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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

CAMPUS PAU DOS FERROS


CURSO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

KARINE BIANCA DE FREITAS

MÉTODOS GEOELÉTRICOS APLICADOS À PROSPECÇÃO DE ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS

PAU DOS FERROS-RN


2016
KARINE BIANCA DE FREITAS

MÉTODOS GEOELÉTRICOS APLICADOS À PROSPECÇÃO DE ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade Federal Rural
do Semi-Árido – UFERSA, Campus Pau
dos Ferros, para obtenção do título de
Bacharel em Ciência e Tecnologia.

Orientador: Profº. Dr. Francisco Ernandes


Matos Costa – UFERSA.

PAU DOS FERROS-RN


2016
KARINE BIANCA DE FREITAS

MÉTODOS GEOELÉTRICOS APLICADOS À PROSPECÇÃO DE ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade Federal Rural
do Semi-Árido – UFERSA, Campus Pau
dos Ferros, para obtenção do título de
Bacharel em Ciência e Tecnologia.
Dedico este trabalho à minha mãe Maria
do Carmo (em memória), e ao meu pai
Edson Eleutério por todos os conselhos e
ensinamentos passados.
AGRADECIMENTOS

A Deus por me dá forças para nunca desistir dos meus sonhos.

Ao meu pai Edson, a minha madrasta Corrinha, e aos meus irmãos Henrique,
Alinne, Jacklinne, Marcelino e Moisés, por todo apoio a mim oferecidos, sou muito
feliz em ter vocês em minha vida.

A minha mãe Do Carmo que lá do céu está sempre olhando e me protegendo.

Ao meu orientador Ernandes por toda dedicação na elaboração deste trabalho, e por
ter sido um dos professores que mais me influenciou a seguir em frente. Agradeço,
principalmente, por ter acreditado no meu potencial.

Aos professores que contribuíram de maneira direta ou indireta na minha formação


acadêmica, meu muito obrigada.

A minha vizinha Luana Nunes, que tive a oportunidade de conhecer ao me mudar


para Pau dos Ferros e ingressar no curso de Ciência e Tecnologia. Esta que se
tornou uma das pessoas mais importantes em minha vida. Sou muito gata por sua
amizade.

Agradeço a meu amigo Daniel Oliveira por todos os momentos compartilhados,


sejam eles tristes ou felizes. O importante é que sempre estávamos um ao lado do
outro. Muito obrigada por sua ajuda e contribuição. Saiba que sinto um carinho
enorme por você.

Agradeço a todos meus amigos pelo apoio, amizade e carinho, em especial a Mirelle
Dayanne, Ires Vieira e Rosimery Carvalho. Jamais serão esquecidos os momentos
de estudos e de lazer. Obrigada por fazerem parte da minha vida. Espero que nossa
amizade perdure.
RESUMO

A possibilidade concreta de escassez de água potável vem se tornando uma


ameaça à população mundial. Nesse sentido, a identificação de formações
geológicas nas quais a água pode ser armazenada e que possuem permeabilidade
suficiente para permitir que esta se movimente, os chamados aquíferos, é de suma
importância para a sociedade. Essa identificação pode ser feita utilizando-se
métodos geofísicos de prospecção, que utilizam medidas indiretas relacionadas a
uma dada propriedade física do meio geológico analisado. Dentre os métodos, os
que fornecem melhores resultados no que diz respeito à prospecção de águas
subterrâneas são os geoelétricos que se subdividem em elétricos e
eletromagnéticos. A principal propriedade física investigada por esses métodos é a
resistividade elétrica, ou o seu inverso, a condutividade elétrica. Nesta monografia é
feito um estudo dos principais métodos geoelétricos utilizados na prospecção de
águas subterrâneas. Finalmente, dados de resistividade elétrica da região Sul do
Ceará são analisados e interpretados.

Palavras-chave: Águas subterrâneas. Geoelétricos. Resistividade.


ABSTRACT

The real possibility of potable water scarcity is becoming a threat to world


population. Accordingly, the identification of geological formations in which water can
be stored and which has sufficient permeability to allow it to move, called aquifers, it
is very important to society. This identification can be made through geophysical
prospecting methods, using indirect measures related to a given physical property of
the analyzed geological environment. Among the methods, which offers better results
with regard to prospecting groundwater are the geoelectric, which are divided into
electrical and electromagnetic. The main physical property investigated by these
methods is the electrical resistivity (or the electrical conductivity). In this work, is
made a study of the main geoelectric prospecting methods used in groundwater.
Finally, electrical resistivity data from southern Ceará region are analyzed and
interpreted.

Keywords: Groundwater. Geoelectric. Resistivity.


LISTA DE FIGURA

Figura 1: Classificação dos aquíferos de acordo com a porosidade da rocha. ......... 16


Figura 2: Tipos de aquíferos classificados quanto à pressão. ................................... 17
Figura 3: Alguns tipos de poços utilizados na extração de águas subterrâneas. ...... 18
Figura 4: Arranjo genérico dos eletrodos de corrente (A e B) e de potencial (M e N)
utilizado no método eletroresistivo. ........................................................................... 27
Figura 5: Ilustração da técnica de sondagem elétrica vertical com arranjo
Schlumberger. ........................................................................................................... 30
Figura 6: Ilustração do arranjo Wenner utilizado em SEV. ........................................ 31
Figura 7: Ilustração do arranjo dipolo-dipolo utilizado na técnica do CE. .................. 31
Figura 8: Ilustração do arranjo pólo-dipolo da técnica do CE. ................................... 33
Figura 9: Ilustração do método eletromagnético indutivo. ......................................... 37
Figura 10: Equipamento utilizado no EM 34. ............................................................. 38
Figura 11: Mapa de localização da área de pesquisa (Porção oriental da Bacia do
Araripe)...................................................................................................................... 39
Figura 12: Medidas de diferença de potencial em função da corrente aplicada. Os
dados de cada gráfico foram obtidos com os eletrodos de diferença de potencial
fixos nas seguintes distâncias: 0.3, 1, 3, 10 e 30. ..................................................... 42
Figura 13: Medidas de diferença de potencial em função de AB/2. Cada par de
gráfico foi obtido com os eletrodos internos fixos nas seguintes distâncias: 0.3, 1, 3,
10 e 30. ..................................................................................................................... 44
Figura 14: Resistividade aparente em função de AB/2. Cada par de gráfico foi obtido
com os eletrodos de diferença de potencial fixos nas seguintes distâncias: 0.3, 1, 3,
10 e 30. ..................................................................................................................... 46
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Métodos geofísicos e suas propriedades físicas correspondentes. ......... 24


Quadro 2: Coluna estratigráfica da bacia do Araripe no Ceará. ................................ 40
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Espaçamento entre bobinas, frequência de operação e profundidade de


investigação de acordo com a disposição das bobinas. ............................................ 38
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12

1.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................................................ 13

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................................... 13

1.3 METODOLOGIA .................................................................................................................................. 13

1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA .............................................................................................. 13

2 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS ............................................................................... 15

2.1 ASPECTOS GERAIS E IMPORTÂNCIA ................................................................................. 15

2.2 ARMAZENAMENTO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS ....................................................... 15

2.3 CAPTAÇÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS ......................................................................... 17

2.4 PRINCIPAIS AQUÍFEROS BRASILEIROS ............................................................................ 19

2.5 AQUÍFERO DE PAU DOS FERROS......................................................................................... 22

2.6 AQUÍFERO DE CORONEL JOÃO PESSOA ........................................................................ 23

3 MÉTODO ELETRORESISTIVO ......................................................................... 24

3.1 GENERALIDADES ............................................................................................................................. 24

3.2 ASPECTOS GERAIS DO MÉTODO ELETRORESISTIVO............................................ 24

3.3 FLUXO DE CORRENTE NO INTERIOR DA TERRA ....................................................... 25

3.4 RESISTIVIDADE APARENTE ...................................................................................................... 28

