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Crianças e cavalos:
Uma visão neuropsicopedagógica
na Terapia Assistida por Equínos
e Equoterapia

Autores

Roberto Aguilar Machado Santos Silva


Suzana Portuguez Viñas

Santo Ângelo, RS
2018
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos com:

e-mail: suzana-vinas@yahoo.com.br
robertoaguilarmss@gmail.com

Supervisão editorial: Suzana Portuguez Viñas


Projeto gráfico: Roberto Aguilar Machado Santos Silva
Editoração: Suzana Portuguez Viñas

Capa: Roberto Aguilar Machado Santos Silva

1ª edição

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

2
Autores

Roberto Aguilar Machado Santos Silva


Etologista, Médico Veterinário, escritor
poeta, históriador
Doutor em Medicina Veterinária
robertoaguilarmss@gmail.com

Suzana Portuguez Viñas


Pedagoga, psicopedagoga, escritora,
editora, agente literária
suzana_vinas@yahoo.com.br

3
Pensamento

Qualquer que seja a crise de sua vida


nunca destruas as flores da esperança
para que possas colher os frutos da fé.
Konrad Lorenz

4
Apresentação
.

O livro Crianças e Cavalos - Uma Visão


Neuropsicopedagógica na Terapia Assistida por Equínos e
Equoterapia, visa investigar as bases filosóficas, etológicas,
antropológicas e neurobiológicas da relação entre as crianças e
os cavalos e seus reflexos com auxílio da neuropsicopedagogia
na Terapia Assistida por Equínos, Equoterapia e Hipoterapia.
Roberto Aguilar Machado Santos Silva
Suzana Portuguez Viñas

5
Dedicatória
Aos que nos precederam, pelo o que construíram.

(a) Konrad Lorenz1; (b) Stanley I. Greenspan 2; (c) Monty Robe

1 Konrad Zacharias Lorenz, zoólogo, etólogo e ornitólogo austríaco. Foi agraciado


com o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1973, por seus estudos sobre o
comportamento animal, a etologia.
2 Stanley Greenspan (1 de junho de 1941 - 27 de abril de 2010) foi professor

clínico de psiquiatria, ciências comportamentais e pediatria na George


Washington University Medical School e um psiquiatra infantil praticante. Ele era
mais conhecido por desenvolver a influente abordagem para tratar crianças com
distúrbios do Espectro Autista e deficiências de desenvolvimento.
6
Nunca devemos obrigar um cavalo a confiar em nós. A confiança
é algo a ser conquistado e não demandado.
Monty Roberts

Monty Roberts.

7
Sumário

Introdução.......................................................................................9
Parte 1. O cavalo na mitologia.....................................................10
Capítulo 1. O cavalo na mitologia.................................................11
Parte 2. Origem e comportamento dos cavalos...........................17
Capítulo 2. Sobre a origem, evolução e propagação dos
equídeos.......................................................................................18
Parte 3. Comunicação entre humanos e cavalos.........................66
Capítulo 3. Uma linguagem própria: a comunicação entre
humanos e cavalos.......................................................................67
Parte 4..........................................................................................81
Capítulo 4. Interações entre crianças e cavalos na Terapia
Assistida por animais e
Equoterapia.............................................82
Capítulo 5. Hipoterapia e Equoterapia........................................103
Bibliografia consultada................................................................148

8
Introdução
Existem muitas hipóteses sobre a história da domesticação
do cavalo. Os cavalos apareceram pela primeira vez na arte das
cavernas paleolíticas em torno de 30 mil a.C. Estes eram cavalos
selvagens que eram caçados por sua carne. No entanto, é
conhecido exatamente como e quando o cavalo se tornou
domesticado. Uma evidência clara do uso precoce do cavalo é
como meio de transporte. Esta evidência data de enterros de
carruagens em torno do ano 2000 a.C., encontrados em tumbas.
Já a utilização do cavalo, com a finalidade de reabilitação,
não é uma descoberta recente. Desde 458-370 a.C. já existiam
estudos e/ou publicações, que traziam a utilização do cavalo
como método terapêutico. Hipócrates, o pai da medicina, já
aconselhava a equitação para regenerar a saúde e preservar o
corpo humano de muitas doenças.
Várias terapias, que envolvem interações com cavalos e
outros equídeos são usadas para indivíduos com e sem
necessidades especiais, incluindo aqueles com problemas físicos,
cognitivos e emocionais. As terapias e terminologia mais comuns
usadas para descrevê-las são aqui discutidas.

9
10
Capítulo 1
O cavalo na mitologia
O Centauro
Na mitologia grega, o centauro (em grego Κένταυρος,
Kentauros, "matador de touros", plural Κένταυρι, Kentauri; em
latim Centaurus/Centauri) é uma criatura com cabeça, braços e
dorso de um ser humano e com corpo e pernas de cavalo. Os
centauros viviam nas montanhas de Tessália.

Tessália
Tessália (em grego: Θεσσαλία; transl.: Thessalía; em
tessálio: Πετθαλία - Petthalía) é o nome tradicional de
uma antiga região geográfica e de uma moderna região
administrativa da Grécia. Faz fronteira com a Macedônia
ao norte, o Épiro no oeste, a Grécia Central no sul e o
Mar Egeu no leste. As Espórades também fazem parte
da região. Antes da Idade das Trevas grega, era
conhecida como eólia (Aeolia; Αἰολία) e é com este nome
que ela aparece na Odisseia de Homero. A região
tornou-se parte da Grécia moderna, em 1881, depois de
quatro séculos e meio de controle otomano. Desde 1987,
a região passou a ser uma das 13 regiões do país e está
subdividida (desde o plano Kallikratis de 2010) em 5
unidades regionais e 25 municípios. A capital da região é
Lárissa. O porto mais importante é Vólos, o terceiro mais
importante de toda a Grécia. Ao contrário da crença
popular, a cidade de Tessalônica não fica na Tessália,
mas na província da Macedônia (Thessaloniki significa
"vitória sobre os tessálios" e não "vitória dos tessá

11
Mapa antigo da Grécia, mostrando a região da
Tessália (borda vermelha) ao centro.

Repartiam-se em duas famílias:

Os filhos de Íxion e Nefele


Os filhos de Íxion3 e Nefele4, que simbolizavam a força
bruta, insensata e cega, viviam originalmente nas montanhas da

3 Íxion figura entre os três maiores vilões da mitologia grega, ao lado de Sísifo e
Tântalo. Tanto a culpa de Tântalo quanto a justiça no castigo de Sísifo são
questionáveis, contudo, não há argumentos capazes de defender Íxion. Íxion,
filho de Flégias, descendente do deus-rio Peneu foi rei dos Lápitas, um povo
que habitava a Tessália, próximo aos montes Pélios e Ossa. Tendo-se
apaixonado por Dia, filha de Eioneu, prometeu-lhe seus cavalos em troca da
mão de sua filha. Após o casamento, Íxion negou ao seu sogro os cavalos que
lhe havia prometido, ao que este reagiu com a tomada à força do que lhe era
12
Tessália e alimentavam-se de carne crua.
Alternativamente, consideravam-se filhos de Kentauros (o
filho de Íxion e Nefele) e algumas éguas magnésias, ou de Apolo5

devido, fazendo com que Íxion jurasse vingança. Não tendo conseguido decidir
entre a morte e o sofrimento para seu sogro, Íxion optou por ambos: construiu
uma câmara incendiária e camuflou-a em sua casa como um cômodo. Eioneu,
tendo aceitado um convite de Íxion para uma reconciliação dirigiu-se à casa
deste e caiu em sua armadilha. Enquanto era incinerado, seus gritos de
desespero levaram Íxion ao arrependimento, mas era tarde. Ao abrir a porta da
câmara, Íxion se deparou com o corpo carbonizado de seu sogro.
4 Na mitologia grega, Nefele era esposa de Atamante e a mãe de Frixo e Hele.

No entanto, ela foi repudiada por causa de Ino, filha de Cadmo, rei de Tebas e
da deusa Harmonia. Ino forjou um oráculo, para que Atamante matasse os
filhos, pois Ino queria herdeiros apenas do seu sangue. Então Nefele,
adoradora de Apolo, pediu ajuda ao seu deus, que inclusive não gostou do
falso oráculo. Então ele mandou o carneiro com o velo de ouro para salvar as
crianças. O problema é que Hele caiu no Helesponto. Frixo chegou a Cólquida
onde foi muito bem recebido pelo rei Eetes.
5 Apolo (em grego: Ἀπόλλων, transl. Apóllōn, ou Ἀπέλλων, transl. Apellōn) foi

uma das divindades principais da mitologia greco-romana, um dos deuses


olímpicos. Filho de Zeus e Leto, e irmão gêmeo de Ártemis, possuía muitos
atributos e funções, e possivelmente depois de Zeus foi o deus mais influente e
venerado de todos os da Antiguidade clássica. As origens de seu mito são
obscuras, mas no tempo de Homero já era de grande importância, sendo um
dos mais citados na Ilíada. Era descrito como o deus da divina distância, que
ameaçava ou protegia desde o alto dos céus, sendo identificado como o sol e a
luz da verdade. Fazia os homens conscientes de seus pecados e era o agente
de sua purificação; presidia sobre as leis da Religião e sobre as constituições
das cidades, era o símbolo da inspiração profética e artística, sendo o patrono
do mais famoso oráculo da Antiguidade, o Oráculo de Delfos, e líder das
Musas. Era temido pelos outros deuses e somente seu pai e sua mãe podiam
contê-lo. Era o deus da morte súbita, das pragas e doenças, mas também o
deus da cura e da proteção contra as forças malignas. Além disso era o deus
da Beleza, da Perfeição, da Harmonia, do Equilíbrio e da Razão, o iniciador dos
jovens no mundo dos adultos, estava ligado à Natureza, às ervas e aos
rebanhos, e era protetor dos pastores, marinheiros e arqueiros. Embora tenha
tido inúmeros amores, foi infeliz nesse terreno, mas teve vários filhos. Foi
representado inúmeras vezes desde a Antiguidade até o presente, geralmente
como um homem jovem, nu e imberbe, no auge de seu vigor, às vezes com um
13
e Hebe6. Conta-se que Íxion planejava manter relações sexuais
com Hera, mas Zeus, seu marido, evitou-o modelando uma
nuvem (nefele, em grego) com a forma de Hera. Posto que Íxion é
normalmente considerado o ancestral dos centauros, pode se
fazer referência a eles poeticamente como Ixiônidas.

Os filhos de Filira e Cronos


Os filhos de Filira7 e Cronos, dentre os quais o mais
célebre era Quíron, amigo de Héracles, representavam, ao
contrário, a força aliada à bondade, a serviço dos bons combates.

manto, um arco e uma aljava de flechas, ou uma lira, e com algum de seus
animais simbólicos, como a serpente, o corvo ou o grifo.
6 Hebe (em grego antigo: Ήβη, transl.: Hēbē), na mitologia grega, é a deusa da

juventude, filha legítima de Zeus e Hera. Por ter o privilégio da eterna


juventude, representava a donzela consagrada aos trabalhos domésticos.
Assim, cumpria no Olimpo diversas obrigações: preparava o banho de Ares,
ajudava Hera a atrelar seu carro e servia néctar e ambrosia aos deuses. Um
dia, quando executava essa tarefa, caiu numa posição inconveniente. Segundo
uma versão, os olímpicos puseram-se a rir sem parar e a jovem,
envergonhada, negou-se a continuar servindo-os. Foi substituída pelo mortal
Ganímedes, um belo pastor, visto por Zeus cuidando de seu rebanho. Hebe
dançava com as musas e as horas, ao som da lira de Apolo. Casou-se com
Héracles, quando o herói, após sua morte, foi imortalizado, e com ele teve dois
filhos, Alexiares e Anicetus.
7 Filira (Φιλύρα; translit. Philyra), na mitologia grega, era uma oceânide, filha de

Oceano e Tétis. Ela se casou com Náuplio, com quem teve vários filhos. Ela
também foi mãe do centauro Quíron, com Cronos. Quando Quíron nasceu, ela
ficou tão triste com sua aparência que o abandonou. Ela é a deusa do perfume,
escrita, cura, beleza e papel. Ela ensinou a humanidade a fazer papel.
14
Centauro.

Os centauros são muito conhecidos pela luta que


mantiveram com os Lápitas8, provocada pelo seu intento de raptar
Hipodâmia no dia da sua boda com Pirítoo, rei dos Lápitas e
também filho de Íxion. A discussão entre estes primos é uma
metáfora do conflito entre os baixos instintos e o comportamento
civilizado na humanidade. Teseu, herói e fundador de cidades,
que estava presente, inclinou a balança para o lado da ordem
certa das coisas e ajudou Pirítoo. Os centauros foram expulsos da
Tessália e foram habitar o Épiro. Mais tarde, Héracles (Hércules)
exterminou quase todos. Cenas da batalha entre os Lápitas e os
centauros foram esculpidas em baixos relevos no friso do
Partenão, que estava dedicado à deusa da sabedoria, Atena.

Quíron
Quíron (em grego: Χείρων, transl. Kheíron, "mão"[Nota 1]),
na mitologia grega, era um centauro, considerado superior por
seus próprios pares. Ao contrário do resto dos centauros que,

8 Os lápitas, na mitologia grega, eram um povo da Tessália, que vivia próximo aos
maciços de Pindo e Ossa, de onde expulsaram os Pelasgos, que eram os
primitivos habitantes. A linhagem real dos lápitas tinha como antepassado o deus-
rio Peneu, pai de Hipseu e Stilbe. Stilbe e Apolo foram os pais de Lápito e
Centauro.
15
como os sátiros, eram notórios por serem bebedores contumazes
e indisciplinados, delinquentes sem cultura e propensos à
violência quando ébrios, Quíron era inteligente, civilizado e
bondoso, e célebre por seu conhecimento e habilidade com a
medicina.

Quíron.

Pégaso
Pégaso (em grego: Πήγασος; transl.: Pégasos) é um cavalo
alado símbolo da imortalidade. Sua figura é originária da mitologia
grega, presente no mito de Perseu e Medusa. Pégaso nasceu do
sangue de Medusa quando esta foi decapitada por Perseu.
16
Belerofonte matou a poderosa Quimera, montando Pégaso após
domá-lo com ajuda de Atena e da rédea de ouro, que em seguida
tentou usá-lo para chegar ao Monte Olimpo. Mas Zeus fez com
que ele derrubasse seu cavaleiro fazendo uma vespa o picar, e
Belerofonte morreu devido à grande altura. Zeus o recompensou
transformando-o na constelação de Pégaso, onde deveria dali em
diante ficar à serviço dos deuses. Outra história diz que quando
Zeus mandou a vespa e Belerofonte caiu, Atena ordenou que o
chão ficasse macio, assim ele não morreria pela queda. Pégaso é
considerado por muitos, o Rei do Céu. Perseu usou-o como
transporte, exemplo no filme Fúria de Titãs. (Mas lembrando que
na mitologia grega, Perseu jamais montou Pégaso, o único que
montou Pégaso foi Belerofonte).

Belerofonte9 e Pégaso.

9 Belerofonte (em grego antigo: βελλεροφῶν ou βελλεροφόντης), na mitologia


grega, foi um herói, venerado na Lídia e em Corinto, filho de Posídon, adotado
por Glauco, filho de Sísifo, da casa governante de Corinto, dono do cavalo
alado Pégaso, que encontrou junto à fonte de Pirene, a qual teria nascido de
um coice seu e da qual se dizia que, quem dela bebesse, tornar-se-ia poeta,
como é referido nos Lusíadas, de Camões.
17
18
Capítulo 2
Sobre a origem, evolução
e propagação dos
equídeos
Os cavalos e outros equídeos nem sempre foram como os
que vemos hoje. Numerosas mudanças ocorreram e muitas
espécies existiram sobre o período de milhões de anos. O
principal centro desta diversificação foi na América do Norte
durante o período terciário da história geológica. As alterações
registradas no registro geológico parecem ter sido esporádico,
provavelmente em resposta a ambientes em mudança e como
resultado da alteração da composição genética. Uma visão da
ascendência do cavalo fornece-nos uma base para compreender
a biologia comportamental do cavalo doméstico. Como membro
da família Equidae, o cavalo é colocado com outros recentes
equídeos no gênero Equus. O cavalo doméstico, Equus caballus
Linnaeus 1758, é o tipo de espécie para o gênero Equus. É um
das várias espécies equídeas vivas, que também incluem o
cavalo de Przewalski, o asno africano, asno asiático, asno
selvagem indiano (Equus hemionus khur), kiang e bem como as
zebras.

Origem e evolução dos equídeos


Um membro da família Equidae, o burro selvagem indiano
(Equus hemionus khur) é colocado com outros equídeos recentes
19
para o gênero Equus. Nos dois milhões de anos desde sua
primeira aparição, membros do gênero Equus migraram em
muitas direções diferentes e em momentos diferentes. As
espécies Equus sobreviveram e se diversificaram na Ásia, Europa
e África. No Mioceno, antes do início da domesticação, o
isolamento de populações foi sem dúvida, o que levou a que são
agora espécies distintas. Os verdadeiros cavalos habitavam terras
baixas eurasianas ao norte de grandes cadeias montanhosas.

Escala de tempo geológico


A escala de tempo geológico representa a linha do tempo
desde o presente até a formação da Terra, dividida em éons,
eras, períodos, épocas e idades, que se baseiam nos grandes
eventos geológicos da história do planeta. Embora devesse servir
de marco cronológico absoluto à Geologia, não há concordância
entre cientistas quanto aos nomes e limites de suas divisões. A
versão aqui apresentada baseia-se na edição de 2004 do Quadro
estratigráfico Internacional da Comissão Internacional sobre
Estratigrafia da União Internacional de Ciências Geológicas.

20
Representação em formato de relógio mostrando algumas
unidades geológicas e alguns eventos da história da Terra.

21
Mioceno
Mioceno ou Miocénico é a quarta época da era geológica
Cenozoica, e a primeira época do período Neogeno. O
nome desta era veio das palavras gregas μείων (meiōn,
“menos”) e καινός (kainos, “novo”) e significa "menos
recente" por ter 18% menos invertebrados marinhos
modernos que o Plioceno. Está compreendida entre
cerca de 24 milhões de anos e cerca de 5 milhões de
anos. A época Miocena sucede o Oligoceno (do período
Paleogeno, de sua era) e precede o Plioceno. Divide-se
nas idades Aquitaniana, Burdigaliana, Langhiana,
Serravalliana, Tortoniana e Messiniana, da mais antiga
para a mais recente. Caracteriza-se principalmente pela
adaptação final de espécies marinhas principalmente de
focas e baleias. Ao contrário de outras divisões do tempo
geológico, não existe um evento mundial que separe o
Mioceno de seu antecessor ou sucessor, sendo
identificadas vários limites eventos regionais. Diversas
cordilheiras, como os Pirenéus, os Alpes e o Himalaia,
continuaram com seu soerguimento, produzindo muitos
sedimentos e criando alguns depósitos de petróleo
atuais em zonas, que na época, eram costas marinhas
rasas. Com relação a deriva continental, o planeta já
estava com aspecto muito próximo ao atual, sendo
mínimas as diferenças com as modernas características
geológicas. Dentre elas se podem destacar a ausência
da ponte de terra (istmo do Panamá) interligando as
duas Américas e ainda existiam alguns remanescentes
do mar de Tétis separando a Península Arábica (na
época ainda totalmente unida à África) do restante da
Eurásia. Porém, ambas as diferenças desapareceriam
ao final do Mioceno.

Conforme Lamas (2017), a evolução do Equus cabalus nas


últimas dezenas de milhões de anos teve sempre uma diretriz
bem marcada: a de atingir a excelência na velocidade e no
22
percorrer da distância. As forças impulsionadoras dessa evolução
consistiram em mudanças ambientais dramáticas que ocorreram
na Terra no período Oligoceno e Mioceno, tais como o retrocesso
de glaciares e de florestas e o aparecimento de vastas planícies
de pastagens que obrigaram o cavalo a tornar-se um forrageiro
nômade de grandes distâncias. Ao mesmo tempo, que as
populações de forrageiros floresciam e abundavam neste novo
habitat, surgiam também grandes e velozes predadores. Assim, o
ancestral do cavalo teve de desenvolver a vertente da velocidade
para conseguir fugir dos predadores, chegando aos 60 km/h, bem
como a vertente da endurance onde chegavam a percorrer
continentes inteiros em cada estação climática em busca de
alimento e água. Para ter uma noção, uma manada de cavalos
deambula uma média de 40 km diários, o que significa que
atravessaria Portugal de norte a sul em 22 dias… Para tal o seu
sistema musculo-esquelético sofreu muitas e significativas
alterações (relembro o número anterior desta revista). Com o
tempo, os músculos equínos tornaram-se extremamente
desenvolvidos, contudo a sua atividade contrátil exige energia e
oxigênio e no final produzem muito calor. A sua eficiência
energética é de apenas 30%, ou seja, apenas 30% da energia
gasta se traduz em movimento e os outros 70% são libertados na
forma de calor.
No processo evolutivo dos equínos, os músculos mais
distais do membro retrocederam dando origem a longas e finas
estruturas fibro-elásticas extremamente eficientes na locomoção –
os tendões.

