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Formação em Teologia

Volume 03

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Formação em Teologia

PENTATEUCO - Contexto Religioso do Antigo Testamento –


Ninrode (Parte 1)
Toda a Mesopotâmia e o Oriente próximo sempre foram territórios muito
férteis para práticas espirituais. Antes da formação do povo hebreu já existiam
várias formas de religião, dispostas em diversos tipos de ritos, cultos e entidades.
É nesse cenário de sincretismo religioso que o povo de Deus é formado, assim como
sua fé monoteísta, e a soma de ambos produziu o Pentateuco, principal livro da
religião israelita (embrião dos evangelhos e do Cristianismo) e uma resposta ao
ambiente altamente idólatra da região. Por essa razão se faz necessária uma
interpretação mais ampla, utilizando as ferramentas hermenêuticas para se
alcançar uma visão macro do mundo daquela época - cultura, sociedade, religião e
governo das civilizações. Por exemplo, o personagem Ninrode (Gn 10) tem vital
importância para a compreensão do pensamento religioso de um período, e como
isso afetou o povo de Deus.
Nosso intuito é perceber a ação de Deus, com Israel e seus vizinhos, nestes
contextos históricos, e a primeira coisa a saber é que “Penta” significa cinco, e
“Teuchos” significa volume - livros de pele animal. Logo, o Pentateuco é constituído
de cinco volumes (livros), feitos de peles de animais, que contêm as primeiras
palavras de Deus ao seu povo e o início da Sua revelação.

I Hermenêutica
Talvez essa palavra não seja familiar, porém, Hermenêutica é o conjunto de
princípios que usamos para analisar um texto (ou qualquer tipo de mensagem), isto
é, ler, interpretar e compreender. Então, basicamente, hermenêutica é sinônimo de
interpretação, e interpretar é um movimento natural de todo ser humano, pois por
trás de toda curiosidade e sede de saber (conhecimento) está acontecendo
hermenêutica, ou seja, um processo de analisar e dar sentido às coisas. Ademais,
cada grupo social tem sua própria hermenêutica.

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Escola Alexandrina - Sua abordagem era interpretar a Escritura à luz da pessoa


de Cristo. Apesar disso, entendiam que o sentido oculto no texto é o mais
importante e deve ser alcançado através de uma revelação espiritual. Atenção a
esse grupo, pois aqui surge uma brecha para pôr no texto qualquer significado, é o
método alegórico de interpretação da Bíblia. Para Orígenes de Alexandria (teólogo
do primeiro século e um dos pais desse método), a Bíblia tem segredos, portanto,
existe um sentido literal, destinado aos judeus (iniciantes), e outro sentido oculto,
reservado aos maduros na fé, os cristãos. Vemos em Orígenes três níveis de sentido
e interpretação correspondentes à natureza humana de quem os interpreta:

• 1º Nível (sentido) da carne. Para os indoutos.

• 2º Nível (sentido) da alma. Para os que fizeram algum progresso na fé.

• 3º Nível (sentido) do espírito. Para os mais elevados (espirituais). Nesse


ambiente é que funcionam as alegorias.

Escola Antioquia da Síria - Ensina que o próprio texto dita a abordagem, se for
poesia, que seja lido como poesia, assim numa metáfora ou história, o leitor tem
que estar sensível ao sentido do texto, considerando:

• O que o autor humano diz; • Contexto histórico (em que situação


foi escrito);
• Contexto imediato, anterior e
posterior; • Com que objetivo;

• Contexto literário; • Quem era a audiência.

Dessa abordagem nasce o Método Histórico Gramatical, que é o usado pela


tradição cristã protestante ao longo da história.

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Reforma Protestante - Tomando distância da interpretação de Alexandria,


desenvolve-se a abordagem da escola de Antioquia. Existia um ditado popular no
século XVI que dizia: “Erasmo botou o ovo e Lutero chocou”. Se Erasmo denunciava
a especulação estéril que se transformou no método alegórico, foi Lutero que
afirma que só a Escritura tem autoridade divina para os cristãos.

Tradicionais e Pentecostais - Continuam a repetir os dilemas de interpretação, e


mesmo afirmando a centralidade de Cristo, são afetados em sua percepção e na
temática do Espírito Santo, trazendo à interpretação bíblica conclusões diferentes.

