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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ENGENHARIA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MINAS, METALÚRGICA
E MATERIAIS

JULIANA APARECIDA VIEIRA

BIODEPOSIÇÃO DE CaCO3 EM MATERIAIS CIMENTÍCIOS:


Contribuição ao estudo da biomineralização induzida por Bacillus subtilis

Porto Alegre
2017
JULIANA APARECIDA VIEIRA

BIODEPOSIÇÃO DE CaCO3 EM MATERIAIS CIMENTÍCIOS:


Contribuição ao estudo da biomineralização induzida por Bacillus subtilis

Dissertação submetida ao Programa de


Pós-Graduação em Engenharia de Minas,
Metalúrgica e Materiais da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, como
requisito parcial à obtenção do título de
Mestre em Engenharia modalidade
Acadêmica.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Hoffmann Sampaio

Porto Alegre
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Reitor: Rui Vicente Oppermann
Vice-Reitora: Jane Fraga Tutikian

ESCOLA DE ENGENHARIA
Diretor: Luiz Carlos Pinto da Silva Filho
Vice-Diretora: Carla Schwengber ten Caten

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
Coordenador: Prof. Carlos Pérez Bergmann
Vice-Coordenador: Prof. Dr. Afonso Reguly
JULIANA APARECIDA VIEIRA

BIODEPOSIÇÃO DE CaCO3 EM MATERIAIS CIMENTÍCIOS:


Contribuição ao estudo da biomineralização induzida por Bacillus subtilis

Esta pesquisa foi analisada e julgada


adequada para a obtenção do título de
Mestre em Engenharia e aprovad a em sua
forma final pelo Orientador e pela Banca
Examinadora designada pelo Programa
de Pós-Graduação de Engenharia de
Minas, Metalúrgica e Materiais da
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul.

______________________________________
Prof. Dr. Carlos Hoffmann Sampaio

______________________________________
Prof. Dr. Carlos Pérez Bergmann

Aprovado em: ____ / ____ / ____

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Carlos O. Petter – Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Profª. Drª. Gelsa Edith Navarro Hidalgo – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Prof. Drª. Eliena Jonko Birriel – Universidade de Caxias do Sul
AGRADECIMENTOS

Neste momento, citar o nome de uma ou mais pessoas não refletiria de forma completa
o sentimento de gratidão que tenho por concluir esta etapa. Muito antes que um projeto de
pesquisa para uma titulação, este foi um projeto pessoal e profissional. E a todos aqueles que
passaram pelo meu caminho até aqui eu só posso dizer um sincero muito obrigada.
A pessoa que existia antes de começar esta jornada já não existe mais, hoje a pessoa que
escreve este texto tem a mente mais aberta, crítica e curiosa. E foram vocês que ajudaram a
construir este novo perfil. Minha mãe estava certa quando dizia que o conhecimento é a maior
riqueza que podemos acumular. Mesmo quando a realidade vai contra as expectativas, mesmo
quando aparece a desconfiança no trabalho e em nós mesmos, aprendemos a lidar com os
desafios do novo, com o pensar diferente. E acredito que este trabalho não foi só um desafio
para mim, mas também para todas as pessoas que foram convidadas a conhecer a Natureza e a
ciência Biomimética.
A todos vocês Professores da Vida, Professores da Universidade, Professores do Meio
Corporativo, ofereço um trecho da obra de Clarice Lispector. Que a curiosidade que nos deixa
confusos, seja o que nos motiva a buscar a perfeição que os sistemas naturais podem nos
ensinar.

O que me tranquiliza é que tudo o que existe, existe com uma


precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de
uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande
exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível. Apesar da verdade ser exata e clara
em si própria, quando chega até nós , se torna vaga pois é
tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como
um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando,
confusos, a perfeição. (LISPECTOR, 2008).
[...] quanto mais nosso mundo se parecer com a Natureza e
funcionar como ela, mais probabilidade teremos de ser aceitos
nesse lar que é nosso, mas não exclusivamente nosso [...]
(BENYUS, 2003, p.11).
RESUMO

A indústria da construção civil é conhecida como umas das atividades econômicas que causam
os maiores impactos ambientais desde o processo de extração da matéria prima até a produção
dos produtos, incluindo o transporte e manutenção do ambiente construído. A produção de um
dos seus principais componentes, o cimento, é o maior contribuinte para a emissão de gases de
efeito estufa, principalmente devido a queima de combustíveis fósseis. Por este motivo,
pesquisas na área de biotecnologia sustentável são conduzidas para diminuir e até mitigar os
efeitos danosos provocados pelos fatores que compõem a construção civil. Dentre estas
pesquisas destacam-se as que se baseiam na Biomimética, que é uma ciência que busca na
Natureza as soluções tecnológicas para os problemas que os desenvolvimentos humanos
geralmente apresentam: a geração de resíduos poluentes, uso de produtos químicos tóxicos e
processos que operam com energia e pressão elevadas. Com base nos conceitos biomiméticos,
este trabalho se propôs a estudar a biomineralização, que é um processo que ocorre na Natureza
a milhares de anos e é responsável pela formação de muitas estruturas biomineralizadas tanto
no ambiente terrestre como aquático. A biomineralização é um fenômeno provocado pela ação
de diversas espécies de microrganismos que durante o processo de obtenção de energia reciclam
minerais presentes no solo e na água e os precipitam na forma de sais inorgânicos. Este material
precipitado age como agente ligante de partículas como no caso de formações geológicas
(estromatólitos) ou exoesqueletos de animais marinhos, por exemplo. Neste estudo foi avaliado
a biomineralização por biodeposição de carbonato de cálcio precipitado na presença da espécie
de bactéria ureolítica (Bacillus subtilis) em ensaios em escala laboratorial utilizando corpos de
prova de areia, argamassa e concreto. Os corpos de prova em areia e argamassa foram
observados em MEV e EDS permitindo a identificação de células de microrganismos, formação
de biofilme e provável formação de cristais de carbonato de cálcio na região de biofilme. Os
corpos de prova de concreto foram utilizados para avaliar as consequências da biodeposição na
absorção de água por capilaridade do material. Resultados indicam redução de 20% na absorção
de água por capilaridade. Com os resultados obtidos é possível concluir que a técnica de
biodeposição pode ser uma alternativa ao tratamento superficial de estruturas de concreto,
contudo requer estudos posteriores de aplicação técnica e viabilidade econômica.

Palavras-chave: biomimética, biomineralização, carbonato de cálcio, Bacillus subtilis,


materiais de construção civil.
ABSTRACT

The construction industry has been known as one of the economic activities that cause the major
environment impacts since the process of raw material extraction until the products
manufacturing including transport and maintenance of the built environment. The production
of one of the main compounds, the cement, is the largest contributor to the greenhouse gas
emissions, mainly due to burn fossil fuels. For this reason, researches in sustainable
biotechnological area are conducted to minimize and even mitigate the damaging effects either
promoted by construction industry factors. Among these ones, it stands out researches based on
Biomimetic, which is a science that seeks in Nature the technological solutions for problems
that human’s development usually presents: the generation of pollutant residues, the use of toxic
chemicals and process that operates in high pressure and energy. Based on biomimetic concepts
this research proposes to study the biomineralization, which is a process that has occurred in
the Nature for thousands of years and it is responsible for the formation of many structures
either in soil and water environments. The biomineralization is a phenomenon caused by several
specimens of microorganisms that during the process of obtaining energy, they recycle minerals
presents at soil and water inducing precipitation as inorganic salts. This precipitated material
works as a binder of particles similar to geologic formations (stromatolites) or exoskeleton of
sea animal for example. In this study the biomineralization was evaluated through biodeposition
of precipitated calcium carbonate by specimen of ureolytic bacteria (Bacillus subtilis). Essays
were held using samples made by sand, mortar and concrete. The samples made by sand and
mortar were observed at MEV and EDS, allowing the identification of microorganism cells,
biofilm formation and probable formation of calcium carbonate crystals at biofilm region. The
concrete samples were used to evaluate the consequences of biodeposition on water absorption
by capillarity of the material. The results show reduction of 20% on water absorption by
capillarity. According the results achieved it possible to conclude that the biodeposition
technique can be an alternative to superficial treatment for concrete structures. However, it will
be required more studies to evaluate technical application and economical availability.

Key words: biomimetics, biomineralization, calcium carbonate, Bacillus subtilis, construction


materials.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Exemplo de biomimetismo: Bionic Car Mercedes-Benz. ....................................... 21


Figura 2 - Exemplos de biomineralização na Natureza. ........................................................... 21
Figura 3 - Espiral do design biomimético. ............................................................................... 22
Figura 4 - Esquema de formação dos cristais de carbonato de cálcio. ..................................... 27
Figura 5 - Bacillus subtilis ATCC6633. ................................................................................... 38
Figura 6 - Curva típica de crescimento de células bacterianas. ................................................ 41
Figura 7 - Seringa preparada com areia para ensaio de biodeposição. ..................................... 42
Figura 8 - Biodeposição em amostras de concreto. .................................................................. 48
Figura 9 - Biofilme no meio de ativação da enzima urease..................................................... 49
Figura 10 - Biofilme formado no processo de biodeposição em areia. .................................... 50
Figura 11 - Biodeposição em argamassa. ................................................................................. 53
Figura 12 – Colônias de B. subtilis aderidos ao biofilme. ........................................................ 54
Figura 13 - Análise elementar (EDS) das amostras de argamassa – região do biofilme. ......... 55
Figura 14 - Espectro da linha analisada em EDS – amostra tratada com B. subtilis. ............... 55
Figura 15 - Análise das amostras de argamassa – amostra não tradada com B. subtilis. ......... 56
Figura 16 - Espectro da linha analisada em EDS – amostra não tratada com B. subtilis. ........ 56
Figura 17 - Resultado gráfico do ensaio de capilaridade.......................................................... 57
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Características bioquímicas do B. subtilis. .............................................................. 29


Tabela 2 - Estudos realizados com diferentes microrganismos utilizando a técnica de
biodeposição. ............................................................................................................................ 32
Tabela 3 - Estudos realizados com diferentes microrganismos utilizando técnica de
bioremediação. .......................................................................................................................... 34
Tabela 4 - Estudos realizados com diferentes microrganismos utilizando a técnica de produção
de bioconcretos. ........................................................................................................................ 35
Tabela 5 - Composição química típica do PCA ....................................................................... 39
Tabela 6 - Materiais utilizados para produção dos corpos de prova. ....................................... 40
Tabela 7 - Composição dos corpos de prova em argamassa (1:3)............................................ 43
Tabela 8 - Composição dos corpos de prova de concreto (1:5)................................................ 44
Tabela 9 - Acompanhamento do pH nas diversas etapas da técnica de biodeposição. ............ 47
Tabela 10 - Resultados da análise elementar CHNS para amostras de argamassa................... 51
Tabela 11 - Espiral do design biomimético. ............................................................................. 59
LISTA DE SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


ATP Adenosina Trifosfato
CHNS Carbono – Hidrogênio – Nitrogênio – Enxofre
CP V - ARI Cimento Portland de alta resistência inicial
EDS Energy Dispersive X-Ray Spectroscopy
EPS Exopolissacarídeo
MEV Microscopia Eletrônica de Varredura
MICP Microbial Induced Calcite Precipitation
NBR Norma Brasileira Regulamentadora
pH Potencial hidrogeniônico
RILEM Réunion Internationale des Laboratoires et Experts des Matériaux –
Systèmes de Construction et Ouvrages
SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ........................................................................................................... 16
RESUMO................................................................................................................................. 18
ABSTRACT ............................................................................................................................ 19
LISTA DE FIGURAS............................................................................................................. 20
LISTA DE TABELAS ............................................................................................................ 21
LISTA DE SIGLAS ................................................................................................................ 22
SUMÁRIO ............................................................................................................................... 23
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13
1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA.............................................................................................. 15

1.2 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS...........................................................................16

1.3 JUSTIFICATIVA................................................................................................................16

2 APLICAÇÃO DA BIOMIMÉTICA NO AMBIENTE CONSTRUÍDO ........................ 18


2.1 ESPIRAL DO DESIGN BIOMIMÉTICO.......................................................................... 22

2.2 BIOMINERALIZAÇÃO.................................................................................................... 24

2.1.1 Precipitação de Carbonato de Cálcio Induzida por Microrganismos ...................... 26

2.1.2 Seleção do microrganismo ............................................................................................ 29

2.3 APLICAÇÕES BIOTECNOLÓGICAS DA BIOMINERALIZAÇÃO EM AMBIENTE


CONSTRUÍDO......................................................................................................................... 31

2.3.1 Biodeposição ................................................................................................................... 31

2.3.2 Bioremediação ................................................................................................................ 33

2.3.3 Bioconcretos ................................................................................................................... 35

3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 37


3.1 MATERIAIS....................................................................................................................... 37

3.1.1 Agente biológico utilizado ............................................................................................. 37

3.1.2 Reagentes para meio de conservação do B. subtilis.................................................... 38

3.1.3 Reagentes que compõem o meio de ativação da enzima urease ................................ 39

3.1.4 Reagentes que compõem o meio de precipitação de carbonatos de cálcio ............... 39

3.1.5 Materiais para a produção de corpos de prova...........................................................39


3.2 METODOLOGIA............................................................................................................... 40

3.2.1 Reativação do B. subtilis e ativação da enzima urease................................................41

3.2.2 Biodeposição em areia................................................................................................... 42

3.2.3 Biodeposição em argamassas........................................................................................ 43

3.2.4 Biodeposição em concretos............................................................................................ 44

3.2.5 ... Observação morfológica dos microrganismos e análise elementar das amostras de
areia e argamassa ................................................................................................................... 45

3.2.6 Ensaio de absorção de água por capilaridade em amostras de concreto ................. 45

3.2.7 Descarte dos resíduos dos experimentos ...................................................................... 46

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................................................... 46


4.1 COMPORTAMENTO DO pH............................................................................................47

4.2 BIOFILME.......................................................................................................................... 48

4.3 ANÁLISE ELEMENTAR CHNS.......................................................................................50

4.4 MORFOLOGIA EM MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA (MEV) E


ANÁLISE ELEMENTAR (EDS)..............................................................................................52
4.5 CAPILARIDADE............................................................................................................... 57

4.6 A ABORDAGEM BIOMIMÉTICA................................................................................... 58

5 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 60
6 PROPOSTAS DE ESTUDOS FUTUROS ......................................................................... 61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 63
13

1 INTRODUÇÃO

A biomimética é uma abordagem interdisciplinar de pesquisa que combina elementos


de biologia e tecnologia, cujas bases se assentam não naquilo que podemos extrair da Natureza,
mas sim no que podemos aprender com ela (BENYUS, 2003). A biomimética não é uma ciência
recente, embora tenha alcançado nos últimos anos um número expressivo de publicações
(SHIMOMURA, 2010). Esta ciência tem como seu primeiro representante o gênio renascentista
do século XV Leonardo da Vinci (CAPRA, 2008), e seus avanços incluem descobertas nas
áreas da saúde, robótica e informática, construção civil e arquitetura, contribuindo com
inspiração para muitas soluções inovadoras e sustentáveis (LEPORA et al., 2013). Conhecida
por muitos nomes – como biônica ou bioinspiração – será referida neste trabalho como
biomimética.
A crescente demanda pelo desenvolvimento de materiais sustentáveis se tornou mais
urgente pela atual situação da qualidade do meio ambiente que se deteriora à medida que o
avanço tecnológico acelera e as exigências da sociedade moderna por conforto aumentam
(WONG, 2015). Muito da evolução da biomimética no campo científico se deve a emergente
preocupação do homem com o desenvolvimento sustentável. A Natureza ultrapassa em muitos
aspectos a capacidade humana de desenvolver seus produtos, uma vez que os materiais naturais
possuem características superiores aos produzidos artificialmente pelo o homem. O homem é
capaz de adaptar materiais e recursos naturais a suas necessidades, contudo durante o processo
de transformação as propriedades do material original geralmente são perdidas (KOOPMANS,
2008). Um exemplo deste processo acontece na indústria de tecidos, onde a matéria prima o
algodão, que é biodegradável e atóxico, é processado e transformado em tecido que geralmente
recebe químicos que o tornam menos resistente e tóxico para o meio ambiente (BRAUNGART
& MCDONOUGH, 2014).
Assim, para Capra (2002), buscar aprender com a Natureza é o caminho lógico para o
desenvolvimento de produtos e processos apropriados a perpetuar a vida. Para o autor, uma
geração emergente de pesquisadores biomiméticos está contribuindo para incluir premissas de
sustentabilidade nas novas tecnologias.

