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Rio de Janeiro
Abril de 2016
ANÁLISE DOS PARÂMETROS GEOTÉCNICOS, FÍSICO-QUÍMICOS E ELÉTRICOS
DE DOIS SOLOS CAULINÍTICOS APÓS ENSAIOS ELETROCINÉTICOS
Examinada por:
________________________________________________
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ABRIL DE 2016
Fabris, Carla Miranda
Análise dos parâmetros geotécnicos, físico-químicos e
elétricos de dois solos cauliníticos após ensaios
eletrocinéticos/Carla Miranda Fabris. – Rio de Janeiro:
UFRJ/COPPE, 2016.
XX, 156 p.: il.; 29,7 cm.
Orientadora: Maria Claudia Barbosa
Dissertação (mestrado) – UFRJ/COPPE/Programa de
Engenharia Civil, 2016.
Referências Bibliográficas: p. 147-155.
1. Eletrocinética. 2. Solos Tropicais. 3. Parâmetros
geotécnicos. I. Barbosa, Maria Claudia. II. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de
Engenharia Civil. III. Título.
iii
“Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma
aventura, mas experiência, a que me
induziram, alternadamente, séries de
raciocínios e intuições. Tomou-me tempo,
desânimos, esforços. Dela me prezo, sem
vangloriar-me [...]. Tudo, aliás, é a ponta de
um mistério. Inclusive, os fatos. Ou a
ausência deles. Duvida? Quando nada
acontece, há um milagre que não estamos
vendo.”
iv
Aos meus pais, Maria
Luiza e Carlos Renato,
pelo apoio incondicional.
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, que não mediram esforços para a concretização de mais um
sonho.
Ao Attila, pelo carinho e pelo companheirismo. Sem você minha jornada seria muito
mais difícil e sem graça. Tive muita sorte em tê-lo ao meu lado durante esse tempo.
À minha orientadora Maria Claudia Barbosa, pela dedicação, pela confiança, pelos
ensinamentos transmitidos e pelo respeito.
À minha companheira de luta, Clarisse, por ter dividido comigo tantos momentos
felizes e de dificuldades no laboratório.
vi
Aos professores do Programa de Engenharia Civil da COPPE, da área de Geotecnia,
por serem exemplos de dedicação aos alunos e por exercerem a profissão de forma
tão inspiradora.
vii
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
Abril/2016
viii
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)
April/2016
The main changes in the geotechnical properties of the industrial kaolin soil
after the electrokinetic procedure were an increase in the liquid limit near the anode
and an increase in the shear strength of about 100 %. The behavior of the Rondônia
soil was not similar to that observed in the kaolin and the changes in the geotechnical
parameters after electrokinetics were not pronounced, as well as the electroosmotic
flow, possibly due to the higher point of zero charge of the natural soil.
Concerning the kaolin, the pH between the sections changed significantly. The
Rondônia soil exhibited small changes in this parameter. The electric current density in
the kaolin was at least one order of magnitude greater than the one observed in the
Rondônia soil, and it is believed that the electrochemical reactions in the Rondônia soil
were less important than those observed in the kaolin.
ix
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 1
3. METODOLOGIA ................................................................................................... 27
x
3.4. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA ............... 38
xi
4.4.5. Resumo ................................................................................................... 87
6. CONCLUSÕES................................................................................................... 140
xii
LISTA DE FIGURAS
xiii
Figura 4.2 – Relação índice de vazios e tensão - caulim ............................................ 56
Figura 4.3 – DRX do caullim ........................................................................................ 59
Figura 4.4 - Potencial Zeta do caulim .......................................................................... 59
Figura 4.5 – Trincas no solo durante o ensaio eletrocinético ...................................... 61
Figura 4.6 – Parâmetros elétricos do caulim 1 entre os pinos 1 e 5 ............................ 63
Figura 4.7 - Parâmetros elétricos do caulim 2 entre os pinos 1 e 5............................. 63
Figura 4.8 - Parâmetros elétricos do caulim 3 entre os pinos 1 e 5............................. 64
Figura 4.9 - Parâmetros elétricos do caulim 4 entre os pinos 1 e 5............................. 64
Figura 4.10 - Parâmetros elétricos do caulim 5 entre os pinos 1 e 5 ........................... 65
Figura 4.11- Parâmetros elétricos do caulim 6 entre os pinos 1 e 5............................ 65
Figura 4.12 - Parâmetros elétricos do caulim 7 entre os pinos 1 e 5 ........................... 66
Figura 4.13 - ke calculado no caulim 1 e caulim 2........................................................ 66
Figura 4.14 - ke calculado no caulim 3 ao caulim 7...................................................... 66
Figura 4.15 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 1 ............................................. 67
Figura 4.16 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 2 ............................................. 67
Figura 4.17 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 3 ............................................. 68
Figura 4.18 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 4 ............................................. 68
Figura 4.19 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 5 ............................................. 69
Figura 4.20 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 6 ............................................. 69
Figura 4.21 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 7 ............................................. 70
Figura 4.22 – Teores de umidade - caulim 1 e caulim 2 .............................................. 73
Figura 4.23 - Teores de umidade - caulim 3 ................................................................ 74
Figura 4.24 - Teores de umidade - caulim 4 ................................................................ 74
Figura 4.25 - Teores de umidade - caulim 5, caulim 6 e caulim 7 ............................... 74
Figura 4.26 – Variação do pH - caulim 1 e caulim 2 .................................................... 76
Figura 4.27 - Variação do pH - caulim 3 e caulim 4 (equalização) .............................. 76
Figura 4.28 - Variação do pH - caulim 5, caulim 6 e caulim 7 ..................................... 77
Figura 4.29 – CEE - caulim 3 e caulim 4 (equalização) ............................................... 79
Figura 4.30 – CEE - caulim 5, caulim 6 e caulim 7 ...................................................... 79
Figura 4.31 – Eh - caulim 3 e caulim 4 (equalização) .................................................. 80
Figura 4.32 – Eh - caulim 5, caulim 6 e caulim 7 ......................................................... 81
Figura 4.33 – Limites de plasticidade - caulim ............................................................. 82
Figura 4.34 – Limites de liquidez - caulim.................................................................... 82
Figura 4.35 – Índice de plasticidade - caulim............................................................... 82
Figura 4.36 – Ensaio palheta caulim 5......................................................................... 84
Figura 4.37 – Ensaio palheta caulim 6......................................................................... 84
Figura 4.38 - Ensaio palheta caulim 7 ......................................................................... 85
xiv
Figura 5.1 – Diferentes camadas na amostra 202 ....................................................... 90
Figura 5.2 - Curva granulométrica da amostra 202 ..................................................... 91
Figura 5.3 - Curva granulométrica da amostra 301 ..................................................... 91
Figura 5.4 - Curva granulométrica da amostra 101 ..................................................... 92
Figura 5.5 - Curva granulométrica da amostra 201 ..................................................... 92
Figura 5.6 - Curva granulométrica da amostra 102 ..................................................... 93
Figura 5.7 – Floculação da amostra 102 ..................................................................... 93
Figura 5.8 - Curva de adensamento da amostra 202 .................................................. 95
Figura 5.9 - Curva de adensamento da amostra 201 .................................................. 96
Figura 5.10 – Curva de adensamento da amostra 102 ............................................... 97
Figura 5.11 – Curva de adensamento da amostra 101 ............................................... 98
Figura 5.12 - Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 202 ..................... 99
Figura 5.13 - Capacidade tampão da amostra 202 ................................................... 101
Figura 5.14 - Capacidade tampão da amostra 301 ................................................... 101
Figura 5.15 - Capacidade tampão da amostra 201 ................................................... 102
Figura 5.16 - Capacidade tampão da amostra 102 ................................................... 102
Figura 5.17 - Capacidade tampão da amostra 101 ................................................... 102
Figura 5.18 – DRX da amostra 202 ........................................................................... 103
Figura 5.19 - DRX dos argilominerais da amostra 202 .............................................. 103
Figura 5.20 - DRX da amostra 301 ............................................................................ 104
Figura 5.21 – DRX dos argilominerais da amostra 301 ............................................. 104
Figura 5.22 - DRX da amostra 201 ............................................................................ 105
Figura 5.23 - DRX dos argilominerais da amostra 201 .............................................. 105
Figura 5.24 - DRX da amostra 102 ............................................................................ 106
Figura 5.25 - DRX dos argilominerais da amostra 102 .............................................. 106
Figura 5.26 - DRX da amostra 101 ............................................................................ 107
Figura 5.27 - DRX dos argilominerais da amostra 101 .............................................. 107
Figura 5.28 – Potencial Zeta das amostras 201, 102 e 101 ...................................... 108
Figura 5.29 – Parâmetros elétricos da amostra 202 entre os pinos 1 e 5 ................. 113
Figura 5.30 - Parâmetros elétricos da amostra 301a................................................. 114
Figura 5.31 - Parâmetros elétricos da amostra 301b................................................. 114
Figura 5.32 - Parâmetros elétricos da amostra 201................................................... 115
Figura 5.33 - Parâmetros elétricos da amostra 102................................................... 115
Figura 5.34 - Parâmetros elétricos da amostra 101................................................... 116
Figura 5.35 - ke calculado nas Amostras de Triunfo .................................................. 116
Figura 5.36 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 – Amostra 202 ................................... 117
Figura 5.37 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 301a .................................. 117
xv
Figura 5.38 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 301b .................................. 118
Figura 5.39 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 201 .................................... 118
Figura 5.40 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 102 .................................... 119
Figura 5.41 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 101 .................................... 119
Figura 5.42 - Teores de umidade - amostra 202 ....................................................... 122
Figura 5.43 – Teores de umidade - amostras 301a e 301b ....................................... 123
Figura 5.44 – Teores de umidade - amostras 101, 102 e 201 ................................... 123
Figura 5.45 - Variação do pH - amostra 202.............................................................. 125
Figura 5.46 - Variação do pH - amostra 301a............................................................ 125
Figura 5.47 - Variação do pH - amostra 301b............................................................ 126
Figura 5.48 – Variação do pH - amostras 101, 102 e 201 ......................................... 126
Figura 5.49 – Quebra da amostra 301a e seu armazenamento ................................ 126
Figura 5.50 - CEE - amostra 301b ............................................................................. 128
Figura 5.51 – CEE - amostras 101, 102 e 201 .......................................................... 128
Figura 5.52 - Eh - amostra 301b ................................................................................ 129
Figura 5.53 – Eh - amostras 101, 102 e 201 ............................................................. 130
Figura 5.54 - Limites de plasticidade - amostras 101, 102 e 201 .............................. 131
Figura 5.55 - Limites de liquidez - amostras 101, 102 e 201 ..................................... 131
Figura 5.56 – Índice de plasticidade – amostras 101, 102 e 201 .............................. 132
Figura 5.57 - Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 201 ................... 133
Figura 5.58 - Tensão cisalhante x deslocamento horizontal da amostra 201............ 133
Figura 5.59 - Deslocamento vertical x deslocamento horizontal – amostra 201 ....... 133
Figura 5.60 – Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 102................... 134
Figura 5.61 – Tensão cisalhante x deslocamento horizontal da amostra 102 ........... 134
Figura 5.62 – Deslocamento vertical x deslocamento horizontal – amostra 102 ....... 134
Figura 5.63 - Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 101 ................... 135
Figura 5.64 - Tensão cisalhante x deslocamento horizontal da amostra 101............ 135
Figura 5.65 – Deslocamento vertical x deslocamento horizontal - amostra 101 ....... 135
Figura 5.66 – Tensão de pico durante cisalhamento ................................................. 137
LISTA DE TABELAS
xvi
Tabela 3.5 – Análise química da água deionizada....................................................... 50
Tabela 3.6 – Análise química da solução utilizada nas amostras de Triunfo ............... 50
Tabela 3.7 – Tensão aplicada, tempo de duração e objetivo dos ensaios EK............. 51
Tabela 4.1 – Parâmetros geotécnicos e pH do caulim................................................. 54
Tabela 4.2 – Parâmetros geotécnicos do caulim 3, 4, 5, 6 e 7 - antes do adensamento
...................................................................................................................................... 54
Tabela 4.3 - Parâmetros geotécnicos do caulim – pré EK e após o adensamento ..... 55
Tabela 4.4 - Composição granulométrica - caulim (NBR ABNT 6502:1995) ............... 55
Tabela 4.5 – Valores de σ’vm e cv para o caulim ........................................................... 57
Tabela 4.6 - Ataque sulfúrico do caulim ....................................................................... 58
Tabela 4.7 - Ponto de carga zero do caulim ................................................................ 60
Tabela 4.8 – Resumo das principais condições utilizadas e observações durante a
eletrocinética no caulim ................................................................................................ 71
Tabela 4.9 – Resistência ao cisalhamento não drenada do caulim – pré e pós EK .... 86
Tabela 5.1 – Parâmetros geotécnicos e pH do solo de Triunfo ................................... 89
Tabela 5.2 – Parâmetros geotécnicos do solo de Triunfo antes dos ensaios EK ........ 89
Tabela 5.3 – Composição granulométrica - amostras de Triunfo (NBR ABNT
6502:1995).................................................................................................................... 90
Tabela 5.4 – Atividade das amostras de Triunfo .......................................................... 94
Tabela 5.5 - Valores de σ’vm e cv para a amostra 202 .................................................. 95
Tabela 5.6 - Valores de σ’vm e cv para a amostra 201 .................................................. 96
Tabela 5.7 - Valores de σ’vm e cv para a amostra 102 .................................................. 97
Tabela 5.8 - Valores de σ’vm e cv para a amostra 101 .................................................. 98
Tabela 5.9 – Capacidade de troca de cátions das amostras de Triunfo .................... 100
Tabela 5.10 – Ataque sulfúrico nas amostras de Triunfo ........................................... 100
Tabela 5.11 - Ponto de carga zero das amostras 201, 102 e 101 ............................. 109
Tabela 5.12 – Fluorescência de raios X do solo de Triunfo ....................................... 109
Tabela 5.13 – Resumo das principais condições utilizadas e observações durante a
eletrocinética no solo de Triunfo ................................................................................. 120
xvii
LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS
xviii
NBR Norma Brasileira
NSPT Índice de Resistência à Penetração
pH Potencial hidrogeniônico
pH0 Ponto de carga zero
pHH2O pH do solo em água
pHKCl pH do solo em KCl
Qe Vazão eletro-osmótica
R Resistência elétrica
S Grau de saturação, Siemens
Su Resistência não drenada
t Tempo
T Torque, Dimensão de tempo
t50 Tempo em que ocorre 50% do
adensamento primário
tf Tempo até a ruptura
Tv Fator tempo
u Poropressão
v Velocidade
V Volt
Valor S Soma de cátions trocáveis
Valor T Capacidade de troca de cátions
W Watt
w0 Teor de umidade inicial
wL Limite de liquidez
wP Limite de plasticidade
γd Peso específico aparente seco
γn Peso específico natural
γnadot Peso específico natural adotado
γncalc Peso específico natural calculado
γsat Peso específico saturado
γw Peso específico da água
ΔP Perda ao fogo
ε Energia por unidade de volume
ζ Potencial Zeta
η Viscosidade do fluido
ρ Resistividade elétrica
σ Tensão normal e condutividade elétrica
específica do solo
xix
σ’v Tensão vertical efetiva
σ’v0 Tensão efetiva de campo
σ’vm Tensão de sobreadensamento
τ Tensão cisalhante
xx
1. INTRODUÇÃO
1
1.1. APLICAÇÃO DA ELETRO-OSMOSE
A eletro-osmose para o adensamento de solos foi utilizada pela primeira vez em 1939,
em Salzgitter, na Alemanha, e foi conduzida por Leo Casagrande (CASAGRANDE,
1952). Durante a escavação para a construção de uma ferrovia e após a ocorrência de
deslizamentos, os trabalhos foram interrompidos e algumas ações emergenciais
tiveram que ser tomadas. Após a verificação da impossibilidade de utilização de
ponteiras filtrantes, decidiu-se pelo emprego da técnica eletrocinética. O procedimento,
que durou algumas semanas, foi bem-sucedido e as obras puderam ser finalizadas.
