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BENEVIDES
TENTAÇÃO SOMBRIA
1° Edição Digital | Criado no Brasil.
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Capítulo 1
Oito anos atrás
Crystal
— A sua temperatura parece boa… — murmuro e eu me xingo
internamente por não ser capaz de diminuir o ritmo dos meus batimentos.
— Mas vou pegar o meu termômetro para confirmar. — Tiro a mão de sua
testa e vou em direção à minha maleta.
— Não precisa de um termômetro para isso, eu mesmo posso te dizer
que a minha temperatura está ótima.
Vladimir está sentado em sua cama de casal como hoje mais cedo,
contudo, agora ele está completamente vestido com um pijama de flanela
verde escuro que combinou bastante com a cor de sua pele.
— Você estava dormindo? — pergunta e eu faço uma cara de quem
não entendeu, então ele aponta para o meu short, que subiu um pouco mais
do que deveria.
— Fuso horário diferente — minto, já que não quero admitir em voz
alta que sim, eu não consegui dormir de tanta preocupação e vim correndo
para cá de pijama mesmo. Ainda mais que não sou fã de tempestades.
Esse cara tem me tratado mal e obviamente me subestimado desde
que me viu hoje mais cedo, e mesmo assim cá estou eu, sem conseguir
pregar os olhos pensando no tamanho do sofrimento que pode ter num cio
tardio e sem um curandeiro para ajudá-lo.
A verdade é que a cada semestre que passei estudando persaneses, eu
me apaixonei mais pela raça deles. E sabendo o quanto Anastase disse que
o cio pode ser dolorido, eu não quis deixar Vladimir numa tormenta sem
fim. No final das contas, ele me salvou tanto de Ramon, como de oito anos
ao lado de pais que pouco se importam comigo.
— Os seus batimentos cardíacos estão bons e você disse ter
compartilhado o mesmo espaço que uma fêmea não acasalada, e mesmo
assim não a atacou. Então acredito que tudo está bem, mas pode me ligar se
sentir que tem algo de errado. — Mais uma vez mantenho uma postura
profissional e escolho me afastar logo. Quanto mais próxima dele, pior.
Pego a minha maleta e coloco-me de pé antes que o cheiro dele fique
mais forte. Eu sei que não é perfume, são os feromônios que os persaneses
exalam por aí, e quando encontram uma fêmea em potencial, esses
feromônios só ficam mais potentes.
— Você chegou a estudar bem a mitologia persanesa? — pergunta de
repente e me faz parar no meio do caminho em direção à porta de seu amplo
quarto.
— Sim.
— E a Vrunsni? — Arqueia uma sobrancelha grossa e escura e eu
penso um pouco antes de responder.
— Estudei o que tinha disponível, mas não era muita coisa. Vrunsni
não eram do tipo que gostavam de documentar, estavam ocupados com
outras coisas, como você sabe. — Dou de ombros e Vladimir claramente
tem algo para falar, porém, demora um pouco a formular.
— Filipi tem… uma coisa a mais.
— Que tipo de coisa a mais? — Aperto a maleta entre os meus dedos,
porque simplesmente não consigo desviar os meus olhos do rosto dele.
A barba escura cobrindo a parte inferior do seu rosto parece ter
ganhado mais alguns fios brancos, o que é extremamente excitante, porque
me faz pensar que Vladimir seria ótimo em me segurar e saberia bem como
fazer as coisas, já que tem experiência.
Ele tem chifres grossos e pretos, o nariz fino e olhos que parecem ter
sido feitos perfeitamente bem para dar a ideia de que é um predador
incansável. É desconcertante encará-lo assim, em sua cama, tão relaxado.
— Filipi é como Persani, o último rei Vrunsni. — Continua falando e
eu praticamente tenho que brigar para ouvir qualquer coisa que sai de seus
lábios. — Logo quando ele nasceu o curandeiro disse que era uma bênção,
mas isso o deixou meio retraído.
Termina de explicar e fica me encarando, esperando que eu diga algo,
o que me faz morder o lábio inferior e desviar o olhar antes que perceba que
estou quase babando.
— Filipi tem… dois pênis funcionais? — pergunto com cuidado.
Essa característica é muito rara entre os persaneses, mas o meu
professor Anastase falou que já conheceu alguns machos que tinham e
viviam muito bem.
— Sim.
— É sério que isso o deixa com vergonha? A maioria dos caras que
eu conheci estariam em êxtase tendo dois paus! — exclamo, agora
entendendo um pouco a vergonha do loiro.
— Como foi a faculdade? — Desvia do assunto de repente e faz o
meu rosto esquentar numa vergonha que eu não costumo sentir faz um bom
tempo. Eu era assim só na minha adolescência, quando o conheci.
— Não fui a melhor da turma, se é o que quer saber. — Dou um
sorriso enviesado e assim como eu o encarei por um tempo, o senador faz o
mesmo. Ele me olha de cima para baixo, parando principalmente nas
minhas pernas de fora.
Isso deixa o meu coração galopando ainda mais no meu peito, até
lembrar que Vladimir está no cio. Não tenho que me animar com nada, nem
sequer pensar sobre isso, é muito antiético.
— Você parece ter aprendido bastante sobre a minha espécie. —
Cruza os braços na frente do peito, o que faz os músculos dos seus bíceps
ficarem ainda mais em evidência.
O calor do meu rosto se espalha para o meu colo.
— É bem mais fácil de aprender, sabendo que estou estudando algo
tão diferente. Eu só tive um professor, o único persanes que aceitou falar
sobre a sua espécie para humanos, mas nas aulas gerais ele não costumava
revelar muito, só nas que me deu de forma particular que realmente me
mostrou tudo que sabia. — Sei que estou falando bem mais do que ele quer
saber, provavelmente só perguntou para ser educado, porém, não consigo
parar. — Acho que ele confiava que eu não usaria o conhecimento para o
mal.
— Muitas aulas particulares dentro da faculdade? — Arqueia uma
sobrancelha.
— Metade das da minha especialização foram no meu próprio quarto,
o que facilitou bastante, já que assim ninguém escutava os segredos da sua
espécie — explico e um silêncio estranho e nada agradável recai sobre nós
dois.
— Quero te pedir algo, Crystal.
— Pode falar. — Eu chego perto dele, já que o assunto parece sério.
— Não se aproxime da minha família — fala tão friamente, que faz
uma pontada de dor me atingir no peito.
Pulei da minha cama no meio da noite para tentar ajudar esse cara e
ele continua me tratando feito merda…
— Você acha que vou fazer mal a alguém? — Franzo a testa,
indignada.
— Só não quero que saibam sobre a minha condição, então não se
aproxime de ninguém, nem de Klaus ou Filipi, com quem eu sei que você
conversou um pouco quando mais nova. E se encontrá-los, não diga que é
médica ou o que fez por mim, não quero que ninguém saiba pelo que estou
passando.
Fico com raiva instantânea de sua fala, porque eu sei que, na verdade,
está com vergonha de admitir para os seus familiares que recebeu ajuda de
mim, a “menina” obcecada.
— Você precisa de uma cuidadora de cio e não pode continuar
tomando pimenta azul — resmungo e prometo para mim mesma que essa
será a última vez que o verei por um bom tempo. Eu não mereço ter que
ficar ao lado de ninguém que me faz sentir inferior.
— A minha carreira está em um momento importante agora. Lido
mais com humanos do que com qualquer um da minha família e se eu parar
para cuidar do cio, semanas ou até meses sumido do meu cargo, vou perder
toda a minha credibilidade. Mas não se preocupe, o meu curandeiro irá
saber o que fazer.
— Tudo bem, então. — Respiro fundo. Não posso tratá-lo como
problema meu. Não posso e não vou. — Estou indo, Vladimir — falo e
dessa vez eu realmente saio do quarto, sem dizer mais nada.
— A minha secretária entrará em contato para realizar um bom
pagamento a você! — exclama e vem atrás de mim, escuto os seus passos
enquanto desço as escadas de sua casa escura e sem vida.
— Não precisa me pagar — nego e vou rápido até a porta, contudo,
ele coloca a sua mão no meu ombro e o meu corpo todo estremece.
Que merda é essa? Os feromônios dele estão agindo assim tão
rápido?
— Você demonstrou ser uma ótima profissional e quero te pagar.
Estou muito orgulhoso de você, menina, de verdade. E sinto muito pelo que
fiz mais cedo. — A sua voz é baixa e sincera de um jeito que faz a minha
garganta doer.
— Você pagou uma parte do meu curso, antes do meu pai ter dinheiro
para assumir, então não precisa me remunerar agora — respondo
secamente.
— Se você vê assim… — ele parece ter algo mais a dizer, contudo, eu
não deixo. Não quero ouvir mais nada, não estou a fim de ter que lidar com
problemas do passado.
— Boa noite — sussurro, abro a porta e saio em direção ao carro que
aluguei, antes que a chuva caía.
Capítulo 8
Assim que estamos na pista de dança, não consigo nem ter tempo de
me perguntar por que estamos fazendo isso, pois perto assim de Crystal, eu
sou atingido pelo cheiro delicioso de sua pele, um aroma levemente floral e
tão sensual, e a pitada de menta que é o seu medo, também me chama
atenção.
Estou com uma mão na sua e a outra em sua cintura, assim como
todos os outros casais à nossa volta, e saber que sou eu quem a segura me
dá uma sensação estranha no peito, o que me deixa ainda mais irritado.
O meu corpo saiu totalmente do meu controle.
— Vai ser só essa dança, porque até que é bom para minha carreira
ser vista ao seu lado — resmunga e eu reparo que Crystal está olhando para
baixo, para os nossos pés, o que me deixa curioso. — E depois… —
Começa a falar, mas acaba pisando no meu pé brevemente e dá um pulinho.
— Desculpe. — Levanta a cabeça e me encara nos olhos com vergonha,
mordendo o lábio inferior.
— Eu nem senti isso — admito, porque uma pisada rápida no meu pé
dessa pequena fêmea não é nada.
Na frente dela, eu sou praticamente um monstro, com costas largas
demais, braços grossos que fazem qualquer camisa ficar apertada, chifres
pontudos e negros e um rabo com ponta em formado de flecha que está
querendo descontroladamente se enrolar em sua perna.
— Não tenho ritmo. — Dá de ombros e mexe um pouco os dedos da
mão que seguro o mais delicadamente que consigo. — E isso é muito
estranho, estamos… próximos demais.
Não era ela quem me seguia por aí? Por que reclama de proximidade
agora?
— Relaxe e me deixe guiar. Vai ser bom para a sua carreira — minto
e a aproximo ainda mais de mim, fazendo com que o seu busto quase se
grude contra o meu tronco, o que de alguma forma relaxa um pouco os
meus músculos tensos.
No final das contas, a minha parte mais animal parece querer possuir
Crystal no sentido mais puro da palavra, tê-la só para mim, mesmo que eu
não consiga entender exatamente quando foi que cheguei nesse ponto. Os
sonhos com essa médica estão cada dia mais absurdos, mais eróticos.
No último ela ficava de quatro no meu quarto e eu a comia de todos
os jeitos possíveis. Só de lembrar agora já estou engolindo em seco. Quero
continuar sendo fiel a Ellona, que foi a minha grande parceira, quero ser fiel
à nossas memórias e o meu cérebro entende isso, porém o meu corpo não.
O meu corpo se afeiçoou a alguém que não faz o menor sentido, porque não
tem nada a ver comigo.
— Vamos só esperar mais alguns fotógrafos tirarem as fotos, assim eu
consigo mais clientes — sussurra para mim e sou eu que nos faço sair um
pouco do lugar, e ela até que se deixa ser guiada.
Porém, mesmo que eu consiga fazer o corpo de Crystal se balançar
quase dentro do ritmo da música, bem mais roboticamente do que qualquer
pessoa na pista e pisando algumas vezes no meu pé, ela só cheira cada vez
mais a medo.
— Não precisa ter medo de mim, não vou fazer mais nada como
aquilo do quarto. Estou controlado. — Continuo mentindo.
— Não tenho medo de você — responde rápido e para de mirar a sua
atenção nos nossos pés, tentando fazer as coisas direito.
Talvez alguma outra pessoa se importaria de ter um par que não tem
ritmo algum, mas para mim é estranhamente prazeroso ver como morde o
lábio inferior e faz um tremendo esforço para acompanhar a banda.
— Então por que cheira a medo? — pergunto e ela se encolhe um
pouco, o que faz finalmente o seu corpo encostar no meu. O meu coração
bate desesperado só com isso e eu só me sinto mais patético.
— O irmão daquele… cara da minha adolescência, chegou faz uns
cinco minutos — cochicha bem baixinho, sabendo que existem persaneses
aqui que poderiam ouvi-la. — Então talvez o cara da minha adolescência
esteja por perto.
É isso que a está fazendo tão nervosa?
— Ele não está, te garanto.
— Como você sabe? — Arqueia uma sobrancelha desconfiada e bem
desenhada e eu prendo a respiração, depois me abaixo para colocar minha
boca ao pé de seu ouvido.
É como se eu pudesse sentir perfeitamente o calor emanando do seu
corpo e isso me faz arrepiar, porque tudo que mais quero agora é aliviar a
fome que vem me consumindo.
— Porque eu matei Ramon — revelo baixo e com cuidado, pronto
para tampar a sua boca caso reaja de alguma maneira estranha.
— Você o quê? — Sinto o seu corpo tensionar e tentar se afastar,
contudo, eu a seguro mais firme e isso me faz inspirar o seu cheiro sem
querer, dessa vez diretamente de sua macia pele.
O aroma dela é como algo quente e terno, e eu lambo o lábio inferior
para provar, o que faz a maldita semi ereção nas minhas calças ficar ainda
mais dura e pulsar. Fica difícil me mover no ritmo depois disso, então
ficamos parados na pista e eu nem foco no burburinho de pessoas falando
sobre nós dois.
— Assim que você foi para Paris estudar, eu cuidei disso — falo
baixo, dessa vez encarando os seus olhos castanhos atordoados.
— Eu… não sabia. — O seu lábio inferior treme e por aqueles meros
segundos. Meros mesmo, porque dura muito pouco, somos só nós dois.
Só eu e Crystal, parados nos olhando. Ela com susto e eu com uma
ansiedade do cio, pegajosa e enervante.
— Fiz sozinho, ninguém soube até dias depois.
Como ela achou que eu poderia viver a minha vida normalmente
sabendo que aquele macho sujo andava por aí, podendo fazer algo daquele
jeito com outra pessoa? Podendo fazer de novo algo daquele jeito com ela.
— Isso foi muito perigoso, você não deveria ter se arriscado assim…
— Engole em seco e a sua mão na minha aperta, o que me faz colocá-la
ainda mais perto. — Como… foi? — pergunta com medo.
— Afogamento, ele não sabia nadar. — As palavras saem como um
rosnado baixo de minha boca, porque em minha cabeça eu revivo a cena. —
Mas se eu soubesse disso, não o teria jogado na água tão cedo.
Queria tanto ter tirado mais sangue de Ramon e isso agora reverbera
dentro de mim como uma onda de fúria difícil de controlar.
— Queremos pelo menos mais cinco casais nessa pista, pessoal! — a
senhora Falls grita muito perto de nós dois, então a fêmea desvia o seu olhar
castanho de mim e eu fico em silêncio e reparo como tem gotas e mais
gotas de suor rolando as minhas costas, conforme uma outra música
começa.
— Vladimir, está tudo bem? Você está apertando os meus dedos.
Eu alivio o aperto na hora.
— Desculpe, eu… — Crystal estreita os olhos e antes que eu possa
dizer algo mais, ela já esticou a mão e tocou o meu rosto, o que me faz
engolir em seco. Estou todo arrepiado e dolorido no lugar que tenho mais
me tocado. Mas assim como todo assunto pessoal na minha vida, desde que
Ellona morreu, eu apenas ignoro.
— Sua pele está muito quente e suas pupilas estão dilatadas — diz e
molha o lábio inferior com a sua língua avermelhada e molhada, e como se
fosse possível, eu sinto o movimento direto na minha virilha.
— Você não é minha médica — falo, mas isso não parece convencê-la
a parar de me observar. — Eu tenho vinte anos a mais do que você, menina,
sei como tomar conta de mim mesmo, então pare de tentar agir como a
minha curandeira.
Ela tira a mão de mim na hora, como se queimasse.
— Eu esqueci que você pode ser um babaca. — Faz uma careta e
tenta se livrar de mim, mas não largo Crystal, as minhas mãos não querem
deixá-la ir porque o calor do seu corpo contra o meu faz a sensação de
queimação na minha virilha passar um pouco, só pra me deixar sentindo
mais agitado.
— O que disse? — digo entredentes.
— Todos esses anos eu tenho me sentido culpada por quase arruinar a
sua imagem quando mais nova e sempre te achei um homem incrível, mas a
verdade é que eu só tinha essa ideia porque mal te conheci além daquela
noite. — A sua postura fica muito ereta e ela me olha como se tivesse nojo
de mim. — Agora que estou mais velha, das três vezes que te vi desde que
voltei para Red Town, você me tratou como uma incompetente obcecada.
— Porque você tentou invadir a minha casa dezenas de vezes e eu
tive que te mandar para outro continente! — Com certeza algumas pessoas
me ouviram agora, porque não consigo falar baixo.
— Eu tinha dezessete anos e estava perdida! — Uma veia salta em
sua testa, de tanta raiva. — Com um pai e uma mãe tentando me vender
para o primeiro cara rico que aparecesse. Achei que você pudesse me
ajudar, mas ao invés disso, virou as costas para mim e foi… fazer justiça
com as próprias mãos.
As suas palavras fazem uma pontada forte me atingir no peito e eu
não tenho nem coragem de encará-la mais.
— Você não sabe do que está falando, menina — sussurro e faço o
melhor para não apertar mais o seu corpo frágil e macio demais para um
monstro como eu.
A verdade é que mandei Crystal para Paris mais por ela mesma do
que por mim. Eu tinha acabado de perder a minha mulher, ela era uma
menor de idade e mesmo assim aparecia em todo sonho meu, mesmo que
não tivesse conotação sexual naquela época. Crystal até fez uma rorani em
forma de lobo aparecer em mim!
Então eu a mandei para França sim, pois me sentiria muito sujo se
acabasse entrando no cio e perdendo o controle por uma adolescente que
quase foi violentada na minha frente! Ela me causava picos de raiva
estranhos naquela época, uma angústia que poderia resultar em algo maior,
já que cios podem aparecer a qualquer momento.
— Você fez algo grande por mim, Vladimir, mas não sabe o tanto que
eu sofri naquele tempo — admite com a voz embargada dando um tranco
com o corpo e mais uma vez tenta se afastar, porém, eu não deixo, prenso
ainda mais o seu corpo contra o meu e a minha ereção pulsa mais forte
dentro das calças com o seu corpo. — Você está duro?
— Fique quieta — rosno baixo e acabo pegando de canto de olho uma
figura no limite da pista de dança improvisada no jardim nos observando.
Frederick Burner está nos encarando, mais exatamente Crystal, e uma brisa
me traz o seu cheiro sujo de perfume e coloca mais combustível no fogo
que queima dentro de mim. — Vamos sair daqui agora.
— O quê? — pergunta atordoada, tentando se livrar de mim, o que
chama atenção de cada vez mais pessoas.
— Agora, Crystal. — Pego os seus dois braços juntos sem dificuldade
e vou fazendo com que ande na direção oposta de Frederick.
Ela fica calada durante a nossa caminhada, provavelmente porque
sabe que o meu atual estado é delicado e seria ruim se falasse algo. Eu
ignoro todos os olhares atravessados conforme ela vai na minha frente
tropeçando às vezes, e ninguém tem coragem de me dizer nada, já que além
de senador, eu sou um Dark Elf.
Só quando chegamos dentro da casa vazia, cruzando o caminho de
alguns funcionários, que Crystal abre a boca.
— Onde você está me levando? O que você tem? — O seu cheiro de
medo aumenta e eu o sinto tão forte em minha boca que salivo.
— Eu não gosto de todos aqueles olhares! — exclamo irritado e com
uma dor de cabeça lancinante do lado direito da minha cabeça.
— O que te dei não está fazendo efeito? — pergunta, mas eu não
respondo. Não quando a resposta seria “Sim, funciona, mas não quando se
trata de você”.
Crystal
No segundo em que entramos no banheiro amplo e com muitos
azulejos pretos e vermelhos, e que eu nem sei como encontramos, Vladimir
empurra o meu corpo contra a parede com força, o que faz um baque alto
acontecer e todo o ar do meu corpo sai no mesmo segundo.
— Calma… — sussurro e a grande mão dele aperta o meu pescoço,
fazendo ficar difícil respirar. Ainda não é doloroso, mas é assustador no seu
estado atual, porque já vi ele arrancar o braço de alguém em um momento
de ódio.
— Pare de atender outros machos! Não quero você perto de nenhum
outro! — A sua voz está muito mais grossa que o normal e o som
animalesco arrepia até os pelos da minha nuca. — Você é minha! — Ele se
abaixa e o seu nariz se gruda ao meu, o que me deixa sentir a sua respiração
quente e pesada no meu rosto. — Diga que é minha, Crystal.
Eu fico sem palavras para Vladimir, ainda mais com as suas garras
negras de fora roçando cada pedacinho da minha garganta. E o mais
estranho disso, é que as minhas coxas se juntam automaticamente, para
conter a pontada de excitação.
— Diga, fêmea desobediente! Diga que é minha! — Empurra o seu
corpo contra o meu e só me deixa mais presa.
— Eu sou sua — sussurro, com as minhas mãos plantadas em seu
peito. — Agora tire a mão do meu pescoço, antes que me machuque,
Vladimir.
— Minha fêmea. — Continua segurando em volta do meu pescoço e
abaixa a sua boca para esfregar contra a minha. Não é um beijo, mas ele
esfrega os lábios nos meus, assim como o nariz. Está marcando o seu cheiro
em mim.
— Então não me machuque. — Tento soar o mais calma possível.
Não quero ninguém batendo nessa porta e o vendo nesse estado.
— Preciso de você, está queimando, Crystal. Eu não aguento mais. —
Ao mesmo tempo que vejo a sua selvageria, também vejo o seu desespero.
