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16/02/2022 14:19 Episódio 36. Lyra dos Conspiradores enfrenta horda selvagem.

HM Macahé há 1 hora 14 min para ler

Episódio 36. Lyra dos Conspiradores enfrenta horda selvagem.

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Episódio 36. Lyra dos Conspiradores enfrenta horda selvagem.


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Macahé e Campos. Selvagens e civilizados.

Reclinada à margem do rio que lhe dá o nome, banhada pelo mar, que lhe beija os pés, ouvindo o sibilo
da locomotiva, as vibrações da eletricidade pelo fio telegráfico, que na confusão com o marulhar das
águas do rio, sussurro do oceano, estabelece uma orquestra, que tem por Instrumentos vozes da

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natureza, acompanhadas pelas do progresso humano, a cidade de Macahé, trajando galas, no dia 31 do
próximo passado mês de julho, ornou a sua frente com uma coroa de flores colhidas nos jardins da
selvageria e da brutalidade.

As suas casas que, pela forma exterior atestam aos desconhecidos nelas residirem homens civilizados,
pelos costumes de seus habitantes significam cabanas de uma taba de selvagens. E selvagens tão
grandes que o vapor, a eletricidade ali se harmonizando com a natureza, pelo seu exemplo, ainda não
lhes puderam ensinar, que da combinação destas grandes descobertas do século, fruto do trabalho do
talento humano, no cultivo das ciências, das artes e ofícios, à serviço da humanidade, desaparece o bruto
pra dar lugar ao homem civilizado, que luta pela razão e não pela força material, que convence pela
inteligência e não vence pela arma homicida, na defesa da selvageria e da brutalidade a mais
desbragada.

Selvagens que, no rio que lhes sacia a sede, satisfazendo a uma das necessidades da vida, ainda não
aprenderam que as grandes ideias e a água batismal, que mata a sede dos ignorantes, no batismo da
civilização, para se precipitarem, não como os rios no mar, porém, no grande oceano da humanidade. Se
o mar atira às suas praias as imundícies que são rejeitadas de seu seio, a civilização arremessará às praias
da história as fezes de um povo selvagem que, na atualidade, é condenado pelo adiantamento moral e
material de uma época. Que sentença será lavrada contra o povo de Macahé, pela história, no julgamento
dos acontecimentos do dia 31 de julho de 1887? A mesma que já foi pronunciada no julgamento no
naufrágio do vapor Hermes.

Enquanto pobres náufragos a pouca distância lutavam, ele divertia-se com as agonias da morte das
vítimas desse sinistro, que custou tantas lágrimas, tantas dores, e vestiu de luto órfãos, esposas, mães,
famílias inteiras, esperando nas praias, como verdadeiros canibais, os cadáveres e os despojos do
naufrágio. Os que venceram a morte, quando ele indiferente banqueteava-se, se não foram roubados
pelos salteadores das praias, à espera dos salvados, a troco de grandes quantias pagaram roupa ordinária
para cobrir a nudez de uns e aquecer os corpos enregelados de outros. Mais tarde é ele vítima de uma
inundação, Campos, em nome da caridade, que caracteriza o homem civilizado, paga a dívida do
naufrágio do vapor Hermes, enviando recursos para socorrer a miséria de uns e secar as lágrimas de
outros, oferecendo hospitalidade àqueles que quisessem emigrar. Emigram algumas famílias que, no seio
da população, encontram o melhor acolhimento, nos tribunais e autoridades, garantias e direitos.

Os seus chefes, em empresas particulares, com preterição dos filhos da localidade, e em empregos
públicos acham ocupação honesta e decente, gosando todos do respeito e da consideração da
sociedade campista. Desde Motta Coqueiro até hoje, Macahé sempre revelou os sentimentos que
alimentava contra Campos. O tempo que tudo consome, tendo apagado da consciência do povo de
Campos o passado, os macaenses entenderam que deviam escolher o 31 de julho do corrente ano, para
recordar o que a selvageria e a brutalidade tinham plantado entre dois povos vizinhos que, ligados pelo
vapor e telégrafo, deviam ser irmãos.

