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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

GERENCIAMENTO DE RISCOS GEOTÉCNICOS EM OBRAS


SUBTERRÂNEAS DE TÚNEIS

AUTOR: ADONIRAN MARTINS COELHO

ORIENTADOR: Professor Doutor Antonio Maria Claret de Gouveia


(UFOP)

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENGENHARIA GEOTÉNICA DA


UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

OURO PRETO - OUTUBRO DE 2014

i
iii
ii
ERRATA

Nesse trabalho, textos extraídos de GOMES, D. (2012) inadvertidamente não foram


referenciados corretamente, omitindo-se os créditos a esse autor em algumas situações. Tal se
deveu ao pouco tempo dedicado à redação final dessa dissertação e à sua revisão, para
cumprimento de prazos internos do Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, uma vez que
a produção dos dados se deu concomitantemente com a construção do “Tunel Laranjeiras” na
Mina de Brucutu em Barão de Cocais – MG onde o autor atuou como Engenheiro Geotécnico.
A versão atual inclui as devidas referências de cuja omissão se pede desculpas a GOMES, D.
e ao Corpo Docente do Curso.

Em 17 de Fevereiro de 2020.

Assinatura

Vistos:

________________________________________
Prof. Dr. Antonio Maria Claret de Gouveia
Orientador

________________________________________
Prof. Dr. Lucas Deleon Ferreira
Coordenador do PPGG

iv
AGRADECIMENTOS

A concretização deste trabalho só foi possível graças à contribuição de pessoas a quem,


reconhecidamente, agradeço:

A DEUS, princípio de tudo e sustento nos momentos difíceis.

Ao Professor Doutor Antônio Maria Claret de Gouveia, pelo extraordinário apoio e incentivo
e pelas imprescindíveis críticas no decorrer da orientação desta dissertação.

A minha esposa Ellen e filhos Sarah, Gabriel e Isabella, pela paciência e compreensão, sem a
qual esta dissertação não seria hoje uma realidade.

À empresa VALE, na pessoa do Engº Wesley Carvalho pelo apoio e incentivo na


concretização deste trabalho.

A minha mãe, que mesmo sozinha lutou pela minha formação e valorização profissional.

v
RESUMO

Este trabalho descreve as estratégias metodológicas para avaliar o gerenciamento de


risco de um túnel implantado em um maciço rochoso subterrâneo. Para que isso se tornasse
possível, utilizou-se ferramentas sistêmicas de gerenciamento de riscos, que serão aplicadas
no estudo de caso em questão. A ferramenta elaborada irá permitir mapear a frequência de
ocorrência de um determinado evento, definindo a probabilidade do risco para a sua
implantação.

Na primeira parte do trabalho são apresentadas ferramentas sistêmicas de


gerenciamento de riscos, com o objetivo de prever eventuais colapsos e perda de vidas
humanas. Justificando assim, sua aplicação em obras de túneis, podendo assim obter, melhor
entendimento do comportamento dos mecanismos de colapsos em relação à sua segurança e
às consequências.

Na segunda parte, apresenta-se a metodologia FEMECA, aplicada às categorias mais


representativas dos riscos, permitindo assim, sistematizar as possíveis falhas e riscos de cada
método, chegando a valores dos respectivos índices de riscos. Com base nestes índices, e seus
respectivos valores de segurança, foi possível identificar e mapear os prováveis pontos de
probabilidade de ruína e sua relação com o fator de segurança do respectivo maciço e,
seguidamente, proceder a uma análise conjunta de todos eles.

PALAVRAS-CHAVE: Túneis, Obras Subterrêneas, Riscos, Gestão de Riscos e Colapsos.

v
ABSTRACT

This work describes the methodological strategies to assess the risk management of a
tunnel implanted in an underground rock mass. To make this possible, systemic risk
management tool were used, which will be applied in the case study in question. The tool
developed will allow mapping the frequency of occurrence of a given event, defining the
probability of the risk for its implementation.

In the first part of the work, systemic risk management tools are presented, with the
objective of predicting eventual collapses and loss of human lives. Justifying, therefore, its
application in tunnel works, thus obtaining a better understanding of the behavior of the
collapse mechanisms in relation to their safety and the consequences.

In the second part, the FEMECA methodology is presented, applied to the most
representative categories of risks, thus allowing to systematize the possible flaws and risks of
each method, reaching values of the respective risk indexes. Based on these indices, and their
respective safety values, it was possible to identify and map the probable points of probability
of ruin and their relationship with the safety factor of the respective massif, and then proceed
to a joint analysis of all of them.

KEYWORDS: Tunnels, Underground Works, Risks, Risk Management and Collapses.

vi
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.1 – Risco e suas Fases, ASSIS, 2013 (modificado) p. 30.......................................... 9


Figura 2.2 – Risco e seu Ciclo de Vida, ASSIS, 2013 (modificado) p. 15. ............................ 10
Figura 2.3 – Risco e a integração com outras áreas, ASSIS, 2013 (modificado) p. 20. .......... 10
Figura 2.4 – Matriz de Risco, ASSIS, 2013 (modificado) p. 10............................................ 11
Figura 2.5 – Análise qualitativa de riscos 2D, ASSIS, 2013 (modificado) p. 30 ................... 12
Figura 2.6 – Análise qualitativa de riscos 3D, ASSIS, 2013 (modificado) ............................ 12
Figura 2.7 – Visão Geral do Processo de Gerenciamento de Riscos, AS/NZS 4360: 2004 –
Risk Management (modificado) ........................................................................................... 14
Figura 2.8 – Estrutura e Processo de Gerenciamento de Riscos, AS/NZS 4360: 2004 – Risk
Management (modificado) ................................................................................................... 15
Figura 2.9 – Processo de Gerenciamento de Riscos, ASSIS, A. 2013 (modificado) .............. 17
Figura 3.1 – Atividades do Plano de Gerenciamento de Riscos de Obras Subterrâneas,
KOCHEN, 2009 ................................................................................................................... 22
Figura 3.2 – Procedimentos de detecção e ação corretiva para Gerenciamento de Riscos em
túneis, KOCHEN, 2009........................................................................................................ 23
Figura 4.1 – NA elevado, causando arqueamento do teto do túnel, KOCHEN, 2009............. 36
Figura 4.2 – NA elevado, causando colapso do teto do túnel, KOCHEN, 2009 ..................... 36
Figura 4.3 – Influência das falhas nas escavações subterrâneas............................................. 38
(a)Falha normal; (b) Falha inversa; (c) Falha transcorrente; (d) Falha obliqua,
UNB/GEOTECNIA, 2004.................................................................................................... 38
Figura 4.4 – Aspectos geomorfológicos de uma escarpa de recuo de falha,
UNB/GEOTECNIA, 2004.................................................................................................... 39
Figura 4.5 – Mecanismos de formação de dobras (a) Flambagem (b) Cisalhamento Simples,
UNB/GEOTECNIA, 2004.................................................................................................... 40
Figura 4.6 – Tipos de dobras: dobras Anticlinal e Sinclinal, UNB/GEOTECNIA, 2004 ....... 41
Figura 4.7 – Ação das juntas nas escavações subterrâneas - GOMES, D 2012 ...................... 43
Figura 4.8 – Ação das dobras nas escavações subterrâneas - GOMES, D 2012 ..................... 43
Figura 4.9 – Tipos de instabilidade em túneis, GOMES, D 2012 .......................................... 45
Figura 4.10 – Frente de escavação inundada na escavação de túneis, GOMES, D 2012 ........ 46
Figura 5.1 – Métodos de escavação em seções parciais, BASTOS, 1998 .............................. 52

vii
Figura 5.2 – Escavação em seções parciais – Tunel Barragem Norte, 2014........................... 52
Figura 5.3 – Desabamento de frente / topo na escavação de túneis, BASTOS, 1998 ............. 57
Figura 5.4 – Mecanismos de ruptura local e global, MAFFEI; MURAKAMI, 2011 ............. 59
Figura 5.5 – Mecanismos de rupturas globais – Caso G1, MAFFEI; MURAKAMI, 2011 .... 59
Figura 5.6 – Mecanismos de rupturas globais – Caso G2, MAFFEI; MURAKAMI, 2011 .... 61
Figura 5.7 – Mecanismos de rupturas globais – Caso G3, MAFFEI; MURAKAMI, 2011 .... 62
Figura 5.8 – Mecanismos de rupturas de solo desplacante, MAFFEI; MURAKAMI, 2011 ... 63
Figura 5.9 – Mecanismos de rupturas de solo corrediço, MAFFEI; MURAKAMI, 2011 ...... 63
Figura 5.10 – Instrumentação no interior do túnel, GOMES, D 2012 .................................... 67
Figura 5.11 – Implantação de marcos topográfico, extensômetros e inclinômetros na seção de
um túnel, GOMES, D 2012 .................................................................................................. 68
Figura 6.1 – Método de Monte-Carlo, MAIA, 2007 ............................................................. 72
Figura 8.1 – Imagem aérea do local de implantação – eixo de implantação do tunel, 2013.... 97
Figura 8.2 – Seção S1 típica, implantada em maciço classe III/IV, ENGECORPS, 2009 ...... 98
Figura 8.3 – Seção S2 típica, implantada em maciço classe II, ENGECORPS, 2009............. 99
Figura 8.4 – Vista da Sela e respectiva falha, local do embocamento do túnel, ENGECORPS,
2011 ................................................................................................................................... 101
Figura 8.5 – Geologia mapeada: 1 - Itabirito Cauê; 2 - Dolomitos ferruginosos Gandarela; 3 –
Filitos Prateados Piracicaba, ENGECORPS, 2011 .............................................................. 101
Figura 8.6 – Perfil longitudinal geológico, ENGECORPS, 2009 ........................................ 106
Figura 8.7 – Escala de índice de risco - modificado TEIXEIRA, 2009 ................................ 116
Figura 8.8 – Percentagem de valores referentes a cada área de risco ................................... 120

viii
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 3.1 – Classificação de Probabilidade de Riscos ......................................................... 26


Tabela 3.2 – Categorias de risco – Túnel NATM .................................................................. 29
Tabela 3.3 – Medidas de detecção de riscos – Túnel NATM ................................................ 30
Tabela 4.2 – Ação das juntas na geometria de túneis (paralelo e oblíquo) ............................. 44
Fonte: GOMES, D. 2012 ...................................................................................................... 44
Tabela 4.3 – Ação das juntas na geometria de túneis (perpendicular).................................... 44
Fonte: GOMES, D. 2012 ...................................................................................................... 44
Tabela 4.4- Influência das condições estruturais do maciço rochoso e do estado de tensão no
modo de ruptura (adaptado) ................................................................................................. 47
Fonte: Hoek (1983). ............................................................................................................. 47
Tabela 5.1 – Principais critérios de escavabilidade e parâmetros associados ......................... 50
Fonte: BASTOS, 1998 ......................................................................................................... 50
Tabela 5.2 – Tipos de ruptura que ocorrem em diferentes maciços rochosos sob .................. 55
diferentes níveis de tensão in situ ......................................................................................... 55
Fonte: HOEK et al, 1995, modificado .................................................................................. 55
Tabela 5.3 – Problemas, parâmetros, métodos de análise e critérios de ................................. 56
aceitabilidade em escavações subterrâneas ........................................................................... 56
Fonte: HOEK et al, 1995, modificado .................................................................................. 56
Tabela 7.1 – Estrutura da metodologia probabilística de gerenciamento de riscos................. 76
Tabela 7.2 - Sistema de classificação geomecânica RMR ..................................................... 84
Fonte:Bieniawski 1989, modificado ..................................................................................... 84
Tabela 7.3 - Correções e guias auxiliares para o sistema de classificação RMR .................... 85
Fonte: Bieniawski 1989, modificado .................................................................................... 85
Tabela 7.4 - Guia para escavação e suporte para túneis com 10 m de largura de acordo com o
sistema RMR ....................................................................................................................... 86
Fonte: Bieniawski 1989, modificado .................................................................................... 86
Tabela 7.5 - Ábacos do GSI em maciços rochosos homogeneamente fraturados ................... 89
Fonte: MARINOS & HOEK, 2000....................................................................................... 89
Tabela 7.6 - Ábaco para estimar o valor do GSI em maciços rochosos heterogêneos
(MARINOS & HOEK, 2000) ............................................................................................... 90
Tabela 7.7 – Parâmetros dos materiais modelo ..................................................................... 95
ix
Fonte: ENGECORPS, 2011 ................................................................................................. 95
Tabela 8.1 – Relação das sondagens executadas e os respectivos quantitativos das perfurações
e dos ensaios executados .................................................................................................... 103
Fonte: ENGECORPS, 2011 ............................................................................................... 103
Tabela 8.2 – Sistema de classificação de maciços rochosos ................................................ 108
Fonte: BIENIAWSKI, 1989 ............................................................................................... 108
Tabela 8.3 – Escala de gravidade, referente ao Dano (Si) ................................................... 117
Tabela 8.4 – Escala de controle de ocorrência, referente à frequencia (Oi) ......................... 117
Fonte: adaptado, TEIXEIRA, 2009 .................................................................................... 117
Tabela 8.5 – Escala de probabilidade, referente ao controle (Di) ........................................ 118
Fonte: adaptado, TEIXEIRA, 2009 .................................................................................... 118
Tabela 8.6 – Aplicação da Ferramenta FMEA/FMECA no caso em estudo ........................ 119
Tabela 8.7 – Análise de dados de valores máximos e mínimos de índice de risco ............... 121

x
NOMENCLATURA E SIMBOLOGIA

ABGE Associação Brasileira de Geologia de Engenharia


E Módulo de Elasticidade
GSI Geological Strength Index
HSE Health and Safety Executive
ITIG International Tunneling Insurance Group
lm-1 Litros por minuto
MPa Megapascal
NATM New Austrian Tunneling Method
PGR Plano de Gerenciamento de Riscos
RQD Rock Quality Designation
RMR Rock Mass Rating
Squeezing Ruptura de teto por maciço de pouca resistência, já na frente de
escavação do túnel, devido ao rearranjo das tensões
SM Sondagem Mista
SPT Standard Penetration Test
 Coeficiente de Poisson
 Peso Especifico
c Coesão

xi
ÍNDICE DO TEXTO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 1
1.1 OBJETIVOS ............................................................................................................ 1
1.2 JUSTIFICATIVA DO TRABALHO ........................................................................ 1
1.3 ESTRUTUTA DO TRABALHO .............................................................................. 3

2 REVISÃO DOS CONHECIMENTOS ........................................................................................ 5


2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ...................................................................................... 5
2.2 CONCEITO DE RISCO ........................................................................................... 7
2.3 IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS E SEUS RESULTADOS................................... 10
2.4 A AVALIAÇÃO DO RISCO SEGUNDO A ISO 31000 ......................................... 13
2.5 GESTÃO DE RISCOS E O APOIO A DECISÃO .................................................. 16

3 CENÁRIOS DE RISCOS NA IMPLANTAÇÃO DE TÚNEIS ................................................ 18


3.1 ASPECTOS GERAIS............................................................................................. 18
3.2 O RISCO GEOLÓGICO E SEUS IMPACTOS ...................................................... 19
3.3 IDENTIFICAÇÃO E GESTÃO DO RISCO GEOLÓGICO .................................... 20
3.4 OBJETIVOS E RESULTADOS NA ANÁLISE DE RISCOS GEOLÓGICOS ....... 22
3.5 CLASSIFICAÇÃO E PROBABILIDADE DE RISCOS GEOLÓGICOS................ 25

4 COLAPSOS MAIS IMPORTANTES EM TÚNEIS................................................................. 32


4.1 SEGURANÇA, RUPTURA E COLAPSOS EM TÚNEIS. ..................................... 32
4.2 ESTADO ATUAL DO CONHECIMENTO ........................................................... 33
4.3 MECANISMOS DE RUPTURAS OU COLAPSOS EM TÚNEIS .......................... 35
4.4 ANOMALIAS GEOLÓGICAS GERADORAS DE COLAPSO ............................. 37
4.4.1 RISCOS GEOLÓGICOS ............................................................................ 37

5 MECANISMOS DE RUPTURAS EM MACIÇOS ROCHOSOS ............................................ 48


5.1 CLASSIFICAÇÃO DE MACIÇOS ROCHOSOS................................................... 48
5.2 CRITÉRIOS DE ESCAVABILIDADE EM TÚNEIS ............................................. 49
5.3 MÉTODOS DE ESCAVAÇÃO EM TÚNEIS ........................................................ 50
5.3.1 ASPECTOS GERAIS ................................................................................ 50
5.4 MECANISMOS DE RUPTURA EM TÚNEIS ....................................................... 53
5.5 TIPOS DE RUPTURAS NA ESCAVAÇÃO DE TÚNEIS ..................................... 58
5.5.1 ASPECTOS GERAIS ................................................................................ 58
5.5.2 MECANISMOS DE RUPTURA GLOBAL G1 ................................................ 59
5.5.3 MECANISMOS DE RUPTURA GLOBAL G2 ................................................ 60

xii
5.5.4 MECANISMOS DE RUPTURAS GLOBAIS G3 ............................................. 61
5.5.5 MECANISMOS DE RUPTURA DE TETO E FRENTE DE ESCAVAÇÃO ............... 62
5.5.6 MECANISMOS DE RUPTURA POR DESLIZAMENTO .................................... 63
5.6 MONITORAMENTO E CONTROLE.................................................................... 64
5.6.1 ASPECTOS GERAIS ................................................................................ 64
5.6.2 INSTRUMENTAÇÃO................................................................................ 66

6 FERRAMENTAS SISTÊMICAS DE GERENCIAMENTO DE RISCOS............................... 69


6.1 ASPECTOS GERAIS............................................................................................. 69
6.2 ANÁLISE DE ÁRVORES DE EVENTOS ............................................................. 70
6.3 SIMULAÇÃO DE MONTECARLO ...................................................................... 71
6.4 ANÁLISE DE MODO DE FALHA EFEITO E CRITICALIDADE (FMEA/FMECA)73
6.4.1 ASPECTOS GERAIS................................................................................. 73
6.4.2 TIPOS DE FMEA ................................................................................... 74

7 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE GERENCIAMENTO DE RISCOS ........................ 76


7.1 CONCEITOS ......................................................................................................... 76
7.1.1 MECÂNICA DAS ROCHAS ....................................................................... 77
7.1.2 IMPLANTAÇÃO DE TÚNEIS EM MACIÇOS ROCHOSOS............................... 78
7.1.3 METODO DE CLASSIFICAÇÃO................................................................. 80
7.1.4 MACIÇO COMO ELEMENTO ESTRUTURAL................................................ 91
7.1.5 SISTEMA DE SUPORTE............................................................................ 92
7.1.6 MONITORAMENTO ................................................................................ 93
7.2 METODOLOGIA PROBABILÍSTICA DE PREVISÃO ........................................ 94

8 APLICAÇÃO DO MÉTODO A UM CASO DE ESTUDO ...................................................... 96


8.1 ÁREA DE ESTUDO .............................................................................................. 96
8.2 ARRANJO GERAL DO TÚNEL ........................................................................... 98
8.3 ASPECTOS GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS ...................................................... 100
8.3.1 ASPECTOS GERAIS............................................................................... 100
8.3.2 INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS ......................................... 102
8.3.3 MODELO GEOMECÂNICO ..................................................................... 107
8.3.4 CLASSIFICAÇÃO DOS MACIÇOS ROCHOSOS ........................................... 107
8.4 MODELO FMEA/FMECA .................................................................................. 112
8.4.1 FASES DO DESENVOLVIMENTO DO FMEA/FMECA .............................. 112

xiii
8.4.2 DEFINIÇÃO DE ESCALAS DE FMECA PARA APLICAÇÃO AO CASO DE ESTUDO
115
8.4.3 ANÁLISE DE DADOS............................................................................. 120

9 SÍNTESE, CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS ................................................. 123


9.1 SÍNTESE E CONCLUSÕES ................................................................................ 123
9.2 IMPORTÂNCIA DO TRABALHO ...................................................................... 124
9.3 TRABALHOS FUTUROS ................................................................................... 125

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 127

ANEXO I – FOTOS DOS TESTEMUNHOS................................................................................... 133

ANEXO II – TABELA FMECA....................................................................................................... 144

xiv
1 INTRODUÇÃO

1.1 OBJETIVOS

As obras subterrâneas estão relacionadas a sua complexidade e variabilidade


geológicas, que, por várias vezes, apresentam parâmetros não mapeados nos maciços
estudados. Essa característica, que gera transtornos diversos, devido a sua construtibilidade e
a incerteza, é mais intensa na implantação de túneis. De modo a caracterizar os elementos
desta incerteza, pretendem-se os seguintes objetivos:

 Apresentar a análise de riscos e sua aplicabilidade nos projetos e implantação de


túneis;
 Mostrar a importância da aplicação metodológica do gerenciamento de riscos como
premissa de projeto e implantação das estruturas de um túnel, devido as causas
geológicas não prognosticadas (causa geológica que poderia ter sido prevista);
 Entender os colapsos em túneis, destacando os mecanismos de falha e suas prováveis
causas;
 Mostrar as técnicas de avaliação de riscos geotécnicos e suas incertezas, classificando
os respectivos riscos;
 A análise dos riscos como medida de mitigação e controle das respectivas incertezas;
 Demonstrar a aplicabilidade do método a um caso de estudo, o túnel laranjeiras em
Brucutu, apresentando as conclusões e sugestões consideradas para o tema.

1.2 JUSTIFICATIVA DO TRABALHO

Para a análise de riscos, justifica-se a necessidade de evolução e melhoramentos de


técnicas e metodologias de avaliação de riscos, bem como seu impacto no empreendimento
como um todo. Com isso, é importante a tomada de decisões mais conscientes, com
capacidade de sistematização das inúmeras variabilidades implícitas e assim formalizar o
processo de decisão, o que em muitos casos evitaria algumas das referidas situações
indesejáveis.

1
Neste contexto, propõe-se a utilização de uma ferramenta capaz de identificar a
probabilidade de colapsos em processos de escavações subterrâneas como túneis, em que as
diferentes fontes de incerteza são consideradas através de coeficientes parciais que afetam os
efeitos das ações, as propriedades dos materiais e as grandezas geométricas.

Nesta abordagem, deve-se efetuar uma listagem de funções que o elemento em estudo
(maciço) vai desempenhar, implementando medidas preventivas como: escavação →
“estabilidade da frente de escavação”; parede e teto → “esforços elevados no revestimento”;
maciço → “tratamento de solo/rocha”.

Assim, a fim de se propor soluções para reduzir os riscos na implantação de túneis, o


controle da segurança em maciços subterrâneos incluirá os seguintes procedimentos:

a. Cálculo de um fator de segurança global (FS).

b. Definição dos menores parâmetros admissíveis.

c. Definição dos parâmetros extremos admissíveis.

d. Determinação dos coeficientes parciais.

e. Definição das ações preventivas recomendadas, realçando os valores máximos e

mínimos do índice de risco (para que um sistema não falhe dentro de um período

especificado no projeto).

Utilizando a metodologia apresentada, será possível identificar e mapear os possíveis


pontos de probabilidade de ruína do maciço de implantação do túnel e observar a
hierarquização da influência das variáveis na definição do valor global, selecionando quais
variáveis aleatórias são mais importantes.

Desta maneira, serão estudados os modos de ruptura em túneis, os mecanismos


existentes no maciço e seu impacto nas estruturas de suportes, analisados e mapeados através
de sistemas de monitoramento já na sua implantação. Neste sentido, serão apresentadas as
análises e ferramentas necessárias para se lidar com os empreendimentos desta natureza,

2
caracterizando-as quanto a qualidade do maciço e a sua respectiva construtibilidade e
mitigação dos riscos.

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO

Como estrutura deste trabalho, estão previstos nove capítulos, sendo tratada no
primeiro capítulo a introdução ao tema, integrando-o na situação atual e demonstrando a sua
importância na aplicação da geotecnia de túneis. Serão definidos também seus objetivos,
justificativa e sua estrutura.

No segundo capítulo será apresentada a definição de risco, sua qualificação e a sua


evolução de seus processos. Apresenta-se, ainda, o gerenciamento de riscos no apoio a
tomada de decisão.

No terceiro capítulo apresenta-se os riscos gerados pelas incertezas no campo da


geotecnia, abordando sua aplicação na implantação de túneis, o respectivo plano de
gerenciamento de riscos, visando sua mitigação e as condicionantes encontradas nas
operações em maciços subterrâneos e sua aplicação.

Já no quarto capítulo, insere-se a probabilidade de ruptura em maciços subterrâneos e


suas ocorrências na implantação de túneis. Assim, apresentam-se suas anomalias geológicas e
geradoras de colapso.

O quinto capítulo apresenta a classificação de maciços rochosos, seus critérios de


escavabilidade e seus respectivos métodos de escavação. Apresenta-se, ainda, os tipos de
ruptura nos diferentes tipos de maciços rochosos, seus efeitos na escavação, bem como a
importância do seu monitoramento e controle.

O sexto capítulo apresentará as ferramentas sistêmicas de gerenciamento de riscos que


poderão ser aplicadas na engenharia geotécnica de túneis, trazendo confiabilidade na tomada
de decisão, introduzindo o modelo proposto para o estudo de caso.

3
Já o sétimo capítulo decorre sobre a aplicação da metodologia de gerenciamento de
riscos, ressaltando os conceitos geotécnicos e os sistemas construtivos em obras subterrâneas.
Finaliza-se o mesmo, com a descrição da metodologia probabilística de previsão.

No oitavo capítulo aplica-se a metodologia estudada a um caso de estudo, o túnel


Laranjeiras em Brucutu, demonstrando os diversos aspectos importantes do gerenciamento de
riscos em obras de túneis.

Por fim, no nono capítulo, são apresentadas as conclusões e sugestões consideradas


para o tema em questão, ressaltando as experiências deste trabalho e as estratégias
metodológicas para obtenção de um referencial teórico amplo para a obtenção de modelos
metodológicos para a escolha da melhor ferramenta de análise de riscos geotécnicos.