2
estabilização de uma escavação em uma argila sensível, tendo em vista a construção
de uma estação de tratamento de esgoto, na cidade de As, na Noruega (BJERRUM et
al., 1967). Os eletrodos eram barras de 19 mm de diâmetro e 10 m de comprimento e
o procedimento durou 120 dias.
De acordo com Bjerrum et al. (1967), nas proximidades dos anodos o teor de umidade
diminuiu 7% e a resistência ao cisalhamento do solo aumentou mais de 1000 % e,
próximo aos catodos, não houve aumento de resistência. A sensibilidade da argila
diminuiu drasticamente. Após o tratamento, o limite de liquidez aumentou
aproximadamente 30% próximo aos anodos e permaneceu inalterado próximo aos
catodos. O limite de plasticidade não mudou de forma significativa. A mudança nos
limites de Atterberg foi atribuída à variação do pH do solo, que ocasionou uma
alteração no seu complexo sortivo, em especial a incorporação de íons de alumínio no
argilomineral. Em contrapartida, Gray e Schlocker (1969) observaram uma diminuição
do limite de liquidez de uma bentonita quando submetida à eletrocinética com
introdução de íons de alumínio, especialmente próximo ao anodo.
Além das aplicações mencionadas, pode-se citar: Fetzer (1967), que reportou a
utilização da eletrocinética para a estabilização de uma barragem de terra em Ohio,
nos Estados Unidos; Chappell e Burton (1975), na estabilização de um aterro em
Singapura; Lo e Ho (1991), no adensamento de uma argila sensível no Canadá. Mais
recentemente, alguns exemplos de utilização da eletrocinética no tratamento
eletroquímico do solo, com utilização de silicato de sódio e cloreto de cálcio, podem
ser destacados, como os casos reportados por Barker et al. (2004), no tratamento de
uma argila siltosa no País de Gales, e Chien et al. (2014), que aplicaram a
eletrocinética em um solo fino de Taiwan.
1.2. OBJETIVOS
3
troca de cátions – também foram abordadas. Os mecanismos intervenientes na
quantidade de fluxo eletro-osmótico extraído durante os ensaios eletrocinéticos foram
aprofundados, tendo em vista que ambos os solos, embora cauliníticos, apresentaram
comportamentos distintos quando da utilização da técnica.
4
As principais conclusões do trabalho são apresentadas no Capítulo 6, além das
sugestões para pesquisas futuras.
5
2. FUNDAMENTOS E ESTADO DA ARTE
A fração de argila dos solos é formada por minerais cujas cargas superficiais são
constantes e por minerais cujas cargas dependem do pH da solução do solo. Os solos
consistem em uma mistura desses dois tipos de minerais (VAN RAIJ, 1973; UEHARA,
1979). Durante muitos anos, grande parte das pesquisas estava voltada para os
minerais de cargas permanentes, predominantes na América do Norte e na Europa.
Apenas após a Segunda Guerra Mundial, com o desenvolvimento de novas
tecnologias, como a difração de raios X, os conhecimentos acerca da ciência dos
solos começaram a ser organizados em uma escala global, destacando-se o manual
norte americano “Soil Taxonomy”, de 1975 (UEHARA, 1979).
6
Segundo o “Mapa de Solos do Brasil”, do IBGE e da Embrapa (2001), nas
proximidades do distrito de Triunfo, Rondônia, localidade de um dos solos estudados,
há o predomínio de latossolos amarelos e vermelho-amarelos.
2.1.1. Caulinita
7
do cristal. As ligações na estrutura da caulinita e a sua distribuição de cargas estão
apresentadas na Figura 2.2.
O principal mecanismo de troca das caulinitas, segundo Grim (1953) e Mitchell e Soga
(2005), são as ligações quebradas nas arestas das lâminas de sílica e alumina,
criando cargas desbalanceadas que são equilibradas por cátions adsorvidos. O
número de ligações quebradas aumenta com a diminuição do tamanho das partículas.
Além disso, distorções na estrutura dos cristais aumentam o número de ligações
quebradas e, portanto, a capacidade de troca tende a ser maior com a diminuição do
grau de cristalinidade.
Embora alguns autores atribuam às ligações quebradas das arestas das partículas a
presença de sítios de troca na caulinita, Van Olphen (1963) defende que os cátions
trocáveis da caulinita estejam localizados na superfície “plana” dos argilominerais, e
8
não nas arestas, compensando uma carga negativa decorrente de substituições
isomórficas nos cristais, através do mesmo mecanismo existente na montmorilonita.
• A Teoria de Helmholtz
O estudo da dupla camada teve início em 1879, quando Helmholtz distinguiu a água
livre em um tubo capilar do filme de água imediatamente adjacente às paredes do tubo
capilar. Esse filme de água foi denominado por ele de dupla camada, uma vez
assumida a existência de cargas elétricas opostas em duas camadas. A primeira delas
é muito fina e normalmente apresenta cargas negativas, sendo fortemente ligada às
9
paredes do tubo. A segunda camada é espessa e móvel, tendo em vista que quando
um potencial elétrico é aplicado ao tubo capilar, as cargas positivas se movem para o
polo negativo, carregando consigo moléculas de água.
Circundado pela dupla camada, a água livre é arrastada pela parte móvel da camada
dupla. O deslocamento do líquido quando da aplicação do potencial elétrico é
conhecido como eletro-osmose (CASAGRANDE, 1952), que é um dos fenômenos
eletrocinéticos. Como os vazios presentes em solos finos são muito pequenos, eles
podem ser associados a tubos capilares. Assumindo que não há outras forças atuando
no cilindro de água livre, a taxa de fluxo é constante e a distribuição da velocidade no
tubo capilar pode ser ilustrada conforme a Figura 2.3.
10
atraídos e ligados entre as camadas, nas superfícies e nas arestas das partículas
(MITCHELL E SOGA, 2005).
11
A modificação dessa teoria levando em consideração o tamanho finito dos íons foi
feita, dentre outros autores, por Stern (1924). A camada de Stern (Figura 2.5) consiste
de íons aderidos fortemente à superfície da partícula, sendo a camada tão mais
espessa quanto maior o íon. Adjacente a essa camada, encontra-se a camada difusa
(MITCHELL E SOGA, 2005).
12
mais momento do que os íons negativos do fluido intersticial. Dessa forma, o fluido se
locomove no sentido anodo-catodo por eletro-osmose.
Embora seja normalmente negativo, o Potencial Zeta depende do ponto de carga zero,
definido como o valor de pH no qual a carga líquida da superfície da partícula é zero
(SPOSITO, 1998). Quando o pH do solo é superior ao ponto de carga zero, o
Potencial Zeta do solo é negativo e o fluxo resultante ocorre do anodo para o catodo.
Quando o pH do solo é inferior ao ponto de carga zero, o Potencial Zeta se torna
positivo e o sentido do fluxo eletro-osmótico resultante é do catodo para o anodo
(YEUNG, 2006).
2.3. ELETROCINÉTICA
A eletrocinética ocorre quando duas fases se movem uma em relação à outra e uma
dupla camada difusa existe na interface entre as duas fases (VAN OLPHEN, 1963).
Em se tratando de solos, considerar-se-ão as fases líquida e sólida.
2.3.1. Eletro-osmose
De acordo com Mitchell e Soga (2005), quando uma diferença de potencial elétrico é
aplicada através de uma massa úmida de solo, os cátions móveis da dupla camada
são atraídos para o catodo e ânions para o anodo. À medida que os íons se
locomovem, eles carregam consigo sua água de hidratação, exercendo um arraste
viscoso na água do entorno. Em solos carregados negativamente, há mais cátions
móveis que ânions, ocorrendo fluxo de água resultante na direção do catodo,
denominado eletro-osmose.
13
segundo o modelo de Helmholtz, que descreve o deslocamento de um fluido em um
tubo capilar. De acordo com Mitchell e Soga (2005), a teoria de Helmholtz está entre
as mais antigas e mais utilizadas.
.
= . .∆ ∆ . (2.1)
De forma análoga à lei de Darcy para o fluxo hidráulico, pode-se escrever a Equação
2.1 conforme a seguir (Equação 2.2):
= . . (2.2)
.
= . (2.3)
14
Ademais, em geral considera-se que ke não varia muito de um solo para outro e, de
acordo com estes autores, normalmente o coeficiente de permeabilidade eletro-
osmótica varia entre 1 x 10-9 a 1 x 10-8 m/s por V/m (ou m²/s.V). Casagrande (1949),
por sua vez, considera ke da ordem de 5 x 10-9 m/s por V/m.
A drenagem livre nas duas extremidades permite a simplificação do estudo, uma vez
que, considerando a massa de solo uniforme, em tese, não há gradiente hidráulico
oriundo da geração de excesso de poropressões. Na prática, porém, durante o
procedimento eletrocinético, não uniformidades são geradas no solo, como a variação
do pH e da concentração iônica, desenvolvendo-se assim gradientes de voltagem não
15
uniformes ao longo do solo e, consequentemente, excesso de poropressão (ESRIG,
1968).
16
Como a tensão total nas proximidades do anodo permanece essencialmente
inalterada, as poropressões diminuem. No catodo, por onde a água é drenada, não
ocorre adensamento e, portanto, as poropressões permanecem as mesmas. Dessa
forma, é gerado um gradiente hidráulico que tende a gerar um fluxo do catodo para o
anodo. O adensamento continua até que a força hidráulica balanceie a força eletro-
osmótica.
=− . . (2.4)
17
= . (2.5)
De forma semelhante, Castello Branco (1978) observa que o tempo requerido para o
desenvolvimento das poropressões negativas é função do fator tempo (Tv) (Equação
2.6), que está relacionado com cv. Por sua vez, conforme já mencionado, cv é
independente de ke e função da compressibilidade de solo e da permeabilidade
hidráulica kh.
.
= (2.6)
Dessa forma, a eletro-osmose não tem influência direta na taxa de adensamento, mas
funciona como uma sobrecarga estática, aumentando a magnitude dos recalques, com
a vantagem de não provocar rotura do solo (ESRIG, 1968).
2 − 4! " → 4 $
+ ↑ ' ()( (2.7)
2 + 2! " → 2 "
+ ↑ ' ()( (2.8)
18
vezes a mobilidade do OH-. Por conseguinte, a frente ácida é dominante, salvo nas
proximidades do catodo.
Devido à liberação de H+ no anodo, nas argilas alguns cátions trocáveis podem ser
substituídos por H+, tornando-as instáveis. Bjerrum et al., (1967) relataram que,
durante a eletrocinética em uma argila sensível norueguesa, possivelmente na região
ácida a argila foi saturada com H+ e logo alterou-se para uma argila saturada com Al3+.
As modificações iônicas nos argilominerais alteram as suas características físico-
químicas. Injetando-se continuamente uma solução química no anodo, é possível
potencializar as substituições iônicas do solo tendo em vista o melhoramento de suas
propriedades mecânicas (CARON, 1971).
19
de Atterberg, uma vez que para isso é preciso haver mudanças na mineralogia, nas
características das partículas ou da solução dos poros.
20
elétrica (L³.T-1.A-1). Esse parâmetro é denotado por ki e pode ser expresso conforme
as Equações 2.9 e 2.10:
= .+ = ∆
* ∆ . (2.9)
* = .∆ 1
∆ . + . (2.10)
Onde I é a corrente elétrica, em ampère (A). Como ΔE/I é a resistência elétrica (R, em
Ω) e ΔL/(R x A) é a condutividade elétrica específica do solo (σ, em S.L-1), a Equação
2.10 pode ser escrita da seguinte maneira (Equação 2.11):
* = - (2.11)
Uma vez que ke varia pouco de um solo para outro, a eficiência eletro-osmótica é uma
função sensível da condutividade elétrica específica do solo. Um elevado valor de
condutividade do solo significa que a corrente necessária para desenvolver a voltagem
precisaria ser muito elevada, e a geração de gás, calor e efeitos eletroquímicos seria
excessiva (MITCHELL E SOGA, 2005; YEUNG, 2006). De acordo com Mitchell e Soga
(2005), solos cuja água intersticial é muito salina, por exemplo, podem apresentar
efeitos adversos quando submetidos à eletrocinética. Embora a salinidade possa
comprometer a eficiência da técnica, Schmidt et al. (2007) utilizaram a eletrocinética
em um solo salino tropical, com injeção de nutrientes, e obtiveram resultados
satisfatórios.
/
. 0 12 ∆3
∆ = (2.12)
40
21
Segundo Gray e Mitchell (1967) a energia necessária por unidade de volume do
líquido removido, denominada pela letra grega ε (W.T.L-3) pode ser estimada de
acordo com a Equação 2.13:
5=∆ (2.13)
*
Embora não haja muitas referências quanto ao período necessário para que o solo
reestabeleça o seu equilíbrio físico-químico, alguns autores abordaram esse aspecto
indiretamente. Bjerrum et al. (1967), ao investigarem as alterações dos limites de
Atterberg do solo após a eletrocinética, mediram o pH do solo 50 dias depois do
término do procedimento e constataram que o pH na região do anodo foi de 5,8 a 6,3
e, próximo ao catodo, o pH foi de 7,7. Os autores destacaram que possivelmente as
condições ácidas eram ainda mais dominantes durante o período de aplicação da
técnica. Jeyakanthan et al. (2011) mencionaram que, após o tratamento eletrocinético,
as amostras eram deixadas por dois ou três dias em um processo de “recuperação”.
