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Rosely Boschini
Editora
Única é um selo da Editora Gente.
Carla Fortino
Título original: THE FINEST HOURS. The
Estagiária true story of the U. S. Coast Guard’s most
daring sea rescue, by Michael J. Tougias and
Natália Domene Alcaide Editora Casey Sherman.
de Produção Editorial Rosângela
de Araujo Pinheiro Barbosa Copyright © 2009 by Casey Sherman and
Controle de Produção Karina Michael Tougias Este livro foi negociado
Groschitz através de Ute Körner Literary Agent,
Barcelona – www.uklitag.com e Books
Tradução Crossing Borders, Inc.
Sandra Martha Dolinsky Todos os direitos desta edição são reservados
Preparação à Editora Gente.
Geisa Mathias de Oliveira Rua Pedro Soares de Almeida, 114, São
Projeto Gráfico e Diagramação Paulo, SP – CEP 05029-030
Osmane Garcia Filho Revisão
Telefone: (11) 3670-2500
Vero Verbo Serviços Editoriais
Capa Site: http://www.editoragente.com.br
Imagem de Capa
Tougias, Michael J.
"MEB"
Bibliografia
ISBN 978-85-67028-82-8
1. Naufrágios 910.452
À equipe de resgate, aos
sobreviventes e àqueles que não
conseguiram voltar a terra.
sumário
prólogo
partes dos petroleiros e seus barcos de resgate
parte i
capítulo 1 Estação de Resgate de Chatham
capítulo 2 O Pendleton
capítulo 3 O Fort Mercer
capítulo 4 “Não pode ser verdade”
capítulo 5 “Você tem de pegar a 36500”
capítulo 6 Chatham Bar
capítulo 7 Mobilização em Chatham
capítulo 8 “Ele veio à tona, boiando”
capítulo 9 Perdendo as esperanças: na popa do Pendleton
capítulo 10 Todos menos um: o resgate à popa do Pendleton
capítulo 11 Trinta e seis homens em um barco de 36 pés
capítulo 12 Pandemônio em Chatham
parte ii
capítulo 13 Emborca a proa do Mercer
capítulo 14 Uma manobra memorável
capítulo 15 Terça-feira na Estação de Chatham
capítulo 16 Treze homens ainda a bordo
capítulo 17 Buscas na proa do Pendleton
parte iii
capítulo 18 A investigação
capítulo 19 Ser rotulado de herói pode ser um fardo
capítulo 20 Problemas no petroleiro
capítulo 21 Além do resgate
capítulo 22 A restauração
epílogo Eles já foram jovens
apêndice
agradecimentos
bibliografia
prólogo
Orleans, Massachusetts
18 de fevereiro de 1952
Bernie Webber, contramestre, segurava uma caneca de café quente em suas mãos
grandes, enquanto olhava pela janela enevoada do refeitório. Aquele café não era
tão ruim. Saíra de uma panela de três galões e fora feito da mistura de café com
duas cascas de ovos, para ajudar a borra a se depositar no fundo. O filho do
pastor protestante de Milton, Massachusetts, observava com crescente
curiosidade e preocupação a tempestade que continuava a se fortalecer, do lado
de fora. A tempestade Nor’easter do solstício de inverno havia parado a Nova
Inglaterra nos últimos dois dias e Webber se perguntava se o pior ainda estaria
por vir. Ele observava a neve varrida pelo vento dançando sobre as areias
movediças e os grandes montes que se formavam ao lado da torre do farol, no
jardim da frente da Estação de Resgate de Chatham. Ao mesmo tempo, dois
faróis haviam sido erguidos ali; juntos, eram conhecidos como os Twin Lights de
Chatham. Tudo que restava do segundo farol era a velha fundação, e, nessa
manhã, estava completamente coberta de neve.
Tomando um gole de café, Webber pensou em sua jovem esposa, Miriam,
acamada com uma forte gripe, em sua casa de campo, em Sea View Street. E se
houvesse uma emergência? E se ela precisasse de ajuda? O médico conseguiria
chegar até ela nesse clima? As perguntas foram desgastando seus nervos e
Webber lutava para tirá-las da cabeça. Tentou pensar nos pescadores locais,
todos reunidos em volta do velho fogão a lenha, no píer de pesca de Chatham.
Logo estariam pedindo sua ajuda, quando seus navios começassem a subir e
descer sobre as ondas em Old Harbor, retesando suas linhas. Se a tempestade
está tão ruim agora, como vai ser daqui a algumas horas, quando realmente
começar?, pensou.
Webber, contudo, não reclamaria do dia difícil que estava enfrentando. O
contramestre tinha apenas 24 anos, mas já trabalhava no mar havia quase uma
década, depois de ter servido no U.S. Maritime Service [Serviço Marítimo dos
Estados Unidos] durante a Segunda Guerra Mundial. Três irmãos mais velhos de
Webber também haviam servido na guerra. Paul, o mais velho, servira na 26ª
Divisão do Exército, na Alemanha. A chamada Divisão Yankee lutara na Batalha
do Bulge, junto com o Terceiro Exército do general George S. Patton, na captura
da cidade fortificada de Metz. Bob, o segundo mais velho, ajudara a proteger a
pátria na Guarda Costeira dos Estados Unidos. O terceiro, Bill, ajudara a
construir a Alaska Highway como membro do Corpo de Transporte do Exército.
Bernie havia seguido seu irmão Bob na Guarda Costeira, mas esse não era o
tipo de vida que seus pais haviam planejado para ele. Desde a infância, o pai de
Webber, pastor associado da Tremont Temple Church, em Boston, dirigira-o para
uma vida no ministério. O diácono da igreja, inclusive, pagara para que Bernie
cursasse a escola para meninos Mount Hermon, localizada a 170 quilômetros de
distância, em Gill, Massachusetts — uma cidade pequena, que abraça o rio
Connecticut. Fundada em 1879, a escola se vangloriava de ter tido alunos de
prestígio, como DeWitt Wallace, fundador da Reader’s Digest, e James W.
McLamore, criador do Burger King. Desnecessário dizer que Bernie era como
um pária econômico entre a população da escola preparatória. Ele chegara a
Mount Hermon carregando sérias dúvidas e usando roupas de segunda mão de
seu irmão. Não era um bom aluno e questionava, em particular, por que estava
ali. No fundo do coração, Webber sabia que não queria seguir os passos do pai.
Pensava em fugir da escola quando o destino interveio: um amigo de infância
que havia batido o carro do pai apareceu, à procura de um lugar para se
esconder. Webber atendeu ao pedido de seu amigo, acolhendo-o em um dos
dormitórios de estudantes e roubando comida do refeitório da escola para ele
comer. Os dois foram pegos depois de alguns dias, mas não ficaram por ali
tempo suficiente para enfrentar as consequências. Fugiram para as colinas e os
campos de milho ao redor da escola e acabaram conseguindo voltar para Milton.
O reverendo Bernard A. Webber se esforçou para compreender a atitude de
seu tão jovem filho rebelde, Bernie, de sair da escola e continuar à deriva. Um
ano depois, aos 16 anos, Bernie teve uma ideia que mudaria o curso de sua vida
sem rumo. Ouvira dizer que o U.S. Maritime Service estava à procura de jovens
como ele para treinamento, em Nova York. Se Bernie conseguisse completar o
árduo treinamento de campo, poderia servir ao esforço de guerra em um navio
mercante. Logo que seu pai, com relutância, assinou a papelada para o
alistamento, Bernie rapidamente ingressou e foi educado nos fundamentos da
marinharia na U.S. Maritime Service Training Station [Estação de Treinamento
do Serviço Marítimo dos Estados Unidos], em Sheepshead Bay, Nova York,
onde também recebeu treinamento do ex-campeão mundial de peso-pesado, Jack
Dempsey, que então servia como comandante da Guarda Costeira e também
como instrutor atlético na estação de treinamento. Quando concluiu o
treinamento, Webber partiu no ss Sinclair Rubiline, um petroleiro t-2 que
transportava gasolina dos portos em Aruba e Curaçao para os navios de guerra
norte-americanos da Terceira Frota dos Estados Unidos, no Pacífico Sul. Durante
esse tempo, o rapaz percebera que não passaria a vida no ministério ou em
nenhum outro trabalho em terra. Bernie Webber havia nascido para o mar.
Alistou-se na Guarda Costeira dos Estados Unidos em 26 de fevereiro de 1946 e
foi enviado para sua estação de treinamento em Curtis Bay, Maryland. Em cartas
aos recrutas da época, o comandante da estação de treinamento da Guarda
Costeira resumiria a vida e o dever de um guarda costeiro da seguinte forma:
Trabalhos difíceis são rotina neste serviço. De certa forma, a Guarda Costeira está sempre em
guerra. Em tempos de guerra, contra os inimigos armados da nação; e em tempo de paz, contra
todos os inimigos da humanidade no mar: fogo, abalroamento, ilegalidade, vendaval, gelo,
naufrágio e muitos mais. A Guarda Costeira, portanto, não é lugar para desistentes, para um
bebê chorão, para um trapaceiro ou para qualquer pessoa que não possa se concentrar no que
está fazendo. O período de treinamento dos recrutas é um momento de teste, hora após hora e
dia após dia, para determinar se são ou não feitos do material certo. Cabe a vocês, como
indivíduos, provar seu valor.
A bordo do Fort Mercer, o capitão Paetzel se retesava cada vez que uma onda
particularmente grande, chicoteada pelo vento, atingia a embarcação. O óleo
continuava a manchar o oceano, e o intendente do navio se esforçava como
podia para manter a proa naquelas águas que se aproximavam. Paetzel fez seus
tripulantes vestirem os coletes salva-vidas, mas além dessa medida de segurança
pouco podiam fazer senão esperar que a Guarda Costeira chegasse.
De modo notável, às dez da manhã o Boston Globe conseguiu uma conexão
telefônica da costa com o capitão do navio. Paetzel disse que as condições eram
muito difíceis e que as ondas haviam alcançado vinte metros, elevando-se até o
cordame, mas que acreditava que seu navio “não corria nenhum perigo
imediato”. Ainda assim, reconheceu que não podia ter certeza, porque avaliar o
dano mais de perto no convés seria suicídio. “Estamos apenas parados”,
acrescentou. Para concluir, pensou nos entes queridos na costa e expressou a
esperança de que “a esposa de nenhum de nós ouça falar sobre isso”. O Mercer
não estava inclinado, e visto que o anterior som do metal rachando não causara
mais graves eventos, Paetzel mantinha a esperança de que o pior já havia
passado.
Embora Paetzel sentisse que o Mercer não estava em perigo imediato, ele
também conhecia a história dos petroleiros t-2 parcialmente pré-fabricados e
soldados, o que não era reconfortante. Até aquele momento, oito desses
petroleiros haviam sido perdidos em decorrência de fraturas no casco, e eles
eram particularmente suscetíveis a rachaduras quando grandes ondas eram
acompanhadas por temperaturas frias — a exata situação que o Mercer
enfrentava. O capitão respiraria mais aliviado quando avistasse os barcos da
Guarda Costeira.
Subitamente, às 10h30, ouviu-se o som de outra rachadura aterrorizante, e o
navio deu uma guinada. Paetzel instantaneamente enviou outra mensagem à
Guarda Costeira, que explicava que a situação estava piorando. Uma fria
sensação de medo atravessou o capitão; ele sabia que seu navio poderia se tornar
o nono petroleiro t-2 a ser levado pelo mar.
O estresse no navio crescia, em especial quando uma onda levantou a proa e
outra, a popa, deixando o meio sem nenhum apoio. A tempestade havia quebrado
o casco soldado do tanque, e o mar parecia ter a intenção de estender a
rachadura. O capitão Paetzel e sua equipe não podiam fazer nada além de esperar
os socorristas.
Outra longa hora se passou, sem incidentes. E então, às 11h40, houve um
terceiro anúncio, alto, quando mais metal rachou. Paetzel já podia ver a fratura,
que se estendia do tanque de carga 5, a estibordo, até vários metros acima da
linha d’água, e o óleo jorrava no mar furioso. Às 11h58, Paetzel enviou outro
sos, dessa vez acompanhado da mensagem: “Nosso casco está se partindo”.
Dois minutos depois, uma onda açoitou o petroleiro com tanta força que os
tripulantes foram atirados ao chão. Quando conseguiram se levantar, não podiam
acreditar no que viam: o navio estava dividido em dois!
O tripulante Alanson Winn disse que quando a fratura final e a separação
ocorreram, o barulho foi tão alto e violento que ele pensou que o navio havia
sido abalroado. “Então, ele se ergueu para fora da água como um elevador. Deu
dois saltos. E, quando parou, rasgou-se ao meio.”
Paetzel estava preso na proa com mais oito homens, enquanto na popa ficaram
34 tripulantes, e cada ponta navegava à deriva para longe uma da outra. O mar
jogava a proa descontroladamente sobre suas águas como se fosse um brinquedo
quebrado, primeiro balançando de forma brusca para estibordo. A extremidade
da frente da proa empinou alto, mas a de trás se inclinou para baixo,
submergindo uma parte do convés e levando os barcos salva-vidas. Igualmente
devastador, o acidente inutilizou o rádio, e Paetzel não podia mais falar com a
Guarda Costeira e pedir resgate; nem dar instruções aos tripulantes na popa.
Paetzel e seus homens estavam impotentes, presos na ponte; sair podia significar
morte instantânea. A proa chafurdava no mar monstruoso, e, sem a força do
motor, ficou de costado para as ondas, sofrendo impactos diretos.
A popa, onde ficava o motor, estava em melhores condições, totalmente acima
da água. Logo após a divisão, os engenheiros imediatamente desligaram o motor,
mas sua tripulação já podia ver as ondas empurrando a proa na direção deles
como um aríete. Milagrosamente, os engenheiros conseguiram religar o motor.
Colocaram a hélice no sentido inverso e conseguiram virar a popa para longe,
antes que a proa os acertasse, mas seus problemas estavam só começando.
capítulo 4
“Não pode ser verdade”
Antes de o Pendleton ser avistado, Bernie Webber já estava tendo uma manhã
agitada. Vários barcos de pesca tiveram a amarração quebrada e se espalharam
pela costa de Old Harbor, e Webber e sua equipe usaram a lancha de salvamento
36500 para ajudar os pescadores a puxar os barcos para a praia e prendê-los,
antes que a arrebentação os danificasse. Era a versão marinheira de arrebanhar
gado, mas, em vez de trabalhar sob o sol quente do Texas, os homens tinham de
exercer sua função na neve ofuscante e a temperaturas congelantes. Webber,
porém, sabia da importância do trabalho, pois sem seus navios de pesca os
pescadores não podiam sustentar suas famílias durante o rigoroso inverno de
Cape Cod.
Ele foi auxiliado na tarefa pelo marinheiro Richard Livesey e pelo amigo de
longa data, o técnico de máquinas de primeira classe Mel Gouthro, que, além de
lutar contra o clima, estava lutando contra a gripe. A tempestade Nor’easter fez
Livesey se lembrar dos catorze meses que passara em um quebra-gelo, no
Atlântico Norte. Aos 22 anos, era dois anos mais novo que Webber, e, assim
como acontecia com seu chefe, o que faltava a Livesey em idade ele compensava
com experiência. Richard Livesey nascera em South Boston, em 1930, e fora
criado a noventa quilômetros ao sul, em Fairhaven, uma vila de pescadores na
costa de Buzzards Bay, em frente ao porto de New Bedford. Livesey foi
direcionado a uma vida no mar desde cedo, graças às inúmeras histórias
contadas por seu pai, Oswald, durante 22 anos suboficial de caldeira na Marinha
dos Estados Unidos. As ruas de paralelepípedos de sua cidade natal sem dúvida
inspiraram Richard Livesey a uma carreira marítima. Fairhaven tinha uma
história rica. A cidade havia sido o local da primeira batalha naval da Revolução
Americana, em maio de 1775, quando Nathaniel Pope e Daniel Egery lideraram
milicianos locais na captura de duas corvetas britânicas, em Buzzards Bay. Nos
dois anos seguintes, os fundadores da cidade erigiram uma fortaleza em Nobscot
Point, equipada com onze canhões, alguns dos quais capturados nas Bahamas
pelo herói naval norte-americano John Paul Jones. O forte foi destruído em
1778, quando os britânicos invadiram o porto e levaram quatro mil tropas a New
Bedford. Contudo, foi reconstruído, e recebeu o nome de Fort Phoenix, por
causa do pássaro mítico que renasce das próprias cinzas. A cidade se expandiu,
ao longo do tempo, colaborando com a prosperidade baleeira de New Bedford.
Richard Livesey era um daqueles jovens que pareciam ter água salgada nas
veias. Desde que podia se lembrar, queria ingressar na Marinha norte-americana,
e quando teve idade suficiente, pediu ao pai que o acompanhasse ao gabinete de
recrutamento naval. “Claro”, dissera o velho Livesey, radiante porque o filho
estava seguindo a tradição marinheira. No entanto, seu entusiasmo se apagou
momentaneamente quando o recrutador informara que havia uma espera de dez
meses para o alistamento. Era 1947, e Richard Livesey tinha 17 anos. Dez meses
parecia uma vida para o adolescente ansioso. Ele queria ação e aventura.