Foi assim que neste dia, pela garrucha à cinta de bandidos, espingardas à tira-colo de assassinos, cacetes
empunhados por capangas, por um assalto à mão armada, de um comboio, recordou o naufrágio do
vapor Hermes, procurando levar o pranto e a dor a população campista vestindo de luto órfãos, esposas,
mães, famílias inteiras, representando as autoridades atuais o mesmo papel, das que assistiram o bárbaro
assassinato legalizado de Motta Coqueiro, na praça que dele recebeu o nome. Arranque os adornos com
que se vestiu a cidade de Macahé, no dia 31 de julho do corrente ano, e os substitua pela nudez do
selvagem que se assusta com o aproximar da locomotiva que, encurtando as distâncias, atesta o
progresso. A sua fronte cubra de crepe para anunciar aos viajantes, que por ali transitam, a viuvez da

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civilização. A sua imprensa traje-se de luto para anunciar a morte moral de um povo selvagem e não a
vergonha de uma sociedade civilizada, que desconhece as regras de hospitalidade.

O passeio do Club Indiano Goytacaz

À 26 do próximo passado, o nosso amigo tenente Antonio José Carvalho Torres telegrafou ao Conselheiro
Dantas, “O Paiz”, e ao redator deste jornal, pedindo providências aos abolicionistas ameaçados em
Macahé, o que provocou a interpelação do sr. Affonso Celso Junior, no parlamento, sobre o assunto. À 31,
sobre a epígrafe “Macahé”, por este jornal dizíamos: “esta desventurada comarca está atualmente entregue
ao reinado do despotismo, que ali construiu seu trono sobre os destroços da lei, do direito e da justiça”. Neste
dia, o Club Indiano Goytacaz, associação puramente carnavalesca, sem ligação alguma com o Club
Abolicionista, completamente independente, quer em sua direção particular, quer em seus atos públicos,
realizou o passeio recreativo há muito anunciado, com o conhecimento das duas bandas de música ali
existentes, do delegado de polícia, dr. Manoel Pereira de Souza, presidente da Nova Aurora, que foi
oficiado dando a seguinte escusa da falta de comparecimento desta corporação à recepção:

“Directoria da Sociedade Musical Nova Aurora, em 21 de julho de 1887.


Illms. srs.

Tenho a honra de acusar recebido o ofício do muito digno secretário deste Club, datado de 11, comunicando
a vinda do dito Club a esta cidade à 31, tudo do corrente, em que pede recepção com a banda musical desta
sociedade, cabe-me participar a vv. ss. que, não pode esta sociedade aceder a tão honroso convite visto que,
a hora em que chega o Club à esta cidade, se acha a banda musical ocupada no serviço de orquestra que
tem de desempenhar na festa de Sant’Anna, que se realiza nesse dia. A diretoria da Sociedade, todavia,
rendendo a esse Club os preitos de sua muito alta consideração, deliberou comparecer e fazer a recepção,
representada pela maioria de seus membros. É o que me cumpre comunicar a vv. ss. a quem Deus guarde.
Illms. srs. directores do Club Indiano Goytacaz. O presidente, dr. Manoel Pereira de Souza. O secretário,
Augusto Candido Pereira Dias”.

Sem a menor prevenção, levando unicamente a intenção de divertir seus associados, com a corporação
musical Lyra Conspiradora, de Campos, com o seu estandarte e os de todos os grupos, em um comboio
especial, às 7 horas da manhã, partiu o Club Indiano Goytacaz da estação desta cidade levando muitas
famílias, prontas para assistir as festa de Sant’Anna.O redator deste jornal convidado como jornalista; em
virtude do telegrama que lhe tinha dirigido o tenente Carvalho Torres, e de um boletim, assinado pelo sr.
capitão Miguel José Vaccani, espalhado em Macahé e às mãos lhe tinha chegado, não tendo deliberado
nunca tomar parte em semelhante passeio, resolveu definitivamente não comparecer; além de tudo,
ocorrendo que não se tratava de uma festa abolicionista e sim de um divertimento, promovido por uma
associação carnavalesca com o fim de divertir seus associados e angariar lucros para os cofres da
sociedade, o que nada tinha com o abolicionismo. Ao chegar o comboio à estação de Carapebus, é o
nosso amigo Julio Armondes surpreendido pelo telegrama seguinte: “GRANDE REAÇÃO DA CIDADE,
TODOS ARMADOS. PREVENÇÃO !

