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Guia - VF - Resiliência e Risco de Desastres
Guia - VF - Resiliência e Risco de Desastres
RISCO DE DESASTRES
UM GUIA PARA ATUAÇÃO MUNICIPAL
BANCO MUNDIAL
GLOBAL FACILITY FOR DISASTER REDUCTION AND RECOVERY (GFDRR)
FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA (FAPEU)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC)
CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ENGENHARIA E DEFESA CIVIL (CEPED)
RESILIÊNCIA E
RISCO DE DESASTRES
UM GUIA PARA ATUAÇÃO MUNICIPAL
Elaborado pela FAPEU com o apoio do Banco Mundial e CEPED UFSC
Boa leitura!
APRESENTAÇÃO CAPÍTULO 1
A NOVA AGENDA URBANA E
A RESILIÊNCIA A DESASTRES
página 7 página 13
SUMÁRIO
GUI CHRIST (ESTA FOTO FOI REALIZADA GRAÇAS A NATIONAL GEOGRAPHIC SOCIETY)
A NOVA AGENDA URBANA E
A RESILIÊNCIA A DESASTRES
das pelas ONU destacam-se as Conferências das sentamentos humanos, as favelas no Brasil. Após
Nações Unidas sobre Habitação e Desenvolvi- o evento, as políticas urbanas brasileiras deixaram
mento Urbano Sustentável realizadas a cada 20 de adotar práticas de erradicação de favelas e pre-
anos, desde 1976. Na primeira edição, conhecida feriram desenvolver ações e políticas de integra-
como Habitat I, a principal pauta foi desenvolver ção dessas áreas ao tecido urbano das cidades.
estratégias para controlar e reduzir a escala do Na legislação urbana brasileira houve avan-
processo de urbanização e fomentar estratégias ços, como os direitos à moradia e à cidade
para que a população rural não migrasse para as passaram a ser reconhecidos como direitos
cidades em busca de melhores condições de vida. constitucionais de todos os cidadãos. Houve o
No Brasil, de meados da década de 1970, o aperfeiçoamento da legislação urbana e dos ins-
grande desafio era vencer a falta de autonomia dos trumentos e ferramentas para fortalecer a capa-
governos locais. As ações no campo do desenvol- cidade dos governos locais, como a aprovação
vimento urbano eram centralizadas e com baixa do Estatuto da Cidade e a elaboração dos planos
capacidade para enfrentar a diversidade e a com- diretores para melhor ordenar o território muni-
plexidade dos problemas urbanos. Ou seja, uma vez cipal e assegurar um desenvolvimento urbano
que as medidas elaboradas pelo Estado eram pa- mais integrado e participativo (CNM, 2015).
dronizadas não era possível dar conta da realidade Por fim, a Habitat III, realizada em 2016, bus-
local de municípios tão diversos em tamanho, po- cou renovar o compromisso político para cons-
pulação, clima, relevo, processo de urbanização etc. truir uma Nova Agenda Urbana com impacto
SEUMA (PREFEITURA DE FORTALEZA, DIVULGAÇÃO)
Agenda 2030
01 ERRADICAÇÃO
DA POBREZA
Acabar com a pobreza em todas
as suas formas, em todos os lugares.
02
FOME ZERO E Acabar com a fome, alcançar a
AGRICULTURA segurança alimentar e melhoria da nutrição
SUSTETÁVEL e promover a agricultura sustentável.
16
03 SAÚDE E
BEM-ESTAR
Assegurar uma vida saudável e promover
o bem-estar para todos, em todas as idades.
RESILIÊNCIA E RISCO DE DESASTRES: UM GUIA PARA ATUAÇÃO MUNICIPAL
04
Assegurar a educação inclusiva e equitativa
EDUCAÇÃO
e de qualidade, e promover oportunidades
DE QUALIDADE
de aprendizagem ao longo da vida para todos.
05 IGUALDADE
DE GÊNERO
Alcançar a igualdade de gênero e
empoderar todas as mulheres e meninas.