Enquanto saíam do gabinete de recrutamento, Richard disse a seu pai que, então,
entraria na Força Aérea dos Estados Unidos. Naquele momento, pai e filho
notaram uma placa que indicava o gabinete de recrutamento da Guarda Costeira,
poucas portas abaixo. As esperanças do adolescente de viver aventuras no mar
não foram frustradas, afinal. Livesey fez apenas uma pergunta ao recrutador:
“Quando serei enviado em missão?” “Amanhã!”, vociferou o homem. Livesey se
alistou no local, mas não foi enviado em missão no dia seguinte como
prometido. Precisou esperar uma semana até ir para o campo de treinamento de
recrutas em Mayport, Flórida, que era o lar de uma das maiores concentrações da
frota naval dos Estados Unidos. Livesey seguira a rotina no campo de
treinamento de recrutas contando os dias, até que saíra ao mar. Passara os quatro
anos seguintes servindo em guarda-costas e quebra-gelos da Guarda Costeira ao
redor dos Estados Unidos e em Newfoundland, antes de encontrar seu caminho
em um barco de patrulha na estação de New Bedford, em frente ao porto de sua
cidade natal. Ele deixaria a Guarda Costeira brevemente, em 1951, depois que
seu período de alistamento acabou, e tentaria primeiro trabalhar na construção de
estradas e também em algumas indústrias de peixe. O salário era melhor, mas o
trabalho não tinha a emoção que ele havia experimentado na Guarda Costeira, de
modo que se alistou novamente. Assim, lá estava ele, mais uma vez, puxando
barcos de pesca para suas amarras naquela manhã brutal de segunda-feira, em
meados de fevereiro.
Quando concluíram o trabalho, Webber, Livesey e Gouthro amarraram a
lancha de salvamento e, em seguida, pularam na canoa e voltaram para a costa.
Os homens estavam exaustos, com fome e frio, e mal podiam esperar para voltar
à Estação de Resgate de Chatham, fazer uma refeição quente e trocar de roupa. A
água gelada do mar havia passado através das roupas de chuva diretamente para
seus ossos doloridos. Livesey e Gouthro usavam finos macacões de lona
emborrachada e jaquetas até a cintura do mesmo material. Webber vestia uma
calça de algodão até os joelhos e uma parca com capuz de pele. Eram todas
remanescentes da Segunda Guerra Mundial e não ofereciam mais proteção
contra o clima implacável do inverno. Gouthro tremia por causa do frio e da
gripe. Ele e Livesey tentavam manter as mãos quentes em luvas de lã que
haviam mergulhado em água salgada e torcido antes de colocá-las, na tentativa
de ajudar na circulação e evitar a fadiga. Era uma prática comum entre os
marinheiros: o calor do corpo propiciava mais calor. Webber simplesmente
enfiava as mãos nuas e geladas nos bolsos de seu casaco. Ele não podia usar
luvas em um dia como esse, porque precisava sentir o leme, a alavanca da
embreagem e o acelerador dos barcos que ajudara a guiar de volta às amarras.
Quando os homens cansados pararam no píer de pesca de Chatham para analisar
seu trabalho, um caminhão da Guarda Costeira estacionou ao lado.
“Voltem para Orleans e Nauset Beach”, gritou o motorista. “Houve um
naufrágio no mar e eles precisam de ajuda.” A confirmação em terra da situação
do Pendleton havia sido dada por uma mulher que vivia na entrada de Nauset.
Ela ouvira a buzina do navio tocar sete vezes mar adentro e imediatamente ligara
para o chefe de polícia de Orleans, John Higgins, que, em seguida, informara a
Estação de Resgate de Nauset sobre o problema.
Webber e equipe foram instruídos a se juntar ao grupo da Estação Nauset em
seu veículo anfíbio (dukw) para tentar localizar o petroleiro e prestar socorro, se
possível. O Duck, como era chamado, era um caminhão anfíbio com tração nas
seis rodas, desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial, especialmente
usado durante a invasão aliada da Normandia, no Dia D. dukw é o código do
equipamento militar que representa as características do veículo: D significa
1942, ano em que o veículo foi fabricado, U reflete suas qualidades anfíbias, K
se refere à capacidade de tração dianteira, e W à tração traseira dupla. E agora,
usado pela Guarda Costeira em Nauset Beach, o Duck era o veículo perfeito para
transportar os guardas costeiros sobre a areia e a água, enquanto caçavam o
Pendleton à deriva. Contudo, primeiro, Webber e sua equipe tinham de chegar a
Orleans.
Por estradas acidentadas cobertas de neve grossa, o caminho pelo braço de
Cape Cod na Route 28 rumo a Orleans foi tensa para os três guardas costeiros.
Sob a neve descansava uma camada de gelo; o caminhão Dodge era forçado a
avançar devagar pela estrada sinuosa. Felizmente, o aquecimento interno
funcionava; mas o conforto só fez Webber pensar em seu amigo, Donald Bangs,
que estava ali fora, no oceano gelado, esperançosamente ainda vivo.
Webber, Livesey e Gouthro, por fim, chegaram a Orleans e foram recebidos
por Roy Piggott e o resto da equipe da Estação de Resgate de Nauset. Os homens
se amontoaram em um dukw e seguiram para Nauset Beach, onde estacionaram
em uma colina, perto de Mayo’s Duck Farm, na época a principal fornecedora de
aves para os seis estados da Nova Inglaterra. As aves se esconderam em
segurança em suas casinhas, enquanto os guardas costeiros ocuparam a colina
em busca de algum sinal de um navio na tempestade ofuscante. Em qualquer
outro momento, a colina teria servido como o local perfeito para escrutar os
quilômetros de costa. Contudo, o alto poleiro não oferecia nenhuma ajuda nesse
dia, porque a linha litorânea havia praticamente desaparecido. O mar corria para
a praia, em frente ao estacionamento e até o meio da colina. No entanto, depois
de alguns instantes a neve diminuiu brevemente e os homens conseguiram
detectar um volume cinzento, um objeto mais escuro que o oceano, rolando pelas
ondas gigantescas. Era metade de um navio, derivando rapidamente em direção
ao sul, para Chatham. Eles sabiam que não havia nenhuma maneira de o dukw
conseguir pegá-lo naquele momento.
A Guarda Costeira emitiu uma diretriz para todos os navios que participavam
da operação de resgate do Fort Mercer. O alerta foi classificado como
imediatamente operacional e impresso em negrito.
Indicação definitiva de que petroleiro pendleton partiu-se ao meio — popa nas ondas para
chatham; proa derivando perto farol pollock rip — nenhuma indicação prévia relativa a
acidente para pendleton — pendleton devia estar em boston ontem e não chegou — isso
somado ao fort mercer.
O final da tarde foi dando lugar à escuridão da noite, enquanto Bernie Webber
e sua equipe, exaustos, dirigiam o caminhão Dodge do sul de Nauset Beach para
a Estação de Chatham. Webber precisava informar ao contramestre Cluff que a
popa do Pendleton estava se deslocando depressa. Ele encontrou seu chefe
andando de um lado para o outro, tentando decidir o melhor modo de agir. Essa
era a primeira grande emergência de Cluff como subtenente na estação de
Chatham, e alguns guardas costeiros se perguntavam se ele estaria à altura do
desafio. Daniel Cluff era natural de Chincoteague, uma pequena vila de
pescadores na costa oriental da Virgínia e lar do famoso evento Chincoteague
Pony Swim. O comandante não participava muito do trabalho com os barcos na
estação; achava que primeiro precisava conhecer os líderes empresariais da
cidade.
Cluff chamou Webber com seu sotaque sulista e disse: “Webber, escolha uma
tripulação. Você tem de pegar a 36500, atravessar aquela barra arenosa e ajudar
aquele navio, está me ouvindo?”.
Webber sentiu um nó no estômago. Ele podia se imaginar atravessando com o
pequeno barco de resgate de madeira o perigoso Chatham Bar e avançando em
alto-mar; era o pior pesadelo de um marinheiro. O Chatham Bar é uma ilha-
barreira, uma coleção de barras de areia em constante mudança, com correntes
transbordantes que transportam ondas que podem destroçar pequenas
embarcações em segundos. Formadas nas profundezas do oceano, as ondas
acabam correndo em direção à barra, ganhando força, velocidade e tamanho em
águas mais rasas, onde se enrolam formando vagas assustadoras. Isso quando o
tempo está bom. Naquela situação, o perigo era dez vezes maior. Webber já
havia visto barcos de pesca com para-brisas estilhaçados e cabines rasgadas
como resultado de um encontro violento com o Chatham Bar. E também coisa
pior. Da primeira vez que Webber vira a morte no Chatham Bar fora em um
acidente com o Cachalot, um barco de pesca para dois homens, de quarenta pés,
que tentara atravessar a ilha-barreira em uma tarde ensolarada de outono, em
1950. Escondida nesses belos cenários havia uma onda irada que continuava
batendo na costa. Quando o barco de pesca bateu na barra de areia, foi pego por
uma onda de quebra que o fez dobrar ao meio. Quando, por fim, o barco deu em
uma praia nas proximidades, de cabeça para baixo, não havia sobreviventes.
Webber conseguiu recuperar o corpo de um pescador, Elroy Larkin; o corpo de
seu parceiro, Archie Nickerson, nunca foi encontrado. Richard Livesey também
participou da busca. Ele não sabia disso na época, mas estava à procura do pai de
sua futura esposa. Quatro anos mais tarde, Livesey se casaria com a filha de
Archie Nickerson, Beverly.
As imagens daquele dia fatídico queimavam na memória de Bernie quando ele
recebeu as ordens de Cluff; imediatamente ele pensou no lema oficial da Guarda
Costeira: Semper Paratus, sempre pronto, em latim. Contudo, era o lema não
oficial da Guarda Costeira que pesava em sua mente: Você tem de ir, mas não
tem de voltar. “Certo, Mr. Cluff”, respondeu Webber. “Vou me preparar.” Em
particular, ele se perguntava por que fora escolhido para essa missão perigosa se
havia oficiais igualmente experientes de plantão. No entanto, aceitou o desafio
sem hesitação. Ele precisava de alguns homens de pensamento similar para
seguir sua liderança. “Quem vai comigo?”, perguntou, em voz alta. O convite era
apenas uma cortesia. “Na Guarda Costeira, você pode perguntar primeiro, mas se
a resposta não for imediata, diga: ‘Você, você e você!’”, recordaria Webber, mais
tarde.
Richard Livesey estava mais que um pouco preocupado. Ele vira as poderosas
ondas que quebravam sobre North Beach e sabia que seria uma missão horrenda.
Ainda assim, lutou contra o medo, a fadiga e o frio que atravessava seu corpo e
levantou a mão. “Bernie, eu vou com você”, disse. Em seguida, Webber voltou-
se para seu velho amigo, Mel Gouthro, um dos engenheiros da estação, que
estava deitado em uma cama dobrável, queimando de febre, em decorrência da
mesma cepa de gripe que mantinha a esposa de Webber na cama. Andy
Fitzgerald também estava na sala e disse: “Mel está doente, eu vou”. Fitz andara
lutando contra o tédio durante o dia todo e estava ansioso para ser voluntário. A
tripulação ainda precisava de um quarto homem. Ervin Maske estava à toa no
refeitório quando ouviu o chamado de Webber. Ele era convidado na estação e
poderia facilmente ter dito não. Maske, de 23 anos, nativo de Marinette,
Wisconsin, uma cidade madeireira às margens de Green Bay, era membro do
navio-farol Stonehorse e havia acabado de voltar de licença. Estava esperando o
transporte para voltar a seu navio, atracado a cerca de uma hora da ponta sudeste
de Monomoy Point. Ervin era o mais novo de treze filhos nascidos de Albert e
Bertha Maske, que administravam uma grande fazenda de cavalos e gado, em
Marinette. Seus irmãos mais velhos foram para o serviço militar em um
momento ou outro, mas Ervin decidira seguir seu irmão Clarence — chamado de
“Honey Boy” pela família — para a Guarda Costeira. Como Webber, Maske
também tinha uma esposa que esperava por ele em casa. Ele era recém-casado
com Florence Silverman, que conhecera em um salão de dança, no Brooklyn.
Ervin Maske tinha muito a perder e pouco a ganhar nessa operação, com uma
tripulação que ele nunca havia visto antes, mas se ofereceu para a missão de
resgate sem hesitar um segundo sequer. Webber apertou a mão de Maske e
mandou-o se preparar.
A tripulação de quatro pessoas estava pronta e disposta, porém ela seria
capaz? Webber, com apenas 24 anos, era o mais velho do grupo e o mais
experiente. Os outros tinham 20 e poucos anos, e Andy, aos 20 anos, estava na
Guarda Costeira havia dois anos e acabara de se formar técnico de motores. Ele
nunca participara de um resgate, mas ouvira falar das dificuldades de atravessar
o Chatham Bar em alto-mar. O maior susto na carreira de Fitzgerald havia
acontecido logo após o campo de treinamento de recrutas, quando ele fora
designado a um navio-farol ancorado na ilha de Cuttyhunk. Andy acordou com o
barulho assustador das correntes da âncora estalando e se partindo. Enquanto a
tripulação corria, o navio-farol começou a derivar perigosamente próximo às
rochas. Depois de alguns minutos frenéticos, a tripulação conseguiu ligar os
motores antes que batessem na costa rochosa. O técnico esperava que sua falta
de experiência não fosse prejudicial para a tripulação. Embora não conhecesse
Bernie muito bem pessoalmente — Bernie era mais velho e casado —, Andy
havia saído na 36500 com ele durante o trabalho de rotina e notado como o
capitão levara o barco habilmente sobre o Chatham Bar. Se Andy precisasse
escolher qualquer homem da estação para atravessar com o barco de salvamento
a barra de areia e as águas circundantes durante uma tempestade, teria escolhido
Bernie. Contudo, aquela não era uma tempestade comum. Andy ouvira os
diversos relatórios da rádio marinha que falavam de ondas inimagináveis de
mais de dezoito metros.
Maske, Webber, Fitzgerald e Livesey nunca haviam treinado juntos e, de fato,
os três homens de Chatham sequer conheciam Maske até aquele dia. No entanto,
o quarteto tinha tantas semelhanças quanto diferenças. Todos estavam em ótima
forma física e haviam entrado na Guarda Costeira para salvar vidas, e agora
tinham uma chance. Webber era o mais alto dos homens, com 1,89 metro,
compleição esguia e uma atitude reservada. Livesey, com cerca de dez
centímetros a menos de altura, era animado e tinha senso de humor. Sua calma,
porém, só ia até aí. Livesey havia ganhado o apelido de “Touro da Manada”, por
sua capacidade de assumir a liderança e distribuir ordens aos outros homens.
Andy, com 1,83 metro, tinha um sorriso pronto e fazia amigos por onde passava.
Maske, o menor do grupo, era um jovem modesto, relativamente calmo, mas
com energia — poucos homens colocam sua vida em risco se oferecendo para
entrar em um turbilhão com três estranhos. Os quatro se sentiam dominados pelo
medo ao pensar no mar tempestuoso, embora carregassem a determinação de
manter a ansiedade sob controle e fazer o que tinha de ser feito.
capítulo 6
Chatham Bar
Quando olhou para o sinistro Chatham Bar, Bernie Webber teve uma epifania.
Acreditou que a Providência o havia colocado nesse tempo e nesse lugar. Pensou
na vontade de ferro de Frank Masachi e também relembrou os milhares de
sermões que havia ouvido seu pai proferir durante a infância. Todos haviam
servido para prepará-lo para isso. Imaginou a decepção nos olhos de seu pai
quando ele deu as costas para o ministério, em sua juventude sem rumo. O
reverendo Webber queria que seu filho mais novo servisse a Deus. E Bernie
acreditava que estava servindo a Deus nessa noite de tempestade. Mais tarde, ele
recordou a sensação. “Você recebe a força e a coragem e entende qual é seu
dever. Você percebe que tem de tentar um resgate. Isso nasceu em você; é parte
de seu trabalho.”
À medida que o barco de salvamento se dirigia ao desfiladeiro de ondas,
Webber e sua equipe começaram espontaneamente a cantar. Cantavam com uma
combinação de determinação e medo, atravessando a neve e as geladas águas
que espirravam do mar. A voz dos quatro formou uma harmonia que foi
crescendo através dos ventos uivantes. Bernie não poderia imaginar nenhum
hino mais pungente para a situação em que se encontravam.
Rock of Ages, cleft for me,
Let me hide myself in Thee;
Let the water and the blood,
From Thy wounded side which flowed,
Be of Sin the double cure;
Save from wrath and make me pure.
