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Nas terras florescentes de Uerensot, onde os picos das montanhas tocavam o céu e as

florestas ancestrais sussurravam segredos de tempos remotos, o palco dessa trama se


situava na região mais obscura e intrincada. Um rio serpenteante dividia dois povoados
samurais que nutriam uma rivalidade ancestral: de um lado, os Miyamoto; do outro, os
Akamatsu. A disputa culminou com a perda de liberdade dos Miyamoto, que após o
ápice de uma hostilidade, transformada em guerra, se viram derrotados e passaram a
servir o clã Akamatsu. Naquele lugar onde a espada era a lei e a honra era o caminho,
dois jovens samurais da vila Miyamoto, amigos desde a infância, Takeo e Sasaki,
cresceram e treinaram juntos, compartilhando desde brincadeiras infantis até o
sofrimento e sangue das batalhas. Cansados da opressão e da miséria estabelecidas
pelo clã Akamatsu, eles se uniram em uma causa comum. Liderando uma equipe que
desafiava o poder vigente, lutavam para libertar os remanescentes dos Miyamoto que
eram tratados com mão de ferro, escravos dos vencedores da guerra. Era uma batalha
aparentemente perdida pela criação de um mundo onde pudessem ter a tão sonhada
emancipação. Para Sasaki, era um mundo melhor em que seu filho pudesse nascer.
Sua esposa, Benihime, estava grávida e o nome do filho deles seria "Takezo", uma
forma de homenagear seu amigo Takeo que seria padrinho da criança.
A amizade dos dois samurais era forte e verdadeira, baseada em anos compartilhados,
mas em um momento crítico, ela seria testada como nunca. Takeo seria tentado pelo
poder e pela ambição, colocando em risco tudo o que eles haviam conquistado. A
traição levaria à completa destruição do clã Miyamoto e mudaria para sempre o
destino desses dois jovens samurais.
A tentação é capaz de corromper até mesmo os corações mais nobres. Foi o que
aconteceu com um dos jovens samurais que liderava a equipe de rebeldes. Takeo foi
seduzido pelas promessas do velho líder dos Akamatsu e aceitou a proposta de ter a
mão da única herdeira do clã em troca da traição dos seus amigos. A carga que ele
suportou por estar no elo mais fraco da corrente durante a guerra o levou a entregar
seu grupo, selando seu destino e o de todos que o cercavam. Em uma noite traiçoeira,
Takeo levou seu grupo a uma emboscada, alegando que ali haveria um galpão com
comida em que havia pouca proteção.
A lua cheia brilhava no céu noturno como uma grande lâmpada de prata. Seus raios
banhavam a paisagem com um brilho pálido e sinistro, envolvendo tudo em um manto
de sombras. Os Akamatsu cercaram Sasaki e seu grupo, e a batalha começou. As
espadas cantavam como um coral de metal, enquanto os samurais lutavam com
habilidade e destreza, cada um defendendo sua honra e sua liberdade.
Em um ato de desespero, ao perceber que não havia chances de vitória, Sasaki se
entregou aos Akamatsu, dizendo que eles poderiam fazer qualquer coisa que
quisessem com ele, até mesmo expor sua cabeça em praça pública, desde que
poupassem o restante do seu povo. O líder dos Akamatsu se aproximou de Sasaki, que
fechou os olhos e esperou pelo golpe final. Mas em vez disso, o golpe veio de Takeo. A
espada perfurou o peito de Sasaki, e ele caiu no chão com um gemido doloroso. Ele
olhou nos olhos de seu amigo e viu apenas o vazio da ganância.
Enquanto Sasaki agonizava, seus companheiros foram cercados e dizimados sem
piedade pelos Akamatsu, que obtiveram a localização dos civis e dos membros
libertados graças a traição de Takeo.
A jornada de Takezo começa em meio a um cenário de desolação e caos, onde as
tendas dos poucos Miyamoto que restavam estavam escondidas pela natureza, num
esforço desesperado para sobreviver. Durante a madrugada, o primeiro grito da morte
se deu, um garoto franzino que patrulhava rompeu o silêncio, anunciando o início do
fim. Um a um, os sobreviventes foram caçados e brutalmente assassinados.
Por um acaso do destino, Benihime conseguiu escapar, correndo pela floresta até
encontrar abrigo em uma gruta escura e úmida. Contudo, não havia momento mais
inoportuno para entrar em trabalho de parto. Apesar da dor lancinante, ela sufocou
seus próprios gemidos e deu à luz seu filho em completo silêncio, enquanto o som de
espadas dilacerando a carne e os lamentos dos feridos ecoavam por toda parte. O
choro abafado de Takezo era a única voz que se elevava acima da morte iminente.
Semanas se passaram, e a cabeça de Sasaki foi exibida aos abutres como um aviso aos
escravizados que ainda resistiam e Takeo recebeu todas as honrarias prometidas.
Benihime foi encontrada dias depois, mas o fruto de sua união conseguiu escapar das
garras dos Akamatsu.
Dentro de uma cesta singrando as águas impetuosas do rio, o pequeno Takezo foi
enviado como um presente dos deuses. Enquanto isso, um antigo espadachim,
Kanemaki Jisai, vivia afastado de todos os perigos, recluso em seu isolamento
voluntário. Jisai era um mestre habilidoso de um estilo único, outrora um ilustre
residente do clã Akamatsu, viúvo de uma mulher dos Miyamoto. No entanto, a
informação da perda de seu filho e as cicatrizes da guerra deixaram-no sem rumo, sem
vontade de empunhar a espada novamente. Sentando-se sobre uma pedra, à beira do
rio, Jisai decidiu que era hora de pôr fim à sua existência, sem comer ou beber,
murchando lentamente como uma árvore em estação fria.
Mesmo assim, Jisai ainda nutria uma pequena faísca de esperança em relação à
própria vida, um fio de luz frágil e delicado que ainda ardia em seu coração. E foi
quando ele viu uma cesta flutuando no rio, que essa esperança se tornou mais clara e
palpável. Dentro dela, como uma bênção divina, havia uma criança, o pequeno Takezo,
que despertou no velho espadachim um sentimento de proteção e devoção. Com um
ímpeto que surgiu do mais profundo de seu ser, Jisai sem pensar duas vezes, lançou-se
ao rio. E assim, com a criança em seus braços, Jisai pensou que talvez viveria mais um
pouco por aquele ser.
No entanto, logo Jisai se viu diante de uma tarefa para a qual não estava preparado:
cuidar de um bebê. Incapaz de oferecer ao pequeno todas as necessidades que ele
merecia, Jisai se sentia consumido pela insegurança e pela dúvida, assombrado pela
lembrança da perda de seu próprio filho. Apesar das dificuldades, Jisai persistiu, para
garantir o bem-estar de Takezo.
Três anos haviam se dissipado como o vento, e a vida simples e pacífica que Jisai e
Takezo levavam foi subitamente interrompida pela chegada de um visitante indesejado.
A porta de madeira ressoou três vezes, anunciando a chegada de um samurai
orgulhoso e arrogante. Takeo, o novo líder do clã Akamatsu, adentrou a casa, seus
olhos despreocupados vagando pela sala até pousarem em Takezo. Takeo olhava para o
menino com um olhar penetrante, até ter sua atenção chamada por Jisai.
O que você quer aqui?", perguntou Jisai, com a voz gélida e controlada.
"Estou visitando meu antigo mestre", respondeu Takeo, com um sorriso irônico
no rosto, sem se importar com a tensão no ar.
"Você não é mais meu aluno. Vá embora!", disse Jisai, com firmeza.
"Como quiser." respondeu Takeo
Jisai observava atentamente cada movimento de Takeo, sabendo que sua presença só
traria problemas para ele e Takezo. Takeo se virou para sair, mas antes de deixar a casa,
voltou-se novamente para Jisai com sarcasmo.
