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Terceira Civilização - Edição 442 - 01/06/2005 - pág.

12 - Especial

Terceira Civilização - Especial

O cristianismo

Sistema filosófico
As escrituras
A “filosofia cristã” é um conjunto de
sistemas filosóficos cujo caráter distintivo A Bíblia (Antigo e Novo Testamento)
provém da fé em Jesus Cristo. São constitui a escritura sagrada dos cristãos. É
sistemas com características próprias, bem a base de toda a doutrina cristã. É um
delimitados e nitidamente distintos de conjunto de livros tidos como revelados.
outros, porém mantendo reconhecida Por meio desses livros, Deus manifesta aos
unidade. homens seu desígnio de salvação e se lhes
dá a conhecer.
As divergências que se observam nesses
sistemas, muitas vezes profundas, não lhes No catolicismo existem ainda os
impedem de compor um todo documentos expedidos pela Igreja, através
fundamentalmente unitário. de Concílios, encíclicas papais, instruções
etc. Compõem, também, o corpo
“É cristã toda filosofia que, criada por doutrinário, a pesquisa teológica dos
cristãos convictos, distingue entre os grandes mestres da Teologia, dos escritos
domínios da ciência e da fé, demonstra dos grandes místicos, além de livros
suas proposições com razões naturais, e devocionais.
não obstante vê na revelação cristã um
auxílio valioso, e até certo ponto mesmo O culto
moralmente necessário para a razão.”5
A Missa é o ponto máximo do culto
A religião religioso católico, porque é nesta
celebração que se realiza o Sacramento da
O cristianismo, religião mundial, compõe o Eucaristia: o mistério da transubstanciação
grupo das chamadas religiões reveladas, do pão e do vinho no Corpo de Cristo. Em
proféticas, de tradição semítica (judaísmo, cada Missa, repete-se o mistério da Morte
cristianismo e islamismo). e Ressurreição de Cristo. Nas igrejas
evangélicas, a celebração da Palavra de
O caminho de espiritualidade fundado por Deus, por meio da leitura da Bíblia, é esse
Jesus Cristo, historicamente, surgiu nos ponto máximo.
começos da nossa era (era “cristã”),
declaradamente em ligação de A oração do cristão
continuidade com a religião mosaica (Mat.
5,17), tendo ainda antecedentes culturais O Pai-Nosso é a oração primordial do
da Grécia. cristão. É “a súmula de todo o Evangelho.

Wangler Mandu Venuti (144073-0) / pág. 1.


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Nela o cristão vê a correta relação entre eternidade. Ela cobre, no entanto, um


Deus e o homem, o céu e a terra, o aspecto apenas do homem e da morte: o
religioso e o político, mantendo a unidade biológico e o temporal, pois o homem, na
do mesmo processo. Divide-se em duas visão cristã, é mais que um animal. É mais
partes. A primeira parte diz respeito à do que o tempo porque ele suspira pela
causa de Deus: o Pai, a santificação de seu eternidade do amor e da vida. O homem é
Nome, seu Reino, sua Vontade santa. A pessoa e interioridade. Para esse a morte
Segunda parte concerne à causa do não é um fim–fim, mas um fim–plenitude e
homem: o pão necessário, o perdão um fim–meta alcançada.7
indispensável, a tentação sempre presente
e o mal continuamente ameaçador. Ambas A ressurreição, para o cristão, é a
as partes constituem a mesma e única expressão adequada do destino humano
oração de Jesus.6 integral. Todo homem é homem para a
eternidade. Não é aniquilado pela morte.
Objeto de Adoração Embora profundamente modificado por
ela, a sua realidade integral não é
Embora esta expressão “objeto de eliminada, não se torna “passada”, antes
adoração” não seja usada no contexto do inicia sua existência definitiva, eterna. A
cristianismo, a Eucaristia (a Hóstia ressurreição é a grande promessa do
Consagrada) é o único objeto de adoração cristianismo.
dos cristãos católicos. As igrejas
evangélicas pregam adorar a Deus “em Quem foi Jesus
espírito”. Não usam nenhum objeto.
a) Do ponto de vista da História
A cruz, as imagens dos santos e outros
símbolos do catolicismo são apenas “A doutrina acerca de Cristo começa no
reverenciados ou venerados, não silêncio.”
adorados.
“Cale-se, recolha-se, pois é o Absoluto.”
Morte e Ressurreição (Kierkegaard.)

A morte, para o cristão, é o fim da vida. A historicidade da existência de Jesus é


Todavia, este fim é entendido como meta controvertida. É praticamente impossível
alcançada, plenitude almejada e lugar do uma biografia histórica sua.
verdadeiro nascimento. É a união
interrompida pelo verdadeiro nascimento. São consideradas insuficientes as fontes
A união interrompida pelo desenlace não disponíveis, fora dos Livros Sagrados do
faz mais que preludiar uma comunhão Novo Testamento, para um estudo da
mais íntima e mais total. historicidade de Jesus.

A morte marca uma ruptura de um b) Do ponto de vista da fé


processo. Cria uma cisão entre o tempo e a

Wangler Mandu Venuti (144073-0) / pág. 2.


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À luz da fé, no entanto, para os cristãos, somos. Deus é, portanto, o que mais
não existe qualquer dúvida sobre a conhecemos, embora não nos demos
existência concreta de Jesus, nascido da conta. Por isso o drama da existência
Virgem Maria. humana é viver alienada da própria raiz.
Perdida de sua fonte. O cristão faz
“Para a fé tranqüila a resposta é clara: profissão de viver sempre a partir da fonte,
Jesus de Nazaré é o Cristo, o Filho de em tudo o que faz e em todas as coisas
unigênito e eterno de Deus, enviado como tentar descobrir os sinais da presença de
homem para libertar a humanidade do Deus. É uma tarefa a ser realizada
pecado; nele se cumpriram todas as permanentemente. E nunca chegamos ao
profecias; ele executou um plano divino fim dela. Porque estamos ainda a caminho
preexistente; sua dolorosa morte na cruz e longe da pátria. Contudo, é nesse
fez parte deste plano; ele cumpriu caminho que já se encontra a chegada. O
fielmente até a morte a vontade do Pai; ponto final não está no termo do caminho,
morto ele ressuscitou e assim deixou claro mas em cada passo dado com sinceridade.
que sua reivindicação de ser o Filho do Aí ele se dá na gratuidade e no dom,
Homem, o Filho de Deus e Messias era embora sob forma imperfeita e transitória.
fundada e verdadeira.”8 Saborear e celebrar na jovialidade divina o
encontro com Deus e com seu Mistério
Constantes básicas e permanentes encarnado em Jesus Cristo dentro das
vocações terrestres e relativas: eis a
a) A fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus essência do ser cristão e a raiz fontal de
que revela o Pai de infinita bondade. toda a vida religiosa cristã.9

b) A fé na mensagem consolidada na Bíblia


e na tradição.

c) A fé na Igreja, comunidade de fé, corpo


místico de Cristo.

Paradigma contemporâneo do
cristianismo

O cristianismo não quer ser uma estrutura


imposta à vida, mas a melhor expressão da
profundidade da vida. Entende que a vida
possui um sentido radical. Esse sentido é
plenificador do homem e do mundo. A vida
deve ser celebrada porque é envolta e
toda penetrada pelo mistério inefável de
Deus. Deus não é o ser mais ignoto do
homem. Antes, ele perfaz a atmosfera e o
fundamento de tudo o que existe e nós

Wangler Mandu Venuti (144073-0) / pág. 3.

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