Você está na página 1de 14

Aula

Roland Barthes

Isabela de Almeida Pinheiro


PPGD/UERJ – Teoria e Filosofia do Direito
Itinerário

1. Introdução

2. O Poder 3. A Língua

4. A Literatura 5. A Semiologia
1. Introdução

Contexto
 Aula inaugural em Semiologia
Literária no Collège de France em
janeiro de 1977
 Percurso acadêmico incomum:

 “Eu deveria começar por interrogar-


me acerca das razões que inclinaram
o Colégio de França a receber um
sujeito incerto, no qual cada atributo
é, de certo modo, imediatamente
combatido por seu contrário. Pois, se
minha carreira foi universitária, não
tenho entretanto os títulos que dão
geralmente acesso a tal carreira.”
(BARTHES, p. 4)
1. Introdução

Collège de France
 Fundado em 1530 por
François I
 À época, chamado
“Collège Royal”,
 “lecteurs royaux” e
disciplinas que ainda
não eram lecionadas
na universidade

 Membros eleitos pela


Assembleia François I – Jean Clouet,
 Cátedras não são óleo sobre tela, 96 x 74.
permanentes Paris, Museu do Louvre

 Aulas são abertas,


gratuitas, sem
inscrição prévia
1. Introdução

Collège de France
“Uma outra alegria me vem hoje, [...]: a de
entrar num lugar [...] fora do poder. Pois se me
é permitido interpretar, por minha vez, o
Colégio, direi que, na ordem das instituições,
ele é como uma das últimas astúcias da
História; [...]: o professor não tem aqui outra
atividade senão a de pesquisar e de falar [...] não
de julgar, de escolher, de promover, de sujeitar-
se a um saber dirigido. [...] Sem dúvida ensinar,
falar simplesmente, fora de toda sanção
institucional, não constitui uma atividade que
seja, por direito, pura de qualquer poder: o
poder [...] aí está, emboscado em todo e
qualquer discurso, mesmo quando este parte de
um lugar fora do poder. Assim, quanto mais
livre for esse ensino, tanto mais será necessário
indagar-se sob que condições e segundo que
operações o discurso pode despojar-se de todo
desejo de agarrar.” (p. 5)
2. O Poder

Onde vive? Do que se alimenta?


 O Poder não é somente político, é também ideológico
 Barthes levanta a possibilidade de um Poder plural
 Ubiquidade resistência

 “Adivinhamos então que o poder está presente nos mais finos


mecanismos do intercâmbio social: não somente no Estado, nas
classes, nos grupos, mas ainda nas modas, nas opiniões
correntes, nos espetáculos, nos jogos, nos esportes, nas
informações, nas relações familiares e privadas, e até mesmo
nos impulsos liberadores que tentam contestá-lo: chamo
discurso de poder todo discurso que engendra o erro e, por
conseguinte, a culpabilidade daquele que o recebe.” (p. 6)

 O Poder é plural e perpétuo: “parasita” um organismo


trans-social: a linguagem (mais especificamente, a
língua).

Thorsten Hasenkamm
3. A Língua

A língua como classificação


 “Não vemos o poder que reside na língua, porque esquecemos que
toda língua é uma classificação, e que toda classificação é opressiva”
(p. 6)

 Exemplos no francês:
i) masculino ou feminino;
ii) tu ou vous

 “Mas a língua, como desempenho de toda linguagem, não é


nem reacionária, nem progressista; ela é simplesmente: fascista;
pois o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer.” (p. 7)

 O poder da língua se manifesta na:


i) Autoridade da asserção: “poder implacável de constatação”
ii) Gregarismo da repetição: em cada signo dorme o monstro do
estereótipo.

Nik Ad
3. A Língua

A língua como classificação


“Na língua, portanto, servidão e poder se confundem inelutavelmente. Se
chamamos de liberdade não só a potência de subtrair-se ao poder, mas
também e sobretudo a de não submeter ninguém, não pode então haver
liberdade senão fora da linguagem. Infelizmente, a linguagem humana é
sem exterior: é um lugar fechado. Só se pode sair dela pelo preço do
impossível: pela singularidade mística [...]