"Se cuide. Acho que deve ser difícil, especialmente para você, conseguir cuidar
de um filho."
As palavras de Takeo ecoavam na mente de Jisai como uma tempestade que não
cessava. Para acabar com sua raiva e frustração, o espadachim agarrou sua velha
katana empoeirada e começou a balançá-la no ar com movimentos precisos e rápidos.
Seus pensamentos estavam tão ofuscados que ele mal percebia a presença do
pequeno Takezo, de apenas três anos, que observava com admiração, imitando cada
movimento com olhos brilhantes.
A katana virou algo que chamava a atenção do garoto, e ele não conseguia suportar
ficar longe dela, o menino fazia birra e chorava, desejando poder empunhá-la. Jisai, por
sua vez, tentava ensinar ao garoto que aquele caminho era perigoso e doloroso e não
deveria ser seguido por ele, mas Takezo parecia ter nascido para viver e respirar a arte
da lâmina, e Jisai parecia cego para essa verdade.
Em uma das fugas de Takezo para brincar com a espada, ele foi observado à distância
por um eremita conhecido de Jisai, um velho orc chamado Takuan. O monge
contemplou o menino, que brincava com a katana com uma ingenuidade fascinante,
embora a arma fosse maior do que seu pequeno corpo. Em um esforço para mostrar a
Takezo a natureza letal da espada, Takuan cravou um sentimento profundo na memória
do garoto, desferindo um leve corte em seu braço, como uma marca indelével do
proposito daquele instrumento. No entanto, a paixão de Takezo pela arma somente
aumentou.
Percebendo o perigo iminente, Jisai tomou a decisão de esconder a lâmina, privando-a
do contato do menino. Embora Takezo ficasse irritado, por não entender a razão por
trás da atitude, Jisai sabia que aquilo era algo que uma criança não deveria ter em
mãos.
O tempo se escoou, e o jovem Takezo, agora um garoto de dez anos, contemplava o
mundo com olhos mais atentos. Em um passeio inocente com um grupo de crianças,
ele vislumbrou o dojo do clã Akamatsu. Curioso, ele adentrou e segurou uma das
espadas de madeira. Nesse instante, Takeo apareceu, reconhecendo o garoto e nessa
hora permitiu que a ânsia de Takezo pela batalha fosse saciada. Ele pôs Takezo para
duelar com vários oponentes, um a um, todos sucumbiram ao seu ritmo, caindo
rendidos a seus pés. O instrutor do dojo, maravilhado com a habilidade excepcional do
jovem, se indagava sobre sua origem, mas Takeo viu os fundamentos básicos da
esgrima de Jisai, seu antigo mestre, no estilo de luta empregado por Takezo.
Takeo então convocou sua única filha e herdeira do clã, Kuina. A jovem era a mais
dedicada e habilidosa aluna do dojo, nascida com uma força excepcional e uma
habilidade ímpar. Takezo, com sua vontade indomável, lutou com todas as suas forças,
mas foi incapaz de superar a experiência e a habilidade da menina. Kuina exibiu toda a
sua destreza, sua postura e técnica eram impecáveis, e, apesar de sua juventude, ela
possuía uma calma e um controle impressionantes.
Finalmente, a luta terminou, e Takezo caiu desmaiado no solo. Minutos depois, ele
acordou em sua casa, onde o velho Jisai conversava com Takeo sobre o desempenho do
jovem.
"Estou impressionado. Mesmo criado como uma ovelha, esse jovem mostrou
um domínio surpreendente da espada. Ele nasceu para ser um tigre", disse
Takeo com animosidade, vislumbrando as habilidades ocultas do jovem Takezo.
"Volte para a vila. Eu quero treinar esse garoto para nossas forças".
"Saia da minha casa, Takeo..." respondeu Jisai, com frieza.
Mas o samurai não estava preparado para ouvir um "não" de Jisai. "Isso não é um
pedido, Jisai. Você deve reconhecer o único motivo pelo qual esse garoto ainda vive...",
retrucou Takeo com teimosia.
"Acho que o tempo o fez esquecer quem eu sou...", Jisai respondeu, emitindo
um tom de ameaça. Uma aura envolveu o velho espadachim, consumindo todo
o ambiente e fundindo-se com seu corpo. Takeo se preparou para sacar sua
arma, mas desistiu do ataque no último momento, encarando os olhos de
Takezo, que observava a cena em silêncio. Finalmente, Takeo saiu sem mais uma
palavra.
Jisai tombou para trás, exaurido pela técnica e o peso da idade. Com movimentos
vagarosos, o ancião acomodou-se numa cadeira velha. Takezo, que observava tudo em
silêncio, desviou os olhos ao perceber que era encarado e tentou dissimular, fingindo
estar adormecido.
Então, a voz grave de Jisai se mostrou:
"Eu sei que ainda está acordado... Sinto suas vontades, mas não quero que volte
lá novamente". Ele cobriu a testa com a palma da mão, em sinal de exaustão e
pesar.
Mas o chamado do dojo era forte demais para ser ignorado por Takezo, que continuou
a se esgueirar pelas sombras para chegar ao local de treinamento todos os dias. Ele se
esforçava ao máximo para aprimorar suas habilidades, desafiando a si mesmo a cada
treino. As mãos calejadas do garoto envolviam com firmeza o cabo da katana,
concentrado em sua respiração e em cada movimento. O suor escorria pelo seu rosto
enquanto ele atacava e defendia em um fluxo constante de golpes. Os sons dos
impactos faziam parte do ambiente, junto com os gemidos de esforço de Takezo. As
noites ele chegava em casa e escondia as marcas do treino do velho Jisai, que fingia
não as ver.
Desde que se conheceram no dojo, Takezo e Kuina sentiram uma forte conexão que foi
além da rivalidade na espada. Embora não se permitissem expressar seus sentimentos
abertamente, o amor entre eles crescia em segredo. Eles não ousavam se encontrar
fora do dojo, no entanto, quando estavam sozinhos em seus pensamentos, não
conseguiam evitar pensar um no outro. Em meio a esse sentimento crescente, houve
uma noite em que, por um breve momento, a barreira que os impedia de se aproximar
se desfez. Foi durante um festival em homenagem a Adepoin realizado anualmente no
clã, que Takezo e Kuina se encontraram na escuridão de um jardim escondido, longe
dos olhos dos outros. Ali, sob o céu estrelado, trocaram seu primeiro beijo.
O amor entre Takezo e Kuina era como uma flor rara que florescia em meio ao
concreto.
No dojo, sob a tutela de Takeo, Takezo aprimorou suas habilidades com a espada e, aos
poucos, foi conquistando o respeito e admiração do samurai. Mas sua ascensão não se
limitava apenas ao campo de batalha, à medida que o jovem guerreiro se aproximava
de Kuina, também se aproximava de Takeo, tornando-se cada vez mais presente em
sua vida e em sua casa. Porém, essa aproximação pode acabar se mostrando uma faca
de dois gumes.
Sete anos se passaram desde o começo da tutela de Takeo sobre Takezo, o jovem tinha
crescido, mas agora, sua mente precisava de respostas. Jisai não vendo outra
alternativa, achou que seria melhor para Takezo saber do seu passado, para quem sabe
de uma vez por todas se afastar de Takeo.
