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EFICIÊNCIA DOS FUNGICIDAS NO CONTROLE DE FERRUGEM ASIÁTICA

(Phakopsora pachyrhizi) NA CULTURA DA SOJA NA REGIÃO OESTE DO


PARANÁ, SAFRA 2017/2018

MADALOSSO, T.¹; ROY, J.M.¹; FAVERO, F.¹

¹Centro de Pesquisa Agrícola, Rod. PR 180 km 269, CEP 85415-000, Cafelândia-PR.

O fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem-asiática da soja possui


elevada capacidade de redução de produtividade na cultura (YORINORI et al., 2005).
As estratégias para o manejo dessa doença incluem o uso de cultivares resistentes, a
utilização de fungicidas, antecipação da semeadura para o início da época
recomendada, o uso de cultivares precoces, ausência de cultivo na entressafra e
controle de plantas voluntárias de soja remanescentes nas áreas de cultivo.
Com a elevada área de cultivo de soja e o uso de fungicida como uma das únicas
estratégias de manejo, várias mutações que conferem resistência aos fungicidas vem
sendo detectadas nos últimos anos. Na safra 2007/2008 primeiro grupo a perder
performance a campo devido à resistência foram os triazóis (DMIs). Na safra 2013/2014
foi detectada pela primeira vez na ferrugem asiática da soja a mutação na posição F129L
do gene do citocromo “b” (KLOSOWSKI et al., 2015). Essa mutação confere resistência
parcial ao grupo químico das estrobilurinas (QoIs). Na safra 15/16 foi detectada outra
mutação na subunidade C na posição I86F, conferindo perda de sensibilidade ao grupo
químico das carboxamidas (SDHIs) (FRAC, 2017).
Devido as mutações, vem sendo constatado nas últimas safras a diminuição da
eficiência de controle dos produtos comumente utilizados no manejo da doença. Existem
inúmeros produtos registrados junto ao MAPA para o controle de P. pachyrhizi, muitos
deles com baixa eficiência. Desta forma a avaliação da eficácia dos produtos já
registrados, bem como de novas moléculas que possam vir a auxiliar no manejo da
doença torna-se fundamental. O objetivo deste trabalho foi avaliar diferentes produtos
para o controle da ferrugem asiática da soja na região oeste do estado do Paraná.
O experimento foi realizado no Centro de Pesquisa Agrícola da Copacol (CPA),
no município de Cafelândia-PR, no período de outubro 2017 a março de 2018. A cultivar
utilizada foi o M 5947 IPRO, de habito de crescimento indeterminado, grupo de
maturação 5.9 e ciclo de aproximadamente 120 a 125 dias para a região. A semeadura
ocorreu no dia 24 de outubro de 2017. A adubação da cultura foi realizada no sulco de
semeadura com 300/ha kg da formula 4-24-16 N P2O5 K2O e as demais práticas de
manejo seguiram as recomendações técnicas para cultura da soja (EMBRAPA, 2011).
As aplicações dos fungicidas foram realizadas com equipamento costal
pressurizado com CO2, com volume de calda de 200 L/ha, utilizando a ponta de
Pulverização BD 110 015 na pressão de 2,0 kgf/cm2, o que gera um espectro de gotas
finas. Foram realizadas quatro aplicações de fungicidas no ciclo da cultura. A primeira
aplicação no dia 12/12/2017 (estádio V9), segunda aplicação dia 26/12/2017 (estádio
R2) com intervalo de 14 dias em relação a primeira aplicação, a terceira aplicação no
dia 12/01/2018 (estádio R4) com intervalo de 17 dias em relação a segunda aplicação
e a quarta e última aplicação no dia 23/01/2018 (estádio R5) com intervalo de 11 dias
em relação a terceira aplicação.
O delineamento experimental foi em blocos inteiramente casualizados com 21
tratamentos e quatro repetições os quais são descritos na tabela 1. As unidades
experimentais mediam 2,5 m de largura e 10 m de comprimento totalizando 25 m², sendo
a área útil 1,5 m de largura por 10 m de comprimento totalizando uma área de 15 m².
Realizou-se a avaliação da severidade de ferrugem asiática aos 10 e 17 dias
após a quarta aplicação de fungicida seguindo a escala diagramática proposta por
(GODOY, et. al. 2005). A severidade média e controle foi determinada a partir da média
das duas avalições. Houve fitotoxicidade dos produtos para a cultura, a qual foi avaliada
através de uma escala visual proposta por Carregal, (2016) com notas variando de 0 a
10, sendo zero a ausência de sintomas. Foi determinado também o rendimento de grãos
(kg/ha) corrigindo a umidade para 13%. As variáveis analisadas foram submetidas à
análise de variância pelo teste F e as médias comparadas pelo teste Scott-Knott a 5%
de probabilidade de erro.
Houve diferenças (p<0,05) paras todas as variáveis analisadas (Tabela 2). A
pressão de ferrugem foi alta, sendo os primeiros focos detectados na região na segunda
quinzena do mês de dezembro. Os fungicidas Vessarya, S-2399T 260 SC, OXI 0091
BF, ADAFF0059-16 e Elatus foram os tratamentos que apresentaram menor severidade
de ferrugem, variando de 5,0 a 8,1%. Quando calculado o controle, observou-se que
grande parte dos produtos atingiu patamares superiores a 70%, sendo que o melhor
tratamento (Vessarya) apresentou 87,9% de controle para ferrugem asiática da soja.
Destaca-se a retomada de performance no controle de ferrugem dos produtos
com a presença da molécula benzovindiflupyr. Provavelmente essa oscilação se deve
a baixa frequência de esporos com a mutação I86F. Outra alteração importante está na
queda de performance dos produtos à base de protioconazol. Ainda não são descritas
mutações que confiram perda de sensibilidade a esse ativo. Uma hipótese para essa
redução no controle é a proximidade do local de estudo com a região produtora de soja
safrinha do Paraguai. O uso indiscriminado desse ingrediente ativo no Paraguay durante
a entressafra brasileira pode ter ocasionado uma pressão direcional para essa molécula.
O rendimento de grãos no ensaio foi elevado, superando os 5000 kg/ha para os
melhores tratamentos. OXI 0091 BF, S-2399T 260 SC e Elatus foram os produtos que
apresentaram o maior rendimento de grãos. A redução de rendimento do melhor
tratamento em relação a testemunha não tratada foi de 31,7%. Esse número reflete a
alta pressão de ferrugem enfrentada pela região nesta safra.
A utilização de fungicidas para o controle da ferrugem asiática da soja é de
extrema importância para obtenção de altas produtividades. O cenário de acentuada
queda de performance das principais moléculas utilizada para no controle e da escassez
de novos grupos químicos no curto prazo nos arremete a repensar as estratégias de
controle dessa importante doença para a sojicultura brasileira. Os produtos à base de
carboxamidas (SDHIs) apresentaram as melhores respostas no rendimento de grãos e
controle da ferrugem. No ensaio foram realizadas aplicações sequencias de um mesmo
produto, visando avaliação da performance, na composição do programa de controle
devem ser alternados produtos/modos de ação visando minimizar a pressão de seleção.

