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Universidade Católica de Moçambique


Instituto de Educação à Distância
 

Tema:

Análise da ética social na sociedade Moçambicana para a consolidação do bem comum a partir
da visão da Crista

Estudante: Sanete Luís


Curso: Ética Social
Disciplina: Administração e Gestão de Autarquias
Ano de Frequência: 3º Ano
Código de estudante: 708210740
A tutor: Domingos Pedro Zina
Turma: {B}

Chimoio, Abril de 2023

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Introdução  Descrição dos
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objectivos
 Metodologia adequada
2.0
ao objecto do trabalho
 Articulação e domínio
do discurso académico
Conteúdo (expressão escrita 2.0
cuidada, coerência /
Análise e coesão textual)
discussão  Revisão bibliográfica
nacional e internacional
2.0
relevante na área de
estudo
 Exploração dos dados 2.0
 Contributos teóricos
Conclusão 2.0
práticos
 Paginação, tipo e
Aspectos tamanho de letra,
Formatação 1.0
gerais paragrafo, espaçamento
entre linhas
Normas APA
 Rigor e coerência das
Referências 6ª edição em
citações/referências 4.0
Bibliográficas citações e
bibliográficas
bibliografia

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Folha de recomendações: A ser preenchida pelo tutor
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Índic

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e
Introdução......................................................................................................................1

Objectivos......................................................................................................................1

Objectivo Geral..............................................................................................................1

Objectivos específicos...................................................................................................1

Ética Social para a consolidação do bem comum..........................................................2

Conceito de Bem Comum..............................................................................................4

O Bem Comum a Luz da Visão Cristã..........................................................................5

A ética social com o bem comum a luz da visão crista.................................................7

Conclusão.......................................................................................................................9

Referência bibliográfica...............................................................................................10

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Introdução
Ao longo da história da humanidade, que é também história da Igreja, enquanto
chamada a acompanhar, a servir e a estar com a humanidade em todas as épocas
históricas e contextos geográficos e culturais, muito se tem produzido e questionado
sobre a presença e acção da visão cristã nas nossas sociedades e, sobretudo, nas
sociedades mais jovens, o seu papel e o contributo que dela se espera. Nas sociedades
africanas de cultura Bantu, em particular, onde enquadramos também Moçambique,
com a consciência de Deus mais profunda, a todos os níveis, um Deus que é criador e
artífice de tudo, próximo que caminha lado-a-lado com o povo, que é a suprema
explicação de todas as interrogações do ser humano, estas questões crescem ainda mais,
devido à sua história recente de submissão aos outros povos.

O presente trabalho debruça-se em torno do Análise da ética social na sociedade


Moçambicana para a consolidação do bem comum a partir da visão da Crista, em
concernente a elaboração do mesmo usou-se vários artigos publicados na internet,
livros, e entre outros, no que culminou a uma pesquisa bibliográfica.

Objectivos
Objectivo Geral
 Contextualizar a ética social tendo como base a realidade moçambicana em
relação ao bem comum a luz da visão crista.

Objectivos específicos
 Compreender o Bem comum na Visão cristã;
 Falar da realidade social moçambicana quanto ao zelo do bem comum;
 Saber vincular a ética social com o bem comum a luz da visão crista.

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Ética Social para a consolidação do bem comum
Segundo Morin (2005, p. 327), afirma que “A ética analisada sob a ótica social, nada
mais é do que a responsabilidade atribuída a cada integrante da sociedade, pelo bem
comum”.

“Desse modo, o indivíduo deve pautar seu agir de acordo com a ética complexa. A ética
complexa necessita daquilo que é mais individualizado no ser humano, a autonomia da
consciência e o sentido da responsabilidade” (Morin, 2005). A construção de uma
sociedade solidificada, justa e sustentável, depende da efectividade na aplicação da
ética, havendo, portanto, um vínculo inquestionável entre o grupo de indivíduos
denominado “sociedade” e a “ética”.