23
Mapa do período Mioceno

24
Fósseis de Hipparion do Mioceno
Superior de Baogeda Ula, Mongólia
Interior, China
Cavalos Hipparionine foram amplamente distribuídos na
América do Norte e Velho Mundo, e eles eram especialmente
abundantes durante o Mioceno e Plioceno, na Eurásia. Como
resultado, os fósseis Hipparion são marcadores biológicos
importantes para correlações estratigráficas bem como
reconstruções climáticas e ambientais (ROSSETTI, 2017).

Gênero Hipparion.

Conforme Rossetti (2017), os fósseis do gênero Hipparion


são os mais representativos nos estratos terrestres do Mioceno e
Plioceno tardio da China, e seus ricos espécimes em fóssil são
encontrados em muitas localidades. A maioria das localidades
que possuem Hipparion na China e os fósseis de Hipparion no
centro da Mongólia foram coletados a partir dos depósitos de
barro vermelho, como em Tuchengzi, em Huade County e
Wulanhua, em Siziwang Banner. A partir dos depósitos fluviais e
25
lacustres da região central da Mongólia Interior, foram
descobertos um grande número de localidades de micro-
mamíferos, no qual os fósseis Hipparion esporádicos foram
encontrados, sem relatórios específicos e descrições detalhadas.
Deng e seus colegas relataram o encontro de Hipparion
tchikoicum (subgênero Baryhipparion) nos depósitos do Mioceno
tardio da Baogeda Ula na faixa Abag, Mongólia Interior, na China,
na última edição Historical Biology online, uma revista
internacional de paleobiologia.
Os ectoflexids profundos (medida dos vales externomedial)
dos pré-molares e as porções arredondadas duplas nos dentes
inferiores colocaram os espécimes de Baogeda Ula nas formas
primitivas de Hipparion, na Eurásia. As duas espécies norte-
americanas de Hipparion (H. shirleyi e H. tehonense) com
ectoflexids profundos e arredondados duplo em pré-molares
inferiores podem ser as formas ancestrais do subgênero
Baryhipparion.
A nova descoberta fez a expansão Eurasiana desse
subgênero ficar mais clara: ele apareceu pela primeira vez no
norte da China durante a final do Mioceno, e depois se espalhou
para o norte ao Planalto Mongol e Transbaikalia; que migraram
para o oeste e para a Europa através do Cazaquistão e Cáucaso
no Plioceno; e sobreviveu em Transbaikalia até o Pleistoceno.
O Hipparion tchikoicum pertence ao subgênero
Baryhipparion, um grupo primitivo de cavalos hipparionine que
ocorre principalmente no Plioceno do norte da Eurásia. A
descoberta de mais localidades que possuem H. tchikoicum é
benéfica para compreendermos o significado zoogeográfico do
subgênero Baryhipparion. Além disso, o Baogeda Ula Hipparion
conecta a distribuição desta espécie na Bacia de Yushe e na
Mongólia. O H. tchikoicum era cronologicamente mais recente do
que H. insperatum, e a distribuição começou a partir de Baodean
porque os espécimes de H. tchikoicum foram coletados a partir de
diversas argilas no topo da Formação Mahui em Ouniwa. Na
26
localidade, a espécie H. insperatum, e os estratos expostos estão
no topo das formações Gaozhuang e Mazegou.
A idade geológica das camadas Cenozóicas mais tardias
foi bem datada, e concluiu que a fronteira entre as formações
Mahui e Gaozhuang está em cerca de 5,7 milhões de anos, então
a primeira aparição de H. tchikoicum deve ser em torno de 6
milhões de anos. Esta idade é uma boa referência para o
Hipparion de Baogeda Ula. Combinando a datação dos basaltos e
os fósseis de micro-mamíferos abaixo do horizonte da camada
Hipparion, a idade da cama de Hipparion em Baogeda Ula deve
ser de 6 milhões de anos.

Mapa com a localização de Gaozhuang, na China.

A evolução do cavalo
Os primeiros ossos fósseis de equídeos, que chegaram à
luz da ciência, foram escavados em Montmartre na cidade de
Paris. Foram enviados ao Conservatório de Paris para serem
estudados pelo famoso Barão Georges Cuvier, que em 1825
ilustrou e descreveu os restos, que ele chamou de Paleotherium.
Cuvier, considerado o pai da paleontologia, estava correto ao
27
considerar o Paleotherium do eocene como morfologicamente
semelhante ao tapir.

Paleotherium
O Palaeotherium (bicho antigo) é um gênero extinto de
ungulado de perissodactilo primitivo. George Cuvier originalmente
os descreveu como um tipo de tapir e, como tal, o Palaeotherium
é reconstruído popularmente como um animal similar a uma anta.
Reexaminações recentes dos crânios mostram que a cavidade
nasal não foi moldada para suportar um tronco pequeno, iniciando
assim uma tendência recente de reconstruí-los como mais
parecidos.
Estudos anatômicos recentes também sugerem que o
Palaeotherium, juntamente com outros gêneros, como
Hyracotherium, estavam intimamente relacionados aos cavalos. A
espécie média de Palaeotherium tinha cerca de 75 cm de altura
no ombro e vivia nas florestas tropicais cobrindo a Europa há
cerca de 45 milhões de anos, durante o início do meio do Eoceno.
A maior espécie, P. magnum de Mid Eocene France, tornou-se
quase tão grande como um cavalo.

Palaeotherium.

28
Esqueleto do Palaeotherium magnum.

As informações abaixo, sobre a evolução do cavalo foram


baseados no trabalho de Souza (2017), em seu artigo intitulado A
Origem e Evolução do Cavalo, afirmou que o primeiro equídeo de
que há registo foi classificado pelo nome de Hyracotherium.

Hyracotherium ou Eohippus
Era um pequeno animal de floresta nos primórdios do
Eoceno, há cerca de 55 milhões de anos – “apenas” 10 milhões
de anos depois de se extinguirem os dinossauros. Este pequeno
ancestral do cavalo moderno, que não media mais de 30
centímetros ao garrote, era muito diferente em aparência dos
cavalos que vemos hoje. Era, na verdade, um pouco parecido
com um cão: dorso arqueado, pescoço curto, pernas curtas e uma
longa cauda. A sua alimentação baseava-se em frutas e folhagem
de árvores. Graças à sua morfologia, este pequeno animal tinha
tanta facilidade em saltar como um veado, sendo apenas mais
lento e um pouco menos ágil. O equídeo foi em tempos conhecido
pelo nome de Eohippus, que significa “cavalo do
amanhecer”.

29
Hyracotherium

Cavalo moderno e o Hyracotherium

Características do Hyracotherium:
Sendo um animal de floresta e de pântano, possuía quatro
dedos em cada membro anterior e três em cada membro
posterior. Aquilo que é atualmente o casco era uma das unhas,
estando ainda presente em alguns cavalos a segunda unha
vestigial.
A forma como o Hyracotherium apoiava as patas era
semelhante a dos cães, exceptuando o fato de ter pequeninos
“cascos” em cada dedo, em vez de ter garras; cérebro pequeno,
30
com lobos frontais especialmente pequenos; baixa inserção dos
dentes, sendo a dentição composta por três incisivos, um canino,
quatro pré-molares distintos e três molares “moedores” em cada
lado de cada mandíbula (esta é a constituição dentária dos
mamíferos mais primitivos). As cúspides dos molares foram
ligeiramente unidas em cristas baixas, dentição típica de um
animal onívoro.
Nesta altura da era Eoceno os equídeos não eram muito
diferentes dos restantes membros do grupo perissodáctilo. O
gênero, em que se inclui o Hyracotherium, inclui também outras
espécies que podem estar até relacionadas (ou mesmo ser
ancestrais) com o rinoceronte e o tapir.
Fazendo uma retrospectiva, o Hyracotherium, apesar de
ser bastante primitivo, foi um animal que se adaptou
perfeitamente ao meio onde habitava. Aliás, ao longo da maior
parte do Eoceno, esta espécie sofreu poucas alterações. O corpo
e membros mantiveram-se praticamente inalterados, apenas com
ligeiras diferenças nos dedos. A maior alteração deu-se ao nível
da dentição. À medida que os equídeos começavam a comer
mais plantas e menos fruta, começaram a desenvolver mais
dentes de moer, para melhor lidar com o novo tipo de
alimentação.

Orohippus
Aproximadamente a meio do Eoceno houve uma gradual
transição do Hyracotherium para um parente próximo.
O Orohippus era em tudo semelhante ao Hyracotherium,
costas arqueadas, pescoço curto, “patas de cão”, focinho curto,
etc. A alteração mais significativa verificou-se nos dentes. A forma
do último pré-molar alterou-se, dando ao animal mais um “dente
moedor”. A juntar a isto, as cristas nos dentes eram mais
pronunciadas, indicando que o Orohippus estava a comer
alimento mais rijo.
31
Orohippus.

Epihippus
O Epihippus surgiu do Orohippus. Tal como os seus
antecessores, possuía ainda bastantes semelhanças com
um cão. Cérebro pequeno, quatro dedos nos anteriores e
três nos posteriores, patas com almofadas plantares. No
entanto, a forma dentária continuava a evoluir. Nesta
altura, os dois últimos pré-molares tornavam-se
semelhantes aos molares, proporcionando ao animal cinco
“dentes moedores”. Há uma fase posterior do Epihippus,
algumas vezes chamada de Duchesnehippus. Não está
provado se seria um subgênero ou uma espécie de
Epihippus. Este animal era basicamente um Epihippus
com uma dentição semelhante ao mesmo, apenas um
pouco mais primitivo do que o posterior cavalo do
Oligoceno.

32
Epihippus.

Fim do período Eoceno e início do


Oligoceno
À medida que se aproximava o Oligoceno (36-23 milhões
de anos), a fisionomia dos cavalos começava a sofrer algumas
alterações. O clima da América do Norte estava a tornar-se mais
seco, as ervas a começar a desenvolver-se e as vastas florestas
estavam diminuindo de tamanho. A resposta dos animais a esta
alteração do seu habitat natural foi o desenvolvimento de uma
dentição mais resistente, o alargamento do corpo e começaram a
surgir animais um pouco mais altos e com membros que lhes
permitiam a fuga em caso de necessidade, uma vez que cada vez
mais viviam em espaços abertos.

33
Fauna típica do Oligoceno.

Mesohippus
A espécie Mesohippus celer surgiu “repentinamente” no
último período do Eoceno. Este animal era ligeiramente mais largo
e mais alto que o Epihippus, medindo cerca de 50 centímetros ao
garrote. Já não era tão semelhante a um cão. Tinha o dorso
menos arqueado, os membros mais compridos, o pescoço mais
longo e mais fino, o chanfro estava também mais largo e mais
comprido. O Mesohippus tinha três dedos nos seus posteriores e
nos anteriores, o que era o quarto dedo estava agora reduzido a
uma unha vestigial que com o passar do tempo acabaria por
desaparecer.

Mesohippus.

Outras alterações significativas:


. Hemisférios cerebrais notoriamente mais largos;
. Os últimos três pré-molares eram semelhantes aos
molares, proporcionando ao Mesohippus um conjunto de seis
“dentes de moer” semelhantes, com apenas um pré-molar na
frente;
34
. As mesmas cristas de dente que o Epihippus, bem-
formadas e agudas, mais próprias para moer a vegetação mais
resistente.

Miohippus
Pouco depois do aparecimento do Mesohippus celer e do
seu parente próximo, o Mesohippus westoni, surgiu um animal
semelhante, o Miohippus assiniboiensis. Esta transição ocorreu
“repentinamente”, mas felizmente foram encontrados alguns
fósseis de transição que permitiram relacionar os dois gêneros.
Um Miohippus era notoriamente mais largo do que o típico
Mesohippus, possuindo um crânio ligeiramente mais longo. O
Miohippus começou também a apresentar uma crista nos seus
dentes superiores. Esta crista tornou-se uma característica nas
mais recentes espécies equinas.

Miohippus

Primórdios do Mioceno

O Mesohippus acabou por desaparecer a meio do


Oligoceno. O Miohippus contínuou a existir durante algum tempo
tal como era, e logo no princípio do Mioceno, há cerca de 24
milhões de anos, começou a modificar-se rapidamente. A família
35
de cavalos começou a separar-se em pelo menos em duas linhas
principais de evolução e mais um pequeno ramo distinto.

Mesohippus

1. Indivíduos com três dedos em cada membro. Estes indivíduos


tornaram-se bastante resistentes, espalhando-se gradualmente
pelas planícies. Sobreviveram durante cerca de dez milhões de
anos. Mantiveram a dentição do Miohippus. Este gênero inclui o
Hipohippus e o Megahippus.
2. Uma linha de cavalos pigmeus, que acabaram por não
sobreviver durante muito tempo. Eram os Archeohippus.

Grandes planícies começavam a surgir, criando uma nova


oportunidade aos “comedores de erva”. Estes precisavam de uma
dentição forte e resistente, pois este novo tipo de alimentação era
mais difícil de mastigar.

36
Planície do Mioceno.

Os cavalos como animais da planície


À medida que a terceira linha de cavalos do Mioceno
começava a se alimentar unicamente de ervas, diversas
alterações começaram a ocorrer, começando obviamente pela
dentição. As pequenas saliências nos dentes começaram a
alargar e a formar uma espécie de cristas que ajudavam a moer o
desgaste do topo do dente, desgaste esse que era provocado
pelo movimento contínuo de mastigar. Estes cavalos tornaram-se
exímios corredores. Houve um aumento no tamanho do corpo, no
comprimento dos membros e no comprimento do chanfro. Alguns
ossos que antes estavam unidos por ligamentos começaram a
fundir-se. A musculatura das pernas tornou-se ideal para os
movimentos de andar para a frente e recuar. A alteração mais
significativa foi o fato de que, a partir de dada altura o cavalo
começou a manter-se em “pontas dos pés“, ou seja, em vez de
apoiar todos os dígitos no chão (como um cão, por exemplo),
passou a apoiar o peso de cada membro sobre um único casco
que se desenvolveu com essa finalidade. Esta alteração permitia
uma maior velocidade em caso de necessidade de fuga. Esta foi
uma das épocas mais interessantes no que toca a evolução do
cavalo. As transições podem ser vistas nos seguintes exemplos.

37
Kalobatippus

Este gênero não é dos mais conhecidos, mas o seu tipo de


dentição parece ser um meio termo entre o Miohippus e o
posterior Parahippus.

Kalobatippus

Macho Kalobatippus defendendo


seu território.

38
Parahippus
Surgiu no início do Mioceno. O típico Parahippus era um
pouco mais largo que o Miohippus, mas mantendo uma forma
corporal semelhante e um tamanho de crânio igual. O Parahippus
ainda mantinha os seus três dígitos, mas estava a começar a
desenvolver os ligamentos elásticos que seriam de grande
utilidade quando fosse um animal com apenas um dígito.

Parahippus

O Parahippus mostrou modificações graduais nos seus


dentes, inclusive o estabelecimento permanente da crista extra
que foi tão variável no Miohippus. O Parahippus evoluiu
rapidamente até se tornar um cavalo rápido e ágil, ao qual foi
dado o nome de Merychippus gunteri.

39
Merychippus gunteri

Os fósseis encontrados de Parahippus (Parahippus


leonensis), são na verdade tão semelhantes ao Merychippus que
se torna difícil traçar uma linha entre os dois gêneros.

Merychippus
Um Merychippus media aproximadamente cerca de 80
centímetros, o maior cavalo daquela altura. O chanfro alongou
mais um pouco, o maxilar tornou-se mais profundo, os olhos do
cavalo “moveram-se” um pouco mais para trás, para dar espaço
às grandes raízes dos dentes, o cérebro aumentou de tamanho,
tendo um neocortex fissurado e um maior cerebelo, o que fazia do
Merychippus um cavalo mais inteligente e mais ágil do que os
restantes.
O Meryhippus possuía ainda três falanges, no entanto o
peso de cada membro já assentava unicamente sobre um casco,
que mantinha o seu movimento através de uma rede de
ligamentos bastante elásticos e resistentes. O rádio e o cúbito do
antebraço fundiram-se, eliminando assim a rotação do membro.
Do mesmo modo, a fíbula sofreu uma diminuição no seu tamanho.
Todas estas mudanças ocorreram para que o cavalo em corrida
conseguisse ter mais velocidade e agilidade de movimentos,
mesmo em terrenos difíceis!

40
Fim do Mioceno
Nos fins do Mioceno, há cerca de 5 milhões de anos, o
Merychippus foi um dos primeiros animais a habitar as planícies.
Este animal rapidamente evoluiu e deu origem a 19 novas
espécies de cavalos que se dividiram em três grandes grupos:

1. Os herbívoros de três falanges. Este gênero era extremamente


resistente e adaptou-se bem ao seu novo habitat. O Merychippus
dividiu-se em quatro diferentes gêneros e cerca de 16 espécies.
Estes espalharam-se desde o Novo Mundo até ao Velho Mundo,
em várias épocas de migração conjunta;
2. Uma linha de cavalos menores que incluía os Protohippus e os
Calippus;
3. Uma linha de “verdadeiros equínos”, nos quais as falanges
laterais estavam a diminuir de tamanho. O Merychippus deu
origem a duas novas espécies: o M. sejunctus e o M. isonesus.
Estes por sua vez deram origem ao M. intermontanus, M.
stylodontus e M. carrizoensis.

Protohippus.

41
O Merychippus dividiu-se em quatro
diferentes gêneros e cerca de 16 espécies.
Estes espalharam-se desde o Novo Mundo
até o Velho Mundo.

Como esta breve lista mostra, novas espécies surgiram em


rápida sucessão, em todos os três grupos. Nestaespecificação
torna difícil determinar exatamente quais espécies surgiram
primeiro, ou quais deram origem a outras. Através de toda a
evolução das várias espécies, a fossa nasal destes animais
tornou-se mais complexa. As novas espécies que, entretanto,
foram surgindo e desenvolvendo um certo tipo de glândulas
semelhantes as que possuem atualmente os veados e antílopes.

Cavalos com uma única falange (casco)


A linha do Merychippus, conduziu aos “verdadeiros
cavalos”. As últimas espécies desta linha, tais como o M.
42
carrizoensis eram cavalos largos, com pequenas unhas vestigiais
na lateral do casco, na linha que divide o casco da quartela. Estes
deram origem a dois grupos distintos que com o tempo acabaram
por perder as unhas vestigiais. À medida que estas alterações
anatômicas ocorriam, desenvolviam-se.
Este grupo incluía:

Pliohippus
Surgiu a meio do período Miocênico como um animal ainda
com três unhas. A perda gradual das unhas é visto no Pliohippus
através de três diferentes épocas do Mioceno. O Pliohippus era
bastante semelhante ao posterior Equus, o que fez com que até
recentemente se pensasse que seria o seu antecessor direto.
Duas diferenças significativas esclareceram este ponto. O
Pliohippus tinha uma fossa nasal bastante funda, enquanto que a
do Equus não era tão funda. Além disso, os dentes do Pliohippus
eram bastante mais curvados do que os do Equus. Apesar de o
Pliohippus estar relacionado com o Equus, não foi uma evolução
direta de um para o outro.

Pliohippus

43
Astrohippus
O Astrohippus foi um dos descendentes do Pliohippus,
outro cavalo que tinha apenas uma unha (casco). Este animal
possuía também uma fossa nasal bastante pronunciada.

Astrohippus

Dinohippus

E finalmente, a terceira geração de cavalos com uma só


unha (descobertos recentemente). O antecessor direto do
Dinohippus ainda não é conhecido. As espécies mais
recentemente conhecidas são o D. spectans, D. interpolatus, e D.
leidyanus. Estes já tinham diversas parecenças com a espécie
Equus, no que toca a anatomia do casco, dentes e forma do
crânio. Os dentes eram ligeiramente mais estreitos do que no
Merychippus, e as fossas nasais diminuíram significativamente.

44
Dinohippus

Uma espécie que surgiu um pouco mais tarde foi chamada


de D. mexicanus.
O Dinohippus era o tipo de cavalo mais comum na América
do Norte, e acredita-se que tenha dado origem ao Equus
(relembremos que o Equus tinha os dentes muito estreitos,
direitos e quase não tinha fossas nasais).

Equus

Chegamos então ao Equus, a gênese de todos os equínos


modernos. O primeiro Equus media entre 90 centímetros a um
metro mas já possuía um corpo de cavalo. Coluna rígida, pescoço
longo, pernas compridas, alguns ossos dos membros fundidos e
sem nenhuma rotação, chanfro comprido, curvilhões baixos. O
cérebro era um pouco mais baixo do que no Dinohippus. Tal como
o Dinohippus, o Equus era (e é) um animal com uma única unha
(casco), possuindo ligamentos elásticos que impedem que o
casco torça ou saia do lugar.