Referências
CARREGAL, L. H. Escala de fitotoxidez por fungicidas inibidores de ergosterol.
Disponível em: https://www.agrocarregal.com; Acesso em: 15/03/2018
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Tecnologia de Produção
de Soja - Região Central do Brasil 2012 e 2013. Londrina – PR, 2011. 261p.
FRAC. Informação sobre carboxamidas em ferrugem da soja. Disponível em:
http://www.frac-br.org/; Acesso em: 25/04/17
GODOY, C.V.; KOGA, L.J.; CANTERI, M.G. Diagrammatic Scale for Assessment of
Soybean Rust Severity. Fitopatologia Brasileira; 31:063-068. 2006.
KLOSOWSKI A.C.; MAY DE MIO L.L.; MIESSNER S.; RODRIGUES R.; STAMMLER
G.; Detection of the F129L mutation in the cytochrome b gene in Phakopsora pachyrhizi.
Pest Manag Sci. 2015 Aug 22. doi: 10.1002/ps. 4099.
YORINORI, J.T.; PAIVA, W.M.; FREDERICK, R.D.; COSTAMILAN, L.M.;
BERTAGNOLLI, P.F.; HARTMAN, G.L.; GODOY, C.V.; NUNES JUNIOR, J. Epidemics
of soybean rust (Phakopsora pachyrhizi) in Brazil and Paraguay. Plant Disease, v. 89,
p. 675-677, 2005.
Tabela 1. Descrição dos produtos, doses e ingredientes ativos utilizados no experimento
Fungicida Dose L/ha Ingredientes ativos (g/ha) Adjuvante L/ha)
1 Testemunha - - -
2 Priori Xtra 0,3 ciproconazol (24) + azoxistrobina (60) Nimbus (0,6)
3 Aproach Prima 0,3 ciproconazol (24) + picoxistrobina (60) Nimbus (0,75)
4 Sphere Max 0,2 ciproconazol (32) + trifloxistrobina (75) Aureo (0,25%)
5 Fox 0,4 protioconazol (70) + trifloxistrobina (60) Aureo (0,25%)
6 Horos 0,5 tebuconazol (100) + picoxistrobina (60) Rumba (0,5)
7 Fusão 0,73 tebuconazol (120,4) + metominostrobina (80,3) Iharol gold (0,25%)
8 Orkestra 0,35 piraclostrobina (116,5) + fluxapiroxade (58,4) Assist (0,5)
9 Elatus 0,2 azoxistrobina (60) + benzovindiflupir (30) Nimbus (0,6)
10 Vessarya 0,6 picoxistrobina (60) + benzovindiflupir (30) -
11 Ativum 0,8 epoxiconazol (40) + piraclostrobina (64,8) + fluxapiroxade (40) Assist (0,5)
12 Triziman 2 ciproconazol (60) + azoxistrobina (90) + mancozebe (1350) Áureo (0,25%)
13 Ferzan Gold 2 tebuconazol (100) + clorotalonil (900) Agril Super (0,05)
14 Fox Xpro 0,5 protioconazol (87,5) + trifloxistrobina (75) + bixafen (62,5) Aureo (0,25%)
15 DPX-PZX74 EC 1 ciproconazol (40) + picoxistrobina (90) -
16 OXI 0091 BF 1,2 fluxapiroxade (60) + oxicloreto de cobre (504) ORIX (0,5%)
17 S-2399T 260 SC 0,5 tebuconazol (100) + s2399 (30) Nimbus (0,5%)