— Está doendo tanto.
Vladimir está com medo do seu próprio corpo descontrolado e precisa
de alguém que saiba o que fazer agora, antes que fique mais bestial e acabe
machucando a nós dois.
Por coincidência eu sei exatamente como ajudá-lo com o seu frenesi,
a única coisa é que esse cara vai querer praticamente cuspir em mim quando
estiver controlado.
— Vladimir… — gemo e ele passa a subir as mãos, liberando o meu
pescoço, só para caminhar com as suas garras e agarrar o meu rabo de
cavalo, o que me deixa ainda mais a sua mercê, como se fosse possível. O
meu couro cabeludo arde enquanto o meu queixo fica empinado.
— Eu quero você. — A boca dele está a centímetros da minha,
enquanto me obriga a encará-lo. Eu não consigo nem pensar direito, de
tanto calor que sinto. — E quero agora.
Vladimir esmaga os meus lábios com os seus e enfia a sua grande
língua na minha boca na velocidade de uma batida do meu coração. Ele vai
se metendo dentro de mim até que alcança quase a minha garganta e eu
gemo rouca, ficando instantaneamente mais molhada.
Capítulo 10
Vladimir está muito taciturno desde que saí do banho que ele me fez
tomar após me deixar toda gozada, o que me preocupa bastante.
— Qual o problema? — pergunto, sem vontade de ter que adivinhar
porque é que ele está comendo a canja que fiz sem olhar na minha cara.
Não sou nenhuma cozinheira dos grandes restaurantes parisienses,
mas aprendi o básico e sei que não está ruim. Escolhi fazer um prato rápido
e que o ajudasse a recuperar as forças logo.
— Nada — mente e come um pouco mais do seu prato.
Estamos na minha cozinha, que não é muito grande e nem muito bem
equipada. Eu acabei gastando a maior parte das minhas reservas em euro na
sala comercial que aluguei para atender os meus clientes. Lá eu coloquei a
minha alma e decorei da forma mais amigável possível, com pinturas que
sei que são apreciadas por persanesas e cores chamativas. Aqui eu fiz só o
básico para viver enquanto não tenho um nome.
— Não vai me falar mesmo qual o problema? — insisto, ficando sem
fome.
Vladimir me deixa nervosa demais, ainda mais com o seu rabo
batendo de um lado para o outro, como se estivesse irritado.
— Estou no cio, não vou me sentir bem o tempo todo. — Dá de
ombros, vestindo agora o seu terno completo, que fez questão de colocar de
volta.
— Quer voltar para cama? Eu posso aliviar isso.
— Acabamos de sair da cama — murmura e empurra o prato um
pouco para longe. Pelo menos ele comeu tudo. — Preciso tomar um pouco
de ar.
Eu rosnaria agora, se tivesse essa capacidade.
— Você não quer mais fazer isso? — Semicerro os meus olhos e ele
se coloca de pé, então eu faço o mesmo e desisto de fingir que irei
conseguir terminar o meu prato em paz.
Nada nesse homem me deixa em paz, porque quando não estava me
salvando de uma agressão ou assombrando os meus sonhos, o que me fez
segui-lo por aí e quase me ferrar muitas vezes, eu estava em outro país sem
conseguir deixar de acompanhar cada passo dele que saía na imprensa.
— Não tenho essa escolha, Crystal. Perco o controle toda vez que
estou perto de você e é agoniante saber que simplesmente não mando em
mim mesmo. — As suas palavras fazem uma pontada atingir o meu coração
e eu preciso respirar e inspirar algumas vezes antes de respondê-lo feito
uma adulta, e não choramingando feito uma tonta.
— Se fosse com outra fêmea você ficaria mais feliz? — Arqueio as
sobrancelhas, esperando para ver o que é que ele terá coragem de me dizer.
— Não, porque cio significa filhote e eu não quero ter mais nenhum
filhote. Tenho Filipi e estou muito bem com isso. — A resposta dele é ruim,
mas poderia ser pior.
— Entendi… eu vou me esforçar, te prometo. Vou procurar em todos
os lugares por algo que te alivie, para você não ter que passar por isso.
Ele nem me responde nada em voz alta, só sacode a cabeça e antes
que eu possa me sentir mais uma merda ainda, por achar que poderia de
alguma forma conquistar esse cara e conviver em sintonia, o telefone dele
toca.
— Vou atender, é a minha secretária — fala, já pegando o aparelho do
bolso e ignorando totalmente a última coisa que disse, o que me deixa
irritada. — Cindy, limpe a minha agenda. Não marque nada e eu quero um
afastamento de algumas semanas. — O tom de Vladimir muda para algo
ainda mais frio e autoritário.
Eu me afasto dele então, já que não parece nada satisfeito comigo
ouvindo a sua conversa, e faço o meu melhor para me concentrar no que
tenho que fazer, ao invés de focar no que não posso mudar, que no caso é a
cabeça desse cara.
Aluguei um consultório a algumas quadras daqui e marquei uma
consulta daqui a vinte minutos, então é bom que eu me aprece para ver a
minha paciente e pare de dar prioridade a Vladimir.
Coloco um vestido verde com estampa de zebra preta colado e que
vai até o meu joelho, com uma pequena fenda lateral, e botas pretas de cano
alto que não tem salto e vão me ajudar a correr daqui até lá. Depois faço
uma pele leve, com um pouco de base, iluminador dourado e uma boca
rosada, e coloco os meus cílios discretos preferidos.
— Aonde você vai? — Vladimir pergunta de repente, aparecendo no
batente da porta do meu quarto e me olhando de cima a baixo.
— Tenho um atendimento a fazer. — Dou de ombros e termino o meu
coque rápido no alto da minha cabeça, o que me dá um ar mais profissional
e que vai combinar com o meu jaleco branco quando colocá-lo ao chegar no
consultório.
Eu gosto da cor alaranjada que está o meu cabelo agora, é um ruivo
bonito e que combina muito com o meu tom de pele, contudo, me arrependo
de ter alisado completamente e pretendo voltar ao meu crespo natural assim
que possível. Ainda bem que tenho algumas laces[GS1] e posso mudar
sempre que quiser.
— Você não pode atender nenhum macho, Crystal, é melhor
desmarcar a consulta — fala como se eu também fosse a sua secretária
Cindy.
— Por quê? — Viro em sua direção e semicerro os olhos.
A verdade é que uma parte de mim está esperando que ele diga que é
porque ficará com ciúmes, porém, como se aliviou há pouco, Vladimir não
demonstrará possessividade. Agora ele é o mesmo senador Dark Elf de
sempre, frio e devotado a sua finada esposa.
— Eles não estão interessados no seu trabalho, só querem arranjar
uma fêmea humana para se aproveitar. Se quisessem ser diagnosticados de
verdade, iriam atrás de um curandeiro persanes, que sabe a doença deles
pelo cheiro.
— Por que você continua duvidando do meu trabalho assim?! — Ele
consegue me irritar tão rápido que eu quase mordo a minha língua de raiva.
— Acha mesmo que não estudei o bastante para ter as minhas próprias
formas de detectar os problemas da sua raça?
Odeio quem duvida das minhas habilidades, quem acha que não sou
capaz de algo. O meu lema, desde a adolescência, é que eu consigo e posso
fazer tudo o que quiser, desde que me esforce.
— Mas…
— Eu descobri o seu cio tardio sem precisar sentir o seu cheiro! —
interrompo qualquer que fosse a frase idiota que estava prestes a sair de sua
boca e pego a minha bolsa no armário junto com a minha maleta com tudo
que preciso. — E eu tenho certeza de que você passou por dezenas de
persaneses nos dias anteriores e nenhum deles deve ter notado o seu cio
tardio, só porque você ainda não estava cheirando. Isso significa que eu sou
tão capaz quanto qualquer outro homem.
Ele passa a sua grande mão na barba grossa, colocando-a no lugar
como se estivesse bagunçada, coisa que não está, e o seu rosto fica tão
vermelho que parece que vai explodir.
— Não estou dizendo que você não é capaz, estou dizendo que eles
irão se aproveitar de você! — Vladimir se aproxima de mim querendo me
encurralar com toda a sua autoridade.
Mas aqui ele não é o “Senador Dark Elf”, eu aluguei esse apartamento
para ter o meu canto e não ter que seguir regras de ninguém, então é melhor
que esse cara não tente me tratar como uma desqualificada.
— Tenho vinte e cinco anos e sei me cuidar muito bem. — Desvio
dele, com a minha maleta e bolsa, em direção à porta, mas Vladimir é muito
mais rápido do que eu e antes que eu possa me distanciar, ele já está com a
sua mão no meu ombro.
— E mesmo assim eu avancei em você logo da primeira vez que a vi!
— Consegue me pressionar contra a parede branca do corredor do
apartamento e eu começo a sentir um calor muito forte subir pelo meu
corpo, com esse homem tão próximo assim e com os olhos começando a
brilhar o seu usual laranja furioso. — Você é muito jovem, não sabe como o
mundo funciona.
Tenho vontade de revirar os olhos para a sua fala, porém, eu a
contenho. Vladimir vai tentar me dominar e me manter cativa de qualquer
jeito por conta de seu cio, contudo, assim como não estou nem próxima da
sua lista de prioridades, também não posso deixar que o meu mundo gire ao
redor dele.
— Ninguém irá avançar em mim. — Coloco as mãos em seu peitoral,
querendo impedir que chegue mais próximo ainda, não porque acho que irá
me machucar, mas sim porque eu não saberei como dizer não.
Ele sempre teve algo que me atraiu loucamente, algo que me fazia
sentir ligada a ele, mesmo quando estava tentando me afastar.
Agora é como ter que conviver com uma espécie de sonho se
tornando realidade, mas sem deixar que vá longe demais ou as
consequências serão péssimas. Os feromônios dele já devem estar agindo
em mim também e eu terei que procurar algo para não me deixar afetar,
pesquisar melhor todas as aulas que acabei esquecendo.
— Como você sabe? Como pode ter certeza que ninguém irá te
machucar?! — insiste e eu acho que ele não vai me deixar passar e eu vou
acabar perdendo a minha cliente de hoje se passar mais um segundo aqui,
encarando o seu rosto forte, que está com presas à mostra e tudo.
— A minha paciente de hoje é uma fêmea, ok?
— Você está mentindo — afirma, sem pensar nem por um segundo.
— Está mentindo para ir atender esse macho.
— Não estou mentindo. — Respiro fundo para não ter um ataque de
raiva por ele achar que tenho que dar satisfação para onde vou, ou um de
animação por Vladimir estar possivelmente enciumado, o que meio que
seria até que legal... — Tenho a consulta em alguns minutos, é aqui pertinho
e quando eu voltar você poderá sentir o cheiro dela em mim e saberá que
estou falando a verdade.
— Tudo bem, então — aceita e me libera, mas com muita relutância.
Crystal
— Vocês dois estão… — Filipi começa a falar e não tem coragem de
terminar.
Ele escolheu sentar no banco de motorista e como acho que a minha
companhia não é exatamente agradável para o filho que teve que sentir o
cheiro de todos os fluidos corporais do pai e de uma estranha, preferi ficar
no banco de trás. Mesmo que eu tenha tomado banho para ir à consulta, o
cheiro da porra de Vladimir e de como fiquei molhada ainda deve ter se
espalhado pela casa.
— Ele está no cio e precisa de alguém para cuidar dele — explico.
Filipi sabe muito bem que o cio de um macho não é brincadeira e não pode
ser ignorado.
Os vidros do carro são escuros e estão fechados, assim ninguém o vê
por aqui, já que persaneses raramente saem a luz do sol. A maioria da
população não saberia lidar com seres tão altos e com caudas e chifres
andando por aí livremente.
— Mas você e eu temos a mesma idade e o meu pai tem quarenta e
cinco. — Franze a testa e passa as mãos em seus cabelos ondulados,
claramente nervoso.
Filipi ficou tão bonito quanto achei que ele ficaria mesmo. Ele tem
uma mandíbula bem marcada agora mais velho, o rosto bem mais
masculino do que antes, olhos azuis claros que hipnotizariam qualquer um.
Ele se tornou alto como o seu pai, só que com a pele muito pálida e chifres
menores, já que só tem vinte e três anos.
— Você é dois anos mais novo do que eu — relembro o persanes.
— Mesmo assim. — Dá de ombros, ainda mais enojado e sem nem
querer me encarar nos olhos. — Você corria atrás dele quando era
adolescente e ele te odiava, Crystal! Isso não é estranho? — pergunta,
indignado.
— Eu passei oito anos fora estudando e sou adulta agora — digo,
fingindo que suas palavras não me atingem.
Na época em que corria atrás de Vladimir como se ele fosse um deus
capaz de parar todos os meus problemas, conversei com Filipi muito mais
vezes do que com o pai dele. O loiro sempre foi doce comigo e
compreensivo, era um menino envergonhado e que só achava curioso que
eu não conseguisse sair da frente da porta de sua casa, totalmente o oposto
de agora. Agora ele me olha como se eu fosse uma criminosa.
— Ele está sofrendo, você ainda não deve ter tido um cio, mas já viu
acontecer. Sabe que dói. — Eu quero falar mais, contudo, Vladimir aparece
na saída de emergência do meu prédio, que fica na parte traseira do edifício,
onde é bem menos movimentado e onde decidimos ficar com o carro depois
de recebermos uma mensagem dele pedindo discrição.
O senador entra com velocidade no banco do carona, ao lado de
Filipi, o que me deixa sozinha aqui atrás e me sentindo um pingo de gente.
Eles são dois armários com rabo e tudo nesse carro com teto alto o bastante
para não raspar os chifres deles, e eu fico aqui, com o meu 1,67m.
— Pronto, tomei um banho rápido — anuncia, mas não é comigo que
está falando, então fico calada observando como Filipi continua com uma
cara de quem comeu e não gostou e Vladimir tenta conseguir a sua atenção.
— Irei voltar para a minha casa, onde fico mais confortável. Pode me levar,
filho?
Eu esperava que fosse querer ficar perto de mim pelo menos por
alguns dias, para se sentir melhor, contudo, ele está louco para colocar
distância entre nós dois e não vou ser eu quem pedirá para que fique.
— Claro — Filipi responde baixo e logo estamos em movimento.
Eu vou ficar dando uma voltinha de carro então? Como se eu não
tivesse um bloqueador eficaz de cio masculino para formular?!
— Diga para a sua secretária me contar depois do seu estado de
saúde, então — falo, já que ficaram em silêncio e parece que esqueceram de
que estou aqui.
— Vamos até a minha casa e lá conversaremos sobre isso, Crystal —
Vladimir avisa e eu não consigo entender o olhar que me lança pelo
retrovisor. — Como foi a sua consulta com a fêmea? — puxa assunto
despretensiosamente, contudo, eu sei bem por que quer saber sobre a
consulta.
Vladimir ainda quer descobrir se eu não encontrei com nenhum
macho, o que é absurdo vindo do cara que não queria me ver nem pintada
de ouro até uns dias atrás. Mas tudo bem, irei dar um desconto para ele, só
porque está no cio.
— Não posso quebrar o sigilo médico paciente, mas a consulta foi
boa — murmuro e logo o telefone do atarefado senador Dark Elf começa a
tocar.
Cindy, a secretária dele, parece ter muitas informações para passar e
pedir, e isso ocupa o persanes até Filipi terminar de dirigir para a grande
casa no centro.
— Eu vou pegar os papéis para conferir, Cindy, acabei de chegar em
casa! — Vladimir exclama no microfone do celular e abre a porta do carro
com pressa. — Até depois, filho! E Crystal, te espero lá dentro!
Eu saio do carro junto a Vladimir, mas ele corre para dentro muito
mais rápido do que eu, o que me deixa sozinha com Filipi, ainda sentado
atrás do volante.
— Eu tenho algumas coisas para fazer, mas depois te ligo para saber
como o meu pai está — o loiro fala, agora muito mais calmo do que alguns
minutos atrás. Provavelmente também porque agora estamos atrás de
grossos muros e muitos seguranças que colocam para correr todos os
manifestantes que aparecem aqui.
Ser persanes é sinal de nunca ter paz.
— Você pode ficar, Filipi, eu tenho coisas para fazer também. —
Sorrio levemente, querendo melhorar ainda mais o seu humor.
— Se o meu pai está no cio, ele não vai querer nenhum macho perto
de você, nem mesmo o filho dele. — Arqueia uma sobrancelha maliciosa.
— Você tem razão, esqueci disso. — Dou de ombros, admitindo o
erro.
— Você esquece porque não consegue sentir o cheiro disso… —
Revira os olhos de brincadeira e eu quase consigo sentir que estou falando
com o Filipi de antes.
— É ruim? — Eu automaticamente puxo o ar com força, mas só o que
sinto é o cheiro masculino que sobrou de Vladimir que acabou de passar
aqui e que enche a minha boca d'água.
— Não para você, provavelmente — fala e dá uma risadinha,
contudo, depois as suas feições ficam duras. — Ele nunca vai gostar de
você como amava a minha mãe e eu não estou tentando ser ruim com você
dizendo isso, Crystal.
— Sei disso. — Desvio o olhar para o chão, me pegando de surpresa
por sua frase direta.
— Isso tudo está sendo novidade para mim e eu te respeito por ter
corrido atrás do que sempre quis, mas se você é cuidadora do cio dele, é só
isso. Quando acabar, acabou. — Para a sua frase e nós dois ficamos em
silêncio enquanto alguém usa um cortador de grama em algum lugar dessa
casa gigante e provavelmente com um jardim traseiro. — Ainda mais que
ele parece ter tentado substituir qualquer tipo de contato, nessa área, pelo
trabalho.
Se eu tivesse que falar uma frase inteira agora, a minha voz com
certeza sairia embargada, porque Filipi conseguiu pegar direitinho no meu
calcanhar de Aquiles, não por mentir ou por ser grosseiro, e sim por falar a
verdade.
— Depois me fale como as coisas estão indo, vou esperar a sua
ligação. — Dá dois tapas do lado de fora do seu carro preto, na porta de
onde está.
— Tudo bem. — Faço um aceno curto com a cabeça e ele sai, sem
ver que os meus olhos se encheram de lágrimas.
Capítulo 15
Crystal
— Bom dia… — falo ao entrar no escritório de Vladimir e encontrá-
lo sentado na cadeira que temos dividido, já que eu passo bastante tempo
aqui pesquisando as minhas anotações. Infelizmente tudo sobre os
persaneses é passado somente em conversas, eles não anotam quase nada,
para não ficarem vulneráveis a humanos, então tem sido bem trabalhoso. —
Você levantou cedo hoje, né?
— Na verdade, estou acordado desde a madrugada — revela e eu
arregalo os olhos.
— Sério? Por quê? — Eu me aproximo só para ter uma visão melhor
do persanes.
Vladimir está de terno e gravata, com o cabelo arrumado de um jeito
profissional, muito bem cortado, e cobrindo o peitoral com tatuagens e
piercings que tanto amo. Se ele fosse humano, ninguém esperaria que um
senador certinho desses tivesse tantas joias pelo corpo, aliás, mesmo sendo
persanes, eu aposto que as eleitoras não sabem de nada sobre esse homem.
— Abri o meu email e vi um monte de coisa para fazer, então fiquei
preocupado e vim trabalhar logo. — Dá de ombros.
— Mas você não está afastado?
— Tecnicamente sim, mas Frederick Burner acabou de começar a
trabalhar, não posso descansar.
— Ele é o novo senador junto com você, né? — Eu conheço esse
nome, já que lia muitos jornais online para saber sobre Vladimir.
— É, e ele odeia a minha raça — explica e eu me aproximo ainda
mais, dessa vez dando a volta na escrivaninha e chegando até a cadeira.
— Hoje não tenho atendimento… poderíamos fazer alguma coisa
juntos. — Mordo o lábio inferior sugestivamente, mas Vladimir se importa
mais com os seus papéis agora.
— Você não tem um monte de documentos para revisar sobre a minha
espécie? Para fazer o bloqueador de cio potente e seguro? — É claro que
ele se esquiva, criou essa regra idiota sobre não fazermos mais sexo, mesmo
que nós dois estejamos desejando isso loucamente. Ele porque está no cio e
eu porque provei uma vez e já não acho que posso ficar sem.
— Tenho, mas estou cozinhando um monte de Nyn agora. — Criei
uma espécie de estufa no jardim traseiro para mexer com as coisas que se
Vladimir sentisse o cheiro, não fariam bem. É lá que o Nyn está
cozinhando. — Vou precisar usar algumas gotinhas e ele fica menos
perigoso quando cozido por várias horas em fogo brando.
— Está sem nada para fazer? — Ele finalmente se vira um pouco para
mim e a minha vontade é de me jogar em seu colo, só para ver se ganho um
pouco mais de carinho, como ontem. Ficar dentro do armário do Vladimir
foi algo que a Crystal de 17 anos nunca nem sonhou que poderia acontecer.
Eu estava com medo dos trovões e da chuva ainda, contudo, o cheiro
de Vladimir e estar tão grudada nele funcionaram como um grande guarda-
chuva protetor das coisas ruins. Eu poderia morar naquele momento, isso se
não fosse a parte onde ele deixou claro que nunca seremos como um casal
no cio, ou melhor: que nunca seremos um casal.
— A minha mãe fica mandando mensagem pedindo para que eu vá
visitá-la. — Dou de ombros. — Então sim, estou sem nada para fazer até o
Nyn terminar de cozinhar para eu testar novas misturas.
— Você já foi lá na sua antiga casa desde que voltou de viagem?
— Não sei se devo visitar aqueles dois… mas ela disse que é
importante para a minha carreira, então talvez eu vá, sei lá.
Lá em Paris eu gostava de brincar que não tinha pai e nem mãe, só
que não era brincadeira, para falar a verdade. Dinheiro é importante? Com
certeza, mas é monstruoso quando você o coloca na frente de qualquer
coisa, ainda mais da sua filha.
— Já tomou a acalasia, Crystal? — Ele muda de assunto de repente e
eu desvio o olhar.
Vladimir insiste que eu tome o chá da flor para o cio feminino.
