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Capı́tulo 4.

Determinantes

4.6.2 Fatoração LU

A fatoração LU de uma matriz A ∈ Mm×n consiste em escrevê-la como


produto de uma matriz triangular inferior L ∈ Mm×m por uma matriz na
forma escalonada U ∈ Mm×n . Para os casos em que A é quadrada, a forma
escalonada U é triangular superior. O termo LU vem do inglês: L de lower
(inferior) e U de upper (superior).

Observação 4.4. De forma sucinta, ao considerar A = LU o sistema


Ax = b, correspondente a LU x = b, pode ser resolvido de forma simples
com os seguintes passos:

(i) Encontre uma solução s para o sistema Ly = b.

(ii) Encontre uma solução s0 para o sistema U x = s.

A solução s0 também é solução de Ax = b. De fato, se s0 é solução de


U x = s, então U s0 = s ⇔ LU s0 = Ls. Mas s é solução de Ly = b, isto é,
Ls = b. Assim, LU s0 = b ⇔ As0 = b, isto é, s0 é solução de Ax = b. Como
L e U são matrizes triangulares, encontrar soluções para Ly = b e U x = s
é bastante simples.

A motivação de fatorações como a LU , segundo [5], vem de problemas


comuns na indústria e na administração que envolvem uma sequência de
equações com matrizes de coeficientes comuns, tais como

Ax = b1 , Ax = b2 , . . . , Ax = bn .

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Dependendo da ordem da matriz A e da quantidade de sistemas, se torna


mais viável computacionalmente decompor a matriz A em LU , sempre que
for possı́vel, e resolver cada um dos sistemas com os passos da Observação
4.4.
   
1 0 3 1 0 0
   
Exemplo 4.18. Sejam A =  2 −1 1  , L =  2 1 0  , U =
   
   
−1 2 1 −1 −2 1
 
1 0 3
  h iT
 0 −1 −5  e b = 1 2 −1 . Resolva o sistema Ax = b de acordo
 
 
0 0 −6
com a Observação 4.4.

Solução: Note que A = LU . Assim:


     
1 0 0 1 0 3 x1 1
     
Ax = b ⇔  2 1 0   0 −1 −5   x2  =  2 
     
     
−1 −2 1 0 0 −6 x3 −1
| {z }| {z }| {z } | {z }
L U x b

h iT
A solução de Ly = b é s = 1 0 0 , logo a solução de U x = s é
h iT h iT
0 0
s = 1 0 0 . Assim, a solução do sistema Ax = b é s = 1 0 0 .

Proposição 4.9. Se E ∈ Mn×n é uma matriz triangular inferior inversı́vel,


então E −1 é triangular inferior.

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Demonstração: Como E é uma matriz triangular, pelo Teorema 4.7,


temos que det(E) é o produto dos termos de sua diagonal principal. Sendo
E inversı́vel, temos além disso, que det(E) 6= 0, logo esses termos são
todos não nulos. Para mostrarmos que a inversa de E é triangular inferior,
considere E −1 = B. Devemos mostrar que bij = 0, para i < j.

Fixando i = 1, como EB = In , se j > 1 temos (eb)1j = 0. Assim:


n
X
0 = (eb)1j = e1k bkj
k=1
⇒ e11 b1j + e12 b2j + . . . + e1n bnj = 0

⇒ e11 b1j = 0, pois eij = 0 para i < j

⇒ b1j = 0, pois e11 6= 0.

Logo, b1j = 0, para j ∈ {2, 3, . . . n}.

Agora, fixando i = 2 e considerando j > 2, temos:


n
X
0 = (eb)2j = e2k bkj
k=1
⇒ e21 b1j + e22 b2j + . . . + e2n bnj = 0

⇒ e22 b2j = 0, pois eij = 0 para i < j e já vimos que bij = 0

⇒ b2j = 0, pois e22 6= 0.

Logo, b2j = 0, para j ∈ {3, 4, . . . n}.

Continuando esse processo, concluı́mos que B é triangular inferior.

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Para obter a fatoração LU de A ∈ Mm×n , suponha que A é tal que a


eliminação de Gauss, aplicada para transformar A na forma escalonada U
não usa permutações de linhas.

Como A ∼ U , pelo Corolário 4.1, existem matrizes elementares

E1 , E2 , . . . , Ek

correspondendo a cada operação elementar utilizada, com as quais podemos


escrever
Ek . . . E2 E1 A = U.