06 ÁGUA POTÁVEL
E SANEAMENTO
Assegurar a disponibilidade e gestão
sustentável da água e saneamento para todos.
07 ENERGIA LIMPA
E ACESSÍVEL
Assegurar o acesso confiável, sustentável,
moderno e a preço acessível à energia para todos.
TRABALHO Promover o crescimento econômico sustentado,
08 DESCENTE E
CRESCIMENTO
ECONÔMICO
inclusivo e sustentável, emprego pleno e
produtivo e trabalho decente para todos.
09
INDÚSTRIA,
INOVAÇÃO E promover a industrialização inclusiva e
INFRAESTRUTURA sustentável e fomentar a inovação.
10 REDUÇÃO DAS
DESIGUALDADES
Reduzir a desigualdade
dentro dos países e entre eles.
11
CIDADES E
Tornar as cidades e os assentamentos humanos
COMUNIDADES
inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
SUSTENTÁVEIS
12
CONSUMO
Assegurar padrões de produção
E PRODUÇÃO
e de consumo sustentáveis.
RESPONSÁVEIS
17
13
AÇÃO CONTRA
Tomar medidas urgentes para combater
A MUDANÇA
a mudança climática e seus impactos.
GLOBAL DO CLIMA
14
Conservação e uso sustentável dos
VIDA
oceanos, dos mares e dos recursos marinhos
NA ÁGUA
para o desenvolvimento sustentável.
15 VIDA
TERRESTRE
ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as
florestas, combater a desertificação, deter e reverter a
degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.
16
PAZ, JUSTIÇA
o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso
E INSTITUIÇÕES
à justiça para todos e construir instituições eficazes,
EFICAZES
responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
17
PARCERIAS
Fortalecer os meios de implementação e revitalizar
E MEIOS DE
a parceria global para o desenvolvimento sustentável.
IMPLEMENTAÇÃO
Assim, os atuais Objetivos de Desenvolvimen- planeta. O Brasil apresentou seu primeiro RNV
to Sustentável são uma evolução e levam em con- em 2017, no qual teve como tema central Erra-
ta o legado dos Objetivos de Desenvolvimento dicar a Pobreza e Promover a Prosperidade em
do Milênio (ODM), procurando obter avanços na- um Mundo em Transformação e focou na revi-
quelas metas não alcançadas e agregando outras são dos ODS 1, 2, 3, 5, 9 e 14. Nesse relatório foi
dimensões do desenvolvimento, como o cresci- apresentada a proposta de ação considerando os
mento econômico e a preservação ambiental. desafios para a internalização da Agenda Global
Para apoiar os países a tornar realidade essa à realidade nacional, definindo como essenciais
visão até 2030, o Programa das Nações Unidas as seguintes etapas:
para o Desenvolvimento (PNUD) desenvolveu a
iniciativa Articulação de Redes Territoriais (ART),
que ocorre em parceria com uma ampla gama GOVERNANÇA NACIONAL
de atores e tem como estratégia a localização A criação da Comissão Nacional para os
dos ODS. Localizar os ODS não implica uma sim- Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ples tradução das políticas globais dentro dos com a finalidade de internalizar, difundir
contextos locais, mas sim fomentar um processo e dar transparência ao processo de
baseado na capacitação dos atores locais. Para implementação da Agenda 2030, espaço
cada um dos ODS é explicada a sua importân- para a articulação, a mobilização e o diálogo
cia e a relação com as competências municipais, com os Entes Federativos e a sociedade civil.
além de orientar sobre como aplicá-los, monito-
rá-los e avaliá-los nos municípios. ADEQUAÇÃO DAS METAS
Cabe destacar que o debate sobre as ações A adequação das metas globais à realidade
de implementação engloba questões de alcance brasileira deve considerar a diversidade
sistêmico, como financiamento para o desenvol- regional, as prioridades do governo brasileiro,
18 vimento, transferência de tecnologia, capacitação os planos nacionais de desenvolvimento,
técnica e comércio internacional. Também prevê a legislação vigente e a conjuntura
mecanismos de acompanhamento dos ODS e socioeconômica vivida pelo país.