Diferentemente do Nyn, ela não causa nenhuma loucura e é bem segura,
contudo, acalasia vai me deixar indisposta por uns dias, cansada e fraca, e
desse jeito não irei conseguir continuar as misturas para acabar com o cio
dele.
— Sim — minto.
— Se você não tomar, vai acabar entrando no cio também por causa
dos meus feromônios que exalam através da minha pele e além da
excitação, ainda pode ter alterações de humor.
— Sei disso, Vladimir, e eu já tomei — continuo mentindo e me
afasto dele, para não ser pega inventando história.
— Só quero o seu bem, Crystal, sabe disso, não sabe? — A voz dele
fica mais aveludada e os seus olhos castanhos mel me deixam hipnotizada,
fazendo conjunto com as suas sobrancelhas grossas e escuras.
Porra, como esse macho é gostoso! Gosto até do pouco de branco que
tem na sua barba e cabelo.
— Eu sei. — Fico até sem jeito de responder.
— Então por que não estou sentindo o cheiro da acalasia em você? Eu
deveria conseguir sentir pelo menos um pouquinho.
Merda!
— Tomei agora de manhã e deixei ferver demais. — Mentir assim, na
cara dele, é muito difícil. Mas se a gente não vai transar, então não vou
engravidar e não tem para que me entupir com uma planta que me deixará
fraca! — Isso tira um pouco do cheiro dela.
Como Vladimir nunca deve ter tido contato com uma cuidadora de
cio, eu espero que essa mentira cole. Não é porque ele é persanes, que vai
entender sobre botânica. Pelo menos é isso que eu espero.
— Tudo bem, então. Vá ver seus pais, eles podem ter algo
interessante para te falar, e depois volte — manda e isso infla o meu peito
de orgulho, porque o senador fala para eu voltar, como se eu pretendesse ir
a algum lugar depois de ter a mão dele dentro de mim!
— Oi, mãe — falo ao entrar na sala onde o mordomo disse que ela
estaria. Essa não é a mansão em que cresci, é uma ainda maior, com uns dez
quartos a mais e muito dinheiro público jogado fora.
— Você veio, Crystal! Que bom! — exclama e eu continuo parada no
lugar, assustada com o tamanho do cômodo alto e com o tanto de prateleiras
que tem aqui.
O meu pai sempre foi um grande leitor, já a minha mãe, nunca gostou
muito. E como essa sala parece ter uma decoração bem voltada para o gosto
dela, tenho certeza que esses livros aqui são só decoração para receber as
esposas dos políticos e tentar impressioná-las, enquanto os maridos delas
armam algum tipo de falcatrua com eles no escritório.
— É. — Dou de ombros, com uma expressão de espanto engessado
no meu rosto.
Não gosto de admitir isso, mas acho que sou bem parecida com essa
mulher na minha frente. Nós temos quase a mesma altura, o mesmo tom de
pele castanho com um subtom mais quente, os mesmos olhos, o mesmo tipo
de cabelo crespo, os nossos narizes também têm as narinas um pouco largas
e isso me deixa espantada por um longo minuto.
Eu não quero parecer com a mulher que escolheu os vestidos mais
colados do armário para uma garota de dezesseis anos vestir. Não quero me
parecer com a mulher que me ensinou que eu deveria fingir estar bêbada só
para me jogar no colo dos homens e depois me esfregar em suas ereções. Eu
não quero.
— Estava agora mesmo falando com Frederick sobre como você foi
uma adolescente que deu trabalho! — A voz dela até machuca os meus
ouvidos e eu fico ainda mais atordoada de ver um homem loiro e magro
sentado numa poltrona ao lado da minha mãe. Eles estavam no meio de um
chá, aparentemente.
— Eu queria estar aqui naquela época para ver metade das coisas que
a sua mãe disse que você fazia! — Ele sorri e vem até mim, com a mão
esticada, que eu não aceito e só fico parada ali.
Por que não consigo me mover? Por que me sinto tão pequena e
impotente de repente?
— Acho que… não deveria ter vindo — sussurro, com um aperto na
garganta.
É estranho o que acontece quando você fica longe de quem te fez mal,
porque enquanto a pessoa está te prejudicando, tudo parece menor. Mas
quando você se afasta por tantos anos e volta, parece que as memórias se
desconectaram todas, e que a coisa ruim aconteceu não comigo, e sim com
uma outra adolescente, o que deixa tudo ainda pior e maior.
Parece que eu estou vendo agora a senhora Parker passando batom
vermelho numa adolescente e mandando ela ir dançar no meio do salão para
chamar a atenção dos amigos do pai, o que revira o meu estômago.
— Frederick é viúvo, sabia? — Ela ignora a minha fala e continua
com uma postura extremamente ereta e uma xícara na mão. — A mulher
dele faleceu faz um tempo e como ele acabou de se eleger, seria interessante
que se casasse novamente. Você tem alguma amiga para apresentar a ele?
Seria interessante também, que ele mostrasse alguma humanidade e
esperasse o corpo da mulher dele esfriar no túmulo antes de arranjar
outra.
— Se as suas amigas forem parecidas com você, tenho certeza de que
serão lindas — o loiro fala e eu consigo finalmente andar um pouco, até
chegar na frente da minha mãe, que usa o que mais se parece com um
pijama de luxo.
Frederick volta para o sofá sem dizer sobre como o ignorei ou talvez
eu quem esteja com calor e suando demais para reparar em qualquer coisa.
Até os meus olhos e garganta queimam.
— Onde você está morando, Crystal? Um empregado foi até a sua
casa entregar algumas coisas e disse que o apartamento está completamente
vazio.
— Estou morando com um amigo, é mais barato e consigo investir
melhor na minha carreira.
— Se quer morar com alguém, more aqui, na sua casa. Não irei
cobrar nada para que você fique aqui e podemos até te arranjar um cargo no
hospital central da cidade.
— Não preciso de um cargo no hospital, persanes nenhum vai até lá
— finalmente consigo falar mais normalmente, mas a queimação não passa
e agora eu me sinto incomodada com o cheiro do perfume da minha mãe,
cítrico demais.
Até a quantidade de cores brilhantes, babados e rendas nessa sala me
irritam.
— Não está na hora de você deixar de ficar apaixonada por esses
persaneses? Eles são todos animais com rabos e chifres, fingindo que tem
alguma humanidade! Só tolos acreditam que eles são elfos. — De repente
uma voz mais grossa soa no cômodo e faz tudo girar. O meu pai entra pela
porta usando um terno completo e cheio de cabelos brancos na cabeça.
Será que eu estou com febre? Doente de alguma forma?
Estou atordoada e o meu coração martela as minhas costelas como se
eu corresse uma maratona. Isso não é nada normal, como se eu estivesse…
Como se eu estivesse…
No cio!
— Eu tenho especialização em persaneses — respondo, agora
entendo o que me atingiu. Merda!
Mas eu consigo lidar com isso, só preciso me manter calma.
— Nós dois sabemos que você só estudou isso por causa daquele
senador que tem idade para me substituir como seu pai. — O velho uns dez
centímetros mais alto do que eu, fala, e eu ranjo os dentes.
Como é que vou ter calma, se esse desgraçado só sabe falar merda
para mim?! E com o filho da puta do adversário do Vladimir na sala?!
— Estudei porque gosto do tema — respondo, tentando respirar fundo
para não surtar.
Faço um mapa mental rápido da sala. Se eles me irritarem, eu posso
sair correndo pela porta aberta ou pular pela janela. Isso porque o cio
também causa uma dificuldade muito grande de controlar a raiva, e agora
mesmo eu consigo me ver pulando em cima da minha mãe e fazendo ela
engolir a mini xícara que segura e depois do meu pai.
— Ele nunca vai dar bola pra você, sabe disso, não sabe? Vladimir
tem quase a minha idade e com certeza vai atrás de alguma mulher da
espécie dele, daquelas que têm pernas extremamente longas — o velho fala
e a minha mãe ri, como se fosse uma piada. Que porra de piada é essa?! —
Não vai querer uma garota como você, que ficou seguindo ele por aí por
meses.
— Então essa perseguição era séria mesmo? — Frederick, que não
deveria nem estar aqui, fala e dá uma risadinha. — Deus do céu, você deu
trabalho mesmo!
— Ela invadiu a casa dele várias vezes! — minha mãe exclama e eles
caem na risada.
— Vocês nem sabem do que estão falando — digo entredentes e todos
parecem me ignorar. É como se eu fosse tão patética, que nada do que falo é
escutado.
— Ele nunca foi visto com ninguém desde que a esposa morreu,
aposto que deve ser daqueles malucos que ficam pensando em gente morta
dia e noite, tipo necrofilia. Nunca se sabe o que esperar desses animais. —
Frederick continua e eu juro que não sei qual a desse cara. Por que ele acha
que pode vir aqui e fazer piada com isso? Eu nem o conheço!
— Parem de falar sobre isso com a menina, deixe-a sonhar um pouco.
— A minha mãe interfere, contudo, eu sei que de lá não vai sair boa coisa.
— Ele pode se interessar por ela algum dia, quando perder um pouco de
peso e…
— Eu juro que não sei por que venho aqui ainda! — berro,
interrompendo a sua frase e isso deixa todos em um silêncio assustado. —
Você disse que tinha algo importante para me falar desde que cheguei de
Paris e agora está aqui, me enchendo a porra do saco! Ou fala logo ou me
deixa ir embora! — Aperto os braços ao lado do corpo, antes que eles
escapem do meu controle e comecem a jogar coisas por aí.
— Olha, filha, nós só queremos o seu bem. Por que você não faz
outra especialização? Eu e o seu pai adoramos que você seja médica, ele
fala isso em todo lugar que vai, mas por que você não escolheu ortopedia ou
obstetrícia? Ou até pediatria, que cuida de crianças? — Agora ela assumiu o
tom da mulher do prefeito, educada e cortês, que vi em entrevistas. — Eu
sei que você adora estudar esses… animais, mas isso não vai fazer aquele
homem gostar de você.
— Estou pouco me fodendo para o que você ou o meu pai acham que
seja melhor para mim! — As palavras saem antes que eu possa fazer
qualquer coisa para impedir. Como eles podem dizer tantos absurdos sem
pensar um segundo antes?!
— Olha como fala com a sua mãe! — O meu pai se levanta e aponta
um dedo para mim, me ameaçando, e isso faz o meu sangue ferver como
nunca, por conta do cio e da minha mágoa acumulada de anos e que nunca
consegui dar vazão, porque esses dois se blindam de qualquer crítica com
"era um momento ruim da nossa vida, só queríamos te dar o melhor".
— Aponta esse dedo para mim de novo e eu vou no primeiro
jornalista que me aparecer contar tudo que sei sobre você, cada detalhe
sórdido e podre sobre como você conseguiu ser prefeito, seu velho patético!
— As palavras saem da minha boca feito um trem desgovernado e mais
uma vez a sala fica em silêncio.
— Você está me ameaçando, Crystal?! — Ele dá um passo na minha
direção e eu me mantenho parada, de cabeça erguida.
Sou um fogaréu agora, queimando forte demais para conseguir me
parar.
— Não estou ameaçando. — O meu pescoço até dói, de tão tensa que
estou apertando os dentes um contra o outro. — Estou te contando fatos.
— Saia daqui! — grita, com os olhos arregalados. — Saia daqui
agora!
Capítulo 20
Crystal não demora nem metade do tempo que eu esperava que fosse
levar na casa dos seus pais. Em menos de uma hora ela já está de volta, e de
acordo com a velocidade de seus passos, a médica está com pressa. Antes
que eu respire mais três vezes, a fêmea humana que esteve em meus sonhos
e agora em meus pesadelos, já está batendo em minha porta, que mantive
trancada só por via das dúvidas.
— Está ocupado, Vladimir? — pergunta do outro lado. — Voltei mais
cedo da casa dos meus pais, foi uma merda lá!
— Só um pouco, estou lendo! — minto e passo a mão pela minha
testa, limpando o suor causado por estar constantemente excitado por essa
humana.
Eu sou mesmo uma piada, uma de muito mau gosto!
— Não podemos nos ver um pouco? — É como se eu pudesse
enxergar o seu rosto arredondado e as sobrancelhas bem desenhadas
arqueando-se com dúvida.
— Claro! — Levanto-me do sofá e a porra da ereção gigante fica
muito marcada nas minhas calças e é como se pesasse mais a cada passo.
Então eu viro a chave rapidamente e depois volto para o lugar e coloco
algumas folhas de papel em meu colo bem espalhadas. — Está tudo bem,
Crystal? — questiono, soando robótico demais até para os meus próprios
ouvidos.
Ela está usando uma minissaia rosa colada no corpo e uma camisa
social larga desabotoada no começo, revelando muito mais do decote do
que deveria, e que me faz pensar que Crystal com certeza ficaria linda com
algumas joias. Quem sabe alguns naerys azuis, os cristais famosos e
preciosos dos persaneses, para combinar com o seu nome. Todos os machos
olhariam ainda mais para ela.
— É que… — Sem pensar duas vezes, a pequena fêmea vem em
minha direção, ignora todos os papéis e se senta no meu colo. Eu
literalmente tenho que segurar um gemido na garganta. A bunda dela vai
direto ficar sobre o meu pau e por mais que seja doloroso, ainda assim a
sensação é deliciosa. — Estava pensando se não poderíamos passar o final
da tarde juntos…
As mãos dela ficam por cima da camisa social me acariciando, pois
tirei o paletó, e eu capto o aroma na hora. Tenho até que fechar a boca para
não babar. É quente, floral, sensual, feminino e muito invasivo. Deixa a
minha pele toda arrepiada.
— Crystal… — grunho e ela vai descendo as mãos, deixando vagar
até a frente da minha calça, onde está a minha ereção. — Você está
cheirando a cio! — Na mesma hora eu prendo os dois pulsos dela juntos,
assim não chega onde quer.
— Me solte! — exclama e se sacode em meu colo, o que só me faz
sentir mais dor e prazer, enquanto os seus cabelos se desprendem do coque
e caem em cascata em volta do seu corpo.
— Você mentiu para mim! Disse que tomaria acalasia e não tomou!
— Com uma mão eu seguro os braços dela, assim não pode me tocar e me
fazer perder o controle ainda mais, e com a outra eu seguro o seu queixo,
obrigando-a a me encarar.
— Vladimir, por favor. — Molha o lábio inferior olhando para os
meus. Ela está faminta. — Eu não podia tomar acalasia, ficaria cansada
demais e você acabaria sofrendo.
— Posso cuidar de mim mesmo! O que eu não posso, é ter você no
cio ao meu lado, cheirando desse jeito! — digo entredentes e ela faz que
não com a cabeça.
— Não pode cuidar do próprio cio. — Joga todo o seu peso para
frente e aproxima o seu rosto do meu, deixando o seu cheiro ainda mais
pungente para mim. Sorte a minha é que as misturas de erva dela devem
estar fazendo algum efeito, senão, eu já teria pulado nessa fêmea,
agarrando-a feito um louco. — Você vai atrás de outra para cuidar de você,
e isso não posso permitir. — Os olhos de Crystal ficam mais úmidos que o
normal por alguns segundos, até que ela pisque as lágrimas para longe.
— Não vou atrás de outra. — Nego com a cabeça e ela dá de ombros,
ignorando a minha frase.
— Vai sim, vai deixar que outra te toque, que outra alivie essa
queimação dentro de você. — Roça os lábios nos meus, deliberadamente se
esfregando em mim, me cheirando. — Vai deixar que outra te alivie, que
outra faça o meu papel. Mas mesmo que eu não seja sua, você ainda é meu,
e ninguém toca no que é meu — fala quase como alguém da minha espécie,
cheia de possessividade.
— Você está descontrolada, Crystal — rosno, sentindo o calor se
apoderar do meu rosto e do meu pescoço, e isso só a faz começar a rebolar
para frente e para trás, na esperança de me atiçar cada vez mais. — E se
você não quiser que eu te machuque, é melhor parar!
— Então me controle. Coloque limites em mim, senador. — Tenta
soltar as mãos mais uma vez e eu deixo, porque sei que não posso machucar
essa coisinha frágil e cheia de si em meu colo. O cio claramente está
bagunçando a sua cabeça. — Ou me dê o que nós dois precisamos. — As
mãos dela são rápidas em descerem para a minha ereção e abrirem o botão e
o zíper da minha calça social. É como se estivesse numa corrida.
— Pare! — berro e mesmo assim a fêmea enfia os dedos na minha
cueca e pega o meu pau cheio de veias, pulsando pra caralho, e o coloca
para fora. Ela está desesperada. — Crystal, se você passar dos limites, vou
te trancar no meu quarto e só vai sair quando tomar acalasia.
— Você não manda em mim, Vladimir. — Os dentes dela estão até
batendo de tanta ansiedade, enquanto o seu dedo polegar pressiona o
piercing na extremidade do meu pênis e faz quase um choque elétrico
acontecer pelo meu corpo todo, depois ela enfia o pré-gozo que coletou na
boca e faz um barulho de prazer muito alto. — Eu quero que você se
esfregue em mim, que goze no meu corpo todo.
Rosno alto e fecho os olhos para tentar conter a raiva que Crystal faz
nascer dentro de mim. Por que eu não posso ser um macho humano normal
e usar uma camisinha, ao invés de precisar gozar dentro dela todas as
vezes?
— V-vladimir, o meu interior está queimando — admite e além do
cheiro da sua excitação, eu sinto o cheiro do seu medo. A minha fêmea está
com medo e eu não estou ajudando-a em nada.
— Você vai chupar, então — decido, antes que tudo piore, tiro Crystal
do meu colo com cuidado e sem esforço algum e a coloco no chão
acarpetado, de joelhos na minha frente, esbaforida e suada. Pego a menina
pelos cabelos firmemente e coloco o seu rosto perto do meu pau, sentindo o
seu hálito quente em mim. — Mas se tentar me montar, não vou mais te
tocar, me entendeu?
— Sim. — Sacode a cabeça em concordância, sem tirar os seus olhos
da minha ereção.
A fome dela está me deixando ainda mais excitado do que já estou, e
se eu me deixar deslizar só um pouco aqui, irei engravidá-la, e o pior: só de
pensar nisso uma gota grossa de pré-gozo escorre pela minha cabeça.
— Sim o quê? — grunho e ela morde o lábio inferior, querendo de
todo jeito me tirar do sério para conseguir o que quer. — Responda, Crystal.
— Sim, senhor — sussurra, enquanto o seu peito sobe e desce em
respirações rápidas e que me hipnotizam.
— Abra os botões de sua blusa — ordeno e largo os seus cabelos para
que consiga fazer isso sem problemas. Ela treme a cada botão que abre,
com a excitação a deixando muito desgovernada, então eu ajudo. Me
aproximo, mas ainda sentado no sofá e com um puxão só faço todos os
botões explodirem. — Eu quero ver o que é meu — murmuro e a ajudo
também a se livrar das mangas, assim ela fica só de sutiã. Contudo, isso
ainda não é o bastante para mim, que tento esticar a minha mão e arrancar a
peça, mas Crystal coloca a mão na frente. — Me mostre mais!
— E se eu não mostrar? — Semicerra os olhos, ainda querendo me
testar, então eu só coloco uma garra para fora, puxo a alça do seu ombro
direito e rompo e depois faço o mesmo com o ombro esquerdo. —
Vladimir!
— Então vou arrancar o resto de você — respondo, sem paciência
alguma, e a coloco de volta na minha frente, agora com os dois seios
pesados de fora, que empurram a lingerie para baixo. — Tão linda — as
palavras me escapam e eu a escuto respirar com dificuldade.
Coloco as minhas mãos para acariciar os seus peitos macios e rolo os
mamilos entre os meus dedos, o que faz Crystal jogar a cabeça para trás e
gemer, já que está mais sensível que o comum aqui por conta do cio.
— Gosta quando eu te toco assim?
— S-sim — responde, enquanto eu volto a pegá-la por seus cabelos,
assim consigo ter um controle maior.
— Coloque a língua para fora e me lamba, mas não tente me engolir,
não vou caber na sua boca e não quero te machucar — ordeno e ela
obedece, espalhando bastante saliva na glande avermelhada e chupando
como consegue, circulando o meu piercing com a sua língua maleável e me
deixando maluco.
— Gostou? — pergunto com dificuldade e ela faz que sim com a
cabeça, com os meus olhos trancados nos seus. A imagem dessa mulher me
chupando é a melhor coisa do mundo, o jeito como ela se delicia com o
meu pré-gozo e praticamente me beija me fazem querer gozar muito forte.
— Então chupe mais forte, mon naery.
Crystal toma a liberdade de colocar a mão na minha cauda que
balança muito forte ao meu lado e vai subindo, até que chega na base, onde
tenho mais sensibilidade, e começa a massagear com as unhas, realmente
me fazendo sentir dor, o que deixa tudo mais selvagem dentro de mim.
— Com quem você aprendeu isso?! — pergunto, irritado só com a
ideia que algum persanes tenha lhe contado algo assim.
E se Crystal tiver mentido para mim e fodido com o seu professor?! E
se esse tempo todo, ela estivesse falando com um macho que já a tocou de
tantas maneiras que eu ainda não pude?
Os pelos da minha nuca ficam até arrepiados, de tanta raiva, e custa
tudo de mim me manter parado.
— O meu professor me falou que o rabo é um local sem tanta
sensibilidade para persaneses, a não ser na base, então eu quis testar com
você — explica, numa postura submissa, com os ombros baixos e falando
devagar. Será que ela percebe o quão irritado estou?
— Nunca esteve com outro macho persanes?
— Só você, Vladimir — cochicha e estica os joelhos para se
aproximar mais de mim, deixando que o meu pênis se apoie em sua barriga.
— Para mim, só existe você.
As mãos quentes dela tocam o meu rosto e eu não resisto a beijá-la, a
me afundar na sua boca e a praticamente comer Crystal. Ela geme dentro da
minha boca e eu roço as minhas presas em seus lábios, devorando o seu
sabor.
— E-eu preciso que entre em mim — fala, quando nós dois já
estamos praticamente sem ar. Então eu volto a pegá-la e a colocá-la perto da
minha ereção, porque eu sei que isso irá acalmar um pouco o frenesi no seu
corpo. O meu cheiro e o meu gosto vão deixar o cio de Crystal mais ameno.
