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SINOPSE

Memphis Ward chega a Quincy, Montana, no quinto pior dia de sua vida.
Ela precisa de um banho. De um lanche. Ela precisa de equilíbrio mental.
Porque se mudar através do país com seu bebê recém-nascido é de longe a
coisa mais louca que ela já fez.

Mas talvez, seja preciso um pouco de loucura para construir uma vida
boa. Se deixar o passado para trás exige mil milhas e uma nova cidade, ela fará
se isso significar um futuro melhor para seu filho. Mesmo que isso exija deixar
de lado o glamour de sua vida anterior. Mesmo que exija trabalhar como
camareira no The Eloise Inn e morar em um apartamento acima de uma
garagem.

E lá, no quinto pior dia de sua vida, que ela conhece o homem mais
bonito que já viu. Knox Eden é um sonho lindo e pecaminoso, um chef e seu
senhorio temporário. Com seu maxilar quadrado e barba por fazer, braços
tatuados, ele é rude e forte tudo o que ela nunca teve — e nunca terá. Porque
após o primeiro pior dia de sua vida, Memphis aprendeu que uma boa vida
requer desistir de seus sonhos também. E um homem como Knox Eden será
apenas um sonho.
CAPÍTULO UM
MEMPHIS
— Juniper Hill. Juniper Hill. — Peguei o post-it do porta-copos para
verificar se tinha o nome correto da rua. Juniper Hill. — É ali. Não. É. Juniper
Hill.

Minha palma bateu no volante, acrescentando uma pancada com cada


palavra. A frustração escorreu dos meus poros enquanto eu procurava
desesperadamente por uma placa de rua.

Drake gritou em seu assento de carro, aquele grito lamentoso, de partir o


coração, com o rosto vermelho. Como um barulho tão alto pode vir de uma
pessoa tão pequena?

— Eu sinto muito, querido. Estamos quase lá. — Tínhamos que estar


perto, certo? Esta viagem miserável tinha que terminar.

Drake chorou e chorou, não dando a mínima para o meu pedido de


desculpas. Ele tinha apenas oito semanas de idade e, embora essa viagem
tenha sido difícil para mim, para ele provavelmente, era como uma tortura.

— Estou estragando tudo, não estou?

Talvez eu devesse ter esperado e feito essa viagem quando ele tivesse
mais meses. Talvez eu devesse ter ficado em New York e lidado com a besteira.
Talvez eu devesse ter feito uma centena de escolhas diferentes. Milhares.

Depois de dias no carro, comecei a questionar todas as minhas decisões,


especialmente esta.

Fugir da cidade parecia a melhor opção. Mas agora...

O grito de Drake dizia o contrário.

Parecia uma década que eu tinha empacotado minha vida — nossa vida
— e a carregado no meu carro. Uma vez, fui uma garota que cresceu em uma
mansão. Uma garota que tinha um jato particular à sua disposição. A
percepção de que as únicas posses verdadeiramente minhas caberiam em um
sedã Volvo... torna tudo mais humilde.

Mas eu fiz minha escolha. E era tarde demais para voltar atrás.

Milhares de quilômetros e finalmente chegamos a Quincy. O local do


nosso recomeço. Ou seria, se eu pudesse encontrar Juniper Hill.

Meus ouvidos estavam zumbindo. Meu coração estava doendo. — Shh.


Bebê. Estamos quase lá.

Nem ele entendeu, nem se importou. Ele estava com fome e precisava de
uma mudança de fralda. Eu planejava fazer tudo isso quando chegássemos a
casa de aluguel, mas esta já era a terceira vez que eu dirigia por esse trecho da
estrada.

Perdidos. Estávamos perdidos em Montana.

Viemos de tão longe e estávamos perdidos. Talvez, estivéssemos perdidos


desde a manhã em que saí da cidade. Talvez, estivesse perdida por anos.

Peguei meu telefone e verifiquei o GPS. Minha nova chefe me avisou que
essa estrada ainda não estava no mapa, então ela me deu instruções. Talvez,
as tenha escrito errado.

A vozinha de Drake falhou. O choro parou por uma fração de segundo


para que ele pudesse encher os pulmões, então continuou chorando. Através
do retrovisor e do espelho acima de seu assento, seu rostinho estava enrugado
e corado, seus punhos cerrados.

— Sinto muito, — eu sussurrei enquanto as lágrimas turvavam minha


visão. Elas caíram pelas minhas bochechas e não consegui afastá-las rápido o
suficiente.

Não desista.

Meu próprio soluço escapou, juntando-se aos do meu filho, e saí da


estrada para o acostamento.

Mas Deus, eu queria desistir. Por quanto tempo uma pessoa poderia
segurar a ponta de sua corda antes que ela escorregasse? Por quanto tempo
uma mulher poderia se segurar antes de quebrar? Aparentemente, a resposta
era de New York a Montana. Provavelmente estávamos a apenas um quilômetro
e meio de nosso destino final e as paredes estavam começando a desmoronar.

Um soluço misturado com as lágrimas rolaram até que meus pneus


pararam, o carro estava estacionado e eu estava abraçando o volante,
desejando que ele pudesse me abraçar de volta.

Não desista.

Se fosse só eu, teria desistido meses atrás. Mas Drake estava contando
comigo para suportar. Ele sobreviveria a isso, certo? Ele nunca saberia que
passamos alguns dias miseráveis no carro. Ele nunca saberia que nos
primeiros dois meses de sua vida, eu chorei quase todos os dias. Ele nunca
saberia que hoje, o dia em que começamos o que eu esperava que ser uma vida
feliz, na verdade, tinha sido o quinto pior dia da vida de sua mãe.

Não desista.

Fechei os olhos com força, cedendo aos soluços por um minuto. Eu tateei
cegamente ao longo da porta, apertando o botão para abaixar as janelas. Talvez
um pouco de ar puro afugentasse o fedor de tantos dias no carro.

— Sinto muito, Drake, — murmurei enquanto ele continuava a chorar.


Enquanto nós dois chorávamos. — Eu sinto muito.

Uma mãe melhor, provavelmente sairia do carro. Uma mãe melhor


seguraria seu filho, o alimentaria e o trocaria. Mas então teria que colocá-lo em
seu assento de carro novamente e ele choraria, como fez na primeira hora de
nossa viagem, esta manhã.

Talvez ele estivesse melhor com uma mãe diferente. Uma mãe que não o
fizesse viajar pelo país.

Ele merecia uma mãe melhor. E um melhor pai.

Tínhamos isso em comum.

— Senhorita?

Engoli em seco, quase pulando do meu cinto de segurança, quando a voz


de uma mulher se pronunciou.
— Desculpe. — A oficial, uma mulher bonita de cabelos escuros, ergueu
as mãos.

— Oh meu Deus. — Eu bati uma mão no meu coração enquanto a outra


empurrou uma mecha de cabelo do meu rosto. No retrovisor, vi as familiares
luzes azuis e vermelhas de um carro de polícia. Merda. A última coisa que eu
precisava era de uma multa.

— Desculpe, oficial. Eu posso mover meu carro.

— Está tudo bem. — Ela se inclinou, espiando dentro do meu carro. —


Está tudo bem?

Limpei furiosamente meu rosto. Pare de chorar. Pare de chorar. —


Apenas um dia ruim. Na verdade, um dia muito ruim. Talvez o quinto pior dia
da minha vida. Sexto. Não, quinto. Estamos no carro há dias e meu filho não
para de chorar. Ele está com fome. Eu estou com fome. Precisamos de um
cochilo e um banho, mas estou perdida. Estou dirigindo há trinta minutos
tentando encontrar o lugar onde deveríamos estar.

Agora eu estava divagando com uma policial. Fantástico.

A divagação era algo que eu fazia quando criança, sempre que minha
babá me pegava fazendo algo errado. Eu não gostava de estar em apuros e
minha reação natural era conversar sobre isso.

Papai sempre chamou isso de dar desculpas. Mas não importa quantas
vezes ele tenha me repreendido, a divagação se tornou um hábito. Um mau
hábito que eu corrigiria em outro momento, em um dia que não estivesse entre
os dez piores da minha vida.

— Onde você está indo? — a mulher perguntou, olhando para Drake, que
ainda estava gritando.

Ele não se importava que tivéssemos sido parados. Ele estava muito
ocupado dizendo a ela que eu era uma mãe horrível.

Eu me mexi para encontrar a nota adesiva que deixei cair, mostrando a


ela pela janela aberta. — Juniper Hill.

— Juniper Hill? — Sua testa franziu e ela piscou, lendo o bilhete duas
vezes.
Meu estômago caiu. Isso era ruim? Era em um bairro ruim ou algo
assim?

Quando tentei encontrar um aluguel em Quincy, as escolhas eram


escassas. As únicas opções eram casas de três ou quatro quartos, e não só não
precisava de tanto espaço, como estavam fora do meu orçamento.
Considerando que esta era a primeira vez na vida que eu tinha um orçamento,
eu estava determinada a cumpri-lo.

Então liguei para Eloise Eden, a mulher que me contratou para trabalhar
em seu hotel, e disse-lhe que, afinal, não poderia me mudar para Quincy.

Quando ela prometeu me encontrar um apartamento, pensei que talvez


um anjo da guarda estivesse cuidando de mim. Exceto, que talvez este estúdio
em Juniper Hill fosse uma favela nas montanha e eu moraria ao lado de
traficantes de metanfetamina e criminosos.

Tanto faz. Hoje, eu aceitaria os viciados em crack e assassinos se isso


significasse passar vinte e quatro horas fora deste carro.

— Sim. Você sabe onde é? — Eu joguei uma mão em direção ao para-


brisa. — Minhas instruções me trouxeram até aqui. Mas não há uma placa
marcada Juniper Hill. Ou qualquer estrada marcada, ponto final.

— As estradas rurais de Montana raramente tem placas indicativas. Mas


eu posso te mostrar.

— Sério? — Minha voz soou tão baixa quando outra onda de lágrimas
abriu a represa.

Fazia tempo que ninguém me ajudava. Os pequenos gestos se


destacavam porque eram raros. No mês passado, as únicas pessoas que me
ofereceram ajuda foram os residentes de Quincy. Eloise. E agora essa linda
estranha.

— É claro. — Ela estendeu a mão. — Eu sou Winslow.

— Memphis. — Eu funguei e apertei sua mão, piscando rápido demais


tentando parar as lágrimas. Foi inútil. Eu era exatamente o desastre de trem
que parecia ser.

— Bem-vinda a Quincy, Memphis.


Eu respirei e caramba, aquelas lágrimas continuaram caindo. —
Obrigada.

Ela me deu um sorriso triste, então correu de volta para seu carro.

— Nós vamos ficar bem, querido. — Havia uma ponta de esperança em


minha voz enquanto eu esfregava meu rosto.

Drake continuou a chorar quando saíamos da estrada e seguimos


Winslow até um aglomerado de árvores. Entre elas, havia uma estreita estrada
de terra.

Eu tinha passado por esta estrada. Três vezes. Exceto que não era uma
estrada normal. Certamente, não é uma rua residencial. Ela diminuiu a
velocidade, suas luzes de freio brilhando em vermelho e virou na pista. Poeira
voou debaixo de seus pneus enquanto ela seguia a trilha, dirigindo cada vez
mais longe da estrada principal.

Minhas rodas encontravam cada solavanco e cada buraco, mas o salto


parecia ajudar porque os lamentos de Drake se transformaram em um gemido,
enquanto eu seguia uma curva na estrada em direção a uma colina, que se
erguia acima da linha das árvores. A placa estava coberta de arbustos verdes
escuros.

— Juniper Hill.

Uau. Eu era uma idiota. Se eu tivesse parado e olhado ao meu redor,


provavelmente teria percebido isso.

Amanhã. Amanhã, eu prestaria atenção em Montana. Mas não hoje.

A estrada continuou por mais um quilômetro e meio, seguindo a mesma


linha de árvores, até que finalmente dobramos uma última curva, e lá, em um
prado de grama dourada, havia uma casa deslumbrante.

Nenhum barraco na montanha. Sem vizinhos questionáveis. Quem quer


que fosse o dono dessa propriedade a tirou diretamente de uma revista de
decoração.

A casa era de um único andar, alongada e larga com a colina como pano
de fundo. O tapume preto era quebrado por enormes folhas de vidro cristalino.
Onde uma casa normal teria paredes, este lugar tinha janelas. Através deles eu
podia ver a cozinha aberta e a sala de estar. Do outro lado, um quarto com
uma cama coberta de branco.

A visão de seus travesseiros me fez bocejar.

Separada da casa, havia uma ampla garagem de três vagas com uma
escada que levava a uma porta no segundo andar. Eloise havia dito que havia
me encontrado um loft.

Tinha que ser esse. Nosso lar temporário.

Winslow estacionou na entrada circular de cascalho. Eu me acomodei


atrás dela, então corri para fora para resgatar meu filho. Com Drake
desamarrado, o levantei no meu ombro, abraçando-o por um longo momento.
— Conseguimos. Finalmente.

— Ele estava cansado da cadeirinha do carro. — Winslow se aproximou


com um sorriso gentil. — Tenho um bebê de dois meses. Às vezes ele adora o
carro. Na maioria das vezes, nem tanto.

— Drake tem dois meses também. E ele tem sido um soldado, — eu


respirei. Agora que ele finalmente parou de chorar, eu podia respirar. — Esta
foi uma longa viagem.

— De New York? — ela perguntou, olhando para minhas placas.

— Sim.

— É uma longa viagem.

Eu esperava que valesse a pena. Porque não tinha como eu voltar.


Apenas ir em frente, a partir de agora. A cidade era uma memória.

— Eu sou a chefe de polícia, — disse ela. — Você conhece Eloise Eden,


certo?

— Um... sim? — Eu tinha dito isso a ela?

— Transparência completa. Memphis é um nome único e Eloise é minha


cunhada.
— Ah. — Merda. Esta era a cunhada da minha nova chefe, e eu tinha
acabado de causar uma primeira impressão épica e horrível. — Er... quais são
as chances?

— Em Quincy? Muitas, — disse ela. — Você vai trabalhar na pousada?

Eu balancei a cabeça. — Sim. Como camareira.

Antes que Winslow pudesse dizer mais alguma coisa, a porta da frente da
casa se abriu e uma linda morena saiu correndo, sorrindo e acenando.

Eloise. Seus olhos azuis brilhavam, da mesma cor do céu sem nuvens de
setembro.

— Memphis! — Ela correu na minha direção. — Você conseguiu.

— Sim, — eu respirei, deslocando Drake para estender minha mão.

Qualquer maquiagem que eu tivesse colocado dois dias atrás em nosso


hotel em Minnesota, tinha se desgastado de fadiga e lágrimas. Meu cabelo loiro
estava em um rabo de cavalo desleixado e minha camiseta branca estava
manchada de laranja na bainha, de uma bebida energética que explodiu em
mim esta manhã. Eu não parecia nada com a versão de Memphis Ward, que fez
uma entrevista virtual com Eloise semanas atrás. Mas esta era eu. Não havia
realidade oculta.

Eu estava uma bagunça.

Eloise foi direto para o meu espaço, ignorando minha mão oferecida para
me puxar para um abraço.

Eu fiquei tensa. — Desculpe, estou fedendo.

— De jeito nenhum. — Ela riu. — Você conheceu Winn?

Eu balancei a cabeça. — Ela foi gentil o suficiente para me ajudar


quando me perdi.

— Oh não. — O sorriso de Eloise caiu. — Minhas direções estavam


ruins?

— Não. — Eu acenei. — Nunca dirigi em estrada de terra. Eu não


esperava.
Até esta viagem, eu não tinha dirigido muito. Sim, eu tinha um carro em
New York, mas também tinha um motorista. Felizmente, passei tempo
suficiente ao volante indo e vindo dos Hamptons, para me sentir confortável em
fazer essa jornada.

— Podemos ajudá-la a desfazer as malas? — Winslow perguntou,


apontando para o loft.

— Ah, tudo bem. Eu posso administrar.

— Nós vamos ajudar. — Eloise apertou o botão para abrir o porta-malas.

As mochilas e malas que eu enfiei praticamente saltaram para fora. Sim,


todos os meus pertences estão no meu Volvo. Mas isso não significava que não
tinha sido uma tarefa árdua enfiá-los lá dentro.

Ela colocou uma mochila sobre o ombro, em seguida, tirou uma mala.

— Realmente, eu posso fazer isso. — Meu rosto ficou vermelho ao ver


minha nova chefe carregando minhas coisas. A bolsa que ela carregava tinha
minha calcinha e tampões.

Mas Eloise me ignorou, marchando para a escada de aço da garagem.

— Confie em mim. — Winslow caminhou até o porta malas. — Quanto


mais cedo você for com Eloise, mais fácil será sua vida. Ela é persistente.

Como ela se recusou a ouvir quando tive que recusar a oferta de


emprego. Ela ordenou que eu fosse para Montana, prometendo que teríamos
uma casa assim que chegássemos.

— Estou aprendendo isso. — Eu rio. Foi a primeira risada que eu dei...


bem, em muito tempo.

Eu segurei Drake mais perto, respirando seu cheiro de bebê. De pé ali,


com os pés no chão, deixei-me respirar novamente. Por um batimento cardíaco.
Então dois. Deixei as solas dos meus sapatos serem aquecidas pelas pedras.
Eu deixei meu coração afundar na minha garganta e retornar ao meu peito.

Conseguimos.

Quincy pode não ser nosso lar para sempre. Mas a eternidade é para
sonhadores. E parei de sonhar no dia em que comecei a classificar meus piores
dias. Havia tantos, tinha sido a única maneira de continuar seguindo em
frente. Saber que nenhum tinha sido tão terrível quanto o primeiro pior dia.
Para saber que, se eu tivesse sobrevivido a esse, poderia suportar o segundo, o
terceiro e o quarto.

Hoje marcou o quinto.

Tudo começou em um posto de gasolina em Dakota do Norte. Eu parei


ontem à noite para dormir um pouco. Vinte minutos, era tudo o que eu queria.
Então eu planejei voltar para a estrada. Drake tinha apagado e eu não queria
acordá-lo arrastando-o para um hotel decadente.

Cochilar no carro tinha sido uma decisão imprudente. Eu pensei que


estava segura sob as luzes brilhantes do estacionamento. Meus olhos não
estavam fechados há mais de cinco minutos quando um motorista de
caminhão bateu na minha janela, lambendo os lábios.

Eu acelerei e, esperançosamente, atropelei seus dedos dos pés.

Meu coração disparou pela próxima hora, mas uma vez que a adrenalina
passou, a exaustão profunda da alma se enterrou sob minha pele. Eu estava
com medo de adormecer ao volante, então parei na interestadual para sair e
correr sob as estrelas. Eu tinha me alongado por trinta segundos antes que um
inseto voasse por baixo da minha camisa e deixasse duas mordidas ao longo
das minhas costelas.

A picada me manteve acordada pela próxima hora.

Ao amanhecer, encontrei outro desvio para parar e trocar Drake. Quando


eu o levantei de seu assento, ele golfou em toda a minha camisa, me forçando a
me dar um banho de lenço umedecido. Qualquer dia normal, não teria sido
grande coisa. Mas tinha sido mais um e minhas costas estavam perto de
quebrar.

Durante nossa última parada no posto de gasolina, ele começou a


chorar. Com exceção de alguns cochilos curtos, ele realmente não tinha
parado.

Horas daquele lamento e eu estava frita. Eu estava cansada. Eu estava


assustada. Eu estava nervosa.
Minhas emoções estavam lutando entre si, lutando para ficar em
primeiro lugar. Lutando para aquele que me levou ao limite.

Mas nós conseguimos. De alguma forma, nós conseguimos.

— Vamos dar uma olhada no nosso novo lugar. — Eu beijei Drake


enquanto ele se contorcia — ele deve estar com fome — então o coloquei na
curva do meu braço. Com uma mão, levantei a próxima mochila da pilha, mas
tinha esquecido o quão pesada ela era. A alça de nylon escorregou dos meus
dedos, a bolsa caiu no chão. — Droga.

— Eu vou pegar. — Uma voz profunda e áspera soou atrás de mim, então
veio o barulho de botas no cascalho.

Eu me levantei, pronta para sorrir e me apresentar, mas no segundo em


que vi o homem andando em minha direção, meu cérebro deu um nó.

Alto. Musculoso. Tatuado. Lindo.

Por que eu continuei dirigindo na noite passada? Por que eu não tinha
parado em um hotel com chuveiro?

Eu não estava em nenhum lugar para me apaixonar por um cara. A nova


Memphis — mamãe Memphis — estava muito ocupada tirando manchas de
comida de bebê de suas camisas para se enfeitar para os homens. Mas a velha
Memphis — solteira, rica e sempre pronta para um orgasmo ou dois, Memphis
— realmente gostava de homens barbudos e sensuais.

Ele se inclinou e pegou a mochila antes de pegar a maior mala do porta-


malas. Seus bíceps esticaram as mangas de sua camiseta cinza enquanto ele
os carregava para a garagem. Quadris estreitos. Antebraços musculosos.
Pernas compridas cobertas por jeans desbotados.

Quem era ele? Ele morava aqui? Isso importava?

Drake chorou e aquele som apagou o raio laser que tinha sido meu olhar
na bunda esculpida desse cara.

O que diabos havia de errado comigo? Dormir. Eu precisava dormir.


Antes que alguém pudesse me pegar olhando, eu deixei cair meu queixo
e corri atrás dele, parando o suficiente para pegar a bolsa de fraldas do banco
de trás.

O metal na escada fazia um zumbido baixo a cada passo. O homem


estava quase chegando ao patamar quando Eloise saiu.

— Bom, você está ajudando. — Ela sorriu para ele, então acenou para
todos nós entrarmos. — Knox Eden, conheça Memphis Ward. Memphis, este é
o meu irmão Knox. Esta é a casa dele.

Knox largou as malas e ergueu o queixo. — Oi.

— Oi. Este é Drake. Obrigada por nos alugar seu apartamento.

— Tenho certeza de que outro local será aberto na cidade. — Ele lançou
um olhar para Eloise. — Em breve.

A tensão que rolava pelo loft era mais densa do que o tráfego na East
Thirty-Fourth da FDR Drive até a Fifth Avenue.

Winslow estudou os pisos cor de mel enquanto Eloise estreitava o olhar


para seu irmão.

Enquanto isso, Knox não fez nada para disfarçar a irritação em seu
rosto.

— É, hum... este lugar não está para alugar? — Seria como chegar a
algum lugar que eu não fosse bem-vinda.

— Não, não está — ele disse enquanto Eloise disse, — Sim, está..

— Não quero causar nenhum problema. — Meu estômago revirou. —


Talvez devêssemos encontrar outro lugar.

Eloise cruzou os braços sobre os seios , erguendo as sobrancelhas


enquanto esperava que seu irmão falasse. Ela era bonita demais para ser
intimidante, mas eu não gostaria de receber esse olhar.

— Tudo bem — resmungou Knox. — Fique o tempo que precisar.

— Tem certeza? — Porque parecia demais que ele estava mentindo. Eu


ouvi meu quinhão de mentiras como uma socialite de New York.
— Sim. Vou pegar o resto de suas malas.

Knox passou por mim, o cheiro de sálvia e sabão enchendo meu nariz.

— Desculpe. — Eloise pôs as mãos nas bochechas. — Ok, eu preciso ser


honesta. Quando você ligou e disse que não havia apartamentos na cidade, eu
fiz algumas verificações também. E você está certa. Nada estava disponível na
sua faixa de preço.

Eu gemi. Então ela me penhorou ao seu irmão relutante. Eu era um caso


de caridade.

A velha Memphis teria recusado caridade.

Mamãe Memphis não tinha esse luxo.

— Não quero me intrometer.

— Você não está, — disse Eloise. — Ele poderia ter me dito não.

Por que eu tinha a sensação de que era difícil para as pessoas dizerem
não a ela? Ou que ela raramente aceitasse isso como resposta? Afinal, foi por
isso que eu dirigi até aqui.

Depois de uma entrevista de uma hora no Zoom, me apaixonei pela ideia


de trabalhar para Eloise e nem tinha visto as instalações do hotel. Ela sorriu e
riu durante a nossa conversa. Ela perguntou sobre Drake e elogiou meu
currículo.

Eu aceitei esse emprego, não porque aspirasse limpar quartos, mas


simplesmente porque ela era o anti-Pai. Não havia nada frio, implacável ou
astuto em Eloise. Meu pai a odiaria.

— Você tem certeza disso? — Eu perguntei.

— Absolutamente. Knox simplesmente não está acostumado a ter


pessoas aqui. Mas vai ficar bem. Ele vai se ajustar.

Foi por isso que ele construiu uma casa cheia de vidro? Aqui, ele não
precisava da privacidade das paredes. A localização deu-lhe reclusão. E eu
estava me intrometendo.
Não tínhamos contrato de locação. Assim que uma vaga na cidade foi
aberta, duvidei que Knox se importaria em perder meu cheque de aluguel.

Ele veio subindo a escada, o som de suas botas reverberando pelo loft.
Sua figura encheu a porta enquanto entrava carregando mais três malas.

— Eu posso pegar o resto, — eu disse, quando as colocava no chão. — E


vou ficar quieta. Você nem vai saber que estamos aqui.

Drake escolheu aquele momento para soltar um grito antes de se


aninhar em meu peito.

A boca de Knox franziu em uma linha fina, antes de recuar pelas


escadas.

— Podemos ajudá-la a desfazer as malas? — perguntou Winslow. —


Prefiro ficar aqui do que voltar a patrulhar e multar por excesso de velocidade.

— Não, tudo bem. Eu posso lidar com isso. Não há muito. — Apenas
minha vida inteira em sacos. — Obrigada por me resgatar hoje.

— A qualquer momento.

— Ainda temos uma orientação amanhã? — Perguntei a Eloise.

— Claro. Mas se você quiser um ou dois dias para se acomodar antes do


trabalho...

— Não. — Eu balancei minha cabeça. — Eu gostaria de pular direto.

Mergulhe de cabeça nesta nova vida. Drake estará começando na creche


amanhã e embora odiasse deixá-lo por um dia, essa era a vida de uma mãe
solteira.

O custo da creche engoliria trinta e um por cento da minha renda.


Quincy tinha um custo de vida baixo em comparação com as cidades maiores
de Montana, e alugar este loft por apenas trezentos dólares por mês, me
permitiria construir um pé de meia, mas dias de folga não eram uma opção.
Ainda não.

A vida teria sido mais fácil, financeiramente, em New York. Mas não seria
uma vida. Seria uma pena de prisão.
— Ok. — Eloise aplaudiu. — Então, te vejo amanhã. Vá quando estiver
pronta.

— Obrigada. — Eu estendi minha mão mais uma vez, porque apertar a


mão dela era importante. Foi uma das poucas lições que meu pai me ensinou
que eu não detestava.

— Estou tão feliz que você está aqui.

— Eu também.

Winslow e Eloise acenaram enquanto saíam pela porta. Outro gemido de


Drake me fez entrar em ação, tirando uma garrafa do saco de fraldas antes de
nos acomodarmos no sofá. Enquanto ele tomava, eu examinei meu novo lar
temporário.

As paredes brancas eram combinadas com a linha do telhado e uma


grossa viga de madeira da cor do piso percorria o espaço. Três janelas no sótão
haviam sido colocadas na lateral que dava para a casa, dando-me uma visão de
Juniper Hill e das montanhas Índigo, além. Alcovas e meias paredes criaram
diferentes compartimentos na planta baixa.

Do outro lado do sofá e atrás de uma divisória, havia uma cama coberta
com uma colcha de retalhos. A cozinha ficava de um lado do loft, ao lado da
porta, enquanto o banheiro ficava do lado oposto. O espaço era grande o
suficiente para um chuveiro, pia e vaso sanitário.

— Você vai ter que tomar banho na pia, — eu disse a Drake, tirando a
mamadeira vazia de sua boca.

Ele olhou para mim com seus lindos olhos castanhos.

— Eu te amo. — Eu não tinha dito isso a ele o suficiente nesta viagem.


Não tivemos momentos como este, apenas nós dois juntos. — O que você pensa
sobre isso?

Drake piscou.

— Eu gosto disso também.

Eu o fiz arrotar, então peguei um cobertor de bebê, colocando-o no chão


enquanto corria para trazer as últimas duas cargas e desfazer as malas.
Horas depois, minhas roupas estavam dobradas e guardadas na primeira
e única cômoda. As gavetas embutidas na estrutura da cama, eu usei para as
roupas de Drake. O pequeno armário estava cheio quando pendurei alguns
casacos e suéteres, depois guardei as malas grandes com as malas menores
dentro, cheias de bolsas e mochilas.

Comprei dois sanduíches no último posto de gasolina em que parei,


pensando que não daria tempo de fazer compra em uma mercearia, então comi
meu presunto seco e meu queijo suíço, com um pouco de água, e dei a Drake
seu primeiro banho na pia da cozinha.

Ele adormeceu em meus braços antes de eu colocá-lo em seu berço


portátil. Eu coloquei energia suficiente para tomar banho e lavar meu cabelo,
então caí segundos depois de minha cabeça bater no travesseiro.

Mas meu filho não estava me deixando descansar esses dias e pouco
depois das onze, ele acordou com fome e agitado. Uma mamadeira, uma fralda
limpa e uma hora depois, ele não mostrava sinais de sono.

— Oh bebê. Por favor. — Andei de um lado para o outro do loft, passando


pelas janelas abertas, esperando que o ar limpo e frio o acalmasse.

Exceto que Drake não estava aceitando. Ele chorou e chorou, como fazia
na maioria das noites, se contorcendo porque simplesmente não estava
confortável.

Então eu andei e o balancei a cada passo.

Uma luz da casa de Knox se acendeu quando passei por uma janela. Um
flash de pele chamou minha atenção e parou meus pés.

— Uau.

Knox estava sem camisa, vestindo apenas uma cueca boxer preta. Eles
se moldaram às suas coxas fortes. O cós se agarrava ao V em seus quadris.

Meu vizinho, meu senhorio, não era apenas musculoso, ele era bem
definido. Ele era uma sinfonia de músculos ondulados que tocava em perfeita
harmonia com seu belo rosto.

Pura tentação, parado na janela de uma mulher que não podia se dar ao
luxo de se desviar de seu caminho.
Mas qual era o mal em um olhar?

Parei ao lado da moldura da janela, ficando fora de vista, e roubei outro


olhar enquanto ele levantava uma toalha para secar as pontas de seu cabelo
escuro.

— Nem tudo sobre hoje foi ruim, foi? — Perguntei a Drake enquanto
Knox saía de seu quarto. — Pelo menos temos uma ótima visão.
CAPÍTULO DOIS
KNOX
Não havia nenhum lugar que eu preferisse estar do que na minha
cozinha, uma faca na mão, com os aromas de ervas frescas e pão assado
rodopiando no ar.

Eloise passou pela porta de vaivém que ligava a cozinha ao restaurante.


— E bem, aqui é a cozinha.

Correção. Não havia nenhum lugar que eu preferisse estar do que ficar
sozinho na minha cozinha.

— Não é incrível? — ela perguntou por cima do ombro.

Memphis saiu de trás de Eloise, e olhei duas vezes. Seu cabelo loiro era
liso e elegantemente cortado sobre seus ombros. As luzes brilhantes realçaram
as manchas caramelo em seus olhos castanhos. Suas bochechas estavam
rosadas e seus lábios macios pintados de um rosa pálido.

Bem... Porra.

Eu estava em apuros.

Era a mesma mulher que conheci ontem, mas ela estava muito longe da
pessoa esgotada e exausta que se mudou para o loft. Memphis era...
impressionante. Eu pensei o mesmo ontem, mesmo com círculos azuis sob
seus olhos. Mas hoje sua beleza era uma distração. Problema.

Eu não tinha tempo para problemas.

Especialmente quando se tratava do meu novo inquilino.

Minha faca passou por um molho de coentro, minha mão se movendo


mais rápido enquanto eu me concentrava na tarefa em mãos e ignorava essa
intrusão.

— Se a geladeira da sala de descanso estiver cheia, você pode guardar


seu almoço aqui, — disse Eloise, gesticulando para a entrada.
Espere. O que? A faca caiu da minha palma das mãos, quase atingindo
um dedo. Ninguém guardava o almoço aqui. Nem mesmo meus garçons. Então,
eles raramente tinham que trazer refeições porque eu normalmente cozinhava
uma refeição para eles. Ainda... isso estava fora dos limites.

Eloise sabia que estava fora dos limites. Exceto, que minha irmã
maravilhosamente irritante, parecia determinada a forçar Memphis em todos
os aspectos da minha vida. Minha casa não era suficiente? Agora, minha
cozinha?

— Ok. — Memphis assentiu, examinando a sala, olhando para todos os


lugares, menos para onde eu estava no balcão de preparação de aço inoxidável,
no centro do espaço.

Ela inspecionou o fogão a gás ao longo de uma parede, então a máquina


de lavar louça industrial em suas costas. Nas paredes havia prateleiras cheias
de pratos de cerâmica limpos e canecas de café. Ela estudou o piso de
ladrilhos, as fileiras de temperos e prateleiras abarrotadas de panelas e
frigideiras penduradas.

— Aqui está a máquina de gelo. — Eloise foi até o refrigerador,


levantando a tampa. — Fique à vontade.

— Tudo bem. — A voz de Memphis não era mais do que um murmúrio,


enquanto ela colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha. Ela prometeu
ontem ficar quieta. Acho que ela pretendia manter esse voto no hotel também.

Olhei para Eloise, então empurrei meu queixo para a porta. O passeio
acabou. Esta era uma cozinha. Apenas uma cozinha comercial com luzes
brilhantes e eletrodomésticos brilhantes. E eu estava ocupado. Este era o meu
tempo sozinho para respirar e pensar.

Mas Eloise entendeu a dica e foi embora?

Claro que não. Ela ocupou um espaço contra a minha mesa e se


inclinou. Por que diabos ela estava se inclinando?

Eu apertei meus dentes e peguei minha faca, segurando o cabo até meus
dedos ficarem brancos. Normalmente, eu diria a Eloise para ir embora, mas eu
estava sendo legal no momento. Muito agradável.
Essa gentileza foi a razão pela qual eu concordei em deixar Memphis
dormir no loft acima da minha garagem. Minha irmã pediu um favor e, no
momento, eu estava concedendo todos. Em breve, teríamos uma conversa
difícil. Uma que eu temia e evitava. Uma que mudaria nosso relacionamento.

Até então, eu a deixaria invadir minha cozinha e permitir que seu mais
novo funcionário ficasse em minha casa.

— Então esse é o hotel, — disse Eloise a Memphis.

— É lindo, — disse Memphis. — De Verdade.

Eloise circulou a sala com um dedo. — Knox renovou a cozinha e o


restaurante, no inverno passado. Foi quando meus pais anexaram o prédio ao
lado para eventos.

— Ah. — Memphis assentiu, ainda olhando para qualquer lugar, menos


para mim.

A trituração de coentro sob minha faca preencheu o silêncio.

Meus pais eram donos do hotel, The Eloise Inn, mas o restaurante e a
cozinha eram meus. O próprio edifício que incorporamos como uma entidade
separada, as ações divididas igualmente entre nós.

Originalmente, este espaço era uma cozinha industrial menor, anexada a


um salão de festas básico. Eles alugaram o espaço para casamentos e eventos,
mas quando me mudei de San Francisco anos atrás, enchi a sala com mesas.
Ele funcionou como um restaurante por um tempo, mas faltava estilo e fluxo.
Quando eu disse a mamãe e papai que queria convertê-lo em um restaurante
de verdade, eles aproveitaram a chance de expandir o hotel e pegar o prédio ao
lado.

De acordo com nossas projeções, o anexo se pagaria nos próximos cinco


anos. Minhas reformas se pagariam em três, supondo que o tráfego no
restaurante não diminuísse. Considerando que eu tinha o único restaurante de
luxo da cidade, felizmente dominei esse mercado.

— Você se importaria se eu saísse por um minuto? — Memphis


perguntou a Eloise. — Eu gostaria de ligar e checar a creche de Drake. Ter
certeza de que ele está bem.
— Claro. — Eloise se endireitou, escoltando-a até a porta e finalmente
me deixando em paz.

Coloquei o coentro de lado e fui até o balcão pegar um punhado de


tomates. Então empurrei as mangas do meu casaco de chef branco, ainda não
manchado, pelos meus antebraços antes de voltar a cortar.

Eu poderia administrar este hotel? Eu queria mesmo? A mudança estava


no horizonte. Havia decisões a tomar e temia todas elas.

Além das reformas, muita coisa havia mudado aqui no ano passado.
Principalmente, a atitude dos meus pais. Além do rancho da nossa família, o
Eloise Inn tinha sido o empreendimento que mais consumia tempo. Seu desejo
de manter um dedo no pulso do hotel estava diminuindo. Velozmente.

Agora que papai se aposentou da administração do rancho e passou o


controle para meu irmão mais velho, Griffin, mamãe e papai pareciam com
pressa de descarregar o resto de seus negócios para nós, crianças.

Isso e papai se assustou. À medida que a demência do tio Briggs


progredia, papai se convenceu de que seria o próximo. Enquanto sua mente
estava fresca, ele queria sua propriedade resolvida.

Griffin sempre amou o rancho Eden. A terra era uma parte de sua alma.
Talvez fosse por isso que o resto de nós não tinha se interessado pelo negócio
do gado. Porque Griffin era o mais velho e reivindicou essa paixão primeiro. Ou
talvez essa paixão fosse apenas uma parte de seu sangue. Nossa família tinha
fazendas por gerações e ele herdou esse amos por ser fazendeiro mais do que
podíamos compreender.

Mamãe sempre dizia que papai deu seu amor pelo rancho para Griffin,
enquanto ela passou o seu amor por cozinhar para minha irmã Lyla e para
mim.

Meu sonho sempre foi ter um restaurante. Lyla também, embora ela
preferisse algo pequeno, possuir Eden Coffee se encaixava perfeitamente.

Talia não se interessou por nenhum dos negócios da família, então usou
seu cérebro de herança para frequentar a faculdade de medicina.
Mateo ainda era jovem. Aos vinte e três anos, ele ainda não tinha
decidido o que queria fazer. Ele trabalhava no rancho para Griffin. Ele fazia
alguns turnos toda semana para Eloise, cobrindo quando ela estava com
poucos funcionários na recepção — o que era frequente.

Eloise adorava o Eloise Inn e trabalhava como gerente do hotel.

Minha irmã era o coração deste hotel. Ela o adorava, como eu adorava
cozinhar. Como Griffin adorava a pecuária. Mas meus pais não a abordaram
para assumir o controle.

Em vez disso, vieram até mim.

Suas razões eram sólidas. Eu tinha trinta anos. Eloise tinha vinte e
cinco. Eu tinha mais experiência com gestão de negócios e mais dólares em
minha conta bancária para recorrer. E embora Eloise adorasse este hotel, ela
tinha um coração suave e gentil.

Era a razão pela qual mamãe e papai tinham acabado de sair de um


processo desagradável.

Seu coração terno também foi a razão pela qual ela contratou Memphis.

Isso e desespero.

Nossa proximidade com o Parque Nacional Glacier trouxe pessoas de


todo o mundo para Quincy. Turistas afluíram a esta área de Montana. Dado
que o The Eloise era o melhor hotel da nossa cidade, durante os meses de
verão estávamos sempre lotados.

A rotatividade no departamento de limpeza era constante e recentemente,


perdemos dois funcionários para trabalhos administrativos. Suas vagas
estavam abertas há seis semanas.

Eloise tinha ido para a limpeza dos quartos. Assim como Mateo. Mamãe
também. Com a correria do feriado se aproximando rapidamente, não
podíamos nos dar ao luxo de ficar com falta de pessoal. Quando Memphis se
candidatou e concordou em se mudar para Quincy, Eloise ficou em êxtase.

Não só Memphis era um corpo humano capaz — um corpo sexy e ágil, —


mas também era tão qualificada para um trabalho de limpeza que, a princípio,
Eloise achou que sua inscrição era uma piada. Após a entrevista virtual, Eloise
disse que era um sonho tornado realidade.

Fiquei feliz por minha irmã, porque contratações sólidas eram difíceis de
encontrar. Essa felicidade durou uma semana inteira até que Eloise apareceu
na minha porta e me implorou para deixar Memphis morar no loft.

Eu preferia uma vida solitária. Eu preferia ir para uma casa vazia. Eu


gostava de paz e sossego.

Não haveria nada disso com Memphis e seu bebê no loft. Aquele garoto
chorou por horas na noite passada, tão alto que eu ouvi.

Havia uma razão pela qual eu construí minha casa em Juniper Hill e não
em um terreno no rancho. Distância. Minha família poderia visitar e se eles
precisassem passar a noite porque beberam demais, bem... eles poderiam ficar
no loft. Sem pavimento. Sem tráfego. Sem vizinhos.

Meu santuário.

Até agora.

— É temporário, — disse a mim mesma pela milésima vez.

A porta de vaivém que dava para o restaurante se abriu e Eloise entrou


mais uma vez, com um largo sorriso no rosto.

Olhei por cima do ombro dela, procurando por Memphis, mas Eloise
estava sozinha. — E aí?

— O que você está fazendo? — Ela pairou sobre meu ombro.

— Pico de Gallo. — Eu não tinha um cardápio enorme, mas era o


suficiente para dar aos moradores e hóspedes do hotel alguma variedade. A
cada fim de semana, o menu do jantar apresentava uma entrada especial. Mas,
na maioria das vezes, o café da manhã e o almoço eram consistentes.

— Sim. Você pode fazer um prato de tacos para Memphis?

A faca na minha mão congelou. — O que?

— Ou qualquer outra coisa que você tenha em mãos. Percebi que ela não
trouxe nada com ela esta manhã.
O relógio na parede mostrava que eram dez e meia. Minhas duas
garçonetes estavam na sala de jantar, enrolando talheres em guardanapos de
pano e reabastecendo saleiros e pimenteiros. As segundas-feiras não eram
tipicamente ocupadas, mas também não eram tranquilas.

Não havia tal coisa como silêncio nos dias de hoje.

Aparentemente, nem mesmo na minha própria casa ou cozinha.

— Eu não fazia o almoço das outras camareira.

— Knox, por favor. Ela acabou de chegar aqui. Duvido que ela tenha tido
a chance de ir ao supermercado.

— Então deixe-a sair mais cedo. Você não precisa dela limpando hoje.

— Não, mas temos papelada para fazer. E vídeos de orientação. Tenho a


impressão de que ela gostaria das horas. A creche é cara. Por favor?

Suspirei. Por favor. Eloise empunhava essa única palavra como um


guerreiro faria com uma espada. E eu estava sendo legal. — Bem.

— Obrigada. — Ela arrancou um pedaço de tomate da tábua e o colocou


na boca.

— Qual é a história dela?

— O que você quer dizer?

— Aquele bebê tem a mesma idade que Hudson. — Nosso sobrinho tinha
dois meses, e Winslow, embora tivesse feito um turno aqui e ali, ainda estava
de licença maternidade. — Não é muito jovem ter um filho na creche em tempo
integral?

— Ela é uma mãe solteira que trabalha, Knox. Nem todo mundo tem o
luxo da licença maternidade.

— Eu entendo isso, mas... qual é a história com o pai da criança? Por


que ela se mudou de New York para Montana? E por que ela fez essa viagem
sozinha? Não é uma viagem segura, especialmente com um bebê. Ela deveria
ter ajuda. Como uma mulher educada e linda acabou viajando pelo país
sozinha com um bebê e o que parecia ser cada um de seus pertences enfiados
em um Volvo?
— Não sei, porque não é da minha conta. Se Memphis quiser falar sobre
isso, ela vai. — Eloise estreitou o olhar. — Porque as perguntas? Geralmente
sou a curiosa. Você não.

— Ela está morando na minha casa.

— Com medo de que ela vá matá-lo enquanto você dorme? — Eloise


brincou, roubando outro tomate.

— Gostaria de saber quem está na minha propriedade.

— Minha nova funcionária, cuja vida pessoal é dela. E uma mãe nova em
Quincy. É por isso que você vai fazer o almoço dela. Porque eu estou supondo
que ela não teve ninguém para fazer uma refeição para ela em semanas. Fast
food não conta.

Eu fiz uma careta e caminhei pela cozinha, pegando uma tigela, uma
cebola e um limão.

Mais uma vez, Eloise estava se apegando a um funcionário. Depois do


processo, mamãe e papai a alertaram para manter os limites profissionais. Mas
no que diz respeito a Memphis, Eloise já os havia cruzado.

Eu também, no dia em que concordei em deixar uma mulher estranha e


seu filho se mudarem para minha propriedade.

Eloise verificou o relógio. — Estarei na recepção o resto do dia. Memphis


vai trabalhar na papelada na sala dos funcionários e depois passar os vídeos
de orientação. A que horas devo mandá-la aqui para almoçar?

— Onze. — Memphis poderia comer com o resto de nós antes que a hora
do almoço chegasse. — Você precisa descobrir mais sobre a história dela.

— Se você está tão curioso, pergunte-lhe quando ela vier comer. — Eloise
sorriu seu sorriso vitorioso e desapareceu.

Droga. Eu amava minha irmã, mas junto com o grande coração, ela era
ingênua. Fora seus quatro anos de faculdade, ela só morou em Quincy. Esta
comunidade a amava. Ela não percebia o quão desonestas e horríveis as
pessoas podiam ser.
Memphis não tinha feito nada preocupante. Ainda. Mas eu não gostei do
quão pouco sabíamos sobre sua história. Havia muitas perguntas sem
resposta.

Empurrei as preocupações de lado, concentrando-me na preparação que


estou fazendo desde as cinco da manhã. Meus dias começam cedo,
trabalhando antes de abrirmos o restaurante para os hóspedes do hotel, às
sete. Depois de fazer um punhado de omeletes e ovos mexidos esta manhã, eu
estava me preparando para as refeições desta noite. Minha sub chef, Roxanne,
estaria cozinhando o jantar para que eu pudesse ter uma noite de folga.

Os minutos passaram muito rápido e quando a porta se abriu, olhei para


o relógio para ver que eram exatamente onze horas.

— Oi. — Memphis me deu um fantasma de um sorriso.

Com um sorriso de verdade, ela seria mais do que problema. Ela seria
um furacão deixando devastação em seu rastro.

— Um... Eloise disse algo sobre vir almoçar.

— Sim. — Eu balancei a cabeça para o lado oposto da mesa onde eu


mantinha alguns bancos. — Sente-se.

— Eu não preciso de nada. Sério. Tenho certeza de que você está


ocupado e não quero me intrometer.

Antes que eu pudesse responder, Eloise passou pela porta com meu
cozinheiro de linha, Skip, logo atrás dela. — Você não está se intrometendo.

— Ei, Knox. — Skip olhou para Memphis, seus passos vacilando,


enquanto ele olhava duas vezes.

A beleza de Memphis chamou a atenção duas vezes.

— Estamos fazendo o almoço. — Apontei para Skip colocar um avental.

As apresentações podiam esperar. No momento, eu só queria fazer esta


refeição e enviar Eloise e Memphis embora, para que eu pudesse me
concentrar, sem os olhos castanhos chocolate de Memphis acompanhando
cada movimento meu.
Mas Skip conseguiu um avental na fileira de ganchos? Não. Porque
aparentemente, ninguém estava me ouvindo hoje.

— Eu sou Skip. — Ele estendeu a mão.

— Memphis.

— Lindo nome para uma bela dama. O que posso fazer para o almoço? —
Ele segurou a mão dela por um momento longo demais com um sorriso
estúpido no rosto.

— Tacos, — eu rebati, contornando a mesa para pegar um pacote de


tortilhas. — Estamos comendo tacos. Ou estaríamos, se você soltasse a mão
dela e começasse a trabalhar.

— Ignore-o. — Skip riu, mas soltou a mão dela e foi colocar um avental
pela cabeça. Finalmente. Ele amarrou o cabelo grisalho do rosto antes de ir até
a pia para lavar as mãos. O tempo todo que ele trabalhou o sabão em uma
espuma, ele olhava para Memphis.

— Skip, — eu gritei.

— O que? — Ele sorriu, sabendo exatamente o que estava fazendo.

Skip trabalhava na minha cozinha desde que me mudei para casa, cinco
anos atrás. Esta foi a primeira vez que eu quis demiti-lo.

— Então Knox é o dono do restaurante, — disse Eloise, pegando um copo


de água para ela e Memphis. — Meus pais são donos do hotel. Poderá haver
momentos em que pediremos que você ajude a executar as entregas do serviço
de quarto, dependendo de quão ocupados estamos. É uma espécie de
abordagem prática por aqui.

— Fico feliz em ajudar no que for necessário. Você também administra


um serviço de bar? Ou apenas o frigobar do quarto? — perguntou Memphis.

— O que é um serviço de bar? — perguntou Eloise.

— Ah, é uma tendência mais nova, — disse ela. — A maioria dos hotéis
de luxo nas grandes cidades oferece um serviço de bar, como carrinhos Bloody
Mary entregues individualmente ou um serviço de plantão no bar do hotel.

O rosto de Eloise se iluminou.


Merda. — Sem serviço de bar. — Esmaguei aquela ideia antes que
crescesse. — Não temos um bar completo aqui. Tudo que sirvo são cerveja e
vinho. Ambos estão incluídos no menu do serviço de quarto, que é diferente do
menu do restaurante.

— Entendi. — Memphis tomou um gole de sua água, seu olhar correndo


para minhas mãos quando comecei a colocar os pratos.

Skip fez o trabalho de grelhar o camarão que eu comi em uma marinada


rápida.

Os olhos de Memphis se arregalaram quando ele colocou seis em seu


prato, como se esta fosse a primeira refeição de verdade que ela tinha em um
tempo. — Então, hum... como a chefe Éden se encaixa em sua família?

— Ela é casada com nosso irmão mais velho, Griffin, — explicou Eloise.
— Nós somos seis. E você? Algum irmão ou irmã?

— Uma irmã. Um irmão.

— Talvez eles venham para visitar. Damos aos funcionários um desconto


de dez por cento.

Memphis balançou a cabeça, seu olhar caindo para a mesa. — Nós não
somos, hum... próximos.

Isso explicava por que sua irmã ou irmão não tinha vindo para Montana
com ela. Meus irmãos me enlouquecem, mas não consigo imaginar a vida sem
eles. Mas e os pais dela? Memphis não ofereceu mais nada, e Eloise, que eu
normalmente poderia contar para ser intrometida, não perguntou.

Minhas mãos se moveram automaticamente para montar dois pratos e,


quando ficaram prontos, deslizei-os sobre a mesa.

— Obrigada. — Memphis aproximou o prato, dobrando cuidadosamente


um taco antes de dar uma mordida.

Alguns chefs não gostavam de ver as pessoas comendo. Eles temiam a


reação crua. Eu não. Adorava ver a primeira mordida. Nos meus primeiros dias
na escola de culinária, aprendi com as expressões, boas e ruins.

Exceto que eu deveria ter desviado o olhar.


Memphis gemeu. Um sorriso puxou o canto de seus lábios.

Qualquer outra pessoa e eu me daríamos um tapinha nas costas e


consideraría um trabalho bem feito.

Com Memphis, meu coração disparou e uma onda de sangue correu para
minha virilha. Vê-la comer era erótico. Apenas uma outra mulher teve o mesmo
impacto. E ela me fodeu impiedosamente.

Problema. Maldito problema. Eu precisava de Memphis fora da minha


cozinha e, em pouco tempo, fora do meu loft.

— Isso é incrível, — disse ela.

— São apenas tacos, — resmunguei, concentrando-me nos outros pratos.


Eu não queria seus elogios. Prefiro que ela odeie a comida.

— Knox é o melhor, — disse Eloise, dando sua própria mordida.

— Faz muito tempo que ninguém cozinha para mim. — Memphis pegou
uma colherada do meu molho fresco, preparando sua próxima mordida. — A
menos que você conte Ronald McDonald.

A boca de Eloise estava cheia demais para ela falar, mas isso não
importava. Eu disse, estava escrito em todo o rosto dela. Seu telefone tocou e
ela o pegou da mesa, abafando um gemido enquanto engolia. — Eu tenho que
atender. Venha me encontrar quando terminar, — disse a Memphis, antes de
pegar seu prato e sair correndo da cozinha.

A campainha da porta do beco tocou. Nosso fornecedor de alimentos


vinha todas as segundas-feiras. Deus o abençoe por estar três horas adiantado.
Era a desculpa perfeita para escapar dessa cozinha, mas antes que eu pudesse
fazer alguma coisa, Skip desligou a parte de cima e desamarrou o avental. —
Eu vou atender. Você come.

— Obrigado, — eu disse com os dentes cerrados.

Não levei meu prato para o banco ao lado de Memphis. Eu devorei um


taco enquanto estava ao lado da mesa de preparação. O som de nossa
mastigação se misturou com a voz abafada de Skip enquanto ele conversava
com o entregador.
Então um telefone tocou.

Memphis colocou a comida na mesa e tirou o telefone do bolso. Ela


franziu a testa para a tela, então silenciou a chamada. Nem dois segundos
depois, tocou novamente. Ela recusou também. — Desculpe.

— Você precisa atender?

— Não, está bem. — Exceto que a tensão em seu rosto dizia que não
estava bem. E ela não tocou na comida novamente. Que diabos? — Obrigada
pelo almoço. Estava uma delícia.

Eu acenei para ela quando ela se levantou para limpar seu prato. —
Apenas deixe.

— Oh, tudo bem. — Ela enxugou as mãos na calça cinza. Seu suéter
preto estava pendurado em seus ombros, como se uma vez tivesse servido, mas
agora estava muito solto. Então ela se foi correndo para fora da cozinha com o
telefone na mão.

Skip veio pelo corredor com uma caixa, colocando-a sobre a mesa. O
entregador seguiu com a nota.

Assinei e comecei a guardar meus produtos no balcão.

— Então quem é? — Skip perguntou. — Nova recepcionista?

— Camareira.

Ele sorriu. — Ela é linda. Você está interessado?

— Não, — eu menti, pegando uma maçã para passar meu polegar pela
casca tenra e cerosa. — Quando a correria do almoço acabar, vamos fazer uma
torta de maçã ou duas para o menu de sobremesas do jantar.

Em outra vida, outro mundo, eu perseguiria uma mulher como Memphis.


Mas eu passei os últimos cinco anos na realidade.

Ela era funcionária do hotel. Minha inquilina temporária. Nada mais.

Memphis Ward não era da minha conta.


CAPÍTULO TRÊS
MEMPHIS
Os números no relógio do micro-ondas me provocavam enquanto eu
andava de um lado para o outro no loft. A cada volta, o brilho verde chamava
minha atenção e ganhava um suspiro de desespero.

Três e dezenove.

Drake estava chorando desde a uma.

Eu estava chorando desde as duas.

— Bebê. — Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. — Não sei o que fazer
por você.

Ele lamentou, seu rosto vermelho e seu nariz franzido. Ele parecia tão
miserável quanto eu me sentia.

Eu lhe dei uma mamadeira. Eu troquei a fralda dele. Eu o cobrir . Eu o


embalei em meus braços. Eu o apoiei contra um ombro.

Nada havia funcionado. Nada que eu tentasse o fazia parar de chorar.

Nada que eu estava fazendo era... certo.

Todas as novas mães se sentiam tão impotentes?

— Shh. Shh. Shh. — Caminhei em direção a uma janela aberta,


precisando de um pouco de ar fresco. — Está bem. Tudo vai dar certo.

Antes de eu sair de New York, seu pediatra me disse que as cólicas


geralmente atingem o pico com seis semanas de idade, depois começam a
diminuir. Mas em Drake parecia estar piorando.

Suas pernas endureceram. Seus olhos estavam bem fechados. Ele se


contorceu, como se a última pessoa na terra com quem ele queria estar, fosse
eu.

— Está tudo bem, — eu sussurrei enquanto meu queixo tremia. Isso


passaria. Eventualmente, isso iria passar. Ele nunca saberia como me
atormentou quando criança. Ele nunca saberia que eu estava pairando acima
do fundo do poço. Ele nunca saberia que ser mãe era tão difícil.

Ele simplesmente saberia que eu o amava.

— Eu te amo bebê. — Beijei sua testa e fechei os olhos.

Deus, eu estava cansada. Eu parei de amamentar porque ele era muito


exigente. Talvez isso tenha sido um erro. A cara fórmula que deveria ajudar,
apenas esgotou minha conta bancária.

Meus pés doem. Meus braços doem. Dói-me as costas.

Meu coração dói.

Talvez estivesse acima da minha cabeça. Talvez essa mudança tenha sido
uma ideia horrível. Mas a alternativa...

Não havia alternativa. E como estava aqui há menos de uma semana,


não estava pronta para chamar isso de erro. Ainda não.

Não desista.

— Mais um dia, certo? Vamos levar mais um dia, depois descansaremos


neste fim de semana.

Amanhã — ou hoje — eu estaria consumindo um café com leite triplo


antes de ir para o hotel. A cafeína me ajudaria na sexta-feira. E neste fim de
semana, recarregaríamos.

Eu só tinha que sobreviver a mais um dia.

Meus primeiros quatro dias no The Eloise Inn passaram voando.


Segunda-feira, eu passei fazendo papelada e orientação. Terça-feira, eu pulei
para a limpeza. Depois de três dias esfregando, tirando o pó, aspirando e
arrumando as camas, todos os músculos do meu corpo doíam. Músculos que
eu nem sabia que existiam estavam gritando.

Mas foi uma boa semana. Certo, mas os dias bons não foram tantos, mas
chegamos na quinta- ou sexta-feira e isso é uma vitória.

Drake tinha sido um anjo na creche. Todas as noites, quando o pegava,


eu me preparava para a notícia de uma expulsão. Mas Drake parecia guardar
esses ataques para a noite. Na noite, quando a única pessoa por perto para
ouvi-lo chorar era eu.

Secando as últimas lágrimas, me afastei da janela e retomei o passeio.


Seu choro não parecia tão alto quando eu estava em movimento.

— Shh. — Eu o balancei suavemente, embalando-o em um braço


enquanto minha outra mão acariciava sua barriga. Talvez fosse gases. Eu
tentei as gotas antes de colocá-lo em seu berço às oito. Devo dar-lhe mais?

A maternidade, eu aprendi nos últimos dois meses, não era nada mais do
que um ritual de adivinhação.

Eu bocejei, arrastando uma longa respiração. A energia para chorar


estava diminuindo. Eu deixaria meu filho carregar aquela tocha pelo resto da
noite.

— Quer experimentar sua chupeta novamente? — Eu perguntei,


andando até o balcão da cozinha onde a tinha deixado mais cedo. Eu tentei por
volta das duas e meia. Ele tinha cuspido.

— Aqui, bebê. — coloquei a chupeta em sua boca, esperando que ele a


pegasse. Ele chupou por um segundo, e nesse segundo, o loft estava tão quieto
que eu podia realmente ouvir meus próprios pensamentos. Então a chupeta foi
voando para o chão e se os bebês pudessem falar, ele teria me dito para enfiar
aquela imitação de mamilo de plástico na minha bunda.

Seus gritos tinham esse ritmo staccato com um engate cada vez que ele
precisava respirar.

— Oh bebê. — Meus olhos inundaram. Aparentemente, minhas lágrimas


não haviam desaparecido afinal. — O que estou fazendo errado?

Uma batida sacudiu a porta, cortando o barulho de Drake.

Eu gritei. Merda. A luz do lado de fora estava mais brilhante. Eu estava


tão concentrada no bebê que não percebi quando a luz de Knox acendeu.
Limpei meu rosto, fazendo o meu melhor para secá-lo com apenas uma mão,
então corri para a porta, vendo Knox através da pequena janela quadrada em
seu rosto.

Ah, ele não parecia feliz.


Eu virei a trava e abri a porta. — Eu sinto muito. Eu sinto muito. Abri as
janelas para respirar um pouco porque estava abafado e nem pensei que
pudesse ouvi-lo.

O cabelo escuro de Knox estava desgrenhado. As mangas de sua


camiseta cinza haviam sido cortadas, revelando seus braços esculpidos. Ao
luar, a tinta preta das tatuagens se misturava quase invisivelmente com sua
pele bronzeada. A calça de moletom que ele usava era baixa em sua cintura
estreita, caindo até seus pés descalços.

Ele cruzou a entrada de cascalho sem sapatos.

Eu engoli em seco. Ou ele tinha os pés muito duros ou estava muito


chateado. Dada a tensão em seu maxilar, provavelmente o último.

— Desculpe. — Olhei para Drake, desejando que ele parasse. Por favor
pare. Cinco minutos. Então você pode gritar até o amanhecer. Apenas pare por
cinco minutos.

— Ele está doente? — Knox cerrou as mãos nos quadris.

— Ele tem cólicas.

O peito largo de Knox se ergueu quando ele respirou fundo. Ele passou a
mão pelo queixo barbudo antes de cruzar os braços sobre o peito. Deus, ele
tinha muitos músculos. A carranca em seu rosto só aumentava seu apelo.

A velha Memphis queria sair e jogar sujo quando Knox estava por perto.
Ela queria puxar os longos fios de cabelo que enrolavam em sua nuca.

Por favor pare. Isso era para mim, não para Drake. Haveria tempo para
fantasiar sobre Knox mais tarde, quando Drake tivesse dezoito anos e fosse
para a faculdade. Eu trancaria essa imagem mental para quando meu filho não
estivesse gritando e eu não estivesse chorando. Quando eu dormisse por mais
de duas horas seguidas.

— Ele sempre chora? — perguntou Knox.

— Sim. — A verdade era tão deprimente quanto mentir. — Vou fechar


minhas janelas.
Knox baixou o olhar para meu filho e a expressão de dor que cruzou seu
rosto me fez querer subir no meu carro e dirigir para muito, muito longe.