de suas metas para auxiliar os países a comuni-
car seus êxitos e a identificar seus desafios, bem DEFINIÇÃO DE INDICADORES NACIONAIS
como a traçar estratégias e a avançar em prol do A partir da adequação das metas, serão
desenvolvimento sustentável. O acompanhamen- definidos indicadores que considerem a
RESILIÊNCIA E RISCO DE DESASTRES: UM GUIA PARA ATUAÇÃO MUNICIPAL
to global dos ODS acontece por meio de dois prin- disponibilidade de dados e a possibilidade de
cipais mecanismos (AGENDA 2030, 2019): monitoramento em âmbito nacional e local.
como o Brasil, onde as prefeituras são responsá- o que dificulta o desenvolvimento de bons pla-
veis pelo planejamento urbano e por uma série nos. A ausência de finanças adequadas impede
de serviços urbanos. Dessa forma, a participação que esses planos sejam concretizados, além de
dos gestores brasileiros é mais importante ainda fazer com que os impactos de longo prazo sejam
desde o período de definição das diretrizes dessa ignorados na tomada de decisões imediatas re-
Nova Agenda. lacionadas a investimentos, o que resulta em um
círculo vicioso de geração de riscos.
Em outras palavras, a Nova Agenda Urbana
incorpora um novo reconhecimento da ligação
Saiba mais entre a boa urbanização e o desenvolvimento.
Ela salienta a conexão entre a boa urbanização e
O art. 30 da Constituição Federal a criação de empregos, as oportunidades de sub-
estabelece que é de competência sistência e a melhora da qualidade de vida, que
do município promover o controle devem ser incluídas em todas as políticas e estra-
do uso, parcelamento e ocupação tégias de renovação urbana. Isso destaca ainda
do solo urbano adequado mediante mais a ligação entre a Nova Agenda Urbana e a
a utilização dos instrumentos de Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentá-
planejamento urbano. vel, em especial com o Objetivo 11, de cidades e
comunidades sustentáveis.
PILARES DE IMPLEMENTAÇÃO
1. Políticas
nacionais
urbanas
2. Legislação
e regulação
urbanas
3. Planejamento 21
e desenho
urbano
4. Economia
local e
finança
municipal
5. Implantação
local
MARCO DE SENDAI
29
Marco de Ação de Hyogo (2005) que compreen- cipal característica sua natureza sistêmica que
de as ações de prevenção, mitigação, preparação, demanda a atuação integrada e articulada de
resposta e recuperação, de forma articulada com todos os atores responsáveis, para uma efetiva
as demais políticas públicas. Ela tem como prin- Gestão de Riscos de Desastres (GRD).
RECUPERAÇÃO PREPARAÇÃO
RESPOSTA
30
Implementar a política municipal de proteção ção informada sobre áreas de risco e ocorrência
e defesa civil; de eventos extremos, bem como sobre pro-
tocolos de prevenção e alerta e sobre as ações
Coordenar os órgãos integrantes do Sistema emergenciais em circunstâncias de desastres;
de Proteção e Defesa Civil, no âmbito local, de e mobilizar e capacitar os radioamadores para
forma articulada com o Estado e a União; atuação na ocorrência de desastre; realizar regu-
RESILIÊNCIA E RISCO DE DESASTRES: UM GUIA PARA ATUAÇÃO MUNICIPAL
4. Elaborar o mapeamento
Oferecer capacitação de recursos humanos e a carta geotécnica de
para as ações de proteção e defesa civil; aptidão à urbanização;
6. Criar mecanismos de
Uma das questões essenciais para uma GRD controle e fiscalização;
efetiva é a manutenção atualizada dos dados do
Sistema Nacional de Informações e Monitoramen- 7. Observar os critérios para a
to de Desastres, e, em especial, o Sistema Integra- remoção de população de
do de Informações sobre Desastres (S2ID). O muni- áreas de risco de desastre.