Em uma estranha coincidência, a primeira página do jornal The New York Times
de 18 de fevereiro de 1952 trazia um artigo sobre os navios da Segunda Guerra
Mundial, sem nenhuma relação com o drama que se desenrolava na costa de
Chatham. A matéria descrevia como “indivíduos nacionalmente conhecidos”
transformaram um investimento de 100 mil dólares em um lucro de 2,8 milhões
de dólares, comprando e fretando cinco navios da Segunda Guerra Mundial. O
subcomitê de investigações do Senado daria início a audiências públicas
referentes aos petroleiros e à corrupção no governo. No entanto, as maiores
notícias do dia centravam-se na Guerra Fria, nas tensões políticas ao redor do
mundo e na crescente corrida armamentista. A Grã-Bretanha acabara de anunciar
que testaria uma arma atômica em um lugar na Austrália, enquanto comunistas
coreanos que participavam de negociações de trégua exigiam que a União
Soviética fosse uma das partes a policiar o acordo. O general Dwight D.
Eisenhower recebia mais poder da Otan, enquanto França, Inglaterra e Estados
Unidos consideravam um papel para a Alemanha Ocidental na Organização.
Enterrado no fundo do jornal, entre anúncios de cursos de idiomas do Dale
Carnegie e de um novo filme chamado Uma aventura na África, estrelado por
Humphrey Bogart e Katharine Hepburn, havia uma breve menção de uma
tempestade de neve que assolava a Nova Inglaterra. Os dias de mensagens
instantâneas ainda não haviam chegado e, até então, as únicas pessoas bem
informadas acerca do duplo desastre com os petroleiros eram a Guarda Costeira
e os cidadãos de Chatham.
Ed Semprini havia acabado de encerrar um longo dia na cabine de transmissão
da estação de rádio wocb, em Cape Cod. O teletipo havia transmitido em tempo
real uma grande história de Nova York: Willie “The Actor” Sutton havia sido
capturado a poucos quarteirões da sede da polícia no Brooklyn, terminando,
assim, uma caçada de cinco anos ao mais procurado assaltante de bancos dos
Estados Unidos. Sutton havia ganhado seu apelido por causa de sua tendência a
usar disfarces elaborados em muitos de seus roubos. O que fez dessa uma
importante história, na Nova Inglaterra, foi o fato de que o fbi queria interrogar
Sutton sobre o grande assalto ao edifício da Brinks, em Boston, que ainda estava
por resolver. A prisão de Sutton foi uma grande história, mas não maior que a
nevasca que estava causando estragos na região. Semprini passou a maior parte
do dia transmitindo cancelamentos de aulas e as últimas destruições da neve.
Quando, por fim, voltou para casa, naquela noite, recebeu um telefonema de seu
colega jornalista Lou Howes, que trabalhava como correspondente para o Boston
Post. “Nem se dê o trabalho de se sentar para jantar”, aconselhou Howes.
“Temos um petroleiro que afundou em Chatham.” Antes que Semprini pudesse
responder, Howes acrescentou à gravidade da situação: “Não é um petroleiro”,
disse ele, “são dois!”.
Howes disse a Semprini que ia para a Estação de Resgate de Chatham. “Pode
me dar uma carona?”, perguntou Semprini, “eu vou com você”. Semprini
desligou o telefone e, em seguida, ligou para seu engenheiro, Wes Stidstone.
“Pegue seu equipamento e me encontre em Chatham”, disse Semprini. “Acho
que temos uma grande história nas mãos.”
A esposa de Semprini, Bette, ouvira a conversa e viu pela janela a neve forte
iluminada pelas luzes da rua. “Você tem de sair em uma noite dessas?”,
perguntou, com preocupação na voz. Semprini assentiu, cansado, e, em seguida,
colocou o casaco de lã e o chapéu, e se perguntou o que a noite lhe reservaria.
Semprini crescera em Allentown, Pensilvânia, onde trabalhara para um
pequeno jornal semanal, antes de conseguir um emprego de repórter no Cape
Cod Standard Times, em 1940. “Parecia que estava em outro planeta”, disse ele,
sobre a mudança das usinas de aço de Allentown para os pântanos de oxicoco de
Cape Cod. Hotéis exóticos se alinhavam nas estradas cercadas de dunas ao redor
de Cape Cod, enquanto lojas bregas chamavam a atenção dos turistas que
passavam pela movimentada Route 28, a principal estrada de Bourne, na ponta
de Provincetown. Cape Cod era o playground de verão para os trabalhadores,
bem como para a nata da sociedade. Em nenhum lugar isso era mais aparente
que em Chatham, onde pequenos hotéis à beira-mar partilhavam a vista para o
mar com uma joia dourada, chamada Chatham Bar Inn. Inaugurado em 1914, o
hotel, com seu longo pórtico que oferecia uma vista panorâmica de Pleasant Bay,
atendia a algumas das famílias mais proeminentes dos Estados Unidos: famílias
de nomes como Rockefeller, Morgenthau e Ford. O luxuoso hotel também
servira como refúgio para a família real holandesa, enquanto estava no exílio,
durante a Segunda Guerra Mundial.
Ed Semprini mal tivera tempo de molhar os pés em Cape Cod quando, em
março de 1941, fora convocado para lutar na Segunda Guerra Mundial. Ele
serviria no Exército dos Estados Unidos por cinco anos, no China-Burma-India
Theater, antes de retornar a seu lar adotivo. Durante os anos seguintes, Semprini
ficaria indo e vindo entre Cape Cod e Pensilvânia, onde trabalharia brevemente
em um jornal diário, até se estabelecer definitivamente em Cape Cod com Bette,
a quem conhecera no tempo de Exército. Enquanto trabalhava na Pensilvânia, Ed
recebeu um telefonema de um amigo que estava na rádio wocb. “Estou me
mudando para a Califórnia”, ouviu. “Eles querem construir a estação de rádio, e
você conhece Cape Cod e as notícias. Ligue para eles, se estiver interessado.”
Semprini ligou e ali nasceu sua carreira no rádio.
Chatham dependia do mar, e esse fato remontava a seu fundador, que havia
comprado a terra com um barco. William Nickerson, um tecelão de Norfolk,
Inglaterra, fora o primeiro a se estabelecer ali. Em 1656, Nickerson oferecera
uma chalupa ao cacique monomoyick, Mattaquason, em troca de 6,5 quilômetros
quadrados de terra acidentada onde o inglês construiria sua propriedade. Para
fechar o acordo, Nickerson também desembolsou doze machados, doze enxadas,
doze facas e quarenta xelins em miçangas. Durante séculos, os monomoyicks
compartilhavam o baixo Cape, do rio Bass até Provincetown, com duas outras
tribos, os nausets e os sauquatuckets. As fronteiras da tribo dos monomoyicks
corriam ao longo do cotovelo de Cape Cod, começando no Porto de Allen, em
Harwichport, e estendendo-se ao redor de Monomoy até o lado norte de Pochet
Highlands, em East Orleans. Os índios nausets controlavam tudo ao norte desse
ponto, ao passo que os sauquatuckets tinham sua principal aldeia em Brewster e
possuíam tudo do lado oeste. Mattaquason era o cacique mais poderoso na área e
permitira que Nickerson construísse sua cabana perto da dele.
Nickerson, sem dúvida, aprendera com os erros cometidos por outro homem
branco, cinquenta anos antes. O explorador francês Samuel de Champlain havia
sido o primeiro europeu a visitar a área próxima ao porto de Stage, em outubro
de 1606. (O navegador britânico, capitão Bartholomew Gosnold, baixara âncora
brevemente nas águas de North Chatham quatro anos antes, em 1602.) Para
Champlain, a área oferecia possibilidades ilimitadas, tanto que ele a chamou de
Port Fortune. “Ao longo da costa, observamos a fumaça que os índios
produziam, e isso nos fez decidir visitá-los”, escreveu Champlain em seu diário
de bordo:
Aqui, há muita terra desmatada e pequenas colinas, onde os índios cultivam milho e outros
grãos, dos quais vivem. Também há vinhas muito finas, muitas árvores de castanhas e nozes,
carvalhos, ciprestes e alguns pinheiros [...] Seria um lugar muito bom para situar e construir as
bases de um Estado, se o porto fosse um pouco mais profundo e sua entrada mais segura.
Champlain estava descrevendo o que mais tarde ficou conhecido como barras
de areia de Pollock Rip. As ondas que quebravam nas barras de areia haviam
danificado o leme de seu navio na entrada. Os monomoyicks viram o grande
navio à deriva no mar, pegaram suas canoas a remo e foram até a embarcação de
Champlain, instruindo a tripulação francesa sobre como passar pelas perigosas
barras de areia no porto de Stage. Como escreveu Warren Sears Nickerson,
historiador de Cape Cod: “Os monomoyicks acolheram os franceses na costa e
lhes permitiram montar uma tenda para panificação [para abastecer de pão os
armários vazios do navio] e uma forja para consertar o ferro do leme quebrado
da embarcação”. Champlain ficara impressionado com a hospitalidade e passara
a admirar seus anfitriões, descrevendo-os como “bem-proporcionados, de pele
cor de oliva”. Os homens, bem como as mulheres, usavam penas e colares de
contas e andavam impecavelmente vestidos com tangas de pele de cervo ou de
foca. Suas tendas tinham um grande formato circular e eram cobertas com grama
densa ou grandes palhas de milho. Os homens da tribo armazenavam suas
provisões de inverno em buracos cavados nas laterais de grandes dunas de areia.
Os dois lados fizeram permutas em termos amigáveis durante duas semanas.
Os índios ofereceram milho, feijão e peixe para trocar pelo que houvesse a bordo
do navio. Um dia, porém, uma provocação fez com que a tripulação de
Champlain abrisse fogo contra os monomoyicks, dando início, assim, à batalha
que os franceses chamam de luta em Fortune. Quando a fumaça dos mosquetes
por fim abaixou, três franceses estavam mortos e vários outros gravemente
feridos. Sete monomoyicks também haviam tombado, tendo seu escalpo retirado
por Secondon, índio tarrantine e guia de Champlain. Sangrando, mas ereto, um
dia depois, Champlain fez um contra-ataque e tentou, sem sucesso, capturar os
índios e vendê-los como escravos. Os monomoyicks lutaram bravamente e
Champlain, enfim, capitulou, levantando âncora e navegando para longe para
continuar a explorar a costa atlântica.
Os índios do baixo Cape travaram escaramuças com tripulações europeias nas
décadas seguintes, até que William Nickerson construiu sua extensa propriedade,
perto da cabeça de Ryder’s Cove. Ele havia comprado a terra diretamente dos
monomoyicks, sem a aprovação das autoridades da colônia de Plymouth. A
compra de Nickerson foi contestada e só foi resolvida no tribunal dezesseis anos
depois. O colono inglês foi obrigado a pagar uma multa de 90 libras e teve de
obter as escrituras do cacique Mattaquason e de seu filho, John Quason.
Nickerson já possuía, então, mais de quatro mil hectares de terra; os nativos
norte-americanos tinham o restante. Imediatamente, ele recorreu ao tribunal para
incorporar Monomoit, como era então conhecida, como cidade. O tribunal
indeferiu o pedido, com o fundamento de que ali não havia nenhum pastor
residente. Monomoit seria conhecido como um distrito com poder limitado até
que tivesse residentes suficientes para dar suporte a uma igreja. Nickerson
dividiu a terra entre seus filhos e, logo, outros colonos se juntaram a eles. A terra
era abundante, oferecia todos os benefícios agrícolas que Champlain listara em
seu diário de bordo. No entanto, também era inclemente. Os fortes ventos
costeiros eram um companheiro uivante constante para os resistentes colonos,
que isolavam suas pequenas casas com algas secas. Eles construíam suas
moradias com telhados baixos, para resistir a furacões e tempestades de neve, e
voltadas para o sul, para obter o máximo de exposição ao sol. Em 1711, o
assentamento receberia seu primeiro pastor residente, o reverendo Hugh Adams.
As vinte famílias que o habitavam apresentaram uma segunda petição de
incorporação. O pedido foi carimbado para aprovação de Joseph Dudley,
governador da colônia de Massachusetts, sob a condição de que trocasse seu
nome de estilo indígena por um de sonoridade mais inglesa. Assim, Monomoit
foi rebatizada como Chatham, homenagem à cidade portuária da Inglaterra.
Em meados do século xviii, os colonos de Chatham ainda priorizavam sua
colheita na terra, não no mar. Os agricultores plantavam tabaco, centeio e trigo,
embora, como para os monomoyicks antes, seu principal alimento fosse o milho.
A cultura do milho era tão vital para a cidade que se aprovou uma lei que
declarava que todos os proprietários de terra tinham de matar os pássaros que
comessem o grão, três corvos ou doze melros por ano, e que suas cabeças
deviam ser entregues como prova aos membros do conselho municipal. Quem
não o fizesse era multado em cerca de seis shillings. Na época da Revolução
Americana, porém, a maré econômica de Chatham havia virado da agricultura
para a pesca. Os agricultores já plantavam menos milho, porque a plantação
contínua fora esgotando de nutrientes o solo outrora fértil. Os homens de
Chatham começaram a pescar peixes de águas profundas, tão abundantes que
pareciam saltar nas redes e nas linhas de pesca. As águas além da costa de Cape
Cod viriam a se tornar das mais movimentadas rotas marítimas do mundo,
perdendo apenas para o Canal da Mancha.
Com a pesca chegaram os naufrágios. A Humane Society of the
Commonwealth of Massachusetts foi o primeiro grupo organizado a oferecer
ajuda aos homens náufragos, construindo cabanas em áreas remotas da costa
para servir de abrigo aos sobreviventes que chegassem à praia. A primeira
cabana de sobrevivência foi construída em 1807, na ilha de Lovell, no porto de
Boston. Mais tarde, o grupo ergueria a primeira estação de salvamento da
comunidade, em Cohasset, e continuaria construindo estações de voluntários por
toda a costa sul e, por fim, em Cape Cod. A primeira cabana de Cape Cod,
construída em Stout’s Creek, em Truro, era mais adequada para o deserto que
para a praia. Estava equipada com uma chaminé e fora erguida em um local onde
a grama da praia não crescia. Não demorou muito para um vento forte soprar a
areia da fundação, fazendo a chaminé desmoronar e até a própria cabana.
Em 1845, a sociedade tinha cerca de vinte estações salva-vidas equipadas com
barcos que pontilhavam a costa de Massachusetts. Quatro anos depois, os
voluntários membros de uma estação de Wellfleet ajudaram a salvar a vida de
dezenas de passageiros a bordo do amaldiçoado navio Franklin. O navio de
imigrantes havia partido de Deal, Inglaterra, com destino a Boston, no final do
inverno. Encalhara perto da estação de Cahoon’s Hollow, onde o capitão
Mulford Rich e seu filho Benjamin estavam prontos para oferecer assistência.
Eles lançaram um bote salva-vidas e fizeram várias viagens até o navio
danificado. O jovem Ben conseguiu inclusive salvar um bebê, cuja mãe havia
perecido — ela foi um dos dez passageiros e vários tripulantes que morreram
naquele dia de frio intenso, no início de março de 1849. Nem o mau tempo nem
a pobre marinharia poderiam ser responsabilizados pela tragédia. O destino
daqueles que morreram fora decidido na Inglaterra, semanas antes. Além de
salvar um bebê, Ben Rich também recuperou a valise do capitão, que havia
chegado a terra. Nela, encontrava-se uma carta dos proprietários do navio
aconselhando o capitão a destruir a embarcação antes de chegar à América. O
Franklin havia sido segurado por duas vezes seu valor. Posteriormente, os
proprietários foram acusados por seu esquema homicida, mas nunca foram
presos.
Em 1847, o Congresso finalmente tomou medidas para melhor proteger os
marinheiros, apropriando-se de milhares de dólares dos contribuintes para
construir estações salva-vidas ao longo de vastas zonas costeiras dos Estados
Unidos. Seriam necessários mais 27 anos antes que as primeiras estações de
salvamento autorizadas pelo governo fossem erguidas em Cape Cod. Ao todo,
nove estações foram construídas, de Race Point, em Provincetown, à ilha de
Monomoy, em Chatham. Eram estruturas de madeira de dois andares, erguidas
nas dunas assoladas pelo sol, longe do alcance da maré alta e protegidas de
cheias. Pintadas de vermelho-escuro, tinham bandeiras de 18 metros para torná-
las facilmente reconhecíveis do oceano. As estações eram providas de até sete
guardas costeiros, de 1º de agosto a 1º de junho do ano seguinte. O guardião da
estação mantinha-se atento nos restantes dois meses. Esse guardião ganhava 200
dólares por ano por seu trabalho, ao passo que os guardas costeiros recebiam 65
dólares por mês. Cada um deles, independentemente dos anos que já houvessem
servido, era obrigado a passar por um exame físico extenuante, no início de cada
nova temporada. O escritor J. W. Dalton descreveu a rotina semanal dos guardas
costeiros em seu livro, lançado em 1902, The life savers of Cape Cod:
Na segunda-feira, a equipe deixava a estação em ordem. Na terça-feira, se o tempo permitisse,
a equipe treinava nas águas com o barco de resgate. Na quarta-feira, os homens treinavam os
códigos internacional e geral de sinais. Na quinta-feira, treinavam com o aparato de praia e o
breeches-buoy.[b] Sexta-feira, a equipe treinava a reanimação de pessoas aparentemente
afogadas. Sábado era dia de limpeza, e domingo, dedicado a práticas religiosas.
