Você está na página 1de 60

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

RAFAEL MENEZES DA SILVA

ANÁLISE DOS ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E DA INFLUÊNCIA DE


FACÇÕES SOBRE OS CRIMES VIOLENTOS LETAIS INTENCIONAIS NO
BRASIL: UMA ABORDAGEM ECONOMÉTRICA PARA O PERÍODO DE 2011 A
2017.

NATAL
2019
RAFAEL MENEZES DA SILVA

ANÁLISE DOS ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E DA INFLUÊNCIAS DE


FACÇÕES SOBRE OS CRIMES VIOLENTOS LETAIS INTENCIONAIS NO
BRASIL: UMA ABORDAGEM ECONOMÉTRICA PARA O PERÍODO DE 2011 A
2017.

Monografia apresentada pelo aluno Rafael


Menezes da Silva ao curso de Ciências
Econômicas da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte - UFRN, como requisito
parcial para a obtenção do grau de
Bacharelado em Ciências Econômicas.
Orientador: Prof. Dr. Diego de Maria André.

NATAL

2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA
Silva, Rafael Menezes da.
Análise dos aspectos socioeconômicos e da influência de facções
sobre os crimes violentos letais intencionais no Brasil: uma
abordagem econométrica para o período de 2011 a 2017 / Rafael
Menezes da Silva. - 2019.
60f.: il.

Monografia (Graduação em Economia) - Universidade Federal do


Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas,
Departamento de Ciências Econômicas. Natal, RN, 2019.
Orientador: Prof. Dr. Diego de Maria André.

1. Economia do crime - Monografia. 2. Facções criminosas -


Monografia. 3. Conflitos - Monografia. I. André, Diego de Maria.
í

Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355


RAFAEL MENEZES DA SILVA

ANÁLISE DOS ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E DA INFLUÊNCIAS DE


FACÇÕES SOBRE OS CRIMES VIOLENTOS LETAIS INTENCIONAIS NO
BRASIL: UMA ABORDAGEM ECONOMÉTRICA PARA O PERÍODO DE 2011 A
2017.

Monografia apresentada pelo aluno Rafael Menezes da Silva ao curso de Ciências


Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, como pré-
requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharelado em Ciências Econômicas
sob orientação do prof. Dr. Diego de Maria André.

________________________________________________________
Rafael Menezes da Silva

Aprovado em: Natal/RN ______/_____/______.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________
PROF. DR. DIEGO DE MARIA ANDRÉ (Orientador)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (UFRN)

_________________________________________________________
PROF.DR.(a) JANAINA DA SILVA ALVES (Avaliador)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (UFRN)

NATAL
2019
Dedico esse trabalho ao Deus criador, a
minha esposa Odara Shéridan e filhos:
Lucas, Bernardo e Asafe.
AGRADECIMENTOS

Acima de tudo, agradeço a Deus por mais essa conquista;


Ao meu orientador Diego de Maria André sempre muito solicito e paciência;
A minha esposa Odara Shéridan por todo apoio e incentivo;
E ao casal de amigos Alane Larissa e José Danyel pelo fundamental apoio no
desenvolvimento do trabalho.
RESUMO

Os crimes violentos letais intencionais no Brasil tiveram um crescimento expressivo na


última década. Os esforços para diminuir essas altas taxas podem ser visto no incremento
dos gastos públicos com segurança. Para desenvolver a análise do problema recorre-se
a economia do crime seu pressuposto da racionalidade econômica e a maximização da
utilidade esperada. O potencial criminoso faz comparativo entre ganhos e custos da
atividade crime. Então, a dinâmica dos homicídios no país é de alta complexidade e prevê
indivíduos que ao fazerem esse comparativo vislumbram ganhos econômicas com a morte
de outros indivíduos. O presente trabalho objetivou analisar o efeito que algumas variáveis "
socioeconômicas exercem sobre a criminalidade letal no Brasil, além de desenvolver uma alguma
s" é
análise sobre a relação dessa criminalidade letal com as facções criminosas atuantes no
bom
país. Para esse estudo, a metodologia utilizada é de natureza aplicada com uma porque
abordagem quantitativa; Foram utilizados dados em painel empilhado para os 27 estados da
foco.
brasileiros no período de 2011 a 2017. Estimou-se um modelo de regressão linear múltipla

utilizando o métodos de mínimos quadrados ordinários. Os resultados encontrados indica
juízo de valor. comprovam a forte relação existente entre a violência letal intencional e as facções que
forte qto ? criminosas. Essa relação também é presente com fatores socioeconômicos tais como não
o que é forte ? são
educação e renda. Conclui-se que o papel do Estado é essencial no combate aos crimes todas.
violentos letais intencionais e a sua ausência deixa espaço suficiente para o fortalecimento
de organizações paramilitares que representam coletivos prisionais que possuem
importantes conexões internacionais de drogas e armas.

Palavras-chaves: Economia do Crime. Facções Criminosas. Conflitos. poderia incluir "regressão"


ABSTRACT

Intentional lethal violent crimes in Brazil have grown significantly in the last decade. Efforts
to reduce these high rates can be seen in increasing public security spending. To develop
the analysis of the problem, the economics of crime uses its assumption of economic
rationality and the maximization of expected utility. The potential criminal compares gains
and costs of crime activity. Thus, the dynamics of homicides in the country is of high
complexity and it foresees individuals who, in making this comparison, see economic gains
from the deaths of other individuals. The present work aimed to analyze the effect that
some socioeconomic variables have on lethal crime in Brazil, besides developing an
analysis on the relationship of this lethal crime with the criminal factions acting in the
country. For this study, the methodology used is applied in nature with a quantitative
approach; Stacked panel data were used for the 27 Brazilian states from 2011 to 2017. A
multiple linear regression model was estimated using the ordinary least squares method.
The results show the strong relationship between intentional lethal violence and criminal
factions. This relationship is also present with socioeconomic factors such as education
and income. It is concluded that the role of the state is essential in combating intentional
lethal violent crime and its absence leaves sufficient room for the strengthening of
paramilitary organizations representing prison collectives that have important international
drug and weapons connections.

Keywords: Crime Economics. Criminal factions. Organized crime. Conflicts


LISTA DE TABELA

Tabela 1-Estatística descritiva ............................................................................... 24


Tabela 2- Crimes Violentos Letais Intencionais no Brasil CVLI entre2011 a
2017(por 100 mil habitantes) ................................................................................. 25
Tabela 3Tráfico de Entorpecentes -2011 a 2017 ................................................... 27
Tabela 4-IDHM- Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de 2011 a 2017 . 29
Tabela 5-Gastos com segurança pública de 2011 a 2017 em milhões e bilhões de
reais ...................................................................................................................... 30
Tabela 6- Grau de Informalidade 2011 a 2017 ...................................................... 32
Tabela 7- Índice de GINI 2011 A 2017 ................................................................... 33
Tabela 8 Estimação ............................................................................................... 44
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 10
CAPÍTULO 2 - REVISÃO DE LITERATURA .................................................................... 14
2.1 A ECONOMIA DO CRIME .................................................................................................. 14
CAPÍTULO 3 - ANÁLISE DOS DADOS E ESTATÍSTICA DESCRITIVA ........................... 22
3.1 DESCRIÇÃO DA BASE DE DADOS. ............................................................................... 22
3.2. ANÁLISE DESCRITIVA...................................................................................................... 24
3.2.1-Crimes Violentos Letais Intencionais no Brasil ........................................................ 25
3.2.2- Tráfico de entorpecentes............................................................................................ 26
idh 3.2.3- Índice de Desenvolvimento Humano Municipal ..................................................... 28
3.2.4-Gastos com Segurança Pública................................................................................. 30

3.2.5-Grau de Informalidade ................................................................................................. 31

3.2.6-Índice de GINI ............................................................................................................... 33


3.3-AS PRINCIPAIS FACÇÕES CRIMINOSAS DO BRASIL .............................................. 34
3.3.1 PCC – Primeiro Comando da Capital........................................................................ 34
3.3.2 CV – Comando Vermelho............................................................................................ 38
3.3.3 FDN- Família do Norte................................................................................................. 39
3.3.4- Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte. .................................................................. 39

3.3.5 Conflito entre facções criminosas .............................................................................. 40


CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA...................................................................................... 41
CAPÍTULO 5 - RESULTADOS E INTERPRETAÇÃO ....................................................... 44
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 50
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 53
10

1. INTRODUÇÃO

A princípio, é relevante enfatizar que o Brasil enfrenta uma difícil realidade


quando o assunto é criminalidade. O país apresenta estatísticas alarmantes e se
destaca negativamente no cenário mundial quando o assunto é violência urbana.
Jaitman (2017), ao estudar os custos do crime e da violência na América Latina e
Caribe, cita a constatação feita pela Organização Mundial da Saúde que o crime e a
violência nessa região alcançaram níveis epidêmicos e que, infelizmente, se
dissemina. Com uma taxa de 24 homicídios por 100.000 habitantes em 2015, a região
foi responsável por 33 % dos homicídios no mundo, apesar de abrigar apenas 9 % da
população mundial.

O Brasil apresenta um cenário violento e letal para seus residentes. A


interiorização do crime vem se intensificando, cidades antes pacatas e de baixa
demanda policial tornaram-se atrativos para o crime organizado, seja pelo tráfico de
drogas ou ataques à banco.

Explosões de carro forte e assaltos em aeroportos são ocorrências cada vez


mais comum por todo país e revela o poderio desse tipo de organização criminosa,
que cresce em recrutamentos e em movimentação financeira e que interligam-se
pelos estados brasileiros.

A insegurança é cada vez mais incorporada nas rotinas dos cidadãos e é raro
encontra quem, seja de forma direta ou indireta, não tenham passado por alguma
experiência traumática pertinente a criminalidade; Horários de funcionamentos de
centros comerciais são reduzidos com o intuito de diminuir o risco de assalto; presença
de câmeras, cercas elétricas e concertinas adornam faixadas das residências por todo
o país. Experiências traumáticas envolvendo violência urbana funcionam como
gatilhos para doenças psíquicas, como a síndrome do pânico e crises de ansiedade.
Ribeiro et al., (2009) atribui a violência urbana uma parte importante dos problemas
de saúde mental em países em desenvolvimento como Brasil.

Nesse ínterim, a criminalidade cresce organizada e a passos largos,


11

sem fazer acepção de pessoa, credo, raça e/ou classe social. Vê-se que as facções


criminosas, que com suas ações cada vez mais ousadas, seguem atuando dentro e
fora dos presídios, disputando o tráfico internacional de drogas e armas em um país
que se consolidou como centro de distribuição da cocaína colombiana e boliviana para
os principais mercados consumidores, com um território de dimensões continentais e
expressiva desigualdade social e uma elevada concentração de renda e um dos
maiores mercados consumidores de drogas do mundo que cresce
anualmente.(UNODC, 2017)

Cerqueira et al., (2018) revela a triste situação da juventude brasileira. No país,


33.590 jovens foram assassinados em 2016, sendo 94,6% do sexo masculino. Com
um total de 62.517 mil homicídios, o Brasil superou o patamar de trinta mortes por 100
mil habitantes (taxa igual a 30,3). O crime organizado avança em todo o território
nacional e os reflexos dessa realidade são vistos em execuções de crimes cada vez
mais frequentes, dentro e fora dos presídios. Estamos diante de um “novo” poder
paralelo no Brasil, dentre muitos que permanecem fora da agenda do Estado.

É perceptível que em um território com muitas oportunidades e uma


probabilidade muito baixa de fracasso, as facções criminosas seguem com seus
objetivos e metas, ampliando seus negócios para além das fronteiras nacionais, tendo
as prisões como seus escritórios, espalhados por todo o país com um alto poder de
comunicação não autorizada.

As perdas causadas pela criminalidade são incalculáveis, mas para se ter uma
dimensão econômica do problema exposto, recorremos a uma pesquisa desenvolvida
pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, onde Caprirolo et al.(2017) ilustra
bem o impacto financeiro do crime no Brasil. Segundo essa pesquisa, que leva em
conta prejuízos materiais, tratamentos médicos e horas de trabalho perdidas, o crime
rouba cerca de 10% do PIB nacional, o que dá mais de 100 bilhões de reais por ano. 

Nessa perspectiva, o relatório de conjuntura publicado em junho de 2018


analisou os custos econômicos da criminalidade no Brasil para o período de 1996 a
2015. Esse relatório classificou o Brasil entre os 10% de países com maiores taxas de
homicídio do mundo – apesar de ter uma população equivalente a 3% da população
12

mundial, o país concentra cerca de 14% dos homicídios do mundo. Além dos prejuízos
materiais, tratamentos médicos e horas de trabalho perdidas foram incluídos no
cálculo os custos de segurança pública e privada, custos de encarceramento e os
custos com processos judiciais. Constatou-se um aumento significativo desses custos
passando de cerca de 113 bilhões ao ano, em 1996, para 285 bilhões em 2015.
Estimou-se que, para cada homicídio de jovens de 13 a 25 anos, o valor presente da
perda da capacidade produtiva é de cerca de 550 mil reais. Logo, a perda cumulativa
de capacidade produtiva decorrente de homicídios, entre 1996 e 2015, superou os
450 bilhões de reais. (SAE-PR,2018)

Vislumbra-se que os lares tornaram-se verdadeiros cárceres domésticos,


catalisadores de doenças psicossomáticas, síndromes e depressão que afetam
significativamente o bem-estar social. Além disso, a certeza da impunidade e/ou a
branda punição, fazem do crime uma atividade econômica bastante rentável. Assim
sendo, diante de um cenário tão problemático, há urgência em identificar a relação e
os impactos dos fatores socioeconômicos sobre o comportamento criminoso no Brasil.