cípio deve informar todos os eventos e os desastres
Além disso, a partir de 2001, com a Lei 10.257, infraestrutura pública associada aos empreendi-
conhecida por Estatuto da Cidade, houve um mentos habitacionais e à reurbanização da área
movimento generalizado para levar os concei- sinistrada, por meio da transferência obrigatória
tos de planos diretores e legislação urbanística tratada na Lei 12.340/2010.
complementar para todos os municípios que ti- Todas as questões vistas devem refletir em
vessem a obrigatoriedade legal de elaborar seus uma política municipal de proteção e defesa civil
planos diretores. Portanto, quando o assunto é que 1) inclua diretrizes e estratégias de atuação
Plano Diretor fala-se de participação popular, de para a redução dos riscos dos desastres; 2) esta-
garantia da função social da cidade, assim como beleça mecanismos de inserção da redução de
da propriedade. riscos de desastres no planejamento territorial e
urbano e na execução de projetos de infraestru-
tura; 3) defina os órgãos responsáveis e suas atri-
Saiba mais buições; e 4) estabeleça a articulação entre os ór-
gãos setoriais do município com os demais atores
Para entender melhor sobre o que é envolvidos, bem como mecanismo para a cons-
o Plano Diretor confira na íntegra a cientização e para a mobilização da sociedade.
Nesse contexto, há que se considerar os desa-
Lei 10.257/2001 fios de gestão relacionados ao planejamento do
território, que frequentemente envolve mudan-
ça de paradigmas e conflito de interesses, para
se efetivar uma ocupação segura em relação aos
Destaca-se ainda, que os programas habita- riscos de desastres. A percepção dessa realidade
cionais da União, dos Estados, do Distrito Fede- é essencial para lidar com as dificuldades, que
ral e dos Municípios devem priorizar a relocação envolvem ainda limitação de recursos. Outro de-
32 de comunidades atingidas e de moradores de safio está no rápido crescimento que, associado
áreas de risco. Para isso, a União pode conceder à insuficiência de planejamento, resulta em con-
incentivo ao município que adotar medidas vol- centração da pobreza e iniquidades sociais, em
tadas ao aumento da oferta de terra urbanizada expansão de assentamentos informais, em aces-
para utilização em habitação de interesse social. so insuficiente a serviços básicos e, por consequ-
Esse incentivo inclui a transferência de recursos ência, em maior vulnerabilidade a desastres. Por
para a aquisição de terrenos destinados a progra- fim, destaca-se que embora com Estatuto das Ci-
RESILIÊNCIA E RISCO DE DESASTRES: UM GUIA PARA ATUAÇÃO MUNICIPAL
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CAPÍTULO 3
ENTENDENDO MELHOR
OS DESASTRES NO BRASIL
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ANO X RECONHECIMENTOS
35.563
Dados de 2003 a 2019
reconhecimentos
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RESILIÊNCIA E RISCO DE DESASTRES: UM GUIA PARA ATUAÇÃO MUNICIPAL
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DANO PREJUÍZOS
Destruição total ou parcial de infraestrutura Referem-se a mudanças nos fluxos
e ativos físicos. Seu custo é estimado na econômicos decorrentes do desastre, que
substituição ou na reparação dos ativos, usualmente continuam até a recuperação
considerando os valores de mercado econômica total e a reconstrução, podendo
anteriores ao desastre. Os danos são perdurar vários anos. São estimados em
quantificados primeiramente em termos físicos valores monetários, obrigatoriamente.
(número de casas de uma tipologia específica,
Km de estradas ou oleodutos, tamanho e tipos
de escolas ou hospitais); e, em seguida, em
termos de seu valor monetário, utilizando os
preços de mercado atuais da unidade.
O Relatório de Danos Materiais e Prejuízos Decorrentes de Desastres Naturais no Brasil aponta que
o país perdeu R$ 333,36 bilhões com desastres entre 1995 e 2019. Desse total, R$ 266,81 bilhões refe-
rem-se aos prejuízos e R$ 66,54 bilhões aos danos materiais, conforme detalha a figura abaixo.