Como os cabos ficaram aquém de seu alvo, o capitão Naab e sua equipe
deram início a uma dança perigosa, tentando aproximar mais a embarcação
guarda-costas da proa do Mercer. Enquanto manobravam mais para perto, no
entanto, Naab percebeu que a proa do Mercer subia tão violentamente que as
duas embarcações poderiam colidir; todos poderiam morrer. O capitão decidiu se
afastar, torcendo para que a tempestade em breve diminuísse um pouco para
tentar um novo resgate. Durante cinco horas e meia a Yakutat ficou junto à proa
do Mercer, atenta a qualquer sinal de mudança.
À deriva por quase catorze horas, os homens a bordo da popa do Pendleton ainda
tinham comida, água e aquecimento, e também poucas esperanças. A tentativa de
resgate do Fort Mercer estava em andamento, mas a tripulação do Pendleton
ainda não ouvira nada no rádio sobre a própria situação. O engenheiro-chefe Ray
Sybert havia assumido como capitão da popa e estava apavorado. Sentia-se
assustado com a enorme responsabilidade que lhe fora imposta e pela sensação
crescente de que ele e seus homens não voltariam para casa vivos. Apesar de
Sybert já ter navegado pelos sete mares do mundo, nesse momento ele se
encontrava em águas estrangeiras, em uma terra estranha. Mantendo a
compostura e escondendo o medo de seus homens, Sybert ordenou à tripulação
que apertasse os parafusos a ré para proteger o máximo possível os fracos
tabiques da extremidade posterior, e para manter a embarcação avariada o mais
longe da costa. A tripulação também passava dia e noite de plantão no apito do
navio, visto que a popa mantinha um pouco de eletricidade. Os sobreviventes
acionaram o apito durante doze horas seguidas, sem nenhuma resposta.
Os homens, sem dúvida, haviam se aproximado muito mais uns dos outros
durante a provação, embora a imensa pressão começasse a afetar todos. Wallace
Quirey desejava ter sua Bíblia. Ele podia ouvir a voz suave da mãe ecoando em
sua mente. “Mantenha-a sempre com você”, dissera-lhe. “Ela vai protegê-lo.”
Quirey não era o único homem que orava para que Deus os tirasse do inferno em
que estavam. Fred Brown também rezava para ser resgatado, mas o nativo de
Portland, Maine, também era um homem prático. Ele observava o entardecer na
popa que balançava. O céu estava ficando mais preto e era impossível ver onde a
água encontrava o horizonte. Tudo lhe parecia uma coisa só. O respingo das
ondas caía como chuva de balas de chumbo e Brown não podia imaginar que
alguém ou alguma coisa pudesse penetrar as ondas violentas para resgatá-los. O
ex-pescador havia passado por vendavais ferozes em Casco Bay, tempestades
que podiam levantar um navio fora d’água, mas nunca havia imaginado que
testemunharia ondas tão altas de novo. Fred Brown sabia, no fundo do coração,
que estava tudo perdido. Em vez de encontrar a morte no convés do Pendleton,
ele decidiu ir para o convés inferior, no relativo conforto de seu beliche, dizer
adeus a sua família e esperar pelo fim.
Como a tripulação do William J. Landry, os homens do Pendleton que haviam
lutado com a tempestade não aguentavam mais. Homens como Fred Brown se
conformaram com o fato de que a morte poderia estar a uma monstruosa onda de
distância. Todos estavam sob enorme estresse psicológico desde que o Pendleton
se dividira em dois. Em momentos assim, o corpo humano libera o combustível
armazenado, incluindo gorduras e açúcares, para obter uma explosão rápida de
energia. A frequência cardíaca e a pressão arterial de cada tripulante haviam
subido para levar mais sangue aos músculos. A reação fisiológica do organismo
ao estresse inclui a intensificação dos sentidos. A audição dos tripulantes se
tornara mais sensível e até o olfato mais apurado. Os psicólogos chamam isso de
“postura de proteção”, que permite que uma pessoa comum enfrente perigos
potenciais. No entanto, as pessoas não podem manter esse elevado nível de alerta
por longo tempo. Estresse e ansiedade não liberados degeneram em desânimo e
cansaço. E isso era o que a tripulação do Pendleton devia estar enfrentando.
Um dos tripulantes manteve sua confiança, pelo menos externamente. George
Myers havia passado boa parte do dia disparando foguetes para fornecer à costa
a posição da popa. Myers era nativo de Avella, Pensilvânia, cidade cuja principal
atividade era a mineração de carvão, a menos de uma hora de Pittsburgh. Myers
era lubrificador e cozinheiro de meio período, e, sem dúvida, curtia o sabor da
comida que ajudava a preparar. Pesava quase 140 quilos e era carinhosamente
conhecido pela tripulação como “Tiny”. Era um sujeito tão afável que outro
tripulante, um dia, havia dito que Tiny Myers era “o maior homem da Terra”.
Esse elogio havia sido feito por Rollo Kennison, de 23 anos, nascido em
Kalamazoo, Michigan. Ele havia observado seu volumoso amigo levantar o
ânimo da tripulação durante grande parte do dia e, agora, via Myers apontar seu
sinalizador nos ventos escuros e agitados. Myers lançou outro sinalizador e
entregou a arma a Kennison. “Guarde isto, garoto”, disse ele, com um sorriso.
“Quero guardá-lo de lembrança quando chegarmos à costa.”
Charles Bridges, de 18 anos, ia periodicamente para o convés, na esperança de
ver uma embarcação de salvamento se aproximar. Uma dessas incursões quase
lhe custou a vida.
A água havia congelado nas plataformas e, quando uma grande onda atingiu o navio, perdi o
equilíbrio e comecei a deslizar pelo convés. Não havia como parar. Vi que minha última
chance era me agarrar à borda do navio e que, se eu não conseguisse, passaria por baixo dela,
direto para o mar. Felizmente, consegui me segurar. Se houvesse deslizado mais à frente, teria
caído direto no mar onde o navio havia rachado.
Raymond Sybert lutava contra seus pensamentos mais obscuros, enquanto ele
e mais 32 homens ficavam sentados, impotentes, na popa partida do Pendleton.
Não havia mais nada a fazer senão enfrentar a tempestade e esperar a ajuda
chegar. Se chegasse. Os tripulantes estiveram atentos o dia todo, mas não houve
nenhum sinal de vida nas ondas turbulentas além do navio fraturado. O
engenheiro-chefe também devia estar preocupado com o destino do capitão
Fitzgerald e dos homens presos na proa. Teriam sido resgatados? Ou ainda
estavam presos na poderosa tempestade de inverno? Só então o homem de vigia
percebeu algo subindo e descendo no mar agitado — uma pequena luz vindo em
sua direção.
Frank Fauteux e Charles Bridges também viram a luz. “Foi a visão mais
gloriosa”, disse Fauteux, “uma única luz balançando para cima e para baixo nas
ondas. Ninguém comemorou. Ficamos só olhando, encantados.” Bridges
lembrou que a luz parecia um alfinete na escuridão, e que ele observava
fascinado, à medida que ela avançava por entre as ondas enormes, lentamente se
aproximando.
Bernie Webber aproximou a cg36500 para olhar mais atentamente, enquanto
Andy Fitzgerald continuava a lançar o holofote em cima e por toda a ampla
circunferência do petroleiro. O feixe de luz brilhou sobre o conjunto de letras
que formava o nome pendleton no alto da lateral do casco. O navio gigante
parecia enorme e indestrutível. Como pôde ter se dividido ao meio?, pensou
Webber, enquanto levava sua pequena lancha de resgate a bombordo da popa.
Era evidente que o navio e sua tripulação haviam passado por um inferno. Os
corrimãos ao redor das plataformas elevadas estavam retorcidos e partidos. Um
sentimento de culpa tomou Bernie Webber quando ele se deu conta de que havia
posto em risco a vida de seus homens por uma causa perdida. Fora uma viagem
inútil. Os marinheiros a bordo do Pendleton não tiveram a menor chance,
pensou Bernie. E agora meus homens têm pouca chance de voltar para casa
vivos.
Um estranho silêncio pairava sobre o navio, enquanto a tripulação do barco de
salvamento inspecionava os destroços de olhos arregalados. O silêncio foi
quebrado por rangidos quando Webber e sua tripulação chegaram ao buraco que
havia sido ligado à proa. Os homens olharam as entranhas do navio, com seus
compartimentos retalhados e suas vigas de aço e placas soltas, balançando para a
frente e para trás na arrebentação espumante. O navio fraturado ergueu-se sobre
o mar em frente à tripulação, criando uma cachoeira que escorreu no oceano.
Então, ele caiu para trás e para baixo na superfície do mar com um baque
ensurdecedor. Webber seguiu pelo túnel gigante que levava às entranhas do
navio e guiou a lancha pela popa, onde sua equipe foi surpreendida por outra
coisa. Uma sequência de luzes brilhava no alto das plataformas — a popa
fraturada do navio não havia ficado sem energia, afinal. No brilho das luzes, eles
também puderam ver uma pequena figura! Um homem agitava os braços
freneticamente!
Eles não haviam perdido a viagem.
Contudo, como poderiam resgatar esse homem do alto convés? O
sobrevivente teria de pular, e havia forte possibilidade de que ele fosse engolido
pelas ondas.
Enquanto a tripulação da cg36500 analisava seu próximo passo, o homem no
convés alto desapareceu. Aonde ele foi?, perguntou-se Bernie. Subitamente, a
figura voltou, e dessa vez não estava sozinha. Três outros homens estavam com
ele, e então mais quatro ou cinco apareceram, e mais pessoas continuaram
chegando. Em um minuto, mais de duas dezenas de sobreviventes de coletes
salva-vidas cor de laranja se alinhavam na balaustrada! Todos olhavam
diretamente para a pequena lancha abaixo, que tentava se manter a postos nas
ondas revoltas.
Fred Brown e Tiny Myers estavam lado a lado na balaustrada. Tiny se voltou
para Fred e, enquanto tirava a carteira da calça, disse: “Pegue minha carteira.
Acho que eu não vou conseguir”. Fred foi pego de surpresa com o comentário e
retrucou: “Você tem as mesmas chances que eu”. Brown pegou a carteira e a
enfiou de novo no bolso de Tiny.
Bernie, olhando para cima, para aquelas figuras sombrias, primeiro ficou
muito feliz ao ver tantos marinheiros vivos; porém rapidamente chegou a uma
conclusão assustadora: seria impossível que todos os homens coubessem no
barco de salvamento de 36 pés. A responsabilidade acertou Webber como um
maremoto. Como vamos salvar todos esses homens? Se eu falhar, será uma
tragédia.
De fato, o pensamento seguinte de Webber foi tirar a própria tripulação da
lancha e levá-la à popa partida. Apesar do dano extenso, o Pendleton parecia
mais seguro que a pequena e instável cg36500. Antes que ele pudesse comunicar
o plano para sua tripulação, Bernie viu uma escada de corda com degraus de
madeira — chamada escada de Jacob — cair pela lateral do Pendleton. E, no
instante seguinte, os marinheiros encalhados começar a descer a escada o mais
depressa que podiam.
O primeiro homem a descer a escada pulou e caiu com um estrondo na proa
da lancha. Os outros se agarravam firmemente à corda, visto que ela balançava
perigosamente, enquanto o Pendleton se debatia nas ondas. Seus gritos ecoaram
através dos ventos quando eles bateram de volta contra o casco com o balanço
do navio na direção oposta. Bernie levou o barco em direção ao casco, tentando
cronometrar a manobra para que cada sobrevivente pousasse no barco, e não na
água gelada. Com as ondas, isso mostrou ser uma tarefa impossível. Alguns
sobreviventes pularam para o barco de salvamento, mas só o que conseguiram
foi mergulhar nas ondas geladas. A cg36500 era equipada com um cabo de
segurança que passava ao redor do casco da lancha, e os marinheiros
encharcados, por fim, conseguiram subir à superfície e se agarrar à corda para
sobreviver. Fitzgerald, Maske e Livesey pegaram os homens encharcados e os
içaram a bordo. A equipe agia depressa, com medo de que os sobreviventes
fossem arrastados para baixo da proa da lancha. Durante todo o tempo, Webber
manteve uma mão firme no volante, fazendo manobras cada vez que um homem
desesperado pulava da escada de Jacob. Uma vez em segurança a bordo,
Fitzgerald, Maske e Livesey levavam os sobreviventes para dentro da cabine
dianteira, mas aquele pequeno espaço se enchia rapidamente. Com o peso
adicional, a cg36500 estava se enchendo de água. Como capitão do barco,
Bernie tinha de tomar uma decisão de vida ou morte. Paramos agora e tentamos
levar os homens que já temos de volta à costa com segurança? Ou devemos
arriscar tudo? Webber decidiu que nenhum homem seria deixado para trás.
“Viveríamos todos, ou todos morreríamos”, disse ele, mais tarde.
Enquanto o resgate se desenrolava, a popa partida do Pendleton balançou
profundamente e aumentou a inclinação a bombordo, raspando com força contra
o solo do oceano. A equipe de resgate continuou levando os sobreviventes a
bordo, espremendo-os em qualquer lugar que pudessem. O compartimento do
motor estava transbordando de carga humana, assim como a área ao redor da
cabine do timoneiro. Bernie lutava para ter espaço para os cotovelos, enquanto
continuava manobrando em volta do petroleiro avariado. Mais uma vez, ele tinha
de cronometrar suas manobras com perfeição, caso contrário, as ondas lançariam
o barco de salvamento contra o casco do navio e todos seriam engolidos pelo
mar.
Trinta e um sobreviventes já estavam a bordo de um barco que havia sido
projetado para comportar apenas doze homens, incluindo a tripulação. Dois
homens ainda estavam no navio: Raymond Sybert, que, como capitão em
exercício, seria o último homem a sair, e Tiny Myers. Fitzgerald manteve o
holofote sobre o homem musculoso, enquanto ele descia lentamente pela escada
de Jacob. Myers estava sem camisa; dera grande parte da própria roupa para
aquecer outros tripulantes do Pendleton. As ondas que cercavam o navio eram
mais e mais violentas a essa altura, fazendo com que dirigir o barco de
salvamento se tornasse um desafio ainda maior para Bernie. Só mais um pouco e
poderemos dar o fora daqui, pensou.
Myers estava na metade da escada quando, de repente, escorregou e caiu no
oceano profundo. Reapareceu segundos depois e a equipe de salvamento tentou
freneticamente puxá-lo a bordo. “Por aqui!”, gritou Andy. Myers foi para o lado
interno da lancha e se agarrou na corda. Em seguida, Richard Livesey se
inclinou na lateral e pegou a mão de Myers. O movimento quase lhe custou a
vida. Myers era tão pesado e forte que começou a puxar Livesey para dentro
d’água. Maske e Fitzgerald correram para ajudar, segurando Livesey pelas
pernas e pela cintura para impedir que fosse puxado ao mar. Enquanto eles
tentavam, em vão, içar Myers para o barco, o grande homem foi engolido por
uma onda ainda maior e desapareceu de vista. Ouviu-se um suspiro coletivo de
horror na lancha de resgate quando os sobreviventes viram seu amigo sendo
engolido pelo mar. Bernie deu ré na lancha e se afastou da lateral do petroleiro.
A cg36500 andava em círculos, enquanto Andy mantinha o holofote brilhando
nas cristas das ondas. Por fim, avistaram Myers na escuridão.
Por causa do ângulo do navio, as três pás da hélice estavam acima da água. As
ondas batiam, e Webber sabia que teria apenas uma chance de salvar aquele
homem. Direcionou a proa da lancha para Myers e depois desacelerou
lentamente à frente. Nesse momento, Webber e sua equipe sentiram o fundo da
lancha levantar; uma enorme onda ergueu a cg36500 e os lançou contra o navio.
O barco de resgate estava fora de controle e correndo em direção a Myers.
Webber pôde ver o olhar de pânico nos olhos do grande homem. Maske estendeu
a mão e conseguiu segurar o homem mais uma vez. Um segundo depois,
sentiram o impacto súbito de uma colisão estrondosa, quando a proa da lancha
abalroou Myers, jogando seu corpo destruído na lateral do navio.
capítulo 11
Trinta e seis homens
em um barco de 36 pés
Quase no local exato onde Webber, Livesey, Fitzgerald e Maske lutavam com
um barco sobrecarregado, uma tentativa de resgate semelhante havia ocorrido
em 1902. Durante uma tempestade de inverno, em 11 de março daquele ano,
duas barcaças, a Wadena e a Fitzpatrick, que estavam sendo levadas por um
rebocador, o Sweepstakes, encalharam em um banco de areia. Socorristas da
Estação da ilha de Monomoy remaram na tempestade e com segurança retiraram
um total de dez tripulantes das duas embarcações encalhadas.
Um ou dois dias depois, quando o tempo clareou, socorristas chamados de
“sucateiros” foram levados ao local e, com a ajuda de outro rebocador,
começaram a retirar as cargas, esperançosos de que as barcaças desencalhariam.