Diante deste contexto, o presente trabalho procura analisar qual o nível de


influência que o crime organizado e algumas variáveis socioeconômicas exercem
sobre a taxa de crimes violentos letais intencionais no Brasil. Além disso, pretende
estabelecer a relação entre as facções criminosas e os homicídios letais intencionais.
Para isso pergunta-se: As facções exercem poder de persuasão ao comportamento
criminoso, ou seja, funciona como incentivo ao crime? estados que apresentam
intensa atuação de facções criminosas são mais violentos? é isso que vai estar no modelo ? não. não
será. essa questão da persuasão não
entrou
Nesse contexto, faz-se necessário compreender as relações entre as
condições econômicas e sociais que contribuem para os altos índices de homicídios
nos estados brasileiros, e produzir informações que certamente servirá para  o
enfrentamento dessa problemática norteando e balizando políticas públicas mais
adequadas à realidade, e assim, otimizar a alocação de recursos destinados ao
combate à criminalidade.

Para isso, com base na economia do crime utilizou-se o arcabouço teórico do


modelo de Becker (1968) que considera o crime como atividade econômica, por mais
13

ilegal que seja, e seu modelo tem como pressuposto a racionalidade econômica do
potencial criminoso. O presente trabalho consiste na estimação de uma regressão
linear múltipla por MQO (mínimos quadrados ordinários), utilizando dados em painel
empilhado para os estados brasileiros no período de 2011 a 2017. Espera-se constatar
relação da violência letal intencional com a atuação de organizações criminosas e
suas atividades correlatas, bem como constatar também que a educação e a renda
tem efeitos negativos com a taxa de crimes violentos letais intencionais.

Além dessa introdução, o trabalho está dividido em mais cinco capítulos. O


segundo capítulo trata da revisão de literatura. O terceiro capítulo descreve a base de
dados e a análise descritiva. O quarto capítulo descreve a metodologia utilizada para
a estimação da regressão. O quinto capítulo é dedicado aos resultados e
interpretações e o sexto e último capítulo contém as considerações finais.
14

CAPÍTULO 2 - REVISÃO DE LITERATURA

A Economia do Crime, apesar de ser uma ciência recente, vem se consolidando


nas últimas décadas. Seus modelos vêm sendo utilizados em pesquisas e análises
que contemplam a problemática e enriquece o debate sobre esse assunto tão
pertinente ao bem-estar social, que é a violência urbana sob a forma de crimes
violentos letais. Por algum tempo, um dos maiores entraves na análise do tema era a
carência de dados. No entanto, avanços são notórios tanto no tocante a banco de
dados especificando tipos de crimes quanto a resultados encontrados.

2.1 A ECONOMIA DO CRIME

É relevante enfatizar que o crime já é objeto de análise há bastante tempo.


Estudo elaborado por Whitwort Russel, no século 19, já procurava estabelecer uma
conexão entre o ciclo econômico e a atividade criminosa. Em seus estudos, Russel
constatou que nos anos seguintes a crise comercial e industrial de 1842, na Inglaterra,
ocorreu um aumento do número de prisioneiros. Segundo Viapiana (2002), o estudo
de Russel é semelhante a muitos outros da época. Contudo, se diferenciam do modelo
de Gary Becker que viria a ser desenvolvido no século seguinte (VIAPIANA, 2002).

Ressalta-se que o aprofundamento sistemático deste tema teve como marco


inicial o estudo do comportamento criminoso: o pressuposto desse modelo diz que a
decisão de delinquir parte do raciocínio econômico de comparação entre ganhos e
custos, onde o indivíduo considera o custo de oportunidade, o custo moral e o retorno
do crime. Nessa ótica, a criminalidade é uma atividade econômica, apesar de ilegal.
Desse modo, se a utilidade esperada da atividade criminosa for maior que a utilidade
esperada em qualquer outra atividade legal, o indivíduo cometerá o crime. O
modelo proposto por Becker (1968) desenvolveu a função de oferta agregada de
crimes, composta pela probabilidade do criminoso ser descoberto e condenado, a
punição imposta ao crime e diversas variáveis socioeconômicas, tais como o nível de
emprego, educação, distribuição de renda, entre outras. Por essa contribuição, Becker
15

ganhara o prêmio Nobel de economia em 1992.

  Os modelos que adotam o arcabouço teórico de Becker apresentam resultados


gerais esperados, de modo que havendo um retorno maior na atividade criminosa
quando comparado ao setor legal, ocorrerá um aumento na participação
nas atividades ilícitas; quando observado o aumento da probabilidade do criminoso
ser preso bem como uma maior severidade das punições, resultará em redução no
grau de participação em crimes (WOLPIN, 1980).

  Ao analisar os municípios do estado de Minas Gerais, Beato e Reis (2000), com


uma abordagem que se diferencia dos demais estudos, uma vez que centralizam seus
esforços além do comportamento humano, acharam um padrão de distribuição da
criminalidade violenta. Isso ficou evidenciado quando o crime é contra o patrimônio,
que se distribui em torno das cidades mais desenvolvidas. Os resultados mostram a
possibilidade do desenvolvimento econômico favorecer o crescimento das taxas de
criminalidade.

Corroborando com as condições contextuais que favorecem a incidência de


crimes violentos, Pereira e Carreira (2000), usando séries temporais  e dados
municipais em suas estimativas para a região da grande São Paulo, chegaram a
resultados   que revelaram uma relação positiva tanto da desigualdade de renda
quanto da taxa de desemprego com as taxas de crimes, comprovando a ausência de
uma unanimidade quanto a causalidade e correlação entre as variáveis e a
complexidade dos estudos sobre o assunto .   

Andrade e Lisboa (2000) apresentaram resultados que correspondem ao


esperado nas predições teóricas. Seus resultados sustentam a ideia de que quanto
maiores os custos de oportunidade do crime, menores são as taxas de
crimes letais. Contudo, não se pode predizer qual será a magnitude dos sinais de
alguns parâmetros socioeconômicos. Desse modo, recorre-se a estimação dos dados
e a divergência de resultados em partes se explicam pelo método escolhido.

Macedo, Paim e Silva (2001), ao estudar a violência e a desigualdade social


em Salvador (BA), observaram que as taxas de mortalidade por homicídio mais
16

elevadas foram registradas nas áreas mais pobres da cidade. O risco relativo de morte
por essa causa entre os estratos de piores e o de melhores condições de vida variou
entre 2,9% e 5,1%, sendo essa relação estatisticamente significante. Os resultados
encontrados são sugestivos das possíveis relações entre homicídios e desigualdades
sociais.

Analisando o comportamento criminoso nos estados brasileiros ao longo do


período entre 1981 a 1996, Araújo Junior e Fajnzlber (2001) observaram que o
ambiente econômico tem influência significativa na variação das taxas brutas de
homicídios no país. Os resultados encontrados mostram que ocorrendo um aumento
de 1% nas taxas de desemprego, aumentaria a taxa de homicídio em 3,4%. O mesmo
aumento de 1%, agora na renda dos 20% mais pobres, reduziria em 3,1% as taxas de
homicídios; Outro resultado importante foi a comprovação de que quanto menor o
número de policiais por 100 mil habitantes maiores são as taxas de homicídios.

Lemgruber, Musumeci e Cano (2003), estudando o crime organizado, nos


mostra que a estrutura desse tipo de organização é alicerçada no tráfico de armas e
de drogas, que se mostra cada dia mais sofisticado e, por meio de mecanismos em
níveis diversos, corrompeu amplos segmentos das corporações policiais, em alguns
casos atingindo desde as bases até as chefias. Os autores evidenciaram também que
em alguns estados, a violência policial transformou-se em um problema maior e afeta
diretamente as populações pobres das favelas e das periferias, que se veem
encurraladas entre a violência dos grupos armados de traficantes e a violência e a
corrupção policial.

Os autores ainda estimaram que um aumento de 100 policiais para cada 100
mil habitantes reduziria os homicídios em 5,3%. Além disso, os autores mostram a
ambiguidade existente em algumas variáveis, como, por exemplo, a renda vista pela
ótica de ganhos associados ao crime incita uma relação de que quanto maior a renda
média de determinado local, maior será o número de vítimas em potencial.

Peres e Santos (2005), analisando a mortalidade no Brasil na década de 90,


observaram uma forte contribuição das armas de fogo no aumento de homicídios na
época observada. Contudo, o estudo já esbarrava em um problema que permeia a
17

temática desde sempre: a qualidade da informação e a falta de dados.

Shikida (2006), analisando o crime econômico para o estado do Paraná, em um


estudo de caso em 3 penitenciarias femininas constatou que a migração para o crime
é uma decisão individual de natureza econômica. Na época do crime 68,7% estavam
trabalhando. Desse modo, não encontra evidências estatísticas que demonstrem a
relação entre emprego e criminalidade.

Clemente e Welters (2007), analisando o modelo original de


Becker, perceberam que a teoria é relativa ao comportamento humano e os objetos
de análise do modelo são as atividades ilegais. Nesse contexto, ocorre a comparação
do crime com qualquer outro produto. Assim sendo, a indústria do crime seria como
outra qualquer, onde a decisão de produzir parte do cálculo econômico envolvendo
expectativas de custos e benefícios; a ressalva que é feita quando se compara o
mundo do crime com o mercado é que no crime não existe transação e a vítima não
escolhe ser vitimada, embora ela possa ter decisões que diminuam o risco de ser
vitimada.

Barcellos (2008), ao estudar o caso brasileiro a partir de uma abordagem


metodológica de revisão teórica de literatura, comprova o paradoxo que existe no país:
houve crescimento econômico e, mesmo assim, não houve redução da desigualdade.
O autor conclui que a teoria econômica de Gary Becker está adaptada ao Brasil, onde
o crime é uma atividade econômica com riscos e lucros.

Santos e Kassouf (2008) destacam as fortes evidencias de um


transbordamento de criminalidade de uma região para outra, revelando uma
característica sombria em uma perspectiva futura que aumenta o desafio no
enfrentamento do problema. Além de comprovar também sinais do efeito inercial, que
nada mais é que parte da criminalidade de um período que se transfere para o período
subsequente, ou seja, é a criminalidade gerando criminalidade, que nesse estágio foi
potencializada pela especialização da atividade.

Loureiro e Carvalho Junior (2007) analisaram o impacto dos gastos públicos


em segurança e assistência social sobre a criminalidade nos estados brasileiros para
18

o período entre 2001 e 2003. Foram quatro categorias de crimes analisados:


homicídio, roubo, furto e sequestro. Baseado na teoria econômica do crime, foi
avaliado o sinal e a magnitude do efeito dos gastos públicos, além de fatores
socioeconômicos, sobre o comportamento criminoso nos estados brasileiros. Os
resultados obtidos, com efeitos fixos e primeiras diferenças para considerar a
heterogeneidade não-observada, apontaram a concentração de renda como um
importante fator propulsor do comportamento criminoso. Verifica-se também que
condições de urbanização impactam diretamente os custos do setor de segurança e
que ambientes com mercados de drogas ativos acarretam níveis elevados de
ineficiência em custos, já que esse tipo de ilícito fomenta uma série de outras
atividades criminosas, tais como: roubos, execuções e poder paralelo.

Carvalho e Oliveira (2007) avaliaram o sinal e a magnitude do efeito dos gastos


públicos e fatores socioeconômicos sobre o comportamento criminoso nos estados
brasileiros no período de 2001 a 2003. Para os crimes de homicídios foram utilizados
dados do Ministério da Saúde, foram analisados também crimes de roubo, furto e
sequestro. Os resultados apontaram a concentração de renda como um importante
fator gerador do comportamento criminoso. Observou-se não existir um efeito de
dissuasão consistente de medidas de repressão, como despesas em segurança
pública, sobre o crime no Brasil. No entanto, os gastos públicos em assistência social
apresentaram um efeito negativo e estatisticamente significante sobre a criminalidade,
sugerindo que este tipo de gasto é um importante fator para a redução do crime.

Uchôa e Menezes (2012), ao analisar o papel das características


socioeconômicas, institucionais e de localização na determinação das taxas de
homicídio nos estados brasileiros entre 2005 e 2009, com dados oriundos do
Ministério da Justiça e do IBGE, ressaltam que para a análise, o argumento de que é
preciso mais investimentos na segurança só faria sentido se estados com maior gasto
per capita neste item verificassem as menores ocorrências criminosas. O resultado,
no entanto, vai na direção oposta; Os estados que mais investem na segurança são
também os mais violentos. Este resultado pode ser explicado com base no tipo de
política que o Brasil costuma adotar para resolver seus problemas. Os resultados
encontrados sugerem que aumento (redução) na criminalidade em um estado tem
19

efeitos positivos na dos vizinhos. Outros resultados indicam que as características


socioeconômicas, como a desigualdade e o desemprego, assim como a impunidade
e densidade populacional, são as variáveis mais importantes para explicar o
comportamento das taxas de homicídio entre os estados brasileiros.

Andrade et al. (2012) analisam os homicídios juvenis e a informalidade nos


municípios brasileiros na tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina). O trabalho
teve por objetivo analisar a distribuição espacial da mortalidade por homicídios entre
jovens de 15 e 24 anos, no município de Foz de Iguaçu, num período de tempo entre
2000 a 2007. Os resultados obtidos indicam que quanto maior o número de
empregados informais em uma determinada área de expansão demográfica menor a
taxa de homicídios nas áreas vizinhas.