3.5 TÉCNICAS DE LEVANTAMENTO ELETRORESISTIVO ............................................... 28

3.5.1 Sondagem elétrica vertical ....................................................................... 29

3.5.2 Caminhamento elétrico ............................................................................ 31

4 OS MÉTODOS ELETROMAGNÉTICOS ........................................................... 34

4.1 ASPECTOS GERAIS DOS MÉTODOS ELETROMAGNÉTICOS............................... 34

4.2 AS EQUAÇÕES DE MAXWELL PARA MEIOS GEOLÓGICOS ................................. 35

4.3 MÉTODO ELETROMAGNÉTICO INDUTIVO ....................................................................... 36


4.3.1 EM 34.......................................................................................................... 37

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 39

5.1 LOCALIZAÇÃO E GEOLOGIA DA ÁREA DE ESTUDO.................................................. 39

5.2 AQUISIÇÃO DOS DADOS DE SEV .......................................................................................... 41

5.3 MEDIDAS DE TENSÃO ELÉTRICA .......................................................................................... 41

5.4 ESTIMATIVA DA RESISTIVIDADE APARENTE ................................................................ 45

6 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS ................................................ 48

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 49

ANEXO A – DADOS DE SONDAGEM ELÉTRICA VERTICAL ............................... 53


1 INTRODUÇÃO

A disponibilidade de água potável na superfície terrestre, quando relacionada


em tempo e espaço, associada à ocupação e fixação humana, vem se tornando
muito escassa em várias regiões da Terra, caracterizando assim uma crise hídrica
sem precedentes (NIEDERAUER, 2007). Em algumas regiões do planeta a
escassez de água é o reflexo da má gestão, em outras regiões, como no semiárido
brasileiro, é resultado das baixas precipitações pluviométricas, decorrentes nos
últimos anos. Nesse sentido, a água subterrânea, como recurso hídrico, assume
uma importância fundamental neste início de século.
O semiárido brasileiro é conhecido por apresentar secas frequentes, de
acordo com Clemente e Cícera (2015), a população sertaneja está passando por um
período crítico, que acreditam-se tratar da maior crise hídrica dos últimos 50 anos;
mesmo sendo uma região conhecida em resistir bem a falta de chuva é possível
notar os impactos causados pelos 4 anos consecutivos de estiagem.
Dessa forma, observa-se que a água superficial não é suficiente para suprir a
demanda dessa região. Nessa perspectiva, a prospecção de águas subterrâneas se
estabelece como uma alternativa viável para suprir a demanda da população do
semiárido brasileiro.
Os métodos geofísicos, em particular os elétricos e eletromagnéticos,
constituem uma ferramenta importante na identificação de formações geológicas
propícias ao armazenamento de águas subterrâneas (CARRASQUILLA, 1997). A
principal propriedade física investigada por esses métodos é a resistividade elétrica,
ou seu inverso, a condutividade elétrica. A partir de medidas geoelétricas é possível
determinar a distribuição de resistividade (ou condutividade) para uma dada
subsuperfície terrestre e construir modelos representativos das feições geológicas
de uma dada região.

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1.1 OBJETIVO GERAL

Desenvolver um estudo quali-quantitativo acerca dos principais aspectos dos


métodos geoelétricos e como estes podem ser utilizados na prospecção de águas
subterrâneas.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Conhecer melhor os aquíferos do Alto Oeste Potiguar;


 Investigar os métodos elétricos e eletromagnéticos utilizados na prospecção
de águas subterrâneas;
 Fazer uma análise de dados de resistividade elétrica.

1.3 METODOLOGIA

Esta monografia consiste em uma investigação de natureza teórica quali-


quantitativa. Descreve-se a seguir as principais etapas metodológicas que foram
adotadas.
Primeiramente, faz-se um estudo bibliográfico sobre as águas subterrâneas
com destaque para os aquíferos brasileiros, em particular os de Pau dos Ferros e
Coronel João Pessoa, ambas as cidades localizadas no estado do Rio Grande do
Norte.
Subsequentemente foram investigados os aspectos gerais dos métodos
geoelétricos aplicados a prospecção de águas subterrâneas, em particular os
métodos elétricos e eletromagnéticos.
Finalmente, alguns dados de resistividade elétrica da região sul do Ceará,
levantados pela CPRM (Companhia de Pesquisa em Recursos Minerais) no ano de
2006, são analisados e interpretados.

1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

Esta monografia está organizada em seis capítulos, conforme descrito a


seguir.

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No capítulo 2 descreve-se a importância das águas subterrâneas, como se dá
seu armazenamento e captação, e por fim, faz-se uma breve apresentação da
composição geológica dos principais aquíferos do Brasil.
No capítulo 3 discute-se os principais aspectos teóricos e técnicos do método
eletroresistivo enfatizando as técnicas e arranjos dos dispositivos elétricos utilizados
na coleta de dados de resistividade.
No capítulo 4 apresenta-se os aspectos gerais dos métodos eletromagnéticos,
com ênfase ao método eletromagnético indutivo, em particular o EM 34.
A discussão de alguns resultados utilizando os dados coletados pela CPRM
na região sul do Ceará é feita no capítulo 5.
Finalmente, no capítulo 6 apresenta-se algumas conclusões importantes
dessa pesquisa e menciona-se alguns pontos de possíveis investigações futuras.

14
2 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

2.1 ASPECTOS GERAIS E IMPORTÂNCIA

Águas subterrâneas são as que estão abaixo da superfície da Terra


preenchendo os espaços vazios, como poros, encontrados nos solos e nas rochas
sedimentares ou em fraturas, falhas e fissuras das rochas compactadas. Estima-se
que as águas subterrâneas correspondem a 97% de toda água doce existente na
Terra, enquanto as águas superficiais correspondem apenas 3% (VON SPERLING,
2015).
As águas subterrâneas têm grande importância estratégica como fonte atual
de suprimento hídrico. Além de serem utilizadas para abastecimento, também são
utilizadas para irrigação, indústria, engarrafamento de águas minerais, entre outros.
Embora certas regiões do Brasil utilizem os mananciais subterrâneos apenas
para complementar o superficial, existem áreas nas quais as águas subterrâneas
representam a principal fonte hídrica. Portanto, as águas subterrâneas
desempenham importante papel no desenvolvimento socioeconômico do país. Entre
70-90% do abastecimento dos municípios brasileiros é, pelo menos, parcialmente
feito por água subterrânea, além das indústrias que fazem uso dessa fonte em cerca
de 95% (NETO, 2008).

2.2 ARMAZENAMENTO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

As águas subterrâneas são armazenadas em reservatórios subterrâneos


caracterizados por camadas ou formações geológicas suficientemente permeáveis,
constituído de rochas sedimentares ou rochas maciças. Esses reservatórios são
denominados aquíferos. A capacidade de armazenamento de um aquífero é definida
pela sua porosidade, que é a relação entre o volume de vazios e o volume total
(EZAKI; IRITANI, 2009).
A origem de um aquífero está relacionada a um material com capacidade de
armazenar e transmitir água em quantidades notáveis. As águas das chuvas, ao
atingirem a superfície do solo se dividem em partes. Parte dela escoa
superficialmente, alimentando de forma direta os rios, açudes e lagos. Outra parte se

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infiltra no solo, e alimenta os aquíferos. Esse evento é denominado recarga, sendo
responsável pela realimentação da água que aparece nos poços e, em grande parte,
das águas que fluem nos rios e drenagens superficiais (OLIVEIRA, 2008).
Os aquíferos podem ser granulares, fissurais ou cársticos, classificados de
acordo com a porosidade da rocha armazenadora como mostra a Figura 1.

Figura 1: Classificação dos aquíferos de acordo com a porosidade da rocha.

