A Grande Guerra

(1914-1918) e seus desdobramentos:

Prof. Tiago Ávila

 O Contexto Cultural que antecede a
Guerra, “Belle Époque” (1870-1914)

Bela Época:
Choque entre o otimismo e a aparente tranquilidade do
continente com a experiência traumática da Grande
Guerra.
 Bela Época:
• Considerada uma época de valorização da beleza, da paz e de intensos
progressos econômicos e materiais.
• O Imperialismo reforçava a convicção eurocêntrica da superioridade
moral, técnica e cultural da Europa.
• Telégrafo sem fio, telefone, bicicleta, cinema, automóvel e avião (etc...)
foram inventados e/ou aperfeiçoados neste período.
• A guerra ainda era vista de maneira romântica e honrosa, a população
europeia não dimensionava como o progresso tecnológico afetaria o
combate...
• Idealização da ciência e da ideia de “progresso”.
• Artes: Manifesto Futurista – 1909.
 Futurismo:
Manifesto Futurista
(Marinetti):
“9. Nós queremos glorificar
a guerra - única higiene do
mundo - o militarismo, o
patriotismo, o gesto
destruidor dos libertários,
as belas ideias pelas quais
se morre e o desprezo pela
Giacomo Balla. Velocita di motocicletta. 1913.
mulher.”
Ideias deste contexto cultural (Belle Époque) que
estimularam a Guerra:

• Guerras como “motor” do desenvolvimento científico.

• Guerras como processo de “seleção natural” das sociedades e
indivíduos (Darwinismo Social).
• Concepção romântica/cavalheiresca dos conflitos militares.
• Clima nacionalista intenso.
• Expectativa de um conflito de curta duração.
 Causas da Guerra:
. Imperialismo:
. Disputas por mercados, rotas
comerciais, matérias primas.
. Estados defendendo os interesses dos
grandes monopólios (Capitalismo
Financeiro-Industrial, ou Monopolista).
. Revanchismo Francês.
. Derrota francesa na Guerra Franco-
Prussiana (1870).
. Sistema de Alianças:
. Entente (aliados): FRA, ING, RUS.
. Potências Centrais (Aliança): ALE, IA-H,
ITA.
. Corrida armamentista (Paz Armada).
. Crise Balcânica:
. Nacionalismo eslavo, pan-eslavismo.
. Proposta de criação da “Grande
Sérvia” (nação eslava).
. Oposição entre o Império Austro-
Húngaro e o Império Russo (apoio ao
pan-eslavismo).
. Desagregação do Império Turco-
Otomano.
. Aumento dos interesses imperialistas
no Oriente Médio.
. Diversos movimentos separatistas
nacionalistas.
. Nacionalismos.
• 1882 – Tríplice Aliança (Potências Centrais).
• 1893/1904/1907 – Tríplice Entente.
O estopim do conflito:
• 28/06/1914: Assassinato do Arquiduque
Francisco Ferdinando e sua esposa, Sofia,
iniciando a crise de julho.
• 28/07/1914: Declaração de guerra austríaca
à Sérvia.
• Até 04 de agosto o sistema de alianças está
mobilizado (29/07: Rus; 30/07: Ale; 02/08:
Fra; 04/08: Ing.).

(Gravura do “Le Paris Journal”)

1ª Fase da Guerra – Guerra de Movimento.

• 1914
• Plano Schlieffen.
2ª Fase da Guerra – Guerra de Trincheiras
Guerra de trincheiras:
• Imobilidade; é uma guerra “estática” ou de “atrito” (ausência de ganhos
territoriais significativos).
• Vantagem defensiva.
• Arame farpado.
• Armas de repetição (metralhadora).
• Elevadíssimo(!) número de baixas (mortos, feridos e desaparecidos):
• Condições de higiene (doenças).
• Artilharia.
• Guerra impessoal e mecanizada (não se vê o inimigo na maior parte do
tempo).
• O combate dentro das trincheiras pode ser corpo a corpo (baionetas).
• Aumento da duração do conflito (fase mais traumática da Guerra).
 Conceito: Guerra Total.
Interferência do Estado sobre a A destruição afeta a população civil
produção. (planejamento e diretamente. (ela pode ser um alvo direto,
controle centralizado). não apenas colateral).