Quando Takezo adentrou sua residência, as mãos enrugadas de Jisai prontamente lhe
entregaram um papel amassado, aparentemente sem muito valor. Porém, a tênue
fragilidade do pergaminho não diminuía em nada sua importância, pelo contrário, a
intensidade dos sentimentos contidos em suas letras pareciam saltar das páginas como
um raio. As mãos trêmulas de Takezo agarravam o documento como se segurassem a
própria vida, e seus olhos saltavam das linhas impressas como se estivessem diante de
um abismo sem fundo. A carta enviada por sua mãe, junto dele, outrora mantida em
segredo, trazia à tona uma história de dor e sofrimento que jamais poderia ser
apagada. Ao mesmo tempo que continha a revelação de Jisai ser seu avô, as palavras
pareciam possuir vida própria, como se a dor e o sofrimento de seus pais estivessem
vivos e presentes naquele momento. Os olhos de Takezo se enchiam de lágrimas, que
rolavam pelo seu rosto como gotas de chuva em uma tempestade de emoções,
despertando uma dor que nunca havia sentido antes. A carta de sua mãe era uma
ferida aberta em sua alma, um buraco negro que sugava toda a luz e esperança de sua
vida, fazendo-o sentir traído por aqueles que juraram proteger sua família.
Antes de se retirar para seu quarto, Jisai olhou nos olhos do seu neto, suas pupilas
refletindo uma sabedoria milenar, e disse com voz profunda:
“Eu não irei atrapalhar sua escolha, mas tome a decisão correta, pois o caminho que
escolher será o que moldará seu destino.”
As palavras de Jisai tocavam em um ponto profundo de sua alma. Ele sabia que não
poderia mais fugir da verdade, e que a única forma de curar a ferida aberta em sua
alma era enfrentar seus demônios interiores de frente.
A tempestade rugia do lado de fora, e a porta da casa de Takeo era sacudida com força
pelo vento, como se tentasse arrancá-la das dobradiças. A silhueta de Takezo
permanecia imóvel, enquanto os trovões ribombavam pelo ar, parecendo antever o
caos que se seguiria. Então, com um grito rasgado que parecia sair das profundezas de
sua alma, Takezo chamou pelo samurai traidor.
"Takeo!”
“Takeo!”
“Takeo!"
O silêncio que se seguiu foi excruciante, como se o próprio tempo tivesse parado.
Então, a porta se abriu, e a figura sombria de Takeo surgiu diante do jovem. Seu rosto
impassível era um desafio, uma provocação para que Takezo avançasse em direção a
ele, e Takezo se lançou contra o samurai traidor, empunhando sua katana com
determinação.
"Eu sei o que você fez, Takeo! Eu sei quem é você de verdade, traidor imundo!"
O olhar de desprezo de Takeo só aumentou a raiva de Takezo, que não se importava
mais com as consequências. Ele queria vingança, queria fazer justiça aos que morreram
por culpa do traidor que estava diante dele.
"Você acredita em fantasmas, Takezo?", provocou Takeo, com um sorriso
arrogante. " Não acredito que você se deixaria enganar por aquele velho."
Mas Takezo não se deixou abalar. Seus olhos faiscavam de ira, e sua mão na
empunhadura da katana tremia de tensão.
"Não preciso de provas", disse ele, com voz firme. "Eu sei o que você fez, e
agora vou fazer você pagar."
O desafio estava lançado, e o som da chuva se misturava ao da respiração pesada dos
dois guerreiros, criando uma atmosfera tensa e perigosa, o combate era inevitável.
“Se é a morte que você deseja garoto...”, disse Takeo andando até Takezo.
Takezo e Takeo se encaravam, ambos com suas espadas desembainhadas. O silêncio só
era interrompido pelo som da água colidindo contra o chão e a respiração ofegante dos
dois guerreiros. A luta se iniciou com um golpe rápido de Takezo, prontamente
defendido por Takeo. Os dois se moviam com graça e velocidade, trocando golpes e
bloqueios de maneira intensa. O vento soprava forte, carregando folhas e galhos pelo
ar, enquanto os dois protagonizavam uma dança mortal em meio à tempestade.
A cada golpe desferido por Takezo, sua raiva crescia desmesuradamente, evidenciando
sua luta interna e externa, materializada pelo uso de toda a força que possuía. Ele se
comportava como uma besta selvagem. Porém, Takeo era um guerreiro habilidoso e
experiente, e gradualmente começou a dominar a batalha. O jovem guerreiro se via
cada vez mais acuado, sem conseguir encontrar uma brecha para atacar.
Em dado momento, Takeo executou um corte certeiro, arremessando o garoto para
trás, que caiu de costas na lama. Seu corpo estava gravemente ferido, e com uma das
mãos tentava conter o sangue que escoava de seu abdômen. Quando sentiu o metal
frio tocar seu pescoço, ele ergueu a cabeça e encarou o homem que acabara de
derrotá-lo. Sua espada tremia em sua mão, enquanto a chuva batia em seu rosto. Ele
sabia que falhara em sua busca por vingança.
Takeo encarava o jovem, pressionando sua katana contra a carne do garoto, que
mordia os lábios, tentando dissimular a dor insuportável. A água da chuva se misturava
ao sangue, formando um riacho de tons avermelhados e castanhos na terra
encharcada.
"Você deveria ter sido grato a mim, garoto. Graças ao respeito que ainda resta
pelo seu pai, eu permiti que você tivesse uma vida livre." As palavras de Takeo
ecoaram na escuridão da noite, enquanto a chuva caía com força sobre a
pequena vila.
Antes do último ato, uma figura feminina emergiu na tempestade, com seus cabelos
negros colados ao rosto e lágrimas escorrendo pelas bochechas. Kuina correu
desesperadamente para a cena da luta, agarrando o braço do pai com força na
tentativa de impedi-lo.
"Pai, não faça isso! Ele não merece morrer!" Implorou a jovem, a voz
embargada pelo choro.
"Saia! Eu preciso acabar com isso agora!" Respondeu Takeo, tentando se
libertar do aperto da filha.
Kuina se afastou, pegando sua própria katana e virando o fio da lâmina para seu
pescoço. "Se você o matar, eu também irei junto", disse tremendo, com uma voz
chorosa.
As palavras da filha ressoaram nos ouvidos de Takeo, fazendo-o recuar um pouco. Ele
olhou para a filha, vendo a dor e o medo em seus olhos, e em seguida para Takezo,
ainda caído na lama.
"Escute bem, garoto", disse Takeo com uma voz fria e cruel, pisando na garganta
de Takezo. "Se você ousar voltar a esta vila, eu o matarei sem piedade. Mas
ainda assim, irei lhe dar a honra de ter sua cabeça exposta na entrada da vila,
no mesmo lugar do seu pai."
Takezo olhou fixamente nos olhos de seu adversário, sem demonstrar medo. Ele sabia
que sua vida estava em perigo, mas não se importava. A determinação em sua
expressão era clara.
Com um chute, Takeo lançou o corpo de Takezo para longe. O jovem guerreiro rolou
pela lama, ferido e sozinho.
Takeo puxou Kuina para si, caminhando em direção à casa, batendo a porta com força.
A garota soltou o braço do pai, soluçando enquanto observava Takezo desaparecer na
escuridão. Seu coração se partia em mil pedaços enquanto via o jovem guerreiro se
arrastando na chuva, ferido e abandonado.
Após ser expulso da vila, Takezo se arrastava, seus músculos retorcidos e suas feridas
expostas. O jovem guerreiro chorava e gritava de dor e desespero, sua agonia corria
pela noite escura como um lamento sombrio. Mas então, em meio à escuridão, um
contorno se aproximou, a figura imponente e imóvel de Jisai. Com uma expressão
séria, o velho fitou Takezo por um momento antes de se aproximar. Seu olhar triste e
compreensivo indicava que ele sabia do sofrimento do jovem.
Sem dizer uma palavra, Takezo se jogou aos pés de Jisai, implorando por ajuda
enquanto as lágrimas escorriam em seu rosto.
“Por favor.... Por favor, Jisai, me ajude!” Ele suplicou, sua voz trêmula com a dor
e a emoção. “Por favor.... Por favor Jisai, me ajude!”