Arminianos, Calvinistas - A partir do conceito da soberania e da liberdade,


arminianos e calvinistas colocam ênfases diferentes na soberania de Deus e na
liberdade do homem. Isso também afeta a interpretação que fazem da Bíblia.

Somos confessionais, pois confessamos o Deus a quem servimos. Mas o


grupo a que pertencemos afeta nossa interpretação da Bíblia. Longe do terreno
confessional, existe a Teologia Liberal, que crê que muitas coisas na Bíblia são
antiquadas e inúteis ao mundo contemporâneo. Bultmann, um desses teólogos,
aponta na direção de uma hermenêutica existencial, onde os leitores da Bíblia
devem considera-la pré-científica, removendo a literalidade de todo evento
pretensamente histórico, incluindo a morte e ressurreição de Jesus. E sugere que
a Bíblia seja usada no intuito de iluminar nossos dilemas existenciais. Essa visão
nos destitui e desconecta da história redentora de Deus, destinada ao ser humano
e à criação. Nesse território, a razão e o método científico são os critérios máximos
de interpretação da Bíblia, e a esse método chamamos histórico-crítico.

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II Ortodoxia e ortopraxia cristã

Ortodoxia é o conteúdo. Em uma de suas conferências teológicas, Russell


Shedd foi interrompido por um jovem: “Não queremos saber mais sobre teologia,
queremos que o senhor fale sobre Jesus.” Shedd responde: “Mas sem ortodoxia,
que é a base da nossa fé cristã, de que Jesus você está falando?”
Muita atenção agora! Podemos falar de Jesus de uma forma muito genérica,
mas se fizermos assim cairemos numa visão excessivamente romântica e estéril do
Evangelho. Falar sobre Jesus é fundamental, mas a questão é: De que Jesus nós
estamos falando?
O primeiro Concílio de Nicéia confirma quem é Cristo para a Igreja cristã,
sendo assim, falar de Jesus fora do que é ensinado na ortodoxia é heresia.
Precisamos conhecer o conteúdo da fé cristã, o que ela tem a ensinar. Grosso modo,
podemos dizer que grupos como pentecostais, calvinistas, avivalistas e arminianos
fazem parte da ortodoxia de Cristo. Alguns com maior, outros com menor grau de
entendimento sobre o conteúdo da fé cristã. De toda forma, somos irmãos.
Por outro lado, quando falamos de Ortopraxia nos referimos à prática.
Infelizmente, muitas vezes, as igrejas separam ortodoxia da ortopraxia. Ortodoxia é
o conteúdo, a pregação, o ensino. Ortopraxia, por sua vez, é a prática no dia a dia.
Portanto, uma precisa ser conectada a outra.
Um dos motivos desse “parêntese hermenêutico” na aula sobre o Pentateuco
é denunciar o método histórico-crítico. Esse método olha sempre para a Bíblia a
partir de uma ótica cientificamente enclausurada, buscando sempre fragmentar o
texto bíblico e esvaziá-lo do poder, da divindade e do sobrenatural. Tal visão se
opõe de forma radical a ortodoxia e a ortopraxia cristã. Ainda que seja verdade, o
fato de que cada grupo cristão, ao longo da história, apresentar limitações e
equívocos práticos e teóricos, devemos permanecer firmes no centro da nossa fé:
Jesus Cristo!

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Voltando à tradição cristã, a partir das especificidades hermenêuticas,


perceberemos que cada um desses grupos cristãos apresentará características
diversas e chegará a lugares ligeiramente diferentes. Precisamos entender a
essência da nossa fé, se quisermos curar qualquer hermenêutica que esteja
desfigurada ou que seja tendenciosa. E precisamos concordar com o que a fé cristã
(ortodoxia) ensina. Dessa maneira, conseguiremos chegar ao nosso próximo tópico
de discussão, independentemente do grupo hermenêutico ao qual se pertence.

III Contexto religioso babilônico


O Pentateuco é recebido pelo povo em que período da história? Mesmo
narrando a escravidão do povo hebreu, a história de Moisés, as dez pragas do Egito,
a primeira páscoa e a libertação do povo, somente após a chegada na Terra
Prometida que o Pentateuco aparece como documento oficial e testemunho.
Todavia, no que o povo acreditava nessa época, quando saiu do Egito? Que
influências ele recebeu da tradição egípcia? É possível responder essas perguntas
com informações simples, comprovadas pela própria Bíblia. Os hebreus da época
já acreditavam em Iavé (um dos nomes de Deus), mas, ao mesmo tempo, estavam
ligados a inúmeras crenças e superstições. E esse ser humano do Antigo
Testamento, descrito no Pentateuco, é alguém dividido em sua fé, um povo muito
semelhante ao brasileiro, que anda constantemente misturando complexas
informações de vida religiosa. E assim como o brasileiro, o indivíduo daquele
contexto era sincrético, em ideias e sentimentos religiosos muito misturadas.