— Chupe, mon naery. — Ela coloca o quanto consegue de mim entre
os seus lábios carnudos e eu acaricio o seu rosto, numa batalha interna
grande para não a machucar com a minha afobação. — Boa garota —
murmuro grosso, quase sem ar, e só então reparo como estou ronronando.
Nunca fiz isso com Ellona, nem quando estava no cio.
Crystal volta a pegar o meu rabo e a usar as suas unhas vermelhas em
mim, enquanto me masturba com a mão restante, e isso, somando ao seus
seios balançando com os bicos duros apontando para mim, são um combo
impossível de vencer. Estou hipnotizado, viciado feito um animal nela.
— Porra… — rosno e passo as mãos pelo meu rosto enquanto a
fêmea faz círculos em mim com a sua língua, me babando todo, e até raspa
os seus dentes as vezes, me causando uma dor mais do que bem-vinda. —
Crystal!
Não me orgulho de gozar tão rápido com ela entre as minhas pernas
me chupando assim, contudo, não sei como seria diferente, com essa
humana tão determinada.
— Engula tudo, coloque essa sua linda boca em volta do meu pau e
tome tudo que eu te der. — As palavras saem deformadas e os jatos
constantes de porra vão direto para a garganta dela enquanto continua
enfiando as suas pequenas unhas na minha cauda, provocando dor e prazer
em mim. — Você é a fêmea mais deliciosa do mundo, mon naery.
Eu faço uma bagunça e a humana me limpa como se eu fosse o seu
doce preferido, engolindo tudo. É um espetáculo vê-la sugando os lábios.
— Preciso que você me foda, senhor — pede ao terminar e eu
continuar duro em suas mãos. — Não vou aguentar se não me comer, estou
escorrendo — revela e eu seguro a sua mão, que está cheia do meu gozo,
antes que ela esfregue em sua buceta.
— Vou comer o seu cu, Crystal — aviso e ela morde o lábio inferior,
agora bem mais calma do que como estava quando entrou aqui.
— Você é muito grande e dá outra vez, no banheiro da festa, não
entrou por completo — choraminga, mas o cheiro da excitação dela
aumenta ainda mais. Gostou da ideia, só não vai admitir.
— Mas eu já enfiei a minha mão em você uma vez, agora quero o seu
rabo, quero ficar todo dentro dele. — Puxo o corpo dela para cima, a coloco
em meu colo, com o seu peito contra o meu, e usando a minha porra
começo a esfregar os meus dedos em seu ânus enquanto ela empina para
mim.
O meu pau fica entre nós dois e eu sei que desse jeito corro muito
risco de Crystal tentar me enfiar em sua buceta, por isso, preciso ser rápido.
— Por que você me desobedeceu? Olha como está desesperada…
Você está tremendo.
— Não quero que fique no cio por mais tempo, se eu posso fazer logo
o bloqueador — geme, enquanto os seus olhos se reviram com o meu dedo
entrando no seu traseiro. — Só me dê o que eu preciso agora, por favor,
faço qualquer coisa para ter você dentro de mim.
— Qualquer coisa? — pergunto e desfiro um tapa ardido do lado
direito de sua bunda, para causar dor e fazê-la choramingar gostoso. — Se
eu te der o que nós dois precisamos, vou foder a nossa vida, menina —
sussurro contra a sua boca e ela a abre para mim, para que eu lhe beije mais
uma vez.
Então eu me afundo na boca de Crystal, me perdendo em sua
quentura, enquanto lhe dou mais tapas e arranhões, arrancando sangue de
sua pele e tentando acalmar o seu cio.
— Me come, Vladimir, agora — fala praticamente dentro da minha
boca e para de me beijar, para tentar fazer o que eu já esperava: sentar com
a sua buceta no meu pau.
— Pare com isso e segure nos meus chifres, não é você quem manda
aqui — mando e ela obedece relutantemente, então eu levanto o seu corpo e
a deixo do jeito certo para receber a minha ereção na sua bunda. — Esse
cuzinho é meu, sabe disso, não sabe?
— Sim… — choraminga enquanto eu a movo para frente e para trás,
abrindo o meu caminho.
— Você me desobedeceu, mon naery, e deve sempre fazer o que o seu
macho manda — sussurro e estico a minha língua para lamber o seu
pescoço e a sua orelha, os seus pontos fracos e que a deixam mais maleável
para mim, que consigo me encaixar bem.
A sensação de entrar em Crystal é intoxicante, fico sem conseguir
formar uma palavra inteligível sequer, a pressão me deixa maluco, a
quentura, o calor. Ela grita, eu não sei se de dor ou de prazer, e eu só vou
devagar até o meio, sem coragem de ir até o final.
— F-faça como da outra vez — gagueja, mas eu não sei o que quer
dizer. — Me morda — pede num fio de voz e me surpreende.
Então afundo os dentes em seu ombro, provando o sabor metalizado e
delicioso de seu sangue, que me deixa ainda mais feral, e Crystal relaxa
quase que instantaneamente.
Ela realmente gosta tanto assim de ser mordida?
— Oh, Deus! — geme e eu deixo que o meu pré-gozo entre bem e
ajude com qualquer dor que possa estar sentindo, depois deito a minha
pequena fêmea no sofá, sem sair de dentro dela, e coloco as suas pernas em
meus ombros para conseguir ir e voltar com cuidado do seu interior.
O rosto de Crystal está suando e ela praticamente mastiga o lábio
inferior, enquanto as suas mãos tentam me segurar o mais próximo possível.
— Vladimir… eu… — Os olhos dela estão se revirando e eu começo
a tocar o seu clítoris, e é como se eu pudesse sentir a vibração do seu corpo
no meu aumentando.
As costas de Crystal saem do sofá e ela joga a cabeça para trás,
enquanto o meu rabo abraça os seus pulsos juntos e eu cravo os meus
dentes em suas panturrilhas arredondadas e macias.
É claro que sinto prazer em ir e vir com o meu pau do seu cu
apertado, mas é como se uma boa parte do meu prazer também viesse em
assistir como a fêmea tem prazer, em assistir como ela fica enquanto eu
domino o seu corpo por completo, como prendo Crystal embaixo de mim,
chamando o meu nome e tremendo. E isso me empolga tanto, que banho a
minha mão direita nos sucos de sua vagina e começo a meter os meus dedos
dentro.
— SIM! — grita, desesperada, e dessa vez eu consigo mais fácil do
que antes. No quarto dedo a fêmea já está esguichando em mim, que me
retiro com cuidado de dentro do seu rabo, para conseguir descer o meu
rosto e beber tudo o que ela me dá, enquanto se revira e segura os meus
chifres.
Capítulo 21
Vladimir
O cheiro de medo de Crystal chega a níveis alarmantes e ela me
encara com grandes olhos castanhos assustados conforme eu coloco o
vestido direito em seu corpo, mas ela não me diz nada, nem mesmo quando
a coloco em meu colo e a levo direto para o meu carro, onde dirijo para o
pronto-socorro mais próximo só de cueca.
É a primeira vez que piso em um hospital e eu sei que deveria tomar
cuidado com a minha imagem, talvez me esconder um pouco e ter lembrado
de me vestir. As chances de eu estar amanhã nas capas de vários jornais é
grande, contudo, não consegui pensar em nada, porque senti o jeito que a
mão dela ficou estranha e fez um barulho, e na hora todo o frenesi foi
embora, toda a raiva enlouquecedora que estava sentindo, e só sobrou o
medo de ter realmente a machucado.
Talvez seja o meu cio, mas tudo passa muito rápido para mim, não
consigo prestar atenção no que me falam e acabo sendo conduzido por uma
enfermeira que tem um cheiro de medo azedo e que coloca eu e Crystal
numa sala longe das outras pessoas, assim elas não se assustam com nós
dois.
A minha pequena fêmea é tirada de mim para fazer exames de
imagem e eu fico sozinho na sala fechada por um tempo, sentindo um tipo
de vazio que não me abordava a muito tempo. Fico imóvel, sem coragem de
andar pelo hospital para encontrá-la e descobrir o tamanho do estrago que
fiz, descobrir o tamanho do ódio que ela tem de mim. Ou pior ainda,
descobrir o tamanho do monstro que sou.
Até que uma outra enfermeira com cheiro azedo aparece e me guia
por uma saída escondida que dá no estacionamento, onde está meu carro, e
onde Crystal aparece alguns minutos depois, com um gesso branco na mão
que eu feri.
Abro a porta do veículo com pressa para ela, que se senta no banco do
carona ao meu lado, e solta uma longa respiração. Ela está cansada, isso é
fácil de ler em seu rosto, mas provavelmente bem menos assustada do que
eu, pois não cheira mais a medo e é médica.
Eu nunca estive em um hospital antes e tenho que admitir que às
vezes eu pensava se eles realmente me dariam Crystal de volta, ou se ela
sumiria por essa construção gigante e com um cheiro forte de álcool e
desinfetantes, e nunca mais voltaria.
— Foi uma fratura e eu vou ter que ficar com esse gesso por um
tempo — explica, soando muito rouca. — Basicamente estou com a mão
quebrada.
— Eu quebrei a sua mão?!
— Sei que não foi de propósito, Vladimir. — Dá de ombros, sem me
encarar.
— Eu… estava tão nervoso que você pudesse ir embora, que só
peguei na sua mão sem calcular a força. — Quero pegar Crystal pelos
ombros para que me encare e saiba que estou falando a verdade, mas tenho
medo de acabar quebrando algo mais.
Ellona era muito fraca para doenças, resfriado e essas coisas, porém,
eu nunca quebrei nada dela só por pegar.
— Está tudo bem, foi só dessa vez. Vamos para casa, tenho que
trabalhar no bloqueador logo, esse cio tem que ser parado.
Não preciso nem pensar muito para saber o que responder a essa frase
de Crystal.
— Não.
— Não? — pergunta e finalmente me encara, sem entender nada.
— É melhor você voltar para o seu apartamento — explico e começo
a dirigir para longe daqui, tentando focar na rua iluminada por postes, pois
estamos no meio da madrugada.
— Isso é sobre eu não ser a sua mulher? — Arqueia uma sobrancelha
e pisca, querendo se livrar das lágrimas que querem brotar.
— Você é humana e por um segundo de descuido eu quebrei a sua
mão. E se eu tivesse ficado com mais raiva? E se eu tivesse ficado
loucamente excitado e-e quebrado mais coisas? — gaguejo, porque só de
pensar nisso já fico angustiado, lembrando do sonho que tive com ela há
alguns dias, onde arrancava seus braços e a fazia sangrar. Depois desse
acidente de hoje, vejo que esse pesadelo não foi algo absurdo, eu realmente
poderia machucar Crystal seriamente. — Uma persanesa saberia se
defender de mim caso o meu cio saísse do controle, elas têm garras e força,
e você não.
— Então continua sendo sobre eu não ser como Ellona?! — exclama,
com o seu coração batendo rápido.
— Isso não é sobre Ellona! É sobre eu ser um perigo para você! —
rosno e depois tenho vontade de me bater.
Por que eu não consigo me controlar pelo menos agora? Agir
normalmente pelo menos agora?! Por que eu tinha que estar nesse maldito
cio?!
— Como você vai arranjar alguém para cuidar das suas
necessidades?! Precisa se aliviar! — Mesmo que esteja com um gesso na
mão por culpa minha agora, Crystal simplesmente não consegue parar de
pensar no meu cio. — Você não pode me mandar para casa agora, estou
quase descobrindo um bloqueador!
Eu respiro fundo, bem fundo mesmo, e penso. Como posso fazer essa
mulher desistir de mim, antes que tudo fique pior? Agora há pouco mesmo
ela estava dizendo que ia embora da minha casa, mas já mudou de ideia
pensando no meu cio.
Não importa que eu esteja apegado, não importa que eu sinta vontade
de urrar só de pensar em ficar longe dela. Só o que importa é que eu não
perca o controle e acabe fazendo algo que me assombrará pelo resto da
vida.
— Eu… acho que vou precisar procurar uma cuidadora de cio
persanesa, Crystal — murmuro de má vontade. Mas agora não é sobre o que
quero, é sobre o que precisa ser feito, e eu vou focar nisso.
— O quê?!
— Persaneses dizem que nunca traem e que não trocam de fêmea,
mas cuidadoras de cio estão por aí aos montes, não? — A minha pergunta
retórica deixa Crystal em silêncio, contudo, os seus dentes estão batendo
um contra o outro de tanta ansiedade. — Elas cuidam do cio do macho e
quando a família quer, colocam outra fêmea no lugar, uma de família boa, e
aí o macho tem o filhote. Eu não quero ter um filhote, mas… uma persanesa
é o que preciso agora.
Um minuto inteiro se passa enquanto a fêmea encara a escuridão
através da sua janela. Eu a escuto fungar baixinho, mesmo com o som do
carro andando pela estrada e do vento lá fora, e custa muito para mim ficar
em silêncio, esperando por suas próximas palavras.
— Só… me leve para o meu apartamento.
Capítulo 22
Vladimir
— Está tudo bem com você, pai? — Filipi questiona quando eu mais
uma vez caio no sono em minha poltrona e eu abro os olhos com pressa.
— Sim, só o bloqueador de cio que estou testando que me deixa
sonolento — explico e limpo a garganta com um pigarro.
— Aquele que a Crystal mandou da casa dela?
Eu fico em silêncio por meio segundo, porque só de ouvir o nome
dela o meu corpo já responde.
— Sim. — Mesmo assim eu respondo o mais natural que consigo e
não me estendo no assunto.
Tive uma conversa séria com Filipi e contei tudo que pude a ele,
escondendo as partes que eu sei que nenhum filho quer ouvir sobre os pais,
como a vida sexual, por exemplo, ou como tenho me sentindo um lixo
desde que aquela menina foi embora.
Terei que conviver com a falta que ela me faz, por conta do cio, por
um tempo, mas ainda é melhor do que conviver com a culpa. Não quero e
não vou machucá-la fisicamente.
— O que é isso? — Filipi pergunta e me faz sair de meus
pensamentos. Ele segura o panfleto que o meu curandeiro, que finalmente
voltou de viagem, me deu hoje mais cedo. Devo ter largado em cima da
mesa de centro e nem percebi.
— Red Town Club está com um evento essa noite e eu vou — aviso e
o rosto dele fica paralisado na hora.
— Você vai?! — Arqueia as suas sobrancelhas.
— Foi o meu curandeiro quem indicou, parece que vão ter muitas
persanesas por lá, principalmente cuidadoras de cio, e seria interessante
conhecê-las todas de uma vez — murmuro, sentindo uma pontada de dor de
cabeça só de ter que dizer isso em voz alta.
Vou tentar encontrar alguma fêmea que me cause menos vontade de
vomitar por não ter o mesmo cheiro que Crystal e dar logo um jeito nesse
cio. Vai ser doloroso e difícil, mas não tenho escolha.
— E você vai nisso? — O rosto de Filipi fica todo vermelho e eu
sinto o cheiro de sua raiva.
Por incrível que pareça, ele realmente tomou o partido de Crystal.
— Bloqueador nenhum funciona completamente para mim, mesmo
esse último que a doutora Parker mandou entregar aqui. — É assim que
tenho chamado Crystal, por seu sobrenome, pois segundo a minha cabeça
assim seria menos dolorido. O que não tem se provado verdade. — Eu
conversei com o meu curandeiro, ele disse que eu preciso de uma cuidadora
de cio ou posso voltar a ter a cegueira que tive ao descobrir o cio tardio.
— Então você vai pagar uma mulher para… — Ele não consegue
nem completar a frase.
— Você cresceu aqui em Red Town e conviveu com muitos humanos,
então pode achar meio estranho. Mas cuidadoras de cio são a coisa mais
normal para nós persaneses. — Dou de ombros, tentando convencer a nós
dois que isso não é um absurdo.
— Mas a Crystal ainda gosta de você e você gosta dela, não gosta?
Eu desvio o olhar porque não vou responder essa pergunta. O meu cio
tem me cegado desde que ela voltou e eu não posso deixar que esses
sentimentos dentro de mim me convençam de que é tudo real mesmo, o
meu cio deve estar ampliando tudo.
— Eu quebrei a mão dela e poderia ter sido o pescoço, então não
vamos mais falar sobre isso. Está decidido. — Encaro Filipi seriamente,
para que não me desafie mais.
— E aí você vai ter um filhote com uma desconhecida? Porque o seu
corpo não vai parar até nascer uma rorani no seu pulso. — Ele me encara
com descrença e desafio, o que me faz querer rosnar.
— A cuidadora pode engravidar e depois abortar no começo da
gestação, essa é uma coisa que eu realmente não gostaria que acontecesse,
porque a vida para mim é sagrada, mas eu não tenho outra opção e me
recuso a ter uma criança que não receberá toda a atenção de mim que
merece.
— E se fosse com Crystal? Com ela você teria um filhote? — ele
continua insistindo.
— Não — respondo rápido, sem entender porque o meu cérebro
parece querer formar a maldita imagem daquela fêmea grávida de um
filhote meu.
Só de imaginar isso, os pelos da minha nuca ficam arrepiados e o meu
coração dispara. Mas isso também é culpa do meu cio, não é o meu desejo
verdadeiro. Sei como funciona e não irei cair nas armadilhas biológicas do
meu corpo.
— Eu vou dar uma saída agora à tarde — fala de repente, pegando o
casaco que largou no sofá.
— Achei que fossemos passar a tarde juntos! — exclamo, pois Filipi
já vai saindo pela porta, sem nem olhar para trás.
— Tenho umas coisas pra fazer, na verdade. Mas nós nos vemos outro
dia!
Capítulo 23
Juro que não sei o que é que estou fazendo dirigindo em direção ao
Red Town Club tarde da noite, porém, não estou pensando muito bem
agora. Talvez a quantidade de perfume fedido que coloquei no meu corpo
todo para esconder o meu cheiro esteja afetando o meu cérebro.
Do que adianta eu vir até aqui, se Vladimir nunca me deu uma real
esperança de que estava apaixonado por mim? Desde que voltei para essa
cidade ele está no cio e todo o seu comportamento tem sido pautado nessa
condição de persanes.
E mesmo assim coloquei uma lace rosa e lisa na minha cabeça,
escolhi um vestido dourado, colado e de alcinhas, que só tampa um palmo
abaixo da minha bunda e que tem um decote fundo nas costas, e estou quase
chegando à casa secreta. Os meus seios estão soltos e com os bicos
marcando no tecido e eu escolhi sandálias douradas também, para combinar
com tudo.
O fermentado que Filipi me deu fez um efeito quase instantâneo, mas
eu tive que confiar muito nele, tirando o meu gesso bem antes da hora e
percebendo como a minha mão estava perfeitamente no lugar, como se
nunca tivesse quebrado. Eu com certeza vou procurar mais do líquido meio
gosmento para usar futuramente.
O cadastro no site da Red Town Club realmente não foi difícil de ser
feito, essa espécie de boate que mistura casa de swing e Deus mais sabe o
que, está pegando mulheres humanas sem pedir documento e as colocando
para dentro para se prostituir. Eu queria poder me preocupar mais com isso,
se não estivesse com os dentes batendo de tanta ansiedade e sem saber
como as coisas vão acontecer a partir daqui.
— Calma, Crystal — sussurro para mim mesma após estacionar o
carro alugado e decido fingir toda a confiança que não sinto dentro de mim.
Vou entrar, olhar, conversar com Vladimir, mas a qualquer sinal de
falta de interesse dele ou de agressividade, corro de volta para casa e nunca
mais toco no assunto.
Que se foda esse velho chifrudo se ele não me quiser, posso até chorar
bastante, mas depois disso, sou capaz de me reerguer. Vou esquecer esses
oito anos como se nunca tivessem acontecido, irei juntar dinheiro com as
minhas consultas e voltar para França, de onde não deveria ter saído! Nem
que tenha que vender algumas peças de luxo que comprei quando não
deveria!
Eu tenho vinte e cinco anos, não preciso me condenar a nada agora. E
daí que o meu coração bate por ele como por nenhum outro? Que ele
aparece nos meus sonhos e que eu simplesmente não consigo arrancar o
carinho que sinto por Vladimir de dentro de mim? Em algum momento tudo
isso tem que passar.
— Você consegue — continuo falando sozinha e marcho pelo
estacionamento escuro até a recepção do Red Town Club, que é ainda mais
luxuoso do que eu esperava.
As pessoas do outro lado do balcão me encaram com expectativa
assim que passo pela porta dupla do que parece um hotel mega caro. Eu vou
balançando os meus quadris de um lado para o outro até me aproximar e
dou um pequeno sorriso para a recepcionista.
— Olá, boa noite, como posso ajudar a senhorita? — pergunta antes
que eu possa dizer qualquer coisa.
— Eu vim para o evento com humanas. Meu nome é Mariza Turner e
eu estou na lista — respondo, sem vergonha nenhuma na cara.
É claro que não conheço nenhuma das pessoas aqui, contudo, oito
anos atrás eu tentei entrar nesse lugar para descobrir o que é que os
persaneses tanto faziam aqui e acabei indo parar na lista de indesejados
deles.
— Pode me dar o seu documento, por favor, senhora Turner? —
questiona e o meu rosto todo se paralisa numa expressão séria.
Que porra?!
— O meu documento?
Eu tenho uma pequena bolsa em minhas mãos, onde está o meu
documento real e o celular caso eu precisasse de alguma coisa. Esse lugar
não é conhecido por ser seguro para humanos, só para persaneses.
— Sim, mas não se preocupe, iremos ver apenas a sua idade, não
queremos menores nas nossas dependências — explica e eu acabo soltando
uma risada de nervoso.
Sempre rio quando estou à beira de um colapso, o que é o caso agora,
após ter dado um tapa na cara da minha mãe mais cedo e descoberto que
uma boa parte da alta sociedade da cidade sabe muito mais do que eu
gostaria da minha vida amorosa.
— Agradeço o elogio se você acha que eu poderia me passar por uma
adolescente, mas eu tenho vinte e cinco anos — falo e a recepcionista dá
um sorriso educado de volta.