Ahmad et al. (2011) constataram que, após a utilização de uma solução de cloreto de
alumínio no tratamento eletrocinético, a resistência da amostra diminuiu. Os autores
mencionaram então que, em um estudo realizado por Gray (1970), a solução de
cloreto de alumínio aumentou a resistência do solo após eles serem "curados" durante
1 mês, tempo necessário para que o AlCl3 reagisse completamente.
É interessante notar que, embora seja esperado que o equilíbrio seja reestabelecido
após o término do ensaio eletrocinético, algumas alterações irreversíveis ocorrem no
argilomineral quando uma corrente elétrica é aplicada no solo (MITCHELL E SOGA,
2005). O eletroendurecimento do solo, explorado por Casagrande (UNITED STATES
PATENT OFFICE, 1937), através da dissolução de eletrodos de alumínio na massa de
solo, é um exemplo dessas alterações. As alterações no argilomineral decorrem das
reações eletroquímicas discutidas anteriormente.
23
Com exceção de Bjerrum et al. (1967), que trata da técnica utilizada em campo, os
documentos expostos concernem a utilização da eletrocinética em laboratório. Cabe
ressaltar que as publicações apresentadas na Tabela destacam especialmente as
variações nos limites de Atterberg e na resistência ao cisalhamento do solo,
decorrentes principalmente das trocas iônicas e da precipitação de elementos
químicos em pH básico. Na aplicação da eletrocinética relatada por Bjerrum et al.
(1967), as alterações na resistência ao cisalhamento do solo ocorreram devido às
reações eletroquímicas e às variações nos teores de umidade do solo. Em alguns
casos apresentados, foram utilizadas soluções químicas específicas que potencializam
os efeitos eletroquímicos da técnica e, em outras situações, a solução utilizada foi
água e ainda assim ocorreram alterações nas características geotécnicas do solo.
24
Tabela 2.1 – Publicações pertinentes sobre o tema
Autores e ano da Solo ou argilomineral Gradiente
Eletrodos Duração Solução utilizada Ensaios pós EK Observações pós EK
publicação predominante elétrico
Aumento da resistência não drenada no
anodo e no meio. No catodo a resistência
Resistência não
Argila sensível não mudou. Diminuição da sensibilidade
BJERRUM et al., 19671 Barras de aço 0,2 V/cm 30 dias - drenada e limites de
norueguesa no anodo e no meio.
Atterberg
Limite de liquidez aumentou no anodo e
limite de plasticidade não mudou.
Em um dos solos artificiais o limite de
2 solos artificiais e 1 liquidez diminuiu principalmente no anodo
Cobre (catodo) Cloreto de
GRAY E SCHLOCKER, natural compostos e no outro os efeitos foram muito
alumínio ou -2 22 h alumínio e cloreto Limites de Atterberg
1969 principalmente por ilita pequenos.
grafite (anodo) de sódio
e montmorilonita No solo natural o limite de liquidez
aumentou ligeiramente.
Cloreto de sódio,
cloreto de lítio, Os resultados dos limites de Atterberg
CASTELLO BRANCO, Solos naturais tropicais
Ferro 1 V/cm 48 h cloreto de amônia, Limites de Atterberg foram variados, a depender da solução e
1978 residuais (4 tipos)
cloreto de do solo estudado.
alumínio
Solo argiloso (58 % Limites de Atterberg Aumento do limite de liquidez e limite de
ASAVADORNDEJA E
caulinita, 28 % Titânio 2 V/cm 48 h Cloreto de cálcio e resistência não plasticidade.
GLAWE, 2005
bentonita e 14 % ilita) drenada Aumento da resistência próximo ao catodo.
Hidróxido de
O limite de liquidez e o potencial de
cálcio, cloreto de Limites de
Solo natural com expansão diminuíram em todos os
ABDULLAH E AL-ABADI, cálcio, hidróxido Atterberg, potencial
predomínio de Grafite 1,5 V/cm 10 dias ensaios. O limite de plasticidade pouco
2010 de potássio, de expansão,
montmorilonita mudou. O intercepto de coesão dos solos
cloreto de cisalhamento direto
diminuiu e o ângulo de atrito aumentou.
potássio
Diminuição da resistência no anodo e no
catodo com cloreto de alumínio.
Cloreto de
Diminuição da resistência no anodo com
alumínio, cloreto
Cisalhamento direto cloreto de cálcio.
AHMAD et al., 2011 Solo tropical caulinítico Titânio 6 V/cm 7 dias de cálcio, água
e adensamento Diminuição da resistência no anodo e no
destilada, ácido
catodo com água destilada.
fosfórico
Aumento da resistência no catodo com
ácido fosfórico.
25
Tabela 2.1 – Publicações pertinentes sobre o tema (continuação)
4 dias, 13 A tensão de sobreadensamento aumentou
JEYAKANTHAN et al., Solo argiloso natural
Cobre 0,4 V/cm dias e 15 Água Adensamento no anodo e no meio. No catodo não foram
2011 australiano
dias feitas medições.
Cloreto de cálcio: aumento da resistência
Platina 12 h, 24 h, no anodo.
Cloreto de cálcio, Silicato de Sódio: aumento da resistência
OU et al., 2013 Caulim revestida com 0,5 V/cm 36 h, 48 h, Penetração do cone
silicato de cálcio no catodo.
titânio 7 dias
Utilizando as duas soluções: aumento da
Resistência no anodo.
Na utilização de eletrodos de cobre e ferro,
íons Fe3+ e Cu2+ substituíram o Na+
trocável da argila, principalmente no
anodo.
Cobre, ferro e
WU E HU, 2014 Bentonita sódica 1 V/cm 24 h Água Limites de Atterberg Ocorreu diminuição do limite de
grafite
plasticidade e aumento do limite de
liquidez da argila com todos os eletrodos,
além da diminuição do potencial de
expansão do argilomineral.
1
Técnica aplicada em campo
2
O gradiente elétrico aplicado variou enquanto a densidade de corrente manteve-se entre 1 mA/cm² e 5 mA/cm²
26
3. METODOLOGIA
Foram estudados dois tipos de solos. O primeiro foi um caulim tratado, utilizado por
Lima (2013) e fornecido pela empresa Brasil Minas Ltda. A especificação técnica do
caulim é apresentada no Anexo I. Os ensaios no caulim, por ser um solo cuja
composição e comportamento são bem conhecidos, foram fundamentais para uma
melhor compreensão dos resultados obtidos com o segundo tipo de solo, proveniente
da região de Triunfo/Rondônia, cujo comportamento é muito mais complexo e
imprevisível. Além disso, o caulim é composto principalmente por caulinita, principal
argilomineral presente no solo de Triunfo.
Foram selecionadas 5 amostras para estudo e o critério de seleção das amostras foi a
profundidade, preferindo-se as amostras mais superficiais. A identificação das
27
amostras utilizada por Barbosa (2012) foi simplificada e está apresentada na Tabela
3.1, bem como a descrição da camada e a sua profundidade.
Identificação Identificação
Prof. (m) Descrição tátil-visual
antiga1 adotada
T01 AM02 101 6,41 - 7,02 Silte argiloso, com areia fina, cinza
T01 AM03 102 15,00 - 15,61 Silte argiloso, com areia fina, cinza e marom
Silte argiloso, com areia fina, cinza e marrom
T02 AM01 201 6,00 - 6,61
arroxeado
Silte argiloso, com areia fina, com pedregulho
T02 AM04 202 18,61 - 19,22
fino a médio, marrom variegado
Silte argiloso, com areia média, com
T04 AM02 301 14,00 - 14,61
pedregulho fino, roxo amarronzado e cinza
1
Identificação utilizada por Barbosa (2012)
Figura 3.1 – Aspecto das amostras 201 (a) e amostra imediatamente acima (b)
28
Figura 3.2 - Perfis de sondagem da região de Triunfo/RO, nos trechos de interesse para a pesquisa
29
3.2. PLANO DE ENSAIOS
Todos os ensaios com o solo de Triunfo foram realizados com a nova configuração da
célula e os novos eletrodos. As amostras 202 e 301 foram selecionadas para a
determinação do tempo de equalização. As amostras restantes, ou seja, 101, 102 e
201, foram escolhidas para a avaliação da variação dos parâmetros geotécnicos do
solo.
A Tabela 3.3 resume os ensaios realizados em cada amostra, sem submeter o solo ao
procedimento eletrocinético e após o ensaio eletrocinético.
30
Tabela 3.3 – Plano de ensaios das amostras de Triunfo
Cabe ressaltar que, inicialmente, estabeleceu-se que o solo seria dividido em três
porções longitudinais, com leituras do pH imediatamente após o ensaio, 7 dias depois
e 14 dias após o ensaio eletrocinético. Esse procedimento foi realizado na amostra
202, mas a quantidade de solo não foi suficiente para a medição do pH no “anodo”,
“meio” e “catodo” nas porções 1 e 2, sendo possível apenas a sua medição na terceira
porção. A partir de então, o solo foi seccionado em apenas duas porções longitudinais
e cada uma foi dividida em três fatias, imediatamente após o ensaio e 14 dias depois,
para a determinação do pH em cada fatia, conforme esquematizado na Figura 3.4.
31
Figura 3.3 – Sequência de extração, fatiamento e armazenamento da amostra 301b
a) Pistão para extração da amostra; b) amostra fatiada longitudinalmente; c) primeira fatia
cortada transversalmente para medição do pH; d) segunda fatia armazenada na câmara úmida
Após o ensaio EK, a amostra dentro do cilindro era embalada em filme de PVC e
deixada na câmara úmida durante o tempo de equalização estabelecido. Passado
esse período, novamente eram realizados ensaios de resistência ao cisalhamento nas
amostras. Com o restante do solo, eram feitas determinações dos teores de umidade e
limites de Atterberg. Todos os ensaios foram realizados nas posições “anodo”, “meio”
e “catodo” e são detalhados na seção 3.7.
32
3.2.3. Repartição das amostras de Triunfo, RO
A amostra 301 foi dividida distintamente da anterior, sendo realizados dois ensaios
eletrocinéticos no solo para a determinação do tempo de equalização e, com o trecho
auxiliar, foi feita a sua caracterização.
33
Figura 3.6 - Divisão dos amostradores - avaliação dos parâmetros geotécnicos
Tanto no caulim quanto nas amostras de Triunfo, antes da eletrocinética foi realizada a
caracterização geotécnica do solo e a caracterização química do fluido intersticial.
3.3.1. Caulim
34
foram, respectivamente, da marca Analion de vidro combinado, modelo V620 e
eletrodo redox de platina combinado, modelo ROX674. A leitura da condutividade
elétrica foi feita através do condutivímetro Oakton, modelo PC 300.
67 = 0,86.
<. = (3.1)
Nas amostras 101, 102 e 201 foram realizados ensaios de cisalhamento direto dos
solos. O ensaio de cisalhamento direto fornece a envoltória de resistência do solo,
permitindo assim a comparação desses valores iniciais com os resultados de
resistência obtidos após a aplicação da técnica eletrocinética. Como os moldes
utilizados apresentavam dimensões de 4 cm x 4 cm x 2,5 cm, foi possível a moldagem
das amostras cravando-os no amostrador.
35
abraçadeiras foram posicionadas nas suas extremidades, fixando um segmento
metálico que foi encaixado acima do corte longitudinal, evitando fuga do solo. Os
moldes foram então posicionados acima do amostrador e empurrados manualmente
para o seu interior. Na moldagem dos anéis de adensamento, o molde foi empurrado
utilizando-se a prensa, como apresentado na Figura 3.8a. Para extrusão do anel com
solo de dentro do amostrador, um colarinho foi encaixado na parte superior do
amostrador e o conjunto era colocado na prensa, conforme a Figura 3.8b. Finalmente,
após extrusão do anel, as suas superfícies foram ajustadas e o solo era rasado (Figura
3.8c).
)?
>= @ (3.2)
?
36
casos. O tempo até a ruptura pode ser estimado, em minutos, conforme a Equação
3.3, em que t50 (T) é o tempo em que ocorre 50% do adensamento primário:
? = 50. BC (3.3)
O valor de t50 escolhido foi o máximo obtido nos ensaios de adensamento das
amostras 101, 102, 201 e 202, considerando-se as tensões normais utilizadas nos
ensaios de cisalhamento direto para as respectivas amostras. O tempo em que ocorre
50% do adensamento primário adotado foi então o da amostra 202, com t50
aproximadamente igual a 0,60 minutos. Portanto, utilizando-se as Equações 3.2 e 3.3
e considerando df = 5 mm, a velocidade máxima do cisalhamento direto deve ser 0,167
mm/minuto, muito superior à velocidade utilizada de 0,0439 mm/min, garantindo-se
assim a drenagem do corpo-de-prova.
O peso específico natural do solo foi estimado através dos valores calculados no
Relatório para projeto de eletrodos de aterramento (BARBOSA, 2012) de amostras
pertencentes ao mesmo furo e a profundidades semelhantes, possibilitando a
estimativa das tensões de campo e o planejamento das tensões utilizadas nos ensaios
de cisalhamento direto. Após a realização dos ensaios eletrocinéticos, ϒn e as tensões
de campo foram novamente calculados (ϒnEFGE e tensão calculada de campo). Para o
cálculo das tensões efetivas de campo, ϒsat foi considerado aproximadamente igual à
ϒn e os valores são apresentados na Tabela 3.4.
37
As tensões normais efetivas aplicadas nos ensaios de cisalhamento direto foram
escolhidas tendo como referência a tensão efetiva de campo aproximada de cada
amostra, selecionando-se assim uma tensão maior que a de campo, uma tensão
próxima à de campo e uma inferior à tensão a que o solo estava submetido no campo.
38
agitador durante 24 h (Figura 3.9c), para então serem centrifugados (Figura 3.9d).
Após a centrifugação, o pH de cada solução era medido novamente.
39
o segundo em separar apenas os argilominerais para a análise. Todas as amostras
foram secas ao ar, com exceção da amostra 202 que, por falta de material seco ao ar,
foi utilizada seca em estufa 105 ºC.
• Colocação da mistura no ultrassom durante dois minutos para então ser levada
ao dispersor por 15 minutos. Transferia-se a mistura para a proveta de 1000
mL completando-se o seu volume com água destilada. Com o auxílio de um
misturador próprio (Figura 3.12a), agitava-se o solo durante 2 minutos em
40
velocidade aproximadamente constante (Figura 3.12b) e deixava-o em repouso
durante 24 horas.
41
procedimento, o solo floculava em poucos minutos e era possível a retirada do
excesso de água por sifonação.
• Colocação da mistura em um tubo plástico que era levado para a centrífuga por
1 minuto, como mostrado na Figura 3.14. O solo então separava-se da solução,
que era descartada e o tubo era novamente preenchido até a sua metade com
água destilada e misturado com o bastão de vidro.