4
2 REVISÃO DOS CONHECIMENTOS

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Desde o início, o sentimento de perdas e ganhos era presente na humanidade. A


preocupação com o risco nasceu na Idade Média com os tradicionais jogos de azar que se
faziam na Corte, sendo comprovado através de relatos históricos de como essa percepção foi
encarada e tratada.

No período das grandes incursões marítimas, quando o risco era constante,


principalmente em razão do desconhecimento dos perigos do mar e da fragilidade dos navios,
os danos seguidos levaram ao estudo de probabilidades e à criação dos sistemas de segurança.
Os comerciantes passaram a encarar o conceito do risco e sua utilização de maneira prática,
substituindo as noções de má sorte e azar nos negócios.

Para muitos o risco é algo objetivo, com realidade própria, que será preciso “medir”.
Uma visão alternativa consistiria em admitir o risco como “uma mera construção linguística”,
quase “uma ilusão” coletiva que cada qual percebe de uma forma muito pessoal.

Numa relação entre o dano e a incerteza, podemos dizer que a incerteza é um dos
aspectos do risco. Contudo, dizemos que a diferença substancial entre eles são as
consequências negativas ligadas à noção de risco. Para tal, podemos descrever a seguinte
expressão:

Esta expressão não retrata diretamente o conceito de risco. Ela expressa que, se
dividíssemos os eventos da vida em “certos” e “incertos”, os “riscos” seriam eventos

5
1
“incertos” e “de consequências negativas” (CLARET2, 2005, apud KAPLAN e GARRICK
p.12).

Numa outra análise, entre risco e perigo, os dicionários registram o sentido popular da
palavra, ou seja, o perigo como uma fonte de danos. Já o risco seria a probabilidade de danos
ou nível da probabilidade de danos, quando se diz “pouco risco” ou “muito risco”. Neste
sentido, podemos dizer que “perigo” é a fonte de danos e “risco” é a probabilidade do dano3
(CLARET, 2005, apud KAPLAN e GARRICK p.12).

A tentativa de controlar o risco era constante, atenuando assim as angústias e


incertezas, foi importante para a gênese da atual gestão do risco. Assim, verifica-se que a
palavra “risco” é derivada da raiz latina “risicare”, que significa “atrever-se” ou “ousar”.
Durante a era medieval, a sociedade era predominantemente dirigida pelas suas tradições,
aceitando a interferência de homens como manipuladores da sorte e do risco.

Assim, muitos tratam o risco como subjetivo, outros como uma entidade física
objetiva, com realidade própria, que será preciso “medir”. Num outro ângulo, admite-se o
risco como “uma mera construção linguística”, quase “uma ilusão” coletiva, que cada um
percebe de uma forma muito pessoal.

Com o surgimento da industrialização, em meados do século XIX e início do século


XX, a perspectiva do controle de risco se fortaleceu, principalmente diante dos anseios de

1
Nessa linha, poderíamos pensar no que seria um “evento certo”. Por exemplo, se você segura uma pedra com
a intenção de deixá-la cair em queda livre, é “certo” que ela cairá. Se ela cair sobre uma pessoa, há incerteza
sobre se lhe causará danos ou não (poderá ser um “risco” ou “não risco”). Se a pedra cair sobre uma fina rede,
atingir o solo será um “evento incerto” e, do mesmo modo, poderá causar danos ou não.
2
“On the quantitative definition of risk” de Stanley Kaplan e John Garrick, Risk analysis, v. 1, n. 1, 1981.
3
Deve-se registrar que é necessário certo esforço para distinguir a “fonte dos danos” da “probabilidade deles”
na linguagem comum. Da linguagem comum esse tipo de confusão migrou para a linguagem jurídica. Veja-se o
conceito de crime de perigo: “Os crimes de perigo causam um perigo de ofensa ao bem jurídico tutelado,
um perigo de dano.” LFG

6
governar os acidentes gerados pelo novo modelo de industrialização, principalmente por meio
do conhecimento. No desafio de desenvolver a mitigação dos riscos, criaram-se modelos de
decisão próprios, direcionando novas perspectivas para o sistema financeiro do século XX.

Vários autores contribuíram para o estudo das probabilidades, sendo seu surgimento
fundamentado em relatos históricos relacionados à disseminação dos jogos de azar na Idade
Média, o qual era praticado envolvendo apostas. Neste sentido, os matemáticos Gerônimo
Cardano (1501 – 1576), Galileu Galilei (1564 – 1642), Luca Pacioli (1445 – 1517) e Niccolo
Tartaglia (1499 – 1557) trabalhando no sentido de estabelecer teorias relativas as
probabilidades. Nesta busca, outros matemáticos aprofundaram no estudo de teorias
complexas, marcando o início da teoria das probabilidades como ciência. Assim, diante destas
propostas metodológicas, surge em 1950, o termo “gerenciamento de risco” na Harvard
Business Reviews.

Já nos anos 60, devido ao crescimento populacional e industrial, foi necessário o


aprimoramento do setor de bens de consumo. Desta maneira, ampliaram-se o setor produtivo
e buscaram-se adequar as novas exigências de consumo. Os anos 70, são marcados pelos
conceitos de confiabilidade de sistemas de riscos, originários das normas militares
americanas, sendo então aplicadas nas indústrias nucleares e, posteriormente nas de processo.
Desta maneira, são conhecidas as primeiras ferramentas de gerenciamento de riscos e as
respectivas medidas para sua mitigação e controle.

Nos anos 90, temos a abrangência significativa da metodologia científica do risco,


principalmente após a criação de programas específicos que visam o tratamento do risco, sua
probabilidade e percepção. Segundo Almeida, B. (2006), o conceito de “risco” é influenciado
pelas raízes culturais das classes sociais, tornando-o numa fonte inesgotável de ideologias.

2.2 CONCEITO DE RISCO

Analisando os conceitos fundamentais de Risco, encontramos como Perigo ou


possibilidade de perigo; possibilidade de perda (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1985);
Determinação da probabilidade de ocorrência de um determinado evento anormal ou falha
ocorrerem impactando o sucesso do projeto ou a performance do sistema (VALERIANO,
7
2001); Possibilidade de perder ou ganhar econômica ou financeiramente, de causar prejuízo
físico ou gerar atraso como consequência de incerteza associada à alteração de um particular
curso de ação (RAFTERY, 1994); Possibilidade de perda. (GITMAN, 1997).

Risco e incerteza caracterizam situações onde o resultado de um evento ou atividade é


provável. O risco tem duas componentes: a probabilidade de sua ocorrência e a grandeza ou
severidade do efeito indesejável. Assim, verifica-se que o risco é a possibilidade de arcar com
as consequências da ocorrência de um evento ou de circunstâncias e incertezas.

A relação risco e perigo tem sido utilizado em diversas esferas e ramos do


conhecimento, adaptados conforme casos específicos. Neste contexto, a definição mais aceita
“Risco é a probabilidade ou chance de lesão ou morte” (Sanders e McCormick, 1993, p. 675).
“Perigo é uma condição ou variáveis que têm o potencial de causar ou contribuir para uma
lesão ou morte” (Sanders e McCormick, 1993, p. 675).

Assim, a análise do risco varia conforme seu campo de aplicação e âmbito em que este
se insere, havendo assim, muitos modos de classifica-lo. Tratando de uma maneira cartesiana,
risco e perigo se completam, sendo seu resultado: danos materiais, rupturas sociais e
econômicas, degradação ambiental, resultante de interações entre perigos naturais e humano-
induzidos (H), condições de vulnerabilidade (V), e da falta de capacidade de moradores,
comunidades e instituições para responder (FCRes) e para recuperar-se (FCRec) de desastres.
Assim, o risco pode ser expresso por:

R=H*V*FCRes*FCRec

Alternativamente, o risco pode ser expresso por meio das equações convencionais:

R=H*V, R=H*V/C ou R=H*V*LC

Mas apenas se as variáveis V, C e LC forem adaptadas, respectivamente, para incluir a


capacidade de responder e recuperar-se. Engenheiros geotécnicos estão muito familiarizados
com incertezas. Geralmente, a incerteza está na falta de informação do perfil geológico do

8
maciço, ou na grande dispersão de resultados de ensaios, ou associada a um desvio
substancial do desempenho de campo-medida, mantendo o valor previsto.

Em obras subterrâneas, devido as suas incertezas e as exposições nos processos de


escavações, a probabilidade da existência de eventos críticos está sempre presente. Estes
eventos, poderão gerar experiências positivas ou negativas, dependendo do caminho que
escolhermos na tomada de decisão na gestão do risco.

Neste contexto, pode haver incerteza sem risco, mas não risco sem incerteza. Assim, o
estudo das variáveis incerteza, risco e probabilidade pode responder se há possibilidade de
falha em um talude. Nesta perspectiva, o risco é uma medida composta pela probabilidade de
falha e a sua relação com o período de maior impacto gerado pelo evento.

Numa visão do ciclo de vida do risco, entende-se que, na sua identificação seguida das
tratativas necessárias, o mesmo tende a reduzir.

Figura 2.1 – Risco e suas Fases, ASSIS, 2013 (modificado) p. 30.

 Possíveis eventos favoráveis > oportunidades;


 Possíveis eventos desfavoráveis > riscos.

9
Figura 2.2 – Risco e seu Ciclo de Vida, ASSIS, 2013 (modificado) p. 15.

Figura 2.3 – Risco e a integração com outras áreas, ASSIS, 2013 (modificado) p. 20.

2.3 IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS E SEUS RESULTADOS

Os riscos identificados deverão ser identificados conforme sua probabilidade de


ocorrência e sua relação com o dano gerado. Sendo assim temos:

 Como avaliar os riscos no empreendimento?


 Os impactos dos riscos no empreendimento são relevantes?

10
 Como mensurar as probabilidades?
 Simulação é útil? Por quê?

Em relação a probabilidade e percepção temos:

 Baixa – quando a probabilidade de ocorrência é menor que 20%, quase inperceptível;

 Média – quando a probabilidade de ocorrência está entre 20 e 60%, percepção


razoável;

 Alta – quando a probabilidade de ocorrência é maior que 60%, percepção iminente.

Gravidade:

 Baixa – O impacto do evento de risco é irrelevante para o empreendimento, tanto em


termos de custo, quanto de prazos, podendo ser facilmente resolvido;

 Média – O impacto do evento de risco é relevante para o empreendimento e necessita


de um gerenciamento mais preciso, sob pena de prejudicar os seus resultados;

 Alta – O impacto do evento de risco é extremamente elevado e, no caso de não existir


uma interferência direta, imediata e precisa da equipe no empreendimento, os
resultados serão seriamente comprometidos.

Figura 2.4 – Matriz de Risco, ASSIS, 2013 (modificado) p. 10.

11
Figura 2.5 – Análise qualitativa de riscos 2D, ASSIS, 2013 (modificado) p. 30

Figura 2.6 – Análise qualitativa de riscos 3D, ASSIS, 2013 (modificado)

12
2.4 A AVALIAÇÃO DO RISCO SEGUNDO A ISO 31000

Admitindo a existência constante do risco nos processos de obras subterrâneas, é


imprescindível controla-lo. Este processo consiste em avaliar, controlar, mitigar, planejar e
fornecer diretrizes para que o empreendimento possa controlar o risco independentemente da
sua dimensão.

Neste processo, é fundamental avaliar as incertezas de forma a tomar a melhor decisão


possível, priorizando as mesmas de modo a reduzir o dano. Assim, ao avaliar e ao tratar riscos
admissíveis, criam-se situações em que se pode trabalhar para minimizá-los.

Segundo a ISO 31000 (ABNT, 2009), a tomada de decisão deve ser balizada pelos
seguintes procedimentos:

 avaliação do risco: identificação e avaliação das informações sobre o risco;


 análise do risco: definição da origem e sua probabilidade de ocorrência, mitigando as
consequências das atividades geradoras, atribuindo parâmetros e valores das
simulações da probabilidade de ocorrência;
 aceitação do risco: após a redução a valores aceitáveis, define-se aceita-lo;
 tratamento do risco: processo de seleção e de implantação de soluções para trata-lo. As
medidas são julgadas, sendo possível a recusa de uma decisão insegura, tomando
decisões para minimizar os pontos negativos e majorar os pontos positivos;
 comunicação dos riscos: as informações sobre o risco são selecionadas e partilhadas
no grupo, dando ao gestor a capacidade da tomada de decisão.

Na Figura 2.7, apresenta-se o ciclo gerencial da ISO 31000, que possibilita ao gestor
delimitar cada uma das fases do risco, principalmente sua identificação, seu tratamento e seu
monitoramento. Esta tratativa é importante para estabelecer o contexto e as etapas das
tomadas de decisão.

13
Figura 2.7 – Visão Geral do Processo de Gerenciamento de Riscos, AS/NZS 4360: 2004 –
Risk Management (modificado)

Como ferramenta adicional à gestão de risco da ISO 31000, Amaral e Silva (2001)
propuseram uma metodologia adotada pela Fundação Instituto Geotécnica do Município do
Rio de Janeiro (GEO-RIO), que usa os Índices Quantitativos de Risco (IQR) para antecipar os
problemas gerados pelos escorregamentos de encostas. Esses IQR, agregados aos trabalhos de
cartografia, permitem conhecer rapidamente a área investigada. Os IQR são expressos pela
seguinte equação:

IQR = P x C x Fi

sendo IQR – índice quantitativo de risco;

P – Probabilidade de escorregamento com vítimas;


C – Consequência ou perdas causadas pelo escorregamento;
Fi – fator de correção para as intervenções realizadas (que corrige eventuais distorções
quando da comparação de áreas com e sem obras de contenção).

14
Segundo o Guia PMBOK®, o processo de análise de riscos envolve diretivas
relacionadas à identificação, análise, planejamento de respostas, monitoramento e controle de
riscos. O resultado é, após a sua identificação, o tratamento dos riscos visando minimizar a
exposição aos eventos negativos. De maneira contínua, é necessária a definição de um período
para a revisão da estrutura definida.

Figura 2.8 – Estrutura e Processo de Gerenciamento de Riscos, AS/NZS 4360: 2004 –


Risk Management (modificado)

De maneira mais abrangente, existem ainda, os riscos denominados intangíveis, que


são associados a atividades de produção de bens e serviços, destacando o número de casos
favoráveis a ocorrência de 100% destes eventos. Estes eventos, que possuem apenas um
elemento (ponto amostral) são chamados de simples. Quando o evento é igual ao espaço
amostral, ele é chamado de evento certo e sua probabilidade de ocorrência é máxima.

15
2.5 GESTÃO DE RISCOS E O APOIO A DECISÃO

A gestão do risco, quando inserida na organização, passa por um processo contínuo de


melhorias e adequações, isso porque este processo deve estar envolvido de maneira intrínseca
em todos os níveis hierárquicos da esfera administrativa. Para isso é imprescindível sua
implantação de forma adequada, devendo contribuir eficazmente para o estabelecimento de
responsabilidades, avaliando o desempenho de maneira constante, definindo, assim, os
benefícios gerados pela tomada de decisão contínua.

Deve-se entender que, quando os riscos não são priorizados, consequentemente tem-se
um dano. Assim, ao avaliar e ao tratar riscos admissíveis, criam-se situações em que se pode
trabalhar para minimizá-los. Porém, deve estar claro que conferir todos os processos
associados à análise e mitigação de riscos podem gerar transtornos na organização, devido as
dificuldades estruturais para seu início ou, se iniciados, poderão não conseguir concluí-los.

Em relação aos pilares dos sistemas gerados, há necessidade de que os valores sejam
protegidos, e fazendo parte de todos os processos organizacionais e das tomadas de decisão.
Já os referidos riscos intangíveis não considerados por alguns modelos de gestão,
principalmente pela falta de percepção do seu comportamento. Como exemplos de riscos
intangíveis temos:

 na sua análise pontual, são utilizadas informações desatualizadas, materializando o


risco;
 o denominado risco de relacionamento, gerado pelas dificuldades nas relações
interpessoais;
 o denominado risco de processo é gerado pela utilização de processos operacionais
inadequados.

O monitoramento, sua correta identificação e gestão, potenciam ações importantes


para o seu controle mitigação.

16
Figura 2.9 – Processo de Gerenciamento de Riscos, ASSIS, A. 2013
(modificado)

Conforme figura acima, a implantação do processo de gerenciamento serve para


avaliar e auxiliar na tomada de decisão com base nos resultados da respectiva análise. Após a
análise do risco, verifica-se que a probabilidade do mesmo acontecer é de 90%, gerando
impactos importantes na produção e no seu controle, caracterizando sua criticidade como alta,
sendo necessária ações para lidar com ele. Em seguida, tratamos as seguintes questões: quais
riscos precisam de tratamento? Qual a prioridade? Quais são as possíveis ações que posso
tomar?

Os resultados refletidos nesta tomada de decisão refletem na sua avaliação final dos
riscos e o momento de agir definitivamente. Desta maneira, o processo usado para modificar o
risco irá considerar a probabilidade e as consequências ligadas as estratégias como: mitigar,
prevenir, eliminar, etc

17
3 CENÁRIOS DE RISCOS NA IMPLANTAÇÃO DE TÚNEIS

3.1 ASPECTOS GERAIS

A ocorrência de processos geológicos-geotécnicos (escorregamentos, erosão,


solapamento de margens, assoreamento, inundação, colapsos e subsidências) afeta
praticamente todas as regiões brasileiras, tanto em áreas urbanas como rurais e
empreendimentos. Esses processos, além dos evidentes danos econômicos e ambientais,
podem levar à perda de vidas humanas.

Como parte integrante deste processo, temos os riscos na implantação de túneis,


podendo defini-los por meio de duas metodologias clássicas e aceitas como boa prática da
engenharia geotécnica. A primeira é a qualitativa, quando se aplica a intuição para prever
determinados problemas, mas é quase sempre questionada, pois sua aplicação só faz sentido
com base em conceitos de “alto” risco, “médio” risco ou “baixo” risco. Por exemplo: pode-se
dizer que o risco de uma ruptura de teto numa escavação é “alto”, “médio” ou “baixo” diante
das fraturas, do lençol freático elevado e do mapeamento visual na frente de escavação.

Outra metodologia, amplamente difundida, é a quantitativa, na qual o uso dos métodos


representa sua objetividade, como o Método dos Elementos Finitos e as análises
probabilísticas, cuja interpretação física exige habilidades específicas. Frequentemente,
quando se trata da análise do risco, engenheiros esperam solucionar problemas através de
análises numéricas diretas e indiscutíveis.

Neste contexto, o grande número de obras subterrâneas, principalmente as urbanas, em


execução no mundo podem gerar acidentes, e para evitá-los ou minimizar seus impactos é
necessário seguir uma série de critérios, como os que estão expostos no Código de Prática
para o Gerenciamento de Riscos em Obras de Túneis, iniciativa do “The International
Tunneling Insurance Group” 4 (ITIG), das mais relevantes para se alcançar maior segurança
neste tipo de obra de engenharia.

4
(ITIG) - Grupo internacional de seguros de túneis, ligado a International Tunnelling Association (ITA).

18
Assim, as práticas constantes neste código, visam gerar premissas importantes para
minimizar as séries de eventos inerentes aos processos geológico-geotécnicos.

3.2 O RISCO GEOLÓGICO E SEUS IMPACTOS

As obras subterrâneas sempre apresentam risco mais elevado do que obras a céu
aberto, por se lidar com materiais geológicos que, por mais detalhada que seja a investigação
prévia de campo e laboratório, sempre podem apresentar alguma característica não prevista
inicialmente, e que só será detectada na construção. O risco geológico é sempre presente em
obras subterrânea, (PASTORE 2009).

Com esta característica peculiar, o gerenciamento de riscos tem de prever o


imprevisível, antecipar possíveis anomalias e características geotécnicas e geológicas, ao
longo do traçado dos túneis e obras subterrâneas, e que poderão resultar em impactos e
aumento dos riscos na implantação destas obras de engenharia. Só há riscos comparáveis aos
de obras subterrâneas na engenharia, em obras hidráulicas e marítimas, em que as forças da
natureza, por sua característica intrínseca de imprevisibilidade, desempenham papel relevante.

Os riscos geológicos, geotécnicos e impactos nas construções subterrâneas sempre


ocorrem e são maiores nas escavações de grande porte. Para reduzi-los, é necessário examinar
a probabilidade dos riscos possíveis (quais riscos podem efetivamente se concretizar),
identificar os riscos a serem superados diante de desconformidades geotécnicas e geológicas
graves, e se estruturar quanto às respostas aos riscos em casos concretos.

A propensão ao risco é subjetiva a indivíduos e empresas com maior propensão ao


risco, e indivíduos e empresas com menor propensão ao risco. Numa obra subterrânea típica
em rocha, aqueles com menor propensão ao risco irão certamente exagerar na adoção de
medidas de suporte (tirantes e chumbadores). Aqueles com maior propensão ao risco irão pelo
lado oposto – adotar medidas de suporte aquém do necessário e conviver com o risco de
queda de blocos, ou mesmo de um colapso do túnel.

19
O risco gerado pelo processo de escavação em túneis é crítico, pois os maciços
subterrâneos trazem consigo grandes incertezas geológicas e geotécnicas. Na categoria de
riscos na operação, há diversos tipos de acidentes que podem ocorrer, e o mais comum (e
possivelmente também o mais perigoso) é a ocorrência de incêndios, com grande potencial de
vítimas.

No Túnel Montblanc, na Europa, incêndio recente provocou dezenas de vítimas, e no


Túnel do Canal da Mancha, danos causados ao revestimento por um incêndio recente pararam
a operação por vários meses, causando grande prejuízo à empresa concessionária desta
ligação.

3.3 IDENTIFICAÇÃO E GESTÃO DO RISCO GEOLÓGICO

Segundo KOCHEN (2009) um bom plano de identificação de riscos começa com


perguntas que vão direcionar o nosso olhar para estas questões:

1) O que é risco para esta obra subterrânea específica? Ex., um túnel não urbano pode
gerar recalques elevados sem nenhuma consequência, e esta mesma característica em
obra urbana não é aceitável pela interferência com as edificações e utilidades
subterrâneas ao longo do traçado.
2) Como percebo que existem riscos? Os riscos são inevitáveis, não são bons nem maus,
são simplesmente parte de qualquer empreendimento de engenharia. Devem ser
gerenciados: identificados, reduzidos, e se possível eliminados.
3) Quais riscos devo aceitar? Quais devo rejeitar? A definição de um nível de risco
máximo cabe às entidades envolvidas no empreendimento (proprietário, construtor,
comunidades afetadas e usuários), lembrando que a noção de risco é subjetiva, tanto o
nível de risco aceitável como os riscos que precisam ser rejeitados, é algo que deve ser
definido por um colegiado.

4) Como fazer para não ficar inconsciente dos riscos? A monitoração, acompanhamento e
supervisão técnica, e avaliação constante do projeto e construção fazem parte dos
procedimentos de gerenciamento e minimização de riscos.

20
O risco, em qualquer empreendimento de engenharia, é composto de três elementos:
probabilidade de ocorrência, escolha e consequência. Controles são políticas, procedimentos,
práticas ou estruturas organizacionais projetados e implantados de forma a prover uma
garantia razoável de que os objetivos do empreendimento serão atingidos, e que eventos
indesejáveis serão identificados e corrigidos, em tempo hábil.

Desta maneira, os projetos utilizados em obras subterrâneas compreendem as


seguintes fases: a fase preliminar de estudo de viabilidade econômica; discussões das
necessidades de desapropriações e impactos ambientais e urbanos prováveis, bem como
envolvimento com o meio urbano; projeto básico e quantitativo; elaboração do Termo de
Referência e licitação; projeto executivo; execução, acompanhamento e fiscalização da obra.
Em todas estas fases, e desde o início, é necessário introduzir os conceitos de gerenciamento
de riscos, através de sistemas de controle adequados, para evitar nível de risco elevado na
construção e operação do empreendimento (KOCHEN, 2009).

Toda esta sistemática é consolidada em um plano de riscos para as obras subterrâneas


do empreendimento, que inclui uma sequência obrigatória de atividades. Desta maneira o
plano de gerenciamento de riscos é essencial para reduzir riscos inerentes a estas obras. Isto
porque as tendências gerais na indústria de obras geotécnicas, que prevalecem nos contratos
atuais, aumentaram em muito o nível de risco em relação ao que ocorriam décadas atrás.

Hoje a indústria de construção subterrânea tem de lidar com: métodos construtivos de


alto risco; tendência para contratos de preço global; condições de contratos unilaterais;
cronogramas apertados; orçamentos financeiros baixos. Os fatores expostos aumentam o nível
de risco na construção e operação do empreendimento, tornando necessária a elaboração e
implementação do plano de risco em cada obra subterrânea, para se obter níveis de risco
aceitáveis.

21
Figura 3.1 – Atividades do Plano de Gerenciamento de Riscos de Obras
Subterrâneas, KOCHEN, 2009

3.4 OBJETIVOS E RESULTADOS NA ANÁLISE DE RISCOS GEOLÓGICOS

É necessário, para cada empreendimento de obra subterrânea, estabelecer padrões


mínimos de controle e procedimentos de gerenciamento de riscos. Para isto, é necessário
definir claramente as responsabilidades das partes envolvidas, para reduzir as probabilidades
de perdas, bem como o número e tamanho das demandas (claims).

Neste sentido, após o acidente de Heathrow, o Health and Safety Executive5, analisou
casos históricos recentes de ruptura ou colapso de túneis. O HSE (1996) analisou 39 acidentes
de 1973 a 1994, que foram classificados em cinco causas principais de ruptura: (1) causas
geológicas não prognosticadas (esta causa é diferente de imprevisível, ou seja, trata-se de uma
causa geológica para o acidente que poderia ter sido prevista, mas não o foi, por algum
motivo); (2) erros de projeto, especificação e planejamento; (3) erros numéricos ou de
cálculo; (4) erros de construção; (5) erros de controle e gerenciamento.