Fonte: As águas subterrâneas do estado de São Paulo, 2012.

Rochas sedimentares e sedimentos não consolidados (areias, cascalhos etc.)


são constituídos de partículas minerais. Neste tipo de rocha, a água percola e
mantém-se, interinamente armazenada nos vazios existentes entre os grãos. A
porosidade, neste caso, é do tipo granular, logo o aquífero é classificado como
granular e pode ser sedimentar. Em rochas maciças e compactas, a porosidade é
devido à presença de fraturas conectadas, originadas da ruptura da rocha, neste
caso, o aquífero é denominado de fissural ou fraturado.
Algumas rochas carbonáticas, como os calcários, sofrem um processo lento
de ruptura quando entra em contato com águas ácidas infiltradas nas rochas. As
águas ácidas são formadas a partir da combinação das águas das chuvas ou de rios
com alta concentração de dióxido de carbono (CO2), oriundo da atmosfera ou da
decomposição da matéria orgânica existente no solo. Com a progressiva dissolução
da rocha, formam-se cavidades, que podem resultar em galerias com rios

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subterrâneos e cavernas, determinado como aquífero cárstico, no qual a água flui
por condutos e canais. (EZAKI; IRITANI, 2009).
Os aquíferos também podem ser classificados de acordo com suas
características hidráulicas, podendo ser livre ou confinado, definido de acordo com a
pressão à que estão submetidos, como pode ser visto na Figura 2 (ABAS 2016).
 Aquífero livre ou freático: constituído por uma formação geológica permeável
e superficial, aflorante em sua extensão. Sua base é formada por uma
camada impermeável como, por exemplo, a argila, ou pode ser
semipermeável. Neste tipo de aquífero existe uma superfície livre de água
que se encontra sob a pressão atmosférica.
 Aquífero confinado ou artesiano ocorre quando a água subterrânea está sob
uma pressão superior a pressão atmosférica, isto acontece devido à presença
de uma camada confinante impermeável acima do aquífero.

Figura 2: Tipos de aquíferos classificados quanto à pressão.

Fonte: BOSCARDIN BORGHETTI et al. (2004), adaptado de IGM (2001).

2.3 CAPTAÇÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

A captação de águas subterrâneas, geralmente, é feita em locais não


abastecidos por sistema público de água ou quando o volume de água superficial

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não é suficiente para suprir a demanda: para fins industriais, irrigação em
agricultura, hotelaria, condomínios residenciais, etc.
A escolha do tipo de obra para captação de águas subterrâneas depende do
tipo e potencialidade do aquífero, da finalidade de uso e da demanda de água,
refletindo diretamente no custo. Usualmente, o poço raso ou profundo, é a forma
mais frequente utilizada para captar águas subterrâneas (EZAKI; IRITANI, 2009).
Poço é um furo ou cava geralmente vertical, escavado no terreno para guiar
às águas subterrâneas até a superfície (TODD apud. VASCONCELOS, 2014).

Figura 3: Alguns tipos de poços utilizados na extração de águas subterrâneas.

Fonte: ABAS, 2015.

Os poços que captam águas subterrâneas podem ser dos tipos artesianos ou
tubulares. Estes captam água de aquíferos confinados em que a pressão
hidrostática faz com que a água jorre. Outros tipos de poços são os freáticos ou os
poços cacimba, que são bem mais rasos e mais habituais nos planaltos e chapadas
arenosas do Brasil (NANES, 2012). Alguns tipos de poços são mostrados na Figura
3.
 POÇO TUBULAR PROFUNDO: obra de engenharia geológica de acesso a
águas subterrâneas, na qual a perfuração é vertical com diâmetro entre 3 e 4
polegadas, e com profundidade de até 2000 metros, para obtenção de água.
 CACIMBA, POÇO RASO, CISTERNA OU POÇO AMAZONAS: possuem
amplos diâmetros, com 1 metro ou mais, os mesmos são escavados
manualmente podendo ser revestidos com tijolos ou anéis de concreto.

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Frequentemente suas profundidades variam em até 20 metros, além disso,
esses tipos de poços não necessitam de licenciamento ou autorização
governamental dos órgãos gestores.
 POÇO PERFURADO EM ROCHAS CONSOLIDADAS OU CRISTALINAS:
também definido como semi-artesiano.
 POÇO PERFURADO EM ROCHAS INCONSOLIDADAS E CONSOLIDADAS:
também chamado de poço misto (poço profundo, construído para captar água
nas rochas e nos sedimentos) bem como semi-artesiano.
 POÇO NO AQUÍFERO GUARANI: poço escavado em rochas consolidadas e
inconsolidadas, com grandes diâmetros (até 36 polegadas) e profundidades
(até 1.500 metros).
 POÇO SEDIMENTAR: perfurado em rochas geralmente inconsolidadas.

2.4 PRINCIPAIS AQUÍFEROS BRASILEIROS

Os principais aquíferos do Brasil são: Guarani, Alter do chão, Cabeças,


Urucuia-Areado e Furnas (GUIDA, 2015).

 Aquífero Guarani

O Sistema Aquífero Guarani está dividido em uma área de cerca de 1.196.500


km². Localizado na fração Centro-Leste do continente sul-americano, distribui-se
pelo território de quatro países, membros do Mercosul: Argentina, com 225.500 km²;
Paraguai, com uma área de 71.700 km², Uruguai, em cerca de 58.500 km²; e Brasil,
onde chega em torno de 840.800 km² (RIBEIRO, 2008). Estima-se que a quantidade
de água do aquífero Guarani seja em torno de 46.000 km³ (BORGHETTI et al.,
2004).
Sua formação corresponde a seguimentos de camadas de arenito, alternadas
com camadas mais argilosas, em forma de lente. Logo, não se tem um Aquífero
Guarani em si, mas sim um Sistema Aquífero Guarani. Suas camadas são
intercaladas com diferentes origens e permeabilidades, portanto, com mais ou
menos água. Além disso, são camadas sedimentares de várias origens, depositadas

19
com intervalo de mais de 100 milhões de anos, com porosidades e permeabilidades
muito variáveis, que estão a profundidades entre 0 e 1.800 m (CPRM, 2016).
Segundo a CPRM (2016), no Brasil, oito estados acomodam áreas do
Aquífero Guarani, dentre eles, São Paulo, a cidade de Ribeirão Preto é toda
abastecida por águas subterrâneas oriundas dele, assim como Estrela, no Rio
Grande do Sul e pelo menos outras 19 cidades gaúchas também são abastecidas
pelo Aquífero Guarani. Porém, em Santa Catarina e Paraná, vastas áreas do
aquífero têm águas com elevada salinidade (salobras), não sendo potáveis. Mato
Grosso, Goiás e Minas Gerais necessitam de mais estudos, contudo as águas
tendem a ter boa qualidade nestes estados. Em termos de vazão, a título de
exemplo, podem se obter mais de 200 metros cúbicos (200 mil litros) por hora em
arenitos da Formação Botucatu na região do Alto Rio Uruguai, no Rio Grande do
Sul. Contudo, em arenitos Mata e Caturrita, da região das Missões, no mesmo
estado, são incomuns poços com vazões acima de 5 m³/h. Nos demais estados, já
foram registradas vazões da ordem de 800 m³/h.

 Aquífero Alter do Chão

O aquífero Alter do Chão está localizado nos estado do Pará, Amazonas e


Amapá. A partir de estudos realizados, foi considerado pelos cientistas da
Universidade Federal do Pará, o maior e mais importante do mundo (FRANÇA,
2011).
Este aquífero abrange uma área de 437,5 mil Km², com uma espessura média
de 545 m, estudos avaliam que seu volume seja de 86 mil Km³ de água, portanto,
maior do que o aquífero Guarani. A recarga, do aquífero Alter do Chão é facilitada
devido ao fato deste ser formado por solo e rocha arenosos que facilitam a filtração
das águas da chuva, o que resulta em água de excelente qualidade, correspondente
aos resultados dos parâmetros químicos, físicos e microbiológicos já analisados.
Logo, não há necessidade da água deste aquífero passar por tratamentos químicos
convencionais (FRANÇA, 2011).

