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Índice

Título
Conteú do
direito autoral
Introduçã o
Vida pregressa
Trabalho nas colô nias de leprosos
Rumo ao Fim
Novena a Sã o Damiã o de Veuster
 
Conteúdo
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Introdução
Vida pregressa
Trabalho nas colônias de leprosos
Rumo ao Fim
Novena a São Damião de Veuster
 
Nota do autor
Escolhi me referir ao Havaí em vez das Ilhas Sandwich para facilitar o
entendimento e preferi escrever lepra e leprosos sobre a doença de
Hansen e Hanseniens novamente para facilitar o entendimento;
também porque esse era o uso no tempo do Pe. Damien e capta o
horror que seus contemporâ neos sentiam.
 
Todos os direitos reservados. Publicado em 2009 pela The Incorporated Catholic Truth Society 40-
46 Harleyford Road Londres, SE11 5AY Tel: 020 7640 0042 Fax: 020 7640 0046. Copyright © 2009
Glynn MacNiven-Johnston.

ISBN: 9781860826184
Edição Ebook © junho de 2017 ISBN: 9781784692612
Versão: 2017-05-19
 
Padre Damien, cortesia do Arquivo do Estado do Havaí.
 
 
 
Introdução

Em 7 de maio de 1984, Madre Teresa de Calcutá escreveu ao Papa Joã o


Paulo II sobre os leprosos que suas irmã s cuidavam na Índia, Iêmen,
Etió pia e Tanzâ nia: 'Para continuar este belo trabalho de amor e cura,
precisamos de um santo para liderar e nos proteja. Padre Damien pode
ser esse santo. Santo Padre, nossos leprosos e todos na terra te
imploram para nos dar um santo, um má rtir para amar, um exemplo de
obediência à nossa religiã o'.
Em 11 de outubro de 2009, isso acontecerá quando Damien de
Veuster for canonizado.
Seria fá cil pensar em Sã o Damiã o de Veuster, o 'Apó stolo dos
Leprosos' do Havaí, como um reformador social - e ele reformou. Ele
dedicou sua vida a uma situaçã o tã o horrível que talvez apenas a
comparaçã o com os campos de concentraçã o possa descrevê-la com
precisã o, e ele fez a diferença ao longo de anos lutando com as
autoridades, que nã o eram monstros, mas cujas prioridades eram
diferentes. Para dizer a verdade, ele poderia nã o ter lutado tanto com
eles se tivesse uma personalidade diferente, mas, se fosse diferente, nã o
teria ido para lá e nã o teria ficado. Damien nã o era de forma alguma
uma pessoa perfeita. Segundo todos os relatos, ele era muito difícil de
lidar porque esperava dos outros o que esperava de si mesmo, embora
sempre pedisse perdã o à queles a quem magoara. Agora ele foi
declarado santo. Isso significa que, de alguma forma, sua vida refletia
Jesus Cristo. Mas de que maneira?
A vida de Sã o Damiã o mostra que nã o há degradaçã o que nos
separe do amor de Cristo, e nã o há sofrimento onde Ele nã o está
presente. Mostra-nos que a vida de qualquer pessoa pode ser
transformada por Deus; que nã o devemos ter medo de abraçar a vida
que Ele nos deu, nem nos sentirmos destruídos quando nos
encontramos desiguais diante dos acontecimentos e situaçõ es que
temos que enfrentar. Damien fez grandes melhorias na colô nia de
leprosos, mas nã o conseguiu acabar com a lepra. O que ele fez foi ajudar
a tornar Cristo presente naquela situaçã o e muitos leprosos
encontraram sentido em seu sofrimento. Mais do que qualquer trabalho
médico ou social, o dom de Damien consistiu em tornar-se um leproso
para os leprosos, rejeitado para os rejeitados - como o pró prio Cristo.
Eles, por sua vez, descobriram sua pró pria vocaçã o - para compartilhar
o sofrimento redentor de Cristo, e isso é o que finalmente mudou tudo
para eles. Isso é muito difícil para nó s entendermos, talvez para a nossa
geraçã o mais do que para as outras, porque nosso mundo quer eliminar
o sofrimento, para tornar tudo limpo, perfeito e belo. A vida de Damien
foi um desafio para seus contemporâ neos e também nos desafia.
Como disse o Papa Joã o Paulo II: 'O que poderia ter oferecido aos
leprosos condenados a uma morte lenta, senã o a sua pró pria fé e a
verdade de que Cristo é Senhor e Deus é amor?'
 
 

 
Vida pregressa
 
Crescer na Bélgica
Damien de Veuster nasceu em 3 de janeiro de 1840 na vila de Tremeloo,
perto de Leuven, na Bé lgica, o sé timo dos oito filhos de Frans e Anne de
Veuster. Ele foi nomeado Joseph e chamado Jef para abreviar. Os
Veusters eram uma família de agricultores, de forma alguma rica, mas
també m nã o atingida pela pobreza. Frans de Veuster cultivava e
comercializava grã os. O catolicismo da família e a prá tica de sua fé
estavam entretecidos no tecido de suas vidas diá rias. Anne de Veuster
foi especialmente uma mulher profundamente religiosa, e foi a partir
dessa origem que duas de suas filhas entraram para um convento e
dois de seus filhos se tornaram padres. Havia també m vocaçõ es
religiosas entre os netos. Jef tinha apenas cinco anos quando sua irmã
mais velha, Eugenie, fez seus votos como freira ursulina e onze anos
quando morreu em uma epidemia de tifo. A essa altura, Pauline, a
pró xima irmã , escolheu entrar no mesmo convento 'para ocupar o lugar
de Eugenie'. Isso causou uma forte impressã o em Jef, que seria muito
importante mais tarde. O irmã o mais velho de Jef, Auguste, um aluno
brilhante, entrou na Congregaçã o dos Sagrados Coraçõ es de Jesus e
Maria 1 , tomando o nome de Panfílio.
No final do século XIX, quando Damien se tornou famoso, os santos
eram geralmente retratados como totalmente perfeitos, e as histó rias
de sua "piedade santa", mesmo quando crianças, eram populares. O
irmã o de Damien, Pe. Pamphile, contou a histó ria de como Damien, com
apenas quatro anos, desapareceu em uma feira local e como sua família,
depois de procurar em todos os lugares, finalmente o encontrou em
oraçã o silenciosa na igreja local. Os paralelos com o menino Jesus sendo
encontrado no templo sã o imperdíveis, mas caso você perca a
comparaçã o pretendida com Jesus, essa histó ria à s vezes é associada à
informaçã o de que ele gostava de cuidar do rebanho de ovelhas da
família. Felizmente para os leitores modernos, existem outros eventos
que o mostram um pouco mais humano. Jef era um garoto popular e
geralmente era encontrado com toda uma gangue de outros garotos da
aldeia, uma de cujas brincadeiras favoritas era pular na traseira de uma
carroça em movimento rá pido. Os meninos esperavam que um carrinho
passasse e um deles pulava na traseira e se segurava na porta traseira.
Para ter certeza de que ele estava se movendo rá pido o suficiente, os
outros meninos jogavam pedras no cavalo para fazê-lo disparar. No
momento em que o carroceiro conseguiu controlar o cavalo, o menino
havia feito um passeio perigoso e emocionante. O menino entã o fugia
enquanto o carroceiro ainda acalmava o cavalo. Nesse dia em particular,
foi Jef quem pulou na carroça, mas o cavalo nã o disparou. O carroceiro
parou imediatamente e vendo e reconhecendo Jef, gritou apó s sua
figura em fuga ameaças terríveis de informar seus pais. Jef tinha ouvido
falar que o santuá rio poderia ser reivindicado por fugitivos em
qualquer igreja, entã o ele foi para lá . Seus pais o encontraram dentro do
parapeito do altar em oraçã o - uma oraçã o que ele havia começado
assim que a porta se abriu. Frans e Anne eram pessoas piedosas e nã o
podiam bater nele na igreja nem mesmo gritar com ele, entã o tiveram
que recorrer a sibilar para ele sair. Jef nã o era nada senã o teimoso e
finalmente arrancou de seus pais a promessa de que nã o seria punido.
Só entã o ele os acompanhou até em casa. Este incidente nã o o deteve. O
padre Pamphile menciona outro episó dio de andar de carroça quando
Jef caiu e as rodas do carro carregado passaram por cima de sua cabeça.
Ele deveria ter sido morto, mas o chã o devia ser macio. No geral, porém,
Jef era um menino quieto. Na verdade, os vizinhos o chamavam de
'Silent Jef', mas isso nã o era sinal de timidez: ele era o campeã o local de
patinaçã o de velocidade. Ele também nã o foi retirado. Suas cartas aos
pais quando ele estava na escola mostram que ele era aberto, expansivo
e afetuoso.
 
Da fazenda ao seminário
Jef deixou a escola aos treze anos para trabalhar na fazenda. Ele
também ajudou o ferreiro da aldeia, que atuou como coveiro local. Jef
era de estatura mediana, mas muito largo e forte. Quando ele tinha
apenas treze anos, ele conseguia levantar sacos de grã os de 100 kg
(mais de 220 lb) como se nã o pesassem nada. Jef estava muito feliz na
fazenda, mas Frans queria fazer o melhor para todos os filhos e para a
família como um todo. Foi decidido que Jef deveria ir para a escola de
negó cios para aprender melhores maneiras de comercializar os grã os
da família. A escola ficava na parte francó fona (Valô nia) da Bélgica. O
fato de Jef falar apenas flamengo nã o foi considerado um problema
intransponível, entã o, quando ele tinha dezesseis anos, Jef foi enviado
para a escola em Braine-le-Compt em Hainault. Os primeiros meses
devem ter sido muito difíceis. Ele nã o falava francês e nunca havia se
afastado da família antes, mas nã o reclamou. Ele escreveu para sua
família: 'É com grande prazer que tomo a caneta na mã o para escrever a
você uma pequena carta pela primeira vez. Agora estou bastante
acostumado a este lugar. Eu converso um pouco com os valõ es. Conheço
meu trabalho, minhas liçõ es, meus companheiros e minha cama. Tudo
na casa é limpo e confortável. Nossa mesa é igual à da feira anual e a
cerveja é muito boa. Qualquer valã o que ri de mim eu bato com uma
régua.
Enquanto estava em Braine-le-Compt, Jef foi a uma missã o pregada
pelos Padres Redentoristas e lá ouviu um chamado para a vida
religiosa. Ele escreveu a seus pais que queria se tornar um monge
trapista. Isso foi uma completa surpresa para seus pais, que
consideravam seu irmã o o sacerdote da família. Eles pensaram que
deveria ser apenas uma fase e disseram a ele para esperar e
reconsiderar. Jef entã o pediu a seu irmã o, Pamphile, que foi muito
favorável, e com a ajuda do pá roco conseguiu convencer seu pai a
permitir que Jef tentasse sua vocaçã o. Depois de conversar com
Pamphile, Jef reconsiderou e decidiu entrar na Congregaçã o dos
Sagrados Coraçõ es de Jesus e Maria. Em 1858, entã o, com a idade de
dezoito anos, Jef entrou na mesma Congregaçã o que seu irmã o e tomou
o nome de Damien em homenagem ao santo e médico do século IV.
(Incidentalmente, foi em uma igreja dedicada a Sã o Damiã o que Sã o
Francisco de Assis ouviu o chamado de Cristo para reconstruir sua
Igreja.) A Congregaçã o aceitou Jef somente apó s muita deliberaçã o e
apenas como irmã o leigo, nã o como candidato ao sacerdó cio. . Ele já
havia sido recusado categoricamente pelo American College em Leuven,
que nã o via neste fazendeiro rude e corpulento o tipo de candidato para
o sacerdó cio missioná rio que desejavam. O relató rio de sua entrevista
diz que ele foi rude e obviamente sem instruçã o em latim ou qualquer
outra coisa. Damien nã o protestou contra a posiçã o que lhe foi dada,
mas pediu a seu irmã o Pamphile que lesse latim com ele durante a
recreaçã o, e Pamphile, o tipo de homem que adorava aprender por si
só , concordou. Ao ver a seriedade com que Damien estudava e como
estava determinado a aprender, Panfílio procurou os superiores do
seminá rio e pediu que seu irmã o fosse admitido como candidato ao
sacerdó cio. Estranhamente, eles concordaram, embora fizessem seu
noviciado dois meses a mais do que qualquer outra pessoa, só para
garantir.
 