Os procedimentos de avaliação dos riscos geológicos em túneis devem envolver as


seguintes etapas de atividades: detecção de risco e ação corretiva; risco conceitual;
recomendações para incremento da segurança; questionário (complementação de
informações); lista de verificação (check list).

5
(HSE) - Health and Safety Executive - Órgão do Ministério do Trabalho da Inglaterra.

22
O procedimento de detecção de risco e ação corretiva é ilustrado pela figura 3.2, e
mostra que, ocorrendo o evento adverso ou desfavorável na construção do túnel, deve ser
avaliado e tratado com medidas mitigadoras o mais rapidamente possível, antes que o risco
cresça e saia do controle (causando um acidente, colapso etc.).

Figura 3.2 – Procedimentos de detecção e ação corretiva para Gerenciamento


de Riscos em túneis, KOCHEN, 2009

O risco conceitual define os níveis de risco no projeto, construção e operação da obra


subterrânea. A etapa onde é possível se obter a maior redução no nível de risco da obra
subterrânea é no projeto (fase pré-construção). Na fase de implantação, o risco deve se situar
abaixo do nível aceitável, e na fase de operação este risco deve ser menor ainda, lembrando
que os riscos operacionais frequentemente são diferentes dos riscos construtivos (por
exemplo, colapso na fase de construção versus incêndio na fase de operação).

É importante que o gerenciamento de riscos utilize ferramentas de análise de riscos e


de decisão, analisando os problemas geotécnicos de obras subterrâneas de uma forma mais
estruturada e formal, com o objetivo de minimizar os riscos. Com este procedimento, as
decisões deixam de ser intuitivas e empíricas e passam a ser mais estruturadas. Evita-se, desta
forma, correr riscos sem a análise de suas consequências.

23
A execução de obras subterrâneas, sejam em “cut and cover”, em poços ou túneis
NATM, não é uma tecnologia isenta de riscos, em que pesem os avanços tecnológicos dos
últimos anos. É necessário um acompanhamento diário das condições geológicas e
geotécnicas encontradas na escavação, para adaptação a condições alteradas em relação às
previstas inicialmente, ou na hipótese de serem encontradas condições anômalas.

O aparecimento de condições geológico-geotécnicas diferentes das previstas dá


margem a uma série de riscos, que podem ser desastrosos para o empreendimento se não
forem corretamente enfrentados, gerenciados e otimizados. Portanto, a intervenção em túneis
tem que antever a necessidade de uma gestão de níveis de risco significativos, para a escolha
de métodos construtivos, de suporte e tratamento dos maciços que levem a um nível adequado
de segurança para a obra.

Segundo KOCHEN (2009), os pontos chaves para mitigação dos riscos na implantação
de túneis são: (1) identificar os riscos antecipadamente; (2) reconhecer os riscos de imediato,
assim que seus sinais se manifestarem; (3) gerenciar os riscos através de um Plano de
Gerenciamento de Riscos (PGR), através de uma metodologia transparente e efetiva, que
deverá ser adotada nos estágios iniciais de projeto e construção, minimizando a ocorrência de
riscos e/ou mitigando suas consequências.

Desta maneira, o PGR6 típico para uma obra de escavação subterrânea urbana engloba
os seguintes aspectos: identificação de riscos; avaliação, qualificação e quantificação de
riscos; mitigação de riscos (definição das respostas aos riscos identificados, incluindo
escolhas corretas de projeto e construção); avaliação de riscos residuais (após medidas de
mitigação); pré-projeto de contra medidas para a gestão de riscos residuais durante a
construção.

O PGR é elaborado para gerenciar adequadamente os riscos residuais, os riscos


aceitáveis, e quaisquer novos riscos que possam surgir no decorrer do empreendimento. Para
implantação do mesmo, requer o pré-projeto das contramedidas (medidas de contingência),
bem como das regras para ativação das medidas de contingência em cada etapa de construção.

6
(PGR) – Plano de Gerenciamento de Riscos

24
Além disto, o plano de gerenciamento de riscos deve ser dinâmico, ou seja, continuamente
revisado e atualizado (no caso de túneis, com frequência diária).

Para KOCHEN (2009), na gestão de riscos de obras subterrâneas é importante


ressaltar que: (1) análise de obras subterrâneas e gestão de risco são mutuamente dependentes
e devem ocorrer simultaneamente, passo a passo; (2) uma avaliação de risco correta e válida,
deve e pode ser obtida, somente com um correto entendimento do projeto e processo
construtivo, o que só é possível com uma equipe de especialistas, consultores e engenheiros
experientes no acompanhamento diário da obra; (3) um projeto criterioso e robusto de obra
subterrânea, só pode ser obtido se elaborado dentro de um enfoque de mitigação dos riscos.

Como consequência do exposto, é fundamental atender aos seguintes aspectos: o


projeto básico da obra subterrânea e do seu método construtivo, sistemas de contenção,
tratamentos de solo etc., é a medida mais eficaz possível para reduzir os níveis de risco
iniciais do empreendimento. Para tanto, é necessário e importante implementar a análise
crítica e de riscos do projeto, bem como a gestão sistemática e contínua dos riscos durante a
construção.

No projeto inicial o empreendedor deve definir o nível de risco, inicial e durante a


construção, que julga aceitável e que está disposto a correr. A escolha correta do método
construtivo para a obra subterrânea é a primeira e mais importante medida de
redução/mitigação de risco, ou, colocando de outra forma, a resposta primária para os
principais riscos identificados.

3.5 CLASSIFICAÇÃO E PROBABILIDADE DE RISCOS GEOLÓGICOS

Uma obra subterrânea é uma atividade interativa que deve observar, entre outros
aspectos relevantes: a comparação entre o previsto e o observado (revelado pela escavação e
seu acompanhamento/monitoração diários); modificação e ajuste do projeto inicial para a
realidade observada, que evolui com a obra e suas escavações, através de um processo
dinâmico e continuo (implementação do projeto inicial, monitoração da escavação,
acompanhamento de obra, e otimização do projeto), até o termino da obra.

25
Em consequência, a escavação e seu controle devem ser parte integral do seu processo
construtivo para minimizar riscos. De maneira a mitigar os riscos geológicos, antes de se
iniciar o projeto e construção de um túnel, deve-se, como primeiro passo, identificar riscos
potenciais relacionados ao processo de escavação (geologia & geotecnia, projeto e método
construtivo), e avaliar a probabilidade de sua ocorrência, bem como as consequências
potenciais (impactos, danos). Como segundo passo, deve-se decidir se o nível de risco
identificado requer a aplicação de medidas de mitigação/redução de riscos. Se necessário, o
terceiro passo consiste na definição e pré-projeto destas medidas de mitigação/redução de
riscos, para eventual ativação e uso durante a construção.

Tabela 3.1 – Classificação de Probabilidade de Riscos

FREQUÊNCIA/PROBABILIDADE

< 10% Baixo Baixo

10 - 50% Médio Médio

> 50% Alto Alto

Fonte: KOCHEN, 2009

É importante que um PGR indique que o projeto seja acompanhado e verificado


durante a escavação, ou seja, o método é dinâmico, com atualização contínua dos parâmetros
de projeto e construção das obras subterrâneas a serem executados, com base nos resultados
de trechos já construídos.

Em suma, os princípios de um PGR são os seguintes: (a) Previsão – Análise crítica e


de riscos do projeto inicial e predefinição de medidas de mitigação/redução de riscos; (b)
Monitoração do comportamento, através de mapeamento da frente de escavação e
instrumentação – Obras subterrâneas, maciço adjacente e estruturas lindeiras; (c) Otimização
do projeto; (d) Aplicação de medidas pré-definidas.

26
O escopo de um plano de gerenciamento de riscos (PGR) para esta obra é identificar
principais riscos a serem mitigados, e eventuais contingenciamentos/provisionamentos de
verba, para fazer frente a estes riscos, caso a obra conte (ou não) com seguros para cobrir os
riscos identificados. Para isso, é necessário elaborar procedimentos técnicos, de modo a
resultar um projeto otimizado das obras subterrâneas, que serão instrumentais para gerenciar
riscos residuais durante a construção. O PGR específico para cada obra deve ser desenvolvido
com a cooperação de todas as entidades envolvidas na mesma, inclusive a projetista e
consultora especializada, atuando como promotora e facilitadora do processo. Mais
especificamente, o enfoque técnico para atingir com sucesso a mitigação dos riscos, com
integração entre as várias entidades atuantes na obra, deve obedecer aos seguintes quesitos:

1) Revisão e avaliação dos maciços de solo e rocha ocorrentes nas


escavações subterrâneas, considerando o método construtivo das
obras subterrâneas.
2) Revisão e avaliação das incertezas e variações nas condições
geológico-geotécnicas identificadas no projeto e método construtivo.
3) Plano de investigações geológico-geotécnicas adicionais, caso
necessárias.
4) Cálculos de estabilidade das escavações subterrâneas, e avaliação das
necessidades de contenções/suportes/tratamentos de solo.
5) Elaboração de um registro de riscos, contendo riscos identificados
(iniciais, geológicos/geotécnicos, hidro geológicos, de projeto e
construção), em relação às obras subterrâneas, estimativa da sua
probabilidade de ocorrência e impactos, bem como de medidas
sugeridas de projeto e construção, para reduzir os riscos iniciais a
níveis aceitáveis.
6) Verificação da monitoração geotécnica, e sua adequação, para avaliar
o comportamento das obras subterrâneas, dos maciços e do meio
urbano adjacente.

27
Para este escopo, é necessário disponibilizar equipe altamente qualificada de
engenheiros geotécnicos especializados e consultor. Devem ser realizadas visitas periódicas
ao local das obras, para integração com a equipe da construtora e seus contratados, e para
compreensão dos requisitos do projeto e necessidades específicas da construção. A atuação da
consultoria deve se dar de forma integrada e cooperativa com as diretrizes da construtora do
proprietário.

Os procedimentos de gestão, instrumentação e execução das obras são complexos e


necessitam de elevado grau de conhecimento técnico e executivo. Cada túnel possui diversos
eventos potencialmente geradores de risco. Estes eventos devem ser classificados de acordo
com seu grau de risco à segurança, economia e eficiência da obra. Para a determinação do
grau de risco de cada evento, pode se utilizar a classificação probabilística apresentada na
tabela 3.1, em que, através da frequência de ocorrência do evento, define-se a probabilidade
do risco para a obra.

Os eventos de risco são apresentados abaixo, em forma de duas tabelas: tabela 3.2 e o
3.3. A tabela 3.2, apresenta as categorias de risco mais comuns em obras subterrâneas, como
túneis NATM. Nessa tabela, expõem-se as características principais de cada evento e a
avaliação do risco é dividida em três fatores principais: probabilidade de ocorrência;
consequência ou impacto; risco inicial.

Já a tabela 3.3, apresenta as medidas corretivas a serem tomadas para a redução do


risco de cada evento, em três etapas: metodologia para a detecção do risco; medidas de
redução do risco; análise do risco residual. Nestes quadros, resume-se, simplificadamente, a
análise de risco deste tipo de obra subterrânea (túneis NATM), pois contempla os principais
eventos potencialmente causadores de não conformidades e geradores de risco.

Estes eventos podem resultar em danos relevantes e graves, e até mesmo no colapso
parcial do empreendimento. Estes quadros são exemplificativos e hipotéticos, devendo ser
adequados à especificidade de cada obra subterrânea, para aplicação em situações reais.

28
Tabela 3.2 – Categorias de risco – Túnel NATM

Fonte: KOCHEN, 2009

29
Tabela 3.3 – Medidas de detecção de riscos – Túnel NATM

Fonte: KOCHEN, 2009

30
Em face da complexidade geológica e desafios técnicos deste tipo de obra, verifica-se
a necessidade de medidas de segurança e cautela adicionais, em relação a obras
convencionais, tais como elaboração e implementação de planos de gestão de risco, análise
crítica e validação de projetos, acompanhamento técnico de obra, monitoração, e outros
procedimentos de mitigação de risco. Para reduzir ou eliminar riscos inerentes ao projeto e
execução de obras subterrâneas, usualmente executadas em regiões geologicamente
complexas, recomenda-se observar o Código de Prática para o Gerenciamento de Riscos em
Obras de Túneis, proposto pelo (ITIG) 7.

7
(ITIG) – The International Tunnelling Insurance Group

31
4 COLAPSOS MAIS IMPORTANTES EM TÚNEIS

4.1 SEGURANÇA, RUPTURA E COLAPSOS EM TÚNEIS.

Os principais conceitos e proposições das análises de risco são de grande interesse


para a gestão da segurança em obras com risco de rupturas, que implicam prejuízos elevados e
danos materiais e/ou de vidas humanas. Esses conceitos devem ser bem aplicados para a
adoção de medidas mitigadoras em maciços subterrâneos. Um exemplo claro de colapso em
escavações subterrâneas foi o grave acidente que ocorreu, em 1996, no aeroporto de
Heathrow. Neste acidente, desabou um trecho que iria ligar a estação Paddington, em
Londres, ao aeroporto de Heathrow.

A sequência do desabamento em Londres é semelhante a verificada em São Paulo,


onde a implantação do túnel da linha quatro (amarela) na estação de Pinheiros em 2007,
produz várias vítimas, e exemplifica a necessidade da gestão de risco. Na ocasião, foram
analisados os documentos de licitação e da investigação geológico-geotécnica, do projeto
executivo (retro análise), da instrumentação, do controle de qualidade e o do plano de
contingência, concluindo que o colapso se verificou pela conjugação de fatores que
conferiram ao maciço um comportamento geomecânico localmente singular.

A recorrência de eventos com rupturas em maciço subterrâneo, até mesmo em espaços


urbanos, tem levado a sociedade a uma reflexão quanto a segurança destas obras. Desta
maneira, os túneis executados em NATM 8, bem como aqueles implantados em outros
métodos construtivos, tem demonstrado a necessidade premente de mão de obra
especializada, um número cada vez maior de investigações geotécnicas/geológicas,
planejamento incorporando os diversos stakeholders, projeto detalhado completo e um
monitoramento construtivo avançado, a fim de mitigar os riscos inerentes a esta obra.

De acordo com PELIZZA (1996), os colapsos são inerentes a metodologia construtiva,


isto é, independentemente do método de escavação pode haver colapso. No entanto, no
NATM, a segurança da obra é função intrínseca do método construtivo projetado e da sua
8
(NATM) – New Austrian Tunnelling Method

32
correta execução, tornando a avaliação de riscos muito importante. Uma obra subterrânea,
tanto em meio industrial como em meio urbano, deve ser projetada e construída de forma que
seja possível controlar e manter em níveis aceitáveis a construção e o impacto ambiental a
curto, médio e longo prazo.

Segundo KOCHEN (2009), a pouca literatura referente ao assunto encontra-se não


formalizada e/ou dispersa, publicada em anais de simpósios e congressos, em revistas
especializadas ou ainda em relatórios internos de circulação restrita. Segundo PELIZZA e
GRASSO (1998), para a indústria de construção de túneis, há três razões principais para
realizar esforços no sentido de reduzir ou, se possível, eliminar rupturas em túneis durante a
construção: (1) para prevenir atrasos no prazo final; (2) para evitar disputas relativas a
impactos ambientais causados pela ruptura, que resultam em perda adicional de tempo e de
vidas; e (3) para ficar dentro do orçamento proposto para o projeto.

Contudo deve-se observar que, mesmo em projetos de boa qualidade, por mais que se
controle os níveis de risco, procurando mantê-los aceitáveis, a possibilidade de
comportamento inadequado, e de ocorrência de rupturas ou acidentes irá sempre existir. Não
existe obra subterrânea com risco de ruptura nulo, embora a nossa meta deva ser sempre
reduzir a probabilidade de ruptura para o menor valor possível (HACHICH, 1978).

4.2 ESTADO ATUAL DO CONHECIMENTO

PELLIZZA (1996) e PELIZZA; GRASSO (1998) resumiram muito bem o estado atual
do conhecimento em relação a acidentes durante a implantação de túneis e que, na realidade, é
a somatória das várias conclusões obtidas através de informações de fontes do Reino Unido,
alemãs, japonesas, russas, tchecas de casos históricos de rupturas de túneis já publicados.

 Acidentes geológicos acontecem independentemente da metodologia construtiva


usada; os mesmos acontecem com alto potencial de dano;
 Um número pequeno de acidentes geológicos ocorre devido a um encontro inesperado
com uma situação hidrogeológica e/ou geotécnica que é inesperada;

33
 A maioria dos acidentes geológicos são causados pelo não reconhecimento antecipado
de situações hidrogeológicas e/ou geotécnicas desfavoráveis. Este ponto é apoiado
pelas seguintes observações relativas à insuficiência dos estudos geológicos:
 o estudo é dificultado por complexidades geológicas e pela profundidade
do túnel;
 o cliente impõe um limite no orçamento de investigação, sem avaliar o
potencial de riscos geológicos residuais;
 o plano de investigação geológica é estabelecido, independentemente do
método de escavação de túneis a ser aplicado;
 o plano de investigação geológica é geralmente executado em uma única
etapa, e uma investigação com mais etapas seria mais informativa;
 o mapeamento geológico-geotécnico na face de escavação e paredes do
túnel, durante o trabalho de construção; são frequentemente escassos e os
resultados nem sempre são interpretados corretamente e prontamente;
 a tarefa do empreiteiro é produzir escavando tão rapidamente quanto
possível; para fazer isto, o empreiteiro está pronto para correr riscos, e isto
geralmente conduz a uma subestimação dos aspectos de segurança da
situação geotécnica e hidrogeológica real; e
 desta maneira, é importante conscientizar o proprietário de manter os ritos
necessários à esta implantação, permitindo ao empreiteiro não correr riscos,
reservando-lhe o direito da tomada de decisão, assumindo assim as
consequências. Assim, é responsabilidade do proprietário assegurar, com a
ajuda do projetista, que a construção não ocorra em condições de risco.

Segundo KOCHEN (2009) a maior lacuna no conhecimento atual é determinar qual é


a probabilidade ou o grau de risco com que certa anomalia geológica possa surgir
inesperadamente, causando um acidente na passagem da face de escavação do túnel. O que
parece ser necessário é incluir no projeto de túneis avaliações de risco de acidentes geológicos
ou construtivos, os quais não podem ser previstos dentro da estrutura usual de informações
disponíveis.

Sendo assim, o projeto não pode por esta razão ser determinista, mas deve ser
desenvolvido considerando-se critérios probabilísticos, levando em conta as incertezas das
variáveis relativas aos aspectos geológicos e geotécnicos, as técnicas de construção e as
34
repercussões externas e ambientais. Esta avaliação nos permitirá adquirir um conhecimento
que considera a média de ambos, ou as condições prevalecentes em que o túnel será escavado
e as condições extremas, assim como, a probabilidade da sua ocorrência. Somente deste modo
será possível aperfeiçoar o projeto final, identificando e quantificando os riscos e definindo o
gerenciamento técnico e administrativo dos riscos.

4.3 MECANISMOS DE RUPTURAS OU COLAPSOS EM TÚNEIS

Podemos classificar os colapsos em túneis conforme vários fatores, em que se incluem


o tipo, a extensão, os mecanismos, os efeitos, as causas e as consequências. Os mecanismos
de ruptura no maciço formam-se pelo rearranjo do estado de tensões no mesmo, causada
principalmente pelo modo de escavação e posição da linha freática, (GOMES, D. 2012). Tais
mecanismos ocorrem, na maior parte das vezes, no processo de escavação. Em seguida, após
o revestimento e/ou contenção, os mecanismos existentes no maciço se estabilizam, evitando
assim o colapso eminente.

Segundo KOCHEN (2009), as obras de recuperação em túneis requerem o


desenvolvimento de considerável habilidade e cuidado em sua investigação, planejamento,
projeto, construção e monitoração, para serem construídos com segurança. O panorama geral
dos critérios de segurança e a geotecnia estão bem apresentados em HACHICH (1978) e nota-
se que a tendência atual é o aprofundamento nos métodos probabilísticos. Para o HSE, mesmo
que haja bons sistemas de gerenciamento, treinamento de pessoal, trabalho de supervisão e
procedimentos de controle de qualidade, falhas humanas, assim como a erraticidade do
maciço, não podem ser eliminadas.

Assumindo-se que todos os esforços tenham sido feitos para reduzir os riscos antes do
início da construção do túnel, o fator mais importante para manter o nível de risco o mais
baixo possível, durante a construção, são os mecanismos “Discovery” e “Recovery”, que
foram traduzidos para este trabalho como mecanismos de “Detecção do Risco” e “Ação
Corretiva”, respectivamente.

Os mecanismos citados acima consistem em detectar rapidamente o desenvolvimento


do risco, e eliminá-lo através de uma ação corretiva rápida e pontual. Uma detecção rápida é

35
crucial para providenciar tempo suficiente para que seja possível o início de uma ação
corretiva, a fim de retornar os níveis de risco para valores aceitáveis.

Areia

Solo

Saprolito

Rocha

Figura 4.1 – NA elevado, causando arqueamento do teto do túnel, KOCHEN, 2009

Areia
Solo

Saprolito

Rocha

Figura 4.2 – NA elevado, causando colapso do teto do túnel, KOCHEN, 2009

A recuperação de rupturas em túneis consiste em duas atividades relacionadas


(estabilização reconstrução), integradas com o plano de monitoração. Os procedimentos
básicos envolvidos no trabalho de recuperação incluem:

36
 drenagem de água, evitando-se a instabilidade de cavidades e carreamento de solo;
 consolidação do desmoronamento de solo, a fim de garantir a estabilidade da nova
face de escavação;
 melhoria das características geotécnicas do material do desmoronamento e da massa
de solo ou rocha ao redor do túnel;
 uso de técnicas de intervenção de eficiência e eficácia comprovadas; e reforço do
revestimento durante a escavação imediatamente atrás da face.

4.4 ANOMALIAS GEOLÓGICAS GERADORAS DE COLAPSO

4.4.1 RISCOS GEOLÓGICOS

Os riscos geológicos estão relacionados aos processos de formação geológica do


maciço estudado, estando o mesmo relacionado predominantemente à geodinâmica interna ou
externa da sua formação. Desta maneira, dividimos os riscos geológicos em riscos endógenos,
que envolvem a geodinâmica interna, como: terremotos, vulcanismo, tsunamis e riscos
exógenos, ligados a geodinâmica externa, ou seja, processos correlatos à
erosão/assoreamento, subsidência e colapsos, solos expansivos, entre outros. Sendo este,
nosso âmbito de estudo.

A partir do conhecimento da geologia local, a garantia da estabilidade durante o


processo de implantação de túneis aumenta começando já nos estudos de viabilidade. Neste
período, é importante conhecermos o modelo geológico e hidrogeológico proposto, definindo
de maneira clara as superfícies de contato e a posição da linha freática. Estas informações são
obtidas a partir de levantamentos/mapeamento de campo e campanhas de ensaios e
sondagens. Estas informações são importantes na definição do perfil geológico-geotécnico, a
partir do eixo de implantação do túnel.

Já na sequência da implantação de túneis, são apresentadas a seguir, algumas


anomalias geológicas que podem surgir inesperadamente, causando rupturas e/ou colapsos em
túneis.

37
4.4.1.1 Falhas

As falhas geológicas, também conhecidas como falhamentos, são fraturas encontradas


em maciços rochosos, fazendo com que estes sofram movimentos relativos em suas
formações estruturais. Estas anomalias são formadas, pela ação dos agentes internos
existentes e se manifestam em áreas sob forte presença de formação tectônica quanto em
regiões já estabilizadas. As falhas geológicas são um dos fatores responsáveis pelos colapsos
em escavações subterrâneas e/ou túneis.

Após a formação das fraturas geológicas, os blocos se movimentam em sentidos


diferentes, sempre direcionados à força geradora da cunha de ruptura. Assim, elas passam a se
movimentar em relação a outra gerando um atrito constante, ocasionando em alguns casos,
travamentos em virtude da fricção. A partir do travamento das falhas, as forças continuam
ativas e acumulando energia, liberando a mesma quando acontece a acomodação, gerando a
movimentação que chamamos de abalos sísmicos.

Figura 4.3 – Influência das falhas nas escavações subterrâneas


(a)Falha normal; (b) Falha inversa; (c) Falha transcorrente; (d) Falha obliqua,
UNB/GEOTECNIA, 2004

38
Figura 4.4 – Aspectos geomorfológicos de uma escarpa de recuo de falha,
UNB/GEOTECNIA, 2004

Esta anomalia, favorece a percolação de água, devido aos muitos vazios preenchidos
pelas as águas superficiais ou pelas linhas freáticas subterrâneas. Os maciços nesta condição,
sofrem devido à alta permeabilidade gerada pelo material fraturado, trazendo menor
competência ao maciço utilizado para a implantação de túneis. Assim, a posição das falhas em
relação ao eixo do túnel, gera uma condição crítica de potencial colapso. Como segurança,
deve-se privilegiar a orientação das falhas, sempre perpendicular ao eixo de implantação do
respectivo túnel.

A condição crítica que as falhas trazem para o processo de escavação, levam a serem
estudadas novas opções de traçado para o túnel, reduzindo assim os potenciais riscos de
colapsos. Assim, o conhecimento antecipado desta anomalia, reduz substancialmente os riscos
inerentes a este processo de escavação. As metodologias executivas utilizadas para tratar
maciços com a presença de falhas são injeções de consolidação, enfilagens, jet-grouting,
DHPs, etc.

Ressaltamos que, a presença de fraturas é encontrada mais comumente em regiões sob


forte influência tectônica. Entretanto, o território brasileiro não está livre delas, estando
concentradas nas regiões Sul e Sudeste.

39
4.4.1.2 Dobras

As dobras se formam quando uma camada de superfícies originalmente planas, como


estratos sedimentares, é encurtada e curvada devido à aplicação de uma determinada tensão.
Podemos encontra-las em tamanhos variados, e escalas diversas, indo desde a escala
microscópica a dobras do tamanho de montanhas.