Esses técnicos e cientistas estão descobrindo que boa parte dos


nossos maiores problemas tecnológicos já foram resol vidos pela
Natureza de maneira precisa, eficiente e ecologicamente
sustentável, e estão procurando adaptar essas soluções ao uso
humano. (CAPRA, 2002, p. 213).
14

A aplicação de conceitos biomiméticos tem sido considerado como potencialmente


viável no desenvolvimento de novos materiais de alta performance e baixo impacto ambiental,
indo na contramão do atual paradigma de desenvolvimento de produtos (KUMAR et al., 2011).
O conceito está baseado na análise das soluções encontradas pelos sistemas naturais e na
reprodução de seus princípios com o intuito de solucionar problemas técnicos dos
desenvolvimentos humano. Estas adaptações permitem a criação de formas análogas, funções
análogas ou ainda comportamentos análogos aos sistemas naturais (BENYUS, 2003).
Um dos processos naturais de grande interesse aos biomimeticistas é a compreensão do
processo de biomineralização. O entendimento dos modos como a Natureza recicla os minerais
encontrados nos sistemas naturais pode fornecer inspiração para a síntese de nanopartículas, a
produção de compósitos de minerais e de polímeros e na formação de cristais inorgânicos
(RAO, 2003).
Os estudos com o objetivo de compreender os processos de biomineralização não são
recentes. Já em 1924 o estudioso W. J. Schmidt publicou o primeiro livro sobre
biomineralização e, desde então, o interesse crescente promoveu descobertas de muitos
minerais biogênicos (WEINER & DOVE, 2003). A biomineralização de carbonatos tem sido
promissora em várias áreas, exemplos podem ser encontrados na Paleontologia, Geotecnologia,
Biotecnologia e mais recentemente na Engenharia Civil (DHAMI et al., 2013). As aplicações
desenvolvidas com base na biomineralização incluem a remoção de metais pesados e de cálcio
em águas, a biodegradação de poluentes, remoção de CO2, modificação de propriedades do solo
e melhorias nas propriedades de materiais de construção (SARAYU et al., 2014).
O conceito biomimético da biomineralização aplicado ao ambiente construído pode ser
associado à formação de estruturas rígidas, onde partículas são unidas pela produção de um
material ligante constituído de cristais de carbonato de cálcio. Como exemplos destes materiais
podemos citar as conchas de moluscos e rochas calcárias conhecidas como estromatólitos
(SCHOPF, 1995; BENYUS, 2003). Esta abordagem aplicada aos materiais de construção tem
por objetivo não evitar os danos, mas sim gerenciá-los através de estratégias de auto reparação.
Ou seja, assim como acontece na Natureza, o surgimento do dano não é problemático, na
verdade ele é esperado, e para isso a Natureza desenvolve estratégias de auto recuperação que
a protege de resultados críticos que inviabilizem sua sobrevivência. Os materiais desenvolvidos
sob esta ótica atuam de forma inteligente no momento do surgimento do dano e não quando
este entra em colapso perdendo sua utilidade e segurança para função esperada (VAN der
ZWAAG et al. 2009).
15

A união dos conceitos da biomimética e dos estudos em biomineralização


proporcionaram uma emergente área de pesquisa em biomateriais como solução técnica e
ecológica para problemas recorrentes em materiais de construção e estruturas construídas a
partir de rochas ornamentais (ACHAL et al., 2015). Os processos de biomineralização
estudados para este fim são baseados na ação de microrganismos procariontes e eucariontes que
induzem a formação de cristais de carbonato de cálcio biótico (BOQUET et al. 1973; LE
MÉTAYER-LEVREL et al., 1999; DE MUYNCK et al., 2008; VAN TITTELBOOM et al.,
2010; SHIRAKAWA et al., 2011; GRABIEC et al., 2012; BERNARDI et al., 2012).
A biomineralização utilizando os princípios de biodeposição de carbonato de cálcio é
uma técnica considerada como processo alternativo para recuperação de solos, proteção de
superfícies e recuperação de trincas e rachaduras em materiais arenosos, cimentícios e calcários.
Enquanto que a biomineralização baseada em cimentação biológica consiste em produzir um
material ligante a base de carbonato de cálcio precipitado entre as partículas da matriz cimento
e areia. A cimentação biológica também é viável para a produção de materiais inteligentes, no
caso de concretos que se auto recuperam quando da ocorrência de trincas e rachaduras por meio
da ação de microrganismos encapsulados e inseridos na mistura de cimento e areia (JONKERS
et al., 2008; DHAMI et al., 2013).
Este trabalho se propõe a desenvolver uma metodologia baseada na ciência biomimética
aplicada ao ambiente construído para caracterizar o comportamento de materiais cimentícios
em contato com microrganismos degradadores de ureia e potencialmente produtores de
carbonato de cálcio.

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

Com este trabalho pretende-se verificar a viabilidade de utilização da bactéria do gênero


Bacillus subtilis como agente biológico na produção de carbonato de cálcio em materiais
cimentícios. Pretende-se estudar o crescimento deste microrganismo em materiais cimentícios
e sua capacidade de formação de cristais de carbonato de cálcio nas condições propostas em
materiais como areia, argamassa e concretos.
O crescimento desta bactéria será avaliado em escala laboratorial, visto que este é o
primeiro estudo realizado pelo laboratório de microbiologia do Centro de Tecnologia da
UFRGS. Neste momento, a aplicação técnica não será avaliada, sendo esta uma das propostas
para projetos futuros na área.
16

1.2 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS

Este trabalho se propôs a avaliar a utilização da espécie Bacillus subtilis como agente
biológico no processo de biomineralização de carbonatos de cálcio em materiais utilizados na
construção civil para propor uma metodologia de caracterização.
Com os objetivos específicos pretende-se:
a) Correlacionar o estudo com o processo de desenvolvimento biomimético utilizando
como premissa a espiral do design biomimético;
b) Correlacionar o desenvolvimento dos microrganismos em material cimentício pelo
aumento do teor de carbono;
c) Correlacionar a morfologia dos compostos presentes como formados pelos
microrganismos sintetizadores de compostos orgânicos;
d) Testar uma aplicação em escala laboratorial para em superfícies de materiais de
construção.

1.3 JUSTIFICATIVA

A Natureza é uma fonte inesgotável de inspiração para a solução de problemas, com


estratégias altamente qualificadas, as quais podem ser identificadas e aplicadas no
desenvolvimento de produtos, processos e sistemas inovadores (VINCENT, 2006). A
biomimética é uma área de pesquisa reconhecida pela abordagem tecnológica para o futuro
sustentável em diversos países da Europa, nos Estados Unidos, Japão e China, onde a pesquisa
é financiada e apoiada por grandes empresas. Estima-se que até o ano de 2025 o mercado de
pesquisa em soluções inspiradas pela Natureza chegue a 1 trilhão de dólares (HWANG et al.,
2015).
Atualmente as atividades relacionadas a Engenharia Civil estão na lista das atividades
que mais consomem recursos naturais (ACHAL & MUKHERJEE, 2015). O concreto é o
material mais importante utilizado na construção civil, sendo o cimento um dos principais
componentes da mistura (DE MUYNCK et al., 2009a).
O cimento é um material que funciona como aglomerante que une os agregados areia e
brita, resultando em um material compacto e resistente. A produção de cimento é considerada
umas das atividades da indústria que mais contribuem para a emissão de gases de efeito estufa,
pois o processo exige alto consumo de energia. Estima-se que 2% de toda a energia global
17

produzida é consumida durante o processo de produção do cimento, sendo o uso predominante


de fontes não renováveis de energia como a queima de carvão (KUMAR et al., 2011).
É também sabido que mudanças climáticas e aquecimento global são consequências do
aumento de gases de efeito estufa na atmosfera, sendo o CO2 o maior vilão deste processo. As
indústrias, em especial a cadeia produtiva da construção civil, são os principais protagonistas
emitindo gases poluentes gerados pela queima de combustíveis fósseis desde o processo de
extração, beneficiamento e transporte (WONG, 2015). Pesquisas mais recentes estudam os
efeitos da redução de gás carbônico, relacionando com o processo de produção de cristais de
carbonato de cálcio na redução de CO2 do meio ambiente. A possibilidade de união destas duas
tecnologias pode contribuir para a diminuição da concentração de gás carbônio no meio
ambiente e impactando beneficamente o efeito estufa (FAVRE et al., 2009; LI et al., 2013).
Materiais de construção são utilizados para muitas finalidades contribuindo para prover
conforto e segurança através de aplicações em infraestrutura como habitacional, rodoviário,
industrial, entre outros. Porém, embora sejam resistentes, sua durabilidade está associada a
constante manutenção e reparos. A ação de fatores ambientais físicos, químicos e biológicos
causam desgastes e outros prejuízos reduzindo a vida útil dos materiais cimentícios (TIANO et
al., 1999; DE MUYNCK et al., 2009a). Isso ocorre porque, apesar de apresentarem boa
resistência à compressão, estes materiais sofrem danos influenciados por características tais
como baixa resistência à deformação, susceptibilidade à formação de trincas, significativa taxa
de permeabilidade de líquidos e gases devido a porosidade que pode causar corrosão dos
reforços de ferro (no caso do concreto armado) e baixa resistência a ataques químicos (KUMAR
et al., 2011; MIHASHI & TOMOYA NISHIWAKI, 2012).
Uma grande variedade de recobrimentos, repelentes d’água e bloqueadores, são
utilizados como tratamento de superfície com o objetivo de minimizar os efeitos de degradação
nas estruturas de concreto (SIDDIQUE & CHAHAL, 2011). Nos tratamentos tradicionais são
comumente utilizados os acrilatos, que atuam como produtos de recobrimento, e silanos e
siloxanos, que penetram no material e tem a função de selantes (WONG, 2015).
Frequentemente os agentes utilizados para reparação de danos em estruturas de concretos
consistem em materiais sintéticos que em sua composição utilizam componentes orgânicos
voláteis (KUMAR et al., 2011). Embora eficazes, estes produtos apresentam desvantagens
como degradação, necessidade de manutenção constante e incompatibilidade com as superfícies
que estão sendo tratadas. Além disso, tratamentos com produtos orgânicos e inorgânicos são
frequentemente associados a liberação de componentes tóxicos para a saúde humana e para o
meio ambiente (MUYNCK et al., 2009a; SIDDIQUE & CHAHAL, 2011).
18

A fim de solucionar problemas de durabilidade, promover melhoria de propriedades


físicas e diminuir ou até mesmo mitigar o uso de reparadores sintéticos muitas pesquisas foram
realizadas com técnicas que envolvem o uso de agentes biológicos em tratamentos superficiais
e em métodos que agregam microrganismos na composição dos materiais cimentícios (DHAMI
et al., 2013). Inclusive, o viés promissor deste campo de pesquisa incentivou a criação em 2013
de um Comitê Técnico Multidisciplinar – RILEM 235-MCI – com o objetivo de estudar todos
os aspectos relevantes para o uso da biomineralização como uma nova abordagem tecnológica
na construção civil. A expectativa é que no final de 2018 o comitê finalize o relatório detalhado
com os resultados obtidos pela equipe técnica que inclui pesquisadores de diversas
Universidades e Centros de Pesquisa do mundo (BERTON, 2014; RILEM, 2017).
A revisão bibliográfica conta com escassas publicações de pesquisas brasileiras
relacionadas a técnicas de biomineralização no ambiente construído. Este resultado não reflete
o cenário mundial onde existe um grande número de pesquisas realizadas, principalmente na
Europa. Até abril de 2017, das publicações consultadas, uma minoria investiga o processo de
desenvolvimento dos microrganismos nas técnicas de biomineralização, em particular na
técnica de biodeposição. Isso permite concluir que há espaço para contribuições a fim de que
esta aplicação biomimética tenha usos biotecnológicos no futuro.