Silva Junior (2016) buscou identificar se existe autocorrelação espacial para o


crescimento da taxa de homicídios no período de 2000 a 2010 nas cidades brasileiras,
mais especificamente para áreas mínimas comparáveis. Para isso, foram aplicados
testes de diagnósticos de dependência espacial. O estudo comprovou que o espaço
é importante para o estudo da criminalidade nas cidades brasileiras, detectando o
efeito spillover espacial, além de detectar clusters com elevadas taxas de homicídios
nas regiões Norte e Nordeste, e clusters com comportamento oposto nas regiões Sul
e Sudeste.

Oliveira (2016) investigou os efeitos dos aspectos econômicos sobre a


criminalidade nos estados brasileiros para o período de 1990 a 2010. Para tanto,
utilizou um painel de dados não balanceados com a técnica PVAR. Através das
funções impulso-resposta e decomposição da variância, o autor observou que a renda
domiciliar per capta e a incidência de pobres afeta negativamente a taxa de
homicídios. Além disso, evidenciou que ao longo da série choques sobre o índice de
Gini provocam reações positivas sobre as taxas de homicídios.

Tavares et al. (2016) analisaram a distribuição espacial das taxas de homicídios


segundo os índices de vulnerabilidade social e de qualidade de vida urbana, em
Betim/MG, de 2006 a 2011. Foram feitas análise descritiva e análises de correlação
espacial utilizando o índice de Moran. Ocorreram no período 1.383 óbitos, com
20

predomínio de homens (91,9%), de 15 a 24 anos (46,9%), pardos/pretos (76,9%), com


ensino médio (51,1%) e solteiros (83,9%).Tavares et al ( 2016) mostram que a
distribuição dos homicídios, em Betim, não é espacialmente dependente, isto é, que
não há autocorrelação espacial, entendida esta como a correlação entre a taxa de
homicídios de uma área com a das áreas vizinhas, de um modo em que áreas com
altas, e baixas taxas de homicídios estariam próximas de áreas também de altas, e
baixas taxas de homicídios, respectivamente. Os autores chegaram à conclusão que
tanto do ponto de vista empírico como teórico, a vulnerabilidade social e o homicídio
se mostram associados.

Nóbrega (2017), ao estudar a queda da desigualdade de renda no Brasil para


os anos de 2001 a 2005, sobretudo na região Nordeste, e associando as taxas de
homicídios no mesmo período, avaliou o impacto da desigualdade e da pobreza na
violência homicida juvenil e constatou que a morte de jovens entre 15 a 29 anos
representa 60% dos homicídios em todo país. O autor utiliza o método estatístico
descritivo e o teste de variáveis independentes no intuito de testar algumas hipóteses
e os resultados mostraram pouca significância entre o índice de Gini e a renda per
capita em relação as taxas de homicídios juvenil para a região Nordeste. Isso sugere
que a desigualdade e a pobreza não apresentam relação com a violência homicida
nesse período estudado.

Araújo (2018) contribuiu com sua análise para o entendimento dos fatores que
estão na origem das facções criminosas. O autor destaca uma visão sistemática para
a boa compreensão dos fenômenos do crime organizado com seus componentes,
sistema carcerário, a polícia e outros órgãos de persecução penal, e suas múltiplas
vertentes. Comprova o crescimento das facções originárias da região Sudeste do país
(PCC e CV), como também o surgimento de facções na região Nordeste. O autor cita
como exemplo a facção denominada GDE (guardiões do estado) que, nos últimos
anos, vem aterrorizando a população da região metropolitana de Fortaleza e atua em
todo Estado do Ceará com ações sempre muito violentas.

Na concepção de Silva Junior (2018), é importante destacar alguns argumentos


teóricos para a existência de uma ligação entre o tráfico de drogas e a violência
21

urbana, juntamente com evidências empíricas sobre esses elos. Padilha et al (2018)
forneceram evidências empíricas da associação espacial entre o tráfico de drogas e a
taxa de homicídios na Região Metropolitana do Recife. O trabalho apresenta
evidências que sugerem que o maior tráfico de droga afeta positivamente a ocorrência
de homicídios nos bairros analisados (elasticidade em torno de 0.34%). Tal evidência
é obtida mesmo depois de considerar a influência de um grande conjunto de variáveis,
incluindo condicionantes socioeconômicos tradicionais da violência e novos controles,
como o percentual de domicílios dos bairros que pertencem a favelas e a densidade
de empregos em bares e restaurantes. Os resultados do trabalho também indicam
que uma parcela (15%) do efeito estimado decorre de spillovers do tráfico de drogas
de bairros vizinhos sobre a taxa de homicídio de cada localidade.

Elencado nessa revisão de literatura e com os resultados obtidos nesses


estudos seguimos na próxima sessão com a análise descritiva e a apresentação da
base de dados utilizada.
22

CAPÍTULO 3 - ANÁLISE DOS DADOS E ESTATÍSTICA DESCRITIVA

3.1 DESCRIÇÃO DA BASE DE DADOS.

A base de dados utilizados nesse trabalho é composto por dados secundários


oriundos de quatro fontes - IPEADATA, IBGE, Fórum Brasileiro de segurança Pública
e Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. A variável escolhida para
representação da criminalidade foi a taxa de crimes violentos letais intencionais (CVLI)
pra cada grupo de 100 mil habitantes. Para Santos (2008), a taxa de homicídios é a
medida de crime mais utilizada devido a confiabilidade dos dados, o que pode ser
constatado durante o processo de extração dos dados. Observou-se que dados
referentes a crimes contra o patrimônio, devido a cultura do não registro da ocorrência,
são subnotificados.

Quadro 1 – Variaveis suas definições e fontes.

Variáveis Definições Fonte


CVLI (p/100mil) Crime violentos letais intencionais. CERQUEIRA et
al., 2017.
T.E(p/100mil) Tráfico de Entorpecentes CERQUEIRA et
al., 2017.
GPS($) Gasto com segurança pública. CERQUEIRA et
al., 2017.
G.I(%) Grau de Informalidade. IBGE,2017
GINI Índice de GINI. IBGE,2017

IDHM Índice de Desenvolvimento BRASIL, 2017.


Humano.
Dummies para as Macrorregiões Norte(N), Nordeste Elaborado pelo
macrorregiões do Brasil (NE), Sul(S), Centro-oeste (CO). autor.

Dummies para facções Primeiro comando da capital (PCC), Elaborado pelo


variável "boba" Comando vermelho (CV), Facções autor.
regionais (FR) e Conflitos de facção
são como marcadores (CF).
dicotômicos 0 e 1 ou de Fonte: Organizada pelo autor.
categorias 1, 2, 3, ...

VER FOTO DO
QUADRO
23

A decisão de ter o CVLI como variável dependente se deu frente às


características dos crimes que formam a variável: homicídios dolosos, lesão corporal
seguido de morte e latrocínio são crimes onde o registro é compulsório, descartando
assim qualquer problema de não registro. Os dados foram coletados no Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, para todos os estados da federação, incluindo o
Distrito Federal, compreendendo o período que vai de 2011 a 2017.

A seleção das variáveis quantitativas independentes partiu de evidências em


estudos anteriores que comprovaram forte relação entre as variáveis. Para melhor
compreensão, dividimos essas variáveis em três categorias: a primeira categoria é
composta por cinco variáveis socioeconômicas, são elas: Índice de gini (GINI), que
mostra o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a
renda domiciliar per capita. Onde seu valor é 0 (zero) quando não há desigualdade, e
tende a 1 (um) à medida que a desigualdade aumenta; Grau de Informalidade(GI),
que corresponde a razão entre trabalhadores que são empregados sem carteira e que
trabalham por conta própria e os trabalhadores protegidos pelas leis trabalhistas;
Tráfico de Entorpecente (TE) é a taxa de ocorrências dessa especificidade pra cada
grupo de 100 mil habitantes; Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM),
que é a média geométrica dos índices das dimensões Renda, Educação e
Longevidade; Gasto Público com Segurança(GPS) para a pesquisa em questão foi
coletado dados dos gastos com policiamento ( forças policiais) nos anuários
brasileiros de segurança pública referente ao tempo em análise. A segunda categoria
é formada por variáveis dummies para as cinco macrorregiões: Nordeste (NE), Norte
(N), Sul (S), Sudeste (SE) e Centro Oeste (CO).

Finalmente, a terceira categoria é formada por quatro dummies para verificar o


efeito das facções, Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando da Capital(PCC),
Facções regionais(FR) e Conflitos de facção(CF), sob a taxa de homicídios. Essas
dummies foram elaboradas com auxílio de informações checadas em notícias de
jornais a nível estadual para o período. Segue-se o quadro 1 com as variáveis, suas
definições e fontes.
24

NÃO FALA SE SÃO CORTES SECCIONAIS EMPILHADOS


3.2. ANÁLISE DESCRITIVA OU SERIES TEMPORAL EMPILHADAS

Os dados foram organizados em um painel empilhado. São dados a nível


estadual para os anos de 2011 a 2017 foram 189 observações para cada variável
exceto o TE que apresentou 182 observações, a tabela1 a seguir apresenta as médias,
desvios padrão, medianas, máximo e mínimo das variáveis utilizadas.

Tabela 1-Estatística descritiva

MÉDIA D.PADRÃO MEDIANA MIN. MAX.

CVLI 32,42 13,78 30,62 3,27 73,67


TE 61,69 37,16 56,8 3,9 152,5
GPS 735,94 1793,82 232,91 3,63 10516,63
GI 54,04 11,52 56,3 4,76 76,3
GINI 0,51 0,04 0,51 0,42 0,61
IDHM 0,73 0,05 0,73 0,64 0,84
PARA DUMMIES N 0,26 0,44 0 0 1
NÃO FAZ SENTIDO
S 0,33 0,47 0 0 1
FAZER MÉDIA. SÃO
VALORES NE 0,11 0,32 0 0 1
DISCRETOS E NÃO CO 0,15 0,36 0 0 1
CONTINUAS
PCC 0,58 0,5 1 0 1
CV 0,55 0,5 1 0 1
FR 0,67 0,47 1 0 1
CF 0,39 0,49 0 0 1
Fonte: Elaborado pelo autor.

Os dados referentes a gastos públicos com segurança são valores monetários


entre milhões e bilhões. Então para melhor leitura desses dados, dividimos todos os
valores por 1000. A seguir temos comentários sobre as variáveis quantitativas do
presente trabalho.
25

3.2.1-Crimes Violentos Letais Intencionais no Brasil

Em 2017 o Brasil chegou a patamares acima de 65mil homicídios, o que representa


uma taxa de 31,6 mortes para cada 100 mil habitantes. Quinze estados apresentaram
taxas acima dessa média, sendo 7 da região Nordeste. No Nordeste encontramos os
estados com as maiores taxas registrada em 2017 como, por exemplo, os estados de
Pernambuco, com uma taxa de 57,3. O Ceará que apresentou uma taxa de 59,1
mortes e, ocupando o primeiro lugar nessa lista, temos o Rio Grande do Norte, com
uma taxa de 68 mortos para cada grupo de 100 mil habitantes e um aumento de
110,26% em relação ao ano de 2011.

Tabela 2- Crimes Violentos Letais Intencionais no Brasil CVLI entre2011 a


2017(por 100 mil habitantes)
TRAZER 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
TABELA DA
19,77 24,78 27,69 25,82 29,1 45,1 45,1
VARIÁVEL AC
FOCO, A AL 73,67 65,41 67,92 64,16 54,1 55,9 56,9
VIRIÁVEL AM 29,84 30,79 25,68 30,23 36,7 29,4 31,3
DEPENDEN AP 32,7 24,06 32,79 33,16 32,6 49,6 55,8
TE , OK, TD BA 38,77 41,35 37,97 40,25 41,3 46,5 45,1
BEM. MAS
AS CE 31,96 42,86 50,02 50,19 46,4 39,8 59,1
OUTRAS DF 28,56 31,94 26,63 26,89 23,8 22,1 18,2 SERIA MAIS
TABELAS ES 39,59 45,32 42,12 41,26 46,4 39,8 37,4 INTERESSANTE EM
QUE ELE GO 16,78 39,82 42,24 42,48 23,8 43,8 39,3 FORMA DE
TRAS DAS MA 23,16 24,56 25,86 30,62 46,4 33,7 29,4 GRÁFICO
VARIÁVEIS MG 18,63 20,17 20,59 21,32 46,2 20,8 19,6
NDEP, NÃO
MS 18,21 24,04 22,34 24,66 33 22,7 20,8
FAZ MUITO
MT 32,8 33,36 35,51 43,48 20,9 35,5 31,5
SENTIDO
PA 15,36 41,49 42,46 42,84 22,6 50,9 53,4
PB 43,28 39,65 39,27 38,36 46,1 33,1 53,3
PE 37,27 36,35 33,63 37,01 37,8 47,6 57,3
PI 11,05 16,68 17,31 22,98 21 21,9 20,2
PR 30,76 30,12 24,59 24,24 25,4 25,9 22,6
RJ 25,74 26,06 30,13 31,19 30,3 37,6 40,4
RN 32,34 11,62 48,13 49,67 48,2 56,9 68
RO 24,62 29,64 27,95 30,2 30,7 32,8 55,8
RR 12,77 15,03 21,92 15,29 20,2 19,8 44
RS 16,98 19,99 18,3 24,01 24,9 26,9 26,7
SC 13,59 12,86 11,73 12,34 14,3 15 16,5
SE 32,99 38,92 42,04 46,59 57,3 64 55,7
SP 10,51 12,83 11,72 11,21 11,7 11 10,7
TO 19,25 21,52 21,51 23,38 26,1 27,1 26,6
BR 25,0 25,8 28,0 29,2 28,6 29,7 31,6
Fonte: Atlas da violência, 2017.
26

O estado de Alagoas, para os anos observados, apresentou taxas bastante


elevadas. O curiosos é que além da maior taxa de toda série temporal (em 2011 a
taxa foi de 73,67), o estado foi o único dessa lista que apresentou uma trajetória
descendente, passando em 2017 para 56.9 mortes para cada 100mil habitantes, o
que representa uma queda de 22,7% em relação a 2011, como mostra a tabela 2.