Desejando ser um missionário
Damien era feliz como seminarista. Ele adotou como lema: 'Silê ncio,
recolhimento e oraçã o' - e para se lembrar melhor, ele o esculpiu no
topo de sua mesa com uma faca. 2 Damien era entusiasmado, mas
calmo, e seus superiores foram conquistados por sua modé stia. Ele
sentiu que os outros seminaristas eram muito mais inteligentes e
espirituais do que ele. Estudar nã o era fá cil para Damien. Ele era
apenas um aluno mediano, mas tinha grande determinaçã o e
perseverança. Rezava todos os dias pela graça de ser missioná rio
diante de uma imagem de Sã o Francisco Xavier, que foi um dos seus
heró is. A fotografia do noviciado de Damien o mostra de pé em uma
pose muito parecida com os retratos daquele santo.
O francês que Damien aprendera em Braine-le-Compt foi bem
utilizado quando ele foi enviado por um tempo para a casa-mã e da
ordem em Paris. Lá fez sua profissã o em 7 de outubro de 1860. Parte da
cerimô nia envolveu o candidato se prostrando, coberto por uma
mortalha negra, diante do altar, simbolizando sua livre aceitaçã o da
morte para as coisas do mundo. Mais tarde, essa cerimô nia assumiu um
significado ainda mais profundo para Damien. Damien gostava de estar
em Paris, embora nã o ficasse tã o impressionado com os passeios damas
e cavalheiros e as carruagens da moda, que ele reclamava que
atrapalhavam suas caminhadas.
Em 1863, Pamphile foi escolhido como um de um grupo de padres
missioná rios para ir para o Havaí, na época chamado de Ilhas Sandwich,
mas algumas semanas antes da partida do grupo, ele pegou tifo e,
embora tenha sobrevivido, era ó bvio que ele nã o estaria bem o
suficiente para navegar com os outros. Lembrando-se de como sua irmã
Pauline se sentiu chamada para ocupar o lugar de sua irmã Eugenie
quando Eugenie morreu, Damien se ofereceu no lugar de Pamphile. Nã o
pediu conselho a ninguém nem, acreditando que seria recusado, pediu
ao reitor do seminá rio. Em vez disso, ele escreveu diretamente ao Padre
Geral da Congregaçã o. Em sua carta, ele acrescentou que isso também
significaria que o dinheiro da passagem nã o seria desperdiçado. Para a
surpresa de todos, visto que Damien ainda nã o havia sido ordenado, o
Padre Geral concordou. No entanto, o reitor do seminá rio fez questã o
de repreender Damien por sua ousadia e imprudência antes de dizer
que ele tinha permissã o para ir. Estranhamente, Francisco Xavier
também conseguiu um lugar em um navio quando outro missioná rio
adoeceu.
Nessa época, as ilhas havaianas eram um reino independente; eles
nã o tinham uma estrutura diocesana cató lica regular, mas foram
designados como 'territó rio de missã o' para os Padres dos Sagrados
Coraçõ es. Missioná rios protestantes chegaram lá em 1820 e havia uma
forte presença mó rmon nas ilhas. Havia numerosos colonos brancos, a
maioria dos Estados Unidos, muitos dos quais tinham vindo para
cultivar cana-de-açú car.
 
Com destino ao Havaí
Pouco tempo antes de seu navio partir, Damien nem parou para comer,
mas fez uma breve visita para se despedir de sua família. Ele foi com a
mã e e a cunhada ao santuá rio de Nossa Senhora de Montaigu, para
pedir sua proteçã o. Ele orou para que pudesse trabalhar doze anos nos
campos missioná rios. No caso, ele recebeu o dobro disso. Assim, com
apenas vinte e trê s anos de idade, Damien partiu com o grupo de nove
padres e dez missioná rias para navegar de Bremerhaven na Alemanha.
De lá , ele escreveu a seus pais: 'Nã o se preocupem nem um pouco
conosco. Estamos nas mã os de Deus... que nos colocou sob sua
proteçã o. Só peço que rezem para que tenhamos uma boa viagem e que
tenhamos coragem de cumprir nossa missã o. Esta é a nossa vida.
Adeus, meus queridos pais. Nunca mais teremos a felicidade de nos ver
nesta vida, mas sempre estaremos unidos pelo amor que temos uns
pelos outros e em nossas oraçõ es.' 3 A viagem para o Havaí contornava
o Cabo Horn, pois o Canal do Panamá ainda nã o havia sido concluído.
Demorou cinco meses, e a maior parte do grupo passou todos os cento
e quarenta e seis dias enjoados. Damien passou tentando converter a
tripulaçã o protestante sem sucesso algum.
Em 19 de março de 1864, Damien chegou à s ilhas havaianas e,
alguns meses depois, em 21 de maio de 1864, foi ordenado pelo bispo
Louis Maigret, primeiro vigá rio apostó lico das ilhas, na Catedral de
Nossa Senhora Rainha da Paz em Honolulu, Oahu. Ele disse sua
primeira missa na mesma catedral. Damien e um companheiro, Pe.
Clement Evrard, deveriam entã o começar suas vidas como sacerdotes
missioná rios na ilha do Havaí (de onde todo o arquipélago é agora
chamado). Entã o, acompanhados pelo bispo Maigret, eles embarcaram
em um navio a vapor para fazer a viagem. Eles pararam na ilha de Maui
e tiveram que ficar lá mais tempo do que o esperado, pois o navio pegou
fogo. Damien nã o queria perder tempo, entã o recebeu permissã o para
ir à s aldeias para dizer missa, ouvir confissõ es e pregar. O ú ltimo ele fez
em havaiano quebrado, o que todos eram educados demais para dizer a
ele que era incompreensível. Ao regressar das aldeias, descobriu que o
Bispo Maigret e o P. Clemente tinham ido à frente, pelo que navegou
sozinho, alcançando finalmente o Bispo no dia 24 de Julho na paró quia
que seria sua.
 
Criação de paróquias
Como pá roco, Damien era enérgico e engenhoso, sustentando-se da
agricultura, criaçã o de gado e cultivo de tabaco. Ele criava abelhas para
fazer mel e cera para fazer as velas da igreja. Ele encontrou seus
paroquianos entusiasticamente cató licos, exceto quando eles estavam
sendo entusiasticamente presbiterianos ou mó rmons ou quando
estavam doentes - entã o eles chamavam o feiticeiro local. Ele escreveu a
seu irmã o: 'Se ao menos a Providência tivesse enviado um Cura d'Ars
[Sã o Joã o Vianney] aqui, todas as ovelhas desgarradas teriam retornado
ao redil ... Reze para que Pe Damien se entregue completamente a Deus
e se dedique a Seu serviço até o ú ltimo suspiro. Ter começado nã o é
nada, o difícil é perseverar. Esta é a obra da graça de Deus. Essa graça
nunca me faltará , disso estou certo, desde que eu nã o resista a ela.
Rezem por mim... Continuem a rezar pela conversã o dos incrédulos. É
provavelmente à s suas fervorosas oraçõ es que devo a conversã o de 40 a
50 pagã os e hereges que batizei este ano.' Damien era um homem de
sua época e ainda nã o tinha espírito ecumênico. Ele se deliciava com
uma espécie de rivalidade com os missioná rios protestantes, a quem
agrupava como "hereges". Certa vez, ele ouviu que um ministro
protestante local escalou um penhasco de 700 metros de altura (quase
2.297 pés) em duas horas, entã o ele subiu o mesmo penhasco em 45
minutos. Padre Clement, entretanto, que nã o era tã o robusto quanto
Damien, estava achando sua paró quia muito maior, com uma á rea de
cerca de 1.600 quilô metros quadrados (cerca de 618 milhas
quadradas), muito difícil. Eles decidiram que seria mais sensato mudar,
e seus superiores concordaram.
Grande parte da vida do padre Damien em sua segunda paró quia
parece uma histó ria de aventura para meninos. Uma das aldeias que ele
queria visitar era tã o isolada que ele decidiu que a melhor maneira de
chegar lá seria de canoa atravessando o mar. Ele partiu com alguns de
seus paroquianos havaianos, mas depois de um curto período de tempo
a canoa virou nas ondas altas e ele e os outros se viram na á gua. Ele
escreveu prosaicamente para casa que eles conseguiram nadar de volta
para a costa com bastante facilidade enquanto seguravam a canoa
virada, e cada um deles se revezou para espancar os tubarõ es com os
remos. Nada foi perdido, mas seu breviá rio foi danificado além do
reparo pela á gua salgada, que ele lamentou. Ele decidiu que precisava
se recuperar dessa viagem e se deu uma semana antes de partir
novamente. Desta vez ele foi a pé, sozinho. Ele fez a viagem, que durou
quatro dias, com uma enorme mochila amarrada à s costas na qual
carregava um altar 'portá til' que ele mesmo havia projetado e feito. Ele
teve que vadear e nadar pelo mar em vá rios pontos e entã o chegou a
uma pequena montanha. Ele decidiu escalá -lo segurando-se
precariamente em plantas e pedras e, no processo, cortando as mã os e
os pés na rocha vulcâ nica afiada. Quando chegou ao topo, viu-se
olhando para uma ravina sem sinal de qualquer aldeia. Ele desceu até a
ravina e, como havia chegado tã o longe, subiu pelo outro lado. A essa
altura, suas botas estavam rasgadas em pedaços e suas mã os e pés
estavam rasgados e sangrando. Além disso, as chuvas haviam começado
e seu caminho agora estava ainda mais dificultado pela lama, à s vezes
até a cintura. Ainda nã o havia sinal de uma aldeia, mas Damien tinha
certeza de que estava lá , entã o ele começou a descer a segunda ravina e
depois subir a terceira montanha. Agora era tarde demais para voltar,
ele decidiu. No topo da terceira montanha ele ainda nã o viu sinal de
qualquer aldeia, mesmo à distâ ncia, mas começou a descer para o
pró ximo vale. Lá ele desmaiou de exaustã o e exposiçã o e ficou
inconsciente na chuva torrencial. Ele teria morrido ali se nã o tivesse
sido encontrado pelos pró prios aldeõ es que procurava. Eles o
reviveram e ele ficou tã o feliz ao vê-los que logo conseguiu caminhar
até a aldeia deles, que na verdade ficava bem perto, embora nã o fosse
visível de onde ele havia desmaiado. Assim que descansou um pouco,
começou a ajudar nos trabalhos da aldeia, para espanto de quem o
encontrou e pensou que estava à beira da morte. Ele começou a
catequizar e muitos dos aldeõ es aceitaram sua pregaçã o. Antes de
partir, ele ajudou os aldeõ es a construir uma igreja, 'nã o uma espécie de
cabana como a maioria de nossas capelas, mas... construída
inteiramente de madeira'. Ele colocou uma cruz de dois metros de
altura no topo.
 
Catecismo e edificação
Sua vitalidade, zelo pela proclamaçã o do evangelho e amor pela vida
eram inspiradores e exaustivos. Nos sete anos que esteve nesta
freguesia construiu com as pró prias mã os quatro igrejinhas. “Eu faço o
papel de carpinteiro quando necessá rio e tenho muito trabalho
pintando e decorando minhas capelas. Em geral, tenho muito incô modo
e pouco consolo', escreveu ele, mas estava em seu elemento. Isso nã o
quer dizer que ele nã o teve momentos ruins. Ele achou difícil ficar tanto
tempo sem o sacramento da reconciliaçã o - para encontrar outro padre,
ele teve que fazer uma viagem de 100 km (62 milhas) - e ficou muito
deprimido com o nível de embriaguez e o resultante sexo casual entre
seus paroquianos. Mas ele passou a admirar e respeitar muito os
havaianos, escrevendo a seu irmã o que, além dos dois males da
inconstâ ncia e da incontinência sexual, 'Você nã o poderia desejar um
povo melhor, tã o gentil, agradável e de coraçã o mole... Eles sim. nã o
procure acumular riqueza... Eles sã o extremamente hospitaleiros e
estã o prontos para privar-se até mesmo das necessidades a fim de
suprir todas as suas necessidades se você pedir a eles uma noite de
abrigo.' Os havaianos (que, nã o tendo “d” no alfabeto, pronunciavam
seu nome Kamiano) também gostaram dele e ele começou a fazer
muitas conversõ es. Ele foi, no entanto, muito cuidadoso para nã o
batizar levianamente.
Nem todos foram tã o receptivos ao cristianismo. Nas ilhas havia
uma forma de vodu que mantinha muitos dos paroquianos de Damien
com medo e à mercê de seus praticantes. Damien decidiu descobrir
quem eram os membros dessa sociedade secreta e acabar com isso.
Sendo Damien, ele lidou com isso de frente. Ele descobriu um altar
desse culto e o destruiu. Entã o ele fez uma grande cruz amarrando dois
galhos e enfiou-a no chã o onde havia um ídolo. No dia seguinte, ele
encontrou um pequeno embrulho amarrado à porta. Este era um feitiço
maligno, uma maldiçã o. A aldeia inteira estava observando, entã o ele o
desamarrou de sua porta, carregou-o desdenhosamente até um grande
porco e amarrou-o em seu rabo. À noite, o porco estava morto, embora
tivesse sido ajudado em seu caminho por alguém que havia cortado sua
garganta. Damien cortou a carcaça e a cozinhou, mas ninguém quis
dividi-la com ele. Naquela noite, uma mulher o avisou de que sua vida
estava em perigo. Damien nã o esperou que eles viessem até ele.
Voltando para onde tinha visto o altar, ele encontrou o feiticeiro e
muitos dos aldeõ es. Eles haviam sacrificado um cachorro e estavam
derramando seu sangue. Lá no altar estava uma boneca vestida com
uma batina com o rosá rio de Damien em volta do pescoço. Damien
correu para frente, agarrou a boneca, arrancou sua cabeça e jogou-a no
chã o, pisou nela. Todos esperavam que ele morresse, mas ele nã o
morreu. "Vocês nã o sã o crianças", disse ele. 'Por que você tem medo de
sangue de cachorro e de boneca?'
Depois disso, houve pouca oposiçã o a ele. Ele varreu o distrito com
energia incansável, construindo, reformando, estabelecendo escolas e
até obtendo ajuda do governo para treinar mulheres havaianas como
professoras. Damien também sobreviveu a um tsunami, um furacã o e
uma erupçã o vulcâ nica. Ele escreveu para sua família que nã o havia
nada como um vulcã o em erupçã o para dar uma boa ideia do inferno.
Apesar de sua energia e zelo, Damien sabia que era apenas a mã o de
Deus que o mantinha seguro. 'Nã o se esqueçam, queridos pais, de orar
por mim todos os dias', escreveu ele, 'há tantos perigos aqui, tanto para
a alma quanto para o corpo'.
Durante esses anos no Havaí, Damien esperava que Pamphile um
dia se juntasse a ele. Os irmã os costumavam se escrever sobre isso, e
Pamphile pediu muitas vezes permissã o para fazê -lo, mas nunca
recebeu permissã o. Em seguida, foi oferecido e aceito um cargo no
seminá rio diocesano de Versalhes. Damien ficou magoado e furioso e
escreveu uma carta amarga a Pamphile acusando-o de nã o ter coragem
de ser um padre de verdade e de sacrificar as necessidades dos
havaianos por uma carreira brilhante. 4 Os irmã os se afastaram por
causa disso e durou quase trê s anos - provavelmente tanto tempo
porque nã o havia nada como um serviço postal na paró quia de Damien
e ele dependia de outras pessoas que passavam e iam para Honolulu
para enviar uma carta. Mas, finalmente, Damien conseguiu enviar uma
carta implorando o perdã o de Pamphile, e a correspondê ncia entre eles
foi retomada.