Figura 4.5 – Mecanismos de formação de dobras (a) Flambagem (b) Cisalhamento


Simples, UNB/GEOTECNIA, 2004

Elas podem ocorrer como dobras isoladas ou em uma sequência de dobras de


tamanhos variados. A sua formação impressiona até os mais experientes geólogos, devido a
sua variabilidade geológica e sempre muito sólida e resistentes, mostrando um
comportamento plástico (ou dúctil). Para sua interpretação, e necessário conhecer sua
geometria, necessitando de orientação espacial que se faz, principalmente pelo
posicionamento espacial de seus flancos e eixo. Desta maneira, podemos tratá-las como:

(a) Sinclinal: dobra com convexidade para baixo, quando conhecidas suas relações
estratigráficas, ou seja, rochas mais novas encontram-se no seu núcleo.
(b) Anticlinal: dobra com convexidade para cima, quando conhecidas suas relações
estratigráficas, ou seja, rochas mais antigas encontram-se no seu núcleo.

40
O posicionamento de túneis em maciços com a presença de dobras anticlinal, passam
por alta influência de condições permeáveis, devido as altas cargas cisalhantes existentes. Já
numa condição sinclinal, o maciço sofre pela interrupção das condições permeáveis e não
permeáveis, originando o posicionamento de bolsões de água. Assim, verifica-se forte
influência das tensões locais, o que pressupõe um alto estado de fraturação dos materiais
resistentes, GOMES, D. (2012).

Figura 4.6 – Tipos de dobras: dobras Anticlinal e Sinclinal, UNB/GEOTECNIA, 2004

Para uma visão tridimensional da dobra é necessário se conhecer as atitudes de seu


eixo e de sua superfície axial. A atitude do eixo é determinada por dois parâmetros:
• Direção de sua projeção horizontal no plano (direção do traço axial), situada no plano
axial;
• Mergulho ou ângulo entre o eixo e sua projeção horizontal.
• Podemos analisar a competência e incompetência em uma dobra, a partir das seguintes
definições:
• Rochas competentes: reagem de maneira rígida diante da deformação, podendo
resultar em deformações no material dobrado e/ou na encaixante (ex: quartzitos,
silexitos, calcários).
• Rochas incompetentes: comportam-se plasticamente diante da deformação, dobrando-
se mais intensamente.

41
4.4.1.3 Juntas

Juntas são fraturas que durante a sua formação, não se movimentaram. Seu início está
ligado ao processo de formação do maciço, apresentando esforços adiastróficos (primários),
ou seja, não tectônicos (juntas de resfriamento), quanto diatróficos (secundários) juntas de
origens tectônica, originada de uma estrutura regional bem definida. De maneira abrangente,
em sua aplicação na implantação de túneis, as juntas definem o estado de fragmentação do
maciço rochoso. Para isso, é importante a definição de domínios homogêneos, ou seja, a área
na qual um elemento se apresenta contínuo e sem variações significativas.
Assim, quando da escavação para implantação de túneis, é importante o levantamento
sistemático de cada domínio, definindo as famílias presentes e a posição do bloco unitário e
sua orientação.

Como importância prática das juntas, na implantação de túneis, verificam-se que:

• Facilitam o desmonte, mas impõem a necessidade de escoramentos.


• Permitem a formação de aquíferos, mas por outro lado permitem a infiltração
de água em obras subterrâneas.
• Condicionam o relevo e a drenagem, permitem a ação rápida da erosão,
propiciando a mais rápida degradação do terreno.
• Em sua formação, facilitam o desmonte de rocha, porém devido a sua condição
fraturada, prejudicam a retirada de blocos intactos.

Desta maneira, quando do processo de escavação de túneis, caso as respectivas juntas


estejam orientadas na direção dos planos principais das anomalias (Figura 4.7), verificaremos
que as regiões de maior instabilidade serão predominantemente, nas paredes laterais e na
abóbada do túnel.

42
Figura 4.7 – Influência das juntas nas escavações subterrâneas - GOMES, D. 2012

O posicionamento do eixo do túnel (Figura 4.8), em relação a orientação das juntas e a


respectiva estratificação, é fundamental para que sua estabilidade seja verificada.

Figura 4.8 – Influência das dobras nas escavações subterrâneas - GOMES, D. 2012

Nos Quadros 4.2 e 4.3, apresentam a ação da inclinação das juntas, como influência
direta na geometria de escavação de túneis e sua relação com a estabilidade, quer de teto e
paredes laterais, para as diversas inclinações.

43
Tabela 4.2 – Ação das juntas na geometria de túneis (paralelo e oblíquo)

Disposição Geométrica Inclinação Teto Parede

Túnel paralelo à estratificação α > 60° Rupturas grandes Estáveis

20°< α < 45° Rupturas Estáveis

α < 45° Estável Ruptura

Túnel oblíquo a estratos α < 45° Estável Estáveis


inclinados
45°< α < 75° Estável Algumas rupturas

α < 75° Estável Rupturas

Fonte: GOMES, D. 2012

Tabela 4.3 – Ação das juntas na geometria de túneis (perpendicular)

Disposição Geométrica Inclinação Teto Parede


Túnel perpendicular aos
estratos β > 60° Estável Estáveis
Alguns Desprendimentos
45°< β < 60° desprendimentos quando o avanço é
contra a inclinação
Ruptura de teto Muitos
20°< β < 45° desprendimentos
Ocorrência de Poucos
β < 20° chaminés desprendimentos

Fonte: GOMES, D. 2012

44
Assim, visando combater a instabilidade em processos de escavações em túneis,
encontramos metodologias recentes para o controle das convergências de maciços rochosos,
sujeitas a anomalias críticas de movimentação (juntas/fraturas), devido ao elevado campo de
tensões do maciço.

Figura 4.9 – Tipos de instabilidade em túneis, GOMES, D. 2012

4.4.1.4 Linha Freática Elevada

A implantação de túneis normalmente requer escavações abaixo da linha freática, ou


que interceptam a mesma. Tais escavações podem exigir tanto uma drenagem, como um
rebaixamento da respectiva linha freática. Para tratar a presença de água nas frentes de
escavação, devem ser observados os diversos níveis freáticos no maciço, verificando as
vazões a serem bombeadas e as condições de recalque. Ressalta-se que, a partir das
intervenções nas linhas freáticas, são produzidas alterações nas condições naturais do maciço.
Estas condições, podem produzir saturação excessiva do maciço, reduzindo assim o fator de
segurança na frente de escavação. De outra forma, é preciso observar também, a existência de
ruptura hidráulica, devido a presença de águas artesianas, confinadas entre certos estratos do
maciço.

45
Figura 4.10 – Frente de escavação paralizada, devido percolação elevada pelas fraturas,
Túnel Laranjeiras, 2014

Conforme foto acima, a presença elevada da linha freática, associada as fraturas


existentes no maciço, proporcionaram a paralização da frente de escavação, gerando
instabilidades ocasionadas pela redução do fator de segurança do maciço escavado.

4.4.1.5 Influência das Tensões em Maciços Rochosos

A estimativa de certos parâmetros é difícil de ser realizada, não pela falta de pessoal
técnico, equipamento ou procedimentos qualificados, mas, sobretudo, pelas condicionantes
técnicas impostas pelo fator de escala dos ensaios diante do maciço rochoso. Essas
dificuldades são decorrentes das dimensões e do volume de equipamentos necessários para
que uma campanha de ensaios de campo apresente resultados satisfatórios e representativos
do maciço rochoso.

Felizmente, numerosos autores vêm concentrando esforços na busca de ferramentas


matemáticas que auxiliem na estimativa dos parâmetros geomecânicos do maciço rochoso.
Desses esforços, surgiram os conhecidos critérios de ruptura, que relacionam o estado de
tensão ao estado de ruptura de um material (solo, rocha e outros).

46
Entre o vasto número de critérios de ruptura, destaca-se o critério generalizado de
Hoek-Brown (1981), que tem evoluído gradualmente (HOEK, 1981), (HOEK, 1994), (HOEK,
1999), (HOEK, 2001), principalmente em função das necessidades dos projetistas e
construtores. Tem sido aplicado a diversos casos não contemplados pela versão original
(HOEK; BROWN, 1980). Assim, a aplicabilidade das equações empíricas e semiempíricas
dos vários critérios de ruptura apresenta resultados bastante satisfatórios, quando respeitadas
as restrições conceituais impostas por seus autores.

O Tabela 4.4 tenta representar de forma generalizada a influência dos parâmetros


geológicos nos modos de ruptura em maciços subterrâneos.

Tabela 4.4- Influência das condições estruturais do maciço rochoso e do estado de tensão no
modo de ruptura (adaptado)

Maciço rochoso intacto Maciço rochoso moderadamente Maciço rochoso


fraturado moderadamente fraturado
Baixos níveis de
tensões

Estável Queda de blocos e cunhas Desagregação da parede


Moderado nível de
tensões

Ocorrência de ruptura
Ruptura localizada ao redor da Ruptura localizada ao redor da localizada e desagregação da
escavação escavação e movimento de blocos parede
Elevado nível de
tensões

Ruptura generalizada ao
Ruptura generalizada ao redor Desenvolvimento do
redor da escavação e
da escavação processo de “squeezing”
movimento de blocos

Fonte: Hoek (1983).

47
5 MECANISMOS DE RUPTURAS EM MACIÇOS ROCHOSOS

5.1 CLASSIFICAÇÃO DE MACIÇOS ROCHOSOS

Um maciço rochoso, do ponto de vista do seu aproveitamento em engenharia é um


conjunto de blocos de rocha, justapostos e articulados. O material que forma os blocos
constitui a matriz do maciço rochoso, também denominada rocha intacta, e as superfícies que
os limitam, as descontinuidades. Os maciços rochosos são essencialmente heterogéneos,
anisotrópicos e descontínuos, e a sua complexidade resulta da evolução geológica a que foram
submetidos. É a escala da porção do maciço analisado, em relação à obra considerada, que
define a validade de se admitir o meio homogéneo ou heterogéneo, isotrópico ou anisotrópico,
contínuo ou descontínuo, no âmbito de um estudo qualquer (ABGE, 1998).

É importante que um mesmo maciço rochoso possa reagir de maneira diferenciada,


conforme as solicitações que lhe são impostas. Estas, por sua vez, dependem do tipo, das
dimensões e particularidades da obra. Assim, para a previsão do comportamento do maciço,
deve-se avaliar as suas características em função da obra a ser implantada.

Como a natureza das características do maciço difere de local para local, função da
história geológica da região considerada, é necessário evidenciar os atributos do meio rochoso
que, isolada ou conjuntamente, condicionam o seu comportamento ante as solicitações
impostas pela obra em questão. Tal procedimento denomina-se caracterização geológico-
geotécnica ou geológico-geomecânica do maciço rochoso. A caracterização objetiva,
portanto, a priorização das características de uma realidade local para sua posterior
classificação.

O ato de hierarquizar aquelas características organizá-las individualmente, em grupos


ou classes, às quais se possam associar comportamentos diferenciados do meio rochoso, para
as condições de solicitação consideradas, denomina-se classificação geomecânica do maciço.
O planejamento e a execução dos estudos geológico-geotécnicos, destinados ao projeto e à
construção de obras civis, integram-se com as fases do empreendimento. As investigações,
elemento essencial na aquisição dos dados para os estudos de caracterização, proporcionam
dados em níveis de progressivo detalhe. Assim, o tratamento dos dados sofre aprimoramento
constante e cuidadoso, (ABGE, 1998).
48
De um modo geral, as características mais visadas no estudo do comportamento dos
meios rochosos dizem respeito à deformabilidade, à resistência, à permeabilidade (em
especial, no caso de obras hidráulicas e certas obras de escavação), e ao estado de tensões
naturais (sobretudo, no caso de obras subterrâneas profundas). Tais características
compreendem as feições geológicas e os parâmetros geotécnicos - obtidos através da
caracterização geológico-geotécnica do maciço rochoso – e os índices e propriedades físicas –
determinados por meio de ensaios de campo e laboratoriais.

5.2 CRITÉRIOS DE ESCAVABILIDADE EM TÚNEIS

Durante anos, vários autores têm desenvolvido critérios de classificação dos maciços
rochosos em função da sua escavabilidade. Estes critérios baseiam-se em diversos parâmetros
de avaliação, existindo alguns de concepção simples e outros que incorporam um largo
conjunto de características dos materiais e de equipamentos propostos (BASTOS, 1998).

A escavação de maciços depende maioritariamente de duas características principais


do maciço: a capacidade de resistência da rocha e as características de fraturação existentes.
Os parâmetros utilizados pelos diversos autores tendem a refletir estas duas características do
maciço, incorporando fatores como a resistência à compressão uniaxial, resistência à carga
pontual, resistência à tração, número de Schmidt, velocidade das ondas sísmicas, dureza, grau
de alteração, grau de abrasividade, espaçamento de diaclases, RQD (Rock Quality
Designation), RMR (Rock Mass Rating), parâmetros do sistema de classificação Q de Barton,
continuidade, orientação e preenchimento de diaclases e tamanho de blocos.

Segundo BASTOS9 (1997 apud LÓPEZ e DÍAZ, 1997), os critérios mais utilizados e
importantes são: o método de Franklin et al (1971), o método de Weaver (1975), o método de
Atkinson (1977), o método de Romana (1981), o método de Kirsten (1982), o método de
Abdullatif e Cruden (1983), o método de Scoble e Muftuoglu (1984), o método de
Hadjigiorgiou e Scoble (1988) e o método de Singh et al (1989).

9
LÓPEZ, C. e DÍAZ , B. (1997). “Classificación de los terrenos según su excavabilidad”. Manual de
túneles y obras subterráneas. Ed. C. López Jimeno. Entorno Grafico, S. L. Madrid. pp. 183-210.

49
Tabela 5.1 – Principais critérios de escavabilidade e parâmetros associados

Fonte: BASTOS, 1998

5.3 MÉTODOS DE ESCAVAÇÃO EM TÚNEIS

5.3.1 ASPECTOS GERAIS

Os parâmetros de classificação do maciço rochoso segundo a sua escavabilidade


destinam-se a avaliar a capacidade da rocha de ser desagregada conforme método e/ou
equipamento. Estes critérios não contemplam os restantes fatores que podem limitar o
emprego das técnicas selecionadas, como os fatores ambientais, econômicos, geográficos,
estruturais, de risco, ou mesmo a geometria das cavidades, (BASTOS, 1998).

50
A escavabilidade dos maciços, classificada segundo qualquer dos critérios expostos,
baseia-se na capacidade e potência dos equipamentos existentes e sua eficiência no período de
elaboração do critério. Desta forma, a não execução dos serviços dentro do cronograma
definido pode tornar obsoleta a respectiva metodologia, devido às evoluções tecnológicas.

Neste contexto, são de realçar as evoluções em termos mecânicos, designadamente dos


equipamentos hidráulicos e tuneladoras, que aumentaram significativamente as suas
potencialidades e o desenvolvimento dos recentes tipos de explosivos, como as emulsões, e
respectivos métodos de utilização.
.
A seção do túnel, geralmente definida pelo Projetista, é uma condicionante para a
escolha do modo/técnica de escavação e/ou desmonte, uma vez que se pode limitar a gama de
equipamentos a operar no espaço disponível e a eficiência destes. Sendo assim, para seleção
do tipo de sistema de desmonte a aplicar (mecânico ou com explosivos), é importante
observar aspectos como a altura do nível freático acima da soleira do túnel, a profundidade de
recobrimento, a distância do eixo do túnel às estruturas existentes (construções, rios, etc.), a
sensibilidade das estruturas superficiais, bem como os parâmetros mecânicos característicos
do maciço a escavar.

Para além das prerrogativas anteriores, o mapeamento da frente de escavação é


imprescindível para a estimativa do suporte a utilizar para cada área estudada, não
dispensando, contudo, análises mais detalhadas quando se julgar necessário. Este mapeamento
pode ser utilizado de maneira mais abrangente, principalmente para minimizar os efeitos
relativos aos métodos de escavação, equipamentos a utilizar, tempos despendidos, entre
outros.

Os métodos de escavação, tanto por explosivos como mecânicos, podem ser faseados
de acordo com as características da obra e do maciço rochoso. Em túneis de grande seção, é
geralmente utilizada a técnica de desmonte sucessivo de seções parciais, de forma a minorar a
instabilidade das frentes, dos tetos e das paredes, bem como reduzir as convergências no
túnel. Este método é preferencialmente utilizado em túneis em maciços rochosos muito
brandos (ou maciços terrosos), com pequeno recobrimento.

51
Em relação aos métodos de escavação, em seção parcial, podemos observar os
seguintes métodos mais importantes:

Figura 5.1 – Métodos de escavação em seções parciais, BASTOS, 1998

Figura 5.2 – Escavação em seções parciais – Tunel Laranjeiras, 2014

52
A escolha do método de escavação apropriado reflete sempre na qualidade da obra,
mitigação dos riscos e na metodologia executiva inerente à sua realização.

5.4 MECANISMOS DE RUPTURA EM TÚNEIS

Na implantação de túneis, como primeiro passo, é necessário entendermos o


funcionamento dos mecanismos de ruptura e seus critérios de escavabilidade. Neste sentido, é
importante a troca de experiência entre os vários níveis de conhecimento, a fim de que os
projetos executivos sejam ajustados e não ajam recorrência dos erros antigos.

No momento das escavações, as principais causas de instabilidade referem-se à


presença de falhas e descontinuidades em rochas competentes que, pela sua atitude, podem
individualizar volumes de rocha. Nestes casos, e sempre que as condicionantes de serviço o
permitam, as condições de estabilidade podem ser melhoradas através da reorientação do
traçado do túnel, bem como pela aplicação de pregagens e ancoragens.

A elevada magnitude das tensões in situ são geralmente características de rochas


duras, de elevadas profundidades ou de cavidades de grande dimensão. Uma forma de mitigar
os efeitos nefastos assim provocados consiste em ajustar a orientação e a forma da seção do
túnel de acordo com o estado de tensão existente ou, se tal não for possível, promover um
substancial reforço do suporte.

A instabilidade devido à expansão ou decomposição da rocha por ação da água ou ar


ocorre geralmente em maciços rochosos brandos ou em camadas e filões intercalados em
rochas duras. Nestes casos, as medidas preventivas a adotar consistem em isolar estes locais
através de revestimentos que impeçam a exposição da rocha ao ar e à água. Já as
instabilidades devidas à pressão ou percolação de água podem ocorrer em praticamente
qualquer tipo de maciço rochoso. O comportamento crítico devido a estas circunstâncias só
atinge proporções significativas quando associadas a um ou mais dos pontos anteriores.

Nestes casos, as medidas a adotar passam pela drenagem e/ou revestimento do túnel de
forma a reduzir a pressão e reencaminhar o fluxo de água. A presença de dois ou mais dos
fenômenos acima descritos, aliados às condicionantes geológicas e de serviço do túnel, pode
motivar da parte dos técnicos envolvidos, a adoção de soluções de compromisso, com vista a
53
integrar todos os aspectos identificados, inclusivamente os aspectos intangíveis, (HOEK e
BROWN 1980).

A fim de erradicar erros recorrentes, é importante criarmos um banco de dados


referente aos maciços e seus critérios de escavabilidade. Assim, como forma de alimentar
estes bancos de dados na fase de projetos, devem ser selecionadas, para análise, uma ou mais
seções representativas do maciço rochoso para se verificar seu comportamento, por meio de
sistema geomecânico e computacional por elementos finitos.

Assim, recomendam-se fazer análises de estabilidade utilizando os valores médios dos


parâmetros dos materiais para a determinação do fator de segurança crítico médio
determinístico. Essa etapa de análise tem as seguintes finalidades principais (BAECHER;
CHRISTIAN, 2003):

• definir e/ou ajustar os parâmetros geotécnicos médios a serem utilizados nas


análises probabilísticas;
• realizar uma busca da superfície crítica de ruptura de maneira a conhecer e
criar sensibilidade quanto ao problema analisado;
• definir de maneira preliminar os parâmetros que podem influenciar no valor do
FS;
• calibrar o modelo utilizado na análise.

Nos estudos de estabilidade local e global, para maciços rochosos, as propriedades dos
materiais do são de grande variabilidade natural. Desta maneira, podem-se considerar outras
variáveis na análise do maciço e respectiva obra subterrânea, como a geometria da escavação,
as cargas aplicadas e os níveis freáticos.

54
Tabela 5.2 – Tipos de ruptura que ocorrem em diferentes maciços rochosos sob

diferentes níveis de tensão in situ

NÍVEIS DE TENSÕES BAIXOS NÍVEIS DE TENSÕES ELEVADOS

ROCHA
MACIÇA
Maciço rochoso com tensão in situ elevada. Nos limites
Maciço rochoso com tensão in situ baixa.
da abertura, em pontos de concentração de tensões,
Resposta linear elástica praticamente sem
iniciam-se fenómenos de lascamento, desplacamento e
rotura
esmagamento que se propagam ao maciço circundante.

ROCHA
FRATURADA
Maciço rochoso fraturado com tensão in situ
Maciço rochoso fraturado com tensão in situ elevada. A
baixa. Os blocos ou cunhas formadas pela
ruptura ocorre como resultado do deslizamento segundo
interseção de diaclases com diferentes
as superfícies das diaclases e pelo esmagamento e
orientações, soltam-se e escorregam devido à
fendilhamento dos blocos rochosos.
ação da gravidade.

ROCHA MUITO
FRATURADA Maciço rochoso muito fraturado com tensão
Maciço rochoso muito fraturado com tensão in situ
in situ baixa. A superfície da abertura rompe
elevada. O maciço circundante à abertura rompe por
como resultado do emaranhado de pequenos
deslizamento nas superfícies das descontinuidades e por
blocos ou cunhas, formados pela quantidade
esmagamento de pequenos blocos de rocha. Este tipo de
de descontinuidades que o maciço apresenta.
ruptura tende a provocar o levantamento da soleira e
A ruptura pode propagar-se facilmente, se
forte convergência das paredes laterais.
não for controlada.

Fonte: HOEK et al, 1995, modificado

55
Tabela 5.3 – Problemas, parâmetros, métodos de análise e critérios de

aceitabilidade em escavações subterrâneas


ESTRUTURAS

Túneis em pressão em Túneis em rocha branda Túneis pouco profundos em


projetos hidroelétricos rocha fraturada
Escoamento excessivo a partir de túneis sem Ruptura do maciço rochoso onde a Quedas por gravidade ou deslizamento
PROBLEMAS

revestimento ou revestidos em concreto. resistência é excedida pelas tensões de cunhas ou blocos definidos pela
TÍPICOS

Ruptura ou deformação do revestimento em induzidas. Dão-se fenómenos de interseção de fraturas. Quedas do


aço devido a deformação da rocha ou pressões expansividade, retração ou convergência material da superfície suportado
externas. excessiva se o suporte for inadequado. inadequadamente.

• Orientação, inclinação e resistência


• Relação entre a máxima pressão • Resistência do maciço rochoso e das
ao cisalhamento das descontinuidades
PARÂMETROS

hidráulica no túnel e a tensão principal descontinuidades estruturais;


CRÍTICOS

estruturais do maciço rochoso;


mínima da rocha circundante; • Potencial de expansividade, em
• Forma e orientação da escavação;
• Comprimento do revestimento em particular das rochas sedimentares;
• Qualidade da perfuração e detonação
aço e a eficiência do grouting; • Método e sequência de escavação;
durante a escavação;
• Nível de água no maciço rochoso. • Capacidade e sequência de
• Capacidade e sequência.
instalação do sistema de suporte.

Análise de tensões usando métodos


Técnicas de projeção esférica ou
Determinação do recobrimento mínimo ao numéricos de modo a determinar a
MÉTODOS DE ANÁLISE

métodos analíticos são usados para


longo do traçado do túnel a partir de extensão das zonas de ruptura e o
determinação e visualização das cunhas
topografia detalhada. Análise de tensões de deslocamento do maciço rochoso.
do maciço rochoso circundante ao túnel.
secções transversais e longitudinais ao eixo do Análise da interação rocha-suporte
Análise de equilíbrio limite das cunhas
túnel. Comparação entre a tensão principal usando métodos numéricos para
críticas é usada para estudos
mínima e a pressão hidráulica máxima para determinar a capacidade e sequência
paramétricos do modo de ruptura,
determinar o comprimento de revestimento de instalação do suporte e para
fator de segurança e necessidade
em aço. estimar deslocamentos no maciço
de suporte.
rochoso.
A capacidade de suporte instalado O fator de segurança, incluindo os
Requer revestimento em aço onde a
deve ser suficiente para estabilizar o efeitos de reforço, deverão ser excedidos
tensão principal mínima no maciço
ACEITABILIDADE

maciço rochoso e limitar as convergências 1,5 para o deslizamento e 2,0 para a


CRITÉRIOS DE

rochoso é menor que 1,3 vezes a


até um nível aceitável. As tuneladoras e as queda de cunhas e blocos. A sequência
carga estática máxima das operações
estruturas internas devem ser projetadas de instalação do suporte é crítica e as
hidroelétricas ou 1,15 para operações com
tendo em conta a convergência do túnel cunhas e blocos devem ser identificados
pressões dinâmicas muito baixas. São
como resultado da expansividade e da e suportados antes de serem totalmente
necessários testes de pressão hidráulicas em
deformação ao longo do tempo. A expostos pela escavação. A
furos de sondagens para confirmar os
monitorização é um aspecto importante do monitorização dos deslocamentos terá
pressupostos de projeto.
controlo de construção. pouco valor.

Fonte: HOEK et al, 1995, modificado

56
Assim, os sistemas de suporte a utilizar têm de possuir características de forma e
resistência adequadas para o tipo de maciço existente e para as condições geomecânicas do
local. A partir do mapeamento das frentes de escavação, são aplicados imediatamente e no
menor espaço de tempo possível, os sistemas de suporte. O objetivo deste tipo de suporte é
garantir a estabilidade da cavidade escavada, propiciando a segurança de trabalhos futuros e a
geometria projetada.

