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01/07/2016 CEBI 

­ Centro de Estudos Bíblicos

Rever e avaliar a missão (Lc 10,1­11.16­20) ­ Carlos
Mesters

Conheça o livro de Carlos Mestes e Márcio Miranda: Jesus da Escuta
Amorosa. 

Para que saibamos dialogar: os enviou dois a dois...

O  texto  de  Lucas  nos  convida  a  sair  em  missão.  A  colheita  é  grande  e  há  pouca  gente  disposta!
Assumamos  a  tarefa!  Para  a  autopromoção,  para  que  sejamos  individualmente  valorizados?  Com
certeza  não.  O  convite  é  para  que  sigamos  dois  a  dois,  duas  a  duas.  Duas  pessoas  juntas  já  são  a
célula de uma comunidade, o princípio do diálogo.

As  comunidades  paulinas  aprenderam  bem  a  lição:  Barnabé  e  Paulo  saem  juntos  em  missão  (At
13,1­3), mais gente se junta a eles, fazem trabalho de equipe (Rm 16,21­23). Quando o missionário
ou  o  líder  não  escuta  sua  comunidade,  não  entendeu  ainda  o  que  é  "seguir  dois  a  dois".  Não  foi
capaz de compreender o modelo eclesiológico concebido por Jesus. Quem trabalha sozinho, não tem
sequer com quem planejar, avaliar e celebrar.

Setenta ou setenta e dois? Discípulos samaritanos!

Algumas  edições  da  Bíblia  falam  do  envio  de  70  discípulos.  Outras  falam  de  72.  Depende  do
manuscrito  que  é  seguido.  Muito  possivelmente,  o  número  evoca  todas  as  nações,  citadas  no
capítulo 10 do livro do Gênesis. A Bíblia Hebraica menciona 70 povos. Ao ser traduzido para o grego,
o texto foi modificado para 72. A missão é estendida a todos os povos.

Dado  interessante,  entretanto,  é  de  onde  o  grupo  parte.  Em  Lucas  9,51­52,  Jesus  tinha  começado
sua longa viagem rumo a Jerusalém. Sai da Galileia e entra na Samaria. É em território samaritano
que Jesus associa mais 72 discípulos e discípulas para irem à sua frente, onde ele mesmo deveria ir
depois  (Lc  10,1).  Lucas  sugere,  assim,  que  estes  novos  72  discípulos  e  discípulas  já  não  são  judeus
da  Galileia,  mas  samaritanos.  Sugere  ainda  que  o  lugar  onde  Jesus  anuncia  a  Boa  Nova  já  não  é  a
Galileia, mas a Samaria, território dos excluídos.

Shalom para esta casa!

Espírito  de  simplicidade,  desprendimento  e  confiança  na  providência  divina:  "não  leveis  bolsa,  nem
alforge, nem sandálias!" (Lucas 10,3). Mas sem ingenuidade: os discípulos e discípulas são enviados
"como  cordeiros  entre  lobos".  A  missão  não  é  fácil,  por  isso  se  espera  uma  entrega  total.  A
expressão "a ninguém saudeis pelo caminho", possivelmente tem a ver com a cultura do Oriente. A
saudação  não  se  limita  a  um  "oi",  a  um  simples  "bom  dia".  Envolve  convivência,  convite  para  o
alimento  e  para  o  pernoite  (2Reis  4,29;  Lucas  24,  29).  Pode  ser  que  o  texto  esteja  querendo  falar
também da urgência de se chegar aos destinatários da missão.

Entretanto, quando se entra numa casa é para que o Shalom, a paz verdadeira, possa habitá­la! Se
para  o  judaísmo  o  termo  já  dizia  muita  coisa,  para  a  comunidade  de  Jesus,  diz  mais  ainda:  para  a
casa que recebe, o anúncio do Shalom é a Boa Notícia de que o Reino chegou. Cabe a cada pessoa e
comunidade, entretanto, a escolha de aderir ou não ao Shalom.

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01/07/2016 CEBI ­ Centro de Estudos Bíblicos

Avaliação, oração, partilha, análise da realidade

Da  mesma  maneira  como  tinha  feito  com  os  Doze  (Lc  9,10),  Jesus  reúne  os  72  discípulos  e
discípulas  e  faz  um  encontro  com  eles  para  rever  a  missão.  Os  discípulos  voltam  e  começam  a
contar  o  que  fizeram.  Com  muita  alegria  informam  que,  usando  o  nome  de  Jesus,  conseguiram
expulsar  até  demônios!  Jesus  os  ajuda  no  discernimento.  Se  eles  conseguiram  expulsar  demônios,
foi  porque  ele,  Jesus,  lhes  tinha  dado  este  poder.  Estando  com  Jesus,  nada  de  mal  lhes  pode
acontecer. E Jesus acrescenta que o mais importante não é expulsar demônios, mas sim ter o nome
inscrito no céu. Ter o nome inscrito no céu é ter a certeza de ser conhecido e amado pelo Pai. Pouco
antes, Tiago e João tinham pedido que um fogo caísse do céu para matar os samaritanos (Lc 9,54).
Agora, pelo anúncio da Boa Nova, é o Satanás que cai do céu (Lc 10,18) e os nomes dos discípulos
samaritanos  entram  no  céu!  Naquele  tempo,  muita  gente  achava  que  samaritano  era  coisa  do
demônio, coisa de Satanás (Jo 8,48).

Este  texto  de  Lucas  10,17­24  nos  dá  uma  ideia  de  como  os  discípulos  e  as  discípulas  viviam  em
comunidade  com  Jesus.  Eles  faziam  aquilo  que  nós  fazemos  até  hoje:  reunião,  avaliação,  oração,
partilha, análise da realidade, ajuda mútua. A pequena comunidade que se formou ao redor de Jesus
foi  o  primeiro  "Ensaio  do  Reino".  Ela  tornou­se  o  modelo  para  todos  nós  que  viemos  depois.  A
comunidade  é  como  o  rosto  de  Deus,  transformado  em  Boa  Nova  para  o  povo,  sobretudo  para  os
pobres. Será que a nossa comunidade é assim?

Sobre o tema da missão, conheça os livros:

­ Missão: recriar o conceito, de Tea Frigerio;

 ­ O Encanto da Missão: Ensaios de missiologia contemporânea, de Hermann Brandt.

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