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pessoas, tudo parece ser “exagerado”. Vivemos no tempo do exagero; o sexo é
explícito, as drogas são pesadas, a violência chega a ser extrema.
Qual seria a função desse exagero? Precisam os adolescentes de hoje, ter
experiências tão extremas? Exageramos algo quando queremos chamar a atenção
para aquele fato, quando queremos ou precisamos salientar algo. Isto pode
acontecer de algumas formas: 1 – para ressaltar um pensamento ou um
conhecimento, como quando sublinhamos um texto ou escrevemos em negrito; 2 –
para enfatizar emoções de amor, como nos poemas de amor tipo Romeu e Julieta;
3 – para ressaltar emoções de ódio, como nas ofensas desmedidas, ou crimes de
ódio. Penso que por trás do exagero, há uma esperança e um pedido para que se
ouça quem está esbravejando. Percebemos que as várias formas de violência são
exageros nas áreas do amor e/ou do ódio, à procura de alguém que as “ouça” ou
que as “veja”, podendo então conter o caráter excessivo da explosão de violência,
seja para fora ou para dentro do indivíduo.
A violência, deste ponto de vista, além de ser uma forma de expelir o que
não se está sendo tolerado, é também pedido de socorro, de uma forma
desesperada. Lembro-me de um jovem que tratei terapeuticamente, que precisava
se ferir violentamente (e em público), para atrair olhares e cuidados familiares. Ou
de uma outra pessoa que se vestia toda de preto, com um coturno pesado, correntes
espalhadas pelo corpo e a face tatuada, como tentativas de se fazer viva – vista: ao
andar pelas ruas chocando as pessoas, elas olhavam para ela, e isso a fazia sentir-se
existindo nesse mundo, do contrário, não sendo vista, não existia (morria). Como
disse Fernando Pessoa: Morte é curva na estrada, morrer é só não ser visto.
No entanto, não basta apenas “olhar” e “conter” a violência, é preciso que
haja uma transformação benigna da dor desesperada que está sendo expelida e
comunicada, para que não haja necessidade de novas ou tão violentas (exageradas)
explosões. Necessidade de algum extravasamento de conteúdos mentais dolorosos
que não podem ser tolerados, provavelmente todos nós temos e teremos. A questão
aqui está na qualidade e intensidade destas vazões e na capacidade de continência
amorosa de quem puder “ouvir” este tipo de “grito de dor” ou pedido de socorro.
Os adolescentes, na tentativa de crescer, muitas vezes escolhem caminhos
que lhes são prejudiciais. Às vezes, gritar por socorro se auto-agredindo (ou aos
outros) acaba afastando quem mais poderia ajudá-lo a se desenvolver, ao invés de
se aproximar e criar intimidade.
Onde buscar solução?
A solução deste conflito reside no desenvolvimento da capacidade para
pensar e sentir nossas emoções. Os adolescentes de hoje, tem primado pelo
imediatismo, pelos prazeres instantâneos, não podem esperar ou se frustrar. Onde
não se pode esperar, não se instala a “manjedoura” para o nascimento dos
pensamentos. Há uma dissintonia do tempo e do espaço, não sobrando lugar e
momento para a evolução das atuações impulsivas rumo ao sentido e ao
significado. Dos rachas e brigas de rua, das drogas e sexo impulsivo, da violência
dos “esportes” que visam “hipertrofia muscular” do cérebro; precisamos rumar
para a nomeação das ansiedades e angústias dos adolescentes, gerando
transformações benignas de crescimento.
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Como pais, terapeutas e educadores, devemos colaborar junto ao jovem no
desenvolvimento de “tempo” e “espaço” para conviverem com frustração. Onde há
a frustração de um impulso, de um prazer imediato, surge a possibilidade para
pensamentos, e para a inscrição da espera e criação do novo. Frustração é fator de
crescimento mental e é diferente de privação. Diante de uma frustração o jovem se
revolta e se houver alguém ao seu lado, com amor, poderá lhe dizer algo como:
“Eu sei que você gostaria disto agora, mas não pode ter pelo seu próprio bem”.
Privação é abandono afetivo, é lugar de desesperança, inútil para o crescimento.
Frustração bem dosada ensina a pensar a passagem do físico para o mental, do vir a
ter (a droga, o super-carro zero km, a roupa da marca mais tal, o corpo super-
musculoso) para vir a ser (integridade, responsabilidade, ética e criatividade).
Este caminho passa pela capacidade de “sonhar”. O pensamento do
adolescente muitas vezes mostra-se empobrecido. Para não perceber suas dores, há
empobrecimento mental. Sua conversa carece de significados, de metáforas. Não
se lê mais nada, não se vai ao cinema, teatro, concertos de música... Atividades
que, por sua riqueza intrínseca, poderiam ajudá-los a sonhar e a pensar... Há que se
estimular o sonhar. Se o jovem não consegue ‘sonhar’ por si mesmo, podemos
chamá-lo, para ‘sonhar’ conosco, como se pintássemos uma tela juntos, ou
criássemos uma música a quatro mãos. Isto certamente tem o poder de estimular
capacidades antes paralisadas ou “enferrujadas”, restabelecendo movimento,
circulação, oxigenação de áreas da personalidade em estado de hibernação,
asfixiadas ou autistas. Essas atitudes fazem bem também para o adulto que se
dispõe a esse trabalho emocional, sejamos nós pais, irmãos ou analistas da criança
ou do jovem em questão.
O resultado deste trabalho é revigorante, pois uma parte adolescente temos
em todos nós, porque já o fomos e não devemos deixar de sê-lo; pois no espaço
desta bela idade, há questionamentos, muita vitalidade e alegria, busca do novo,
coragem para rupturas com formalismos enferrujados e arcaicos. “Adolescer” é um
estado da mente e não deve ser confundido com doença, com “adoecer”. Se bem
conduzida é uma fase do desenvolvimento humano importante que poderá levar à
lideranças sociais, individuais e políticas; e o mundo a um rumo mais saudável,
justo e progressista.