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RESILIÊNCIA E RISCO DE DESASTRES: UM GUIA PARA ATUAÇÃO MUNICIPAL
41
Saiba mais
Relatório de Desastres
(Danos e Prejuízos)
CAPÍTULO 4
A GESTÃO DO RISCO DE
DESASTRE NO MUNICÍPIO
ár
fr
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In
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Vulnerabilidade
RISCO DE
DESASTRE
45
Perigo Natural Exposição
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VELOCIDADE DA Geração
GERAÇÃO DO RISCO de Risco
RISCO
Redução
de Risco
TEMPO
MARC ST (UNSPLASH)
48
RESILIÊNCIA E RISCO DE DESASTRES: UM GUIA PARA ATUAÇÃO MUNICIPAL
1
Dados de março de 2020, em cprm.gov.br.
MAPEAMENTO DE RISCO
50
RESILIÊNCIA E RISCO DE DESASTRES: UM GUIA PARA ATUAÇÃO MUNICIPAL
RISCO RECORRENTE
É uma característica das áreas onde
as comunidades estão expostas e
vulneráveis a inundações frequentes,
tempestades, deslizamentos de terra 51
ou secas. É frequentemente associado
à pobreza, urbanização desordenadae
degradação ambiental (UNISDR, 2017, Ainda considerando que os riscos aos quais
tradução nossa). os municípios estão sujeitos são recorrentes, tais
como alagamentos, inundações, tempestades e
Nessa linha, para manter uma base de dados secas, outra fonte relevante à compressão destes
íntegra e completa, bem como resgatar e organi- riscos é o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais
zar informações passadas, são notáveis os esforços (CEPED UFSC, 2013). Apesar de carecer de uma
da SEDEC consolidados no S2ID , tanto nas con-
2
atualização, pois os dados mais recentes datam
sultas abertas de relatórios e arquivo digital como de 2012, ainda é o principal documento para en-
no já mencionado registro de reconhecimento de tendimento do perfil de risco nacional, uma vez
SE/ECP. Esses dados representam uma relevante que apresenta o histórico de ocorrência, o tipo e
fonte oficial de consulta sobre registros de desas- os danos humanos relativos a desastres em todo
tres e dos danos e prejuízos correspondentes. o território nacional.
2
Sistema de informações gerenciado e monitorado pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec). O S2ID dis-
ponibiliza os formulários digitais por meio dos quais são prestadas as informações relevantes sobre ocorrências de desastres
e por meio do qual é possível solicitar o reconhecimento federal de situação de emergência (SE) ou estado de calamidade
pública (ECP), assim como os recursos para ações de resposta e obras de reconstrução.
Cabe destacar também, como uma fonte atu-
alizada em 2020, o estudo desenvolvido pelo Banco
Mundial e o Centro de Estudos e Pesquisas em En-
genharia e Defesa Civil (Ceped) que resultou no Ín-
dice de Risco de Desastre por Capacidades (IRDC).
Dentre as diversas variáveis e indicadores ela-
borados, citam-se aqui os componentes de Peri-
go Hidrológico e Climatológico como elementos
importantes para compreender a distribuição
geográfica dos perigos de origem natural. O
primeiro grupo agrega uma avaliação dos even-
tos relacionados ao excesso de chuva, tais como
alagamentos, inundações, enxurradas e desliza-
mentos; enquanto o segundo está relacionado a
estiagem, secas e incêndios florestais.
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RESILIÊNCIA E RISCO DE DESASTRES: UM GUIA PARA ATUAÇÃO MUNICIPAL
Portanto, o correto entendimento dos peri- mais a fundo, já que aqui estão apresentados
gos aos quais o município está suscetível é fun- muito sucintamente.
damental no planejamento para redução de Alguns demandam maior conhecimento
desastres, conjuntamente com estudos dos po- científico, como mapas de risco, outros simples-
tenciais impactos destes eventos. mente pesquisas e organização das informações
Os instrumentos aqui apresentados têm disponíveis, como as séries históricas, que podem
como propósito identificar e avaliar, com a me- ser complementadas pelo conhecimento local
lhor precisão possível, os riscos aos quais a po- de técnicos do município ou da própria popula-
pulação e ativos do município estão sujeitos. ção. Todavia, todos têm relevância para o planeja-
Para melhor entendê-los é necessário estudá-los mento local para redução de riscos.