— Mesmo assim, é um procedimento padrão. Preciso ver o seu
documento para saber a sua idade, tudo bem se não tiver me passado o seu
nome real — insiste e eu procuro não deixar a minha respiração ficar
barulhenta, demonstrando assim o meu nível de ansiedade.
Faz oito anos desde que saí de Red Town, então talvez o sistema deles
não tenha guardado as minhas informações por tanto tempo. O maldito
funcionário que me expulsou e ligou para os meus pais nem está por aqui,
era um homem loiro que já devia ter uns sessenta anos naquela época.
— Aqui o documento. — Entrego, confiando que ela irá apenas olhar
o meu ano de nascimento e devolver o documento depois.
— Um segundo enquanto eu checo — pede e começa a digitar os
números em seu computador.
Essa desgraçada não disse que só veria a minha data de
nascimento?! Merda!
Eu passo pelo menos um minuto inteiro batendo o salto no chão e
esperando que ela termine a sua checagem, contudo, pela cara que a menina
faz, eu sei que a porra do Red Town guardou sim os meus dados. Esses
filhos da puta nunca esquecem quando banem alguém.
— Senhora… infelizmente eu encontrei um impedimento no meu
sistema ligado ao seu número de documento. Vou ter que pedir que se retire.
— O quê? — Arqueio as sobrancelhas fingindo surpresa e estou
pronta para tentar argumentar com essa recepcionista, mas antes que eu
possa dizer qualquer coisa, duas mãos grandes me pegam.
Olho para cima e percebo que o homem musculoso que antes estava
parado no canto é quem me pegou. O segurança brutamontes não me deixou
nem tentar!
— O que você está fazendo?! — berro, desesperada e esperneando, e
mesmo assim o cara começa a me arrastar com a sua força quase persanesa,
mesmo que seja um humano.
— O seu documento está bloqueado aqui, senhorita. — A
recepcionista que parece muito culpada se levanta de sua cadeira atrás do
balcão. — Infelizmente não existe a menor chance de você poder entrar
para o evento de hoje. Eu sinto muito.
— Isso é absurdo! — Eu continuo berrando conforme o homem de
terno me devolve para a rua escura e deserta. Ainda bem que não tem
ninguém mais aqui para ver a minha humilhação.
— Você é um código vermelho. Por favor, não cause problemas e vá
para casa após ser acompanhada até o seu carro.
— Eu tenho direito de estar aqui! Você sabe quem sou?! — exclamo,
puxando o meu vestido para baixo e tendo que apelar para uma carta que eu
normalmente mantenho dentro da manga. — Sou a filha do prefeito! Se não
me deixarem entrar, amanhã mesmo vão estar fechados! — Estufo o meu
peito e semicerro os meus olhos, mas o homem não dá a mínima para o que
sai da minha boca.
— A senhorita foi proibida de vir até aqui, nós temos ordens
expressas para não a deixar nem mesmo perto das dependências. É isso que
significa um código vermelho — repete e me faz quase espumar de tanta
raiva.
— Proibida por quem? — Uma voz masculina interfere de repente e
eu tenho que me concentrar bem para entender quem é esse persanes alto de
cabelos negros bem na minha frente.
Eu conheço essas mãos completamente pretas, que são as cicatrizes
que restaram do sequestro que ele sofreu na infância. Além de eu também
só conhecer um persanes que não tem nenhuma rorani no pescoço, que é a
parte mais visível do seu corpo nesse terno, além do rosto e das palmas.
— Klaus?! Graças a Deus! Diga a esse cara que ele está cometendo
um grande erro! — exclamo, ficando aliviada finalmente.
Capítulo 24
Vladimir
— Você é o senador, não é? — Acho que é a quinta vez que escuto
essa pergunta. — Aquele que vive passando na televisão ao lado dos
humanos? Vladimir Dark Elf, certo?
A fêmea persanesa que me pergunta isso tem me observado desde que
cheguei aqui. Ela usa uma máscara cor de rosa em seu rosto, mas isso não
esconde a sua identidade de mim, se eu quisesse saber quem ela é mesmo,
Faun, uma velha amiga e co-fundadora da Red Town, me diria.
— É — respondo, balançando o meu copo de água e bebendo o que
restou. Continuo me mantendo longe do vinho persanes, não quero piorar o
meu caso atual.
O meu pau e as bolas só ficam mais doloridos a cada segundo e a
cada poucos minutos eu vou no banheiro me aliviar, esfregando uma
calcinha usada de Crystal no meu nariz feito um maldito pervertido. Me
sinto tão mal de fazer isso, que é como se a lingerie até queimasse em meu
bolso agora.
— Como é ter que falar com tantos humanos? Aposto que bem
irritante, eles são todos pequenos e… tão estranhos. — A fêmea se esforça
em tentar encontrar algum assunto que me agrade, assim como todas as
outras nessa espécie de área reservada no canto do salão gigante onde em
pouco tempo acontecerá um leilão de humanas.
— Humanos são… toleráveis — murmuro e limpo a minha garganta
com um pigarro, sem conseguir focar no rosto da fêmea. — Alguns são…
interessantes.
Nada para mim nesse lugar tem foco, as luzes neon saindo por todo
canto, o cheiro forte de perfume fedorento que todos usam para se disfarçar.
Estou a ponto de sair correndo daqui e aceitar o meu destino cruel, mas
então eu lembro que nunca mais veria o meu filho, os meus sobrinhos ou
até mesmo Crystal, mesmo que de longe, e permaneço.
Assim que o meu cio se for, os meus sentimentos por aquela médica
devem passar, essa saudade e esse fogo que queimam em meu peito
também, mas com certeza o carinho deve restar e eu espero muito que a
carreira daquela menina cresça.
— É, mas se você quer ter um filhote forte de verdade, não pode ser
com uma humana — resmunga, aparentemente sem gostar da minha
relutância em falar mal de humanos.
— Noar, que tal você me dar alguns minutos para falar com o nosso
senador Dark Elf? — Uma voz conhecida pergunta de repente e eu sei que
Faun chegou até mim.
— Achei que ele quisesse uma cuidadora de cio. — A fêmea que eu
descubro agora se chamar Noar balança o rabo com força, não gostando de
ser interrompida.
— Ele quer, mas agora preciso conversar com o meu cliente. Vá até o
quarto oito em meia hora e o senador estará lá te esperando. — A mulher
consegue arrancar a persanesa jovem que estava tentando puxar assunto
comigo em segundos e eu respiro aliviado enquanto encosto o meu corpo
numa parede preta.
— Não está falando sério sobre eu ter algo com aquela tal de Noar,
está?
— Se você continuar enrolando para escolher uma, sim, eu falei sério.
Não quero que saia por aí falando mal do meu catálogo de cuidadoras de
cio só porque não consegue se dar bem com nenhuma. — A minha velha
amiga provoca, sabendo muito bem que eu nunca faria isso.
— Eu já falei com a maioria delas. — Cruzo os braços na frente do
peito.
— Mas já encontrou alguém que gostasse, Vladimir? —
Diferentemente das outras persanesas aqui, Noar já está mais velha,
beirando os setenta anos provavelmente, e não precisa se vender, por isso a
sua cauda está bem longe dos meus braços e pernas e ela consegue falar
mais seriamente comigo.
— Ainda não. Estou… estudando as minhas possibilidades — minto,
já que não tenho conseguido focar nem no rosto dessas fêmeas, de tanto que
Crystal invadiu os meus pensamentos.
— Nem que tolerasse? — pergunta e eu fecho os olhos, massageando
as minhas têmporas, e faço que não com a cabeça. — Eu tinha um tio que
ficou cego por causa de cio tardio, sabia? A companheira dele morreu, ele
não quis tomar nenhuma outra e se negligenciou tanto que ficou
permanentemente sem enxergar.
Eu não sei nem o que responder para Faun, que tenho visto cada vez
menos por conta do meu cargo.
— As garotas daqui são ótimas, mas… — Dou de ombros, sem saber
o que mais mentir.
— Mas elas não são a humaninha que você andou de caso —
completa para mim e eu lhe lanço um olhar furioso. — Só sendo muito tolo
para achar que ninguém descobriria sobre vocês dois juntos. Eu sei que na
cidade nós não somos tão ligados, mas nós persaneses ainda somos como
um grande bando, e todo mundo sabe de tudo.
— Não tenho mais nada com ela agora, foi só uma coisa de cio.
O meu cérebro faz o favor de me mostrar a imagem da minha Crystal
com a mão quebrada por minha culpa, os seus olhos castanhos se
arregalando de susto e dor.
Essa memória irá me assombrar para sempre.
— Uma coisa de cio… — ecoa as minhas palavras, como se as
estudasse. — A garota dos Parker te segue desde a adolescência e agora
virou médica especializada em persaneses só para poder atender esse pobre
senador de cabelos brancos, e você me diz que é uma coisa de cio. Quantos
anos esse seu cio está durando para atrair ela assim com os seus
feromônios? — A velha fala maliciosamente e eu rosno baixo para ela.
— Não atraí aquela menina com os meus feromônios! Ela quem
grudou em mim sozinha logo após a morte de Ellona! — Arregalo os meus
olhos, chocado que Faun tenha tantas opiniões sobre um assunto que nunca
conversamos sobre antes.
— O corpo dos machos é feito para encontrar a fêmea certa e atraí-la,
mesmo que o macho seja um cabeça dura. — Dá de ombros e faz o meu
rabo bater com força atrás de mim. — Sabe de uma coisa? Eu vou escolher
por você!
— O quê?! — Franzo a testa.
— Vá para o quarto que o meu assistente vai te mostrar e espere lá,
em dez minutos eu vou te encontrar a melhor fêmea daqui e hoje mesmo
vocês fazem um filhote! — Ela sacode a cabeça, concordando consigo
mesma e usando a sua autoridade de anciã contra mim, e eu não recebo
nenhuma chance de protestar.
— Não quero aquela Noar, ela é… antipática demais. — Faço uma
careta.
— Como se isso importasse na hora de fazer um filhote. — Faun
revira os olhos. — E não, eu só falei aquilo para tirá-la daqui. Vou mandar
outro macho para o quarto dela e você fica esperando enquanto eu te acho a
fêmea certa.
Crystal
O casarão é ainda maior do que eu previa e com lugares escuros
demais, e eu não tenho nem como usar o meu celular, já que esse lugar
barra todo e qualquer sinal.
A maior parte dos cômodos é como algum tipo de boate clandestina,
tem mulheres humanas fazendo striptease e homens humanos também, mas
não vejo persanesas em canto algum.
Filipi me explicou que as persanesas costumam frequentar como
clientes, porém, não muito como mercadoria, já que a maioria tem dinheiro
e não quer entrar no cio.
Por mais que elas tenham acesso a aborto com facilidade, não é uma
prática que agrada ninguém e é sempre evitada.
— Quer uma bebida? — Um garçom bonitão me oferece e eu faço
que não com a cabeça, desviando de seu grande corpo.
Não quero falar com ninguém e nem beber nada, a minha missão aqui
é rápida e objetiva, prezando o máximo que puder pela minha segurança.
Quero encontrar e observar Vladimir de longe, sem que saiba da minha
presença, só para ver o que faz, e quem sabe conversar com ele sobre a
nossa situação.
Será que irá se atirar em alguma cuidadora de cio pensando apenas
com os seus desejos carnais, que devem estar gigantes agora, ou realmente
se afeiçoou a mim?
Não é impossível que o cabeça dura do Vladimir escondesse os seus
sentimentos por mim, mas ao mesmo tempo… a minha mãe não estava de
toda errada hoje mais cedo. Mesmo que eu goste de fantasiar que ele tenha
me dito uma vez que me mandar para Paris foi pela minha própria
segurança, talvez tenha sido tudo pela sua imagem na mídia. Deve ter sido a
forma mais pomposa que ele encontrou de se livrar de alguém que tinha
nojo.
— Merda… — xingo baixo e contenho a dor na minha garganta,
enquanto continuo sem achar o persanes moreno, forte, com cabelos
brancos espalhados por sua cabeça e com os chifres bem grossos.
— Está aqui para o leilão, humana? — Um persanes fala, deduzindo
que vim para o leilão porque sou uma mulher com um vestido mega curto e
que não está engajando em nenhuma “atividade” desse lugar. O tanto de
pessoas transando que encontrei pelos cantos aqui não é brincadeira. — Se
sim, deve entrar ali para depois subir naquele palco alto, onde todos
conseguem te ver.
Como eu já busquei em todos os lugares e não encontrei Vladimir, a
vozinha sem noção dentro da minha cabeça me convence que um palco alto
com certeza irá facilitar as coisas, porque se todos conseguem me ver, eu
também consigo ver todos, certo?
— Devo entrar onde? — pergunto só para ter certeza, querendo me
bater pelas chances que isso tem de dar errado, e logo sou guiada para uma
fila mal iluminada de humanas em silêncio.
Pelo pouco que consigo ver, todas elas se vestem com roupas curtas e
parecem ansiosas, e uma a uma elas desaparecem atrás de uma cortina
preta, para depois serem anunciadas. Algumas são gordas e baixas, outras
magras e altas, mas em geral tem para todo gosto.
O leilão é exatamente o que o nome diz, mulheres humanas sendo
vendidas feito mercadorias para os frequentadores da Red Town Club,
sejam eles humanos ou persaneses. Mas para falar a verdade, essa coisa de
leilão não me deixa muito ansiosa. Estou mais nervosa para encontrar com
Vladimir do que qualquer outra coisa.
Sei muito bem como me livrar de um persanes e escondi um potinho
de horliça com erva de gato dentro da calcinha, a mesma mistura que usei
em Vladimir semanas atrás. Se algo der muito errado, é só jogar isso perto
do persanes que ele será atraído pela erva de gato e apaga em segundos por
conta da horliça. E se for humano, é só chutar o saco.
— Você é a próxima. — Alguém fala do outro lado da cortina e me
puxa para uma sala ainda mais escura, onde eu subo alguns degraus quase
caindo para trás a cada passo. — Qual o nome que usou na inscrição do
site? — sussurra.
— Mariza Turner — respondo baixo para a voz de quem eu não faço
a mínima ideia de quem seja, mas que pelo leve sotaque diferente no z, eu
sei que é um persanes.
— Tudo bem, fique aqui e quando ele disser o seu nome, vá em frente
e entre no palco — a voz avisa e eu sacudo a cabeça, sabendo que consegue
me ver.
Depois de quase um minuto, isso segundo a minha contagem mental,
sou empurrada por mais uma cortina pesada e milagrosamente paro em
cima do tal palco.
As luzes aqui são muito fortes e conseguem me deixar ainda mais
cega do que a escuridão, o que é uma grande merda. Lá se foi a porra do
meu plano sobre encontrar Vladimir daqui de cima!
— Essa aqui é a senhorita Mariza Turner, que como vocês podem ver
é completamente humana e com um par de coxas que poderiam matar um
macho! — O apresentador fala no microfone e só então o meu corpo parece
entender mesmo no que eu me meti.
Estou tão fodida!
Capítulo 25
— Você disse que aceitava fazer tudo aqui dentro da Red Town,
certo? Foi o que o leiloeiro falou, não foi? — O persanes que parece ter uns
setenta anos pergunta e eu sacudo a cabeça positivamente, ainda usando a
máscara que Klaus me deu e rezando a minha terceira ave maria mental.
Para falar a verdade, ele deve ter uns oitenta anos, mas persaneses
costumam parecer mais jovens e diferentemente dos humanos, mantém a
sua “virilidade” intacta também por muito mais tempo, o que não é algo
bom de se lembrar agora.
Com alguns lances esse velho careca com dois chifres na cabeça e
que olha pra mim como se eu fosse um bife mal passado, me comprou do
leilão e me trouxe exatamente para onde eu queria vir: para uma ala só de
quartos, no lugar onde Vladimir deve ter que vir, caso encontre uma fêmea
que lhe interesse.
Foi por isso que coloquei no site que aceitava fazer tudo aqui dentro
desde que fosse dentro do Red Town Club, assim ganhava mais acesso para
procurar. Eu só não esperava que fosse mesmo ter que apelar para essa parte
do plano.
O problema é que eu devia estar tão eufórica com o tal fermentado
que Filipi me deu para tomar e que curou a minha mão, que não pensei nem
um pouco nos desdobramentos que tudo isso tomaria. Essa é a única
explicação para o meu plano ser tão ruim.
— Bom, nós já estamos no quarto e eu paguei caro por você, então
pare de me olhar como se eu fosse um monstro e tire a máscara para eu
avaliar de verdade o que comprei — ordena e eu me seguro para não
começar a tremer bem no meio do que parece o cômodo de um motel caro,
com uma cama de casal em formato de coração gigante, um monte de velas
acesas e uma hidromassagem redonda no canto.
— Prefiro manter a máscara — balbucio, querendo achar a força
interior necessária para lidar com essa situação perigosa.
Eu poderia muito bem ser estuprada aqui em segundos e ninguém
saberia, porque o que acontece na Red Town Club, fica na Red Town Club.
— Tire a peruca então, não é possível que tenha pintado o cabelo de
rosa! Vocês humanos são estranhos demais! — reclama com uma careta de
nojo. — E espero que você tenha todos os dentes na boca, senão vou te
devolver! — ameaça, me tratando feito um cavalo que acabou de comprar, e
com o seu rabo agora já todo branco batendo com força.
Eu arregalo os meus olhos, porque o velho de terno vem na minha
direção com a mão esticada querendo pegar a máscara e eu dou um grande
pulo para trás.
Esse infeliz é grande demais, não vai ser fácil de derrubar! Não
poderia ter sido comprada por algum humano sem força?!
— O senhor se importa se e-eu der uma pequena saída? — gaguejo,
tentando soar o mais sedutora possível, contudo, acabo parecendo só uma
presa assustada, o que também não é nada mal. Persaneses adoram brincar
de gato e rato.
— Uma pequena saída para onde? — Arqueia uma sobrancelha
grossa e desconfiada.
— Eu deixei guardado numa sala aqui perto, uma roupa especial para
usar só com você. Ela está com menos perfume e com certeza será mais
prazeroso — minto e cruzo os dedos escondidos nas minhas costas para que
esse truque dê certo.
Preciso dar o fora desse quarto o quanto antes e achar algum canto
aqui que tenha sinal para usar o meu celular escondido na bolsa pequena em
minhas mãos. Vou tentar ligar para Klaus e Filipi para conseguir reforços.
— Realmente, o seu perfume está deixando o meu nariz até dolorido.
— Passa as mãos no nariz e lambe o lábio inferior com a sua língua longa
que me dá calafrios, muito diferente da de Vladimir. — Não entendo por
que vocês humanos usam essa porcaria.
— Então eu já volto! É rapidinho, prometo! — falo isso já correndo
em direção à porta com os meus saltos querendo me atrapalhar, mas me
equilibro bem antes que o macho me pegue e não me deixe sair. — Fique
bem aqui! — exclamo, querendo parecer ansiosa de um jeito bom e antes
que ele possa dizer qualquer coisa, eu já saí em debandada para o corredor
escuro, onde finalmente consigo respirar aliviada.
Olho de um lado para o outro e tenho vontade de me bater por
realmente não ter pensado direito.
— Eu não posso bater de porta em porta — resmungo e decido subir
as escadas para o andar superior, antes que o cara que me comprou decida
sair do quarto e me arraste de volta para fazer Deus sabe o que comigo.
Pense, Crystal.
Se eu não vi Vladimir por nenhum lugar naquele salão onde estava
acontecendo o leilão, mesmo quando desci do palco e as luzes já não me
cegaram, ele só pode estar aqui. Ou em qualquer outro lugar nessa porra de
lugar gigante e sem mapa na internet!
— Merda… — xingo baixinho e mordo o lábio inferior ao quase
torcer o pé de tanta afobação andando pelo carpete desse lugar e me
esforçando para prestar atenção.
Só que todas as porras desses corredores são escuros e exatamente
iguais para mim! E mesmo que eu consiga escutar pessoas dentro dos
cômodos gemendo e gritando, fora deles não tem ninguém!
Nem que eu quisesse fingir a moça educada e perdida eu conseguiria!
Suor começa a descer pela minha nuca e respirar fica até difícil,
porque quanto mais eu rodo feito uma barata tonta nesse labirinto, mais eu
me lembro do maldito velho que já deve ter desconfiado de que não irei
voltar.
E ele, diferentemente de mim que estou perdida aqui, com certeza
sabe onde pedir para que alguém acesse as câmeras desse lugar e me
encontre.
E se eu não conseguir derrubá-lo com a horliça da minha calcinha?
E se me pegarem e…
— Crystal? É você, não é? — Uma voz feminina séria para os meus
pensamentos que estão quase me levando à beira de um colapso e me
obrigam a focar no agora.
— N-não, meu nome não é Crystal — respondo para a persanesa que
está no final do corredor e que vem caminhando até mim.
É o melhor que posso fazer agora: negar. Porque não é possível que
tenha me reconhecido com a porra de uma máscara e uma peruca!
— Recebi um alerta da segurança sobre a sua presença, já que você é
um código vermelho e poderia dar trabalho — explica e eu olho para os
lados, considerando para onde devo fugir. E se essa for uma amiga do cara
que me comprou? Porra, estou fodida! — Quando eu soube que Vladimir
viria para a Red Town, tinha certeza que te encontraria atrás dele. Você é
como um carrapato, menina!
— Vladimir? — sussurro, arqueando as minhas duas sobrancelhas e
paralisando no lugar. Ok, acho melhor eu não negar e tentar entender o que
está rolando. — Você me conhece mesmo?
— Sou Faun, velha amiga de Vladimir e sim, eu conheço você, e você
me conhece — revela, mas eu realmente não me lembro dessa persanesa de
cabelos, olhos, chifres e cauda negras. — Te acompanhei de perto quando
ainda era uma pirralha e depois que voltou de Paris, as notícias sobre você
estar dentro da casa do macho que sempre perseguiu viajaram rápido —
explica e eu franzo a testa.
Essa tal de Faun realmente sabe quem sou, mesmo que eu não me
lembre de sua voz rouca ou do seu jeito lento de andar. Ela para na minha
frente e é muito mais alta do que eu, assim como a maioria das persanesas,
e me avalia dos pés à cabeça de um jeito que faz a minha pele pinicar.
