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ANÁLISE DOS PARÂMETROS GEOTÉCNICOS, FÍSICO-QUÍMICOS E ELÉTRICOS

DE DOIS SOLOS CAULINÍTICOS APÓS ENSAIOS ELETROCINÉTICOS

Carla Miranda Fabris

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-graduação em
Engenharia Civil, COPPE, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre em
Engenharia Civil.

Orientadora: Maria Claudia Barbosa

Rio de Janeiro

Abril de 2016
ANÁLISE DOS PARÂMETROS GEOTÉCNICOS, FÍSICO-QUÍMICOS E ELÉTRICOS
DE DOIS SOLOS CAULINÍTICOS APÓS ENSAIOS ELETROCINÉTICOS

Carla Miranda Fabris

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO


LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE)
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM
CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL.

Examinada por:

________________________________________________

Profa Maria Claudia Barbosa, D.Sc.

________________________________________________

Profa Celina Aída Bittencourt Schmidt, D.Sc.

________________________________________________

Profa Maria Esther Soares Marques, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Romero César Gomes, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

ABRIL DE 2016
Fabris, Carla Miranda
Análise dos parâmetros geotécnicos, físico-químicos e
elétricos de dois solos cauliníticos após ensaios
eletrocinéticos/Carla Miranda Fabris. – Rio de Janeiro:
UFRJ/COPPE, 2016.
XX, 156 p.: il.; 29,7 cm.
Orientadora: Maria Claudia Barbosa
Dissertação (mestrado) – UFRJ/COPPE/Programa de
Engenharia Civil, 2016.
Referências Bibliográficas: p. 147-155.
1. Eletrocinética. 2. Solos Tropicais. 3. Parâmetros
geotécnicos. I. Barbosa, Maria Claudia. II. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de
Engenharia Civil. III. Título.

iii
“Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma
aventura, mas experiência, a que me
induziram, alternadamente, séries de
raciocínios e intuições. Tomou-me tempo,
desânimos, esforços. Dela me prezo, sem
vangloriar-me [...]. Tudo, aliás, é a ponta de
um mistério. Inclusive, os fatos. Ou a
ausência deles. Duvida? Quando nada
acontece, há um milagre que não estamos
vendo.”

O Espelho, João Guimarães Rosa

iv
Aos meus pais, Maria
Luiza e Carlos Renato,
pelo apoio incondicional.

v
AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, que não mediram esforços para a concretização de mais um
sonho.

Ao Attila, pelo carinho e pelo companheirismo. Sem você minha jornada seria muito
mais difícil e sem graça. Tive muita sorte em tê-lo ao meu lado durante esse tempo.

À minha orientadora Maria Claudia Barbosa, pela dedicação, pela confiança, pelos
ensinamentos transmitidos e pelo respeito.

Aos meus colegas da COPPE, os “COPPERATIVOS”, em especial à Marcela, ao Zé e


ao Louis, pela amizade e por tornarem meus dias mais coloridos. Espero levá-los
sempre comigo.

À minha companheira de luta, Clarisse, por ter dividido comigo tantos momentos
felizes e de dificuldades no laboratório.

Ao Jonathan, por ter generosamente compartilhado conosco parte do seu


conhecimento de eletrocinética. À aluna de doutorado Camila, que muitas vezes me
ajudou nos experimentos ou simplesmente me deu uma palavra de conforto.

À Karen e à Alessandra, pela dedicação, competência e, sobretudo, pela amizade.

Uma pesquisa experimental envolve a colaboração de várias pessoas. Por isso,


agradeço a todos do Laboratório de Geotecnia da COPPE que de alguma forma
contribuíram para a realização desta pesquisa. Especialmente, sou grata à Maria da
Glória, que tanto se dedicou às análises químicas deste projeto e as fez com muita
competência. Ao Serginho, pelo auxílio nos ensaios de resistência dos solos e
adensamento e pelos muitos momentos de descontração. Agradeço também ao
Carlinhos, pelo apoio na caracterização das amostras, e ao Luizão, por sempre ser tão
prestativo e me surpreender com um gesto de carinho.

Ao restante da equipe do Laboratório: à Alice, à Márcia, à Andreia, à Maiara, ao Cid,


ao Ricardo Gil, ao Mauro e ao Álvaro. Sou muito grata pelo respeito, pela cooperação
e por tornarem minha estadia no Rio muito mais agradável.

Ao CETEM, onde foram realizadas as análises de difração de raios X e de


determinação do ponto de carga zero das amostras, em especial ao geólogo Luiz
Carlos Bertolino, à Débora e à Elaynne.

vi
Aos professores do Programa de Engenharia Civil da COPPE, da área de Geotecnia,
por serem exemplos de dedicação aos alunos e por exercerem a profissão de forma
tão inspiradora.

À CAPES e à FAPERJ, pelo financiamento.

vii
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ANÁLISE DOS PARÂMETROS GEOTÉCNICOS, FÍSICO-QUÍMICOS E ELÉTRICOS


DE DOIS SOLOS CAULINÍTICOS APÓS ENSAIOS ELETROCINÉTICOS

Carla Miranda Fabris

Abril/2016

Orientadora: Maria Claudia Barbosa

Programa: Engenharia Civil

Foram realizados ensaios eletrocinéticos em dois solos caulíniticos: um solo


natural, proveniente de Rondônia, e um solo fabricado com caulim. Os parâmetros
geotécnicos das amostras foram determinados com o solo sem aplicação da técnica e
após a aplicação, na intenção de se verificar os efeitos das reações eletroquímicas,
que ocorrem durante a eletrocinética, nesses parâmetros.

As principais alterações dos parâmetros geotécnicos observadas no caulim


foram, após a eletrocinética, um aumento do limite de liquidez na fatia do anodo em
relação à fatia do catodo e um acréscimo de até 100 % na resistência não drenada do
solo na região próxima ao anodo. O solo de Rondônia apresentou comportamento
muito distinto quando comparado com o caulim e as alterações nos parâmetros
geotécnicos foram pouco pronunciadas, assim como a eletro-osmose nesse solo,
possivelmente devido ao seu elevado ponto de carga zero.

O pH entre as fatias do caulim variou substancialmente. Nas amostras de


Rondônia as variações desse parâmetro foram pouco significativas. A densidade de
corrente elétrica do caulim superou em pelo menos uma ordem de grandeza a
densidade de corrente das amostras de Rondônia, e possivelmente as reações
eletroquímicas no solo de Rondônia foram menos importantes do que as reações no
caulim.

viii
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

ANALYSIS OF THE GEOTECHNICAL, PHYSICOCHEMICAL AND ELECTRICAL


PROPERTIES OF TWO KAOLINITIC SOILS AFTER ELECTROKINETICS

Carla Miranda Fabris

April/2016

Advisor: Maria Claudia Barbosa

Department: Civil Engineering

Electrokinetic experiments were performed on two kaolinitic soils: a natural soil,


from the State of Rondônia, and an industrial kaolin soil fabricated in the laboratory. In
order to analyze the electrochemical effects on the soil properties, geotechnical
parameters of the samples were determined for both soils before and after the
application of the electrokinetic procedure.

The main changes in the geotechnical properties of the industrial kaolin soil
after the electrokinetic procedure were an increase in the liquid limit near the anode
and an increase in the shear strength of about 100 %. The behavior of the Rondônia
soil was not similar to that observed in the kaolin and the changes in the geotechnical
parameters after electrokinetics were not pronounced, as well as the electroosmotic
flow, possibly due to the higher point of zero charge of the natural soil.

Concerning the kaolin, the pH between the sections changed significantly. The
Rondônia soil exhibited small changes in this parameter. The electric current density in
the kaolin was at least one order of magnitude greater than the one observed in the
Rondônia soil, and it is believed that the electrochemical reactions in the Rondônia soil
were less important than those observed in the kaolin.

ix
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 1

1.1. APLICAÇÃO DA ELETRO-OSMOSE .............................................................. 2

1.2. OBJETIVOS ..................................................................................................... 3

1.3. DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS ...................................................................... 4

2. FUNDAMENTOS E ESTADO DA ARTE................................................................ 6

2.1. CARACTERÍSTICAS DOS SOLOS TROPICAIS ............................................. 6

2.1.1. Caulinita .................................................................................................... 7

2.2. PROPRIEDADES ELÉTRICAS DE SISTEMAS ARGILA-ÁGUA ..................... 9

2.2.1. Teoria da Dupla Camada .......................................................................... 9

2.2.2. Potencial Zeta ......................................................................................... 12

2.3. ELETROCINÉTICA ........................................................................................ 13

2.3.1. Eletro-osmose ......................................................................................... 13

2.3.2. Condições de drenagem ......................................................................... 15

2.3.3. Adensamento eletro-osmótico ................................................................ 16

2.3.4. Reações eletroquímicas no solo e seus efeitos ...................................... 18

2.3.5. Eficiência da eletro-osmose .................................................................... 20

2.4. TEMPO DE EQUALIZAÇÃO .......................................................................... 22

2.5. ESTUDOS PRELIMINARES .......................................................................... 23

3. METODOLOGIA ................................................................................................... 27

3.1. SOLOS ESTUDADOS.................................................................................... 27

3.2. PLANO DE ENSAIOS .................................................................................... 30

3.2.1. Determinação do tempo de equalização................................................. 31

3.2.2. Análise dos parâmetros geotécnicos ...................................................... 32

3.2.3. Repartição das amostras de Triunfo, RO................................................ 33

3.3. ENSAIOS REALIZADOS ANTES DA ELETROCINÉTICA ............................ 34

3.3.1. Caulim ..................................................................................................... 34

3.3.2. Amostras de Triunfo, RO ........................................................................ 35

x
3.4. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA ............... 38

3.4.1. Capacidade de troca de cátions e ataque sulfúrico ................................ 38

3.4.2. Capacidade tampão do solo ................................................................... 38

3.4.3. Difração de raios X.................................................................................. 39

3.4.4. Ponto de carga zero ................................................................................ 42

3.4.5. Fluorescência de raios X......................................................................... 43

3.5. MOLDAGEM DO CORPO DE PROVA PARA ENSAIO ELETROCINÉTICO 43

3.5.1. Caulim ..................................................................................................... 43

3.5.2. Amostras de Triunfo, RO ........................................................................ 45

3.6. ENSAIO ELETROCINÉTICO ......................................................................... 47

3.7. ENSAIOS REALIZADOS APÓS A ELETROCINÉTICA ................................. 51

3.7.1. Caulim ..................................................................................................... 51

3.7.2. Amostras de Rondônia............................................................................ 52

4. RESULTADOS – CAULIM ................................................................................... 54

4.1. ENSAIOS REALIZADOS ANTES DA ELETROCINÉTICA ............................ 54

4.1.1. Índices físicos e medida do pH ............................................................... 54

4.1.2. Adensamento unidimensional ................................................................. 56

4.2. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA ............... 58

4.2.1. Capacidade de troca de cátions.............................................................. 58

4.2.2. Ataque sulfúrico ...................................................................................... 58

4.2.3. Difração de raios X.................................................................................. 58

4.2.4. Ponto de carga zero ................................................................................ 59

4.3. ENSAIO ELETROCINÉTICO ......................................................................... 60

4.3.1. Resumo ................................................................................................... 72

4.4. ENSAIOS REALIZADOS APÓS A ELETROCINÉTICA ................................. 73

4.4.1. Teores de umidade ................................................................................. 73

4.4.2. pH, potencial redox e condutividade elétrica específica ......................... 76

4.4.3. Limites de Atterberg ................................................................................ 81

4.4.4. Resistência ao cisalhamento dos solos .................................................. 84

xi
4.4.5. Resumo ................................................................................................... 87

5. RESULTADOS – AMOSTRAS DE TRIUNFO...................................................... 89

5.1. ENSAIOS REALIZADOS ANTES DA ELETROCINÉTICA ............................ 89

5.1.1. Índices físicos e medida do pH ............................................................... 89

5.1.2. Resistência ao cisalhamento e adensamento unidimensional ................ 94

5.2. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA ............... 99

5.2.1. Capacidade de troca de cátions (CTC) ................................................... 99

5.2.2. Ataque sulfúrico .................................................................................... 100

5.2.3. Capacidade tampão .............................................................................. 101

5.2.4. Difração de raios X................................................................................ 103

5.2.5. Ponto de carga zero .............................................................................. 108

5.2.6. Fluorescência de raios X....................................................................... 109

5.3. ENSAIO ELETROCINÉTICO ....................................................................... 110

5.3.1. Resumo ................................................................................................. 121

5.4. ENSAIOS REALIZADOS APÓS A ELETROCINÉTICA ............................... 122

5.4.1. Teores de umidade ............................................................................... 122

5.4.2. pH, potencial redox e condutividade elétrica específica ....................... 124

5.4.3. Limites de Atterberg .............................................................................. 130

5.4.4. Ensaios de resistência ao cisalhamento dos solos ............................... 132

5.4.5. Resumo ................................................................................................. 138

6. CONCLUSÕES................................................................................................... 140

6.1. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA ............. 140

6.2. VARIAÇÃO DOS PARÂMETROS ELÉTRICOS DOS SOLOS .................... 140

6.3. ALTERAÇÕES DAS PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS DOS SOLOS APÓS


ENSAIOS ELETROCINÉTICOS ............................................................................. 142

6.4. TEMPO DE EQUALIZAÇÃO ........................................................................ 144

6.5. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ............................................ 145

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 147

ANEXO I – ESPECIFICAÇÃO DO CAULIM .............................................................. 156

xii
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Esquema de representação da caulinita ................................................... 7


Figura 2.2 – Distribuição de cargas da caulinita ............................................................ 8
Figura 2.3 – Fluxo eletro-osmótico em tubos capilares ............................................... 10
Figura 2.4 – Representação da dupla camada difusa ................................................. 11
Figura 2.5 – Representação do Potencial Zeta ........................................................... 12
Figura 2.6 – Condições de drenagem e o desenvolvimento de poropressões ............ 16
Figura 3.1 – Aspecto das amostras 201 (a) e amostra imediatamente acima (b) ....... 28
Figura 3.2 - Perfis de sondagem da região de Triunfo/RO, nos trechos de interesse
para a pesquisa ............................................................................................................ 29
Figura 3.3 – Sequência de extração, fatiamento e armazenamento da amostra 301b 32
Figura 3.4 – Esquema de fatiamento do solo para ensaios de equalização ............... 32
Figura 3.5 – Divisão das amostras para determinação do tempo de equalização ...... 33
Figura 3.6 - Divisão dos amostradores - avaliação dos parâmetros geotécnicos ....... 34
Figura 3.7 – Pistão utilizado para extração do líquido intersticial do solo ................... 34
Figura 3.8 – Cravação do molde, extrusão e acabamento (amostra 102) ................... 36
Figura 3.9 – Sequência de realização da capacidade tampão da amostra 301 .......... 39
Figura 3.10 – Lâminas preparadas para análises de DRX .......................................... 39
Figura 3.11 – Preparação da fração argila .................................................................. 40
Figura 3.12 – Agitação da amostra 202 ....................................................................... 41
Figura 3.13 – Amostras 301 e 101 após agitação ....................................................... 41
Figura 3.14 – Colocação da amostra na centrífuga ..................................................... 42
Figura 3.15 – Preparação do caulim para adensamento ............................................. 44
Figura 3.16 – Adensamento do caulim ........................................................................ 45
Figura 3.17 – Disco e anel biselado usados para extrusão do solo ............................ 45
Figura 3.18 – Amostra envolvida por abraçadeiras e segmento metálico ................... 46
Figura 3.19 – Extrusão da amostra 202....................................................................... 46
Figura 3.20 – Célula montada com amostra 202 ......................................................... 47
Figura 3.21 – Medidas da célula eletrocinética............................................................ 47
Figura 3.22 – Posição dos eletrodos ........................................................................... 47
Figura 3.23 – Esquema do equipamento eletrocinético............................................... 48
Figura 3.24 – Equipamento eletrocinético em funcionamento com amostra caulim 2 . 49
Figura 3.25 – Alterações dos ensaios eletrocinéticos.................................................. 50
Figura 3.26 – Ensaio palheta sendo realizado no caulim ............................................ 52
Figura 4.1 - Curva granulométrica do caulim ............................................................... 55

xiii
Figura 4.2 – Relação índice de vazios e tensão - caulim ............................................ 56
Figura 4.3 – DRX do caullim ........................................................................................ 59
Figura 4.4 - Potencial Zeta do caulim .......................................................................... 59
Figura 4.5 – Trincas no solo durante o ensaio eletrocinético ...................................... 61
Figura 4.6 – Parâmetros elétricos do caulim 1 entre os pinos 1 e 5 ............................ 63
Figura 4.7 - Parâmetros elétricos do caulim 2 entre os pinos 1 e 5............................. 63
Figura 4.8 - Parâmetros elétricos do caulim 3 entre os pinos 1 e 5............................. 64
Figura 4.9 - Parâmetros elétricos do caulim 4 entre os pinos 1 e 5............................. 64
Figura 4.10 - Parâmetros elétricos do caulim 5 entre os pinos 1 e 5 ........................... 65
Figura 4.11- Parâmetros elétricos do caulim 6 entre os pinos 1 e 5............................ 65
Figura 4.12 - Parâmetros elétricos do caulim 7 entre os pinos 1 e 5 ........................... 66
Figura 4.13 - ke calculado no caulim 1 e caulim 2........................................................ 66
Figura 4.14 - ke calculado no caulim 3 ao caulim 7...................................................... 66
Figura 4.15 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 1 ............................................. 67
Figura 4.16 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 2 ............................................. 67
Figura 4.17 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 3 ............................................. 68
Figura 4.18 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 4 ............................................. 68
Figura 4.19 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 5 ............................................. 69
Figura 4.20 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 6 ............................................. 69
Figura 4.21 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 7 ............................................. 70
Figura 4.22 – Teores de umidade - caulim 1 e caulim 2 .............................................. 73
Figura 4.23 - Teores de umidade - caulim 3 ................................................................ 74
Figura 4.24 - Teores de umidade - caulim 4 ................................................................ 74
Figura 4.25 - Teores de umidade - caulim 5, caulim 6 e caulim 7 ............................... 74
Figura 4.26 – Variação do pH - caulim 1 e caulim 2 .................................................... 76
Figura 4.27 - Variação do pH - caulim 3 e caulim 4 (equalização) .............................. 76
Figura 4.28 - Variação do pH - caulim 5, caulim 6 e caulim 7 ..................................... 77
Figura 4.29 – CEE - caulim 3 e caulim 4 (equalização) ............................................... 79
Figura 4.30 – CEE - caulim 5, caulim 6 e caulim 7 ...................................................... 79
Figura 4.31 – Eh - caulim 3 e caulim 4 (equalização) .................................................. 80
Figura 4.32 – Eh - caulim 5, caulim 6 e caulim 7 ......................................................... 81
Figura 4.33 – Limites de plasticidade - caulim ............................................................. 82
Figura 4.34 – Limites de liquidez - caulim.................................................................... 82
Figura 4.35 – Índice de plasticidade - caulim............................................................... 82
Figura 4.36 – Ensaio palheta caulim 5......................................................................... 84
Figura 4.37 – Ensaio palheta caulim 6......................................................................... 84
Figura 4.38 - Ensaio palheta caulim 7 ......................................................................... 85

xiv
Figura 5.1 – Diferentes camadas na amostra 202 ....................................................... 90
Figura 5.2 - Curva granulométrica da amostra 202 ..................................................... 91
Figura 5.3 - Curva granulométrica da amostra 301 ..................................................... 91
Figura 5.4 - Curva granulométrica da amostra 101 ..................................................... 92
Figura 5.5 - Curva granulométrica da amostra 201 ..................................................... 92
Figura 5.6 - Curva granulométrica da amostra 102 ..................................................... 93
Figura 5.7 – Floculação da amostra 102 ..................................................................... 93
Figura 5.8 - Curva de adensamento da amostra 202 .................................................. 95
Figura 5.9 - Curva de adensamento da amostra 201 .................................................. 96
Figura 5.10 – Curva de adensamento da amostra 102 ............................................... 97
Figura 5.11 – Curva de adensamento da amostra 101 ............................................... 98
Figura 5.12 - Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 202 ..................... 99
Figura 5.13 - Capacidade tampão da amostra 202 ................................................... 101
Figura 5.14 - Capacidade tampão da amostra 301 ................................................... 101
Figura 5.15 - Capacidade tampão da amostra 201 ................................................... 102
Figura 5.16 - Capacidade tampão da amostra 102 ................................................... 102
Figura 5.17 - Capacidade tampão da amostra 101 ................................................... 102
Figura 5.18 – DRX da amostra 202 ........................................................................... 103
Figura 5.19 - DRX dos argilominerais da amostra 202 .............................................. 103
Figura 5.20 - DRX da amostra 301 ............................................................................ 104
Figura 5.21 – DRX dos argilominerais da amostra 301 ............................................. 104
Figura 5.22 - DRX da amostra 201 ............................................................................ 105
Figura 5.23 - DRX dos argilominerais da amostra 201 .............................................. 105
Figura 5.24 - DRX da amostra 102 ............................................................................ 106
Figura 5.25 - DRX dos argilominerais da amostra 102 .............................................. 106
Figura 5.26 - DRX da amostra 101 ............................................................................ 107
Figura 5.27 - DRX dos argilominerais da amostra 101 .............................................. 107
Figura 5.28 – Potencial Zeta das amostras 201, 102 e 101 ...................................... 108
Figura 5.29 – Parâmetros elétricos da amostra 202 entre os pinos 1 e 5 ................. 113
Figura 5.30 - Parâmetros elétricos da amostra 301a................................................. 114
Figura 5.31 - Parâmetros elétricos da amostra 301b................................................. 114
Figura 5.32 - Parâmetros elétricos da amostra 201................................................... 115
Figura 5.33 - Parâmetros elétricos da amostra 102................................................... 115
Figura 5.34 - Parâmetros elétricos da amostra 101................................................... 116
Figura 5.35 - ke calculado nas Amostras de Triunfo .................................................. 116
Figura 5.36 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 – Amostra 202 ................................... 117
Figura 5.37 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 301a .................................. 117

xv
Figura 5.38 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 301b .................................. 118
Figura 5.39 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 201 .................................... 118
Figura 5.40 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 102 .................................... 119
Figura 5.41 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 101 .................................... 119
Figura 5.42 - Teores de umidade - amostra 202 ....................................................... 122
Figura 5.43 – Teores de umidade - amostras 301a e 301b ....................................... 123
Figura 5.44 – Teores de umidade - amostras 101, 102 e 201 ................................... 123
Figura 5.45 - Variação do pH - amostra 202.............................................................. 125
Figura 5.46 - Variação do pH - amostra 301a............................................................ 125
Figura 5.47 - Variação do pH - amostra 301b............................................................ 126
Figura 5.48 – Variação do pH - amostras 101, 102 e 201 ......................................... 126
Figura 5.49 – Quebra da amostra 301a e seu armazenamento ................................ 126
Figura 5.50 - CEE - amostra 301b ............................................................................. 128
Figura 5.51 – CEE - amostras 101, 102 e 201 .......................................................... 128
Figura 5.52 - Eh - amostra 301b ................................................................................ 129
Figura 5.53 – Eh - amostras 101, 102 e 201 ............................................................. 130
Figura 5.54 - Limites de plasticidade - amostras 101, 102 e 201 .............................. 131
Figura 5.55 - Limites de liquidez - amostras 101, 102 e 201 ..................................... 131
Figura 5.56 – Índice de plasticidade – amostras 101, 102 e 201 .............................. 132
Figura 5.57 - Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 201 ................... 133
Figura 5.58 - Tensão cisalhante x deslocamento horizontal da amostra 201............ 133
Figura 5.59 - Deslocamento vertical x deslocamento horizontal – amostra 201 ....... 133
Figura 5.60 – Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 102................... 134
Figura 5.61 – Tensão cisalhante x deslocamento horizontal da amostra 102 ........... 134
Figura 5.62 – Deslocamento vertical x deslocamento horizontal – amostra 102 ....... 134
Figura 5.63 - Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 101 ................... 135
Figura 5.64 - Tensão cisalhante x deslocamento horizontal da amostra 101............ 135
Figura 5.65 – Deslocamento vertical x deslocamento horizontal - amostra 101 ....... 135
Figura 5.66 – Tensão de pico durante cisalhamento ................................................. 137

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 – Publicações pertinentes sobre o tema .................................................... 25


Tabela 3.1 – Amostras disponíveis do solo de Triunfo/RO .......................................... 28
Tabela 3.2 – Plano de ensaios do caulim .................................................................... 30
Tabela 3.3 – Plano de ensaios das amostras de Triunfo ............................................. 31
Tabela 3.4 – Tensões normais aplicadas nos ensaios de cisalhamento direto ........... 37

xvi
Tabela 3.5 – Análise química da água deionizada....................................................... 50
Tabela 3.6 – Análise química da solução utilizada nas amostras de Triunfo ............... 50
Tabela 3.7 – Tensão aplicada, tempo de duração e objetivo dos ensaios EK............. 51
Tabela 4.1 – Parâmetros geotécnicos e pH do caulim................................................. 54
Tabela 4.2 – Parâmetros geotécnicos do caulim 3, 4, 5, 6 e 7 - antes do adensamento
...................................................................................................................................... 54
Tabela 4.3 - Parâmetros geotécnicos do caulim – pré EK e após o adensamento ..... 55
Tabela 4.4 - Composição granulométrica - caulim (NBR ABNT 6502:1995) ............... 55
Tabela 4.5 – Valores de σ’vm e cv para o caulim ........................................................... 57
Tabela 4.6 - Ataque sulfúrico do caulim ....................................................................... 58
Tabela 4.7 - Ponto de carga zero do caulim ................................................................ 60
Tabela 4.8 – Resumo das principais condições utilizadas e observações durante a
eletrocinética no caulim ................................................................................................ 71
Tabela 4.9 – Resistência ao cisalhamento não drenada do caulim – pré e pós EK .... 86
Tabela 5.1 – Parâmetros geotécnicos e pH do solo de Triunfo ................................... 89
Tabela 5.2 – Parâmetros geotécnicos do solo de Triunfo antes dos ensaios EK ........ 89
Tabela 5.3 – Composição granulométrica - amostras de Triunfo (NBR ABNT
6502:1995).................................................................................................................... 90
Tabela 5.4 – Atividade das amostras de Triunfo .......................................................... 94
Tabela 5.5 - Valores de σ’vm e cv para a amostra 202 .................................................. 95
Tabela 5.6 - Valores de σ’vm e cv para a amostra 201 .................................................. 96
Tabela 5.7 - Valores de σ’vm e cv para a amostra 102 .................................................. 97
Tabela 5.8 - Valores de σ’vm e cv para a amostra 101 .................................................. 98
Tabela 5.9 – Capacidade de troca de cátions das amostras de Triunfo .................... 100
Tabela 5.10 – Ataque sulfúrico nas amostras de Triunfo ........................................... 100
Tabela 5.11 - Ponto de carga zero das amostras 201, 102 e 101 ............................. 109
Tabela 5.12 – Fluorescência de raios X do solo de Triunfo ....................................... 109
Tabela 5.13 – Resumo das principais condições utilizadas e observações durante a
eletrocinética no solo de Triunfo ................................................................................. 120

xvii
LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS

A Área da seção transversal, Ampère


ABNT Associação Brasileira de Normas
Técnicas
CEE Condutividade elétrica específica
CETEM Centro de Tecnologia Mineral
COPPE Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-
Graduação e Pesquisa de Engenharia
COPPETEC Coordenação de Projetos, Pesquisas e
Estudos Tecnológicos
CTC Capacidade de Troca de Cátions
cv Coeficiente de adensamento
D Constante dielétrica do fluido, Diâmetro
da palheta
df Deslocamento horizontal na ruptura
DRX Difração de raios X
E Potencial elétrico
e Índice de vazios
e0 Índice de vazios inicial
EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético
Eh Potencial Redox
EK Eletrocinética
Gs Densidade real dos grãos
I Corrente elétrica
ie Gradiente elétrico
IP Índice de Plasticidade
j Densidade de corrente
ke Coeficiente de permeabilidade eletro-
osmótica
kh Coeficiente de permeabilidade hidráulica
ki Eficiência da eletro-osmose
Ki Relação molecular SiO2/Al2O3
L Comprimento, Dimensão de espaço
mv Coeficiente de variação volumétrica do
solo
n Porosidade
NA Nível d’água

xviii
NBR Norma Brasileira
NSPT Índice de Resistência à Penetração
pH Potencial hidrogeniônico
pH0 Ponto de carga zero
pHH2O pH do solo em água
pHKCl pH do solo em KCl
Qe Vazão eletro-osmótica
R Resistência elétrica
S Grau de saturação, Siemens
Su Resistência não drenada
t Tempo
T Torque, Dimensão de tempo
t50 Tempo em que ocorre 50% do
adensamento primário
tf Tempo até a ruptura
Tv Fator tempo
u Poropressão
v Velocidade
V Volt
Valor S Soma de cátions trocáveis
Valor T Capacidade de troca de cátions
W Watt
w0 Teor de umidade inicial
wL Limite de liquidez
wP Limite de plasticidade
γd Peso específico aparente seco
γn Peso específico natural
γnadot Peso específico natural adotado
γncalc Peso específico natural calculado
γsat Peso específico saturado
γw Peso específico da água
ΔP Perda ao fogo
ε Energia por unidade de volume
ζ Potencial Zeta
η Viscosidade do fluido
ρ Resistividade elétrica
σ Tensão normal e condutividade elétrica
específica do solo

xix
σ’v Tensão vertical efetiva
σ’v0 Tensão efetiva de campo
σ’vm Tensão de sobreadensamento
τ Tensão cisalhante

τrup Tensão cisalhante na ruptura


Ω Ohm

xx
1. INTRODUÇÃO

O adensamento de solos finos através da aplicação de uma diferença de potencial


elétrico na massa de solo, denominado adensamento eletro-osmótico, embora seja
objeto de estudos desde a década de 1930, ainda é um tema que merece ser
investigado. Não obstante sejam relativamente bem compreendidas, as reações
eletroquímicas desenvolvidas durante a eletrocinética contribuem para a complexidade
do procedimento, cuja previsibilidade exige conhecimentos que fogem da engenharia
geotécnica clássica. Somado a esses fatores, em alguns casos a técnica requer
gastos energéticos significativos, o que pode inviabilizar a utilização da eletrocinética
para fins de adensamento do solo.

Por essas razões, desde a primeira utilização do adensamento eletro-osmótico por


Casagrande, em 1939 (CASAGRANDE, 1952), a aplicação da eletrocinética para fins
de drenagem em solos em geral não é a alternativa optada de imediato, sendo
normalmente utilizada após a impossibilidade de aplicação de outras técnicas, como
nos casos reportados por Dearstyne e Newman (1963), Bjerrum et al. (1967), Fetzer
(1967) e Chappell e Burton (1975).

Além da eletro-osmose, outros fenômenos eletrocinéticos são desenvolvidos quando


uma corrente elétrica é aplicada a uma massa úmida de solo, tais como a eletroforese,
o potencial de corrente e o potencial de sedimentação. Durante a eletrocinética, além
do transporte de água pode-se observar reações de eletrólise, oxidação e redução,
desenvolvimento de gradiente de pH, difusão iônica, troca iônica, secagem pela
geração de calor, decomposição dos minerais, precipitação, hidrólise, adsorção
química e física e mudanças na microestrutura. Todos esses processos são
responsáveis por mudanças nas propriedades do solo (MITCHELL E SOGA, 2005).

Com a evolução da técnica eletrocinética ao longo dos anos e a melhor compreensão


dos processos gerados durante a sua aplicação, algumas reações químicas que
ocorrem nos solos e são potencializadas durante o procedimento eletrocinético – e.g.,
precipitação iônica, dissolução e alterações no complexo sortivo solo – começaram a
ser exploradas tendo em vista a melhoria das propriedades físicas do solo, no
denominado tratamento eletroquímico. Atualmente, além do tratamento eletroquímico,
grande parte da aplicação da eletrocinética é voltada à remediação do solo.

1
1.1. APLICAÇÃO DA ELETRO-OSMOSE

A eletro-osmose para o adensamento de solos foi utilizada pela primeira vez em 1939,
em Salzgitter, na Alemanha, e foi conduzida por Leo Casagrande (CASAGRANDE,
1952). Durante a escavação para a construção de uma ferrovia e após a ocorrência de
deslizamentos, os trabalhos foram interrompidos e algumas ações emergenciais
tiveram que ser tomadas. Após a verificação da impossibilidade de utilização de
ponteiras filtrantes, decidiu-se pelo emprego da técnica eletrocinética. O procedimento,
que durou algumas semanas, foi bem-sucedido e as obras puderam ser finalizadas.

Após a utilização pioneira e com sucesso da eletrocinética, a técnica foi aplicada em


outras ocasiões, como em uma escavação de uma argila sensível para a construção
de um abrigo submarino na Noruega, durante a Segunda Guerra Mundial. Casagrande
(1952) enfatiza que, para que a técnica seja econômica e eficiente, o gradiente elétrico
deve ser no máximo 0,5 V/cm. Segundo o autor, os anodos utilizados podem ser
peças metálicas, como trilhos usados e, para a saída de água no catodo, pode-se
utilizar tubos perfurados ou ponteiras filtrantes.

O vislumbramento da eletrocinética para além dos seus efeitos de adensamento


eletro-osmótico ganhou notoriedade quando, em 1937, Casagrande patenteou a
utilização de eletrodos de alumínio para o que ele denominou de eletroendurecimento
do solo. A técnica foi utilizada para a estabilização de um talude no norte da Itália.

Em 1961, foi registrada a aplicação da eletrocinética tendo em vista o tratamento


eletroquímico do solo combinado com a eletro-osmose (BALLY E ANTONESCU,
1961). O procedimento, denominado “eletrosilicatização”, foi realizado em uma areia
movediça siltosa na Romênia, com aplicação simultânea de uma corrente elétrica e
injeção de soluções de silicato de sódio e cloreto de cálcio nos anodos. Após o
tratamento, que permitiu o adensamento do solo e a circulação das soluções, o estado
de areia movediça foi contornado e as partículas de solo foram endurecidas através da
formação de silicato de cálcio, “revestindo” as partículas e aumentando a resistência
do solo.

Pode-se citar também Dearstyne e Newman (1963) que, na década de 1960,


utilizaram um tratamento eletroquímico, com introdução de soluções para
impermeabilização do solo do Aeroporto de Seattle-Tacoma, nos Estados Unidos,
evitando a percolação de água nas trincas das pistas do aeroporto, sem interferência
no tráfego aéreo.

Outra aplicação importante da eletro-osmose no adensamento do solo ocorreu no ano


de 1964, quando Bjerrum e sua equipe fizerem uso da eletro-osmose para a

2
estabilização de uma escavação em uma argila sensível, tendo em vista a construção
de uma estação de tratamento de esgoto, na cidade de As, na Noruega (BJERRUM et
al., 1967). Os eletrodos eram barras de 19 mm de diâmetro e 10 m de comprimento e
o procedimento durou 120 dias.

