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FLUIDOS
Definir turbinas.
Identificar as aplicações das turbinas.
Analisar o tipo de escoamento de fluido em turbinas.
Introdução
Hoje em dia, a demanda por energia elétrica é cada vez maior, seja para
uso em residências, indústrias ou até mesmo para transporte por meio dos
carros elétricos. O conjunto responsável por gerar essa energia consiste na
junção entre turbina e gerador. A turbina é o equipamento responsável
por extrair energia de algum fluido (água, ar, vapor, gás, etc.) para gerar
energia mecânica (rotação de um eixo). Esse eixo é acoplado a um gerador
que, a partir da variação de campo magnético, produz corrente elétrica.
Além de serem fundamentais para geração de energia elétrica, as
turbinas também são usadas para propulsão de aviões, navios e trens.
Além disso, podem ser usadas para movimentar qualquer outro equipa-
mento mecânico rotativo, como bombas, compressores ou ventiladores.
Ou seja, nos mais variados contextos do nosso dia a dia, as turbinas estão
presentes.
Neste capítulo, você aprenderá sobre as turbinas: os diferentes tipos,
suas características construtivas, os equacionamentos da mecânica dos
fluidos que explicam seu funcionamento e as aplicações em diferentes
contextos da engenharia.
2 Máquinas de fluxo — turbinas
Máquinas de fluido
Máquinas de fluido são equipamentos cuja função é trocar energia entre um
sistema mecânico e um fluido. Por sua ampla aplicação na engenharia, esses
equipamentos são usualmente subclassificados em três grandes categorias,
quanto:
Turbinas
O foco do presente capítulo são as turbinas, que são máquinas de fluxo que
geram energia mecânica na forma de torque. Há diversos tipos de turbinas
que utilizam diferentes tipos de fluidos para gerar energia elétrica ou energia
mecânica, tais como: turbinas hidráulicas (hidrelétricas), turbinas a vapor
(plantas industriais), turbinas a gás (indústria aeronáutica) e turbinas eólicas
(empresas geradoras e distribuidoras de energia).
Em um contexto mais amplo, existem turbinas que são máquinas volumétricas (deslo-
camento positivo) e as que são máquinas de fluxo. Entretanto, conforme apresentado
por Çengel e Cimbala (2015), as turbinas volumétricas, em geral, são usadas somente
para medir vazão de escoamentos (como os hidrômetros residenciais), e não são
aplicadas para gerar trabalho. Assim, a maioria dos autores considera as turbinas, por
praticidade, somente como máquinas de fluxo, pois são elas que geram, de fato, energia.
cinética atinge, na forma de jato, palhetas que transferem energia para o eixo da
turbina, ou seja, o jato de fluido impulsiona o movimento rotativo da turbina.
As turbinas de reação utilizam as energias de pressão e potencial do fluido,
além da energia cinética para gerar energia mecânica (ou elétrica) dentro de um
espaço fechado (voluta) que canaliza o fluido para o rotor. À medida que esse fluido
com alta pressão e alta energia cinética atravessa o rotor, seu momento angular é
reduzido e impõe um torque ao rotor que, por sua vez, aciona o eixo da turbina.
A Figura 1a ilustra o princípio de funcionamento das turbinas de ação
(impulsão), e a Figura 1b, das turbinas de reação, sendo que as setas em ver-
melho indicam o sentido do movimento do fluido. É importante salientar que
diversas turbinas modernas empregam ambos os princípios e não funcionam
isoladamente, tais como as turbinas a vapor.
Vapor
Força
W
a)
Vapor
Força
W
b)
Figura 1. Princípio de funcionamento das turbinas: (a) de ação ou impulso e (b) de reação.
Fonte: Adaptada de Fontes (2007, p. 9).
Máquinas de fluxo — turbinas 5
axiais;
tangenciais;
radiais;
mistas.
o rotor;
o elemento direcionador do fluxo do fluido.
Turbinas hidráulicas
As turbinas hidráulicas são máquinas de fluxo que usam água como fluido de
trabalho. Nessa situação, elas são classificadas também como uma máquina
incompressível, pois a água não tem alteração significativa da sua massa
específica. Originaram-se a partir da evolução das rodas d’água, que até hoje
podem ser encontradas em casas de engenho. Foi o engenheiro francês Benoît
Fourneyron, no século XIX, o principal responsável por melhorar a eficiência
dessas rodas, cunhando o nome de turbina para o equipamento desenvolvido.