Após os primeiros trabalhos de implantação da frente de escavação, é aplicado o


suporte secundário ou definitivo, garantindo a estabilidade em longo prazo e instituindo as
condições de serviços de infraestrutura. Contudo, com a ocorrência de alterações nos estados
de tensões internas do maciço, sem a implantação correta dos sistemas de suporte, corre-se o
risco de rupturas internas.

Tais rupturas se manifestam já no eixo central do maciço principal, necessitando quase


sempre, de processos específicos de estabilização como: enfilagens, pregagens, concretos
projetados e/ou implantação de DHPs.

Figura 5.3 – Estabilização do eixo central do maciço (enfilagens e DHPs), Túnel


Laranjeiras, 2014

57
5.5 TIPOS DE RUPTURAS NA ESCAVAÇÃO DE TÚNEIS

5.5.1 ASPECTOS GERAIS

Os mecanismos de ruptura encontrados nos processos de escavações em túneis podem


ser locais ou globais, tendo a sua caracterização no tipo de abrangência do colapso.
Mecanismos globais são caracterizados pela condição de ruptura, ou seja, sua cunha de
ruptura está relacionada com o maciço como um todo, enquanto os mecanismos locais são
caracterizados pelas rupturas no eixo central da escavação, como: rupturas de teto, paredes
e/ou fundo.

Nos mecanismos locais a estabilidade depende apenas das tensões do maciço nas
proximidades da frente de escavação. São mecanismos que ocorrem devidos apenas à ação do
peso do solo da porção central do maciço. Em muitos casos, podem ser estabilizados logo no
início da ruptura, através da implantação de enfilagens, tirantes e/ou concreto projetado ou de
aterros, (MAFFEI; MURAKAMI, 2011).

Tais mecanismos podem-se originar já como globais e, também, podem se originar


pelo desenvolvimento de mecanismos locais, os quais causam a perda de apoio de uma área
muito grande do maciço. Com a dificuldade de estabilizar mecanismos globais quando
iniciados, a execução de túneis em maciços favoráveis à ocorrência de tais instabilidades
normalmente é realizada com a tomada de algum tipo de providência, como: adotar frentes
parcializadas com a redução da área exposta; executar tratamentos para melhorar
características de resistência do maciço, tornando-o suficientemente competente.

58
Na Figura abaixo, verifica-se, idealizadamente, a diferença entre mecanismo global e local.

Figura 5.4 – Mecanismos de ruptura local e global, MAFFEI; MURAKAMI, 2011

5.5.2 MECANISMOS DE RUPTURA GLOBAL G1

A Figura 5.5 apresenta exemplos típicos de mecanismos globais, chamados aqui como
Mecanismos do tipo G1.

Figura 5.5 – Mecanismos de rupturas globais – Caso G1, MAFFEI; MURAKAMI, 2011

59
Segundo MAFFEI; MURAKAMI, (2011), os mecanismos de ruptura Tipo G1
ocorrem quando se executa um túnel com pequena cobertura de solo competente sob um
maciço de solo mole de pouca capacidade de arqueamento e pouco competente ao
cisalhamento, geralmente devido a não detecção da perda de cobertura.

Os casos G1A e G1B são verificados quando da existência de um material mais


competente no núcleo com uma sobrecarga de solo mole sobre o teto. No caso G1B, o núcleo
à frente fica instável e desliza no plano EF devido à sobrecarga provocada pela transferência
de carga do prisma ABCD, o qual tende a romper por arqueamento, devido a retirada do
maciço escavado.

A perda da frente aumenta o vão não suportado do maciço e, consequentemente, a


massa de solo envolvida no mecanismo aumenta, mobilizando o prisma AFGD. No caso G1C
o mecanismo global encontra-se na linha de ruptura que passa pelo teto e a frente de
escavação, ocasionado o colapso e a entrada do solo mole na entrada da escavação do túnel.

Já no caso G1D o mecanismo de ruptura se encontra na passagem pelo material


extrusivo, provocando o colapso global do maciço menos competente, localizado já frente de
escavação. Tais solicitações fazem com que o núcleo de solo extrusivo se deforme
indefinidamente, mesmo com carregamento constante.

5.5.3 MECANISMOS DE RUPTURA GLOBAL G2

Estes mecanismos podem ocorrer tanto em maciços competentes como em maciços


pouco competentes. A causa destes, é a existência de bolsões, lentes ou estratificações de
materiais corrediços, fluentes ou extrusivos. Nos casos G2A, G2B e G2C, a perda de material
faz com que grandes massas de solo fiquem sem apoio, solicitando o maciço ao cisalhamento
ao longo das superfícies de deslizamento. A recarga por cisalhamento provoca sobrecargas
nas vizinhanças do bloco que tende a descer, inclusive sobre o suporte já executado. Se a
resistência do maciço ou do suporte não for suficiente para manter as tensões equilibradas,
teremos rupturas de características globais, causando impactos significativos.

O mecanismo G2C é similar ao G1C, onde o solo frágil desliza e o solo de bolsões ou
estratificações invade o túnel. Em maciços estratificados, como aqueles com lentes de areia, o

60
efeito do arqueamento é prejudicado. As camadas argilosas rijas trabalham como lajes à
flexão sob a ação da carga das lentes de areia. O caso G2D ocorre quando o maciço tem uma
certa resistência inicial, porém, quando exposto por muito tempo após a escavação se degrada,
passando a se comportar como solo desplacante rápido ou fluente, devido aos efeitos da água,
(MAFFEI; MURAKAMI, 2011).

Figura 5.6 – Mecanismos de rupturas globais – Caso G2, MAFFEI; MURAKAMI, 2011

5.5.4 MECANISMOS DE RUPTURAS GLOBAIS G3

Mecanismos existentes quando na implantação do túnel, é interceptado um maciço de


pouca cobertura, condição esta que permite o arqueamento do maciço devido sua geometria
incompatível.

61
Figura 5.7 – Mecanismos de rupturas globais – Caso G3, MAFFEI; MURAKAMI, 2011

5.5.5 MECANISMOS DE RUPTURA DE TETO E FRENTE DE ESCAVAÇÃO

Caracterizados como mecanismos de ruptura locais, este grupo é representado pelos


casos L1 a L4. Nesta anomalia, a cunha de ruptura é formada pelo bulbo de escavação e/ou
teto. Sua movimentação é constante, já que o mecanismo de ruptura é gerado pelo peso do
maciço que não foi suportado.

Após a ocorrência dos desplacamentos, e consequentemente formação de vazios, a


mobilização do maciço permanece até que todos os vazios estejam preenchidos com os
fragmentos gerados na ruptura. Portanto, a porosidade do solo desplacado deve ser maior do
que a do solo em seu estado original (MAFFEI; MURAKAMI, 2011).

62
Figura 5.8 – Mecanismos de rupturas de teto e frente de escavação, MAFFEI;
MURAKAMI, 2011

5.5.6 MECANISMOS DE RUPTURA POR DESLIZAMENTO

Definido também como ruptura local, este mecanismo é representado pelo caso L5.
Nesta anomalia, a instabilização ocorre quando a escavação intercepta um material menos
competente, com ângulo de atrito 0 a 18º, causando assim o deslizamento do material
escavado. Prova disto é o tamanho do núcleo de areia necessário para equilibrar o mecanismo
que independe da altura da cobertura, mostrando que as tensões distantes da face não a
influenciam (MAFFEI; MURAKAMI, 2011).

Figura 5.9 – Mecanismo de ruptura por deslizamento, MAFFEI; MURAKAMI, 2011

63
5.6 MONITORAMENTO E CONTROLE

5.6.1 ASPECTOS GERAIS

Segundo o US Army Corps of Engineers (1978), os objetivos da instrumentação de um


túnel prendem-se com: a detecção antecipada das condições que possam motivar a
instabilidade do túnel em construção; a determinação do desempenho a longo prazo dos
elementos de sustentação após a construção; a obtenção de informação que permita uma
análise detalhada do maciço e do comportamento do sistema de suporte.

Segundo QUIRALTE (1997), os objetivos do controle da obra são:

• Antes da construção: obter a informação necessária à elaboração do projeto, em


termos de escavação e suporte;
• Durante a construção: observar o comportamento das estruturas de forma a
confirmar os cálculos anteriores ou adquirir dados para alterá-los.
• Após a construção: controlar a evolução das cargas e deformações para
prevenção de possíveis anomalias.

Para CUNHA; FERNANDES (1980), o estabelecimento de um plano de


instrumentação apropriado deve atender aos seguintes aspectos:

• Natureza, tipo e localização da obra: a natureza da obra influencia o tipo e


robustez dos equipamentos, que irão operar à distância e por longos períodos;
o tipo de obra e os métodos construtivos que condicionam os equipamentos,
que se deverão adaptar ao método de suporte e espaço disponível; a localização
da obra, relativamente à profundidade e ao meio em que se insere (urbano,
rural, etc.), pode induzir concentração de sistemas de controle superficiais e a
instalação de instrumentação ao nível do eixo do túnel a partir da superfície;
• Características geotécnicas: a litologia, a hidrogeologia, o grau de alteração, os
acidentes tectónicos, fraturas, entre outros, condicionam a malha de
observação, o tipo de instrumentação e a frequência de leituras;
• Métodos construtivos e ritmo da construção: o plano de observação
estabelecido em fase de projeto permite ao empreiteiro a sua inclusão no

64
planejamento geral dos trabalhos, minimizando os atrasos na construção. Deste
modo, é possível obter mais segurança e adequabilidade dos sistemas de
suporte, compensando os eventuais atrasos devidos à observação.

Diante disso, podemos hierarquizar a instrumentação dos trabalhos, aplicando métodos


mais precisos, e consequentemente mais onerosos, em áreas mais sensíveis ou onde tenham
sido detectadas anomalias que careçam de estudos detalhados. Para tal, é necessário definir
cenários de aplicação destes meios, estabelecendo e quantificando os limites de intervenção.

Segundo BASTOS10, (1998) apud LANE in HOEK e BROWN, (1980), as deficiências


mais comuns praticadas nas atividades de observação e monitorização de obras
subterrâneas são:

• Deficiências no mapeamento: relativamente ao tipo de informação necessária,


variáveis de controle, verificação das condições geológicas, controle de
métodos de escavação;
• Indefinição das condições iniciais de referência: instalação dos equipamentos
tardiamente, ou deficiências na periodicidade das leituras, desconhecendo-se
os movimentos anteriores à instrumentação;
• Inexperiência dos operadores dos equipamentos: imperfeição na instalação dos
equipamentos ou na detecção do seu mau funcionamento, lacunas na
identificação dos sinais de instabilidade;
• Atrasos na avaliação e interpretação: incapacidade de tratar a informação em
obra, com a subsequente necessidade de envio da informação para outras
entidades que desconhecem a obra, implicando a perda de oportunidade de
intervenção corretiva imediata;
• Indefinição das responsabilidades do Empreiteiro: relativamente à colaboração
e ao pagamento destas atividades, resultando incompreensão e falta de apoio;
• Equipamentos inadequados: relativamente à aplicabilidade, robustez e
complexidade;

10 HOEK, E. e BROWN, E. (1980a). Empirical Strength Criterion for Rock Masses. Journal of the Geotechnical
Engineering Division, ASCE, 106(GT9): 1013–1035. HOEK, E. e BROWN, E.T. (1980b). Underground
Excavation in Rock. Institution of Mining and Metallurgy, London, UK, 527

65
• Diminuição da observação por limitações orçamentais: a tentativa de redução
de custos implica uma restrição do número de observações nos equipamentos
existentes, não instalação de outros instrumentos e deficiências na análise e
tratamento dos dados.

5.6.2 INSTRUMENTAÇÃO

A colocação de equipamentos de monitoramento antes do início da escavação, que


permanecem em atividade no decorrer da obra, constitui uma metodologia eficaz na
caracterização da situação de referência e do seu evoluir ao longo do período de trabalhos.

É o caso de medidores de deformações (extensômetros e inclinômetros em furos de


sondagem e marcas topográficas) e de níveis piezométricos no interior de furos de sondagem,
(OLIVEIRA, 1994).

Segundo TRABADA (1997), as medições e os equipamentos de instrumentação de


uma obra subterrânea envolvem:

• Movimentos verticais: à superfície e em estruturas existentes, através da


utilização de nivelamento topográfico e em profundidade mediante a instalação
de extensômetros (de barras) em seções de controle;
• Movimentos horizontais: em profundidade através da instalação de
inclinômetros em seções de controle; medição de convergências no túnel com
equipamentos de precisão;
• Pressões: através de células instaladas no interior do túnel, caracterizando a
sustentação provisória;
• Níveis piezométricos: nas camadas permeáveis ao longo do traçado do túnel,
através de tubos piezométricos instalados em furos verticais desde a superfície.

Segundo GOMES D. (2012) a instrumentação necessária para medir estados de


deformação e deslocamentos nos processos de escavação de túneis, são:

66
• Medidores de convergências: implantados nas paredes e teto do túnel, medem
a variação da medida entre as cordas instaladas em pontos fixos no interior do
túnel (Figura 5.10 por C12, C13, C23, C14, C15 e C45);
• Extensômetros: implantados nas paredes e teto do interior do túnel, medem o
recalque através da diferença de níveis dos pinos instalados no contorno
interior do túnel (Figura 5.10 por EM1, EM2, EM3, EM4 e EM5);

Figura 5.10 – Instrumentação no interior do túnel, GOMES, D. 2012

• Marcos topográficos: implantados na superfície geométrica do túnel, garantem


que a geometria de projeto será respeitada (Figura 5.11 por M1, M2, M3, M4 e
M5);
• Piezômetros: medem o nível piezométrico da linha freática (Figura 5.11 por E1
e E2);
• Inclinômetros: medem a movimentação existente no maciço (Figura 5.11 por
I1).

67
Figura 5.11 – Implantação de marcos topográfico, extensômetros e inclinômetros na
seção de um túnel, GOMES, D. 2012

68
6 FERRAMENTAS SISTÊMICAS DE GERENCIAMENTO DE RISCOS

6.1 ASPECTOS GERAIS

As ferramentas de análise de riscos foram criadas com o objetivo de subsidiar a


tomada de decisões acerca do levantamento da gravidade e da severidade dos riscos, a fim de
evitar o seu impacto negativo sobre pessoas, instalações, equipamentos ou processos,
(ESPÓSITO e CALDEIRA, 2009).

Inserido neste contexto ressalta-se a importância da aplicação de métodos de análises


de riscos como forma de prever eventuais colapsos e perda de vidas humanas. Neste sentido,
justifica-se a aplicação de metodologias de análises de riscos especificamente em obras
subterrâneas, pois, através dessas análises, pode-se obter um melhor entendimento do
comportamento dos mecanismos de colapsos em relação à sua segurança e às consequências
relacionadas com as possíveis rupturas.

Embora não haja ainda uma cultura de aplicação destas técnicas às obras subterrâneas,
entende-se a relevância destas ferramentas, principalmente na avaliação da segurança destes
empreendimentos. Por causa de sua base matemática, os engenheiros tentam explicar o risco
por meio de equações, mas nenhuma delas é uma expressão funcional de parâmetros
dependentes de risco, como perigo, vulnerabilidade e capacidade de resposta. Portanto não se
destinam a calcular e expressar o risco por uma medida numérica.

As ferramentas de gerenciamento de riscos geológicos são recentes e precisam ser


aperfeiçoados. Assim, todos os esforços necessários para a contribuição de seu
desenvolvimento são benéficos. Na busca pelo aperfeiçoamento, são recomendados sua
constante atualização e a busca de experiências obtidas em práticas anteriores e, ainda,
informações vindas de outros setores e disciplinas.

69
6.2 ANÁLISE DE ÁRVORES DE EVENTOS

A análise de árvores de falhas permite a obtenção das medidas de confiabilidade,


referindo-se aos eventos indesejáveis ligados aos sistemas. Como ponto principal às árvores
de falhas postula um provável evento indesejável do sistema, chamado de evento topo da
árvore, e representa todas as combinações de eventos causadores do mesmo, através de regras
de álgebra booleana. Entre estes eventos causadores têm-se falhas de subsistemas ou
componentes, que em um maior nível de detalhamento são representados por eventos básicos,
os quais são fenômenos observáveis que quando ocorridos contribuem para a falha dos
subsistemas que os expõem, (FIRMINO, 2006).

A utilização de árvores de falhas para a documentação de causalidades em sistemas,


com o seu respectivo tratamento probabilístico, é uma abordagem já bastante difundida na
literatura da engenharia de confiabilidade e análise de risco, sendo em muitos casos
parâmetros de entrada para outros métodos cujo nível de detalhamento de informações é mais
genérico. Citem-se como exemplos as análises de árvores de eventos e de diagramas de
sequência de eventos, que tratam do comportamento dinâmico do sistema, detalhado em
árvores de falhas dos eventos referentes aos seus componentes. Recomenda-se para maiores
detalhes sobre árvores de eventos (MODARRES et al., 1999) e sobre diagramas de
sequências de eventos (SWAMINATHAN; SMIDTS, 1999).

Segundo (FIRMINO, 2006), podem-se destacar duas preocupações na análise de


árvores de falhas. A primeira consiste em como medir a probabilidade de ocorrência de falha
do sistema. A segunda direciona-se em como obter e quantificar os cortes mínimos da árvore
(sequências de eventos sem ordenação cronológica que quando ocorridas levam à falha do
sistema, sem a necessidade de ocorrência de qualquer evento adicional).

Métodos de cálculo exato para o primeiro caso são, em geral, limitados pela
complexidade da árvore (HEGER et al., 1995) ou requerem algoritmos complexos que podem
comprometer a eficiência computacional ou dedutiva durante sua aplicação. Assim, com o
intuito de simplificar os cálculos, são adotados métodos de aproximação, tais como o do
evento raro (MODARRES et al., 1999), cuja deficiência está na possibilidade de inferências
distantes do valor exato.

70
Para o traçado da árvore de eventos, são seguidas as seguintes etapas básicas
(GOMES, D. 2012):

• Definição do evento inicial que produzirá a situação crítica;


• Definir os mecanismos de segurança, que suportarão o efeito do evento inicial;
• Definir a sequência de decisões, envolvendo os vários atores relacionados
desde o evento inicial;
• A partir da definição da árvore de eventos, calcular as probabilidades
associadas a cada evento.

6.3 SIMULAÇÃO DE MONTECARLO

A simulação é um instrumento de análise quantitativa utilizada para gerar e analisar


alternativas antes de sua implementação. De acordo com ANDRADE (1989): “A simulação
pode ser usada para experiências com novas situações, sobre as quais se tem pouca ou mesmo
nenhuma informação, buscando preparar a administração para o que possa acontecer.”

Assim, a simulação pode representar um fator positivo na tomada de decisões,


incluindo sua aplicação nos processos de decisão, uma vez que permite a realização de
inferências, por meio de experimentos, sobre o comportamento das variáveis envolvidas na
decisão.

Proporciona à direção a possibilidade de examinar e avaliar diversos planos muito


antes de acatar projetos importantes. Uma vez determinado o plano mais conveniente, aquele
que contém o máximo de vantagens e o mínimo de desvantagens, pode-se pôr em prática na
situação real (ESCUDERO, 1973).

O método de Monte-Carlo foi reconhecidamente utilizado pela primeira vez como


ferramenta de pesquisa nos estudos da bomba atômica, durante a II Segunda Guerra Mundial
(M.COX, et al 2003). Nessa pesquisa, o método foi utilizado em simulações diretas de
problemas probabilísticos, com o intuito de estudar a difusão aleatória de nêutrons em
material instável.

71
Segundo MAIA (2007), o método de Monte-Carlo basicamente utiliza as distribuições
estatísticas de variáveis, ditas estatísticas, para a obtenção da distribuição probabilística de
uma variável, dita probabilística, dependente dessas variáveis estatísticas. A obtenção da
distribuição probabilística é feita a partir de numerosas combinações de valores, sorteados
aleatoriamente, das distribuições de probabilidade das variáveis estatísticas, como visto na
Figura 6.1, os quais inseridos em uma equação ou função resultarão na distribuição
probabilística desejada, cuja forma é desconhecida.

Figura 6.1 – Método de Monte-Carlo, MAIA, 2007

Na prática, diante de um problema envolvendo incertezas, através da simulação de


Monte Carlo podemos obter soluções aproximadas. As etapas do processo de simulação
consistem em quatro passos padrões:

a) Modelar o problema definindo uma função de densidade de distribuição de


probabilidade para representar o comportamento de cada uma das suas incertezas;
b) Gerar valores pseudoaleatórios aderentes à função de densidade de distribuição de
probabilidade de cada incerteza do problema;

72
c) Calcular o resultado determinístico substituindo as incertezas pelos valores gerados
obtendo, assim, uma observação do problema. Repetir os passos b e c até se obter uma
amostra com o tamanho desejado de realizações;
d) Agregar e manipular os resultados da amostra de forma a obter uma estimativa da
solução do problema.

6.4 ANÁLISE DE MODO DE FALHA EFEITO E CRITICALIDADE


(FMEA/FMECA)

6.4.1 ASPECTOS GERAIS

Diariamente tomamos decisões que envolvem riscos, os quais muitas vezes são
admitidos como não relevantes por apresentarem uma baixa probabilidade de acontecer. No
entanto, por mais baixa que seja a probabilidade é necessário identificá-los e preveni-los para
que as tarefas sejam desempenhadas de forma segura e eficiente. Uma das formas de fazê-lo
passa pela utilização/aplicação de técnicas que permitam diagnosticar potenciais falhas logo
na fase de projeto, tais como o FMEA e/ou o FMECA.

A engenharia de túneis apresenta desafios e complexidade, sendo essencial atingir-se


elevados níveis de segurança, nas variadas fases da construção, para se prevenir a ocorrência
de falhas que possam originar incidentes ou acidentes. Antes de se proceder à definição
propriamente dita do FMEA, é fundamental fazer um enquadramento histórico do mesmo. O
FMEA foi desenvolvido em novembro de 1949 para uso militar das Forças Armadas dos
Estados Unidos da América, no processo militar MIL-P-1629, para classificar as falhas, de
acordo com o impacto que as mesmas teriam nas diversas missões e na segurança dos
militares e equipamentos (FMEA, 2009).

Mais tarde, foi utilizado na indústria aeroespacial pela NASA (National Aeronautics
and Space Administration), no desenvolvimento do programa espacial Apollo, com o objetivo
de eliminar falhas em equipamentos que ficariam impossibilitados de ser reparados após
lançamento (FMEA, 2009).

73
A indústria automobilística foi também uma precursora deste método, implementado
no final da década de setenta pela Ford Motor Company, onde serviu para quantificar e
ordenar os defeitos potenciais ainda na fase de projeto, impedindo que essas falhas chegassem
ao cliente final (FMEA, 2009).

Segundo ESPÓSITO (2009), a metodologia FMEA consiste na identificação dos


modos de falhas (rupturas) e dos seus efeitos. A aplicação da metodologia FMECA produz a
ordenação dos modos de falhas (rupturas) combinando com a probabilidade de ocorrência dos
modos de ruptura e da sua severidade.

Esta dimensão da qualidade e confiabilidade tem se tornado cada vez mais importante
para os empreendedores, pois, a falha em uma obra, mesmo que prontamente reparada pelo
serviço de acompanhamento técnico e totalmente coberta por termos de garantia, causa, no
mínimo, uma insatisfação ao cliente ao acarretar alteração de prazos e custos. Além disso,
cada vez mais são lançados empreendimentos em que determinados tipos de falhas podem ter
consequências drásticas para o mesmo.

Como aplicação em obras geotécnicas, podemos dizer que esta ferramenta consistirá
na identificação dos modos de falhas (rupturas) e de seus efeitos. Neste sentido, o método
prevê uma análise em que se considera, além da matriz de criticidade, a sequência dos modos
de ruptura, com suas causas iniciadoras, assim como efeitos imediatos, próximos e finais,
(ESPÓSITO, 2009).

6.4.2 TIPOS DE FMEA

Segundo TEIXEIRA (2009), existem diversos tipos de FMEA, dos quais se destacam:

a) FMEA de Sistema

O FMEA de Sistema, também denominado FMEA, tem por objetivo avaliar falhas em
sistemas e subsistemas nas fases iniciais de definição do conceito e do projeto. O FMEA de
Sistema tem por base a identificação das potenciais falhas do sistema em relação à execução
das funcionalidades, procurando atender às necessidades e percepção dos clientes em relação
ao sistema.

74
b) FMEA de Produto ou DFMEA (Design Failure Mode and Effects Analysis)

O FMEA de Produto tem por base avaliar as possíveis falhas em produtos antes da sua
introdução no processo de fabricação, devendo o produto ser analisado durante toda a sua vida
útil. Este tipo de FMEA focaliza-se na análise das falhas potenciais do projeto, em relação ao
cumprimento dos objetivos definidos para cada uma das suas características, encontrando-se
diretamente ligado à capacidade do projeto em atender os objetivos definidos.

c) FMEA de Processo ou PFMEA (Process Failure Mode and Effects Analysis)

O FMEA de Processo tem por base avaliar falhas em processos antes da introdução do
produto para produção em série. Este tipo de FMEA centra-se na identificação das falhas
potenciais do processo em relação ao cumprimento dos objetivos definidos para cada uma de
suas características, encontrando-se diretamente ligada à capacidade do processo em cumprir
os objetivos definidos para o mesmo.

d) FMEA de Serviço

O FMEA de Serviço apresenta diversas aplicações, nomeadamente para execução de FMEA


específico, para avaliar as etapas de desenvolvimento de um sistema, de forma semelhante a
um produto.
As etapas de execução do FMEA de serviço são as seguintes:
1 - Sistema de Serviço (FMEA de Sistema),
2 - Produto do Serviço (FMEA de Produto),
3 - Processo de execução do Serviço (FMEA de Processo).