20
 Aquífero Cabeças

Este aquífero é uma unidade hidrogeológica que ocupa uma superfície na


área sedimentar com aproximadamente 6.425 km². Forma extensas coberturas
arenosas, detrito-lateríticas que auxiliam, significativamente na recarga do aquífero.
Suas litologias são formadas por arenitos rosados, cremes, embranquiçados,
amarronzados e marrons-avermelhados, com granulação oscilando de fina a média,
indo até grosseira, grãos, subangulosos a arredondados, foscos, devidamente
selecionados e estratificados. (CPRM, 2009).
É importante destacar que o aquífero de Cabeças, em sua larga zona
aflorante, apresenta-se com natureza dominantemente livre, as quais exibem vazões
superficiais entre 0,62 e 2,51 m²/h, certificadas em alguns poços, em sua pequena
área confinadas apresentam 10,0 m²/h. Suas águas manifestam baixos teores de
salinidade, podendo ser utilizadas no consumo humano e animal, e na agricultura.
Porém em alguns locais, podem ocorrer águas cloretadas, com maior teor salino que
tornam ameaças ao solo e parte de culturas, além disso, as quais apresentam em
três locais forte presença de ferro (CPRM, 2009).

 Aquífero Urucuia-Areado

A geologia do Sistema Aquífero Urucuia (SAU) é constituída de quartzo-


arenitos e arenitos feldspáticos eólicos bem selecionados, com existência de níveis
silicificados e, com menor relevância, níveis conglomeráticos associados ao Grupo
Urucuia, Neocretáceo da Bacia Sanfranciscana, que representa a cobertura
fanerozoica do Cráton São Francisco. Esse sistema aquífero compreende desde o
sul do Piauí até o noroeste de Minas Gerais, sendo mais expressivo no oeste da
Bahia. Suas espessuras totais foram estimadas a partir da aplicação de estudos
geofísicos, nos quais apresentaram valores variando de 100 a 600 m nos 26 pontos
do levantamento eletromagnético no domínio do tempo (GASPAR et al., 2012).
De acordo com um estudo realizado por Gaspar (2013), o sistema aquífero
Areado tem dimensões (250 Km x 40-60 Km) 15.485 Km², com potencialidades que
variam de 50 a 240 m³/h, apresentando um volume saturado de 1.040 km³, no
mesmo estudo o sistema aquífero Urucuia apresenta dimensões de (660 Km x 170-

21
300 Km) 109.531 Km², com potencialidades variando de 100 a 600 m³/h e volume
saturado de 9.656 km³.

 Aquífero Furnas

O aquífero de Furnas é um aquífero sedimentar, apresenta-se de maneira


livre a confinado e com vazões variáveis entre 10 e 50 m³/h. (CAMPOS apud CPRM,
2012). De acordo com Araújo apud CPRM (2012), o projeto PRIMAZ – MT entende a
formação Furnas como dois sistemas aquíferos diferenciados, respectivamente, por
sua condição livre/ semi-confinada e confinada. Enquanto o aquífero livre denota
vazão média de 18,6 m³/h e vazões superficiais de 1,71 m²/h, o confinado apresenta
vazão média de 47,9 m³/h, com uma vazões superficiais de 3,39 m²/h.
A formação Furnas é composta principalmente por arenitos médios a grossos,
esbranquiçados, pobremente classificados e cimentados por caulinita. Em sua base
existem camadas de conglomerados e arenitos conglomeráticos quartzosos, com
um metro de espessura. Sua área de ocorrência engloba parte dos estados de Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e São Paulo, com um total de 24.894
km², apresentando espessura média de 200 m (CPRM, 2012).
De acordo com o estudo da Agência Nacional de Águas apud CPRM (2012),
as reservas renováveis do aquífero Furnas são em torno de 143 m³/s e as reservas
explotáveis são avaliadas em 28,6 m³/s.

2.5 AQUÍFERO DE PAU DOS FERROS

De acordo com Feitosa e Vidal (2004), a bacia hidrográfica de Pau dos Ferros
está localizada na porção sudoeste do estado do Rio Grande do Norte, ocupando
uma área em torno de 65 km², que quatro municípios, Pau dos Ferros, Francisco
Dantas, Marcelino Vieira e Rafael Fernandes.
Esta bacia está mapeada como sendo de Formação Antenor Navarro de
idade Cretácea (área de 21 km²), com coberturas colúvio-eluviais de idade Tércio-
Quaternária a qual ocupa uma área de 44 km². Esta é composta, litologicamente, por
arenitos finos a grossos, siltitos e argilitos, logo caracterizando um aquífero de boa a
média potencialidade hidrogeológica para a Região do semiárido. Já sua cobertura,
no caso, a cobertura colúvioeluviais são formadas por areno-argilosos, sedimentos
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arenosos, e conglomeráticos, os quais apresentam potencialidades hidrogeológica
de fraca a média, por apresentar pequenas espessuras (FEITOSA; VIDAL, 2004).
Esta bacia desempenha grande importância por representar uma alternativa de
complemento às águas superficiais no abastecimento às populações locais (MENTE,
2009).

2.6 AQUÍFERO DE CORONEL JOÃO PESSOA

A Bacia de Coronel João Pessoa, está localizada na porção sudoeste do


estado do Rio Grande do Norte, abrangendo uma área de 16 km² inserida no
município de Coronel João Pessoa, que possui uma área territorial de 118,8 km²
(FEITOSA; VIDAL, 2004).
Segundo Feitosa e Vidal (2004), esta bacia, assim como a de Pau dos Ferros,
está totalmente mapeada como sendo de Formação Antenor Navarro, o qual
configura aquífero de boa a média potencialidade hidrogeologica.
O recurso hídrico de Coronel João Pessoa, de acordo com a hidrogeologia
apresenta dois tipos de aquífero, o cristalino e o aluvião. O primeiro engloba todas
as rochas cristalinas, no qual o armazenamento de água subterrânea só é possível
quando a geologia local apresenta fraturas correlacionadas a uma cobertura de
solos residuais significativa. Em geral os poços perfurados expressam uma vazão
média baixa de 3,05 m³/h a uma profundidade de até 60 m, habitualmente
apresentando alto teor salino de 480 a 1.400 mg/l, logo inapropriado para consumo
humano e uso agrícola. Já o aquífero aluvião apresenta-se disseminado, originado
da deposição de sedimentos nos leitos e terraços dos rios e riachos de maior porte.
Estes depósitos apresentam elevada permeabilidade, boas condições de recarga, e
com uma profundidade média em geral de 7 metros. Geralmente a qualidade da
água neste tipo de aquífero é boa (IDEMA, 2008).

23
3 MÉTODO ELETRORESISTIVO

3.1 GENERALIDADES

A Geofísica aplicada tem como objetivo a investigação da subsuperfície


terrestre utilizando medidas indiretas, que em geral, são feitas na superfície da
Terra. Essas medidas estão relacionadas a uma dada propriedade física do meio
geológico analisado, sendo assim, os diferentes métodos geofísicos são
classificados de acordo com a propriedade física que os mesmos investigam,
conforme mostra o Quadro 1.

Quadro 1: Métodos geofísicos e suas propriedades físicas correspondentes.


Métodos Propriedades físicas
Gravimétricos Densidade
Magnéticos Suscetibilidade magnética
Elétricos e
Condutividade ou resistividade elétrica
Eletromagnéticos
Sísmicos Velocidade de propagação de ondas elásticas
Fonte: Adaptado de Geologia aplicada à engenharia, 1975.

