Você está na página 1de 346

Copyright © 2023 G.

BENEVIDES

REVISÃO: Camila Brinck


DESIGN CAPA: Thatyanne Tenório
DIAGRAMAÇÃO: G. Benevides

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais, é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua
Portuguesa.
Todos os direitos reservados.

TENTAÇÃO SOMBRIA
1° Edição Digital | Criado no Brasil.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer


parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível
— sem o consentimento escrito da autora.
Sumário
Dedicatória
Sinopse
Esse livro contém
Playlist
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Epílogo
Gostou? Deixa uma avaliação
Em junho vem aí!
O que vem agora?
Quais são os próximos livros?
Redes sociais
Conheça outros livros da autora
Agradecimentos
 
Dedicatória
Para todos que se apaixonaram pelo demônio mais novo, agora eu lhes dou
um daddy tatuado, ou melhor, um velho chifrudo que sabe muito bem como
usar a cauda, a língua e até as mãos de um jeito... diferenciado.
 
Sinopse
Vladimir Dark Elf sempre foi conhecido por ser um macho
controlado e amigável com os humanos, diferentemente dos outros
persaneses de sua espécie. Por isso ele construiu uma carreira como um
político respeitado, apesar de seus longos chifres, rabo e natureza selvagem
oculta.
Ele acha que tem tudo sob controle em sua vida, mesmo sobre
assuntos dolorosos, como a morte recente de sua esposa, por exemplo. Até
que conhece uma adolescente chamada Crystal que o faz mostrar um lado
animal seu que não estava pronto para encarar.
A garota passa a segui-lo por todos os lugares, completamente
obcecada por ele, o que irrita bastante o senador e o obriga a tomar medidas
mais firmes para impedir a sua stalker de continuar a persegui-lo.
Oito anos se passam e Vladimir, agora com alguns cabelos brancos na
cabeça e mais experiência, acredita ter conseguido se livrar da menina. Até
que algo estranho desperta em seu corpo e a única pessoa capaz de ajudá-lo
agora é Crystal, que já não é mais uma menina, e que estudou medicina
especializada em persaneses no único curso desse tipo em todo o mundo.
Esse livro contém
Diferença de idade de 20 anos entre o casal, mocinha plus size, daddy
tatuado, cio, casal briguento, possessividade, breeding kink, fisting vaginal,
uma língua muito longa, rabo que faz DP, mordidas, piercing no pau, garras,
chifres, squirting, degradação, dominação, praise kink, uma médica da
língua afiada e um senador que irá negar os seus sentimentos.
Atenção aos possíveis gatilhos leitores sensíveis:
Assédio sexual, tentativa de estupro, violência física e verbal.
Playlist
 
Quer ouvir as músicas tema de Vladimir e Crystal? Escaneie a imagem
abaixo

 
Ou
Clique aqui
Capítulo 1
Oito anos atrás

Quando eu tinha dezesseis anos as empresas da minha família faliram.


A minha mãe quase arrancou os cabelos de sua cabeça pensando em como
nos recuperar, enquanto o meu pai começou a passar todos os dias em sua
poltrona olhando para uma de nossas estantes de livros, sem dizer uma
palavra sequer.
Sabíamos que a partir daquele momento nada mais seria o mesmo,
porém, nenhum de nós conhecia a vida sem dinheiro, e principalmente o
meu pai e a minha mãe estavam em choque com o desmanche do que
parecia ser eterno. Sempre estivemos no topo, conhecidos por toda Red
Town. Éramos os Parkers, frequentávamos os melhores lugares e tínhamos
conexões em todo os Estados Unidos.
Foi por isso que assim que a mudez do meu pai passou, ele decidiu
que não iríamos nos juntar a todas as outras famílias que viviam um pouco
mais humildemente. Ele não queria ser comum, não prometeu isso à minha
mãe quando se casou com ela, então decidiu iniciar a sua vida política.
O problema foi que a partir do momento que as outras pessoas
notaram que as nossas dezenas de fábricas estavam falidas, tudo mudou, e
isso ainda se juntou a nossa cor de pele, pois somos negros e as pessoas
sempre estiveram esperando o momento certo para pisar em nossas cabeças.
Troquei de escola, perdi amizades e as mordomias do dinheiro, e virei
a excluída no canto da sala enquanto aqueles malditos adolescentes racistas
tentavam me humilhar.
Mas para falar a verdade, a pior parte de tudo isso foi ser obrigada a
começar a ir nessas grandes festas de políticos, para quem sabe, chamar
atenção de algum homem que quisesse uma adolescente revoltada para
cuidar, ou melhor… para abusar.
Talvez algum dia os meus pais tenham se importado comigo, contudo,
isso foi bem antes do bolso deles ficar furado. Depois disso eu virei uma
mercadoria que ofereciam em troca de algum lugar nas melhores mesas de
Red Town. Tudo por status. Tudo para continuar no topo, mesmo que o topo
fosse embaixo de algumas pessoas bem mais ricas.
Para me defender disso eu assumi um comportamento cada vez mais
reativo, porque se eu fosse boazinha algum velho estranho iria me querer. A
resposta para tudo era sempre não e eu construí uma boa armadura, de
adolescente mimada, irritada e desinteressada. Sabia que cada passo dentro
daquele mundo que os meus pais estavam trilhando era uma armadilha. Eles
queriam se vender, eu não.
“Quer vir aqui na minha casa conhecer os meus cavalos, Crystal?”
“Não.”
“Quer roupas novas, Crystal?” “Não.”
“Que tal vir até aqui na minha salinha privativa?” “Não.”
Fui escapando festa após festa, dia após dia, mas depois de alguns
meses voltou a ficar confortável, o meu pai desviou muito dinheiro em seu
novo cargo no governo e eu me achava esperta por dar grandes escândalos e
encontrar esconderijos em todas as festas, onde passava o meu tempo
bebendo champanhe que me deixava alegrinha e me faziam esquecer dos
meus arredores.
Porém, um dia eu deslizei, porque não era mais um político querendo
se aproveitar da filha dos Parker, era um garoto da minha idade que se
aproximou dizendo como todas aquelas festas da alta sociedade eram
irritantes.
Ele tinha olhos castanhos e era alto, com cabelos negros e enrolados,
um longo rabo e chifres no alto da sua cabeça que me fizeram quase morder
a língua de tanto susto da primeira vez que o vi. Era como um anjo caído,
diferente de tudo que eu já tinha visto no colégio com as minhas ex-
melhores amigas.
Persaneses estavam o tempo todo na TV, eles eram a elite e
misteriosos pra cacete. Esses tais elfos simplesmente brotaram há uns
setenta ou sessenta anos atrás e se apresentaram como uma nova raça,
quando todo mundo achava que isso era coisa de Senhor dos Anéis.
Porém, como eram muito ricos, pois a ilha de onde vieram era cheia
de pedras e cristais preciosos, não foram muito questionados sobre o porquê
de se parecerem muito mais com demônios do que com elfos.
Eu nunca tinha tido contato com um desses seres extraordinários até
aquele macho de cabelos enrolados aparecer. Ramon era sobrenatural,
misterioso, falava de sua terra natal, Cosmos, como se fosse o paraíso, e me
trazia mais bebida escondida do que eu poderia pedir.
Ele dizia conseguir sentir o cheiro de tudo em mim, ouvir coisas que
estavam acontecendo a quilômetros com as suas orelhas pontudas, cheias de
piercings, e às vezes ele até rosnava.
O problema era que os persaneses eram, e ainda são, um grande
segredo para os humanos, ninguém sabia de verdade do que eles eram
capazes. Que tipo de monstros escondiam por baixo de seus lindos rostos.
Persaneses são movidos por seus instintos e por uma fome que os faz
passar por cima de todos. Eles são rápidos como grandes felinos e têm uma
força descomunal. Tudo isso Ramon foi me mostrando pouco a pouco, me
contando histórias que me deixavam fissurada.
O que eu não sabia era que aquela era só uma outra maneira dos meus
pais me venderem. Eles fingiam não gostar dele, só para eu querer ficar
mais ao lado do garoto que quase me matou no último dia que o vi, isso se
não fosse por um outro homem… um que ficou gravado no meu corpo para
todo o sempre.

Ramon tinha acabado de me fazer beber três taças de champanhe


quando as suas mãos começaram a deslizar pelo meu corpo. O garoto tinha
grandes garras e pouco a pouco elas foram rasgando os babados do meu
vestido e os fazia cair no chão escuro daquele pedaço coberto e deserto da
mansão Dark Elf.
— O que você está fazendo? — perguntei, sentindo mais cócegas do
que qualquer coisa com o jeito que ele me tocava.
— Você me disse que era esperta, então agora quero saber como
vocês humanas fazem as coisas — argumentou, dando um sorriso
pontiagudo, com os seus caninos pálidos de fora enquanto me encostava
mais contra uma larga e longa pilastra.
— Não estou a fim disso agora — resmunguei e coloquei as mãos
dele para longe.
— Vamos lá, Crys, me mostre como você gosta das coisas.
Eu menti para ele que já tinha dado o meu primeiro beijo há séculos e
feito até mais do que isso, assim não pareceria uma tola. Mas a verdade é
que só fui fazer alguma coisa anos depois, então ser tocada por Ramon me
causou uma onda de calafrios que fiz o melhor para esconder e para garantir
para mim mesma que era só o frio, não medo.
Afinal de contas Crystal Parker não tinha medo nunca.
— Alguém pode nos ver. — Neguei com a cabeça.
O meu colo estava exposto demais pelo vestido colado que a minha
mãe escolheu para eu usar naquele dia. Ela sempre selecionava as roupas
mais chamativas para quem sabe trazer logo algum homem rico. Ninguém
parecia se importar que uma garota adolescente estava sendo claramente
ofertada por seus pais.
— Já estamos nisso há pelo menos um mês, nos vemos várias vezes
por semana e nunca passamos dos beijos. — Fica sério de repente, com os
lábios formando uma linha reta de desapontamento. O mesmo tipo de linha
que eu causava em todos. — Você não quer ser minha namorada? —
perguntou de forma quase inocente e esperançosa. Quase.
Eu reconheci o tom manipulador, não era boba. Mas eu também sabia
que ser namorada dele seria algo que me levaria a um passo de entrar para a
sua família. Eles não eram tão ricos quanto os Dark Elf, donos de tudo em
que estávamos no momento, contudo, com certeza seriam bons o bastante
para me tirar das mãos dos meus pais.
E Ramon era melhor do que qualquer político estranho…
— Claro que quero ser a sua namorada. Isso é um pedido? — Arqueio
as sobrancelhas e dou uma risadinha.
“Isso seria bom para mim. Ele é bonito, da minha idade e tem
dinheiro. Tudo se resolve e eu saio ganhando.” Foi o que pensei na época.
— Quer mesmo, Crys? — A voz dele ficou mais para animal do que
para humana conforme o seu dedo indicador começou a descer e foi
rasgando o vestido por onde passava. Chegou até a arranhar a minha pele de
um jeito desconfortável e ardido.
— O que você está fazendo?! — perguntei rápido e tentei impedir,
mas ele me segurou firmemente com uma mão e com a outra foi até a
metade da minha barriga partindo a roupa ao meio, o que me fez sentir com
mais força o frio da noite. Ele me arranhou de cima para baixo, um
arranhão fino e quase imperceptível, mas ainda assim um arranhão. — P-
por que você está fazendo isso?! Está maluco?! — O meu lábio inferior
começou a tremer enquanto eu tentava me cobrir e as suas narinas se
expandiram.
Ele inalou profundamente e os seus olhos brilharam um vermelho
muito profundo, que iluminou até o meu rosto.
— Você está cheirando a medo. — Isso pareceu agradá-lo e Ramon
me soltou, para eu me cobrir. Por pouco ele não conseguiu uma boa olhada
nos meus seios e eu ia precisar do meu casaco para voltar para casa sem
parecer que fui atacada por um bicho. — Mas não precisa ter medo de mim,
somos namorados agora, você só precisa fazer uma coisa…
— Que coisa?! Você só pode ter pirado se acha que vai acontecer algo
entre nós dois aqui!
Eu sabia que para entrar para a família Newmoon iria precisar me
submeter a esses instintos estranhos dele. No final das contas, eu só estava
fazendo o que a minha mãe iria gostar, mesmo depois de meses tentando
negar as investidas dos homens ricos da alta sociedade que queriam uma
adolescente para manipular.
— Que tal brincarmos um pouco? Você corre e eu vou atrás —
sugeriu, se afastando de mim, que continuei encostada na pilastra me
abraçando e tentando conter o terror de ver Ramon com os seus olhos
brilhando e a cauda com textura de camurça batendo de um lado para o
outro ruidosamente.
— Por que faríamos isso?! Você me machucou! — acusei, segurando
uma porção de palavras dentro da boca. Eu queria xingá-lo, queria gritar
mais, porém, não podia. Estava claro para mim, que aquela já não era só
mais uma brincadeira.
— É uma coisa que a minha espécie gosta de fazer. — Deu de ombros
e voltou a sorrir mostrando as presas.
Ele estava animado para que eu corresse, agitado só com a ideia.
— Qual o seu problema, garoto? Não vou correr por aí! Quer brincar
de pega-pega depois de ter rasgado a minha roupa? — Soltei uma
respiração alta e irritada pelo nariz e comecei a me afastar em direção ao
interior da mansão. Não me importava mais que me vissem com a merda do
vestido fino rasgado, só queria me proteger. —  Vou voltar para a festa e…
Ramon não me deixou terminar a frase, pois de repente usou mais das
suas garras no meu vestido, o que fez a peça se partir até a parte da minha
virilha e quase cair do meu corpo, se não fossem os meus instintos rápidos.
Gritei alto com as suas garras afiadas mais uma vez me arranhando de
leve enquanto destruiu a roupa e os meus olhos se encheram de lágrimas na
hora, sem saber o que fazer além de tentar segurar o pano desfiado, para
que não visse ainda mais de mim, já que só usava calcinha e nenhum sutiã
para não ficar marcando no vestido.
— E agora, Crys? Agora quer brincar? — murmurou com um
sarcasmo, que me deixou fervendo de raiva.
— Por que fez isso?! Porra, eu estou quase pelada! — As lágrimas de
ódio foram escorrendo pelo meu rosto. Ele estava me fazendo sentir exposta
e violada, sem escolha. Como um tipo de bicho encurralado na frente de um
predador imprevisível.
— Se você correr, eu posso te ajudar com as suas roupas depois —
ofereceu, achando graça do meu desespero.
— Vai se foder, Ramon! — berrei descontrolada, com o rosto quente
de vergonha, mas antes que pudesse continuar a falar, ele simplesmente
atingiu o meu rosto do lado direito com um tapa doloroso e que primeiro
começou com uma ardência, para depois virar dor.
Ramon cravou em mim as suas unhas longas, o que me fez gritar
desesperadamente e segurar o meu rosto, com os meus seios e barriga de
fora. O sangue jorrava de mim por cada buraco fundo que ele fez e por
pouco o persanes não atingiu o meu olho direito. Poderia ter me cegado.
— A sua voz irritante está machucando os meus ouvidos, humana
imbecil! — rosnou e levantou o braço como se fosse me bater de novo, o
que me fez encolher. — Você é a presa e vai correr como eu estou
mandando e se submeter a mim!
O persanes estava agindo diferente do que havia se mostrado até
agora, descontrolado, e eu sabia que tinha que me esconder antes que
piorasse. Só que estávamos na parte traseira da mansão, perto do jardim
largo e quase interminável do dono rico dessa casa. Não tinha mais
ninguém para me ajudar e já estava muito escuro.
— Pare com essa brincadeira, por favor! Não vê o que está fazendo?!
— choraminguei com a dor do ferimento me fazendo ter dificuldade de
respirar e de pensar.
Nunca tinha sentido nada daquele jeito, com a carne do meu rosto
aberta e a quentura do sangue descendo e banhando a minha pele, então
acabei caindo no chão, querendo me esconder e estancar o sangramento.
— Corra agora! — Voltou a avançar contra mim, mesmo que eu
estivesse lutando para não ser tocada, porque se ele foi capaz de abrir o meu
rosto daquele jeito, poderia fazer muito mais.
— Não, me deixe em paz! — gritei e mesmo assim ele me colocou de
pé à força, comigo lutando contra as suas mãos, rasgou mais a minha roupa
e me empurrou para o gramado descoberto, o que me fez cambalear e torcer
o pé, pois usava sandálias de salto muito altas.
A dor viajou pela minha perna toda, feito um choque elétrico, e eu
gritei mais. Estava tudo errado, tudo absolutamente errado e o medo já
havia me dominado até os ossos.
— Vamos, corra, humana suja!
— Pare! O que você está fazendo?! Sou eu, Crystal! Por que você
está descontrolado assim? — Solucei segurando o meu rosto ferido,
enquanto o vestido escorregou do meu corpo e eu cambaleei para longe. Foi
a coisa mais humilhante que já passei em toda a minha vida.
— Vou contar até três para você começar a correr de verdade! —
gritou atrás de mim.
— Pare com isso, por favor — implorei atordoada, andando
cegamente no jardim esburacado e frio. — Por favor, Ramon, pare com-
com isso.
— Um… Dois…
— Pare! — berrei, com as minhas lágrimas se misturando com o meu
sangue. — Volte a ser normal, por favor!
— Corra, humana mentirosa, que só quer o dinheiro da minha família
— disse entredentes e eu quis começar a obedecê-lo, porque ele claramente
sabia que além de gostar dele, eu também gostava da proteção que ele
poderia me dar.
Só que o meu pé estava mais machucado do que eu imaginava e era
impossível ir muito longe no gramado de solo úmido e que foi impedindo
os meus passos de serem eficientes.
— Três! — Foram as suas últimas palavras.
Eu tentei correr, sentindo agulhadas no tornozelo torcido a cada
passo, tentei parar de chorar para ver para onde é que eu estava indo, mas
sabia que não tinha como impedi-lo de nada, então esperei pelo impacto,
esperei por mais violência, com suor frio escorrendo pelas minhas costas,
mas o impacto nunca veio.
Ao invés disso, escutei um som alto de um corpo se chocando contra
o outro, o que me fez virar com dificuldade e tentar me livrar dos meus
cabelos no meu rosto.
Eu não sabia de onde tinha vindo o adversário de Ramon ou quem ele
era, só o que sabia é que o outro macho persanes era muito maior do que o
garoto Newmoon.
Ele usava um terno completamente preto, ou pelo menos era isso que
parecia durante os seus movimentos rápidos para cima de Ramon, e o seu
corpo tinha quase o dobro do tamanho do garoto.
Com mãos grandes e tatuadas, o estranho cravou as garras no corpo
do outro e o imobilizou contra o chão a alguns metros de mim, que fiquei
paralisada no lugar, só de calcinha e sangrando.
“Me largue, seu filho da puta!” Foi a única coisa que consegui
entender no meio dos rosnados que mais pareciam de um bicho grande e
não daqueles dois homens, até que Ramon soltou um grande uivo que me
deixou ainda mais trêmula.
Sem conseguir acreditar nos meus olhos, eu assisti o desconhecido
simplesmente puxar e arrancar fora o braço do garoto. Ele não pensou um
segundo antes de fazer, só puxou e arrancou sem piedade. Escutei os ossos e
a carne se partindo numa velocidade inacreditável.
— Que porra é essa? — sussurrei. O sangue de Ramon jorrava e ele
passou a choramingar feito um filhote de algum animal, enquanto o cara
ficava em cima dele, o encarando com olhos laranjas brilhantes e o braço
arrancado em mãos. Foi a cena mais surreal do mundo.
— Volte para os seus pais e diga que fui eu quem arranquei! Diga que
foi Vladimir Dark Elf quem arrancou a porra do seu braço, e se algum deles
tentar fazer algo contra mim, irei arrancar as cabeças deles na sua frente! —
rosnou alto, um som que fez o meu corpo todo tremer ainda mais, e depois
jogou o braço imóvel longe como se fosse só um objeto qualquer. — Você é
um macho sem honra! Snifli nain! Macho podre! — Então Vladimir
simplesmente cuspiu na cara de Ramon, antes de virar o seu rosto na minha
direção e me fazer tremer mais ainda.
Capítulo 2
Oito anos atrás

Fiquei em choque naquele momento, sabia que estava pelada na


frente de um cara com o dobro da minha idade, porque ele devia ter uns
trinta e alguma coisa, mas simplesmente não conseguia me mover.
Vladimir tinha sobrancelhas grossas e escuras, assim como o seu
cabelo bem cortado e ordenado no lugar, mesmo depois de tudo. Os seus
lábios carnudos estavam sujos de sangue e levantados, expondo uma fileira
de dentes perigosos, e os seus olhos continuavam a brilhar um laranja que
tomava tudo, até mesmo suas escleras. Era surreal e ao mesmo tempo era…
real até demais, só a alguns passos de mim.
Aquele era o mais novo senador do meu estado, eu o reconhecia como
o cara que debatia com palavras difíceis cada vez que tinha uma chance,
defendendo a sua espécie. Ele era o mais conhecido dos Dark Elf, o
exemplo, o controlado e agora… tinha cometido um crime inimaginável
sem pensar duas vezes para me defender.
Agora ele era só um animal, ou… talvez nós dois fossemos animais.
Só que Vladimir era o predador poderoso e forte e eu a presa idiota.
Vários arrepios desceram pelo meu corpo, por conta do vento
soprando forte e fazendo as árvores tremularem, e também porque eu estava
presa no olhar do homem que me salvou, que respirava rápido, com o seu
musculoso peitoral subindo e descendo com velocidade.
Os olhos brilhantes, as presas, o rabo escuro batendo forte, os chifres
como o de um diabo no alto de sua cabeça. Tudo nele me hipnotizava. Mas
então Ramon, ainda embaixo dele, mais exatamente deitado entre as pernas
do senador de terno e gravata, fez um som mais forte de dor e aquele
momento estranho acabou. Se foi como fumaça.
— Você arrancou o meu braço — falou, com o resto de voz em sua
garganta. Devia estar doendo pra caralho, talvez exatamente como doeria
em mim se ele tivesse conseguido me pegar.
— E vou arrancar a sua cabeça pelo que pretendia fazer, para nunca
mais ter a chance de tentar! — rosnou forte e direcionou as suas garras para
o garoto.
Vladimir não se importava que tinha acabado de romper os ossos e
ligamentos e sei lá mais o que tinha na junção do ombro com o braço de
Ramon. E eu? Eu também não sabia se me importava. Não naquele
momento, pelo menos, que estava só de calcinha, com metade do rosto
mutilado e me sentindo suja e perdida.
— Se me matar, o meu pai vai matar você e o merdinha afeminado do
seu filho — ameaçou, gaguejando e perdendo cada vez mais sangue, que
escorria para o gramado e manchava tudo em volta. Mas eu desvio o olhar,
não posso encarar de verdade o ferimento ou não sei o que será de mim.
Talvez um humano tivesse ficado inconsciente depois de algo assim,
mas Ramon não, ele era forte e aguentou perder um membro e continuar
falando.
— Você já está morto, Snifli nain! — Voltou a repetir a palavra
desconhecida e depois seguiu falando outras coisas que eu não entendi, mas
que com certeza eram xingamentos e ameaças, pelo tom e pela forma como
cuspiu pela segunda vez no rosto do outro. — Hoje você morre — disse
entredentes enquanto pisava no ombro de Ramon para grudá-lo no chão e o
fez urrar de dor.
— E amanhã o meu pai mata toda a sua família!
— Vamos ver quem tem mais poder… — Começou a se abaixar, para
alcançar a garganta do garoto. Ia matá-lo por mim, sem nunca ter me visto
na vida, enquanto os meus pais que me criaram tentavam me vender.
— Não! — A voz feminina ecoou e Vladimir virou a cabeça na minha
direção, o que me fez entender que fui eu quem gritou o que estava somente
nos meus pensamentos. Então a minha boca se abriu e fechou algumas
vezes antes de eu conseguir formar a frase que precisava dizer.
— Talvez seja perigoso e-e a família dele pode… — tentei continuar
falando, contudo, infelizmente os meus olhos viajaram até a ferida aberta de
Ramon, já que o Dark Elf rasgou também a camisa branca do outro, e a
minha barriga se revirou de um jeito que o ácido subiu na hora pela minha
garganta e eu soltei um jato de vômito em direção ao chão.
— Merda… — Vladimir murmurou, enquanto eu continuava
vomitando, sem conseguir controlar o fluxo de líquido saindo da minha
boca. — Saia daqui, garoto idiota!
Pelo canto do olho observei Vladimir se aproximar, sem mais segurar
Ramon, que foi saindo do lugar, o que me fez vomitar mais forte ainda.
— Ele te feriu em alguma parte do corpo antes de eu chegar? —
Vladimir perguntou e eu consegui me colocar ereta para ver o maldito
imbecil correndo para longe sem o braço.
— Bebi um pouco — sussurrei, com a garganta queimando por conta
do ácido e soltando mais um jato de vômito que quase atingiu o senador,
que foi mais rápido em se esquivar.
— Ele te machucou em outros lugares ou… — ele travou no meio da
frase, porque os seus olhos haviam começado a descer pelo meu corpo e
depois pararam e subiram rápido de volta para rosto, ao finalmente perceber
que eu estava nua. — Que merda! — exclamou e esfregou a cara com força,
com os seus olhos brilhando tão forte que fez linhas por baixo da sua pele.
— Diz pra mim que ele não conseguiu fazer… o que estou pensando.
O jeito pesaroso como falou instalou um gatilho dentro de mim, como
se sua frase finalmente enfiasse um pouco de entendimento dentro da minha
cabeça. E isso voltou a encher os meus olhos de lágrimas grossas que foram
descendo descontroladas pelas minhas bochechas.
— E-e-ele rasgou a-a minha cara e-e-e o meu vestido, depois me-me
mandou correr. — As palavras foram se atropelando na minha boca,
conforme eu assistia Vladimir virar de costas para mim e tirar o seu paletó
grande e preto. — Queria… queria… me estuprar.
— E aí eu peguei ele — Vladimir completou, se virando de volta para
mim e vindo com a peça de roupa para cobrir o corpo que ele não ousou
olhar mais de jeito algum. — E agora eu peguei você.
A abertura da peça ficou nas minhas costas, assim ela cobriu bem a
parte da frente do meu corpo, e ele enfiou os meus braços nas mangas.
Mesmo que eu fosse uma garota gorda, Vladimir era grande o bastante para
que eu vestisse bem uma peça sua e ainda sobrasse.
— O meu rosto está machucado — repeti, como se ele não pudesse
ver os arranhões gigantes. Os olhos brilhantes dele se semicerram,
avaliando o ferimento.
— Não se preocupe, vou arrumar isso, não foi assim tão ruim —
garantiu.
— Vai costurar o-o meu rosto? — Naquela época eu ainda morria de
medo de agulhas e sangue.
— Não, vou fazer algo que não vai deixar nenhuma marca e que não
vai doer — falou, mas não me explicou como isso seria possível. — E
agora eu vou te pegar no colo.
Ele simplesmente se abaixou e me pegou como se eu fosse algum tipo
de princesa que pesasse menos do que uma pena, colocando um braço nas
minhas costas e o outro atrás dos meus joelhos, o que me fez tremer de
medo e me revirar, querendo descer.
Ele ameaçou matar alguém por mim? Sim. A sua aparência era boa o
bastante para que tivesse qualquer mulher no mundo e não precisasse
abusar de uma adolescente? Sim. Mas mesmo assim ainda era suspeito e
malucos poderiam vir de todas as formas.
— Pa-para onde está me levando?! — perguntei, porque o homem
começou a caminhar comigo encostada em seu peitoral quente, sem me
deixar sair.
— Só vou te tirar daqui, menina, antes que a família daquele
merdinha chegue e queira encobrir o crime. Confia em mim? — perguntou
e eu não soube como responder. — Qual o seu nome completo?
— Crystal Parker — sussurrei, abraçando mais do paletó para que ele
não pudesse me ver, e desisti de tentar sair de seu colo.
No final das contas, se Ramon ou seus familiares tentassem algo, a
melhor pessoa para me defender estava me carregando, e o cheiro do
senador era estranhamente reconfortante para mim. Quente e masculino de
um jeito que não sei descrever, reverberando até na minha língua.
A cada passo daquele homem desconhecido, eu sentia um pequeno
solavanco, mas ainda estava atordoada e não conseguia prestar atenção aos
meus arredores, só olhava para o rosto de Vladimir. Para as suas feições
fortes e sobrenaturais. A linha do maxilar dele era toda coberta por barba e
ele também tinha bigode, o que o deixava muito sério.
— Tenho um quarto aqui, Crystal, essa é a casa da minha família, e
tenho um filho que deve ter a sua idade. Quantos anos você tem? — A voz
dele era sombria, sem revelar muito do que se passava em sua cabeça.
— Dezessete — murmurei, impossibilitada de conseguir conter os
tremores do meu corpo que aumentavam o frio no meu interior.
— Filipi é só dois anos mais novo que você, então não tem o que se
preocupar, menina, nunca olharia para alguém assim tão nova — falou e de
repente ele já estava empurrando uma porta aberta na lateral da casa onde o
jardim continuava e tudo estava tão escuro, que nem que eu quisesse
conseguiria entender onde me encontrava. Só o que brilhavam eram os
olhos de Vladimir.
— Eu-eu não sei o-o que fazer — admiti, com mais lágrimas
escorrendo e entrando na minha boca.
A situação havia saído completamente do meu controle e isso era
amedrontador, porque eu jurava que estava protegida de todo o mal com a
minha atitude durona e saídas estratégicas.
— Vai dar tudo certo a partir de agora — afirmou e eu fiz o melhor
para não chorar alto enquanto ele subia as escadas escuras comigo e andava
por corredores que não tive acesso nessa casa antes.

Alguns minutos depois o senador me deixou sozinha num banheiro de


azulejos pretos de seu grande quarto, onde pude tomar um banho rápido e
lavar com cuidado o meu rosto machucado e dolorido de um jeito que eu
nunca havia sentido na vida. Fiz o melhor para não olhar tempo demais no
espelho ou entraria em pânico, e também fiz o meu melhor para não chorar
mais.
Vladimir ficou do lado de fora e aguardou eu vestir uma camiseta
longa e simples sua e uma cueca samba canção que ele tirou ainda da
embalagem. Mas não parou de bater um segundo na porta para que eu
saísse logo e só sossegou quando me sentei na sua cama de casal, situada no
centro do cômodo em tons escuros.
Depois ele se ajoelhou na minha frente e me mandou fechar os olhos,
o que me fez tremer.
— O que vai fazer? Tenho que voltar logo pra casa.
Eu não o conhecia, e depois de ver a loucura de Ramon, qualquer
persanes pareceria perigoso.
— Faça o que mando e o seu rosto vai ficar como novo até o final da
noite — ordenou e depois de pedir mais algumas vezes e de eu testar a sua
paciência dizendo que era estranho demais, obedeci.
Com a sua língua muito longa e maleável, ele lambeu os meus
ferimentos, que ficaram anestesiados na hora. Arrepios estranhos se
espalharam pelo meu corpo todo com a textura da sua língua e o meu
coração martelava o meu peito.
Era surreal que tivesse tanto poder assim, de curar com a sua saliva
como me explicou, e mesmo o cheiro dele me deixou com o pé da barriga
gelado de tanta ansiedade, enquanto a minha cabeça ficou um pouco mais
limpa.
Vladimir Dark Elf disse que sabia quem a família Parker era, pois, a
minha mãe e o meu pai foram visitar a esposa doente dele em casa meses
atrás, mas eu preferi não falar que eles provavelmente só estavam tentando
conseguir alguma simpatia dele para ganhar dinheiro e fama.
Contudo, isso acabou levando a conversa para um rumo diferente, e
como se Vladimir precisasse muito desabafar com alguém que não tinha
poder nenhum de ameaçá-lo com os segredos contados, ele me falou sobre
Ellona, a sua melhor amiga e agora falecida esposa.
— Ela era como você? — perguntei, curiosa, enquanto olhava o meu
rosto no espelho e via que uma casquinha havia sido criada em volta dos
ferimentos.
— Mais ou menos… — murmurou. — Ela era uma persanesa sim, de
uma família tradicional, mas tinha uma saúde muito ruim. Pegava gripes
como vocês humanos e só aguentou uma gestação, o que é incomum na
minha espécie, mas que não foi um problema para mim.
— Você nunca fica gripado então? — Arqueei as sobrancelhas.
— Não.
— Não pega catapora nem tuberculose?
— Não — repetiu, parecendo levemente irritado com as minhas
perguntas intermináveis, então depois de eu confirmar que ele nunca pegava
nenhuma doença mesmo, deixei que terminasse de falar.
No começo desse ano Vladimir entrou no cio, e eu nem sabia que eles
eram capazes disso, o que fez a sua esposa engravidar e ficar muito doente.
Sentado ao meu lado, com uma expressão desolada em seu rosto, ele
explicou que fez de tudo para parar o seu cio, sabia que seria muito
prejudicial para a sua esposa, porém, ela quis tentar e isso resultou em sua
morte. Os olhos dele até ficaram vermelhos e se encheram d'água, mas
depois o senador deu um jeito de não chorar.
— Eu sinto muito — sussurrei, sem jeito algum. Nunca tinha lidado
com a morte, mas sabia que devia muito ao meu salvador melancólico,
então peguei em sua grande mão e acariciei, o que fez um pequeno choque
acontecer em nós dois, como energia estática.
— Está tudo bem — mentiu, deu de ombros e se levantou da cama.
Vladimir andava como um gato, muito elegante com a sua cauda, só
que ao mesmo tempo ele era musculoso e sério. O senador era como uma
bebida cara que uma adolescente como eu não tinha a chance nem de ler o
rótulo, quanto mais sentir o cheiro e chegar perto.
— Aquela era ela? — perguntei, querendo fazê-lo falar mais, e
funcionou. Ele pegou uma foto de uma mulher loira e esguia no parque, que
ficava na sua mesinha de cabeceira, e começou a contar a história por trás
dela.
Vladimir conversava com muito carinho sobre Ellona, mais carinho
do que já ouvi qualquer pessoa falar sobre outra. Um respeito e uma
veneração que deixaram a minha garganta doendo, num misto de admiração
e inveja dela.
— Mas… acho que agora já contei histórias o bastante, e uma
adolescente como você não deve estar interessada na vida de uma pessoa
como eu — disse, limpando a garganta com um pigarro. Por que ele achava
que eu não estaria interessada? A história de vida dele com uma mulher dez
anos mais velha do que ele, era a coisa mais incrível que eu já tinha ouvido!
— E de qualquer forma, o seu rosto já está quase todo sarado.
Depois disso ele ligou para um de seus funcionários, o homem
localizou o meu pai e eu fui mandada pra casa com uma coleção de
memórias que grudaram em mim feito chiclete.
Algumas pessoas podem dizer que o evento com Ramon me
traumatizou e eu só espelhei uma imagem de salvador em Vladimir e por
isso fiquei obcecada por ele depois disso. Mas no meu coração eu sentia
algo profundamente quente por ele, que aparecia nos meus sonhos o tempo
todo e foi por isso que passei a meio que… segui-lo por aí.
Na minha cabeça era uma coisa inocente colecionar todas as revistas
de negócios em que o senador aparecia, assistir todos os programas de TV,
não importava o horário, e aprender sobre a sua rotina só para fazer as
mesmas coisas que ele depois.
Tomar o mesmo tipo de café, ler o jornal, descobrir onde é que o filho
dele estudava. Eu fingia ser séria e cheia de classe como ele. Pensava na
imagem de Ellona e tentava bolar um plano de como me parecer um
pouquinho com ela, o que era impossível. A mulher era pálida como leite e
muito magra.
Filipi Dark Elf, o filho do senador, estava a alguns anos de mim na
escola e eu tentei até chegar perto do menino loiro, só para ter acesso de
novo a Vladimir, nem que fosse só por um minuto. Só mais um minuto do
seu cheiro e da sua atenção, só para ter aqueles olhos cor de mel grudados
em mim com carinho de novo.
Era estranho ver como Vladimir Dark Elf era sério fora da noite em
que me salvou, nos comícios e entrevistas ele tinha um sorriso engessado e
falava da morte da esposa como se ambos fossem o rei e a rainha da
Inglaterra, distantes. O cara que me salvou era uma mistura de homem com
só Deus sabe o que, e não aquele político.
Eu conheci o verdadeiro Dark Elf e aquele que andava por aí era uma
farsa.
O problema foi que o senador não gostou de como passei a tentar
contato constante, e depois de algumas semanas sendo ignorada e uma
revista de fofocas ter tirado uma foto minha fora de sua casa dizendo que
ele era um pedófilo por ter um caso com uma menor de idade, Vladimir
decidiu dar um ponto final e ir diretamente a quem poderia me fazer parar:
os meus pais.

— Quanto você quer para manter a sua filha longe de mim? —


perguntou, sentado na sala da minha casa, na poltrona em que tantas vezes
eu sonhei que ele ocuparia, mas não desse jeito. Não comigo tendo que
espiá-lo pelo buraco da porta.
— Pago o que for preciso, mas mantenha a sua maldita adolescente
longe de mim! Eu não tenho nada com ela e não sou o pai dela, você é!
Então faça algo! — praticamente rosnou as palavras para o meu pai. — Ela
vai me fazer perder todo o meu eleitorado!
Eu não estava tentando seduzir Vladimir, mesmo que ele fosse bonito
pra caralho e sim, me atraísse muito. Não queria acabar com a sua carreira,
só precisava chegar perto. Só queria ter mais um pouco da atenção que ele
me deu e que ninguém mais no mundo foi capaz de me oferecer.
Eu achava admirável demais que aquele homem adulto não tenha
sequer tentado olhar para os meus seios ou para o meu corpo enquanto me
carregava em seu colo. Vladimir era a melhor pessoa que eu já havia
conhecido em toda a minha vida, melhor do que a minha mãe e o meu pai
que estavam praticamente me vendendo por aí, e eu queria poder passar só
mais um pouco de tempo ao seu lado enquanto a minha vida virava um
show de horrores.
— Sinto muito que a minha filha tenha lhe causado tantos transtornos
assim. Infelizmente tem sido muito difícil para Crystal — o meu pai falou,
fingindo se importar, e olhou para o buraco na porta, por onde sabia que eu
o espionava e Vladimir também, já que a sua audição era superior à
humana.
— Ela está quase terminando o ensino médio, certo? Vou mandá-la
estudar fora, já falei com a minha equipe e eles concordaram que é o melhor
a se fazer para ambos os lados. Que tal Paris?
Arregalei os meus olhos e tampei a minha boca com a sua oferta.
Como ele poderia fazer aquilo comigo? Não me deu nem ao menos uma
chance de conversar depois da noite do ataque de Ramon. Não quis nem
ouvir a minha voz!
— Olha, senador, nós não temos dinheiro para isso agora e… —
começou a explicar e foi interrompido.
— É dinheiro que você quer? Então vou pagar tudo. Passagens,
acomodações, o curso na faculdade e uma pensão para a garota se manter
fora do país e longe de mim, antes que tudo isso vire um escândalo. — Ele
se colocou de pé e afrouxou a gravata vermelha, nervoso com a situação. —
Nunca encostei nessa menina e nunca vou encostar, ela tem idade para ser
minha filha e não quero que ninguém pense o pior de mim.
Pela expressão que o meu pai fez ao ouvir o que o outro disse, eu já
sabia que ele tinha gostado da ideia. Devia estar pensando no tanto de
dinheiro que não teria que gastar mais comigo, nas roupas, na alimentação,
nos escândalos que eu fazia nas festas para não deixar que homem algum
chegasse a mim.
Por isso tentei empurrar a porta de qualquer jeito, para de alguma
forma tentar pará-lo. Contudo, ele havia virado a trinca e impedido a minha
entrada.
— Se o senhor vai pagar tudo e dá a sua palavra de que continuará
assim… — Deu de ombros enquanto eu batia na porta várias vezes e
gritava. Os dois me ignoravam, agiam como se eu fosse irracional.
Depois daquilo, fui despachada para Paris contra a minha vontade e
eu tenho certeza que por um bom tempo Vladimir manteve um segurança
atrás de mim, observando cada passo meu para garantir que eu não tentaria
retornar.
Nos primeiros dois anos de faculdade, foi Vladimir quem pagou as
minhas despesas. Era um arranjo muito estranho, mas que o meu pai me fez
cumprir de qualquer jeito, já que o Dark Elf passou a ajudar também a sua
carreira política.
Depois, o meu pai foi conseguindo cargos bons e eu arranjei
empregos em Paris fazendo maquiagem e cabelo, então passei a me
sustentar enquanto me formava em medicina e fazia especialização.
E foi assim que Vladimir Dark Elf se livrou de mim por quase oito
anos consecutivos.
Capítulo 3
Tempos atuais

— O que o senador tem a dizer sobre a acusação de ter falsificado os


seus documentos e de não ser um cidadão americano de verdade? Diversos
inquéritos foram instaurados e misteriosamente qualquer tipo de
movimentação na direção da verdade foi parada. — O moreno com uma
franja estranha pergunta, mantendo a sua postura orgulhosa e
propositalmente desinteressada, mesmo que todos aqui saibam o quanto
esse repórter de merda é obcecado pela minha família.
Sou obrigado a folgar a minha gravata, pois quando Bob começa a
falar sobre essa pauta, eu sei que nada o fará parar. Devo parecer relaxado a
partir de agora, mesmo que esteja o oposto disso.
Até mesmo a minha secretária atrás de mim solta um suspiro
ensaiado. Não queremos soar intimidados e sim cansados de repetir a
verdade. É melhor que me vejam como um macho orgulhoso e até um
pouco arrogante, do que o que realmente sou: alguém de uma raça
completamente diferente da de todos aqui e com uma força descomunal.
— Nós já conversamos bastante sobre isso, não conversamos? —
Mantenho o meu tom controlado, algo bem humano e amigável, e dou um
sorriso despojado de canto de boca que o assessor de imagem diz ajudar
bastante com o meu público feminino. — Acho que a esse ponto, cada
pessoa nessa sala aqui já deve ter visto a minha certidão de nascimento e as
minhas fotos de fralda com um buraquinho para o rabo, na frente da casa
branca há mais de quarenta anos atrás. Você tem que parar de tentar me
deixar com vergonha assim, Bob.
A sala toda dá uma risada, algumas pessoas riem mais alongadamente
e outras são mais contidas, contudo, todos se rendem a minha pequena
gracinha e fazem Bob parecer um lunático, mesmo que ele esteja certo.
Não, eu não sou um cidadão americano, nasci no arquipélago de
Cosmos a mais ou menos quarenta e cinco anos atrás, lugar onde a minha
raça se originou, e vim para os Estados Unidos escondido e muito jovem.
Na época a família Dark Elf não estava mais se dando tão bem com os
nossos vizinhos do meio do Mar Mediterrâneo e esse país pareceu o lugar
mais certeiro, desde que continuássemos com a nossa farsa sobre sermos
“elfos bonzinhos”.
— Se está de tão bom humor assim, que tal falarmos sobre o seu mais
novo adversário? — O rosto de Bob se avermelha todo com facilidade e ele
desiste de ficar sentado em sua cadeira para continuar me atacando.
Estamos na sala de conferências do meu partido, que atualmente não
é o meu maior fã, mas que não tem muito o que fazer quanto a isso. Não
gosto de ser popular e ter que lidar com tantas câmeras, mas gosto do poder,
das vantagens que o meu cargo de senador traz, e ainda mais de ficar à
frente de tudo relacionado a política na minha família. O controle é uma
necessidade básica minha, saber que posso proteger os meus quando for
necessário.
— Adversário? — Arqueio uma sobrancelha e tomo um gole de água
para refrescar a fúria na minha garganta.
Hoje acordei um pouco mais estressado do que nos últimos dias. Não
gosto dos flashes e holofotes dessas entrevistas, duram horas e mais horas e
eu tenho que ficar atrás do palanque.
— Frederick Burner acabou de se eleger — Bob relembra e isso deixa
os repórteres ainda mais em silêncio, sentados em suas cadeiras em fileiras
olhando para mim. Esses malditos sempre ficam zumbindo nas entrevistas
dos outros candidatos, mas nas minhas o silêncio é quase tumular.
Porém, eu sei que isso é porque para os seres humanos, persaneses
são como bichos de um zoológico.
— Ele não é meu adversário, Bob. — Continuo usando o seu primeiro
nome ao invés do sobrenome para ser bem informal. — É o novo senador
do estado, que como você deve saber, precisa de dois. Então eu e Frederick
somos, na verdade, uma dupla, para defender o estado e também a nossa
cidade, Red Town, já que ambos somos daqui. — Sorrio de novo e a minha
garganta continua quente, como se labaredas de fogos subissem por dentro
do meu corpo.
Tomo mais um pouco de água para tentar me livrar da sensação
incômoda, contudo, ela só fica mais forte e agora a minha taça de água
acabou. Se eu pedir outra, vão saber que estou nervoso, então eu me seguro
e limpo a garganta longe do microfone, mesmo assim o som ainda ecoa pela
sala.
Preciso que essa merda acabe logo, o excesso de trabalho está
fazendo coisas estranhas com o meu corpo.
— Não é bem assim, Frederick Burner e o senhor não se dão bem e
são de partidos opostos. — Uma repórter próxima de Bob fala, mas eu não
consigo focar nela. Os meus olhos simplesmente não focam e tudo fica
meio borrado, coisa que nunca me aconteceu.
Persaneses não têm problemas de visão a menos que nossos olhos
sejam arrancados de nossas cabeças. Todo o resto pode ser arrumado com o
curandeiro ou só com a biologia avançada do nosso corpo mesmo, que está
pronto para a maioria das doenças que atingem os humanos.
— Assim é a política, temos que ter representantes de todos os tipos
para que a nossa nação esteja sempre prosperando — falo e sinto arrepios
estranhos subindo e descendo pelo meu corpo quente debaixo desse terno
escuro e bem cortado. O que está acontecendo comigo? Estou doente
mesmo? — Você tem mais alguma pergunta? Porque sinceramente, acho
que mesmo que sejamos de espécies diferentes, todos aqui estamos
famintos, certo? — brinco, mesmo que isso me deixe com a garganta ainda
mais dolorida e seja só uma forma de esconder que devo ter perdido pelo
menos 50% da minha visão agora.
As cores e luzes estão aqui, mas tudo ficou disforme e eu preciso de
água, uma garrafinha só não basta. Preciso de um balde cheio talvez, porque
nunca tive tanta sede na vida.
Espero que eu esteja disfarçando bem o tamanho do meu desconforto.
— Sim, Bob, corta essa e vamos comer! — Alguém exclama e isso
faz muitos rirem.
Ele não é respeitado, eu tirei todo o seu crédito cada vez que investiu
o seu tempo em acabar com a minha carreira.
— Daqui a pouco chega a hora do jantar e… — começo a falar e sou
interrompido por um grande estrondo. A porta no final da sala que deveria
estar trancada se abre rapidamente, sei disso porque decorei a maioria dos
sons.
— Klaus Dark Elf foi visto em um hotel chamado Fiore Mia ontem e
testemunhas dizem que uma mulher humana saiu correndo minutos antes do
mesmo quarto que ele! — Uma mulher que não reconheço entra falando
alto e instaura um burburinho que me deixa atordoado.
Os meus ouvidos captam cada voz ao mesmo tempo e isso não é nada
prazeroso, faz pontadas de dor atingirem a frente da minha cabeça. Eu
gostaria de poder pedir ajuda à minha secretária agora, mas sem conseguir
ver, eu não sei quem está me olhando para fazer um sinal que só ela pudesse
enxergar.
— Quem é essa? — as pessoas perguntam e mesmo com os meus
olhos não funcionando tão bem quanto deveriam, ainda consigo saber que a
intrusa não se parece com uma jornalista, pois a sua roupa é longa e rosa,
diferente do que as humanas repórteres gostam.
— A polícia foi acionada por meio de um botão presente no quarto e
sangue foi encontrado no chão da suíte que eles ocupavam! — grita em
resposta e eu observo as sombras que são os seguranças nos cantos da sala
indo até ela, querendo pará-la, mas ao invés de deixar que a manifestante
desconhecida vá embora sem ouvir uma resposta, decido ao menos começar
a dizer algo. Assim fica claro que eu não estava com medo, e sim, que só
não tive tempo para responder.
Preciso acabar logo com essa porra de conferência e ir até o meu
curandeiro entender o que tem nos meus olhos e no meu corpo. A única vez
que me senti assim foram nos meus cios, e mesmo assim eles nunca
atingiram os meus olhos, o que é aterrorizante.
— A senhorita está inventando inverdades sobre o meu sobrinho na
minha frente? — A minha voz sai estranha, muito mais grossa e até um
pouco feroz, não se parece com nada do que eu planejava dizer.
Passo a mão na testa e percebo que o meu rosto todo está pegajoso
com suor e que estou quente, como se estivesse com febre. Apoio as duas
mãos no palanque à minha frente e tento me manter ereto, mesmo que a
minha vontade seja sair correndo daqui.
— O que o senhor tem a dizer sobre o perigo que Klaus Dark Elf
representa para Red Town?! Ele é um psicopata! Todos vocês, persaneses,
são! — grita e se debate, enquanto os seguranças começam a movê-la para
sair. Tento reconhecê-la de alguma manifestação das dezenas que já vi
contra a minha raça, mas a minha visão realmente está ruim. — Ele irá
continuar livre por aí, atacando mulheres inocentes e fazendo vítimas por
onde passa?! Até quando deixaremos esses demônios andarem entre nós?!
— A voz dela perfura os meus tímpanos e ecoa dentro da minha cabeça
como se fosse um trem de carga muito próximo.
Luto contra a vontade de tapar as minhas orelhas e respiro mais
rápido, sugando lufadas de ar que não conseguem me acalmar em nada.
Ela pretendia dizer algo mais, contudo, logo a sua sombra some da
sala e eu preciso continuar fingindo que nada está me acontecendo. Não
posso parecer fraco para esses abutres, não agora.
Os gritos da manifestante vão se afastando, o que é ótimo para mim,
mas os repórteres não param de se perguntar quem é ela, o que me deixa
ainda mais nervoso.
— E-eu gostaria de dizer que Klaus não ataca mulheres por aí, muito
pelo contrário. Existem muitas senhoras que estão apaixonadas por ele e já
causaram vários incidentes em nossa família. Vocês sabem como nós
persaneses fazemos sucesso com as humanas. — Tento soar brincalhão, mas
dessa vez ninguém ri, até porque não teve graça, contudo, eu só percebi isso
quando já era tarde demais. — Não sei quem investigou esse
acontecimento… mas… mas…
As palavras seguintes não saem da minha boca, só o que sai é um
rosnado que faz o meu peito vibrar enquanto o meu rabo se sacode de um
lado para o outro atrás de mim, sem controle algum.
— Isso foi um rosnado? — alguém pergunta e isso cria outra onda de
zumbidos desses malditos repórteres, o que não me dá escolha além de
realmente tampar os meus ouvidos para tentar barrar os sons.
— A entrevista está finalizada, senhores! — escuto a minha secretária
dizer, passando rápido pela minha frente enquanto começo a andar para
longe. Preciso sair desse lugar fechado, preciso tirar essa merda de roupa
apertada! — A entrevista acabou! — fala mais alto, pois deve ter
conseguido chegar até o microfone, no entanto, eu não olho para trás. —
Por favor retirem os seus pertences e saiam com segurança do prédio!
Passo para uma espécie de coxia que tem no palco e começo uma
caminhada instintiva e rápida em direção ao escritório que tenho aqui, só
uma das salas que uso para trabalhar.
Tudo para mim é um grande borrão e as vozes das pessoas ao meu
redor vão me deixando cada vez mais irritadiço, até que um cheiro azedo
me atinge, algo podre que me faz ter vontade de vomitar.
— Senador, o que está acontecendo?! — A mulher com o cheiro ruim
me pergunta e toca o meu braço, aumentando a náusea em mim.
— Não toque em mim, porra! — rosno e empurro cegamente o corpo
frágil, o que faz a mulher gemer de dor enquanto o cheiro metálico de seu
sangue fica detectável. — Eu machuquei você? Não consigo ver! — O meu
corpo todo treme e eu não sei o que fazer. Não estou no controle e é
desesperador.
— Foi só um arranhão na mão. — A minha secretária informa de
repente. Como ela chegou aqui e eu nem notei? — Não consegue ver,
Vladimir? — pergunta e eu fico calado, em choque. — Vamos levá-lo para
casa imediatamente.

Já na cama de casal, na minha casa no centro de Red Town, e com a


visão muito melhor, eu espero pelo curandeiro que sempre cuidou da minha
família. Tomei litros e mais litros de água e até um banho  gelado, mas de
nada adiantou.
Tirei toda a maldita roupa social que os humanos inventaram e fiquei
só de cueca, porque o calor estava absurdo, como se fogo caminhasse por
cima da minha pele, e agora olho para o teto da suíte.
— O curandeiro de sua família não está disponível agora, mas ele
indicou uma médica. — A minha secretária fala do lado de fora do meu
quarto, pois eu a proibi de entrar aqui para o seu próprio bem.
Não quero machucar humanos, só os acho patéticos na maioria das
vezes.
— Médica? Uma maldita médica humana não vai me ajudar em nada!
— berro e sei que a mulher não me levará a mal. Já trabalha para mim há
quase três anos, foi a funcionária que mais durou nesse cargo.
— Infelizmente o curandeiro está em uma viagem, mas a médica que
ele enviou é formada em medicina humana e é especializada em persaneses.
— Essa porra nem existe! — rosno e percebo que sem querer rasguei
os lençóis embaixo de mim, com as minhas garras que saíram sem eu ter
notado. — Médicos humanos não sabem lidar com persaneses, eles não
entendem nada das nossas plantas!
Além do que, se uma médica humana viesse me tratar, ela sairia daqui
e contaria a todos tudo que eu lhe dissesse.
— O seu curandeiro me garantiu que essa médica saberia, ela é
formada no único curso no mundo ministrado para humanos sobre
persaneses — revela e eu penso por alguns segundos, até que sou atingido
por uma pontada grande de dor de cabeça que me lembra a dura verdade:
não estou podendo escolher.
— Ele garantiu?!
— Sim, senhor.
Suspiro baixo, ainda mais irritado que o curandeiro tenha viajado
assim tão repentinamente, e não me sentindo nada feliz com esse arranjo.
Nunca falei com um médico, nem sequer pisei em um hospital.
— Mande a médica entrar, mas se algo acontecer com essa humana,
não é culpa minha! — exclamo e me sento na cama, cobrindo a metade
inferior do meu corpo com o lençol meio rasgado, até que a porta se abre
para a tal médica.
Os meus olhos arregalados ficam grudados naquela mulher, que eu
conheço muito mais do que gostaria. A mulher que paguei para ter longe de
mim, quando ela era só uma menina assustada, ao mesmo tempo que foi a
única capaz de me permitir falar sobre Ellona sem me sentir um tolo a oito
anos atrás, quando a morte dela ainda era recente.
Fico calado por talvez um minuto inteiro e Crystal fica parada na
soleira da porta, usando um jaleco branco por cima de um vestido azul royal
e botas de salto alto e fino, com plumas decorando a parte em volta de seu
calcanhar. Ela com certeza se enfeita bem mais do que qualquer curandeiro
que já conheci.
— Oi, Vladimir — sussurra meio envergonhada, com os seus olhos
castanhos deslizando pelo meu rosto e tronco como se eu fosse algo muito
brilhoso e chamativo, que não pudesse ser ignorado. Essa garota não tem
mais do que vinte e cinco anos, como pode ser médica?! — Quanto
tempo… — Morde o lábio inferior carnudo e acastanhado.
Aliás, a boca de Crystal, parte sua que eu nunca havia realmente
reparado antes, é algo extraordinário. Parece muito macia e o lábio superior
tem o formato de coração muito bonito.
Ela mudou, ganhou curvas, o rosto está mais longo, o quadril largo e
os seios fartos, mesmo por baixo de toda essa roupa, ou talvez eu só não
tivesse notado nada disso nela antes porque era só uma adolescente e eu
nunca olharia para uma adolescente.
— Você não vai encostar um dedo em mim! — rosno as palavras e o
meu corpo todo se arrepia, porque ela obviamente não dá um passo para
trás. Crystal nunca dava passos para trás, era uma garota desbocada e
energética quando mais nova e agora não deve ter mudado.
A sua pele tem o mesmo tom de antes, um marrom que lembrava algo
como caramelo, só que agora os seus cabelos castanhos e crespos se foram
e ela os usa ondulados e pintados de um tom quase laranja. Não é
exatamente uma cor comum, parece um ruivo vibrante demais para ser
natural, mas combinou bastante com a sua personalidade.
— Eu vim te ajudar. A sua secretária disse que você está doente… —
Dá de ombros, um movimento pequeno e meio incerto.
A presença dela aqui é um tapa firme no meu rosto e no meu peito,
que está vibrando de um jeito estranho. Causa um impacto nada bem-vindo
no meu estado atual saber que terei de lidar com uma porra de uma stalker.
— Saia daqui! — berro e, ao contrário do que qualquer humano
racional faria, ela vem mais na minha direção e passa pela janela aberta do
meu quarto, o que traz o seu cheiro perfeitamente até mim por conta da
brisa.
Normalmente mulheres humanas usam shampoo e condicionador com
cheiros que podem lembrar frutas ou algum tipo de comida, só que sempre
é artificial e tem mais amargor do que dulçor para nós persaneses, mas
Crystal não. Ela não cheira a frutas falsas.
O cheiro dela é puro, como se tivesse tomado cuidado o bastante para
não passar nada que não agradasse a minha espécie. Tem somente o doce da
sua pele, um aroma quente que viaja pelo meu corpo todo e manda uma
espécie de sinal elétrico direto para a minha virilha. E Crystal também
cheira a medo. Tanto medo, levemente ardido e saboroso, que a minha boca
enche d’água.
Capítulo 4

Sento-me na cama de casal do pequeno apartamento que aluguei em


Red Town após tomar um banho longo e respiro fundo, inalando o ar dessa
cidade, coisa que eu não fazia a muito tempo. Em Paris eu morava perto de
um parque e o clima ficava frio na maior parte do ano, e esse lugar que
aluguei fica perto de uma avenida movimentada e é bem quente, então o
cheiro, os sons e a temperatura são diferentes.
Eu poderia ter ido para a casa da minha família, mas não aguentaria
conviver com os meus pais, acabaria sendo presa após matar aqueles dois
desgraçados que tentaram vender uma adolescente pro primeiro velho rico
que aceitasse, anos atrás.
Começo a procurar algo para vestir no meio da bagunça de roupas
que virou o closet do lugar, após eu ter esvaziado todas as minhas malas
aqui e encontro algumas opções mais caseiras. Um short de moletom e uma
camiseta.
Voltar para os Estados Unidos definitivamente não foi uma decisão
fácil de ser tomada. Em Paris eu conheci pessoas maravilhosas, aprendi
uma língua totalmente nova e me distanciei dos meus traumas.
— Merda… — xingo baixo, porque na hora sinto uma pontada de dor
na cabeça do lado direito. Nunca consegui esquecer o rosto de Ramon, as
palavras que me disse. Tudo ficou gravado em mim e me assombra nos
momentos mais inoportunos.
Então ao invés das peças casuais, escolho um vestido azul royal liso
de estampas e colado, mas até o joelho, e depois faço uma bonita
maquiagem, com cílios postiços bem longos.
É o que sempre me acalma e me mantém centrada, me arrumar e
comprar roupas novas. O problema é que às vezes eu passo dos limites nas
compras e acabava tendo que procurar clientes feito louca lá em Paris,
contudo, foi o hábito que mais me consolou na França, mesmo que me
deixasse quebrada.
No começo do meu curso de medicina eu odiei e queria
desesperadamente voltar para o meu país ou pelo menos trocar para moda,
contudo, depois de um tempo eu me afeiçoei ao lugar e a sensação de
liberdade.
Além do que, depois que descobri que a minha faculdade tinha um
curandeiro persanes que ministrava aulas para humanos sobre a sua espécie,
não consegui parar de pensar naquilo. Na faculdade de medicina eu não era
das melhores, superei o meu problema com sangue, porém, as minhas notas
sempre ficavam lá embaixo. Não prestava muita atenção.
Em contrapartida, estudando a medicina natural dos persaneses eu fui
bem melhor. Fiz alguns semestres de especialização e aprendi tudo que
pude sobre as ervas. O curandeiro da universidade também aceitou
compartilhar mais comigo, após eu lhe contar sobre a minha experiência
aqui em Red Town e sobre tudo que eu já sabia.
Mas com o final do meu curso, senti que já era a hora de rever a
cidade onde nasci e por isso marquei o meu voo e voltei. O meu pai, agora
prefeito de Red Town, e a minha mãe, também não paravam de me ligar,
dizendo que tinha algo muito importante para contar.
Porém, estarei mentindo para mim mesma se disser que foi só por isso
que retornei. Tem um outro agravante que está tornando as minhas noites
cada vez mais difíceis, agravante esse que tem nome e sobrenome: Vladimir
Dark Elf. Agora oito anos mais velho e parecendo tão gostoso e viciado em
trabalho como nunca nas reportagens que tenho lido e assistido.
Teve um tempo que achei que a minha fixação por ele tinha acabado,
que eu finalmente seria alguém normal e que não ficaria cheia de borboletas
na barriga por um cara vinte anos mais velho do que eu, porém, o meu
corpo é um baita traíra.
Criei uma espécie de laço com ele, como se fôssemos parentes ou
algo assim, ou até almas gêmeas, só que o laço está só para mim, e não para
ele, que obviamente me despreza. Eu nem sei explicar, só não consigo não
me preocupar com o que acontece com Vladimir, e isso me faz sentir a
maior idiota do mundo.
Mas pelo menos não corri para encontrá-lo assim que o avião pousou,
passei alguns dias me arranjando por aqui, fazendo contato com os
curandeiros locais. Deixei o meu número com vários deles, mesmo
duvidando que qualquer um daqueles persaneses fosse querer uma humana
ao seu lado durante as suas consultas. É uma área fechada, só existem
curandeiros machos. Talvez eu tenha que dar o meu próprio jeito para
conseguir clientes e finalmente exercer a minha profissão de formação.
Até que recebi uma ligação enquanto guardava as minhas
maquiagens, ligação essa que mudou tudo e que me fez sair correndo de
casa praticamente do jeito que estava.

Estou tremendo um pouco ao entrar na casa de Vladimir, um sobrado


gigante dentro de um condomínio cheio de seguranças, com um exterior
todo branco, há meia hora do meu novo apartamento.
Vim o caminho todo no carro alugado ruminando o meu mantra: “É
só mais um paciente e eu serei profissional” e continuo com ele em minha
cabeça até agora.
Sou uma mulher adulta, não posso me deixar levar por um
acontecimento de oito anos atrás de um cara que pagou para me manter
bem longe dele. Não posso! Tenho que estar com raiva desse filho da puta,
não nervosa!
Com a minha maleta preta em mãos, cheia das ervas que pude
comprar para criar o meu próprio estoque aqui nos Estados Unidos, espero
ser atendida após tocar a campainha.
Uma moça negra de uns trinta e poucos anos, roupa formal e muito
alta abre a porta e me encara por pelo menos dez segundos completos antes
de começar a conversa. Com certeza não gostou muito do que viu e até
arruma os óculos no rosto, o que me deixa ainda mais irritada.
Quem ela acha que é para me julgar assim?
— Você é a médica especializada em Paris? — pergunta, com os
olhos grudados na minha bota de salto muito fino com plumas azuis que
combinam com a cor do meu vestido.
Não ia gastar tempo me trocando para algo mais confortável se
Vladimir está doente, vim o mais rápido que consegui, porque se tem uma
coisa que aprendi é: persaneses raramente ficam doentes, mas quando
ficam, geralmente é fatal.
— Sou Crystal Parker, médica formada e especializada na Sorbonne
Université. — De má vontade, dou a minha mão para que aperte e ela
aceita. Já fui encarada assim antes e sei que muita gente acha que toda
médica tem que andar feito advogadas por aí, só de roupa social. Parece que
não tenho direito a ter uma personalidade. — Onde está o paciente?
A mulher não gosta do meu tom de voz, que ficou mais sério e
orgulhoso com a sua óbvia dúvida das minhas capacidades, e pensa por
alguns segundos no que ouviu antes de se colocar em movimento.
— O senador está no quarto dele, vou levá-la até lá — diz e eu vou
andando atrás dela, que caminha elegantemente em seus saltos. Não
consegui gravar o nome dela por telefone, confesso que fiquei muito
ansiosa com a ligação, mas sei que é a secretária do Vladimir. — A visão já
está boa agora, porém, o calor continua e a irritação também. Ele bebeu
muita água, tomou um banho gelado e de nada adiantou — explica e vai
subindo uma escada toda acarpetada e com corrimão. — Devo dizer
também que está com um certo problema na parte de baixo…
— Que tipo de problema na parte de baixo? — Semicerro os meus
olhos, sem saber como interpretar a sua frase, que pode significar um
milhão de coisas diferentes.
— Não pude deixar de notar enquanto o trazia para casa, antes que ele
acabasse atacando alguém, que o senhor senador tinha um… volume muito
grande nas calças — fala de um jeito incerto, num tom bem menos seguro
do que usou até agora.
— Ele ficou excitado do nada? Não existiu nenhum motivo?
Nenhuma pessoa que o atraiu? — pergunto, fazendo o melhor para esconder
o meu desconforto de saber que Vladimir se interessou em alguém,
conforme terminamos de subir as escadas e chegamos num corredor longo
que vai para a direita.
Vladimir decorou a casa de um jeito sério, as luzes são simples, sem
candelabros, e não tem nenhum quadro nas paredes pretas. Elas são todas
lisas.
Tudo isso é prova de que o senador continua por aí escondendo quem
realmente é. Ele quer se passar por algum tipo de senhor humano e
conservador.
— Ele estava no meio de uma entrevista para muitos repórteres,
acredito que não houve nada de muito diferente para causar isso. — Volta a
ajustar os óculos e para na frente da última porta do corredor. — Talvez seja
alguma coisa a ver com a raça dele, eu não sei.
— Tudo bem, vamos investigar isso e fazê-lo voltar ao normal —
garanto, mesmo sabendo que os semestres que estudei deixaram muita
informação faltando e que talvez eu tenha que ligar para Anastase, o meu
professor, para fazer algumas perguntas.
Eu só não quero que essa secretária duvide de mim e não vou parecer
incerta agora. Detesto parecer incapaz de algo.
— Será muito bom se a senhorita puder trazê-lo ao normal. O senador
pode não se lembrar, mas hoje seria o aniversário da mulher dele —
cochicha, com a sua voz mal saindo de sua boca. Ela deve saber como a
audição dos persaneses é ótima. — Talvez isso seja um agravante que eu
decidi não trazer à tona, mas daqui a cinquenta minutos ele tem um jantar
na casa da família por conta disso.
— Entendi. — Concordo com a cabeça, lembrando do rosto de Ellona
no porta-retratos como se estivesse vendo o objeto agora mesmo. — Me dê
só um segundo e eu já vou entrar.
Tiro o jaleco da minha bolsa pendurada no braço oposto em que está a
maleta. Se essa mulher me olhou estranho, aposto que Vladimir também
não me levará muito a sério.
Da única vez que conversamos quando eu era adolescente, ele não me
julgou por nada na minha aparência. Contudo, agora não quero mais ser a
menina doida, filha de pais falidos que o seguiu por aí, quero parecer uma
mulher bem-sucedida.
— Pronto. — Faço um positivo com os dedos ao terminar de vestir o
jaleco branco.
— O curandeiro de sua família não está disponível agora, mas ele
indicou uma médica! — A secretária grita de repente e me dá um susto. —
É melhor ter cuidado com ele, pode atacar a senhorita de alguma forma,
então vou entrar no quarto junto a você — cochicha só pra mim e eu fico
em silêncio.
— Médica? Uma maldita médica humana não vai me ajudar em nada!
— ele responde do outro cômodo, num tom profundo e claramente alterado.
— Infelizmente o curandeiro está em uma viagem, mas a médica que
ele enviou é formada em medicina humana e especializada em persaneses.
— A secretária fala bem perto da porta dupla de madeira e me deixa cada
vez mais ansiosa para saber o real estado dele.
— Essa porra nem existe! Médicos humanos não sabem lidar com
persaneses, eles não entendem nada das nossas plantas! — Vladimir
esbraveja, mas isso não é nenhuma novidade.
Persaneses são muito protetores com os seus curandeiros e sabedorias
milenares, contudo, ele estar xingando assim com certeza denota uma
alteração em seu temperamento.
— O seu curandeiro me garantiu que essa médica saberia, ela é
formada no único curso no mundo ministrado para humanos sobre
persaneses — ela surpreendentemente me defende. Ou talvez só queira
mostrar eficiência por ter encontrado alguém tão rápido.
— Ele garantiu?!
— Sim, senhor. — A postura dela fica ainda mais ereta, como se ele
pudesse até vê-la do outro lado da porta.
— Mande a médica entrar, mas se acontecer algo com essa humana,
não é culpa minha! — rosna e eu sugo uma longa lufada de ar antes da
secretária empurrar a porta aberta e me revelar o quarto amplo do senador.
A minha boca seca no mesmo segundo. Ele está sentado numa cama
de casal muito grande, num cômodo bem iluminado por muitas janelas,
porque bom… mesmo que Vladimir seja um senador lutando por causas
importantes e que nunca tenha saído na capa de nenhum jornal fazendo
alguma merda grande, ele ainda é um Dark Elf, então ainda vai estar
rodeado de luxo.
Como o homem não diz nada e parece me analisar bastante,
obviamente desacreditado da minha presença, eu tomo esse tempo para
estudá-lo também.
A mulher no telefone disse que Vladimir estava com dificuldade de
enxergar, de respirar, irritadiço e sentindo muito calor. Agora que o vejo de
perto, reparo primeiro nos seus chifres, que continuam um pouco mais
longos do que os outros de sua espécie, o que denota muita saúde, e reparo
também na cor da sua pele que me parece bem saudável.
Ele está menos bronzeado do que da última vez que o vi, talvez
porque agora passa ainda mais tempo em seu gabinete. Os seus olhos, que
eu sei que são de um castanho claro muito bonito, começam a virar o
mesmo laranja furioso da noite no jardim da mansão Dark Elf. Então ou me
odeia de verdade ou ele está passando por algum tipo de situação que está o
incomodando mesmo.
— Oi, Vladimir — falo baixo, para não agravar o seu óbvio estado de
agitação, e reparo no restante do seu corpo. O pescoço dele tem roranis, que
são as tatuagens negras que os persaneses ganham durante a vida. As de
Vladimir são linhas de tamanho médio, nem muito grossas ou finas, e
formam padrões únicos também nos seus braços e barriga, como trepadeiras
espaçadas. — Quanto tempo… — Acabo mordendo o lábio inferior para
me impedir de suspirar.
Controle-se, Crystal! Você disse que seria profissional, então seja,
porra!
Sorte a minha é que usei uma das calcinhas especiais que sempre
guardo, elas foram desenvolvidas pelos persaneses para impedir que eles
pudessem sentir quando uma fêmea fica excitada.
O peitoral largo dele está coberto por pelos acastanhados, mas alguns
estão meio grisalhos, assim como os seus cabelos, que são escuros em sua
maioria, com partes acinzentadas e brancas, mas não muitas.
E ele continua tão grande como da última vez, braços musculosos,
peitoral amplo, costas muito largas, pescoço grosso, barba cheia e boca
carnuda e tão sedutora que dá vontade de me abanar.
Isso é tortura, todos esses anos eu acompanhei Vladimir quase como
uma fangirl, nunca pude vê-lo sem camisa, e a primeira vez que vejo tinha
que ser nessas circunstâncias?!
— Você não vai encostar um dedo em mim! — rosna, um som gutural
que arrepia os pelos da minha nuca.
— Eu vim te ajudar — explico para ele e para mim mesma. Não estou
aqui para admirar esse cara, estou aqui para ajudá-lo. Só para isso! — A
sua secretária disse que você está doente… — Dou de ombros.
Ele faz uma careta para a minha frase, obviamente não acreditando
em mim, o que me faz voltar a reparar em seu corpo. Mesmo daqui consigo
enxergar gotas de suor em sua testa.
Persaneses raramente ficam cegos, o corpo deles é como uma
máquina de guerra, perfeita para a destruição em massa. Terei de investigá-
lo de perto para entender o que está acontecendo, antes que seja tarde
demais e algo ruim possa acontecer por negligência.
— Saia daqui! — berra de novo e eu só ignoro.
É claro que ele vai recusar ajuda se está irritadiço, machos são
péssimos pacientes e eu não vou recuar. Nunca deixaria nada acontecer com
Vladimir, mesmo não gostando de como me chutou para longe.
As suas narinas se expandem, me cheirando a cada passo que dou, e
ele fica tenso, soltando um rosnado contínuo e irritado, ao mesmo tempo…
que tem outro som junto. Um som que eu ouvi sempre vindo de uma outra
espécie e que sei que persaneses conseguem fazer, mas nenhum dos que
conheci fez para mim.
— Você gosta do meu cheiro? — cochicho, desacreditada que esteja
mesmo ronronando feito um grande gato debaixo dos lençóis rasgados em
sua cama branca.
— Saia daqui! Eu não sou um brinquedinho seu e você não vai me
tocar!
— O seu curandeiro não está disponível e a sua secretária disse que
você está com dificuldade de enxergar, o que você sabe que é muito raro na
sua espécie. — Tento ser a voz da razão para Vladimir, porque sou a melhor
opção dele agora. — Então me deixe te examinar.
— Não confio em você. — Ele me mostra as suas longas presas e faz
um som ameaçador em sua garganta, mesmo que o ronronar continue.
— Não uso nenhum perfume porque me acostumei assim, todos os
meus outros produtos também não têm cheiro, então o que você está
sentindo é o meu aroma real. Você gosta dele, é por isso que está
ronronando? — pergunto e ele não me responde, só lambe o lábio inferior, o
que comprova que gosta mesmo. — Sabe do que eu me lembrei agora?
Alguns machos podem ter perda de visão em casos extremos de cio tardio.
— O que é cio tardio? — A secretária que ficou na soleira da porta
pergunta e eu paro de pé na beirada da cama de Vladimir. Faz anos demais
que não ficamos tão próximos assim, o meu coração está descontrolado e
ele com certeza escuta isso.
Os cabelos castanhos do homem estão grudados em sua testa, de tanto
calor, e o seu peitoral sobe e desce muito rápido. Tem realmente algo de
errado com Vladimir e se eu fosse um curandeiro de seu povo, só pelo
cheiro conseguiria dizer.
— Persaneses precisam se aliviar com frequência, precisam de sexo,
tanto as fêmeas quanto os machos — falo isso encarando os seus olhos
alaranjados e tão perto assim reparo como Vladimir está com as garras
enfiadas nos lençóis. Tem veias saltadas no seu pescoço e no seu braço.
— Quando os machos passam dos cinquenta ou sessenta, podem ter
sintomas estranhos por conta de cios ignorados, de ervas usadas a longo
prazo ou só por alguma disfunção no seu corpo mesmo. Mas como
Vladimir vive sob pressão, talvez ele tenha chegado ao cio tardio bem antes
do que o esperado. O cio tardio é mais espaçado do que um normal, os
“ataques” de libido acontecem sem previsão nenhuma e podem acontecer
numa semana e depois não na outra.
— Isso é muito perigoso? — a secretária questiona.
— Infelizmente não existem estudos sobre persaneses, ainda mais
persaneses mais velhos, então eu não sei. Mas podemos tratar feito um cio
normal. Você tem tomado o que para bloquear os cios, Vladimir? —
pergunto com cuidado, prestando bastante atenção na sua linguagem
corporal para saber que não vai avançar agora em mim, e ele volta a me
mostrar as suas presas. — Porque você tem pego cargo atrás de cargo,
sempre viajando bastante, sem espaço para um cio completo, certo?
É, eu sei demais sobre esse cara.
— Nada! Não tenho tomado nada! — rosna e a sua voz assumiu um
tom grosso, que um ser humano normal com certeza relacionaria a uma
espécie de demônio.
— Se você não me falar, não posso ajudar — sussurro, sabendo que
não posso me aproximar mais se não quiser sair machucada.
Durante a faculdade, eu descobri que ser médico envolve muita
coragem. Um paciente pode aparecer com mil e um problemas, até mesmo
ser muito agressivo, e é necessário muito jogo de cintura e estabilidade para
enfrentar tudo isso.
— Não fale comigo como se eu fosse uma criança! — Franze a testa e
eu encaro o seu rosto por algum tempo em silêncio.
Ele está exatamente como nos meus sonhos, a menos de um metro de
mim. Eu sinto até o cheiro dele, que me embriaga há oito anos.
— Se você não me falar tudo e eu não te der a solução certa, pode
perder a visão mesmo, pois não sabemos tanto assim sobre esse tipo de cio.
É o que você quer? — Arqueio uma sobrancelha.
Vladimir ainda está consciente de seus atos e isso é muito bom.
Estamos mantendo uma conversa e ele está me acompanhando sem
problemas, mesmo demonstrando sinais de selvageria.
— Tomei bloqueadores de cio — revela, desinflando um pouco a sua
postura agitada.
— Nyn?
— Não sou idiota! Eu… tomei aquelas pimentas azuis. — Os seus
ombros se abaixam ainda mais. Ele sabe que fez coisa errada.
— Elas são melhores que o Nyn, mas seguram o cio só por alguns
dias. Para segurar tanto tempo assim, só tomando Nyn. Isso se ele fizer o
efeito direito em você, se não, vai te deixar insano e com um cio quase
assassino — explico e os olhos dele começam a brilhar menos. Vladimir
está ficando menos irritado e isso é bom.
— Eu tomo toda semana uma porção de pimenta azul.
Não deixo que o susto que sinto fique exposto no meu rosto. Vladimir
não deveria ficar tomando pimenta azul por tanto tempo. É como tomar
pílula do dia seguinte toda vez que você transa.
— Isso é bem ruim, você sabe, não sabe? — pergunto e ele faz que
sim com a cabeça. — O macho persanes com quem pude estudar me disse
que…
— Você estudou com um macho?! — berra, com os olhos de repente
voltando para o laranja feroz, e antes que eu possa fazer qualquer coisa,
Vladimir estica o braço e me puxa, tirando totalmente o meu equilíbrio e
me fazendo cair em sua direção.
— Porra! — grito, assustada.
Ele é tão forte, que consegue me pegar e me ajeitar da forma que
deseja, mesmo que eu esteja gritando desesperada, com medo de ser ferida,
e a secretária também.
— Vladimir, solte a médica! — Ela exclama correndo até nós na
cama, contudo, o persanes me coloca debaixo dele, apoiando muito do seu
peso em mim, para me imobilizar e impedir que a secretária tenha acesso a
mim.
— Não chegue perto, Cindy, o seu cheiro é nojento! — berra para a
secretária e se ajeita ainda melhor. — Ela é minha fêmea agora!
Capítulo 5