1 Freqü entemente chamados de Padres Picpus, devido à rua em Paris onde fica a casa de sua mãe.
2 A casa da família de Damien é agora um museu dedicado ao santo e a escrivaninha pode ser vista lá.
3 Embora Damien não esperasse voltar do Havaí, ele manteve laços estreitos por carta.
4 Panphile finalmente chegou ao Havaí em 1895 (após a morte de Damien), mas o estudioso de 58 anos não era
adequado para esse tipo de trabalho e saiu depois de um ano.
 
 
Trabalho nas colônias de leprosos
 
Uma chamada para a colônia de leprosos
Alguns anos depois de chegar ao Havaí, Damien escreveu para casa: 'A
lepra está começando a ser muito comum aqui. Há muitos homens
cobertos com ele. Nã o causa a morte de uma só vez, mas raramente é
curada. A doença é muito perigosa porque é altamente contagiosa.
Parece que a lepra chegou primeiro ao Havaí com trabalhadores
contratados chineses, trazidos para lá para trabalhar nas plantaçõ es.
Espalhou-se rapidamente entre os havaianos, que eram extremamente
hospitaleiros, o que para eles significava estar juntos o tempo todo,
comendo do mesmo prato, vestindo as roupas uns dos outros, fumando
cachimbo uns dos outros e assim por diante.
Em meados do sé culo XIX, como resultado da crescente pressã o
dos colonos brancos nas ilhas, medidas drá sticas foram tomadas para
controlar a doença. O rei Kamehameha V assinou uma 'Lei para
prevenir a propagaçã o da lepra' em 3 de janeiro de 1865. Os leprosos
deveriam ser colocados em quarentena e isolados do resto da
populaçã o. 5 Os sofredores deveriam ser enviados para Molokai, uma
das ilhas menores, situada entre Oahu e Maui. Sua geografia o tornava
perfeito para a quarentena. Tem cerca de 65 km de comprimento, mas
apenas 12 de largura (40 milhas por 7½) e inclina-se de norte a sul, a
terra terminando repentinamente em um penhasco que percorre toda
a extensã o da ilha. No sopé da falé sia existe uma zona isolada do resto
da ilha e rodeada de á gua por trê s lados. Era aqui, nesta prisã o natural,
que os leprosos deveriam ser segregados. Grande parte da á rea estava
na sombra perpé tua do penhasco, a ilha estando tã o perto do equador
que o sol nã o se movia no cé u. A á gua escorria pelas falé sias e a á rea
era frequentemente fria e ú mida.
Fazer cumprir as leis de isolamento nã o foi uma tarefa fá cil para as
autoridades. Os havaianos eram avessos a desistir de seus entes
queridos e muitas vezes os escondiam até que policiais armados fossem
enviados para arrastá -los à força. Houve muita resistência, e muitas
vezes a polícia acabava atirando em quantas pessoas conseguia
prender. Estes foram conduzidos a um navio que navegou para a
extremidade sul de Molokai, onde foram jogados nas á guas rasas da ilha
e deixados para vadear até a costa da melhor maneira possível. Até as
crianças tinham que se virar sozinhas. A princípio, decidiu-se que os
leprosos deveriam ser enviados para Molokai nã o como pacientes, mas
como colonos. Isso fazia sentido econô mico, mas nenhum outro tipo de
sentido, e o primeiro grupo, de nove homens e três mulheres, que lá
chegou em 6 de janeiro de 1866 foi enviado com ferramentas agrícolas
e sementes. Esperava-se que fossem autossuficientes. Logo ficou claro
que era ridículo esperar que pessoas tã o deficientes e desesperadas
como estavam fizessem isso, entã o o esquema foi abandonado. Os
pacientes recebiam entã o um conjunto de roupas por ano e
suprimentos mínimos, que eram simplesmente jogados na á gua com os
novos sofredores que chegavam e deixados para serem disputados. No
início, havia também algumas cabanas de palha mal construídas, mas as
chegadas posteriores tiveram que construir seus pró prios abrigos.
Havia um prédio hospitalar, mas nenhum equipamento médico,
remédios ou médico residente. O Conselho de Saú de enviava um
médico ocasional, mas a maioria deles tinha medo de chegar perto dos
leprosos. Um deles apenas levantava as ataduras dos pacientes com a
bengala; outro apenas colocou o remédio em uma mesa e saiu
rapidamente. De qualquer forma, os havaianos desconfiavam dos
médicos brancos e se referiam ao Conselho de Saú de como Conselho da
Morte.
Os leprosos muitas vezes também nã o se preocupavam uns com os
outros. Um novo paciente ficou horrorizado com um incidente que
presenciou: 'Um homem... saiu de uma casa que ficava perto da estrada.
Ele empurrava um carrinho de mã o carregado com uma trouxa, que a
princípio confundi com trapos sujos. Ele o empurrou pelo pá tio... O
homem entã o virou o carrinho de mã o e o sacudiu. A trouxa (em vez de
farrapos era um ser humano) rolou no chã o com um gemido
agonizante. O sujeito virou o carrinho de mã o e o levou embora,
deixando o doente caído ali indefeso.
No meio de todo este horror havia uma pequena capela de madeira
dedicada a Santa Filomena (uma santa a quem o Cura d'Ars tinha uma
devoçã o particular) onde alguns dos leprosos cató licos se reuniam para
rezar, especialmente o rosá rio. Esta igreja foi construída por um irmã o
dos Sagrados Coraçõ es, o irmã o Bertrand, e um ajudante havaiano em
1872. Havia também uma pequena igreja congregacional que havia sido
construída um ano antes. No passado, três padres diferentes haviam
feito estadias curtas na ilha, mas os leprosos sentiram que precisavam
de um padre em tempo integral, e esse foi o pedido que fizeram ao
bispo.
 
Um convite
Em 1873, Damien recebeu um convite do Bispo Maigret para a
dedicaçã o de uma nova igreja em Wailuku, na ilha de Maui, e para
saudar um novo grupo de padres que acabavam de chegar à s ilhas. Ele
nã o levou muito consigo, pois nã o esperava ficar longe por muito
tempo. Ele estava com o bispo quando chegou a carta dos leprosos de
Molokai. Quatro padres se ofereceram para ir, incluindo Damien. Ele
nã o tinha ilusõ es sobre o que isso significava. Mais tarde, ele escreveu:
'Monsenhor Maigret declarou que nã o imporia esse sacrifício a nenhum
de nó s. Lembrando que no dia da minha profissã o eu já havia me
colocado sob o manto fú nebre, ofereci-me a sua senhoria para
enfrentar, se ele bem entendesse, esta segunda morte'. Damien pediu
que um dos padres recém-chegados fosse enviado à sua paró quia e que
lhe fosse permitido ir à vila de leprosos chamada Kalawao. Foi decidido
que os quatro sacerdotes serviriam ali em rodízio por períodos de
quatro meses de cada vez. Damien seria o primeiro a ir. Ele partiu com
o bispo para Honolulu e, ao chegarem lá , descobriram que cinquenta
leprosos estavam sendo enviados para Molokai naquela noite. Parecia a
oportunidade perfeita. Entã o o bispo e Damien navegaram com eles.
Damien nã o teve tempo de pegar seus pertences e foi para Kalawao
apenas com a roupa que vestia, seu breviá rio e uma camisa extra. Ele
chegou a Molokai pouco antes do amanhecer de 10 de maio de 1873. O
bispo desembarcou com Damien e falou aos leprosos que se reuniram
dizendo-lhes: 'Eu trouxe alguém para ser um pai para vocês; alguém
que te ama tanto que... nã o hesita em se tornar um de vocês; para viver
e morrer por você.' Ele nã o encontrou palavras para dizer a Damien,
mas colocou as mã os na cabeça de Damien para abençoá -lo, entã o ele
teve que voltar para o barco. Damien estava sozinho.
Ele foi primeiro à igreja e imediatamente começou a limpá -la.
Depois de algum tempo, um homem veio e ofereceu-lhe algumas frutas
e depois outro veio com algumas flores para enfeitar a igreja. Ele entã o
viu um pequeno grupo de pessoas carregando um cadáver e decidiu
realizar um funeral - o primeiro de muitos. Nã o havia lugar para ele
morar, entã o ele passou aquela noite e as seguintes debaixo de uma
á rvore. Ele disse mais tarde:
'Pela providência especial de Nosso Senhor, que durante sua vida
na terra mostrou uma simpatia particular pelos leprosos, meu caminho
foi traçado para Kalawao (Molokai)... Eu tinha entã o trinta e três anos e
gozava de boa saú de... Muitos leprosos haviam chegado ultimamente de
diferentes ilhas; eram 816. Alguns eram conhecidos meus, mas para a
maioria eu era um estranho... Eles estavam todos morando em Kalawao
- cerca de oitenta deles no hospital. Todos os outros viviam mais para o
vale. Eles haviam derrubado os bosques de puhala para construir suas
casas, embora muitos deles nã o tivessem nada além de galhos de
mamona para construir seus abrigos. Essas estruturas frá geis eram
cobertas com folhas de cana-de-açú car ou capim. Eu mesmo me abrigou
sob a á rvore pandanus que ainda está no pá tio da igreja. Sob esses tetos
primitivos, esses desafortunados pá rias da sociedade viviam
desordenadamente, sem distinçã o de idade ou sexo, velhos e novos
casos juntos, todos virtualmente estranhos uns aos outros. Eles
passavam o tempo jogando cartas, dançando hula e bebendo á lcool
feito em casa... Sob a influência dessa bebida eles negligenciavam tudo,
exceto dança e prostituiçã o. Como eles nã o tinham um conselheiro
espiritual, eles estavam se apressando no caminho para a ruína
completa. Muitos dos que estavam prostrados pela doença foram
deixados lá para cuidar de si mesmos e alguns deles morreram por falta
de ajuda, enquanto aqueles que poderiam ter ajudado andavam por aí
em busca de prazeres do tipo mais imoral.'
Quando Damien chegou a Kalawao, a expectativa média de vida de
um leproso, uma vez que chegasse ao assentamento, era de quatro
anos. Cerca de quatorze novos doentes chegavam a cada semana, e
houve quatro a cinco mortes no mesmo período.
 