O trabalho era lento e os homens ainda estavam ali, em 16 de março, quando as
ondas começaram a crescer e a chuva a chicotear o oceano. O rebocador tirou a
maioria dos homens das barcaças, levando-os a porto seguro, mas cinco deles,
incluindo o proprietário do Wadena, W. S. Mack, preferiram ficar e enfrentar a
tempestade. Na segunda barcaça encalhada, a Fitzpatrick, que estava a certa
distância, três homens permaneceram a bordo.
Na manhã seguinte, Marshall Eldridge, guardião da Estação de Resgate de
Monomoy, soube que os homens ainda estavam nas barcaças. Tanto o vento
quanto as ondas haviam aumentado desde o dia anterior, e Eldridge ficou tão
preocupado que se arrastou por quase cinco quilômetros na tempestade, até a
ponta de Monomoy, para verificar as barcaças. Olhando através da chuva
torrencial, Eldridge viu algo que fez seu coração pular. A bandeira no Wadena
estava hasteada de cabeça para baixo — um sinal de perigo.
Eldridge correu para o pequeno barracão e telefonou para o socorrista Seth
Ellis, dizendo-lhe que reunisse uma equipe e levasse o surfboat da baía de
Monomoy para a ponta da língua de areia, onde ele estaria esperando. Além de
Ellis, seis outros tripulantes estavam a bordo do barco de resgate quando
chegaram a sota-vento de Monomoy. Todos os homens, exceto um, eram casados
e tinham filhos.
Não foi difícil para Ellis localizar Marshall Eldridge em pé no litoral. Eldridge
tinha mais de 1,80 metro de altura e pesava quase 100 quilos. Era um forte
cidadão de Cape Cod que andava pela praia com os pés descalços mesmo
durante o outono e não colocava sapatos até o início do inverno.
Quando o surfboat chegou, Eldridge entrou na água e subiu na popa do barco.
Com a equipe completa, os homens remaram até chegar ao Wadena,
contornando-o a sota-vento e parando perto da popa. Os cinco homens a bordo
da barca haviam passado uma noite aterrorizante; as ondas haviam açoitado
repetidamente seu navio contra o banco de areia, ameaçando partir-lhe o casco.
Contudo, a salvação chegara e os homens assustados queriam sair dali, e
depressa. Imediatamente, começaram a descer pela lateral com uma corda. Em
uma cena estranhamente similar às do resgate no Pendleton, um homem
particularmente grande, o capitão Olsen, perdeu o controle na corda e caiu
dentro do barco, quebrando um dos assentos e transformando-o em lascas. Ao
contrário de Tiny, Olsen rolou para o fundo do barco, mas dois remadores
ficaram sem assentos, o que limitou a força que poderiam imprimir aos remos.
Quando Eldridge e seus tripulantes se afastavam da barca, uma onda jogou
água no surfboat. Os cinco homens que haviam sido resgatados entraram em
pânico, pensando que o barco ia virar. Levantando-se, eles se agarraram aos
remadores, tornando impossível que a equipe de resgate manobrasse o barco.
Eldridge gritou com os sucateiros para que se acalmassem, e foi quando outra
onda descarregou mais água dentro do barco. Seus gritos caíram em ouvidos
moucos; os resgatados se agarraram aos socorristas. A próxima onda viraria o
barco e, então, treze homens estavam na água, segurando-se no casco virado,
enquanto ondas espumosas e congelantes lavavam repetidamente o surfboat
emborcado.
Com as roupas encharcadas e pesadas, um homem após o outro foi perdendo
aderência no barco de resgate, afastou-se e se afogou nas águas turbulentas. Em
poucos minutos, somente dois homens, Arthur Rogers e Seth Ellis, ainda
estavam vivos e agarrados ao surfboat. A certa altura, Rogers começou a
escorregar, pois com os dedos congelados não conseguia se segurar no corrimão
submerso do barco. Ellis tentou encorajá-lo, mas Rogers desistiu e suspirou:
“Tenho de ir”. O oceano o levou, como aos outros.
Sozinho, Ellis obstinadamente se segurou na quilha. O barco derivou para
águas mais calmas, e ele usou uma oportunidade inesperada para tirar as botas e
as roupas que o deixavam pesado. Outro golpe de sorte atravessou seu caminho
quando a quilha pivotante do barco saiu de seu revestimento entreaberto,
proporcionando-lhe melhor aderência.
Os três homens a bordo da segunda barcaça, o Fitzpatrick, não haviam visto o
barco de resgate sair em socorro ao Wadena. Elmer Mayo acabava de passar pelo
convés quando viu o barco virado e Ellis ainda se segurando nele. Mayo era de
Chatham e, seguindo a tradição dos marinheiros de lá, decidiu arriscar a própria
vida para tentar salvar Ellis. O Fitzpatrick tinha um pequeno douro de doze pés a
bordo e Mayo pediu aos outros dois tripulantes que o ajudassem a baixá-lo pela
lateral da barcaça. Um deles tentou dissuadi-lo, gritando: “Não, o douro não vai
resistir nessas águas selvagens, senhor!”. Mayo, no entanto, ignorou o aviso, e
uma vez com o douro na água, passou por cima da borda da barcaça e saltou
para o pequeno bote. Apenas dois dias antes, o douro emborcara em mares
moderados e perdera os dois remos. Os que os substituíram eram muito mais
curtos que os originais e mal adaptados ao bote, mas Mayo não se intimidou e
partiu para onde havia visto Ellis pela última vez.
Quando o douro foi jogado para a crista de uma onda, Mayo procurou o barco
de resgate virado, mas os respingos, a chuva e a espuma obscureciam sua
visibilidade. Ele fez o melhor que pôde para manobrar, mantendo a proa de seu
barco nas ondas, até, depois de alguns minutos, avistar Ellis ainda agarrado ao
casco do surfboat. Mayo virou o douro, remou com todas as forças e chegou ao
lado de Ellis.
Em uma notável exibição de persistência, Ellis reuniu uma última explosão de
energia, largou o barco virado e se agarrou ao douro, para, com a ajuda de Mayo,
subir pela borda antes de desmaiar no fundo do bote. “Eu estava totalmente
esgotado”, lembrou Ellis, “não conseguia falar.” Ele não fazia ideia de como
Mayo conduziria o douro pelas ondas gigantes até a costa.
Mayo analisou as ondas tempestuosas; sabia que não poderia voltar à barcaça.
Então, procurou a terra mais próxima: a praia de Monomoy, onde as ondas de
quase cinco metros quebravam na areia, rugindo e jogando espuma no ar. A
seguir, Mayo viu um homem correndo pela costa a distância, guiando-os.
O homem era Francisco Bloomer, outro socorrista da estação. Mayo esperou
que o homem chegasse a um ponto diretamente em frente ao douro e, visto que a
ajuda havia chegado, decidiu pegar a próxima onda em direção à costa. Escolheu
uma onda e quando a crista se ergueu por baixo do barco, remou loucamente. De
alguma forma, o douro ficava até na vertical, cavalgando a onda, e Mayo tentava
desesperadamente manter a proa apontada para a costa. Nas ondas agitadas, a
água enchia o douro, ameaçando inundá-lo, mas Mayo continuava remando,
enquanto Bloomer entrava no mar. Bloomer se lançou ao douro e, com Mayo,
arrastou-o para a costa. Em seguida, levaram Ellis de volta à Estação de
Monomoy.
Em um relatório do U.S. Life-Saving Service [Serviço de Salvamento
Marítimo dos Estados Unidos] sobre o acidente, Mayo e Ellis foram citados por
sua bravura:
Quando o capitão Mayo deixou o Fitzpatrick e assumiu essa perigosa missão autoimposta de
humanidade, foi alertado de que não conseguiria, mas, quando conseguiu e as notícias se
espalharam no exterior, o feito foi proclamado como a realização mais notável e brilhante, do
começo ao fim. Em reconhecimento a seus méritos extraordinários, o Secretário do Tesouro
lhe concedeu a medalha de ouro de salvamento, que é concedida somente àqueles que
demonstram a mais extrema e heroica ousadia no salvamento de vidas dos perigos do mar. O
socorrista Ellis, por sua devoção ao dever, sua coragem impecável e sua fidelidade abnegada a
seus camaradas, também foi homenageado e promovido a responsável por sua Estação.
Mais tarde, Ellis comentaria que a morte dos cinco homens da barcaça e dos
sete socorristas nunca deveria ter acontecido. “Se aqueles cinco homens que
tiramos da barcaça tivessem se controlado e feito o que nós dizíamos, todos
teríamos desembarcado em segurança.”
Bernie Webber ouvira a história do Wadena e sabia que seu barco de resgate
lotado poderia sofrer um destino semelhante a qualquer momento. À deriva na
escuridão, e sem bússola para orientá-los, Webber ainda não tinha ideia de onde
estavam exatamente. Além disso, não sabia aonde haviam ido os outros barcos
da Guarda Costeira, mas entendeu que seu barco devia estar em algum lugar nas
águas de Chatham, ou talvez ao sul da ilha de Monomoy. Se eu puder situar o
mar atrás de mim e seguir em frente, vamos acabar em Nantucket Sound e,
então, nas águas rasas de algum lugar em Cape Cod, tentou se convencer. A
seguir, Bernie transmitiu seus planos ao resto dos homens a bordo.
“Se o barco parar de repente, vão para a praia”, ordenou. “Não percam tempo
fazendo perguntas. Saiam e ajudem quem estiver ferido. Saiam o mais depressa
que puderem!”
Webber achava que se conseguisse levar a proa do barco o mais perto possível
da praia assolada pela tempestade, e manter o motor ligado, os homens teriam os
preciosos momentos de que precisavam para chegar à costa com segurança. Os
sobreviventes entenderam perfeitamente o plano. “Conte conosco, timoneiro!”,
gritaram, e seguiram-se altos aplausos e vivas da tripulação do Pendleton.
Contudo, um tripulante do barco de resgate não estava tão otimista. “O pior
momento, para mim, foi quando estávamos voltando”, lembrou Richard Livesey.
Seus braços estavam presos por causa dos homens espremidos em pé no convés,
bem na frente do para-brisa quebrado. Estavam todos de volta às ondas
gigantescas sem a proteção que a popa do Pendleton lhes havia fornecido. A
cg36500 estava pesada e baixa com a carga humana, e poderosas ondas
continuavam a açoitar seu convés lotado. Livesey e os outros prendiam a
respiração quando cada onda batia e os envolvia em uma torrente de água
gelada. Quando isso vai acabar?, perguntava-se Livesey. Parecia uma
eternidade. O barco de resgate estava tão baixo que era como se estivessem em
um submarino. Se a lancha não subir um pouco mais, eu vou me afogar aqui
dentro mesmo, pensou Richard.
Webber tentou mais uma vez o rádio e ficou surpreso ao conseguir contatar a
Estação de Resgate de Chatham. O contramestre Cluff pareceu ainda mais
surpreso ao ouvi-lo. Webber informou que levavam 32 homens do Pendleton a
bordo e que estavam tentando voltar, apesar de não terem instrumentos de
navegação para ajudá-los. O capitão de um dos barcos de resgate foi chamado e
orientou Webber a virar e avançar para o mar, em direção a ele. Bernie ouviu
mais chiados pelo rádio e ainda mais ideias sobre a melhor forma de concluir o
já improvável resgate. No entanto, ele e sua equipe já haviam decidido; iam para
a praia. Bernie desligou o rádio e voltou sua atenção para o desafio a sua frente.
Ninguém falava a bordo do barco de resgate, enquanto Bernie atacava as ondas à
frente.
Conforme a cg36500 foi avançando, as ondas começaram a mudar. Já não
eram tão fortes, nem se espalhavam tão distantes como antes. A lancha navegava
por águas rasas, agora. Contudo, de maneira nenhuma, estavam fora de perigo.
Eles ainda tinham de atravessar o Chatham Bar. Webber estava avaliando suas
opções quando notou algo que parecia ser uma luz vermelha, piscando à
distância. Seria uma boia? Seria o sinal de alerta de aeronaves das torres da
estação de rádio rca, ali no alto? Bernie esfregou seus olhos cansados e
queimados de sal. Em um momento, a luz parecia estar bem acima de sua
cabeça, em outro, parecia estar bem abaixo do barco de resgate. À medida que se
aproximavam, Webber ordenou ao homem mais próximo do holofote, na frente
do barco, que o ligasse de novo. A luz vermelha piscante estava ficando mais
clara. Os homens rapidamente perceberam que a luz provinha do alto da boia
que ficava dentro do Chatham Bar e que conduzia à entrada de Old Harbor.
Bernie olhou para a luz piscante mais uma vez e desviou o olhar para os céus
tormentosos. No fundo do coração, ele sabia que Deus os estava levando para
casa.
capítulo 12
Pandemônio em Chatham
A Yakutat ficou ao lado da proa virada até que foi substituída pela Unimak,
naquela noite. E, então, o capitão Naab navegou a todo vapor para Portland,
Maine, para que os sobreviventes pudessem ser hospitalizados. Eles estavam
com hipotermia e ulcerações do frio, mas o capitão Paetzel estava pior, com
pneumonia. Repórteres de jornais estavam no cais quando os sobreviventes
foram retirados da lancha de resgate. Fahrner, calmamente, disse ao Boston
Herald: “Foi por pouco”.
A proa emborcada do Mercer era considerada um perigo para a navegação, de
modo que a Unimak, mais tarde, recebeu sinal verde para afundar a metade
flutuante. O oficial de artilharia Ben Stabile recorda que primeiro disparou uma
arma antiaérea de quarenta milímetros na proa, logo acima da linha d’água,
“para ver o que aconteceria”. Stabile pensou que talvez o petróleo vazasse dos
porões de carga e fosse substituído por água, que é mais pesada que o óleo, ou
que os projéteis incendiários altamente explosivos que atirara fariam o petroleiro
explodir e afundar. Quando a proa nem se mexeu, o capitão da Unimak, Frank
McCabe, disse a Stabile: “Ben, vamos disparar a arma K com cargas de
profundidade”. Stabile nunca havia disparado cargas de profundidade, e as armas
K, utilizadas para dispará-las, lançava-as a apenas cerca de setenta metros; a
tripulação se perguntava se não seria perto demais.
Depois de muita discussão, decidiram que a Unimak deveria estar a todo
vapor quando Stabile disparasse a arma K. Assim, a lancha se distanciaria da
carga de profundidade antes que explodisse.
As cargas de profundidade tinham forma de lágrima, para melhor propulsão
pela água; tinham 60 centímetros de comprimento e 45 centímetros de diâmetro
na parte mais larga. A arma K dispararia as cargas de profundidade formando um
longo arco no ar, e, se tudo corresse bem, elas cairiam no oceano perto da proa.
Eram programadas para explodir quando chegassem a uma profundidade de
quinze metros.
Quando todos estavam prontos, o capitão McCabe acionou o motor e a
Unimak saiu voando em direção à proa, a uma velocidade de dezoito nós.
Quando a lancha estava adjacente ao casco do petroleiro, Stabile descarregou
três armas. Alguns segundos se passaram, e as cargas explodiram debaixo
d’água, lançando enormes nuvens de água pulverizada no ar. A Unimak
estremeceu violentamente, apesar de estar a uma distância segura, mas a proa do
Mercer mal se mexeu.
Depois de ver, durante meia hora, que o casco partido do petroleiro continuava
na mesma posição, McCabe decidiu repetir o procedimento. “Dessa vez foi
diferente”, diz Stabile. “A proa se ergueu no ar e, em seguida, foi para baixo.
Demos um grande suspiro de alívio. Não queríamos estar perto daquela coisa
quando caísse a noite. Era muito difícil de ver, mesmo com radar, e eu tinha
medo de que batêssemos nela e nos tornássemos suas últimas vítimas.”
capítulo 14
Uma manobra memorável
Uma metade do Fort Mercer já estava no fundo do mar. A outra metade, a popa,
ainda flutuava e era conduzida para o sul pelo vento e pelas ondas. Os homens a
bordo dela sentiam toda a gama de emoções; seu humor e suas perspectivas
subiam e desciam como o meio navio em que estavam presos. Quando o
petroleiro se partira ao meio, medo e confusão reinaram na popa. Irromperam
discussões sobre o que fazer, e a confusão ameaçara transformar-se em pânico e
caos, especialmente porque o líder, capitão Paetzel, afastara-se na proa do
Mercer. Alguns homens falaram em abandonar o navio em botes salva-vidas,
enquanto outros argumentaram que os botes deveriam ser guardados como
último recurso. O intendente Luis Jomidad tentara se garantir; ele disse mais
tarde: “Eu fui até o convés dos botes e subi até um deles com um machado. A
liberação era feita por fora do bote, e eu queria ter certeza de que funcionaria;
por isso levei o machado. Um sujeito estava louco e gritava: ‘Vamos pular no
mar!’, mas eu disse: ‘Não, espere até que afunde, e depois pulamos’. Durante as
quatro horas seguintes, fiquei sentado no bote salva-vidas com o machado na
mão, pronto para cortar a corda para liberá-lo”. O intendente, congelado até os
ossos, por fim havia voltado para dentro, mas ficara acordado a noite toda pronto
para correr de volta para o bote salva-vidas. “Se ele fosse baixado”, disse ele,
“eu queria estar ali fora.”