— Largue a mulher, senador! Irá machucá-la assim! — A secretária


retruca e isso só faz Vladimir se grudar ainda mais em mim, querendo
garantir que não serei tirada dele, como se eu fosse o seu bicho de pelúcia
preferido.
— Cindy, não chegue perto e faça silêncio, ou vai irritá-lo — a minha
voz sai fraca, porque o meu corpo todo está quente, arrepiado e até meio
mole. Não esperava ser agarrada assim, mas era um risco a ser considerado,
já que mesmo que Vladimir ande por aí como um político respeitado de
terno e gravata, ele ainda é um persanes. Um bem grande e que é suscetível
a sua natureza. — Ele está selvagem agora por causa do cio tardio, não
lembra quem você ou eu somos, então nada de movimentos bruscos —
aviso, mesmo que não consiga ver a mulher desse ângulo.
Estou deitada na cama macia de Vladimir, com um pouco de cabelo
no meu rosto, rodeada por seus músculos e seu cheiro, vendo a barba escura
e cheia dele. O peitoral alto dele está a centímetros de mim e eu mal
consigo respirar observando os piercings dourados em seus mamilos cor de
rosa queimado.
A maioria dos persaneses tem piercings, mas não achei que Vladimir
fosse obedecer a essa tradição, já que vive entre os humanos como um
homem sério e nada selvagem. Mas olhando daqui eu vejo os furos nas
orelhas, nos mamilos e talvez eles também estejam em seu pau. Porém,
nisso não quero pensar.
Não posso.
O sentimento que tive ao conhecer Vladimir oito anos atrás foi
principalmente admiração. Claro que pensei em outras coisas, como não
pensar? O cara tem um cheiro e uma aparência que fazia o meio das minhas
pernas quase arder naquela época. Perdi minha virgindade pensando nele e
nunca admitirei isso em voz alta.
Mas agora, com ele assim em cima de mim, eu tenho medo que os
feromônios dele logo comecem a me afetar também. O corpo dele fará de
tudo para atrair uma fêmea em potencial para a cópula.
Os olhos alaranjados dele quase engolem o meu rosto de tanto que me
encaram e o rabo dele se enrola no meu tornozelo, macio e longo, mas forte,
me causando uma dificuldade imensa de pensar.
— O-o que você está fazendo, senador? — tento falar seriamente com
ele, porém, acabo gaguejando com toda essa situação estranha e o persanes
me mostra as presas longas num rosnado animal, me fazendo vibrar. — Não
me machuque. — Tento empurrá-lo com as mãos, me livrar dessa sua
armadilha, contudo, a minha força não é nada contra os seus músculos
tensos e todos à mostra agora. E eu ainda toco o seu peitoral quente e tenho
vontade de me esfregar ali.
Com certeza já estou sendo afetada pelos feromônios.
Olhar para ele agora é como observar uma obra de arte proibida ou
mais do que isso. É como ver algo que eu sempre desejei e que está tão
perto, mas tão longe ao mesmo tempo.
Se eu tenho quase um metro e setenta de altura, com coxas grossas e
quadris largos que a minha mãe sempre criticou, ele deve chegar na casa
dos dois metros brincando, assim como a grande maioria da sua espécie.
— O seu cheiro é muito bom, fêmea humana.
Usa as suas grandes mãos para pegar os meus dois braços juntos e
levantá-los acima da minha cabeça, grudando-os na cama de lençóis
revoltos, o que me torna ainda mais sua refém.
Eu tento me soltar, mas cada movimento meu é em vão. Vladimir só
me faz suar, sou só o seu brinquedo e tudo que faço o entretém e me deixa
mais quente.
— O seu cheiro de medo é uma delícia… — Ele engole saliva,
percebo o movimento do seu pomo de adão, como se pudesse babar só pelo
meu aroma. — Então agora é minha, só preciso que tire esses panos. — A
voz dele fica cada vez mais grossa.
Estica o meu corpo debaixo do seu à força, me puxando pelos braços
como se eu não pesasse nada, e se coloca entre as minhas duas pernas,
enquanto eu fico sem reação, sendo obrigada a empinar os seios para ele, se
não quiser sentir dor.
Eu deveria continuar tentando fazê-lo voltar ao normal, mas estou
hipnotizada pela expressão de ira em seu rosto e nas suas palavras. “Então
agora é minha”.
— Chega disso, vou chamar a polícia! Ele está atacando a senhorita!
— A secretária não aguenta ficar calada e berra ao ouvir a nossa estranha
conversa, o que faz Vladimir me revelar algo que me deixa trêmula.
Ele está só de cueca pelo que sinto em suas pernas e tem um volume
muito grosso, molhado, duro e quente na frente, que o persanes aloja contra
a minha coxa e me faz sentir enquanto me imobiliza.
Essa é só uma reação normal do cio, não tem nada a ver comigo. Não
posso ficar atraída por isso, é errado!
Então por que é que sinto a minha intimidade contrair?! Merda! Estou
quase arregaçando as pernas para ele me comer aqui!
— Não chame a polícia, vão maltratá-lo! Está tudo bem, ele não fez
nada comigo — aviso a secretária, olhando como o corpo dele se move tão
sorrateiramente por cima de mim.
Os chifres no alto de sua cabeça, as tatuagens, que são como uma
obra de arte do acaso, e todas as suas outras diferenças só deixam o
momento mais bestial.
— Mas ele está em cima de você e… — Cindy para a frase no meio,
porque Vladimir abaixa devagar para me cheirar melhor.
Enfia seu rosto primeiro no meu cabelo e depois vai descendo pela
lateral da minha cabeça, até chegar no meu pescoço. Eu começo a tremer
ainda mais forte em resposta.
— Minha fêmea — rosna e me deixa com a boca seca. — Minha para
montar. — Sinto algo quente na minha orelha e depois de uma fração de
segundo, eu entendo que é a sua língua.
Ele enrola a língua quente e maleável na cartilagem e depois nos
meus brincos da orelha direita e eu arfo, fazendo o meu melhor para não
gemer desesperada, porque esse é o meu ponto fraco. A saliva e a
respiração quente dele me deixam em ponto de combustão, brigando
comigo mesma.
— N-nós já nos conhecemos e ele nunca me faria mal, Cindy —
sussurro e espero que ela consiga me ouvir, porque só o que escuto é o meu
coração em meus ouvidos e os sons da língua e da saliva de Vladimir. Eu
gostaria de poder cruzar as minhas pernas e procurar um pouco de alívio
agora, porque sinto o meu clitóris pulsar muito. — Só abra a maleta que eu
deixei cair no chão… enquanto ele me agarrava… — A língua dele desliza
para o meu pescoço e os meus olhos se reviram. Consigo senti-lo na minha
intimidade, é como se estivesse me lambendo lá. — E pegue um potinho
transparente com tampa verde.
— O que tem no pote? — pergunta, atrás do corpo massivo do macho
em cima de mim e eu juro que quero matá-la.
— Pare de falar, fêmea! — ordena, mostrando mais as presas, cara a
cara comigo. O seu nariz toca a ponta do meu e ele o esfrega ali, quase
como um carinho. Sinto o seu hálito quente no meu e amoleço ainda mais
com a sua demonstração de poder. Esse é outro macho, não é Vladimir de
jeito algum. — Vou montar você — avisa e eu arregalo os meus olhos.
Merda, merda e merda! Isso não pode rolar! Eu sou a médica dele
agora!
— Só pegue o pote, tem erva para gato — revelo bem devagar, mas
não conto que dentro do potinho também tem horliça, planta que vai
derrubá-lo bem rápido.
— Não estou achando, doutora! — O desespero da secretária passa
para mim e eu a escuto mexendo nos meus potes.
— Procure direito — falo entredentes e Vladimir continua
explorando, agora descendo para os meus seios. Os meus mamilos ficam
apertados dentro do sutiã e eu os sinto quase doer, de tão duros. — Você
gosta do meu cheiro, garotão? — pergunto, fingindo estar calma, e ele faz
que sim com a cabeça. — Então pode me cheirar, mas depois vou te dar um
pouco de algo que vai te acalmar. — É um milagre que eu ainda consiga
falar, mas essa habilidade logo vai embora, porque Vladimir roça as suas
presas na pele sensível do meu pescoço e faz eu me revirar.
Estar à mercê dele, presa desse jeito, está me deixando cada vez mais
excitada e isso é errado de tantas formas! Por ser Vladimir que eu deveria
ser uma boa médica, porque ele merece o melhor tratamento, não uma
profissional que fica molhada porque o seu paciente se descontrolou.
Isso ficou para trás, ficou para a Crystal adolescente e carente.
— Sem morder — arfo e ele passa a segurar os meus braços com uma
mão só e com a outra usa as suas garras para começar a rasgar o meu
vestido. O som do tecido se partindo enche os meus ouvidos e Vladimir
aprofunda o meu decote. — Porra…
A longa língua dele fica de fora, desliza pelo vale entre os meus seios
e vai descendo junto com a sua respiração quente. Mesmo para um
persanes, Vladimir tem uma língua grande. A dele chega a pelo menos
quatro dedos abaixo do seu queixo e só de imaginar aquilo dentro de mim, o
meu corpo tem um solavanco.
— Não faça isso — a minha voz soa mais como um gemido excitado
do que uma ordem. Ele está me dominando e eu só quero me submeter, mas
não posso. O cio dos persaneses atua quase como uma doença, afetando
tudo nele, então devo tratá-lo. — Me deixe ir, senador. — Uso o seu cargo
para tentar trazê-lo de volta.
Ele esfrega um pouco o volume dele na minha coxa e por alguns
segundos isso me deixa sem ação, respirando o seu cheiro maravilhoso e
pulsando por conta da quentura da sua ereção. Está completamente duro e
pressionando contra mim.
— Minha — rosna e de repente o persanes decide me virar e as suas
mãos vem logo ao meu resgate, pois tento engatinhar para longe. Ele me
pega com firmeza, sem espaço para nenhuma gracinha, e me põe de quatro,
só para agarrar os meus dois braços e imobilizá-los nas minhas costas. —
Minha! — praticamente urra atrás de mim e eu engulo um gemido de dor.
— O que ele está fazendo?!
— Está preparando para me montar, é assim que fazem no cio. —
Como se falar isso atiçasse o macho ainda mais, ele começa a reunir o meu
cabelo em suas mãos sem nenhum cuidado, puxa bem o meu couro
cabeludo, e pressiona a sua ereção contra a minha bunda num vai e vem que
é a porra da coisa mais excitante do mundo.
Por que estou gostando de sentir dor, meu Deus do céu? Ele não tem
o mínimo de cuidado de como me toca!
Sinto as garras de Vladimir cutucando a minha cintura, passando pelo
meu corpo, e se eu fizer algum movimento brusco, elas se afundam.
— Montar como um animal?!
— Só abra o potinho e coloque em cima da cama, o cheiro vai atraí-
lo! E depois saia! — Perco totalmente a minha paciência com a mulher, que
deve estar em choque e por isso não ajuda em nada.
— Sair? Está maluca?! Ele vai te estuprar!
— Tudo bem, então. — Respiro fundo, mesmo que agora Vladimir
esteja quase tentando me comer com roupa. Ele puxa a minha cabeça para
trás e me faz empinar o traseiro de um jeito que é imoral demais. — Só abra
o pote e balance um pouco para ele sentir o cheiro.
Escuto o pote ser aberto e ela com certeza o sacudiu bastante, porque
o aperto de Vladimir diminui sobre mim no mesmo minuto.
— Que cheiro é esse?! Me dê isto! — berra e sai de cima de mim para
querer avançar nela.
— Jogue o conteúdo do pote na cama e saia do quarto devagar, sem
correr — ordeno e ela joga tudo em cima do lençol e depois termina de
obedecer às minhas instruções, enquanto Vladimir faz exatamente o que eu
previ.
Ele gruda o rosto onde a erva de gato com horliça caiu e se esfrega
nas ervas enquanto eu me recomponho e consigo sair da cama. E depois de
um breve momento, as suas pálpebras começam a pesar e ele cai num sono
profundo.
Capítulo 6

— O que aconteceu naquele quarto, exatamente? — pergunto


entredentes e me mantenho sentado, controlando o melhor que posso a ira
que nasce cada vez mais em mim.
Acordei na cama do meu quarto sentindo como se um trem de carga
tivesse passado por cima de mim e rodeado por uma erva estranha, que
nunca senti o cheiro antes. Tinha dores nas costas, na cabeça, nas pernas e
até na virilha! As minhas bolas estavam inchadas!
Depois disso eu tomei um banho rápido e ao tentar sair do meu quarto
eu descobri que estava trancado em minha própria casa! Com certeza isso
foi uma obra dessa menina na minha frente, que se diz doutora.
— Você ficou agitado e eu te dei erva de gato com horliça. — Morde
o lábio inferior, culpada, o que me faz soltar uma respiração com raiva. É
ridículo que eu tenha que ficar aqui, perguntando o que aconteceu comigo
para Crystal.
— Erva de gato?! Você me deu erva de gato?! — Arqueio uma
sobrancelha e olho para o relógio no meu pulso.
Tenho que estar na casa onde, eu e meu irmão crescemos, em 15
minutos, mas ao invés de encontrar o meu filho e ir para o evento, estou
aqui, com essa menina que cheira a medo e não tem nem coragem de
levantar os olhos para me encarar. Ela escolheu um ponto no tapete debaixo
dos nossos pés e se fixou nele.
— O meu professor da França que mostrou que persaneses gostam
bastante de erva de gato e foram menos de cinco minutos desmaiado com a
erva, você caiu deitado na cama e nós saímos correndo do quarto. Depois
disso ouvimos o chuveiro e logo você tentou abrir a porta.
Escuto daqui ela engolindo em seco, enquanto o seu coração bate
ainda mais forte.
— Como posso acreditar que fiquei agitado, se não me lembro de
nada disso?
— Pode acontecer quando um macho está no cio, ele pode perder a
memória caso tenha ficado muito tempo sem se aliviar.
— Você está me dizendo que estou no cio agora mesmo? Eu tomei
banho normalmente e me vesti sem problemas. — Dou de ombros, me
sentindo sim irritado, mas não ao ponto de ser um cio. Só estou puto em não
saber exatamente o que ela fez comigo, pois pode muito bem estar
mentindo. — Inclusive, eu tenho um jantar daqui a pouco.
O meu peito dói em lembrar sobre o que é o jantar hoje, porque o meu
celular que teve que me avisar do meu compromisso. Simplesmente ignorei
que é o aniversário de Ellona, a minha primeira e única esposa.
— Você está bem porque eu te dei as ervas e também porque você se
masturbou no banho, provavelmente. — A sua frase me deixa em silêncio,
porque sim, eu me masturbei no banheiro, porém, não quero falar sobre
isso. Ela não é minha médica de verdade, é uma stalker que pode muito
bem voltar a me seguir por aí ao menor sinal de interesse. — A tatuagem de
lobo sempre esteve no seu peito? — Os olhos dela quase faíscam de
ansiedade ao se conectarem com os meus.
Eu gostaria muito de ter em vídeo tudo o que aconteceu após a
chegada de Crystal. Só do que me lembro, é da nossa conversa inicial e
depois as coisas ficaram todas obscuras e confusas.
— Não, apareceu alguns anos atrás. — Mais exatamente no dia em
que a conheci. — Mas não se preocupe com lendas bobas, eu conheço uma
dúzia inteira de persaneses que tem a marca do lobo no peito e nem por isso
estão criando a “nova era”. — Uso um tom sarcástico que não agrada
Crystal em nada, fazendo-a franzir a testa e semicerrar os olhos.
— Nós precisamos investigar melhor o seu cio e ver como deve ser
procedido. — A sua postura fica mais séria. — Pelo que sei, você deve
informar ao líder persanes de sua cidade sobre o seu cio, certo? — pergunta
e aperta mais o jaleco branco em volta do corpo.
Crystal não está com o cabelo como antes, está mais bagunçado, o
que significa que eu realmente devo ter dado trabalho. Contudo, não sinto
cheiro de sangue, então sei que não a machuquei, nunca seria capaz de fazer
algo com essa garota.
— Eu não estou no cio! — exclamo, irritado com a sua insistência. Só
porque estudou alguns anos, não quer dizer que sabe tudo sobre a minha
espécie, ela continua sendo humana! — Já tive cio na minha vida e não foi
assim que me senti!
— Não fale assim comigo — diz entredentes e se ela fosse uma
persanesa, estaria rosnando agora. — Você está mais velho e passou tempo
demais tomando pimenta azul, talvez agora ao invés do cio chegar de uma
vez, ele chegue em descargas rápidas e potentes — argumenta com a
mesma teimosia que usou tantas vezes oito anos atrás, querendo invadir as
reuniões onde eu estava para “me falar algo importante”, quando a única
coisa importante que ela tinha a dizer é que queria se agarrar a mim.
Nunca entendi se Crystal queria um pai que cuidasse dela, já que seu
pai de verdade sempre foi um humano mesquinho, ou se achava que poderia
substituir a minha esposa só porque lhe contei como as coisas eram entre
nós numa noite de fragilidade de ambas as partes.
— Se estou no cio, vou tomar outra porção de pimenta azul e segurar
até que o meu curandeiro chegue de sua viagem. Nada precisa ser feito com
pressa e você já pode ir. — Me coloco de pé e vou até a porta do meu
escritório, que abro para que saia.
— Você vai prejudicar a sua saúde tomando bloqueadores de cio
assim! — Ela não desiste e levanta a voz para mim. — Eu sei que não
existem estudos sobre persaneses, ainda mais a longo prazo. Mas Anastase,
o meu professor, disse que tudo que bloqueia a natureza real do corpo
persanes é ruim para a saúde — fala, com o seu nariz arredondado
empinado.
— Nós não iremos fazer nada, menina! Eu vou falar com o meu
curandeiro assim que ele voltar de viagem e você vai sumir da minha frente.
— Aperto a maçaneta entre os meus dedos com força.
— Não sou uma menina, sou uma médica e estou dizendo que você
não está em estado de ir a lugar algum! O seu curandeiro pode demorar a
voltar e você poderia atacar alguma mulher por aí e fazer algo feio e
doloroso para ambos os lados! — Comprime os lábios com amargura. — O
líder da sua cidade tem que saber o seu estado atual, é perigoso!
O jeito como fala desperta algo em mim, uma avalanche de raiva. A
pressa e o desespero, a forma como aperta mais o jaleco em volta do corpo
para que eu não a veja, como se eu fosse um monstro que não sabe se
controlar! Como se eu fosse atacá-la só por ver o seu vestido. Sendo que eu
sempre fui o persanes mais controlado que conheço, o que mais lutou contra
os seus instintos por um bem maior!
Para chegar onde estou, várias vezes tive que engolir a minha cultura,
a minha religião, a minha história e até segurar rosnados e a minha ira para
não amedrontar esses malditos humanos que não sabem a mínima do que
estão fazendo!
— Eu não vou atacar ninguém! E você é tão profissional, que mal
consegue me olhar nos olhos, porque só pensa em como voltar a me
perseguir! Não vou aceitar a opinião de uma stalker! — Vou em sua direção
e ela se encolhe mais contra a parede, abaixando a cabeça e escondendo o
rosto. Perde a postura durona em uma fração de segundos. — Você pode até
ser uma boa médica, Crystal, mas não para mim! — Coloco uma mão do
lado de sua cabeça e me inclino instintivamente contra o seu corpo.
Ela terá que me ouvir, não pode inventar uma historinha que eu sou
perigoso e sair informando o líder persanes da minha cidade de um cio que
nem existe!
— Se eu não consigo te olhar nos olhos, a culpa é sua, que rasgou o
meu vestido, me colocou de quatro e falou que ia me montar na frente da
sua secretária Cindy! — O seu cheiro de medo e de estresse aumenta ainda
mais.
Humanos exalam muitas de suas emoções através de seus poros. Eu
consigo sentir o cheiro de medo e de raiva ou estresse, quando eles ficam
ansiosos e inquietos, mas alguns persaneses conseguem sentir odores
característicos de doenças como o câncer, por exemplo, e da tristeza.
— O quê?! — questiono incrédulo e ela abre o jaleco e me mostra o
seu vestido azul rasgado na área dos seios. A lingerie rosa pink delicada
dela molda os dois montes.
Fico em silêncio, em choque com a sua revelação, mas também em
ver o seu corpo assim. A respiração nervosa dela faz os seus peitos subirem
e descerem rapidamente e eu tenho que engolir o tanto de saliva que
produzo do nada, feito um pervertido que nunca viu seios na vida.
Por Deus… mas os dela parecem tão macios, assim como a sua
barriga e seus lábios.
Caralho, Vladimir!
— Pode confirmar tudo com a sua secretaria, se quiser. — O seu tom
se abaixa, vira quase um sussurro, e Crystal levanta o rosto para me encarar,
com medo, mas ainda decidida. — Você não está bem, lambeu o meu
pescoço e esfregou a sua ereção em mim.
Arregalo os meus olhos com a revelação.
— Eu não… me lembro disso.
— Mas aconteceu. — Dá de ombros, como se quisesse colocar tudo
isso para trás. — E poderia ter sido com qualquer outra, então é meu dever
como médica não deixar que você machuque alguém! — Crystal sabe como
se impor, não é mais a mesma adolescente que fazia escândalos, agora ela
argumenta.
— Sinto muito. — Tomo a fêmea pelo queixo com a maior delicadeza
que consigo e isso a deixa assustada, pois mexe os lábios sem conseguir
formar palavras. — Eu machuquei você de mais alguma forma?
— Não… — Dá um passo para trás e se livra das minhas mãos. —
Você só estava descontrolado e eu soube como lidar com a situação. Sei que
não quer fazer mal a ninguém, mas no seu estado atual, qualquer mulher
poderia ser alvo, basta que você goste do cheiro dela — fala como uma
verdadeira especialista no assunto.
Eu sei o que nós dois estamos pensando, no dia em que Ramon a
atacou. Sempre imaginei se aquilo ainda tinha ficado gravado nela e
obviamente ficou, o que é horrível. Eu deveria ter chegado mais cedo,
contudo, estava preso nos meus próprios pensamentos e demorei a entender
as vozes dela e de seu agressor.
— Existe alguma fêmea com quem você conviva com frequência que
te deixe excitado? — Ela obviamente quer manter uma postura profissional,
o que não é nada ruim. Até que Crystal parece ir bem nessa coisa de
medicina.
— Não, ninguém. Eu sinto muito por ter feito isso com você. Não me
lembro de nada mesmo, mas por favor, me desculpe, e fico aliviado que o
meu assédio não tenha ido além — reforço as minhas desculpas, mesmo
sabendo que o melhor seria não ter feito.
Mas será mesmo que estou descontrolado?
Contudo, enquanto tentava provar que não estava no cio, eu a
encurralei contra a parede, levantei a minha voz e ainda encarei o seu corpo
com luxúria. O que significa que com certeza a minha mente e o meu corpo
estão alterados.
Merda!
— Se não vai me ouvir, tome a pimenta azul e use isso, vai
potencializar o efeito. — Tira algo do bolso do jaleco e coloca na minha
mão. Os meus dedos têm quase o dobro do tamanho dos dela. — Eu acabei
o meu trabalho aqui, mas se o seu curandeiro não chegar logo e você ficar
indo em eventos, vou te denunciar para o seu líder persanes. — É firme em
sua posição e sai do meu escritório batendo os seus saltos com plumas.

Estou a pelo menos uma hora sentado na mesa de jantar na grande e


luxuosa sala que o meu irmão mantém na mansão do centro. Ao chegarmos
eu tive que controlar bem os meus ânimos, não deixar que os meus
batimentos aumentassem muito, ou todos no lugar saberiam que tem algo
de errado comigo.
Não posso avisar nenhum líder da cidade sobre o meu cio, quero
continuar com o meu mandato em paz.
No entanto, depois de um tempo eu consegui relaxar e perceber que a
pimenta azul e a erva que Crystal me deu me mantiveram realmente
indetectável, sem o cheiro característico do cio e sem mais nenhum lapso de
memória ou cegueira.
Nem meu irmão Orinn e sua esposa Melinda cheiraram algo de
diferente e agora eles já até deixaram a mesa para tratar de assuntos
particulares. Provavelmente algo a ver com a mulher chamada Karina que
Klaus trouxe para o jantar.
Infelizmente, a minha família, os Dark Elf, vivem num estado
constante de inveja, intrigas e competição. Eu tenho dois sobrinhos, Klaus e
Dante, que disputam em tudo que é possível e isso causa problemas aos
dois. Dante mal tem vida social, só pensa em trabalho, e Klaus finge que só
pensa em farrear, mas na verdade está sempre trabalhando também.
Contudo, fiquei feliz que no jantar de hoje, que comemora o
aniversário da minha esposa caso ela estivesse viva, Klaus apareceu com
uma mulher, pois sei como lidar com fêmeas, para ele, é algo difícil.
A comunidade persanesa o rejeita muito por nunca ter tido cio ou as
tradicionais roranis, por isso ele sempre foi excluído de possuir uma fêmea
a longo prazo.
Klaus ergueu um muro em volta de si, como se não quisesse mesmo
acasalar com alguém, mas eu sei que no fundo ele continua um pouco como
o filhote assustado que perdeu os pais. E me dói ainda mais saber que o
meu filho também não está tão longe disso, pois cresceu sem a sua mãe e
ainda tem problemas com o próprio corpo.
— Está tudo bem, pai? — Filipi pergunta, tirando a minha atenção
dos meus pensamentos.
O cabelo loiro extremamente claro dele está arrumado e menos
rebelde do que o normal hoje, e ele se senta ereto na cadeira. É sempre
estranho ver como Filipi cresceu e isso só fica ainda mais evidente quando
vai a eventos com terno e gravata, onde o paletó está sempre apertando os
músculos de seu braço, mesmo que o seu rosto ainda core com muita
facilidade e ele tenha um sorriso de menino.
— Sim, porquê? — respondo rápido e tomo mais da minha água. Não
estou tomando o vinho especial feito no solstício, não quis brincar com a
sorte, já que a bebida é conhecida por aumentar a libido.
— Você está calado… — Dá de ombros. — Sei que hoje não é um dia
legal, mas soube que houveram problemas na sua entrevista.
— Uma humana invadiu a sala onde eu estava respondendo perguntas
e foi bem irritante, nada demais. Só o de sempre. — Encosto-me contra a
cadeira, querendo mostrar uma imagem relaxada, e reparo que o olhar de
Filipi não está em mim, e sim na tal mulher que Klaus trouxe para o jantar.
Ela observa as obras de arte na parede. — Você gostou dela, não gostou? —
cochicho, para não o envergonhar perto de Niflin, que ronda a fêmea
também.
— Ela é bonita. — Engole em seco e desvia a atenção da menina, que
eu sei que logo será dispensada por Klaus.
Mesmo que seja algo novo ele comparecendo a um jantar e ter trazido
uma fêmea, em alguns dias nunca mais irá vê-la. Persaneses não se dão bem
em relações com humanos, não importa o quanto eles tentem se adequar.
Tenho certeza que essa garota nem ao menos pode satisfazer o meu
sobrinho. Não que eu esteja pensando sobre isso profundamente, mas sim
porque persaneses são ligados demais ao sexo. É algo muito importante e
frequente para nós.
— Se você quiser, eu poderia te apresentar a algumas pessoas —
ofereço, ainda baixo. — Macho ou fêmea, só me diga o que procura e eu
acho. — Afago o seu ombro para mostrar apoio.
— Gosto de fêmeas, pai.
— Então te apresentarei algumas mulheres da sua idade.
Eu poderia arranjar facilmente uma persanesa para Filipi, tenho
contatos, conheço muitas famílias. O problema é que ele cheira a medo com
muita facilidade e isso as afastaria, porque diferentemente dos machos
persaneses, as nossas fêmeas não gostam de sentir o cheiro do medo em seu
parceiro.
— Você? Me apresentar a mulheres? — Arqueia as duas sobrancelhas
loiras em seu rosto e quase ri. Ele herdou a cor de cabelo de Ellona, assim
como os olhos azuis. — Desde que a minha mãe morreu que nunca mais te
vi ao lado de uma fêmea.
— Isso não é verdade. — Nego na mesma hora e tento achar em
minha cabeça algum nome para confirmar a minha fala.
O problema é que não encontro ninguém com quem eu tenha me
relacionado de verdade, um drink ali, conversas casuais, mas nada além. A
minha mão tem sido a minha maior companheira desde que Ellona faleceu,
o que já faz tempo demais.
Pensando assim, faz sentido mesmo que eu tenha me descontrolado.
Eu trabalho demais.
— É, teve Crystal também, a sua stalker que tentou invadir a nossa
casa umas trezentas vezes! — exclama e eu sinto um amargor na boca.
— Por que você está falando sobre a Crystal? — pergunto,
desconfiado. Nós nunca falamos sobre ela. Será que Filipi sentiu o cheiro
dela em mim? — Não quero falar sobre essa menina.
— Por nada, só me lembrei dela.
— Olhe lá, a mulher está sozinha agora, vá falar com ela. — Mudo
logo de assunto. — Klaus está indo para a varanda, eu vou falar com ele e
você tem tempo para falar com ela.
— Falar sobre o quê? — Ele se encolhe na cadeira, não gostando da
ideia.
— Eu sei lá, meu filho, só fale sobre algo, antes que Niflin pule na
coitada cheirando a medo — sussurro.
— Tudo bem — resmunga, se levanta e logo consegue puxar assunto
com a mulher, que parece ser alguém fácil de falar. Ela também é
obviamente tímida como Filipi e isso é bom.
Espero que eles se deem bem, não quero que o meu filho fique como
eu.
Capítulo 7

Fico observando o persanes de olhos verdes musgo por alguns


segundos, comparando-o com o meu irmão falecido, e tentando enxergar o
que herdou do pai e também o que temos em comum.
Klaus tem cabelos escuros e a pele muito mais bronzeada do que a
minha, pois o meu sobrinho tem tempo demais para sair por aí e causar
problemas. Ele sempre está nos jornais e a invasora da minha conferência
hoje mais cedo, pode muito bem ter tido o coração partido por ele e por isso
ter tentado se vingar.
Mas basicamente temos quase a mesma altura e o formato do corpo,
pois diferentemente dos humanos, o corpo persanes permanece muito mais
tempo forte, mesmo que a nossa expectativa de vida não seja tão diferente
assim, só com uns aninhos a mais. Ter 45 anos não me diferencia tanto dele,
que deve estar com trinta e um ou trinta e dois agora.
— Quem é a garota? — pergunto para o meu sobrinho na sacada, que
sabe que está sendo observado.
— A garota é minha nova fêmea, eu já disse — responde, olhando o
horizonte.
A mansão Dark Elf fica praticamente no meio de um parque, de tanto
espaço e jardins que têm a sua volta. Está aqui há muitos anos e foi onde eu
convivi com os meus dois irmãos mais velhos, até que um por um nós
fomos embora, formar as nossas próprias famílias.
Aqui tem muito dinheiro jogado fora para impressionar outros
persaneses de família rica, por isso os Dark Elf são praticamente os mais
poderosos na cidade, os nossos antepassados não tinham medo de gastar
para chegar onde precisavam.
Contudo, mesmo achando um desperdício de espaço ter tanto jardim
assim só para agir como a realeza, confesso que é algo lindo de se olhar,
ainda mais com uma lua cheia iluminando tudo.
— E quanto tempo pretende brincar com ela?
Um vento frio está rondando essa noite e traz os cheiros das flores
para mim, cheiros esses que estranhamente me fazem lembrar uma certa
menina de olhos castanhos expressivos e lábios carnudos. Crystal cheira
como uma flor de primavera e o medo dela me faz pensar um pouco em
folhas de menta.
— Por que se importa? — pergunta baixo, não querendo ser ouvido
por Niflin ou o meu filho, que permaneceram do lado de dentro com a
humana.
— Filipi dificilmente se interessa por alguém e ele parece gostar dela.
Quando acabar de brincar com a menina, me mande uma mensagem e diga
o valor, nem que seja só para ela fazer companhia ao meu filho.
Quero que Filipi tenha tudo que eu não tive na sua idade, nem que
seja para ter uma parceira temporária humana.
O meu casamento foi arranjado, nós não nos conhecíamos e os
primeiros meses foram caóticos, porque entrei num cio longo e dolorido
com vinte e poucos anos, o que é muito cedo para a minha espécie. Quase
enlouqueci Ellona, que era mais velha, querendo me aliviar constantemente
e mesmo assim ela foi muito compreensiva.
— Está querendo comprar a minha fêmea? — Arqueia uma
sobrancelha e eu sinto o cheiro de Klaus mudar um pouco. É como se uma
pitada de raiva saísse por seus poros.
— Esse garoto vai ter que aprender a lidar com o sexo oposto algum
dia desses e parar de cheirar a medo, e nós dois sabemos que você não tem
tanto interesse assim em humanas e só trouxe Karina aqui hoje para
provocar. — Dou de ombros.
— Não sei do que está falando… — O cheiro de raiva aumenta e eu
estreito os meus olhos.
— Você deve ter achado a menina em alguma agência de
acompanhantes, dessas que são pagas só para fazer pose, já que ela chegou
aqui cheirando a medo. Então quando tiver acabado, só precisa me dizer
qual agência e o resto eu cuido para ela passar mais tempo com Filipi. —
Nesse ponto da conversa estou falando mais para ver o que acontece, gosto
de seguir os meus instintos.
E como esperado, o aroma de raiva dele aumenta ainda mais.
Será possível que Klaus sente algo por essa fêmea?
Mas ela é uma humana pequena e sem nada de especial, não faz
sentido. É uma mulher de boa aparência? Sim, mas não o bastante para
despertar a possessividade em um de nós.
Crystal, por exemplo, nunca seria capaz de me fazer querer brigar
com outro macho por ela. Humanas não tem nem cauda! E elas não são
como as persanesas, que sabem seduzir.
— E o que você achou do cheiro de medo dela?
— Sabe que eu já não tenho mais idade para isso, depois que a minha
Ellona se foi, não existe mais nenhuma mulher para mim — respondo
rápido, pois é verdade, mesmo que tenha atacado a médica. O que
aconteceu foi um deslize pelo meu cio, não da minha própria vontade.
— Então ele não te afeta em nada? — pergunta, se referindo a tal
humana que trouxe aqui hoje e eu passo as mãos pelos meus cabelos e
engulo em seco, porque agora o meu corpo está querendo reproduzir o
cheiro levemente ardido do medo de Crystal para comparar.
— É um cheiro diferente, sim, se é o que quer saber, muito doce. Um
macho no cio com certeza não resistiria — murmuro, querendo fingir que
EU não sou a porra de um macho no cio! A diferença é que ao invés de
cheiro doce, o meu corpo parece preferir algo mais mentolado.
E só então eu percebo uma coisa, uma coisa séria e que esteve me
deixando estranhamente desconfiado nesse jantar todo.
Klaus não parou de perguntar sobre o meu sobrinho Dante, que todos
sabem estar muito próximo ao cio, e mesmo assim ele trouxe uma fêmea
não acasalada para cá, no jantar que sabia que seu primo provavelmente
compareceria. Fêmea essa que parece ter um aroma que agrada muito
alguns persaneses, como o meu filho, por exemplo.
Será possível que… ele fez isso de propósito?!
— Se você tem uma gota de misericórdia por essa garota, não faria
isso. Uma humana não sobreviveria ao cio de um de nós — falo entredentes
e o coração de Klaus dispara, consigo ouvir daqui.
Então ele realmente trouxe uma fêmea humana de propósito para
seduzir Dante e fazê-lo engravidar uma humana, já que está no cio! O que
mancharia o nome Dark Elf para as outras famílias!
— Você sabe onde ele está? — refere-se a Dante e assiste Filipi e
Karina pela janela, sem conseguir desviar o olhar.
Klaus não tem um pingo de noção! Ele poderia até causar a morte
dessa menina a entregando para um persanes jovem e no cio! A pimenta
azul me segura porque os meus cios já não são como antes. Se eu fosse
jovem e energético, só o Nyn daria jeito, esse sendo perigoso demais e
proibido.
No entanto, eu não posso me mostrar preocupado com esse plano
maluco de Klaus, pois ele é exatamente como um adolescente. Quanto mais
você fala que não pode fazer algo, mais vai querer.
— Com você ameaçando a presidência? Ele com certeza vai estar
sentado na cadeira amanhã… — murmuro e beberico mais da minha água,
quando nós dois escutamos uma risada feminina espontânea alta.
Karina está com um sorriso em seu rosto, olhando para o meu filho.
— Eu já volto — diz de repente e vai para dentro da sala num
caminhar que me parece muito decidido e que deixa para trás um rastro de
raiva.
— Não esqueça de pensar sobre a minha proposta! — exclamo, para
quem sabe fazê-lo passar a menina para Filipi antes dele acabar matando-a,
e encaro enquanto Klaus entra no meio da fêmea e de Filipi.
Pouco tempo depois ele está beijando a mulher apaixonadamente,
num golpe claro de ciúme, o que não faz sentido. Ele está com um plano
montado incluindo uma fêmea que tem interesse?

A campainha da minha casa toca mais ou menos às duas da


madrugada, quando ainda não consegui dormir e decidi ler algumas
papeladas que ficaram atrasadas.
Penso em ignorar a pessoa até receber uma ligação explicando quem é
e porque a pressa, no entanto, seja quem for não para de tocar no maldito
botão e o som ardido faz a minha cabeça doer.
Então sou obrigado a sair da minha cama, ir até a sala de estar escura
e pelo olho mágico vejo sem muita surpresa o rosto de Crystal. Ela está com
os cabelos presos num coque no topo da cabeça e não usa maquiagem,
encolhida contra a porta querendo se proteger do vento frio.
— Vladimir! — chama, como se soubesse que a estou olhando,
mesmo que isso seja impossível. — Vladimir, venha até aqui! — continua
gritando e eu abro logo a maldita porta, antes que acorde a vizinhança
inteira e me faça sair na capa de algum jornal barato.
Persaneses são perseguidos o tempo inteiro pela mídia, e enquanto
que para alguns isso pouco importa, para mim é um grande problema, já
que tenho um cargo público que depende de votação humana.
— Não podia esperar até amanhã para vir até aqui?! — pergunto,
irritado que ela esteja aqui na minha porta com um temporal se formando,
como fez várias vezes quando era mais nova.
— Vim ver se você estava bem. — Dá de ombros e eu encaro melhor
o seu corpo.
Ela usa shorts de moletom curto e colado demais e uma camiseta de
algodão larga, como se tivesse pulado da cama agora. Um rosnado quer
emergir da minha garganta, pois Crystal poderia muito bem ter sido
assediada por alguém na rua saindo nesse horário e parecendo tão… nua.
— Poderia ter me ligado e não feito todo esse escândalo aqui fora —
praticamente rosno as palavras e me afasto da fêmea pequena e curvilínea
demais, para que possa entrar logo. Ela dá passos determinados e eu fecho a
porta.
Crystal não poderia ter crescido e se tornado alguém menos atraente?
Com olhos menos marcantes, pois são alongados e hipnóticos? E uma boca
que parecesse menos um coração macio?
— A sua secretária nem quis me passar o seu número — resmunga e
tenta me enxergar na escuridão do cômodo, porque humanos precisam de
luz para ver bem. Já eu consigo assisti-la do jeito que as coisas estão agora.
— Você não me deu retorno algum de como foi a sua noite.
Ela infla o peito, o que deveria criar uma pose autoritária, mas só
serve para me mostrar como respira pesado mesmo, de tanto nervoso,
cheirando até a medo. Cheiro esse que nubla os meus pensamentos.
Está mesmo preocupada comigo?
— Preciso saber como você está ou vou te denunciar para o líder
persanes da cidade — fala com prepotência, como se pudesse me ameaçar.
— Duvido que ele iria se importar que eu estivesse no cio, mas tudo
bem — minto, já que o líder de Red Town com certeza gostaria de ter um
motivo para me foder. — Me examine, doutora Crystal.

Crystal
— A sua temperatura parece boa… — murmuro e eu me xingo
internamente por não ser capaz de diminuir o ritmo dos meus batimentos.
— Mas vou pegar o meu termômetro para confirmar. — Tiro a mão de sua
testa e vou em direção à minha maleta.
— Não precisa de um termômetro para isso, eu mesmo posso te dizer
que a minha temperatura está ótima.
Vladimir está sentado em sua cama de casal como hoje mais cedo,
contudo, agora ele está completamente vestido com um pijama de flanela
verde escuro que combinou bastante com a cor de sua pele.
— Você estava dormindo? — pergunta e eu faço uma cara de quem
não entendeu, então ele aponta para o meu short, que subiu um pouco mais
do que deveria.
— Fuso horário diferente — minto, já que não quero admitir em voz
alta que sim, eu não consegui dormir de tanta preocupação e vim correndo
para cá de pijama mesmo. Ainda mais que não sou fã de tempestades.
Esse cara tem me tratado mal e obviamente me subestimado desde
que me viu hoje mais cedo, e mesmo assim cá estou eu, sem conseguir
pregar os olhos pensando no tamanho do sofrimento que pode ter num cio
tardio e sem um curandeiro para ajudá-lo.
A verdade é que a cada semestre que passei estudando persaneses, eu
me apaixonei mais pela raça deles. E sabendo o quanto Anastase disse que
o cio pode ser dolorido, eu não quis deixar Vladimir numa tormenta sem
fim. No final das contas, ele me salvou tanto de Ramon, como de oito anos
ao lado de pais que pouco se importam comigo.
— Os seus batimentos cardíacos estão bons e você disse ter
compartilhado o mesmo espaço que uma fêmea não acasalada, e mesmo
assim não a atacou. Então acredito que tudo está bem, mas pode me ligar se
sentir que tem algo de errado. — Mais uma vez mantenho uma postura
profissional e escolho me afastar logo. Quanto mais próxima dele, pior.
Pego a minha maleta e coloco-me de pé antes que o cheiro dele fique
mais forte. Eu sei que não é perfume, são os feromônios que os persaneses
exalam por aí, e quando encontram uma fêmea em potencial, esses
feromônios só ficam mais potentes.
— Você chegou a estudar bem a mitologia persanesa? — pergunta de
repente e me faz parar no meio do caminho em direção à porta de seu amplo
quarto.
— Sim.
— E a Vrunsni? — Arqueia uma sobrancelha grossa e escura e eu
penso um pouco antes de responder.
— Estudei o que tinha disponível, mas não era muita coisa. Vrunsni
não eram do tipo que gostavam de documentar, estavam ocupados com
outras coisas, como você sabe. — Dou de ombros e Vladimir claramente
tem algo para falar, porém, demora um pouco a formular.
— Filipi tem… uma coisa a mais.
— Que tipo de coisa a mais? — Aperto a maleta entre os meus dedos,
porque simplesmente não consigo desviar os meus olhos do rosto dele.
A barba escura cobrindo a parte inferior do seu rosto parece ter
ganhado mais alguns fios brancos, o que é extremamente excitante, porque
me faz pensar que Vladimir seria ótimo em me segurar e saberia bem como
fazer as coisas, já que tem experiência.
Ele tem chifres grossos e pretos, o nariz fino e olhos que parecem ter
sido feitos perfeitamente bem para dar a ideia de que é um predador
incansável. É desconcertante encará-lo assim, em sua cama, tão relaxado.
— Filipi é como Persani, o último rei Vrunsni. — Continua falando e
eu praticamente tenho que brigar para ouvir qualquer coisa que sai de seus
lábios. — Logo quando ele nasceu o curandeiro disse que era uma bênção,
mas isso o deixou meio retraído.
Termina de explicar e fica me encarando, esperando que eu diga algo,
o que me faz morder o lábio inferior e desviar o olhar antes que perceba que
estou quase babando.
— Filipi tem… dois pênis funcionais? — pergunto com cuidado.
Essa característica é muito rara entre os persaneses, mas o meu
professor Anastase falou que já conheceu alguns machos que tinham e
viviam muito bem.
— Sim.
— É sério que isso o deixa com vergonha? A maioria dos caras que
eu conheci estariam em êxtase tendo dois paus! — exclamo, agora
entendendo um pouco a vergonha do loiro.
— Como foi a faculdade? — Desvia do assunto de repente e faz o
meu rosto esquentar numa vergonha que eu não costumo sentir faz um bom
tempo. Eu era assim só na minha adolescência, quando o conheci.
— Não fui a melhor da turma, se é o que quer saber. — Dou um
sorriso enviesado e assim como eu o encarei por um tempo, o senador faz o
mesmo. Ele me olha de cima para baixo, parando principalmente nas
minhas pernas de fora.
Isso deixa o meu coração galopando ainda mais no meu peito, até
lembrar que Vladimir está no cio. Não tenho que me animar com nada, nem
sequer pensar sobre isso, é muito antiético.
— Você parece ter aprendido bastante sobre a minha espécie. —
Cruza os braços na frente do peito, o que faz os músculos dos seus bíceps
ficarem ainda mais em evidência.
O calor do meu rosto se espalha para o meu colo.
— É bem mais fácil de aprender, sabendo que estou estudando algo
tão diferente. Eu só tive um professor, o único persanes que aceitou falar
sobre a sua espécie para humanos, mas nas aulas gerais ele não costumava
revelar muito, só nas que me deu de forma particular que realmente me
mostrou tudo que sabia. — Sei que estou falando bem mais do que ele quer
saber, provavelmente só perguntou para ser educado, porém, não consigo
parar. — Acho que ele confiava que eu não usaria o conhecimento para o
mal.
— Muitas aulas particulares dentro da faculdade? — Arqueia uma
sobrancelha.
— Metade das da minha especialização foram no meu próprio quarto,
o que facilitou bastante, já que assim ninguém escutava os segredos da sua
espécie — explico e um silêncio estranho e nada agradável recai sobre nós
dois.
— Quero te pedir algo, Crystal.
— Pode falar. — Eu chego perto dele, já que o assunto parece sério.
— Não se aproxime da minha família — fala tão friamente, que faz
uma pontada de dor me atingir no peito.
Pulei da minha cama no meio da noite para tentar ajudar esse cara e
ele continua me tratando feito merda…
— Você acha que vou fazer mal a alguém? — Franzo a testa,
indignada.
— Só não quero que saibam sobre a minha condição, então não se
aproxime de ninguém, nem de Klaus ou Filipi, com quem eu sei que você
conversou um pouco quando mais nova. E se encontrá-los, não diga que é
médica ou o que fez por mim, não quero que ninguém saiba pelo que estou
passando.
Fico com raiva instantânea de sua fala, porque eu sei que, na verdade,
está com vergonha de admitir para os seus familiares que recebeu ajuda de
mim, a “menina” obcecada.
— Você precisa de uma cuidadora de cio e não pode continuar
tomando pimenta azul — resmungo e prometo para mim mesma que essa
será a última vez que o verei por um bom tempo. Eu não mereço ter que
ficar ao lado de ninguém que me faz sentir inferior.
— A minha carreira está em um momento importante agora. Lido
mais com humanos do que com qualquer um da minha família e se eu parar
para cuidar do cio, semanas ou até meses sumido do meu cargo, vou perder
toda a minha credibilidade. Mas não se preocupe, o meu curandeiro irá
saber o que fazer.
— Tudo bem, então. — Respiro fundo. Não posso tratá-lo como
problema meu. Não posso e não vou. — Estou indo, Vladimir — falo e
dessa vez eu realmente saio do quarto, sem dizer mais nada.
— A minha secretária entrará em contato para realizar um bom
pagamento a você! — exclama e vem atrás de mim, escuto os seus passos
enquanto desço as escadas de sua casa escura e sem vida.
— Não precisa me pagar — nego e vou rápido até a porta, contudo,
ele coloca a sua mão no meu ombro e o meu corpo todo estremece.
Que merda é essa? Os feromônios dele estão agindo assim tão
rápido?
— Você demonstrou ser uma ótima profissional e quero te pagar.
Estou muito orgulhoso de você, menina, de verdade. E sinto muito pelo que
fiz mais cedo. — A sua voz é baixa e sincera de um jeito que faz a minha
garganta doer.
— Você pagou uma parte do meu curso, antes do meu pai ter dinheiro
para assumir, então não precisa me remunerar agora — respondo
secamente.
— Se você vê assim… — ele parece ter algo mais a dizer, contudo, eu
não deixo. Não quero ouvir mais nada, não estou a fim de ter que lidar com
problemas do passado.
— Boa noite — sussurro, abro a porta e saio em direção ao carro que
aluguei, antes que a chuva caía.        
Capítulo 8

— Senador Dark Elf! O senhor veio! — A voz entusiasmada de


Frederick Burner é a primeira coisa que escuto ao entrar pela porta dupla da
mansão espalhafatosa da família Falls. Burner está estranhamente sozinho
nesse cômodo inicial e com as mãos no bolso, como se esperasse por
alguém.
— Eu não perderia essa festa por nada. — Aperto com firmeza a mão
do homem que em cima do palanque apoiou os colegas que latiam contra a
existência de persaneses, mas que agora mantém uma postura de quase
adoração a mim.
A eleição de Frederick Burner como senador vem para ocupar a
segunda vaga disponível no meu estado e as pessoas que o escolheram
fizeram isso porque ele é a oposição à minha raça. Como já estou nesse
cargo há algum tempo, existem humanos nada satisfeitos com isso.
O senador é gelado feito uma cobra no seu aperto breve e os seus
olhos me encaram com cuidado, como se a qualquer momento eu pudesse
avançar nele, o que é realmente uma coisa que poderia acontecer, dado ao
meu nível de estresse atual.
— Demos bastante sorte hoje, o jardim da senhora Falls está lotado de
pessoas de bom coração. O Natal dessas crianças que vão se beneficiar com
o valor dos prêmios será incrível. — O seu sorriso se alarga ainda mais e o
cheiro da colônia dele me faz ter que prender a respiração para não ficar
nauseado.
Frederick não tem uma aparência ruim, tem trinta e quatro anos,
cabelos loiros e dourados, é muito magro, mais alto do que a maioria dos
humanos, e sabe como se passar por um bom cidadão americano quando
quer. Até alguns grandes políticos caíram na sua farsa, contudo, já sou
velho demais nesse ramo para me deixar enganar.
— Espero que tenha sobrado um lugar para mim no jardim da senhora
Falls, esse leilão será espetacular, com certeza. — Acabo soando bem mais
taciturno do que deveria, dou dois tapinhas em seu ombro e ele bate a sua
bengala decorativa no chão.
— Para um Dark Elf sempre teremos lugar! — diz entusiasmado e vai
me acompanhando conforme caminho pelo vestíbulo da mansão, cheio de
obras de artes e esculturas, feito um museu abarrotado. — Eu doei um colar
de família para ser leiloado e espero que levantem um bom valor com ele.
A festa beneficente de hoje foi toda planejada como uma espécie de
piquenique dos anos trinta. Isso não afetou em quase nada o meu figurino,
estou de paletó e calças pretas, com um colete cinza e uma camisa branca
por baixo. Já Burner usa um chapéu panamá na cabeça, uma camisa branca
com suspensórios e até pegou uma bengala.
— Irei logo até o jardim, então — murmuro, sem humor algum para
fazer gracinhas hoje, e vou me distanciando do homem, dando passos mais
rápidos do que ele poderia sonhar em conseguir acompanhar.
— Como o senhor é um ótimo homem, ou melhor, ótimo elfo, nunca
duvidei que não faltaria a esse evento beneficente tão importante! — fala as
minhas costas e eu não me dou ao trabalho de olhar para trás.
— Pode me chamar de Vladimir — respondo, chegando cada vez
mais perto da porta lateral do lugar, que não tem uma arquitetura tão
diferente da casa em que cresci, o que muda é que a senhora Falls escolheu
pintar tudo que pôde de vermelho.
Sei exatamente o que esperar do enorme jardim em estilo francês do
lado de fora, onde a alta sociedade se reúne para fingir que entende os
problemas dos pobres.
— Que honra poder usar o seu primeiro nome! — Frederick vem
praticamente correndo para ficar ao meu lado, o que o deixa ainda mais
patético, e só então percebo que ele ainda usa a aliança na mão esquerda e
me faz lembrar algo que foi combinado com a minha assessora de imagem e
eu nunca fiz.
— Gostaria de desejar os meus pêsames, nunca conversei com a sua
esposa, mas tenho certeza de que era uma ótima pessoa — murmuro e
Burner faz um aceno curto com a cabeça, nada muito emocional, até porque
ele sabe que só falei isso porque fui obrigado.
— De fato, Alice era uma das melhores pessoas que já conheci, uma
pena ter ido tão jovem — responde e eu finalmente respiro direito, porque
sei que essa interação acabou. Sigo logo para fora então, achando que terei
paz, mas não é o que acontece. Frederick vem atrás conforme eu observo a
tenda que armaram num ponto sem arbustos da mansão. Conto pelo menos
umas trinta pessoas falando sem parar e alguns funcionários as servindo. —
Me sinto muito confortado ao receber as suas palavras, que também perdeu
uma esposa.
Sinceramente? Hoje é um dos piores dias para Frederick puxar
assunto comigo. Se todos sempre olham para mim como se eu fosse quase
humano, já que mantive a minha reputação limpa e poucas vezes mostrei o
meu lado mais persanes, hoje eu me sinto mais bestial do que qualquer um
de minha família.
— É… — resmungo e sinto o sol quente na minha cabeça, tentando
imaginar como estão todos aguentando fazer essa maldita festa a fantasia
espalhafatosa, alguns usam até luvas e boinas e riem feito hienas, quando o
meu olhar encontra a fêmea humana sozinha num canto, com duas taças do
que deve ser champanhe em sua mão.
Ela escolheu um vestido laranja claro hoje e tem uma daquelas bolsas
que não tem alça e que eu nunca entendi muito bem para que mulheres
usam, como uma carteira grande.
A peça em seu corpo é teoricamente simples. O vestido é abaixo do
joelho, não tem estampas e nem um decote fundo, pois os botões fecham-se
muito próximo ao seu pescoço, e a saia é plissada, mas nada muito
esvoaçante.
Contudo, os seios de Crystal fazem a peça subir no busto, os quadris
largos e as coxas grossas chamam bastante atenção e bom… ela ainda está
dando um meio-sorriso cínico ao observar uma outra mulher tropeçar no
gramado.
Sem reparar, eu solto um suspiro baixo enquanto os meus olhos
observam a espécie de rabo de cavalo que fez e que deixa o seu lindo e
arredondado rosto bem à mostra. Os lábios em formato de coração estão
ainda mais destacados com um batom vermelho.
— Aquela ali é a sua perseguidora, não é? Lhe causou um grande
problema alguns anos atrás pelo que soube — Frederick, que eu queria
muito que já tivesse sumido daqui, fala e eu o encaro com uma sobrancelha
arqueada. — Você sabe como são os assuntos em Red Town.
— Eu sei — respondo baixo e continuo olhando como ela equilibra
uma taça em cima da bolsa e vira tudo em sua boca, depois faz o mesmo
com a outra e entrega as taças vazias para um garçom que passa.
Essa menina com certeza não deveria beber tanto.
— Ela já não me parece tão obstinada assim por você agora, e está…
bem crescidinha. — O seu tom é obviamente malicioso, ainda mais para
quem estava falando da bondade da esposa morta agora a pouco, e um
rosnado sai da minha garganta antes que eu consiga me parar, o que me
obriga a tossir rapidamente para encobrir o som. — O senhor disse algo?
— Não, não disse nada.

A cada pessoa que cumprimento enquanto Crystal fica à vista, eu me


torno mais nervoso, diferentemente do que aconteceu nos últimos dias,
onde o meu cio tardio nem deu as caras, controlado pela pimenta azul
misturada com a erva que a médica me deu.
Mas o problema é que mesmo que durante o dia eu me sentisse bem
nesse tempo longe, a noite as coisas mudavam completamente. Todos os
meus sonhos são povoados pela menina agora, por seus olhos, por sua boca,
por suas pernas naquele shortinho de moletom e por seu cheiro.
Depois eu sempre acordo tão duro que mal consigo respirar e estou
praticamente esfolado agora, porque a pressão que a minha mão é capaz de
fazer não consegue parar o meu desejo. Esse cio tardio está me fazendo
sentir um completo imbecil por desejar uma fêmea humana.
— Quanto tempo, Senador! — O pai de Crystal é uma das últimas
pessoas a vir até a mesa com toalha de renda me cumprimentar, ao lado dele
está a sua esposa, mas a filha deles continua na frente da mesma árvore
desde que cheguei, bebendo taças e mais taças de não sei o que e com o sol
do meio dia na cabeça.
— Faz algum tempo mesmo desde que nos vimos — colocando-me
de pé eu respondo engessadamente. Não consigo nem mentir um sorriso,
porque os olhos da porra do prefeito vão direto para onde os meus não se
desgrudam.
— Não precisa se preocupar, a minha filha é um exemplo de mulher
agora. Está formada em medicina e trabalha bastante. — Ele acha que
entendeu porque eu encaro tanto a mulher, mas é melhor que pense que é
isso mesmo, que estou com medo de ser stalkeado de novo.
Nunca quero ter que explicar em voz alta que estou cobiçando uma
fêmea vinte anos mais nova e que não é nada comparada à minha primeira
esposa, Ellona.
— Sim! — A mãe de Crystal fala dessa vez e eu não consigo nem me
concentrar nos rostos deles, eu me sinto quente e atordoado, acho que estou
até vendo uns pontos pretos. — Sabia que ela se especializou na sua raça,
senador? Soube que ela já arranjou bons clientes.
No tempo em que Crystal ficou fora do país, eu tive um contato até
grande com os seus pais, por conta da política, e não gostei nada do que
encontrei. Assim como todas as pessoas debaixo dessa tenda branca no
jardim, eles fariam qualquer coisa pelo dinheiro.
— Ela está atendendo outros persaneses? — pergunto, quase brigando
para conseguir ouvi-los por cima do som do meu coração batendo forte.
Que tipo de machos contratariam uma fêmea humana para atendê-los?
De certo os que querem tirar proveito dela, já que um curandeiro persanes,
na maioria das vezes, conseguiria saber o que eles têm apenas sentindo o
seu cheiro.
— Sim, está com a agenda toda do mês cheia! Vou chamá-la aqui
para te contar.
— Não precisa. — As palavras saem corridas e estranhas, com a
minha língua querendo enrolar dentro da minha boca.
Mas que porra é essa?!
— Claro que precisa, você ajudou muito a minha filha! Foi uma
grande inspiração para a nossa cabeça dura Crystal! — Continua fingindo
simpatia e só fica em paz depois de ir até Crystal e fazê-la vir até a minha
mesa, que está vazia, pois todos decidiram se levantar para conversar por aí.
— Oi, Vladimir. — A voz da fêmea vestida de laranja, que veio
andando até aqui de muita má vontade, envia uma onda de arrepios pela
minha espinha e mesmo que tenha bebido muito até agora, ela não me
parece bêbada.
Como está usando um salto um pouco mais alto do que da última vez,
Crystal conseguiu chegar na altura do meu ombro. Ela deve ter 1,65 de
altura ou algo assim, e felizmente eu não consigo sentir o seu cheiro direito,
por conta do perfume da sua mãe e do seu pai, ou isso com certeza me
deixaria ainda mais agitado.
— Olá, Crystal — murmuro e ela só faz um curto aceno e decidido
com a cabeça, com algumas gotas de suor em sua testa se mostrando.
Se está morrendo de calor, por que preferiu ficar fora da tenda até
agora, ao lado de uma árvore? Pelo que sei, a visão dos humanos não é das
melhores, ela muito provavelmente não me viu até que sua mãe foi lhe
buscar, então também não estava me evitando.
— Vê como ela se tornou uma moça crescida agora, senador? — a
mãe dela pergunta, uma mulher negra que deve ter só uns cinco anos a mais
do que eu, e me faz sentir um gosto muito amargo na boca.
Eu ataquei e estou me masturbando diariamente para uma menina que
tem idade para ser a minha filha! E agora mesmo, neste segundo, estou
olhando para os lábios vermelhos dela e não consigo parar!
— É… b-bem crescida. — Folgo a gravata no meu pescoço e fica
difícil até para engolir a minha saliva, por isso foco o meu olhar longe,
fingindo procurar por alguém enquanto os pais dela continuam falando
sobre a sua formação, como se eu já não soubesse uma boa parte do que
Crystal me contou, dias atrás.
— Hora da dança, pessoal! — A senhora Falls grita de repente e me
dá um susto.
A mulher de uns setenta anos está usando um vestido vermelho com
bolinhas brancas muito chamativo e pelo que parece, abriu um bom espaço
debaixo da tenda e trouxe até uma banda com cantor, violoncelo e tudo
mais que pôde, sem que eu nem notasse! Os ouvidos de um persanes
normalmente captam qualquer coisa, mas agora estou tão atordoado que
nem percebi.
— Pegue o par ao seu lado e vão para a pista, porque a cada casal, o
dono da casa prometeu doar mil dólares! — Falls completa rindo, como se
o dono da casa não fosse o seu marido.
— Isso não faz o menor sentido, por que ele só não doa de qualquer
jeito? — Crystal resmunga e recebe olhares atravessados de seus pais.
— Bom, nós vamos ajudar as criancinhas! — o prefeito diz e, como
se estivesse querendo fugir, pega a esposa pelo braço e entra no meio das
pessoas, o que me deixa de pé com Crystal à minha frente.
Fico sem saber o que falar e custa-me tudo para não fazer contato
visual com ela, porque sei que isso só levaria a mais problemas.
— Você veio para essa festa, então — tento puxar um assunto mais
simples, contudo, me sinto um idiota fazendo isso.
— É… — Dá de ombros e beberica mais do que parece ser uma
bebida frutada agora. — Eu não tinha nada melhor para fazer — responde e
eu começo a achar que está sim bêbada, só não demonstra isso em seu
rosto.
— Me disseram que você conseguiu arranjar alguns clientes aqui,
persaneses, para se consultarem com você.
— Você pode não acreditar, Vladimir, mas esse é o meu trabalho e eu
o faço muito bem — diz num tom de escárnio que me obriga a observá-la.
— Não acha que já bebeu demais? — pergunto e ela estreita os olhos
com raiva, fazendo uma careta para mim, e antes que possa responder tem
uma mão ossuda e gelada na minha que me assusta muito.
— Vocês têm que dançar, queridos! Pelas criancinhas! — É Falls ao
nosso lado.
— Não sou muito de dançar — Crystal responde mal-humorada e me
dá certeza que bebeu mais do que deveria mesmo.
— Isso vai ficar feio para o senador, querida, se souberem que ele
negou presentes para pobres criancinhas de orfanato. — Falls ergue a minha
mão e coloca no ombro de Crystal, sem medo por eu ser um persanes, o que
é bem raro. — Vamos, pegue a sua parceira e vão para a pista! — Ela é pura
animação.
— Eu não estou a fim de dançar. — A fêmea tenta se afastar e Falls a
empurra de um jeito grosseiro que me faz rosnar.
Eu pego Crystal pelos braços antes que ela torça o pé e isso só me faz
receber um olhar zangado, o que não tem sentido, já que eu a impedi de dar
de cara no chão!
— Não seja ranzinza minha filha e vá ajudar as criancinhas e fazer
fotos bonitas — fala de forma petulante, como se Crystal fosse uma
empregada sua. — Vamos, os dois para a pista! — A velha grosseira, que
com certeza deve ter bebido uma garrafa inteira de champagne, grita tão
alto que chama atenção de todos em volta e as minhas garras coçam para
sair da ponta dos meus dedos.
— Vamos logo fazer isso — Crystal é quem decide, falando tão baixo
e entredentes que quase soa como um rosnado, e coloca a sua mão na
minha, o que me faz ficar ainda mais quente e com dificuldade de respirar.
A pele em que ela toca até formiga.
Depois a fêmea começa a me puxar por entre as pessoas até o espaço
onde mais uns 6 ou 7 casais dançam L-O-V-E de Nat King Cole.
Capítulo 9

Assim que estamos na pista de dança, não consigo nem ter tempo de
me perguntar por que estamos fazendo isso, pois perto assim de Crystal, eu
sou atingido pelo cheiro delicioso de sua pele, um aroma levemente floral e
tão sensual, e a pitada de menta que é o seu medo, também me chama
atenção.
Estou com uma mão na sua e a outra em sua cintura, assim como
todos os outros casais à nossa volta, e saber que sou eu quem a segura me
dá uma sensação estranha no peito, o que me deixa ainda mais irritado.
O meu corpo saiu totalmente do meu controle.
— Vai ser só essa dança, porque até que é bom para minha carreira
ser vista ao seu lado — resmunga e eu reparo que Crystal está olhando para
baixo, para os nossos pés, o que me deixa curioso. — E depois… —
Começa a falar, mas acaba pisando no meu pé brevemente e dá um pulinho.
— Desculpe. — Levanta a cabeça e me encara nos olhos com vergonha,
mordendo o lábio inferior.
— Eu nem senti isso — admito, porque uma pisada rápida no meu pé
dessa pequena fêmea não é nada.
Na frente dela, eu sou praticamente um monstro, com costas largas
demais, braços grossos que fazem qualquer camisa ficar apertada, chifres
pontudos e negros e um rabo com ponta em formado de flecha que está
querendo descontroladamente se enrolar em sua perna.
— Não tenho ritmo. — Dá de ombros e mexe um pouco os dedos da
mão que seguro o mais delicadamente que consigo. — E isso é muito
estranho, estamos… próximos demais.
Não era ela quem me seguia por aí? Por que reclama de proximidade
agora?
— Relaxe e me deixe guiar. Vai ser bom para a sua carreira — minto
e a aproximo ainda mais de mim, fazendo com que o seu busto quase se
grude contra o meu tronco, o que de alguma forma relaxa um pouco os
meus músculos tensos.
No final das contas, a minha parte mais animal parece querer possuir
Crystal no sentido mais puro da palavra, tê-la só para mim, mesmo que eu
não consiga entender exatamente quando foi que cheguei nesse ponto. Os
sonhos com essa médica estão cada dia mais absurdos, mais eróticos.
No último ela ficava de quatro no meu quarto e eu a comia de todos
os jeitos possíveis. Só de lembrar agora já estou engolindo em seco. Quero
continuar sendo fiel a Ellona, que foi a minha grande parceira, quero ser fiel
à nossas memórias e o meu cérebro entende isso, porém o meu corpo não.
O meu corpo se afeiçoou a alguém que não faz o menor sentido, porque não
tem nada a ver comigo.
— Vamos só esperar mais alguns fotógrafos tirarem as fotos, assim eu
consigo mais clientes — sussurra para mim e sou eu que nos faço sair um
pouco do lugar, e ela até que se deixa ser guiada.
Porém, mesmo que eu consiga fazer o corpo de Crystal se balançar
quase dentro do ritmo da música, bem mais roboticamente do que qualquer
pessoa na pista e pisando algumas vezes no meu pé, ela só cheira cada vez
mais a medo.
— Não precisa ter medo de mim, não vou fazer mais nada como
aquilo do quarto. Estou controlado. — Continuo mentindo.
— Não tenho medo de você — responde rápido e para de mirar a sua
atenção nos nossos pés, tentando fazer as coisas direito.
Talvez alguma outra pessoa se importaria de ter um par que não tem
ritmo algum, mas para mim é estranhamente prazeroso ver como morde o
lábio inferior e faz um tremendo esforço para acompanhar a banda.
— Então por que cheira a medo? — pergunto e ela se encolhe um
pouco, o que faz finalmente o seu corpo encostar no meu. O meu coração
bate desesperado só com isso e eu só me sinto mais patético.
— O irmão daquele… cara da minha adolescência, chegou faz uns
cinco minutos — cochicha bem baixinho, sabendo que existem persaneses
aqui que poderiam ouvi-la. — Então talvez o cara da minha adolescência
esteja por perto.
É isso que a está fazendo tão nervosa?
— Ele não está, te garanto.
— Como você sabe? — Arqueia uma sobrancelha desconfiada e bem
desenhada e eu prendo a respiração, depois me abaixo para colocar minha
boca ao pé de seu ouvido.
É como se eu pudesse sentir perfeitamente o calor emanando do seu
corpo e isso me faz arrepiar, porque tudo que mais quero agora é aliviar a
fome que vem me consumindo.
— Porque eu matei Ramon — revelo baixo e com cuidado, pronto
para tampar a sua boca caso reaja de alguma maneira estranha.
— Você o quê? — Sinto o seu corpo tensionar e tentar se afastar,
contudo, eu a seguro mais firme e isso me faz inspirar o seu cheiro sem
querer, dessa vez diretamente de sua macia pele.
O aroma dela é como algo quente e terno, e eu lambo o lábio inferior
para provar, o que faz a maldita semi ereção nas minhas calças ficar ainda
mais dura e pulsar. Fica difícil me mover no ritmo depois disso, então
ficamos parados na pista e eu nem foco no burburinho de pessoas falando
sobre nós dois.
— Assim que você foi para Paris estudar, eu cuidei disso — falo
baixo, dessa vez encarando os seus olhos castanhos atordoados.
— Eu… não sabia. — O seu lábio inferior treme e por aqueles meros
segundos. Meros mesmo, porque dura muito pouco, somos só nós dois.
Só eu e Crystal, parados nos olhando. Ela com susto e eu com uma
ansiedade do cio, pegajosa e enervante.
— Fiz sozinho, ninguém soube até dias depois.
Como ela achou que eu poderia viver a minha vida normalmente
sabendo que aquele macho sujo andava por aí, podendo fazer algo daquele
jeito com outra pessoa? Podendo fazer de novo algo daquele jeito com ela.
— Isso foi muito perigoso, você não deveria ter se arriscado assim…
— Engole em seco e a sua mão na minha aperta, o que me faz colocá-la
ainda mais perto. — Como… foi? — pergunta com medo.
— Afogamento, ele não sabia nadar. — As palavras saem como um
rosnado baixo de minha boca, porque em minha cabeça eu revivo a cena. —
Mas se eu soubesse disso, não o teria jogado na água tão cedo.
Queria tanto ter tirado mais sangue de Ramon e isso agora reverbera
dentro de mim como uma onda de fúria difícil de controlar.
— Queremos pelo menos mais cinco casais nessa pista, pessoal! — a
senhora Falls grita muito perto de nós dois, então a fêmea desvia o seu olhar
castanho de mim e eu fico em silêncio e reparo como tem gotas e mais
gotas de suor rolando as minhas costas, conforme uma outra música
começa.
— Vladimir, está tudo bem? Você está apertando os meus dedos.
Eu alivio o aperto na hora.
— Desculpe, eu… — Crystal estreita os olhos e antes que eu possa
dizer algo mais, ela já esticou a mão e tocou o meu rosto, o que me faz
engolir em seco. Estou todo arrepiado e dolorido no lugar que tenho mais
me tocado. Mas assim como todo assunto pessoal na minha vida, desde que
Ellona morreu, eu apenas ignoro.
— Sua pele está muito quente e suas pupilas estão dilatadas — diz e
molha o lábio inferior com a sua língua avermelhada e molhada, e como se
fosse possível, eu sinto o movimento direto na minha virilha.
— Você não é minha médica — falo, mas isso não parece convencê-la
a parar de me observar. — Eu tenho vinte anos a mais do que você, menina,
sei como tomar conta de mim mesmo, então pare de tentar agir como a
minha curandeira.
Ela tira a mão de mim na hora, como se queimasse.
— Eu esqueci que você pode ser um babaca. — Faz uma careta e
tenta se livrar de mim, mas não largo Crystal, as minhas mãos não querem
deixá-la ir porque o calor do seu corpo contra o meu faz a sensação de
queimação na minha virilha passar um pouco, só pra me deixar sentindo
mais agitado.
— O que disse? — digo entredentes.
— Todos esses anos eu tenho me sentido culpada por quase arruinar a
sua imagem quando mais nova e sempre te achei um homem incrível, mas a
verdade é que eu só tinha essa ideia porque mal te conheci além daquela
noite. — A sua postura fica muito ereta e ela me olha como se tivesse nojo
de mim. — Agora que estou mais velha, das três vezes que te vi desde que
voltei para Red Town, você me tratou como uma incompetente obcecada.
— Porque você tentou invadir a minha casa dezenas de vezes e eu
tive que te mandar para outro continente! — Com certeza algumas pessoas
me ouviram agora, porque não consigo falar baixo.
— Eu tinha dezessete anos e estava perdida! — Uma veia salta em
sua testa, de tanta raiva. — Com um pai e uma mãe tentando me vender
para o primeiro cara rico que aparecesse. Achei que você pudesse me
ajudar, mas ao invés disso, virou as costas para mim e foi… fazer justiça
com as próprias mãos.
As suas palavras fazem uma pontada forte me atingir no peito e eu
não tenho nem coragem de encará-la mais.
— Você não sabe do que está falando, menina — sussurro e faço o
melhor para não apertar mais o seu corpo frágil e macio demais para um
monstro como eu.
A verdade é que mandei Crystal para Paris mais por ela mesma do
que por mim. Eu tinha acabado de perder a minha mulher, ela era uma
menor de idade e mesmo assim aparecia em todo sonho meu, mesmo que
não tivesse conotação sexual naquela época. Crystal até fez uma rorani em
forma de lobo aparecer em mim!
Então eu a mandei para França sim, pois me sentiria muito sujo se
acabasse entrando no cio e perdendo o controle por uma adolescente que
quase foi violentada na minha frente! Ela me causava picos de raiva
estranhos naquela época, uma angústia que poderia resultar em algo maior,
já que cios podem aparecer a qualquer momento.
— Você fez algo grande por mim, Vladimir, mas não sabe o tanto que
eu sofri naquele tempo — admite com a voz embargada dando um tranco
com o corpo e mais uma vez tenta se afastar, porém, eu não deixo, prenso
ainda mais o seu corpo contra o meu e a minha ereção pulsa mais forte
dentro das calças com o seu corpo. — Você está duro?
— Fique quieta — rosno baixo e acabo pegando de canto de olho uma
figura no limite da pista de dança improvisada no jardim nos observando.
Frederick Burner está nos encarando, mais exatamente Crystal, e uma brisa
me traz o seu cheiro sujo de perfume e coloca mais combustível no fogo
que queima dentro de mim. — Vamos sair daqui agora.
— O quê? — pergunta atordoada, tentando se livrar de mim, o que
chama atenção de cada vez mais pessoas.
— Agora, Crystal. — Pego os seus dois braços juntos sem dificuldade
e vou fazendo com que ande na direção oposta de Frederick.
Ela fica calada durante a nossa caminhada, provavelmente porque
sabe que o meu atual estado é delicado e seria ruim se falasse algo. Eu
ignoro todos os olhares atravessados conforme ela vai na minha frente
tropeçando às vezes, e ninguém tem coragem de me dizer nada, já que além
de senador, eu sou um Dark Elf.
Só quando chegamos dentro da casa vazia, cruzando o caminho de
alguns funcionários, que Crystal abre a boca.
— Onde você está me levando? O que você tem? — O seu cheiro de
medo aumenta e eu o sinto tão forte em minha boca que salivo.
— Eu não gosto de todos aqueles olhares! — exclamo irritado e com
uma dor de cabeça lancinante do lado direito da minha cabeça.
— O que te dei não está fazendo efeito? — pergunta, mas eu não
respondo. Não quando a resposta seria “Sim, funciona, mas não quando se
trata de você”.