45
Equus

Os exemplares do gênero Equus possuem ainda o código


genético que faz com que continuem a surgir unhas estigiais. Por
vez acontece um potro nascer com unhas completamente
formadas, mas de tamanho diminuto. As mais recentes espécies
de Equus formavam um grupo de três, conhecido como Equus
simplicidens. Estes tinham ainda algumas características
primitivas do Dinohippus, tais como uma ligeira fossa nasal.
Possuiam também listras de zebra e um crânio de burro. Tinham
provavelmente crinas duras e eretas, uma cauda com pouco pêlo,
membros listrados e alguma perda de pêlo no corpo. Estes
diversificaram-se rapidamente em quatro grupos diferentes, em
pelo menos 12 espécies novas. Estas novas espécies coexistiram
pacificamente com outras como o Astrohippus, enquanto
prosseguiam a sua evolução natural.
Durante a primeira era glacial (fim do Plioceno, há cerca de
dois milhões de anos) várias espécies de Equus migraram para o
Velho Mundo. Algumas entraram na África e deram origem às
zebras que conhecemos atualmente. Outras espalharam-se
através da África do Norte, evoluindo para espécies adaptadas a
condições desérticas. Outras espécies espalharam-se através da
Ásia e Europa, mais concretamente aquele que foi considerado o
“verdadeiro cavalo”: Equus caballus. Outras espécies Equus
espalharam-se pela América do Sul. Comparemos o Equus ao
46
Hyracotherium e podemos concluir que nunca poderiam ser
considerados do mesmo “tipo”, pois as diferenças entre ambos
sugerem uma evolução a longa escala.

Breve resumo da evolução do cavalo.

47
Equídeos atualis.

O comportamento dos cavalos


A compreensão dos conceitos básicos de manipulação de
cavalos e equitação ajudará a tornar o seu envolvimento mais
seguro, mais bem-sucedido e mais agradável.
O cavalo evoluiu como uma criatura de espaços abertos e,
por meio da seleção natural, adquiriu certas características físicas
48
e comportamentais, geneticamente fixas, essenciais para a
sobrevivência em seu meio natural. O comportamento básico do
cavalo reflete um período de tempo em que vivia nas planícies
abertas. Quase todos os comportamentos dos cavalos estão de
alguma forma relacionados à auto-preservação. Uma
compreensão básica do comportamento equíno e dos sentidos é
importante para uma comunicação efetiva, treinar e montar o
cavalo para qualquer propósito.
Algumas características de sobrevivência foram
modificadas, mas não foram eliminadas pela domesticação.
Frequentemente, hoje, tais características são consideradas
vícios ou hábitos indesejáveis.
Os cavalos são animais grandes e poderosos, mas também
são tímidos e facilmente amedrontados. A maioria dos cavalos é
gentil e obediente se forem manipulados adequadamente. Se
você magoar ou assustar um cavalo, você pode se machucar. A
primeira escolha de um cavalo assustado é fugir. Se ele não pode
fugir, ele pode chutar ou morder em defesa própria. É uma boa
ideia pedir permissão ao seu instrutor ou ao proprietário do cavalo
antes de ir perto de um animal estranho.

A mente do cavalo
Antes de considerar as características acima como
relacionadas ao manuseio e equitação de cavalos, talvez valesse
a pena considerar primeiro a mente equina. Os cavalos foram
considerados animais de baixa inteligência. No entanto, existem
diferentes tipos de inteligência e nenhuma medida geral. A
pesquisa demonstrou que os animais têm diversas habilidades ou
aptidões para diferentes tipos de trabalho. A inteligência inclui a
capacidade de raciocinar. Alguns disseram que o cavalo não é
capaz de raciocinar.

49
No entanto, alguns estudos demonstram que o cavalo tem
alguma habilidade de raciocinar. Tenha em mente que o cavalo
não precisa de um alto nível de capacidade de raciocínio para a
sobrevivência.
Também é importante entender que o cavalo aprende
prontamente. Novas tarefas não são difíceis de aprender, se as
pistas forem influenciadas pelos sentidos mais fortes, como toque,
visão e audição.
Os cavalos têm boas lembranças. Todas as experiências
são registradas no mesmo nível de consciência e não são
facilmente esquecidas. Os formadores de cavalos, bem-
sucedidos, estão conscientes da habilidade de raciocínio limitado,
que eles possuem em relação a outras espécies animais. Sabe-se
portanto, que o treinador deve focar nas características positivas
do cavalo para determinada função que esse animal deverá
desenvolver.

Os sentidos do cavalo
Os sentidos são uma parte importante do que faz os
cavalos serem distintos em seu comportamento. Os animais
compartilham os cinco sentidos básicos: visão, audição (audição),
olfação (cheiro), gustação (gosto) e toque. Os sentidos são as
ferramentas que um animal usa para interagir com seu ambiente.
Como tal, os sentidos podem ser considerados iniciantes de
comportamento.
Há uma tentação de relacionar os sentidos humanos com
os cavalos, mas os cavalos e as pessoas têm diferenças básicas
em como vêem, sentem, sabem, cheiram e ouvem seu ambiente.
Nós não compreendemos completamente os sentidos dos
cavalos, mas as coisas que aprendemos aumentaram muito o
conhecimento do nosso cavalo. Uma revisão desta informação
pode ser útil na compreensão dos cavalos.

50
Visão
Você já olhou para o olho de um cavalo? Se tiver olhado,
provavelmente notou algumas coisas. Primeiro, eles têm um olho
muito grande e uma pupila muito grande. Em segundo lugar, o
globo ocular é colocado mais ao lado da cabeça, o que dá aos
cavalos um campo de visão mais amplo.

Olho do cavalo.

As espécies predadoras, como cães e coiotes, têm olhos


colocados na frente da cabeça. Isso estreita o campo de visão
total, mas aumenta o campo visual binocular (usando dois olhos).
A visão binocular proporciona aos predadores uma melhor
percepção de profundidade e um campo de visão mais
concentrado. As espécies de presas, como cavalos, ovelhas e
gado, têm um campo visual muito mais amplo. Com apenas um
pequeno movimento na cabeça, os cavalos podem escanear todo
o seu entorno. Se existe uma ameaça, a resposta comportamental
é geralmente fugir.

51
Cavalos sendo predados por coiotes.

Grande parte da largura do campo visual que os cavalos


vêem é observada com apenas um olho. Isso é chamado de visão
monocular. Quando um cavalo vê um objeto com a visão
monocular, tenderá a girar em direção a ele para que ambos os
olhos possam vê-lo (com visão binocular), e as orelhas possam
ouvi-lo melhor. Às vezes, há uma breve mudança visual à medida
que o cavalo muda de visão monocular para visão binocular, o
que pode causar uma "colisão" inexplicável do cavalo.
O tamanho da pupla melhora a capacidade de um cavalo
para observar o movimento. A cabeça grande serve para observar
objetos próximos. Por outro lado, um cavalo tende a baixar a
cabeça para observar objetos distantes.
Apesar do amplo campo de visão, há um "ponto cego"
diretamente atrás do cavalo. As pessoas devem evitar se
aproximar de um cavalo por trás, porque sua presença pode não
ser detectada até que eles estejam próximos, e isso pode
assustar o cavalo. Alguns cavalos podem instintivamente chutar
nesta situação. Se o aproximar de um cavalo na parte traseira não
pode ser evitado, faça um ruído calmante para anunciar sua
presença. Não "se esgueirar" em um cavalo por trás.

52
O campo de visão do cavalo.

Outra pergunta frequentemente feita é se os cavalos têm


visão de cor? Durante muitos anos, acreditava-se que tanto os
cavalos quanto o gado eram cegos para as cores. Se os cavalos
podem distinguir as cores, é improvável que a habilidade dos
cavalos de ver a cor seja igual a outras espécies, como os seres
humanos.

Visão de cores pelos cavalos

53
Audição
Apesar da sua importância, há informações limitadas sobre
o sentido auditivo dos cavalos. Sabemos que os cavalos são
sensíveis a ruídos agudos e a liberação de hormônios
relacionados ao estresse em resposta a ruídos altos e repentinos,
como fogos de artifício ou cães latindo. Os cavalos tornam-se
nervosos e difíceis de manusear quando os hormônios do
estresse são elevados, por isso pode ser útil evitar ruídos altos ou
estranhos ao manipular ou mover cavalos.

Orelhas do cavalo.

As orelhas de cavalos, são instrumentos finamente


sintonizados, projetados para converter ondas sonoras do meio
ambiente em potenciais de ação no nervo auditivo. Esse nervo,
que está localizado na base do crânio, envia a informação ao
cérebro para ser traduzido e interpretado.
Para coletar ondas sonoras do meio ambiente, um cavalo
usa sua pinna, a parte grande, tipo copa da orelha. Feito de
54
cartilagem, pode girar para capturar ondas sonoras de todas as
direções. Esta habilidade útil é devido ao fato de que os cavalos
possuem 16 músculos auriculares, que controlam a concha
auricular. Os seres humanos, ao contrário, têm apenas três
desses músculos, todos os quais são vestigiais (quase inútil).
Depois de serem capturados pelo conha auricular, as
ondas sonoras coletadas são conduzidas através do canal
auditivo externo (comumente conhecido como o canal auditivo) na
orelha média, onde fazem com que o tímpano, uma membrana
fina, vibre. Essas vibrações são enviadas através dos ossículos
para uma série de três pequenos ossos. Finalmente, elas
alcançam a orelha interna, onde causam vibrações em uma
estrutura em forma de caracol, chamada de cóclea.
Na cóclea existem células ciliadas extremamente sensíveis
que atuam como transdutores. Quando essas células ciliadas se
dobram, elas geram sinais elétricos que estimulam o nervo
auditivo. Esse nervo passa os impulsos para o cérebro.
Ao tentar ouvir algo, os cavalos moverão automaticamente
as orelhas para a fonte do som. A maioria dos proprietários de
cavalos conhece esse fenômeno; muitas vezes vemos cavalos
picar as orelhas para frente quando estão se concentrando em
algo diretamente na frente deles. Este aperfeiçoamento facilmente
observável em um barulho é chamado de reflexo de Pryer, e
permite que um cavalo instintivamente focalize sua atenção em
fontes de som no meio ambiente.

55
Cavalos movendo as orelhas para a fonte do som.

O cavalo pode amplificar e identificar o som com as


orelhas. O som chega a cada orelha em momentos ligeiramente
diferentes, o que permite que o cavalo use o som como um meio
para dizer de onde o som veio. O cavalo pode mover seus
ouvidos, cabeça ou todo o seu corpo para contar mais sobre a
fonte do som. Esta habilidade é provavelmente tão importante
quanto a visão e o cheiro para manter vivo o cavalo, como uma
espécie de presa.
Saber que um cavalo intuitivamente dirige suas orelhas
para o que ele está focado, pode ser útil, especialmente quando
você cavalga. O reflexo de Pryer pode ajudá-lo a antecipar um
susto ou verificar onde a atenção do seu cavalo é dirigida.
Além de mostrar o que um cavalo está se concentrando, a
direção das orelhas pode contar muito sobre o temperamento
desse animal. As orelhas podem ser sinais que um cavalo é gentil
e generoso. Da mesma forma, um cavalo cujas orelhas são
muitas vezes baixas contra sua cabeça pode ser considerado que
ele está de mau humor.
A seguir, a foto de um cavalo com as orelhas abaixadas,
próximas da cabeça, indicando que ele está incomodado e poderá
agredir alguém que se aproxime dele.

56
Cavalo com as orelhas próximas da cabeça.
Indicando agressividade.

A razão pela qual os cavalos, muitas vezes, fazem esse


gesto ameaçador quando estão bravos ou agressivos é pensado
que remonta aos tempos pré-históricos, quando os cavalos
adotaram essa postura para evitar que seus ouvidos fossem
danificados durante a luta.

Olfato ou cheiro
O sentido do cheiro do cavalo (olfativo) pode ser o mais
difícil para os seres humanos entenderem. Os cavalos têm um
sentido de olfato mais desenvolvido do que os humanos, e eles
usam a habilidade para distinguir diferentes odores no cotidiano.

57
O olfato do cavalo.

Os cavalos usam o odor (cheiro) de várias maneiras. Os


cavalos usam o cheiro para identificar outros cavalos,
particularmente quando uma égua usa o cheiro para escolher seu
potro de um grupo. Outro uso comum do cheiro é durante o
acasalamento. O garanhão constantemente verifica as éguas para
detectar as que estão no calor (estro). O comportamento clássico
de cabeça-levantada, ondulante do garanhão (touros e carneiros,
também), que cheira as fêmeas é chamado de resposta de
Flehmen.

Resposta de Flehmen.

Essa característica, pode ser ocasionalmente observada


em éguas.
58
É devido a um órgão especial (órgão vomeronasal) acima
do céu da boca (palato), que os humanos não possuem.
Os cavalos provavelmente usam seu sentido olfativo para
localizar a água e identificar diferenças sutis ou maiores entre
pastos e grãos. O cheiro também desencadeia respostas
comportamentais. Há, por exemplo, cavalos que não gostam do
cheiro de fumo de tabaco ou podem reagir negativamente ao odor
de certos medicamentos ou perfumes.
Algumas pessoas acreditam que os cavalos podem sentir
quando uma pessoa está com medo - o que provavelmente é
verdade - e isso é muitas vezes referido como a habilidade dos
cavalos de "cheirar o medo". É possível que o cavalo possa
cheirar algumas pequenas mudanças no medo humano, mas é
igualmente provável que o cavalo possa sentir o nervosismo
humano através de outros sentidos.

Localização anatômica do órgão vomeronasal

Gosto
A sensação de gosto em cavalos provavelmente não é tão
importante quanto o sentido do olfato, e é difícil separar as
59
respostas comportamentais que se devem principalmente ao
gosto das respostas causadas pelo sentido olfativo. Usando seu
senso de gosto, no entanto, os cavalos podem contar um “feed”
de outro. Quando apresentado com uma variedade de feeds, os
cavalos selecionarão certos “feeds” sobre outros. Em situações
práticas, tais como condições de pastagem com múltiplas
espécies forrageiras presentes, o cavalo selecionará diferentes
tipos e espécies que qualquer ovelha, cabra ou gado.
Houve experimentos para determinar se os animais têm
"sabedoria nutricional". Isso se baseia na premissa de que os
cavalos tentam comer alimentos que lhes proporcionem os
nutrientes necessários. Na maioria dos casos, no entanto, é
provável que os cavalos equilibrem a própria ração quando for
fornecida uma variedade de alimentos.

O sentido do gosto em cavalos.

Se possível, eles irão consumir alimentos a um nível muito


maior do que o necessário para fornecer nutrientes essenciais.
Por exemplo, o sal geralmente é fornecido para satisfazer os
requisitos dos cavalos em relação ao sódio; no entanto, os
cavalos costumam consumir, muitas vezes, a quantidade de sal
necessária para cumprir o requisito. Felizmente, não há

60
evidências de que o consumo excessivo de sal cause problemas
de saúde, se houver água adequada.

Tato
A sensação de toque é certamente bem desenvolvida em
cavalos, e é um dos sentidos mais importantes em termos de
interação humana. O nariz, os lábios, a boca e possivelmente as
orelhas são as áreas mais sensíveis ao toque e,
consequentemente, mais facilmente se prestam a sentir
comportamento. Embora os cascos não respondam ao toque, não
devem ser considerados como sem sentimento. De fato, várias
partes do casco são capazes de apresentar sensibilidade, já que
qualquer uma pessoa que tenha os cascos do seu cavalo
cortados pode observar o aumento da sensibilidade no local.
Outras áreas do corpo são também, sensíveis ao toque. Os
flancos por exemplo, são particularmente sensíveis e podem ser
tocados levemente pelo cavaleiro como um sinal para o cavalo
andar em frente. A região das costelas, cernelha e das costas do
animal são igualmente sensíveis.

Partes sensíveis do cavalo.

61
Compreender o grau em que os cavalos são sensíveis ao
toque pode ser valioso para o treinador ou cavaleiro. Por exemplo,
saber que os cavalos podem sentir o menor contato com os
lábios, ressalta a importância de desenvolver "um leve toque" nas
rédeas, e certificando-se de que as rédeas se encaixam
corretamente na cabeça e na boca dos cavalos.
Saber que o cavalo pode sentir o menor deslocamento de
peso na sela, ilustra porque a posição do cavaleiro é importante,
pois a posição é orientada para um salto ou outra manobra.
Posição errada, movimento exagerado ou força excessiva são
confusos aos cavalos e resultam em mau desempenho.

Posição do cavaleiro.

A sensação de toque é indubitavelmente importante na


interação entre animais. Os potros procuram o contato físico com
suas mães, e as éguas respondem ao comportamento de seus
potros de várias maneiras, incluindo a amamentação do potro.

62
Contato entre a égua e o potro.

Outro exemplo de sensibilidade dos cavalos ao toque é


relacionado a cercas elétricas. Qualquer pessoa que tenha usado
cercas elétricas com uma variedade de espécies animais de
pastagem sabe que os cavalos são muito sensíveis à eletricidade.
Para usar cercas elétricas com cavalos, o fio deve ser colocado
aproximadamente na altura do nariz do animal.

Altura da cerca elétrica para os cavalos.

63
Altura da cerca elétrica para cavalos e pôneis.

Devem ser utilizados carregadores de alta qualidade e bem


aterrados, e os cavalos devem ser treinados para o contato com a
cerca, introduzindo-os em um ambiente com a cerca elétrica bem
construída para sua primeira experiência.

64
Cerca elétrica bem construída.

Sexto sentido
Os cavalos têm um "sexto sentido" ao avaliar a disposição
dos que os rodeiam. Eles podem ser hipersensíveis na detecção
dos modos de seus manipuladores e cavaleiros. Um bom cavalo
para Equoterapia é escolhido por sua resposta sensível ao piloto.
Às vezes, pode existir um conflito de personalidade entre
manipuladores e cavalos. É importante deixar um membro da
equipe saber se você está tendo dificuldade com um cavalo
particular.

Personalidade do cavalo
Ao longo da domesticação do cavalo (Equus caballus),
características específicas foram selecionadas para diferentes
propósitos, resultando na diferenciação de cavalos domésticos em
tipos ou raças morfologicamente distintas. A seleção pode se
concentrar em atributos físicos, como tamanho, força e
velocidade, mas também pode se concentrar em comportamentos
desejáveis. As raças são, muitas vezes, descritas como tendo
65
comportamentos típicos pelas associações de criadores, que a
promovem. Muito embora, cada animal tem a sua personalidade.
Por essa razão as avaliações necessitam ser individualizada. Por
exemplo, o pônei Highland10 é descrito como tendo uma "natureza
bondosa e mesmo temperamento".

Pônei Highland.
A raça Irish Draught11 é descrita como tendo uma "natureza
inteligente e gentil" e é conhecido pela docilidade e sentido". Por

10 Highland Pony: Este pônei, natural da Escócia, tem vivido em contato


próximo com o ser humano durante séculos. A raça é forte e resistente e chega
a medir 1,40 m de altura. As cores de sua pelagem são de uma gama de
sombras de cor parda. Seguro e serviçal, o Pônei Highland possui um bom
caráter. Possui tronco largo e extremidades curtas. Está muito difundido como
cavalo de equitação e trekking em geral, mas também é utilizado para trabalhar
na agricultura, bosques e para realizar viagens longas.
11 A raça Irish Draught foi formada através do cruzamento dos pequenos

cavalos nativos Irlandeses com os cavalos de guerra dos Normandos. No fim


do século XVIII, o desenvolvimento das áreas aradas criou um pedido para
cavalos grandes, fortes e dóceis. Então, os camponeses irlandeses criaram
cavalos mais ligeiros e mais polivalentes que as raças pesadas inglesas,
porque o seu cavalo devia permitir-lhes "arar, semear, segar, ceifar, ir à igreja e
caçar". Por isso, o Cavalo de Tiro Irlandês não é somente um cavalo de
trabalho, mas também um cavalo de desporto que se ilustra em salto de
obstáculos, concurso completo, adestramento, atrelagem, TREC e resistência.
Está utilizado por numerosas patrulhas de polícia. A criação do Cavalo de Tiro
Irlandês de raça pura tem grandes dificuldades, pois os 250 nascimentos
anuais não bastam para renovar as gerações. A raça é defendida pela Irish
Draught Horse Society, que se preocupa na conservação, da variabilidade
genética da raça e das diferentes linhagens. O cavalo de Tiro Irlandês mede
entre 1,59 m a 1,72 m.
66
conseguinte, prevê-se que as raças de cavalos variem em sua
personalidade.

A raça Irish Draught ou Cavalo de Tiro Irlandês.