2 APLICAÇÃO DA BIOMIMÉTICA NO AMBIENTE CONSTRUÍDO

A biomimética é uma ciência antiga e tem como pioneiro Leonardo da Vinci, gênio
renascentista que viveu no século XV e cujos seus experimentos e manuscritos impressionam
ainda nos dias de hoje. Leonardo da Vinci foi um arquiteto, engenheiro, artista, escritor,
cientista e inventor, e em todos os seus trabalhos buscou sistematicamente interpretar e aplicar
as leis da Natureza (CAPRA, 2008). Os autores Boucheron e Giorgione (2014) citam um trecho
do manuscrito de Leonardo da Vinci que evidencia seu profundo respeito e admiração pela
sabedoria dos sistemas naturais:

“Embora o gênio humano faça invenções conciliando órgãos


inteligentemente combinados para uma mesma finalidade, jamais
encontrará uma invenção mais bela, fácil, breve que a Natureza,
pois nas invenções dela nada falta e nada é supérfluo”
(BOUCHERON & GIORGIONE, 2014, p. 110) .
19

A palavra biomimética vem da combinação das palavras gregas bios, vida, e mimesis
imitação. Este termo foi usado pela primeira vez na década de cinquenta por Otto Schmitt em
seu trabalho quando fez a distinção entre as ciências biológicas e a abordagem feita para a
engenharia, denominando esta última de biomimetics (LEPORA et al., 2013). Contudo, foi na
década de noventa com Janine Benyus, escritora de divulgação científica, que o termo se
popularizou com a publicação do livro “Biomimética: inovação inspirada pela Natureza” e a
criação da fundação Biomimicry Institute (BIOMIMICRY, 2017).
A biomimética é uma ciência que busca soluções sustentáveis para problemas técnicos
que os desenvolvimentos feitos por humanos apresentam, através de uma abordagem
interdisciplinar que une conhecimentos de biologia e tecnologia. O objetivo é desenvolver
produtos, processos e políticas que sejam bem adaptados à vida em ecossistema (ROSSIN,
2010; REISEN et al., 2016). Pode ser entendida como uma ciência que busca aprender com os
modelos encontrados na Natureza, para depois copiá-los ou usá-los como inspiração para
alternativas inovadoras (KOOPMANS, 2008).
Segundo Benyus (2003), o campo de estudo da biomimética pode ser resumido ao
considerar:

a) Natureza como modelo: estudar os modelos da Natureza e imitá-los ou usá-los como


inspiração com o intuito de resolver os problemas técnicos dos desenvolvimentos
humanos.
b) Natureza como medida: usar padrões ecológicos para julgar a relevância e a
validade das inovações. Utiliza o conhecimento da Natureza como benchmark para
identificar o que funciona, o que é mais apropriado e o que tem durabilidade.
c) Natureza como mentora: uma mudança na forma de observar e avaliar a Natureza,
preocupando-se não apenas no que se pode extrair de recursos do mundo natural, mas
principalmente com o que se pode aprender com ele.

Pode-se concluir que aos menos duas características são marcantes nas tecnologias que
são desenvolvidas pelos homens. A primeira delas se refere a utilização em larga escala de
recursos naturais, inclusive aqueles que não são renováveis, no processo de desenvolvimento e
produção de bens de consumo que assegurem o conforto e comodidade a que estamos
acostumados (PACHECO-TORGAL & LABRINHCA, 2013b). O processo de extração e
beneficiamento destes recursos deixa como legado contaminação e poluição do ambiente, uma
vez que estes processos produtivos são pensados pelo paradigma do “berço à cova” e não do
20

“berço ao berço” como acontece nos sistemas naturais (BRAUNGART & MCDOUGH, 2013).
Outra característica, segundo Van der Zwaag et al. (2009), sugere que a maioria dos
desenvolvimentos em tecnologia de materiais tem como objetivo desenvolver produtos que
evitem o dano, e assim prolonguem a vida destes materiais em serviço, mesmo que para isso
seja necessário consumir mais energia, recursos e utilizar componentes tóxicos.
Diferentemente das tecnologias humana, as tecnologias da Natureza não empregam o
uso de materiais exóticos, não consomem energia excessiva ou aplicam altas pressões para obter
seus produtos. Todos os materiais e processos realizados pelos organismos vivos ocorrem a
temperatura e pressão ambiente e geralmente em meio aquoso (BALL, 2001). Outra
característica marcante dos sistemas naturais está na não geração de resíduos, uma vez que
todos os subprodutos de seus processos de sobrevivência são nutrientes para outro grupo de
seres vivos, caracterizando um sistema circular e interdependente (BRAUNGART &
MCDONOUGH, 2014). Os sistemas biológicos se caracterizam também por sua capacidade de
perpetuar sua espécie, de aprender e adaptar-se ao meio ambiente, de se auto organizar e
reconhecer as suas possibilidades em situações diferentes e de se auto regenerar. Esses sistemas
apresentam características de resiliência unida a uma sensibilidade própria e uma confiança nas
tarefas destinadas a cada uma das suas funções (BLOK & GREMMEN, 2016).
Segundo Benyus (2003), este relacionamento perfeito dentro do sistema e entre
ecossistemas é possível porque a Natureza utiliza uma série de estratégias que são comuns a
todas as soluções elegantes encontradas por ela, as quais podemos resumir:

a) a Natureza é movida a energia solar;


b) a Natureza usa apenas a energia que precisa;
c) a Natureza adapta a forma que se apresenta à função a que se destina;
d) a Natureza recicla tudo;
e) a Natureza promove a diversidade;
f) a Natureza exige especialização geográfica localizada;
g) a Natureza inibe excessos em seus sistemas;
h) a Natureza explora o poder dos próprios limites.

Um desenvolvimento biomimético pode ser conduzido, basicamente, de duas formas:


(i) partir de um problema de design ou (ii) partir do estudo dos sistemas naturais e aplicação
deste conhecimento em soluções tecnológicas. Na primeira abordagem, a Natureza é
benchmark e o pesquisador realiza uma busca por soluções que a Natureza encontrou para
21

problemas de projeto similares. A segunda forma de pesquisa biomimética, o pesquisador


estuda os sistemas naturais e identifica potenciais estratégias de produção, processo e
ecossistemas que podem ser utilizadas (BLOK & GREMMEN, 2016).
Na Figura 1 tem se um exemplo de biomimetismo aplicado ao desenvolvimento de
novos produtos que buscou inspiração na Natureza para um problema de design. A partir de
estudos do design de um tipo de peixe foi proposto modelo de veículo com maior espaço interno
e economia de energia devido a aerodinâmica fluída diminuindo o coeficiente de arraste
(MERCEDES, 2017).

Figura 1 - Exemplo de biomimetismo: Bionic Car Mercedes-Benz.

Fonte: Mercedes-Benz, 2017.

Na Natureza, as formações geológicas conhecidas como estromatólitos (Figura 2A)


consistem em estruturas biogênicas formadas pela união de sedimentos através da precipitação
de carbonato de cálcio resultante da atividade de bactérias presentes no ambiente (DUPRAZ et
al., 2009). Outra inspiração está em uma substância conhecida como nácar produzida no interior
das conchas de alguns animais marinhos (Figura 2B). O nácar possui uma estrutura semelhante
as construções tijolos e cimento, uma vez que sua configuração é formada por blocos de
aragonita separados por uma fina camada de material orgânico (TRACY & JENNINGS, 1998).

Figura 2 - Exemplos de biomineralização na Natureza.

No que tange a biomimética aplicada ao ambiente construído, a biomineralização surge


como alternativa para a produção de materiais mais duradouros e resistentes às condições
22

ambientais. Por este motivo, o carbonato de cálcio pode ser descrito como um “material de
construção” biológico (KNOLL, 2003).

2.1 ESPIRAL DO DESIGN BIOMIMÉTICO

Uma forma de estruturar o processo de desenvolvimento biomimético foi proposta por


Carl Hastrich em 2005 e denominada Espiral do Design Biomimético (Figura 3). Esta
ferramenta organiza e contextualiza o desenvolvimento biomimético em etapas que iniciam
com o entendimento da tecnologia desenvolvida pela Natureza até como ela poderia ser
adaptada para solucionar problemas técnicos dos sistemas artificiais, respeitando os princípios
que preservam a vida (BIOMIMICRY INSTITUTE, 2017b).

Figura 3 - Espiral do design biomimético.

Fonte: Biomimicry Institute, 2017.

Em linhas gerais, a Espiral do Design Biomimético pode ser entendida como uma
ferramenta alternativa que orienta o pesquisador a solucionar problemas técnicos de projetos
com base nos conhecimentos dos sistemas naturais. Consiste em um conjunto de etapas que
sugerem a investigação, a reflexão e a buscar no mundo natural de uma aproximação que
23

permite capturar qualidades ou propriedades inovadoras que foram desenvolvidas pela


Natureza (BIOMIMICRY INSTITUTE, 2017b).
Esta metodologia é composta por cinco etapas, a saber:

a) primeira etapa – identificar (identify): esta etapa consiste em identificar a


necessidade tecnológica que precisa ser suprida. O pesquisador deve tomar o cuidado
para descrever as particularidades do problema a ser solucionado delimitando as
especificações da pesquisa. O diferencial desta etapa está na descrição do que se deseja
alcançar com o resultado da pesquisa e não no que se deseja projetar propriamente;
b) segunda etapa – traduzir (translate): esta etapa pode ser entendida como a tradução
das necessidades em termos biológicos. Deve-se interpretar como a Natureza realiza a
função objetivo da pesquisa, quais são os prós e os contras deste processo. Nesta etapa
o desafio está em verificar qual das soluções possíveis mais se adapta ao problema
humano apresentado;
c) terceira etapa – explorar (discover): na etapa de exploração deve se investigar e
coletar dados de como a estratégia utilizada pela Natureza atinge o sucesso. Na Natureza
a forma se adapta a função, assim para uma mesma função os seres vivos encontram
estratégias diferentes que privilegiam a diversidade. O desafio do pesquisador é
investigar as estratégias e avaliar qual delas tem maior potencial para atingir o sucesso;
d) quarta etapa – imitar (emulate): uma vez selecionada a estratégia que se deseja
emular, o pesquisador deverá desenvolver os conceitos e ideias que sejam aplicáveis ao
problema técnico descrito na etapa de identificação. Nesta etapa se espera que o
pesquisador que deseja imitar a forma, a função e/ou o ecossistema estude detalhes da
morfologia, entenda escala/efeito, considere fatores externos que influenciam o sistema
biológico, entenda os processos biológicos e seus fatores de sucesso;
e) quinta etapa – avaliar (evaluate): por fim, a avaliação é a etapa de validação da
solução comparando-a com os princípios da vida. A biomimética busca a adequação do
homem, de suas tecnologias, processos e sistemas aos princípios lógicos da vida para
alcançar a real sustentabilidade.

Geralmente as metodologias propostas para pesquisas baseadas em tecnologias


biomiméticas são consideradas não lineares pois os sistemas naturais são construídos através
de redes de interação compostas por sistemas fechados (entre grupos de ser vivos) e abertos
(ecossistema). Esta abordagem pode ser entendida com uma abordagem holística, ou seja, busca
24

entender de forma sistêmica todas as interações ao contrário da abordagem reducionista


tradicionalmente usada para o desenvolvimento de novas tecnologias e solução de problemas
(CAPRA, 2002).

2.2 BIOMINERALIZAÇÃO

A biomineralização é um processo biológico que ocorre através da precipitação de


materiais inorgânicos em uma matriz orgânica (CALVERT, 1994). Processos de
biomineralização ocorrem há milhares de anos no ambiente aquático e terrestre contribuindo
para a formação geológica da Terra (PEI et al., 2013). Ao longo de milhões de anos de evolução,
os organismos vivos aprenderam a utilizar diversos minerais disponíveis no meio ambiente para
garantir a sua sobrevivência através das suas atividades metabólicas. É possível identificar
organismos capazes de produzir biominerais para uma grande variedade de funções em todos
os cinco reinos dos seres vivos (ADDADI & WEINER, 1992). A presença de organismos vivos
no processo de biomineralização distingue o processo biótico de síntese dos minerais das
demais formações abióticas (WEINER & DOVE, 2003).
Há uma grande quantidade de estruturas biomineralizadas na Natureza em termos de
composição mineral, morfologia, propriedades e funções. São conhecidos mais de 60 tipos de
minerais diferentes utilizados por organismos vivos, cada qual com suas próprias estratégias
para adaptar forma à função necessária à sua sobrevivência (NUDELMAN & SOMMERDIJK,
2012). Quase todos os organismos vivos são capazes de depositar minerais: bactérias
ferromagnéticas depositam óxidos de ferro em invólucros orgânicos, moluscos formam cristais
de calcita em suas conchas e os vertebrados produzem apatitas que compõem ossos e dente
(VEIS, 2005).
Carbonatos e fosfatos são os principais grupos de biominerais encontrados no meio
ambiente. O carbonato de cálcio é conhecido por ser o biomineral mais abundante nas fases de
polimorfos anidros de calcita, aragonita e vaterita, bem como nas fases cristalinas hidratadas
como a monohidrocalcita, ikeita e carbonato de cálcio amorfo (ADDADI & WEINER, 1992).
A calcita é a forma mais comum e estável deste mineral encontrada em rochas sedimentares,
enquanto a aragonita é formada em condições físico-químicas específicas como por exemplos
em depósitos calcários de águas termais. Já a vaterita é a forma polimorfa mais rara deste
mineral (WEINER & DOVE, 2003).
Na Natureza, a precipitação de carbonatos pode ocorrer de muitas formas: (i)
precipitação física causada pela evaporação de uma solução saturada; (ii) formação de esqueleto
25

interno ou externo de eucariontes; (iii) processos de fotossíntese e metanogênese; (iii) mediados


por fungos; (iv) mediados por bactérias heterotróficas (CASTANIER et al., 1999).
O interesse biotecnológico da biomineralização em grande parte está baseado nos
processos mediados por bactérias. As bactérias são microrganismos capazes de sintetizar
grande quantidade de íons inorgânicos em processos intracelulares e extracelulares (MANN,
1988). A precipitação de carbonato de cálcio induzida por microrganismos é um fenômeno
bioquímico comum na Natureza, sendo possível reconhecer este processo no ambiente aquático
e no solo (BOQUET et al., 1973). O cálcio é um elemento importante para as funções do
metabolismo celular dos seres vivos, por este motivo é o cátion preferencial nas reações
bioquímicas de biomineralização (WEINER & DOVE, 2003). Na Natureza as formas
cristalinas calcita e aragonita são as mais comuns de carbonato de cálcio biologicamente
induzido (RODRIGUEZ-NAVARRO et al., 2006).
Basicamente, o processo de biomineralização pode ocorrer de duas formas distintas. A
primeira delas é a biomineralização que ocorre de forma controlada. Neste processo, o
microrganismo sintetiza os minerais utilizando uma estrutura especializada, ou seja, a
biomineralização ocorre de forma independente das condições ambientais. O segundo processo
é descrito como a biomineralização biologicamente induzida. O tipo de mineral produzido neste
processo é altamente dependente das condições ambientais. O mineral formado é resultado da
atividade biológica do organismo e o tipo de íons metálicos presentes no meio (LOWENSTAM,
1981).
A presença de bactérias heterotróficas na biomineralização biologicamente induzida é a
mais comum, pois, segundo Castanier et al. (1999), em um ambiente adequado este tipo de
bactéria geralmente induz a precipitação de minerais. As bactérias heterotróficas participam de
três processos principais de precipitação de carbonato de cálcio: (i) microrganismos
fotossintéticos capazes de remover CO2 em um processo espontâneo; (ii) bactérias redutoras de
sulfato que participam do ciclo do enxofre; (iii) algumas espécies de microrganismos que
participam do ciclo do nitrogênio, utilizando processo de oxidação de aminoácidos, redução de
nitratos ou hidrólise da ureia (PELCZAR et al., 1981).
A maioria das técnicas de biomineralização aplicadas à construção civil envolvem o
estudo de espécies de bactérias heterotróficas que participam do ciclo metabólico do nitrogênio,
degradando ureia ou ácido úrico (DE MUYNCK et al., 2009a). Estes processos se baseiam na
biomineralização induzida utilizando uma grande variedade de microrganismos, na grande
maioria bactérias do solo, que não tem ação patogênica significativa e são de fácil manuseio
(ACHAL et al., 2015).
26

O processo de precipitação de carbonato de cálcio foi proposto como um método


ambientalmente adequado para proteger rochas ornamentais de processos de degradação pelo
ataque de fatores externos como água e agentes químicos presentes no ar (LE MÉTAYER-
LEVREL et al., 1999). A técnica de biomineralização também foi explorada como processo
alternativo para a melhoria das propriedades do concreto, como durabilidade (DE MUYNCK
et al. 2008) e aumento da resistência a compressão em até 25% (GHOSH et al., 2005) e como
tratamento para reparo de trincas e rachaduras de até 40 mm de profundidade (TITTELBOOM
et al., 2010). Estudos envolvendo a incorporação de bactérias e nutrientes no processo de
preparo resultaram em concretos inteligentes que se auto reparam quando do surgimento de
micro trincas (JONKERS & SCHLANGEN, 2008). Recentemente, a técnica de
biomineralização foi utilizada para melhorar as características de concretos produzidos a partir
de resíduos de construção e demolição, reduzindo entre 10% e 20% a capacidade de absorção
de água pelo material (GRABIEC et al., 2012).

