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21/7/2014 O caminho do homem equilibrado | Revolução Interior

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O caminho do homem equilibrado


Para avançarmos por esta senda do despertar, inevitavelmente precisamos rever conceitos e desfazer
algumas fantasias sobre o que é o caminho. Inclusive quanto à figura do sábio, do mestre, daquele
homem que já percorreu boa parte do caminho. Geralmente se cria uma idéia exagerada, mais que
fantástica (digna de um filme de Holywood) sobre esses personagens enigmáticos. No entanto, se
chegamos a conhecer algum sábio, ficamos surpresos e não raramente, chocados, pois eles
simplesmente não se encaixam em nossos esquemas mentais sobre como “deveria ser” alguém com
tamanha sabedoria.

Alguém disse, em uma ocasião (e com muito acerto), que o fogo, de longe ilumina; porém
demasiadamente perto, queima. Nos dias atuais, se Jesus, Maomé, Padmasambhava ou Sidarta Gautama
andassem entre as multidões, como no passado, o mais provável é que fossem tomados por loucos ou
desordeiros (se bem que, de fato, em seu tempo eles também foram considerados da mesma forma…) e
pouquíssimos reconheceriam o valor de seus ensinamentos. Infelizmente, é à medida que a
recordação da figura humana que abrigou a sabedoria do mestre se torna distante é que a fé ao
redor de sua doutrina se prolifera. E é por essa mesma razão que os judeus vão continuar esperando
a chegada do Messias, ou que os cristãos esperam a segunda vinda do Cristo até hoje, pois esperam um
homem completamente sobrenatural. como é no imaginário humano. E ainda que carregue dentro de si
algo fantástico, muitos o verão como um ser humano, e se decepcionam.

Como vínhamos estudando nos artigos anteriores, sobre os quatro


caminhos, nossas necessidades e prioridades vão se refinando, passo a
passo; começamos entendendo que precisamos mudar, para depois
entendermos que essa mudança é de nível psicológico e não meramente
física e mais adiante ainda aprendemos que enquanto não
desenvolvermos as qualidades natas de nossa consciência, nossa
transformação interior sempre sofrerá golpes inexplicáveis, pois ainda
vibramos em um nível de fragilidade emocional. Assim vamos percorrendo
cada etapa do caminho, até que começamos a nos desenvolver
espiritualmente, desenvolver essas qualidades da consciência e vamos
Antes de conhecer a verdade,
redefinindo nossa percepção sobre o que serve e o que não serve em as montanhas eram
nosso caminho. Pouco a pouco, os métodos rígidos da técnica vão montanhas...

cedendo espaço para os anos de experiência concreta e vemos


que nenhuma teoria se encaixa perfeitamente, pois mesmo as teorias que são criadas pelos grandes
sábios, são similares aos conhecimentos insipientes dos primeiros anos da escola, conhecimentos que
vão servir apenas de base para que outros conhecimentos sejam acolhidos para então, já em um outro
nível, se possa entender a complexidade dos diferentes aspectos daquela ciência.

Todos os conhecimentos sobre o caminho nos dão um direcionamento moral e motivacional,


para que possamos começar a trilhá-lo. Mas essa mesma moral, quando se dispõe de mais
consciência, pode tornar-se inconveniente, desajustada para as necessidades do momento. Samael Aun
Weor dizia por isso que às vezes, até as máximas de ouro se transformam num obstáculo na obra. Tais
máximas da sabedoria servem, portanto, como um embasamento, quando ainda não se dispõe da
experiência direta para tomar as suas próprias decisões.

Paulo de Tarso, na primeira carta aos Coríntios, escreve: “Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a
espirituais e sim como a carnais, como crianças em Cristo. Leite vos dei de beber, não vos dei alimento
sólido, porque não poderíeis suportá-lo.” Samael Aun Weor, em 1977, em conversa com um casal de
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discípulos (Luis Palácio e esposa) dizia que ainda pedia autorização ao seu Real Ser para entregar a
Grande Obra, pois só havia dado “o kinder” até então. Ou seja, a sabedoria dos mistérios que se entrega
ao mundo é com um galho de árvore que cravamos na terra e amarramos o broto, para que ele cresça
reto (ou seja, em muitos momentos os ensinamentos transmitidos terão uma função que é mais
pedagógica do que desveladora). Porém, quando o broto cresce e se sustenta por si só, o galho se torna
apenas um apoio e por fim, algo até mesmo desnecessário.

Poderíamos também comparar com a direção que temos pra chegar a algum lugar, como por exemplo, se
estivéssemos indo de Porto Alegre até Curitiba e não soubéssemos o caminho, alguém poderia nos dizer:
“Vá na direção de Florianópolis” e isso estaria correto por um bom trecho da viagem. Porém se já
estivéssemos perto de Blumenau e tomássemos o caminho apontado por uma placa em direção a
Florianópolis, obviamente isso representaria um desvio de nossa meta final.