Mostrado este telegrama ao dr. Castro Barbosa, engenheiro em chefe da Estrada de Ferro de Macahé à
Campos, não quis acreditar em sua veracidade, pela gravidade do caso noticiado. Seguiu o comboio
fazendo o resto da viagem, que foi toda de susto para as famílias e receios para o Club cujos sócios,
completamente desarmados, tinham embarcado, sem a menor prevenção. Enquanto isso se passava em
viagem, na cidade de Macahé se reunia uma legião cavaleiros de espingardas à tira-colo, garruchas à
cinta, cacetes em punho, de caras patibulares, que chegavam de fora se dirigindo ao professor público,
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Nicoláo de Almeida, de quem recebiam ordens, ao depois seguindo uns para o estabelecimento
comercial de Pedro Monteiro de Almeida, e outros, para a casa de José Laurindo de Azeredo Jesus, sogro
do delegado de polícia, dr. Manoel Pereira de Souza, e todos comandados por José Caetano Pires,
subdelegado da freguesia de Conceição de Macabu. Logo que o comboio anunciou a sua chegada à
estação da Parada, os assassinos, comandados por uma autoridade policial, em desfilada para lá partiram,
fazendo ostentação das armas que os adornavam.

A distinta corporação musical Lyra dos Conspiradores, de Macahé, precedida de toda a diretoria, não se
fez esperar, atravessando por essa horda de brutos e selvagens para receber o Club Indiano Goytacaz,
que nessa ocasião verificou-se a veracidade do telegrama que em caminho tinha recebido o nosso amigo
Julio Armondes. Enquanto as músicas desfraldavam os seus estandartes, que se abraçavam com os do
Club Indiano Goytacaz, alguns membros deste Club, depois de ter conferenciado com outros da distinta
corporação musical Lyra dos Conspiradores, de Macahé, e diversas pessoas que, indignadas, tinham
corrido para receber os campistas que, na melhor boa fé, sem a menor intenção hostil, tinham ido àquela
localidade na ideia de divertirem-se em um passeio recreativo, assistindo a uma festa religiosa,
resolveram: Que a corporação Lyra Conspiradora, de Campos, seguiria na frente com o Club Indiano
Goytacaz, cujo estandarte seria empunhado pelo gerente deste jornal, cercado de seus amigos, ficando
nos wagons (vagões) as famílias, que a pouca distância, em linha de combate viam os bandidos, que à
semelhança de salteadores, pretendiam assaltar o comboio a espera de sinal. Atrás, a distinta corporação
musical Lyra dos Conspiradores, de Macahé, precedida de sua diretoria, sendo guarnecido os flancos e
retaguarda pelos sócios do Club Indiano Goytacaz e pessoas do povo de Macahé que tinham concorrido
à recepção.

Sede da SMB Lyra dos Conspiradores - 1939.


(Imagem: Facebook "Macaé das Antigas" - postagem de José Augusto - 05/09/2013)

Nesta ordem, rompeu o préstito por entre a horda selvagem seguindo pela rua da Parada, Direita, onde
cumprimentou a Nova Aurora, Pescadores ao delegado de polícia, recolhendo-se ao edifício da Lyra dos
Conspiradores. Ao passar pela rua da Parada, o gerente deste jornal ouviu o estalo do beijo de Judas. O sr.
Alfredo Caldas, que fazia parte da horda selvagem, que nesta rua estava estacionada, apontando, bradou
para seus companheiros: “Aquele é o Adolpho Porto, o amigo e companheiro do Carlos de Lacerda”. O beijo
de Judas a Cristo custou 30 dinheiros, este quanto custaria? Sempre acompanhando o préstito, os sicários
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tentaram assaltar o edifício da Lyra dos Conspiradores, dando alguns deles “foras e morras” aos
campistas, quando terminou de orar o major Pereira Gonçalves, presidente da Câmara Municipal. Usando
da palavra o nosso amigo e companheiro Pedro Albertino Dias de Araújo, apareceu o delegado de polícia,
pedindo e aconselhando ao tenente Carvalho Torres, Adolpho Porto, Francisco José da Silva, que se
ocultassem, porque em caso contrário seriam assassinados e ele, que neste ato estava em companhia do
comandante do destacamento, alferes Francisco de Paula Sodré, acrescentou: que nenhuma garantia
lhes podia oferecer porque havia firme propósito, tendo já esgotado todos os recursos, deles apenas
conseguindo que deixassem as espingardas, que à tira-colo tinham feito a entrada na cidade.