A pesquisa de personalidade em animais humanos e não


humanos (a partir de agora denominada animais) é uma área de
interesse crescente. A personalidade pode ser definida como "as
características de uma pessoa que representam padrões
consistentes de sentimento, pensamento e comportamento". Esta
definição enfatiza a importância da consistência na forma como
um indivíduo se comporta e infere que essas diferenças sejam
atribuídas ao indivíduo, em oposição ao meio ambiente. Há limites
para a aplicação desta definição aos animais, pois a medida de
como os animais se sentem ou pensam é difícil, senão
impossível. A pesquisa de personalidade animal centrou-se,
portanto, na avaliação do comportamento observado, a fim de
demonstrar as diferenças individuais.
Estudos recentes sobre a personalidade do cavalo
exploraram a avaliação das diferenças individuais através do uso

67
de testes de comportamento e através do uso de classificações
fornecidas pelos manipuladores. Tais estudos demonstraram que
avaliações confiáveis de diferenças individuais são viáveis e suas
aplicações potenciais foram revisadas.
Recentemente, Lloyd e cols. (200712) desenvolveram um
método de avaliação baseado em traços da personalidade do
cavalo. O Questionário de Personalidade do Cavalo (HPQ) (ver
Anexo) é uma adaptação do Stevenson Hinde e cols. (1980)
questionário de classificação de personalidade, que já havia sido
validado em uma ampla gama de espécies animais. Usando o
HPQ, Lloyd et al. (2007) avaliaram a personalidade de 61 cavalos
e alcançou um nível de concordância de 72,13% entre os
avaliadores. Além disso, as classificações mostraram-se
correlacionadas com as medidas do comportamento observado
coletadas enquanto os cavalos estavam no pasto. Usando a
análise de componentes principais (PCA), os dados da HPQ
mostraram seis componentes de personalidade subjacentes que
foram usados para descrever a personalidade do cavalo. Foram
dominância, ansiedade, excitabilidade, proteção, sociabilidade e
curiosidade e explicaram 79,3% da variância.
As estruturas dos componentes resultantes foram
comparáveis aos cinco fatores identificados por Creighton
(200313), que anteriormente foram comparados aos do Big Five
Humano (extroversão, conveniência, emocionalidade,
receptividade e conscienciosidade) (por exemplo, Costa e
McCrae, 1992). As taxonomias de personalidade identificadas por
Creighton (2003) e Lloyd et al. (2007), incluíram elementos como

12 LLOYD, A.S.; MARTIN, J.E.; BORNETT-GAUCI, H.L.I.; WILKINSON, R.G..


Evaluation of a novel method of horse personality assessment: rater agreement
and links to behaviour. Appl. Anim. Behav. Sci. v.105, p. 205–222, 2007.
13 CREIGHTON, E. Matching horses for courses: development of robust tests of

equine temperament to adDress equine welfare. In: 37th International Congress


of The International Society of Animal Ethology, Fondazione Iniziative
Zooprofilattiche e Zootecniche, Brescia, Venice, p. 148, 2003.
68
extroversão, conveniência, emocionalidade e receptividade.
Fatores similares parecem ser recorrentes em outros estudos de
personalidade animal (Gosling e John, 199914).
Hausberger e cols. (200415) analisou as reações de cavalos
de 16 raças a um teste e identificou diferenças de raça.
Hausberger e Muller (200216) também encontraram variação no
comportamento amigável e reatividade entre cavalos de sela
franceses, puro sangue e Anglo-árabes.
A reatividade, ou emotividade, no cavalo pode ser descrita
como um estado de excitação elevado (McCall e cols., 200617) e
pode estar associada aos componentes excitabilidade e
ansiedade da personalidade do cavalo. Além disso, os efeitos da
raça também foram identificados na ocorrência de
comportamentos estereotipados (Luescher e cols., 199818; Redbo
e cols., 199819; Houpt e Kusunose, 200020).

14 GOSLING, S.D.; JOHN, O.P. Personality dimensions in nonhuman animals: a


cross-species review. Curr. Dir. Psychol. Sci. v. 8, p. 69–75, 1999.
15 HAUSBERGER, M.; BRUDERER, C.; LE SCOLAN, N.; PIERRE, J.-S. Interplay

between environmental and genetic fators in temperament/personality traits in


horses (Equus caballus). J. Comp. Psychol. v. 118, p. 434–446, 2004.
16 HAUSBERGER, M.; MULLER, C. A brief note on some possible fators involved

in the reactions of horses to humans. Appl. Anim. Behav. Sci. v. 76, p. 339–344,
2000.
17 MCCALL, C.A.; HALL, S.; MCELHENNEY, W.H.; CUMMINS, K.A. Evaluation

and comparison of four methods of ranking horses on reactivity. Appl. Anim.


Behav. Sci. v. 96, 115–127, 2006.
18 LUESCHER, U.A.; MCKEOWN, D.B.; DEAN, H. A cross-sectional study on

compulsive behaviour (stable vices) in horses. Equine Vet. J. Suppl. v. 27, p. 14–
18, 1998.
19 REDBO, I., REDBO-TORSTENSSON, P., ODBERG, F.O., HEDENDAHL, A.,

HOLM, J. Fators affecting behavioural disturbances in race-horses. Anim. Sci. v.


66, p. 475–481, 1988.
20 HOUPT, K.A.; KUSUNOSE, R. Genetics of behaviour. In: BOWLING, A.T.;

RUVINSKY, A. (Eds.), The Genetics of The Horse. CABI, Oxon, UK, pp. 281–
306, 2000.
69
Influência genética no comportamento
Hoje, é bem aceito que o comportamento e a personalidade
são afetados até certo ponto por genes. A pesquisa está
começando a quantificar a herdabilidade de comportamentos
específicos e construções de personalidade. Por exemplo,
dominância em chimpanzés; comportamentos exploratórios e
outros em Chapim-real21 (Parus major); o domínio em cães tem
demonstrado ser hereditário. Esta crescente evidência de
influência genética no comportamento ainda apoia a hipótese de
que as raças podem diferir em personalidade.

Comportamento típico de raça e


personalidade em cavalos
Haviam evidências anedóticas de proprietários e
manipuladores dos cavalos sugerindo a existência de
comportamento típico de raça e personalidade em cavalos.
Porém, essa evidência foi confirmada pela pesquisa sobre
a herdabilidade das características da personalidade em uma
variedade de raças equinas.
A pesquisa foi conduzida pela Dra. Adele Sian Lloyd e seus
coloaboradores (2007). O Questionário de Personalidade do
Cavalo (HPQ), utilizado na pesquisa, é um método de avaliação
com 25 itens que anteriormente foi demonstrado como confiável
para a avaliação da personalidade em cavalos. A análise de
componentes principais nos dados da HPQ identificou seis
componentes de personalidade nos cavalos. Estes são:

21 O chapim-real (Parus major), é uma ave da família Paridae. É uma espécie


bastante comum em toda a Europa e Ásia. Ele pode ter de 13 a 14 cm de
comprimento e é facilmente identificado devido ao peito amarelo com uma faixa
preta que liga a garganta ao abdômen.
70
. Dominância
. Ansiedade
. Excitabilidade
. Proteção
. Sociabilidade
. Curiosidade
Usando o HPQ, uma pesquisa com 1223 cavalos de oito
raças diferentes foi concluída.
As raças selecionadas foram: Cavalo de Tiro Irlandês
(IDH), Puro-sangue Inglês (TB), Pôneis de Shetland (Shet.),
Cavalo Árabe, Pônei das Highlands (High.), Pônei Galês e Cob22
(WPC), Quarto de Milha (AQH) e Appaloosa (App.). As raças
foram selecionadas para representar uma variedade de tipos de
raças, que incluíam raças leves, raças usadas para tração e
pônei.

22 Um cob é tradicionalmente um cavalo pequeno, geralmente de uma forte


construção, com ossos fortes, grandes articulações e disposição constante; é uma
raça de cavalo. Historicamente, no Reino Unido e, em menor medida, no leste dos
Estados Unidos, uma "cob" pode ser um cavalo comum usado para a equitação
diária, mas no passado foi usado para dirigir carrinhos.
71
(a) Cavalo de Tiro Irlandês; (b) Puro-Sangue Inglês; (c) Pônei de Shetland;
(d) Cavalo Árabe; (e) Pônei das Highlands; (f) Pônei Galês e Cob; (g)
Quarto de Milha; (h) Appaloosa

Os dados foram analisados para explorar diferenças


individuais entre as raças nos seis componentes da personalidade
e observou-se variabilidade entre elas. A ansiedade e
excitabilidade mostraram a maior variação entre raças, enquanto
a dominância e proteção mostraram a menor variação. Os
resultados identificados identificaram personalidades típicas que
eram comparáveis aos resultados de estudos anteriores, bem
como evidências anedóticas fornecidas pela literatura equina
popular. Os resultados são discutidos em termos das potenciais
pressões de seleção que podem ter resultado nessas diferenças.

Ansiedade e excitabilidade
Os componentes ansiedade e excitabilidade mostraram o
maior nível de variação entre raças e os rankings de raças nesses
dois componentes foram comparáveis. Os Pôneis e Puro-sangue
Inglês, Árabe e Galês foram classificados como as três principais
raças em ambos os componentes. Os resultados inferem que
essas raças se comportaram significativamente mais excitadas e
ansiosas do que as outras raças incluídas neste estudo. Isto é
72
comparável aos resultados de Hausberger et al. (2004) que,
usando um teste, descobriram que o Puro-sangue Inglês e o
Árabe eram os mais reativos em uma amostra de 16 raças de
cavalos. Os altos níveis de ansiedade e excitabilidade para essas
três raças podem ser parcialmente atribuídos à ascendência
Árabe dos Puro-sangue Inglês e Galês.
Observou-se que fatores genéticos pareciam ter grande
influência sobre as respostas neofóbicas dos cavalos. Além disso,
influências dos pais foram encontradas na emotividade do cavalo
e na tendência de desenvolver comportamentos estereotipados.
Devido às ligações propostas com o estresse e, portanto, a
ansiedade, é provável que comportamentos estereotipados e
emocionalidade sejam susceptíveis de serem influenciados pelos
componentes ansiedade e excitabilidade.
O alto nível de variabilidade na ansiedade e excitabilidade,
entre raças, sugere que a seleção artificial tem sido excelente
nessas características particulares. Parece que a seleção artificial
desenvolveu raças que mostram uma variedade de excitabilidade
e ansiedade, e, portanto, são comportamentalmente adaptadas
para sua função. Por exemplo, McGreevy e Thomson (200623)
observam que, para fins de corrida, o Puro-sangue Inglês deve
ser altamente reativo aos estímulos e, portanto, aumentar as
respostas de fuga ou corrida. Como resultado, eles são rápidos na
linha de partida das corridas. Da mesma forma, parece provável
que as raças esportivas e polivalentes, como o cavalo de Tiro
Irlandês e o Pônei Highland, sejam selecionadas para baixos
níveis de excitabilidade e ansiedade. A maior força e o maior
volume de tais raças poderiam torná-los difíceis e perigosos de
manipular. Portanto, a seleção de tipos de personalidade
apropriados pode ajudar a gerir e manipular cavalos e torná-los
mais adequados às suas funções relevantes.

23MCGREEVY, P.D.; THOMSON, P.C. Differences in motor laterality between


breeds of performance horse. Appl. Anim. Behav. Sci. 99, 183–190, 2006.
73
Sociabilidade e curiosidade

A sociabilidade e curiosidade mostraram variabilidade


moderadamente baixa entre as raças. Curiosamente, as raças
foram classificadas na mesma ordem para ambos os
componentes, com o Árabe e o Puro-sangue Inglês classificados
mais alto, e o Cavalo de Tiro Irlandês e o Quarter Americano
classificaram o menor. Essa semelhança pode indicar que esses
dois componentes estão geneticamente ligados.
É possível que um gene possa afetar vários
comportamentos (pleiotropia24) e inversamente, que vários genes
podem afetar um comportamento. As ligações entre diferentes
construções de personalidade foram encontradas em uma
variedade de espécies. Os exemplos incluem links entre bem-
estar subjetivo e dominância em chimpanzés, ousadia e agressão
em cães da raça pastor alemão e entre comportamentos
exploratórios e agonísticos em chapim-real (Parus major). A
duração do ciclo reprodutivo e o tempo para atingir a maturidade
tornam difícil a realização de estudos de herdabilidade em
cavalos. Algumas pesquisas, no entanto, identificaram os efeitos
dos pais no comportamento do cavalo. Os resultados do presente
estudo indicam um possível vínculo entre sociabilidade e
curiosidade, o que pode justificar pesquisa mais detalhada usando
técnicas de estudo da hereditariedade.

24 Pleiotropia (do grego pleio = "muito" e tropo = "mudança") é o nome dado


aos múltiplos efeitos de um gene. Acontece quando um único gene controla
diversas características do fenótipo que muitas vezes não estão relacionadas.
É um caso de herança autossômica, ou seja, os genes que vão ser passados
para os descendentes se encontram nos cromossomos autossômicos. Um
exemplo clássico de pleiotropia é a fenilcetonúria. A mutação em um único
gene que codifica a enzima chamada Fenilalanina hiDroxilase (FAH), presente
no fígado e necessária para o metabolismo da fenilalanina.
74
A menor variabilidade entre raças nesses componentes
indica que o processo de seleção artificial influenciou essas
características menos do que aquelas de ansiedade e
excitabilidade. Embora a sociabilidade possa ser importante em
termos da facilidade de alojar cavalos juntos, parece menos
provável que seja selecionado diretamente.
O elemento oportunista da curiosidade pode, em alguns
casos, ser uma desvantagem, na medida em que os cavalos
altamente curiosos podem ter maior probabilidade de fugir,
resultando em uma tendência geral para a seleção de baixa
curiosidade. Contudo, os cavalos com níveis mais elevados de
curiosidade podem ser selecionados para ensaios de cross-
country onde um cavalo rápido e oportunista seria mais capaz de
lidar com os elementos complicados do percurso. Classificado
segundo mais alto em curiosidade, o Puro-sangue e seus
cruzamentos são usados regularmente para este evento. Outras
pesquisas poderiam explorar a personalidade de cavalos de
desempenho como esses, para investigar os tipos de
personalidade de cavalos bem-sucedidos contra mal-sucedidos.

Dominância e proteção
Os escores médios de dominância para todas as raças
foram negativos, indicando que, em geral, os indivíduos estavam
recebendo pontuações altas nas características mais desejáveis.
A variação entre raças neste componente foi baixa, com as
diferenças mais significativas ocorrendo entre essas raças nas
extremidades opostas da escala de classificação. Os Pôneis e os
Puro-sangue Inglês e Galês foram classificados mais alto e o
Pônei Shetland e o cavalo de Tiro Irlandês foram classificados
como os mais baixos neste componente.
Os baixos níveis de variância entre as raças também foram
mostrados no componente proteção. A pontuação média para
todas as raças foi alta, indicando que todas as raças
75
apresentaram altos níveis de proteção. As raças consideradas
mais protetoras foram o cavalo árabe e Irish Draught e os menos
protetores foram os cavalos Puro-sangue Inglês, Quarto de Milha
Americano e os Pôneis Galeses e Cobs.
O presente estudo também, descobriu que a raça
Appaloosa tem pontuações moderadas a baixas em todos os
componentes em comparação com as outras raças. Além disso o
cavalo Árabe é descrito como um aprendiz rápido, enérgico,
brincalhão e reativo tanto para o medo como para a fuga. O
Árabe, em comparação com as outras sete raças, apresentou
altas pontuações em cinco componentes e moderado na
dominância. Os resultados também se comparam bem às
descrições das sociedades das raças de criadores. Por exemplo,
o cavalo de Tiro Irlandês foi descrito como uma raça inteligente
com uma natureza gentil e docilidade.
Os resultados deste estudo forneceram evidências
adicionais para personalidades típicas da raça e são apoiados por
descobertas de outros estudos (Hausberger e Muller, 2002;
Hausberger et al., 2004).
As diferenças de raça e a semelhança de personalidade
entre raças, que ligaram a ascendência, proporcionam maior
apoio à herança do comportamento e suscitam questões sobre os
efeitos maternos e paternos sobre a herança do comportamento e
a personalidade nos cavalos. Espera-se que esses resultados
induzam novas pesquisas sobre a herdabilidade da personalidade
e do comportamento do cavalo. Os achados deste estudo e outros
que exploram as diferenças comportamentais entre as raças
devem ser disponibilizados aos proprietários e manipuladores de
cavalos. Informações sobre o comportamento típico e a
personalidade de uma raça podem permitir decisões mais
informadas durante a seleção de cavalos tanto para passeios de
lazer quanto para outras áreas da equitação.

76
A fuga como instinto natural
Geralmente os cavalos escolhidos para trabalhar em uma
instituição de equitação terapêutica têm temperamentos calmos.
No entanto, se assustado por um movimento repentino ou ruído,
os cavalos tendem a fugir da situação. Fale com o cavalo numa
voz calma, calma e reconfortante. Um cavalo assustado sendo
segurado com força pode tentar fugir puxando para trás. Relaxe
seu controle ou solte-o rapidamente e geralmente ele vai relaxar.
Se a fuga não for possível, o cavalo pode tentar sair,
especialmente em uma área confinada como um estábulo.

Cavalo, um animal de rebanho


Os cavalos naturalmente vivem em grupos com uma ordem
hierárquica estabelecida. Eles estão mais confortáveis em grupos,
e isso deve ser levado em consideração ao sair da baia ou
quando um cavalo perde a visão dos outros, enquanto faz uma
trilha. Esteja ciente de que, se o cavalo na frente de uma linha
estiver trotando ou galopando, o cavalo que está seguindo
também pode tentar trotar ou galopar. Se um cavalo se assusta
por algo, os cavalos circundantes também podem ser afetados.
Por segurança, recomenda-se manter pelo menos um
comprimento de cavalo entre os cavalos quando se desloca
dentro de um grupo para respeitar o espaço do cavalo e a ordem
do andamento.

Dicas de manejo relacionadas ao


comportamento dos cavalos
. Construir as baias dos cavalos para que um possa ver ao outro.

77
. Alimentar cavalos individualmente para reduzir a agressão e
para permitir que os animais mais lentos ao comer obtenham suas
rações completas.
. Sempre que possível, alimente os cavalos com uma dieta rica
em fibras para reduzir problemas digestivos e comportamentais.
. Para reduzir o tédio e os problemas digestivos, alimente os
cavalos com porções pequenas e refeições frequentes em vez de
refeições grandes.
. Se os cavalos são alimentados em grupos, forneça mais cochos
do que o número de cavalos no grupo e distribua o alimento
rapidamente para que todos os cavalos possam começar a comer
aproximadamente ao mesmo tempo.
. Pratique um bom gerenciamento das pastagens para incentivar
os cavalos a pastar a maior parte da forragem disponível.
. Faça cercas e outras barreiras facilmente visíveis aos cavalos.
. Acompanhe de perto os novos cavalos ao introduzi-los em um
rebanho estabelecido, e esteja pronto para separar os cavalos se
eles se tornarem muito agressivos.
. Observe a hierarquia dos cavalos e sinais de agressão ao
trabalhar com um grupo de cavalos.

78
79
Capítulo 3
Uma linguagem própria: a
comunicação entre
humanos e cavalos
Uma relação bem-sucedida entre cavalo e cavaleiro é uma
parceria baseada na compatibilidade e muitas vezes é designada
como uma boa combinação. O presente capítulo, inclui a boa
interação e cooperação entre cavalo e cavaleiro, bem como a
experiência positiva relacionada. Uma boa cavalgada é importante
para o bem-estar dos cavalos, a segurança do piloto e o bom
desempenho.
Conforme Keri Brandt (2004), nas ciências sociais, há
poucas pesquisas sobre os relacionamentos que os seres
humanos compartilham com os companheiros equínos.
Brandt (2004), usando os princípios orientadores da
interação simbólica para entender as maneiras pelas quais duas
espécies diferentes criam um mundo de significado
compartilhado, explora o processo pelo qual os seres humanos e
os cavalos criam um sistema de linguagem - uma linguagem
própria. O significado do corpo como veículo de expressão - dado
o corpo como base para a interação simbólica tem sido
amplamente inexplorado. O autor também explora os vários
elementos e regras da "gramática" que possibilitam a efetiva
comunicação cavalo-homem e permite que os dois se envolvam
em uma ampla gama de atividades em conjunto.
A natureza incorporada da comunicação cavalo-homem
levanta duas questões: como o corpo pode ser um veículo para a
80
interação simbólica e, mais amplamente, qual a possibilidade de
interação simbólica em uma base não-dispersiva? Finalmente, e
talvez o mais importante, a aplicação de abordagens teóricas
simbólicas interacionistas para o estudo da comunicação não-
verbal desafia o binário humano / animal originalmente - e
ironicamente - impondo, tornando todos os seres linguísticos -
humanos e não-humanos.