— Sinto muito, — eu sussurrei.

Por Knox. Por Drake.

Outra verdade deprimente. Esse pedido de desculpas era tudo que eu


tinha para dar.

Knox não disse mais uma palavra enquanto descia as escadas,


atravessou o espaço entre a garagem e a casa, estremecendo a alguns passos
no cascalho, antes de desaparecer em sua casa.

A caça ao apartamento acabou de ser colocada na lista de tarefas.

— Droga. — Eu pisei no patamar, deixando o ar frio acalmar o rubor do


meu rosto. — Baby, precisamos controlar isso. Não podemos ser expulsos.
Ainda não.

Drake soltou outro grito e então, como se pudesse sentir meu desespero,
respirou fundo e fechou a boca.

Eu congelei, deixando o ar da noite passar por nós e entrar no


apartamento. Prendi a respiração e contei os segundos, imaginando quanto
tempo duraria.

Drake se contorceu e soltou um gemido, mas então seus olhos se


fecharam.

Durma. Por favor, durma.

Seu peito tremia com os soluços secundários depois um choro tão


grande. Os soluços atormentavam seu corpo minúsculo, mas ele se
aconchegou mais profundamente em meus braços e desistiu da luta.

— Obrigada. — Inclinei minha cabeça para as estrelas. Cada uma era


uma joia espalhada em seda preta revestida de pó de diamante. Havia tantas
aqui fora, mais do que eu já tinha visto na minha vida. — Uau.

A luz do quarto de Knox se apagou.


O que o carma estava fazendo, me colocando ao lado de um homem tão b
om? Era um teste para ver se eu realmente havia mudado?

Um ano atrás, eu teria piscado meus cílios e colocado meu vestido mais
sexy com saltos de quinze centímetros. Eu teria flertado e provocado até que
ele me desse a atenção que eu desejava. Então, quando me cansasse do jogo,
teria usado meu batom vermelho-rubi e deixado listras por todo o seu corpo.

Aquele tubo de batom estava em algum lugar de New York, em uma caixa
com meus vestidos mais sexy e saltos de quinze centímetros. Talvez meus pais
tivessem jogado aquela caixa no lixo. Talvez um de seus assistentes tivessem
guardado em um depósito onde acumularia poeira por anos.

Nada disso importava.

Eu não precisava de batom, não aqui.

E suspeitei que Knox não fosse um homem típico. Ele provavelmente


teria rido da tentativa de transformá-lo em meu brinquedo pessoal. Eu gostava
disso nele.

Um bocejo forçou meus olhos para longe do céu e recuei para dentro. Ao
invés de arriscar colocar Drake em seu berço e acordá-lo, o levei para minha
cama, bloqueando-o com alguns travesseiros. Então eu me enrolei ao seu lado
com minha mão em sua barriga.

Haveria apenas um homem na minha cama.

Meu homenzinho.

Quando meu despertador tocou às seis, acordei de repente, mais grogue


do que tinha estado em anos. Drake ainda estava dormindo, então eu o deixei
na cama e corri para o banho. Não tinha cafeteira no loft, provavelmente
porque qualquer um dos convidados de Knox simplesmente andaria até sua
cozinha gigantesca para tomar uma xícara matinal.

Se eu tivesse dinheiro suficiente depois do aluguel, creche, gasolina,


comida, fórmula, fraldas e algumas roupas novas para Drake porque as suas
estavam minúsculas, eu compraria uma cafeteira com meu primeiro salário.
Ou beberia o café grátis no hotel porque já sabia que não haveria dinheiro.
Essa palavra havia mudado em dois curtos meses. Antigamente, o
dinheiro tinha sido um conceito. Uma reflexão tardia. Agora, era um luxo
perdido.

Eu troquei pelo meu filho.

Drake acordou quando troquei seu pijama por roupas e bocejei tantas
vezes. enquanto o preparava para a creche que meu maxilar doeu. Nem mesmo
o sol brilhante da manhã poderia afugentar a névoa do meu cérebro quando saí
e corri para o meu carro.

A caminhonete de Knox já havia desaparecido. No começo, assumi que


ele estacionava na garagem, mas depois percebi que ele estacionava do lado de
fora, mais perto da casa.

— Ooo-ooh, — Drake arrulhou quando seu assento de carro clicou na


base.

— Sexta-feira, querido. Vamos passar pela nossa sexta-feira, ok?

Deixá-lo na creche era doloroso, como tinha sido todas as manhãs desta
semana. Eu odiava deixar Drake com outra pessoa. Eu odiava perder suas
horas felizes. Mas não era como se eu pudesse limpar quartos de hotel com um
bebê amarrado ao peito.

Não havia escolha. O dinheiro que economizei com meu trabalho em New
York estava quase no fim. A maior parte usei para comprar o Volvo. O resto
estava guardado para caso de emergência.

Então, Drake iria para a creche.

Enquanto eu construía uma vida para nós com minhas próprias mãos,
suor e lágrimas.

A Main Street era a minha parte favorita desta pequena cidade. Era o
coração e o centro de Quincy. Lojas de varejo, restaurantes e escritórios
lotavam os quarteirões. O Eloise, orgulhoso como o edifício mais alto à vista.

Olhei ansiosa para Eden Coffee enquanto passava. Eloise me contou que
sua irmã mais velha, Lyla, era a proprietária. Lattes já foram importante na
minha dieta. E embora eu tivesse uma nota de vinte na minha bolsa e
planejasse não fazer alarde, não consegui parar.
Não quando o café no hotel era de graça.

Vinte dólares eram mais de uma hora de trabalho.

Estacionei no beco atrás do The Eloise, pegando minha bolsa e o


pequeno recipiente de plástico que continha meu sanduíche de manteiga de
amendoim. Sem geleia. Ele, como o café com leite, era uma indulgência que
deveria esperar. A melhor refeição que comi em semanas, foram os tacos de
Knox. Por que era tão sexy um homem que pudesse cozinhar? Nenhum homem
que namorei me preparou uma refeição.

A caminhonete de Knox estava no espaço mais próximo da entrada dos


funcionários. Ele tinha conseguido dormir na noite passada? Ou ele escapou
para o restaurante depois que o acordamos?

— Estou sendo despejada. — Mas graças ao meu pai, não seria a


primeira vez.

Uma campainha soou no meu bolso. Um olhar para a tela e silenciei o


barulho. Sempre que eu pensava em New York, meu telefone tocava.

Trinta e sete. Isso fez trinta e sete ligações em uma semana. Idiota.

Corri para dentro, encontrando Eloise na sala dos funcionários,


enchendo uma caneca de café.

— Bom dia, — eu disse enquanto guardava minhas coisas em um


armário. Espero que eu tenha coberto as olheiras sob meus olhos com o resto
do meu corretivo.

— Dia. — Ela sorriu. Eloise sempre tinha um sorriso.

Eu soube ontem que nós duas tínhamos vinte e cinco anos. Os vinte e
cinco dela pareciam muito mais leves que os meus. Eu invejava isso. Eu invejei
seu sorriso. Se ela não fosse Eloise, eu provavelmente a teria odiado por isso.
Mas Eloise era impossível não amar.

Empurrando meu almoço na geladeira, fui até o relógio e soquei meu


cartão. À moda antiga, como o hotel. Para o meu primeiro trabalho de hora em
hora, gostei do barulho da máquina quando ela carimbava. Então corri para o
armário para pegar uma caneca, enchendo-a até a borda. O primeiro gole
estava muito quente, mas isso não me impediu de soprar por cima, depois
tomar outro gole, escaldante e tudo.

— Isso pode salvar minha vida.

Eloise riu. — Noite longa?

— Drake ficou acordado por algumas horas. — Eu me encolhi. —


Acordamos Knox.

— Ah. Por isso chegou tão cedo. O funcionário da noite disse que
apareceu por volta das quatro. Normalmente ele não chega até as cinco.

— Oh não. — Fechei meus olhos. — Eu sinto muito. Prometo que vou


encontrar um novo lugar.

— Você está bem. — Eloise acenou. — Além disso, não há outro lugar, e
preciso de você.

Foi bom ouvir alguém dizer que precisava de mim. Eu não tinha ouvido
isso, bem... em muito tempo. — Obrigada, Eloise.

— Pelo que?

— Por me dar uma chance. E por dar um cronograma tão bom.

Eloise tinha me dado os turnos da semana. Eu limpava, enquanto os


hóspedes saíam de seus quartos, das oito às cinco, de segunda a sexta-feira. O
turno de fim de semana pagava mais, mas sem creche não era uma opção.

— Estou feliz que você está aqui, — disse ela. — Espero que esteja
gostando.

— Eu estou. — A limpeza dos quartos era um trabalho honesto. Eu não


tinha percebido o quanto meu coração precisava de algo verdadeiro e real. E
parte de mim adorava, simplesmente porque imaginava minha família se
encolhendo ao pensar em mim com luvas de borracha amarelas.

Os hotéis sempre pagaram a minha vida — primeiro em New York, agora


em Montana. Era apropriado. Os anos que passei em hotéis cinco estrelas — e
alguns tutoriais online — foram minha educação para o serviço de limpeza.
— Adoro este hotel. — Outra verdade. O Eloise Inn era charmoso,
pitoresco e convidativo. Exatamente a atmosfera que muitos hotéis se
esforçaram para criar e poucos conseguiram.

— Eu também, — disse ela.

— Ok, bem, é melhor eu ir. — Eu levantei minha caneca em saudação.

— Estarei aqui o dia todo se precisar de alguma coisa.

Ela saiu da sala de descanso comigo, indo em direção ao saguão


enquanto eu virava para a lavanderia, onde guardávamos os carrinhos de
limpeza e a lista de quartos prontos para serem atacados.

A outra camareira do turno do dia ainda não devia ter chegado. porque
os dois carrinhos de limpeza estavam empurrados contra a parede. Escolhi o
que estava usando a semana toda, depois peguei um cartão-chave mestra do
gancho na parede. Com meu café em uma mão, guiei o carrinho com a outra
em direção ao elevador de funcionários.

O Eloise Inn tinha quatro andares. Subi até o último, onde um casal
havia desocupado o maior quarto que fica no canto. Trabalhei incansavelmente
por duas horas mesmo bocejando o tempo todo, para deixar aquele quarto e
outros dois, prontos para os próximos hóspedes

No momento em que meu primeiro intervalo de quinze minutos chegou


às dez, eu estava morta em meus pés. O café preto não estava ajudando.

Um casal passou por mim enquanto caminhavam pelo corredor, cada um


carregando xícaras para viagem do Eden Coffee, e meu estômago roncou.

Um café com leite. Eu ficaria sem geleia e frutas durante a semana, em


troca de um único café com leite.

Corri para pegar minha carteira no meu armário, então saí correndo
pelas portas da frente do saguão. Três portas abaixo e do outro lado da rua, o
bonito edifício verde acenava.

O cheiro de grãos de café, açúcar e doces me cumprimentou antes


mesmo de chegar à entrada do Eden Coffee. Meu estômago roncou mais alto.
Eu não tinha tomado café da manhã, então vasculhei minha carteira,
procurando dinheiro suficiente para comprar um muffin ou um bolinho.
Inferno, eu limparia os banheiros do café para um rolo de canela ou uma
fatia de pão de banana.

Sete moedas, três moedas de dez centavos e seis moedas depois, eu


estava procurando por mais uma moeda quando virei a esquina para entrar
pela porta. Meu olhar se ergueu pouco antes de bater em um peito sólido e
muito largo.

Minhas moedas voaram.

Assim como o café do homem.

— Oh meu Deus, eu sinto muito. — Meu olhar viajou para cima, mais
para cima, até um par de olhos azuis familiares e impressionantes. Olhos azuis
irritados.

O maxilar barbudo de Knox estava apertado novamente, aquela carranca


fixada em seus lábios flexíveis. Em uma mão ele segurava seu próprio café. Na
outra, seu telefone. Nenhum de nós estava prestando atenção.

Nenhum de nós estava dormindo muito.

Sua camiseta cinza tinha uma mancha marrom sobre o corpo . Ele
mudou sua xícara de café para a outra mão, sacudindo as gotas de seus dedos.
— Você está em todos os lugares, não está?

— Eu prometo, não estou tentando incomodá-lo.

— Tente mais.

Eu vacilei.

Ele passou por mim e desapareceu sem outra palavra.

Sim, eu seria despejada.

O que significava que eu não podia comprar aquele café com leite, afinal.
Droga.
CAPÍTULO QUATRO
KNOX

Tente mais.

Foi uma coisa idiota de se dizer. Eu culpei a falta de sono pelo meu pavio
curto.

— Bom dia, Knox. — Um agente de crédito do banco acenou enquanto


caminhava em minha direção, diminuindo a velocidade como se quisesse parar
e conversar.

— Ei. — Levantei minha xícara e continuei indo em direção ao hotel.


Dado o meu humor, seria melhor ficar na cozinha hoje e evitar conversas.

O ar do outono estava fresco e limpo. Normalmente eu levaria alguns


minutos para respirar, diminuir o ritmo, mas no momento, tudo que eu
conseguia focar era no café na minha maldita camisa.

O centro de Quincy estava quieto esta manhã. As crianças estavam na


escola. As lojas e restaurantes da Main estavam abertos, mas a agitação do
verão havia acabado. As pessoas estavam aproveitando a calmaria de setembro
e se recuperando de seus meses passados, atendendo turistas. Era a época em
que os moradores tiravam férias.

Eu planejei uma. Umas férias em casa. Terminar alguns projetos no


quintal antes do inverno. Descubrir se eu ainda me lembrava de como ligar a
televisão ou ler um livro. Mas com Memphis lá...

As férias foram canceladas, em efeito imediato. Eu não confiava em mim


perto dela. Não com aqueles lindos olhos castanhos salpicados de mel e cheios
de segredos.

Bebi o último gole do meu Americano enquanto caminhava, esperando


que a meia xícara restante me alimentasse durante a manhã. Em vez de
atravessar as portas da frente do hotel, eu me abaixei na esquina, seguindo o
comprimento do prédio de tijolos até o beco e a entrada de serviço do
restaurante.

A chave estava ruim na fechadura, algo que eu consertaria nas minhas


férias canceladas. A porta se fechou atrás de mim enquanto eu caminhava em
direção ao meu pequeno escritório fora da cozinha.

Minha mesa estava vazia, exceto pela agenda da equipe que eu estava
montando esta manhã. As contas foram pagas. As informações da folha de
pagamento estavam com meu contador. Uma vantagem de estar aqui antes do
amanhecer era que, pela primeira vez em meses, meu trabalho no escritório era
feito antes do café da manhã, em vez de depois da corrida do jantar.

Joguei minha xícara de café no lixo, depois fui até o armário no canto,
alcançando atrás da minha cabeça para arrancar minha camisa. Com ela
enfiada em uma mochila, puxei a camisa reserva que mantinha aqui em caso
de acidente.

Tente mais.

A vergonha no rosto de Memphis foi um castigo por minhas palavras


afiadas. Qual diabos era o meu problema? Ela morava no sótão. Eu concordei
em deixá-la se mudar. Era hora de parar de resmungar e negociar.

— Caramba. — Eu devia um pedido de desculpas a ela.

A hora do almoço de sexta-feira estaria ocupada com moradores para


aproveitar o final de semana. Eu estava cobrindo todas as refeições hoje, o que
significava que eu não chegaria em casa até depois do anoitecer. Minha opção
para rastrear Memphis era agora. Então, eu saí do escritório e da cozinha,
ziguezagueando pelo restaurante.

— Ei, April.

— Ei. — Ela sorriu de seu assento em uma das mesas redondas, onde
estava checando os pratos. — Estou quase acabando com isso. Então o que
gostaria que eu fizesse?

— Você se importaria de verificar as garrafas de ketchup na despensa?

— De jeito nenhum. — April só trabalhava como garçonete aqui há


alguns meses, aceitando o emprego depois que ela e o marido se mudaram
para Quincy. Ele era motorista de caminhão e viaja com frequência, o que
significava que April estava sempre pronta para um turno adicional porque a
casa ficava solitária.

— Já volto. Se Skip chegar antes disso, você diz a ele para começar a
lista que deixei na mesa?

— Com certeza.

— Obrigado. — Meus passos ressoaram na sala vazia.

O restaurante era o meu favorito assim, quando estava quieto. Logo


haveria pessoas nas mesas, conversas misturadas com o tilintar dos talheres
nos pratos. Mas ver as mesas postas e prontas para os clientes era a única vez
em que podia realmente apreciar o que esse espaço havia se tornado. Mais
tarde, quando estava lotado, eu ficava focado na comida.

Antigamente, este tinha sido um salão de baile com papel de parede


espalhafatoso, carpetes gastos e nenhuma intimidade. Agora estava totalmente
diferente, exceto os tetos altos.

A vibração era tão temperamental e suave quanto a comida. Eu tinha


arrumado o espaço grande, diminuindo o número de mesas. Ao longo da
parede dos fundos, construí uma sala para os garçons encherem a água e
refrigerante. Ao lado havia um refrigerador para vinho e cerveja. Não havia
licenças de bebidas disponíveis em Quincy, então deixei espaço para adicionar
um bar um dia, caso fosse possível.

As mesas eram de nogueira. Uma fileira de cabines de couro caramelo


abraçavam uma parede. Uma grade preta separava um canto para grandes
jantares. Uma das paredes externas de tijolos originais que estavam
escondidas sob a placa de gesso, havia sido exposta. As luminárias e arandelas
suspensas lançavam um brilho dourado às mesas. As janelas ao longo da
parede oposta deixavam entrar luz durante o dia e aumentavam o clima à
noite.

Esse era meu sonho realizado. E parte do motivo pelo qual eu amava
tanto, era porque podia passar pelas portas de vidro e entrar no saguão do
hotel.
Quando criança, eu passava muitas horas aqui com mamãe. Enquanto
papai estava ocupado cuidando do rancho, mamãe se encarregou do hotel.
Quantos livros de colorir eu tinha preenchido sentado sob seus pés no balcão
de mogno da recepção no saguão? Quantos carrinhos de brinquedo eu mandei
voando pelo chão? Quantos conjuntos de Lego eu construí na borda de pedra
da lareira?

Este foi o cenário da minha juventude. Griffin preferiu andar com


espingarda com papai pelo rancho. Eu tinha marcado junto com a mamãe.
Quando me mudei para casa depois de terminar a escola de culinária e
trabalhar por anos em San Francisco, nem era uma questão de onde eu queria
abrir um restaurante.

Mamãe e papai estavam reformando e atualizando o hotel nos últimos


cinco anos. Juntos foi o último grande projeto por um tempo. Eloise tinha
algumas ideias próprias, mas essas teriam que esperar.

Pelo menos iriam, se eu assumisse.

Ela estava conversando com um convidado no balcão da recepção. Virei


na direção oposta e fui para a lavanderia. Uma das máquinas de lavar estava
girando enquanto duas secadoras zumbiam com os lençóis dentro dela. Havia
um carrinho de limpeza do lado de fora da sala de descanso, então fui até a
porta, encontrando Memphis na cafeteira.

Seus ombros estavam caídos para frente enquanto ela enchia uma
caneca de cerâmica. O telefone em seu bolso tocou e ela o pegou, verificando a
tela. Então, como tinha feito na minha cozinha, ela o silenciou e o empurrou
para longe.

— Trinta e nove, — ela murmurou.

Trinta e nove o quê? Quem estava ligando para ela? E por que ela não ate
ndia?

Essas perguntas não eram da minha conta. E não por que eu estava
aqui.

— Memphis.

Ela engasgou e pulou, o pote em sua mão tremendo. — Oh Olá.


— Desculpe te assustar.

— Está bem. — Ela olhou para minha camiseta limpa. — Desculpe pela
sua outra camisa.

— Está bem. — Olhei para a caneca. — Você não pegou um café da loja?

— Não, eu, hum... apenas mudei de ideia. Este café está bom.

Isso era uma mentira. Era amargo e sem graça, por isso eu ia ao Lyla's
todas as manhãs para tomar um expresso.

Quando colidimos, eu estava focado no meu copo, desejando ter colocado


uma tampa. Desejando não estar mandando mensagens de texto para Talia.
Mandei uma mensagem para ela esta manhã perguntando se era normal um
bebê de dois meses chorar tanto. Ela respondeu com sim e um emoji de revirar
os olhos.

Memphis também deveria estar de cabeça baixa. E houve o som distinto


de moedas batendo no cimento.

Ela estava buscando troco. Foi por isso que ela não me viu sair pela
porta. Ela tinha planejado pagar por um café com troco. Troco que eu tinha
derrubado de sua mão.

Talvez ela não o tenha recolhido depois que a deixei na calçada. Ou


talvez ela não tivesse o suficiente.

— Por que você não tomou um café?

— Eu mudei de ideia. — Ela inclinou a caneca aos lábios. De além da


borda, ela me lançou um olhar. Era sutil, mas o fogo faiscou naqueles olhos
castanhos. Se ela deixasse aquela chama arder, ela me derrubaria no chão e
não deixaria nada além de cinzas.

— Se você me der licença, estou tentando não estar em todos os lugares.


— Então ela passou por mim no corredor.

Sim, eu merecia isso. E pior.

O carrinho de limpeza chacoalhou enquanto ela se afastava, então as


portas do elevador clicaram quando se fecharam.
— Por que não posso dizer não para minha irmã? — Eu murmurei antes
de voltar para a cozinha, onde Skip assobiava enquanto cortava uma pilha de
batatas vermelhas.

— Bom dia, — disse ele.

— Dia. — Peguei um avental branco limpo do gancho e o abotoei,


empurrando as mangas pelos meus antebraços. Eu estava prestes a pegar uma
faca quando abaixei minha cabeça.

Eu tinha ido me desculpar com Memphis.

Na verdade, eu não tinha me desculpado. Porra.

Esse plano de manter distância não funcionaria se precisasse de duas


viagens para entregar todas as mensagens.

Eu belisquei a ponte do meu nariz.

— Dor de cabeça, Knox? — Skip perguntou.

— Sim. — O nome dela era Memphis Ward.

Ela tinha a pele lisa e impecável sob o luar. Ela tinha círculos escuros
sob os olhos que me incomodavam muito. Ela tinha uma camiseta preta
masculina que ela usava no lugar do pijama, e tantas vezes quanto eu repassei
ontem à noite, eu não conseguia lembrar se ela tinha um short por baixo ou
apenas calcinha.

Talvez se pudéssemos coexistir, cada um indo em uma direção contrária


sobreviveríamos a esse contrato de curto prazo. Com algum espaço, eu poderia
banir os pensamentos de suas pernas tonificadas e lábios rosados.

— Esqueci uma coisa, — eu disse a Skip, indo para o saguão.

Eloise estava no balcão da recepção, empoleirada em uma cadeira alta


enquanto clicava na tela do computador. Os hóspedes que ela estava
conversando mais cedo agora sentados no sofá em frente à lareira apagada.
Quando minha irmã me viu chegando, ela sorriu. — Ei. E aí?

— Estou procurando Memphis. Eu vi a cabeça dela lá em cima. Você


sabe em que andar ela está?
— Segundo, eu acho. Por que?

— Nada. — Eu acenei. — Só queria falar com ela sobre algo.

— Como está indo com ela na sua casa?

— Tudo bem, — eu menti, então antes que ela pudesse fazer mais
perguntas, eu caminhei em direção à escada, preferindo-a aos elevadores.

Quando cheguei ao segundo andar, olhei para os dois lados do corredor,


localizando o carrinho de limpeza à minha esquerda. Meus tênis afundaram no
tapete macio do corredor enquanto eu caminhava em direção ao quarto. O
cheiro de lustra-móveis de limão e limpador de vidro vinha da porta aberta.

Parei ao lado do carrinho. Sua caneca de café estava apoiada entre uma
pilha de panos limpos e toalhas de papel. O líquido preto ainda fumegava.
Quando olhei para o quarto, minha boca ficou seca. Meu pau se contraiu.

Memphis estava curvada sobre a cama, esticando um lençol até o


colchão. Seu jeans apertado se agarrava às curvas leves de seus quadris. Eles
moldavam a forma perfeita de sua bunda. Seu cabelo loiro balançava sobre seu
ombro enquanto ela trabalhava.

Foda-me. Porque ela? Por que Eloise colocou uma mulher como Memphis
em minha propriedade? Por que ela não encontrou uma aposentada de 57 anos
chamada Barb, que dava aulas de natação no centro comunitário?

Fazia tempo que não me sentia atraído por uma mulher. Por que
Memphis? Ela era complicada como patê de pato em pão crocante. No entanto,
eu não conseguia desviar o olhar.

Seu telefone tocou novamente e ela se levantou, tirando-o do bolso. Ela


bufou para a tela e, como havia feito na sala de descanso, apertou recusar.

— Quarenta.

Quarenta chamadas? As narinas de Memphis dilataram quando ela


guardou o telefone e olhou fixamente para a cama desarrumada.

Qual diabos era a história dela? A curiosidade me prendeu. Por que ela
estava aqui? Era o pai do garoto que estava ligando sem parar?
Não é da minha maldita conta. Muito drama. E desisti do drama depois
de Gianna.

Limpei a garganta, passando pelo carrinho de limpeza como se não


estivesse assistindo ou ouvindo. — Ei.

— Ah, hum... Ei. — Os olhos de Memphis se arregalaram quando ela


afastou uma mecha de cabelo da testa. Então ela cruzou os braços sobre o
peito, seu olhar faiscando com o mesmo fogo.

Ela era baixa, seu olhar me atingindo no meio do peito. Ou talvez eu


fosse apenas alto. Eu nunca tinha gostado de mulheres baixas. Mas a vontade
de pegá-la, puxá-la para o nível dos olhos e beijar aquela boca deliciosa bateu
com tanta força que tive que me forçar a não me mexer.

— Você precisa de algo? — ela perguntou.

— Vim pedir desculpas. Sobre o que eu disse fora do Lyla. Eu sinto


muito.

Seus ombros caíram. — Sinto muito por termos acordado você ontem à
noite. Eu deveria ter deixado a janela fechada, mas estava abafado.

— Não se preocupe com isso.

Na verdade, não foi o choro do garoto que me acordou. Tinha sido um


par de faróis. No momento em que me levantei da cama e pisquei o sono da
neblina para longe, só peguei o brilho das luzes traseiras na estrada.

Eu escolhi Juniper Hill porque não tinha tráfego. Mas de vez em quando,
alguém tomava um rumo errado. Ou os alunos do ensino médio pensariam que
estavam em uma estrada deserta onde poderiam estacionar e transaria no
banco de trás.

Depois do carro, foi quando ouvi o garoto. Uma vez que ouvi seu choro,
não pude deixar de lado. Ele tinha percorrido a noite, trazendo consigo
memórias que tentei por anos esquecer.

— Nós iremos... Ainda sinto muito, — disse Memphis.


— Você sempre se desculpa tanto assim? — eu provoquei. Eu pensei que
talvez isso iria me ganhar um sorriso. Em vez disso, ela parecia prestes a
chorar.

— Acho que estou compensando as desculpas que deveria ter pedido,


mas não pedi.

— Por que você diz isso?

— Deixa para lá. — Ela acenou com um movimento de seu pulso


delicado. — Obrigada por suas desculpas.

Eu balancei a cabeça, virando-me para sair, mas me contive. — Não se


preocupe com a janela. Deixe-a aberta à noite, se isso ajudar.

— Ok.

Sem outra palavra, enquanto eu ainda podia me impedir de fazer mais


perguntas, eu saí da sala e voltei para minha cozinha.

Já passava da meia-noite quando cheguei em casa. O céu estava escuro.


Assim como o loft. Eu deslizei para dentro, tirei minhas roupas e corri para um
banho.

Estava quente na casa, quente demais, então abri uma janela antes de
me jogar na cama. Com um lençol puxado sobre minhas pernas nuas, eu
estava a segundos de dormir quando um lamento penetrante cortou o ar.

Uma luz se acendeu acima da garagem. Isso só parecia fazer o bebê


gritar mais alto.

Aquele pequeno choro era como uma adaga no meu coração.

Era o som de um sonho perdido. O som de uma família que se foi.

Eu rolei para fora da cama e fechei a janela. Então peguei meu


travesseiro, levando-o para o outro lado da casa. Onde eu dormi no sofá.
CAPÍTULO CINCO
MEMPHIS
O micro-ondas na sala de descanso apitou. Com o garfo entre os lábios,
levei o recipiente fumegante até a mesa redonda no canto. O almoço não era
chique - nenhuma das minhas refeições era chique esses dias - mas minha
boca encheu de água enquanto eu mexia o macarrão amarelo antes de dar
uma mordida. Eu tinha o garfo nos lábios quando um grande corpo encheu o
batente da porta.

— O que é isso? — perguntou Knox.

Coloquei meus talheres de lado e olhei para mim mesma. — O que?

— O que você está comendo?

— Macarrão com queijo. — Duh. Mordi de volta a observação espertinha


e não apontei que a maioria dos chefs estava familiarizada com o conceito de
mac 'n' cheese. Eu estava pisando levemente no que dizia respeito a Knox.
Bem... onde todos estavam preocupados, especialmente ele.

Fazia quase uma semana desde a nossa colisão com o café e só o tinha
visto de passagem. Até que eu tivesse um aluguel de substituição alinhado, eu
estava dando a Knox um amplo espaço.

A caça ao apartamento tinha sido mal sucedida, na melhor das


hipóteses. Toda quinta-feira, quando o jornal local saía, eu vasculhava os
classificados em busca de uma lista, mas nada de novo estava disponível.
Liguei para o escritório imobiliário da cidade, esperando que eles pudessem ter
algum, mas a mulher com quem falei não tinha informações e ela me disse que
os aluguéis na minha faixa de preço, ficavam ainda mais escassos durante o
inverno.

O despejo não era uma opção. Evitar Knox seria a chave para ficar em
seu loft até a primavera.

Passei o último fim de semana descansando e brincando com Drake. Nós


enfrentamos a mercearia para alguns itens essenciais e então o levei a um
parque local, para uma caminhada sob as coloridas árvores de outono. Entrei
no meu turno de segunda-feira de manhã com mais energia do que em
semanas. Mas hoje era quinta-feira e Drake esteve acordado ontem à noite por
três horas.

Knox precisava me deixar em paz para que eu pudesse comer esses


carboidratos simples, na esperança de que eles me dessem um impulso para
terminar o dia.

Ele tinha uma caneta e um bloco de notas em uma mão. Em algum


momento da última semana, ele aparou a barba, moldando-a nos contornos
esculpidos de seu maxilar. As mangas de seu casaco de chef estavam
empurradas para cima em seus antebraços, como ele sempre parecia fazer, e
mesmo sendo uma roupa bastante disforme, moldava-se a seus bíceps e
ombros largos.

Meu coração teve um pequeno tremor induzido por Knox. Não importa
quantas vezes o vejo, ele sempre rouba meu fôlego. Mesmo quando está
olhando carrancudo para a minha comida.

— Que tipo de macarrão com queijo? — ele perguntou.

Isso era uma pergunta capciosa? — Um... do tipo normal que você
compra no supermercado?

Eloise apareceu atrás do ombro de Knox, empurrando-o para dentro da


sala. — Ei. O que está acontecendo?

Knox jogou a mão na minha direção. — Vim para inventariar a oferta de


café. Ela está comendo macarrão com queijo.

O olhar de Eloise, da mesma cor marcante do irmão, disparou para o


meu almoço. Ela se encolheu. — Oh. É, hum... esse é o tipo da caixa azul?

— Sim.

Ela torceu o nariz, então se virou e desapareceu no corredor.

— O que há de errado com o tipo da caixa azul? — Era o mais barato. E


eu estava usando meus dólares com sabedoria.
Um dia, eu sairia do loft de Knox. Um dia, eu gostaria de ter minha
própria casa. Um dia, gostaria de ter um jardim e um quintal cercado, onde
Drake pudesse ter um cachorrinho.

Um dia.

Se para chegar a isso um dia, eu faria tanto sacrifício quanto necessário


comendo mac 'n' cheese de caixa azul e macarrão ramen.

Knox se aproximou, direto para o meu espaço, e levantei meu queixo


para manter seu rosto à vista. Ele franziu a testa e pegou meu recipiente de
plástico, levando-o até a lata de lixo no canto. Um toque na lateral e meu
macarrão caiu no fundo do forro preto.

— Ei. — Eu atirei da minha cadeira. — Esse é o meu almoço.

E não podia me dar ao luxo de caminhar até um restaurante para


substituí-lo. Maldito seja. Eu mordi o interior da minha bochecha para manter
minha boca fechada.

Não o chame de babaca. Não o chame de babaca.

— Temos uma regra neste prédio, — disse ele, indo até o armário da sala
de descanso onde guardávamos o café. Ele abriu a porta, examinou o
conteúdo, então rabiscou algo em seu bloco de notas. — Nenhuma caixa azul
mac 'n' cheese.

— Bem, eu não conhecia essa regra. Da próxima vez, diga-me as regras e


eu seguirei. Mas não jogue meu almoço fora. Eu estou com fome. — Na deixa,
meu estômago roncou.

— Vamos, — ele ordenou e saiu da sala.

Suspirei, meus ombros caindo e me arrastei atrás dele com meu garfo
ainda na mão.

Knox nem me deu um olhar enquanto saía para o restaurante.

Ainda era cedo, apenas onze e quinze, mas metade das mesas ja estavam
ocupadas. Duas garçonetes circulavam pela sala, entregando cardápios e copos
de água.
Knox passou pela placa Por favor, sente-se, seguindo pelo corredor
principal da sala.

Eu não estive aqui com as luzes acesas. Quando Eloise me trouxe no


meu primeiro dia de trabalho para a turnê, estava escuro e quieto. Mesmo
agora com os pingentes brilhando e a luz entrando pelas janelas da parede
externa, a sala tinha uma borda escura.

O estilo se encaixa com Knox. Moderno, temperamental e masculino.


Tijolo exposto. Cor da parede profunda. Bonitos tons de madeira. Cabines de
couro cor conhaque. Era exatamente o estilo que meu pai adorava nos
restaurantes do hotel.

Tudo o que faltava em um restaurante do Ward Hotel, era o código de


vestimenta. Papai exigia que os homens usassem paletó e gravata. Ele também
exigia que suas camareiras e recepcionistas usassem uniformes. Eu estava feliz
que o estilo do The Eloise Inn fosse descontraído, que meus jeans, camisetas e
tênis eram roupas comuns de limpeza.

As pessoas acenavam quando avistavam Knox. Ele acenava com a cabeça


e cumprimentava de volta, mas não diminuía o ritmo. Passou por eles, e em
seu rastro, rostos se viraram na minha direção.

Eu abaixei meu queixo e mantive meus olhos no chão, não querendo ser
notada.

A velha Memphis — a garota ingênua e mimada — teria desfilado por


uma sala como esta. Ela teria se divertido com a atenção. Ela teria acentuado
cada passo com o clique de um salto agulha que custava milhares de dólares.
Ela teria diamantes nas orelhas e ouro nos pulsos. Ela teria se sentado no
melhor lugar do restaurante, pedido a refeição mais cara e beliscado sua
comida, deixando a maior parte ser jogada no lixo.

Por quantas governantas eu passei na minha vida? Eu nunca reconheci


uma única. Ou as empregadas que trabalharam na propriedade dos meus pais.
Se uma governanta estivesse passando, a Velha Memphis teria torcido o nariz.

A velha Memphis estava morta. Eu tinha matado essa versão de mim


mesma. Eu a esfaqueei até a morte com os cacos de um coração partido.
Boa despedida. A velha Memphis, embora não fosse de todo ruim, tinha
sido uma pirralha. Leve e boba. Ela não teria sobrevivido ao ano passado. Ela
teria cedido às exigências de sua família. Ela não teria sido a mãe que Drake
precisava.

Meu filho não seria mimado. Eu iria ensiná-lo a trabalhar duro. Como
lutar por uma vida em seus próprios termos. Quando passasse por uma
camareira em um hotel, ele iria parar para agradecer.

Talvez eu tenha perdido meu brilho, mas sou uma pessoa melhor sem
ele.

Knox empurrou a porta de vaivém da cozinha, segurando-a para que o


seguisse para dentro desta.

O cheiro de bacon, cebola e pão com manteiga encheu meu nariz,


fazendo meu estômago rugir. A mesa de aço inoxidável no centro da sala estava
cheia de tigelas. Os menores tinham molhos, os maiores, saladas. Cinco tábuas
de corte foram colocadas no meio. Um tinha uma variedade de legumes
fatiados, alface, picles e tomates, todos prontos para coberturas de sanduíche e
hambúrguer. Outra, tinha um peito de carne, cortado em fatias finas.

— Você me trouxe aqui para me torturar? — Eu perguntei.

Knox riu, não exatamente uma risada, mas mais um estrondo vindo do
fundo de seu peito. Ele foi para o lado da mesa onde Eloise e eu nos sentamos
no meu primeiro dia, pegando um banquinho. — Sente-se.

— Ei, Memphis. — Skip olhou por cima do ombro de onde estava,


caramelizando algumas cebolas.

— Oi. — Acenei e me sentei.

— Quer almoçar? — ele perguntou.

— Eu vou preparar. — Knox ergueu a mão e caminhou até uma


prateleira repleta de panelas e frigideiras. Ele pegou um pote e o encheu de
água. Em seguida, colocou-o sobre uma chama com uma pitada de sal antes
de desaparecer na entrada, retornando com quatro blocos diferentes de queijo.
Ele cortou e ralou até a água ferver, então ele despejou uma caixa de macarrão
seco.
Knox atravessou a cozinha com rapidez e graça. Era como assistir a uma
dança.

Um movimento ao meu lado roubou minha atenção. Skip deslizou um


prato e um guardanapo na minha frente, então piscou. Pega. Eu estava
olhando tanto para Knox como presa sob um feitiço.

Eu corei. — Obrigada.

— Quer um garfo limpo? — Ele acenou para o que ainda estava no meu
punho.

— Este está bem. — Coloquei no prato.

Skip voltou às suas tarefas, arrancando um bilhete que rolou de uma


pequena impressora preta contra a parede. Ele o leu, então o prendeu a um
clipe pendurado ao lado de uma prateleira de aquecimento. As lâmpadas
brilhavam laranja contra a prateleira de metal prateado.

Meu olhar se desviou para Knox enquanto ele servia saladas em três
pratos brancos. Suas mãos arrancaram exatamente a quantidade certa de
alface de uma tigela. Seus antebraços flexionaram enquanto ele polvilhava as
verduras com cenouras raladas e croutons de uma assadeira. Em seguida,
acrescentou tomate cereja fatiado e regou com um vinagrete roxo.

Aqueles olhos azuis permaneceram focados, nem uma vez olhando na


minha direção. Se me sentiu olhando, não deixou perceber.

E mais uma vez, fiquei em transe com cada movimento dele. Seus
passos. As mãos. O rosto dele. Seu cabelo longo o suficiente para enrolar na
nuca. Minha mãe teria chamado de desgrenhado, embora eu argumentasse ser
sexy. Eu tinha visto o que estava por baixo daquele casaco na minha primeira
noite no loft. Eu sabia como aqueles cachos pareciam pingando água.

Um pulso baixo floresceu em meu núcleo. Sempre havia pressa no que


dizia respeito a Knox, mas isso era uma onda, como uma linha em um carretel,
enrolando-se cada vez mais a cada volta.

Knox era mais tentador que qualquer refeição.

Mais perigoso que a faca em sua mão.


A porta de vaivém se abriu e uma linda mulher de cabelos castanhos
entrou apressada. Um avental preto estava amarrado na cintura. Sua camisa
branca de manga comprida estava perfeitamente engomada. — Ei, Knox.
Estamos sem chardonnay no refrigerador de vinho. Temos mais guardados?

— Há mais na adega, — respondeu ele, voltando para a tábua de cortar,


desta vez com uma pimenta vermelha. O que me levaria minutos para cortar,
ele cortou em segundos, as peças precisas e delicadas. — Eu esqueci de pegá-
lo esta manhã. Ligue para a recepção. Eloise ou outra pessoa pode pegar para
nós.

— Eu posso ir buscar — eu ofereci.

A mulher olhou para mim e sorriu. — Você é Memphis, certo? Uma das
camareiras? Eu sou April.

— Oi. — Acenei. — Prazer em conhecê-la.

— Aqui. — Knox tirou um molho de chaves do bolso. — A adega fica a


duas portas da sala de descanso. Você se importaria?

— De jeito nenhum. — Peguei as chaves e corri da cozinha.

Eu não podia, não me deixaria distrair por um homem bonito. De novo


não. Meu coração não aguentaria outra ruptura.

Não que Knox estivesse de alguma forma interessado. Na verdade, eu não


era tão interessante. Desisti de me preocupar com a minha aparência no dia
em que Drake mexeu na minha barriga.

Correndo para o porão, destranquei a porta e entrei, examinando as


prateleiras mal iluminadas. A temperatura estava mais fria aqui e arrepios
atravessaram meus braços nus.

Eu estava quente a manhã toda. Normalmente, quando eu limpava um


quarto, era logo depois do hóspede tomar banho, e isso deixava os quartos
abafados.

Examinei os rótulos dos vinhos, alguns reconheci. Meus dedos


deslizaram ao longo do pescoço elegante de um cabernet de uma vinícola que
visitei em Napa anos atrás. Era uma garrafa que eu não podia mais comprar.
Um dia.

Fui até as prateleiras de vinho branco, carregando uma variedade, então


sai da adega, trancando a porta. No pouco tempo que estive fora, o número de
clientes do restaurante parecia ter dobrado. Sem Knox para chamar a atenção,
menos me notaram enquanto eu corria de volta para a cozinha, depositando as
garrafas de vinho na mesa de preparação.

— Obrigado. — Knox acenou com a cabeça para o meu prato. — Almoço.

Uma tigela fumegante de macarrão com queijo estava ao lado do prato


que Skip havia trazido. Nela estava a mesma salada que Knox preparara para
um pedido.

Peguei minha cadeira, sabendo que não comeria tudo, mas peguei meu
garfo e mergulhei no macarrão com queijo primeiro. Sabores ricos e cremosos
explodiram na minha língua. Um gemido escapou da minha garganta. As
pimentas deram um toque especial ao molho. O queijo era pegajoso, picante e
complexo.

Knox estava do lado oposto da mesa, e quando encontrei seu olhar, não
havia nada além de total satisfação em seu rosto.

— Isto é muito bom.

— Eu sei. — Ele arqueou uma sobrancelha. — Chega de caixa azul.

— Comprei um pacote de dez.

— Jogue fora. Eu sempre mantenho os ingredientes à mão, se você


quiser um pouco.

— Obrigada. — Um sorriso puxou o canto da minha boca quando


mergulhei para outra mordida. Eu não iria incomodá-lo em cozinhar para mim.
Eu apenas guardaria meu macarrão barato e queijo em pó para jantar sozinha
em casa.

Quando ele voltaria para a casa dele, ele não saberia.

Eu prestei muita atenção à sua agenda esta semana, principalmente na


esperança de ficar fora do seu caminho. Mas também para um vislumbre raro.
A emoção que vinha com Knox era viciante. Só uma mulher tola não apreciaria
um homem tão bonito, e eu estava me esforçando muito para não ser uma tola.

Knox voltou a cozinhar enquanto eu comia com abandono. Ele rasgou


uma nota de pedido da impressora e ela se juntou à fila com outras. Enquanto
Skip cuidava da outra parte, Knox arrumou os pratos e jogou uma cesta de
batatas cortadas em palito na fritadeira.

— Por que Quincy? — Sua pergunta foi feita enquanto ele cortava um
pão ciabatta. Ele estava tão concentrado no pão que levei um momento para
perceber que sua pergunta era para mim.

— Eu queria uma cidade pequena. Um lugar seguro para criar Drake. Eu


estava pensando na Califórnia. Um influenciador que sigo no Instagram, estava
delirando com essas pequenas cidades ao longo da costa. Mas eram muito
caras. — Por mais que eu adorasse viver à beira-mar, não havia como pagar.

— Você é de New York?

— Sim. Eu estava cansada da cidade.

Ele puxou as batatas fritas, em seguida, untou o ciabatta com um aioli,


equilibrando o que parecia ser dez pedidos de uma vez.

Quando estou na cozinha, tenho que me concentrar apenas na comida,


cozinhando uma coisa de cada vez. Ele provavelmente, faria uma careta se
soubesse que preparar meu macarrão de caixa azul levou o mesmo tempo que
ele levou para fazê-lo do zero.

— Então, como você chegou em Montana? — ele perguntou.

— Esse mesmo blogueiro fez uma entrevista com uma confeiteira em LA.
Ela, a confeiteira, disse que seu lugar favorito para passar férias era Quincy.
Que ela e o marido passaram um Natal aqui e se apaixonaram pela cidade.
Então eu pesquisei.

As fotos do centro da cidade me encantaram instantaneamente. As


classificações escolares e o custo de vida haviam selado o acordo.

Knox deu uma risada seca enquanto balançava a cabeça. — Cléo.

— Cléo. Sim, esse era o nome da confeiteira. Você a conhece?


— Ela invadiu minha cozinha em suas férias aqui naquele Natal. Nunca
vi alguém fazer tanta comida em poucas horas. Mantivemos contato. Na
verdade, acabei de enviar-lhe algumas receitas semanas atrás. Inclusive essa.
— Ele apontou para o meu prato. — Mundo pequeno.

— É isso.

Embora eu esperasse, pelo meu bem e pelo de Drake, que houvesse um


pouco que permaneceria grande. Que entre os quilômetros de Montana a New
York, fosse possível manter distância entre o futuro e o passado.

Montana tinha um apelo por muitas razões. A comunidade ser amigável


era uma delas. Outra era a falta dos Ward Hotels em todo o estado.

Meu avô havia fundado o primeiro Ward Hotel aos vinte e poucos anos.
Ao longo de sua vida, ele transformou sua empresa em uma cadeia de hotéis
butique, antes de passar o negócio para meu pai. Sob a administração de
papai, a empresa quadruplicou nos últimos trinta anos. Quase todas as
grandes áreas metropolitanas do país tinham um Ward Hotel e, recentemente,
começou a se expandir para a Europa.

Mas não havia nenhum em Montana. Nem um único.

— Eu li a entrevista de Cleo, então vi que havia uma vaga de trabalho e


me candidatei, — eu disse.

— E agora você está aqui. — Knox parou de servir e apoiou as mãos na


mesa, prendendo seu olhar no meu. Perguntas nadaram em seus olhos.

Perguntas que eu não ia responder.

— Agora estou aqui e é melhor voltar ao trabalho. — Eu me levantei da


mesa. — Obrigada pelo almoço. Estava uma delícia.

— Até logo, Memphis, — Skip chamou por cima do ombro.

— Tchau. — Eu me dirigi para a porta, olhando para trás uma última


vez.

O olhar de Knox estava me seguindo. Sua expressão era quase ilegível.


Quase. A suspeita estava escrita em suas belas feições. E contenção.
Provavelmente porque ele queria a minha história.
Mas essa confissão era minha e só minha.

Eu estava no meio do restaurante quando meu telefone tocou no meu


bolso. Desenterrei, verificando se não era a creche. Não era. Então eu bati em
desligar e o guardei.

Sessenta e três.

Nesse ritmo, seriam cem antes do final de setembro.

Talvez até lá, as ligações parassem.


CAPÍTULO SEIS
KNOX
— Obrigado pelo jantar. — Griffin me deu um tapinha no ombro
enquanto estávamos na varanda da frente de sua casa.

— De nada.

O macarrão com queijo que fiz para Memphis na semana passada, me


deu vontade de cozinhar um lote enorme hoje, com bastante de sobra. Antes de
vir ver Griff e Winn com uma panela para o jantar, deixei uma na casa de
mamãe e papai também.

— Noite Legal. — Griffin respirou fundo. O cheiro de folhas e chuva com


temperaturas mais frias estavam no ar.

— Está. — Eu me inclinei contra uma das vigas de madeira, olhando


para a terra enquanto tomava um gole da minha cerveja.

Cercada por árvores com as montanhas ao longe, a casa de Griffin foi a


razão pela qual construí a minha. Eu queria meu próprio refúgio longe da
agitação da cidade. Nossos estilos eram totalmente diferentes. Griff preferia um
visual tradicional com abundância de madeira, enquanto eu preferia as linhas
elegantes e modernas de vidro.

Embora nossas casas fossem diferentes, o cenário era o mesmo.

Campos e montanhas elevadas. Arvores perenes com o aroma de pinho


durante todo o ano. Sol e céu azul. Lar.

Um grito veio de dentro da casa e Griffin se endireitou, virando-se para a


porta da frente quando Winn saiu com meu sobrinho de dois meses, Hudson,
agitado em seus braços.

— Tome. — Ela entregou o filho ao pai. — Ele me quer durante o dia,


mas apenas Griff à noite.
Meu irmão acenou para seu filho. — Temos muito o que conversar à
noite, não é, cowboy? E às vezes você só precisa de um novo conjunto de
braços.

A agitação de Hudson cessou quando meu irmão caminhou pela


varanda.

Meu coração torceu com a visão.

Eu adorava Hudson. Mas seu nascimento desencadeou memórias que fiz


de tudo para esquecer nos últimos cinco anos. Memórias que não estavam tão
enterradas quanto pensava.

Griffin não conheceu Gianna, nem nenhum dos meus irmãos. Mamãe e
papai a conheceram uma vez nas férias em San Francisco, mas isso foi antes
de Jadon. Minha família sabia o que tinha acontecido, mas era algo que me
recusei a discutir, depois que me mudei para casa.

Ninguém sabia o quão difícil era estar perto de um bebê.

— O jantar foi incrível. — Winn me deu um sorriso sonolento. —


Exatamente o que eu estava desejando.

— A qualquer momento. — Eu pisquei quando ela pressionou a mão em


sua barriga.

Estava no início de sua segunda gravidez, mas eu suspeitava que em


pouco tempo viriam ao restaurante com mais frequência. Enquanto ela estava
grávida de Hudson, tomei como meu desafio pessoal alimentar os desejos da
minha cunhada.

— Como estão as coisas no restaurante? — ela perguntou, afundando em


uma das cadeiras de balanço da varanda.

— Bom. Ocupado. — Roxanne estava comandando o show esta noite. Às


quartas-feiras eram tipicamente lentas nesta época do ano, então quando ela
me disse para parar de ficar em cima e ir para casa depois do almoço, eu
realmente escutei.

Griffin continuou andando com Hudson, murmurando palavras para seu


filho que eu não conseguia entender.
— É a voz dele. — Winn seguiu meu olhar. — Acho que porque é mais
profunda. A esta hora da noite, a voz de Griff é a única coisa que o fará dormir.

— Faz sentido. — Nem sempre era fácil ver Griffin com seu filho, mas
isso não era algo que eu admitiria para eles. Para ninguém.

— Você está se sentindo bem? — Eu perguntei a Win.

— Apenas um pouco cansada. Mas acho que essa será a norma por
alguns anos.

Griffin caminhou em nossa direção. — Talvez quando tivermos o


próximo, Hudson durma a noite toda.

— Esse é o sonho. — Winn cruzou os dedos. — Como está indo com


Memphis?

— Tudo bem. Eu não a vejo muito. — E isso tinha sido planejado. Havia
uma razão pela qual eu não tinha tirado muita folga ultimamente. Que eu
perambulava no restaurante. Havia uma razão para que, na minha rara noite
longe do restaurante, eu tivesse fugido para o conforto da casa do meu irmão e
não para a minha.

Griffin e eu tínhamos um vínculo formado nos anos de juventude


escondendo as travessuras e sofrendo as consequências, quando nossos pais
inevitavelmente nos pegavam causando problemas. Ele era meu melhor amigo
desde o nascimento. Nós nos conhecíamos melhor do que a maioria,
provavelmente por isso ele não perguntou sobre Memphis. Ele podia sentir que
eu não queria falar sobre ela.

O que eu diria? Eu estava atraído por ela. Toda vez que ela entrava na
sala, meu coração parava e meu pau se contraía. Se esse tivesse sido o fim da
história, se fosse apenas uma mulher passando pela cidade, eu a teria
perseguido naquela primeira noite.

Mas ela não era uma turista e que amanhã iria embora. Não havia como
escapar dela, no trabalho ou em casa. E havia o garoto.

Ver Drake era mais difícil do que ver Hudson. Eu não tinha certeza do
porquê, mas toda vez que ele chorava, cortava meu peito. Talvez fosse porque
Memphis estava lidando com isso sozinha. Ela suportava o peso de seus gritos.
Ela carregava o peso em seus ombros esbeltos.

Mas não era da minha conta. Não era meu lugar interferir.

Eu tive dramas suficientes para uma vida inteira e Memphis tinha drama
escrito em todo o seu lindo rosto.

Levei cinco anos para construir uma vida em Quincy. Eu saí de San
Francisco um homem quebrado. Eu voltei para casa para me recuperar. Para
começar de novo. Voltar a um lugar onde tive bons dias, na esperança de
reencontrá-los.

Cinco anos e eu estava lá. Eu amava meu trabalho. Eu amava minha


família. Eu amava minha vida.

Estável.

Assim que Memphis saísse do loft, seria mais fácil tirá-la da minha
cabeça.

Bebi o último gole da minha cerveja quando as pálpebras de Hudson


começaram a fechar. — É melhor eu chegar em casa. Deixar levá-lo para a
cama.

— Obrigada, Knox. — Winn bocejou.

— Tenha uma boa noite. — Eu me aproximei, me inclinei para beijar sua


bochecha, então apertei a mão livre do meu irmão. Eu baguncei o cabelo
escuro da cabeça do meu sobrinho e toquei seu nariz de botão. — Dê a seus
pais um pouco de descanso, garoto.

Hudson tinha uma mãozinha sobre o coração de Griff.

Porra, isso doía. À medida que Hudson crescia, entorpecia, mas não
desaparecia. Deixei que se espalhasse pelo meu peito, então desci correndo os
degraus da varanda para a minha caminhonete.

Minha volta para casa foi através de um labirinto de estradas de


cascalho. A estrada era mais uma rota direta para casa, mas pegar as estradas
secundárias me deu tempo para abrir as janelas e simplesmente pensar.
Quando parei na casa de mamãe e papai mais cedo, eles me
perguntaram se eu tinha tomado minha decisão sobre o hotel. Tio Briggs teve
uma semana difícil. Ele saiu para uma caminhada sem contar a ninguém e,
embora provavelmente estivesse lúcido no início, teve um episódio e se perdeu.

Perdido na terra onde viveu toda a sua vida.

Felizmente, papai o encontrou pouco antes de escurecer. Briggs tropeçou


e torceu o tornozelo. Então, depois de uma ida ao pronto-socorro — Talia era a
médica de plantão — eles levaram Briggs para casa. Mas o susto estimulou a
urgência de papai em obter minha resposta.

Uma resposta que eu não queria dar.

Parte de mim queria concordar, simplesmente porque isso os fariam


felizes. Tive os melhores pais do mundo. Eles nos deixaram falhar quando
precisávamos falhar. Eles nos deram uma mão quando estava claro que não
poderíamos voltar com nossos próprios pés. Eles nos amavam
incondicionalmente. Eles nos deram todas as vantagens possíveis.

Mas se eu dissesse sim ao hotel, não seria por mim. Seria por eles.

Eu queria o Eloise? Eu não queria que fosse para alguém de fora da


família. Mas eu? Pode ser. Eu só não tenho certeza. Ainda não.

Cheguei ao meu desvio e virei em direção a Juniper Hill, desaparecendo


por entre as árvores para o meu canto isolado do mundo. Quando a casa
apareceu, meus olhos foram para o loft. Mesmo escondida atrás de paredes,
portas e janelas, Memphis chamou minha atenção. Ela tinha chamado desde o
dia em que chegou.

Seu Volvo estava estacionado ao lado da escada, e aquele carro era tão
misterioso quanto minha inquilina. Era um modelo mais novo e os Volvos não
são exatamente baratos. Então, por que ela estava sobrevivendo com refeições
baratas e trocados?

Não é da minha conta.

Eu corri para resgatar Gianna aqueles anos atrás, quando deveria ter me
importado com a porra da minha vida. Lição aprendida.
Estacionando no espaço mais próximo da minha porta, entrei. Antes do
inverno, eu teria que descobrir um lugar de estacionamento diferente para que
nossos carros não fossem deixados na neve, mas, por enquanto, deixar minha
caminhonete fora significava mais uma maneira de manter distância.

A casa estava quieta. O cheiro de macarrão com queijo permanecia na


cozinha. Fui até a geladeira, peguei outra cerveja, depois me retirei para a sala
para assistir TV até escurecer.

A abundância de janelas significava que, quando o sol começava a se pôr


abaixo do cume de Juniper Hill, eu o pegava de todos os ângulos. Luzes rosa,
laranja e azul caíam em cascata sobre as paredes, desaparecendo a cada
minuto até que o brilho prateado do luar tomasse seu lugar.

Deveria ser relaxante. O filme de tendência número um na Netflix deveria


ter mantido minha atenção. Este deveria ser meu santuário, mas desde o dia
em que Memphis se mudou, ela se manteve uma constante em meus
pensamentos. Uma distração.

Ela estava cozinhando o jantar? Ela estava dormindo? O lugar era


grande o suficiente para ela? Ela estava procurando por outro apartamento?
Eu queria que ela encontrasse outro apartamento?

Sim. Ela tinha que sair. Não poderíamos fazer isso para sempre, certo?
Eu precisava da minha casa de volta. No entanto, a ideia dela na cidade,
sozinha, me deixou desconfortável.

Ela não era minha responsabilidade. Ela era uma mulher adulta, capaz
de viver sozinha. Ela tinha vinte e cinco anos, a mesma idade de Eloise. Quase
da mesma idade de Lyla e Talia, que tinham vinte e sete anos. Senti a
necessidade de manter minhas irmãs por perto? Não. Então, por que
Memphis? E onde diabos, estavam seus pais? O que aconteceu com os irmãos
que ela mencionou?

Olhei para a TV, percebendo que assisti quase todo o thriller e não tinha
a menor ideia do que se tratava. — Cristo.

A inquietação chacoalhou sob minha pele. Levantei do sofá, fui para o


meu quarto pegar um short de treino, depois desapareci na academia que
montei no meu porão.
Depois de uma hora alternando entre a esteira e o saco pesado, subi as
escadas, encharcado de suor. Felizmente, o treino serviu ao seu propósito e
minha energia reprimida se esgotou, então fui para o chuveiro.

O sono tinha sido escasso nas últimas semanas. O último sono sólido de
oito horas foi antes de Memphis se mudar. Drake tinha um conjunto de
pulmões, e embora eu devesse apenas dormir com as janelas fechadas, todas
as noites, ficava quente e dormia com elas abertas por tanto tempo quanto me
lembro.

Vestindo apenas uma cueca boxer, subi na cama, apagando a luz na


mesa de cabeceira. Minha cabeça bateu no travesseiro e, quando uma brisa
suave entrou no quarto, a exaustão venceu.

Mas, como há semanas, meu sono foi interrompido pelo choro do bebê.

Acordei e esfreguei a mão no rosto antes de olhar para o relógio ao lado


do abajur. Duas e quatorze.

Ele dormiu mais do que o normal. Na semana passada, ele me acordou


por volta da uma. Ou talvez ele estivesse acordado por uma hora e eu que
estava cansado demais para perceber.

Enterrei meu rosto no travesseiro, desejando que o sono voltasse. Mas


como o choro continuou ecoando pela noite escura, eu sabia que estaria
acordado até que ele parasse.

— Porra.

Aquele garoto era determinado, eu reconheço. Enquanto eu estava


deitado de costas, olhando para o teto iluminado pela lua, ele chorou e chorou.

Se estava alto aqui, quão alto era no loft? Eu não tinha dormido, mas
Memphis também não. Embora ela tentasse diariamente, nenhuma quantidade
de maquiagem conseguia esconder as olheiras sob seus olhos.

A imagem de Griffin segurando Hudson surgiu em minha mente. Então


outro bebê, outro par de braços, há anos passados. Uma cena que não me
permito lembrar.
Os gritos de Drake aumentavam, cada vez mais, minuto após minuto,
noite após noite, até que era como se ele estivesse gritando por mim. Já era
suficiente. Eu não podia ficar aqui e não fazer nada.

Afastei o lençol das minhas pernas e pulei da cama, parando no closet


para pegar uma camiseta. Então me dirigi para a porta, parando para calçar
um par de chinelos para não rasgar as solas dos pés no cascalho.

O ar da noite estava frio contra a pele nua dos meus braços e pernas
enquanto eu cruzava a calçada. Subi as escadas de dois em dois, me movendo
antes de duvidar da minha decisão e bati.

Uma luz se acendeu, iluminando a janela de vidro na porta.

O rosto de Memphis estava no vidro do outro lado, seus olhos castanhos


arregalados e nadando em lágrimas. Ela estava linda. Ela sempre estava linda.
Exceto que esta noite ela parecia estar pendurada por um fio.

Ela enxugou as bochechas antes de abrir a fechadura. — Estou tão...

— Não peça desculpas. — Entrei e tirei meus sapatos, então estendi


meus braços, acenando com um. — Entregue-o.

— O-o quê? — Ela se esquivou, colocando um ombro entre mim e seu


bebê.

— Eu não vou machucá-lo. Eu só quero ajudar. — Talvez o que aquele


garoto precisasse fosse outro par de braços. Outra voz.

Ela piscou. — Huh?

— Olha, se ele dorme, eu durmo, você dorme. Podemos apenas... tentar


algo diferente? Deixe-me ficar com ele por um tempo. Provavelmente não
mudará, mas no mínimo, você pode respirar um pouco.

Os ombros de Memphis caíram e ela olhou para seu filho chorando. —


Ele não conhece você.

— Só há uma maneira de resolver.