Crystal
No segundo em que entramos no banheiro amplo e com muitos
azulejos pretos e vermelhos, e que eu nem sei como encontramos, Vladimir
empurra o meu corpo contra a parede com força, o que faz um baque alto
acontecer e todo o ar do meu corpo sai no mesmo segundo.
— Calma… — sussurro e a grande mão dele aperta o meu pescoço,
fazendo ficar difícil respirar. Ainda não é doloroso, mas é assustador no seu
estado atual, porque já vi ele arrancar o braço de alguém em um momento
de ódio.
— Pare de atender outros machos! Não quero você perto de nenhum
outro! — A sua voz está muito mais grossa que o normal e o som
animalesco arrepia até os pelos da minha nuca. — Você é minha! — Ele se
abaixa e o seu nariz se gruda ao meu, o que me deixa sentir a sua respiração
quente e pesada no meu rosto. — Diga que é minha, Crystal.
Eu fico sem palavras para Vladimir, ainda mais com as suas garras
negras de fora roçando cada pedacinho da minha garganta. E o mais
estranho disso, é que as minhas coxas se juntam automaticamente, para
conter a pontada de excitação.
— Diga, fêmea desobediente! Diga que é minha! — Empurra o seu
corpo contra o meu e só me deixa mais presa.
— Eu sou sua — sussurro, com as minhas mãos plantadas em seu
peito. — Agora tire a mão do meu pescoço, antes que me machuque,
Vladimir.
— Minha fêmea. — Continua segurando em volta do meu pescoço e
abaixa a sua boca para esfregar contra a minha. Não é um beijo, mas ele
esfrega os lábios nos meus, assim como o nariz. Está marcando o seu cheiro
em mim.
— Então não me machuque. — Tento soar o mais calma possível.
Não quero ninguém batendo nessa porta e o vendo nesse estado.
— Preciso de você, está queimando, Crystal. Eu não aguento mais. —
Ao mesmo tempo que vejo a sua selvageria, também vejo o seu desespero.
— Está doendo tanto.
Vladimir está com medo do seu próprio corpo descontrolado e precisa
de alguém que saiba o que fazer agora, antes que fique mais bestial e acabe
machucando a nós dois.
Por coincidência eu sei exatamente como ajudá-lo com o seu frenesi,
a única coisa é que esse cara vai querer praticamente cuspir em mim quando
estiver controlado.
— Vladimir… — gemo e ele passa a subir as mãos, liberando o meu
pescoço, só para caminhar com as suas garras e agarrar o meu rabo de
cavalo, o que me deixa ainda mais a sua mercê, como se fosse possível. O
meu couro cabeludo arde enquanto o meu queixo fica empinado.
— Eu quero você. — A boca dele está a centímetros da minha,
enquanto me obriga a encará-lo. Eu não consigo nem pensar direito, de
tanto calor que sinto. — E quero agora.
Vladimir esmaga os meus lábios com os seus e enfia a sua grande
língua na minha boca na velocidade de uma batida do meu coração. Ele vai
se metendo dentro de mim até que alcança quase a minha garganta e eu
gemo rouca, ficando instantaneamente mais molhada.
Capítulo 10

O grande persanes esfrega a sua ereção grossa e quente em mim e


sobe o meu vestido com força, até que escuto o tecido se rasgar por conta
de suas garras, mas não consigo me importar com isso agora, não quando
estou sendo beijada por ele pela primeira vez, mesmo que esse beijo mal se
pareça com um. É selvagem demais.
Vladimir enrola a língua com mais que o dobro do tamanho de uma
humana na minha e eu reviro os olhos, rebolando no vazio, sem nada entre
as minhas pernas. Estou totalmente fora de mim, talvez tão descontrolada
quanto ele, mesmo que o que bebi até agora mal tivesse álcool.
O meu corpo todo vibra ao rosnar dentro da minha boca, fazendo
todos os meus pelos se arrepiarem e com mais alguns puxões eu fico em
fiapos.
— Porra… — O homem se afasta e eu consigo xingar, boquiaberta
com esse beijo. — Todo mundo deve ter visto você me arrastando para cá
e… — O resto das palavras nunca são ditas por mim, porque de repente ele
se coloca de joelhos bem na minha frente, com o rosto grudado no que
restou da minha roupa.
É a imagem mais surreal do mundo, já que nunca imaginei que ele
realmente fosse se colocar aos meus pés algum dia, e o senador é tão alto,
que sua cabeça está quase na altura da minha.
— Vou provar você, pequena fêmea humana. — Os dedos grossos e
levemente ásperos dele se enroscam nas tiras do tecido laranja e roçam as
minhas coxas, o que me faz tremer. — Estou queimando de tanto desejo,
sinto o calor subindo pela minha garganta e estou dolorido há dias pensando
nisso.
Ele está pensando em me tocar há dias?!
— E-eu acho bom a gente não fazer isso, porque quando você estiver
melhor… — Não consigo falar direito, porque as garras de Vladimir
destroem mais a peça, que fica menor, e quase mostra a minha calcinha. —
Quando estiver melhor, fora do frenesi do cio, você vai me odiar. Que tal
mais um pouco de pimenta azul?
— Sem pimenta azul! — urra e eu quase dou um pulo de tanto susto.
— Essa maldita pimenta não está fazendo nada! Só me controla quando
estou longe de você!
— Tudo bem, sem pimenta azul — murmuro e a respiração quente
dele fica bem na minha intimidade.
Hoje estou usando a calcinha especial para proteger o meu cheiro,
tecnologia persanesa criada há muito tempo, porém, com certeza Vladimir
sente como o meu corpo sua e os meus batimentos aumentaram
estratosfericamente.
— Separe as coxas, preciso sentir o seu gosto — manda, com o seu
tom se aprofundando ainda mais.
— É-É melhor não. — Por mais que eu adoraria ter essa língua
gigante e grossa dele dentro de mim, não posso deixá-lo fazer o que
pretende. — Que tal nós tentarmos de outro jeito e…— Mais uma vez ele
me interrompe, pois levanta o dedo do meio e o enfia entre as minhas
pernas, tocando os meus lábios protegidos pela lingerie.
Eu resfolego e poderia deslizar para o chão de tanto calor.
— Eu mando, você obedece, médica. — O senador começa a fazer
círculos com o dedo e aos poucos ele vai colocando mais, até que esteja me
esfregando com a sua mão direita inteira em forma de concha, massageando
de um jeito experiente que faz eu querer me esfregar de volta. — Está
desesperada para ser fodida, tanto quanto eu para te comer.
Então ele faz algo que não deveria, usa as suas garras na calcinha e
corta a peça com facilidade, depois puxa para baixo e o pano cai sem
resistência alguma. Vladimir só não vê a minha vagina porque restou um
pouco do vestido na frente.
— Eu sou um Dark Elf e tenho tudo o que quero! — Planta as mãos
fortes cada uma em uma coxa minha. — E eu quero você. — A voz dele é
algo tão masculino e autoritário que fica difícil pensar.
— Vladimir, por favor, não vamos fazer isso no seu estado atual —
sussurro e mesmo assim as narinas dele se alargam, sentindo o meu cheiro,
agora que estou sem calcinha.
Instantaneamente o macho começa a ronronar com força, um som
forte e constante que me faz bater os dentes de tanta ansiedade.
— Quero a sua bucetinha humana — grunhe, com o seu rosto forte
me encarando com fome. A barba cheia e grossa, com fios brancos aqui e
ali, a sobrancelha escura, o olhar determinado e brilhando em laranja e a
porra da língua dele estão me hipnotizando. — Me dê o que é meu, fêmea.
Por ele estar me pedindo e não tomando, tenho certeza de que a
mistura de pimenta azul com a planta que dei está sim fazendo efeito, só
não tanto quanto deveria.
— Tudo bem… — aceito, já que o meu corpo todo clama pelo seu
toque e Vladimir precisa de alguém que aja como sua cuidadora de cio.
Separo as coxas com um misto de medo e curiosidade, já que nunca
fiz nada com um persanes, e antes que possa mudar de ideia, a língua
rosada dele se estica e começa a explorar a minha intimidade.
— Oh, Deus! — choramingo de susto.
Não estou nem depilada, porque não esperava que fosse receber algo
assim hoje, e ele não se importa. O persanes gruda a sua boca na minha
vagina e as minhas mãos vão automaticamente para os seus chifres grossos
segurar. Sei que não tem muita sensibilidade aqui, mas como puxo os
chifres junto com os seus cabelos negros, a dor irá ajudá-lo a se concentrar
e mantê-lo aqui comigo.
A língua dele não chega perto de absolutamente nada que já provei na
vida, nenhum cara humano sem vontade de fazer oral, nenhum vibrador. Ela
é longa e faz barulhos pecaminosos de umidade.
Depois ele deixa o meu clitoris de lado e começa a entrar em mim, me
alargando, empurrando as minhas paredes vaginais, se alimentando de mim
e engolindo toda a minha umidade. Até levanta a minha perna direita e
coloca sobre o seu ombro, lhe dando mais espaço para me foder dessa
maneira surreal. As unhas dele se cravam na minha bunda e eu escuto o seu
rabo batendo com força no chão.
— Não vou aguentar assim… — gemo desesperada e jogo a cabeça
para trás. As presas dele roçam o meu clitoris sensível e eu tremo. — Não
vou aguentar! — grito e só para me deixar mais em ponto de ebulição, ele
faz um movimento de vai e vem dentro de mim, como se esse fosse o seu
pau, só que mais úmido e com força o bastante para me estragar para
qualquer outro homem. Nada nunca será igual a isso. Nada é igual a ser
devorada por um persanes e agora eu tenho certeza disso.
Sinto-me cheia, completamente preenchida e sensível pra caramba,
até que crava as suas presas na parte interna da coxa que colocou em seu
ombro e me faz sacudir feito uma maluca, pois tira sangue de mim.
A dor lancinante me atinge forte, eletrificando o meu corpo todo, e
mesmo que os meus peitos e barriga dificultem um pouco a minha visão do
que ele está fazendo, ainda assim assisto a língua dele, cheia do fluido
vermelho, voltar para a minha intimidade, me enchendo de saliva e me
lambendo como se eu fosse um doce.
— O seu gosto é delicioso em todo lugar, vou te alargar bastante para
o meu pau entrar — rosna no meio do som contínuo do seu ronronar e eu
acabo gozando, sem controle do meu corpo.
Tenho que morder com muita força os meus lábios juntos para não
gritar loucamente de tanto prazer e acabar sendo descoberta por alguém da
festa, mesmo que o som da música esteja alto demais. O frio na barriga é
muito forte e eu sinto quase dor de tão intenso, empurrando a cabeça dele
para longe.
O problema é que mesmo que eu esteja quase vendo estrelas,
Vladimir quer continuar me chupando.
— Estou sensível! — Muito atordoada eu tento afastar os seus
chifres, contudo, ele não sai do lugar e só começa a colocar os seus dedos
dentro de mim, com as garras retraídas agora.
Vladimir encaixa dois dedos grossos e exigentes na minha vagina,
empurra os meus músculos internos e se esfrega neles deliberadamente, sem
vergonha nenhuma. Ele me faz parecer quase uma cachoeira de tão molhada
e a ponta de sua língua se enrola em volta do meu clitoris inchado.
Não sei quanto tempo dura, mas ele só para após arrancar mais três
orgasmos de mim, deixando mais mordidas na parte interior da minha coxa
e sujando a sua barba com o meu sangue e umidade.
— Meu Deus… — sussurro sem ar quando finalmente tira a minha
perna de seu ombro e me puxa para o seu colo, pois os meus joelhos estão
fracos demais.
Os braços deles são fortes e me mantém no lugar, contudo, essa é uma
prisão que eu não quero escapar. Fico de olhos fechados, respirando com
dificuldade, e perco até a noção de espaço. Parece que estou flutuando
numa nuvem de prazer, até que escuto um grunhido baixo de dor.
— Você está bem? — cochicho rouca e faço o meu melhor para me
recuperar e deixar de ficar esparramada em suas pernas cruzadas embaixo
de mim. — Diga para mim, qual o meu nome?
— Crystal — responde, sem me olhar nos olhos, então eu me coloco
mais ereta para ficar ajoelhada à sua frente agora que ele se sentou.
— Onde nós estamos? — Coloco uma mão de cada lado do seu rosto
para conseguir sua atenção.
Por Deus… esse cara é a coisa mais linda e sensual que já vi na vida.
As orelhas longas e pontudas fazem um conjunto e tanto com o seu rosto.
— Estamos no banheiro, eu te trouxe para cá. — Os olhos dele estão
brilhando mais laranja e eu começo uma pequena vistoria em seu corpo.
Tem gotas de suor em sua testa, o seu pescoço está com veias
saltadas, ele arrancou a gravata em algum momento enquanto me chupava e
tem um volume GIGANTE em suas calças, que estão até com um ponto
molhado.
— Está doendo? — pergunto e delicadamente abaixo os meus dedos
para a sua virilha.
— Estou esfolado — admite.
Ele está menos bestial agora, pois o meu gosto o acalmou um pouco,
mas continua necessitado e eu deveria ter previsto que isso aconteceria.
— Você deveria ter me ligado, deveria ter me dito o seu estado e eu
teria ido lhe atender. — Eu vagarosamente abro as calças de Vladimir e
encontro uma cueca boxer cinza que me deixa até assustada com o que está
em baixo.
Puta merda! Esse é com certeza o maior pau que já vi na vida! Cheio
de veias proeminentes, grosso demais e com uma cabeça muito bem
desenhada. Faz subir um calor desesperador pela minha nuca e eu fico sem
palavras, apenas olhando.
— Você tem que ficar longe de mim, vou te machucar porque não
consigo parar. — Ele abaixa a sua cueca pouco a pouco e libera a sua
ereção muito úmida, já que todo persanes solta muito pré-gozo, e me mostra
também algo que eu esqueci que estaria ali.
A maioria dos machos persaneses tem piercings genitais especiais,
que se resfriam quando está dentro da fêmea e dão ainda mais prazer, e
Vladimir não é uma exceção, mesmo que ele seja todo certinho como
senador.
Ele tem uma joia dourada em formato de argola perfurando a
extremidade de seu pênis. Só de imaginar como deve ser a sensação de tê-lo
dentro mim, tenho vontade de juntar as pernas, porque o piercing atingiria
todos os melhores lugares, me massageando por dentro e dando mais prazer
a nós dois.
— Não consigo controlar as palavras que saem da minha boca. — A
mão dele se coloca em cima da minha e me faz tocá-lo. Os meus dedos nem
conseguem se fechar em volta de seu pau avermelhado e quente. Para
acomodá-lo dentro de mim realmente seria uma guerra! — Mas você tem o
melhor gosto que já provei… e o seu toque é tão gostoso. — Eu consigo
senti-lo pulsar para mim. — No calen, naery, no calen. — A voz dele fica
rouca e arrepia os pelos do meu braço.
Não estudei tanto a língua dos persaneses quanto gostaria, que se
chama Vrain, mas ainda assim eu sei que “No calen” significa “Me toque” e
“naery” é um tipo de cristal natural que só existe nas ilhas persanesas.
Vladimir deve estar tão descontrolado e dolorido, que acabou
recorrendo a sua língua materna.
— Se você se aliviar dentro de mim vai se sentir melhor. Eu sei que
seria algo perigoso, mas só dessa vez — sugiro e começo a me movimentar
para montá-lo no chão desse banheiro desconhecido.
— Não! — exclama e se coloca de pé numa velocidade ímpar, e eu
até tento fazer o mesmo, só que as minhas pernas estão bambas e é
necessário que ele me pegue pelos braços e me ponha de pé, como se eu
fosse uma boneca.
A Crystal de oito anos atrás sempre sonhou em ter algum tipo de
intimidade com esse cara, algum tipo de momento só entre mim e ele para
descobrir como é por baixo de toda a sua fachada séria, e agora está
finalmente acontecendo e é surreal!
— Só dessa vez — insisto e ele me pega pela cintura e me empurra
contra a pia de mármore do banheiro, que tem um espelho bem na nossa
frente e reflete a nós dois.
Eu estou muito descabelada e a minha maquiagem virou uma bagunça
no meu rosto depois de tantos orgasmos.
— Estou no cio e vou te engravidar se gozar dentro de você. — Pega
o meu rabo de cavalo e o enrola em seu pulso para ter total controle de
mim, e a sua língua acaricia a minha orelha, o que me faz ter dificuldade de
respirar. — E aí eu vou te manter na minha casa, debaixo de mim, todos os
dias, cheia de porra e grávida. — Os olhos dele brilham ainda mais forte o
laranja furioso, como se pudesse ver as coisas que fala acontecendo.
Sei que é só o cio falando mais alto, e mesmo assim as suas palavras
geram um frio muito forte no pé da minha barriga.
— Vai ser só agora — argumento, sabendo que estou errada.
— Do jeito que você é atrativa para mim, eu entraria em cio atrás de
cio, Crystal, te fodendo feito um animal. — A sua respiração quente na
minha nuca faz eu me revirar, mas Vladimir empurra o seu corpo
musculoso e largo contra o meu e me obriga a ficar imóvel contra a pia.
— E se eu te chupar? — sugiro, sem vergonha alguma. O que eu mais
quero é ser o que ele precisa. Quero ser dele, quero que me olhe sempre
com essa fome de agora.
— Não caibo na sua boca e vou te engasgar, menina. — Nega com a
cabeça, quase com medo da minha sugestão e os dedos dele deslizam até o
meu traseiro e apertam. — Alguém já esteve aqui?
Ele quer fazer sexo anal?!
— Não — admito e sinto o seu peitoral subir e descer atrás de mim.
A verdade? A minha vida sexual não é das melhores, porque nenhum
cara atendia todas as minhas expectativas lá em Paris. Nenhum deles era
Vladimir, então eu sempre acabava irritada com alguma bobagem e me
afastava.
— Eu preferiria encher a sua buceta de porra, mas… essa é a nossa
melhor opção agora, antes que eu enlouqueça — admite e eu prendo a
respiração.
— V-você é muito grosso.
— Vamos fazer caber, mon naery. — Aperta ainda mais a minha
bunda, depois dá um tapa que arde e me faz empinar para ele. Ele acabou de
me chamar de “Meu cristal”!
Logo Vladimir já colocou a minha perna direita em cima da pia.
Escuto as calças dele caindo no chão e eu tremo de tanta ansiedade
conforme massageia a minha entrada com dedos firmes e continua
controlando o meu corpo, porque logo estou me abaixando contra a pia e
dando mais acesso para o persanes mais velho, empinando o meu traseiro.
— Tão quente e apertada… — rosna com os caninos de fora, que eu
enxergo através do espelho. Ele é a pura imagem da selvageria agora, do
desejo carnal desenfreado. — Só preciso encaixar a cabeça… — diz isso já
começando a empurrar a ponta do seu pau, com o piercing frio encaixado,
enquanto segura os meus cabelos com força, causando uma dor que me
deixa ainda mais submissa.
— Vladimir — sussurro o seu nome feito um mantra e a minha
vagina pulsa com força, o querendo dentro de mim de outro jeito. — Por
favor, me foda — imploro e sinto ele continuar passando o dedo no meu
ânus.
— Vou comer esse seu cuzinho, doutora. — Dá um puxão forte no
meu cabelo, me fazendo esticar o pescoço e assistir mais fixamente tudo
através do espelho. — E depois nós vamos sair por essa porta, com você
escorrendo e mostrando para todos que é minha propriedade.
A joia dele roça o meu cu e ele empurra com mais veemência, o que é
muito diferente de qualquer coisa que já senti. Eu sei que vai doer pra
caralho e mesmo assim não consigo negar isso a Vladimir.
— Todo macho persanes nessa festa vai sentir o cheiro da minha
porra em você, naery, todos eles — cochicha no meu ouvido e morde a
ponta da minha orelha.
— Vladimir! — choramingo, pulsando muito forte mesmo e me
sentindo vazia demais.
— Você é só uma vadiazinha, só uma puta que gosta de porra, não
gosta? — A grande língua dele passa a lamber o meu pescoço e isso relaxa
tanto a minha musculatura que o persanes consegue começar a entrar. —
Responda, doutora, eu quero ouvir. Diga que gosta da minha porra. — O
seu tom malicioso me faz quase colapsar.
— Sim!
— Minha, você é minha! — A voz dele engrossa ainda mais do que
achei ser possível, o seu quadril faz um vai e vem para empurrar a cabeça
dele só um pouquinho mais e ele começa a gozar dentro de mim, mesmo
que eu não esteja sentindo nem um terço do seu pau.
Vladimir me dá um tapa muito dolorido na bunda e finca as suas
garras em mim, enquanto continua me enchendo, como se não fizesse isso a
séculos. É tanta porra quente, que sinto até transbordar de dentro de mim,
vazar e cair no chão. Eu nem respiro, de tão tensa.
— Minha — rosna no meu ouvido e por mais que eu sinta muita dor
agora, como se estivesse sendo rasgada ao meio, ainda assim estou satisfeita
como nunca estive antes.
Capítulo 11

A minha cabeça dói como se um caminhão tivesse passado por cima


de mim, enquanto que o meu corpo está tenso e em alerta, o que melhora a
capacidade do meu olfato e audição.
Estou com certeza em um prédio, já que tem sons de pessoas vindo de
cima e de baixo de mim. Sinto cheiro de pó, como se esse fosse um lugar
que passou muito tempo fechado, e também tem cheiro de frango misturado
com ervas e talvez tomates sendo cozinhado em algum lugar próximo.
Mas além de todos esses aromas típicos de uma casa, ainda tem o
floral que estou passando a conhecer cada vez mais e que enche a minha
boca d'água.
— Está acordado? — a voz feminina pergunta e instantaneamente eu
fico um pouco mais relaxado. Crystal é pequena demais para representar
algum tipo de perigo para mim.
— Onde estou? — A minha voz sai rouca e grossa, ainda mais que o
normal, e eu abro os olhos vagarosamente por conta da dor. — De quem é
essa cama em que estou deitado?
O quarto tem as paredes pintadas de branco, chão de azulejos pretos e
não tem muita decoração e nem muitos móveis. A janela está aberta, o que
faz a minha cabeça doer ainda mais e Crystal está parada no batente,
vestindo um short fino e curto demais e uma blusa cacharrel, que não
combina em nada com o clima de agora e tampa o seu pescoço e braços.
— Está no apartamento que aluguei, na minha cama. Não se lembra
de vir para cá? — Arqueia uma sobrancelha e eu estudo o seu rosto
delicado.
Ela tirou a maquiagem pesada, o que deixou os seus olhos parecendo
um pouco menores e mais inocentes. Sua boca, no entanto, continua rosada,
só que agora com o seu contorno mais escuro natural.
— Eu… — Vasculho as minhas memórias em busca do momento em
que me deitei nesta cama.
Eu me lembro de agir feito um animal no banheiro da festa e depois
de finalmente sentir um pouco de alívio, tudo fica meio sombrio. Sei que
nós nos esgueiramos e foi ela quem nos dirigiu até aqui, contudo, não me
recordo de nenhum detalhe muito profundamente.
— Pode fechar as janelas? — pergunto, para quem sabe conseguir
pensar melhor, e me coloco sentado na cama. O excesso de luz e a presença
dela estão me distraindo demais.
— Claro, me desculpe. — Coloca-se em movimento e só precisa dar
alguns passos até a janela e depois puxar a cortina. O novo apartamento
dela é pequeno e empoeirado, mas imagino que seja melhor do que viver
com as pessoas gananciosas e egoístas que são os seus pais. — Eu corri
para fazer algo para você comer e acabei esquecendo disso. Melhor agora?
A luz do quarto ainda está acesa, contudo, é mais fraca do que a
iluminação natural e diminui bem a dor, então faço um aceno curto e
positivo com a cabeça.
— Venha aqui — chamo e Crystal pensa por alguns segundos no meu
pedido, parada no lugar. — Não vou te machucar, só venha.
Ela se aproxima devagar, usando chinelos e tendo uma boa parte do
corpo exposto, o que me deixa quase intoxicado com o seu cheiro, mas só
tê-la na minha frente não é o bastante.
— Sente-se no meu colo.
Ela morde o lábio inferior, porém, faz como eu mando e só de ter o
seu peso contra mim, já me sinto melhor. Os cabelos de Crystal estão soltos,
o que me traz ainda mais o seu aroma, e eu coloco os meus braços em volta
do seu corpo, enquanto enfio o meu rosto nos seus seios cobertos.
Inspiro com força o cheiro de sua pele e logo começo a me sentir um
pouco melhor, contudo, uma maldita ereção também vai se formando.
Estou mesmo assim tão suscetível a essa menina?
Se a tivesse encontrado semanas atrás, não iria passar nem perto dela,
talvez tivesse me escondido para que não começasse a me seguir de novo. E
agora estou aqui, dependendo dela para não me sentir um merda.
— Estou com ânsia de vômito. — A minha voz sai abafada, com os
meus lábios firmemente colados ao macio do seu colo coberto por uma
blusa cacharrel.
Estou abraçado a ela como se fosse a minha última chance de
sobreviver, sentindo o seu corpo curvilíneo contra o meu, vendo as suas
coxas nuas e grossas em cima das minhas.
— Pode ser o cio, mas também pode ser desidratação ou fome, vou
pegar logo a canja que eu fiz. — Tenta se levantar e eu não deixo, o que só
traz ainda mais o seu corpo para mim. Os pés dela nem estão tocando o
chão agora, sou muito maior e tenho o poder de segurar o seu corpo todo.
— Só fique parada — murmuro de olhos fechados sentindo o calor de
Crystal, com as mãos bem plantadas em seu quadril e coxas macias, tão
gostosas e quentes.
Eu a aperto contra mim, me afundando em prazer e é como se o meu
corpo estivesse explodindo de tanta felicidade. Sei que é o maldito cio me
manipulando a achar que estou atraído por ela e mesmo assim continuo
sentindo desejo e a minha vontade é despi-la e passar a minha língua por
todo o seu corpo, prová-la por inteiro.
— Você está passando muito mal? — pergunta preocupada, e só então
reparo como o meu peito está retumbando com um ronronar forte.
Que inferno! Ronronar deveria ser somente para filhotes!
— Agora já estou melhor… — Eu deveria me sentir estranho por ter
que admitir para ela e para mim mesmo que o seu toque é capaz de me
mudar tanto, contudo, até isso o cio manipula, ele tira todas as minhas
emoções ruins perto dela.
Como pode ser possível que o meu corpo escolheu justo essa
mulher?! Não poderia ser qualquer outra? Uma persanesa?!
Porém, pensando agora acho que a culpa disso também é minha. Sou
eu quem tenho me mantido longe de fêmeas da minha espécie esse tempo
todo e complicado tudo.
Talvez se eu tivesse passado mais tempo cercado da companhia
feminina certa, o meu cio até teria começado, mas por alguém mais
adequado que uma menina vinte anos mais jovem e que tem uma fixação
por mim desde a sua adolescência.
— Sabe que não vai parar até eu te engravidar, não sabe? É assim que
funciona. — Levanto o meu rosto, agora me sentindo muito menos tenso e
dolorido, e olho para a fêmea em meu colo. — Não vai passar até eu estar
completamente dentro de você, em todos os sentidos.
A cabeça dela não fica nem na altura da minha enquanto está sentada
assim, a prova de que é pequena demais. A única sorte que temos, das
coisas que já ouvi falar sobre cio tardio, é que ele não é tão forte quanto o
cio de um jovem persanes.
Seguro o meu desejo de não colocar a minha mão em seu rosto e
acariciá-la. Mais difícil do que estar nessa situação, será dispensá-la quando
tudo acabar. Devo me manter firme, tanto quanto posso.
— Eu sei como funciona, Vladimir. — Dá de ombros, como se não
fosse nada demais.
— Mas eu não quero ter mais filhos, estou velho demais para isso.
Não mando no meu cio, tudo que está acontecendo agora é apenas por conta
da minha herança Vrunsni. Tudo que eu disser durante o sexo não v…
— Sei disso. — Ela me interrompe e revira os olhos, o que me faz ter
vontade de rosnar. — Estudei tudo o que pude sobre a sua espécie. Você só
precisa de mim por agora, depois… tudo vai voltar a ser como antes. — Soa
um pouco pesarosa agora, mas não deixa de empinar o queixo e de me
encarar nos olhos com determinação.
Ela quer mesmo fazer isso? Não irá desistir no meio do caminho?
— Em algumas semanas, tenho uma convenção só com persaneses,
que demorei quase um ano para conseguir marcar. Virão líderes de todos os
cantos e eu não posso estar no cio, isso tiraria todo o meu controle. — A
minha cabeça volta a doer só de pensar nisso. — E será ainda pior quando
descobrirem que estou sendo cuidado por uma humana. A minha família é
conhecida por ser uma das primeiras a defender a pureza dos persaneses.
Não temos filhotes com humanos há muitas gerações.
A minha explicação não a deixa nem um pouco chocada e isso é bom.
Crystal não é mais a adolescente que me fez um milhão de perguntas
estranhas da única vez que conversamos de verdade.
— Não se preocupe, sei que você estar no cio estragaria tudo e eu vou
dar um jeito.
— Como? — Semicerro os meus olhos e tento fingir para mim
mesmo que não estou cada vez mais duro com a médica no meu colo. Ela já
até se recostou no meu peito como se não fosse nada demais.
Crystal realmente não tem limite nenhum!
A minha vontade é enfiar os meus dedos no vão desse short
minúsculo e leve que ela chama de roupa e chegar até a sua buceta para
fazê-la ficar mole como hoje mais cedo no banheiro. Só de pensar nisso eu
pulso mais forte.
— Existem bloqueadores de cio como a pimenta azul, que são mais
fracos e devem ser tomados com frequência, contudo, já percebemos que
em você ela não funciona. — Vai falando e eu vou contendo a tensão que
vai se formando em meus músculos.
— Não faz nada além de me deixar calmo durante uma parte do dia.
De noite eu tenho dores horríveis e quando acordo é pior ainda — explico e
ela levanta a cabeça para me ouvir falar, mas a maldita médica não tira os
olhos da minha boca! — Apenas numa parte da tarde é que consigo viver
normalmente e a minha convenção será o dia todo, principalmente à noite,
que é o horário onde os persaneses estão mais ativos.
— Você não pode tomar Nyn, já que é arriscado demais. Infelizmente
não tem como controlar se ele irá só camuflar o cheiro do seu cio ou se vai
te deixar maluco com um cio ainda mais forte. Também não adianta de nada
usar camisinha, certo?
— Certo. Camisinha machucaria demais o meu pênis, que incha
muito, e se você usar algum tipo de anticoncepcional também não adianta,
porque o cio que só vai embora quando eu engravido uma fêmea —
clarifico as coisas. — O que então? — Sinto uma gota de suor escorrer
pelas minhas costas. Agora estou usando só a camisa branca, a calça e as
meias que coloquei para o evento, pois ela tirou o meu paletó, o colete e os
meus sapatos.
— Bom, as cuidadoras de cio têm uma flor que elas tomam chamada
acalasia — sugere e eu faço que não prontamente com a cabeça.
— Acalasia só funciona para fêmeas e mesmo assim ainda é muito
rara e causa problemas dentro do corpo, as deixa fraca por um tempo.
— Mas eu poderia tentar buscar a acalasia e fazê-la funcionar para
você. Só precisarei de algum tempo para tudo isso, acha que consegue
aguentar? — Pisca algumas vezes os seus olhos castanhos e eu lambo o
meu lábio inferior, sentindo o cheiro de sua excitação começar a perfumar o
ar.
— Até lá eu estarei acabado — admito e assisto as pupilas dela se
dilatarem.
— Vou cuidar de você — sussurra, ficando um pouco rouca de
repente.
Estamos jogando um jogo perigoso aqui e eu começo a deslizar as
minhas mãos por suas costas. O peito dela sobe e desce mais rápido em
respirações pesadas e eu consigo desenhar direitinho em minha mente o que
gostaria que estivesse acontecendo agora.
— Não vou te engravidar, Crystal — murmuro, mesmo que só de
falar isso o meu pau se mova levemente. Não irei atacá-la, irei esperar até
que me peça, assim me sinto menos mal. — Não quero um filhote, o meu
trabalho é muito importante e eu não sou mais um jovem persanes, não
saberei lidar com uma criança.
— Não faremos sexo vaginal, já que eu sei que no cio o seu pau está
muito duro, grande e sensível, mas você pode só me tocar onde quiser. Pode
fazer o que quiser comigo, Vladimir. — Dá de ombros e eu quero morder
essa fêmea por todos os lugares por dizer essas coisas tão livremente. —
Posso te chupar todo dia e ficarei o máximo de tempo ao seu lado, mas você
precisará ficar fora de circulação por um tempo. — Ela sabe o que está
fazendo, vejo o brilho travesso em seus olhos, mesmo que seu rosto
continue sério. — Tire uma pequena licença, diga que está doente.
Fecho meus olhos e tento controlar a minha respiração, contudo, só o
que consigo fazer é imaginar o meu pau na boca de Crystal. O meu pau
grande, duro e sensível enterrado nela, enquanto os lábios carnudos em
forma de coração dela fariam um grande estrago em mim, sugando gostoso
como eu sei que deve ser capaz.
— Persaneses quase nunca ficam doentes — as minhas palavras são
mais um rosnado baixo do que palavras.
— Os humanos não sabem disso, basta dizer que precisa de um tempo
em casa para a sua saúde, nenhum deles vai poder dizer não. Não precisa
dizer que está no cio para ninguém, só eu irei saber. — Coloca a mão no
meu rosto e acaricia, e feito um cachorro vadio, eu vou em direção à sua
palma e me esfrego, ainda de olhos fechado.
— Posso confiar em você, Crystal? — Volto a abrir os meus olhos e
abaixo a cabeça para que continue o seu carinho por cima da minha barba
agora.
— Pode — sussurra e antes que eu possa dizer qualquer coisa ela
estica o pescoço e deixa um beijo rápido sobre os meus lábios, beijo esse
que reverbera por toda a minha pele e me deixa arrepiado. Merda! Estou
refém mesmo de uma fêmea humana! — Eu só quero te ajudar. — A sua
mão macia começa a passear por mim, desce pelo meu pescoço e vai até o
meu peito, onde o meu coração bate com muita velocidade. — Essa rorani
de lobo não te preocupa? O meu professor Anastase falava que elas são
raras.
Engulo em seco, irritado que ela diga o nome de outro macho
enquanto está em cima de mim.
— Ele acreditava nessa história de nova era?
— Mais ou menos.
Existe uma lenda que fala que um dia um persanes com um lobo no
peito irá conhecer a sua companheira de alma, uma humana, e que juntos
eles vão trazer um tipo de vida diferente.
Eu acredito que essa lenda tenha nascido da necessidade de voltar às
origens, já que uma grande quantidade nossa vive entre os humanos desde
muito antes do que eles chamam de idade média e isso mudou totalmente a
nossa forma de viver.
Antigamente nós éramos companheiros e vivíamos em vilas. Hoje em
dia nenhum persanes confia no outro, mesmo que tenhamos desaparecido e
voltado só há uns setenta anos para perto dos humanos.
A lenda sugere que quando pudermos nos transformar em lobos,
como os nossos antepassados faziam, então já não nos importaríamos tanto
com o dinheiro e iríamos recuperar as nossas raízes mágicas, vivendo de
maneira mais unida.
O problema é que eu já conheci alguns persaneses com a rorani do
lobo e até hoje ninguém se transformou no animal, mesmo assim nós
preferimos esconder a marca, já que alguns mais velhos com dinheiro
acreditam que essa tal “nova era” seria, na verdade, um grande perigo para
o nosso tipo. O meu sobrinho Klaus, por exemplo, nasceu com um lobo,
mas ele não sabe que eu tenho a mesma marca.
— Você não está com calor? — pergunto, mudando de assunto, já que
vejo uma gota de suor em sua testa.
— Não, estou bem. — Dá de ombros rapidamente e a expressão
desinteressada no rosto de Crystal me diz que ela está escondendo algo.
— Tire essa blusa, você está suando e mesmo assim está usando
manga comprida e gola alta.
— Estou bem com a blusa! — insiste com petulância e começa a
querer sair do meu colo.
— Você está com calor, tire a blusa! — Contudo, eu também consigo
ser obstinado, então mando até que obedeça, sem deixar que saia.
— Tudo bem… — Acaba aceitando, com um bico irritado, e eu a
ajudo a puxar a cacharrel para fora do seu corpo, e o que está por baixo me
deixa boquiaberto.
 
Capítulo 12

— Meu Deus! — Arregalo os meus olhos ao ver todos os arranhões


finos em seus ombros e como o seu pescoço tem um tom escuro de
vermelho, com as marcas dos meus dedos ficando perfeitamente visíveis.
Parece que ela foi atacada por alguém. — Fiz isso no banheiro?
— Acho que você estava um pouco excitado demais e quando te
coloquei na cama e fui tirar a sua roupa aqui no quarto, para você conseguir
descansar melhor, acabou me mordendo… — murmura culpada, como se
fosse ela quem tivesse feito algo de errado.
Crystal me mostra a mordida profunda que deixei em seu ombro
direito e eu rosno de raiva de mim mesmo por ter feito algo assim com essa
fêmea. Esses machucados só provam que humanas e persaneses não
deveriam compartilhar cio. A minha raça é capaz de despertar muita
excitação neles com os nossos feromônios, mas isso não significa que é
certo.
— Da próxima vez você deve usar a força contra mim, pegue um
objeto e se defenda, sabe que eu me curo rápido. — Me abaixo, coloco a
língua para fora e passo sobre os furos dos caninos em seu ombro. Ela
treme em resposta, mas deixa que eu faça.
— Não vou te machucar. — Nega com a cabeça e a sua excitação
aumenta, o cheiro doce e floral que me enlouquece vai tomando os meus
pulmões e eu só a aperto mais em meu colo, assim as suas pernas
massageiam a minha ereção.
— Vai estar se defendendo, não me machucando — respondo e lambo
mais de sua pele, provando o seu gosto salgado e fazendo barulhos de
satisfação em minha garganta.
Crystal geme conforme chego em seu pescoço e o seu quadril se
move para frente e para trás, respondendo ao meu estímulo.
— Você está rebolando no meu colo, menina… — cochicho em seu
ouvido e ela arfa em resposta, enquanto observo os seus seios através do
decote da regata vermelha que usa. — O que você quer de mim, Crystal?
Diga. — Tento fazê-la implorar por mim, para eu não ser o único
descontrolado aqui. Além do meu lado bestial ficar muito feliz com a ideia
dela pedindo para ser fodida, dizendo cada coisa suja que deseja de mim.
— É você quem… quem está me lambendo. — Fica até com
dificuldade para falar, porque espalho a minha língua ainda mais e chego ao
pé de sua orelha. — Sinto como se sua língua estivesse dentro de mim —
admite e o jeito manhoso de falar e como o seu corpo confia no meu e
amolece, me dá vontade de deixar mais mordidas em sua linda pele.
Rosno e ronrono mais imaginando Crystal com dezenas das minhas
mordidas por seu corpo, vestindo joias que eu lhe dei, diamantes, safiras,
naerys e rubis. E com uma lingerie pequena e transparente que apenas
enfeitasse, mas não cobrisse nada. Eu veria a sua buceta na calcinha e os
seus mamilos duros através do pano e os chuparia até que ela gozasse. Essa
fêmea imploraria por mim, pelas minhas mordidas, pelo meu cheiro.
Tenho vontade de me bater por formar essa imagem na minha cabeça,
porque Crystal está só brincando que sabe das coisas. Ela acha que entende
um cio, mas não entende de verdade e eu deveria estar sendo a porra de um
macho responsável e empurrá-la para longe!
— Me desculpe por isso, não posso machucar você assim. — Crava
as unhas longas e pintadas na minha pele querendo se segurar, como se
existisse a remota possibilidade de eu largar uma fêmea que cheira tão bem
agora. Queria eu conseguir fazer isso… — Faça o que tiver que fazer para
me impedir, se existir uma próxima vez.
— Não precisa se desculpar e eu não vou te conter de alguma forma
dolorosa, sei que não tem culpa. — Franze a testa.
— Olha o que fiz com você, eu poderia ter amassado a sua garganta.
— Seguro-a por sua nuca e ela fica parada me olhando cheia de
expectativas. Os pelos de seu braço estão todos arrepiados.
Por muito tempo essa fêmea tentou chegar perto de mim e eu sinto
agora que estava certo em me afastar. E se eu tivesse ficado desse jeito
quando ela tinha só dezessete anos? O quão horrível não seria?
— Para fazer isso precisaria ter colocado muito mais força. Você só
estava excitado, Vladimir. Estudei sobre a sua espécie e sei que o macho e a
fêmea costumam ser fortes e pode rolar uma espécie de disputa pelo poder
na relação, então é natural para o seu corpo usar a força e a dominância.
Gosto de como ela parece tão estudada agora, realmente se dedicou a
isso.
— Eu queria colocar mais força, queria… levar você para a frente de
todas aquelas pessoas, arrancar as roupas do seu corpo e te foder até perder
a consciência — grunho e o cheiro de como está molhada me deixa quase
maluco.
— Você não fez isso, é o que importa.
Ela é compreensiva demais, não é como uma persanesa. As fêmeas da
minha espécie nunca se deixam ser seguradas por muito tempo, sempre
desejam joias em troca de qualquer contato.
Elas já não querem mais disputar poder, como Crystal acha, agora as
persanesas querem dinheiro e status, conhecem o cio e não o querem, e com
razão, pois geralmente os filhotes vêm um atrás do outro. Mas essa menina
não, ela não se importa em ser minha, em ser segurada e apertada.
— Deixe-me ver mais o que fiz. — Pego a regata vermelha pela barra
e tiro por sua cabeça e acabo vendo-a completamente nua.
— Não uso sutiã em casa — explica o que eu não tinha notado antes
de tirar a sua blusa e o meu ronronado aumenta tanto que mal consigo ouvir
os meus pensamentos. Os mamilos escuros dela endurecem enquanto eu os
encaro, apontando para baixo e enchendo a minha boca d’água. — Você não
chegou aos meus seios, se é o que quer saber — sussurra maliciosamente.
Olho para o rosto dela e Crystal está sorrindo de canto de boca para
mim, com covinhas e tudo, me mostrando como os seus seios são macios e
tão cheios que tomariam as minhas grandes mãos inteiras.
— Não, não cheguei… — Não sei para onde olhar, se é para o seu
rosto, se é para os peitos volumosos e que me deixaram tão duro que dói, ou
se é para a sua barriga macia e arredondada.
— Pode me tocar onde quiser. — Pega a minha palma e coloca sobre
um de seus seios, que eu aperto sem pensar duas vezes. — Se está
ronronando tanto, é porque está gostando, né?
Faço uma concha com cada um deles e deslizo os dedos por seus
mamilos tão deliciosos que a minha boca enche d’água. Estou quase
gozando só em segurá-la e isso é um absurdo.
— Está me perguntando se estou gostando de ver os seus seios? —
Arqueio a sobrancelha, fingindo que sou tão gentil quanto ela acha que sou,
e segundos depois estou me abaixando e abocanhando o bico de seu peito
direito.
— Vladimir! — geme e me segura pelos ombros enquanto eu sugo
com força tudo que posso para dentro da minha boca. — Me morda, eu
gosto quando você me morde.
— Não diga isso, menina. — Largo o seu mamilo, deixando um fio
de saliva entre ele e o meu lábio.
— Gosto da dor — admite e eu simplesmente não resisto, os lábios
dela são suculentos demais e agora a mulher está quase nua em cima de
mim.
Beijo Crystal enfiando toda a minha língua em sua boca, chupo ela e
a engasgo brevemente, do mesmo jeito que faria com o meu pau, e a médica
gosta disso, porque rebola mais a bucetinha no meu colo e massageia a
minha ereção com as suas canelas. Deus, eu adoraria que essa fêmea me
tocasse até com os seus pés e eu agradeceria feito um louco por isso.
— Vou gozar dentro de você de novo, já que gosta da dor, e dessa vez
vou meter mais fundo — rosno rente ao seu ouvido, massageando os seus
seios. — É isso que você quer? Ficar toda gozada, com o cu cheio da minha
porra?
— Sim, só vou precisar de um pouco de ajuda, ninguém nunca fez
nada comigo nessa área e você é muito grande — fala isso agora com a sua
mão acariciando a ereção dentro das minhas calças, querendo dar a volta em
mim com os seus dedos.
Ela sabe o que está fazendo, está me manipulando e acariciando o
meu ego masculino enquanto me deixa mais duro do que uma pedra.
— Ninguém? — Roço os meus lábios nos de Crystal e ela tem a
coragem de me morder, depois passa a língua na mordida, me encarando no
fundo dos olhos.
— Só você, Vladimir.
O meu rosto esquenta como se eu fosse um adolescente e eu não
acredito que está me seduzindo assim!
O que raios ela aprendeu em Paris?!
— Vou curar todas as mordidas que dei em você.
— Eu gosto das mordidas — repete e me acaricia com mais força. —
Quero outras, deixe uma de cada lado da minha bunda — fala sorrindo,
como se isso fosse uma piada. Essa fêmea realmente não tem limites.
— Pare de falar isso — grunho e começo a rasgar o seu short, sem
paciência para esperar que tire isso.
— Eu gostava desse — reclama num tom irônico, conforme a
calcinha de renda por baixo do short também tem um fim trágico para que
eu consiga dar uma boa olhada em sua buceta com tons escuros por fora e
rosada por dentro. — Você vai me comprar roupas novas, senador.
— Vou te comprar uma porra de uma loja inteira, menina — rosno e
jogo ela na cama.
— Ei! — exclama assustada enquanto eu me inclino e deito com as
costas no colchão.
— Venha aqui. — Sem dificuldade e tendo os meus músculos ainda
mais fortalecidos por todo o frenesi do cio, eu puxo Crystal para mim. —
Senta na minha cara, fêmea — ordeno, contudo, não tenho paciência para
esperar.
Preciso do gosto dela, preciso sentir a sua intimidade melada na
minha cara, então vou ajeitando as coxas e o traseiro da médica, até que
esteja com uma perna de cada lado da minha cabeça e eu tenha a visão mais
privilegiada do mundo, que é essa humana com as pernas arregaçadas para
mim, tocando os seus seios pesados.
— Não tente sair daqui até eu deixar — grunho e estico a minha
língua, muito maior do que a de qualquer macho humano, e vou metendo na
sua vagina apertada.
Crystal grita e treme para mim, que reviro os olhos de tão deliciosa
que ela é, esfregando as minhas presas em seus lábios e roçando a minha
língua também em seu clitóris inchado, até que esteja praticamente me
cavalgando, rebolando alucinada conforme cravo as minhas garras na sua
bunda grande e macia.
Crystal grita quase se engasgando com a saliva ao sentir a dor, mas
isso só deixa o seu interior mais apertado e pulsando para mim. É como se
eu instintivamente soubesse todos os botões que deveria apertar.
— Vladimir… Oh! Eu estou… estou… — a fêmea balbucia e esfrega
a bucetinha na minha cara e na minha barba com força para frente e para
trás, me deixando todo úmido do jeito que quero, me intoxicando com tudo
o que mais preciso agora. — Você vai tão fundo! — berra e eu sinto o
orgasmo dela se formando conforme as suas paredes vaginais começam a
espremer a minha língua lambendo o seu interior, então eu rosno e deixo
que a vibração passe para a minha língua e atinja a sua parte mais sensível.
Crystal goza gloriosamente para mim, querendo se afastar e quase me
sufocando com as suas coxas, o que me deixa ainda mais duro. Porém, eu
só a deixo sair depois de sugar mais alguns orgasmos de seu corpo, e depois
passo mais sei lá quanto tempo em cima dessa fêmea, gozando em sua
bunda e a enchendo de mordidas.
Capítulo 13

Vladimir está muito taciturno desde que saí do banho que ele me fez
tomar após me deixar toda gozada, o que me preocupa bastante.
— Qual o problema? — pergunto, sem vontade de ter que adivinhar
porque é que ele está comendo a canja que fiz sem olhar na minha cara.
Não sou nenhuma cozinheira dos grandes restaurantes parisienses,
mas aprendi o básico e sei que não está ruim. Escolhi fazer um prato rápido
e que o ajudasse a recuperar as forças logo.
— Nada — mente e come um pouco mais do seu prato.
Estamos na minha cozinha, que não é muito grande e nem muito bem
equipada. Eu acabei gastando a maior parte das minhas reservas em euro na
sala comercial que aluguei para atender os meus clientes. Lá eu coloquei a
minha alma e decorei da forma mais amigável possível, com pinturas que
sei que são apreciadas por persanesas e cores chamativas. Aqui eu fiz só o
básico para viver enquanto não tenho um nome.
— Não vai me falar mesmo qual o problema? — insisto, ficando sem
fome.
Vladimir me deixa nervosa demais, ainda mais com o seu rabo
batendo de um lado para o outro, como se estivesse irritado.
— Estou no cio, não vou me sentir bem o tempo todo. — Dá de
ombros, vestindo agora o seu terno completo, que fez questão de colocar de
volta.
— Quer voltar para cama? Eu posso aliviar isso.
 
— Acabamos de sair da cama — murmura e empurra o prato um
pouco para longe. Pelo menos ele comeu tudo. — Preciso tomar um pouco
de ar.
Eu rosnaria agora, se tivesse essa capacidade.
— Você não quer mais fazer isso? — Semicerro os meus olhos e ele
se coloca de pé, então eu faço o mesmo e desisto de fingir que irei
conseguir terminar o meu prato em paz.
Nada nesse homem me deixa em paz, porque quando não estava me
salvando de uma agressão ou assombrando os meus sonhos, o que me fez
segui-lo por aí e quase me ferrar muitas vezes, eu estava em outro país sem
conseguir deixar de acompanhar cada passo dele que saía na imprensa.
— Não tenho essa escolha, Crystal. Perco o controle toda vez que
estou perto de você e é agoniante saber que simplesmente não mando em
mim mesmo. — As suas palavras fazem uma pontada atingir o meu coração
e eu preciso respirar e inspirar algumas vezes antes de respondê-lo feito
uma adulta, e não choramingando feito uma tonta.
— Se fosse com outra fêmea você ficaria mais feliz? — Arqueio as
sobrancelhas, esperando para ver o que é que ele terá coragem de me dizer.
— Não, porque cio significa filhote e eu não quero ter mais nenhum
filhote. Tenho Filipi e estou muito bem com isso. — A resposta dele é ruim,
mas poderia ser pior.
— Entendi… eu vou me esforçar, te prometo. Vou procurar em todos
os lugares por algo que te alivie, para você não ter que passar por isso.
Ele nem me responde nada em voz alta, só sacode a cabeça e antes
que eu possa me sentir mais uma merda ainda, por achar que poderia de
alguma forma conquistar esse cara e conviver em sintonia, o telefone dele
toca.
— Vou atender, é a minha secretária — fala, já pegando o aparelho do
bolso e ignorando totalmente a última coisa que disse, o que me deixa
irritada. — Cindy, limpe a minha agenda. Não marque nada e eu quero um
afastamento de algumas semanas. — O tom de Vladimir muda para algo
ainda mais frio e autoritário.
Eu me afasto dele então, já que não parece nada satisfeito comigo
ouvindo a sua conversa, e faço o meu melhor para me concentrar no que
tenho que fazer, ao invés de focar no que não posso mudar, que no caso é a
cabeça desse cara.
Aluguei um consultório a algumas quadras daqui e marquei uma
consulta daqui a vinte minutos, então é bom que eu me aprece para ver a
minha paciente e pare de dar prioridade a Vladimir.
Coloco um vestido verde com estampa de zebra preta colado e que
vai até o meu joelho, com uma pequena fenda lateral, e botas pretas de cano
alto que não tem salto e vão me ajudar a correr daqui até lá. Depois faço
uma pele leve, com um pouco de base, iluminador dourado e uma boca
rosada, e coloco os meus cílios discretos preferidos.
— Aonde você vai? — Vladimir pergunta de repente, aparecendo no
batente da porta do meu quarto e me olhando de cima a baixo.
— Tenho um atendimento a fazer. — Dou de ombros e termino o meu
coque rápido no alto da minha cabeça, o que me dá um ar mais profissional
e que vai combinar com o meu jaleco branco quando colocá-lo ao chegar no
consultório.
Eu gosto da cor alaranjada que está o meu cabelo agora, é um ruivo
bonito e que combina muito com o meu tom de pele, contudo, me arrependo
de ter alisado completamente e pretendo voltar ao meu crespo natural assim
que possível. Ainda bem que tenho algumas laces[GS1] e posso mudar
sempre que quiser.
— Você não pode atender nenhum macho, Crystal, é melhor
desmarcar a consulta — fala como se eu também fosse a sua secretária
Cindy.
— Por quê? — Viro em sua direção e semicerro os olhos.
A verdade é que uma parte de mim está esperando que ele diga que é
porque ficará com ciúmes, porém, como se aliviou há pouco, Vladimir não
demonstrará possessividade. Agora ele é o mesmo senador Dark Elf de
sempre, frio e devotado a sua finada esposa.
— Eles não estão interessados no seu trabalho, só querem arranjar
uma fêmea humana para se aproveitar. Se quisessem ser diagnosticados de
verdade, iriam atrás de um curandeiro persanes, que sabe a doença deles
pelo cheiro.
— Por que você continua duvidando do meu trabalho assim?! — Ele
consegue me irritar tão rápido que eu quase mordo a minha língua de raiva.
— Acha mesmo que não estudei o bastante para ter as minhas próprias
formas de detectar os problemas da sua raça?
Odeio quem duvida das minhas habilidades, quem acha que não sou
capaz de algo. O meu lema, desde a adolescência, é que eu consigo e posso
fazer tudo o que quiser, desde que me esforce.
— Mas…
— Eu descobri o seu cio tardio sem precisar sentir o seu cheiro! —
interrompo qualquer que fosse a frase idiota que estava prestes a sair de sua
boca e pego a minha bolsa no armário junto com a minha maleta com tudo
que preciso. — E eu tenho certeza de que você passou por dezenas de
persaneses nos dias anteriores e nenhum deles deve ter notado o seu cio
tardio, só porque você ainda não estava cheirando. Isso significa que eu sou
tão capaz quanto qualquer outro homem.
Ele passa a sua grande mão na barba grossa, colocando-a no lugar
como se estivesse bagunçada, coisa que não está, e o seu rosto fica tão
vermelho que parece que vai explodir.
— Não estou dizendo que você não é capaz, estou dizendo que eles
irão se aproveitar de você! — Vladimir se aproxima de mim querendo me
encurralar com toda a sua autoridade.
Mas aqui ele não é o “Senador Dark Elf”, eu aluguei esse apartamento
para ter o meu canto e não ter que seguir regras de ninguém, então é melhor
que esse cara não tente me tratar como uma desqualificada.
— Tenho vinte e cinco anos e sei me cuidar muito bem. — Desvio
dele, com a minha maleta e bolsa, em direção à porta, mas Vladimir é muito
mais rápido do que eu e antes que eu possa me distanciar, ele já está com a
sua mão no meu ombro.
— E mesmo assim eu avancei em você logo da primeira vez que a vi!
— Consegue me pressionar contra a parede branca do corredor do
apartamento e eu começo a sentir um calor muito forte subir pelo meu
corpo, com esse homem tão próximo assim e com os olhos começando a
brilhar o seu usual laranja furioso. — Você é muito jovem, não sabe como o
mundo funciona.
Tenho vontade de revirar os olhos para a sua fala, porém, eu a
contenho. Vladimir vai tentar me dominar e me manter cativa de qualquer
jeito por conta de seu cio, contudo, assim como não estou nem próxima da
sua lista de prioridades, também não posso deixar que o meu mundo gire ao
redor dele.
— Ninguém irá avançar em mim. — Coloco as mãos em seu peitoral,
querendo impedir que chegue mais próximo ainda, não porque acho que irá
me machucar, mas sim porque eu não saberei como dizer não.
Ele sempre teve algo que me atraiu loucamente, algo que me fazia
sentir ligada a ele, mesmo quando estava tentando me afastar.
Agora é como ter que conviver com uma espécie de sonho se
tornando realidade, mas sem deixar que vá longe demais ou as
consequências serão péssimas. Os feromônios dele já devem estar agindo
em mim também e eu terei que procurar algo para não me deixar afetar,
pesquisar melhor todas as aulas que acabei esquecendo.
— Como você sabe? Como pode ter certeza que ninguém irá te
machucar?! — insiste e eu acho que ele não vai me deixar passar e eu vou
acabar perdendo a minha cliente de hoje se passar mais um segundo aqui,
encarando o seu rosto forte, que está com presas à mostra e tudo.
— A minha paciente de hoje é uma fêmea, ok?
— Você está mentindo — afirma, sem pensar nem por um segundo.
— Está mentindo para ir atender esse macho.
— Não estou mentindo. — Respiro fundo para não ter um ataque de
raiva por ele achar que tenho que dar satisfação para onde vou, ou um de
animação por Vladimir estar possivelmente enciumado, o que meio que
seria até que legal... — Tenho a consulta em alguns minutos, é aqui pertinho
e quando eu voltar você poderá sentir o cheiro dela em mim e saberá que
estou falando a verdade.
— Tudo bem, então — aceita e me libera, mas com muita relutância.

— Preciso de ajuda com algo — a fêmea persanesa diz, sem parar de


cruzar e descruzar as suas longas pernas. Elas costumam ser sempre muito
altas e essa na minha frente, sentada na cadeira do meu consultório, deve ter
no mínimo 1,90m de altura. — Não quis ir a um curandeiro, porque o meu
companheiro conhece todos os daqui de Red Town e eu não quero que isso
chegue aos ouvidos dele.
— Entendo. — Dou um sorriso sem graça.
— Você não vai contar nada para ele, vai? — pergunta e por alguns
segundos eu me sinto pequena e frágil do jeito que Vladimir acha que sou,
porque a persanesa está com as garras para fora e o rabo balançando muito
forte. Ela poderia cortar a minha garganta em segundos. — Porque se você
contar algo a Bronte… — começa a ameaça e eu não deixo que termine.
— Não, vou contar nada ao seu companheiro — garanto, antes que
essa loira com chifres curtos e rabo longo comece a me dar nos nervos e eu
desista de consultar Grear. Ela empina ainda mais o nariz e faz um barulho
nada agradável em sua garganta, muito mais animal do que humano. —
Com o que precisa de ajuda, exatamente? — Tento ser objetiva e não me
deixo distrair por sua letalidade ou visual.
Persanesas costumam ser muito dramáticas em seu jeito de vestir, eu
nunca vi uma que andasse por aí sem joias dos pés à cabeça ou com roupas
discretas.
Grear usa um vestido longo e cheio de camadas, quase como um traje
de noiva, só que completamente preto e meio gótico. A sua pele é
bronzeada, o cabelo é um loiro dourado muito chamativo e os seus olhos
são castanhos, assim como os chifres e o rabo.
— Dei à luz a um filhote no meio desse ano, depois de quase cinco
longos meses de cio do meu companheiro — fala e eu começo a anotar
disfarçadamente, pois mesmo que sejam de outra espécie, ela ainda é uma
madame rica que vai me dar nos nervos se eu não parecer atenta. — Foi um
parto normal, a recuperação foi rápida e eu me mantive longe, para que
Bronte não entrasse de novo no cio. Não quero mais filhotes por um bom
tempo.
— Vejo aqui que você tem trinta anos — confirmo, olhando a ficha
que ela preencheu agora a pouco.
Os persaneses costumam viver um pouco mais do que os seres
humanos, entre cem e cento e vinte anos, segundo o meu professor. Por isso
o amadurecimento sexual completo deles é um pouco tardio, aos trinta anos,
que é quando a maioria dos machos tem cio.
— Isso, e o meu companheiro tem trinta e dois.
Isso significa que com certeza o companheiro dela irá querer ter mais
filhotes.
— E está tudo bem com o filhote?
— Sim, o meu Elan é muito saudável e está crescendo rápido. — Ela
finalmente sorri e fica parecendo menos nervosa, mas então para e observa
todo o meu consultório.
Aluguei a maioria dos móveis de acordo com o que sei que parece
mais luxuoso, afinal de contas, eu cresci no meio do dinheiro e sei como a
cabeça desses ricos funcionam. Mesmo assim, Grear não parece
impressionada com a sala ampla, com poltronas cor de creme muito
confortáveis e um tapete branco que me arrancou muito dinheiro.
— Que bom que o seu filhote está saudável, porém, se quiser pode me
trazer ele aqui para eu ver se tem algo fora do lugar.
— Não, o problema não é com o meu filhote, e sim com o meu
marido, como vocês humanos dizem. Bronte sabe que não quero mais
nenhuma criança agora e eu assinei o contrato dizendo que teríamos apenas
um filhote a cada cinco anos, então semana passada eu o fiz começar a
tomar pimenta azul para que não entre no cio, e mesmo assim… Ele não
desgruda de mim. — Grear faz uma careta de nojo.
— Quando diz que ele não desgruda, pode me dar um exemplo?
Se o problema está com o marido dela, é o marido dela quem deveria
ter vindo. Mas vou deixar que me conte tudo e depois faço essa indicação.
— Bronte não me deixa tomar banho sozinha nunca, ele sempre quer
pentear o meu cabelo, escolher as minhas roupas, não para de me cheirar e
quer conversar comigo o tempo inteiro! — Levanta um dedo para cada
coisa que a irrita. — Eu não sei mais o que fazer, porque ele não era assim
antes.
— Ah, sim… entendi. — Franzo a testa e faço o meu melhor para não
começar a rir de desespero.
Conversar com o meu professor e decorar tudo que ele falava era
fácil, os persaneses são fantásticos e às vezes parecia que eu estava me
formando em história, não em medicina. Contudo, atendê-los sem ajuda
alguma e sem ter como fazer quase nenhum exame, tem sido um desafio
gigante, mas que eu nunca admitirei para Vladimir.
Não posso marcar exames laboratoriais, não posso pedir um raio-x ou
um ultrassom, porque isso armazenaria dados sobre persaneses, coisa que
nenhum deles admitiria. Sou só eu, Deus e as minhas anotações.
— Bom, como você deve saber, bloqueadores de cio não são bons em
nenhuma circunstância.
— Foi o que Bronte me disse também, mas eu não posso aguentar um
macho querendo fazer tudo junto comigo assim! — Cruza os braços na
frente do peito.
— Vocês são parceiros a quanto tempo?
— A nossa família organizou o nosso casamento faz uns cinco anos,
mas eu só aceitei a parceria depois de receber toda a minha parte do
contrato, todas as joias e terras que me prometeram. — Continuo anotando
as datas. — Depois disso foi que começamos a ter mais contato, há uns dois
anos.
— Então você não teve tanta intimidade assim com o seu parceiro
antes do cio dele? Só nesses dois anos?
— Não.
Anastase, o meu professor, sempre deixou claro como as fêmeas e os
machos persaneses têm uma grande barreira entre si. Quando eles viviam
mais no arquipélago de Cosmos, não era assim, mas hoje em dia as
persanesas sabem muito bem que, por serem quem carrega o futuro da raça,
podem conseguir tudo o que quiserem e entrar em casamentos sem ter que
ser presente ou ter uma relação sentimental com o macho.
— Machos persaneses podem ser muito afetivos, como deve saber, e
o seu companheiro pode ter escondido esse traço dele até agora — comento
e ela concorda com a cabeça.
Eu me sinto mais uma grande fofoqueira do que uma médica às vezes.
Porque eu só vi fêmeas até agora e elas não tinham problemas físicos, a
maioria só tinha algum problema causado pelos costumes e eu acabei só
dando pequenos conselhos depois de ouvir tudo sobre a vida delas e suas
reclamações.
— É, eu já vi isso acontecer mesmo. Eles entram no cio, tem o filhote
e só depois revelam quem são, porque sabe que nenhuma de nós irá
aguentá-los se forem insuportáveis. — Grear acaba pulando de pé, o que me
dá um susto e tanto, e começa a andar pelo meu consultório enquanto fala.
— Ninguém nunca foi tão afetuoso assim comigo. Ele adora me exibir por
aí, quer que todos saibam que somos parceiros, e também quer conversar
por horas comigo, às vezes eu nem sei sobre o que dizer.
— Por que ao invés de correr e fugir dele, você não tenta entender
que tipo de coisa ele espera de você? Conversar pode ser bom e…
— Eu não posso conversar com ele, doutora, porque da última vez
que tentei demonstrar que não gostava de tanto carinho, Bronte começou a
chorar! Parecia um filhote! — Ela revira os olhos. — Ele não é um macho
ruim, me dá tudo o que eu quero e nem mesmo tentou quebrar partes do
contrato, não vou magoá-lo, mas também não quero continuar assim.
Eu respiro fundo, conto até três e tento achar as palavras certas, ou
quem vai começar a chorar será eu, que não me especializei em persaneses
esperando por isso.
— Se ele não está no cio e ainda está tomando os bloqueadores, as
mudanças de humor dele são naturais. Eu sei que é comum se evitar machos
antes de assinar o contrato, assim eles não entram no cio antes de vocês
encontrarem um contrato vantajoso para ambas as partes, mas agora vocês
estão juntos, então a conversa é a melhor solução — termino de falar e
espero que ela vá começar a reclamar logo em seguida, porém, a fêmea só
para de andar de um lado para o outro e fica me olhando fixamente.
— Você é boa com as palavras, não é? — Arqueia uma sobrancelha
loira.
— Eu… acho que sim — respondo, confusa.
— Vou trazer o meu companheiro para você dizer para ele como eu
me sinto, então!
— O quê?! — Arregalo os meus olhos na mesma hora.
— Essa bota que você está usando, é falsa, não é? — Aponta para a
escrivaninha, onde o meu pé está debaixo agora e nem dá para ver a bota, o
que significa que ela reparou nisso quando nos cumprimentamos. — Você
não parou de olhar para a minha roupa, aposto que adora moda, doutora
Parker! — Dá um sorriso amplo e com caninos à mostra.
— Bem… — Começo a falar, porém, ela não me deixa terminar.
— Te dou o bastante para comprar uma bota e uma bolsa originais se
marcar uma consulta esta semana para Bronte e eu! — Ela bate palma,
como se já estivesse tudo decidido, e pega a bolsa que largou no sofá.
— A conversa tem que ser entre vocês dois, é algo íntimo do casal!
— Coloco-me de pé também.
— Mas o meu curandeiro conversaria com o meu marido se eu
precisasse. Só que esses malditos sempre escutam só os machos e ignoram
as fêmeas!
— Eu sou médica, Grear — relembro a fêmea, que dá de ombros.
— Mas é especializada na minha raça, então é curandeira! — fala
com toda a certeza do mundo. — Vamos estar aqui em dois dias, no mesmo
horário!
Capítulo 14

— Pai? — Escuto a voz de Filipi trinta minutos após a saída de


Crystal e abro a porta do apartamento dela rapidamente, antes que o meu
filho seja visto por algum humano. — Caramba, o que você está fazendo
desse lado da cidade?!
— Você entrou escondido? Alguém te viu? — pergunto, pegando-o
pelo braço e colocando para dentro.
Filipi está com os cabelos arrumados e de terno, e segundo o seu
cheiro, ele esteve no tal leilão dos anos 30 do qual eu saí correndo hoje na
hora do almoço.
— Não, ninguém me viu e não acho que esse lugar tenha câmeras,
você… — começa a falar e para no mesmo segundo, com as suas narinas se
expandindo para me cheirar.
Merda! O estresse de ter Crystal fora de casa, se encontrando com
uma suposta fêmea persanesa, me deixou tão aéreo que eu nem percebi que
antes de dar o endereço daqui para Filipi, eu precisaria me livrar do cheiro
em mim e no apartamento.
— Você estava transando com uma fêmea e está… no cio? — Faz
uma careta de susto que depois vira nojo e eu fico em silêncio.
Ver o meu filho olhar assim para mim, com julgamento, é como tomar
um grande soco no peito, porque eu sei que mesmo que vez ou outra ele
insista que eu procure outra fêmea depois da morte de sua mãe, Filipi com
certeza não aceitaria isso tão facilmente.
— É um cio tardio, por isso o cheiro fica meio estranho, e eu não
estava transan…
— Estava sim, estou sentindo o cheiro. — A careta de nojo dele se
aprofunda e eu imagino que seja horrível mesmo ter que sentir o cheiro de
sexo no seu próprio pai.
Eu me lembro de quando o meu pai e a minha mãe estavam vivos,
quase vomitar uma vez, porque filho nenhum quer saber da vida sexual de
seus pais, ainda mais nós persaneses, que temos um olfato apurado demais.
Ele com certeza sente o cheiro do meu suor, da Crystal, e de todos os nossos
outros fluidos corporais, mesmo que o aroma seja bem pouco agora.
Só o meu cio que está mais pungente.
— É melhor você voltar para o carro e eu te explico tudo lá em b…
— Começo a falar, mas sou interrompido pelo som de passos no corredor e
de repente a porta do apartamento volta a se abrir, e dessa vez eu sei muito
bem quem é e o quanto isso irá complicar tudo ainda mais.
— Oi, Vladimir, acho que você esqueceu a porta aberta e… — Ela
nota Filipi ao meu lado, no corredor de entrada de seu apartamento. — Oi,
Filipi, veio ver o seu pai? — Crystal pergunta enquanto o seu olhar pula de
mim para o meu filho, que fica de boca aberta.
— Crystal?! Esse apartamento é seu?!
— É sim, trouxe o seu pai para cá da festa. — Dá um pequeno sorriso
e eu tenho vontade de rosnar.
Que porra de pai sou eu? Que quero rosnar para o meu filho porque
uma fêmea deu um pequeno sorriso para ele?! Juro que odeio o cio!
— Todo mundo falou que ele sumiu no meio do tal leilão com uma
mulher e quando eu cheguei lá, não o encon… — Filipi consegue ficar
ainda mais chocado e para no meio da frase. — Vocês dois estão
transando?!
Eu fico sem saber o que dizer e me sinto o macho mais idiota do
mundo por não ter calculado como isso aconteceria. O meu filho é uma
parte muito importante da minha vida e ver a decepção no seu olhar me faz
ficar até com a boca seca.
Traí a memória de Ellona sem considerar nada além do meu desejo
sexual. Vim para a casa dessa menina e simplesmente esqueci de tudo que
era importante.
— Consigo sentir o cheiro de tudo que vocês fizeram na cama, que
merda! — Filipi exclama e a sua pele que é pálida como a da sua mãe,
agora está muito vermelha e o pescoço dele até engrossou e ficou uma veia
saltada. Nunca vi o meu filho nervoso assim. — Eu vou sair daqui antes que
vomite, vou ficar no meu carro — grunhe e some pela porta como se
realmente estivesse prestes a vomitar.
— Fique no carro com ele, eu vou tomar um banho rápido —
murmuro para Crystal, que parece tão perdida quanto eu. A verdade é que
não queria tirar o cheiro dela de mim e por isso não tinha me lavado até
agora. O meu egoísmo e bestialidade me cegaram. — Só procure não dizer
nada, nem ele e nem eu estávamos esperando por esse cio, e a última
mulher com quem estive foi Ellona...
— Tudo bem, vamos esperar você no carro.