Trabalho inicial e reputação
No mundo exterior, Damien tornou-se controverso assim que pousou
em Molokai. Um jornal de Honolulu escreveu que ele era capelã o
permanente dos leprosos (isso era notícia tanto para as autoridades
civis quanto para seus superiores) e o chamou de heró i cristã o. Assim
que o P. Damien ouviu isso, escreveu para perguntar ao seu provincial
se ele poderia de fato ser capelã o permanente e, como também sempre
foi prá tico, pediu na mesma carta vinho de altar e hó stias, livros
espirituais, roupas, farinha e um Sino. Outro artigo apareceu no
Honolulu Advertiser , desta vez sobre sua vida sob uma á rvore pandanus
e doaçõ es começaram a chegar de todas as ilhas havaianas
(principalmente de protestantes) que lhe permitiram construir uma
cabana de cerca de 5m de comprimento e 3m de largura (17 pés por 10
). Toda essa aclamaçã o irritou os missioná rios protestantes, e eles
começaram a escrever seus pró prios artigos sobre ministros
protestantes que haviam visitado Molokai. Também incomodou o
Conselho de Saú de, cuja autorizaçã o para Damien permanecer na ilha
nã o havia sido solicitada.
Damien, entretanto, havia começado seu ministé rio. Visitava os
acamados, ouvia confissõ es, administrava a Extrema Unçã o 6 e lavando
e enfaixando suas feridas. Ele nã o achou isso fá cil no começo. A visã o e,
sobretudo, o cheiro da carne podre dos leprosos revirava seu
estô mago, e muitas vezes ele tinha que sair correndo dos abrigos e
vomitar. A primeira vez que administrou a Extrema Unçã o na ilha ficou
horrorizado: quando foi ungir os pé s do homem, encontrou-os já
cheios de vermes. Ele começou a fumar um cachimbo continuamente
para superar o cheiro. Ele usava botas porque sentia uma coceira
psicossomá tica nas pernas quando estava com os pacientes e sofria de
dores de cabeça terríveis por causa do estresse. Até para celebrar a
missa encontrava grande dificuldade. Ele lutou para superar sua ná usea
na igreja lotada pensando em Cristo no tú mulo de Lá zaro.
Gradualmente, poré m, ele se acostumou com isso. Mais tarde, os
visitantes sempre se maravilhavam com sua ternura e habilidade com
que cuidava dos leprosos.
Foi só depois de seis meses em Molokai que ele encontrou tempo
para escrever ao irmã o: 'Estou aqui há seis meses e nã o peguei a
infecçã o. Considero isso devido à especial proteçã o de Deus e da
Santíssima Virgem. A lepra é incurável... Manchas descoloridas
aparecem na pele, especialmente nas bochechas e as partes afetadas
perdem a sensibilidade. Depois de um tempo, essa descoloraçã o cobre
todo o corpo e as ú lceras começam a se abrir. A carne é comida e exala
um odor fétido; até o há lito do leproso é tã o sujo que o ar é envenenado
por ele. Tive muita dificuldade em me acostumar a tal ambiente... Agora
meu olfato nã o me causa tanto incô modo. Entro nas cabanas dos
leprosos sem dificuldade. À s vezes nã o sinto repugnâ ncia... Imagine
uma coleçã o de cabanas com oitocentos leprosos. Nenhum médico; na
verdade, como nã o há cura, parece nã o haver lugar para a habilidade de
um médico.'
A lepra era, e ainda é, uma doença terrível. Os sintomas sã o
variados: muitas vezes as pá lpebras ficam paralisadas, impossibilitando
o piscar, de modo que os olhos infeccionam e os doentes ficam cegos. O
rosto pode se tornar um ú nico orifício à medida que as membranas
mucosas do nariz e da boca sã o comidas; ou os pacientes podem ficar
desfigurados à medida que sua pele engrossa e forma sulcos. A doença
também pode destruir os nervos de forma que a pessoa nã o sinta mais
aquela parte do corpo. Feridas se formam e as extremidades do corpo
começam a se desprender. Hoje em dia a doença pode ser detida e sabe-
se que apenas algumas formas da doença sã o infecciosas, e estas nã o
sã o consideradas altamente contagiosas, mas na época de Damien as
idéias sobre a lepra mal haviam mudado desde os tempos bíblicos.
As terríveis condiçõ es foram agravadas pela falta de á gua potável.
Nã o havia á gua em Kalawao e era preciso carregá -la de certa distâ ncia.
Aqueles que perderam o uso de suas mã os ou pés podem morrer de
sede. A á gua era tã o escassa que nã o havia como desperdiçar na
limpeza. Damien começou carregando á gua. Entã o ele começou sua
primeira batalha com o Conselho de Saú de. Ele havia encontrado um
reservató rio natural de á gua e queria canos para trazer á gua para o
assentamento. Ele bombardeou as autoridades com cartas e os canos
foram enviados, mas sem trabalhadores para colocá -los, e os leprosos,
em sua maioria afundados na inércia do desespero, além de serem
aleijados, nã o estavam em condiçõ es de ajudar. Por fim, Damien
persuadiu os marinheiros em cujo navio os canos haviam vindo para
ajudá -lo a colocá -los. O capitã o do navio era um havaiano com o nome
improvável de John Bull. Entre eles, Bull e Damien fizeram planos e os
marinheiros e alguns dos leprosos os ajudaram a colocar os canos. Com
a á gua canalizada para a aldeia e os fontaná rios instalados, a vida
melhorou imensamente.
O cuidado de Damien nã o terminava com os vivos. Uma coisa que o
afligiu muito foi a maneira como os mortos foram jogados de um
pequeno penhasco e deixados para serem comidos por cã es e porcos
selvagens. Mesmo aqueles que tiveram a sorte de ter algué m para
enterrá -los acabaram sendo desenterrados por animais necró fagos,
pois suas sepulturas eram muito rasas. Damien construiu caixõ es 7 e
cavaram sepulturas. Ele fez um cemité rio que chamou de jardim dos
mortos e orou por eles. Sendo prá tico, ele també m montou um
pequeno esquema de poupança para que os leprosos pudessem colocar
algum dinheiro em um caixã o.
Damien também planejou sua pró pria morte e escolheu o local
para seu pró prio tú mulo. Mais tarde, escrevendo a seu irmã o, ele disse:
'No cemitério quase nã o há espaço para cavar as sepulturas. Fiquei
bastante aborrecido outro dia ao descobrir que eles haviam começado a
cavar uma cova... no mesmo lugar que eu havia reservado por tanto
tempo para mim. Tive que insistir para que o lugar ficasse vago... O meu
maior prazer é ir lá rezar o meu rosá rio e meditar naquela felicidade
sem fim que tantos já estã o desfrutando. Lá também meus
pensamentos se concentram nos sofrimentos do purgató rio.' O
cemitério era onde ele ia rezar quando a solidã o e a tentaçã o do
desespero se tornavam muito pesadas.
 
Isolamento
Molokai nã o era uma ilha desabitada. Havia pessoas morando na parte
principal, mas, além de barco, a ú nica saída da península era direto pelo
penhasco. Um visitante posterior descreveu a subida: '[O penhasco] era
quase perpendicular; ele desmoronou quando nos agarramos a ele
como gatos e quando olhei para baixo para encontrar apoio, descobri
que a rocha sobre a qual eu estava estirado em agonia de suspense
estava aparentemente pendendo sobre o mar ... Quase caí de susto ...
Nó s choveu e brilhou, coberto de poeira e detritos... e quando chegamos
ao topo, eu estava tonto e seco de sede... Fizemos isso em duas horas e
quarenta minutos com meu coraçã o batendo descontroladamente em
minhas costelas durante todo o caminho .' Isso nã o impediu Damien.
Ele subia sempre que podia, para ministrar aos cató licos no resto da
ilha.
Algum tempo depois da chegada de Damien a Molokai, houve uma
tempestade e todos os abrigos construídos em Kalawao foram
destruídos. Damien viu que esta seria uma boa chance de pedir ao
Conselho de Saú de que fizesse algo construtivo, algo que eles nã o
poderiam recusar. Ele pedia madeira para construir abrigos adequados.
Ele aproveitou a oportunidade para viajar a Honolulu para visitar seu
bispo, fazer sua confissã o e visitar o Conselho. O Conselho de Saú de já
nã o gostava de Damien, e Damien nã o lidava bem com burocracia ou
atrasos. A reuniã o nã o correu bem: Damien perdeu a paciência e o
presidente do Conselho, que já estava convencido de que Damien era
um intrometido rude e intrometido, lembrou-lhe que ele estava apenas
em Molokai para atender à s necessidades espirituais dos cató licos em
leprosá rio, para nã o fazer mais nada. Ele nã o deveria estar interferindo
no funcionamento da colô nia. Além disso, como as pessoas eram
proibidas de deixar Kalawao, ele nã o deveria ir para Molokai Topside (a
parte principal da ilha) e definitivamente nã o deveria visitar Honolulu.
Se ele vai permanecer em Kalawao, deve obedecer à quarentena.
Damien recusou-se a fazê-lo, mas o Conselho aplicou-o na medida do
possível. No final, conseguiu a madeira para as novas casas. De volta a
Molokai, ele começou a construir pequenas cabanas. Assim que os
leprosos viram o que era possível, começaram a construir também e
logo surgiram pequenas casas por toda parte. Com o tempo, eles
também tiveram jardins e cultivaram flores e vegetais, e logo estavam
vendendo batata-doce para o governo havaiano. As pessoas que temiam
qualquer contato com os leprosos, de alguma forma, nã o tinham medo
de comer as batatas-doces que haviam cultivado. Isso ajudou os
leprosos a ganhar algum dinheiro e deu-lhes mais independência e
respeito pró prio.
Por constantes reclamaçõ es, Damien conseguiu garantir aumentos
significativos nos fundos que o governo havaiano enviou para Molokai.
Em 1866, antes da chegada de Damien, isso era apenas $ 16.000 anuais;
em 1887, a soma era de $ 100.000 por ano. A maior parte desse
dinheiro veio dos lucros das plantaçõ es de açú car.
Por algum tempo Damien nã o pô de sair da ilha, nem ninguém foi
autorizado a visitá -lo. Novamente, seu maior sofrimento foi nã o poder
receber o sacramento da reconciliaçã o. Ele costumava fazer sua
confissã o em voz alta na frente do Santíssimo Sacramento. Além disso,
ele ingressou em uma Congregaçã o porque realmente nã o queria ficar
sozinho. Ele teve que lutar contra a depressã o e a 'insuportável
melancolia que vem da falta de companhia religiosa'. Ele costumava
dizer que sem a presença de Cristo no Santíssimo Sacramento, sua vida
ali teria sido impossível. Em seu diá rio, ele admoesta a si mesmo: 'Seja
severo consigo mesmo, indulgente com os outros. Tenha exatidã o
escrupulosa para tudo a respeito de Deus... Lembre-se de seus três
votos pelos quais você está morto para as coisas do mundo. Lembre-se
de que Deus é eterno e trabalhe corajosamente para um dia estar unido
a Ele para sempre.'
Mesmo para Damien, as responsabilidades que ele tinha à s vezes
se tornavam esmagadoras. Um morador de Molokai escrevendo para
sua família descreve como um exausto Damien, tendo perdido os vales-
alimentaçã o dos leprosos (fornecidos pelo Conselho de Saú de para
serem resgatados na loja), estava andando para cima e para baixo ao
longo da estrada, em lá grimas, pegando pedaços de papel aleató rios e
perguntando a cada transeunte se eles tinham visto os vouchers.
As coisas chegaram ao auge quando o provincial de Damien, que
estava profundamente ciente de suas necessidades, embarcou em um
navio para Molokai com a intençã o de passar alguns dias com Damien,
fazendo-lhe companhia e ouvindo sua confissã o. Mas quando ele
chegou à ilha, o capitã o do navio se recusou a deixá -lo desembarcar.
Damien, vendo isso, entrou em um pequeno barco e remou até o navio.
O capitã o recusou-se a deixá -lo embarcar. Damien estava perturbado,
mas como eles haviam chegado tã o longe, ele decidiu que a ú nica coisa
a fazer era gritar sua confissã o do barco para seu provincial no navio. E
foi isso que ele fez. O navio já estava se afastando quando seu confessor
gritou de volta sua absolviçã o. Relatos disso chegaram aos ouvidos do
cô nsul francês, que ficou bastante escandalizado e fez um protesto
oficial à s autoridades havaianas. Por causa disso, a proibiçã o foi
suspensa. Alegremente, Damien escreveu: 'Agora posso nã o apenas
cuidar de meus leprosos, mas também trabalhar pela conversã o do
resto da ilha.'
Mais tarde, Damien também recebeu companheiros, embora, no
final das contas, isso nem sempre fosse um prazer absoluto.
 
Esforços médicos e pastorais
Enquanto isso, Damien continuou a trabalhar para os leprosos. Ele
escreveu ao irmã o: 'Gostaria de poder me multiplicar para aliviar a
miséria deles.' Damien nunca perdeu de vista que estava com os
leprosos como sacerdote, mas também procurou atender à s suas
necessidades corporais, alimentando até com as pró prias mã os aqueles
que já nã o tinham dedos nem mã os. Nã o havia médico na colô nia de
leprosos naquela época, entã o Damien pegou alguns livros de medicina
e começou a fazer o que podia. Muitas vezes ele descobriu que tinha
que amputar membros que haviam sido infectados. Nã o havia
anestesia, mas nã o era necessá ria, pois os pacientes haviam perdido
toda a sensibilidade na parte afetada. Também nã o havia luvas para
proteger Damien dos membros cheios de pus que ele estava
removendo. Um cirurgiã o naval que visitou mais tarde disse que
Damien havia se tornado bastante especialista em amputaçã o, tendo
feito isso tantas vezes. Damien continuou seu conflito com o Conselho
de Saú de, reclamando a eles que a falta de curativos significava que
muitas feridas nã o podiam ser curadas, e isso era responsável pela
propagaçã o de outras doenças. O Conselho finalmente enviou alguns
suprimentos médicos bá sicos. Eles também enviaram estoque
suficiente para abrir duas lojas - uma em Kalawao e outra em
Kalaupapa. Kalaupapa era uma segunda colô nia de leprosos que havia
crescido na outra extremidade da península. Claro, Damien construiu
uma igreja lá . Ele inspirou e organizou os leprosos a construir uma
estrada decente entre os dois assentamentos e mostrou-lhes como
explodir rochas na costa para que Kalaupapa pudesse ter um cais
(essencial, pois todos os suprimentos vinham por mar).
Ele também ampliou a Igreja de Santa Filomena - na verdade, ele
teve que fazer isso duas vezes - porque era muito pequena para a
congregaçã o. Ele o decorou para que fosse alegre e atraente para a
congregaçã o. Isso foi um choque para os europeus. Uma das irmã s
franciscanas, que mais tarde se juntou a Damien em Molokai, disse que
parecia uma loja chinesa. Acima de tudo, Damien queria que seus
paroquianos vivessem uma vida cató lica o mais normal possível, mas
também adaptou isso à s deficiências dos leprosos. Por exemplo, como
em todas as outras igrejas cató licas, havia uma caixa para pobres, mas
como muitos dos leprosos eram cegos, a caixa para pobres tinha um
sino dentro dela para que pudessem ouvir que a moeda havia caído na
caixa. O chã o da igreja também tinha buracos em intervalos regulares,
já que muitos da congregaçã o tinham que cuspir constantemente, e
fazia mais sentido para eles cuspir diretamente no chã o. Damien tornou
a missa o mais cerimoniosa possível. Ele queria que todos se sentissem
envolvidos e elevados. Formou vá rias associaçõ es, coros que se
tornaram bastante famosos e uma orquestra. A orquestra tocou muito
bem, apesar do fato de que "a maioria dos mú sicos tinha apenas dois ou
três dedos e seus lá bios estavam muito inchados". A Festa de Corpus
Christi foi celebrada com grande solenidade. Damien descreveu a seu
irmã o que havia uma procissã o encabeçada por uma cruz 'seguida por
uma bandeira magnífica; os instrumentos de sopro e a bateria vêm a
seguir. Duas bandeiras havaianas tremulam sobre duas associaçõ es
rivais. Seguem-se longas filas de mulheres, depois os homens
marchando em filas, depois um coro de quarenta vozes sob a direçã o do
meu bom cego Petero... que todos compartilharam. "Você vê que Nosso
Senhor nos deixa de vez em quando colher uma bela rosa entre
espinhos afiados." Ele também incentivou passeios a cavalo e corridas,
pois eram coisas que a maioria deles poderia fazer mesmo nos está gios
finais da doença, e organizou churrascos e competiçõ es de pesca.
O pró prio Damien criava galinhas. Ele os guardava para os ovos,
mas eles eram como animais de estimaçã o. Eles corriam até ele
cacarejando quando o viam e se empoleiravam em seus braços. Ele os
acariciou e acariciou, mas nã o hesitou em matar um deles para
alimentar alguém particularmente doente ou se houvesse um visitante.
Ele mesmo nunca comeu frango. Ele comeu a mesma comida que os
leprosos,
 