Recrutamento em larga escala.

Guerra industrial
Militarização da sociedade Mecanização, despersonalização,
(nacionalismo). Interferência na vida produção em massa, especialização de
privada do cidadão: tarefas, aplicação de tecnologia no campo
. Proibição de greves, aumento de de batalha, ou seja: gestão industrial
jornadas de trabalho, toque de aplicada à guerra.
recolher, censura... . Poder industrial = poder militar.

Prof. Tiago Ávila.

Fort Douaumont - Verdun
“Pé de trincheira”
Aproximadamente 8
milhões de cavalos
mortos.
Tyne Cot, Bélgica. Batalha de Ypres.
Douaumont
Ossuary. Verdun.
 Principais batalhas:
• Front ocidental.
• Marne (1914).
• Ypres (1915, utilização de armas químicas).
• Somme (1916, utilização de tanques pela Inglaterra).
• Verdun (1916, pior batalha em termos de mortos).
• Vittorio Veneto (1918).
• Jutlândia (1916, maior batalha naval da Guerra).
• Guerra submarina irrestrita (ALE, 1917).
• Frente (ou Front) Oriental.
• Tannemberg (1914)
 As alianças durante a Guerra
Entente: Potências Centrais:
• França, Inglaterra. • Alemanha.
• Rússia (até 1917 – Revoluções Russas)
• Imp. Austro-Húngaro.
• 1918: Brest-Litovsk.
• Itália (1915). • Imp. Turco-Otomano (1914).
• Tratado de Londres (secreto, negociou territórios do Imp. • Genocídio Armênio (1915).
Austro-Húngaro). • Bulgária (1915).
• EUA (06/04/1917).
• 1915 – afundamento do Lusitânia.
• 1917 – Telegrama Zimmermann (México).
• Relações econômicas com a Entente.
• Brasil (26/10/1917)
• Pressão americana (Pan-americanismo, questões
comerciais).
• Opinião pública pró-entente (Afundamento de navios).
• Governo Wenceslau Braz. Participação militar limitada.
• Inserção geopolítica (negociações de paz, Rui Barbosa e
Epitácio Pessoa, eleito presidente). Prof. Tiago Ávila.
 O Fim da Guerra (3ª Fase*)
• Final de 1917 e 1918.
• Ofensiva alemã (Ofensiva da primavera,
março de 1918, chegando a bombardear
Paris).
• Chegada em massa das tropas americanas.
• Ofensiva dos cem dias (Entente, agosto a
novembro, desgaste final da Alemanha).
• 1918, 9 de novembro: proclamação da
República na Alemanha (Rep. de Weimar). . 29/09/1918: Armistício de Salônica (Bulgária).
• 1918, 11 de novembro: armistício de . 30/10/1918: Armistício de Mudros (Imp. Turco-
Compiègne (fronteiras alemãs não violadas, Otomano).
lenda da “punhalada pelas costas”). . Outubro de 1918: declarações de
independência no Imp. Austro-Húngaro.
3/11/1918, Armistício de Villa Giusti.
Repertório:
• Trecho do filme “Cavalo de Guerra” (Batalha do Somme).
• https://www.youtube.com/watch?v=PZGSfFFuujw
• Nerdologia – Trincheiras.
• https://www.youtube.com/watch?v=Vl3mdST0blw
• Próteses faciais da 1ª Guerra e os primórdios da cirurgia plástica:
• https://www.youtube.com/watch?v=BJzjt_aFc00
• Mortalidade e avanços médicos durante a Grande Guerra:
• https://www.youtube.com/watch?v=YfxRhLsAAk8
Pós Guerra:
Conferência de Paz de Paris (1919):
• As propostas em negociação:

Paz SEM vencedores (Woodrow Wilson, EUA).

X
Paz DOS vencedores (FRA, ING).
 Ideias fundamentais: 14 Pontos de Wilson.
• Defesa do modelo democrático e liberal.
• Autodeterminação dos povos.
• Liga das Nações (item 14, o único a ser efetivado, mesmo
assim com restrições):
• A URSS é impedida de participar.
• A Alemanha (República de Weimar) é impedida de
participar.
• O Congresso americano veta a participação dos EUA.
• Dos itens 6 ao 13 – reparações específicas por países.

