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Uma Revisão da Geração Distribuída de Energia

Eólica no Brasil
Celso Antonio Bittencourt Sales Junior¹, Marcelo Machado Martins 2, Angie Lizeth Espinosa Sarmiento3,
Juan José Garcia Pabon4, Diego Mauricio Yepes Maya5
1
Instituto de Engenharia Mecânica/Universidade Federal de Itajubá – IEM/UNIFEI, Itajubá, Minas Gerais -
MG, celsosalesjunior@unifei.edu.br, Brasil.
²d2021103630@unifei.edu.br, Brasil.
3
angieespinosa@unifei.edu.br, Brasil.
4
jjgp@unifei.edu.br, Brasil.
5
diegoyepes@unifei.edu.br, Brasil.

Resumo— Diante do crescente interesse mundial em energias renováveis, em especial a energia eólica,
a cada dia mais se discute a Geração Distribuída no Brasil e suas possíveis aplicações. A partir disso, o
presente trabalho tem por objetivo apresentar a situação atual da GD (em especial, micro e
minigeração) de energia eólica no Brasil, mediante a revisão das publicações mais relevantes e de
dados oficiais. Foi constatado que a utilização de GD em energia eólica no país é praticamente
irrelevante, devido ao estágio de desenvolvimento da produção e da comercialização de Aerogeradores
de Pequeno Porte serem embrionárias. Neste sentido, dados meteorológicos mais adequados; políticas
regulatórias, certificadoras e de incentivo ao uso de APP em GD; além de uma ampla divulgação
destas tecnologias, podem impulsionar um desenvolvimento de um mercado nacional e contribuir
significativamente para a expansão da GD no Brasil no sentido da transição e segurança energética.

Palavras-chave — Energia Eólica, Geração Distribuída, Aerogeradores de Pequeno Porte, Sistemas


Eólicos de Pequeno Porte.

Abstract— Faced with the growing worldwide interest in renewable energies, especially wind energy,
Distributed Generation in Brazil and its possible applications are increasingly discussed. From this, the
present work aims to present the current situation of DG (in particular, micro and minigeneration) of
wind energy in Brazil, by reviewing the most relevant publications and official data. It was found that
the use of DG in the country is practically irrelevant, due to the stage of development of production
and commercialization of Small Wind Turbines being embryonic. In this sense, more adequate
meteorological data; regulatory, certifying and incentive policies for the use of APP and wind energy
in DG; in addition to the wide dissemination of these technologies, they can boost the development of
a national market and contribute significantly to the expansion of DG in Brazil in the sense of energy
transition and security.

Keywords — Wind Energy, Distributed Generation, Small Wind Turbines, Small Wind Power
Systems.

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Sales Junior, C., Martins, M., Sarmiento, A. L. E., Garcia, J., Yepes, D.