'Faço-me leproso com os leprosos'
Damien nã o estava em Molokai simplesmente para facilitar a vida dos
leprosos. Ele estava antes de mais nada preocupado com a vida eterna
deles. Damien se identificou com os leprosos desde o início. Muito cedo
em seu tempo lá , ele escreveu: 'Quanto a mim, faço-me leproso com os
leprosos para ganhar tudo para Jesus Cristo. É por isso que na pregaçã o
eu digo 'nó s leprosos' e nã o 'meus irmã os' como na Europa'. Ele fez
muitos convertidos, mas nã o administrou o batismo levianamente e,
portanto, treinou equipes de catequistas entre os leprosos para dar
instruçã o. Ele também formou duas associaçõ es, uma de homens e
outra de mulheres, cujo objetivo era levar conforto e ajuda aos
necessitados. Ele pró prio passava longas horas no confessioná rio. A
lepra muitas vezes ataca as cordas vocais, reduzindo a voz a um
sussurro rouco e Damien teve que se inclinar muito perto do penitente
para ouvir o que estava sendo dito, muito perto do há lito do leproso
com seu cheiro terrível. Pior que isso, alguns sofriam de acessos de
tosse que borrifavam sangue em Damien. Isso era uma ocorrência tã o
comum que ele costumava levar uma toalha e uma tigela com á gua para
o confessioná rio. Em ambas as igrejas foi introduzida a adoraçã o
perpétua. Os leprosos eram muito fiéis a isso. Se eles estivessem muito
doentes para ir à igreja, eles ficariam em vigília em suas casas. Eles
descobriram que em seu sofrimento havia uma dignidade. Em seu
sofrimento, eles encontraram Cristo e foram capacitados a oferecer
esse sofrimento pela salvaçã o de outros.
 
Padre André e Padre Alberto
Por seis anos, Damien trabalhou sozinho em Molokai até que, em 1879,
um padre holandê s, Fr Andrew Burgerman 8 , foi enviado pela
Congregaçã o. Damien a princípio ficou encantado com a chegada do P.
Andrew. Ele estava feliz por ter um companheiro e o P. Andrew podia
cuidar das necessidades espirituais dos outros paroquianos de
Molokai, aqueles fora da colô nia de leprosos. Mas o P. Andrew tinha
outras ideias. Ele tinha algum treinamento mé dico e achava que era
muito mais adequado para cuidar dos pacientes com lepra do que
Damien. Seus superiores pareciam concordar, entã o foi Damien quem
foi enviado para ministrar aos outros paroquianos. Logo as relaçõ es
entre os dois homens ficaram muito tensas. Damien era brusco e
exigente, e Pe Andrew nã o era apenas ambicioso, mas um pouco
desequilibrado. Ele decidiu a certa altura deixar a ordem e abandonou
todos os deveres religiosos, trabalhando apenas como mé dico. Quando
Damien discutiu com ele sobre isso, Pe. Andrew o ameaçou com uma
arma. Para horror de seus superiores, isso foi posteriormente relatado
no jornal local como uma 'briga'. Depois de dois anos, o P. Andrew
deixou Molokai, mas nã o deixou a ordem.
Essa incapacidade de viver em harmonia com um membro de sua
pró pria congregaçã o pesava contra Damien com seus superiores.
Damien nã o queria ficar sem companheiros, mas quando eles chegaram
nã o conseguiu viver com eles.
O pró ximo a chegar, em 1881, foi o P. Albert Montiton. O P. Albert
estava no Pacífico Sul há vinte e quatro anos e era uma espécie de
celebridade. Ele foi enviado para Molokai porque seus superiores
começaram a ter sérias reservas sobre Damien, que era considerado
rude, mal-educado e imprudente; e agora circulavam rumores sobre
sua moralidade. É claro que Damien estava feliz em ficar em Molokai,
disseram seus inimigos. Afinal, era bem sabido que a lepra era
resultado da sífilis. Os leprosos eram obviamente imorais e Damien
certamente estava tendo relaçõ es sexuais desenfreadas com as
mulheres da colô nia de leprosos. Pe. Albert parecia convencido da
veracidade dessas acusaçõ es antes mesmo de conhecer Damien. A
primeira coisa que fez ao chegar ao assentamento foi se livrar de todas
as mulheres que trabalhavam perto da casa do padre. Entã o ele contou
a Damien os rumores sobre ele e pregou e importunou-o tanto e por
tanto tempo que Damien pediu que o Pe Albert fosse enviado para
outro lugar. Isso foi recusado, assim como seu pedido para visitar
Honolulu (para obter algum descanso). Mas entã o, quando o padre
Albert decidiu deixar Molokai para voltar ao Taiti, Damien fez o possível
para impedi-lo de ir, até pedindo ao bispo que enviasse ao padre Albert
uma 'carta paterna' dizendo-lhe para ficar. Como seu antecessor, o
padre Albert só conseguiu tolerar Damien por dois anos, embora, pelo
resto de sua vida, nã o ouvisse uma palavra ruim sobre Damien e se
tornasse um de seus mais ferozes defensores.
 
Reconhecimento da Família Real do Havaí
Em 1881, o rei David Kalahua, que foi o ú ltimo monarca havaiano antes
de o Havaí ser anexado pelos Estados Unidos, fez uma turnê mundial
deixando sua irmã , a princesa Liliuokalani, como regente. A princesa
era uma mulher muito capaz que aproveitou a ausência do irmã o para
instituir muitas reformas. Uma das coisas que ela decidiu fazer foi
visitar o leprosá rio. Damien e seus paroquianos quiseram fazer o
melhor para seu ilustre convidado e pintaram, limparam e cobriram
tudo com flores. Todos os que puderam subiram ao cais para dar as
boas-vindas à princesa. Havia mú sica, guarda de honra, tudo o que
podiam imaginar. Quando chegou a hora de a princesa fazer um
discurso, ela nã o conseguiu. Ela só conseguia chorar. Ela foi tomada
pela tragédia e pelo horror do lugar. Mas ela nã o queria desapontá -los.
Ela fez um tour por tudo e ficou o dia inteiro em vez da hora marcada.
Ao sair, ela perguntou a Damien como ele poderia ficar, mas ele apenas
respondeu que essas pessoas eram seus paroquianos. Algum tempo
depois, o bispo veio visitá -lo, trazendo consigo para Damien a insígnia
de joias da Ordem Real de Kalakaua e uma carta pessoal da princesa
Liliuokalani.
 
Reputação e polêmica
Em 1884, Charles Warren Stoddard, um acadê mico americano, visitou
Molokai. Ele já havia visitado a ilha no final da dé cada de 1860, antes da
chegada de Damien. Ele ficou surpreso com as mudanças que viu. Ele
descreveu o pró prio Damien: 'Sua batina estava gasta e desbotada, seu
cabelo bagunçado como o de um colegial, suas mã os manchadas e
endurecidas pelo trabalho; mas o brilho da saú de estava em seu rosto,
a alegria da juventude em suas maneiras; enquanto sua risada
retumbante, sua pronta simpatia e seu magnetismo inspirador falam
de algué m que em qualquer esfera pode fazer um trabalho nobre e que,
naquilo que escolheu, está fazendo o mais nobre de todos os trabalhos.
Este era o Padre Damien...' 9
No mundo exterior, com o passar dos anos, Damien foi se tornando
cada vez mais conhecido. Isso se deveu em parte a seu irmã o Panfílico,
que passava as cartas de Damien para o boletim da Congregaçã o para
publicaçã o. Damien nã o gostou disso e escreveu ao irmã o: 'Fiquei um
pouco aborrecido ao encontrar minha ú ltima carta impressa nos Anais .
De uma vez por todas, deixe-me dizer que nã o quero que isso seja feito.
Quero ser desconhecido para o mundo e agora descubro que estou
sendo falado por todos os lados, até mesmo na América.' Pamphile o
ignorou e nã o havia nada que Damien pudesse fazer. A notícia, por sua
vez, foi divulgada por outros jornais em todo o mundo. Na Inglaterra, o
reverendo Hugh Chapman, que era vigá rio anglicano da Igreja de Sã o
Lucas em Camberwell, Londres, inspirou-se no apostolado de Damien e
escreveu oferecendo-se para arrecadar fundos para a colô nia.
'Sou apenas um ministro da Igreja da Inglaterra', escreveu ele, 'mas
seu exemplo é mais capaz de fazer conversõ es à sua Igreja do que
qualquer sermã o que já ouvi.'
Damien ficou muito feliz por Chapman levantar fundos e escreveu
uma carta amigável dizendo-lhe que, como ele, Damien, havia feito voto
de pobreza, o dinheiro deveria ser enviado ao banco em Honolulu, onde
seus superiores poderiam garantir que fosse usado para o colô nia.
Damien também escreveu elogiando um convertido do anglicanismo,
Joseph Dutton, que agora estava trabalhando com ele (sobre quem mais
tarde) e acrescentou 'permita-me orar todos os dias por você e seus
irmã os para que um dia possamos todos ter a mesma fé e pertencem à
mesma Igreja verdadeira.' Chapman interpretou isso como um elogio e
começou a trabalhar com grande entusiasmo, falando com seus
paroquianos e escrevendo artigos para os jornais nacionais. Logo as
cartas começaram a aparecer na imprensa; alguns eram a favor, mas
muitos eram contra. A controvérsia faz pouco sentido para o ouvido
moderno, mas era típica de sua época e bastante acirrada. Uma carta
dizia que Damien, longe de ajudar, estava tornando os pacientes
leprosos morais e os levando direto para o inferno com sua terrível
propaganda cató lica. Outros diziam que os leprosos estariam melhor
mortos do que nas garras de Roma. Outros ainda acreditavam que
Damien estava interferindo na vontade de Deus - os leprosos eram
degenerados morais que haviam sido atingidos pela doença por causa
de suas vidas depravadas e precisavam sofrer para expiar. Chapman
nã o se intimidou. Ele contou com a ajuda do Cardeal Manning, o entã o
Arcebispo de Westminster, e em três anos Chapman e seus paroquianos
levantaram e enviaram mais de £ 2.000 para o padre Damien - uma
quantia muito grande naqueles dias. O dinheiro, as honras e a
publicidade que Damien recebeu deixaram seus superiores ainda mais
preocupados com ele. Seu provincial, falando sobre outros que
estiveram em Molokai, escreveu, 'tudo isso foi feito silenciosamente
sem gritos de admiraçã o do pú blico; a honra de chamar a atençã o, de
suscitar simpatias e de agitar a imprensa foi reservada ao P. Damien.' A
publicidade também foi embaraçosa para o governo havaiano, pois deu
a impressã o de que eles estavam negligenciando os leprosos e que
cabia aos estrangeiros cumprir o que realmente era sua
responsabilidade, quando na verdade o Havaí estava gastando uma
porcentagem maior de sua receita com cuidados para leprosos do que
qualquer outro país. Isso nã o ajudou nas relaçõ es entre as autoridades
e os missioná rios dos Sagrados Coraçõ es como um todo. Os superiores
de Damien começaram a se perguntar se ele realmente estava buscando
publicidade e honra para si mesmo. Essa atitude crítica de seus
superiores incomodava muito Damien. Como escreveu mais tarde o
padre Pamphile, Damien nunca suportou a discó rdia entre os irmã os.
Damien comparou as críticas de seus superiores à mirra, que recebeu
do pú blico junto com o ouro e o incenso.