Um equívoco frequente é o de associar o bem comum apenas à prosperidade material,


com base na mera soma dos bens disponíveis que compõem uma sociedade – quase
como se fôssemos usar o PIB per capita como critério para avaliar o bem comum. Como
veremos, os bens materiais compõem, sim, o bem comum, mas são apenas uma parte
dele – e nem mesmo a parte mais importante. Outro engano consiste em acreditar que o
bem comum é “a felicidade do maior número de indivíduos”, como defendem os
utilitaristas: essa mentalidade justificaria inclusive desrespeitos aos direitos básicos de
alguns, se isso viesse a beneficiar um grupo maior. Isso talvez fosse o “bem da
maioria”, mas não o “bem comum”. Este é um projeto coletivo que inclui a todos.

Um equívoco frequente é o de associar o bem comum apenas à prosperidade material


excluindo algumas possibilidades, fica mais fácil definir o que é o bem comum. Ele é
uma situação, um estado de coisas que facilita – ou pelo menos não dificulta – a cada
indivíduo a possibilidade de perseguir, se assim o desejar, o próprio desenvolvimento
integral (isto é, do caráter, profissional, econômico, social etc.) e sua realização por
meio da busca da excelência.

E, infelizmente, são muitas as circunstâncias que dificultam o desenvolvimento integral


de cada pessoa. Pensemos na ausência de referências morais e estéticas, no caos
normativo e institucional, na insegurança jurídica ou naquela que deixa o cidadão
temeroso de sair à rua, na indigência intelectual e científica, na desconfiança
generalizada, na miséria que impede suas vítimas de se dedicar a qualquer outra coisa
que não seja sua sobrevivência. A preocupação com o bem comum exige um combate
sem trégua a essas situações.

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Como o sentido da vida em sociedade deve ser o de proporcionar a cada uma
maioríssima chance de realização, o bem comum pressupõe uma série de valores
imateriais – a presença de valores culturais e artísticos, um ambiente de paz e justiça,
conhecimentos científicos e tecnológicos e um clima geral de estímulo pela busca da
excelência – assim como bens materiais que tornam possível o desenvolvimento
ancorado nesse clima e nesses valores.

A convicção de que as virtudes são o que há de mais valioso na vida humana é o melhor
alicerce para se construir uma sociedade promissora

Nesse sentido, os primeiros têm uma evidente precedência. São mais importantes e são
os que tornam realmente bem estruturada uma sociedade. Facilitam, por sua vez, o
aumento paulatino e equilibrado da prosperidade material. E, dentre aqueles
componentes imateriais do bem comum, parece-nos que o mais decisivo, o que teria
maior impacto no bem-estar geral, seria a existência, na sociedade, de uma convicção
amplamente difundida de que há uma excelência moral que deve ser perseguida; mais,
que merece ser perseguida. Convicção amplamente difundida e, pelo menos,
concretizada na vida de muitos cidadãos. A convicção de que as virtudes são o que há
de mais valioso na vida humana é o melhor alicerce para se construir uma sociedade
promissora.

O alcance de um elevado nível de bem comum não é, ao contrário do que poderia


parecer a muitos, uma incumbência fundamentalmente do governo. O Estado tem um
papel importante – sem ele, por exemplo, seria impossível construir o ambiente de paz e
justiça que elencamos como valor importante para o bem comum –, mas os cidadãos e
as organizações da sociedade civil, no seu conjunto, têm um impacto maior nesta tarefa.
Se pensarmos na influência da família, das escolas, dos meios de comunicação, das
artes; se pensarmos no valor que um exemplo de heroísmo no cotidiano de pessoas
comuns pode ter, perceberemos facilmente a responsabilidade imensa que todos têm na
construção do bem comum.