Dentre os métodos apresentados no Quadro 1, os que fornecem melhores


resultados no que diz respeito à prospecção de águas subterrâneas são os
geoelétricos que se subdividem em elétricos e eletromagnéticos (BRAGA, 2006). A
principal propriedade física investigada por esses métodos é a resistividade elétrica,
ou o seu inverso, a condutividade elétrica. Nesse sentido, os métodos geoelétricos
caracterizam-se por medir em superfície (ou no interior de furos de sondagens) a
resposta do substrato geológico a campos elétricos ou magnéticos de origem natural
ou artificial. A partir de medidas geoelétricas é possível determinar a distribuição de
resistividade (ou condutividade) para uma dada subsuperfície terrestre.

3.2 ASPECTOS GERAIS DO MÉTODO ELETRORESISTIVO

Este método emprega uma fonte artificial de corrente contínua (I) ou de


baixíssima frequência, que é introduzida no solo através de um par de eletrodos e
24
com outros dois eletrodos mede-se a diferença de potencial (V) gerada em resposta
a injeção da corrente. A partir dos valores de I e V, e da disposição geométrica dos
eletrodos é possível determinar um conjunto de valores de resistividades elétricas.
Das propriedades físicas do solo, a resistividade elétrica é a que apresenta
maior variação, podendo chegar até sete ordens de magnitude. Nesse sentido o
método eletroresistivo apresenta resultados satisfatórios em diversas aplicações
geofísicas, além disso, é de baixo custo e de simples execução.
A resistividade   pode ser definida como sendo a resistência elétrica (R) de
um cilindro com área de seção transversal (A) e comprimento (L) unitários, isto é,

A
R . (3.1)
L

Em um dado meio geológico a resistividade pode depender de vários fatores


como: porosidade, composição mineralógica, grau de saturação, forma das
partículas sólidas, concentração de sais dissolvidos no fluido que preenche os
vazios das rochas.
A corrente elétrica pode fluir em materiais geológicos de duas formas: por
condução eletrônica (através dos elétrons de condução das rochas) e iônica ou
eletrolítica (através de íons existentes na água que estão nos poros, fissuras ou
fraturas do maciço rochoso).
Em geral, os minerais não são bons condutores de corrente elétrica, as raras
exceções são os metais, compostos e sulfetos metálicos, dessa forma, a
condutividade elétrica em meios geológicos é predominantemente eletrolítica.

3.3 FLUXO DE CORRENTE NO INTERIOR DA TERRA

O fluxo de corrente em um meio baseia-se no princípio de conservação de


carga expressa pela seguinte relação:

 q
J   0, (3.2)
t

25

onde J é a de densidade de corrente e q é a densidade de carga. Caso a corrente
seja estacionária tem-se que


  J  0. (3.3)



A densidade de corrente e o campo elétrico E estão relacionados por

 1 
J  E. (3.4)

Para um campo elétrico irrotacional, tem-se também que


E  V , (3.5)

onde V é a diferença de potencial. Sendo assim,

 1
J   V . (3.6)

Combinando as Eqs.(3.3) e (3.6), vem que

 1 
   V   0,
  (3.7)

que é a equação fundamental da prospecção elétrica com corrente contínua. Se o


meio for homogêneo e isotrópico  não depende das coordenados
(BHATTACHARYA; PATRA, 1968), logo a equação a cima reduz-se para

 2V  0 ,
(3.8)

que é conhecida como a equação de Laplace.

26
Em prospecção eletroresistiva, a corrente é inserida no solo por meio de dois
elétrodos, neste caso, a corrente deve fluir do eletrodo positivo (a fonte) para o
negativo (sorvedouro). O potencial em um ponto (P) devido a esse arranjo “bipolar” é

I  1 1 
V    , (3.9)
2  r A rB 

onde a r A e r B são, respectivamente, a distância do ponto P ao eletrodo A e ao


eletrodo B.
De maneira similar, também são necessários dois eletrodos de potencial para
fechar o circuito de medida do potencial. A Figura 4 mostra um arranjo genérico de 4
eletrodos, dois de corrente (A e B) e dois de potencial (M e N).

Figura 4: Arranjo genérico dos eletrodos de corrente (A e B) e de potencial (M e N) utilizado


no método eletroresistivo.

Fonte: Bortolozo, 2011.

Desta forma, pela Eq. (3.9) pode-se escrever

VM  I  1  1  , (3.10)
2  AM BM 
e

VN  I  1  1  . (3.11)
2  AN BN 

Segue então que

27
VMN  I  1  1  1  1  . (3.12)
2  AM BM AN BN 

Resolvendo a equação acima para  , tem-se que

V
 K , (3.13)
I

onde,
1
 1 1 1 1 
K  2      , (3.14)
 AM BM AN BN 

e depende da disposição geométrica dos eletrodos.


Portanto, no método eletroresistivo uma corrente é injetada no solo, a
diferença de potencial (ddp) é medida e a resistividade é determinada pela Eq.
(3.13).

3.4 RESISTIVIDADE APARENTE

A Eq. (3.13) foi derivada assumindo que a Terra se comporte de maneira


homogênea e isotrópica, entretanto, o subsolo não pode ser considerado
homogêneo. Neste caso, a resistividade medida é considerada uma média
ponderada de todas as resistividades verdadeiras encontrada em um grande volume
de matéria (BRAGA, 2007). Então o termo mais adequado para a resistividade
calculada pela Eq. (3.13) é resistividade aparente (  ) utilizada como base na
a
interpretação final.
As técnicas de campo dos métodos eletroresistivos variam de acordo com a
disposição geométrica dos eletrodos sobre a superfície.

3.5 TÉCNICAS DE LEVANTAMENTO ELETRORESISTIVO

Os levantamentos de dados de resistividade elétrica em campo podem ser


feitos com as seguintes finalidades:
28
 Determinar a variação da resistividade com a profundidade
(Sondagem Elétrica Vertical);
 Determinar a variação lateral da resistividade (Caminhamento Elétrico).
A diferença entre essas duas técnicas está na disposição dos eletrodos.

3.5.1 Sondagem elétrica vertical

Na sondagem elétrica vertical (SEV) os eletrodos de corrente e de diferença


de potencial são alinhados na superfície do terreno de modo simétrico em relação a
um ponto, que é o centro do arranjo. As medidas são feitas aumentando-se a
distância entre os eletrodos de corrente em relação ao centro do arranjo (BRAGA,
2007).
Na interpretação de dados deste tipo de levantamento, geralmente supõe-se
que o solo é composto de camadas horizontais sobrepostas o que permite investigar
em profundidade diferentes camadas geológicas sobrepostas através da
resistividade elétrica. Nessa técnica, é utiliza-se arranjo Schlumberger ou arranjo
Wernner.
 Arranjo Schlumberger: Neste tipo de arranjo a distância entre os eletrodos de
recepção M e N se mantém fixa, enquanto a distância entre os eletrodos de corrente
A e B é aumentada progressivamente, tal como mostra a Figura 5. Ao aumentar a
distância entre os eletrodos A e B, o volume total da superfície incluída na medida
também aumenta, uma vez que a distância AB é proporcional a profundidade,
permitindo alcançar camadas mais profundas (BRAGA, 2007).
As leituras de campo neste tipo de arranjo são mais precisas, pois estão
menos propicias às variações laterais do parâmetro físico medido, irregularidades na
superfície topográfica e ruídos produzidos artificialmente, logo sua interpretação se
aproxima da realidade sendo coeso com os princípios norteadores da SEV.

29
Figura 5: Ilustração da técnica de sondagem elétrica vertical com arranjo Schlumberger.

Fonte: Adaptado de (Bortolin, 2009).