5 Essas leis de isolamento não foram abolidas até 1969.


6 Sacramento dos Enfermos, naquela época apenas dado aos moribundos.
7 Estima-se que ele fez mais de 1.000 caixões enquanto estava em Molokai. O caixão em que ele foi enterrado
provavelmente era um deles. Pode ser visto no Museu em Tremeloo.
8 Também referido em Life and Letters como Fr Andre Nollander, significando holandês Fr Andrew.
9 Stoddard mais tarde escreveu vários livros sobre Molokai.
 
 
Rumo ao Fim
 
Primeiros sinais de lepra
Em 1885, quando tinha quarenta e cinco anos e havia sido missioná rio
por metade de sua vida, Damien ouviu falar da obra de Madre Marianne
Cope. 10 , um franciscano americano nascido na Alemanha, que com
outras seis irmã s tinha vindo recentemente para as ilhas para ajudar a
cuidar dos leprosos. Eles haviam fundado a Casa Kapiolani para cuidar
de leprosos no terreno do hospital de Honolulu, e o governo havaiano
perguntou a Madre Marianne se ela estaria disposta a abrir outra casa
em Molokai. O padre Damien foi vê -la no início de julho de 1886 e,
segundo todos os relatos, 'Silent Jef' exauriu a todos com conversas. Ele
estava particularmente preocupado que ela e suas irmã s cuidassem
das crianças. As crianças que contraíam lepra eram muitas vezes
enviadas para Molokai sozinhas e com medo. Houve també m crianças
que nasceram na ilha e cujos pais faleceram posteriormente. Damien
estava muito ciente de como eles eram vulneráveis. Muitas vezes eram
expulsas das cabanas onde viviam, aterrorizadas, intimidadas e à s
vezes até forçadas à prostituiçã o. Ele havia fundado dois pequenos
orfanatos - um para meninos e outro para meninas - e estava muito
preocupado com o que aconteceria com eles quando ele morresse,
porque agora sabia que ele pró prio tinha lepra. No ano anterior, ele
havia escrito ao Padre Geral em Roma: 'Fui condecorado com a Cruz
Real de Kalakaua e agora com a mais pesada e menos honrosa cruz da
lepra. Nosso Senhor quis que eu fosse estigmatizado com isso... Vou
continuar trabalhando.'
Este diagnó stico foi confirmado pelo Dr. Edward Christian Arning,
que veio ao Havaí para fazer pesquisas sobre a lepra. Ele enfiou uma
longa agulha no pé e na perna de Damien e passou uma forte corrente
elétrica por ela. Damien nã o sentiu nada. Arning também examinou
Damien em busca de sífilis (e nã o encontrou nenhum sinal dela),
fazendo com que Damien fizesse uma declaraçã o assinada e
testemunhada: 'Nunca tive relaçõ es sexuais com ninguém.'
No início de seu apostolado, Damien optou por nã o se manter
separado, mas viver em contato pró ximo com os leprosos à maneira
havaiana. Um visitante escreveu: 'O cachimbo foi enchido e passado
para ele, embora recém-retirado da boca de um leproso. Ele comeu da
cabaça da família. Seus detratores, com os preconceitos da época,
diziam que ele havia 'virado nativo', mas ele respondeu que tudo o que
estava fazendo era ganhar almas para Cristo usando os métodos de Sã o
Paulo - sendo tudo para todos os homens. Damien sentiu primeiro uma
dor no pé esquerdo que logo dificultou a caminhada, depois a dor se
espalhou pela perna. Um pouco depois, ele sofreu um acidente em que
colocou o pé na á gua escaldante e percebeu que nã o sentia nada. Em
Outubro de 1885 teve a certeza e escreveu ao P. Leonor Fouesnel, seu
superior: «Sou leproso. Bendito seja Deus. Só peço que envie alguém ao
meu tú mulo para ser meu confessor.
Algum tempo depois, Pamphile contraiu tuberculose e escreveu
para contar a Damien sobre isso. Damien escreveu de volta: 'Quanto a
mim, nã o posso esconder de você por muito tempo que estou ameaçado
por uma doença ainda mais terrível. Como você sabe, a lepra é
contagiosa. Ainda estou saudável como sempre, mas nã o sinto meu pé
esquerdo há três anos... Tenho um veneno em meu corpo que ameaça se
espalhar por ele. Mas nã o vamos gritar sobre isso. Vamos orar uns pelos
outros.'
Ele minimizou seus sintomas e sua mã e nã o foi informada de sua
doença. Ele sempre tentou poupá -la da preocupaçã o de estar em
Kalawao, e anteriormente ele havia escrito para tranqü ilizá -la: 'Moro
sozinho em uma pequena cabana; os leprosos nunca entram nela. De
manhã , depois da missa, uma mulher que nã o é leprosa vem preparar
minha refeiçã o. Meu jantar consiste em arroz, carne, café e alguns
biscoitos. Para o jantar, tomo o que sobrou do jantar com uma xícara de
chá . Meu galinheiro me fornece ovos. Depois de escurecer, rezo meu
breviá rio à luz de minha lâ mpada, estudo um pouco ou escrevo uma
carta, entã o nã o se preocupe que nã o escrevo com frequência. Eu
realmente só tenho tempo para lembrar de você em minhas oraçõ es.'
Isso era verdade quando ele o escreveu. Mas em 1884, o Dr. Mouritz, o
médico que o Conselho de Saú de havia, naquele ano, nomeado para
Kalawao, descreveu a casa de Damien como 'Casa da Família Kalawao e
Repouso dos Leprosos, camas gratuitas, alimentaçã o gratuita para os
necessitados...'. Na verdade, ele ficou surpreso com a indiferença de
Damien em se separar dos doentes. No início de 1886, a notícia da lepra
de Damien chegou aos jornais em um relato sensacionalista que dizia
que sua carne "estava caindo em farrapos". Sua mã e, agora com oitenta
e três anos e viú va há treze anos, leu isso e ficou horrorizada. Ela ficou
silenciosa e retraída e morreu pouco depois, em 6 de abril.
Somado à perda de sua mã e, Damien agora sofria o que lhe parecia
a perda de sua Congregaçã o. Ele ainda estava sozinho e agora tinha
lepra. Ele escreveu a seus superiores que queria vir para Honolulu. Ele
queria se tratar com o médico japonês Masano Goto, cuja abordagem
ele preferia à dos médicos ocidentais. Ele também queria conhecer
Madre Marianne, mas acima de tudo queria encontrar conforto com
seus irmã os da Congregaçã o. Pe. Fouesnel escreveu de volta pedindo-
lhe que nã o viesse à sede missioná ria, mas que ficasse no hospital com
as irmã s. 'Mas se você for lá', acrescentou, 'por favor, nã o reze missa.
Nem padre Clemente nem eu celebraremos missa usando o mesmo
cá lice e as mesmas vestes que você usou. As irmã s recusarã o a Santa
Comunhã o de suas mã os.' Essa aparente aspereza é compreensível,
considerando como a lepra infecciosa era considerada e como Damien
parecia descuidado, mas Damien falou dessa 'rejeiçã o' como o maior
sofrimento que teve de suportar em sua vida. Ele compartilhou com
Cristo nã o apenas o sofrimento físico, mas também essa angustiante
solidã o e abandono.
 
Irmão Joseph e outros companheiros
Mas Deus nã o o havia esquecido. Em 19 de julho de 1886, Damien
recebeu uma companheira. Ira Dutton era um americano de quarenta e
poucos anos, convertido do episcopalismo. Ele tinha lido sobre o P.
Damien em uma revista e sentiu-se inspirado a ir ter com ele. No
entanto, como Dutton nã o queria tomar nenhuma decisã o precipitada,
ele visitou o autor do artigo para se certificar. Só entã o partiu para o
Havaí, onde foi ver primeiro o bispo e depois o chefe do Conselho de
Saú de. Depois de tudo isso, ele pediu para ir para Molokai como
voluntá rio - na verdade, ele foi contratado pelo Conselho de Saú de que
ficou muito impressionado com ele. Dutton era um homem que
conhecera seu pró prio sofrimento. Depois de lutar na Guerra Civil
Americana e de um casamento desastroso com uma mulher que gastou
todo o seu dinheiro e depois saiu com outro homem, Dutton tornou-se
alcoó latra. Ele foi alcoó latra por muitos anos. Mas em 1883 ele parou de
beber e se converteu ao catolicismo. Ele mudou seu nome para José. Ele
passou algum tempo em um mosteiro trapista e eles o teriam aceitado
como monge, mas ele sentiu que Deus o estava chamando para outra
coisa. Essa outra coisa era Molokai, e ele trabalhou lá por quarenta e
cinco anos, até morrer em 1931.
Damien estava muito feliz por ter Dutton com ele. Ele logo
começou a chamá -lo de 'Irmã o Joseph'. Damien construiu para ele uma
pequena casa e deu-lhe muito trabalho. O irmã o Joseph ficou surpreso
com a quantidade de trabalho, o nú mero de projetos - muitas vezes eles
trabalhavam de madrugada até meia-noite. Mas o irmã o Joseph nunca
reclamou. Ele era conhecido por nunca perder a paciência ou mostrar
qualquer sinal de impaciência, nã o importa quanta provocaçã o
houvesse. Dutton disse que Damien podia ser 'veemente e
entusiasmado em relaçã o a assuntos que nã o lhe pareciam corretos e à s
vezes dizia e fazia coisas das quais depois se arrependia... mas tinha um
desejo verdadeiro de fazer o certo'.
Havia uma verdadeira comunhã o entre ele e Damien. O Irmã o
Joseph escreveu: 'O Pe Damien tinha em seu coraçã o, quando tranquilo,
um sentimento muito terno, como muitas vezes me fizeram saber. Você
me confirma ao afirmar o fato de que ninguém achou agradável o
tempo todo estar com ele por um período muito longo. Se minha
associaçã o íntima com ele continuou por mais tempo do que com
outros, foi em parte porque admiti minhas pró prias falhas a esse
respeito e em parte porque o vi depositar em mim a mais inteira
confiança e ter em seu coraçã o um profundo amor, nã o importa o que
aconteça. seu exterior pode ser. E também costumava ser bastante
aberto com ele ao falar de todas essas coisas; ele também comigo, e isso
pareceu nos dar confiança um no outro.' Joseph Dutton nunca deixou
Molokai. Ele permaneceu em boa saú de até sua morte aos 88 anos.
Mais tarde chegou outro 'irmã o'. Este era o 'Irmã o James'. James
Sinnett, um irlandês de Chicago, era um enfermeiro treinado contratado
pelo Conselho de Saú de. Ele chegou um ano antes da morte de Damien
e desenvolveu uma devoçã o total por ele. Foi ele quem cuidou dele no
final, e depois da morte de Damien ele nã o suportou ficar em Molokai.
Ele saiu imediatamente e nã o se ouviu mais falar dele.
Pouco antes da chegada de James Sinnett, Damien finalmente
recebeu seu confessor. Pe. Louis-Lambert Conrardy veio de Oregon para
trabalhar com Damien. Ele também era belga, mas era um padre
secular, nã o membro da Congregaçã o dos Sagrados Coraçõ es. Ele queria
vir para Molokai há algum tempo e tinha o apoio de seu bispo, mas nã o
havia recebido permissã o dos superiores de Damien, que teriam
preferido um padre de sua pró pria congregaçã o. Pe. Louis-Lambert
permaneceu em Molokai por seis anos apó s a morte de Damien, depois
partiu para estudar medicina. Ele se formou como médico e foi
trabalhar em um hospital de leprosos em Canton. Ele morreu lá em
1914, nã o de lepra, mas de pneumonia.
 
Morrer pobre entre os mais pobres
A essa altura, no final de 1886, a doença havia progredido rapidamente.
Marcas e feridas apareceram no rosto de Damien, um de seus braços
inchou além do reconhecimento e era tã o pesado que precisava ser
carregado em uma tipó ia. Seu nariz caiu, o que dificultou o uso dos
ó culos, ele teve uma diarréia aguda e se sentia desesperadamente
cansado. Ele tinha dificuldade para andar. Mas o pior de tudo, sua
laringe foi afetada. Ele nã o conseguia respirar se deitasse, entã o dormir
tornou-se quase impossível. Ele acordava tossindo. Existem vá rios tipos
de lepra e Damien tinha o tipo mais grave. A melancolia é um sintoma
comum e Damien ficou profundamente deprimido. Ele acreditava que
havia falhado na missã o que Deus lhe havia confiado e que nã o era
digno do céu. Noite apó s noite ele caminhava pelo cemitério, rezando o
rosá rio, rezando pelas almas dos mortos e pedindo que rezassem por
ele. Ele começou a ficar cego, mas lutou para continuar rezando o Ofício
Divino. Ele teve crises de febre. Em seguida, recebeu a notícia de que
Madre Marianne e as irmã s haviam chegado com seu pá roco, Pe.
Wendelin Moellers. Ele saiu da cama para encontrá -los. Este, disse ele,
era seu Nunc Dimittis ( Lucas 2:36). Ele agora poderia partir em paz.
Seus leprosos seriam tratados.
 