Segundo Morin (2005, p 329), enfatiza que “Sabe-se que, o ser humano é naturalmente
sociável, o ato de viver isoladamente está longe das origens do homem, todavia, a
convivência deve ocorrer, de modo, a proporcionar bem-estar a todos os seres que
compartilham da mesma sociedade”, “Mas não é apenas para viver juntos, mas sim para

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bem viver juntos que se fez o Estado, sem o quê, a sociedade compreenderia os escravos
e até mesmo os outros animais”

Morin (2005, p. 332), afirma que: “A Cidade é uma sociedade estabelecida, com casa e
famílias, para viver bem, isto é, para se levar uma vida perfeita e que se baste a si
mesma. Ora, isto não pode acontecer senão pela proximidade de habitação e pelos
casamentos. Foi para o mesmo fim que se instituíram nas cidades as sociedades
particulares, as corporações religiosas e profanas e todos os outros laços, afinidades ou
maneiras de viver uns com os outros, obra da amizade, assim como a própria amizade é
o efeito de uma escolha recíproca”.

O fim da sociedade civil é, portanto, viver bem; todas as suas instituições não são senão
meios para isso, e a própria Cidade é apenas uma grande comunidade de famílias e de
aldeias em que a vida encontra todos estes meios de perfeição e de suficiência. É isto o
que chamamos de uma vida feliz e honesta. A sociedade civil é, pois, menos uma
sociedade de vida comum do que uma sociedade de honra e de virtude.

Segundo Morin (2005, p. 334), afirma que:

“Como se pode verificar através dos conceitos e peculiaridades destacados, os


pensadores antigos e medievais tinham na ética o sinônimo de felicidade e virtudes,
sustentavam que, o bem se encontrava intrínseco no ser humano, e não no aspecto
material, por outro enfoque, já na modernidade se verifica a ética baseada em
normatividades”.

Indubitável confessar que, infelizmente, a modernidade trouxe consigo, a falta de


virtudes, de compaixão e de solidariedade. O individualismo e a priorização do material
afastaram o ser humano da verdadeira ética, interiorizada desde os primórdios da
humanidade.

Segundo Morin (2005), enfatiza que “Atualmente a ética social é equiparada a uma
bússola que nos direciona ao certo e ao desejável, em um determinado grupo social, a
ser definido pela sua própria cultura, hábitos e regramentos”.

Conceito de Bem Comum


Segundo Boareto (2020, p. 14), estabelece que: “O bem comum diz respeito à realização
última das capacidades individuais, seja em relação a cada indivíduo em particular, seja
no grupo. O bem comum não é a soma dos bens desejados e buscados individualmente,

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nem o que concerne a cada um na busca de obter aquilo que se deseja. O bem comum
não é nem mesmo aquilo que a coletividade impõe de modo totalizante e que não
considera ou absolutamente elimina a atenção a cada cidadão e à autonomia individual”.

Na e reflexão católicas, o bem comum depende tanto da fé cristã, que se preocupa com
o bem de cada um, quanto da reflexão racional sobre a experiência humana, partilhada
por cada um, independente de toda a diferença cultural, religiosa, linguística, social e
política. Deste modo, o bem comum é, ao mesmo tempo, específico da tradição católica
cristã e caracterizante da experiência humana, além de toda a diferença histórica,
cultural, religiosa, política e social. Na reflexão contemporânea, o bem comum é
definido de vários modos. Em primeiro lugar, o bem comum é identificado com o bem-
estar geral, isto é, o bem maior que é possível conseguir para um maior número de
cidadãos.

Em tal definição se reconhece o influxo do pensamento utilitarista. Considerar o bem


comum deste modo privilegia uma aproximação quantitativa (o bem maior) e
distributiva (para o maior número de cidadãos).Ocorre também verificar se o acesso ao
bem comum é garantido a todos os cidadãos igualmente ou se existem cidadãos aos
quais o acesso ao bem comum é limitado, ou se até chegam a ser excluídos de
participarem da promoção do bem comum. Segundo Boareto (2020, p. 14), afirma que:

Em segundo lugar, o bem comum é considerado um bem público, isto é, um bem de


todos, que é disponível a cada membro da comunidade civil para todos, ou para
ninguém. Por exemplo, quando um Estado está em paz, a paz é um bem público,
pertence a todos e todos se beneficiam, sem exclusão. Ao contrário, se a paz é uma
ameaça por alguma guerra, ninguém pode beneficiar-se. Isto pode ser afirmado também
por outros bens públicos: a saúde, o trabalho, o ambiente ecológico sadio, a beleza
natural e a fertilidade da natureza”.