Jisai estendeu a mão para ajudar Takezo a se levantar, seu toque gentil e solidário
envolvendo-o como um abraço acolhedor. Embora nenhum deles tenha dito uma
palavra, o senhor havia entendido pelo que seu neto suplicava.
Três anos haviam se passado desde aquele fatídico dia, e agora a tarde do festival
anual de Adepoin se aproximava. O sol já começava a se pôr naquele outono sombrio,
tingindo o céu de tons alaranjados e vermelhos, como se prenunciasse a chegada de
tempos ainda mais turbulentos. A festa estava em pleno vapor, com os sons dos
tambores e das flautas repercutindo pelos arredores, como um eco da agitação que
consumia os presentes. Barracas de comidas e bebidas exalavam aromas deliciosos,
tentando dissimular a verdadeira miséria e desolação que reinava naquele lugar.
Enquanto os guerreiros samurais desfilavam pelas ruas decoradas, ostentando com
pompa sua falsa superioridade, os escravos da antiga vila Miyamoto trabalhavam com
o olhar vazio, como se já não houvesse mais esperança em suas vidas.
Em meio à multidão, um homem solitário caminhava com determinação, sua face
encoberta por uma das máscaras cerimoniais do evento. Takezo, que observava os fiéis
carregando velas para o templo, enquanto esperava pelo cair da noite.
No centro da vila, erguia-se uma imponente arena construída especialmente para o
torneio de duelos. As regras eram simples: qualquer um poderia desafiar outro para
uma luta um contra um, e o desafiante recebia a chancela de escolher quem quisesse.
A competição era vista como uma oportunidade de resolver desavenças,
ressentimentos ou dívidas, para perpetuar o nome do deus vingativo.
O ambiente na arena era tenso, cheio de expectativa, enquanto guerreiros de todo o
clã aguardavam ansiosos para participar.
A multidão se reunia em volta da arena, e os duelos começaram, com lutas brutais e
sanguinárias, seus competidores podiam ser guerreiros experientes ou novatos
imprudentes. Enquanto as lutas prosseguiam, a multidão assistia com os olhos vidrados
e as mãos trêmulas. A cada golpe, a arena se tingia com o sangue dos combatentes. Os
sons de metal contra metal e os gritos agonizantes faziam a trilha sonora do local, e ao
final a multidão aplaudia ou vaiava dependendo do resultado. No alto, observando
tudo com um olhar afiado, estava Takeo, que assistia aos duelos em um local mais
privilegiado, perto de sua esposa e filha, desfrutando da violência com seu rosto
impassível que escondia a emoção que sentia ao ver a carnificina abaixo.
Junto da plateia Takezo encarava Takeo a todo instante, e esse percebeu a criatura de
máscara que a todo instante penetrava em sua alma com o olhar.
Com o cair da noite a arena mergulhada na escuridão, era iluminada apenas pelas
tochas que cercavam a área de luta. De repente, Takezo, uma figura misteriosa para
todos apareceu na entrada da arena. Ele usava um manto negro e carregava uma
katana presa em sua cintura. Seus olhos eram sombrios e pareciam lançar uma luz
vermelha, indicando sua ferocidade. Takeo, por um instante, sentiu que sua vida estava
em perigo.
O desafiado por aquele homem como é evidente foi Takeo, a plateia por um momento
ficou atônita questionando quem teria a audácia de enfrentar o líder do local, mas
Takeo não podia recusar o desafio, sua honra em frente aos demais estava em jogo. Ele
desceu de seu assento indo para a arena, minutos depois ele passou pelo portão
contrário ao qual entrou Takezo, seu corpo portava uma armadura samurai
ornamentada e duas katanas embainhadas, ele encarou o homem mascarado e aos
poucos foi se aproximando e os murmúrios da multidão iam silenciando
gradualmente. Quando ele finalmente chegou perto o suficiente de seu oponente
mascarado, seus olhos se estreitaram em desconfiança.
"Quem é você?", perguntou Takeo com uma voz autoritária.
O silêncio mortal foi a única resposta que se seguiu. Takezo permaneceu imóvel, sua
espada estendida à frente do corpo, sem mover um músculo. Ao invés de proferir
qualquer palavra, ele ergueu a mão, apontando sua espada em direção a Takeo, e uma
aura começou a irradiar da lâmina. Sem dar tempo para que Takeo pudesse reagir,
Takezo atacou. Seu golpe cortou o ar com um som de assobio, enviando uma onda de
energia que parecia cortar o próprio espaço. Takeo mal teve tempo de levantar uma de
suas espadas para se defender, antes de ser empurrado para trás pelo impacto.
A poeira se levantou da arena, revelando Takezo, que surpreendeu Takeo com sua
velocidade. Ambos colidiram suas katanas em uníssono, em sequência empurrando-se
para trás, começaram a andar em círculos em torno da arena, virados um para o outro,
esperando quem seria o próximo a atacar, cada um procurando uma abertura.
Numa investida, Takezo avançou com uma estocada em direção ao peito de Takeo, mas
o experiente samurai deslizou para a esquerda, evitando o golpe de Takezo por uma
margem estreita. Takeo contra-atacou, lançando sua própria espada num movimento
rápido e diagonal. Takezo pegou a outra katana que Takeo portava em sua cintura,
defendendo o golpe. Na sua resposta, num giro, Takezo empunhando agora duas
espadas, tentou aplicar um corte nas aberturas da armadura de Takeo. Seu golpe foi
certeiro, e o sangue jorrou, revelando uma ferida profunda no ombro do samurai. Foi o
primeiro golpe que levou Takezo a concluir seu objetivo, algo que anos antes ele jamais
seria capaz de realizar.
Sua mente retrocede aos momentos de treinamento intenso com Jisai. Ele recorda os
dias em que praticava repetidamente os movimentos básicos de espada, exaustão e
frustração consumindo-o quando não conseguia executá-los perfeitamente. A memória
o transporta à prática com Jisai na floresta, sua lâmina cortando o ar com movimentos
elegantes e precisos. Jisai observava e corrigia Takezo a cada erro, incitando-o a se
esforçar mais. Aquele velho tinha-lhe fornecido a força e a oportunidade de ser um
espadachim, e três anos daquela rotina intensa seriam o reflexo daquele exato
momento.
De volta à batalha, ambos estavam separados, e Takeo olhava para a ferida em seu
ombro enquanto a multidão se mostrava atônita. A luta prosseguiu por vários minutos,
com Takezo exibindo cada vez mais habilidade com sua espada. Seu corpo movia-se
com brutalidade, mas seus movimentos eram igualmente fluidos. Os golpes eram
desferidos com uma violência que fazia as placas das armaduras retinirem. A multidão
urrava, inebriada com o sangue que caia de ambos. Os combatentes investiam um
contra o outro, o tilintar das katanas e o sibilo das espadas em choque recheavam o ar.
A barbaridade da batalha era presente, e os guerreiros pareciam alimentar-se dela. A
cada golpe, cada corte, sentia-se a tensão no ar aumentando.
Takeo observava a forma como o oponente se deslocava, como empunhava a espada,
sem qualquer sinal de hesitação. Ele era um tigre, sua identidade revelada naquele
instante estava cristalina para o samurai: aquele era Takezo.
Com a consciência de que aquele era Takezo, Takeo jurou a si mesmo que faria de tudo
para cumprir sua promessa com o garoto de anos atrás. Usando sua magia, ele tingiu
sua katana com o sangue derramado na arena, fazendo com que o metal começasse a
reverberar e o sangue assumisse as propriedades de algo semelhante a uma chama,
mas com uma sensação divergente do simples calor, parecendo ter sido forjada no
respectivo inferno por um ser infernal. Com um passo, ele avançou em direção a
Takezo, já estando diante dele.