Nessa ocasião, chegando o trem da tabela, onde passava como certo que veria o redator deste jornal,
correu um grupo comandado por Alfredo Caldas para a estação da Parada. O comandante farejou todos
os carros e virando-se para os companheiros, lhes disse: “infelizmente o homem não veio. Com certeza teve
aviso de algum traidor - da nossa gente, mas aí está um irmão dele”. Então três, puxando das garruchas
levaram ao peito do irmão do redator deste jornal, perguntando um deles em tom ameaçador: “Você é
irmão do Carlos de Lacerda?” Os senhores estão enganados, respondeu aquele com certa resolução,
sendo convencidos pelo condutor que não era verdade o que afirmava Alfredo Caldas, que estava
alguma distância conversando com um sujeito de cara patibular. Partindo logo o comboio para a
Imbetiba, Alfredo Caldas, sabendo do que se tinha passado, com sentimento assim se exprimiu: “Posso
lhes garantir que aquele sujeito é irmão do Carlos de Lacerda, eu o conheço!” Que assassino covarde,
disfarçado, por algum tempo não acolheram em seu seio os abolicionistas de Campos!

Luiz Carlos de Lacerda, nascido em Campos dos Goytacazes, foi um jornalista e abolicionista muito
engajado e influente. Redator-chefe do jornal 'Vinte e Cinco de Março', teve sua cabeça a prêmio antes
mesmo do passeio dos campistas à Macaé, o que, provavelmente, motivou a emboscada frustrada da
polícia e capangas montados a cavalo, na estação da Parada. Faleceu perto de completar 44 anos,
muito abalado emocionalmente e também por já ter contraído malária.
(Imagem: site "autorescampistas.blogspot.com")

Estabelecendo-se uma confusão pela chegada do comboio, onde era esperado o redator deste jornal, o
Club Indiano Goytacaz dela aproveitou-se para aceitar o oferecimento do digno engenheiro dr. Castro
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Barbosa, que a sua disposição pôs a estação da Imbetiba, garantindo-lhe que ali estariam todos, que se
quisesse utilizar de seu convite em plena segurança. Fechado o portão da Estação de Imbetiba, guardado
pelo seu pessoal, com ordens terminantes de ali não deixar penetrar cavaleiros ou pessoas suspeitas, aí
ficou asilado o Club Indiano Goytacaz e todas aquelas pessoas que, em sua companhia tinham ido à
Macahé assistir a festa de Sant’Anna até a hora da partida.

Assim os campistas a salvo da sanha da horda de bandidos, que infestavam a cidade, tudo afrontando,
voltaram as suas iras indistintamente para as pessoas que foram encontrando. A questão não era mais de
indivíduos, era de sangue e espancamentos. Na rua Direita foi espancado o capitão João de Almeida
Lisboa e bem assim o juíz municipal, o dr. Manoel José de Medeiros Corrêa. Na mesma rua, em frente ao
Chalét do dr. Parêto, de um modo cruel, Tolentino Caldas. Na praça D. Isabel, em frente a Igreja Matriz e
diante da polícia, Gervázio Gonçalves de Lima Vinagre, que ficou em um estado desgraçado. Na rua
Direita invadiram à cavalo a loja de barbeiro de Quintino de Barros, que foi obrigado a fugir pelos fundos,
deixando em meio a barba do dr. Philadelpho, que tinha começado a barbear.

Fechado o comércio e muitas casas particulares, pelas ruas não encontrando em quem pudesse saciar a
sanha, que os animava, resolveram atacar a cadeia para trucidarem, na praça pública, os escravizados de
Muros, acusados de há meses o terem assassinado. A isto, porém, se opôs o comandante do
destacamento, que lhes cientificou que este fato daria lugar a polícia intervir, pela força pública que
resistiria à fogo, desistindo porém dessa ideia, continuando pelas ruas, praças, a praticarem tropelias de
toda a natureza. À noite foi cercada a casa do tenente Carvalho Torres, por trinta cavaleiros, que a altas
vozes pediam à senhora que o entregasse. Está, porém, revestindo-se de toda a coragem lhes fez ver que
o seu marido tinha partido para esta cidade [Campos] e que seria tempo perdido procurá-lo ali.

