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E-BOOK

TURMA DO PLANETA
COMO TUDO COMEÇOU

MEIO
EDUCAÇÃO AMBIENTE
Silvana Gontijo

Como tudo
começou

Vol. 1
A primeira aventura da

ILUSTRAÇÕES DE

Mirella Spinelli

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. É PROIBIDA A REPRODUÇÃO.


© Autêntica Editora 2023. Todos os direitos reservado. É proíbida a reprodução.

Silvana Gontijo

Como tudo
começou

A primeira aventura da

Vol. 1

2ª EDIÇÃO REVISADA

ILUSTRAÇÕES DE

Mirella Spinelli
© Autêntica Editora 2023. Todos os direitos reservado. É proíbida a reprodução.
© Autêntica Editora 2023. Todos os direitos reservado. É proíbida a reprodução.

Este livro é dedicado aos meus netos:


Cora, Cecília, Elias e Benjamim.

E aos seus primos: João Pedro, Dube, Giulia,


Nicholas, João Vitor, Duda, Lulu, Vitor, Bernardo,
Biel, Joana, Giovanna, Henrique, Madu, JP, Georgia,
Lavínia, Lipe, Bruna, Pedro Bernardo, Dudu, Thomás,
Maria Eduarda, Letícia, Luli, Gabriel, Bê e Ana.
© Autêntica Editora 2023. Todos os direitos reservado. É proíbida a reprodução.

Copyright © 2018 Silvana Gontijo


Copyright desta edição © 2023 Autêntica Editora

Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora Ltda. Nenhuma parte desta
publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via
cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

EDITORA RESPONSÁVEL CARACTERIZAÇÃO DE PERSONAGENS


Rejane Dias Bia Sales
REVISÃO ILUSTRAÇÕES
Sonia Junqueira Mirella Spinelli
Carla Neves
CONSULTORIA ÉTNICO-RACIAL
Mariana Faria
Tom Farias
Lorrany Silva
LEITURA CRÍTICA
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Leo Cunha
Diogo Droschi
Tina Correia

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Gontijo, Silvana
Como tudo começou : a primeira aventura da Turma do Planeta
/ Silvana Gontijo ; ilustrações de Mirella Spinelli. -- 2. ed. rev. -- Belo
Horizonte : Autêntica, 2023. -- (Turma do Planeta ; 1)

ISBN 978-65-5928-125-1

1. Ficção - Literatura infantojuvenil 2. Meio ambiente - Literatura infan-


tojuvenil I. Spinelli, Mirella. II. Título. III. Série.

23-158203 CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático:


1. Meio ambiente : Literatura infantil 028.5
2. Meio ambiente : Literatura infantojuvenil 028.5
Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253

Belo Horizonte São Paulo


Rua Carlos Turner, 420 Av. Paulista, 2.073 . Conjunto Nacional
Silveira . 31140-520 Horsa I . Sala 309 . Bela Vista
Belo Horizonte . MG 01311-940 . São Paulo . SP
Tel.: (55 31) 3465 4500 Tel.: (55 11) 3034 4468

www.grupoautentica.com.br
SAC: atendimentoleitor@grupoautentica.com.br
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Vinheta

As aventuras da Turma do Planeta sempre


começam quando alguém cisma em voltar no
tempo para decifrar algum enigma, geralmente
ligado à música – a paixão dessa galera. A curio-
sidade é contagiante, e não demora muito para
eles irem buscar no passado respostas sobre algum
instrumento musical, alguma partitura, algum som
ou algumas histórias sobre o território favorito
deles, a Floresta do Beija-Flor Azul. A primeira
viagem foi para tentar aprender como tocar um
instrumento que ninguém conhecia. E foi assim
que tudo começou.

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Casa
da Silvia e
do Zeca

Casa
da Bia,
do Paulão
e da Tília
Casa
do GUI

VEJA AQUI
onde vivem nossos amigos
da cidade. Todos eles
moram no mesmo bairro
e estudam na EM PAZ
Casa
do king (Escola Municipal
fábio Planeta de A a Z).

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ESCOLA
FLoresta
do
beija-flor
azul

Casa
da tinu

Casa
da
Petica

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BIA é a mais nova da Turma e irmã do Paulão. É BIA


um gênio da música e toca violino na banda. Seus 6 anos
olhos não enxergam bem, mas sua sensibilidade
faz com que consiga ver mais do que a maioria de
nós. Ela é ligadíssima – o irmão diz que parece uma
antena que fala até com as paredes. Bia é a única
que conversa com animais e plantas e entende
tudo o que eles dizem. Suas maiores paixões são
a sua cadelinha Tília e o seu violino.

TíLI A TÍLIA é uma adorável cachorrinha lhasa apso,


raça sagrada do Tibete. Ela é a regente da ban-
da e a guia da Bia. Sua audição é espantosa,
e ela consegue escutar tudo, até os sons mais
distantes. Tília entende a linguagem da natu-
reza e distingue todos os instrumentos. Presta
muita atenção à conversa dos humanos e ado-
ra a Bia.

GUI é muito alegre, extrovertido, solidário e fiel


GUI
8 anos
aos amigos e à família. Ele tem síndrome de Down
e estuda na mesma sala da Bia, e os dois estão
sempre se ajudando. Tudo o que ele aprende não
esquece mais. Foi assim com o cavaquinho, que
aprendeu a tocar com o Paulão. Uma das coisas
que o Jequitibá mais gosta é quando conta uma
história para o Gui e, no final, ele diz “conta mais!”.

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A ULÃO
P 14 anos PAULÃO é o irmão mais velho da Bia. Ele
é um grande amigo, daqueles com quem
podemos contar nas horas mais impor-
tantes. Curioso, adora saber o porquê das
coisas. Na banda, é o tecladista, arranja-
dor e compositor, pois entende tudo dos
ritmos musicais brasileiros. Também fala e
escreve muito bem – não é à toa que é o
diretor do Jornal do Planeta. Ele aprende
qualquer língua com a maior facilidade e
adora um bom debate.

TIC
PE14 anos A

PETICA nasceu em Angola e veio


novinha para o Brasil. Talentosa, é
poeta de mão cheia – e por isso é ela
quem escreve as letras das canções
da banda – e arrasa quando canta ou
toca instrumentos de percussão de
mão. Petica também adora escrever
e é a editora do Jornal do Planeta.

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KING
B
F1Á4 anoIsO
KING FÁBIO é o vocalista da ban-
da. Um atleta natural que está sem-
pre correndo de um lado para o outro
para resolver coisas ou ajudar quem pre-
cisa. Ele tem esse nome porque é o rei dos
esportes da Turma e ganha quase todas as
competições da escola. Além disso, seu cabelo
tem as pontas parafinadas, que lembram uma
coroa. King sabe muito sobre as mídias digitais
e informática. Ele toca violoncelo, guitarra e é
um ótimo criador de raps.

T3IN U
anos
1

TINU é uma filha do vento pois é puro mo-


vimento! E, assim como ele, essa neta de in-
dígenas nunca para: é campeã de ginástica
olímpica e dançarina maravilhosa. Conhece
todas as lendas que seu avô conta sobre seus
antepassados, adora os instrumentos de so-
pro e sabe tocar uma porção deles. Sensível,
Tinu deixa sempre se guiar pela intuição.