Esse procedimento era então repetido aproximadamente 4 vezes, até que todo
o NaCl fosse lavado do solo. Para certificação de que a lavagem estava
completa, após a centrifugação o líquido era retirado do frasco e colocado em
um recipiente, onde adicionava-se AgNO3 e a alteração do aspecto do líquido
de límpido para turvo indicava que ainda havia sal dissolvido na solução.
A determinação do ponto de carga zero foi feita no caulim e nas amostras 101, 102 e
201 no CETEM.
42
minuto e colocado em repouso para sedimentação. Após o repouso, a fração inferior a
20 µm era extraída por sifonação.
3.5.1. Caulim
43
homogeneizada e introduzida na célula eletrocinética, em camadas, aplicando-se
golpes com um pistão para compactação do solo.
44
terceiro 48 h após iniciar o adensamento. O processo de adensamento tinha duração
de 7 dias, quando a célula era retirada e o ensaio eletrocinético iniciado.
Para esse fim, foi confeccionado um anel biselado que encaixava no cilindro acrílico,
com o bisel entrando no amostrador Denison, bem como um disco que era
posicionado dentro do amostrador, na base inferior, permitindo a extrusão do solo. O
disco e o anel são apresentados na Figura 3.17.
45
Primeiramente, o trecho de amostrador de 20 cm de comprimento selecionado para
ser utilizado no ensaio eletrocinético era seccionado longitudinalmente, aliviando o
confinamento da amostra. A amostra era então envolvida por duas abraçadeiras, uma
em cada extremidade, que fixavam um segmento metálico posicionado acima do corte
longitudinal, evitando a fuga do solo pela abertura (Figura 3.18).
O disco era então colocado abaixo do amostrador e o cilindro com o anel biselado
encaixado eram posicionados acima do amostrador. O conjunto era levado para a
prensa, para a extrusão do solo, conforme a Figura 3.19. A tensão era aplicada
manualmente e lentamente, mantendo o conjunto na posição vertical, sem grandes
inclinações. Devido à rigidez do solo e à presença eventual de pedregulhos, em
algumas amostras era necessário ocasionalmente interromper o processo e ajustar o
conjunto para evitar a distorção e quebra da amostra durante o procedimento.
46
3.6. ENSAIO ELETROCINÉTICO
É importante notar que no ensaio caulim 1 os eletrodos utilizados foram de aço inox e
estavam localizados nas extremidades dos tanques (Figura 3.22a). O restante dos
ensaios foi efetuado com eletrodos de DSA® posicionados juntos ao solo (Figura
3.22b).
47
Os eletrodos de DSA® são compostos de titânio e revestidos com óxidos de diferentes
elementos, como irídio, rutênio, platina, ródio e tântalo. Além disso, os eletrodos
apresentavam superfície em forma de malha, com furos que permitiam a circulação do
fluido entre os tanques e a amostra. O esquema completo do equipamento
eletrocinético é exibido na Figura 3.23.
Após montagem da célula eletrocinética, ela era posicionada em uma prateleira acima
da bancada e, em um nível superior, colocava-se os reservatórios, por onde a solução
utilizada era inserida. As mangueiras eram acopladas ao sistema e os 5 pinos de
medição de voltagem e temperatura eram posicionados, bem como os tubos de vidro
para saída de gases. De forma a impedir a evaporação da solução, a boca dos tubos
de acrílico que recebiam o fluxo eletro-osmótico, onde os transdutores de pressão
estavam rosqueados, eram vedadas com o auxílio de fita adesiva.
Antes que o sistema elétrico fosse ligado, apenas as bombas eram colocadas em
funcionamento, para que a solução circulasse por pelo menos 30 minutos. O sistema
48
de aquisição de dados e a fonte eram então ligados, iniciando-se o ensaio. O
equipamento eletrocinético em funcionamento é mostrado na Figura 3.24.
As soluções utilizadas nos tanques e nos reservatórios foram água deionizada para o
caulim e, para as amostras de Triunfo, uma solução preparada que teve como
referência as análises químicas de água subterrânea da região onde as amostras
foram extraídas. No primeiro ensaio eletrocinético no solo de Rondônia, realizado na
amostra 202, foi utilizada água deionizada. As análises químicas das soluções
utilizadas nos ensaios eletrocinéticos do caulim e do solo de Triunfo são apresentadas
na Tabela 3.5 e Tabela 3.6.
49
Tabela 3.5 – Análise química da água deionizada
Nova Melhorias no
configuração equipamento
Caulim 1 de eletrodos Amostra 202
eletrocinético Caulim 2 diminuição da voltagem
Solo trincou
15V – 24h 15V – 48h 15V – 24h
Não houve
eletro-osmose
Amostra 301a
diminuição da voltagem
Amostra 101
Caulim 4
Caulim 5 10V – 96h
Caulim 6
Caulim 7
5V – 96h
50
Tabela 3.7 – Tensão aplicada, tempo de duração e objetivo dos ensaios EK
Tensão Tempo de
Amostra Objetivo
aplicada duração
3.7.1. Caulim
51
Figura 3.26 – Ensaio palheta sendo realizado no caulim
Após submeter o solo a uma corrente elétrica, espera-se que as suas propriedades
físicas sejam heterogêneas, variando segundo a posição do solo em relação ao anodo
e ao catodo. Conforme apresentado anteriormente, as alterações nas características
do solo decorrem das reações físico-químicas que ocorrem ao longo do ensaio. Por
esse motivo, não é adequado traçar a envoltória do solo após a eletrocinética, uma
52
vez que ele se encontra heterogêneo. Dessa forma, optou-se por plotar os pontos
correspondentes às tensões máximas de ruptura junto com a envoltória de resistência
do solo, sendo possível assim a comparação da resistência do solo antes e após o
ensaio eletrocinético, em cada posição em relação aos eletrodos.
53
4. RESULTADOS – CAULIM
wP wL IP
Amostra Gs pH
(%) (%) (%)
Caulim 1
6,491
Caulim 2
Caulim 3 7,57
Caulim 4 2,62 21,4 43,2 21,8 7,14
Caulim 5 7,29
Caulim 6 7,40
Caulim 7 7,34
1
Valor utilizado por LIMA, 2013
Antes do adensamento
Amostra ϒd ϒn
e0 n w0 (%) S (%)
(kN/m³) (kN/m³)
Caulim 3 1,67 0,62 9,64 15,54 61,18 96,22
Caulim 4 1,65 0,62 9,70 15,67 61,50 97,73
Caulim 5 1,66 0,62 9,68 15,71 62,30 98,60
Caulim 6 1,77 0,64 9,27 15,27 64,65 95,62
Caulim 7 1,56 0,61 10,04 16,34 62,78 100,00
54
Tabela 4.3 - Parâmetros geotécnicos do caulim – pré EK e após o adensamento
Após o adensamento
Amostra ϒd ϒn
e0 n w0 (%) S (%)
(kN/m³) (kN/m³)
Caulim 1 1,20 0,55 11,60 16,36 41,02 89,03
Caulim 2 1,13 0,53 11,98 16,77 40,02 92,12
Caulim 3 1,27 0,56 11,34 16,58 46,17 95,52
Caulim 4 1,22 0,55 11,56 16,62 43,69 93,62
Caulim 5 1,27 0,56 11,33 16,54 45,94 94,89
Caulim 6 1,29 0,56 11,21 16,25 44,97 91,09
Caulim 7 1,22 0,55 11,58 16,71 44,28 95,19
A densidade real dos grãos (Gs) da caulinita, de acordo com Gidigasu (1976), varia
entre 2,60 e 2,68 e, desse modo, o valor encontrado para o caulim está dentro do
esperado.
Areia (%)
Amostra Argila (%) Silte (%) Pedregulho (%)
Fina Média Grossa
Caulim 18 82 0 0 0 0
80
60
40
20
Caulim
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
55
A razão entre o índice de plasticidade e o percentual de argila do caulim, ou seja, a
sua atividade, reflete a influência da fração argila nas propriedades do solo
(MITCHELL E SOGA, 2005). A atividade do caulim foi cerca de 1,2. De acordo com
Mitchell e Soga (2005), a atividade da caulinita é em torno de 0,5, inferior ao
observado no caulim utilizado.
O adensamento no caulim foi realizado com a amostra nas mesmas condições nas
quais o solo era submetido à eletrocinética, ou seja, após sua moldagem na célula e
seu adensamento através do incremento de pequenas tensões verticais, conforme
apresentado na seção 3.5.1. A curva de adensamento do caulim é apresentada na
Figura 4.2.
1,35
e0
1,30
1,25
1,20
Índice de vazios
1,15
1,10
1,05
1,00
0,95
0,90
0,85
1 10 100 1000
Tensão (kPa)
56
as variações do índice de vazios e da tensão efetiva, respectivamente, e ϒw (F.L-3) é o
peso específico da água. Os resultados estão apresentados na Tabela 4.5.
"∆ LMN
= (4.1)
O$ P
= . .ϒ (4.2)
57
4.2. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA
A CTC do caulim determinada pelo ensaio de Azul de Metileno foi de 3,4 cmol/kg.
Segundo van Olphen (1963), a capacidade da troca de cátions da caulinita situa-se
normalmente entre 1 e 10 cmol/kg e, de acordo com Mitchell e Soga (2005), esse
parâmetro varia entre 3 e 15 cmol/kg. Assim, o caulim usado nos experimentos situa-
se na condição de limite inferior da atividade físico-química reportada na literatura.
O ataque sulfúrico foi previamente determinado por Lima (2013), no mesmo caulim
estudado neste trabalho. O resultado é apresentado na Tabela 4.6. A relação
molecular Ki de 2,0, segundo Embrapa (1988), corresponde à constituição da caulinita
pura. A composição teórica da caulinita, expressa em óxidos, é 46,54 % de SiO2 e
39,50 % de Al2O3, de acordo com Grim (1953). Os valores obtidos no ataque sulfúrico
foram inferiores aos apresentados na especificação do caulim fornecida pela Brasil
Minas. É importante ressaltar, no entanto, que os percentuais de SiO2 e Al2O3 obtidos
no ataque sulfúrico referem-se apenas à fração coloidal do solo. A composição
química do caulim utilizado pode ser visualizada no Anexo I.
pH Ataque sulfúrico
Amostra ΔP1 SiO2 Al2O3 Fe2O3 Resíduo
H20 KCl Ki Kr
(%) (%) (%) (%) (%)
Caulim 5,97 5,94 11,43 36,4 32,1 0,39 1,93 1,91 6,83
1
Perda ao fogo
58
e quartzo (Q), confirmando que o solo é predominantemente caulinítico com algumas
impurezas.
50000
Caulim
K
40000
Contagens (u.a.)
30000
20000
10000 Q
Q
K K
M K K
K Q
M K K K K K K
0
10 20 30 40 50 60 70 80
2θ (grau)
Figura 4.3 – DRX do caullim
40
30
20
10
Potencial Zeta (mV)
-10
-20
-30
-40
-50
Caulim
-60
0 2 4 6 8 10 12 14
pH
Figura 4.4 - Potencial Zeta do caulim
59
Tabela 4.7 - Ponto de carga zero do caulim
De acordo com Appel et al. (2003), o ponto de carga zero da caulinita, medido através
da mobilidade eletroacústica, varia entre 3,8 e 4,1, a depender da concentração da
solução eletrolítica utilizada. O ponto de carga zero determinado pelo método de
Uehara (1979) foi muito superior ao obtido com o equipamento Zetasizer Nano ZS e
ao encontrado na literatura.
O segundo ensaio (caulim 2) foi realizado com o novo sistema de aquisição de dados,
as bombas Masterflex, os transdutores de pressão do lado do anodo e do catodo e os
novos pinos de medição de voltagem. Visando a repetição das condições do ensaio no
caulim 1, o procedimento teve duração de 24h e a tensão total foi de 15 V. Observou-
se que o solo trincou no segundo dia de ensaio, próximo ao catodo (Figura 4.5a).
A variação de tensão elétrica nos pinos não é linear, uma vez que, durante o ensaio, a
diferença de potencial entre os pinos 4 e 5 é mais pronunciada quando comparada aos
outros pinos e, por conseguinte, a resistividade elétrica do solo na zona próxima ao
catodo é mais elevada. Alshawabkeh e Acar (1996) constataram que a diminuição da
60
condutividade elétrica do solo próximo ao catodo acarreta no aumento da demanda de
vazão eletro-osmótica (Equação 2.1). Devido à baixa permeabilidade hidráulica do
solo, o fluxo de água ao longo da amostra não é suficiente para atender a essa
demanda e, para compensá-la, ocorre sucção da água no catodo. Como a tensão total
do solo permanece constante, a sua tensão efetiva aumenta.
O desenvolvimento de sucção na região do catodo faz com que o solo tenda a diminuir
de volume apenas nessa região, restringindo a sua variação volumétrica. Como
resposta a essa restrição, surgem esforços de tração, provocando o aparecimento de
trincas (PERON et al., 2009). As trincas próximas ao catodo durante o ensaio
eletrocinético também foram observadas por Schmidt (2004), que atribuiu o fato
também à maior concentração eletrolítica observada nessa região nos seus ensaios e
o efeito sobre a dupla camada. Como a resistividade elétrica do solo é diretamente
proporcional à diferença de potencial elétrico, decidiu-se diminuir a tensão aplicada
para 10 V.
61
condições em que os ensaios com o caulim foram realizados e a faixa de variação dos
parâmetros elétricos monitorados durante a eletrocinética, além da quantidade de fluxo
eletro-osmótico extraído e se o solo trincou ou não durante o ensaio.
Em todos os casos, ke foi decrescente, embora nos ensaios com o caulim 4, caulim 6 e
caulim 7, em que a tensão elétrica aplicada foi 5 V e o ensaio teve duração de 4 dias,
ke tenha se estabilizado após 45h de ensaio em 3,0 x 10-9 m²/V.s. Essas amostras
apresentaram boa repetibilidade quanto à variação dos parâmetros elétricos. Em todos
esses casos, o volume de solução extraída no fim do ensaio foi de cerca de 50 mL, o
gradiente elétrico observado variou entre 2 V/m e 15 V/m e a densidade de corrente
elétrica entre 0,4 A/m² e 0,8 A/m². A resistividade elétrica oscilou entre 4,5 Ω.m e 23,0
Ω.m. No caulim 5, embora o volume extraído também tenha sido aproximadamente 50
mL, observou-se que os parâmetros elétricos oscilaram durante o ensaio.
A temperatura, em todos os ensaios em que ela foi medida, variou pouco e manteve-
se em torno de 20,5 ºC e 24,0 ºC. O controle da temperatura ambiente é necessário
62
pois, como a amostra é pequena, as variações externas desse parâmetro podem
influenciar de forma importante a temperatura interna da amostra, interferindo nas
medições dos ensaios EK (DEOTTI, 2005).