Ela hesitou por mais um momento, mas quando Drake soltou outro
gemido e chutou seus pezinhos, ela se afastou.
A entrega foi constrangedora. Seus braços pareciam relutantes em deixá-
lo ir, mas finalmente, quando o aconcheguei na dobra de um cotovelo, ela se
afastou. Seus ombros permaneceram rígidos enquanto ela envolvia os braços
ao redor de sua cintura e mal me dava espaço suficiente para respirar.

— Eu não vou derrubá-lo, — eu prometi.

Ela assentiu.

Passei por ela, andando por toda a extensão do loft. Meus pés descalços
afundaram no tapete macio, e não foi até que atravessei a sala que finalmente,
dei uma boa olhada no garoto em meus braços.

Cristo, isso foi uma má ideia. Uma péssima ideia. O que diabos eu estava
pensando? Ele continuou chorando, porque sim, ele não me conhecia. Era
muito parecido. Era muito difícil.

A única coisa que me impediu de fugir foi seu cabelo.

Ele tinha o cabelo loiro de sua mãe.

Não preto, como o de Jadon. Loiro.

Não era a mesma criança. Não era a mesma situação.

Engoli em seco, passando pela dor, e caminhei em direção à porta. —


Drake.

Bebe loiro, Drake. Era um grande nome. Ele era um garoto sólido. Isso
também era diferente. Drake parecia forte. Como Hudson, ele tinha um bom
peso. E Memphis o carregava sozinha todas as noites.

— Tudo bem, chefe, — eu disse a Drake. — Precisamos diminuir o tom.

Seu peito tremeu quando sua respiração engatou entre um grito.

— Eu preciso dormir. Você também. Assim como sua mãe. Que tal
sairmos do turno da noite? Eu parti para o lado oposto da sala novamente,
passando por Memphis, que ainda não havia se movido. Eu fui até a parede
oposta e me virei, indo para a porta novamente. Tudo isso enquanto Drake
chorava.
— Você está bem. — Eu o balançava enquanto caminhava, dando
tapinhas em seu bumbum de fraldas. Ele estava com um pijama com pés, o
tecido estampado azul cheio de cachorrinhos. — Quando eu era criança, eu
tive um cachorro. O nome dela era Scout.

Continuei andando, passos lentos e medidos, até a porta, depois a


janela. — Ela era marrom com orelhas caídas e um rabo curto e grosso. Sua
atividade favorita no verão era correr pelos regadores no quintal. E no inverno,
ela pulava nos maiores bancos de neve, enterrando-se tão fundo, que não
tínhamos certeza se ela conseguiria sair.

Memphis finalmente relaxou e caminhou até o sofá, empoleirando-se em


um braço. Ela estava em uma camisa de dormir preta fina com mangas que
caíam até os cotovelos e um decote profundo. A bainha terminava em suas
coxas, subindo enquanto ela se sentava.

Ela não era alta, mas caramba, ela tinha umas pernas. Afastei meus
olhos da pele tensa e lisa e mudei Drake para que ficasse apoiado em um
ombro. Então, acariciei suas costas, minha mão tão grande que a base dela
estava no topo de sua fralda e meus dedos tocando os fios macios de cabelo em
sua nuca.

Levou mais uma caminhada até a porta e voltar, antes que o choro se
transformasse em gemidos. Então desapareceu, levado por uma janela aberta.

O silêncio era ensurdecedor.

Memphis engasgou. — Geralmente demoro horas.

— Meu irmão Griffin tem um filho dessa idade.

— Ele é casado com Winslow, certo?

Eu balancei a cabeça. — Sim. Eu estava lá esta noite e Hudson não


queria sua mãe. Mas Griffin o pegou e isso o acalmou. Provavelmente,apenas
uma voz diferente.

O queixo de Memphis caiu, o cabelo loiro em volta do rosto. Mas não


conseguiu esconder a lágrima que escorria em seu colo.

— Você precisa de mim para carregá-la também? Dar um tapinha nas


costas? Falar sobre meus animais de estimação na infância? Eu provoquei.
Ela olhou para cima e sorriu, enxugando o rosto. — Só estou muito
cansada.

Drake soltou um grito, mas não começou a chorar novamente.

— Eu posso pegá-lo, — disse ela.

— Vá deitar. Vou ficar com ele até que durma.

— Você não...

— Tem que fazer isso. — Eu terminei a frase dela. — Mas eu vou. Vai.
Descansar.

Ela se levantou e caminhou até a cama, deslizando sob as cobertas.


Então ela se agarrou a um travesseiro, segurando-o perto do peito. — Como
você se tornou um chef?

— Isso não é dormir.

— Diga-me de qualquer maneira.

Caminhei até a parede e apertei o interruptor de luz, banhando o loft na


escuridão. — Minha mãe é uma cozinheira fantástica. Quando eu era criança,
meu pai estava sempre muito ocupado no rancho. Ele levava Griff muito com
ele, mas eu era muito jovem, então ficava em casa com mamãe e minhas irmãs
gêmeas quando eram bebês. Ela nos levava para o hotel com ela durante o dia
e, à noite, as colocava em balanços ou uma área de recreação e me colocava no
balcão para ajudar a fazer o jantar.

Minha lembrança mais antiga é de quando eu tinha cerca de cinco anos,


no verão antes de começar o jardim de infância. Mamãe estava grávida de
Eloise. As gêmeas eram pequenas e estavam sempre me perseguindo. Griff
estava aprendendo a montar e eu me senti excluído.

Mamãe estava ocupada com alguma coisa, então eu disse a ela que faria
o jantar. Ela deve ter pensado que eu estava brincando porque concordou.

Não eram tanto dos pratos de batatas fritas e biscoitos que eu lembrava,
era o choque em seu rosto quando ela entrou na cozinha, depois de brigar com
as gêmeas e me encontrar sentado no balcão, fazendo sanduíches de manteiga
de amendoim e geleia.
— Eu tinha outros interesses. Esportes. Cavalos. Passei meus verões
trabalhando no rancho ao lado de Griffin e papai. Mas eu sempre gravitava de
volta para a cozinha. Quando terminei o ensino médio, sabia que a faculdade
não era para mim, então me matriculei na escola de culinária. Aprendi muito.
Trabalhei em alguns restaurantes incríveis até a hora de voltar para casa.

Memphis murmurava, um som sonhador e sonolento.

E seu filho estava perfeitamente calmo no meu peito.

Provavelmente, era seguro colocá-lo na cama, ir para minha própria


cama, mas continuei andando. Apenas no caso de.

— Por que se chama Knuckles? O restaurante? — A voz de Memphis não


era mais do que um sussurro, abafada pelo travesseiro.

— Era meu apelido na escola de culinária. Na minha primeira semana


tentei impressionar um instrutor. Era arrogante. Eu estava ralando algumas
cenouras e não prestando atenção. Escorreguei e ralei minhas juntas em vez
disso.

— Ai, — ela sussurrou.

— Tive um monte de cortes e fiz papel de bobo. — Algumas cicatrizes


ainda permaneciam na minha mão.

— E ganhou um apelido.

— Quando fizemos a reforma do restaurante, sentei-me com o arquiteto e


ele me perguntou sobre um nome para fazer uma placa. Knuckles apareceu na
minha cabeça e foi isso. — Eu me afastei e carreguei Drake para o berço no
canto, me abaixando para colocá-lo.

Seus braços instantaneamente subiram acima de sua cabeça. Seus


lábios se separaram. Seus cílios formavam meia-lua acima de suas bochechas
lisas. Ele era... precioso.

Minha mão veio ao meu peito, esfregando a picada. Então me levantei e


olhei para a cama.

Memphis estava dormindo, seus lábios entreabertos também. Um


homem poderia se perder nesse tipo de beleza.
Antes que eu fizesse algo estúpido, como ficar lá e olhar para ela até o
amanhecer, eu saí do loft, girando a fechadura da porta atrás de mim antes de
ir para minha própria cama.

O sono deveria ter vindo fácil. Estava silencioso. Escuro. Exceto que toda
vez que eu fechava os olhos, a imagem de Memphis aparecia na minha cabeça.
O cabelo loiro tocando sua bochecha. A parte de seus lábios. A suave
ondulação de seus seios sob aquela camisa de dormir.

Talvez não era o choro do filho dela que estivesse me impedindo de


dormir.

Talvez fosse a própria mulher, assombrando meus sonhos.


CAPÍTULO SETE
MEMPHIS
O barulho de passos subindo a escada do loft e a batida suave que se
seguiu estavam se tornando meus sons favoritos. Ele viria para segurar Drake,
mas toda vez que Knox aparecia na minha porta no meio da noite, era como
um abraço caloroso.

Faz muito tempo desde que fui abraçada.

Ele veio direto para dentro, tirando os sapatos antes de roubar um Drake
chorando dos meus braços. Um lampejo de dor atravessou seu rosto, como se
ele tivesse sido cortado por um papel. Talvez fosse apenas minha imaginação,
mas eu jurava que via isso cada vez que ele segurava Drake. Ela se ia em um
instante, quando Knox começava a caminhada pela sala.

— Qual é o problema esta noite, chefe? — Aquela voz suave e profunda


era tão reconfortante para mim quanto para meu filho.

— Desculpe por termos acordado você.

Ele se virou para a parede e franziu a testa. Knox, eu aprendi, não era fã
das minhas desculpas.

Eu as dava apesar de tudo.

— Descanse, Memphis. — Ele acenou com a cabeça em direção à cama,


mas eu fui para o sofá, enrolando um cobertor em volta dos meus ombros.

No mês passado, passei doze noites neste sofá, assistindo enquanto o


homem mais bonito que eu já tinha visto carregava meu filho. Doze noites e
minha paixão por Knox Eden estava tão forte quanto o café que eu fazia todas
as manhãs na minha nova cafeteira.

O tempo havia mudado e as temperaturas frias da noite de outubro


significavam que não havia necessidade de deixar a janela aberta. Como Knox
ouviu Drake chorar de sua casa, eu não tinha certeza, mas não tive coragem de
perguntar. Seja como for, ele sabia e eu estava simplesmente grata pela ajuda.
E por um tempo sozinha com um homem quase bom demais para ser
verdade.

— Ele estava assim ontem à noite? perguntou Knox.

— Não. Ele só chorou por uma mamadeira, mas depois que o alimentei,
ele voltou a dormir.

— Estamos progredindo. Continue assim e vamos superar isso. — Knox


colocou Drake em seu ombro largo, exatamente onde meu filho preferia estar.

Talvez fosse porque Knox tinha um ombro largo para dormir. Talvez fosse
seu cheiro, sua voz ou a cadência fácil de sua arrogância. Meu filho preferia o
peito de Knox ao meu.

Meu filho não era bobo.

Estava tão encantada quanto meu bebê.

Knox estava usando uma calça de moletom cinza esta noite que se
acumulava a seus pés. Ele estava com uma camiseta branca sem mangas,
suas tatuagens à mostra.

— O que suas tatuagens significam? — Eu perguntei.

Estava na ponta da minha língua há semanas. Minha curiosidade sobre


Knox era tão insaciável quanto perigosa. Quanto mais eu aprendia, mais o
admirava.

— A águia é meu pássaro favorito. — Ele acenou com a cabeça para o


lado esquerdo com as asas emplumadas enroladas em torno de seus bíceps. A
cara da criatura feroz era tão assombrosa quanto bela.

Knox passou pelo sofá, movendo-se para me mostrar seu lado direito. As
luzes noturnas azuis-esbranquiçadas que adicionei ao loft iluminavam as
linhas e círculos pretos em sua pele. — São planetas. Eu tenho um na minha
omoplata que é um contorno de Marte. Não que eu goste de astronomia. Eles
representam nossos cavalos. Papai comprou oito cavalos anos atrás e Eloise
deu a todos os nomes dos planetas. Marte é o meu.

— Você cavalga com frequência?


— Não tanto quanto eu gostaria. Eu o mantenho no rancho para que ele
possa ter companhia. E tento sair com ele uma vez por mês mais ou menos.

O nome do meu cavalo era Lady. Ela saltitava como uma, também.
Minha irmã e eu tínhamos aulas de equitação quando crianças porque, na
época, era a atividade extracurricular popular para as socialites de New York.
Então, uma das amigas de mamãe chamou a atividade de antiquada,
recusando-se a enviar suas próprias filhas. Uma semana depois, meus pais
venderam Lady e eu fui forçada a ter aulas de piano.

— Você já montou antes? — ele perguntou.

— Não por muito tempo.

Ele não se ofereceu para me levar para ver Marte. Eu não aceitaria.

Isso, nessas noites escuras, era tudo o que eu me permitia ter de Knox.

Drake estava progredindo e em pouco tempo essas visitas parariam.


Voltaríamos a ser inquilinos temporários. Eu seria sua colega de trabalho,
raramente cruzando seu caminho. E um dia, eu seguiria em frente. Quando
esse dia chegasse, eu precisaria do meu coração intacto. Meu coração inteiro.

O choro de Drake começou a diminuir, mudando de uma sequência


quebrada de gritos para um gemido entre respirações engasgadas.

— Lá vamos nós, — Knox murmurou, sua mão espalmada nas costas do


bebê. O ombro largo, o zumbido da nossa conversa, funcionava como um
encanto em Drake todas as vezes.

— Não deveria ser eu quem o faria parar de chorar? — A admissão


escorregou dos meus lábios antes que eu pudesse impedi-la. Culpa e vergonha
nublaram minha voz. Deveria ser eu, não deveria? Drake é meu.

— Sim. — Knox parou na minha frente, elevando-se sobre mim com meu
filho pequeno em seus braços enormes. — Você me deixou entrar, não foi?

— Sim. — Talvez nem sempre fosse a mãe ou o pai a pessoa em quem


seu filho se apoiaria, mas a pessoa que eles precisavam quando você não era o
suficiente. Pelo bem de Drake, para ele descansar, larguei meu orgulho de lado
e deixei Knox intervir para ajudar.
A mulher que ganhasse seus abraços fortes seria uma garota de sorte.
Eu me aconcheguei mais fundo no meu cobertor, enrolando minhas pernas
embaixo de mim enquanto seguia cada passo de Knox.

A exaustão era uma companhia constante em meus momentos de vigília.


A única razão pela qual conseguia manter os olhos abertos era porque não
queria perder a visão de Knox e Drake juntos. Era a razão pela qual escolhi o
sofá, em vez de me aconchegar na cama.

Vê-los juntos era um sonho. Uma fantasia de uma vida diferente, se


tivesse feito melhores escolhas.

Drake havia parado de chorar e estava a momentos de dormir. Este


interlúdio estava quase no fim. Pelo bem do meu filho, eu estava agradecida.
Para a minha...

Seria difícil fechar a porta atrás de Knox quando ele saísse.

Um bocejo esticou meus lábios e eu acenei. — Desculpe.

— Agora você está se desculpando por bocejar? — Ele me lançou um


sorriso enquanto passava pelo sofá.

— Meu pai uma vez me repreendeu por bocejar durante uma reunião. Eu
me desculpei e não parei desde então.

Foi a primeira vez que mencionei meu pai em voz alta. Por mais de um
mês, mantive meu passado trancado. Eu me esquivei de perguntas sobre
minha família e as razões pelas quais me mudei para o outro lado do país. A
privação do sono fez com que minhas paredes caíssem.

Ou talvez fosse apenas Knox. Ele compartilhava livremente. Ele me fez


querer o mesmo.

— Sério? — ele perguntou.

Dei de ombros.

— Você não fala sobre sua família.

— Não falo muito.


— Isso é verdade. — O canto de sua boca virou para cima. — Onde estão
seus pais?

Suspirei, afundando mais fundo no sofá. — Achei que você iria perguntar
algum dia. Mas ainda não descobri como responder a essa pergunta.

— É uma pergunta simples, Memphis.

— Então a resposta simples é New York.

— Qual é a resposta complicada?

— A verdade faz minha família parecer... feia. — Por mais frustrada que
estivesse com eles, não queria que estranhos pensassem que eram pessoas
ruins. Eles eram quem eram. Distantes. Prepotentes. Orgulhosos. Eles eram o
produto de quem conviviam, riqueza extrema e egoísta.

Uma vez, eu não tinha sido tão diferente. Talvez fosse feia. Mas suas
ações terríveis foram o catalisador para minha mudança. Por causa deles, eu
queria ser uma pessoa melhor. Apesar deles.

Knox caminhou até a porta, parando ao lado de seus tênis. — Melhor me


deixar ser o juiz.

Olhei para o relógio no micro-ondas. — Esta não é realmente uma


conversa para duas e sete da manhã.

Ele atravessou a sala, sentando-se na extremidade oposta do sofá com


meu filho dormindo em seu peito. — Eles são menos feios durante o dia?

— Não, — eu sussurrei. — Meu pai nunca segurou Drake. Você foi e é o


único homem a carregá-lo em seus braços.

Uma ruga se formou entre suas sobrancelhas. — Ele...

— Morreu? Não. Ele está muito vivo. Meus pais, meu pai em particular,
não aprova minhas escolhas. Ele dá o tom para nossa família e, quando me
recusei a fazer as coisas do jeito dele, me deserdou. Minha mãe, minha irmã e
meu irmão seguiram o exemplo. Embora, isso realmente não importe porque os
abandonei.

Knox estudou meu rosto. — O que você quer dizer com eles te
deserdaram?
— Eu trabalhava para o meu pai. Ele me demitiu. Eu estava morando em
uma de suas casas em Manhattan. Drake tinha quatro semanas quando seu
advogado me deu uma notificação de despejo de trinta dias. Meus avós criaram
fundos fiduciários para cada um de seus netos, mas exigiram que meu pai
fosse o curador até completarmos trinta anos. Fui para sacar algum dinheiro
para me mudar e papai negou que o banco me concedesse qualquer quantia.
Ele me deixou com nada além do dinheiro que eu tinha em minha própria
conta bancária e meu último salário.

— Você está falando sério? Por que?

— Ele quer saber quem é o pai de Drake. Eu me recuso a dizer. Eu me


recuso a contar a alguém. — Havia um aviso oculto em meu tom de que, se
Knox perguntasse, eu negaria a ele a resposta. — Papai não gosta que lhe
digam que não é da sua conta. Mas há uma razão pela qual ninguém sabe
quem é o pai de Drake. Pretendo manter assim.

Knox se inclinou para frente, apertando Drake. — Há algo que eu preciso


saber?

— Não. Ele se foi da minha vida.

— Tem certeza?

— Bastante. — Eu tenho um documento assinado para provar isso. —


Meu pai pensou que era blefe. Que se tornasse minha vida difícil o suficiente,
eu contaria a ele tudo o que queria saber. Que ele poderia continuar a puxar
minhas cordas e eu dançaria como uma de suas marionetes. Tenho vinte e
cinco, não dezesseis. Minhas decisões são minhas. Meus segredos são meus.

Knox se inclinou no sofá, balançando a cabeça. — Você tem razão. Eu


realmente não estou gostando da sua família no momento.

— Meu pai não está acostumado a ouvir não. Ele é dono de um


conglomerado hoteleiro. E ele administra sua família com mão de ferro igual faz
seus negócios.

— Um hotel? — As sobrancelhas de Knox arquearam. — Qual deles?

— Ward Hotels.
— Não brinca? — Ele soltou uma risada. — Depois da escola de
culinária, trabalhei em San Francisco. O restaurante ficava em um Ward Hotel.

Eu pisquei. — Sério?

— Mundo pequeno.

— É isso. — E sabia exatamente de qual restaurante ele estava falando


também.

Já estive em San Francisco várias vezes, sempre ficando no hotel. Knox


tinha cozinhado minhas refeições? Não me surpreenderia. Tinha sido um dos
meus lugares favoritos para comer.

— Tenho o nome do hotel favorito do papai em Memphis. Minha irmã se


chama Raleigh. Meu irmão é Houston.

Knox estudou meu perfil. — Ward Hotels não é uma empresa pequena.

— Não, não é.

Era um negócio multimilionário de propriedade privada. Só as


propriedades imobiliárias valiam uma fortuna.

E troquei meu fundo fiduciário de trinta milhões de dólares por um


trabalho de limpeza de catorze dólares por hora.

Talvez tenha sido uma decisão imprudente impulsionada pela traição.


Não tínhamos muito em Quincy.

Mas estávamos livres.

— Você está limpando banheiros, — disse Knox.

Eu levantei meu queixo. — Não há nada de errado em limpar banheiros.

— Não, não há. — Ele me deu um pequeno aceno de cabeça. — O que


você fazia antes de vir para cá? Você trabalhou para Ward?

— Eu era uma executiva de marketing da empresa. Meu irmão está


sendo preparado para substituir meu pai, mas minha irmã e eu crescemos
sabendo que sempre teríamos empregos na empresa. Esperavam que
trabalhássemos lá. Comecei um dia depois de me formar na faculdade.
— Onde você estudou?

— Sou formada em sociologia pela Princeton. Não exatamente útil, mas


foi interessante.

Knox ficou em silêncio por um longo momento, depois riu. — Princeton.


Por que você escolheu trabalhar no The Eloise? Por que não encontrar algo que
pague mais?

— Hotéis são o que eu trabalhei. — E embora eu provavelmente pudesse


ter encontrado um resort confortável e conseguido um cargo de gerente geral,
papai exigiu que seus executivos, incluindo suas filhas, assinassem um
contrato de dez anos sem concorrência.

— Parecia a escolha fácil, — eu disse. — Não que o trabalho seja fácil. É


o trabalho mais difícil que já tive. Mas com tantas outras mudanças, eu queria
a familiaridade de um hotel. Mesmo que eu nunca tenha limpado um quarto na
minha vida.

Ele piscou. — Sério? Você nunca fez uma limpeza antes?

— Eu tinha uma empregada, — eu admiti. — Vi muitos vídeos no


YouTube antes de começar.

— Bom... de acordo com Eloise, você está fazendo um ótimo trabalho.

— Obrigada. — Fiquei feliz por estar escuro para que ele não me visse
corar. — Não serei camareira para sempre, mas nunca tive a chance de
escolher meu próprio caminho. Quando estiver pronta, encontrarei algo que
pague mais. Isso depende da minha educação. Não há muitas oportunidades
em uma cidade pequena, mas vou ficar de olho. Por enquanto, gosto de onde
estou.

— Você poderia ter escolhido qualquer outra cidade.

Eu balancei minha cabeça. — Eu escolhi Quincy.

Esta cidade era minha.

Era difícil explicar como me apeguei tanto a este lugar em tão pouco
tempo. Mas toda vez que eu dirigia pela Main, me sentia cada vez mais em
casa. Toda vez que eu ia ao supermercado e minha caixa favorita - Maxine - me
elogiava por ter um bebê tão adorável, eu sentia meu coração se acalmar. Toda
vez que eu entrava no The Eloise, eu sentia que era o meu lugar.

— Meus pais odiariam isso aqui. — Eu sorri.

— Parte de seu interesse?

— Inicialmente. — Baixei o olhar para o meu colo. — Eu sei como tudo


isso soa. É parte da razão pela qual eu não contei a ninguém. Pobre garotinha
rica desiste de sua fortuna, muda-se para Montana e vive de salário em salário,
tudo porque estava doente e cansada de seu pai dar ordens.

Dizer isso em voz alta me fez estremecer.

— Eu não virei minha vida de cabeça para baixo para ofender alguém.
Eu fiz isso por Drake. Porque eu acredito no fundo do meu coração que esta é
uma vida melhor. Mesmo que seja difícil. Mesmo se estivermos sozinhos. —
Estávamos sozinhos desde o início.

— Eles teriam tornado sua vida miserável em New York? — perguntou


Knox.

— Eles teriam controlado. E arrancado as decisões das minhas mãos,


especialmente quando se tratasse de Drake. — Ele teria uma babá e seria
mandado para um internato aos dez anos. — Eu não quero viver de acordo
com as regras de outras pessoas, simplesmente porque ele puxa as cordas com
o meu dinheiro.

— Eu entendo. Então, o que acontece quando você fizer trinta anos?


Quando ele não estiver encarregado do seu fundo fiduciário?

— Eu não sei, — eu admito. — Não vou manter a esperança de que o


dinheiro esteja lá. Talvez meu pai encontre uma maneira de usá-lo.
Provavelmente comprar outro hotel em outra cidade.

— Ele pode fazer isso? É legal?

Eu levantei um ombro. — Eu sempre tenho a opção de lutar. Contratar


um advogado e ir atrás dele. Em alguns anos, talvez eu me sinta diferente, mas
no momento, não quero fazer parte disso. Eu tinha economizado dinheiro
suficiente para comprar meu carro. Assim que eu avançar, verei quais são
minhas opções para comprar uma casa. Neste momento, é mais importante
para mim contar comigo mesma do que com qualquer outra pessoa. Minha
família deveria estar presente, mas no primeiro pior dia da minha vida, eles me
decepcionaram. Então eu segui em frente.

Sua testa franziu. — Você acompanha seus piores dias?

— É bobo, mas sim.

— Qual foi o primeiro?

Dei-lhe um sorriso triste. — O dia em que tive Drake. Foi também o


primeiro melhor dia da minha vida.

— Eu entendo porque foi o melhor dia. — Ele abriu os dedos nas costas
de Drake. Por alguma razão, ele não parecia pronto para colocar o bebê no
berço. Knox simplesmente o segurou, garantindo que meu filho dormisse. —
Por que foi o primeiro pior dia também?

— Porque eu estava sozinha. Meu irmão e meu pai são cortados do


mesmo tecido, então eu não esperava muito deles, mas pensei que minha mãe
pelo menos apareceria no hospital para o nascimento de seu primeiro neto.
Talvez minha irmã. Mas todos ignoraram minhas ligações e não responderam
às minhas mensagens. Fiquei em trabalho de parto por dezessete horas.

O choro. A dor. A exaustão.

Esse foi o dia em que a velha Memphis morreu. Porque ela percebeu que
a vida que viveu era tão superficial que nem uma única pessoa veio segurar
sua mão. Nenhum familiar. Ou amigos.

— A epidural não funcionou, — eu disse. — Os médicos finalmente me


disseram que eu teria que fazer uma cesariana de emergência. Acordei um dia
depois, quase morrendo de hemorragia pós-parto.

— Merda, — Knox murmurou.

— Drake era saudável. Era tudo o que importava. Ficamos no hospital


por algumas semanas e, quando nos mandaram para casa, eu já estava
planejando uma saída da cidade. Quando papai me ligou para dizer que eu
tinha que me mudar, simplesmente marquei minha data de partida.
Felizmente, ele não me demitiu até depois que Drake nasceu. Ou talvez
pensou que eu desistiria. Considerando que pedi demissão e ele me demitiu
durante a mesma conversa telefônica quando eu estava em uma cama de
hospital, eu não tinha certeza de como os Recursos Humanos havia processado
isso. Tudo o que me importava era que meu seguro ainda estava ativo, então
cobria minhas despesas médicas.

Papai deve ter pensado que depois que Drake nascesse, eu mudaria de
ideia. Que eu me curvaria à sua vontade de ferro. Talvez se ele tivesse
aparecido no hospital, eu teria.

— Eu escolhi Quincy. Eu me inscrevi para o trabalho no hotel. Comprei o


Volvo, e depois que Eloise me ofereceu um emprego, comecei a procurar uma
casa aqui. Quando eu não consegui encontrar depois de uma semana
procurando... bem, aqui estou.

— Olha você aqui. — Havia algo em sua voz. Um carinho onde antes
havia irritação.

Knox e eu nos sentamos no sofá, olhos fixos no escuro.

Agora ele tinha a minha história, ou a maior parte dela. Algumas peças
eram minhas e só minhas. Um dia, poderão ser de Drake, mas isso era uma
preocupação para o futuro.

Havia pedaços da minha história que eu detestava. Partes da história em


que falhei. Mas principalmente, agora eu estava começando a sentir... orgulho.

Vir para Quincy tinha sido a decisão certa.

— É melhor você dormir um pouco. — Knox se levantou do sofá em um


movimento fluido, levando Drake para seu berço. Knox o deitou, afastando o
cabelo de sua testa, então se endireitou e caminhou até a porta onde eu
esperava vê-lo sair.

— Obrigada. — Como eu sempre pedia desculpas quando ele batia, eu


agradecia antes de ele sair.

Knox se inclinou para calçar os sapatos, então se levantou e assentiu,


pegando a maçaneta da porta. Mas ele fez uma pausa antes de sair na noite.
Ele se virou, uma torre com mais de um metro e oitenta de altura. Em meus
pés descalços, eu tinha apenas um metro e sessenta.

— Você não está sozinha. Não mais.

Abri a boca, mas nenhuma palavra saiu. Ele estava me abraçando de


novo, me segurando tão apertada naqueles braços invisíveis que eu não
conseguia falar.

Knox levou a mão ao meu rosto e colocou uma mecha de cabelo solta
atrás da minha orelha. Apenas um toque de seus dedos e cada terminação
nervosa do meu corpo faiscou. Minha respiração engatou.

— Boa noite, Memphis. — Então ele se foi, fechando a porta atrás de si


enquanto se retirava para sua casa.

Havia um sorriso fantasmagórico nos meus lábios. — Boa noite, Knox.


CAPÍTULO OITO
KNOX
Um pássaro cantou do lado de fora e meu olhar se voltou para as janelas
pela centésima vez em uma hora. A entrada estava vazia, assim como estava
três minutos atrás.

— Nossa. — Eu arrastei a mão pelo meu cabelo e peguei a última


camiseta da pilha de roupas limpas na minha cama, levando-a para o armário
em um cabide. Peguei a cesta vazia e a levei para a lavanderia e fui para a
cozinha.

Os pratos estavam prontos. A geladeira abastecida. A casa toda limpa.

Pela primeira vez em meses, tirei um dia inteiro de folga. Não é um


grande feito. O grande feito foi não ir para o Knuckles no meu dia de folga. O
restaurante tinha um cordão na minha mente e na maioria dos dias de folga,
eu parava para fazer o check-in. Cuidado parental, de acordo com Skip.

Mas hoje, eu não tinha saído de casa, nem ligado para ver como as
coisas estavam indo. As segundas-feiras eram um dia tranquilo, então duvidei
que houvesse uma correria louca, especialmente por ser final de outubro.
Ainda assim, meus dedos coçavam para discar o telefone simplesmente pela
distração. Simplesmente, para tirar minha mente do relógio.

Era seis. Memphis não deveria estar em casa agora? Eu não tinha
certeza de que horas ela chegava — eu estava sempre no restaurante — mas
seu turno terminava às cinco. Onde ela estava?

Cinco dias se passaram desde que ela me contou sobre sua família.
Cinco dias e cinco noites sem Memphis. O restaurante tinha estado ocupado
no fim de semana com uma leva de caçadores hospedados no hotel. Nossos
caminhos não se cruzaram, então. E às noites, quando eu voltava para casa
depois de escurecer, as luzes do loft estavam apagadas. Drake não estava me
acordando.

Com ou sem o choro dele, eu iria hoje à noite.


Eu acabei de... droga, eu senti falta dela. Senti falta do doce aroma de
seu perfume. Eu perdi seu sussurro suave. Senti falta do jeito que ela abaixava
o queixo para esconder um rubor.

Eu encontraria uma desculpa para visitá-la, mesmo que fosse apenas


para dizer olá. Para deixá-la saber que a história que ela compartilhou sobre
seus pais, não me assustou. Não é à toa que ela fugiu para Montana.

O que ela passou, sozinha, era impensável.

Minha família não era nada além de apoio — eram necessários limites,
mas apenas porque eles se importavam. Nem em um milhão de anos mamãe e
papai tratariam suas filhas como Memphis havia sido tratada. Nem em um
milhão de anos eles não teriam segurado seu neto.

Porra, ela era forte. Eu a respeitava demais por ir embora. Fora dinheiro.
Fora legado. Fora controle. Eu a admirava por colocar a vida do filho em
primeiro lugar.

Por mais arriscado que fosse, eu tinha que vê-la. E espero que consiga
evitar beijá-la.

Porque caramba, eu queria beijá-la. Eu quase a beijei na outra noite.

Seis e onze. Por que eu não sabia o horário dela? E se ela precisasse de
ajuda? Para quem ela ligaria? Ela ainda tinha o meu número?

O bater dos meus dedos nos balcões de granito encheu a casa silenciosa.
Achei que sentiria falta disso. O silêncio. A solidão. Mas eu tinha esse nó de
ansiedade no estômago o dia todo, o lugar muito parado. Muito vazio. Onde ela
estava?

O trabalho doméstico não ajudou a acalmar os nervos. Nem limpando a


garagem. Todas os três espaços estavam limpos, dando tanto a Memphis
quanto a mim bastante espaço para estacionar quando a neve chegasse. Eu
não tinha planejado cozinhar hoje. Eu tinha muitas sobras para escolher.

Mas eu precisava de uma distração, qualquer coisa para tirar minha


mente da entrada vazia, então fui até a despensa e peguei um saco de farinha
de sêmola.
Não demorou muito para fazer massa de macarrão e desenrolá-la. Exceto
que a cada trinta segundos eu olhava para a rua, esperando ver um Volvo
cinza vindo em minha direção. A única coisa além do vidro era um dia frio de
outono.

A grama nos prados havia desbotado de verde para dourado. Os


pinheiros Ponderosa estavam cobertos de gelo. As montanhas ao longe,
estavam cobertas de branco.

O outono era minha estação favorita e, além de um pequeno afluxo de


caçadores na área, havia mais rostos familiares do que não na Main nos dias
de hoje. Estaríamos lentos no hotel até os feriados. Este era o momento de
descansar um pouco.

Mas hoje tinha sido tudo menos relaxante, e se eu me sentisse assim em


um dia de folga, bem... Eu seria a mãe e pai do Skip até o Natal.

Com a massa cortada e pronta, encontrei uma panela e a coloquei para


ferver. Então eu puxei um pacote de espinafre e cogumelos da geladeira. Eu
estava procurando creme para fazer um molho simples quando, do lado de
fora, o cascalho estalou sob os pneus.

A coisa inteligente a fazer seria ficar bem aqui, meu rosto enterrado na
geladeira, mas a fechei e caminhei para a porta da frente.

Memphis estava tirando o assento do carro do Drake quando saí. Ela


ficou de pé, levantando-o sobre um braço, e quando olhou por cima do teto do
Volvo, meu coração caiu. Seu rosto estava manchado. Seus olhos estavam
vermelhos como se ela tivesse chorado a viagem inteira até aqui. E Drake
estava gritando.

Isso me lembrou de seu primeiro dia em Quincy. Eu não tinha gostado


de vê-lo, então. Eu com certeza, não gostava de ver isso agora.

— O que há de errado? — Atravessei a calçada, indo direto para o seu


espaço e pegando a alça do assento do carro.

— Nada. — Ela acenou e fungou. — Apenas uma segunda-feira.

— Memphis, — eu avisei.
— Estou bem. — Ela entrou no carro e tirou a bolsa de fraldas de Drake
antes de fechar a porta e se mover para o porta-malas, levantando-o. Outra
lágrima, uma que ela não conseguiu secar, escorreu por sua bochecha.

Eu não gostava de ver Drake chorar. Mas Memphis? Era como tirar meu
ar.

— Ei. — Fui para o lado dela e coloquei minha mão em seu cotovelo. — O
que aconteceu, querida?

— Eu acabei de... — Seus ombros caíram. — Eu tive um dia ruim.

Aconteceu alguma coisa no hotel? Era sobre a família dela? Ou o pai de


Drake? Havia uma centena de perguntas sem resposta quando se tratava de
Memphis e seu passado, mas Drake estava chorando e agora não era hora de
investigar.

Então, passei por ela para pegar o pacote de fraldas no porta-malas e


caminhei até a porta.

— Onde você vai? — ela chamou pelas minhas costas enquanto eu


caminhava em direção a minha casa, não a dela.

— Levando isso para dentro.

— Você está indo na direção errada.

— Vamos. — Continuei andando direto para minha casa, onde o cheiro


de limpador de piso e sabão em pó pairava no ar.

Enquanto eu ia para a cozinha com o bebê, a porta se fechou atrás de


mim. Eu coloquei as fraldas no balcão junto com a cadeirinha de Drake,
desafivelando-o, quando os passos de Memphis soaram por cima do meu
ombro.

— Este dia ruim. Ficou entre os cinco primeiros?

Ela veio ao meu lado, observando enquanto eu levantava Drake da


cadeirinha. — Não.

— Bom.
Antes que eu pudesse colocar Drake no meu ombro, ela roubou seu filho
de minhas mãos, embalando-o em seus braços. Então ela respirou, uma
respiração tão profunda e longa que era como se ela estivesse debaixo d'água
por cinco minutos e finalmente estivesse rompendo a superfície.

Ela fechou os olhos e encheu a testa de Drake com beijos. Sua agitação
parou quase imediatamente.

Como ela não via o quanto o acalmava? Sim, talvez tenham lutado à uma
da manhã. Mas aquele garoto precisava dela como ela precisava dele. Aqueles
dois estavam destinados a estarem juntos.

Observá-los era como se intrometer em um ritual, o momento que eles


tinham todos os dias, voltando para casa e juntos encontrando a paz.

Dei-lhes um minuto, indo até a geladeira para abrir uma garrafa de pinot
grigio e servir duas taças.

— Você está ocupado, — disse ela. — Nós não vamos interromper sua
noite.

Eu coloquei vinho em sua taça. — Fique para o jantar.

— O que você está fazendo? — Ela ficou no canto do balcão, examinando


a massa e os legumes na tábua de cortar.

— Jantar. — Eu sorrio. — Você vai descobrir, se ficar.

Ela revirou os olhos, um sorriso brincando no canto de sua boca bonita.


Mas ela pegou o vinho e seus ombros começaram a se arrastar lentamente
para longe de suas orelhas. — Obrigada.

— Fique à vontade.

Com Drake em seu quadril, ela olhou ao redor do espaço. — Você não
estava no restaurante hoje.

— Você percebeu?

Ela deu de ombros. — Eu costumo estacionar ao lado da sua


caminhonete.
Isso, ou ela me procurou. Talvez com a mesma frequência que eu a
procurava.

Fui até a tábua de cortar e comecei a cortar o espinafre, enquanto ela


vasculhava o saco de fraldas e tirava uma mamadeira com fórmula em pó no
fundo.

Ela passou por mim até a pia, enchendo a mamadeira com água antes de
sacudi-la. Então caminhou para a sala, sentando-se no sofá, para alimentar
Drake.

Coloquei o macarrão na água fervente, depois peguei a taça de vinho


dela, levando-a para ela na sala de estar.

— Você tem uma bela casa. — Havia uma tristeza em sua expressão
enquanto ela falava.

— O que é esse olhar? — Eu me sentei na beirada da mesa de café, meus


joelhos a apenas alguns centímetros dos dela.

Estava muito perto.

Não estava perto o suficiente.

Quaisquer limites que eu pretendia manter entre nós, estavam


desaparecendo.

— Não sei o que há de errado comigo hoje. — Ela olhou para Drake. —
Ele tem quase quatro meses. Como isso aconteceu? Como ele cresceu tão rápid
o?

— Dizem que é isso que as crianças fazem.

Ela me deu um sorriso triste. — Você acha que ele me ama?

— Olhe para ele e você terá sua resposta.

Porque aquele garotinho estava olhando para sua mãe como se ela
tivesse pendurado a lua e as estrelas. Ele tomou sua mamadeira, descansando
em seus braços sem nenhuma preocupação no mundo.
Ela fechou os olhos e assentiu. Então se endireitou, sacudindo a tristeza.
— Esta não é a casa típica com estilo Montana. Não que eu tenha ido a muitas.
Mas é diferente de tudo que já vi dirigindo pela cidade. É muito moderno.

— Se você está procurando por casas de campo tradicionais, terá que


visitar a casa dos meus pais. Ou de Griff e Winn.

— Isso combina com você. As linhas limpas. As janelas. A atmosfera mal-


humorada.

— Você está dizendo que eu sou mal-humorado ?

Ela sorriu mais largo, a maior vitória do meu dia. — Olhe-se no espelho e
você terá sua resposta.

— Bem jogado, Sra. Ward. — Eu rio e me levantei, voltando para a


cozinha.

Memphis terminou de alimentar Drake, então o carregou até o balcão,


observando enquanto eu trabalhava. — Por que você escolheu esse estilo de
design?

— Quando eu morava em San Francisco, estava num apartamento


apertado de dois quartos com três janelas no total. Todas eram de frente para o
prédio de tijolos do outro lado do beco. Me deixou louco não ser capaz de olhar
para fora e ver mais de seis metros.

Sem árvores. Sem grama. Nem mesmo o céu. Para um cara de Montana
que cresceu em um rancho extenso, aquele apartamento poderia muito bem ter
sido uma cela de prisão.

— Quando me mudei para casa, sabia que queria morar no campo, mas
fui seletivo quanto à propriedade. Meus pais e Griffin sugeriram uma parte do
rancho, mas eu queria estar mais perto da cidade. Quando as estradas no
inverno estão uma merda, eles não precisam sair, mas eu tenho que dirigir até
a cidade todos os dias. Levei meu tempo, esperando que a propriedade certa
chegasse ao mercado. Enquanto esperava, morei no apartamento do zelador no
hotel.

— Ah, eu não sabia que havia um apartamento de zelador.


— Apartamento é um termo generoso, — eu disse. — É menor que o seu
loft. Mas já desapareceu. Ficava ao lado da cozinha e, quando reformamos, tirei
a parede para usar esse espaço na despensa e meu escritório.

— Ah. — Ela assentiu. — Acho que não havia janelas naquele


apartamento.

— Nenhuma. Eu estava tão cansado de luz artificial que quando comprei


este terreno e contratei meu arquiteto, disse a ele que queria janelas
suficientes para que eu pudesse ver o lado de fora de cada centímetro da casa.
Até os banheiros.

Seus olhos percorreram as paredes. — Agora eu tenho que ver esses


banheiros.

Eu rio e aponto para o corredor. — Há dois por ali. E depois um na


minha suíte. Vá em frente. Vou terminar isso enquanto você confere.

Ela sorriu e saiu explorando, levando Drake.

Eu a observei desaparecer, meu olhar percorrendo seus ombros esbeltos


até o balanço suave de seus quadris. Seu jeans se agarrava à curva de sua
bunda e aquelas pernas longas e esguias. As mechas de seu cabelo
balançavam contra sua cintura.

Maldito seja esse cabelo. Muitas vezes no trabalho, ela o usava em um


rabo de cavalo. Quando eu ia para o loft, geralmente estava em um coque
bagunçado. Era mais longo do que eu percebi. E tudo que eu queria era enrolar
aquelas ondas loiras em volta do meu punho enquanto eu tomava sua boca.
Eu queria aquele cabelo espalhado no meu travesseiro e enfiado entre meus
dedos.

Meu pau inchou. — Foco, — eu murmurei.

Finalizei a massa, fazendo o molho e acrescentando os legumes. Em


seguida, servi uma tigela para cada um de nós, cobrindo-a com parmesão
fresco e salsa italiana. Eu estava enchendo sua taça de vinho quando ela
passou pela cozinha, indo em direção ao meu quarto.

Com guardanapos e garfos, coloquei a cadeirinha de Drake na mesa para


que ele pudesse sentar e nos ver comer.
— Você já se preocupou se alguém entrasse no seu quintal e o pegasse
no chuveiro? — Memphis perguntou quando voltou para a sala.

A sala de estar, cozinha e sala de jantar foram todas conectadas em um


conceito aberto. Isso significava que, da cozinha, eu ainda podia participar de
conversas quando recebia pessoas.

— Não. Ninguém vem aqui. Um cervo me viu neste verão.

Ela riu, outra vitória, e colocou Drake em sua cadeirinha. Então pegou a
cadeira mais próxima dele e colocou o guardanapo no colo. — Obrigada. Por
me fazer jantar e sorrir.

— São dois agradecimentos desde que você entrou pela porta. — Ela
abriu a boca, mas eu levantei a mão para impedi-la. — Não peça desculpas.

— Ok. — Uma risada brilhou naqueles olhos castanhos chocolate, as


manchas de caramelo dançando. Essa risada disparou direto para minha
virilha.

— Coma. — Engoli em seco e peguei meu garfo, mas ele congelou no ar


quando ela girou um pedaço de macarrão e o levou à boca. Sua cabeça pendeu
para um lado enquanto mastigava fechando os olhos, um olhar de puro prazer
cruzando seu rosto.

Um olhar que eu queria ver enquanto estava enterrado dentro de sua


boceta.

Ela nem percebia sua beleza, não é? Memphis era uma doce tentação e
um desejo pecaminoso.

Drake chutou sua cadeira, soltando um grito feliz. Baixei o olhar para o
meu prato, concentrando-me na refeição em vez de sua mãe.

— Isso é delicioso, — disse ela.

— É bastante simples.

— Talvez para você.

— Você cozinha muito? — Eu perguntei.


Ela balançou a cabeça. — Não. Meus pais tinham um chef quando eu
estava crescendo. E comi muito na cidade.

— Quer que eu te ensine a cozinhar?

— Talvez. — Outro sorriso. Outra vitória.

Drake fez outra série de ruídos, mantendo nós dois entretidos enquanto
comíamos.

— Acho que ele não cochilou muito na creche hoje. — Memphis beliscou
o seu pé coberto de sapato. — Talvez ele durma a noite toda.

— Talvez. — Eu odiava esperar que ele não o fizesse.

— Eu queria te dizer que acho que encontrei um novo apartamento.

O garfo caiu da minha mão, batendo no meu prato vazio. — O que?


Onde?

Quando Eloise me pediu para dar o loft a Memphis, ela disse que ela
provavelmente sairia no inverno. Bem, o inverno estava chegando, e a ideia
dela se mudar fez meu estômago revirar.

Era muito cedo, certo? Ela tinha acabado de se mudar para cá. Eles
estavam se estabelecendo ainda em uma rotina. Qual era a porra da pressa?

— Não é muito longe do hotel, na verdade. — Ela disse o endereço e meu


coração desceu da minha garganta.

— Você não pode morar lá.

Sua testa franziu. — Por que não?

— Porque eu sei de que lugar você está falando. Um duplex azul claro,
certo?

— Sim.

— Quase me mudei para lá quando voltei para Quincy. Tem uma


rotatividade muito alta porque fica ao lado do Willie's.

— O que é o de Willie´s?

— Um bar e o ponto de encontro local. Vai ser ruidoso.


— Oh. — Ela franziu a testa. — Eu estive lá e estava tranquilo.

— É uma segunda-feira. Vá na sexta ou sábado à noite.

— Droga. — Ela suspirou. — Bem, eu prometo que estou procurando.

— Não se preocupe. Você pode ficar aqui o tempo que precisar.

Nas semanas que ela esteve aqui, eu me apeguei ao carro dela na


garagem. Eu me acostumei a procurar sua luz pela manhã. E gostava de saber
que ela estava dormindo perto, quando eu voltava para casa todas as noites.

— Era um arranjo temporário, — disse ela.

— Você quer mudar? — Prendi a respiração, esperando a resposta.

— Não.

Obrigado porra. — Fique. Você não precisa se mudar. —

— Tem certeza?

Dei de ombros. — Será muito mais fácil ensiná-la a cozinhar, se você for
minha vizinha.

Ela sorriu novamente e se levantou, recolhendo nossos pratos vazios. —


Eu vou limpar.

— Você está limpando o dia todo.

— Eu não me importo. — Ela se moveu pela cozinha com facilidade.

Eu olhei-a descaradamente.

Eu não gostava de ter pessoas na minha cozinha. Até mamãe e Lyla


sabiam que não deviam se intrometer quando vinham. Por Memphis, eu faria
uma exceção.

— É melhor eu levar Drake para casa dá-lhe um banho, — ela disse


enquanto pendurava um pano de prato na alça do forno.

— Eu vou carregá-lo.

Ela não discutiu quando levantei Drake com um braço, usando minha
mão livre para pegar o assento do carro enquanto Memphis carregava sua
bolsa e as fraldas para o loft. Quando suas coisas foram guardadas e Drake
estava deitado em um cobertor, ela me acompanhou até a porta. — Obrigada
novamente pelo jantar.

— De nada. — A mecha de cabelo, a mesma que coloquei atrás de sua


orelha na outra noite, caiu em sua testa.

Meus dedos alisaram sua mecha, ganhando um aperto em sua


respiração. Seu olhar caiu para minha boca.

Eu me aproximei, até que a curva de seus seios atrevidos roçou minha


camiseta.

Ela ficou na ponta dos pés, sua mão indo para o meu peito. Sua palma
pressionada em meu mamilo duro.

Eu estava me inclinando, pronto para pegar aquela boca e torná-la


minha, quando Drake arrulhou.

Meu corpo inteiro ficou tenso antes de eu dar um passo para longe.
Droga. O lindo rubor nas bochechas de Memphis combinava com a cor de seus
lábios. — Eu tenho que ir.

— Sim. — Ela se esquivou. — Eu, hum... melhor prepará-lo para a cama.

— Noite. — Forcei-me para fora da porta e para minha casa para um


banho frio. Então, passei o resto da noite lendo — ou olhando para a mesma
página por horas, porque minha concentração estava uma merda, graças
àquele quase beijo.

Deus, eu a queria. Fazia muito tempo desde que ansiei por uma mulher.
Seu corpo. A mente dela. O tempo dela. Eu queria tudo.

Exceto... Drake.

O garoto mudava tudo.

A escuridão rastejou pela casa enquanto eu me arrastava para a cama,


desejando pela primeira vez que não estivesse sozinho sob este teto.

Meus pais e irmãos costumavam aparecer com mais frequência. Mas isso
foi antes de Hudson nascer, e agora todos nós nos reuníamos na casa de Griff
e Winn para que ele ficasse em seu berço.
Memphis e Drake trouxeram vida à minha casa. Risos e barulhos que eu
nem tinha percebido que queria.

Eu odiava dar aulas de culinária. Era minha própria marca pessoal de


tortura. Mas pela chance de ter Memphis aqui, só mais um pouco, eu
aguentaria.

Memphis. O nome dela estava em minha mente enquanto eu adormecia.

Memphis. Eu não tinha descoberto por que ela estava chorando quando
voltou para casa.

E na manhã seguinte, quando ela desceu as escadas do loft com um


sorriso radiante, decidi não perguntar.
CAPÍTULO NOVE
MEMPHIS
Drake chorou no minuto em que o tirei dos braços de Jill. — Vem cá
Neném. Hora de voltar para casa.

A cada dia parecia mais difícil pegá-lo na creche. Ela parecia mais
relutante em deixá-lo ir. E ele estava mais exigente em ser levado.

— Está tudo bem, Drake. — Jill alisou seu cabelo. — Você tem que ir
com sua mãe agora. Mas vejo você amanhã.

O jeito que ela disse sua mãe me deu nos nervos. Como se eu fosse uma
intrusa, não sua mãe. Forcei um sorriso tenso, praticamente arrancando-o de
seus braços. — Obrigada, Jill.

Drake continuou chorando, olhando para ela como se ela devesse salvá-
lo.

— Tenha uma noite divertida. — Seu sorriso parecia forçado e apertado


também.

Jill provavelmente tinha vinte e poucos anos. Seu cabelo castanho era
cortado em um bob e ela usava lindos óculos de armação preta. Quando nos
conhecemos, achei ótimo que ela fosse tão jovem. Sua tia era dona da creche e
ela trabalhava aqui há anos. Na verdade, pensei que talvez pudéssemos ser
amigas.

Agora, queria passar o mínimo de tempo possível com ela.

— Tchau. — Peguei a bolsa de fraldas e levei Drake para o assento do


carro, afastando a fantasia de Halloween que ela colocou nele para prender as
alças sobre os ombros. O arnês estava muito apertado porque essa não era a
fantasia que eu colocara para ele esta manhã.

Aparentemente, minha roupa de cordeiro caseira não era boa o


suficiente.
Quando cheguei cinco minutos atrás, encontrei Drake em um terno de
abóbora completo, com um chapéu verde.

Jill tinha comprado, só para ele. Os outros três bebês no berçário não
tinham fantasias especiais, mas Drake era seu favorito e ela não tinha
escrúpulos em demonstrar diariamente.

Eu duvidava que ele tivesse deitado desde que o deixei esta manhã. Jill o
carregava constantemente, então em casa, quando o deitava no tapete de
brincar, ou o colocava em uma segurança só para poder ir ao banheiro, ou
tentar fazer uma refeição, ou trocar de roupa, ele gritava e chorava.

Eu pedi a ela esta manhã para se certificar de que ele brincasse no


tapete. Ela riu e disse que ele era muito fofo para deixá-lo lá.

Lágrimas brotaram em meus olhos enquanto ele chorava, sua voz


ecoando pelo corredor. A creche era uma casa convertida pelo proprietário para
cuidar de crianças. Havia quatro quartos, cada um para diferentes faixas
etárias.

Eu esperava que Drake pudesse ficar aqui, avançando para os vários


estágios à medida que crescia, mas não podia continuar com isso. Eu sofria
todo dia com o coração pesado ao deixá-lo na creche e à tarde, ele chora no
caminho de casa, porque queria ficar com Jill e não comigo.

Era uma reação totalmente egoísta. Eu estava me castigando por


semanas.

Ele era feliz aqui. Por isso chorava. Ela o mimava porque o amava. Isso
não era ruim, não? Por que eu me sentia tão mal?

Uma semana atrás, na noite em que Knox me preparou macarrão, eu


quase atendi o telefone quando ele tocou. Eu quase cedi. Ontem tinha sido o
mesmo. A chamada mais recente marcou o total de 126. Eu recusei todas. Mas
caramba, era tentador.

Eu poderia voltar para New York e viver do dinheiro de outra pessoa. Eu


poderia ser uma mãe que ficaria em casa até Drake ir para o jardim de
infância. Não haveria mais limpeza de quartos de hotel. Chega de comer Cup
Noodles. Não haveria mais orçamento.
Não haveria mais liberdade.

Não desista.

A neve estava caindo em uma cortina de bolinhas enquanto eu apressava


Drake para o carro. Começou a nevar por volta do meio-dia e o tempo não
mostrava sinais de mudança.

— Tanto para doces ou travessuras. — Eu teria que me contentar com


uma parada no hotel, onde Eloise tinha uma tigela de doces. Então iríamos
para casa.

Eu só queria estar em casa.

Com o assento de Drake travado, deslizei para trás do volante e limpei as


lágrimas não derramadas. Então, endireitei meus ombros e dirigi até o The
Eloise, estacionando ao lado da caminhonete de Knox no beco.

Eu abaixei minha cabeça enquanto entrava para que os flocos não


voassem no meu rosto. O cobertor que coloquei sobre Drake o manteve seco
até que cheguei à sala de descanso, onde fui trocar meu filho por sua fantasia
de Halloween dada por mim.

O traje de abóbora foi jogado no lixo.

Seria mais fácil se Jill não gostasse de Drake. Muito mais fácil. Que tipo
de mãe queria que a cuidadora de seu filho não gostasse dele? Uma ciumenta.

— Por que eu sou uma bagunça?

Drake olhou para mim, mas não me deu uma resposta. Ele parou de
chorar no caminho.

Eu tenho que superar esse problema com Jill. Isso tinha que acabar.

Ela me incomodou. Deus, ela me incomodou. Era sua atitude crua em


relação a mim que me incomodava. Mas não tinha muitas opções.

Não havia outras creches com vagas para bebês. Liguei para cada uma
na semana passada. E não era como se eu pudesse falar com a proprietária. O
que eu diria mesmo? Diga a sua sobrinha para parar de amar tanto meu filho?
Jill o mimava. E daí? Eu não podia. Essa era a minha triste realidade. Eu
não podia pagar uma fantasia cara ou ficar em casa com ele o dia todo,
carregando-o no quadril. De alguma forma, eu tinha que me livrar dessa inveja
corrosiva e apenas deixá-la favorecer meu filho.

E eu me contentaria com os momentos que eram meus. Como esta noite.

Eu puxei o chapéu que fiz sobre o cabelo de Drake e soprei uma


framboesa em seu pescoço, ganhando um sorriso. — Eu não sou tão ruim,
sou?

Ele chutou as pernas, se contorcendo para ser pego.

Eu o levantei em meus braços e beijei sua bochecha macia. — Você é um


cordeiro mais fofo do que uma abóbora.

Peguei um macacão branco e colei bolas de algodão nele, depois fiz o


mesmo com uma touca branca. Então eu coloquei o macacão sobre uma
camisa preta de manga comprida e calças combinando. Com um par de orelhas
de feltro preto, ele era um cordeirinho fofo.

A maioria das brincadeiras de doces ou travessuras aconteceria nos


bairros esta noite, mas Eloise se certificou de que qualquer criança que
passasse por aqui não saísse de mãos vazias. Ela esbanjou em copos de Reese
tamanho king, Butterfingers e Twix.

Eu esperava que as sobras estivessem na sala de descanso amanhã de


manhã. Esperançosamente eu poderia pegar um Snickers para o café da
manhã.

Com o assento do carro guardado no canto da sala, levei Drake para o


saguão, onde um grupo de pessoas estava reunido ao redor da tigela de doces.

— Memphis. — Eloise me acenou para o grupo. Ela estava usando um


chapéu de bruxa preto e segurava a vassoura que estava carregando o dia
todo.

— Ei, Memphis. — Winslow estava ao lado de um homem bonito que se


parecia muito com Knox, razão pela qual eu o achei atraente.

— Oi, Win. — Eu a vi algumas vezes no hotel quando vinha com o avô


para almoçar. Como chefe de polícia, ela geralmente usava seu distintivo e
arma. Hoje à noite, um bebê da idade de Drake, vestido de leão, estava apoiado
em seu quadril.

— Eu sou Griffin Eden. — Seus olhos azuis enrugaram nas laterais


quando ele estendeu a mão. Embora ele tivesse a mesma altura e constituição
de seu irmão, Griffin não tinha as tatuagens e o maxilar barbudo. — Prazer em
conhecê-la.

— Prazer.

Griffin era um dos últimos irmãos Éden que eu ainda não conhecia.

Lyla visitava o hotel com frequência, geralmente trazendo uma bandeja


com seus doces do Eden Coffee. Mateo, o mais novo, trabalhava como
recepcionista. Nos dias em que ele estava por perto quando eu andava pelo
saguão, geralmente via pelo menos uma mulher flertando com ele no balcão.
Sempre uma garota diferente.

Agora, a única irmã que eu ainda não conhecia era a gêmea de Lyla,
Talia. Ela é médica no hospital e a encontrarei no check-up de quatro meses de
Drake, na próxima semana. Quando liguei para marcar minha consulta, eles
me disseram que eu iria ver a Dra. Eden.

Em meu pouco tempo na cidade, aprendi que os Edens são famosos. Os


Eden fundaram Quincy e a família vive aqui por gerações. O rancho deles é um
dos maiores do estado e eles possuem uma boa parcela de negócios na região,
além do hotel.

Aparentemente, os Edens são importantes em Quincy.

Em New York, uma família de prestígio ostentava. Os Wards certamente


o faziam. Mas todos Éden que conheci pareciam humildes. Reais. Como Knox.

Foi uma emoção, conhecer sua família. Conhecer as pessoas que mais o
amavam. Talvez fosse, porque Oliver tinha escondido sua vida de mim. Porque
eu tinha sido seu pequeno segredo sujo.

Eu não tinha certeza do que estava acontecendo com Knox. Ele quase me
beijou na outra noite. Eu teria deixado. Meu melhor julgamento gritou comigo
para manter nosso relacionamento platônico. Fique deste lado da linha, onde
ele é apenas um amigo.
— Ei. — O estrondo profundo de sua voz enviou uma onda de arrepios
na minha espinha.

Inferno. Esse era o problema dessa linha. Toda vez que ele estava por
perto, eu queria atravessá-la.

Virei-me para ver Knox atravessar o saguão. Ele havia tirado o casaco de
chef e estava com uma roupa térmica de mangas compridas, estas empurradas
para cima em seus antebraços musculosos.

Meu coração deu o salto esperado.

Ele olhou na minha direção enquanto caminhava, mas por outro lado,
seu foco estava em seu irmão. — Vocês estão aqui para jantar?

Griffin estendeu a mão para apertar a de Knox. — Não, estamos indo


para a casa da mamãe e do papai para que eles possam ver a fantasia de
Hudson. Mas pensamos em invadir o prato de doces aqui primeiro.
— Ataquem. — Eloise entregou a Winn quatro barras de chocolate. — Dois
para Hudson. E dois para o bebê.

— Obrigada. — Winn estendeu a mão sobre sua barriga lisa. — Este


adora açúcar.

— Talvez signifique que você vai ter uma menina. — Eloise sorriu.

A barriga de Winn estava plana, ainda não aparecendo. Apenas a ideia de


adicionar outro bebê à mistura teria feito minha cabeça girar. Mas ela tinha
ajuda. Ela tinha um marido.

Eu tinha um Knox. Por enquanto. O que quer que isso significasse.

— Nós vamos embora, — disse Griffin. — Chegar ao rancho antes que as


estradas piorem. Te vejo mais tarde.

O telefone tocou do outro lado do saguão quando Griffin escoltou sua


família para fora das portas de vidro.

— Você vai cuidar do prato de doces para mim? — Eloise perguntou e


antes que eu pudesse descobrir se ela estava perguntando a mim ou Knox, ela
correu, vassoura na mão, para o balcão da recepção.
— Todo enfeitado, hein, chefe? — Knox levantou a mão para tocar o nariz
de Drake, mas a puxou de volta no último minuto. O flash de angústia estava
lá e se foi antes que eu pudesse piscar.

— Sim. Não é perfeito, mas...

Ele encontrou meu olhar e era como se aqueles olhos azuis pudessem ver
todas as minhas inseguranças, todas as minhas dúvidas. — Quais são seus
planos? Travessuras ou gostosuras?

— Não, está muito frio. Eloise me contou quantos doces ela comprou e
estava preocupada que ninguém viesse.