O Estado de São Paulo, com a taxa de 10,7, e de Santa Catarina, com a taxa
de 16.5 mortes para cada 100 mil habitantes, apresentam as menores taxas para o
ano de 2017. Esses estados, junto com o Piauí, apresentaram as menores taxas da
série. Vale lembrar do Estado do Paraná e Distrito Federal, apresentaram em 2017
quedas respectivas de 26,52% e 36,27%, em relação ao ano de 2011.

O estado do Rio de Janeiro, com uma taxa de 40,4 mortes para cada 100 mil
habitantes, sempre em evidência no cenário nacional nos noticiários relacionados a
violência urbana, ocupa a décima primeira posição.

Os estados da região Norte como Pará, Roraima, Acre e Rondônia


apresentaram dados com trajetórias alarmantes. Quando comparamos a taxa de
homicídios do primeiro ano com o último ano da série, observamos aumentos na taxa
de homicídios na magnitude de 247,65%, 244,55%, 128,12% 126,64%,
respectivamente.

3.2.2- Tráfico de entorpecentes

Os dados referentes a variável que representa a taxa de ocorrências de tráfico


de entorpecentes para cada grupo de 100 mil habitantes mostraram uma trajetória
crescente para todos os estados da federação, com exceção dos estado do Rio
Grande do Sul e Rio Grande do Norte que apresentaram em 2017 uma redução nessa
taxa de 4,23% e 37,5% respectivamente, em comparação ao ano de 2011.

No entanto, isso não significa que diminuiu a circulação e/ou o consumo de


drogas nesses dois estados o que houve foi uma redução no registro desse tipo de
ocorrência que pode ser atribuído ou por maior eficiência dos que exercem essa
atividade ou por menor repressão.
27

Tabela 3 Tráfico de Entorpecentes -2011 a 2017


2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
AC 47,7 141,4 60,2 - - - 74,7
AL 23,5 23,4 33,7 38,2 38,2 36,5 56,4
AM 60,2 80,3 71,9 49,1 49,1 57,8 80,9
AP 12,9 32,3 17,4 37,6 37,6 44,7 31,7
BA 30,7 35,4 - 36,5 36,5 - 46,3
CE 33 37,7 42,7 52,1 52,1 44,7 65,2
DF 73 74 81,7 99,9 99,9 77,3 84,8
ES 47,1 144,2 147,8 152,5 152,5 128,9 98,7
GO 28,6 49,3 64,7 101,8 101,8 72,2 74,9
MA 12,1 15,1 20,7 27,4 27,4 26,6 31,6
MG 122,2 116,9 126,7 127,9 127,9 121,7 150,3
MS 66,2 105,5 125,2 124,9 124,9 116,6 120,6
MT 75 92 89,8 81,5 81,5 92,1 116,7
PA 47,2 53,8 57,1 59,6 59,6 49,4 49
PB 14,3 9,6 - 15,3 15,3 13,1 19,5
PE 48,8 54,8 57 50,9 50,9 41 42,4
PI 14,9 16,1 15,3 22 22 28,1 30,1
PR 58 68,4 80,9 79,4 79,4 76,3 92,4
RJ 37,7 79,1 92,2 83,3 83,3 78,7 72,8
RN 10,4 8,5 10,1 10,7 10,7 9,2 3,9
RO 21,5 64,8 61,7 56,8 56,8 57 62,3
RR 21,5 14,9 4,4 25,9 25,9 42,2 -
RS 85 89,2 88,4 124,9 124,9 78,4 81,4
SC 69,8 75,7 90,3 99 99 97,8 122,5
SE 7,9 23,1 25 20,4 20,4 32,1 18,7
SP 98 99,5 94,4 99 99 101,8 109,4
TO 34,4 43,4 44,6 38,9 38,9 38,1 43,7

Fonte: Atlas da violência, 2017.

Estados como Minas Gerais (150,3), Mato Grosso do Sul (120,6), Santa
Catarina (122,5), seguidos de Mato Grosso com (116,7), São Paulo (109,4) e Espírito
Santo (98,7) concentram as maiores taxas registradas em 2017 e de toda a série. O
curioso é que a maioria desses estados, como exposto no item 2.2.1, apresentam as
menores taxas de homicídios da série, como se houvesse um controle dos homicídios
nesses estados, uma vez que a violência letal, apesar de ter ligação direta com a essa
28

atividade, não beneficiaria essa prática pois chamaria a atenção das autoridades
repressoras. A exceção ficaria com os estados que estão em disputa pela hegemonia
dessa atividade, como veremos mais à frente.

Dentre os estados da federação, 14 apresentaram um crescimento acima de


50% nessa taxa, quando comparado a taxa observada no primeiro ano com a taxa
observada no último ano da série, isso comprova o crescimento dessa atividade no
país. Em 2017, Rondônia apresentou maior crescimento, cerca de 189,77%, seguido
de Goiás 161,88%. Estados da região Nordeste como Maranhão, Alagoas, Piauí se
destacam por apresentarem taxas com crescimento acima de 100%, quando
comparado os valores do primeiro ano com o último ano da série em estudo,
respectivamente temos 161,15%, 140%, 102,01%. O Ceará apresentou uma taxa de
97,57%.

É importante ressaltar que essa atividade funciona como o “core businesss” das
facções criminosas atuantes no país: movimenta cifras bastante elevadas e
fortalecendo esse tipo de organização e financiando crimes cada vez mais ousados.
Em outras palavras, é a criminalidade gerando criminalidade, o efeito inércia como
enfatizou Santos (2009)

3.2.3- Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

De acordo com os dados apresentados na tabela 3, podemos constatar


algumas características do comportamento dessa variável indicadora do índice de
desenvolvimento humano para o período em estudo. Vale lembra que esse índice é
uma média entre renda, educação e longevidade, e caracteriza-se por ser um
indicador numérico entre zero e um. Quanto mais próximo ao número um, maior o
desenvolvimento humano nesse local.
29

Tabela 4-IDHM- Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de 2011 a 2017


2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
AC 0,688 0,696 0,694 0,719 0,721 0,731 0,726
AL 0,635 0,644 0,653 0,667 0,691 0,69 0,669
AM 0,672 0,679 0,701 0,709 0,712 0,792 0,711
AP 0,7 0,707 0,727 0,747 0,733 0,743 0,743
BA 0,675 0,682 0,694 0,703 0,717 0,711 0,704
CE 0,7 0,704 0,709 0,716 0,718 0,721 0,719
DF 0,819 0,827 0,832 0,839 0,843 0,831 0,831
ES 0,759 0,769 0,766 0,771 0,792 0,765 0,705
GO 0,74 0,745 0,75 0,75 0,781 0,757 0,772
MA 0,649 0,65 0,665 0,678 0,674 0,681 0,691
MG 0,745 0,754 0,762 0,769 0,776 0,763 0,772
MS 0,743 0,746 0,751 0,762 0,769 0,769 0,767
MT 0,747 0,755 0,758 0,767 0,761 0,762 0,775
PA 0,658 0,659 0,671 0,675 0,675 0,679 0,679
PB 0,681 0,682 0,692 0,701 0,71 0,712 0,734
PE 0,679 0,694 0,701 0,709 0,707 0,714 0,712
PI 0,644 0,664 0,671 0,678 0,674 0,671 0,681
PR 0,761 0,774 0,787 0,79 0,767 0,787 0,794
RJ 0,752 0,762 0,773 0,778 0,774 0,756 0,782
RN 0,705 0,715 0,726 0,717 0,719 0,721 0,717
RO 0,687 0,698 0,696 0,715 0,718 0,719 0,792
RR 0,721 0,729 0,724 0,732 0,737 0,736 0,761
RS 0,752 0,757 0,763 0,779 0,796 0,768 0,776
SC 0,791 0,797 0,807 0,813 0,819 0,816 0,815
SE 0,679 0,688 0,699 0,681 0,683 0,679 0,678
SP 0,802 0,808 0,814 0,819 0,817 0,821 0,824
TO 0,702 0,711 0,721 0,732 0,739 0,732 0,729

Fonte: Atlas do desenvolvimento humano, 2017.

Os dados mostram uma melhora nesse índice em todos os estados brasileiros,


apesar de discreta e com variações de pouca magnitude. A exceção foi o estado do
Espírito Santo que apresentou em 2017 uma redução de 7,11% em relação ao ano de
2011.

Três estados brasileiros apresentaram índices acima de 0.8. O Distrito federal


apresentou o melhor índice observado em 2017, que foi de 0.831. A capital do Brasil
detém os melhores índices de toda a série, seguido de São Paulo e Santa Catarina,
respectivamente, como mostra a tabela 3.

Os estados do Acre, Amazonas, Bahia e Roraima foram os estados que


apresentaram as maiores variações, passando da casa de 0.6 em 2011 para valores
30

acima de 0.7 em 2017. O destaque vai para Roraima, que apresentou uma melhora
nesse índice de 15,28%.

Cinco estados brasileiros apresentaram os menores valores para esses


índices, valores menores que 0.7, em todo período em análise, Alagoas, Sergipe,
Piauí, Maranhão e o estado Pará, o único que não fica na região Nordeste. Isso
demonstra a vulnerabilidade da população nordestina e, em alguma parcela, explica
as altas taxas de crimes violentos letais intencionais observada na região para o
período.

3.2.4-Gastos com Segurança Pública.

Os dados referentes aos Gastos com Segurança Pública revelam um cenário


de crescente gradual nos valores para o período. Esses gastos estão relacionados as
folhas de pagamento das forças policiais.

A maioria dos estados apresentaram gastos na casa dos milhões, com exceção
de São Paulo, Pernambuco, Paraná e Mato Grosso do Sul, onde esses gastos anuais
ficaram acima dos bilhões devido ao maior contingente policial desses estados.

O estado de Mato Grosso do Sul apresentou o maior aumento da série,


passando da casa do 800 milhões para patamares acima de 1.3 bilhões, como mostra
a tabela 5.

Tabela 5-Gastos com segurança pública de 2011 a 2017 em milhões e bilhões


de reais
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
AC 220685 228357 253274 296324 302528 277163 303677
AL 497432 515911 580807 724179 835639 793301 799843
AM 90152 147362 164042 158705 93270 125786 63954
AP 7084 7847 11762 7902 9188 16235 15007
BA 197512 295151 296729 513538 3613627 487798 357368
CE 190585 283724 303320 376469 322711 124880 232908
DF 102722 47258 62446 91328 27352 89843 81633
ES 85200 76169 113580 84640 39180 40581 78421
31

GO 103773 122514 130209 161731 233723 122730 120980


MA 24523 148996 131954 145277 135831 224924 260016
MG 199489 239011 386663 237266 340402 237970 401163
MS 838371 869105 734667 780669 1149871 1309038 1331145
MT 51848 58370 52767 47394 73958 67545 67709
PA 86888 100929 138820 180249 179186 154073 149693
PB 11206 14988 773059 9302 6590 3626 6317
PE 1352061 1405314 1532124 1704023 432534 1872644 2019711
PI 223401 31116 5053914 4439712 2768215 54254 47059
PR 1448137 1892299 2143713 2317751 2988513 1872644 3364290
RJ 522150 513526 485483 511734 252738 599981 193086
RN 336937 482700 412197 438394 511624 627602 500953
RO 530622 537185 563367 577923 624964 731063 729503
RR 13224 9486 115086 618845 15241 8856 22299
RS 247920 301614 357004 316427 679581 731063 729503
SC 85219 53814 116789 151953 60024 234584 233670
SE 368100 434782 344544 368191 440872 434300 424130
SP 10464184 7291669 7855944 8940527 10516630 9829079 9911454
TO 24876 20625 20865 27001 23094 19694 21982

Fonte: Fórum brasileiro de segurança pública.

Alguns estados ficaram de fora desse cenário de crescimento, apresentando


uma redução desses valores em relação a 2011. Foram os estados do Amazonas,
Espírito Santo, Tocantins e o Rio de Janeiro. Esse último apresentou a maior redução,
saindo da casa dos 500 milhões para 193 milhões, uma redução acima de 60%,
provavelmente que essa redução tenha favorecido os crimes letais nesses estados.