Observação: Na Bíblia há referências que seguem esta estrutura, “Por ventura, os


demais feitos de (...) estão escritos no livro (...)”. Esses Livros da Guerra do Senhor
(anterior à Torá) não estão relacionados à experiência no Monte Sinai, onde o povo
reunido recebe a lei, e com ela, a identidade para a vida que teriam. A partir daí,
eles são um povo tornando-se nação, que precisa ouvir e seguir a Deus.

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Outra maneira de interpretarmos o Pentateuco é a reflexão sobre os nomes


e os seus significados, que são muito importantes para entender a relação e o
sentido das narrativas e personagens. Obviamente, recebemos um nome no
nascimento, e muitas vezes vemos no texto bíblico alguém sendo nomeado a partir
de uma percepção dos seus atos, caráter ou de sua história, ou ainda, uma
autonomeação baseada nalgum evento:

“Não me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande


amargura me tem dado o Todo-Poderoso.” (Rute 1: 20)

“E chamou ao menino Icabode, dizendo: De Israel se foi à


glória! Porque a arca de Deus foi tomada, e por causa de seu
sogro e de seu marido. E disse: De Israel a glória é levada
presa; pois é tomada a arca de Deus.” (1 Samuel 4: 21,22)

Temos ainda os sobrenomes que são explicativos. Um caso clássico na Bíblia


é o de João Batista, cujo sobrenome vem do grego “βαπτισμω” (baptismō), que
significa mergulho. João Batista é o João que mergulha as pessoas, e seu
sobrenome é uma expressão de reconhecimento da sociedade. Aprender como
foram concedidos esses nomes ajuda a nos aproximar do personagem, nessa
arqueologia bíblica, de forma a entender o contexto imediato.
Outro personagem é Ninrode, e seu nome aparece poucas vezes na Bíblia.
A palavra Ninrode carrega um significado de preocupação com fama e glória, e
traz a ideia: “O meu nome precisa ser conhecido, e mais importante que os outros”.
É como se fosse uma escalada antiética e imoral rumo ao sucesso e à notoriedade.
E o significado literal da palavra “Ninrode” é rebeldia.

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Tendo em mente o que foi apresentado sobre o processo bíblico de nomear,


obtemos uma definição precisa da identidade e o caráter de Ninrode, assim, tudo
o que ainda será discutido sobre o tema precisa estar à sombra disso. Vimos
Ninrode com o fim de entender a religião babilônica, entender melhor a mente do
povo de Deus nesse período, e assim compreender o Pentateuco. Esse é o nosso
caminho, e influenciará tudo o que será ensinado nas próximas aulas.
Porém, se quisermos saber sobre Ninrode fora do texto bíblico, devemos nos
referir a ele como Sargão de Acádia (ou Sargom). Enfatizamos a atenção sobre
Ninrode, a Bíblia (Gn 10:1-8) nos informa que ele foi bisneto de Noé, vivendo no
período pós-dilúvio, e foi o responsável por construir as principais cidades de toda
região da Babilônia. Existem outros nomes, posições e fontes históricas que
preenchem a identidade de Ninrode:

• O faraó egípcio Amenotepe III (1408-1369 a.C.)

• O deus patrono de Lagash Ninruta (deus sumério da guerra)

• Gilgamesh

Quem foi Ninrode - o primeiro grande líder pós dilúvio, dono de um grande
currículo, fundou Babel, cidade que depois se tornaria Babilônia. Fundou também
Nínive, na antiga Assíria, e outras cidades. Na Bíblia, podemos encontrar citações
como esta:

“Esses consumirão à terra da Assíria à espada, e à terra de


Ninrode nas suas entradas. Assim nos livrará da Assíria,
quando vier à nossa terra, e quando calcar os nossos termos.”
(Miqueias 5:6)