Eis a descrição da festa do dia 31 de julho em Macahé. Desastrosa e terrível situação em que a lei, o
direito e a justiça são representados pela faca do bandido, garrucha do sicário e cacete do capanga. Mas
Deus o permita que essa representação da realidade nunca seja substituída pela foice, pela enxada e
pelo machado. Aqui ficamos por hoje.

Os nomes

"... Para que a população de Campos, quando não seja pessoalmente ao menos de nome, fique
conhecendo os personagens mais influentes e promotores dos atentados do dia 31 de julho, em Macahé,
resolvemos publicar seus nomes: dr. Manoel Pereira de Souza (delegado de polícia); José Caetano Pires,
conhecido por Pires da Bertioga (subdelegado da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Macabu),
português naturalizado à dois anos; Antônio José Gomes da Rocha (subdelegado da freguesia de
Carapebus); Alberto Laurindo, Alfredo Laurindo e Joaquim Laurindo (cunhados do delegado de polícia);
Oscar Campos (filho do barão da Póvoa de Varzim); Horácio Cabral e Júlio Cabral (filhos do comendador
Cabral); Augusto Pacheco; Antero Pacheco; José Braga; Alfredo Caldas (o Silvério dos Reis macaense);
José Francisco dos Santos e Silva; Júlio de Brito; Francisco André (filho de André de Motta Coqueiro);
Penna Júnior; Álvaro Pinto; Francisco Júlio; Torquato Nogueira; José Braga; Joaquisinho e Miranda."

A revelação

Os acontecimentos do dia 31 de julho não exprimem senão uma vingança da poderosa família de
Quissamã. Como é sabido, apareceu nesta cidade uma mulher toda acorrentada de nome Felippa, que

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dizia ser escravizada de um dos membros daquela família. Os jornais de Campos noticiaram o fato, que foi
reproduzido pela imprensa da côrte, provocando a notícia um desmentido do Sr. Visconde de Araruama,
que declarou não lhe pertencer semelhante escravizada. Mais tarde foi ela reclamada pelo barão de
Quissamã, que até hoje não tem podido capturá-la, por se ter ausentado de Campos, para lugar incerto.

Corria, como certo, que essa escravizada tinha sido enviada para Campos pelos abolicionistas de Macahé,
que assim procedendo cometeram um grande crime que merecia severa punição para não se reproduzir.
Era preciso que uma família de fidalgos, que surram e acorrentam mulheres, não continuasse a ver a
nobreza de seus brasões exposta em instrumentos de martírio, pela imprensa, que só conhece uma
nobreza, que não é a de decretos dos governos, mas a de qualidades nobres e de sentimentos de
humanidade. O passeio do Club Indiano Goytacaz oferecia ocasião para que os fidalgos mandassem dizer
pelos seus lacaios, revestidos de cargos policiais, que os brasões da nobreza dos decretos, não podiam
ser manchados pela fidalguia das população, na defesa dos sentimentos de humanidade.

"... Macahé é uma fazenda da família de Quissamã, cujo poderio ali ainda não pôde ser abalado,
revelando-se sempre de modo ostensivo em todos os atos da vida política, comercial e econômica
daquele município inteiro. Como é que um acontecimento daquela ordem ali se poderia dar, sem o
conhecimento dos que atualmente dirigem a política e os destinos daquele povo? Se o delegado de
polícia não tivesse o apoio de quem o mandou nomear, e pode demiti-lo, não se prestaria a desempenhar
o papel que representou. É lógico! E como negar-se a sua conivência, quando a frente do movimento
selvagem e brutal, estava o subdelegado de Conceição de Macabu, José Caetano Pires, e faziam parte do
grupo Antônio José Gomes da Rocha, subdelegado de Carapebus, e três cunhados do dr. Manoel Pereira
de Souza que, em casa de seu sogro José Laurindo de Azeredo Jesus, aquartelou parte dos sicários?
Como admitir-se ainda nenhum conhecimento de tal selvageria da família poderosa, se o professor
público Nicoláo de Almeida, na escola, onde recebe a mocidade inexperiente, isenta de vícios e crimes,
recebia os assassinos do Frade, que antes viam receber ordens, para ao depois se retirarem para os
quartéis de José Laurindo de Azeredo Jesus e de Pedro Monteiro de Almeida, que já respondeu pelo
assassinato de uma criança?

