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O quarto capítulo do livro “Infocracia: Digitalização e a crise da

democracia” do autor Byung-Chul Han, intitulado de “Racionalidade


digital”, traz diferentes perspectivas sobre a contribuição de novas
tecnologias para a apuração de informações e obtenção de verdades
superiores que o cérebro humano não é capaz de processar. Será
mesmo que isso seria uma coisa boa?

O texto começa trazendo a percepção de que toda informação que


temos é volumosa e complexa demais para a “racionalidade limitada”
dos indivíduos. Por isso, não nos sentimos mais parte da mesma
comunidade, porque a informação não é processada entre a gente e por
nós, mas por uma dita inteligência maior.

Ao longo do capítulo, são apresentados vários argumentos de dataístas,


intelectuais da área da inovação e tecnologia que acreditam no Big Data
e na inteligência artificial como um equivalente funcional para a esfera
pública discursiva, defendendo a capacidade superior de ouvir,
processar e decidir dessas plataformas.

Mas até que ponto uma criação não viva pode realmente funcionar
como os seres humanos? Até que ponto somos dispensáveis para
executar funções que existem porque nós existimos? Qual a diferença
entre ouvir e escutar?

Quando o discurso é substituído por dados, não existe mais


aprendizado. A inteligência artificial é otimizada, mas não é melhorada
da mesma forma que a mente humana pode ser ao existir interação.
Nesse caso, a falta de discurso é categorizada como racionalidade
digital. Os dataístas entendem o discurso como uma forma lenta de
processamento, mas a necessidade de ser produtivo, ter uma rapidez e
eficácia é gerada pelo sistema socioeconômico vigente, deixando um
questionamento:

Será que precisamos realmente ser ou inventar algo para ultrapassar


nossa capacidade de pensar?
Para os dataístas, o Big Data e a inteligência artificial nos oferecem um
olhar divino, que abrange todos os processos sociais e otimiza o nosso
bem-estar. A própria referência ao catolicismo já faz um aviso do quanto
essas máquinas não são realmente resolutivas de nossos problemas,
porque caso se tornem superiores à democracia, quem seríamos nós?

Ao saber tudo, o todo se torna supérfluo e nós, humanos, vamos


desaparecer em dados, porque o que vivemos, como vivemos e quem
somos, não será mais nosso de descobrir.

Assim, fica evidente que os mecanismos digitais nem sempre serão tão
positivos quanto os estudados da área tecnológica nos dizem que é. E
fica uma pergunta:

Tecnologia é avanço?

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