O interacionismo simbólico
O interacionismo simbólico é uma abordagem
sociológica das relações humanas que considera de
suma importância a influência, na interação social, dos
significados bem particulares trazidos pelo indivíduo à
interação, assim como os significados bastante
particulares que ele obtém a partir dessa interação sob
sua interpretação pessoal. Originada na Escola de
Chicago, essa abordagem é especialmente relevante na
microssociologia e psicologia social. O interacionismo
simbólico não se limita a essa interpretação. Segundo a
proposição de Hegel, por exemplo, e de outros filósofos
que escreveram sobre a linguagem, o mundo simbólico
só se constrói por meio da interação entre duas ou mais
pessoas e, portanto, o simbolismo não é resultado de
interação do sujeito consigo ou mesmo de sua interação
com um simples objeto. Apesar de ser um sentido
individual e uma base para todos e quaisquer sentidos
que cada um dá às suas próprias ações, ela é fundada
nas interações do indivíduo, ou naquilo que o "eu" faz
sendo regulado pelo que "nós" construímos socialmente.

Relacionamentos únicos
A nova pesquisa humano-animal dentro de uma tradição
interacionista simbólica fornece as bases teóricas e empíricas
para a compreensão das relações humanas. No entanto, a
interação homem-cavalo difere muito da interação humano-cão e
humano-gato; portanto, a qualidade única das relações homem-
81
cavalo deve ser observada. A diferença mais óbvia é o tamanho
grande dos cavalos em comparação com seus parceiros
humanos. Isso traz um elemento de perigo na interação que
raramente está presente com cães e gatos e torna crucial o
estabelecimento de um sistema de comunicação eficaz.
Outra distinção importante é o alto nível de contato corpo-
a-corpo entre humanos e cavalos quando envolvidos na interação.
Certamente, os humanos e seus companheiros cães e gatos
ligam seus corpos por motivos de carinho, brincam, fazem afagos
ocasionais e, às vezes, por treinamento visando a obediência. No
entanto, os humanos não pedem que façam tarefas físicas e
mentais complexas como fazem com os cavalos, enquanto
cavalgam.
Devido a essas qualidades únicas, é essencial uma
exploração explícita do papel do corpo (humano e cavalo) na
comunicação homem-cavalo. Diante disso, uma compreensão da
interação simbólica é fundamental para entender como a
comunicação não-verbal facilita a criação de significado entre as
duas espécies.
A linguagem do cavalo opera, através do corpo, de modo
que os cavalos devem usar seus corpos para comunicar sua
presença subjetiva. Como os seres humanos não podem
transmitir intenções aos cavalos através da linguagem falada, eles
também devem usar seus corpos para gerar um estilo de
comunicação ao qual o cavalo pode responder. Na relação
homem-cavalo, o corpo é a base a partir da qual um sistema de
comunicação pode crescer. Como a ideia de Shapiro (199025),
citado por Brandt (2004), de "empatia cinestésica26", a
comunicação entre humanos e cavalos é uma experiência
incorporada.
25 SHAPIRO, K. J. Understanding dogs through kinesthetic empathy, social
construction, and history. Anthrozoös, v.3, p. 184-195, 1990.
26 A empatia cinestésica é o estado de ter uma ligação emocional com um objeto

quando está na mão, o que não tem quando está fora da vista.
82
Dado que a habilidade humana para verbalizar os
pensamentos é vista como o ponto de partida para o idioma,
sugerimos que o corpo, também, pode ser uma base para o novo
idioma. A interação simbólica, em particular, tradicionalmente
privilegia a comunicação verbal. Essa tendência nasceu das
ideias de Mead (193427), conforme Brandt (2004), de que a
linguagem verbal é o mecanismo pelo qual a mente é socialmente
constituída. Para Mead (1934), a linguagem, na forma de gestos
vocais, deve estar disponível para o surgimento da mente e do eu.
Através da linguagem, os seres humanos passam de organismos
biológicos para indivíduos mentais. Os animais, no entanto, são
seres impulsivos porque não têm capacidade de linguagem verbal
(Mead).
Uma abordagem interacionista para a comunicação
homem-cavalo pode explorar como as duas espécies criam
significados compartilhados que - mesmo na ausência de
compartilhada linguagem verbal - forma a maneira como eles
inter-relacionam e vivem juntos. Na sua pesquisa sobre relações
homem-felino, Alger e Alger (199728, 199929), citados por Brandt
(2004) escreveram:

Há muitos elementos no pensamento de Mead, que são


compatíveis com o nova pesquisa animal sem se
concentrar na linguagem como mecanismo central
através do qual um self emerge.

O que é Self na Psicologia?


Existem muitas teorias e definições de “self” entre os
psicólogos profissionais diferentes, mas muitos

27 Mead, G. H. Mind, self, and society. Chicago: University of Chicago Press,


1934.
28 ALGER, J. M.; ALGER, S. F. Beyond Mead: Symbolic interaction between

humans and felines. Society & Animals, v. 5, p. 65-81, 1997.


29 ALGER, J. M.; ALGER, S. F. Cat culture, human culture: An ethnographic

study of a cat shelter. Society & Animals, v. 7, p. 199-218, 1999.


83
concordam que o “eu” é constituído por aspectos
consciente e inconsciente de uma pessoa, sua
personalidade, cognições, pensamentos e sentimentos.
Todas essas características ou aspectos se combinam
na identidade central da pessoa. Outros sinônimos para
“self” são alma, o ego, a personalidade, o individual
(Psicoativo, 2017).

Eles descobriram que os seres humanos e os felinos


podem se envolver em uma interação simbólica.
Os gatos, eles argumentam, têm a capacidade de assumir
o papel de outro e, portanto, moldar suas interações para alcançar
determinados objetivos. “Os gatos têm uma sensação de passado
e futuro, e esses entendimentos não dependem da existência de
linguagem humana”. A pesquisa de Alger e Alger (1997, 1999) e
Irvine (200430) demonstrou que os animais comunicam os
sentimentos e desejos aos seus parceiros humanos de várias
maneiras, faltando apenas a capacidade de fazê-lo, através da
palavra falada. Ao reconhecer formas não-verbais de
comunicação, uma exploração e compreensão de como humanos
e seus companheiros de animais não-humanos pode vir a
conhecer a "presença subjetiva do outro" torna-se possível.

Corpo a corpo
Os seres humanos não podem "falar" (a linguagem dos
animais), e os cavalos não usam linguagem verbal como meio de
comunicação. Isso significa que, em conjunto, o ser humano e o
cavalo devem criar um sistema de comunicação, usando um meio
que ambos possam entender. Para ambas as espécies, o corpo é
uma ferramenta, através da qual eles podem comunicar uma
ampla gama de emoções e desejos.

30 IRVINE, L. If you tame me: Animal identity and the intrinsic value of their
lives. Philadelphia: Temple University Press, 2004.
84
Tanto os cavalos quanto os humanos podem aprender um
sistema complexo de linguagem corporal diferente dos elementos
da linguagem falada, permitindo que cada um expresse sua
presença subjetiva para o outro e trabalhe em conjunto de forma
orientada para objetivos.
Na discussão a seguir, usa-se trechos de entrevistas e
observações de campo para ilustrar como o corpo pode ser um
site para a interação simbólica e, mais amplamente, para explorar
a possibilidade de interação simbólica em uma base não
discursiva.

Tessa, uma jovem de 20 anos, cresceu montando


cavalos e trabalhou como médica veterinária de grande
animal, permitindo que ela passasse a maior parte de
seus dias com cavalos. Ela explicou o papel que a
linguagem corporal desempenha em sua comunicação
com cavalos e deles com ela:
... quando estou sentada com outra pessoa e estou
usando linguagem corporal e eles também estão usando
linguagem corporal e esse tipo de conversa com a
linguagem corporal está sempre acontecendo, mas
sempre é muito mais inconsciente do que é quando eu
estou trabalhando com cavalos e com cavalos eu
sempre estou
... a hiperconsciência31 do que estou fazendo com o meu
corpo e o que ele está dizendo e seu impacto na
percepção do cavalo, o jeito que eu me movo e o jeito
que eu me sinto, está sendo percebido pelo cavalo, é
como se comunicar e o que eu quero acontecer de uma
maneira que seja eficaz para o meu relacionamento
emocional com o cavalo. É apenas um nível de
consciência física que eu não tenho no resto da minha
vida e que eu não costumo encontrar em interações com
pessoas (a hiperconsciência). Onde estamos fazendo
essa conversa física acontecer. Com os cavalos é
sempre assim.

31Hiperconsciência: diz-se de objetivo final da yoga, quando o indivíduo alcança a


camada mais profunda da consciência.
85
... Eu simplesmente não sabia que era uma coisa, era
exatamente o que eu descobri que trabalhava para nós
dois (eu e os cavalos).

Tessa explicou a necessidade de "hiperconsciência" de seu


corpo, sabendo que os movimentos físicos e expressões sempre
estão traduzindo uma ideia ou sentimento para o cavalo.
Conforme Brandt (2004), Smiley (200432) escreveu:

...se os humanos tem cérebros mais inteligentes, então


os cavalos têm corpos mais inteligentes.

Os cavalos, em geral, possuem corpos altamente


sensíveis, porque seus corpos são o veículo deles para
comunicação. Como os cavalos dependem de seus corpos para
transmitir e receber informações, eles são altamente qualificados
na leitura (e na utilização) da linguagem corporal.
Jane, uma instrutora de cavalos e instrutora de equitação
por mais de 30 anos, disse:

Eu diria que provavelmente seu senso mais agudo é o


seu senso tátil.

Com o entendimento de que os cavalos enviam e


colecionam ideias, através de seus corpos, Tessa explicou a
necessidade de desenvolver uma "consciência física" para se
tornar um comunicador mais eficaz com cavalos. Sempre que eu
digo às pessoas que sem essa consciência, tornaria difícil, senão
impossível, entender como os cavalos respondem a uma pessoa
e como eles o fazem.
Os seres humanos que trabalham com cavalos
desenvolvem uma consciência aumentada semelhante sobre sua
linguagem corporal, em vez de palavras faladas, e têm o cuidado
32
SMILEY, J. A year at the races: Reflections on horses, humans, love,
money, and luck. New York: Alfred A. Knopf. 2004.
86
de pensar sobre as mensagens que estão transmitindo ou
pretendem transmitir ao cavalo por meio de seus corpos. À
medida que os seres humanos desenvolvem um sentido tátil mais
agudo, eles se tornam mais eficazes com seus corpos e mais
capazes de "sintonizar" com o corpo do cavalo para entender o
que lhes está sendo comunicado. Fazer ambos simultaneamente
permite que o cavalo e o humano se envolvam em uma conversa
de dois sentidos.

Processo de construção de linguagem


co-criativa.
Conforme Brandt (2004), é importante reconhecer que os
cavalos, também, são seres pensantes, emocionais, de tomada
de decisão que, como humanos, desenvolvem formas de
comunicar sua subjetividade a parceiros humanos. Desta forma, a
comunicação entre os dois é um processo cíclico e dinâmico, e
ambas as espécies são participantes completos no processo.
Como cães, os cavalos usam várias partes de seus corpos
com uma ampla gama de movimentos para comunicar um
sentimento ou desejo. As orelhas de um cavalo são muito
expressivas, e diferentes posições podem dizer a um ser humano
se o cavalo está relaxado, curioso, assustado, irritado ou ouvindo.

87
A linguagem das orelhas dos cavalos.

88
Para os seres humanos, aprender como os cavalos se
comunicam com outros cavalos é uma parte importante desse
processo de construção de linguagem. Aprender como os cavalos
se comunicam entre si é a base para o desenvolvimento de um
estilo de comunicação, que os cavalos compreenderão. Eles
devem ver os cavalos interagindo uns com os outros e devem
aprender os significados de certos gestos corporais e sinais
emitidos pelos cavalos.

Cavalos se comunicam, através


da posição da cauda

Este processo co-criativo, que resulta em um sistema de


linguagem compartilhada entre humanos e cavalos, é importante
por vários motivos. Em primeiro lugar, a comunicação efetiva
entre cavalos e humanos ajuda a garantir interações seguras e
humanas para ambas as espécies. Um cavalo de tamanho médio
pesa cerca de 1200 quilos. O peso do humano médio é de apenas
10 a 15% do peso do cavalo. Os seres humanos precisam se
89
comunicar efetivamente com o cavalo e também entender o que o
cavalo se comunica com eles para que nenhum mal-entendido
aconteça entre ambos e reagir de uma maneira que possa ser
prejudicial para os dois.
Em segundo lugar, quando o cavalo e o humano se
comunicam efetivamente uns com os outros, eles podem trabalhar
juntos de forma orientada para objetivos. Sem o estabelecimento
de um sistema de linguagem compartilhada, humanos e cavalos
experimentariam um conflito constante à custa - mais
frequentemente - do bem-estar do cavalo. Finalmente, e mais
importante, a criação de um sistema de comunicação ajuda os
cavalos e os humanos a desenvolver uma compreensão mais
profunda uns dos outros.
Pode ser tentador seguir uma abordagem antropocêntrica33
para estudar essa linguagem, mas deve ser reconhecido que os
cavalos são participantes ativos neste processo de comunicação.
Sugerir que os humanos sejam inteiramente responsáveis
prejudicariam a natureza dinâmica desta forma de comunicação.
O desenvolvimento de uma parceria exitosa entre humanos e
cavalos envolve "um conjunto complexo de negociações ... um
dar e receber entre cavalo e cavaleiro, em vez de um ditar ao
outro".

A Gramática da linguagem Humanos-Cavalos


Através deste sistema multidimensional de linguagem
corporal compartilhada, cavalos e humanos podem desenvolver
uma compreensão intersubjetiva uns dos outros.
Indubitavelmente, os elementos e as regras de uma linguagem
corporal são diferentes das de uma linguagem verbal. Embora a
linguagem corporal tradicionalmente não seja considerada uma
forma complicada de comunicação, para cavalos e humanos, é

33 Antropocêntrico: o homem como centro de tudo.


90
claramente uma forma que permite relacionamentos complexos
de trabalho humano e emocional.
Inicialmente, humanos e cavalos devem aprender um
sistema básico de comunicação. Este sistema é ensinado a quase
todos os cavalos jovens ou "verdes" e cavaleiros iniciantes.
Quando os cavalos começam a trabalhar com humanos, eles são
ensinados a um vocabulário básico de gestos corporais. Em geral,
os gestos funcionam dentro de um sistema de pressão e
liberação. O cavalo descobre que a pressão no lado direito do
corpo da perna de um cavaleiro ou da mão de uma pessoa
quando a pessoa está parada no chão significa "mover para a
esquerda(a)" ou o inverso.

Movimentação do cavalo através da pressão


pelo cavaleiro usando a perna ou a mão.

"Quando o cavalo se move, a pressão é liberada para


comunicar ao cavalo que era o resultado desejado. As mesmas
dicas básicas (ou significantes) são ensinadas a uma pessoa que
aprende a trabalhar com um cavalo a partir do chão ou a aprender
a andar. Pressionar o lado esquerdo do corpo do cavalo diz ao

91
cavalo, "vá para a direita". Quando o cavalo se move para a
direita, a pressão deve ser liberada.
Os cavaleiros principiantes geralmente são instruídos por
um cavaleiro experiente ou profissional que combina o cavaleiro
com um cavalo bem-educado, muitas vezes mais velho. Da
mesma forma, em geral, os cavalos jovens ou "verdes" aprendem
de cavaleiros conhecedores e experientes. Por causa do grande
tamanho de um cavalo, pode ser um esforço perigoso para até
mesmo o cavaleiro mais experiente trabalhar com um cavalo que
não aprendeu o básico da gramática humano-cavalo. Pessoas
que "treinam" os jovens cavalos geralmente são aquelas que têm
uma riqueza de conhecimento sobre o processo de comunicação
humano-cavalo. Da mesma forma, os cavaleiros novatos que não
compreendem os elementos e as regras da comunicação cavalo-
homem correm o risco de colocar seu bem-estar em perigo: é por
isso que eles geralmente devem ser emparelhados com um
cavalo mais velho.

Uso de expressões verbais na comunicação


Como na aprendizagem de uma linguagem verbal, usar ou
falar as palavras no início pode parecer estranho e grosseiro. No
entanto, quanto mais você refinar sua capacidade de falar
palavras e encadeá-las de forma significativa juntamente com os
gestos, mais sutil e suave será a sua fala e o entendimento por
parte do cavalo. Certamente, parte do processo de aprender a
verbalizar palavras é treinar sua boca, seus lábios e sua língua
para mover-se de maneiras particulares para produzir certos sons
que poderão ser interpretados pelo cavalo. Tanto para cavalos
quanto para humanos, como a compreensão da linguagem
corporal no processo de comunicação homem-cavalo torna-se
menos crua, as mais sutis e refinadas.

92
Comunicação com cavalos usando palavras e gestos.

Os humanos podem entender o significado de gestos


corporais dos cavalos, e os cavalos podem entender o significado
de gestos corporais dos seres humanos. Juntos, eles podem co-
criar um sistema de linguagem - uma linguagem própria - por meio
do corpo e palavras. É uma linguagem mutuamente criada, uma
terceira língua que permite que os dois criem um mundo de
significado compartilhado e promovam uma compreensão mais
profunda uns dos outros.

Os cavalos conseguem ler expressões


faciais nos humanos
Conforme Cruz (2017), desde os primeiros cavalos a ser
domesticados há cerca de 5 mil anos, os humanos sempre
viveram e trabalharam com cavalos. Toda a civilização e evolução
da espécie humana não teria sido possível sem a preciosa ajuda
dos equínos. Referimos como exemplo o lavrar da terra, o
93
transporte com carruagens, a cavalaria nas batalhas e o envio de
mensagens (de amor ou de conteúdo militar) ao longo de longas
distâncias de outra forma inalcançáveis. Apesar do binômio
predador inteligente contra presa de meia tonelada, os humanos e
os equínos conseguiram se comunicar transpondo a barreira da
diferença de espécie, através de uma linguagem comum que é a
emoção.
Segundo o mesmo autor, cavaleiros e treinadores
experientes conseguem detectar alterações sutis no estado
emocional dos seus cavalos, através de ensinamentos
transmitidos de geração para geração e também através de
sensações e experiências adquiridas ao longo de uma vida à volta
destes grandiosos animais que são os cavalos. Um ligeiro
movimento das orelhas, o abanar a cauda de um modo irritado ou
um olhar desconfiado, são exemplos de sinais de linguagem
corporal nos equínos.
E da mesma maneira, os cavalos também conseguem ler
as emoções nos humanos, com uma precisão surpreendente,
alertando-nos para um estado de nervosismo ou tristeza, por
vezes mesmo antes de nós nos apercebermos disso. Tal como
escreveu Herman Melville, na sua obra REDBURN, “Nenhum
filósofo nos compreende tão bem como os cães ou os cavalos”.
O cavalo doméstico atualmente, Equus caballus, é uma
versão mais mansa e refinada dos animais peludos, agressivos e
roncadores que percorriam as planícies na idade do gelo; foi
criado seletivamente ao longo de gerações pela agilidade e
temperamento dócil para os humanos.
No entanto, a capacidade de os cavalos formarem relações
sociais complexas provem de um legado evolutivo mais antigo,
em que estes animais viviam unidos em bandos com cerca de 5 a
10 indivíduos. Garanhões, potros e éguas, matriarcas
observadoras, apesar dos corpos musculados dos machos com
relincho ameaçador, todos formavam relações emocionais
profundas. Hoje, os humanos fazem parte desta interação. Os
94
cavalos domésticos respondem à mais ligeira alteração no tom de
voz, sensibilidade do toque, ou rigidez do corpo do cavaleiro.
De acordo com Cruz (2017), a habilidade dos equínos
lerem as emoções dos humanos, através dos sons e toque é
muito particular. No entanto, os cavalos também conseguem ler
as expressões faciais dos humanos, segundo um estudo inédito
publicado recentemente. Esta sofisticada capacidade já tinha sido
previamente demonstrada nos cães. Até muito recentemente,
pensava-se que os cavalos tinham uma visão muito primitiva. Os
cavalos não distinguem as cores e não conseguem ver
imediatamente à sua frente devido aos olhos estarem
posicionados de lado na cabeça. Contudo, têm uma acuidade
visual superior à do cão ou do gato doméstico.
Uma equipe de investigadores da universidade de Sussex,
Reino Unido, liderada por Amy Smith e com a colaboração da
veterana em comportamento animal Karen McComb, utilizou um
grupo de 28 cavalos. Foi-lhes mostrada uma fotografia da cara de
um homem com uma emoção facial positiva (sorriso) ou com uma
emoção facial negativa (zangado). Os resultados demonstraram
que os cavalos conseguiam distinguir automaticamente entre as
duas expressões e os respectivos significados.
Os cavalos olhavam mais para as caras zangadas com o
olho esquerdo, ativando a parte do cérebro (hemisfério direito)
onde se processam os estímulos provocadores de medo. Esta
resposta também está bem documentada nos cães. A frequência
cardíaca dos cavalos também aumentou mais rapidamente
quando foram confrontados com a cara zangada. A capacidade
de distinguir um sorriso duma cara zangada é um atributo útil para
um cavalo doméstico, pois raramente este encontro resulta em
consequência feliz.
Os autores do estudo especularam que os cavalos
poderiam estar simplesmente a aplicar a capacidade ancestral de
ler as expressões faciais da sua própria espécie a uma espécie
morfologicamente diferente, neste caso a humana. Este grupo de
95
investigadores já tinha previamente identificado 17 expressões
faciais distintas nos cavalos (mais uma que nos cães, ou mais 3
que nos chimpanzés) muitas das quais semelhantes aos 27
movimentos faciais descritos nos humanos como encorrilhar as
sobrancelhas ou olhos muito abertos frente ao medo. Uma vez
que os cavalos utilizados neste estudo provinham todos de
escolas de equitação onde interagiam diariamente com humanos,
a capacidade de ler as expressões faciais também pode ter sido
adquirida ao longo da vida.
Estudos prévios demonstraram que a familiaridade era um
fator significativo na capacidade de o cão reconhecer as
expressões faciais – os cães tiveram um melhor desempenho a
reconhecer as expressões faciais nos donos em comparação com
estranhos.
Apesar dos resultados deste estudo talvez não serem
surpresa para pessoas que trabalham diariamente com cavalos,
são mais uma peça importante no grande complexo da linguagem
emocional que os humanos partilham com outras espécies.
A capacidade de os cavalos interpretarem expressões
faciais provavelmente ajuda a explicar o importante papel que os
equínos desempenham nas terapias e efeitos emocionais nos
humanos, documentados na arte e história, desde os primeiros
registos nas paredes das cavernas. Podem falar através de
suspiros ruidosos ou discretas torções dos lábios em vez de
palavras, mas está a tornar-se claro que os cavalos são
indivíduos com uma forte acuidade emocional, não muito
diferentes dos animais que carregam no seu dorso.