Nos dias atuais, existem variados tipos de turbinas hidráulicas, cada uma com
sua aplicação, seu rendimento e histórico.
As principais representantes dessa categoria de turbinas são:
Turbina Pelton
Turbina Francis
Turbina Kaplan
Cubo
ω
ω
Saída
Eixo ω
Bocal
rω Pás do
r2 ω rotor
r1 Eixo
Divisor
β Saída
Figura 2. Características construtivas de turbinas hidráulicas: (a) turbina Pelton, (b) turbina
Francis e (c) turbina Kaplan.
Fonte: Adaptada de Çengel e Cimbala (2015, p. 835–839).
Máquinas de fluxo — turbinas 9
100
50
10
5
30.0
Vazão (m3/2)
00
kW
15.0
0
10.0 0 kW
1 00
kW
5.00
0,5 0 kW
1.50
0 kW
0,1
0,05 500
kW
0,01 100
20 k
1 2 5 10 20 50 100 200 kW 500 1.000 W
Carga (m)
Figura 3. Tipo de turbina por faixa de operação: Kaplan (baixa carga e alta vazão), Francis
(média vazão e carga) e Pelton (alta carga e baixa vazão).
Fonte: Adaptada de Tipos... (2018, documento on-line).
Turbinas a vapor
As turbinas a vapor são equipamentos que extraem energia térmica do vapor
pressurizado, usando essa energia para gerar energia mecânica. Seu funcio-
namento consiste basicamente de um conjunto em série de duas fileiras de
pás — uma fixa e outra móvel: o vapor à alta pressão entra pelas pás fixas
que o redirecionam ao encontro das pás móveis, gerando torque sobre elas,
que é transferido ao eixo. A trajetória do vapor é essencialmente paralela ao
eixo girante, portanto é uma máquina axial. Quanto ao modo de atuação do
vapor, este pode ser: de ação (Laval, Curtis, Rateau), de reação (Parsons, mas
menos usado) ou misto. A Figura 4a, a seguir, apresenta um exemplo de uma
turbina a vapor desmontada para a manutenção.
10 Máquinas de fluxo — turbinas
Essas turbinas não trabalham isoladas, mas acopladas a outros três com-
ponentes básicos: um condensador, um compressor e uma caldeira. Esses
quatro elementos, quando agrupados, funcionam em um ciclo, chamado Ciclo
Rankine, que, na termodinâmica, é amplamente estudado e pode ser conferido
em mais detalhes em Çengel e Boles (2013) e Moran et al. (2018).
São equipamentos versáteis, sendo amplamente utilizados em termelétricas,
indústrias navais e indústrias de processos em geral, principalmente onde se
requer energia elétrica ou energia térmica para aquecimento. Para termos
uma ideia da relevância desse equipamento, 24% da energia elétrica gerada
no Brasil, em 2019, é produzida por centrais termelétricas, que utilizam as
turbinas a vapor, ficando atrás somente das turbinas hidráulicas em termos
quantitativos.
Turbinas a gás
As turbinas a gás são equipamentos que extraem energia a partir da combustão
para gerar energia mecânica. Em termos construtivos, é similar às turbinas a
vapor, com pás fixas e móveis, que são as responsáveis por transferir a energia
do gás à alta pressão e temperatura (são as que trabalham com as maiores
temperaturas) ao eixo. São classificadas como máquinas axiais (embora haja
alguns exemplos de radiais) e podem ser de ação ou reação.
É importante ressaltar que o nome faz referência ao fluido de trabalho,
ou seja, ao gás que percorre as pás, não necessariamente porque o fluido
comburente seja um gás (pode ser, por exemplo, querosene ou óleo diesel).
Operam em conjunto com mais dois componentes — o compressor e a
câmara de combustão —, seguindo usualmente o assim chamado ciclo Brayton.
Maiores detalhes sobre o funcionamento desse ciclo podem ser encontrados
em Çengel e Boles (2013) e Moran et al. (2018).
Esses equipamentos têm diversas aplicações, podendo prover energia para
funcionamento de trens, navios, bombas, compressores, planas elétricas e
aeronaves. A Figura 4b apresenta um exemplo de uma turbina a gás usada
em plataformas de petróleo.