— Você está indo para casa? Ou você pode ficar por aqui um tempo?

Casa era a escolha certa, mas tudo o que esperava por mim no loft era
lavanderia e o odiado macarrão com queijo caixa azul. — Um... fico?

— Bom. Vamos.

— E o prato de doces?

Knox pegou um punhado de barras, sorriu e acenou para que eu o


seguisse.

Lutei contra um sorriso e caminhei com ele pelo saguão, acenando para
Eloise enquanto ela acenava de volta, desligando o telefone para retornar ao
seu posto na porta.

— Está tão quieto aqui, — eu disse enquanto caminhávamos pelo


Knuckles. Todas, exceto uma mesa, estavam vazias.

— Primeira neve. Dia das Bruxas. — Knox apontou para uma cabine. —
Sente-se. Volto logo.

— Ok. — Eu escolhi a mesa no canto mais distante no caso de Drake


ficar exigente. Então eu o pego no meu colo, balançando-o levemente e
entregando-lhe uma colher para agarrar em seu punho gorducho.

Era estranho sentar em uma mesa como se eu fosse um convidado. Com


exceção do drive-thrus de fast food na viagem a Montana, eu não saí para
comer desde New York.
O menu de Knox tinha a mistura perfeita de pratos leves e entradas
pesadas. Nada disso estava no meu orçamento. Nem mesmo o menu de dólares
do McDonald's estava no meu orçamento. Mas isso não importava, porque
Knox vinha regularmente deixando refeições.

Ele trabalhou todas as noites na semana passada, então não houve aulas
de culinária ou visitas à sua casa. Mas todas as noites, depois de escurecer,
quando Drake estava dormindo e eu estava enrolada na cama, relendo um dos
e-books que comprei na minha vida anterior, Knox parava no caminho para
casa.

As visitas eram sem palavras. Eu veria o flash de seus faróis. Eu sentia a


vibração da porta da garagem abrindo e fechando. Eu ouvia o baque de seus
passos nos degraus.

Subia, depois descia a escada sem bater, antes de desaparecer em sua


casa.

Na primeira noite, corri para a porta, enrolada em um cobertor. Ele já


estava no meio do caminho. Um olhar por cima do ombro, então acenou para o
recipiente de viagem aos meus pés.

Na primeira noite, ele trouxe chili de frango. A segunda, um guisado com


pão fresco. A lista continuou. Essas refeições me deram algo pelo que ansiar.
Algo quente e reconfortante para me receber em casa.

A porta de vaivém da cozinha se abriu e ele saiu com dois pratos, cada
um carregado com o que pareciam ser sanduíches de carne de porco desfiada.
Ele os colocou na mesa, um do meu lado, outro do dele, então deslizou para
dentro da cabine.

— Você parecia faminta. — Ele colocou uma batata frita na boca.

— Você não precisa me alimentar.

Ele encolheu os ombros. — Ajustei minha receita de molho de churrasco.


Dê-me sua opinião honesta e ficamos quites.

Meu estômago roncou, e eu mudei Drake para pegar o sanduíche. A


primeira mordida foi... incrível. Fechei os olhos, saboreando a doçura
defumada, e soltei um gemido. — Uau.
O olhar de Knox estava travado em meus lábios. Seu maxilar apertado.

— Desculpe, — eu sussurrei.

— Você está se desculpando por comer?

Não, eu tinha me desculpado pelo gemido. Eu tinha ouvidos. Eu sabia


como tinha soado. A última coisa que precisávamos era de mais tensão sexual.

— Não, — ele ordenou, balançando a cabeça. — Como foi seu dia?

— Bom. — Até a creche, estava tudo bem. — Não havia muitos quartos
para limpar hoje e a outra camareira queria ir para casa mais cedo, então era
só eu.

— Provavelmente ficará calmo por mais algumas semanas até o Dia de


Ação de Graças. Aposto que você poderia tirar alguns dias de folga, se quisesse.

— Tudo bem. — Eu precisava das horas. — Estive pensando em algo.

— Sim?

— Na semana passada, você disse que eu poderia ficar. Eu gostaria de


ficar até a primavera, se estiver tudo bem. — A ideia de se mudar no inverno
era assustadora. Não que minha busca por apartamentos tivesse me dado
outras possibilidades.

— Como eu disse, fique o tempo que precisar.

Precisar, não ficar. Eu não tinha percebido até agora, mas ele disse
necessidade na semana passada também. Não querer. Precisar.

Há uma diferença. Uma que causou uma rigidez rastejando em meus


ombros.

Eu coloquei meu sanduíche para baixo e sentei um pouco mais alto. —


Então eu gostaria de pagar mais aluguel.

Knox riu.

— Não é uma piada.

— Eu sei que não foi uma brincadeira. Mas é desnecessário.


— Seu loft é duzentos dólares mais barato por mês do que qualquer
outro lugar que eu olhei.

Uma ruga se formou entre suas sobrancelhas. — Achei que você tinha
olhado o próximo ao Willie.

— Liguei para mais alguns.

Agora era sua vez de colocar o sanduíche no balcão. — Quando?

— Desde que me mudei. O loft deveria ser apenas um local temporário.

— Mas você não precisa se mudar.

Lá estava aquela palavra novamente. Precisar. — Então deixe-me pagar


mais aluguel. Deixe-me torná-lo justo.

— Não. Já é justo.

— Isso é ridículo.

Knox fez uma careta. — Você desperdiçar o dinheiro é ridículo. Guarde.


Gaste em uma fantasia de Halloween ou qualquer outra coisa.

Eu vacilei e olhei para Drake. Três das bolas de algodão que eu tinha
colado em seu chapéu estavam se desfazendo. Talvez tenha sido por isso que
Jill comprou uma fantasia. Porque ela não tinha fé de que eu pudesse fazer
uma sozinha.

Porque ela era melhor.

— Por que você não me deixa pagar mais? — Eu perguntei, minha voz
fraca.

— Porque você não...

— Preciso? — Eu terminei para ele. O lodo da vergonha rastejou pela


minha pele e com ela uma percepção. É assim que essa família me viu? Como
um caso de caridade?

Faria sentido. Fazia sentido porque Eloise tinha me dado os melhores


turnos. Como ela me arranjou um apartamento. Por que Knox fez questão de
me manter alimentada.
— Memphis, não preciso do dinheiro do aluguel.

— Não é sobre você precisar do dinheiro. — Eu encontrei seu olhar e a


pena em seus olhos era incapacitante. — É sobre eu pagar.

— Mas você não precisa, querida.

Querida. Esta foi a segunda vez que ele me chamou de querida. Eu tinha
perdido o tom da primeira vez, mas no momento, parecia um carinho que ele
daria a uma criança. Alguém menor.

Eu. eu era menor.

— O molho é delicioso. — Tirei a colher do punho de Drake e deslizei


para fora da cabine. — Com licença.

— Memphis.

Eu não parei de me mover enquanto ele se levantava também. Mas ele


não me seguiu enquanto eu corria do restaurante, direto para a sala de
descanso para pegar as coisas de Drake. Então saímos pela porta, correndo
pela tempestade para o meu carro.

Não havia lágrimas enquanto eu dirigia pela cidade até a rodovia,


passando pelo caminho familiar para Juniper Hill. Eu estava atordoada demais
para chorar. Qualquer confiança que construí aqui em Quincy derreteu, como
os flocos de neve que atingiram meu para-brisa.

Como eu não tinha visto isso? Como pude ser tão cega? Os Edens eram
uma família rica e bem conhecida. Famílias ricas e conhecidas não se
associavam a pessoas como eu, a menos que estivessem tentando salvá-las.
Salvar os pobres.

A quantas galas eu tinha assistido onde esse tinha sido o motivo ?

Eu era a pobre mulher indefesa que veio para Quincy com seus
pertences no porta-malas de um carro. Eu era a mulher que não podia pagar
refeições decentes, então pegava as sobras. Eu era a garota que nunca tinha
limpado um quarto antes de seu primeiro dia como camareira.

Eloise me deu elogio após elogio desde que comecei a trabalhar no hotel.
Mas ela varria todos os cômodos depois que eu terminava. Cada um. Ela
sempre tinha um ou dois pares de chinelos brancos na mão, presente de
cortesia para os hóspedes . Exceto que eu mesma poderia ter adicionado os
chinelos.

Ela tinha consertado meus erros? Ela tinha enviado outra camareira
para limpar o que eu deixei?

Meu estômago estava em nós quando estacionei na garagem em casa.


Levei Drake para dentro e alimentei-o com uma mamadeira antes de tirar sua
fantasia boba. Mais bolas de algodão se soltaram e quando o tinha nu para o
banho, tudo estava em uma pilha triste no chão.

Eu esperava salvar aquela fantasia, colocá-la em um saco com seus


sapatos de bebê e pulseira de hospital. Em vez disso, quando Drake estava
vestido com seu pijama em segurança, eu fiz uma bola e joguei no lixo. Era um
lixo. Doeu tanto que eu pressionei a mão no meu peito, esfregando a dor.

O telefone tocou de onde eu o deixei no balcão da cozinha. Eu congelei,


olhando para ele de longe. O nome era ilegível de onde eu estava, mas eu sabia
quem era.

Deixe tocar.

Mas me aproximei, olhando para aquele botão verde.

Isso tudo pode parar. O trabalho duro. As lágrimas. A dor. Tudo o que eu
tinha que fazer era atender a essa chamada. Tudo que eu tinha que fazer era
apertar aquele botão verde.

Não há mais cheques de aluguel. Não há mais relógios ponto. Chega de


limpador de vaso sanitário e luvas de borracha.

Chega da caridade familiar dos Eden.

Eu levantei minha mão, meu dedo posicionado acima da tela. Um toque


para atender o telefonema 127 e a vida seria mais fácil novamente.

Tudo o que eu tinha que fazer era sacrificar... Eu.

Tudo o que eu tinha que fazer era desistir.

Não desista.
Desista, Memphis.

Minha mão tremeu e eu toquei a tela. Mas cheguei tarde demais. Já


tinha ido para o meu correio de voz.

O ar saiu dos meus pulmões e foi quando as lágrimas vieram em fluxos


constantes com soluços que eu estava segurando por muito tempo.

O som de nós dos dedos batendo na minha porta cortou minha histeria.
Meu rosto virou para a janela, e lá estava ele. Sua expressão era ilegível. Eu
não o tinha ouvido chegar ou entrar na garagem.

Eu me virei para que ele não pudesse me ver enxugar as lágrimas. Ele
me pegou chorando, mas considerando que eu chorava na maioria dos dias,
considerando que ele provavelmente estava aqui apenas para deixar uma
refeição porque seria ruim, se o caso de caridade deles morresse de fome, quem
diabos se importava?

Eu não. Não mais. Eu estava entorpecida.

Eu endireitei meus ombros e caminhei até a porta. No segundo em que


abri a fechadura, ele marchou para dentro, batendo as botas. E então olhou
para mim com uma carranca, como se minhas lágrimas o irritassem. — Se
você quiser pagar mais aluguel, tudo bem. Pague mais aluguel.

— Sim. E eu quero que você pare de me fazer comida.

— Não.

— Eu não sou um caso de caridade, Knox.

Suas mãos se fecharam em seus quadris. — É isso que você acha? Que
eu cozinho porque você não pode cozinhar para si mesma?

— Bem... sim.

Ele riu, virando a cabeça para o teto. Seu pomo de Adão balançou
quando ele murmurou alguma coisa. Então ele me encarou novamente, dando
um longo passo à frente para encher meu espaço. — Eu cozinho para você
porque é assim que mostro a alguém que me importo. Eu cozinho para você
porque eu amo o olhar em seu rosto depois da primeira mordida. Eu cozinho
para você porque prefiro do que para qualquer outra pessoa.
— O que? — Meu queixo caiu.

— Eu não sei o que diabos estou fazendo com você, mulher.

Minha boca ainda estava aberta.

O que combinava muito bem com Knox.

Porque ele levantou as mãos, emoldurou meu rosto. Então selou seus
lábios sobre os meus.
CAPÍTULO DEZ
KNOX
Eu era um homem que lembrava de poucos beijos. Talvez fosse coisa de
homem. Eu só conseguia me lembrar com clareza de três.

Meu primeiro. Foi no verão antes do meu primeiro ano no ensino médio
com uma garota — qual era o nome dela? — na feira de verão. Depois, houve a
vez em que beijei uma das amigas de Lyla quando ela veio para uma festa do
pijama. Memorável não por causa do beijo, mas porque papai nos pegou nos
beijando no armário e, no dia seguinte, me fez empilhar fardos de feno por oito
horas.

E então Gianna. Lembro-me do beijo que dei a ela antes de sair de San
Francisco.

O último Beijo.

Além desses, todos os outros se misturaram. As mulheres também. Nos


anos desde que me mudei para casa em Quincy, mantive o sexo casual. Eu saí
com turistas — noites descomplicadas, porque de manhã, elas teriam ido
embora de Quincy, facilmente esquecidas.

Em anos, ninguém havia deixado uma marca.

Até Memphis.

Esfreguei a mão sobre meus lábios, ainda sentindo sua boca da noite
passada. Seu sabor doce, misturado com lágrimas salgadas, permaneceu na
minha língua.

— Maldição. — O que diabos eu estava pensando? Esta era Memphis.


Não houve um minuto descomplicado gasto com ela. Mas caramba, quando ela
atendeu a porta ontem à noite, manchada de lágrimas, queixo erguido e
inegavelmente linda, eu desliguei a parte racional do meu cérebro e disse foda-
se.
Sua boca tinha sido o paraíso. Quente e úmida. Seus lábios um fodido
sonho. Suave, mas firme. No começo, ela estava hesitante, provavelmente
chocada, mas depois se derreteu em mim e provou que sabia usar a língua.

Pensar naquela boca me manteve acordado a maior parte da noite.

A tentação quase me venceu. Mas em vez de me empurrar para dentro e


carregá-la para a cama, eu me afastei e me retirei para minha casa, onde um
banho frio não fez muito para acabar com o desejo em minhas veias.

Eu ansiava por ela, mais do que ansiei por alguém em muito, muito
tempo. E isso me assustou pra caramba.

Se isso acabasse mal, ela se mudaria e iria para onde? O aluguel perto
do bar? Ou pior, outra cidade? Eu não queria ser o cara que a mandou correr
de Montana e de volta para aquela porra da família dela em New York.

A neve de ontem tinha coberto o chão. A entrada de carros era uma folha
branca imaculada, exceto pelos trilhos duplos que levavam da garagem e
desciam a estrada. Memphis já tinha saído para deixar Drake na creche e
seguir para o hotel. Por direito, eu já deveria ter ido embora também. Havia
muito trabalho a fazer.

Mas eu parei no vidro do meu quarto e olhei para o meu loft.

Não, não meu. Era dela. Aquele loft sempre pertenceria a Memphis,
mesmo depois que ela partisse.

Havia coisas a dizer. Memphis e eu teríamos uma longa conversa sobre


nosso futuro, principalmente sobre como ela achava ser um caso de caridade.
Eu estaria esclarecendo essa besteira em breve. Precisávamos falar sobre o
beijo. O que ela queria. O que eu queria.

O que diabos eu queria?

Ela. Mas não era tão simples assim. Não com Drake.

Com a contagem de hóspedes baixa no hotel, seria um dia tranquilo no


Knuckles. Às quartas-feiras, Lyla trazia doces da cafeteria para o café da
manhã dos hóspedes. Skip estava lá esta manhã para fazer ovos mexidos,
presunto e bacon. O trabalho de preparação era inevitável, mas quando
finalmente me afastei da janela e fui para minha caminhonete, não foi para
dirigir até a cidade.

Fui para o rancho.

Talvez este fosse o lugar de Griffin agora. Seria sempre da mamãe e do


papai. Mas o rancho também era meu. Pertencia aos nossos corações.

Havia uma linha de feno em um prado nevado e estava cercado por gado
pastando. A marca Eden em suas costelas, um E com uma curva em forma de
corredor de cadeira de balanço por baixo, me deu uma sensação de orgulho
pelas realizações da minha família. Dirigir pelo arco fechado sempre fazia meus
ombros relaxarem.

A casa de mamãe e papai era o epicentro do rancho. Sua casa de


madeira
era cercada por um escritório e pelos estábulos. O celeiro também tinha um
loft, uma inspiração para mim, onde tio Briggs acabara de se mudar.

Mateo ofereceu o espaço para que Briggs pudesse ficar mais perto de
nossos pais na esperança de que eles pudessem monitorar sua demência.
Enquanto isso, Matty tinha tomado a cabana de Briggs nas montanhas.

Foi assim que fomos criados. Cuidamos um do outro.

Dois dos homens contratados saíram do celeiro quando parei, ambos


vestindo casacos Carhartt e chapéus Stetsons. Eles subiram em uma
caminhonete com a marca Eden estampada na lateral da porta. Acenei
enquanto eles saíam do terreno e seguiam pela estrada de cascalho que
serpenteava pelos prados e árvores até a casa de Griffin.

A neve no Cadillac da mamãe já estava derretendo sob o sol brilhante da


manhã. No meio da tarde, tudo teria desaparecido. Esta tempestade tinha sido
apenas um teaser do que estava por vir.

Estacionei ao lado da caminhonete de papai e subi os degraus para a


varanda. Antes que eu pudesse bater, a porta se abriu.

— Bom dia, filho. — Papai sorriu. Seus óculos estavam empoleirados em


seu nariz e ele segurava uma xícara de café na mão.

— Olá pai. Você está saindo?


— Não. — Ele me entregou a caneca. — Vi você descendo a estrada.

— Obrigado. — Peguei o café com a mão esquerda para apertar a dele


com a direita.

— Entre. Sua mãe está na cozinha com, e cito, 'mais malditas maçãs do
freezer'.

Eu rio e o sigo para dentro, onde o cheiro de canela e açúcar infundia


sua casa. — Parece que é melhor eu checá-la.

— Estou me escondendo no escritório. Encontre-me antes de partir. Eu


gostaria de falar sobre o hotel. Ver se você pensou em assumir o controle.

— Eu não pensei.

Seu sorriso desapareceu. — Eu realmente gostaria de saber o que você


está pensando.

— Eu sei. — Eu esfreguei o maxilar. — Dê-me mais algumas semanas.


Depois do Dia de Ação de Graças.

— Claro. — Ele suspirou. — Eu não quero pressioná-lo. Eu só quero


fazer um plano.

— Compreensível.

Ele me deu um pequeno sorriso, então se retirou para seu escritório.

O Eloise fazia parte dessa família, como o rancho. Deixá-lo seria como
cortar um galho da nossa árvore genealógica.

Se não fosse pelo processo, se não fosse por Briggs, papai não estaria
com tanta pressa de uma resposta. Mas toda vez que eu o via, ele tocava no
assunto.

O hotel funcionava, principalmente no piloto automático para meus pais.


Eles tinham décadas de experiência, especialmente mamãe. Sim, eles tiveram
que jogar aqui e ali. Mas sua firma de contabilidade lidava com a maior parte
das finanças. E Eloise levava a sério seu papel de gerente, coordenando
funcionários e horários, convidados e suprimentos.
Eu poderia lidar com isso? Sim. Eu queria? Essa era uma pergunta
totalmente diferente.

Entrei na cozinha, encontrando minha mãe no balcão, as mãos em uma


tigela de massa. — Ouvi dizer que você gosta de maçãs.

Mamãe olhou para cima e me deu um sorriso diabólico. — Estou


cortando aquela macieira.

— A macieira da vovó?

— Você sabe quantos baldes de cinco galões eu enchi este ano? Seis.
Passei quarenta anos colhendo, descascando e congelando maçãs. Estou tão
cansada dessas malditas maçãs que não consigo enxergar direito. Você sabe
que tipo de torta eu quero fazer? Pêssego. Ou cereja. Ou chocolate.

— Então você está dizendo que esta torta de maçã está disponível? — Fui
até o balcão e joguei um braço em volta dos ombros dela, beijando seu cabelo.

— Não. Você não pode tê-la. — Mamãe tirou as mãos da tigela, tirando a
massa enfarinhada e colocando-a no balcão. Então ela pegou um rolo de
madeira, entregando-o. — Faça isso para mim.

— Os doces são o forte de Lyla, não o meu, — eu disse, deixando o rolo


de lado para poder lavar as mãos na pia. Então eu fui desenrolando a massa
da torta, fazendo o meu melhor para mal tocar a massa para que ficasse o mais
escamosa possível.

Mamãe voltou com uma forma de torta de vidro, observando ao meu


lado, enquanto eu trabalhava. Antigamente, ela dava sugestões e dicas, mas
hoje em dia ela simplesmente observa. — Viu? Você não é tão ruim.

— Papai quer falar sobre o hotel.

Ela cantarolou. — O que você está pensando?

— Eu não sei, — eu admiti. — Isso vai partir o coração de Eloise.

— Sua irmã adora aquele hotel. Mas ela também te ama. Se você
assumir não significa que ela não poderá quando estiver pronta. Mas ela não
está pronta, Knox. Todos nós sabemos disso. E se for honesta consigo mesma,
Eloise também saberia.
— Você tem certeza sobre isso?

— Sim. Pode ser. — Ela soltou um longo suspiro. — Nós a protegemos


durante o processo. Isso provavelmente foi um erro.

— Não, eu acho que você lidou bem com isso. Já era difícil o suficiente
para ela do jeito que foi.

Eloise tinha contratado um homem de limpeza no ano passado. Ele


começou bem, trabalhando meio período. Então, um dia, ele pulou um turno.
Eloise deixou passar e o cobriu. Aconteceu mais três vezes antes de mamãe
ficar sabendo.

Papai entrou, encontrou-se com o empregado e deu-lhe um aviso. No


entanto, aconteceu de novo, então meu pai deu um tiro na bunda do cara.
Uma semana depois, fomos processados por demissão injusta e assédio sexual.

O babaca disse que Eloise tinha feito uma proposta para ele. Ela o
convidou para sair com alguns dos outros funcionários para uma bebida no
Willie's, tentando ser mais uma amiga do que chefe. Ele foi junto e, no final da
noite, ela o abraçou.

Meus pais estavam certos. Eloise deveria tê-lo demitido na primeira vez,
mas como ela permitiu, o advogado bajulador do homem achou que ficaria rico
processando a família Eden.

Os processos nunca são fáceis e, embora tivessem vencido, causaram


estresse indesejado.

— Vou pensar no hotel, — disse a mamãe. — Mas não estou pronto para
decidir. Ainda não.

— Justo. — Ela assentiu e me entregou uma faca.

Coloquei o prato de torta sobre a crosta, traçando a curva dele, depois


encaixei a folha no fundo enquanto ela vinha com uma panela de maçãs
cobertas de canela e açúcar.

Trabalhamos em silêncio, fazendo a torta e colocando no forno, uma


tarefa que tínhamos feito centenas de vezes, porque a árvore da vovó era um
monstro e mamãe não era a única que passava os verões colhendo maçãs.
Quando estava no forno, lavei as mãos e coloquei meu café no micro-
ondas para esquentar.

— Você precisa ir? — Mamãe perguntou. — Ou você pode ficar por aqui
para levar essa torta para Memphis?

— Memphis? Minha Memphis?

Ela arqueou as sobrancelhas. — Sua Memphis?

Merda. — Você sabe o que eu quero dizer.

— Ela é uma mulher bonita, por dentro e por fora.

Eu pisquei. — Eu não sabia que você passou tempo com ela.

— Ah, acabei falando com ela algumas vezes no hotel. Mas eu gosto dela.

Suspirei. — Eu também.

— Você diz isso como se fosse uma coisa ruim.

O micro-ondas apitou e eu peguei meu café, levando-o para a ilha, onde


sentei em um dos bancos. — É complicado.

Aquele beijo na noite passada tinha mudado tudo.

— Desde Gi-

Mamãe levantou a mão, me cortando. — Não diga o nome dela nesta


casa.

Mamãe odiava Gianna. Não apenas pelo que ela fez comigo, mas porque
mamãe e papai também ficaram feridos.

— É o garoto, — eu confessei. — Se fosse apenas Memphis, explorar algo


seria uma coisa.

Se fosse apenas Memphis, eu a teria beijado semanas atrás e nunca


parado. Mas o bebê... aquele bebê muda tudo.

Mamãe me deu um sorriso triste. — Você é um bom homem.

— Sou? — Porque eu provavelmente não deveria tê-la beijado ontem à


noite.
— Não deixe o que aconteceu no passado obscurecer o futuro.

— Não posso... — Fechei os olhos, admitindo meus medos. — Eu não


posso perder outro bebê.

Mamãe pegou o banquinho ao lado do meu e colocou a mão sobre a


minha. — Esta não é a mesma situação, Knox.

— Eu sei. — Mas poderia terminar tão mal.

Eu já estava ligado. A ambos.

Sentamos em silêncio, tomando café e contemplando o passado,


enquanto a torta assava. No meio do cronômetro do forno, papai se juntou a
nós e, como se pudesse sentir o clima, não falou sobre o hotel.

— Como está Briggs? Eu perguntei, pronto para uma mudança de


assunto.

— Bem. — Um pouco de tristeza sempre enchia os olhos azuis de papai


quando ele falava de seu irmão. — Nenhum episódio esta semana, graças a
Deus.

Passamos o resto do tempo conversando sobre Briggs e sua última ida ao


médico. Então a torta estava pronta e mamãe a tirou do forno, deixando esfriar
enquanto eu tomava uma última xícara de café.

Essa torta, embalada em um recipiente de cerâmica, foi comigo para a


cidade e quando estacionei atrás do hotel, levei direto para a sala de descanso,
encontrei um papel em uma gaveta e rabisquei Memphis em cima.

Minha intenção era ir para a cozinha e começar a trabalhar, mas quando


comecei a descer o corredor, meus pés me levaram até o elevador.

Em vez de parar no saguão, arrisquei e fui para o segundo andar.


Memphis não estava lá, mas a encontrei no terceiro.

Ela estava limpando uma cômoda com um pano de microfibra amarelo.


Seu cabelo estava em um rabo de cavalo, as pontas balançando contra sua
coluna. Suas bochechas estavam coradas, seus olhos se estreitando em
concentração. Ela era muito atraente para resistir.
Bati os dedos na porta e entrei no quarto, certificando-me de manter
mais de um braço entre nós para não a beijar novamente. Não até que essa
conversa terminasse.

— Se você quer pagar mais aluguel, então pague.

Ela piscou, ficando reta. — Sim.

— Feito. — Eu balancei a cabeça. — Como eu disse ontem à noite, eu


gosto de cozinhar para você. Se você não gosta dos extras do restaurante, tudo
bem. Eu não vou levá-los. Em casa, costumo ter muitas coisas à mão, mas se
eu estiver com pouco, talvez você possa ir à loja.

O canto de sua boca virou para cima. — Apenas me envie sua lista.

— Você não é caridade. — Perdi a batalha com a distância e fechei o


espaço entre nós. — Minha mãe fez uma torta para você. Também não é
caridade. Ela faz tortas para as pessoas que ela gosta.

— Eu gosto dela também.

— Este trabalho não é caridade. Você ganhou. Você o manteve. Você. Ent
endeu?

Ela assentiu.

— Em voz alta, Memphis.

— Entendi — ela sussurrou.

Minha mão levantou para puxar a ponta de seu rabo de cavalo. — Aquele
beijo não foi caridade.

— Não achei que fosse.

— Bom. — Peguei sua mão e a puxei para a beirada da cama, sentando-


me.

— Hoje em dia eu não sou mais uma pessoa complicada.

— Entendo. — Ela deslizou a mão da minha, baixando o olhar para o


colo. — Isso não precisa ser nada. Você não me deve uma explicação. Podemos
esquecer que o beijo aconteceu.
Eu não poderia esquecer mesmo se tentasse. — É isso que você quer?

— Não.

— Nem eu.

Seu corpo inteiro cedeu. — Eu não quero ser seu erro.

Essas palavras continham tanta dor. Tanto peso. Ela tinha sido o erro de
outra pessoa.

Se eu tivesse que adivinhar, diria que era o pai de Drake.

Memphis não havia contado sua história. Considerando que não tinha
contado para sua própria família e, para manter seu segredo, tinha desistido
de um fundo fiduciário, eu duvidava que ela confiasse em mim.

Ainda não. Talvez se eu fizesse minha própria confissão, ela perceberia


que não era a única com uma história.

— Quando eu morava em San Francisco, eu estava namorando uma


mulher. Gianna. Ficamos juntos por cerca de um ano. E durante a maior parte
daquele ano, ela esteve grávida.

Memphis sentou-se mais reta, seus olhos se arregalando. — Você tem


um filho?

Dei-lhe um sorriso triste. — Não.

— Oh Deus. — Sua mão veio à boca.

— Não é o que você pensa. Gianna tem um filho. Um filho. Seu nome é
Jadon.

— Mas... ele não é seu?

— Achei que ele fosse meu. Começamos a namorar e ela engravidou.


Nenhum de nós esperava, certamente não foi planejado, mas fizemos o melhor
possível. Gianna se mudou. Fui às consultas médicas. Nomes marcados no
livro de bebês. Ajudei-a a decorar o quarto em nosso apartamento apertado.
Segurei a mão dela durante o trabalho de parto.

— Você era o pai.


— Eu era o pai. Depois que chegamos em casa do hospital, passei longas
noites andando com o bebê pelo apartamento.

Assim como eu tinha feito com Drake.

— Por isso o seu olhar. — Os olhos de Memphis suavizaram. — Quando


você vinha à noite, havia momentos em que parecia miserável. Só por um
segundo. É por isso.

— Sim. — Eu não tinha percebido que ela tinha notado. Mas eu estava
aprendendo que Memphis não perdeu muito. — Jadon tinha duas semanas
quando tudo desmoronou. Gianna o levou para uma consulta médica. Cheguei
em casa do trabalho quatro dias depois e ela me disse que ele não era meu.

Memphis engasgou. — Knox.

Gianna jogou uma bomba na minha vida e tudo explodiu. Depois de um


longo dia, cheguei em casa, morto em pé, e encontrei Gianna no sofá. Jadon
estava dormindo. Eu sentei ao lado dela, instantaneamente sabendo que algo
estava errado. E então ela olhou para mim com lágrimas nos olhos. Ela se
desculpou primeiro.

Então, ela levou meu filho. Ela mudou minha vida.

— Ela me traiu. No início do nosso relacionamento, ela dormiu com um


cara que ela conhecia da faculdade. Ela suspeitava que Jadon pudesse não ser
meu, mas optou por não dizer nada. Ela me disse que esperava que eu fosse o
pai. Mas então ele nasceu e... ela queria a verdade.

A mão de Memphis se fechou sobre a minha. — Eu sinto muito.

— Eu também, — eu sussurrei. — Eu não falo sobre Gianna há muito


tempo.

— Entendi. É doloroso desenterrar o passado.

— É por isso que você não fala sobre o seu?

— Sim. — Era apenas uma palavra, mas havia um apelo para eu não
perguntar. Ainda não.
— Eu teria ficado em San Francisco, — eu disse. — Estar lá para Jadon.
Mas Gianna e eu terminamos, e ela tomou a decisão de que, se não ficaríamos
juntos, era melhor cada um ir para o seu lado. Ela se mudou. E eu...

— Voltou para casa.

— Sim. Voltei para casa.

— Há quanto tempo foi isso?

— Cinco anos.

— Você falou com ela?

Eu balancei minha cabeça. — Não há nada a dizer. E eu precisava deixar


isso para trás.

Memphis estudou o tapete por um longo momento, minha história


pesando no ar. — Então onde isso nos deixa?

— Eu esperava que você tivesse essa resposta.

Seus olhos chocolate encontraram os meus. — Não tenho muitas


respostas hoje em dia.

— Apegar-se a você é arriscado. Apegar-se a ele é... — Eu engoli em seco.


— É esmagador.

— Se dói. Se é esmagador... — Uma ruga se formou entre suas


sobrancelhas. — Por que você veio até o loft? Por que você continua vindo?

Eu levantei um ombro. — Não consigo parar.

— Você quer?

Eu levantei minha mão, afastando aquela mecha teimosa de cabelo mais


uma vez. — Não.
CAPÍTULO ONZE
MEMPHIS
A história de Knox continuou girando na minha cabeça, como um livro
ou filme que eu não conseguia parar de repetir.

Ele passou por uma gravidez. Ele assistiu ao nascimento de seu filho. Ele
tinha sido um pai. Então, em um instante, seu bebê foi arrancado de sua vida.

Eu sofria por ele. Eu me enfureci por ele. Nas horas que estava em casa,
minhas emoções eram uma montanha-russa.

Knox e eu estávamos sentados no quarto do hotel mais cedo, envoltos em


silêncio até que finalmente ele roçou os lábios nos meus em um beijo casto e
saiu sem dizer mais nada.

Drake soltou uma série de murmúrios de seu tapete de jogo. Os oohs,


aahs e guhs vinham com mais frequência nos dias de hoje.

Eu me estiquei ao lado dele, observando-o chutar as pernas e trabalhar


os braços. Acima dele, o móbile de animais de safári o fez sorrir quando ele
atingiu um deles com o punho.

Ele sorriu.

Eu sorri.

Ele arrulhou.

Eu murmurei, imitando seu som.

A ideia de alguém o levando embora fez meu estômago revirar. Como


Knox suportou, como ele foi embora...

Eu pressionei a mão no meu coração e olhei para o meu filho.

Ainda estávamos navegando por águas agitadas. Drake e eu estávamos


perto de nos afogar com mais frequência do que não. Ontem à noite eu quase
rachei e atendi meu telefone.
Então Knox me beijou e por mais que eu quisesse dizer que tinha
ajudado, aquele beijo tinha acabado de me mandar para cima de uma
cachoeira.

A marca de suas mãos permaneceu em minhas bochechas. A pressão


suave de seus lábios. Tocando sua língua.

Um beijo para mudar uma vida. Ou destruir.

Além das janelas, o céu estava escurecendo, os dias em Montana ficando


cada vez mais curtos à medida que o inverno se aproximava. Um flash de luz
me fez saltar do chão e na ponta dos pés ir até o vidro. O zumbido da garagem
abrindo abaixo do loft ondulou sob meus pés quando a caminhonete de Knox
entrou na garagem ao lado do Volvo.

Prendi a respiração quando uma porta se fechou, olhando pela janela


para ver em que direção ele iria. Quando começou a atravessar a entrada para
sua própria casa, eu suspirei.

Fiquei aliviada? Decepcionada? Ambos?

Knox hesitou na varanda da frente, olhando por cima do ombro e para a


minha janela. Ele me viu e levantou a mão.

Eu acenei de volta.

Então ele se foi, sob seu próprio teto, acendendo as luzes enquanto se
movia por sua casa.

Fechei os olhos e pressionei minha testa no vidro frio.

Knox era um bom homem. Ele era tão confiável quanto o nascer do sol.
Tão deslumbrante quanto o pôr do sol de Montana. Ele era o tipo de pessoa
que eu queria que Drake se tornasse.

Olhei para a casa dele, enquanto ele se mudava para o quarto e


desaparecia no banheiro, provavelmente para tomar um banho depois de estar
no restaurante o dia todo. Apenas uma porta me separava de um Knox nu.
Imaginei a água escorrendo sobre seus braços musculosos. Pingando sobre as
tatuagens. Molhando seu peito e estômago.

Minha imaginação teria que ser suficiente.


Eu me afastei da janela e peguei Drake do chão. Ele dormiu mais tarde
hoje à noite do que o normal, mas Jill me disse que ele tinha tirado uma
soneca mais longa na creche, então passamos mais tempo brincando.

— É melhor assim, — eu disse a Drake enquanto preparava seu banho


na pia.

Ele sorriu enquanto mergulhava na água com sabão.

Doeu perder Knox. Doeu perdê-lo, antes mesmo de tê-lo. Mas foi melhor
assim. Eu não tinha ideia do que o futuro reservava. Lutava para planejar o
amanhã, quanto mais os próximos cinco anos.

E eu não seria a mulher que tiraria outro filho de Knox.

O BIPE do alarme do meu telefone me tirou de um sono sem sonhos. Eu


me atrapalhei para desligar o alarme para não acordar Drake.

Drake.

Ele não tinha acordado.

— Drake. — Eu engasguei, pânico correndo em minhas veias enquanto


voava para fora da cama, correndo para o berço. Meu coração estava na minha
garganta quando estendi a mão para ele. O que estava errado? Por que ele não
acordou?

Ele se mexeu quando o levantei em meus braços, suas pálpebras


pesadas quando ele piscou para abri-las.

Examinei-o da cabeça aos pés, apalpando seu pijama. Dois braços. Duas
pernas. Eu pressionei minha mão em seu peito, sentindo sua respiração
expandir suas costelas e deixando seu coração bater contra minha palma.

— Oh meu Deus. — O ar saiu de meus pulmões.

Ele dormiu a noite toda.


Ele não acordou. Não porque estava doente ou...

Recusei-me a me permitir pensar na alternativa.

Ele dormiu a noite toda.

Meu coração martelava no meu peito enquanto o agarrei perto. Lágrimas


inundaram meus olhos quando o pico de adrenalina diminuiu. Foi bom. Ele
estava bem. Ele tinha acabado de dormir a noite toda.

Por que isso me fazia chorar? Eu deveria estar em êxtase, mas em vez
disso, passei o resto do tempo à beira das lágrimas, minhas mãos tremendo
enquanto corria para me preparar para o dia.

O som da garagem se abrindo e a caminhonete de Knox ganhando vida


soou, enquanto eu me apressava para tomar banho. Deixei cair minha escova
três vezes enquanto secava meu cabelo. Meu estômago estava muito agitado
para tomar café da manhã. Até a visão da torta de maçã de Anne Eden me
deixou enjoada, então enchi um copo de água apenas para engasgar no
primeiro gole. Meus dedos se atrapalharam com os botões do macacão de
Drake quando trabalhava para vesti-lo.

Me sentia... desligada. Instável.

— Ele está bem. — Sussurrei essas palavras para mim mesma enquanto
caminhava até o carro. Então as repeti mais cinco vezes, enquanto dirigia para
a cidade.

O estacionamento da creche estava cheio de pais entrando e saindo. Eu


entrei em um dos únicos espaços vazios, então carreguei Drake para dentro,
passando por outra das mães no corredor para o berçário.

O espaço era estreito, então eu desloquei o assento do carro de Drake


para que ficasse na minha frente, mas no movimento, as chaves que eu tinha
na minha outra mão caíram no chão. Eu o coloquei no chão, me curvando para
pegá-la, mas isso fez com que a bolsa de fraldas sobre meu ombro caísse.

— O que há de errado comigo? — Componha-se, Memphis. Respirei


fundo, desejando que meu coração saísse da garganta, então endireitei meus
ombros e voltei a ficar de pé.
Com minhas chaves enfiadas no bolso da calça jeans, eu estava
enganchando a bolsa de fraldas no ombro quando a voz de Jill ecoou pelo
corredor.

— Sua maior prioridade é encontrar um novo pai para seu bebê.

Meu corpo inteiro congelou.

Ela estava falando de mim? Sem chance. Tinha que ser outra pessoa. A
menos que alguém tivesse visto Knox e eu no Knuckles, dividindo uma mesa,
presumindo que éramos um casal. Isso foi um acaso. Mas esta era uma cidade
pequena. Talvez a fofoca viajasse rápido.

Minha cabeça estava pregando peças em mim hoje. Eu a afastei, soltei


meus pés.

A voz de outra mulher veio do berçário. — Você está surpresa que ela já
esteja namorando? Acho que ela estava saindo com esse cara antes mesmo do
divórcio ser finalizado. Eu disse que os vi no Big Sam's naquela noite.

Ok, definitivamente não eu. O Big Sam's Saloon era um dos bares da
Main, e um lugar que eu nunca tinha ido.

Qual era o meu problema esta manhã? Claro que eles não estavam
falando sobre mim. Não era como se eu compartilhasse minha vida pessoal
com Jill. Drake também não estava falando. Quando eu me tornei essa pessoa
ansiosa e descontrolada? A velha Memphis, apesar de todos os seus defeitos,
sempre manteve a cabeça erguida.

Eu não sentia falta dela, mas não ficaria com raiva se um pouco de sua
antiga confiança viesse à tona.

No momento em que Jill me viu do berçário, ela entregou a menina que


estava segurando para a outra mulher - uma das senhoras que eu tinha visto
no escritório algumas vezes - então se aproximou e roubou a cadeirinha de
Drake.

— Aí está o meu cara favorito. — Ela sorriu para ele enquanto o tirava de
seu assento. Em um momento, ele já estava em seus braços, chutando as
pernas com seu sorriso próprio.
— Aqui estão as mamadeiras e mais fraldas. — Pendurei o saco de
fraldas no gancho designado para Drake.

Jill nem me deu um olhar.

Eu me aproximei, tocando a mão de Drake. — Tenha um bom dia, bebê.


Eu te amo.

Jill o girou para que ele ficasse fora do meu alcance.

Meu coração torceu, mas eu me afastei, saindo da sala. Meus passos


eram lentos, muito lentos. Muito de mim queria entrar lá, pegar meu filho e
nunca mais pôr os pés neste prédio.

— É esse que vive com Knox Eden?

Essa pergunta me parou.

— Sim. — Jill respondeu, o desdém em sua voz tão brilhante quanto a


cor amarela nas paredes.

— Outra mãe solteira procurando por um pai. Acho que se eu fosse ela,
também iria atrás do solteiro mais rico da cidade.

Eu me encolhi. Isso era o que as pessoas estavam dizendo sobre mim?


Que eu estava atrás de Knox por seu dinheiro? A humilhação subiu pela minha
pele, vermelha e coçando. Minhas bochechas queimaram.

Levou todas as minhas forças para continuar andando. Enquanto essas


mulheres eram horríveis para mim, Jill pelo menos amava meu filho. E por
hoje, não tinha outras opções.

Eu tinha que ir para o meu turno.

Pela primeira vez em semanas, não estacionei ao lado da caminhonete de


Knox, escolhendo uma vaga muito mais distante. Depois de marcar meu cartão
de ponto, fui direto para um carrinho de limpeza, pulando minha xícara
regular de café e um rápido olá para Eloise no balcão da frente. Ela achava que
eu estava aqui para perseguir seu irmão?

Eu estava esperando no elevador dos funcionários quando passos


soaram no corredor. Knox estava andando na minha direção, um bloco de
notas e uma caneta na mão, as mangas de seu casaco de chef branco
empurradas para cima em seus antebraços.

Ele sorriu.

Um sorriso tão bonito que eu queria chorar.

O elevador abriu. Desviei o olhar, empurrei o carrinho para dentro e fui


para o quarto andar com os olhos bem fechados.

O telefone no meu bolso de trás tocou quando destranquei a primeira


porta do quarto de hóspedes. Eu o puxei, esperando que fosse a creche com
alguma razão pela qual eu tinha que sair e pegar Drake. Hoje, eu não queria as
horas de trabalho. Hoje, eu queria me aconchegar com meu filho e esquecer o
mundo.

Mas não era um número de Montana com o código de área 4-0-6.

Cento e trinta e dois.

Eu recusei no segundo toque e o guardei.

Quando eu estava me curvando para pegar a garrafa de limpador de vaso


sanitário, ele tocou novamente.

Cento e trinta e três.

Joguei a garrafa e o pano no chão, arranquei o telefone e, mais uma vez,


apertei o botão vermelho. — Pare de me ligar.

Ainda estava na minha mão quando tocou novamente.

Meus olhos inundaram. Meu queixo estremeceu.

Não desista.

Recusei mais uma vez e peguei meus suprimentos, então fui ao banheiro
e esfreguei o vaso sanitário até obter um branco brilhante. O espelho e o balcão
brilharam depois de um polimento. O chão estava impecável e o ar cheirava a
alvejante.

Eu limpei.

E o telefone tocou.
De novo e de novo e de novo, até que finalmente, quando eu estava
tirando a cama, ela parou. Havia dias assim. Dias em que eu recebia vinte
ligações em uma hora. Outros apenas uma em vinte e quatro.

Eu fiquei tensa, esperando que ele zumbisse novamente, mas quando


isso não aconteceu, eu respirei.

O estresse do dia estava crescendo atrás das minhas têmporas, e levantei


minhas mãos, esfregando a dor.

— O que há de errado? — Eu pulei com a voz profunda de Knox.

Quantos sustos um coração pode levar em um dia? Eu me senti como se


estivesse em uma casa mal-assombrada, com um palhaço assustador pulando
em mim em cada canto.

— Nada. — Eu acenei.

— Memphis. — Ele caminhou na minha direção, parando perto o


suficiente para que o cheiro de seu sabonete picante atingisse meu nariz.

Deus, ele cheirava bem. Hoje, havia uma pitada de limão também. Talvez
ele estivesse fazendo torta de merengue de limão. Era o meu favorito.

— Fale comigo.

— Eu estou bem, — eu menti. — Só uma dor de cabeça.

— Feche seus olhos.

— Knox, eu estou bem.

— Você é uma mentirosa horrível.

Eu bufei uma risada seca. Quantas vezes Oliver me disse o mesmo?


Embora ele tenha sido o rei das mentiras, comparado a ele, todos somos
aprendizes.

— Você fugiu de mim mais cedo. — Ele se aproximou.

— Eu estive pensando, — eu disse, endireitando meus ombros e


levantando meu queixo. Se eu não tivesse confiança, teria que fingir. — Acho
melhor pararmos com isso, seja lá o que temos, antes que vá mais longe.
Seus olhos azuis se estreitaram vendo através da fachada. Droga. — Por
que?

— Drake.

— Olhe... — Knox passou a mão pelo cabelo. — Sobre o que eu disse


ontem. Eu estava apenas sendo honesto. Mas eu não te disse a verdade para
que você me afastasse.

— Se tentássemos isso e não funcionasse, você o perderia.

— Sim. — Ele assentiu. — Eu sei o que está em jogo, Memphis. Mas eu


estou aqui de qualquer maneira.

— Ainda não acho que seja uma boa ideia. — Outra mentira que o fez
franzir a testa. — Drake tem que ser meu foco.

— Eu pedi para você tirá-lo de foco?

— Bem... não. — Não conseguia imaginar Knox me pedindo para


abandonar meu filho.

Ele levantou as mãos e fiquei tensa, certa de que se ele me beijasse


novamente, eu desmoronaria. Mas ele não segurou meu rosto e se inclinou
como fez no Halloween. Ele descansou as palmas das mãos nas minhas maçãs
do rosto para que seus dedos pudessem fazer pequenos círculos nas minhas
têmporas.

Era o céu.

E o inferno.

— Eu não posso fazer isso, — eu sussurrei, meus olhos se fechando para


não chorar.

— Por que?

— Eu não quero decepcionar Drake. Eu não posso decepcioná-lo. Eu sou


tudo que ele tem. — Eu não tenho nenhum plano alternativo. O fracasso não é
uma opção.

E eu também estou com medo. Essa é toda a verdade.


Eu estava pendurada por fios na maioria dos dias. Eu dei a Drake todo o
meu extra. Se Knox fizesse eu me apaixonar por ele e depois terminássemos,
eu desmoronaria. Eu não sei certeza se teria forças para consertar outro
coração despedaçado.

Knox ficou quieto por alguns momentos, o movimento de seus dedos


talentosos não parando. — Ontem, eu te contei sobre a parte mais difícil da
minha vida. Eu te contei sobre meu primeiro pior dia. Eu te falei sobre a
mulher que me destruiu. Não estou pedindo para você me contar sobre o pai de
Drake. Mas estou prometendo a você que, se você quiser me dar essa
confiança, não irei traí-la.

Quando abri meus olhos, seu olhar penetrante estava esperando. Ele era
tão lindo que quase doía olhar para ele. Eu queria contar a ele sobre Oliver. Se
havia alguém que cuidaria dos meus segredos, era Knox.

Mas...

Eu fiquei quieta.

— Você quer estar por conta própria. Eu entendo isso, querida. — Seus
dedos se afastaram das minhas têmporas para segurar no meu rabo de cavalo.
— Estar sozinha não significa que você tem que ficar sozinha. Há uma
diferença.

— Mas Drake...

— Não o use como desculpa, porque você está com medo. Você me querer
não significa que Drake tem que sofrer.

Ele estava assim... certo. Tão certo.

As mãos de Knox caíram, voltando para os lados. — Decida o que quer.


Você sabe onde me encontrar.

E então ele se foi saindo do quarto, me deixando para trás apenas com
suas palavras.

O que eu queria? Isso importava mesmo? Eu não podia ter sonhos para
mim.

E Knox... ele era um sonho.


O resto do meu dia foi gasto limpando sozinha, com as palavras de Knox
para me fazer companhia. Não foi um dia bom. Mas também não foi o pior. O
dia pesava sobre meus ombros enquanto eu me arrastava para o meu carro e
dirigia para a creche.

Entrei no berçário, querendo desesperadamente segurar meu filho, mas


ao examinar o quarto, não vi Jill. E nada de Drake.

— Uhn oi. Onde está Drake? — Perguntei à mulher trocando um bebê.


Era a mesma garota desta manhã, jovem como Jill, com cabelo louro-
avermelhado.

— Ah, ele não está aqui.

Eu pisquei. — O que?

— Jill teve que dar um recado rápido e o levou junto.

— Com licença? —Que. Porra.

— Ela mora ao lado. — A mulher apontou para a parede. — Ela estará de


volta em um minuto.

— Ok, — eu cortei e tirei a bolsa de fraldas de seu gancho. Então esperei,


os braços cruzados sobre o peito, o pé batendo no chão enquanto contava os
segundos no relógio de parede.

Três minutos e quarenta e um segundos depois, a porta dos fundos se


abriu e Jill entrou com Drake em seu quadril. Seu sorriso vacilou por um
momento quando ela me viu.

Atravessei a sala e tirei Drake de seus braços. — Olá bebê.

Ele começou a chorar, como fazia todos os dias, e estendeu a mão para
Jill.

Como ela tinha feito comigo esta manhã, eu girei e o puxei para fora de
seu alcance quando ela tentou tocar sua mão.

— Eu preferiria que Drake não fosse tirado deste prédio. — Eu o levei até
o assento do carro e o coloquei, puxando as alças tão rápido quanto meus
dedos se moviam.
— Ah, tudo bem, — disse Jill. — Não achei que seria um problema.
Estávamos ao lado.

Eu não confiava em mim mesma para falar outra palavra, então


enquanto Drake se acalmava, apertei sua fivela, enrolei o saco de fraldas no
meu ombro e saí pela porta.

No momento em que seu assento foi encaixado em sua base e deslizei


atrás do volante, meu telefone tocou.

Verifiquei o número e bati em recusar. Cento e cinquenta e cinco ligações


nos dois meses em que moro em Quincy. Já que eu não precisava me
preocupar com ligações da creche e não havia ninguém com quem eu quisesse
falar de qualquer maneira, eu desliguei a maldita coisa.

O choro de Drake parou quando chegamos à estrada.

E foi aí que o meu começou.

Eu estava tão cansada. Mentalmente. Fisicamente. Mas principalmente,


eu estava cansada de estar sozinho.

Durante toda a minha vida, as mulheres da minha família estiveram à


mercê dos homens que as mantinham. Minha mãe. Minha avó. Minha irmã. Eu
quebrei esse ciclo vindo para Montana.

Se eu deixasse Knox ou alguém ajudar, não seria como dar um grande


passo para trás? O que aconteceria quando eu dependesse dele?

Exceto que eu não poderia continuar assim. Eu precisava... de ajuda.


Admitir isso, mesmo para mim mesma, me fez chorar ainda mais.

As lágrimas caíram em um fluxo constante quando eu virei para Juniper


Hill, serpenteando pelo caminho. As luzes da casa de Knox estavam acesas,
lançando um brilho dourado na noite. Sua caminhonete estava na garagem.

Estacionei e peguei Drake, planejando subir as escadas e fazer um


sanduíche de manteiga de amendoim, seco e deprimente para o jantar. Mas
meus pés me levaram pelo cascalho até a porta da frente de Knox.

Ele abriu antes que eu pudesse bater. Seu olhar rastreou uma lágrima
que escorria pelo meu rosto.
— Quero não me sentir tão sozinha. Eu quero que meu filho sorria
quando eu for buscá-lo na creche. Eu quero que Drake tenha uma vida normal
mas sinto que isso está tão longe, que nem consigo ver em que direção estou
indo. Eu quero que você me beije novamente. Eu nunca mais quero comer um
sanduíche de manteiga de amendoim. Eu quero...

Knox me silenciou com os lábios, passando um braço forte em volta dos


meus ombros enquanto o outro levantava a cadeirinha de Drake da minha
mão. Sua língua se arrastou pelo meu lábio inferior enquanto sua boca macia
pressionava a minha.

Antes que eu estivesse pronta para terminar, ele puxou seus lábios dos
meus, mas seu braço ficou apertado, me puxando para seu peito. — Um desejo
foi concedido. O que mais você quer?

Inclinei-me para ele e disse-lhe a verdade aterrorizante. — Você.


CAPÍTULO DOZE
KNOX
Memphis riu quando entrei no quarto de hotel que ela estava limpando.
— Você não deveria estar trabalhando?

— Estou de folga.

— Uh-huh, — ela brincou. — Você teve uma pausa quinze minutos atrás.

— Vinte. — Entreguei a ela o café com leite que acabei de pegar no Lyla's.

— O que é isso?

— Um café com leite.

Ela olhou para o copo de papelão com café como se eu tivesse trazido
para ela um tijolo de ouro, não uma bebida que minha irmã se recusou a me
deixar comprar. Memphis tomou um gole da tampa de plástico preto, e aquele
olhar de pura alegria em seu rosto...

Por esse olhar, por uma risada, eu traria um café para ela todos os dias.

— Obrigada.

— É apenas um café, querida.

Seus olhos suavizaram. — Não para mim.

— Não me olhe assim.

— Como o quê?

Eu me aproximei, encaixando minha mão em seu maxilar. — Como se


você precisasse ser beijada.

Um sorriso iluminou seu rosto quando ela ficou na ponta dos pés. Ela
era muito baixa para alcançar meus lábios, então eu me inclinei e selei minha
boca sobre a dela, minha língua varrendo seu lábio inferior.

Ela engasgou, sua mão com o café se estendendo para o suporte da TV


para colocá-lo em cima. Mas seu braço não era longo o suficiente, então o
peguei dela, deixando-o de lado e a carreguei para a cama recém-feita
deitando-a no edredom fofo branco.

Memphis se agarrou a mim enquanto eu lhe dava meu peso,


pressionando-a contra o colchão e desejando como o inferno que eu tivesse
pensado em fechar a porta.

Essa mulher me dá fome. Esfomeado. Sua língua emaranhada com a


minha e eu solto um gemido baixo em sua boca. Ela tinha gosto de café doce e
baunilha.

Ela era o melhor momento que já tive e até agora, tudo o que fizemos foi
beijar.

Na semana passada, eu mal consegui manter minhas mãos longe dela.


Eu tinha que colocar pelo menos um andar do hotel entre nós para fazer meu
trabalho, mas mesmo assim, eu sempre encontrava desculpas para sair da
cozinha e caçá-la. E a beijei tantas vezes quanto ela me deixou.

Mas quando estava prestes a rasgar suas roupas, eu parava. E por uma
semana, meus chuveiros ficaram tão frios quanto o ar do início de novembro.

Porra, mas eu a queria. Se beijá-la fosse alguma indicação, seríamos um


maldito fogo na cama. Mas ela não estava pronta.

Com Memphis precisava ser devagar. Estável. Talvez eu também.

Mas eu tinha sido verdadeiro com ela na semana passada. Eu sabia no


que estava pisando. Com ela. Com Drake. E era hora de deixar o passado para
trás.

Ela gemeu quando mordisquei seu lábio inferior. Esse som foi direto para
o meu pau dolorido, então afastei minha boca e soltei um gemido, deixando
cair minha testa na dela enquanto respirávamos.

— Knox? — A voz de Eloise ecoou pelo corredor.

Memphis engasgou, tentando me empurrar, mas eu não me mexi. —


Knox.

— O que?

— Ela vai nos ver.


— Então? — Minha irmã iria me ver em cima de Memphis ou me veria
com uma protuberância maior do que o normal atrás do meu jeans.

Memphis empurrou com mais força então eu levantei, passando a mão e


puxando-a para seus pés. Ela empurrou o cabelo de seu rosto enquanto eu
enxugava minha boca e ajustava meu pau. Suas bochechas estavam coradas.
Ela correu para o banheiro quando minha irmã chegou ao limiar.

— Ah, aí está você. O que você está fazendo?

Eu balancei a cabeça para o café. — Para Memphis.

— Ah. Isso foi legal. — Ela me deu um sorriso, como se soubesse


exatamente o que eu estava fazendo neste quarto. Talvez ela saiba.

Memphis saiu do banheiro com uma lata de limpa-vidros e um pano. —


Ei.

— Ei. — Eloise sorriu. — Eu só vim buscar Knox. Há alguém aqui para


vê-lo.

— Quem?

Eloise deu de ombros. — Não sei. Ele não me deu o nome.

Talvez fosse um cliente feliz. Ou um chateado. — Ok. Onde ele está?

— No saguão. Vou mostrar-lhe.

Eu balancei a cabeça e olhei para Memphis, dando-lhe uma piscadela. —


Até mais.

Essa piscadela fez suas bochechas ficarem mais brilhantes. — Tchau.

Eu ri e caminhei com Eloise para fora da sala, seguindo-a pelo corredor


até a porta da escada. Atrás de mim, Memphis estava ao lado de seu carrinho
de limpeza, os olhos colados na minha bunda.

Quando ela percebeu que a peguei olhando, ela simplesmente deu de


ombros e sorriu.

Eu sorri e subi as escadas, seguindo minha irmã até o saguão.


Eloise apontou para o homem de pé ao lado da lareira crepitante,
tomando seu lugar na recepção, enquanto eu me aproximava para me
apresentar.

O cara estava de costas para mim, seu corpo coberto por um blazer de
tweed e seu pescoço envolto em um cachecol xadrez grosso.

— Bom dia, — eu disse, manobrando ao redor do sofá para ficar ao seu


lado. — Knox Éden.

— Dia. — Ele tirou o chapéu de feltro marrom, revelando seu couro


cabeludo escuro e calvo. Ele agarrou o chapéu pela aba enquanto se virava, a
mão estendida. — Lester Novak.

Lester Novak.

Porra.

Apertei sua mão, observando o bigode acima de seu lábio. Esse bigode
era o logotipo que ele usava em seus artigos de revista e em seu site.

Lester Novak, o crítico gastronômico extremamente popular, estava no


hotel da minha família. E ele queria falar comigo.

— É um prazer conhecê-lo, — eu disse, minha voz firme traindo a corrida


do meu coração.

— O mesmo para você. — Ele apontou para o sofá. — Posso ter alguns
minutos?

— É claro.

Lester não perguntou se eu sabia quem ele era, porque esperava-se que
um chef reconhecesse seu nome ou percebeu pelo meu rosto. Provavelmente
ambos.

Nós nos acomodamos no sofá de couro, virados um para o outro.

Na lareira, o fogo nos aquecia, afugentando o frio do fim do outono que


soprava sempre que as portas do saguão se abriam.
Os aromas de café, cedro e pinho carbonizado enchiam a sala. Aromas
que normalmente me dariam uma sensação de paz. Mas eu estava sentado em
frente a Lester Novak e seus olhos escuros não revelavam nada.

— Acredito que conhecemos alguém em comum, — disse ele. — Cleo


Hillcrest.

— Sim. Cleo foi uma convidada aqui alguns anos atrás. Ela, uh... bem,
ela assumiu minha cozinha uma manhã e fez doces suficientes para alimentar
todo o condado.

Ele riu. — Isso soa como Cleo. A padaria dela é minha parada favorita
sempre que estou em Los Angeles.

— Ela é muito talentosa.

Eu queria estrangular Cleo no dia em que a encontrei na minha cozinha.


Matty a deixou entrar para cozinhar um pouco. Ela usou mais farinha e açúcar
em uma manhã do que eu em um mês. Mas uma mordida em um muffin e
outra em um rolo de canela e superei minha irritação. Então, eu me afastei e
deixei a mulher assar. Foi o presente dela.

Em seu último e-mail, ela mencionou que estava tentando planejar outra
visita a Quincy com seu guarda-costas que virou marido. Cleo ainda não sabia,
mas Austin já havia combinado de trazê-la para Quincy depois do Natal.

Se Lester Novak me fizesse uma crítica positiva, eu não cobraria as férias


inteiras de Cleo e Austin no The Eloise.

Inferno, eu deveria de qualquer maneira, simplesmente porque ela me


enviou Memphis.

— Cleo me contou sobre este charmoso hotel em Montana, — disse ele.


— Eu tive uma pausa na minha agenda e decidi fazer uma parada rápida.
Como sempre, Cleo tem um gosto requintado.

— Estou feliz que você esteja gostando da sua visita.

— Estou. — Ele sorriu. — Knuckles. Nome interessante para um


restaurante. A atmosfera era... inesperada. Isso me lembra algo que eu
encontraria em uma cidade grande, não em uma pequena cidade do interior.
Isso era uma coisa boa? Eu não poderia dizer pelo seu tom. — Eu
poderia ter colocado crânios de gado nas paredes e deixar as pessoas jogarem
cascas de amendoim no chão, mas vou deixar os bares da Main fazerem o que
as pessoas esperam.

— Bom. — Seu sorriso se alargou. — Eu jantei no Knuckles ontem à


noite.

Merda. O que eu tinha cozinhado? Estava tão preocupado que corri pela
última hora porque estava ansioso para chegar em casa antes de Memphis
adormecer.

Houve alguns pedidos de hambúrguer. Lester poderia ter sido um deles,


mas considerando que suas resenhas de qualquer coisa com carne vermelha
eram raras, eu achava que não. Talvez ele fosse os tacos de truta grelhada. Ou
a pizza ensolarada.