96
97
Capítulo 4
Interações entre crianças
e cavalos na Terapia
Assistida por animais e
Equoterapia
Princípio Básicos das Terapia
Assistida Por Animais (TAA)
Os animais sempre estiveram próximos do homem
participando de atividades de caça, tração, locomoção, pastoreio,
guarda, companhia e tantas outras. Ao longo da história da
humanidade, a domesticação de algumas espécies transformou
tanto os animais, quanto os hábitos e o estilo de vida das
pessoas. Sendo que povos de diferentes culturas mantêm
vínculos afetivos com essas espécies (Colosio, 2009).
A Terapia Assistida por Animais (TAA) é uma prática com
critérios específicos onde o animal é a parte principal do
tratamento, objetivando promover a melhora social, emocional,
física e/ou cognitiva de clientes humanos. O paciente aqui é
tratado como cliente. Ela parte do princípio de que o amor e a
amizade que podem surgir entre seres humanos e animais geram
inúmeros benefícios. A zooterapia pode servir como auxílio no
tratamento de diversas patologias como síndromes genéticas,

98
hiperatividade, depressão, mal de Alzheimer, lesão cerebral, entre
outras.
A TAA deve ser supervisionada por profissionais da saúde
devidamente habilitados e pode ser praticada por profissionais,
técnicos especializados e voluntários devidamente treinados. Os
animais devem ter o acompanhamento de médico veterinário
garantindo o bom estado sanitário do animal e minimizando o
potencial zoonótico; e principalmente zelar pelo bem-estar do
animal com respeito e muito carinho, pois a qualidade de vida
desses terapeutas animais é essencial para o bom funcionamento
da TAA (Machado e cols, 2008).
Conforme Foden (2017), existem vários papéis que um
animal pode desempenhar na vida de uma pessoa que está
doente ou que vive com uma deficiência, de iluminar seu dia para
protegê-los de danos. Muitas vezes, foi sugerido que uma
variedade de animais, de cavalos a cães e golfinhos, pode
fornecer a terapia real para uma pessoa. Por exemplo, afirmou-se
que eles podem aliviar o sofrimento emocional, aliviar a dor física,
reduzir a frequência cardíaca e pressão arterial, ajudar com o
desenvolvimento de habilidades motoras e reduzir o
comportamento estereotipado, diminuir a sensibilidade sensorial,
e aumentar o desejo e a capacidade de se conectar socialmente
com os outros.
Conforme Machado e cols (2008), citando Friedman
(199034), foi um dos pioneiros no estudo dos efeitos da interação
homem-animal sobre parâmetros fisiológicos e saúde
cardiovascular humana, sendo que os resultados de diferentes
estudos demonstraram que a TAA pode promover a saúde física
através de três mecanismos básicos que incluem a diminuição da
solidão e da depressão; diminuindo a ansiedade, os efeitos do
34FRIEDMANN, E. The value of pets for health and recovery in: Waltham
Symposium 20, 1990, Proceedings… Pets, benefits and practice. 1st European
Congress of the British Small Animal Veterinary Association, Cheltenham,
England: BVA Publications, p.8-17.
99
sistema nervoso simpático e aumentando o estímulo para prática
de exercícios.
A TAA pode ser aplicada em áreas relacionadas ao
desenvolvimento psicomotor e sensorial, no tratamento de
distúrbios físicos, mentais e emocionais, em programas
destinados a melhorar a capacidade de socialização ou na
recuperação da auto-estima. Os recursos da TAA podem ser
direcionados a pessoas de diferentes faixas etárias, instituições
penais, hospitais, casas de saúde, escolas e clínicas de
recuperação. É fundamental o trabalho de uma equipe
multidisciplinar capaz de escolher o método mais adequado a ser
aplicado, acompanhando as atividades e o bem-estar dos animais
e dos clientes, que irá refletir no benefício real da qualidade de
vida dos mesmos.
De acordo com as mesmas autoras, no Brasil, a médica
veterinária e psicóloga Hannelore Fuchs coordena um importante
projeto de TAA em São Paulo, denominado “Pet Smile”, há quase
dez anos. Tendo fundado a Abrazoo (Associação Brasileira de
Zooterapia) essa profissional, com a ajuda de voluntários tem
atuado no sentido de proporcionar uma interação dos animais
(cães, gatos, coelhos) com crianças e adolescentes de hospitais
ou instituições. Há bons profissionais da área da saúde que se
interessam pelo tema, mas não têm conhecimento sobre os
animais. Por outro lado, há profissionais da medicina veterinária
que conhecem bem o animal, mas sabem pouco sobre os seres
humanos.

A Psicoterapia Facilitada pelos


Equínos
A Psicoterapia Facilitada pelos Equínos (EFP, do inglês
Equine Facilitated Psychotherapy) é uma forma de
desenvolvimento de terapia assistida por animais, que incorpora
100
principalmente a interação humana com cavalos como guias. O
cavalo age como um espelho para o ser humano e sua profunda
experiência interior. A interação homem-cavalo pode facilitar a
exploração pessoal de sentimentos, poderes de intuição e
compreensão energética de auto-natureza, relacionamentos e
comunicação. Além disso, os cavalos podem desenvolver o
crescimento emocional. Sentido de auto-eficácia e auto-estima,
conhecimento e bem-estar, além de melhorar a qualidade de vida
das pessoas.
O processo atual de psicoterapia facilitada por equídeos
para crianças oferece oportunidades para aumentar a
autoconsciência e repelir comportamentos inadaptados,
sentimentos e atitudes. Esta terapia é dirigida para uma variedade
de saúde mental e necessidades de desenvolvimento, incluindo:
problemas comportamentais, transtorno do déficit de atenção,
transtornos alimentares, problemas de abuso, depressão,
ansiedade, problemas de relacionamento e necessidades de
comunicação. O foco da EFP não é a equitação. Na verdade, 90%
da EFP ocorrem puramente no chão (Quiroz-Rothe e cols, 2005).
A psicoterapia facilitada por equínos baseia-se no poder da
motivação do cavalo. É usado o risco do foco da incapacidade
para a capacidade, conforme Robinson (199935), citado por
Quiroz-Rothe e cols (2005). Os objetivos da psicoterapia facilitada
por equínos incluem atividades de organização envolvendo
cavalos, o que exigirá que as crianças desenvolvam e apliquem
certas habilidades como comunicação verbal e não verbal,
assertividade, pensamento criativo, resolução de problemas,
liderança, responsabilidade, relacionamento em equipe, confiança
e atitude (Iannuzzi e Rowan, 199136, citados por Quirz-Rothe e
cols, 2005).
35 ROBINSON, I.H. The human-horse relationship: How much do we know?
Equine Veterirary Journal, Suppl, v. 28, p.42-45, 1999.
36 IANNUZZI, D.; ROWAN, A. Ethical issues in animal-assisted therapy

programs. Anthrozoos, v. IV, p. 154-163, 1991.


101
Este estudo teórico (Montero e León, 200537, citados por
Quiroz-Rothe e cols, 2005) apresenta aos leitores a opinião sobre
o processo atual de EFP com consideração principal para
crianças, cavalos, terapeutas, a sessão experiencial e técnicas
aplicadas na infância. O objetivo dos autores é promover os
esforços dos psicoterapeutas e profissionais de ciências da saúde
para que esta modalidade de tratamento possa ser usada em sua
prática.

Os olhos de um cavalo
Há uma razão pela qual os cavalos possuem uma
consciência mais aguda sobre o seu meio ambiente e aqueles
que estão nele. Os cavalos são conhecidos por “Pensadores
Visuais” ou “Pensadores Espaciais”. Isso significa que eles
"pensam" em imagens e não em ideias abstratas como a maioria
dos humanos. Porque eles vêem ou notam tudo ao seu redor, são
capazes de encontrar perigo de predadores à grande distância.
Isso significa que são altamente orientados para detalhes, e é por
isso que eles são tão proficientes em ler a linguagem corporal.
Dentro da população humana existe um conjunto de pessoas que
também são “Pensadores Visuais”. A maior porção daqueles que
são “Pensadores Visuais” são pessoas com Autismo. Pessoas
com Autismo processam principalmente pensamentos através de
imagens mentais, e é por isso que eles dificuldade em habilidades
verbais; eles primeiro têm que converter suas imagens mentais
em palavras faladas.

37 MONTERO, I.; LEÓN, O.G. Sistema de clasificación del método en los


informes de investigación en Psicología. Internacional Journal of Clinical and
Health Psychology, v. 5, p.115-127, 2005.
102
A Dra. Temple Grandin,38 foi pioneira no campo do
comportamento animal, lançou nova luz em seus livros e
pesquisa em torno da conexão entre o pensamento visual e o
Autismo. Um dos maiores recursos que ela traz para seu
trabalho e teorias é o simples fato de que ela mesma é autista
(Wilson, 2012).
Considerando que o especialista em terapeutas e equídeos
deve ter certas qualificações para preencher suas posições, o
cavalo não é obrigado a ser submetido ao treinamento formal
regimentado, mas a segurança é um fator chave em qualquer
trato com animais e especialmente para aqueles de grande porte.
Devido à natureza das sessões, um cavalo com um
temperamento apropriado deve ser escolhido. Um cavalo com um
temperamento mais calmo provavelmente será escolhido ao
contrário de um cavalo que não pode interagir com segurança
com humanos, mas com bastante curiosidade e personalidade
para interagir com os clientes. Isto é, para a segurança dos
participantes e dos cavalos envolvidos na terapia.
O tipo de terapia do cliente também pode determinar as
necessidades características do cavalo. As terapias equinas,
como alguns equestres terapêuticos, precisam de cavalos que
serão completamente dóceis enquanto estiverem sendo utilizados
a por um cavaleiro com deficiência. Mas para na EAP, os cavalos

38 Mary Temple Grandin (Boston, 29 de agosto de 1947) é uma mulher com


Autismo (de alto funcionamento), também conhecido como Síndrome de
Asperger, que revolucionou as práticas para o tratamento racional de animais
vivos em fazendas e abatedouros. Bacharel em Psicologia pelo Franklin Pierce
College e com mestrado em Zootecnia na Universidade Estadual do Arizona, é
Ph.D. em Zootecnia, desde 1989, pela Universidade de Illinois. Hoje ministra
cursos na Universidade Estadual do Colorado a respeito de comportamento de
rebanhos e projetos de instalação, além de prestar consultoria para a indústria,
pecuária em manejo, instalações e cuidado de animais. Ela é a mais bem-
sucedida e célebre profissional norte-americana com Autismo, altamente
respeitada no segmento de manejo pecuário.

103
precisam ser mais livres para responder aos clientes. Os clientes
recebem feedback sobre os cavalos que irão reagir conforme a
sua vontade. Os cavalos certamente são treinados conforme a
maneira de se comportar, como não morder, chutar ou reagir
agressivamente por razões de segurança (Wilson, 2012).
Interações entre crianças e
cavalos na Terapia Assistida por
Equínos
Os cavalos interessam e motivam as crianças, para que
possam ser incluídos como co-terapeutas ou parceiros que
possam promover a projeção das experiências da criança e / ou a
identificação de um problema de saúde mental infantil em escolas,
hospitais, lares de idosos, centros de tratamento e prática privada
(Quiroz-Rothe e cols, 2005).
Os cavalos fazem parte do campo de fisioterapia desde o
início dos anos 1970, e mais recentemente desempenhando um
papel no campo da saúde mental. Numerosos termos são usados
para descrever os papéis que os cavalos desempenham na
educação e nas terapias físicas ou psicológicas. Os seguintes
itens estão incluídos sob o guarda-chuva terapêutico: terapia
equina, Hipoterapia, psicoterapia facilitada por equídeos e
psicoterapia assistida por equíno.
A psicoterapia facilitada com cavalos é uma forma
emergente de terapia assistida com animais que incorpora a
interação do homem com o cavalo como guia. O comportamento
de um cavalo sensível proporciona ao terapeuta o meio para
ensinar diferentes competências ao cliente (Quiroz-Rothe e cols,
2005).
Conforme os mesmos autores, a psicoterapia facilitada por
equínos baseia-se no poder da motivação do cavalo. É usado o
104
risco do foco da incapacidade para a capacidade. Os objetivos da
psicoterapia facilitada por equínos incluem atividades de
organização envolvendo cavalos, o que exigirá que as crianças
desenvolvam e apliquem certas habilidades como comunicação
verbal e não-verbal, pensamento criativo de assertividade,
resolução de problemas, liderança, responsabilidade, relações de
trabalho em equipe, confiança e atitude.
A Psicoterapia Facilitada pelos Equínos (EFP) permite às
crianças testar e melhorar suas habilidades de autogestão quanto
à coordenação motora e habilidades cognitivas.

A psicoterapia facilitada pelos equínos permite às


crianças testarem suas habilidades cognitivas.

Durante a interação informal com um cavalo, uma criança


usará uma série de comportamentos exploratórios (por exemplo,
discriminação fina, exame visual, etc.) para examinar as respostas
e comportamentos dos cavalos como seres sociais. As respostas
emocionais da criança também serão suscetíveis pelo processo
de psicoterapia facilitada por equínos (ou seja, sensação de auto-

105
eficácia e auto-estima, etc.) (Beck e Katcher, 199639; Dyer,
200040, citados por Quiroz-Rothe e cols, 2005).
As crianças estão mais acostumadas do que os adultos ao
trabalho experiencial, tendem a se identificar com animais ou a
antropomorfizar animais. Esta situação permite a projeção de
desejos, necessidades e comportamentos de uma criança através
dos cavalos (Katcher e WiIkins, 199841; Tucker, 199742, citados
por Quiroz-Rothe e cols, 2005). Levar um cavalo pode demonstrar
como a criança se sente sobre ser conduzida por outros. A
criança pode retratar seus próprios sentimentos, quer deixando os
cavalos livres ou querendo que eles sejam mais restritos.
O sentido de liderança traz questões importantes de
colocação do corpo em relação aos outros, e percebendo
situações perigosas, pode solicitar assistência dos monitores
(Lawrence, 198443). Crianças com problemas psicossociais e
problemas de saúde mental que resultam em qualquer variação
significativa na cognição, comunicação, dificuldades
comportamentais, habilidades sociais e ansiedade, bem como
aqueles com distúrbios de humor, Autismo, depressão ou

39 BECK, A.; KATCHER, A. Between pets and people: The importance of


animal companionship. West Lafayette: Purdue University Press, 1996.
40 DYER, D. A. Every child’s Dream: Horses helping kids grow up, a

parent’s guide. Blacksburg,VA: Advantage ReSource, 2000.


41 KATCHER, A.H.; WILKINS, G.G. Animal-assisted therapy in the treatment

of disruptive behavior disorders in chilDren. In A. Lundberg (Ed.), The


environment and mental health: A guide for clinicians (pp. 193-204). Mahwah,
NJ: Lawrence Erlbaum Associates, Inc. Publishers, 1998.
42 TUCKER, S. Effects of equine facilitated therapy on self-concept, locus

of control, impulsivity, and hopelessness in adolescent males. In B. T.


Engel (Ed.), Rehabilitation with the aid of a horse: A collection of studies (pp.
207-220). Durango, CO: Barbara Engel Therapy Services, 1997.
43 LAWRENCE, E. A. Human relationships with horses. In R. K. Anderson, B.

L. Hart and L. A. Hart (Eds.), The pet connection: Its influence on our health and
quality of life (pp. 38- 43). Minneapolis, MN: University of Minnesota, 1984.
106
estresse pós-traumático, devem ser considerados para equínos
terapia facilitada (Tedeschi, 199244).
A psicoterapia facilitada por equínos para crianças pode
incluir, mas não se limita a, uma série de atividades, como
manipulação e limpeza (através da escovação), equitação e
condução. A propensão dos seres humanos a interpretar
verbalmente os comportamentos do cavalo é endêmica
(disseminada). A pesquisa atual não categorizou todas as
maneiras pelas quais os cavalos se comunicam. Ambos os
cavaleiros e profissionais de saúde mental envolvidos na EFP
podem utilizar a interpretação do significado de sons e
movimentos de cavalos. Embora a interpretação seja necessária
para que os participantes permaneçam seguros, o treinamento
específico sobre o que é realmente conhecido, sobre as maneiras
pelas quais os cavalos se comunicam irá adicionar clareza e
integridade ao trabalho (Quiroz-Rothe, 2005).

Interações entre crianças com doenças


mentais e cavalos na Terapia Assistida
por Equínos
Porque usar cavalos?
Wilson (2012) em sua tese de doutorado intitulada
Psicoterapia Assistida por Equínos como uma terapia eficaz em
comparação com ou em conjunto com terapias tradicionais (do
original em inglês Equine-Assisted Psychotherapy as an effective

44 TEDESCHI, P. Guidelines for working with persons having psychiatric


and emotional disabilities. In B. Engel (Ed.), Therapeutic riding programs
instruction and rehabilitation: A handbook for instructors and therapists (pp.
235-242). Durango, CO: Barbara Engel Therapy, 1992.
107
therapy in comparison to or in conjunction with traditional
therapies) perquntou: O que é tão especial sobre um cavalo?
Segundo ela, os cavalos são de fato conhecidos por
interagir com humanos com paciência, cooperativamente e podem
ser muito sociáveis para com os seres humanos. No entanto, há
uma infinidade de terapias assistidas por animais para escolher se
um terapeuta procura incorporar animais na sua terapia, incluindo
pet-terapia para pacientes hospitalares, cães no consultório de
psicólogos e até mesmo terapias envolvendo aves. Obviamente,
quando se considera os animais utilizados na terapia, como cães,
gatos e pássaros, os cavalos são muito maiores e podem ser
bastante assustadores para pessoas que não estão acostumadas
a sua presença. Mesmo as raças de cavalos menores podem
pesar mais de 900 libras (ou 408,233 Kg) e literalmente podem
caminhar diretamente sobre uma pessoa.
No entanto, mesmo que os cavalos sejam grandes
criaturas, uma das observações mais comuns feitas pelos clientes
é que o cavalo fez com que eles se sentissem "seguros". Também
é devido ao tamanho do cavalo que os clientes são preenchidos
em seu empoderamento e encorajamento, quando eles
conseguem interagir com sucesso com seu cavalo. Os cavalos
possuem traços adicionais adequados para a psicoterapia, como
seu tamanho enorme, mas mesmo com tamanho e poder esse
animal é uma criatura naturalmente vulnerável. É este fator
primordial que os psicólogos usam como ferramenta para
psicoterapia.
Segundo Brandt (2013), em seu artigo Psicoterapia
facilitada por equínos como intervenção de tratamento
complementar (do original, em inglês Equine-Facilitated
Psychotherapy as a Complementary Treatment Intervention ),
publicada na revista The Practitioner Scholar: Journal of
Counseling and Professional Psychology, devido às
características únicas dos cavalos e à habilidade estranha de

108
refletir a emoção humana, o uso de equídeos no tratamento da
doença mental tornou-se cada vez mais popular na última década.
Ao contrário de gatos ou cachorros, os cavalos são animais
presa e devem estar em sintonia com o meio ambiente para
45

garantir a sobrevivência. Assim, os cavalos são excelentes,


permanecendo atentos a todo o momento e interpretando com
precisão as alterações ambientais. Além disso, os cavalos são
animais que dependem da comunicação contínua entre membros
para a sua segurança. Através da observação e interação com os
cavalos, há ampla oportunidade de ensinar e desenvolver
habilidades sociais e relacionais. Como os cavalos dependem
fortemente da comunicação não-verbal, eles ficam confusos e
agitados quando há incongruências entre pistas verbais e não-
verbais.
Quando os humanos apresentam incongruência, os
cavalos reagem instintivamente, refletindo o estado emocional
interno da pessoa, independentemente da expressão externa.
Embora alguns possam tolerar mais incongruências do que
outros, todos os cavalos fornecerão feedback instantâneo e direto
não-verbal aos seres humanos quando apresentarem intenções
pouco claras ou sugestões verbais e não verbais misturadas.
Embora o feedback do cavalo não seja julgador, é muito claro.
Quando um cavalo sente uma emoção, não hesita em expressá-
la.
Em contraste com os cavalos, os seres humanos se
habituaram a controlar de forma rígida suas expressões
emocionais e frequentemente demonstram incongruências entre
suas comunicações verbais e não-verbais. Em um mundo
excessivamente técnico e de alta demanda, é muito fácil para os
indivíduos se tornarem cada vez mais separados de suas

45Cavalo é animal de fuga, uma presa, que tem como natureza fugir para
sobreviver.
109
experiências e sentimentos autênticos. Quando essa conexão é
fraca ou desconectada, podem ocorrer doenças mentais.
Interagir com a natureza e os animais ajuda muitas
pessoas a rejuvenescer sua conexão mente-corpo. Devido à sua
vontade de expressar emoção, o uso de cavalos em um ambiente
terapêutico cria um meio efetivo através do qual os clientes
podem se reconectar com seus eus autênticos. Isso pode ser
visto a partir do momento em que um indivíduo entra em contato
com os cavalos. As pessoas frequentemente são atraídas por um
cavalo que reflete sua personalidade, muitas vezes sentindo uma
conexão imediata com os cavalos que ressoam com seus
problemas centrais.