De acordo com Bjerrum et al. (1967), nas proximidades dos anodos o teor de umidade
diminuiu 7% e a resistência ao cisalhamento do solo aumentou mais de 1000 % e,
próximo aos catodos, não houve aumento de resistência. A sensibilidade da argila
diminuiu drasticamente. Após o tratamento, o limite de liquidez aumentou
aproximadamente 30% próximo aos anodos e permaneceu inalterado próximo aos
catodos. O limite de plasticidade não mudou de forma significativa. A mudança nos
limites de Atterberg foi atribuída à variação do pH do solo, que ocasionou uma
alteração no seu complexo sortivo, em especial a incorporação de íons de alumínio no
argilomineral. Em contrapartida, Gray e Schlocker (1969) observaram uma diminuição
do limite de liquidez de uma bentonita quando submetida à eletrocinética com
introdução de íons de alumínio, especialmente próximo ao anodo.

Além das aplicações mencionadas, pode-se citar: Fetzer (1967), que reportou a
utilização da eletrocinética para a estabilização de uma barragem de terra em Ohio,
nos Estados Unidos; Chappell e Burton (1975), na estabilização de um aterro em
Singapura; Lo e Ho (1991), no adensamento de uma argila sensível no Canadá. Mais
recentemente, alguns exemplos de utilização da eletrocinética no tratamento
eletroquímico do solo, com utilização de silicato de sódio e cloreto de cálcio, podem
ser destacados, como os casos reportados por Barker et al. (2004), no tratamento de
uma argila siltosa no País de Gales, e Chien et al. (2014), que aplicaram a
eletrocinética em um solo fino de Taiwan.

1.2. OBJETIVOS

O principal objetivo da pesquisa foi o estudo dos parâmetros geotécnicos de um solo


fabricado e de um solo natural tropical após a aplicação da técnica eletrocinética.
Paralelamente, foram feitas investigações concernindo a evolução do pH após o
ensaio, almejando-se a determinação do “tempo de equalização” do solo, definido
como o período necessário para que o solo recuperasse a condição de equilíbrio
físico-químico após o fim da eletrocinética.

A evolução dos parâmetros elétricos dos solos, monitorados durante os ensaios


eletrocinéticos, e a relação desses parâmetros com as propriedades físico-químicas
dos solos – tais como o ponto de carga zero, a capacidade tampão e a capacidade de

3
troca de cátions – também foram abordadas. Os mecanismos intervenientes na
quantidade de fluxo eletro-osmótico extraído durante os ensaios eletrocinéticos foram
aprofundados, tendo em vista que ambos os solos, embora cauliníticos, apresentaram
comportamentos distintos quando da utilização da técnica.

As amostras de solo tropical são altamente intemperizadas e apresentam óxido de


ferro e alumínio na sua composição. Além de serem muito heterogêneas, as amostras
possuem agregados formados por partículas de argila ligadas entre si por agentes
alumino-ferruginosos. Dessa forma, este trabalho também objetivou a caracterização e
o estudo do comportamento mecânico de solos tropicais, através da realização de
diversos ensaios, como de granulometria, difração de raios X, resistência ao
cisalhamento e limites de Atterberg.

Finalmente, como objetivo secundário, tem-se a adaptação do aparato eletrocinético


concebido por Schmidt (2004), através da substituição dos eletrodos de aço inox e
grafite por eletrodos de DSA® e da alteração da localização dos eletrodos para um
posicionamento junto ao solo, tendo em vista que, até então, eles eram utilizados
afastados da amostra. Com isso esperava-se reduzir a corrosão dos anodos e também
aumentar a eficiência do potencial elétrico aplicado na amostra em relação ao
potencial elétrico aplicado externamente.

1.3. DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS

O Capítulo 2 trata de algumas características de solos tropicais cauliníticos e dos


principais fundamentos da eletrocinética utilizados no desenvolvimento da pesquisa,
como a Teoria da Dupla Camada, o Potencial Zeta, os fenômenos eletrocinéticos
propriamente ditos e os fatores intervenientes na utilização da técnica. Ao fim do
capítulo, é apresentado o conceito de “Tempo de equalização”.

O Capítulo 3 engloba a metodologia utilizada nos ensaios de laboratório, apresentando


os solos utilizados, os procedimentos de moldagem dos corpos-de-prova e a descrição
da metodologia utilizada nos ensaios eletrocinéticos. Os métodos utilizados com o solo
sem estar submetido à eletrocinética e após a utilização da técnica também são
abordados.

O Capítulo 4 apresenta os resultados dos ensaios realizados no caulim e o Capítulo 5


os resultados obtidos com as amostras de solo tropical. Os dois capítulos exibem a
caracterização geotécnica e química dos solos, além dos resultados dos ensaios
eletrocinéticos e dos experimentos realizados após a técnica.

4
As principais conclusões do trabalho são apresentadas no Capítulo 6, além das
sugestões para pesquisas futuras.

5
2. FUNDAMENTOS E ESTADO DA ARTE

O comportamento dos solos quando submetidos à técnica eletrocinética depende das


características das instalações elétricas (e.g., material, dimensões e arranjo dos
eletrodos; diferença de potencial elétrico aplicada) e das propriedades físico-químicas
e elétricas do solo e da sua solução intersticial. Dessa forma, o tema abordado
abrange muitos conceitos e tratamentos mais aprofundados podem ser visualizados,
por exemplo, em Casagrande (1949), Casagrande (1952), Mitchell e Soga (2005) e
Schmidt (2004). Neste trabalho, são apresentados os principais fundamentos da
eletro-osmose aplicada a solos tropicais e os aspectos mais relevantes no que tange
as alterações das propriedades geotécnicas dos solos quando da utilização da técnica.

2.1. CARACTERÍSTICAS DOS SOLOS TROPICAIS

A fração de argila dos solos é formada por minerais cujas cargas superficiais são
constantes e por minerais cujas cargas dependem do pH da solução do solo. Os solos
consistem em uma mistura desses dois tipos de minerais (VAN RAIJ, 1973; UEHARA,
1979). Durante muitos anos, grande parte das pesquisas estava voltada para os
minerais de cargas permanentes, predominantes na América do Norte e na Europa.
Apenas após a Segunda Guerra Mundial, com o desenvolvimento de novas
tecnologias, como a difração de raios X, os conhecimentos acerca da ciência dos
solos começaram a ser organizados em uma escala global, destacando-se o manual
norte americano “Soil Taxonomy”, de 1975 (UEHARA, 1979).

Os solos de clima temperado são compostos predominantemente por minerais do tipo


2:1 (e.g., esmectita, vermiculita, ilita, clorita). Os minerais 1:1 (e. g., caulinita e
haloisita) são predominantes em solos altamente intemperizados, onde a precipitação
é elevada e que possuem boa drenagem (MITCHELL E SOGA, 2005). De acordo com
van Raij (1973), em minerais do tipo 2:1, a carga negativa dos argilominerais é
permanente e decorre de substituições isomórficas na estrutura cristalina. Em
contrapartida, minerais 1:1 apresentam poucas substituições isomórficas e suas
cargas são variáveis.

Uma característica muito relevante em solos tropicais é a presença de estruturas


ligadas umas às outras por agentes alumino-ferruginosos, formando agregados. Esses
agregados, quando solicitados, podem ser destruídos e, por essa razão, a presença
dessas estruturas pode não ser apreciada do ponto de vista de engenharia
(VAUGHAN, 1990; GIDIGASU, 1976).

6
Segundo o “Mapa de Solos do Brasil”, do IBGE e da Embrapa (2001), nas
proximidades do distrito de Triunfo, Rondônia, localidade de um dos solos estudados,
há o predomínio de latossolos amarelos e vermelho-amarelos.

Conforme o documento “Sistema Brasileiro de Classificação de Solos”, da Embrapa


(2006), os latossolos são caracterizados por baixa capacidade de troca de cátions,
elevado grau de intemperização e argila com alta resistência à dispersão. A relação
molecular SiO2/Al2O3 (Ki) é inferior a 2,2 e a capacidade de troca de cátions deve ser
menor que 17 meq/100g de solo seco. Latossolos têm predominância de caulinita e
óxidos de ferro e alumínio em sua constituição.

2.1.1. Caulinita

A unidade cristalográfica das caulinitas é composta por lâminas de sílica e alumina,


ligadas fortemente por átomos de oxigênio. As unidades cristalográficas são ligadas
entre si por ligações de hidrogênio e forças de van der Waals, formando um reticulado
sem expansão (MITCHELL E SOGA, 2005). O esquema da estrutura da caulinita é
apresentado na Figura 2.1.

Figura 2.1 – Esquema de representação da caulinita

As pontas do tetraedro de sílica, formadas por íons de oxigênio, e um dos planos de


átomos da lâmina octaédrica são comuns. Dois terços dos átomos no plano comum às
duas lâminas são oxigênios e são compartilhados por cátions das duas lâminas. O
restante dos átomos nesse plano são hidroxilas, ligadas a íons de alumínio da lâmina
octaédrica. Os íons de oxigênio no plano basal da lâmina tetraédrica na caulinita são
ligados por um par de íons de silício, enquanto os íons de oxigênio na ponta da lâmina
tetraédrica são ligados por dois íons de alumínio, assim como as hidroxilas no interior

7
do cristal. As ligações na estrutura da caulinita e a sua distribuição de cargas estão
apresentadas na Figura 2.2.

Considerando a estrutura da caulinita com uma extensão infinita, ela seria


completamente estável. No entanto, os íons de oxigênio e as hidroxilas nas arestas do
argilomineral, que possuem uma estrutura finita, sempre estão com déficit de cátions,
possibilitando a ligação de cátions adicionais (SPOSITO, 2008).

Figura 2.2 – Distribuição de cargas da caulinita

(Adaptado de MITCHELL E SOGA, 2005)

O principal mecanismo de troca das caulinitas, segundo Grim (1953) e Mitchell e Soga
(2005), são as ligações quebradas nas arestas das lâminas de sílica e alumina,
criando cargas desbalanceadas que são equilibradas por cátions adsorvidos. O
número de ligações quebradas aumenta com a diminuição do tamanho das partículas.
Além disso, distorções na estrutura dos cristais aumentam o número de ligações
quebradas e, portanto, a capacidade de troca tende a ser maior com a diminuição do
grau de cristalinidade.

Os hidrogênios expostos nas hidroxilas, presentes nas arestas quebradas dos


argilominerais, podem ser substituídos por cátions trocáveis. No entanto, segundo
Grim (1968), esse mecanismo é pouco provável, pois os hidrogênios possivelmente
não seriam substituídos sob as condições em que ocorrem as reações de troca.

Embora alguns autores atribuam às ligações quebradas das arestas das partículas a
presença de sítios de troca na caulinita, Van Olphen (1963) defende que os cátions
trocáveis da caulinita estejam localizados na superfície “plana” dos argilominerais, e

8
não nas arestas, compensando uma carga negativa decorrente de substituições
isomórficas nos cristais, através do mesmo mecanismo existente na montmorilonita.

Devido à dificuldade de penetração dos íons dentro dos cristais, a capacidade de


adsorção da caulinita é baixa e ocorre nas suas superfícies externas. Por essa razão,
segundo Mitchell e Soga (2005), a troca iônica é praticamente instantânea. Nas
esmectitas, porém, a troca requer mais tempo, uma vez que a maior parte da sua
capacidade de troca de íons localiza-se entre as lâminas do cristal.

De acordo com Mitchell e Soga (2005), as partículas de caulinita são carregadas


positivamente nas suas arestas em ambientes de baixo pH e negativamente em
ambientes de pH elevado. A presença de arestas carregadas positivamente favorece a
floculação do argilomineral e uma maneira de dispersar o sistema é inverter a carga
das arestas, por exemplo adicionando soluções que elevem o pH do meio, eliminando
a atração face-aresta (VAN OLPHEN, 1963). Solos floculados normalmente são muito
mais volumosos quando comparados a solos dispersos na mesma concentração, que
apresentam um arranjo mais denso e com menos vazios.

2.2. PROPRIEDADES ELÉTRICAS DE SISTEMAS ARGILA-ÁGUA

2.2.1. Teoria da Dupla Camada

As propriedades elétricas de sistemas argila-água são determinadas principalmente


pela dupla camada na superfície dos argilominerais (VAN OLPHEN, 1963). Serão
detalhadas a Teoria de Helmholtz, que distinguiu a água em tubos capilares ligada às
suas paredes (composta por íons de carga negativa fortemente aderidos) da água livre
(composta por íons móveis de carga positiva), e a Teoria de Gouy-Chapman, que
considera ainda a distribuição das cargas elétricas na superfície das partículas. Por
fim, a contribuição de Stern que leva em conta o tamanho dos íons aderidos à
superfície da partícula será mencionada.

• A Teoria de Helmholtz

O estudo da dupla camada teve início em 1879, quando Helmholtz distinguiu a água
livre em um tubo capilar do filme de água imediatamente adjacente às paredes do tubo
capilar. Esse filme de água foi denominado por ele de dupla camada, uma vez
assumida a existência de cargas elétricas opostas em duas camadas. A primeira delas
é muito fina e normalmente apresenta cargas negativas, sendo fortemente ligada às

9
paredes do tubo. A segunda camada é espessa e móvel, tendo em vista que quando
um potencial elétrico é aplicado ao tubo capilar, as cargas positivas se movem para o
polo negativo, carregando consigo moléculas de água.

Circundado pela dupla camada, a água livre é arrastada pela parte móvel da camada
dupla. O deslocamento do líquido quando da aplicação do potencial elétrico é
conhecido como eletro-osmose (CASAGRANDE, 1952), que é um dos fenômenos
eletrocinéticos. Como os vazios presentes em solos finos são muito pequenos, eles
podem ser associados a tubos capilares. Assumindo que não há outras forças atuando
no cilindro de água livre, a taxa de fluxo é constante e a distribuição da velocidade no
tubo capilar pode ser ilustrada conforme a Figura 2.3.

Figura 2.3 – Fluxo eletro-osmótico em tubos capilares


(Adaptado de CASAGRANDE, 1952)

Da contribuição de Helmholtz, seguiu-se o conceito de dupla camada difusa, que


considera que a concentração de íons diminui com a distância da superfície da
partícula, uma vez que eles tendem a se difundirem. Segundo Mitchell e Soga (2005),
diversas teorias propõem uma descrição quantitativa da distribuição de íons
adjacentes às superfícies carregadas, destacando-se a teoria de Gouy-Chapman.

• A teoria de Gouy-Chapman e a camada de Stern

As substituições isomórficas que ocorrem nos argilominerais são responsáveis pelo


desequilíbrio de cargas elétricas das partículas de argila, que em geral são carregadas
negativamente. De forma a preservar a neutralidade de cargas elétricas, cátions são

10
atraídos e ligados entre as camadas, nas superfícies e nas arestas das partículas
(MITCHELL E SOGA, 2005).

Em uma argila seca, cátions adsorvidos são fortemente aderidos às partículas


carregadas negativamente. Além dos cátions necessários à neutralização da
eletronegatividade das partículas, cátions em excesso e seus ânions associados estão
presentes na forma de sais precipitados. Quando a argila é colocada em água, os sais
se dirigem para a solução (MITCHELL E SOGA, 2005; YEUNG, 2006).

De acordo com Mitchell e Soga (2005), a concentração de cátions adsorvidos é muito


maior nas imediações da superfície das partículas, havendo difusão para equalizar a
concentração. Por outro lado, o campo elétrico negativo na superfície da partícula
restringe a difusão. A superfície carregada e a distribuição das cargas são chamadas
dupla camada difusa (Figura 2.4), sendo a teoria da dupla camada difusa de Gouy-
Chapman (GOUY, 1910; CHAPMAN, 1913) a mais conhecida.

Figura 2.4 – Representação da dupla camada difusa


(Adaptado de MITCHELL E SOGA, 2005)

A teoria de Gouy-Chapman faz uma série de considerações simplificadoras, dentre


elas o tratamento dos íons como cargas pontuais, embora eles possuam tamanhos
finitos e, portanto, a sua concentração na superfície da partícula é menor do que o
previsto pela teoria, sendo a concentração máxima determinada pelo raio de
hidratação dos cátions.

11
A modificação dessa teoria levando em consideração o tamanho finito dos íons foi
feita, dentre outros autores, por Stern (1924). A camada de Stern (Figura 2.5) consiste
de íons aderidos fortemente à superfície da partícula, sendo a camada tão mais
espessa quanto maior o íon. Adjacente a essa camada, encontra-se a camada difusa
(MITCHELL E SOGA, 2005).

2.2.2. Potencial Zeta

O potencial eletrocinético do solo, ou Potencial Zeta, é definido como o potencial


existente entre as partes rígidas e móveis da dupla camada (CASAGRANDE, 1952). O
Potencial Zeta, potencial na superfície de deslizamento, está localizado a uma
distância pequena e desconhecida da superfície das partículas, conforme
esquematizado na Figura 2.5 (MITCHELL E SOGA, 2005).

Figura 2.5 – Representação do Potencial Zeta


(Adaptado de KAYA E FANG, 1996)

Na maior parte dos solos, devido às substituições isomórficas e à presença de


ligações quebradas nas arestas dos argilominerais, o Potencial Zeta é negativo
(YEUNG et al., 1997). Balanceando as cargas negativas, há íons positivos móveis na
solução intersticial e, na presença de um campo elétrico, os íons positivos exercem

12
mais momento do que os íons negativos do fluido intersticial. Dessa forma, o fluido se
locomove no sentido anodo-catodo por eletro-osmose.

Embora seja normalmente negativo, o Potencial Zeta depende do ponto de carga zero,
definido como o valor de pH no qual a carga líquida da superfície da partícula é zero
(SPOSITO, 1998). Quando o pH do solo é superior ao ponto de carga zero, o
Potencial Zeta do solo é negativo e o fluxo resultante ocorre do anodo para o catodo.
Quando o pH do solo é inferior ao ponto de carga zero, o Potencial Zeta se torna
positivo e o sentido do fluxo eletro-osmótico resultante é do catodo para o anodo
(YEUNG, 2006).

2.3. ELETROCINÉTICA

A eletrocinética ocorre quando duas fases se movem uma em relação à outra e uma
dupla camada difusa existe na interface entre as duas fases (VAN OLPHEN, 1963).
Em se tratando de solos, considerar-se-ão as fases líquida e sólida.

Os fenômenos eletrocinéticos que se desenvolvem da associação entre gradientes e


fluxos hidráulicos e elétricos em solos finos são eletro-osmose, eletroforese, potencial
de corrente e potencial de sedimentação (MITCHELL E SOGA, 2005). Além desses
fenômenos, alguns autores ainda incluem migração iônica como sendo um quinto
processo eletrocinético (HSU et al., 2011).

Do ponto de vista geotécnico, a eletro-osmose e a migração iônica são os fenômenos


eletrocinéticos mais relevantes, uma vez que podem ser usados para o adensamento
de solos finos (adensamento eletro-osmótico) e para potencializar o transporte de íons
em tratamentos eletroquímicos do solo, respectivamente.

2.3.1. Eletro-osmose

De acordo com Mitchell e Soga (2005), quando uma diferença de potencial elétrico é
aplicada através de uma massa úmida de solo, os cátions móveis da dupla camada
são atraídos para o catodo e ânions para o anodo. À medida que os íons se
locomovem, eles carregam consigo sua água de hidratação, exercendo um arraste
viscoso na água do entorno. Em solos carregados negativamente, há mais cátions
móveis que ânions, ocorrendo fluxo de água resultante na direção do catodo,
denominado eletro-osmose.

A quantidade de líquido removida de um solo saturado (Qe, L³.T-1) quando da


aplicação de uma diferença de potencial elétrico pode ser descrita pela Equação 2.1,

13
segundo o modelo de Helmholtz, que descreve o deslocamento de um fluido em um
tubo capilar. De acordo com Mitchell e Soga (2005), a teoria de Helmholtz está entre
as mais antigas e mais utilizadas.

.
= . .∆ ∆ . (2.1)

Da Equação 2.1, ζ é o Potencial Zeta (V), D a constante dielétrica do fluido (Farad.L-1),


η a viscosidade do fluido (F.T.L-²), n é a porosidade, ΔE é a diferença de potencial
aplicada (V), ΔL é o comprimento do canal por onde ocorre o fluxo (L), ou a distância
entre os eletrodos, e A é a área da seção transversal, normal à direção do fluxo (L²).

De forma análoga à lei de Darcy para o fluxo hidráulico, pode-se escrever a Equação
2.1 conforme a seguir (Equação 2.2):

= . . (2.2)

Onde ie é o gradiente elétrico ΔE/ΔL (V.L-1) e ke é denominado coeficiente de


permeabilidade eletro-osmótica (L².V-1.T-1). Portanto, a magnitude do fluxo eletro-
osmótico depende de ke e do gradiente de voltagem aplicado. Observando-se as
Equações 2.1 e 2.2, o coeficiente de permeabilidade eletro-osmótica pode ser definido
segundo a Equação 2.3:

.
= . (2.3)

Mitchell e Soga (2005) enfatizam a independência de ke do tamanho dos poros. Por


outro lado, o coeficiente de permeabilidade hidráulica, kh, depende do tamanho e
forma dos poros do solo e da tortuosidade do meio. Em solos argilosos, essas
relações são complexas uma vez que, no geral, as argilas não apresentam tamanho
dos poros uniformes e as alterações na solução intersticial frequentemente são
acompanhadas por mudanças no arranjo das partículas. A despeito das dificuldades
na previsão da permeabilidade hidráulica de solos finos, kh varia aproximadamente
com o quadrado do tamanho característico dos poros tanto em solos coesivos quanto
em solos não coesivos (MITCHELL E SOGA, 2005).

14
Ademais, em geral considera-se que ke não varia muito de um solo para outro e, de
acordo com estes autores, normalmente o coeficiente de permeabilidade eletro-
osmótica varia entre 1 x 10-9 a 1 x 10-8 m/s por V/m (ou m²/s.V). Casagrande (1949),
por sua vez, considera ke da ordem de 5 x 10-9 m/s por V/m.

É importante notar, no entanto, que Hamed et al. (1991) observaram a variação de ke


no tempo devido às alterações químicas da solução dos poros e constataram um
decréscimo desse parâmetro de até uma ordem de grandeza ao longo do ensaio.
Observações similares foram feitas por Casagrande (1983).

2.3.2. Condições de drenagem

Considerando-se a massa de solo saturada e as propriedades físico-químicas do solo


uniformes no tempo e no espaço, as condições de drenagem do sistema podem gerar
poropressões positivas ou negativas. De acordo com Esrig (1968), as possíveis
condições de drenagem do sistema eletrocinético são (Figura 2.6):

a) Anodo e catodo abertos: ocorre livre acesso de água no anodo e no catodo,


não havendo geração de excesso de poropressões;

b) Anodo fechado e catodo aberto: o acesso de água não é permitido no anodo,


porém é livre no catodo. Há desenvolvimento de excesso de poropressões
negativas ao longo do solo. No catodo, por onde a água é drenada livremente,
a poropressão é nula;

c) Anodo aberto e catodo fechado: livre acesso de água no anodo e no catodo o


acesso não é permitido. Ocorre o desenvolvimento de excesso de
poropressões positivas no catodo, havendo fluxo hidráulico contrário ao eletro-
osmótico, ou seja, do catodo para o anodo.

A drenagem livre nas duas extremidades permite a simplificação do estudo, uma vez
que, considerando a massa de solo uniforme, em tese, não há gradiente hidráulico
oriundo da geração de excesso de poropressões. Na prática, porém, durante o
procedimento eletrocinético, não uniformidades são geradas no solo, como a variação
do pH e da concentração iônica, desenvolvendo-se assim gradientes de voltagem não

15
uniformes ao longo do solo e, consequentemente, excesso de poropressão (ESRIG,
1968).

O sistema estudado foi concebido para a condição de contorno anodo e catodo


abertos. Todavia, tendo em vista que, na engenharia geotécnica, o adensamento de
solos finos é um aspecto importante a ser estudado, será sucintamente detalhada a
seguir a condição anodo fechado e catodo aberto, aplicada quando almeja-se o
adensamento eletro-osmótico do solo.

Figura 2.6 – Condições de drenagem e o desenvolvimento de poropressões

(Adaptado de ESRIG, 1968)

2.3.3. Adensamento eletro-osmótico

De acordo com Mitchell e Soga (2005), se, em um solo compressível, a eletro-osmose


gera o movimento de água para o catodo, onde a água é drenada e, além disso,
nenhuma água é permitida entrar no anodo, então o adensamento do solo entre os
eletrodos é correspondente ao volume de água removido. A saída de água do anodo
gera o adensamento nas suas imediações, levando ao aumento das tensões efetivas.

16
Como a tensão total nas proximidades do anodo permanece essencialmente
inalterada, as poropressões diminuem. No catodo, por onde a água é drenada, não
ocorre adensamento e, portanto, as poropressões permanecem as mesmas. Dessa
forma, é gerado um gradiente hidráulico que tende a gerar um fluxo do catodo para o
anodo. O adensamento continua até que a força hidráulica balanceie a força eletro-
osmótica.

Ao fim do adensamento eletro-osmótico, ocorre o desenvolvimento de poropressões


negativas, proporcionais à relação ke/kh e à voltagem, conforme explicitado na
Equação 2.4 (MITCHELL E SOGA, 2005). Considerando a tensão total como
constante, deve haver um aumento na tensão efetiva devido ao desenvolvimento de
poropressões negativas, levando ao adensamento. Os valores de ke/kh e de ΔE podem
ser tomados em qualquer ponto de interesse.

=− . . (2.4)

Na Equação 2.4, u é a poropressão (F.L-2), kh é o coeficiente de permeabilidade


hidráulica (L.T-1) e γw é o peso específico da água (F.L-3).

Os autores observam que, dada uma voltagem, a poropressão negativa é largamente


dependente do coeficiente de permeabilidade hidráulica, uma vez que, conforme dito
anteriormente, normalmente considera-se que o coeficiente de permeabilidade eletro-
osmótica varia muito pouco de um solo para o outro. Portanto, o potencial de
adensamento pela eletro-osmose é tão maior quanto menor o tamanho dos grãos, ou
seja, quanto menor kh.

A taxa de adensamento depende do coeficiente de adensamento, que varia com kh e


com o coeficiente de variação volumétrica do solo e é independente de ke (Equação
2.5). Portanto, valores baixos de kh levam a um elevado tempo de adensamento.
Dessa forma, não obstante um valor baixo de kh implicar em uma relação ke/kh
elevada, gerando um aumento na tensão efetiva, o tempo de adensamento é tão maior
quanto menor o coeficiente de permeabilidade hidráulica. A situação ótima é quando
ke/kh é suficientemente grande para elevar a tensão efetiva, mas kh é elevado o
bastante para permitir o adensamento em um tempo razoável. Os tipos de solos que
melhor satisfazem essas condições são siltes, siltes argilosos e argilas siltosas
(MITCHELL E SOGA, 2005). Na Equação 2.5, cv é o coeficiente de adensamento
(L².T-1) e mv o coeficiente de variação volumétrica (L².F-1).

17
= . (2.5)

De forma semelhante, Castello Branco (1978) observa que o tempo requerido para o
desenvolvimento das poropressões negativas é função do fator tempo (Tv) (Equação
2.6), que está relacionado com cv. Por sua vez, conforme já mencionado, cv é
independente de ke e função da compressibilidade de solo e da permeabilidade
hidráulica kh.

.
= (2.6)

Dessa forma, a eletro-osmose não tem influência direta na taxa de adensamento, mas
funciona como uma sobrecarga estática, aumentando a magnitude dos recalques, com
a vantagem de não provocar rotura do solo (ESRIG, 1968).

2.3.4. Reações eletroquímicas no solo e seus efeitos

Além dos fenômenos eletrocinéticos que se desenvolvem na massa úmida de solo,


quando o gradiente de voltagem é aplicado ocorrem reações eletroquímicas, como a
oxidação da água no anodo e a redução no catodo.

A eletrólise da água no anodo e no catodo produz oxigênio e hidrogênio,


respectivamente, conforme as Equações 2.7 e 2.8:

2 − 4! " → 4 $
+ ↑ ' ()( (2.7)

2 + 2! " → 2 "
+ ↑ ' ()( (2.8)

A eletrólise gera um decréscimo do pH nas imediações do anodo e um aumento do pH


próximo ao catodo (YEUNG et al., 1997; SCHMIDT, 2004; MITCHELL E SOGA, 2005;
SILVEIRA, 2009). Os íons hidrogênio migram do anodo para o catodo, formando uma
frente ácida, enquanto as hidroxilas migram do catodo para o anodo, como uma frente
básica. Segundo Alshawabkeh e Bricka (2000), o avanço da frente básica é mais lento
do que o da frente ácida, pois a frente básica é retardada pelo fluxo eletro-osmótico,
que é contrário a ela. Além disso, a mobilidade iônica do H+ é aproximadamente 1,76

18
vezes a mobilidade do OH-. Por conseguinte, a frente ácida é dominante, salvo nas
proximidades do catodo.

As alterações no pH do solo desencadeiam diferentes mecanismos intervenientes no


transporte de espécies iônicas. Um aumento na concentração de H+ resulta na
dessorção de cátions do solo e na dissolução dos precipitados. O aumento do pH, por
sua vez, acarreta na precipitação da maioria dos metais pesados e radionuclídeos,
além do aumento da complexação, que pode reverter a carga dos íons (ACAR E
ALSHAWABKEH, 1993; SCHMIDT, 2004).

Tendo em vista que o pH influencia na capacidade de troca de cátions do solo e na


mobilidade e forma química de espécies iônicas, os processos de sorção são afetados
por variações no pH (SCHMIDT, 2004). Wu e Hu (2014) analisaram a composição de
uma bentonita após a eletro-osmose utilizando diferentes eletrodos (cobre, ferro e
grafite). Devido à oxidação ocorrida nos anodos de cobre e ferro, íons foram liberados
para a bentonita, aumentando consideravelmente a porcentagem de cobre e ferro no
argilomineral. Schmidt (2004) constatou a presença de alumínio no complexo sortivo
do solo após ensaios eletrocinéticos e atribuiu como uma das possíveis causas a
degradação dos eletrodos de grafite e aço inox utilizados.

No ano de 1935, Casagrande patenteou a dissolução de eletrodos de alumínio no solo


durante a eletrocinética, proporcionando o endurecimento e o aumento da resistência
ao cisalhamento do solo, no denominado tratamento eletroquímico. Casagrande atribui
a melhoria das propriedades mecânicas do terreno às possíveis substituições dos íons
de sódio no argilomineral por íons de alumínio (UNITED STATES PATENT OFFICE,
1937).

Devido à liberação de H+ no anodo, nas argilas alguns cátions trocáveis podem ser
substituídos por H+, tornando-as instáveis. Bjerrum et al., (1967) relataram que,
durante a eletrocinética em uma argila sensível norueguesa, possivelmente na região
ácida a argila foi saturada com H+ e logo alterou-se para uma argila saturada com Al3+.
As modificações iônicas nos argilominerais alteram as suas características físico-
químicas. Injetando-se continuamente uma solução química no anodo, é possível
potencializar as substituições iônicas do solo tendo em vista o melhoramento de suas
propriedades mecânicas (CARON, 1971).

As reações eletroquímicas que se desenvolvem no solo quando da eletro-osmose são


responsáveis por alterações nos limites de Atterberg do solo, conforme relatado por
Bjerrum et al. (1967); Esrig e Gemeinhardt (1967); Caron (1971) e Barker et al. (2004).
De acordo com Mitchell e Soga (2005), o adensamento por si só não altera os limites

19
de Atterberg, uma vez que para isso é preciso haver mudanças na mineralogia, nas
características das partículas ou da solução dos poros.

Além dos efeitos da variação de pH mencionados, pode-se citar ainda:

• Redução da espessura da dupla camada difusa em ambientes ácidos (VAN


OLPHEN, 1991; MITCHELL E SOGA, 2005), resultando em alterações nas
propriedades geotécnicas dos solos;

• Em minerais de carga variáveis, as variações de pH produzem diferentes tipos


de associações dos argilominerais. Em geral, ambientes ácidos geram
associações floculadas, enquanto ambientes de elevado pH acarretam em
associações dispersas. Solos com estruturas floculadas normalmente exibem
limites de liquidez, permeabilidade hidráulica e resistência mais elevados.
Segundo Sridharan et al. (1988), a espessura da dupla camada difusa tem
pouca influência no limite de liquidez da caulinita. Por outro lado, o arranjo das
partículas exerce grande influência nesse parâmetro. O arranjo é regulado, por
sua vez, pela valência dos cátions trocáveis e pela variação do pH do solo. A
presença de cátions divalentes e trivalentes contribui para o arranjo em flocos,
pois favorece a atração das partículas de argila. Solos com maior grau de
floculação possuem vazios maiores e exibem maiores valores de limite de
liquidez;

• Ambientes extremamente ácidos podem gerar alterações significativas na


microestrutura dos argilominerais, como, por exemplo, a dissolução de Al3+
(MITCHELL E SOGA, 2005). Nessas condições, os íons de alumínio, que são
adsorvidos preferencialmente em relação aos íons de hidrogênio, são
transportados para o complexo sortivo do solo (VAN OLPHEN, 1991).

2.3.5. Eficiência da eletro-osmose

De acordo com Mitchell e Soga (2005), o teor de umidade, a concentração iônica da


solução dos poros e o tipo de solo são fatores que influenciam na eficiência da eletro-
osmose. Segundo os autores, a eletro-osmose é mais eficiente em solos com baixa
atividade e elevado teor de umidade.

Mitchell e Soga (2005) e Yeung (2006) utilizaram a quantidade de água transportada


por unidade de carga elétrica que atravessa o solo para quantificar a eficiência da
eletro-osmose, expressa em volume por unidade de tempo dividido pela corrente

20
elétrica (L³.T-1.A-1). Esse parâmetro é denotado por ki e pode ser expresso conforme
as Equações 2.9 e 2.10:

= .+ = ∆
* ∆ . (2.9)

* = .∆ 1
∆ . + . (2.10)

Onde I é a corrente elétrica, em ampère (A). Como ΔE/I é a resistência elétrica (R, em
Ω) e ΔL/(R x A) é a condutividade elétrica específica do solo (σ, em S.L-1), a Equação
2.10 pode ser escrita da seguinte maneira (Equação 2.11):

* = - (2.11)

Uma vez que ke varia pouco de um solo para outro, a eficiência eletro-osmótica é uma
função sensível da condutividade elétrica específica do solo. Um elevado valor de
condutividade do solo significa que a corrente necessária para desenvolver a voltagem
precisaria ser muito elevada, e a geração de gás, calor e efeitos eletroquímicos seria
excessiva (MITCHELL E SOGA, 2005; YEUNG, 2006). De acordo com Mitchell e Soga
(2005), solos cuja água intersticial é muito salina, por exemplo, podem apresentar
efeitos adversos quando submetidos à eletrocinética. Embora a salinidade possa
comprometer a eficiência da técnica, Schmidt et al. (2007) utilizaram a eletrocinética
em um solo salino tropical, com injeção de nutrientes, e obtiveram resultados
satisfatórios.

