Você está na página 1de 9

Universidade Estadual de Santa Cruz

Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas


Equações Diferenciais Ordinárias
Professora: Geizane Lima da Silva
Notas de Aula - Soluções em torno de Pontos singulares
regulares

1 Soluções de Edos na vizinhança de pontos singula-


res regulares
Vimos que quando uma EDO linear de segunda ordem homogênea:

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0, (1)

tem solução uma série de potências em torno de um ponto x0 , tal ponto é classificado
como ponto ordinário (não-singular). Mas se isso não ocorre, dizemos que x0 é ponto
singular para (1).
Exemplo 1 Note que x0 = 0 é ponto ordinário da equação:

y 00 + ex y 0 + sin xy = 0

pois tanto p(x) = ex , como q(x) = sin x podem ser escritas como séries de potências para
todo x.

Exemplo 2 Note que x0 = 0 é ponto ordinário da equação:

sin x
xy 00 + sin xy = 0 =⇒ y 00 + y=0
x

x2 x4 x6
pois q(x) = 1 −+ + + . . ., está definida para todo x.
3! 5! 7!
Exemplo 3 Note que x0 = 0 é ponto singular da equação:

y 00 + ln xy = 0.

pois q(x) = ln x não pode ser desenvolvida em séries de potencias em torno do zero.

Exemplo 4 Note que x0 = 0 é ponto ordinário da equação:

2x 6
(x2 − 1)y 00 + 2xy 0 + 6y = 0 =⇒ y 00 + y 0
+ y = 0.
(x2 − 1) (x2 − 1)

Nesse caso, x2 −1 = 0 =⇒ x = ±1, são pontos singulares, mas os demais pontos


são ordinários.

1
Exemplo 5 Note todos os pontos reais são pontos ordinários:

x 1
(x2 + 1)y 00 + xy 0 − y = 0 =⇒ y 00 + y0 − 2 y = 0.
(x2 + 1) (x + 1)

Nesse caso, x2 − 1 = 0 =⇒ x = ±i, todos os reais são pontos ordinários, os


pontos singulares são complexos. O que significa que pontos singulares não precisam ser
necessariamente números reais.

Observação 1 Uma maneira de classificarmos pontos ordinários e singulares é seguinte:


Dado a EDO linear
A(x)y 00 + B(x)y 0 + C(x)y = 0

com A, B e C polinômios sem fator comum, temos que a Edo tem em x = x0 (real ou
imaginário)

1. x0 ponto ordinário, se A(x0 ) 6= 0;

2. x0 ponto singular, se A(x0 ) = 0.

Os pontos singulares podem ser classificados em regulares e irregulares.

Definição 1 Dizemos que x0 é ponto singular regular (ou uma singularidade regular) para
a EDO (1) quando constatamos que:

1. (x − x0 )p(x) e (x − x0 )2 q(x) são funções analı́ticas em x0 .

O ponto singular que não é regular chama-se ponto singular irregular(ou uma singularidade
irregular).

Observação 2 Uma forma de classificarmos os pontos singulares quanto a sua regu-


laridade é a seguinte: Suponha que os coeficientes da EDO, p(x) e q(x) são funções
polinomias, escritos na forma de um quociente irredutı́vel de polinômios completamente
fatorados em monômios. Se o fator (x − x0 ) , aparece nos denominadores de p(x) e q(x)
com multiplicidade mp e nq , respectivamente, então x0 é um ponto singular

1. Regular- se mp ≤ 1 e nq ≤ 2;

2. Irregular- se mp > 1 ou nq > 2;

Ou seja, x0 será um ponto singular regular, se (x − x0 ), aparecer no denominador de


p(x) com multiplicidade menor ou igual a 1 e no denominador de q(x) com multiplicidade
menor ou igual a 2.

Exemplo 6 Considere a EDO

(x − 1)(x2 − 4)2 y 00 + (x − 1)(x − 2)y 0 + y = 0

2
que é equivalente a

1 1
y 00 + 2
y0 + y=0
(x + 2) (x − 2) (x − 1)(x + 2)2 (x − 2)2

Nota-se que a multiplicidade do polinômio P, mp no ponto x = −2 é maior que 1. Isto


significa que x = −2 é um ponto singular irregular. Já x = 2 e x = 1 são pontos singulares
regulares, pois para x = 2, mp = 1e mq = 2 e para x = 1, mp = 0 e e mq = 1.

Exemplo 7 Considere a EDO

(x2 + 9)y 00 + −3y 0 + (1 − x)y = 0

que é equivalente a

1 1−x
y 00 + y0 + y=0
(x − 3i)(x + 3i) (x − 3i)(x + 3i)

Nesse caso temos dois pontos singulares ±3i. Para sabermos se são regulares ou
não, observamos que x = −3i e x = 3i tem mp = 1 e mq = 1 portanto ambos os pontos
são regulares.