Além disso, o bem comum fundamental, e o bem público por excelência, diz respeito à
pertença de cada indivíduo à comunidade humana e a certeza de que não pode ser
excluído dela. Finalmente ocorre precisar que há a responsabilidade em proteger e
promover tais bens públicos, garantido o acesso a cada um.

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O Bem Comum a Luz da Visão Cristã
Segundo Couto (2008), afirma que “Na reflexão teológica enfatiza que o bem comum
não é a soma dos bens particulares, nem a soma dos bens possuídos por muitos
cidadãos, visando a sua utilidade pessoal, nem alguma coisa a ser alcançada (uma
herança comum), contribuindo o mínimo possível e nem substituindo os bens
individuais”.

Segundo Couto (2008), afirma que “O bem comum também não é o bem da maioria dos
membros da comunidade. O bem comum inclui todos os bens sociais, também os
espirituais, morais e materiais, que o homem busca sobre a terra de acordo com as
necessidades de sua natureza pessoal e social.

O bem comum visa a realização de uma convivência social caracterizada por uma
verdadeira solidariedade, o que implica a vontade de servir aqueles que, na sociedade
civil, têm mais necessidades e são menos beneficiados.

Segundo Couto (2008), enfatiza que: “Consequentemente, o bem comum exige justiça,
ordem, paz e bem-estar social. Uma vez que a autoridade política é a principal
responsável pelo bem comum, é responsabilidade das várias autoridades do Estado
proteger e promover o bem comum de todos, sem preferência de algum cidadão ou
grupos sociais, com exceção da opção preferencial pelos pobres”.

O objetivo é favorecer a promoção social daqueles atualmente excluídos,


marginalizados ou socialmente desfavorecidos.

Segundo Couto (2008), estabelece que: “Ao mesmo tempo, não se deve esperar que
somente o Estado promova e realize o bem comum como o fim da sociedade. Mesmo os
cidadãos individuais, grupos e organizações civis têm responsabilidades sociais e
contribuem para o bem comum. Isso permite que a realidade social seja valorizada em
seus aspectos diversificados e em sua riqueza, no atual contexto globalizado e plural”.

No contexto político, o bem comum é, portanto, uma dinâmica, um processo que requer
a contribuição de todos os agentes sociais, desde o Estado até as organizações sociais e
os cidadãos individuais.

Segundo Couto (2008), estabelece que “Por esta razão, na reflexão católica magisterial
e teológica, o bem comum exige fortalecer e diversificar o princípio da subsidiariedade,

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a fim de continuar e amplificar o dinamismo dos grupos e dos corpos intermediários a
serviço da coletividade, para o bem desta e dos sujeitos lhe pertencem”.

Além disso, a reflexão teológica chama a atenção para o que já está sendo
implementado na sociedade civil por exemplo, através das ciências sociais mesmo
quando é tematizada como uma promoção do bem comum.

Muitos cidadãos e muitas associações, por exemplo, estão comprometidos com o bem
universal, que é a qualidade de vida no planeta Terra, procurando proteger a qualidade
climática e preservar o ecossistema. Outros promovem condições de desenvolvimento
no planeta e a saúde local e global. Outros, ainda, estão construindo projetos concretos
para salvar e usar recursos de energia mais eficientes, de curto, médio ou longo prazo,
não reproduzíveis. Entre esses, acrescenta-se a abnegação daqueles que lutam de
maneira não violenta pela promoção do bem comum que é a paz, que permite o
desenvolvimento das pessoas, dos povos e da humanidade. Trata-se de prestar atenção,
reconhecer (com o olhar agudo e respeitoso de contemplação e sabedoria do místico) e
discernir as muitas maneiras em que o compromisso com o bem comum já está presente
no contexto histórico, político e cultural contemporâneo, e o quanto ainda pode ser feito
para aumentar esse compromisso de promover o bem comum. Segundo Couto (2008),
estabelece que:“