• Pacifismo, ausência de revanchismos, paz estável (paz

perpétua).
• PAZ SEM VENCEDORES.
A paz DOS vencedores – O Tratado de Versalhes (1919)
Negociado na Conferência de Paz de Paris.
• Devolução da Alsácia-Lorena à França.
• Cláusula de culpa da Alemanha.
• Desmilitarização da Renânia (zona tampão com a França).
• Concessão de um porto à Polônia (divide o território alemão, Corredor Polonês).
• Divisão das colônias alemãs entre os vencedores.
• Redução das forças armadas alemãs (proibição de belonaves de grande
tonelagem e aeronáutica militar).
• Pagamento de indenização aos vencedores.
• Criação de países no leste europeu (estados tampão – Cordão Sanitário,
isolamento geopolítico da URSS).
• Criação da Sociedade (ou Liga) das Nações (14 Pontos).
 Efeitos:

• Revanchismo alemão.
• Instabilidade geopolítica e
econômica do continente.
• A Segunda Guerra é uma espécie
de continuidade da Primeira.
 “Corredor Polonês”

Devolução da República “Cordão sanitário”

Alsácia-Lorena. de Weimar

Renânia Fim do Império

desmilitarizada. Turco-Otomano.

Fim do Império
Austro-húngaro. Iugoslávia “multinacional”
Outros tratados e acordos: demais perdedores.
• 1919 – Saint-Germain.
• Fim do Império Austro-Húngaro (forçando a Áustria a reconhecer as independências da
Polônia, Tchecoslováquia, Hungria e Iugoslávia).
• 1919 – Neuilly.
• Bulgária, país derrotado (redução do território, perdendo terras para a Iugoslávia e Grécia,
principalmente).
• 1920 – Sevres.
• Fim do Império Turco-Otomano, retirando da Turquia todas as demais áreas.
• Os estreitos de Bósforo e Dardanelos são abertos à navegação internacional.
• Previa a criação de um estado curdo e da Armênia (pontos formalmente rejeitados pela
Turquia no Tratado de Lousanne - 1923, Guerra de Independência Turca – 1919-1922,
Mustafa Kemal, revolução nacionalista, proclamação da república secular da Turquia).
• 1920 – Trianon.
• Delimitação do território húngaro (potência derrotada, ex-integrante do Império Austro-
Húngaro).
 Outros tratados e acordos: Oriente Médio.
• 1916 – Sykes-Picot.
• Acordo secreto entre ING e FRA pela divisão do oriente médio, considerando o colapso do
Império Turco-Otomano após a Grande Guerra. O acordo posteriormente envolve Itália e
Rússia (retirada após a Revolução).
• A Palestina seria colocada sob administração internacional.
• Os termos gerais são validados na Conferência de San Remo (1920) e pela Liga das Nações
(1922).
• O acordo “azeda” as relações do ocidente com os povos árabes.
• 1917 – Declaração de Balfour.
• Arthur Balfour (Ministro do Exterior da Inglaterra), assina uma carta na qual defende “o
estabelecimento de um lar nacional para o povo judeu na Palestina”.
• Tentativa de obter apoio da comunidade judaica para a Guerra (muito influente na política
estadunidense), é um marco para o Sionismo (o Estado de Israel será criado após a
Segunda Guerra – Resolução 181 da ONU em 1947).
• Para os palestinos foi a “grande traição” (eles haviam recebido apoio na luta para
tornarem-se independentes do Império Turco-Otomano em troca de apoio à Entente na
Primeira Guerra). Prof. Tiago Ávila.
Oriente médio:
 Alterações geopolíticas do pós Guerra:

• Recuo do eurocentrismo.
• Consolidação dos EUA como potência global.
• Início do “boom” econômico que conduz à Crise de 1929.
• Fim da Belle Époque e do período do Imperialismo (mas os
processos de descolonização só ganham força após a 2ª Guerra).
• Continuidade dos nacionalismos.
 Período Entreguerras (1918-1939):
• Pandemia de Gripe Espanhola (1918/1919).
• Crise do liberalismo (dos valores liberais e da economia liberal).
• Crise de 1929.
• Crise das democracias (dos valores democráticos).
• Polarização política.
• Fortalecimento da extrema-esquerda (anarquistas e
comunistas, principalmente) e da extrema-direita (fascismos
e nazismo).
• Isolacionismo dos EUA.
• Isolacionismo soviético.
 Mudanças culturais:
• Modernidade líquida (conceito de Zygmunt Bauman).
• Modernidade sólida (até a 1ª Guerra), momento das grandes “certezas” do
mundo ocidental: progresso, racismo científico, papeis de gênero e sociais,
sistemas políticos oriundos do pensamento iluminista, racionalismo...
• Relatividade (Einstein).
• S. Freud (subconsciente).
• Transtorno pós-traumático.
• Vanguardas artísticas (Dadaísmo).
• Questão da mulher.
Guerra e Cirurgia Plástica:
 A Guerra e as Mulheres:
• Interpretação tradicional: Entrada da mulher no mercado de trabalho.

• A participação feminina no mercado de trabalho já era relevante.

• Na França – mão de obra feminina no mercado de trabalho cresce de 32% para 40%
• Inglaterra – de 24% para 38%.
• O movimento sufragista estava radicalizado e avançado em vários países. Quando
eclode o conflito as associações feministas adotam uma postura nacionalista –
deixar as reivindicações de lado em prol do esforço nacional pela Guerra, “servir a
pátria”.
• Expectativa de reconhecimento social: provar a utilidade da mulher a pátria para
receber direitos igualitários após o conflito.
• Realidade: Reforço dos papéis tradicionais de gênero, principalmente nos anos
posteriores ao conflito.
• Mãe e dona de casa (gerar filhos para a nação, recuperação demográfica).
• Os homens retornam do conflito e reocupam os postos de trabalho. Prof. Tiago Ávila.
O Impacto nas Artes:
 Otto Dix. (1920)

Shoulder Arms - 1918.

O personagem vence a guerra
sozinho e é “acordado do sonho” por
um outro soldado nas trincheiras.
 Vanguardas – Dadaísmo (Dada).
“A criação do Cabaré Voltaire, 1916, em Zurique, inaugura oficialmente o
dadaísmo. Fundado pelos escritores alemães H. Ball e R. Ruelsenbeck, e pelo
pintor e escultor alsaciano Hans Arp, o clube literário - ao mesmo tempo galeria
de exposições e sala de teatro - promove encontros dedicados a música, dança,
poesia, artes russa e francesa. O termo dada é encontrado por acaso numa
consulta a um dicionário francês. "Cavalo de brinquedo", sentido original da
palavra, não guarda relação direta, nem necessária, com bandeiras ou programas,
daí o seu valor: sinaliza uma escolha aleatória (princípio central da criação para
os dadaístas), contrariando qualquer sentido de eleição racional. ‘O termo nada
significa’, afirma o poeta romeno Tristan Tzara, integrante do núcleo primeiro.”
• Ready-made – Duchamp.
• Roda de Bicicleta – 1913.
• Mictório (Fonte) – 1917.
• L.H.O.O.Q. – 1919.
Man Ray.
“Toda a reflexão dadaísta gira ao redor da guerra. Não se perdoa
uma civilização que prometia tanta luz, tanto progresso e termina
numa hecatombe angustiante, infindável. Ora, uma civilização que
gera tal monstro não merece sobreviver e investe-se violentamente
contra ela e contra todos seus falsos valores. E neste sentido, o
dadaísmo se constitui num movimento de contra-cultura. Neste
processo de acusação, a arte não escapa, considerada conivente e
cúmplice com os desvarios da civilização burguesa, filistéia. E como
culpada, merece castigo. E ao maltratar e ridicularizar a arte, depara-
se com novos caminhos, novas soluções. Ao mesmo tempo que se
repudia a arte, esta se torna a razão de viver do grupo.”

Prof. Tiago Ávila.