Máquinas de fluxo — turbinas 11
Figura 4. Exemplos de turbinas: (a) turbina a vapor passando por reparo e (b) turbina
a gás, usada em uma plataforma de processamento de óleo e gás.
Fonte: Adaptada de arogant/Shutterstock.com e Mr.PK/Shutterstock.com.
Turbinas eólicas
As turbinas eólicas usam a energia do fluxo de ar para gerar energia mecânica
na forma de rotação de eixos que são acoplados aos geradores para produzir
energia elétrica. Atualmente, essas turbinas têm ganhado notoriedade por
12 Máquinas de fluxo — turbinas
Turbinas hidráulicas
A Figura 5 mostra uma configuração básica de um sistema com uma turbina
Francis acoplada a uma represa. A energia máxima disponível na represa é
representada pela carga bruta (H bruta), que corresponde à diferença entre as
cotas máxima (ZA) e mínima (ZE). Entretanto, não é toda energia disponível da
água que se transforma em energia mecânica na turbina: há perdas por atrito
ao longo do escoamento na represa e nos canais, além de perdas volumétricas
devido à fuga do fluido por frestas e conexões.
Assim, a energia de fato disponível para a turbina — energia líquida (ou
carga líquida H) — corresponde à diferença entre as energias da água no ponto
B e C, conforme apresentado na equação (1):
Conduto Carga
forçado bruta
Comporta EGLentrada Hbruta
(aberta)
Turbina E
Represa C
Canal de rejeição
Plano de referência arbitrário (z = 0)
P V2
H= + + z (4)
γ 2g
onde P é a pressão da água no ponto especificado, γ é o peso específico,
V é a velocidade da água, g é a aceleração da gravidade, e z é a altura em
relação a uma referência.
Convencionou-se usar o H (em m.c.a), pois, para sistemas hidráulicos, a
fonte primordial de energia é a energia potencial, que depende da diferença
entre a altura entre dois pontos. À medida que a água escoa pelo sistema, parte
dessa energia potencial transforma-se em pressão ou energia cinética, que são
posteriormente absorvidas pela turbina.
Turbinas eólicas
Para as turbinas eólicas, a fonte fundamental de energia é a energia cinética,
diferentemente das turbinas hidráulicas, em que a energia potencial é usu-
almente a fonte básica de energia. Observe, na Figura 6, que, ao passar pelo
disco da turbina, há uma redução substancial da velocidade do vento, visto
que parte de sua energia cinética foi absorvida pelo rotor.
Máquinas de fluxo — turbinas 15
Posição do disco
V ou P V da turbina
3 4
1 P
2
Patm
0
0 Distância ao longo da
direção do escoamento, x
Figura 6. Representação da variação de pressão e da velocidade do vento
ao longo do escoamento por um disco de turbina.
Fonte: Adaptada de Çengel e Cimbala (2015, p. 852).
V1 – V3 (5)
a=
V1
ρ1A1V1 = ρ3A3V3
BISTAFA, S. R. Mecânica dos fluidos: noções e aplicações. 2. ed. São Paulo: Blucher,
2016. 348 p.
ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH; Bookman,
2013. 1048 p.
ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: fundamentos e aplicações. 3. ed.
Porto Alegre: AMGH; Bookman, 2015. 1016 p.
FONTES, O. H. P. M. Turbinas a Vapor. Rio de Janeiro: Fundação Técnico Educacional
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LIMA, A. G. G. Turbinas Eólicas. Geração de Energia Elétrica, Rio de Janeiro, [20--?]. Dis-
ponível em: http://www.antonioguilherme.web.br.com/Arquivos/eolica_turbina.php.
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MORAN, M. J. et al. Princípios de termodinâmica para engenharia. 8. ed. Rio de Janeiro:
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Acesso em: 19 mar. 2019.
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Leituras recomendadas
BRASIL, A. N. Teoria geral das máquinas de fluxo. In: BRASIL, A. N. Hidráulica básica e má-
quinas de fluxo. Itaúna: Faculdade de Engenharia, Universidade de Itaúna, 2013. cap. 2. p.
22–63. Disponível em: http://www.alexbrasil.com.br/_upload/dfc35dabbfd367395c3e-
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FOX, R. W.; MCDONALD, A. T.; PRITCHARD, P. J. Introdução à mecânica dos fluidos. 8. ed.
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POTTER, M. C.; WIGGERT, D. C. Mecânica dos fluidos. Porto Alegre: Bookman, 2018. 258 p.