— E? — Eu perguntei.

— Eu não como muitos hambúrgueres.

Droga. Ele comeu um hambúrguer. Eles eram bons, toda a minha


comida era boa. Mas eram apenas hambúrgueres. Era difícil ser realmente
criativo — e era por isso que meu pai, um criador de gado ao longo da vida,
achava os hambúrgueres ótimos.

Os hambúrgueres eram um favorito local, mas eu poderia fazer muito


melhor com tantas outras coisas.

— Foi... — Ele acariciou o bigode. Simples. Repetitivo. Ordinário. —


Fantástico.

Ah, obrigado porra. — Estou feliz que você gostou.

— A garçonete mencionou que você obtém toda a sua carne do rancho


aqui da sua família.

— Sim. Meu irmão mais velho administra o rancho. Todos os anos ele
passa alguns de seus melhores novilhos para mim.

— Gostei particularmente do ketchup. Esse não é um condimento que eu


já tenha sido capaz de elogiar antes.
Eu ri. — Vou ter que dar crédito por essa receita para minha mãe.

— Há uma história, não há?

— Há. — Eu sorri. — Crescendo, éramos seis de nós, crianças.


Comíamos ketchup como loucos. Um dia acabou. Estávamos no meio do
inverno e mamãe não estava com vontade de dirigir até a cidade em estradas
ruins, então ela decidiu fazer com alguns tomates que ela tinha enlatado da
horta no verão anterior. Acho que ela não comprou uma garrafa de Heinz desde
então.

Lester riu e tirou um bloco de notas e uma caneta do bolso do blazer. —


Você se importaria se eu usasse essa história na minha resenha?

— De jeito nenhum.

Ele começou a fazer algumas anotações, enquanto minha mente girava.

Quincy, Montana, não era conhecida por sua cena gastronômica. Os


habitantes locais não se importavam com a opinião de um crítico
gastronômico. Eles não se preocupavam com a apresentação. Eles se
importavam que a comida estivesse quente quando chegasse à mesa e os
preços fossem justos. Era um bônus se eu adquirisse itens de produtores
locais.

Essa era a parte fantástica de morar aqui. Não havia elegância. A comida
era para nutrir os corpos que trabalhavam duro e, se tivesse um gosto bom,
bem... esse era o objetivo.

Uma resenha de Lester não levaria os foodies pelas portas da frente no


Knuckles. Mas era uma conquista para mim. Era algo de que me orgulharia
nos próximos anos.

— Comecei a escrever um artigo mensal para a revista Travel and


Leisure. — Lester guardou a caneta e o bloco de notas. — Gostaria de
apresentar Quincy, The Eloise e, em particular, Knuckles.

— Eu ficarei honrado. — Eu não me incomodei em esconder meu sorriso.

— Vou ficar esta noite e estou ansioso para outro jantar.


— Sexta-feira à noite eu faço um especial. Ainda não decidi o que vai ser.
Alguma solicitação?

Ele esfregou as mãos. — Surpreenda-me.

— Fechado. — Ideias corriam pela minha mente. Frango Dijon.


Medalhões de porco. Bife Wellington. Eu dispensei todos eles
instantaneamente, precisando entrar na sala para ver o que eu tinha em mãos.
Talvez um peixe?

Quincy era tudo sobre conforto para mim. Estava em casa. Talvez eu
fizesse o macarrão com queijo de Memphis e fritasse um frango com minha
massa de chipotle favorita.

— Para o artigo, a revista vai querer enviar um fotógrafo, — disse Lester.


— Você se importaria?

— Não é um problema. Apenas me diga o dia.

— Excelente. — Lester se levantou, estendendo a mão mais uma vez.

Eu me levantei e a balancei. — Obrigado. De verdade.

— Como eu disse, foi um prazer. Até hoje a noite.

— Se você estiver explorando Quincy, gostaria de recomendar o Eden


Coffee. Minha irmã Lyla é a proprietária. Embora Cleo tenha seu troféu quando
se trata de pãezinhos de canela e muffins. Por favor, não diga a Lyla que eu
disse isso.

Lester riu. — Nenhuma palavra.

— Mas Lyla faz uma receita de cereja azeda que é incrível. Ela pega as
cerejas das árvores da mamãe e sua massa de pastel é mágica. Ela fez alguns
esta manhã. Se eles ainda não estiverem esgotados, você não vai querer perder.

— Sabe, eu estava pensando em tomar um café. — Ele apertou o nó em


seu cachecol. — Eu vou ter que me apressar.

Com um aceno de despedida, eu o observei atravessar o saguão e sair


pelas portas. Quando ele estava fora da vista das grandes janelas, eu dei um
soco. — Sim.
— Quem era ? — Eloise perguntou enquanto eu passava pela mesa e me
dirigia para a escada.

Eu levantei um dedo. — Digo-lhe em um segundo.

A primeira pessoa para quem eu queria contar era Memphis.

Subi as escadas de dois em dois, correndo para encontrá-la no segundo


andar. Ela estava terminando o mesmo quarto onde estávamos antes. O som
de seu telefone tocando soou no corredor.

Ela estava tomando seu café quando entrei na sala, recusando a ligação.
Memphis recusa muitas ligações.

— Ei, — eu disse para não a assustar.

Seus olhos chicotearam em minha direção e o vinco entre suas


sobrancelhas, aquele que sempre vinha com aquelas ligações que ela não
aceitava, desapareceu. — Foram dez minutos.

Entrei direto em seu espaço, mais uma vez levantando o café de sua
mão. Então eu emoldurei seu rosto e coloquei meus lábios nos dela para um
beijo rápido. — Adivinha?

Ela sorriu. — O que?

Repeti minha conversa com Lester em um borrão e quando terminei ela


sorriu.

— Knox, isso é... — Suas mãos voaram no ar. — É Lester Novak. O


Lester Novak.

— Eu sei. — Deus, eu adorava que ela soubesse o quão grande era isso.
Que ela estava mais animada do que eu.

— Quando eu trabalhava para a Ward Hotels, sempre tentávamos fazer


com que ele passasse no restaurante e fizesse uma avaliação. Mas ele era
quase impossível de conseguir. E ele está aqui. — Suas mãos foram para o ar
novamente. — Em Quincy.

— E ele não odiou minha comida.


— É claro que ele não odiaria sua comida. Duh. Você é o melhor chef que
eu já conheci.

O elogio foi dado tão casualmente, como se ela estivesse afirmando o


óbvio. O céu estava azul. A neve era branca. Eu era o melhor chef do mundo.

Engraçado como semanas atrás uma opinião como a de Lester teria sido
a régua pela qual eu mediria meu sucesso. Agora, contanto que Memphis
gostasse de suas refeições, eu não precisava da opinião de um crítico ou cinco
estrelas no Yelp.

— O que você vai fazer? — ela perguntou.

— Não sei. Eu estava pensando em comida conforto e caseira. Ele gostou


do hambúrguer. Acho que ficar com a comida testada e comprovada de Quincy
será melhor. Mas provavelmente vou fazer melhor à medida que for
cozinhando. Geralmente é o melhor.

Ela assentiu. — Concordo.

— Quer ficar por aqui? Ir buscar Drake e jantar aqui?

— Sim, mas eu provavelmente não deveria. Não quero distraí-lo.

— Você é bastante perturbadora. — Eu puxei a ponta de seu rabo de


cavalo. Então, porque eu não conseguia me afastar, deixei minha boca cair na
dela e me perdi na mulher que estava consumindo todos os meus
pensamentos.

Ela se inclinou para o beijo, levantando-se para se aproximar.

Eu estava colocando meus braços ao redor dela, prendendo-a no meu


peito, quando um pigarro soou na porta.

Memphis se afastou, seus olhos se arregalando. Atrás de nós, Eloise


estava ao lado do carrinho de limpeza no corredor.

— Devo fingir que não vi isso? — perguntou Eloise.

— Não. — Eu ri, serpenteando um braço ao redor de Memphis e


puxando-a de volta em meus braços.

Ela endureceu. — Knox.


— É tarde demais agora, querida. Ela não é cega.

— Oh meu Deus. — Ela levou as mãos ao rosto, sussurrando: — Vou ser


demitida.

— Eloise, Memphis está preocupada que será demitida.

— Knox, — Memphis assobiou, cutucando-me nas costelas.

Eu a ignorei e me virei para minha irmã. — Você vai demiti-la por me


beijar?

— Claro que não.

— Viu? — Eu dei a Memphis um sorriso. — Cidade pequena, querida.


Ninguém se importa.

— Knox, só vim para ter certeza de que estava tudo bem, — disse Eloise.
— E já que é... quando você terminar aqui, você me faria um almoço mais
cedo? Esqueci de trazer hoje e estou morrendo de fome.

— Claro.

Eloise recuou pelo corredor, e quando ouvimos a porta da escada abrir e


fechar, Memphis cedeu.

— Eu não tinha certeza se Eloise se importaria.

— Não. Mas é melhor eu fazer o seu almoço antes que ela fique com
fome. E antes que eu precise de outro banho frio.

Memphis me deu um sorriso tímido. — Você está bem com esse ritmo?

— Não há pressa. — Eu beijei o topo de seu cabelo. — Eu não estou indo


a lugar nenhum. Quando estiver pronta, estarei aqui. Nós vamos devagar. Mas
nada de esconder. Eu não estou mantendo você em segredo.

As manchas de caramelo em seus olhos dançaram. — Sem esconderijos.

Pode ser estranho se eu assumir o hotel e me tornar o chefe do chefe


dela. Mas esse era um problema para amanhã. Esta noite, eu só queria fazer o
jantar para Lester.

Então voltar para casa e Memphis.


CAPÍTULO TREZE
MEMPHIS

Quando estiver pronta, estarei aqui.

Eu estava pronta?

Há uma semana, não. Knox percebeu minha hesitação e não pressionou.


Mas agora? Talvez eu precisasse dessa semana para entender. Para deixá-lo
me beijar com frequência. Para sorrir quando ele sorria. Para abrir minha
mente para a ideia de ter um alguém.

Talvez eu precisasse da semana para me lembrar que Knox não era


Oliver. E para me lembrar que eu não era mais a mesma Memphis que ficou
cega pelo charme de Oliver.

Não enganada.

Cega.

A pessoa que roubou minha visão fui eu. Fechei os olhos para seus
defeitos e vi apenas boa aparência, dinheiro e status.

Mas eu estava com meus olhos abertos, graças ao meu menino. E


quando olhei para Knox, vi o melhor homem que já conheci.

Ele tem a aparência bonita. O charme. O dinheiro e, em Quincy, muito


status como um Éden. Mas nada disso parece importar para ele. Ele se
preocupa com honestidade e integridade. Família e trabalho duro. Ele me trata
como se eu fosse preciosa e desejada.

Eu estou pronta?

Faróis brilharam na janela e pulei do sofá, correndo para a porta.

Um olhar para Knox na base da escada e não precisei me fazer mais


perguntas.
Meu coração respondeu com um baque retumbante. O patamar estava
congelado e frio, mas saí com os pés descalços de qualquer maneira, esperando
enquanto ele corria escada acima. — Bem? Como foi?

Knox respondeu me abraçando e me carregando para dentro, fechando a


porta atrás de nós com o pé. Então sua boca estava na minha, nossos lábios se
fundindo naquele emaranhado lento e delicioso em que me viciei esta semana.

Eu estava sem fôlego quando ele finalmente me colocou de pé. — Então?


Lester gostou do jantar?

— Ele me disse que foi uma jogada ousada servir macarrão com queijo.
Eu disse a ele que tinha uma mulher em casa que me disse ser o melhor do
mundo. Ele concordou.

— Sim. — Eu voei para ele, pulando em seus braços porque sabia que ele
me pegaria. — Eu sabia. Eu sabia que ele ia adorar qualquer coisa que você
fizesse.

— Tenho sobras na caminhonete. Quer um pouco?

— Mais tarde. — Eu deixei meus lábios nos dele, me perdendo em seu


gosto e sua língua. Minhas pernas enrolaram em torno de seus quadris e
quando senti sua excitação pressionar meu centro, desta vez, não recuei.
Quando um de seus braços se moveu para segurar minha coxa, eu arqueei
para ele, ganhando um rosnado baixo do fundo de seu peito.

Ele arrancou a boca. — Porra, mas você sabe beijar.

Eu sorri, dando um beijo no canto de seus lábios. — Beije-me


novamente.

— É melhor eu sair por aquela porta enquanto ainda posso.

— Fique, — eu sussurrei.

Seu aperto aumentou, seus olhos escureceram com luxúria. —


Memphis...

— Estou pronta. — Corri meus dedos por seu cabelo grosso. — Eu não
estava há uma semana. Mas agora estou.

— Tem certeza?
— Sim. — Eu confiei em Knox. Com meu corpo. Com meu coração.

Ele estava se inclinando, seus lábios quase roçando os meus, quando ele
congelou.

— O que?

— Drake.

Ah Merda. O que estava errado comigo? Eu estava a segundos de pular


em Knox e meu filho estava dormindo em seu berço. — Sou uma mãe horrível.

Knox riu. — Você não é uma mãe horrível. Mas vamos levar isso para o
meu apartamento.

— Eu não tenho um monitor de bebê. — Eles eram caros, e como Drake


e eu morávamos em um único quarto, qual era o sentido?

— Acha que ele vai ficar dormindo se você o carregar?

— Pode ser.

— Vale a pena experimentar. Você o pega. — Knox me colocou de pé. —


Vou pegar o berço.

Eu andei na ponta dos pés pelo loft, pegando Drake e envolvendo-o em


um cobertor.

No tempo que levei para vestir um cardigã e calçar um par de sapatos,


Knox tinha o berço dobrado e a bolsa de fraldas pendurada no ombro.

Talvez seja imprudente. Não muito tempo atrás, eu tive a explosão


nuclear de um rompimento. No entanto, enquanto eu seguia Knox pela entrada
de sua casa, meus pés dançavam sobre o cascalho. Um sorriso beliscando
minhas bochechas.

Cada passo cheio de expectativa. Cada batida do coração vibrava sob


minha pele.

Knox Eden, esta noite, era meu.

Ele foi na frente entrando em casa casa, depois pelo corredor em direção
aos quartos de hóspedes. Ele montou o berço de Drake como um homem que
fez isso uma centena de vezes.
Como um pai.

Dei um beijo na cabeça do meu filho. Drake soltou um guincho quando o


deitei em sua cama. Então prendi a respiração, Knox e eu pairando sobre a
grade do berço. — Isso é estranho?

— O que? — sussurrou Knox.

— Arrastar um bebê durante a noite para que possamos... você sabe. —


Então eu poderia escalar Knox como uma árvore nua.

— Você acha que isso matou o clima?

— Será ? — Por favor, diga não. Meu corpo estava tenso e depois de uma
semana de beijos, eu ansiava por mais.

Knox pegou uma das minhas mãos, levando-a para sua barriga dura e
lisa. Então, com a palma da mão cobrindo meus dedos, ele a arrastou cada vez
mais para baixo sobre seu jeans. Sua dureza me fez suspirar. — Isso responde
a sua pergunta?

Minha boca ficou seca. Isso não era uma pequena protuberância atrás de
seu zíper.

Drake torceu o nariz e se mexeu, mas relaxou e adormeceu novamente.


Dorme. Por favor bebe. Dorme.

Knox segurou minha mão e me arrastou para fora do quarto, deixando a


porta aberta para que pudéssemos ouvir Drake se ele chorasse. Então
estávamos correndo pelo corredor. Ele não diminuiu seus longos passos por
mim, ele apenas me puxou, a urgência em seus movimentos igualada aos
meus.

Mas acho que não estava andando rápido o suficiente porque, quando
chegamos à sala de estar, ele se virou e me carregou por cima do ombro pelo
resto do caminho até seu quarto, eu estava nas mãos de um bombeiro.

— Oh meu Deus. — Eu ri quando sua palma bateu na minha bunda.


Então eu estava voando pelo ar, um grito preso na garganta, antes de pousar
em sua cama. — Sua casa tem muitas janelas para um homem das cavernas.
Ele sorriu, seu rosto bonito abafado na luz fraca da lua que rastejava
através do vidro. Então se inclinou para frente, seus braços plantados ao meu
lado na cama. — Você é minha. Quer façamos isso esta noite ou não.

Ele ia fazer me apaixonar por ele, não?

Eu coloquei minha palma contra sua bochecha barbuda, me inclinei,


diminuindo a distância, e peguei sua boca.

A intensidade de Knox encontrou a minha, o desejo se curvando entre


minhas pernas. A dor que eu sentia por ele ganhou nova vida quando suas
mãos deslizaram sob o tecido fino da camisola que vesti com a calça do pijama.

Ele me moveu mais fundo na cama e então ele estava em todos os


lugares, beijando meu pescoço, suas mãos percorrendo minhas costelas e o
inchaço suave dos meus seios. Meu cardigã foi tirado de mim e jogado no chão.

Minhas mãos se enroscaram em seu cabelo e deixei o cheiro de seu


quarto me envolver. Sabão, sálvia e Knox.

Cada toque, cada carícia, fez o meu núcleo pulsar mais forte. — Mais.

Knox me ignorou e continuou sua deliciosa tortura, nunca tocando onde


eu precisava que ele me tocasse, apenas se aproximando. E caramba, nós dois
estávamos completamente vestidos. Eu estava prestes a rastejar para fora da
minha pele se não conseguisse tocá-lo.

Meus dedos abandonaram seu cabelo para puxar sua camisa, mas toda
vez que eu puxava a bainha de sua espinha, ele se torcia e eu perdia o
controle. — Você está me matando.

— Lento. Lembra?

— É uma ideia horrível.

— Apenas me certificando de que esteja pronta. — Ele mergulhou mais


para baixo, arrastando a língua pela minha clavícula. Sua mão deslizou pela
minha barriga, mergulhando abaixo do cós elástico da minha calça do pijama.
Então aqueles dedos longos estavam na minha calcinha, deslizando pelas
minha boceta molhada.

— Knox. — Eu arqueei ao seu toque, meus olhos se fechando.


Seus lábios viajaram cada vez mais para baixo. Uma mão veio para
libertar meu peito. Em seguida, sua boca quente se fechou sobre um mamilo e
eu quase gozei.

Faz muito tempo desde que me senti adorada. Sexy. Meu corpo ganhou
vida sob seu toque e quanto mais ele brincava, mais eu tremia.

— Não goze, — ele ordenou.

Meus olhos se abriram. — O que?

Ele me deu um sorriso malicioso. — Não goze. Ainda não.

— Então é melhor você parar.

Sua mão saiu da minha calça e ele desceu da cama. No momento em que
ele alcançou a bainha de sua camisa, eu me apoiei em um cotovelo e me
recusei a piscar enquanto ele a arrastava sobre sua cabeça. Eu o vi sem
camisa pela janela, mas caramba. Não havia nada como uma visão de perto
daqueles abdômen . A definição em seus quadris era de dar água na boca. Ele
tinha o V que desaparecia no cós da calça jeans.

As tatuagens em seus bíceps se enrolavam em seus ombros. Uma


mergulhava até o peitoral. Se ele permitisse, esta noite eu ficaria feliz em traçar
as linhas com meus dedos e língua.

Ele tirou os sapatos enquanto abria o botão de sua calça jeans.

A respiração engatada que escapou dos meus lábios fez Knox congelar. —
Muito rápido?

Eu balancei minha cabeça, olhos grudados em seu pau longo e grosso. —


Você é, hum... uau.

Ele plantou um joelho na cama, cobrindo-me com aquele corpo


musculoso. Um braço alcançou a gaveta do criado-mudo e ele trouxe o
preservativo entre nós, me dando mais uma chance de pisar no freio. — Nós
podemos guardar isso para outra noite.

— Por que você está tentando me convencer a não fazer sexo com você?
Ele beijou a ponta do meu nariz. — Porque esta noite será o melhor
momento que tive em anos. Eu quero isso para você também. Sem
arrependimentos.

— Sem arrependimentos.

Ele segurou meu olhar, procurando por um pingo de dúvida. Ele não
encontraria.

Eu empurrei seus ombros, forçando-o a se levantar. Então tirei minha


própria blusa, jogando-a no chão. Seus olhos brilharam com a visão dos meus
seios nus. Essa apreciação foi suficiente para banir qualquer medo de que meu
corpo tenha mudado após o parto e eu tenha perdido meu apelo.

Knox veio, seus lábios se fundindo aos meus. Então nós éramos uma
confusão de movimentos frenéticos enquanto nós dois trabalhávamos para
empurrar minhas calças, deixando nada entre nós além de calor.

Seu peso se estabeleceu nos meus quadris. Seu corpo era uma torre de
força. Seus braços segurando meu rosto o impediram de me esmagar, mas ele
ficou perto o suficiente para que os cabelos em seu peito esfregassem contra
meus mamilos sensíveis.

— Você é... você é um sonho, — ele respirou. — Eu desisti deles.

Minha respiração engatou. — Eu também.

Seu beijo foi suave e gentil quando ele se posicionou na minha entrada.
Então ele nos balançou juntos, centímetro por centímetro.

Eu saboreei o alongamento, a sensação dele tão duro dentro de mim.


Meu corpo inteiro se inflamou enquanto ele se movia, para dentro e para fora,
em movimentos deliberados e medidos, até que eu estava agarrando seus
ombros, incitando-o, cada vez mais rápido.

Este homem, santo Deus, ele era resistente. Knox não se cansava. Ele
não parou, apenas fodeu, exatamente como uma mulher deve ser fodida. Longa
e com muita atenção.

O som de nossa respiração ofegante ecoou no quarto escuro. A magnífica


tensão aumentou cada vez mais, com cada uma de suas estocadas até que me
senti como vidro para quebrar.
— Goze. — Knox baixou a boca para o meu pulso e chupou. Duro. Então
ele empurrou seus quadris, atingindo aquele ponto dentro que me fez ver
estrelas.

Eu explodi ao redor dele, pulsando, apertando e o mundo desapareceu.


Não havia nada além de nós e do nosso gozo.

Tremores atormentaram meu corpo e com um gemido, ele enterrou o


rosto no meu cabelo, seus próprios membros tremendo e cedeu ao seu próprio
orgasmo.

Seu coração trovejando quando caiu em cima de mim. — Maldição,


Memphis.

— Aquilo foi... — Envolvi meus braços e pernas ao redor dele, não


querendo perder o peso. Mas ele se mexeu, rolando para o lado e me puxando
em seu peito.

— Foi um fodido fogo.

Sorri contra sua garganta, contente por dormir exatamente assim,


nossos corpos úmidos de suor e emaranhados. Mas meu filho tinha outras
ideias.

Um pequeno grito percorreu a casa. Eu rolei para fora da cama, pegando


minhas roupas. Então eu corri para a cozinha para pegar uma mamadeira e
fórmula do saco de fraldas.

Eu tinha acabado de enchê-la com água quando um Knox sem camisa


veio caminhando pelo corredor, passando pela cozinha para o quarto de
hóspedes. Ele emergiu momentos depois com Drake em seus braços.

— Eu posso levá-lo, — eu disse.

— Eu o tenho. — Ele roubou a mamadeira da minha mão e caminhou até


o sofá, acomodando-se com o bebê.

Eu me enrolei do outro lado, dobrando minhas pernas embaixo de mim.

Aqueles dois eram uma visão. Um sonho.

Drake parecia contente nos braços de Knox. Knox parecia feliz também.
— Este foi um dia melhor, — eu sussurrei. — Top cinco.

— Diga-me sobre eles. Seus cinco melhores dias.

— Você já conhece o primeiro.

— Nascimento de Drake.

Eu balancei a cabeça. — No início do trabalho de parto, quando as


contrações vinham uma sobre a outra, uma enfermeira me trouxe uma cesta
de gorros de tricô. Uma mulher se ofereceu no berçário para fazer a todos
recém-nascidos. Escolhi este cinza suave e, ao segurá-lo, tive a sensação de
que estava exatamente onde precisava estar. Você já se sentiu assim?

— Sim. O dia em que me mudei de San Francisco para casa e entrei na


cozinha do The Eloise.

— É uma sensação boa.

— É isso. — Ele olhou para o meu filho. — E os outros dias?

— Meu terceiro melhor dia foi o dia em que me formei na faculdade.


Minhas amigas e eu planejamos uma festa incrível. Nós nos arrumamos e
fomos à balada, bebemos champanhe e dançamos a noite toda.

A memória daquela noite não era tão brilhante quanto antes. Eu não
tinha falado com nenhum desses amigos em meses. Nós nos separamos um
pouco depois da faculdade, cada uma de nós ocupada com carreiras
incipientes. Então, engravidei e minhas noites de boates desapareceram e com
elas, meus amigos.

Amigos que não eram realmente amigos. Eu ainda curtia suas fotos no
Instagram. Eles me enviavam mensagens ocasionais para checar. Mas nossas
vidas tinham tomado direções diferentes.

— Meu quarto melhor dia foi uma viagem que fiz ao Havaí para
trabalhar, — eu disse. — Acabávamos de abrir um hotel em Maui e fui para
trabalhar com a equipe de marketing local obtendo algumas fotos e conteúdo
para as mídias sociais. Eu voei cedo e passei um dia inteiro na praia, lendo e
cochilando e não fazendo nada além de ouvir o som das ondas.

— Quando foi isso?


— Há alguns anos. Foi o meu dia mais tranquilo. — Porque não muito
tempo depois, eu conheci Oliver. E ele trouxe o caos para a minha vida.

— Faz tempo que não vou à praia. — Knox pegou a garrafa vazia de
Drake e a colocou na mesinha. Então colocou meu filho
em cima do ombro, dando tapinhas em suas costas. — Ok, qual é o próximo
melhor?

— O dia em que me mudei para minha casa na cidade. — Outro melhor


dia contaminado.

Eu esperava comprar a casa dos meus pais. A localização era fantástica,


a uma curta caminhada de alguns dos meus restaurantes favoritos. Havia um
café a três quarteirões de distância. Seu único rival para um café com leite de
baunilha era o de Lyla. Decorei o interior da casa exatamente ao meu estilo,
elegante, chique e confortável.

Dei a Knox um sorriso triste. — Eu realmente amava aquele lugar.

— Foi por isso que seu pai a tirou?

— Provavelmente.

Meu pai queria as coisas do jeito dele. E como ele sempre mandou em
nossas vidas, manteve seus filhos na linha, tirando o que amávamos.

— Desculpe querida. Tenho que dizer... Eu não serei legal com seu pai.

— Eu também não.

Quando contei a Knox sobre minha família pela primeira vez, não queria
que parecessem feios. Mas com o passar dos dias, vendo Knox interagir com
Eloise ou Anne, quando esta aparecia no hotel para checar seus filhos, comecei
a ver as verdadeiras cores de meus pais. Preto, sem vida e vazios.

Drake soltou um arroto tão alto que encheu a sala. Eu soltei uma risada,
assim como Knox, e então Drake abriu um bocejo sonolento antes de desmaiar.

— Então, qual foi o seu quinto melhor dia?

— Eu acabei de te dizer. O dia da casa da cidade.


Suas sobrancelhas franziram. — Então hoje foi o seu segundo melhor
dia?

— Sim.

— Você disse cinco melhores. Mas foi o número dois?

Sem dúvidas.

Ele me trouxe meu café favorito. Ele me visitou a manhã toda para beijo
após beijo. Knox me fez sentir especial. Desejada. Depois de falar com Lester,
ele veio me contar primeiro. E então esta noite... Talvez eu estivesse entregando
demais. A velha Memphis teria jogado de forma diferente. Mas eu não estava
jogando. Não mais.

— Foi um dia muito bom, — eu disse.

Então, por que ele não estava sorrindo?

O silêncio se estendeu pela sala como a escuridão e a noite além das


janelas. Um calafrio percorreu minha pele enquanto Knox olhava para a frente,
sentado imóvel e nada revelando.

Ele não tinha gostado de hoje? Ele provavelmente teve incontáveis dias
melhores. Este provavelmente era pálido em comparação com outros dias
memoráveis de sua vida. Talvez ele achasse que minha classificação de bons e
maus era bobagem.

Não para mim.

Quando você vivia com tubarões, você marcava os dias em que um bote
salva-vidas flutuava em sua direção.

— O que eu disse de errado?

— Nada. — Knox se levantou e carregou Drake para o quarto de


hóspedes.

Eu o segui, pairando na porta enquanto ele colocava o bebê em seu


berço. Meu estômago deu um nó quando Knox se virou e agiu como se fosse
passar direto por mim. Mas quando seu peito roçou meu ombro, ele agarrou
minha mão e me puxou pela casa.
Ele soltou minha mão quando entramos em seu quarto e esfregou a
palma sobre o queixo. — Hoje foi seu segundo melhor dia.

— Bem... sim. O que há de errado com isso?

Ele balançou sua cabeça. — Foi apenas um dia normal, querida.

— Talvez para você. — Eu levantei um ombro. — Meus dias normais não


são assim.

— Isso é... — Knox caminhou ao pé da cama, passando por cima da


camisa que não havia vestido. — Isso não está certo. E foda-se, dói. Me dói por
você.

— Por que? O que há de errado em hoje ser o melhor dia?

— Porque hoje foi normal. — Ele ergueu a mão. — Apenas um dia


normal, bom. Você trabalhou. Eu trabalhei. Chegamos em casa. É isso.

— Mas foi o melhor por sua causa.

— Memphis. — Ele pressionou a mão no coração. — Você me honra.

— É apenas a verdade.

Ele caminhou em minha direção, pegando meu rosto em suas mãos. —


Então aqui está outra verdade. Eu vou mudá-los. Eu vou fazer todos os seus
dias os melhores. Cada um deles, até você não conseguir mais acompanhar os
cinco primeiros, porque haverá tantos melhores que você precisará de cem
para capturar classificar todos.

— Promessa? — Eu sussurrei.

— Eu juro.
CAPÍTULO QUATORZE
KNOX
Eu estava três passos no corredor quando a visão na minha cadeira
favorita me parou no meio do caminho.

Memphis tinha Drake em seu joelho, segurando-o pelas axilas. Ela se


inclinou e deu um beijo em seu pescoço, fazendo-o rir. Quando ele riu, ela riu.
Quando os olhos dela brilharam, os dele fizeram o mesmo. Ele tinha os olhos
dela, castanho chocolate salpicados de ouro.

Os dois estavam em seu próprio mundinho naquela cadeira.

Memphis rolou para fora da cama quando ele começou a fazer barulho
esta manhã. Eu tinha corrido para um banho, mas agora eu vi o erro da minha
escolha. Eu deveria estar aqui, assistindo do lado de fora, porque caramba, era
uma visão.

Nenhuma vista das minhas janelas se comparariam.

Memphis puxou uma respiração exagerada, em seguida, beijou-o


novamente, ganhando outra risada. Uma grande risada para uma pessoa tão
pequena.

Drake teria uma vida feliz. Ela se certificaria disso.

E depois de ontem à noite, eu também o faria.

Não havia como voltar atrás agora. Não depois de ontem à noite.

Ela me deu seus melhores dias. Eu daria a ela o meu.

Ambos.

Soltei meus pés e entrei na sala de estar, indo para o encosto da cadeira.

— Oi. — Memphis sorriu enquanto olhava para mim.

— Oi. — Eu puxei seu cabelo loiro do rosto e me inclinei para frente,


dobrando na cintura para beijá-la. Então roubei Drake do colo dela. — Bom
dia, chefe.
Ele babou e enfiou um punho gorducho na boca.

Eu beijei sua bochecha. — Você está ficando grande.

Drake respondeu soltando o punho e um grito que encheu a casa. O


barulho o assustou, seus olhos arregalados, e então ele fez isso de novo,
esticando-o cada vez mais alto.

Memphis riu. — Este é o seu novo truque de festa.

— Eu gosto disso. — Eu o acomodei contra minhas costelas e o carreguei


para a cozinha, abrindo a porta da geladeira.

Memphis me seguiu, sentando-se em um banquinho na ilha.

— Quando ele começa a comer alimentos sólidos? — Peguei uma caixa de


ovos.

— Quando tiver seis meses.

— Alguns mais. Então eu vou te preparar, homenzinho. Não vamos fazer


comida de bebê chata nesta casa. — Olhei para Memphis. — Os bebês podem
ter — o quê? O que é esse olhar?

Ela parecia prestes a chorar. — Você realmente não vai a lugar nenhum,
não é?

— Não. — Abandonei a geladeira e caminhei ao redor da ilha, ocupando


seu espaço. — Isso é novo, vamos demorar um pouco. Acostumarmos um com
o outro. Mas não sou o tipo de homem que abre mão do que é bom. E estamos
bem. Estamos muito bem, querida.

Ela assentiu e sorriu, enxugando os olhos. — Nós estamos bem.

Eu beijei sua testa, então lhe entreguei Drake. — O que você quer para o
café da manhã?

— O que quer que você esteja fazendo.

— Quão faminta você está?

Ela deu de ombros. — Eu não estou morrendo de fome.

— Acha que pode esperar uma hora? Eu posso fazer uma quiche.
— Eu vou esperar.

Eu pisquei. — Boa escolha.

— Espere. — Ela levantou a mão enquanto eu tirava uma tigela. — E o


trabalho?

— Não estou trabalhando hoje.

— Mas... é um sábado.

E desde o dia em que ela se mudou, eu trabalhava todos os sábados. —


Eu mandei uma mensagem para Roxanne ontem à noite e perguntei se ela
poderia cobrir hoje.

— Você fez? Quando?

— Depois que você adormeceu. — Eu queria um dia com eles. Um dia


inteiro, sem distrações. Apenas mais um dia normal para mostrar a ela como o
normal pode ser bom. — Tem algum plano para hoje?

— Um... não. Eu ia limpar o loft. Lavar alguma roupa.

— Que tal ficarmos aqui em vez disso?

O sorriso que se estendeu em sua boca bonita, faria valer a pena que eu
receberia de Roxanne mais tarde.

Nunca na minha vida eu havia cancelado trabalho para ficar com uma
mulher. Roxanne já estava me provocando por abandonar o trabalho de
preparação para caçar Memphis no hotel. Então, ontem à noite, quando eu
disse a ela que lhe daria um dia extra de férias no Natal se trabalhasse por
mim, ela enviou uma série de emojis de coração e revirar os olhos e um polegar
para cima.

Fui à despensa buscar farinha e sal para fazer a massa da torta.

Memphis colocou Drake em um cobertor no chão da sala para chutar e


gritar. Então ela se sentou na ilha e me observou trabalhar, sua atenção fixa
em cada movimento meu.

— Ver você cozinhar é melhor do que TV.


Eu ri e coloquei a quiche no forno. Então lavei minhas mãos e joguei a
toalha no balcão, antes de deslizar para o banco ao lado dela, encaixando suas
pernas entre meus joelhos abertos. Eu rocei suas coxas, ansioso pela primeira
soneca de Drake, quando eu pudesse tirá-la dessa calça de pijama. — Me beija.

Ela se inclinou, mas parou, um sussurro longe dos meus lábios. — Diga
por favor.

— E se eu não fizer?

— Então eu não vou te beijar.

Eu sorri, arrastando minha boca na dela. — Certeza sobre isso?

— Diga por favor.

— Por favor.

Ela se lançou para mim, voando para fora de seu banco. Seus braços
envolveram meus ombros e sua língua estava na minha boca. Foda-se o café
da manhã, eu não precisava de nada mais do que essa mulher.

Drake deu um gemido, fazendo com que Memphis e eu congelássemos.


Então nós dois rimos quando ele continuou balbuciando, testando a acústica
da minha casa.

— Vou correr para o loft e pegar mais algumas fraldas. — Ela olhou para
o cronômetro no forno. — Talvez tomar um banho rápido.

— Vá em frente. Eu vou assistir Drake.

— Tem certeza? Posso levá-lo comigo.

— Não. Ele está feliz. — Minha mão deslizou sobre a curva de sua bunda.
— Traga qualquer coisa que você precise para hoje. E à noite.

Agora que ela dormiu na minha cama, não haveria como ela passar outra
noite no loft.

— Obrigada. — Ela beijou minha bochecha, então correu para a porta,


calçando seus sapatos e puxando seu cardigã mais apertado.

Quando ela estava na escada para o loft, eu me estiquei ao lado de Drake


no chão, beliscando seus dedos dos pés e fazendo cócegas em sua barriga.
A dor de estar perto dele, a dor que sentia no início, desapareceu.
Quando olhei para ele, não vi Jadon. Estava vendo Drake. Meu pequeno chefe.

— Precisamos de mais brinquedos. — Toda vez que eu ia à casa de Griff e


Winn, Hudson tinha pelo menos três brinquedos novos. A sala de estar deles
tinha uma cesta cheia de bolinhas de plástico e de pelúcia. — Talvez você e
Hudson possam brincar juntos um dia também. Construir fortes. Perseguir
cães. Ser amigos. — Primos.

Eu rolei de costas, olhando para o teto branco. Meu cérebro estava


ficando muito à frente da realidade.

Esse tinha sido o meu problema com Gianna também. Eu estava tão
perdido no planejamento do futuro, na ideia de ter minha própria família,
barulhenta e indisciplinada, que perdi os sinais de que ela estava mantendo
um segredo.

Não muito tempo depois que ela descobriu que estava grávida, Gianna
me olhava e abria a boca, mas nada saía. Houve momentos em que a encontrei
olhando para uma parede, os braços em volta da barriga e o joelho saltando
descontroladamente. Outras vezes, quando eu falava sobre o futuro e talvez
nos mudar para Montana algum dia, seu rosto empalidecia.

— Qual é o problema com seu pai? — Eu rolei para o meu lado e olhei
para Drake. Ele estava com os pés nas mãos e uma gota de baba no lábio
inferior. Limpei sua boca, então suspirei. — Quer me contar sobre isso, já que
sua mãe não parece querer?

Outro fio de baba escapou.

Ela me diria. Memphis acabaria explicando, não é?

— O que mais devemos comer no café da manhã? Fruta? — Eu me


levantei do chão e peguei Drake, bagunçando seu cabelo. Então fomos para a
cozinha, onde desliguei minha própria besteira mental e me concentrei na
refeição.

Não adiantava me preocupar. Memphis não era Gianna. Ela não me


confidenciou sobre seu passado ou do pai de Drake e tenho que acreditar que é
por um bom motivo. Que ela me dirá quando estivesse pronta. Só não
chegamos lá ainda.
Como eu disse a Memphis esta manhã. Demoraríamos um pouco de
tempo. Acostumar-se um com o outro.

Eu estava assaltando minha fruteira, tirando alguns pêssegos, quando o


barulho de pneus e o zumbido de um motor soaram lá fora.

— É claro que eles apareceriam no meu dia de folga, — eu murmurei,


certa de que era o pai ou um irmão. Mas quando espiei pela janela acima da
pia, um SUV preto desconhecido parou na garagem.

— Alguém se perdeu, não foi? — Eu perguntei a Drake, andando para


pegar seu cobertor e enrolá-lo.

Eu estava calçando um par de botas quando um homem mais ou menos


da mesma idade que meu pai saiu de trás do volante do SUV. Ele ajustou a
gravata no pescoço e puxou as mangas do paletó.

Mas ele não veio em direção à minha porta. Ele olhava para o loft.

Memphis estava no meio da escada, com a mão tão apertada em torno do


corrimão que mesmo a esta distância eu podia ver seus dedos brancos.

— Que diabos? — Eu me apressei para colocar minhas botas.

No momento em que abri a porta, Memphis desceu as escadas para ficar


na frente do homem, os ombros rígidos. Sua expressão estava vazia e tão fria
quanto a manhã de novembro. Seus olhos se estreitaram. Seus lábios
franziram.

A porta do passageiro do SUV se abriu quando desci a calçada e uma


mulher vestida com um terninho azul-gelo saiu. Seus saltos balançaram no
cascalho enquanto ela caminhava para ficar ao lado do homem.

Foi só quando ela olhou por cima do ombro — não para mim, mas para
Drake — e tirou os óculos de sol do rosto que reconheci a semelhança. Os
olhos castanhos. O cabelo loiro. O nariz bonito e o queixo adorável.

A mãe dela.

Minha mão livre se fechou em um punho.

— Você não é bem-vindo aqui. — A voz de Memphis era forte e clara.


Muito certo, eles não eram bem-vindos.

— Não somos bem-vindos? — O homem que eu presumi ser seu pai riu.
— Chega deste ato de atenção, Memphis. Nós estamos indo embora. Hoje.

— Boa viagem. — Sua voz era tão plana quanto seu olhar.

Passei por seus pais, tomando uma posição atrás de Memphis. Não foi
fácil, mas mantive minha boca fechada enquanto o pai dela me olhava de cima
a baixo com um sorriso de escárnio. Quando a mãe dela olhou para Drake
como se estivesse prestes a pegá-lo, eu o afastei.

— Estive ligando, — disse sua mãe, seus olhos ainda fixos no bebê.

— E eu não atendi. — Memphis mudou, colocando-se na frente de


Drake.

Era ela quem estava ligando. Por meses e meses. Persistente, não ?

— Entre no carro, — seu pai gritou.

— Não. — O lábio de Memphis se curvou. — Você não tem voz na minha


vida. Saia.

— Você chama isto de vida? — Ele curvou o lábio e olhou para o loft. —
Você está morando em cima de uma garagem. Você está limpando quartos.
Você está vivendo com um salário mínimo.

— Isso é... espere. — Sua coluna, já rígida, tornou-se uma barra de aço.
— Como você sabe onde estou morando e onde estou trabalhando?

— Você realmente acha que eu deixaria você ir embora?

Memphis riu. — Você me seguiu.

Sua mãe baixou o queixo. Seu pai levantou o dele.

Meses atrás, logo depois que ela se mudou para cá, eu vi um flash de
faróis na estrada uma noite. Eu pensei que era alguém perdido. Mas talvez
tenha sido quem enviaram para seguir Memphis.

— Por quanto tempo você me seguiu? perguntou Memphis.


Seu pai nem sequer piscou com sua pergunta. Ficou claro que ele não a
considerava digna de uma explicação. — Estamos indo embora. Entre no carro.

Foi a vez de Memphis piscar.

— Você assinou uma cláusula de não concorrência, — seu pai declarou.

— Seu ponto? — Ela cruzou os braços sobre o peito.

— Você está trabalhando em um hotel.

— É com isso que você está preocupado, pai? Que vou compartilhar
segredos da empresa? Eu sou uma camareira. E Quincy, Montana, não é
exatamente o mercado para o desenvolvimento do Ward Hotel.

— Eu poderia levá-la ao tribunal.

Este filho da puta estava realmente ameaçando processar sua própria


filha?

— Processe-me. — Memphis deu de ombros. — Os não-competidores não


são aplicáveis em Montana. Sim, eu verifiquei. Também não violei os termos do
meu acordo de confidencialidade de compartilhar informações confidenciais do
Ward Hotel. Mas me processe. Se você quer cortar os fios muito finos do nosso
relacionamento, processe-me. No caso altamente improvável de um juiz decidir
contra mim, então você pode ficar com os vinte dólares em meu nome. Vou
esfregar banheiros e fazer camas até ganhar mais vinte. Mas me ameaçar, me
dar ordens, não funcionou em New York. Com certeza não vai funcionar aqui.

Essa era minha garota. Ali estava o fogo. Levou cada grama de contenção
para ficar quieto, mas ela não precisava que a ajudasse. Eu faria se fosse
preciso, mas a determinação estava rastejando em seus olhos. Como se
estivesse tendo a chance de dizer tudo que estava em sua mente por meses.

— Você tem trinta segundos para carregar aquela criança e entrar no


carro.

— Ou o que?

— Ou você vai ouvir de nossos advogados.

Memphis balançou a cabeça. — Por que você está realmente aqui? Por
que você está ligando? O que você quer de mim?
Seu pai ficou mais ereto. — Você é minha filha. Há coisas para discutir.
Em particular. — Os olhos do homem se voltaram para os meus. Talvez ele
tenha percebido imediatamente, que eu não era do tipo que se intimidava, mas
seu olhar não segurou o meu por muito tempo.

— Não tenho nada para discutir com você. — Memphis cruzou os braços
sobre o peito.

Ele estendeu a mão para ela, envolvendo um braço em torno de seu


cotovelo.

E foi aí que eu fiquei realmente puto.

Agarrei o pulso daquele bastardo e o afastei. — Você está invadindo


propriedade privada. Saia daqui.

— Você não tem nada a dizer sobre isso. — Ele balançou a mão livre,
estendendo-a para Memphis.

— Toque-a novamente e eles nunca encontrarão seu corpo.

A mãe engasgou. O pai empalideceu, pouco, mas foi o suficiente.

Sem outra palavra, apertei a mão de Memphis e passei por eles, andando
tão rápido que ela teve que correr os poucos passos para acompanhar.

O cronômetro do forno estava apitando quando entramos. Entreguei


Drake, fechei a porta com um chute e caminhei até o forno, tirando a quiche.
As bordas da crosta não estavam queimadas, mas estavam muito escuras.

Apoiei minhas mãos na pia, olhando pela janela enquanto seus pais
subiam em seu veículo e desapareciam. — Memphis

Quando me virei, ela estava parada na janela mais próxima da porta, os


olhos grudados na estrada. Um fluxo de lágrimas escorreu por seu rosto e ela
segurou Drake com tanta força que ele começou a se contorcer.

— Memphis. — Eu caminhei até as janelas, alcançando Drake. Mas ela


não o deixou ir. — Dê-me o bebê, querida.

Ela balançou a cabeça. — Eu o tenho.

— Eu só vou colocá-lo no chão para que possamos conversar.


Levou um momento, mas ela finalmente o soltou para que eu pudesse
estender o cobertor e colocá-lo no chão para brincar. Então voltei para a janela
e a envolvi em meus braços.

— Por que eles não me esquecem? — ela sussurrou. A dor em sua voz foi
suficiente para eu odiá-los e eu nem sabia seus nomes.

— Porque você é difícil de esquecer.

— Eu odeio estar chorando. — Sua voz falhou.

— Por que?

— Porque depois de tudo que eles fizeram comigo, eu não deveria me


importar. Mas, sim. — Um soluço escapou. — Por um momento, quando os vi
chegando, pensei... talvez eles estivessem aqui para se desculpar. Talvez
estivessem aqui para me dar um abraço e dizer que sentiram minha falta. E
fiquei feliz em vê-los porque, por bem ou mal, eles são meus pais. Mas eles não
se importam. Por que eles não se importam comigo?

Ela caiu para frente e se eu não a estivesse segurando, teria caído no


chão. Então eu a girei em meus braços e a segurei forte, deixando-a chorar na
minha camiseta. Quando finalmente parou, ela se endireitou e o olhar em seu
rosto era de partir o coração.

Ela parecia mais abatida do que no dia em que chegou.

— Eles nem perguntaram sobre Drake. — Seu queixo estremeceu. — Eles


nunca me perguntaram o nome dele.

— Eu sinto muito. — Eu usei meu polegar para pegar uma lágrima. —


Eu sinto muito.

— Eles são feios, não são? — Memphis se afastou e caminhou até Drake,
caindo de joelhos ao seu lado. Então ela segurou a mão dele, extraindo
conforto de seus dedos minúsculos. — Nós não precisamos deles, não é?

Não, eles não.

— Esqueci as fraldas dele. — Seus ombros caíram.

— Eu vou buscá-las.
— Eu posso.

— Não. Você fica. — Eu estava muito chateado para ficar parado e


precisava da tarefa para me acalmar, antes de Memphis e eu termos uma
conversa.

Eu marchei para o loft, o cheiro do sabonete de Memphis no ar. Havia


um cesto de roupa vazio no balcão, então eu o peguei e o enchi até a borda.
Fraldas. Fórmula. Xampu. Roupas. Se eu tivesse que mudá-la para o meu
canto num cesto de roupa suja, de cada vez, que assim fosse.

Quando cheguei em casa, Memphis havia se mudado para a sala de


estar. Drake estava tomando uma mamadeira e ela estava enrolada no canto
do sofá, encolhendo-se nas almofadas.

Foda-se essas pessoas.

— Quais são os nomes deles? — Eu perguntei, colocando a cesta no chão


e sentando ao lado dela. — Seus pais. Quais são os nomes deles?

— Por que você quer saber?

— Para que quando os xingar, seja na minha cabeça ou em voz alta, eu


posso recitar.

Ela me deu um sorriso triste. — Beatriz e Victor.

Foda-se Beatrice e Victor. — O que estou perdendo, Memphis? — Porque


tinha que haver mais nessa história. Por que ela recusou as ligações da mãe?
Por que sua mãe continuava ligando? Por que eles vieram a Montana para
tentar arrastá-la de volta para New York?

— Eu não sei, — ela sussurrou. — Mas se eu tivesse que adivinhar... Eu


diria que eles descobriram sobre o pai de Drake.

— Você está pronta para me contar sobre isso?

— Não, — ela sussurrou. — Ainda não.

— Em breve, querida.

O medo penetrou em sua expressão.

Um nó se formou em minhas entranhas.


Outra mulher com segredos.

Acho que eu tenho um padrão.


CAPÍTULO QUINZE
MEMPHIS
Knox bateu os nós dos dedos na porta do banheiro, então caminhou até
mim no balcão, colocando uma caneca fumegante de café. — Aqui, querida.

— Obrigada. — Eu coloquei minha escova para baixo e dei-lhe um


sorriso através do espelho. Meu cabelo pendia em mechas úmidas pelas
minhas costas e a toalha branca de pelúcia que eu prendi no meu peito era tão
grande que me atingia os joelhos.

Ele deu um beijo no meu ombro nu e me deu um olhar que dizia que
hoje não seria o domingo relaxante e sem estresse que eu esperava. Nosso
sábado também não foi muito divertido.

— Liguei para o hotel. Falei com Mateo. Ele registrou um casal com o
sobrenome Ward ontem à noite.

Minhas mãos se fecharam. — Eles não foram embora.

— Não.

— Bem... merda.

— Bastante, — ele murmurou.

Claro que estariam no Eloise, poluindo o que era meu. Havia alguns
motéis na área, mas nenhum era tão bom.

O que meus pais estavam fazendo aqui? Por que os telefonemas? Por que
o investigador particular? Eles viraram as costas para mim quando mais
precisei deles, mas agora apareceram. Agora? Talvez eu pudesse acreditar que
não havia algum motivo oculto se apenas mamãe tivesse visitado. Tinha
recebido seu chamado por meses. Mas para papai fazer a viagem para
Montana, havia algo mais acontecendo.

Havia desespero em sua voz ontem. Urgência.

— Eu preciso falar com eles, — eu resmunguei.


— Dê-me dez para tomar banho. Então nós vamos.

— Espere. — Eu levantei a mão antes que ele pudesse tirar a camisa. —


É melhor eu falar com eles a sós.

— Não.

— Knox...

— Não, Memphis.

Aproximei-me, colocando minhas mãos em suas costelas, sentindo a


tensão em seu corpo sob a manga comprida térmica que ele vestiu esta manhã,
depois de rolar para fora da cama. — Eu amo que você esteja pronto para me
seguir na batalha. Mas eu conheço meus pais. Eu conheço meu pai. Se você
estiver lá, ele não vai me dizer a verdade. Ele estará na defesa.

Knox respirou fundo, suas narinas dilatadas. Então seu corpo relaxou e
me envolveu em seus braços. — Eu não gosto disso.

— Nem eu.

— Não vou ficar aqui. Entraremos juntos. Drake e eu vamos ficar no


restaurante.

Eu balancei a cabeça, enterrando meu rosto em seu peito, extraindo um


pouco de sua força. — Ok.

Ele beijou minha testa, então nós dois entramos em ação, eu secando
meu cabelo enquanto ele tomava banho.

Ele fez sete viagens ao loft ontem, cada vez sob o pretexto de pegar algo
para Drake. Ele saía com meu cesto de roupa vazio e voltava com ele
transbordando.

Meu xampu e condicionador estavam no chuveiro. Meus outros artigos


de toalete estavam em uma gaveta embaixo de uma das pias duplas. Minhas
roupas estavam penduradas em seu armário. Minha calcinha, meias e sutiãs
estavam na cômoda. E quase tudo de Drake estava no quarto de hóspedes.

Em um único dia, ele praticamente nos mudou.


Estávamos nos movendo na velocidade da luz, e mesmo que meu cérebro
gritasse para diminuir o ritmo, meu coração se recusava a lutar. Em vez disso,
eu apenas o ajudei a organizar.

Se nós terminássemos — Deus, eu esperava que não — eu estaria me


mudando para a cidade. Então, qual era a diferença entre sair da casa dele ou
do loft?

Enquanto eu trocava o pijama de Drake por uma roupa, Knox recarregou


o saco de fraldas. Quando saí, pronta para ir para o Volvo, a caminhonete de
Knox estava funcionando, a cabine quente e a base do assento do carro de
Drake estava preso no banco de trás.

A viagem para a cidade foi silenciosa. Esta foi a primeira vez que eu fui
passageira aqui, e ver Quincy desse ângulo foi diferente. Ou talvez hoje,
enquanto dirigíamos, eu a vi pelo que havia se tornado.

Lar.

A Câmara Municipal já estava se preparando para os feriados.


Guirlandas de pinheiros se enroscavam em cada um dos postes de luz que
ladeavam a Main Street. Quincy Farm and Feed tinha cercado um quarto de
seu estacionamento para árvores de Natal. O cinema apresentou o mais
recente sucesso de bilheteria junto com The Grinch, do Dr. Seuss.

Eu ainda não tinha ido ao cinema, mas quando Drake fosse mais velho,
seríamos frequentadores regulares de fim de semana. Uma placa de lousa com
cidra de maçã grátis havia sido colocada na janela da Colher de Pau. Outra loja
em que eu ainda não tinha ido, mas talvez entrasse e comprasse um utensílio
de cozinha para Knox. Eu conhecia as vitrines, mas não os interiores. Eu não
tinha feito de explorar Quincy uma prioridade, mas isso estava prestes a
mudar.

Desde que deixei a cidade, tenho dito a mim mesma para não desistir.
Mas será que precisava de mais lembretes diários? Talvez não.

Eu não estava desistindo de Quincy.

Ou Knox.
— Ei. — Ele esticou um braço sobre a cabine da caminhonete e pegou
minha mão. — Mudou de ideia sobre eu vir junto?

Eu enquadrei meus ombros. — Não. Eu vou lidar com eles.

— Aí está ela. — Ele me lançou um sorriso. — Aí está minha garota.

Sim, eu era dele. E poderia fazer isso.

Quando nos aproximamos do Eloise, vi o SUV que meus pais estavam


dirigindo ontem. Minha frequência cardíaca disparou quando entramos no
beco atrás do hotel. Engoli meus nervos e me concentrei em tirar Drake da
caminhonete.

— Vou carregá-lo, — disse a Knox quando ele alcançou a alça do assento


do carro. Eu precisava do peso para evitar que minhas mãos tremessem.

Entramos e fomos direto para a recepção, onde Mateo estava tomando


um café para viagem da loja de Lyla.

— Ei. — Knox ergueu o queixo.

— Ei. — Mateo saltou de seu banco e contornou o canto do balcão, vindo


para ficar ao lado de seu irmão.

Com uma camada de barba por fazer no queixo, Mateo parecia mais com
Knox do que nunca. Ele tinha a mesma estrutura ampla, mas ainda não havia
tantos músculos.

Mateo e Knox trocaram um olhar, então ele cutucou meu cotovelo com o
dele. — Como vai, Memphis?

— Está tudo bem.

— Sim, — ele murmurou. — Eles estão no quarto 307.

— Ok. — Coloquei a cadeirinha no chão e me abaixei para tocar o nariz


do meu filho. — Seja bom, bebê.

O sorriso que ele me deu foi todo o incentivo que eu precisava para
enfrentar meus pais. Eles não iriam tirar essa vida de nós.

Knox me puxou para seu lado quando me levantei. — Estaremos aqui.


— Obrigada.

Ele roçou um beijo na minha boca, então me deu um aceno quando me


dirigi para os elevadores. Meus passos estavam firmes, um contraste do meu
coração acelerado, enquanto eu caminhava pelo corredor do terceiro andar.
Tomei uma respiração funda fora do quarto, então levantei minha mão para
bater.

Meu pai atendeu a porta vestindo outro terno italiano. Se ficou surpreso
ao me ver, não deixou transparecer quando acenou para que eu entrasse. —
Memphis.

— Pai.

Este era uma dos quartos maiores, uma sala de canto com espaço
suficiente para uma pequena mesa perto da janela. Mamãe estava sentada,
suas costas tão rígidas e retas quanto as minhas. Exceto que não era a
determinação que a impulsionava. Ela sentou rígida a vida inteira, em
constante tensão por causa do meu pai.

Seus olhos se arrastaram sobre meu moletom e jeans. Seu lábio se


curvou, pouco, mas o peguei. Mamãe nunca gostou de jeans. Ela viveu sua
vida em calças sob medida e blusas de seda. Os de hoje eram ambos um off
white correspondente. Diamantes decoravam suas orelhas.

— Sente-se, — papai ordenou, pegando sua própria cadeira.

Me incomodava obedecer, mas haveria muito tempo para lutar. Escolhi o


assento em frente ao dele para poder manter seu olhar.

Ele parecia exatamente o mesmo de meses atrás. Cabelo loiro com


mechas brancas nas têmporas. Olhos cor de avelã que seriam calorosos se não
fosse por seu constante brilho frio. Graças a Deus não éramos parecidos.
Minha irmã e meu irmão se pareciam com papai, mas eu puxei minhas feições
de mamãe.

Houston e Raleigh não se incomodaram em ligar, então não perdi tempo


perguntando sobre o bem-estar deles. Eles certamente não davam a mínima
para o meu.

— Por que você está me ligando? Eu perguntei a mamãe.


Seus olhos se voltaram para papai, a culpa rastejando em sua expressão.
Talvez ele não soubesse que ela estava telefonando sem parar.

— Se você realmente queria saber, talvez devesse ter atendido o telefone,


— papai cortou. Ok, então talvez ele soubesse sobre as ligações.

— Por que o investigador particular?

— Você pegou seu carro e foi embora. — Mamãe olhou para mim como se
eu a tivesse ofendido. Como se tivesse cuspido no champanhe dela.

— Não havia razão para eu ficar em New York. — Eu olhei para papai. —
Eu não tinha emprego. Nem um lar.

Ele se inclinou para trás em seu assento, me dando aquele olhar


impassível que ele tanto fazia no quartel-general da Ward. — Essa foi sua
escolha.

— Foi ? — Eu arqueei uma sobrancelha.

— Queríamos ter certeza de que você estava segura, — mamãe disse, sua
voz caindo para nada mais do que um sussurro.

Ela queria saber se eu estava segura. Ter-me seguido deve ter sido ideia
dela. Pela expressão no rosto de papai, ele não poderia se importar menos.

— Se você estivesse realmente preocupada com minha segurança, você


teria ido ao hospital quando eu estava em trabalho de parto.

— Lamento não ter estado lá. — Mamãe olhou para papai com a culpa
gravada em seu lindo rosto. — O homem de ontem. Quem é ele?

— Knox Éden. A família dele é dona deste hotel.

— Ah, é...

Papai franziu a testa. Um único olhar e mamãe parou de falar quando ele
acenou para ela. Um movimento que indicava que suas perguntas não eram
nada.

Ela se encolheu na cadeira. Enquanto papai não mudou nada, mamãe


parecia... cansada.
As linhas ao redor de seus olhos estavam mais proeminentes, não que
houvesse muitas. Ela tinha uma equipe de esteticistas que a mimava
semanalmente junto com um dermatologista de primeira classe e o cirurgião
plástico mais bem pago de New York para garantir que ela não parecesse ter
mais de quarenta anos.

Ao contrário de papai, mamãe não veio do dinheiro. Ela se casou com a


riqueza e, por causa de seu acordo pré-nupcial, havia pouco que ela faria para
arriscar o diamante de seis quilates em seu dedo anelar. Ela lutaria contra o
tempo para não envelhecer com unhas e dentes até o fim de seus dias.

Em um ponto, eu tive pena da mamãe. Ela amava seu estilo de vida e


isso a prendeu a todos os caprichos do meu pai. Mas isso foi antes de ela me
deixar em paz. Antes que ela se encolhesse diante de sua vontade e, como tal,
abandonasse sua filha. Não havia mais piedade.

Ela poderia ligar todos os dias a partir de agora até o fim de sua vida.
Era tarde demais.

Ela fez sua escolha.

E eu fiz a minha.

— Por que você está realmente aqui? — Essa pergunta eu dirigi ao meu
pai. — Vou aceitar a verdade desta vez. Porque não há como você viajar aqui so
para resgatar sua filha.

— Você deve voltar para casa. Assim que chegarmos a New York, teremos
uma discussão mais completa.

— A menos que você planeje colocar um saco na minha cabeça e me


arrastar para o avião, não vou deixar Quincy.

O maxilar do papai se apertou. — Você marcou o seu ponto, Memphis.


Você teve sua pequena birra. Suficiente.

— Você acha que isso é uma birra? — Eu bufei uma risada seca. — Não
estou agindo assim para chamar sua atenção. Eu não preciso ou quero você na
minha vida.

Imaginar Drake fazendo essa declaração para mim, teria sido como uma
adaga no meu peito.
Mamãe se encolheu.

Papai nem piscou.

— Se você quer uma discussão completa... — Eu joguei suas palavras


nele. — Nós vamos ter isso aqui agora. Esta é a sua oportunidade.

Ele franziu os lábios.

— Bem. — Fiz um movimento para me levantar, mas ele ergueu a mão.

— Recebi a ligação de uma mulher.

Acomodei-me na minha cadeira enquanto os cabelos da minha nuca se


eriçavam. — Quem?

— Ela não me deu o nome dela. Mas ela afirma que você tem um filho de
Oliver MacKay.