No caso de o FMEA de Serviço ser executado englobando todas as características


desde o sistema de serviço até ao processo em si, então neste caso é usado para avaliar falhas
nos serviços antes do seu início, mas, deve ser revisto enquanto os serviços estiverem ativos.

O FMEA de Serviço evidencia as falhas do serviço face às necessidades do cliente e


ao cumprimento dos objetivos definidos para cada uma das suas características e processos, e
define a necessidade de alterações no serviço, estabelecendo também as prioridades para
ações de melhoria.

75
7 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE GERENCIAMENTO DE RISCOS

7.1 CONCEITOS

Nesta etapa inicial, três tópicos chaves, são observados:

Tabela 7.1 – Estrutura da metodologia probabilística de gerenciamento de riscos

Metodologia Probabilística de Gerenciamento de Riscos

Ferramentas de
Conceitos Teóricos Caso-Estudo
Gerenciamento de Riscos

Análise por árvore de


Mecânica das Rochas Revisão histórica
eventos

Análise dos modos de


Obras Subterrâneas Geologia regional ruptura, seus efeitos e sua
criticalidade

Método de classificação Campo de tensões Sistema de monte carlo

Maciço como elemento


Sistema de suporte
estrutural

Sistema de suporte e Ferramenta de gerenciamento de


monitoramento riscos

Metodologia probabilística
de previsão

76
Desta maneira acredita-se que será compreendida a importância dos projetistas e
executores estarem familiarizados com os conceitos que abrangem os mecanismos de ruptura
em meio rochoso, bem como os métodos e ferramentas necessárias para mitigar os riscos
gerados em sua implantação.

7.1.1 MECÂNICA DAS ROCHAS

Através dos anos, a necessidade de estimativa dos parâmetros geomecânicos de


maciços rochosos tem ganhado importância rapidamente. Esta necessidade é resultado do
crescente número de escavações subterrâneas, decorrente de soluções cada vez mais robustas,
para uso mais abrangente do espaço urbano.

Contudo, a estimativa de tais parâmetros é ainda difícil de ser realizada, não pela falta
de pessoal técnico, equipamento ou procedimentos qualificados, mas sobretudo, devido às
condicionantes técnicas impostas pelo fator de escala dos ensaios frente ao maciço rochoso.
Estas dificuldades são decorrentes das dimensões e do volume de equipamentos necessários
para que uma campanha de ensaios de campo apresente resultados satisfatórios e
representativo do maciço rochoso.

Felizmente, numerosos autores vêm concentrando esforços na busca de ferramentas


matemáticas que auxiliem na estimativa dos parâmetros geomecânicos do maciço rochoso.
Desses esforços, surgiram os conhecidos critérios de ruptura, que relacionam o estado de
tensões ao estado de ruptura de um material (solo, rocha e outros).

Dentre o vasto número de critérios de ruptura, pode ser dado especial destaque ao
critério de ruptura generalizado de Hoek-Brown (Hoek & Brown, 1980a e Hoek & Brown,
1980b). Neste sentido, o critério de ruptura de Hoek-Brown tem gradualmente evoluído
(Hoek 1983; Hoek 1994; Hoek & Brown 1997; Hoek et al. 2002; entre outros) em função das
necessidades dos projetistas e construtores, que o tem aplicado a diversos casos não
contemplados pela versão original de 1980.

77
Assim, a aplicabilidade das equações empíricas e semi-empíricas dos vários critérios
de ruptura existentes apresenta resultados bastante satisfatórios, quando respeitadas as
restrições conceituais impostas por seus autores. Igualmente importante, o módulo de
deformabilidade se encontra entre os parâmetros que melhor descrevem o comportamento
mecânico de fragmentos de rocha e do maciço rochoso, sendo fundamental nas análises de
obras subterrâneas. Razão pela qual a maioria das análises de elementos finitos e elementos de
contorno, para o estudo de tensões e deslocamentos ao redor das escavações subterrâneas,
serem baseadas nesse parâmetro.

7.1.2 IMPLANTAÇÃO DE TÚNEIS EM MACIÇOS ROCHOSOS

O objetivo de um processo de escavação é retirar material de um maciço rochoso,


produzindo uma abertura, cuja forma depende de critérios operacionais. É importante ressaltar
que existem dois objetivos potenciais quando se trata de remoção de rocha: criar uma abertura
e extrair material com valor de interesse econômico.

Há projetos em que algumas etapas dos trabalhos envolvem aberturas permanentes e


outras aberturas temporárias, como: mina com acesso através de shafts e túneis em escavações
permanentes. Desde as primeiras teorias até as modernas ferramentas computacionais
tridimensionais, engenheiros e pesquisadores têm dedicado esforços pessoais no entendimento
do comportamento das obras subterrâneas escavadas em diversos meios e condições.

Graças a esses esforços, diversos autores (Hoek 1981, Hoek et al 1995 e outros)
convergem para um mesmo pensamento, no qual os projetos das obras subterrâneas devem
frequentemente considerar dois modos de ruptura. O primeiro originado dos processos de
instabilidades estruturalmente controladas por descontinuidades. O segundo decorrente do
estado de tensões induzido pela escavação da estrutura subterrânea, cujas tensões poderão
igualar a própria resistência do maciço rochoso.

78
Finalmente, todas as obras subterrâneas de forma e tamanho qualquer, predispostas ao
surgimento dos problemas de instabilidade, irão apresentar três estágios evolutivos do
processo de instabilidade:

a) Iniciação do processo de instabilidade;


b) Propagação do processo e surgimento de problemas;
c) Mitigação dos problemas.

Neste sentido, inerente às obras subterrâneas, é necessária a estabilização do maciço


rochoso, considerando duas opções em termos da relação tensão x deformação: manter o
maciço na região pós-pico ou permitir que o maciço ultrapasse a região do pós-pico e utilize
sua resistência residual.

Os dois métodos de estabilização fundamentais são o reforço e o suporte. Para cada


caso, o comportamento dos maciços rochosos contínuos ou descontínuos deve ser discutido
separadamente.

Os dados abaixo visam dar uma ideia das dimensões das maiores obras subterrâneas
e suas respectivas utilizações:

• Túnel Metroviário - linha do Metrô de Moscou, de Medvedkovo até o Parque


Bittsevsky, com 37,9 km de extensão (em operação desde 1990).
• Túnel Ferroviário - túnel Seikan, ligando as ilhas Honshu e Hokkaido no
arquipélago japonês, com 53,9 km de extensão, escavado 240 m abaixo do
nível do mar e 100 m abaixo da superfície do fundo do mar (construção de
1972 a 1988). Também merecem destaque os túneis gêmeos do Canal da
Mancha, entre França e Grã-Bretanha, com 49,9 km de extensão e 7,6 m de
diâmetro (construção de 1987 a 1994 e custo de US$ 16 bilhões). O novo túnel
de São Gotthard, nos Alpes suíços, terá cerca de 57 km (em construção).
• Túnel Rodoviário - túnel de São Gotthard, com duas faixas de rolamento, nos
Alpes suíços, com 16,3 km (construção de 1969 a 1980 e custo de US$ 280
milhões). O túnel rodoviário de maior seção transversal encontra-se em S.
Francisco, EUA, com 24 m de largura e 17 m de altura.

79
• Túnel Hidroviário - túnel Rove no canal de Marselha, França, com 7,1 km de
extensão e seção transversal de 22 x 11 m2 (operação desde 1927, interrompida
por acidente em 1963).
• Túnel para Adução de Água - túnel Nova Iorque / Delaware, com 169 km de
extensão e 4,1 m de diâmetro (construção de 1937 a 1944). Também vale
incluir o túnel mais longo sem suporte, túnel Three Rivers em Atlanta, EUA,
com 9,4 km de extensão e 3,2 m de diâmetro (construção de 1980 a 1982).
• Túnel Hidrelétrico - túnel dos Rios Orange e Fish, na África do Sul, com 82,9
km de extensão e 5,4 m de diâmetro (construção de 1967 a 1973 e custo de
US$ 96 milhões). Existe também um projeto no Peru, a barragem de Majes,
que envolverá 98 km de túneis para fins hidrelétricos de suprimento de água.
• Túnel para Adução de Esgoto - o sistema de esgoto de Chicago, EUA, quando
completo, terá 211 km de túneis. Hoje existem já 121 km em operação e 29 km
em construção, com diâmetros variando de 2,7 a 10,0 m. O sistema também
inclui para uma segunda fase cavernas para controle de poluição e cheias. O
custo estimado do projeto é de US$ 3,6 bilhões.
• Cavernas para Armazenamento de Resíduos - caverna Henriksdal, em
Estocolmo, Suécia, com 1 milhão de m3 de volume (construção de 1941 a 1971
e no momento em expansão).

7.1.3 METODO DE CLASSIFICAÇÃO

Devido à complexidade do maciço rochoso, são necessárias ferramentas teóricas que


permitam analisar o controle de seu comportamento. Para resolver este problema são
idealizados modelos teóricos que só conseguem analisar um determinado processo num tempo
e espaço determinado, onde o bom senso e a experiência prática são partes importantes.

Como na maioria das vezes, trabalha-se com conhecimento limitado das áreas em
estudo, optando pela alternativa dos sistemas de classificação geomecânica, que nos permite
relacionar a situação atual com as situações encontradas por outros, ou seja, as classificações
geomecânicas são uma forma sistemática de catalogar experiências obtidas em outros lugares
e relacioná-las com a situação ora encontrada.

80
Neste caso, optou-se por uma das classificações mais usadas, a de Bieniawski (1973,
1976 e 1989) com o índice RMR (Rock Mass Rating) ou índices do Maciço Rochoso sem
desmerecer outras classificações que foram esquecidas ou não tiveram grande demanda de
uso, mas que serviram como fundamento no processo de melhor compreensão do
comportamento do maciço rochoso.

Deve-se considerar a origem do desenvolvimento dos diferentes sistemas de


classificação para ter segurança na sua aplicação para diferentes problemas da engenharia. A
primeira referência do uso de classificação do maciço rochoso foi feita por Terzaghi em 1946,
citado em Hoek & Brown (1980), onde a carga do maciço rochoso em túneis ferroviários,
com seção ferradura, é sustentada por cambotas metálicas. Nesta classificação, o maciço
rochoso é dividido em nove categorias de comportamento através de uma descrição
qualitativa, que se faz do mesmo através de definições claras e concisas.

LAUFFER (1958) propôs um sistema baseado no tempo de auto-sustentação para um


certo vão de escavação livre (não sustentado) relacionando-o com a qualidade do maciço
rochoso do espaço escavado. Posteriormente, o conceito de Lauffer foi introduzido no método
de escavação NATM (New Austrian Tunnelling Method). Esta técnica é mais aplicada à
rocha branda ou rocha que apresenta expansão lateral ("swelling"), e não aplicável a rocha
dura, que segue outro comportamento de ruptura.

Em casos de rocha muito dura onde o comportamento está dominado pelas cunhas
instáveis, o tempo de auto sustentação é nulo e o suporte terá que ser colocado logo após a
escavação, ou antes de liberar a cunha em sua totalidade.

Outra diferença é que a mudança do campo de tensões ao redor da escavação no caso


de maciços com alta tensão in-situ, a ruptura pode acontecer repentinamente em forma de
explosão da rocha (rockburst). Neste caso o projeto de suporte deve considerar a mudança do
campo de tensões ao invés do tempo de auto-sustentação.

81
7.1.3.1 Sistema de Classificação RMR

Bieniawski em 1974 propôs o sistema empírico de classificação geomecânica RMR,


derivado principalmente para a aplicação em projetos de túneis. No decorrer do tempo
maiores registros de dados foram adicionados à classificação, originando significativas
mudanças nos pesos dos diferentes parâmetros de classificação, e sua expansão para
aplicações em obras de superfície como fundações e taludes. A última versão do sistema foi
apresentada por Bieniawski (1989). O sistema RMR utiliza seis parâmetros para classificar o
maciço rochoso:

• Resistência uniaxial do material de rocha


• Índice RQD
• Espaçamento das descontinuidades
• Padrão das descontinuidades
• Ação da água subterrânea
• Orientação das descontinuidades

Na aplicação desta classificação, o maciço é dividido em regiões e cada uma


classificada separadamente. Estas regiões são divididas por características estruturais maiores
como falhas abertas, mudanças de tipo de rocha, mudanças grandes do espaçamento das
descontinuidades.

O sistema RMR é apresentado através de tabelas, que atribui pesos para os seis
parâmetros acima listados. Estes valores são somados para obter o valor de RMR (máximo de
100 pontos).

Os parâmetros do sistema são simples e claros, podendo ser obtidos rapidamente com
um custo relativamente baixo e englobando características de abertura, persistência,
rugosidade e alteração das paredes das descontinuidades. O espaçamento é individualizado
em um dos seis parâmetros e a orientação das descontinuidades é considerada à parte, como
um parâmetro de ajuste que depende da orientação das descontinuidades em relação à
escavação e ao tipo de obra.

82
Nas Tabelas 7.3 e 7.4 são apresentados os pontos referentes a cada parâmetro do
sistema RMR. A classificação do maciço é obtida com a somatória dos pontos dos parâmetros
selecionados variando de acordo com o maciço estudado.

O RMR é um valor de referência que serve para deduzir parâmetros preliminares de


deformabilidade, resistência e tempo de auto-sustenteção do maciço, assim como estabelecer
correlações para outras grandezas e definir sistemas de suporte de maciços rochosos.

83
Tabela 7.2 - Sistema de classificação geomecânica RMR

Fonte:Bieniawski 1989, modificado

84
Tabela 7.3 - Correções e guias auxiliares para o sistema de classificação RMR

Fonte: Bieniawski 1989, modificado

85
Após ter sido feita a classificação do maciço rochoso, é então recomendada à solução
de suporte recomendada. Bieniawski (1989) publicou na sua classificação uma série de guias
de escolha do suporte para túneis em rocha conforme o valor de RMR (Tabela 7.5), a qual foi
desenvolvida para túneis cuja geometria era em forma de ferradura, escavados a fogo, num
maciço sujeito a tensão vertical maior a 25 MPa (profundidade aproximada de 900 m).

Tabela 7.4 - Guia para escavação e suporte para túneis com 10 m de largura de acordo com o
sistema RMR

Tipo de Maciço Método de escavação Tirantes (diâmetro de Concreto projetado Cambotas metálicas
Rochoso 20 mm, com calda de
cimento)
I Excelente Face completa, avanço de Geralmente não precisa suporte exceto tirantes localizados curtos.
RMR: 81-100 3 m.
II Bom Face completa, avanço de Tirantes localizados Espessura de 50 mm Nulo
RMR: 61-80 1 a 1,5 m, e suporte pronto no teto de 3 m de no teto, onde
a 20 m da face. comprimento e necessitar.
espaçados 2,5 m,
malha de aço
opcional.
III Regular Frente de escavação em Tirantes espaçados Espessura de 50 a Nulo
RMR: 41-60 bancadas (berma), avanço 1,5 a 2 m, de 4 m de 100 mm no teto e 30
de 1,5 a 3 m na calota, comprimento, no teto mm nas paredes.
instalação do suporte após e paredes, com malha
cada escavação a fogo, e de aço no teto.
suporte pronto a 10 m da
face.
IV Ruim Frente de escavações em Tirantes espaçados 1 Espessura de 100 a Cambotas metálicas
RMR: 21-41 camadas, avanço da calota a 1,5 m, de 4 a 5 m 150 mm no teto e 100 leves a médias,
de 1 a 1,5 m, instalação do de comprimento, teto mm nas paredes. espaçadas de 1,5 m,
suporte paralelo com a e paredes, com malha onde precisar.
escavação, a 10 m da de aço.
frente.
V Péssimo Múltiplas frentes, avanço Tirantes espaçados 1 Espessura de 150 a Cambotas metálicas
RMR: < 20 da calota de 0,5 a 1,5 m, a 1,5 m, de 5 a 6 m 200 mm no teto e 150 médias a pesadas,
instalação do suporte de comprimento teto mm nas paredes, e 50 espaçadas de 0,75 m,
paralelo com a escavação, e paredes com malha mm na face. com aduelas de aço, e
e concreto projetado logo de aço, e arco arco invertido.
que possível após a invertido atirantado.
escavação fogo.

Fonte: Bieniawski 1989, modificado

86
7.1.3.2 Sistema GSI

A fim de validar a metodologia SMR, propõe-se também a utilização do sistema de


classificação GSI. Este sistema, proposto por Hoek (1994) definiu o índice de resistência
geológica, ou simplesmente índice GSI, que de fato é uma forma de fusão dos sistemas RMR
e Q, para fins de obtenção de parâmetros geomecânicos de maciços rochosos. Os sistemas
RMR e Q visam recomendar soluções para problemas de engenharia, por exemplo, o suporte
necessário para um túnel, escavado num maciço rochoso a uma certa profundidade. Já o GSI
visa apenas os parâmetros do maciço rochoso. Assim, Hoek sugere que os índices RMR e Q
sejam corrigidos eliminando os parâmetros que incorporam agentes externos à qualidade do
maciço rochoso.

Para o cálculo de GSI padronizou-se o uso do RMR, versão 1976, ou o RMR de 1989
menos 5 pontos. O índice GSI é calculado em função de RMR, mas considerando o maciço
seco e não fazendo a correção devido à orientação da descontinuidade, já que a pressão de
água e a orientação de descontinuidade são considerados no projeto, e portanto não devem
afetar os parâmetros do maciço. Assim para RMR76 > 18 ou RMR89 > 23, tem-se que:

GSI  RMR76

GSI  RMR89  5

Quando os valores de RMR forem inferiores a 18 (versão 76) ou 23 (versão 89), deve-
se utilizar o sistema Q de Barton. Para a utilização do sistema de Barton não se considerará
SRF nem o efeito da água subterrânea Jw na determinação do critério de ruptura, já que estes
fatores são considerados no projeto. Então o valor modificado de Barton será:

87
 RQD   Jr 
Q'    
 Jn   Ja 

A seguir o valor de GSI será:

GSI  9 ln Q '44

Em função dos valores de GSI, HOEK (1995 e 2002) apresenta correlações para
estimar parâmetros de resistência e deformabilidade do maciço rochoso, como será visto nos
respectivos capítulos.

Atualmente o GSI é calculado fazendo uso de ábacos, sendo este valor determinado
conforme as avaliações visuais das condições do maciço rochoso.

88
Tabela 7.5 - Ábacos do GSI em maciços rochosos homogeneamente fraturados

GSI para Maciços Rochosos Homogeneamente Fraturados.

Polida, altamente intemperizada com camadas de


A estimativa do GSI se dará pela avaliação visual de

Polida, altamente intemperizada com camadas


Recente e muito rugosa (não-intemperizada).
características das descontinuidades: litológia, estrutura e

Uniforme, moderadamente intemperizada e


condições da superfície. Essa estimativa deve ser precisa,

Condições da Superfície da

compactas ou fragmentos angulares ou


ou seja, um valor entre 33 e 37 será mais realista do que
35. Este ábaco não se aplica aos casos controlados

Rugosa, levemente intemperizada.


Descontinuidade
estruturalmente, onde os planos de fraqueza em relação a

argila mole ou preenchimentos.


escavação dominarem a estabilidade da obra. A
resistência ao cisalhamento de rochas sujeita ao
intemperismo químico será reduzida na presença de água.

MUITO POBRE:
Uma superfície estimada entre moderada e muito pobre

MODERADA:
MUITO BOA:
será depreciada na presença de água, ou seja, uma

preenchimentos.
superfície moderada será classificada como pobre.
Análises de tensão efetiva serão realizadas quando a

POBRE:
poropressão se fizer presente.

alterada.
BOA:
Estrutura Diminuição na Qualidade da Superfície

INTACTA ou MACIÇA:
Corpos de prova de rocha intacta ou maciça "in
90 Não
situ" com poucas descontinuidades amplamente
espaçadas. Aplicável
Diminuição no Travamento entre Blocos de Rocha 80
FRATURADA:
Maciço rochoso não-perturbado com estrutura
bem intertravada, que consiste de blocos cúbicos
70
formados por um conjunto de três famílias de
descontinuidades.
60
MUITO FRATURADA:
Maciço parcialmente perturbado com blocos
angulares formados por um conjunto de quatro 50
ou mais famílias de descontinuidades.

40
FRATURADA/PERTUBADA/POBRE:
Dobrada com blocos angulares formado pela
múltipla interseção de várias descontinuidades.
Persistência de planos de acamamento ou
xistosidade. 30

DESINTEGRADA:
Pobremente intertravada, maciço rochosos
pesadamente fraturado com intrusão de 20
partículas rochosas angulares e arredondadas.

LAMINADA ou CISALHADA: 10
Ausência de blocos decorrente do pequeno Não
espaçamento entre planos de cisalhamento ou
fracas xistosidade. Aplicável

Fonte: MARINOS & HOEK, 2000

89
GSI para Maciços Rochosos Heterogêneos (tipo "Flysch").
A estimativa do GSI se dará pela avaliação visual de características das descontinuidades: litológia,
estrutura e condições da superfície. Essa estimativa deve ser precisa, ou seja, um valor entre 33 e
37 será mais realista do que 35. Este ábaco não se aplica aos casos controlados estruturalmente,
onde os planos de fraqueza em relação a escavação dominarem a estabilidade da obra. A
resistência ao cisalhamento de rochas sujeita ao intemperismo químico será reduzida na presença
de água. Uma superfície estimada entre moderada e muito pobre será depreciada na presença de
água, ou seja, uma superfície moderada será classificada como pobre. Análises de tensão efetiva
serão realizadas quando a poropressão se fizer presente.

Composição e Estrutura

e dadi unit nocs e D


A: : A OB
. a dar etl a

Denso acamamento, arenito muito fraturado. O efeito das camadas de 70


: ERB OP

pelíticos sobre os planos de acamamento é minimizado pelo A


confinamento do maciço rochoso. Em taludes ou túneis rasos esses
planos de acamamento podem causar instabilidade estrutural.

: A OB OTI U M
: A DARE DO M
. s ot ne mi hc neer p uo

: ERB OP OTI U M

. s er al ugna s ot ne mgarf

90
60

ad ei cí f r e p uS ad s e õçi d no C
B: C: D: E:
Arenito com Arenito e siltitos Siltitos ou Fracos siltitos ou
finas lentes de em iguais folhelho siltoso folhelho argiloso B C D E
siltitos. quantidades. com camadas de com camadas de
. a dazi r e p met ni et ne me vel , as ogu R
et ne matl a uo a dil op, e mr ofi nu oti u M

arenito. arenito.
r op s a di hc neer p uo s at ca p moc s a da mac
el o mali gr a e d s a da mac moc a dazi r e p met ni

e a dazi r e p met ni et ne ma dar e do m, e mr ofi n U


moc , a dil op et ne ml a noi s ac o, e mr ofi nu oti u M

C, D, E e G: F: 50
. ) a dazi r e p met ni - oã n( as ogur oti u me et nece R

Podem estar mais ou menos dobrada do que o Tectonicamente deformada, intensamente


ilustrado, mas isso não modifica a resistência. dobrada/falhada, siltito ou folhelho argiloso F
Essas categorias serão modificadas para F e H cisalhado com camadas de arenito fraturadas e
após deformação tectônica, falha e perca de deformadas formando uma estrutura quase caótica. 40 30
continuidade.

G: H:
Folhelho argiloso ou silte indeformada com, Silte ou argila marinha tectonicamente deformada Não G H
ou sem, poucas e finas camadas de arenito. formando uma estrutura caótica com bolsas de
argila. Finas camadas de arenito são Aplicável
transformadas em pequenos fragmentos de rocha. 20 10
* : Este símbolo representa deformação após perturbação tectônica (ver quadro).

Tabela 7.6 - Ábaco para estimar o valor do GSI em maciços rochosos heterogêneos (MARINOS & HOEK, 2000)
7.1.4 MACIÇO COMO ELEMENTO ESTRUTURAL

As principais características que regem este princípio são:


• Para ser o principal elemento estrutural, a qualidade do maciço deve ser
preservada;
• O maciço deve-se deformar para redistribuir tensões, mobilizar o efeito arco,
levando a uma carga de suporte menor;
• Esta deformação não pode ser excessiva, a ponto de fraturar o maciço, podendo
causar um acréscimo na carga de suporte;
Em certos casos, pode-se optar por um processo de melhoria de qualidade do maciço.

Ao longo de todas as etapas de execução do túnel deve-se visar à conservação ou até


mesmo a melhoria da qualidade do maciço. A observação deste preceito promove uma
redução nas dimensões da estrutura de suporte com uma consequente diminuição dos custos.
Além disso, pode-se ressaltar um incremento da qualidade e da segurança da obra.

A definição da geometria da seção do túnel é de fundamental importância para a


manutenção da qualidade do maciço. Para tal, deve-se observar a finalidade da estrutura bem
como as características geológico-geotécnicas do maciço circundante.

A geometria da seção deve minimizar ou eliminar zonas de concentração de tensões e,


ainda, contribuir para a formação do efeito arco em uma região mais próxima da periferia da
cavidade. O efeito arco consiste na mobilização da capacidade de carga do maciço através de
uma redistribuição de tensões atuantes na região adjacente à escavação pelo incremento das
tensões cisalhantes. Tal redistribuição, denominada princípio da estabilização pelo alívio
controlado de tensões, é consequencia de deformações resultantes da abertura da cavidade. No
entanto, deve-se evitar deformações excessivas pois, com isto, ocorreria a perda da
capacidade de auto-suporte do maciço.

Também, deve-se estipular, previamente, uma seqüência de escavação da face com


base em experiências anteriores. Através da análise de dados obtidos da instrumentação do
túnel, a seqüência poderá ser otimizada, até que se alcance o nível de deformações desejado.

91
Quando os deslocamentos durante a escavação forem julgados excessivos, pode-se
proceder à melhoria da qualidade do maciço. Esta é obtida através de medidas de ordem
estrutural, tais como enfilagem, injeção de nata de cimento ou resina, grauteamento etc.