Embora a popa do Mercer pudesse virar, como a proa virara, os 34 homens na
popa tiveram sorte, porque nessa metade do navio ainda havia energia. Isso
significava que eles tinham luzes operáveis, bombas e um sistema de
aquecimento que funcionavam. Infelizmente, não havia rádio na popa, e a
tripulação não tinha como se comunicar com o navio mercante Short Splice, que
estava à espera. Os sobreviventes tinham aguentado até segunda-feira à noite, e,
nesse momento, terça-feira de manhã, rezavam para que a Guarda Costeira
chegasse e que seu navio fraturado ficasse à tona mais um pouco.
Bernie Webber esfregou seus olhos cansados; todas as articulações de seu corpo
doíam. Apesar da exaustão, ele não havia dormido bem. Bernie ergueu seu corpo
maltratado do beliche e olhou pela sala. As dores faziam-no recordar o que havia
acontecido. Ele e sua corajosa tripulação haviam resgatado 32 marinheiros em
um pequeno bote salva-vidas. Webber olhou para baixo e achou que estava
sonhando. Notas de dólar estavam espalhadas pelo chão e sua gaveta
transbordava de dinheiro. Sem saber o que significava, Webber rapidamente se
vestiu, pegou todo o dinheiro e desceu a escada. Havia sobreviventes em toda
parte, deitados em camas dobráveis e no chão. Bernie levou o dinheiro ao
contramestre Cluff.
“De onde veio todo esse dinheiro?”, perguntou. Cluff lhe disse que o dinheiro
era um presente coletado pelos sobreviventes do Pendleton que haviam
conseguido pegar alguns de seus pertences antes de abandonar o navio. O
dinheiro doado acabou servindo para comprar um aparelho de televisão para a
Estação de Chatham, um luxo raro em 1952. Contudo, outras pessoas percebiam
Bernie de forma diferente; seus superiores estavam irritados por sua violação do
protocolo durante o resgate. Cluff disse a Webber que alguns oficiais superiores
ficaram resmungando as palavras “corte marcial”, porque Bernie havia desligado
o rádio e ignorado as autoridades superiores na viagem de volta a Old Harbor.
Cluff prometeu a Webber que lidaria com as consequências e disse que não se
preocupasse. No entanto, Cluff não precisou interceder a favor de Bernie ou de
qualquer outro membro da equipe. Mais tarde, o contra-almirante H. G.
Bradbury, comandante do Primeiro Distrito da Guarda Costeira, enviou a
seguinte mensagem prioritária:
Parabéns a todos os participantes das operações de resgate do ss pendleton. a bernard c.
webber, contramestre no comando da cg36500, e aos tripulantes, engenheiro andrew j.
fitzgerald, marinheiro richard p. livesey e marinheiro ervin e. maske sn. cito: “sua atuação
extraordinária e total despreocupação com sua segurança ao atravessar as perigosas águas do
chatham bar em meio a ondas imensas, extrema escuridão e neve durante o violento temporal
de inverno para resgatar da morte iminente 32 dos 33 tripulantes presos na popa partida do
malfadado petroleiro, minutos antes que ele emborcasse [...] mostra seu grande mérito e seu
serviço completo”.
Uma hora depois, Len Whitmore partiu do local do acidente. Sua missão havia
sido cumprida. Todavia, para outros, estava apenas começando. A popa do
Mercer havia ido para sudeste, posicionando-se a cerca de quarenta milhas (64
quilômetros) ao sul de Nantucket no momento em que os primeiros rebocadores
chegaram. Inicialmente, o Foundation Josephine lançou um cabo para a popa do
Mercer e os homens a bordo puxaram-no. Anexa ao cabo havia uma corda forte
e grossa chamada sirga, que foi presa ao engate de reboque à ré da popa do
Mercer. Como a extremidade da frente do casco era uma massa de aço mutilado,
decidiram rebocar a embarcação pela extremidade traseira, para trás. O segundo
rebocador, o M. Moran, em seguida, amarrou uma sirga de sua popa à proa do
Foundation Josephine, e a operação de reboque procedeu em conjunto, com o M.
Moran à frente, seguido pelo Josephine e, então, pelo petroleiro. A procissão
avançava lentamente a cinco nós, indo para Narragansett Bay e Newport, em
Rhode Island.
Os jornais cobriram cada fase da operação de resgate. The New York Times
relatou que “luzes amarelas brilharam esta noite na popa do Fort Mercer e uma
coluna de fumaça subiu da chaminé. Os homens que optaram por ficar no navio
tinham luz e aquecimento, porque as caldeiras e quase todas as máquinas do
navio estavam nessa metade. Havia abundância de alimentos na cozinha”. A
empresa proprietária do petroleiro, a Trinidad Corporation, talvez preocupada
com a responsabilidade, caso o meio petroleiro afundasse de repente durante a
operação de reboque, anunciou que não havia participado da decisão dos treze
homens de permanecer a bordo. Um porta-voz da empresa disse: “Os treze
homens permaneceram a bordo por escolha deles. Hoje em dia, os tripulantes
fazem a própria escolha. Foi apenas a opção dos tripulantes”.
Independentemente da razão, a popa do Mercer tinha um valor que ia além de
seu casco de aço; detinha 45 mil barris de petróleo e toda a maquinaria do navio.
Na sexta-feira, os rebocadores chegaram a Narragansett Bay. Um capitão de
Newport levou três membros da Associated Press a bordo da popa, e o redator
Tom Horgan relatou que ele e dois fotógrafos haviam sido os “primeiros
visitantes a embarcar no casco partido, desde a fratura”. Horgan relatou que
quando subiu a bordo o cozinheiro do navio o levou a uma cozinha impecável,
na qual longas mesas estavam cobertas de linho branco limpo. Os treze
tripulantes estavam vivendo em grande estilo, e os convidaram para um café da
manhã com panquecas, ovos “de todo jeito”, batatas, bacon, leite e café. O
tripulante Lionel Dupuis, entrevistado por Horgan, explicou como soube que o
navio havia se dividido ao meio: “Eu estava tomando sopa de ervilhas na
cozinha. Corri para o convés quando ouvi o barulho. Vi uma proa e pensei:
‘Santo Deus, vamos bater em outro navio’. E, então, vi o nome na proa e percebi
que nosso próprio navio havia se partido ao meio!”.
A chegada do Mercer a Newport foi um grande acontecimento. O Boston
Herald informou que “milhares de motoristas e outras pessoas cobriam a praia
quando os rebocadores puxaram a popa do Mercer para as águas calmas do porto
de Newport”. Em uma estranha coincidência, John Mihlbauer, tripulante do
Acushnet, que havia ajudado a resgatar os três homens da popa, estava visitando
seus sogros em Newport e se questionou por que uma multidão se reunia na orla.
Perguntou a um vizinho o que estava acontecendo. “Fiquei chocado”, lembra
Mihlbauer, “quando me disseram que rebocadores estavam puxando a popa do
Fort Mercer para o porto. Desci para ver e pensei: Se essa coisa ainda está à
tona, por que tivemos todo o trabalho de tirar os homens de lá?”. No entanto,
Mihlbauer logo se lembrou de como a proa do Mercer havia virado menos de
vinte minutos depois de o último homem pular do navio e sabia que o destino da
popa poderia ter sido o mesmo.
Três dos homens que ainda estavam a bordo desembarcaram por fim em
Newport: Samuel Barboza, de New Bedford, tinha algumas costelas quebradas;
Coit Howard, de Bristol, Connecticut, estava com pleurite; e Alphonse Chauvin,
de 72 anos, proveniente de Nova York, só queria ir para casa. Os restantes dez
tripulantes decidiram permanecer a bordo durante a etapa final da viagem, até
um estaleiro em Nova York. Eles tiveram uma atitude semelhante à do tripulante
Earl Smith, da Filadélfia, que disse: “Nós o trouxemos até aqui; podemos muito
bem levá-lo pelo resto do caminho”. Os outros homens que ficaram a bordo
foram Jesse Bushnell, de Pasadena, Texas; Wilfred Heroux, de Woonsocket,
Rhode Island; Byron Mathewson, de Concord, New Hampshire; Howard Colby,
de Houston, Texas; Charles Duprey, de Wolverine, Michigan; Lionel Dupuis, de
Fall River, Massachusetts; Chester Brodacki, de Corpus Christi, Texas; Michael
Crawley, de Houston; e Arthur Cunningham, de Camas, Washington.
Antes de a popa ser rebocada de Newport para Nova York, foi inspecionada
pela seguradora e pelas autoridades federais e considerada em condições de
navegar. A Trinidad Corporation disse que a popa era mais ou menos “dois
terços do navio, e não metade”, e valia aproximadamente 2 milhões de dólares.
A viagem de Newport a East River, Brooklyn, levou apenas 26 horas. No
estaleiro, uma nova proa foi fixada à popa, e quando a reconstrução foi
concluída o navio foi rebatizado de San Jacinto. Ele foi modificado e ganhou
mais um conjunto de tanques de carga; foi estendido em quarenta pés, passando
a 545 pés de comprimento. O San Jacinto cobriu rotas de navegação pelos
Estados Unidos por mais uma dúzia de anos, até que o destino encontrou o
bendito petroleiro mais uma vez. Em 25 de março de 1964, o navio estava indo
para Jacksonville, Flórida, depois de ter descarregado uma carga mista de
gasolina, querosene e óleo em Portland, Maine. O San Jacinto estava a quarenta
milhas (64 quilômetros) da costa leste da Virgínia quando três fortes explosões
rasgaram o centro do navio. Um enorme clarão de fogo irrompeu do tanque
número 8, destruindo partes do convés acima. O capitão rapidamente
inspecionou os danos e concluiu que tinha de pôr seus homens no bote salva-
vidas o mais depressa possível. Como o ss Fort Mercer, o ss San Jacinto se
dividiu ao meio. O capitão ordenou que baixassem o bote salva-vidas e
enviassem um pedido de socorro, mas o operador de rádio não pôde cumprir seu
dever porque o sistema de antenas de rádio havia sido destruído na explosão.
Felizmente, outro navio, o Mobil Pegasus, estava nas proximidades, e o
operador de rádio conseguiu estabelecer comunicação por meio de sinalização.
Contudo, uma vez no bote salva-vidas, a tripulação sofreu outro sério golpe. O
pânico e a emoção decorrentes da explosão e da evacuação foram demais para o
intendente-chefe do navio, de 56 anos, Martin Dotilla, que sofreu um ataque
cardíaco instantes depois de subir no pequeno bote. O capitão ordenou que o
salva-vidas abordasse o Mobil Pegasus na esperança de conseguir o atendimento
médico de emergência de que Dotilla necessitava para sobreviver. Foi uma
tentativa corajosa, mas inútil. O intendente-chefe de Gulfport, Mississippi,
morreu a caminho do navio de resgate.
Contudo, os demais 36 tripulantes sobreviveram à explosão, que havia sido
estranhamente semelhante à que afundara parte do Fort Mercer doze anos antes.
Entretanto, ao passo que a primeira tragédia havia sido causada por uma
combinação fatal de solda e aço de má qualidade e tempo ruim, a explosão que
destruiu o San Jacinto foi atribuída a algo diferente. Na longa averiguação que se
seguiu, os investigadores da Guarda Costeira determinaram que o mais provável
foi que a explosão tenha sido causada por gasolina que não havia sido
devidamente retirada do número 8. Cada tanque era equipado com ânodos de
magnésio, para controlar a corrosão interna. Os investigadores acreditavam que
um ânodo de magnésio atingira um elemento estrutural interno no costado
inferior do tanque de carga, criando uma faísca que acendera vapores de
combustível, causando uma enorme bola de fogo. Dentre as recomendações da
Guarda Costeira após a investigação, uma foi a proibição de ânodos de magnésio
em tanques de carga que transportassem gás, querosene, óleo ou qualquer outro
líquido combustível. No relatório oficial da Guarda Costeira havia uma menção
a emendas na construção do navio, mas, surpreendentemente, nada indicava que
isso pudesse ter contribuído de alguma forma para a fratura completa do ss San
Jacinto.
capítulo 17
Buscas na proa do Pendleton
O comitê concluiu igualmente que o navio mudara o curso para o sul depois
de ser açoitado por várias ondas fortes, até que, por fim, partira-se ao meio.
Reconheceu que a baixa temperatura da água do mar, de cerca de três graus
centígrados, contribuiu para as fraturas.
A intensa tempestade havia sido culpa da Mãe Natureza apenas, ao contrário
do carregamento do navio, que foi resultado de erro humano. A investigação
constatou que o carregamento do petroleiro tinha um “efeito adverso” que fizera
o navio se retrair, criando mais tensão na parte inferior. De acordo com o
relatório, os tanques na parte da frente do navio, excluindo 120 barris de óleo
combustível no tanque profundo a bombordo, estavam vazios. O tanque de
número 9 estava quase vazio, e os tanques de água foram apenas parcialmente
preenchidos depois. Isso deixou a maior parte do peso a meia-nau, o que
provocou um “efeito vergadura”, que foi “fortemente agravado pelas ondas
extremamente violentas”. Ao contrário dessa constatação, o comitê concluiu que
o navio havia sido carregado em fila, como é a prática usual no ramo de
petroleiros. Os investigadores também determinaram que os obstrutores de trinca
instalados no navio foram eficazes para conter uma fratura, mas não impediram
que outras se formassem.
No fim, o naufrágio do Pendleton seria atribuído ao destino, e ninguém seria
responsabilizado pelo Comitê de Investigação da Marinha. Para muitos
sobreviventes, o relatório parecia uma pá de cal governamental. O conselho
concluiu:
Não houve incompetência, má conduta, amadorismo ou violação dolosa da lei ou de qualquer
norma ou regulamento por parte de quaisquer oficiais, marinheiros, empregadores, armadores
ou agentes do navio, ou de qualquer inspetor da Guarda Costeira que tenha contribuído para
esse acidente.
Nos meses seguintes ao resgate, Bernie Webber e sua equipe viram-se galgando
uma onda diferente — de adulação pública —, tarefa que mostrou ser
igualmente difícil para os jovens socorristas, que nunca quiseram ser o centro
das atenções. Sua ascensão de homens corajosos que estavam apenas fazendo
seu trabalho para queridinhos da mídia foi ditada pelas notícias do dia. A Guerra
da Coreia continuava se arrastando, enquanto conversações de armistício entre
os Estados Unidos e a Coreia do Norte mantinham-se em um impasse. De fato,
em 18 de fevereiro, dia do resgate do Pendleton, quinze soldados norte-
americanos foram mortos em ação, incluindo sete militares do 224º Regimento,
40ª Divisão de Infantaria, durante uma batalha perto de Chung-bang Pyong,
Coreia do Norte. Os norte-americanos, cansados da guerra, precisavam de algo
que lhes fizesse bem, algo que os unisse. Os homens da cg36500 lhes
forneceram uma otimista distração da dura realidade da guerra.
Reminiscentes dos heróis imperfeitos descritos pelo escritor James Bradley
em seu best-seller A conquista da honra, Bernie Webber e sua equipe foram
usados pelo governo dos Estados Unidos como arma de relações públicas para
angariar apoio para o estilo de vida norte-americano. Em A conquista da honra,
os homens capturados naquela fotografia icônica ao içarem a “segunda” bandeira
norte-americana no topo do Monte Suribachi durante a batalha de Iwo Jima
foram imediatamente levados de volta aos Estados Unidos para liderar um circo
itinerante e angariar indispensáveis fundos para apoiar a guerra. Entretanto, no
exato momento em que os homens que içaram a bandeira — Ira Hayes, Rene
Gagnon e John “Doc” Bradley — eram saudados como heróis, seus camaradas
morriam em um planalto vulcânico deserto, em números recordes. Esse mesmo
tipo de culpa compartilhada por esses homens foi sentido de novo, sete anos
depois, pela tripulação da cg36500, que também acreditava que os verdadeiros
heróis haviam sido os homens que não voltaram.
Webber sentia remorsos não só por Tiny Myers e os outros que haviam
morrido no desastre, mas também por aqueles que não estavam recebendo a
atenção e o crédito que mereciam por seus papéis na milagrosa operação de
resgate. Ele pensava em seu amigo Donald Bangs e nos tripulantes da cg36383,
que passaram, naquela noite fatídica, mais horas enfrentando os elementos
naturais do que a equipe de Webber. Os dois homens eram próximos e
discutiram sobre aquela noite muitas vezes nos anos seguintes. “Eu amava
aquele homem”, diz Bernie com orgulho. “Naquela época, passávamos dez dias
de plantão antes de talvez conseguir dois dias de folga. Sem televisão, conversar
era a única coisa a fazer, e Donald era um ótimo papo. Com nossas xícaras de
café fervido, passávamos horas intermináveis conversando.” Bangs disse a
Bernie que todo o tempo que passou no resgate do Pendleton voltou-se ao
homem que pulara da proa e estava perdido. Bangs não conseguia entender por
que não foi mandado para ajudar na popa partida, visto que sua cg36383 estava a
apenas uma milha (1,6 quilômetro) de distância. Bernie rapidamente entendeu
que se Bangs e seus homens não tivessem sido mandados de volta à proa do
Pendleton, mas sim autorizados a atender à popa, Don Bangs, e não Bernie
Webber, teria sido considerado o novo “garoto-propaganda” da Guarda Costeira
dos Estados Unidos.