1.1 Método de Frobenius


Agora, estudaremos o método de Frobenius para obter uma solução de uma EDO linear
em torno de um ponto singular regular.
Ferdinand Georg Frobenius, nascido em 26 de outubro de 1849, foi um matemático
alemão que ficou bastante conhecido devido as suas contribuições à teoria das funções
elı́pticas, equações diferenciais, teoria dos números e teoria dos grupos.
Nas EDOs Fobenius desenvolveu uma maneira que permite obter soluções em
séries para equações do tipo:

x2 y 00 + B(x)xy 0 + C(x)y = 0

nas vizinhanças do ponto singular regular x0 = 0. Dividindo a expressão por z 2 , obtém-se


a seguinte equação diferencial:

B(x) 0 C(x)
y 00 + y + 2 y=0
x x
Desde que p(x) = B(x)x
e q(x) = C(x)
x2
não são analı́ticas em x = 0 não podemos
resolver essa equação usando série de potências.
Mas, através do método de Frobenius pode-se criar uma solução em série de
potências para tal equação diferencial, contanto que B(x) e C(x) sejam analı́ticas em 0
ou, sendo analı́ticas em outro intervalo, onde os limites de p e q existam em x0 = 0 (e
sejam finitos.)

3
Exemplo 8 Considere o problema

x2 y 00 − 3xy 0 + 4y = 0.

Observe que y1 (x) = x2 e y2 (x) = x2 ln x são soluções para a EDO em (0, ∞). Essa EDO
tem um ponto singular regular em x = 0. Caso fizessemos o processo usando a série de
potencias, so iriamos encontrar a 1◦ solução, visto que ln x não tem expansão em série
de potências na origem.

Exemplo 9 Já a EDO


6x2 y 00 − 5xy 0 + (x2 − 1)y = 0.

tem x0 = 0 como ponto singular regular e não tem solução em série em torno desse ponto.
Porém o método de Frobenius nos permitirá encontrar duas soluções em séries.

Teorema 1 (Teorema de Frobenius) Se x = x0 for um ponto singular da EDO de 2◦


ordem
y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0, (2)

então existe pelo menos uma solução em série na forma



X ∞
X
y(x) = (x − x0 )r cn (x − x0 )n = cn (x − x0 )n+r
n=0 n=0

onde r é uma constante a ser determinada e a série convergirá pelo menos em algum
ponto do intervalo 0 < x − x0 < R.
Por simplicidade podemos fazer x0 = 0, daı́ teremos

X
y(x) = cn xn+r
n=0

para 0 < x < R

Observação 3 Não é permitido que a0 se anule, logo impomos que seja o primeiro termo
da série. Assim, vamos determinar:

1. Os valores de r para os quais a EDO tem solução. Esses valores surgem de uma
equação algébrica de (2◦ ) grau, denominada Equação Indicial cujas soluções r1 e
r2 são chamadas Raı́zes indiciais.

2. A relação de recorrência para os coeficientes an .

3. O Intervalo de convergência da série obtida como solução.

4
Vamos analisar as raı́zes indiciais:
• 1◦ caso: As raı́zes indiciais não diferem por um inteiro, isto é, r1 − r2 ∈
/ Z. Nesse
caso, temos duas soluções linearmente independentes.

• 2◦ caso: As raı́zes indiciais diferem por um inteiro positivo, isto é, r1 − r2 ∈


/ N∗ .
Nesse caso, a série em :

1. Com r1 a maior raiz indicial sempre fornece única solução.


2. Com r = r2 a menos raiz indicial, leva uma das duas ocorrências:
(a) Ela não fornece nenhuma solução;
(b) Ela fornece a solução geral (permanecendo arbitrários dois coeficientes),
que inclui, portanto a solução correspondente a maior raiz r1 .
Então, convêm primeiro encontrar a menor raiz.

.
Exemplo 10 Considere a equação diferencial

3xy 00 + y 0 − y = 0.