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LVI A
S i15 anos

SILVIA é a irmã mais velha do Zeca.


Muito vaidosa, adora andar na moda.
Mas, na verdade, o que ela mais gosta
é de cantar e tocar violão. Caprichosa e
organizada, seu sonho é ser uma estrela
da música brasileira. Ela é uma grande
desenhista e ilustra o Jornal do Planeta
sempre que precisam.

Z1E CA
1 nos
a
ZECA é o mais bem informado dos
amigos, além de ser muito alegre e
engraçado. Está sempre tão ligado
ao que acontece no mundo que é
a ele que todos recorrem quando
querem saber uma notícia. Por isso
é o repórter do Jornal do Planeta.
Zeca também é o percussionista
da Turma. O tampo de uma mesa,
uma lata velha, as lixeiras de rua ou
qualquer outra caixa de ressonância
vira instrumento em suas mãos. Na
banda, ele toca bateria, atabaques, tambores,
surdo, tarol e qualquer instrumento de percussão.

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Jequitibá
Pedra
da Hebe

CAFOFO
dO
LEOPOLDO
ESCONDERIJO
DO PEDRO

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A FLORESTA
DO BEIJA-FLOR AZUL
é um território mágico. Aqui a
comunicação é total: tudo e todos
falam, ouvem, trocam ideias,
opiniões e experiências – e quase
sempre se entendem. Veja onde
moram nossos amigos que vivem
neste paraíso.

CASA
DO BINGA

CASA DO
GASPER
PAL
CO
DO DA T
PLA URM
NE A
TA

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Uma árvore com quase seiscentos anos, JEQUITIBÁ


descendente direta das lecitidáceas, o
JEQUITIBÁ é uma das mais nobres estirpes
do reino vegetal. Adora que os amigos da
Turma do Planeta se reúnam sob sua copa
para ouvir suas histórias. Mas não pense que
ele fica parado assistindo a tudo. Nada disso:
ele também é músico. A passagem do vento
entre suas folhas e galhos produz um som
delicioso, e ele sabe muito bem como tocar
em harmonia com os outros integrantes da
banda.

G
B IN A
BINGA é um beija-flor muito valente e um
pouco encrenqueiro. Agitado, ele passa a
impressão de estar em todos os lugares ao
mesmo tempo. Esse pequeno gigante é o
diretor de cena da banda Turma do Planeta,
e ninguém ousa desobedecê-lo. Tem o dom
maravilhoso de conversar com os ventos
e pode, usando sua magia, conceder aos
amigos o poder de voar.

GASPER é o vaga-lume mais talentoso que ASPE


G

já se viu. Ele pode fotografar, filmar, projetar


R

imagens, iluminar e até fazer efeitos especiais.


Por causa de todos esses dons, que conquis-
tou depois de um acidente de laboratório, é
ele quem cuida da iluminação dos shows da
banda, com a ajuda de um enorme enxame
de amigos vaga-lumes.

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PEDRO é um jabuti filósofo muito tran-


E DRO
quilo e nada parece incomodá-lo. Ele já P
viveu quase duzentos anos e sabe muito
sobre a nossa História. Gosta tanto da Tília
que até serve como pódio para ela subir
e reger a banda. Muito observador, suas
maiores paixões são conversar, filosofar e
entrar na internet. Ele adora!

HEBE HEBE é a estrela da Floresta do Beija-Flor


Azul. Grande cantora, sua voz é poderosa e
muito afinada. Está sempre acompanhada
do coral As Pitangas Roxas. Juntas, essas
capivaras formam um grupo maravilhoso
de se ouvir, além de serem divertidíssimas
– ninguém resiste à gargalhada da Hebe.
O maior sonho dela é ser fotografada pelo
Gasper e sair na revista Garras.

Ah, o LEOPOLDO! Esse tamanduá O POL D


é o maior fã da Hebe. E foi essa pai- LE
O

xão que despertou seu interesse em


aprender música. Ele faz qualquer coisa
para agradar e chamar a atenção de
sua musa. Para se comunicar com os
amigos ele não fala, mas faz gestos, ca-
retas e usa o corpo. É a criatura mais
dengosa da nossa Floresta… e acho
que das outras também!

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COMO TUDO
COMEÇOU

N aquele dia, a banda não pôde ensaiar na casa do Paulão e


da Bia, porque seus pais tinham uma reunião de trabalho
e não queriam saber de barulho nem de bagunça. Duas coisas
impossíveis para aquela Turma, principalmente, numa tarde de
céu tão azul, na primeira semana das férias de julho.
Dias antes, o Paulão tinha recebido um presente de seu amigo
Stephen, que morava na Austrália. Era um instrumento de sopro
muito longo, uma espécie de tubo de madeira, muito difícil de
tocar: o didgeridoo.

– O Stephen disse que os aborígenes, os “povos originais” deles,


acreditam que o som que sai do didgeridoo bem tocado é mágico.

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E que, sabendo usar, a pessoa consegue descobrir onde, debaixo da


terra, é possível encontrar água, um recurso muito raro em algumas
regiões da Austrália e da Nova Zelândia.

- - - E N I G M A - - -
Descubra tudo sobre o didgeridoo no site
https://planetapontocom.org.br/turma e complete:

De onde vem esse instrumento?

Quem o inventou?

Tinu estava quase explodindo de tanto soprar, e nada. Quando


ela conseguia, o som era terrível. Bia e a cachorrinha Tília ficavam
desesperadas.
– Socorro, Tinu! Tá parecendo aquele berrante que a Petica
trouxe pra você. Será que isso não é para espantar ladrão? Música
é outra coisa, né? Magia, então, nem se fala.
– Que tal a gente procurar um espaço a céu aberto, de prefe-
rência, ali na mata? É o único lugar calmo e silencioso, e a gente
pode ensaiar sem incomodar ninguém... – Impaciente, King sem-
pre queria resolver tudo na hora.
Petica não podia perder a oportunidade de provocar o voca-
lista, que quase destruiu o último show da banda ao esquecer a
letra de duas canções. Com seu sotaque angolano, ela sugeriu:

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– Que tal em cima das árvores?! Afinal, tu vives mesmo nas nuvens,
estás sempre a esquecer as letras que escrevo para nossas canções...
E foi apoiada por Silvia, que vivia socorrendo o amigo em seus
esquecimentos:
– Assim você já vai estar nas alturas mesmo...
Mas Tinu, desafiada pelo Paulão, estava decidida a decifrar
aquele instrumento de sopro.
– Vamos logo, pessoal! Tenho que descobrir como se toca esse
tal didgeridoo. Não vou desistir de jeito nenhum. Ainda mais se
for verdade que ele é mágico.
– É bom mesmo, porque até agora você só conseguiu atrapalhar a
música – Gui emendou num ataque de “sincericídio”, como dizia Bia.
Pedro, o jabuti filósofo que Paulão encontrou quase morto no
quintal de sua casa, ficava em pânico quando imaginava estar no
meio de uma briga. Naquele momento, resolveu tirar o apoio – ele
próprio – do braço de Zeca, o percussionista que adorava batucar
em seu casco. Foi um tombo espetacular e hilário. O próprio Zeca,
com seu eterno bom humor, caiu na gargalhada de sua posição
ridícula – emborcado sobre o atabaque. E o melhor: livrou Pedro
daquela batida repetitiva e irritante que ecoava em seu cérebro,
mas que muitas vezes ele aguentava com uma paciência que só as
pessoas “muito antigas”, como dizia Bia, podem ter. Mas quem mais
se divertiu e literalmente rolou no chão às gargalhadas foi o Gui.
A entrada dos pais da Bia e do Paulão, decididos a colocar um
ponto-final naquela bagunça, interrompeu a gargalhada geral.
– Meninos, já estou querendo espanar vocês junto com a
poeira da sala. Faz três dias que vocês tentam tocar essa flauta
esquisita. Como é mesmo o nome disso?
– É didgeridoo, mãe – explicou Paulão.