Crystal
— Vocês dois estão… — Filipi começa a falar e não tem coragem de
terminar.
Ele escolheu sentar no banco de motorista e como acho que a minha
companhia não é exatamente agradável para o filho que teve que sentir o
cheiro de todos os fluidos corporais do pai e de uma estranha, preferi ficar
no banco de trás. Mesmo que eu tenha tomado banho para ir à consulta, o
cheiro da porra de Vladimir e de como fiquei molhada ainda deve ter se
espalhado pela casa.
— Ele está no cio e precisa de alguém para cuidar dele — explico.
Filipi sabe muito bem que o cio de um macho não é brincadeira e não pode
ser ignorado.
Os vidros do carro são escuros e estão fechados, assim ninguém o vê
por aqui, já que persaneses raramente saem a luz do sol. A maioria da
população não saberia lidar com seres tão altos e com caudas e chifres
andando por aí livremente.
— Mas você e eu temos a mesma idade e o meu pai tem quarenta e
cinco. — Franze a testa e passa as mãos em seus cabelos ondulados,
claramente nervoso.
Filipi ficou tão bonito quanto achei que ele ficaria mesmo. Ele tem
uma mandíbula bem marcada agora mais velho, o rosto bem mais
masculino do que antes, olhos azuis claros que hipnotizariam qualquer um.
Ele se tornou alto como o seu pai, só que com a pele muito pálida e chifres
menores, já que só tem vinte e três anos.
— Você é dois anos mais novo do que eu — relembro o persanes.
— Mesmo assim. — Dá de ombros, ainda mais enojado e sem nem
querer me encarar nos olhos. — Você corria atrás dele quando era
adolescente e ele te odiava, Crystal! Isso não é estranho? — pergunta,
indignado.
— Eu passei oito anos fora estudando e sou adulta agora — digo,
fingindo que suas palavras não me atingem.
Na época em que corria atrás de Vladimir como se ele fosse um deus
capaz de parar todos os meus problemas, conversei com Filipi muito mais
vezes do que com o pai dele. O loiro sempre foi doce comigo e
compreensivo, era um menino envergonhado e que só achava curioso que
eu não conseguisse sair da frente da porta de sua casa, totalmente o oposto
de agora. Agora ele me olha como se eu fosse uma criminosa.
— Ele está sofrendo, você ainda não deve ter tido um cio, mas já viu
acontecer. Sabe que dói. — Eu quero falar mais, contudo, Vladimir aparece
na saída de emergência do meu prédio, que fica na parte traseira do edifício,
onde é bem menos movimentado e onde decidimos ficar com o carro depois
de recebermos uma mensagem dele pedindo discrição.
O senador entra com velocidade no banco do carona, ao lado de
Filipi, o que me deixa sozinha aqui atrás e me sentindo um pingo de gente.
Eles são dois armários com rabo e tudo nesse carro com teto alto o bastante
para não raspar os chifres deles, e eu fico aqui, com o meu 1,67m.
— Pronto, tomei um banho rápido — anuncia, mas não é comigo que
está falando, então fico calada observando como Filipi continua com uma
cara de quem comeu e não gostou e Vladimir tenta conseguir a sua atenção.
— Irei voltar para a minha casa, onde fico mais confortável. Pode me levar,
filho?
Eu esperava que fosse querer ficar perto de mim pelo menos por
alguns dias, para se sentir melhor, contudo, ele está louco para colocar
distância entre nós dois e não vou ser eu quem pedirá para que fique.
— Claro — Filipi responde baixo e logo estamos em movimento.
Eu vou ficar dando uma voltinha de carro então? Como se eu não
tivesse um bloqueador eficaz de cio masculino para formular?!
— Diga para a sua secretária me contar depois do seu estado de
saúde, então — falo, já que ficaram em silêncio e parece que esqueceram de
que estou aqui.
— Vamos até a minha casa e lá conversaremos sobre isso, Crystal —
Vladimir avisa e eu não consigo entender o olhar que me lança pelo
retrovisor. — Como foi a sua consulta com a fêmea? — puxa assunto
despretensiosamente, contudo, eu sei bem por que quer saber sobre a
consulta.
Vladimir ainda quer descobrir se eu não encontrei com nenhum
macho, o que é absurdo vindo do cara que não queria me ver nem pintada
de ouro até uns dias atrás. Mas tudo bem, irei dar um desconto para ele, só
porque está no cio.
— Não posso quebrar o sigilo médico paciente, mas a consulta foi
boa — murmuro e logo o telefone do atarefado senador Dark Elf começa a
tocar.
Cindy, a secretária dele, parece ter muitas informações para passar e
pedir, e isso ocupa o persanes até Filipi terminar de dirigir para a grande
casa no centro.
— Eu vou pegar os papéis para conferir, Cindy, acabei de chegar em
casa! — Vladimir exclama no microfone do celular e abre a porta do carro
com pressa. — Até depois, filho! E Crystal, te espero lá dentro!
Eu saio do carro junto a Vladimir, mas ele corre para dentro muito
mais rápido do que eu, o que me deixa sozinha com Filipi, ainda sentado
atrás do volante.
— Eu tenho algumas coisas para fazer, mas depois te ligo para saber
como o meu pai está — o loiro fala, agora muito mais calmo do que alguns
minutos atrás. Provavelmente também porque agora estamos atrás de
grossos muros e muitos seguranças que colocam para correr todos os
manifestantes que aparecem aqui.
Ser persanes é sinal de nunca ter paz.
— Você pode ficar, Filipi, eu tenho coisas para fazer também. —
Sorrio levemente, querendo melhorar ainda mais o seu humor.
— Se o meu pai está no cio, ele não vai querer nenhum macho perto
de você, nem mesmo o filho dele. — Arqueia uma sobrancelha maliciosa.
— Você tem razão, esqueci disso. — Dou de ombros, admitindo o
erro.
— Você esquece porque não consegue sentir o cheiro disso… —
Revira os olhos de brincadeira e eu quase consigo sentir que estou falando
com o Filipi de antes.
— É ruim? — Eu automaticamente puxo o ar com força, mas só o que
sinto é o cheiro masculino que sobrou de Vladimir que acabou de passar
aqui e que enche a minha boca d'água.
— Não para você, provavelmente — fala e dá uma risadinha,
contudo, depois as suas feições ficam duras. — Ele nunca vai gostar de
você como amava a minha mãe e eu não estou tentando ser ruim com você
dizendo isso, Crystal.
— Sei disso. — Desvio o olhar para o chão, me pegando de surpresa
por sua frase direta.
— Isso tudo está sendo novidade para mim e eu te respeito por ter
corrido atrás do que sempre quis, mas se você é cuidadora do cio dele, é só
isso. Quando acabar, acabou. — Para a sua frase e nós dois ficamos em
silêncio enquanto alguém usa um cortador de grama em algum lugar dessa
casa gigante e provavelmente com um jardim traseiro. — Ainda mais que
ele parece ter tentado substituir qualquer tipo de contato, nessa área, pelo
trabalho.
Se eu tivesse que falar uma frase inteira agora, a minha voz com
certeza sairia embargada, porque Filipi conseguiu pegar direitinho no meu
calcanhar de Aquiles, não por mentir ou por ser grosseiro, e sim por falar a
verdade.
— Depois me fale como as coisas estão indo, vou esperar a sua
ligação. — Dá dois tapas do lado de fora do seu carro preto, na porta de
onde está.
— Tudo bem. — Faço um aceno curto com a cabeça e ele sai, sem
ver que os meus olhos se encheram de lágrimas.
Capítulo 15

Após procurar Vladimir em sua sala e em seu escritório e não o


encontrar, vou até o quarto dele, onde o acho sentado na cama terminando
uma ligação, então fico em silêncio até que coloque o celular de lado.
— O que quer conversar comigo? — pergunto e ele começa a
desfazer os nós dos cadarços para tirar os sapatos sociais.
Persaneses odeiam as roupas humanas, principalmente as mais
coladas e com botões e amarrações. Os que escolhem não vir para cidade e
ficam em Cosmos, não colocam roupas em seus filhotes até uns seis anos de
idade, e depois disso só usam o bastante para cobrir as partes íntimas.
— Quero que fique comigo enquanto o cio não passa, na minha casa
— revela e as palavras de Filipi conseguem ficar ainda mais fortes no meu
cérebro.
Vladimir vai me usar porque lhe dei carta branca para isso, irá me
trazer para perto e nós ficaremos o tempo todo juntos, no entanto, quando
acabar o cio, irá me descartar. Se eu já sabia disso? Sim, mas estava só
pensando no bem estar dele e esqueci totalmente o quanto isso me deixará
machucada no final. Ou melhor, eu ignorei esse fato.
— Isso não é possível, aluguei o apartamento e tenho todas as minhas
coisas nele. Assinei um contrato inicial de três meses e o meu consultório
está próximo. — Trato de negar tanta proximidade assim, para quem sabe
conseguir me resguardar da dor de ser jogada para escanteio depois.
— Já pedi que meus empregados fossem à sua casa à noite, de forma
sorrateira, claro, e tragam tudo para cá. Como você não tem muito porque
acabou de voltar para os Estados Unidos, não será difícil — explica e eu
arregalo os meus olhos. — Quero que more comigo enquanto eu estiver no
cio, preciso que você esteja perto, mas não queria conversar sobre isso na
frente de Filipi.
— Isso é um absurdo, você tinha que ter me consultado primeiro!
Ele se levanta da cama, agora só de meias pretas, e vem na minha
direção. Vladimir usa ainda a calça social e a camisa branca, mas não vejo
nem sinal do paletó, da gravata ou do colete de hoje mais cedo.
— Foi você quem disse que cuidaria do meu cio e isso significa que
não irá sair das minhas vistas. — A cada passo o cheiro masculino dele fica
mais forte e isso me deixa ainda mais assustada.
Uma parte de mim sempre duvidou que o feromônio de um persanes
pudesse mesmo afetar uma humana, mas agora eu já posso ter certeza que
sim, eles conseguem causar um cio mesmo em um humano e isso é mais um
problema que precisarei resolver.
— Não posso ficar no seu apartamento, é muito pequeno e tem um
monte de humanos em volta. Aqui é mais seguro.
— Onde vai ser o meu quarto, então? — pergunto, sabendo que o que
ele está falando é verdade. Não tem como um persanes desse tamanho ficar
no meu minúsculo apartamento sem luxo algum e sem nada para fazer. —
As minhas coisas vão começar a chegar logo?
Pretendo passar o máximo de tempo possível estudando e em ligações
com Anastase, assim consigo um bloqueador potente de cio masculino e
que não seja a bomba catastrófica que é o Nyn. Essa maldita erva está mais
para uma espécie de alucinógeno do que qualquer outra coisa. Mas por ser
uma planta persanesa, infelizmente não tenho nenhum artigo para ler sobre,
já que eles nunca confiariam em um cientista para estudá-la.
— Você vai dormir no mesmo quarto que eu, pode colocar tudo no
meu closet, tem bastante espaço livre. — Aponta para uma porta extra no
seu quarto, onde deve ficar o closet.
— Prefiro ter o meu quarto, assim nos mantemos mais longe e você
me chama quando precisar.
A minha frase faz Vladimir franzir a testa, sem entender o meu
pedido.
— Você vai dormir no meu quarto. Na minha cama, comigo. —
Termina de se aproximar e o seu rabo se enrola na minha coxa de um jeito
que me faz quase engasgar de susto. — Não tem ideia do frenesi que tem
dentro de mim agora, Crystal — admite e eu reparo em como o seu peitoral
começa a subir e descer mais rápido. — Só de pensar que você não estará
no mesmo quarto que eu, já me sinto ansioso, então, por favor, não dificulte
as coisas.
As palavras dele reverberam em cada parte do meu corpo, me
embriagando em sua possessividade como se fosse algo real.
— Deixarei a porta do meu quarto aberta e você pode me chamar a
qualquer hora. — A minha sugestão o faz apertar ainda mais a minha perna
com o seu rabo de textura de camurça, o que causa uma pulsação nada bem-
vinda entre as minhas coxas.
Por que eu fico excitada com a cauda desse macho?!
— O que Filipi falou para você? — Semicerro os olhos castanhos que
começam pouco a pouco a se acenderem para um tom mais alaranjado. —
Não vou tolerar desrespeito, mesmo que ele tenha sido pego de surpresa. —
A sua voz fica até mais baixa.
— Falou que vai esperar uma ligação informando o seu estado de
saúde.
— E o que mais?
— Mais nada. — Dou de ombros, fingindo calmaria.
— Quero que me diga agora a verdade — exige e planta uma mão na
minha cintura e a outra na minha nuca, onde começa a juntar os meus
cabelos para fazer um rabo de cavalo e puxar levemente, o que me deixa em
estado de alerta. — Diga a verdade, fêmea.
— Você não está precisando se aliviar agora, está? — Arqueio uma
sobrancelha, sem mostrar submissão, pois isso levaria a excitação da parte
dele, que está ficando cada vez mais vermelho.
— Não, mas vou precisar se você não me fa…
— Eu preciso ir pesquisar agora, então. — Interrompo a sua frase, tiro
a mão dele da minha cintura e toco a que sobra e que me segura pelos
cabelos, mesmo que os meus mamilos estejam sensíveis e endurecidos
agora só com esse pequeno toque. — Lembra? Você tem uma convenção
em algumas semanas.
Vladimir começa a rosnar por eu estar tentando afastá-lo, e antes que
eu possa dizer qualquer coisa mais, o homem simplesmente se abaixa e me
pega em seu colo, como se o meu peso não fosse nada.
Uma de suas mãos fica embaixo das minhas pernas e a outra dá
suporte para as minhas costas.
— O que você está fazendo?! — grito, assustada, e empurro a sua
cauda para longe de mim, que se enrola no meu pulso direito.
Mas o brutamontes só ignora os meus protestos, me aperta ainda mais
contra o seu peito quente e que cheira tão bem que me deixa zonza, e segue
para se sentar em sua cama de casal.
— Fique quieta, fêmea desobediente! — grunhe e prende os meus
membros para que eu não lute mais e fique sentada sobre as suas pernas.
Eu não sei o porquê, mas isso também me deixa excitada, além do seu
rabo. A ciência de que ele é tão forte e grande que pode me prender e me
colocar do jeito que quiser, começa a me deixar úmida, ainda mais com o
calor de Vladimir irradiando para mim.
— Você não pode me agarrar assim! Está no cio, mas não está
excitado agora!
— Se você continuar esfregando a bunda no meu pau, eu vou ficar, e
vou te foder nessa cama sem dó nenhuma — ameaça de um jeito que deixa
cada pelo do meu corpo arrepiado, porque a voz dele fica muito grossa e
nada humana.
— N-não podemos fazer isso. — Eu até gaguejo.
— Nunca estive com mais ninguém desde Ellona e antes dela, eu
estive com pouquíssimas fêmeas — revelar, o que me faz parar de tentar
morder o seu braço e ficar parada, com o traseiro em suas coxas sentindo a
ereção grossa e dura dele me cutucar. — Era praticamente virgem ao me
casar e ela era quase dez anos mais velha do que eu quando a nossa família
fechou o acordo.
Vladimir está mesmo me contando a história de seu precioso
casamento? Mesmo quando eu era mais nova ele não foi tão detalhista
nessa área.
— Dava pra ver na cara de Ellona que ela me odiava. Mas como o
meu corpo gosta de… dar problema para as pessoas, eu entrei no cio. — Dá
pra ver no rosto dele que essa não é uma conversa fácil e que Vladimir
provavelmente não tem com ninguém, já que a mídia humana vê tudo que
os persaneses fazem e são, como uma chance de chamá-los de animais.
— O cio daquela vez foi muito mais doloroso do que o de agora, ela
tinha que cuidar das minhas febres noturnas, da minha selvageria repentina,
era o inferno e eu tenho certeza que se Ellona tivesse algum outro macho
melhor, ela teria desistido de mim, ainda mais porque o corpo dela era
frágil.
— Por que casaram você tão cedo? — murmuro, olhando para cima,
enquanto o meu corpo acaba relaxando contra o dele. Desse ângulo consigo
ver as roranis de Vladimir subindo por seu pescoço grosso como tinta
negra.
— Eu era o filho mais novo e solteiro, pequeno e fraco, e Ellona não
era bem vista por ser frágil, como uma humana, mas ainda assim era de
ótima família.
— Você era fraco? — Arqueio as suas sobrancelhas, sem conseguir
imaginar isso enquanto os braços musculosos de Vladimir estão à minha
volta agora.
— Fui ganhar corpo depois do primeiro cio.
— Entendi.
Os dedos dele levantam o meu queixo mais ainda e eu encaro as suas
íris, agora totalmente castanho claro e parecendo tão dóceis que me deixam
surpresa.
— Não quero ser um macho ruim para você, sei que o seu coração é
bom e foi por isso que eu quis que você estudasse e tivesse uma vida longe
de seus pais e de mim. O que teria acontecido se eu tivesse ficado assim
quando você tinha dezessete anos, menina? — As sobrancelhas dele quase
se juntam com uma ruga que se forma entre elas. — Como você lidaria
comigo te machucando? Te mordendo e te arranhando?
Por um minuto inteiro ou talvez até mais, eu fico calada. Nunca
imaginei que Vladimir tivesse me enviado para a Europa por mim mesma.
Sempre achei que fosse por ter asco de mim.
— A sua saliva cura — sussurro, com medo de que todos os meus
sentimentos tenham ficado expostos no meu rosto.
Se antes eu era obcecada por ele ter arrancado o braço de um cara por
mim, agora que eu sei que ele o matou e ainda me mandou para outro
continente pensando em mim, eu nem sei como me sentir.
— Cura feridas abertas, mas eu poderia quebrar algo dentro de você e
a dor ainda estaria ali. — Acaricia o exato lugar onde Ramon me arranhou
no rosto e ele curou há oito anos e eu quase esqueço de como se respira. —
E de qualquer jeito, você era só uma adolescente assustada e confusa. Eu
não queria dar mais trabalho para ninguém e toda vez que você chegava
perto de mim… eu sentia algo diferente. — Respira pesado, parecendo
frustrado. — Algo forte e estranho. Fiquei com medo que pudesse virar um
cio em algum momento.
— Você não me odiava? — Estou quase choramingando.
— Me odiava por não saber lidar com você e ainda me odeio por estar
te arrastando para isso tudo sem nem perguntar se é isso que quer — admite
e eu mordo o meu lábio inferior, olhando como Vladimir é a pessoa mais
linda que já vi em toda a minha vida.
Gostaria de responder “Eu só quero ser sua”, mas isso o assustaria.
Não está acostumado com pessoas como eu, que sabem exatamente o que
querem quando batem o olho, às vezes até eu me assombro comigo mesma.
— Estou aqui para te ajudar. — Dou de ombros, com a garganta
doendo. É muito ruim ter que engolir a verdade assim e ficar com medo de
expressar quem realmente sou, então desço de seu colo e ele não tenta me
segurar. — Mas acho que preciso de espaço agora.
Vladimir me encara por um longo segundo, pensando nas minhas
palavras, depois assente com a cabeça.
— Claro, a casa é grande, pode ter quanto espaço quiser.
Capítulo 16

— Consegui passar o dia sem sentir mais nenhum sintoma de cio —


minto assim que Crystal entra no meu quarto.
Confesso que ainda não estou acostumado que ela esteja aqui e essa
tarde foi estranha. Faz tempo que não tenho uma fêmea andando de um lado
para o outro nesta casa e o cheiro dela foi me deixando cada vez mais duro
e feroz. Sorte a minha é que Filipi decidiu morar sozinho há uns dois anos,
assim ele não presenciou toda essa humilhação.
A minha vontade era de caçá-la pelos cômodos, grudá-la no chão e
explorá-la, provar o seu corpo macio e mostrar a minha dominância. Mas eu
me segurei ao máximo e fingi ser mais humano do que sou.
— Que bom. — É só o que diz após a minha tentativa de puxar
assunto e depois entra no closet.
Sei que tem algo de muito errado, Filipi deve ter dito algo que a
magoou e a fez passar o dia distante. Mas nem ela e nem o meu filho
quiseram me dizer o que, e agora eu me sinto como um tolo.
— Você já jantou?! — pergunto alto, para que possa me ouvir.
— Ainda não, mas irei procurar alguma coisa na sua geladeira logo
— responde mais baixo, sabendo que a minha audição é melhor que a sua, e
eu paro de falar para prestar atenção nos sons dos tecidos. Crystal deve
estar trocando de roupa e isso faz eu me aprumar na cama.
Espero que saia com algum tipo de pijama pequeno e fino. Eu vi as
roupas que a médica colocou nas gavetas hoje, sei o tipo de coisa bonita que
tem guardada e que ficariam grudadas em seu corpo.
— Merda… — sussurro para mim mesmo e passo as mãos no rosto,
no cabelo e na barba nervosamente.
Sou um grande filho da puta esperando que essa menina apareça
seminua para mim e eu possa agarrar o seu corpo. Ela passou oito anos
longe, mal nos conhecemos e nós mais brigamos do que qualquer coisa.
Mas o que posso fazer? O cio está me tirando do sério!
No entanto, quando ela sai do closet, está com um coque no alto da
cabeça e veste uma camiseta de algodão rosa bem larga e um short de
pijamas laranja com bolinhas azuis nada sensual. Crystal não pegou nem
uma camisola de seda branca que a vi enfiar no fundo de uma gaveta.
Não é o que eu estava esperando, porém, ainda posso tirar tudo isso e
mantê-la nua pelo resto da noite. Isso com certeza é mais sexy que qualquer
camisola ou lingerie.
Contudo, ao invés de vir direto para a cama onde a espero debaixo de
lençóis usando só a cueca, após um dia inteiro de banhos frios para manter a
minha cabeça no lugar, Crystal se dirige à porta de saída do quarto.
— Aonde você vai?! — exclamo, sendo pego totalmente de surpresa.
— Vou continuar estudando. Anastase, o meu professor da faculdade,
vai me ligar daqui a pouco de Paris — fala com um sorriso animado no
rosto, um sorriso que não deveria estar ali, não quando a razão dele é outro
macho. — Tenho algumas teorias que estou louca para falar para ele! Já
expliquei o caso e mantive a sua identidade em segredo, não se preocupe.
Cada vez que diz o nome desse professor, tenho vontade de rosnar e
xingar feito um maluco.
— Vai falar com um macho agora? Está tarde e você ainda nem
jantou. Vamos, venha aqui, vou pegar algo para você comer e depois
dormir. — Dou dois tapas no espaço ao meu lado e Crystal apenas olha para
onde deveria estar e nega com a cabeça.
— Ele vai ajudar a conseguirmos que você não fique preso a esse cio
e não precise fazer um filhote, então é bom cumprir os encontros direitinho.
Agora em Paris deve ser umas 6 ou 7 da manhã.
Não, eu não quero um filhote e não quero continuar no cio. Mas
também não quero Crystal falando com um macho a noite toda, um macho
que a conhece demais e que passou dias indo no quarto dela dar aulas,
quando ela era só uma estudante!
Pensando bem agora, eles com certeza devem ter tido algo. Nenhum
macho ficaria perto de Crystal sem se sentir atraído, a menos que fosse
acasalado.
— Agora eu vou indo, vou ficar no seu escritório, tá? — Ela já
começa a sair do quarto.
— Esse seu professor, Anastase, ele tem uma fêmea? Um macho?
— Quer saber se Anastase é acasalado? — Semicerra os olhos e
pressiona os lábios como se estivesse segurando uma risada.
Qual é a graça?! Estou com as bolas doloridas aqui e essa fêmea
prefere ir falar com outro!
— Isso.
— Não, ele é solteiro, Vladimir. Agora vá dormir que amanhã iremos
testar algumas misturas! — Crystal é pura animação, e antes que eu possa
dizer algo mais, ela passa pela porta e corre para o meu escritório.

Não quero ser um macho infantil e primitivo, já tenho mais de


quarenta anos, um filho adulto e sou senador desse estado! Mas não tem
jeito. O meu cérebro fica sussurrando como a "minha fêmea" está falando
nesse segundo com outro, que deve estar ouvindo a sua voz e revivendo
momentos que eles já tiveram, e isso deixa o meu coração disparado.
— Que porra! — xingo e faço buracos involuntários com as minhas
garras no lençol que me cobre.
Ainda visto só uma cueca branca e mesmo assim estou todo suado,
com uma ereção grossa, úmida, pulsando e ficando cada vez mais dolorida.
Achei que ela voltaria logo, contudo, Crystal já está há quase uma hora no
meu escritório pesquisando o tal bloqueador de cio masculino eficaz e nada
de aparecer aqui.
— Se ele estiver falando alguma merda para ela… — resmungo e me
coloco de pé. A minha cabeça também está doendo pra caralho e eu estou
cheio de calafrios. — Juro que vou até Paris para arrancar a cabeça desse
filho da puta.
Localizo os meus chinelos com facilidade na escuridão, mas não vou
atrás de nada para colocar por cima da cueca. Quero ver o que é que Crystal
irá dizer quando vir como o meu pau está grosso de tanto tesão.
Caminho pela minha casa completamente escura e sem nenhum
funcionário, já que não gosto que nenhum deles durma aqui, caso o meu
lado mais selvagem decida sair, e encontro a porta do meu escritório
entreaberta.
A luz lá dentro do cômodo está acesa e Crystal está sentada na minha
cadeira preta acolchoada, que é grande demais para essa fêmea. Ela está
debruçada na minha escrivaninha, com o celular no viva voz fazendo
anotações e me parece bem cansada.
— A erva de gato pode te auxiliar, mas no convívio social todos
notariam que tem algo de estranho, além de não durar muito — uma voz
masculina e com sotaque francês diz e Crystal concorda com a cabeça, o
que me faz rosnar alto.
Eles estão fazendo chamada de vídeo?! Algum macho estrangeiro
está vendo a minha fêmea por tanto tempo assim?!
Empurro logo a porta do meu escritório cheio de prateleiras com
arquivos que eu prefiro ler em formato físico e não digital, e os olhos dela
se levantam na mesma hora, agora que pode me ouvir.
— Vladimir, o que veio fazer aqui? — sussurra, tampando o
microfone do celular.
— Desligue agora — digo entredentes.
Os olhos dela passeiam pelo meu corpo cheio de luxúria. Eles viajam
pelas minhas roranis negras distribuídas pelo meu corpo, pelos meus
mamilos com os piercings dourados, tradição da minha espécie, descem
pelo meu peitoral e barriga com um caminho de pelos e músculos, e param
na ereção marcada na cueca.
— Você ainda está aí, Crystal? — o professor pergunta do outro lado
da linha.
— E-e-estou, pode falar. — Tira o dedo do microfone e eu me
aproximo.
— Desligue — mando de novo e ela forma as palavras “Por favor,
pare” com a boca e mesmo assim eu continuo chegando perto, o que a faz
pressionar um botão.
— Desliguei o microfone, ok? — avisa, o que me deixa um pouco
mais calmo. Não está em videochamada, então o tal francês continua
falando do outro lado, alheio a tudo. — Mas você precisa sair daqui, esse é
o único horário que ele tem livre para mim hoje e nós estamos fazendo
progresso.
A essa altura eu já estou ao lado de Crystal. Os olhos dela estão
grudados na minha ereção e a sua respiração acelera, enquanto o cheiro da
excitação dela fica realmente potente.
— Não quero ter que mandar você desligar de novo. — Desço as
minhas mãos até o seus ombros.
— Vladimir, isso aqui é sério! Eu… — interrompo a sua frase
colocando os meus dedos sobre os seus seios e puxando. Com as minhas
garras eu destruo a camiseta facilmente e o barulho e a força que uso, fazem
ela pular da cadeira, assustada. — O que está fazendo?! Ei! Pare! — Não
respondo a sua pergunta indignada e termino o meu trabalho, fazendo a
camiseta de algodão ficar em tiras. — Pare com isso! Você não pode fazer
isso! — Tenta me segurar pelos braços e eu não deixo, sou muito mais forte.
Desse jeito consigo ver os seus dois seios que têm a pele mais clara
que o resto do seu corpo, e os mamilos escuros e duros. Isso é meu e
deveria estar na minha cama, não aqui!
— Posso fazer o que quiser! — rosno e começo a trabalhar em mim
mesmo. Tiro o meu pau avermelhado e cheio de veias e as minhas bolas
pesadas de dentro da cueca úmida e me aproximo ainda mais da cadeira
onde a fêmea se encolhe. — Está vendo isso aqui, Crystal? — A minha voz
só fica mais animalesca enquanto me masturbo na altura de seus olhos,
subindo e descendo a mão na minha ereção e fazendo o pré-gozo escorrer
pela joia perfurando a cabeça. — Responda as perguntas que te faço,
menina. Está vendo o meu pau, Crystal?
— S-sim. — Molha o lábio inferior e me faz pulsar mais forte.
— Isso aqui deve ficar dentro de você, seja na sua buceta, no seu cu
ou na sua boca. Ou até mesmo aqui… — Flexiono os meus joelhos e passo
a extremidade do meu pau nos bicos dos peitos dela, espalhando a umidade
por ela, e é realmente incrível como a minha ereção cresceu. — Você tem
que estar disposta a engolir a minha porra a cada hora, se vai cuidar do meu
cio.
Para fazer tudo isso caber dentro do rabo dessa fêmea, terei muito
trabalho, mas isso não será ruim de forma alguma.
— Você está m… — começa a falar e é interrompida.
— Crystal, você concorda comigo? — o professor pergunta do outro
lado da linha.
— Desligue o telefone — mando de novo. “Eu preciso estudar,
Vladimir” forma com os lábios e arregala os olhos ainda mais, enquanto eu
continuo esfregando o meu pau nos seus peitos. A sensação da quentura da
sua pele é boa, mas não é nem 10% do que preciso. Essa fêmea tem que
estar submissa a mim, cheirando a mim, se não, não dormirei em paz. —
Desligue agora ou vai ser pior para você!
Ela parece finalmente entender o meu recado e concorda devagar com
a cabeça.
— P-professor, estou tendo um problema aqui e…
Não deixo que termine, ela não deve explicação para macho nenhum
além de mim. Pego Crystal por baixo de seus braços, segurando todo o seu
peso dessa forma, que não é muito para mim, até me girar e fazê-la apoiar o
traseiro na escrivaninha.
— O que você está fazendo?! — grita e o celular cai no chão nesse
processo, então eu me abaixo, pego o aparelho e só aperto o botão vermelho
sem pensar duas vezes. — Não acredito que você desligou na cara dele!
— Você já deveria estar na cama! — retruco e Crystal até quer dizer
alguma coisa mais, contudo, agora estou entre as suas pernas, com a minha
ereção e bolas de fora e ela não consegue dizer nada muito coerente.
— Se você… quisesse alguma… então… — O lábio inferior dela
treme e a fêmea fecha os olhos, para conseguir pensar melhor. — Ele está
tentando nos ajudar! Não pode fazer isso!
— Disse que eu poderia tocar onde eu quisesse, então vou tocar onde
eu quiser. — Desço os meus dedos por sua barriga arredondada, sentindo a
sua pele macia e algumas linhas que são as suas estrias, faço um rasgo em
seu short de pijamas e calcinha e chego ao seu monte de vênus que agora
ela depilou, depois finalmente vem a parte molhada e quente que se contrai.
— Não vai me trocar por nenhum macho!
Eu continuo rasgando as roupas dela sem problema nenhum e isso a
assusta.
— E-eu não estava… não estava te trocando.
— Eu preferia com pelos — sussurro e enrolo a minha língua na
cartilagem de sua orelha, fazendo um vai e vem que a deixa trêmula.
— Anastase irá me ligar de novo e… — Espalho os seus lábios
vaginais e começo a entrar nela com o meu indicador e anelar enquanto
continuo lambendo perto do seu pescoço. — Vladimir, não coloque o dedo
aí agora.
— Você é minha e eu quero o que é meu agora. Além disso, você não
vai falar com um macho não acasalado tarde da noite.
— Eu estava brincando, Anastase nunca se interessou por mim e é
acasalado — admite e faz um rosnado alto sair pela minha garganta. — Não
te falei porque…
— Queria me fazer ciúme — completo a sua frase. — Queria me ver
enlouquecer porque acha que irá me enganar e manipular, pequena fêmea.
Mas eu mando em você.
Pego-a pela cintura e faço com que fique de costas para mim e
coloque os joelhos no tampo da escrivaninha, assim fica de quatro e com a
bunda para o ar, espalhando os cadernos e folhas que antes estavam no
móvel.
— Vladimir! — berra e tenta ficar de frente, mas eu não deixo. O
corpo dela é meu agora e não aceitarei mais nenhum joguinho ou desculpa.
— Não! Você vai me chamar de senhor. — Desfiro um tapa firme e
ardido em seu rabo grande e termino de arrancar o que sobrou da calcinha e
do short em seu corpo.
Ela geme o meu nome o processo todo, então sei que está gostando,
ainda mais vendo como a bucetinha dela fica cada vez mais molhada agora
que está de quatro.
— Senhor? — pergunta, com surpresa em seu tom de voz.
— Isso, porque eu sou o seu senhor. — Dou outro tapa forte e depois
mordo o lado direito da sua bunda, enquanto enfio a minha mão por entre as
suas pernas por trás e coloco vagarosamente um dedo em seu cu.
Sempre preferi uma boa buceta molhada, contudo, se só o que posso
ter de Crystal é sexo anal, então assim será.
— Me fode logo então, pelo amor de Deus — choraminga e se vira na
mesa, fazendo ainda mais bagunça e tirando o meu dedo de dentro dela.
Crystal se põe de frente para mim, sentada na beirada do móvel, e
pega o meu pau para me masturbar. As mãos da humana acariciam a minha
extensão e se molham com o meu pré-gozo, e por mais que seja gostoso, o
meu lado selvagem precisa de Crystal tão a minha mercê quanto estou dela.
— Use mais força, fêmea — ordeno, pegando-a pelos cabelos na base
de sua nuca, e ela acata, com as suas palmas macias fazendo mais pressão.
— Está pulsando — murmura, me encarando nos olhos.
— Sim, você quem me deixou necessitado a tarde toda para falar com
outro macho. — Aperto mais os seus cabelos e puxo mais o seu couro
cabeludo, o que a faz gemer e fechar os olhos. — Eu me masturbei com as
suas calcinhas e esperei, mas agora não tem mais espera. Agora você é
minha. — A minha voz fica muito mais grossa do que o normal.
— Se masturbou com as minhas calcinhas? — pergunta, já com os
olhos bem abertos agora.
— Gozei todas e cheirei os seus vestidos enquanto você estudava —
revelo e me ponho novamente entre as suas pernas, bem próximo, com o
meu peito contra o seu tronco. — Se colocar qualquer uma daquelas poucas
calcinhas que trouxe de Paris, vai ficar andando com o meu gozo por aí, se
esfregando nele o tempo inteiro.
Só de imaginar isso, o meu pau fica ainda mais sensível, pois Crystal
não para de me masturbar e a minha vontade é de me esfregar de volta feito
um bicho.
— Me come, Vladimir, me fode logo — implora de repente e separa
os lábios de sua intimidade, lugar onde eu não posso entrar, se não quiser
plantar um filhote no ventre dessa fêmea. — Aqui, entre em mim e me fode.
— Crystal… — rosno o seu nome e aperto mais os seus cabelos.
— Só dessa vez, eu preciso de você dentro pelo menos uma vez,
senhor. — Ela usa a palavra que me deixa louco. — Só quero saber como é
ser sua de todos os jeitos.
— Temos que fazer sexo anal. — Puxo o rosto dela com força para
perto do meu. — Só sexo anal. — Falo em cima da sua boca carnuda e não
resisto, beijo a maldita humana.
Enfio a minha língua entre os seus lábios e ela geme em resposta,
enquanto sinto como rebola na minha mão. Entrelaço a minha língua na
dela e praticamente a massageio, exatamente como faço com os meus
dedos. É muito erótico e faz o seu coração já desesperado bater ainda mais
forte.
O cheiro de excitação dela está me intoxicando e eu rosno e ronrono
ao mesmo tempo, porque essa porra dessa fêmea humana é a coisa mais
deliciosa que já provei na vida.
— Estou latejando tanto e eu preciso de você — choraminga ao parar
o beijo e se aproxima mais de mim, dando trancos com o quadril. — De
mais ninguém, só de você — diz no seu tom manhoso que agora eu já
conheço, é quase sem ar, baixo e rouco.
— Fala de novo de quem você precisa — mando e esfrego o meu pau
nos seus lábios úmidos.
— De você, só de você — murmura e coloca as pernas na mesa, se
inclinando para trás, para que possa entrar na sua buceta. — Agora me
come — ordena e eu não resisto. Sou um filho da puta que não consegue
vê-la pedindo pra ser fodida e não atender.
Coloco as mãos em suas coxas para abri-las ainda mais, esfrego a
ponta do piercing e do meu pau até chegar no buraco. Os olhos de Crystal
se reviram de tanto prazer e ela treme a cada centímetro que me afundo em
seu interior quente e apertado como um punho.
Enquanto isso eu fico até sem ar, esquecendo completamente do
porque não poderia fazer isso.
Capítulo 17

— Isso! — gemo, sem conseguir parar de falar.


Simplesmente não consigo deixar de choramingar conforme sou
preenchida e segurada por ele, que enfia as garras nas minhas pernas. A
sensação é maravilhosa e desesperadora, porque ele é realmente muito
grande e grosso, as minhas paredes vaginas se comprimem em volta dele,
tentando fazer caber, só que é quase impossível.
Mas eu adoro a ardência, a dor de ter muito mais do que estou
acostumada, e logo o pré-gozo de Vladimir faz o seu trabalho e não deixa
que a sensação de ser partida ao meio continue por muito tempo.
— É a mim que você pertence, me entendeu?! — rosna com força, de
um jeito que vibra pelo meu corpo todo e me deixa ainda mais selvagem do
que já me sinto. — Diga que entendeu!
— Sim, senhor! — Gostei de chamá-lo de senhor, de estar a sua
mercê, de ser dominada por esse homem todo tatuado e que fala coisas tão
sujas que me deixam até meio envergonhada.
— Só o meu pau entra em você e você obedece somente a mim! —
Enfia as suas presas no meu ombro e eu quase gozo de tanto tesão que é ser
mordida enquanto soca a ereção cada vez mais fundo em mim, num vai e
vem que passa a ser frenético e com um ritmo muito marcado. As bolas dele
batem tão forte em mim que são quase uma surra.
O persanes não me dá nem tempo de me acostumar e o seu quadril
tem muita força, metendo contra as minhas coxas e tirando o seu pau
avermelhado até a metade, a cabeça grossa e com a joia gelada, só para
mergulhá-lo todo de novo dentro de mim. Enquanto isso ele suga o meu
sangue e eu amoleço em sua pegada, sendo realmente dele para fazer o que
quiser.
— Quero a sua porra. — As minhas pernas estão bem apertadas em
volta do seu quadril largo agora e os meus calcanhares afundam na sua
bunda. — Eu preciso — choramingo, com medo de que queira tirar antes.
— Você quer que eu te engravide, fêmea?! — pergunta, largando a
ferida que fez no meu ombro que sujou toda a sua boca de sangue.
Ele está muito feral agora, os cabelos bagunçados, o rosto todo
vermelho de tanto esforço. Seria terrivelmente assustador, se não fosse
profundamente sexy.
— Quero ser sua! — grito as palavras que não dá mais para guardar.
— Quero que me faça sua.
Então ele me beija, me dando o meu próprio sangue para provar e
roçando as suas presas nos meus lábios. O beijo desse macho nunca deixa
de ser erótico, então por longos momentos nós continuamos juntos assim,
ainda com as estocadas frenéticas dele me deixando enlouquecida.
— Você já é minha fêmea, Crystal — admite e eu sinto que poderia
chorar agora. Por que estou tão emocional com isso? Será que é por que eu
sei que me fazer entender que tudo isso foi cio depois, será muito difícil? —
Eu vou gozar, menina, essa sua buceta apertada não me dá outra escolha.
— Dentro de mim, goza dentro de mim, senhor, por favor! — peço
mesmo sabendo que isso que estou fazendo agora pode virar uma grande
merda depois, e ele me obedece, grudando as suas duas mãos na minha
bunda para me manter parada.
O calor da sua porra me enchendo é a melhor coisa que já senti, os
jatos quentes não param e é como se o pau dele crescesse ainda mais no
meu interior. É surreal e eu só consigo tremer cada vez mais, com o corpo
dele abraçando o meu e não me deixando ir a lugar nenhum.
— Agora eu quero o seu rabo — sussurra no meu ouvido e eu nem
consigo acreditar que ainda consegue foder mais. Caras humanos nem
sonham em gozar tanto assim.
— Me enche mais de porra bem aqui e só depois… só depois sexo
anal — falo, esbaforida, e eu nem gozei ainda. — Agora eu quero sentir
transbordar mais — imploro feito uma maluca e mesmo assim Vladimir se
retira e eu tenho vontade de choramingar pela perda, no entanto, sem aviso
nenhum ele enfia o seu dedo indicador e do meio em mim e começa a
empurrar a porra para dentro de volta.
— Você vai ter todo o gozo que quiser, fêmea. — Os olhos dele
brilham laranja observando a minha vagina e é quase como se estivesse
pegando fogo.
— Quero o seu pau de novo. — Toco o seu braço querendo puxá-lo
para voltar, contudo, isso só o faz colocar o terceiro e o quarto dedo, que
entram com facilidade no excesso de umidade dentro de mim.
— Vai ter, mas só depois que fizer o que eu quero — grunhe e juro
que não sei o que quer de mim agora. — Já foram quatro dedos, relaxe um
pouco mais para mim e vamos conseguir logo.
— O-o que está fazendo, Vladimir?
— Estou enfiando a minha mão em você, é isso que estou fazendo,
alargando essa bucetinha quente que você tem, deixando a minha marca
aqui — revela e eu fico de boca aberta.
Acha mesmo que essa mão grande dele, que aberta deve ser maior do
que a minha cabeça, vai caber dentro de mim? O pau é uma coisa, a palma
já é demais!
— Se-senhor…não sei se vai caber. É muito grande. — Nego com a
cabeça, ficando com medo de repente.
— Tenha calma, mon naery.
Eu deveria dizer algo, deveria negar, mas não consigo! Não quando
ele me chama de “meu cristal” enquanto consegue afundar os seus cinco
dedos em mim, mas não a palma. A palma é a parte mais grossa e que eu
tenho certeza de que não vai entrar.
— Você fica tão linda assim, com a minha mão dentro de você e cheia
de porra, mon naery — sussurra no meu ouvido com a sua voz grossa e
parece que eu vou sair do meu corpo, sendo tão preenchida como nunca.
Estou completamente cheia e a cada segundo que passa, a lubrificação do
gozo dele e a minha própria excitação ajudam a sua palma a deslizar mais
para dentro de mim. — Tome tudo o que é seu, pequena fêmea.
Eu me contraio bastante sentindo ele forçando, e mesmo assim o
persanes acha espaço e vai se enfiando, enquanto uma pressão vai se
formando no pé da minha barriga. Uma pressão forte e que me deixa
desesperada.
O meu quadril se move sozinho e Vladimir começa a querer abrir um
pouco os seus dedos dentro de mim, o que é impossível e me faz jogar a
cabeça para trás.
— A sua mão é muito grande, senhor! — choramingo fino, rebolando
sem controle dos meus próprios quadris.
O meu cérebro sabe que é muito grande, contudo, o meu corpo quer
tudo que ele puder me der, eu quero Vladimir em todos os lugares em mim,
em todos os meus buracos. Quero o seu gozo espalhado pela minha pele e a
sua atenção.
— Não, não é. Agora seja uma boa garota e relaxe para terminar de
entrar… ou não te fodo mais — ameaça e eu me sinto muito sensível,
porque de repente a mão dele não só está indo para frente, como está indo
para trás também e com velocidade.
Vladimir está me masturbando com a palma inteira dentro de mim,
com os seus dedos bem apertados um contra o outro, e me olha como se eu
fosse uma deusa. Como se eu fosse a coisa mais linda que ele já viu em toda
a sua vida.
— Vamos, mon naery, me dê um orgasmo — ordena e faz pressão pra
cima e pra baixo com a mão, o que literalmente enche os meus olhos de
lágrimas de tão forte que sinto o orgasmo se formando.
Não tem dor nenhuma, estou cheia de porra e pré-gozo dele, só tem a
sensação arrebatadora de estar muito preenchida e de ter as minhas paredes
sensíveis sendo acariciadas. Estou sendo tocada como nunca, sinto o dedão
dele fazendo pressão dentro de mim e é absurdo de tão gostoso.
— Isso, pequena fêmea, goze para mim, você sabe que quer. Me dê
esse orgasmo, Crystal. — A fala dele no meu ouvido é grossa e rouca e faz
arrepios subirem pela minha coluna como se estivesse me acariciando ali
também. — Olha como você é linda, minha pequena, tão deliciosa.
— Vladimir! — berro o nome dele, várias e várias vezes, porque de
repente ele está balançando a sua mão dentro de mim com velocidade, se
esfregando em tudo o que pode, e me fazendo esguichar.
Essa é a primeira vez que isso me acontece, então fico em choque e
hipersensível. Nunca tive um squirting antes, nem sonhei com isso, mas
nenhum outro cara tentou enfiar a mão inteira em mim também.
Ele me deixa esguichar, molhando toda a sua barriga. Me deixa
chorar e gritar mais, me masturbando sem pena e sem precisar tocar o meu
clítoris, até que tira a mão devagar, para meter o seu pau de volta na minha
buceta, e Vladimir não estoca nem três vezes direito e já está gozando
dentro de mim de novo, me enchendo de mais quentura e me fazendo ver
estrelas.
Eu sou só um brinquedo dele agora, incapaz de negar qualquer coisa
suja que queira comigo, e a sua ereção solta muita porra mesmo,
esguichando quase como eu fiz, só que com líquido branco, quente pra
caralho. Eu o sinto o mais fundo possível, crescendo dentro de mim, talvez
plantando o bendito filhote dele em mim e eu quero isso, eu clamo por isso
totalmente fora de mim. Imploro por sua porra, por tapas, arranhões e
mordidas feito uma vagabunda.
No final de tudo estou quase sem consciência, pois nunca foi assim
antes, com absolutamente ninguém. Vladimir é quem tem que me levar para
o chuveiro, passar sabonete em mim, me limpar e me carregar para a cama,
e a parte mais difícil disso tudo é esconder o sorriso bobo que não quer sair
dos meus lábios de jeito nenhum.

— Bom dia — murmuro muito rouca para o homem sem camisa ao


meu lado, que está sentado com um bolo grande de papéis na mão lendo.
Engulo em seco com a imagem de Vladimir assim e não consigo
parar de encarar a mesma trilha levemente grisalha de pelos que me
hipnotizou ontem. Juro que é a coisa mais sensual que já vi em toda a
minha vida. Os mamilos rosados dele, com os piercings dourados, o peitoral
largo e alto e o abdômen marcado. Eu poderia babar agora.
E além de tudo isso ainda tem os seus braços grossos, quase como as
minhas coxas, e o seu rosto barbado, com a boca carnuda que me deixa
quase fora do ar. Só depois de um tempo que eu me toco de que Vladimir
está falando comigo.
— Como está se sentindo, Crystal? — pergunta e eu nem sei quantas
vezes ele já falou isso.
— Estou bem. — Tento me colocar sentada também, mas na hora eu
sinto o meu corpo todo enfraquecendo e acabo desistindo de me mover
mais. É como se eu tivesse começado a fazer academia e testado todos os
aparelhos no mesmo dia. — Dolorida, na verdade… e você? Como está? —
Acho que a minha ansiedade fica toda estampada na minha voz, por isso
Vladimir desvia o seu olhar do papel, só para me encarar.
Só que tem algo de estranho no jeito que me olha, não é com a mesma
adoração de ontem, é frio e estranho, e me faz sentir mal. Isso porque esse
tipo de expressão no rosto dele não me é incomum, me lembra o jeito que
me encarava toda vez que me via quando eu era mais nova.
— Estou trabalhando — fala e volta para os seus papéis.
— E o seu cio? Está sentindo algo agora?
Olho para baixo e percebo que estou usando uma camiseta minha de
algodão, com uma cueca samba canção dele. Será que isso tem a ver com
ele ter gozado todas as minhas calcinhas?
— Estou bem, mas você deveria tomar um pouco de acalasia, antes
que os meus feromônios te façam entrar no cio junto comigo.
— Acalasia vai me deixar fraca demais para trabalhar, as cuidadoras
de cio tomam, mas bem raramente.
— E o cio vai te deixar maluca, menina — argumenta, e sacode os
papéis, como se para ajustá-los em suas mãos, e também para mostrar que
está ocupado.
Vou mesmo ter que conviver com um Vladimir fechado só porque
transamos ontem? Que merda!
— É, acho que você tem razão… — cochicho e me esforço para ficar
sentada. Esse cara realmente pegou pesado comigo ontem, na hora eu não
senti, mas agora… — Vou tomar um banho e ir trabalhar também.
Não vou pensar no jeito que o senhor senador Dark Elf quer me tratar
agora. Se ele quer ser um filho da puta e me ignorar depois de tudo que
fizemos, isso fica para outra hora. Primeiro vou me levantar daqui, me olhar
no espelho para descobrir em que estado fiquei depois de todas as mordidas
que me deu, e só depois que estiver me sentindo menos como se uma
boiada tivesse pisado em mim, que irei conversar com ele.
— Tem certeza de que está tudo bem? Se você vier aqui, posso te
lamber para fazer passar. — Tenta me pegar pelo braço e eu não deixo.
Estou letárgica, mas nem tanto.
— Eu tomo um analgésico, pode ficar com os seus papéis. — Dou de
ombros, nada disposta a deixar esse filho da puta me dobrar, e mesmo assim
ele não me deixa sair e me pega pela cintura e me puxa para o seu colo.
— Me desculpe, tá bom? Eu só… estou com a cabeça cheia de coisas
e o que fizemos essa madrugada pode ter fodido tudo, Crystal. — Os braços
de Vladimir me abraçam contra o seu peito e eu suspiro alto. Se esse
persanes quer me enlouquecer, então ele conseguiu. — Por causa desse cio
eu estou atrasado em várias pautas e isso tudo está me tirando do sério.
— E você achou mesmo que a melhor saída seria me ignorar
igualzinho fazia quando eu era mais nova? — resmungo e empurro os seus
braços, mas a cauda dele já está dando a volta no meu tornozelo e em
segundos eu sou desse homem de um jeito que nunca fui de ninguém.
— Não podemos mais transar daquele jeito. — Ele me vira em seu
colo e me coloca de frente para o seu peitoral, com as minhas pernas em
volta do seu quadril. — Não pode mais acontecer, Crystal, porque vou
perder o controle e…
— E você não quer ter filhotes — interrompo a sua frase e ele me
pega pelo queixo para que os nossos rostos fiquem de frente um com o
outro.
— Não quero te machucar, menina. — O seu olhar para mim é
dolorido e triste. — Eu enfiei a porra da minha mão dentro de você, mordi o
seu ombro, mordi a sua bunda. Rasguei a sua roupa toda.
— E eu gozei de um jeito que nunca me aconteceu antes, nunca tive
um squirting — revelo e ele abaixa o nariz para esfregar no meu, como já
fez outras vezes. Sentir a sua respiração em mim me faz fechar os olhos,
ainda mais com a ereção de Vladimir cutucando a minha barriga.
Ele está duro bem agora, por mim.
— Eu poderia ter machucado você seriamente, estava totalmente fora
do meu juízo. E se eu machucar você, mon naery, nunca irei me perdoar.
Pressiono os meus lábios juntos um no outro para segurar a minha
vontade de gritar. Nunca irei me acostumar com ele me chamando de “Mon
naery”.
— Como vai ser, então?
— Sem penetração, de nenhum tipo. Me dê tudo que você quiser
testar, mas não vamos mais transar.
— Você vai ficar dolorido. — Franzo a testa, não gostando nada, nada
dessa resolução.
— Isso pouco importa. Tome a acalasia, antes que você fique no cio,
isso se já não estiver em um mais silencioso, e vamos nós dois trabalhar,
tudo bem? Você no bloqueador de cio masculino, que não seja tão perigoso
como o Nyn, e eu nas minhas leituras atrasadas — pede e eu não quero
responder: Não! Logo agora que eu estava me sentindo tão bem! — Faça
por mim, Crystal. Não quero me sentir um monstro.
— Tudo bem — digo de má vontade.
Capítulo 18

Durante alguns dias, Crystal testou as suas misturas em mim. Uma


delas até me permite ir na festa de fim de ano da DEC, a Dark Elf
Company, empresa construída pelos meus pais e hoje em dia comandada
pelo meu irmão Orinn e seu filho Dante, mas que, na verdade, deveria estar
nas mãos de Klaus, o meu sobrinho mais velho.
É assim que os persaneses funcionam, os mais velhos sempre têm
direito, assim como os reis e rainhas, e devem acasalar primeiro. Por
exemplo, quem nasceu primeiro foi Urion, pai de Klaus, então ele se
acasalou e só depois que teve um filhote que Orinn pôde se acasalar
também e ter Dante, e anos depois eu me acasalei e tive Filipi.
Urion e Orinn foram os que mais ficaram na empresa, porque eu
preferi o caminho político, para nos representar num meio onde os
persaneses não tinham voz. Porém, Urion faleceu junto com a sua esposa, o
que deixou Klaus órfão, então Orinn, o meu irmão do meio, continuou
cuidando da empresa sozinho.
Mas agora que ele quer passar a empresa para a próxima geração, o
certo é que o filho do irmão mais velho fique com o seu cargo, no caso
Klaus, não Dante. E mesmo assim Orinn não se importa com isso, ele acha
mesmo que eu deixaria que passasse por cima da lei dos persaneses.
Eu me aproximei de Klaus o melhor que pude após o falecimento de
seus pais, ele é importante na mesma medida que Filipi para mim, e, mesmo
agora, sabendo que tem um plano sujo para tentar fazer Dante se apaixonar
por uma humana chamada Karina, não pretendo deixar que perca os seus
direitos.
Se eu entendo por que Klaus não tem nenhuma rorani, enquanto o
meu filho, que é mais novo, já tem várias? Não. Mas isso não o faz menos
persanes ou menos merecedor de nada, e eu quero ficar mais ativo nisso,
quero impedir que Dante continue com o cargo maior e que Klaus acabe
matando essa humana Karina, contudo, é muito difícil com o meu cio atual!
Agora mesmo, estou tentando ler um simples jornal e só de escutar os
passos da pequena fêmea humana no outro cômodo, eu já quero ir até lá
tocá-la. Mas não posso fazer isso, ainda mais com os progressos que tem
conseguido. Ela estava até certa sobre a acalasia, a flor que as fêmeas
tomam para passar o cio delas realmente pode ajudar os machos.
Só que no meu organismo, além de tirar a loucura sexual por um
tempo e de tirar o cheiro do meu cio, a planta também me fez dormir por
horas seguidas.
É por isso que durmo no meio do jornal e quando eu finalmente
consigo acordar, após uma xícara inteira de acalasia, já passa das oito da
noite e eu me sinto desnorteado e tonto.
— Merda… — xingo e coloco a mão na cabeça, que está bem
dolorida. Preciso até de uns minutos para ficar mais alerta. — Crystal?!
Onde você está?! — pergunto, após tomar quase um litro de água de uma
vez.
Espero mesmo que as próximas misturas dela não me levem ao quase
coma ou algo pior. Porém, ela não me responde, mesmo que eu esteja numa
sala próxima ao escritório.
— Crystal?! Onde você está?
Eu nunca admitiria isso em voz alta, contudo, me deixa bem ansioso
não ouvir a voz dela de volta assim que pergunto, então começo uma busca
rápida pela casa.
O cio vai me deixar obcecado pela presença dessa menina, então é
importante que eu obedeça aos instintos que não causam nenhum mal a ela,
e tente suprimir os outros.
— Crystal?! — berro e dessa vez ela me responde.
— E-estou trabalhando! Volte outra hora!
A voz vem do escritório, mas por que não me respondeu quando gritei
a primeira vez perto de lá? Será que não consegue me ouvir por que está
caindo uma chuva muito forte e cheia de trovões?
— Já está muito tarde, é hora de… — Paro a minha frase no meio ao
entrar no meu escritório, pois o que encontro é uma bagunça.
Eu tenho um armário de madeira maciça grande e antigo nesse
cômodo, que tirei a maioria das coisas um tempo atrás, e Crystal parece ter
jogado todo o resto do conteúdo para fora, que são só algumas caixas de
documentos.
— Você não quer me examinar como da última vez para saber como
estou? — pergunto, só para saber se não estou imaginando coisas.
— Não! — grita de dentro do armário e me faz arquear as duas
sobrancelhas.
— O que você está fazendo aí dentro? — Abro a porta do móvel, só
que isso acontece bem no momento que um trovão mais forte soa fora de
casa, o que faz a fêmea encolhida no canto tremer e exalar ainda mais o
cheiro levemente mentolado e quente do medo dela.
— Feche a porta, Vladimir, pelo amor de Deus! — Tenta pegar a
porta e puxar, mas eu não deixo.
— O que está acontecendo? — Fico de cócoras, já que a fêmea está
sentada usando uma calça e uma blusa de moletom, e ocupa uma parte do
armário, com o rosto virado para o fundo, onde está escuro para um
humano, mas não para mim.
— Nada, quando a chuva passar eu saio. — Outro trovão soa do lado
de fora de casa e isso faz Crystal se encolher mais e tentar enfiar a cabeça
entre as pernas. Ela está desesperada.
— Você tem medo da chuva? Tem medo dos trovões?
— Só um pouco — sussurra e eu coloco a minha mão sobre a sua
cabeça, acariciando o seu cabelo e couro cabeludo, para senti-la melhor.
Está quente e trêmula. — Eu não sei bem, pra falar a verdade. Um amigo
disse que devia ser um tipo d-de fobia.
Sento do lado de fora do armário sem divisões, já que está mesmo
grudada ali, e fico na frente dela, barrando uma boa parte da luz do cômodo
de entrar.
— Você tentou me chamar? Eu estava dormindo por causa da mistura
que você fez. — Fico angustiado sem saber há quanto tempo essa fêmea
está aqui escondida.
— Não tentei chamar, agora só feche a porta e me deixe aqui. N-não
gosto da chuva e menos ainda dos trovões. — O cheiro do medo dela está
me deixando quase intoxicado de tão forte e isso me dá vontade de rosnar.
O cheiro do medo é algo agridoce para os persaneses. Por mais que
muitos de nós gostem de senti-lo, em momentos assim ele não é bem-vindo.
— Que tal um banho de banheira? Posso preparar um para você.
— Não, eu prefiro ficar aqui. — Nega e finalmente levanta a cabeça
para eu ver o seu rosto, que está molhado de lágrimas. Crystal está
literalmente aterrorizada, com o lábio inferior até tremendo.
— Venha aqui, então. — Engatinho para bem próximo do armário,
que graças a Deus é uma peça alta e larga, e a pego de lá de dentro para
colocá-la contra mim.
— O que você está fazendo?! — pergunta, perdendo o ar, e após
quase um minuto de malabarismos e reclamações trêmulas dela, eu estou
sentado dentro do móvel, com as minhas costas no fundo do armário e ela
no meu colo.
As pernas de Crystal estão passando pela minha cintura, o seu peito
está contra o meu, o seu traseiro sobre as minhas coxas e estamos bem
juntos.
— Agora sim pode fechar a porta — ordeno e Crystal olha para cima,
sem entender nada, mas outro trovão acontece e ela se aperta contra mim
enquanto soluça.
— É só uma… coisa que acontecia quando eu era mais nova —
cochicha e eu coloco o meu rosto em cima de sua cabeça, sentindo o seu
cheiro que me deixa duro e quente. Mas é claro que não dá para fazer nada
quanto a isso agora. — Eu tinha medo porque… u-uma vez vi um raio
atingir uma árvore que ficava bem em frente à janela do meu quarto, foi
assustador.
— E o medo nunca passou — completo e ela sacode a cabeça,
fazendo que sim. — Então feche a porta, vou ficar aqui com você até a
chuva passar.
— Mesmo? — pergunta, surpreendida.
— Sim.
Não preciso nem pensar para saber que ficarei aqui com Crystal, não
existe a opção de deixá-la dentro de um armário no meu escritório sozinha e
chorando de medo, mesmo que para outras pessoas, algo assim pudesse
parecer infantil.
Ela torce o corpo para conseguir alcançar uma e depois a outra porta e
mesmo assim ainda fica uma brecha de luz, mas quase nada comparado a
antes.
— Nada vai acontecer com você — sussurro e abraço o seu corpo,
ouvindo o ritmo do seu coração finalmente começar a ficar um pouco mais
lento.
— Até parece que você gosta de me salvar. — Tenta brincar, mesmo
que ainda nervosa.
— Não, eu não gosto de te salvar. Porque preferiria que nada de ruim
te acontecesse — murmuro e por longos minutos sou só eu, ela, a chuva e
mais trovões. O silêncio é confortável para mim, contudo, talvez para a
médica não seja, então ela começa a falar.
— Eu tenho uma paciente chamada Grear — revela e eu logo me
lembro da loira de nariz empinado.
— Grear casada com Bronte?
— Sim.
— Eu a conheço.
— Melhor eu não te falar nada então — recua rápido na sua conversa
e continua com o rosto contra o meu peito. Juro que não sei como consegue
respirar assim.
— Pode me falar, não irei contar nada para ninguém, eu prometo.
Crystal fica um tempo pensando na minha promessa, contudo, depois
ela cede.
— Ela disse que durante o cio, Bronte dava banhos nela, escolhia a
roupa dela, não a deixava sair para lugar nenhum e nem falar com outro
macho. — Nessa altura do campeonato, eu já acho que Crystal está indo
muito bem, porque está falando sem gaguejar, e a chuva também está nos
ajudando um pouco, pois está ficando cada vez mais fraca.
— Isso é bem comum para nós no cio, gostamos bastante de proteger
e de enfeitar as nossas fêmeas. Para Ellona eu dei muitas joias, muitos
tecidos caros para que ela fizesse vestidos, e eu passava cada segundo
tentando agradá-la, isso quando não estava ardendo em febre.
Eu me lembro do rosto da minha ex-mulher a cada presente que
recebia. Ellona era loira e adorava ouro, às vezes eu até brincava que ela
ficava mais feliz de receber um bracelete novo de ouro, do que de me ver
voltar de viagens de trabalho.
— Entendi… e agora você está no cio de novo, então… — Ela não
termina a frase, mas sei o que quer dizer.
Não escolho as roupas de Crystal e nem lhe dou banhos ou penteio o
seu cabelo, mas gostaria. Gostaria de fazer tudo por essa menina, mas sei
que se colocá-la no centro da minha vida, para fazê-la entender depois que
acabou, será difícil.
— Agora eu já estou velho demais para esse tipo de coisa, Crystal —
minto e isso a deixa em silêncio. Talvez tenha se esquecido que eu vejo bem
no escuro, e por isso não esconde a lágrima que rola pelo seu rosto, o que
deixa o meu coração apertado, me sentindo um filho da puta. — E as coisas
entre mim e ela eram diferentes.
— É. — É só o que diz e depois soluça.
Não quero magoar Crystal, porém, ou eu faço as coisas assim, ou será
ainda pior no futuro.
— E o que Grear tem para se consultar com você? — pergunto,
tentando mudar de assunto.
— O companheiro dela saiu do cio, mas nunca parou de fazer essas
coisas por ela e isso a deixa sufocada — explica, cabisbaixa, e custa tudo de
mim não lhe prometer o mundo. Esse maldito cio está distorcendo tudo
entre nós dois e eu não vejo a hora de passar! — E Grear não sabe como
lidar com isso.
— E como você está cuidando disso? — Acaricio o seu rosto, mas ela
se afasta levemente, então eu paro. Não quer ser tocada por mim.
— Eu não sei, acho que eles precisam de terapia de casal. — Dá de
ombros.
— Você tem algum plano em mente já? No psicólogo nós sabemos
que eles não irão, persanes tem muita resistência a esse tipo de coisa.
— Talvez eu desista, as consultas com eles não estão dando em nada.
Grear só fica mais irritada e Bronte só fica mais amoroso — responde
frustrada, mas eu sei que não irá desistir. Nunca vi Crystal desistir de nada.
Esses dias eu a vi remendando um vestido, coisa que nunca achei que
a filha do prefeito fizesse. Ela juntou duas peças, cortou e repicou aqui e ali
enquanto xingava por ter dificuldade de seguir tutoriais da internet, e fez
um novo vestido, mesmo que meio torto.
— Depois que o meu primeiro cio acabou, eu me acostumei a manter
certa distância de Ellona. Nós fazíamos algumas refeições juntos na
semana, cuidávamos do nosso filhote, mas só. E os meus outros cios eram
bem difíceis e nada carinhosos, porque ela era muito fraca mesmo. Os
filhotes não conseguiam vingar.
— Vocês não eram parceiros, então? Não faziam tudo juntos?
— Fêmeas não querem machos próximos, somos brigões demais para
elas, possessivos demais. Ellona teria me largado no meio do caminho se eu
tivesse sido amoroso e controlador fora do cio.
— Então vocês eram mais como melhores amigos? — A conclusão a
que chega volta a aumentar seus batimentos, mas isso com certeza é porque
está gostando da ideia de que eu não era tão ligado à minha ex-mulher
como acha.
— É, talvez seja isso. Os casais humanos e os persaneses são
diferentes. Nós precisamos de sexo com frequência, mas o carinho fica mais
para os filhotes do que para os casais, pelo menos para os persaneses que
vivem entre humanos. Em Cosmos era diferente, mas disso você já deve
saber.
— Adoraria que me contasse — fala entusiasmada, esquecendo
mesmo da chuva que cai lá fora.
— Lá não tínhamos humanos para nos julgar, não tínhamos que fingir
ser elfos, então vivíamos bem mais livres. Ainda existem persaneses
vivendo em Cosmos, mas a maioria se espalhou pelo mundo mesmo e eu
não posso falar sobre eles, só pelos que vivem aqui em Red Town.
— Me conte sobre os de Red Town, então — pede e um trovão a faz
se agarrar ainda mais em mim, porém, não está mais chorando. Acho que
devo tê-la distraído o bastante.
— Aqui em Red Town, às vezes parece como nos filmes de época que
eu assisti um tempo atrás, como orgulho e preconceito. — Essa é uma das
melhores referências que tenho para dar a fêmea. — Nós temos contratos,
damos dotes, dormimos em quartos separados e o contato físico é feito só
após o casamento, assim o macho não entra no cio antes. Isso seria ruim,
porque o macho puxaria a fêmea para o cio e a família não conseguiria mais
mexer no contrato.
— Você e Ellona dormiam em quartos separados?! — Arregala os
olhos.
— Sim, as fêmeas mais novas são mais abertas, mas Ellona já tinha
trinta. Ela não gostava de sentir o meu rabo querendo se enrolar nela o
tempo todo, nem quando eu estava no cio, na verdade. Persanesas gostam
de ser muito independentes, para não serem controladas por seus corações.
Ellona era uma fêmea muito centrada, muito esperta e muito
companheira. Ela agia como a minha família mesmo, me acompanhava até
nas mentiras eleitorais e me apoiava no que fosse preciso, porém, no campo
sentimental mais romântico, não éramos exatamente ligados.
— Eu gosto do seu rabo enrolado em mim — sussurra e isso por
algum motivo me enche de um tipo de quentura estranha, de um prazer
diferente.
— Ellona foi uma fêmea muito boa para mim, cuidou muito de mim,
mas… não é como você imagina que tenha sido. Não éramos o casal de
nenhum filme de romance que você já assistiu — explico e isso a deixa
pensativa por alguns momentos.
— Pode me contar mais sobre a sua raça e sobre relações sociais? Eu
estudei isso na faculdade, mas não foi aprofundado — explica e isso me
deixa ainda mais feliz.
Já encontrei muitos humanos interessados em persaneses, contudo,
todos eles nos viam como aberrações e por isso queriam saber. Mas Crystal
não, ela realmente tem um arquivo inteiro guardado em sua cabeça e parece
querer estocar cada vez mais coisa.
— Pode me perguntar o que quiser.
Capítulo 19

— Por favor, Vladimir — Crystal implora sentada no meu colo e eu


nego com a cabeça. — Você sabe que nós dois queremos isso, que nós dois
precisamos disso — sussurra, coloca a língua de fora e lambe o meu
pescoço de um jeito que me deixa todo arrepiado. A ereção dentro das
minhas calças está grossa e molhada e eu já não tenho mais forças para
dizer não para ela.
— Por favor, mon naery — chamo ela pelo apelido que grita em
minha mente cada vez que a vejo. Ela é o meu cristal, preciosa, a primeira
com quem me abri após a morte de Ellona, e a única com quem consegui
falar sobre.
— Se você não me der logo, então irei buscar em outro.
— Não! — rosno, irritado que possa sequer cogitar buscar outro
macho, e aperto o seu corpo contra o meu. — Você é minha!
— Então, prove. Prove que sou sua. — Ela se levanta do meu colo, no
meio da floresta, e começa a desabotoar o vestido curto e floral que usa.
Em pouquíssimo tempo a peça já está deslizando para o chão, assim
como a sua calcinha e sutiã, e agora ela está completamente nua para mim
e me faz pulsar e salivar feito louco.
— Eu não quero ter outro filhote, Crystal — murmuro, sem conseguir
tirar os olhos de seu corpo.
— Por quê? Por que sou humana? Por que sou fraca? Por que você
tem nojo de mim?!
— Tenho que cuidar da minha carreira, não tenho tempo para um
filhote! — exclamo e de repente Crystal está correndo para longe de mim,
então eu corro atrás dela. — Pare!
— Não até você me dar um filhote! — retruca esbaforida.
— Eu não posso ter outro filhote, tenho que cuidar da minha
carreira! É tudo o que me restou, Filipi mesmo nem lembra que existo
mais! — Aperto ainda mais o passo e mesmo assim ela ainda fica longe.
— Eu poderia ser sua, Vladimir — sussurra e fica mais lenta, tão
lenta que finalmente a pego pelo braço, só que uso força demais e acabo
arrancando o seu membro todo fora. O barulho é a coisa mais horrenda
que já ouvi. — O que você fez?! O que você fez comigo?! — grita, enquanto
se joga no chão da floresta. Tento pegá-la de novo, só que acabo
arrancando o outro braço.
É uma cena horrível, nojenta. Crystal banhada em sangue e em
mordidas minhas, o seu rosto está com feridas também, e quanto mais tento
ajudar, mais a machuco.

— Não! — berro e abro os olhos, para me descobrir em meu quarto,


na minha cama. Não deve passar das três da madrugada e agora a chuva já
parou após eu ter ficado muito tempo naquele armário com a fêmea humana
em meu colo, lhe contando coisas sobre a minha espécie.
— O que foi? — Crystal sussurra sonolenta e vira para ficar de frente
para mim. O meu rabo está enrolado em seu tornozelo e os meus braços a
mantêm perto, porque o calor e o cheiro dessa mulher me deixaram
obcecado agora que estou no cio. — O que aconteceu?
— Foi um sonho ruim, pode voltar a dormir — respondo rouco,
enquanto as imagens sangrentas começam a sumir rapidamente da minha
cabeça. Sonhos são coisas estranhas demais.
— Tudo bem. — Ela enfia o rosto no meu peito e respira o meu
cheiro como se fosse a melhor coisa do mundo, deixa um beijo quente na
minha pele e depois coloca a sua perna esquerda por cima do meu quadril e
em segundos cai no sono.

Crystal
— Bom dia… — falo ao entrar no escritório de Vladimir e encontrá-
lo sentado na cadeira que temos dividido, já que eu passo bastante tempo
aqui pesquisando as minhas anotações. Infelizmente tudo sobre os
persaneses é passado somente em conversas, eles não anotam quase nada,
para não ficarem vulneráveis a humanos, então tem sido bem trabalhoso. —
Você levantou cedo hoje, né?
— Na verdade, estou acordado desde a madrugada — revela e eu
arregalo os olhos.
— Sério? Por quê? — Eu me aproximo só para ter uma visão melhor
do persanes.
Vladimir está de terno e gravata, com o cabelo arrumado de um jeito
profissional, muito bem cortado, e cobrindo o peitoral com tatuagens e
piercings que tanto amo. Se ele fosse humano, ninguém esperaria que um
senador certinho desses tivesse tantas joias pelo corpo, aliás, mesmo sendo
persanes, eu aposto que as eleitoras não sabem de nada sobre esse homem.
— Abri o meu email e vi um monte de coisa para fazer, então fiquei
preocupado e vim trabalhar logo. — Dá de ombros.
— Mas você não está afastado?
— Tecnicamente sim, mas Frederick Burner acabou de começar a
trabalhar, não posso descansar.
— Ele é o novo senador junto com você, né? — Eu conheço esse
nome, já que lia muitos jornais online para saber sobre Vladimir.
— É, e ele odeia a minha raça — explica e eu me aproximo ainda
mais, dessa vez dando a volta na escrivaninha e chegando até a cadeira.
— Hoje não tenho atendimento… poderíamos fazer alguma coisa
juntos. — Mordo o lábio inferior sugestivamente, mas Vladimir se importa
mais com os seus papéis agora.
— Você não tem um monte de documentos para revisar sobre a minha
espécie? Para fazer o bloqueador de cio potente e seguro? — É claro que
ele se esquiva, criou essa regra idiota sobre não fazermos mais sexo, mesmo
que nós dois estejamos desejando isso loucamente. Ele porque está no cio e
eu porque provei uma vez e já não acho que posso ficar sem.
— Tenho, mas estou cozinhando um monte de Nyn agora. — Criei
uma espécie de estufa no jardim traseiro para mexer com as coisas que se
Vladimir sentisse o cheiro, não fariam bem. É lá que o Nyn está
cozinhando. — Vou precisar usar algumas gotinhas e ele fica menos
perigoso quando cozido por várias horas em fogo brando.
— Está sem nada para fazer? — Ele finalmente se vira um pouco para
mim e a minha vontade é de me jogar em seu colo, só para ver se ganho um
pouco mais de carinho, como ontem. Ficar dentro do armário do Vladimir
foi algo que a Crystal de 17 anos nunca nem sonhou que poderia acontecer.
Eu estava com medo dos trovões e da chuva ainda, contudo, o cheiro
de Vladimir e estar tão grudada nele funcionaram como um grande guarda-
chuva protetor das coisas ruins. Eu poderia morar naquele momento, isso se
não fosse a parte onde ele deixou claro que nunca seremos como um casal
no cio, ou melhor: que nunca seremos um casal.
— A minha mãe fica mandando mensagem pedindo para que eu vá
visitá-la. — Dou de ombros. — Então sim, estou sem nada para fazer até o
Nyn terminar de cozinhar para eu testar novas misturas.
— Você já foi lá na sua antiga casa desde que voltou de viagem?
— Não sei se devo visitar aqueles dois… mas ela disse que é
importante para a minha carreira, então talvez eu vá, sei lá.
Lá em Paris eu gostava de brincar que não tinha pai e nem mãe, só
que não era brincadeira, para falar a verdade. Dinheiro é importante? Com
certeza, mas é monstruoso quando você o coloca na frente de qualquer
coisa, ainda mais da sua filha.
— Já tomou a acalasia, Crystal? — Ele muda de assunto de repente e
eu desvio o olhar.
Vladimir insiste que eu tome o chá da flor para o cio feminino.
Diferentemente do Nyn, ela não causa nenhuma loucura e é bem segura,
contudo, acalasia vai me deixar indisposta por uns dias, cansada e fraca, e
desse jeito não irei conseguir continuar as misturas para acabar com o cio
dele.
— Sim — minto.
— Se você não tomar, vai acabar entrando no cio também por causa
dos meus feromônios que exalam através da minha pele e além da
excitação, ainda pode ter alterações de humor.
— Sei disso, Vladimir, e eu já tomei — continuo mentindo e me
afasto dele, para não ser pega inventando história.
— Só quero o seu bem, Crystal, sabe disso, não sabe? — A voz dele
fica mais aveludada e os seus olhos castanhos mel me deixam hipnotizada,
fazendo conjunto com as suas sobrancelhas grossas e escuras.
Porra, como esse macho é gostoso! Gosto até do pouco de branco que
tem na sua barba e cabelo.
— Eu sei. — Fico até sem jeito de responder.
— Então por que não estou sentindo o cheiro da acalasia em você? Eu
deveria conseguir sentir pelo menos um pouquinho.
Merda!
— Tomei agora de manhã e deixei ferver demais. — Mentir assim, na
cara dele, é muito difícil. Mas se a gente não vai transar, então não vou
engravidar e não tem para que me entupir com uma planta que me deixará
fraca! — Isso tira um pouco do cheiro dela.
Como Vladimir nunca deve ter tido contato com uma cuidadora de
cio, eu espero que essa mentira cole. Não é porque ele é persanes, que vai
entender sobre botânica. Pelo menos é isso que eu espero.
— Tudo bem, então. Vá ver seus pais, eles podem ter algo
interessante para te falar, e depois volte — manda e isso infla o meu peito
de orgulho, porque o senador fala para eu voltar, como se eu pretendesse ir
a algum lugar depois de ter a mão dele dentro de mim!