2.1.1 Precipitação de Carbonato de Cálcio Induzida por Microrganismos

O solo é o habitat natural de uma grande quantidade de espécies de bactérias não


patogênicas responsáveis pela reciclagem de uma grande variedade de minerais (DOUGLAS
& BEVERIDGE, 1998; STOCKS-FISCHER et al., 1999; CASTANIER et al. 1999). Segundo
Boquet et al. (1973) a maioria das bactérias é capaz de induzir a precipitação de cristais de
carbonato de cálcio quando em condições adequadas. Estas condições são reguladas por quatro
fatores-chave que influenciam na reação bioquímica de formação dos cristais: (i) a concentração
de íons de cálcio; (ii) a concentração de carbono dissolvido; (iii) o pH do meio, que deverá ser
alcalino; (iv) e a disponibilidades de vazios para nucleação que permitam o alojamento de
microrganismos (HAMMES & VERSTRAETE, 2002).
Dentre os fatores apresentados, Castanier et al. (1999) sugere que a habilidade das
bactérias em influenciar o pH do meio, o tornando mais alcalino, é a principal característica
deste processo. O aumento da alcalinidade do meio influência alterações no potencial
eletronegativo da membrana da superfície celular, favorecendo mudanças no metabolismo
bacteriano. A modificação do potencial-ζ (potencial Zeta), que é a carga da superfície da
bactéria, poderia explicar a deposição de cristais de carbonato de cálcio (carga positiva) sobre
a membrana que recobre o corpo das bactérias (carga negativa). A observação deste fenômeno
sugere que a bactéria, como forma de defesa a adsorção de cálcio, induz a precipitação de
carbonato de cálcio sobre a superfície da parede celular (BUNDELEVA et al. 2011).
27

A atividade metabólica da bactéria consiste de reações químicas em que os reagentes


são removidos e os produtos metabólicos são liberados para ao meio. Este processo altera o
ambiente causando a precipitação dos minerais que são incorporados a parede celular
(DUPRAZ et al., 2009). O corpo da bactéria é uma superfície muito pequena com carga
eletronegativa, atuando como sítio de nucleação na formação dos cristais de carbonato de cálcio
(WONG, 2015). A Figura 4 apresenta de forma esquemática o processo de biomineralização.

Figura 4 - Esquema de formação dos cristais de carbonato de cálcio.

Fonte: Adaptado de DE MUYNCK et al., 2010.

Inicialmente a bactéria produz a enzima urease, cuja função é a de degradar a ureia para
liberar elétrons que são fonte de energia, e como consequência ocorre a liberação dos íons
carbamatos e íons amônio que ficam disponíveis no microambiente (SEIFAN et al., 2016).
Nestas condições o microambiente se torna propício para a precipitação de biominerais, pois a
presença de amônio, carbamatos (que dissociam em meio aquoso) e cátions de cálcio, induzem
a bactéria a depositar sobre seu corpo carbonato de cálcio precipitado. Isso ocorre porque a
membrana que recobre o corpo da bactéria carregada eletronegativamente atrai os íons cálcio
(DE MUYNCK et al., 2010).
As reações 1-3 representam o macroprocesso de biomineralização que ocorre na
presença de bactérias que atuam no ciclo do nitrogênio utilizando compostos orgânicos como
fonte de energia (CHUNXIANG et al., 2009).

Ureia
Bactéria → Enzima urease (1)

Ca2+ + Cell → Cell − Ca2+ (2)


Cell − Ca2+ + CO2−
3 → Cell − CaCO3 ↓ (kps = 3.10 g/L)
-11 (3)
28

De forma detalhada o processo bioquímico envolvido pode ser explicado com as reações
numeradas de 4-9.
A enzima urease – ureia amidohidrolases – é uma proteína facilmente encontrada nos
ambientes aquáticos, e são sintetizadas por plantas, algas, bactérias, fungo e invertebrados. As
ureases pertencem a família das amidohidrolases e embora apresentem diferentes estruturas
proteicas, sua única função é catalítica é para hidrólises de ureia em subprodutos finais amônia
e ácido carbônico. Este processo tem papel fundamental no fornecimento de nitrogênio, na
forma de amônio, aos microrganismos garantindo assim a viabilidade de crescimento da
população e contribuindo para o ciclo de nitrogênio se completar (JIANG, N.-J. et al., 2016).
A hidrólise da ureia pela enzima urease é dependente do fator temperatura. A
temperatura ótima para a maioria das ureases varia entre 20 a 37ºC (OKWADHA & LI, 2010).
Durante a ação catalítica da urease, 1 mol de ureia é hidrolizado em 1 mol de amônia e
1 mol de carbamato (reação 4). A molécula de carbamato hidrolisa espontaneamente em 1 mol
de amônia e 1 mol de ácido carbônico (reação 5). O produto da hidrólise da molécula de
carbamato entra em equilíbrio em meio aquoso. As reações 6-7 são responsáveis pelo aumento
do pH do meio (DICK et al., 2006):

CO(NH2 )2 + H2 O → NH2 COOH + NH3 (4)


NH2 COOH + H2 O → NH3 + H2 CO3 (5)
H2 CO3 ↔ HCO−
3 +H
+
(6)
2NH3 + 2H2 O ↔ 2NH4+ + 2OH − (7)

De acordo com Hammes & Verstraete (2002), a precipitação de carbonato de cálcio se


dá na presença de excesso de íons Ca2+ (cálcio) e quando o pH do meio atinge valores entre 8,3
e 9,0 (reações 8-9).

HCO− + + − 2− +
3 + H + 2NH4 + 2OH ↔ CO3 + 2NH4 + 2H2 O (8)
CO2−
3 + Ca
2+
↔ CaCO3 ↓ (9)

Vários são os microrganismos capazes de produzir adenosina trifosfato (ATP) através


da hidrólise da ureia, entretanto, a etapa de seleção do microrganismo tem grande influência
nos resultados obtidos nos processos de biomineralização (RAO et al, 2013).
29

2.1.2 Seleção do microrganismo

Muitos microrganismos do solo são reconhecidos por serem mediadores do processo de


produção de carbonato de cálcio via enzima urease (BOQUET et al., 1973; TIANO et al. 1999;
BANG et al. 2001).
A escolha do microrganismo a ser utilizado no processo de biomineralização deve
considerar que: (i) a bactéria deve ser resistente a ambientes alcalinos como o concreto, ou seja,
deve pertencer ao grupo de microrganismos alcalinofílicos; (ii) deve ter capacidade de formar
esporos e assim ser capaz de sobreviver a condições ambientais adversas e a ação mecânica
sofrida durante o processo de produção de bioconcretos; e (iii) não deve pertencer ao grupo de
microrganismos patogênicos que causem riscos à saúde das pessoas e do meio ambiente
(JONKERS et al., 2010). A maioria dos estudos realizados utilizaram bactérias do gênero
Bacillus como agente biológico para a produção de carbonato de cálcio (PACHECO-TORGAL
& LABRINCHA, 2013a).
O microrganismo utilizado neste trabalho teve sua atividade comprovada como agente
biológico no processo de biomineralização por Tiano et al. (1999) e posteriormente por Reddy
et al. (2010). As características gerais, químicas e morfológicas, de uma cepa pura B. subtilis
foram listadas na Tabela 1.

Tabela 1 - Características bioquímicas do B. subtilis.

Características Bacillus subtilis


Forma, tamanho, classificação Varetas alongadas, medindo 0,6 -0,8 µm de largura e
Gram 2,0 a 3,0 µm de comprimento, Gram Positivas.
Morfologias das colônias (meio
Colônias irregulares, secas, brancas e opacas.
nutritivo Agar Plate)
Atividade catalítica Positiva
Fermentação:
Lactose Sem ácidos, sem gases.
Dextrose Sem ácidos, sem gases.
Sucrose Ácidos e gases.
Fonte: Reddy et. al, 2010.

B. subtilis são microrganismos capazes de obter energia através da hidrólise da ureia por
meio da enzima urease. A urease é uma enzima capaz de acelerar a hidrólise da ureia em meio
aquoso em até 1032 vezes, sendo essa uma das enzimas mais proficientes que se conhece
30

(KRAJEWSKA, 2009). Outra característica atribuída ao B. subtilis é a capacidade de formar


biofilmes (REDDY et al., 2010).
As bactérias podem viver livremente no ambiente ou se aderirem a superfícies formando
comunidades conhecidas como biofilmes. A formação de biofilme bacteriano pode ocorrer
sobre a superfície de materiais abióticos, principalmente se estes materiais estiverem em contato
com compostos orgânicos, inorgânicos ou biológicos que se adsorvem no material e facilitam
a adesão do microrganismo à superfície. O biofilme pode ser descrito como um agrupamento
de células microbianas que são enclausuradas em uma matriz formada por substâncias
poliméricas extracelulares que se aderem entre si e/ou a uma superfície (CHARACKLIS &
MARSHALL, 1990). A formação de biofilme permite que ocorram atividades extracelulares,
tais como degradação enzimática de matéria orgânica, comunicação química, troca de material
genético e nutrição (DECHO, 2010).
A formação de biofilme pode ser considerada uma vantagem para o microrganismo,
uma vez que a formação do mesmo permite a sobrevivência das bactérias em condições
ambientais desfavoráveis. O biofilme permite que as células realizem atividades extracelulares,
tais como degradação da matéria orgânica por ação de enzimas, comunicação química entre os
microrganismos e o ambiente em torno da comunidade, facilita a troca genética entre
microrganismos e promove o aumento da eficiência nutricional (FLEMMING &
WINGENDER, 2010). Os agrupamentos em comunidades organizadas na forma de biofilmes
tornam as populações de microrganismos mais resistentes as variações das condições
ambientais, mesmo quando estas condições se tornam adversas ao seu crescimento (BERTON,
2014).
A composição do biofilme em monômeros é variada, devido aos grupos funcionais
ativos das moléculas orgânicas excretadas pelos microrganismos que podem incluir cargas
negativas, positivas e neutras (PELCZAR et al., 1981). Estas características têm influência
positiva sobre a precipitação de minerais, pois certos grupos funcionais reagem
preferencialmente com íons de cálcio e magnésio (DECHO, 2010). Ainda, a presença de um ou
outro tipo de molécula orgânica no biofilme, que está relacionado ao microrganismo atuante no
sistema, é responsável pela formação de cristais de carbonato de cálcio com padrões (formas)
e estruturas cristalinas diferentes (QIAN et al., 2010).
O biofilme é um microambiente onde a precipitação de minerais pode ser facilitada ou
inibida por razões espaciais (µm a mm) e que apresenta uma certa organização no modo como
é formado. A camada formada funciona como primer para a deposição dos cristais do mineral
resultando no fechamento dos poros superficiais do material (DECHO, 2010).
31

2.3 APLICAÇÕES BIOTECNOLÓGICAS DA BIOMINERALIZAÇÃO EM AMBIENTE


CONSTRUÍDO

O processo de biomineralização, por ser um processo governando por fatores ambientais


e biológicos, é mais lento e complexo que o processo químico de selantes e recobrimentos
tradicionais (ANBU et al., 2016).
O mecanismo de precipitação de carbonatos na forma de carbonato de cálcio por ação
de microrganismos pode ser dividido em três métodos de estudo e aplicação. O primeiro deles
é conhecido por biodeposição, onde uma camada de mineral é precipitada sobre a superfície do
material. O segundo método, a bioremediação, onde o material biogênico é utilizado como
agente de reparação das superfícies. E por fim, os bioconcretos, que são materiais onde se induz
a produção de cristais de carbonato de cálcio entre os vazios existentes na matriz de agregados
e cimento (DE MUYNCK et al. 2009a; ACHAL et al., 2015).

2.3.1 Biodeposição

A biodeposição é uma técnica que se caracteriza pela precipitação de uma camada de


carbonato de cálcio de origem biológica sobre a superfície porosa de materiais como rochas
utilizadas em construções ornamentais, tijolos e concretos (DHAMI et al., 2014). A utilização
desta técnica tem como principal objetivo obstruir os poros superficiais do material prevenindo
que água ou outros líquidos agressivos ingressem no seu interior e provoquem danos
prematuros a estrutura (DE MUYNCK et al., 2008). A redução da porosidade do material está
associada à presença de uma grande quantidade de resíduos biológicos que se depositam sobre
os poros superficiais e impedem a penetração da água e outros elementos no interior do material
(TIANO et al., 1999). Com isso o material se torna mais durável e resistente ao ataque de
agentes tóxicos como ácidos (QIAN et al., 2009), de agentes corrosivos (ACHAL et al., 2012)
e resistente à penetração de gases (DE MUYNCK et al., 2008).
Boquet et al. (1973) e Castanier et al. (1999) trouxeram contribuições relevantes sobre
quais microrganismos seriam capazes de produzir biominerais e quais condições eram
necessárias para que este fenômeno ocorresse em laboratório. Entretanto, foi a equipe do
pesquisador Adolphe em 1990 que solicitou a primeira patente utilizando a biomineralização
como técnica de proteção para a superfície de monumentos e esculturas construídas com rochas
calcárias (DE MUYNCK et al., 2009a). Do trabalho de Adolphe e colaboradores resultou a
primeira empresa a fornecer o tratamento de superfícies com agentes biológicos: a empresa
32

francesa Calcite Bioconcept (LE-METAYER-LEVREL et al., 1999). A técnica desenvolvida


pela Calcite Bioconcept foi reproduzida em laboratório anos mais tarde por Anne et al. (2009)
em amostras de gesso, comprovando a viabilidade de aplicação também para este tipo de
material.
Além da técnica de biodeposição por aplicação na superfície de compostos contendo
bactérias, também foram desenvolvidas técnicas que utilizavam culturas microbianas já
existentes na camada mais externa dos materiais (DE MUYNCK et al., 2009b) e de ativação de
microrganismos capazes de remover as incrustações superficiais (geralmente sulfatos) e
transformar este resíduo em carbonato de cálcio (JROUNDI et al., 2010).
Jimenez-Lopez et al. (2007) propuseram a aplicação de um meio de cultura capaz de
ativar os microrganismos já existentes sobre a superfície dos materiais para que estes
produzissem uma camada protetora de carbonato de cálcio. Enquanto que o consórcio Biobrush
(Bioremediation of Building Restoration of the Urban Stone Heritage) demonstrou ser possível
utilizar microrganismos presentes na superfície de rochas ornamentais para o processo de
remoção das incrustações de sulfatos e transformação dos resíduos destas incrustações em
carbonato de cálcio (WEBSTER & MAY, 2006).