Os tirantes passivos (chumbadores) promovem uma melhoria na coesão do maciço,


sem causar quaisquer modificações em seu ângulo de atrito. Sua capacidade somente é
mobilizada com as deformações sofridas pelo maciço circundante. Constituem-se em um
sistema simples, barato e de fácil aplicação utilizados na estabilização localizada no contorno
da escavação. Devem ser instalados em espaçamentos regulares em direção radial.

No intuito de tornar as escavações mais competitivas foi concebida a utilização de "jet


grouting" em calda de cimento, com a finalidade de estabilizar o maciço. Esta metodologia, é
resultante da ação dinâmica de jatos de calda de cimento providos de elevada velocidade (700
a 1000 km/h) que saem de pequenos bicos injetores (1,8 a 4 mm) dispostos na extremidade de
uma composição de perfuração com movimento de rotação e/ou translação. A energia cinética
dos jatos desagrega o maciço devido ao impacto estabelecendo a mistura íntima deste com a
calda de cimento.

Esta técnica de melhoria da qualidade do maciço é aplicável a quaisquer tipos de solo


e, quando utilizada corretamente cria um arco de solo-cimento de alta resistência mecânica e
impermeável atuando como pré-revestimento da cavidade antes mesmo de sua abertura.
Possibilita ainda a minimização das deformações internas e na superfície do terreno, fator de
grande importância nas obras realizadas em zonas urbanas.

7.1.5 SISTEMA DE SUPORTE

A instalação do suporte se faz necessária apenas quando o maciço é incompetente, ou


seja, não possui capacidade de auto-sustentação depois de efetuada a escavação, ou ainda
quando certos níveis de deformações não são tolerados pelas estruturas circunvizinhas,
(MAIA, 2007). Três princípios dominam o sistema de suporte:

92
• Tempo de instalação, que na verdade constitui o tempo de fechamento do anel;
• Rigidez e resistência tal que o sistema de suporte funcione como um cilindro de paredes
finas, minimizando cortantes e momentos;
• Na necessidade de um suporte de alta capacidade, que teria paredes grossas, é preferível
manter as paredes finas e reforçar com tirantes.

O suporte deve possuir rigidez para acompanhar as deformações esperadas no maciço.


Caso o mesmo possua uma alta rigidez, passa a restringir as distorções devidas à pressão
diferenciada no maciço, impedindo assim o alívio de tensões. Deve ainda apresentar
resistência suficiente para suprir as deficiências estruturais do maciço, absorvendo esforços e
evitando deformações excessivas.

Além da rigidez e da resistência, o sistema de suporte deverá ser instalado num tempo
ótimo, menor que o tempo de auto-sustentação, com o intuito de interceptar a curva
característica do maciço num certo deslocamento admissível.

7.1.6 MONITORAMENTO

O monitoramento visa acompanhar o comportamento, tanto do maciço, quanto do


suporte durante todo o processo de execução da obra, constituindo-se num elo de ligação entre
o projeto e a execução do mesmo. Deve fornecer dados referentes a deformações e ao estado
de tensões do maciço, de forma a verificar a eficácia do procedimento utilizado bem como a
segurança da escavação. Podem ser instalados em diversos pontos, conforme as
expecificações do projetistas, visando quais sejam: recalques superficiais e subsuperficiais,
convergência, carga no suporte, etc.

Caso o comportamento não seja o previsto pode-se alterar o projeto ou os


procedimentos construtivos até que se obtenham resultados satisfatórios. Isto confere ao
NATM um caráter observacional.

93
7.2 METODOLOGIA PROBABILÍSTICA DE PREVISÃO

A palavra estatística é comumente associada à ideia “conjunto de dados”. Recentemente, a


estatística tem se transformado em um poderoso instrumento associado às ciências cujos
fenômenos são ligados às leis do acaso. Assim, o estudo estatístico se torna fundamental na
análise de dados provenientes de quaisquer processos onde exista uma variabilidade natural
de seus parâmetros, propriedades e índices.
Segundo MAIA (2007), podemos observar na área da Geotecnia, já há bastante tempo,
o reconhecimento de que as propriedades dos materiais do solo são inerentemente
heterogêneas, visto que depósitos naturais de solo são caracterizados por camadas irregulares
de vários tipos de materiais (argilas, siltes, areias, pedregulhos etc.); com diversas faixas de
densidades; oriundos de misturas diversas e possuidores de outras propriedades que afetam a
resistência e a compressibilidade do depósito.

Também maciços rochosos são freqüentemente caracterizados por sistemas geológicos


constituídos por descontinuidades do próprio maciço, que afetam significativamente a
capacidade de carga e suporte da rocha, assim como sua estabilidade. Além disso, é conhecido
que carregamentos e parâmetros podem apresentar variações em torno de seus valores
adotados, o que poderá conduzir a uma inevitável convivência com riscos de rupturas de obras
geotécnicas.

Conforme MAIA (2007), esse fato pode ser exemplificado por meio da metodologia
de trabalho proposta por Peck em 1969, conhecida como método observacional, que prevê
ajustes dos processos construtivos das obras subterrâneas durante sua escavação, isso em
função de variações no comportamento da escavação. No entanto, quando não é possível
aguardar até a execução para tais decisões, o projeto deverá assumir certo nível de risco. Isso
é usualmente feito de forma arbitrária por meio da incorporação de um valor conhecido, ou
seja, por meio da incorporação de um fator de segurança. Neste sentido, para estudos onde
exista uma variabilidade natural em seus dados, tais como a observado na área em estudo e
transcrita na Tabela 7.8, os métodos estatísticos e probabilísticos se apresentam como uma
alternativa sistemática de incorporação dessa variabilidade natural ao projeto e então calcular
seu risco de ruptura e sua confiabilidade.

94
Tabela 7.7 – Parâmetros dos materiais modelo

Classe Classe Classe Solo


Parâmetro Saprolito Talus Colúvio
II III IV saprolitico

E (MPa) 5.500 2.500 1.500 1.000 100 10 10

 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,2 0,25

(kN/ m³) 26 24 22 20 19 17 17

C (kPa) 500 250 100 50 20 10 10

Ø (0) 450 400 350 270 280 220 250

Fonte: ENGECORPS, 2011

E = Módulo de Elasticidade

 = Coeficiente de Poisson

= Peso Especifico

c = Coesão

Ø = Ângulo de Atrito

95
8 APLICAÇÃO DO MÉTODO A UM CASO DE ESTUDO

8.1 ÁREA DE ESTUDO

Diversos aspectos importantes do gerenciamento de riscos na implantação de túneis


são abordados neste trabalho, como a importância de um projeto correto e detalhado,
abrangendo inclusive medidas de contingência, antes do inicio das obras, com a identificação
de anomalias e riscos geológicos, e o correto diagnóstico, redução e eliminação de riscos
geotécnicos.

O grande número de acidentes em obras subterrâneas, em execução no mundo, chama


atenção, e para evitá-los ou minimizar seus impactos é necessário analisar os problemas
geotécnicos de forma mais estruturada. Para isso, utiliza-se de uma análise formal,
minimizando os riscos. Na análise de riscos em túneis, as decisões deixam de ser intuitivas e
empíricas e passam a ser mais estruturadas, evitando-se correr o risco sem a análise de suas
conseguências, sabendo quais os riscos estão intrisicamente relacionados à sua operação.

Porém, cada túnel demanda uma análise diferente, de modo a sanar uma expectativa
operacional distinta, pois, nenhum túnel é igual ao outro. Para o estudo de obras subterrâneas,
optou-se pelos túneis executados em “New Austrian Tunnelling Method” (NATM), pois os
mesmos requerem o desenvolvimento de considerável habilidade e cuidado em sua
investigação, planejamento, projeto, construção e monitoração para serem implantados com
segurança.

O presente caso de estudo permite enquadrar de uma maneira mais específica o


empreendimento a ser avaliado, verificando assim, o aprendizado gerado por esta implantação
e por estar o mesmo sujeito à influência de fatores intrísecos, abrangidos neste trabalho, onde
foram criadas condições adequadas à apreciação de um sistema de gerenciamento de riscos, e
pela sua capacidade de assinalar as diferenças observadas.

96
As razões que levaram à seleção do local, bem como do empreendimento a ser
avaliado, prendem-se a critérios da aplicabilidade dos risco gerados ao mesmo, neste caso por
razões de caráter estrutural, como a existência de apoio técnico e logístico.

Como área de estudo e de aplicação, foi selecionado o Túnel de Adução de Rejeitos do


complexo da Barragem Norte, na Mina de Brucutu, no Município de São Gonçalo do Rio
Abaixo, no Estado de Minas Gerais.

Na abordagem da área caracterizada, estudou-se a análise e o gerenciamento dos


riscos, tendo em consideração as ferramentas de gestão que poderão dar resposta ao impacto
sofrido pela implantação do empreendimento. Como forma de avaliar os riscos gerados na
execução do Túnel Laranjeiras em Brucutu, será utilizada a ferramenta FMEA/FMECA.

Figura 8.1 – Imagem aérea do local de implantação – eixo de implantação do tunel, 2013

97
8.2 ARRANJO GERAL DO TÚNEL

As estruturas do túnel de adução de rejeito - Mina Brucutu serão implantadas em túnel


escavado em rocha, saprolito e coluvio entre as elevações 814,50 m e 835,50 m, sendo o
emboque em saprolito de itabirito, e o desemboque em coluvio/talus. O início das
escavações se dará em avanços que se processarão com fogo cuidadoso, em seção
parcializada a partir da escavação da abóbada. As parcializações da seção, adotadas no
respectivo método construtivo, foram definidas a partir de condicionantes de natureza
construtiva, limitando a altura da seção em 5,4 m para a seção S1 e 5,15m para a seção S2.

Figura 8.2 – Seção S1 típica, implantada em maciço classe III/IV, ENGECORPS, 2009

98
Figura 8.3 – Seção S2 típica, implantada em maciço classe II, ENGECORPS, 2009

Entre as seções S1 e S2 existe uma zona de transição em que não há mais necessidade
de enfilagens, portanto, a seção deverá ser escavada como a seção S2, sem necessidade de
enfilagens e com espessura de 15cm com aplicação de tirantes. Orientados pela fiscalização
de campo, foi proposto um pequeno ajuste da geometria para se passar da seção S1 para a
seção S2, (ENGECORPS, 2011).

Em função das características geomecânicas do maciço rochoso atravessado pelo


túnel, foram definidas três seções típicas:

• Seção S1: corresponde ao trecho inicial (próxima ao emboque – entre estacas


(0+0 e 14+7,40) do túnel e também entre as estacas (23+9,85 e 29+10,45),
com tratamento do maciço através de enfilagens injetadas a serem instaladas ao
redor da abóbada. O revestimento interno será executado em concreto, de
espessura mínima de 0,40m na abóbada e nas paredes, sendo que na abóbada
serão implantadas cambotas treliçadas e uma sapata de apoio com 1,34 m de
largura . O invert será executado com espessura de 0,4m de espessura, com
drenagem interna inferior.

99
• Seção S2: corresponde ao trecho entre estacas (14+17,40 e 22+19,85), com
tratamento do maciço através de tirantes radiais instalados na abóbada. O
revestimento interno será executado em concreto, de espessura mínima de
0,15m na abóbada e nas paredes. O piso da seção será plano e revestido em
concreto com 0,20m de espessura.
• Seção S3 (túnel falso): corresponde ao trecho de pior qualidade (colúvio),
situado entre as estacas (29+10,45 e 30+12,80), com o tratamento do maciço
através de enfilagens injetadas, a serem instaladas ao redor da abóbada e com
invert no fundo da seção escavada do túnel. Instalação de cambotas externas
no túnel falso com perfil H W200 x 35,9 : o revestimento primário, em
concreto moldado “in loco” com aplicação de forma e telas de aço externa e
interna Q785 , com espessura mínima de 0,40m na abóbada e nas paredes, e
uma sapata de apoio com 1,34m de largura. O invert será executado com
espessura de 0,4m de espessura, com drenagem interna inferior,
(ENGECORPS, 2011).

8.3 ASPECTOS GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS

8.3.1 ASPECTOS GERAIS

O traçado do túnel de adução de rejeito situa-se na sua parte montante, sobre formação
ferrífera, atravessando as partes de itabiritos duros e moles até atingir na sua porção de jusante
a zona de contato entre estes e os gnaisses do embasamento. Neste trecho, o túnel atravessa
uma mistura tectônica dúctil de litotipos que pode incluir xistos, quartzitos, gnaisses e
itabiritos. A espessura desta mistura é irregular ao longo da serra, mas pode atingir dezenas de
metros ou mais.

É possível notar uma vertente de alta declividade, que apresenta inclinação média da
ordem de 70º na porção norte do vale e mais suave na porção sul, voltada para mina, com
inclinação média em torno de 20º. As vertentes encontram-se encobertas por uma mata com
representantes da vegetação de cerrado. Ocorrem desde os tipos inferiores até matas pouco

100
densas, com árvores de pequeno a médio porte, esparsamente de grande porte, conforme foto
8.4.

Figura 8.4 – Vista da Sela e respectiva falha, local do embocamento do túnel,


ENGECORPS, 2011

3 2

Figura 8.5 – Geologia mapeada: 1 - Itabirito Cauê; 2 - Dolomitos ferruginosos


Gandarela; 3 – Filitos Prateados Piracicaba, ENGECORPS, 2011

101
Os afloramentos encontrados na linha do eixo são basicamente de Itabiritos da
Formação Cauê que podem estar capeados por um depósito terciário de argilas arenosas muito
laterizadas. Nas imediações do emboque de montante foi localizado o contato das Formações
Cauê e Gandarela e do Grupo Piracicaba. Verifica-se, ainda, que o traçado do túnel está muito
próximo de uma sela topográfica que se relaciona com uma persistente zona de fratura de alto
ângulo de mergulho.

As atitudes da foliação são diferenciadas em cada face da serra e em cada domínio


geológico. A foliação nos itabiritos situa-se em N80E com mergulhos suaves a moderados
para sul. Já nos gnaisses a foliação tem atitude aproximadamente N-S com mergulhos fortes a
moderados para leste.

8.3.2 INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS

Foram realizados 9 furos de sondagens mistas com ensaio SPT em solo e recuperação
de testemunhos em rocha, além de ensaios de infiltração (EI) e ensaios de perda d’água sob
pressão (EPA). Os furos de SM-01A a SM-04A foram efetuados entre maio e junho de 2008,
e os demais, entre março e abril de 2009. Os ensaios de infiltração foram executados em
trechos de 1 m a cada 3 m, e os ensaios de perda d’água em trechos de 3 m consecutivos,
(ENGECORPS, 2011).

Das 9 sondagens, 5 foram executadas na vertical, 3 inclinadas a 30º em relação à


vertical e uma inclinada de 20 o, conforme tabela abaixo:

102
Tabela 8.1 – Relação das sondagens executadas e os respectivos quantitativos das perfurações e
dos ensaios executados

Sondagem Comprimento (m) Inclinação (º) EI EPA

SM-01A 15,18 Vertical 5 0


SM-02A 33,06 Vertical 7 0
SM-03A 43,02 Vertical 9 3
SM-04A 104,00 20º 0 11
SM-05A 57,21 30º 0 12
SM-06A 46,00 30º 0 8
SM-07A 20,00 Vertical 0 2
SM-08A 15,45 Vertical 0 0
SM-09A 62,00 30º 0 5
Fonte: ENGECORPS, 2011

As sondagens SM-04A e a SM-05A foram efetuadas na direção aproximadamente


ortogonal ao túnel para verificar a ocorrência e as características de um fraturamento
subvertical, paralelo ao eixo da obra, previsto no mapeamento geológico-geotécnico . Os
furos SM-06A e o SM-09A foram executados inclinados, mas na direção paralela ao eixo do
túnel, uma vez que visavam identificar e determinar a natureza e as propriedades de possíveis
contatos geológicos, (ENGECORPS, 2011).

De acordo com os dados das investigações na área do túnel de adução de rejeito, a


região apresenta uma cobertura de solo muito heterogênea, condicionada por um contraste de
resistência ao intemperismo químico dos litotipos existentes. Este contraste de alterabilidade é
o fator preponderante no desenvolvimento do perfil de alteração, sendo que possíveis
condicionantes estruturais (zonas de fraturamento) não se mostraram influentes no modelo
geológico-geotécnico elaborado, (ENGECORPS, 2011).

103
O itabirito (rocha bandada, com níveis milimétricos a centimétricos de hematita
alternados com níveis de quartzo) apresentou-se como uma rocha muito susceptível aos
agentes ambientais e, com isso, desenvolve perfis profundos de intemperismo. Seu produto de
alteração é uma areia fina, composta essencialmente por especularita (hematita lamelar) e,
subordinadamente, quartzo. Já o clorita-muscovita xisto ou seu equivalente de granulação
mais grossa e mais fina (gnaisse e filito, respectivamente) apresenta maior resistência à
alteração, sustentando o relevo e, consequentemente, o topo rochoso, de forma mais eficiente
que o itabirito. Seu produto de alteração é um material areno-siltoso, cuja baixa coesão é
indicada pela total desagregação à pressão manual, (ENGECORPS, 2011).

Em relação aos depósitos superficiais, observa-se uma espessa camada de tálus na


escarpa de jusante que grada para colúvio na porção mais distal. Este tálus foi identificado
essencialmente com base em observações de superfície em etapa de campo. As principais
evidências da presença deste horizonte é a morfologia do terreno em anfiteatro, a ocorrência
de blocos de rocha com até 1 metro de diâmetro e de uma provável cicatriz de
escorregamento, caracterizada por uma parede de rocha ou de saprolito com
aproximadamente 6 metros de altura. Esta parede se localiza entre as sondagens SM-04A e a
SM-05A, entretanto devido ao levantamento topográfico apresentar curvas de nível a cada 5
m, não pôde ser representado cartograficamente, (ENGECORPS, 2011).

A escarpa de montante apresenta morfologia de relevo mais suave. Com isso, seu
depósito superficial associado é uma camada de colúvio com até 6 metros de espessura, que
se adelgaça da parte alta para a parte baixa do morro. A composição tanto do colúvio quanto
do tálus, caracterizada a partir das sondagens, consiste em fragmentos de rocha envoltos em
matriz argilosa e com consistência plástica, sendo que no tálus os fragmentos são mais
angulosos do que no colúvio. A resistência do colúvio e do tálus, dada pelo índice SPT, é de
10 a 15 golpes, enquanto o solo saprolítico, independentemente do litotipo que gerou este
horizonte, apresenta SPT entre 10 e 30 golpes, predominando entre 15 e 25 golpes,
(ENGECORPS, 2011).

O saprolito foi caracterizado como o material que apresenta na sondagem a percussão


índices de SPT acima de 40, ou então, quando perfurados a rotação, apresentam recuperação
dos testemunhos abaixo de 80%. O topo rochoso foi identificado quando a recuperação dos
testemunhos indica a ocorrência de material rochoso com razoável coerência e alteração e

104
com 80% de recuperação mínima, desde que haja a continuidade de alguns metros deste
material. A foliação apresenta orientação WNW-ESE e mergulho moderado (45º) para SW.
Ao longo da foliação se desenvolve o principal sistema de fraturamento. Além disso, ocorrem
fraturas sub-verticais e com 60º de inclinação subordinadas.

Nos testemunhos de sondagem, estas fraturas subverticais, bem como alguns trechos
de rocha em fragmentos, podem ser correlacionadas à zona de fratura coincidente com o
traçado do túnel, sugerido no mapeamento geológico-geotécnico. Apesar disso, sua pequena
expressividade no relevo e nos testemunhos de sondagem indica que este lineamento não é tão
significativo. Assim, a cela topográfica presente no local da SM-05A, identificada como
potencial para problemas geotécnicos, não deve apresentar condições desfavoráveis à
escavação, (ENGECORPS, 2011).

105
Figura 8.6 – Perfil longitudinal geológico, ENGECORPS, 2009

106
8.3.3 MODELO GEOMECÂNICO

Conforme o traçado do túnel de adução de rejeitos e o perfil geológico-geotécnico


elaborado, deverá ocorrer escavação tanto em rocha quanto em saprolito. Os primeiros 60 m a
montante seriam escavados em saprolito de itabirito, cuja principal propriedade é a baixa
coesão e o SPT elevado. Os 10 m seguintes devem ser escavados em itabirito alterado até se
atingir uma camada de filito com espessura aparente de 20 m. Os próximos 55 m foram
escavados em itabirito pouco alterado até que o túnel intercepte um grande aprofundamento
do topo rochoso, quando se passe a escavar no saprolito desta rocha por 60 m. Atingindo-se o
contato com o filito, estima-se que o topo rochoso volte a se elevar e em 15 m volte a
encontrar a rocha.

Os 280 metros seguintes foram escavados em xistos, filitos e gnaisses compostos


mineralogicamente por quartzo, clorita e muscovita em diferentes teores, até que se atinge o
contato com o quartzito. Esta rocha – ou seus produtos de alteração - deve prevalecer até o
desemboque do túnel. Assim, após o contato geológico, escavou-se 40 metros em quartzito e
os 60 metros finais em solo saprolítico de quartzito.

Desta forma, o maciço se compartimenta em 2 segmentos: o de montante, com 260 m


de extensão, caracterizado por um profundo horizonte de alteração, que implica em escavação
essencialmente em saprolito de itabirito e, subordinadamente, filito. O de jusante, com 340 m
de extensão, consiste em rocha de boa qualidade, exceto nos 60 metros finais, cuja escavação
deve-se proceder em solo saprolítico de quartzito.

8.3.4 CLASSIFICAÇÃO DOS MACIÇOS ROCHOSOS

As classes de maciços que constam do perfil geológico-geotécnico foram


determinadas a partir da tabela “Rock Mass Rating System” (Bieniawski, 1989), que segue
reproduzida na tabela 8.2.

107
Tabela 8.2 – Sistema de classificação de maciços rochosos

Fonte: BIENIAWSKI, 1989

108
Para as litologias mais importantes e que ocupam maior extensão do túnel,
respectivamente, o saprolito de filito e o xisto pouco alterado, foram verificadas a
classificação geomecânica segundo as tabelas de Bieniawski e as tabelas do software
RockLab de Hoek–Brown, (ENGECORPS, 2011).

Saprolito de filito:

 Critério Bieniawski:
− resistência à compressão = 1 a 5 MPa 1 pto

− RQD. =0% 3 ptos

− espaçamento das descontinuidades <0,06m ................................................... 5 ptos

− orientação das descontinuidades................................................................... -5 ptos

− água subterrânea ..................................................................................... 4 a 7 ptos

− total........................................................................... 14 a 17 ptos → CLASSE V

 Critério Hoek–Brown:
− sigci ............................................................................................................. 3 MPa

− GSI .................................................................................................................... 23

− mi ........................................................................................................................ 7

− D ...................................................................................................................... 0,0

− MR .................................................................................................................. 400

Resulta em:

− ângulo de atrito = 29º

− coesão = 0,033 MPa

− resistência global = 0,22 MPa

− módulo deformabilidade = 64,8 Mpa

109
Xisto pouco alterado:

 Critério Bieniawski:
− resistência à compressão = 10 a 50 MPa .............................................. 7 a 12 ptos

− RQD. = 80% .............................................................................................. 17 ptos

− espaçamento das descontinuidades 0,6 a 0,2 m .......................................... 10 ptos

− orientação das descontinuidades ........................................................................ -5

− condições das descontinuidades ........................................................................ 25

− água subterrânea .................................................................................. 7 a 10 ptos

− total .................................................................................. 61 a 69 → CLASSE II

 Critério Hoek–Brown:
− sigci .......................................................................................................... 70 MPa

− GSI ................................................................................................................... 65

− mi ....................................................................................................................... 8

− D ..................................................................................................................... 0,2

− MR ................................................................................................................. 700

Resulta em:
− ângulo de atrito = 54º

− coesão = 1,3 MPa

− resistência global = 14,5 MPa

− módulo deformabilidade = 25.030 MPa

Para as demais litologias, de menor expressão no traçado do túnel, foi calculado apenas o
índice da tabela Bieniawski.

110
Itabirito:

 Critério Bieniawski:
− resistência à compressão = 50 a 100 MPa .................................................... 7 ptos

− RQD. = 25 a 50% ........................................................................................ 8 ptos

− espaçamento das descontinuidades 0,6 a 0,2 m .......................................... 10 ptos

− orientação das descontinuidades ........................................................................ -5

− condições das descontinuidades ........................................................................ 10

− água subterrânea .......................................................................................... 7 ptos

− total ................................................................................. 37 ptos → CLASSE IV

Saprolito de itabirito:

 Critério Bieniawski:
− resistência à compressão = 1 a 5 MPa .......................................................... 1 ptos

− RQD. < 25% ................................................................................................ 3 ptos

− espaçamento das descontinuidades <0,06 m ................................................. 5 ptos

− orientação das descontinuidades ........................................................................ -2

− condições das descontinuidades .......................................................................... 0

− água subterrânea .......................................................................................... 7 ptos

− total .................................................................................. 14 ptos → CLASSE V

111
Quartzito:

 Critério Bieniawski:
− resistência à compressão = 50 a 100 MPa .................................................... 7 ptos

− R.Q.D. = 80% ............................................................................................ 17 ptos

− espaçamento das descontinuidades 0,6 a 0,2 m .......................................... 12 ptos

− orientação das descontinuidades ................................................................. -5 ptos

− condições das descontinuidades ................................................................. 25 ptos

− água subterrânea .......................................................................................... 7 ptos

− total .................................................................................. 63 ptos → CLASSE II

Quando da execução da obra, verificou-se que, pela foliação das rochas metamórficas
e pelo caimento do túnel de montante para jusante, o avanço do túnel a partir do desemboque
será bem mais favorável, tanto pela maior estabilidade dada pelo mergulho da foliação para
montante como pelo escoamento das águas de infiltração.