Transferência
A transferência é a repetição dos pensamentos ou
sentimentos não resolvidos de um indivíduo em relação a um
determinado evento ou relacionamento. A transferência
normalmente resulta de um indivíduo que está sendo lembrado de
seus pensamentos ou sentimentos ocultos. Como os cavalos são
considerados espelhos emocionais, eles oferecem ampla
oportunidade de surgir a transferência. Enviar mensagens não
verbais não claras a um cavalo é irritante e confusa para o animal.
Se os clientes não são exteriormente congruentes com o seu
estado emocional, o cavalo não será cooperativo, agitado e
rapidamente perderá o respeito e a confiança no manipulador.
Consequentemente, a desobediência do cavalo cria sentimentos
negativos no cliente.
Quando essas emoções surgem, a transferência
normalmente ocorre, proporcionando uma oportunidade para o
cliente processar problemas não resolvidos. À medida que o EFP
avança, os clientes começam a se concentrar no comportamento
do cavalo para entender como eles se sentem e, eventualmente,

110
começam a conhecer seu próprio estado emocional, reparando e
fortalecendo sua conexão mente-corpo (Brandt, 2013).

Metáforas

Para facilitar a transferência, o uso de metáforas é


fortemente incorporado no EFP. As interações do cliente com o
cavalo são informações para o clínico sobre como o cliente pode
se comportar em outras situações. O clínico, então, usa o cavalo
como uma metáfora para relacionamentos, comportamentos ou
eventos no mundo do cliente que têm sido problemáticos ou
desafiadores no passado.
Os cavalos são metáforas particularmente efetivas para os
relacionamentos, pois são animais sociais e têm funções
designadas dentro do seu rebanho. Ao observar a dinâmica do
rebanho, os clientes geralmente se relacionam com cavalos que
refletem seus próprios valores e crenças relacionais. Os clientes
podem ressoar com cavalos de baixa classificação que são
muitas vezes empurrados por outros membros do rebanho se eles
lutam com a assertividade ou baixa autoconfiança.
Alternativamente, os clientes podem se conectar com o membro
do rebanho dominante se forem desafiadores, teimosos ou com
problemas comportamentais. Além disso, os clientes podem ser
extremamente afetuosos com o cavalo ou muito agressivos com
seus pedidos e ações.
Em qualquer situação, o cavalo pode se afastar do cliente e
desengatar. Ao fazê-lo, o cavalo estabelece um limite com o
cliente. Usando o cavalo como uma metáfora, o clínico é capaz de
incorporar exemplos do "aqui e agora" para facilitar uma
discussão sobre fronteiras e relacionamentos saudáveis. As
interações do cliente com o cavalo se tornam exemplos de
possíveis consequências quando os limites são muito rígidos ou
difusos.

111
A exploração de fronteiras durante EFP pode ser
especialmente benéfica quando se trabalha com casais ou
famílias. Como a EFP é orientada para objetivos, o clínico é capaz
de observar a dinâmica familiar no presente, enquanto os
membros trabalham para realizar uma tarefa especificada.
Através da observação e discussão dos padrões de interação da
família à medida que ocorrem, surgem ideias que podem passar
despercebidas por um longo período de tempo dentro de um
ambiente terapêutico tradicional (Brandt, 2013).

Atividades montadas em cavalos


Os exercícios montados (habilidades e atividades
realizadas nas costas do cavalo) são menos comuns em EFP do
que as atividades realizadas a partir do solo. Esses exercícios são
para clientes que estão confortáveis ao redor e manipulando
cavalos. Normalmente, os clientes tiveram várias sessões de EFP
antes de realizar exercícios montados. No entanto, quando
incorporados adequadamente, as habilidades montadas são uma
influência efetiva na auto-identidade e confiança.
Um cavalo representa poder, graça e vulnerabilidade. Estar
no topo de um cavalo dá a um indivíduo uma sensação dessas
características, inculcando capacitação e confiança no cavaleiro.
Enquanto o cavalo atua como um sistema de apoio, o piloto pode
explorar os sentimentos da novela em um ambiente sem
julgamento. Através de exercícios montados, clientes que
inicialmente se sentem protegidos e incapazes, se tornam
indivíduos seguros e confiantes (Brandt, 2013).

Técnicas e intervenções terapêuticas


A pesquisa apóia que uma abordagem multidisciplinar para
o tratamento é mais efetiva para indivíduos com doença mental ou
112
diagnósticos duplos. EFP é uma terapia flexível e complementar
que pode ser efetivamente acoplada com práticas baseadas em
evidências (EBPs) para atender às necessidades exclusivas do
cliente. O EFP é facilmente adaptável às sessões de terapia
individual, grupal e familiar e as atividades são adaptadas ao
plano de tratamento e aos objetivos específicos do cliente (Brandt,
2013).

Estrutura de tratamento
Normalmente, o cliente se reúne com o terapeuta em uma
configuração terapêutica tradicional (consultório) para completar
uma avaliação inicial, estabelecer um plano de tratamento e
objetivos e discutir o formato para futuras sessões. É importante
que o clínico discuta com o cliente suas experiências passadas e
nível de conforto com animais e equínos. Deve-se ter cuidado
para garantir que a incorporação de atividades equinas não seja
apressada, particularmente se os clientes apresentam medo ou
têm pouca ou nenhuma experiência em torno dos cavalos. Além
disso, as considerações de segurança quando se trabalha com
cavalos são discutidas antes da sessão EFP inicial e
periodicamente ao longo do processo de tratamento. Após a(s)
sessão(ões) inicial(is), o cliente é introduzido no(s) cavalo(s) e são
realizadas atividades introdutórias, incluindo observação da
dinâmica do rebanho, limpeza e tarefas estáveis e trabalho de
base (Brandt, 2013).
Os clientes se baseiam em habilidades aprendidas, e as
atividades equinas tornam-se cada vez mais desafiadoras e
podem incluir montadas e bases. As sessões de terapia
geralmente incorporam check-ins breves antes e após cada
sessão, bem como sessões completas ocasionais dentro de uma
configuração terapêutica tradicional. Durante a(s) sessão(ões)
final (is) da EFP, o terapeuta precisa ter consciência de que os
clientes estão encerrando sua relação com o terapeuta e o cavalo.
113
Assim, deve-se ter cuidado para enfrentar ambas as perdas. Ao
longo do tratamento, os terapeutas frequentemente incorporam
técnicas da EBP (Escola Brasileira de Psicanálise) em sessões
EFP.(Equine Facilitated Psychotherapy) na Terapia
comportamental cognitiva (TCC ou em inglês Cognitive behavioral
therapy, CBT), terapia de Gestalt, técnicas centradas na pessoa e
terapia de jogo são comumente utilizadas durante EFP (Brandt,
2013).

Terapia comportamental cognitiva


A TCC (Terapia Comportamental Cognitiva) é uma técnica
terapêutica que se concentra na mudança dos pensamentos,
crenças e comportamentos inadaptados ou não saudáveis de um
indivíduo. Isto é conseguido através da identificação e
reformulação de pensamentos irrealistas ou distorcidos, bem
como a alteração dos comportamentos mal adaptativos afiliados.
A TCC foi repetidamente encontrada para efetivamente tratar
vários distúrbios de saúde mental, bem como melhorar o
resultado da EFP (Equine Facilitated Psychotherapy). O EFP,
baseado em comportamentos, incorpora fortemente técnicas de
TCC em sessões. A EFP exige que o cliente participe de
exercícios físicos, psicológicos e emocionais. À medida que as
emoções surgem devido à interação ou observação do(s) cavalo
(s), podem ser discutidos imediatamente (Rothe et al., 2005).
A meditação (mindfulness) e a tolerância à frustração
(distress) são promovidas durante as sessões de EFP,
particularmente quando o cavalo não responde de maneira que o
cliente queira.

Conceito de Distress Psicológico


O conceito de distress psicológico decorre do termo
stress, referindo-se ao mal-estar psicológico
experienciado em situações percebidas como exigente

114
face aos recursos que o indivíduo dispõe. Esta
experiência pode assim repercutir-se em dificuldade de
responder de forma adaptativa aos fatores indutores de
estresse (estressores), quer seja manifestada através de
dificuldades na regulação emocional, quer seja através
de dificuldades na resolução eficiente do problema. O
distress psicológico pode conceber-se como um estado
de mal-estar em resposta a acontecimentos de vida
significativos para o indivíduo, sendo caracterizado pela
experiência subjetiva de cada um. Neste sentido, o modo
como cada pessoa experiencia e atribui significados a
determinada situação exprime um valor subjetivo, no
qual são influentes internos (e.g. auto-estima, percepção
de controle) ao indivíduo, bem como fatores
externos/sociais (e.g. apoio social), que medeiam e
caracterizam o contexto da vivência do distress. No
entanto, enquanto dificuldade (percebida pelo próprio) de
adaptação às (auto e/ou hétero) exigências, a
experiência de distress pode contribuir para
vulnerabilizar o indivíduo e manifestar-se sob a forma de
sintomatologia ansiosa (e.g. dificuldade de concentração;
insônia ou depressiva (e.g. humor depressivo, perda de
interesse nas atividades; desesperança) (Knoow, 2017).

Os clientes devem aprender a identificar e regular suas


emoções quando trabalham com cavalos. Se os clientes reagem
com muita força ou são emocionalmente incongruentes com suas
sugestões verbais e não-verbais, o cavalo irá se retirar
fisicamente da área ou se recusar a cumprir os pedidos do cliente.
Enfrentar as emoções difíceis que ocorrem, permite aos clientes
se auto-monitorar e entender como eles reagem às emoções
específicas. À medida que os clientes enfrentam emoções
terríveis ou suprimidas, eles aprendem que as emoções não são
tão prejudiciais como originalmente pensado. Este novo conforto
encontrado para identificar e expressar emoções abre clientes
para outras mudanças cognitivas e comportamentais dentro de
seu mundo que antes teriam sido mais difíceis.

115
Psicoeducação é um aspecto importante da CBT (do
inglês, Cognitive Behavioral Therapy) ou TCC (Terapia
Comportamental Cognitiva) e é frequentemente usado em
sessões EFP (Psicoterapia Facilitada pelos Equínos ou do inglês
Equine Facilitated Psychotherapy). O terapeuta educa o cliente
sobre o comportamento e a segurança dos equídeos, bem como
fornece feedback durante as atividades dos equídeos. Além disso,
o terapeuta tem ampla oportunidade de modelar habilidades
sociais e de comunicação, bem como um toque e limites
apropriados. O trabalho de casa é um componente integral da
CBT (TCC ou em inglês Cognitive behavioral therapy) e muitas
vezes é atribuído após uma sessão EFP.
O trabalho de casa é adaptado aos objetivos individuais do
cliente, embora muitas vezes envolva experiências
comportamentais, atividades de atenção e relaxamento,
monitorando pensamentos automáticos e registro em jornais.
Através do uso da lição de casa, os clientes conseguem fazer a
transição das habilidades aprendidas para outros aspectos de
suas vidas, levando a mudanças positivas a longo prazo na
percepção de si próprios de seus clientes.

Crianças com transtorno do Espectro


Autista.
Segundo Wilson (2012), a EAP (Equine-Assisted é é
fortemente adequada para terapia onde a comunicação verbal é
uma preocupação e pode se adaptar prontamente a cada tipo de
cliente. As pessoas com transtorno do Espectro Autista se
comunicam e pensam de maneiras diferentes da população em
geral. Essa característica do Autismo pode às vezes alienar um
terapeuta humano, mas permite uma conexão com um cavalo.
Tanto as pessoas autistas quanto os animais vêem o mundo

116
através do mesmo processo de Pensamento Visual (do inglês
Visual Thinking), o que lhes confere um vínculo inexplicável.

O Pensamento Visual (Visual Thinking)


O pensamento visual, também chamado de
aprendizagem visual/espacial ou pensamento de
imagem, é o fenômeno do pensamento através do
processamento visual. O pensamento visual foi descrito
como ver palavras como uma série de imagens. É
comum em aproximadamente 60-65% da população em
geral. "Pensadores de imagens reais", as pessoas que
usam o pensamento visual quase que excluindo outros
tipos de pensamento, compõem uma porcentagem
menor da população. Pesquisas da teoria do
desenvolvimento infantil, sugere que menos de 30% da
população utiliza fortemente o pensamento
visual/espacial, outros 45% usam o pensamento
visual/espacial e pensam na forma de palavras e 25%
pensam exclusivamente em palavras. Dos 30% da
população em geral que usam o pensamento
visual/espacial, apenas uma pequena porcentagem
usaria esse estilo além de todas as outras formas de
pensar, e pode ser dito, ser verdadeiro "pensador de
imagem."

Os cavalos oferecem todo o feedback instantâneo e direto


de um cliente sem qualquer julgamento crítico ou viés, o que é
especialmente importante quando se trata de clientes que talvez
tenham sentido o estigma de ser rotulado como uma pessoa com
deficiência. Quando os cavalos interagem com os seres humanos,
eles não lançam um olho crítico e, a partir disso, uma relação livre
de preconceito pode ser formada. O feedback é um dos
elementos fundamentais, porque oferece um ambiente protegido
para a terapia durante a prática com outro elemento - linguagem
corporal ou habilidades de comunicação não-verbal.
As pessoas com transtorno do Espectro Autista têm uma
maneira maravilhosa e fascinante de pensar em imagens sobre o
117
mundo que os rodeia. No entanto, isto tende a dificultar as
habilidades de comunicação verbal dependendo da gravidade da
desordem. Mesmo as formas não-verbais de comunicações como
um aperto de mão ou abraço podem parecer normais, mas podem
assustar um indivíduo autístico. Em seu livro, a Drª Grandin
relatou suas experiências e dificuldades com a linguagem verbal,
como uma criança lutando por ser diferente, para a realização de
um doutorado bem-sucedido.

O Futuro da Psicoterapia Facilitada por


Equínos
EAP é um tipo especial de terapia que usa um dos animais
mais amados na natureza, o cavalo, como agente de cura. O que
o torna realmente especial é a forma como os cavalos podem
engajar junto aos clientes mais relutantes, agindo como uma
metáfora, aumentam a auto-estima e a confiança, servem como
um confidente e aumentam a autoconsciência. EAP também pode
atingir problemas com interação social, problemas de
gerenciamento de raiva, limites, capacitação e habilidades de
resolução de problemas.
Embora o potencial seja imenso, há muitas perguntas para
serem respondidas por pesquisas e práticas adicionais.
Os potenciais caminhos de pesquisa podem consistir nos
diferentes tipos de terapia equina ou na efetividade de grupos
específicos de clientes. Um bom tópico seria estudar tanto um
tradicional e EAP com o mesmo tipo de concepção teórica e
abordagem para examinar os efeitos reais de incorporar um
cavalo na terapia (Wilson, 2012).
Conforme o mesmo autor, embora a EAP seja terapêutica
para uma ampla gama de clientes, a EAP parece ser
particularmente eficaz em lidar com clientes que, em um momento
ou outro, experimentaram trauma ou, mais especificamente, a
118
violência, nas mãos de outro indivíduo, como abuso, agressão,
violência sexual e guerra. Os cavalos podem emitir uma sensação
de tranquilidade e segurança, de modo que, enquanto os clientes
estão trabalhando para atingir seu objetivo terapêutico, eles fazem
isso no que eles consideram um ambiente seguro. A restauração
da empatia e a capacidade de formar novos laços e confiar após
uma experiência violenta ou traumática são um benefício
altamente importante que um cavalo pode iniciar. Existem três
grandes áreas em que se acredito que a EAP prosperará:
crianças, adolescentes e mulheres envolvidas em experiências
traumáticas em torno de alguma forma de violência.

A importância da avaliação do
temperamento dos cavalos utilizados na
Psicoterapia Facilitada por Equínos
Nosso conhecimento sobre o comportamento natural e as
habilidades mentais dos cavalos, também deve ser usado para
informar sobre nossas ações durante o manejo, treinamento e
tratamento dos animais. Por exemplo, entendendo como os
cavalos se comunicam e interagem, é possível tratar os cavalos
sem coerção.
Os cavalos diferem em seu temperamento, capacidade de
foco e como o meio ambiente afeta sua saúde. Uma avaliação
individual de como o cavalo está respondendo ao trabalho seria
necessária.

119
Avaliação do temperamento dos cavalos
utilizados na psicoterapia facilitada por equínos.

Ele deve deixar claro para a criança que o trabalho é


terapia e não treinamento de equitação. Os cavalos podem ser
feridos e/ou mal utilizados por aqueles que foram expostos a eles,
mas permanecem inexperientes.

O trabalho é terapia e não


treinamento de equitação.

O bem-estar do cavalo é importante e deve incluir


considerações sobre cuidados de saúde, condições de vida,
horários de trabalho e requisitos de equipementos (Delta Society,
199646; North American Riding Handicapped Association, 199947).
46 DELTA SOCIETY. Standards of practice for animal-assisted activities
and animal-assisted therapy. Renton, WA: Delta Society, 1996
47 NORTH AMERICAN RIDING FOR THE HANDICAPPED ASSOCIATION.

NARHA Guide. Denver, CO: North American Riding for the Handicapped
Association, 1999.
120
Os assistentes sociais devem colaborar com profissionais de
animais, especialmente os veterinários, ao estabelecer programas
para prevenir e evitar o excesso de trabalho, tratamento
inadequado e risco para os animais.

Considerações sobre o terapeuta


Crianças envolvidas no tratamento seriam melhor
atendidas por ter uma saúde mental profissional como a pessoa
que presta a terapia. Os tratamentos não convencionais para
problemas de saúde mental das crianças são opções importantes
para a prática atual dos profissionais terapeutas e profissionais
de saúde.
Durante as sessões de EFP, o terapeuta modela
pensamentos e comportamentos para a criança. A relação de
trabalho entre o terapeuta e o profissional do cavalo é um modelo
para crianças de operação de comunicação aberta, respeito,
tomada de decisão e cooperação que promove o desenvolvimento
de uma relação com o cavalo também. A comunicação efetiva
com um cavalo envolve paciência, compreensão, atenção, perdão
e consistência. A criança estará na presença de relações
estabelecidas e em desenvolvimento que sejam verbais e não-
verbais. Durante o tratamento, o terapeuta e o profissional do
cavalo podem validar a normalidade e a importância da resposta
de medo, raiva, ansiedade, amor e compaixão à medida que a
criança se relaciona com o cavalo (Quiroz-Rothe e cols, 2005).
A hipótese de adequação da EFP para uma criança
particular antes da triagem no local está contra-indicada. Os
terapeutas e monitores precisam de treinamento no processo de
triagem antes de sugerir a psicoterapia facilitada por equíno para
crianças. Uma sessão inicial para avaliar a adequação diminui a
possibilidade de a criança experimentar um sentimento de
rejeição ou abandono se a terapia não incluir o trabalho com os
121
cavalos. A opinião de um médico sobre a adequação do EFP para
cada criança também é indicada.
A avaliação dos déficits em equilíbrio, alergias aos
medicamentos dos animais, lesões esqueléticas e distúrbios de
controle de peso são apenas algumas das questões que precisam
ser abordadas do ponto de vista médico antes da EFP
(Fredickson, 199248 e Quiroz e cols, 2005).