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– Olha aqui, meu filho, isso não é instrumento musical coisíssi-


ma nenhuma, está mais para um instrumento de tortura. Façam o
favor de mudar a função dele bem longe daqui, tá bem? – exigiu
o pai das crianças.
– E tome conta da sua irmãzinha direito. Na última vez que
vocês se embrenharam no mato, eu fiquei dois dias tirando car-
rapatos dessa coitadinha.
– Mãe, eu já disse que ninguém precisa tomar conta de mim,
tá legal? Eu quase não enxergo, mas para isso já tenho a Tília.
Esqueceu que ela não é só a regente da banda?
– Não esqueci não, senhora, mas faça-me o favor de obedecer
ao seu irmão e – piscando para Silvia – à sua amigona, que sabe
muito bem das coisas, viu? Vamos, vão saindo, levem o lanche
que eu preparei. Xô! E só voltem com esse pau oco quando ele
servir pra tocar música de verdade, tá bem?
Paulão e Bia saíram resmungando.
– Tudo bem, pessoal, estamos mesmo a fim de mais “liberdade
de expressão”, né não?
Paulão e Bia, assim como Tinu, Silvia e Zeca, eram os que
moravam mais perto da escola, no alto da ladeira, e os últimos
a serem apanhados pelo escolar.
Toda vez que o ônibus da escola passava pela estradinha que
margeava a reserva ecológica, eles faziam planos de desbravar
uma trilha, cujo início era visível da rua.
Tinu sempre quis saber para onde aquele caminho levava.
Agora, tinha uma boa oportunidade para descobrir isso.
A subida era bastante difícil e escorregadia. Cada um levava
seu instrumento. Depois do que pareceu uma escalada intermi-
nável, eles chegaram a uma imensa pedra, tão alta que só mesmo

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alpinistas conseguiriam chegar até o topo.


– É, parece que chegamos ao fim da linha! – exclamou Paulão,
bem frustrado.
Completamente esgotado depois de subir tudo aquilo car-
regando os instrumentos, o grupo era a imagem da desolação.
Durante todo o percurso não tinham encontrado nenhuma
área plana. Nada além de pirambeira e mata. Nenhum lugar
onde pudessem se instalar com o mínimo de conforto. O único
que avançava, com um passinho lento e sem se alterar, como se
conhecesse tudo ali, era Pedro.
Ninguém – nem mesmo ele – acreditava na idade daquele
jabuti: quase duzentos anos! Mas naquele dia só Bia percebeu o
quanto Pedro parecia muito mais ágil e à vontade do que sempre
tinha se mostrado em casa.
O desânimo já estava contagiando até a Tinu, normalmente
a mais alto-astral da Turma. Subitamente, e ao mesmo tempo,
Tília e Bia ouviram um som que parecia vir de dentro da pedra.
Ninguém mais tinha escutado, mas jamais duvidariam daquelas
duas, principalmente de Tília, com seu “ouvido de tuberculoso”,
como dizia a Jô, mãe da Silvia e do Zeca. King Fábio e Tinu, os mais
ágeis, começaram a contornar a pedra, cada um por um lado.
Não era nada fácil aguentar os arranhões provocados pelas folhas
duras e espinhentas das bromélias e dos gravatás que cresciam
agarrados ao paredão de granito.
De repente, Tinu sentiu que um vento atravessava o que pa-
recia uma cortina de vegetação. Ao ouvirem o grito que ela deu,
todos vieram correndo. Tília passou como uma flecha por debaixo
da cortina, seguida por Tinu e King Fábio. Estranhamente, aquilo
parecia um arranjo da natureza para disfarçar uma fenda muito

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estreita e alta. Tinu foi logo se metendo por ali, atrás da Tília e
sem sombra de medo. Atrás dela vinha King Fábio, que não perdia
uma aventura. Foi preciso tirar o baixo acústico das costas para
conseguir passar. Para Tinu foi mais fácil, o didgeridoo era menos
volumoso. De repente, ouviram latidos exagerados da Tília. Tinu
gritava, encantada com a paisagem indescritível que havia por
trás daquele paredão: um vale coberto pela Mata Atlântica mais
exuberante que qualquer um deles jamais tinha visto.
De tão bonito, o visual era de tirar o fôlego. Aqui e ali, o verde
era substituído pelo vermelho-sangue de mulungus e pelos ipês
amarelos e roxos. Em alguns trechos era possível avistar um riozi-
nho cantarolando entre pedras redondas de diferentes tamanhos.
Tinu estava maravilhada.
– É muito lindo, né? Parece até cartão postal!
– Acho que estamos do outro lado daquela pedrona... O pro-
blema é que daqui não dá pra avançar; ninguém passa, só voando
mesmo – mostrou King.

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Começa
a magia

N ão havia nenhum vestígio de que aquele paraíso tivesse


sido explorado por humanos. Para além do pequeno ter-
reno elevado e plano onde conseguiram chegar, a passagem
terminava num precipício apavorante.
Os três, desanimadíssimos, já iam voltando para dar a má
notícia, quando um beija-flor azul se aproximou deles de uma
maneira inusitada, parecendo querer dizer alguma coisa para a
Tinu. Subitamente, Tília voltou correndo para o lugar onde estava
o restante do grupo.
– Estranho. Ela não era de se amedrontar fácil, nem com as
ameaças daquele pit bull neurótico que vivia perto de sua casa,
muito menos com um bichinho muito menor que ela, pensou
Tinu. Além do que, aquele minúsculo beija-flor azul não parecia
nada ameaçador; pelo contrário, dava até a impressão de querer
se comunicar. Mas nem deu para fazer muitas conjecturas. Tília
já estava de volta, acompanhada por todos, menos por Pedro.
– Cadê, cadê? Não tô vendo nada. Tília, me ajude! – Bia falava
enquanto tentava passar por aquele corredor apertado.

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– Me deixa passar, King? – berrava o Gui na maior ansiedade.