AÇÕES ESTRUTURAIS – INVESTIMENTO EM
OBRAS DE PREVENÇÃO E MITIGAÇÃO DE RISCOS
As ações não estruturais, conforme já apre- nível local, um elemento importante a ser consi-
sentado, são as medidas que buscam reduzir os derado é o desenvolvimento de sistemas de alerta
riscos e os potenciais impactos dos desastres por antecipado. Esses servem para evitar a perda de vi-
meio do aumento das capacidades locais, desen- das e diminuir os prejuízos e os impactos econômi-
volvimento de políticas, regulamentos, dentre cos e sociais decorrentes dos desastres. No entanto,
outros. Apesar de ser um conceito bastante am-
plo, pode-se entendê-las como o conjunto de in-
vestimentos e iniciativas que visam à redução de para serem eficazes, os sistemas
riscos e melhoria da capacidade de resposta, sem devem incluir ativamente as
a construção de infraestruturas ou adequação de comunidades localizadas em áreas de
habitações e outros elementos urbanos. risco, investindo na percepção de risco
Neste contexto, possivelmente o Plano de e conscientização do público vulnerável,
Contingência (PLANCON) é o elemento mais
relevante no planejamento local para reduzir os
impactos de um desastre. Ao considerar que a
primeira resposta é executada no nível local, o disseminando de forma antecipada mensagens
PLANCON pode ser visto como um instrumento de alerta e emissão de alarmes, de forma a garan-
básico para gestão de risco. tir que estas populações saibam como agir por
Seu objetivo é possibilitar que a preparação meio de treinamentos e realização de simulados
e a resposta sejam eficazes, protegendo a popu- de evacuação para áreas seguras, por exemplo.
lação e reduzindo danos e prejuízos. Conforme Podem ser citadas inúmeras medidas para
54 define a Instrução Normativa n° 02, de 20 de de- aumentar a resiliência a desastres, conceituais
zembro de 2016, o plano de contingência é o do- ou verificadas na prática nos municípios. Como
cumento que registra o planejamento elaborado exemplos de Boas Práticas estão aqueles que
a partir da percepção do risco de determinado demonstram de forma clara a aplicação de ins-
tipo de desastre e estabelece os procedimentos trumentos e realização de ações que promovem
e responsabilidades dos envolvidos nas ações de a resiliência no nível local. No contexto específico
resposta. Seus elementos fundamentais, méto- de proteção e defesa civil, uma boa prática visa
RESILIÊNCIA E RISCO DE DESASTRES: UM GUIA PARA ATUAÇÃO MUNICIPAL
PROGRAMA DE
PROGRAMA ESTRUTURAL PROGRAMA
PROTEÇÃO COMUNITÁRIA E
EM ÁREA DE RISCO (PEAR) SC RESILIENTE
DEFESA CIVIL NAS ESCOLAS
FOTOS: URBEL (DIVULGAÇÃO)
55
A Defesa Civil Municipal do Rio de Janeiro de- Dentro do programa como um todo, o Pro-
senvolve o Programa de Proteção Comunitária e jeto Defesa Civil nas Escolas visa promover a cul-
Defesa Civil nas Escolas, que engloba os projetos tura de prevenção e proteção civil com crianças
de Capacitação e Treinamento dos moradores, e jovens, inserindo nas gerações atuais e futuras
Sistema de Alerta e Alarme Comunitário e Defesa um comportamento de práticas mais seguras
Civil nas Escolas. que visam à redução do risco de desastres. O
56 O Programa de Proteção Comunitária é dire- projeto foi elaborado com base no artigo 29 da
cionado às comunidades mais vulneráveis, tendo Lei 12.608, de 2012, e conta com o apoio da Secre-
como prioridade as seguintes ações: taria Municipal de Educação e da Cruz Vermelha
Brasileira.