Essas pontadas de culpa foram diminuindo graças à crença crescente de
Webber de que seu novo status de celebridade na Guarda Costeira era mais um
fardo que uma bênção. Logo após o resgate do Pendleton, ele havia pedido
transferência da Estação de Resgate de Chatham para o Grupamento Woods
Hole, bem maior, a cerca de oitenta quilômetros de distância, do outro lado de
Cape Cod. Lá, Webber havia reencontrado seu mentor e amigo, capitão Frank
Masachi, a bordo do barco de resgate da Guarda Costeira cg8338. Bernie queria
desesperadamente deixar para trás Chatham e o árduo resgate e se concentrar
apenas em seu novo ambiente e em sua nova missão. Isso, porém, mostrou-se
uma tarefa impossível, uma vez que seus superiores ficavam constantemente
tirando-o do trabalho para fazer discursos nos clubes Kiwanis e Rotary. Dezenas
de fotografias foram tiradas de Webber recebendo prêmios e elogios, mas um
exame cuidadoso de sua expressão nas imagens mostra um homem pouco à
vontade, nunca confortável. Fica claro que ele estaria melhor na água que
comparecendo a eventos sucessivos.
Webber, o contramestre Daniel Cluff e o operador de rádio William Woodland
foram homenageados pelo presidente da loja de departamentos Jordan Marsh e
agraciados com o Prêmio de Mérito durante uma cerimônia no Parker House, em
Boston, um luxuoso hotel onde John F. Kennedy anunciara sua candidatura ao
Congresso e, posteriormente, pedira Jacqueline Bouvier em casamento. Vários
companheiros de Webber achavam que ele havia virado estrela, e um profundo
ressentimento começou a brotar. Bernie passou a entender essa raiva e também
se ressentia de superiores que estariam usando o resgate do Pendleton para seus
interesses.
Pelo menos um alto oficial da Guarda Costeira sabia o que Bernie estava
passando. John M. Joseph, que havia comandado a Acushnet no resgate do Fort
Mercer — no qual facilmente ganhou o respeito de sua equipe e de toda a
Guarda Costeira, incluindo Webber —, tornara-se seu comandante por ocasião
da transferência para Woods Hole. “Na estação de controle de popa de seu barco,
ele teve coragem para se aproximar o suficiente em meio à fúria das ondas para
que os tripulantes do petroleiro pudessem pular”, lembra Bernie. “Na época, a
divisão entre oficiais e praças era ampla. No entanto, o comandante Joseph me
chamou em seu escritório, fechou a porta e me convidou para sentar e conversar
um pouco.” Os dois homens haviam sido capturados pela máquina de relações
públicas da Guarda Costeira após os resgates. “Nós tínhamos o resgate em
comum e conhecíamos os prós e os contras disso. Ele estava preocupado comigo
e minha família e me deu apoio, o que me ajudou nos dias seguintes. Ele era um
oficial e um cavalheiro, tinha respeito pelos marinheiros e reconhecia nosso
papel no esquema das coisas.”
Na verdade, Bernie Webber também tinha seus interesses. Ele queria ter
certeza de que seus colegas receberiam as mesmas honras e os mesmos prêmios
que ele próprio. Reuniu-se brevemente com Andy Fitzgerald, Ervin Maske e
Richard Livesey, em Washington, dc, em 14 de maio de 1952. Eles haviam ido à
capital do país para receber a maior honraria da Guarda Costeira: a Medalha de
Ouro de Salvamento. Todos ficaram felizes por se reencontrar e sabiam como
eram afortunados por ser agraciados com uma medalha de tanto prestígio.
Contudo, o evento nunca teria ocorrido se não fosse pela grande persistência de
Bernie Webber. Poucos dias após o resgate, ele foi chamado ao escritório do
contramestre Cluff e atendeu ao telefone. Do outro lado da linha, estava um
oficial da sede da Guarda Costeira, que, primeiro, felicitou Bernie pelo resgate,
e, em seguida, informou que ele seria agraciado com a Medalha de Ouro de
Salvamento.
“E minha equipe?”, perguntou Webber. “Todos eles vão receber a Medalha de
Prata de Salvamento”, respondeu o oficial.
A raiva e a exaustão de Bernie entraram em erupção através da linha
telefônica. “Eu acho isso uma merda”, gritou no fone. “Eles estavam lá, assim
como eu, e fizeram todo o resgate difícil. Se eles não vão receber a medalha de
ouro, eu também não quero.”
Cluff ficou visivelmente chateado ao ouvir um de seus homens falar assim
com um capitão. “Você está falando sério?”, perguntou o capitão, estarrecido.
Webber disse que sim e foi inflexível. Se seus homens não recebessem a
medalha, ninguém receberia.
Os oficiais da Guarda Costeira cederam ao ultimato de Webber, conscientes
do pesadelo de relações públicas que enfrentariam se virassem as costas ao novo
herói. A medalha foi comemorada por todos os homens, mas provavelmente por
ninguém mais que por Richard “Herd Bull” Livesey. Ao receber o prêmio,
Livesey pensou em seu pai, Oswald, que passara mais de duas décadas na
Marinha dos Estados Unidos. “Ele estava tão orgulhoso de mim!” Livesey sorria
radiante, mais de meio século depois. “Ele disse que, em todos os seus anos na
Marinha, nunca havia ouvido falar de um resgate como aquele.”
A Medalha de Ouro de Salvamento é uma das mais antigas honrarias das
Forças Armadas norte-americanas e foi concedida pela primeira vez em 1876 a
três irmãos — Hubbard Clemons, Lucian Clemons e A. J. Clemons — que
haviam salvado dois membros da escuna naufragada Consuelo, perto da Ilha de
Kelley, no Lago Erie, um ano antes. O prêmio pode ser concedido a qualquer
militar dos Estados Unidos que realize um resgate em águas norte-americanas ou
sob jurisdição dos Estados Unidos. Recebe a Medalha de Ouro de Salvamento
aquele que tenta fazer um resgate correndo “perigo extremo e risco de morte”.
A medalha é considerada extremamente rara, mesmo para os militares. Os
participantes de resgates que não atendem aos critérios de uma Medalha de Ouro
de Salvamento são agraciados com a Medalha de Prata. Chester W. Nimitz e
George S. Patton receberam uma Medalha de Prata de Salvamento. Nimitz, na
época tenente e comandante do submarino e-1 da Marinha dos Estados Unidos,
recebeu a medalha em 1912, por resgatar do afogamento um de seus tripulantes.
George S. Patton sempre considerava sua Medalha de Prata de Salvamento uma
de suas favoritas, por causa de seu grande tamanho. Ele recebeu a medalha em
1925, dois anos depois de resgatar três meninos durante uma tempestade
violenta, na costa de Massachusetts. Patton, na época major, havia acabado de se
formar na Escola de Cavalaria Avançada, em Fort Riley, Kansas, e estava
desfrutando uma licença de três meses com sua esposa, Beatrice, na propriedade
de sua família, em Beverly Farms. O casal estava navegando nas proximidades
do porto de Salem quando caiu uma súbita tempestade, fazendo outro barco
virar. Patton levou seu barco até os garotos, que estavam agarrados a um douro.
Com a ajuda de um remo, o futuro herói da Segunda Guerra Mundial conseguiu
içar os meninos, um a um, para seu barco.
Bernie Webber nunca conseguiria a fama de um Patton ou um Nimitz, mas
estava prestes a receber um prêmio com o qual essas duas lendas norte-
americanas só poderiam sonhar. Vestindo seus uniformes azuis da Guarda
Costeira, Webber, Fitzgerald, Livesey e Maske ficaram em posição de atenção,
enquanto Edward H. Foley, subsecretário do Tesouro, fixava as medalhas no
peito de cada um. O segundo-tenente William R. Keily Jr., da embarcação da
Guarda Costeira Yakutat, também recebeu uma Medalha de Ouro de Salvamento
por arrancar dois sobreviventes do Fort Mercer da água gelada. No entanto, seus
homens só foram agraciados com medalhas de prata. Fiel a sua denominação, a
medalha é 99,9% ouro puro. A inscrição no verso diz: “Em testemunho de feitos
heroicos para salvar vidas dos perigos da água”.
O vice-almirante Merlin O’Neill, comandante da Guarda Costeira, discursou
perante o subsecretário Foley, os membros do Congresso e outros vips sobre os
cinco rapazes que receberam medalha de ouro e os outros dezesseis homens da
Guarda Costeira homenageados pelo resgate de setenta homens do mar. No alto
pódio, O’Neill descreveu para a multidão o que esses heróis despretensiosos
haviam realizado. “Os dias 18 e 19 de fevereiro serão lembrados na história da
Guarda Costeira”, disse.
Nesses dois dias, uma tempestade Nor’easter assolou a Nova Inglaterra. Fazia muito frio [...]
havia neve, granizo e ventos uivantes. A leste de Cape Cod, ventos de 130 quilômetros por
hora e ondas de dezoito metros de altura açoitaram navios mercantes que não haviam
conseguido aportar. Dois grandes petroleiros apareceram em cena — o ss Fort Mercer e o ss
Pendleton. A quarenta milhas (64 quilômetros) de distância um do outro, ambos encontraram
toda a força e horror da tempestade [...] Os sobreviventes ficaram presos em cada parte [...] um
total de 84 homens semicongelados cujas chances de sobrevivência pareciam impossíveis.
Estamos aqui reunidos hoje para homenagear alguns dos homens que participaram das
operações de salvamento do Fort Mercer e do Pendleton. Digo alguns dos homens porque suas
façanhas individuais foram impressionantes, mas não devemos esquecer o número muito
maior de seus companheiros cuja habilidade, coragem e devoção ao dever passaram
despercebidos na operação como um todo.
Ao contrário de Bernie Webber, Ervin Maske mal podia esperar para sair da
Guarda Costeira. Quando seu alistamento acabou, fugiu rapidamente para terra
firme. Alguma coisa havia mudado nele por causa do suplício que havia passado
na cg36500. Maske e sua esposa voltaram para Marinette, Wisconsin, e
formaram uma família. Ervin arrumou um emprego no Departamento de Obras
Públicas e nunca sentiu vontade de voltar ao mar. Só de pensar no oceano seu
sangue gelava. “Ele ficou longe da água, de qualquer tipo de água”, lembra a
filha de Maske, Anita Jevne. “Meus tios o convidavam para pescar e ele sempre
recusava.” O aparente medo da água de Maske era a única indicação que ele
dava a sua família sobre seu papel no resgate do Pendleton. Ele mal mencionava
o assunto com seus dois filhos, Anita e Mark. “Uma vez, ele pegou a medalha e
a mostrou para mim, quando eu era criança”, lembra Anita. “Ele era bem
humilde em relação a isso. Disse que a havia ganhado por salvar alguns
homens.” Os filhos de Maske nunca tinham imaginado o que seu pai enfrentara
naquela gelada noite de fevereiro em 1952, até que, certa noite, assistiam na
televisão ao filme Mar em fúria. “Era a cena em que o barco [o Andrea Gail]
cavalgava uma daquelas ondas enormes”, explica Anita. “Meu pai estava
assistindo ao filme em silêncio, mas atento, e talvez estivesse revivendo alguma
coisa. Ele olhou para mim e disse: ‘Foi exatamente assim, exatamente assim’.”
Foi outro socorrista quem descobriu o fardo emocional que Ervin Maske
carregava. Aconteceu durante um encontro casual, na cidade natal de Maske.
Tony O’Neill fora removido havia alguns anos de sua função de contramestre na
Estação da Guarda Costeira de Sturgeon Bay, em Wisconsin. Enquanto estava no
serviço, ele comprou o livro de Bernie Webber, Chatham: the lifeboatmen, em
uma lojinha em Green Bay. O livro tocou O’Neill, que ficou surpreso ao saber
que um membro da Equipe Medalha de Ouro também era de Wisconsin. O’Neill
guardou o livro e ficou imaginando se um dia teria a chance de conhecer Ervin
Maske. E o acaso os aproximou um dia. “Depois da Guarda Costeira, tornei-me
policial em Marinette e comecei a perguntar sobre Ervin Maske por ali”, diz
O’Neill. Alguém comentou que ele trabalhava no Departamento de Obras
Públicas, na área de saneamento. Um dia, O’Neill foi ao aterro para jogar fora
suas aparas de relva. Viu um homem em um trator e o chamou. “Perguntei a ele:
‘Você conhece Ervin Maske?’ Ele fez uma pausa e disse: ‘Sim, sou eu’.” O’Neill
ficou meio chocado e só conseguiu pensar em fazer uma coisa. Disse a Maske
que voltaria em seguida. “Fui para casa o mais depressa que pude e peguei o
livro”, recorda O’Neill. Ele voltou para o aterro; Maske ainda estava sentado no
alto de sua retroescavadeira. “Entreguei-lhe o livro e disse: ‘Você merece este
livro mais que eu’.” Maske pegou o que O’Neill lhe oferecia e suas mãos
começaram a tremer. Ele olhou para o livro e começou a chorar. “Deixei-o lá
com seu livro e suas memórias”, explica O’Neill. “Fui embora sabendo que
havia feito uma coisa boa.”
Andy Fitzgerald deixou a Guarda Costeira oito meses depois de participar do
resgate do Pendleton. Ele voltou para Whitinsville e acabou conseguindo um
emprego na Whitin Machine Works. Um programa de treinamento permitiu-lhe
estudar no Worcester Junior College, formando-se em técnico em Engenharia.
Foi nessa época que ele conheceu sua futura esposa, Gloria Frabotta, de
Uxbridge, Massachusetts. “Eu tinha 22 anos e ela, 19”, lembra ele. “Nós nos
conhecemos em um chá bar.” O casal namorou três anos antes de se casar. O
nome de Andy Fitzgerald havia saído em jornais de costa a costa, contudo sua
nova esposa era alheia a sua fama. “Eu até comentei sobre o Pendleton, porém,
ela não fazia ideia da verdadeira história.” Entretanto, isso mudou quando a mãe
de Fitzgerald chegou com todos os recortes de jornal. “Vendo aquelas matérias,
Gloria percebeu que havia mais coisas sobre seu marido do que ela imaginava.”
Sua vida pessoal navegava águas tranquilas, mas ele tinha sérias dúvidas sobre
seu futuro como engenheiro. “Eu estava na sala de projetos na Whitin Machine
Works quando percebi que não queria fazer aquilo”, diz ele. “Eu sabia desenhar,
mas não era muito bom.” Fitzgerald imaginou que poderia se dar muito bem em
vendas; ele era engenheiro, conhecia as ferramentas e os produtos. Arranjou um
emprego de vendedor de motores e embreagens elétricas para fábricas na Nova
Inglaterra. Ele era tão bom vendedor que seu chefe lhe ofereceu o cargo de
gerente do novo escritório em Denver, para vender equipamentos de inspeção de
alta precisão. O “escritório” era composto por exatamente um homem: ele
mesmo. Fitzgerald contratou Gloria para trabalhar meio período e os dois se
acomodaram na boa vida nas montanhas rochosas.
Após o resgate do Pendleton, Richard “Herd Bull” rodou pela Guarda
Costeira, de estação em estação, assim como seu ex-capitão Bernie Webber.
Livesey foi transferido para Nauset, depois para Woods Hole e, por fim, para o
navio-farol Stonehorse. Também se formou na Escola de Liderança da Guarda
Costeira e foi escolhido a dedo para servir na Patrulha de Segurança Presidencial
para proteger John F. Kennedy em Hyannisport. “Quando Kennedy viajava pela
Nova Inglaterra, eu ficava na lancha de quarenta pés do Serviço Secreto”,
explica Livesey. “Ele ficava nos iates Marlin ou Honey Fitz. Eu o encontrei
muitas vezes nas docas. Ele era muito acessível e muito gentil.” Livesey também
se lembra com carinho da primeira-dama, Jacqueline Kennedy. “Ela sempre foi
muito agradável. Era um ótimo trabalho. Fiquei arrasado quando ele foi morto.”