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Se a Bíblia relata que Ninrode foi o primeiro a construir as principais cidades


da Assíria (Gn 10:11-12), os documentos extrabíblicos apontam para Sargom (como
dito anteriormente, considerado ser a mesma pessoa). O texto hebraico em Gênesis
(10:9) chama Ninrode de “tsir”, ou “valente caçador” (literalmente “Campeão do
jogo”). Ao longo da narrativa, Ninrode surge como um grande caçador que
competia diante do Senhor, e podemos entender que caçava homens assim como
caçava animais. Na história da humanidade, Ninrode foi o primeiro homem a
escravizar outra pessoa, e o estudo exegético-histórico da Bíblia sinaliza isso.
Portanto, Ninrode foi o primeiro escravagista.
No hebraico, a expressão “Diante do Senhor” significa que Ninrode estava
contra Deus, visto que suas ações não eram aprovadas pelo Senhor. Documentos
arqueológicos mostram a Estrela de Istar, de Sargom (Ninrode), com sete
prisioneiros envolvidos no manto da figura real, e suas cabeças esmagadas. Em
outro monumento, Sargão é retratado numa campanha militar em que houve um
massacre e escravização dos prisioneiros. O primeiro obelisco da Mesopotâmia
retrata a batalha acadiana, na qual soldados inimigos perfurados por uma lança
são suspensos por seus braços e amarrados com coleira, enquanto abutres e
animais devoram suas carcaças.
Ninrode não era alguém que estava em rendição a Deus, pelo contrário,
como o nome diz, ele era alguém que estava em posição de rebeldia diante de Deus.
Lembre-se que ele é fundador de Babel (Babilônia) e Nínive (Assíria), justamente
dois lugares onde o povo de Deus ficou cativo. Ninrode simboliza carnificina e a
oposição absoluta a Deus e seu povo, seja de forma política, militar ou religiosa,
pois, enquanto Abraão é visto como o pai da fé e ícone de intimidade com o Senhor,
Ninrode é o pai da violência e ícone de prostituição com vários deuses; enquanto
Abraão expressa uma religião saudável, espiritual, que caminha pela terra e agrada
a Deus, Ninrode fica parado em si mesmo, faz do seu ego uma torre, e dessa torre
um altar carnal e idólatra para exaltar a maldade.

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Mercador de escravos e alguém que está enfrentando e competindo contra


Deus. Esse é o histórico de Ninrode, que nos faz enxergar esse personagem com
outro olhar. Alguém com tão poucas referências na Bíblia, mas que é demasiado
importante para entender o contexto do Pentateuco.
Ninrode desejava afastar o ser humano de Deus, e a principal maneira de
fazer isso é destruir o “Temor-do-Senhor” existente nas pessoas, inflamando seus
corações com rebeldia e as intimidando pela violência, pondo-as sob seu poder. Ele
as atraía as com a seguinte ideia: “Seguir a Deus não é bom. Se vocês me servirem,
a vida de vocês vai ser muito mais próspera e muito mais feliz. Vocês vão chegar
no topo.” A venda da felicidade e da autonomia sempre seduziu o ser humano. Ao
invés de estarem debaixo do domínio de Deus, preferiam estar sob o domínio de
Ninrode. Ele seduzia os homens com poder, conquista, as cidades que construiu e
seus feitos militares. Um personagem que demanda compreensão a partir do real
contexto e significado do seu nome, por meio de uma hermenêutica consistente.
Observe a descrição sucinta, porém fiel:

“E este foi poderoso caçador diante da face do Senhor; por


isso se diz: Como Ninrode, poderoso caçador diante do
Senhor.” (Gn 10: 9)

Sem tantas referências bíblicas, precisaremos de referências extrabíblicas


para entender um pouco mais desse personagem. O livro citado será Antiguidades
Judaicas, um dos livros mais antigos tratando dessa história, escrito por Flávio
Josefo, por volta do primeiro século, a datação desse livro se aproxima do texto
bíblico do Novo Testamento, sendo a única fonte extrabíblica que temos sobre
muitos temas históricos importantes à nossa tradição. Josefo traz uma informação
muito curiosa, vinda da tradição oral judaica, na época de Jesus costumava-se
dizer que Ninrode havia construído a torre de Babel para ficar imune ao dilúvio.