— Oi, mãe — falo ao entrar na sala onde o mordomo disse que ela
estaria. Essa não é a mansão em que cresci, é uma ainda maior, com uns dez
quartos a mais e muito dinheiro público jogado fora.
— Você veio, Crystal! Que bom! — exclama e eu continuo parada no
lugar, assustada com o tamanho do cômodo alto e com o tanto de prateleiras
que tem aqui.
O meu pai sempre foi um grande leitor, já a minha mãe, nunca gostou
muito. E como essa sala parece ter uma decoração bem voltada para o gosto
dela, tenho certeza que esses livros aqui são só decoração para receber as
esposas dos políticos e tentar impressioná-las, enquanto os maridos delas
armam algum tipo de falcatrua com eles no escritório.
— É. — Dou de ombros, com uma expressão de espanto engessado
no meu rosto.
Não gosto de admitir isso, mas acho que sou bem parecida com essa
mulher na minha frente. Nós temos quase a mesma altura, o mesmo tom de
pele castanho com um subtom mais quente, os mesmos olhos, o mesmo tipo
de cabelo crespo, os nossos narizes também têm as narinas um pouco largas
e isso me deixa espantada por um longo minuto.
Eu não quero parecer com a mulher que escolheu os vestidos mais
colados do armário para uma garota de dezesseis anos vestir. Não quero me
parecer com a mulher que me ensinou que eu deveria fingir estar bêbada só
para me jogar no colo dos homens e depois me esfregar em suas ereções. Eu
não quero.
— Estava agora mesmo falando com Frederick sobre como você foi
uma adolescente que deu trabalho! — A voz dela até machuca os meus
ouvidos e eu fico ainda mais atordoada de ver um homem loiro e magro
sentado numa poltrona ao lado da minha mãe. Eles estavam no meio de um
chá, aparentemente.
— Eu queria estar aqui naquela época para ver metade das coisas que
a sua mãe disse que você fazia! — Ele sorri e vem até mim, com a mão
esticada, que eu não aceito e só fico parada ali.
Por que não consigo me mover? Por que me sinto tão pequena e
impotente de repente?
— Acho que… não deveria ter vindo — sussurro, com um aperto na
garganta.
É estranho o que acontece quando você fica longe de quem te fez mal,
porque enquanto a pessoa está te prejudicando, tudo parece menor. Mas
quando você se afasta por tantos anos e volta, parece que as memórias se
desconectaram todas, e que a coisa ruim aconteceu não comigo, e sim com
uma outra adolescente, o que deixa tudo ainda pior e maior.
Parece que eu estou vendo agora a senhora Parker passando batom
vermelho numa adolescente e mandando ela ir dançar no meio do salão para
chamar a atenção dos amigos do pai, o que revira o meu estômago.
— Frederick é viúvo, sabia? — Ela ignora a minha fala e continua
com uma postura extremamente ereta e uma xícara na mão. — A mulher
dele faleceu faz um tempo e como ele acabou de se eleger, seria interessante
que se casasse novamente. Você tem alguma amiga para apresentar a ele?
Seria interessante também, que ele mostrasse alguma humanidade e
esperasse o corpo da mulher dele esfriar no túmulo antes de arranjar
outra.
— Se as suas amigas forem parecidas com você, tenho certeza de que
serão lindas — o loiro fala e eu consigo finalmente andar um pouco, até
chegar na frente da minha mãe, que usa o que mais se parece com um
pijama de luxo.
Frederick volta para o sofá sem dizer sobre como o ignorei ou talvez
eu quem esteja com calor e suando demais para reparar em qualquer coisa.
Até os meus olhos e garganta queimam.
— Onde você está morando, Crystal? Um empregado foi até a sua
casa entregar algumas coisas e disse que o apartamento está completamente
vazio.
— Estou morando com um amigo, é mais barato e consigo investir
melhor na minha carreira.
— Se quer morar com alguém, more aqui, na sua casa. Não irei
cobrar nada para que você fique aqui e podemos até te arranjar um cargo no
hospital central da cidade.
— Não preciso de um cargo no hospital, persanes nenhum vai até lá
— finalmente consigo falar mais normalmente, mas a queimação não passa
e agora eu me sinto incomodada com o cheiro do perfume da minha mãe,
cítrico demais.
Até a quantidade de cores brilhantes, babados e rendas nessa sala me
irritam.
— Não está na hora de você deixar de ficar apaixonada por esses
persaneses? Eles são todos animais com rabos e chifres, fingindo que tem
alguma humanidade! Só tolos acreditam que eles são elfos. — De repente
uma voz mais grossa soa no cômodo e faz tudo girar. O meu pai entra pela
porta usando um terno completo e cheio de cabelos brancos na cabeça.
Será que eu estou com febre? Doente de alguma forma?
Estou atordoada e o meu coração martela as minhas costelas como se
eu corresse uma maratona. Isso não é nada normal, como se eu estivesse…
Como se eu estivesse…
No cio!
— Eu tenho especialização em persaneses — respondo, agora
entendo o que me atingiu. Merda!
Mas eu consigo lidar com isso, só preciso me manter calma.
— Nós dois sabemos que você só estudou isso por causa daquele
senador que tem idade para me substituir como seu pai. — O velho uns dez
centímetros mais alto do que eu, fala, e eu ranjo os dentes.
Como é que vou ter calma, se esse desgraçado só sabe falar merda
para mim?! E com o filho da puta do adversário do Vladimir na sala?!
— Estudei porque gosto do tema — respondo, tentando respirar fundo
para não surtar.
Faço um mapa mental rápido da sala. Se eles me irritarem, eu posso
sair correndo pela porta aberta ou pular pela janela. Isso porque o cio
também causa uma dificuldade muito grande de controlar a raiva, e agora
mesmo eu consigo me ver pulando em cima da minha mãe e fazendo ela
engolir a mini xícara que segura e depois do meu pai.
— Ele nunca vai dar bola pra você, sabe disso, não sabe? Vladimir
tem quase a minha idade e com certeza vai atrás de alguma mulher da
espécie dele, daquelas que têm pernas extremamente longas — o velho fala
e a minha mãe ri, como se fosse uma piada. Que porra de piada é essa?! —
Não vai querer uma garota como você, que ficou seguindo ele por aí por
meses.
— Então essa perseguição era séria mesmo? — Frederick, que não
deveria nem estar aqui, fala e dá uma risadinha. — Deus do céu, você deu
trabalho mesmo!
— Ela invadiu a casa dele várias vezes! — minha mãe exclama e eles
caem na risada.
— Vocês nem sabem do que estão falando — digo entredentes e todos
parecem me ignorar. É como se eu fosse tão patética, que nada do que falo é
escutado.
— Ele nunca foi visto com ninguém desde que a esposa morreu,
aposto que deve ser daqueles malucos que ficam pensando em gente morta
dia e noite, tipo necrofilia. Nunca se sabe o que esperar desses animais. —
Frederick continua e eu juro que não sei qual a desse cara. Por que ele acha
que pode vir aqui e fazer piada com isso? Eu nem o conheço!
— Parem de falar sobre isso com a menina, deixe-a sonhar um pouco.
— A minha mãe interfere, contudo, eu sei que de lá não vai sair boa coisa.
— Ele pode se interessar por ela algum dia, quando perder um pouco de
peso e…
— Eu juro que não sei por que venho aqui ainda! — berro,
interrompendo a sua frase e isso deixa todos em um silêncio assustado. —
Você disse que tinha algo importante para me falar desde que cheguei de
Paris e agora está aqui, me enchendo a porra do saco! Ou fala logo ou me
deixa ir embora! — Aperto os braços ao lado do corpo, antes que eles
escapem do meu controle e comecem a jogar coisas por aí.
— Olha, filha, nós só queremos o seu bem. Por que você não faz
outra especialização? Eu e o seu pai adoramos que você seja médica, ele
fala isso em todo lugar que vai, mas por que você não escolheu ortopedia ou
obstetrícia? Ou até pediatria, que cuida de crianças? — Agora ela assumiu o
tom da mulher do prefeito, educada e cortês, que vi em entrevistas. — Eu
sei que você adora estudar esses… animais, mas isso não vai fazer aquele
homem gostar de você.
— Estou pouco me fodendo para o que você ou o meu pai acham que
seja melhor para mim! — As palavras saem antes que eu possa fazer
qualquer coisa para impedir. Como eles podem dizer tantos absurdos sem
pensar um segundo antes?!
— Olha como fala com a sua mãe! — O meu pai se levanta e aponta
um dedo para mim, me ameaçando, e isso faz o meu sangue ferver como
nunca, por conta do cio e da minha mágoa acumulada de anos e que nunca
consegui dar vazão, porque esses dois se blindam de qualquer crítica com
"era um momento ruim da nossa vida, só queríamos te dar o melhor".
— Aponta esse dedo para mim de novo e eu vou no primeiro
jornalista que me aparecer contar tudo que sei sobre você, cada detalhe
sórdido e podre sobre como você conseguiu ser prefeito, seu velho patético!
— As palavras saem da minha boca feito um trem desgovernado e mais
uma vez a sala fica em silêncio.
— Você está me ameaçando, Crystal?! — Ele dá um passo na minha
direção e eu me mantenho parada, de cabeça erguida.
Sou um fogaréu agora, queimando forte demais para conseguir me
parar.
— Não estou ameaçando. — O meu pescoço até dói, de tão tensa que
estou apertando os dentes um contra o outro. — Estou te contando fatos.
— Saia daqui! — grita, com os olhos arregalados. — Saia daqui
agora!
Capítulo 20

Crystal não demora nem metade do tempo que eu esperava que fosse
levar na casa dos seus pais. Em menos de uma hora ela já está de volta, e de
acordo com a velocidade de seus passos, a médica está com pressa. Antes
que eu respire mais três vezes, a fêmea humana que esteve em meus sonhos
e agora em meus pesadelos, já está batendo em minha porta, que mantive
trancada só por via das dúvidas.
— Está ocupado, Vladimir? — pergunta do outro lado. — Voltei mais
cedo da casa dos meus pais, foi uma merda lá!
— Só um pouco, estou lendo! — minto e passo a mão pela minha
testa, limpando o suor causado por estar constantemente excitado por essa
humana.
Eu sou mesmo uma piada, uma de muito mau gosto!
— Não podemos nos ver um pouco? — É como se eu pudesse
enxergar o seu rosto arredondado e as sobrancelhas bem desenhadas
arqueando-se com dúvida.
— Claro! — Levanto-me do sofá e a porra da ereção gigante fica
muito marcada nas minhas calças e é como se pesasse mais a cada passo.
Então eu viro a chave rapidamente e depois volto para o lugar e coloco
algumas folhas de papel em meu colo bem espalhadas. — Está tudo bem,
Crystal? — questiono, soando robótico demais até para os meus próprios
ouvidos.
Ela está usando uma minissaia rosa colada no corpo e uma camisa
social larga desabotoada no começo, revelando muito mais do decote do
que deveria, e que me faz pensar que Crystal com certeza ficaria linda com
algumas joias. Quem sabe alguns naerys azuis, os cristais famosos e
preciosos dos persaneses, para combinar com o seu nome. Todos os machos
olhariam ainda mais para ela.
— É que… — Sem pensar duas vezes, a pequena fêmea vem em
minha direção, ignora todos os papéis e se senta no meu colo. Eu
literalmente tenho que segurar um gemido na garganta. A bunda dela vai
direto ficar sobre o meu pau e por mais que seja doloroso, ainda assim a
sensação é deliciosa. — Estava pensando se não poderíamos passar o final
da tarde juntos…
As mãos dela ficam por cima da camisa social me acariciando, pois
tirei o paletó, e eu capto o aroma na hora. Tenho até que fechar a boca para
não babar. É quente, floral, sensual, feminino e muito invasivo. Deixa a
minha pele toda arrepiada.
— Crystal… — grunho e ela vai descendo as mãos, deixando vagar
até a frente da minha calça, onde está a minha ereção. — Você está
cheirando a cio! — Na mesma hora eu prendo os dois pulsos dela juntos,
assim não chega onde quer.
— Me solte! — exclama e se sacode em meu colo, o que só me faz
sentir mais dor e prazer, enquanto os seus cabelos se desprendem do coque
e caem em cascata em volta do seu corpo.
— Você mentiu para mim! Disse que tomaria acalasia e não tomou!
— Com uma mão eu seguro os braços dela, assim não pode me tocar e me
fazer perder o controle ainda mais, e com a outra eu seguro o seu queixo,
obrigando-a a me encarar.
— Vladimir, por favor. — Molha o lábio inferior olhando para os
meus. Ela está faminta. — Eu não podia tomar acalasia, ficaria cansada
demais e você acabaria sofrendo.
— Posso cuidar de mim mesmo! O que eu não posso, é ter você no
cio ao meu lado, cheirando desse jeito! — digo entredentes e ela faz que
não com a cabeça.
— Não pode cuidar do próprio cio. — Joga todo o seu peso para
frente e aproxima o seu rosto do meu, deixando o seu cheiro ainda mais
pungente para mim. Sorte a minha é que as misturas de erva dela devem
estar fazendo algum efeito, senão, eu já teria pulado nessa fêmea,
agarrando-a feito um louco. — Você vai atrás de outra para cuidar de você,
e isso não posso permitir. — Os olhos de Crystal ficam mais úmidos que o
normal por alguns segundos, até que ela pisque as lágrimas para longe.
— Não vou atrás de outra. — Nego com a cabeça e ela dá de ombros,
ignorando a minha frase.
— Vai sim, vai deixar que outra te toque, que outra alivie essa
queimação dentro de você. — Roça os lábios nos meus, deliberadamente se
esfregando em mim, me cheirando. — Vai deixar que outra te alivie, que
outra faça o meu papel. Mas mesmo que eu não seja sua, você ainda é meu,
e ninguém toca no que é meu — fala quase como alguém da minha espécie,
cheia de possessividade.
— Você está descontrolada, Crystal — rosno, sentindo o calor se
apoderar do meu rosto e do meu pescoço, e isso só a faz começar a rebolar
para frente e para trás, na esperança de me atiçar cada vez mais. — E se
você não quiser que eu te machuque, é melhor parar!
— Então me controle. Coloque limites em mim, senador. — Tenta
soltar as mãos mais uma vez e eu deixo, porque sei que não posso machucar
essa coisinha frágil e cheia de si em meu colo. O cio claramente está
bagunçando a sua cabeça. — Ou me dê o que nós dois precisamos. — As
mãos dela são rápidas em descerem para a minha ereção e abrirem o botão e
o zíper da minha calça social. É como se estivesse numa corrida.
— Pare! — berro e mesmo assim a fêmea enfia os dedos na minha
cueca e pega o meu pau cheio de veias, pulsando pra caralho, e o coloca
para fora. Ela está desesperada. — Crystal, se você passar dos limites, vou
te trancar no meu quarto e só vai sair quando tomar acalasia.
— Você não manda em mim, Vladimir. — Os dentes dela estão até
batendo de tanta ansiedade, enquanto o seu dedo polegar pressiona o
piercing na extremidade do meu pênis e faz quase um choque elétrico
acontecer pelo meu corpo todo, depois ela enfia o pré-gozo que coletou na
boca e faz um barulho de prazer muito alto. — Eu quero que você se
esfregue em mim, que goze no meu corpo todo.
Rosno alto e fecho os olhos para tentar conter a raiva que Crystal faz
nascer dentro de mim. Por que eu não posso ser um macho humano normal
e usar uma camisinha, ao invés de precisar gozar dentro dela todas as
vezes?
— V-vladimir, o meu interior está queimando — admite e além do
cheiro da sua excitação, eu sinto o cheiro do seu medo. A minha fêmea está
com medo e eu não estou ajudando-a em nada.
— Você vai chupar, então — decido, antes que tudo piore, tiro Crystal
do meu colo com cuidado e sem esforço algum e a coloco no chão
acarpetado, de joelhos na minha frente, esbaforida e suada. Pego a menina
pelos cabelos firmemente e coloco o seu rosto perto do meu pau, sentindo o
seu hálito quente em mim. — Mas se tentar me montar, não vou mais te
tocar, me entendeu?
— Sim. — Sacode a cabeça em concordância, sem tirar os seus olhos
da minha ereção.
A fome dela está me deixando ainda mais excitado do que já estou, e
se eu me deixar deslizar só um pouco aqui, irei engravidá-la, e o pior: só de
pensar nisso uma gota grossa de pré-gozo escorre pela minha cabeça.
— Sim o quê? — grunho e ela morde o lábio inferior, querendo de
todo jeito me tirar do sério para conseguir o que quer. — Responda, Crystal.
— Sim, senhor — sussurra, enquanto o seu peito sobe e desce em
respirações rápidas e que me hipnotizam.
— Abra os botões de sua blusa — ordeno e largo os seus cabelos para
que consiga fazer isso sem problemas. Ela treme a cada botão que abre,
com a excitação a deixando muito desgovernada, então eu ajudo. Me
aproximo, mas ainda sentado no sofá e com um puxão só faço todos os
botões explodirem. — Eu quero ver o que é meu — murmuro e a ajudo
também a se livrar das mangas, assim ela fica só de sutiã. Contudo, isso
ainda não é o bastante para mim, que tento esticar a minha mão e arrancar a
peça, mas Crystal coloca a mão na frente. — Me mostre mais!
— E se eu não mostrar? — Semicerra os olhos, ainda querendo me
testar, então eu só coloco uma garra para fora, puxo a alça do seu ombro
direito e rompo e depois faço o mesmo com o ombro esquerdo. —
Vladimir!
— Então vou arrancar o resto de você — respondo, sem paciência
alguma, e a coloco de volta na minha frente, agora com os dois seios
pesados de fora, que empurram a lingerie para baixo. — Tão linda — as
palavras me escapam e eu a escuto respirar com dificuldade.
Coloco as minhas mãos para acariciar os seus peitos macios e rolo os
mamilos entre os meus dedos, o que faz Crystal jogar a cabeça para trás e
gemer, já que está mais sensível que o comum aqui por conta do cio.
— Gosta quando eu te toco assim?
— S-sim — responde, enquanto eu volto a pegá-la por seus cabelos,
assim consigo ter um controle maior.
— Coloque a língua para fora e me lamba, mas não tente me engolir,
não vou caber na sua boca e não quero te machucar — ordeno e ela
obedece, espalhando bastante saliva na glande avermelhada e chupando
como consegue, circulando o meu piercing com a sua língua maleável e me
deixando maluco.
— Gostou? — pergunto com dificuldade e ela faz que sim com a
cabeça, com os meus olhos trancados nos seus. A imagem dessa mulher me
chupando é a melhor coisa do mundo, o jeito como ela se delicia com o
meu pré-gozo e praticamente me beija me fazem querer gozar muito forte.
— Então chupe mais forte, mon naery.
Crystal toma a liberdade de colocar a mão na minha cauda que
balança muito forte ao meu lado e vai subindo, até que chega na base, onde
tenho mais sensibilidade, e começa a massagear com as unhas, realmente
me fazendo sentir dor, o que deixa tudo mais selvagem dentro de mim.
— Com quem você aprendeu isso?! — pergunto, irritado só com a
ideia que algum persanes tenha lhe contado algo assim.
E se Crystal tiver mentido para mim e fodido com o seu professor?! E
se esse tempo todo, ela estivesse falando com um macho que já a tocou de
tantas maneiras que eu ainda não pude?
Os pelos da minha nuca ficam até arrepiados, de tanta raiva, e custa
tudo de mim me manter parado.
— O meu professor me falou que o rabo é um local sem tanta
sensibilidade para persaneses, a não ser na base, então eu quis testar com
você — explica, numa postura submissa, com os ombros baixos e falando
devagar. Será que ela percebe o quão irritado estou?
— Nunca esteve com outro macho persanes?
— Só você, Vladimir — cochicha e estica os joelhos para se
aproximar mais de mim, deixando que o meu pênis se apoie em sua barriga.
— Para mim, só existe você.
As mãos quentes dela tocam o meu rosto e eu não resisto a beijá-la, a
me afundar na sua boca e a praticamente comer Crystal. Ela geme dentro da
minha boca e eu roço as minhas presas em seus lábios, devorando o seu
sabor.
— E-eu preciso que entre em mim — fala, quando nós dois já
estamos praticamente sem ar. Então eu volto a pegá-la e a colocá-la perto da
minha ereção, porque eu sei que isso irá acalmar um pouco o frenesi no seu
corpo. O meu cheiro e o meu gosto vão deixar o cio de Crystal mais ameno.
— Chupe, mon naery. — Ela coloca o quanto consegue de mim entre
os seus lábios carnudos e eu acaricio o seu rosto, numa batalha interna
grande para não a machucar com a minha afobação. — Boa garota —
murmuro grosso, quase sem ar, e só então reparo como estou ronronando.
Nunca fiz isso com Ellona, nem quando estava no cio.
Crystal volta a pegar o meu rabo e a usar as suas unhas vermelhas em
mim, enquanto me masturba com a mão restante, e isso, somando ao seus
seios balançando com os bicos duros apontando para mim, são um combo
impossível de vencer. Estou hipnotizado, viciado feito um animal nela.
— Porra… — rosno e passo as mãos pelo meu rosto enquanto a
fêmea faz círculos em mim com a sua língua, me babando todo, e até raspa
os seus dentes as vezes, me causando uma dor mais do que bem-vinda. —
Crystal!
Não me orgulho de gozar tão rápido com ela entre as minhas pernas
me chupando assim, contudo, não sei como seria diferente, com essa
humana tão determinada.
— Engula tudo, coloque essa sua linda boca em volta do meu pau e
tome tudo que eu te der. — As palavras saem deformadas e os jatos
constantes de porra vão direto para a garganta dela enquanto continua
enfiando as suas pequenas unhas na minha cauda, provocando dor e prazer
em mim. — Você é a fêmea mais deliciosa do mundo, mon naery.
Eu faço uma bagunça e a humana me limpa como se eu fosse o seu
doce preferido, engolindo tudo. É um espetáculo vê-la sugando os lábios.
— Preciso que você me foda, senhor — pede ao terminar e eu
continuar duro em suas mãos. — Não vou aguentar se não me comer, estou
escorrendo — revela e eu seguro a sua mão, que está cheia do meu gozo,
antes que ela esfregue em sua buceta.
— Vou comer o seu cu, Crystal — aviso e ela morde o lábio inferior,
agora bem mais calma do que como estava quando entrou aqui.
— Você é muito grande e dá outra vez, no banheiro da festa, não
entrou por completo — choraminga, mas o cheiro da excitação dela
aumenta ainda mais. Gostou da ideia, só não vai admitir.
— Mas eu já enfiei a minha mão em você uma vez, agora quero o seu
rabo, quero ficar todo dentro dele. — Puxo o corpo dela para cima, a coloco
em meu colo, com o seu peito contra o meu, e usando a minha porra
começo a esfregar os meus dedos em seu ânus enquanto ela empina para
mim.
O meu pau fica entre nós dois e eu sei que desse jeito corro muito
risco de Crystal tentar me enfiar em sua buceta, por isso, preciso ser rápido.
— Por que você me desobedeceu? Olha como está desesperada…
Você está tremendo.
— Não quero que fique no cio por mais tempo, se eu posso fazer logo
o bloqueador — geme, enquanto os seus olhos se reviram com o meu dedo
entrando no seu traseiro. — Só me dê o que eu preciso agora, por favor,
faço qualquer coisa para ter você dentro de mim.
— Qualquer coisa? — pergunto e desfiro um tapa ardido do lado
direito de sua bunda, para causar dor e fazê-la choramingar gostoso. — Se
eu te der o que nós dois precisamos, vou foder a nossa vida, menina —
sussurro contra a sua boca e ela a abre para mim, para que eu lhe beije mais
uma vez.
Então eu me afundo na boca de Crystal, me perdendo em sua
quentura, enquanto lhe dou mais tapas e arranhões, arrancando sangue de
sua pele e tentando acalmar o seu cio.
— Me come, Vladimir, agora — fala praticamente dentro da minha
boca e para de me beijar, para tentar fazer o que eu já esperava: sentar com
a sua buceta no meu pau.
— Pare com isso e segure nos meus chifres, não é você quem manda
aqui — mando e ela obedece relutantemente, então eu levanto o seu corpo e
a deixo do jeito certo para receber a minha ereção na sua bunda. — Esse
cuzinho é meu, sabe disso, não sabe?
— Sim… — choraminga enquanto eu a movo para frente e para trás,
abrindo o meu caminho.
— Você me desobedeceu, mon naery, e deve sempre fazer o que o seu
macho manda — sussurro e estico a minha língua para lamber o seu
pescoço e a sua orelha, os seus pontos fracos e que a deixam mais maleável
para mim, que consigo me encaixar bem.
A sensação de entrar em Crystal é intoxicante, fico sem conseguir
formar uma palavra inteligível sequer, a pressão me deixa maluco, a
quentura, o calor. Ela grita, eu não sei se de dor ou de prazer, e eu só vou
devagar até o meio, sem coragem de ir até o final.
— F-faça como da outra vez — gagueja, mas eu não sei o que quer
dizer. — Me morda — pede num fio de voz e me surpreende.
Então afundo os dentes em seu ombro, provando o sabor metalizado e
delicioso de seu sangue, que me deixa ainda mais feral, e Crystal relaxa
quase que instantaneamente.
Ela realmente gosta tanto assim de ser mordida?
— Oh, Deus! — geme e eu deixo que o meu pré-gozo entre bem e
ajude com qualquer dor que possa estar sentindo, depois deito a minha
pequena fêmea no sofá, sem sair de dentro dela, e coloco as suas pernas em
meus ombros para conseguir ir e voltar com cuidado do seu interior.
O rosto de Crystal está suando e ela praticamente mastiga o lábio
inferior, enquanto as suas mãos tentam me segurar o mais próximo possível.
— Vladimir… eu… — Os olhos dela estão se revirando e eu começo
a tocar o seu clítoris, e é como se eu pudesse sentir a vibração do seu corpo
no meu aumentando.
As costas de Crystal saem do sofá e ela joga a cabeça para trás,
enquanto o meu rabo abraça os seus pulsos juntos e eu cravo os meus
dentes em suas panturrilhas arredondadas e macias.
É claro que sinto prazer em ir e vir com o meu pau do seu cu
apertado, mas é como se uma boa parte do meu prazer também viesse em
assistir como a fêmea tem prazer, em assistir como ela fica enquanto eu
domino o seu corpo por completo, como prendo Crystal embaixo de mim,
chamando o meu nome e tremendo. E isso me empolga tanto, que banho a
minha mão direita nos sucos de sua vagina e começo a meter os meus dedos
dentro.
— SIM! — grita, desesperada, e dessa vez eu consigo mais fácil do
que antes. No quarto dedo a fêmea já está esguichando em mim, que me
retiro com cuidado de dentro do seu rabo, para conseguir descer o meu
rosto e beber tudo o que ela me dá, enquanto se revira e segura os meus
chifres.
Capítulo 21

Estou deitada na cama de Vladimir sentindo cada pequena parte do


meu corpo doer e isso é bom, porque quem me causou tudo isso está
debaixo de mim agora, enquanto apoio a minha cabeça em seu peitoral
repleto de tatuagens e sinto o seu calor e cheiro emanarem para mim.
— O seu lobo é lindo — sussurro e acaricio a rorani, passando meus
dedos pelos traços perfeitos. O coração dele dispara, eu escuto, e as suas
mãos em volta de mim se apertam, assim como o seu rabo na minha coxa.
— Não pensa mesmo que pode significar algo?
— Já ganhei uma rorani por tomar vinho persanes demais uma vez,
então elas não fazem muito sentido — explica e eu imagino a cena. Você
ficar bêbado e no dia seguinte acorda com uma tatuagem em algum lugar só
por isso. — São só coisas que nascem na nossa pele por acaso.
Levanto a minha cabeça e encaro os olhos castanho mel dele, que tem
partículas prateadas bem pequenas mesmo nadando em sua íris, e suspiro.
Estou no peito de Vladimir Dark Elf, o senador do estado de uma raça que
ninguém sabe quase nada sobre.
— Elas são mágicas, Vladimir. — Franzo a testa e ele molha o
carnudo lábio inferior, prestando atenção no meu rosto feito um gato
interessado por uma presa ou algo brilhante, já que suas pupilas até dilatam.
Vladimir está completamente nu, assim como eu, e a sua barba cheia está
até meio desgrenhada. — Roranis são misteriosas, Anastase disse que nem
mesmo os Vrusni sabiam tudo sobre essas marcas.
Então ele faz o meu mundo todo virar de repente, se colocando por
cima de mim e me fazendo ficar por baixo, com as costas na cama. Eu até
poderia lutar contra a sua dominação, mas gosto da vista.
— Não quero ouvir o nome de outro macho em sua boca agora —
murmura e roça o seu nariz no meu devagar, o que me deixa sem ar. —
Roranis não são nada demais, e a lenda da nova era também não é. Nenhum
persanes vai se transformar em lobo só por ter uma rorani no peito.
— Mas poderiam. — Dou de ombros e tento disfarçar a minha
ansiedade. É como se esse maldito frio na barriga por tê-lo perto nunca
passasse, nem mesmo depois de Vladimir ter passado horas adorando o meu
corpo e me fodendo. — Você seria um lobo lindo, tenho certeza disso. —
Toco o seu rosto e ele pega a minha mão e a coloca contra a cama.
— Tenho uma coisa para você — muda de assunto de repente e eu
arqueio as duas sobrancelhas.
— Uma coisa para mim?
— Sim — diz, me larga e sai de cima de mim, para caminhar pelo seu
quarto e me dar uma vista ainda melhor, de sua bunda forte e arredondada,
com o seu rabo que sai bem onde ele tem duas covinhas no final da coluna,
balançando devagar. — Deve caber em você, porque dá para regular.
Ele some dentro do closet por quase um minuto e depois surge
vestindo uma cueca samba canção azul, o que em partes mata um pouco a
minha diversão de observá-lo completamente nu. Contudo, eu ainda tenho o
seu peitoral, os piercings nos mamilos e os seus braços de fora.
— O que é? — pergunto, abraçando os lençóis brancos rasgados da
cama, que quase não sobreviveram às garras de Vladimir.
— É só uma coisa pequena, estique a sua mão para mim — pede e eu
obedeço, até que encaixa no meu dedo do meio, da mão direita, uma joia
muito bonita e tão brilhante que me deixa sem reação. — É um anel de
ouro, essa pedra do meio em forma de gota é um naery azul escuro, que
como você sabe, é um cristal que só pode ser encontrado na minha terra
natal. O azul escuro é um dos mais raros, e em volta são pequenos
diamantes.
Fico em silêncio olhando para o anel, que é muito delicado e que não
é algo comum. Não é um design básico que eu já vi em tantas joalherias e o
naery azul tem um brilho dourado diferente de tudo que já vi quando mexo
a minha mão.
— É muito… bonito mesmo — sussurro e os meus olhos se enchem
de lágrimas involuntárias, o que faz Vladimir pigarrear e o rabo dele
começar a se mexer mais rápido, como se estivesse ansioso.
— Se você não gostou, pode me falar. Mas se gostou, podemos tentar
te arranjar algum par de brincos que combine. — A fala dele é séria e eu
acho que sim, ele está nervoso que eu não tenha gostado, o que é um
pensamento absurdo!
Como eu não gostaria de receber um anel com uma pedra no meio
que tem o mesmo nome que ele me chama?
— É muito bonito mesmo… — Passo as mãos no meu rosto, tentando
limpar o mar de lágrimas que está descendo pelas minhas bochechas.
Nunca fui dada ao choro fácil, na verdade, sempre odiei chorar na
frente dos outros depois do acontecido com Ramon, me faz sentir pequena
demais. Contudo, agora eu não tenho controle.
A minha garganta está doendo, cheia de palavras presas, mas uma
parte minha está tão aliviada que os meus olhos transbordam, porque um
presente de Vladimir, ainda mais uma joia, significa muito. Joias são os
presentes oficiais de persaneses para as suas fêmeas!
Isso significa que eu consegui? Depois de todos esses anos, eu
consegui um espaço no coração dele?!
— E-eu não tenho nada para você, me desculpe, mas prometo que
vou fazer o meu melhor para conseguir o bloqueador. Você é muito
importante para mim e eu espero que depois que tudo acabar n…
— Não precisa me dar nada, é mais uma… obrigação de cio —
interrompe a minha frase e o meu rosto todo fica congelado no lugar por
alguns segundos.
Do que ele está falando?
— O-obrigação de cio? Como assim? — pergunto, franzindo a testa e
finalmente conseguindo esboçar alguma coisa, que nesse caso é muito
susto.
— No meu estado atual, eu não conseguiria ir a uma joalheria, então
mexi em algumas coisas e encontrei esse anel. Eu comprei para dar para
Ellona, na realidade — explica, com os seus olhos estudando bem o meu
rosto enquanto eu me abraço ainda mais com os lençóis, escondendo o meu
corpo dele, que está cheio de suas mordidas.
— Ela usou esse anel e você está me dando? — A minha voz mal sai
dos meus lábios.
— Não, Crystal, ela nunca usou esse anel — garante, e mesmo assim
não consigo respirar direito. — Ele foi comprado para ela, mas eu acabei
não conseguindo dar para Ellona antes do seu falecimento, e decidi te dar
agora porque não é certo um macho entrar no cio e não dar nada à fêmea
que está cuidando do cio dele, que é basicamente o que você está fazendo
por mim. — Cada palavra dele é como uma perfuração no meu coração.
Não existe afeto, isso tudo é uma translação para ele. Eu sou só uma
cuidadora de cio.
— V-você ia dar esse anel para Ellona e não conseguiu, e agora está
me repassando?! — O meu tom de voz sobe antes que eu possa controlá-lo.
— Você não aceita pagamentos, então e… — tenta se explicar e eu
não deixo.
— Você está me dando uma joia que era para dar para a sua finada
esposa, Vladimir?! — berro e fungo, ainda sem conseguir conter as
lágrimas grossas que me cegam. Me sinto gelada agora, fria nessa cama
grande e cercada do cheiro desse macho.
— Você falou sobre Grear outro dia, sobre Bronte não parar de dar
joias para ela e eu percebi que era injusto não te dar algo, mesmo que
pequeno! — exclama, e parece mesmo perdido do porque estou tão irritada.
— Uma fêmea deve receber joias e eu estou te dando uma, mas se não
quiser porque era para ser de Ellona, podemos esperar o meu cio passar e
compramos outras.
— Foi essa parte que você guardou do que eu falei no armário? Sobre
joias?! — Tiro a porcaria do anel do meu dedo e coloco na mesinha de
cabeceira. — Dê isso para a sua esposa, esse anel é dela, não meu. Coloque
onde ela estiver agora, mas eu não quero isso! — Nego com a cabeça e me
coloco de pé com os lençóis ainda em volta de mim.
Preciso das minhas roupas. Preciso sair daqui agora.
— Isso é como um pagamento, Crystal! Tem um valor enorme, você
pode pesquisar! E eu sei que gosta de moda então…
— Você não gosta nem um pouquinho de mim, né?! — Volto a
interrompê-lo, mas depois desisto de falar. Quanto mais tempo eu falar,
mais tempo passarei aqui. — Vou me trocar para ir embora.
Os olhos dele se arregalam e alaranjam na mesma hora e eu não olho
para trás, para vê-lo rosnar. Eu quero que esse homem se exploda! Que ele
suma da minha frente e nunca mais apareça!
— Você não vai a lugar nenhum! — grunhe e vem atrás de mim, que
estou praticamente numa maratona para conseguir chegar no closet e depois
para pegar o primeiro vestido que me aparecer para colocar. — Olhe para
mim! — ordena, enquanto visto a peça no meio do closet abarrotado com as
nossas roupas.
— Misturei acalasia com pimenta azul e-e-e acho que algumas poucas
gotas de Nyn devem servir — luto para falar em meio a todo o meu
nervosismo. — Depois disso, você pode testar e tu-tudo estará resolvido,
não precisará mais de mim.
— Você não vai embora, você é minha! — grunhe e me pega pelo
braço, o que me obriga a parar de brigar com o tecido leve de um vestido
vermelho longo que encontrei e tentar empurrá-lo. — Me entendeu?! Você é
minha fêmea! — Mostra os caninos pontiagudos para mim, o seu rosto está
todo vermelho, as veias de seu pescoço saltadas e os olhos estão agora
completamente laranjas.
— Eu fiz a porra de uma faculdade toda fingindo que não era por
você, mas sim, foi por você — cochicho, sem condições de brigar mais. Eu
só quero me esconder, só quero recomeçar. — Porque eu queria te entender
melhor e quem sabe me aproximar pelo menos da sua raça.
— Fique! — Aperta mais o meu braço e aproxima o seu rosto.
— Mas você nunca vai me ver como nada além de uma menina
obcecada, porque Ellona é a-a sua esposa ainda e sempre vai ser. — Um
soluço interrompe a minha frase e eu desvio o olhar.
Não consigo encarar Vladimir, encará-lo me dá vergonha. Eu criei um
homem em minha cabeça que nunca existiu, e me apaixonei por ele por oito
anos. Me liguei a ele por oito anos, cada vez que a imagem de Ramon
aparecia na minha cabeça.
— Ou talvez você encontre uma fêmea da sua espécie que seja boa o-
o bastante agora. Talvez você devesse ir encontrar uma dessas agora. —
Dou de ombros e puxo com força o meu braço de sua posse, o que o faz
largá-lo.
O cio está o tirando do sério e ele me vê como sua propriedade.
Porém, isso é só agora e não adianta querer me enganar que depois ficará
assim. Vladimir não gosta de mim e eu tenho que aceitar isso, ele apenas
quer me possuir.
— Você não vai embora! — berra e me pega pela mão para me fazer
ficar, só que aperta tão forte, que gera uma dor horrível e que me dá ânsia
de vômito no mesmo segundo.

Vladimir
O cheiro de medo de Crystal chega a níveis alarmantes e ela me
encara com grandes olhos castanhos assustados conforme eu coloco o
vestido direito em seu corpo, mas ela não me diz nada, nem mesmo quando
a coloco em meu colo e a levo direto para o meu carro, onde dirijo para o
pronto-socorro mais próximo só de cueca.
É a primeira vez que piso em um hospital e eu sei que deveria tomar
cuidado com a minha imagem, talvez me esconder um pouco e ter lembrado
de me vestir. As chances de eu estar amanhã nas capas de vários jornais é
grande, contudo, não consegui pensar em nada, porque senti o jeito que a
mão dela ficou estranha e fez um barulho, e na hora todo o frenesi foi
embora, toda a raiva enlouquecedora que estava sentindo, e só sobrou o
medo de ter realmente a machucado.
Talvez seja o meu cio, mas tudo passa muito rápido para mim, não
consigo prestar atenção no que me falam e acabo sendo conduzido por uma
enfermeira que tem um cheiro de medo azedo e que coloca eu e Crystal
numa sala longe das outras pessoas, assim elas não se assustam com nós
dois.
A minha pequena fêmea é tirada de mim para fazer exames de
imagem e eu fico sozinho na sala fechada por um tempo, sentindo um tipo
de vazio que não me abordava a muito tempo. Fico imóvel, sem coragem de
andar pelo hospital para encontrá-la e descobrir o tamanho do estrago que
fiz, descobrir o tamanho do ódio que ela tem de mim. Ou pior ainda,
descobrir o tamanho do monstro que sou.
Até que uma outra enfermeira com cheiro azedo aparece e me guia
por uma saída escondida que dá no estacionamento, onde está meu carro, e
onde Crystal aparece alguns minutos depois, com um gesso branco na mão
que eu feri.
Abro a porta do veículo com pressa para ela, que se senta no banco do
carona ao meu lado, e solta uma longa respiração. Ela está cansada, isso é
fácil de ler em seu rosto, mas provavelmente bem menos assustada do que
eu, pois não cheira mais a medo e é médica.
Eu nunca estive em um hospital antes e tenho que admitir que às
vezes eu pensava se eles realmente me dariam Crystal de volta, ou se ela
sumiria por essa construção gigante e com um cheiro forte de álcool e
desinfetantes, e nunca mais voltaria.
— Foi uma fratura e eu vou ter que ficar com esse gesso por um
tempo — explica, soando muito rouca. — Basicamente estou com a mão
quebrada.
— Eu quebrei a sua mão?!
— Sei que não foi de propósito, Vladimir. — Dá de ombros, sem me
encarar.
— Eu… estava tão nervoso que você pudesse ir embora, que só
peguei na sua mão sem calcular a força. — Quero pegar Crystal pelos
ombros para que me encare e saiba que estou falando a verdade, mas tenho
medo de acabar quebrando algo mais.
Ellona era muito fraca para doenças, resfriado e essas coisas, porém,
eu nunca quebrei nada dela só por pegar.
— Está tudo bem, foi só dessa vez. Vamos para casa, tenho que
trabalhar no bloqueador logo, esse cio tem que ser parado.
Não preciso nem pensar muito para saber o que responder a essa frase
de Crystal.
— Não.
— Não? — pergunta e finalmente me encara, sem entender nada.
— É melhor você voltar para o seu apartamento — explico e começo
a dirigir para longe daqui, tentando focar na rua iluminada por postes, pois
estamos no meio da madrugada.
— Isso é sobre eu não ser a sua mulher? — Arqueia uma sobrancelha
e pisca, querendo se livrar das lágrimas que querem brotar.
— Você é humana e por um segundo de descuido eu quebrei a sua
mão. E se eu tivesse ficado com mais raiva? E se eu tivesse ficado
loucamente excitado e-e quebrado mais coisas? — gaguejo, porque só de
pensar nisso já fico angustiado, lembrando do sonho que tive com ela há
alguns dias, onde arrancava seus braços e a fazia sangrar. Depois desse
acidente de hoje, vejo que esse pesadelo não foi algo absurdo, eu realmente
poderia machucar Crystal seriamente. — Uma persanesa saberia se
defender de mim caso o meu cio saísse do controle, elas têm garras e força,
e você não.
— Então continua sendo sobre eu não ser como Ellona?! — exclama,
com o seu coração batendo rápido.
— Isso não é sobre Ellona! É sobre eu ser um perigo para você! —
rosno e depois tenho vontade de me bater.
Por que eu não consigo me controlar pelo menos agora? Agir
normalmente pelo menos agora?! Por que eu tinha que estar nesse maldito
cio?!
— Como você vai arranjar alguém para cuidar das suas
necessidades?! Precisa se aliviar! — Mesmo que esteja com um gesso na
mão por culpa minha agora, Crystal simplesmente não consegue parar de
pensar no meu cio. — Você não pode me mandar para casa agora, estou
quase descobrindo um bloqueador!
Eu respiro fundo, bem fundo mesmo, e penso. Como posso fazer essa
mulher desistir de mim, antes que tudo fique pior? Agora há pouco mesmo
ela estava dizendo que ia embora da minha casa, mas já mudou de ideia
pensando no meu cio.
Não importa que eu esteja apegado, não importa que eu sinta vontade
de urrar só de pensar em ficar longe dela. Só o que importa é que eu não
perca o controle e acabe fazendo algo que me assombrará pelo resto da
vida.
— Eu… acho que vou precisar procurar uma cuidadora de cio
persanesa, Crystal — murmuro de má vontade. Mas agora não é sobre o que
quero, é sobre o que precisa ser feito, e eu vou focar nisso.
— O quê?!
— Persaneses dizem que nunca traem e que não trocam de fêmea,
mas cuidadoras de cio estão por aí aos montes, não? — A minha pergunta
retórica deixa Crystal em silêncio, contudo, os seus dentes estão batendo
um contra o outro de tanta ansiedade. — Elas cuidam do cio do macho e
quando a família quer, colocam outra fêmea no lugar, uma de família boa, e
aí o macho tem o filhote. Eu não quero ter um filhote, mas… uma persanesa
é o que preciso agora.
Um minuto inteiro se passa enquanto a fêmea encara a escuridão
através da sua janela. Eu a escuto fungar baixinho, mesmo com o som do
carro andando pela estrada e do vento lá fora, e custa muito para mim ficar
em silêncio, esperando por suas próximas palavras.
— Só… me leve para o meu apartamento.
Capítulo 22

Hoje está chovendo muito forte e eu me levanto enquanto o sol está


começando a subir no céu, mesmo que por trás de muitas nuvens. Me visto
com pressa e deixo a minha casa com ainda mais pressa, pegando o carro
dos meus pais sem eles saberem.
Já é a terceira vez que faço isso no mês e para falar a verdade, eu
não sei muito bem o porquê. Só sei que preciso ir até lá.
Desço do carro e passo por uma brecha na cerca que ninguém parece
ter percebido e que não serei eu a alertar, e corro pela grama desse lugar
gigante, ficando encharcada no meio do caminho.
Então eu faço a mesma coisa que fiz nas últimas vezes, me encolho
debaixo do pouco de cobertura que a sua casa oferece, grudo o meu rosto
no vidro da sala dele e observo, mesmo que tudo embace com a minha
respiração e eu tenha que ficar limpando com a manga da blusa.
Só que dessa vez tem uma diferença. Dessa vez ele está lá, como se
me esperasse, sentado em sua poltrona. Os olhos dele brilham o mesmo
laranja furioso de quando arrancou o braço do homem e me fazem prender
o ar.
O que devo fazer agora? Eu nunca mais tinha conseguido ficar cara
a cara com ele, alguém sempre me pegava em algum momento.
Então eu só fico ali parada, olhando aquele homem gigante em sua
poltrona, com as pernas cruzadas. Até que ele se levanta e faz o meu
coração disparar feito um louco. Ele caminha na minha direção e fica a
menos de um metro da parede de vidro que é a sua grande janela.
“Vá embora, menina.” É a frase que os seus lábios formam.
Eu nego com a cabeça, porque não consigo. Não consigo ir embora,
porque só quando olho para ele é que me sinto segura agora. Acho que
estou enlouquecendo. Ficar dentro de casa está sendo uma tortura, a cada
segundo eu espero que os meus pais venham e me forcem a tocar alguém
que eu não quero.
“Me ajude!” grito. “Por favor, fale comigo!” Eu imploro.
“Eu não posso, Crystal!” Ele responde, gritando também. “Posso
machucar você!”
Semanas depois disso, Vladimir me mandou para o exterior, onde eu
não pude mais vê-lo para me sentir segura, contudo, fora do país os meus
pais também não podiam mais me alcançar, o que de certa forma foi uma
ajuda, não?

Nem sei que horas é ao acordar de um sonho estranho e escutar


alguém bater na minha porta. Desde que tomei acalasia e saí da casa de
Vladimir, alguns dias atrás, que tenho me sentido uma merda e sem energia
para nada, só recebendo os pacotes com as minhas coisas.
Levanto da minha cama bem devagar e antes de abrir, vejo pelo olho
mágico para ter certeza de que é só um entregador com alguma roupa minha
que ficou no final do closet do senador. Contudo, a pessoa do outro lado
não é um homem desconhecido e louco para receber uma caixinha,
infelizmente.
— Então você não está mais morando com o seu amigo. — É a
primeira coisa que a minha mãe diz ao ficarmos frente a frente.
Agora que não estou mais com sintomas de cio, consigo olhar para ela
de forma mais composta. A senhora Parker, que é como eu tenho preferido
chamar essa mulher, usa um conjunto social de saia e blazer de uma cor
apagada de bege que eu nunca chegaria nem perto, e os cabelos dela estão
alisados e grudados em sua cabeça para fazer um coque não muito
volumoso na parte de trás de sua cabeça.
— O que veio fazer aqui? — pergunto, sem vontade de fazer sala para
ela, enquanto toma a liberdade de entrar no meu apartamento, que graças a
Deus não está muito bagunçado nessa parte. Empurrei com a minha mão
boa toda a bagunça para um quartinho especial fechado.
— Você não atende as minhas ligações e vem ignorando a mim e a
seu pai desde que voltou de Paris, então eu vim te procurar — fala, com um
tom falso de preocupação que eu conheço bem demais. Era o mesmo que
usava no colégio toda vez que era chamada pelo meu baixo desempenho. —
Parece que morar no exterior deixou você com o nariz bem empinado,
Crystal.
— Diga logo o que é que você quer — falo entredentes, enquanto
encara o meu pijama de seda azul claro.
Sim, eu tenho passado tempo demais de pijama, mas não, eu não
estou na fossa. Só preciso de descanso depois da acalasia e tudo ficará
bem, nem mesmo essa vontade de gritar e chorar só de pensar no nome
Vladimir irá restar.
— Ou o quê? Vai colocar a sua própria mãe para fora? — Arqueia
uma sobrancelha bem desenhada e eu reviro os olhos.
A verdade é que nunca entendi muito bem a minha mãe ou o meu pai.
Eles nunca fizeram sentido na minha cabeça, porque eu sou filha deles e
cresci com eles, e mesmo assim eles queriam me vender sem pensar duas
vezes. Como isso pode ser possível? Como alguém pode ser assim?
Eu tenho tanta dificuldade de processar o que me aconteceu, que às
vezes sinto culpa de ter tanta raiva.
— Estou gripada, então só adiante o assunto se não quiser pegar e
terminar com uma cara inchada e um nariz escorrendo — minto, mas eu
realmente devo ficar gripada depois da acalasia. Ela vai acabar com a minha
imunidade.
— Antes de você chegar em Red Town, eu disse que tinha um assunto
para tratar com você. Esperava poder tratar disso no leilão dos anos trinta,
mas você simplesmente sumiu — explica e me surpreende. Então eles
realmente têm algo a dizer? Não me mandaram um milhão de mensagens
em Paris só para me fazerem voltar para cá para posar como bons pais? —
Vim aqui te avisar que eu e o seu pai tomamos a liberdade de te arranjar um
noivo.
Arqueio as duas sobrancelhas e fico olhando para o rosto da minha
mãe por longos segundos, sem saber o que responder.
— Um noivo? — ecoou as palavras.
— Nós temos um amigo político que está procurando uma boa moça
para ficar ao lado dele, que esteja disposta a aparecer para a mídia, e
recomendamos você. — Ela gesticula com delicadeza e suavidade, como se
o que falasse não fosse algo com o que se preocupar.
— Quem é o político corrupto e sujo que está com vocês nessa? —
pergunto, com a minha garganta já querendo doer, como se todas as
palavras presas por todos esses anos pudessem realmente tomar espaço.
— Frederick Burner não é corrupto.
— Frederick Burner?! — berro, me lembrando do loiro estranho,
magro e alto que me assistiu ter um ataque de raiva dias atrás na nova
mansão deles.
— Ele acabou de assumir o cargo de senador e o eleitorado dele só
cresce, já que o senador Dark Elf tem sujado cada vez mais o seu nome. —
Ela fala mais rápido, sabendo que logo a colocarei para fora. — Foi dito até
que Vladimir foi visto num hospital com um humana toda machucada que
ele espancou. — Volta a me encarar de cima a baixo, focando no gesso da
minha mão, o que me faz ter vários calafrios.
Então realmente se espalhou por aí essa notícia?
— Primeiro que eu não sei por que vocês acreditam em rumores
assim, e segundo que não tenho nada a ver com os tratos que vocês fazem
por aí. — Dou de ombros e me afasto dela, antes que fale mais algum
absurdo e eu acabe perdendo o meu réu primário. — Não sei se você notou,
mas essa aqui não é a época medieval e você não pode me obrigar a ser
noiva de um cara que eu vi por cinco segundos na sua casa.
— Frederick é muito influente, Crystal — fala e vem atrás de mim,
batendo os seus saltos no meu carpete. — Ao lado dele, você teria tudo o
que quisesse. E eu sei que você gosta de roupas, de joias, de sapatos, mas
agora que está de volta nos Estados Unidos, seu pai não vai mais te dar
mesada.
A mulher consegue me deixar ainda mais boquiaberta e eu paro no
corredor, antes de chegar ao resto do meu apartamento, e a encaro bem de
perto. Mas ela não tem coragem de desviar o olhar, não sente vergonha
nenhuma do que está fazendo.
— Eu me virei em Paris primeiro com a grana de Vladimir e depois
com o dinheiro do meu próprio trabalho fazendo cabelo e unha! Eu cheguei
a dar aulas de inglês para franceses comprando livros na internet e seguindo
o cronograma!
— Mas fomos nós que pagamos uma boa parte da porcaria da
faculdade de medicina que você usa para cuidar desses animais! — Ela se
altera, já que eu levantei a voz. — Acha que somos burros?! Você fez esse
curso para ir atrás de Vladimir, veio para cá também atrás dele e agora foi
largada depois de ser agredida! — Faz uma careta de nojo ao encarar de
novo o gesso na minha mão esquerda, careta essa que me atinge em cheio.
— Acha que o seu casinho com ele é segredo para alguém?! Não é!
— Não me importo com o que você ou qualquer outra pessoa pense
de mim! E você vai sair da minha casa agora, ou vou chamar a polícia e
todos vão ver a mulher do prefeito sendo presa por invasão. — Mesmo me
sentindo uma merda, ainda consigo ameaçá-la, porque foi isso que eu
aprendi melhor nos anos vivendo com essa mulher. A ser alguém com uma
casca bem grossa.
O problema é que de vez em quando essa casca fica oca e eu tento
tapar o buraco comprando roupas, só que nem isso tem adiantado mais.
— Case com Frederick Burner e dê o troco nessa merda desse
demônio, Crystal! Não seja burra! — Ela quase avança em mim, mostrando
a sua verdadeira face desequilibrada.
— Não quero dar o troco em ninguém e não sei por que vocês têm
ódio de Vladimir! Ele ajudou o meu pai a subir de cargo quando eu estava
em Paris.
Não é porque Vladimir não me quer ao seu lado, que eu me casaria
com o adversário dele, que apoia pessoas dizendo que persaneses não são
dignos de vida. Eu me formei nisso, aprendi tudo o que pude sobre eles, e
sei que não merecem ser chamados de animais.
— Ele só ajudou o seu pai em algo, porque te odiava. Vladimir tinha
tanto nojo de você, minha filha, que fez qualquer coisa para mim e o seu pai
mantermos você em outro continente. — As palavras dela abrem um buraco
de dor no meu peito. — Eu tinha pena de você, por estar tão ligada e
obcecada por alguém que te olhava como um pedaço de lixo. — Os olhos
dela se enchem de lágrimas, como se fosse uma pobre mãe desesperada, e
eu não controlo o que vem depois.
O tapa de mão cheia que dou em seu rosto deixa a palma da minha
mão direita toda ardendo, mas vale a pena, porque me faz quase querer
gritar de tanta satisfação.
Eu vejo que ela pretende devolver o golpe em mim. Só que eu sou
muito mais forte, pois tenho todos os quilos “a mais” que sempre fala sobre,
então a seguro com a mão boa.
— Não vou me casar por conveniência com alguém que nem
conheço! Por que ele não arranja uma noiva que o queira?! Por que ele tem
que pagar?! — grito, já sem conseguir controlar o meu tom de voz.
Não quero ser uma mulher comedida, eu quero gritar, explodir e
chorar! Primeiro porque o cara por quem eu passei anos obcecada só pensa
na porra da mulher dele, que já morreu, e segundo porque eu não tenho
pais, tenho dois monstros querendo sempre me usar de alguma forma.
— Você está descontrolada, Crystal! — berra de volta, agora com
vários fios de seu cabelo fora do lugar e segurando o lado do rosto que eu
bati. — Frederick é um grande homem e ele tem muitos planos para esses
animais que querem andar entre nós. Ele tem ajudado o seu pai com
decisões na prefeitura além de poder fornecer qualquer tipo de luxo que
você precisar.
— Eu não vou me meter com esse cara! — Começo a empurrá-la para
fora com uma mão só.
É a primeira vez que eu realmente encosto um dedo nessa mulher,
mesmo depois de tudo que já me fez, e não sei como me sentir. Só sei que
preciso ficar sozinha.
— Ele é a melhor opção que você tem, e a melhor opção que nós
temos também! Ele vai muito longe, tem muito dinheiro, muitos contatos, e
essa seria a nossa chance de nos ligar definitivamente a ele! — Os olhos
dela praticamente brilham com toda a ganância.
— Saia daqui! — mando, só que o choro já tomou a minha voz agora,
com lágrimas grossas que descem totalmente contra a minha vontade. — V-
você nunca se importou comigo, é um monstro, não uma mãe.
— Não fui eu quem te machuquei, foi Vladimir!
— Você está se ouvindo por acaso? — pergunto, sem energia para
continuar tentando colocá-la para fora só com a minha mão boa. — Não
percebe mesmo que tentar casar a sua filha com dezesseis anos é algo
absurdo?
— Você já tem vinte e cinco! Nunca te obrigamos a nada! — A minha
fala a deixa muito revoltada, como se eu tivesse ofendido a sua honra.
— Mesmo? Nunca me vestiu feito uma prostituta e me jogou no meio
de homens com mais do dobro da minha idade, mãe? — Arqueio uma
sobrancelha e limpo o meu rosto, com ódio de mim mesma por ter me
deixado parecer frágil na frente dela.
— Eu não vou discutir, Crystal. Você descontou a sua raiva em mim e
eu… entendo. Está frustrada, porque aquele homem não te ama. — Ela dá
de ombros e eu realmente não sei por que chamo um ser desse de mãe. —
Mas saiba que eu tenho opção melhor pra você e espero a sua resposta nos
próximos dias.

Vladimir
— Está tudo bem com você, pai? — Filipi questiona quando eu mais
uma vez caio no sono em minha poltrona e eu abro os olhos com pressa.
— Sim, só o bloqueador de cio que estou testando que me deixa
sonolento — explico e limpo a garganta com um pigarro.
— Aquele que a Crystal mandou da casa dela?
Eu fico em silêncio por meio segundo, porque só de ouvir o nome
dela o meu corpo já responde.
— Sim. — Mesmo assim eu respondo o mais natural que consigo e
não me estendo no assunto.
Tive uma conversa séria com Filipi e contei tudo que pude a ele,
escondendo as partes que eu sei que nenhum filho quer ouvir sobre os pais,
como a vida sexual, por exemplo, ou como tenho me sentindo um lixo
desde que aquela menina foi embora.
Terei que conviver com a falta que ela me faz, por conta do cio, por
um tempo, mas ainda é melhor do que conviver com a culpa. Não quero e
não vou machucá-la fisicamente.
— O que é isso? — Filipi pergunta e me faz sair de meus
pensamentos. Ele segura o panfleto que o meu curandeiro, que finalmente
voltou de viagem, me deu hoje mais cedo. Devo ter largado em cima da
mesa de centro e nem percebi.
— Red Town Club está com um evento essa noite e eu vou — aviso e
o rosto dele fica paralisado na hora.
— Você vai?! — Arqueia as suas sobrancelhas.
— Foi o meu curandeiro quem indicou, parece que vão ter muitas
persanesas por lá, principalmente cuidadoras de cio, e seria interessante
conhecê-las todas de uma vez — murmuro, sentindo uma pontada de dor de
cabeça só de ter que dizer isso em voz alta.
Vou tentar encontrar alguma fêmea que me cause menos vontade de
vomitar por não ter o mesmo cheiro que Crystal e dar logo um jeito nesse
cio. Vai ser doloroso e difícil, mas não tenho escolha.
— E você vai nisso? — O rosto de Filipi fica todo vermelho e eu
sinto o cheiro de sua raiva.
Por incrível que pareça, ele realmente tomou o partido de Crystal.
— Bloqueador nenhum funciona completamente para mim, mesmo
esse último que a doutora Parker mandou entregar aqui. — É assim que
tenho chamado Crystal, por seu sobrenome, pois segundo a minha cabeça
assim seria menos dolorido. O que não tem se provado verdade. — Eu
conversei com o meu curandeiro, ele disse que eu preciso de uma cuidadora
de cio ou posso voltar a ter a cegueira que tive ao descobrir o cio tardio.
— Então você vai pagar uma mulher para… — Ele não consegue
nem completar a frase.
— Você cresceu aqui em Red Town e conviveu com muitos humanos,
então pode achar meio estranho. Mas cuidadoras de cio são a coisa mais
normal para nós persaneses. — Dou de ombros, tentando convencer a nós
dois que isso não é um absurdo.
— Mas a Crystal ainda gosta de você e você gosta dela, não gosta?
Eu desvio o olhar porque não vou responder essa pergunta. O meu cio
tem me cegado desde que ela voltou e eu não posso deixar que esses
sentimentos dentro de mim me convençam de que é tudo real mesmo, o
meu cio deve estar ampliando tudo.
— Eu quebrei a mão dela e poderia ter sido o pescoço, então não
vamos mais falar sobre isso. Está decidido. — Encaro Filipi seriamente,
para que não me desafie mais.
— E aí você vai ter um filhote com uma desconhecida? Porque o seu
corpo não vai parar até nascer uma rorani no seu pulso. — Ele me encara
com descrença e desafio, o que me faz querer rosnar.
— A cuidadora pode engravidar e depois abortar no começo da
gestação, essa é uma coisa que eu realmente não gostaria que acontecesse,
porque a vida para mim é sagrada, mas eu não tenho outra opção e me
recuso a ter uma criança que não receberá toda a atenção de mim que
merece.
— E se fosse com Crystal? Com ela você teria um filhote? — ele
continua insistindo.
— Não — respondo rápido, sem entender porque o meu cérebro
parece querer formar a maldita imagem daquela fêmea grávida de um
filhote meu.
Só de imaginar isso, os pelos da minha nuca ficam arrepiados e o meu
coração dispara. Mas isso também é culpa do meu cio, não é o meu desejo
verdadeiro. Sei como funciona e não irei cair nas armadilhas biológicas do
meu corpo.
— Eu vou dar uma saída agora à tarde — fala de repente, pegando o
casaco que largou no sofá.
— Achei que fossemos passar a tarde juntos! — exclamo, pois Filipi
já vai saindo pela porta, sem nem olhar para trás.
— Tenho umas coisas pra fazer, na verdade. Mas nós nos vemos outro
dia!
Capítulo 23

Passo a manhã ruminando tudo o que a minha mãe me disse e a forma


como as coisas aconteceram entre nós duas, o que não me deixa focar em
nada e tarefas que levariam minutos, acabam levando horas. É por isso que
eu ainda nem consegui tomar café da manhã ao escutar o meu segundo
convidado bater na porta.
— Quem é?! — pergunto, sem vontade de caminhar até a entrada à
toa, caso a minha mãe só tenha voltado para me infernizar.
— Sou eu, Filipi! — A voz masculina responde e me faz arquear as
duas sobrancelhas com surpresa.
Filipi veio até o meu apartamento para fazer o quê?
Como infelizmente eu não receberei a resposta para essa pergunta
sem atender a porta, eu peço um segundo enquanto coloco um short e uma
blusa que pareçam menos com um pijama, prendo o cabelo e escovo os
dentes para fingir que tenho vivido como gente nos últimos dias.
— Oi… — murmuro ao abrir a porta para o menino, que de menino
só tem os olhos.
Acho que de tanto ouvir Vladimir falar de seu filho como se ele fosse
uma criança de uns dez anos, eu realmente não me acostumo que ele tenha
crescido. Além disso, acabo me lembrando do compilado de informações
que eu tinha para falar com ele sobre ele ser como o rei Persani.
Contudo, acho que Filipi não se sentiria nada confortável em falar
sobre a sua genitália com a mulher que estava dormindo com o seu pai,
então penso que talvez eu possa enviar tudo por serviço postal para
Vladimir e esperar que ele entregue para o filho.
— Posso entrar? — pergunta e eu pisco algumas vezes, pois pelo tom
que usa, o assunto parece ser sério.
— Aconteceu algo com Vladimir?
— Posso conversar com você aí dentro sobre isso? — insiste em
entrar e eu abro espaço para o persanes de rabo mais acinzentado passar.
Nem todos tem chifres e rabos completamente escuros, alguns podem
ser mais acinzentados, contudo, os genes persaneses são dominantes. Então
mesmo que a mãe ou o pai sejam humanos, basta que a outra parte seja
persanesa para que a criança tenha rabos, chifres, a longa língua e as
roranis. Pelo menos foi isso que eu pude observar sem nenhum estudo mais
aprofundado, já que todo persanes corre de cientistas e médicos sempre.
— Pode vir para cá e se sentar, Filipi — chamo e ele me acompanha
pelo pequeno corredor do apartamento até chegar numa espécie de saleta
que montei, com apenas um sofá. O persanes se senta do lado direito e eu
do esquerdo. — E por favor me conte logo o que está acontecendo — peço,
já que o meu coração está batendo muito rápido só com a possibilidade de
algo ter acontecido com Vladimir.
— Meu pai me disse que você fraturou a mão, então te trouxe um
fermentado que a minha mãe sempre tomava. — Entrega-me uma sacola de
papelão que eu espio dentro e encontro um pote de vidro escuro. —
Acelerava a cura quando ela se machucava com algo. Funciona com
persaneses, mas não sei se com humanos também faz efeito. — Dá de
ombros e eu concordo com a cabeça. — Se tomar agora, até de noite já deve
ter curado a sua mão.
— Muito obrigada — agradeço sem jeito e espero para que
finalmente me diga a que veio.
— Eu não vou fazer rodeios, Crystal, porque o nosso tempo é curto.
O meu pai vai atrás de uma cuidadora de cio hoje à noite.
As palavras dele enchem os meus olhos de lágrimas na mesma hora
que o meu cérebro as processa completamente. Então eu me viro rápido,
assim ele não consegue ver o meu rosto.
— Isso não é problema meu, e-ele pode fazer o que quiser —
gaguejo, sentindo a minha garganta ficar apertada e dolorida.
Eu sabia que isso aconteceria, já que Vladimir não pode ficar
eternamente no cio, que só termina após a concepção do filhote, mas não
estava pronta para ouvir isso em alto e bom som.
— Vai ter um evento no Red Town Club, o curandeiro dele, que
voltou de férias, quem entregou o panfleto e disse que se meu pai não tiver
um filhote logo, ficará cego por conta do cio tardio — explica e isso me
deixa mais aflita ainda.
E se Vladimir ficar cego, meu Deus?!
— Ele vai ter um filhote no final das contas? — pergunto, sem saber
por que estou recebendo tantas informações difíceis de lidar hoje.
Pelo menos quando eu estava longe, Vladimir nunca apareceu com
ninguém nos jornais, sempre se manteve como um viúvo saudoso, mas
agora além de ter Ellona em seu coração, ele ainda vai num clube gigante,
conhecido por ser extremamente promíscuo, pagar para transar e ter um
filho com alguém.
Tudo porque ele me vê como uma inferior. Uma stalker fraca.
— Disse que depois irá pedir para a cuidadora de cio abortar.
Não sei nem o que responder para Filipi, estou fazendo o meu melhor
para não tremer, e continuo virada de costas para ele, como se isso fosse
ajudar em alguma coisa.
— Isso é escolha deles, e se fizerem um contrato com todos esses
pormenores, tudo deve ficar bem — sussurro, pois é muito difícil falar. A
minha voz não quer sair. — Eu só sinto muito de não ter conseguido
formular o bloqueador certo.
— Mas chegou muito perto, Crystal. — Afaga o meu ombro e eu
acabo deixando um soluço escapar. Eu sou mesmo uma piada para o
destino. — Além desse encontro de cuidadoras de cio, vai ter um leilão no
Red Town Club com humanas, e você poderia ir — sugere e a ideia é tão
absurda que me faz virar em sua direção de novo. — A inscrição é online e
depois você poderia dar um jeito de encontrar com o meu pai.
— Não tenho por que me encontrar com o seu pai enquanto ele
procura uma fêmea para engravidar — murmuro, mas Filipi não parece
nada atingido pela minha fala.
— Você já viu a rorani de lobo que ele tem no peito? — Arqueia uma
sobrancelha.
— Sim. — Dou de ombros, sem saber onde quer chegar.
— Sabia que ele ganhou essa marca no dia que te conheceu? Ele não
tinha antes, foi quando te conheceu que ganhou aquilo — revela e eu tenho
que lutar muito para não parecer surpresa.
Vladimir ganhou uma rorani por mim?
— Pode ter sido coincidência — resmungo, cansada de parecer uma
boba obcecada por aí.
Acho que está na hora de eu começar a aceitar que Vladimir devia
estar certo desde o começo por achar loucura a minha fixação por ele, dessa
forma quem sabe a dor no meu peito diminui. Porque eu sinceramente estou
cansada de tudo isso, de toda essa rejeição eterna.
— Não foi, assim que você foi embora da primeira vez que se viram,
ele sentiu o peito arder e a rorani do lobo nasceu. Meu pai me contou isso a
um tempo atrás. — Os olhos de Filipi brilham esperando por uma reação
animada minha, o que não acontece. — Sei que segundo a lenda o persanes
responsável pela nova era teria a marca do lobo, mas a lenda também fala
que o lobo deve ter uma companheira de alma humana.
— Está querendo dizer que eu e o seu pai somos companheiros de
alma? — questiono, forçando um sorriso desacreditado e cínico. Não posso
parecer esperançosa.
— Isso explicaria muita coisa, não acha? Tipo a sua fixação por ele.
— É só coincidência, Filipi, não pense muito sobre isso ou pode
acabar se perdendo como eu. — Coloco-me de pé, sem vontade de ouvir
mais nada. Quanto mais eu der ouvidos a ele, mais difícil será partir. — Eu
vou tomar o fermentado para a minha mão, muito obrigada, mas acho que é
melhor você ir agora.
— Você deveria ir à Red Town falar com ele! Não pode desistir
assim! — exclama, ficando irritado comigo, o que não faz o menor sentido
para mim.
— Foi você quem disse que o seu pai nunca iria gostar de mim como
amava a sua mãe. — Franzo a testa, confusa demais. — Então por que é
que eu deveria insistir em alguém que não gosta de mim? Que só está
ligado a mim por causa do cio? Além do que, eu sou banida daquele lugar,
quando mais nova tentei entrar algumas vezes para descobrir o que
persaneses faziam, e eles pegaram o número do meu documento e me
baniram.
— O leilão de humanas é ilegal, então ninguém vai pegar o seu
documento — explica e me deixa boquiaberta com o tipo de coisa que Filipi
está metido.
— Leilão ilegal?
— Eu sei que parece ruim, mas não é tanto assim. Você só vai
precisar se inscrever no site, olha aqui. — Tira o celular do bolso e para
provar que realmente estava procurando, a primeira coisa que aparece é o
site vermelho e preto da Red Town Club. — No site você lista as coisas que
está disposta a fazer e se você entrar como uma leiloada, ninguém poderá te
barrar e você ainda terá acesso à muito mais lugares da Red Town!
— Isso não é bom e eu não estou afim de me estressar mais com essa
história. Isso acabou, Filipi, agora vá embora, por favor. O seu pai não vai
gostar que esteve aqui. — Aponto para o corredor onde fica a saída do meu
apartamento, mas o maldito loiro continua sentado no meu sofá!
— Eu poderia te levar na Red Town, só que fui tentar fazer um
cadastro hoje e eles demoram demais para aprovar essas coisas, mesmo que
eu seja um Dark Elf.
— Eu não vou até esse lugar para falar com o seu pai! — digo
entredentes.
Por que eu iria atrás desse homem para continuar sendo rejeitada?
Não tem o menor sentido!
— Se você for até a casa dele, ele não vai querer te ouvir, mas se
encontrá-lo lá dentro por surpresa, meu pai não terá escolha!
— O seu pai não me quer nem pintada de ouro!
— Mas ele gosta de você! Só está com medo de te matar! — Filipi
exclama, ficando com o seu rosto todo vermelho.
— Como você pode saber que ele gosta de mim?! — Cruzo os braços
na frente do peito e solto o ar com força pelo nariz. Ele está me deixando
irritada com a sua insistência.
— Eu… estava com raiva naquele dia que encontrei vocês aqui no
apartamento cheirando a sexo porque… eu tinha… meio que… uma queda
por você. — O rosto todo de Filipi fica ainda mais corado, agora na cor de
um pimentão.
— Está falando sério? — Arregalo os meus olhos.
— Sim, achava que se você gostava do meu pai, em algum momento
fosse gostar de mim também, já que a nossa idade é parecida. Mas eu vi sim
nas expressões dele que ele… sentia algo diferente por você. Ele nunca
olhou daquele jeito para ninguém.
— É só o cio.
— E se não for? — pergunta e eu não sei o que responder. Não é justo
que ele venha aqui me encher de esperanças! — O motivo para ele querer
ficar longe de você é genuíno, Crystal. Está preocupado com a sua saúde e
eu estava na casa dele agora mais cedo e não o vejo triste daquele jeito a
muito tempo.
A minha garganta dói só de imaginar Vladimir ficando triste por eu
não estar ao seu lado.
— Chega disso, por favor. — Estou quase implorando para que se
cale e vá embora.
— Se inscreva como leiloada, arranje um disfarce e vá atrás dele. Eu
não estaria aqui se não quisesse a felicidade do meu pai. — Filipi comprimi
os lábios juntos e eu não consigo lhe dizer nada.

Juro que não sei o que é que estou fazendo dirigindo em direção ao
Red Town Club tarde da noite, porém, não estou pensando muito bem
agora. Talvez a quantidade de perfume fedido que coloquei no meu corpo
todo para esconder o meu cheiro esteja afetando o meu cérebro.
Do que adianta eu vir até aqui, se Vladimir nunca me deu uma real
esperança de que estava apaixonado por mim? Desde que voltei para essa
cidade ele está no cio e todo o seu comportamento tem sido pautado nessa
condição de persanes.
E mesmo assim coloquei uma lace rosa e lisa na minha cabeça,
escolhi um vestido dourado, colado e de alcinhas, que só tampa um palmo
abaixo da minha bunda e que tem um decote fundo nas costas, e estou quase
chegando à casa secreta. Os meus seios estão soltos e com os bicos
marcando no tecido e eu escolhi sandálias douradas também, para combinar
com tudo.
O fermentado que Filipi me deu fez um efeito quase instantâneo, mas
eu tive que confiar muito nele, tirando o meu gesso bem antes da hora e
percebendo como a minha mão estava perfeitamente no lugar, como se
nunca tivesse quebrado. Eu com certeza vou procurar mais do líquido meio
gosmento para usar futuramente.
O cadastro no site da Red Town Club realmente não foi difícil de ser
feito, essa espécie de boate que mistura casa de swing e Deus mais sabe o
que, está pegando mulheres humanas sem pedir documento e as colocando
para dentro para se prostituir. Eu queria poder me preocupar mais com isso,
se não estivesse com os dentes batendo de tanta ansiedade e sem saber
como as coisas vão acontecer a partir daqui.
— Calma, Crystal — sussurro para mim mesma após estacionar o
carro alugado e decido fingir toda a confiança que não sinto dentro de mim.
Vou entrar, olhar, conversar com Vladimir, mas a qualquer sinal de
falta de interesse dele ou de agressividade, corro de volta para casa e nunca
mais toco no assunto.
Que se foda esse velho chifrudo se ele não me quiser, posso até chorar
bastante, mas depois disso, sou capaz de me reerguer. Vou esquecer esses
oito anos como se nunca tivessem acontecido, irei juntar dinheiro com as
minhas consultas e voltar para França, de onde não deveria ter saído! Nem
que tenha que vender algumas peças de luxo que comprei quando não
deveria!
Eu tenho vinte e cinco anos, não preciso me condenar a nada agora. E
daí que o meu coração bate por ele como por nenhum outro? Que ele
aparece nos meus sonhos e que eu simplesmente não consigo arrancar o
carinho que sinto por Vladimir de dentro de mim? Em algum momento tudo
isso tem que passar.
— Você consegue — continuo falando sozinha e marcho pelo
estacionamento escuro até a recepção do Red Town Club, que é ainda mais
luxuoso do que eu esperava.
As pessoas do outro lado do balcão me encaram com expectativa
assim que passo pela porta dupla do que parece um hotel mega caro. Eu vou
balançando os meus quadris de um lado para o outro até me aproximar e
dou um pequeno sorriso para a recepcionista.
— Olá, boa noite, como posso ajudar a senhorita? — pergunta antes
que eu possa dizer qualquer coisa.
— Eu vim para o evento com humanas. Meu nome é Mariza Turner e
eu estou na lista — respondo, sem vergonha nenhuma na cara.
É claro que não conheço nenhuma das pessoas aqui, contudo, oito
anos atrás eu tentei entrar nesse lugar para descobrir o que é que os
persaneses tanto faziam aqui e acabei indo parar na lista de indesejados
deles.
— Pode me dar o seu documento, por favor, senhora Turner? —
questiona e o meu rosto todo se paralisa numa expressão séria.
Que porra?!
— O meu documento?
Eu tenho uma pequena bolsa em minhas mãos, onde está o meu
documento real e o celular caso eu precisasse de alguma coisa. Esse lugar
não é conhecido por ser seguro para humanos, só para persaneses.
— Sim, mas não se preocupe, iremos ver apenas a sua idade, não
queremos menores nas nossas dependências — explica e eu acabo soltando
uma risada de nervoso.
Sempre rio quando estou à beira de um colapso, o que é o caso agora,
após ter dado um tapa na cara da minha mãe mais cedo e descoberto que
uma boa parte da alta sociedade da cidade sabe muito mais do que eu
gostaria da minha vida amorosa.
— Agradeço o elogio se você acha que eu poderia me passar por uma
adolescente, mas eu tenho vinte e cinco anos — falo e a recepcionista dá
um sorriso educado de volta.
— Mesmo assim, é um procedimento padrão. Preciso ver o seu
documento para saber a sua idade, tudo bem se não tiver me passado o seu
nome real — insiste e eu procuro não deixar a minha respiração ficar
barulhenta, demonstrando assim o meu nível de ansiedade.
Faz oito anos desde que saí de Red Town, então talvez o sistema deles
não tenha guardado as minhas informações por tanto tempo. O maldito
funcionário que me expulsou e ligou para os meus pais nem está por aqui,
era um homem loiro que já devia ter uns sessenta anos naquela época.
— Aqui o documento. — Entrego, confiando que ela irá apenas olhar
o meu ano de nascimento e devolver o documento depois.
— Um segundo enquanto eu checo — pede e começa a digitar os
números em seu computador.
Essa desgraçada não disse que só veria a minha data de
nascimento?! Merda!
Eu passo pelo menos um minuto inteiro batendo o salto no chão e
esperando que ela termine a sua checagem, contudo, pela cara que a menina
faz, eu sei que a porra do Red Town guardou sim os meus dados. Esses
filhos da puta nunca esquecem quando banem alguém.
— Senhora… infelizmente eu encontrei um impedimento no meu
sistema ligado ao seu número de documento. Vou ter que pedir que se retire.
— O quê? — Arqueio as sobrancelhas fingindo surpresa e estou
pronta para tentar argumentar com essa recepcionista, mas antes que eu
possa dizer qualquer coisa, duas mãos grandes me pegam.
Olho para cima e percebo que o homem musculoso que antes estava
parado no canto é quem me pegou. O segurança brutamontes não me deixou
nem tentar!
— O que você está fazendo?! — berro, desesperada e esperneando, e
mesmo assim o cara começa a me arrastar com a sua força quase persanesa,
mesmo que seja um humano.
— O seu documento está bloqueado aqui, senhorita. — A
recepcionista que parece muito culpada se levanta de sua cadeira atrás do
balcão. — Infelizmente não existe a menor chance de você poder entrar
para o evento de hoje. Eu sinto muito.
— Isso é absurdo! — Eu continuo berrando conforme o homem de
terno me devolve para a rua escura e deserta. Ainda bem que não tem
ninguém mais aqui para ver a minha humilhação.
— Você é um código vermelho. Por favor, não cause problemas e vá
para casa após ser acompanhada até o seu carro.
— Eu tenho direito de estar aqui! Você sabe quem sou?! — exclamo,
puxando o meu vestido para baixo e tendo que apelar para uma carta que eu
normalmente mantenho dentro da manga. — Sou a filha do prefeito! Se não
me deixarem entrar, amanhã mesmo vão estar fechados! — Estufo o meu
peito e semicerro os meus olhos, mas o homem não dá a mínima para o que
sai da minha boca.
— A senhorita foi proibida de vir até aqui, nós temos ordens
expressas para não a deixar nem mesmo perto das dependências. É isso que
significa um código vermelho — repete e me faz quase espumar de tanta
raiva.
— Proibida por quem? — Uma voz masculina interfere de repente e
eu tenho que me concentrar bem para entender quem é esse persanes alto de
cabelos negros bem na minha frente.
Eu conheço essas mãos completamente pretas, que são as cicatrizes
que restaram do sequestro que ele sofreu na infância. Além de eu também
só conhecer um persanes que não tem nenhuma rorani no pescoço, que é a
parte mais visível do seu corpo nesse terno, além do rosto e das palmas.
— Klaus?! Graças a Deus! Diga a esse cara que ele está cometendo
um grande erro! — exclamo, ficando aliviada finalmente.
Capítulo 24

Klaus é sobrinho de Vladimir, nós conversamos algumas vezes e


também nos esbarramos em algumas festas da alta sociedade antes de eu
sair do país, e ele sempre me pareceu ser o Dark Elf mais rebelde e que
mais tentou me ajudar em qualquer ideia maluca que eu tivesse para
encontrar Vladimir.
— Essa senhorita já causou problemas no clube, senhor, nós temos
ordens de não a deixar entrar. — O segurança idiota insiste, contudo, Klaus
tira a máscara preta com detalhes dourados que cobre o seu rosto, revelando
a sua identidade, que deve ser extremamente conhecida por toda essa
cidade. Afinal de contas, todo Dark Elf é como uma Kardashian, só que
com rabo e chifres.
— Deixe-a passar, Crystal está sob os meus cuidados. — Klaus se
coloca ao meu lado e me pega pelo braço, me protegendo sem nem entender
o que está acontecendo, então eu só me grudo bem nele, para ter certeza de
que não serei arrancada daqui sem antes terminar o meu maldito plano.
O Dark Elf começa a andar sem dizer mais nada e eu vou ao seu lado,
quase tremendo de tanta ansiedade depois dessa entrada estranha nesse
clube.
— Obrigada — sussurro, sabendo que só Klaus consegue me ouvir
com a sua super audição.
— Senhor, eu… não sei se posso fazer isso. — O segurança vem atrás
de nós e acha mesmo que irá conseguir parar o homem ao meu lado.
— Karina, venha! — Klaus chama de repente e eu demoro a entender
que ele já tem uma acompanhante, uma mulher humana deslumbrante e que
vem atrás de nós também. — Dê uma pulseira amarela a ela — o persanes
ordena, se referindo a mim num tom que não dá espaço algum para a
recepcionista discordar.
Enquanto isso ele me passa a sua máscara, que eu coloco rapidamente
no meu rosto. Eu pretendia arranjar uma dessas lá dentro, pois não tive
tempo de achar nenhuma, mas graças a Deus parece que eu tenho um anjo
da guarda com chifres hoje.
— O senhor terá duas convidadas hoje, então? — a funcionária
pergunta e eu ajeito o melhor que consigo a máscara que tem uma fita de
cetim para amarrar.
Vladimir reconheceria o formato do meu corpo, mas como não
pretendo chegar próxima a ele até ter certeza do que quero, o perfume
fedido, a peruca e agora a máscara vão fazer o meu plano mequetrefe
funcionar.
Fico me perguntando até se a acalasia acabou mesmo com o meu cio,
porque eu devo estar ficando louca.
— Sim — confirma e recebo uma pulseira fina no braço, como
quando se vai para a balada na área VIP, e somos encaminhados para um
corredor escuro, vazio e um tanto quanto claustrofóbico.
— Só não faça muita merda — Klaus diz atrás de mim com a sua
acompanhante, enquanto eu tento não surtar e desistir de tudo.
— Você sabe que não vou. — Acabo gargalhando de nervoso,
sentindo o meu corpo todo se arrepiar, olho para trás para reparar mais na
mulher que Klaus trouxe, ela está linda num vestido branco de tirar o
fôlego. — Você é a companheira temporária de Klaus que todos estão
falando por aí?
Como médica eu já escutaria fofocas de qualquer jeito, agora, como
curandeira, que é assim que as minhas clientes têm me chamado, eu escuto
mais ainda. E todas elas têm falado feito loucas de Klaus e sua companheira
humana, eu só não esperava encontrá-los tão cedo.
— Sim, essa é a minha Karina, e, Karina, essa é a stalker número um
do meu tio Vladimir. Ela o segue desde a adolescência.
O jeito descontraído como fala me obriga a dar uma pequena risada,
dessa vez mais sincera.
— Eu não sou stalker. — Nego com a cabeça e continuo andando no
corredor que parece não acabar nunca.
— Então o que é que veio fazer aqui hoje? — pergunta ao chegarmos
finalmente numa porta trancada, por onde o som de música alta vaza.
— O mesmo que vocês, me divertir — minto e dou dois toques na
máscara preta emprestada.
Eu queria conseguir jogar conversa fora com o persanes rebelde e a
sua nova companheira, saber mais como estão as coisas, no entanto, tenho
medo de que ao contar para Klaus tudo o que aconteceu, ele note que
Vladimir não gosta de mim e acabe me desencorajando. Além de ter
vergonha também.
Ninguém quer admitir que está correndo atrás de alguém que só sabe
fugir. Por isso eu abro logo a bendita a porta para sair desse lugar apertado
demais para o meu gosto.
— Com essa quantidade de perfume fedorento que está usando, vai
ser difícil te reconhecer, então boa sorte — o persanes fala e a única coisa
que consigo fazer antes de sair correndo para começar logo a minha busca,
é dar de ombros.