Na realidade contemporânea, caracterizada por desigualdades extremas e


injustiças entre continentes, países e mesmo no interior dos estados, recuperar
o bem comum como justiça geral, assim como na visão tomística, implica um
favorecimento para com os mais pobres, aqueles que foram e continuam sendo
defraudados de bens, respeito, direitos e liberdades e cujo progresso humano,
social e cultural é dificultado por violações manifestas em termos econômicos,
políticos, religiosos e intelectuais, omissões e satisfações menos graves .

A ética social com o bem comum a luz da visão crista


A ética é outro pilar do bem comum. A legalidade sem a ética torna impossível construir
a “polis” à altura da dignidade da pessoa humana. É preciso que a observância das
regras seja animada e sustentada pela ética; isso é urgente, pois há o perigo de que
alógica do mercado imponha a todos o seu modo de pensar e sufoque toda inspiração
ética. Nos atuais processos de globalização, é preciso que a legalidade seja orientada
para o “bem comum.

O bem comum não é um número, é um conceito e uma maneira de compreender a


realidade baseado no princípio de que cada pessoa tem seu valor e que a criação é um

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dom de Deus para toda a humanidade. A pessoa não é uma ferramenta a disposição do
mercado. O bem comum não admite essa possibilidade. Não se pode sacrificar o bem de
uma pessoa somente para melhorar o bem de algum outro. Toda pessoa é portadora de
direitos humanos fundamentais. Na lógica da busca do bem individual da riqueza
material aquela outra pessoa é um qualquer, um indivíduo identificado pela sua
utilidade para o meu bem. Sendo comum, o bem comum não considera a pessoa tomada
em sua singularidade, mas enquanto uma relação com outras pessoas. O bem comum é o
bem da própria relação entre pessoas. O bem comum nos coloca na perspectiva do outro
e não na lógica da acumulação. Ter lucro para que? Este lucro pode ser colocado a
serviço das pessoas, da sociedade, dos pobres.

A observância livre e responsável de regras comuns por toda a comunidade mundial


abre perspectivas novas e extraordinárias para o crescimento da humanidade que se
globaliza, não só no plano econômico, mas também no plano social e cultural. O
fundamento de todo discurso ético é a dignidade da pessoa humana, sendo essa
dignidade transcendente, porque se baseia na verdade de que a vida humana é recebida,
é um dom. Cada pessoa chamada à vida materializa um projeto de Deus a ser acolhido
com gratidão e a ser realizado livre e responsavelmente. De fato, a cultura dominante
acabou corroendo os pilares sobre os quais se apoiavam a democracia representativa.
Assim, a pessoa reduzida foi reduzida a indivíduo; a solidariedade foi reduzida a
formalismo legal; e a subsidiariedade, ou seja, a participação livre e responsável dos
cidadãos no “bem comum”, foi substituída por um “autoritarismo democrático. Vive-se
o perigo de uma democracia sem alma ética e, com isso, abrem-se caminhos para
formas de um totalitarismo mascarado numa absurda “democracia totalitária”. Quando a
democracia perde a alma ética, corrompe-se e morre, pois há uma intrínseca conexão
entre ética pessoal e ética social.

Para a Igreja, ainda tem sentido falar de bem comum. Refletir sobre o bem comum é
tarefa inadiável nestes tempos em que a busca pelo poder e pelo lucro domina as
relações entre as pessoas e os povos.

A noção de bem comum desempenha um papel central e unificador na ética social” (LS,
156). Como exorta Papa Francisco: “A dignidade de cada pessoa humana e o bem
comum são questões que devem estruturar toda política econômica.

