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Matrícula: 180131435
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Dominados pelos números. Cap. 16. o cérebro bacteriano
Nesse ponto já podemos pensar na IA como uma realidade deste século e
possivelmente, também, como a anunciadora de uma das mudanças mais drásticas
que já ocorreram na história da humanidade.
Todavia quando se fala em inteligência artificial existe ainda uma aura um tanto
quanto mística que envolve o tema. Especulações mirabolantes avaliam que esses
sistemas ainda dominarão tudo, que se voltarão contra a humanidade e nós,
mortais, passaremos de senhores a meros escravos subjugados pelas máquinas;
também pensamos saber como elas operam, e por esse equívoco a atmosfera de
poder que envolve essas máquinas termina por se fortalecer e tornar-se ainda mais
mitológica. Na maior parte do tempo são as máquinas que olham para nós ao invés
de nós olharmos para ela, e diante do que esse olhar assimila e reflete,
frequentemente as pessoas crêem estar diante de uma genuína e incontestável
forma autônoma de conhecimento.
(...) A hipótese da singularidade afirma que, uma vez que esse ponto seja
alcançado, uma vez que os computadores sejam capazes de desenvolver
outras máquinas inteligentes e aperfeiçoarem a si próprios, então nossa
sociedade mudará dramaticamente e para sempre. As máquinas podem até
nos considerar supérfluos. (SUMPTER, David. Dominados pelos números do
facebook e google às fake news : os algoritmos que controlam nossa vida.
2019. p.219)
Raramente alguém se pergunta o que existe para além dessas camadas que se
enredam por detrás de cada resposta pronta que chega via Chat Gpt. Mais vale
antes se perguntar a que tipo de inteligência estamos nos referindo, quando falamos
em “Inteligência Artificial”, do que somente decifrar os códigos - indecifráveis a nível
humano - que compõem cada parte desse sistema. Seria esta uma inteligência
como a humana? Que tipo de inteligência é essa que chamamos de "racional”?
Poderia existir mesmo uma máquina capaz de pensar sozinha sem que ninguém a
programasse? Essa máquina já existe? Qual o trajeto percorrido por uma IA para
chegar a conclusão de determinado resultado? Quão longe estamos de criar uma
inteligência que de fato possa ser equiparada à inteligência humana?
A partir das perguntas que vão surgindo, aos pouco podemos começar a distinguir
diferentes tipos de abordagem, podemos pensar em três delas:
A primeira é a perspectiva técnica e epistemológica, que se pode dizer que é a
principal via de estudo da atualidade no que diz respeito à inteligência artificial. Por
essa perspectiva faz sentido todas as perguntas que levantamos na primeira parte
do texto. Aqui existe uma tentativa de compreender os mecanismos e limites da IA e
de alguma forma tentar englobá-la como parte possível do aparato técnico da
realidade, buscando respaldo científico para sustentação da legitimidade dessa
ferramenta. Pensando dessa forma podemos compor a ideia de certos níveis de
inteligência que se almejam alcançar, nesses termos, o que nos separa de fato de
uma Inteligência Geral nada mais é do que uma limitação técnica, que pode a
qualquer momento ser superada, desde que possamos compreender inteiramente
os mecanismo de atuação da máquina e também da inteligência humana, é uma
questão de tempo até alcançar esse estágio. A pergunta não é “se”, mas “quando?”.
Porém, pensar a partir dessa perspectiva nos leva a certas descobertas acerca do
método de funcionamento das IA’s, isto é, um método indutivo que se baseia num
sistema de reconhecimento de dados e indução probabilística, algo que também
escancara ainda mais o processo mitológico que envolve o advento das
inteligências artificiais, expõe o aspecto de crença que está contido no cerne dessa
experiência que na realidade representa uma cega fé nos números e nos cálculos
efetuados pelas máquinas. A descoberta de que a “inteligência” da IA é baseada
puramente em cálculos, e que no fundo todos esses algoritmos, por enquanto, não
passam apenas de opiniões quantificadas, já muda completamente os rumos da
investigação, pois revela algo que num primeiro instante pode passar um tanto
despercebido ao olhos, mas que já se encontra pressuposto em todo trajeto até a
concepção da primeira inteligência artificial. Trata-se da metafísica que sustenta não
apenas a artificialização do mundo como também a matematização da realidade.
Partindo dessa perspectiva, uma segunda forma de abordar a inteligência artificial é
tomando-a como a realização a nível global de uma empreitada ontológica: O
projeto ocidental de Esclarecimento. Podemos pensá-la como um esboço final da
tentativa de corrigir o pensamento (omoiosis) e extrair inteligibilidade das coisas a
qualquer custo. Num nível além podemos pensar a metafísica ocidental como uma
espécie de pré história da inteligência artificial. A pergunta aqui deixa de ser sobre
os aspectos técnicos da coisa, e passa a ser sobre aonde se quer chegar com
tamanha tarefa? O que existe por trás desse desejo de capturar e instrumentalizar a
verdade das coisas? De dar nome, significado e descrição a elas? Será que esse é
mesmo um desejo universal? Todos os indivíduos ambicionam e manifestam essa
mesma forma racional de inteligência? A IA representa que tipo de pensamento?
Por fim, uma forma mais neutra de abordar o assunto seria pela perspectiva
estética, pensando principalmente na reprodução e processamento técnico de
imagens para os fins de aprendizado de máquina. Esse terceiro ponto pode ser
inserido como tópico nas duas primeiras abordagens como forma de diagnóstico e
sustentação de tese, mas por si só não é suficiente para trazer clara compreensão
acerca do que são as IA’S.
BIBLIOGRAFIA
● https://www.ignicaodigital.com.br/o-que-e-vale-do-silicio/