Surpreso, o garoto por pouco conseguiu efetuar o bloqueio de um ataque horizontal
usando as duas katanas. O rumo da batalha acabou se alterando, com cada golpe e
defesa sendo um passo em direção à vitória de Takeo. O samurai não era um
adversário fácil, seus golpes eram poderosos, fazendo as espadas de Takezo vibrarem
em suas mãos, pressionando-o conforme o combate se desenrolava. O medo de Takezo
em perder aumentava à medida que a batalha avançava, com o fogo da arma de Takeo
queimando sua pele e causando um certo receio e temor no espadachim.
A katana de Takezo partiu-se em dois, incapaz de suportar a força bruta dos golpes de
Takeo, e a ponta da arma atingiu bem em cima de seu olho esquerdo, deixando uma
cicatriz marcada pelas chamas. Distraído com a dor, um chute preciso atingiu o
estômago de Takezo, fazendo-o rolar pelo chão da arena.
O sangue expelia do corte, misturando-se com o suor que escorria pelo rosto de
Takezo. Ele notou, atônito, que havia perdido a visão do olho esquerdo.
"Mais uma vez, você irá perder, Takezo... filho de Sasaki...", desafiou Takeo,
provocando-o com palavras
A plateia, aos poucos, começou a murmurar, com vozes que questionavam a
identidade de Takezo. Seria possível que aquele desconhecido fosse, de fato, um
Miyamoto, filho do Sasaki? O mesmo homem que liderou uma resistência que matou
inúmeros Akamatsu? À medida que esses pensamentos iam tomando forma, um coro
de vaias começou a surgir pelo local, como se o público quisesse ver a morte de Takezo.
Que ironia, já que agora essas mesmas pessoas estavam servindo a Takeo, um líder
que, anos atrás, lutou ao lado de Sasaki na mesma resistência.
Takezo se ergueu com dificuldade, arrancando a máscara que ocultava seu rosto e
jogando-a com violência no chão. Seus olhos encontraram os de Kuina, enquanto ele
começava a esbravejar, cada palavra ressoando no ar denso da arena.
"Ouçam bem, todos vocês!" Sua voz tinha um tom áspero, mas sua
determinação era clara. "Eu não sou Takezo! Eu sou o filho de Rouroni Sasaki, a
inabalável muralha de Miyamoto!"
Naquele momento, ele renunciava a seu nome, tornando-se apenas um espadachim.
Uma figura perdido em meio ao turbilhão de emoções que o invadia.
"Que atuação comovente", zombou Takeo, sorrindo debochado. "Sorte a sua
que logo estará com seu pai."
O espadachim recolocou a katana na bainha, abrindo sua postura e repousando a mão
sob o cabo da arma. Em um movimento rápido, Takeo investiu com um ataque vertical
de cima para baixo. Saque rápido, a habilidade do espadachim rompeu em um
aumento de maestria e agilidade, e quando o golpe de Takeo veio, ele se inclinou para
o lado, sofrendo apenas um corte leve no ombro, enquanto o samurai sofreu uma
grande perda. A katana do espadachim partiu de baixo para cima, indo em direção
contrária ao ataque de Takeo, cortando o braço do samurai ao meio. O aço passou
pelas placas de armadura, fazendo o membro do samurai cair no chão da arena. Todos
ficaram em choque, inclusive Takeo, que foi se afastando segurando o local onde o
sangue jorrava entre seus dedos.
"Infelizmente, essa é a única vida sua que tenho para tirar", falou o espadachim,
encarando Takeo.
Terminando suas palavras, ele desferiu um golpe, causando uma ruptura no ar. Três
lâminas de vento voaram em direção a Takeo, cortando o homem que estava sem
defesa. A força do ataque fez com que o samurai fosse atirado alguns metros de
distância. Com a vitória o espadachim se virou, encarando a multidão que agora havia
cessado as vaias.
"Continuem! Eu não me importo com o que vocês pensam sobre mim", disse
ele com um tom de desprezo na voz, enquanto a plateia permanecia em
silêncio, incrédula, observando o espadachim com um misto de raiva e
admiração..
A ferida aberta no ombro do espadachim latejava de dor, mas ele ignorou a sensação,
concentrando-se apenas na vitória que acabara de alcançar. Takeo observava tudo
aquilo de longe com a visão turva. Ao seu lado estava a katana quebrada que o
espadachim estava portando quando chegou Então, sem hesitação, ele empunhou
aquele pedaço de arma e o atravessou em seu próprio ventre, cortando sua carne e
seus órgãos internos. Uma dor excruciante o dominou, mas também uma sensação de
poder crescente, uma aura demoníaca que tomou conta de seu corpo. O filho de
Sasaki, que estava de costas para ele, mal percebeu quando Takeo se levantou, agora
possuído por uma entidade que assumira o controle. A multidão ficou em silêncio
enquanto observava a aura demoníaca em torno de Takeo, a arma em sua mão
brilhando com uma luz sinistra. Sem aviso, ele avançou, com movimentos erráticos, até
se aproximar o suficiente e desferir um ataque, que cortou um corpo ao meio.
O sangue respingou para todos os lados, caindo nas costas do espadachim, ele virou-
se lentamente, sentindo o coração pulsar com força em seu peito. Seus olhos, que
antes reluziam com determinação, se arregalaram em horror ao se deparar com o
corpo de Kuina caído ao chão, inerte e ensanguentado. O ar pareceu faltar em seus
pulmões, enquanto ele avançava em direção a ela, ignorando tudo ao redor.
Nesse momento, breves flashbacks inundaram sua mente, lembranças de semanas
antes, quando Kuina falava sobre sua gravidez com ele, e de como ele havia ficado feliz
e emocionado. Sua felicidade e preocupação com ela e com a criança que estava por
vir, de como prometeu protegê-los com sua própria vida. Agora, ele havia falhado em
cumprir essa promessa. O espadachim caiu de joelhos, desesperadamente segurando
Kuina. Ele pôs a mão sobre a barriga da amada, na esperança de sentir algum sinal de
vida em seu ventre. Mas tudo o que sentiu foi a dor e o vazio da perda, que pareciam
crescer a cada segundo. Lágrimas amargas escorreram pelo seu rosto, ele chorava por
ela, por seu bebê, por tudo o que havia sido tirado dele em um instante. A dor em seu
coração era insuportável, e ele se sentia tão culpado, tão impotente, que desejou não
ter sobrevivido ao duelo contra Takeo. A lembrança do sorriso radiante de Kuina, de
seus olhos brilhando de felicidade quando ela lhe disse que estava grávida, semanas
antes, isso lhe deu uma chama de esperança que se acendeu em seu peito, mas agora,
tudo isso havia sido arrancado.
Com o uso do Harakiri, Takeo permanecia caído ao lado, desmaiado e à beira da
morte. O espadachim se levantou lentamente, sua tristeza dando lugar a uma emoção
ainda mais intensa - uma fúria primordial, um escape para as lágrimas que foram
substituídas pelo rugido de uma besta. Ele se elevou, puxando de forma inconsciente
uma parte do kimono de Kuina, que rasgou como o pedaço de um pano. A raiva
cresceu dentro dele, uma aura escura envolvendo seu corpo como se uma entidade
maligna estivesse tomando conta. Seu gritou reverberou para o firmamento dos céus, a
dor e a fúria se misturando em sintonia, expressando a perda do temor pela morte.