É importante notar que a eficiência eletro-osmótica discutida considera condições


idealizadas de eletrodos, ou seja, eletrodos inertes que não introduzem novos íons à
solução e, portanto, não alteram as características químicas do meio.

Em termos práticos, a diferença de voltagem aplicada (ΔE) e o espaçamento entre os


eletrodos (ΔL) podem ser calculados definindo-se a quantidade de líquido que se
deseja remover do solo (Qe). A Equação 2.9 pode ser reescrita da seguinte forma
(Equação 2.12):

/
. 0 12 ∆3
∆ = (2.12)
40

21
Segundo Gray e Mitchell (1967) a energia necessária por unidade de volume do
líquido removido, denominada pela letra grega ε (W.T.L-3) pode ser estimada de
acordo com a Equação 2.13:

5=∆ (2.13)
*

Conforme os autores, a energia requerida para que um determinado volume de líquido


seja removido oscila consideravelmente de um solo para outro, tendo em vista que ki
pode variar em várias ordens de grandeza, dependendo da condutividade elétrica do
solo na qual a eletro-osmose é aplicada.

2.4. TEMPO DE EQUALIZAÇÃO

O tempo de equalização estudado refere-se ao tempo necessário para que o solo


recupere a condição de equilíbrio físico-químico após cessar a aplicação do campo
elétrico. Após a corrente elétrica ser desligada, a eletrólise da água é interrompida e
espera-se que o equilíbrio iônico da solução intersticial seja reestabelecido
principalmente por difusão. Segundo Hamed et al. (1991) e Acar et al. (1992), o
aumento do pH no sentido anodo para o catodo é consequência da migração dos
cátions e ânions para os seus respectivos eletrodos, da difusão da frente ácida para o
catodo e da advecção devida ao fluxo eletro-osmótico.

Embora não haja muitas referências quanto ao período necessário para que o solo
reestabeleça o seu equilíbrio físico-químico, alguns autores abordaram esse aspecto
indiretamente. Bjerrum et al. (1967), ao investigarem as alterações dos limites de
Atterberg do solo após a eletrocinética, mediram o pH do solo 50 dias depois do
término do procedimento e constataram que o pH na região do anodo foi de 5,8 a 6,3
e, próximo ao catodo, o pH foi de 7,7. Os autores destacaram que possivelmente as
condições ácidas eram ainda mais dominantes durante o período de aplicação da
técnica. Jeyakanthan et al. (2011) mencionaram que, após o tratamento eletrocinético,
as amostras eram deixadas por dois ou três dias em um processo de “recuperação”.

Quando são utilizadas soluções químicas concomitantemente com a eletro-osmose, a


resistência do solo pode continuar aumentando mesmo após a interrupção do
procedimento. Nesse âmbito, Asavadorndeja et al. (2005) referiram-se a esse período
como “tempo de cura” e, durante o experimento realizado pelos autores, a resistência
ao cisalhamento não drenada do solo era medida logo após o final do tratamento
22
eletrocinético e uma semana depois. A resistência após o período de cura aumentou.
Segundo os autores, isso ocorreu provavelmente pois, quando o ensaio foi
interrompido, ainda havia íons disponíveis que reagiram e elevaram a resistência do
solo.

Ahmad et al. (2011) constataram que, após a utilização de uma solução de cloreto de
alumínio no tratamento eletrocinético, a resistência da amostra diminuiu. Os autores
mencionaram então que, em um estudo realizado por Gray (1970), a solução de
cloreto de alumínio aumentou a resistência do solo após eles serem "curados" durante
1 mês, tempo necessário para que o AlCl3 reagisse completamente.

É interessante notar que, embora seja esperado que o equilíbrio seja reestabelecido
após o término do ensaio eletrocinético, algumas alterações irreversíveis ocorrem no
argilomineral quando uma corrente elétrica é aplicada no solo (MITCHELL E SOGA,
2005). O eletroendurecimento do solo, explorado por Casagrande (UNITED STATES
PATENT OFFICE, 1937), através da dissolução de eletrodos de alumínio na massa de
solo, é um exemplo dessas alterações. As alterações no argilomineral decorrem das
reações eletroquímicas discutidas anteriormente.

A intensidade com que as reações eletroquímicas ocorrem é afetada por diferentes


fatores, como o tipo de solo, o valor da corrente elétrica aplicada, o material e a
disposição dos eletrodos e a composição química da solução dos poros do solo. Por
essa razão, o tempo de equalização varia de acordo com o solo e as condições de
aplicação da eletrocinética.

Além da medição do pH em todas as amostras do fluido intersticial após o ensaio


eletrocinético, em grande parte dos experimentos o potencial redox (Eh) e a
condutividade elétrica específica (CEE) da solução dos poros também eram
determinados. Por essa razão, investigou-se a variação desses parâmetros ao longo
da amostra, após o ensaio eletrocinético, em intervalos de tempo determinados.

2.5. ESTUDOS PRELIMINARES

São apresentadas na Tabela 2.1 algumas publicações pertinentes relativas ao estudo


das alterações dos parâmetros geotécnicos do solo devido às reações eletroquímicas
desenvolvidas durante a eletrocinética. Neste trabalho, essas alterações foram
estudadas em dois solos cauliníticos, em especial as mudanças nos limites de
Atterberg e na resistência ao cisalhamento dos solos.

23
Com exceção de Bjerrum et al. (1967), que trata da técnica utilizada em campo, os
documentos expostos concernem a utilização da eletrocinética em laboratório. Cabe
ressaltar que as publicações apresentadas na Tabela destacam especialmente as
variações nos limites de Atterberg e na resistência ao cisalhamento do solo,
decorrentes principalmente das trocas iônicas e da precipitação de elementos
químicos em pH básico. Na aplicação da eletrocinética relatada por Bjerrum et al.
(1967), as alterações na resistência ao cisalhamento do solo ocorreram devido às
reações eletroquímicas e às variações nos teores de umidade do solo. Em alguns
casos apresentados, foram utilizadas soluções químicas específicas que potencializam
os efeitos eletroquímicos da técnica e, em outras situações, a solução utilizada foi
água e ainda assim ocorreram alterações nas características geotécnicas do solo.

A despeito dos diversos estudos concernindo os efeitos eletroquímicos no solo durante


a eletrocinética, é notável que as alterações nas características geotécnicas dos solos
variaram caso a caso. Por essa razão, dada a complexidade dos processos físico-
químicos e elétricos e a variabilidade dos seus efeitos nos parâmetros geotécnicos de
cada solo, precedendo a aplicação da eletrocinética em campo, uma investigação
laboratorial da eletrocinética que reproduza adequadamente as condições previstas no
projeto é imprescindível para uma melhor compreensão do comportamento do solo
durante a aplicação da técnica.

24
Tabela 2.1 – Publicações pertinentes sobre o tema
Autores e ano da Solo ou argilomineral Gradiente
Eletrodos Duração Solução utilizada Ensaios pós EK Observações pós EK
publicação predominante elétrico
Aumento da resistência não drenada no
anodo e no meio. No catodo a resistência
Resistência não
Argila sensível não mudou. Diminuição da sensibilidade
BJERRUM et al., 19671 Barras de aço 0,2 V/cm 30 dias - drenada e limites de
norueguesa no anodo e no meio.
Atterberg
Limite de liquidez aumentou no anodo e
limite de plasticidade não mudou.
Em um dos solos artificiais o limite de
2 solos artificiais e 1 liquidez diminuiu principalmente no anodo
Cobre (catodo) Cloreto de
GRAY E SCHLOCKER, natural compostos e no outro os efeitos foram muito
alumínio ou -2 22 h alumínio e cloreto Limites de Atterberg
1969 principalmente por ilita pequenos.
grafite (anodo) de sódio
e montmorilonita No solo natural o limite de liquidez
aumentou ligeiramente.
Cloreto de sódio,
cloreto de lítio, Os resultados dos limites de Atterberg
CASTELLO BRANCO, Solos naturais tropicais
Ferro 1 V/cm 48 h cloreto de amônia, Limites de Atterberg foram variados, a depender da solução e
1978 residuais (4 tipos)
cloreto de do solo estudado.
alumínio
Solo argiloso (58 % Limites de Atterberg Aumento do limite de liquidez e limite de
ASAVADORNDEJA E
caulinita, 28 % Titânio 2 V/cm 48 h Cloreto de cálcio e resistência não plasticidade.
GLAWE, 2005
bentonita e 14 % ilita) drenada Aumento da resistência próximo ao catodo.
Hidróxido de
O limite de liquidez e o potencial de
cálcio, cloreto de Limites de
Solo natural com expansão diminuíram em todos os
ABDULLAH E AL-ABADI, cálcio, hidróxido Atterberg, potencial
predomínio de Grafite 1,5 V/cm 10 dias ensaios. O limite de plasticidade pouco
2010 de potássio, de expansão,
montmorilonita mudou. O intercepto de coesão dos solos
cloreto de cisalhamento direto
diminuiu e o ângulo de atrito aumentou.
potássio
Diminuição da resistência no anodo e no
catodo com cloreto de alumínio.
Cloreto de
Diminuição da resistência no anodo com
alumínio, cloreto
Cisalhamento direto cloreto de cálcio.
AHMAD et al., 2011 Solo tropical caulinítico Titânio 6 V/cm 7 dias de cálcio, água
e adensamento Diminuição da resistência no anodo e no
destilada, ácido
catodo com água destilada.
fosfórico
Aumento da resistência no catodo com
ácido fosfórico.

25
Tabela 2.1 – Publicações pertinentes sobre o tema (continuação)
4 dias, 13 A tensão de sobreadensamento aumentou
JEYAKANTHAN et al., Solo argiloso natural
Cobre 0,4 V/cm dias e 15 Água Adensamento no anodo e no meio. No catodo não foram
2011 australiano
dias feitas medições.
Cloreto de cálcio: aumento da resistência
Platina 12 h, 24 h, no anodo.
Cloreto de cálcio, Silicato de Sódio: aumento da resistência
OU et al., 2013 Caulim revestida com 0,5 V/cm 36 h, 48 h, Penetração do cone
silicato de cálcio no catodo.
titânio 7 dias
Utilizando as duas soluções: aumento da
Resistência no anodo.
Na utilização de eletrodos de cobre e ferro,
íons Fe3+ e Cu2+ substituíram o Na+
trocável da argila, principalmente no
anodo.
Cobre, ferro e
WU E HU, 2014 Bentonita sódica 1 V/cm 24 h Água Limites de Atterberg Ocorreu diminuição do limite de
grafite
plasticidade e aumento do limite de
liquidez da argila com todos os eletrodos,
além da diminuição do potencial de
expansão do argilomineral.
1
Técnica aplicada em campo
2
O gradiente elétrico aplicado variou enquanto a densidade de corrente manteve-se entre 1 mA/cm² e 5 mA/cm²

26
3. METODOLOGIA

A metodologia empregada na investigação dos parâmetros geotécnicos dos solos


consistiu na sua caracterização física e na determinação dos parâmetros de
resistência das amostras. De forma a possibilitar o estudo dos efeitos da técnica
eletrocinética nas propriedades do solo, os ensaios foram realizados em duas
situações: com o solo na condição original – sem submetê-lo ao ensaio eletrocinético –
e após a aplicação da eletrocinética nas amostras.

A compreensão do comportamento elétrico do solo durante os ensaios eletrocinéticos


– denominados ensaios EK – e os mecanismos intervenientes na quantidade de fluxo
eletro-osmótico extraído exigiram a caracterização química e mineralógica das
amostras. Além disso, a determinação do referido “tempo de equalização” envolveu
medições sucessivas do pH dos solos.

Serão descritos nos tópicos seguintes a metodologia empregada na caracterização


dos solos antes e após a eletrocinética, na caracterização química e mineralógica,
além dos procedimentos utilizados durante os ensaios EK propriamente ditos.

3.1. SOLOS ESTUDADOS

Foram estudados dois tipos de solos. O primeiro foi um caulim tratado, utilizado por
Lima (2013) e fornecido pela empresa Brasil Minas Ltda. A especificação técnica do
caulim é apresentada no Anexo I. Os ensaios no caulim, por ser um solo cuja
composição e comportamento são bem conhecidos, foram fundamentais para uma
melhor compreensão dos resultados obtidos com o segundo tipo de solo, proveniente
da região de Triunfo/Rondônia, cujo comportamento é muito mais complexo e
imprevisível. Além disso, o caulim é composto principalmente por caulinita, principal
argilomineral presente no solo de Triunfo.

O solo de Rondônia foi cedido na ocasião da elaboração de um estudo para projeto de


eletrodos de aterramento, em 2012, realizado pela professora Dr.a Maria Claudia
Barbosa, através da Fundação COPPETEC (BARBOSA, 2012). As amostras
indeformadas de solo foram coletadas com amostradores tipo Denison, com
aproximadamente 60 cm de comprimento e diâmetro interno com cerca de 7,5 cm.

Foram selecionadas 5 amostras para estudo e o critério de seleção das amostras foi a
profundidade, preferindo-se as amostras mais superficiais. A identificação das

27
amostras utilizada por Barbosa (2012) foi simplificada e está apresentada na Tabela
3.1, bem como a descrição da camada e a sua profundidade.

Tabela 3.1 – Amostras disponíveis do solo de Triunfo/RO

Identificação Identificação
Prof. (m) Descrição tátil-visual
antiga1 adotada
T01 AM02 101 6,41 - 7,02 Silte argiloso, com areia fina, cinza
T01 AM03 102 15,00 - 15,61 Silte argiloso, com areia fina, cinza e marom
Silte argiloso, com areia fina, cinza e marrom
T02 AM01 201 6,00 - 6,61
arroxeado
Silte argiloso, com areia fina, com pedregulho
T02 AM04 202 18,61 - 19,22
fino a médio, marrom variegado
Silte argiloso, com areia média, com
T04 AM02 301 14,00 - 14,61
pedregulho fino, roxo amarronzado e cinza
1
Identificação utilizada por Barbosa (2012)

É importante ressaltar que, embora provenientes da mesma região, o solo estudado


apresenta camadas de sedimentos de textura e coloração variada, e mesmo dentro de
uma mesma amostra, é possível observar a heterogeneidade do solo. Por exemplo,
inicialmente uma amostra localizada imediatamente abaixo da amostra 201 havia sido
selecionada para o ensaio eletrocinético, mas, ao ser retirada a parafina da sua
extremidade, notou-se um solo granular em uma das pontas do amostrador, com
coloração amarela e baixa coesão (Figura 3.1), completamente distinto do observado
nas demais amostras, que apresentavam coloração predominantemente marrom
avermelhado e cinza e coesão pronunciada. Por esse motivo, o amostrador foi
fechado novamente com parafina e decidiu-se utilizar a amostra 201, com coloração e
textura semelhante ao restante das amostras. O perfil de sondagem e a posição das
amostras selecionadas em cada furo são apresentados na Figura 3.2.

Figura 3.1 – Aspecto das amostras 201 (a) e amostra imediatamente acima (b)
28
Figura 3.2 - Perfis de sondagem da região de Triunfo/RO, nos trechos de interesse para a pesquisa

29
3.2. PLANO DE ENSAIOS

Foram realizados 7 ensaios eletrocinéticos com o caulim, o primeiro anterior à nova


configuração da célula eletrocinética, com eletrodos de aço inox nas extremidades dos
tanques, e o restante já com a nova configuração, com eletrodos de DSA® e
localizados próximos ao solo. A Tabela 3.2 apresenta o plano de ensaios do caulim.
Os primeiros dois ensaios foram oportunos para a avaliação da viabilidade dos
procedimentos a serem adotados nos ensaios procedentes. As amostras caulim 3 e
caulim 4 foram escolhidas para a determinação do tempo de equalização do caulim. O
restante das amostras foi utilizado para a avaliação da variação dos parâmetros
geotécnicos do solo após a eletrocinética.

Como foram utilizados o mesmo caulim e a mesma solução em todos os ensaios, os


ensaios pré EK são comuns a todas as amostras de caulim.

Tabela 3.2 – Plano de ensaios do caulim

Amostra Ensaios pré EK Ensaios pós EK Objetivo


Caulim 1 e Limites de Atterberg, Avaliação da variação dos
caulim 2 pH parâmetros geotécnicos
Densidade real dos
Caulim 3 e grãos, Limites de Determinação do tempo
pH, Eh e CEE
caulim 4 Atterbeg, pH, Eh e de equalização
CEE, adensamento,
Ensaio palheta,
Caulim 5, caulim Ensaio palheta Avaliação da variação dos
limites de Atterberg1,
6 e caulim 7 parâmetros geotécnicos
pH, Eh e CEE
1
Não foram determinados, após a eletrocinética, no caulim 7

Todos os ensaios com o solo de Triunfo foram realizados com a nova configuração da
célula e os novos eletrodos. As amostras 202 e 301 foram selecionadas para a
determinação do tempo de equalização. As amostras restantes, ou seja, 101, 102 e
201, foram escolhidas para a avaliação da variação dos parâmetros geotécnicos do
solo.

A Tabela 3.3 resume os ensaios realizados em cada amostra, sem submeter o solo ao
procedimento eletrocinético e após o ensaio eletrocinético.

30
Tabela 3.3 – Plano de ensaios das amostras de Triunfo

Amostra Ensaios pré EK Ensaios pós EK Objetivo


Determinação do
202 pH tempo de
equalização
Densidade real dos
grãos, granulometria, Determinação do
301a e 301b Limites de Atterbeg, pH3 tempo de
pH, Eh1, CEE1, equalização
cisalhamento direto2 e
Avaliação da
adensamento2 Cisalhamento direto,
variação dos
101, 102 e 201 pH, Eh, CEE, limites
parâmetros
de Atterberg
geotécnicos
1
Não foi determinado nas amostras 202 e 301a
2
Não foi realizado o ensaio na amostra 301
3
Na amostra 301b também foram determinados o Eh e a CEE antes e após o EK

3.2.1. Determinação do tempo de equalização

O tempo de equalização foi determinado com base na variação do pH da solução


intersticial do solo ao longo do tempo, após terminado o ensaio eletrocinético. Dessa
forma, findado o ensaio, o solo era extraído do cilindro com o auxílio de um pistão
(Figura 3.3a) e seccionado longitudinalmente, de forma a não interromper o
movimento dos íons e as reações físico-químicas ao longo da amostra, conforme a
Figura 3.3b. Após seccionada longitudinalmente, uma das porções era dividida
transversalmente em outras três partes, denominadas “anodo”, “meio” e “catodo”, para
determinação imediata do pH (Figura 3.3c). A outra porção era então embalada em um
plástico filme de PVC, guardada em um recipiente com tampa que era colocado na
câmara úmida (Figura 3.3d). Após 14 dias, a porção restante era retirada da câmara
úmida e, assim como a primeira porção, dividida em três fatias para determinação do
pH 14 dias após o ensaio eletrocinético.

Cabe ressaltar que, inicialmente, estabeleceu-se que o solo seria dividido em três
porções longitudinais, com leituras do pH imediatamente após o ensaio, 7 dias depois
e 14 dias após o ensaio eletrocinético. Esse procedimento foi realizado na amostra
202, mas a quantidade de solo não foi suficiente para a medição do pH no “anodo”,
“meio” e “catodo” nas porções 1 e 2, sendo possível apenas a sua medição na terceira
porção. A partir de então, o solo foi seccionado em apenas duas porções longitudinais
e cada uma foi dividida em três fatias, imediatamente após o ensaio e 14 dias depois,
para a determinação do pH em cada fatia, conforme esquematizado na Figura 3.4.

31
Figura 3.3 – Sequência de extração, fatiamento e armazenamento da amostra 301b
a) Pistão para extração da amostra; b) amostra fatiada longitudinalmente; c) primeira fatia
cortada transversalmente para medição do pH; d) segunda fatia armazenada na câmara úmida

Figura 3.4 – Esquema de fatiamento do solo para ensaios de equalização

3.2.2. Análise dos parâmetros geotécnicos

A análise dos parâmetros geotécnicos foi realizada comparando-se a resistência ao


cisalhamento do solo e os limites de Atterberg sem eletrocinética e após o ensaio
eletrocinético. Dessa forma, anteriormente ao procedimento eletrocinético, foram
realizados ensaios de cisalhamento direto no solo de Triunfo e ensaios de palheta
miniatura no caulim, além de determinação dos limites de liquidez e plasticidade.

Após o ensaio EK, a amostra dentro do cilindro era embalada em filme de PVC e
deixada na câmara úmida durante o tempo de equalização estabelecido. Passado
esse período, novamente eram realizados ensaios de resistência ao cisalhamento nas
amostras. Com o restante do solo, eram feitas determinações dos teores de umidade e
limites de Atterberg. Todos os ensaios foram realizados nas posições “anodo”, “meio”
e “catodo” e são detalhados na seção 3.7.

32
3.2.3. Repartição das amostras de Triunfo, RO

As amostras provenientes de Rondônia foram divididas em três trechos,


independentemente se o objetivo dos ensaios era o estabelecimento do tempo de
equalização ou a análise das alterações dos parâmetros geotécnicos do solo.

O amostrador possuía aproximadamente 60 cm de comprimento. As extremidades, por


estarem preenchidas com parafina, eram descartadas. O tubo era então seccionado
em duas partes de 20 cm e uma terceira parte menor, com o solo restante.

As amostras 202 e 301, selecionadas para determinação do tempo de equalização,


foram seccionadas conforme a Figura 3.5. A amostra 202 foi a primeira a ser extraída
do amostrador Denison e, para a certificação de que os procedimentos adotados para
extração e moldagem do solo eram adequados, decidiu-se pela realização de ensaios
de adensamento, cisalhamento direto, pH e caracterização dos solos com uma parte
da amostra, sendo a segunda parte utilizada para a realização do ensaio
eletrocinético.

A amostra 301 foi dividida distintamente da anterior, sendo realizados dois ensaios
eletrocinéticos no solo para a determinação do tempo de equalização e, com o trecho
auxiliar, foi feita a sua caracterização.

Figura 3.5 – Divisão das amostras para determinação do tempo de equalização

As amostras selecionadas para a avaliação das alterações dos parâmetros


geotécnicos do solo foram todas divididas da mesma forma: uma parte foi selecionada
para os ensaios de resistência ao cisalhamento do solo, adensamento, pH e
caracterização e a outra para realização do ensaio eletrocinético, de cisalhamento
direto pós EK, pH pós EK e caracterização pós EK. O esquema da repartição das
amostras está apresentado na Figura 3.6.

33
Figura 3.6 - Divisão dos amostradores - avaliação dos parâmetros geotécnicos

3.3. ENSAIOS REALIZADOS ANTES DA ELETROCINÉTICA

Tanto no caulim quanto nas amostras de Triunfo, antes da eletrocinética foi realizada a
caracterização geotécnica do solo e a caracterização química do fluido intersticial.

A determinação do limite de liquidez foi feita segundo a ABNT NBR 6459:1984, do


limite de plasticidade de acordo com a ABNT NBR 7180:1984, do teor de umidade
segundo a ABNT NBR 6457:1986 e da granulometria de acordo com a ABNT NBR
7181:1984. Toda a caracterização geotécnica, determinação do pH, potencial redox e
condutividade elétrica específica foi realizada nos laboratórios do setor de Geotecnia
da COPPE.

3.3.1. Caulim

A caracterização da solução intersticial do caulim foi realizada através de medições do


pH, potencial redox (Eh) e condutividade elétrica específica (CEE). O fluido foi extraído
com o auxílio de um pistão (Figura 3.7) e uma prensa, aplicando-se uma tensão no
solo para expulsão da água dos seus vazios.

Figura 3.7 – Pistão utilizado para extração do líquido intersticial do solo

As leituras do pH e do Potencial Redox foram realizadas através de analisador Analion


modelo PM606F. Os eletrodos utilizados para as leituras de pH e Potencial Redox

34
foram, respectivamente, da marca Analion de vidro combinado, modelo V620 e
eletrodo redox de platina combinado, modelo ROX674. A leitura da condutividade
elétrica foi feita através do condutivímetro Oakton, modelo PC 300.

A moldagem dos corpos-de-prova do caulim para o ensaio de adensamento e de


resistência não drenada foi realizada com o solo nas mesmas condições em que foram
feitos os ensaios eletrocinéticos no caulim 3, caulim 4, caulim 5, caulim 6 e caulim 7. A
moldagem será apresentada na seção 3.5.

A resistência ao cisalhamento não drenada do caulim foi medida através de ensaios


de palheta miniatura e foi calculada considerando-se a relação entre a altura da
palheta e o seu diâmetro igual a 2. Assumindo-se a superfície de ruptura cilíndrica e a
distribuição de tensões cisalhantes retangular, a resistência pode ser expressa através
da Equação 3.1 (ABNT NBR 10905:1989).

67 = 0,86.
<. = (3.1)

Na Equação 3.1, Su é a resistência não drenada do solo (F.L-²), T é o torque (F.L) e D


o diâmetro da palheta (L).

3.3.2. Amostras de Triunfo, RO

Além dos ensaios convencionais de granulometria, segundo a norma, em todas as


amostras de Rondônia optou-se pela realização de análises granulométricas sem
defloculante, deixando 40 g de solo, após o peneiramento grosso, imerso em água
destilada por pelo menos 12 horas. O solo era então colocado no dispersor e era
realizada a sua sedimentação, conforme a ABNT NBR 7181:1984. A medição do pH,
CEE e Eh das amostras de Triunfo era realizada da mesma maneira que no caulim.

Nas amostras 101, 102 e 201 foram realizados ensaios de cisalhamento direto dos
solos. O ensaio de cisalhamento direto fornece a envoltória de resistência do solo,
permitindo assim a comparação desses valores iniciais com os resultados de
resistência obtidos após a aplicação da técnica eletrocinética. Como os moldes
utilizados apresentavam dimensões de 4 cm x 4 cm x 2,5 cm, foi possível a moldagem
das amostras cravando-os no amostrador.

Para moldagem dos corpos de prova de cisalhamento direto e adensamento, realizou-


se um corte longitudinal no amostrador para alívio do confinamento e duas

35
abraçadeiras foram posicionadas nas suas extremidades, fixando um segmento
metálico que foi encaixado acima do corte longitudinal, evitando fuga do solo. Os
moldes foram então posicionados acima do amostrador e empurrados manualmente
para o seu interior. Na moldagem dos anéis de adensamento, o molde foi empurrado
utilizando-se a prensa, como apresentado na Figura 3.8a. Para extrusão do anel com
solo de dentro do amostrador, um colarinho foi encaixado na parte superior do
amostrador e o conjunto era colocado na prensa, conforme a Figura 3.8b. Finalmente,
após extrusão do anel, as suas superfícies foram ajustadas e o solo era rasado (Figura
3.8c).

Figura 3.8 – Cravação do molde, extrusão e acabamento (amostra 102)

a) moldagem do corpo de prova no anel de adensamento; b) extrusão do anel após


moldagem; c) acabamento do solo no anel de adensamento

Os ensaios de adensamento e de cisalhamento direto foram realizados com o solo


saturado. O ensaio de cisalhamento direto foi realizado a uma velocidade de 0,0439
mm/min, suficientemente lenta para que ocorresse a drenagem do solo. A velocidade
máxima do ensaio, designada por vmáx (L.T-1), pode ser estimada conforme a norma
americana ASTM D 3080, segundo a Equação 3.2, onde df é o deslocamento
horizontal na ruptura (L) e tf é o tempo até a ruptura (T).

)?
>= @ (3.2)
?

A norma americana sugere a adoção do valor de df como 12 mm para solos finos


normalmente adensados e levemente sobreadensados ou 5 mm para os demais

36
casos. O tempo até a ruptura pode ser estimado, em minutos, conforme a Equação
3.3, em que t50 (T) é o tempo em que ocorre 50% do adensamento primário:

? = 50. BC (3.3)

O valor de t50 escolhido foi o máximo obtido nos ensaios de adensamento das
amostras 101, 102, 201 e 202, considerando-se as tensões normais utilizadas nos
ensaios de cisalhamento direto para as respectivas amostras. O tempo em que ocorre
50% do adensamento primário adotado foi então o da amostra 202, com t50
aproximadamente igual a 0,60 minutos. Portanto, utilizando-se as Equações 3.2 e 3.3
e considerando df = 5 mm, a velocidade máxima do cisalhamento direto deve ser 0,167
mm/minuto, muito superior à velocidade utilizada de 0,0439 mm/min, garantindo-se
assim a drenagem do corpo-de-prova.

O peso específico natural do solo foi estimado através dos valores calculados no
Relatório para projeto de eletrodos de aterramento (BARBOSA, 2012) de amostras
pertencentes ao mesmo furo e a profundidades semelhantes, possibilitando a
estimativa das tensões de campo e o planejamento das tensões utilizadas nos ensaios
de cisalhamento direto. Após a realização dos ensaios eletrocinéticos, ϒn e as tensões
de campo foram novamente calculados (ϒnEFGE e tensão calculada de campo). Para o
cálculo das tensões efetivas de campo, ϒsat foi considerado aproximadamente igual à
ϒn e os valores são apresentados na Tabela 3.4.

Tabela 3.4 – Tensões normais aplicadas nos ensaios de cisalhamento direto

Tensão Tensão Tensões


NA ϒHIJKI
Amostra Profundidade estimada de calculada de aplicadas
(m) (kN/m³)
campo (kPa) campo (kPa) (kPa)
200
202 18,61 - 19,22 10,26 18,0 285 255 350
450
50
201 6,00 - 6,61 10,26 19,5 125 125 150
250
150
102 15,00 - 15,61 4,25 18,0 180 165 300
450
50
101 6,41 - 7,02 4,25 18,8 105 105 150
250

37
As tensões normais efetivas aplicadas nos ensaios de cisalhamento direto foram
escolhidas tendo como referência a tensão efetiva de campo aproximada de cada
amostra, selecionando-se assim uma tensão maior que a de campo, uma tensão
próxima à de campo e uma inferior à tensão a que o solo estava submetido no campo.

3.4. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA

Durante a execução dos ensaios eletrocinéticos, decidiu-se pela realização de ensaios


para a caracterização química e mineralógica das amostras, almejando-se a
compreensão do comportamento do solo quando submetido ao procedimento
eletrocinético (e.g., variação do pH, fluxo eletro-osmótico). Esses ensaios foram
realizados sobretudo nas amostras de Triunfo, cujo comportamento foi bastante
particular. Dessa maneira, foram efetuados ensaios de capacidade de troca de
cátions, ataque sulfúrico, capacidade tampão do solo, difração de raios X,
determinação do ponto de carga zero e fluorescência de raios X.

3.4.1. Capacidade de troca de cátions e ataque sulfúrico

As análises de capacidade de troca de cátions do solo de Triunfo e o ataque sulfúrico


foram baseados no Manual de Métodos de Análise de Solo da Embrapa (1997). No
caulim, a capacidade de troca de cátions foi estimada pelo método Azul de Metileno.
As análises foram realizadas no laboratório de Química do setor de Geotecnia da
COPPE.

3.4.2. Capacidade tampão do solo

A capacidade tampão do solo refere-se à sua capacidade de resistir às variações de


pH. O ensaio de determinação da capacidade tampão do solo foi feito em todas as
amostras de Rondônia, seguindo o procedimento de Yong et al. (1990) para a parte
ácida da curva “pH versus concentração”. A parte básica da curva foi traçada com
base no procedimento de Yeung et al. (1997) e Yong et al. (1990). Os ensaios foram
realizados no laboratório de Química da COPPE.

Para a construção do gráfico de capacidade tampão, preparou-se soluções de ácido


nítrico (HNO3) e hidróxido de sódio (NaOH) a concentrações crescentes, variando de 0
até 0,2 mol/L. Media-se então o pH das soluções (valores “brancos”), que eram em
seguida adicionadas ao solo na proporção 1:10, utilizando-se 4 g de solo seco ao ar
(Figura 3.9a) e 40 mL de solução (Figura 3.9b). Os frascos eram colocados em um

38
agitador durante 24 h (Figura 3.9c), para então serem centrifugados (Figura 3.9d).
Após a centrifugação, o pH de cada solução era medido novamente.

Figura 3.9 – Sequência de realização da capacidade tampão da amostra 301

a) pesagem do solo; b) adição da solução a diferentes concentrações; c) agitação do


solo e da solução; d) centrifugação do solo e da solução

3.4.3. Difração de raios X

As análises de DRX foram realizadas no CETEM (Centro de Tecnologia Mineral), o


aparelho utilizado foi o D4 Endeavor, da Bruker, com tubo de cobalto. Todas as
amostras foram analisadas, além do caulim. As análises foram realizadas com
amostras orientadas em lâminas de vidro, conforme a Figura 3.10.

Figura 3.10 – Lâminas preparadas para análises de DRX

No caulim, a difração de raios X foi realizada apenas na amostra integral. Para as


análises do solo de Triunfo, o solo foi preparado de duas formas. O primeiro
procedimento consistiu em passar o solo seco ao ar na peneira de abertura 0,15 mm e

39
o segundo em separar apenas os argilominerais para a análise. Todas as amostras
foram secas ao ar, com exceção da amostra 202 que, por falta de material seco ao ar,
foi utilizada seca em estufa 105 ºC.

Ao todo, foram feitos 4 difratogramas para cada amostra de Triunfo. O primeiro


consistiu em analisar o solo natural cuja granulometria era inferior a 0,15 mm. Os
outros 3 procedimentos foram realizados na fração argila, sendo eles a análise do solo
natural, do solo saturado em solução etilenoglicol (Figura 3.11a) e do solo calcinado a
500 ºC (Figura 3.11b), permitindo assim a diferenciação dos argilominerais.

Figura 3.11 – Preparação da fração argila

a) Solvatação do solo em solução etilenoglicol; (b) calcinação do solo

A separação da fração argila está detalhada a seguir:

• Lavagem de cerca de 80g de solo na peneira 0,075 mm e secagem em estufa


a 40 ºC. Após secagem, o solo era destorroado e pesava-se 30g de solo.

• Adição de 10 mL de defloculante NaOH 0,5 M e 100 mL de água destilada ao


solo, agitando a mistura com um bastão de vidro durante 2 minutos. O solo era
então deixado em repouso durante no mínimo 24h. É importante notar que
cada amostra apresentou comportamento diferente quando adicionado o
defloculante. Nas amostras 101 e 102 a dispersão ocorreu após 24h de
repouso, na amostra 201 observou-se a dispersão após 3 dias e nas amostras
202 e 301 a dispersão aconteceu após 10 dias de contato com o defloculante.