Neste tipo de arranjo, o coeficiente K se reduz para

 ( AM  AN )
K . (3.15)
MN

 Arranjo Wenner: Neste arranjo, os quatros eletrodos (A, B, M, N) apresentam


uma separação (a) com taxa de crescimento constante durante todo o
desenvolvimento do ensaio, sendo, deslocados simultaneamente, no qual o centro
do arranjo permanece fixo, assim como está ilustrado na Figura 6 (BRAGA, 2007). O
coeficiente K para esse tipo de arranjo é encontrado de acordo com a equação
abaixo

K  2a. (3.16)

30
Figura 6: Ilustração do arranjo Wenner utilizado em SEV.

Fonte: Métodos geoelétricos aplicados nos estudos de captação e contaminação de águas


subterrâneas, 2007.

3.5.2 Caminhamento elétrico

A técnica do caminhamento elétrico (CE) utiliza o arranjo dipolo-dipolo


conforme observa-se na Figura 7. Nesta técnica, é mantido o espaçamento entre os
eletrodos, enquanto o arranjo é movido em linha reta.

Figura 7: Ilustração do arranjo dipolo-dipolo utilizado na técnica do CE.

Fonte: Adaptado de Gandolfo e Gallas (2007).

Esta técnica é mais aplicada em pesquisas que visam determinar as


variações laterais da resistividade do subsolo, sendo muito aplicada para localizar
contatos geológicos verticais ou inclinados, mineralizações, diques, fraturas e/ou

31
falhas e outros elementos que se mostrem como distinções laterais deste parâmetro
(GALLAS, 2003).
 O arranjo dipolo-dipolo é utilizado em diversas aplicações, nele o
espaçamento entre os dois eletrodos de corrente e entre os dois eletrodos de
potencial permanece fixo durante todo o levantamento, porém a distância varia entre
eles, ou seja, entre os eletrodos de emissão (A B) e de recepção (M N), de acordo
com o fator de separação “na” (GALLAS; GANDOLFO, 2007).
Cada fator corresponde a um nível de investigação em profundidade, quanto
maior esse fator, maiores profundidades serão alcançadas, sendo aceitáveis leituras
de potencial superiores ao nível de ruído do local estudado (GALLAS; GANDOLFO,
2007). Para esse arranjo, K é calculado da seguinte maneira

1
1 2 1 
K  2a    . (3.17)
n n 1 n  2

 O arranjo pólo-dipolo: Neste tipo de arranjo o sinal recebido pelos


eletrodos de potencial é maior do que no arranjo do tipo dipolo-dipolo,
proporcionando uma melhor razão sinal/ruído. A diferença entre esse arranjo e o
anterior é que o eletrodo de corrente (B) é colocado a uma distância do eletrodo
A, dez (10) vezes maior do que a abertura entre o eletrodo de potencial A e o
dipolo de recepção ou de potencial M e N (GALLAS; GANDOLFO, 2007),
conforme mostra a Figura 8. Para esse arranjo, K é calculado da seguinte
maneira
1
1 1 
K  2a   . (3.18)
 n n  1

32
Figura 8: Ilustração do arranjo pólo-dipolo da técnica do CE.

Fonte: Gandolfo e Gallas(2007).

33
4 OS MÉTODOS ELETROMAGNÉTICOS

4.1 ASPECTOS GERAIS DOS MÉTODOS ELETROMAGNÉTICOS

Os métodos eletromagnéticos (EM) envolvem a propagação de campos


eletromagnéticos de baixa frequência. Eles foram estudados e desenvolvidos na
década de 60 na Scandinavia, Estados Unidos e Canadá. Inicialmente, foram
empregados em regiões onde havia depósitos de metais condutivos que eram
detectados com facilidade devido ao grande contraste com rochas resistivas. Os
métodos EM são classificados de acordo com o parâmetro de medida, podendo ser
no domínio do tempo, quando as medidas são feitas em função do tempo ou no
domínio da frequência, quando as medidas são feitas no domínio da frequência
(COELHO, 2008).
De acordo com Coelho (2008), os métodos eletromagnéticos recebem esse
nome por serem baseados em medições dos campos elétricos e magnéticos, além
disso, podem ser classificados em passivos ou ativos, de acordo com a fonte de
corrente utilizada. Os passivos são os que utilizam sinais naturais do solo, já os
métodos ativos são aqueles que utilizam uma fonte artificial.
A teoria de indução eletromagnética é baseada nas equações de Maxwell,
que foram estabelecidas tendo como base os trabalhos empíricos de Ampère,
Faraday, Gauss e Coulomb.
A aplicação de métodos eletromagnéticos permite estimar as propriedades
elétricas das rochas e dos minerais que a constituem. As propriedades físicas que
estas expressam são: a resistividade elétrica (ρ), a constante dielétrica (ε) e a
permeabilidade magnética (μ). As rochas, além de terem seu comportamento
influenciado por tais propriedades, também é influenciado por outros elementos,
como: arranjo dos minerais, sua forma, volume e preenchimento dos poros, pressão
e temperatura. Logo, é possível determinar a seção geoelétrica, que caracteriza a
geologia de uma determinada área (COELHO, 2008).

34
4.2 AS EQUAÇÕES DE MAXWELL PARA MEIOS GEOLÓGICOS

As equações de Maxwell relacionam os campos elétrico e magnético com


suas, respectivas, fontes (cargas e corrente elétricas). Essas equações são escritas
como:


  B  0, (4.1)

  D  q, (4.2)

  D
H  j  , (4.3)
t

  B
E   , (4.4)
t

  
onde B é o vetor indução magnética, D é vetor deslocamento elétrico, H é ocampo

magnético, e E é o campo elétrico.
Essas quantidades estão relacionadas por:

 
D  E, (4.5)
 
J  E, (4.6)
 
B  H . (4.7)

Em investigações sobre indução eletromagnética em meios geológicos é


conveniente assumir que:
 A Terra é um meio contínuo isotrópico onde ε e µ são constantes escalares

independentes da frequência e efeitos magnéticos (magnetização) são

usualmente ignorados, i.e. µ = µ0.

 Os campos elétrico e magnético variam periodicamente com o tempo.

35

 O termo D t é desprezível em comparação com a densidade de corrente de

condução J .

Com essas simplificações as equações de Maxwell podem ser reescritas

como:
 
  E  i 0 H ,
(4.8)
 
  H  E, (4.9)

 
que são as equações que descrevem a propagação dos campos E e H em um

meio geológico com condutividade  .

4.3 MÉTODO ELETROMAGNÉTICO INDUTIVO

Um dos métodos eletromagnéticos com várias aplicações e de grande


importância é o método eletromagnético indutivo que tem como objetivo avaliar a
condutividade aparente do subsolo. Neste método a passagem de uma corrente
alternada numa bobina produz um campo magnético primário que induz uma
corrente alternada sobre o solo, e que, por sua vez, gera um campo magnético
secundário, que está relacionado ao primário pela equação abaixo:

4  HS 
a    , (4.10)
 0 S  H P
2

onde S é a distância entre as bobinas. Esse campo secundário altera o primário e


como consequência disso tem-se um campo resultante dado pela combinação do
primário com o secundário detectado em uma bobina de recepção. Esse campo
resultante, assim como o secundário, traz informações sobre a condutividade do
material geológico. Portanto, as diferenças entre os campos transmitido e recebido
revelam informações sobre as propriedades elétricas do material geológico

36
(COELHO, 2008). A Figura 9 mostra o arranjo utilizado no método eletromagnético
indutivo.

Figura 9: Ilustração do método eletromagnético indutivo.

Fonte: Aplicação do método eletromagnético indutivo (EM) no monitoramento de


contaminantes em subsuperfície, 2007.

A investigação em subsuperfície utilizando métodos eletromagnéticos é de


fácil realização quando comparada aos métodos elétricos usando corrente continua,
pois não necessita de contato direto, entre o emissor ou o receptor, com o solo.
Deste modo, os levantamentos eletromagnéticos efetuam-se muito mais
rapidamente que os levantamentos com corrente contínua.