Tem algo nos olhos experientes dessa fêmea que me deixam sentindo
estranha, inquieta. Talvez seja porque ela sabe quem eu sou e claramente
tenha autoridade aqui, enquanto eu tenho só um velho estranho me
esperando e a porra de um coração partido.
— Você sabe onde Vladimir está? — Me arrisco a perguntar.
— É no quarto no final desse corredor, venha comigo — oferece e eu
me pergunto se devo mesmo segui-la. Pode ser algum tipo de armadilha
estranha do destino. — Pode confiar em mim.
— P-por quê? — gaguejo, ficando parada no lugar, enquanto ela
passa por mim num caminhar calmo e certeiro, com o seu longo rabo
flutuando feito o de um gato. Persaneses são realmente seres incríveis.
— Você entrou aqui atrás dele, não entrou? — pergunta, sem se dar
ao trabalho de olhar para mim. — Se sim, venha comigo. Se não, vou te
levar para fora do clube, Vladimir não gostaria de tê-la aqui dentro se estão
juntos.
— Não estamos juntos — corrijo e acabo tendo que dar passos
rápidos atrás dela. Não posso correr o risco de encontrar com aquele
homem.
— Machos persaneses não são muito difíceis, você sabia? Vladimir
mesmo é muito fácil de ler, mesmo que ele goste de brincar de senador por
aí e adore complicar as coisas básicas.
— O que quer dizer com isso? — pergunto, agora caminhando ao seu
lado enquanto chegamos no final do corredor que se parece exatamente com
o outro que estive agora há pouco.
— Se ele te fode, é porque te quer, e se ele te quer, vai querer pra
sempre. Ficam viciados no cheiro da fêmea que mais o agrada e fim de
papo, o cio faz o resto. Dificilmente eles fogem disso, mesmo que existam
algumas exceções, claro — explica com muita praticidade, mas não sei se
dá para acreditar que seja exatamente assim.
— Agora pegue isto. — Tira o casaco grande que veste, mesmo que
não esteja calor aqui, ou talvez seja só eu quase derretendo de tanto
nervoso. — Leve esse meu casaco de peles para ele não ver a sua silhueta
logo de cara e diga que fui eu, Faun Thunder quem te mandou, e mantenha
a máscara e a peruca por quanto tempo quiser.
— Se eu aparecer assim, ele vai me reconhecer. — Nego com a
cabeça, parada na frente da última porta do corredor e o meu coração parece
que vai sair pela minha boca.
— No estado atual, esse homem não reconheceria nem o próprio
filhote, ainda mais com o tanto de perfume que você passou — sussurra,
mexendo o nariz para me cheirar. — Agora vá, Vladimir precisa de uma
fêmea e você esperou todo esse tempo por isso, não foi? Para ser dele?
Sacudo a cabeça sem conseguir responder com palavras, porque
parece mesmo que esperei a minha vida toda.
— Faça um filhote e depois é só continuar mantendo-o no cio. —
Faun pisca para mim e me deixa chocada. É assim que ela quer que eu
consiga Vladimir?! — Entre logo — manda e abre a porta, já que eu não o
faço, e depois me empurra para dentro, onde entro tropeçando e logo sou
presa por um par de olhos castanhos mel do macho mais do que conhecido.
— Humana? — O senador pergunta e o meu lábio inferior treme,
enquanto Faun puxa a porta atrás de mim para fechá-la. Agora sou só eu e
Vladimir aqui. — Eu quero uma persanesa, não uma humana fraca. —
Franze a testa e eu demoro talvez um minuto inteiro para conseguir
formular qualquer coisa para dizer.
Vladimir veste um terno escuro e completo e está sentado na beirada
de uma cama grande de casal, dessa vez não de coração, só uma cama
retangular mesmo, mas aqui também tem muitos móveis de madeira que
parecem antigos e uma aura de motel chique, como o quarto que estive
anteriormente.
— F-faun me mandou, disse que eu agradaria o senhor — engrosso a
minha voz para disfarçar, o que fica bem estranho, contudo, Vladimir não
parece desconfiar de nada.
As veias de seu pescoço estão saltadas, o que dá um efeito diferente
nas roranis que parecem trepadeiras, e o macho está claramente cansado, até
com olheiras debaixo de seus olhos.
Tem dois botões de sua camisa branca abertos, com os pelos de seu
peito à mostra, como se estivesse com calor, e isso me deixa hipnotizada.
Devo mesmo ter perdido a noção de tudo! Esse cara quebrou a minha
mão e me chutou de sua vida, e mesmo assim estou aqui, quase babando!
Ele passa as mãos no seu rosto como sei que faz quando está com dor
de cabeça e solta um suspiro longo e cansado.
— Quantos anos você tem? — Mesmo a voz de Vladimir delata o
quanto está cansado.
— Trinta e três — minto mais uma vez, ainda engrossando a voz, e
sinto a sua frase como um cutucão em meu peito.
— É um pouco próxima a minha, pelo menos isso. Venha até aqui,
por favor — pede e eu fico trêmula de tanto medo.
As chances dele me reconhecer são gigantes e eu nem sei direito o
que vim fazer aqui! Engravidar de um filhote só para tê-lo preso a mim que
não é!
— Pode vir, estou controlado por agora — ordena e eu não tenho
escolha além de me aproximar, apertando bem o casaco de peles escuras
contra o meu corpo.
Ele lambe o lábio inferior quando paro a alguns passos dele, como
persaneses fazem para “sentir o gosto dos cheiros”, que é uma habilidade
bem diferente que eles têm, mas franze a testa.
— Você cheira a Faun e passou um perfume muito forte, não consigo
nem me concentrar.
— Incomodo o senhor? — Procuro tentar encontrar os meus olhos
com o seu, agora um pouco entristecida que não me reconheça, o que não
faz sentido algum. Só que Vladimir encara as próprias mãos, como se
estivesse com vergonha.
— Não, é só que… estou até com dificuldade de respirar e me
concentrar, mas não é culpa sua. Esse maldito cio está me cegando, então
espero que você saiba que tudo que acontecerá nesse quarto hoje é para
produzir um filhote, e eu posso machucar você sem querer.
— Ela explicou, senhor — cochicho, derrapando na minha nova voz,
já que o que me diz me dá ânsia de vômito.
Se eu não tivesse dado o meu jeito de entrar no Red Town Club,
Vladimir estaria com outra agora, fazendo um filhote com qualquer fêmea
que aparecesse na sua frente. Isso me faz querer correr daqui.
Esse com certeza não é o meu lugar.
— Tem problema se eu for mais duro? Porque não sei se vou
conseguir me conter mesmo e quero ter certeza de que você sabe de tudo.
Essa daqui é só uma transação comercial e o que Faun te falou será
cumprido. Assim que as roranis nascerem em nossos pulsos, você irá
abortar — decreta, sem espaço para negociação.
— Pode ser duro — agora já estou praticamente choramingando.
Eu não quero conhecer esse Vladimir, é assustador.
— Posso te chamar de outro nome, então? — pergunta, agora ainda
mais constrangido. — Eu só… preciso me sentir confortável, mas se não
der certo, vamos chamar uma persanesa. Eu machuquei uma humana… e…
não sei se sou confiável. — Passa mais uma vez as mãos no rosto.
Fecho os meus olhos e a minha garganta aperta, porque sei o nome
que ele vai dizer. Sei que vai chamar a sua esposa morta e não estou pronta
para passar por essa humilhação depois da merda do anel e de ter corrido
todo esse perigo.
Acho que vou começar a chorar a qualquer momento.
— Posso usar o outro nome? — questiona mais uma vez e eu não
tenho escolha, só balanço a cabeça positivamente. — Então venha aqui,
minha Crystal.
O meu rosto todo se paralisa na hora e as lágrimas brotam sem que eu
possa contê-las.
Capítulo 26
Ele quer dizer o meu nome, não o de Ellona, que foi a sua
companheira por muito tempo. Agora é finalmente o meu nome que ele
quer, depois de oito anos, e mesmo assim… não consigo me sentir feliz,
porque essa situação é uma completa bagunça.
— Vamos tentar fazer isso — fala e eu tomo coragem de me
aproximar, ficando até com dificuldade de respirar com o cheiro de
Vladimir me atraindo. Sei que são os feromônios do cio, mas mesmo antes
disso, quando eu tinha dezessete anos, eu já amava esse cheiro. Ele sempre
me tentou e eu nunca entendi como isso aconteceu tão rápido. — A-a minha
visão está falhando agora mesmo. — Fecha os olhos rapidamente e contrai
o rosto.
— Está com dor? — pergunto e ele faz que sim com a cabeça, então
decido acariciar o seu rosto, mas o persanes se afasta na hora, como se os
meus dedos queimassem a sua pele corada.
— Só… não me toque — pede e de repente se coloca de pé, o que me
faz afastar sem saber o que pretende fazer. O que aconteceu com esse
macho desde a última vez que nos vimos? — Fique de costas para mim na
cama e não me toque. Não é algo pessoal, é só que acho que vou acabar
vomitando se… ver o rosto de outra pessoa agora.
— Por que eu não sou a Crystal? — sussurro, com a minha voz mal
querendo sair, e Vladimir responde com um aceno positivo de sua cabeça.
— Está ficando pior, o quarto todo está borrado. Preciso me sentar,
tudo está rodando — grunhe e volta para a cama, onde senta na beirada
encolhido e tremendo, feito um filhote assustado.
O meu coração dói em vê-lo assim, então tento de novo tocar o seu
rosto e dessa vez ele me empurra com mais força, o que me deixa em alerta.
— Me-me desculpe. — Respira rápido, como se estivesse no meio de
um ataque de pânico. É a primeira vez que o vejo assim, acuado e perdido.
— Eu acho que não vou conseguir.
— Como assim? — Franzo a testa por baixo da máscara preta com
detalhes dourados que só deixa minha boca de fora.
— Vou pagar você de qualquer forma, mas… por mais que eu esteja
com muita dor agora, não consigo me imaginar tocando outra mulher, que
não a minha fêmea. — Nega com a cabeça rápido. — Só vá embora,
humana, e me deixe sozinho — manda, contudo, não tenho coragem de sair
do lugar. — Se encontrar com Faun diga… para não mandar ninguém aqui.
— Mas você está passando mal — argumento e dou um passo em sua
direção.
— Saia daqui logo! Não vai conseguir nada comigo. — Fica bravo,
praticamente rosnando as palavras enquanto o seu rabo bate com força atrás
de seu corpo.
— Me toque, Vladimir, estou aqui. — Dou mais um passo para ficar
bem na sua frente e pego a sua grande mão nas minhas, fazendo carinho
com os meus dedos. — Não quero que você passe mal.
Mesmo que a minha boca esteja amarga em ver o homem por quem
estou apaixonada tentar arranjar uma cuidadora de cio, ainda assim não
quero torturá-lo.
— E-eu não posso, eu… — A sua frase para no meio, conforme o
toco mais, espalhando o meu calor por sua palma gelada e trêmula. — A
sua mão é igual a dela, tem a mesma temperatura. — Uma ruga aparece
entre as suas sobrancelhas e os olhos dele começam a brilhar laranja. —
Como?! Como você consegue ser como ela? — pergunta, esticando a mão
livre para pegar a máscara no meu rosto e puxá-la para baixo com pressa.
— Crystal?! — exclama, terminando de arrancar a máscara de mim. — A
minha visão está borrada, mas… é você, não é?
— Sim — sussurro e mordo o meu lábio inferior, querendo conter a
minha vontade de chorar, conforme o barulho do ronronado de Vladimir
começar instantaneamente, e dessa vez mais alto do que nunca.
— Você veio até aqui? Como entrou nesse lugar horrível? — Então
algo ainda mais diferente acontece, algo que eu nunca acreditei que pudesse
ser capaz. Os olhos brilhantes dele se enchem de lágrimas, como se
estivesse prestes a chorar também. — Senti tanto a sua falta, menina —
grunhe sem esperar a minha resposta enquanto me agarra para si, sem me
dar escolha.
Coloca-me em seu colo, me esmagando com força nos seus braços
grossos. Enquanto invade a minha boca sem gentileza alguma. O beijo de
Vladimir é cheio de sofreguidão e exigência, ele quer tudo de mim, cada
respiração. A sua longa língua faz a minha obedecer, se enfiando tanto
quanto consegue em mim e quase me engasgando.
Eu tento não retribuir, não me abrir mais, até me debato em seu colo
para que não faça isso porque não é certo, eu deveria nunca mais ver esse
macho em toda a minha vida, contudo, o homem passa as suas mãos
descontroladamente pelo meu corpo e eu não sei dizer não a ele agora.
Vladimir aperta as minhas coxas com as suas grandes palmas,
deslizando pela minha pele arrepiada com força, aperta a minha barriga e os
meus seios soltos dentro do vestido dourado, belisca os meus mamilos
sensíveis, e eu não consigo conter os gemidos desesperados, enquanto a
minha bunda esmaga a sua ereção gigante.
O persanes me fode só de estar em seu colo, me segurando com força,
me prendendo aos seus braços enquanto fico excitada pra caralho e me
deixa toda molhada com a porra de um beijo.
— Crystal — sussurra ao parar e me deixar respirar. Estou sentada de
lado em seu colo, tão submissa a ele que deveria estar com ódio, e ele pega
o meu rosto entre os seus dedos longos. — A minha visão melhorou agora
que você chegou. Consigo até enxergar o seu rosto — revela enquanto os
seus olhos quase engolem as minhas feições e eu puxo grandes lufadas de ar
para resfriar todo esse tesão quente que corre em minhas veias.
— Então… — murmuro e tento me levantar, só que ele continua sem
deixar eu me afastar. — Acho que é melhor eu ir, para você encontrar uma
persanesa forte com quem possa ter um filhote.
— Não vá, por favor — pede e abaixa o seu rosto para ficar na altura
do meu, depois roça o seu nariz no meu, como já fez tantas vezes. —
Fiquei, mon naery.
Esse maldito senador sabe exatamente o que está fazendo ao me
chamar assim. Sabe que está ascendendo a chama que nasceu oito anos
atrás, quando eu sonhava em ser especial para ele.
— Você veio atrás de outra, Vladimir, não é a mim que você quer. —
Nego com a cabeça e desvio o olhar. Não consigo encará-lo enquanto ele
não tira os olhos da minha boca. — Você quer uma fêmea da sua espécie,
alguém mais alta, mais velha, mais sábia. Alguém que não sou eu.
— Quero você. — As mãos dele voltam a se espalhar pelas minhas
coxas e eu quase desaprendo como se respira.
— Mas estava prestes a transar com qualquer uma que entrasse pela
sua porta.
— Eu não estava, não conseguiria, tanto que ia te mandar embora —
murmura diretamente no meu ouvido agora, com o seu rosto se enfiando em
meu pescoço. — Quando te mandei para outro país, quando garanti que
você ficasse anos e mais anos fora, foi porque com uma noite você entrou
no meu peito de um jeito que não sei nem te explicar, e que me assustou,
Crystal — admite e o meu lábio inferior treme.
A porra do meu corpo e do meu coração estão adorando ser
manipulados por ele! Mas eu vou me manter tentando pensar a cada frase
que sai de sua boca. Desconfiarei de tudo!
— Você me assustou, menina, eu matei Ramon por você e faria de
novo. Eu faria tudo de novo. — O seu tom é decadente e as suas presas
raspam a minha orelha, enquanto sinto a sua respiração quente em mim e
sou obrigada a apertar bem uma coxa contra a outra.
Estou sendo segurada por esse homem gigante, barbudo e áspero,
praticamente babando em cima de mim, e me manter imune é uma tarefa
quase impossível, mas que pretendo cumprir com êxito!
— A verdade é que eu esperava você aparecer, deixava os lugares por
onde pudesse entrar. — A sua fala chama a minha atenção e eu acabo me
virando mais para ele. — Deixei um bendito buraco na minha cerca para
você passar, porque eu queria te ver — sussurra, agora em cima da minha
boca, e o hálito dele em mim faz um arrepio correr a minha espinha. —
Queria saber que estava bem, mesmo que nem te conhecesse.
— Foi você quem… quem deixou o buraco na cerca?
— Eu sabia que era errado e eu não queria ser um monstro, Crystal,
não para você, adolescente assustada e traumatizada. Para você eu queria e
quero ser um bom macho, ainda mais agora depois de te conhecer de
verdade… e de ficar viciado. — Os lábios dele estão tão perto, que ao se
moverem para falar, eles raspam no meus. — Você é minha, fêmea, e eu sei
que errei, mas faria tudo de novo. Te mandaria para longe de novo para não
te fazer mal.
As palavras de Vladimir me impactam tanto que eu fico calada,
absorvendo a possessividade dele.
— Você… poderia ter feito de outro jeito, conversado comigo —
murmuro, pensando em toda a ansiedade que esse homem causou em mim.
— E você entenderia se eu te falasse que você era nova demais? —
Arqueia as sobrancelhas e eu nem preciso dizer em voz alta a resposta, que
é não. A Crystal de dezessete anos teria grudado ainda mais naquele cara
vinte anos mais velho se ele dissesse que tinha o mínimo de afeição por
mim. — Ainda tenho medo de fazer mal a você, não conseguiria conviver
comigo mesmo, porque já fiz mal a uma mulher na minha vida, mas eu
preciso tentar, querida.
— Quem foi a outra mulher? — Franzo a testa.
Vladimir teve outras parceiras que eu não conheço?
— Se eu não tivesse entrado no cio, Ellona nunca teria morrido
durante a gravidez complicada, e eu nunca teria deixado o meu filhote sem
mãe — admite e isso com certeza o deixa menos interessado em me beijar.
Vladimir claramente sente dor ao falar nisso, muito mais do que eu tinha
considerado até agora. — Filipi teve uma adolescência ruim por causa de
um maldito cio meu… e eu também quebrei a sua mão por causa de um cio.
— Solta um longo suspiro. — Mas hoje foi a prova de que não consigo e eu
não quero um outro alguém, Crystal.
Sem me pedir permissão, o persanes simplesmente fica de pé comigo
em seu colo, o que me deixa desesperada, só para me colocar na cama de
joelhos, com ele atrás de mim.
— O-o que está fazendo?! — pergunto assustada, porque ninguém
nunca me manuseou com facilidade como ele faz.
— Estarei mentindo se dissesse que estava tentando te afastar só por
conta da memória de Ellona quando nos reencontramos, eu só não queria
admitir que… estou louco por você. — O seu corpo se apoia contra o meu,
com o seu peitoral largo nas minhas costas.
Sou obrigada a ficar de quatro para ele, com essa porra de vestido
curto e que deixa a minha bunda de fora.
— Estou desesperado de um jeito que um macho nunca deveria ficar
por fêmea nenhuma. Ainda mais uma fêmea como você. — A sua voz fica
mais grossa, mais profunda, e ele me empurra contra a cama, enquanto me
faz sentir o seu pau duro e me deixa sentindo quase febril de tanto desejo.
Estou em êxtase ouvindo-o falar assim, tão necessitado quanto eu.
— Uma fêmea como eu? — pergunto e arfo alto, conforme coloca as
garras para fora e começa a fazer o que sempre faz com as minhas roupas.
Vladimir destrói o vestido, rasgando-o pouco a pouco, me deixando
quase nua, e faz o meu coração bater ainda mais rápido.
— Com esse seu nariz empinado e rabo tão delicioso assim, você vai
tirar tudo o que quiser de mim — fala enquanto o seu ronronado fica mais
forte, como se fosse possível. — E eu vou te dar tudo que me pedir, mon
naery, mas em troca eu quero você. Quero ser seu dono — grunhe e
empurra a sua ereção mais contra mim, feito um animal.
— Vladimir… — gemo, sem controle nenhum e estou tão ansiosa que
os meus dentes começam a bater um contra o outro.
— Vou enlouquecer se não tiver você agora. — O rosto dele se
afunda nas minhas costas, me adorando com os seus lábios e barba, se
esfregando em mim, conforme as suas mãos colocam todo o tecido que vai
rasgando para o lado.
— Me chame de senhor, Crystal — pede no meu ouvido o que quase
me faz gemer de tão gostosa que é a sua voz. — Vamos, diga que sou seu
macho, o seu senhor — incentiva, com os seus dedos chegando entre as
minhas coxas, com as suas garras de fora ameaçando cortarem a pele fina.
— Eu preciso ouvir que sou seu dono.
— Me morde — mando, testando para ver o quanto realmente
pretende se doar, e na mesma hora Vladimir sobe a cabeça e enfia as presas
no meu ombro nu, tirando sangue de mim com uma facilidade imensa,
enquanto o meu interior se revira de tanto prazer. — Porra!
Eu não sei qual a lógica disso, mas eu gosto tanto quando deixa
marcas pelo meu corpo, sejam as mordidas ao lado da minha buceta, os
roxos nos meus seios de tanto que chupou ou os arranhões na minha bunda.
— Peça mais, mon naery — ordena e de repente Vladimir está
colocando uma mão em volta do meu pescoço enquanto ele rasga a minha
calcinha com um puxão só. — Tenho uma pequena coleção de calcinhas
suas agora, sabia? — Eu estremeço na mesma hora, com ele espalhando os
dedos pelos meus lábios, os meus joelhos até querem fraquejar. — Molhada
pra caralho para mim — rosna e a sua língua começa a lamber o líquido
vermelho que arrancou de mim no ombro.
Eu não consigo dizer nada de tanto tesão, mesmo sentindo o seu rabo
serpenteando pelo meu corpo, até que ele está bem na entrada da minha
vagina, empurrando o potinho de horliça para que caia no chão.
— Hoje quero estar dentro de você de todos os jeitos possíveis —
grunhe, ignorando o plástico com um pouco de erva que descobriu
escondido em mim.
— Você vai… — Não sou capaz de terminar a frase, pois sem aviso
algum e só com a sua respiração pesada na minha nuca, Vladimir começa a
empurrar a ponta em formato de triângulo para dentro de mim, me usando
mesmo como se eu fosse algo seu.
— Vladimir… o que está fazendo? — Reviro os olhos sentindo como
a cartilagem de sua cauda se dobra para caber, até que passa da ponta e
começa a entrar na parte arredondada mesmo, que me preenche de uma
maneira gostosa.