Tabela 2 - Estudos realizados com diferentes microrganismos utilizando a técnica de biodeposição.


Microrganismo Objetivo Autores
Bacillus cereus Biodeposição em estruturas ADOLPHE et al. (1990) apud
ornamentais DE MUYNCK et al. (2009a)
Biodeposição em gesso ANNE et al. (2009)
Bacillus pasteurii Biodeposição em areia GOLLAPUDI et al. (1995)
Biodeposição em areia STOCKS-FISCHER et al.
(1999)
Biodeposição em amostras de QIAN et al. (2009)
argamassa
Biodeposição em concretos GRABIEC et al. (2012)
produzidos com material QIU et al. (2014)
reciclado de construção e
demolição
Bacillus subtilis Biodeposição em amostras de TIANO et al. (1999)
rochas calcárias
Bacillus sphaericus Biodeposição em argamassas DE MUYNCK et al. (2008)
Mixococcus xanthus Biodeposição em amostras RODRIGUES-NAVARRO et
calcárias utilizadas em al. (2003)
arquiteturas e esculturas
Micrococcus sp. Biodeposição em amostras de TIANO et al. (1999)
rochas calcárias
33

A Tabela 2 descreve algumas espécies de bactérias que atuam como agentes biológicos
no mecanismo de biodeposição. Basicamente são bactérias encontradas no solo, sem ação
patogênica significativa, heterotróficas e não fastidiosas. São microrganismos de fácil manuseio
e de amplo uso na biotecnologia, como por exemplo Bacillus Cereus usado na indústria de
alimentos.
Rodriguez-Navarro et al. (2003) trouxeram duas importantes limitações para a técnica
de biodeposição. A primeira delas refere-se à profundidade de consolidação de partículas
alcançada pelo método. Estima-se que a formação da camada de carbonato de cálcio é de apenas
alguns micrometros, o que a tornaria ineficiente na consolidação das partículas mais profundas.
Ainda, uma possível desvantagem com relação a formação de endósporos que podem provocar
o crescimento excessivo de biofilme quando em um ambiente com condições adequadas de
temperatura, umidade e disponibilidade de nutrientes.
Recentemente, foram publicados estudos utilizando técnicas de biodeposição para
melhorar as propriedades de concretos produzidos a partir de materiais de construção e
demolição reciclados. Os primeiros resultados indicaram que a técnica de biodeposição é
promissora para redução de absorção de água por concretos constituídos de agregados
reciclados (GRABIEC et al., 2012; QIU et al., 2014).

2.3.2 Bioremediação

Bioremediação no contexto da engenharia ambiental é o processo no qual


microrganismos são utilizados para reduzir ou remover contaminações do meio ambiente a fim
de recuperar ecossistemas degradados pela ação do homem (MOTA, 1997). Neste trabalho, o
termo bioremediação refere-se a mecanismos biotecnológicos que visam recuperar estruturas
de concreto danificadas pela presença de trincas e rachaduras. O termo bioremediação foi
utilizado como tradução para o termo em inglês bioremediation, que é citado em publicações
internacionais sobre este assunto. Neste contexto, bio refere-se a presença de microrganismos
como protagonistas do processo de remediação ou recuperação das trincas presentes nas
superfícies de materiais cimentícios.
Em se tratando de recuperação de estruturas de concreto há uma grande variedade de
produtos e técnicas para reparo de trincas e rachaduras em concretos. São utilizados produtos
sintéticos como resinas epóxi e poliuretano, que são conhecidos por serem compostos orgânicos
tóxicos, não biodegradáveis (WONG, 2015) que geralmente possuem coeficiente de expansão
térmica diferente daquele apresentado pelo concreto (RAO et al., 2013).
34

A bioremediação, que inicialmente foi proposta por Gollapudi et al. (1995), pode ser
descrita como um processo de reparação de trincas em concretos onde um material contendo
microrganismos é utilizado como selante (VAN TITTELBOOM et al., 2010). Este processo
comparado aos processos tradicionais de reparo de trincas tem como vantagens produzir
naturalmente cristais de carbonato de cálcio que crescem adaptados ao concreto e por ser uma
técnica potencialmente sustentável (VAN TITTELBOOM et al., 2010; WU et al., 2012).
O material selante é formado inserindo a quantidade de areia necessária para preencher
a trinca e após, injetando a solução contendo nutrientes e microrganismos durante um período
de tempo e em intervalos definidos (ABO-EL-ENEIM et al., 2012; ACHAL et al., 2013). Esta
técnica apresentou resultados satisfatórios, aumentando a resistência a compressão e
diminuindo a permeabilidade a água e cloretos na região da trinca (ACHAL et al., 2013). Outro
método foi proposto por Sierra-Beltran (2014), o qual utiliza um material selante com base
cimento, areia e agente biológico. Este método resultou em um material de reparação que
apresentou menor delaminação da superfície do concreto.
No mecanismo de bioremediação atuam principalmente bactérias do gênero bacilo
(Tabela 3). Estes microrganismos são conhecidos por possuírem alta atividade da enzima urease
e por sobreviverem por um longo tempo em condições adversas (WANG et al, 2012).

Tabela 3 - Estudos realizados com diferentes microrganismos utilizando técnica de bioremediação.


Microrganismo Objetivo Autores
Bacillus pasteurii Remediar trincas em BANG et al. (2001)
Sporosarcina pasteurii concretos com
microrganismos imobilizados
em poliuretano
Remediar trincas em ABO-EL-ENEIM et al. (2012)
concretos
Bacillus sphaericus Comparar processos VAN TITTELBOOM et al.
tradicionais de reparo de (2010)
trincas e processo com
restaurador biológico
Bacillus cohnii Utilização de argamassa SIERRA-BELTRAN et al.
biológica para reparo de (2014)
trincas

O mecanismo de bioremediação tem como fator limitante o alto pH do substrato (pH


alcalino variando de 11,0 e 13,0) que dificulta o crescimento do microrganismo nas trincas do
concreto. Considerando as condições adversas para o crescimento microbiológico e,
consequentemente, para a atividade microbiana responsável pela produção de carbonato de
cálcio, Bang et al. (2001) propuseram a imobilização das bactérias e seus nutrientes em
35

microcápsulas de poliuretano. A imobilização protege a integridade estrutural e funcional da


enzima urease das condições ambientais adversas causada pela alcalinidade do concreto, em
contrapartida a taxa de consumo de ureia na reação é diminuída em função da permeabilidade
do agente de imobilização poliuretano (BACHMEIER et al., 2002).

2.3.3 Bioconcretos

Bioconcretos são materiais que possuem em sua formulação um agente biológico capaz
de induzir a formação de carbonato de cálcio biótico nos espaços vazios entre os grãos de
cimento e agregados (PATIL et al., 2008). Este carbonato de cálcio age como um ligante
biológico, unindo as partículas dos materiais promovendo melhorias nas propriedades físicas
como aumento da durabilidade e resistência a compressão, podendo ainda ter função de auto
reparação de trincas na fase inicial de surgimento (DE MUYNCK et al., 2009a; ACHAL et al.,
2015). As técnicas de produção de concretos biológicos consistem na adição de bactérias e seus
nutrientes diretamente na composição da mistura de cimento e areia (SEIFAN et al., 2016).
Os estudos sobre produção de bioconcretos são mais recentes e exemplos deles estão
listados na Tabela 4.

Tabela 4 - Estudos realizados com diferentes microrganismos utilizando a técnica de produção de bioconcretos.
Microrganismo Objetivo Autores
Shewanella sp. Bioconcretos GHOSH et al. (2009)
Bacillus pasteurii Bioconcretos contendo fumo CHAHAL et al. (2012)
de sílica
Bioconcretos ABO-EL-ENEIN et al. (2013)
Bacillus subtilis Bioconcretos PEI et al. (2013)
Bioconcretos que se auto RAO et al. (2013)
reparam
Sporosarcina pasteurii Bioconcretos com células BUNDUR et al. (2015)
vegetativas

Bacillus alkalinitrilicus Bioconcretos com WIKTOR & JONKERS (2011)


microrganismos imobilizados
em argila expandida
Bacillus pseudofirmus Bioconcreto reforçado que se STUCKRATH et al. (2014)
auto recuperam
Bacillus sphaericus Bioconcretos com WANG et al. (2012)
microrganismos imobilizados
em poliuretano e em sílica gel
36

A produção de bioconcretos pode ser dividida em dois processos: (i) adição direta do
agente biológico e (ii) com imobilização prévia do agente biológico e seus nutrientes.
Os primeiros estudos para a produção de bioconcreto consistiam basicamente na adição
de microrganismos e seus nutrientes dissolvidos na água de composição da massa de concreto.
Entretanto este método possui como desvantagem a redução dos espaços vazios da matriz
cimento e areia à medida que o concreto avança na cura, impedindo assim o desenvolvimento
dos microrganismos no longo prazo (WIKTOR & JONKERS., 2011). Com o objetivo de
preservar o material biológico das ações mecânicas durante a preparação e proteger as células
de microrganismos das condições extremas do ambiente, foi proposto a imobilização prévia do
agente biológico e seus nutrientes em microcápsulas. O microencapsulamento dos
microrganismos e de seus nutrientes tem como vantagens a preservação das atividades
metabólicas permitindo que se crie um microambiente propício ao seu desenvolvimento. Ainda,
o microencapsulamento protege as células do atrito que ocorre durante o processo mecânico de
mistura na fase de preparação da massa de concreto (SOLTMANN et al., 2011).
A imobilização com poliuretano é amplamente utilizada, visto que este polímero é
reconhecido por ser um material quimicamente estável, resistente e inerte (PATIL et al., 2008).
Outros materiais, como a sílica gel, hidrogel (WANG et al., 2012; WANG et al., 2014) e argila
expandida (WIKTOR & JONKERS., 2011) foram utilizados como materiais alternativos para
imobilização das bactérias e seus nutrientes em microcápsulas a serem incorporadas no
bioconcreto.
Estudos apontam que a adição de bactérias capazes de induzir a produção biológica de
carbonato de cálcio pode melhorar significativamente propriedades mecânicas de argamassas e
concreto (JONKERS & SCHLANGEN, 2008; GHOSH et al., 2009; DE MUYNCK et al., 2010;
ABO-EL-ENEIM et al., 2012; LEE et al., 2013). Isso ocorre devido a deposição de uma nova
camada de carbonato de cálcio entre as partículas, atuando como ligante e diminuindo os vazios
da matriz areia e cimento (ABO-EL-ENEIM et al., 2012). Observou-se também um aumento
na capacidade de auto reparação das trincas em concretos biológicos. Enquanto que nas
amostras sem adição de microrganismos as trincas até 0,2 mm são auto reparáveis, em amostras
contento agente microbiológico a auto reparação das trincas apresentou resultados entre 0,5 mm
(RAO et al., 2013) a 0,8 mm (LUO et al. 2015) devido a formação de uma nova camada de
carbonato de cálcio biológico. Entretanto, este processo não se mostrou eficaz para trincas com
tempo superior a 60 dias, quando se observou um decréscimo da capacidade de auto reparação
do material (LUO et al. 2015). Isso ocorre porque as bactérias não são capazes de sobreviver
mais que 7 dias no interior do concreto, pois com o tempo de cura avançado, os poros do
37

material – de até 1 µm de tamanho – se tornam pequenos demais a tal ponto que se tornar
inviável a sobrevivência do microrganismo (JONKERS & SCHLANGEN, 2008).
A evolução das pesquisas em bioconcretos resultou em um material capaz de se auto
reparar quando do surgimento de trincas indiferente a idade do concreto. Isso foi possível com
a utilização de uma preparação prévia da bactéria e seus nutrientes em um processo de
encapsulação (JONKERS et al., 2010). As microcápsulas são sensíveis a presença de água, se
rompem liberando os microrganismos para o meio. O processo tem início no surgimento de
micro trincas na superfície do concreto que permite que a água penetre no seu interior e entre
em contato com as microcápsulas contendo os microrganismos e seus nutrientes. Os
microrganismos, na presença de água e dos nutrientes adequados, têm sua atividade metabólica
ativada, iniciando o processo de indução a formação de cristais de carbonato de cálcio. À
medida que são produzidos, estes cristais atuam como reparadores e vão fechando as trincas
(WANG et al.,2014). A reparação imediata da trinca evita que ela chegue a dimensões que
comprometam a resistência do material, aumentando a durabilidade dos mesmos (DE
MUYNCK et al., 2009a).

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Com base nos resultados de trabalhos publicados anteriormente, foram escolhidos os


materiais e em seguida uma metodologia para verificar a viabilidade de precipitação de
carbonato de cálcio em materiais cimentícios induzidos pela presença de microrganismos.

3.1 MATERIAIS

Materiais que constituem este estudo são classificados como: (i) agente biológico, (ii)
reagentes que compõem o meio de conservação, (iii) reagentes que compõem o meio de
ativação, (iv) reagentes que compõe o meio de indução e (v) materiais para confecção dos
corpos de prova.

3.1.1 Agente biológico utilizado

O microrganismo pesquisado foi o Bacillus subtilis ATCC 6633, cepa cedida pelo
Laboratório de Microbiologia da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA.
38

B. subtilis é uma das espécies do gênero Bacillus mais utilizadas para fins
biotecnológicos industriais, na produção de antibióticos e produtos agroativos. São bactérias
autóctones do solo, do tipo gram positivas, aeróbias facultativas, não fotossintetizantes e com
maior atividade em temperaturas de 25 a 35ºC, logo são bactérias mesófilas como pode ser
observado nas Figuras 5A e 5B (PELCZAR et al., 1981).

Figura 5 - Bacillus subtilis ATCC6633.

Em condições ambientais pouco favoráveis ao crescimento bacteriano, com carência


nutricional ou alta densidade celular, podem-se facilitar um estilo de vida alternativo com a
formação esporos. Os da espécie B. subtilis apresentam forma elipsoidal, de dimensões
variando de 0,6 a 0,8 mícrons com composição enzimática e química que lhes confere
resistência a ausência de nutrientes, baixa disponibilidade de água, extremos de temperatura,
pH e produtos químicos, dessecação e radiação UV (MOROHASHI et al., 2007).