1. Introdução de eixo vertical. A Figura 1 ilustra as configurações


geométricas mais típicas para estas classificações:
Diante da crescente necessidade de expansão do emprego de
energias renováveis, no Brasil e no mundo, a utilização da
Geração Distribuída (GD) vêm sendo cada vez mais comum
na busca da produção sustentável de energia elétrica. De modo
geral, pode-se definir como GD o estabelecimento de
diretrizes técnicas e legais para consumidores de energia
elétrica gerarem sua própria energia utilizando fontes
renováveis, sendo possível a venda do excedente da geração
para a concessionária (Andrade et al., 2020). Dentre os
diversos benefícios da GD, os mais evidentes podem ser
elencados como: redução no impacto ambiental na produção
da energia; redução da carga na rede elétrica; redução nas
perdas pela transmissão; e diversificação da matriz energética
(Maestri & Andrade, 2022). No Brasil, o Decreto 5.163 de
2004 e a Resolução Normativa – REN n°. 482 da Agência
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) , regulamentam a
pratica de GD que, atualmente, apresenta um cenário de forte
tendência de expansão, sendo esperado que a capacidade Fig. 1. APP: (a) eixo horizontal; (b) eixo vertical Savonius; (c)
instalada alcance cerca de 32 GW até 2029 (enquanto esteve eixo vertical Darrieus.
com menos de 5 GW em 2020) (EPE, 2020), podendo Fonte: (Trentin et al., 2022)
movimentar mais de R$ 100 bilhões em investimentos através
do Programa de Desenvolvimento da Geração Distribuída de Dentre esses, o mais comum e utilizado é o APP representado
Energia Elétrica (ProGD) (MME, 2016). Em particular, 99,9% pela Fig. 1(a), havendo nenhuma ou quase nenhuma aplicação
da GD no Brasil é proveniente de sistemas solares de APP de eixo vertical oficialmente registrada. Apesar disso,
fotovoltaicos (Iglesias & Vilaça, 2022), devido as condições APP de eixo vertical apresentam vantagens interessantes em
climáticas favoráveis do território nacional para a utilização relação aos APP de eixo horizontal, tais como operação em
destas tecnologias, somada à flexibilização/redução das baixas velocidades de vento, funcionamento omnidirecional, e
condições técnicas e econômicas das instalações. Neste menores custos de fabricação, instalação e manutenção
sentido, a conexão à rede elétrica também foi facilitada, (Trentin et al., 2022).
atraindo um expressivo aumento nos investimentos em Os custos de investimento e instalação no Brasil giram em
aquisição e instalação de painéis mediante ao surgimento de torno de R$ 35.000,00 a R$ 70.000,00 para APP importados
várias novas empresas no setor (Costa et al., 2022). de potência nominal de cerca de 2,4 kW (Hussini, 2020;
Em relação a energia eólica, apesar desta compor cerca de (Rocha et al., 2018), sendo possível estimar um valor médio de
11% da matriz elétrica brasileira (EPE, 2022), por outro lado, R$ 40.000,00 no caso de APP de fabricação e comercialização
sua utilização em sistemas de pequeno porte (turbinas com nacionais.
área de varredura de até 200 m², com tensão de saída 1000 Vac Apesar do enorme potencial eólico no país, que também
ou 1500 Vac) ou em GD ainda encontra-se em estágio poderia ser aproveitado em sistemas de pequeno porte, a pouca
embrionário no país (Hussini, 2020); estes sistemas de divulgação de tecnologias de APP e a ausência de um mapa
pequeno porte, podem ser classificados como sistemas de eólico mais preciso e confiável para este caso (capaz de
micro e minigeração distribuída que, por sua vez, referem-se a fornecer dados a baixas alturas de até 30 m), são fatores
uma geração menor ou igual a 75 kW e entre 75 kW e 5 MW, significativos no entrave do desenvolvimento e barateamento
respectivamente. Atualmente, existem apenas 90 destas tecnologias. Além disso, a ausência de políticas
empreendimentos de sistemas eólicos em micro e minigeração regulatórias e de certificação dos APP não contribuem para o
distribuída no Brasil, divididos entre consumidores estímulo de novos investidores (Silva et al., 2020a).
residenciais, rurais, comerciais e industriais, totalizando cerca De modo geral, é possível constatar que a ampliação da GD
de 17 MW de potência instalada (ANEEL, 2022). Ao todo, são fortalece a segurança energética de um país, devido a
apenas cerca de seis empresas nacionais (Altercoop – SP, promoção da diversificação da matriz energética. Com isso, na
Eletrovento – SP, Enersud – RJ, Energia Pura – RJ, Solarterra busca de uma capacidade de fornecimento energético
– SP, Workind – RS) fabricantes e/ou instaladoras de adequado, a geração em sistemas de pequeno porte
equipamentos conversores da energia cinética do vento em desempenha um papel indispensável (Andrade et al., 2020);
energia elétrica, os denominados Aerogeradores de Pequeno em particular, sistemas eólicos, os quais possuem maiores
Porte (APP). tendências de investimentos/aplicações (Shirzadeh Ajirlo et
Os APP podem ser classificados pela direção do eixo de al., 2021).
rotação de seu rotor, sendo estes APP de eixo horizontal e APP

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Sales Junior, C., Martins, M., Sarmiento, A. L. E., Garcia, J., Yepes, D.