Ele não precisa de esforço para colocar a cauda dentro de mim, estou
mais do que pronta para recebê-lo. Eu só não esperava que o macho fosse
me comer de quatro começando desse jeito estranho, com os músculos de
seu rabo estocando tudo o que consegue dentro de mim.
— Sim… — choramingo, enquanto ele me pega pela cintura, me
suspende feito uma boneca que não pesa nada, e ajoelhado me coloca mais
para o centro da cama, assim eu espalho bem o meu corpo debaixo do seu e
recebo a cauda, que faz barulhos muito pecaminosos para ir e vir dentro de
mim. — Porra, sim!
Mordo o meu lábio inferior com força e sinto o prazer de ser
esfregada assim, com essa textura macia de camurça, mesmo que de uma
maneira estranha ainda não sinta que isso seja o bastante.
— Agora o meu pau — diz de repente e agora sim eu entendo o seu
plano.
Capítulo 27
Vladimir
Depois de Crystal e eu tomarmos um banho rápido, já que ela ficou
completamente coberta de porra e até um pouco de sangue, eu lambo cada
machucado da minha fêmea e também chupo a sua intimidade para aliviar a
dor de ter sido tão bruto e descontrolado com ela.
É claro que isso me deixa duro de novo e Crystal é quem me
masturba para acabar com o frenesi do cio dentro de mim, e mesmo com
toda a dificuldade que é me controlar para não foder o meu pequeno naery
de um jeito que a deixe com medo de mim, ainda me sinto muito melhor do
que nos dias que passei longe dela.
Arranjo um conjunto moletom quente e disponível com facilidade
aqui na Red Town Club para vesti-la, pois o vestido dela está inutilizável,
Crystal calça de volta as sandálias de salto que entrou usando e nós
planejamos sair do quarto para ir para a minha casa, sem conversar sobre
um depois ou combinar melhor como as coisas vão funcionar, quando
alguém bate à porta.
— Pode ser o cara que me comprou — sussurra e agora sou capaz
sentir o seu cheiro levemente mentolado de medo, porque esfreguei o seu
corpo até me livrar do perfume fedorento, além de ter destruído a sua
peruca rosa acidentalmente e ter ganhado uma bronca por isso.
— Vou abrir a porta e cuidar disso. — Termino de amarrar os meus
sapatos sociais e me coloco de pé.
— Ele vai tentar me obrigar a transar com ele, Vladimir! — Pega-me
pelo braço para me segurar no lugar, mesmo que na prática nunca fosse
conseguir fazer isso.
— Não se eu reembolsar de volta o dinheiro que ele pagou por você.
Crystal me contou o tamanho da maluquice que fez para entrar no
Red Town Club, pois o número de seu documento foi colocado numa lista
que proibia a sua presença aqui anos atrás.
Só o que soube fazer foi abraçá-la mais forte, com a garganta doendo
ao imaginar o que poderia ter acontecido com ela, me sentindo um idiota
ainda maior. Como pude ser tão cego e achar que poderia vir e foder outra
pessoa tão friamente?
O cio realmente devia estar me enlouquecendo para me fazer
imaginar que eu seria capaz de apagar essa menina da minha pele, quando
cada sonho e pensamento meu tem sido sobre ela desde que voltou de Paris.
— Ele pagou cinco mil dólares pelo leilão e um persanes me disse
que trinta por cento fica para a Red Town— explica baixinho, ainda com
receio do tal velho.
Acha mesmo que existe a possibilidade de qualquer um entrar nesse
quarto e tirá-la de mim?! Essa fêmea não se lembra que eu arranquei o
braço de um macho por tê-la tocado sem a sua permissão?!
— Ele pagou um preço baixo demais por você e não merece nem
mesmo a sua presença. — Pego a sua mão e afago para acalmá-la, o que a
faz morder o lábio inferior de um jeito que deixa os pelos da minha nuca
arrepiados e me obriga a ir logo atender essa bendita porta, antes que o cio
volte a me controlar.
Só que do outro lado não tem um velho persanes, e sim a persanesa
que ficou falando mal de humanos. Ela está com as mãos na cintura e o
rabo batendo de um lado para o outro, o que me diz que está muito
impaciente. Ainda mais com o cheiro de sua raiva invadindo o meu nariz,
um aroma amargo e estranho.
— Acho que Faun me informou o quarto errado, não me disse que
você estaria aqui, mas eu pedi ajuda e… — A sua frase para no meio e o
nariz dela se mexe, cheirando o sexo em mim rapidamente. — Ela mandou
outra fêmea para você?! Aquela velha ordinária me fez assinar o contrato de
sigilo, garantindo o aborto do nosso filhote, só para te dar para outra
fêmea?!
As palavras dela são altas demais e Crystal com certeza as escuta,
pois na mesma hora a humana vem para trás de mim, sem querer se
esconder mais.
— O que está acontecendo, Vladimir? — Crystal pergunta, se
espremendo pelo pequeno espaço que deixei no batente e colocando a
cabeça para fora do quarto. — Quem é essa?
— Quem sou eu?! — A persanesa que tenho quase certeza que se
chama Noar fica ultrajada e revira os olhos. — Eu sou a cuidadora de cio
dele! A fêmea que deveria estar aí dentro! — berra e desvia o seu olhar para
mim. — Você me trocou por uma reles humana, então?!
É óbvio que o jeito como fala faz a fêmea mais baixa do que eu levar
um susto, Crystal até termina de sair do quarto e encara mais a persanesa,
que é mais alta e mais velha do que ela, e que já não usa uma máscara para
esconder as suas feições.
— Como assim te trocou por mim? Vladimir você estava… — Não
consegue nem terminar a frase de tanto espanto e logo em seguida vem a
mágoa, consigo ler facilmente isso em seus olhos castanhos. — Antes de eu
entrar aqui você estava… — De novo ela não consegue termina a frase, só
me encara enquanto comprime os lábios juntos.
Crystal está lendo toda a situação errado! Que merda!
— Não! Eu não estava com ninguém antes de você, essa f… —
começo a explicar e sou interrompido, o que me causa ainda mais ódio.
— Não vê como humanos são inferiores? Você é um Dark Elf! Não
pode ter filhote com humanos ou vai sujar a sua linhagem, mesmo que vá
abortar depois! — A persanesa berra, sem me deixar esclarecer melhor e
isso começa a deixar o meu corpo todo quente, de tanta raiva.
— Essa é a minha fêmea e você não vai falar assim dela — rosno e
sinto o rosto formigar de um jeito estranho, que me diz que se eu não me
controlar, irei acabar matando essa fêmea em segundos. Não estou no meu
estado normal, estou no cio, e tudo no cio fica mais potente, seja a raiva ou
a tristeza. — Saia daqui agora!
— Você é um hipócrita! Quase me comeu com os olhos e agora está
aqui assim com essa mulher! — Ela continua achando que irá me desafiar.
— Cale a porra da boca agora ou arranco os seus chifres. — Dou um
passo em sua direção, com as minhas garras de fora, e ela recua na mesma
hora.
Noar provavelmente está vendo os meus olhos brilhando um laranja
muito forte e tenebroso agora.
— O-o que pensa que está fazendo? — gagueja e eu continuo devagar
chegando próximo a ela. Estou num controle firme da minha mente ou já
teria feito o pior. — Não pode me ferir! Só porque é um Dark Elf, não…
não quer dizer que pode fazer algo comigo.
Persanesas costumam ser bem mais fortes do que uma humana
comum e até mais que um humano, porém, dificilmente elas são mais fortes
do que um macho persanes, ainda mais um no cio que acabou de ter a sua
fêmea insultada.
— Saia daqui — grunho com as presas de fora, e ela abaixa a cabeça
e encolhe os ombros, decidindo mostrar submissão antes que eu perca
realmente a paciência.
Crystal fica em silêncio, observando tudo segundo a minha visão
periférica, contudo, eu sei que Noar fez um grande estrago com as suas
palavras e por isso a pequena fêmea está calada. A médica não tem um
olfato apurado para cheirar se eu estive ou não com outra fêmea antes dela.
— Eu assinei um contrato — a maldita persanesa insiste no ponto,
agora mais baixo, e antes que eu possa respondê-la, escuto os passos de um
outro alguém vindo, um persanes baixo e careca, que aparece no final do
corredor.
— Essa humana é minha! — Aponta para Crystal e vem caminhando
rápido, quase correndo na verdade, e a pega pelo braço de um jeito que me
deixa sei lá quantos graus mais quente. — Eu paguei e ela vai vir comigo!
— Você não pode fazer isso! — O meu naery responde e antes que o
filho da puta sequer tente arrastá-la, eu já estou arrancando as mãos dele e a
trazendo para mim, para que o seu cheiro impregne na pele de Crystal.
— Vão embora vocês dois! — Pego a médica e grudo o seu corpo no
meu, que sou muito maior e vou mantê-los longe. — Agora!
Não é possível que esses dois enviados de Alin[GS2] apareçam ao
mesmo tempo!
— Eu paguei por essa fêmea humana, senador! E não me importa que
é um Dark Elf, ainda tem que seguir as leis! Não é melhor que ninguém
aqui!
— E eu assinei um contrato com você! — Noar aproveita que o
persanes desgraçado está me desafiando e acha que irá conseguir algo
também.
— Shikri! [GS3]O que é que está acontecendo aqui?! — E como se
todo mundo tivesse decidido simplesmente aparecer na frente do meu
quarto agora, Klaus surge sabe Deus de onde, sem sapatos e usando só uma
calça de moletom.
Mas eu não fico feliz com a sua presença, pois foi ele quem ajudou
Crystal a entrar aqui hoje.
— O que está acontecendo aqui, é que vocês Dark Elf acham que são
os donos do mundo, só porque não tem filhotes com humanos! Eu comprei
essa humana no leilão e ele me roubou antes que eu pudesse usufruir! — O
velho continua levantando a voz de um jeito prepotente, como se a minha
fêmea fosse só um objeto, e isso me arranca um rosnado alto.
Eu só não saio do lugar e acabo com a raça do filho da puta, porque
Crystal, que está com o seu corpo grudado no meu, me segura. Só que como
ela está olhando para frente, não consigo ver o seu rosto e não dá para saber
o que está pensando.
— O meu tio vai te devolver a porra do seu dinheiro, tá bom?! —
Klaus intervém, mais consciente do que eu agora, o que é realmente
surpreendente. — Quanto você pagou?
— Cinco mil!
— É uma mixaria de cinco mil dólares que você quer, então ele te
devolve e você deixa a fêmea em paz. E você. — Ele aponta para Noar
ameaçadoramente com a sua mão preta de queimaduras. — Fecha a boca e
saia daqui, antes que ele arranque alguma parte sua. Não vê que o meu tio
está no cio? É burra demais para sentir o cheiro?!
— Ele vai sujar o nome da sua família com uma humana! — Noar
rosna e Klaus também, só que muito mais alto do que ela.
— E o que você tem a ver com isso?! — Se aproxima dela e eu não
acho que ele a mataria por gritar, mas com certeza está com vontade.
— Faun me fez assinar um contrato, disse que eu seria a cuidadora de
cio dele!
— Então vá até Faun e rasgue a merda do contrato e saia daqui logo!
— Aponta para o final do corredor, para onde ela deve ir. — Agora nós
todos iremos descer e, você, idiota, que eu nem sei o nome, vai ter o seu
dinheiro de volta!
Capítulo 28
— Não olhe para ele. — Coloco a mão sobre o rosto dela na hora,
pois Klaus está com tudo à mostra mesmo. Mas o lado bom é que desse
jeito dá para perceber que o seu corpo está em perfeito estado, apesar da
transformação em lobo, diferentemente de sua fêmea desacordada, que tem
sangue saindo de sua boca, nariz e até de seus olhos fechados.
— Eu sou médica, já vi muitos homens nus, Vladimir — a fêmea que
seguro responde, colocando a minha mão para o lado, e isso só me deixa
irritado. Tenho que respirar bem fundo para não rosnar e não acabar me
concentrando demais nesse fato, já que a nossa situação é bem mais
importante. — Como está o coração dela?
— Batendo devagar, eu escuto daqui — respondo por ele, que está
com os olhos brilhando muito amarelo, com os cabelos negros grudados
contra a sua cabeça e a pele escorrendo ainda a água da piscina que está a
alguns metros de nós.
Eu nunca vim nessa parte de Red Town Club, só vi de longe essa
piscina grande e com as letras “RTC” iluminadas no fundo. Mas como não
sou um frequentador assíduo desse lugar, nem mesmo quando Ellona estava
viva, então eu não saberia dizer muito. Só consegui chegar aqui porque ao
descer as escadas, uma garçonete desinteressada deu instruções.
— Me coloque no chão para eu examiná-la, Vladimir — Crystal
manda, mas eu não obedeço, segurando-a mais forte ainda contra mim.
Ela não sente o cheiro da raiva de Klaus, contudo, eu sinto. Tem algo
de errado no meu sobrinho, um aroma que nunca esteve com ele antes de se
transformar em lobo, e os meus instintos me dizem para não confiar nele
perto demais da minha Crystal.
— Eu já dei o meu sangue a ela — grunhe e mostra o braço de onde
arrancou um pedaço de pele. — Ela bebeu bastante e vai continuar
bebendo, até ficar bem.
— Isso é ótimo, mas seria bom que eu pudesse examiná-la melhor.
Ela pode ter tido muitos danos em seu interior e talvez até machucado o
filhote de vocês, cair dessa altura e dentro da água não é brincadeira. —
Crystal tenta explicar, sem entender o que está acontecendo aqui. Klaus está
num modo protetivo muito forte segundo a sua linguagem corporal, pelo
jeito como se mantém na frente da fêmea e a toca o tempo todo. —
Precisamos ir a um hospital e fazermos exames de imagem nela, para saber
exatamente o que aconteceu.
— Ninguém toca na minha Karina! — rosna e avança, e eu sou rápido
em dar passos para trás, levando a minha fêmea comigo. O meu sobrinho
fica de cócoras no chão, ameaçando pular se eu me aproximar. — Ela tem o
meu sangue! E eu escuto o coração da filhote bater! — A voz dele está
muito grossa, quase como a do lobo.
— Não vamos chegar perto, Klaus, não queremos prejudicar nem
você e nem a sua família — respondo, tentando soar o mais calmo possível,
mesmo que esteja pronto para fazer o que for preciso para proteger a fêmea
humana que carrego, e que graças a Deus está parada agora, sem tentar
descer. — Crystal só quer ajudar, ela se importa com vocês.
— Ninguém toca na minha mulher e nem na nossa filhote! — Insiste
na atitude defensiva, contudo, começa a respirar um pouco mais lentamente.
— Ninguém vai tocar nelas, mas você tem que se acalmar e sair da
posição de ataque. — É um milagre que eu ainda esteja conseguindo me
manter controlado. — Se levante e fique perto de Karina — ordeno e acabo
rosnando de volta para ele, assim não deixo que assuma o controle da
situação. Tenho que me impor como líder, assim como acontece entre os
animais. — Agora, Klaus!
— Não cheguem perto — resmunga e acaba se levantando e indo de
volta para o lado da espreguiçadeira em que Karina está.
— Como você sabe que é uma filhote e não um filhote? — Crystal
sussurra e eu não entendo por que essa fêmea não está tremendo de medo e
sim fazendo perguntas.
— Eu sinto — grunhe, contudo, eu nunca ouvi falar sobre um
persanes que pudesse prever o gênero de um filhote.
— É a primeira vez que você se transforma, Klaus? — pergunto,
ainda assombrado com a ideia de que o meu sobrinho é capaz de virar um
lobo gigantesco e tão feroz, e ele faz que sim com a cabeça.
— Temos que sair desse lugar agora, vamos para Cosmos, antes que
alguém venha atrás de mim, da minha fêmea e da minha filhote.
— Agora? — Franzo a testa. — A sua fêmea está machucada, é
melhor não viajar assim, pois o caminho até Cosmos é longo. Teremos que
ir até a Itália antes de conseguir chegar lá.
Talvez o estado atual de Klaus esteja cegando um pouco o macho. Eu
não sou médico e mesmo assim sei que humanos precisam de muito mais
tempo para se curarem, mesmo com o nosso sangue correndo em
abundância em suas veias.
— Assim que souberem no que posso me transformar, irão me querer
de qualquer jeito. Os humanos para me usarem feito cobaia e os persaneses
para me matar, os mais velhos não querem um troca formas — explica com
raiva e eu estou pronto para argumentar que isso é loucura.
— Com certeza alguma câmera deve ter pego Klaus se
transformando. — Mas Crystal fala por cima, dando até mais argumentos
para ele. — Para chegar aqui nós passamos por várias pessoas e é um
milagre que não tenha ninguém nessa piscina. — Ela encara os lados,
procurando por alguém freneticamente, contudo, a minha audição me diz
que não tem ninguém muito próximo a nós agora. Isso deve ter a ver com a
piscina não parecer exatamente limpa.
— Temos que ir para Cosmos, é o único lugar onde os humanos não
comandam e onde poderemos estar seguros de verdade, principalmente se
formos para as ilhas mais afastadas. — Klaus diz isso já começando a
manejar o corpo da fêmea desmaiada.
Ele a joga em seus ombros com cuidado e isso deixa Crystal quase
explodindo nos meus braços, querendo se soltar de qualquer jeito. A minha
fêmea não entende o jeito que o meu sobrinho faz as coisas, porque ela
ainda não teve tempo de estudar melhor os persaneses e talvez eu a ajude
com isso.
No final das contas, acho que gosto que Crystal seja assim tão
interessada pela minha espécie, ainda mais sabendo que fez uma faculdade
toda só por mim, como disse antes de brigarmos no meu closet.
— Karina precisa de atendimento médico! Ela pode ter quebrado um
monte de costelas ou até ficado paraplégica! Não se deve mover alguém
após um grande trauma! — argumenta e eu olho para baixo para ver como a
fêmea está me empurrando e se sacudindo. — Você está fazendo mais mal
do que bem a ela, Klaus! — O seu tom é de puro desespero e eu tento
consolá-la acariciando as suas costas, contudo, ela não quer isso.
A verdade é que se Klaus decidir que ninguém toca em sua
companheira, ele irá lutar até a morte por isso. É assim que nós persaneses
somos.
— Karina vai ter um curandeiro confiável quando chegarmos na
segurança da ilha onde nasci e onde todos os persaneses deveriam ter
ficado. — O meu sobrinho ignora totalmente a minha fêmea, o que deve tê-
la magoado muito, e começa a andar em direção ao aberto, onde se inicia
um pequeno bosque de árvores em torno dessa imensa propriedade. —
Vamos até a Itália agora, Vladimir, e de lá usamos o seu barco para chegar
em Cosmos. Venham comigo.
— E depois o quê? Ficar lá para sempre?! — Crystal realmente brinca
com fogo ao gritar assim com um persanes descontrolado, que só continua a
ignorá-la e entra por entre as árvores escuras.
— Só fique calada e me deixe cuidar disso — murmuro no ouvido da
médica, que solta uma respiração alta e irritada.
— Crystal, por favor, atende o telefone. Sei que passei tempo demais
longe, mas agora eu voltei e tudo está parecendo bem. Nenhuma imagem
foi vazada, então já podemos nos falar de novo — falo depois que a
gravação do telefone disse que eu deveria deixar uma mensagem. — Por
favor, só atende o telefone, mon naery — imploro, feito o macho
desesperado que sou agora, e depois desligo. Isso realmente é humilhante!
Nem o meu filho está me atendendo!
— Merda — xingo e decido voltar logo para dentro do hotel, para não
perder o discurso do líder da cidade, Eren. Se ela me ligar de volta, eu
posso só ir até o banheiro e atender.
Eren, o loiro de chifres e rabo acinzentado, e que tem mais ou menos
a minha idade, está em cima de um pequeno palco no lobby do hotel, onde a
maioria dos persaneses que conseguiram chegar o escutam. Ele segura um
microfone e anda com confiança no pequeno espaço.
— Gostaria de dizer que está tudo bem para vocês, mas não está.
Cada dia mais os odiadores do nosso povo têm ganhado voz e tentado nos
encurralar através de suas armadilhas. — Eren dá uma grande pausa
dramática, enquanto encara nos olhos os machos mais próximos a ele. Ele
realmente sabe como conseguir seguidores por aí, assim como o seu pai e o
seu avô.
Eu estou perto da saída, pois decidi ligar para Crystal longe de
ouvidos curiosos, então ele provavelmente nem me vê daqui e isso é bom.
Não tenho muita paciência para esse macho, é cheio de si demais.
— Semana passada mesmo foi anunciado um senso, eles querem
contabilizar toda a população persanesa e nos prender com os seus
números! Querem saber sobre a nossa saúde, sobre a nossa natalidade,
querem mapear os nossos corpos e nos usar como ratos de laboratório! E
isso nós não iremos deixar!
Eren ganha muitos aplausos das dezenas de persaneses no lobby que
foi fechado especialmente para nós.
— E sabe como planejam fazer isso? Através de pequenos golpes,
pequenos integrantes que se dizem bondosos, que só querem ajudar. — Ele
pega algo em seu bolso de repente, clica algumas vezes e no telão atrás dele
aparece uma grande imagem de… Crystal?
Que porra é essa?!
— Estão vendo essa mulher aqui? Ela se diz médica especializada em
persaneses, e sabe como ela conseguiu esse diploma?! — pergunta e eu não
consigo conter o rosnado alto que nasce dentro de mim, o que faz alguns
persaneses próximos olharem para trás. Esse maldito macho está querendo
me afrontar?! — Através de uma faculdade na França, com um professor
persanes que de bom grado entregou tudo sobre nós!
O que esse filho da puta pensa que está fazendo?!
Começo então uma caminhada frenética por entre a porra da
multidão, querendo chegar em Eren antes que ele fale qualquer outra merda,
só que com todos esses machos aqui, cada passo é difícil através do carpete.
— Ela se diz boa e tem atendido persanesas! As suas fêmeas estão se
consultando com essa mulher, lhes dizendo coisas, e ignorando os nossos
curandeiros! — berra e isso faz todos os persaneses em volta de mim
gritarem xingamentos contra a imagem de Crystal, que foi tirada do site
onde ela abre agenda para os seus atendimentos. E isso deixa o meu coração
desesperado, enquanto o meu sangue ferve nas veias.