Vladimir
— Você é o senador, não é? — Acho que é a quinta vez que escuto
essa pergunta. — Aquele que vive passando na televisão ao lado dos
humanos? Vladimir Dark Elf, certo?
A fêmea persanesa que me pergunta isso tem me observado desde que
cheguei aqui. Ela usa uma máscara cor de rosa em seu rosto, mas isso não
esconde a sua identidade de mim, se eu quisesse saber quem ela é mesmo,
Faun, uma velha amiga e co-fundadora da Red Town, me diria.
— É — respondo, balançando o meu copo de água e bebendo o que
restou. Continuo me mantendo longe do vinho persanes, não quero piorar o
meu caso atual.
O meu pau e as bolas só ficam mais doloridos a cada segundo e a
cada poucos minutos eu vou no banheiro me aliviar, esfregando uma
calcinha usada de Crystal no meu nariz feito um maldito pervertido. Me
sinto tão mal de fazer isso, que é como se a lingerie até queimasse em meu
bolso agora.
— Como é ter que falar com tantos humanos? Aposto que bem
irritante, eles são todos pequenos e… tão estranhos. — A fêmea se esforça
em tentar encontrar algum assunto que me agrade, assim como todas as
outras nessa espécie de área reservada no canto do salão gigante onde em
pouco tempo acontecerá um leilão de humanas.
— Humanos são… toleráveis — murmuro e limpo a minha garganta
com um pigarro, sem conseguir focar no rosto da fêmea. — Alguns são…
interessantes.
Nada para mim nesse lugar tem foco, as luzes neon saindo por todo
canto, o cheiro forte de perfume fedorento que todos usam para se disfarçar.
Estou a ponto de sair correndo daqui e aceitar o meu destino cruel, mas
então eu lembro que nunca mais veria o meu filho, os meus sobrinhos ou
até mesmo Crystal, mesmo que de longe, e permaneço.
Assim que o meu cio se for, os meus sentimentos por aquela médica
devem passar, essa saudade e esse fogo que queimam em meu peito
também, mas com certeza o carinho deve restar e eu espero muito que a
carreira daquela menina cresça.
— É, mas se você quer ter um filhote forte de verdade, não pode ser
com uma humana — resmunga, aparentemente sem gostar da minha
relutância em falar mal de humanos.
— Noar, que tal você me dar alguns minutos para falar com o nosso
senador Dark Elf? — Uma voz conhecida pergunta de repente e eu sei que
Faun chegou até mim.
— Achei que ele quisesse uma cuidadora de cio. — A fêmea que eu
descubro agora se chamar Noar balança o rabo com força, não gostando de
ser interrompida.
— Ele quer, mas agora preciso conversar com o meu cliente. Vá até o
quarto oito em meia hora e o senador estará lá te esperando. — A mulher
consegue arrancar a persanesa jovem que estava tentando puxar assunto
comigo em segundos e eu respiro aliviado enquanto encosto o meu corpo
numa parede preta.
— Não está falando sério sobre eu ter algo com aquela tal de Noar,
está?
— Se você continuar enrolando para escolher uma, sim, eu falei sério.
Não quero que saia por aí falando mal do meu catálogo de cuidadoras de
cio só porque não consegue se dar bem com nenhuma. — A minha velha
amiga provoca, sabendo muito bem que eu nunca faria isso.
— Eu já falei com a maioria delas. — Cruzo os braços na frente do
peito.
— Mas já encontrou alguém que gostasse, Vladimir? —
Diferentemente das outras persanesas aqui, Noar já está mais velha,
beirando os setenta anos provavelmente, e não precisa se vender, por isso a
sua cauda está bem longe dos meus braços e pernas e ela consegue falar
mais seriamente comigo.
— Ainda não. Estou… estudando as minhas possibilidades — minto,
já que não tenho conseguido focar nem no rosto dessas fêmeas, de tanto que
Crystal invadiu os meus pensamentos.
— Nem que tolerasse? — pergunta e eu fecho os olhos, massageando
as minhas têmporas, e faço que não com a cabeça. — Eu tinha um tio que
ficou cego por causa de cio tardio, sabia? A companheira dele morreu, ele
não quis tomar nenhuma outra e se negligenciou tanto que ficou
permanentemente sem enxergar.
Eu não sei nem o que responder para Faun, que tenho visto cada vez
menos por conta do meu cargo.
— As garotas daqui são ótimas, mas… — Dou de ombros, sem saber
o que mais mentir.
— Mas elas não são a humaninha que você andou de caso —
completa para mim e eu lhe lanço um olhar furioso. — Só sendo muito tolo
para achar que ninguém descobriria sobre vocês dois juntos. Eu sei que na
cidade nós não somos tão ligados, mas nós persaneses ainda somos como
um grande bando, e todo mundo sabe de tudo.
— Não tenho mais nada com ela agora, foi só uma coisa de cio.
O meu cérebro faz o favor de me mostrar a imagem da minha Crystal
com a mão quebrada por minha culpa, os seus olhos castanhos se
arregalando de susto e dor.
Essa memória irá me assombrar para sempre.
— Uma coisa de cio… — ecoa as minhas palavras, como se as
estudasse. — A garota dos Parker te segue desde a adolescência e agora
virou médica especializada em persaneses só para poder atender esse pobre
senador de cabelos brancos, e você me diz que é uma coisa de cio. Quantos
anos esse seu cio está durando para atrair ela assim com os seus
feromônios? — A velha fala maliciosamente e eu rosno baixo para ela.
— Não atraí aquela menina com os meus feromônios! Ela quem
grudou em mim sozinha logo após a morte de Ellona! — Arregalo os meus
olhos, chocado que Faun tenha tantas opiniões sobre um assunto que nunca
conversamos sobre antes.
— O corpo dos machos é feito para encontrar a fêmea certa e atraí-la,
mesmo que o macho seja um cabeça dura. — Dá de ombros e faz o meu
rabo bater com força atrás de mim. — Sabe de uma coisa? Eu vou escolher
por você!
— O quê?! — Franzo a testa.
— Vá para o quarto que o meu assistente vai te mostrar e espere lá,
em dez minutos eu vou te encontrar a melhor fêmea daqui e hoje mesmo
vocês fazem um filhote! — Ela sacode a cabeça, concordando consigo
mesma e usando a sua autoridade de anciã contra mim, e eu não recebo
nenhuma chance de protestar.
— Não quero aquela Noar, ela é… antipática demais. — Faço uma
careta.
— Como se isso importasse na hora de fazer um filhote. — Faun
revira os olhos. — E não, eu só falei aquilo para tirá-la daqui. Vou mandar
outro macho para o quarto dela e você fica esperando enquanto eu te acho a
fêmea certa.

Crystal
O casarão é ainda maior do que eu previa e com lugares escuros
demais, e eu não tenho nem como usar o meu celular, já que esse lugar
barra todo e qualquer sinal.
A maior parte dos cômodos é como algum tipo de boate clandestina,
tem mulheres humanas fazendo striptease e homens humanos também, mas
não vejo persanesas em canto algum.
Filipi me explicou que as persanesas costumam frequentar como
clientes, porém, não muito como mercadoria, já que a maioria tem dinheiro
e não quer entrar no cio.
Por mais que elas tenham acesso a aborto com facilidade, não é uma
prática que agrada ninguém e é sempre evitada.
— Quer uma bebida? — Um garçom bonitão me oferece e eu faço
que não com a cabeça, desviando de seu grande corpo.
Não quero falar com ninguém e nem beber nada, a minha missão aqui
é rápida e objetiva, prezando o máximo que puder pela minha segurança.
Quero encontrar e observar Vladimir de longe, sem que saiba da minha
presença, só para ver o que faz, e quem sabe conversar com ele sobre a
nossa situação.
Será que irá se atirar em alguma cuidadora de cio pensando apenas
com os seus desejos carnais, que devem estar gigantes agora, ou realmente
se afeiçoou a mim?
Não é impossível que o cabeça dura do Vladimir escondesse os seus
sentimentos por mim, mas ao mesmo tempo… a minha mãe não estava de
toda errada hoje mais cedo. Mesmo que eu goste de fantasiar que ele tenha
me dito uma vez que me mandar para Paris foi pela minha própria
segurança, talvez tenha sido tudo pela sua imagem na mídia. Deve ter sido a
forma mais pomposa que ele encontrou de se livrar de alguém que tinha
nojo.
— Merda… — xingo baixo e contenho a dor na minha garganta,
enquanto continuo sem achar o persanes moreno, forte, com cabelos
brancos espalhados por sua cabeça e com os chifres bem grossos.
— Está aqui para o leilão, humana? — Um persanes fala, deduzindo
que vim para o leilão porque sou uma mulher com um vestido mega curto e
que não está engajando em nenhuma “atividade” desse lugar. O tanto de
pessoas transando que encontrei pelos cantos aqui não é brincadeira. — Se
sim, deve entrar ali para depois subir naquele palco alto, onde todos
conseguem te ver.
Como eu já busquei em todos os lugares e não encontrei Vladimir, a
vozinha sem noção dentro da minha cabeça me convence que um palco alto
com certeza irá facilitar as coisas, porque se todos conseguem me ver, eu
também consigo ver todos, certo?
— Devo entrar onde? — pergunto só para ter certeza, querendo me
bater pelas chances que isso tem de dar errado, e logo sou guiada para uma
fila mal iluminada de humanas em silêncio.
Pelo pouco que consigo ver, todas elas se vestem com roupas curtas e
parecem ansiosas, e uma a uma elas desaparecem atrás de uma cortina
preta, para depois serem anunciadas. Algumas são gordas e baixas, outras
magras e altas, mas em geral tem para todo gosto.
O leilão é exatamente o que o nome diz, mulheres humanas sendo
vendidas feito mercadorias para os frequentadores da Red Town Club,
sejam eles humanos ou persaneses. Mas para falar a verdade, essa coisa de
leilão não me deixa muito ansiosa. Estou mais nervosa para encontrar com
Vladimir do que qualquer outra coisa.
Sei muito bem como me livrar de um persanes e escondi um potinho
de horliça com erva de gato dentro da calcinha, a mesma mistura que usei
em Vladimir semanas atrás. Se algo der muito errado, é só jogar isso perto
do persanes que ele será atraído pela erva de gato e apaga em segundos por
conta da horliça. E se for humano, é só chutar o saco.
— Você é a próxima. — Alguém fala do outro lado da cortina e me
puxa para uma sala ainda mais escura, onde eu subo alguns degraus quase
caindo para trás a cada passo. — Qual o nome que usou na inscrição do
site? — sussurra.
— Mariza Turner — respondo baixo para a voz de quem eu não faço
a mínima ideia de quem seja, mas que pelo leve sotaque diferente no z, eu
sei que é um persanes.
— Tudo bem, fique aqui e quando ele disser o seu nome, vá em frente
e entre no palco — a voz avisa e eu sacudo a cabeça, sabendo que consegue
me ver.
Depois de quase um minuto, isso segundo a minha contagem mental,
sou empurrada por mais uma cortina pesada e milagrosamente paro em
cima do tal palco.
As luzes aqui são muito fortes e conseguem me deixar ainda mais
cega do que a escuridão, o que é uma grande merda. Lá se foi a porra do
meu plano sobre encontrar Vladimir daqui de cima!
— Essa aqui é a senhorita Mariza Turner, que como vocês podem ver
é completamente humana e com um par de coxas que poderiam matar um
macho! — O apresentador fala no microfone e só então o meu corpo parece
entender mesmo no que eu me meti.
Estou tão fodida!
Capítulo 25

— Você disse que aceitava fazer tudo aqui dentro da Red Town,
certo? Foi o que o leiloeiro falou, não foi? — O persanes que parece ter uns
setenta anos pergunta e eu sacudo a cabeça positivamente, ainda usando a
máscara que Klaus me deu e rezando a minha terceira ave maria mental.
Para falar a verdade, ele deve ter uns oitenta anos, mas persaneses
costumam parecer mais jovens e diferentemente dos humanos, mantém a
sua “virilidade” intacta também por muito mais tempo, o que não é algo
bom de se lembrar agora.
Com alguns lances esse velho careca com dois chifres na cabeça e
que olha pra mim como se eu fosse um bife mal passado, me comprou do
leilão e me trouxe exatamente para onde eu queria vir: para uma ala só de
quartos, no lugar onde Vladimir deve ter que vir, caso encontre uma fêmea
que lhe interesse.
Foi por isso que coloquei no site que aceitava fazer tudo aqui dentro
desde que fosse dentro do Red Town Club, assim ganhava mais acesso para
procurar. Eu só não esperava que fosse mesmo ter que apelar para essa parte
do plano.
O problema é que eu devia estar tão eufórica com o tal fermentado
que Filipi me deu para tomar e que curou a minha mão, que não pensei nem
um pouco nos desdobramentos que tudo isso tomaria. Essa é a única
explicação para o meu plano ser tão ruim.
— Bom, nós já estamos no quarto e eu paguei caro por você, então
pare de me olhar como se eu fosse um monstro e tire a máscara para eu
avaliar de verdade o que comprei — ordena e eu me seguro para não
começar a tremer bem no meio do que parece o cômodo de um motel caro,
com uma cama de casal em formato de coração gigante, um monte de velas
acesas e uma hidromassagem redonda no canto.
— Prefiro manter a máscara — balbucio, querendo achar a força
interior necessária para lidar com essa situação perigosa.
Eu poderia muito bem ser estuprada aqui em segundos e ninguém
saberia, porque o que acontece na Red Town Club, fica na Red Town Club.
— Tire a peruca então, não é possível que tenha pintado o cabelo de
rosa! Vocês humanos são estranhos demais! — reclama com uma careta de
nojo. — E espero que você tenha todos os dentes na boca, senão vou te
devolver! — ameaça, me tratando feito um cavalo que acabou de comprar, e
com o seu rabo agora já todo branco batendo com força.
Eu arregalo os meus olhos, porque o velho de terno vem na minha
direção com a mão esticada querendo pegar a máscara e eu dou um grande
pulo para trás.
Esse infeliz é grande demais, não vai ser fácil de derrubar! Não
poderia ter sido comprada por algum humano sem força?!
— O senhor se importa se e-eu der uma pequena saída? — gaguejo,
tentando soar o mais sedutora possível, contudo, acabo parecendo só uma
presa assustada, o que também não é nada mal. Persaneses adoram brincar
de gato e rato.
— Uma pequena saída para onde? — Arqueia uma sobrancelha
grossa e desconfiada.
— Eu deixei guardado numa sala aqui perto, uma roupa especial para
usar só com você. Ela está com menos perfume e com certeza será mais
prazeroso — minto e cruzo os dedos escondidos nas minhas costas para que
esse truque dê certo.
Preciso dar o fora desse quarto o quanto antes e achar algum canto
aqui que tenha sinal para usar o meu celular escondido na bolsa pequena em
minhas mãos. Vou tentar ligar para Klaus e Filipi para conseguir reforços.
— Realmente, o seu perfume está deixando o meu nariz até dolorido.
— Passa as mãos no nariz e lambe o lábio inferior com a sua língua longa
que me dá calafrios, muito diferente da de Vladimir. — Não entendo por
que vocês humanos usam essa porcaria.
— Então eu já volto! É rapidinho, prometo! — falo isso já correndo
em direção à porta com os meus saltos querendo me atrapalhar, mas me
equilibro bem antes que o macho me pegue e não me deixe sair. — Fique
bem aqui! — exclamo, querendo parecer ansiosa de um jeito bom e antes
que ele possa dizer qualquer coisa, eu já saí em debandada para o corredor
escuro, onde finalmente consigo respirar aliviada.
Olho de um lado para o outro e tenho vontade de me bater por
realmente não ter pensado direito.
— Eu não posso bater de porta em porta — resmungo e decido subir
as escadas para o andar superior, antes que o cara que me comprou decida
sair do quarto e me arraste de volta para fazer Deus sabe o que comigo.
Pense, Crystal.
Se eu não vi Vladimir por nenhum lugar naquele salão onde estava
acontecendo o leilão, mesmo quando desci do palco e as luzes já não me
cegaram, ele só pode estar aqui. Ou em qualquer outro lugar nessa porra de
lugar gigante e sem mapa na internet!
— Merda… — xingo baixinho e mordo o lábio inferior ao quase
torcer o pé de tanta afobação andando pelo carpete desse lugar e me
esforçando para prestar atenção.
Só que todas as porras desses corredores são escuros e exatamente
iguais para mim! E mesmo que eu consiga escutar pessoas dentro dos
cômodos gemendo e gritando, fora deles não tem ninguém!
Nem que eu quisesse fingir a moça educada e perdida eu conseguiria!
Suor começa a descer pela minha nuca e respirar fica até difícil,
porque quanto mais eu rodo feito uma barata tonta nesse labirinto, mais eu
me lembro do maldito velho que já deve ter desconfiado de que não irei
voltar.
E ele, diferentemente de mim que estou perdida aqui, com certeza
sabe onde pedir para que alguém acesse as câmeras desse lugar e me
encontre.
E se eu não conseguir derrubá-lo com a horliça da minha calcinha?
E se me pegarem e…
— Crystal? É você, não é? — Uma voz feminina séria para os meus
pensamentos que estão quase me levando à beira de um colapso e me
obrigam a focar no agora.
— N-não, meu nome não é Crystal — respondo para a persanesa que
está no final do corredor e que vem caminhando até mim.
É o melhor que posso fazer agora: negar. Porque não é possível que
tenha me reconhecido com a porra de uma máscara e uma peruca!
— Recebi um alerta da segurança sobre a sua presença, já que você é
um código vermelho e poderia dar trabalho — explica e eu olho para os
lados, considerando para onde devo fugir. E se essa for uma amiga do cara
que me comprou? Porra, estou fodida! — Quando eu soube que Vladimir
viria para a Red Town, tinha certeza que te encontraria atrás dele. Você é
como um carrapato, menina!
— Vladimir? — sussurro, arqueando as minhas duas sobrancelhas e
paralisando no lugar. Ok, acho melhor eu não negar e tentar entender o que
está rolando. — Você me conhece mesmo?
— Sou Faun, velha amiga de Vladimir e sim, eu conheço você, e você
me conhece — revela, mas eu realmente não me lembro dessa persanesa de
cabelos, olhos, chifres e cauda negras. — Te acompanhei de perto quando
ainda era uma pirralha e depois que voltou de Paris, as notícias sobre você
estar dentro da casa do macho que sempre perseguiu viajaram rápido —
explica e eu franzo a testa.
Essa tal de Faun realmente sabe quem sou, mesmo que eu não me
lembre de sua voz rouca ou do seu jeito lento de andar. Ela para na minha
frente e é muito mais alta do que eu, assim como a maioria das persanesas,
e me avalia dos pés à cabeça de um jeito que faz a minha pele pinicar.
Tem algo nos olhos experientes dessa fêmea que me deixam sentindo
estranha, inquieta. Talvez seja porque ela sabe quem eu sou e claramente
tenha autoridade aqui, enquanto eu tenho só um velho estranho me
esperando e a porra de um coração partido.
— Você sabe onde Vladimir está? — Me arrisco a perguntar.
— É no quarto no final desse corredor, venha comigo — oferece e eu
me pergunto se devo mesmo segui-la. Pode ser algum tipo de armadilha
estranha do destino. — Pode confiar em mim.
— P-por quê? — gaguejo, ficando parada no lugar, enquanto ela
passa por mim num caminhar calmo e certeiro, com o seu longo rabo
flutuando feito o de um gato. Persaneses são realmente seres incríveis.
— Você entrou aqui atrás dele, não entrou? — pergunta, sem se dar
ao trabalho de olhar para mim. — Se sim, venha comigo. Se não, vou te
levar para fora do clube, Vladimir não gostaria de tê-la aqui dentro se estão
juntos.
— Não estamos juntos — corrijo e acabo tendo que dar passos
rápidos atrás dela. Não posso correr o risco de encontrar com aquele
homem.
— Machos persaneses não são muito difíceis, você sabia? Vladimir
mesmo é muito fácil de ler, mesmo que ele goste de brincar de senador por
aí e adore complicar as coisas básicas.
— O que quer dizer com isso? — pergunto, agora caminhando ao seu
lado enquanto chegamos no final do corredor que se parece exatamente com
o outro que estive agora há pouco.
— Se ele te fode, é porque te quer, e se ele te quer, vai querer pra
sempre. Ficam viciados no cheiro da fêmea que mais o agrada e fim de
papo, o cio faz o resto. Dificilmente eles fogem disso, mesmo que existam
algumas exceções, claro — explica com muita praticidade, mas não sei se
dá para acreditar que seja exatamente assim.
— Agora pegue isto. — Tira o casaco grande que veste, mesmo que
não esteja calor aqui, ou talvez seja só eu quase derretendo de tanto
nervoso. — Leve esse meu casaco de peles para ele não ver a sua silhueta
logo de cara e diga que fui eu, Faun Thunder quem te mandou, e mantenha
a máscara e a peruca por quanto tempo quiser.
— Se eu aparecer assim, ele vai me reconhecer. — Nego com a
cabeça, parada na frente da última porta do corredor e o meu coração parece
que vai sair pela minha boca.
— No estado atual, esse homem não reconheceria nem o próprio
filhote, ainda mais com o tanto de perfume que você passou — sussurra,
mexendo o nariz para me cheirar. — Agora vá, Vladimir precisa de uma
fêmea e você esperou todo esse tempo por isso, não foi? Para ser dele?
Sacudo a cabeça sem conseguir responder com palavras, porque
parece mesmo que esperei a minha vida toda.
— Faça um filhote e depois é só continuar mantendo-o no cio. —
Faun pisca para mim e me deixa chocada. É assim que ela quer que eu
consiga Vladimir?! — Entre logo — manda e abre a porta, já que eu não o
faço, e depois me empurra para dentro, onde entro tropeçando e logo sou
presa por um par de olhos castanhos mel do macho mais do que conhecido.
— Humana? — O senador pergunta e o meu lábio inferior treme,
enquanto Faun puxa a porta atrás de mim para fechá-la. Agora sou só eu e
Vladimir aqui. — Eu quero uma persanesa, não uma humana fraca. —
Franze a testa e eu demoro talvez um minuto inteiro para conseguir
formular qualquer coisa para dizer.
Vladimir veste um terno escuro e completo e está sentado na beirada
de uma cama grande de casal, dessa vez não de coração, só uma cama
retangular mesmo, mas aqui também tem muitos móveis de madeira que
parecem antigos e uma aura de motel chique, como o quarto que estive
anteriormente.
— F-faun me mandou, disse que eu agradaria o senhor — engrosso a
minha voz para disfarçar, o que fica bem estranho, contudo, Vladimir não
parece desconfiar de nada.
As veias de seu pescoço estão saltadas, o que dá um efeito diferente
nas roranis que parecem trepadeiras, e o macho está claramente cansado, até
com olheiras debaixo de seus olhos.
Tem dois botões de sua camisa branca abertos, com os pelos de seu
peito à mostra, como se estivesse com calor, e isso me deixa hipnotizada.
Devo mesmo ter perdido a noção de tudo! Esse cara quebrou a minha
mão e me chutou de sua vida, e mesmo assim estou aqui, quase babando!
Ele passa as mãos no seu rosto como sei que faz quando está com dor
de cabeça e solta um suspiro longo e cansado.
— Quantos anos você tem? — Mesmo a voz de Vladimir delata o
quanto está cansado.
— Trinta e três — minto mais uma vez, ainda engrossando a voz, e
sinto a sua frase como um cutucão em meu peito.
— É um pouco próxima a minha, pelo menos isso. Venha até aqui,
por favor — pede e eu fico trêmula de tanto medo.
As chances dele me reconhecer são gigantes e eu nem sei direito o
que vim fazer aqui! Engravidar de um filhote só para tê-lo preso a mim que
não é!
— Pode vir, estou controlado por agora — ordena e eu não tenho
escolha além de me aproximar, apertando bem o casaco de peles escuras
contra o meu corpo.
Ele lambe o lábio inferior quando paro a alguns passos dele, como
persaneses fazem para “sentir o gosto dos cheiros”, que é uma habilidade
bem diferente que eles têm, mas franze a testa.
— Você cheira a Faun e passou um perfume muito forte, não consigo
nem me concentrar.
— Incomodo o senhor? — Procuro tentar encontrar os meus olhos
com o seu, agora um pouco entristecida que não me reconheça, o que não
faz sentido algum. Só que Vladimir encara as próprias mãos, como se
estivesse com vergonha.
— Não, é só que… estou até com dificuldade de respirar e me
concentrar, mas não é culpa sua. Esse maldito cio está me cegando, então
espero que você saiba que tudo que acontecerá nesse quarto hoje é para
produzir um filhote, e eu posso machucar você sem querer.
— Ela explicou, senhor — cochicho, derrapando na minha nova voz,
já que o que me diz me dá ânsia de vômito.
Se eu não tivesse dado o meu jeito de entrar no Red Town Club,
Vladimir estaria com outra agora, fazendo um filhote com qualquer fêmea
que aparecesse na sua frente. Isso me faz querer correr daqui.
Esse com certeza não é o meu lugar.
— Tem problema se eu for mais duro? Porque não sei se vou
conseguir me conter mesmo e quero ter certeza de que você sabe de tudo.
Essa daqui é só uma transação comercial e o que Faun te falou será
cumprido. Assim que as roranis nascerem em nossos pulsos, você irá
abortar — decreta, sem espaço para negociação.
— Pode ser duro — agora já estou praticamente choramingando.
Eu não quero conhecer esse Vladimir, é assustador.
— Posso te chamar de outro nome, então? — pergunta, agora ainda
mais constrangido. — Eu só… preciso me sentir confortável, mas se não
der certo, vamos chamar uma persanesa. Eu machuquei uma humana… e…
não sei se sou confiável. — Passa mais uma vez as mãos no rosto.
Fecho os meus olhos e a minha garganta aperta, porque sei o nome
que ele vai dizer. Sei que vai chamar a sua esposa morta e não estou pronta
para passar por essa humilhação depois da merda do anel e de ter corrido
todo esse perigo.
Acho que vou começar a chorar a qualquer momento.
— Posso usar o outro nome? — questiona mais uma vez e eu não
tenho escolha, só balanço a cabeça positivamente. — Então venha aqui,
minha Crystal.
O meu rosto todo se paralisa na hora e as lágrimas brotam sem que eu
possa contê-las.
Capítulo 26

Ele quer dizer o meu nome, não o de Ellona, que foi a sua
companheira por muito tempo. Agora é finalmente o meu nome que ele
quer, depois de oito anos, e mesmo assim… não consigo me sentir feliz,
porque essa situação é uma completa bagunça.
— Vamos tentar fazer isso — fala e eu tomo coragem de me
aproximar, ficando até com dificuldade de respirar com o cheiro de
Vladimir me atraindo. Sei que são os feromônios do cio, mas mesmo antes
disso, quando eu tinha dezessete anos, eu já amava esse cheiro. Ele sempre
me tentou e eu nunca entendi como isso aconteceu tão rápido. — A-a minha
visão está falhando agora mesmo. — Fecha os olhos rapidamente e contrai
o rosto.
— Está com dor? — pergunto e ele faz que sim com a cabeça, então
decido acariciar o seu rosto, mas o persanes se afasta na hora, como se os
meus dedos queimassem a sua pele corada.
— Só… não me toque — pede e de repente se coloca de pé, o que me
faz afastar sem saber o que pretende fazer. O que aconteceu com esse
macho desde a última vez que nos vimos? — Fique de costas para mim na
cama e não me toque. Não é algo pessoal, é só que acho que vou acabar
vomitando se… ver o rosto de outra pessoa agora.
— Por que eu não sou a Crystal? — sussurro, com a minha voz mal
querendo sair, e Vladimir responde com um aceno positivo de sua cabeça.
— Está ficando pior, o quarto todo está borrado. Preciso me sentar,
tudo está rodando — grunhe e volta para a cama, onde senta na beirada
encolhido e tremendo, feito um filhote assustado.
O meu coração dói em vê-lo assim, então tento de novo tocar o seu
rosto e dessa vez ele me empurra com mais força, o que me deixa em alerta.
— Me-me desculpe. — Respira rápido, como se estivesse no meio de
um ataque de pânico. É a primeira vez que o vejo assim, acuado e perdido.
— Eu acho que não vou conseguir.
— Como assim? — Franzo a testa por baixo da máscara preta com
detalhes dourados que só deixa minha boca de fora.
— Vou pagar você de qualquer forma, mas… por mais que eu esteja
com muita dor agora, não consigo me imaginar tocando outra mulher, que
não a minha fêmea. — Nega com a cabeça rápido. — Só vá embora,
humana, e me deixe sozinho — manda, contudo, não tenho coragem de sair
do lugar. — Se encontrar com Faun diga… para não mandar ninguém aqui.
— Mas você está passando mal — argumento e dou um passo em sua
direção.
— Saia daqui logo! Não vai conseguir nada comigo. — Fica bravo,
praticamente rosnando as palavras enquanto o seu rabo bate com força atrás
de seu corpo.
— Me toque, Vladimir, estou aqui. — Dou mais um passo para ficar
bem na sua frente e pego a sua grande mão nas minhas, fazendo carinho
com os meus dedos. — Não quero que você passe mal.
Mesmo que a minha boca esteja amarga em ver o homem por quem
estou apaixonada tentar arranjar uma cuidadora de cio, ainda assim não
quero torturá-lo.
— E-eu não posso, eu… — A sua frase para no meio, conforme o
toco mais, espalhando o meu calor por sua palma gelada e trêmula. — A
sua mão é igual a dela, tem a mesma temperatura. — Uma ruga aparece
entre as suas sobrancelhas e os olhos dele começam a brilhar laranja. —
Como?! Como você consegue ser como ela? — pergunta, esticando a mão
livre para pegar a máscara no meu rosto e puxá-la para baixo com pressa.
— Crystal?! — exclama, terminando de arrancar a máscara de mim. — A
minha visão está borrada, mas… é você, não é?
— Sim — sussurro e mordo o meu lábio inferior, querendo conter a
minha vontade de chorar, conforme o barulho do ronronado de Vladimir
começar instantaneamente, e dessa vez mais alto do que nunca.
— Você veio até aqui? Como entrou nesse lugar horrível? — Então
algo ainda mais diferente acontece, algo que eu nunca acreditei que pudesse
ser capaz. Os olhos brilhantes dele se enchem de lágrimas, como se
estivesse prestes a chorar também. — Senti tanto a sua falta, menina —
grunhe sem esperar a minha resposta enquanto me agarra para si, sem me
dar escolha.
Coloca-me em seu colo, me esmagando com força nos seus braços
grossos. Enquanto invade a minha boca sem gentileza alguma. O beijo de
Vladimir é cheio de sofreguidão e exigência, ele quer tudo de mim, cada
respiração. A sua longa língua faz a minha obedecer, se enfiando tanto
quanto consegue em mim e quase me engasgando.
Eu tento não retribuir, não me abrir mais, até me debato em seu colo
para que não faça isso porque não é certo, eu deveria nunca mais ver esse
macho em toda a minha vida, contudo, o homem passa as suas mãos
descontroladamente pelo meu corpo e eu não sei dizer não a ele agora.
Vladimir aperta as minhas coxas com as suas grandes palmas,
deslizando pela minha pele arrepiada com força, aperta a minha barriga e os
meus seios soltos dentro do vestido dourado, belisca os meus mamilos
sensíveis, e eu não consigo conter os gemidos desesperados, enquanto a
minha bunda esmaga a sua ereção gigante.
O persanes me fode só de estar em seu colo, me segurando com força,
me prendendo aos seus braços enquanto fico excitada pra caralho e me
deixa toda molhada com a porra de um beijo.
— Crystal — sussurra ao parar e me deixar respirar. Estou sentada de
lado em seu colo, tão submissa a ele que deveria estar com ódio, e ele pega
o meu rosto entre os seus dedos longos. — A minha visão melhorou agora
que você chegou. Consigo até enxergar o seu rosto — revela enquanto os
seus olhos quase engolem as minhas feições e eu puxo grandes lufadas de ar
para resfriar todo esse tesão quente que corre em minhas veias.
— Então… — murmuro e tento me levantar, só que ele continua sem
deixar eu me afastar. — Acho que é melhor eu ir, para você encontrar uma
persanesa forte com quem possa ter um filhote.
— Não vá, por favor — pede e abaixa o seu rosto para ficar na altura
do meu, depois roça o seu nariz no meu, como já fez tantas vezes. —
Fiquei, mon naery.
Esse maldito senador sabe exatamente o que está fazendo ao me
chamar assim. Sabe que está ascendendo a chama que nasceu oito anos
atrás, quando eu sonhava em ser especial para ele.
— Você veio atrás de outra, Vladimir, não é a mim que você quer. —
Nego com a cabeça e desvio o olhar. Não consigo encará-lo enquanto ele
não tira os olhos da minha boca. — Você quer uma fêmea da sua espécie,
alguém mais alta, mais velha, mais sábia. Alguém que não sou eu.
— Quero você. — As mãos dele voltam a se espalhar pelas minhas
coxas e eu quase desaprendo como se respira.
— Mas estava prestes a transar com qualquer uma que entrasse pela
sua porta.
— Eu não estava, não conseguiria, tanto que ia te mandar embora —
murmura diretamente no meu ouvido agora, com o seu rosto se enfiando em
meu pescoço. — Quando te mandei para outro país, quando garanti que
você ficasse anos e mais anos fora, foi porque com uma noite você entrou
no meu peito de um jeito que não sei nem te explicar, e que me assustou,
Crystal — admite e o meu lábio inferior treme.
A porra do meu corpo e do meu coração estão adorando ser
manipulados por ele! Mas eu vou me manter tentando pensar a cada frase
que sai de sua boca. Desconfiarei de tudo!
— Você me assustou, menina, eu matei Ramon por você e faria de
novo. Eu faria tudo de novo. — O seu tom é decadente e as suas presas
raspam a minha orelha, enquanto sinto a sua respiração quente em mim e
sou obrigada a apertar bem uma coxa contra a outra.
Estou sendo segurada por esse homem gigante, barbudo e áspero,
praticamente babando em cima de mim, e me manter imune é uma tarefa
quase impossível, mas que pretendo cumprir com êxito!
— A verdade é que eu esperava você aparecer, deixava os lugares por
onde pudesse entrar. — A sua fala chama a minha atenção e eu acabo me
virando mais para ele. — Deixei um bendito buraco na minha cerca para
você passar, porque eu queria te ver — sussurra, agora em cima da minha
boca, e o hálito dele em mim faz um arrepio correr a minha espinha. —
Queria saber que estava bem, mesmo que nem te conhecesse.
— Foi você quem… quem deixou o buraco na cerca?
— Eu sabia que era errado e eu não queria ser um monstro, Crystal,
não para você, adolescente assustada e traumatizada. Para você eu queria e
quero ser um bom macho, ainda mais agora depois de te conhecer de
verdade… e de ficar viciado. — Os lábios dele estão tão perto, que ao se
moverem para falar, eles raspam no meus. — Você é minha, fêmea, e eu sei
que errei, mas faria tudo de novo. Te mandaria para longe de novo para não
te fazer mal.
As palavras de Vladimir me impactam tanto que eu fico calada,
absorvendo a possessividade dele.
— Você… poderia ter feito de outro jeito, conversado comigo —
murmuro, pensando em toda a ansiedade que esse homem causou em mim.
— E você entenderia se eu te falasse que você era nova demais? —
Arqueia as sobrancelhas e eu nem preciso dizer em voz alta a resposta, que
é não. A Crystal de dezessete anos teria grudado ainda mais naquele cara
vinte anos mais velho se ele dissesse que tinha o mínimo de afeição por
mim. — Ainda tenho medo de fazer mal a você, não conseguiria conviver
comigo mesmo, porque já fiz mal a uma mulher na minha vida, mas eu
preciso tentar, querida.
— Quem foi a outra mulher? — Franzo a testa.
Vladimir teve outras parceiras que eu não conheço?
— Se eu não tivesse entrado no cio, Ellona nunca teria morrido
durante a gravidez complicada, e eu nunca teria deixado o meu filhote sem
mãe — admite e isso com certeza o deixa menos interessado em me beijar.
Vladimir claramente sente dor ao falar nisso, muito mais do que eu tinha
considerado até agora. — Filipi teve uma adolescência ruim por causa de
um maldito cio meu… e eu também quebrei a sua mão por causa de um cio.
— Solta um longo suspiro. — Mas hoje foi a prova de que não consigo e eu
não quero um outro alguém, Crystal.
Sem me pedir permissão, o persanes simplesmente fica de pé comigo
em seu colo, o que me deixa desesperada, só para me colocar na cama de
joelhos, com ele atrás de mim.
— O-o que está fazendo?! — pergunto assustada, porque ninguém
nunca me manuseou com facilidade como ele faz.
— Estarei mentindo se dissesse que estava tentando te afastar só por
conta da memória de Ellona quando nos reencontramos, eu só não queria
admitir que… estou louco por você. — O seu corpo se apoia contra o meu,
com o seu peitoral largo nas minhas costas.
Sou obrigada a ficar de quatro para ele, com essa porra de vestido
curto e que deixa a minha bunda de fora.
— Estou desesperado de um jeito que um macho nunca deveria ficar
por fêmea nenhuma. Ainda mais uma fêmea como você. — A sua voz fica
mais grossa, mais profunda, e ele me empurra contra a cama, enquanto me
faz sentir o seu pau duro e me deixa sentindo quase febril de tanto desejo.
Estou em êxtase ouvindo-o falar assim, tão necessitado quanto eu.
— Uma fêmea como eu? — pergunto e arfo alto, conforme coloca as
garras para fora e começa a fazer o que sempre faz com as minhas roupas.
Vladimir destrói o vestido, rasgando-o pouco a pouco, me deixando
quase nua, e faz o meu coração bater ainda mais rápido.
— Com esse seu nariz empinado e rabo tão delicioso assim, você vai
tirar tudo o que quiser de mim — fala enquanto o seu ronronado fica mais
forte, como se fosse possível. — E eu vou te dar tudo que me pedir, mon
naery, mas em troca eu quero você. Quero ser seu dono — grunhe e
empurra a sua ereção mais contra mim, feito um animal.
— Vladimir… — gemo, sem controle nenhum e estou tão ansiosa que
os meus dentes começam a bater um contra o outro.
— Vou enlouquecer se não tiver você agora. — O rosto dele se
afunda nas minhas costas, me adorando com os seus lábios e barba, se
esfregando em mim, conforme as suas mãos colocam todo o tecido que vai
rasgando para o lado.
— Me chame de senhor, Crystal — pede no meu ouvido o que quase
me faz gemer de tão gostosa que é a sua voz. — Vamos, diga que sou seu
macho, o seu senhor — incentiva, com os seus dedos chegando entre as
minhas coxas, com as suas garras de fora ameaçando cortarem a pele fina.
— Eu preciso ouvir que sou seu dono.
— Me morde — mando, testando para ver o quanto realmente
pretende se doar, e na mesma hora Vladimir sobe a cabeça e enfia as presas
no meu ombro nu, tirando sangue de mim com uma facilidade imensa,
enquanto o meu interior se revira de tanto prazer. — Porra!
Eu não sei qual a lógica disso, mas eu gosto tanto quando deixa
marcas pelo meu corpo, sejam as mordidas ao lado da minha buceta, os
roxos nos meus seios de tanto que chupou ou os arranhões na minha bunda.
— Peça mais, mon naery — ordena e de repente Vladimir está
colocando uma mão em volta do meu pescoço enquanto ele rasga a minha
calcinha com um puxão só. — Tenho uma pequena coleção de calcinhas
suas agora, sabia? — Eu estremeço na mesma hora, com ele espalhando os
dedos pelos meus lábios, os meus joelhos até querem fraquejar. — Molhada
pra caralho para mim — rosna e a sua língua começa a lamber o líquido
vermelho que arrancou de mim no ombro.
Eu não consigo dizer nada de tanto tesão, mesmo sentindo o seu rabo
serpenteando pelo meu corpo, até que ele está bem na entrada da minha
vagina, empurrando o potinho de horliça para que caia no chão.
— Hoje quero estar dentro de você de todos os jeitos possíveis —
grunhe, ignorando o plástico com um pouco de erva que descobriu
escondido em mim.
— Você vai… — Não sou capaz de terminar a frase, pois sem aviso
algum e só com a sua respiração pesada na minha nuca, Vladimir começa a
empurrar a ponta em formato de triângulo para dentro de mim, me usando
mesmo como se eu fosse algo seu.
— Vladimir… o que está fazendo? — Reviro os olhos sentindo como
a cartilagem de sua cauda se dobra para caber, até que passa da ponta e
começa a entrar na parte arredondada mesmo, que me preenche de uma
maneira gostosa.
Ele não precisa de esforço para colocar a cauda dentro de mim, estou
mais do que pronta para recebê-lo. Eu só não esperava que o macho fosse
me comer de quatro começando desse jeito estranho, com os músculos de
seu rabo estocando tudo o que consegue dentro de mim.
— Sim… — choramingo, enquanto ele me pega pela cintura, me
suspende feito uma boneca que não pesa nada, e ajoelhado me coloca mais
para o centro da cama, assim eu espalho bem o meu corpo debaixo do seu e
recebo a cauda, que faz barulhos muito pecaminosos para ir e vir dentro de
mim. — Porra, sim!
Mordo o meu lábio inferior com força e sinto o prazer de ser
esfregada assim, com essa textura macia de camurça, mesmo que de uma
maneira estranha ainda não sinta que isso seja o bastante.
— Agora o meu pau — diz de repente e agora sim eu entendo o seu
plano.
Capítulo 27

— N-não vai caber — eu até gaguejo. — Tire a cauda e encaixe o seu


pau, Vladimir.
— Vai sim, menina, vai caber tudo o que eu quiser meter em você —
grunhe baixo, de um jeito que me deixa toda arrepiada, sem que a vibração
no seu peito pare enquanto ele junta o cabelo loiro da peruca rosa e coloca
todo de um lado. Ele roça a ereção na minha bunda, ameaçando se enfiar
ali.
— Já aguentou até a minha mão, então pode aguentar isso — a voz
dele só fica mais grossa, mais demoníaca, enquanto a sua grande mão volta
para o meu pescoço, me apertando e aprisionando. — Você é a minha
putinha humana, Crystal, e vai tomar tudo. — Com a mão livre o persanes
desce o seu pau para onde pretende realmente penetrar, e eu sinto na hora o
seu piercing molhado e frio.
— É muito grande, Vladimir, você sabe disso — gemo e como
resposta imediata, ele solta o meu pescoço para bater no meu traseiro,
cravando depois as suas garras em mim e me fazendo quase pular de susto,
com a dor repentina.
— Seja uma boa garota e empine mais para o seu dono — rosna, me
fazendo sangrar mais na bunda, e dessa vez não lambe para parar a dor que
me deixa tremendo, em curto-circuito.
Nunca fui fã da dor, da possessividade, e mesmo assim Vladimir me
deixa tão ensandecida, que o meu corpo vai sozinho, curvando-se mais para
ele, que não espera e passa a desenhar círculos com a cabeça do seu pau.
— Oh! Porra! — xingo, quase gozando de tanto prazer.
— Isso, bem assim… — grunhe guturalmente enquanto eu arregalo
os meus olhos, porque Vladimir se afunda mesmo em mim, com o seu rabo
já estocado fundo na minha intimidade. — Engole o meu pau com essa sua
buceta gostosa, toda melada por mim.
— Vladimir — sussurro, sem ar, com os olhos fechados e de quatro
enquanto ele me estica do jeito que quer. A ereção grossa quase me parte ao
meio, nunca parando de se esfregar nas minhas paredes enquanto o rabo
dele fica parado. — Sim!
— Você não tem vergonha de estar tão necessitada assim, Crystal? —
diz isso plantando uma mão nas minhas costas e grudando o meu peito na
cama. Ele me dominou, está me montando. — Olha só como precisa de
mim… sua sem-vergonha.
Dá um tapa com a mão livre bem em cima do sangramento que me
causou e faz arder, assim como o meu interior, com os meus músculos
tendo espasmo atrás de espasmo.
— Você é uma cadela sem-vergonha, viciada em pau, e agora
arregaça mais a perna ou não ganha porra! — ordena e eu dou um jeito de
me abrir mais, com o traseiro para o ar à mercê dele. — Vou fazer esse
filhote em você, mas saiba que eu vou te comer a todo momento até ter
certeza de que ele está dentro de você.
Eu me contraio toda com as suas palavras, perdendo totalmente a
noção do certo e errado e afundando numa onda de prazer pecaminoso.
— Essa buceta nunca mais vai amanhecer sem gozo, entendeu?
— Sim, senhor — balbucio conforme finalmente começa a ir e vir
com a sua ereção no meio interior, raspando a joia gelada, mexendo o
quadril com ondulações que fazem os meus olhos se revirarem em suas
órbitas.
Estou tão encharcada que devo estar pingando.
— Vou te dar um pouco de porra — avisa e eu sinto os jatos quentes
me enchendo até o limite. A sensação é deliciosa, nada parecida com
qualquer coisa que já senti antes dele, me deixando até mole. — Está
transbordando para fora agora, sabia? Escorrendo pelas suas coxas e caindo
na cama. Nós vamos fazer uma poça bem aqui.
A sensação da gozada dele deixa tudo dentro de mim revolto, porque
eu sei que é errado. Sei que não deveria estar recebendo isso, porque
mesmo que eu não esteja mais no cio, depois da acalasia, ainda sou
humana. E humanos podem engravidar mesmo sem o cio.
E deve ser por isso que eu tenho um orgasmo explosivo, porque é
errado e é delicioso. Deixa os meus dedos do pé dormentes e me faz tremer
e choramingar o nome de Vladimir.
— P-por favor, senhor, go-goze mais em mim — gemo de maneira
quase incompreensível, ainda sendo empurrada de forma submissa contra a
cama enquanto ele me controla. — Faça o que quiser comigo.
— É assim que eu gosto, mon naery, mas só uma gozada não vai te
engravidar. — Então ele começa a meter de novo, num ritmo muito mais
frenético do que antes, me deixando estufada ainda com a sua cauda no meu
interior enquanto o seu pau vai e volta, com as suas bolas pesadas batendo
no meu clítoris e me fazendo contrair. — Você não tem ideia de como é
lindo ver a minha porra misturada com o sangue que está saindo dos
arranhões na sua bunda.
O Vladimir de agora está longe do senador que conheci, porque o
macho de agora não deixa que eu mova um músculo, mesmo que eu
chacoalhe com mais um orgasmo que acontece pelo puro prazer de ser dele.
Pelo prazer de ser comida por ele dessa maneira suja, sentindo os líquidos
saírem no meu interior a cada estocada.
— Agora no cuzinho, Crystal, relaxe pra eu meter nele também —
manda, se retirando da minha buceta devagar e depois passando a se
esfregar no meu traseiro, que aceita a sua ereção extremamente molhada
com facilidade, devido a toda a minha excitação. — Isso, boa menina.
Persaneses não tem dificuldade nenhuma em gozar e continuar
metendo, então é exatamente isso que Vladimir faz. Ele começa a estocar
na minha bunda, não demora muito a gozar lá dentro, enquanto o seu rabo
permanece na minha vagina, agora se movendo devagar para frente e para
trás, e mesmo assim continua metendo no meu cu. Mesmo depois de ter me
enchido de porra e me deixado extremamente molhada.
— Tão linda toda gozada. A fêmea mais linda e mais deliciosa de
todas — elogia orgulhosamente, deslizando a mão para cima e para baixo
nas minhas costas num carinho leve, mesmo depois de toda a força que
usou em mim, enquanto eu me sinto mole e completamente acabada
debaixo dele. — Agora esguiche pra mim, meu pequeno naery.
— V-vladimir… — cochicho, incapaz de formular uma frase inteira.
— Quero você esguichando toda vez que te comer ou vou ser
obrigado a meter a minha mão no seu cu, me entendeu? — Me pega por trás
do pescoço e não deixa que eu esmoreça. — Diga que me ouviu.
— Sim, senhor — murmuro conforme o quadril de Vladimir fica mais
ativo em fazer o seu pau entrar e sair do meu cu.
— Eu quero você sempre, Crystal, sempre! — rosna enquanto enfia a
mão por baixo de mim e dá um jeito de encontrar o meu clítoris, que está
inchado e tão sensível que o seu toque é como um choque elétrico. —
Porque você é minha, fêmea. — É a única frase que diz antes de cravar os
dentes no meu ombro que ainda não foi machucado.
O pau dele enfiado no meu rabo, quase me rasgando, os seus dedos
manipulando o meu clítoris e a mordida dele são o meu fim. Não consigo
dizer mais nada, o meu corpo só convulsiona de prazer e é como se
Vladimir literalmente me obrigasse a ter um squirting, que molha tudo
debaixo de nós dois e que quase me leva a um desmaio, de tão forte que é o
prazer.

Vladimir
Depois de Crystal e eu tomarmos um banho rápido, já que ela ficou
completamente coberta de porra e até um pouco de sangue, eu lambo cada
machucado da minha fêmea e também chupo a sua intimidade para aliviar a
dor de ter sido tão bruto e descontrolado com ela.
É claro que isso me deixa duro de novo e Crystal é quem me
masturba para acabar com o frenesi do cio dentro de mim, e mesmo com
toda a dificuldade que é me controlar para não foder o meu pequeno naery
de um jeito que a deixe com medo de mim, ainda me sinto muito melhor do
que nos dias que passei longe dela.
Arranjo um conjunto moletom quente e disponível com facilidade
aqui na Red Town Club para vesti-la, pois o vestido dela está inutilizável,
Crystal calça de volta as sandálias de salto que entrou usando e nós
planejamos sair do quarto para ir para a minha casa, sem conversar sobre
um depois ou combinar melhor como as coisas vão funcionar, quando
alguém bate à porta.
— Pode ser o cara que me comprou — sussurra e agora sou capaz
sentir o seu cheiro levemente mentolado de medo, porque esfreguei o seu
corpo até me livrar do perfume fedorento, além de ter destruído a sua
peruca rosa acidentalmente e ter ganhado uma bronca por isso.
— Vou abrir a porta e cuidar disso. — Termino de amarrar os meus
sapatos sociais e me coloco de pé.
— Ele vai tentar me obrigar a transar com ele, Vladimir! — Pega-me
pelo braço para me segurar no lugar, mesmo que na prática nunca fosse
conseguir fazer isso.
— Não se eu reembolsar de volta o dinheiro que ele pagou por você.
Crystal me contou o tamanho da maluquice que fez para entrar no
Red Town Club, pois o número de seu documento foi colocado numa lista
que proibia a sua presença aqui anos atrás.
Só o que soube fazer foi abraçá-la mais forte, com a garganta doendo
ao imaginar o que poderia ter acontecido com ela, me sentindo um idiota
ainda maior. Como pude ser tão cego e achar que poderia vir e foder outra
pessoa tão friamente?
O cio realmente devia estar me enlouquecendo para me fazer
imaginar que eu seria capaz de apagar essa menina da minha pele, quando
cada sonho e pensamento meu tem sido sobre ela desde que voltou de Paris.
— Ele pagou cinco mil dólares pelo leilão e um persanes me disse
que trinta por cento fica para a Red Town— explica baixinho, ainda com
receio do tal velho.
Acha mesmo que existe a possibilidade de qualquer um entrar nesse
quarto e tirá-la de mim?! Essa fêmea não se lembra que eu arranquei o
braço de um macho por tê-la tocado sem a sua permissão?!
— Ele pagou um preço baixo demais por você e não merece nem
mesmo a sua presença. — Pego a sua mão e afago para acalmá-la, o que a
faz morder o lábio inferior de um jeito que deixa os pelos da minha nuca
arrepiados e me obriga a ir logo atender essa bendita porta, antes que o cio
volte a me controlar.
Só que do outro lado não tem um velho persanes, e sim a persanesa
que ficou falando mal de humanos. Ela está com as mãos na cintura e o
rabo batendo de um lado para o outro, o que me diz que está muito
impaciente. Ainda mais com o cheiro de sua raiva invadindo o meu nariz,
um aroma amargo e estranho.
— Acho que Faun me informou o quarto errado, não me disse que
você estaria aqui, mas eu pedi ajuda e… — A sua frase para no meio e o
nariz dela se mexe, cheirando o sexo em mim rapidamente. — Ela mandou
outra fêmea para você?! Aquela velha ordinária me fez assinar o contrato de
sigilo, garantindo o aborto do nosso filhote, só para te dar para outra
fêmea?!
As palavras dela são altas demais e Crystal com certeza as escuta,
pois na mesma hora a humana vem para trás de mim, sem querer se
esconder mais.
— O que está acontecendo, Vladimir? — Crystal pergunta, se
espremendo pelo pequeno espaço que deixei no batente e colocando a
cabeça para fora do quarto. — Quem é essa?
— Quem sou eu?! — A persanesa que tenho quase certeza que se
chama Noar fica ultrajada e revira os olhos. — Eu sou a cuidadora de cio
dele! A fêmea que deveria estar aí dentro! — berra e desvia o seu olhar para
mim. — Você me trocou por uma reles humana, então?!
É óbvio que o jeito como fala faz a fêmea mais baixa do que eu levar
um susto, Crystal até termina de sair do quarto e encara mais a persanesa,
que é mais alta e mais velha do que ela, e que já não usa uma máscara para
esconder as suas feições.
— Como assim te trocou por mim? Vladimir você estava… — Não
consegue nem terminar a frase de tanto espanto e logo em seguida vem a
mágoa, consigo ler facilmente isso em seus olhos castanhos. — Antes de eu
entrar aqui você estava… — De novo ela não consegue termina a frase, só
me encara enquanto comprime os lábios juntos.
Crystal está lendo toda a situação errado! Que merda!
— Não! Eu não estava com ninguém antes de você, essa f… —
começo a explicar e sou interrompido, o que me causa ainda mais ódio.
— Não vê como humanos são inferiores? Você é um Dark Elf! Não
pode ter filhote com humanos ou vai sujar a sua linhagem, mesmo que vá
abortar depois! — A persanesa berra, sem me deixar esclarecer melhor e
isso começa a deixar o meu corpo todo quente, de tanta raiva.
— Essa é a minha fêmea e você não vai falar assim dela — rosno e
sinto o rosto formigar de um jeito estranho, que me diz que se eu não me
controlar, irei acabar matando essa fêmea em segundos. Não estou no meu
estado normal, estou no cio, e tudo no cio fica mais potente, seja a raiva ou
a tristeza. — Saia daqui agora!
— Você é um hipócrita! Quase me comeu com os olhos e agora está
aqui assim com essa mulher! — Ela continua achando que irá me desafiar.
— Cale a porra da boca agora ou arranco os seus chifres. — Dou um
passo em sua direção, com as minhas garras de fora, e ela recua na mesma
hora.
Noar provavelmente está vendo os meus olhos brilhando um laranja
muito forte e tenebroso agora.
— O-o que pensa que está fazendo? — gagueja e eu continuo devagar
chegando próximo a ela. Estou num controle firme da minha mente ou já
teria feito o pior. — Não pode me ferir! Só porque é um Dark Elf, não…
não quer dizer que pode fazer algo comigo.
Persanesas costumam ser bem mais fortes do que uma humana
comum e até mais que um humano, porém, dificilmente elas são mais fortes
do que um macho persanes, ainda mais um no cio que acabou de ter a sua
fêmea insultada.
— Saia daqui — grunho com as presas de fora, e ela abaixa a cabeça
e encolhe os ombros, decidindo mostrar submissão antes que eu perca
realmente a paciência.
Crystal fica em silêncio, observando tudo segundo a minha visão
periférica, contudo, eu sei que Noar fez um grande estrago com as suas
palavras e por isso a pequena fêmea está calada. A médica não tem um
olfato apurado para cheirar se eu estive ou não com outra fêmea antes dela.
— Eu assinei um contrato — a maldita persanesa insiste no ponto,
agora mais baixo, e antes que eu possa respondê-la, escuto os passos de um
outro alguém vindo, um persanes baixo e careca, que aparece no final do
corredor.
— Essa humana é minha! — Aponta para Crystal e vem caminhando
rápido, quase correndo na verdade, e a pega pelo braço de um jeito que me
deixa sei lá quantos graus mais quente. — Eu paguei e ela vai vir comigo!
— Você não pode fazer isso! — O meu naery responde e antes que o
filho da puta sequer tente arrastá-la, eu já estou arrancando as mãos dele e a
trazendo para mim, para que o seu cheiro impregne na pele de Crystal.
— Vão embora vocês dois! — Pego a médica e grudo o seu corpo no
meu, que sou muito maior e vou mantê-los longe. — Agora!
Não é possível que esses dois enviados de Alin[GS2] apareçam ao
mesmo tempo!
— Eu paguei por essa fêmea humana, senador! E não me importa que
é um Dark Elf, ainda tem que seguir as leis! Não é melhor que ninguém
aqui!
— E eu assinei um contrato com você! — Noar aproveita que o
persanes desgraçado está me desafiando e acha que irá conseguir algo
também.
— Shikri! [GS3]O que é que está acontecendo aqui?! — E como se
todo mundo tivesse decidido simplesmente aparecer na frente do meu
quarto agora, Klaus surge sabe Deus de onde, sem sapatos e usando só uma
calça de moletom.
Mas eu não fico feliz com a sua presença, pois foi ele quem ajudou
Crystal a entrar aqui hoje.
— O que está acontecendo aqui, é que vocês Dark Elf acham que são
os donos do mundo, só porque não tem filhotes com humanos! Eu comprei
essa humana no leilão e ele me roubou antes que eu pudesse usufruir! — O
velho continua levantando a voz de um jeito prepotente, como se a minha
fêmea fosse só um objeto, e isso me arranca um rosnado alto.
Eu só não saio do lugar e acabo com a raça do filho da puta, porque
Crystal, que está com o seu corpo grudado no meu, me segura. Só que como
ela está olhando para frente, não consigo ver o seu rosto e não dá para saber
o que está pensando.
— O meu tio vai te devolver a porra do seu dinheiro, tá bom?! —
Klaus intervém, mais consciente do que eu agora, o que é realmente
surpreendente. — Quanto você pagou?
— Cinco mil!
— É uma mixaria de cinco mil dólares que você quer, então ele te
devolve e você deixa a fêmea em paz. E você. — Ele aponta para Noar
ameaçadoramente com a sua mão preta de queimaduras. — Fecha a boca e
saia daqui, antes que ele arranque alguma parte sua. Não vê que o meu tio
está no cio? É burra demais para sentir o cheiro?!
— Ele vai sujar o nome da sua família com uma humana! — Noar
rosna e Klaus também, só que muito mais alto do que ela.
— E o que você tem a ver com isso?! — Se aproxima dela e eu não
acho que ele a mataria por gritar, mas com certeza está com vontade.
— Faun me fez assinar um contrato, disse que eu seria a cuidadora de
cio dele!
— Então vá até Faun e rasgue a merda do contrato e saia daqui logo!
— Aponta para o final do corredor, para onde ela deve ir. — Agora nós
todos iremos descer e, você, idiota, que eu nem sei o nome, vai ter o seu
dinheiro de volta!
Capítulo 28

— Vou voltar para a minha fêmea agora, se as coisas já estão quase


resolvidas — Klaus fala, depois de descermos com o velho e começarmos a
transferência do dinheiro dele, que não foi algo nada difícil de ser feito
depois dele começar a dizer o quão influente a nossa família é. — Vou
pegar Karina para irmos embora.
Agora estamos numa pequena sala escura e escondida da Red Town
Club, onde fomos levados por alguns seguranças, porque o velho não
parava de gritar. Já Noar foi encaminhada para falar com Faun, que com
certeza irá resolver as coisas de uma forma que sejam benéfica para mim.
— Eu vou com você! — Crystal exclama e vai para o lado de Klaus,
o que me faz arquear as duas sobrancelhas.
— O que você vai fazer com Klaus? — pergunto, não gostando nada,
nada da ideia dela com ele num quarto, mesmo que exista outra humana lá.
— Sou acompanhante dele também. — Levanta e mostra uma
pulseira em seu pulso. — Vou aproveitar para sair, pegar o meu carro e ir
embora.
É claro que ela estar tão calada agora resultaria em algo ruim!
— Você não vai embora — rosno e avanço para pegá-la na mesma
hora, contudo, Klaus entra no meio.
Como ele ficou tão pacífico assim hoje?!
— Ela não vai embora, vai subir comigo, mas depois vamos descer
com Karina e vocês vão conversar.
— Não tenho o que conversar com Vladimir. — Dá de ombros e
empina o seu nariz de um jeito que me faz querer rasgar as suas roupas
todas de novo. Por que eu acho tão excitante quando me desafia?
— Não fodi nenhuma fêmea além de você! — falo, já sem paciência
alguma de tentar controlar a maneira como o meu corpo responde a ela.
Com certeza vai sair alguma matéria no jornal amanhã falando sobre
o senador Vladimir Dark Elf estar saindo com uma humana vinte anos mais
jovem, depois de tantas pessoas terem nos visto juntos no caminho até aqui,
e a verdade é que estou pouco me fodendo para isso.
Não consigo me concentrar em ser controlador com a minha carreira,
quando essa médica testa tanto a minha paciência.
— Como posso saber que está falando a verdade? — Semicerra os
olhos e eu não consigo conter mais uma das dezenas dos rosnados que já
soltei essa noite.
— Olha, sem querer me intrometer ainda mais, mas já me
intrometendo, essa tal de Noar não estava cheirando ao meu tio. E se eles
tivessem fodido para fazer um filhote, seria fácil de saber, porque ela estaria
cheia de mordidas e chupões, como você provavelmente está. — Klaus vem
ao meu resgate numa atitude madura que acho nunca ter visto nele. Ele
nunca tentou defender e nem proteger ninguém, nem mesmo a mim, que
sou o seu tio.
Crystal desvia o olhar de mim e do meu sobrinho na hora e cruza os
braços na frente do peito, contrariada e com um pouco de vergonha.
— Ela disse que Vladimir estava comendo-a com os olhos —
argumenta, fazendo uma careta e me deixando estranhamente animado.
Crystal está com ciúmes de mim e isso deixa o meu coração batendo
mais forte de orgulho. Assim como nós persaneses somos possessivos,
também gostamos bastante de fêmeas que demonstram o mesmo nível de
sentimento ou até mais.
— Ela vai só subir comigo, ok? Depois a gente conversa, que essa
sala aqui está com um cheiro estranho. — O meu sobrinho tampa o nariz,
mesmo que isso não o impeça de sentir o cheiro, e eu acabo cedendo. Quero
dar pelo menos um voto de confiança a Klaus, de que ele não irá fazer nada
com Crystal.
Então os dois saem e vão em direção ao quarto em que Karina está e
logo o problema com o velho é resolvido, contudo, no momento em que
finalmente saio da sala, Crystal já aparece de volta, só que sem o meu
sobrinho ao seu lado e muito esbaforida.
— A gente tem que subir agora! — exclama, me pega pela mão e
começa a me puxar em direção às escadas, mas eu não entendo nada.
— O que aconteceu, Crystal? — Tento fazer com que a fêmea pare e
me explique, só que ela não se deixa ser segurada e me puxa com toda a
força que tem, o que na realidade não me tira do lugar, mas eu acabo
cedendo e a deixando me levar.
— Aqui não dá para falar — diz, olhando para as pessoas à nossa
volta, e eu aceito o seu silêncio até que estejamos já de novo no corredor do
primeiro andar, onde está vazio e não corremos o perigo de ter informações
vazadas.
— Vou te falar rápido porque a gente está sem tempo. — Ela continua
andando comigo, pegando na minha mão e indo em direção à próxima
escada. — Eu estava no corredor com Klaus e nasceu uma rorani no pulso
dele, uma rorani dessa que você tem por causa do Filipi, que é seu filho.
— Você acha que ele vai ser pai? — pergunto, positivamente surpreso
com isso. Até então, Klaus foi o primeiro persanes macho que eu conheci
que além de não ter roranis, não tinha cio.
— Acho que sim, mas ele desmaiou no corredor e quando acordou,
disse que Niflin vai tentar matar Karina, que isso aqui é uma emboscada.
Não sei se foi um sonho ou uma lembrança que voltou para ele, nunca vi
nada daquele jeito acontecer.
— Uma emboscada?!
— Ele disse que Niflin é meio-irmão mais velho dele e-e…
— Merda! — interrompo a frase de Crystal no meio e ela torce o
pescoço para me olhar enquanto anda.
— O que foi?
— A mãe de Niflin sempre disse que era amante do meu irmão, o pai
de Klaus, mas ninguém nunca acreditou, porque os persaneses não
costumam trair. Mas ela morreu dizendo que os Dark Elf iriam pagar caro
por nunca terem admitido que ela tinha um filho com o nosso sangue —
explico e fica até difícil de respirar ao imaginar que algo pode acontecer ao
meu sobrinho, a sua fêmea e ao seu filhote. — Nós temos que ir mais
rápido, se isso realmente for uma emboscada!
Crystal
Até tento acompanhar o mesmo ritmo de pressa de Vladimir, no
entanto, como coloquei os meus saltos de volta, não é nada fácil, ainda mais
que as minhas pernas também são bem mais curtas do que as dele. Por isso
ele simplesmente se vira para mim e me pega no colo.
— Ei! — exclamo, assustada que me faça abraçá-lo assim do nada e
me tire do chão. Sinto até um pouco de vertigem por ficar tão alto e grudo
em seu pescoço.
— Nós vamos mais rápido assim! — grunhe, enquanto eu me
penduro nele para não cair de costas no chão e as suas mãos me ajudam. —
Qual o quarto?
— 12! — respondo e logo nós chegamos em frente ao cômodo, que
está completamente vazio ao entrarmos e com as janelas abertas. — Eles
devem ter saído por ali! — berro de tanta ansiedade.
— Estou ouvindo Niflin e Klaus discutindo e tem uma fêmea
chorando — fala e caminha até a janela, que está com as cortinas
balançando ao vento, depois me coloca no chão. — Vou atrás deles e você
fica aqui dentro esperando. Klaus e eu conseguiremos dar conta de Niflin,
então só não se mexa, está bem?
— Tudo bem. — Concordo prontamente com a cabeça.
— Não saia daqui, Crystal, ou eu juro por Deus que vou te punir
depois por não me obedecer. Isso aqui é muito perigoso!
— Eu não vou sair! — Cruzo os braços na frente do peito, irritada que
ache mesmo que eu faria algo assim.
— Já volto, então, vai dar tudo certo — diz e como se não fosse nada
demais, Vladimir sai pela janela para ficar em cima do longo telhado desse
lugar, que é cheio de telhas pequenas e de cor terracota.
O problema é que logo ele desaparece na escuridão da noite, que está
sendo quebrada apenas por uma grande lua cheia. Agora que estou em
silêncio, só com o meu coração batendo muito rápido, sou capaz de ouvir
parcamente alguém argumentando com outra pessoa, o que me deixa com a
garganta dolorida de tanto medo.
E se algo acontecer a Vladimir? E se ele não for capaz de deter o que
quer que esteja acontecendo entre Klaus e Niflin agora?
— Merda! — xingo baixo, tendo que escolher muito rápido o que
fazer.
Posso ficar aqui e obedecer Vladimir como disse que faria, ou eu
posso me arriscar do lado de fora, correndo muito risco, mas podendo
ajudar de alguma forma, caso precise de mim.
Escolho a segunda opção enquanto arranco os saltos dos meus pés
para não escorregar nas telhas e passo tremendo através da janela, tendo que
levantar os meus joelhos no alto e fazer tudo devagar, mesmo que esteja
com pressa.
— Se eu cair daqui… — resmungo, sentindo o vento frio da noite
bater muito forte no meu rosto enquanto dou passos no telhado íngreme,
que me obriga a ficar de bunda grudada nas telhas para ter certeza de que
não irei deslizar.
Não pretendo ir até Vladimir, só preciso saber onde ele está, para que
o meu coração pare de doer de medo. Porque eu juro que se perder esse cara
no dia que finalmente o consegui, irei arranjar um jeito de fazer algum
tabuleiro ouija funcionar só para xingá-lo.
— Só tente não morrer, Crystal — continuo falando sozinha, tateando
para onde estou indo, mesmo que não veja muito, até que escuto um
barulho monstruoso e que arrepia todos os pelos da minha nuca. São como
coisas se quebrando, talvez ossos.
Eu não entendo nada de arquitetura, contudo, é como se eles
estivessem numa parte do primeiro andar e eu no segundo andar mais
acima, e agora que estou a uns dois metros da janela por onde saí, consigo
vê-los mais ou menos. Vladimir está mais distante, se aproximando com
cautela, e Karina, Klaus e Niflin um perto do outro.
Por uma fração de segundos eu penso que só posso estar ficando
louca, contudo, sei que é real. Num minuto Klaus é um persanes alto, com
duas pernas, dois braços e rabo, e no outro ele virou um lobo ainda maior,
de pelagem escura, com um rabo de cachorro mesmo e dois chifres na
cabeça e olhos amarelos como dois faróis.
— Me dê Karina! — O lobo rosna tão alto que escuto daqui, mas não
escuto a resposta de seu oponente, que está com Karina no colo. Porém,
logo Niflin tem que largá-la, pois a grande criatura pula em cima dele,
grudando as presas em seu pescoço.
Isso deixa Karina, que eu conheci hoje mais cedo, ainda mais na
ponta do telhado e o lobo não nota nada, preocupado em arrancar a cabeça e
os outros membros de seu oponente, o que faz Vladimir deixar de ter
cautela e ir bem mais rápido. Assim como eu aqui em cima, ele sente o
risco.
Só que o senador não vai rápido o bastante, as telhas debaixo dos pés
de Karina começam a escorregar por conta de seu peso e ela vai junto, sem
conseguir receber ajuda de ninguém, despencando desse telhado alto e me
deixando em pânico.
— Karina! — exclamo, mas não alto o bastante para ser ouvida.
— Klaus! — Vladimir grita, desesperado como eu e dá passos em
direção ao lugar que Karina estava antes de cair. Num segundo ela estava lá
e no outro não mais.
Porém, a aproximação de Vladimir só faz o lobo largar o corpo de
Niflin, agora já morto, para rosnar para o meu persanes.
— Minha! — Klaus fala com a sua nova voz e Vladimir responde
algo, que infelizmente não consigo ouvir e de repente o lobo simplesmente
pula no vazio, sem nem olhar para baixo para calcular nada.
Meu Deus do céu! Agora os dois vão morrer!
— Klaus! — O grito angustiado que sai da minha boca é ouvido pelo
único persanes vivo que sobrou no telhado e que olha na minha direção na
hora. — Eles morreram — choramingo e me abraço, com as lágrimas
descendo grossas pelos meus olhos, enquanto soluço sem consolo algum.
Karina e Klaus morreram bem na minha frente e eu não pude fazer nada. —
E-e-eles morreram — repito e a minha visão embaça, de tanto que choro e o
meu corpo treme.
Até que grandes mãos me pegam e me fazem olhar para cima, vendo
o rosto de Vladimir todo borrado ao voltar para mim.
— Você não me obedeceu! — rosna muito irritado e me pega da
posição estranha sentada em que estou, me segurando no telhado, que é
menos perigoso do que onde eles estavam. — Olha onde você está, Crystal!
Vladimir me pega e me faz ficar em seu colo, com as pernas em volta
da sua cintura, tendo muito mais equilíbrio e segurança do que eu. Mas eu
não aceito o seu toque, estou desesperada.
— E-e-ele pulou do telhado e ela caiu! — Sacudo o meu corpo em
choque por ter visto duas pessoas caindo dessa casa alta, mas o senador tem
força o bastante para nem se preocupar com isso e levar nós dois para
dentro através da janela aberta do quarto.
— Ele vai ficar bem, calma, mon naery — afirma e me aperta bem
contra o seu corpo mais quente do que o meu, me deixando intoxicada com
o seu cheiro que começa a me acalmar. — Só vamos descer até a piscina
para tentar ajudar no que for preciso, tudo bem?
— T-tudo bem — respondo, mesmo que nada esteja bem e seja a
minha vez de me agarrar nele. Não quero ver os corpos dos dois
espatifados, não quero.
Quero guardar a memória de Karina e Klaus dentro de mim e
imaginar como teriam sido os seus filhotes.
— Está tudo bem, meu amor, tudo bem. — Tenta me tranquilizar,
passando as mãos nas minhas costas, contudo, eu estou inconsolável. —
Klaus é forte, você viu o tamanho do lobo que ele virou, e Karina pode
tomar sangue persanes e melhorar.
— Isso só funciona se ela não tiver morrido, vocês não podem
ressuscitar ninguém! — exclamo, esfregando o meu rosto contra o seu peito
para, de alguma forma, impedir a imagem de Karina e Klaus caindo no
abismo de se repetir na minha mente.
— Não vamos ter que ressuscitar ninguém, ela está bem. — A sua
mão não deixa que eu continue com o que estou fazendo e levanta o meu
queixo, o que permite que Vladimir beije os meus lábios ternamente. —
Está tudo bem agora, Niflin está morto e nós iremos ajudar Klaus e Karina.
Nada me convence de que os dois estão vivos, até que Vladimir me
leva, ainda em seu colo e aconchegada em seu peito, para ver o seu
sobrinho e sua fêmea num lugar escondido perto da piscina, onde o
persanes de cabelos negros já voltou à sua forma normal e não é mais o
lobo gigante.
Ele colocou o corpo inerte e molhado de Karina em cima de uma
espreguiçadeira clara e está ao lado dela, agachado, tremendo e também
todo molhado.
— Klaus?! — exclamo, assustada, e a primeira coisa que os meus
olhos focam agora, que ele está completamente nu, é na tatuagem de lobo
em seu peito, igualzinha a de Vladimir.
Então a profecia estava certa! Um persanes com a sua companheira de
alma e com uma tatuagem de lobo se transformou sim no animal gigante e
de quatro patas!
Capítulo 29

— Não olhe para ele. — Coloco a mão sobre o rosto dela na hora,
pois Klaus está com tudo à mostra mesmo. Mas o lado bom é que desse
jeito dá para perceber que o seu corpo está em perfeito estado, apesar da
transformação em lobo, diferentemente de sua fêmea desacordada, que tem
sangue saindo de sua boca, nariz e até de seus olhos fechados.
— Eu sou médica, já vi muitos homens nus, Vladimir — a fêmea que
seguro responde, colocando a minha mão para o lado, e isso só me deixa
irritado. Tenho que respirar bem fundo para não rosnar e não acabar me
concentrando demais nesse fato, já que a nossa situação é bem mais
importante. — Como está o coração dela?
— Batendo devagar, eu escuto daqui — respondo por ele, que está
com os olhos brilhando muito amarelo, com os cabelos negros grudados
contra a sua cabeça e a pele escorrendo ainda a água da piscina que está a
alguns metros de nós.
Eu nunca vim nessa parte de Red Town Club, só vi de longe essa
piscina grande e com as letras “RTC” iluminadas no fundo. Mas como não
sou um frequentador assíduo desse lugar, nem mesmo quando Ellona estava
viva, então eu não saberia dizer muito. Só consegui chegar aqui porque ao
descer as escadas, uma garçonete desinteressada deu instruções.
— Me coloque no chão para eu examiná-la, Vladimir — Crystal
manda, mas eu não obedeço, segurando-a mais forte ainda contra mim.
Ela não sente o cheiro da raiva de Klaus, contudo, eu sinto. Tem algo
de errado no meu sobrinho, um aroma que nunca esteve com ele antes de se
transformar em lobo, e os meus instintos me dizem para não confiar nele
perto demais da minha Crystal.
— Eu já dei o meu sangue a ela — grunhe e mostra o braço de onde
arrancou um pedaço de pele. — Ela bebeu bastante e vai continuar
bebendo, até ficar bem.
— Isso é ótimo, mas seria bom que eu pudesse examiná-la melhor.
Ela pode ter tido muitos danos em seu interior e talvez até machucado o
filhote de vocês, cair dessa altura e dentro da água não é brincadeira. —
Crystal tenta explicar, sem entender o que está acontecendo aqui. Klaus está
num modo protetivo muito forte segundo a sua linguagem corporal, pelo
jeito como se mantém na frente da fêmea e a toca o tempo todo. —
Precisamos ir a um hospital e fazermos exames de imagem nela, para saber
exatamente o que aconteceu.
— Ninguém toca na minha Karina! — rosna e avança, e eu sou rápido
em dar passos  para trás, levando a minha fêmea comigo. O meu sobrinho
fica de cócoras no chão, ameaçando pular se eu me aproximar. — Ela tem o
meu sangue! E eu escuto o coração da filhote bater! — A voz dele está
muito grossa, quase como a do lobo.
— Não vamos chegar perto, Klaus, não queremos prejudicar nem
você e nem a sua família — respondo, tentando soar o mais calmo possível,
mesmo que esteja pronto para fazer o que for preciso para proteger a fêmea
humana que carrego, e que graças a Deus está parada agora, sem tentar
descer. — Crystal só quer ajudar, ela se importa com vocês.
— Ninguém toca na minha mulher e nem na nossa filhote! — Insiste
na atitude defensiva, contudo, começa a respirar um pouco mais lentamente.
— Ninguém vai tocar nelas, mas você tem que se acalmar e sair da
posição de ataque. — É um milagre que eu ainda esteja conseguindo me
manter controlado. — Se levante e fique perto de Karina — ordeno e acabo
rosnando de volta para ele, assim não deixo que assuma o controle da
situação. Tenho que me impor como líder, assim como acontece entre os
animais. — Agora, Klaus!
— Não cheguem perto — resmunga e acaba se levantando e indo de
volta para o lado da espreguiçadeira em que Karina está.
— Como você sabe que é uma filhote e não um filhote? — Crystal
sussurra e eu não entendo por que essa fêmea não está tremendo de medo e
sim fazendo perguntas.
— Eu sinto — grunhe, contudo, eu nunca ouvi falar sobre um
persanes que pudesse prever o gênero de um filhote.
— É a primeira vez que você se transforma, Klaus? — pergunto,
ainda assombrado com a ideia de que o meu sobrinho é capaz de virar um
lobo gigantesco e tão feroz, e ele faz que sim com a cabeça.
— Temos que sair desse lugar agora, vamos para Cosmos, antes que
alguém venha atrás de mim, da minha fêmea e da minha filhote.
— Agora? — Franzo a testa. — A sua fêmea está machucada, é
melhor não viajar assim, pois o caminho até Cosmos é longo. Teremos que
ir até a Itália antes de conseguir chegar lá.
Talvez o estado atual de Klaus esteja cegando um pouco o macho. Eu
não sou médico e mesmo assim sei que humanos precisam de muito mais
tempo para se curarem, mesmo com o nosso sangue correndo em
abundância em suas veias.
— Assim que souberem no que posso me transformar, irão me querer
de qualquer jeito. Os humanos para me usarem feito cobaia e os persaneses
para me matar, os mais velhos não querem um troca formas — explica com
raiva e eu estou pronto para argumentar que isso é loucura.
— Com certeza alguma câmera deve ter pego Klaus se
transformando. — Mas Crystal fala por cima, dando até mais argumentos
para ele. — Para chegar aqui nós passamos por várias pessoas e é um
milagre que não tenha ninguém nessa piscina. — Ela encara os lados,
procurando por alguém freneticamente, contudo, a minha audição me diz
que não tem ninguém muito próximo a nós agora. Isso deve ter a ver com a
piscina não parecer exatamente limpa.
— Temos que ir para Cosmos, é o único lugar onde os humanos não
comandam e onde poderemos estar seguros de verdade, principalmente se
formos para as ilhas mais afastadas. — Klaus diz isso já começando a
manejar o corpo da fêmea desmaiada.
Ele a joga em seus ombros com cuidado e isso deixa Crystal quase
explodindo nos meus braços, querendo se soltar de qualquer jeito. A minha
fêmea não entende o jeito que o meu sobrinho faz as coisas, porque ela
ainda não teve tempo de estudar melhor os persaneses e talvez eu a ajude
com isso.
No final das contas, acho que gosto que Crystal seja assim tão
interessada pela minha espécie, ainda mais sabendo que fez uma faculdade
toda só por mim, como disse antes de brigarmos no meu closet.
— Karina precisa de atendimento médico! Ela pode ter quebrado um
monte de costelas ou até ficado paraplégica! Não se deve mover alguém
após um grande trauma! — argumenta e eu olho para baixo para ver como a
fêmea está me empurrando e se sacudindo. — Você está fazendo mais mal
do que bem a ela, Klaus! — O seu tom é de puro desespero e eu tento
consolá-la acariciando as suas costas, contudo, ela não quer isso.
A verdade é que se Klaus decidir que ninguém toca em sua
companheira, ele irá lutar até a morte por isso. É assim que nós persaneses
somos.
— Karina vai ter um curandeiro confiável quando chegarmos na
segurança da ilha onde nasci e onde todos os persaneses deveriam ter
ficado. — O meu sobrinho ignora totalmente a minha fêmea, o que deve tê-
la magoado muito, e começa a andar em direção ao aberto, onde se inicia
um pequeno bosque de árvores em torno dessa imensa propriedade. —
Vamos até a Itália agora, Vladimir, e de lá usamos o seu barco para chegar
em Cosmos. Venham comigo.
— E depois o quê? Ficar lá para sempre?! — Crystal realmente brinca
com fogo ao gritar assim com um persanes descontrolado, que só continua a
ignorá-la e entra por entre as árvores escuras.
— Só fique calada e me deixe cuidar disso — murmuro no ouvido da
médica, que solta uma respiração alta e irritada.