• Colocação da mistura no ultrassom durante dois minutos para então ser levada
ao dispersor por 15 minutos. Transferia-se a mistura para a proveta de 1000
mL completando-se o seu volume com água destilada. Com o auxílio de um
misturador próprio (Figura 3.12a), agitava-se o solo durante 2 minutos em

40
velocidade aproximadamente constante (Figura 3.12b) e deixava-o em repouso
durante 24 horas.

A Figura 3.13 apresenta as amostras 301 e 101 alguns minutos após a


agitação e após 24h, respectivamente, sendo possível observar que, devido à
elevada floculação, a amostra 301 sedimentou muito mais rapidamente que a
amostra 101.

Figura 3.12 – Agitação da amostra 202

a) misturador; b) agitação do solo

Figura 3.13 – Amostras 301 e 101 após agitação

• Findado o repouso, os 20 cm iniciais da mistura eram extraídos da proveta por


sifonação e colocados em um Becker. Adicionava-se então 10 mL de HCl para
neutralizar o defloculante NaOH, agitando com um bastão de vidro. Após esse

41
procedimento, o solo floculava em poucos minutos e era possível a retirada do
excesso de água por sifonação.

• Colocação da mistura em um tubo plástico que era levado para a centrífuga por
1 minuto, como mostrado na Figura 3.14. O solo então separava-se da solução,
que era descartada e o tubo era novamente preenchido até a sua metade com
água destilada e misturado com o bastão de vidro.

Figura 3.14 – Colocação da amostra na centrífuga

Esse procedimento era então repetido aproximadamente 4 vezes, até que todo
o NaCl fosse lavado do solo. Para certificação de que a lavagem estava
completa, após a centrifugação o líquido era retirado do frasco e colocado em
um recipiente, onde adicionava-se AgNO3 e a alteração do aspecto do líquido
de límpido para turvo indicava que ainda havia sal dissolvido na solução.

• Após a lavagem na centrífuga, o solo era espalhado em um recipiente e


deixado ao ar para secagem por 24h, quando então era levado à estufa de
60ºC por pelo menos mais 24h.

3.4.4. Ponto de carga zero

A determinação do ponto de carga zero foi feita no caulim e nas amostras 101, 102 e
201 no CETEM.

A preparação do solo consistiu em separar aproximadamente 40 g da amostra seca ao


ar e colocá-la em um moinho por pelo menos 15 minutos. O solo era então adicionado
a um becker com água deionizada e levado por 10 minutos ao ultrassom, para
dispersar as partículas sem a utilização de defloculante. Por fim, o material era
transferido para uma proveta de 1 L, agitado com um misturador próprio durante 1

42
minuto e colocado em repouso para sedimentação. Após o repouso, a fração inferior a
20 µm era extraída por sifonação.

Para a realização do procedimento, 0,05 g de solo eram separados e adicionados a 10


mL de uma solução de KCl 10-3 M e eram realizadas titulações com soluções de KOH
e HCl. O equipamento utilizado foi da marca Malvern, modelo Zetasizer Nano ZS. O
aparelho realiza as medições do Potencial Zeta utilizando uma combinação de
eletroforese com velocimetria laser.

Vale ressaltar que, devido à elevada floculação do caulim e da amostra 102, a


separação da fração inferior a 20 µm foi realizada com adição de defloculante, NaOH,
que posteriormente era neutralizado com HCl e lavado, da mesma maneira
apresentada para a preparação do solo na realização da difração de raios X.

Os resultados obtidos no equipamento Zeta Sizer foram confrontados com o método


de Uehara (1979), que estabeleceu uma relação entre o ponto de carga zero de solos
de carga variável e o pH do solo em água e em KCl, conforme a Equação 3.4 a seguir:

pH0 = 2.pHKCl – pHH2O (3.4)

3.4.5. Fluorescência de raios X

A fluorescência de raios X foi realizada no Núcleo de Catálise da COPPE. O aparelho


utilizado foi da Rigaku, modelo RIX3100, equipado com tubo de ródio (Rh). Os ensaios
foram realizados apenas nas amostras de Triunfo, que foram preparadas de forma
simples, utilizando-se solo passante na peneira de abertura 0,15 mm. Todas as
amostras foram secas ao ar, exceto a amostra 202, seca em estufa a 105 ºC. As
análises foram realizadas sem diluição das amostras.

3.5. MOLDAGEM DO CORPO DE PROVA PARA ENSAIO ELETROCINÉTICO

3.5.1. Caulim

O procedimento de moldagem do corpo de prova do caulim 1 e caulim 2 foi o mesmo


utilizado por Lima (2013). Desejava-se obter uma umidade inicial de aproximadamente
40%, valor próximo ao limite de liquidez do caulim, e uma densidade natural do solo
em torno de 1,8 g/cm³. Para isso, adicionou-se um volume de 340 mL a 350 mL de
água deionizada a aproximadamente 850 g de caulim. A mistura era então

43
homogeneizada e introduzida na célula eletrocinética, em camadas, aplicando-se
golpes com um pistão para compactação do solo.

No restante das amostras de caulim, decidiu-se moldar o solo adensando-o antes do


ensaio eletrocinético. Dessa forma, esperava-se padronizar o tanto quanto possível os
parâmetros geotécnicos antes da eletrocinética, como o teor de umidade, o peso
específico natural do solo e o seu índice de vazios inicial.

O procedimento de moldagem foi semelhante ao utilizado por Schmidt (2004).


Precedendo à moldagem, 990 g de solo era misturada a 660 mL de água deionizada.
Para isso, primeiramente adicionava-se 300 mL de água e quatro porções de 90 g de
caulim, misturando manualmente o solo, conforme apresentado na Figura 3.15.
Adicionava-se então mais uma porção de 90 g de solo e 60 mL de água e, após
homogeneização, acrescentava-se 180 mL de água e 4 porções de 90 g de caulim.
Por fim, eram adicionados 180 g de solo com 120 mL de água. Após totalmente
misturado, o solo era embalado e levado à câmara úmida, onde permanecia por 2 dias
para a sua completa homogeneização.

Adicionava-se então a mistura ao aparato de adensamento, o mesmo utilizado por


Schmidt (2004), aplicando-se no mínimo 30 golpes em cada lado da base da célula e
com o cilindro na vertical, até que a saída de bolhas cessasse. A mistura era
adicionada ao cilindro em camadas.

Figura 3.15 – Preparação do caulim para adensamento

O pendural era então posicionado acima do pistão dando início ao adensamento


propriamente dito (Figura 3.16). Foram utilizados 3 estágios de carregamentos,
correspondentes a 7,2 kPa, 15,4 kPa e 25 kPa. O primeiro carregamento era aplicado
imediatamente após a montagem do pendural, o segundo 24 h após o início e o

44
terceiro 48 h após iniciar o adensamento. O processo de adensamento tinha duração
de 7 dias, quando a célula era retirada e o ensaio eletrocinético iniciado.

Figura 3.16 – Adensamento do caulim

3.5.2. Amostras de Triunfo, RO

Na ocasião da elaboração do Relatório para projeto de eletrodos de aterramento


(BARBOSA, 2012), foi desenvolvido um mecanismo para extração do solo do
amostrador Denison simultaneamente com a sua moldagem no cilindro eletrocinético.

Para esse fim, foi confeccionado um anel biselado que encaixava no cilindro acrílico,
com o bisel entrando no amostrador Denison, bem como um disco que era
posicionado dentro do amostrador, na base inferior, permitindo a extrusão do solo. O
disco e o anel são apresentados na Figura 3.17.

Figura 3.17 – Disco e anel biselado usados para extrusão do solo

45
Primeiramente, o trecho de amostrador de 20 cm de comprimento selecionado para
ser utilizado no ensaio eletrocinético era seccionado longitudinalmente, aliviando o
confinamento da amostra. A amostra era então envolvida por duas abraçadeiras, uma
em cada extremidade, que fixavam um segmento metálico posicionado acima do corte
longitudinal, evitando a fuga do solo pela abertura (Figura 3.18).

Figura 3.18 – Amostra envolvida por abraçadeiras e segmento metálico

O disco era então colocado abaixo do amostrador e o cilindro com o anel biselado
encaixado eram posicionados acima do amostrador. O conjunto era levado para a
prensa, para a extrusão do solo, conforme a Figura 3.19. A tensão era aplicada
manualmente e lentamente, mantendo o conjunto na posição vertical, sem grandes
inclinações. Devido à rigidez do solo e à presença eventual de pedregulhos, em
algumas amostras era necessário ocasionalmente interromper o processo e ajustar o
conjunto para evitar a distorção e quebra da amostra durante o procedimento.

Figura 3.19 – Extrusão da amostra 202

46
3.6. ENSAIO ELETROCINÉTICO

Após moldagem do corpo de prova, era finalizada a montagem da célula eletrocinética,


acoplando-se os discos perfurados e os eletrodos aos tanques (Figura 3.20a), que
eram então fixados ao cilindro acrílico. Todo o conjunto era preso com quatro tirantes
e porcas, que deviam ser fortemente apertadas para que não ocorressem vazamentos.
A célula montada é apresentada na Figura 3.20b. As dimensões da célula e dos
tanques, bem como a distância entre os pinos extremos de medição de voltagem, são
apresentadas na Figura 3.21.

Figura 3.20 – Célula montada com amostra 202


a) encaixe do disco perfurado no eletrodo DSA®; b) célula eletrocinética montada

Figura 3.21 – Medidas da célula eletrocinética

É importante notar que no ensaio caulim 1 os eletrodos utilizados foram de aço inox e
estavam localizados nas extremidades dos tanques (Figura 3.22a). O restante dos
ensaios foi efetuado com eletrodos de DSA® posicionados juntos ao solo (Figura
3.22b).

Figura 3.22 – Posição dos eletrodos


a) caulim 1; b) restante dos ensaios

47
Os eletrodos de DSA® são compostos de titânio e revestidos com óxidos de diferentes
elementos, como irídio, rutênio, platina, ródio e tântalo. Além disso, os eletrodos
apresentavam superfície em forma de malha, com furos que permitiam a circulação do
fluido entre os tanques e a amostra. O esquema completo do equipamento
eletrocinético é exibido na Figura 3.23.

Figura 3.23 – Esquema do equipamento eletrocinético

Após montagem da célula eletrocinética, ela era posicionada em uma prateleira acima
da bancada e, em um nível superior, colocava-se os reservatórios, por onde a solução
utilizada era inserida. As mangueiras eram acopladas ao sistema e os 5 pinos de
medição de voltagem e temperatura eram posicionados, bem como os tubos de vidro
para saída de gases. De forma a impedir a evaporação da solução, a boca dos tubos
de acrílico que recebiam o fluxo eletro-osmótico, onde os transdutores de pressão
estavam rosqueados, eram vedadas com o auxílio de fita adesiva.

Procedia-se então com a saturação do solo, inserindo a solução utilizada pelos


reservatórios até que o tanque e as mangueiras estivessem completamente
preenchidos com solução. Era importante que os reservatórios fossem preenchidos
até que a solução saísse pela mangueira que liga ao transdutor de pressão,
garantindo assim que o nível em ambos os reservatórios fosse o mesmo, de forma a
não haver gradiente hidráulico. Finalmente, os terminais da fonte eram conectados às
hastes dos eletrodos.

Antes que o sistema elétrico fosse ligado, apenas as bombas eram colocadas em
funcionamento, para que a solução circulasse por pelo menos 30 minutos. O sistema

48
de aquisição de dados e a fonte eram então ligados, iniciando-se o ensaio. O
equipamento eletrocinético em funcionamento é mostrado na Figura 3.24.

Figura 3.24 – Equipamento eletrocinético em funcionamento com amostra caulim 2

Todos os ensaios eletrocinéticos foram realizados mantendo-se a tensão elétrica total


constante e monitorando-se a corrente, a tensão em cada pino de voltagem e o
volume eletro-osmótico. Nos ensaios 301b, 201, 102, 101, caulim 3, caulim 4, caulim
5, caulim 6 e caulim 7 a temperatura no meio da amostra também foi monitorada e
todos os ensaios foram realizados com temperatura ambiente controlada.

As soluções utilizadas nos tanques e nos reservatórios foram água deionizada para o
caulim e, para as amostras de Triunfo, uma solução preparada que teve como
referência as análises químicas de água subterrânea da região onde as amostras
foram extraídas. No primeiro ensaio eletrocinético no solo de Rondônia, realizado na
amostra 202, foi utilizada água deionizada. As análises químicas das soluções
utilizadas nos ensaios eletrocinéticos do caulim e do solo de Triunfo são apresentadas
na Tabela 3.5 e Tabela 3.6.

49
Tabela 3.5 – Análise química da água deionizada

Água deionizada - caulim


pH 5,96
Potencial Redox (mV) 392
Condutividade elétrica específica (µS/cm) 3,8

Tabela 3.6 – Análise química da solução utilizada nas amostras de Triunfo

Solução fabricada – Amostras de Triunfo


pH 7,59
Condutividade elétrica específica (µS/cm) 52,1
Na (mg/L) 3,3
K (mg/L) 2,0
Dureza pelo EDTA (mgCaCO3/L) 7,7
Cloreto (mg/L) 2,9
HCO3 (mg CaCO3/L) 17,0

À medida que os ensaios foram sendo efetuados, algumas condições inicialmente


previstas foram modificadas, como a configuração dos eletrodos, o tempo de aplicação
da técnica e a voltagem. Por essa razão, a Figura 3.25 esquematiza as alterações
sofridas nos ensaios, em ordem cronológica.

A tensão aplicada, o tempo de duração e o objetivo de cada ensaio eletrocinético são


apresentados na Tabela 3.7.

Nova Melhorias no
configuração equipamento
Caulim 1 de eletrodos Amostra 202
eletrocinético Caulim 2 diminuição da voltagem
Solo trincou
15V – 24h 15V – 48h 15V – 24h
Não houve
eletro-osmose
Amostra 301a
diminuição da voltagem

Amostra 301b aumento do tempo


Caulim 3
Amostra 201
Monitoramento da 10V – 48h
10V – 96h
Solo trincou

Amostra 102 temperatura

Amostra 101
Caulim 4
Caulim 5 10V – 96h
Caulim 6
Caulim 7

5V – 96h

Figura 3.25 – Alterações dos ensaios eletrocinéticos

50
Tabela 3.7 – Tensão aplicada, tempo de duração e objetivo dos ensaios EK

Tensão Tempo de
Amostra Objetivo
aplicada duração

Caulim 1 15 V 24h Avaliação da variação dos parâmetros geotécnicos


Caulim 2 15 V 24h Avaliação da variação dos parâmetros geotécnicos
Caulim 3 10 V 96h Determinação do tempo de equalização
Caulim 4 5V 96h Determinação do tempo de equalização
Caulim 5 5V 96h Avaliação da variação dos parâmetros geotécnicos
Caulim 6 5V 96h Avaliação da variação dos parâmetros geotécnicos
Caulim 7 5V 96h Avaliação da variação dos parâmetros geotécnicos
101 10V 96h Avaliação da variação dos parâmetros geotécnicos
102 10V 96h Avaliação da variação dos parâmetros geotécnicos
201 10V 96h Avaliação da variação dos parâmetros geotécnicos
202 15 V 48h Determinação do tempo de equalização
301a 10 V 48h Determinação do tempo de equalização
301b 10 V 96h Determinação do tempo de equalização

3.7. ENSAIOS REALIZADOS APÓS A ELETROCINÉTICA

3.7.1. Caulim

Os ensaios pós EK realizados nas amostras caulim 1 e caulim 2 foram imediatamente


após o fim da eletrocinética, quando então o solo era fatiado nas posições “anodo”,
“meio” e “catodo” para a determinação do pH da solução intersticial e dos limites de
Atterberg.

Nas amostras caulim 3 e caulim 4, para a determinação do tempo de equalização,


foram realizadas medições do pH, Potencial Redox e condutividade elétrica específica
da solução intersticial do solo imediatamente depois do ensaio e 14 dias depois, nas
três posições. O procedimento para fatiamento do solo e extração da solução foi
explicado detalhadamente na seção 3.2.1.

Nas amostras procedentes, caulim 5, caulim 6 e caulim 7, após o tempo de


equalização estabelecido previamente, eram realizados os ensaios de palheta
miniatura (Figura 3.26) e, em seguida, o solo era extraído do cilindro e fatiado nas três
posições, para então serem realizadas as análises da solução intersticial, as
determinações dos teores de umidade e dos limites de Atterberg.

51
Figura 3.26 – Ensaio palheta sendo realizado no caulim

3.7.2. Amostras de Rondônia

Com as amostras de Rondônia destinadas à determinação do tempo de equalização


(202 e 301) procedeu-se de forma semelhante ao caulim. A repartição do solo após
ensaio eletrocinético está explicada na seção 3.2.1.

No restante das amostras provenientes de Triunfo, após o fim do ensaio eletrocinético,


o solo era envolvido por filme de PVC e armazenado na câmara úmida, dentro de um
recipiente. Esperava-se então 14 dias, correspondente ao tempo estabelecido para
equalização, e então o solo era extraído do cilindro para realização dos ensaios de
cisalhamento direto e medidas do pH nas posições “anodo”, “meio” e “catodo”, assim
como a determinação dos teores de umidade nessas posições. Após o término desses
ensaios, com as porções restantes de solo era possível a determinação dos limites de
Atterberg.

Os ensaios de cisalhamento direto foram realizados nas mesmas condições dos


ensaios anteriores à eletrocinética, ou seja, drenados, com os corpos de prova de solo
indeformados e saturados. Os corpos de prova foram moldados à medida que o solo
era extraído do cilindro, cravando um molde para cada posição, totalizando três
moldes.

Após submeter o solo a uma corrente elétrica, espera-se que as suas propriedades
físicas sejam heterogêneas, variando segundo a posição do solo em relação ao anodo
e ao catodo. Conforme apresentado anteriormente, as alterações nas características
do solo decorrem das reações físico-químicas que ocorrem ao longo do ensaio. Por
esse motivo, não é adequado traçar a envoltória do solo após a eletrocinética, uma

52
vez que ele se encontra heterogêneo. Dessa forma, optou-se por plotar os pontos
correspondentes às tensões máximas de ruptura junto com a envoltória de resistência
do solo, sendo possível assim a comparação da resistência do solo antes e após o
ensaio eletrocinético, em cada posição em relação aos eletrodos.

53
4. RESULTADOS – CAULIM

4.1. ENSAIOS REALIZADOS ANTES DA ELETROCINÉTICA

4.1.1. Índices físicos e medida do pH

Antes do procedimento eletrocinético, determinou-se a densidade real dos grãos e,


durante a moldagem do solo na célula eletrocinética, foram feitas determinações do
peso específico natural do solo (γn) e do teor de umidade inicial do solo (w0). A partir
desses parâmetros, foi possível o cálculo do índice de vazios inicial do solo (e0), da
porosidade (n), do peso específico aparente seco (γd) e do grau de saturação (S).

Além das determinações antes da eletrocinética, nas amostras caulim 3 a caulim 7, os


índices físicos foram também determinados antes da moldagem do solo, realizada
através do seu adensamento na célula eletrocinética. Os parâmetros geotécnicos e o
pH dos solos antes da eletrocinética estão apresentados na Tabela 4.1, Tabela 4.2 e
Tabela 4.3.

Tabela 4.1 – Parâmetros geotécnicos e pH do caulim

wP wL IP
Amostra Gs pH
(%) (%) (%)
Caulim 1
6,491
Caulim 2
Caulim 3 7,57
Caulim 4 2,62 21,4 43,2 21,8 7,14
Caulim 5 7,29
Caulim 6 7,40
Caulim 7 7,34
1
Valor utilizado por LIMA, 2013

Tabela 4.2 – Parâmetros geotécnicos do caulim 3, 4, 5, 6 e 7 - antes do adensamento

Antes do adensamento
Amostra ϒd ϒn
e0 n w0 (%) S (%)
(kN/m³) (kN/m³)
Caulim 3 1,67 0,62 9,64 15,54 61,18 96,22
Caulim 4 1,65 0,62 9,70 15,67 61,50 97,73
Caulim 5 1,66 0,62 9,68 15,71 62,30 98,60
Caulim 6 1,77 0,64 9,27 15,27 64,65 95,62
Caulim 7 1,56 0,61 10,04 16,34 62,78 100,00

54
Tabela 4.3 - Parâmetros geotécnicos do caulim – pré EK e após o adensamento

Após o adensamento
Amostra ϒd ϒn
e0 n w0 (%) S (%)
(kN/m³) (kN/m³)
Caulim 1 1,20 0,55 11,60 16,36 41,02 89,03
Caulim 2 1,13 0,53 11,98 16,77 40,02 92,12
Caulim 3 1,27 0,56 11,34 16,58 46,17 95,52
Caulim 4 1,22 0,55 11,56 16,62 43,69 93,62
Caulim 5 1,27 0,56 11,33 16,54 45,94 94,89
Caulim 6 1,29 0,56 11,21 16,25 44,97 91,09
Caulim 7 1,22 0,55 11,58 16,71 44,28 95,19

A densidade real dos grãos (Gs) da caulinita, de acordo com Gidigasu (1976), varia
entre 2,60 e 2,68 e, desse modo, o valor encontrado para o caulim está dentro do
esperado.

A análise granulométrica do caulim (Tabela 4.4) foi realizada com defloculante e


evidenciou a presença de 82 % de silte e 18 % de argila. A curva granulométrica é
apresentada na Figura 4.1.

Tabela 4.4 - Composição granulométrica - caulim (NBR ABNT 6502:1995)

Areia (%)
Amostra Argila (%) Silte (%) Pedregulho (%)
Fina Média Grossa
Caulim 18 82 0 0 0 0

Are ia Are ia Are ia


Argila Silte Pe dre gulho
fina m é dia gros s a
100
Porcentagem que passa (%)

80

60

40

20

Caulim
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Diâmetro dos grãos (mm)

Figura 4.1 - Curva granulométrica do caulim

55
A razão entre o índice de plasticidade e o percentual de argila do caulim, ou seja, a
sua atividade, reflete a influência da fração argila nas propriedades do solo
(MITCHELL E SOGA, 2005). A atividade do caulim foi cerca de 1,2. De acordo com
Mitchell e Soga (2005), a atividade da caulinita é em torno de 0,5, inferior ao
observado no caulim utilizado.

4.1.2. Adensamento unidimensional

O adensamento no caulim foi realizado com a amostra nas mesmas condições nas
quais o solo era submetido à eletrocinética, ou seja, após sua moldagem na célula e
seu adensamento através do incremento de pequenas tensões verticais, conforme
apresentado na seção 3.5.1. A curva de adensamento do caulim é apresentada na
Figura 4.2.

1,35
e0
1,30

1,25

1,20
Índice de vazios

1,15

1,10

1,05

1,00

0,95

0,90

0,85
1 10 100 1000

Tensão (kPa)

Figura 4.2 – Relação índice de vazios e tensão - caulim

Os ensaios de adensamento permitiram o cálculo da tensão de sobreadensamento,


σ’vm (F.L-2), do coeficiente de adensamento, cv (L².T-1), do coeficiente de variação
volumétrica, mv (L².F-1), e do coeficiente de permeabilidade hidráulica, kh (L.T-1). O
coeficiente de adensamento foi determinado pelo Método de Taylor e a tensão de
sobreadensamento foi determinada pelo método de Pacheco Silva. O coeficiente de
variação volumétrica foi calculado através da Equação 4.1 e a permeabilidade
hidráulica (kh) estimada através da Equação 4.2. Nas Equações, Δe e Δσ’ (F.L-2) são

56
as variações do índice de vazios e da tensão efetiva, respectivamente, e ϒw (F.L-3) é o
peso específico da água. Os resultados estão apresentados na Tabela 4.5.

"∆ LMN
= (4.1)
O$ P

= . .ϒ (4.2)

A teoria do adensamento de Terzaghi e Frölich (1936) faz uma série de hipóteses


simplificadoras, dentre as quais a constância do coeficiente de permeabilidade
hidráulica do solo, do coeficiente de variação volumétrica e do coeficiente de
adensamento.

Tabela 4.5 – Valores de σ’vm e cv para o caulim

σ’vm σ’v mv kh Cv90


Amostra
(kPa) (kPa) (x10-2 1/kPa) (x10-8 m/s) (x10-8 m²/s)
3,125 0,843 - -
6,25 0,543 2,10 38,7
12,5 0,376 2,34 62,2
25 0,260 1,91 73,3
Caulim 12
50 0,175 2,28 130,2
100 0,115 2,06 178,8
200 0,073 2,54 346,6
400 0,045 1,41 311,2

Observa-se na Tabela 4.5 que mv é decrescente aumentando-se o carregamento, o


que é esperado pois o solo se torna mais rígido. Segundo Pinto (2006), no trecho ao
logo da reta virgem kh diminui pois o índice de vazios diminui. Como kh foi calculado a
partir de cv, que foi crescente aumentando-se as tensões normais, e de mv, que foi
decrescente, a permeabilidade hidráulica estimada variou pouco no decorrer do
ensaio.

Além do ensaio de adensamento precedendo a eletrocinética, foi realizado um ensaio


palheta miniatura no caulim, nas mesmas condições em que ele foi ensaiado após a
eletrocinética. No intuito de se facilitar a comparação da resistência não drenada do
caulim sem aplicação da técnica e após a técnica, todos os resultados são
apresentados no mesmo gráfico, na seção 4.4.4.

57
4.2. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA

Embora algumas análises químicas do caulim sejam facilmente encontradas na


literatura, optou-se pela realização de alguns ensaios de caracterização química e
mineralógica nesse solo.

4.2.1. Capacidade de troca de cátions

A CTC do caulim determinada pelo ensaio de Azul de Metileno foi de 3,4 cmol/kg.
Segundo van Olphen (1963), a capacidade da troca de cátions da caulinita situa-se
normalmente entre 1 e 10 cmol/kg e, de acordo com Mitchell e Soga (2005), esse
parâmetro varia entre 3 e 15 cmol/kg. Assim, o caulim usado nos experimentos situa-
se na condição de limite inferior da atividade físico-química reportada na literatura.

4.2.2. Ataque sulfúrico

O ataque sulfúrico foi previamente determinado por Lima (2013), no mesmo caulim
estudado neste trabalho. O resultado é apresentado na Tabela 4.6. A relação
molecular Ki de 2,0, segundo Embrapa (1988), corresponde à constituição da caulinita
pura. A composição teórica da caulinita, expressa em óxidos, é 46,54 % de SiO2 e
39,50 % de Al2O3, de acordo com Grim (1953). Os valores obtidos no ataque sulfúrico
foram inferiores aos apresentados na especificação do caulim fornecida pela Brasil
Minas. É importante ressaltar, no entanto, que os percentuais de SiO2 e Al2O3 obtidos
no ataque sulfúrico referem-se apenas à fração coloidal do solo. A composição
química do caulim utilizado pode ser visualizada no Anexo I.

Tabela 4.6 - Ataque sulfúrico do caulim

pH Ataque sulfúrico
Amostra ΔP1 SiO2 Al2O3 Fe2O3 Resíduo
H20 KCl Ki Kr
(%) (%) (%) (%) (%)
Caulim 5,97 5,94 11,43 36,4 32,1 0,39 1,93 1,91 6,83
1
Perda ao fogo

4.2.3. Difração de raios X

Conforme esperado, a difração de raios X, apresentada na Figura 4.3, apresentou


predominantemente picos de caulinita (K) e, em menor escala, picos de muscovita (M)

58
e quartzo (Q), confirmando que o solo é predominantemente caulinítico com algumas
impurezas.

50000
Caulim

K
40000
Contagens (u.a.)

30000

20000

10000 Q
Q
K K
M K K
K Q
M K K K K K K
0
10 20 30 40 50 60 70 80

2θ (grau)
Figura 4.3 – DRX do caullim

4.2.4. Ponto de carga zero

O ponto de carga zero do caulim foi determinado no equipamento Zetasizer Nano ZS e


pela Equação 3.4 de Uehara (1979). Os resultados obtidos são apresentados na
Figura 4.4 e na Tabela 4.7.

40

30

20

10
Potencial Zeta (mV)

-10

-20

-30

-40

-50
Caulim
-60
0 2 4 6 8 10 12 14

pH
Figura 4.4 - Potencial Zeta do caulim

59
Tabela 4.7 - Ponto de carga zero do caulim

Ponto de carga zero


Amostra
Zetasizer Uehara (1979)
Caulim 3,6 5,91

De acordo com Appel et al. (2003), o ponto de carga zero da caulinita, medido através
da mobilidade eletroacústica, varia entre 3,8 e 4,1, a depender da concentração da
solução eletrolítica utilizada. O ponto de carga zero determinado pelo método de
Uehara (1979) foi muito superior ao obtido com o equipamento Zetasizer Nano ZS e
ao encontrado na literatura.

4.3. ENSAIO ELETROCINÉTICO

Foram realizados monitoramentos no tempo da tensão elétrica total e nos pinos de


voltagem, da corrente elétrica, do volume de água extraído do solo por eletro-osmose
e, em alguns casos, da temperatura no meio da amostra. Através desses parâmetros e
da geometria da amostra, é possível o cálculo do gradiente elétrico entre os pinos 1 a
5 ie (V.L-1), da resistividade elétrica ρ (Ω.L), da densidade de corrente j (A.L-²) e do
coeficiente de permeabilidade eletro-osmótica ke (L².V-1.T-1).

O primeiro ensaio realizado (caulim 1) tinha por objetivo a familiarização com o


procedimento eletrocinético e a análise da variação dos limites de Atterberg e do pH
da solução intersticial do solo antes e após o ensaio. O ensaio teve duração de
apenas 24 h e a tensão aplicada foi de 15 V. Na ocasião, foi utilizada a configuração
antiga da célula eletrocinética, em que os eletrodos de aço inox ficavam localizados na
extremidade dos tanques (Figura 3.22a). No restante dos ensaios, foram utilizados
eletrodos DSA®, localizados juntos ao solo. Os resultados do ensaio com o caulim 1
também podem ser visualizados em Fabris et al. (2015).

O segundo ensaio (caulim 2) foi realizado com o novo sistema de aquisição de dados,
as bombas Masterflex, os transdutores de pressão do lado do anodo e do catodo e os
novos pinos de medição de voltagem. Visando a repetição das condições do ensaio no
caulim 1, o procedimento teve duração de 24h e a tensão total foi de 15 V. Observou-
se que o solo trincou no segundo dia de ensaio, próximo ao catodo (Figura 4.5a).

A variação de tensão elétrica nos pinos não é linear, uma vez que, durante o ensaio, a
diferença de potencial entre os pinos 4 e 5 é mais pronunciada quando comparada aos
outros pinos e, por conseguinte, a resistividade elétrica do solo na zona próxima ao
catodo é mais elevada. Alshawabkeh e Acar (1996) constataram que a diminuição da

60
condutividade elétrica do solo próximo ao catodo acarreta no aumento da demanda de
vazão eletro-osmótica (Equação 2.1). Devido à baixa permeabilidade hidráulica do
solo, o fluxo de água ao longo da amostra não é suficiente para atender a essa
demanda e, para compensá-la, ocorre sucção da água no catodo. Como a tensão total
do solo permanece constante, a sua tensão efetiva aumenta.

O desenvolvimento de sucção na região do catodo faz com que o solo tenda a diminuir
de volume apenas nessa região, restringindo a sua variação volumétrica. Como
resposta a essa restrição, surgem esforços de tração, provocando o aparecimento de
trincas (PERON et al., 2009). As trincas próximas ao catodo durante o ensaio
eletrocinético também foram observadas por Schmidt (2004), que atribuiu o fato
também à maior concentração eletrolítica observada nessa região nos seus ensaios e
o efeito sobre a dupla camada. Como a resistividade elétrica do solo é diretamente
proporcional à diferença de potencial elétrico, decidiu-se diminuir a tensão aplicada
para 10 V.

Os ensaios realizados com o caulim 3 e o caulim 4 objetivaram a verificação do tempo


de equalização do caulim. A tensão aplicada ao solo foi de 10 V e, para melhor
visualização da evolução dos parâmetros elétricos do solo, o tempo de ensaio foi
aumentado para 96 horas. Não obstante a diminuição da tensão elétrica aplicada, no
segundo dia de ensaio foi observado que o solo trincou próximo ao catodo, como pode
ser observado na Figura 4.5b.

Figura 4.5 – Trincas no solo durante o ensaio eletrocinético


caulim 2 (a); caulim 3 (b)

Devido ao aparecimento de trincas no caulim 3, a diferença de potencial elétrico


aplicada foi novamente diminuída e, a partir desse ensaio, utilizou-se um valor de 5 V.
Em todos os ensaios subsequentes – caulim 4, caulim 5, caulim 6 e caulim 7 –, o
tempo de aplicação foi de 4 dias e os eletrodos utilizados foram de DSA®, instalados
juntos ao solo. As variações dos parâmetros elétricos e, em alguns casos, da
temperatura, são apresentadas na Figura 4.6 à Figura 4.12. A evolução de ke durante
a eletrocinética é apresentada na Figura 4.13 e Figura 4.14. A Tabela 4.8 resume as

61
condições em que os ensaios com o caulim foram realizados e a faixa de variação dos
parâmetros elétricos monitorados durante a eletrocinética, além da quantidade de fluxo
eletro-osmótico extraído e se o solo trincou ou não durante o ensaio.

Nos ensaios realizados com o caulim, observou-se que o gradiente elétrico e,


consequentemente, a diferença de potencial entre os pinos 1 e 5, aumentou ao longo
do ensaio. O avanço da frente ácida do anodo para o catodo tende a aumentar a
condutividade elétrica do anodo. No catodo, o desenvolvimento de pH básico favorece
a precipitação de elementos químicos, diminuindo a condutividade elétrica do solo
nessa região (ALSHAWABKEH et al., 2004). Dessa forma, há o desenvolvimento de
uma diferença de potencial elétrico não linear durante a eletrocinética, em que a queda
de tensão elétrica é maior na região do catodo e menor na região do anodo. É possível
observar, na Figura 4.15 à Figura 4.21, a variação da tensão elétrica nos pinos, no
tempo e no espaço, nos ensaios realizados no caulim, além da tensão elétrica total
aplicada e de saída.

Conforme será apresentado posteriormente, a diminuição da condutividade elétrica na


região próxima ao catodo foi confirmada através de medições da condutividade
elétrica específica da solução intersticial do solo, após o ensaio, no caulim 3, caulim 4,
caulim 5 e caulim 6. A mesma argumentação utilizada na justificativa do aumento do
gradiente elétrico é válida para explicar o aumento da resistividade elétrica no tempo
entre os pinos 1 e 5.