3.2.5-Grau de Informalidade

Os estados que apresentaram maior grau de informalidade foram os estados do


Maranhão, Piauí e Paraíba, com taxas acima de 65 como mostra a tabela 6.
32

Tabela 6- Grau de Informalidade 2011 a 2017


2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
AC 54,7 55,3 56,3 60,4 61,1 62,4 62,9
AL 59,4 57 53,2 56,2 57,2 56,7 59,9
AM 56,1 56 53 56,3 61,2 57,3 58,9
AP 56,3 58,1 61 56,4 57,1 56,9 57,9
BA 64,3 63,5 64 63,7 62,7 62,7 65,5
CE 64,5 64 63,5 62 63,2 63 64,9
DF 37,2 35 37 38,3 37,3 39,1 34,9
ES 44,3 47,2 46 50 52 50,9 54,4
GO 50,7 49,3 48 48,5 49,7 47,9 51,5
MA 74,6 76 72,5 75,4 75,4 74,9 76,3
MG 47,2 46,5 46 46,5 47,7 47,2 48,6
MS 48,3 47 45 46 46,3 46,5 48,1
MT 49,4 48 47,5 48 49,2 48,7 49,5
PA 64,6 65,1 63,6 63,4 63,6 66,9 65,6
PB 66,1 66,7 62,7 65,3 66,3 67,3 66,4
PE 55,8 57,5 56,1 55,7 56,9 58 56,8
PI 74,3 73,4 71 69,5 71,5 70,7 69,9
PR 41,4 41 39,4 38,6 37,6 37,9 39,1
RJ 41,6 41,3 41,4 40,8 43,8 42,5 42,7
RN 60 58 61,5 59 61 62,1 60,8
RO 49,6 47 47,2 46,5 47,8 47,1 47,6
RR 61 62,3 61,8 60,2 61,9 60,9 61,4
RS 43,4 43,5 43,1 42,4 46,7 43,1 42,8
SC 36,7 36,4 36 37,4 38,1 39,2 36,9
SE 64,1 61,5 63,2 62,9 63,9 65,4 64,5
SP 34,8 34 33,9 35,8 36,1 36,1 36,7
TO 68,8 66,1 66,3 62,7 63,3 63,9 63,3

Fonte: IBGE-Instituto brasileiro de geografia e estatística, 2017.

O Acre apresentou um aumento de 15% em relação a taxa de 2011. Já os


Estados do Distrito Federal, Piauí, Paraná, Roraima e Rio Grande do Sul
apresentaram redução. As menores taxas da série ficaram por conta do Distrito
Federal, São Paulo e Santa Catarina, respectivamente, como mostra a tabela 6.
33

3.2.6-Índice de GINI

Os dados para essa variável apresentaram pequenas variações. Os Estados


que apresentaram em 2017 os piores índices foram o Distrito Federal e Amazonas,
esse último com aumento de 11,64% em relação ao índice observado em 2011.

Tabela 7- Índice de GINI 2011 A 2017


2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
AC 0,547 0,55 0,525 0,542 0,5 0,575 0,566
AL 0,526 0,499 0,525 0,501 0,438 0,526 0,53
AM 0,541 0,511 0,543 0,529 0,476 0,572 0,604
AP 0,519 0,537 0,521 0,47 0,457 0,56 0,56
BA 0,554 0,548 0,557 0,527 0,481 0,548 0,599
CE 0,538 0,527 0,514 0,506 0,453 0,553 0,56
DF 0,608 0,587 0,577 0,583 0,555 0,583 0,602
ES 0,497 0,497 0,494 0,492 0,471 0,513 0,514
GO 0,483 0,48 0,484 0,449 0,436 0,474 0,493
MA 0,541 0,608 0,56 0,529 0,506 0,528 0,538
MG 0,499 0,499 0,489 0,485 0,478 0,504 0,506
MS 0,512 0,488 0,496 0,487 0,479 0,486 0,481
MT 0,479 0,525 0,505 0,46 0,445 0,457 0,469
PA 0,537 0,501 0,502 0,486 0,459 0,531 0,524
PB 0,538 0,528 0,525 0,513 0,51 0,54 0,563
PE 0,527 0,507 0,502 0,507 0,492 0,578 0,557
PI 0,507 0,545 0,515 0,501 0,505 0,546 0,541
PR 0,471 0,483 0,468 0,453 0,465 0,485 0,492
RJ 0,533 0,53 0,532 0,525 0,503 0,524 0,521
RN 0,562 0,531 0,541 0,496 0,487 0,558 0,529
RO 0,496 0,484 0,476 0,47 0,452 0,478 0,455
RR 0,524 0,539 0,531 0,502 0,5 0,547 0,546
RS 0,486 0,476 0,477 0,476 0,454 0,486 0,492
SC 0,444 0,424 0,435 0,421 0,419 0,429 0,421
SE 0,559 0,542 0,56 0,486 0,47 0,572 0,558
SP 0,485 0,492 0,494 0,493 0,46 0,541 0,534
TO 0,523 0,526 0,519 0,514 0,504 0,498 0,504

Fonte: IBGE-Instituto brasileiro de geografia e estatística,2017.

Os estados com os menores índices foram os de Mato Grosso, Roraima e


Santa Catarina. Apesar de ser fato estilizado, na literatura do crime, que a
desigualdade influencia os altos índices de criminalidades, observou-se, para o
período em análise, que estados com melhoras no índice de GINI sofrem com altas
taxas de Crimes Violentos Letais Intencionais.
34

3.3-AS PRINCIPAIS FACÇÕES CRIMINOSAS DO BRASIL

O Brasil apresenta uma variedade de fatores que facilita a atividade de


diversas organizações criminosas. Essas organizações apresentam a mesma
finalidade que é a busca por lucro através de atividades ilícitas (PROCÓPIO FILHO;
VAZ 1997). As facções criminosas se configuram em uma modalidade de organização
com essa finalidade, crimes como tráfico de drogas (inclusive internacional), roubo de
cargas e roubo a bancos são comumente atribuidos a essas organizações além de
uma série de atentados contra autoridades do judiciário e instituições prisionais por
todo país (ADORNO; SALLA, 2007).

As facções criminosas vem apresentando certa solidez ao longo das últimas


duas décadas. Elas atuam como verdadeiros partidos do crime que de maneira
rigorosa arrecadam mensalmente uma quantia em dinheiro dos membros que se
encontram privados de sua liberdade, nas unidades prisionais, e dos que se
encontram em liberdade como uma espécie de autorização para comercialização de
drogas. Esse dinheiro, além de ser investido em drogas e armamento de guerra, se
transforma em uma espécie de assistencialismo para seus integrantes e familiares,
seja na contratação de advogados ou na compra de medicamentos e alimentação ou
até mesmo em serviços fúnebres.

Há um rigoroso código de conduta e um padrão de comportamento para seus


membros. Quando um deles infringe alguma regra dos seus respectivos estatutos,
esse membro é submetido à punição severa. A seguir tem-se um resumo sobre as
principais facções criminosas e suas atuações.

3.3.1 PCC – Primeiro Comando da Capital

A respeito do PCC, pode-se dizer que é considerado uma das mais fortes e
organizadas facções criminosas do país. Estudiosos afirmam que ela teria surgido em
1993, dentro do presídio de Taubaté, em São Paulo, com estatuto e organização
hierárquica. O objetivo central do PCC, inicialmente, era contestar o tratamento dado
35

aos presos e exigir melhores condições no sistema carcerário. Com o tempo, o PCC
passou a atuar no tráfico de drogas e a desempenhar ações criminosas dentro e fora
das prisões e fora do estado de origem. Em 2006, a facção amedrontou o Estado de
São Paulo e paralisou a maior cidade do país, com ataques em unidades prisionais e
fora delas, atingindo centenas de civis. Hoje, o PCC opera em rotas internacionais do
tráfico e teria atuação em todas as 27 unidades da federação.
(BIGOLI;BEZERRO,2015).

Reforça-se que no cenário das facções criminosas, é relevante enfatizar o


estudo concernente ao estatuto do PCC que carrega o mesmo lema da facção
fluminense mais antiga, o Comando Vermelho, à saber: Paz Justiça e Liberdade. Esse
estatuto serviu para as demais facção que vieram depois (DIAS, 2011). No quadro 1
são expostos os elementos que compõem esse estatuto.

Quadro 2– Estatuto do PCC


1. Lealdade, respeito, e solidariedade acima de tudo ao Partido

2. A Luta pela liberdade, justiça e paz

3. A união da Luta contra as injustiças e a opressão dentro das prisões


4. A contribuição daqueles que estão em Liberdade com os irmãos dentro da
prisão através de advogados, dinheiro, ajuda aos familiares e ação de resgate
5. O respeito e a solidariedade a todos os membros do Partido, para que não haja
conflitos internos, porque aquele que causar conflito interno dentro do Partido,
tentando dividir a irmandade será excluído e repudiado do Partido.

6. Jamais usar o Partido para resolver conflitos pessoais, contra pessoas de fora
porque o ideal do Partido está acima de conflitos pessoais. Mas o Partido estará
sempre Leal e solidário à todos os seus integrantes para que não venham a
sofrer nenhuma desigualdade ou injustiça em conflitos externos.
7. Aquele que estiver em Liberdade "bem estruturado" mas esquecer de contribuir
com os irmãos que estão na cadeia, serão condenados à morte sem perdão.

8. Os integrantes do Partido tem que dar bom exemplo à serem seguidos e por
36

isso o Partido não admite que haja assalto, estupro e extorsão dentro do
Sistema.

9. O partido não admite mentiras, traição, inveja, cobiça, calúnia, egoísmo,


interesse pessoal, mas sim: a verdade, a fidelidade, a hombridade,
solidariedade e o interesse como ao bem de todos, porque somos um por todos
e todos por um.

10. Todo integrante tem que respeitar a ordem e a disciplina do Partido. Cada um
vai receber de acordo com aquilo que fez por merecer. A opinião de Todos será
ouvida e respeitada, mas a decisão final será dos fundadores do Partido.
11. O Primeiro Comando da Capital PCC fundado no ano de 1993, numa luta
descomunal e incansável contra a opressão e as injustiças do Campo de
concentração "anexo" à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, tem como
tema absoluto a "Liberdade, a Justiça e Paz".
12. O partido não admite rivalidades internas, disputa do poder na Liderança do
comando, pois cada integrante do Comando sabe a função que lhe compete de
acordo com sua capacidade para exercê-la.
13. Temos que permanecer unidos e organizados para evitarmos que ocorra
novamente um massacre semelhante ou pior ao ocorrido na Casa de Detenção
Carandiru em 02 de outubro de 1992, onde 111 presos foram covardemente
assassinados, massacre este que jamais será esquecido na consciência da
sociedade brasileira.
Porque nós do Comando vamos mudar a prática carcerária, desumana, cheia
de injustiças, opressão, torturas, massacres nas prisões.

14. A prioridade do Comando no montante é pressionar o Governador do Estado à


desativar aquele Campo de Concentração " anexo" à Casa de Custódia e
Tratamento de Taubaté, de onde surgiu a semente e as raízes do comando, no
meio de tantas lutas inglórias e a tantos sofrimentos atrozes.
15. Partindo do Comando Central da Capital do QG do Estado, as diretrizes de
ações organizadas simultâneas em todos os estabelecimentos penais do
Estado, numa guerra sem trégua, sem fronteira, até a vitória final.
37

16. O importante de tudo é que ninguém nos deterá nesta luta porque a semente do
Comando se espalhou por todos os Sistemas Penitenciários do estado e conseguimos
nos estruturar também do lado de fora, com muitos sacrifícios e muitas perdas
irreparáveis, mas nos consolidamos à nível estadual e à médio e longo prazo nos
consolidaremos à nível nacional. Em coligação com o Comando Vermelho – CV e PCC
iremos revolucionar o país dentro das prisões e nosso braço armado será o Terror "dos
Poderosos" opressores e tiranos que usam o Anexo de Taubaté e o Bangú I do Rio de
Janeiro como instrumento de vingança da sociedade na fabricação de monstros.

Fonte: https://istoe.com.br
FONTE COMPLICADA

A partir destes elementos citados podemos notar o alto nível dessa organização
criminosa. O Primeiro Comando da Capital (PCC) tornara-se um coletivo criminal
poderoso com ações dentro e fora de presídios, como relata Tellese e Hirata (2010).

Dentre muitas informações relevantes contidas nesse documento, destaca-se


dois pontos importantes. O primeiro encontra-se no sétimo item do quadro 2 e nos
releva a punição para o criminoso em liberdade e bem sucedido em suas atividades
que decide não pagar a contribuição prevista para quem é associado , uma espécie
de sentença de morte para os inadimplentes.

O outro ponto importante é visto no décimo sexto item, que prediz o que
constata-se nos dias de hoje no que se refere ao crescimento da organização no
medio e longo prazo. Ele também expõe a volatilidade das coligações feita pelas
organização criminosa: facções que ontem eram associadas, hoje são arquirrivais de
acordo com suas coveniências. Vale lembrar que posteriormente esse estatuto
serviria de modelo para novas facções.
38

3.3.2 CV – Comando Vermelho

Segundo Gomes e Sánchez (1997), a origem do primeiro grupo organizado de


criminosos, o Comando Vermelho (CV), deu no final dos anos 70, quando presos
políticos transmitiram conhecimento tais como tática de guerrilha, organogramas,
hierarquia e divisão de função para presos comuns no presídio de Ilha Grande, em
Angra dos Reis. Desde o início, o Comando Vermelho se caracterizou pelo
assistencialismo. Em alguns presídios no Estado do Rio de Janeiro, o Comando
Vermelho acabou assumindo as funções do serviço social, promovendo festas
natalinas, entre outras. As demais facções tiveram suas origens, em sua maioria, nos
moldes do Comando Vermelho e dentro de unidades prisionais, expondo a fragilidade
do sistema carcerário brasileiro.

Lima (2001) enfatiza que ao passar do tempo e a corrupção dos ideias iniciais
(Paz, Justiça e Liberdade), o CV tornou-se uma organização criminosa que extrapolou
os limites do presídio da Ilha Grande. O CV dominou sozinho o comércio de
substâncias ilícitas na região metropolitana do Rio de Janeiro até meados dos anos
90. A essa época, a organização fundada, entre outros, por Rogério Lemgrüber,
dedicava-se exclusivamente a atividades criminosas.