– Calma, Bia! Calma, Gui! Só dá pra passar um de cada vez e
olhe lá. Deixa a gente tentar subir pelas pedras para vocês pas-
sarem por baixo.
Tinu falava ao mesmo tempo em que tentava subir como podia
nos desvãos das paredes. Ninguém estranhava mais quando Bia
era convocada para se entender com bichos e plantas. Só Paulão,
como todo irmão mais velho, achava que aquilo podia não ser
bom, principalmente quando ela parecia completamente fora
do mundo, quase em transe.
– Toma conta deles aí, Tinu – recomendou Paulão quando viu
que era impossível passar sem que os outros saíssem.
– Não preciso que alguém tome conta de mim, eu sei muito
bem me virar sozinha... AIIIII!
– Cuidado, Bia! – gritou Gui, apavorado.
Tinu correu para segurar Bia, que já estava na borda do pre-
cipício, quase caindo.
– Tá vendo, eu não disse pra tomar cuidado? Depois quem leva
bronca lá em casa sou eu – Paulão berrou para Petica, Silvia e Zeca.
– Nossa, essa foi por pouco. É melhor vocês pararem aí em
fila indiana, porque aqui não cabe mais ninguém. Vamos deixar
a Bia conversar com esse passarinho e ver o que acontece, tá
legal? – King tentava acomodar a situação.
Paulão, refeito do susto, tratava de alertar a irmã:
– Deixe de ser pretensiosa e trate de obedecer aos mais
velhos. Se você continuar assim, não vou mais deixar você
nos acompanhar, tô muito novo pra morrer do coração – re-
preendeu Paulão, que já imaginava a cena de Bia despencando
do precipício.

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Isso era o que Bia mais temia. Raramente Paulão fazia ameaças,
e ela tratou de se mostrar arrependida para acalmar o irmão. Mas
logo sua atenção se voltou para aquele colibri de comportamento
tão estranho.
Bia já estava completamente concentrada escutando o que
dizia o animalzinho parado no ar. Até que, num dado momento,
sua reação foi a de quem ouvira o maior absurdo do mundo. Ela
se virou para o grupo, tomando muito cuidado com as palavras.
– Olha, eu não sei não, mas pra mim ele é... – disse a menina,
fazendo sinal de maluco para os outros entenderem e comple-
tando: – Bom, essa ele mandou pro King: disse que é um beija-­
flor e não um simples passarinho, e que se chama Binga. Agora
para todos nós: ele está dizendo que nos conhece muito bem

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e que você, Tinu, dança tão bem que... Ouça o tema da banda
Calma, Tília, o que foi? Turma do Planeta
assistindo à animação
Tília ouvia o beija-flor e regia uma no nosso site:
música conhecida... Era o tema da ban-
da. Bia não tinha dúvida.
– Isso tudo tá ficando esquisito de-
mais – disse Tinu desconfiada. – Como
é que ele pode saber de tudo isso?
Ela e King trocaram um olhar signifi­
cativo.
– Paulão, é melhor você dar um jeito de chegar até aqui. Acho
que a Bia e a Tília estão muito estranhas.
Enquanto isso, Bia interpelava Tília.
– Mas como é possível? Você garante que era o mesmo som
que ouviu aquele dia? Será que é verdade mesmo? Ele nos conhece
há tanto tempo? Tá bom, mas essa história de voar eu nem vou
sugerir. Já pensou se for maluquice, e a gente se esborrachar lá
embaixo? Eu tô fora.
Paulão, que ouvira as últimas palavras de Bia, já chegou na
maior curiosidade.
– Que história é essa? De onde esse bicho nos conhece? Quem
falou em voar? O que foi que a Tília ouviu? – perguntou Paulão
com um olhar já bravo, para que Bia nem pensasse em enganá-lo.
– Fica calmo, eu vou contar tudo. É o seguinte: esse beija-flor
se chama Binga e ele já tá careca de nos ouvir tocando. Faz um
tempão que fica escondido quando a gente ensaia lá em casa.
Sabe o que confirma o que ele tá falando?
– Ele sabe o nome de todo mundo e é nosso fã – completou
Gui. – Mas careca ele não está.

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– Claro que não, Gui, isso é modo de dizer – explicou Tinu.


Todos se entreolharam, ao mesmo tempo divertidos com a
observação do Gui e incrédulos sobre o beija-flor. Bia continua-
va: ora ouvia Binga, ora tentava contar para o resto da Turma.
– Bom, a Tília acabou de me dizer que se lembrou de ter ou-
vido esse som que ele está repetindo durante um ensaio. No dia,
ela não conseguiu descobrir o que era nem de onde vinha. Só
agora, com ele cantando aqui, foi que reconheceu. Não é incrível?
– Bota incrível nisso – Paulão concordou. – Só não entendo
por que você disse que a gente podia se esborrachar no chão.
Pode ir falando, porque eu também escuto muito bem.

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Pela cabeça da Bia passaram todas as suas tentativas de enganar


o irmão. Ela sabia que, quando ele estava desconfiado, era melhor
falar logo. E foi num fio de voz de quem não acreditava nem nas
próprias palavras que ela contou:
– Ele disse que sabe exatamente o que fazer para nos levar até
o outro lado, e que, para a Tília, o Gui, o Zeca e para “minzinha”,
se dispõe a dar o raríssimo privilégio de voar.
– O QUÊ?! – Paulão, King, Tinu, Petica, Silvia e Zeca se espantaram.
– Você pirou de vez, minha irmã? Será que ele acha que conse-
gue carregar nas costas esse peso todo?! – E já zombando: – Quem
sabe os quatro de uma vez? Junto ele levaria também o didgeri-
doo? E por que não a Petica, a Silvia, a Tinu, o King, o Pedro e eu
também, hein?
Bia começava a se enfurecer.
– Em primeiro lugar, só estou traduzindo o que vocês, “grandes
e sabidos”, não conseguem entender. Em segundo lugar, ele nunca
falou em carregar ninguém nas costas, mas em fazer voar. Outra
coisa que ele me contou é que conversa com os ventos, e, antes
que vocês comecem a gozar falando de Peter Pan e do pó da fada
Sininho, é bom você saber, senhor “sabe-tudo”, se não quiser ser
mais grosseiro do que já foi, que ele está entendendo tudo o que
estamos falando, ouviu bem?
Paulão ficou completamente sem graça e tentou consertar a
situação:
– Binga, não leve a mal, mas é difícil acreditar que tudo isso que
a Bia nos contou seja verdade. Ainda mais essa de que você sabe
conversar com os ventos. É um pouco demais, né?
Para quê? Binga, que já estava bravo, ficou furioso, e, nem bem
Paulão terminou a frase, começou uma série de rodopios, voando