No caulim 4, caulim 6 e caulim 7, a densidade de corrente elétrica após algumas horas


se manteve aproximadamente constante. A hipótese de densidade de corrente
constante foi feita por diversos autores, tais como Esrig (1968), Wan e Mitchell (1976)
e Alshawabkeh e Acar (1996).

Em todos os casos, ke foi decrescente, embora nos ensaios com o caulim 4, caulim 6 e
caulim 7, em que a tensão elétrica aplicada foi 5 V e o ensaio teve duração de 4 dias,
ke tenha se estabilizado após 45h de ensaio em 3,0 x 10-9 m²/V.s. Essas amostras
apresentaram boa repetibilidade quanto à variação dos parâmetros elétricos. Em todos
esses casos, o volume de solução extraída no fim do ensaio foi de cerca de 50 mL, o
gradiente elétrico observado variou entre 2 V/m e 15 V/m e a densidade de corrente
elétrica entre 0,4 A/m² e 0,8 A/m². A resistividade elétrica oscilou entre 4,5 Ω.m e 23,0
Ω.m. No caulim 5, embora o volume extraído também tenha sido aproximadamente 50
mL, observou-se que os parâmetros elétricos oscilaram durante o ensaio.

A temperatura, em todos os ensaios em que ela foi medida, variou pouco e manteve-
se em torno de 20,5 ºC e 24,0 ºC. O controle da temperatura ambiente é necessário

62
pois, como a amostra é pequena, as variações externas desse parâmetro podem
influenciar de forma importante a temperatura interna da amostra, interferindo nas
medições dos ensaios EK (DEOTTI, 2005).

A perda de potencial elétrico no pino 1, após 5 horas de ensaio, foi superior no caulim
1 (em torno de 55 %), em que foram utilizados eletrodos de aço inox nas extremidades
dos tanques. No restante dos ensaios, a perda no pino 1 variou entre 28 % e 38 %. A
despeito do aumento da diferença de potencial elétrico no pino 1, utilizando-se
eletrodos de DSA® instalados juntos ao solo, observa-se na Figura 4.15 à Figura 4.21
que a queda de potencial elétrico até o primeiro pino foi importante. As perdas
medidas possivelmente ocorreram ao longo da haste dos eletrodos de DSA®, que
estavam em contato com a solução dos tanques e não estavam isoladas
eletricamente.

25 60 5
Tensão aplicada: 15 V

50
20 4

40
15 3
i e (V/m)

j (A/m²)
ρ (Ω.m)

30

10 2
20

5 ie (V/m) 1
10
ρ (Ω.m)
j (A/m²)
0 0 0
5 10 15 20

Tempo (h)
Figura 4.6 – Parâmetros elétricos do caulim 1 entre os pinos 1 e 5
25 5
60 Tensão aplicada: 15 V

20 50 4

40
15 3
ρ (Ω.m)

i e (V/m)

j (A/m²)

30

10 2
20

5 1
10 ie (V/m)
ρ (Ω.m)
j (A/m²)
0 0 0
5 10 15 20 25

Tempo (h)
Figura 4.7 - Parâmetros elétricos do caulim 2 entre os pinos 1 e 5

63
90 60 5 25
Tensão aplicada: 10 V
80
50
4 20
70

60 40

Temperatura (ºC)
3 15
ρ (Ω.m)

i e (V/m)

j (A/m²)
50
30
40
2 10
30 20

ie (V/m)
20
1 5
10 ρ (Ω.m)
10 j (A/m²)
Temperatura (ºC)
0 0 0 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90

Tempo (h)

Figura 4.8 - Parâmetros elétricos do caulim 3 entre os pinos 1 e 5

25 20 1,0 25
Tensão aplicada: 5 V

20 0,8 20
15

Temperatura (ºC)
15 0,6 15
ρ (Ω.m)

i e (V/m)

j (A/m²)

10

10 0,4 10

5 ie (V/m)
5 0,2 5
ρ (Ω.m)
j (A/m²)
Temperatura (ºC)
0 0 0,0 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90

Tempo (h)

Figura 4.9 - Parâmetros elétricos do caulim 4 entre os pinos 1 e 5

64
25 20 25
Tensão aplicada: 5 V 1,0

20 20
15 0,8

Temperatura (ºC)
15 15
0,6
ρ (Ω.m)

i e (V/m)

j (A/m²)
10

10 0,4 10

5
ie (V/m)
5 0,2 5
ρ (Ω.m)
j (A/m²)
Temperatura (ºC)
0 0 0,0 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90

Tempo (h)

Figura 4.10 - Parâmetros elétricos do caulim 5 entre os pinos 1 e 5

25 20 1,0 25
Tensão aplicada: 5 V

20 0,8 20
15

Temperatura (ºC)
15 0,6 15
ρ (Ω.m)

ie (V/m)

j (A/m²)

10

10 0,4 10

5
ie (V/m)
5 0,2 5
ρ (Ω.m)
j (A/m²)
Temperatura (ºC)
0 0 0,0 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90

Tempo (h)

Figura 4.11- Parâmetros elétricos do caulim 6 entre os pinos 1 e 5

65
25 20 1,0 25
Tensão aplicada: 5 V

20 0,8 20
15

Temperatura (ºC)
15 0,6 15
ρ (Ω.m)

i e (V/m)

j (A/m²)
10

10 0,4 10

5
ie (V/m)
5 0,2 5
ρ (Ω.m)
j (A/m²)
Temperatura (ºC)
0 0 0,0 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90

Tempo (h)
Figura 4.12 - Parâmetros elétricos do caulim 7 entre os pinos 1 e 5

2,5e-8
Caulim 1 (15 V)
Caulim 2 (15 V)

2,0e-8

1,5e-8
ke (m²/V.s)

1,0e-8

5,0e-9

0,0
5 10 15 20

Tempo (h)
Figura 4.13 - ke calculado no caulim 1 e caulim 2

2,5e-8
Caulim 3 (10 V)
Caulim 4 (5 V)
Caulim 5 (5 V)
2,0e-8
Caulim 6 (5 V)
Caulim 7 (5 V)

1,5e-8
ke (m²/V.s)

1,0e-8

5,0e-9

0,0
10 20 30 40 50 60 70 80 90

Tempo (h)
Figura 4.14 - ke calculado no caulim 3 ao caulim 7

66
Tensão aplicada: 15 V
16
15
14
13

ddp nos pinos 1 a 5 (V)


12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0 1 25
2 20
Pino 3 15
s 4 10
5 5
0 o (h)
Temp

Figura 4.15 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 1

Tensão aplicada: 15 V
16
15
14
ddp nos os pinos 1 a 5 (V)

13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1 25
2 20
Pino 3
15
s 4
5 10
h)
5 e mpo (
T

Figura 4.16 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 2

67
Tensão aplicada: 10 V
11

10

ddp nos pinos 1 a 5 (V)


8
7
6
5
4
3
2
1
0
1 90
2 80
70
Pino 3 60
s 50
4 40
5 30
20
10 h)
e mpo (
T

Figura 4.17 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 3

6
Tensão aplicada: 5 V

5
ddp nos pinos 1 a 5 (V)

0
1 90
2 80
70
Pino 3 60
s 50
4 40
5 30
20 )
10 p o (h
Tem

Figura 4.18 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 4

68
6
Tensão aplicada: 5 V

ddp nos pinos 1 a 5 (V) 4

0 1 90
2 80
3 70
60
Pi no 4 50
s 40
5 30
20
10
o (h)
Temp

Figura 4.19 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 5

6
Tensão aplicada: 5 V

5
ddp nos pinos 1 a 5 (V)

0 1 90
2 80
3 70
60
Pino 4 50
s 40
5 30
20
o (h)
10
Temp

Figura 4.20 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 6

69
6
Tensão aplicada: 5 V

ddp nos pinos 1 a 5 (V)


4

01
1
2
Pi 3 80 90
no 70
s 4 60
50
5 40
30
20
10
o (h)
Temp

Figura 4.21 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - caulim 7

70
Tabela 4.8 – Resumo das principais condições utilizadas e observações durante a eletrocinética no caulim

Perda no ddp entre os Volume


Densidade ke
ddp total pino 11 Gradiente pinos 4 e 5 Resistividade eletro- Aparecimento
Amostra Eletrodos Duração de Corrente
(V) elétrico (V/m) (Ω.m) osmótico (m²/V.s) de trincas
(%) (V) (A/m²)
(mL)
Aço inox,
1,0 x 10-9 a
Caulim 1 15 afastados 1 dia 55 11 a 23 0,05 a 0,6 1,3 a 2,4 6,5 a 9,5 15 mL Não
3,0 x 10-9
do solo
DSA,
4,3 x 10-10
Caulim 2 15 juntos ao 1 dia 28 36 a 60 1,20 a 4,20 3,7 a 4,7 8,6 a 16,0 11 mL Sim
a 3,0 x 10-9
solo
DSA,
1,4 x 10-9 a
Caulim 3 10 juntos ao 4 dias 38 17 a 60 0,50 a 3,20 0,7 a 2,6 9,0 a 87,0 110 mL Sim
6,6 x 10-9
solo
DSA,
2,7 x 10-9 a
Caulim 4 5 juntos ao 4 dias 38 2 a 14 0 a 0,90 0,5 a 0,8 5,0 a 23,0 56 mL Não
7,6 x 10-9
solo
DSA,
3,6 x 10-9 a
Caulim 5 5 juntos ao 4 dias 38 4 a 11 0,40 a 0,80 0,3 a 1,0 10,0 a 25,0 54 mL Não
1,6 x 10-8
solo
DSA,
2,2 x 10-9 a
Caulim 6 5 juntos ao 4 dias 37 3 a 15 0,20 a 1,0 0,5 a 0,7 6,0 a 23,0 52 mL Não
9,9 x 10-9
solo
DSA,
2,6 x 10-9 a
Caulim 7 5 juntos ao 4 dias 37 2 a 14 0,20 a 1,0 0,4 a 0,7 4,5 a 19,7 53 mL Não
3,0 x 10-8
solo
1
Perdas de potencial elétrico em relação à tensão elétrica total, medidas no pino 1, após 5 horas de ensaio

71
4.3.1. Resumo

• O gradiente elétrico e a resistividade elétrica foram crescentes no decorrer de


todos os ensaios realizados com o caulim. O coeficiente de permeabilidade
eletro-osmótica foi decrescente e a densidade de corrente aproximadamente
constante. Na zona próxima ao catodo, a resistividade elétrica foi superior ao
observado próximo ao anodo e, por essa razão, a diferença de potencial
elétrico entre os pinos é não linear.

• Aplicando-se uma diferença de potencial elétrico superior ou igual a 10 V no


caulim, o desenvolvimento de zonas de diferentes resistividades ao longo da
amostra ocasionou trincas de tração na região próxima ao catodo. Diminuindo-
se a tensão para 5 V, a resistividade no solo diminui e não ocorreram trincas no
caulim.

• O fluxo eletro-osmótico ocorreu no sentido anodo-catodo em todos os


experimentos. O volume de solução extraída de todos os ensaios em que
foram aplicados 5 V de tensão elétrica total foi de cerca de 50 mL após 4 dias.
A quantidade de solução extraída no ensaio é proporcional ao gradiente de
voltagem no solo e, nas amostras em que a diferença de potencial aplicada foi
5 V, o gradiente elétrico oscilou entre 2 V/m e 15 V/m.

• Nos ensaios realizados com o caulim 4, caulim 6 e caulim 7, em que foram


utilizados 5 V durante 4 dias, após cerca de 45 h de ensaio, o coeficiente de
permeabilidade eletro-osmótica estabilizou-se em aproximadamente 3,0 x 10-9
m²/V.s, o gradiente elétrico variou entre 2 V/m e 15 V/m, a densidade de
corrente elétrica entre 0,4 A/m² e 0,8 A/m² e a resistividade elétrica oscilou
entre 4,5 Ω.m e 23 Ω.m.

• Observou-se que, utilizando-se eletrodos de aço inox posicionados nas


extremidades dos tanques, as perdas de potencial elétrico até o pino 1 foram
em torno de 55 %. Com a utilização de eletrodos de DSA®, posicionados
juntos ao solo, as perdas variaram entre 28 % e 38 % e possivelmente
ocorreram ao longo das hastes dos eletrodos.

72
4.4. ENSAIOS REALIZADOS APÓS A ELETROCINÉTICA

4.4.1. Teores de umidade

O teor de umidade foi determinado em todos os solos antes da eletrocinética e após,


em cada fatia (próximo ao anodo, meio e próximo ao catodo). Em todos os casos, a
condição de drenagem foi anodo e catodo abertos.

Nas amostras caulim 1 e caulim 2, após o término do ensaio eletrocinético,


determinou-se os teores de umidade nas posições anodo, meio e catodo do corpo-de-
prova (Figura 4.22). Nas amostras utilizadas para a equalização (caulim 3 e caulim 4),
foram feitas medições dos teores de umidade imediatamente após o ensaio e quando
do fatiamento do solo, ou seja, em t = 0 e t = 14 dias (Figura 4.23 e Figura 4.24). No
caulim 5 e caulim 6 a umidade foi determinada 21 dias após a eletrocinética e, no
caulim 7, após 60 dias (Figura 4.25).

Os teores de umidade nas fatias do caulim após a eletrocinética foram semelhantes


entre si. O caulim 5 e o caulim 6 apresentaram as maiores variações, com a fatia 1
(próximo ao anodo) com teor de umidade cerca de 5 % e 7 % inferior à fatia 3 (próximo
ao catodo), respectivamente. No caulim 7, a umidade na fatia 1 foi cerca de 4 % menor
que a fatia 3. No restante dos ensaios, o teor de umidade entre as fatias foi
praticamente constante, variando menos de 3 %.

60 ____ w - caulim 1
0
Umidade pós EK: t = 0 - caulim 1 (15 V)
_ _ _ w - caulim 2
0 Umidade pós EK: t = 0 - caulim 2 (15 V)
50
Duração dos ensaios EK: 1 dia

40
Umidade (%)

30

20

10

0
Próximo ao anodo Meio Próximo ao catodo
Figura 4.22 – Teores de umidade - caulim 1 e caulim 2

73
60
____ w - caulim 3
0 Umidade pós EK (%): t = 0 (10 V)
Umidade pós EK (%): t = 14 dias (10 V)
Duração do ensaio EK: 4 dias
50

40

Umidade (%)
30

20

10

0
Próximo ao anodo Meio Próximo ao catodo

Figura 4.23 - Teores de umidade - caulim 3

60
____ w - caulim 4
0
Umidade pós EK (%): t = 0 (5 V)
Duração do ensaio EK: 4 dias Umidade pós EK (%): t = 14 dias (5 V)
50

40
Umidade (%)

30

20

10

0
Próximo ao anodo Meio Próximo ao catodo

Figura 4.24 - Teores de umidade - caulim 4

____ w - caulim 5
0 Umidade pós EK: t = 21 dias - caulim 5 (5 V)
_ _ _ w - caulim 6
60 0 Umidade pós EK: t = 21 dias - caulim 6 (5 V)
....... w - caulim 7
0 Umidade pós EK: t = 60 dias - caulim 7 (5 V)

50 Duração dos ensaios EK: 4 dias


Umidade %

40

30

20

10

0
Próximo ao anodo Meio Próximo ao catodo

Figura 4.25 - Teores de umidade - caulim 5, caulim 6 e caulim 7

74
A variação do teor de umidade ao longo do solo depende principalmente da condição
de drenagem utilizada no ensaio e, em menor escala, das alterações físico-químicas e
elétricas do solo ao longo do procedimento eletrocinético. Em todos os casos, a
condição de drenagem foi anodo e catodo abertos. Em uma massa de solo
homogênea, seria natural que a umidade ao longo da amostra fosse aproximadamente
igual após o ensaio eletrocinético. No decorrer do ensaio, todavia, gradientes de
voltagem não uniformes se desenvolvem ao longo do solo, gerando assim gradientes
hidráulicos (ESRIG, 1968). A geração de gradientes de voltagem não uniformes
decorre do desenvolvimento de zonas de diferentes condutividades elétricas no solo.
De acordo com as Equações 2.1 e 2.2, a vazão eletro-osmótica é diretamente
proporcional ao gradiente elétrico. Como na região do catodo a resistividade é maior
quando comparada com as imediações do anodo, espera-se que a eletro-osmose no
catodo seja superior do que no anodo, ou seja, que o teor de umidade seja superior na
seção do catodo.

Os gráficos de tensão elétrica nos pinos no decorrer do ensaio, apresentados na


Figura 4.15 à Figura 4.21, evidenciam que a queda de potencial elétrico (logo o
aumento da resistividade, tendo em vista a pouca variação da corrente elétrica) no
pino 5, próximo ao catodo, é maior com o aumento da tensão elétrica aplicada e
aumenta durante o ensaio eletrocinético. Dessa forma, nas condições estudadas, tanto
o tempo de aplicação da eletrocinética quanto a diferença de potencial elétrico são
fatores importantes na análise da variação dos teores de umidade.

Nos ensaios cuja aplicação do campo elétrico durou 4 dias (caulim 3 a caulim 7), as
variações na umidade foram mais importantes, com exceção do caulim 3, em que a
umidade variou no máximo 2 %. No restante dos ensaios (caulim 1 e caulim 2), com
duração de apenas 1 dia, a umidade não variou mais do que 2,5 % entre as fatias.

Os maiores valores de gradiente elétrico foram observados no caulim 2 e no caulim 3,


embora essas amostras tenham apresentado pouca variação de umidade. É
interessante notar, no entanto, que ambas trincaram durante a eletrocinética,
evidenciando um possível desenvolvimento de poropressões negativas na região do
catodo. Eykholt (1997) observou que a variação dos teores de umidade em um solo
caulinítico acompanhou o perfil de poropressão do solo, de forma que tão mais
negativa era a poropressão, menor a umidade medida na amostra. Ademais, as trincas
observadas no solo podem criar um caminho preferencial de percolação da solução,
“mascarando” as medições de umidade após o ensaio.

75
4.4.2. pH, potencial redox e condutividade elétrica específica

O pH foi medido em todos os ensaios, antes e após a técnica eletrocinética. Os


ensaios com as amostras caulim 1, caulim 2, caulim 5, caulim 6 e caulim 7 foram
destinados à verificação da variação dos parâmetros geotécnicos. Já o caulim 3 e o
caulim 4 foram utilizados para a determinação do tempo de equalização. No caulim 1 e
caulim 2, determinou-se apenas o pH antes e imediatamente após a aplicação da
eletrocinética, pois na ocasião a condutividade elétrica e o potencial redox ainda não
estavam sendo monitorados. A Figura 4.26 apresenta as variações do pH no caulim 1
e no caulim 2, a Figura 4.27 as alterações do pH no caulim 3 e caulim 4 e, na Figura
4.28, são mostradas as variações observadas no caulim 5, caulim 6 e caulim 7.

14
pH inicial caulim 1 e caulim 2
pH das fatias: t = 0 - caulim 1 (15 V)
12
pH das fatias: t = 0 - caulim 2 (15 V)

10

8
pH

Duração dos ensaios EK: 1 dia


0
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo
Figura 4.26 – Variação do pH - caulim 1 e caulim 2

14
pH inicial caulim 3
pH inicial caulim 4
12
pH das fatias: t = 0 - caulim 3 (10 V)
pH das fatias: t = 0 - caulim 4 (5 V)
10 pH das fatias: t = 14 dias - caulim 3 (10 V)
pH das fatias: t = 14 dias - caulim 4 (5 V)

8
pH

Duração dos ensaios EK: 4 dias


0
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo
Figura 4.27 - Variação do pH - caulim 3 e caulim 4 (equalização)

76
14
pH inicial caulim 5
pH inicial caulim 6
12
pH inicial caulim 7
pH das fatias: t = 21 dias - caulim 5 (5 V)
10 pH das fatias: t = 21 dias - caulim 6 (5 V)
pH das fatias: t = 60 dias - caulim 7 (5 V)

8
pH

Duração dos ensaios EK: 4 dias


0
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo

Figura 4.28 - Variação do pH - caulim 5, caulim 6 e caulim 7

O pH nas fatias foi ácido na região do anodo e básico na região do catodo, conforme
era de se esperar pelas reações de eletrólise na água que, juntamente com a
capacidade tampão do solo, controlam as alterações de pH no solo. A utilização de
maiores tensões elétricas acarreta em maiores densidades de correntes, aumentando
a eletrólise da água durante o ensaio eletrocinético.

O ensaio realizado no caulim 2, em que foram aplicados 15 V durante 24 horas, foi o


que apresentou maior densidade de corrente elétrica (entre 3,7 A/m² e 4,7 A/m²). A
densidade de corrente no caulim 3 (entre 0,7 A/m² e 2,6 A/m²), utilizando 10 V durante
4 dias, foi próxima ao observado no caulim 1 (entre 1,3 A/m² e 2,4 A/m²), em que
foram aplicados 15 V durante 1 dia. No restante dos ensaios, com utilização de 5 V
durante 4 dias, a densidade de corrente desenvolvida esteve compreendida entre 0,3
A/m² e 1,0 A/m². As maiores variações de pH foram observadas no caulim 2 e no
caulim 3, estando compreendido entre 2,0 e 10,0 nessas duas amostras. Dessa forma,
conforme esperado, as reações de eletrólise são mais intensas com maiores
densidades de corrente elétrica. Além disso, o maior tempo de aplicação da técnica
eletrocinética no caulim 3 em relação ao caulim 1 possivelmente ocasionou uma maior
variação de pH no caulim 3.

Com relação às amostras destinadas à equalização, os pHs das fatias foram bastante
distintos entre si. Após 14 dias, nenhuma das amostras (caulim 3 e caulim 4)
apresentaram o pH equalizado, como pode ser constatado na Figura 4.27. Observa-se
ainda que o pH da solução extraída próxima ao catodo, no caulim 3, imediatamente

77
após o ensaio, foi aproximadamente 10, enquanto no caulim 4 o pH na mesma
posição foi cerca de 8. Novamente, é interessante notar que a tensão elétrica aplicada
no caulim 3 foi 10 V e no caulim 4 foram utilizados 5 V. Consequentemente, a
densidade de corrente elétrica no caulim 3 foi superior ao observado no caulim 4.
Como o pH do caulim apresentou uma grande variação entre as fatias, decidiu-se que
o tempo adotado de equalização do solo para os ensaios de análise dos parâmetros
geotécnicos seria de 21 dias.

O caulim 5, o caulim 6 e o caulim 7 apresentaram, após 21 dias do término da


eletrocinética e 60 dias (caulim 7), valores de pH bem próximos ao encontrado no
caulim 4, quando t = 14 dias. Nesses experimentos, a tensão elétrica aplicada foi 5 V e
o tempo de aplicação da técnica foi de 4 dias. Os quatro ensaios apresentaram pHs na
fatia 1, 2 e 3 próximos de 4, 7 e 8, respectivamente, conforme está apresentado na
Figura 4.27 e Figura 4.28. Em relação à equalização, observou-se que, após 14 dias,
21 dias ou 60 dias, as amostras não equalizaram, uma vez que o critério estabelecido
para equalização foi a observância do mesmo pH nas três fatias, sugerindo que o
tempo de equalização do solo é muito superior a 60 dias.

A condutividade elétrica específica (CEE) das amostras caulim 3 e caulim 4 estão


apresentados na Figura 4.29 e, das amostras caulim 5, caulim 6 e caulim 7 na Figura
4.30. A CEE em todos os ensaios com o caulim em que esse parâmetro foi medido foi
inferior na fatia 3 em relação às outras duas fatias, exceto no caulim 7, cuja CEE foi
superior na fatia 3. No caulim 4, com t = 14 dias, no caulim 5 e no caulim 6, com t = 21
dias e no caulim 7, com t = 60 dias, a CEE em todas as fatias foi inferior à
condutividade elétrica inicial da solução intersticial do solo e superior à condutividade
da solução dos tanques. Como a solução utilizada no ensaio foi água deionizada cuja
condutividade medida foi de aproximadamente 4 µS/cm, é natural que, mesmo após o
ensaio eletrocinético, a condutividade elétrica específica da solução dos tanques seja
inferior à do solo.

A CEE da solução intersticial do solo depende, dentre outros fatores, da sua


concentração iônica. Conforme observado por Alshawabkeh e Acar (1996), na zona do
anodo, o fluxo de íons H+ faz com que a condutividade elétrica aumente e o pH
diminua nessa região. Além dos íons de hidrogênio, é preciso considerar a
eletromigração de outros íons que porventura estejam presentes na solução intersticial
do solo e a mobilidade desses elementos. Segundo Alshawabkeh et al. (2004), no
catodo o pH básico favorece a precipitação de elementos químicos, diminuindo a
condutividade elétrica do solo nessa região. Dessa forma, uma maior densidade de

78
corrente elétrica, além de aumentar as variações de pH da solução intersticial do solo,
também ocasiona um aumento nas variações de CEE nas fatias de solo.

CE inicial caulim 3

Condutividade elétrica específica (µS/cm)


5000
CE inicial caulim 4
CE das fatias: t = 0 - caulim 3 (10 V)
CE das fatias: t = 0 - caulim 4 (5 V)
4000 CE das fatias: t = 14 dias - caulim 3 (10 V)
CE das fatias: t = 14 dias - caulim 4 (5 V)

3000

2000

1000

Duração dos ensaios EK: 4 dias


0
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo

Figura 4.29 – CEE - caulim 3 e caulim 4 (equalização)

CE inicial caulim 5 (5 V)
Condutividade elétrica específica (µS/cm)

5000
CE inicial caulim 6 (5 V)
CE inicial caulim 7 (5 V)
CE das fatias: t = 21 dias - caulim 5 (5 V)
4000 CE das fatias: t = 21 dias - caulim 6 (5 V)
CE das fatias: t = 60 dias - caulim 7 (5 V)

3000

2000

1000

Duração dos ensaios EK: 4 dias


0
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo

Figura 4.30 – CEE - caulim 5, caulim 6 e caulim 7

O potencial redox (Eh) da solução intersticial do caulim 3 e caulim 4 é apresentado na


Figura 4.31 e, para as amostras caulim 5, caulim 6 e caulim 7, o Eh é mostrado na
Figura 4.32. O Eh em todas as amostras em que esse parâmetro foi determinado foi
positivo na solução extraída do tanque do anodo e negativo na solução do tanque do
catodo. No anodo, onde ocorre oxidação da água, o Eh positivo confirma o caráter
oxidante da solução e, no catodo, onde ocorre redução da água, o Eh negativo indica
o seu caráter redutor. Resultado semelhante foi encontrado por Schmidt (2004).

79
O potencial redox do caulim 4, após 14 dias, do caulim 5 e do caulim 6, após 21 dias,
e do caulim 7, após 60 dias, foi superior na fatia 1 e inferior na fatia 2, embora os
valores medidos na fatia 2 e na fatia 3 sejam bastante similares. As reações redox
estão intimamente ligadas às variações de pH no solo. De acordo com Sposito (2008),
a formação de redutores normalmente resulta no consumo de prótons e,
consequentemente, no aumento do pH. Dessa forma, espera-se que a diminuição do
Eh esteja relacionada a um aumento do pH no solo e, embora de forma geral esse
comportamento tenha sido observado, no caulim 4 (após 14 dias), no caulim 5, caulim
6 e caulim 7 o aumento do pH na fatia 3 em relação à fatia 2 foi associado a um
aumento do Eh na fatia 3 em relação à fatia do meio.

Assim como observado com o pH e a CEE, a maior densidade de corrente elétrica


desenvolvida no caulim 3 ocasionou variações do Eh mais acentuadas do que no
caulim 4, em que a densidade de corrente foi inferior pois a tensão aplicada foi
reduzida pela metade.

O pH, a CEE e o Eh das amostras caulim 5, caulim 6 e caulim 7, após 21 dias do


término do ensaio eletrocinético ou depois de 60 dias do fim da eletrocinética, com
aplicação de 5 V, foram muito semelhantes entre si, demonstrando boa repetibilidade
dos resultados encontrados. Dada a proximidade dos resultados, é notável ainda que
o tempo decorrido após o término da eletrocinética teve pouco efeito nesses
parâmetros.

700
Duração dos ensaios EK: 4 dias

600

500
Potencial Redox (mV)

400

300

200
Eh inicial caulim 3
Eh inicial caulim 4
100
Eh das fatias: t = 0 - caulim 3 (10 V)
Eh das fatias: t = 0 - caulim 4 (5 V)
0 Eh das fatias: t = 14 dias - caulim 3 (10 V)
Eh das fatias: t = 14 dias - caulim 4 (5 V)
-100
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo
Figura 4.31 – Eh - caulim 3 e caulim 4 (equalização)

80
800
Eh inicial caulim 5 (5 V)
Eh inicial caulim 6 (5 V)
Eh inicial caulim 7 (5 V)
600
Eh das fatias: t = 21 dias - caulim 5 (5 V)
Eh das fatias: t = 21 dias - caulim 6 (5 V)

Potencial Redox (mV)


Eh das fatias: t = 60 dias - caulim 7 (5 V)
400

200

Duração dos ensaios EK: 4 dias


-200
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo
Figura 4.32 – Eh - caulim 5, caulim 6 e caulim 7

4.4.3. Limites de Atterberg

A determinação dos limites de Atterberg foi realizada em todas as amostras


estudadas. Nas amostras destinadas à estimativa do tempo de equalização (caulim 3
e caulim 4), o limite de liquidez e de plasticidade foram realizados apenas antes do
ensaio eletrocinético. No restante das amostras, com exceção do caulim 7, os limites
de Atterberg foram determinados antes e após o ensaio, nas posições próximo ao
anodo, meio e próximo ao catodo.

Foram realizadas duas análises distintas. A primeira consistiu em comparar os limites


de Atterberg sem e após a aplicação da técnica eletrocinética e a segunda objetivou a
comparação entre os valores obtidos após eletrocinética.

Os ensaios realizados com o caulim, no que tange a análise antes e após


eletrocinética, evidenciaram que os limites de plasticidade pouco variaram em relação
ao valor sem eletrocinética. As maiores alterações foram observadas na posição
próxima ao anodo, no caulim 1 e caulim 5, e no meio, no caulim 5. Considerando o
limite de liquidez, em todas as amostras esse parâmetro aumentou na posição anodo
e foi inferior nas posições meio e catodo. O índice de plasticidade também foi superior
na posição anodo em relação ao valor inicial, com exceção do caulim 1, que
apresentou, em todas as posições, índice de plasticidade inferior ao valor inicial. Os
resultados são apresentados na Figura 4.33, Figura 4.34 e Figura 4.35.

81
24

Umidade no limite de plasticidade (%)


22

20

wP inicial
18
wP pós EK: t = 0 - caulim 1 (15 V)
wP pós EK: t = 0 - caulim 2 (15 V)
wP pós EK: t = 21 dias - caulim 5 (5 V)
16
wP pós EK: t = 21 dias - caulim 6 (5 V)

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0

Distância normalizada do anodo


Figura 4.33 – Limites de plasticidade - caulim

44
Umidade no limite de liquidez (%)

42

40

wL inicial
38
wL pós EK: t = 0 - caulim 1 (15 V)
wL pós EK: t = 0 - caulim 2 (15 V)
wL pós EK: t = 21 dias - caulim 5 (5 V)
36
wL pós EK: t = 21 dias - caulim 6 (5 V)

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0

Distância normalizada do anodo


Figura 4.34 – Limites de liquidez - caulim

23

22
Umidade (%)

21

20

IP inicial
19 IP pós EK: t = 0 - caulim 1 (15 V)
IP pós EK: t = 0 - caulim 2 (15 V)
IP pós EK: t = 21 dias - caulim 5 (5 V)
IP pós EK: t = 21 dias - caulim 6 (5 V)
18
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0

Distância normalizada do anodo


Figura 4.35 – Índice de plasticidade - caulim

82
Analisando apenas os resultados pós ensaio, porém, é notável que todas as
determinações do limite de liquidez e do índice de plasticidade apresentaram um
padrão decrescente no sentido anodo-catodo, conforme pode ser observado na Figura
4.34 e na Figura 4.35. As maiores variações de limite de liquidez entre as fatias
ocorreram no caulim 2 e no caulim 5, em que a variação do teor de umidade entre e
anodo e o catodo foi superior a 3 %. Nas amostras caulim 1, caulim 5 e caulim 6, o
limite de plasticidade foi maior no anodo e a variação mais importante foi observada no
caulim 5, cujo teor de umidade entre as fatias variou em torno de 2,6 %. No caulim 2 e
no caulim 6 as alterações no limite de plasticidade foram muito discretas.

De acordo com Mitchell e Soga (2005), para que ocorram alterações nos limites de
Atterberg são necessárias mudanças na mineralogia, nas características das
partículas ou da solução intersticial. Assim como ocorreu com o caulim, Bjerrum et al.
(1967), observaram um aumento no limite de liquidez próximo ao anodo em relação ao
valor anterior à aplicação da eletrocinética.

A alteração mais marcante observada nos ensaios eletrocinéticos é a variação do pH


da solução intersticial ao longo da amostra. Conforme apresentado na seção 2.3.4,
ambientes ácidos, como os observados na região do anodo, favorecem o arranjo
floculado dos argilominerais, que apresenta maior volume de vazios e,
consequentemente, limite de liquidez mais elevado em relação ao arranjo disperso
(SRIDHARAN et al., 1988). Além disso, ambientes ácidos podem acarretar em
alterações na microestrutura dos argilominerais, como a dissolução de Al3+, além da
incorporação de cátions na sua estrutura.

Tendo em vista a similaridade dos resultados obtidos na determinação dos limites de


Atterberg após a eletrocinética, em especial do limite de liquidez, observada tanto com
o pH do solo variando entre 4,0 e 8,0 (e.g., caulim 1, caulim 5 e caulim 6) ou entre 2,0
e 10,0 (e.g., caulim 2), é possível inferir que as reações eletroquímicas responsáveis
pelas alterações nos limites de liquidez e plasticidade foram semelhantes em todos os
ensaios. Dessa forma, os mecanismos envolvidos nas alterações do arranjo das
partículas e nas trocas iônicas do caulim ocorrem tanto em condições mais ácidas ou
básicas quanto em condições menos extremas de variação de pH.

As semelhanças encontradas nas determinações dos limites de Atterberg logo após o


término do ensaio ou após 21 dias sugerem que o tempo de equalização não interferiu
nos valores do limite de liquidez e do limite de plasticidade das amostras de caulim.

83
4.4.4. Resistência ao cisalhamento dos solos

A resistência ao cisalhamento não drenada do caulim 5, caulim 6 e caulim 7 foi medida


através de ensaios de palheta. Para comparação dos resultados com e sem ensaio
eletrocinético, foi realizado um ensaio com o caulim sem o procedimento eletrocinético
(pré-EK). Os resultados são apresentados na Figura 4.36, Figura 4.37 e Figura 4.38.