Soldados adentraram a arena com a intenção de interromper a batalha, entretanto, a


presença deles serviu apenas como um combustível para o espadachim despejar sua
ira. O guerreiro viu em cada soldado um alvo a ser abatido. O ódio que emanava de sua
presença era sólido como a terra, negra como a aura que ressoava do seu corpo, assim
noticiando a destruição que estava por vir. Com um movimento rápido e certeiro, o
espadachim cravou sua katana na boca de um dos soldados. Com um puxão violento,
ele arrancou a espada, rasgando o rosto do samurai da mandíbula ao pescoço,
quebrando os ossos com um som grotesco. O espadachim enfrentou os soldados com
uma fúria descomunal. Ele se defendia dos ataques com a katana e com a outra mão,
desestabilizava o equilíbrio dos oponentes e retalhava seus membros com golpes
precisos. Um dos samurais teve seu braço arrancado pelo espadachim, que logo em
seguida usou a própria arma do guerreiro sem braço para degolá-lo. A próxima vítima
foi cortada de cima a baixo com um único golpe da katana, o corpo se partindo em
dois, revelava um espetáculo grotesco de órgãos e membros mutilados.

Como um monstro ele não sentia piedade, não havia mais dor ou tristeza em seus
olhos. Apenas o desejo de vingança o movia, como se uma entidade sombria estivesse
habitando seu corpo. Ele continuava avançando, ceifando vidas a cada golpe da
espada. Não havia mais um ser humano ali, apenas uma besta ensandecida que só
cpnhecoa a violência e a morte.
A frenesi perdurou por vários minutos, no festival de Adepoin, parecia que o
espadachim estava possuído pelo próprio deus da vingança. A plateia, tomada pelo
medo, sentia que o chão tremia sob os pés daquela ameaça incontrolável que parecia
um demônio. O guerreiro esbanjou uma brutalidade sem precedentes, desferindo
golpes tão mortais que faziam a multidão recuar e gritar. Cada membro que ele
decepava, cada órgão que ele expunha, era uma cena chocante que ficaria gravada nas
mentes dos espectadores.
O espadachim estava imerso em um estado de fúria absoluta, tão cego pela sua
vingança que parecia não ter mais controle sobre si mesmo. Seus golpes eram precisos
e letais, rasgando a carne e esmagando ossos como se fossem palha.
Um dos homens fincou uma naginata nas costas do espadachim, mas com as mãos ele
quebrou a ponta de madeira e, em um movimento rápido, se virou e matou o rapaz,
cravando a lâmina de sua naginata em seu pescoço. Os soldados que tentaram intervir
agora eram alvos de uma perseguição mortal, caindo um após o outro sob o golpe da
espada. O espadachim atravessou a katana na cabeça do último soldado e o empalou
na parede da arena.
Então, ao avistar o portão de entrada, mais 12 samurais da guarda surgiram. Sem
hesitar, o espadachim puxou sua katana e correu em direção a eles, pronto para
continuar a luta. No entanto, seu corpo não aguentou o esforço e entrou em colapso. A
raiva que o movia até então foi o gatilho para que seus músculos falhassem, entrando
em cataplexia, fazendo-o cair de joelhos, no final, até mesmo ele foi vencido pela
própria fúria que o alimentava.

Caído no chão com a katana em punho e o corpo ensanguentado, o espadachim foi


rapidamente cercado por seus algozes. Com um único golpe, o rapaz foi nocauteado,
mas não por muito tempo. Horas mais tarde, ele acordou em um lugar escuro e
insalubre, preso por correntes que suspenderam seu corpo no ar. Uma figura
assustadora, com a aparência de um morto-vivo, se aproximou dele e o encarou em
silêncio. Sem dizer uma palavra, ela puxou um chicote de suas vestes e começou a
torturá-lo impiedosamente. Um, dois, inúmeros golpes em sequência desferidos com
precisão cirúrgica. Minutos se passaram, mas o homem permanecia em silêncio, o que
de certa forma irritava a sua torturadora, que sentia que não estava cumprindo bem o
seu trabalho.
"Vai continuar a fingir que não está sofrendo?" ela o questionou, exasperada.
O espadachim finalmente levantou o rosto e abriu a boca, mas para espanto dos
presentes, ele não pediu por clemência.
"Takeo está vivo?" perguntou ele com voz firme.
A mulher sorriu com os dentes podres, satisfeita por poder causar ainda mais
sofrimento.
"Sim, para a sua infelicidade, conseguiram salvá-lo."
A sessão de tortura continuou por três dias intermináveis. Como sua carcereira era um
ser morto-vivo, ela não sentia cansaço, fome ou sede, pronta para usar o corpo do
rapaz para satisfazer seus desejos mais perversos a qualquer momento. De alguma
forma, ela até começou a desenvolver uma emoção doentia por aquele homem,
emocionada por poder testar os limites do corpo humano com ele.
A ordem dada era para que o espadachim, mesmo sofrendo terrivelmente,
permanecesse vivo até a recuperação de Takeo. Para tal, lhe foi oferecida uma refeição
deletéria que apenas servia para prolongar seu tormento físico e mental. Ele era
poupado somente quando sua vida estava à beira do abismo, apenas para ser
submetido a novas formas de punição poucas horas depois.
As mãos do espadachim estavam trespassadas por pregos e ele permanecia
pendurado na parede, o ambiente estava encharcado pelo seu sangue coagulado.
Queimaduras, hematomas e escoriações o acompanhavam, além de uma surdez
irreversível no ouvido direito. Ele mal conseguia manter o seu único olho funcional
aberto, sua alma estava prestes a ser arrancada e a vida a abandoná-lo, mas ele
resistiu, alimentado pela ira que o consumia ao saber que Takeo ainda não estava
morto. Essa era a razão de sua existência e ele se recusaria a partir deste mundo
enquanto o homem estivesse vivo. Era evidente que a tortura havia sido desprovida de
qualquer compaixão ou piedade. O espadachim mal conseguia se lembrar dos últimos
dias, tanto eram os horrores que havia suportado. A figura da carcereira, fria e
impassível, pairava sobre ele como um espectro, uma máquina de tortura insensível e
implacável. Era difícil para ele manter a lucidez; cada sopro de ar que entrava em seus
pulmões parecia um tormento, cada batida do coração parecia uma faca sendo girada
em suas entranhas. Mas ele se agarrou a cada pensamento de vingança, a cada
imagem mental de Takeo e do sofrimento que ele merecia, enquanto olhava para o
pedaço de pano que ele segurava com força, a única recordação de sua amada.
Um som abafado de batidas na porta da cela interrompeu o silêncio que reinava na
madrugada. A carcereira se questionava quem ousava interromper sua vigília. Ao abrir
a porta, deparou-se com um escravo do clã Miyamoto, que trazia consigo uma
presença inquietante e um olhar aflito. Enquanto a conversa prosseguia, uma ratazana
adentrou sorrateiramente pelas entranhas do esgoto, uma ocorrência cotidiana. No
entanto, o animal repentinamente começou a mutar, assumindo uma forma semi-
humana e revelando-se um metamorfo. E foi assim que uma ladina, habilidosa em
manipular algemas, iniciou a tarefa de libertar o homem.
Um gemido agudo de dor irrompeu do homem quando o tiraram da parede,
chamando a atenção da morta-viva que, ao virar-se, deparou-se com o espadachim nos
ombros da ladina. Entorpecido e com a visão ondulante, ele não conseguia
compreender claramente o que estava acontecendo à sua volta.
Antes que a morta-viva pudesse tomar qualquer atitude, o escravo nas costas dela
tomou um dos instrumentos de tortura que repousava sobre a mesa e acertou a
cabeça dela com uma barra de ferro, separando-a do corpo que caiu inerte ao solo. A
ladina e o escravo então saíram com o homem em seus ombros, como se carregassem
um fardo inestimável.
Os samurais dos Akamatsu foram alertados do incidente pelos gritos da cabeça
decapitada da executora, dando início a uma confusão que se espalhou rapidamente
pelos arredores das catacumbas. Os soldados se organizaram rapidamente e correram
em direção ao local, empunhando suas espadas e gritando palavras de ordem. Ao
chegar, encontraram a cela vazia, sem sinal do espadachim. Em resposta, os samurais
se espalharam pela vila, iniciando uma busca implacável pelo fugitivo. O povoado, por
sua vez, foi acordado em pânico, tentando se proteger dos guerreiros impiedosos que
atravessavam as ruas em busca de seu alvo.