3.1.2 Reagentes para meio de conservação do B. subtilis

Para reativação da cepa de B. subtilis foi utilizado o meio de cultura Plate Agar Count
– PCA (KASVI, Itália).
O PCA é um meio de cultura sólido, não seletivo que permite o estudo de espécies
isoladas, ou seja, culturas puras (Figura 5B).
A composição química típica para este meio de cultura pode ser conhecida na Tabela 5.
39

Tabela 5 - Composição química típica do PCA


Composição Quantidade (g/L)
Peptona de caseína 5,0
Extrato de levedura 2,5
D(+) glucose 1,0
Agar-agar 14,0

3.1.3 Reagentes que compõem o meio de ativação da enzima urease

O meio de ativação com o intuito de induzir a liberação de enzima urease produzida


pelo B. subtilis teve sua composição definida em 20 g/L de extrato de levedura (KASVI, Itália)
e 20 g/L de Ureia P.A (Dinâmica, Brasil).

3.1.4 Reagentes que compõem o meio de precipitação de carbonatos de cálcio

Vários pesquisadores têm utilizado diferentes fontes de cálcio para promover a


precipitação de carbonato de cálcio, sendo o cloreto de cálcio o sal mais utilizado. A fonte de
cálcio é um dos fatores de influência na forma do cristal produzido, sendo o cloreto de cálcio o
responsável pela produção de cristais de forma romboédrica e que são mais a forma mais estável
de carbonato de cálcio (ACHAL et al., 2013).
Os reagentes utilizados para permitir a precipitação de carbonato de cálcio foram: Ureia
P.A (Dinâmica, Brasil) e Cloreto de Cálcio dihidratado (Dinâmica, Brasil).

3.1.5 Materiais para a produção de corpos de prova

Para a execução dos ensaios foram produzidos três tipos de corpos de prova: (i) corpos
de prova de areia para ensaios de biodeposição em areia, (ii) corpos de prova de argamassa para
ensaios de biodeposição e posterior análise química elementar e morfológica dos
microrganismos e (iii) corpos de prova em concreto para ensaios de capilaridade. Todos os
ensaios foram realizados em duplicata.
Para a produção dos corpos de prova foram utilizados os seguintes materiais descritos
na Tabela 6 e comumente empregados na construção civil.
40

Tabela 6 - Materiais utilizados para produção dos corpos de prova.


Tipo de material Descrição Fornecedor
Agregado miúdo Areia natural de origem quartzosa Pampa
Agregado graúdo Brita granítica Pampa
Cimento Portland Cimento Portland de alta resistência inicial (ARI) CP Gaúcho
V

3.2 METODOLOGIA

Os métodos utilizados para manuseio e preservação do B. subtilis constituem três etapas:


(i) reativação do microrganismo, (ii) pré-ativação da enzima urease e (iii) produção do meio de
cultura para precipitação de carbonato de cálcio.
Com o objetivo de estudar a formação de carbonato cálcio biológico, foram preparados
corpos de provas de três tipos: (i) areia, (ii) argamassas e (iii) concreto.
Os ensaios realizados basearam-se em técnicas de biodeposição em areia, argamassas e
concretos, onde o material biológico e seus nutrientes são aplicados a superfície do material
com a finalidade de produção de uma camada protetora e aglutinante de partículas. A forma de
aplicação dos microrganismos, bem como dos reagentes, será descrita nas seções 3.2.2, 3.2.3 e
3.2.4.
Para todos os ensaios realizados foram utilizados os reagentes nas seguintes condições:
uma solução aquosa de 50 ml contendo 20 g/L de Ureia P.A (Dinâmica, Brasil) e 50 g/L de
Cloreto de Cálcio dihidratado (Dinâmica, Brasil). Esta solução foi identificada como solução
nutriente e foi previamente esterilizada em autoclave a 121ºC por 15 minutos e após mantida
em estufa de cultura a temperatura de 28ºC ± 2ºC.
A avaliação do material biológico produzido foi realizada por análise morfológica e
elementar e suas consequências foram avaliadas pela taxa de absorção de água por capilaridade.
Em relação a produção dos corpos de prova de areia, a metodologia se baseia nos estudos
efetuados por Gollapudi et al. (1995) e Shirakawa et al. (2011) que investigaram a formação de
carbonato de cálcio biogênico com a função de aglutinar grãos de areia. Já em se tratando da
investigação nas amostras de argamassa, este trabalho baseia-se nas técnicas propostas por
Castanier et al. (1999) e Le-Metayer-Levrel et al. (1999) de aplicação de solução contendo
microrganismos e nutrientes por borrifamento. Por fim, a metodologia de biodeposição em
concreto é proposta com base no trabalho de Qian et al. (2010), onde se procurou investigar os
efeitos superficiais em concretos, a fim de melhorar suas propriedades de resistência a
permeabilidade a líquidos. Todas as técnicas tiveram adaptações que permitiram realizar os
41

experimentos nas condições fornecidas pelo Laboratório de Microbiologia do Centro de


Tecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

3.2.1 Reativação do B. subtilis e ativação da enzima urease

A amostra de B. subtilis foi replicada em placas de Petry contendo meio de cultura sólido
Plate Agar Count – PCA (KASVI, Itália) previamente esterilizado em autoclave a 121ºC por
15 minutos. As placas foram mantidas em estufa de cultura a temperatura de 28ºC ± 2ºC.
A produção da enzima urease pelo B. subtilis deve ser ativada em meio de cultura
líquido, cuja composição contém 20 g/L de extrato de levedura (KASVI, Itália) e 20 g/L de
Ureia P.A (Dinâmica, Brasil). A solução de ativação foi esterilizada em autoclave a 121ºC
durante 15 minutos antes da inoculação da bactéria.
Os microrganismos foram mantidos em estufa de cultura a temperatura de 28ºC ± 2ºC
por 24 horas, antes de serem utilizados nos experimentos (SHIRAKAWA et al., 2011). A
ativação prévia teve como objetivo permitir a adaptação dos microrganismos ao meio de cultura
contendo ureia bem como verificar a sua capacidade de sobrevivência. Para uma curva genérica
de crescimento dos microrganismos espera-se que após 24hs (fase estacionária) a multiplicação
da quantidade de microrganismos provoque mudanças visuais no meio de cultura, já que o meio
de cultura interfere consideravelmente na produção de metabólitos. Nos ensaios efetuados neste
trabalho os microrganismos deverão se encontrar em crescimento na fase exponencial que foi
identificada com o número 2 (fase log exponencial) na Figura 6.

Figura 6 - Curva típica de crescimento de células bacterianas.


42

Para todos os ensaios realizados, a concentração da solução do meio de cultura para


precipitação de carbonato de cálcio foi definida em 20 g/L de Ureia P.A (Dinâmica, Brasil) e
50 g/L de Cloreto de Cálcio dihidratado (Dinâmica, Brasil).
A literatura tem avaliado a possibilidade de que a quantidade de carbonato de cálcio
precipitado está associada a concentração de cálcio e ureia disponível no microambiente
(OKWADHA & LI, 2010). De Muynck et al. (2009) estimaram que para uma biodeposição de
aproximadamente 13,4 mg/cm2 é indicado uma solução contento 20 g/L de ureia e 50 g/L de
cloreto de cálcio.

3.2.2 Biodeposição em areia

Com a finalidade de acompanhar a produção de carbonato de cálcio por meio da ação


dos microrganismos foi idealizado que seringas de 20 ml fossem preenchidas com 22 gramas
de areia conforme descrito na Tabela 6 na seção 3.1.5.
O ensaio consistiu em aplicar um volume de solução de bactérias suspensas em água no
leito de areia contido nas seringas. Estas foram previamente limpas, onde um tampão de papel
de filtro foi colocado na base inferior da seringa para evitar a perda de material durante o
processo de percolação dos reagentes, como se mostra na Figura 7. As seringas foram
numeradas de 1 a 3.

Figura 7 - Seringa preparada com areia para ensaio de biodeposição.


43

Depois de acondicionada a areia no interior das seringas, estas foram esterilizadas em


autoclave a 121ºC durante 15 minutos e, após foram mantidas em capela de exaustão e de fluxo
de laminar UV até temperatura ambiente. O ensaio foi conduzido em ambiente não controlado
de esterilização.
Inicialmente 10 ml de uma solução nutriente foram adicionadas a todas as seringas
contendo areia. Imediatamente após, 1 ml da solução contendo bactérias previamente ativadas
foi adicionada as seringas 1 e 2. Este processo foi realizado durante 5 dias consecutivos em um
intervalo de 24 horas.
Após um período de 20 dias para secagem do material a temperatura ambiente, foi
realizada a retirada alíquota de areia contida nas seringas (topo da seringa, meio da seringa e
base da seringa). A partir destas alíquotas foram preparados 9 stubs para serem metalizados
com ouro e após serem analisados com auxílio do MEV.

3.2.3 Biodeposição em argamassas

Os corpos de prova produzidos em argamassa – que é uma mistura de areia, cimento e


água – utilizaram os materiais descritos na Tabela 6 (seção 3.1.5) conforme as quantidades
informadas na Tabela 7. Os corpos de prova foram moldados em placas de Petry de dimensões
100 mm x 20 mm.

Tabela 7 - Composição dos corpos de prova em argamassa (1:3).


Cimento (g) Areia (g) Água (g)
340 760 500

A aplicação de reagentes para a biodeposição de carbonato de cálcio somente foi


iniciada após o tempo de cura do material de 28 dias.
O reagente utilizado para a biodeposição consistiu de uma solução aquosa de 50 ml da
solução nutriente. Para o ensaio contendo agente biológico foi adicionado à solução anterior 10
ml da solução contendo B. subtilis previamente ativada.
O processo de aplicação consistiu em borrifar com auxílio de um frasco spray de 200
ml a solução final (solução nutriente mais solução com microrganismo ativado) sobre a
superfície dos corpos de prova em argamassa. O processo foi repetido por 3 dias consecutivos,
em intervalos de 24 horas na condição não estéril. O mesmo processo foi realizado para a
amostra controle, ou seja, somente a solução nutriente sem adição de microrganismos.
44

Aguardou-se o tempo de 14 dias para então analisar alterações físicas do material e


realizar análise da morfologia dos microrganismos e dos elementos químicos resultantes do
processo de biomineralização. Primeiramente se buscou observar a morfologia dos
microrganismos e encontrar evidências visuais das zonas onde ocorreu seu desenvolvimento e
após foram avaliados os elementos presentes nestas amostras.

3.2.4 Biodeposição em concretos

Com a finalidade de determinar a influência da formação de carbonato de cálcio na


presença de bactérias na superfície de materiais cimentícios foram preparados 6 corpos de prova
de concreto cilíndrico nas dimensões 10 x 20 cm, de acordo com a norma NBR 5738:
Procedimento para moldagem e cura de corpos de prova (ABNT, 2015). A composição do
concreto utilizado na produção dos corpos de prova está descrita na Tabela 8, sendo os materiais
utilizados aqueles previamente descritos na Tabela 6 (seção 3.1.5).
É comum se encontrar na literatura especializada que o concreto é considerado pronto
para o uso, ou seja “curado”, após período de cura de 28 dias. Após o referido período foram
realizados os ensaios de biodeposição conforme descrito a seguir.

Tabela 8 - Composição dos corpos de prova de concreto (1:5).


Cimento (g) Brita (g) Areia (g) Água (g)
340 1170 760 500

O método de biodeposição consistiu em mergulhar os corpos de prova em recipientes


de ensaio com capacidade para até de 5 litros de volume de solução nutriente. Para os recipientes
que receberiam os corpos de prova a serem biomineralizados foram adicionados 10 ml de
solução de microrganismos ativados. Um dos recipientes foi mantido somente com os sais para
produção de corpos de prova de controle.
Os corpos de prova permaneceram 48 horas mergulhados na solução e após este período
foram retirados e mantidos a temperatura ambiente para secagem por mais 28 dias na condição
não estéril.
Os corpos de prova utilizados neste experimento foram produzidos e tratados a fim de
conduzir o ensaio de absorção de água por capilaridade.
45

3.2.5 Observação morfológica dos microrganismos e análise elementar das amostras de


areia e argamassa

Para a estrutura do material utilizado neste trabalho foi utilizado microscópio de


varredura eletrônica (MEV) modelo VEGA3 TESCAN. Aos stubs ou suportes de alumínio
foram fixadas as amostras de areia e amostras e as camadas superficial dos corpos de prova de
argamassa sobre uma fita condutora de carbono, todas metalizadas em ouro.
Em se tratando das análises dos elementos presentes nas amostras de argamassa e areia
foi utilizado o equipamento de espectroscopia dispersiva de raios-X (EDS) de forma pontual e
totalmente qualitativa.
Ainda, a amostra de argamassa foi analisada pelo método de determinação de carbono,
hidrogênio, nitrogênio e enxofre utilizando o equipamento Elementar Vario MACRO. A técnica
utilizada para esta análise segue a norma ASTM D5373-16 Standard Test Method for
Instrumental Determination of Carbon, Hydrogen, and Nitrogen in Analysis Samples of Coal
and Coke (ASTM, 2016), por ser uma técnica de análise instrumental.

3.2.6 Ensaio de absorção de água por capilaridade em amostras de concreto

Os ensaios de capilaridade foram conduzidos baseados na norma NBR 9779: Argamassa


e concretos endurecidos – determinação da absorção de água por capilaridade (ABNT, 1995).
Os corpos de prova cilíndricos foram secos em estufa a 105º C ± 5º C até peso constante,
o que ocorreu após 24 horas de permanência na estufa. Após, os pesos iniciais foram anotados
e os corpos de prova foram mantidos a temperatura ambiente.
As laterais dos cilindros foram revestidas com filme plástico de PVC para assegurar que
somente a seção transversal de uma das bases tivesse contato com a água durante o ensaio. A
área de contato permanente com a água foi calculada em 78,5 cm2.
Durante todo o tempo de ensaio, as amostras ficaram em contato com uma lâmina de
água recobrindo aproximadamente 5 mm da base inferior do cilindro. Os intervalos de tempo
ensaiados foram de 1, 3, 6, 24, 48 e 72 horas. Depois do tempo de ensaio, os corpos de prova
foram retirados da água, secos com pano umedecido e pesados em balança analítica.
A absorção de água é calculada de acordo com equação 1:

𝐴−𝐵
𝐶= [1]
𝑆
46

Onde: C = absorção de água por capilaridade (g/cm2); A = massa do corpo de prova


pesado no tempo t (g); B = massa do corpo de prova seco (g); S = área da seção transversal
(cm2).

3.2.7 Descarte dos resíduos dos experimentos

Todos os resíduos líquidos (meios de cultura) e sólidos (areia e argamassa) contendo


agente biológico foram esterilizados antes do descarte e acondicionados em recipientes
identificados e destinados a estação de tratamento de efluentes do Centro de Tecnologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Os corpos de prova cilíndricos foram reservados em separados para serem destinados a
pesquisas realizadas com agregados reciclados de materiais de construção e demolição.