Atravessamos o bosque sem dificuldade, com Klaus nu o tempo


inteiro e a sua companheira desmaiada em seus ombros, enquanto eu
carreguei Crystal descalça e reclamando muito na minha orelha.
Depois disso, usei o celular em meu bolso para chamar o assistente de
Klaus, que nos conseguiu um carro discreto para nos tirar daqui o quanto
antes. Klaus e a desacordada Karina ficaram na casa do meu sobrinho e
Crystal e eu fomos levados para a minha casa.
— Deixei a minha bolsa com o meu celular e o carro lá no Red Town
Club — Crystal diz, quase mastigando o lábio inferior de tanto que o
morde.
A médica está num nível de ansiedade alto demais enquanto anda de
um lado para o outro no meu quarto e eu arrumo uma pequena mala só com
as coisas importantes.
— Cindy vai cuidar disso, ligue para ela amanhã por aquele telefone.
— Aponto para o telefone fixo na parede do quarto. Mesmo que não seja
algo que os humanos em geral tenham, eu preferi manter uma linha ativa
por segurança. — Aliás, você pode pedir tudo que precisar a ela, vou
mandar uma mensagem garantindo isso no caminho.
— Mas a gente vai para a Itália hoje. — Crystal arqueia uma
sobrancelha.
— Você tem que ficar — murmuro, sabendo que ela não vai gostar
nada da minha ideia.
— O quê?! — exclama, provando o meu ponto.
— Não vou te levar para o perigo. — Ando até ela e coloco as mãos
em seus ombros enquanto a encaro nos olhos para ter certeza de que me
entende. — Essa viagem é necessária, mas você pode ficar aqui, amor,
quietinha na minha casa, esperando a minha volta.
— Já é a segunda vez que diz isso — sussurra, enquanto eu vejo as
suas pupilas se dilatando.
— Isso o quê? — Tiro alguns fios de cabelo de seu rosto.
Fiz uma grande bagunça arrancando a peruca rosa de sua cabeça e
também uma espécie de touca que ela estava usando para cobrir seus
cabelos naturais.
— Que me chama de amor… — explica e me surpreende, porque
nem eu notei que estava usando essa palavra, ainda mais duas vezes. Elas
devem ter saído automaticamente de mim devido a todo o estresse e o
medo. Vê-la naquele telhado deu um nó no meu estômago, fiquei com
muito medo de que Klaus pudesse ataca-la em forma de lobo, porque eu
não poderia fazer nada para impedir devido ao tamanho da força dele. —
Você está falando sério ou é só um jeito carinhoso de tentar me acalmar?
— Eu… — Quero explicar à Crystal como eu me sinto, contudo, é
como se o meu cérebro bloqueasse todas as palavras que pudessem traduzir.
O meu peito está cheio de um sentimento caloroso por Crystal, de
desejo, de carinho, mas não é o mesmo que senti por Ellona. É diferente de
um jeito complicado e até meio amedrontador, o que é vergonhoso. Um
macho como eu nunca deveria ter medo.
— Não sabe como se sente, né? — pergunta, claramente
decepcionada com a minha falta de palavras.
— Eu sei, mas… preciso de um tempo para entender tudo melhor,
Crystal. — Sei que estou pedindo demais dela, contudo, eu preciso
controlar essa bagunça toda primeiro.
— Bom, se você não quer que eu vá, então eu não vou. Só… volte
logo, tá bom?
— Antes que você perceba, já estarei aqui — prometo, me abaixando
e esfregando o meu nariz no seu.
— Você me disse que no seu barco tem roupas suas, então não precisa
levar muito, e já está quase na hora que você combinou de se encontrar
com… — Interrompo a sua frase com um beijo em seus lábios, pois o
cheiro de medo dela está forte demais agora.
— Xiran tima ni, mon naery — sussurro, querendo me afundar mais
em seu corpo e esquecer todos os problemas. — Tudo vai ficar bem, meu
cristal — traduzo.
— Me ligue todos os dias — ordena, ficando desconcertada com o
meu carinho.
— Não vou poder te ligar, não podemos correr o risco de sermos
rastreados. Você vai ter que me esperar voltar, mas não quero te perder,
querida. Nós estamos juntos, estamos… num namoro, como vocês humanos
gostam de chamar.
Até que não é ruim ter bastante conhecimento sobre humanos agora,
porque eu sei que quando os humanos namoram, eles não costumam ter
outras pessoas. E é isso que eu quero com Crystal, que ela não olhe para
nenhum macho.
— Você sabe que normalmente o homem tem que pedir a mulher em
namoro, né? E não só dizer que eles estão namorando.
— Não somos normais. — Dou de ombros e ela sorri pequeno,
gostando da minha frase.
Crystal
Os dias sem Vladimir passam muito devagar, como eu sabia que
passariam, e são torturantes. Sem poder fazer contato com ele, a minha
imaginação acaba indo longe demais. E se Karina não tiver sobrevivido? E
se Klaus atacar Vladimir em forma de lobo e deixá-lo em algum lugar por
aí, já que ele claramente não está com o seu humor normal.
Contudo, não importa o quanto eu tente ligar em seu celular para
conseguir notícias, sempre dá sem sinal, o que por um lado é bom. Não saiu
nenhuma notícia na imprensa sobre Vladimir ou Klaus e talvez esse silêncio
da parte dele seja o que esteja impedindo isso. Os jornalistas financiados
pela oposição aos persaneses são capazes de tudo, até mesmo de grampear
as linhas do senador para mantê-lo vigiado.
A única coisa que recebi para provar que Vladimir está vivo, foi a
gata laranja de Klaus chamada Lava que passa os seus dias do jeito que eu
gostaria de passar os meus: dormindo e comendo.
Mas com Filipi aparecendo aqui quase todos os dias, isso ficou
impossível. O loiro está tão ansioso quanto eu e arruína demais o meu plano
de ficar inconsciente até Vladimir aparecer e dizer que tudo ficou bem. É
por isso que eu abro a porta no meio da tarde pronta para receber o loiro
persanes com alguma outra teoria maluca sobre o paradeiro de seu pai,
contudo, quem está do outro lado é um outro loiro, um humano e bem
desagradável.
— O que você está fazendo aqui? — Semicerro os olhos para o
senador Frederick Burner, um homem muito alto, magro e mais próximo
dos meus pais do que eu gostaria.
— Nós temos assuntos a tratar — responde com um sorriso que
arrepia os pelos do meu braço de tão estranho que é, forçado demais.
— Se os meus pais acham mesmo que eu vou virar a sua esposinha e
te ajudar a parecer um bom moço para o seu eleitorado, eles estão muito
enganados! — exclamo e tento fechar a porta, mas o maldito tem muito
mais força do que parece e consegue segurá-la aberta.
— Você vai se arrepender se não me ouvir!
— Largue a porra da porta ou vou chamar os seguranças! — xingo,
sem paciência para falar com esse cara estranho.
— Onde está o lobo, Crystal?! — pergunta de repente e me
surpreende ainda mais ao conseguir escancarar a porta que tento fechar.
Capítulo 30

— Do que está falando? — minto, fazendo o melhor para controlar o


nível de surpresa e medo em minha voz, agora tenho que ter muito cuidado
com tudo que falo, porque se esse cara teve a coragem de invadir a casa, eu
não sei mais do que ele é capaz.
Tinha que ser bem esse filha da puta a saber de algo?! Não poderia
ser outra pessoa que não fosse tão influente?!
— Vocês acharam mesmo que iriam conseguir esconder a porra de
um lobo gigante de mim? — O sorriso dele vira algo mais malicioso e
nojento e eu acabo tendo que pular para trás, antes que passe por cima de
mim feito um trator com as suas pernas longas.
— Não sei do que está falando! — nego, enquanto ele entra na sala
como se essa fosse a sua própria casa. — Saia daqui agora! Eu não te deixei
entrar!
Bendito dia que Filipi tinha que estar fora! Mas na teoria também não
existia nenhum perigo aqui. A casa de Vladimir tem vários muros altos ao
redor e tem muita segurança, já que não é raro existirem humanos querendo
fazer mal aos persaneses.
Onde é que foi parar todo mundo a essas horas? E o pior é que eu não
posso nem olhar lá fora para checar, tenho que ficar de olho nesse homem
asqueroso.
— Você não tem que deixar nada, Crystal, porque eu tenho um vídeo,
aliás, um não, vários! Vários vídeos com ângulos diferentes mostrando o
seu amiguinho Klaus Dark Elf se transformando em um lobo gigante,
depois matando um deles e quase matando uma mulher humana — ele está
quase cuspindo enquanto fala, de tanta raiva, — Então você tem certeza de
que não temos nada para conversar?!
— Eu não faço a mínima ideia do que você está falando. — Cruzo os
braços na frente do peito e dou de ombros, mantendo uma expressão séria e
sem dar brechas para esse cara. — E Vladimir não vai gostar nada de ter
você aqui dentro, então é melhor que vá embora, antes que ele chegue.
Não sei o quanto sabe e pretendo continuar negando tudo até que
alguém forte apareça aqui e bote esse cara para fora, que eu não faço a
mínima de quais sejam as intenções. Eu assisti e li sobre política em Paris
para acompanhar Vladimir, contudo, só o que sei desse aí, é que ele está do
lado de um bando de políticos velhos e cheios de dinheiro, que odeiam os
persaneses.
— Você vai escolher mesmo confraternizar com essas aberrações do
que ajudar a expor ao mundo quem eles são de verdade? O tamanho do
perigo que eles apresentam a nós? — O rosto dele começa a ficar todo
vermelho, assim como o seu pescoço.
Não fico chocada com esse discurso de Frederick. Desde que os
persaneses vieram conviver entre os humanos, que muitas pessoas
começaram a se organizar contra eles.
Os “elfos” tiveram que lutar por leis e por direitos iguais aos dos
humanos, no entanto, ainda tem muita gente que vai contra eles, até mesmo
células terroristas inteiras que já foram presas por planejar atentados contra
os persaneses.
Só que a população persanesa tem crescido cada vez mais, se
misturando com os humanos, e mesmo que todos quisessem voltar para a
ilha Cosmos, de onde vieram, eles não conseguiriam. Os persaneses já estão
com raízes fincadas no solo de todo o mundo e não vão embora.
— Não sei por que você veio aqui hoje, mas se não sair, vou chamar a
polícia! — ameaço, me segurando para não começar a tremer de nervoso.
O pior é que não tenho nada para me defender desse homem se ele
decidir me atacar, nem um abajur para tacar em sua cabeça, pois a sala de
Vladimir não tem quase nada. Ele comprou uma casa gigante e não decorou
os cômodos que não usa.
— Pode continuar negando o quanto quiser, mas quando essas
imagens forem passar na TV, eu vou fazer questão de te mostrar no colo
daquele monstro! Tenho filmagens com uma imagem ótima daquele
lugarzinho sujo que os persaneses gostam de frequentar.
Como esse filho da puta conseguiu tantas filmagens assim? A Red
Town Club não é dos persaneses? Nada nunca vaza de lá, várias pessoas
inclusive, já vieram a público contar de crimes que aconteceram no lugar e
nunca conseguiram provar nada, porque o que acontece na Red Town Club,
fica na Red Town Club. Então por que não agora? Por que esse senador
conseguiu filmagens? Ou será que está blefando?
— Não sei do que está falando. — Continuo negando e ele para no
meio da sala de estar de Vladimir, avaliando o lugar.
Quais são as minhas chances de conseguir descer o cacete nesse cara?
Mas vamos supor que eu realmente conseguisse fazer isso, e depois? E se
ele tiver mesmo essas filmagens?
— Não sabe? — Arqueia uma sobrancelha loira escura e começa a
tatear o seu bolso, o que me deixa tensa. Não conheço a índole dele e não
tenho ideia de como entrou, e pior, Cindy não conseguiu achar a minha
bolsa no Red Town Club e o único telefone da casa fica no primeiro andar,
dentro do quarto de Vladimir. — E isso aqui? — pergunta, desbloqueando o
aparelho e mostrando uma filmagem de Klaus se transformando em lobo.
A imagem é mais do excelente, mostra direitinho o rosto de Klaus e
depois o do lobo, e não se mexe, como se alguém tivesse segurando um
celular, então, muito provavelmente, essas são imagens de câmeras de
segurança.
Merda!
— Quanto quer para sumir com isso? — Gotas grossas de suor
escorrem pelas minhas costas e o político pálido se aproxima de mim
sorrateiramente.
Ele veste um terno todo preto, com gravata vermelha e o cabelo é liso
e fino, penteado para o lado e grudado em sua cabeça como de um bebê
pela sua mãe.
— Quero que cumpra o trato que fiz com os seus pais. O nosso
casamento será em alguns dias e eu quero você sorrindo no altar e depois…
— Não vou fazer merda nenhuma! — berro, interrompendo a sua
frase, que eu já pareço saber até onde vai. — Eu não tenho medo de você e
não vou casar nem sobre tortura. Só vai perder o seu tempo!
Por que esse homem quer algo comigo? Nós mal nos conhecemos e
ele com certeza não parece interessado em mim de forma sexual ou
romântica, então para que insiste nessa coisa de casamento?
— Se você disser não para mim, nos próximos cinco minutos o
mundo todo vai saber quem são os persaneses e todos esses animais,
estejam eles nos Estados Unidos, na França ou no Brasil, TODOS, vão
sofrer. — Volta a sorrir, cheio de segurança. Na verdade, acho que está mais
para um sorriso maníaco.
A minha boca fica até seca ao finalmente entender o tamanho do
problema. Frederick não está só ameaçando a mim, a Vladimir ou aos Dark
Elf. Ele pode destruir todos os persaneses, todas as famílias espalhadas por
todo o mundo.
— Ninguém vai acreditar em você! V-vão dizer que é montagem —
gaguejo, me sentindo cada vez mais em perigo e sem ter como me defender
dele.
Não é possível que eu tenha que casar com um desconhecido
desequilibrado em alguns dias!
— Você acha que é só isso? Eu entrei no seu pequeno apartamento
alugado, aquele que você deixou fechado enquanto ficava na casa do seu
amante demônio, e estou em posse de todas as suas anotações da faculdade
— revela e eu acho que estou passando mal. — Sei tudo que faz mal a eles,
sei até que erva usar para matá-los, o que é algo bem difícil. Então você vai
me dar o que quero, senão tudo o que acontecerá a partir de agora é culpa
sua.
Nenhum site de busca tem informações verdadeiras sobre a saúde dos
persaneses. Os Dark Elf e as outras famílias nunca deixaram nenhuma
informação vazar. Porém, se um político tão grande como Frederick decidir
divulgar tudo o que eu juntei todos esses anos secretamente, o caos será
geral.
— Você… promete que vai me devolver tudo se e-eu me casar com
você? — Luto contra as lágrimas de ódio, não quero parecer fraca na frente
desse canalha. Mas é muito difícil não me sentir desesperada numa situação
como essa. — Quero os vídeos e os meus cadernos.
— Olha as provas que eu tenho, Crystal. Acha mesmo que tenho que
prometer alguma coisa para uma mulherzinha como você? — Arqueia uma
sobrancelha, e para aumentar ainda mais o meu desespero, escuto sons de
passos e quando olho para trás, tem dois seguranças enormes entrando na
sala.
— Por que quer que eu me case com você?! Se eu sou só uma
mulherzinha?! — Então eu me desespero, porque está acontecendo rápido
demais.
Eu não deveria ter largado os meus cadernos naquele apartamento,
deveria tê-los guardado em algum lugar seguro. Contudo, nunca esperei que
fosse ser alvo de algo assim. Anastase compartilhou toda a sua sabedoria
milenar comigo e agora tudo foi tomado por esse político nojento.
— Não tenho que explicar os meus planos para você. — Dá de
ombros e volta a observar a casa, mapeando tudo o que pode com o seu
olhar cínico. — Eu tenho as cartas na manga e você me obedece, porque
senão até o senador Vladimir Dark Elf irá saber que foi você quem deixou
que tudo se espalhasse. Acha que ele vai gostar de você depois disso?
Ele está obviamente querendo me chantagear e se eu estivesse num
momento melhor, talvez conseguisse pensar numa saída. Mas agora, sem
ninguém para me ajudar além de Filipi, que é novo demais para ter contatos
e saber lidar com esse mundo obscuro dos odiadores de persaneses, a única
opção que vejo é acatar o que esse cara mandar até que Vladimir volte.
Mas isso faz um calafrio descer pela minha coluna, pois uma pergunta
fica muito forte dentro de mim: E se ele não voltar? Ou e se ele voltar e for
tarde demais?
— Vejo que você perdeu a fala — debocha e eu realmente não tenho
o que dizer para ele.
— Me dê um tempo para pensar, tá bom? Respondo você em 48
horas, mas me dê um tempo para digerir tudo isso — peço, já sem ter como
fingir calma.
— O nosso casamento será neste final de semana, você não tem
tempo nenhum para pensar! — exclama e não tem mais jeito, eu estou
tremendo de ansiedade como se estivesse com frio.
— Não! C-como espera que eu me case com você assim? Eu preciso
de pelo menos uma explicação! — Tento ganhar tempo freneticamente, mas
pela expressão no rosto desse crápula de terno e gravata, ele não irá me
deixar escapar.
— Não vou dar munição para o inimigo, se você não sabe nada sobre
a maldita profecia dos persaneses, então eu não vou te explicar.
— Isso tem a ver com a profecia?! — Fico de boca aberta que ele
saiba algo sobre isso.
— Levem-na para o carro — ordena para os seguranças, que vêm até
mim com velocidade.
— Pare! — grito e tento dar a volta neles correndo, só que um dos
homens me pega no ar, me coloca de volta no chão e começa a me empurrar
em direção à porta de saída da sala. — Me larguem! Vladimir vai matar
todos vocês!
— Você nem sabe onde Vladimir está, então cale a boca e pare de
mentir! — Frederick berra e ele me deixa ainda mais assustada, porque está
muito mais ciente das coisas do que eu.
— E você sabe?! — pergunto, ainda tentando tirar algo dele.
— Não é da sua conta! Agora levem logo essa insuportável para o
caro! — manda e os malditos seguranças obedecem.
Eu continuo berrando no carro e ganho uma mordaça na boca por
isso. A minha cabeça dói, eu não consigo parar de chorar de medo, pois não
sei do que esse filho da puta é capaz, e tudo fica ainda pior, pois quando o
carro estaciona e eu sou tirada de dentro do veículo à força, é a minha mãe e
o meu pai que me recebem nesta casa desconhecida.
Capítulo 31

— O que achou do lugar? — Bronte pergunta, provavelmente pela


segunda ou terceira vez, e me obriga a sair dos meus pensamentos para
respondê-lo.
Desde que me viu passando pelas portas duplas desse lugar, que esse
macho tem tentado conversar comigo sem pensar por um segundo que o
meu rabo estar batendo tão forte, significa que não estou interessado em
falar com ninguém.
— É um bom lugar… — Dou de ombros, sem conseguir formular
uma frase complexa sequer enquanto ficamos sentados nesse lobby de hotel
luxuoso.
À nossa volta estão vários outros persaneses, vários deles de famílias
famosas pelo seu poder e riquezas, e mesmo assim não sou capaz de
discutir os pontos pelos quais esperei séculos para falar sobre.
É como se estivesse fora de órbita.
Eu preciso ser ativo aqui, conseguir que esses persaneses realmente
assinem os acordos e não só falem sem compromisso, para unirmos forças
contra os humanos que tentam nos atacar no campo das leis, contudo, a
cada cinco segundos estou olhando para o celular.
— Poderiam ter feito isso em Red Town, não? Não sei para que
quiseram vir até essa cidade vizinha que eu não consigo nem decorar o
nome. — Bronte revira os olhos. O persanes não é o que eu posso chamar
de velho amigo, contudo, ele tem bons contatos e ajudou essa convenção a
sair do papel. — Se tivessem acatado o primeiro lugar que falei, não
estaríamos aqui, esperando a chegada de mais da metade dos participantes.
— Em Red Town seria bem mais fácil mesmo — murmuro, na
verdade concordando com ele, só que sem energia para reclamar.
Eu preferia muito mais ter alugado um hotel em Red Town, onde eu
já teria encontrado Crystal e perguntado que porra está acontecendo. Tive
que sair de Cosmos e correr para marcar presença nessa maldita convenção
e agora tenho que aturar esse evento até de noite, onde aconteceram a
maioria dos discursos e das discussões.
Por que Crystal não atendeu nenhuma das minhas ligações? Será que
ficou brava que eu não dei notícias durante quase duas semanas? Mas a
fêmea estava avisada que era questão de vida ou morte! Eu tinha que
permanecer indetectável enquanto instalava Klaus e Karina num bom lugar.
E isso parece ter gerado frutos, porque ninguém aqui veio em minha direção
falar sobre um lobo gigante de olhos amarelos na Red Town Club.
— De quem é que você está esperando uma ligação, em? — Bronte
pergunta, ao parar um pouco com as suas reclamações, e eu guardo o
celular no bolso antes que ele consiga ler o nome da fêmea no visor do meu
aparelho.
Eu salvei como “Mon naery” o contato da pequena humana que está
me fazendo arrancar tufos de cabelo da cabeça de tanto nervoso,
imaginando todo tipo de coisa. Contudo, estou querendo me convencer de
que ela não responder as minhas ligações não tem a ver com algo sério,
talvez só esteja chateada e que com muita sorte, conseguirei resolver esse
problema dedicando o meu tempo a ela e falando o pequeno texto que
formulei em minha cabeça.
— Não estou esperando nenhuma ligação — minto e o persanes ruivo
me encara gravemente por uns cinco segundos, o que me deixa tenso, até
abrir um grande sorriso e gargalhar.
— Está com uma fêmea nova, não está?! Grear me contou quem é,
uma médica humana. Seu garanhão! — exclama e me cutuca no braço, o
que deixa o meu rosto estranhamente quente e me obriga a ajustar a gravata
no pescoço.
O lobby do hotel é gelado por conta dessa merda de ar condicionado,
mesmo que estejamos pertíssimo de uma praia quente e límpida, então a
quentura de vergonha me causa calafrios.
— Não é bem assim… — desconverso, sem saber como reagir a
espontaneidade desse macho.
— E então, quando virão os filhotes? — pergunta, relaxando mais na
sua poltrona cor de creme, que é igual à que eu ocupo, enquanto os garçons
desfilam com bandejas de comidas.
Gastei uma semana inteira só decidindo o cardápio, tendo que fazer
malabarismo para fazer caber vários pratos persaneses que agradecem os
variados paladares, e agora tudo que coloco na minha boca tem gosto de
papel, porque estou nervoso demais.
— Não vamos ter filhotes.
Eu ainda continuo no cio, só que longe de Crystal, ele até que me deu
uma certa trégua. Estou esfolado e dolorido pra caralho, contudo, é
manejável com muita pimenta azul e ajuda de algumas folhas que Astor, o
curandeiro de Cosmos, me deu. Só quando eu ver aquela menina que tudo
deve desandar mesmo, não irei conseguir me segurar por nem um segundo,
provavelmente.
Como os persaneses não usam a internet, as nossas informações
acabam ficando guardadas e existem coisas que um curandeiro sabe e o
outro não. Astor, por exemplo, tinha as folhas para mascar com muita
facilidade em sua cabana e elas esconderam o cheiro do meu cio quase que
instantaneamente, segundo ele também ajudam a não ter os “ataques”
repentinos e repele os efeitos colaterais do cio tardio.
Enquanto que o meu curandeiro de Red Town não tinha nada para me
oferecer além de arranjar logo uma cuidadora de cio antes que ficasse cego.
— Do jeito que você está obcecado por esse celular, logo mais Filipi
terá irmãozinhos — brinca e volta a gargalhar. — Mas você pretende casar
de novo ou apenas a tomará como parceira temporária? Orinn, o seu irmão,
com certeza não iria gostar se vocês se casassem, certo?
Bronte me deixa mais ansioso com as suas perguntas, que são
assuntos que eu não tenho pensado sobre, enquanto tenho que lidar com o
meu sobrinho virando um lobo gigante.
— Pouco me importa o que Orinn acha ou deixa de achar. — Dou de
ombros, fingindo calmaria, quando, na verdade, esse assunto é muito
importante.
O meu cio só vai passar de verdade quando eu engravidar uma fêmea,
e uma cuidadora de cio está fora de questão agora que decidi que Crystal e
eu estamos nessa coisa de namoro. Só que eu não acho que a fêmea humana
irá querer abortar, e nem eu mesmo sei se conseguiria pedir isso a ela depois
de ver a sua barriga começar a crescer com um filhote nosso. Toda vez que
pensei nessa cena o meu corpo reagiu com uma explosão de prazer e
ansiedade que eu já não sei dizer se é culpa do cio ou não.
— Isso significa casamento, então? Se bem que essas humanas jovens
não são muito afeiçoadas ao casamento… — Dá um gole em sua água, sem
explicar direito o que quer dizer.
— Como assim?
— Ora, só o que vejo esses jovens humanos na televisão fazendo é
falar sobre liberdade. Eles não querem casar e ter filhotes, só querem viver
coisas rápidas. Será que a sua fêmea é assim também? — pergunta e me faz
quase morder a língua.
— Crystal não é como esses jovens humanos comuns, ela é muito
centrada e inteligente — argumento rapidamente com ele e com as vozes
dentro da minha cabeça que começam a formar teorias do porquê a fêmea
estar em silêncio até agora. — Ela fez até faculdade e sabe muito sobre a
nossa espécie, sabia?
— É, eu e Grear já nos consultamos com ela, e ela tem ajudado,
sabia? Agora a minha companheira até gosta de ter proximidade comigo e
eu tenho respeitado mais o espaço dela — explica e eu me sinto muito
orgulhoso que a minha fêmea esteja dando bons atendimentos por aí. —
Mas se você não der atenção certa à Crystal, essa fêmea pode se sentir livre
demais.
— Você sabe de algo que não está me falando? — Semicerro os
olhos, não gostando do caminho que essa conversa está tomando e achando
Bronte cheio de informações demais.
— Só o que estou dizendo, é que você está solteiro há muito tempo e
pensa muito em sua carreira, e se não tirar um tempo para cuidar dessa
médica, ela não irá te entender como Ellona. Fêmeas humanas são
diferentes, elas querem atenção, não só joias. Eu vi na TV. — Dá de
ombros, como se a televisão fosse capaz de lhe dar ótimas informações.
— Que raios de programa de TV é esse que você está assistindo que
fala todas essas coisas?! — grunho, sem paciência para as suas suposições.
— Não vou me lembrar do nome agora, mas tem reportagens bem
interessantes. Claro que não é feito para nós persaneses, mas eu gosto. Quer
que eu te passe o nome quando lembrar? — Ele para e fica olhando para
mim enquanto eu tento conter a minha vontade de sair andando daqui e
tentar ligar para Crystal mais umas trezentas vezes.
— Fala mesmo sobre os humanos? — Arqueio uma sobrancelha.
— Sim, fala muito sobre o comportamento deles, e é voltado, na
verdade, para machos humanos. Explica para eles como conversar com as
mulheres e entendê-las. — Bronte parece muito cheio de si falando sobre
esse tal programa de televisão. — Vai querer o nome ou não?
— Pode me passar o nome quando se lembrar — resmungo, pois se
machos humanos têm um programa feito para ajudá-los, então eu devo ter
acesso também. Quero saber o que é que esses homens têm aprendido por
aí, para não ficar para trás e ser pego de surpresa.
— Eu irei, é bem interessante. — Dá um sorriso malicioso que me faz
querer dar um nó em seu rabo. — Mas se tem uma coisa que digo para você
não fazer, é ficar falando da sua ex-mulher, as humanas odeiam ouvir. Elas
são muito ciumentas, assim como nós machos persaneses, e se você não
gostaria de ouvir sobre um companheiro passado dela, pode apostar que a
sua humana também não vai gostar.
— É claro que ela não vai gostar… — Sinto vontade de me bater.
Falei sobre Ellona por uma dezena de horas com Crystal e fiz isso porque
me sentia à vontade com ela, não porque queria lhe fazer ciúmes. — Mas
nem joias?
— Como assim?
— Persanesas gostam de joias, não se importam de elas vieram,
certo? — Joias são elementos milenares na nossa cultura e passam de
geração em geração, e as fêmeas gostam muito delas, pois além de serem
uma concentração imensa de dinheiro, ainda são bonitas e usadas para
demonstrar status.
— Certo.
— Mas você acha que uma humana não gostaria de ganhar uma joia
de uma ex-companheira?
— Ainda não entendi — responde e eu quero rosnar para esse macho.
Só diz que não entendeu para tirar mais informações de mim.
— Se eu, supostamente, desse uma joia de Ellona para Crystal, ela
não deveria ficar triste, certo? Só se Ellona tivesse usado a joia… coisa que
ela não fez — argumento e parece que finalmente o meu cérebro começou a
entender o que aconteceu.
— Meu Deus do céu, Vladimir! — exclama e eu me arrependo
instantaneamente de falar sobre isso com Bronte. — Nem mesmo uma
persanesa gostaria de ganhar a joia da falecida fêmea do macho dela, quanto
mais uma humana.
— Mas Ellona nem tinha usado o maldito anel! Isso não é tão ruim,
não é?! E eu não poderia dar algo novo, porque Crystal acabaria achando
que é… especial demais para mim. — Falar isso me faz sentir um gosto
amargo na boca, porque na época pareceu uma boa ideia, contudo, olhando
agora… foi realmente uma atitude muito estúpida tentar rebaixar Crystal
daquele jeito.
— E ela não é muito importante para você?
— É… — resmungo e tento encontrar uma posição confortável na
merda da poltrona. — Não consigo parar de pensar nela — admito, já que
não pretendo voltar a ver Bronte tão cedo.
Claro que penso sobre sexo com Crystal, pois sou um macho persanes
no cio, mas vai além disso. Cada coisa que vejo, quando menos percebo eu
já estou o relacionando com a médica.
— Então tome vergonha na cara e compre joias novas para ela, e pare
de falar sobre a sua esposa para a médica! — Dá um tapa em meu ombro e
eu mostro as presas para ele, irritado com o seu jeito expansivo.

— Crystal, por favor, atende o telefone. Sei que passei tempo demais
longe, mas agora eu voltei e tudo está parecendo bem. Nenhuma imagem
foi vazada, então já podemos nos falar de novo — falo depois que a
gravação do telefone disse que eu deveria deixar uma mensagem. — Por
favor, só atende o telefone, mon naery — imploro, feito o macho
desesperado que sou agora, e depois desligo. Isso realmente é humilhante!
Nem o meu filho está me atendendo!
— Merda — xingo e decido voltar logo para dentro do hotel, para não
perder o discurso do líder da cidade, Eren. Se ela me ligar de volta, eu
posso só ir até o banheiro e atender.
Eren, o loiro de chifres e rabo acinzentado, e que tem mais ou menos
a minha idade, está em cima de um pequeno palco no lobby do hotel, onde a
maioria dos persaneses que conseguiram chegar o escutam. Ele segura um
microfone e anda com confiança no pequeno espaço.
— Gostaria de dizer que está tudo bem para vocês, mas não está.
Cada dia mais os odiadores do nosso povo têm ganhado voz e tentado nos
encurralar através de suas armadilhas. — Eren dá uma grande pausa
dramática, enquanto encara nos olhos os machos mais próximos a ele. Ele
realmente sabe como conseguir seguidores por aí, assim como o seu pai e o
seu avô.
Eu estou perto da saída, pois decidi ligar para Crystal longe de
ouvidos curiosos, então ele provavelmente nem me vê daqui e isso é bom.
Não tenho muita paciência para esse macho, é cheio de si demais.
— Semana passada mesmo foi anunciado um senso, eles querem
contabilizar toda a população persanesa e nos prender com os seus
números! Querem saber sobre a nossa saúde, sobre a nossa natalidade,
querem mapear os nossos corpos e nos usar como ratos de laboratório! E
isso nós não iremos deixar!
Eren ganha muitos aplausos das dezenas de persaneses no lobby que
foi fechado especialmente para nós.
— E sabe como planejam fazer isso? Através de pequenos golpes,
pequenos integrantes que se dizem bondosos, que só querem ajudar. — Ele
pega algo em seu bolso de repente, clica algumas vezes e no telão atrás dele
aparece uma grande imagem de… Crystal?
Que porra é essa?!
— Estão vendo essa mulher aqui? Ela se diz médica especializada em
persaneses, e sabe como ela conseguiu esse diploma?! — pergunta e eu não
consigo conter o rosnado alto que nasce dentro de mim, o que faz alguns
persaneses próximos olharem para trás. Esse maldito macho está querendo
me afrontar?! — Através de uma faculdade na França, com um professor
persanes que de bom grado entregou tudo sobre nós!
O que esse filho da puta pensa que está fazendo?!
Começo então uma caminhada frenética por entre a porra da
multidão, querendo chegar em Eren antes que ele fale qualquer outra merda,
só que com todos esses machos aqui, cada passo é difícil através do carpete.
— Ela se diz boa e tem atendido persanesas! As suas fêmeas estão se
consultando com essa mulher, lhes dizendo coisas, e ignorando os nossos
curandeiros! — berra e isso faz todos os persaneses em volta de mim
gritarem xingamentos contra a imagem de Crystal, que foi tirada do site
onde ela abre agenda para os seus atendimentos. E isso deixa o meu coração
desesperado, enquanto o meu sangue ferve nas veias.
— Humanos não entendem as nossas tradições, nunca existiu e nunca
existirá uma “curandeira”! — debocha e eu perco a paciência e acabo
empurrando vários machos para finalmente conseguir ser visto por Eren.
— Cale a porra da sua boca, Eren! — rosno, enquanto sinto quase
como se descargas elétricas descessem pelo meu corpo. Só que esse macho
sujo está longe demais ainda.
— E sabem quem apoia essa fêmea?! Vladimir Dark Elf! — fala isso
olhando nos meus olhos e as descargas atingem os meus ossos, me
deixando paralisado de tanto ódio.
Ele está expondo Crystal! Mentindo para todos esses homens aqui!
— Não se pode confiar nesses humanos! Ela lhe enganou, irmão! E
nós iremos acolher a sua dor!
— Do que você está falando, snifli nain?! — As palavras mal saem da
minha boca, porque o tamanho do meu ódio é tão grande, que eu tenho
quase medo do que sou capaz de fazer agora.
Eu rasgaria esse macho ao meio agora.
— Você não sabe ainda?! Essa mulher que se diz estudiosa do nosso
povo, marcou casamento com Frederick Burner, um dos nossos maiores
opositores! — berra e sorri de canto de boca, e eu quero me convencer de
que é mentira, de que ele só está falando isso porque é um macho sem
limites e quer me envergonhar na frente de todos esses outros.
Só que as palavras de Eren ecoam dentro de mim e eu sinto até
fraqueza nas pernas.
Capítulo 32

— O que acha desse vestido, Crystal? — Isla pergunta, pois é assim


que decidi chamá-la a partir de agora. Essa mulher nunca foi e nem nunca
será uma mãe depois de ajudar Frederick a me trancar nesse quarto pelos
últimos dois dias.
— Escolha o que você quiser — resmungo, já sem energia para ser
grosseira enquanto continuo deitada na cama, que é onde tenho passado a
maior parte do tempo.
Só saio daqui para ir ao banheiro ou fazer as três refeições principais,
compostas apenas de vegetais e frutas crus, porque eles me colocaram numa
dieta absurda querendo que eu perca peso até o casamento que acontecerá
em alguns dias.
— Vamos, escolha o seu preferido! — exclama, querendo manter um
tom otimista enquanto me mostra foto de três vestidos diferentes, todos eles
extremamente fechados e parecendo que saíram do século passado. Estão
mesmo querendo vender uma imagem conservadora dessa merda de
cerimônia. — Esse aqui deve ficar lindo em você com essa dieta que
Frederick elaborou. — Ela sacode a foto de um dos vestidos brancos que
pra mim se parece exatamente igual aos outros.
— Vocês estão tentando me matar, não sei para que marcar casamento
se até lá não terei forças nem para andar mais… — Coloco a minha cara
contra o travesseiro branco com cheiro de empoeirado e me aperto contra
ele, como se isso fosse fazer tudo em volta de mim desaparecer, junto com
o desespero de me sentir profundamente sozinha nessa casa gigante e quase
vazia em algum lugar de Red Town.
E eu não posso nem dizer que isso é um cativeiro, porque cada vez
que vejo aquele homem sujo que é Frederick, ele me oferece a liberdade.
Ele gosta de me torturar, de abrir a porta da sala e dizer que se quiser, posso
sair por ela.
Contudo, o filho da puta sempre deixa avisado que no segundo que eu
sair, todas as informações dos persaneses serão liberadas na internet para
que o mundo tenha acesso, o que colocaria a vida de milhares de pessoas
em perigo. Mataria de adultos até filhotes. Por isso eu continuo aqui,
acatando as coisas que eles me impõem e me sentindo feito um animal de
circo enjaulado.
— Ninguém aqui está tentando te matar, não seja dramática. Já fiz
dietas mais restritivas do que essa. — Suspira bem alto e eu continuo com a
cara no travesseiro.
Não tenho o meu celular e nem um relógio para saber que horas são,
eles me desconectaram totalmente da realidade, e às vezes eu acho que tudo
isso aqui só pode ser um pesadelo, porque é absurdo demais.
Estou trancada na casa de um cara que vi umas duas vezes na vida e
que decidiu se casar comigo Deus sabe o porquê, e que está sendo apoiado
pelas pessoas que me criaram, porque ele provavelmente deve ter prometido
muito dinheiro para elas.
E pior ainda: eu nem sei onde Vladimir está. Não sei se ele conseguiu
chegar a Cosmos, se foi interceptado por persaneses ou humanos. Eu não
sei de nada.
— Você está ciente de que só estou fazendo isso para que Frederick
não espalhe as imagens, então por que continua querendo fingir que está
querendo me ajudar? — pergunto entredentes.
A situação já é horrível e ter que enfrentá-la com umas folhas de
alface e rodelas de tomate no estômago é pior ainda.
— Porque no final disso tudo, você verá que nós só queríamos o seu
bem. — Sinto as mãos de Isla nas minhas costas, fazendo carinho, o que me
faz tirar a cara do travesseiro na hora e me afastar. Encolho-me na cama
grande, que deve ter sido de alguém muito rico algum dia, mas que
abandonou essa mansão nesse bairro fantasma. — Frederick é um bom
homem, acredite você ou não. Ele está fazendo isso agora porque é tão
generoso que quer que todos nós tenhamos um bom futuro.
As palavras de Isla dão um nó na minha cabeça, provavelmente
porque estou com muita fome, mas depois de um tempo em silêncio,
percebo que estou com um diamante bruto em minhas mãos, cheio de
informações, só preciso lapidá-lo.
— Como assim generoso? — Uso o tom mais normal possível, sem
querer soar muito ansiosa por sua resposta.
— Eu vou te contar, Crystal, mas só porque acho que isso vai te
deixar mais calma. Quero que entenda que eu… não sou uma mãe ruim. —
Ela ajeita o corpo, ficando com a postura mais ereta, como se estivesse
pronta para fazer um grande discurso. — Talvez não tenha mesmo feito as
coisas certas algumas vezes, porém, agora eu estou fazendo. — Seguro a
minha vontade de revirar os olhos e espero. — Frederick conhece muito
sobre esses demônios, ele vem de uma linhagem antiga de humanos que
luta contra os persaneses e que tem juntado seguidores fiéis. Eles são
estudiosos e tem até uma espécie de pastor que os guia, apontando os
caminhos certos.
— Isso é uma espécie seita? — Arqueio uma sobrancelha.
Eu já vi documentários sobre seitas, o último se chamava “Rezar e
Obedecer” e foi realmente perturbador. As seitas são grupos que propagam
novos ideais e precisam de seguidores fiéis, e podem ou não ser religiosas,
contudo, não é um mistério para ninguém que quanto mais fechadas as
pessoas se tornam, maiores são as chances delas ficarem completamente
alienadas.
— Você pode chamar do que quiser, mas eles sabem muito sobre os
persaneses. — Isla desaprova as minhas palavras e faz uma careta. — E isso
que você sente por esse Vladimir, não é de verdade, minha filha. Esses
demônios atraem as mulheres com esses feromônios que eles soltam, para
que elas tenham os seus filhotes sujos, com rabos e chifres. Eles fazem isso
há muito tempo e agora está pior!
A minha mãe realmente está dando ouvidos para uma porra de uma
seita que demoniza os persaneses depois de ter convivido décadas com eles
nas festas partidárias do meu pai?!
É óbvio que existem persaneses ruins, mas também existem humanos
ruins, e nem por isso devemos enfiar todo mundo no mesmo balaio.
— Por quê? — pergunto entredentes, controlando a minha raiva para
não a desencorajar a parar de falar.
— Existe uma profecia antiga que fala sobre uma “nova era” e
Frederick acha que você pode estar incluída nela. — Puta que pariu, eles
sabem até da profecia! Nem eu tenho informações o bastante sobre essa
profecia! — Então é por isso que você deve se casar com ele, assim se livra
dessa profecia e dos feromônios desse Vladimir, entende?
— Entendi.
— Você acha que é a única que está perdidamente apaixonada por um
deles? A profecia fala sobre várias humanas se apaixonando por esses seres
de chifre que são marcados por uma tatuagem de lobo, não é só sobre uma,
mas ele escolheu te salvar, entende? Frederick vai se casar com você, te
salvar do pecado e tudo ficará bem! — Dá pra perceber pelo brilho nos
olhos de Isla que ela acredita no que está falando, ou no mínimo deseja
muito que tudo seja verdade.
Provavelmente porque se ela conseguir que toda essa baboseira que
falou seja real, apagaria que está mantendo a própria filha escondida numa
casa empoeirada e a maltratando por dinheiro e aparência sempre que pode.
— O que você sabe mais sobre essa profecia? — pergunto e Isla até
abre a boca para falar, contudo, ela para um pouco com o seu momento
salvadora da pátria ao perceber que estou realmente prestando atenção.
— Sabe de uma coisa? Não vou te falar mais nada! Frederick disse
que não deveríamos falar, então eu não vou, além do que, ele não me contou
tudo. — Fica brava, porque sabe que não estou perguntando porque acredito
nas palavras que saem da sua boca, e sim porque preciso que a merda desse
casamento faça sentido.
— Por que ele não quer que você fale? Será que é por que não confia
em você? — Tento instigá-la, mas acho que não vai dar certo. Ela não é tão
burra assim.
— Você ainda está enfeitiçada por esse Vladimir, vejo isso nos seus
olhos, Crystal! — exclama, como se estivesse de frente com o próprio
capeta. — Quando você estiver limpa dele, aí sim Frederick vai te contar o
plano dele e do grupo! — Cruza os braços na frente do peito, determinada a
não me ajudar mesmo. — Você é uma ingrata! Não acredito que eu estava
tentan… — começa a reclamar, mas é interrompida no meio por um som de
sirene. — O que foi isso?!
Vladimir
— Estou procurando Crystal faz dois dias e não consigo encontrá-la,
pai. Ele a escondeu muito bem em algum lugar na cidade — Filipi explica,
sentado ao meu lado enquanto eu dirijo em alta velocidade. Ele está com
olheiras fundas no rosto, de quem não tem dormido nada, e tem um cheiro
forte de ansiedade. — Frederick não vai para a própria casa há dois dias!
Deixei homens de tocaia na porta dele e tentei falar com a polícia humana,
mas eles nos odeiam e mesmo que tenha sido uma deles que sumiu, o
trabalho de investigação tem sido desleixado!
— Mas você já falou com todos os detetives disponíveis?! — berro,
fazendo o melhor para conter o medo e a raiva dentro de mim, mesmo que
seja quase impossível. — Eu quero todos, Filipi! Todos os detetives
particulares desta cidade atrás dela!
Assim que soube da porra do casamento de Crystal com Frederick, eu
saí do hotel, ignorando todo e qualquer maldito macho que tentou falar
comigo, peguei um helicóptero e voei para a minha casa, só para encontrá-
la abandonada, sem nenhum dos seguranças em volta, e vazia.
— Tenho sete detetives trabalhando nisso agora, falei para Cindy ir
atrás de todos e pagá-los o melhor possível, mas ninguém sabe onde ele a
colocou.
Fecho meus olhos por dois segundos enquanto afundo o pé no
acelerador, tentando me convencer que não terem a achado só significa que
não procuraram direito, e não que ele a matou.
— Rastreamos todas as propriedades no nome de Frederick e fomos
até cada uma delas. Eu até bati na porta até mesmo dos aliados políticos de
Frederick e todos só disseram que não o veem a dias. Mas eu duvido que
seja verdade, porque os filhos da puta nos odeiam!
— Como ele conseguiu entrar na porra da minha casa?! — rosno e
faço o melhor para prestar atenção no trânsito, antes que bata esse carro.
Agora nós estamos indo em direção à uma das propriedades que um
dos detetives acredita ser onde Crystal possa estar, pois a casa já foi da
falecida esposa de Frederick. O meu filho já rodou por uma lista imensa de
lugares hoje e só faltou esse, que é bem mais afastado e num bairro
abandonado.
— Como ele passou pela minha segurança, levou a minha fêmea e
depois desapareceu com ela sem deixar nenhum rastro?! Isso é absurdo! —
Estou acabando com o volante usando as minhas garras nele, pois não
consigo me conter. Já destruí dois sofás desde que cheguei em Red Town e
não consegui liberar nem 1% da fúria que sinto. — E por que você não me
avisou de porra nenhuma?!
A esse ponto eu estou gritando descontroladamente, sem dar espaço
para Filipi falar, e não porque eu o culpo, e sim porque me culpo. Filipi
nunca foi preparado para lidar com esse tipo de disputa suja, diferentemente
de Dante e Klaus. Ellona e eu nunca quisemos o inserir nesse mundo quase
surreal, onde as pessoas nos caçam como se fôssemos bichos.
— Eu tentei falar com você ontem! Pedi até para o assistente de Klaus
passar a mensagem, mas ele disse que estava muito difícil fazer contato,
mesmo por rádio! — explica, olhando para um mapa, já que estamos
chegando no bairro. — E depois você tinha saído de Cosmos e eu acabei…
que quebrando o meu celular de raiva.
— Como fez isso? — Viro a minha cabeça momentaneamente para
ele, que dá de ombros.
— Peguei o aparelho na mão com tanto ódio que o amassei todo… —
explica, soando envergonhado. — E como passei o dia indo nessa lista
enorme de possíveis endereços onde Crystal pode estar, enquanto os
homens vão nos lugares fora de Red Town, fiquei sem ir atrás de um novo
aparelho e meio que… entrei em pânico — admite e suspira baixo. — Sei
que ela é importante para você, pai, e ela também é importante para mim,
porque é uma pessoa legal.
— Ela é… muito importante para mim. — A minha garganta dói e a
minha voz embarga, mesmo que eu lute para conter a emoção.
Eu ainda não sei como essa menina tomou tanto espaço no meu peito,
não é inteligível para eu dizer isso. O tempo todo eu repeti pra mim que ela
era nova demais, que era agitada demais, que era… humana demais. E
mesmo assim… o meu coração está batendo loucamente só de pensar em
perdê-la.
— A esse ponto ele já pode ter feito o que quiser com ela e isso está
me deixando maluco, pai. Porque se fosse você aqui, já teria a encontrado a
muito tempo. Me sinto um idiota por não ter conseguido achá-la até agora
— admite e me faz sentir muito culpado.
— Não diga isso, você fez tudo o que conseguiu e adiantou as coisas.
— Estico o meu braço e toco o seu ombro com carinho. — Vai ficar tudo
bem, tá bom? — garanto, tendo que ser otimista para não deixar Filipi ainda
mais nervoso.
Quando o meu filhote era mais novo, sofreu muito com os outros
persaneses falando dele e do seu jeito diferente. Por ter herdado muitos
traços de sua mãe, ele sempre foi uma criança bonita e feminina, com a voz
fina e longos cílios, e isso nunca foi um problema para mim. Ele brincava
de boneca e de carrinho, mesmo que muitos me criticassem por deixá-lo
livre para usar a cor que quisesse, do jeito que quisesse.
Após crescer, no entanto, Filipi tem puxado cada vez mais o meu lado
da família, ficando muito grande, ganhado músculos, e a sua beleza
continuou. Só que por ter ouvido comentários maldosos demais sobre a sua
aparência e jeito, ainda mais tendo genitálias diferentes, isso o deixou muito
inseguro e confuso.
— Espero que ela esteja aqui — murmura e eu não consigo dizer nada
mais para consolá-lo por não ter achado Crystal, porque agora estamos no
quarteirão onde fica a casa e menos de dois minutos depois já estamos na
frente de uma casa da propriedade e que parece abandonada, segundo a
pintura descascada de seus muros.
— Tem um carro na garagem — sussurro para o meu filho e escolho
dirigir até o final da rua e largar o meu veículo lá, assim não paro bem em
frente ao lugar.
Depois nós dois voltamos correndo, mantendo olhos e ouvidos
abertos para tudo em volta, e como a casa não tem um portão e nem um
muro que evite a nossa entrada, seguimos pelo gramado morto a muito
tempo, prontos para arrombar, quando de repente um alarme dispara.
— Merda! — xingo, tampando os ouvidos para tentar me livrar um
pouco do som ardido que penetra os meus tímpanos como uma faca.
Porém, logo o som para e eu consigo deixar de ficar paralisado no
lugar, só que depois disso a porta dupla de madeira da casa se abre e quem
sai dela me deixa num misto de raiva e alívio.
— Você está invadindo a minha propriedade, demônio! — fala
Frederick, o loiro alto que roubou a minha fêmea segundo as gravações das
câmeras de segurança da minha casa.
— Eu quero Crystal agora! — rosno para o macho nojento e em duas
batidas de seu frágil coração humano eu já o peguei pela gola de sua
camisa, o que o surpreende. — Ela está aqui! Eu sei que está!
— Você quer a Crystal?! — pergunta, sem demonstrar medo em suas
expressões, mas eu sei que está aterrorizado. O seu maldito cheiro ruim não
mente. — Então me largue!
— Não vou te largar até vê-la! — Sacudo o seu corpo com força e
isso avermelha o seu pescoço e rosto. — Quero a minha mulher ao meu
lado em um minuto ou ninguém vai reconhecer o seu cadáver. — As
palavras mal saem da minha boca e o meu rosto está bem próximo ao dele.
Eu seria capaz de absolutamente qualquer coisa agora. Partiria esse
macho em dois para ter Crystal.
— Primeiro você vai me largar — diz entredentes, pois estou quase
levantando o seu corpo do chão através de sua roupa, enquanto o meu rabo
bate de um lado para o outro, chicoteando o ar.
— Me dê a minha fêmea, humano detestável!
— Isla! Venha até aqui e traga a Crystal! — grita, percebendo que eu
não irei ceder, conforme os meus olhos acendem um laranja muito forte.
Eu sei que Isla é a mãe de Crystal, o que me deixa surpreso, mas nem
tanto. A família toda da minha mulher é suja e a minha vontade de
despedaçar Isla só cresce, conforme ela aparece rapidamente na porta
aberta, e ao lado dela está a minha mulher.
Capítulo 33

— Crystal! — Filipi berra às minhas costas e eu largo o maldito


político na hora para avançar em direção à fêmea, que mesmo que só esteja
aqui há dois dias, já me parece muito abatida, cheirando a medo e a
ansiedade de um jeito que embrulha o meu estômago.
Ela veste uma camiseta larga de algodão e uma calça de moletom,
ambas as peças muito largas para o seu corpo. Os seus cabelos estão
opacos, não tem nem um sapato em seus pés, tendo que andar descalça no
chão frio, e ela tem olheiras escuras.
— Vamos embora agora — falo, sem nem me dar tempo para
cumprimentá-la, já pegando-a pelo braço, que está frio demais para o meu
gosto.
Eu só preciso tirá-la daqui, lhe dar um lugar para descansar, e depois
saber exatamente o que aconteceu e quem eu devo matar.
— Não, Vladimir — diz de repente e sacode o pulso, sem sair do
lugar e querendo que eu deixe de tocá-la.
O que está acontecendo aqui?!
— Não? — Arqueio uma sobrancelha e escaneio os seus olhos
castanhos, que me parecem tão sem vida enquanto se enchem de lágrimas.
— Vou me casar com ele — sussurra e o seu lábio inferior começa a
tremer de um jeito que parte o meu coração. A minha fêmea está assustada
demais e é tudo culpa minha, que fui negligente. — Tenho que me casar
com ele, Vladimir. — Termina de tirar o braço da minha mão e ao invés
disso, toca o braço de Frederick. — P-por favor, aceite isso.
O rosnado que retumba em minha garganta eletrifica o meu corpo
todo com ainda mais ódio e faz o meu filho sussurrar palavras de calma em
nossa língua materna. Ele sabe que irei explodir em segundos se não
receber uma boa explicação.
— O que fizeram com você? Ele te drogou, meu amor? — pergunto
isso já farejando a médica em busca do cheiro de algum medicamento. Ela
tem que estar drogada, é a única opção.
— Não posso ir com você. — Nega com a cabeça e dá mais passos
para trás, o que me faz engolir em seco.
Estou olhando para Crystal com a minha mão estendida para ela, me
oferecendo para tirá-la das mãos do homem que a sequestrou, e pela
primeira vez ela não a pega. Pela primeira vez ela recusa e eu simplesmente
não sei o que fazer.
Acho que estou tão nervoso, que todos os pensamentos
desapareceram da minha cabeça e ficou só a dor.
— Viu só? Você ignorou Crystal por tantos anos e pisou tanto, que
agora a médica prefere a mim. — Frederick sorri com deboche, mesmo que
esteja quase mijando nas calças de medo de mim. Ele com certeza não
esperava ser encontrado. — Vá embora e deixe eu e minha noiva em paz.
— Vou arrancar a sua cabeça, snifli nain! — xingo ele de macho sujo
e vou novamente em sua direção, pronto para matá-lo.
— Não faça isso! Só vá! — Só que a minha pequena fêmea grita
comigo antes que eu tenha sucesso, o que me deixa horrorizado, parado no
lugar. — Vá embora, Vladimir, agora!
— Crystal… o que está acontecendo, diga para mim, por favor —
imploro, como nunca achei que fosse fazer para nenhuma humana.
— Ela já disse que quer ficar! — Frederick exclama e coloca a mão
no ombro de Crystal, que mexe os lábios sem som formando as palavras
“Festa de noivado hoje à noite”.
Então eu finalmente entendo o que está acontecendo, enquanto ela se
força a dar um pequeno sorriso triste para mim, querendo me acalmar. A
minha fêmea não me odeia! Eu só estou tão aflito no meu cio e na minha
saudade, que não consegui parar um segundo para imaginar que ela poderia
ter um motivo para querer ficar.
Mas que inferno de motivo é esse que a manteria aqui?!
— Vá embora, Vladimir — volta a ordenar e dessa vez eu não brigo
mais, apenas aceno com a cabeça e me afasto junto ao meu filho.
Contenho os meus rosnados enquanto assisto Frederick discursar
sobre o relacionamento “profundo e carinhoso” que ele tem com Crystal. Já
estou escondido aqui há pelo menos uma hora e cada vez que o macho sujo
sequer coloca os seus olhos na minha fêmea, tenho que segurar os meus
impulsos assassinos.
Nunca matei em vão, diferente de muitos da minha espécie, mas
estando no cio, apenas com pimenta azul e folhas para mascar me
segurando de não enlouquecer, tudo em mim grita por vingança. Eu quero a
cabeça dele mais e mais ao assistir esse show ridículo que Frederick Burner
está fazendo para os seus aliados, desfilando com Crystal como se ela fosse
um objeto, quando ela obviamente não quer estar aqui.
Ele não deveria ter o direito nem de estar na mesma mesa que Crystal,
quanto mais tocar o seu ombro e fazer brindes, e eu também não deveria
estar assistindo isso de tão longe, através de uma janela do lado de fora, do
jardim escuro desse salão de festas num bairro perigoso de Red Town.
Contudo, essa foi a melhor posição que consegui, já que decidi seguir
qualquer que seja o plano maluco dessa menina.
Estou tendo que usar óculos escuros para esconder o brilho alaranjado
dos meus olhos indo e vindo desde que cheguei, me esquivando nesse lugar
sujo de pessoas que não tem uma visão boa para me perceber aqui, vestido
todo de preto e com um capuz do meu filho. Filipi mesmo quem fez os
buracos para colocar os chifres.
Mas graças a Persani, o último rei Vrusni, Crystal logo consegue uma
deixa e eu sigo o seu caminho por fora, agradecendo também a preguiça dos
seguranças no lugar, e antes que o meu coração saia pela boca, a pequena
fêmea humana aparece saindo pela porta traseira, desacompanhada e
parecendo estar com muito frio nessa noite de lua nova.
— Vladimir? — sussurra, não me vendo, pois me embrenhei nos
carvalhos da propriedade. Ela usa um vestido branco amarelado, cor que dá
uma ideia de algo encardido e que nunca vi em lugar nenhum de seu
armário, e a peça é larga demais e com mangas curtas, o que faz a fêmea se
abraçar para se proteger do vento da noite. — V-você está aqui? — gagueja,
olhando para todos os lados, mas sem conseguir enxergar muita coisa, até
que eu tiro os óculos e deixo que ela veja as minhas íris irradiando o
laranja, que simboliza o tamanho dos sentimentos que borbulham no meu
interior conforme corro para ela e a pego em meus braços.
— Deus do céu. — A minha voz sai até embargada e Crystal solta
uma respiração aliviada.
— Vladimir! — Abraça o meu corpo usando as suas pernas e passa os
seus braços por trás do meu pescoço, tão ansiosa quanto eu. — Você veio
— sussurra, lembrando que não pode gritar.
— Claro que eu vim, mon naery — falo com a minha boca grudada
em seu ouvido, inalando o máximo de seu cheiro enquanto o meu corpo
absorve o calor do dela, que não é tanto quanto eu gostaria. Crystal está fria
demais. — O que ele fez com você? Ele está te machucando? — pergunto,
com o meu coração batendo tão alto que atrapalha a minha audição.
Ela está nos meus braços, com o meu rabo enrolando em seu
tornozelo, e eu ronrono feito um maluco.
— Ele não me machucou — diz o que preciso saber, então tiro o seu
rosto que se enfiou na curva do meu pescoço e grudo os meus lábios nos
seus.
Fiquei tempo demais longe dessa fêmea, tempo demais sem sentir o
seu gosto. Com uma mão eu a mantenho no alto, segurando em sua bunda, e
com a outra eu aperto a sua nuca, deixando que nossas línguas se
entrelacem, sentindo a sua respiração afobada contra a minha pele.
— Eu deveria ter te levado, Crystal — murmuro ao parar o beijo para
abraçá-la bem apertado. A minha médica não tem mais o seu cheiro de
sempre, agora ela usa shampoo e condicionar que adicionam aromas ruins à
sua pele, mas ainda é minha. — Deveria ter te levado para aquela ilha
comigo e nunca ter te tirado do meu lado.
— Frederick tem imagens, Vladimir, ele teve acesso ao Red Town
Club e conseguiu filmagens de Klaus virando um lobo — cochicha com
pressa, o que arregala os meus olhos, conforme caminho com ela para entre
os carvalhos, onde fica mais difícil de nos verem. Não é uma floresta ou um
jardim suntuoso, mas ainda é afastado das janelas do salão.
— Como você sabe disso? Ele pode estar blefando.
Ele tem que estar blefando.
— Não está, ele me mostrou as imagens e, além disso, Frederick
invadiu o meu apartamento e roubou todas as minhas anotações — fala
ainda mais rápido e eu me recuso a largar o seu corpo, mantendo-a para
mim e colocando as suas costas contra uma árvore. — Ele sabe tudo sobre
vocês agora, todas as ervas que lhes fazem mal, sobre as roranis, sobre o
acasalamento. Frederick tem tudo e a culpa é minha.
— Não é culpa sua que aquele humano é podre — sussurro e faço
carinho com o meu dedão em suas bochechas, sem acreditar que ela está
aqui e que nada horrível lhe aconteceu. Estou quase tremendo de tanta
ansiedade. — Vou matá-lo hoje e vou te levar embora. — Coloco a mão
como uma concha em volta de seu pequeno rosto arredondado, que está
abatido como constatei mais cedo. Ela também não tem mais unhas longas e
pintadas e nem maquiagem.
— Você não pode fazer nada, porque nós não sabemos quantas cópias
ele tem de tudo, se passou para mais alguém. E os meus estudos são muito
aprofundados, se Frederick passá-los para o governo ou para alguém pior
do que ele, poderiam fazer muito mal a vocês.
— Nós vamos embora daqui e nunca mais o veremos. — Aperto mais
o seu corpo no meu, sentindo a sua barriga macia e o que ela chama de
“pneus” em sua barriga.
— Frederick é líder de uma seita contra os persaneses. Eu ainda não
sei muito, estou tentando descobrir mais. Contudo, sei que é sério e é
antigo, o tataravô dele já era líder dessa merda.
— E o que é que eles querem? — Franzo a testa, chocado com essa
informação. Persaneses são perseguidos desde que aparecemos, mas os
grupos nunca conseguiram ir muito longe, porque nós temos mais dinheiro
do que qualquer humano pode sonhar.
— Eles acham que vocês são demônios mesmo, do inferno.
— Persaneses nem acreditam em inferno, mon naery. A nossa cultura
tem muitos deuses, mas não existe inferno para nós. Os humanos que nos
chamam de demônios, mas nós somos como vocês, descendentes de raças
que evoluíram.
— Eu sei, mas Frederick e as pessoas dessa seita, que eu nem sei
quantas são, encaixaram vocês em coisas da bíblia e acham que vocês são o
mal encarnado. — A respiração dela parece difícil, pois está muito nervosa.
— Eles dizem que vocês hipnotizam a nós mulheres humanas com o seu
cheiro, que nos enfeitiçam porque o sexo feminino é frágil, e que querem
repovoar o mundo e acabar com os humanos.
— Isso é um absurdo! — Nego com a cabeça.
— Eles sabem inclusive da profecia sobre o persanes que tem o lobo
no peito, só que a minha mãe diz que eles acham que não é só um casal —
explica e me surpreende. Muitos persaneses que vivem no continente não
sabem muito sobre os nossos costumes, porque tudo isso ficou em Cosmos.
— Alguns casais de macho persanes e fêmea humana irão começar a se
juntar, e a partir dos filhotes desses casais, todos vão poder se transformar
em lobo, e vão acabar com os seres humanos.
Tudo que Crystal me diz é alarmante e absurdo, e é por isso que
preciso tirá-la daqui agora. Filipi está nos esperando de carro a alguns
quarteirões daqui e irá nos levar para casa, onde pegaremos algumas coisas
e depois iremos para a Itália.
— Vamos embora, deixe eles para trás. Eu te prometo que depois que
você estiver nas ilhas de Cosmos, tudo ficará bem. — Aproximo o meu
rosto do dela e esfrego a ponta do meu nariz no de Crystal, que retribui o
carinho e coloca uma palma sobre o meu peito vibrando. — Eu ainda estou
no cio e se você quiser… podemos recomeçar.
— Você quer dizer com filhotes? — Arqueia as duas sobrancelhas e
eu sacudo a cabeça em concordância. — Você quer mesmo ter filhotes
comigo? — A voz dela fica até embargada e eu abaixo ainda mais a cabeça
para roçar meus lábios nos dela.
— Tudo isso que está acontecendo é horrível, mas serviu para me
ensinar uma lição. — Paro de falar, esperando que ela me encare nos olhos.
— Eu não controlo quase nada do que acontece na minha vida, mas o pouco
que controlo, eu devo aproveitar. E se você ainda me quer, mesmo depois
de tudo que já te fiz, então serei o melhor macho do mundo.
Ela abre a boca para falar, contudo, o seu lábio inferior treme e
Crystal acaba fungando e depois virando o rosto, para não me ver mais.
— Não posso ir, Vladimir — murmura e me faz querer rosnar. — Ele
vai soltar as informações na internet ou dar para alguém. Tenho que ficar.
— A minha médica está preocupada demais, como se pudesse salvar todos
os persaneses de uma vez, mas ela não pode.
— E o que é que você quer que eu faça, menina? Quer que eu te deixe
ao lado desse maldito? Que te deixe casar com ele? — pergunto, indignado
com a ideia de deixá-la voltar para dentro dessa festa com essas pessoas
obviamente insanas.
— Ele vai prejudicar a todos os persaneses. Todo mundo vai ser preso
o-ou atacado usando as coisas dos meus cadernos que juntei a faculdade
toda, ainda mais com a prova de que Klaus pode virar um lobo. Eles vão
fazer parecer que todos vocês são perigosos, que são monstros.
— Você não pode se sacrificar, se ele quiser fazer isso, vai fazer de
qualquer jeito, independente se você se casar com ele ou não. — Não falo
em voz alta como estou com medo do que Frederick pode fazer se ficar
sozinho de verdade com ela. Não quero assustá-la, mas as chances dele ser
um sádico são muito grandes.
— Até agora ele não divulgou nada, cumpriu a promessa de ficar
calado caso eu aceitasse esse teatro, então vou tentar descobrir mais.
— Isso é perigoso demais!
— Tenho que tentar, Vladimir. Foi para isso que eu me formei, para
conhecer mais sobre você e também ajudar os persaneses.
— Eles podem fazer mal a você!
Será que ela não vê o quanto está se arriscando? Será que espera que
os seus malditos pais façam algo, quando eles obviamente só pensam em si
mesmos?
— Vai ficar tudo bem, eu vou descobrir tudo que puder, tentar
entender melhor essa seita — insiste, me tirando do sério.
Vou ter que levá-la à força daqui?!
— Venha comigo, pelo amor de Deus, Crystal! — exclamo
desesperado, já sem pensar que alguém pode nos ver.
— Me deixe descer, Vladimir, agora — manda e eu não obedeço,
seguro bem o seu corpo contra o meu. — Agora! — ordena de novo e eu
começo a caminhar em direção a Filipi, enquanto a fêmea se sacode e tenta
me empurrar, como se tivesse força comparada a mim. — Se você
realmente gosta de mim, me deixe descer. Porque se for voltar a ignorar
tudo que te falo, vai estar dizendo para mim que não mudou, que continua o
mesmo macho que me mandou para Paris e nunca parou para me escutar.
— Shikri! — xingo o equivalente a palavra merda e largo a médica no
chão. — Volte para o humano, então!
— Você sabe que não quero voltar — praticamente rosna as palavras
e fica parada me olhando. — Só n-não me largue sozinha e me deixe
descobrir o máximo de coisas. Depois vou com você, Vladimir, eu juro. —
O seu cheiro de medo aumenta.
— Nunca vou te largar sozinha, agora vá — ordeno, porque as
minhas mãos já estão coçando para pegá-la de volta. — Sempre vou estar te
olhando.
— Tudo bem. — Crystal assente e depois começa a andar em direção
à porta, o que parte o meu coração. Vê-la ir embora nunca foi tão difícil.
— Eu te amo — sussurro, sem saber se irá me ouvir ou não.
Só que a médica torce o pescoço e me encara assustada, então sei que
me ouviu. Porém, eu não lhe dou tempo de responder, se é que vai
responder. Corro de volta para Filipi para contar tudo, antes que perca a
cabeça e não consiga atender à vontade dela.
Capítulo 34

É incrível o número de pessoas nessa merda de festa, e o mais


assustador é que a maioria delas é mulher, algumas mais velhas, parecem
ter mais de setenta anos, porém, o grosso mesmo das pessoas tem a minha
idade ou até mais jovem, e todas se vestem como eu, com vestidos largos,
que não marcam as suas formas e que as deixa completamente apagadas.
É como se fossem todas a mesma pessoa, sentadas ao lado de homens
que podem ser seus pais, irmãos, ou até maridos, e de boca fechada. Elas
claramente não têm voz e isso começa a me dar calafrios, porque suspeito
que talvez essa não seja só uma seita que compartilha ideias uma vez por
semana e depois cada um vai para a sua casa.
Talvez isso aqui seja muito maior do que eu tenha imaginado e as
minhas desconfianças se provam verdadeiras quando um grupo de três
pessoas se aproxima da mesa redonda onde o líder disso tudo e eu estamos
sentados sozinhos, num canto.
— Olá, senhor Shepard! — Frederick cumprimenta o homem de uns
sessenta anos que vem na frente, enquanto as duas mulheres ficam atrás.
O senhor está de terno, tem cabelos brancos e me olha por meio
segundo antes de voltar a encarar Frederick, como se tivesse medo demais
de se demorar em mim.
— Olá, senhor Burner! Eu acabei chegando um pouco mais tarde do
que o planejado e vim parabenizá-lo por seu noivado! — diz muito
formalmente. Aliás, todos aqui são muito formais e eu já vi velórios mais
animados. A decoração é simples, cheia de rosas brancas e renda por todo
canto, ninguém bebe álcool e a música de fundo é clássica. — Confesso que
fiquei um pouco preocupado quando o comunicado foi enviado para a nossa
vila, mas depois de conhecer a sua futura esposa, ficamos muito felizes. —
Ele estica a mão, Frederick se põe de pé e aceita o cumprimento.
— Não se preocupem com nada, o nosso pastor Johnson foi quem
traçou o meu encontro com Crystal — afirma e faz um pigarro, que é o
sinal para que eu me levante também, então eu o faço.
Não sei por que Frederick me deixa ficar aqui, sabendo muito bem
que a minha saída de vários minutos não foi normal. Não é possível que ele
não tenha desconfiado. Porém, eu só sigo o combinado a partir daqui, e
agora muito menos ansiosa, porque sei que Vladimir irá ficar perto de mim.
E também sei que ele me ama…
O meu rosto fica quente só de lembrar disso.
— Seja muito bem-vinda à nossa comunidade, Crystal — o tal senhor
Shepard fala, mas não estica a sua mão para me cumprimentar. Ele só acena
com a cabeça e depois dá um passo para o lado, assim eu vejo as duas
mulheres que trouxe melhor. — Essas aqui são as minhas duas filhas, Juliet
e Nancy.
— Olá, Juliet e Nancy — murmuro, percebendo como os cabelos
delas estão presos num coque baixo e como nenhuma delas usa nenhum
tipo de bijuteria além de uma pequeno colar com pingente de cruz.
— Olá — uma delas responde, só que eu não sei se essa é Juliet ou
Nancy. Ela é muito pálida, com cabelos castanhos e sardas no rosto.
— É muito bom te conhecer, Crystal — a outra fala, ainda sem me
revelar quem é, e também com sardas, só que ela é loira.
As duas são gordas como eu, provavelmente por conta de genética,
então os seus corpos são bem parecidos, só que uma é mais baixa, com
1,50m ou 1,55m talvez, e a outra deve ter mais ou menos a mesma altura
que eu, que tenho 1,67m.
— Também é bom conhecer vocês — falo, sem jeito, porque sinto
como se todos no salão me observassem de repente.
— É muito bom saber que você se libertou daquele monstro que se
diz senador do nosso estado — a mais alta fala e me surpreende. O quanto
essas pessoas daqui sabem sobre mim? — Semanas atrás minha irmã e eu
fomos até uma das entrevistas dele. Eu tive a coragem de protestar e fui
retirada pelos seguranças, quando só estava falando a verdade!
Eu fiquei sabendo desse incidente! Foi bem no dia que eu revi
Vladimir depois de oito anos fora, e foi provavelmente o gatilho pro cio
tardio dele se mostrar!
— As minhas meninas são muito ativas na luta contra aqueles
demônios, e o que pudermos fazer para desintoxicar a sua futura esposa,
nós faremos — o mais velho fala, com muito orgulho, e depois de uma
conversa engessada sobre amenidades, eles se afastam.
Após isso, muitas outras famílias também vieram até nós e cada vez
mais me fizeram sentir como se estivesse a séculos atrás. É como se
Frederick fosse o suserano de suas terras e eles fossem os camponeses lhes
desejando um bom casamento com a mulher estranha que foi enfeitiçada
por um persanes.