Depois de sua oportunidade com o presidente dos Estados Unidos, Livesey foi
transferido para a Estação de Cape Cod Canal, onde a vida não era tão
glamorosa. Seu dever básico era recolher os corpos de vítimas de suicídio que
pulavam da ponte de Sagamore. Richard Livesey se aposentou da Guarda
Costeira em 1º de novembro de 1967. Como seu pai, Oswald, ele tinha vinte
anos de serviço no mar. Livesey arranjou emprego em uma fábrica de produtos
químicos em Wilmington, Massachusetts, antes de se mudar para a Flórida com
sua esposa, em 1980. Nos dez anos seguintes, ele fez uma série de bicos, desde
segurança até zelador de uma escola secundária. Como muitos serviçais, Livesey
provavelmente devia ser desprezado por certas pessoas a seu redor. Mal sabiam
elas que o homem com a vassoura na mão ou sentado no balcão de segurança
havia desempenhado papel fundamental em um dos resgates marítimos mais
extraordinários da história dos Estados Unidos.
capítulo 22
A restauração
Novembro de 1981
Despercebida, lá estava aquela lancha outrora orgulhosa, agora uma mera casca
do que era antes. Quem passava por ela nem lhe dava atenção. No máximo, ela
era um incômodo, e, sem dúvida, alguns achavam que ela já deveria ter virado
sucata havia anos. Seu toldo estava podre e sua pintura toda lascada. Esquilos e
outras criaturas pequenas haviam construído seus ninhos em seu motor e as
coberturas das cabines estavam gastas por anos de negligência. A cg36500 havia
sido posta sobre blocos e deixada sem proteção contra a intempérie por treze
anos, atrás de uma garagem de manutenção na propriedade do Cape Cod
National Seashore, em South Wellfleet. Rodeado por areia, arbustos e pequenos
pinheiros, o histórico barco que havia salvado muitas vidas era quem precisava
ser resgatado.
A “velha 36” havia sido desativada em 1968, substituída pelo mais recente
barco de resgate de 44 pés, dois motores a diesel de 180 cavalos de potência,
totalmente de aço. Embora os barcos de 36 pés ainda fossem considerados
confiáveis, os de 44 pés eram mais rápidos e podiam levar quase o dobro de
passageiros. A maioria dos barcos de resgate de 36 pés havia sido destruída, mas
a lancha de Chatham havia conseguido a suspensão de sua sentença de morte.
Como era uma embarcação “Medalha de Ouro”, a cg36500 foi entregue ao Cape
Cod National Seashore, e, de início, havia planos ousados de preservá-la. Os
funcionários queriam que o barco ficasse em um pequeno museu, todavia a falta
de financiamento e planejamento condenou o projeto e deixou o barco em
condições precárias. A lancha era agora nada mais que uma monstruosidade que
ocupava espaço na propriedade do governo. A cg36500 havia sido vítima do sol
escaldante de mais de uma dúzia de verões e da neve e do granizo dos rudes
invernos de Cape Cod. Seus cuidadores haviam deixado de cobri-la com uma
lona protetora. Era uma visão triste. Algo que tanto significava para muitos havia
sobrevivido a sua utilidade e à própria lenda. Sua história poderia ter
desaparecido do folclore de Cape, não fosse a pura determinação de um grupo de
homens locais que lutou para restaurar ao barco sua antiga glória.
Seu líder era Bill Quinn, um cinegrafista freelancer e amigo de longa data do
fotógrafo Dick Kelsey, cujas fotos do resgate do Pendleton permanecem
gravadas na memória coletiva dos afortunados que se lembram da Equipe
Medalha de Ouro. Quinn viu pela primeira vez o barco quando ele e seu filho
participaram de um leilão de veículos usados patrocinado pelo National
Seashore. Ele estava procurando um automóvel robusto, com espaço para
armazenar seu equipamento de câmera e um bom motor que lhe permitisse
cobrir com rapidez qualquer notícia de última hora. Quando estava
inspecionando jipes, caminhões e outros veículos, o barco velho e cansado
chamou sua atenção. Quinn havia sido da Marinha e tinha um carinho especial
por embarcações, de modo que ele ficou imediatamente intrigado. Aproximou-se
para olhar mais de perto e notou os números desbotados pintados perto da proa.
Quinn chamou seu filho e mal pôde conter sua excitação. “Puta merda, olhe
isso!”, disse, apontando para a cg36500. “É o barco que salvou todos aqueles
homens.” A necessidade de um novo veículo parecia ter perdido a importância.
Quinn sabia que havia sido atraído até ali por alguma razão. Chocado com a falta
de cuidado e atenção dados à histórica embarcação, ele teve uma ideia; tinha de
salvar o barco de salvamento. A questão era: ele poderia ser salvo?
Quinn mostrou o barco a um amigo da marina de Nauset, que era
especializado em reparos desse tipo. O amigo havia levado um picador de gelo e
começou a espetar a embarcação de proa a popa. O sonho de Quinn de restaurar
o barco de salvamento seria frustrado se ele houvesse apodrecido. Contudo,
apesar de sua péssima aparência externa, os homens se surpreenderam ao
encontrar muito pouca madeira podre no barco. As únicas pequenas áreas
preocupantes eram a sala de máquinas e a coluna de reboque da popa. Debaixo
da fachada estragada, a cg36500 ainda era um barco de resgate saudável. Quinn
ficou realmente grato por a embarcação ter ficado em posse do Cape Cod
National Seashore por todos aqueles anos. Embora tenha sido deixado à
intempérie, o barco era propriedade do governo; portanto, nunca havia sido
vandalizado. Sim, aquele outrora orgulhoso barco de resgate poderia ser
restaurado, mas Bill Quinn sabia que não poderia fazê-lo sozinho.
Primeiro, Quinn procurou a Chatham Historical Society para ver se eles
estariam dispostos a assumir a tutela do barco arruinado. Apesar da clara
importância histórica da embarcação, os membros da sociedade temiam que o
restabelecimento e a manutenção de um barco naquelas condições fosse como
cair em um poço sem fundo de dinheiro. “Quem vai pagar pela restauração e
pela manutenção contínua?”, perguntaram. A perda de Chatham representou
ganho para Orleans quando a sociedade histórica da cidade vizinha concordou
em aceitar a embarcação se o Cape Cod National Seashore estivesse disposto a
abrir mão dela. Quinn se reuniu com oficiais do governo, que concordaram em
restaurar o barco, mas somente a título de empréstimo permanente. No entanto,
Quinn ficou atrás deles até que selaram um acordo dando-lhe a propriedade legal
do barco de resgate. Ele entregou o barco à Orleans Historical Society e
começou a arregimentar artesãos locais para o importante trabalho de
reconstrução. Quinn não teve falta de voluntários e precisou de pouco esforço
para convencê-los da missão. Para os homens de Chatham, Orleans e Harwich, o
pequeno barco de resgate não era apenas uma lenda; era um testemunho do
espírito de Cape Cod. Robustez e confiabilidade eram traços tanto do barco
quanto das resistentes pessoas que esculpiam sua vida na areia, nas costas
açoitadas pelo vento do extremo oriental dos Estados Unidos.
Um pequeno grupo de homens se reuniu no National Seashore, em uma fria
manhã de novembro de 1981, para testemunhar o renascimento desse barco. Eles
observaram atentamente, enquanto um grande guindaste içava a embarcação de
seu berço, despertando-a de um sono de treze anos. O pequeno barco foi
colocado em um caminhão e levado para a garagem Hershey Clutch, em Findlay
Road, Orleans, onde os voluntários trabalhariam. Logo, todos perceberam a
quantidade de suor e a habilidade necessárias para levar avante o projeto. O
objetivo era terminá-lo em cinco a seis meses, o que significaria milhares de
horas de trabalho. Os horários dos voluntários foram publicados no jornal da
comunidade; homens e mulheres trabalhavam em turnos, sete dias por semana.
Era uma comunidade se unindo por uma causa comum. Eram voluntários de
várias gerações; havia tanto jovens quanto idosos, e todos haviam sido tocados
de alguma forma pela cg36500. Um voluntário se lembrava de ter sido rebocado
pelo barco quando era criança, quando a embarcação em que estava teve
problemas no rio Bass. Era momento de pagar essa dívida e preservar aquele
pedaço de história flutuante para as gerações futuras.
O passo inicial era verificar se o motor do barco poderia ser salvo. A sala de
máquinas estava em péssimas condições, mas, surpreendentemente, o motor em
si ainda era utilizável, embora precisasse de sérios reparos. O motor gm-471 foi
retirado e mandado para Boston, onde foi recuperado de graça por mecânicos da
Marinha. O virabrequim do motor foi recondicionado e os cilindros, as bielas e
os rolamentos, substituídos. Cada parafuso do casco do barco teve de ser retirado
e substituído por outros maiores. Os mecânicos usaram raspadeiras para
desbastar o que restava da pintura e, em seguida, lixaram o barco até deixar a
madeira nua antes de reformar as pranchas do fundo e dos costados. Todo esse
árduo trabalho quase virou fumaça em uma noite, quando o Corpo de Bombeiros
de Orleans foi chamado à garagem. Um queimador apresentara defeito, e muitos
temiam que a embarcação queimasse como lenha. Felizmente, ela não sofreu
dano, afora ficar coberta de óleo, que poderia ser limpo com facilidade.
Enquanto os voluntários se ocupavam com o barco, Bill Quinn ficou com a
igualmente difícil tarefa de arrecadar dinheiro para pagar tudo. Ele entrou em
contato com um repórter do Cape Cod Times, que escreveu uma matéria sobre o
projeto de restauração, e logo os fundos tão necessários começaram a surgir. A
Chatham Historical Society também deu algum dinheiro para tocar o projeto.
Quinn e seu grupo levantaram mais de 10 mil dólares e uma quantidade
equivalente em materiais para realizar seu sonho.
Depois de seis meses, os voluntários, enfim, atingiram seu objetivo. O barco
de resgate estava restaurado por completo, repintado, e suas famosas letras
reapareciam audaciosamente perto da proa. Era hora de ver se a “velha 36” era
navegável. Uma cerimônia oficial de relançamento foi realizada no porto de
Harbor, em Orleans, local em que o barco de resgate está até hoje. O
relançamento desse famoso barco não seria completo sem a presença de seu
igualmente famoso timoneiro. Bernie Webber tirou uma folga do trabalho e, com
Miriam, foi de sua casa na Flórida até Cape Cod. Reencontrou a pequena
embarcação que havia salvado sua vida e a de tantos outros naquela noite
infernal de inverno, cinquenta anos antes.
A cg36500 continua sendo um museu vivo, dedicado aos socorristas de Cape
Cod. Ela permanece na água o ano todo, com sua lona de proteção de inverno,
no Meeting House Pond, em Orleans. Durante o verão, a lancha deixa o cais de
Rock Harbor e é levada a vários shows náuticos pela região, onde sua lenda é
recontada a uma nova geração da Nova Inglaterra. Ao leme está Pete Kennedy,
membro da Orleans Historical Society e homem dedicado a manter vivo o
espírito desse pequeno barco e da Equipe Medalha de Ouro. Quando ele próprio
o navega em ondas entre dois e três metros de altura, não pode deixar de pensar
em Webber, Andy Fitzgerald, Richard “Herd Bull” Livesey e Ervin Maske. “Eles
viram ondas sete vezes maiores”, diz, impressionado. “É incompreensível para
mim que eles pudessem ter tão excelente desempenho naquelas condições. Que
feito notável para aqueles jovens!”
epílogo
Eles já foram jovens
apêndice
Dois dias depois, Bernie Webber faleceu em sua casa, em Melbourne, Flórida.
Ele tinha 80 anos. Bernie teve a premonição de que não estaria vivo para ver sua
história contada em filme, mas sempre enfatizou: “O resgate do Pendleton não
tem a ver comigo; sempre teve a ver com a bravura de minha equipe e o milagre
daquele pequeno barco de salvamento”.
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trinta e dois salvos dos petroleiros; trinta e três mortos, imensas perdas causadas pela tempestade N. E.;
vinte mil ilhados; seis tripulantes do Fort Mercer considerados perdidos; heróis do resgate sofrem derrota
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marinheiros resgatados contam histórias; pendleton reduz velocidade antes de se partir ao meio. The Boston
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cinco mortos em tempestade selvagem. The Boston Globe, 18 fev. 1952.
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rebocadores puxam popa; tripulação do Mercer avalia liderança. The Boston Globe, 22 fev. 1952.
vazamento incomum no Fort Mercer, atesta contramestre. The Boston Globe, 26 fev. 1952.
setenta salvos, quatorze mortos depois que dois navios se partem. The Boston Herald, 20 fev. 1952.
trinta e dois salvos, cinquenta desaparecidos, dois mortos na fragmentação de dois petroleiros nas águas de
Cape Cod. The Boston Herald, 19 fev. 1952.
primeiro um rugido, depois a separação. The Boston Herald, 19 fev. 1952.
sobreviventes do Pendleton contam a angustiante experiência no mar. The Boston Herald, 20 fev. 1952.
corda de pano salva quatro. The Boston Herald, 20 fev. 1952.
metade de petroleiro desafia vendaval. The Boston Herald, 22 fev. 1952.
popa do Fort Mercer chega a salvo em Newport. The Boston Herald, 23 fev. 1952.
mil e quinhentos isolados; sem a proa, popa de uma embarcação é avistada. The Boston Herald, 18 fev.
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maine sepultada em leiro de neve; mortes pela tempestade chegam a 31. The Boston Herald, 21 fev. 1952.
petroleiro partido captado primeiro pelo radar. The Boston Herald, 26 fev. 1952.
treze se recusam a deixar petroleiro — 58 salvos. The Boston Post, 20 fev. 1952.
rebocador de salvamento vai resgatar navio partido; almirante elogia quatro em épico bote de salvamento.
Boston Traveler, 20 fev. 1952.
quarenta pessoas nas partes do petroleiro. Boston Traveler, 19 fev. 1952.
somos dezoito homens no petroleiro. Boston Traveler, 20 fev. 1952.
tempestade arremessa cofre de pesqueiro de arrasto. Cape Cod Standard Times, 20 fev. 1952.
quatro guardas costeiros resgatam 32. Cape Cod Standard Times, 19 fev. 1952.
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[a] Existe uma versão desse hino para o português, feita por Manoel da Silveira Porto Filho, em 1947:
Rocha eterna, meu Jesus, Quero em ti me refugiar! O teu sangue, lá na cruz Derramado em meu lugar, Traz
as bênçãos do perdão: Gozo, paz e salvação. / Não por obras nem penar Plena paz terei aqui. Só tu podes
consolar, Há perdão somente em ti. Rocha eterna, só na cruz Eu confio, ó meu Jesus! Que não se pode
exprimir por palavras, indizível. // Quando o derradeiro olhar A este mundo aqui volver E no Trono eu te
encontrar, Teu chamado a responder; Rocha eterna, espero ali / Abrigar-me, salvo, em ti! (N. T.) [b]
Equipamento antigo de resgate marítimo criado pelo capitão George William Manby, na primeira década de
1800; consistia de uma corda, que tinha uma extremidade fixada na costa e outra na embarcação em perigo
para, com o auxílio de uma boia circular acoplada, transportar as pessoas do navio à praia pela água. (N. T.)
A teoria de tudo Hawking, Jane
9788567028507
448 páginas
Quando Jane conhece Stephen, percebe que está entrando para uma família que é
pelo menos diferente. Com grande sede de conhecimento, os Hawking possuíam
o hábito de levar material de leitura para o jantar, ir a óperas e concertos e
estimular o brilhantismo em seus filhos – entre eles aquele que seria conhecido
como um dos maiores gênios da humanidade, Stephen.
Como evitar que um casal feliz destrua aos poucos o amor que os une.
Como desenvolver as qualidades para amar.
Quais as atitudes que ajudam a viver um grande amor.
Como trilhar o caminho da felicidade do casal.
Como fazer a cumplicidade crescer com o passar dos anos.
Acredite: amar pode dar certo. Faça o amor dar certo para vocês.
Em O Sucesso é ser Feliz o leitor descobrirá que existem muitos tesouros para
explorar e encontrará ânimo para fazer mudanças que o levem a uma vida mais
poderosa.
9788573128802
184 páginas
Em uma época na qual é tão comum se sentir perdido, vemos que a infelicidade
e o desânimo se tornaram as coisas mais democráticas do mundo: quase ninguém
escapa deles. Tanto para os jovens quanto para os mais experientes, é comum
sentir que a empolgação muitas vezes se perde nos cantos do cotidiano e da
rotina. Tem gente que não acredita mais em amor, desejo, prazer de viver a vida
Chega um momento em que descobrimos que o prazer de viver não é algo que se
compra nem se encontra no fundo de uma sacola de roupas ou naquele pedaço de
bolo de chocolate. Falta... paixão.
Em seu novo livro, Roberto Shinyashiki não promete nada, só toda a felicidade
do mundo.
De alguma forma nossa loucura e nossa paixão podem ter se perdido, mas uma
vida prazerosa e cheia de energia é um desejo da alma que ninguém deveria
ignorar por muito tempo.
Aqui você é convidado a realizar o impossível: aquele projeto que sempre viveu
guardado no coração, o emprego que vale a pena e valoriza os seus talentos, o
relacionamento de fazer andar nas nuvens. Entenda como tudo isso está só
esperando pelo seu primeiro passo e deixe o autor mostrar como dar esse salto.
Descubra que você tem tudo para ser louco por viver.
A vida não é uma, a vida é muitas. E a sua está prestes a se reinventar.