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EMC 6004 – MÉTODOS MATEMÁTICOS EM ENGENHARIA E CIÊNCIAS TÉRMICAS Profa. Marcia B. H.

Mantelli – EMC - UFSC

6. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS DE SEGUNDA ORDEM

Nesta seção trata-se de EDO de 2ª. ordem lineares na forma:

y ′′(x ) + p(x ) y ′(x ) + q(x ) y (x ) = r (x ) . (6.1)

Por facilidade de escrita, quando conveniente, a notação (x ) será omitida, não


representando que a função seja constante. Como já visto anteriormente, a EDO acima é
homogênea quando r (x ) = 0 e não homogênea do contrário r (x ) ≠ 0 . p(x ) e q(x ) são
conhecidos como coeficientes da equação.

Entende-se por solução da EDO em um intervalo aberto a < x < b uma função
y = h(x ) , que possui derivadas y ′ = h′(x ) e y ′′ = h′′(x ) e satisfaz a EDO para todo o x
neste intervalo, ou seja a EDO se torna em uma identidade com a substituição de y por
h(x).

6.1. EQUAÇÕES HOMOGÊNEAS

Princípio da superposição ou linearidade: A EDO y ′′ − y = 0 possui as


soluções: y = e x e y = e − x , como se pode facilmente verificar. Se estas soluções
forem multiplicadas por constantes quaisquer (-3 e 8, por exemplo), pode-se verificar
que a função resultante da soma y = −3e x + 8e − x , também é uma solução da equação.
Ou seja, para uma EDO linear homogênea, qualquer combinação linear de duas
soluções em um intervalo aberto I é também uma solução”.
Obs.: a afirmação acima não vale para EDOs não homogêneas ou não lineares.

Problema do valor inicial – Solução Geral- Base de soluções: Foi mostrado


anteriormente que a solução geral de uma EDO de 1ª ordem envolve uma constante
arbitrária C, que é determinada a partir de uma condição pré-estabelecida, a condição
inicial. Esta idéia pode ser estendida para uma EDO de 2ª ordem. Assim, para a EDO de
2ª. Ordem (Eq. 6.1), uma solução geral será:

y (x ) = C1 y1 (x ) + C 2 y 2 (x ) , (6.2)

que é uma combinação linear de duas soluções envolvendo duas constantes arbitrárias
C1 e C2. Um problema do valor inicial consiste na EDO acima e duas condições iniciais,
tais como:

y (x0 ) = k 0 e y ′(x0 ) = k1

Obs.: lembre-se que por condições iniciais se entende condições apresentadas


em um mesmo ponto, x0 no caso, mesmo que estas condições não sejam impostas no
limite inferior do intervalo.

Exemplo 6.1: Resolver o problema do valor inicial:

y ′′ − y = 0, y (0) = 1, y ′(0) = 2 .

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Solução: Pode-se mostrar que a EDO tem as soluções: y (x ) = e x e y (x ) = e − x ,


de forma que a seguinte função, que é uma combinação das soluções, é também
solução:

y (x ) = C1e x + C 2 e − x .

Para se determinar as constantes, basta que as condições iniciais sejam


aplicadas:

y ′(x ) = C1e x − C 2 e − x , y ′(0 ) = 2 = C1 − C 2 e y (0 ) = 1 = C1 + C 2 ⇒ C1 = 3 e C2 = − 1


2 2

Assim, a solução é: y ′(x ) = e x − e − x .


3 1
2 2

DEFINIÇÕES: Estas definições se aplicaram a EDO lineares homogêneas de 2ª ordem.

Solução geral: y (x ) = C1 y1 (x ) + C 2 y 2 (x ) , onde y1 (x ) e y 2 (x ) são soluções não


proporcionais.

Base de soluções (ou sistema fundamental): duas soluções y1 (x ) e y 2 (x ) não


proporcionais de uma EDO formam uma base de soluções ou sistema fundamental de
soluções.

Solução particular: Quando valores específicos são atribuídos às constantes C1


e C2, a partir de condições impostas pelo problema.