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É uma informação instigante, que não está no texto bíblico, mas traz uma referência
preciosa aos nossos estudos. Josefo, contemporâneo de Paulo e Pedro, descreveu
in loco a destruição do templo, por volta do ano 70 d.C., e o que ele escreve sobre
Ninrode reflete o pensamento judeu do período apostólico sobre esse personagem.
Ninrode fez com que as pessoas acreditassem que se submeter a Deus era
escravidão. Mas escravizava pessoas e as usava na construção de uma obra inútil
e estéril (Torre de Babel), também se utilizava de suas conquistas militares para as
impressionar. Ele afirmava que Deus escravizava as pessoas e se elas o servissem,
Ninrode então ensinaria o que é ser livre de verdade. Assim construíram Babel: um
projeto de liberdade que não foi baseado em Deus, Babel é um projeto de fama,
sucesso e rebeldia, e sem base em Deus, chegar aos céus:

“Depois disseram: "Vamos construir uma cidade, com uma


torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso e
não seremos espalhados pela face da terra." (Gn 11: 4)

Na história da grande torre está presente a ideia de oposição a Deus, ela foi
um plano de fazer história e deixar um legado descartando a Deus. Conquistas,
sonhos e desejos são desejáveis e até justificados, mas, se usados em oposição ao
que Deus fala, tornam-se incoerentes, injustos e desnecessários. Ninrode convocou
o povo para permanecer junto e tornar seus nomes conhecidos, porém a ordem de
Deus era que o povo se multiplicasse e se espalhasse. Se não percebemos a sutileza
desta oposição ficamos vulneráveis à uma falsa autonomia e para criar e aderir a
religiões que apenas são um eco de rebeldia.

“Assim abençoou Deus a Noé e aos seus filhos, e disse-lhes:


sede fecundos e multiplicai-vos e enchei à terra.” (Gn 9:1)

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“E Cuxe gerou a Ninrode; este começou a ser poderoso na


terra. E este foi poderoso caçador diante da face do Senhor;
por isso se diz: Como Ninrode, poderoso caçador diante do
Senhor.” (Gn 10: 8,9)

Entender o que significa ser “um caçador diante do Senhor” é fundamental,


a oposição é visível, e a construção de Babel, descrita em Gênesis 11, é o símbolo da
resistência e desobediência a Deus, pois Ele nos manda fazer o Seu nome ser
conhecido. Essa é a vontade dEle, mas a vontade de Ninrode é que seu próprio
nome seja conhecido. Deus mandou se espalhar, mas Ninrode mandou ficar.

“E o princípio do seu reino foi Babel, Ereque, Acade e Calné,


na terra de Sinar. Desta mesma terra saiu à Assíria e edificou
a Nínive [...].” (Gênesis 10: 10,11)

O historiador Douglas Petrovich é um dos estudiosos que afirma que


Ninrode é também Sargom. Já Lutero escreve em “Do cativeiro babilônico da
Igreja”, fazendo uma crítica ao papado:

“Agora estou certo de que o papado é o reino babilônico e o governo de


Ninrode, o poderoso caçador (...). O papado é a caçada selvagem do
Bispo de Roma”.

Se, no tempo dos apóstolos, coube a Josefo revelar o que os judeus


pensavam sobre Ninrode, Lutero também revela o que as pessoas do seu tempo
pensavam sobre esse personagem. Ninrode fundou Babel, que dará origem à
Babilônia, e também criou Nínive, que originou a Assíria. E justamente todas as
cidades a partir daí se tornarão pedra de tropeço para o povo de Deus.

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Bibliografia Sugerida:

PRICE, Randall. Manual de arqueologia bíblica Thomas Nelson/ Randall Price e H


Wayne House (Tradução de Wilson Ferraz de Almeida- Rio de Janeiro: Thomas
Nelson. 2020)

KLEIN, William W. ,HUBBARD JR, Robert L. , BLOMBERG, Craig L Cr (tradução


Maurício Bezerra Santos Silva. 1 ed. - Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2017)

Manual bíblico vida nova (Editor geral: David S. Dockery; tradução: Lucy
Yamakami. Hans Udo Fuchs, Robinson Malkomes. - São Paulo: Edições Vida
Nova,2001)

LUTERO, Martinho. Uma coletânea de escritos (Tradução Johannes Bergmann,


Arthur Wesley Duck e Valdemar Kroker. São Paulo: Vida Nova,2017)

JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. (Tradução de Vicente Pedroso. Rio de


Janeiro. CPAD, 1990)

NICODEMUS, Augustus. A Bíblia e seus intérpretes - Uma breve história da


interpretação (3ª edição- Editora Cultura Cristã 2013)

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