Manso e Dias (2018b), descrevre uma aliança tácita entre o Comando


Vermellho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Essa aliança teria durado
vinte anos, acalmando a tensão dentro dos presídios. Porém, esse “acordo de
cavalheiros” teve fim em 2016. Não sabe-se ao certo a razão do rompimento, mas ele
foi detectado por serviços de inteligências nos estados onde as facções atuam, e as
autoridades já sabiam da existência deste foco de tensão há meses. A facção tem
forte atuação nos estados do Rio de Janeiro, Roraima, Rondônia, Acre, Pará, Amapá,
Tocantins, Maranhão, Ceará, Bahia, Espírito Santo, Santa Catarina, Mato Grosso do
Sul, Mato Grosso, Rio Grande do Norte e Distrito Federal.
39

3.3.3 FDN- Família do Norte

Essa facção é de origem mais recente e teria se organizado dentro de


presídios da região Norte do país. É resultado da união de dois grandes traficantes,
Gelson Lima Carnaúba, o Gê, e José Roberto Fernandes Barbosa, o Pertuba e tem
ligação direta nas rebeliões recentes em Manaus, Roraima e Rio Grande do Norte,
mas também tem forte atuação no Pará e movimenta milhões por mês atuando na
“rota Solimões”, usada para escoar a cocaína produzida na Bolívia e no Peru por meio
dos rios da região amazônica (PRAZERES,2018).

É um dos grupos que surgiram para combater o avanço do PCC na região


Norte. Os ataques contra o grupo paulista teriam sido provocados pela iniciativa do
PCC de continuar recrutando novos integrantes.

A facção FDN é apontada pela polícia federal como a terceira maior facção do
país e a facção que quebrou a aliança de 20 anos entre CV e PCC . Com o apoio do
CV, a FDN pôs em prática o plano de acabar com a facção paulista no Amazonas.
Apesar da aproximação com o CV, a facção não é subordinada a nenhuma outra
organização.

3.3.4- Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte.

Segundo Melo e Rodrigues (2017), A facção teve sua fundação em 2013 dentro
de presídios da região metropolitana de Natal. O surgimento dessa facção foi
semelhante ao observado na região Norte, quando grupos de traficantes locais
ameaçados pela expansão da facção paulista (PCC) organizaram-se no intuito de
combater essa expansão. É um exemplo de facção regional. Atualmente essa facção
é a de maior atuação no Rio Grande do Norte. Um episódio marcante que revelou o
conflito envolvendo essa facção foi a rebelião ocorrida no presídio do Rio Grande do
Norte, em janeiro de 2017, conhecida como o massacre de alcaçuz. O genocídio
culminou com a morte de 26 presos, e o desaparecimento de outros 16 presos.
40

3.3.5 Conflito entre facções criminosas

Entre os anos de 2016 e 2017 uma série de confrontos de facções criminosas


foram registrados em presídios de Rondônia, Roraima e Amazonas, o que trouxe a
tona a ruptura entre as maiores facções do país. O Primeiro Comando da Capital
(PCC) e Comando Vermelho (CV) tornam-se inimigos. O motivo para o rompimento
foi os planos de expansão do Primeiro Comando da Capital (PCC), buscando novos
territórios para suas atividades, bem como o monopólio de rotas importantes para o
narcotráfico. A facção paulista passou a fazer recrutamentos por todo território e essa
atitude, além de não ter agradado a facção aliada, não agradou também algumas
facções regionais, tais como Família do norte (FDN).

O conflito tomou forma de barbárie em 1° de janeiro de 2017, quando 56 presos


foram mortos após integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e da Família
do Norte (FDN), aliada do Comando Vermelho (CV), entraram em confronto no
Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) em Manaus, no Amazonas.
(AVENDAÑO,2016).

A resposta do Primeiro Comando da Capital(PCC) à rebelião comandada pela


Família do Norte (FDN) veio cinco dias depois, na Penitenciária Agrícola de Monte
Cristo, localizada na zona rural de Boa Vista, em Roraima, onde 31 presos foram
mortos (VALENTE, 2017).

Segundo Manso e Dias (2018b), as maiores facções do país e ex- aliadas o


PCC e o CV disputam a hegemonia do crime em nove estados, são eles: Acre, Amapá,
Alagoas, Ceara, Pará, Rio Grande do Norte, Roraima e Tocantins. A luta pelo controle
das rotas do tráfico e pelo controle dos presídios fazem dessas duas facções
protagonistas de uma guerra nos presídios pelo país.
41

CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA NÃO TROUXE AS HIPÓTESES

O presente trabalho é uma pesquisa de natureza aplicada com uma abordagem


quantitativa, onde foram utilizados dados em um painel empilhado para os 27 estados
brasileiros para o período de 2011 a 2017, na estimação de uma regressão linear
múltipla. Abaixo a equação do modelo.

O GRETL APLICA LOG É SÓ ESCOLHER EM QUAIS. O IDEAL É NÃO COLOCAR LOG EM UMA SÓ. COLOCAR EM TODAS.

CVLI=βₒ+β₁₁TE+β₂₂log(GPS)β₃₃GI+β₄₄GINI+β₅₅IDHM+β₆₆N+β₇₇NE+β₈₈S+COβ₉₉

+β₁₀
₁₀PCC+β₁₁
₁₁CV+β₁₂
₁₂FR+β₁₃
₁₃CF+µ PODIA TER COLOCADO SÓ AS
₁₀ ₁₁ ₁₂ ₁₃
VARIÁVEIS QUE USOU E JÁ
COM OS COEFICIENTES

A estimação foi realizada no ambiente R (R Development Core Team,2019)


utilizando o modelo de Regressão Linear Múltipla (MRLM) pelo método de Mínimos
Quadrados Ordinários (MQO).

Segundo Helene (2006) o método garantiu que os estimadores são não-


enviesado, de mínima variância, uma vez que o fator imprevisível (erro), do modelo,
tem distribuição aleatória e é linear nos parâmetros, ou seja, as variáveis apresentam
uma relação linear entre si. O Teorema de Gauss-Markov afirma que os estimadores
de MQO são os melhores estimadores lineares não viesados (BLUE). Vale-se de
forma crucial da suposição de homocedasticidade, essa suposição implica que,
condicional às variáveis explicativas, a variância do erro é constante.

Dessa forma, para acharmos os estimadores de mínimos quadrados de βₒ,


₁..., utilizou-se a forma matricial do modelo de regressão linear múltipla:

Y = xβ+ µ

Onde:

Y - Vetor coluna (×1) com os valores da variável dependente.


42

X – Matriz(× de dados das variáveis independentes mais o intercepto.

β - Vetor  ×1) dos coeficientes a serem estimados.

µ - Vetor coluna (×1) dos erros.

Com base em Wooldrige (2011), Sabe-se que µ = Y- xβ e que µ’ = µ, então


para achar a soma dos quadrados dos erros (∑µi²) faz-se a multiplicação (µ’ µ):

µ’ µ = (y-xβ)’(y-xβ) (1)
µ’ µ = y’y-y’xβ-(xβ)’ y+(xβ)’ (xβ) (2)
µ’ µ = y’y-y’xβ-β’ x’y+ β’x’xβ (3)
µ’ µ = y’y-2β’x’y+ β’ x’xβ (4)
Assim, na equação (4) temos a soma dos quadrados dos resíduos. Então, para
minimizar a soma dos quadrados dos resíduos deriva-se a equação(4) em relação ao
β e iguala-se a zero (condição de primeira ordem)

Onde temos µ’ µ = y’y-2β’x’y+ β’ x’xβ e aplicando =0 temos:

-2x’y+2x’xβ=0 (5)
2x’xβ = 2x’y (6)
X’xβ= x’y (7)

Por fim multiplica-se a equação (7) pela inversa (matriz identidade)


(x’x)⁻⁻¹(x’x)β=(x’x)⁻⁻¹(x’y) (8)
Iβ=(x’x)⁻⁻¹x’y, então (9)
=(x’x)⁻⁻¹x’y (10)

Desse modo achou-se os estimadores para o modelo do presente trabalho.


Segundo Fávero et al.(2009), para detectar a validade da regressão estimada é
fundamental a execução do teste F global, que testa se todos os coeficientes são
simultaneamente iguais a zero (com exceção do intercepto), e evidencia se o modelo
43

é estatisticamente significativo ao nível de significância escolhido. Para o presente


trabalho assume-se um nível de significância de 5%.

Conduzimos os resultados para testar os coeficientes das variáveis


independentes. Segundo Gujarati (2011), para que uma variável independente
explique o comportamento da variável dependente rejeita-se a hipótese nula do teste
t, essa hipótese considera que os coeficientes são nulos ou iguais a zero.

Seguimos com os testes de hipótese para os resíduos. Primeiramente pra


detectar a presença ou a ausência do problema de heterocedasticidade recorremos
ao teste de Breush Pagan (BP). A consequência da presença desse problema para os
estimadores de MQO é a sua ineficiência (não apresenta variância mínima).
MESMA COISA QUE COLINEARIDADE ?
Para averiguar a presença de autocorrelação no modelo, submetemos os
valores estimados ao teste proposto por Durbin e Watson (1950) para verificar a
independência dos resíduos. Segundo Gujarati (2011), esse é a forma mais protocolar
de diagnosticar a correlação serial. A estatística do teste se baseia em valores
estimados a partir da amostra (y'), ao invés de valores observados(y), condiciona sua
distribuição de probabilidade aos valores observados para as variáveis independentes
(X). Durbin e Watson prepararam uma tabela com possíveis valores extremos de DW
em função no número de variáveis independentes (k) e observações da amostra (n).

Desse modo, quando o valor do teste DW aproxima-se de 0 temos


autocorrelação positiva, quando aproxima-se de 4 temos autocorrelação negativa e
finalmente quando o valor do teste DW aproxima-se de 2 temos a ausência de
autocorrelação de primeira ordem.

A seguir teremos as estatísticas dos testes bem como os valores estimados


para os coeficientes do modelo em análise.
44

CAPÍTULO 5 - RESULTADOS E INTERPRETAÇÃO

O presente trabalho e sua análise resultou em um modelo estatisticamente


significativo com a estatística F = 8.464*** (df = 13; 168), dando evidência de que pelo
menos uma das variáveis no modelo está estatisticamente relacionada com a taxa de
homicídios, comprovando assim a significância estatística do modelo. Seguiu-se com
o teste de significância individual, teste t(student) com seus respectivos P-valor, com
os sinais e as magnitudes dos estimadores.
mesma coisa que os coef beta ?SIM. eu fiquei procurando por valores entre 0 e 1. RESPOSTA: ENTRE 0
sinal positivo relação E 1 É SÓ PARA R QUADRADO. COEFICIENTE BETA/ESTIMATIVA QQ VALOR
direta (de aumento ou
diminuição) Tabela 8 Estimação
sinal negativo relação
inversa (se um cai o outro Desvio
Estimativa Valor t P valor
sobe e vice versa) padrão
QTO CADA VARIÁVEL DESSAS IDIVIDULAMENTE AFETA OS CVLI
Constante 150.126 37.629 3,87 0,0021***

TRÁFICO DE ENTORPENCENTES TE 0,106 0,0391 2,7 0,0077 *** 0,77%


log(GSP) -1.876 0,6062 -3,1 0,0023***
GI -0,556 0,1484 -3,75 0,0002***
sem sig estatística GINI 14.193 2 ,50607 0,57 0,5719
IDHM -111.407
MUITO DISCREPANTE 37 ,2367 -2,99 0,0032*** no gret l * 10 % ; ** 5%; ***1%
N 1.792 5 ,3217 0,34 0,7367 TESTE F – CONFIRMAR R2
NE 22.405 5 ,2410 4,27 0,0000*** " MARGEM DE ERRO” a grosso
modo; qto menor melhor
S -2.903 3 ,0189 -0,96 0,3376
CO 5.511 2 ,9663 1,86 0,0649* até 10% de erro, 05% se for uma
área mais criteriosa
PCC -1.565 1 ,9318 -0,81 0,4191
TESTE T-STUDENT - máximo 10 %
CRIMES VIOLENTOS CV 1.074 1 ,7731 0,61 0,5456
de erro
facções regionais FR 6.613 1, 9506 3,39 0,0009***
não analisou esses dois
conflitos de facção CF 8.534 2 ,7685 3,08 0,0024***

R² 0,396 R² ajustado 0,349 Desvio padrão dos resíduo 11,230 (df = 168)
39,60 %
Estatística F 8,464 (df= 13; 168) P valor 0,0024***
R QUADR OU R QDRA AJUSTADO É UM PRA CADA MODELO = VER FOTO DO CVLI =
O QTO O CONJUNTO DAS VARIÁVEIS AFETA A VARIÁVEL DEPENDETE o CVLI DEPENDE EM 39,6% DAS VARIÁVEIS INDEP,
EXPLICAM EM 39.6 %
Nota: *p<0,1; **p<0,05; ***p<0,01
Fonte: Elaborada pelo autor. O QTO CADA UMA INFLUENCIA, É AS VARIÁVEIS
INDIVIDUAIS.

Seguiu-se com os testes de hipóteses para o modelo do trabalho. Para testar


a violação da hipótese que diz que a variância do erro é constante e igual a ²,
submetemos os resíduos ao teste de Breush Pagan. A estatística do teste mostrou o
45

seguinte resultado: BP = 20.76, df = 13, p-value = 0.07782, de acordo com os valores


da estatística do teste não rejeitou-se a hipótese nula, comprovando a não violação
da hipótese do modelo, ou seja, ausência de heterocedasticidade.