Enquanto tentavam fugir da perseguição dos samurais, o espadachim apoiado pela
ladina e um dos escravos corriam pelas ruas vazias da vila em busca de uma saída. A
adrenalina corria em suas veias enquanto tentavam se manter à frente dos soldados,
que avançavam em sua direção a cada segundo. De repente, Jisai surgiu em seu
caminho. O velho guerreiro colocou a mão no ombro do espadachim, que por algum
momento despertou.
"Não se preocupe comigo", ele disse com serenidade. "Eu sou apenas um velho
louco que não tem mais nada a perder." Jisai disse tentando acalmá-lo com um
sorriso gentil.
O neto de Jisai olhou para ele com tristeza nos olhos, sabendo que aquela poderia ser
a última vez que o veria vivo. Jisai soltou seu ombro e amarrou sua katana na cintura
do espadachim, como uma última bênção. No entanto, um samurai que patrulhava a
vila viu a cena e alertou os outros soldados, que começaram a se aproximar em massa.
O espadachim se afastou, olhando para trás uma última vez para ver Jisai e seus
companheiros escravos bloquearem o caminho entre os soldados e ele. Os samurais
investiram contra ele com fúria, mas o velho guerreiro lutou com bravura, segurando-
os por tempo suficiente para que a ladina pudesse colocar o jovem em um cavalo, e
golpeá-lo para o animal fugir em disparada.
Enquanto isso, Jisai e os outros membros do clã Miyamoto continuavam a lutar,
mesmo sabendo que estavam superados em número e força, ele e todos os poucos do
clã Miyamoto continuavam com bravura, dando a chance para que seu neto e o
remanescente do clã escapasse com vida, era uma dívida para com ele e seu pai. Gritos
de dor e o cheiro de morte no ar, o velho guerreiro batalhou com habilidade e
coragem, dando a seu neto uma chance de escapar, mas infelizmente, a batalha
acabou custando a vida de todos os membros do clã, incluindo Jisai, que sucumbiu aos
ferimentos pouco tempo depois.
Aquilo não era sua escolha, o espadachim não almejava mais mortes em decorrência
de suas ações. O cavalo galopava freneticamente, assustando o debilitado homem que
quase cedia aos ferimentos. Foi quando o guerreiro notou alguém, cuja identidade
permanecia obscura na escuridão da noite. O espadachim tentou agarrar a katana de
seu avô com o que restava de suas forças, apontando-a em direção à figura misteriosa.
"Se você tentar me matar... eu o matarei primeiro", advertiu o espadachim com
um fio de voz.
"Mas como fará isso, se você é um fracote?", indagou o contorno misterioso
enquanto retirava o manto que encobria sua cabeça, revelando-se como o
monge Takuan.
Este, ao avistar a aproximação dos soldados Akamatsu, escondeu o garoto com o
cavalo em meio à mata. Em seguida, os guardas chegaram ao local.
"Senhor, você viu um homem fugindo em um cavalo por aqui?", perguntaram os
soldados.
"Eu? Não vi nada. Talvez ele tenha seguido naquela direção", respondeu
Takuan, apontando para outro lado.
"Tem certeza disso?" indagou um dos samurais com uma ponta de
desconfiança.
"Você está duvidando da palavra de um monge, garoto?" provocou Takuan,
sorrindo de maneira enigmática.
Ainda hesitantes, os soldados se viraram e partiram na direção apontada pelo monge.
Takuan voltou-se para o espadachim, cujo corpo parecia sem vida, e o ajeitou no
cavalo. Juntos, eles seguiram em direção a Ertlefanentet, onde Takuan ofereceu abrigo
e tratou das feridas do homem, mesmo sabendo que nem todas poderiam cicatrizar.
Enquanto ele cuidava do espadachim, este chorava e refletia sobre suas escolhas. Ele
finalmente compreendia que sua força não era tão real quanto ele imaginava e que
confiar nela havia o levado à ruína. A tristeza e a angústia tomavam conta de sua alma
e faziam com que ele se questionasse sobre o sentido da vida, mesmo com sua
vingança ainda vívida.
Os dias passavam lentamente enquanto Takuan cuidava do espadachim, que ainda se
recuperava dos ferimentos. Porém, mesmo com os cuidados do monge, o espadachim
se encontrava cada vez mais desolado e sem esperança. Ele sentia o peso da culpa em
seus ombros e acreditava que nunca seria capaz de se redimir pelos erros que havia
cometido. Seu espírito parecia aprisionado em um profundo precipício.
Dois meses haviam passado, e o espadachim estava agora preso, amarrado a uma
árvore. Era manhã quando Takuan chegou, fixando seus olhos nos do garoto.
“Hmm..... Então, você ainda está vivo?” indagou Takuan.
“Por que você me deixou nessa situação humilhante após me ajudar? Acabe
logo com isso e me mate, monge maldito.” respondeu o espadachim com um
tom amargo.
“Irei pensar no seu caso...” disse Takuan, antes de adentrar no templo.
O clima estava frio, congelante, e dia após dia, apenas pela manhã, Takuan visitava o
prisioneiro para alimentá-lo. Todas as vezes, o espadachim implorava para que o
monge o matasse, mas nunca recebia uma resposta. Depois de algum tempo, Takuan
resolveu visitá-lo à noite. O espadachim abriu os olhos, gritando:
“Me mate agora, seu monge bastardo! Me mate!”
“Incrível! Você ainda tem força para gritar. Você acabará morrendo se não
economizar suas energias.” ponderou Takuan, com voz tranquila.
“Por que não me deixa morrer como um guerreiro? Não tenho medo da morte.
Eu já entendi que sou fraco, e que devo desistir da minha vingança.” falava o
espadachim, com os olhos vibrantes de raiva.
“A visão aí de cima deve estar te afetando.... Escolha Takezo, entre morrer como
um monstro ou viver como um homem bom... Dê uma boa olhada em si
mesmo.” respondeu Takuan, em tom misterioso.
Algumas semanas se passaram e abutres e corvos já rodeavam a árvore onde o garoto
estava pendurado. Takuan saiu do templo pela manhã, encarando o olhar do jovem
espadachim.
“Então, Takezo, você deseja morrer honrosamente? Como um guerreiro... você
está sendo egoísta”, disse o monge com um tom de voz severo.
“Cada pessoa que você matou tinha sua própria vida. Seja ela abençoada ou
não. Todos nascem neste mundo, crescem... algumas têm família, outras são
solitárias... Algumas têm filhos, noivas, animais de estimação... Algumas têm
grandes esperanças e sonhos, outras não têm ambição alguma. Você destruiu
tudo isso para eles, Takezo. Você os matou. Um samurai, uma mãe que tinha
um único filho, uma viúva sem amparo. O que te dá o privilégio de morrer
quando quiser? Uma morte honrosa? QUEM VOCÊ PENSA QUE É, TAKEZO?”,
Takuan berrou, enquanto um vento gelado batia sobre eles.
O espadachim, abaixou sua cabeça, escondendo sua face e ficando em um mórbido
silêncio.
“A cada dia a neve cai suavemente... Os céus permitirão que você tenha uma
morte fria...”, acrescentou o monge, em um tom sombrio.
No final de uma madrugada, banhado pela chuva, queimado pelo sol e congelado pelo
clima severo, ele não conseguia mais suportar as adversidades e chorava em silêncio.
Com todas essas provações, a corda que o mantinha preso finalmente cedeu, fazendo
com que Takezo caísse de cara no chão, onde encontraria sua morte em breve.
Naquele mesmo dia, Takuan carregou-o nas costas.