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reto para o alto e voltando. No segundo seguinte começou uma


ventania, que quase fez todo mundo perder o equilíbrio e despencar
do precipício. Foi um Deus nos acuda. O mais estranho é que o vento
escolhia suas vítimas. Em primeiro lugar, o Paulão, que precisou usar
toda a sua força para não ser arrastado, tratou de voltar para dentro
da fenda, empurrando os que já estavam lá. Depois foi a vez de Tinu
e King Fábio, que, na tentativa de se protegerem, agarravam-se às
pedras, fugindo para cima do morro. De repente, no meio daquela
nuvem de terra e folhas secas, Paulão viu Bia, Zeca, Gui e Tília saírem
do chão, mas não conseguiu ver mais nada, só ouvir os gritinhos
assustados da Bia e os latidos aflitos da Tília se distanciando cada
vez mais. Depois, silêncio. A ventania tinha parado como se tivesse
terminado seu trabalho e nada mais houvesse a fazer ali.
Passado o fenômeno, e com a poeira abaixando, Paulão se deu
conta de que todos tinham sumido.
– Cadê todo mundo?
Desesperado, saiu da fenda rastejando até a borda do preci-
pício e, obedecendo ao instinto, olhou lá para baixo na tentativa
de avistar os “corpos”.
Pela primeira vez na vida ele se ajoelhou e rezou, pedindo a
Deus que o ajudasse não permitindo a tragédia que desconfiava
ter acontecido. Nisso, Petica, Silvia, King e Tinu chegaram, curio-
síssimos, sem entender nada do que estava acontecendo.
– Que ventania mais louca foi essa?! Para onde foram todos?
Cadê a Bia?
Quanto mais Petica perguntava, mais Paulão temia pelo de-
sastre e se arrependia amargamente de não ter acreditado em
tudo e, o pior, de ter deixado clara a sua descrença zombando
do beija-flor. Um suor frio percorreu sua coluna e suas pernas

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tremiam. Completamente horrorizado com aquela possibilidade,


Paulão já estava se preparando emocionalmente para encarar o
pesadelo de encontrá-los – ou o que teria sobrado de cada um –,
quando ouviu o chamado do Zeca.
– Paulão, Petica, Silvia... Pessoal, olha a gente aqui!
Seguindo o som, os cinco olharam para o outro lado do abismo
e, totalmente surpresos, avistaram Zeca, Gui, Bia e Tília.
Aquilo só podia ser mágica!
– Como vocês chegaram aí? – perguntou um Paulão aliviado
e eufórico ao vê-los sãos e salvos.
– Viemos voando mesmo.
Ninguém acreditava no que ouvia de um Zeca vivo e feliz.
A questão não era se eles tinham voado ou não: tudo parecia
acontecer magicamente naquele lugar, afinal. O que deixava to-
dos eles pasmos era que, pela primeira vez, ouviam e entendiam
claramente o que antes só Bia e Pedro conseguiam: Tília – uma
cadelinha – falando em bom e correto português.

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O segredo
de Pedro

D e uma hora para outra, alguma coisa estranha tinha aconteci-


do... Por que, segundos atrás, eles só ouviam os latidos da Tília,
e agora ela falava feito gente? E que voz poderosa! Tudo estava acon-
tecendo rápido demais para a cabeça racional de Paulão. Como é
que um beija-flor tão minúsculo tinha sido capaz de tantas proezas?
Os outros também estavam aturdidos. Só Pedro, que finalmente
se juntara a eles, parecia achar tudo muito normal.
Falando em Binga, lá vinha o passarinho de novo para, desta
vez, receber o olhar respeitoso e a admiração de Paulão. Ele, que
já vinha disposto a ouvir mais provocações, ficou completamen-
te desarmado diante da atitude de Paulão, reconhecendo suas
habilidades sem nenhum vestígio de rivalidade. Ao contrário, o
irmão da Bia foi logo mostrando seu entusiasmo.
– Pô, Binga, você é o máximo, cara! Como é que fez tudo isso?
Mas, para decepção de todos, o máximo que ouviam como
resposta era uma espécie de silvo agudo e linear. Do outro lado
do precipício, Zeca percebeu pelas reações que eles não estavam

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se entendendo. E aí começou um diálogo maluco, com Binga


voando de um lado para o outro, ora só ouvindo o grupo de
cá, ora conversando com o grupo de lá.
Até que Zeca resolveu ajudar.
– Paulão, vocês precisam atravessar, porque aqui a gente
entende tudo, e todo mundo nos entende. Cara, eu tô ouvin-
do o Binga, a Tília e até o Pedro falando daí. Esse lado de cá é
mágico mesmo. Aqui a comunicação é perfeita. Estamos loucos
para tocar aqui.
Dessa vez foi Petica que respondeu com seu vozeirão:
– Ah, é? E como é que tu pensas que faremos para atravessar?
Binga voltou parecendo querer mostrar, no chão, alguma
coisa que ninguém conseguia ver. Batia com o bico e depois
ia bicando o vazio. Paulão e os outros sabiam que ele queria
dizer alguma coisa e se esforçavam para entender, mas aquela
charada estava difícil. Do lado de lá, Bia gritou:
– Olha, tem um jeito, que até não é novidade pra você,
Paulão. O que Binga tá explicando é que vocês vão ter que
descobrir e mostrar que estão abertos a experimentar novas
maneiras de se ligarem nas coisas.
– Aí sim! Depois de vencer essa prova, terão o privilégio de
chegar aqui – completou Zeca. – Se nós ajudarmos, babau,
nem nós nem vocês. Ninguém vai poder conhecer as outras
surpresas. Tratem de se concentrar e lembrem-se: a chave para
compreender tudo é a comunicação. Nós agora só podemos
torcer por vocês sem dar mais nenhuma dica.
Silvia tentava se lembrar das coisas que Bia falava sobre sua
capacidade de se comunicar com os animais e plantas. Ela
acreditava piamente naquilo tudo, mas não conseguia ouvir

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nada. Petica ficou observando Binga naquela mímica de bicar


primeiro o chão e depois o vazio no precipício. King tamborilava
os dedos no casco de Pedro, que estava mais quieto do que o
costume. Paulão observava todos eles. Seus olhos corriam de
Binga para Petica tentando entendê-lo, e dela para Pedro, quieto
demais. Silvia, também concentrada, olhava para Pedro e Binga.
De repente, Paulão começou a experimentar a forte sensação
de que alguma coisa nova estava para acontecer dentro de seu
cérebro. Não era novidade. Certa vez, ele ficara mais de um mês
obcecado buscando um acorde para uma harmonia. A mãe lhe
explicara que aquele fenômeno se tratava de um insight, “tipo
uma explosão luminosa dentro do nosso cérebro, que de repente
clareia o que a gente antes não conseguia ver”.
Mentalmente, ele foi juntando essa coisa dos bichos enten-
derem o que os humanos falam, e não o contrário, e o compor-
tamento estranho do Pedro, que olhava fixamente para Binga.
Sentia que estava “esquentando”. A solução para atravessar não
era uma novidade. A mímica do Binga acendia uma luz e...
– JÁ SEI! – gritaram ao mesmo tempo ele e Silvia, que, de di-
ferentes maneiras, haviam chegado à solução.
Os outros não estavam entendendo nada. Paulão explicou:
– Lembra aquele filme do Indiana Jones que ninguém quis ir ver
comigo, só o King? Pois é. Uma das tarefas para chegar ao cálice
sagrado era o herói atravessar uma ponte invisível que unia os dois
lados de um precipício. O Binga está querendo nos mostrar que
existe um caminho sólido naquela direção e que a gente precisa
descobrir a maneira de enxergá-lo para não despencar lá embaixo.
Do lado de lá a galera aplaudia, eufórica. Até Binga batia as
asas, como se aplaudisse. E Silvia foi logo completando:

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FALTA
IMAGEM

– Eu não tinha pensado nisso, mas de uma outra coisa eu te-


nho certeza: a chave para o segredo é o Pedro. Senti claramente
o medo, a tentativa de passar despercebido e uma comunicação
entre ele e Binga. Ele sabe como vamos encontrar essa tal ponte.
Do outro lado, abraçada com Tília, Bia dava pulos de alegria.
Tinha certeza de que Silvia seria capaz de se abrir para aquele
tipo de percepção.
Binga, eufórico, reforçava sua admiração por aquele grupo,
cheio de clarividência e capacidade de entender as coisas.
Petica e King estavam pasmos. Todos os olhares se volta-
ram para Pedro, completamente encolhido dentro do casco.