18 ADAFF0059-16 2,5 tebuconazol (83,2) + picoxistrobina (65) + mancozebe (1000) Rumba (0,5)
19 A19487 0,35 azoxistrobina (63) + benzovindiflupir (31,5) + difenoconazol (78,7) Nimbus (0,6)
20 IRF 207-1 0,8 tetraconazol (85) + fluyndapir (82,5) Nimbus (0,6)
21 IR 9792 0,5 protioconazol (70) + fluyndapir (70) Lanzar (0,3%)
Tabela 2. Rendimento de grãos, redução no rendimento (RR) em relação ao melhor tratamento, severidade e controle de
ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi), desfolha e fitotoxicidade em função da aplicação de diferentes fungicidas
Severidade 1 Severidade 2 Severidade ẋ Controle (%) Desfolha Fito Rendimento RR
Fungicida
-------------------------------------------------- % --------------------------------------------------- 0-10 kg/ha %
16 OXI 0091 BF 4,4 d 10,3 d 7,4 f 82,0 45,0 d 0,0 e 5484,5 a 0,0
17 S-2399T 260 SC 3,5 d 7,4 d 5,4 f 86,7 56,3 c 2,5 a 5320,2 a 3,1
9 Elatus 7,1 d 9,1 d 8,1 f 80,2 45,0 d 0,0 e 5268,0 a 4,1
19 A19487 6,9 d 10,9 d 8,9 e 78,3 41,3 d 0,0 e 5189,5 b 5,7
10 Vessarya 3,8 d 6,2 d 5,0 f 87,9 37,5 d 0,0 e 5169,8 b 6,1
14 Fox Xpro 8,6 c 19,0 c 13,8 d 66,4 56,3 c 1,3 c 5146,9 b 6,6
11 Ativum 5,3 d 12,1 d 8,7 e 78,8 48,8 c 0,0 e 5121,6 b 7,1
8 Orkestra 12,5 c 20,6 c 16,5 d 59,6 67,5 b 0,0 e 5112,3 b 7,3
12 Triziman 9,8 c 13,2 d 11,5 e 72,0 53,8 c 0,0 e 5089,9 b 7,8
21 IR 9792 10,9 c 18,2 c 14,5 d 64,5 72,5 b 1,6 b 5083,7 b 7,9
4 Sphere Max 10,4 c 24,4 c 17,4 c 57,5 67,5 b 0,0 e 5041,2 c 8,8
18 ADAFF0059-16 5,5 d 9,7 d 7,6 f 81,5 30,0 d 0,0 e 4971,4 c 10,3
20 IRF 207-1 7,0 d 13,6 d 10,3 e 74,8 66,3 b 0,0 e 4930,7 c 11,2
15 DPX-PZX74 EC 10,4 c 19,3 c 14,8 d 63,8 41,3 d 0,0 e 4895,0 c 12,0
5 Fox 11,4 c 23,4 c 17,4 c 57,5 70,0 b 0,6 d 4893,9 c 12,1
13 Ferzan Gold 9,8 c 16,3 c 13,0 d 68,3 65,0 b 0,0 e 4852,8 c 13,0
6 Horos 7,9 d 14,4 d 11,2 e 72,8 45,0 d 0,6 d 4792,9 c 14,4
3 Aproach Prima 16,0 c 22,5 c 19,3 c 53,0 51,3 c 0,0 e 4658,7 d 17,7
7 Fusão 8,8 c 18,5 c 13,6 d 66,7 50,0 c 0,6 d 4545,7 d 20,7
2 Priori Xtra 22,3 b 37,2 b 29,7 b 27,4 77,5 b 0,0 e 4188,6 e 30,9
1 Testemunha 32,2 a 49,7 a 41,0 a - 95,8 a 0,0 e 4164,1 e 31,7
Média 10,2 17,9 14,0 69,0 56,3 0,3 4948,6 11,9
CV (%) 30,35 22,75 18,78 - 15,24 72,4 3,42
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Skott-Knott a 5 % de probabilidade de erro.

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