A perda de potencial elétrico no pino 1, após 5 horas de ensaio, foi superior no caulim
1 (em torno de 55 %), em que foram utilizados eletrodos de aço inox nas extremidades
dos tanques. No restante dos ensaios, a perda no pino 1 variou entre 28 % e 38 %. A
despeito do aumento da diferença de potencial elétrico no pino 1, utilizando-se
eletrodos de DSA® instalados juntos ao solo, observa-se na Figura 4.15 à Figura 4.21
que a queda de potencial elétrico até o primeiro pino foi importante. As perdas
medidas possivelmente ocorreram ao longo da haste dos eletrodos de DSA®, que
estavam em contato com a solução dos tanques e não estavam isoladas
eletricamente.
25 60 5
Tensão aplicada: 15 V
50
20 4
40
15 3
i e (V/m)
j (A/m²)
ρ (Ω.m)
30
10 2
20
5 ie (V/m) 1
10
ρ (Ω.m)
j (A/m²)
0 0 0
5 10 15 20
Tempo (h)
Figura 4.6 – Parâmetros elétricos do caulim 1 entre os pinos 1 e 5
25 5
60 Tensão aplicada: 15 V
20 50 4
40
15 3
ρ (Ω.m)
i e (V/m)
j (A/m²)
30
10 2
20
5 1
10 ie (V/m)
ρ (Ω.m)
j (A/m²)
0 0 0
5 10 15 20 25
Tempo (h)
Figura 4.7 - Parâmetros elétricos do caulim 2 entre os pinos 1 e 5
63
90 60 5 25
Tensão aplicada: 10 V
80
50
4 20
70
60 40
Temperatura (ºC)
3 15
ρ (Ω.m)
i e (V/m)
j (A/m²)
50
30
40
2 10
30 20
ie (V/m)
20
1 5
10 ρ (Ω.m)
10 j (A/m²)
Temperatura (ºC)
0 0 0 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (h)
25 20 1,0 25
Tensão aplicada: 5 V
20 0,8 20
15
Temperatura (ºC)
15 0,6 15
ρ (Ω.m)
i e (V/m)
j (A/m²)
10
10 0,4 10
5 ie (V/m)
5 0,2 5
ρ (Ω.m)
j (A/m²)
Temperatura (ºC)
0 0 0,0 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (h)
64
25 20 25
Tensão aplicada: 5 V 1,0
20 20
15 0,8
Temperatura (ºC)
15 15
0,6
ρ (Ω.m)
i e (V/m)
j (A/m²)
10
10 0,4 10
5
ie (V/m)
5 0,2 5
ρ (Ω.m)
j (A/m²)
Temperatura (ºC)
0 0 0,0 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (h)
25 20 1,0 25
Tensão aplicada: 5 V
20 0,8 20
15
Temperatura (ºC)
15 0,6 15
ρ (Ω.m)
ie (V/m)
j (A/m²)
10
10 0,4 10
5
ie (V/m)
5 0,2 5
ρ (Ω.m)
j (A/m²)
Temperatura (ºC)
0 0 0,0 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (h)
65
25 20 1,0 25
Tensão aplicada: 5 V
20 0,8 20
15
Temperatura (ºC)
15 0,6 15
ρ (Ω.m)
i e (V/m)
j (A/m²)
10
10 0,4 10
5
ie (V/m)
5 0,2 5
ρ (Ω.m)
j (A/m²)
Temperatura (ºC)
0 0 0,0 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (h)
Figura 4.12 - Parâmetros elétricos do caulim 7 entre os pinos 1 e 5
2,5e-8
Caulim 1 (15 V)
Caulim 2 (15 V)
2,0e-8
1,5e-8
ke (m²/V.s)
1,0e-8
5,0e-9
0,0
5 10 15 20
Tempo (h)
Figura 4.13 - ke calculado no caulim 1 e caulim 2
2,5e-8
Caulim 3 (10 V)
Caulim 4 (5 V)
Caulim 5 (5 V)
2,0e-8
Caulim 6 (5 V)
Caulim 7 (5 V)
1,5e-8
ke (m²/V.s)
1,0e-8
5,0e-9
0,0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (h)
Figura 4.14 - ke calculado no caulim 3 ao caulim 7
66
Tensão aplicada: 15 V
16
15
14
13
Tensão aplicada: 15 V
16
15
14
ddp nos os pinos 1 a 5 (V)
13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1 25
2 20
Pino 3
15
s 4
5 10
h)
5 e mpo (
T
67
Tensão aplicada: 10 V
11
10
6
Tensão aplicada: 5 V
5
ddp nos pinos 1 a 5 (V)
0
1 90
2 80
70
Pino 3 60
s 50
4 40
5 30
20 )
10 p o (h
Tem
68
6
Tensão aplicada: 5 V
0 1 90
2 80
3 70
60
Pi no 4 50
s 40
5 30
20
10
o (h)
Temp
6
Tensão aplicada: 5 V
5
ddp nos pinos 1 a 5 (V)
0 1 90
2 80
3 70
60
Pino 4 50
s 40
5 30
20
o (h)
10
Temp
69
6
Tensão aplicada: 5 V
01
1
2
Pi 3 80 90
no 70
s 4 60
50
5 40
30
20
10
o (h)
Temp
70
Tabela 4.8 – Resumo das principais condições utilizadas e observações durante a eletrocinética no caulim
71
4.3.1. Resumo
72
4.4. ENSAIOS REALIZADOS APÓS A ELETROCINÉTICA
60 ____ w - caulim 1
0
Umidade pós EK: t = 0 - caulim 1 (15 V)
_ _ _ w - caulim 2
0 Umidade pós EK: t = 0 - caulim 2 (15 V)
50
Duração dos ensaios EK: 1 dia
40
Umidade (%)
30
20
10
0
Próximo ao anodo Meio Próximo ao catodo
Figura 4.22 – Teores de umidade - caulim 1 e caulim 2
73
60
____ w - caulim 3
0 Umidade pós EK (%): t = 0 (10 V)
Umidade pós EK (%): t = 14 dias (10 V)
Duração do ensaio EK: 4 dias
50
40
Umidade (%)
30
20
10
0
Próximo ao anodo Meio Próximo ao catodo
60
____ w - caulim 4
0
Umidade pós EK (%): t = 0 (5 V)
Duração do ensaio EK: 4 dias Umidade pós EK (%): t = 14 dias (5 V)
50
40
Umidade (%)
30
20
10
0
Próximo ao anodo Meio Próximo ao catodo
____ w - caulim 5
0 Umidade pós EK: t = 21 dias - caulim 5 (5 V)
_ _ _ w - caulim 6
60 0 Umidade pós EK: t = 21 dias - caulim 6 (5 V)
....... w - caulim 7
0 Umidade pós EK: t = 60 dias - caulim 7 (5 V)
40
30
20
10
0
Próximo ao anodo Meio Próximo ao catodo
74
A variação do teor de umidade ao longo do solo depende principalmente da condição
de drenagem utilizada no ensaio e, em menor escala, das alterações físico-químicas e
elétricas do solo ao longo do procedimento eletrocinético. Em todos os casos, a
condição de drenagem foi anodo e catodo abertos. Em uma massa de solo
homogênea, seria natural que a umidade ao longo da amostra fosse aproximadamente
igual após o ensaio eletrocinético. No decorrer do ensaio, todavia, gradientes de
voltagem não uniformes se desenvolvem ao longo do solo, gerando assim gradientes
hidráulicos (ESRIG, 1968). A geração de gradientes de voltagem não uniformes
decorre do desenvolvimento de zonas de diferentes condutividades elétricas no solo.
De acordo com as Equações 2.1 e 2.2, a vazão eletro-osmótica é diretamente
proporcional ao gradiente elétrico. Como na região do catodo a resistividade é maior
quando comparada com as imediações do anodo, espera-se que a eletro-osmose no
catodo seja superior do que no anodo, ou seja, que o teor de umidade seja superior na
seção do catodo.
Nos ensaios cuja aplicação do campo elétrico durou 4 dias (caulim 3 a caulim 7), as
variações na umidade foram mais importantes, com exceção do caulim 3, em que a
umidade variou no máximo 2 %. No restante dos ensaios (caulim 1 e caulim 2), com
duração de apenas 1 dia, a umidade não variou mais do que 2,5 % entre as fatias.
75
4.4.2. pH, potencial redox e condutividade elétrica específica
14
pH inicial caulim 1 e caulim 2
pH das fatias: t = 0 - caulim 1 (15 V)
12
pH das fatias: t = 0 - caulim 2 (15 V)
10
8
pH
14
pH inicial caulim 3
pH inicial caulim 4
12
pH das fatias: t = 0 - caulim 3 (10 V)
pH das fatias: t = 0 - caulim 4 (5 V)
10 pH das fatias: t = 14 dias - caulim 3 (10 V)
pH das fatias: t = 14 dias - caulim 4 (5 V)
8
pH
76
14
pH inicial caulim 5
pH inicial caulim 6
12
pH inicial caulim 7
pH das fatias: t = 21 dias - caulim 5 (5 V)
10 pH das fatias: t = 21 dias - caulim 6 (5 V)
pH das fatias: t = 60 dias - caulim 7 (5 V)
8
pH
O pH nas fatias foi ácido na região do anodo e básico na região do catodo, conforme
era de se esperar pelas reações de eletrólise na água que, juntamente com a
capacidade tampão do solo, controlam as alterações de pH no solo. A utilização de
maiores tensões elétricas acarreta em maiores densidades de correntes, aumentando
a eletrólise da água durante o ensaio eletrocinético.
Com relação às amostras destinadas à equalização, os pHs das fatias foram bastante
distintos entre si. Após 14 dias, nenhuma das amostras (caulim 3 e caulim 4)
apresentaram o pH equalizado, como pode ser constatado na Figura 4.27. Observa-se
ainda que o pH da solução extraída próxima ao catodo, no caulim 3, imediatamente
77
após o ensaio, foi aproximadamente 10, enquanto no caulim 4 o pH na mesma
posição foi cerca de 8. Novamente, é interessante notar que a tensão elétrica aplicada
no caulim 3 foi 10 V e no caulim 4 foram utilizados 5 V. Consequentemente, a
densidade de corrente elétrica no caulim 3 foi superior ao observado no caulim 4.
Como o pH do caulim apresentou uma grande variação entre as fatias, decidiu-se que
o tempo adotado de equalização do solo para os ensaios de análise dos parâmetros
geotécnicos seria de 21 dias.
78
corrente elétrica, além de aumentar as variações de pH da solução intersticial do solo,
também ocasiona um aumento nas variações de CEE nas fatias de solo.
CE inicial caulim 3
3000
2000
1000
CE inicial caulim 5 (5 V)
Condutividade elétrica específica (µS/cm)
5000
CE inicial caulim 6 (5 V)
CE inicial caulim 7 (5 V)
CE das fatias: t = 21 dias - caulim 5 (5 V)
4000 CE das fatias: t = 21 dias - caulim 6 (5 V)
CE das fatias: t = 60 dias - caulim 7 (5 V)
3000
2000
1000
79
O potencial redox do caulim 4, após 14 dias, do caulim 5 e do caulim 6, após 21 dias,
e do caulim 7, após 60 dias, foi superior na fatia 1 e inferior na fatia 2, embora os
valores medidos na fatia 2 e na fatia 3 sejam bastante similares. As reações redox
estão intimamente ligadas às variações de pH no solo. De acordo com Sposito (2008),
a formação de redutores normalmente resulta no consumo de prótons e,
consequentemente, no aumento do pH. Dessa forma, espera-se que a diminuição do
Eh esteja relacionada a um aumento do pH no solo e, embora de forma geral esse
comportamento tenha sido observado, no caulim 4 (após 14 dias), no caulim 5, caulim
6 e caulim 7 o aumento do pH na fatia 3 em relação à fatia 2 foi associado a um
aumento do Eh na fatia 3 em relação à fatia do meio.
700
Duração dos ensaios EK: 4 dias
600
500
Potencial Redox (mV)
400
300
200
Eh inicial caulim 3
Eh inicial caulim 4
100
Eh das fatias: t = 0 - caulim 3 (10 V)
Eh das fatias: t = 0 - caulim 4 (5 V)
0 Eh das fatias: t = 14 dias - caulim 3 (10 V)
Eh das fatias: t = 14 dias - caulim 4 (5 V)
-100
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo
Figura 4.31 – Eh - caulim 3 e caulim 4 (equalização)
80
800
Eh inicial caulim 5 (5 V)
Eh inicial caulim 6 (5 V)
Eh inicial caulim 7 (5 V)
600
Eh das fatias: t = 21 dias - caulim 5 (5 V)
Eh das fatias: t = 21 dias - caulim 6 (5 V)
200
81
24
20
wP inicial
18
wP pós EK: t = 0 - caulim 1 (15 V)
wP pós EK: t = 0 - caulim 2 (15 V)
wP pós EK: t = 21 dias - caulim 5 (5 V)
16
wP pós EK: t = 21 dias - caulim 6 (5 V)
44
Umidade no limite de liquidez (%)
42
40
wL inicial
38
wL pós EK: t = 0 - caulim 1 (15 V)
wL pós EK: t = 0 - caulim 2 (15 V)
wL pós EK: t = 21 dias - caulim 5 (5 V)
36
wL pós EK: t = 21 dias - caulim 6 (5 V)
23
22
Umidade (%)
21
20
IP inicial
19 IP pós EK: t = 0 - caulim 1 (15 V)
IP pós EK: t = 0 - caulim 2 (15 V)
IP pós EK: t = 21 dias - caulim 5 (5 V)
IP pós EK: t = 21 dias - caulim 6 (5 V)
18
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
82
Analisando apenas os resultados pós ensaio, porém, é notável que todas as
determinações do limite de liquidez e do índice de plasticidade apresentaram um
padrão decrescente no sentido anodo-catodo, conforme pode ser observado na Figura
4.34 e na Figura 4.35. As maiores variações de limite de liquidez entre as fatias
ocorreram no caulim 2 e no caulim 5, em que a variação do teor de umidade entre e
anodo e o catodo foi superior a 3 %. Nas amostras caulim 1, caulim 5 e caulim 6, o
limite de plasticidade foi maior no anodo e a variação mais importante foi observada no
caulim 5, cujo teor de umidade entre as fatias variou em torno de 2,6 %. No caulim 2 e
no caulim 6 as alterações no limite de plasticidade foram muito discretas.
De acordo com Mitchell e Soga (2005), para que ocorram alterações nos limites de
Atterberg são necessárias mudanças na mineralogia, nas características das
partículas ou da solução intersticial. Assim como ocorreu com o caulim, Bjerrum et al.
(1967), observaram um aumento no limite de liquidez próximo ao anodo em relação ao
valor anterior à aplicação da eletrocinética.