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Parecia uma pedra. Nada de patas e cabeça. Era só o casco e


mais nada.
– Não vai ser fácil conseguir que Pedro saia da toca. Quando
ele se fecha para o mundo dessa maneira, é preciso ter paciência
– considerou Tinu.
Paulão usou todo seu poder de convencer as pessoas, mas nada,
nenhuma reação. Silvia, Petica, Tinu e King, um a um, tentavam
convencer Pedro, mas ninguém conseguia. Do outro lado, eram
visíveis a angústia e a expectativa. Zeca dava socos ameaçadores
no ar; Tília tapava a boca para se segurar e não interferir; Bia queria
chutar aquele casco velho; Gui dava pulos de ansiedade. Mas Paulão

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não desistia facilmente. Aproveitou que Pedro não podia vê-lo e


piscou para cada um, inclusive para o Binga, pedindo silêncio com
um dedo sobre os lábios. Todos entenderam que ele tinha um pla-
no. Fingindo que desistia, Paulão sinalizou para os outros voltarem,
enquanto ele e Silvia diziam um para o outro, no maior teatro:
– É melhor desistir. Ele não liga mesmo. Lamento, viu, Binga?...
mas ele tá muito velho pra isso. Acho que nós estamos exigindo
mais do que ele pode dar... Afinal, não é justo. É melhor trazer logo
os outros de volta, já que a gente não pode passar mesmo, né?
Parou de falar, fingindo que observava alguma coisa, e seguiu
com o teatro.
– O QUÊ?! Binga, esse seu gesto quer dizer que não tem como
trazer eles de volta?
Silvia emendou, também representando:
– Seu maluco, você está dizendo que só pode trazer os hu-
manos? A Tília vai ficar lá pra sempre? Ah, não... não pode ser!
Funcionou. Devagar, Pedro foi pondo a cabeça para fora e qua-
se surpreendeu o sorrisão simpático de King. Mas o olhar duro
de Petica congelou aquela demonstração de alegria antes que
Pedro percebesse que tudo não passava de encenação. O jabuti
olhou para cada um deles, deu um longo suspiro e, conformado,
começou a andar em direção ao precipício. Por um momento,
seu gesto pareceu arriscadíssimo; depois, ficaram todos perplexos:
ele caminhava no ar como se estivesse em terra firme, murmu-
rando palavras que só Binga parecia compreender. Percorridos
aproximadamente dois metros, uma passarela de alguma coisa
extremamente brilhante foi surgindo.
Um impulso, coisa rara em Paulão, fez com que ele acom-
panhasse Pedro a alguma distância. Petica, King, Tinu e Silvia

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FALTA
IMAGEM

o seguiam, enfileirados. No meio do caminho, um susto! Pedro


parou, olhou para o alto e balançou vigorosamente a cabeça,
como se buscasse alguma coisa na memória. Sua expressão in-
dicava que ele estava extremamente concentrado na tentativa
de se lembrar de algo. Aquilo pareceu a todos uma eternidade.
Voltar era impossível. Quando olharam para trás, descobriram
que a pista desaparecera depois da passagem de Silvia, a última
da fila. Um a um, foram se dando conta de que estavam os seis
suspensos no ar, no meio de um precipício altíssimo e dependen-
do inteiramente da memória de um jabuti com quase duzentos
anos de idade. Era de arrepiar! Começava a soprar um vento que,
se ficasse mais forte, os faria perder o equilíbrio e despencar lá
embaixo. Binga percebeu, mas lembrou que não podia interferir.

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Quando o pânico começava a dominá-los, e o suspense parali-


sava até a respiração, Pedro fez um gesto de quem se lembrava. No
princípio pareceu hesitante, mas logo prosseguiu, murmurando e,
lentamente, revelando o caminho.
Alívio total! Tília, Bia e Zeca dançavam abraçados depois que
a última pata de Pedro tocou a terra, completando a materiali-
zação da ponte.
Quando todos terminaram de atravessar, foi a maior gritaria.
Até Binga estava cansado e começou a sugar o néctar de uma flor
de bromélia para repor sua energia.
Tília pulou para cima do casco de Pedro, elogiando sua coragem
e fazendo-o corar de vergonha com aquelas manifestações todas.
Todos comemoravam abraçados e na maior falação, cada um
querendo contar a própria versão. Estavam eufóricos e fascinados:
podiam finalmente conversar com Binga, Tília e Pedro. O jabuti
só fazia repetir umas palavras indígenas que ninguém sabia o que
era. Não parecia nada feliz, só ficava repetindo:
– Itacaray, itaverá, itapossanga.

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– – – E N I G M A – – –
Descubra o que essas palavras significam no site
www.planetapontocom.org.br/turma e complete:

Que língua é essa?

O que significa "itacaray"?

O que significa "itaverá"?

O que significa "itapossanga"?

Mas estavam todos tão felizes, que nem se preocuparam com


o que parecia uma maluquice passageira. Bia, então, era a euforia
em pessoa. Finalmente os mais velhos conseguiam viver uma
experiência na qual ela era uma veterana.
– Tão vendo? Eu não disse? Nem acredito! Finalmente não
preciso mais ficar de tradutora para vocês todos. Tirando a Silvia,
todo mundo achava que eu era maluca, né?
Mas Bia estava sendo apenas parcialmente sincera. Afinal,
aquele era o trunfo que ela pensava ter sobre os mais velhos...
– Calma aí! – exclamou King. – Se a gente não acreditasse nisso,
a Tília não seria a regente da banda, né? O que eu não acredito
mesmo é nessa história de planta falar.
Todos ouviram, mas ninguém sabia dizer de onde viera uma
risadinha marota.

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A Floresta do
Beija-Flor Azul

S ilvia estava completamente deslumbrada com aquele lugar


paradisíaco. A curiosidade era geral! Estavam todos loucos para
conhecer o que o novo amigo afirmava ser “o cenário digno da mara-
vilhosa banda Turma do Planeta, o lugar ideal para músicos virtuosos
tocarem sua música divina”. Binga sabia como estimular e lisonjear as
pessoas. Maravilhados e ligeiramente envaidecidos, todos trataram de
segui-lo por uma trilha que por si só justificava qualquer esforço para
chegar até ali. Os mais belos exemplares da flora da Mata Atlântica
brasileira estavam diante deles: jacarandás centenários, sibipirunas,
paus-brasil, gameleiras, perobas-do-campo, ipês de todas as cores,
palmeiras de todos os formatos e de alturas variadas, samambaias,
bromélias e milhares de orquídeas isoladas e em cachos desciam das
árvores. Era como se um paisagista tivesse projetado aquele ambiente
idealizando o melhor lugar para cada coisa.
Começavam a ouvir o murmúrio de um curso d’água quando
Binga avisou:
– Chegamos!