Edward Clifford
Em 1887, Edward Clifford, um artista, leu um artigo de revista sobre o
Pe. Damien. Ele iria passar algum tempo investigando o tratamento da
lepra na Índia e decidiu visitar Damien em seu caminho de volta para a
Inglaterra. Ele chegou a Molokai no Natal de 1888, trazendo consigo um
grande nú mero de presentes e algumas doaçõ es consideráveis em
dinheiro de vá rias fontes. Os presentes estavam em uma enorme caixa
de embalagem que se mostrou impossível de desembarcar, entã o
Clifford desfez a caixa no navio e distribuiu o conteú do um por um.
Havia ó leo de gurjun, que Clifford tinha visto ser usado para aliviar
parte do sofrimento da lepra na Índia. Havia estaçõ es da cruz gravadas
para a igreja, uma lanterna má gica com slides de cenas dos Evangelhos
e um realejo que tocava cinquenta melodias diferentes e era a estrela
das celebraçõ es do Natal. Havia também uma pintura, de Burne Jones,
de Sã o Francisco recebendo os estigmas, enviada pelo pró prio artista. A
pintura mostra Francisco de joelhos em êxtase diante de um serafim
com o rosto de Cristo. Damien ficou maravilhado com o valor deste
presente, mas ficou emocionado com o assunto (Sã o Francisco também
tinha grande compaixã o pelos leprosos) e colocou-o em seu pró prio
quarto. Ele podia vê-lo de sua cama quando estava morrendo e isso o
confortava. Em troca, Burne Jones recebeu uma fotografia de um
desenho que Clifford fez de Damien, que ele pendurou no fundo de sua
cama.
Clifford e Damien se abraçaram imediatamente e passaram um
tempo feliz juntos discutindo todo tipo de coisas, incluindo religiã o.
Clifford, um anglicano e membro do Exé rcito da Igreja, ficou surpreso
com o quanto eles concordaram, porque, como ele pró prio admitiu, era
veementemente anticató lico e quando criança ficava apavorado ao ver
freiras cató licas, quem ele era. com certeza iria sequestrá -lo para usar
em rituais horríveis. Ele disse sobre Damien: 'Fiquei feliz em descobrir
em uma conversa com ele que nã o fazia parte de sua crença que os
protestantes devem estar eternamente perdidos.' 11 Damien havia
mudado desde os primeiros dias de competiçã o entre os missioná rios.
Clifford fez alguns esboços e aquarelas de Damien, a quem descreveu
assim: 'Ele agora tem quarenta e nove anos - um homem robusto, de
constituiçã o forte, com cabelos pretos encaracolados e uma barba
curta que está ficando grisalha. Seu semblante deve ter sido bonito,
com uma boca cheia e bem curvada e um nariz curto e reto; mas agora
ele está bastante desfigurado pela lepra, embora nã o tanto a ponto de
tornar nada alé m de um prazer olhar para seu rosto brilhante e sensato.
Sua testa está inchada e enrugada, as sobrancelhas sumiram, o nariz
está um tanto afundado e as orelhas estã o muito aumentadas.' Quando
Clifford lhe mostrou um dos desenhos e perguntou se ele gostaria que
uma fotografia dele fosse enviada ao irmã o, Damien disse: 'Que cara
feia. Nã o pensei nem sabia que a doença havia progredido tanto. 12 Ele
disse que achava que seria um choque muito grande para Pamphile vê -
lo assim. A sobrinha de Clifford, em uma carta ao The Times em 1932,
diz que acha que é por isso que Clifford fez um retrato idealizado de
como ele achava que o padre Damien deveria ter sido quando jovem
para a capa do livro que escreveu em 1889. Este retrato idealizado era
muito popular e foi reproduzido repetidas vezes, mas, como disse a
sobrinha de Clifford, era 'mais uma expressã o de... amor e veneraçã o...
do que um retrato real do Pe. Damien.' Quando Clifford saiu, Damien
deu a ele um cartã o com flores prensadas da Terra Santa e quando
Clifford pediu a Damien para escrever algo em sua Bíblia, ele escreveu:
'Eu estava doente e você me visitou. J. Damien de Veuster.' Ele nã o
queria ter pena. Ele disse: 'Sou o mais feliz dos missioná rios. Eu nã o
ficaria curado se o preço da minha cura fosse desistir do meu trabalho
e deixar a ilha.'
Ele escreveu uma ú ltima carta a seu irmã o: 'Estou muito feliz e
contente e, embora gravemente doente, tudo o que desejo é o
cumprimento da santa vontade de Deus. Tenho comigo um padre de
Liege, Pe. Conrardy, e Pe. Wendelin está em outra aldeia. Além destes,
tenho dois irmã os que me ajudam a cuidar de cem ó rfã os que estã o sob
minha responsabilidade. O hospital contém mais de mil leprosos.
Também temos irmã s aqui; três enfermeiras franciscanas... Ainda
consigo, mas nã o sem alguma dificuldade, estar todos os dias no altar
onde nã o me esqueço de rezar por vocês. Em troca, por favor, ore e reze
por mim, que estou sendo gentilmente atraído para o tú mulo. Que Deus
me fortaleça e me dê a graça da perseverança e de uma morte feliz'.
Em março de 1889, ele ficou acamado. Ele fez sua confissã o ao Pe
Wendelin e renovou seus votos religiosos. Ele também fez um
testamento dando ao bispo todas as doaçõ es que haviam sido feitas ao
leprosá rio. Ele estava feliz por nã o possuir nada, "nem mesmo um firme
domínio da vida". Pe. Wendelin disse: 'Ele parecia tã o feliz.' Damien
conhecia bem os sinais da morte. As feridas abertas estavam
cicatrizando e as crostas ficando pretas. 'Eu gostaria muito de ter visto
o bispo de novo', disse ele, 'mas nã o importa. Deus está me chamando
para passar a Pá scoa no céu.' No dia 2 de abril, Pe. Conrardy deu-lhe a
Extrema Unçã o. "Deus é bom por ter me mantido vivo até que eu tivesse
dois padres comigo", disse Damien. Mas mesmo no final Damien nã o foi
sentimental. Pe. Wendelin escreveu: 'Pedi-lhe que me deixasse seu
manto como Elias, para que eu tivesse seu grande coraçã o. "O que você
faria com isso?" ele perguntou: “Está cheio de lepra!” Entã o, pedi-lhe
sua bênçã o. Ele me abençoou com lá grimas nos olhos e também
abençoou as irmã s, por cuja vinda ele havia orado tanto. O que mais
admirei nele foi sua admirável paciência. Aquele que era tã o ardente,
tã o vivo, tã o forte... para ser assim pregado ao seu leito de enfermo...
Como o mais pobre dos leprosos, jazia no chã o sobre um pobre colchã o
de palha e tivemos muitos problemas fazendo-o aceitar uma cama.' Na
verdade, ele só o fez porque lhe disseram que seria mais fá cil
amamentá -lo na cama do que no chã o. Entã o eles descobriram que ele
nã o possuía lençó is. Nos seus ú ltimos dias, o P. Damien conheceu duas
figuras que nunca saíram da sua cabeceira. Um estava na cabeceira da
cama e o outro no pé. Eles eram invisíveis para qualquer outra pessoa.
Em 15 de abril ele morreu. Era a Semana Santa. Aqueles que estavam
com ele disseram que ele simplesmente deu um sorriso infantil e
'morreu sem nenhum esforço'.
Ele estava vestido com sua batina e vestes brancas. A missa de
réquiem foi rezada pelo padre Wendelin, e oito pacientes carregaram
seu caixã o para onde ele foi enterrado sob a á rvore pandanus sob a qual
dormira naquelas primeiras noites em Molokai.
 
Controvérsia e honras após sua morte
Apó s a morte heró ica de Damien, muitas pessoas influentes se
interessaram pela situaçã o dos leprosos, e o tratamento da lepra foi
aprimorado em todo o mundo. No Havaí, que em 1898 se tornou um
territó rio americano, o Serviço de Saú de Pú blica dos Estados Unidos
construiu uma Estaçã o de Investigaçã o de Lepra com muito custo e com
tecnologia de ponta; mas ninguém queria usá -lo e fechou dois anos
depois.
Mesmo na morte, Damien nã o estava livre dos ataques de seus
inimigos. Alguns anos apó s sua morte, o Dr. Charles Hyde escreveu uma
resposta a uma pergunta feita por um colega, o reverendo Sr. HB Gage.
Em sua carta, o Dr. Hyde disse que o Pe Damien recebeu honras que nã o
merecia. Ele contraiu lepra por causa de relaçõ es sexuais com as
mulheres da ilha e morreu por causa de seu descuido e corrupçã o. Foi a
retribuiçã o divina. Gage publicou a carta e logo foi lida em todo o
mundo. Robert Louis Stevenson, o autor, que visitou Molokai em 1889 e
ficou muito impressionado, embora tivesse chegado tarde demais para
conhecer o padre Damien, ficou escandalizado com isso e escreveu um
ataque contundente a Hyde, acusando-o de inveja e hipocrisia e
alegando que ele havia perdeu os ú ltimos resquícios de honra e
decê ncia. Stevenson cuidou para que isso fosse publicado em toda a
Amé rica e Europa. Os jornais ficaram muito felizes em ter uma batalha
como essa para atrair leitores. Mas Hyde nã o tinha a mesma
capacidade de se expressar que Robert Louis Stevenson e foi silenciado
até quatro anos depois, quando Stevenson morreu. Entã o Hyde afirmou
que, antes de sua morte, Stevenson havia aceitado a interpretaçã o de
Hyde dos eventos - algo que a Sra. Stevenson negou. 13
Em 1935, o governo belga fez um pedido formal para que os restos
mortais do P. Damien fossem devolvidos à Bélgica. O corpo do padre
Damien foi desenterrado em 26 de janeiro de 1936 e levado para
Honolulu, onde o caixã o permaneceu na catedral por vá rios dias antes
de ser colocado em um navio (o Mercator ) para a Bélgica. Enquanto o
caixã o era levado para o navio, crianças cató licas se alinhavam na
passarela do cais, entre elas uma criança de oito anos chamada Audrey
Horner.
Quando o navio atracou em San Francisco, o arcebispo local, John
Joseph Mitty, teve permissã o para levar o corpo para sua catedral e por
um curto período de tempo ele permaneceu lá . O Mercator chegou a
Antuérpia no dia 3 de maio e foi recebido pelo rei Leopoldo III,
dignitá rios da igreja e do estado e milhares de pessoas comuns. Todos
os sinos da igreja foram tocados. O caixã o foi levado para a Catedral de
Antuérpia em um carro funerá rio puxado por seis cavalos brancos para
uma solene comemoraçã o antes de ser levado para Leuven, onde seu
corpo foi colocado em uma tumba de má rmore preto na cripta da igreja
dedicada a Sã o José e Santo Antô nio do Egito. . O tú mulo vazio de
Damien permaneceu aberto em Molokai.
 
São Damião, discípulo de Cristo
A causa do Padre Damien foi aberta pelo Papa Pio XII em 1956. Havia
tanta documentaçã o que levou anos, e foi somente em 7 de julho de
1977 que o Papa Paulo VI declarou que Damien era de 'Virtude Heró ica'
e recebeu o título Venerável. Em 1991, foi aceito que um milagre havia
sido obtido pela intercessã o de Damien. Esta foi a cura da Irmã
Simplicia Hue, uma irmã dos Sagrados Coraçõ es, cuja doença fatal
desapareceu depois que ela pediu a ajuda do Pe. Damien. A data da
beatificaçã o do Padre Damien estava marcada para 5 de maio de 1994,
sua cripta havia sido aberta e seus restos mortais colocados em vá rias
caixas de zinco, quando o Papa Joã o Paulo II sofreu um acidente onde
quebrou a perna e a cerimô nia foi adiada para 4 de junho de 1995.
Aconteceu do lado de fora da Basílica de Koelkelberg, em Bruxelas, sob
chuva torrencial. Junto com o rei Albert II, 500 padres e 40 bispos,
estava Madre Teresa de Calcutá , uma admiradora de longa data do
padre Damien. Também havia vá rios ex-pacientes de Molokai - os
pacientes continuaram a ser enviados para lá até 1949. Todos ficaram
horas em pé sob uma chuva torrencial para homenagear o Pe. Damien.
Um grupo de irmã s inglesas dos Sagrados Coraçõ es disse que seus
sapatos demoraram quatro dias para secar, mas nenhuma delas
adoeceu.
Uma das caixas de zinco, que continha uma relíquia do P. Damien,
foi devolvida aos havaianos; O cardeal Danneels disse: 'Irmã os e irmã s
do Havaí, devolvemos a vocês a relíquia da mã o direita do Pe. Damien,
que abençoou e curou muitas pessoas em seu país. Que continue a ser
uma fonte de bênçã o e conforto e um símbolo do nosso amor e
solidariedade para convosco.'
A relíquia foi posteriormente enterrada novamente em Molokai.
 
canonização do padre Damien
A beneficiá ria do milagre aceito para a canonizaçã o do Pe. Damien é
Audrey Toguchi, que antes de seu casamento era Audrey Horner, a
mesma menina de oito anos que assistiu aos restos mortais do Pe.
Damien deixando Molokai em 1936. Como muitos havaianos, Audrey
teve parentes enviados para Molokai e por isso sentia uma profunda
devoçã o pessoal ao P. Damien. Ela frequentemente invocava sua ajuda,
entã o em 1996, quando um caroço do tamanho de um punho teve que
ser removido de seu lado, as irmã s de Audrey, Velma Horner e Beverly
Plunkett, viajaram para Molokai para rezar no tú mulo do padre
Damien. O P. Damiã o tinha sido beatificado alguns anos antes e era
necessá rio um segundo milagre para que fosse declarado santo. Junto
ao tú mulo, as irmã s pediram que fosse Audrey. Os testes revelaram que
o nó dulo era lipossarcoma pleomó rfico, uma forma rara e muito
agressiva de câ ncer dos tecidos adiposos. Audrey recebeu tratamento,
mas, em setembro de 1998, os exames mostraram três novos caroços
em seus pulmõ es. Os médicos deram a ela menos de seis meses de vida.
Audrey recebeu uma quimioterapia que talvez retardasse o progresso
do câ ncer, mas os efeitos colaterais piorariam o tempo restante e nã o
havia chance de sua sobrevivência. Ela decidiu contra o tratamento,
optando por colocar seu destino nas mã os de Deus e pedir a intercessã o
do Pe. Damien. Ela e suas irmã s foram novamente para Molokai.
Quando Audrey voltou ao médico em outubro, os raios-X de seus
pulmõ es mostraram que os tumores haviam encolhido. Eles
continuaram diminuindo até que em agosto de 1999 nã o havia mais
vestígios da doença. Seu médico, Dr. Chang, ficou surpreso. Nunca
soube de nenhum caso de lipossarcoma regredido sem tratamento. Em
2000, o Dr. Chang publicou um artigo sobre isso no Hawaii Medical
Journal e foi ele quem sugeriu que Audrey relatasse sua cura à Igreja.
Em 2003, um tribunal foi formado para investigar o milagre e uma
comissã o médica, cujos membros nã o eram cató licos, decidiu que a
cura era inexplicável "de acordo com o conhecimento médico
disponível".
Sã o Damiã o foi canonizado em 11 de outubro de 2009. Sua festa é
10 de maio, dia em que desembarcou em Molokai.
 