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Agostinho oferece dois enfoques sobre o bem comum: um direcionado para a cidade
terrena e outro para a cidade eterna, o “Sumo Bem comum” (VICINI, 2011, 74-78).
Essa intuição é bastante pertinente se considerarmos que o bem comum é o recurso
moral capaz de combinar duas tensões: de um lado, a possibilidade de viver a
radicalidade do mandamento do amor na sociedade, sem esquecer que a radicalidade
depende da experiência de Deus como Amor gratuito; de outro lado, a capacidade de
interagir em termos de igualdade, de reciprocidade e de colaboração na sociedade civil,
visando o bem comum. Para Agostinho, a amizade civil fundamenta as relações entre os
cidadãos em uma comunidade política. Tal amizade (caritas ágape) é a base para
promover o bem comum. Ainda que a organização da cidade terrena não seja capaz de
promover a comunhão total com Deus, própria da Cidade de Deus, ela pode
proporcionar a vida em comum dos cidadãos através de um bem do qual todos se
beneficiem.

A relação entre o Sumo Bem e o bem comum se entrelaçam de tal modo que a
persecução do segundo colabora na compreensão mais profunda do primeiro e a
compreensão teológica do primeiro impulsiona a busca do segundo na história. O bem
comum pode ser encontrado em seu sentido absoluto na cidade celeste. Em sentido
relativo ele plasma a cidade terrena através de estruturas sociais que garantem os bens
para viver humanamente (saúde, alimento, moradia, segurança, educação, trabalho,
cultura, a religião). A paz social é alcançada quando os bens comuns são garantidos. O
bem comum da cidade terrestre é prefigura e reflexo do Sumo Bem ou o bem comum da
cidade celeste.

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Conclusão
As pessoas, convivendo em sociedade, desejam alcançar metas comuns, desenvolver-se,
melhorar. Ninguém se conforma em ver seu bairro, sua cidade, seu estado, seu país
estagnado, apenas subsistindo ou mantendo seu momento presente. E apenas uma
concepção abrangente de bem comum, de desenvolvimento humano e social – e que tem
também uma inescapável dimensão ética – dá conta dessas expectativas. A expressão
“bem comum” e algumas de suas variantes estão na letra da lei e na boca dos políticos;
mais complicado é saber exatamente no que consiste esse bem comum.

O bem comum diz respeito à realização última das capacidades individuais, seja em
relação a cada indivíduo em particular, seja no grupo. O bem comum não é a somados
bens desejados e buscados individualmente, nem o que concerne a cada um na busca de
obter aquilo que se deseja. O bem comum não é nem mesmo aquilo que a colectividade
impõe de modo totalizante e que não considera ou absolutamente elimina a atenção a
cada cidadão e à autonomia individual. Na e reflexão católicas, o bem comum depende
tanto da fé cristã, que se preocupa com o bem de cada um, quanto da reflexão racional
sobre a experiência humana, partilhada por cada um, independente de toda a diferença
cultural, religiosa, linguística, social e política. Deste modo, o bem comum é, ao mesmo
tempo, específico da tradição católica cristã e caracterizante da experiência humana,
além de toda a diferença histórica, cultural, religiosa, política e social.

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Referência bibliográfica
BOARETO, J. A. (2020). O bem Comum a Partir da Doutrina da Igreja.
Cadernos da fé e Cultura. São Paulo.

COUTO, A. (2008). A importância da Religião e da Ética na Educação. São


Paulo.3.

CONCILIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituição Pastoral Gaudium et


spes (GS). Roma: Tipografia Vaticana, 1965.

MORIN, E. (2005). O método 6. Porto Alegre

PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ. Compendio da Doutrina Social


da Igreja (CDSI). São Paulo: Paulinas, 2005. VICINO, A. Genética Humana e
Bem Comum. São Paulo: Loyola, 2011.

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