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– Nossa, que maravilha! – Silvia estava boquiaberta.


– Caracoles!
– Putz! – Zeca e King já queriam pular no rio.
– Não creio no que estou a ver! – exclamava Petica, incrédula
diante de tanta beleza.
– É demais! – Tinu comentava com Paulão, que completou:
– Nem dá pra acreditar!
Uma árvore impressionante de tão alta e imponente se desta-
cava na entrada da clareira. Ao fundo, uma pequena cachoeira
de águas limpíssimas descia sobre pedras roliças rodeadas de
samambaias, avencas e orquídeas. Um lago se formava ali, antes
que as águas continuassem descendo por um riacho que, de
tão lindo, parecia cenário de filme.
Uma festa de borboletas de todas as cores saudava a chegada
dos visitantes.
A única maneira de retribuir tanta beleza era fazer o que me-
lhor sabiam: tocar.
Cada um pegou seu instrumento, e Tília tratou de subir no
casco de Pedro, que, mais do que nunca, estava feliz em lhe servir
de pódio. A cachorrinha foi logo comandando:
– Vamos lá! Em seus lugares, e afinando os instrumentos. Bia,
dê o tom.
Quando Bia deu o diapasão – o tom da afinação – no violino,
todos se entreolharam, maravilhados com a acústica.
Mal começaram a tocar e já notaram que uma coisa extraor-
dinária acontecia: a Floresta estava em absoluto silêncio. Não
havia um só ruído, nem do vento, nem dos pássaros, nem de
bicho algum. Até a cachoeira estava imóvel: parecia congelada,
em respeito absoluto àquela nova sonoridade.

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Em um dado momento, Tília, com seu ouvido superaguçado,


percebeu um som diferente. Parecia um novo instrumento que
começava a entrar, bem de leve, em perfeita sintonia com os outros.
O som vinha do velho Jequitibá. Movimentando seus galhos
e folhas, ele conseguia dialogar com aquela melodia desconhe-
cida da Floresta.
Aos poucos, todos foram se encaixando na música e desco-
brindo novas linguagens, sem sair do ritmo. Outros sons se incor-
poravam: a cachoeira, os pássaros, os insetos, os batráquios, os
mamíferos, cada um com seu registro, seu instrumento natural.
No auge da animação, uma voz maravilhosa entrou seguindo
King, Petica e Silvia. Era de alguém tão afinado quanto eles, só

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que muito melhor, com uma extensão que alcançava quase duas
oitavas acima. Um espanto!
Era Hebe, a pop-star da Floresta. A voz mais famosa daque-
le pedaço. Atrás dela, e com um swing irresistível, um coro de
capivaras chegava fazendo o backing vocal. Era como se todos
tivessem passado a vida cantando juntos, em pura harmonia!
O melhor espetáculo que alguém jamais assistira. Tinha até um
detalhe cômico: a plateia.
Cômico, mas não hilariante, porque era toda a natureza na música
– aliás, quase toda – e apenas um ser na plateia: Leopoldo, um
tamanduá-bandeira que a cada solo de Hebe se acabava de tanto
aplaudir e vibrar. Paulão, Bia e Tília, que estavam mais próximos,
tinham que se esforçar para não estourar de rir. Paulão pensava que
nunca tinha visto tanta tietagem, nem quando eles tocavam na es-
cola e os garotos vibravam quando Silvia e Petica entravam em cena.
Além disso, embora mostrasse ter ritmo, aquele bicho grande
e peludo era completamente desengonçado. Com aquela ginga,
lembrava até o cantor Tim Maia. O estranho é que ele não emitia
nenhum som. Só mais tarde Bia explicou que tamanduá não tem
aparelho fonador e, portanto, ele não fala. É mudinho da silva.
Quem parecia querer rir mas não sabia como e quase quebrou
todo o clima foi o maior e mais enraizado ser da Floresta do Beija-
Flor Azul: o Jequitibá. Todos perceberam na hora. Binga deu a
maior bronca, primeiro em Leopoldo, que já estava atrapalhando,
e em seguida, apesar de todo o respeito, virou-se de asa em riste
para a velha, elegante e imponente árvore.
Naquela altura dos acontecimentos, o Jequitibá fazia o maior
esforço para recuperar a compostura. Como ele parecia não
decidir se sorria ou se ficava sério, Tília resolveu o problema

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ao convocá-lo para entrar na música, o que o obrigava a fazer


um solo naquele momento.
A árvore tratou de se recompor o mais rapidamente possível e
começou a tocar com os galhos, produzindo um som magnífico.
Sua folhagem era tão densa, que impedia a luz do sol de ofuscar
um outro ser que, de outra maneira, ia se incorporando à banda.
Era Gasper, o vaga-lume, que dali em diante se revelou impres-
cindível para os shows da banda: ele fazia a vez da iluminação.
A música foi se tornando mais poderosa e grandiosa à medida
que Tília aprendia os sons de cada elemento da natureza e os
incorporava à orquestração original de Paulão – tudo isso de
ouvido. Um a um, cada elemento primeiro solava e, em seguida,
se incorporava ao conjunto.
Primeiro foi a cascata, que começou gotejando e, pouco
a pouco, aumentou o volume de suas águas, no ritmo. E foi
rolando seus cascalhos.
Tília, cada vez mais encantada, começou a chamar cada
pássaro para entrar na música. Sabiás, saíras, inhambus, tiés-
sangue, tiés-fogo, uirapurus, patativas, anuns, engole-ventos,
pintassilgos, pintarroxos, tordos, tujus, tuins, quero-queros...
Todos foram integrando a orquestra.
Percebendo o ritmo de Leopoldo, Zeca fez um gesto indi-
cando um atabaque para ele. Tília autorizou com a batuta, e
esse foi um espetáculo à parte. Naquele momento, a banda
passou a contar com mais um integrante na percussão. E que
presença ele tinha!
A natureza toda parecia querer dar seu show.
Impacientes, os sapos-martelo e as rãs saltaram para fora do
lago, esperando, com os olhos esbugalhados, o sinal de Tília,

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a essa altura em total êxtase. Literalmente transportada pela mú-


sica e absolutamente concentrada, a regente parecia flutuar no ar.
E a maravilha continuava...
Os grilos entravam e eram seguidos por cigarras, besouros e
borboletas batendo as asas sincopadamente, enquanto uma horda
de formigas marcava o compasso pulando em conjunto, como
um só corpo, produzindo um som único e coletivo. Ouviam-se
uns alegres plufts e plofts enquanto os peixes pulavam na água.
Tatus-bola se chocavam uns nos outros, num misto de coreografia
e percussão. Tinu começou a tocar o didgeridoo como se tivesse
nascido tocando aquele instrumento. Tília foi se empolgando
cada vez mais com a regência. A energia era tanta, que ela dava
a impressão de ter o dobro do seu tamanho real.
Num dado momento, quando todos já estavam na maior
integração e harmonia, ela sinalizou para Binga trazer o vento. E
o vento começou a brincar no meio da natureza. Passou sobre o
capim, depois entre as folhas dos buritizeiros para, mais adiante,
produzir um som cavo na copa das gameleiras.
Depois foi se transformando em vendaval, carregando, nu-
vens de chuva. Enquanto isso, cada músico da banda dava tudo
de si, numa harmonia tão extraordinária que, quando esse
som cobriu a Floresta, aconteceu um fenômeno nunca visto.
A música atingia seu ponto mais alto, e Tília decidiu convocar
os raios e os trovões.
Quando o ribombar de um trovão, seguido de uma descarga
elétrica, desencadeou uma poderosíssima explosão luminosa. E
o que parecia ser um final triunfante se transformou na abertura
de um Portal do Tempo. Exatamente no momento em que Tinu
finalmente conseguiu harmonizar o som do didgeridoo com o