Já que no processo de escalonamento (usando a eliminação de Gauss)


não houve permutações de linhas, então apenas operações do tipo Li →
Li + αLj , com i > j, foram feitas, logo, como visto na Observação 4.1, as
matrizes elementares correspondentes a essas operações são todas triangu-
lares inferiores.

Dessa forma, pela Proposição 4.9, as inversas E1−1 , E2−1 , . . . , Ek−1 também
são triangulares inferiores. Assim,

Ek . . . E2 E1 A = U ⇔ A = E1−1 E2−1 . . . Ek−1 U.

Defina L = E1−1 E2−1 . . . Ek−1 . Como E1−1 , E2−1 , . . . , Ek−1 são triangulares
inferiores, pela Proposição 1.4, L = E1−1 E2−1 . . . Ek−1 também é triangular
inferior. Logo, A é produto da matriz triangular inferior L pela forma
escalonada U , isto é
A = LU.

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Para encontrar as matrizes L e U (caso existam) para uma dada matriz


A, basta lembrar que se E é a matriz elementar obtida de I por uma
operação e, elementar, então E −1 é a matriz elementar obtida de I pela
operação reversa de e. Dessa forma, como L = E1−1 . . . Ek−1 = E1−1 . . . Ek−1 I,
então basta fazer em I as reversas das operações feitas em A para chegar
em U , e em ordem trocada. Isso ficará mais claro com exemplos.
 
1 2 1
 
Exemplo 4.19. Seja A =  2 2 1  . Encontre uma fatoração LU
 
 
1 3 −1
h iT
para A e a utilize para resolver o sistema Ax = b, com b = −1 1 1 .

Solução: Aplicando a eliminação de Gauss na matriz A, temos:


   
1 2 1 1 2 1
   
A =  2 2 1  L2 → L2 − 2L1  0 −2 −1 
   
   
L3 → L3 − L1
1 3 −1 1 3 −1
   
1 2 1 1 2 1
   
 0 −2 −1   0 −2 −1  = U.
   
   
L3 → L3 + 12 L2
0 1 −2 0 0 − 25

Note que nenhuma permutação de linhas foi feita, logo A possui fa-
toração LU .

A operação reversa de L2 → L2 −2L1 é L2 → L2 +2L1 , a de L3 → L3 −L1


é L3 → L3 + L1 e a de L3 → L3 + 21 L2 é L3 → L3 − 21 L2 . Assim:

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   
1 0 0 1 0 0
   
   
0 1 0 0 1 0
   
L3 → L3 − 21 L2 1 L3 → L3 + L1
0 0 1 0 −2 1
   
1 0 0 1 0 0
   
1 0  L2 → L2 + 2L1  2 1 0  = L
   
0
   
1 1
1 −2 1 1 −2 1

Assim,
     
1 0 0 1 2 1 x −1
   1   
Ax = b ⇔ LU x = b ⇔  2 1 0   0 −2 −1   x2  =  1 .
     
     
1
1 −2 1 0 0 − 52 x3 1
| {z }| {z } | {z }
L y b

h iT
A solução de Ly = b é s = −1 3 27 . Usando o vetor s, a solução
h iT
0 4 7
de U x = s é s = 2 − 5 − 5 . Logo, a solução do sistema Ax = b é
h iT
0 4 7
s = 2 −5 −5 .

Observação 4.5. Se para escalonarmos A, o método de eliminação de


Gauss necessita de permutação de linhas, é necessário fazer uma pequena
adaptação para fatorar A. Trata-se de multiplicar A por uma matriz in-
versı́vel P −1 que permuta as linhas de A, de modo que a eliminação de
Gauss em P −1 A não utilize permutação de linhas. Dessa forma, P −1 A

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possui uma fatoração LU com a qual temos:

P −1 A = LU ⇔ A = P LU

e diremos que A possui uma fatoração P LU .

Exercı́cios de Fixação

 
3 −7 −2 | −7
 
1. Seja [A b] =  −3 5 1 | 5 . Encontre uma fatoração LU
 
 
6 −4 0 | 2
para A e a utilize para resolver o sistema Ax = b.
 
4 3 −5 | 2
 
2. Seja [A b] =  −4 −5 7 | −4 . Encontre uma fatoração LU
 
 
8 6 −8 | 6
para A e a utilize para resolver o sistema Ax = b.

4.6.3 Determinante de Matrizes em Blocos

Aqui vamos ver um resultado sobre matrizes dadas por blocos que pode
ser bastante útil no cálculo de determinantes, principalmente quando feito
de próprio punho, mas que também é usado em teoremas avançados de
Álgebra Linear como o teorema da fatoração de Schur ou no teorema es-
pectral.

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