Procuramos uma solução da forma



X
y = f (x) = cn xn+r
n=0

Então temos:

X ∞
X
n+r−1
0
1. y (x) = f (x) = 0
(n + r)cn x = (n + r)cn xn+r−1 ;
n=1 n=0

X ∞
X
n+r−2
00
2. y (x) = f (x) = 00
(n + r)(n + r − 1)cn x = (n + r)(n + r − 1)cn xn+r−2 .
n=2 n=0

Observação 4

Assim

X ∞
X ∞
X
00 0 n+r−1 n+r−1
3xy + y − y = 3(n + r)(n + r − 1)cn x + (n + r)cn x + cn−1 xn+r−1 .
n=0 n=0 n=1

5
Solução: Desde que:

X
r−1 r−1
(∗) = 3r(r−1)c0 x +rc0 x + [(3(n+r)(n+r−1)+(n+r)cn xn+r−1 +cn−1 ]xn+r−1 = 0
n=1

Segue que

X
(∗) = c0 xr−1 r[3(r − 1) + 1] + [(n + r)cn [3(n + r − 1) + 1]xn+r−1 + cn−1 xn+r−1 = 0
n=1


X
r−1
= c0 x r[3r − 2] + [(n + r)cn [3n + 3r − 2]xn+r−1 + cn−1 xn+r−1 = 0
n=1

Assim temos que

1. (3r − 2)rc0 = 0- Equação indicial;

2. (n + r)(3n + 3r − 2)cn − cn−1 = 0-Relação de recorrência;

Sendo a0 6= 0 temos que r = 0 ou r = 2/3 são as raı́zes indiciais;


Além disso, a relacão de recorrência é dada por:
cn−1
cn =
(n + r)(3n + 3r − 2)

Casos:
cn−1
1. Se r = 0, então temos cn =
n(3n − 2)

y1 (x) = x0 (c0 + c1 x + c2 x2 + c3 x3 + c4 x4 + . . .)

Fazendo c0 = 1 temos:

x2 x3 x4 x5
y1 (x) = x0 (1 + x + + + + . . .)
8 3.7.8 3.4.7.8.10 3.4.7.8.10.2

6
cn−1
2. Se r = 2/3, então temos cn =
n(3n + 2)

y2 (x) = x2/3 (c0 + c1 x + c2 x2 + c3 x3 + c4 x4 + . . .)

Fazendo c0 = 1 temos:

x x2 x3 x4
y2 (x) = x2/3 (1 + + + + + . . .)
5 2.5.8 2.3.5..118 2.3.4.5.8.11.14
E a solução geral é dada por

y(x) = y1 (x) + y2 (x).

Exemplo 11 Considere a equação diferencial

xy 00 + y 0 − 4y = 0.

Procuramos uma solução da forma



X
y = f (x) = cn xn+r
n=0

Então temos:

X ∞
X
1. y 0 (x) = f 0 (x) = (n + r)cn xn+r−1 = (n + r)cn xn+r−1 ;
n=1 n=0


X ∞
X
n+r−2
00 00
2. y (x) = f (x) = (n + r)(n + r − 1)cn x = (n + r)(n + r − 1)cn xn+r−2 .
n=2 n=0


X ∞
X
n+r−1
Observação 5 Como xy = 00
cn (n + r)(n + r − 1)x e 4y = 4cn−1 xn+r−1
n=0 n=1

7
Assim

X ∞
X ∞
X
00 0 n+r−1 n+r−1
xy + y − 4y = cn (n + r)(n + r − 1)x + (n + r)cn x − 4cn−1 xn+r−1 .
n=0 n=0 n=1

Solução: Desde que:



X
r−1 r−1
(∗∗) = r(r − 1)c0 x + rc0 x + [((n + r)(n + r − 1) + (n + r))cn − 4cn−1 ]xn+r−1 = 0
n=1

Segue que

X
2 r−1
= r c0 x + [(n + r)cn [(n + r − 1 + 1]xn+r−1 − 4cn−1 xn+r−1 = 0
n=1

Assim temos que

1. c0 r2 = 0- Equação indicial;

2. (n + r)2 cn − 4cn−1 = 0-Relação de recorrência;

Sendo a0 6= 0 temos que r = 0 a única raiz indicial ;


Além disso, a relação de recorrência é dada por:

4cn−1
cn =
(n + r)2

Assim temos

1. Se n = 1 = 0, então temos c1 = 4c0

y1 (x) = x0 (c0 + c1 x + c2 x2 + c3 x3 + c4 x4 + . . .)

Fazendo c0 = 1 temos:

42 x2 43 x3 44 x4
y1 (x) = 1 + 4x + + + + ...
22 1.22 32 (1.2.3.4)2

A outra solução pode ser encontrada usando D’Alambert.

8
Referências Bibliográficas
1 Ávila, Geraldo., Introdução á Analise Matemática, 2a edição. Sao Paulo: Edgard
Blucher, 1999.;

2 Thomas, George B., Cálculo, Volume 2. São Paulo: Pearson Addissison Wesley,
200);

3 Figueiredo, Djairo G., Análise I 2a edição. LTC - - Livros Técnicos e Cientı́ficos


Editora S.A., 1996;

4 Guidorizzi, Hamilton Luiz. Um curso de cálculo, vol 4. 5aedição. São Paulo: LTC
- Livros Técnicos e Cientı́ficos Editora S.A., 2002.

Você também pode gostar