8.4 MODELO FMEA/FMECA

8.4.1 FASES DO DESENVOLVIMENTO DO FMEA/FMECA

As fases de desenvolvimento do FMEA são tipicamente as seguintes (SILVA et al,


2006):
1. Análise e hierarquização do sistema;
2. Seleção do subsistema a analisar;
3. Estudo funcional e seleção de um estado de funcionamento;
4. Identificação de um modo potencial de falha;
5. Identificação dos efeitos possíveis do modo de falha;
6. Identificação das respectivas causas;
7. Identificação dos métodos de detecção e de prevenção.

112
Para a realização de uma análise através do FMECA, é necessário proceder às
seguintes fases adicionais (SILVA et al, 2006)
8. Estimar a gravidade do modo de falha em estudo (S);
9. Estimar a probabilidade de ocorrência do modo de falha (O);
10. Estimar a probabilidade de detecção do modo de falha (D);
11. Análise de criticidade.

Na construção do respectivo modo de falha, apresenta-se uma descrição das várias fases
(SILVA et al, 2006):

a) Análise e hierarquização do sistema


Nesta fase de análise, deve-se proceder à identificação dos vários subsistemas e sua
hierarquização, recorrendo-se a diagramas simples para representação do sistema de modo a
realçar as funções essenciais do mesmo. Nesta primeira fase é fundamental definir o limite do
sistema através da sua interação com outros sistemas, definir o nível de análise que se
pretende obter e definir critérios a utilizar.

b) Análise funcional
Nesta fase, deve-se efetuar uma listagem de funções que o elemento em estudo vai
desempenhar, tendo em atenção as exigências e expectativas do cliente, de forma a definir e
implementar medidas preventivas.

c) Identificação dos modos potenciais de falha


Após o conhecimento das funções, procede-se a um levantamento dos modos potenciais de
falha, identificando a forma como vão se manifestar a(s) falha(s), detalhando as fases de
divisão do sistema e a sua análise funcional. Uma ajuda para se proceder à identificação das
falhas, passa pela análise de casos de estudo documentados, experiências ou testes
laboratoriais, experiências em campo ou a opinião de peritos especializados na área.

d) Efeitos dos modos potenciais de falha


Nesta fase, para cada modo potencial de falha procede-se ao levantamento das suas
consequências ou efeitos negativos, podendo a análise ser efetuada de uma forma local
(subsistema) ou global a nível de efeitos finais.

113
e) Métodos de detecção e prevenção
Em cada modo de falha é importante entender como estas são detectadas e com que meios se
obtém essa detecção. O método de detecção também deve agir como um sistema que
minimize a ocorrência dos modos de falha.

f) Estimar a gravidade do modo de falha em estudo - S


O índice de severidade (S) permite avaliar a gravidade dos efeitos causados por um modo de
falha sobre o sistema em análise.

g) Determinação da ocorrência - O
O índice de ocorrência (O) define a frequência ou probabilidade com que pode ocorrer um
determinado modo de falha e a respectiva causa.

h) Classificação da probabilidade de detecção - D


O índice de detecção (D) é a probabilidade de identificação de um modo de falha, podendo
ocorrer através de revisões de projeto, testes, medidas de controle de qualidade, ou até mesmo
pelo uso indevido do produto já por parte do utilizador.

i) Análise de criticidade
A determinação quantitativa da criticidade consiste no cálculo do índice de risco de cada
modo de falha (IR) também denominado criticidade (C).
Segundo MOHR (1994), a diferença entre FMEA e FMECA da seguinte maneira:
FMECA = FMEA + C, onde:

C = Criticidade = IR = (Ocorrência) x (Severidade) x (detecção)

O índice Ocorrência é usado para avaliar as chances (probabilidade) de a falha ocorrer,


enquanto que a Severidade avalia o impacto dos efeitos da falha, a gravidade dos efeitos.
A decisão de como se apresentam os métodos no FMEA/FMECA, os resultados dos efeitos
dos modos potenciais de ruptura cabem aos responsáveis pela análise. Quanto maiores forem
os detalhes na apresentação dos resultados, mais completa será a análise, porém, mais difícil e
demorada sua execução.

114
A descrição do modo como os efeitos de uma componente básica é propagada a outras
componentes de outros subsistemas de níveis inferiores têm uma importância significativa,
uma vez que o FMEA/FMECA inclui na análise as medidas de detecção e de controle dos
modos de ruptura, combinado a sua probabilidade de ocorrência.

8.4.2 DEFINIÇÃO DE ESCALAS DE FMECA PARA APLICAÇÃO AO CASO DE ESTUDO

Na aplicação da metodologia, observou-se que as escalas relativas à probabilidade de


ocorrência (O) e detecção (D), se baseiam em valores probabilísticos. Com isso, para o caso
em análise não foram encontrados estudos probabilísticos relativos à metodologia aplicada,
dos quais se possam retirar os valores relativos às probabilidades de ocorrências, bem como à
fiabilidade dos sistemas de detecção de falhas, necessários para aplicação das escalas que
constam na bibliografia.

Segundo TEIXEIRA (2009), pode-se recorrer a escalas modificadas de modo a se


conseguir aplicar a respectiva ferramenta em estudos de reabilitação de túneis. Assim,
efetuou-se a aplicação do FMECA recorrendo-se a utilização apenas de escalas de gravidade
(G) e de probabilidade de ocorrência (O), passando o índice de risco a definir-se através da
associação destes dois dígitos (GO).

Com isso propõe-se a matriz de priorização do risco frente a probabilidade de


ocorrência (Figura 8.7), caracterizando de maneira representativa a abrangência da criticidade
para o caso em estudo. Nesta definição de criticidade, propõe-se ainda, um range escalando os
riscos observados no caso em estudo, formando assim a escala de risco.

Desta forma, a escala de índice de risco varia num espectro de valores de 5


(correspondente ao risco mínimo) a 100 (correspondente ao risco máximo).

115
Figura 8.7 – Escala de índice de risco - modificado TEIXEIRA, 2009

Conforme experiência na inplantação do referido túnel, propõe-se uma escala de


gravidade estabelecida em cinco níveis de classificação, numerados de 1 a 5, por ordem
crescente de gravidade do risco. Estes níveis apresentam-se qualificados na Tabela 8.3.

116
Tabela 8.3 – Escala de gravidade, referente ao Dano (Si)

Em conformidade com a escala de gravidade, propõe-se a escala de frequência de ocorrência,


refletindo as probabilidades de ocorrência estudadas na implantação do referido túnel. Sendo
assim, a tabela 8.4 estabelece cinco níveis de classificação, numeradas de 1 a 5, em ordem
crescente de probabilidade de ocorrência.

Tabela 8.4 – Escala de controle de ocorrência, referente à frequencia (Oi)

Fonte: adaptado, TEIXEIRA, 2009

117
Apesar de não se encontrarem estudos probabilísticos relativos à metodologia
aplicada, bem como à fiabilidade das escalas que constam na bibliografia especializada em
túneis, baseou-se o estudo de caso em questão, nas experiências construtivas em dois túneis:
Túnel Laranjeiras, na Mina de Brucutu ( concluído em 30/08/14) e Túnel Forquilha IV
(concluído em 30/04/14), na Mina de Fábrica.

Assim, apresenta-se abaixo a escala de probabilidade e controle, onde são


estabelecidos cinco níveis de probabilidade, numerados de 1 a 5, em ordem crescente de
probabilidade e controle. Estes níveis apresentam-se qualificados na Tabela 8.5.

Tabela 8.5 – Escala de probabilidade, referente ao controle (Di)

Fonte: adaptado, TEIXEIRA, 2009

118
Tabela 8.6 – Aplicação da Ferramenta FMEA/FMECA no caso em estudo

119
8.4.3 ANÁLISE DE DADOS

Após análise detalhada das tabelas de FMECA referente ao método de estabilização de


maciços em túneis, foi possível elaborar a matriz da Figura 8.8 e sua respectiva Tabela 8.7, de
forma a auxiliar a interpretação dos dados obtidos, que sintetizam os resultados do índice de
risco, referente ao método em estudo.

Figura 8.8 – Percentagem de valores referentes a cada área de risco

Analisando os resultados conforme a área de risco em que se situam, pode-se concluir


que os riscos associados à zona de risco elevado representam 46% da totalidade dos riscos
associados ao método em análise. No entanto, verifica-se que a zona de risco médio-baixo e
muito elevado representam cada uma 27% dos riscos, associados ao método em análise.

120
Tabela 8.7 – Análise de dados de valores máximos e mínimos de índice de risco

Risco médio/baixo Risco elevado Risco muito elevado Total


Valor mínimo de
índice de risco 12 24 75 12
Valor máximo de
índice de risco 16 48 80 80

A partir dos ranges, definidos para este trabalho, conclui-se que pelo fato da maior
percentagem de riscos se encontrar na zona de risco elevado, significa que os riscos são
preocupantes.

O método apresenta índices de risco num range de valores entre 12 (valor mínimo) e
80 (valor máximo). Referente à zona de risco médio/baixo, os valores variam entre 12 (valor
mínimo) e 16 (valor máximo). Estes valores indicam que as falhas subjacentes a estes riscos
são consideradas aceitáveis, no entanto devem manter-se as ações preventivas e a eficácia das
medidas de controle, recorrendo a verificações permanentes.

Quanto à zona de risco elevado, os valores variam entre 24 (valor mínimo) e 48 (valor
máximo). Estes valores encontram-se num patamar intermédiário entre a probabilidade de
ocorrência e a gravidade. Desta forma verifica-se que dentro desta área de risco elevado,
predominam riscos que são prováveis de acontecer e com falhas com ocorrência possível. As
falhas que proporcionam estes riscos devem ser reduzidas quer ao nível da probabilidade quer
da gravidade, sendo implementadas medidas para reduzir o risco num período determinado.

Na área de risco muito elevado, os valores variam entre 75 (valor mínimo) e 80 (valor
máximo). Estes valores encontram-se num patamar de gravidade muito elevada e
probabilidade de ocorrência média-baixa. Desta forma, verifica-se que dentro desta área de
risco muito elevado, predominam riscos prováveis de acontecer e que implicam uma ou várias
mortes.

121
As falhas que causam estes riscos devem ser totalmente eliminadas. Não se deve
iniciar ou continuar o trabalho até que se tenha reduzido o nível de risco. Verifica-se que na
execução desta operação, as tarefas que apresentam índices de risco mais elevados são:
alteração do passo de avano da cambota e/ou bancada; alteração do espaçamento entre
cambotas; falta de definição do processo executivo de tratamento do maciço e falta de
instrução / treinamento nos procedimentos de riscos do projeto.

122
9 SÍNTESE, CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS

9.1 SÍNTESE E CONCLUSÕES

No decorrer do trabalhos desenvolvido, verifica-se que muito se pode fazer no sentido


de contribuir para minimizar e reduzir os riscos gerados no processo construtivo de túneis.

As experiências deste trabalho e as estratégia metodológicas adotadas permitiram


obter os seguintes produtos: um referencial teórico amplo sobre os modelos metodológicos
existentes para a escolha da melhor ferramenta de análise de riscos, bem como a sua aplicação
na construtibilidade de túneis; um conhecimento atual sobre a gestão de riscos geotécnicos em
obras suterrâneas e sua aplicabilidade diante dos mecanismos de ruptura em maciços
rochosos.

Neste cenário, destacou-se a relevância da utilização de três ferramentas sistêmicas de


gerenciamento de riscos, que poderiam ser aplicadas no estudo de caso em questão, e os
instrumentos que proporcionam às diversas instâncias decisórias uma percepção sistemática e
integrada da realidade existente na área em estudo.

Neste sentido, foi elaborada tabela de avaliação de riscos, com base no método de
Análise dos Modos de Falha, Efeitos e Criticidade - FMECA, aplicada às categorias mais
representativas de riscos, permitindo assim sistematizar as possíveis falhas e riscos de cada
método, de forma a chegar aos valores dos respectivos índices de risco.

Com base nestes índices, foi possível identificar e mapear os respectivos riscos, e
seguidamente proceder uma análise conjunta de todos eles. Com isso, propõe-se uma possível
hierarquização dos vários riscos relativamente à segurança.

É apresentado a seguir, um resumo dos principais aspectos do trabalho desenvolvido,


destacando-se os principais resultados e trabalhos a desenvolver futuramente.

123
9.2 IMPORTÂNCIA DO TRABALHO

A ferramenta elaborada foi testada, permitindo mapear a frequencia de ocorrência de


um determinado evento, definindo a probabilidade do risco para a obra. Foram geradas, ainda,
as categorias de riscos mais comuns em obras subterrâneas, particularmente em túneis tipo
NATM.

Com isso, foi possível expor as características principais de cada evento, contemplando
os potenciais causadores de não conformidades e geradores de riscos. Foi mostrado, ainda,
que estes eventos podem resultar em danos relevantes e graves, e até mesmo em colapsos
parciais do empreendimento. Ressalta-se, também, que a respectiva caracterização é
hipotética, devendo ser adequada à especificidade de cada obra subterrânea, para aplicação
em situações reais.

Contudo, a execução de uma avaliação de riscos, implica uma análise muito detalhada
do tema a tratar, sendo necessário um estudo aprofundado das ferramentas de análise de riscos
e seu impacto no empreendimento.

Nesta avaliação, cada um dos métodos analisados apresenta grande incidência de


valores de índice de risco em zona de risco elevado. No entanto, pode-se verificar que a zona
de riscos muito elevados representa em todos os métodos uma percentagem muito
significativa dos valores de índice de risco, o que os torna inaceitáveis.

A hierarquização dos métodos foi dificultada pela semelhança dos modos de falha
existentes entre os métodos de reforço e estabilização estudados, e consequente semelhança
dos níveis de risco atribuídos. Não obstante, analisando de forma global os índices de riscos,
verifica-se que é possível efetuar uma hierarquização das várias metodologias de redução dos
riscos, trazendo ambientes cada vez mais seguros.

Numa análise das dificuldades encontradas, ressalta-se a aplicação das escalas do


método, pela falta de metodologia na aplicação das escalas existentes. Isto, pela falta de
estudos e informação probabilística sobre a temática em estudo. De forma a fazer face a este
problema houve a necessidade de se adaptarem as escalas referentes ao método.

124
Com este trabalho conclui-se que a execução de um túnel é um dos desafios mais
complexos no campo da engenharia, mostrando operações que aplicam diversas tecnologias
com níveis de risco elevados. Associada à complexidade e diversidade das operações que este
tipo de obra engloba, a garantia de níveis de segurança elevados é prioritária.

9.3 TRABALHOS FUTUROS

Com este trabalho pretendeu-se iniciar o estudo para o gerenciamento de riscos em


obras subterrâneas de túneis, mostrando uma ferramenta que avalie, de maneira simples e
sucinta, os riscos oriundos da implantação de empreendimentos.

Sendo este um primeiro estudo, tomaram-se alguns pressupostos que poderão ser
questionáveis e algumas questões que ficarão sem respostas.

Com o objetivo de estender este trabalho tornando-o numa ferramenta de apoio à


decisão, quando da definição das classes de riscos, aforam dmitidos os valores conforme as
consequências observadas.

Em trabalhos futuros, torna-se necessário proceder o recolhimento de todo tipo de


informação referente a acidentes e incidentes ocorridos em obras de implantação de túneis,
sendo eles de maior ou menor gravidade, de modo a constituir uma base de dados extensa,
que permita melhorar as avaliações de riscos referentes à temática dos túneis do ponto de vista
da segurança.

Outro ponto importante é a utilização de outras ferramentas de gerenciamento de


riscos, procedendo uma avaliação detalhada dos pontos positivos e negativos das mesmas.
Neste sentido, pode-se determinar maior fiabilidade ao método de avaliação mais indicado.

Com este procedimento, pode-se evitar possíveis resultados distorcidos, advindos de


uma extrema repulsividade (ou, contrariamente, uma extrema atratividade) por parte do
decisor. Pode-se, ainda, proceder à formulação de novas metodologias, que permitam avaliar
os riscos gerados.

125
Nesta premissa, pode-se avaliar os procedimentos necessários para o gerenciamento
dos riscos gerados na implantação do túnel Laranjeiras, procedendo assim como uma primeira
aproximação a esta complexa questão.

Finalmente, acredita-se que este trabalho tenha sido um passo no longo caminho de se
dotar o país de instrumentos que orientem no gerenciamento de riscos geotécnicos na
implantação destes empreendimentos, conferindo assim, maior legitimidade a elas.

Com este trabalho conclui-se que a implantação de um túnel é um dos desafios mais
complexos no campo da engenharia, mostrando operações que aplicam diversas tecnologias
com níveis de risco elevados. Associada à complexidade e diversidade das operações que este
tipo de obra engloba, a garantia de níveis de segurança elevados é prioritária.

126
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132
ANEXO I – FOTOS DOS TESTEMUNHOS

SM-01A - CAIXAS 1 E 2

SM-02A - CAIXAS 1 E 2

133
SM-02A - CAIXAS 3 E 4

SM-02A - CAIXAS 1 E 2

134
SM-02A - CAIXAS 3 E 4

SM-02A - CAIXAS 5 E 6

135
SM-04A - CAIXAS 1 E 2

136
SM-04A - CAIXAS 3 E 4

SM-04A - CAIXAS 5 E 6

137
SM-04A - CAIXAS 7 E 8

SM-04A - CAIXAS 9 E 10

138
SM-04A - CAIXAS 11 E 12

SM-04A - CAIXAS 13 E 14

139
SM-04A - CAIXAS 15 E 16

SM-04A - CAIXAS 17 E 18

140
SM-04A - CAIXAS 19 E 20

SM-04A - CAIXAS 21 E 22

141
SM-04A - CAIXAS 23 E 24

SM-04A - CAIXAS 25 E 26

142
SM-04B - CAIXAS 23 E 24

SM-04B - CAIXAS 25 E 26

143
ANEXO II – TABELA FMECA

144
FMEA/FMECA 17/07/2014 - Tunel Laranjeiras - Mina de Brucutu

AÇÕES PREVENTIVAS
FUNÇÃO ELEMENTO

CONSEQUÊNCIAS (Oi)

PROBABILIDADE (Si)
MODOS DE FALHA /

CONSEQUÊNCIAS

RECOMENDADAS
CONTROLE (Di)
Segurança Pessoal
ELEMENTO
ESTRUTURA

EFEITOS/
PERIGOS

Operacional
CAUSA(S)

EFEITO
CODIGO

Financeiro
RISCOS

RPNi
Social
Colapso da frente de avanço com
Alteração do passo de avano da cambota Recalques elevados, proporcionando Danos pessoais, incluindo esmagamento,
E1

deslocamento da massa escorregada com 5 2 5 2 1 3 75


e/ou bancada. deformações excessivas. entalamento e morte
obstrução da escavação.
Ruptura local da frente de avanço com Aderencia ao método construtivo especificado em
Face instável por fluxo de água, e/ou Falha na drenagem da frente de escavação Infiltração de água na escavação, Danos pessoais, incluindo esmagamento, projeto; Implementação de drenagem da frente de
E2

ESTABILIDADE DA FRENTE DE deslocamento da massa escorregada com 3 5 3 4 2 3 45


ESCAVAÇÃO solo pouco coesivo, e/ou queda de e respectivo tratamento do maciço. proporcionando trincas no revestimento. entalamento sem morte escavação; Tratamento de solo; redução do passo
ESCAVAÇÃO obstrução da escavação.
blocos e solo rijo saturado de avanço da cambota; Pregagens da frente;
Implementação de campanhas de instrumentação.
Falta de medidas necessárias para Leituras de instrumentação Ruptura local da frente de avanço com
Danos materiais, incluindo ferramentas,
E3

restabelecer o nível de segurança anômalas/elevadas, caracterizadas por falta deslocamento da massa escorregada sem 5 3 1 1 1 2 30
equipamentos, etc.
adequado a obra. de estabilização do maciço. obstrução da escavação.
Colapso da frente de avanço com
Deformações no revestimento, trincas,
PT1

escorregamento da massa instável afetando Danos pessoais, incluindo esmagamento,


Alteração do espaçamento entre cambotas. convergências excessivas, provocando 5 4 1 3 1 4 80
pessoas e equipamentos de operação do entalamento e morte
anomalias no concreto projetado.
túnel.
Controle diário do processo construtivo,
Cargas elevadas, resultando em esforços Falha no emprego de telas metálicas ou Deformações nas barras das cambotas Ruptura global da frente de escavação com
PT2

ESFORÇOS ELEVADOS NO Danos pessoais, incluindo esmagamento, verificação e controle de qualidade dos tratamentos
PAREDE E TETO elevados no revestimento e suas fibras metálicas, na armação do concreto metálicas, causando recalques excessivos deslocamento do maciço, trincas e 2 2 1 1 1 4 16
REVESTIMENTO entalamento sem morte de solo implementados, verificando passo de
ligações. projetado de revestimento. nos pés das mesmas. obstrução da escavação.
avanço da cambota e da bancada, etc.
Leituras de instrumentação
Instabilidades locais com potencial de
PT3

Falha na monitoração/instrumentação do anômalas/elevadas não estabilizadas, Danos materiais, incluindo ferramentas,


acidentes, problemas estruturais, causando 4 3 1 2 1 3 36
reforço do revestimento com cambotas etc. trincas no revestimento, danos no invert equipamentos, etc.
danos materiais e pessoais.
etc.
TÚNEL LARANJEIRAS

Tratamento de solo com problemas de Instabilidade da frente de avanço,


Falta de definição do processo executivo Danos pessoais, incluindo esmagamento,
M1

145
execução, causando trincas e causando desplacamentos sem obstrução 5 4 1 5 2 3 75
de tratamento do maciço. entalamento e morte
desplacamento do mesmo. da escavação.
Processo executivo dos processos de tratamento de
Tratamento de solo com problemas de Falha no monitoramento da execução e da Colapso da frente de avanço com
Movimentação do maciço, causando o Danos pessoais, incluindo esmagamento, solo devidamente verificado e aprovado;
M2

execução, levando a eventos de análise do desempenho dos processos de deslocamento da massa escorregada com 3 4 3 5 3 3 45
MACIÇO TRATAMENTO DE SOLO/ROCHA colapso do mesmo. entalamento sem morte monitoramento da execução e análise do
infiltração de água, instabilização da face tratamento. obstrução da escavação. desempenho dos tratamento de solos previstos,
com recalques excessivos.
etc.
Instabilidades locais com potencial de
Falta de ensaios de controle e qualidade na Processo executivo de tratamento, não Danos materiais, incluindo ferramentas,
M2

acidentes, desplacamentos, causando 1 4 1 3 1 3 12


execução por unidade de tratamento compatível com o maciço existente. equipamentos, etc.
danos materiais e pessoais.
Procedimentos inadequados de
AO1

Equipe insuficiente e inexperiente para Erros de execução do projeto executivo, Danos pessoais, incluindo esmagamento,
monitoramento e acompanhamento de 4 4 1 3 1 3 48
monitoramento / acompanhamento técnico. causando a instabilidade do maciço. entalamento e morte
obras.
Túneis em NATM requerem Procedimentos adequados de monitoração e
AO2

acompanhamento da construção e Falta de procedimentos de verificação e Procedimentos inadequados ao Instabilidade do maciço, incluindo o Danos pessoais, incluindo esmagamento, acompanhamento de obras, procedimentos de verif
3 2 1 2 1 3 18
ACOMPANHAMENTO E monitoramento da instrumentação diária, aderência ao projeto executivo. monitoramento / acompanhamento diário. colapso da estrutura de sustentação. entalamento sem morte icação e aderência ao projeto executivo,
ANDAMENTO DA OBRA
MONITORAMENTO DE MÃO DE OBRA para avaliação da conformidade dos treinamento adequado dos responsáveis pelo
métodos construtivos e adequação da Falta de treinamento adequado dos Equipe não treinada ou inexperiente em Instabilidade da frente de avanço, acompanhamento e monitoração da obra, avaliação
segurança da escavação. e adequação dos procedimentos.
AO3

responsáveis pelo acompanhamento e obras subterrâneas e plano de gestão de causando desplacamentos , quedas de Danos materiais,incluindo ferramentas,
4 3 1 2 1 3 36
monitoramento da obra, com avaliação e riscos não-conforme para as características concreto projetado, causando danos equipamentos, etc.
adequação dos procedimentos. da obra. materiais e pessoais.
EX1

Falta de instrução / treinamento nos Equipe inexperiente para identificação dos Erros de execução do projeto executivo, Danos pessoais, incluindo esmagamento,
5 4 1 4 1 4 80
Na construção de túneis em NATM, é procedimentos de riscos do projeto. riscos inerentes a obras subterrâneas. causando danos materiais. entalamento e morte Treinamento nos procedimentos e especificação
necessário elevado grau de previstas tratativas em riscos do projeto. Previsão
especialização e experiência, para evitar de sistemas de supervisão e controle, atuando
EX2

Não previsão de sistemas de supervisão e Acompanhamento inadequado ao processo Erros de execução do projeto executivo, Danos pessoais, incluindo esmagamento,
erros operacionais. Erros e acidentes 3 2 1 1 1 4 24 durante toda a obra. Validação de procedimentos e
EXECUÇÃO DA OBRA ERRO HUMANO controle durante a execução da obra. executivo de obras subterrâneas. causando danos pessoais. entalamento sem morte
ocorrem quando a organização da obra é atividades por empresa especializada em obras
deficiente, o equipamento não é subterrâneas. Sistemas de controle e
apropriado, e pressões de custo/ Falha na validação dos procedimentos e Inconsistências na execução da obra, bem Instabilidade da frente de avanço, monitoramento on line, verificando e validando os
EX3

Danos materiais, incluindo ferramentas,


cronograma são elevadas. atividades por empresa especializada em como no processo decisório de tratamentos causando desplacamentos , quedas de 2 4 1 4 1 2 16 dados obtidos.
equipamentos, etc.
obras subterrâneas. de solos. concreto projetado.

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