"Deixarei você escolher onde gostaria de morrer", disse Takuan.
Ele caminhou até uma colina alta com uma bela vista.
"Então este será o local onde sua vida chegará ao fim, Takezo. Você escolheu
bem, tem uma vista deslumbrante de Ertlefanentet daqui", disse Takuan com
serenidade.
"M-me mate...", falava o espadachim com fraqueza, em lágrimas.
"Oh, vejo que voltou a falar", disse Takuan, com um olhar de compreensão.
"Agora, repita o que disse, eu não entendi direito."
"ME MATE SEU MONGE MALDITO!"
"Este é o seu desejo?", perguntou Takuan, com uma expressão tranquila.
"O que mais eu iria querer?", respondeu Takezo, em meio a sua agonia.
"Uma sombra percorre seu rosto, Takezo. Seus olhos estão tão... sombrios...
solitários e em dor ", observou Takuan com uma voz suave.
"Você matou tantas pessoas", continuou ele, "e no final, você mesmo irá se
matar. É isso que você deseja?"
"Isso mesmo", murmurou Takezo, sua voz mal audível.
"Então você viveu sua vida por completo, Takezo. Por que não está sorrindo?
Deveria se alegrar", disse Takuan com uma voz dura, seguido de um tapa no
rosto de Takezo, continuando. “Anuncie ao mundo, sinta orgulho de si mesmo.
Eu matei todos ao meu redor e agora serei morto por esse maldito monge! Eu
vivi minha vida da maneira que quis, uma vida maravilhosa..."
"Diga!" gritou Takuan, exigindo que o espadachim se expressasse com clareza.
"Me mate. Simplesmente me mate!!", gritou Takezo, seu tom de voz agora
agudo e penetrante.
"Diga!", repetiu Takuan, suas sobrancelhas franzidas em determinação.
"ME MATE!", berrou Takezo, em um grito estridente, suas palavras ecoando
pela colina.
Takuan golpeou Takezo com um soco poderoso que o derrubou no chão. Em seguida,
montou sobre ele e começou a desferir socos com fúria.
"Diga, Takezo!", bradou Takuan.
"Você está morto!", continuou ele, os punhos ainda martelando a carne de
Takezo.
Memórias passaram pela mente do espadachim, flashes de todos aqueles cujas
mortes tiveram uma parcela de culpa dele. A dor e o sofrimento o invadiram, como se
fossem espinhos perfurando sua alma.
"Está morto!", rugiu Takuan, cada soco repercutindo como um trovão.
"Se você está satisfeito com a vida que viveu, anuncie isso ao mundo!",
continuou Takuan, ainda golpeando Takezo sem piedade.
A dor física se misturava com a dor emocional, o peso dos arrependimentos e das
perdas que ele infligira a si mesmo e aos outros. Cada palavra de Takuan parecia
esmagar sua alma, aumentando a agonia que o espadachim já sentia.
Com o espadachim atônito, Takuan afastou-se, deixando Takezo sozinho que se
levantou, e em silêncio caminhou até ficar diante de uma rocha maciça. Por alguns
segundos, o guerreiro permaneceu imóvel, imerso em pensamentos profundos que
culminaram em uma explosão de dor e sofrimento. Ele começou a bater sua cabeça na
pedra incansavelmente.

Por que...?
Por que eu nasci...
Eu mereço morrer.
Sangue começou a escorrer pelo seu rosto, e seus olhos se encheram de um vermelho
escarlate. Foi quando uma mão veio ao seu auxílio, segurando sua testa.
"Você irá jogar sua vida fora, Takezo? Vai jogar tudo fora?", disse Takuan, com
voz firme. "Essa vida não é para você, meu amigo. Há um propósito maior para
sua existência."
Takezo, ainda tonto e ensanguentado, olhou para Takuan com incredulidade. O monge
partiu as cordas que seguravam os braços do espadachim e o ajudou a levantar.
"Não há luz para aqueles que não conhecem a escuridão. Viva e resista às
sombras. E a claridade virá em sua direção", disse Takuan, com a voz carregada
de sabedoria e serenidade.
O sol nascia, batendo no pico daquele morro e aquecendo o corpo do espadachim,
que sentia suas energias se esvaírem. Ainda aturdido, ele ouviu as palavras do monge
com atenção.
"Abençoe aqueles que morreram, faça com que suas partidas tenham
significado, que eles tenham morrido por aquele que é invencível sob o sol",
continuou Takuan, elevando sua voz com um tom mais forte e solene.
"Takezo morreu aqui hoje, mas nunca se esqueça de onde veio. Carregue seus
desejos e lembranças consigo", disse Takuan, colocando uma das mãos no
ombro do espadachim, como um gesto de consolo e encorajamento.
"De agora em diante, você se chamará Roronoa Zoro", completou o orc, e o
espadachim ergueu a sobrancelha em questionamento diante da escolha do
nome.
"O que foi? Era o nome do meu cachorro.", justificou o monge sorrindo.
Ajudando o rapaz, ele pegou o pano que Zoro carregava consigo, a roupa de Kuina, o
enrolando em volta da testa do jovem, escondendo a ferida profunda que ele mesmo
havia causado. O jovem sentiu uma estranha sensação em seu peito, como se uma
chama tivesse sido novamente acesa. Ele olhou para o sol nascente e, pela primeira vez
em muito tempo, sentiu uma pequena faísca em seu coração.
Durante alguns meses, Zoro permaneceu próximo ao templo, onde Takuan o
transmitiu alguns ensinamentos, a fim de ajudá-lo a encontrar respostas para seus
traumas e perguntas. Embaixo da queda d’água, Takuan o ensinou a meditar, deixando-
o sobre a água enquanto pensamentos sobre sua imaturidade e arrogância fluíam com
a correnteza. Durante o treinamento, Takuan enfatizou a importância da concentração
e da disciplina, ensinando-o como usá-las para aprimorar suas habilidades. Zoro
aprendeu a controlar sua respiração e acalmar sua mente. Foi ensinado a Zoro a
cultivar uma conexão mais profunda com sua alma, a entender a energia e a força que
dela provém e a usá-las para aprimorar suas habilidades com a espada. Após um ano
de treinamento, Zoro havia se transformado.
Na primavera do seu vigésimo primeiro ano, Takezo renasceu como Zoro. Takuan
apareceu para se despedir, entregando algumas vestimentas ao rapaz.
“Você tem noção de onde irá agora?” perguntou Takuan.
“Para lugar nenhum, apenas vagarei sem destino.”, respondeu Zoro.
Apertando a katana de Jisai firmemente em sua mão, ele partiu.
Em sua primeira parada, Zoro se deparou com uma lutadora jovem e importuna, com
a qual ele acabou criando um laço. Ele embarcou em diversas aventuras, incluindo a
entrada na guilda dos aventureiros. Foi nessa jornada que Zoro teve um encontro
fatídico com o espadachim escarlate, conhecido como Zorav.
Zorav mostrou uma técnica de combate sem igual, deixando o espadachim de cabelos
verdes assustado com a diferença insuperável de suas forças. Zoro conseguiu acertar
apenas um golpe e, no restante do combate, foi totalmente humilhado. Diante da
morte iminente e perdendo sua amada katana dada por seu mestre, Zoro teve sua
determinação e força de vontade ainda mais fortificadas. Ele se submeteu a um
treinamento ainda mais árduo, aprimorando sua técnica e aperfeiçoando sua
habilidade com a espada. A desventura de um alquimista, a batalha contra o kraken, e
outros acontecimentos em sua vida, foram cruciais para que ele pudesse conhecer o
mundo e explodir seu potencial de força em um nível jamais visto antes. Atravessando
essas lapidações, talvez ele se aproxime cada vez mais do seu sonho de se tornar
invencível sob o sol.

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