2. Metodologia de 83.000 turbinas instalada em todo território americano


(Report, 2018).
O método de busca de referências, realizado nas diversas Em contrapartida, o Brasil é um país que apresenta um enorme
plataformas online de pesquisa acadêmica, priorizou os potencial eólico disponível, segundo relatório publicado pela
trabalhos mais relevantes publicados nos últimos anos e/ou GWEC - Global Wind Energy Council, divulgado em 2021, o
documentos oficiais de estado. Para isso foram utilizadas qual indica que o país subiu uma posição no Ranking de
palavras-chaves como aerogeradores de pequeno porte, Capacidade Total Instalada de Energia Eólica Onshore,
energia eólica de pequeno porte e geração distribuída, bem ocupando a sexta posição no ranking mundial (Lee & Zhao,
como as combinações entre elas. 2021). Em detalhes, o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro,
Todas as referências foram processadas mediante ao acesso do apresenta umpotencial disponível entorno de 143.000 MW
texto completo e, por fim, uma avaliação mais detalhada foi (Barcellos, 2014), sendo que destes, apenas 17 MW
realizada nas pesquisas de maior relevância ao intuito de correspondem a um total de 90 empreendimentos registrados
avaliar as lacunas na literatura, cenário atual, tendência de pela ANEEL. Além disso, de acordo com dados publicados
crescimento e os diferentes possíveis impactos da pela Associação Brasileira de Energia Eólica (Associação
implementação de sistemas eólicos de pequeno porte. Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), 2020), os ventos
brasileiros são considerados de qualidade, com fator de
3. Trabalhos futuros/pendentes capacidade médio de 40,2%, enquanto o padrão mundial é de
25%.
Um ponto importante ainda a ser desenvolvido é a realização Além das políticas regulatórias já existentes, para se
de estudos de viabilidade econômica de sistemas eólicos de estabelecer condições favoráveis para o desenvolvimento da
pequena escala no Brasil voltados para regiões urbanas e de geração distribuída de eólica no país, é necessário, igualmente,
baixas alturas até 30 metros, como por exemplo um Atlas criar meios para estimular e desenvolver sua utilização e
Eólico Brasileiro para baixas alturas e por regiões do país. isentar ou reduzir tributos sobre a energia gerada e sobre os
Além disso, estudos de pequenos parques eólicos equipamentos utilizados em energia renovável, visto que os
urbanos/rurais poderiam contribuir, visto que muitos trabalhos custo de investimento para instalação de aerogeradores de
apresentaram a inviabilidade econômica na utilização de pequeno porte ainda são muito altos, comparando por exemplo
apenas um único aerogerador (Barcellos, 2014). com sistemas fotovoltaico (Letícia et al., 2019). Neste sentido,
Devido a intermitência de geração eólica e solar, viu-se a medidas de segurança energética são essenciais para garantir o
necessidade de estudos mais aprofundados abordando desenvolvimento sustentável aliado ao crescimento
aplicação de sistemas híbridos de pequeno porte (solar econômico, pois estão diretamente relacionada à garantia na
combinada à eólica), visto que esses sistemas devem operar oferta de energia, investimentos no setor, preços de tarifas e,
em regimes de complementaridade e não de concorrência principalmente ao estímulo a incorporação/emprego e
(Silva et al., 2020), o que elevaria o fator de capacidade da divulgação das fontes de energia limpa.
instalação. Ainda neste sentido, parques eólicos de pequeno Com tudo isso em vista, para garantir o abastecimento de
porte offshore também poderiam ser considerados. energia de forma sustentável no Brasil, considerando sua
Com relação aos altos custos de instalação dos sistemas APP, dimensão continental, a necessidade de medidas para a
estudos mais detalhados sobre a comparação de preços de uma adequada diversificação da matriz energética. Para isso, o
possível produção/comercialização nacional de APP, frente emprego da GD apresenta uma importância significativa
aos importados, podem contribuir para tomadas de decisões, (Patrice & Dhenin, 2006), podendo atribuir, em particular, um
tendo em vista as diferentes aplicações praticadas com turbinas papel fundamental aos sistemas eólicos/híbridos de pequeno
eólicas de pequeno porte de eixos horizontal e vertical. porte na contribuição para a transição energética

4. Discussões e Conclusões 5. Referências

De acordo com os dados encontrados nas pesquisas, foi Agência Nacional de Energia Elétrica - Organizações - Dados
possível identificar que a prática da GD no Brasil, vem Abertos - Agência Nacional de Energia Elétrica. (n.d.).
apresentando uma significativa expansão devido aos Retrieved June 27, 2022, from
incentivos realizados através de programas governamentais https://dadosabertos.aneel.gov.br/organization/agencia-
atuais. Apesar disso, o número de unidades eólicas registrados nacional-de-energia-eletrica?groups=geracao-distribuida
em GD ainda é pequeno, principalmente se comparado ao
potencial eólico disponível e ao estágio de desenvolvimento Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). (2020).
desta prática nos países mais geradores, como exemplo, nos Boletim Anual de Geração. Abeeolica, 11(Juno), 1–20.
Estados Unidos, país que, segundo publicação do Office of http://abeeolica.org.br/wp-
Energy Efficiency & Renewable Energy, possui uma content/uploads/2021/06/PT_Boletim-Anual-de-
capacidade instalada de 1127 MW que correspondem a mais Geração_2020.pdf

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