2,5
Tensão aplicada: 5 V
Duração do ensaio EK: 4 dias

2,0
Torque (N.cm)

1,5

1,0

Pré EK (w = 45,3 %)
0,5
Anodo: t = 21 dias (w = 45,1 %)
Meio t = 21 dias (w = 48,8 %)
Catodo t = 21 dias (w = 50,0 %)
0,0
0 5 10 15 20 25 30 35

Rotação (º)
Figura 4.36 – Ensaio palheta caulim 5

2,5
Tensão aplicada: 5 V
Duração do ensaio EK: 4 dias

2,0
Torque (N.cm)

1,5

1,0

Pré EK (w = 45,3 %)
0,5
Anodo: t = 21 dias (w = 43,2 %)
Meio: t = 21 dias (w = 49,5 %)
Catodo: t = 21 dias (w = 51,4 %)
0,0
0 5 10 15 20 25 30 35

Rotação (º)
Figura 4.37 – Ensaio palheta caulim 6

84
2,5
Tensão aplicada: 5 V
Duração do ensaio EK: 4 dias

2,0

Torque (N.cm)
1,5

1,0

Pré EK (w = 45,3 %)
0,5
Anodo: t = 60 dias (w = 44,7 %)
Meio: t = 60 dias (w = 47,8 %)
Catodo: t = 60 dias (w = 48,8 %)
0,0
0 5 10 15 20 25 30 35

Rotação (º)
Figura 4.38 - Ensaio palheta caulim 7

É notável na Figura 4.36 o aumento do torque, logo da resistência não drenada do


solo, após a utilização da técnica eletrocinética no caulim 5. Nas imediações do anodo
esse aumento foi ainda mais importante, representando um acréscimo de mais de 95
% em relação ao valor de resistência inicial.

Considerando o caulim 6, o aumento do torque na região próxima ao anodo também


foi pronunciado, representando um aumento de cerca de 50 % em relação ao valor
inicial. No entanto, embora o catodo tenha apresentado resistência não drenada
máxima igual à resistência inicial, na região do meio esse valor foi ligeiramente inferior
ao inicial.

No caulim 7, cuja resistência não drenada foi obtida 60 dias após o fim do ensaio
eletrocinético, a resistência na posição próxima ao anodo mais que dobrou em relação
à resistência inicial. No meio da amostra, a resistência foi aproximadamente 50 %
superior ao valor inicial e, próximo ao catodo, a resistência foi um pouco abaixo do
valor sem a aplicação da técnica eletrocinética.

Além do aumento da resistência não drenada do solo no anodo, nessa região também
foi observado um aumento da declividade da reta tangente à curva, passando pela
origem, ou seja, um aumento da rigidez do caulim.

É importante observar ainda que, embora o teor de umidade na região próxima ao


anodo seja inferior às demais fatias, a discrepância entre os valores de resistência não
drenada medidos deixa claro que apenas o teor de umidade não justifica esse
aumento. Observa-se, por exemplo, que o teor de umidade do solo sem eletrocinética

85
(w0 = 45,3 %) foi praticamente igual à umidade do caulim 5 na posição anodo (w =
45,1 %) e, no entanto, o aumento de Su foi superior a 95 % na região do anodo. Os
valores de Su estão expostos na Tabela 4.9.

Tabela 4.9 – Resistência ao cisalhamento não drenada do caulim – pré e pós EK

Amostra Torque máximo (N.cm) Su (kPa)


Pré EK 1 1,33
Pós EK Anodo Meio Catodo Anodo Meio Catodo
Caulim 5 1,9 1,2 1,2 2,6 1,6 1,6
Caulim 6 1,5 0,75 1,0 2,0 1,0 1,3
Caulim 7 2,2 1,5 0,8 2,9 2,0 1,1

O aumento na resistência ao cisalhamento nas proximidades do anodo também foi


verificado por Bjerrum et al. (1967) e Chappel e Burton (1975). Assim como observado
com o caulim, os autores ressaltam que a variação da resistência do solo não é
justificada apenas pela variação da sua umidade, sendo possivelmente atribuída
também a efeitos físico-químicos que se desenvolveram durante a aplicação da
técnica.

Os efeitos eletroquímicos que ocorrem no anodo e no catodo são, sobretudo, devido


às variações de pH nessas regiões. Nas zonas ácidas, próximo ao anodo, o arranjo
das partículas do mineral caulinita tende a ser floculado, contribuindo para o aumento
no limite de liquidez e da resistência ao cisalhamento do solo. Segundo Lambe e
Whitman (1969), a reorientação das partículas de argila para um arranjo face-a-face
pode ser acompanhada de uma diminuição do ângulo de atrito do solo e no grau de
"interlocking".

Além das alterações no arranjo dos solos, é importante notar que ambientes ácidos
favorecem a competição de íons H+ e Al3+ (resultante da dissolução do argilomineral
em pH baixo) pelos sítios de adsorção, diminuindo assim a adsorção de cátions em
ambientes ácidos (CARROLL E STARKEY, 1971; ROY et al., 1992). As reações de
sorção no solo, especialmente a substituição dos cátions presentes no complexo
sortivo do solo por íons de alumínio, também podem causar alterações nas
propriedades físicas do argilomineral. Bjerrum (1967) e Casagrande (UNITED STATES
PATENT OFFICE, 1937) mencionam a incorporação de íons de alumínio no
argilomineral como possível causa das alterações nas propriedades geotécnicas do
solo.

86
Tendo em vista que, após 21 dias do término do ensaio eletrocinético (caulim 6) ou 60
dias depois do fim do ensaio (caulim 7) o aumento da resistência não drenada do solo
foi cerca de 100 %, possivelmente o tempo de equalização não exerceu grande
influência nesse parâmetro.

4.4.5. Resumo
• Em geral, os teores de umidade variaram pouco entre as fatias de solo após a
eletrocinética. As variações observadas decorrem possivelmente do
desenvolvimento de zonas de condutividades elétricas diferentes ao longo do
solo. Com exceção do caulim 3, nos ensaios de maior duração (4 dias), as
variações dos teores de umidade foram mais pronunciadas, possivelmente
porque a resistividade elétrica do solo aumenta no decorrer do ensaio. Nessas
amostras, a umidade foi crescente do anodo para o catodo e, como a vazão
eletro-osmótica é proporcional ao gradiente elétrico e na região do catodo a
resistividade é maior quando comparada com as imediações do anodo, espera-
se que a eletro-osmose no catodo seja maior do que no anodo, ou seja, que o
teor de umidade seja superior na seção do catodo.

• As medições de pH nas amostras de caulim variaram consideravelmente ao


longo do solo, sendo o pH tão mais ácido quanto mais próximo o solo se
encontra do anodo. As variações de pH foram mais pronunciadas nas amostras
que desenvolveram maior densidade de corrente elétrica durante o ensaio EK,
pois a eletrólise da água foi maior. Comparando-se o caulim 1 e o caulim 3,
que apresentaram valores de densidades de corrente similares, as variações
foram mais pronunciadas no caulim 3, possivelmente porque o tempo de
aplicação da técnica foi de 4 dias, enquanto no caulim 1 a eletrocinética durou
apenas 1 dia.

• De forma geral, a condutividade elétrica específica do solo e o seu potencial


redox foram superiores nas fatias próximas ao anodo. Possivelmente o
aumento da condutividade decorre da maior concentração de íons de
hidrogênio nas imediações do anodo. O aumento do potencial redox próximo
ao anodo e a sua diminuição à medida que o solo se aproxima do catodo
corrobora com o fato da água sofrer oxidação na região do anodo e redução na
região do catodo. Assim como observado com o pH, as alterações da CEE e
do Eh são maiores com o aumento da densidade de corrente.

87
• Aplicando-se a mesma voltagem ao solo, as densidades de corrente elétricas
desenvolvidas nos solos são similares e os resultados apresentaram boa
repetibilidade. Após 14 dias, 21 dias ou 60 dias do término do ensaio
eletrocinético, a amostra ainda não havia equalizado. No entanto, utilizando-se
5 V de tensão elétrica total, as amostras apresentaram pHs nas fatias 1, 2 e 3
próximos de 4, 7 e 8, respectivamente.

• O limite de liquidez e o índice de plasticidade em todos os ensaios realizados


após a eletrocinética foi decrescente do anodo para o catodo, ou seja, o solo
ficou mais plástico na fatia do anodo. Excetuando-se o caulim 2, o limite de
plasticidade também foi superior no anodo. As alterações dos limites de
Atterberg decorrem da variação de pH no solo durante o ensaio, tendo em vista
que valores baixos de pH favorecem o arranjo floculado das partículas, que
apresenta maior volume de vazios em relação ao arranjo disperso. Além disso,
o desenvolvimento de uma frente ácida no solo pode acarretar na dissolução
de Al3+ e na sua incorporação no complexo sortivo do argilomineral.

Tendo em vista que as alterações dos limites de Atterberg no caulim foram


similares tanto em condições de pH variando de 2,0 a 10,0 quanto com esse
parâmetro oscilando entre 4,0 e 8,0, é possível inferir que as reações
eletroquímicas responsáveis pelas variações nos limites de Atterberg foram
semelhantes para as duas condições de gradiente de pH desenvolvidas no
caulim. As semelhanças nos limites de liquidez e de plasticidade das amostras
também sugerem que o tempo de equalização não afetou estes parâmetros.

• O aumento da resistência do solo na região próxima ao anodo foi significativo


e, no caulim 5 e no caulim 7, representou aproximadamente 100 % de
acréscimo em relação à resistência não drenada inicial do caulim. Ressalta-se,
no entanto, que os valores são muito baixos mesmo após o ganho de
resistência. Assim como nas alterações dos limites de Atterberg, as variações
observadas entre as fatias possivelmente decorrem da variação de pH no solo
e o efeito no arranjo das partículas. As reações de sorção no solo, em especial
a incorporação de Al3+ nos sítios de troca do argilomineral, também podem
contribuir para o aumento da sua resistência não drenada. Da mesma forma
que foi observado com os limites de Atterberg, o tempo de equalização parece
não influenciar na resistência do solo.

88
5. RESULTADOS – AMOSTRAS DE TRIUNFO

5.1. ENSAIOS REALIZADOS ANTES DA ELETROCINÉTICA

5.1.1. Índices físicos e medida do pH

Precedendo a utilização da técnica eletrocinética, da mesma forma que no caulim,


foram realizados ensaios de limites de Atterberg, densidade real dos grãos e medição
do pH. Em todas as amostras, foram feitos ensaios de granulometria com e sem
defloculante.

É interessante observar na Tabela 5.1 que a densidade real dos grãos (Gs) nas
amostras de Triunfo foi ligeiramente superior ao encontrado no caulim. De acordo com
Gidigasu (1976), devido à presença de óxidos de ferro e de titânio, solos lateríticos
comumente apresentam elevado valor de Gs. A proximidade dos valores de Gs
encontrados no solo de Rondônia com o determinado no caulim sugere a
predominância de caulinita na sua composição. Os parâmetros geotécnicos das
amostras antes dos ensaios eletrocinéticos são apresentados na Tabela 5.2.

Tabela 5.1 – Parâmetros geotécnicos e pH do solo de Triunfo

wP wL IP
Amostra Gs pH
(%) (%) (%)
101 2,66 17,1 49,9 32,8 6,33
102 2,70 23,6 87,0 63,4 6,16
201 2,70 23,5 64,3 40,8 6,41
202a 21,3 42,8 21,5
2,67 6,60
202b 25,1 59,5 34,4
301 2,70 26,2 83,8 57,5 6,69

Tabela 5.2 – Parâmetros geotécnicos do solo de Triunfo antes dos ensaios EK

ϒd ϒn w0 S
Amostra e0 n
(kN/m³) (kN/m³) (%) (%)
101 0,73 0,42 15,10 18,75 24,2 88,43
102 0,85 0,46 14,30 18,00 25,9 82,00
201 0,73 0,42 15,32 19,45 27,0 99,94
202 0,97 0,49 13,28 18,03 35,8 98,30
301a 0,98 0,49 13,38 18,04 34,8 95,98
301b 0,99 0,50 13,31 17,94 34,6 94,61

Nota-se na Tabela 5.1 que foram efetuados dois ensaios de limite de liquidez e limite
de plasticidade na amostra 202. Isso ocorreu pois constatou-se uma grande
heterogeneidade do solo dentro do amostrador, que pode ser observada na Figura 5.1.

89
É possível notar que tanto os limites de plasticidade quanto os limites de liquidez
nessa amostra, nas duas posições, foram distintos, sendo ambos maiores na amostra
202b.

Além dos ensaios de limite de liquidez e plasticidade em duplicata, na amostra 202


foram realizados dois ensaios de granulometria com defloculante utilizando-se solo da
mesma posição do amostrador em que foi retirado o material para os ensaios de
limites de Atterberg. Como era de se esperar, os ensaios de granulometria
apresentaram teores das frações argila e areia consideravelmente distintos entre si, o
que reflete nos limites de Atterberg.

Figura 5.1 – Diferentes camadas na amostra 202

A Tabela 5.3 apresenta todos os resultados obtidos nos ensaios de granulometria das
amostras de Triunfo e as respectivas curvas granulométricas são apresentadas na
Figura 5.2 à Figura 5.6.

Tabela 5.3 – Composição granulométrica - amostras de Triunfo (NBR ABNT


6502:1995)
Areia (%)
Argila (%) Silte (%) Pedregulho (%)
Amostra Fina Média Grossa
CD1 SD2 CD SD CD SD CD SD CD SD CD SD
101 61 0 19 70 13 19 7 10 0 1 0 0
102 64 0 14 69 12 17 7 10 3 4 0 0
201 55 0 21 69 17 23 5 6 2 2 0 0
202a 38 0 16 49 38 44 5 5 3 2 0 0
202b 47 - 17 - 14 - 3 - 17 - 2 -
301 70 0 13 72 8 15 8 10 1 3 0 0
1
Com defloculante
2
Sem defloculante

90
Are ia Are ia Are ia
Argila Silte Pe dre gulho
fina m é dia gros s a
100

Porcentagem que passa (%) 80

60

40

20 Amostra 202a com defloculante


Amostra 202b com defloculante
Amostra 202a sem defloculante
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Diâmetro dos grãos (mm)


Figura 5.2 - Curva granulométrica da amostra 202

Are ia Are ia Are ia


Argila Silte Pe dre gulho
fina m é dia gros s a
100
Porcentagem que passa (%)

80

60

40

20
Amostra 301 com defloculante
Amostra 301 sem defloculante
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Diâmetro dos grãos (mm)


Figura 5.3 - Curva granulométrica da amostra 301

91
Are ia Are ia Are ia
Argila Silte Pe dre gulho
fina m é dia gros s a
100

Porcentagem que passa (%)


80

60

40

20
Amostra 101 com defloculante
Amostra 101 sem defloculante
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Diâmetro dos grãos (mm)


Figura 5.4 - Curva granulométrica da amostra 101

Are ia Are ia Areia


Argila Silte Pedre gulho
fina m édia gros sa
100
Porcentagem que passa (%)

80

60

40

20
Amostra 201 com defloculante
Amostra 201 sem defloculante
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Diâmetro dos grãos (mm)


Figura 5.5 - Curva granulométrica da amostra 201

92
Are ia Are ia Are ia
Argila Silte Pe dre gulho
fina m é dia gros s a
100

Porcentagem que passa (%)


80

60

40

20
Amostra 102 com defloculante
Amostra 102 sem defloculante
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Diâmetro dos grãos (mm)


Figura 5.6 - Curva granulométrica da amostra 102

É notável que, sem defloculante, todas as amostras de Triunfo apresentaram


percentual de argila nulo e aumento do percentual de silte. Isso ocorre pois, sem a
adição do dispersante, as cargas presentes nas arestas da caulinita favorecem o
arranjo floculado do argilomineral. Como esse arranjo é mais denso, a sedimentação
do solo ocorre mais rapidamente e, uma vez que a Lei de Stokes não considera esse
tipo de interação entre as partículas, os argilominerais floculados são computados
como silte. A floculação durante a sedimentação da amostra 102 é apresentada na
Figura 5.7.

Figura 5.7 – Floculação da amostra 102

93
Os valores da atividade das amostras de Triunfo são apresentados na Tabela 5.4 e
foram inferiores à atividade do caulim em todos os casos. A influência do teor de argila
no índice de plasticidade diminui com o aumento da intemperização e da laterização, o
que pode ser explicado pela presença de óxidos nos solos, que diminui a atividade da
superfície dos argilominerais na medida em que "revestem" as partículas e prejudicam
a interação entre as forças de superfície e as moléculas de água (GIDIGASU, 1976).

Tabela 5.4 – Atividade das amostras de Triunfo

Amostra Atividade
101 0,5
102 1,0
201 0,7
202a 0,6
202b 0,7
301 0,8

5.1.2. Resistência ao cisalhamento e adensamento unidimensional

Os ensaios de cisalhamento direto e adensamento do solo, antes da eletrocinética,


foram realizados nas amostras 202, 201, 102 e 101. O cisalhamento direto após o
procedimento EK foi efetuado nas amostras 201, 102, 101, tendo em vista que a
amostra 202 foi destinada à determinação do tempo de equalização. As curvas de
adensamento estão apresentadas da Figura 5.8 à Figura 5.11 e os respectivos valores
de cv e de σ’vm são expostos da Tabela 5.5 à Tabela 5.8.

Da mesma forma que observado no caulim, de forma geral no solo de Triunfo mv


diminui com o aumento de σ’v. O coeficiente de permeabilidade hidráulica calculado,
em todas as amostras, variou entre aproximadamente 0,1 x 10-8 m/s e 1,0 x 10-8 m/s.

É visível que σ’vm em todos os ensaios de adensamento unidimensional no solo de


Triunfo foram inferiores às tensões efetivas de campo calculadas (σ’v0). O
amolgamento da amostra durante a cravação do anel e a desconsideração das
deformações dos componentes do aparato de compressão unidimensional são fatores
que podem contribuir para a diminuição da tensão de sobreadensamento do solo.

A consideração da deformação do aparato de adensamento, em especial das pedras


porosas e acomodação das interfaces (SIMÕES, 2015), é relevante quando os corpos
de prova são rígidos e a deformação do equipamento é significativa em relação à

94
deformação total. Nesses casos, é aconselhável a calibração do equipamento para
que essas deformações sejam descontadas.

0,80

e0
0,75

0,70
Índice de vazios

0,65

0,60

0,55

0,50

0,45
Profundidade:
18,61m - 19,22m
0,40
1 10 100 1000

Tensão vertical (kPa)

Figura 5.8 - Curva de adensamento da amostra 202

Tabela 5.5 - Valores de σ’vm e cv para a amostra 202

σ’vm σ’v0 σ’v mv kh Cv90


Amostra
(kPa) (kPa) (kPa) (x10-2 1/kPa) (x10-8 m/s) (x10-8 m²/s)
1,5 0,133 - -
3,125 0,224 - -
6,25 0,206 0,182 8,8
12,5 0,196 0,284 14,5
25 0,160 0,273 17,1
202 11 255
50 0,124 0,203 16.3
100 0,085 0,268 31,5
200 0,057 0,349 61,6
400 0,035 0,117 33,0
800 0,021 0,175 81,8

95
0,85

e0
0,80
Índice de vazios

0,75

0,70

0,65

Profundidade:
6,00m - 6,61m
0,60
1 10 100 1000

Tensão vertical (kPa)

Figura 5.9 - Curva de adensamento da amostra 201

Tabela 5.6 - Valores de σ’vm e cv para a amostra 201

σ’vm
σ’v σ’v0
mv kh Cv90
Amostra
(kPa)
(kPa) (x10-2 1/kPa) (x10-8 m/s)
(kPa) (x10-8 m²/s)
1,5 0,017 - -
3,125 0,045 - -
6,25 0,042 -1 -1
12,5 0,040 0,404 100,9
25 0,040 0,127 31,4
201 60 125
50 0,039 0,084 21,7
100 0,032 0,271 84,8
200 0,027 0,270 101,1
400 0,019 0,131 70,5
800 0,014 0,158 117,1
1
não foi possível a determinação de t90 para o cálculo de cv90 e kh

96
0,86
e0
0,84

0,82
Índice de vazios

0,80

0,78

0,76

0,74

0,72
Profundidade:
15,00m - 15,61m
0,70
1 10 100 1000

Tensão vertical (kPa)

Figura 5.10 – Curva de adensamento da amostra 102

Tabela 5.7 - Valores de σ’vm e cv para a amostra 102

σ’vm σ’v0 σ’v mv kh Cv90


Amostra
(kPa) (kPa) (kPa) (x10-2 1/kPa) (x10-8 m/s) (x10-8 m²/s)
1,5 0,017 - -
3,125 0,030 - -
6,25 0,064 0,055 8,6
12,5 0,049 0,689 141,2
25 0,046 0,722 156,9
102 20 165
50 0,045 0,739 166,0
100 0,031 0,194 62,7
200 0,022 0,213 97,9
400 0,014 0,118 83,4
800 0,009 0,163 173,2

97
0,54

e
0,52 0

0,50

0,48
Índice de vazios

0,46

0,44

0,42

0,40

0,38
Profundidade:
6,41m - 7,02m
0,36
1 10 100 1000

Tensão (kPa)
Figura 5.11 – Curva de adensamento da amostra 101

Tabela 5.8 - Valores de σ’vm e cv para a amostra 101

σ’vm σ’v0 σ’v mv kh Cv90


Amostra
(kPa) (kPa) (kPa) (x10-2 1/kPa) (x10-8 m/s) (x10-8 m²/s)
1,5 0,033 - -
3,125 0,059 - -
6,25 0,064 1,17 183,5
12,5 0,073 0,43 58,8
25 0,068 0,33 48,9
101 13 165
50 0,056 0,38 67,2
100 0,040 0,19 47,7
200 0,029 0,38 133,0
400 0,018 0,13 72,0
800 0,012 0,18 146,7

98
A envoltória de Mohr da amostra 202 é apresentada na Figura 5.12. Com o intuito de
facilitar a visualização da variação da resistência das amostras 101, 102 e 201, os
resultados dos ensaios de cisalhamento direto antes da eletrocinética são expostos na
seção “Ensaios realizados após a eletrocinética”, juntamente com os resultados
obtidos após a técnica.

300
Profundidade:
18,61 m - 19,22 m
250

200
τ (kPa)

150

100

50

τrup pré EK

0
0 100 200 300 400 500 600

σ (kPa)
Figura 5.12 - Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 202

5.2. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA

Devido ao comportamento atípico do solo de Rondônia quando submetido ao ensaio


eletrocinético, nas amostras de Triunfo, assim como no caulim, foram realizados
ensaios de caracterização química e mineralógica, apresentados a seguir. Além das
análises feitas no caulim, nas amostras de solo tropical foram feitos ensaios de
capacidade tampão e fluorescência de raios X, na condição original.

5.2.1. Capacidade de troca de cátions (CTC)

Em todas as amostras de solo de Rondônia foi medida a capacidade de troca de


cátions do solo, conforme apresentado na Tabela 5.9.

Segundo a Embrapa (2006), a capacidade de troca de cátions dos latossolos deve ser
abaixo de 17 cmolc/kg de argila, descontando a participação do carbono orgânico. Em
todas as amostras analisadas o valor da CTC esteve muito abaixo do estabelecido
pela Embrapa.

99
Tabela 5.9 – Capacidade de troca de cátions das amostras de Triunfo

Cátion trocáveis (cmolc/kg)


Amostra
Ca2+ Mg2+ Na+ K+ Valor S Al3+ H+ Valor T - CTC
202 0,06 0,62 0,00 0,02 0,70 0,18 0,79 1,67
301 0,29 0,94 0,01 0,03 1,27 0,05 0,86 2,18
201 0,23 0,74 0,00 0,01 0,98 0,00 0,81 1,79
102 0,13 1,21 0,01 0,03 1,38 0,24 0,97 2,59
101 0,05 0,74 0,01 0,02 0,82 0,00 0,58 1,40

5.2.2. Ataque sulfúrico

De acordo com Ker (1998), os teores de Fe2O3 dos latossolos vermelho-amarelos


situam-se entre 7 % e 11 %, o que confere com o observado na Tabela 5.10, exceto
para a amostra 101 e 201, que apresentaram, respectivamente, teores de ferro abaixo
de 7% e acima de 11 %. A relação SiO2/Al2O3 (Ki) é inferior a 2,2 em todas as
amostras, conforme determinado pela Embrapa, 1988, como limite superior para
latossolos.

Tabela 5.10 – Ataque sulfúrico nas amostras de Triunfo

pH Ataque sulfúrico
Amostra ΔP1 (%) SiO2 Al2O3 Fe2O3 Resíduo
H20 KCl Ki Kr
550 ºC (%) (%) (%) (%)
202 5,96 5,40 7,1 22,3 18,2 9,0 2,08 1,58 45,31
301 6,26 5,51 9,8 33,0 25,9 9,2 2,17 1,76 16,84
201 6,37 5,86 8,3 21,1 21,7 11,6 1,65 1,23 37,98
102 5,43 4,65 9,8 25,1 25,8 10,4 1,66 1,31 30,84
101 5,74 5,58 8,0 20,5 21,3 5,3 1,64 1,41 45,94
1
Perda ao fogo

Levando em conta que apenas os argilominerais são dissolvidos no extrato sulfúrico,


os percentuais de Fe, Al, Si e Ti são próximos à fração fina do solo (EMBRAPA, 1997).
Dessa forma, admitindo baixos teores de Ti, os resultados encontrados no ensaio de
ataque sulfúrico foram coerentes com as análises granulométricas, com defloculante,
apresentadas na seção 5.1.1. Nas amostras 301 e 102, os teores de argila ficaram
compreendidos entre 60 % e 70 %. Nas amostras 202 e 201 o percentual variou entre
cerca de 50 % a 55 %. A única divergência encontrada foi na amostra 101, em que o
percentual de argilominerais estimado pelo ataque sulfúrico foi em torno de 10 %
inferior ao encontrado na análise granulométrica. Essa diferença pode estar
relacionada ao percentual de TiO2 da amostra que, de acordo com o resultado do
ensaio de fluorescência de raios X, foi em torno de 4 %.

100
5.2.3. Capacidade tampão

Os resultados dos ensaios de capacidade tampão mostraram que as amostras de


Triunfo apresentam baixa capacidade tampão, tendo em vista que, adicionando-se
ácido ou base na concentração de apenas 0,01 mol/L (10 cmol H+/kg), o pH variava
consideravelmente em relação do pH inicial da água com solo, saltando de
aproximadamente 6,0 (pH inicial) para cerca de 12,0 com adição de NaOH e cerca de
2,5 com adição de HNO3. A Figura 5.13 à Figura 5.17 apresentam os resultados
obtidos para as amostras de Triunfo e para as soluções sem solo (branco). A
capacidade do solo de resistir às variações de pH diminui com o aumento da
concentração de ácido ou base adicionado.

14

12

10

8
pH

4
BRANCO
2 Amostra 202

0
0 50 100 150 200

Ácido ou base adicionado (cmol H+/kg ou cmol OH-/kg)


Figura 5.13 - Capacidade tampão da amostra 202

14

12

10

8
pH

4
BRANCO
2 Amostra 301

0
0 50 100 150 200
+ -
Ácido ou base adicionado (cmol H /kg ou cmol OH /kg)

Figura 5.14 - Capacidade tampão da amostra 301

101
14

12

10

pH 6

4
BRANCO
Amostra 201
2

0
0 50 100 150 200
+ -
Ácido ou base adicionado (cmol H /kg ou cmol OH /kg)
Figura 5.15 - Capacidade tampão da amostra 201

14

12

10

8
pH

4
BRANCO
2 Amostra 102

0
0 50 100 150 200
+ -
Ácido ou base adicionado (cmol H /kg ou cmol OH /kg)
Figura 5.16 - Capacidade tampão da amostra 102

14

12

10

8
pH

4
BRANCO
2 Amostra 101

0
0 50 100 150 200
+ -
Ácido ou base adicionado (cmol H /kg ou cmol OH /kg)
Figura 5.17 - Capacidade tampão da amostra 101

102
5.2.4. Difração de raios X

Os resultados das análises de difração de raios X são apresentados na Figura 5.18 à


Figura 5.27. Nos difratogramas, o símbolo K corresponde à caulinita, G à goethita, H à
hematita, Q ao quartzo e A ao anatásio.

16000
Amostra natural - 202
Q
14000

12000
Contagens (u.a.)

10000
K
8000

6000 K
Q
4000 Q
K K K
HK
Q KQ Q Q K
2000 KG Q Q K Q
K K

0
10 20 30 40 50 60 70 80

2θ (grau)
Figura 5.18 – DRX da amostra 202

K Amostra natural - 202 < 2µm


Amostra glicolada - 202 < 2µm
Amostra calcinada - 202 < 2µm
Contagens (u.a.)

K K H
K
G K K K
K K

10 20 30 40 50 60 70 80

2θ (grau)
Figura 5.19 - DRX da fração fina da amostra 202

103
8000
K Amostra natural - 301
7000
Q

6000

Contagens (u.a.)
5000

4000
KQ
3000
K K
A
K
2000 K K
H Q
Q Q
Q K Q K
G K K QK K
1000

0
10 20 30 40 50 60 70 80

2θ (grau)

Figura 5.20 - DRX da amostra 301

K Amostra natural - 301 < 2µm


Amostra glicolada - 301 < 2µm
Amostra calcinada - 301 < 2µm
Contagens (u.a.)

K
K H
K K
G K K K K

10 20 30 40 50 60 70 80

2θ (grau)

Figura 5.21 – DRX da fração fina da amostra 301

104
20000
Amostra natural - 201
18000 Q

16000

14000

Contagens (u.a.) 12000

10000

8000

6000 K
Q

4000 K
K
K K H Q Q Q
Q K
2000 K K Q Q
G Q Q K K Q

0
20 40 60 80

2 θ (grau)

Figura 5.22 - DRX da amostra 201

Amostra natural - 201 < 2µm


K Amostra glicolada - 201 < 2µm
Amostra calcinada - 201 < 2µm
Contagens (u.a.)

K
K K
K K K
K K

20 40 60 80

2θ (grau)

Figura 5.23 - DRX da fração fina da amostra 201

105
12000
Amostra natural - 102

10000 Q

8000

Contagens (u.a.)
K

6000
K

4000
Q
K
K K
K
2000 H Q K
Q Q K K Q KQ Q
G K K K

0
20 40 60 80

2θ (grau)

Figura 5.24 - DRX da amostra 102

Amostra natural - 102 < 2 µm


K
Amostra glicolada - 102 < 2 µm
Amostra calcinada - 102 < 2 µm
Contagens (u.a.)

Q
K K H
K K
G Q Q K K QK K K K

20 40 60 80

2θ (grau)

Figura 5.25 - DRX da fração fina da amostra 102

106
25000
Amostra natural - 101
Q

20000

Contagens (u.a.) 15000

10000

K
Q
5000 K

K A Q
Q K Q Q Q K
K Q Q Q K
K K
0
20 40 60 80

2 θ (grau)

Figura 5.26 - DRX da amostra 101

Amostra natural - 101 < 2µ


K Amostra glicolada - 101 < 2µ
Amostra calcinada - 101 < 2µ
Contagens (u.a.)

K
K K
K K K K K

20 40 60 80

2 θ (grau)

Figura 5.27 - DRX da fração fina da amostra 101

As análises de difração de raios X realizadas nas amostras de Triunfo confirmaram os


resultados obtidos na capacidade de troca de cátions, ataque sulfúrico e capacidade
tampão, ou seja, o predomínio de caulinita (K) na fração fina do solo estudado, além
da presença de minerais de óxidos de ferro, como a goethita (G) e a hematita (H). A
análise da amostra natural evidenciou também a presença de quartzo (Q) no solo. Nas
amostras 301 e 101 foi possível a visualização de picos de anatásio (A). A caulinita,
após calcinação, torna-se amorfa aos Raios X e, por essa razão, os picos

107
desaparecem no difratograma. A saturação do solo com etilenoglicol não evidenciou a
presença de minerais expansivos no solo.

5.2.5. Ponto de carga zero

O ponto de carga zero foi determinado nas amostras 101, 102 e 201. A Figura 5.28
apresenta os resultados das análises de Potencial Zeta realizadas no equipamento
Zetasizer Nano ZS.

Em geral, solos tropicais são altamente intemperizados, ricos em óxidos de ferro e


alumínio, com predominância de minerais 1:1 (EMBRAPA, 1988; CHOROVER E
SPOSITO, 1994; SPOSITO, 2008). Segundo van Ranst et al. (1998), Appel et al.
(2003) e Anda et al. (2008), a presença de óxidos de ferro e alumínio eleva o ponto de
carga zero, enquanto a matéria orgânica e a caulinita reduzem esse parâmetro.

40

30

20

10
Potencial Zeta (mV)

-10

-20

-30

-40
Amostra 201
-50 Amostra 102
Amostra 101
-60
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

pH

Figura 5.28 – Potencial Zeta das amostras 201, 102 e 101

Os resultados obtidos pela análise através do equipamento Zetasizer Nano ZS e pelo


método de Uehara (1979) são apresentados na Tabela 5.11. Com exceção da amostra
102, os valores encontrados pela relação de Uehara (1979) e através do Zetasizer
apresentaram boa concordância. O ponto de carga zero da amostra 102 pelo método
de Uehara foi inferior ao encontrado no Zetasizer.

108
Tabela 5.11 - Ponto de carga zero das amostras 201, 102 e 101

Ponto de carga o zero


Amostra
Zetasizer Uehara (1979)
102 5,8 3,87
101 5,4 5,42
201 5,4 5,35

Os valores de ponto de carga zero das amostras de Triunfo, medidos através do


Zetasizer, foram superiores ao observado no caulim, em que esse parâmetro foi cerca
de 3,6. Cabe ressaltar ainda que, embora os óxidos de ferro e de alumínio sejam
minoritários em relação à caulinita, eles exerceram uma influência significativa na
elevação do ponto de carga zero das amostras.

5.2.6. Fluorescência de raios X

Os resultados da análise de fluorescência de raios X são apresentados na Tabela


5.12. Como exposto na seção 2.1.1, a caulinita é composta por lâminas de sílica e
alumina e sua fórmula estrutural é Al2Si2O5(OH)4. Além da caulinita, os latossolos são
compostos principalmente por óxidos de ferro e de alumínio (EMBRAPA, 1988).
Segundo Kämpf et al. (2009), óxidos de titânio também são recorrentes na caulinita,
podendo ser minerais residuais herdados do material de origem ou formados através
do intemperismo de minerais que contenham Ti.