Levou tudo que eu tinha para não reagir. Senti a cor sumir do meu rosto,
mas não me mexi. Eu mal respirei.

— Ela está nos chantageando. Ou pagamos a ela para ficar quieta ou ela
vai à imprensa. Você deve voltar para casa para que eu possa garantir que você
fique de boca fechada enquanto meus advogados a evisceram.

Meu coração batia tão forte que doía. Quem era essa mulher? Como ela
poderia saber sobre Oliver? A menos que tudo isso fosse uma mentira. Talvez o
investigador particular de mamãe tivesse feito mais do que simplesmente me
seguir até Montana. Talvez eu tenha estragado tudo e deixado algum rastro ao
longo do caminho.

Papai era teimoso o suficiente para se intrometer na vida pessoal de sua


filha.

— Aqui está o que eu não entendo. — Levantei um dedo quando papai


abriu a boca. — Por que você quer tanto saber? Por que?

— Por que você simplesmente não me diz para que possamos lidar com
essa bagunça? É Oliver MacKay?

— Não é da sua conta.


— Droga, Memphis. — Ele se inclinou para frente, um rosnado em sua
voz. — Você está agindo como uma criança insolente.

— Você não tem o direito de controlar minha vida.

— Eu sou seu pai.

Eu balancei minha cabeça. — Você não entende o significado dessa


palavra.

— Memphis, isso é tão mesquinho, — disse mamãe. — Seu pai está


tentando ajudar. Mas precisamos de todas as informações.

— Esta mulher. Esta chantagista. Deixe-a ir para a imprensa. — Era a


última coisa que eu queria, mas suspeitava que meu pai sentia o mesmo.Então
eu blefaria também.

Contanto que eu não admitisse ou confirmasse que Drake era filho de


Oliver, não havia nada além de especulação. Considerando que eu estava em
Montana, esse drama não me tocaria nem um pouco.

Mas isso definitivamente atrapalharia papai.

— Oliver MacKay? — Papai ferveu. — Sério, Memphis? Achei que você


fosse mais esperta. Em vez disso, agiu como uma prostituta e agora estou
limpando essa bagunça.

Mamãe ficou tensa em sua cadeira, mas ela certamente não veio em meu
socorro.

Uma prostituta. Pode ser. Doeu, mas não foi a primeira vez que ele usou
suas palavras como um chicote. — Se você está preocupado com sua reputação
e um escândalo, então pague a mulher e acabe com isso. Ou não pague. Eu
não me importo. Mas eu te disse meses atrás, meu filho é meu e só meu. Você
pode aceitar isso ou não. Não importa. Não precisamos de você.

— Vou usar o dinheiro do seu fundo fiduciário.

— Você está aqui procurando minha permissão? Confie em mim, percebi


no dia em que parti que o dinheiro nunca seria meu.

— É verdade? É Oliver? — Mamãe perguntou.


Eu apertei minha boca fechada.

— Memphis. — Papai enunciou ambas as sílabas do meu nome. Isso


significava que ele estava passando de zangado para enfurecido. — Você
percebe que, se isso vazar, as pessoas vão acreditar que estamos ligados a essa
família.

— E?

Os olhos do papai se estreitaram. — Não podemos permitir um escândalo


com a máfia. Passei minha vida reconstruindo nosso bom nome.

O trabalho de sua vida foi gasto corrigindo os erros de seu próprio pai.

Meu avô havia fundado a Ward Hotels em New York. Ele foi
extremamente lucrativo em uma época em que outros hotéis não. Papai nunca
confirmou exatamente o motivo, mas quando eu tinha doze anos, o FBI
investigou o negócio.

A única razão pela qual eu sabia disso, foi porque um agente veio à
nossa casa um dia. Eu estava doente e não tinha ido à escola. Minha babá me
fez ficar na cama o dia todo, mas eu queria assistir TV. Então, enquanto ela
pensava que eu estava cochilando, escapuli do meu quarto.

Um agente do FBI estava no nosso vestíbulo fazendo perguntas à mamãe.


Eu sentei no topo da escada e ouvi.

Quaisquer que fossem os empreendimentos ilegais que meu avô tivesse


feito para progredir, meu pai os desvendara. Até onde eu sabia, nada tinha
saído dessa investigação, e não tinha nada de ilegal na Ward, eu apostaria meu
fundo fiduciário nisso.

Mas nosso bom nome havia se tornado a obsessão de papai. Apenas a


ideia de que eu tinha me envolvido com Oliver MacKay, bem...

Eu duvidava que ele tivesse voado para Montana se o pai de Drake fosse
qualquer outro homem.

— Nada disso me envolve. Você tem muitos advogados que podem


continuar protegendo sua preciosa reputação de quem quer que ela seja. Eu
não me importo.
— Você viraria as costas para sua família?

— Cuidado, papai. Sua hipocrisia está aparecendo. — Levantei-me da


cadeira, terminando esta conversa. — Minha família está aqui. Meu filho é
minha família. Sabe, aquele garotinho que você nem conseguia olhar ontem?
Aliás, o nome dele é Drake.

Papai se levantou, apontando um dedo para a mesa. — Não terminamos


de falar. Sente.

— Eu não tive a chance de dizer adeus depois que você me mandou sair
de casa. Então, vou consertar isso hoje. Adeus, pai. Adeus, mãe. Boa viagem
para casa.

Sem outra palavra, caminhei até a porta, abrindo-a e correndo pelo


corredor. O elevador abriu quase imediatamente depois que apertei a seta para
baixo e uma vez que estava segura dentro, fechei os olhos e respirei.

Se eles ficassem esta noite, eu estaria limpando o quarto deles amanhã.


A humilhação percorreu minhas veias, e eu apertei meus olhos com mais força.

Este foi apenas mais um obstáculo a atravessar. Eles iriam embora e


eventualmente as pessoas esqueceriam que Victor e Beatrice Ward tiveram
uma segunda filha. Eles também me esqueceriam.

O ding do elevador soou antes que eu estivesse pronta e as portas se


abriram. Mateo estava na recepção, com os olhos no telefone. Quando ele ouviu
meus passos no chão, ele olhou, pronto para falar, mas o olhar no meu rosto
deve tê-lo feito mudar de ideia.

Ele simplesmente assentiu e me deixou escapar para o Knuckles.

Não havia muita gente no café da manhã. O hotel estava quieto neste fim
de semana, mas de acordo com Eloise, todos os quartos estavam lotados para o
Dia de Ação de Graças em duas semanas.

Não tinha pensado nos feriados. Eu nunca passei um longe da minha


família.

Família.
Essa palavra não tinha muito peso no momento. Ela soou vazia em
minha mente.

Mas eu tinha Drake. Eu sempre teria Drake.

Entrei na cozinha e, com a visão que me cumprimentou, parei


completamente.

Knox estava na pia, a água escorrendo sobre uma batata, mas não
estava prestando atenção nela. Ele estava fingindo beliscar a bochecha de
Drake, ganhando um sorriso babado.

Os dois juntos eram tão verdadeiros e reais que meus olhos inundaram.
Deixei minha compostura no terceiro andar. A primeira lágrima escorreu pelo
meu rosto quando Knox olhou por cima do ombro, me encontrando na porta.

Ele largou a batata e deu um soco na torneira para fechar a água, então
se aproximou e me puxou em seu peito com o braço livre. — Eu deveria ter ido
com você.

— Não. — Eu funguei, controlando as lágrimas. — Foi melhor eu ir


sozinha.

— Eles estão indo embora?

— Não sei. Espero que sim.

— Memphis, você tem que me dizer o que está acontecendo.

— Eu sei. — Inclinei-me e olhei para o meu filho. Um lindo bebê com


cabelo loiro como o meu.

E como o de seu pai.


CAPÍTULO DEZESSEIS
KNOX
Era meio-dia quando chegamos em casa do hotel. Liguei e pedi a
Roxanne que me cobrisse novamente. Então, enquanto esperávamos que ela
entrasse, eu fiz algum trabalho de preparação enquanto Memphis e Drake
esperavam no meu escritório.

A viagem para casa pareceu muito longa, assim como as horas


anteriores. Tudo o que eu queria fazer era descobrir o que diabos tinha
acontecido com os pais de Memphis, mas quando finalmente entramos pela
porta de casa, Drake começou a chorar.

— Ele perdeu sua soneca matinal. — Memphis o apoiou em um quadril


enquanto ela preparava uma mamadeira. Então ela o levou para a cadeira,
colocando-o em seu colo.

— Está com fome? — Eu perguntei.

— Na verdade, não.

Sim, eu também não estava. Meu estômago deu um nó desde que ela
entrou na cozinha com lágrimas nos olhos. Então fui até o sofá e sentei na
beirada, apoiando os cotovelos nos joelhos. Esperando.

Drake terminou sua mamadeira logo e, em seguida, quando Memphis o


segurou, ele rapidamente adormeceu.

— Quer que eu o pegue e o coloque no berço? — Eu perguntei.

— Não, eu vou apenas segurá-lo. — Ela olhou para o filho e traçou os


dedos ao longo de sua testa, afastando as mechas de cabelo de seu rosto. —
Alguns dias parece que ele é tudo que eu tenho.

— Não mais.

Memphis olhou para cima e havia aquelas lágrimas novamente. Vê-los


me machucava cada maldita vez. — Eu disse a você que meu pai ficou bravo
quando me recusei a contar a ele sobre o pai de Drake.
Eu balancei a cabeça. — Sim.

— Ele não está acostumado a ser ignorado. Não sei se já ouvi alguém
dizer-lhe não. Então o ego dele é...

— Entendo. — Trabalhei para chefs assim no início da minha carreira.


Eles se irritavam com algo trivial e ficavam furiosos, simplesmente porque sua
arrogância os tornavam assim.

— Quando me recusei a contar ao papai, ele pressionou e pressionou.


Quanto mais ele exigia respostas, menos eu falava. É irônico porque no meio
disso, ele me chamou de teimosa. Acho que aprendi com ele.

— Ele é um idiota, Memphis.

— Bastante. — Ela suspirou. — Ele poderia ter apenas respeitado meus


desejos. Eu ainda estaria em New York se ele confiasse em mim. Se ele tivesse
ouvido quando eu disse que tinha minhas razões para manter o segredo. Em
vez disso, entramos em uma grande briga e bem... você sabe o resto.

O resto significava que ela havia fugido de casa, atravessando o país


sozinha com um bebê. Porque Victor Ward não conseguia controlar sua filha.

Memphis olhou para Drake mais uma vez, seus olhos suavizando. — O
pai de Drake não é um bom homem.

Eu sentei em linha reta. — Ele a machucou?

— Só meu coração, — ela sussurrou.

E por isso, eu odiaria o bastardo pelo resto dos meus dias.

— O pai de Drake é um homem chamado Oliver MacKay. — Ela


encontrou meu olhar quando seus ombros caíram. — Ninguém além de você já
ouviu essa frase.

— Ninguém? — Nem mesmo sua mãe? Ou um amigo?

— Só você. — Ela engoliu em seco. — E eu sei que você não vai, mas eu
tenho que dizer de qualquer maneira. Por favor, nunca conte a uma alma.
Ninguém pode saber.
Ninguém poderia saber? — Por que? Você está me assustando, Memphis.
Se você estiver em perigo...

— Eu não estou. Oliver não quer nada comigo tanto quanto eu não quero
com ele.

— Então por que isso é um segredo?

Ela baixou o queixo. — Porque sua esposa é filha de um chefe da máfia


italiana.

Se meu cérebro pudesse explodir, teria explodido. O que. Porra?

A sala ficou quieta. A luz do lado de fora pareceu diminuir, como se o sol
estivesse coberto por uma nuvem. E Memphis ficou perfeitamente imóvel, sua
confissão ressoando no ar enquanto ela segurava seu bebê.

— Eu não... — Eu arrastei uma mão sobre minha barba, lutando por


algo para dizer.

Porra. A máfia? Eu não sabia nada sobre a máfia além do que eu tinha
visto nos filmes e na televisão. Hollywood embelezava, mas eu tinha certeza de
que havia um fio de verdade.

— É por isso que você se mudou para cá? — Eu perguntei. — Para


escapar da cidade?

— Não. Eu poderia ter ficado e alugado um apartamento e encontrado


um emprego em New York, mas a cidade havia perdido seu apelo.
Principalmente por causa da minha família. Colocar milhares de quilômetros
entre mim e Oliver foi apenas um bônus. Eu me mudei para cá porque
Montana parecia um sonho. Eu queria que Drake tivesse espaço para respirar.
Para passear e brincar. Uma casa onde o nome Ward não significava nada e
ninguém tentaria controlar sua vida, mantendo um fundo fiduciário sobre sua
cabeça.

— Faz sentido. — Se eu tivesse a família dela, provavelmente teria ido


para o campo também. Exceto que eu não sabia se eu teria andado com esse
tipo de dinheiro.
Eu pensei na primeira vez que ela me contou, mas Deus, ela era forte.
Poucas pessoas teriam se afastado de milhões. Se Drake alguma vez duvidasse
do amor dela por ele, eu estaria aqui para corrigi-lo.

— Oliver... — Ela fez uma cara azeda. — Quando nos conhecemos, eu


não sabia quem ele era. Eu não tinha ouvido o nome dele antes. Não é como se
ele estivesse nas notícias. E há muitos homens ricos em New York.

Eu fiquei tenso, meus ombros enrijecendo. Isso nunca seria fácil de


ouvir. Eu não gostava da ideia dela com qualquer outro homem, mas
especialmente aquele que a ajudou a fazer Drake.

Parte de mim teria ciúmes daquele filho da puta por toda a minha vida.

— Nós nos conhecemos em um hotel em Miami, — disse ela. — No bar.


Eu estava lá para trabalhar. Ele também. Nós nos demos bem e passamos o
fim de semana juntos. Nenhum de nós compartilhou muitos detalhes pessoais.
Não era esse tipo de fim de semana.

Minha pele arrepiou, mas eu sentei em silêncio e escutei, meus dentes


rangendo.

— Foi só no final do fim de semana que percebemos que éramos ambos


de New York. Ele perguntou se poderia me ver novamente. Eu tinha me
divertido, então é claro, que eu disse sim. Oliver é mais velho, com quarenta e
poucos anos. Ele é carismático. Bonito. Próspero. Poderoso. Estar perto dele
era... viciante. E eu era uma idiota mimada e estúpida.

Havia tanta culpa em sua voz. Tanta vergonha. Pesava em seus ombros
magros e diminuía a luz em seus olhos.

— Começamos a namorar, se é que você pode chamar isso de namoro.


Passamos a maior parte do nosso tempo na minha casa. Alguns, em seu
apartamento no Upper East Side. Ele era um empresário. Eu trabalhava
constantemente. Mas ele era minha fuga. E eu o amava. Ou... Achei que o
amava. — Sua testa franziu. — Você pode amar alguém quando ele te mantêm
em uma bolha?

— Não, provavelmente não. — Eu achava que amava Gianna. Teria


jurado com sangue. Exceto que o que tínhamos não era amor. Nem mesmo
perto.
— Ele não compartilhou muitos detalhes pessoais. Nem eu. A
comunicação não era a protagonista do nosso relacionamento. Ele me
perguntou desde o início se poderíamos manter nosso relacionamento para
nós, apenas para ver onde estávamos indo antes de torná-lo público. Isso era
bom para mim porque eu estava feliz em mantê-lo para mim. Mas depois de
três meses, eu queria mais. Eu queria contar aos meus amigos. Eu queria
exibi-lo. Então perguntei se ele iria me acompanhar a uma festa. Era uma festa
elegante e eu adorava.

— Sério? — Isso não parecia nada com ela.

— Muita coisa mudou. — Ela levantou um ombro e acenou para Drake.


— Essa versão de mim morreu no dia em que ele nasceu.

— Ou talvez você tenha encontrado quem você sempre quis ser.

Ela me deu um sorriso triste. — Pode ser.

— O que aconteceu na festa?

— Não sei. Nós não fomos. Pedi que ele fosse meu par e ele me disse que
não poderia ir porque sua esposa estaria lá. Ele disse isso como se fosse óbvio.
Que eu deveria saber que eu era apenas sua amante.

— Você não fazia ideia.

Mais culpa e mais vergonha nublaram seu rosto. — Não. Talvez eu


deveria. Mas a minha versão antiga gostava da bolha.

— Você confiou nele.

— Um erro.

— Não seu, querida. — Aquele filho da puta a enganou intencionalmente.

— Eu terminei. Chamei-o de muitos nomes e disse para esquecer o meu.


Então, algumas semanas depois, eu não me senti muito bem. E minha
menstruacão atrasou e...

— Você descobriu que estava grávida.

Ela tocou a bochecha de Drake. — Eu fui negligente com meu controle de


natalidade. A irresponsabilidade era outra falha da antiga eu. Eu perdi um dia
da minha pílula. Eu passava a noite na casa dele e ia direto para o trabalho,
tomando o dobro na manhã seguinte. Basicamente, era uma idiota. Mas não
me arrependo.

— Você não deveria. — Aquele garotinho era um milagre.

Pelo visto, ele transformou a vida de Memphis. Era quase impossível


olhar para ela e imaginar a mulher que estava descrevendo. Ela provavelmente
estava sendo muito dura consigo mesma. Mas eu não duvidava que ela tivesse
mudado.

— Toda a verdade veio à tona depois disso. Aquele apartamento não era
sua casa. Era exatamente onde ele escondia sua prostituta secreta. Seu queixo
estremeceu. — Meu pai me chamou de puta hoje.

— Que porra é essa? — Deus, eu desejei ter dado um soco na cara


daquele idiota ontem. Eu não deveria tê-la deixado falar com eles a sós.

Memphis deu de ombros, seus olhos evitando os meus.

— Olhe para mim. — Esperei até que ela erguesse o queixo. — Foda-se
ele por dizer isso.

— Sim, — ela murmurou. — Ainda... O Google teria me dito exatamente


quem era Oliver. Procurei-o no dia em que ele me disse que era casado. A
internet é muito informativa. Esse foi o segundo pior dia da minha vida. O dia
em que percebi o quão crédula e superficial eu era.

— Isso não é culpa sua. Confiar em alguém com quem você se importa
não é errado.

Ela encontrou meu olhar, seus olhos suavizando. Nós dois fomos
enganados por aqueles que amávamos. Eu confiei em Gianna também.

A distância entre nós era grande, então me levantei e contornei a mesa


de café, estendendo a mão para ajudá-la a se levantar. Eu peguei Drake de
seus braços e com ela, o levei para o quarto de hóspedes.

Em pouco tempo, teríamos um berço de verdade. Tiraríamos essa cama


daqui e o transformaríamos em um berçário. Drake precisava de seu próprio
quarto.
Coloquei Drake em seu berço, em seguida, puxei Memphis para o
colchão, enrolando-a em meu peito. — O que aconteceu quando você disse a
ele que estava grávida?

— A essa altura, eu já sabia quem era sua esposa e as especulações


sobre sua família. Isso me assustou muito. Eu estava com medo de que ela
descobrisse sobre o caso, sobre o bebê, e decidisse vir atrás de mim. Eu não ia
contar nada a Oliver, mas ele apareceu na minha casa um dia.

— Ele queria você de volta?

— Não, ele queria meu silêncio. Ele fez algumas ameaças sobre sua
esposa e como ela costumava ter ciúmes. Como ela estava ligada a uma família
perigosa e que seria uma pena minha própria família ter problemas com
negócios. Foi tudo muito praticado, uma mensagem que ele, obviamente já
havia passado antes. Ele me ofereceu cinquenta mil dólares para manter nosso
caso em segredo.

Eu me inclinei para trás, encontrando seus olhos. — Mas você não


pegou, não é?

Ela balançou a cabeça. — Eu não queria o dinheiro dele. Tudo que eu


queria era o seu acordo. Que meu filho era meu e só meu. Eu ficaria quieta se
ele assinasse me dando todos os direitos.

Desde o início, ela lutou por Drake. — Essa é minha garota.

Um sorriso puxou sua boca. — Quase não contei a ele sobre o bebê. Eu
quase mantive quieto. Mas eu não queria olhar por cima do ombro minha vida
inteira, imaginando que ele descobriria. Imaginando se ele iria querer Drake.
Era a minha janela para negociar e a peguei.

— Então ele se foi.

— Ele se foi, — ela sussurrou. — E a menos que eu precise do rim ou


fígado desse homem ou qualquer outro órgão para salvar a vida de Drake,
nunca mais falarei nele. Um dia, tenho certeza que Drake vai perguntar. Mas
isso é uma preocupação para amanhã. Não o quero perto da vida de Oliver.
— Bom. — Eu soltei uma respiração profunda e a puxei para mais perto.
Foi melhor assim. E se Drake alguma vez precisar de um rim, fígado ou
qualquer outro órgão, ele poderá ter o meu, supondo que sejamos compatíveis.

— Não está bem. — Ela se afastou, caindo de costas para olhar para o
teto. — Alguém sabe.

— O que? — Eu endureci. — Quem?

— Não sei. Mas é por isso que meus pais estão aqui. Uma mulher está
chantageando o papai. Ela disse que iria à imprensa e diria que tive um bebê
de Oliver.

— Porra.

— Sim. — Ela esfregou as têmporas. — Eu estava com medo de fazer


muitas perguntas hoje. Mamãe e papai suspeitam de Oliver, mas eu não
confirmei. Há toda uma história complicada lá. Há rumores de que meu avô
tinha alguns laços com a máfia quando começou a Ward Hotels. Se for
verdade, papai cortou isso décadas atrás. Mas isso o assustou.

— Merda, — eu murmurei. — O que acontece se essa mulher for à impre


nsa?

— Vou negar. Oliver vai negar. Mas a especulação vai correr solta. E sua
esposa sem dúvida suspeitará que tivemos um caso.

— Esse é o problema dela. E quanto a Drake? Que tipo de acordo você fe


z?

— Eu tenho um documento assinado declarando que ele renunciou a


todos os direitos de pai. Mas... não é notariado. Não está arquivado. Estou
apostando no fato de que ele nunca vai mudar de ideia. Se ele fizer...

— Se ele fizer isso, ele terá uma porra de uma luta em suas mãos. Ele
não levará Drake.

— Ele não levará Drake, — ela repetiu.

— E seus pais? O que eles vão fazer?

— Eu não faço ideia. — Ela gemeu. — Tenho certeza de que essa viagem
não foi o que papai planejou. Ele provavelmente esperava vir aqui, me
encontrar pobre e miserável e grata por ser levada de volta para New York em
seu jato particular. Em vez disso, eu disse a eles para irem embora.

Quando ela mostrou a língua, eu ri. — Você fez a coisa certa, ficando
quieta.

— Espero que sim. — Ela suspirou. — Meu pai conhece Oliver e suas
conexões. Ele também sabe que qualquer vínculo com eles prejudicaria sua
reputação. Essa é a única criança com quem ele realmente se importa. Sua
preciosa reputação. Na melhor das hipóteses, ele paga a mulher para ficar
quieta. Ele provavelmente vai usar o dinheiro do meu fundo fiduciário.

— Na pior das hipóteses, isso explode o caralho.

— Sim. — Ela colocou as palmas das mãos nos olhos. — Que confusão
do caralho.

— Quem você acha que é essa mulher ? Seu pai te contou?

— Ele não sabe. — Ela se sentou, fugindo para o final da cama para
olhar para Drake. — Talvez seja um funcionário. Ou outra amante.

O filho da puta provavelmente esteve com outras mulheres enquanto


estava com Memphis. Ele tinha um tesouro, um tesouro de ouro puro, em vez
de apreciá-la, a usou para sua própria ganância.

Sua perda. Meu ganho.

— Você acha que a mulher que contatou seu pai poderia ser a esposa
dele? — Eu perguntei.

— Pode ser. — Ela deu de ombros. — Mas por que sua esposa precisaria
chantagear minha família por dinheiro? Ela tem bastante. Ela poderia
simplesmente se divorciar da bunda de Oliver e pegar o dinheiro dele também.

— A menos que ele tenha um acordo pré-nupcial. — Eu desci da cama.


Ou, se a máfia fosse tão implacável quanto eu suspeitava, ela envolveria sua
família e herdaria seus bens após sua morte prematura.

— Tem mais. Algo aconteceu, logo antes de eu sair, — disse ela. — Eu


estava no meio de fazer as malas, carregando o Volvo. Saí da minha casa
carregando uma caixa e havia uma mulher esperando. Uma agente do FBI.
Meu estômago caiu. — O FBI está investigando Oliver?

— Não sei. Provavelmente. Ela me mostrou seu distintivo e perguntou se


eu conhecia Oliver MacKay. Eu disse: 'Quem?' e pedi licença para verificar
Drake. Eu assisti da janela enquanto ela se afastava. No dia seguinte eu estava
na estrada.

Eu esfreguei o maxilar. — Um agente do FBI não chantagearia seus pais


por dinheiro.

— Não. Tem que ser alguém próximo a Oliver. Alguém que ele irritou. E
alguém que sabe que minha família tem dinheiro. — Memphis envolveu os
braços em volta da cintura. — Por que isso não vai embora? Eu só quero que
isso acabe.

Sentei-me ao lado dela, puxando-a em meus braços. — Vai acabar.

— Quando?

— Eu não sei, querida.

— Talvez eu devesse voltar para New York. Descobrir quem é essa


mulher. Pagá-la..

— Não. Não é uma opção, Memphis.

Ela olhou para mim, aqueles olhos castanhos cheios de desculpas. — Eu


nunca quis te arrastar para tudo isso.

— Você não me arrastou para lugar nenhum. Eu vim de boa vontade.


Saia pela minha porta da frente, suba uma escada e entre no seu loft, lembra?

Memphis me deu um sorriso triste. — Knox, eu não posso colocar você


nisso.

— Você nunca foi capaz de contar com ninguém, não é?

Ela piscou, como se a realidade de sua vida tivesse acabado de bater em


seu rosto.

— Você estava tão sozinha que foi embora. Porque você não tinha
ninguém. Mas você me tem agora. E como eu te disse na outra noite, eu não
vou a lugar nenhum. — Talvez se lhe dissesse o suficiente, ela acreditaria.
— Promessa?

Dei um beijo em sua boca. — Eu juro.


CAPÍTULO DEZESSETE
MEMPHIS
Eloise estava fazendo o check-in dos hóspedes quando me aproximei da
recepção, então fiquei para trás, esperando até que tivessem seus cartões-
chave e passassem por mim para os elevadores. Ela se jogou em seu assento e
enfiou uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto eu me aproximava. —
Ufa. Hoje está sem parar.

— Você não estava brincando sobre a correria do feriado.

No fim de semana, quase todos os quartos do hotel estavam lotados. O


último hóspede tinha chegado hoje. Estávamos totalmente reservados a
semana inteira para feriado de Ação de Graças.

Eu estava arrumando quartos ocupados o dia todo, substituindo toalhas


e roupas de cama e ajeitando. Os corredores foram aspirados, o elevador limpo.
Eu tinha acabado de limpar a sala de descanso. Qualquer coisa para me
manter ocupada. Trabalho frenético e um ritmo enlouquecedor tinham sido
uma dádiva de Deus. Isso me permitiu canalizar minha energia nervosa e
manter minha mente longe do desconhecido.

Meus pais saíram do The Eloise na semana passada — não muito depois
de nossa discussão, de acordo com Mateo. Eles provavelmente saíram
enquanto estávamos no Knuckles. Eu não tinha ouvido falar deles desde então.

Meses e meses de ligações constantes da minha mãe. Agora nada, além


do silêncio. Talvez ela tenha percebido o quanto me machucou. Talvez papai
tivesse dito-lhe para parar de ligar. Talvez ela tenha desistido.

Eu desejei sentir falta da minha mãe. Eu gostaria de poder dizer que


perdi o toque do meu telefone. Mas foi um alívio. Eu não tinha percebido
quanta dor vinha com cada uma de suas ligações, a amargura que me traziam
a cada dia.
Algum dia meu coração não estaria tão machucado. Algum dia,
esperançosamente, esses sentimentos em relação a ela se abrandariam. Algum
dia, eu poderia pegar o telefone e ligar para ela, para variar.

Apenas não hoje.

— Você está saindo? — Eloise perguntou, olhando para o relógio.

— A menos que você precise de mim para fazer qualquer outra coisa. —
Era pouco depois das cinco. Drake tinha que ser pego antes das seis, mas
tenho tempo, caso precise de mim para entregar chinelos ou champanhe em
um quarto.

— Não, você está trabalhando duro esta semana. Já te disse o quanto te


admiro? Porque é verdade.

— Obrigada. — Meu peito inchou de orgulho. Quando eu trabalhava para


a Ward Hotels, era raro receber um elogio. Do meu chefe. Do meu pai. Papai
dava o tom para o escritório e simpatia era uma prioridade distante sobre a
realização.

Mas Quincy era um lugar acolhedor. As pessoas sorriem e


cumprimentam passando por você na calçada. Vizinhos cuidando dos vizinhos.
Estranhos comprando uma xícara de café para estranhos simplesmente para
serem gentis.

— Vejo você amanhã. — Acenei para Eloise, então corri para a sala de
descanso para bater o ponto. Com meu casaco e minha bolsa pendurada no
ombro, fui para o Knuckles.

Knox e eu não nos vimos desde que saí para o trabalho esta manhã. Nós
dois inundados com o fluxo de hóspedes e hoje, ele começou a se preparar para
o banquete de Ação de Graças que serviria na quinta-feira.

Mas apesar de termos passado o dia inteiro separados, era reconfortante


saber que ele estava sempre por perto. Se eu precisasse dele, ele estaria lá.

As mesas do restaurante estavam postas, algumas já ocupadas. A


cozinha estava agitada quando abri a porta de vaivém. Skip trabalhando na
mesa de preparação, preparando uma tigela de salada de macarrão de milho.
Roxanne estava ao lado de Knox, revisando um cardápio. Todos olharam na
minha direção quando entrei.

— Eu só queria dizer oi. — Acenei. — Estou saindo.

— Um minuto. — Knox levantou um dedo. — Não vá embora ainda.

— Ok. — Afastei-me para não atrapalhar, se uma garçonete entrasse


pela porta.

— Como vai, Memphis? — Skip perguntou.

— Dia cheio. Você?

— também. — Ele bateu no cabo de sua colher de pau na lateral da


tigela, depois a levou para a lava-louças. Como Knox e Roxanne, ele estava
vestindo um casaco branco de chef e hoje ele estava em uma calça larga de
algodão com estampa de chita.

— Calças novas, Skip? — Normalmente ele usava jeans. As calças


selvagens, ousadas e largas sempre foram o forte de Roxanne.

— Muito elegante, hein. — Ele fez um pequeno embaralhamento de


passos, dançando para mim. — Roxanne me disse que eu não conseguia usar o
estilo dela.

— Porque ele não pode. — Ela se agitou em sua calça camuflada rosa. A
cor brilhante combinava com as mechas que percorriam seu cabelo loiro.

Skip zombou e fez uma pose. — Posso também.

A brincadeira fácil entre os funcionários do restaurante sempre me fez


sorrir. Eles provocavam-se um ao outro. Eles provocavam Knox. Mas por trás
das risadas e das brincadeiras, havia respeito mútuo.

Knox elogiava sua equipe regularmente. Ele dava-lhes conselhos e


ensinou-lhes novas técnicas. E em troca, o adoravam.

Eu o adoro. Cada dia mais.

— Tudo bem, pessoal? — Knox perguntou, desabotoando o casaco.

— Sim. — Skip deu a ele uma saudação simulada.


Roxanne assentiu. — Tudo certo. Saia daqui.

— Você não está trabalhando esta noite? — Eu perguntei.

Ele respondeu desaparecendo em seu escritório, retornando um


momento depois com seu casaco Carhartt e as chaves da caminhonete. — Há
uma tempestade aí. Eu não quero que você dirija sozinha.

— Ok.

Sua proteção era uma segunda natureza. Ele era o homem assumindo o
comando. Mas, ao contrário das ordens gritadas do meu pai e da incapacidade
de se comprometer, Knox fez isso com cuidado, não como controle. Da maneira
como nos mudou para sua casa. Ele não havia perguntado. Ele simplesmente
foi enchendo meu cesto de roupa suja, uma viagem de cada vez, até que tudo o
que restava no loft eram minhas malas vazias. Se eu tivesse recusado, ele teria
levado tudo de volta.

— Oi. — Ele parou ao meu lado e deu um beijo na minha testa. — Como
foi seu dia?

— Oi. Bom.

— Você não veio me ver no intervalo.

— Porque eu não fiz uma pausa.

Ele franziu a testa e colocou a mão na parte inferior das minhas costas,
me guiando para fora da cozinha. Um homem em uma mesa ao longo da
parede acenou. Knox ergueu o queixo, mas não parou de andar. — Alguma
coisa de seus pais hoje?

— Nenhuma palavra.

— Droga.

— Bastante, — eu murmurei. Nós dois queríamos que isso acabasse.

Depois da minha confissão na semana passada, Knox e eu passamos


horas conversando. Compartilhar sobre Oliver, revelar o segredo, tirou um peso
dos meus ombros. Knox interveio e um problema que era meu, agora era
nosso.
Eu nunca estive em um relacionamento assim antes. Nem com meus
pais.

Knox e eu decidimos que a única coisa a fazer com meus pais e esse
chantagista, era esperar. Nada de bom viria de eu entrar no meio da situação.
Se alguma coisa, apenas traria a verdade à tona.

Essa mulher, quem quer que fosse, não tinha provas de que Oliver era o
pai biológico de Drake. Nosso caso foi secreto — Oliver se certificou disso,
mesmo que eu não tivesse percebido na época. Ela provavelmente estava
agindo com uma suspeita, então eu manteria meu filho e seu DNA distante,
muito distante da cidade.

Se meu pai decidisse não pagar, a vida ficaria complicada. Mas eu estava
contando com o primeiro amor de papai: sua imagem.

Sua reputação sempre foi sua prioridade. Foi por isso que seus hotéis
foram rotulados como hotéis butique. Ele queria que o nome Ward fosse
conhecido pela extravagância e exclusividade.

— Nós vamos lidar. — Knox pegou minha mão. — Aconteça o que


acontecer, vamos lidar. Juntos.

Juntos. Olhei para seu perfil bonito e deixei essa palavra rolar pela
minha mente.

Isso era bom demais para ser verdade? Meu coração não aguentaria se
tudo caísse em pedaços. Porque dia após dia, noite após noite, eu estava me
apaixonando por Knox.

Talvez, já tivesse.

Ele acordaria amanhã de manhã e perceberia que poderia ter muito mais
do que eu? Ele se ressentiria do drama que eu trouxe para sua vida?

— O que? — Knox cutucou meu braço.

— Nada. — Agarrei sua mão com mais força, então a soltei quando
saímos.

Uma rajada de neve me atingiu no rosto. Engoli em seco com o vento frio,
afundando mais no meu casaco, então corri para o meu carro.
— Entre. Vou limpar a janela. — Ele abriu a porta para mim e, quando
liguei o motor, ele usou a manga para limpar o pára-brisa.

Eu liguei o aquecimento enquanto ele limpava sua caminhonete, então


dirigi da cidade até a creche. O vento sacudia os flocos de neve no ar. Era tão
espessa que eu não conseguia ver mais do que um quarteirão à frente. Meus
dedos estavam brancos como o céu quando entrei no estacionamento da
creche.

Knox estacionou ao meu lado, esperando enquanto eu corria para dentro


para pegar meu filho.

Eu estava no corredor quando a voz de Jill chegou ao meu ouvido. — Ela


já está com ele.

Meus passos desaceleraram, minhas mãos se fechando em punhos ao


meu lado. De novo não.

Nada havia mudado muito com a creche. Jill ainda me irritava demais,
mas ela adorava Drake. Embora, eu tivesse que arrancá-lo de seus braços
todas as noites, eu forçava sorrisos com os dentes cerrados.

Esta foi a primeira vez em semanas que ouvia a fofoca dela.


Provavelmente, porque geralmente ela estava sozinha no berçário.

Acelerei meus passos, chegando à porta. — Oi.

Os olhos das duas mulheres se arregalaram. A culpa penetrou em suas


expressões. Sim, eles estavam falando sobre mim. Cadelas.

— Oh Olá. — Jill tinha Drake no quadril, nenhuma surpresa. Ela sempre


o carregava.

— Ele teve um bom dia? — Eu perguntei, correndo para pegar suas


coisas.

— Sim, ele estava perfeito. — Ela beijou sua bochecha. — Você não
estava? Você é sempre perfeito. Mas ele não tirou uma soneca à tarde. Então
nós apenas ficamos juntos.

Significando que ela não o deitou para que ele pudesse tirar sua soneca
da tarde. Significando que eu teria que colocá-lo na cama cedo e perder meu
tempo com ele. Meus molares começaram sua moagem diária, quando fui tirá-
lo de seus braços. — Oi, bebê.

Ele viu minhas mãos estendidas e imediatamente começou a fazer


barulho.

Estou tão cansada disso. Que diabos? Ela o alimentou com açúcar e
disse que eu era o diabo o dia todo? Ele ficaria bem em dez minutos, mas era
como se ela fizesse lavagem cerebral no meu bebê todos os dias.

— Está bem. — Jill o empurrou. Mas não o entregou. — Apenas um


pouco de sono e então você estará de volta. Eu vou te ver em logo de manhã.

Forcei um sorriso e o tirei de suas mãos. Depois de um beijo rápido em


sua bochecha, apagando o que ela havia deixado, o coloquei direto na
cadeirinha. Então começou o choro.

Ele simplesmente odiava seu assento de carro. Isso era parte do motivo
da teatralidade diária, certo? Talvez aquela viagem de New York o tivesse
tornado avesso a esse assento para sempre.

— Oh, Drake, — Jill cantarolou. — Eu sei. Eu também não gosto.

Eu a odeio. Eu a odeio. Eu a odeio.

No momento em que ele foi colocado no arnês, saí do berçário, sem me


incomodar com um adeus.

Drake chorou durante todo o caminho até a porta e, quando saímos na


neve, ele ficou mais irritado. Lágrimas inundaram meus olhos quando o
empurrei para dentro do Volvo. Então eu estava dando ré.

A um quarteirão de distância, olhei pelo retrovisor para ver a


caminhonete de Knox logo atrás. No desastre que era a busca de Drake
diariamente na creche, esqueci que ele estava me seguindo até em casa. Mas
como as estradas estavam congeladas e a nevasca se intensificando, eu estava
feliz por ter seus faróis cada vez que olhava nos espelhos.

O vento sacudiu as janelas do carro. O barulho fez pouco para melhorar


o humor de Drake e ele continuou a chorar. Quando finalmente cheguei à
saída para Juniper Hill, respirei. Quase em casa.
Exceto que não era minha casa, era? Era a casa de Knox.

Eu vim de tão longe para começar uma nova vida. Eu me mudei pelo
país. E pouco mais de dois meses depois, eu estava morando sob um teto que
não era meu. Para roubar as palavras de Jill, eu estava presa.

O que aconteceria se Knox decidisse que éramos um fardo? Que ele


queria sua vida de solteiro de volta?

Cada dúvida, cada insegurança, me atormentava no caminho para casa.


Todos os dias. Meus nervos tremiam como as árvores ao vento, enquanto eu
dirigia pela estrada de cascalho. A casa apareceu e apertei o botão da garagem,
entrando. Eu tinha Drake fora e a alça de seu assento sobre meu braço quando
Knox estacionou em seu espaço.

— O que há de errado com Drake? — ele perguntou, saindo de sua


caminhonete.

— Nada. — Eu acenei.

Ele sabia que era mentira, mas ficou quieto, caminhando na frente até
sua casa e fechando a porta quando estávamos lá dentro. — Estamos
aumentando a casa.

— Huh?

— Não gosto de ter que arrastá-lo pela neve para entrar. — Ele se
inclinou e soltou Drake, levantando-o. Só quando estava nos braços de Knox o
choro parou.

Claro que ele parou de chorar. Ele estava com sua segunda pessoa
favorita.

Eu era uma relutante terceira.

— Memphis.

— Knox. — Passei por ele, pegando a cadeirinha do carro e a bolsa da


creche de Drake para o quarto de hóspedes.

Minha solidão durou pouco. Os passos de Knox entraram na sala. —


Você saiu daquela creche à beira das lágrimas.
— Sim, bem... — Coloquei a bolsa no chão e tirei as mamadeiras sujas.
Deus me livre Jill lavá-las para mim. — Isso é normal.

— Por que isso é normal?

— Porque Jill, a babá, ama Drake. — Eu joguei minhas mãos para cima.
— Ela o ama. Ela o mima. E qualquer outra mãe ficaria feliz por seu bebê ser
amado e mimado, mas isso me machuca. Dói-me que ele prefira ficar com ela
do que voltar para casa comigo. E me dói que não tenhamos um lar para onde
voltar. Esta é a sua casa. Eu não tenho casa. O único membro da família é um
garotinho que...

— Ama você. — Knox deu um passo à frente e me entregou Drake,


esmagando o resto da minha explosão. Então ele passou os braços em volta de
nós dois. — Ele te ama. Porque você é uma boa mãe.

Olhei para meu filho, que havia parado de chorar e estava ocupado
agarrando um punhado do meu cabelo. Seus olhos castanhos eram grandes e
expressivos. Seu rosto tão pequeno e perfeito. — Ele é meu mundo inteiro. Eu
só queria ser dele.

— Você é, querida.

Encontrei o olhar azul de Knox. — Eu sou?

— Eu mentiria para você?

Não. A frustração escorreu dos meus ossos. — O que aconteceu comigo?


Eu costumava ser tão confiante. Agora eu questiono tudo. Eu duvido de mim
constantemente. E eu odeio isso.

— Ei. — Ele me puxou para perto e me enterrei em seu peito, absorvendo


seu cheiro picante. Seus braços e aquele cheiro foram as únicas razões pelas
quais eu dormi esta semana. Ele me segurou todas as noites, nossos membros
entrelaçados, nossos corpos nus, até que coloquei os medos e a incerteza para
descansar.

— Por que você me quer? — Eu sussurrei. — Eu sou uma bagunça.

— Venha comigo. — Ele me soltou e apertou minha mão, nos levando


para a cozinha. Então ele arrastou um banquinho para fora da ilha e deu um
tapinha no assento. — Segure Drake.
Peguei meu filho e o apoiei em um joelho, balançando-o suavemente.

Nos fins de semana, era mais fácil colocá-lo n chão. Para deixá-lo relaxar
em seu tapete de jogo. Durante a semana, depois de passar oito ou nove horas
nos braços de Jill, era mais difícil para mim soltá-lo. Então, o segurei e nós
dois assistimos Knox dar a volta na ilha e tirar comida da geladeira e da
despensa.

Ele abriu um pacote de bacon e o colocou em uma frigideira, a gordura


derretendo e estourando enquanto respingava. Ele pegou um recipiente de
farinha, despejando uma colher diretamente no balcão. Então ele fez um
burraco, quebrando três ovos no pó branco antes de polvilhar tudo com sal.

Ele trabalhou a farinha e os ovos em uma massa, seus dedos


enfarinhados enquanto amassava numa bagunça pegajosa em uma bola
perfeita e lisa, depois cortando-a. Picou o bacon crocante e a salsinha antes de
ralar o queijo.

Ele continuou trabalhando até encher duas tigelas com macarrão à


carbonara, quando colocou o meu na minha frente, simplesmente beijou minha
testa e me entregou um garfo.

Drake começou a se contorcer no meio do jantar, então pedi licença e


fugi para o banheiro para dar-lhe um longo banho. Então me sentei com ele na
cama de hóspedes e lhe dei a mamadeira. Ele adormeceu quase
instantaneamente.

Knox estava exatamente onde o deixei, sentado na ilha, rolando o


telefone. Cercado por uma confusão. Quando ele me ouviu, o telefone foi
colocado de lado. — Ele está dormindo?

— Sim. — Peguei minha tigela, mas ele a tirou de minhas mãos,


colocando-a exatamente onde estava.

Quando ele se levantou, seu rosto estava ilegível, sua expressão fechada.
— Gostou do jantar?

— Foi fantástico. — Tudo o que ele fez foi incrível.

— Bom. Agora olhe ao redor.


A cozinha era um desastre. Ele tinha respingos de óleo em sua camisa e
farinha polvilhada em seu jeans. Os balcões e o fogão precisariam de uma
lavagem completa. O chão precisaria ser esfregado e a máquina de lavar louça
ligada.

— Os dias mais loucos na cozinha, terminam com comida em todas as


superfícies. Esses são os dias em que saio pela porta tão exausto que mal
consigo manter os olhos abertos no caminho para casa. A paixão vem da
bagunça, Memphis. — Ele enfiou as mãos no meu cabelo. — Assim como tudo
que dura.

Meu rosto cedeu. — Você merece...

— Você.

— Eu ia dizer melhor.

— Não. Eu mereço você. Porque eu quero você. E caramba, eu ganhei


você. Toda a merda que eu passei. O inferno que você suportou. Quem se
importa se está bagunçado? — Ele sacudiu uma mão ao redor da sala. — É
exatamente como deveria ser.

— Mas...

— Maldição, Memphis. Pare de discutir comigo. — Num piscar de olhos


ele me pegou e me colocou na ilha. Um garfo voou, caindo no chão. Então, ele
se colocou entre minhas pernas, segurando meu olhar, nossos narizes se
tocando. — Deixe-me esclarecer. Você é minha. Drake é meu. Para todos os
seus hoje e para cada um dos seus amanhãs. Minha. Você não me quer?

— Claro que eu quero você.

— Então, porra, me beije.

Eu coloquei minhas mãos em seu rosto, mas quando ele se inclinou, o


empurrei para trás. Porque eu tinha algo a dizer também. — Eu estou
assustada.

— Nada de merda.

Revirei os olhos. — Eu fico um pouco louca.


— E daí? — Ele se inclinou novamente, desta vez mais insistente. —
Ficar louca. Ficar com medo. Você não vai me afastar.

Havia um desafio em sua voz. Como se ele soubesse que eu queria


duvidar dele, então me desafiou a tentar. Desafiou-me a empurrar porque ele
não iria embora.

— Você é meu também, — eu sussurrei.

— Eu sei. — Ele se inclinou e desta vez o deixei capturar meus lábios.


Ele acariciou sua língua no meu lábio inferior e quando os abri para ele, ele
mergulhou dentro, não hesitando por um momento enquanto me varria em
seus braços e me carregava pelo corredor até o quarto.

O jeans e a camiseta de manga comprida que eu usava foram retirados


instantaneamente, deixando-me apenas com um sutiã preto e calcinha. Eu
soltei o botão de sua calça jeans quando alcançou atrás de seu pescoço e
puxou sua camisa sobre a cabeça.

Minhas mãos percorriam os músculos fortes de seu peito, caindo para o


estômago ondulado e as linhas de corte ao redor de seus quadris. Além das
janelas, a tempestade de neve rugia. Aqui, juntos, estávamos em chamas.

Knox passou um braço em volta das minhas costas enquanto sua língua
e lábios me devoravam, enquanto me mantinha presa contra sua pele quente.
Com a outra mão, ele mergulhou debaixo da minha calcinha, seus longos
dedos encontrando meu centro.

Ele acariciou minha boceta, me torturando com seu toque.

Eu engasguei contra sua boca quando comecei a tremer. Ele brincou


comigo, mergulhando um dedo dentro enquanto esfregava meu clitóris. Meus
quadris balançaram contra sua mão, combinando com seu ritmo.

— Knox, — eu choraminguei.

— Vamos nos meus dedos. Então você pode ter meu pau. — Ele
mergulhou os lábios no meu pescoço, agarrou e chupou enquanto bombeava
seus dedos para dentro e para fora, acariciando minhas paredes internas até
que eu estava ofegante.
Eu levantei uma perna, enganchando-a ao redor de seu quadril,
enquanto meus braços envolviam seu pescoço e o segurei, montando sua mão
enquanto ele me fodia com o dedo. Estrelas explodiram atrás da minha visão e
gozei em um grito, uma explosão de prazer tão puro que eu não podia fazer
nada além de sentir.

— Foda-se, mas isso é quente. — Ele mordiscou o lóbulo da minha


orelha enquanto os tremores secundários ecoavam pelos meus membros.
Então, me desembrulhou de seu corpo e me deitou na cama, tirando minha
calcinha e sutiã.

Ele colocou o dedo em sua boca, cantarolando ao meu gosto, então


empurrou minhas pernas para que eu ficasse aberta. — Não se mova.

Eu balancei a cabeça, levantando minhas mãos para meus mamilos


duros e dando-lhes um puxão.

— Novamente. — Knox parou na ponta da cama e observou.

Eu puxei meus mamilos, amando o brilho em seus olhos. — Assim?

— Novamente.

Eu sorri e continuei brincando com eles, quando saiu de seu jeans, sua
ereção grossa flutuando livre.

Ele envolveu sua mão ao redor de seu pau, acariciando-o repetidamente


enquanto me observava brincar. Uma gota de gozo se formou em seu pau e
lambi meus lábios. — Você quer sua boca em mim, Memphis?

— Sim, — eu respirei.

— Mais tarde. Hoje à noite, eu vou gozar em seus lindos seios.

Minha respiração engatou novamente.

— Toque seu clitóris.

Eu soltei um seio, deixando-a cair na protuberância endurecida entre


minhas pernas. No segundo em que me toquei, minhas costas arquearam para
fora da cama.

— Não feche as pernas, — ordenou Knox.


Eu as mantive bem abertas enquanto ele se acomodava entre elas,
ajoelhando-se acima de mim.

Sua mão em seu pau não parou de bombear. A outra mão golpeou meus
dedos para longe do meu centro. — Toque seus mamilos.

Eu obedeci. Imediatamente. No quarto. Na vida. Qualquer que fosse o


prazer que lhe trouxesse, o devolveria dez vezes.

Sua mão encontrou meu clitóris novamente e ele igualou o ritmo de seus
movimentos em nós dois, trabalhando em mim até que eu mal pudesse
respirar.

— É isso, querida. Volte novamente.

Eu voei, meus olhos se fechando, enquanto o orgasmo percorria meu


corpo.

Knox gemeu e fez exatamente como prometido. Ele gozou na minha


barriga e seios. Eu assisti enquanto o êxtase tomava conta de seu rosto bonito.
Enquanto seu pomo de Adão balançava com seu orgasmo. Como se desfez. Por
mim.

Um arrepio rolou sobre seus ombros quando ele abriu os olhos. Então
me deu um sorriso sexy e diabólico. — Agora você está uma bagunça.

Sua bagunça.

Naquela confusão, havia paixão.

Nessa paixão, éramos perfeitos.


CAPÍTULO DEZOITO
MEMPHIS
Knuckles nunca pareceu tão mágico. O restaurante estava lotado de
pessoas, nem uma única mesa estava vazia. Desde o momento que entrei pela
porta, o barulho me engoliu inteira. O tilintar dos talheres. O murmúrio da
conversa. O estrondo de risadas desenfreadas.

O cheiro de especiarias e ervas me atraiu mais fundo no espaço. Peru


assado. Batatas cremosas. Cranberries picantes. Recheio de sálvia e pão de
milho doce. Meu estômago roncou.

Drake sentiu a excitação no ar e soltou um gritinho, chutando as pernas


enquanto passávamos pelas recepcionistas.

Algumas das pessoas que estavam comendo o banquete de Ação de


Graças eram hóspedes que reconheci dos corredores do hotel. Outros eram
moradores, a maioria dos rostos eu não conhecia. Mas algum dia, como Knox,
eu esperava passar por aqui e reconhecer a maioria das pessoas pelo nome.

Empurrei a porta de vaivém da cozinha, esperando o caos. Em vez disso,


fui recebida por mais risadas, com Roxanne, Skip e Knox ao redor da mesa de
preparação reluzente. O adolescente que lavava a louça estava empilhando
pratos limpos.

— Estou no lugar certo? — Eu perguntei.

Knox riu e se aproximou, levantando Drake dos meus braços. Então sua
boca estava na minha, sua língua varrendo meus lábios.

Eu pisquei, surpresa com o beijo, mas então eu levantei minhas mãos


para seu rosto para o segurar, rindo enquanto ele rosnava e me soltava. —
Uau. Agora há um olá.

— Olá. — Seu sorriso era de tirar o fôlego.

Drake colocou a mão na barba e puxou.


— Ei, chefe. — Knox beijou sua bochecha, então me puxou para seu
lado. — Como foi a manhã?

— Acho que não tão agitada quanto a sua.

Como a creche estava fechada para o Dia de Ação de Graças, passei a


manhã com Drake. Eloise, a melhor chefe do mundo, mudou os turnos para
que eu pudesse ter hoje e amanhã de folga. Eu estaria trabalhando o fim de
semana inteiro, mas Knox se ofereceu para cuidar de Drake.

Passei uma hora brincando com meu filho, trabalhando deixá-lo de


barriga para baixo e rolando. Então, durante o cochilo matinal de Drake, limpei
a casa de Knox. Ele saiu pouco depois das quatro para chegar ao restaurante e
preparar a refeição do feriado.

Knuckles tinha um único menu hoje e apenas com reserva. Moradores


que não queriam cozinhar e aqueles que visitavam Quincy, haviam reservado
meses atrás. Todos os assentos estavam ocupados.

— Como foi tudo? — Eu perguntei.

— Bem. Fácil. — Ele riu enquanto Roxanne e Skip zombavam.

— Esta é a primeira vez que respiro desde as cinco, — disse Roxanne,


tirando um avental enquanto se dirigia para o walk-in. Ela saiu com três
tigelas quadradas de prata, cada uma coberta com filme plástico transparente.
— Vou para casa entrar em coma alimentar.

— Obrigado por hoje, — disse Knox.

— Pode apostar. Vejo vocês amanhã.

Knox acenou enquanto ela desaparecia pelo corredor para escapar pela
saída lateral. Então ele me soltou, entregando Drake, para desabotoar seu
jaleco branco.

— Você não precisa ficar por aqui? — Eu perguntei, olhando para a porta
e todas as pessoas além.

— Não, estamos todos prontos. Cada mesa tem comida. Haverá uma
tonelada de pratos para lavar, mas o jantar em família de Skip não é até à
noite, então ele vai fechar. Ele enrolou seu casaco, levando-o para uma cesta
de roupa suja, então pegou suas chaves e jaqueta de seu escritório. — Me ligue
se precisar de alguma coisa.

Skip levantou a mão. — Feliz Dia de Ação de Graças.

— O mesmo para você. — Knox roubou Drake novamente, carregando-o


enquanto saíamos da cozinha. Nem cinco passos para a sala de jantar e um
homem se levantou de sua mesa de oito, com a mão estendida.

— Esta é uma refeição e tanto, Knox.

— Obrigado, Joe. Aprecio vocês virem.

— Estávamos conversando que esta será nossa nova tradição. — Joe


olhou na minha direção e Knox colocou a mão em meus ombros.

— Joe, esta é minha namorada, Memphis. E esse homenzinho é Drake.

— Prazer em conhecê-la, — disse Joe, apertando minha mão.

— Oi. — Eu balancei a cabeça e sorri, esperando que o choque não fosse


registrado no meu rosto.

Namorada. Eu já fui namorada. Nunca esse status soou tão bem...


duradouro.

Demorou vinte minutos para atravessar a sala porque a cada mesa que
passávamos, alguém parava Knox e o cumprimentava pela refeição. Então ele
me apresentava como sua namorada. De novo e de novo. Cada vez, um novo
arrepio percorria minha espinha.

Até que finalmente chegamos às portas e escapamos para a neve.

— Vamos apenas ir juntos. Pegaremos minha caminhonete amanhã.

— Ok. — Segui seus passos pela neve até o Volvo no estacionamento.

A tempestade da semana passada trouxera mais de trinta centímetros.


Não mostrava sinais de derretimento. Mas este início de inverno foi bom para
mim.

A neve deixou Quincy ainda mais charmosa. E de certa forma, era como
um casulo, isolando-nos do mundo exterior. Eu não tive notícias dos meus pais
e, com o passar dos dias, minha ansiedade diminuiu.
Esperar não foi fácil, mas eu tinha muitas distrações. Um menino. E
meu Knox.

Entramos no carro e Knox pegou as chaves para poder dirigir. Então


partimos para o rancho Éden.

Meus joelhos começaram a saltar quando saímos da estrada. Eu sentei


em minhas mãos para que não ficassem inquietas.

Os dedos de Knox tamborilavam no volante, mas, ao contrário de mim,


não era nervosismo. A energia irradiava de seus ombros largos, e o sorriso em
seu rosto era inebriante.

— Você está acelerado.

— Sim. — Seus olhos azuis brilhavam no sol brilhante da tarde. — É o


restaurante. Hoje foi louco de ocupado. Ainda estou surfando nessa onda.

— Você realmente ama isso, não é?

— Eu realmente amo.

Uma pontada de inveja bateu. — Eu não amo limpar quartos.

Ele tirou a mão de debaixo da minha coxa, entrelaçando nossos dedos. —


O que você ama?

O que eu amo? — Eu não faço ideia. Eu nunca tive realmente a liberdade


de decidir.

— Você não está nada além de livre agora, querida.

— Além de que preciso de dinheiro para pagar aluguel e comida. Falando


nisso, você não depositou meu último cheque do aluguel.

— Não?

Eu fiz uma careta. — Se você não depositar, vou me mudar para o loft.

Ele riu. — Eu vou descontar.

— Obrigada. — Olhei para Drake no banco de trás com espelho virado


para frente, para que eu pudesse ver seu rosto quando dirigisse. Sua atenção
estava absorta na janela e no mundo lá fora. — Principalmente, eu só quero
passar um tempo com ele. Mais tempo.

— Você tem uma educação da Ivy League. Aposto que se começar a


procurar, poderá encontrar algo online. As pessoas estão trabalhando em casa
mais do que nunca. Inferno, se você quiser, podemos transformar o loft em um
escritório.

— Pode ser. — Isso era tão tentador. — Mas ainda não. Não até que eu
tenha alguma reserva de dinheiro.

— Eu posso ajudar você.

— Obrigada, mas não. — Minha independência era muito importante.

— Você é teimosa, — ele brincou.

— Absolutamente.

Ele levou meus dedos aos lábios. — Eu gosto que você seja teimosa. Mas
eu gostaria ainda mais se você amasse seu trabalho.

— Eu não gosto do meu trabalho.

— Isso não é o mesmo.

— Eu sei, — eu murmurei. — Eloise não ficaria feliz com você se eu


dissesse a ela que está tentando me fazer desistir.

— Eloise não ficaria feliz comigo por muitas coisas no que diz respeito ao
hotel. — Ele soltou um longo suspiro. — Meus pais estão me pedindo para
assumir o controle.

— O que? — Sentei-me mais reta. — Quando?

— É uma discussão há algum tempo. Eu realmente não queria tomar


uma decisão, então deixei isso em segundo plano. Mas... Não posso ignorar
para sempre. Sua visão é que todas as empresas familiares permaneçam na
família. Griffin tem o rancho. Lyla tem Eden Coffee. O hotel é o próximo ponto
de interrogação e eles gostariam que eu o aceitasse.

Knox? Sério? — Não fique bravo comigo por isso, mas... Sempre o vi
como o de Eloise.
Ele me deu um sorriso suave. — Eu nunca vou ficar bravo quando você
for honesta. E é dela.

— Então por que eles não querem que ela fique com ele?

— Ela é jovem. Eu amo o coração da minha irmã, mas houve momentos


em que ela foi conduzida por esse coração e tomou a decisão de negócios
errada. Mamãe e papai acabaram de sair de um processo com um ex-
funcionário. Foi... estressante.

— Oh. eu não percebi. — Eloise me contou muito sobre sua família, o


hotel e Quincy em geral, mas não sobre um processo. — Você quer mesmo
administrar o hotel?

— Na verdade não, — ele admitiu. — Mas eu prefiro assumir do que ter


mamãe e papai vendendo-o.

Eu fiz uma careta. O hotel não seria o hotel sem os Edens. Sem Eloísa.

— Se eu fizer isso, nada mudaria. Não quero tirar o emprego de Eloise.


Mas, em vez de responder aos meus pais, ela responderia a mim. E eu seria
bastante prático, apenas interviria nas decisões mais difíceis.

Considerando que raramente via Harrison ou Anne no hotel, duvidava


que Eloise se importasse de ir a Knox em vez disso. Talvez ela gostasse de ter
alguém próximo para trocar ideias. Ainda... por que isso parecia tão errado?

— Parece uma traição. — Ele expressou a resposta à minha pergunta


não formulada. — Você sabia que Eloise recebeu o nome de nossa tataravó,
Eloise Eden? Era o hotel dela.

— Ela me disse isso no meu terceiro dia.

— Ela está orgulhosa. Ela deveria estar. Ela trabalhou duro. — Ele
acenou. — De qualquer forma... Eu queria que você soubesse. Guarde seus
pensamentos. Não precisamos falar sobre isso hoje.

Os nervos contra os quais estive lutando a manhã toda aumentaram


enquanto passamos por baixo de um arco de madeira. Em seu alto estava a
marca Eden ranch.
— Por que estou nervosa? — Não era como se eu não tivesse conhecido
toda a família de Knox. Seus irmãos estavam frequentemente no hotel. Seus
pais também. Talia era a médica de Drake.

Mas hoje era um evento familiar na casa de Harrison e Anne. E eu era a


namorada participando de uma festa pela primeira vez.

— Você não tem nada com que se preocupar. Bem, exceto que Eloise
mencionou fazer biscoitos. Afaste-se desses.

Eu ri quando ele rolou por uma estrada de cascalho cercada por cercas
de arame farpado. Sob as sempre-vivas que se elevavam sobre a terra, o chão
estava coberto por um manto de neve. Era tranquilo. Sereno.

— Isso é adorável, — eu disse.

— É belo pedaço do mundo.

Eu sorri. — Isso é. Mas eu amo mais seu pedaço em Juniper Hill.

