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De quem é o patriotismo?

Hoje, dia 07 de setembro quebrei a tradição compartilhada com meu patriótico pai: não
desfilei no Dia da Independência do Brasil. Fiz essa escolha guiado pela raiva, uma vez que
além de não fazer nada com a situação das queimadas na Amazônia, vosso eleito presidente
solicitou o uso das cores verde e amarelo em defesa de nossa floresta. Ler isso no jornal
retirou o pouco do nacionalismo que ainda vivia em mim. Sei muito bem que meu pai, não
levando em conta a minha explicação totalmente cabível, ficaria ensandecido com minha
escolha, a ponto de recriar a cena clássica do duelo entre o pai austero e o filho birrento: ele
iria na frente, dizendo que me esqueceria se eu não o seguisse, e eu permaneceria atrás, de
braços cruzados e com boca contraída dizendo que não me importaria.
Agora que me dei conta. Um chilique familiar parecidíssimo produziu a "independência" do
Brasil: um Pedro, ordenou a seu filho, Pedro, que voltasse a sua terra e esse último negou e,
como castigo, ficou trancado no país que acabara de ganhar; isso, não só perpetuou a
dependência brasileira, como deu trono a outro português, seguindo uma lógica hereditária e
eurocêntrica.
Sabendo que não foi um brasileiro que marcou essa data tão simbólica é possível questionar:
de quem é o patriotismo que tanto mencionamos no Sete de Setembro? Quem que deve ser
devoto aos símbolos e a pátria? Pensava eu que era de todos os que aqui já pertenciam e que
nasceriam, também os que preservassem o verde das florestas, o amarelo do ouro e o azul do
céu e do mar límpido.
Ao tentar solucionar minhas dúvidas, comecei por pesquisar o significado da palavra
"brasileiro" imaginando ser uma referência indígena. Descobri que diferente de outros países,
França, Portugal e China, por exemplo que tem "ês" para diferenciar seus conterrâneos
(francês, português e chinês) no Brasil, seus nativos têm sufixo "eiro" de profissão, como
pedreiro, carpinteiro e marceneiro, devido aos extrativistas, primeiros profissionais, que eram
responsáveis por exportar o Pau Brasil.
Frustrado com minha primeira pesquisa, tentei não me apegar a denominação do meu povo,
tentei mirar em outros símbolos, como a nossa tão adorada bandeira. Mal sabia eu que minha
frustração aumentaria. Com pesquisas, conclui que o verde da bandeira, a priori, não
representava nossas florestas, e sim a cor da Casa de Bragança, a família portuguesa de Dom
Pedro I e que o amarelo, seguia a mesma lógica, representava a Casa de Habsburgo, a família
austríaca de Maria Leupodina.

Tristemente, percebi duas coisas, a primeira, que no fim das contas, o nosso atual presidente
realmente está fazendo algo que é ser patriótico no sentido bruto da palavra, praticando um
dano ambiental e em seguida dando sentido nacionalista, a segunda, é que felizmente não
compactuo com o eurocentrismo dos dois Pedros e nem com a ignorância do meu pai

Pedro Veras Neto - 191010256

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