Tabela 5.12 – Fluorescência de raios X do solo de Triunfo

Composição Amostra
(%) 202 301 201 102 101
SiO2 61,285 54,21 57,013 55,764 60,996
Al2O3 26,847 31,92 27,518 31,396 29,062
Fe2O3 7,863 9,60 10,70 9,166 4,111
TiO2 2,744 2,95 2,981 2,595 4,351
K2O 0,268 0,37 0,454 0,271 0,243
ZnO 0,119 0,27 0,241 0,112 0,162
ZrO2 0,396 0,20 0,492 0,205 0,620
P2O5 0,161 0,14 0,138 0,149 0,122
SO3 0,122 0,13 0,175 0,224 0,091
Na2O 0,083 0,10 0,125 0,052 0,076
CuO 0,032 0,08 0,129 0,045 0,029
CaO 0,026 0,02 0,020 0,020 0,027
MnO2 0,055 - - - 0,074
Nb2O5 - 0,01 0,013 - 0,020
Y2O3 - - - - 0,014

109
Os resultados das análises de FRX indicaram, em todas as amostras, que o solo de
Triunfo é composto majoritariamente de SiO2, Al2O3, Fe2O3 e TiO2. Assim como nos
resultados obtidos por ataque sulfúrico, a amostra 201 apresentou o maior teor de
óxido de ferro enquanto a amostra 101 exibiu o menor teor.

5.3. ENSAIO ELETROCINÉTICO

Em todas as amostras de Triunfo, a configuração do aparato eletrocinético utilizada foi


com eletrodos de DSA® juntos ao solo. Os ensaios nas amostras 202 e 301a tiveram
duração de 48 horas e o restante dos ensaios duração de 96 horas. Na amostra 202, a
tensão elétrica total aplicada foi 15 V e a solução utilizada foi água deionizada. No
restante dos ensaios, a solução utilizada foi semelhante à solução intersticial do solo,
coletada na região de Triunfo. Como o caulim 2 apresentou trincas com essa tensão, a
diferença de potencial elétrico foi diminuída para 10 V e foi mantida nesse valor em
todos os outros ensaios com as amostras de Triunfo.

As amostras 202, 301a e 301b objetivaram a determinação do tempo de equalização.


O restante das amostras foi utilizado para a avaliação das alterações nos parâmetros
geotécnicos do solo após a eletrocinética. Os gráficos de variação dos parâmetros
elétricos do solo de Triunfo são apresentados na Figura 5.29 à Figura 5.34 e a
variação de ke é apresentada na Figura 5.35. A Tabela 5.13 resume as principais
observações obtidas durante os ensaios.

Diferentemente do que ocorreu no caulim, cujo gradiente elétrico foi nitidamente


crescente, no solo de Rondônia ie oscilou durante os ensaios EK e, de forma geral,
manteve-se entre aproximadamente 40 V/m e 60 V/m. As pequenas mudanças
observadas no gradiente elétrico nas amostras de Triunfo decorrem da variação
praticamente linear das tensões elétricas nos pinos de voltagem, que pode ser
observada nos gráficos apresentados na Figura 5.36 à Figura 5.41. Dessa forma, ao
contrário do observado no caulim, as perdas de potencial elétrico foram praticamente
constantes. Nas amostras de Rondônia, por exemplo, a máxima variação da diferença
de potencial elétrico entre os pinos 4 e 5 ocorreu na amostra 201 e esteve
compreendida entre 1,5 V e 2,0 V. No caulim, a tensão elétrica entre os pinos 4 e 5,
utilizando-se a mesma diferença de potencial total (10 V), variou entre 0,5 V e 2,0 V.
Como a não linearidade das tensões elétricas é proveniente do desenvolvimento de
zonas de diferentes condutividades elétricas na amostra, é possível inferir que as
reações eletroquímicas desenvolvidas no solo de Rondônia foram menos importantes
se comparadas às reações que possivelmente ocorreram no caulim.

110
A resistividade elétrica do solo oscilou entre aproximadamente 650 Ω.m e 900 Ω.m
nas amostras 202, 301a, 301b e 201. Nas amostras 102 e 101, esse parâmetro variou
entre cerca de 1100 Ω.m e 1500 Ω.m. No caulim, a resistividade foi muito inferior,
estando compreendida entre 4,5 Ω.m e 90 Ω.m, ou seja, as amostras de Rondônia
apresentam valores de resistividade elétrica que podem superar o caulim em até duas
ordens de grandeza.

A densidade de corrente elétrica gerada durante a eletrocinética foi pelo menos uma
ordem de grandeza inferior no solo de Triunfo quando comparado com o caulim. Nas
amostras 102 e 101, a densidade de corrente manteve-se entre cerca de 40 e 50
mA/m². No restante dos ensaios, esse parâmetro esteve compreendido entre
aproximadamente 50 mA/m² e 80 mA/m². Os resultados de densidade de corrente
obtidos com o caulim oscilaram entre 300 mA/m² e 4700 mA/m². Os baixos valores
desse parâmetro obtidos nas amostras de Rondônia possivelmente decorrem dos
valores consideravelmente maiores de resistividade elétrica quando comparados com
o caulim. Ademais, valores baixos de densidades de corrente geram menos eletrólise
na água, diminuindo a variação de pH na amostra e, consequentemente, as reações
químicas oriundas da geração de um gradiente de pH são menos importantes. Essa
observação corrobora com a variação de tensão elétrica praticamente linear entre os
pinos.

O coeficiente de permeabilidade eletro-osmótica foi uma ordem de grandeza inferior


ao observado no caulim e, com exceção da amostra 201, em todos os ensaios em que
a sua determinação foi possível (202, 301a e 101), estabilizou-se em
aproximadamente entre 1,0 x 10-10 m²/V.s e 4 x 10-10 m²/V.s, como pode ser observado
na Figura 5.35. No ensaio realizado na amostra 201, ke se estabilizou entre 7 x 10-11
m²/V.s e 1,7 x 10-10 m²/V.s. Nos experimentos com as amostras 301b e 102, não foi
possível a obtenção de ke pois, no primeiro caso, não houve eletro-osmose e, no
segundo caso, o ensaio foi finalizado antes que esse parâmetro pudesse se
estabilizar.

A taxa de fluxo eletro-osmótico, Qe, é diretamente proporcional ao gradiente elétrico e


ao coeficiente de permeabilidade eletro-osmótica. É curioso, no entanto, que embora o
gradiente elétrico tenha sido superior ao observado na maioria dos ensaios com o
caulim, a eletro-osmose foi muito inferior nas amostras de Triunfo, o que justifica os
baixos valores de ke encontrados.

O volume de solução extraído nos ensaios realizados com o solo de Triunfo foi muito
inferior ao dos ensaios no caulim. Nas amostras 202, 301a e 201 o volume eletro-

111
osmótico foi cerca de 5 mL. A amostra 101 foi a que apresentou maior eletro-osmose,
com 25 mL de solução extraída. No ensaio com o solo 102, foi extraído apenas 1 mL
de solução, que foi medido no transdutor de pressão localizado do lado do anodo,
evidenciando a ocorrência de fluxo resultante inverso, ou seja, no sentido catodo-
anodo. Na amostra 301b, não foi registrado nenhum fluxo eletro-osmótico pelos
transdutores de pressão.

É importante notar que, nas amostras em que a eletro-osmose foi observada, o


aumento do volume acumulado de solução extraída ocorreu até um determinado
momento, quando então o volume eletro-osmótico coletado não mais se alterava. Por
exemplo, na amostra 301a, foi verificada eletro-osmose até 6 h de ensaio; na amostra
201 até 36 h e na amostra 101 até 53 h de ensaio. Em relação à amostra 102, antes
de ser detectado, no último dia, fluxo resultante inverso, nenhuma eletro-osmose havia
sido registrada. Por essa razão, ao contrário do caulim, o aumento do tempo de
aplicação da técnica eletrocinética não fez com que a quantidade de solução extraída
aumentasse.

Utilizando-se água deionizada ou solução fabricada, os resultados das variações dos


parâmetros elétricos nas amostras de Triunfo foram semelhantes. Ademais,
comparando-se os resultados obtidos com a amostra 202 e com o caulim 2, em que
foram aplicados 15 V com eletrodos de DSA® e a solução foi água deionizada, o
volume eletro-osmótico extraído do caulim 2 foi aproximadamente o dobro do
observado na amostra 202, embora o tempo de aplicação da eletrocinética no primeiro
caso tenha sido metade do tempo utilizado no segundo. Pode-se inferir, portanto, que
as variações nos resultados dos parâmetros eletrocinéticos entre o caulim e as
amostras de Triunfo não decorrem da solução utilizada nos ensaios EK.

De acordo com a Equação 2.11, a eficiência da técnica é tão maior quanto menor for a
condutividade elétrica do solo, ou seja, a eficiência aumenta com o aumento da
resistividade. Embora o solo de Rondônia tenha apresentado resistividade alta, a
eletrocinética não foi eficiente para a extração de solução da massa de solo. Além
disso, vale ressaltar que Schmidt et al. (2007) utilizaram a técnica em um solo salino
com elevada condutividade elétrica e os resultados foram bastante positivos para o
fluxo eletro-osmótico.

A inversão do fluxo eletro-osmótico – que ocorre quando o ponto de carga zero é


superior ao pH do solo, fazendo com que as cargas nas arestas das partículas fiquem
carregadas positivamente – pode ter contribuído para a quantidade pouco significativa
de solução extraída do solo. Na ocorrência de fluxo eletro-osmótico em ambos os

112
sentidos, o fluxo resultante no sentido anodo-catodo é diminuído, podendo inclusive se
anular. Quando as cargas nas arestas da partícula são predominantemente positivas,
pode ocorrer fluxo inverso, conforme foi observado no ensaio com a amostra 102. A
ocorrência de fluxo inverso também foi observada por Yang e Lin (1998); Ferreira
(2011) e Velten et al. (2012).

Os resultados das análises do ponto de carga zero indicaram que esse parâmetro
variou entre 5,4 e 5,8 nas amostras 101, 102 e 201. Esses resultados corroboram com
a ocorrência de pouca eletro-osmose nas amostras de Triunfo que, em geral,
apresentaram pH inicial em torno de 6,0, ou seja, próximo ao ponto de carga zero.
Quando a partícula se encontra no ponto de carga zero, a carga líquida da sua
superfície é zero, ou seja, o Potencial Zeta é zero. De acordo com Equação 2.1, o
fluxo eletro-osmótico é proporcional ao Potencial Zeta dos solos e, portanto, quanto
mais próximo o solo se encontra do ponto de carga zero, menor a quantidade de
solução extraída durante a eletrocinética.

1600 60 80
Tensão aplicada: 15 V
1500
50
1400
70
1300
40
1200 j (mA/m²)
ie (V/m)
ρ (Ω.m)

1100 30 60

1000
20
900
50
800
10 ie (V/m)
700 ρ (Ω.m)
j (mA/m²)
600 0 40
10 20 30 40

Tempo (h)
Figura 5.29 – Parâmetros elétricos da amostra 202 entre os pinos 1 e 5

113
1600 60 80
Tensão aplicada: 10 V
1500
50
1400
70
1300
40
1200

j (mA/m²)
i e (V/m)
ρ (Ω.m)

1100 30 60

1000
20
900
50
800
10 ie (V/m)
700 ρ (Ω.m)
j (mA/m²)
600 0 40
10 20 30 40

Tempo (h)
Figura 5.30 - Parâmetros elétricos da amostra 301a

1600 60 80 25
Tensão aplicada: 10 V
1500
50
1400 20
70
1300
40
Temperatura (ºC)
1200 15
j (mA/m²)
ρ (Ω.m)

ie (V/m)

1100 30 60

1000 10
20
900
ie (V/m) 50
800 5
10 ρ (Ω.m)
700 j (mA/m²)
Temperatura (ºC)
600 0 40 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90

Tempo (h)

Figura 5.31 - Parâmetros elétricos da amostra 301b

114
1600 60 80 25
Tensão aplicada: 10 V
1500
50
1400 20
70
1300
40

Temperatura (ºC)
1200 15

j (mA/m²)
ρ (Ω.m)

i e (V/m)

1100 30 60

1000 10
20
900
ie (V/m) 50
800 5
10 ρ (Ω.m)
700 j (mA/m²)
Temperatura (ºC)
600 0 40 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90

Tempo (h)

Figura 5.32 - Parâmetros elétricos da amostra 201

1600 60 80 25
Tensão aplicada: 10 V
1500
50
1400 20
70
1300
40
Temperatura (ºC)
1200 15
j (mA/m²)
ρ (Ω.m)

i e (V/m)

1100 30 60

1000 10
20
900
ie (V/m) 50
800 5
10 ρ (Ω.m)
700 j (mA/m²)
Temperatura (ºC)
600 0 40 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90

Tempo (h)

Figura 5.33 - Parâmetros elétricos da amostra 102

115
1600 60 80 25
Tensão aplicada: 10 V
1500
50
1400 20
70
1300
40

Temperatura (ºC)
1200 15

j (mA/m²)
ρ (Ω.m)

i e (V/m)

1100 60
30

1000 10
20
900
50
ie (V/m)
800 5
10 ρ (Ω.m)
700 j (mA/m²)
Temperatura (ºC) 40
600 0 0
10 20 30 40 50 60 70 80 90

Tempo (h)

Figura 5.34 - Parâmetros elétricos da amostra 101

4,0e-9
Amostra 202 (15 V)
Amostra 301a (10 V)
Amostra 201 (10 V)
Amostra 101 (10 V)
3,0e-9
ke (m²/V.s)

2,0e-9

1,0e-9

0,0
10 20 30 40 50 60 70 80 90

Tempo (h)
Figura 5.35 - ke calculado nas Amostras de Triunfo

116
17 Tensão aplicada: 15 V
16
15
14
13

ddp nos pinos 1 a 5 (V)


12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0 1
2 40
35
Pi3no 30
s 4 25
20
5 15
10 o (h)
5 Temp

Figura 5.36 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 – Amostra 202

Tensão aplicada: 10 V
11

10

9
ddp nos pinos 1 a 5 (V)

0 1 45
2 40
35
Pino 3 30
s 4 25
20
5 15
10
5 o (h)
Temp

Figura 5.37 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 301a

117
Tensão aplicada: 10 V
11

10

ddp nos pinos 1 a 5 (V) 8

0 1 90
2 80
3 70
60
Pino 4 50
s 40
5 30
20
10
o (h)
Temp

Figura 5.38 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 301b

Tensão aplicada: 10 V
11

10
ddp nos pinos 1 a 5 (V)

8
7
6
5
4
3
2
1
0
1 90
2 80
70
3 60
Pino 4
50
s 40
5 30
20
10 )
p o (h
Tem

Figura 5.39 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 201

118
Tensão aplicada: 10 V
11

10

ddp nos pinos 1 a 5 (V) 8

0 1
2 90
80
Pinos3 60 70
4 50
40
5 30
20
10
o (h)
Temp

Figura 5.40 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 102

Tensão aplicada: 10 V
11

10

9
ddp nos pinos 1 a 5 (V)

0 1 90
2 80
70
Pino 3 50
60
s 4 40
5 30
20
10
o (h)
Temp

Figura 5.41 - Tensão elétrica nos pinos 1 a 5 - Amostra 101

119
Tabela 5.13 – Resumo das principais condições utilizadas e observações durante a eletrocinética no solo de Triunfo

Perda no ddp entre os Volume


Duração Densidade ke
ddp total pino 11 Gradiente pinos 4 e 5 Resistividade eletro- Aparecimento
Amostra Eletrodos de Corrente
(V) elétrico (V/m) (Ω.m) osmótico (m²/V.s) de trincas
(%) (V) (mA/m²)
(mL)
DSA,
9,6 x 10-11 a
2022 15 juntos ao 2 dias 45 43 a 65 -3 63 a 76 660 a 903 6 Não
3,5 x 10-10
solo
DSA,
5,2 x 10-11
301a 10 juntos ao 2 dias 24 41 a 48 1,1 a 1,4 66 a 75 600 a 640 5 Não
1,2 x 10-9
solo
DSA,
301b 10 juntos ao 4 dias 32 50 a 56 1,1 a 1,4 61 a 67 797 a 841 0 - Não
solo
DSA,
7,0 x 10-11
201 10 juntos ao 4 dias 37 45 a 53 1,5 a 2,0 53 a 64 806 a 869 5 Não
9,5 x 10-10
solo
DSA,
102 10 juntos ao 4 dias 21 50 a 56 1,4 a 1,6 41 a 46 1210 a 1248 14 -5 Não
solo
DSA,
2,9 x 10-10 a
101 10 juntos ao 4 dias 21 53 a 59 1,5 a 1,9 39 a 48 1126 a 1537 25 Não
2,7 x 10-9
solo
1
Perdas de potencial elétrico em relação à tensão elétrica total, medidas no pino 1, após 5 horas de ensaio
2
A solução utilizada foi água deionizada (CEE = 3,8 µS/cm e pH = 5,96). No restante dos ensaios, foi utilizada uma solução fabricada (CEE 52,1 µS/cm
e pH = 7,59)
3
Não foi possível a medição da ddp no pino 4
4
Solução coletada no lado do anodo (ocorrência de fluxo eletro-osmótico no sentido catodo-anodo)
5
Não foi possível a determinação de ke pois o volume de solução coletado foi muito pequeno

120
5.3.1. Resumo
• O solo de Triunfo, embora seja caulinítico, apresentou comportamento durante
a eletrocinética completamente distinto do observado no caulim. O gradiente
elétrico variou pouco durante os ensaios e a corrente elétrica desenvolvida foi
pelo menos uma ordem de grandeza inferior nas amostras de Triunfo. As
pequenas mudanças observadas no gradiente elétrico nas amostras de Triunfo
decorrem da variação praticamente linear das tensões elétricas nos pinos de
voltagem durante o ensaio. O comportamento linear das tensões elétricas pode
ser explicado pela ocorrência de poucas reações eletroquímicas no solo.

• A resistividade elétrica nas amostras de Triunfo foi muito superior ao observado


no caulim, o que justifica os baixos valores de densidade de corrente medidos
durante os ensaios eletrocinéticos nas amostras de Rondônia.

• O volume eletro-osmótico obtido nos ensaios foi consideravelmente inferior ao


observado no caulim. Na maioria das amostras de Rondônia, a quantidade de
solução extraída não ultrapassou 5 mL. Na amostra 301b não foi detectado
nenhum fluxo eletro-osmótico pelos transdutores de pressão e, na amostra
102, foi medido fluxo inverso.

• Embora os gradientes elétricos durante os ensaios EK nas amostras de Triunfo


tenham sido superiores aos gradientes observados no caulim, a quantidade de
solução extraída durante os ensaios no solo tropical foi pouco significativa.

Segundo Mitchell e Soga (2005) e Yeung (2006), a eficiência da técnica


eletrocinética aumenta com o aumento da resistividade elétrica do solo. Não
obstante a elevada resistividade do solo, o ensaio EK não apresentou uma
eficiência elevada.

A geração de um fluxo inverso quando o pH do solo é inferior ao seu ponto de


carga zero pode contribuir para a diminuição do fluxo resultante no sentido
anodo-catodo e, em se tratando da amostra 102, para a inversão do fluxo. Os
resultados dos ensaios de ponto de carga zero das amostras de Triunfo
evidenciaram que esse parâmetro foi próximo ao pH inicial do solo, justificando
a ocorrência de pouca eletro-osmose nessas amostras.

• Com exceção da amostra 201, nos ensaios em que foi possível a determinação
de ke, esse parâmetro estabilizou-se em aproximadamente entre 1,0 x 10-10

121
m²/V.s e 4 x 10-10 m²/V.s, uma ordem de grandeza inferior ao coeficiente de
permeabilidade eletro-osmótica do caulim. Os baixos valores de ke são
justificados principalmente pela pouca eletro-osmose durante os ensaios.

• Tendo em vista que a variação dos parâmetros elétricos das amostras de


Triunfo foi similar com utilização de água deionizada ou de solução fabricada
nos ensaios EK, as diferenças observadas entre esses parâmetros, no caulim e
nas amostras de Triunfo, não decorrem da solução inserida nos tanques e
reservatórios.

5.4. ENSAIOS REALIZADOS APÓS A ELETROCINÉTICA

5.4.1. Teores de umidade

Assim como no caulim, nas amostras destinadas à equalização (202 e 301), os teores
de umidade foram determinados imediatamente após o ensaio e logo após o
fatiamento do solo, isto é, na amostra 202 os teores de umidade foram determinados
em t = 0, t = 7 dias e t = 14 dias (Figura 5.42) e nas amostras 301a e 301b em t = 0 e t
= 14 dias (Figura 5.43). Nas amostras 101, 102 e 201, determinou-se a umidade 14
dias após a eletrocinética, conforme apresentado na Figura 5.44.

Duração do ensaio EK: 2 dias


55
____ w - 202 Umidade pós EK (%): t = 0
50 0
Umidade pós EK (%): t = 7 dias
45 Umidade pós EK (%): t = 14 dias

40
Umidade (%)

35

30

25

20

15

10

0
Próximo ao anodo Meio Próximo ao catodo
Figura 5.42 - Teores de umidade - amostra 202

122
Duração dos ensaio EK: 2 dias (301a) e 4 dias (301b)
55
____ w 0 Umidade pós EK: t = 0 - Amostra 301a (10 V)
50 301a Umidade pós EK: t = 14 dias - Amostra 301a (10V)
45 _ _ _ w0 Umidade pós EK: t = 0 - Amostra 301b (10V)
301b Umidade pós EK: t = 14 dias - Amostra 301b (10V)
40

Umidade (%)
35
30
25
20
15
10
5
0
Próximo ao anodo Meio Próximo ao catodo
Figura 5.43 – Teores de umidade - amostras 301a e 301b

55
Duração dos ensaios EK: 4 dias
50
____ w - 101
0
45 Umidade pós EK: t = 14 dias - Amostra 101 (10 V)
- - - w 0 - 102 Umidade pós EK: t = 14 dias - Amostra 102 (10 V)
40 Umidade pós EK: t = 14 dias - Amostra 201 (10 V)
..... w - 201
0
Umidade (%)

35
30
25
20
15
10
5
0
Próximo ao anodo Meio Próximo ao catodo

Figura 5.44 – Teores de umidade - amostras 101, 102 e 201

As amostras 202 e 301a apresentaram umidade superior nas imediações do catodo,


da mesma forma que foi observado no caulim 5, caulim 6 e caulim 7. Nas amostras
301b e 102, os teores de umidade foram superiores nas proximidades do anodo e, nas
amostras 201 e 101, esse parâmetro não variou consideravelmente entre as fatias.

As maiores variações de umidade entre as fatias ocorreram na amostra 202, em que


os teores de umidade do meio e do catodo foram aproximadamente 9 % superior ao
anodo. Especialmente nesse caso, também se verificou que os valores de umidade
em uma mesma posição variaram consideravelmente com o tempo de equalização.
Por exemplo, a variação do teor de umidade no meio da amostra 7 dias e 14 dias após
e eletrocinética foi aproximadamente 13 %. No restante das amostras, a máxima
diferença de umidade encontrada entre as fatias foi cerca de 5 %.

123
A diversidade de teores de umidade obtida após os ensaios eletrocinéticos pode ser
atribuída à presença de diferentes texturas e granulometrias observadas nas amostras
de Triunfo. Como as variações das tensões elétricas nos pinos foram
aproximadamente lineares durante o ensaio, possivelmente o desenvolvimento de
zonas de diferentes condutividades elétricas no solo exerceu pouca influência nas
medidas dos teores de umidade das amostras. Ao contrário do observado no caulim,
nos ensaios EK realizados nas amostras de Rondônia a diferença de potencial elétrico
na região do catodo (entre os pinos 4 e 5) não foi superior ao restante do solo e, por
essa razão, as diferenças de umidade nas fatias não podem ser justificadas pelo
aumento da vazão eletro-osmótica no catodo.

A despeito das amostras terem sido embaladas em plástico filme e acondicionadas em


recipientes tampados, que foram armazenados em câmara úmida, as variações de
umidade na mesma posição do solo verificadas após o tempo de equalização podem
ser atribuídas a eventuais perdas de água durante o seu armazenamento. Essa
hipótese, no entanto, é pouco provável e, possivelmente, as diferenças encontradas
também ocorreram devido à heterogeneidade em uma mesma fatia da amostra.

5.4.2. pH, potencial redox e condutividade elétrica específica

Inicialmente, conforme explicado no Capítulo “Metodologia”, na amostra 202


determinou-se um pH médio de toda a porção de solo. Esse procedimento foi repetido
após 7 dias na segunda porção. Na última medida (14 dias) a quantidade de solo foi
suficiente para a determinação do pH nas três fatias. Os valores de pH obtidos são
mostrados na Figura 5.45. Observa-se que, após 14 dias, os valores de pH nas três
fatias foram bem próximos e estiveram compreendidos entre 6,5 e 7,0. A diferença de
pH das soluções dos tanques, no entanto, foi mais notável, variando de 6,5 até 8,5.

Posteriormente, a eletrocinética foi realizada na amostra 301a e o tempo de


equalização foi estimado dividindo-a apenas em duas porções longitudinais. A primeira
medida foi realizada nas três fatias imediatamente após o desligamento do
equipamento eletrocinético e a segunda 14 dias após o desligamento. Esse
procedimento foi repetido para a amostra 301b e os resultados são exibidos na Figura
5.46 e na Figura 5.47. No restante das amostras (201, 102 e 101) a determinação do
pH foi realizada nas três fatias após 14 dias do término do ensaio. Os resultados são
apresentados na Figura 5.48.

Durante o corte longitudinal da amostra 301a, devido à sua rigidez, houve quebra do
solo (Figura 5.49a). Com o auxílio de um filme de PVC, a parte desprendida foi então

124
recolocada na sua posição (Figura 5.49b) e o solo foi armazenado na câmara úmida
durante 14 dias (Figura 5.49c). Após 14 dias, foram realizadas medições do pH do
solo na segunda porção, nas posições anodo, meio e catodo.

As medições do pH na amostra 301a após 14 dias indicaram que, embora inicialmente


o solo apresentasse pH 6,70 nas fatias anodo e meio, passadas duas semanas o pH
caiu para 3,60 (Figura 5.46). Isso se deve provavelmente à quebra do solo durante a
sua retirada do cilindro eletrocinético, impedindo o seu equilíbrio iônico. Possivelmente
houve liberação de íons H+ na posição anodo após o desligamento do ensaio, que não
puderam migrar através do solo, diminuindo o pH da solução intersticial.

9
pH inicial Amostra 202
pH das fatias: t = 0 - Amostra 202 (pH médio) (15 V)
8 pH das fatias: t = 7 dias - Amostra 202 (pH médio) (15 V)
pH das fatias: t = 14 dias - Amostra 202 (15 V)

7
pH

Duração do ensaio EK: 2 dias


3
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo
Figura 5.45 - Variação do pH - amostra 202

9
pH inicial Amostra 301a
pH das fatias: t = 0 - Amostra 301a (10 V)
8 pH das fatias: t = 14 dias - Amostra 301a (10 V)

7
pH

Duração do ensaio EK: 2 dias


3
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo
Figura 5.46 - Variação do pH - amostra 301a

125
9
pH inicial Amostra 301b
pH das fatias: t = 0 - Amostra 301b (10 V)
pH das fatias: t = 14 dias - Amostra 301b (10 V)
8

pH 6

Duração do ensaio EK: 4 dias


3
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo
Figura 5.47 - Variação do pH - amostra 301b

9 pH inicial Amostra 101


pH inicial Amostra 102
pH inicial Amostra 201
8 pH das fatias: t = 14 dias - Amostra 101 (10V)
pH das fatias: t = 14 dias - Amostra 102 (10 V)
pH das fatias: t = 14 dias - Amostra 201 (10 V)
7
pH

Duração dos ensaios EK: 4 dias


3
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo

Figura 5.48 – Variação do pH - amostras 101, 102 e 201

Figura 5.49 – Quebra da amostra 301a e seu armazenamento


a) amostra 301a fatiada longitudinalmente e acidentalmente partida; b) envolvimento da
amostra com filme PVC; c) armazenamento da amostra

126
Como havia solo disponível para a realização de mais um ensaio eletrocinético,
decidiu-se repetir o procedimento na amostra 301b. É importante salientar que, a partir
desse ensaio, foram feitas leituras da condutividade elétrica específica e do potencial
redox em cada posição.

Findado o ensaio, a amostra 301b foi extraída do cilindro acrílico sem quebrar. O pH
da porção 1 foi então determinado nas posições “anodo”, “meio” e “catodo” e a porção
2 foi reservada para medição do pH após 14 dias. É notável que, mesmo
imediatamente após o ensaio eletrocinético (t = 0), a semelhança dos pHs nas três
fatias já havia sido constatada. Além disso, diferente do que ocorreu anteriormente na
amostra 301a e similar ao observado na amostra 202, os pHs obtidos nas três fatias
após 14 dias também foram semelhantes entre si, variando entre 6,5 e 7,0, e o solo
estava praticamente equalizado. Portanto, o tempo de equalização de 14 dias adotado
foi maior do que o necessário.

Os resultados de pH obtidos nas amostras 101, 102 e 201 foram semelhantes aos dos
ensaios de equalização nas amostras 202 e 301b. Em todas as amostras de Triunfo,
com exceção da 301a, o pH das fatias imediatamente após o término da eletrocinética
ou após 14 dias esteve compreendido entre 6,4 e 7,3. O pH dos tanques, no entanto,
variou de forma mais pronunciada, de cerca de 3,0, no tanque do anodo, a 9,0, no
tanque do catodo. No caulim, utilizando-se 10 V, o pH das fatias variou entre cerca de
2,0 e 10,0 e, nos tanques, esteve compreendido entre aproximadamente de 2,0 e 13,0.

A despeito do solo de Triunfo apresentar baixa capacidade tampão, as diferenças


encontradas entre o pH das fatias das amostras e dos tanques possivelmente
decorrem da capacidade que o solo tem de resistir às variações de pH. É importante
notar ainda que as densidades de corrente geradas durante os ensaios EK foram
muito baixas e, portanto, as reações de eletrólise da água não foram tão importantes.
É provável que a liberação de íons H+ e OH- decorrente da eletrólise, embora tenha
alterado o pH dos tanques, não tenha sido suficiente para modificar consideravelmente
o pH da solução do solo.

A condutividade elétrica específica nos tanques nas amostras 301b, 101, 102 e 201 foi
maior no anólito do que no católito. A CEE entre as fatias variou pouco nos ensaios e
a maior alteração foi observada na amostra 301b, cuja CEE oscilou entre cerca de 150
µS/cm no anodo e 73 µS/cm no catodo. Nas amostras 201 e 102 não houve solução
suficiente para a medição da CEE na fatia do catodo. No caulim, as menores
variações de CEE foram observadas nos ensaios em que foram aplicados 5 V (caulim
4, caulim 5, caulim 6 e caulim 7) e os valores de CEE no caulim 6, por exemplo, na

127
fatia do anodo foi cerca de 1600 µS/cm e, no catodo, 1300 µS/cm. As variações da
CEE nas amostras de Triunfo são apresentadas na Figura 5.50 e na Figura 5.51.

É notável que a condutividade elétrica específica das amostras de Triunfo foi muito
inferior se comparada com a condutividade do caulim. Embora a solução utilizada no
caulim tenha sido água deionizada, o caulim é um solo tratado e apresenta em sua
composição diversos elementos químicos que, em solução aquosa, aumentam a
condutividade elétrica da solução intersticial do solo. Além disso, a caulinita presente
no caulim também é parcialmente dissolvida na solução. A condutividade elétrica
específica inicial da solução intersticial do caulim variou entre 1900 µS/cm e 2750
µS/cm e, nas amostras de Rondônia, a CEE inicial esteve compreendida entre 78
µS/cm e 140 µS/cm.

CE inicial Amostra 301b


Condutividade elétrica específica (µS/cm)

200
CE das fatias: t = 0 - Amostra 301b (10 V)
CE das fatias: t = 14 dias - Amostra 301b (10 V)

150

100

50

Duração dos ensaios EK: 4 dias


0
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo

Figura 5.50 - CEE - amostra 301b

CE inicial Amostra 101


Condutividade elétrica específica (µS/cm)

200
CE inicial Amostra 102
CE inicial Amostra 201
CE das fatias: t = 14 dias - Amostra 101 (10V)
CE das fatias: t = 14 dias - Amostra 102 (10V)
150 CE das fatias: t = 14 dias - Amostra 201 (10V)

100

50

Duração dos ensaios EK: 4 dias


0
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo

Figura 5.51 – CEE - amostras 101, 102 e 201

128
Os resultados de monitoramento da corrente elétrica das amostras de caulim e de
Triunfo confirmam os valores medidos de condutividade, uma vez que a corrente
elétrica desenvolvida no caulim foi cerca de uma ordem de grandeza superior se
comparada com o solo de Triunfo. É de se esperar também que correntes elétricas
menores gerem menos eletrólise da água e, assim como no pH, as variações de CEE
no solo de Triunfo sejam mais discretas quando comparadas com o caulim.

As variações do potencial redox são apresentadas na Figura 5.52 e na Figura 5.53. O


Eh em todas as medições realizadas foi positivo, ou seja, há o predomínio de espécies
oxidadas. Todos os valores de Eh determinados nas fatias foram muito próximos entre
si. As maiores variações ocorreram na amostra 101, em que esse parâmetro variou de
cerca de 290 mV no anodo até 340 mV no catodo. Na amostra 102 não houve solução
suficiente para a determinação do Eh na fatia do catodo.

Da mesma maneira que observado no caulim, a variação do potencial redox nos


tanques foi mais importante do que nas fatias. No entanto, em nenhum caso o
potencial redox foi negativo (caráter redutor). A proximidade dos valores encontrados
de Eh entre as fatias, assim como no caso do pH e da CEE, pode ser explicada pelas
intensidades baixas de corrente elétrica desenvolvida durante os ensaios.

500
Eh inicial Amostra 301b
Eh das fatias: t=0 - Amostra 301b (10 V)
Eh das fatias: t=14 dias - Amostra 301b (10 V)
450
Potencial Redox (mV)

400

350

300

250

Duração do ensaio EK: 4 dias


200
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo

Figura 5.52 - Eh - amostra 301b

129
500
Eh inicial Amostra 101
Eh inicial Amostra 102
Eh inicial Amostra 201
450
Eh das fatias: t = 14 dias - Amostra 101 (10V)
Eh das fatias: t = 14 dias - Amostra 102 (10V)

Potencial Redox (mV)


Eh das fatias: t = 14 dias - Amostra 201 (10V)
400

350

300

250

Duração dos ensaios EK: 4 dias


200
Tanque Fatia 1 Fatia 2 Fatia 3 Tanque
anodo próximo ao anodo meio próximo ao catodo catodo

Figura 5.53 – Eh - amostras 101, 102 e 201

5.4.3. Limites de Atterberg

A determinação dos limites de Atterberg após o ensaio eletrocinético foi realizada nas
amostras 101, 102 e 201.