83
4.4.4. Resistência ao cisalhamento dos solos
2,5
Tensão aplicada: 5 V
Duração do ensaio EK: 4 dias
2,0
Torque (N.cm)
1,5
1,0
Pré EK (w = 45,3 %)
0,5
Anodo: t = 21 dias (w = 45,1 %)
Meio t = 21 dias (w = 48,8 %)
Catodo t = 21 dias (w = 50,0 %)
0,0
0 5 10 15 20 25 30 35
Rotação (º)
Figura 4.36 – Ensaio palheta caulim 5
2,5
Tensão aplicada: 5 V
Duração do ensaio EK: 4 dias
2,0
Torque (N.cm)
1,5
1,0
Pré EK (w = 45,3 %)
0,5
Anodo: t = 21 dias (w = 43,2 %)
Meio: t = 21 dias (w = 49,5 %)
Catodo: t = 21 dias (w = 51,4 %)
0,0
0 5 10 15 20 25 30 35
Rotação (º)
Figura 4.37 – Ensaio palheta caulim 6
84
2,5
Tensão aplicada: 5 V
Duração do ensaio EK: 4 dias
2,0
Torque (N.cm)
1,5
1,0
Pré EK (w = 45,3 %)
0,5
Anodo: t = 60 dias (w = 44,7 %)
Meio: t = 60 dias (w = 47,8 %)
Catodo: t = 60 dias (w = 48,8 %)
0,0
0 5 10 15 20 25 30 35
Rotação (º)
Figura 4.38 - Ensaio palheta caulim 7
No caulim 7, cuja resistência não drenada foi obtida 60 dias após o fim do ensaio
eletrocinético, a resistência na posição próxima ao anodo mais que dobrou em relação
à resistência inicial. No meio da amostra, a resistência foi aproximadamente 50 %
superior ao valor inicial e, próximo ao catodo, a resistência foi um pouco abaixo do
valor sem a aplicação da técnica eletrocinética.
Além do aumento da resistência não drenada do solo no anodo, nessa região também
foi observado um aumento da declividade da reta tangente à curva, passando pela
origem, ou seja, um aumento da rigidez do caulim.
85
(w0 = 45,3 %) foi praticamente igual à umidade do caulim 5 na posição anodo (w =
45,1 %) e, no entanto, o aumento de Su foi superior a 95 % na região do anodo. Os
valores de Su estão expostos na Tabela 4.9.
Além das alterações no arranjo dos solos, é importante notar que ambientes ácidos
favorecem a competição de íons H+ e Al3+ (resultante da dissolução do argilomineral
em pH baixo) pelos sítios de adsorção, diminuindo assim a adsorção de cátions em
ambientes ácidos (CARROLL E STARKEY, 1971; ROY et al., 1992). As reações de
sorção no solo, especialmente a substituição dos cátions presentes no complexo
sortivo do solo por íons de alumínio, também podem causar alterações nas
propriedades físicas do argilomineral. Bjerrum (1967) e Casagrande (UNITED STATES
PATENT OFFICE, 1937) mencionam a incorporação de íons de alumínio no
argilomineral como possível causa das alterações nas propriedades geotécnicas do
solo.
86
Tendo em vista que, após 21 dias do término do ensaio eletrocinético (caulim 6) ou 60
dias depois do fim do ensaio (caulim 7) o aumento da resistência não drenada do solo
foi cerca de 100 %, possivelmente o tempo de equalização não exerceu grande
influência nesse parâmetro.
4.4.5. Resumo
• Em geral, os teores de umidade variaram pouco entre as fatias de solo após a
eletrocinética. As variações observadas decorrem possivelmente do
desenvolvimento de zonas de condutividades elétricas diferentes ao longo do
solo. Com exceção do caulim 3, nos ensaios de maior duração (4 dias), as
variações dos teores de umidade foram mais pronunciadas, possivelmente
porque a resistividade elétrica do solo aumenta no decorrer do ensaio. Nessas
amostras, a umidade foi crescente do anodo para o catodo e, como a vazão
eletro-osmótica é proporcional ao gradiente elétrico e na região do catodo a
resistividade é maior quando comparada com as imediações do anodo, espera-
se que a eletro-osmose no catodo seja maior do que no anodo, ou seja, que o
teor de umidade seja superior na seção do catodo.
87
• Aplicando-se a mesma voltagem ao solo, as densidades de corrente elétricas
desenvolvidas nos solos são similares e os resultados apresentaram boa
repetibilidade. Após 14 dias, 21 dias ou 60 dias do término do ensaio
eletrocinético, a amostra ainda não havia equalizado. No entanto, utilizando-se
5 V de tensão elétrica total, as amostras apresentaram pHs nas fatias 1, 2 e 3
próximos de 4, 7 e 8, respectivamente.
88
5. RESULTADOS – AMOSTRAS DE TRIUNFO
É interessante observar na Tabela 5.1 que a densidade real dos grãos (Gs) nas
amostras de Triunfo foi ligeiramente superior ao encontrado no caulim. De acordo com
Gidigasu (1976), devido à presença de óxidos de ferro e de titânio, solos lateríticos
comumente apresentam elevado valor de Gs. A proximidade dos valores de Gs
encontrados no solo de Rondônia com o determinado no caulim sugere a
predominância de caulinita na sua composição. Os parâmetros geotécnicos das
amostras antes dos ensaios eletrocinéticos são apresentados na Tabela 5.2.
wP wL IP
Amostra Gs pH
(%) (%) (%)
101 2,66 17,1 49,9 32,8 6,33
102 2,70 23,6 87,0 63,4 6,16
201 2,70 23,5 64,3 40,8 6,41
202a 21,3 42,8 21,5
2,67 6,60
202b 25,1 59,5 34,4
301 2,70 26,2 83,8 57,5 6,69
ϒd ϒn w0 S
Amostra e0 n
(kN/m³) (kN/m³) (%) (%)
101 0,73 0,42 15,10 18,75 24,2 88,43
102 0,85 0,46 14,30 18,00 25,9 82,00
201 0,73 0,42 15,32 19,45 27,0 99,94
202 0,97 0,49 13,28 18,03 35,8 98,30
301a 0,98 0,49 13,38 18,04 34,8 95,98
301b 0,99 0,50 13,31 17,94 34,6 94,61
Nota-se na Tabela 5.1 que foram efetuados dois ensaios de limite de liquidez e limite
de plasticidade na amostra 202. Isso ocorreu pois constatou-se uma grande
heterogeneidade do solo dentro do amostrador, que pode ser observada na Figura 5.1.
89
É possível notar que tanto os limites de plasticidade quanto os limites de liquidez
nessa amostra, nas duas posições, foram distintos, sendo ambos maiores na amostra
202b.
A Tabela 5.3 apresenta todos os resultados obtidos nos ensaios de granulometria das
amostras de Triunfo e as respectivas curvas granulométricas são apresentadas na
Figura 5.2 à Figura 5.6.
90
Are ia Are ia Are ia
Argila Silte Pe dre gulho
fina m é dia gros s a
100
60
40
80
60
40
20
Amostra 301 com defloculante
Amostra 301 sem defloculante
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
91
Are ia Are ia Are ia
Argila Silte Pe dre gulho
fina m é dia gros s a
100
60
40
20
Amostra 101 com defloculante
Amostra 101 sem defloculante
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
80
60
40
20
Amostra 201 com defloculante
Amostra 201 sem defloculante
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
92
Are ia Are ia Are ia
Argila Silte Pe dre gulho
fina m é dia gros s a
100
60
40
20
Amostra 102 com defloculante
Amostra 102 sem defloculante
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
93
Os valores da atividade das amostras de Triunfo são apresentados na Tabela 5.4 e
foram inferiores à atividade do caulim em todos os casos. A influência do teor de argila
no índice de plasticidade diminui com o aumento da intemperização e da laterização, o
que pode ser explicado pela presença de óxidos nos solos, que diminui a atividade da
superfície dos argilominerais na medida em que "revestem" as partículas e prejudicam
a interação entre as forças de superfície e as moléculas de água (GIDIGASU, 1976).
Amostra Atividade
101 0,5
102 1,0
201 0,7
202a 0,6
202b 0,7
301 0,8
94
deformação total. Nesses casos, é aconselhável a calibração do equipamento para
que essas deformações sejam descontadas.
0,80
e0
0,75
0,70
Índice de vazios
0,65
0,60
0,55
0,50
0,45
Profundidade:
18,61m - 19,22m
0,40
1 10 100 1000
95
0,85
e0
0,80
Índice de vazios
0,75
0,70
0,65
Profundidade:
6,00m - 6,61m
0,60
1 10 100 1000
σ’vm
σ’v σ’v0
mv kh Cv90
Amostra
(kPa)
(kPa) (x10-2 1/kPa) (x10-8 m/s)
(kPa) (x10-8 m²/s)
1,5 0,017 - -
3,125 0,045 - -
6,25 0,042 -1 -1
12,5 0,040 0,404 100,9
25 0,040 0,127 31,4
201 60 125
50 0,039 0,084 21,7
100 0,032 0,271 84,8
200 0,027 0,270 101,1
400 0,019 0,131 70,5
800 0,014 0,158 117,1
1
não foi possível a determinação de t90 para o cálculo de cv90 e kh
96
0,86
e0
0,84
0,82
Índice de vazios
0,80
0,78
0,76
0,74
0,72
Profundidade:
15,00m - 15,61m
0,70
1 10 100 1000
97
0,54
e
0,52 0
0,50
0,48
Índice de vazios
0,46
0,44
0,42
0,40
0,38
Profundidade:
6,41m - 7,02m
0,36
1 10 100 1000
Tensão (kPa)
Figura 5.11 – Curva de adensamento da amostra 101
98
A envoltória de Mohr da amostra 202 é apresentada na Figura 5.12. Com o intuito de
facilitar a visualização da variação da resistência das amostras 101, 102 e 201, os
resultados dos ensaios de cisalhamento direto antes da eletrocinética são expostos na
seção “Ensaios realizados após a eletrocinética”, juntamente com os resultados
obtidos após a técnica.
300
Profundidade:
18,61 m - 19,22 m
250
200
τ (kPa)
150
100
50
τrup pré EK
0
0 100 200 300 400 500 600
σ (kPa)
Figura 5.12 - Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 202
Segundo a Embrapa (2006), a capacidade de troca de cátions dos latossolos deve ser
abaixo de 17 cmolc/kg de argila, descontando a participação do carbono orgânico. Em
todas as amostras analisadas o valor da CTC esteve muito abaixo do estabelecido
pela Embrapa.
99
Tabela 5.9 – Capacidade de troca de cátions das amostras de Triunfo
pH Ataque sulfúrico
Amostra ΔP1 (%) SiO2 Al2O3 Fe2O3 Resíduo
H20 KCl Ki Kr
550 ºC (%) (%) (%) (%)
202 5,96 5,40 7,1 22,3 18,2 9,0 2,08 1,58 45,31
301 6,26 5,51 9,8 33,0 25,9 9,2 2,17 1,76 16,84
201 6,37 5,86 8,3 21,1 21,7 11,6 1,65 1,23 37,98
102 5,43 4,65 9,8 25,1 25,8 10,4 1,66 1,31 30,84
101 5,74 5,58 8,0 20,5 21,3 5,3 1,64 1,41 45,94
1
Perda ao fogo
100
5.2.3. Capacidade tampão
14
12
10
8
pH
4
BRANCO
2 Amostra 202
0
0 50 100 150 200
14
12
10
8
pH
4
BRANCO
2 Amostra 301
0
0 50 100 150 200
+ -
Ácido ou base adicionado (cmol H /kg ou cmol OH /kg)
101
14
12
10
pH 6
4
BRANCO
Amostra 201
2
0
0 50 100 150 200
+ -
Ácido ou base adicionado (cmol H /kg ou cmol OH /kg)
Figura 5.15 - Capacidade tampão da amostra 201
14
12
10
8
pH
4
BRANCO
2 Amostra 102
0
0 50 100 150 200
+ -
Ácido ou base adicionado (cmol H /kg ou cmol OH /kg)
Figura 5.16 - Capacidade tampão da amostra 102
14
12
10
8
pH
4
BRANCO
2 Amostra 101
0
0 50 100 150 200
+ -
Ácido ou base adicionado (cmol H /kg ou cmol OH /kg)
Figura 5.17 - Capacidade tampão da amostra 101
102
5.2.4. Difração de raios X
16000
Amostra natural - 202
Q
14000
12000
Contagens (u.a.)
10000
K
8000
6000 K
Q
4000 Q
K K K
HK
Q KQ Q Q K
2000 KG Q Q K Q
K K
0
10 20 30 40 50 60 70 80
2θ (grau)
Figura 5.18 – DRX da amostra 202
K K H
K
G K K K
K K
10 20 30 40 50 60 70 80
2θ (grau)
Figura 5.19 - DRX da fração fina da amostra 202
103
8000
K Amostra natural - 301
7000
Q
6000
Contagens (u.a.)
5000
4000
KQ
3000
K K
A
K
2000 K K
H Q
Q Q
Q K Q K
G K K QK K
1000
0
10 20 30 40 50 60 70 80
2θ (grau)
K
K H
K K
G K K K K
10 20 30 40 50 60 70 80
2θ (grau)
104
20000
Amostra natural - 201
18000 Q
16000
14000
10000
8000
6000 K
Q
4000 K
K
K K H Q Q Q
Q K
2000 K K Q Q
G Q Q K K Q
0
20 40 60 80
2 θ (grau)
K
K K
K K K
K K
20 40 60 80
2θ (grau)
105
12000
Amostra natural - 102
10000 Q
8000
Contagens (u.a.)
K
6000
K
4000
Q
K
K K
K
2000 H Q K
Q Q K K Q KQ Q
G K K K
0
20 40 60 80
2θ (grau)
Q
K K H
K K
G Q Q K K QK K K K
20 40 60 80
2θ (grau)
106
25000
Amostra natural - 101
Q
20000
10000
K
Q
5000 K
K A Q
Q K Q Q Q K
K Q Q Q K
K K
0
20 40 60 80
2 θ (grau)
K
K K
K K K K K
20 40 60 80
2 θ (grau)
107
desaparecem no difratograma. A saturação do solo com etilenoglicol não evidenciou a
presença de minerais expansivos no solo.
O ponto de carga zero foi determinado nas amostras 101, 102 e 201. A Figura 5.28
apresenta os resultados das análises de Potencial Zeta realizadas no equipamento
Zetasizer Nano ZS.
