraçado Potemkin (1905), ele
narra a história de um levante de marinheiros no ano de 1905. Por meio de
montagens que criavam efeitos emocionais e de sentido, ele descreve as
causas que provocaram a rebelião, assim como os antagonismos de classe
entre os marujos e seus oficiais. A sequência do fuzilamento na escadaria de
Odessa tornou-se um clássico do cinema, alternando planos e tomadas da
multidão sucumbindo aos tiros das autoridades e da reação das pessoas diante
da injusta ação repressiva.

No final da década de 1920, com a ascensão de Josef Stalin (1878-1953) ao


poder e o endurecimento do regime, as vanguardas foram combatidas e
finalmente sufocadas pela perseguição política. Ocorre um gradativo
esvaziamento dos ideais revolucionários em todos os setores da vida russa. O
rico período de experimentalismo nas artes se dissolve junto com as utopias
das vanguardas, que passaram a ser criticadas, então, como correntes de
orientação estética burguesa. O realismo socialista, representado de maneira
emblemática nas pinturas de Alexander Gerasimov e Isaak Brodsky, nas quais
Stalin se torna o centro ao redor do qual gira a vida política na União Soviética,
encerra a produtividade inventiva das duas primeiras décadas do século
passado naquele país.

Verificando o aprendizado

1. A ascensão dos regimes totalitários na Alemanha e Rússia provocou


uma mudança radical na direção das tendências artísticas correntes na
Europa do início do século XX. Com essas mudanças políticas, a
efervescência e a experimentação artística desses países foram
suprimidas:

A. Pela produção em torno da temática religiosa de tradição judaico-cristã.


B. Pela produção artística industrial de fácil reprodução.
C. Pelo nacionalismo e pela revalorização da arte gótica.
D. Pela política cultural de Estado.
Comentário

Parabéns! A alternativa "D" está correta.

A ascensão dos regimes totalitários manifestou-se na Alemanha e Rússia


através das políticas culturais de Estado, que buscavam, a partir da
centralização e da prescrição das linguagens artísticas, contribuir com a
propaganda desses regimes. Na Alemanha, essa política caracterizou-se
pela revalorização dos estilos acadêmico, neoclássico e romântico. Na
Rússia, o realismo socialista foi o estilo artístico adotado pela
propaganda totalitária e traduziu-se na produção de obras em torno da
política stalinista.

2. A Bauhaus, escola de arquitetura fundada na Alemanha, em 1919, por


Walter Gropius, tornou-se o centro da produção do moderno desenho
industrial, adaptando a forma dos objetos às novas técnicas de produção.
Foi fechada pelos nazistas em 1933, quando seus professores
começaram a se espalhar pelo mundo, divulgando os preceitos ali
elaborados. Sobre a Bauhaus, não podemos afirmar que:

a) Buscava a funcionalidade em detrimento da estética.


b) Foi influenciada pelo construtivismo russo.
c) Buscava a junção da arte e do artesanato.
d) Precursora do modernismo.
Comentário

Parabéns! A alternativa "A" está correta.

A Bauhaus é considerada precursora do modernismo. Foi influenciada


pelo construtivismo russo e buscava a junção da arte e do artesanato
para a produção de designs industriais que fossem funcionais e, ao
mesmo tempo, esteticamente chamativos.

Conclusão

Considerações Finais

Como vimos, a Revolução Industrial foi um ponto importante e de impulso para


inúmeras transformações vistas no campo artístico-cultural. Ela, sem dúvida, foi
a grande responsável pela arte da vanguarda; já havia uma tomada de
consciência da sociedade e o desenvolvimento tecnológico a favor da
construção de narrativas visuais estritamente ligadas a essa nova realidade.

Sob os efeitos e impactos da Primeira Guerra Mundial, diversos artistas – ainda


jovens – empenharam-se nas batalhas, mas, pouco tempo depois, viram-se em
situações de tristeza, dor e profunda clareza da cruel situação que se impunha
com as batalhas. A arte desse período será um triste retrato da realidade da
guerra.

Com o sentimento de derrota e desejo de reconstrução de uma nação forte,


vimos a ascensão de regimes totalitários na Alemanha, como o nazista, e,
tristemente, a perseguição a todos os mecanismos de liberdade de expressão,
como o caso das artes visuais. Por isso, a arte moderna e seus artistas foram
perseguidos e considerados produtores de uma arte degenerada.
Podcast

Referências

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STRICKLAND, C. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de


Janeiro: Nova Fronteira, 2014.

Explore+

 O Livro da Arte, publicado pela editora Martins Fontes, em 1999, é uma


importante fonte de informação sobre a biografia de pintores e ilustração
das obras.

 A obra de Alberto Manguel, publicada pela editora Companhia das


Letras, em 2001, sob o título Lendo Imagens. Uma história de amor e
ódio, é uma boa referência para compreensão de pinturas a partir das
abordagens: ausência, enigma, testemunho, compreensão, pesadelo,
reflexo, violência, subversão, filosofia, memória e teatro.

 Vale a pena procurar o estudo técnico que foi o realizado pelo Gabinete
de Restaurações do Museu do Prado sobre a obra La Nevada o el
Invierno, de Francisco de Goya.

 Também aproveite as redes sociais e páginas oficiais de museus


internacionais, tais como o Museu do Louvre e Museu D’Orsay, ambos
em Paris, França; o Museu do Prado, em Madri, Espanha; o Museu
Metropolitan de Nova Iorque, nos Estados Unidos; a Galeria Nacional,
em Londres, Reino Unido. No Brasil, temos a Pinacoteca do Estado de
São Paulo e o Museu de Arte de São Paulo, MASP, entre outros, para
compreender a formação de acervos e coleções de arte pelo mundo, em
especial os de pintura e escultura do tema em estudo, modernidade
artística entre os séculos XVIII e XX.

 Para saber mais sobre pintura como testemunho de traumas e


destruições, como a Segunda Guerra Mundial, procure palestras e
conferências da professora de História da Arte Maria Dolores Jiménez-
Blanco.

 Sugestões de filmes:

o O Gabinete do Dr. Caligari. (1920, Alemanha). Direção: Robert


Wiene. 71 min.

o Nosferatu (1922, Alemanha). Direção: F.W. Murnau. 94 min.

o Os Nibelungos – A morte de Siegfried. (1924, Alemanha).


Direção: Fritz Lang. 137 min.

o Os Nibelungos – A vingança de Kriemhild (1926, Alemanha).


Direção: Fritz Lang. 145 min.

o O Triunfo da Vontade. (1934, Alemanha). Direção: Leni


Riefenstahl. 114 min.

o Olimpia. (1938, Alemanha). Direção: Leni Riefenstahl. 138 min.

o Encouraçado Potemkin (1925, URSS). Direção: Serguei


Eisenstein. 75 min.

Conteudista

Adriana Sanajotti Nakamuta

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