As boas práticas em RRD realizadas pelo mu-
1. Esclarecer sobre as ameaças naturais nicípio do Rio de Janeiro, no que se refere à pre-
e suas possíveis consequências; paração dos moradores e dos alunos das escolas
RESILIÊNCIA E RISCO DE DESASTRES: UM GUIA PARA ATUAÇÃO MUNICIPAL
SISTEMA DE
MONITORAMENTO
DE ALERTA E ALARME
COMUNITÁRIO
O Sistema de Monitoramento de 57
Alerta e Alarme Comunitário é
um projeto baseado na avaliação
dos índices críticos de chuvas
disponibilizados pelo Sistema Alerta
Rio, em que profissionais da Defesa
Civil do Rio de Janeiro atuam de forma
integrada 24 horas/dia, oferecendo
informações para garantir a proteção
das famílias que vivem nas áreas de
risco do município.
Apesar de ser uma iniciativa do Governo do Quanto maior for a rede de articulação do
Componente 1 Componente 2
AGENDA 2030 – O QUE É E COMO FUNCIONA? Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e
Rede Brasil de Organismo de Bacias Hidro- o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil
gráficas - REBOB. 2020. Site. Disponível em: ht- – CONPDEC. Diário Oficial da União, Brasília, 11
tps://www.rebob.org.br/single-post/2020/03/20/ de abril de 2012, p. 1. Disponível em: http://www.
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Acesso em: 15 jul. 2020. L12608.htm. Acessado em: 17 jul. 2020.
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Brasil 2012. Belo Horizontes, 2012. cretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. De-
partamento de Prevenção e Preparação. Enten-
BRASIL. Instrução Normativa Nº 2, de 20 de de- dendo a política nacional de proteção e defesa
zembro de 2016. Ministério da Integração Nacio- civil no Brasil. Brasília: Ministério da Integração
nal. Estabelece procedimentos e critérios para a Nacional, 2017c.
decretação de situação de emergência ou esta-
do de calamidade pública pelos Municípios, Es- BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secre-
tados e pelo Distrito Federal, e para o reconhe- taria Nacional de Proteção e Defesa Civil. Depar-
cimento federal das situações de anormalidade tamento de Prevenção e Preparação. Módulo de
decretadas pelos Entes Federativos e dá outras formação: noções básicas em proteção e defe-
providências. Diário Oficial da União, Brasília, 22 sa civil e em gestão de riscos: livro base / Minis-
de dezembro de 2016, ed. 245, s. 1, p. 60. Disponí- tério da Integração Nacional, Secretaria Nacional
vel em: http://www.in.gov.br/materia//asset_pu- de Proteção e Defesa Civil, Departamento de Mi-
blisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/24789597/ nimização de Desastres. - Brasília: Ministério da
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-20-de-dezembro-de-2016--24789506. Acesso
em: 17 jul. 2020. BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Se-
cretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. De-
BRASIL. Lei Federal nº 12.608, de 10 de abril de partamento de Prevenção e Preparação. Série
2012. Institui a Política Nacional de Proteção e Manual de Proteção e Defesa Civil. Brasília:
Defesa Civil – PNPDEC. Dispõe sobre o Sistema 2017b.
BRASIL. Ministério do Planejamento, Desenvolvi- COMISSÃO NACIONAL ODS BRASIL. Plano de
mento e Gestão. Secretaria de Governo da Presidên- Ação 2017-2019. Brasília: DF. 2017. Disponível:
cia da República, Relatório Nacional Voluntário http://www4.planalto.gov.br/ods/publicacoes/
sobre os Objetivos de Desenvolvimento Susten- plano-de-acao-da-cnods-2017-2019. Acesso em:
tável. Brasília: Presidência da República, 2017a. 17 jul. 2020.