40
30
20
10
Potencial Zeta (mV)
-10
-20
-30
-40
Amostra 201
-50 Amostra 102
Amostra 101
-60
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
pH
108
Tabela 5.11 - Ponto de carga zero das amostras 201, 102 e 101
Composição Amostra
(%) 202 301 201 102 101
SiO2 61,285 54,21 57,013 55,764 60,996
Al2O3 26,847 31,92 27,518 31,396 29,062
Fe2O3 7,863 9,60 10,70 9,166 4,111
TiO2 2,744 2,95 2,981 2,595 4,351
K2O 0,268 0,37 0,454 0,271 0,243
ZnO 0,119 0,27 0,241 0,112 0,162
ZrO2 0,396 0,20 0,492 0,205 0,620
P2O5 0,161 0,14 0,138 0,149 0,122
SO3 0,122 0,13 0,175 0,224 0,091
Na2O 0,083 0,10 0,125 0,052 0,076
CuO 0,032 0,08 0,129 0,045 0,029
CaO 0,026 0,02 0,020 0,020 0,027
MnO2 0,055 - - - 0,074
Nb2O5 - 0,01 0,013 - 0,020
Y2O3 - - - - 0,014
109
Os resultados das análises de FRX indicaram, em todas as amostras, que o solo de
Triunfo é composto majoritariamente de SiO2, Al2O3, Fe2O3 e TiO2. Assim como nos
resultados obtidos por ataque sulfúrico, a amostra 201 apresentou o maior teor de
óxido de ferro enquanto a amostra 101 exibiu o menor teor.
110
A resistividade elétrica do solo oscilou entre aproximadamente 650 Ω.m e 900 Ω.m
nas amostras 202, 301a, 301b e 201. Nas amostras 102 e 101, esse parâmetro variou
entre cerca de 1100 Ω.m e 1500 Ω.m. No caulim, a resistividade foi muito inferior,
estando compreendida entre 4,5 Ω.m e 90 Ω.m, ou seja, as amostras de Rondônia
apresentam valores de resistividade elétrica que podem superar o caulim em até duas
ordens de grandeza.
A densidade de corrente elétrica gerada durante a eletrocinética foi pelo menos uma
ordem de grandeza inferior no solo de Triunfo quando comparado com o caulim. Nas
amostras 102 e 101, a densidade de corrente manteve-se entre cerca de 40 e 50
mA/m². No restante dos ensaios, esse parâmetro esteve compreendido entre
aproximadamente 50 mA/m² e 80 mA/m². Os resultados de densidade de corrente
obtidos com o caulim oscilaram entre 300 mA/m² e 4700 mA/m². Os baixos valores
desse parâmetro obtidos nas amostras de Rondônia possivelmente decorrem dos
valores consideravelmente maiores de resistividade elétrica quando comparados com
o caulim. Ademais, valores baixos de densidades de corrente geram menos eletrólise
na água, diminuindo a variação de pH na amostra e, consequentemente, as reações
químicas oriundas da geração de um gradiente de pH são menos importantes. Essa
observação corrobora com a variação de tensão elétrica praticamente linear entre os
pinos.
O volume de solução extraído nos ensaios realizados com o solo de Triunfo foi muito
inferior ao dos ensaios no caulim. Nas amostras 202, 301a e 201 o volume eletro-
111
osmótico foi cerca de 5 mL. A amostra 101 foi a que apresentou maior eletro-osmose,
com 25 mL de solução extraída. No ensaio com o solo 102, foi extraído apenas 1 mL
de solução, que foi medido no transdutor de pressão localizado do lado do anodo,
evidenciando a ocorrência de fluxo resultante inverso, ou seja, no sentido catodo-
anodo. Na amostra 301b, não foi registrado nenhum fluxo eletro-osmótico pelos
transdutores de pressão.
De acordo com a Equação 2.11, a eficiência da técnica é tão maior quanto menor for a
condutividade elétrica do solo, ou seja, a eficiência aumenta com o aumento da
resistividade. Embora o solo de Rondônia tenha apresentado resistividade alta, a
eletrocinética não foi eficiente para a extração de solução da massa de solo. Além
disso, vale ressaltar que Schmidt et al. (2007) utilizaram a técnica em um solo salino
com elevada condutividade elétrica e os resultados foram bastante positivos para o
fluxo eletro-osmótico.
112
sentidos, o fluxo resultante no sentido anodo-catodo é diminuído, podendo inclusive se
anular. Quando as cargas nas arestas da partícula são predominantemente positivas,
pode ocorrer fluxo inverso, conforme foi observado no ensaio com a amostra 102. A
ocorrência de fluxo inverso também foi observada por Yang e Lin (1998); Ferreira
(2011) e Velten et al. (2012).
Os resultados das análises do ponto de carga zero indicaram que esse parâmetro
variou entre 5,4 e 5,8 nas amostras 101, 102 e 201. Esses resultados corroboram com
a ocorrência de pouca eletro-osmose nas amostras de Triunfo que, em geral,
apresentaram pH inicial em torno de 6,0, ou seja, próximo ao ponto de carga zero.
Quando a partícula se encontra no ponto de carga zero, a carga líquida da sua
superfície é zero, ou seja, o Potencial Zeta é zero. De acordo com Equação 2.1, o
fluxo eletro-osmótico é proporcional ao Potencial Zeta dos solos e, portanto, quanto
mais próximo o solo se encontra do ponto de carga zero, menor a quantidade de
solução extraída durante a eletrocinética.
1600 60 80
Tensão aplicada: 15 V
1500
50
1400
70
1300
40
1200 j (mA/m²)
ie (V/m)
ρ (Ω.m)
1100 30 60
1000
20
900
50
800
10 ie (V/m)
700 ρ (Ω.m)
j (mA/m²)
600 0 40
10 20 30 40
Tempo (h)
Figura 5.29 – Parâmetros elétricos da amostra 202 entre os pinos 1 e 5
113
1600 60 80
Tensão aplicada: 10 V
1500
50
1400
70
1300
40
1200
j (mA/m²)
i e (V/m)
ρ (Ω.m)
1100 30 60
1000
20
900
50
800
10 ie (V/m)
700 ρ (Ω.m)
j (mA/m²)
600 0 40
10 20 30 40
Tempo (h)
Figura 5.30 - Parâmetros elétricos da amostra 301a
1600 60 80 25
Tensão aplicada: 10 V
1500
50
1400 20
70
1300
40
Temperatura (ºC)
1200 15
j (mA/m²)
ρ (Ω.m)
ie (V/m)
1100 30 60
1000 10
20
900
ie (V/m) 50
800 5
10 ρ (Ω.m)
700 j (mA/m²)
Temperatura (ºC)
600 0 40 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (h)
114
1600 60 80 25
Tensão aplicada: 10 V
1500
50
1400 20
70
1300
40
Temperatura (ºC)
1200 15
j (mA/m²)
ρ (Ω.m)
i e (V/m)
1100 30 60
1000 10
20
900
ie (V/m) 50
800 5
10 ρ (Ω.m)
700 j (mA/m²)
Temperatura (ºC)
600 0 40 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (h)
1600 60 80 25
Tensão aplicada: 10 V
1500
50
1400 20
70
1300
40
Temperatura (ºC)
1200 15
j (mA/m²)
ρ (Ω.m)
i e (V/m)
1100 30 60
1000 10
20
900
ie (V/m) 50
800 5
10 ρ (Ω.m)
700 j (mA/m²)
Temperatura (ºC)
600 0 40 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (h)
115
1600 60 80 25
Tensão aplicada: 10 V
1500
50
1400 20
70
1300
40
Temperatura (ºC)
1200 15
j (mA/m²)
ρ (Ω.m)
i e (V/m)
1100 60
30
1000 10
20
900
50
ie (V/m)
800 5
10 ρ (Ω.m)
700 j (mA/m²)
Temperatura (ºC) 40
600 0 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (h)
4,0e-9
Amostra 202 (15 V)
Amostra 301a (10 V)
Amostra 201 (10 V)
Amostra 101 (10 V)
3,0e-9
ke (m²/V.s)
2,0e-9
1,0e-9
0,0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (h)
Figura 5.35 - ke calculado nas Amostras de Triunfo
116
17 Tensão aplicada: 15 V
16
15
14
13
Tensão aplicada: 10 V
11
10
9
ddp nos pinos 1 a 5 (V)
0 1 45
2 40
35
Pino 3 30
s 4 25
20
5 15
10
5 o (h)
Temp
117
Tensão aplicada: 10 V
11
10
0 1 90
2 80
3 70
60
Pino 4 50
s 40
5 30
20
10
o (h)
Temp
Tensão aplicada: 10 V
11
10
ddp nos pinos 1 a 5 (V)
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1 90
2 80
70
3 60
Pino 4
50
s 40
5 30
20
10 )
p o (h
Tem
118
Tensão aplicada: 10 V
11
10
0 1
2 90
80
Pinos3 60 70
4 50
40
5 30
20
10
o (h)
Temp
Tensão aplicada: 10 V
11
10
9
ddp nos pinos 1 a 5 (V)
0 1 90
2 80
70
Pino 3 50
60
s 4 40
5 30
20
10
o (h)
Temp
119
Tabela 5.13 – Resumo das principais condições utilizadas e observações durante a eletrocinética no solo de Triunfo
120
5.3.1. Resumo
• O solo de Triunfo, embora seja caulinítico, apresentou comportamento durante
a eletrocinética completamente distinto do observado no caulim. O gradiente
elétrico variou pouco durante os ensaios e a corrente elétrica desenvolvida foi
pelo menos uma ordem de grandeza inferior nas amostras de Triunfo. As
pequenas mudanças observadas no gradiente elétrico nas amostras de Triunfo
decorrem da variação praticamente linear das tensões elétricas nos pinos de
voltagem durante o ensaio. O comportamento linear das tensões elétricas pode
ser explicado pela ocorrência de poucas reações eletroquímicas no solo.
• Com exceção da amostra 201, nos ensaios em que foi possível a determinação
de ke, esse parâmetro estabilizou-se em aproximadamente entre 1,0 x 10-10
121
m²/V.s e 4 x 10-10 m²/V.s, uma ordem de grandeza inferior ao coeficiente de
permeabilidade eletro-osmótica do caulim. Os baixos valores de ke são
justificados principalmente pela pouca eletro-osmose durante os ensaios.
Assim como no caulim, nas amostras destinadas à equalização (202 e 301), os teores
de umidade foram determinados imediatamente após o ensaio e logo após o
fatiamento do solo, isto é, na amostra 202 os teores de umidade foram determinados
em t = 0, t = 7 dias e t = 14 dias (Figura 5.42) e nas amostras 301a e 301b em t = 0 e t
= 14 dias (Figura 5.43). Nas amostras 101, 102 e 201, determinou-se a umidade 14
dias após a eletrocinética, conforme apresentado na Figura 5.44.
40
Umidade (%)
35
30
25
20
15
10
0
Próximo ao anodo Meio Próximo ao catodo
Figura 5.42 - Teores de umidade - amostra 202
122
Duração dos ensaio EK: 2 dias (301a) e 4 dias (301b)
55
____ w 0 Umidade pós EK: t = 0 - Amostra 301a (10 V)
50 301a Umidade pós EK: t = 14 dias - Amostra 301a (10V)
45 _ _ _ w0 Umidade pós EK: t = 0 - Amostra 301b (10V)
301b Umidade pós EK: t = 14 dias - Amostra 301b (10V)
40
Umidade (%)
35
30
25
20
15
10
5
0
Próximo ao anodo Meio Próximo ao catodo
Figura 5.43 – Teores de umidade - amostras 301a e 301b
55
Duração dos ensaios EK: 4 dias
50
____ w - 101
0
45 Umidade pós EK: t = 14 dias - Amostra 101 (10 V)
- - - w 0 - 102 Umidade pós EK: t = 14 dias - Amostra 102 (10 V)
40 Umidade pós EK: t = 14 dias - Amostra 201 (10 V)
..... w - 201
0
Umidade (%)
35
30
25
20
15
10
5
0
Próximo ao anodo Meio Próximo ao catodo
123
A diversidade de teores de umidade obtida após os ensaios eletrocinéticos pode ser
atribuída à presença de diferentes texturas e granulometrias observadas nas amostras
de Triunfo. Como as variações das tensões elétricas nos pinos foram
aproximadamente lineares durante o ensaio, possivelmente o desenvolvimento de
zonas de diferentes condutividades elétricas no solo exerceu pouca influência nas
medidas dos teores de umidade das amostras. Ao contrário do observado no caulim,
nos ensaios EK realizados nas amostras de Rondônia a diferença de potencial elétrico
na região do catodo (entre os pinos 4 e 5) não foi superior ao restante do solo e, por
essa razão, as diferenças de umidade nas fatias não podem ser justificadas pelo
aumento da vazão eletro-osmótica no catodo.
Durante o corte longitudinal da amostra 301a, devido à sua rigidez, houve quebra do
solo (Figura 5.49a). Com o auxílio de um filme de PVC, a parte desprendida foi então
124
recolocada na sua posição (Figura 5.49b) e o solo foi armazenado na câmara úmida
durante 14 dias (Figura 5.49c). Após 14 dias, foram realizadas medições do pH do
solo na segunda porção, nas posições anodo, meio e catodo.
9
pH inicial Amostra 202
pH das fatias: t = 0 - Amostra 202 (pH médio) (15 V)
8 pH das fatias: t = 7 dias - Amostra 202 (pH médio) (15 V)
pH das fatias: t = 14 dias - Amostra 202 (15 V)
7
pH
9
pH inicial Amostra 301a
pH das fatias: t = 0 - Amostra 301a (10 V)
8 pH das fatias: t = 14 dias - Amostra 301a (10 V)
7
pH
125
9
pH inicial Amostra 301b
pH das fatias: t = 0 - Amostra 301b (10 V)
pH das fatias: t = 14 dias - Amostra 301b (10 V)
8
pH 6
126
Como havia solo disponível para a realização de mais um ensaio eletrocinético,
decidiu-se repetir o procedimento na amostra 301b. É importante salientar que, a partir
desse ensaio, foram feitas leituras da condutividade elétrica específica e do potencial
redox em cada posição.
Findado o ensaio, a amostra 301b foi extraída do cilindro acrílico sem quebrar. O pH
da porção 1 foi então determinado nas posições “anodo”, “meio” e “catodo” e a porção
2 foi reservada para medição do pH após 14 dias. É notável que, mesmo
imediatamente após o ensaio eletrocinético (t = 0), a semelhança dos pHs nas três
fatias já havia sido constatada. Além disso, diferente do que ocorreu anteriormente na
amostra 301a e similar ao observado na amostra 202, os pHs obtidos nas três fatias
após 14 dias também foram semelhantes entre si, variando entre 6,5 e 7,0, e o solo
estava praticamente equalizado. Portanto, o tempo de equalização de 14 dias adotado
foi maior do que o necessário.
Os resultados de pH obtidos nas amostras 101, 102 e 201 foram semelhantes aos dos
ensaios de equalização nas amostras 202 e 301b. Em todas as amostras de Triunfo,
com exceção da 301a, o pH das fatias imediatamente após o término da eletrocinética
ou após 14 dias esteve compreendido entre 6,4 e 7,3. O pH dos tanques, no entanto,
variou de forma mais pronunciada, de cerca de 3,0, no tanque do anodo, a 9,0, no
tanque do catodo. No caulim, utilizando-se 10 V, o pH das fatias variou entre cerca de
2,0 e 10,0 e, nos tanques, esteve compreendido entre aproximadamente de 2,0 e 13,0.