Mas a nós, [...] só resta, por assim dizer, trapacear com a língua, trapacear
a língua. Essa trapaça salutar, essa esquiva, esse logro magnífico que
permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução
permanente da linguagem, eu a chamo, quanto a mim: literatura. ” (p. 7-
8)

 Possível abordagem da língua fora do poder por meio da


literatura

Nik Ad
4. A Literatura
A trapaça salutar
 Barthes entende por literatura o conjunto complexo de vestígios
deixados pela prática de escrever.
 Texto: “tecido dos significantes que constitui a obra” (p. 8)
 Forças da literatura:
 1) Mathesis: Saberes
Ex: O romance Robinson Crusoé interage com diversos saberes:
histórico, geográfico, social (colonial), técnico, botânico,
atropológico.

 “[...] a literatura faz girar os saberes, não fixa, não fetichiza nenhum
deles; ela lhes dá um lugar indireto, e esse indireto é precioso. Por um
lado, ele permite designar saberes possíveis — insuspeitos,
irrealizados: a literatura trabalha nos interstícios da ciência: [...]
 A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é para corrigir essa distância que
a literatura nos importa. (p. 9)

 Na ciência: um enunciado; na escritura: uma enunciação


Dixit - Galápagos
4. A Literatura
A trapaça salutar
 “O paradigma que aqui proponho não segue a partilha das funções; não
visa a colocar de um lado os cientistas, os pesquisadores, e de outro os
escritores, os ensaístas; ele sugere, pelo contrário, que a escritura se
encontra em toda parte onde as palavras têm sabor (saber e sabor têm,
em latim, a mesma etimologia).” (p. 10)

 2) Mimesis: Representação
 A literatura surge da impossibilidade de representar o real; não é
representável, apenas demonstrável.

 Realista: tem sempre o real como objeto de desejo;


 Irrealista: vê sensatez no desejo do impossível
 Função utópica

 O escritor habita as encruzilhadas de todos os outros discursos

 3) Semiosis: Semiótica
Dixit - Galápagos
5. A Semiologia
Semiologias
 Pluralidade de Semiologias, dentre as quais está a barthesiana
 Barthes insere sua Semiologia não no campo da ciência, mas da
Literatura, da escritura.
 A Semiologia seria uma desconstrução da linguística.
 Língua ≠ discurso?

“Pôde-se ver que, ao longo de toda a minha apresentação, passei sub-


repticiamente da língua ao discurso, para voltar, às vezes sem
prevenir, do discurso à língua, como se se tratasse do mesmo objeto.
Hoje creio realmente que, sob a pertinência que aqui se escolheu,
língua e discurso são indivisos, pois eles deslizam segundo o mesmo eixo
de poder. Entretanto, em seus primórdios, essa distinção, de origem
saussuriana (sob as espécies do par Língua/Fala) prestou grandes
serviços [...]” (p. 14)

 Recolhe “o refugo da linguística, a corrupção imediata da


mensagem” (p. 15)
Marina Coudray. Dixit - Galápagos
5. A Semiologia
Semiologias
 “Ora, a semiologia, no que me concerne, partiu de um movimento
propriamente passional: pareceu-me (por volta de 1954) que uma
ciência dos signos podia ativar a crítica social, e que Sartre, Brecht e
Saussure podiam juntar-se nesse projeto; tratava-se, em suma, de
compreender (ou de descrever) como uma sociedade produz
estereótipos, isto é, cúmulos de artifício, que ela consome em seguida
como sentidos inatos; isto é, cúmulos de natureza. (p. 15)

 Crítica social por meio de uma ciência dos signos

 Compreender a produção de estereótipos:

 Consumir sentidos inatos, cúmulos de natureza

Marina Coudray. Dixit - Galápagos


5. A Semiologia
Para além disso
 Em 1957, Barthes havia publicado Mitologias: estudo sobre o
imaginário cotidiano da sociedade francesa no final dos anos 50.
 Objetivos:
 - criticar ideologicamente a linguagem da cultura de massa
 - decifrar semiologicamente essa linguagem
 O Mito como sistema semiológico
 Mitologias: intercessão entre Semiologia e Ideologia
Referências
 BARTHES, Roland. Aula. 14 Ed. São Paulo. Cultrix, 2013.
 ______. Mythologies. 1. Ed. Éditions du Seuil. 1957.
 Collège de France: L’institution et son histoire. Disponível em
https://www.college-de-france.fr/le-college/le-college-de-france-aujourd-hui.
Acesso em 24/11/2022.

Obrigada!

Você também pode gostar