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste trabalho somente uma fonte de íons de cálcio foi investigada, entretanto, outros
sais de cálcio são sugeridos para usos em técnicas de biomineralização. Van Tittelboom et al.
(2010) investigaram o uso de três fontes de cálcio: (i) cloreto de cálcio, (ii) acetato de cálcio e
(iii) nitrato de cálcio. Para os autores, a resistência, por exemplo, a absorção de água nas
amostras é similar para todas as fontes de cálcio testadas. Por outro lado. De Muynck et al.
(2008) observaram que a fonte de cálcio utilizada tem influência no tipo de cristal de carbonato
formado, sendo predominante a formação de calcita.
A maioria dos estudos encontrados na literatura optam pelo uso de cloreto de cálcio
como sal inorgânico fornecedor de íons de cálcio (HAMMES et al., 2003; ACHAL et al., 2008;
ABO-EL-ENEIN et al., 2012). Contudo é importante ressaltar que para melhorar as
propriedades do concreto reforçado não é indicada a utilização de cloreto de cálcio, devido ao
risco de corrosão dos reforços de ferro. Nestes casos sugere-se a utilização de fontes de cálcio
a partir de sais orgânicos como o acetato de cálcio e o lactato de cálcio (JONKERS & WIKTOR,
2011; ZHANG et al., 2015).
Os resultados aqui apresentados foram obtidos através da investigação em três tipos de
substratos: a areia, a argamassa e o concreto. Quanto a escolha dos materiais, cabe ainda
ressaltar que o tipo de cimento utilizado, CP V - ARI, foi escolhido por conter maior quantidade
de clínquer, e consequentemente menores teores de carga inorgânica em sua composição. Desta
47

forma, buscou-se diminuir a interferência da composição inorgânica do cimento nos resultados


de análise elementar.

4.1 COMPORTAMENTO DO pH

A enzima urease é o agente catalizador das reações de degradação da ureia contida no


sistema (reações descritas na seção 2.1.1). A amônia produzida como subproduto metabólito
final é responsável pelo aumento significativo do pH do meio. Assim, o fenômeno de
alcalinização do pH pode ser considerado um indicador da atividade da enzima urease nos
processos de biodeposição (MARTIN et al., 2012). As reações que envolvem a degradação da
ureia são responsáveis também pelo aumento da concentração de carbono inorgânico
dissolvido, uma vez que são liberados íons carbonato para o meio (LAUCHNOR et al., 2015).
Durante as etapas de execução da técnica de biodeposição, foram realizadas medições
do pH, tanto do meio de cultura, como durante os experimentos nas 24 e 48 horas após a adição
da solução contendo B. subtilis. Os resultados podem ser observados na Tabela 9.

Tabela 9 - Acompanhamento do pH nas diversas etapas da técnica de biodeposição.


Etapas da técnica de biodeposição pH
Meios de cultura para ativação da enzima urease (ureia e extrato de levedura) 6,5 a 7,0
sem adição de microrganismos.
Solução para saturação de cátions Ca2+ (ureia + cloreto de cálcio) sem adição 5,5 a 6,0
de microrganismos.
Meio de cultura 24 horas após a adição de Bacillus subtilis. 8,5 a 9,0
Meio de cultura 48 horas após a adição de Bacillus subtilis. 8,5 a 9,0
Ensaio de biodeposição em concreto: meio de cultura para biodeposição 9,5 a 10,0
(ureia + cloreto de cálcio + B. subtilis) contendo corpos de prova de concreto.

Observando-se os valores de pH do meio de cultura antes e depois da adição da solução


contendo microrganismo, pode-se constatar uma alteração significativa indicando que houve
atividade microbiológica. Após 24 horas da adição de B. subtilis, o pH do meio inicialmente
medido em pH 7,0 teve seu valor aumentado pH 9,0 o que indica que as reações esperadas entre
a enzima urease e a ureia ocorreram, como consequência do aumento do número de
microrganismos que degradam a ureia.
Estas reações liberaram amônia (responsável pelo aumento do pH) e carbonatos que
devem ficar disponíveis para a posterior precipitação de carbonato de cálcio. O pH se manteve
próximo a 9,0 mesmo após 48 horas e teve leve aumento (pH 9,5 – 10,0) quando na presença
dos corpos de prova de concreto devido à composição alcalina do concreto (Figura 8A).
48

Na Figura 8A é possível observar a formação de um sobrenadante de cor amarelada nos


recipientes de ensaio com a presença de agente biológico. Esta formação é atribuída a intensa
atividade microbiológica, indicando que o B. subtilis é uma espécie capaz de adaptar-se às
alterações de pH e à um ambiente agressivo e saturado de sais de cálcio.
Como o sistema de manteve sem qualquer esterilização é de se esperar que esporos de
fungos tenham também se desenvolvido no ambiente propício do meio de cultura orgânico.
Após o período de secagem não foi possível observar diferenças visuais nos corpos de
prova como por exemplo alteração da coloração (Figura 8B).

Figura 8 - Biodeposição em amostras de concreto.

4.2 BIOFILME

A etapa de ativação da enzima urease produzida pelo B. subtilis consistiu em expor o


microrganismo a uma quantidade inicial de ureia durante 24 horas a temperatura de 28ºC ± 2ºC.
Esta ativação inicial serviu para induzir a atividade da enzima urease e validar a utilização deste
microrganismo no meio de cultura proposto. Após 24 horas de incubação foi possível observar
a formação de um sobrenadante levemente amarelado de camada espessa (Figura 9). Esta
camada pode ser caracterizada como biofilme formado em meio líquido, a qual comprova a
atividade microbiana esperada para as condições do ensaio. Neste caso, possivelmente o
biofilme formado está aderido a poeiras e partículas sólidas leves (material desprendido dos
próprios corpos de prova) que flutuam no líquido e permitem que os microrganismos ali
presentes se aderirem.
49

Figura 9 - Biofilme no meio de ativação da enzima urease.

Como visto na curva de crescimento típica para uma população bacteriana na seção
3.2.1, é esperado que a fase exponencial e estacionária para o B. subtilis ocorra no período de
24 horas de permanência do microrganismo no meio de cultura. Nestas etapas são produzidos
os metabólitos de interesse, neste caso a enzima urease. Após este período compreendido entre
48 e 72 horas, o número de células bacterianas, ou a taxa bacteriana que nascem e que morrem
são equivalentes e a curva atinge um patamar com pouca variação, e para o estudo esta condição
não é apropriada pois é necessária uma alta atividade microbiológica para induzir a precipitação
de carbonato de cálcio no microambiente.
Os biofilmes podem também serem formados sobre superfícies abióticas sólidas,
permitindo uma melhor adesividade dos microrganismos a estas. Em um primeiro momento as
bactérias planctônicas (livres no seio do líquido) se aderem à superfície do material em regiões
aleatórias, naquelas mais propícias a sua sobrevivência consumindo menor energia. As
bactérias, como subprodutos de sua atividade metabólica, secretam diversas substâncias entre
elas polímeros (exopolissacarídeo – EPS) que as fazem aderir-se firmemente sobre a superfície.
Este processo pode ser visualizado na Figura 10 em que se mostra um comparativo das
superfícies da areia sem presença de microrganismos, visível na Figura 10A, e na presença de
microrganismos, como se mostra nas Figuras 10B e 10C.
Na Figura 10A observa-se a amostra de areia sem aplicação de agente biológico,
somente com a solução contendo ureia e cloreto de cálcio. A superfície do grão de areia
apresenta-se lisa e limpa, sem formação de biofilme. Ao lado, nas Figuras 10B e 10C, se notam
indícios da formação de biofilme caracterizados pela formação de uma camada de aspecto
50

rugoso sobre a superfície anteriormente lisa. O resultado observado ao MEV sugere que neste
material os microrganismos se replicaram e formaram um biofilme como resultado da atividade
metabólica durante a fase de crescimento. Tendo este ensaio uma duração de 20 dias, é de se
esperar que após a escassez de água e a diminuição de nutrientes diminuam gradativamente a
atividade bacteriana. Neste caso, o biofilme atua como um ambiente de proteção para as
bactérias de vida vegetativa, isto é, esporos. Seria esperado que uma hidratação do meio e novo
fornecimento de nutrientes permitam a reativação dos microrganismos esporulados e assim a
formação de uma nova camada de carbonato de cálcio.

Figura 10 - Biofilme formado no processo de biodeposição em areia.

Por fim, sobre as duas últimas Figuras pode-se observar a ausência de hifas o que sugere
que não houve crescimento de fungos no material. As hipóteses que podem ser consideradas é
a habilidade de produção de metabólitos nocivos aos fungos ou ainda as condições ambientais
do experimento inibirem o crescimento de outros tipos de microrganismos. Se acredita que o
motivo principal para o não desenvolvimento dos fungos seja o aumento de pH visto que os
fungos se desenvolvem melhor em valores baixos de pH, isto é, ao redor de pH 4 e 5. Em linhas
gerais, considerando aplicações práticas futuras, o não surgimento de fungos no material
poderia indicar que no ambiente construído este processo poderia ser pensado como um sistema
para mitigação de mofos e bolores.

4.3 ANÁLISE ELEMENTAR CHNS

Amostras de argamassa moídas em almofariz foram analisadas pelo método de


combustão seca CHNS (Carbono – Hidrogênio – Nitrogênio – Enxofre).
51

Foi identificado um leve aumento na concentração dos elementos carbono, nitrogênio e


enxofre quando comparados com a amostra padrão, como se observa na Tabela 10. A amostra
de argamassa biologicamente tratada apresentou resultado superior para os teores de carbono
(13%), nitrogênio (75%) e enxofre (61%).
Para sua sobrevivência, os microrganismos requerem uma fonte de carbono que pode
ser inorgânica (CO2 - dióxido de carbono) ou orgânica proveniente de moléculas orgânicas
(PELCZAR et al., 1981). O B. subtilis é um microrganismo quimio-heterotrófico que utiliza
fonte orgânica de carbono para suas funções vitais. Sua necessidade foi suprida com o
fornecimento de carbono orgânico através da ureia e do meio nutritivo composto de extrato de
levedura. Portanto um aumento nos teores de carbono pode ser explicado pela própria ação
bacteriana e pela presença de ureia e extrato de levedura fornecido na fase de biodeposição
(reações de hidrólise da ureia e liberação de íons carbonatos no meio).

Tabela 10 - Resultados da análise elementar CHNS para amostras de argamassa.


Amostra Nitrogênio Carbono Enxofre
Amostra de controle 0,042146 2,576265 0,153166
Amostra tratada com B. subtilis 0,167841 2,964262 0,393042

Quanto ao aumento do nível de nitrogênio, este fenômeno pode ser explicado pela
adição de ureia e extrato de levedura como meio nutriente para a cultura de B. subtilis. Ainda,
o nitrogênio constitui cerca de 14% da massa seca da célula bacteriana e é também importante
para a síntese de proteínas e ácidos nucleicos, como para a adenosina trifosfato (ATP). A ATP
é um nucleotídeo, responsável pelo armazenamento da energia utilizada pelo microrganismo e
pela transferência de energia dentro da célula (PELCZAR et al., 1981; TORTORA et al., 2012).
O aumento na concentração de enxofre pode ser explicado pela própria ação metabólica
da bactéria na formação de proteínas e troca genética em decorrência da síntese ribossomos da
bactéria (BLEICH et al., 2014). A determinação do aumento de enxofre pode também estar
associada a uma desnaturação proteica, colapso da membrana bacteriana ou até liberação
térmica como o que ocorre no momento da morte bacteriana. O aumento dos três elementos
químicos confirma o desenvolvimento microbiano nas condições do ensaio.
52

4.4 MORFOLOGIA EM MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA (MEV) E


ANÁLISE ELEMENTAR (EDS)

Os corpos de prova da Figura 11 mostram claramente um aspecto esbranquiçado e que


é associado à proliferação de bactérias. Comparando visualmente os corpos de prova, observa-
se que no corpo de prova que que esteve em contato com a bactéria B. subtilis e com o cloreto
de cálcio e ureia, um desenvolvimento da formação de uma camada esbranquiçada na superfície
tratada (Figura 11B), enquanto que aquele que somente foi hidratado com solução contendo
ureia e cloreto de cálcio se manteve inalterado (Figura 11A).
Esta formação é um indicador de que esta camada está associada a formação de
carbonato de cálcio biológico. Outra informação é quanto às possíveis mudanças visuais do
material submetido ao tratamento de biodeposição. Possivelmente houve um excesso de
carbonato de cálcio biogênico formado e acentuado pela superfície irregular do material. Em se
tratando de processos industriais deverá ser considerada mudanças físicas provocadas pela
aplicação do produto, principalmente em superfícies irregulares onde uma concentração de
nutrientes e microrganismos poderá provocar um efeito indesejado de alteração de aparência.
Na sequência esta camada foi observada quanto a morfologia e localização dos
microrganismos, bem como dos prováveis cristais e a composição elementar da suposta camada
de carbonato de cálcio biológico.
A análise de uma amostra destes ensaios ao MEV permitiu identificar as estruturas
bacterianas e a formação de biofilme nas amostras de argamassa. A área circular da Figura 12
destaca um agrupamento de células bacterianas mergulhadas em uma matriz de biofilme. As
dimensões de aproximadamente 1 µm se enquadram no que seria esperado para a dimensão
deste microrganismo.
O tamanho das bactérias beira a ordem de µm o que pode ser influenciado pela limitação
de algum nutriente e/ou pela presença de agentes agressivos no meio ambiente. Geralmente as
bactérias pertencentes ao grupo dos bacilos tem aproximadamente 0,5 µm de diâmetro e até 1
µm de comprimento (DOUGLAS et al., 1998). As dimensões típicas do corpo dos bacilos
proporcionam uma alta proporção área x volume, que por consequência permite que a superfície
da bactéria tenha uma maior área específica para reações e trocas com o meio. Esta
característica aliada às propriedades dos mecanismos eletroquímicos da membrana que as
recobrem, carregada com carga elétrica negativa, fazem das bactérias as responsáveis pela
criação de sítios de nucleação durante o processo de biomineralização (BUNDELEVA et al.,
2011).
53

A composição química elementar qualitativa obtida por análise de energia dispersiva


(EDS) evidenciou concentrações elevadas de cálcio (Ca), oxigênio (O) e carbono (C) na linha
de interesse (Figura 13B) em uma região de concentração de biofilme (Figura13A). Estes
valores foram obtidos com base no espectro dos elementos presentes, sendo estes os elementos
mais abundantes na região analisada (Figura 14).
Espera-se que os cristais de carbonato de cálcio formados durante a biomineralização
cresçam na região do biofilme, tendo como sítio de nucleação o próprio corpo da bactéria. A
concentração de cálcio (20,39%), oxigênio (47,43%) e carbono (16,21%), apresentada na
Figura 13, tem proporção Ca:C:O aproximada de 1:1:3. Pode-se inferir que a proporção da
concentração dos elementos caracteriza uma molécula de carbonato de cálcio - CaCO3 (KIM
et. al, 2013). Contudo a análise de EDS não revela o tipo de polimorfo de carbonato de cálcio
formado.