Independência linear: Duas funções y1 (x ) e y 2 (x ) são linearmente


independentes (LI) em um intervalo aberto I, se:

k1 y1 (x ) + k 2 y 2 (x ) = 0 , implica em k1 = k 2 = 0 .

Dependência linear: Duas funções y1 (x ) e y 2 (x ) são linearmente dependentes


em um intervalo aberto I se esta equação satisfizer a equação anterior, para ambos os
valores de k1 e k 2 não iguais a zero.

Desta forma, pode-se afirmar que: “Uma base de soluções de equações do tipo
y ′′(x ) + p(x ) y ′(x ) + q(x ) y (x ) = 0 , em um intervalo aberto I é um par de soluções
linearmente independentes y1 (x ) e y 2 (x ) ”.

Exemplo 6.2. Encontrar a solução geral de y ′′ + y = 0 .

Solução: As soluções: y1 (x ) = cos(x ) e y1 (x ) = sen(x ) são LI, pois:

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y1 (x ) cos(x )
= = cot (x ) ≠ constante . Assim y1 (x ) e y 2 (x ) formam uma base de
y 2 (x ) sen (x )
soluções para todo o x e uma solução geral para a EDO é:

y (x ) = C1 cos(x ) + C 2 sen (x ) .

6.1.1. Equações Homogêneas com Coeficientes Constantes

Nesta seção, o seguinte problema será tratado:

y ′′ + ay ′ + by = 0 , (6.3)

onde a e b são constantes.

A solução do problema análogo de 1ª ordem y ′ + ky = 0 , obtida por separação de


variáveis, é y = e − kx , onde k é uma constante. Para o problema de 2ª ordem (Eq. 6.3)
pode-se “tentar” a solução:

y = e λx (6.4)

De fato, y ′ = λe λx e y ′′ = λ2 e λx . Substituindo na Eq. 6.3, obtém-se:

λ2 e λx + aλe λx + be λx = 0 , que dividido por e λx , resulta na equação algébrica de


2º grau em λ :

λ 2 + aλ + b = 0 , (6.5)

conhecida como Equação Característica da EDO, cuja raízes são:

λ1 =
1
2
( )
1
(
− a + a 2 − 4b e λ2 = − a − a 2 − 4b .
2
)
Assim, y1 = e λ1x e y 2 = e λ2 x são soluções da EDO dada pela Eq. 6.3.

Dependendo dos valores de a 2 − 4b , tem-se:

1. a 2 − 4b > 0 , λ1 e λ2 são duas raízes reais distintas,


2. a 2 − 4b = 0 , λ1 = λ2 , tem-se uma raiz real dupla,
3. a 2 − 4b < 0 , λ1 e λ2 são raízes complexas conjugadas.

Caso 1. Duas Raízes Reais Distintas: y1 = e λ1x e y 2 = e λ2 x formam uma base da


y 2 (x )
λ2
x
EDO 6.3, em qualquer intervalo, pois = e λ1 não é uma constante, sendo a
y1 (x )
soluçãogeral dada por: y (x ) = C1e λ1 x + C 2 e λ2 x .

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Exemplo 6.3. A distribuição de temperatura em uma aleta de secção transversal


constante de área A, de condutividade k e perímetro P, trocando calor com o ambiente
por convecção com um coeficiente de transferência de calor h, é a dada pela solução da
EDO:

d 2θ hP
2
− m 2θ = 0 , onde θ = T − Tambiente e m = .
dx kA

Encontre a solução geral deste problema.

Solução: A Equação característica do problema é λ2 − m 2 = 0 , cujas raízes reais


e distintas são: λ1 = m e λ2 = −m . Assim, a solução geral deste problema é:

θ (x ) = C1e mx + C 2 e − mx .

a
Caso 2. Uma raiz real dupla: Se a 2 − 4b = 0 , λ1 = λ2 = − . Tem-se então apenas
2
1
− ax
uma solução: y1 = e 2
. Para encontrar uma segunda solução que forme uma base,
1
− ax
tenta-se a solução: y 2 = u (x ) y1 = u (x )e 2
. Em outras palavras, busca-se uma função
u (x ) arbitrária, tal que y1 e y2 formem uma base de soluções da EDO. Assim, se y2 é
solução, esta função satisfaz a EDO. Derivando uma e duas vezes em relação à x:

y ′2 = u y1′ + u ′ y1 e y ′2′ = u y1′′ + u ′y1′ + u ′′y1 + u ′y1′ .