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acorde final. Sem ter a mínima ideia do que estava acontecendo,


todos se viram transportados com seus instrumentos para um
outro lugar em outro período da história da humanidade. Eles já
conheciam o poder da música e sonhavam em viajar no tempo e,
graças à magia da Floresta do Beija-Flor Azul, conseguiram pela
primeira vez realizar essa façanha.
– UAU! Que incrível! Será que finalmente abrimos o Portal do
Tempo? – Paulão estava na maior excitação.
– Caramba! Onde a gente veio parar? Que lugar é esse? – King
Fábio foi interrompido por um som extraordinário que vibrava
dentro de cada um deles com uma potência impressionante.
Como que atendendo a um chamado, todos correram em dire-
ção àquela música e deram de cara com um grupo de tocadores
de didgeridoo, no meio de um ritual dos aborígenes australianos,
numa natureza completamente diferente de tudo que eles conhe-
ciam. Quatro anciãos elegantes e altivos pareciam reger o conjunto.
Eles tinham o corpo inteirinho pintado com formas geométricas
e desenhos de animais e de plantas. Na cabeça portavam adornos
de plumas e peles de animais. As cores branca, amarela e vermelha
contrastavam com a pele escura, e cada um tinha no rosto a sua
própria máscara branca. Um deslumbramento! Outros adultos,
alguns jovens e crianças, que também tinham o corpo completa-
mente coberto por pinturas, interromperam sua dança.
Olhavam para a Turma como se estivessem conhecendo um
novo povo, novos vizinhos.
– Encontrei minha galera! – foi logo dizendo Tinu, encantada
com o som dos didgeridoos.
– Que visual! Caramba, quero aprender a fazer essa pintura
corporal! – O olho clínico de Silvia registrava.

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– Pessoal, tô sentindo uma energia superpositiva. Nem um


pouquinho de medo, nada, nada. – Bia já começava a se comu-
nicar com os novos amigos.
– O Stephen, meu amigo australiano, me contou que esses
povos não guerreavam, eram superpacíficos, adoravam e respei-
tavam a natureza, e que por isso, hoje em dia, músicos modernos
estão aprendendo sobre a cultura deles e a tocar o didgeridoo.
Vai ser bom pro planeta, né? – Paulão emendou.
Subitamente uma criança aborígene apontou para o didge-
ridoo da Tinu e gritou:
– Yidaki!
Tinu foi se aproximando dos músicos atendendo ao convite
de um dos anciãos para tocar junto com o grupo.
Bia foi logo traduzindo:
– É o nome desse instrumento para esse pessoal daqui. Aquele
senhorzinho tá dizendo que ele representa a mãe serpente, a cria-
dora da vida. Ah, ele tá te convidando pra tocar com eles, Tinu.
Pronto! Era tudo que nossos amigos mais gostavam: música.
Não demorou nada para todos se integrarem e produzirem um
som da pesada, como se nunca tivessem feito outra coisa na vida.
Além de tocar o didgeridoo, a Turma aprendeu muitas novida-
des com os novos amigos: a arte de fazer e atirar o bumerangue; o
preparo de tintas extraídas diretamente da natureza; a produção
de fogo com paus e pedras; e a participação em uma corrida
com os cangurus. O mais importante foi saber que, quando eles
sopravam o didgeridoo voltando sua extremidade para o chão,
podiam descobrir se ali tinha água subterrânea ou não.
Bia descobriu que eles nunca tinham visto nenhum ser hu-
mano de pele clara e que vestisse roupas.

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– Então estamos num tempo antes da chegada dos coloni-


zadores ingleses. Putz, isso é antes de 1700! – deduziu Paulão.
Foram muitas descobertas de parte a parte, e o dia terminou
com um espetáculo musical celebrando o novo conhecimento
mútuo, que já estava com cara de amizade antiga.
E foi então que a Tília recuperou seu posto e regeu todos como
nunca tinha feito antes, incorporando todos os sons daquele novo
mundo. Do grunhido dos coalas ao canto das emas, passando
pela marcação dos saltos dos cangurus e dos wallabies e pelos
mergulhos dos ornitorrincos, Tília foi chamando o som das folhas
dos eucaliptos, o canto dos periquitos e o zumbido dos insetos,
até chegar a vez dos ventos, que traziam nuvens, raios e trovões.
Toda a natureza parecia se deixar conduzir pela maestrina, que
exigiu o máximo dos didgeridoos e culminou com o acorde fi-
nal – a chave que reabriu o Portal do Tempo e trouxe de volta
a banda Turma do Planeta para o lugar onde tudo começou: a
Floresta do Beija-Flor Azul.
Essa foi a primeira vez.

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© Autêntica Editora 2023. Todos os direitos reservado. É proíbida a reprodução.

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Sobre a autora

SILVANA GONTIJO
Além de escritora, ela faz um monte de outras coisas legais: é
diretora de arte, consultora de moda, desenhista industrial, ce-
nógrafa, jornalista, roteirista... ufa! Quando a Silvana era pequena,
vivia em contato com a natureza e com a arte brasileira, e isso
ajudou a descobrir o seu maior sonho: transmitir às crianças a
importância da nossa cultura, assim como as histórias, os mitos,
a música... Bacana, né?
A Silvana também está à frente do planetapontocom, uma
organização que busca soluções para a educação de crianças e jo-
vens por meio de experiências divertidas e prazerosas. A Turma do
Planeta faz parte dessa ideia e traz incríveis personagens que viajam
no tempo através da música e vivem grandes desafios ambientais,
éticos, científicos e muito mais.
Saiba mais em: www.turmadoplaneta.com

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Esta obra foi composta com a tipografia Cronos Pro e


impressa em Offset 90 g/m² na Formato Artes Gráficas.
Como tudo começou é a primeira aventura inesquecível
da Turma do Planeta – uma galera superlegal e muito
animada que tem uma coisa em comum: a paixão pela
música. Na primeira semana das férias de julho, tudo
que eles querem é descobrir como tocar o didgeridoo
– um instrumento de sopro muito longo, uma espécie
de tubo de madeira. Mas, para isso, eles precisam se
aventurar fora da cidade e descobrem o mundo mágico
da Floresta do Beija-Flor Azul, onde aprendem a viajar
no tempo através da música.

ISBN 978-65-5928-125-1

9 786559 281251

Leia também:
O enigma do trocano (vol. 2)
Sonhando acordado (vol. 3)
Agitando a galera (vol. 4)
Nas águas do tempo (vol. 5)
Um rio que canta e encanta (vol. 6)

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