Se este professor público não tivesse como o delegado de polícia igual apoio assim se portaria? É claro e
concludente! A família de Quissamã não deve uma satisfação aos abolicionistas, mas a população inteira
de Campos. Vamos ver como ela se revela. Se pelo assentimento do que se praticou em Macahé no dia
31 de julho do corrente ano, como uma vingança contra os abolicionistas, a respeito de Felippa, não
respeitando uma população inteira ou pela sua reprovação.

Esperemos. Ficando desde já a certeza que a propaganda abolicionista não tem a mesma significação do
canal de Macahé a Campos, que abriram quando lhes aprouve e fecharam quando entenderam..."

Considerações finais:

Todo o relato aqui exposto é uma pequena coletânea de trechos das edições 59 e 60 do jornal “Vinte e
Cinco de Março”, órgão abolicionista, do proprietário e redator Luiz Carlos de Lacerda, jornalista de
Campos dos Goytacazes muito hostilizado pelos fazendeiros escravocratas daquela época. Enfatizamos,
aqui, a coragem e ousadia dos músicos e demais membros da Lyra dos Conspiradores ao terem
enfrentado, de cabeça erguida, toda aquela horda de bandidos à serviço da escravidão e do atraso
humano. Este tipo de resgate é importante para que a Lyra se mantenha de pé e possa mostrar aos
macaenses e visitantes o seu valor histórico e porque ela ainda existe.

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Outro fato que chama a atenção são os cavaleiros. É bastante simbólica a presença de cavalos em
aventuras como essa contada hoje. Isso faz lembrar as Ordens de Cavalaria da Idade Média. Os cavalos
simbolizam imponência e poder. Um poder representado pelas famílias latifundiárias com títulos de
nobreza. Eram famílias brancas, ricas, católicas e, portanto, conservadoras. E o fato mais impressionante é
saber que nos dias atuais existe um governo nacional declaradamente conservador e de direita, que
mexe com o imaginário popular, estimulando fanáticos religiosos a sonharem com uma nova cruzada
para derrotar definitivamente seus fantasmas imaginários. Só resta saber como isso será realizado, que
horda de bandidos será essa e o que e quem eles defendem, de fato. Eles querem tudo, mas não querem
despojar-se do que tem para viverem a vida simples e humilde daquele que eles fingem seguir. Mas os
tempos são outros. Quem governa, não pode governar como antes, e quem é governado não aceita o que
antes lhe era imposto.

Ficamos por aqui, voltamos em breve com mais um episódio de Histórias da Música em Macahé. Um
grande abraço!!

Referência(s):

Hemeroteca da BN. Jornal Vinte e Cinco de Março, órgão abolicionista. Edição nº 59, ano IV, de
04/08/1887 e nº 60, de 07/08/1887;

Luiz Carlos de Lacerda. Disponível em:


http://www.camaracampos.rj.gov.br/novo/index.php/contact/68-
categorias/noticias/business/memorial/622-luiz-carlos-de-lacerda. Acesso em: 16 fev. 2022.

Fundo musical:

Hino Abolicionista, de Manuel Tranquilino Bastos, o “Maestro da Abolição''. Composição de 1884,


gravado pela Orquestra ???, ano ????;

Prussian Fifes and Drum, do álbum “Preussische Armee-Märsche des 18. Jahrhunderts” (Marcha
do exército prussiano do século XVIII). Estúdio Classique. 1997;

O Bom, o Mau e o Vilão, tema principal do filme lançado em 1966, com trilha sonora feita por
Ennio Morricone;

Garry Owen, música irlandesa da Guerra Civil Americana. Posteriormente, tornou-se a marcha do
7 Regimento de Cavalaria dos EUA. Interpretado pelo "California Consolidated Drum Band";

Antífona ‘Salve Regina’. Canto medieval dos templários, século XII. Ensemble Organum. Marcel
Pérès.

FIM.

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