— Eu também. — Ele piscou e dirigiu o resto do caminho enquanto eu


estudava o campo.

Meu coração disparou quando uma casa de madeira com uma varanda
envolvente apareceu. A casa ficava orgulhosamente em uma clareira entre as
árvores. Além de um terreno amplo e aberto, havia um prédio comercial. Em
frente havia um enorme celeiro e estábulos.

Todos os telhados estavam cobertos de neve. Uma nuvem de fumaça saia


da chaminé da casa. Uma fila de veículos estava estacionada do lado de fora.

— Estamos atrasados? — Eu perguntei.

— Não. Nós não vamos comer até mais tarde, — ele disse, estacionando o
carro. — Mas eu acho que todo mundo esteve aqui a maior parte do dia,
ajudando.

— Ok. — Meus dedos tremiam enquanto eu soltava meu cinto de


segurança.

As refeições de feriado da minha família eram geralmente curtas e


tranquilas. Sentávamos ao redor da mesa, olhando para nossos telefones
durante a refeição. No nosso último Dia de Ação de Graças, a equipe começou
a limpar os pratos vazios antes de todos nos dispersarmos.

Papai e Houston desapareciam no escritório de papai para conversar


sobre trabalho. Mamãe bebia muito champanhe e ia dormir cedo. Raleigh e eu
nunca fomos próximas. Não como garotinhas, certamente nem como
adolescentes. Ela adorava fazer compras e viajar com seus amigos. Ela não
faria nada para arriscar seu fundo fiduciário.

Todos nós tínhamos sido nossas próprias ilhas.

Exceto que eu estava cansada de ser uma ilha. Hoje, eu quero pertencer
mais.

Knox saiu do carro e pegou Drake. Ele estava com a bolsa de fraldas no
ombro e eu ainda estava presa no banco do passageiro. Ele se inclinou,
olhando para mim de sua porta aberta. — Precisa de um minuto? Posso dizer a
eles que você está no telefone.

Ele inventaria desculpa enquanto eu arrumava minhas emoções.

— Não. — Tomei uma última respiração e saí.

A porta da frente se abriu enquanto subíamos as escadas da varanda.


Harrison, alto e largo, como seus filhos, preenchia a soleira. O sol brilhante do
inverno trouxe os fios grisalhos mesclados em seu cabelo escuro. — Espero que
vocês dois estejam com fome. Anne está cozinhando o suficiente para alimentar
cem pessoas.

Knox riu. — Parece a mãe.

— Ela me fez comprar todos os novos recipientes de plástico na loja,


para que pudesse enviar os extras para casa com vocês, crianças. O que
significa que se eu quiser sobras, vou ter que dirigir até a
casa de vocês.

— Eu tenho sobras do restaurante. — Knox deu um tapinha no ombro de


Harrison quando chegamos ao último degrau. — Então você pode ficar com o
nosso. Vou escondê-los na geladeira da garagem para você.

— Aí garota. — Harrison riu e me puxou para um abraço. — Que bom


que você está aqui, Memphis.
— Obrigada por nos receber.

— Entre. — Ele se mexeu para me aconchegar contra o seu lado, fazendo


com que passar pela porta fosse apertado. Mas ele não me soltou quando me
conduziu pela entrada da cozinha. Cheirava tão fantástico quanto o
restaurante. — Fique à vontade. Eu não sou muito de tour nas casas, então
apenas dê uma olhada até encontrar o que você precisa.

Bisbilhotar. Eu não tinha bisbilhotado a casa dos meus pais e era a casa
em que cresci.

— Ah, bom. Você finalmente está aqui, — Anne disse enquanto


caminhávamos pela cozinha, secando as mãos em uma toalha antes de me
puxar para um abraço.

No momento em que ela me soltou, Lyla estava lá para tomar seu lugar.
Então Eloise se juntou a nós da sala com seu famoso sorriso, aquele que
nunca deixou de me fazer sorrir de volta. Mateo entrou na sala com um homem
mais velho que descobri ser o irmão de Harrison, Briggs. E finalmente Winslow
e Griffin vieram de um corredor, tendo acabado de colocar Hudson para tirar
uma soneca.

— Em que você está trabalhando? — Knox perguntou a Anne,


caminhando até o fogão e puxando a tampa de uma panela.

— Não toque nisso. — Ela deu um tapa na mão dele. — Estou


experimentando o molho de cranberry.

— Quer alguma ajuda?

— Você está cozinhando o dia todo. — Ela o enxotou até ele ficar ao meu
lado do outro lado da ilha. — Lyla e eu vamos cozinhar.

— Posso ajudar? — Eu perguntei. — Não sou muito de cozinhar, mas


Knox tem me ensinado algumas coisas.

Nossas aulas de culinária eram raras e repletas de preliminares. Sempre


que eu estava no balcão, Knox vinha atrás de mim para brincar com meu
cabelo ou arrastar as palmas das mãos sobre minha bunda. Mas eu aprendi a
fazer mais do que macarrão com queijo em caixa.
Anne olhou além de mim para onde Eloise estava conversando com
Griffin. Então ela acenou para o saco Ziploc de biscoitos no balcão. — Se eles
acidentalmente encontrassem o caminho para a lata de lixo na garagem,
enquanto você fosse pegar qualquer coisa da geladeira lá fora, tudo bem.

— Eles são realmente tão ruins?

Anne e Lyla trocaram um olhar.

— Descarte de cookies. É isso.

— Obrigada, — Lyla murmurou, então voltou a descascar batatas.

A porta da frente se abriu e ruído de sapatos soaram no chão. Então


Talia entrou na cozinha em um par de uniformes azul-petróleo. — Olá! Sou a
última a chegar aqui?

— Sim. — Knox se moveu para beijar sua bochecha, mas ela o ignorou e
jogou os braços em volta de mim para um abraço.

Os Edens tinham em comum mais do que olhos azuis e cabelos cor de


chocolate. Todos sabiam dar um abraço que me dava vontade de chorar.

Eles se abraçavam sem hesitar. Eles não endureciam como minha mãe.
Eles não estavam preocupados com a maquiagem saindo como minha irmã.
Eles não eram avessos ao contato humano geral, como meu pai e meu irmão.

Os Éden se abraçavam.

E com cada um, percebi o quanto solitária minha vida tinha sido.

— Como está meu pequeno Drake? — Talia o pegou de Knox, beijando


sua bochecha. Ela se empolgou e o bajulou em seu check-up no início deste
mês. E quando o declarou perfeito, eu imediatamente concordei. — Olha o
quão grande você está ficando.

— Não seja um filhote de porco selvagem. — Harrison entrou na sala e


levantou Drake dos braços de Talia. — Vamos, amigo. Vamos ver um pouco de
futebol.

Drake soltou uma série de balbucios e baba, adorando a atenção.


— Eu não sou um filhote de porco selvagem. — Talia pegou uma azeitona
da bandeja de lanches no balcão. — Onde está Hudson?

— Dormindo. — Knox pegou um picles e colocou na boca quando Griffin


e Winn se juntaram a nós.

— Espero que com a soneca dele, não seja um terror durante o jantar, —
disse Winn. — Ele estava exausto.

— Porque ele acorda antes do amanhecer, — Griffin murmurou, puxando


um banquinho. — Meu menino é um garoto matutino.

— O meu não é. — Knox puxou o banquinho ao lado do irmão. — O meu


é uma coruja noturna.

A sala inteira ficou parada e minha respiração presa na garganta.

Meu. Uma palavra curta, quatro letras simples, e se houvesse alguma


dúvida de que eu estava apaixonada por Knox Eden, ela desapareceu.

Eu o amava porque ele amava Drake.

Todos os olhos estavam em Knox. Anne olhou para ele com as mãos
apertadas contra o coração.

Ele simplesmente deu de ombros e comeu outro picles. — Lyla?

— Sim.

— Diga à mamãe que o molho de cranberry dela está prestes a


transbordar.

— Não é... oh, merda. — Anne entrou em ação, arrancando a panela do


fogão.

Um pequeno grito veio do corredor e não pertencia ao meu filho.

— Tanto por um cochilo, — Griff disse. — Eu irei pegá-lo.

Mas antes que pudesse resgatar Hudson, Talia voou pelo corredor. —
Não, não, não. Ele é meu.

— Ela está com febre de bebê, — disse Lyla. — Graças a Deus não é
contagioso.
A sala riu e se estabeleceu em uma conversa fácil. Griffin e Knox
conversaram sobre o rancho e a próxima temporada de parto. Winn nos contou
sobre a ligação para o 9-1-1 que chegou ontem de uma mulher que confundiu
um esquilo em sua garagem com um ladrão. Então seu avô, Pops, chegou com
um pequeno buquê de flores para todas as mulheres da casa, inclusive eu.

Eu estava com o pacote pressionado no meu nariz quando Mateo voltou


para a cozinha com Drake em um braço. — Você quer que eu o pegue?

— Não. Talia acha que vai ser a tia favorita. Mas tio Mateo está prestes a
roubar seu posto. Ele fez cócegas em Drake. — Não é mesmo, cara? Se você
precisar de qualquer coisa — doces, brinquedos, junk food — eu sou seu cara.

Knox riu. — Isso será interessante de assistir.

Minha garganta fechou. Meus pulmões não se enchiam de ar. Eu levantei


um dedo e escapuli, encontrando um banheiro no corredor. Eu fechei a porta,
forçando o oxigênio em meus pulmões enquanto me apoiava no balcão.

Meus olhos inundaram quando a porta se abriu novamente e Knox


estava lá, me envolvendo em seus braços.

— Sua família é... — Olhei para ele através do espelho. — É linda. É tão
bonita que eu não conseguia respirar.

— Melhor agora?

Eu balancei a cabeça, piscando para afastar as lágrimas. Lagrimas de


felicidade. — Este é o terceiro.

— O terceiro o quê?

— O terceiro melhor dia.

Um sorriso magnífico se esticou em seu rosto. — Como eu disse, querida.


Vou ter todos.

Fiquei na ponta dos pés, me esticando para seus lábios. — Promessa?

— Eu juro.
CAPÍTULO DEZENOVE
KNOX
Era estranho estar na cozinha do Knuckles e ficar nervoso. Nem mesmo
na noite de estreia eu me senti tão abalado. Meus dedos continuaram
deslizando pela mesa de preparação, então eu os enfiei nos bolsos da minha
calça jeans antes de deixar minhas impressões em todos os lugares.

Examinei cada superfície da sala, dos balcões reluzentes aos fogões


polidos e às prateleiras de pratos brancos que brilhavam sob as luzes da sala.

O cheiro de alvejante pairava no ar. Não me incomodou enquanto eu


estava limpando, mas agora... esta cozinha deve cheirar a comida. Como
baunilha e farinha e canela.

— Biscoitos. — Entrei em ação, pegando uma tigela de sua prateleira.


Então comecei a retirar suprimentos da despensa. Eu estava quebrando alguns
ovos na minha mistura de açúcar e manteiga quando a porta de vaivém se
abriu.

Memphis entrou com Drake em seu quadril. Seu sorriso caiu quando ela
viu a bagunça na mesa de preparação, então seus olhos se suavizaram. — Você
está nervoso.

— Estou nervoso, — admiti, meus ombros caindo. E agora, em vez de


uma cozinha limpa, eu tinha um lote de massa de biscoito pela metade. — É
melhor eu limpar isso.

— Não, não. — Ela se aproximou e ficou na ponta dos pés, puxando meu
casaco para que eu me curvasse e lhe desse um beijo. — Faça o que quer que
você esteja fazendo.

— Snickerdoodles.

— Perfeito.

Eu deixei minha testa cair na dela. Ninguém mais no mundo me diria


para continuar cozinhando. Eles olharam para o relógio na parede, viram que
já passava das cinco percebendo que o fotógrafo chegaria a qualquer minuto,
então me ajudaram a varrer tudo.

Mas não Memphis. Ela sabia o que eu precisava. Uma tarefa. A ligeira
desordem que fazia desta cozinha o meu santuário. E ela. Eu precisava dela.

Pela primeira vez em meses, o restaurante estava fechado. As segundas-


feiras eram tipicamente lentas e eu queria dar aos funcionários um dia de folga
para descansar antes que a maluca agenda de Natal chegasse. Isso e eu queria
o dia livre, sem hóspedes atrapalhando.

Duas semanas atrás, logo após o Dia de Ação de Graças, recebi um e-


mail da revista de Lester Novak perguntando quando poderíamos trabalhar em
uma sessão de fotos. Eu não tinha certeza se eles queriam fotos do restaurante
e da cozinha, então me certifiquei de que ambos estivessem disponíveis e
impecáveis.

Memphis e eu fomos juntos esta manhã. Ela se ofereceu para ir para


casa e me dar espaço, mas eu a queria aqui esta noite. Eu queria os dois aqui.

Drake chutou e sorriu, inclinando-se na minha direção.

Eu o tirei de seus braços. — Ei, chefe. Como foi a creche?

— Excelente. — O lábio de Memphis se curvou. — Ele estava um anjo, de


acordo com Jill.

Eu ri. — Ignore-a.

— Eu sei. — Ela suspirou. — E sei que isso é apenas minhas


inseguranças aparecendo. Mas eu não gosto dela.

— Você não precisa. Poderíamos aceitar a oferta da minha mãe.

Depois do Dia de Ação de Graças, minha família puxou Memphis para o


grupo. Eles a amavam. Eles sabiam que eu a amava, mesmo que eu não tivesse
dito as palavras.

Mamãe não gostava da ideia de seus netos na creche, então ela cuidava
Hudson na maioria dos dias quando Winn estava na delegacia e Griffin
trabalhando no rancho. Ela se ofereceu para levar Drake também.

— Isso é muito para ela, — disse Memphis. — Não quero me aproveitar.


— Não está se aproveitando, se ela quer fazer isso. — E mamãe quer
fazer isso. Ela me perguntou cinco vezes nas últimas duas semanas. Seria uma
viagem mais longa para Memphis levar Drake para o rancho todos os dias, mas
não estaríamos mais presos nos horários de levar e buscar.

E secretamente, eu queria que ela fizesse isso. Eu não ia forçar, era


decisão de Memphis, mas queria que ela passasse mais tempo com minha
família. Porque quanto mais ela estivesse com eles, mais ela perceberia que
eles eram dela também.

— Mas dois bebês? — perguntou Memphis.

— Ela teve seis. E papai está por perto para ajudar.

— Não sei. — Ela torceu o nariz. — Não quero chatear Winn e Griffin por
adicionar Drake à mistura.

— Confie em mim. Eles não se importam. — Eles queriam que Drake e


Hudson fossem amigos também.

Memphis bateu no queixo. — Você acha que ela me deixaria pagá-la?

Eu zombei. — Definitivamente não.

— Viu? Parece que estou me aproveitando.

— É o seguinte... se você pegar Jill fofocando de novo ou se ela fizer algo


para te irritar mais uma vez, nós a mandamos se foder. Combinado?

— Combinado.

Eu estava supondo que levaria aproximadamente uma semana antes que


Jill fosse história. Memphis me contou sobre entrar no centro e ouvir os
comentários de Jill para sua colega de trabalho. Não me surpreendeu. A fofoca
de cidade pequena em Quincy era tão frequente quanto dias ensolarados. E eu
estava solteiro há muito tempo. Não houve uma mulher que eu quisesse
namorar e sabia-se que eu só ficava com turistas que sabiam que seria apenas
uma noite.

Até Memphis.

Ela explodiu na cidade e não haverá outras mulheres.


— Alguma ligação hoje? — Eu perguntei.

— Não. Nada. — Ela mordeu o lábio entre os dentes.

Estava deixando-a louca que não tivesse ouvido nada de seus pais desde
antes do Dia de Ação de Graças. Os idiotas não se incomodaram em dar a ela
uma atualização, mas eu não queria que ela os procurasse também. Não até
eles virem com um maldito pedido de desculpas.

A essa altura, eu não estava esperando nenhuma notícia como um sinal


de que Victor havia pago quem o chantageou. Se todos eles desaparecessem,
eu não ficaria de coração partido.

Memphis merecia o melhor para sua família.

Felizmente, eu tinha o melhor.

— Eu estava pensando na minha irmã hoje enquanto estava dirigindo


para pegar Drake, — disse ela. — Costumávamos fazer compras juntos antes
de cada Natal. Foi a única coisa que sempre fizemos e gostávamos.

— Gastar dinheiro, — eu provoquei.

— Sim. — Ela riu. — Ela não fala comigo há meses. Eu nem percebi o
quão danificada nossa família estava, porque todos éramos bons em manter as
aparências.

— Eu sinto muito. — Eu a puxei para o meu lado, beijando seu cabelo.

— Eu não. — Ela tocou o sapato de Drake. — Ele merece coisa melhor.

— Vocês dois.

Ela sorriu. — É melhor você começar a fazer esses biscoitos.

— Merda. — Eu ri e dei a ela o bebê. Depois trabalhei com fúria,


misturando a massa e enrolando em bolinhas enquanto o forno preaquecia.

Memphis me ajudou a limpar em um piscar de olhos e enquanto eu


arrumava os pratos sujos na máquina de lavar, a porta se abriu e Mateo enfiou
a cabeça para dentro. — Sua fotógrafa está aqui. — Você se importaria de
trazê-la ? — Meu coração disparou enquanto eu falava.

— Claro. Cheira bem aqui. Você fez biscoitos?


Memphis riu.

— Sim. E você pode comê-los todos. — Meu estômago estava em um nó.


— São apenas algumas fotos, mas... droga. Eu não estava tão nervoso quando
Lester veio comer. O que há de errado comigo?

— Este artigo é um grande negócio. — Memphis se aproximou,


entregando-me Drake. Então ela estendeu a mão para arrumar meu cabelo. —
Quando trabalhei na cidade, supervisionei muitas sessões de fotos. Todos
ficavam nervosos. É normal.

— Você acabou de inventar isso para eu me sentir melhor?

— Não.

— Fique. Não vá a lugar nenhum, ok? Quero que você esteja aqui.

— Então vamos ficar.

A porta se abriu quando eu rocei meus lábios contra os dela. Eu me


afastei e olhei para cima, pronto para cumprimentar o fotógrafo. Exceto que a
mulher andando atrás de Mateo não me era estranha.

— Giana?

Memphis ficou tensa.

Que diabos Gianna estava fazendo em Quincy? Na minha cozinha?

— Ei, Knox. — O olhar de Gianna segurou o meu por um momento,


depois se desviou para Memphis e Drake. Ela engoliu em seco e forçou um
sorriso. — Bom te ver.

— Você é Gianna? — Mateo tinha se sentido traído pelo que ela me fez.
Colocou-se pernas abertas e cruzou os braços sobre o peito. Ele olhou para
mim e eu dei um leve aceno de cabeça antes que ele decidisse jogá-la em um
banco de neve por ter partido meu coração anos atrás.

Gianna saiu do caminho enquanto Mateo franziu a testa e saiu da


cozinha. Então ela olhou para cima e colocou uma mecha de seu cabelo preto e
lustroso atrás da orelha.
— Eu não sabia que você era a fotógrafa, — eu disse. A revista
simplesmente disse que enviariam o fotógrafo. Eu não pedi um nome. Nem em
um milhão de anos eu esperaria que Gianna entrasse na minha cozinha.

— Eu, hum... Comecei com a revista há alguns anos. — Então, ela sabia
exatamente para onde estava vindo. Ela escolheu vir aqui. Por quê?

O cronômetro do forno apitou e Memphis alcançou Drake. — Vou te dar


um minuto.

— Você não...

— Nós voltaremos. — Antes que eu pudesse protestar, ela pegou Drake


em seus braços e saiu pela porta.

Merda. Esfreguei minha barba, então peguei os biscoitos do forno,


colocando-os de lado antes de encarar Gianna novamente. — Por que você veio
aqui, Gi?

— Faz muito tempo.

Eu balancei a cabeça. — Sim.

— Tentei ligar para você algumas vezes.

— Sim. — E eu não tinha respondido.

— Quando vi seu nome para esta trabalho, pensei... — Ela olhou para a
porta onde Memphis tinha desaparecido. — Você parece bem. Feliz.

— Eu estou feliz.

— Isso é ótimo. Muito bom. — Ela entrou em ação, tirando o estojo da


câmera do ombro. Ela abriu o zíper e tirou a câmera que sempre carregava com
ela em todos os lugares. — Vi alguns lugares na área de jantar que podem ser
ótimos. E este espaço também. Eu gostaria de obter alguns ângulos e fotos
diferentes. Talvez até mesmo você faça alguma coisa.

— Tudo bem. — Observei enquanto ela inspecionava a cozinha, evitando


contato visual.

Gianna. Durante anos, eu me perguntei o que diria se a visse novamente.


Se minha reação seria cheia de raiva ou ressentimento. Mas enquanto olhava
para ela, eu estava apenas... aliviado. A vida foi difícil por um tempo, mas
acabei exatamente onde precisava estar - em casa, em Quincy, esperando por
Memphis.

— Vamos começar no espaço de jantar. Então podemos nos mudar para


cá. — Ela levantou a alça da maleta, carregando-a pelas portas.

Eu a segui, olhando ao redor, esperando encontrar Memphis. Mas o


espaço estava vazio.

Gianna colocou sua câmera em uma mesa e se inclinou para abrir o


estojo grande, pegando um tripé. As luzes vieram em seguida, seguidas por
cabos de extensão e guarda-chuvas. Ela se moveu com propósito, colocando
seu equipamento ao redor de uma mesa quadrada. Era a mesa exata onde
Lester se sentara em sua segunda noite no restaurante.

— Como está Jadon? — Eu perguntei.

— Ele está bem. — Gianna puxou o telefone do bolso da calça jeans e o


abriu antes de entregá-lo. — Está cheio de fotos. Você pode ver.

Eu fiquei preso na primeira e meu coração apertou.

Este era o bebê que eu amei antes de ele nascer. Este era o filho que eu
tive por apenas algumas semanas. O menino que cresceria e se pareceria com
seu verdadeiro pai.

O cabelo de Jadon era um tom mais claro que o de Gianna. Seus olhos
eram verdes. Eles brilharam quando ele deu um sorriso cheio de dentes para a
câmera. Gianna não tinha olhos verdes. Ela tinha olhos castanhos.

Talvez Gianna tenha visto isso cedo. Talvez por isso que finalmente
admitiu a verdade. Porque enquanto eu olhava para a foto dele, eu sabia que a
verdade acabaria sendo revelada.

Jadon nunca foi meu.

Mas Drake...

Ele também não se pareceria comigo. Ele não tinha meu sangue. Ele
nunca compartilharia meu DNA. E eu não dei a mínima. Drake era meu de
uma forma que Jadon nunca tinha sido.
Coloquei o telefone na mesa. — Ele está lindo como sempre. Crescendo
rápido.

— Muito rápido. — Ela olhou para as portas principais, curiosidade


escrita em seu rosto, mas ela não perguntou sobre Memphis ou Drake. — O
restaurante é lindo. É muito... vocês.

— Tem sido uma aventura. Mas é bom estar em casa. Estar perto da
família.

— Isso é ótimo. — Seu sorriso não alcançou seus olhos.

— Por que você realmente veio?

Ela baixou o olhar, incapaz de olhar para mim enquanto falava. — Eu


penso em você. Sobre nós. Sobre o que poderíamos ter sido se eu não tivesse
estragado tudo.

— Por que você fez isso? Por que você escondeu a verdade de mim por
tanto tempo? Era a pergunta que eu não tinha feito antes de deixar San
Francisco. Houve muita dor crua e eu não queria suas desculpas. Suas
explicações.

Os olhos de Gianna estavam vidrados quando ela finalmente me


encarou. — Eu estava com medo que você fosse embora.

— Eu não teria ido. Não, se tivesse me contado desde o início.

— Então talvez porque eu não queria desistir da fantasia. Eu queria


fingir e quanto mais eu fingia, mais difícil era admitir a verdade.

— Então você veio aqui para... o que?

— Desculpar-me. — Ela me deu um sorriso triste. — Sinto muito. Então


sinto muito.

— Você me disse antes de eu sair.

— Ainda é verdadeiro. — Ela levantou um ombro. — E eu apenas pensei


que talvez pudéssemos conversar. Jantar juntos. Beber nosso vinho tinto
favorito. Recordar. Quando seu nome surgiu, eu me ofereci para esta tarefa.
Achei que poderia ser... Não importa o que eu pensei.
Não, não. Não haveria segundas chances. Eu não queria uma.

— Vou ligar o cabo de extensão. — Peguei a ponta e arrastei para a


parede mais próxima, encaixando-a na tomada. Quando voltei para a área
encenada, Gianna estava com a câmera na mão e clicou no botão, o obturador
estalando enquanto testava a luz.

Depois de alguns ajustes, ela me fez sentar à mesa, relaxado e casual na


cadeira. Então ela me fez levantar e equilibrar um garfo no meu dedo
indicador. Ela tirou algumas fotos onde eu olhava para a câmera. Algumas
onde eu olhei para a parede.

— Acho que é o suficiente para aqui, — disse ela. — Vamos para a


cozinha em seguida.

— Quer ajuda para mover equipamentos? — Eu perguntei.

— Não, tudo bem. Eu faço.

— Então eu já volto. — Passei por ela e saí pelas portas do saguão,


procurando Memphis. Mas, exceto por Mateo, estava vazio.

— Ela correu na Lyla para tomar um café. — Mateo apontou para as


grandes janelas que davam para a rua.

Quando eu perguntei esta manhã, Memphis me disse para usar meu


jeans normal e uma térmica preta. Um passo para fora, desejei ter pegado um
casaco. O frio era como uma explosão afundando no meu peito.

Felizmente, não precisei andar muito. Dez passos na direção de Eden


Coffee e Memphis descia pela calçada. Drake estava embrulhado em sua parka,
o casaco vermelho bufante quase do mesmo tom da ponta de seu nariz.

— O que você está fazendo? — ela perguntou. — Onde está seu casaco?

— Lado de dentro. — Peguei seu cotovelo e fomos para o hotel. Mas em


vez de voltar para o Knuckles, eu a puxei direto para a lareira.

— Você terminou? — Ela olhou por cima do meu ombro, provavelmente


para Gianna.

— Ainda não. Temos algumas fotos para fazer na cozinha.


— Oh. — Ela suspirou. — Então essa é... sua.

— Essa é....

— Ela é linda.

Eu balancei a cabeça. — Ela não é você.

— Knox. — Seus ombros caíram. — Se você precisar de tempo para


conversar, eu posso simplesmente ir para casa. Ficar no loft esta noite.

— Memphis. — Eu coloquei meu dedo sob seu queixo, certificando-me de


que ela estava focada em mim enquanto eu repetia minha frase. — Ela não é
você.

Ela caiu em mim, sua testa colidindo com meu esterno. — Eu não sabia
se talvez você ainda quisesse...

— Você. — Eu beijei seu cabelo. — Só você.

Memphis era honesta sobre suas dúvidas. Com Drake. Comigo. Ela me
disse o quanto sentia falta de sua confiança, mas ela estava lá. Sempre esteve
lá. Uma mulher sem uma espinha dorsal de aço não teria se mudado pelo país.
Ela não teria apertado o botão de reset em sua vida.

Um dia desses, ela perceberia isso também.

Até então, eu cobriria a lacuna.

Drake gemeu e se contorceu. Ele não era fã do casaco bufante.

— E você, chefe. Eu quero você também. — Deslizei o zíper da parka e o


libertei. Então eu coloquei minha mão na parte inferior das costas de Memphis
e a levei para o Knuckles.

Gianna estava tirando suas fotos de teste quando entramos na cozinha.


Seus olhos viajaram para mim, então Drake, então nossas mãos entrelaçadas
antes que ela finalmente olhasse para Memphis. — Oi, eu sou Gianna.

— Memphis. — Falado com um olhar tão frio quanto a temperatura


atual. Minha garota não era uma fã e ela não ia fingir.

Lutei contra um sorriso.


Gianna se contorceu.

— Vamos ficar no escritório, — disse Memphis.

— Não, fique. — Contornei a mesa de preparação, de pé na frente das


luzes que Gianna havia encenado. — Preparada?

— Sim. Desloque-se um pouco para a esquerda. — Gianna fez o dobro de


fotos na cozinha do que na sala de jantar. Ela não tentou fazer conversa fiada
ou engajar uma conversa. As únicas palavras que ela disse foram ordens para
eu mudar de posição.

Vinte minutos depois, ela verificou a tela de visualização na câmera. —


Eu não estou louca por isso. A cozinha está...

— Limpa, — Memphis respondeu por ela, tomando um gole de seu café.

— Sim. — Gianna assentiu. — Precisa de uma bagunça.

Eu sorri para Memphis. — Que tal jantar? Mac'n'queijo?

— Eu já disse não ao seu mac 'n' cheese?

Eu pisquei e comecei a trabalhar.

Enquanto eu fervia a água e pegava os ingredientes do walk-in, Gianna


se misturou ao fundo. O obturador de sua câmera clicou em um fluxo
constante enquanto eu fazia para minha mulher sua refeição favorita.

— Acho que terminei, — disse Gianna enquanto eu servia uma tigela


para Memphis.

— Quer ficar por aqui e comer? — Eu perguntei.

— Não, acho que vou sair. A revista geralmente é muito boa em enviar as
seleções de fotos finais antes de serem publicadas. Mas se você quiser alguma
para você, meu e-mail ainda é o mesmo.

— Excelente. Antes de ir, você me faria um favor?

— Claro.

Ela tinha seus defeitos, mas a fotografia não era um deles. Gianna tinha
um talento por trás das lentes.
Caminhei até onde Memphis estava sentada, assistindo, e peguei Drake.
Então eu peguei sua mão e a puxei para a mesa de preparação, colocando meu
braço em volta dela. — Você faria uma de nós três?

As mãos de Memphis foram direto para seu cabelo, fixando-o em torno


de seu rosto. — Não sou muito bonita para fotos.

— Você é sempre bonita, querida.

Gianna nos estudou por um longo momento, então levantou sua câmera.
Ele clicou algumas vezes, e quando ela verificou as fotos, um entendimento
veio em seu rosto.

Ela viu. Ela viu o jeito que eu amava Memphis. — Eu vou pegar esta para
você.

— Eu agradeço.

Gianna guardou em minutos seu equipamento, carregando-os em seu


estojo. Então o arrastou até a porta, parando antes de sair da cozinha. — Foi
um prazer conhecê-la, Memphis.

— Tenha uma boa viagem para casa.

Gianna me deu um sorriso triste. — Adeus, Knox.

— Tchau, Gi.

Ela desapareceu, retornando ao seu mundo. Enquanto eu me sentei ao


lado do meu.

E jantei.
CAPÍTULO VINTE
KNOX
— Feche seus olhos. — Memphis apertou minha mão, parando do lado
de fora das portas do anexo do hotel. Então ela me guiou, me puxando em
alguns passos antes de pararmos. — Ok, abra-os.

Nos últimos dez dias, o salão de baile foi transformado para um elegante
casamento de inverno. Luzes douradas foram penduradas acima da pista de
dança. Buquês de mesas pontilhadas de vermelha, verde e branco. Até as
cadeiras estavam cobertas. Em seus laços havia ramos de azevinho e bagas
vermelhas.

— Uau. — Deixei Memphis me puxar mais para dentro da sala, passando


por mesas postas com pratos dourados e taças de cristal.

— Não é um sonho? — O sorriso de Memphis se esticou em seu rosto. —


Foi muito divertido ajudar a fazer tudo.

O casamento amanhã não seria grande. Era para um casal local e eles
limitaram a lista de convidados a cem. Knuckles estava cuidando do evento. O
hotel estava esgotado, não apenas para os convidados do casamento de fora da
cidade, mas também para aqueles em Quincy para o feriado.

O Natal era em três dias, e todos os membros da equipe estavam


trabalhando sem parar, especialmente Memphis. Ela acompanhou a correria
da arrumação e, quando a noiva pediu ajuda para montar este salão de baile,
Memphis foi a primeira a se voluntariar.

— O bolo vai para lá. Então o bar está sendo montado amanhã naquele
canto. — Ela apontou ao redor da sala. — E o DJ estará ao lado da pista de
dança. Vou aparecer amanhã de manhã e garantir que todas as flores tenham
água.

— Você vai trabalhar amanhã? — Era um sábado e ela não havia


mencionado isso. Embora estivéssemos tão ocupados esta semana que, quando
eu chegava em casa a noite, não havia muita conversa. Eu economizaria
energia suficiente para dar a ela um orgasmo ou dois antes de nós dois
desmaiarmos.

— Não, mas eu ia vir na cidade e fazer algumas compras de última hora.


Talvez dê algo pequeno para sua mãe no Natal.

— Já demos um presente para ela. — Um cartão de presente para o spa


local.

— Isso foi de você. Eu quero dar algo a ela. Além disso, não é como se eu
estivesse comprando para minha própria mãe este ano.

— Desculpe.

Ela levantou um ombro.

Semanas se passaram sem notícias de seus pais, nem mesmo uma dica
de como eles lidaram com a situação da chantagem. Eu verifiquei os jornais de
New York on-line todos os dias. Memphis também. Não houve menção a
nenhum membro da família Ward ou Oliver MacKay.

As ligações de Beatrice pararam, então presumi que Victor havia pago e,


por sua vez, eles haviam deserdado Memphis mais uma vez. Eles a deixaram
em Montana.

Mas ela não estava sozinha. Não mais.

Chegamos à pista de dança e eu girei Memphis em meus braços. —


Dance Comigo.

— Sinto falta de dançar. — Ela encostou a cabeça no meu peito enquanto


cambaleávamos na sala silenciosa. — Quando eu morava em New York, sempre
havia um evento, casamento ou gala para ir. A conversa do jantar geralmente
era sobre negócios ou quem estava comprando um novo iate ou para onde
fulano de tal estava indo na Europa. Era o mesmo, todas as vezes. Mas eu
amava a dança.

— E com quem você dançava?

Ela se inclinou para encontrar meu olhar. — Ninguém importante.

— Boa resposta. — Eu a soltei, girando-a uma vez, então a puxei para


perto. — Eloise já lhe mostrou fotos de como esta sala costumava ser?
— Não. Por que?

— Peça a ela algum dia. Então você realmente apreciará a


transformação. — O prédio estava vazio, escuro e mofado. Sua reforma tinha
sido principalmente cosmética para limpar a poeira e iluminar as paredes.

— Ok. — Ela sorriu, observando a sala, seus olhos dançando.

Memphis ficava com a mesma expressão quando assistia Drake jogar ou


me estudava na cozinha. Mas foi a primeira vez que vi acender algo dentro dela
sobre o hotel. — Você ama isso, não é?

— Sim. Sempre adorei casamentos. Ajudar com isso me fez pensar... a


noiva fez todo o planejamento sozinha. Ela teve que coordenar com os
fornecedores e locadoras. Perguntei se ela tinha uma organizadora de
casamentos, mas acho que não há uma na cidade.

— Não há. Quando Winn e Griffin se casaram, Winn também organizou o


casamento deles.

— E se... — Ela soltou um longo suspiro. — E se eu tentasse? Eu faria


isso no meu tempo livre. Não sei se há demanda, mas posso organizar qualquer
evento. Reuniões corporativas ou festas de aposentadoria, casamentos.

— Sim. — O que quer que tenha aceso aquele brilho em seu olhar.

— Eu vejo o jeito que você ama Knuckles. Eu quero isso também. Se


trabalhar significa um tempo longe de Drake ou de você, eu quero isso.

— Faça isso. Vou ajudar no que puder.

Ela corou. — Então talvez eu vá.

Eu a girei de novo, então relutantemente a soltei. — Qual é a sua agenda


para o resto da tarde?

— Não muito. Com os quartos cheios, acabei de arrumar enquanto as


pessoas vão e vêm. Há um hóspede no quarto andar que solicitou um check-
out tardio, então espero que esteja vazio agora. O próximo hóspede que deveria
fazer o check-in ligou cerca de uma hora atrás. O voo deles foi cancelado, então
na verdade é um quarto vazio.
Quartos vazios eram uma raridade nesta época do ano. — E se nós
reservássemos? Só você e eu. Poderíamos ver se mamãe quer cuidar de Drake
esta noite. Aposto que ela ficaria em nossa casa. Então amanhã eu posso me
levantar, ir para a cozinha. Você pode verificar o casamento antes de ir para
casa.

Ela mordeu o lábio entre os dentes. — Eu nunca o deixei sozinho à noite.

— Tem que haver o primeiro. Se não gostarmos, vamos para casa.

— Um... — Ela respirou fundo, então sorriu. — Ok.

Com a mão dela na minha, eu a arrastei para a recepção.

Eloise não piscou quando eu disse a ela que queria o quarto. Era tarde
demais para preencher a reserva, e fazia muito tempo que eu não ficava como
hóspede, algo que todos fazíamos de vez em quando.

— Acho que vou limpar nosso quarto. — Memphis riu quando Eloise lhe
entregou os cartões-chave.

— Venha me ver quando terminar, — eu disse.

— Claro. — Ela ficou na ponta dos pés, agarrando um punhado da


minha camisa para me arrastar para seus lábios. Então seguimos nossos
caminhos separados, ela em direção aos elevadores enquanto eu me dirigia
para o Knuckles.

A sala de jantar estava vazia para o intervalo entre o almoço e o jantar.


Começaria a encher na próxima hora quando as pessoas começariam a vir para
uma refeição. Mas a cozinha estava ocupada, todas as mãos trabalhando,
preparando-se para o casamento de amanhã.

A música tocava no rádio no canto. O cheiro de cebola e alho permeava o


ar. Skip e Roxanne discutiam sobre qual bebida era melhor — gemada ou Tom
e Jerry’s.

— Knox, que...

— Eggnog, — eu respondi antes que Roxanne pudesse terminar sua


pergunta, então desapareci no meu escritório para checar alguns e-mails.
A noiva do casamento de amanhã me mandava e-mails diariamente
desde que começamos a planejar o cardápio. Como esperado, no momento em
que abri minha caixa de entrada, havia uma nota dela confirmando que
tínhamos champanhe suficiente para o evento. Uma coisa que, se Memphis
tivesse sido sua organizadora de casamentos, poderia ter confirmado semanas
atrás.

Foi uma ideia brilhante. Quincy e The Eloise precisam de um planejador.


Talvez pudéssemos contratar Memphis para ser coordenador oficial de eventos
do hotel. Isso significaria um aumento salarial e se ela quiser expandir para
seu próprio negócio, poderíamos dar a ela essa flexibilidade também.

Meu computador apitou com outro e-mail e fiquei tenso com o nome de
Gianna. Cliquei em abrir para encontrar uma mensagem simples — Feliz Natal
— e uma foto.

Era a foto que ela tirou de Memphis, Drake e eu na cozinha.

Memphis era o centro das atenções, seu rosto tão lindo que lutei para
desviar os olhos. Ela olhou para mim enquanto eu sorria para ela. O único que
realmente olhava para a câmera era Drake.

Eu me afastei da minha mesa e passei pela cozinha. — Voltarei.

Memphis estava no quarto andar quando a encontrei no quarto vazio. Ela


tinha tirado os lençóis da cama e estava tirando o pó quando entrei.

— Ei.

— Ei. — Ela sorriu. — E aí?

— Recebi isso hoje. — Tirei meu telefone do bolso e puxei o e-mail. Então
entreguei para que ela pudesse ver a foto.

Seus olhos suavizaram. — Eu amo isto.

— Eu te amo.

Memphis engasgou e o telefone caiu de sua mão com um baque no


tapete. — O-o quê?

— Não é exatamente como eu planejei dizer isso, — eu murmurei. Mas


estava lá fora agora, e bem... era a verdade. — Eu te amo.
Seus olhos procuraram os meus. — Eu também te amo.

Eu bati minha boca na dela, minha língua mergulhando dentro para um


gosto seu.

Ela se agarrou a mim, as pontas dos dedos apertando meus braços, os


calcanhares subindo do chão enquanto ela se levantava na ponta dos pés.

Nós nos beijamos até ficarmos sem fôlego, então eu afastei meus lábios e
soltei o botão de seu jeans.

— Knox. — Seus olhos passaram por mim para a porta aberta.

Eu levantei um dedo, então me aproximei para chutar o batente e deixá-


lo fechar. Quando voltei, ela arqueou as sobrancelhas. — Eu queria foder você
em um desses quartos por meses.

Suas bochechas coraram. — Estou no relógio.

— Então amanhã vamos limpar o relógio. — Eu caí de joelhos, segurando


seu olhar enquanto eu tirava os tênis de seus pés. Em seguida veio seu jeans.
Eu deslizei o zíper e quando o puxei para baixo, levando sua calcinha, ela
balançou seus quadris e a chutou para fora de suas pernas.

— Suba na cama. Tire essa camisa. Então mãos e joelhos.

Ela assentiu, obedecendo a cada palavra minha. Saiu seu top, seguido
por seu sutiã. Então ela me lançou um sorriso malicioso enquanto plantava
um joelho no colchão e apontava aquela bela bunda na minha direção. Sua
boceta, bonita e rosada, estava molhada e pronta.

Eu libertei meu pau do meu jeans e corri para puxar a camisinha que eu
estava guardando no meu bolso. Então, quando eu estava embainhado,
arrastei meu pau através de sua boceta enquanto eu estava atrás dela,
ganhando um gemido. — Isso vai ser forte e rápido.

— Sim, — ela sussurrou, pressionando de volta.

Com uma mão, eu me guiei em seu canal escorregadio. Com a outra,


agarrei seu rabo de cavalo, envolvendo-o em meu punho. E então eu empurrei
para casa.
— Ah, Knox. — Ela arqueou para mim, seu lábio inferior cerrado entre os
dentes.

— Porra, você é maravilhosa. Tão gostoso. — Cada vez, melhor e melhor.

Talvez fosse porque eu a amava, mais a cada dia.

Suas paredes internas vibraram em torno do meu pau quando eu puxei


para fora e bati dentro. Ela gemeu, um som inebriante e sensual de sua
garganta. Foi o mesmo gemido que ela me deu ontem à noite quando caiu de
joelhos e me deixou foder sua boca.

— Diga, Memphis. Diga isso de novo. — Eu empurrei para frente mais


uma vez, seus seios saltando e balançando enquanto meus quadris batiam em
sua bunda.

Memphis ronronou: — Eu te amo.

Eu a fodi com força, impulso após impulso. Enchi a sala com o som de
pele batendo na pele. De suas respirações aceleradas e gemidos
choramingados. Eu movi em um frenesi, suas mãos agarrando o colchão, os
dedos dos pés se curvando para o lado. Agarrei sua bunda, apertando com
força, até que ela voou sobre a borda.

Memphis pulsou em torno de mim, apertando através de seu orgasmo.


Estar dentro dela era um vício. Eu estava à mercê dela. Havia apenas uma
caixa de preservativos em casa e, quando acabarem, não irei mais usar.

Eu a reivindicarei em todos os sentidos. Eu a mandarei dormir todas as


noites pingando com meu semem.

Seu clímax diminuiu e ela caiu no colchão, apoiando-se em seus


antebraços. Mas eu continuei penetrando-a, movendo meus quadris cada vez
mais rápido enquanto eu espalmava sua bunda. A construção se intensificou, a
pressão na base da minha espinha me cegando, até que finalmente eu soltei.
Quando as manchas brancas desapareceram dos meus olhos, eu caí sobre ela,
segurando-a com força enquanto o mundo voltava ao foco.

Memphis riu quando gozei. — Eu não posso acreditar que acabamos de


fazer isso.
— Segunda rodada, esta noite. — Eu rio, indo para a lata de lixo para
descartar o preservativo e jogar fora.

Ela vestiu a camisa e o sutiã, depois a calcinha. Suas pálpebras estavam


pesadas e ela bocejou enquanto se sentava no colchão para vestir seu jeans. —
Agora eu quero uma soneca.

Minha mulher dormia duro depois do sexo. — Eu vou até o Lyla's e te


pego um café com leite.

— Mocha duplo de menta, por favor.

— Você entendeu. — Eu beijei sua testa. — Quanto tempo você ainda


tem aqui?

— Trinta minutos. Já limpei o banheiro. Eu só preciso tirar o pó,


arrumar a cama e aspirar.

— Vou ligar para a mamãe e ter certeza de que ela está pronta para
tomar conta. Se ela não puder, tenho certeza que Talia o fará. Encontro você
no saguão em trinta com seu café. Então podemos ir para casa e fazer as
malas. — Eu me dirigi para a porta, mas antes que eu pudesse tocar a
maçaneta, ela chamou meu nome.

— Knox?

— Sim.

— Eu te amo.

Eu pressionei a mão no meu coração. — Eu te amo.

Com uma piscadela, deixei-a terminar de trabalhar enquanto me dirigi à


cozinha para fazer o check-in e pegar um casaco. A neve cobria Quincy, mas as
calçadas estavam limpas e as estradas aradas. O sol estava mergulhando no
horizonte, avançando em direção aos picos das montanhas. Os postes de luz
iluminavam a luz fraca enquanto eu caminhava para a casa de Lyla.

Um casal saiu da joalheria ao lado, ambos rindo. Eu congelei quando


eles passaram.

Memphis era minha. Drake era meu.


Uma proposta de Natal era clichê como o inferno, e eu não dou a
mínima.

Quando entrei pela porta, o homem atrás do balcão deu uma olhada
duas vezes. Sua careca brilhava sob as luzes fluorescentes da loja, cada uma
projetada para pegar as joias e fazê-las brilhar. — Oh... oi, Knox.

— Oi. — Eu levantei a mão e fui direto para a caixa central.

— Posso ajudá-lo a encontrar algo?

Meu coração disparou, mas minha voz estava firme. — Um anel de


noivado. Por favor.

Ele piscou, então entrou em ação, estendendo um pano de veludo azul-


marinho. Então ele colocou anel após anel no balcão para eu inspecionar,
divagando sobre corte e claridade, enquanto eu levantava cada um e tentava
imaginá-los no dedo de Memphis.

Foi o décimo primeiro anel que foi o vencedor. Um diamante quadrado


cercado por um halo de pedras menores.

— Este. — Eu a coloquei de lado e tirei minha carteira do bolso. Dez


minutos depois, saí da joalheria com o anel no bolso e fui tomar café no Lyla's.

Eu tinha dois copos de papel na mão quando empurrei as portas do


saguão do hotel.

Memphis estava de pé perto do sofá ao lado da lareira, com os braços em


volta da cintura. A maneira como ela estava mordendo o lábio inferior e a linha
de preocupação entre as sobrancelhas me fez andar mais rápido.

— O que há de errado?

Ela acenou com a cabeça em direção à porta do escritório quando esta se


abriu e Eloise saiu correndo, tentando vestir o casaco enquanto marchava. No
momento em que minha irmã me viu, ela rosnou.

— Ah, foda-se.

— Eloísa. — Mamãe saiu correndo do escritório, seguida por papai. —


Espere.
— Eles disseram a ela, — eu adivinhei. — Sobre o hotel.

— Sim. — Memphis assentiu. — E ela simplesmente desistiu.


CAPÍTULO VINTE E UM
KNOX
— Eloise, espere. — Entreguei a Memphis nossas xícaras de café e corri
para parar minha irmã antes que ela pudesse sair correndo pela porta.

— Você sabia. — Suas narinas se dilataram. — Há quanto tempo vocês


estão falando sobre isso pelas minhas costas?

— Pouco tempo.

— Bem. — Ela tentou me desviar, mas eu bloqueei seu caminho. — Se


você quer o hotel, é seu.

— Eu não. — A razão pela qual eu estava evitando esse tópico era porque
eu sempre soube o que estava em meu coração. Quando meus pais vieram
correndo pelo saguão, olhei por cima do ombro de Eloise e disse a eles o
mesmo. — Eu não quero o hotel. Nunca foi meu.

— Porque é meu. — Eloise cerrou os dentes. — E nenhum de vocês acha


que eu posso lidar com isso.

— Nós nunca dissemos isso. — Mamãe veio para o lado dela, tocando seu
cotovelo.

Eloise afastou o braço. — Você acha que eu sou muito mole.

— Você tem um grande coração. — Papai veio ficar ao meu lado. — Isso
não é uma coisa ruim. Mas esta é uma grande responsabilidade. Achamos que
Knox poderia tomar nosso lugar. Estar lá para lhe dar alguma orientação.

Memphis se aproximou, ouvindo, mas ficando para trás.

Os olhos de Eloise se encheram de lágrimas de raiva. — Você deveria ter


me contado, Knox.

— Você tem razão. Eu sinto muito.

— Isso é por causa do processo, não é? Eu estava tentando ser um bom


chefe! — A voz de Eloise ecoou pela sala. — Eu não tinha ideia de que ele iria
nos processar. E eu nunca, nunca o assediei. Eu sinto muito. Estraguei tudo.
Quantas vezes eu tenho que pedir desculpas?

Eu levantei minhas mãos, esperando acalmá-la antes que um hóspede


entrasse. — Com que frequência ela precisa de sua opinião, pai?

— Ultimamente, não muito, — disse ele. — No início deste ano...

— No início deste ano eu não tinha Memphis. — Uma lágrima escorreu


pela bochecha da minha irmã.

Os olhos de Memphis se voltaram para os meus e se arregalaram. Ela


não entendeu o quanto ela fez aqui, não é? Ela não tinha ideia de como era
difícil encontrar alguém confiável e trabalhador. Ela não tinha ideia do quanto
Eloise a amava.

Não havia como Memphis limpar quartos por toda a sua vida, mas tinha
dado a Eloise um padrão. Uma régua para medir a todos. Eu a vi manter as
outras camareiras em um nível mais alto. Eu a vi empurrá-las para fazer um
trabalho melhor.

E eles estavam se apresentando.

— Eu sei que sou mole. — O queixo de Eloise começou a tremer. —


Estou tentando. Tão difícil. Mas você já tomou a decisão. Eu não sou boa o
suficiente.

O rosto de papai empalideceu. Mamãe fechou os olhos.

— Não é isso, Eloise. Eu me aproximei e coloquei minha mão em seu


ombro.

— É sim. Talvez eu devesse ir. Começar em outra cidade.

Os olhos da mamãe se abriram. — Não.

— Apenas... desistir. — Um par de hóspedes atravessou o saguão. Eu


balancei a cabeça enquanto eles passavam por nós, então quando o lugar
estava limpo, eu empurrei meu queixo para que todos me seguissem até a
lareira.

— Você também, — eu disse a Memphis quando ela recuou.


— Esta é uma discussão de família, — ela sussurrou.

— E você faz parte da família. — Eu tinha o anel no bolso para provar


isso. Então eu peguei seu cotovelo e a levei para um sofá, colocando-a ao meu
lado, com Eloise do outro, esperando enquanto mamãe e papai sentavam no
sofá.

Inclinei-me para frente em meus cotovelos. — Eu não quero mais do que


o restaurante.

Talvez eu quisesse no início deste ano. Antes de Memphis. Antes de


Drake. Mas se eu adicionasse algo ao meu prato, não seria aqui. Seria em casa.

Eu queria a flexibilidade de treinar as equipes esportivas de Drake se ele


gostasse de esportes. Ou levá-lo para aulas de piano ou para a piscina. Eu
queria mais filhos. Eu queria noites em casa em Juniper Hill com minha
esposa.

Não mais horas na cidade.

— Vou assumir o hotel, — eu disse, estendendo a mão para colocar


minha mão no joelho de Eloise antes que ela pudesse sair do sofá, — até que
você esteja pronta. Se mamãe e papai quiserem liquidar sua propriedade,
passar adiante, então vou levá-la até que você esteja pronta.

Ela fez uma careta. — Eu estou-

— Não está pronta. — Dei-lhe um sorriso suave. — Você sabe que não.
Ainda não. Mas você estará. Não há pressa.

— Não, não há pressa. — Papai suspirou. — Se Knox não quiser,


podemos continuar com as coisas como estão. Toda essa confusão com Briggs,
sua demência piorando, me assustou. Só não queríamos deixar nada incerto
caso algo ruim acontecesse.

— Nós sabemos que você ama este hotel, — mamãe disse a Eloise.

— Então não tirem isso de mim, — ela implorou e me encarou. — Você


está preocupado comigo arruinando isso?

— Não, — eu admiti. Ela trabalharia até o osso antes que isso


acontecesse.
— Vamos deixar, — mamãe declarou. — Vamos dar um tempo.

Os ombros de Eloise caíram. — Obrigada.

Memphis deixou cair o queixo, mas não antes de eu pegar o fantasma de


um sorriso em seus lábios.

Ela estava certa. Este era o hotel de Eloise.

A campainha da recepção tocou e todos nós olhamos para ver um


hóspede no balcão.

Eloise enxugou os olhos e saiu correndo.

Mamãe balançou a cabeça. — Correu bem.

— Você estava certo. — Papai suspirou. — Não deveríamos ter falado


sobre isso hoje.

— O que? — Eu perguntei.

— Tivemos uma conversa com Mateo esta manhã. Ele está se mudando.

— O que? — Sentei-me reto. — Onde? Desde quando?

Mamãe enxugou o canto do olho. — Ele está procurando emprego no


Alasca. Ele veio esta manhã para nos dizer que foi contratado como piloto.

Merda. Finalmente estávamos todos em Quincy e agora ele estava indo


embora.

— Mateo é um piloto? — perguntou Memphis.

Eu balancei a cabeça. — Ele conseguiu sua licença na faculdade.

— Viemos contar a Eloise, — disse papai. — Ela disse que sabia. Ele
contou a ela sobre isso, mas pediu-lhe que não dissesse nada. Fiquei frustrado
e posso ter dito algo que não deveria ter sobre suas habilidades de
comunicação.

— Isso desandou a partir daí, — mamãe murmurou.

E em tudo, disseram a ela que me pediram para assumir o hotel.

— Vamos, Anne. — Papai se levantou de seu assento. — Vamos para


casa antes que eu me meta em mais problemas.
Mamãe se levantou e o seguiu para longe da lareira, mas ele parou antes
que pudesse ir longe demais, virando-se para olhar para Memphis.

— Estamos muito felizes por você estar aqui. Não sei se Eloise lhe disse
isso ou não.

Memphis assentiu. — Ela tem. Quase diariamente.

Papai olhou para minha irmã, que parecia tão feliz e alegre como em
qualquer outro dia. Como se essa discussão nunca tivesse acontecido. Mais
tarde, quando os hóspedes iriam embora, ela deixaria sua fachada cair. Mas
agora, ela sorriria porque este era o seu lugar.

— Acho que talvez não tenha estado aqui o suficiente, — disse ele à
mamãe, mas seu olhar estava fixo em Eloise.

— Acho que nós dois perdemos algumas coisas. — Ela pegou a mão dele,
então o puxou para a porta.

— Droga. — Esfreguei as mãos no rosto. — Não esperava isso hoje.

— Pelo que vale, acho que você tomou a decisão certa.

— Eu também. — Observei minha irmã entregar as chaves do quarto aos


hóspedes. — Você terminou por hoje?

— Sim. Vou ver o que Eloise precisa. Você ainda quer ficar aqui esta
noite?

— Sim. — Talvez eu não esperasse até o Natal para dar a ela este anel.
Talvez eu fizesse isso hoje à noite. — Veja se Eloise vai deixar você ir para casa
mais cedo. Eu vou pular também. Nós vamos para a casa e fazemos as malas
para esta noite. Ainda não falei com mamãe sobre babá, mas acho que depois
de tudo isso vou ligar para Talia.

— Tem certeza? — ela perguntou. — Podemos adiar.

— Tenho certeza. — Levantei-me e peguei nossos cafés. — Roxanne está


cuidando do restaurante esta noite. Tenho o casamento e o jantar amanhã.
Deixe-me falar com a minha equipe. Certificar-me de que todos estão bem.

— Ok. — Ela caminhou comigo até o balcão, esperando para falar com
Eloise enquanto eu voltava para Knuckles.
Quinze minutos depois, estávamos do lado de fora e indo para o carro
dela. Eu roubei as chaves da mão dela e abri a porta do passageiro do Volvo.

Estaríamos cerca de uma hora e meia mais cedo para pegar Drake, mas
isso daria a Memphis mais tempo com ele antes de voltarmos para o hotel.
Mais tempo para mim também. A caótica agenda de férias me manteve longe de
ambos.

Não era sustentável a longo prazo. Eu queria mais noites em casa do que
fora, o que significava que eu teria que promover Skip e contratar outro
cozinheiro de linha, mas valeria a pena.

— Como foi com Eloise? — Eu perguntei enquanto dirigia pela cidade.

— Louco. — Memphis deu de ombros. — Eu também estaria. Ela sente


que todos duvidam dela. Mas ela não vai desistir. Ela quer muito o hotel.

— Bom.

— Você poderia me fazer um favor? Eu não quero contar a ela sobre


minha coisa de planejamento de casamento. Ainda não. Eu não quero sair da
equipe de limpeza. Especialmente agora. O que disse Eloise... Eu não vou
decepcioná-la.

Eu peguei a mão dela. — Eu sei que você não vai. E podemos contar às
pessoas sempre que você quiser contar.

— Mas...

— Oh garoto.

Ela sorriu. — Eu sei que estávamos esperando Jill me irritar novamente


antes de puxarmos Drake. Mas se sua mãe ainda está disposta a cuidar dele,
eu gostaria de tirá-lo da creche.

— Por mim tudo bem. Jill disse alguma coisa?

— Não. É apenas... sua. — Memphis se encolheu. — Eu não gosto dela.


Estou cansada dele chorando quando o pego no colo. Talvez isso não mude
com sua mãe, mas é diferente.

— Concordo. — Se Drake amasse mamãe, seria porque ela era sua avó.
— Me sinto culpada. Eu acabei de... não gosto de lá. E ele é meu filho.
Não dela.

Na verdade, ele era nosso. Mas essa era uma correção que eu faria assim
que o anel no meu bolso estivesse em seu dedo. — Não vou discutir. Quando o
peguei na segunda-feira e ele chorou, isso me irritou. Entendo.

Memphis estava atrasada, então eu fui buscar Drake antes que a creche
fechasse. No momento em que o tirei dos braços de Jill, ele chorou.

Algo sobre toda a situação estava errado. Era como se Jill não o tivesse
colocado no chão o dia todo. Como se ela o mimasse intencionalmente para
que ele a amasse. Talvez eu não tivesse a mínima ideia do que estava sentindo,
mas havia algo viscoso nela. Algo que estava errado.

Como Memphis disse, se ela tivesse sido má com Drake seria mais fácil
afastá-lo. Mas aquele garoto a adorava.

— Vamos perguntar para a mamãe neste fim de semana, — eu disse.


Como a creche estará fechada durante toda a semana seguinte para os
feriados, mamãe concordou em cuidar de Drake. — Vejamos se podemos torná-
la neste Natal a babá permanente.

— Tenho certeza de que a creche vai me dar um aviso de trinta dias.

— Provavelmente, mas assim que mamãe estiver disposta a observá-lo,


vamos trocar.

— Combinado. — Memphis sorriu. — Deus, já me sinto mais leve. Esta


pode ser a última vez que o pegamos.

— A última fuga da prisão. — Entrei no estacionamento e deixei o motor


ligado, depois segui Memphis para dentro.

Ela caminhou pelo corredor para o berçário, parando na porta para fazer
uma varredura rápida da sala. — Oi. Hum, onde está Drake?

— Oi. — Uma mulher que não era Jill olhou para o relógio. — Você está
cedo para pegá-lo.

— Então? — Fiquei atrás de Memphis e cruzei os braços sobre o peito. —


Onde ele está?
— Eles, hum... — A mulher engoliu em seco. — Ela ainda não voltou.

— Voltar de onde? — Memphis deu um passo mais perto. — O que está


acontecendo?

— Preciso chamar o diretor. — A mulher deu um passo, tentando passar


por nós para a porta, mas eu me mexi e bloqueei seu caminho.

— O que diabos está acontecendo? — Meu coração começou a acelerar.


— Onde está nosso filho?

— Jill, hum... ela acabou de sair cerca de trinta minutos atrás. Ela o
levou para sua casa um pouco para trocar algumas roupas ou algo assim. Ela
prometeu estar de volta às cinco.

— Ela o levou? — A boca de Memphis caiu aberta. — Ela não tem minha
permissão para tirar meu filho deste prédio.

— É apenas...

— Próxima porta. — Memphis levantou a mão. — Isso é o que você disse


da última vez.

Sem outra palavra, ela pegou a cadeirinha do carro de Drake e sua bolsa
de fraldas do gancho, então ela marchou para o escritório do centro, onde duas
mulheres mais velhas estavam conversando.

Fiquei atrás de Memphis e a observei dar o ato de motim para as


senhoras e que iria imediatamente tirar Drake de suas instalações. Ambos
alegaram que não tinham ideia de que Memphis não havia dado sua
aprovação.

— Jill disse que você não se importava. Que ele poderia ir com ela.

— Eu não fiz tal coisa, — Memphis gritou. — Acabamos de chegar aqui.


Você não vai nos ver novamente.

— Nós exigimos trinta dias

— Termine essa frase e eu vou ligar para minha cunhada, a chefe de


polícia, e informá-la que sua equipe está tirando crianças do local sem
permissão dos pais. — Eu nivelei as mulheres com um olhar. — Eu acredito
que eles chamam isso de sequestro.
Ambas ficaram branca.

Memphis virou e saiu pelas portas, olhando para os dois lados. Suas
mãos tremiam. — Não sei qual é a casa dela.

— Aguente firme. — Eu invadi o centro e exigi o endereço de Jill.

Quando saí, Memphis estava de pé na calçada, o assento do carro e a


bolsa de fraldas aos pés e os olhos cheios de preocupação.

— É esta. — Eu a levei para a casa ao lado, uma pequena casa de um


andar com tapume azul e uma porta verde. Todas as janelas estavam escuras.
A luz da varanda estava apagada.