Figura 11 - Biodeposição em argamassa.


54

Figura 12 – Colônias de B. subtilis aderidos ao biofilme.


55

Figura 13 - Análise elementar (EDS) das amostras de argamassa – região do biofilme.

Figura 14 - Espectro da linha analisada em EDS – amostra tratada com B. subtilis.

O mesmo processo de observação foi repetido para a amostra não tratada com B. subtilis.
Não foram identificadas colônias de microrganismos nem presença de biofilme no material em
todas as amostras observadas (Figura 15A).
56

Figura 15 - Análise das amostras de argamassa – amostra não tradada com B. subtilis.

Com relação a análise química qualitativa por EDS, a concentração do elemento de


cálcio (Ca) na área identificada com um retângulo amarelo foi praticamente insignificante
(Figura 15B). O espectro (Figura 16) traz o silício (Si) como o elemento de maior concentração,
podendo ser uma região de concentração de grãos de areia.

Figura 16 - Espectro da linha analisada em EDS – amostra não tratada com B. subtilis.
57

4.5 CAPILARIDADE

A influência da biodeposição na resistência a absorção de água foi avaliada utilizando


os corpos de prova cilíndricos de concretos que foram mergulhados durante 48 horas em uma
solução contendo B. subtilis e reagentes.
Uma das formas mais frequentes de ingresso de agentes de degradação em materiais
como argamassa e concreto é causada pela penetração de água contendo agente químicos
diluídos. Este processo é potencializado pela porosidade característica dos materiais de
construção. Assim tem se a absorção capilar dos materiais cimentícios como um importante
mecanismo de entrada de agentes agressivos que diminuem a vida útil de destes materiais.
O ensaio de capilaridade por absorção de água foi o experimento utilizado para
comprovar a viabilidade de utilização da técnica de biodeposição e para evidenciar a alteração
da porosidade em materiais cimentícios.
A redução na absorção de água por capilaridade foi evidenciada em todas etapas de
medição como mostra o gráfico da Figura 17, onde “Bc1”/“Bc2” são as amostras tratadas com
agente biológico (colunas verdes) e “Br1”/”Br2 são os resultados das amostras controle sem
adição de microrganismo. Para os valores observados, em média, houve uma redução de 20%
na absorção de água nos corpos de prova previamente tratados com B. subtilis.

Figura 17 - Resultado gráfico do ensaio de capilaridade.


58

A redução da absorção de água pode ser atribuída à redução da porosidade superficial


do material. Esta obstrução é superficial, pois no processo de biodeposição os microrganismos
têm ação limitada a alguns µm devido a necessidade de água e oxigênio em seu estado ativo,
ou seja, produzindo metabólitos responsáveis pela sua sobrevivência e consequentemente
induzindo a precipitação de carbonato de cálcio. Esta redução de porosidade é alcançada devido
à combinação da presença de biomassa formada pela atividade microbiana e da precipitação de
carbonato de cálcio nos espaços vazios. O resultado é uma dificuldade maior da água penetrar
no material quando comparada com as amostras não tratadas.
Observa-se que, à medida que o tempo evolui, os índices de absorção de água por
capilaridade se tornam mais evidentes, sendo nas primeiras 24 horas já alcançada a taxa de
aproximadamente 20% de redução em comparação com o corpo de ensaio de controle.

4.6 A ABORDAGEM BIOMIMÉTICA

Esta pesquisa, além de propor uma metodologia de investigação do processo de


biomineralização induzida pela espécie B. subtilis, teve a intenção de abordar o
desenvolvimento biomimético como proposta de científica para o desenvolvimento tecnológico
sustentável. Por este motivo, uma breve discussão sobre a abordagem biomimética contida nesta
pesquisa se faz pertinente.
A abordagem biomimética utilizada para esta pesquisa considerou a solução tecnológica
da Natureza como benchmark, ou modelo de comparação, para o desenvolvimento de propostas
visando tecnologias sustentáveis. A tendência atual é a de observar materiais naturais que
possuam função semelhante às funções desenvolvidas por materiais sintéticos utilizados na
construção civil. Neste caso, rochas de origem calcária onde partículas de areia e outros
sedimentos são unidas por um material ligante produzido a partir da síntese biológica de
microrganismos do solo e da água. Estas formações geológicas milenares permitiram insights,
ou inspirações, que fizeram pesquisadores questionar como este material se formou e como é
capaz de resistir por tantos anos mantendo as mesmas propriedades. São materiais inteligentes
que utilizam recursos localizados e formados a temperatura e pressão ambiente e que se auto
recuperam quando necessário sem uso e geração de materiais poluentes.
Com base no pensamento biomimético e relacionando os conhecimentos até aqui
descritos têm se uma análise deste estudo a luz da espiral do design biomimético. Na Tabela 11
estão correlacionadas as cinco etapas que compõe espiral do design biomimético e o seu
desdobramento quanto aos resultados obtidos.
59

Em linhas gerais, todo o desenvolvimento biomimético requer a cooperação de áreas


diversas, principalmente das ciências biológicas e engenharia.

Tabela 11 - Espiral do design biomimético.


Etapa Descrição
Identificação Materiais de construção, principalmente o cimento, são materiais que causam
danos ao meio ambiente desde o processo de extração da matéria prima,
passando pelo processo de produção, beneficiamento e transporte. A
indústria da construção civil é uma das grandes responsáveis pela emissão
de gases de efeito estufa que contribui para o aquecimento global e,
consequentemente prejudicam o equilibro do planeta.
Como consequência se faz necessário desenvolver uma solução tecnológica
sustentável que atenda às necessidades de conforto e segurança equivalentes
ou melhores que os oferecidos pelos materiais/processos utilizados
atualmente.
É necessário que esta solução reduza e/ou controle a utilização e produção
de materiais tóxicos e prejudicais ao meio ambiente. Outro requisito é que
esta solução atinja ou ainda supere os benefícios físicos-mecânicos e
econômicos que os processos e produtos atuais proporcionam a sociedade.
Tradução Na Natureza é possível encontrar várias estruturas que apresentam
características de resistência e proteção semelhantes às que matérias de
construção conferem aos artefatos construídos a partir deles. Rochas
calcárias, conchas de moluscos e ossos de vertebrados são exemplos de
estruturas resistentes e bem adaptadas à função. Todos estes materiais
possuem como característica comum serem materiais biomineralizados, ou
seja, o mineral contido nas estruturas é de origem biológica.
Em se tratando de uma solução que poderia ser aplicada ao ambiente da
construção civil, as formações geológicas conhecidas como estromatólitos
poderiam ser utilizadas como benchmark para emular uma solução da
Natureza.
Exploração A estratégia utilizada pela Natureza para formação de rochas calcárias
consiste aglomerar sedimentos através da precipitação de carbonato de cálcio
resultante da atividade de bactérias presentes no ambiente (solo ou água). O
processo de biomineralização está presente na formação geológica da Terra
e tem participação fundamental de microrganismos capazes de reciclar
minerais encontrados no meio ambiente o qual estão inseridos. Como
consequência da sua atividade microbiológica, há produção de sais minerais
que atuam como ligantes unindo as partículas e formando rochas
sedimentares.
Imitação A deposição desta camada de material biogênico pode ser superficial ou entre
as partículas de material, assim duas formas de bioinspiração são passíveis
de avaliação.
A primeira delas diz respeito a deposição de biomateriais na superfície com
o objetivo de proteger e restaurar defeitos iniciais. A outra abordagem sugere
a utilização deste material como substituto parcial ou completo dos ligantes
sintéticos utilizados atualmente. O objetivo é emular o processo de formação
deste material ligante a fim de desenvolver uma solução tecnológica
aplicável a necessidade humana.
60

Entende-se que, assim como na Natureza estas estruturas geológicas se auto


reparam e se adaptam as condições ambientais, como solução para problemas
tecnológicos humanos teríamos materiais inteligentes, mais duradouros e
melhores adaptados aos princípios da vida.
Avaliação Com base nos resultados obtidos com os experimentos realizados e na ampla
revisão bibliográfica realizada, é possível avaliar o uso da biomineralização
no ambiente construído quanto a:
 a Natureza é movida a energia solar: a biomineralização é um
processo que ocorre nas condições normais de temperatura e pressão,
ou seja, não necessita de fonte de energia que não seja luz solar.
 a Natureza usa apenas a energia que precisa: os microrganismos
obtém sua energia dos processos físico-químico que envolvem as
atividade metabólicas para sua sobrevivência.
 a Natureza adapta a forma que se apresenta à função a que se
destina: neste caso, a formação de cristais de carbonato de cálcio
biológico ocorrem nos espaços vazios do material (poros) e quanto o
polimorfismo do sal, ele se dá pelo tipo de microrganismo e pelo
meio nutritivo o qual ele é exposto.
 a Natureza recicla tudo: a biomineralização que ocorre na Natureza
não gera resíduos, mas sim nutrientes que são compartilhados com
outros processo. Enquanto que a solução emulada e aplicada em
escala laboratorial ainda requer aprimoramentos quanto aos resíduos,
principalmente a formação de amônia e o uso de reagentes químicos
e nutrientes para o meio de cultura.
 a Natureza é fiel a diversidade: o processo de biomineralização
acontece em todos os reinos dos seres vivos, pesquisas sugerem que
microrganismos do solo e da água são capazes de reciclar minerais
em processos de biomineralização.
 a Natureza exige especialização geográfica localizada: o processo
de biomineralização ocorre quando o ambiente é propício, ou seja, no
caso da biomineralização induzida por microrganismos o ambiente
deve oferecer fatores adequados de pH, sítios de nucleação, saturação
de íons do elemento e carbono dissolvidos.
 a Natureza inibe excessos em seus sistemas: a formação de
biomineral ocorre somente quando as condições de formação são
atendidas, caso contrário os microrganismos assumem a forma
vegetativa de esporos até que as condições de biomineralização sejam
reestabelecidas.
 a Natureza explora o poder dos próprios limites: os microrganismos
são altamente resistentes, e se adaptam as mais variadas condições de
ambiente.

5 CONCLUSÃO

O tratamento de superfície baseado em biodeposição apresenta capacidade de modificar


a interação entre a água e a superfície de contato com corpos de prova de concreto. Os resultados
61

obtidos com a biodeposição em concreto sugerem que esta técnica se constitui em uma
alternativa aos métodos tradicionais de proteção de superfícies de agentes externos, que
provocam danos aos materiais de construção diminuindo a sua durabilidade.
Foi evidenciado que o B. subtilis é um microrganismo capaz de se desenvolver em meios
alcalinos e induzir a formação de carbonato de cálcio, sendo então uma espécie válida para usos
biotecnológicos também no ambiente construído. Os resultados obtidos com a análises em
MEV e CHNS confirmam a presença de material biológico e alterações químicas decorrentes
da atividade microbiológica. As concentrações significativas de carbono, oxigênio e cálcio nas
amostras tratadas e analisadas por EDS corroboram para a formação de carbonato de cálcio
biologicamente induzido pela ação de microrganismos. Esta camada de cristais de carbonato de
cálcio age como selante do material, diminuindo a porosidade superficial e por consequência a
absorção de água. Isto ficou evidenciado pela redução em 20% na absorção de água nas
amostras tratadas por técnica de biodeposição. Estes resultados permitem sugerir que a
aplicação biotecnológica poderia ser um potencial inibidor de penetração de água e junto com
ela, materiais tóxicos presentes no ar atmosférico como gases e outros poluentes, aumentando
da vida útil de materiais de cimentícios.
Materiais que são capazes de se auto regenerar ou que se adaptam às condições
ambientais constituem uma nova classe de materiais inteligentes. Entre estes materiais,
encontram-se os bioconcretos, que são materiais de construção que possuem algum processo
envolvendo biomineralização. A técnica utilizada neste trabalho imita o processo bioquímico
de formação geológica que ocorre na Natureza e que é responsável por consolidar partículas de
areia utilizando como agente ligante carbonato de cálcio biologicamente produzido. Portanto,
é possível afirmar que a biomineralização aplicada ao ambiente construído pode ser enquadrada
como um desenvolvimento biomimético e que tem potencial sustentável.

6 PROPOSTAS DE ESTUDOS FUTUROS

Como citado anteriormente a biomineralização em ambientes construídos é uma


proposta que tem potencial para ser uma tecnologia ambientalmente amigável. Contudo é
importante ressaltar que biomineralização não é ainda um processo completamente inofensivo
ao meio ambiente, havendo ainda muito espaço para contribuições principalmente nesta área
de pesquisa no Brasil.
Basicamente pode-se dizer que os estudos futuros deveriam buscar alcançar os estágios
já atingidos por grupos de pesquisas na Europa, Estados Unidos e alguns países da Ásia.
62

Técnicas envolvendo encapsulamento e usos de outros sais fornecedores de íons cálcio


oferecem um vasto campo de estudo. Ainda hoje a maioria dos estudos traz o cloreto de cálcio
e ureia como reagentes principais da biomineralização. Quanto a ureia, no processo de hidrólise
há formação de amônia em excesso que pode ser tóxica para outros microrganismos do solo.
Em se tratando do cloreto de cálcio ele pode ter ação corrosiva devido a ação dos íons de cloro
que ficam dissociados no meio.
Outro ponto importante de estudos futuros está relacionado ao potencial econômico
desta técnica. Poucos estudos levantam os custos associados ao processo de biomineralização
comparando-os aos processos tradicionais. Geralmente, os resultados indicam que o processo
envolvendo agentes biológicos é mais caro e por isso soluções que o tornem mais competitivo
são bem-vindas. Uma das limitações está nos custos relacionados aos custos dos nutrientes que
giram em torno de 60% dos custos totais do processo de biomineralização (ACHAL et al., 2015;
SILVA et al, 2015).
E por fim, a análise ciclo de vida (ACV) deste material seria de grande relevância para
comprovar sua viabilidade sustentável. A análise de ciclo de vida é uma ferramenta que busca
avaliar e entender de forma sistêmica os riscos ambientais causados por produtos e pelos
processos ligado à sua produção e uso. O objetivo é obter informações e quantificar os impactos
durante todo o ciclo de vida do produto, desde a extração das matérias primas até a disposição
após o seu uso. Huntzinger e Eatmon (2009) e Van der Heede e De Belie (2012) realizaram
estudos comparando diversas tecnologias consideradas sustentáveis comparando-as com
processos tradicionais utilizados no ambiente construídos. Entretanto, há uma lacuna na
literatura científica que avalie os impactos e benefícios da produção de bioconcretos.
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