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Centro de Estudos Bíblicos
Rever e avaliar a missão (Lc 10,111.1620) Carlos
Mesters
Conheça o livro de Carlos Mestes e Márcio Miranda: Jesus da Escuta
Amorosa.
Para que saibamos dialogar: os enviou dois a dois...
O texto de Lucas nos convida a sair em missão. A colheita é grande e há pouca gente disposta!
Assumamos a tarefa! Para a autopromoção, para que sejamos individualmente valorizados? Com
certeza não. O convite é para que sigamos dois a dois, duas a duas. Duas pessoas juntas já são a
célula de uma comunidade, o princípio do diálogo.
As comunidades paulinas aprenderam bem a lição: Barnabé e Paulo saem juntos em missão (At
13,13), mais gente se junta a eles, fazem trabalho de equipe (Rm 16,2123). Quando o missionário
ou o líder não escuta sua comunidade, não entendeu ainda o que é "seguir dois a dois". Não foi
capaz de compreender o modelo eclesiológico concebido por Jesus. Quem trabalha sozinho, não tem
sequer com quem planejar, avaliar e celebrar.
Setenta ou setenta e dois? Discípulos samaritanos!
Algumas edições da Bíblia falam do envio de 70 discípulos. Outras falam de 72. Depende do
manuscrito que é seguido. Muito possivelmente, o número evoca todas as nações, citadas no
capítulo 10 do livro do Gênesis. A Bíblia Hebraica menciona 70 povos. Ao ser traduzido para o grego,
o texto foi modificado para 72. A missão é estendida a todos os povos.
Dado interessante, entretanto, é de onde o grupo parte. Em Lucas 9,5152, Jesus tinha começado
sua longa viagem rumo a Jerusalém. Sai da Galileia e entra na Samaria. É em território samaritano
que Jesus associa mais 72 discípulos e discípulas para irem à sua frente, onde ele mesmo deveria ir
depois (Lc 10,1). Lucas sugere, assim, que estes novos 72 discípulos e discípulas já não são judeus
da Galileia, mas samaritanos. Sugere ainda que o lugar onde Jesus anuncia a Boa Nova já não é a
Galileia, mas a Samaria, território dos excluídos.
Shalom para esta casa!
Espírito de simplicidade, desprendimento e confiança na providência divina: "não leveis bolsa, nem
alforge, nem sandálias!" (Lucas 10,3). Mas sem ingenuidade: os discípulos e discípulas são enviados
"como cordeiros entre lobos". A missão não é fácil, por isso se espera uma entrega total. A
expressão "a ninguém saudeis pelo caminho", possivelmente tem a ver com a cultura do Oriente. A
saudação não se limita a um "oi", a um simples "bom dia". Envolve convivência, convite para o
alimento e para o pernoite (2Reis 4,29; Lucas 24, 29). Pode ser que o texto esteja querendo falar
também da urgência de se chegar aos destinatários da missão.
Entretanto, quando se entra numa casa é para que o Shalom, a paz verdadeira, possa habitála! Se
para o judaísmo o termo já dizia muita coisa, para a comunidade de Jesus, diz mais ainda: para a
casa que recebe, o anúncio do Shalom é a Boa Notícia de que o Reino chegou. Cabe a cada pessoa e
comunidade, entretanto, a escolha de aderir ou não ao Shalom.
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01/07/2016 CEBI Centro de Estudos Bíblicos
Avaliação, oração, partilha, análise da realidade
Da mesma maneira como tinha feito com os Doze (Lc 9,10), Jesus reúne os 72 discípulos e
discípulas e faz um encontro com eles para rever a missão. Os discípulos voltam e começam a
contar o que fizeram. Com muita alegria informam que, usando o nome de Jesus, conseguiram
expulsar até demônios! Jesus os ajuda no discernimento. Se eles conseguiram expulsar demônios,
foi porque ele, Jesus, lhes tinha dado este poder. Estando com Jesus, nada de mal lhes pode
acontecer. E Jesus acrescenta que o mais importante não é expulsar demônios, mas sim ter o nome
inscrito no céu. Ter o nome inscrito no céu é ter a certeza de ser conhecido e amado pelo Pai. Pouco
antes, Tiago e João tinham pedido que um fogo caísse do céu para matar os samaritanos (Lc 9,54).
Agora, pelo anúncio da Boa Nova, é o Satanás que cai do céu (Lc 10,18) e os nomes dos discípulos
samaritanos entram no céu! Naquele tempo, muita gente achava que samaritano era coisa do
demônio, coisa de Satanás (Jo 8,48).
Este texto de Lucas 10,1724 nos dá uma ideia de como os discípulos e as discípulas viviam em
comunidade com Jesus. Eles faziam aquilo que nós fazemos até hoje: reunião, avaliação, oração,
partilha, análise da realidade, ajuda mútua. A pequena comunidade que se formou ao redor de Jesus
foi o primeiro "Ensaio do Reino". Ela tornouse o modelo para todos nós que viemos depois. A
comunidade é como o rosto de Deus, transformado em Boa Nova para o povo, sobretudo para os
pobres. Será que a nossa comunidade é assim?
Sobre o tema da missão, conheça os livros:
Missão: recriar o conceito, de Tea Frigerio;
O Encanto da Missão: Ensaios de missiologia contemporânea, de Hermann Brandt.
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