Não havia nada além de silêncio enquanto eu tocava a campainha várias


vezes. Então bati meu punho na porta, mas não importava. Ninguém estava em
casa.

— Tem certeza que é esta? — perguntou Memphis.

— Eles disseram casa azul ao lado. — Todas as outras casas ao redor da


creche tinham um tom marrom.

Bati na porta novamente sem resposta.

— Que porra é essa? — Eu recuei, examinando a rua.

A cor sumiu do rosto de Memphis. — Onde está meu filho?


CAPÍTULO VINTE E DOIS
MEMPHIS
Em poucos minutos a rua se encheu de viaturas policiais. Winn parou
por último, saindo de um SUV sem identificação, e correu para onde
estávamos. Seus oficiais seguiram, se aglomerando para formar um bloqueio ao
nosso redor.

Meu corpo inteiro tremeu enquanto eu estava dobrada ao lado de Knox.

Winn pegou minha mão, dando um aperto. — Conte-me tudo. Do


começo.

A ideia de dizer as palavras — ela pegou meu filho — fez minha garganta
fechar. Como se ele soubesse que eu não seria capaz de fazer isso, Knox me
abraçou mais forte e falou por mim.

Ele contou a ela como viemos buscar Drake. Como fomos à casa de Jill
apenas para encontrá-la vazia. Como nós dois corremos para o centro, em
pânico e frenéticos, e exigimos informações do proprietário e de outros
cuidadores — não havia muito para compartilhar. Ninguém no prédio, nem as
mulheres no escritório ou a garota no berçário, tinha a menor ideia de onde Jill
levaria Drake.

Tudo o que sabíamos era que Jill havia saído com ele, prometendo voltar
em breve. E então ela desapareceu.

A cada palavra que Knox falava, os tremores em meus membros


aumentavam até que eu tive certeza de que, se não fosse por seu braço em
volta das minhas costas, eu teria me curvado na calçada gelada.

Winn absorveu sua declaração como uma esponja, ouvindo sem


comentários até terminar. Então ela começou a dar ordens a seus oficiais. —
Pegue as informações de Jill. Comece com o carro dela. Descrição. Placa de
carro.Modelo. Emita um Alerta AMBER imediatamente. Em seguida, passe os
dados dela e distribua pela cidade. Procurem seu telefone depois disso. Veja se
podemos rastreá-la até uma torre de celular.
— Entendido, chefe. — Um dos homens saiu correndo para as portas da
frente do centro.

— Procure na casa dela, — Winn ordenou a dois outros oficiais.

Eles correram e apenas alguns segundos depois, eu vacilei com o


estrondo de uma porta sendo arrombada.

— Isso já aconteceu antes? — perguntou Win.

Eu balancei a cabeça, engolindo o nó na minha garganta. — Uma vez.


Ela levou Drake com ela para casa. Mas ela se foi apenas por alguns minutos.
Eu disse a ela que não poderia fazer isso de novo.

— Qual é a relação dela com Drake? — perguntou Win.

— Ela o ama. Ela age como se o amasse. — Talvez o amasse demais.


Minha cabeça estava girando. Minhas pernas começaram a desmoronar.

— Respire. — Knox me segurou com mais força. — Respire, Memphis.

Enchi meus pulmões, a picada no meu nariz trazendo um novo conjunto


de lágrimas. — Você acha que ela pode tê-lo levado? Que ela quer ficar com
ele?

— Isso provavelmente é apenas uma falha de comunicação, — disse


Winn. — Talvez ela teve que correr para a loja ou algo assim. Você chegou aqui
cedo hoje, certo?

Eu balancei a cabeça. — Sim. Normalmente não chego aqui até depois


das cinco.

— Ok. — Winn apertou minha mão novamente e travou seu olhar com
Knox. A mensagem passada sem palavras entre eles fez meu estômago dar um
nó mais apertado. Havia pavor ali. Temor. E simpatia.

Ele estava se segurando para mim, mas eu não era a única que estava
tremendo, entorpecida pelo frio e pelo pânico.

— Por que vocês dois não esperam no carro? — ela sugeriu. — Preciso
fazer mais perguntas e fazer algumas ligações.
— Vamos, querida. — Knox me escoltou até o carro, nossos passos lentos
porque ele devia saber que eu não confiava nos meus pés. Ele me ajudou a
sentar no banco do passageiro, então contornou o capô do lado do motorista.
No momento em que a porta foi fechada, ele pegou o telefone e colocou no viva-
voz.

Harrison atendeu no primeiro toque. — Oi, Knox.

— Pai.

Uma palavra e Harrison ouviu o tremor na voz de Knox. — O que há de e


rrado?

— Viemos buscar Drake na creche. Ele se foi. Jill, a mulher que o cuida,
o levou.

— Oh Deus. — Harrison respirou fundo. — Ligue para Winn.

— Já fiz. Eles estão emitindo um Alerta AMBER.

— Vou fazer algumas ligações também. — Sem outra palavra, Harrison


encerrou a ligação.

Os dedos de Knox voaram pela tela, puxando outro contato. Mais uma
vez, ele deixou no viva-voz.

— Obrigado por ligar para a Pousada Eloise. Como posso ajudá-lo? —


Eloise respondeu.

— Eloísa. É Knox. — Ele repetiu a mesma mensagem e quando Eloise


engasgou na linha, eu tive que fechar os olhos para não chorar.

— O que eu posso fazer? — perguntou Eloise.

— Ajude-nos a divulgar. Quanto mais pessoas procurarem por eles,


melhor.

Knox suspirou e olhou para o telefone, como se quisesse fazer mais


ligações, mas não conseguisse encontrar forças para repetir a verdade
novamente.

— Isso é um sonho ruim? — Eu sussurrei.


Ele colocou o telefone na coxa e olhou para mim, seus próprios olhos
cheios de lágrimas não derramadas. — Tem que ser.

— E se não o encontrarmos?

— Não vá lá. — Ele pegou minha mão, segurando-a com tanta força que
machucou meus dedos. Mas agarrei-me à dor, agarrei-me a ele, para ficar aqui,
neste carro, e não dar um passo por uma estrada impensável. — Nós vamos
encontrá-lo.

— Nós vamos encontrá-lo. — Não havia confiança na minha voz. Apenas


medo.

Nós dois sentamos juntos no carro frio, assistindo enquanto Winn e sua
equipe corriam de um lado para o outro entre a creche e a casa de Jill. Uma
multidão estava se reunindo do lado de fora das portas da creche.

As duas mulheres do escritório tinham saído, ambas vestidas em


casacos. Eles fizeram questão de manter a cabeça baixa e não olhar em nossa
direção enquanto estávamos sentados imóveis, nossas respirações curtas se
enrolando em fios brancos no carro. Nenhum de nós pensou em ligar o motor,
acionar o calor. Nós dois estávamos muito atordoados.

Sentei-me e olhei pelo para-brisa, uma oração correndo pela minha


mente em loop.

Encontre-o. Encontre-o. Por favor, vamos encontrá-lo.

— Deixamos as coisas dele. — As palavras de Knox me assustaram


quando ele saiu do carro, correndo para a calçada.

Eu peguei o assento do carro de Drake e a bolsa de fraldas do berçário.


Quando eu os coloquei no chão? Antes ou depois de irmos à casa de Jill? Eu
não conseguia me lembrar agora. Cada minuto parecia confuso, cada segundo
como uma vida.

Uma nova onda de tontura me atingiu, girando em torno dos — e se—


que eu me recusava a pensar, muito menos a voz.

Knox pegou as coisas de Drake, levando-as para o banco de trás. Em


seguida, ele voltou ao banco do motorista e, desta vez, girou a chave.
— Eu não posso sentar aqui, — ele murmurou. O calor mal começou a
fluir das aberturas antes que ele estivesse fora do carro mais uma vez, desta
vez andando em direção a Winn.

Ela estava na garagem de Jill, falando ao telefone.

Knox foi direto até ela, esperando que ela encerrasse a ligação. No
momento em que ela guardou o telefone, a porta da garagem da casa de Jill se
abriu. Estava vazio. Onde deveria haver um carro, havia apenas sombras.

Para onde ela teria ido? Drake não tinha seu assento de carro. E se ela
sofresse um acidente? Ela tinha ido para a cidade? Talvez ela tenha se
aventurado no centro para tomar um café.

Minha mão encontrou a maçaneta da porta e eu a empurrei, mas antes


que eu pudesse sair, um alarme estridente soou no meu telefone. O barulho
ecoou pelo ar, não apenas do meu telefone, mas de todas as outras pessoas.

O Alerta AMBER.

Para o meu filho.

Aquele som estridente cortou meu corpo, cortando meu coração. Agarrei
meu peito, desejando que meu coração continuasse batendo. Encontre-o. Por
favor, encontre-o.

Dois carros pararam no estacionamento, ambos quase ao mesmo tempo.


Outros pais estavam começando a aparecer para pegar seus próprios filhos.
Seus rostos estavam nublados em confusão e preocupação repentina antes que
cada um deles corresse para dentro.

Exceto, eles encontrariam seus filhos.

Enquanto eu não tinha.

Uma onda de energia acendeu minhas terminações nervosas em um


zumbido. Ficar sentada neste carro, esperando, não era mais uma opção. Eu
empurrei para fora, envolvendo meus braços em volta da minha cintura, e corri
para me juntar a Knox.

Ele me viu e engoliu em seco, então estendeu a mão.


Eu a peguei e enfrentei Winn. — Não posso sentar aqui. Eu estou ficando
louca.

— Temos todos no departamento procurando. O alerta está lá fora.


Vamos torcer para receber uma ligação.

— E se eu for para a cidade? Talvez eu esbarre nela. Talvez ela tenha ido
à loja ou às compras de Natal. Ela disse que voltaria antes de eu aparecer. São
quase cinco.

— Seria melhor se você ficasse aqui, — disse Winn. — Caso precisemos


de informações.

— Você poderia me ligar. — Meus olhos lacrimejaram. — Por favor. Por


favor, não me faça sentar aqui e assistir. Se fosse Hudson...

— Ok. — Ela soltou um suspiro profundo. — Tudo bem. Mantenha seu


telefone por perto.

— Eu vou. — Eu me movi para dar um passo, mas antes que eu pudesse


me afastar, a mão de Knox disparou e agarrou meu cotovelo.

— Espere, querida.

— O que? — eu girei. — Você vem também?

— Precisamos contar a Winn toda a história.

— Que história toda? — ela perguntou.

Levei um momento para ler seu rosto. Então a realização me atingiu e


meu estômago deu uma cambalhota.

Oliver. Meus pais. A mulher que tentou chantageá-los por dinheiro.

— Você acha que isso está relacionado? — Perguntei a Knox.

— Não sei. — Sua testa franziu. — Mas se for, Winn precisa da verdade.

Todo esse tempo, esperamos que meus pais entrassem em contato


conosco. Nós suportamos o silêncio deles, esperando o melhor resultado
possível. Exceto e se isso tivesse sido um erro? E se Drake tivesse sido um alvo
por meses? E se pudéssemos ter impedido que isso acontecesse?
— Memphis. — Winn colocou a mão no meu ombro, me puxando para
fora da minha cabeça. — Fale comigo.

— No mês passado, por volta do Dia de Ação de Graças, meus pais


apareceram em Quincy. Nosso relacionamento é... tenso. Eles vieram porque
uma mulher os estava chantageando. Ela ameaçou expor o nome do pai de
Drake. Para dizer às pessoas quem é o pai dele.

— Quem é o pai dele? — ela perguntou.

Olhei para Knox.

Knox era o pai de Drake. Em todas as partes importantes desse selo,


Knox era o pai de Drake.

Eles simplesmente não compartilham o mesmo DNA.

— O nome dele é Oliver MacKay, — eu disse, então contei a ela toda a


história.

Winn plantou as mãos nos quadris. — Eles poderiam ter levado Drake?
Oliver ou sua esposa ou a família dela?

— Não sei. — Talvez eles o quisessem afinal. Ou talvez esse fosse o


castigo da esposa de Oliver por sua infidelidade.

— As chances são de que Jill o tenha, — disse Winn. — Você disse que
ela o ama. A dona da creche confirmou que Drake é seu favorito, de longe.
Dado isso, meu palpite é que ela provavelmente ultrapassou os limites. Ela o
levou para passear em um parque ou no centro da cidade ou para visitar um
amigo.

— Mas... — Knox expressou as dúvidas escritas no rosto de Winn.

— Preciso saber o que aconteceu com a mulher em New York, — disse


ela.

— Ok. — Com as mãos trêmulas, percorri meus contatos e encontrei o


nome do meu pai. Toquei e levei o telefone ao ouvido, prendendo a respiração
enquanto tocava. Meu batimento cardíaco estava tão alto e forte que senti meu
pulso explodir em minhas veias.

— Memphis, — ele respondeu.


— O que aconteceu com a mulher que estava chantageando você?

— Você deixou claro que não se importava com o resultado. Você teve
sua chance

— Meu filho está desaparecido. — Minha voz falhou. — O que aconteceu?


Por favor.

— O que você quer dizer com desaparecido?

— Apenas me diga! — Eu gritei as palavras, o controle da minha


sanidade começando a quebrar.

Antes que eu pudesse ouvir a resposta do meu pai, Knox arrancou o


telefone da minha mão. — Fale. Agora.

Uma lágrima desceu pelo meu rosto enquanto eu olhava para Knox. Seu
maxilar se contraiu e suas narinas se dilataram com o que meu pai dizia.
Então ele tirou o telefone do ouvido e encerrou a ligação.

— O que?

— Ele se recusou a pagar. Disse a ela para se foder. Não teve notícias
dela desde então.

— Oh Deus. — Uma mão voou para minha boca para segurar um soluço.

Como pude ser tão tola? Nas últimas semanas, eu me permiti ter
esperança. Eu me deixei cegar. Meu pai nunca teve a intenção de me ajudar.
Nem uma vez.

Eu estava prestes a cair na calçada quando um braço forte envolveu


minhas costas, me segurando. — Ele chamou de blefe. E ela chamou o dele.

— Ela tem um nome? — perguntou Win.

Knox balançou a cabeça. — Não. Ele não conseguiu um.

— Isso é minha culpa, — eu sussurrei. — Eu deveria ter lidado com isso


sozinha.

— Não. Isso não é com você. — Knox segurou meu rosto em suas mãos,
seus polegares enxugando furiosamente para secar as lágrimas. — Tomamos
essa decisão juntos.
— Foi a decisão errada.

A angústia em seu rosto só fez minhas lágrimas caírem mais rápido. —


Eu sei.

— O que nós fazemos? Onde ele está?

— Nós vamos encontrá-lo. — Knox me puxou para seu peito, segurando


firme enquanto falava com Winn. — O que nós fazemos?

— Eu sei que você não quer ouvir isso, mas eu preciso que vocês dois
esperem.

Eu rosnei no peito de Knox, o terror se transformando em frustração e


desespero. — Eu não posso sentar naquele carro e não fazer nada. Não consigo
ver as mães entrarem no centro e pegarem os filhos. Não posso.

— Caminhe até a cidade, se quiser, — disse Winn. — Mas temos muitas


pessoas procurando por Jill. Vou entrar em contato com a equipe e voltarei
com uma atualização em breve.

— Então vamos. — Ele me soltou e agarrou minha mão, me puxando


pela calçada e partimos em direção ao Main.

Minhas pernas estavam rígidas e bambas nos dois primeiros quarteirões,


mas depois começaram a esquentar e meus passos se alongaram. Caminhamos
em silêncio, mas o grito surdo na minha cabeça ficava mais alto a cada passo.

Se meu pai não tinha ideia de quem era a mulher que tentou chantageá-
lo, havia uma pessoa que teria.

Parei tão abruptamente que minha mão escorregou do aperto firme de


Knox.

— O que há de errado?

— Temos que saber quem era essa mulher. Mesmo que não seja ela,
temos que saber. — O tempo de enterrar minha cabeça na areia havia acabado.
Cometi o erro de pensar que em Montana eu era inalcançável. Talvez isso não
tivesse nada a ver com a chantagem, mas eu não ia correr esse risco.

— Você vai ligar para Oliver, — Knox adivinhou.


Eu balancei a cabeça e peguei meu telefone, encontrando o número que
eu tinha escondido sob um nome falso.

— Sim, — ele respondeu, sua voz tão fria quanto o ar do inverno.

— Quem sabe sobre nós?

— Ninguém.

— Alguém sabe, — eu corrigi. — Porque alguém está tentando


chantagear minha família por dinheiro para manter a paternidade do meu filho
em segredo. Quem é?

— Merda, — ele assobiou.

— Quem é, Oliver?

— Não sei.

Minha fúria aumentou. — Não ouse mentir para mim. Isso envolve meu
filho. Eu prometi a você que ficaria quieta, fui embora, mas você vai me dizer.
Ou meu próximo telefonema será para sua esposa.

— Faça isso e eu levarei seu filho.

— Você nunca vai tocar no meu filho. Vou usar cada dólar dos meus
milhões para arruinar sua vida. — O que fosse preciso para manter Drake
seguro. Se isso significava cumprir as ordens do meu pai, que assim fosse. — Q
uem?

O outro lado da linha ficou em silêncio. Tão quieto que eu não tinha
certeza se ele ainda estava lá. Mas então ele respirou e eu sabia que ele
escolheu a autopreservação sobre seus segredos. — Ninguém sabia sobre nós.

— Então por que o FBI parou na minha casa antes de eu sair da cidade?
Alguém tem que saber, Oliver. Quem?

Houve um farfalhar ao fundo, depois o fechamento de uma porta. —


Quando o FBI se aproximou de você? Por que você não me contou?

— Nós não estávamos exatamente nos falando. E eu não disse nada a


eles.
— O que, exatamente, o agente do FBI disse? — Havia uma pontada em
sua voz. Medo. Bom. Eu estava apavorada. Ele poderia estar com medo
também.

— Nada. O agente perguntou se eu te conhecia. Eu disse a ela que não.


— Uma meia verdade. A essa altura, Oliver estava morto para mim. — Eu não
sabia que você estava sendo investigado.

— Eu não estou.

Mentiroso. — Se o FBI sabe, então outra pessoa sabe.

— Talvez um amigo seu. Alguém que saberia que você tinha dinheiro e
pensaria que poderia enganá-la.

— Não. Eu te disse antes de sair, não contei a ninguém que estávamos


juntos. Porque me pediu para não fazer. E eu era uma maldita idiota.

— Certamente não fui eu, — disse ele.

Minha mão livre se fechou em um punho. — Além de sua esposa, quem


se importaria que eu tivesse seu filho?

— Não é minha esposa.

— Então quem? Por favor? — Eu odiava implorar a esse homem, mas por
Drake, eu cairia de joelhos se isso significasse levá-lo para casa em segurança.

— Pode ser essa mulher que eu estava vendo. Não ficamos muito tempo
juntos. Seis meses. Meu tempo com ela começou logo após o meu com você.
Ela era... exigente.

— Você quer dizer que ela sabia que você era casado.

— Sim, — ele murmurou.

— Como essa mulher saberia sobre mim?

— Eu não sei, — disse ele. — A menos que ela tenha me seguido. Eu não
contaria meu passado para ela.

Ele veio à minha casa duas vezes depois do nosso rompimento. Uma vez,
na noite em que ele me pediu para esquecer seu nome. A noite em que me
ofereceu dinheiro. A noite em que contei a ele sobre o bebê. Então, apenas
alguns dias depois, ele veio para assinar seus direitos parentais.

Se ela o estava seguindo, talvez ela continuasse me seguindo também.


Por ciúmes? Despeito? Curiosidade? Quando eu tive Drake, ela deve ter
adivinhado que Oliver era o pai.

— Um nome. Dê-me o nome dela.

— Averie Flannagan.

— Averie Flannagan, — eu repeti e Knox imediatamente pegou seu


próprio telefone, dando dois passos para longe para ligar para Winn.

— Adeus, Oliver.

— Memphis. — Ele me parou antes que eu pudesse terminar a ligação. —


Isso não muda nada.

— Nada, — eu concordei e a linha ficou muda.

Não desista.

Encontraríamos Drake. Tínhamos que encontrar Drake.

— Winn vai usar o nome dela, — disse Knox. — Ver o que ela pode
encontrar.

— Se ela viesse para Montana, duvido que tivesse ficado em Quincy.


Talvez devêssemos ligar para alguns outros hotéis da região.

— Não são muitos. O mais próximo fica a oitenta quilômetros de


distância. Ele levantou um dedo e percorreu seu telefone. Em seguida, discou
um número e pressionou-o no ouvido. — Sim, oi. Meu nome é Knox Éden. Eu
sou o dono do The Eloise Inn em Quincy. Eu tive um hospede que desistiu de
uma taxa de quarto esta semana. Estou ligando porque acho que ela fez isso
em alguns hotéis da região. Alguma chance de você ter uma Averie Flannagan
hospedada?

Houve uma pausa, então Knox apertou minha mão e começou a marchar
pela calçada, recuando por onde viemos.
— Sem problemas. Faça-me um favor, vou ligar para o xerife local. Não
deixe que ela saiba que eu liguei. Obrigado. — Ele enfiou o telefone no bolso e
começou a correr.

Qualquer outro dia e eu teria dificuldade em manter o ritmo, mas a


adrenalina e o medo me fizeram acompanhar seu ritmo, passo a passo,
enquanto corríamos para a creche.

Corremos direto para o meu carro, Knox gritando para Winn enquanto
abria a porta. — Há uma Averie Flannagan hospedada no Mountain Motel a
caminho de Missoula.

Winn estalou os dedos para um oficial e partiu para seu próprio SUV. —
Siga-nos. Fique perto.

Knox nos tirou do estacionamento e quando uma das viaturas arrancou,


com Winn logo atrás, ele dirigiu com os nós dos dedos brancos em direção à
rodovia.

As milhas passaram em um borrão, mas não importa o quão rápido nós


dirigimos, não foi rápido o suficiente. Meus joelhos saltavam. Meu estômago
revirou.

— Isto é minha culpa. Eu deveria ter ligado para Oliver mais cedo. No
Dia de Ação de Graças.

— Não, — disse Knox. — Essa mulher é louca. Se ela realmente pegou


Drake, ela é louca. Você não a poderia ter parado.

— Nós poderíamos ter pago a ela.

— E ela teria pedido dinheiro até que não tivéssemos mais nada para
dar.

— E se ela fez algo com ele? — Minha voz era quase inaudível. — E se ela
o machucar?

Knox não respondeu. Provavelmente porque essas mesmas perguntas


estavam em sua mente.
Então nós dirigimos em silêncio, acelerando pela estrada, até que um
pequeno motel em forma de U apareceu ao longo da estrada, enfiado em um
bosque de sempre-vivas.

Eu suspirei. Três carros do xerife estavam no estacionamento, cada um


com suas luzes piscando.

— Winn deve ter chamado.

Recusei-me a piscar enquanto nos aproximávamos cada vez mais, até


que Knox desacelerou para sair da estrada.

Um oficial de camisa bege e calça combinando saiu de uma sala. Atrás


dele, escoltado por outro policial uniformizado, vinha uma mulher.

Uma mulher loira da minha altura. Suas mãos estavam algemadas atrás
das costas.

— Eu a conheço. — Eu balancei minha cabeça, mal acreditando em


meus próprios olhos. — Essa é a agente do FBI que veio falar comigo.

— O que? — disse Knox. — Tem certeza?

— Sim. — Que diabos?

Knox estacionou ao lado de um carro com placas de New York. No


momento em que os pneus pararam, eu estava fora da minha porta. O som que
me cumprimentou quando meu pé bateu na calçada foi o melhor som que ouvi
durante todo o dia.

Um choro. De um garotinho.

Meu garotinho.

Saí correndo. Knox também.

—Espere. — Um oficial levantou as mãos para nos parar, mas nós o


empurramos de qualquer maneira, assim que Winn saiu do quarto do hotel
com Drake em seus braços.

— Graças a Deus. — Eu o puxei para o meu peito e enterrei meu nariz


em seu pescoço, salpicando-o de beijos. Então eu senti cada centímetro de seu
corpo, certificando-me de que ele estava inteiro. — Você está bem.
— Ele está bem. — Knox passou os braços em volta de nós dois, sua
bochecha no cabelo de Drake. — Nós o encontramos.

Nós o encontramos.

— Você nunca mais vai sair da minha vista, — eu disse, segurando


Drake com mais força.

Knox e eu nos agarramos a ele, mesmo quando ele se mexeu e se


contorceu para ser libertado, apenas se afastando quando uma voz familiar
veio do corredor.

— Eu não deixaria nada acontecer com ele. — Jill, algemada e sendo


empurrada para fora da sala por um oficial, tinha lágrimas escorrendo pelo
rosto. No momento em que ela nos viu, ela congelou. Sua boca abriu e fechou,
como um peixe fora d'água com falta de ar. Mas antes que ela pudesse falar ou
dar alguma desculpa de merda, eu girei com meu filho e caminhei em direção
ao Volvo.

Knox não ficou muito atrás.

Nem para Winn.

— Existe alguma razão para nós precisarmos ficar? — Eu perguntei.

— Não. Vá para casa. Estamos levando as duas sob custódia e eu mesmo


vou interrogá-las.

— Obrigada.

Ela se aproximou, passando um dedo pela bochecha de Drake. — Dirija


seguro. Vejo você em breve.

Knox colocou a mão no ombro dela, então pegou Drake e o prendeu no


assento.

Deslizei para o banco de trás, esperando Knox ficar atrás do volante.

Ele encontrou meu olhar no retrovisor.

Então nos levou para casa.


CAPÍTULO VINTE E TRÊS
MEMPHIS
Véspera de Natal. Era o primeiro Natal de Drake e não havia um pingo de
espírito natalino na casa. Os eventos de dois dias atrás ainda eram muito crus.
Em vez de aparar uma árvore ou embrulhar presentes, passei minhas horas
acordada esperando por respostas e pairando perto do meu filho.

Drake arrulhou na cama, pegando seus pés com as mãos, enquanto eu


dobrava a última carga de roupa lavada.

Knox e eu tínhamos tirado uma folga do hotel. Quando sua equipe soube
o que havia acontecido com Drake, todos insistiram que ele ficasse perto de
casa. Eles cuidaram do casamento e estavam fazendo as festas da véspera de
Natal e do dia de Natal no Knuckles.

Mateo e Anne se ofereceram para cobrir meus turnos, limpando quartos


e movimentando-se pelo hotel até que eu estivesse pronta para voltar.

Eu não ficaria longe por muito tempo. Eu não colocaria esse fardo sobre
eles. Mas, no momento, eu não estava confortável em estar sob um teto
diferente do meu filho. E Knox parecia sentir o mesmo. Enquanto eu mantinha
minha mente ocupada limpando a casa e lavando roupa, ele estava de pé na
cozinha, preparando o jantar de Natal que teríamos no rancho amanhã.

Talvez eu não tivesse nenhuma alegria de Natal, mas não havia um lugar
que eu preferiria passar meu feriado do que com sua família.

Perdi toda a fé na minha.

Minha mãe tentou ligar uma vez. Eu recusei, optando por uma
mensagem de texto para que ela soubesse que Drake estava bem e em casa.
Ela ligou quatro vezes desde então. Se continuassem, talvez na próxima
semana eu respondesse. Talvez não.

Era uma sensação estranha perder sua família. Teria sido de partir o
coração se Knox já não tivesse me reivindicado como sua.
Anne tinha vindo três vezes desde sexta-feira, Harrison e Griffin duas
vezes. Eloise veio na sexta à noite depois que voltamos daquele motel. Talia
estava logo atrás dela, insistindo em fazer um check-up rápido para ter certeza
de que Drake estava bem. E então Lyla e Mateo apareceram com o jantar.

O único membro da família que não tínhamos visto era Winn.

E ela era a que estávamos louca para ver.

— Memphis, — Knox chamou da sala de estar. — Winn está aqui.

— Finalmente, — eu respirei. A camiseta que eu estava dobrando caiu na


cesta. Peguei Drake em meus braços e o carreguei pelo corredor.

Knox abriu a porta para Winn, beijando sua bochecha quando ela
entrou. — Oi.

— Oi. — Ela sorriu para nós dois. — Desculpe fazer isso hoje. Mas
imaginei que vocês provavelmente, estavam ansiosos para saber o que estava
acontecendo e seria melhor agora do que amanhã com todos ao redor.

— Por favor. — Meu coração estava na minha garganta.

Ainda era cedo, apenas dez da manhã. Ainda ontem Winn nos disse que
eles ainda estavam interrogando Averie e Jill. Mas o tempo passou devagar e
cada hora passada na espera parecia uma semana.

— Podemos pegar alguma coisa para você? — Knox perguntou,


escoltando-a para a sala de estar. — Água?

— Não, eu estou bem. — Ela pressionou a mão na barriga que mal estava
começando a aparecer, então se sentou na cadeira para que Knox e eu
pudéssemos sentar lado a lado no sofá.

Ele levantou Drake dos meus braços e o colocou no tapete ao lado de


nossos pés. Então ele se inclinou para frente, cotovelos nos joelhos, e deu a
Winn o aceno para começar.

— Averie e Jill solicitaram advogados, o que atrasou o processo. Mas Jill


finalmente começou a cooperar. E temos algumas evidências para ajudar a
preencher as lacunas com o lado de Averie da história.

— Ela era uma agente do FBI, Averie?


Winn balançou a cabeça. — Não.

— Mas ela me mostrou um distintivo. — Estava em uma carteira preta


que ela abriu quando a vi do lado de fora da minha casa.

— Encontramos um distintivo com ela. Era uma farsa. Uma boa farsa.
Não havia como você saber.

— Então ela me enganou. — Meu coração afundou. — Ela estava apenas


tentando obter informações sobre Oliver. Por que?

— Pelo que pudemos encontrar em seu telefone, ela tem muitas imagens
de vídeo de Oliver. Quando eu digo muito, é do tipo que eu esperaria ver de um
stalker.

— Quando falei com Oliver, ele parecia que já a havia dispensado, — eu


disse. — Se estivesse sendo perseguido, ele não saberia?

— Não necessariamente. Ela também tinha vídeos do seu pai. Duvido


que ele soubesse que ela o estava seguindo também.

— Por que? — Eu balancei minha cabeça. — Eu não entendo por que


tudo isso estava acontecendo.

— Você e sua família eram um alvo. — Winn me deu um sorriso triste. —


Acho que foi oferecido dinheiro a Averie por Oliver para ficar quieta sobre o
relacionamento deles.

Eu bufei. — Ele provavelmente pagou a ela os cinquenta mil que eu não


peguei.

— Depois, ela deve ter descoberto sobre você e sua família. Pensou que
se Oliver pagou a ela, você também pagaria. E seria uma maneira fácil de
ganhar dinheiro.

— Você acha que ela sabe quanto vale Memphis? — perguntou Knox.

Win assentiu. — Sim.

— Eu não valho nada, — eu disse. — Não mais.

Knox colocou a mão no meu joelho. — Duvido que ela tenha visto dessa
forma.
— Ela poderia ter ido até a esposa dele, — eu disse.

— Não. — Knox suspirou. — Perigoso demais.

Eu era o caminho mais fácil para milhões. Exceto que eu não tinha
milhões. Não mais. — Por que ela iria querer Drake?

— É aqui que Jill entra em cena, — disse Winn. — Mais uma vez, sem
uma confissão, não posso ter certeza, mas suspeito que depois que seu pai
negou o dinheiro, ela decidiu que precisava de mais munição. Especificamente,
um teste de paternidade. Algo para segurar na cabeça dele, talvez na de Oliver
também.

— Entra Jill, — Knox murmurou.

— Ela é uma peça no tabuleiro. — Win revirou os olhos. — Ela não acha
que fez algo de errado. Averie a procurou semanas atrás. Começaram algum
tipo de relacionamento. Disse a ela que ela era tia de Drake. Que seu irmão era
seu pai. A história de Averie era que você se recusou a admitir que Drake era
filho de seu irmão. E antes que eles pudessem obter respostas, você fugiu de
New York.

Meu queixo caiu. — O que? E Jill acreditou nela?

— Aparentemente. Eles se tornaram amigas. Jill pensou que estava


ajudando Drake a se reunir com sua família.

— Ah, eu a odeio. — Meus dentes rangeram.

Knox fervia ao meu lado. — Aquela puta do caralho.

— Averie convenceu Jill de que ela precisava de sua ajuda, mas elas não
poderiam se encontrar em Quincy. Para que você não a reconhecesse. Era
muito arriscado você pegar Drake e desaparecer como em New York. Então Jill
concordou em levar Drake e encontrá-la naquele motel. Acontece que não
estávamos tão atrás dela. Trinta minutos, talvez. Ela pensou que estaria de
volta à cidade às cinco e você nunca saberia. Só que demorou mais no motel
porque o dinheiro que Averie prometeu a Jill não estava lá.

— Espere. — Knox levantou um dedo. — Dinheiro?


— Cem mil dólares. Averie disse que era uma recompensa que seu
‘irmão’ estava pagando a qualquer um que o ajudasse a reuni-lo com seu filho.

— Mas Averie não tinha dinheiro, — eu disse.

Winn balançou a cabeça. — Não e Jill se recusou a sair sem ele.

— E Jill acreditou em tudo isso? — Eu perguntei.

— Não sei. — Win deu de ombros. — É o que ela está afirmando.

— Você acha que é a verdade? — perguntou Knox.

— Infelizmente sim. Jill está em pânico. Acho que ela não teria coragem
de mentir quando está encarando uma acusação de sequestro.

— Claro que é verdade. Ela acha que eu sou uma mãe horrível, — eu
disse. — Ela provavelmente estava apaixonada por Averie e pensando que
Drake estaria melhor sem mim.

Knox colocou o braço em volta dos meus ombros. — Você não é uma mãe
horrível. Ela é louca pra caralho, querida.

— Então o que eu sou por deixar Drake com ela?

Seus olhos suavizaram. — Eu o deixei lá também. Assim como outros


pais. Não coloque isso em seus ombros. É ela. Só ela

— Eu deveria ter confiado em meus instintos. — E a culpa por ignorá-los


me atormentará por muitos anos.

— Knox está certo, Memphis, — disse Winn. — Isso não é culpa sua.

— Você acha que Averie estava realmente atrás de seu DNA? Ou ela ia
levar Drake?

— Meu palpite é DNA, — disse Winn. — Perguntei a Jill se ela tinha a


impressão de que Averie pretendia levar Drake embora. Ela disse que tudo o
que queria era a saliva dele e uma amostra de cabelo. Que ela mal lhe deu um
olhar.

— Porque ele não era o fim do jogo. — Knox bufou. — Ela estava atrás do
dinheiro.
Win assentiu. — É muita especulação neste momento, mas na maioria
das vezes, nossa especulação acaba se aproximando da verdade.

Minha mente estava girando novamente. Embora não tivesse realmente


parado desde sexta-feira.

— Qual é o próximo? — perguntou Knox.

— Como este é um caso de sequestro de criança, entrei em contato com o


FBI. Eles têm os recursos que não temos para examinar a vida de Averie em
New York. Quero que a investigação seja o mais completa possível, na
esperança de que ela passe muito tempo na prisão.

— Bom. — O ar saiu de meus pulmões. — E o Oliver? Eles vão falar com


ele?

— Eu espero que sim. E, espero, depois de tudo o que você me disse, ele
vai negar conhecê-la.

— Por mim tudo bem.

Eu não tinha intenção de mencionar o nome dele novamente, mesmo que


o FBI batesse na minha porta. Se a esposa de Oliver descobrisse que ele era
um bastardo infiel, o problema era dele. Não estava vindo dos meus lábios.

— Eles vão assumir e trazer promotores federais, — disse Winn. — Vou


manter contato com o agente principal do caso. Espero que eles nos
mantenham informados sobre o que está acontecendo. Mas principalmente,
esperamos. Vocês fazem o seu melhor para continuar com suas vidas.

Não parecia o suficiente. Não houve fechamento suficiente.

Mas eu suspeitava que seria o desfecho que teríamos.

— Obrigada por vir aqui hoje, — eu disse a Winn.

— Me desculpe, eu não ter mais para você. — Ela se levantou e nós a


seguimos, caminhando com ela até a porta. — Vejo você amanhã?

— Sim. — Knox assentiu. — Feliz véspera de Natal.

— Feliz véspera de Natal. — Ela me puxou para um abraço. — Você é


uma boa mãe, Memphis. Nunca duvide disso.
— Obrigada. — Eu a abracei mais apertado, esperando que um dia eu
acreditasse nessas palavras. Talvez com o tempo, quando Jill e Averie
Flannagan fossem apenas um pesadelo obscuro do passado.

Winn acenou e saiu. Estava nevando o dia todo em flocos fofos e brancos
que cobriam seu cabelo escuro. Quando as lanternas traseiras se tornaram um
borrão na pista, Knox fechou a porta.

— Isso parece...

— Inacabado. — Ele passou os braços em volta de mim. — Duvido que


ela vá confessar, nos contar tudo, mas caramba, eu quero respostas.

Foi exatamente assim que eu me senti também. — Como vamos superar


isso? Como superamos os piores dias?

— Fazendo mais do melhor. — Ele beijou o topo do meu cabelo e me


soltou, deslocando-se para tirar algo do bolso. — Eu ia esperar até amanhã.
Dar a você quando abrirmos os presentes. Mas depois de tudo o que
aconteceu, esperar parece perda de tempo.

Eu me mexi, tentando espionar o que ele tinha em sua mão. Mas ele a
fechou.

Foi só depois que ele caiu de joelhos que abriu a mão, revelando um anel
de diamante perfeito.

— Você quer casar comigo?

— Sim. — Eu caí de joelhos, não o deixando terminar, e esmaguei meus


lábios nos dele.

Ele me levantou, sem perder o ritmo quando sua língua tocava a minha,
e me levou para o sofá, prendendo-me sob seu corpo largo. Então me beijou
como eu precisava. Como se não houvesse perguntas sem resposta. Como se
não houvesse mal neste mundo. Como se tudo o que precisássemos estivesse
aqui, nesta casa e nesta cidade.

Knox me beijou e fez de hoje meu quarto melhor dia.

Drake gritou no momento em que a mão de Knox deslizou sob a bainha


da minha camisa.
Ele tirou sua boca e lançou uma carranca em direção ao tapete de jogo.
— Filho, vamos trabalhar no seu tempo.

Filho. — Ele é, sabe? Seu filho.

— Eu sei. Vamos nos casar, então torná-lo oficialmente meu. O que for
preciso.

— Ok. — Era estranho sorrir depois de tudo o que tinha acontecido. Mas
eu fiz isso de qualquer maneira. Sorri tanto que beliscou minhas bochechas. —
Eu te amo.

— Eu também te amo. — Ele me beijou novamente. — Até o fim dos


meus dias, Memphis. Você, eu, Drake. Estamos bem, querida. Nós somos
muito bons. E vamos adicionar um monte de bebês à mistura para mantê-lo
interessante.

Eu ri. — Oh sério?

— Quero uma família grande e caótica para encher esta casa. Eu quero
pisar em brinquedos no meio da noite. Eu quero separar brigas e enfaixar
joelhos esfolados. Eu quero a bagunça. Eu quero a paixão. Eu quero ver você
carregar nossos filhos.

Em seus olhos azuis penetrantes, eu vi esse futuro. Estava cheio de


melhores dias. Estava cheio de amor pelo homem que roubou meu coração. —
Promessa?

Knox sorriu. — Eu juro.


EPÍLOGO
KNOX

Um ano depois...
Com minha mão espalmada na barriga arredondada de Memphis, eu
tranquei os olhos com minha irmã. — Você tem certeza?

Talia fez uma careta. — A cada consulta você me pergunta se eu tenho


certeza.

— Você tem?

— Eu não diria que Memphis e o bebê estavam bem se eles não


estivessem realmente bem. — Ela revirou os olhos e olhou para minha esposa
que estava descansando na mesa de exame. — Ele é exaustivo.

— Tente viver com ele. Esta manhã me abaixei para pegar um dos
brinquedos de Drake e ele praticamente me agarrou para pegá-lo primeiro.

— Achei que poderia ser muito pesado.

Memphis me deu um olhar irritado. — Se Drake, o menino de um ano,


pode pegá-lo, não é muito pesado.

— Apenas sendo cauteloso. — Cruzei os braços sobre o peito.

Memphis estava grávida de seis meses e, considerando o que aconteceu


quando ela entrou em trabalho de parto do Drake, eu não queria correr
nenhum risco. Eles podiam reclamar a cada respiração que eu estava sendo
superprotetor. Não me faria mudar. Eu estava assim desde o dia em que ela
saiu do banheiro com um teste de gravidez positivo na mão. Se pegar todos os
brinquedos, mexer em cada movimento de Memphis e questionar um pouco
nesses exames era o único controle que tenho durante esta gravidez, que assim
seja.

— Como está o peso dela? Ela está comendo o suficiente? — Perguntei a


Tália. — Ela não jantou muito ontem à noite.
— Porque eu não estava com muita fome. Você está cozinhando para
mim seis vezes por dia. Eu não consigo acompanhar. — Memphis plantou a
mão na mesa, mas antes que ela pudesse se levantar, eu agarrei seu cotovelo.
Isso me rendeu outro revirar de olhos da minha irmã. Ainda não se importou.

— O peso dela está bom, Knox. Tudo está bem. Você pode relaxar? Deus,
você é pior que Griffin, e nunca pensei que diria essas palavras.

Eu fiz uma careta. — Eu sou?

Tália assentiu. — Dez vezes pior.

— Hum. Que seja.

Memphis simplesmente balançou a cabeça e riu. — Eu te amo.

— Eu também te amo. — Inclinei-me para beijá-la, demorando o


suficiente para Talia limpar a garganta. — Ok. É melhor chegarmos em casa e
aliviar a mamãe.

— Vou acompanhá-los, — disse Talia. — Você é meu último


compromisso para hoje.

— Quer vir jantar? — Eu perguntei.

— Claro. Não é como se eu tivesse algo ou alguém esperando por mim em


casa. — Ela suspirou. — Deixe-me entrar no banheiro e pegar minhas coisas.
Te encontro na recepção.

Peguei a mão de Memphis e a ajudei a sair da cadeira. Então, uma vez


que seu casaco estava vestido, vagamos pelos corredores do hospital. Meu
telefone vibrou no meu bolso quando chegamos à sala de espera no primeiro
andar. Um texto de Mateo.

— Veja isso. — Virei a tela para Memphis.

Mateo estava pilotando aviões no Alasca, transportando pessoas e


suprimentos para áreas remotas do estado. A foto de hoje era de montanhas
escarpadas cobertas de neve ao pôr do sol.

— Vai ser estranho não o ter em casa no Natal, — eu disse, enviando-lhe


uma mensagem rápida para voar em segurança.
— Sua mãe disse a mesma coisa hoje cedo.

Todos nós sentimos falta dele, mas ele precisava sair e fazer algo por
conta própria. Ele se foi há quase um ano, tendo partido pouco depois das
férias. Mateo não disse isso, mas tive a impressão de que ele se sentia como
uma sombra aqui. Ele precisava de espaço e tempo para encontrar sua paixão.
Talvez fosse voando.

Eu só esperava que um dia, suas asas o trouxessem para casa.

As portas da entrada do hospital se abriram e um homem entrou.

Dei uma olhada, então dei uma outra. — Puta merda. Esse é Foster
Madden.

— Quem? — Memphis perguntou, rastreando o caminho de Foster até a


recepção.

— Foster Madden. Ele é o atual campeão dos pesos médios.

— Huh?

— Lembra-se daquela luta que assistimos neste verão. Aquele em que o


cara nocauteou o oponente no primeiro round.

Memphis piscou.

— Querida, você está me matando.

Ela sorriu e espetou o cotovelo nas minhas costelas. — Estou brincando.


Eu não o reconheci, mas sim, eu me lembro dessa luta.

— Esse é ele.

— Eu me pergunto por que ele está em Quincy.

Dei de ombros. — Você o viu no hotel?

— Não, mas se tivesse feito check-in hoje, eu teria perdido.

Nós dois tínhamos tirado o dia de folga para fazer algumas compras de
Natal com Drake. Então encontramos mamãe em casa para que ela pudesse
tomar conta enquanto vínhamos ao hospital para a consulta de Memphis.

— Eu gosto desse nome, — disse ela. — Foster. O que você acha?


— Ei. — A partir do momento em que descobrimos que teríamos um
menino, ela estava lançando ideias de nomes constantemente. E cada um
deles, eu tinha vetado.

— Desisto. — Ela jogou as mãos no ar. — Você é impossível.

— Ei, uh... desculpa por interromper. — Foster acenou para chamar


minha atenção, então enganchou o polegar sobre o ombro em direção à mesa.
— Você sabe se alguém está trabalhando aqui hoje?

— A enfermeira já deve ter saído. — O relógio mostrava que eram cinco.


— Você está procurando um quarto? Nós poderíamos apontar você na direção
certa.

Atrás dele, uma porta se abriu e Talia saiu com um sorriso. Seu longo
rabo de cavalo escuro caía sobre um ombro e ela vestia uma jaqueta por cima
de sua blusa azul-bebê.

— Estou procurando uma médica que trabalha aqui, — disse Foster. —


Tália Éden.

Por que Foster Madden estaria procurando por Talia?

O sorriso de Talia caiu. Seus passos pararam. Mais rápido do que eu já


tinha visto ela fazer, ela correu para trás do balcão da recepção.

— Uh... — Que porra?

Foster olhou por cima do ombro, seguindo meu olhar, mas ela estava tão
agachada que era como se ela tivesse desaparecido.

— Você pode tentar o ER, — Memphis desabafou. — Talvez eles possam


rastreá-la para você. Basta sair pelas portas e descer a calçada para o outro
lado do prédio. Você não se perderá.

— Obrigado. — Foster assentiu, então tão rápido quanto entrou, ele se


foi.

Memphis e eu compartilhamos um olhar, esperando até que ele estivesse


fora de vista.

— Tudo limpo, — chamei.


Talia avançou, seus olhos mal sobre a borda do balcão. — Ele se foi?

— Sim. — Eu balancei a cabeça. — Quer me dizer por que você está se


escondendo de Foster Madden?

— Não. — Ela ficou de pé, andando na ponta dos pés ao redor da mesa.
Seus olhos ficaram grudados nas janelas de vidro, verificando se ele tinha ido
embora. — Eu devo ir.

— E o jantar? — perguntou Memphis.

— Verificação de chuva. — E antes que pudéssemos dizer outra palavra,


ela correu — não correu, mas correu — pelas portas. Ela bateu na calçada e fez
uma verificação rápida para Foster, então disparou para seu carro no
estacionamento.

— Ok, — eu falei lentamente. — Que diabos foi isso?

— Ela o conhece?

— Nenhuma ideia. — Aparentemente o suficiente para reconhecer sua


voz. — Eu vou ligar para ela mais tarde.

Não que eu esperasse que ela me dissesse alguma coisa. Talia era muito
parecida comigo. Se ela não queria falar sobre algo, ela não iria. Lyla e Eloise
exibiam suas emoções em seus lindos rostos para o mundo ver. Talia manteve
as dela trancadas atrás dos olhos azuis da nossa família.

— Tenho certeza que não é nada. — Beijei a têmpora de Memphis, depois


a ajudei a entrar no carro. Eu não queria minha esposa estressada com minha
irmã. — Recebi um e-mail de Lester hoje.

— Sério? — Memphis endireitou-se. — O que ele disse?

— Ele está vindo para Quincy em janeiro. A revista quer que ele faça o
melhor dos melhores artigos ou algo assim.

— E ele escolheu você. Claro que ele escolheria você. Ela fez uma bomba
de punho. — Isso é incrível.

O artigo de Lester do ano passado trouxe mais pessoas do que eu


esperava para Quincy. O hotel estava prestes a ter o maior ano da história e o
restaurante dobrou minhas projeções iniciais de renda.
Esse tipo de dinheiro significava mais funcionários. E mais funcionários
significava que Memphis e eu tínhamos mais liberdade e flexibilidade.

Ela não estava trabalhando como camareira esses dias, mas uma ou
duas vezes por semana, ela cobria a recepção porque ela realmente gostava do
trabalho e ajudava Eloise no hotel. Ela adorava fazer parte dos negócios da
família.

— Estive pensando naquele casamento em maio, — disse Memphis. —


Talvez eu devesse dizer não à noiva.

— Absolutamente não.

Ela suspirou. — Vamos ter muita coisa acontecendo. O aniversário de


Drake. Teremos um recém-nascido. Nossa agenda já está lotada. Não sei se é
inteligente adicionar um trabalho de planejamento de casamento à mistura.

— Você quer fazer isso?

— Bem... sim.

Estendi a mão para pegar a mão dela. — Então vamos dar um jeito.

Se o sonho de Memphis fosse planejar casamentos e eventos, eu faria o


que fosse necessário para que isso acontecesse.

Ela havia planejado dois casamentos no ano passado, um dos quais o


nosso. Nós nos casamos no rancho, em um prado cheio de flores silvestres de
verão. Em seguida, tivemos uma recepção no hotel, lotando o espaço com
amigos e familiares que dançaram ao nosso lado sob uma nuvem de luzes de
fadas.

Dois dias depois, fomos ao tribunal, onde adotei Drake.

Éramos todos Edens. E eu, por exemplo, fiquei feliz em ver o nome dela
desaparecer.

O contato com os pais de Memphis foi mínimo no ano passado. Ela disse
a eles que iríamos nos casar, sem ser um convite verdadeiro. Sua mãe tinha
enviado flores. Sua irmã tinha enviado um cartão. Nem uma palavra de seu pai
e irmão, mas Memphis não se importou. Ela já havia decidido que, se por
algum milagre herdasse seu fundo fiduciário, pegaria o dinheiro e o separaria
para as crianças.

Estávamos com seis meses de gravidez e ela ainda não havia informado
Beatrice e Victor. Talvez ela o fizesse, provavelmente, depois que o bebê
nascesse, mas com o passar do tempo, conforme construíamos nossa própria
vida, ela parecia mais contente com a distância deles.

Eu suspeitava que a distância se tornaria permanente.

Ela não precisava daquela família.

Estávamos construindo a nosso.

E eu seria superprotetor a cada passo do caminho.

Fazia quase um ano desde o incidente com Jill e Averie Flannagan. Havia
dias em que eu não pensava nisso, mas esses eram raros. Os medos eram um
incômodo constante, e eu só esperava que, com o tempo, eles surgissem cada
vez menos.

Averie Flannagan passaria a maior parte da década em uma


penitenciária. Essa cadela pode apodrecer na cadeia.

Jill estava chegando ao fim de sua sentença de prisão e, embora fosse


libertada em condicional em breve, duvidava que veríamos seu rosto em
Quincy novamente.

Assim como não tivemos notícias de Oliver novamente. O FBI havia


questionado Memphis e eu uma vez após o sequestro de Drake. Durante sua
declaração, Memphis não mencionou o nome de Oliver. Ela simplesmente falou
sobre a tentativa de chantagem de Averie e a ida para a creche para encontrar
Drake desaparecido. Se eles entraram em contato com Oliver durante a
investigação, não sabíamos e não nos importamos. Com alguma sorte, ele seria
esquecido há muito tempo.

Eu desacelerei na curva para casa, saindo da estrada e descendo nossa


rua tranquila. — E quanto a Harrison?

— Seu pai? — perguntou Memphis. — E ele?

— Não, o nome. Harrison.


— Oh. — Ela estendeu a mão sobre a barriga. — Acho que seria adorável.

— Eu também. — Eu sorri. — Então a próxima podemos chamar de


Annie, para mamãe.

Ela riu. — Você já está pensando no próximo e esse ainda nem nasceu.

— Você pode escolher os dois depois disso.

Memphis balançou a cabeça, seus olhos castanhos chocolate brilhando.


— Você quer cinco? Isso é novidade para mim.

— Estou bem com seis.

— Cinco. — Ela desenhou uma linha no ar. — Esse é o meu limite.

— Cinco. — Entrei na garagem e, assim que a caminhonete desligou,


inclinei-me sobre o console para terminar o beijo que comecei no hospital.

O loft estava quase vazio desde que Memphis se mudou. Mas toda vez
que subia aquelas escadas, pensava nas noites que passei andando de um lado
para o outro.

As noites em que me apaixonei por um garotinho. E a mulher dos meus


sonhos.

As melhores noites em Juniper Hill.

FIM
EPÍLOGO BÔNUS
KNOX
Uma criança passou correndo pela cozinha, nua como no dia em que
nasceu. Seu cabelo escuro estava molhado, os fios escorrendo pelas costas.

— Annie, vá devagar.

— Ok, papai! — Annie não falou, ela gritou. Cada palavra foi proferida no
volume mais alto que ela conseguiu reunir. Ela tinha cinco anos e começaria o
jardim de infância em algumas semanas.

Memphis estava esperando que seus professores pudessem convencê-la a


não gritar.

Eu não estava prendendo a respiração.

— Drake! — Harrison gritou do quarto que compartilhavam. Os garotos


estavam morando juntos há três anos, não porque não tivéssemos espaço para
cada um ter seu próprio quarto, mas porque eles decidiram fazer um
acampamento uma noite e não se separaram desde então.

— O que? — Drake gritou de volta de seu lugar na cozinha.

— Quer jogar Nintendo?

— Não agora. Estou ajudando papai a preparar o jantar.

Esta era a nossa tradição de segunda à noite. O restaurante estava


fechado e era raro que as crianças tivessem uma escola ou atividade
extracurricular nas noites de segunda-feira, então se tornou uma noite de
jantar em família.

Passamos muito tempo com meus pais, irmãos e irmãs. Meus pais nunca
perdiam um recital de dança ou um jogo esportivo, não importa a faixa etária.
Mamãe e papai ainda vigiavam os pequeninos durante a semana. Os melhores
amigos das crianças eram todos primos e as festas do pijama eram uma
ocorrência regular.
Mas as segundas-feiras éramos apenas nós. As segundas-feiras eram
para jantares de massas e sobremesas de biscoito.

E no ano passado, Drake se tornou meu subchefe disposto.

Coloquei minha mão em seu ombro, observando enquanto ele amassava


a massa. — Um pouco mais.

— ‘Ok. Então posso lançar?

— Sim. Eu vou pegar a água. — Deixei-o com sua tarefa e me movi pela
cozinha, enchendo uma panela com água. Então eu verifiquei o frango assando
no forno.

Eu tenho muita alegria em cozinhar no Knuckles. Experimentei e


brinquei com sabores. O cardápio mudava constantemente. Mas minha comida
favorita era essa.

Comida simples que as crianças comiam. E cozinhando com meu garoto.

Seu amor por cozinhar pode não durar. Mas talvez, se eu tivesse sorte,
isso fosse algo que sempre pudéssemos compartilhar. Mamãe sempre dizia o
quanto Drake a lembrava de mim naquela idade.

Ele parecia Memphis, mas fora isso, ele era meu.

Meu filho.

Um impostor veio do corredor, precedendo Briggs enquanto ele


marchava, descalço, para a sala de estar. Impostor.Impostor. Impostor. Ele
gritava a cada passo que dava.

Papai lhe deu uma visita de pato neste verão em um de seus passeios no
rancho - um dos dias em que mamãe estava com as mãos cheias em casa e
papai pegava uma criança ou duas para levar com ele enquanto dirigia,
inspecionando gado e cavalos.

Briggs dormiu com o chamado do pato. Tomou banho com o chamado do


pato. Ele andou com a chamada de pato.

Aquela maldita chamada de pato estava prestes a desaparecer.

Charlatão.
— Faça uma pausa no grasnar, amigo.

— Mas, papai. — Todo o corpo do meu filho de três anos se encolheu e


ele caiu de joelhos. — Mamãe não me deixou grasnar o dia todo. Ela disse até o
jantar.

— Bem. — Eu levantei uma mão. — Mas então vamos guardá-lo para que
os patos possam dormir um pouco esta noite.

Charlatão. Charlatão.

Dois charlatões para sim. Um charlatão para não.

Chamamos Briggs em homenagem ao meu tio, um homem que foi um


modelo para mim quando criança. Sua demência piorou nos últimos anos e era
raro ele reconhecer qualquer um de nós quando o visitamos na casa de
repouso. Mas sempre que levávamos a equipe para dizer olá, apresentávamos
as crianças e ele tinha um sorriso enorme no rosto quando soube o nome de
Briggs.

Bem, o que você sabe? Esse é o meu nome também.

Meu telefone tocou no balcão e eu o peguei, ensanduichando-o entre


meu ombro e minha orelha enquanto pegava um rolo de massa para Drake. —
Ei, Griff.

— Ei. Eu preciso de um favor.

— Que favor?

— Winn acabou de chegar em casa. Ela parou na escola e estava


conversando com uma das garotas na recepção. Descobri que William está se
mudando.

— O que? Quando? Acabei de falar com ele há dois dias.

William teve um filho na classe da quinta série de Hudson e Drake. Ele


treinava o time de futebol de bandeira desde o jardim de infância.

— Acho que foi bem rápido. Ele conseguiu uma promoção e está indo
para Missoula.

— Droga.
— Sim. E adivinhe o que minha linda, atenciosa e irritante esposa fez?

— Inscrevo você como treinador.

— Sim. Então eu te inscrevi como assistente técnico. Obrigado pelo favor.


O treino começa quinta-feira às cinco.

— Griff—— Ele já tinha desligado.

— Quem era aquele? — Memphis emergiu do corredor com Addison em


seu quadril. Nossa filha mais nova estava enrolada em uma toalha de
unicórnio com capuz.

— Grifo. Ele me ofereceu para ser seu assistente técnico de futebol.

O rolo da massa bateu na bancada e os olhos de Drake se voltaram para


mim. O sorriso e a esperança em seu rosto fez meu coração apertar. — Você e o
tio Griff vão nos treinar?

— Tudo bem com você?

Ele assentiu descontroladamente e pegou seu rolo.

Com cinco filhos e um restaurante para administrar, não tínhamos


muito tempo livre. Mas não havia como eu desistir, não se isso significasse que
o sorriso permanecesse no rosto de Drake.

Memphis entrou na cozinha e ficou na ponta dos pés, pressionando um


beijo na minha bochecha barbuda antes de sussurrar: — Vamos resolver isso.

— Sim. — Coloquei uma mecha de cabelo atrás de sua orelha, tomando


um momento para apreciar minha linda esposa.

Dez anos juntos e eu a amava mais a cada dia.

— Da-dee. — Addison colocou a palma da mão no meu nariz e me


empurrou. — Tchau tchau.

Eu rio quando Memphis a levou embora para vesti-la. — Tchau tchau


querida.

Ela tinha quase dois anos e crescia rápido demais. Seu cabelo era loiro
de Memphis, mas ela herdou meus olhos azuis.
— Ok, chefe. — Voltei para Drake para inspecionar a massa. — Parece
bom. Vá em frente e comece a cortá-lo em tiras. Então eles podem ir direto
para a água. Vamos tirar o frango e deixá-lo descansar enquanto fazemos o
molho.

Ele fez exatamente como instruído, trabalhando cuidadosamente com a


faca. O frango estava em uma tábua de cortar, o forno estava desligado, e
Drake tinha acabado de adicionar o macarrão à água fervente quando o
barulho de pés descalços veio correndo pela cozinha.

— Da-dee. — Addison se lançou para mim. A toalha tinha sumido e ela


estava tão nua quanto sua irmã mais velha. — Oi.

— Oi. — Eu a peguei e a joguei no ar. — Onde estão seus pijamas?

— Sem jammeez.

— Você tem que vestir o pijamas antes do jantar.

— Não. Jammeez. — Ela apertou meu rosto, puxando meus lábios.

Se dependesse de mim, eu a deixaria sentar em sua cadeira nua


simplesmente para evitar uma birra. Memphis era o sussurrante Addison, não
eu.

— Memphis, você tem um fugitivo.

Levou um momento, então ela apareceu, saindo do quarto de Annie.

Annie deu uma risadinha e disparou pelo corredor, provavelmente para


aterrorizar Harrison. Pelo menos ela estava vestida. Eu lhes daria três minutos
antes que um ou ambos estivessem chorando por causa do videogame.

Havíamos ampliado a casa cerca de cinco anos atrás, conectando a


garagem à estrutura principal e acrescentando alguns quartos para nossa
ninhada. O loft se tornou o ponto de encontro popular para as crianças mais
velhas se esconderem e assistirem a um filme enquanto os pequenos iam para
a cama cedo.

Drake, Harrison e Annie estavam dormindo lá esta noite. E assim que


eles foram resolvidos, Memphis e eu estávamos trancando a porta do quarto
para se divertir.
Memphis veio correndo para a cozinha e roubou Addison. — Mocinha,
você deve se vestir.

— Sem jammeez.

— E os unicórnios?

— Sim. Sim. Sim.

— Ok, vá encontrá-los. — Memphis a colocou no chão e ela correu.

Então minha esposa sorriu para mim e me seguiu.

— Pai? Isso está feito? — Drake perguntou, de pé ao lado do pote.

— Sim. vou drenar. Você vai chamar a equipe.

Ele saiu correndo, gritando: — Jantar!

Anos atrás, quando eu pedi a Memphis em casamento, eu disse a ela que


queria uma família grande e barulhenta para encher esta casa. Muitas vezes eu
pisava em brinquedos no meio da noite. Não se passava um dia sem que eu
não terminasse uma discussão. Os joelhos foram esfolados. As canelas
estavam machucadas. O barulho era ensurdecedor.

Tudo por causa da mulher que parou na minha garagem, manchada de


lágrimas e exausta com um bebê gritando em seus braços. Uma mulher que
mudou minha vida.

Ela caminhou pelo corredor, conduzindo nossos filhos até a mesa da sala
de jantar. Ela me pegou olhando e sua testa franziu. — O que?

— A casa está uma bagunça.

Seus olhos suavizaram. — Nossa bagunça.

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