Pra detectar o problema de autocorrelação submetemos os resíduos ao teste


de Durbin e Watson. Esse problema revela a não independência dos erros e a
consequência disso é a não garantia da variância mínima para os estimadores. Então,
de acordo com a estatística do teste DW = 1.9158, p-value = 0.2561 podemos
descartar o problema de autocorrelação para o modelo em análise.

Os resultados da estimação do modelo apontam 7 variáveis com significância


estatística. Abaixo, os sinais e magnitudes encontrados na estimação.

O potencial que existe na atividade de tráfico de drogas e armas, e sua relação


com os crimes violentos estão evidentes com o resultado. De acordo com o resultado
encontrado, para a variável que corresponde a ocorrência do crime de Tráfico de
Entorpecentes, observou- se que a variação de uma unidade nessa variável
acarretará na variação positiva na Taxa de Homicídios na magnitude de 0.1056.

Um exemplo que encontramos dessa relação é o estado de Goiás, que


apresentou em 2017 um crescimento de 134,2% na taxa de homicídios e
comportamento semelhante para as ocorrências de tráfico de entorpecentes, onde o
crescimento aparece ainda maior, de 161,88%. O estado só perdeu para o estado de
Rondônia onde o crescimento foi de 189,77%, comparado a valores observados em
2011, primeiro ano da série.

O resultado encontrado para a variável correspondente aos Gastos com


Segurança Pública apresentou um comportamento vista em literatura, corroborando
com Carvalho e Oliveira (2007), que constataram a redução dos crimes de homicídios
pela repressão pública, de curto prazo. Entre outras coisas, o resultado encontrado
revela a importância das forças policiais no combate aos crimes violentos letais
intencionais. A estimação mostra que a variação de 1% nessa variável explicativa,
lembrando que a mesma está em log, ocorrerá uma variação negativa de 0,018 na
taxa de homicídios.
46

Seguindo com as interpretações dos resultados constatamos a


insustentabilidade da afirmativa que trabalhadores desprotegidos, sem carteira
assinada e que trabalha por conta própria ficam mais vulnerareis a atividades
criminosas que lhes ofereça maiores retornos econômicos. O resultado encontrado
para a variável que representa o grau de informalidade mostrou-se significativo
estatisticamente com seu respectivo β estimado negativo e igual a -0,5564, ou seja,
ocorrendo uma variação em uma unidade do GI ocasionará uma variação negativa
nessa magnitude na taxa de homicídios. Ceteris paribus podemos dizer que, à medida
que aumenta o número de pessoas trabalhando na informalidade, diminui a taxa de
homicídios, tudo o mais constante, corroborando com os resultados encontrado em
Andrade et al.(2012).

O Brasil é um país que apresenta grande concentração de renda. Para o


período em análise, constatou-se uma discreta melhora nesse índice. Contudo, sua
relação com a taxa de homicídios não apresentou significância estatística, semelhante
a relação encontrada em Nóbrega (2017) ao estudar a região Nordeste do país.

A variável IDHM contempla temáticas cruciais para que uma sociedade se


desenvolva com qualidade. Renda, Educação e Longevidade são os parâmetros
utilizados e que auxiliam a descobrir as reais condições dos municípios brasileiros.

Existe uma razoabilidade ao acreditar que locais onde as pessoas que vivam
em locais com maiores possibilidades de acesso à educação e renda sofram menos
com a violência letal. Vale lembrar que o IDHM é um número semelhante ao índice
de GINI, mas com sentido oposto, ou seja, é um número entre zero e um e quanto
mais próximo de um mais desenvolvido é o estado. Desse modo, dado o acréscimo
de 0.1 unidade no IDHM, ocorrerá um decréscimo na magnitude de 11.14 na taxa de
homicídios.

Os resultados obtidos para as variáveis dummies representantes das


macrorregiões mostram que a região Nordeste foi a única que apresentou significância
estatística a 5%. Essa macrorregião apresenta uma quantidade significativa de
facções regionais e algumas delas, a exemplo da facção paulista, tiveram suas origens
dentro de presídios, dominam a comercialização de drogas e espalham o terror e
47

medo dentro e fora dos presídios.

O Nordeste despertou interesse das facções que atuam no âmbito nacional por
sua posição estratégica na exportação de drogas para os Estados Unidos da América
e Europa e menor repressão que no Sudeste. A região representa boa parcela do
mercado consumidor de drogas do país e apresentam um enorme potencial de
escoamento dessa mercadoria, com rotas já bem conhecidas e utilizadas pelos
narcotraficantes (UNODC,2017).

Segundo Manso e Dias (2018b) o PCC (primeiro comando da capital), que é a


maior facção em atuação no país, segue em guerra declarada com a facção
fluminense CV (Comando Vermelho) e seus aliados. A facção Paulista acumula quatro
grandes aliados na região. No Estado da Bahia temos o Bonde do Maluco e o Mercado
do Povo Atitude, no Estado da Paraíba temos a facção denominada como Estados
Unidos da América e no Estado do Ceará temos os Guardiões do Estado, essa última
é considerada a facção regional mais violenta e atuante na região, com ações
violentas e ousadas, tocam fogo em prédios e transportes públicos, decapitam seus
inimigos, comandam o tráfico e ordenam execuções de dentro de presídios. Seguem
fazendo oposição a presença da facção paulista nessa região o Comando da Paz
(BA), Okaida (PB) e Sindicato do Crime (RN), sendo essas facções aliadas da facção
fluminense Comando Vermelho (CV) e, junto com as demais citadas, formam o elenco
dos principiais personagens da guerra em curso no nordeste brasileiro. Essas alianças
são pouco confiáveis e de fáceis dissoluções e que, quando ocorre, sempre comina
em extermínio e execuções em massa, seja em unidades prisionais ou nas ruas.

Vale lembrar das atuações de grupos organizados denominado “novo


cangaço”, que atuam em ações ousadas de explosões de bancos e carros forte em
pequenas cidades nordestinas. Esses grupos são bem articulados e com grande
poder de enfrentamento, são financiadas em sua maioria pelas grandes facções do
país, as mesmas que protagonizam a guerra instalada nessa região, e que acharam
nessa modalidade uma forma eficiente e rápida de se capitalizarem.

A diferença média na taxa de homicídios ocorridos no Nordeste em relação a


região Sudeste, que utilizamos como referência, foi de 22.4052.
48

As dummies relacionadas para detectar a atuação das maiores facções


nacionais (PCC e CV) não apresentaram significância estatística. Contudo, as
dummies utilizada para detectar a presença das facções regionais (FR) e estados que
apresentam conflitos de facção (CF) tiveram significância estatística.

As organizações criminosas são inúmeras e estão espalhadas por todo país,


atuando em infinitas modalidade de crimes. As Facções Regionais são grupos
específicos de criminosos locais que fazem do crime, em sua maioria o tráfico de
entorpecentes, sua ocupação, trabalho e fonte de renda, não obstante crimes contra
o patrimônio e contra a vida fazem parte de suas práticas.

Zilli (2015) estudando o surgimento dessas facções em Belo Horizonte mostra


que essas facções regionais são bastante antigas, formadas por grupos de jovens
delinquentes, contudo não atuavam sob a bandeira do coletivo. Apresentavam um viés
ideológico onde ganhos econômicos ficavam em segundo plano. Crimes de menor
potencial ofensivo tais como vandalismo, pichações, alguma rivalidade envolvendo
bairros e/ou futebol eram comum. Ao passar dos anos, alguns desses grupos se
extinguiram, outros seguiram acumulando experiência em suas práticas ilícitas e
foram ficando cada vez mais fortes. Algumas outras facções não tiveram a mesma
história, são organizações mais recentes, formada por criminosos locais, em sua
maioria de pequenos traficantes, que sentiram seus negócios ameaçados com a
ascensão das facções do Sudeste e suas estratégias de expansão e domínio
territorial.

Lourenço e Almeida (2013), ao estudar as facções regionais da Bahia,


observou que o que diferencia essas facções regionais são os seus aliados e o que é
semelhante entre essas organizações é o modus operandi, que se caracteriza por
muita violência empregada em suas ações e a sentença de morte com requintes de
crueldade para os que são considerados inimigos, rivais.

Sendo assim, o resultado estimado para essa variável revela a diferença média
da taxa de homicídios entre os estados que apresentam atuação de facções regionais
em relação a estados que não apresentam, que foi de 6.6128 para o período em
análise.
49

Seguindo com a análise de resultados, temos as regiões Norte e Nordeste as


que mais apresentam conflitos entre facções. Alguns dos estados componentes
dessas regiões apresentam atrativos para as atividades ilícitas, são utilizados pelos
narcotraficantes por serem rotas em eminente disputa e cruciais para o recebimento
de droga e armas de países vizinhos como Paraguai e Bolívia, escoamento por todo
território brasileiro e o envio dessas mercadorias para o resto do mundo.

Além disso, como mostra Paiva (2019), as áreas de conflitos entre os coletivos
prisionais geralmente apresentam uma massa carcerária de altíssimo grau de
periculosidade e que apresentam um histórico sangrento e sombrios. Vale lembrar das
penitenciárias federais de segurança máxima nos estados do Paraná, Mato Grosso
do Sul e Rio Grande do Norte onde encontramos os líderes das maiores facções do
país.

Sendo assim, observamos que a diferença média dos homicídios ocorridos em


estados que apresentam conflito entre facções criminosas em relação a estados que
não apresentam é de 8.5340 e foi estatisticamente significante a 5%.
50

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatou-se que a violência urbana cresce exponencialmente, e a sociedade,


de modo geral, encontra-se refém da criminalidade. O crime organizado apresenta
várias vertentes em nossa sociedade e atuam como verdadeiras empresas com
robusto poder econômico e político com sedes e filiais. Embora todos os grupos que
se dediquem ao crime organizado tenham algo em comum, (obter benefício
econômico por meios ilícitos) cada organização criminosa é diferente da outra e conta
com suas próprias fontes de financiamento: a droga, o contrabando, o tráfico de
armas, a extorsão, o sequestro, o roubo de joias, as oficinas clandestinas, a
falsificação de obras de arte, a prostituição mostram as inúmeras possibilidades de
atuação e interação dessas organizações criminosas e a possibilidade de diversificar
o capital aplicado em diferentes tipos de crimes.

Verificou-se também que o crescimento de homicídios está diretamente ligado


a estados que apresentam um IDHM baixo, que indique a presença de facções
regionais e que apresentam conflitos entre essas facções. Vale lembrar que o tráfico
de entorpecentes é a principal atividade dessas facções e nesse cenário a região
Nordeste se destaca. A dinâmica dos homicídios no país funciona como uma espécie
de ciclo vicioso, onde pessoas com acesso a rendas mais baixas, baixa escolaridade
e em situação de vulnerabilidade social sofrem diretamente com a violência letal por
já estarem inseridos no contexto criminoso de descaso e abandono. Alguns são
aliciados, outros são coagidos, e dentre muitos, alguns optam pelo crime e,
inevitavelmente, morrem cedo, alimentando a triste estatística do país.

A hipótese do trabalho foi parcialmente atendida, pois a decisão de integrar ou


não as facções, na maioria das vezes, são tomadas dentro de presídios por pessoas
que já optaram pelo crime. Assim sendo, o poder de persuasão das facções
criminosas funcionam no sentido da permanência do indivíduo na atividade criminosa
e não na decisão inicial de delinquir como previsto na hipótese inicial. Como vimos no
quadro 3 item sétimo, é previsto aos integrantes dessas facções criminosas uma
contribuição financeira mensal, que volta sobre forma de assistencialismo. Nesse
sentido, é provável sim que essa contribuição incentive a prática de crimes uma vez
51

que a inadimplência acarretará em punições que vão desde a exclusão da


organização até a eliminação do integrante.

Notou-se que a busca pelo domínio do tráfico de drogas gera uma disputa
desenfreada entre as facções. Sendo assim, concluímos que locais intensivos nessa
atividade são locais mais violentos. Além disso, as facções regionais, em sua maioria,
não atuam sozinhas, fazem alianças com facções maiores nacionais, em troca de
apoio logístico para suas atividades, de modo tecer uma verdadeira rede criminosa
pelo país e protagonizam uma verdadeira guerra urbana.

A não evasão escolar é fundamental para combater a violência letal no país,


uma vez que o comportamento violento não nasce na vida adulta, esse
comportamento é obra de um curso que se constitui no início da vida, na primeira
infância. A sinergia entre as polícias deve avançar a patamares cada vez maiores.
Estados e municípios precisam unir esforços para melhorar os seus bancos de dados
bem como melhorar os serviços de inteligência e a troca de informações entre as três
esferas, pois proporcionará um melhor direcionamento nas ações de combate. Antes
de tudo, é essencial que ocorra a identificação, o tratamento e a devida valorização e
reconhecimento dos profissionais envolvidos na problemática, para que, desse modo,
possam oferecer um bom serviço.

O Brasil apresenta inúmeros gargalos estruturais e paga um alto preço por


décadas de descaso com a segurança pública. Contudo, já se observa melhoras no
planejamento e execuções de políticas de enfrentamento a criminalidade, com maior
interação entre a União, estados e municípios.

A atuação da força nacional bem como as ações com o exército brasileiro que
atuam na garantia da lei e da ordem já apresentam um resultado positivo na redução
de homicídios, corroborando com o resultado encontrado no presente trabalho para
os gastos com segurança pública.

A insignificância estatística apresentada pelas dummies PCC e CV (que foram


utilizadas para detectar a influência que as maiores facções criminosas do país teriam
sob a taxa de homicídios) revela indícios de um controle, por parte da facção, sobre
52

os homicídios em áreas dominadas e controladas por elas. Justus et al (2018)


apontam evidências que comprovam esse comportamento para o estado de São
Paulo.