O sorriso branquinho de Frederick desapareceu assim que saímos da


tal festa de anúncio de noivado. O silêncio reinou dentro do carro e eu fiz o
meu melhor para disfarçar a apreensão enquanto olhava pela janela,
imaginando de que maneira Vladimir estava me seguindo, se estava com
Filipi junto e se conseguiria atender ao meu pedido de me deixar aqui até
que eu descubra o bastante para impedir que Frederick divulgue as imagens
que tem.
O loiro não me levou para a mesma casa de antes, que ficava no meio
do nada e parecia abandonada. Dessa vez ele me trouxe para um lugar
próximo do centro, o que me deixou menos apavorada. Pelo menos não
estava mais num território desconhecido e remoto.
— Venha — Frederick fala como se eu fosse um cachorro após
estacionar o carro numa garagem cheia de carros de luxo.
— Onde está a minha mãe? — pergunto, pois o pequeno tempo que
passei junto a ela, foi o bastante para perceber que dessa vez Isla não estava
fazendo tudo por dinheiro, só por insanidade mesmo.
Dessa vez tinha mesmo uma partezinha dela que acreditava que
estava fazendo o bem me casando com esse psicopata, então eu decidi que
usaria isso a meu favor. Pois pelo menos com ela por perto, acredito que
Frederick não faria nada estranho. Isla me prometeu que o loiro não me
violentaria e nem seria agressivo comigo, que eles só queriam “me ajudar e
me fazer enxergar como Vladimir era ruim”.
— Sua mãe está perto, assim como o seu pai e muitos dos meus
seguranças — responde e vai andando na minha frente, o que me obriga a
segui-lo, na esperança de que eu finalmente possa comer algo.
Estou com a barriga completamente vazia desde o almoço e a comida
na “festa” era toda servida por garçons que nunca ofereciam nada às
mulheres, somente aos homens, o que só me deixou mais desconfiada de
que coisas tenebrosas acontecem nessa seita. Infelizmente eu também não
pude ter mais nenhum contato com Vladimir para pedir que me trouxesse
alguma coisa.
— Você já pode ter a sua refeição agora — diz ao chegarmos numa
cozinha muito bem equipada, mas igualmente sem vida, assim como o resto
da casa luxuosa e sem habitantes.
A cada janela que passei nesse lugar, dei uma pequena olhada em
busca de algum ponto laranja, contudo, não tive nem sinal do persanes. O
que, na verdade, é bom. Ele tem que passar despercebido, mesmo que isso
faça o meu coração bater rápido demais de medo.
— Aqui. — Frederick tira da geladeira um pote grande de vidro cheio
de frutas como morangos e uvas, mas nada além disso. Não tem pão ou
carne, sequer algum tipo de verdura cozida.
— Eu preciso comer algo com sustância — reclamo, sentindo a
fraqueza, e ficando até meio zonza, porque o meu almoço foi composto de
meio sanduíche com geleia e duas laranjas.
Frederick está brincando de nutricionista, só que se isso continuar por
mais tempo, eu sei que irei começar a ficar doente.
— Você precisa perder peso para entrar no seu vestido! — exclama,
empurrando a bacia para mim através de um balcão de mármore no centro
da cozinha.
— Não tem como eu perder medidas assim tão rapidamente! E sem
comer desse jeito, só ficarei fraca! — Estou quase chorando agora, porque
ele controla até o tanto de água que bebo e isso está me fazendo sentir
torturada.
A minha vontade é largar tudo para o ar, mas a lembrança do que
pode acontecer com milhares de pessoas fica martelando na minha cabeça e
não me deixa desistir. Pelo menos adentrando nessa seita, posso ter uma
ideia melhor do que os persaneses estão lutando contra.
— Se não quer as frutas então vá para cama, e se tocar algo nessa
geladeira, eu irei saber — diz entredentes e eu tenho que segurar as
lágrimas que querem invadir os meus olhos enquanto pego várias uvas e
enfio de uma vez na boca. A maioria das frutas que estão nessa bacia, são
praticamente só água. — Assim é melhor, não quero me casar com uma
baleia. — Faz uma careta de nojo e só para me fazer sentir pior, ele me
assiste comer em silêncio por longos minutos com os seus lábios finos se
retorcendo.
Frederick olha cada mordida que dou desesperada nas frutas como se
eu fosse um monstro comendo, e antes que possa tentar pelo menos aliviar
um pouco da minha fome, ele já está tirando o pote das minhas mãos.
— Frutas também engordam, é melhor você ir dormir. — Semicerra
os olhos e a minha barriga faz um barulho alto. Eu me sinto até gelada de
tanta fome e com dificuldade de pensar. — Você vai me agradecer depois,
quando estiver menor — fala e se eu pudesse, rosnaria para ele.
— Você não quer que eu emagreça, quer me torturar — a minha voz
sai como um choramingo fino da minha garganta.
Uma coisa é você escolher fazer uma dieta, outra coisa é alguém te
controlar e você nem saber quando terá a chance de tomar um copo de água
ou comer um pedaço de carne novamente!
— Vamos, vou te mostrar o seu quarto até o casamento.
A sua frase chama muito a minha atenção.
— Até o casamento? — pergunto enquanto ele guarda o pote na
geladeira e eu tenho só um pequeno vislumbre do tanto de comida que tem
lá dentro. Acho que nunca senti tanta fome em toda a minha vida e eu juro
que vou dar um jeito de encontrar Vladimir essa noite só para fazê-lo me
trazer uma refeição enorme. E é por isso que dietas extremamente
restritivas tendem a falhar, o indivíduo fica ansioso e come muito mais do
que deveria quando tem a chance.
— Até o casamento dormiremos separados, depois eu irei ajudar a
limpar toda essa sujeira de você — fala, como se não fosse nada demais, e
volta a andar, o que me obriga a segui-lo.
— Como assim limpar a minha sujeira? — Luto contra a tontura da
fome e a dificuldade de pensar e a minha sorte é que não tenho que andar
muito.
O quarto que Frederick escolheu para mim é aqui no térreo, e parece
ter sido feito para uma empregada usar, pois é bem pequeno e sem mobília,
com paredes brancas e sem janela.
— Deite-se — ordena e faz um calafrio descer a minha coluna.
— O-o que vai fazer? — gaguejo com medo e começo a procurar por
algum objeto que possa usar para bater nele caso tente algo estranho. Não
vou me submeter a um estupro.
— Eu disse para se deitar! — berra e eu não consigo ver o seu rosto
direito, porque ele não ligou a luz e aqui não tem nenhuma fonte de luz
natural.
— O que você quer de mim? Não vou fazer sexo com você. — Nego
com a cabeça.
— Acha que eu iria querer foder uma mulher como você?! — berra e
antes que eu possa sequer tentar me esquivar, Frederick já desferiu um tapa
do lado direito do meu rosto, o que causa um som alto e uma dor muito
ardida na minha pele.
— O que você está fazendo?! — Seguro o lado que ele bateu, lutando
para não chorar por conta da dor e da humilhação, que me fazem lembrar do
meu encontro de 8 anos atrás com Ramon.
— Eu dei um voto de confiança a você e você me traiu! — berra
muito grosseiramente e eu tento me afastar, sair do quarto, antes que algo
pior aconteça, mas ele me segura pelos dois braços com força, apertando a
minha pele sem pena.
— Me largue! — grito me sacudindo enquanto o meu coração bate
muito forte e o calor do tapa dele se espalha pelo meu rosto todo.
— Te apresentei para todos os meus seguidores, que são filhos dos
filhos dos seguidores dos homens da minha família, o meu tataravô já os
guiava! Antes mesmo desses persaneses reaparecerem e fingirem ser elfos,
e você me desonrou! — Empurra-me contra a parede com força, o que
machuca as minhas costas, e eu tento cobrir o meu rosto enquanto grito para
parar, só que o psicopata puxa as minhas mãos e me bate de novo.
A dor irradia pelo meu olho como um choque muito forte e só depois
de alguns segundos que entendo o que aconteceu, de tão atordoada que fico,
sem rumo e com dificuldade de respirar tamanho o choque. Frederick
acabou de me dar um soco na cara.
— Todos os meus seguidores vivem juntos e sabem que nós estamos
chegando perto do apocalipse!
— P-pare! — peço e mesmo assim ele me puxa rápido pelos cabelos e
me joga no chão. Esse filho da puta é forte demais e eu estou num estado
deplorável para me defender de suas investidas! — Pare com isso!
— Estamos chegando no momento onde o homem terá que se
levantar contra os demônios persaneses, se quiser continuar existindo! —
grita enquanto eu engatinho para longe, sem ter certeza se conseguirei ficar
de pé com velocidade o bastante para fugir. — Mas você, uma vadia sem
cérebro, que não consegue ver o que está bem na sua frente, acha que pode
brincar comigo! — Só que Frederick de qualquer forma já seria mais forte
do que eu, pois é muito alto e é homem, e como está bem alimentado, para
ele é fácil voltar a me puxar pelos cabelos. — Você é suja!
A força que usa para me segurar, envia dor por todo o meu couro
cabeludo e me faz soluçar.
— E você é maluco! — berro, agora não mais para insultá-lo, e sim
na esperança de que Vladimir apareça, enquanto estapeio tudo que consigo,
empurrando-o para longe e querendo machucá-lo de um jeito que o faça
parar. — É um doido! — Continuo falando, com a visão do olho direito
começando a ficar estranha por conta do soco.
— Você e aquele demônio sujo fizeram um filhote esta noite? Está
grávida dele?! Puta suja! — Então vem algo ainda pior, algo que eu não
esperava de jeito nenhum.
Frederick continua de pé e me dá um chute abaixo do seio esquerdo, o
que me causa uma dor que nunca senti antes, algo tão forte que é quase
como se eu fosse perder a consciência.
O bico do seu sapato me acertou nas costelas e eu sei disso enquanto
viro uma bola e me jogo no chão mesmo, sem conseguir engatinhar mais.
Lágrimas quentes descem dos meus olhos e eu não sou capaz de respirar
direito e nem de chorar alto, muito menos gritar por ajuda.
— Eu só não te bato mais, porque o nosso casamento será em alguns
dias e nós teremos fotógrafos! — diz e cospe em mim, com a sua saliva
indo parar nos meus cabelos bagunçados, e depois sai do quarto, me
deixando sozinha no chão.
Capítulo 35

Eu não saberia como entrar nessa fortaleza de segurança que é o


pequeno condomínio de luxo onde fica a casa de Frederick, mas Filipi, que
ficou o tempo todo ao meu lado e que está pensando muito melhor do que
eu, decidiu chamar reforços e é por isso que conseguimos ir muito mais
longe de forma silenciosa do que eu achei que fôssemos capaz.
— Tem certeza de que quer fazer isso, pai? Ela te pediu para esperar
um tempo, para que conseguisse descobrir mais sobre essa coisa de seita
deles.
— Ela também me pediu para que eu não a deixasse sozinha —
murmuro, enquanto ficamos parados vestidos de preto na escuridão desta
noite longa demais.
Estamos exatamente em frente à casa branca e amarela de Frederick
agora, depois de passarmos por mais três menores. Como eles escolheram
arborizar bastante o lugar, não fica difícil nos escondermos entre as árvores
e arbustos.
— Você chamou cinco humanos para invadir isso conosco hoje —
Filipi resmunga, abaixado junto comigo, enquanto os cinco humanos estão
espalhados pela rua sem saída luxuosa, também escondidos atrás de
árvores.
Eles de alguma forma desarmaram todo o sistema de segurança e nos
colocaram para dentro, mesmo que o líder deles dissesse que era melhor
que fizessem toda a operação sozinhos e eu e meu filho só esperássemos do
lado de fora.
— Você mesmo disse que precisaríamos de reforços, de pessoas que
soubessem como passar pela segurança desse lugar.
— Eu sei, mas você está com cara de quem vai querer sequestrar
Crystal daqui hoje. — Filipi me conhece mais do que bem e sabe como a
minha cabeça funciona.
— Só irei entrar lá e ver se está tudo bem. — Dou de ombros, sem
querer admitir que algo dentro de mim diz que devo ir logo até a minha
fêmea.
Eu não confio naquele maldito político e nem concordo com a ideia
de Crystal de achar que pode ser uma infiltrada. Não vou aceitar usá-la
como isca e se eu encontrar qualquer coisa fora do lugar. Qualquer coisa.
Jogo a médica nas minhas costas e a tiro daqui não importa o quanto peça
para ficar.
— Entre pela porta traseira agora, conseguimos desativar os alarmes
e as trancas de dentro da casa. Você tem vinte minutos, câmbio desligo. —
A voz masculina diz através do fone na minha orelha e eu sei que o meu
filho consegue ouvir também.
— Vou ficar aqui esperando — sussurra e eu concordo com a cabeça,
depois corro pela rua o mais rápido e silencioso que consigo, e vou até a tal
porta traseira.
Se eles tiverem feito algo de errado, assim que eu abaixar a maçaneta
uma senha numérica será pedida e se não for digitada corretamente, o
alarme toca e a polícia chega, mas se tiverem conseguido mesmo fazer tudo
certo, então a porta estará aberta.
Vamos lá, Vladimir.
Recitando mentalmente uma reza que a minha bisavó costumava dizer
para mim quando eu era só um filhote, eu abaixo a maçaneta e a porta se
abre com facilidade. Isso!
Muito atento a todos os sons, caminho rápido pelo lugar, seguindo o
mapa que decorei. Os humanos contratados arranjaram até uma planta dessa
casa, que é feita de maneira padrão por uma construtora aqui em Red Town.
Esse lugar todo cheira a produto químico e parece arrumado demais
para que alguém realmente viva aqui dentro, e além disso, eu sinto logo o
cheiro do medo de Crystal, o leve mentolado, ao mesmo tempo que também
tem algo estranho, um aroma pungente que já detectei antes.
É como se fosse um ardido forte e faz a pele das minhas narinas
queimarem. Eu não sei se faz sentido, mas às vezes é como se a dor física
tivesse um cheiro para mim e é isso que eu sinto aqui. Dor e medo. Então
vou seguindo esses aromas até chegar numa porta entreaberta de um
cômodo no térreo, que seria muito escuro para um ser humano, mas que
para mim não é tão difícil de enxergar.
— Crystal? — Localizo com facilidade o seu corpo no chão. Por que
a minha fêmea está em posição fetal nesse lugar frio? — O que está
acontecendo? — Custa tudo de mim não fazer barulhos altos de raiva em
minha garganta conforme me coloco devagar de joelhos ao seu lado.
Crystal respira bem devagar enquanto os seus cabelos cobrem uma
boa parte de seu rosto. Ela ainda veste a mesma roupa e sapatos da tal festa
e está tão gelada que eu até me assusto.
— V-vladimir? — diz baixinho e estica as suas mãos trêmulas e frias
para tocar em mim, encontrando os meus dedos.
— Estou aqui, meu amor. — Coloco as madeixas para longe de seu
rosto, sem compreender por que ela fica no chão, e não na cama ao seu
lado.
— Me tire daqui, por favor — choraminga e eu fico horrorizado ao
conseguir um vislumbre melhor do rosto de Crystal. O olho direito todo
dela está inchado e a parte branca está vermelha como sangue.
Ele feriu a minha mulher! Bateu nela no tempo que demorei para
invadir esse lugar!
— Meu Deus do céu. — Fico até com dificuldade de falar, de tanta
raiva que sinto. — Olha o que ele fez com você… — Respiro com rapidez,
enquanto os meus olhos acendem laranja e iluminam o quarto.
— Acho que quebrou uma costela minha, dói para… respirar, então
tenho que falar com… calma — explica bem lentamente, tomando o seu
tempo. Com a mão livre eu furo as minhas calças com as garras, tirando
sangue de mim mesmo para tentar controlar o tamanho do meu ódio. Eu
preciso me manter quieto, preciso tirá-la daqui em segurança e depois terei
a minha vingança. — Tenho que ir ao… hospital, fazer raio-x e…
tomografia.
Crystal não precisa dizer mais nada, levo logo o meu antebraço até a
minha boca, mordo bem fundo e depois coloco em seus lábios. O líquido
vermelho goteja num fio e ela engole um pouco, mas depois me afasta,
meio engasgada.
— Beba, vai ajudar você a se curar.
— P-preciso saber o… que quebrou, Vladimir. — Essa fêmea teimosa
quer dar ordens até agora, quando está toda machucada depois de não me
deixar levá-la logo quando a encontrei!
— Beba, Crystal — mando de novo e ela me obedece, pegando o meu
braço e sugando mais e mais do meu sangue, mesmo que o gosto
provavelmente não lhe agrade. O som dela engolindo é a única coisa que
me acalma agora.
O corpo persanes é muito forte, nós nos curamos muito rápido e eu
nunca nem ouvi falar em alguém da minha raça que tenha tido uma
infecção. Por isso, quanto mais ela bebe, mais certeza tenho de que tudo
ficará bem, porque eu farei ficar.
Mas não saio daqui sem a cabeça de Frederick, não importa o que me
digam!
— Como se sente agora? — pergunto com o máximo de carinho que
consigo, após ela parar de tomar e eu ter contado dez minutos completos no
relógio em meu pulso.
Sei que já deveria tê-la tirado daqui, mas seria muito doloroso para
Crystal sair sem ter começado a se curar pelo menos um pouco. A minha
médica não merece sofrer tanto.
— Um pouco melhor — admite. — Obrigada por vir me buscar,
Vladimir — ela me agradece como se não fosse a minha obrigação, então
não digo nada, ainda mais que pretendo fazer algo importante agora.
— Vou colocá-la sentada — aviso e como não me para, pego o seu
corpo delicadamente e faço com que fique ereto, com o seu traseiro grudado
no chão e as costas contra a parede. — Posso beber o seu sangue agora?
— Quer… acasalar comigo? — Arqueia as duas sobrancelhas.
Crystal é muito esperta e sabe que se ela beber o meu sangue e depois
eu beber o dela, isso mudará o cheiro que os nossos corpos exalam e nós
estaremos acasalados. É claro que também existe uma cerimônia a ser feita,
assim como o casamento humano, mas essa não é a coisa mais importante
de um acasalamento.
— Quero ter certeza de que você é minha — respondo e ela concorda
com a cabeça e me dá o seu braço.
— Me faça sua — sussurra, me encarando com um olho bom e o
outro inchado, enquanto força um pequeno sorriso, e eu me sinto um macho
patético.
A culpa de ter deixado que a minha fêmea fosse espancada e ter que
vê-la assim tão frágil está me consumindo. Ele pode não ter tirado sangue
dela, mas machucou o seu interior e isso é imperdoável. Frederick tem que
morrer!
— Não vou tomar muito, prometo. — Raspo um pouco as minhas
presas em sua pele macia antes de afundá-las e os meus olhos se reviram,
porque não deveria gostar tanto, mas eu gosto, e sinto um prazer absurdo
em tomar um pouco de seu sangue, nublando os meus pensamentos.
— Já está… bom — diz e eu levanto a cabeça para vê-la mordendo o
lábio inferior, sentindo um pouco de dor por ser mordida por mim, então
afasto a boca de seu braço e aproximo o meu rosto do seu.
— Eu vou cuidar de você, menina, vou te tirar daqui e nunca mais
vamos olhar para trás. — Enfio as mãos por debaixo de seu corpo e passo a
ajeitá-la, para colocá-la em meu colo.
— E a filmagem? E as anotações que… ele tem? — pergunta
enquanto coloca a sua cabeça em meu peito e eu me ponho de pé, com
Crystal segurando a ponta de meu rabo em suas mãos e acariciando. Ela é
tão doce e tão gentil e mesmo assim as pessoas a machucaram.
— Posso matar todos daquela festa até que não sobre ninguém para
revelar nada, mon naery — sussurro em seu ouvido, andando devagar e
passando pela porta com ela em meus braços. O peso dela é mais
confortável do que um problema para mim. — Matarei quantos for preciso
para que você não tenha medo de viver, eu prometo.
— Só me tire… daqui, por favor — choraminga, cedendo de verdade,
finalmente.
— Então fique em silêncio, que logo estaremos fora — continuo
falando em seu ouvido e ela assente de maneira pequena com a cabeça.
Olho em meu relógio para garantir que ainda temos tempo, e constato
que tenho cinco minutos inteiros antes que as portas se fechem. Não posso
correr com a minha fêmea em meu colo, porque isso faria a dor piorar, só
caminho com firmeza e logo estou na frente da porta traseira, empurrando a
maçaneta e saindo da casa, o que seria muito calmante, se não fosse o que
está nos esperando do lado de fora.
— Mas o que é isso?! — O filho da puta do pai da Crystal grita e se
aproxima mais rápido, já que ele ainda estava chegando até aqui. — Você
invadiu a propriedade do senador e está tentando levar a minha filha?!
Ele segura uma espingarda e passa a apontá-la para mim, mas eu
estou com tanto ódio, que não sinto nem um pouco de medo de ser baleado,
o que poderia me matar, dependendo de onde a bala atingisse. A única coisa
que esse macho não pode fazer é atirar na minha fêmea.
— Crystal não quer ir com você! — Isla exclama atrás de seu marido.
— Ela disse que ficaria! Que se casaria com Frederick!
— Nos deixe… passar — A fêmea em meus braços tenta falar, mas a
sua voz é engolida pela voz de seus parentes.
— Ela quer ficar!
— Crystal disse isso porque estava com medo de vocês! Será que não
percebem o quão ruins vocês são para ela?! — grito, indignado com eles.
Pelo canto do meu olho eu percebo os homens humanos que contratei
chegando, e também escuto a segurança de Frederick percebendo a nossa
presença só agora. Nós temos pouco tempo.
— Você tem idade para ser pai dela, não vê como isso é nojento?! Eu
devo ser só alguns anos mais velha que você! — A mãe de Crystal continua
falando e eu sei que logo a merda do loiro estará aqui e já não deve
importar mais que a minha fêmea queira ir embora, duvido que ele irá
obedecê-la. — Deixe a nossa filha, ela vai se casar com um bom homem,
que tem a idade mais parecida com a dela e que não é um demônio! — Isla
continua implorando e a voz dela é tão fina que atinge os meus ouvidos
como agulhas, me machucando mesmo.
— Largue ela logo, seu demônio! — O velho grita e é como se todos
os sons em volta me fizessem mal e de repente eu sinto uma descarga
estranha de energia no meu corpo, com os pelos da minha nuca se
arrepiando, e cada membro meu começa a se paralisar. Isso me obriga a
colocar Crystal no chão ao meu lado, antes que eu a deixe cair de maneira
brusca.
— Venha para cá, minha filha! Vamos acordar Frederick para ele tirar
esse demônio daqui! — a mulher ordena e a minha humana não se move,
continua de pé e passa as suas mãos no meu braço, notando que tem algo de
errado.
— Não chegue perto da minha fêmea! — rosno, só que o som da
minha boca é muito grosso e tão deformado que até eu me assusto.
— Está acontecendo algo com ele! — o pai dela grita e percebe antes
de mim que tem algo muito errado mesmo.
Eu me sinto ficando mais alto enquanto escuto sons que vem de
dentro de mim, sons de ossos se quebrando, minha pele toda arde e queima
e a minha visão muda, ficando ainda mais detalhada e mais panorâmica sem
explicação alguma.

Crystal
— Você… — Assim como eu, o meu pai fica de boca aberta. Num
minuto Vladimir estava em sua forma normal e no outro, pelos começaram
a brotar de sua pele e tudo nele foi mais do que dobrando de tamanho, o que
me obriga a me afastar. — Você é um monstro! Um demônio!
A cabeça da criatura é gigantesca e o lobo cinzento de olhos laranjas
que vai surgindo, tem três metros no mínimo agora, mas isso só por estar
sobre as quatro patas. A sua extensão de verdade deve ter uns 5 metros, o
que é assustador.
— Humanos ruins — o lobo fala, num tom gutural e assustador que
revira tudo dentro de mim, e eu não consigo mais respirar devagar, o que
me causa muita dor. — Vão pagar por tudo que fizeram… — Vladimir
abaixa o seu corpo numa postura de ataque e rosna alto de um jeito que me
paralisa.
Ele é um lobo do mesmo jeito que Klaus, com os chifres grandes na
cabeça e o rabo, o que, em tese, não é estranho. Se o outro persanes com um
lobo no peito virou uma criatura, Vladimir também se transformaria em
uma.
Contudo, ao invés de ficarem parados como eu, os meus dois pais
escolhem correr de medo, e essa é a última coisa que se deve fazer perto de
um persanes, ainda mais um que trocou de forma e que deve estar muito
irritadiço. Eu me lembro como Klaus ficou na piscina e imagino que
Vladimir esteja também muito defensivo.
Tudo acontece muito rápido e eu não tenho tempo nem de tampar os
meus olhos para não ver o lobo começando a agir. Primeiro ele vai atrás do
meu pai, correndo com o seu novo e gigante corpo que faz o chão tremer, e
não precisa caçar por muito tempo. Ele só abaixa o seu grande focinho,
abocanha a cabeça do homem e sacode com força de um lado para o outro.
Vladimir morde a garganta do meu pai, fazendo jorrar sangue para
todo o lado. O meu coração bate desesperado dentro de mim, e quando o
meu pai cai no chão, já está imóvel e eu sei que não está vivo, porque a sua
cabeça fica para trás num ângulo impossível de se conseguir alcançar vivo.
— V-vladimir — sussurro, tentando chamar a atenção dele para mim
e morrendo de medo de sua selvageria. Eu deveria gritar, na verdade,
porém, não consigo. Estou num estado letárgico estranho demais.
— Marcel! Você matou o meu Marcel! — A minha mãe berra,
erroneamente escolhendo parar de tentar encontrar um lugar para se
esconder, e isso só faz o lobo gigante correr até ela também e pegá-la pelo
ombro.
Ele crava os dentes com tanta força que o meu corpo todo tem um
solavanco de susto.
— Se-seu demônio maldito! — berra e faz o lobo jogá-la no chão, só
que agora eu consigo fechar os olhos para não ver o que fará em seguida.
Só escuto os rosnados e sons do corpo dela sendo quebrado, enquanto as
lágrimas quentes descem pelas minhas bochechas.
Ao olhar de novo, o corpo de Isla está completamente arruinado e isso
me faz vomitar na hora, só que eu não tenho muito no estômago, por isso
coloco para fora somente ácido e o sangue de Vladimir que bebi agora há
pouco e isso chama a atenção da grande criatura, que volta para mim numa
velocidade ímpar.
— Eu quero Frederick — grunhe, com o nome “Frederick” saindo
muito estranho, soando como “Federiqui”. Deve ser difícil mesmo falar
com tantos dentes na boca.
Limpo a minha boca do vômito e sinto a minha garganta quase como
se estivesse queimada de tanto ácido que passou por ela. Eu não consigo
nem ter medo dele, é como se tivesse tomado uma injeção grande de
anestésico.
— Va-vamos embora, ele vai querer te pegar, Vladimir — falo, sem
saber se ele vai me dar ouvidos ou não. Afinal de contas, essa criatura é
gigante, com dois olhos laranjas que parecem brasas e patas com mais que o
dobro do tamanho da minha cabeça. — Não podem te ver dessa forma.
— Frederick! — rosna e uma figura conhecida se aproxima, o que faz
o lobo se virar na hora.
— Ele não está aqui, pai! — Filipi exclama, tomando cuidado com os
seus movimentos, para não ser atacado. Ele caminha bem devagar e coloca
as duas mãos para cima. — Já revistei a casa toda, o cheiro dele é forte e se
corrermos, podemos tentar encontrá-lo.
O pelo de Vladimir é grosso e tem vários tons de cinza misturados
aqui, o que é surreal. Tudo isso é surreal, na verdade, e eu não sei como vou
seguir a diante quando finalmente absorver o que acabei de ver.
— Frederick! — O lobo repete e antes que eu consiga dizer qualquer
outra coisa, ele começa a farejar.
Capítulo 36

Sempre que viro a minha cabeça, sei que Vladimir está me encarando,
esperando que os meus olhos foquem nos seus, contudo, desde que saí da
casa de Frederick, que eu simplesmente não consigo focar nos olhos de
ninguém.
Parece que todas as palavras de dentro de mim se esvaíram e os
sentimentos que ocasionalmente aparecem, são errados e estranhos, junto
com as imagens sangrentas, então eu os empurro para baixo novamente.
Agora não. Só quando estivermos em segurança.
— É melhor você tomar um pouco do meu sangue antes da viagem
começar — fala, chamando a minha atenção, que estou hipnotizada pelas
águas azuis de Nápoles, na Itália, onde chegamos na hora do almoço.
— Acho que já estou bem — murmuro.
Vladimir buscou por Frederick por dias seguidos e de um jeito nada
saudável, quase sem dormir ou comer, enquanto eu fiquei dentro de casa me
curando. Mas ocasionalmente ele desistiu de encontrar o filho da puta, que
se esvaiu como poeira no ar. Foram quase duas semanas enquanto os
investigadores o ajudavam e tentavam encontrar mais sobre a tal seita e
onde estavam os meus cadernos e a filmagem de Klaus.
Infelizmente não tiveram muito sucesso. Até localizaram algumas
pessoas, mas eu proibi Vladimir de matar alguém que não Frederick, pois
me lembrava sempre daquelas duas mulheres, Juliet e Nancy, e de como
elas pareciam alienadas por todas aquelas pessoas em volta. Talvez existam
mais garotas assim, nunca se sabe.
Então nós saímos de Red Town, após ele ter certeza de que eu estava
mesmo curada, pegamos um avião particular e viemos para a Itália. Filipi
ficou, sendo os olhos e ouvidos de seu pai, e também continuou cuidando
da gata laranja Lava, que permaneceu na casa dele desde que eu fui
sequestrada.
— Beba só mais um pouco de sangue, para termos certeza. Você teve
que se mover demais desde que saiu de Red Town. Aqui. — Ele se
aproxima de mim no deck do iate e me dá o seu braço já com furos para o
sangue passar, sabendo que eu não conseguiria romper a pele com os meus
dentes, e eu acabo aceitando.
O gosto é muito parecido com o do humano, algo como metal, a única
diferença é que é mais amargo e fica mais tempo na minha língua. Sugo
devagar por talvez um minuto inteiro e depois solto.
— Posso tomar um pouco do seu também? Ou não quer mais fazer
isso? — A voz dele é suave, mesmo que o que esteja perguntando seja
muito sério.
Vladimir passou a maior parte do tempo longe nos últimos dias e o
seu cio incendiou ainda mais a sua raiva. Então provavelmente nenhum de
nós tem mais o cheiro um do outro.
— Está me perguntando se eu não quero mais estar acasalada com
você? — pergunto e o grande persanes, que veste uma regata branca, faz
um aceno curto e até meio tímido com a sua cabeça. Acho que nunca vi
esse homem ser tímido alguma vez na minha vida.
— Aqui. — Dou o meu braço para ele na hora.
— Não quer conversar sobre tudo aquilo primeiro? Pode me falar
como se sente, eu vou entender. — Novamente ele busca os meus olhos
com os seus, mas eu desvio, porque sinto que se focar nele só um pouco,
vou acabar desmoronando bem aqui.
E nós não temos tempo para isso, precisamos chegar em Cosmos.
— Você disse que eu era sua. — Dou de ombros, querendo me
esquivar.
— Você é. — Vladimir não aceita mais que eu não o encare
diretamente e me pega pelo queixo, o que faz os nossos rostos ficarem
frente a frente. — Você é minha, Crystal — fala com mais determinação e
isso me faz soluçar.
Eu estou uma bagunça.
— Então tome o meu sangue. — A minha voz afina, se tornando
quase um choramingo.
— Eu sinto muito por seus pais, não deveria ter feito o que fiz, mas…
estar em forma de lobo deixou tudo muito difícil de controlar. — Ele se
aproxima mais e como ainda está segurando o meu braço, coloca a minha
mão em seu rosto. — Eu tinha medo que algum deles atirasse em você com
aquela arma e tinha raiva que eles não tivessem parado Frederick antes dele
te machucar. Se eu estivesse com a cabeça no lugar, não teria sido tão
brutal, porque ainda eram os seus pais.
— Você fez o que foi preciso — falo, porque o meu cérebro entende
isso. Só que uma boa parte de mim ainda está assustada com o que viu e
também com o que sentiu. — Está tudo bem… — Faço carinho em seu
rosto com os meus dedos e Vladimir começa a ronronar, o que me
surpreende.
Desde que as empresas da minha família faliram e eu fui atacada por
Ramon, eu entendi que nada mais viria sem esforço. Tudo que eu quis, eu
corri atrás, e agora esse homem que os meus olhos sempre perseguiram,
mesmo que através da internet, está aqui ao meu lado, ronronando para mim
após ter varrido cidades e mais cidades para encontrar o meu agressor.
— Quando estiver pronta para falar, eu estarei aqui, mon naery. —
Ele se abaixa e a minha respiração acelera, enquanto os seus lábios pousam
nos meus com um beijo rápido e carinhoso. Deus do céu! Por que parece
que vou derreter quando eu já transei tantas vezes com ele?! É só um beijo!
— Você é minha e eu sou seu, certo?
— Ce-certo. — Fico até rouca para responder, depois ele pega o meu
braço e morde a pele, o que me faz encolher os ombros com a dor, mas
Vladimir passa a sua língua, com a sua saliva que ameniza a pontada, e
pode beber de mim e continuar selando o nosso acasalamento.

— Vocês são muito bem-vindos aqui, nós temos um quarto para


ficarem enquanto reformamos uma cabana — a fêmea de Klaus fala, com
um grande sorriso em seus lábios.
Talvez o sangue de Vladimir no meu organismo tenha me afetado
muito, porque assim que o barco dele saiu e eu entrei no pequeno quarto do
iate, um sono muito forte me derrubou e eu só acordei quando Vladimir
tocou o meu rosto dizendo que havíamos chegado, mas precisávamos ir
para um bote para passar pela redoma de corais imensa em volta das ilhas
de Cosmos.
— Muito obrigada, Karina — agradeço meio sem graça, entrando no
que virou a casa dela.
É uma das cabanas de madeira no meio de uma campina na grande
ilha cercada de um mar tão límpido e imenso que sinto arrepios só de ouvir
as ondas quebrando daqui. São quilômetros e mais quilômetros de água. É
um lugar paradisíaco e que para passar férias deve ser incrível, mas que
para viver deve ser difícil.
Nayni é a ilha principal do arquipélago de Cosmos, lá existem muitos
moradores, alguns até humanos, e é possível de conseguir quase tudo do
continente através de um barco. Agora Rigan, que é onde Klaus, Karina e
seu curandeiro estão morando, não é um lugar muito explorado e nem com
muitos recursos.
— Aqui é meio complicado… Nayni era mais fácil, sinceramente,
mas tivemos que vir para cá, para nos escondermos melhor. Aqui é muito
quente e até agora o solo não foi dos melhores — fala enquanto caminha e
me mostra o seu pequeno lar.
Logo quando chegamos, eles nos explicaram que essas cabanas já
estavam aqui e que eles apenas pegaram essa, reformaram e criaram
algumas divisórias. Então agora eles têm dois quartos, sem camas, só
colchão, nada de banheiro, uma grande cozinha e uma grande sala, que
também não tem muito.
O curandeiro vive em uma outra cabana que ainda está sendo
terminada e é isso. Só existem essas casas abandonadas por alguns
persaneses aqui, além de um templo antigo onde costumavam cultuar os
seus deuses antes de irem viver entre os humanos.
Eu me lembro de meu professor Anastase falar como Rigan nunca foi
considerado um bom lugar, por conta de seu solo um pouco diferente do
resto.
— Eu sinceramente nunca fui muito ligada em mobília, mas tem
sido… difícil — murmura e fica óbvio o desânimo em seu tom de voz,
mesmo que Karina tenha sido pura energia até agora. — Só que não é pra
sempre, né? É só por um tempo.
Ela fala e o tempo todo a mão fica em cima da sua barriga
arredondada, que cresceu substancialmente desde a última vez que a vi na
piscina com Klaus. É muito bom ver como se curou.
— Sim, só por um tempo. Logo voltaremos para o continente, talvez
só não para Red Town. Klaus e Vladimir falaram sobre isso logo quando
saímos do barco.
Ouvir isso faz os olhos castanhos de Karina se animarem e ela abraça
mais o corpo, que me parece muito bronzeado. Agora a mulher veste uma
regata branca bem folgada, chinelos e um short molinho, e toda a pele
exposta tem um tom dourado, com pontos avermelhados.
— Por mim tudo bem não voltarmos para Red Town, desde que
voltemos algum dia para o continente — explica e eu concordo com a
cabeça, conforme reparo na falta de sofá na sua sala. O que será que Karina
e Klaus fazem para passar o tempo? Acho melhor não perguntar… — Astor
está usando umas receitas antigas e vendo se conseguimos algumas
bananeiras e até arroz, então você não precisa se preocupar.
— Vocês estão com falta de comida? — Arqueio uma sobrancelha,
preocupada que ela esteja malnutrida.
— Não, nós temos bastante coisa, ainda mais com Dante que decidiu
nos dar uma ajudinha — explica e me surpreende.
— Dante está ajudando?
Dante é outro sobrinho de Vladimir, que sempre foi um mistério para
mim. Ele é o Dark Elf que menos aparece nos jornais, e quando aparece é
sempre para falar sobre finanças. Sempre foi muito estudioso e o avesso da
maioria dos machos que conheço, mais quieto e certinho.
— Ele está passando por um momento bem ruim da vida, na verdade.
— Suspira baixo, com pena. — Ficou viciado em Nyn e isso quase o matou,
por isso se mudou para Nayni, aqui do lado, e agora está renegando
totalmente os pais.
— Entendi… — murmuro, muito interessada na história enquanto
Karina aponta para um par de cadeiras de madeira onde nos sentamos.
— Me desculpe se estou falando muito, é que só tenho Klaus e Astor
para conversar, e Dante não é muito fã de conversa, então fica complicado.
Acho que a esse ponto eu já contei a minha vida toda para Klaus.
— Está tudo bem. — Coloco a mão em seu ombro e dou dois
tapinhas, até que escuto passos entrando na cabana quase vazia.
— Estou indo agora, tá bom? — Vladimir aparece no batente da porta
de entrada.
— Tudo bem. — Concordo com a cabeça e ele faz um aceno curto
para mim e para Karina antes de sair.
O persanes está indo para uma reunião com Klaus e Astor, o
curandeiro que tem vivido aqui em Rigan. Ele quis falar com os dois à sós,
pois uma das coisas que Klaus comentou também, é que a gravidez tem
sugado muito as energias de Karina e é melhor que ela não receba muitas
informações.
— Está tudo bem?
— Está sim — respondo rápido e a mulher arqueia as sobrancelhas e
pensa um pouco, depois morde o lábio inferior, como se estivesse em algum
tipo de debate interno.
— Klaus disse que você era meio que a… stalker de Vladimir lá na
Red Town, eu me lembro — murmura com vergonha, desviando o olhar.
Aliás, Karina parece ser alguém muito tímida. — Não quero ser intrusiva,
eu só… queria entender.
— Quando eu era adolescente sim, eu meio que perseguia ele, mas
depois fui para Paris, me formei em medicina e me especializei em
persaneses — falo, sem ter problemas de entrar nesse tópico.
— Vladimir me contou isso, antes dele voltar para Red Town. Mas
ele não contou nada sobre vocês estarem juntos e nem sobre estar no cio. Só
descobri esses dias porque Astor me contou que estava tentando formular
um bloqueador de cio potente para ele.
— Vladimir é bem fechado com esse tipo de assunto, ainda mais
depois que a esposa morreu.
— E agora vocês estão juntos? Namorando? — pergunta com
jeitinho.
— Sim, estamos acasalados.
— Que incrível! — Ela sorri e os seus olhos recaem sobre os meus
pulsos.
— Não estou grávida — respondo, sem precisar que pergunte. Sei que
está procurando por uma rorani.
— Mas ele não está no cio? — Franze a testa.
— Sim, mas eu não engravidei ainda, e… não sei se vou. Vladimir
disse que quer ter filhotes comigo, mas não sei se vou conseguir fazer
qualquer coisa agora. Os meus pais acabaram de falecer e eu… — A minha
garganta dói, a minha voz embarga e eu não consigo continuar.
— Se você não quiser falar sobre isso, eu entendo. — Karina toca o
meu ombro como eu toquei o dela agora a pouco. — Quer tomar um chá
comigo? Eu tomo porque me ajuda com a azia e a ânsia de vômito, mas é
bem docinho. Às vezes eu sinto como se essa criança estivesse crescendo
três vezes mais rápido do que uma humana!
— Provavelmente está mesmo.
Uma pena não existirem estudos que acompanharam alguma vez uma
gestação envolvendo DNA persanes.
— Você é médica, né? Me esqueci disso por um minuto, me desculpe.
Sabe me dizer com certeza se ela vai nascer com chifres e rabo? —
questiona e isso com certeza é algo bem importante de se saber.
— Vai sim, todo filhote de persanes nasce com rabo e chifres, os
genes deles são muito fortes, mas não precisa se preocupar. Os chifres são
bem pequenos e não vão te machucar.
— Ah! Que bom saber disso! Klaus e Astor me disseram que seria
pequeno, mas é sempre bom ter uma opinião médica. — Ela realmente está
animada com a minha presença. — E você sabe me dizer sobre o que eles
vão conversar? Estão fazendo tanto mistério…
Karina me deixa numa encruzilhada, porque eu sou totalmente contra
mentir só por considerar uma pessoa fraca demais para a verdade. Contudo,
acho melhor seguir as indicações do marido dela e não dizer que existe uma
seita inteira de pessoas querendo a morte dela, de seu bebê e de seu marido.
— Acho que sobre mantimentos e sobre casa. Vamos ter que construir
por aqui e vamos precisar de ajuda, já que vamos ficar — explico, porém,
não sei bem se ela acreditou na informação.
 
Capítulo 37

— Como foi mesmo a conversa com Klaus e esse Astor? — Crystal


pergunta enquanto passa um pano numa cadeira empoeirada que
encontramos.
Depois de visitar todas as cabanas abandonadas, localizamos uma que
não estava assim tão ruim e decidi que ficaremos por aqui. Quero poder
falar com Crystal e entender o que está acontecendo dentro dela antes de
qualquer coisa, e nós não precisamos de mais do que um colchão de casal
por enquanto.
— Contei a eles tudo o que aconteceu e tudo o que você me disse
sobre a seita, e eles ficaram muito nervosos — explico e um vento entra
pela janela confirmando as minhas suspeitas. Já passam das sete da noite e
logo irá cair uma grande tempestade, o que é bem ruim, pois a minha
pequena humana tem medo de chuva e trovões. — Estamos pensando em
um plano de ação que seja eficaz antes que tudo exploda, vamos precisar de
ajuda de mais persaneses, provavelmente.
— Tipo quem? — pergunta, virando na minha direção.
— O meu irmão Orinn e a sua esposa. — Dou de ombros, sabendo
que essa é uma péssima ideia.
Crystal não deve estar vendo muita coisa agora, com apenas um
pouco de luz vindo de uma lamparina ao seu lado a ajudando a mexer nas
pequenas coisas que Klaus e Astor foram capazes de nos dar. Temos duas
cadeiras, um colchão de casal que está no meio da sala, lençóis, cobertores,
travesseiros, uma garrafa de repelente para mosquitos, muita água, barrinha
de proteínas e alguns bons metros de tela mosquiteira que eu já bati com
prego e martelo nas janelas.
O curandeiro também passou uma solução de plantas contra outros
insetos, como aranhas, por exemplo, que são de uma variedade imensa
nesse lugar e que poderiam fazer mal para a minha fêmea.
— Você conheceu alguma fêmea que acha que poderia nos ajudar nas
suas consultas? — pergunto, só que não acho que Crystal me ouviu.
Ela está no meio da cabana de madeira quase vazia, mas que pelo
menos tem um teto sem buracos, ajoelhada limpando a cadeira e fazendo
caretas, como se estivesse pensando em algo.
E eu sei bem o que está pensando…
Por isso me aproximo devagar e me coloco ao seu lado, que me
percebe só quando coloco a mão em seu ombro e dá um pequeno solavanco
de susto.
— Vai chover, Crystal — sussurro em seu ouvido e aproveito isso
para pegá-la do chão, me sentar no colchão ao nosso lado e colocá-la em
meu colo.
É um alívio gigante poder colocar as mãos nela assim e por alguns
segundos eu espero para ver se vai tentar sair da pequena gaiola que faço
com os meus braços em volta de seu corpo, contudo, ela deixa que eu a
ajeite em cima das minhas coxas, de lado e com a cabeça no meu peito.
— Se eu tivesse deixado que você me levasse da festa de noivado,
nada daquilo teria acontecido… — cochicha, olhando para a regata nova
que coloquei agora a pouco. — Se você for parar para pensar, no final foi
tudo culpa minha.
Nós dois usamos as minhas cuecas samba canção, só que ela ficou de
camiseta, peça que também é minha, o que me deixou mais aliviado. O meu
cio está cada vez mais dolorido dentro de mim, e mesmo que as plantas
controlem o meu desejo sexual, o meu desejo de proteger não fica menor.
— Não foi tudo culpa sua, você só estava tentando ajudar a mim e ao
meu povo — murmuro, fazendo carinho em seu nariz. — Você é a melhor
pessoa que já conheci em toda a minha vida, se dispôs a passar fome e a
ficar na mesma casa que um homem que obviamente queria te fazer mal, só
para tentar evitar a morte de nós, persaneses.
— A melhor pessoa que já conheceu? — Levanta o rosto, querendo
encontrar os meus olhos. A sua expressão é calma, mas só porque está
passando pelo choque ainda.
O luto tem muitas fases e eu sei bem disso.
— Acha que se dependesse de mim, você teria ficado? Acha que eu
iria querer que você ajudasse alguém? Não, eu teria te levado para longe e
vivido com você sem pensar em mais ninguém além dos que tem o meu
sangue.
— Isso poderia acabar com todos os persaneses no mundo. — Ela
nega a ideia com a cabeça e eu desço o meu carinho para o seu queixo,
coisa que nenhuma persanesa deixaria. Mas o meu pequeno naery gosta de
ser acarinhada.
— Eu sei e eu era político pelo bem da minha espécie, só que agora…
não conseguiria escolher todos eles e te deixar sofrendo bem na minha
frente — admito, revivendo a angústia que foi encontrar Crystal no chão
frio daquela casa. — Mas você é diferente de mim, é bondosa, meu amor.
O coração de Crystal bate ainda mais rápido e ela parece
envergonhada de repente.
— Você me ama mesmo? — A sua pergunta me arranca um pequeno
sorriso. — Tipo… como amava Ellona?
— Não, porque o tipo de amor que tenho por você é exclusivamente
seu. — Sinto prazer em me declarar para Crystal porque sei que as minhas
palavras agora não são só algum tipo de “admissão” de derrota. Sei que é
errado, mas me senti meio fracassado por um tempo, por ter que passar por
cima dos meus princípios e ficar de joelhos por uma humana.
Contudo, agora eu me sinto grato por matar e morrer por essa médica,
porque ela merece e o tamanho do carinho em meu peito por ela
transbordou qualquer barreira idiota que eu tenha estabelecido em algum
momento da minha vida.
— Eu também te amo — cochicha e eu deixo de fazer carinho em seu
rosto para beijar a sua testa ternamente.
— Eu sei, fez uma faculdade por mim.
— Nunca vai parar de se gabar disso, vai? — pergunta, semicerrando
os olhos, e eu faço uma negativa com a cabeça.
Só que depois o clima muda, porque o vento lá fora fica mais forte,
trazendo a chuva cada vez para mais próximo, o que faz Crystal se encolher
contra mim e ficar em silêncio por alguns minutos. Esse é exatamente o tipo
de intimidade que eu estava precisando com ela.
— Os meus pais eram pessoas que queriam me fazer mal, mesmo
antes de perdemos todo o dinheiro quando eu tinha dezesseis. Eles sempre
iam para festas e me deixavam sozinha, me davam dinheiro para gastar, mas
nunca afeto. — A voz dela vira algo pequeno e frágil.
— Eu sinto muito — cochicho, fazendo cafuné em sua cabeça.
— Os dois não me enxergavam como gente, eu era só um brinquedo
na mão deles, só uma moeda de troca e isso doía, e mesmo assim… eu não
desejava a morte deles, só queria que melhorassem. — Uma lágrima grossa
escorre de seus olhos e isso aperta o meu peito. — Só queria que fossem
outras pessoas e que cuidassem de mim, como todo pai e mãe deveriam
fazer e agora… eles se foram. — Choraminga e tenta piscar as outras
lágrimas para longe, só que não consegue. — Mas eu não te odeio por isso,
sei que como lobo você não tinha controle sobre tudo. E-eu só tenho medo,
sabe?
— Medo de quê? De mim? — pergunto e ela faz um aceno curto e
envergonhado com a cabeça.
— N-não tenho medo de você persanes, mas tenho medo que perca o
controle. Não sei como funciona essa coisa de lobo e-e tenho medo que
você vire um por muito tempo e o meu Vladimir suma. — O lábio inferior
dela treme enquanto chora mais, então Crystal coloca o rosto contra o meu
peito para esconder as lágrimas que descem. — Não quero te perder,
Vladimir, por favor não se-se transforme em lobo e vá embora algum dia.
Por favor, fique comigo para sempre.
— Eu não vou embora, meu amor. — Pego a pequena fêmea pelo
queixo e ela fica de olhos fechados, chorando e fungando muito forte. O seu
rosto arredondado está todo molhado. — Continue falando como se sente,
estou aqui para te ouvir. Somos uma dupla.
— Tenho medo de te perder para o lobo e não consigo parar de pensar
naquele dia, e-eu já vi muito sangue, sou médica. — Ela está
completamente desesperada, até soluçando e com dificuldade de falar. —
Mas eu cresci com o meu pai e a minha mãe, e-e mesmo que eles fossem
pessoas ruins…
— Você não era como eles, certo? — pergunto e ela sacode a cabeça
em concordância. — Você é uma boa pessoa e não queria que nada de ruim
realmente acontecesse com ninguém, certo?
— Sim! — exclama e finalmente separa as pálpebras para me encarar.
— Eu sinto muito, Vladimir. Só não consigo pa-parar de pensar naquilo.
Fica indo e voltando na minha cabeça.
— E tudo bem, Crystal. Foram imagens muito fortes para você.
Venha aqui, me dê um abraço — falo isso já passando os meus braços por
seu corpo e a fazendo me abraçar forte. — Eu te amo tanto, mon naery, que
o meu peito dói e não quero que tenha medo de mim.
— Eu também te amo — responde, ainda chorando e se agarrando
forte a mim, o que me faz ronronar forte. — E sou grata que esteja disposto
a ir tão longe para me defender, eu também faria qualquer coisa p-por você.
Qualquer coisa.
— Klaus também é um lobo, e ele tem uma mulher grávida em casa e
nunca fez nada a eles, além de nunca ter saído por aí e não voltado.
Significa que vai ficar tudo bem, tá bom? — Faço carinho em suas costas,
subindo e descendo a minha mão. — Se eu me lembro algo da profecia, é
que os persaneses só vão conseguir se transformar quando entrarem em
sintonia com a sua companheira de alma. E você reparou que eu só me
transformei depois de acasalado com você, mon naery?
Eu a trato agora de forma parecida com o dia que Ramon tentou
violentá-la, só que com mais intimidade, já que não é mais uma adolescente
que quero distância. A última coisa que eu queria naquela época, era me
sentir tirando proveito dela.
— Isso é verdade… — ela diz, deixando de me abraçar para ficarmos
frente a frente. Crystal respira mais devagar e controla as fungadas. — Só
fico preocupada com toda essa mudança, e o seu cargo no senado? Não
pode ficar de licença para sempre.
— Você está preocupada com tantas coisas e mesmo assim não me
falou sobre, guardou para si e ficou sofrendo… — murmuro e limpo um
pouco o molhado de seu rosto. — Que se foda o senado, Crystal. Do que
me importa aquele lugar se eu tenho você?
— Mas você passou tanto tempo lá dentro…
— E agora já deu, agora eu vou ficar com você, com Filipi, o meu
sobrinho e a família dele, e com os nossos futuros filhotes… se você quiser
ter alguns comigo, claro.
— Filhotes no plural? — pergunta, com o início de um sorriso em
seus lábios. Esse assunto parece animá-la.
— Persaneses entram em cio atrás de cio quando encontram a
companheira certa — murmuro e ela faz um barulho de entendimento em
sua garganta. — E você é a minha companheira certa.
— Se você virar lobo e correr por aí, vou arranjar um localizador para
colocar em você e ter certeza de que não vai longe — murmura seriamente,
só que talvez por me sentir aliviado que ela esteja falando e sendo
possessiva, eu caio na gargalhada por um minuto inteiro. — Está achando
graça é, velho chifrudo?
Arregalo os meus olhos com a naturalidade como diz isso.
— Velho chifrudo? — Arqueio uma sobrancelha e a tiro do meu colo
para colocá-la no colchão e ficar por cima de seu corpo, com o meu quadril
entre as suas pernas. — Eu sou um velho chifrudo, Crystal? Você não
estava chorando agora mesmo? — Faço com que levante os braços acima
de sua cabeça e ela abraça o meu corpo com as suas coxas, claramente
gostando da posição.
— Tem um monte de cabelos brancos na sua cabeça — brinca. — E
você é um bom ouvinte, me deixou mais calma — admite, o que me faz
sentir melhor também, até que um trovão retumba lá fora e a chuva começa
a cair com mais força.
— Vou te mostrar quem é o velho chifrudo, menina — murmuro,
sabendo que terei de distraí-la agora, e com a mão livre eu deslizo até entrar
na minha samba canção no seu corpo, o que faz Crystal arquear as costas do
colchão.
— Vladimir — geme roucamente e faz o fogo dentro do meu corpo
acender ainda mais. — O-o que você está fazendo? É melhor eu encontrar
um lugar para…
— Olha só pra mim agora, mon naery, só pense em nós dois agora,
esqueça a chuva — interrompo a sua frase, descendo o meu rosto até o seu
e esfregando o meu nariz no dela, para sentir o seu cheiro. — Só existe nós
dois.
Afundo-me em seus lábios, faminto por seu toque, por seu carinho e
calor, coisa que tenho estado longe a semanas focando somente em
vingança. Pensando assim, faz sentido que ela tenha medo de me perder.
— Seja uma boa menina — sussurro em cima de sua boca e a
respiração dela acelera ainda mais.
— O que você quer fazer?
— Vou cheirar você — murmuro, pois por mais que eu queira muito
foder Crystal, sei que esse não é o momento certo. — Eu preciso ter você
em meus braços, só um pouco, antes que enlouqueça.
— É só isso que você quer? Só me cheirar? Porque se quiser… mais...
— Os olhos dela descem pelo meu pescoço e vão parar no meu peitoral,
onde os meus piercings estão marcados na regata.
— Não preciso de mais, só preciso de você — garanto, para que não
se sinta pressionada, e isso funciona por um tempo, mas depois de alguns
minutos cheirando e depois lambendo o meu pequeno naery no pescoço, ela
não se aguenta.
— Me come, Vladimir… por favor — pede, arqueando as costas do
nosso colchão emprestado e esfregando os seus seios na minha cara,
praticamente. — Se quer mesmo me fazer esquecer, então me fode do jeito
que só você sabe fazer.
Eu respondo apenas com um rosnado e depois viro o seu corpo com
facilidade, fazendo com que fique de barriga pra baixo, para eu poder
grudar a minha ereção em sua bunda.
— No calen, mon durkiah — fala timidamente na minha língua o que
significa “Me toque, meu macho”, e isso aumenta tanto o volume do meu
ronronar, que fica difícil ouvir os meus próprios pensamentos enquanto
seguro os pulsos dela juntos contra a cama e puxo a minha samba canção
para baixo em seu corpo.
— Aman[GS4] — ordeno, acariciando a sua bunda, o que a faz
empinar para mim.
— No calen, mon durkiah — e ela obedece, falando de novo, então eu
lhe presenteio com um tapa e depois finco as minhas garras devagar nela,
para tirar sangue. — Vladimir!
— Aman — peço, lambendo os cortes que acabei de abrir e depois
coloco a minha ereção molhada para fora. — Aman!
— No calen, mon durkiah — a pronúncia dela é perfeita e a sua
buceta já está molhada quando me arrumo atrás de seu corpo de quatro,
para montá-la.
O seu corpo me recebe com tanto prazer, que os meus olhos se
reviram e o meu ronronar parece ocupar a sala toda, enquanto o meu rabo
dá a volta e se enrola no pescoço de Crystal, para ter certeza de que ela é
minha.
— Oh! Deus! — geme, totalmente submissa a mim, totalmente
controlada por mim, enquanto eu me meto fundo em seu interior, com a joia
na cabeça do meu pau esfriando e dando prazer a nós dois. — Sim,
Vladimir! Sim!
Os gritos de prazer do meu pequeno naery me mantém fodendo a sua
vagina e depois o seu cuzinho por horas, enchendo-a com tanta porra como
nunca me achei capaz de produzir em toda a minha vida, e isso a deixa
longe de pensamentos ruins e do medo.

Acordo meio atordoado, com luz entrando pelas frestas das janelas e
da porta, demoro alguns segundos para entender onde estou, com Crystal
nos meus braços e uma dor no braço direito bem grande. O meu pulso
queima como se estivesse em brasas e eu não entendo o porquê, até olhar e
tomar um susto.
— Crystal, acorda! — exclamo e sacudo a fêmea pelo ombro, ficando
até com dificuldade de respirar. — Amor, acorda, por favor. — Viro o seu
corpo e faço com que fique de barriga pra baixo.
— O que foi? — resmunga, protegendo o rosto.
— Olha pro seu pulso direito agora.
— Eu quero dormir, Vladimir. — Ela volta a colocar o rosto no meu
peito. — Está tão quente, fica paradinho assim, fica. — Os seus braços me
agarram para si, como se eu fosse um grande travesseiro seu.
— Juro que te deixo dormir depois de olhar para o seu pulso.
— Tá bom. — Suspira fundo e abre os olhos devagar. — Mas depois
eu vou dormir, porque você me des… — A sua frase para no meio e os seus
olhos se arregalam. — D-duas faixas? Duas roranis de uma vez?! — Ela
fica parada com a boca aberta, processando a informação. — Como eu
posso ter engravidado assim tão rápido?!
— Eu sou persanes, mon naery.
— Eu sei, mas duas linhas significam que são…
— Gêmeos!
Epílogo

— Naery? — Uma voz grossa e conhecida invade o meu cochilo,


contudo, é preciso que Vladimir chame mais algumas vezes até que eu
acorde mesmo e me situe melhor.
— Você dormiu de novo? — pergunta e eu bocejo e me espreguiço
em minha cadeira de balanço na varanda da nossa cabana.
Como esperado, a minha barriga ficou mil vezes maior que a de
Karina, então a coisa que eu mais passo tempo fazendo aqui é dormir, já
que esse barrigão dificulta bastante as minhas noites.
E pior ainda, é que não faço ideia de quando esses bebês vão nascer.
Anastase, o meu ex-professor, nunca acompanhou uma gestação entre
humanos e persaneses, e Astor simplesmente me respondeu que o tempo de
gestação “podia variar”, o que complica a minha vida.
— Estou cansada, amor, e hoje está quente demais — respondo,
percebendo que pela altura do sol já passa do meio da tarde.
— Entendi — diz e coloca as suas mãos sobre a minha barriga de fora
da minha regata, fazendo um carinho leve que me faz sorrir. Acho que
nunca vi um homem tão orgulhoso de ter uma mulher grávida. No começo
da gestação, ele era grudado em mim, muito preocupado, mas eu achei que
isso mudaria depois que se acostumasse, o que não ocorreu. — Tenho um
presente que chegou do continente para você.
Levanto a minha cabeça na hora para encarar Vladimir, que está
muito bronzeado e com uma barba bem menos arrumada do que o comum
quando era o senador certinho, e isso é ainda mais sexy. Os cabelos negros
e brancos se misturaram bastante e os músculos torneados de seu braço
ganharam um bom tom de dourado.
— Um presente? — Arqueio uma sobrancelha e ele se ajoelha na
minha frente, com um sorriso safado em seus lábios que sempre acelera o
meu coração.
— Sim, mas só te dou se você vestir o que coloquei nesse saco. —
Tira a mão que esconde atrás das costas e coloca um embrulho de presente
leve e prateado nas minhas pernas.
— O que você está aprontando? — Aperto o saco querendo descobrir
o que é, mas não recebo nenhuma pista.
— Só vai saber se entrarmos para você vestir. — Dá de ombros,
fazendo mistério.
— Você e suas surpresas... — Suspiro baixo e ele me dá uma grande
mão para eu sair da cadeira de balanço. — Quero ver só o que é dessa vez
— resmungo e entro para a cabana na frente, depois vou para o quarto me
trocar sozinha.
Agora temos mais móveis do que quando chegamos, pois os machos
dessa ilha passam a maior parte do tempo comprando coisas para que
venham nos barcos e aprendendo a fazer móveis com Astor. Temos até
placas solares.
— Vladimir! Como você acha que vou vestir isso?! — berro ao abrir
o embrulho ansiosamente e encontrar uma lingerie de tule minúscula toda
transparente. O tecido é rosa claro, bordado com flores bonitas e cheio de
furinhos.
— Quer ajuda? — questiono num tom malicioso e eu seguro a porta
fechada.
A nossa cabana já tem divisórias, portas e janelas para se abrir e
fechar e se parece muito mais com uma casa do que no primeiro dia que
chegamos aqui.
— Não, eu me viro! — respondo e por longos minutos eu brigo com a
minha própria barriga e seios, que não me deixam mais ver os meus pés, e
tiro toda a roupa que visto agora para encaixar a calcinha até que
confortável e o top no corpo.
Nenhuma das peças é muito apertada ou curta e elas esticam bastante,
o que facilita a minha vida, que ganhei uns bons quilos, mas o que não têm
de apertadas, as peças têm de reveladoras. Contudo, eu sei que essa foi
exatamente a ideia dele e não penso muito sobre, só me visto.
— Estou saindo! — exclamo e empurro a porta com cuidado, para
encontrar Vladimir no sofá me esperando. — O que achou? — Mordo o
lábio inferior, sentindo o meu rosto todo esquentar ainda mais num misto de
apreensão e vergonha.
Desde que engravidei que o meu cabelo cresceu muito e eu decidi
cortar, porque aqui em Rigan não tem um cabelereiro para continuar
colorindo e alisando. Agora estou com o cabelo afro curto, escuro e 100%
natural, só com uns três dedos de cumprimento, e não posso mentir que isso
não afetou a minha autoestima.
Infelizmente ter pessoas brancas de cabelo liso como grande
referência de beleza nas mídias moldou muito o meu olhar, contudo, como
Vladimir nunca parou de me adorar como se eu fosse uma divindade, o
baque não durou tanto tempo.
— Bom... — fala bem devagar enquanto desliza os olhos por mim,
me deixando ainda mais impaciente. Eu estou aqui, no meio da minha sala
em uma ilha gigante e inabitada, vestindo só calcinha e sutiã que na verdade
deixa tudo exposto, e esse macho fica enrolando para dizer algo! — Você
está vazando um pouco. — avisa e sorri com as suas presas branquinhas e
eu olho para baixo na hora e coloco a mão nos meus seios que já
começaram a produzir leite.
— É claro, estou quase explodindo e você não diz nada!
— Venha até aqui, deixe-me te ajudar com isso — pede e eu acabo
obedecendo. — Sente-se, mon naery — fala, mas as suas grandes mãos me
agarram no segundo em que chego perto e ele me põe de lado em cima de
suas coxas.
— Você está ronronando... — sussurro e sinto o seu peitoral contra eu
vibrar.
— Deixa eu te ajudar com o leite. — Coloca o tule para baixo, que
não dá sustentação aos meus seios pesados e que parecem que vão explodir
a qualquer segundo. — Não vou desperdiçar uma gota... — Lambe os
lábios com fome, até com as pupilas dilatadas, e depois abaixa a cabeça.
Primeiro a língua de Vladimir se enrola bem no meu mamilo pontudo,
que ele tem ajudado bastante a ficar assim, de tanto que me lambe. Depois o
meu macho começa a sugar o meu leite para dentro da sua boca, apertando
o bico sensível e ocasionalmente até passando as presas por mim.
— Vladimir! — gemo e enfio as mãos em seus cabelos enquanto ele
mama para ajudar a esvaziar os meus peitos.
— Assim é melhor? — pergunta roucamente e se endireita, limpando
a boca do líquido que escorreu de mim e colocando o tule no lugar.
— S-sim — respondo, até zonza depois de ser chupada, e recosto a
minha cabeça em seu peitoral nessa posição tão confortável, respirando
rápido.
— Eu te imaginava com um lingerie assim quando estava no cio,
Crystal — confessa e começa a caminhar as suas garras pelos meus ombros.
— Agora finalmente pude colocar o que imaginei em prática e é ainda
melhor que na minha imaginação. Você está linda.
— É mesmo?
Uma das coisas que me dá mais prazer, é saber que mesmo as
fantasias sexuais de Vladimir são comigo, que ele me deseja como
nenhuma outra, coisa que não tive de nenhum outro cara na vida. É
realmente reconfortante não ter que me preocupar em me dedicar demais e
não receber de volta, porque de Vladimir hoje em dia eu sempre recebo o
dobro de carinho que dou.
— Sim, só que está faltando uma coisa e você vai ter que me dar um
beijo aqui para ganhar... — Aponta para a própria bochecha e eu semicerro
os olhos. — Não vai querer o seu presente, doutora Parker? — pergunta
para me incentivar, então dou logo um beijo em sua bochecha e ele pega
uma caixa de madeira que estava também no sofá e eu nem notei.
Vladimir abre o tampo para o lado contrário que estou, assim não
consigo ver o que está dentro até que ele coloque em minhas mãos um colar
com um pequeno pingente de coração.
— Naery azul na corrente de prata.
— Vladimir! — Arqueio as duas sobrancelhas, muito surpresa
enquanto ele coloca o colar no meu colo e fecha o fecho na minha nuca. —
Não acredito que você e Klaus falam que nós não podemos dar sinais de
onde estamos, mas gastam dinheiro com coisas como joias!
— Me dê outro beijo, fêmea humana, e pare de reclamar — ordena
num falso tom de aborrecimento e dessa vez eu obedeço mais rápido,
sorrindo feito uma boba.
— Esmeralda com prata. — Mostra um anel com uma pedra verde em
forma de gota e a coloca na minha mão esquerda.
— Você não vale nada! — Vladimir me arranca uma risada com
como ele parece ansioso e animado com essa situação. Os olhos castanhos
até começam a brilhar laranja.
— Já que você está reclamando tanto, só ganha o próximo presente
quando mostrar a bucetinha para mim!
— Pervertido, já dá para ver tudo com essa lingerie transparente!
— Ser obcecado pela minha fêmea não é um pecado segundo a bíblia
dos humanos, é? — pergunta, com o seu rosto abaixado bem próximo ao
meu.
— Não é… — Abro um sorriso ao descer as minhas mãos para uma
parte do meu corpo que nem consigo ver, mas coloco o tecido para o lado e
depois pego a sua mão e coloco lá também. — Molhado o bastante para
você, senhor? — sussurro e o cara de pau pega os dedos de volta e lambe,
depois faz um som de prazer na garganta que me arrepia.
— Continue falando assim comigo e você passa o resto da tarde
sentada na minha cara. — Pisca para mim enquanto pega outra coisa dentro
da caixinha com fundo aparentemente interminável. — Ouro branco com
pérolas. — Mostra uma pulseira e depois a coloca em meu pulso.
— Você acabou de gastar o salário de um ano de alguém só com joias
— resmungo, esfregando propositalmente os meus peitos nele.
— Só ganha o próximo com um beijo de verdade, para largar de ser
teimosa — diz isso já colocando a sua boca na minha e praticamente me
comendo, de tão carnal que é o beijo. Ele me faz até gemer, sentindo como
se já estivesse em outras partes minhas. — Esse é um naery rosa bem
grande — murmura e eu não entendo, até sentir a pedra fria no meu clitóris.
— Quantas joias tem nessa caixa? — falo me agarrando em seus
braços fortes conforme o macho me esfrega em círculos. Eu tremo em cima
dele, com a sua ousadia de fazer o que quiser com o meu corpo.
— O bastante para foder você com uma joia em cada dedo, e essas
não são nem a metade das que eu quero te comprar antes dos nossos
meninos nascerem.
Vladimir, assim como Klaus, diz sentir qual o gênero dos nossos
nenês e já até os viu em sonho correndo por aí, com rabinhos e chifres
acinzentados.
— Essas eu comprei todas para você, são novas, meu amor. Dessa vez
fiz direito, porque você só merece o melhor.
— Ainda bem que Bronte teve aquele conversa com você e te
explicou que não se recicla presentes — falo com bom humor e Vladimir
passa a massagear os meus seios e sente o molhado.
— Adoro quando você vaza. — Da uma risada gutural que me faz
arrepiar. — Mais ainda quando esguicha.
— Se Lena nasceu ontem, os nossos bebês devem nascer daqui um
mês e pouco... — falo, um pouco preocupada de para onde o rumo disso
está indo.
— A doutora Parker está me dizendo que grávidas não podem ser
fodidas? — Esfrega o nariz na ponta do meu com intimidade conforme
continuamos nessa posição que tanto adoro.
Não sei como Vladimir ainda consegue me escandalizar com a sua
boca suja!
— Sabe que não é isso, só achei que… você não fosse querer transar
tanto quando a minha barriga já estivesse tão grande assim. — Dou de
ombros, observando a ereção grossa dele molhar pouco a pouco o seu short
claro.
— Acho que você não me conhece tanto assim, mon naery. Que tal eu
te mostrar um pouco mais de mim, enquanto me cavalga? — Coloca pra
baixo o tecido e me mostra a sua ereção avermelhada e com algumas veias,
o que enche a minha boca d´água e me deixa sem palavras. — Acho que
isso foi um sim...
Ele não espera que eu recupere a capacidade de falar, só levanta o
meu corpo, coloca uma perna minha de cada lado da sua e me põe sentada
em cima de sua ereção, ainda de fora do meu corpo.
— Sabe como montar um persanes, doutora? — provoca e eu começo
a rebolar em círculos, entrando no seu jogo. Só o que eu não estava
preparada que ele fosse agarrar os meus cabelos curtos, me levantar um
pouco, colocar a calcinha para o lado e começar a se encaixar no meu cu.
— Porra... — Os meus olhos se reviram sozinhos em suas orbitas,
sentindo a joia fria dele na cabeça grossa de seu pau.
— Amo comer o seu traseiro — rosna e vai deixando o meu peso me
levar para baixo, sentando-me na sua ereção encaixada no meu traseiro, o
que me dá dificuldade até de respirar. — Rebola para mim, querida —
manda, mesmo que as suas mãos estejam nos meus quadris para me ajudar
a fazer o vai e vem gostoso, que deixa a nós dois fazendo sons inumanos.
Assim que consigo atingir um bom ritmo, com o seu rabo dando uma
volta na minha cintura, o persanes junta os meus dois seios e enfia os dois
bicos escuros e duros na boca ao mesmo tempo, o que me faz choramingar.
Ele me suga enquanto me fode e eu seguro em seus ombros para me manter
firme, usando as joias que me deu e com a calcinha de tule puxada para o
lado.
Até que Vladimir decide que estamos indo muito devagar e consegue
acelerar os nossos orgasmos mordiscando os meus peitos hipersensíveis,
tirando o máximo de leite deles que consegue, e esfregando o bendito cristal
gelado no meu clítoris
— Adoro enfiar porra no seu cuzinho, só para te ver andando pela
casa escorrendo depois — larga os meus seios para sussurrar as palavras no
meu ouvido, que são o estopim para que eu goze choramingando o seu
nome, com ele enterrado bem fundo em mim e jorrando porra.

— Quando nós vamos voltar? Conversei com Karina mais cedo e ela
está agoniada — falo enquanto andamos de mãos dadas pela campina
verdejante de Rigan feito dois adolescentes apaixonados.
Ontem foi o nascimento de Lena, que eu acabei perdendo por estar
em mais um dos meus cochilos e Vladimir não ter me acordado! Mas
depois de nascida dei uma boa examinada na menininha deles e tudo está
bem.
— Assim que eu encontrar Frederick e a seita. Nós já sabemos onde
estão e parece que eles têm um número considerável de meninas sendo
alienadas, é bem preocupante. — Vladimir passa a mão na barba de um
jeito que eu sei que faz quando está pensando em coisas importantes e
complicadas. — Eles pegam essas filhas de outros integrantes da seita, dão
uma educação básica, ensinam o ódio a persaneses e o medo a igreja, e
depois casam elas com homens mais velhos dentro da própria seita também.
— Que horror!
— Eles as colocam para morar em fazendas longínquas e quase sem
acesso à educação e essas mulheres ficam refém deles, pois desde pequenas
são ensinadas que esse é o seu lugar. Pelo menos foi isso que descobrimos
até agora.
— E o que vão fazer? — pergunto, ainda me lembrando de Nancy e
Juliet.
— Localizaremos as suas anotações e o vídeo de Klaus que não foram
revelados até hoje. Nós já conseguimos a filmagem do condomínio de
Frederick de quando eu virei lobo lá. E depois vamos tentar resgatar essas
mulheres e lhes dar um bom lugar para viver — explica e eu aperto a sua
mão, concordando com a sua ideia. — Mas não vamos pensar nisso agora,
tenho mais surpresas para você
— Mais uma?! — Arregalo os olhos enquanto chegamos na frente da
cabana de Klaus e Karina, e antes que Vladimir possa dizer qualquer coisa,
o seu sobrinho sai pela porta parecendo muito nervoso.
— O que aconteceu? — pergunto, preocupada, porque Karina
também aparece com Lena em seu colo.
— Klaus e Vladimir encomendaram várias caixas do continente, e
Oliver deveria vir junto com os vestidos de noiva que compraram para
gente, só que ela não veio!
— Como assim, não veio?! — Vladimir exclama.
Eu sei que Oliver é a melhor amiga ruiva e envergonhada de Karina,
ela me contou muito sobre a mulher com quem dividia apartamento em Red
Town e eu fiquei ansiosa para conhecê-la logo.
— Quem terminou de trazer as caixas foi um humano de Nayni,
porque ele disse que Oliver chegou lá e sumiu — Klaus explica, descendo
rápido pelos degraus de sua varanda e a pequena Lena, que veste só uma
fralda de pano com um buraco para o rabo, começa a chorar. — Então ou
ela está perdida em algum lugar na floresta ou alguém sequestrou Oliver!
FIM
Olha a ilustração +18, chegando. Cuidado ao abrir em público!!

 
 
 

Ainda teremos mais ilustrações para essa obra, fiquem de olho no twitter
@g_benevidess ou no instagram @g_benevides_autora
Gostou? Deixa uma avaliação
 
Quer me ajudar e não sabe como? Deixe uma avaliação e ajude a
espalhar a palavra dos persaneses por aí, além de também ajudar a garantir
que eu tenha como escrever os próximos livros.
 
Em junho vem aí!
 
Vou usar aquela famosa frase aqui de “quem me conhece sabe” que eu
não sou uma autora que gosta de encher linguiça.
Me deixa entediada e sem vontade de escrever um livro, quando eu
sinto que estou indo além do necessário. Então na série dos persaneses, não
tem tempo para eu gastar com capítulos e mais capítulos nas ilhas contando
sobre gravidez e fazendo hots que para mim seriam muito repetitivos,
porque esse casal já está em sintonia, já disse eu te amo, já está até com
filho no forninho (nada contra quem gosta de uma história mais morna, mas
se você chegou até aqui, sabe que gosto de sempre ter algo acontecendo.)
Porém, como eu também sou uma pessoa de coração muito mole,
decidi ouvir aos apelos de várias de vocês e irei iniciar uma série de contos
persanes. A cada livro lançado, vocês ganham um continho para mostrar o
cotidiano do casal, mostrar mais da cultura persanesa e mostrar mais das
diferenças entre humanos e persaneses e principalmente: dos bebês. Porque
sim, todo mundo aqui tem bebê!
Então fiquem ligadas, que em junho será lançado um conto chamado
“fralda com buraquinhos” (quem pegou a referência?) Contando tanto sobre
a gravidez da Crystal, como da Karina, mas nada que interfira na linha do
tempo dos outros livros. É realmente uma série para “ser feliz” com bebês
de rabinho e persaneses apaixonados por suas fêmeas.
O que vem agora?
 
“Tentação Sombria” faz parte de uma série de livros e cada livro da série é
de um casal diferente. Porém, os livros se passam mais ou menos ao mesmo
tempo, então o que fica aberto em um livro é fechado no outro, assim vocês
conseguem rever os personagens que amam e ganham mais informações
sobre os persaneses também.
Quais são os próximos livros?
Conto com foco em maternidade sobre Klaus e Karina e
Crystal e Vladimir – junho, sem data especifica porque a
autora está cansada
Dante + Oliver – 2023
Filipi + ??? – ainda sem data
Astor + ??? – ainda sem data
Redes sociais
Você consegue me encontrar no instagram como @g_benevides_autora
para ficar por dentro dos meus próximos lançamentos e no twitter como
@g_benevidess
Conheça outros livros da autora

 
BOM COMPORTAMENTO

Quando o golpista caiu no próprio golpe


Ian Rojo é um golpista conhecido por sua malícia e tatuagens
ousadas. Vanessa Darche é uma escritora plus size e doce, porém, um tanto
quanto solitária e para piorar ela está de casamento marcado com um
péssimo noivo.
Ian acabou de sair da cadeia e precisa de dinheiro, portanto, resolve
unir o útil ao agradável ao se aproximar de Vanessa, que é filha de um dos
chefes da máfia. Então o homem de olhos verdes começa a fingir ser um
vizinho atencioso e insistente da mulher, tocando-a como nunca antes e a
deixando escandalizada, enquanto se prepara para roubá-la.

 
LEIA AQUI
 
Livro 2 da Série Mentirosos (Pode ser lido separadamente)
 
Agente federal fechado e de dois metros + mocinha plus size,
animada e sexy
 
Se para alguns o mundo dá voltas, para James Akerman ele deu
cambalhotas.
O agente de olhos claros e sérios sempre julgou muito os mentirosos
com quem teve que tratar. Em sua cabeça, James era superior a eles.
Contudo, por conta de sua boa aparência, acaba sendo designado
para uma missão nada usual.
O loiro de nariz empinado e viciado em controle deverá fazer a
segurança ao mesmo tempo em que conquista a funcionária de um
empresário conhecido, de forma secreta, claro, para investigar se ela é uma
criminosa ou não. O problema é que além de fazê-lo ferir os seus princípios
morais, essa moça ainda é diferente de tudo que ele conhece.
Onde o policial é caladão e fechado, por conta de uma experiência
ruim do passado, Barbara é inconsequente, sempre provocando-o com suas
curvas, fazendo-o se sentir bobo e obrigando o seu novo segurança a engolir
cada uma de suas palavras.
 
LEIA AQUI
 
Uma história curta, plus size e sexy de Natal!
 
Os planos da jovem e tagarela Amanda para o Natal não eram nada
tradicionais. A mulher pretendia fazer uma grande surpresa para o seu
namorado, Pedro, usando um modelito que, com toda certeza, era
contraindicado para as ceias mais comuns.
Porém, ao entrar escondida na casa do homem amado, com longas
meias listradas, descobriu estar sendo traída na melhor data do ano. E além
disso tudo, a moça ainda topou com o colega de apartamento do traidor,
Fernando, que coincidentemente estudou na mesma escola que ela e foi o
causador da maior vergonha que já passou em toda a sua vida.
Então agora os dois velhos conhecidos estão sozinhos e reunidos
pelo destino, num Natal capaz de mudar tudo.
 
Porém, mesmo que não existam mais algemas em seus pulsos, Ian
começa a se sentir preso a Vanessa e aplicar o golpe até o final fica cada vez
mais difícil.
Será que ele conseguirá resistir a essa mulher?

UMA INQUILINA PARA HARVEY

(Plus size country Girls livro 1)


Cowboy safado e mulher briguenta se reencontram
E se o clichê da garota mimada que detesta a roça, mas é obrigada a
viver lá, e do cowboy safado que ama o lugar, fosse diferente do que você
imagina?
Alexandra e Harvey com toda certeza se odeiam e brigam bastante,
mesmo que ele não consiga tirar os olhos da boca carnuda e das curvas
daquela mulher. E ela também seja incapaz de não desejar aquele bruto de
mãos calosas e palavras obscenas, isso enquanto grita aos quatro ventos
como não o aguenta mais.
Porém, dessa vez esse romance é um pouco mais apimentado do que
esperado, e esconde um passado secreto dessa mocinha tão revoltada.

OBSCURO
Quando almas gêmeas perdidas se reencontram após um acidente
Jacob Quinn é o xerife de uma cidade pequena e fria no interior do
estado. Fechado e com um passado trágico, ele tem pouca paciência para
conversa fiada e prefere viver numa cabana no meio da floresta.
Angeline é uma mulher sexy, tagarela, que ama seu corpo curvilíneo e
só quer curtir a vida, mas que vê todos os seus planos serem destruídos após
uma bala atravessar seu pescoço.
Porém, surpreendentemente, ela acorda, sem saber como, muito longe
de casa e com o coração batendo mais forte do que nunca por um homem
bruto, que é sua única chance de sobrevivência e maior perdição.
 
"Quanto o instinto de sobrevivência se confunde com desejo, nem
mesmo um homem obscuro consegue resistir".
Agradecimentos
Eu agradeço muito à minha mãe, à BBQ, à Dhanuba, a minha
assistente literária, que além de profissional incrível, é uma amiga para
ninguém botar defeitos e também a Camila, a minha revisora, que embarcou
nesse rolê maluco que são os meus prazos.
 
 

[GS1]Se parece com uma peruca. Mas, na verdade, lace é uma prótese feita fio a fio em uma tela
de microtule. Neste caso, os fios são colocados um a um sobre o tecido, o que permite um efeito
mais semelhante ao couro cabeludo.
[GS2]Deus da maldade na cultura persanesa
[GS3]"Merda" no idioma persanes tirado das vozes da cabeça da autora
[GS4]"De novo" em Vrain

Você também pode gostar