— Humanos não entendem as nossas tradições, nunca existiu e nunca
existirá uma “curandeira”! — debocha e eu perco a paciência e acabo
empurrando vários machos para finalmente conseguir ser visto por Eren.
— Cale a porra da sua boca, Eren! — rosno, enquanto sinto quase
como se descargas elétricas descessem pelo meu corpo. Só que esse macho
sujo está longe demais ainda.
— E sabem quem apoia essa fêmea?! Vladimir Dark Elf! — fala isso
olhando nos meus olhos e as descargas atingem os meus ossos, me
deixando paralisado de tanto ódio.
Ele está expondo Crystal! Mentindo para todos esses homens aqui!
— Não se pode confiar nesses humanos! Ela lhe enganou, irmão! E
nós iremos acolher a sua dor!
— Do que você está falando, snifli nain?! — As palavras mal saem da
minha boca, porque o tamanho do meu ódio é tão grande, que eu tenho
quase medo do que sou capaz de fazer agora.
Eu rasgaria esse macho ao meio agora.
— Você não sabe ainda?! Essa mulher que se diz estudiosa do nosso
povo, marcou casamento com Frederick Burner, um dos nossos maiores
opositores! — berra e sorri de canto de boca, e eu quero me convencer de
que é mentira, de que ele só está falando isso porque é um macho sem
limites e quer me envergonhar na frente de todos esses outros.
Só que as palavras de Eren ecoam dentro de mim e eu sinto até
fraqueza nas pernas.
Capítulo 32
Crystal
— Você… — Assim como eu, o meu pai fica de boca aberta. Num
minuto Vladimir estava em sua forma normal e no outro, pelos começaram
a brotar de sua pele e tudo nele foi mais do que dobrando de tamanho, o que
me obriga a me afastar. — Você é um monstro! Um demônio!
A cabeça da criatura é gigantesca e o lobo cinzento de olhos laranjas
que vai surgindo, tem três metros no mínimo agora, mas isso só por estar
sobre as quatro patas. A sua extensão de verdade deve ter uns 5 metros, o
que é assustador.
— Humanos ruins — o lobo fala, num tom gutural e assustador que
revira tudo dentro de mim, e eu não consigo mais respirar devagar, o que
me causa muita dor. — Vão pagar por tudo que fizeram… — Vladimir
abaixa o seu corpo numa postura de ataque e rosna alto de um jeito que me
paralisa.
Ele é um lobo do mesmo jeito que Klaus, com os chifres grandes na
cabeça e o rabo, o que, em tese, não é estranho. Se o outro persanes com um
lobo no peito virou uma criatura, Vladimir também se transformaria em
uma.
Contudo, ao invés de ficarem parados como eu, os meus dois pais
escolhem correr de medo, e essa é a última coisa que se deve fazer perto de
um persanes, ainda mais um que trocou de forma e que deve estar muito
irritadiço. Eu me lembro como Klaus ficou na piscina e imagino que
Vladimir esteja também muito defensivo.
Tudo acontece muito rápido e eu não tenho tempo nem de tampar os
meus olhos para não ver o lobo começando a agir. Primeiro ele vai atrás do
meu pai, correndo com o seu novo e gigante corpo que faz o chão tremer, e
não precisa caçar por muito tempo. Ele só abaixa o seu grande focinho,
abocanha a cabeça do homem e sacode com força de um lado para o outro.
Vladimir morde a garganta do meu pai, fazendo jorrar sangue para
todo o lado. O meu coração bate desesperado dentro de mim, e quando o
meu pai cai no chão, já está imóvel e eu sei que não está vivo, porque a sua
cabeça fica para trás num ângulo impossível de se conseguir alcançar vivo.
— V-vladimir — sussurro, tentando chamar a atenção dele para mim
e morrendo de medo de sua selvageria. Eu deveria gritar, na verdade,
porém, não consigo. Estou num estado letárgico estranho demais.
— Marcel! Você matou o meu Marcel! — A minha mãe berra,
erroneamente escolhendo parar de tentar encontrar um lugar para se
esconder, e isso só faz o lobo gigante correr até ela também e pegá-la pelo
ombro.
Ele crava os dentes com tanta força que o meu corpo todo tem um
solavanco de susto.
— Se-seu demônio maldito! — berra e faz o lobo jogá-la no chão, só
que agora eu consigo fechar os olhos para não ver o que fará em seguida.
Só escuto os rosnados e sons do corpo dela sendo quebrado, enquanto as
lágrimas quentes descem pelas minhas bochechas.
Ao olhar de novo, o corpo de Isla está completamente arruinado e isso
me faz vomitar na hora, só que eu não tenho muito no estômago, por isso
coloco para fora somente ácido e o sangue de Vladimir que bebi agora há
pouco e isso chama a atenção da grande criatura, que volta para mim numa
velocidade ímpar.
— Eu quero Frederick — grunhe, com o nome “Frederick” saindo
muito estranho, soando como “Federiqui”. Deve ser difícil mesmo falar
com tantos dentes na boca.
Limpo a minha boca do vômito e sinto a minha garganta quase como
se estivesse queimada de tanto ácido que passou por ela. Eu não consigo
nem ter medo dele, é como se tivesse tomado uma injeção grande de
anestésico.
— Va-vamos embora, ele vai querer te pegar, Vladimir — falo, sem
saber se ele vai me dar ouvidos ou não. Afinal de contas, essa criatura é
gigante, com dois olhos laranjas que parecem brasas e patas com mais que o
dobro do tamanho da minha cabeça. — Não podem te ver dessa forma.
— Frederick! — rosna e uma figura conhecida se aproxima, o que faz
o lobo se virar na hora.
— Ele não está aqui, pai! — Filipi exclama, tomando cuidado com os
seus movimentos, para não ser atacado. Ele caminha bem devagar e coloca
as duas mãos para cima. — Já revistei a casa toda, o cheiro dele é forte e se
corrermos, podemos tentar encontrá-lo.
O pelo de Vladimir é grosso e tem vários tons de cinza misturados
aqui, o que é surreal. Tudo isso é surreal, na verdade, e eu não sei como vou
seguir a diante quando finalmente absorver o que acabei de ver.
— Frederick! — O lobo repete e antes que eu consiga dizer qualquer
outra coisa, ele começa a farejar.
Capítulo 36
Sempre que viro a minha cabeça, sei que Vladimir está me encarando,
esperando que os meus olhos foquem nos seus, contudo, desde que saí da
casa de Frederick, que eu simplesmente não consigo focar nos olhos de
ninguém.
Parece que todas as palavras de dentro de mim se esvaíram e os
sentimentos que ocasionalmente aparecem, são errados e estranhos, junto
com as imagens sangrentas, então eu os empurro para baixo novamente.
Agora não. Só quando estivermos em segurança.
— É melhor você tomar um pouco do meu sangue antes da viagem
começar — fala, chamando a minha atenção, que estou hipnotizada pelas
águas azuis de Nápoles, na Itália, onde chegamos na hora do almoço.
— Acho que já estou bem — murmuro.
Vladimir buscou por Frederick por dias seguidos e de um jeito nada
saudável, quase sem dormir ou comer, enquanto eu fiquei dentro de casa me
curando. Mas ocasionalmente ele desistiu de encontrar o filho da puta, que
se esvaiu como poeira no ar. Foram quase duas semanas enquanto os
investigadores o ajudavam e tentavam encontrar mais sobre a tal seita e
onde estavam os meus cadernos e a filmagem de Klaus.
Infelizmente não tiveram muito sucesso. Até localizaram algumas
pessoas, mas eu proibi Vladimir de matar alguém que não Frederick, pois
me lembrava sempre daquelas duas mulheres, Juliet e Nancy, e de como
elas pareciam alienadas por todas aquelas pessoas em volta. Talvez existam
mais garotas assim, nunca se sabe.
Então nós saímos de Red Town, após ele ter certeza de que eu estava
mesmo curada, pegamos um avião particular e viemos para a Itália. Filipi
ficou, sendo os olhos e ouvidos de seu pai, e também continuou cuidando
da gata laranja Lava, que permaneceu na casa dele desde que eu fui
sequestrada.
— Beba só mais um pouco de sangue, para termos certeza. Você teve
que se mover demais desde que saiu de Red Town. Aqui. — Ele se
aproxima de mim no deck do iate e me dá o seu braço já com furos para o
sangue passar, sabendo que eu não conseguiria romper a pele com os meus
dentes, e eu acabo aceitando.
O gosto é muito parecido com o do humano, algo como metal, a única
diferença é que é mais amargo e fica mais tempo na minha língua. Sugo
devagar por talvez um minuto inteiro e depois solto.
— Posso tomar um pouco do seu também? Ou não quer mais fazer
isso? — A voz dele é suave, mesmo que o que esteja perguntando seja
muito sério.
Vladimir passou a maior parte do tempo longe nos últimos dias e o
seu cio incendiou ainda mais a sua raiva. Então provavelmente nenhum de
nós tem mais o cheiro um do outro.
— Está me perguntando se eu não quero mais estar acasalada com
você? — pergunto e o grande persanes, que veste uma regata branca, faz
um aceno curto e até meio tímido com a sua cabeça. Acho que nunca vi
esse homem ser tímido alguma vez na minha vida.
— Aqui. — Dou o meu braço para ele na hora.
— Não quer conversar sobre tudo aquilo primeiro? Pode me falar
como se sente, eu vou entender. — Novamente ele busca os meus olhos
com os seus, mas eu desvio, porque sinto que se focar nele só um pouco,
vou acabar desmoronando bem aqui.
E nós não temos tempo para isso, precisamos chegar em Cosmos.
— Você disse que eu era sua. — Dou de ombros, querendo me
esquivar.
— Você é. — Vladimir não aceita mais que eu não o encare
diretamente e me pega pelo queixo, o que faz os nossos rostos ficarem
frente a frente. — Você é minha, Crystal — fala com mais determinação e
isso me faz soluçar.
Eu estou uma bagunça.
— Então tome o meu sangue. — A minha voz afina, se tornando
quase um choramingo.
— Eu sinto muito por seus pais, não deveria ter feito o que fiz, mas…
estar em forma de lobo deixou tudo muito difícil de controlar. — Ele se
aproxima mais e como ainda está segurando o meu braço, coloca a minha
mão em seu rosto. — Eu tinha medo que algum deles atirasse em você com
aquela arma e tinha raiva que eles não tivessem parado Frederick antes dele
te machucar. Se eu estivesse com a cabeça no lugar, não teria sido tão
brutal, porque ainda eram os seus pais.
— Você fez o que foi preciso — falo, porque o meu cérebro entende
isso. Só que uma boa parte de mim ainda está assustada com o que viu e
também com o que sentiu. — Está tudo bem… — Faço carinho em seu
rosto com os meus dedos e Vladimir começa a ronronar, o que me
surpreende.
Desde que as empresas da minha família faliram e eu fui atacada por
Ramon, eu entendi que nada mais viria sem esforço. Tudo que eu quis, eu
corri atrás, e agora esse homem que os meus olhos sempre perseguiram,
mesmo que através da internet, está aqui ao meu lado, ronronando para mim
após ter varrido cidades e mais cidades para encontrar o meu agressor.
— Quando estiver pronta para falar, eu estarei aqui, mon naery. —
Ele se abaixa e a minha respiração acelera, enquanto os seus lábios pousam
nos meus com um beijo rápido e carinhoso. Deus do céu! Por que parece
que vou derreter quando eu já transei tantas vezes com ele?! É só um beijo!
— Você é minha e eu sou seu, certo?
— Ce-certo. — Fico até rouca para responder, depois ele pega o meu
braço e morde a pele, o que me faz encolher os ombros com a dor, mas
Vladimir passa a sua língua, com a sua saliva que ameniza a pontada, e
pode beber de mim e continuar selando o nosso acasalamento.
Acordo meio atordoado, com luz entrando pelas frestas das janelas e
da porta, demoro alguns segundos para entender onde estou, com Crystal
nos meus braços e uma dor no braço direito bem grande. O meu pulso
queima como se estivesse em brasas e eu não entendo o porquê, até olhar e
tomar um susto.
— Crystal, acorda! — exclamo e sacudo a fêmea pelo ombro, ficando
até com dificuldade de respirar. — Amor, acorda, por favor. — Viro o seu
corpo e faço com que fique de barriga pra baixo.
— O que foi? — resmunga, protegendo o rosto.
— Olha pro seu pulso direito agora.
— Eu quero dormir, Vladimir. — Ela volta a colocar o rosto no meu
peito. — Está tão quente, fica paradinho assim, fica. — Os seus braços me
agarram para si, como se eu fosse um grande travesseiro seu.
— Juro que te deixo dormir depois de olhar para o seu pulso.
— Tá bom. — Suspira fundo e abre os olhos devagar. — Mas depois
eu vou dormir, porque você me des… — A sua frase para no meio e os seus
olhos se arregalam. — D-duas faixas? Duas roranis de uma vez?! — Ela
fica parada com a boca aberta, processando a informação. — Como eu
posso ter engravidado assim tão rápido?!
— Eu sou persanes, mon naery.
— Eu sei, mas duas linhas significam que são…
— Gêmeos!
Epílogo
— Quando nós vamos voltar? Conversei com Karina mais cedo e ela
está agoniada — falo enquanto andamos de mãos dadas pela campina
verdejante de Rigan feito dois adolescentes apaixonados.
Ontem foi o nascimento de Lena, que eu acabei perdendo por estar
em mais um dos meus cochilos e Vladimir não ter me acordado! Mas
depois de nascida dei uma boa examinada na menininha deles e tudo está
bem.
— Assim que eu encontrar Frederick e a seita. Nós já sabemos onde
estão e parece que eles têm um número considerável de meninas sendo
alienadas, é bem preocupante. — Vladimir passa a mão na barba de um
jeito que eu sei que faz quando está pensando em coisas importantes e
complicadas. — Eles pegam essas filhas de outros integrantes da seita, dão
uma educação básica, ensinam o ódio a persaneses e o medo a igreja, e
depois casam elas com homens mais velhos dentro da própria seita também.
— Que horror!
— Eles as colocam para morar em fazendas longínquas e quase sem
acesso à educação e essas mulheres ficam refém deles, pois desde pequenas
são ensinadas que esse é o seu lugar. Pelo menos foi isso que descobrimos
até agora.
— E o que vão fazer? — pergunto, ainda me lembrando de Nancy e
Juliet.
— Localizaremos as suas anotações e o vídeo de Klaus que não foram
revelados até hoje. Nós já conseguimos a filmagem do condomínio de
Frederick de quando eu virei lobo lá. E depois vamos tentar resgatar essas
mulheres e lhes dar um bom lugar para viver — explica e eu aperto a sua
mão, concordando com a sua ideia. — Mas não vamos pensar nisso agora,
tenho mais surpresas para você
— Mais uma?! — Arregalo os olhos enquanto chegamos na frente da
cabana de Klaus e Karina, e antes que Vladimir possa dizer qualquer coisa,
o seu sobrinho sai pela porta parecendo muito nervoso.
— O que aconteceu? — pergunto, preocupada, porque Karina
também aparece com Lena em seu colo.
— Klaus e Vladimir encomendaram várias caixas do continente, e
Oliver deveria vir junto com os vestidos de noiva que compraram para
gente, só que ela não veio!
— Como assim, não veio?! — Vladimir exclama.
Eu sei que Oliver é a melhor amiga ruiva e envergonhada de Karina,
ela me contou muito sobre a mulher com quem dividia apartamento em Red
Town e eu fiquei ansiosa para conhecê-la logo.
— Quem terminou de trazer as caixas foi um humano de Nayni,
porque ele disse que Oliver chegou lá e sumiu — Klaus explica, descendo
rápido pelos degraus de sua varanda e a pequena Lena, que veste só uma
fralda de pano com um buraco para o rabo, começa a chorar. — Então ou
ela está perdida em algum lugar na floresta ou alguém sequestrou Oliver!
FIM
Olha a ilustração +18, chegando. Cuidado ao abrir em público!!
Ainda teremos mais ilustrações para essa obra, fiquem de olho no twitter
@g_benevidess ou no instagram @g_benevides_autora
Gostou? Deixa uma avaliação
Quer me ajudar e não sabe como? Deixe uma avaliação e ajude a
espalhar a palavra dos persaneses por aí, além de também ajudar a garantir
que eu tenha como escrever os próximos livros.
Em junho vem aí!
Vou usar aquela famosa frase aqui de “quem me conhece sabe” que eu
não sou uma autora que gosta de encher linguiça.
Me deixa entediada e sem vontade de escrever um livro, quando eu
sinto que estou indo além do necessário. Então na série dos persaneses, não
tem tempo para eu gastar com capítulos e mais capítulos nas ilhas contando
sobre gravidez e fazendo hots que para mim seriam muito repetitivos,
porque esse casal já está em sintonia, já disse eu te amo, já está até com
filho no forninho (nada contra quem gosta de uma história mais morna, mas
se você chegou até aqui, sabe que gosto de sempre ter algo acontecendo.)
Porém, como eu também sou uma pessoa de coração muito mole,
decidi ouvir aos apelos de várias de vocês e irei iniciar uma série de contos
persanes. A cada livro lançado, vocês ganham um continho para mostrar o
cotidiano do casal, mostrar mais da cultura persanesa e mostrar mais das
diferenças entre humanos e persaneses e principalmente: dos bebês. Porque
sim, todo mundo aqui tem bebê!
Então fiquem ligadas, que em junho será lançado um conto chamado
“fralda com buraquinhos” (quem pegou a referência?) Contando tanto sobre
a gravidez da Crystal, como da Karina, mas nada que interfira na linha do
tempo dos outros livros. É realmente uma série para “ser feliz” com bebês
de rabinho e persaneses apaixonados por suas fêmeas.
O que vem agora?
“Tentação Sombria” faz parte de uma série de livros e cada livro da série é
de um casal diferente. Porém, os livros se passam mais ou menos ao mesmo
tempo, então o que fica aberto em um livro é fechado no outro, assim vocês
conseguem rever os personagens que amam e ganham mais informações
sobre os persaneses também.
Quais são os próximos livros?
Conto com foco em maternidade sobre Klaus e Karina e
Crystal e Vladimir – junho, sem data especifica porque a
autora está cansada
Dante + Oliver – 2023
Filipi + ??? – ainda sem data
Astor + ??? – ainda sem data
Redes sociais
Você consegue me encontrar no instagram como @g_benevides_autora
para ficar por dentro dos meus próximos lançamentos e no twitter como
@g_benevidess
Conheça outros livros da autora
BOM COMPORTAMENTO
LEIA AQUI
Livro 2 da Série Mentirosos (Pode ser lido separadamente)
Agente federal fechado e de dois metros + mocinha plus size,
animada e sexy
Se para alguns o mundo dá voltas, para James Akerman ele deu
cambalhotas.
O agente de olhos claros e sérios sempre julgou muito os mentirosos
com quem teve que tratar. Em sua cabeça, James era superior a eles.
Contudo, por conta de sua boa aparência, acaba sendo designado
para uma missão nada usual.
O loiro de nariz empinado e viciado em controle deverá fazer a
segurança ao mesmo tempo em que conquista a funcionária de um
empresário conhecido, de forma secreta, claro, para investigar se ela é uma
criminosa ou não. O problema é que além de fazê-lo ferir os seus princípios
morais, essa moça ainda é diferente de tudo que ele conhece.
Onde o policial é caladão e fechado, por conta de uma experiência
ruim do passado, Barbara é inconsequente, sempre provocando-o com suas
curvas, fazendo-o se sentir bobo e obrigando o seu novo segurança a engolir
cada uma de suas palavras.
LEIA AQUI
Uma história curta, plus size e sexy de Natal!
Os planos da jovem e tagarela Amanda para o Natal não eram nada
tradicionais. A mulher pretendia fazer uma grande surpresa para o seu
namorado, Pedro, usando um modelito que, com toda certeza, era
contraindicado para as ceias mais comuns.
Porém, ao entrar escondida na casa do homem amado, com longas
meias listradas, descobriu estar sendo traída na melhor data do ano. E além
disso tudo, a moça ainda topou com o colega de apartamento do traidor,
Fernando, que coincidentemente estudou na mesma escola que ela e foi o
causador da maior vergonha que já passou em toda a sua vida.
Então agora os dois velhos conhecidos estão sozinhos e reunidos
pelo destino, num Natal capaz de mudar tudo.
Porém, mesmo que não existam mais algemas em seus pulsos, Ian
começa a se sentir preso a Vanessa e aplicar o golpe até o final fica cada vez
mais difícil.
Será que ele conseguirá resistir a essa mulher?
OBSCURO
Quando almas gêmeas perdidas se reencontram após um acidente
Jacob Quinn é o xerife de uma cidade pequena e fria no interior do
estado. Fechado e com um passado trágico, ele tem pouca paciência para
conversa fiada e prefere viver numa cabana no meio da floresta.
Angeline é uma mulher sexy, tagarela, que ama seu corpo curvilíneo e
só quer curtir a vida, mas que vê todos os seus planos serem destruídos após
uma bala atravessar seu pescoço.
Porém, surpreendentemente, ela acorda, sem saber como, muito longe
de casa e com o coração batendo mais forte do que nunca por um homem
bruto, que é sua única chance de sobrevivência e maior perdição.
"Quanto o instinto de sobrevivência se confunde com desejo, nem
mesmo um homem obscuro consegue resistir".
Agradecimentos
Eu agradeço muito à minha mãe, à BBQ, à Dhanuba, a minha
assistente literária, que além de profissional incrível, é uma amiga para
ninguém botar defeitos e também a Camila, a minha revisora, que embarcou
nesse rolê maluco que são os meus prazos.
[GS1]Se parece com uma peruca. Mas, na verdade, lace é uma prótese feita fio a fio em uma tela
de microtule. Neste caso, os fios são colocados um a um sobre o tecido, o que permite um efeito
mais semelhante ao couro cabeludo.
[GS2]Deus da maldade na cultura persanesa
[GS3]"Merda" no idioma persanes tirado das vozes da cabeça da autora
[GS4]"De novo" em Vrain