Mas o que isso tudo tem a ver com o quarto caminho, com o caminho do homem equilibrado? O
conhecimento desses mistérios práticos é o que se corresponde a viver nessa etapa específica. Para
entendermos isso, precisamos ver o sentido dessa terminologia. Afinal, o que é um homem “equilibrado”?
Fisicamente, um homem equilibrado é aquele que se sustenta sobre as duas pernas, correto? Muitas
pessoas tentam viver uma vida espiritual apoiados apenas na “perna direita” (entenda-se aqui que
estamos falando de forma metafórica). Apoiar-se sobre as duas pernas significa não estar mais
preocupado com as aparências, em parecer bom, sábio ou piedoso, mas sim em fazer o que
realmente é correto e ajudar da forma mais eficaz. Às vezes, na vida, é necessário agir de forma
dura e às vezes, ser absolutamente complacente. Nem sempre daremos a melhor ajuda estendendo a
mão; por incrível que pareça, existem momentos que o melhor que podemos fazer por alguém é negar-lhe
ajuda. Mas como chegar a saber o que fazer? Para isso é necessário despertar a consciência, não existe
outro meio.

Existe uma história muito interessante, de um mestre com seu discípulo, em peregrinação. Como de
costume, nas terras hindus as pessoas que renunciam a tudo e vivem apenas da mendicância são tidas
como grandes sábios e as pessoas se sentem afortunadas de recebê-los em suas casas, pois são fonte
de muitas bênçãos. Esses dois viajantes foram bem acolhidos em uma casa muito simples. onde o chefe
da família se desculpou por não ter nada além de leite para oferecer a eles. O leite vinha de uma vaca
que tinham e era sua única fonte de alimento. Na aurora do dia seguinte, quando eles se preparavam
para partir, antes de todos acordarem, o mestre mandou o discípulo pegar a vaca e jogaram ela de um
penhasco. O discípulo obedeceu, embora tenha se chocado com o mestre. Passado muitos anos,
enquanto viajavam pela mesma região, os dois notaram que a casa que ali havia não existia mais. Ao
conversar com os moradores da nova casa, descobriram que eram os mesmos de antes, porém, depois
da crise de não ter o que comer, resolveram batalhar, conseguiram alguns grãos emprestados e iniciaram
o que depois se tornaria uma enorme plantação, fonte de grande riqueza pra família.

Parece que chega um momento na vida de um sábio que a razão linear, aparente, não mais os domina.
Sócrates dizia ser impulsionado por uma voz interior que ditava os caminhos que tinha que seguir.
Paracelso, em um texto que escreveu ditando conselhos para se chegar à sabedoria, falava da
necessidade de entrar em contato com essa mesma voz sutil que Sócrates se referia, que nada mais é
que o Real Ser Interior de cada um. Nela está o manancial da genialidade e a solução dos enigmas mais
ocultos.

O homem equilibrado é, portanto, aquele que superou os métodos da sabedoria, superando


também as convenções estabelecidas do que é do que não é prudente, bom, ruim, etc. Ele age
por consciência, não por formalidade. Age pelo que o instante dita, não pelo que os outros
esperam dele e ainda assim, age no intuito de auxiliar aos demais. Em um conto zen que ilustra
isso, um monge se aproxima do mestre e começa a falar de toda a sabedoria que tinha lido. Então diz:
“Mestre, eu sei que tudo é vazio, as formas são vazias, os fenômenos são vazios, nossa própria natureza

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é vaz…” – e antes de terminar a frase, o mestre lhe dá um golpe forte na cabeça. O discípulo então,
irritado com aquilo, pergunta: “Mas por que o senhor fez isso?” E o mestre responde: “Ué, se tudo é vazio,
de onde veio toda essa raiva?” (temos que admitir que a originalidade nos métodos da tradição zen é
insuperável…)

Quando o homem domina o método e faz dele carne e sangue, ele próprio se transforma no
método, ele próprio é o caminho. Isso é o homem equilibrado. E na condição de ter encarnado o
próprio método, dentro dele isso se transforma, se aprofunda, se expande, gerando novas formas de ver
a mesma verdade imutável que foi entregue no passado. Por isso os sábios são capazes de falar do
mesmo que sempre foi dito e no entanto, nos parece uma grande novidade!

O caminho do homem equilibrado está relacionado ao elemento fogo (transformador,


imprevisível, de potencial ilimitado) e à arte, pois a arte, no seu sentido mais profundo, é a
própria ciência que superou todos os métodos e se tornou plena, livre, autêntica.

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