4.3.1 EM 34

O equipamento do método EM 34, conforme mostrado na Figura 10, é usado


na determinação da condutividade elétrica aparente do solo, sendo bastante útil na
prospecção de águas subterrâneas. Este equipamento é bastante fácil de utilizar no
campo, pois só necessita de dois operadores, um com os aparelhos transmissores e
outro com os aparelhos receptores. A fonte de campo primário é composta por um
transmissor dipolar incorporado e o sensor é um receptor dipolar incorporado. Os
espaçamentos do cabo podem ser 10 m, 20 m ou 40 m. De acordo com a
configuração utilizada. (ROCHA et al., 2003).

37
As bobinas podem ser dispostas de duas maneiras, de modo a influenciar na
profundidade teórica de investigação. Com as duas bobinas dispostas na horizontal
e a corrente elétrica circulando dentro destas, o campo magnético aponta na direção
vertical, posição denominada de dipolo vertical (VD). Porém quando as bobinas
estão dispostas na vertical o campo magnético está na horizontal (HD) (SOUZA,
2007).

Figura 10: Equipamento utilizado no EM 34.

Fonte: Souza, 2007.

Assim como as profundidades de investigação, as frequências de operação


do EM 34 também variam de acordo com a disposição e o espaçamento entre as
bobinas. As relações entre essas quantidades são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1: Espaçamento entre bobinas, frequência de operação e profundidade de


investigação de acordo com a disposição das bobinas.
Espaçamento entre Frequências de Profundidade de Profundidade de
as bobinas (m) operação (KHZ) exploração para exploração VD (m)
HD (m)
10 6,4 7,5 15
20 1,6 15 30
40 0,4 30 60
Fonte: Souza, 2007.
38
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 LOCALIZAÇÃO E GEOLOGIA DA ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo dos dados utilizados nesta pesquisa está localizada na


região sul do estado do Ceará, especificamente na porção oriental da Bacia do
Araripe, que abrange os municípios de Abaiara, Barbalha, Barro, Brejo Santo, Crato,
Jardim, Juazeiro do Norte, Mauriti, Milagres, Missão Velha e Porteiras. Esta área
representa uma superfície de aproximadamente 6.890 Km2.

Figura 11: Mapa de localização da área de pesquisa (Porção oriental da Bacia do Araripe).

Fonte: CPRM, 2006.

A Bacia do Araripe está sobre a Zona Transversal de Dobramentos da


Província Borborema (VERÍSSIMO, 1999).
A chapada do Araripe, Zona de Chapada, é composta de rochas
sedimentares do Cretáceo, com predominância de arenitos e siltitos Formação Exu,
em sua porção superior. As altitudes na chapada variam de 700 a 1.000 metros. A
falta de drenagem no topo associa-se ao solo arenoso e bastante homogêneo que a
reveste (VERÍSSIMO, 1999).

39
Quadro 2: Coluna estratigráfica da bacia do Araripe no Ceará.
ERA PERIODO GRUPO FORMAÇÃO LITOLOGIA

QUATERNÁ- Aluviões Areia e cascalho.


RIO
Coberturas Lateritas, arenitos e argilitos.
CENOZÓICA Arenosas
TERCIÁRIO
Depósito de Sedimentos das formações
Tálus Arajara e Santana.
Arenitos argilosos, com leitos
Exu intercalados de arenitos
grosseiros.
Arenitos finos, argilosos ou
Arajara cauliníticos e siltitos amarelo,
MESOZÓICA CRETÁCEO estratificados.
SUPERIOR ARARIPE
Santana Margas e folhelhos cinza,
calcários, gipsita e anidrita.
Rio da Arenitos médios a grosseiros,
Batateira mal classificado
Arenitos argilosos intercalados
CRETÁCEO VALE DO Abaiara com siltitos e folhelhos
INFERIOR CARIRI castanhos.
Missão Velha Arenitos brancos, grosseiros,
friáveis, mal selecionados,
contendo madeira fóssil.
Folhelhos e siltitos variegados,
JURÁSSICO Brejo Santo com intercalações de arenitos
finos, argilosos.
Arenitos quartzosos, grosseiros
PALEOZÓICA SILURO Mauriti a médios, com estratificação
DEVONIANO cruzada.
Granitos, migmatitos,
PRÉ-CAMBRIANO gnaisses, etc.
Fonte: Adaptado de Veríssimo (1999).

40
A coluna estratigráfica da bacia é formada pela Formação Mauriti; Grupo Vale
do Cariri - formações Brejo Santo e Missão Velha; Formação Abaiara; Grupo Araripe
- formações Rio da Batateira, Santana, Arajara e Exu, e Depósitos Cenozóicos
Tércio/Quaternários. No Quadro 2 são apresentadas informações sobre a
estratigrafia de toda a bacia do Araripe.

5.2 AQUISIÇÃO DOS DADOS DE SEV

Os dados utilizados nesta pesquisa foram extraídos de um levantamento


realizado pela CPRM (2006), na região sul do Ceará, por meio dos equipamentos
eletrorresistivímetro DER-500 (DPM Engenharia) e VT/VR – 250 Intergeo,
respectivamente. O arranjo de eletrodos utilizado nas SEV´s foi o de Schlumberger,
onde o espaçamento entre os eletrodos (A e B) é aumentado progressivamente;
enquanto que os espaçamentos entre os eletrodos internos só é aumentado quando
sua distância for 5 vezes menor que a distância entre os eletrodos externos (MN <=
AB/5). De modo, que é possível medir as variações de resistividade aparente do
subsolo em diversos níveis de profundidade. Também foi utilizada uma abertura
máxima (distância) entre os eletrodos de corrente A e B de 2000 m.

5.3 MEDIDAS DE TENSÃO ELÉTRICA

As medidas de diferença de potencial mostradas nos gráficos da Figura 12


em função das correntes aplicadas foram obtidas para diferentes disposições
geométricas dos quatro eletrodos. Cada gráfico corresponde a valores diferentes de
AB/2 e um valor específico da distância MN 0.3, 1, 3, 10 e 30 m, respectivamente.
Os gráficos que aparecem à esquerda são da SEV 1, enquanto os da direita
são da SEV 2.

41
Figura 12: Medidas de diferença de potencial em função da corrente aplicada. Os dados de
cada gráfico foram obtidos com os eletrodos de diferença de potencial fixos nas seguintes
distâncias: 0.3, 1, 3, 10 e 30.

2700
2000
2160
1600
Tensão(mv)

1620

Tensão(mv)
1200
1080
800
540
400
0
0
0 15 30 45 60
20 40 60 80
Corrente(mA)
Corrente(mA)

200
400

160
300
Tensão(mv)
Tensão(mv)

120
200
80
100
40
0
0 2 6,5 11 15,5 20 24,5
20 60 100 140 180 Corrente(mA)
Corrente(mA)

350

60
280
Tensão(mv)

45 210
Tensão(mv)

30 140

15 70

0 0
30 65 100 135 170 0 6 12 18 24 30
Corrente(mA) Corrente(mA)

42
22
15
16,5
12

Tensão(mv)
Tensão(mv)

9 11

6
5,5
3

0 0
0 50 100 150 200 250 0 35 70 105 140
Corrente(mA)
Corrente(mA)

6 10

4,5 7,5
Tensão(mv)
Tensão(mv)

3 5

1,5 2,5

0 0
50 105 160 215 270 80 100 120 140 160
Corrente(mA)
Corrente(mA)

Fonte: Autor, 2016.

Nos gráficos da Figura 13 são mostradas a variação da tensão em função da


metade das distâncias entre os eletrodos de corrente (AB/2). Os dados de cada
gráfico foram obtidos com os eletrodos internos fixos. Em termos gerais, percebe-se
que à medida que a distância entre os eletrodos aumenta a diferença de potencial
medida decai, o que é fisicamente esperado.