A condutividade elétrica específica nos tanques nas amostras 301b, 101, 102 e 201 foi
maior no anólito do que no católito. A CEE entre as fatias variou pouco nos ensaios e
a maior alteração foi observada na amostra 301b, cuja CEE oscilou entre cerca de 150
µS/cm no anodo e 73 µS/cm no catodo. Nas amostras 201 e 102 não houve solução
suficiente para a medição da CEE na fatia do catodo. No caulim, as menores
variações de CEE foram observadas nos ensaios em que foram aplicados 5 V (caulim
4, caulim 5, caulim 6 e caulim 7) e os valores de CEE no caulim 6, por exemplo, na
127
fatia do anodo foi cerca de 1600 µS/cm e, no catodo, 1300 µS/cm. As variações da
CEE nas amostras de Triunfo são apresentadas na Figura 5.50 e na Figura 5.51.
É notável que a condutividade elétrica específica das amostras de Triunfo foi muito
inferior se comparada com a condutividade do caulim. Embora a solução utilizada no
caulim tenha sido água deionizada, o caulim é um solo tratado e apresenta em sua
composição diversos elementos químicos que, em solução aquosa, aumentam a
condutividade elétrica da solução intersticial do solo. Além disso, a caulinita presente
no caulim também é parcialmente dissolvida na solução. A condutividade elétrica
específica inicial da solução intersticial do caulim variou entre 1900 µS/cm e 2750
µS/cm e, nas amostras de Rondônia, a CEE inicial esteve compreendida entre 78
µS/cm e 140 µS/cm.
200
CE das fatias: t = 0 - Amostra 301b (10 V)
CE das fatias: t = 14 dias - Amostra 301b (10 V)
150
100
50
200
CE inicial Amostra 102
CE inicial Amostra 201
CE das fatias: t = 14 dias - Amostra 101 (10V)
CE das fatias: t = 14 dias - Amostra 102 (10V)
150 CE das fatias: t = 14 dias - Amostra 201 (10V)
100
50
128
Os resultados de monitoramento da corrente elétrica das amostras de caulim e de
Triunfo confirmam os valores medidos de condutividade, uma vez que a corrente
elétrica desenvolvida no caulim foi cerca de uma ordem de grandeza superior se
comparada com o solo de Triunfo. É de se esperar também que correntes elétricas
menores gerem menos eletrólise da água e, assim como no pH, as variações de CEE
no solo de Triunfo sejam mais discretas quando comparadas com o caulim.
500
Eh inicial Amostra 301b
Eh das fatias: t=0 - Amostra 301b (10 V)
Eh das fatias: t=14 dias - Amostra 301b (10 V)
450
Potencial Redox (mV)
400
350
300
250
129
500
Eh inicial Amostra 101
Eh inicial Amostra 102
Eh inicial Amostra 201
450
Eh das fatias: t = 14 dias - Amostra 101 (10V)
Eh das fatias: t = 14 dias - Amostra 102 (10V)
350
300
250
A determinação dos limites de Atterberg após o ensaio eletrocinético foi realizada nas
amostras 101, 102 e 201.
130
A avaliação das alterações dos limites de Atterberg no solo de Triunfo não é elementar
uma vez que, tendo em vista a heterogeneidade do solo de Rondônia, as modificações
encontradas podem ser atribuídas a alterações na textura do solo e não ao ensaio
eletrocinético.
28
26
24
22
90
Umidade no limite de liquidez (%)
80
70
131
70
60
Umidade (%)
50
O intercepto de coesão da amostra 102 foi superior a 100 kPa e da amostra 202 (vide
Figura 5.12) foi superior a 50 kPa. Tendo em vista que o intercepto de coesão da
amostra 102 foi muito elevado, foram realizados dois ensaios de cisalhamento direto
pré EK utilizando-se tensão normal superior a 450 kPa, confirmando-se o traçado da
envoltória de Mohr. Essas duas amostras encontram-se a grandes profundidades,
acima de 15 m e 18 m, respectivamente.
132
250
Profundidade:
6,00 m - 6,61 m
200
150
τ (kPa)
100
τrup pré EK
50 τrup pós EK catodo
τrup pós EK meio
τrup pós EK anodo
0
0 50 100 150 200 250 300
σ (kPa)
Figura 5.57 - Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 201
250
200
150
τ (kPa)
100
σ= 50 kPa - Pré EK
σ= 150 kPa - Pré EK
σ= 250 kPa - Pré EK
50
σ= 150 kPa - Pós EK: catodo
σ= 150 kPa - Pós EK: meio
σ= 150 kPa - Pós EK: anodo
0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8
0,01
0,00
Deslocamento vertical (cm)
-0,01
-0,02
σ= 50 kPa - Pré EK
σ= 150 kPa - Pré EK
σ= 250 kPa - Pré EK
-0,03 σ= 150 kPa - Pós EK: catodo
σ= 150 kPa - Pós EK: meio
σ= 150 kPa - Pós EK: anodo
-0,04
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8
133
300
Profundidade:
15,00 m - 15,61 m
250
200
τ (kPa)
150
100
τrup pré EK
τrup pós EK catodo
50
τrup pós EK meio
τrup pós EK anodo
0
0 100 200 300 400 500 600
σ (kPa)
Figura 5.60 – Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 102
300
250
200
τ (kPa)
150
0,00
Deslocamento vertical (cm)
-0,01
-0,02
-0,03
σ= 150 kPa - Pré EK
σ= 300 kPa - Pré EK
-0,04 σ= 450 kPa - Pré EK
σ= 450 kPa - Pré EK
σ= 300 kPa - Pós EK: catodo
-0,05
σ= 300 kPa - Pós EK: meio
σ= 300 kPa - Pós EK: anodo
-0,06
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8
134
200
Profundidade:
6,41 m - 7,02 m
150
τ (kPa)
100
σrup pré EK
50
σrup pós EK catodo
σrup pós EK meio
σrup pós EK anodo
0
0 50 100 150 200 250 300
σ (kPa)
Figura 5.63 - Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 101
200
150
τ (kPa)
100
σ= 50 kPa - Pré EK
σ= 150 kPa - Pré EK
50
σ= 250 kPa - Pré EK
σ= 150 kPa - Pós EK: catodo
σ= 150 kPa - Pós EK: meio
σ= 150 kPa - Pós EK: anodo
0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8
0,03
0,02
0,01
Deslocamento vertical (cm)
0,00
-0,01
-0,02
-0,03
σ= 50 kPa - Pré EK
-0,04
σ= 150 kPa - Pré EK
σ= 250 kPa - Pré EK
-0,05
σ= 150 kPa - Pós EK: catodo
-0,06 σ= 150 kPa - Pós EK: meio
σ= 150 kPa - Pós EK: anodo
-0,07
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8
135
De forma geral, quando o solo de Triunfo foi cisalhado com elevadas tensões normais,
os gráficos “Tensão cisalhante versus deformação horizontal” apresentaram picos.
Tratando-se de solos sedimentares idealizados – sem cimentação e sem estrutura –, o
gráfico “Tensão desviadora versus deformação”, em ensaios drenados, não apresenta
pico quando o solo ensaiado trata-se de uma areia fofa ou uma argila normalmente
adensada. O comportamento de uma argila sobreadensada, por sua vez, de forma
geral é semelhante ao de uma areia compacta e o gráfico “Tensão desviadora versus
deformação” apresenta pico. De acordo com Taylor (1948), nas areias compactas, a
perda gradual de resistência após o pico pode ser atribuída à diminuição do
entrosamento ("interlocking"), que ocorre porque a densidade da amostra está
diminuindo. Segundo o autor, as areias compactas normalmente expandem durante a
ruptura e a parcela adicional da tensão cisalhante (τe, conforme Figura 5.66)
necessária para vencer o entrosamento pode ser interpretada como a energia que
está sendo utilizada para expandir o corpo-de-prova.
136
presença de agentes alumino-ferruginosos. Quando o solo é solicitado ou quando são
utilizadas soluções dispersantes, os agregados podem se desfazer. Vaughan (1990),
no estudo de solos residuais que apresentavam estrutura ligada pelas ações do
intemperismo químico (“bonded structure”), observou que a resistência de pico é
independente da dilatância dos solos, indicando que o pico desses solos não ocorre
no ponto de inflexão da curva “Deformação vertical versus deformação horizontal”
(ponto da derivada máxima, Figura 5.66). Segundo o autor, a diminuição da tensão
cisalhante após o pico ocorre porque as ligações estariam sendo destruídas. Da
mesma maneira, os picos presentes nos resultados dos ensaios de cisalhamento
direto e a diminuição do volume das amostras quando cisalhadas, especialmente
quando foram utilizadas elevadas tensões normais, podem ser decorrentes da
destruição dos agregados do solo de Triunfo e da perda de estrutura da amostra.
137
ligeiramente abaixo da envoltória. O gráfico “Deslocamento vertical versus
deslocamento horizontal” da amostra 102 pós EK, na posição meio, apresenta várias
oscilações, que possivelmente ocorreram devido à presença de agregados
encontradas em grande quantidade nessa amostra. Os resultados obtidos na amostra
101 evidenciaram que, próximo ao anodo, a resistência foi ligeiramente superior ao
ensaio realizado com o solo sem o ensaio eletrocinético e, nas posições meio e
próximo ao catodo, a resistência ao cisalhamento do solo foi abaixo do obtido sem o
ensaio EK.
Da mesma forma que observado para as variações dos teores de umidade e dos
limites de Atterberg, os diferentes resultados encontrados após a eletrocinética nos
ensaios de cisalhamento direto podem ser atribuídos à grande heterogeneidade das
amostras e, por essa razão, essas alterações devem ser analisadas com cautela.
5.4.5. Resumo
• As variações dos teores de umidade, após a eletrocinética, possivelmente
decorrem da heterogeneidade do solo. Nas amostras de Triunfo, como as
variações das tensões elétricas nas amostras foram aproximadamente
lineares, acredita-se que as reações eletroquímicas desenvolvidas durante os
ensaios, responsáveis pelo surgimento de zonas de diferentes condutividades
elétricas no solo – logo, pelo aparecimento de diferentes vazões eletro-
osmóticas ao longo do solo –, sejam pouco relevantes.
138
quando comparada à densidade de corrente no solo de Triunfo. O Eh em todas
as medições realizadas foi positivo e a variação do potencial redox nos tanques
foi mais importante do que nas fatias. As pequenas variações do pH, Eh e CEE
podem ser explicadas pela pouca eletrólise gerada durante a eletrocinética,
decorrente das baixas densidades de corrente elétrica desenvolvidas durante
os ensaios.
139
6. CONCLUSÕES
140
Utilizando-se eletrodos de aço inox posicionados nas extremidades dos tanques,
verificou-se que, aplicando uma determinada tensão elétrica no caulim, a diferença de
potencial que efetivamente chega no pino 1 corresponde a cerca de 45 % da tensão
elétrica total. Em contrapartida, em todos os ensaios realizados com a nova
configuração, ou seja, com eletrodos de DSA® posicionados juntos ao solo, a tensão
elétrica medida no pino 1 representa aproximadamente 60 % da tensão total,
excetuando-se no caulim 2, em que as perdas foram ainda menos significativas. As
perdas podem ser atribuídas ao contato das hastes dos eletrodos com a solução dos
tanques, já que estas não estavam isoladas eletricamente.
A resistividade elétrica nas amostras de Rondônia foi muito superior aos valores
medidos no caulim, podendo chegar a até duas ordens de grandeza de diferença. Os
menores valores de resistividade elétrica observados nas amostras de Triunfo
referem-se à amostra 301a, cuja variação desse parâmetro esteve compreendida
entre 600 Ω.m e 640 Ω.m. Na amostra 101, em que foram registrados os maiores
valores de resistividade elétrica, o parâmetro variou de 1126 Ω.m até 1537 Ω.m.
O volume de solução extraído durante os ensaios foi muito discreto e, com exceção da
amostra 101, foi inferior a 5 mL. Nesse último caso, foram registrados 25 mL de
solução extraída. Na amostra 102, verificou-se a ocorrência de fluxo eletro-osmótico
inverso, ou seja, no sentido catodo-anodo e, na amostra 301b, não foi registrado
141
nenhum fluxo eletro-osmótico. Uma possível explicação para o pouco volume de
solução extraído nos ensaios é a ocorrência de fluxo eletro-osmótico inverso.
143
ao catodo. Os limites de plasticidade foram crescentes do anodo para o catodo nas
amostras 102 e 101 e, na amostra 201, foram decrescentes.
144
ainda assim, a variação do pH nas fatias em relação ao observado no caulim 4, caulim
5 e caulim 6 foi muito discreta e o solo não havia equalizado. É interessante notar, no
entanto, que com a utilização de 5 V no ensaio eletrocinético, após 14 dias, 21 dias ou
60 dias o pH da fatia próxima ao anodo foi de aproximadamente 4, no meio o pH foi
em torno de 7 e, próxima ao catodo, o pH foi cerca de 8.
Assim como observado com o pH, as alterações da CEE e do Eh são maiores com o
aumento da densidade de corrente.
145
• Avaliação do complexo sortivo dos solos antes e após a eletrocinética,
utilizando-se eletrodos de DSA®, para verificação das substituições iônicas no
argilomineral, decorrentes da degradação dos eletrodos ou da dissolução do
próprio mineral. As análises do complexo sortivo dos solos após os ensaios EK
possibilitaria o estabelecimento de uma relação mais nítida entre as trocas
iônicas dos solos e as alterações nos seus parâmetros geotécnicos.
146
REFERÊNCIAS
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Journal of Geotechnical Engineering, v. 118, n. 11, pp. 1837-1852, 1992.
147
APPEL, C.; MA, L. Q.; RHUE, R. D.; KENNELLEY, E. “Point of zero charge
determination in soils and minerals via traditional methods and detection of
electroacoustic mobility”. Geoderma, v. 113, pp. 77-93, 2003.
148
BJERRUM, L.; MOUM, J.; EIDE, O. “Application of Electro-Osmosis to a Foundation
Problem in a Norwegian Quick Clay”. Géotechnique, v. 17, issue 3, pp. 214-235, set.
1967.
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155
ANEXO I – ESPECIFICAÇÃO DO CAULIM
1- CARACTERÍSTICAS INFORMATIVAS
1.1 – Composição Básica: Silicato de Alumínio (SiO2 + Al2O3)
Al2O3 34,50 %
K2O 0,55 %
Fe2O3 0,23 %
MgO 0,49 %
Na2O 0,32 %
A análise química é uma média de vários lotes e não é controlada lote a lote, portanto serve
somente como referencial.
2- PROPRIEDADES CONTROLADAS
3 – EMBALAGEM: Sacos de papel kraft de 2 folhas com peso líquido de 25 kg por saco
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