Substituindo na EDO e agrupando, tem-se:

 
u ′′y1 + u ′(2 y1′ + ay1 ) + u  y1′′ + ay1′ + by1 =0
 14 4244 3 
 zero, pois y1 é solução da EDO 

1 1
1 − x − x
Note-se que: 2 y1′ + ay1 = 2 ⋅ − ae 2 + ae 2 = 0 . Assim:
2

u ′′ = 0, u = C1 x + C 2 . Como u é arbitrária, toma-se como valores para as


1
− ax
constantes C1 = 1 e C 2 = 0 . Assim u = x e y 2 = xe . Como y1 e y 2 não são 2

proporcionais, estas funções formam uma base de solução da EDO. Então a solução
geral da EDO é:

1 1 1
− ax − ax − ax
y = C1e 2
+ xC 2 e 2
= (C1 + xC 2 )e 2
(6.6)

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Exemplo 6.4. Encontrar a solução do problema do valor inicial:

y ′′ + 6 y ′ + 9 y = 0, y (0) = −4, y ′(0) = 14

Solução: a equação característica é:

λ2 + 6γ + 9 = 0 , cuja raiz real dupla é λ = −3 . Assim a solução geral do


problema é:

y = (C1 + xC 2 )e −3 x ,

onde as constantes são determinadas a partir das condições iniciais, resultando na


solução particular:

y = (2 x − 4 )e −3 x .

Caso 3. Duas raízes complexas conjugadas: Se a 2 − 4b < 0 , pode-se escrever:

a 2 − 4b = (− 1)(4b − a 2 ) = 2i b−
a2
,
1
424 4
3
w

e as raízes complexas conjugadas podem ser escritas na forma:

 1 1 1
 λ 1 = − 2 a + 2 2 iw = − 2 a + iw

.
 λ = − 1 a − iw
 2 2

De acordo com a definição de função exponencial complexa, a seguinte


igualdade é válida para um número complexo qualquer (z = s + it ) :

e z = e s +it = e s (cos t + i sen t ) .

Para s = 0 , tem-se a fórmula de Euler: e it = cos t + i sen t .

1
Fazendo-se z = λ1 x ⇒ s + it = − ax + iwx , então:
2

1 1
− ax + iwx − ax
e λ1x = e 2
=e 2
(cos wx + i sen w x ) . (6.7)

Como sen (− α ) = −sen (α ), onde α é um ângulo qualquer, obtém-se:

1 1
− ax −iwx − ax
e λ2 x = e 2
=e 2
(cos wx − i sen w x ) . (6.8)

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Tomando-se como base de soluções duas outras soluções, a primeira obtida pela
divisão por 2 da soma das Eqs. 6.7 e 6.8 e a segunda pela divisão por 2i da subtração
das Eqs 6.7 e 6.8, obtém-se:

 1
− ax
 y1 = e 2 cos wx
 1
 y = e − 2 ax sen w x
 2

Obs.: note-se que y1 e y2 são combinações lineares das soluções dadas pelas
equações 6.7 e 6.8.

A solução geral da EDO é então:

1
− ax
y=e 2
( A cos wx + B sen w x ) . (6.9)

Exemplo 6.5. Considere a estrutura simples composta por uma barra de


P
comprimento L, sujeita a uma carga P no sentido vertical e direção para
baixo. A deflexão lateral da barra y(x) é dada pela solução da equação de
Euler:

EI y ′′ + P y = 0, 0< x<L ,

onde E é o módulo de Young do material e I é o momento de inércia da


secção transversal da barra. Determine y(x).
L y(x)
P
Solução: Reescrevendo a EDO: y ′′ + y = 0.
EI

A equação característica é:

 1
 λ1 = − a + iw
P P  2 P
λ2 + = 0, λ= − ⇒ , a=0 e w= ,
EI EI λ = − 1 a − iw EI
 2 2

P P
sendo a solução geral: y = A cos x + B sen x.
EI EI

22

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