43
Figura 13: Medidas de diferença de potencial em função de AB/2. Cada par de gráfico foi
obtido com os eletrodos internos fixos nas seguintes distâncias: 0.3, 1, 3, 10 e 30.

3030
2000

2430
1600

Tensão(mv)
Tensão(mv)

1200 1830

800 1230

400 630

0 30
0 2 4 6 8 10 0 1,5 3 4,5 6 7,5

AB/2(m) AB/2(m)

200
400

150 320
Tensão(mv)

Tensão(mv)

240
100

160
50
80
0
5 10 15 20 25 0
0 5 10 15 20 25
AB/2(m)
AB/2(m)

60 350
Tensão(mv)

45 280

210
Tensão(mv)

30
140
15
70
0
15 30 45 60 75 0
0 15 30 45 60 75
AB/2(m)
AB/2(m)

44
25
16
20

Tensão(mv)
12
Tensão(mv)

15

8 10

4 5

0
0
50 100 150 200 250 300
50 90 130 170 210

AB/2(m) AB/2(m)

5 5

4 4
Tensão(mv)

Tensão(mv)

3
3

2
2
1
1
0
0 100 200 300 400 500 600
150 230 310 390 470 550 AB/2(m)
AB/2(m)

Fonte: Autor, 2016.

5.4 ESTIMATIVA DA RESISTIVIDADE APARENTE

A partir dos dados de corrente elétrica e de diferença de potencial mostrados


na Figura 12, bem como do conhecimento do arranjo dos eletrodos é possível
estimar a resistividade aparente utilizando as Eqs. (3.13) e (3.14).
Na Figura 14 são mostradas as distribuições de resistividade aparente em
função de AB/2. Os dados de cada gráfico foram obtidos com os eletrodos de
diferença de potencial fixos. Nos gráficos 1, 2 e 3 da SEV 1, a resistividade aparente
tende a decair com o aumento do espaçamento entre os eletrodos de corrente. Já
nos gráficos 4 e 5, ela decai até um valor mínimo e depois começa a crescer
novamente. Já os gráficos da SEV 2 apresentam três tipos de comportamento para

45
a resistividade aparente em função do aumento de AB/2: ela tende a decair nos
gráficos 3 e 4, tende a aumentar no gráfico 2 e decai até um valor mínimo e depois
começa a crescer (gráficos 1 e 5).
Quanto à existência de águas subterrâneas não é possível indicar apenas
com essa análise preliminar. Seria necessária a elaboração de um modelo de
resistividade aparente e de um modelo geológico para depois comparar os dois.
Levantar tais dados requer maior tempo de estudo e de análise.

Figura 14: Resistividade aparente em função de AB/2. Cada par de gráfico foi obtido com os
eletrodos de diferença de potencial fixos nas seguintes distâncias: 0.3, 1, 3, 10 e 30.

1 2600 1
500
Resistividade Aparente

Resistividade Aparente 2120


400
1640
(ohm/m)

(ohm/m)
300
1160
200
680
100
200
0
0 2 4 6 8 10
0 1,5 3 4,5 6 7,5
AB/2(m)
AB/2(m)

170 2 3500 2
Resistividade Aparente
Resistividade Aparente

150
3000
(ohm/m)

130
(ohm/m)

2500
110
2000
90
1500
70
0 5 10 15 20
0 4 8 12 16 20
AB/2(m) AB/2(m)

46
Resistivdade Aparente 120 3 2500 3

Resistividade Aparente
100 2000
(ohm/m)

80

(ohm/m)
1500
60 1000
40 500
20 0
0 25 50 75 10 24 38 52 66 80
AB/2(m)

1000
4 4

Resistividade Aparente
36
Resistividade Aparente

800
32
600

(ohm/m)
(ohm/m)

28 400

24 200

0
20
0 50 100 150 200
50 100 150 200 250
AB/2(m)
AB/2(m)

40 5 200 5
Resistividade Aparente

Resistividade Aparente

160
30
120
(ohm/m)

(ohm/m)

20
80
10
40

0 0
50 200 350 500 650 0 150 300 450 600 750

AB/2(m) AB/2(m)

Fonte: Autor, 2016.

47
6 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS

Conforme foi visto, a escassez de água superficial é um problema que atinge


milhões de pessoas em diversas regiões do planeta, em particular no semiárido
brasileiro. Nesse sentido, o conhecimento dos aquíferos bem como estudos que
visam identificar formações geológicas propícias ao armazenamento de águas
subterrâneas é de suma importância para a sociedade. Nessa perspectiva, fizemos
um estudo bibliográfico dos principais métodos geofísicos utilizados na prospecção
de águas subterrâneas que são os métodos elétricos e eletromagnéticos.
Utilizando dados de medidas de corrente e diferença de potencial bem como
da geometria dos arranjos dos eletrodos foram obtidas as distribuições de
resistividades aparentes para duas sondagens elétricas verticais realizadas pela
CPRM na região sul do Ceará.
Como pode ser visto nos gráficos da Figura 13 as medidas de diferença de
potencial tendem a decair com o aumento da distância entre os eletrodos de
corrente bem como dos de diferença de potencial. As distribuições de resistividades
aparentes mostradas na Figura 14 apresentam três tipos de comportamento para a
resistividade aparente em função do aumento de AB/2: tende a decair nos gráficos
1, 2 e 3 da SEV 1 e 3 e 4 da SEV 2; tende a aumentar no gráfico 2 da SEV 2 e decai
até um valor mínimo e depois começa a crescer (gráficos 4 e 5 da SEV e 1 e 5 da
SEV 2).
Um passo seguinte nesta pesquisa consiste na construção de modelos de
resistividade elétrica utilizando técnicas de inversão geofísica e também comparar
esses modelos com modelos geológicos para subsequentemente fazer uma
interpretação geológica.

48
REFERÊNCIAS

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Estado do Ceará. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Ceará - UFC.
140p.

52
ANEXO A – DADOS DE SONDAGEM ELÉTRICA VERTICAL

53
SEV 1

AB/2 (m) I (mA) ∆V (mv)  a (ohm/m)


1,5 40 1704 482,17
2 34 587 353,82
3 28 159,3 269,17
4 66 170,1 215,30
5 44 66,1 196,12
7 38 29,4 198,94

5 44 177,2 150,60
7 38 73,2 144,72
10 64 55,6 135,58
15 58 17,1 104,65
20 140 17,3 77,90

15 50 51,1 116,32
20 140 56,4 84,06
30 80 12,1 70,50
40 100 4,5 37,90
50 180 4 29,17
70 100 1,1 29,02

50 180 14,9 31,31


70 100 3,7 27,14
100 140 2,4 26,94
150 60 0,6 33,72
200 240 1,3 34,21

150 58 2 39,29
200 290 4,3 30,07
250 200 1,9 30,71
300 220 1,2 25,45
400 280 1,2 36,78
500 180 0,5 38,87

54
SEV 2

AB/2 (m) I (mA) ∆V (mv)  a (ohm/m)


1,5 12 2690 2528,67
2 16 1404 1788,81
3 50 1934 1800,33
4 40 835 1735,86
5 8 140 2282,50
7 3,8 36,9 2482,89

5 8 364 1717,20
7 12 335 2095,45
10 8 108 2102,48
15 24 162,1 2380,18
20 2,4 11,6 3031,38

15 20 351 1982,04
20 2,4 28,3 2412,89
30 8 26,3 1531,96
40 16 23,1 1201,15
50 6,6 4,3 848,78
70 30 5,4 460,97

50 3,6 8 837,34
70 34 20,6 454,61
100 140 21 231,97
150 120 2 60,11
200 130 0,9 44,08

150 120 9 83,13


200 120 3,2 54,94
300 100 1,2 55,21
400 140 0,6 35,21
500 100 1,4 183,69
600 150 1,4 173,92

55

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