Os resultados obtidos nas amostras de Triunfo são apresentados na Figura 5.54,


Figura 5.55 e Figura 5.56. A amostra 101 apresentou tanto o limite de liquidez quanto
o limite de plasticidade e o índice de plasticidade após a eletrocinética superiores ao
valor sem aplicação da técnica. A amostra 102 apresentou limite de plasticidade
superior ao valor inicial em todas as fatias e, em relação ao limite de liquidez e ao
índice de plasticidade, todos os valores foram inferiores ao valor sem a aplicação da
técnica. De forma contrária, os resultados de limite de plasticidade da amostra 201
após a eletrocinética foram inferiores ao valor inicial enquanto o limite de liquidez e o
índice de plasticidade foram superiores, salvo o limite de liquidez do catodo, que foi
ligeiramente inferior ao valor inicial.

Nessas amostras, comparando-se os resultados obtidos após a eletrocinética, é


possível observar que, com exceção da amostra 101, os valores de limite de liquidez e
do índice de plasticidade foram decrescentes no sentido anodo-catodo, da mesma
forma que foi observado no caulim, o que também pode ser atribuído a uma possível
organização floculada do argilomineral. A incorporação de novos cátions à estrutura do
argilomineral também pode ser responsável pelas variações nos limites de Atterberg
do solo. A maior variação de limite de liquidez entre as fatias ocorreu na amostra 101 e
a diferença desse parâmetro entre as fatias catodo e anodo foi de 13 %, superior ao
observado nos ensaios com o caulim.

130
A avaliação das alterações dos limites de Atterberg no solo de Triunfo não é elementar
uma vez que, tendo em vista a heterogeneidade do solo de Rondônia, as modificações
encontradas podem ser atribuídas a alterações na textura do solo e não ao ensaio
eletrocinético.

Cabe ressaltar ainda que, diferente do ocorrido no caulim, as variações de pH nas


amostras de Triunfo não foram muito pronunciadas nas fatias, o que coloca em
questão novamente se as variações nos limites de Atterberg podem ser atribuídas às
alterações nos arranjos das partículas e à incorporação de íons ao solo, ou se
decorrem da heterogeneidade natural da amostra. Além disso, conforme foi discutido
anteriormente, a linearidade do potencial elétrico nos pinos durante o ensaio sugere
que as reações eletroquímicas desenvolvidas durante o ensaio não foram muito
importantes.
30
Umidade no limite de plasticidade (%)

28

26

24

22

wP inicial - Amostra 201


20
wP inicial - Amostra 102
wP inicial - Amostra 101
18
wP pós EK - Amostra 201

16 wP pós EK - Amostra 102


wP pós EK - Amostra 101
14
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0

Distância normalizada do anodo


Figura 5.54 - Limites de plasticidade - amostras 101, 102 e 201

90
Umidade no limite de liquidez (%)

80

70

60 wL inicial - Amostra 201


wL inicial - Amostra 102
wL inicial - Amostra 101
50 wL pós EK - Amostra 201
wL pós EK - Amostra 102
wL pós EK - Amostra 101
40
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0

Distância normalizada do anodo


Figura 5.55 - Limites de liquidez - amostras 101, 102 e 201

131
70

60

Umidade (%)
50

40 IP inicial - Amostra 201


IP inicial - Amostra 102
IP inicial - Amostra 101
IP pós EK - Amostra 201
IP pós EK - Amostra 102
30
IP pós EK - Amostra 101

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0

Distância normalizada do anodo

Figura 5.56 – Índice de plasticidade – amostras 101, 102 e 201

5.4.4. Ensaios de resistência ao cisalhamento dos solos

Os ensaios de resistência ao cisalhamento foram realizados antes e após a


eletrocinética, nas amostras 201, 102 e 101. O cisalhamento direto foi feito, em todos
os casos, 14 dias após o ensaio EK. As envoltórias de Mohr, os gráficos “Tensão
cisalhante versus deslocamento horizontal” e os gráficos “Deslocamento vertical
versus deslocamento horizontal” da amostra 201 são mostrados na Figura 5.57, Figura
5.58 e Figura 5.59; da amostra 102, na Figura 5.60, Figura 5.61 e Figura 5.62 e da
amostra 101, na Figura 5.63, Figura 5.64 e Figura 5.65.

O intercepto de coesão da amostra 102 foi superior a 100 kPa e da amostra 202 (vide
Figura 5.12) foi superior a 50 kPa. Tendo em vista que o intercepto de coesão da
amostra 102 foi muito elevado, foram realizados dois ensaios de cisalhamento direto
pré EK utilizando-se tensão normal superior a 450 kPa, confirmando-se o traçado da
envoltória de Mohr. Essas duas amostras encontram-se a grandes profundidades,
acima de 15 m e 18 m, respectivamente.

A amostra 201, aplicando-se uma tensão normal de 50 kPa, apresentou dilatância


quando cisalhada. O mesmo foi observado nas amostras 102 e 101, com 150 kPa e 50
kPa, respectivamente. Nas amostras 102 e 101 observou-se também que, após a
ruptura do corpo-de-prova, em alguns casos o solo continuava a sofrer contração ou
expansão.

132
250
Profundidade:
6,00 m - 6,61 m

200

150

τ (kPa)
100

τrup pré EK
50 τrup pós EK catodo
τrup pós EK meio
τrup pós EK anodo
0
0 50 100 150 200 250 300

σ (kPa)
Figura 5.57 - Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 201

250

200

150
τ (kPa)

100
σ= 50 kPa - Pré EK
σ= 150 kPa - Pré EK
σ= 250 kPa - Pré EK
50
σ= 150 kPa - Pós EK: catodo
σ= 150 kPa - Pós EK: meio
σ= 150 kPa - Pós EK: anodo
0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8

Deslocamento horizontal (cm)


Figura 5.58 - Tensão cisalhante x deslocamento horizontal da amostra 201

0,01

0,00
Deslocamento vertical (cm)

-0,01

-0,02
σ= 50 kPa - Pré EK
σ= 150 kPa - Pré EK
σ= 250 kPa - Pré EK
-0,03 σ= 150 kPa - Pós EK: catodo
σ= 150 kPa - Pós EK: meio
σ= 150 kPa - Pós EK: anodo

-0,04
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8

Deslocamento horizontal (cm)


Figura 5.59 - Deslocamento vertical x deslocamento horizontal – amostra 201

133
300
Profundidade:
15,00 m - 15,61 m
250

200

τ (kPa)
150

100
τrup pré EK
τrup pós EK catodo
50
τrup pós EK meio
τrup pós EK anodo
0
0 100 200 300 400 500 600

σ (kPa)
Figura 5.60 – Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 102

300

250

200
τ (kPa)

150

σ= 150 kPa - Pré EK


100 σ= 300 kPa - Pré EK
σ= 450 kPa - Pré EK
σ= 450 kPa - Pré EK
50 σ= 300 kPa - Pós EK: catodo
σ= 300 kPa - Pós EK: meio
σ= 300 kPa - Pós EK: anodo
0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8

Deslocamento horizontal (cm)


Figura 5.61 – Tensão cisalhante x deslocamento horizontal da amostra 102

0,00
Deslocamento vertical (cm)

-0,01

-0,02

-0,03
σ= 150 kPa - Pré EK
σ= 300 kPa - Pré EK
-0,04 σ= 450 kPa - Pré EK
σ= 450 kPa - Pré EK
σ= 300 kPa - Pós EK: catodo
-0,05
σ= 300 kPa - Pós EK: meio
σ= 300 kPa - Pós EK: anodo
-0,06
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8

Deslocamento horizontal (cm)


Figura 5.62 – Deslocamento vertical x deslocamento horizontal – amostra 102

134
200
Profundidade:
6,41 m - 7,02 m

150

τ (kPa)
100

σrup pré EK
50
σrup pós EK catodo
σrup pós EK meio
σrup pós EK anodo

0
0 50 100 150 200 250 300

σ (kPa)
Figura 5.63 - Envoltória de Mohr e tensões de ruptura da amostra 101

200

150
τ (kPa)

100

σ= 50 kPa - Pré EK
σ= 150 kPa - Pré EK
50
σ= 250 kPa - Pré EK
σ= 150 kPa - Pós EK: catodo
σ= 150 kPa - Pós EK: meio
σ= 150 kPa - Pós EK: anodo
0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8

Deslocamento horizontal (cm)


Figura 5.64 - Tensão cisalhante x deslocamento horizontal da amostra 101

0,03

0,02

0,01
Deslocamento vertical (cm)

0,00

-0,01

-0,02

-0,03
σ= 50 kPa - Pré EK
-0,04
σ= 150 kPa - Pré EK
σ= 250 kPa - Pré EK
-0,05
σ= 150 kPa - Pós EK: catodo
-0,06 σ= 150 kPa - Pós EK: meio
σ= 150 kPa - Pós EK: anodo
-0,07
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8

Deslocamento horizontal (cm)


Figura 5.65 – Deslocamento vertical x deslocamento horizontal - amostra 101

135
De forma geral, quando o solo de Triunfo foi cisalhado com elevadas tensões normais,
os gráficos “Tensão cisalhante versus deformação horizontal” apresentaram picos.
Tratando-se de solos sedimentares idealizados – sem cimentação e sem estrutura –, o
gráfico “Tensão desviadora versus deformação”, em ensaios drenados, não apresenta
pico quando o solo ensaiado trata-se de uma areia fofa ou uma argila normalmente
adensada. O comportamento de uma argila sobreadensada, por sua vez, de forma
geral é semelhante ao de uma areia compacta e o gráfico “Tensão desviadora versus
deformação” apresenta pico. De acordo com Taylor (1948), nas areias compactas, a
perda gradual de resistência após o pico pode ser atribuída à diminuição do
entrosamento ("interlocking"), que ocorre porque a densidade da amostra está
diminuindo. Segundo o autor, as areias compactas normalmente expandem durante a
ruptura e a parcela adicional da tensão cisalhante (τe, conforme Figura 5.66)
necessária para vencer o entrosamento pode ser interpretada como a energia que
está sendo utilizada para expandir o corpo-de-prova.

Nas argilas sobreadensadas o fenômeno é semelhante. A tensão adicional, que


normalmente é atribuída à coesão do solo, na verdade é causada em parte pela
energia fornecida para a sua expansão. Além disso, segundo o autor, em argilas cujo
pré-adensamento é pequeno ou inexistente, ocorre diminuição de volume durante o
cisalhamento e ainda assim em muitos casos é possível observar uma diminuição na
tensão cisalhante após o pico. Essa diminuição decorre da perda de estrutura do solo.
Segundo Lambe e Whitman (1969), a reorientação das partículas de argila durante o
cisalhamento exerce um papel fundamental na queda da resistência de pico para a
resistência residual.

Tendo em vista que os ensaios de adensamento unidimensional realizados nas


amostras de Triunfo apresentaram tensões de sobreadensamento baixas em relação
às tensões calculadas de campo, o comportamento apresentado durante o
cisalhamento do solo de Triunfo pode ser comparado ao de uma argila cujo pré-
adensamento é pequeno. Dessa forma, a presença de picos na curva “Tensão
cisalhante versus deslocamento horizontal” estaria relacionada à perda de estrutura do
solo. Ademais, os picos observados durante os ensaios de cisalhamento direto nas
amostras de Triunfo foram acompanhados de uma diminuição do volume das
amostras. No entanto, vale ressaltar que as amostras possivelmente estavam
amolgadas quando do cisalhamento direto, ou seja, a estrutura do solo já estava
comprometida.

As amostras de Rondônia apresentam agregados formados por partículas de argila


ligadas entre si. De acordo com Gidigasu (1976), essas ligações decorrem da

136
presença de agentes alumino-ferruginosos. Quando o solo é solicitado ou quando são
utilizadas soluções dispersantes, os agregados podem se desfazer. Vaughan (1990),
no estudo de solos residuais que apresentavam estrutura ligada pelas ações do
intemperismo químico (“bonded structure”), observou que a resistência de pico é
independente da dilatância dos solos, indicando que o pico desses solos não ocorre
no ponto de inflexão da curva “Deformação vertical versus deformação horizontal”
(ponto da derivada máxima, Figura 5.66). Segundo o autor, a diminuição da tensão
cisalhante após o pico ocorre porque as ligações estariam sendo destruídas. Da
mesma maneira, os picos presentes nos resultados dos ensaios de cisalhamento
direto e a diminuição do volume das amostras quando cisalhadas, especialmente
quando foram utilizadas elevadas tensões normais, podem ser decorrentes da
destruição dos agregados do solo de Triunfo e da perda de estrutura da amostra.

Figura 5.66 – Tensão de pico durante cisalhamento

A análise da resistência ao cisalhamento do solo de Triunfo após o ensaio EK


evidenciou que, mesmo na posição próxima ao anodo, ao contrário do observado com
o caulim, não ocorreu aumento significativo de resistência do solo devido às reações
eletroquímicas. Na amostra 201, a resistência ao cisalhamento nas posições catodo e
anodo foram iguais. Na posição meio, no entanto, a resistência residual do solo foi
muito inferior aos valores obtidos nas outras duas fatias e no ensaio pré EK.
Possivelmente essa discrepância ocorreu em virtude da presença de algum plano de
menor resistência decorrente da heterogeneidade do solo.

Na amostra 102, as fatias meio e anodo apresentaram os valores de resistência pós


EK próximos à envoltória de Mohr e, na posição catodo, a resistência encontrada foi

137
ligeiramente abaixo da envoltória. O gráfico “Deslocamento vertical versus
deslocamento horizontal” da amostra 102 pós EK, na posição meio, apresenta várias
oscilações, que possivelmente ocorreram devido à presença de agregados
encontradas em grande quantidade nessa amostra. Os resultados obtidos na amostra
101 evidenciaram que, próximo ao anodo, a resistência foi ligeiramente superior ao
ensaio realizado com o solo sem o ensaio eletrocinético e, nas posições meio e
próximo ao catodo, a resistência ao cisalhamento do solo foi abaixo do obtido sem o
ensaio EK.

Tendo em vista que, ao contrário do observado no caulim, nas amostras de Triunfo as


variações do pH entre as fatias não foram muito pronunciadas, os efeitos das reações
físico-químicas na resistência do solo naturalmente foram menos importantes quando
comparados ao caulim. Além disso, a resistência ao cisalhamento do solo de Triunfo
sem a aplicação da técnica eletrocinética foi muito superior ao do caulim e, por esse
motivo, qualquer variação das propriedades físicas no solo foi muito mais evidente no
caulim do que nas amostras de Triunfo.

Da mesma forma que observado para as variações dos teores de umidade e dos
limites de Atterberg, os diferentes resultados encontrados após a eletrocinética nos
ensaios de cisalhamento direto podem ser atribuídos à grande heterogeneidade das
amostras e, por essa razão, essas alterações devem ser analisadas com cautela.

5.4.5. Resumo
• As variações dos teores de umidade, após a eletrocinética, possivelmente
decorrem da heterogeneidade do solo. Nas amostras de Triunfo, como as
variações das tensões elétricas nas amostras foram aproximadamente
lineares, acredita-se que as reações eletroquímicas desenvolvidas durante os
ensaios, responsáveis pelo surgimento de zonas de diferentes condutividades
elétricas no solo – logo, pelo aparecimento de diferentes vazões eletro-
osmóticas ao longo do solo –, sejam pouco relevantes.

• As variações do pH, Eh e CEE entre as fatias das amostras de Triunfo foram


discretas. Imediatamente após os ensaios EK, observou-se que as amostras se
encontravam praticamente equalizadas. Além disso, a condutividade elétrica
específica da solução intersticial das amostras de Rondônia foi inferior à
condutividade da solução extraída do caulim. Conforme esperado, a densidade
de corrente elétrica desenvolvida no caulim foi consideravelmente maior

138
quando comparada à densidade de corrente no solo de Triunfo. O Eh em todas
as medições realizadas foi positivo e a variação do potencial redox nos tanques
foi mais importante do que nas fatias. As pequenas variações do pH, Eh e CEE
podem ser explicadas pela pouca eletrólise gerada durante a eletrocinética,
decorrente das baixas densidades de corrente elétrica desenvolvidas durante
os ensaios.

• Assim como o caulim, o limite de liquidez das fatias, após a eletrocinética,


apresentou uma tendência decrescente, no sentido anodo-catodo, que pode
ser explicada pelo arranjo floculado nessa fatia ou pela incorporação de íons
no argilomineral. A amostra 101 apresentou um padrão crescente. É importante
ressaltar, no entanto, que, assim como os teores de umidade, as alterações
podem ser oriundas da heterogeneidade do solo, uma vez que as variações de
pH ao longo da amostra foram pouco pronunciadas. Além disso, a linearidade
da diferença de potencial elétrico nos pinos no decorrer do ensaio indica que,
provavelmente, as reações eletroquímicas desenvolvidas não foram muito
significativas.

• Os picos observados nas curvas “Tensão cisalhante versus deslocamento


horizontal” podem ser explicados pela destruição progressiva dos agregados
presentes nas amostras de Triunfo, formados por partículas de argila ligadas
entre si através de agentes alumino-ferruginosos. Esses picos não estão
associados a um comportamento dilatante do solo, conforme ocorre com as
areais compactas e as argilas sobreadensadas.

• A resistência ao cisalhamento das amostras de Triunfo em geral não sofreu


alterações significativas com a utilização da técnica eletrocinética. Com efeito,
uma vez que as reações eletroquímicas foram pouco pronunciadas, a
influência dessas reações na resistência do solo naturalmente é mais discreta.
Além disso, tendo em vista que as amostras de Triunfo são muito rígidas e a
resistência ao cisalhamento desse solo é muito superior que a do caulim, as
alterações na resistência decorrentes das reações eletroquímicas são muito
menos perceptíveis. As alterações na resistência ao cisalhamento do solo após
a eletrocinética possivelmente decorrem das heterogeneidades presentes nas
amostras.

139
6. CONCLUSÕES

6.1. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA

O caulim, composto predominantemente por caulinita, apresentou baixa capacidade


de troca catiônica. A difração de raios X identificou principalmente picos de caulinita,
além de impurezas como o quartzo e a muscovita. O ponto de carga zero do caulim
determinado no equipamento Zetasizer Nano ZS foi aproximadamente 3,6. O cálculo
do ponto de carga zero pelo método de Uehara (1979) foi cerca de 5,9, valor superior
ao determinado no Zetasizer e aos valores referenciados na literatura para o caulim.

Os ensaios de caracterização química e mineralógica realizados no solo de Triunfo


confirmaram o caráter caulinítico do solo. O solo de Rondônia apresentou baixa
capacidade de troca de cátions e relação SiO2/Al2O3 (Ki) inferior a 2,2 em todas as
amostras, conforme determinado pela Embrapa (1988) como limite superior para
latossolos. A difração de raios X indicou a presença de caulinita e a ausência de
materiais expansivos, além da presença de quartzo e minerais de óxidos de ferro.
Esses resultados confirmam a composição das amostras obtida na fluorescência de
raios X. As amostras de Triunfo apresentam baixa capacidade tampão, que diminui
com o aumento da concentração de ácido ou base adicionado.

O ponto de carga zero das amostras de Triunfo determinado no equipamento


Zetasizer Nano ZS esteve compreendido entre 5,0 e 6,0. Os valores desse parâmetro
calculados pelo método de Uehara (1979) foram concordantes para as amostras 201 e
101. Na amostra 102, no entanto, o ponto de carga zero calculado foi inferior ao
encontrado no Zetasizer.

6.2. VARIAÇÃO DOS PARÂMETROS ELÉTRICOS DOS SOLOS

Os ensaios eletrocinéticos realizados no caulim indicaram que o gradiente elétrico e a


resistividade elétrica foram crescentes. Além disso, o fluxo eletro-osmótico resultante
ocorreu no sentido anodo-catodo.

Durante os ensaios com o caulim, observou-se um aumento da diferença de potencial


elétrico entre os pinos 4 e 5 e, portanto, a variação da tensão elétrica nos pinos não foi
linear. A não linearidade da tensão elétrica decorre do desenvolvimento de zonas de
diferentes condutividades no solo. Acredita-se que o aumento da resistividade elétrica
do solo nas proximidades do catodo fez com que ocorresse sucção nessa região. As
trincas observadas no caulim 2 e caulim 3 possivelmente decorrem de esforços de
tração que se desenvolveram em resposta à sucção.

140
Utilizando-se eletrodos de aço inox posicionados nas extremidades dos tanques,
verificou-se que, aplicando uma determinada tensão elétrica no caulim, a diferença de
potencial que efetivamente chega no pino 1 corresponde a cerca de 45 % da tensão
elétrica total. Em contrapartida, em todos os ensaios realizados com a nova
configuração, ou seja, com eletrodos de DSA® posicionados juntos ao solo, a tensão
elétrica medida no pino 1 representa aproximadamente 60 % da tensão total,
excetuando-se no caulim 2, em que as perdas foram ainda menos significativas. As
perdas podem ser atribuídas ao contato das hastes dos eletrodos com a solução dos
tanques, já que estas não estavam isoladas eletricamente.

O volume de solução extraída após o término do ensaio no caulim 4, caulim 5, caulim


6 e caulim 7, em que foram aplicados 5 V ao solo durante cerca de 96 horas, foi de
aproximadamente 50 mL. Nos ensaios com o caulim 4, caulim 6 e caulim 7 o
coeficiente de permeabilidade eletro-osmótica estabilizou-se em aproximadamente 3,0
x 10-9 m²/V.s após cerca de 45 h de ensaio. O gradiente elétrico observado nesses
ensaios variou entre 3 V/m e 14,5 V/m e a densidade de corrente elétrica entre 0,4
A/m² e 0,8 A/m². A resistividade elétrica oscilou entre 4,5 Ω.m e 23 Ω.m.

O gradiente elétrico nas amostras de Triunfo variou pouco ao longo do ensaio,


provavelmente pois, ao contrário do observado no caulim, não houve desenvolvimento
nítido de zonas de diferentes condutividades elétricas no solo. Por essa razão, a
variação do potencial elétrico no tempo e no espaço foi praticamente linear.

A resistividade elétrica nas amostras de Rondônia foi muito superior aos valores
medidos no caulim, podendo chegar a até duas ordens de grandeza de diferença. Os
menores valores de resistividade elétrica observados nas amostras de Triunfo
referem-se à amostra 301a, cuja variação desse parâmetro esteve compreendida
entre 600 Ω.m e 640 Ω.m. Na amostra 101, em que foram registrados os maiores
valores de resistividade elétrica, o parâmetro variou de 1126 Ω.m até 1537 Ω.m.

Tendo em vista que a condutividade elétrica da solução intersticial das amostras de


Triunfo foi inferior à condutividade do caulim, a corrente elétrica durante a
eletrocinética nas amostras de Rondônia foi pelo menos uma ordem de grandeza
inferior quando comparada com o solo fabricado. Menores correntes elétricas geram
menos eletrólise durante a eletrocinética.

O volume de solução extraído durante os ensaios foi muito discreto e, com exceção da
amostra 101, foi inferior a 5 mL. Nesse último caso, foram registrados 25 mL de
solução extraída. Na amostra 102, verificou-se a ocorrência de fluxo eletro-osmótico
inverso, ou seja, no sentido catodo-anodo e, na amostra 301b, não foi registrado

141
nenhum fluxo eletro-osmótico. Uma possível explicação para o pouco volume de
solução extraído nos ensaios é a ocorrência de fluxo eletro-osmótico inverso.

O pH da solução intersticial das amostras de Triunfo foi próximo ao ponto de carga


zero do solo, ou seja, o Potencial Zeta foi perto de zero. Essa constatação corrobora
com a pouca eletro-osmose observada durante os ensaios eletrocinéticos, haja visto
que a quantidade de solução extraída durante o ensaio é proporcional ao Potencial
Zeta do solo. A inversão do fluxo eletro-osmótico nas amostras de Triunfo pode ser
explicada pela inversão da carga líquida das partículas, que ocorre quando o pH do
solo é inferior ao seu ponto de carga zero.

Com exceção da amostra 201, ke estabilizou-se em aproximadamente entre 1,0 x 10-10


m²/V.s e 4 x 10-10 m²/V.s, uma ordem de grandeza inferior ao coeficiente de
permeabilidade eletro-osmótica do caulim. Os baixos valores de ke são justificados
principalmente pela pouca eletro-osmose durante os ensaios.

A linearidade das tensões elétricas nas amostras de Triunfo e as baixas densidades


de corrente desenvolvidas indicam que, em relação ao caulim, houve menos reações
eletroquímicas durantes os ensaios EK. Ademais, utilizando-se água deionizada ou
solução fabricada, os resultados de variação dos parâmetros elétricos obtidos nas
amostras de Triunfo foram similares e as diferenças observadas entre o caulim e as
amostras de solo tropical decorrem do tipo de solo usado, e não da solução química.

Segundo Mitchell e Soga (2005) e Yeung (2006), a eficiência da técnica eletrocinética


aumenta com o aumento da resistividade elétrica do solo. A despeito da resistividade
do solo ser elevada e da baixa densidade de corrente durante os ensaios, nas
amostras de Rondônia o volume de solução extraída por eletro-osmose foi muito baixo
ou até nulo.

6.3. ALTERAÇÕES DAS PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS DOS SOLOS APÓS


ENSAIOS ELETROCINÉTICOS

Foram investigadas as mudanças ocorridas nos parâmetros geotécnicos dos solos


após a técnica eletrocinética. Segundo Mitchell e Soga (2005), para que haja
alterações nos limites de Atterberg dos solos, é necessário ocorrer mudanças na
mineralogia, nas características das partículas ou da solução dos poros. Observou-se
no caulim que, em todos os ensaios, o limite de liquidez foi decrescente do anodo para
o catodo. O limite de plasticidade foi superior no anodo em todas as amostras em que
o ensaio foi realizado, com exceção do caulim 2, que apresentou, no catodo, limite de
plasticidade ligeiramente superior em relação às outras fatias.
142
Após os ensaios eletrocinéticos no caulim, as alterações sofridas no pH da solução
intersticial ao longo do solo foram as mais evidentes. Como o anodo apresentou pH
ácido, uma hipótese é que, nessa fatia, o solo apresentou arranjo floculado e, uma vez
que o volume de vazios é maior nessa condição, o limite de liquidez obtido também é
superior em relação ao arranjo disperso. Ademais, é possível que íons divalentes e
trivalentes liberados provenientes da corrosão do anodo tenham sido incorporados à
estrutura do argilomineral, favorecendo a atração das partículas de argila e,
consequentemente, o arranjo floculado. Além das alterações no arranjo das
partículas, em ambientes ácidos as substituições iônicas no solo – em especial a
incorporação de íons de alumínio aos sítios de troca do argilomineral – podem
influenciar as propriedades físico-químicas dos solos. Conforme reportado por Bjerrum
et al. (1967), as trocas iônicas durante a eletrocinética interferem nas propriedades
plásticas do solo.

As alterações nos limites de Atterberg do caulim foram semelhantes tanto com o pH


variando entre 4,0 e 8,0, quanto com esse parâmetro oscilando entre 2,0 e 10,0.
Dessa forma, os mecanismos envolvidos nas alterações do arranjo das partículas e
nas substituições iônicas do argilomineral ocorrem tanto em condições mais ácidas ou
básicas quanto em condições menos extremas de variação de pH.

As semelhanças encontradas nas determinações dos limites de Atterberg logo após o


término do ensaio ou após 21 dias sugerem que o tempo de equalização não interferiu
no limite de liquidez e no limite de plasticidade das amostras de caulim.

Os ensaios de resistência ao cisalhamento realizados no caulim evidenciaram um


aumento considerável da resistência do solo no anodo. Como a variação dos teores de
umidade entre as fatias não foi considerável, acredita-se que, também nesse caso, o
aumento da resistência decorre das trocas iônicas no argilomineral e do arranjo
floculado das partículas que, segundo Lambe e Whitman (1969), aumenta o
entrosamento entre elas.

Nas amostras de Triunfo, as alterações nos limites de Atterberg e na resistência ao


cisalhamento do solo com a aplicação da eletrocinética não foram muito claras. Uma
vez que as amostras de Rondônia apresentam diferentes texturas e granulometrias, a
comparação dos limites de Atterbeg ou da resistência ao cisalhamento do solo após o
ensaio eletrocinético deve ser feita com cautela. Com efeito, embora as amostras 201
e 102 tenham apresentado limite de liquidez superior na fatia próxima ao anodo, na
amostra 101 observou-se o contrário, ou seja, limite de liquidez maior na fatia próxima

143
ao catodo. Os limites de plasticidade foram crescentes do anodo para o catodo nas
amostras 102 e 101 e, na amostra 201, foram decrescentes.

A resistência ao cisalhamento das amostras de Triunfo também não foi conclusiva. De


forma geral, observou-se a resistência ao cisalhamento do solo não sofreu alteração
com a utilização da técnica. Vale ressaltar, no entanto, que na amostra 201 a
resistência ao cisalhamento pós EK na posição meio foi muito inferior aos valores
obtidos nas outras duas fatias e no ensaio pré EK. Os picos observados nos gráficos
“Tensão cisalhante versus deformação horizontal” possivelmente estão relacionados à
destruição progressiva dos agregados existentes no solo e não estão associados a um
comportamento dilatante, conforme ocorre com as areais compactas e as argilas
sobreadensadas.

As tensões de sobreadensamento obtidas através dos ensaios de adensamento


unidimensional foram relativamente baixas quando comparadas às tensões efetivas de
campo. As diferenças entre as tensões efetivas calculadas e obtidas nos ensaios de
adensamento podem ser atribuídas ao amolgamento do solo quando da cravação do
anel de adensamento e às deformações dos componentes do aparato de compressão
unidimensional, que não foram descontadas no traçado da curva “Índice de vazios
versus tensão normal”.

6.4. TEMPO DE EQUALIZAÇÃO

A medição do pH da solução intersticial dos solos, antes e após a eletrocinética e nas


posições próximo ao anodo, meio e próximo ao catodo, permitiu a investigação do
tempo necessário para que o pH ao longo do solo fosse praticamente igual.

No caulim, a eletrólise da água gerou um decréscimo do pH próximo ao anodo e um


aumento nas imediações do catodo. As maiores variações de pH foram observadas no
caulim 2, que também exibiu maior densidade de corrente elétrica e, assim,
apresentou maior eletrólise em relação às outras amostras.

No caulim 3 e caulim 4 foram feitas determinações do pH imediatamente após o


ensaio eletrocinético e 14 dias depois de findado o ensaio. Em nenhum dos dois
casos, embora após 14 dias o pH na fatia próxima ao anodo tenha aumentado e na
fatia próxima ao catodo o pH tenha diminuído, o solo estava equalizado.

No caulim 5 e caulim 6, aplicando-se 5 V ao solo e medindo-se o pH das fatias após


21 dias, os valores obtidos foram cerca de 4, 7 e 8, do anodo para o catodo. No caulim
7, foram feitas medições do pH após 60 dias do término do ensaio eletrocinético e,

144
ainda assim, a variação do pH nas fatias em relação ao observado no caulim 4, caulim
5 e caulim 6 foi muito discreta e o solo não havia equalizado. É interessante notar, no
entanto, que com a utilização de 5 V no ensaio eletrocinético, após 14 dias, 21 dias ou
60 dias o pH da fatia próxima ao anodo foi de aproximadamente 4, no meio o pH foi
em torno de 7 e, próxima ao catodo, o pH foi cerca de 8.

Nas amostras de Triunfo, acredita-se que devido à baixa densidade de corrente


elétrica, houve pouca variação de pH entre as fatias. Dessa forma, logo após o término
do ensaio, o pH medido em cada posição foi praticamente o mesmo e o solo
encontrava-se praticamente equalizado.

Assim como observado com o pH, as alterações da CEE e do Eh são maiores com o
aumento da densidade de corrente.

6.5. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

• Medição da resistência ao cisalhamento dos solos imediatamente após a


eletrocinética e após um intervalo de tempo determinado, objetivando a
verificação da variação da resistência das amostras no tempo, após os ensaios
EK.

• Realização de ensaio eletrocinéticos nas amostras de Triunfo utilizando uma


diferença de potencial elétrico superior a 15 V, na intenção de se avaliar a
variação do pH e das propriedades geotécnicas quando do desenvolvimento de
densidades de correntes elétricas superiores ao observado nos ensaios
realizados nesta pesquisa.

• Determinação do tempo necessário para que os valores de pH das fatias do


caulim sejam aproximadamente iguais entre si. Após a equalização dos pHs,
sugere-se que sejam realizadas medições da resistência não drenada nas
fatias e posteriores determinações dos limites de Atterbeg em cada posição.

• Realização de ensaios eletrocinéticos sem o controle da temperatura ambiente,


possibilitando assim a visualização da influência das oscilações de temperatura
nos parâmetros elétricos das amostras durante os ensaios EK.

145
• Avaliação do complexo sortivo dos solos antes e após a eletrocinética,
utilizando-se eletrodos de DSA®, para verificação das substituições iônicas no
argilomineral, decorrentes da degradação dos eletrodos ou da dissolução do
próprio mineral. As análises do complexo sortivo dos solos após os ensaios EK
possibilitaria o estabelecimento de uma relação mais nítida entre as trocas
iônicas dos solos e as alterações nos seus parâmetros geotécnicos.

• Realização de ensaios MCT nas amostras de Triunfo, tendo em vista a


classificação do solo tropical e confirmação do seu caráter laterítico.

146
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155
ANEXO I – ESPECIFICAÇÃO DO CAULIM

1- CARACTERÍSTICAS INFORMATIVAS
1.1 – Composição Básica: Silicato de Alumínio (SiO2 + Al2O3)

1.2 – Características Químicas Típicas – Referencial


SiO2 45,40 %

Al2O3 34,50 %

K2O 0,55 %

Fe2O3 0,23 %

MgO 0,49 %

Na2O 0,32 %

A análise química é uma média de vários lotes e não é controlada lote a lote, portanto serve
somente como referencial.

2- PROPRIEDADES CONTROLADAS

CARACTERÍSTICAS LIMITE DE VARIAÇÃO MÉTODO DE ENSAIO

Absorção DOP (%) 41,0 a 49,0 IT BRM 3

Absorção Óleo Linhaça (%) 32,0 a 41,0 IT BRM 2

Cor Branca IT BRM 19

Densidade Aparente Compactada (g/cm3) 0,45 a 0,85 IT BRM 20

Peso Específico (g/cm3) 2,40 a 2,70 IT BRM 7

Perda ao Fogo (850oC) (%) Max. 15,0 IT BRM 11

pH (solução aquosa 5%) 5,0 a 11,0 IT BRM 9

Retenção # 325 mesh (0,045 mm) (%) Max. 1,0 IT BRM 8

Umidade (%) Max. 2,0 IT BRM 10

3 – EMBALAGEM: Sacos de papel kraft de 2 folhas com peso líquido de 25 kg por saco

4 – MANUSEIO E ESTOCAGEM: Manuseio e armazenamento em local seco e arejado.


Empilhamento máximo de 2 pallets.

5 – PRAZO DE VALIDADE: 5 anos

156

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