Lepra (doença de Hansen)
Hoje em dia a lepra é muitas vezes ignorada ou esquecida, pois é uma
doença do Terceiro Mundo, embora nã o seja uma doença tropical; na
Idade Média, a lepra era endêmica na Europa. Só na Inglaterra havia
250 leprosá rios. O ú ltimo britâ nico nativo a sofrer da doença na Grã -
Bretanha foi um habitante das Ilhas Shetland diagnosticado em 1798,
mas houve um surto na Escandinávia no século XIX e ainda há casos
conhecidos nos EUA, Espanha e Europa Oriental. É possível que a lepra
tenha praticamente desaparecido nos países mais ricos devido apenas à
melhoria da habitaçã o e nutriçã o e à reduçã o da exposiçã o a outras
doenças e parasitas. O fato é que muito sobre a lepra permanece um
mistério.
Medicamente, a lepra é agora conhecida como doença de Hansen
em homenagem a Gerhardt Amauer Hansen, um norueguês, que isolou
o bacilo da lepra, um germe semelhante ao causador da tuberculose, em
1873. Quando Damien estava em Molokai, os melhores tratamentos
disponíveis para quem sofria de lepra eram calmantes banhos e ó leo
gurjun aplicado nas feridas. Essa abordagem, que nã o mudou muito
desde os tempos bíblicos, permaneceu a ú nica por muitos anos. Uma
química afro-americana chamada Alice Ball descobriu que os derivados
do ó leo de chaulmoogra eram eficazes, mas o primeiro grande avanço
no tratamento só aconteceu em 1946, com a descoberta de uma droga à
base de sulfona, a dapsona. Esta droga foi encontrada para deter o
progresso da lepra. Se tratados precocemente, os pacientes nã o sofriam
de desfiguraçã o e perda de membros que sã o sintomá ticos dos está gios
posteriores da doença. Desde 1982, a hanseníase tem sido tratada com
poliquimioterapia. As drogas variam dependendo de como a doença se
manifesta. Com esse tratamento, o avanço da hanseníase pode ser
interrompido em até seis meses nos pacientes com formas menos
graves da doença. O tratamento leva dois anos para quem tem a forma
infecciosa mais grave. O custo médio do tratamento atualmente é de
pouco mais de £ 20 por pessoa. Esses tratamentos tiveram um impacto
dramá tico e esperava-se que, com a educaçã o, o estigma da hanseníase
fosse removido, mais pessoas viessem à s clínicas e fossem tratadas e a
doença, como a varíola, fosse erradicada. No entanto, muitos dos que
sofrem estã o em regiõ es isoladas e inacessíveis, e em algumas á reas o
progresso foi ainda mais prejudicado por guerras, desastres naturais e
AIDS. As pessoas sã o mais suscetíveis se seu sistema imunoló gico
estiver comprometido. Além disso, na década de 1990, ficou claro que a
bactéria estava se tornando resistente à dapsona e até mesmo a outras
drogas mais novas usadas na terapia multimedicamentosa, tornando
impossível a meta declarada pela Organizaçã o Mundial da Saú de de
erradicar a hanseníase até o ano 2000. No entanto, o nú mero de casos
relatados caiu cerca de 4% ao ano desde 2001.
Nã o há vacina contra a hanseníase e seu modo de transmissã o
ainda é incerto, embora a maioria das autoridades acredite que ela seja
transmitida por gotículas respirató rias. Geralmente, é necessá rio um
contato prolongado e pró ximo com uma pessoa infectada para que a
doença seja transmitida, mas se uma pessoa exposta à doença contrai
ou nã o a hanseníase depende muito de sua resposta imune. Na verdade,
cerca de 90% das pessoas sã o naturalmente imunes. Edward Clifford
registra o caso de uma mulher que veio para Molokai com seu marido
leproso, embora ela pró pria nã o sofresse. Quando o marido morreu, ela
se casou com outro leproso e quando ele morreu, com outro. Ao todo
ela teve 4 maridos que eram leprosos e ela nunca pegou a doença. A
lepra é mais comum em homens do que em mulheres, mas, novamente,
nã o se sabe por quê. Normalmente, a hanseníase tem um período de
incubaçã o entre dois e cinco anos, mas pode ser muito mais longo.
Sabe-se que alguém tem lepra por trinta anos antes de apresentar
qualquer sintoma, e é difícil saber se a doença foi curada ou se está
simplesmente em remissã o. Mesmo agora, cerca de 200.000 novos
casos sã o detectados a cada ano, mas aqueles que vivem com os efeitos
da doença sã o muitos mais.

10 Agora bem-aventurada Marianne Cope.


11 Clifford escreveu um livro sobre seu encontro com Damien e, embora expressasse admiração por Damien, ainda
falava do catolicismo como uma escravidão.
12 Não havia muitos pedidos de espelhos em Molokai.
13 As pessoas às vezes pensam que o personagem maligno do romance de Stevenson, Dr. Jekyll e Mr Hyde, é uma
referência ao Dr. Charles Hyde, mas na verdade o livro foi escrito alguns anos antes.
 
 
Novena a São Damião de Veuster

Baseado em uma novena do SSCC Leuven. Para uso privado.


 
Oração introdutória
Pai, nó s te agradecemos por São Damião. Você o chamou e o trouxe aos leprosos de Molokai e
ele se entregou totalmente àqueles abandonados.

Na vida de São Damião e na preocupação com as pessoas, você nos mostra que cuida de nó s
como um pai cuida de seus filhos.

São Damião, com muita confiança iniciamos esta novena. Sobrecarregados de preocupaçõ es,
não sabemos como continuar, pois nossa fé é tão fraca e nosso amor não é forte o suficiente
para viver como um cristão. Por isso pedimos que interceda por nó s junto a Deus que vive
para sempre.
 
Dia 1 Ouvindo a Voz de Deus
São Damião, a tua fé foi tão generosa que reconheceste a voz de Deus nas circunstâncias da
tua vida. Você viu a doença de seu irmão como um convite de Deus para partir para as
missõ es, e a preocupação do bispo com os leprosos de Molokai como um convite para se
voluntariar para lá.

Pedimos que nos ajude a ver a voz de Deus em nossa vida cotidiana e que nossa fé seja forte o
suficiente para seguir essa voz.

Oramos especialmente por [sua intenção]

Pai Nosso, Ave Maria, Gló ria...


 
Dia 2 Começando e Perseverando
São Damião, tendo ouvido a voz de Deus, você a seguiu. Nada poderia afastá-lo do curso que
você escolheu. Você começou uma vida ao lado de centenas de leprosos vivendo na sombra da
morte. Este lugar era conhecido como o inferno de Molokai, mas você perseverou.

Pedimos-lhe que nos obtenha a força para permanecermos fiéis às decisõ es que tomamos e
para seguir Cristo constantemente. Dá-nos a suprema alegria da fidelidade e da perseverança.

Oramos especialmente por [sua intenção]

Pai Nosso, Ave Maria, Gló ria...


 
Dia 3 Dedicação aos Necessitados
São Damião, contando com o poder de Deus, você viveu como missionário junto aos leprosos
em Molokai. Você mesmo se tornou um pária como eles.

Desta forma, você mostrou a eles o quanto Deus ama a todos nó s. Este foi o milagre que você
realizou.

Pedimos-te que nos ensines a cuidar de pessoas que não são tidas em conta. Que possamos
descobrir Cristo presente no rosto de quem sofre.

Oramos especialmente por [sua intenção]

Pai Nosso, Ave Maria, Gló ria...


 
Dia 4 Amor pela oração
São Damião, em uma de suas cartas lemos que você não teria podido resistir sem a presença
constante de Cristo no Santíssimo Sacramento. Você tinha um grande amor pela oração. Só
assim você poderia estar em paz em seu trabalho e sofrimento.

Pedimos-lhe que nos mostre a nossa necessidade de oração; como a oração nos sustenta em
nossas vidas e como Deus guia nossas vidas nos dias bons e ruins.

Oramos especialmente por [sua intenção]

Pai Nosso, Ave Maria, Gló ria...


 
Dia 5 Suportando a solidão
São Damião, você experimentou uma terrível solidão, que você disse ser pior que a lepra, e
ainda assim você não sucumbiu a ela. A fé os sustentou em seus sofrimentos.

Pedimos-te que nos ajudes nos dias sombrios da nossa vida a não perder a coragem, nem a
desistir da nossa fé. Ensina-nos a confiar em Deus que está sempre perto de nó s e nos ajudará
na hora da tentação.

Oramos especialmente por [sua intenção]

Pai Nosso, Ave Maria, Gló ria...


 
Dia 6 Orando para ser forte na fé
São Damião, Deus lhe deu a graça de uma fé forte. Os teus pais educaram-te na fé e a tua
comunidade religiosa aprofundou-a e consolidou-a. Ele o carregou através de todas as
dificuldades de sua vida.

Pedimos que interceda por nó s junto a Deus; peça-lhe que nos dê esta fé forte, que nos guie e
sustente, que nos dê sabedoria e amor a Deus e ao pró ximo.

Oramos especialmente por [sua intenção]

Pai Nosso, Ave Maria, Gló ria...


 
Dia 7 A menos que um grão de trigo…
São Damião, vivendo com os leprosos, construindo uma comunidade com eles e, finalmente,
tornando-se você mesmo um leproso, você amadureceu e se tornou um verdadeiro cristão.
Morrendo como um leproso entre os leprosos, você despertou a consciência do mundo.

Ajude-nos a ver que o sofrimento e o fracasso não são sem valor aos olhos de Deus e lembre-
nos de que, a menos que um grão de trigo morra, ele permanecerá apenas um ú nico grão.

Oramos especialmente por [sua intenção]

Pai Nosso, Ave Maria, Gló ria...


 
Dia 8 Para se tornar como Jesus Cristo
São Damião, como o apó stolo Paulo você pô de dizer, eu morri e minha vida agora está
escondida com Cristo em Deus. Durante esses anos em Molokai, você se tornou cada vez mais
semelhante a Cristo, entregando-se inteiramente e morrendo pelos outros

Oramos para que nosso amor por Cristo aumente, para que possamos imitá-lo. Sigamo-lo até à
cruz para conhecermos a sua ressurreição.

Oramos especialmente por [sua intenção]

Pai Nosso, Ave Maria, Gló ria...


 
Dia 9 Bem-aventurança
São Damião, durante dezesseis anos você viveu entre leprosos destinados à morte certa. Você
sofreu julgamentos, calú nias e falta de cooperação, mas no final disse que era o missionário
mais feliz do mundo. Sua vida nos mostra que bem-aventurados os puros de coração, porque
eles verão a Deus.

Que possamos desejar essa bem-aventurança mais do que qualquer outra coisa na vida.

Oramos especialmente por [sua intenção]

Pai Nosso, Ave Maria, Gló ria...


 
Fontes primárias
Life and Letters of Fr Damien , Fr Pamphile (ed), Catholic Truth Society 1899.
Padre Damien e outros, Edward Clifford, Church Army Publishing 1905.
Un Etrange Bonheur [cartas entre Fr Damien e outros 1885-89], Edouard Brion (ed), Editions du
Cerf 2008.
 
Publicações CTS

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Cató lica. Baseiam-se na Sagrada Escritura, nos documentos do Concílio
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Imagem da capa: Composição do Padre Damien , cortesia do The Hawaii State Archive. Palma
vintage e fundo de praia do Havaí © Sundari/Shutterstock.com
 
Índice
Título
Conteú do
direito autoral
Introduçã o
Vida pregressa
Trabalho nas colô nias de leprosos
Rumo ao Fim
Novena a Sã o Damiã o de Veuster
 

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