A atuação dessas facções de forma unificada, como acontecera no passado, é


possível e factível. As instituições policiais devem estar atentas para essa
possibilidade e preparadas para o enfrentamento.

O controle dos homicídios citados acima é um fato novo e em curso,


semelhante ao projeto piloto do governo federal intitulado “Em Frente Brasil”, que
contempla 5 cidades das cinco regiões do Brasil. Essas cidades foram escolhidas
pelos altos índices de violência e estão sendo atendidas por meio da atuação conjunta
nas áreas de educação, saúde, emprego, habitação, cultura, esporte e assistência
social. Mas a análise desse controle nos homicídios e a avaliação desse projeto piloto
ficam como sugestões para novas análises sobre o problema.
NÃO FALOU QUAIS
Portanto, ao concluir a análise, e diante de algumas limitações com relação às
informações acerca do tema, sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas para
aprofundar o tema abordado e propagar o assunto ao meio acadêmico e social, já que
o crime de modo direto ou indireto atinge a sociedade como um todo.
53

REFERÊNCIAS

ADORNO, Sérgio; SALLA, Fernando. Criminalidade organizada nas prisões e os


ataques do PCC. Estudos avançados, v. 21, n. 61, p. 7-29, 2007.

ANDRADE, M. V.; LISBOA, B. Desesperança de vida: Homicídio em Minas


Gerais.  Rios de Janeiro e São Paulo no período 1981/97.   In Henriques, R.,
editor, Desigualdade e Pobreza no Brasil. (2000).  

ANDRADE L, NIHEI OK, PELLOSO SM, CARVALHO MDB. Homicídios juvenis e


informalidade em um município brasileiro da tríplice fronteira Brasil, Paraguai e
Argentina. Rev Panam Salud Publica. 2012;31(5):380-6

ARAUJO JUNIOR, A,F.; Fajnzylber, P. O que causa a criminalidade violenta no


Brasil? Uma análise a partir do modelo econômico do crime: 1981 a 1996. Texto
de Discussão 162. Universidade Federal de MINAS GERAIS, CEDEPLAR,
Belo Horizonte.    (2001). 

ARAUJO, Fabio Lopes. De perto e de dentro: Globalização, violência e o poder


das Facções Criminosas no Brasil. Diss. Instituto Superior de Ciências Sociais e
Políticas, 2018.

AVENDAÑO, Tom C. “Rebeliões em prisões de Rondônia e Roraima deixam 18


mortos em menos de 24 hora.” 2016. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/17/politica/1476683609_511405.html?
rel=mas Acesso em: jun 2019.

BARCELLOS, O.; PEREZ, R. T. A dinâmica da criminalidade brasileira entre a


exclusão social e o crescimento econômico. Perspectiva Econômica, v. 5, n. 2, p.
92-112, jul./dez. 2009. Disponível em: <https://doi.org/10.4013/pe.2009.52.05>. DOI:
10.4013/pe.2009.52.05
54

BECKER, G. Crime and punishment: an economic approach. Journal of Political


Economy, v. 76, p. 169 - 217, 1968.  

BEATO, C. C.; REIS, I. A. "Desigualdade, Desenvolvimento Socioeconômico e


Crime", in R. Henriques (org.), Desigualdade e Pobreza no Brasil. Rio de Janeiro.
IPEA. (2000).

BIGOLI, Paula dos Santos; BEZERRO, Eduardo Buzetti Eustachio. Facções


Criminosas: o caso do PCC – Primeiro Comando da Capital. In: Colloquium
Humanarum. p. 71-84, 2015

BRASIL, A. Atlas do Desenvolvimento humano no Brasil 2017. Ranking.


Disponível em : http://www.atlasbrasil.org.br/2017/pt/ranking/. Acesso em: Jun. 2019

CERQUEIRA, Daniel; et al. Atlas da violência. IPEA e FBSP. 2018. Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=33410
&Itemid=432 Acessado em 22 ago. 2019.

CAPRIROLO, Dino; JAITMAN, Laura; MELLO, Marcela. Custos de bem-estar do


crime no Brasil: um país de contrastes. Publications IADB. 2017. Disponível em:
https://publications.iadb.org/publications/portuguese/document/Custos-de-bem-estar-
do-crime-no-Brasil-Um-pa%C3%ADs-de-contrastes.pdf Acesso em: 25 jul. 2019.

CLEMENTE, A.; WELTERS Reflexões sobre o modelo original da economia do


crime.  Revista Econômica (2007). v. 33, n.2, p.139-157. 

CONCEIÇÃO, M. Violence and social inequalities: mortality rates due to homicides


and life conditions in Salvador, Brazil. Rev. Saúde Pública [online]. 2001, vol. 35, n.
6, PP.

DIAS, Camila Caldeira Nunes. Da Pulverização ao Monopólio da violência:


55

expansão e consolidação do Primeiro Comando da Capital (PCC) no sistema


carcerário paulista. 2011.386 f. Tese (Doutorado)- Curso de Sociologia, USP, São
Paulo, 2011.

DURBIN, J.; WATSON G. S. Testing for serial correlation in least squares


regression I. Biometrika, London, v.37, n.3/4, p.409-428, 1950.

FÁVERO, L. P.; BELFIORE, P.; SILVA, F.L. da; CHAN, B. L Analise de dados –
modelagem multivariada para tomada de decisões. Rio de Janeiro:
Campos/Elsevier,2009.

GOMES, L. F., & SÁNCHEZ, R. C. Crime organizado: enfoques criminológico,


jurídico (Lei 9,034/95) e político-criminal. Editora Revista dos Tribunais. (1997).

GUJARATI, D. N. Econometria básica, 5.ed. São Paulo: Pearson Makron Books,


2011.

HELENE, O., Método dos Mínimos Quadrados com Formalismo Matricial, Ed.
Livraria da Física, 2006.

IBGE Síntese de Indicadores Sociais. Estudos & Pesquisas. Informação


Demográfica e Socioeconômica. IPEA data (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada). (2006), http://www.ipea.gov.br variáveis socioeconômicas e populacionais.

JAITMAN, Laura (Ed.) “Os custos do crime e da violência: novas evidências e


constatações na América Latina e Caribe”. Washington: BID. (2017).

JUSTUS D, Khan T, CERQUEIRA D, MOREIRA GC (2018) The B São Paulo


mystery^: the role of the criminal organization PCC in reducing the homicide in
2000s. EconomiA 19(2):201–218.

LIMA, Willian da Silva (2001). Quatrocentos contra um: uma história do


56

Comando Vermelho. São Paulo: Labortexto Editorial

LEMGRUBER, J.; MUSUMECI, L.; CANO, I. Quem vigias os vigias? Um estudo


sobre o controle externo das polícias no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 2003.

LOUREIRO, André Oliveira Ferreira.; CARVALHO JÚNIOR, José Raimundo de


Araújo. "O impacto Dos Gastos Públicos Sobre A Criminalidade No Brasil."
Encontro Nacional de Economia 35 (2007). Florianópolis.
Anais[...]Florianópolis:UFSC,2007.

LOURENÇO, L.C.; ALMEIDA, O.L. de. “Quem mantém a ordem, quem cria
desordem”: gangues prisionais na Bahia. Tempo social, São Paulo, v.25, n.1,
p.37-59, 2013.

MACEDO AC,; PAIM JS,; SILVA LMV,; COSTA MCN. Violência e desigualdade
social: mortalidade por homicídios e condições de vida em Salvador, Brasil. Rev
Saúde Pública. 2001;35:515-22.

MANSO, B. P. e C. N, DIAS. A guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime


no Brasil. São Paulo: Todavia. (2018a)

___________. Tecendo redes criminais: as políticas de encarceramento e a


nacionalização das facções prisionais. Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Edição especial (2018b)

MELO J.; RODRIGUES, R. Notícias de um massacre anunciado em andamento: O


poder de matar e deixar morrer à luz do Massacre no Presídio de Alcaçuz, RN.
Revista Brasileira de Segurança Pública, v.11, n. 2, pp. 48-62, 2017.

NOBREGA JUNIOR, JMP. Violência homicida no Nordeste brasileiro: Dinâmica dos


números e possibilidades causais. Dilemas – Rev Estud Conflitoe Control
Soc.10(3):553-72.2017
57

OLIVEIRA, Camila Mirella Santos de. Criminalidade no Brasil e seus aspectos


econômicos no período 1990-2010: uma análise de vetores autorregressivos
para dados em painel – PVAR. 2016. 77f. Dissertação (Mestrado em Economia) -
Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal, 2016.

PAIVA, Luiz Fábio Silva.” Aqui não tem gangue, tem facção”: as transformações
sociais do crime em Fortaleza, Brasil. Cadernos do CRH, v.32, n 85, p.165-
184,2019.

PEREIRA, R.; FERNANDEZ-CARRERA, J. A criminalidade na região policial da


grande São Paulo sob a ótica da economia do crime.  Revista Econômica do
Nordeste, 31:898-918, 2000. 

PRAZERES, Leandro. CV e Família do Norte exploram nova rota do tráfico de


maconha na Amazônia. 2018. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-notícias/cv-e-familia-do-norte-exploram-
nova-rota-de-tráfico-de-maconha-na-amazônia.htm. Acesso em: 14 jun. 2019.

PROCÓPIO FILHO, Argemiro; VAZ, Aldides Costa. O Brasil no contexto do


narcotráfico internacional. Revista brasileira de Política Internacional, v. 40, n.
1,p.75-122. 1997;

R DEVELOPMENT CORE TEAM. R: a language and environment for statistical


computing. Vienna: R Foundation for Statistical Computing. Disponível em:
http://www.R-project.org. Acesso em: Jun. 2019.

RELATÓRIO de Conjuntura Nº 4: Custos Econômicos da Criminalidade no


Brasil. Publicado em junho de 2018. Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos
da Presidência da República. 2018. Disponível em:
http://www.secretariageral.gov.br/estrutura/secretaria_de_assuntos_estrategicos/publ
58

icacoes-e-analise/relatorio-de-
conjuntura/custos_economicos_criminalidade_brasil.pdf Acesso em: 22 ago 2019.

RIBEIRO, Wagner S., et al. "Exposição à violência e problemas de saúde mental


em países em desenvolvimento: uma revisão da literatura Exposure to violence
and mental health problems in low and middle-income countries: a literature
review." Revista Brasileira de Psiquiatria. 31.Supl ii (2009): S49-57.

SANTOS, M. J. Dinâmica Temporal da criminalidade: Mais Evidencias Sobre o


"Efeito Inércia" nas Taxas de Crimes Letais Sobre os Estados Brasileiros.  Revista
Economia, v. 10, n. 1, p. 169-194, 2009.   

SANTOS, Marcelo dos;  KASSOUF,  Ana.  Estudos Econômicos das Causas da


Criminalidade no Brasil: Evidências e Controvérsias.  Economia
(University of Brazil), vol. 9, n. 2, Maio-agosto, 2008. 

SILVA JÚNIOR, Inaldo Bezerra da. "Impactos das políticas de segurança sobre a
difusão da criminalidade entre as cidades: uma aplicação dos modelos de
Econometria Espacial." (2016).

SHAEFER, José Gilberto;  SHIKIDA,  Pery  Francisco  Assis.  Economia do Crime:


elementos teóricos e evidências empíricas. Revista da associação mineira de
direito e Economia, vol. 2009. 

SHIKIDA, Pery Francisco Assis; JÚNIOR, Ari Francisco de Araujo; SHIKIDA, Cláudio


D.;  BORILLI,  Salete Polônia.  Determinantes do Comportamento Criminoso:
um estudo econométrico nas penitenciárias central, estadual, e feminina de
Piraquara (Paraná). Pesquisa e Debate, vol. 17, número 1, pp.  125-148, SP, 2006. 

TAVARES R,; CATALAN VDB,; ROMANO PM d M, Melo EM. Homicídios e


vulnerabilidade social. Cien Saude Colet. 21(3):923-34 Mar. 2016.
59

UCHOA, C. F.; MENEZES, T. A. D;. Spillover Espacial Da Criminalidade: Uma


aplicação de painel espacial, para os Estados Brasileiros. In: Anais do 40o
Encontro Nacional de Economia, 40, 2012, Porto de Galinhas. Niterói:
Associação Nacional dos Centros de Pós Graduação em Economia (ANPEC), 2012.

UNODC. United Nations Office on Drugs and Crime. 2017. Disponível em:
http://www.unodc.org/wdr2017/ Acesso em: 22 ago. 2019.

VALENTE, Rubens et al. Confronto mata 31 presos em RR; essa é a 2ª maior


matança após o Carandiru. 2017. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/01/1847511-33-presos-são-mortos-
empenitenciaria-de-roraima-diz-secretaria.shtml. Acesso em: 14 jun.2019.

VIAPIANA, Luiz Tadeu. Economia do crime: uma explicação para a formação do


criminoso. Editora AGE Ltda, 2006.

WOLPIN, K.I. A Time-Series-Cross Section Anaysis of International Variation in


Crime and Punishme.  1980. 

WOODRIDGE,J. M. Introdução a Econometria: Uma Abordagem Moderna.


Tradução da 4 ed. Norte Americana: Cengage Learning, 2010.

ZILLI, L. F. D. O “mundo do crime “e a “lei da favela “aspectos simbólicos da


violência de gangues na região metropolitana de Belo Horizonte”. Etnografia:
Revista do centro em rede de investigação em Antropologia, Lisboa, v.19, n.3,
p.463-487 , 2015.

Você também pode gostar