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O Vampirismo na Literatura
Histórias de vampiros e entidades similares, moradoras das
regiões sombrias situadas entre a vida e a morte,
representam um tema recorrente nas mais diversas culturas.
Mas, o que pouca gente sabe é que esta vertente literária
originou-se de casos supostamente reais. Texto de Bira Câmara
S
apareciam em ficavam mais corados.
Homero e no A crença popular
Asno de concebeu variantes,
Ouro, de como a “estrige”,
Apuleio proveniente etimolo-
(séc. II), bem como gicamente do grego
nas Mil e Uma Noites, “strix” e que se refere
embora a crença nos a uma criatura meio
vampiros, original- mulher, meio cadela, A família
mente, tenha surgido
entre os povos
que segundo as lendas
antigas andava pela
do Vurdalak
eslavos, enraizando-se
noite à procura de uma história de
nos Balcãs.
homens para sugar-
Voltaire, no lhes o sangue. Outra vampiros russos e
Dicionário Filosófico, espécie de vampiro ou
definiu os vampiros
vampira, o “ghoul” –
O fumante de
como sendo os mortos que, durante a haxixe e o Vampiro
termo proveniente do árabe –, seduz
noite, saem dos cemitérios para sugar
e devora os homens bebendo seu
o sangue dos vivos, seja através da um conto esquecido
sangue.
garganta ou do ventre. As vítimas das Mil e Uma Noites
empalideciam, definhavam, enquanto Continua na página seguinte
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AA
Brasil, embora sua outra obra de Tolstoi – O Vampiro,
novela “A Família do mais densa e intrincada. Aliás, nas
Vurdalak” inclua-se melhores histórias do gênero há um
entre as melhores do caso de paixão irrealizada ou que
gênero vampiresco, e termina funestamente. É o que
citada pelos cultores do gênero do acontece também em La morte
mundo inteiro. Centrado na figura Amoreuse, de Théophile Gautier e
lendária do upyr russo, mereceu uma em Fantasmas, de Ivan Turgueniev,
adaptação para o cinema em 1963, para citar poucos exemplos.
com Bóris Karloff no papel do velho Os poetas do período romântico
patriarca russo que acaba vampi- costumavam cercar a figura feminina de
rizando toda a sua família. A história uma aura de mistério, não raro associada à
tem como cenário a agreste campina perdição, e nenhum outro personagem na
sérvia, e seu ritmo, atmosfera e de- literatura representou melhor esta visão que
senlace feérico antecipam as narrativas mais a femme vampire. Assim, o Marquês de Urfé –
inquietantes que consagrariam o gênero cinematográfico personagem que relata a história da família
no século XX. Este foi o único papel de Karloff como vampirizada – deixa-se seduzir pela doce e ingênua Sdenka,
vampiro no cinema e, depois de ler o conto e assistir ao para depois descobrir a terrível verdade...
filme, tem-se a impressão que Tolstoi criou o perso-
nagem exclusivamente para que ele o interpretasse. O O fumante de haxixe e o Vampiro
filme toma poucas liberdades com o texto e mantém-se Uma história vampiresca pouco conhecida das Mil e
fiel à história original, preservando o seu clima fúnebre e Uma Noites foi traduzida para o francês, no século XIX,
sinistro. por Albert Caise. Aqui, a figura do vampiro assume uma
Aleksei Tolstoi escreveu A Família do Vurdalak du- morfologia mitológica que lembra o dragão das tradições
rante sua estadia na França, no final dos anos 30, entre as antigas. Esta curiosidade literária, intitulada O fumante
muitas viagens que fez ao estrangeiro no período de 1827 de haxixe e o Vampiro, provavelmente era conhecida
a 1839 (Alemanha, Itália e França). Este conto foi por Hoffmann, que pode ter se inspirado nela para escrever
originalmente redigido em francês e só publicado na Rússia O elixir do Diabo (não confundir este conto com a célebre
em 1883. novela do autor que recebeu o título de Os elixires do
Assim como outra obra sua – O Vampiro (1841) – Diabo). O ponto em comum entre ambas histórias é que
o herói desce às profundezas da terra, onde descobre um
atende ao gosto romântico pelas narrações de terror
mundo subterrâneo e acaba protagonizando uma série de
cultivadas na Rússia por muitos autores da época, dos
aventuras insólitas, até retornar à superfície. O desenlace
quais se destacam Gogol (Viyj), Dostoiewski (Bobok), das histórias é semelhante, mas enquanto o herói da
Turgueniev (Les Fanthômes), entre outros. O tema história das Mil e uma Noites é um consumidor de haxixe,
vampiresco se introduziu na literatura européia desde o o personagem de Hoffmann é um estudante de medicina
final do século dezoito, tornando-se eco de toda uma que ingere um miraculoso ponche — o elixir do Diabo —
série de crenças populares do leste europeu. , que acaba sendo o gatilho da história.
Tolstoi, que “não
pretendia ir adiante
do seu tempo” (como
confessa o seu perso-
nagem, Marquês de SONO POR DUAS SEMANAS
Urfé), não ficou
alheio à voga das
novelas góticas sur-
gidas durante a era ro-
mântica e além disso,
como russo, carregava
a herança mitológica
dos antigos eslavos
que inventaram as
lendas dos vampiros.
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O Mago, de Bulwer-Lytton,
embrião de “Zanoni”
Quatro textos antológicos de Bulwer-Lytton, de épocas
diferentes, alguns engajados na vertente gótico-
fantástica: O Mago – inédito no Brasil até hoje –, A Casa
e o Cérebro , A Mor te e Sísifo , e Fi-Ho-Ti , ou Os prazeres
da celebridade .