Considerações sobre o espaço


terapêutico
A adição de um animal grande à relação terapêutica
proporciona a oportunidade de mover a terapia fora do consultório
do terapeuta. A atmosfera de uma configuração de fazenda
apresentaria uma miríade de situações para envolver as crianças
na terapia cognitiva. A psicoterapia facilitada por equínos é
ampliada para incluir a capacidade da criança de interagir com o
cavalo e o ambiente em que a terapia está ocorrendo. A
configuração da fazenda ou das instalações em que o EFP é
conduzido traz consigo alguns objetos reais que não são típicos
de uma sala de terapia. Esta situação oferece uma vasta gama de
oportunidades para uma criança ficar segura de seus limites.
Existem cercas, arenas, cabos, cordas, freios e áreas de
contenção, todos projetados para conter cavalos e gerenciar seu
comportamento. As manipulações destes objetos pela criança na
terapia podem fornecer informações ricas tanto para a criança
como para o terapeuta.
Em uma escola de equitação - ou arena - uma série de
letras são usadas como marcadores, pode se tornar um primeiro
48 FREDICKSON, M. Terms and definitions in the field of human-animal
interactions. In B. Engel (Ed.), Therapeutic riding programs instruction and
rehabilitation: A handbook for instructors and therapists (pp. 30-32). Durango,
Co: Barbara Engel Therapy Services, 1992.
122
passo de reconhecimento de letras e compreensão para construir
sons e palavras. Manipular um cavalo de uma letra para a outra
torna mais fácil pegar um lápis na sessão de
neuropsicopedagogia. Montar formas em uma arena pode
começar a abrir a porta para uma compreensão crescente de
números, forma e espaço (Quiroz-Rothe, 2005).

123
Capítulo 5
Hipoterapia e Equoterapia
Conforme Botelho (1997), o histórico da utilização do
cavalo na área de saúde é tão antigo quanto a própria história da
medicina. Hipócrates (458-377 a.C.) se refere à equitação como
fator regenerador da saúde em seu compêndio Das Dietas.
Galeno também enfatizou os benefícios da atividade equestre. Na
Idade Média, os árabes apresentam inúmeras referências, tendo
em vista suas contribuições para o desenvolvimento da ciência
em um quadro de cultura equestre.
Em 1569, Merkurialis em A Arte Ginástica mencionava que
a equitação exercita não só o corpo, mas também os sentidos.
Em 1676, o médico Thomas Sydenham emprestava seus cavalos
para pacientes sem recursos. Em 1734, Charles Castel, médico e
abade de Saint Pierre, cria a cadeira "tremoussoir" que reproduzia
movimentos similares aos do cavalo. Em 1747, Samuel T.
Quelmaz faz a primeira referência histórica ao movimento
tridimensional do dorso do cavalo. Joseph C. Tissot, em Ginástica
Médica e Cirúrgica (1782), descreve o passo do cavalo como a
andadura mais benéfica e faz algumas contraindicações. Em
1901, o Hospital Ortopédico de Owenstry, na Inglaterra, faz a
primeira utilização da Equoterapia em contexto hospitalar.
Na área esportiva, Liz Hartel, portadora de sequelas de
poliomielite, é vice-campeã olímpica em adestramento equestre
nas olimpíadas de 1952 e 1956. Na França, em 1965, a
Universidade de Salpentiére inaugura a matéria didática de
Equoterapia. A primeira tese de doutorado sobre Equoterapia foi
defendida pela Dra. Collete Picart Trintelin, na Universidade de
Paris - Val de Marne, em 1972. O uso do cavalo com fins
terapêuticos, segundo literatura médica europeia, iníciou-se por
124
volta de 1735. Em 1950, esses programas se estabeleceram na
Inglaterra e logo depois nos outros países europeus.
Na Alemanha e na Suíça, a montaria vem sendo utilizada
como forma de terapia há mais de 20 anos. O Deutsches
Kuratorium für Therapeutisches Reiten (Conselho de Curadores
Alemães para Equitação Terapêutica), centro alemão
especializado neste tipo de tratamento, forma profissionais
hipoterapeutas e edita regularmente a revista Terapeutisches
Reiten (Equitação terapêutica). Por volta de 1960 foi iniciada a
Hipoterapia nos Estados Unidos. Em 1969, foi criada a
Associação Americana de Hipoterapia para Deficientes,
coordenando esforços para divulgar o método naquele país, que
conta hoje com mais de 400 programas de Hipoterapia.

Evolução histórica da equitação com fins


terapêuticos (Caçador, 2014)
- 458-370a.C.: Hipócrates, em Livro das Dietas, referiu que a equitação
tonificava os músculos e era eficaz no tratamento da insônia.
- 124-40a.C.: Asclepíades de Prússia, médico grego, indicou a equitação para
tratamento de epilepsia e vários tipos de paralisia.
- 130-199d.C.: Galeno recomendou que o Imperador Marco Aurélio praticasse
equitação como forma de estimular tomadas de decisão mais rápidas.
- Idade Média: A equitação é citada pelos povos árabes em um texto de
pedagogia.
- 1569: Merkuriales, na Itália, escreve em “Da Arte Gimnastica” que a equitação
exercita o corpo e os sentidos, além de mencionar diferentes andaduras do
cavalo.
- Século XVII: Foram produzidas diversas obras médicas na Europa com
capítulos tratando dos benefícios da equitação.
- 1719: Friedich Hoffmann define o passo como a andadura mais saudável no
livro Instruções aprofundadas de como uma pessoa pode manter a saúde e
livrar-se de graves doenças através da prática racional de exercícios físicos.
- 1747: Na Alemanha, Samuel Theodor Quelmalz, na obra “A saúde através de
equitação”, faz a primeira referência ao movimento tridimensional do dorso do
cavalo.

125
- 1772: Giuseppe Benvenutti escreve em Reflexões acerca dos efeitos dos
movimentos do cavalo que a equitação tem ativa função terapêutica.
- 1782: Na França, Joseph C. Tissot define o passo como a andadura com
maior ação terapêutica, e é o primeiro a descrever contra-indicações à prática
exagerada da equitação.
- 1792: Surge na Inglaterra a Terapia Assistida por Animais (TAA), também
denominada por Zooterapia e foi aplicada numa instituição de tratamento de
portadores de deficiência mental. Desde este momento, o Dr. Tuke descobriu
que os animais poderiam oferecer experiências humanas a nível emocional a
estes pacientes.
- 1875: O neurologista francês Chassiagnac descobre que o movimento do
cavalo era capaz de melhorar o equilíbrio, o movimento articular e o controle
muscular dos seus pacientes.
- 1890: O fisiatra sueco Gustavo Zander afirma que vibrações com frequência
de 180 oscilações por minuto seriam capazes de estimular o sistema nervoso
simpático.
- 1901 e 1917: O Hospital Ortopédico de Oswentry e o Hospital Universitário de
Oxford, respetivamente, são os primeiros a estabelecer ligação entre a
atividade equestre e hospitais. “Após a Primeira Guerra Mundial o cavalo
entrou definitivamente na área da reabilitação, sendo empregado como
instrumento terapêutico nos soldados com sequelas do pós-guerra. Os países
escandinavos foram os primeiros a utilizá-lo com tal finalidade, obtendo
resultados satisfatórios, estimulando o nascimento de outros centros na
Alemanha, França e Inglaterra”.
- 1952: Olimpíadas de Helsinki, a dinamarquesa Liz Hartel, apesar das
sequelas de poliomielite, conquistou a medalha de prata no adestramento e
despertou a atenção da classe médica. Repetiu a façanha quatro anos depois,
em Melbourne.
- Década de 60: Grande desenvolvimento da Equoterapia na Europa,
principalmente na França. Neste período a equitação era usada empiricamente
e os seus resultados relatados em alguns livros (Reeducação através da
equitação de Delubersac e Lalleri, De Karen com amor de Killilea) até que, em
1965, torna-se matéria didática na Universidade Salpetrièri.
- 1972: Defendida a primeira tese de doutorado sobre Equoterapia, na
Universidade de Paris – Val-de-Marne, pela Dra. Collete Picart Tritelin.
- 1974: Iniciada a realização de congressos internacionais sobre Equoterapia,
com repetição a cada três anos.
- 1984: Na Universidade Martin Luther, Alemanha, o suíço Detlvev Rieder
mediu a frequência de oscilações do dorso do cavalo, chegando ao número de
180 por minuto, o mesmo recomendado por Zander, em 1890.

126
- 1985: Criada a Federation Riding Disabled International (Frdi), Federação
Internacional de Equoterapia, atualmente sediada na Bélgica.
- 1989: No Brasil, fundada a Associação Nacional de Equoterapia (Ande-
Brasil), com sede em Brasília.
- 1997: A Equoterapia é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como
recurso terapêutico por meio do parecer 06/97 de 9 de abril de 1997.
- Em Portugal, a equitação com fins terapêuticos deu os primeiros “passos” em
1980, no Algarve, onde, Beverly Gibbons e Katheryn Watson desenvolveram e
dirigiram a Associação Hípica para deficientes de Faro, destinada a portadores
de Paralisia Cerebral. Posteriormente, criaram uma filial em Lisboa,
(Associação Hípica para Deficientes de Cascais) tendo como principal objetivo
assistir às carências detectadas na região. Atualmente, as duas associações
supramencionadas, em colaboração com diversos núcleos de associações
para deficientes, têm vindo a proporcionar a implementação desta terapia
noutros distritos de Portugal (Beja, Braga, Coimbra, Évora, Porto e Aveiro –
escola equestre de Cacia e Albergaria), suscitando grande procura, em
oposição à pouca oferta, não só para este tipo de deficiências, mas também
para autistas e crianças com problemas de comportamentos.
Ao longo da segunda metade do séc. XX, foi-se assistindo a um
desenvolvimento das práticas terapêuticas, nomeadamente em tratamentos
fitoterapêuticos, psicoterapias, correção de comportamentos antissociais,
problemas afetivos ou de comunicação entre outros.

Hipoterapia versus Equoterapia


O blog intitulado Terapia com Animais (2017), dá as
seguintes definições sobre Hipoterapia e Equoterapia:

Hipoterapia
O termo “Hipoterapia” foi introduzido em 1966 pelo
neurologista suíço H.F. Kaser. Hipoterapia deriva da palavra
grega hippos, significando cavalo, montar a cavalo, sendo usado
com uma forma do tratamento. O cavalo, com o seu movimento
rítmico, dinâmico será usado para influenciar na postura do
praticante, equilíbrio e mobilidade.

127
Na Hipoterapia trabalha-se sobre e com o cavalo, no qual
são estimuladas as funções cognitivas, motoras, sociais e
emocionais, proporcionando equilíbrio e percepção do próprio
corpo, despertando interesse pelo ambiente envolvente. O
indivíduo é trabalhado como um todo e não em partes,
proporcionando-lhe formas terapêuticas e educacionais de
desenvolvimento. A Hipoterapia é, assim, considerada como o
método terapêutico e educacional que utiliza os andamentos do
cavalo como recurso para crianças e indivíduos deficientes a
vários níveis: Paralisia Cerebral, Deficiência Mental, Síndrome de
Down, Autismo, Alterações Sensório-motoras, Dificuldades na
Aprendizagem, Distúrbios de Linguagem e Fala, entre outras.
Esta atividade terapêutica contribui para a educação, reeducação
e reabilitação de pessoas portadoras de deficiências (Terapia
Animais, 2017).
Conforme a Butterfly Dreams Farm (2017), dos Estados
Unidos da América (EUA), a Hipoterapia é uma estratégia em que
os movimentos únicos de um cavalo são incorporados com
terapia física, ocupacional e fonoaudiológica para envolver os
sistemas sensoriomotores e neuromotores de um paciente para
promover mudanças funcionais em várias habilidades.
Professional Association of Therapeutic Horsemanship
International – PATH, em português Associação Internacional
Profissional de Equitação, certifica os terapeutas e exige que
ambos e a fazenda mantenham os mais altos padrões de
segurança.

Associação Internacional Profissional de Equitação


Terapêutica
A Associação Internacional Profissional de Equitação
Terapêutica (do inglês, Professional Association Of
Therapeutic Horsemanship International - PATH Intl.),é
uma organização sem fins lucrativos com registro
federal, foi formada em 1969 como a Associação Norte-
Americana de Equitação para Pessoas com Deficiência

128
para promover atividades e terapias com equídeos (do
inglês, North American Riding for the Handicapped
Association to Promote Equine-Assisted Activities and
Therapies - EAAT) para indivíduos com necessidades
especiais. Com mais de 4.800 instrutores certificados e
especialistas em equínos e 881 centros membros, mais
de 8.000 PATH Intl. membros de todo o mundo ajudam
mais de 66 mil crianças e adultos - incluindo mais de
6.200 veteranos e pessoal militar ativo - com dificuldades
físicas, cognitivas e emocionais, encontrar força e
independência através da utilização do cavalo . Além da
equitação terapêutica, nossos centros oferecem uma
série de atividades terapêuticas relacionadas com
equídeos, incluindo Hipoterapia, saúde mental facilitada
por equídeos, condução, exercício de salto, competição
e trabalho no solo. Mais recentemente, os programas
oferecem serviços de desenvolvimento humano para
atender públicos abrangentes para fins educacionais tais
como treinamento de liderança, treinamento de equipe e
outras habilidades de aprimoramento da capacidade
humana para o local de trabalho e para uso diário. PATH
Intl. é a organização de credenciamento para centros de
acreditação e instrutores de certificação e especialistas
em equíno. Através de programas de certificação e
acreditação, além de uma ampla variedade de recursos
educacionais que incluem uma conferência internacional
anual que pode atrair cerca de 1.000 participantes, a
associação ajuda os membros a iniciar e manter
programas EAAT bem-sucedidos. Existem mais de
62.000 voluntários, 5.011 profissionais credenciados,
7.800 equídeos e milhares de contribuidores de todo o
mundo no PATH Intl. Centros de membros inspiradores e
enriquecedores do espírito humano.

Os instrutores usam a prática baseada em evidências e sua


experiência clínica para personalizar cada sessão de forma
integrada com um plano de cuidados abrangente a cada aluno. A
Hipoterapia demonstrou criar mudanças estatisticamente

129
significativas na postura, força, flexibilidade, músculo simetria e
uma série de outros benefícios.
Em uma sessão de Hipoterapia o cavalo se junta com o
terapeuta durante a sessão, com o atividades direcionadas e
servem para abordar metas específicas para o indivíduo. Os
alunos que recebem Hipoterapia têm a assistência de dois a
quatro voluntários que ajudam a orientar o cavalo e proporcionar
estabilização e assistência ao piloto, conforme necessário. Andar
de forma independente não é um objetivo inerente da Hipoterapia,
mas alguns estudantes alcançam este lugar e também se
envolvem em equitação terapêutica.

Equilíbrio e Posição a Cavalo


Conforme o site português de equitação Equisport (2017), a
posição clássica do corpo é a base da eficiência a cavalo.
Infelizmente, “posição” é muitas vezes explicada sob o ponto de
vista da imobilidade, descrevendo um cavaleiro montado num
cavalo, que, obviamente, está parado. Este não está a puxar ou a
tentar recuar ou em qualquer outra atitude. Na verdade, esta
situação é rara. A discussão sobre “posição” é, na maior parte das
vezes, reduzida ao aspecto estético. A dúvida é:
“Qual vem primeiro, a estética ou o correto posicionamento
do corpo para permitir a correta utilização das ajudas, criando
equilíbrio e controle?”
Há um padrão para a “posição” o qual, se for corretamente
observado, faz com que o uso das ajudas seja eficiente,
confortável e fácil para o cavalo as entender. Mas, tem de ser
observado corretamente, reconhecendo todas as graduações que
isso implica. Se não, o esforço para manter uma posição correta
funcionará como elemento inibidor e torna-se uma desvantagem.
Segundo o mesmo autor, para compreender “posição” é
importante compreender o funcionamento do corpo. O corpo do
cavaleiro pode ser dividido em quatro elementos básicos:
130
. porção inferior da perna;
. base de suporte,
. corpo superior;
. equilíbrio
Cada um destes elementos atua com um fim específico.
Se colocados e usados corretamente, serão bem sucedidos na
execução das suas funções. Nisto se resume “posição”.
Uma vez que, o que estamos a tentar obter é equilíbrio e
controle, vamos começar com o equilíbrio. É o equilíbrio que nos
mantém direitos. Evita que se caia quando se tropeça. Diz às
partes do corpo como se devem mover de modo que as ações
combinadas criem um resultado equilibrado. Passar da posição
sentada para a de pé, seria um feito monumental, se não
tivéssemos equilíbrio.

Centro de gravidade do cavaleiro montado e no cavalo.

131
Andar, seria demasiado assustador. Teríamos de gatinhar
de um lado para o outro. E a cavalo, o equilíbrio tem que
funcionar para dois. O cavalo é soberbamente capaz de utilizar o
seu próprio equilíbrio. Mas, só o usará para fazer coisas que
tenciona fazer. Muitas vezes (a maior parte das vezes com um
cavalo inexperiente) este não tem a mais pequena intenção de
fazer o que nós pretendemos que ele faça. O seu equilíbrio não o
manterá equilibrado durante esses movimentos. De fato, poderá
usá-lo para o ajudar a fugir em vez de obedecer e fazer o que
queremos que ele faça.
Embora seja totalmente rotineiro usar o equilíbrio quando
se está no chão firme, não é rotineiro quando dele se necessita
noutras situações. Dar um passo dum cais para dentro dum bote
não é rotina para a maioria das pessoas. Algumas pessoas têm
dificuldades em dar o passo para entrar numa escada rolante. O
uso do equilíbrio pode também não ser natural para o cavaleiro.
Neste caso, pode ser desenvolvido. Os olhos podem ser
considerados quase como sinônimos de equilíbrio.

Equilíbrio, cérebro, cerebelo e sentidos


Equilíbrio é uma função do cérebro. O cerebelo é
responsável pelo equilíbrio, manutenção do tônus muscular e
coordenação dos músculos. Funciona também como auxiliar na
coordenação dos sentidos da vista, ouvido e tato. O equilíbrio
funciona com base nas informações acumuladas pelos órgãos
sensoriais. Embora o ouvido médio seja o que mais contribui, os
olhos proporcionam a fonte mais eficiente de informações ao
cavaleiro. O equilíbrio do cavaleiro usa essas informações para
tomar a decisão equilibrada para o cavaleiro e o cavalo
(Equisport, 2017).

132
O equilíbrio e o Sistema Nervoso Central e Periférico.

Conforme o Equisport (2017), a base de suporte é


composta pelas nádegas, coxas e joelhos. A sua função é manter
o cavaleiro montado. Deve aderir ao cavalo e permanecer
inabalável. Ao mesmo tempo, deve ser flexível e sensível ao
movimento do cavalo. E isto não é fácil. O problema é conseguir
que trabalhem os músculos corretos. Estes são os músculos
adutores das coxas. São os fortes músculos que descem da parte
interior das coxas até aos joelhos. Infelizmente, não usamos muito
estes músculos noutras atividades. Ao andarmos sobre um piso
escorregadio e se escorregarmos, notaremos que eles se
esforçam para manter as pernas sem deslizarem para o lado de
fora. Os adutores usam a sua ligação à pélvis como a alavanca de
que precisam para puxar as pernas para dentro na direção do
cavalo. A base de suporte atua como o ponto fulcral (ponto de
apoio) para os movimentos da parte inferior da perna e a parte
superior do corpo.
133
Posição do cavaleiro sobre o cavalo.

Conforme o mesmo autor, as coxas devem pousar rasas


contra a sela. Os joelhos devem virar para fora apenas o
suficiente para se poderem acomodar à largura do cavalo e da
sela. O contato deve estender-se ao longo do fêmur até à borda
da parte posterior/interior da cabeça da tíbia. Não se admirem se
sentirem bastante pressão na parte interior dos joelhos. Não
existe maneira de apertar o interior da coxa e magicamente não
haver pressão contra o joelho. O fêmur não pode dobrar. No
entanto, se a pressão se move para a frente da cabeça da tíbia,
transforma-se num tormento para o joelho. Isto pode fazer com
que o corpo se mova para a frente, deslocando-se o peso do
134
cavaleiro para os dedos dos pés colocando o corpo numa posição
muito segura. A parte inferior da perna é composta por todas as
áreas abaixo do joelho. A sua função é suportar e absorver
qualquer embate. Atua também como “acelerador”. A parte inferior
da perna deve manter o contato com o cavalo de modo que a
parte de dentro da barriga da perna (não de trás) assente no
cavalo. Com a base de suporte agarrada ao cavalo pelos
músculos adutores, os joelhos podem livre e espontaneamente
dobrar para trás a perna inferior. Isso coloca sempre os
calcanhares por baixo do centro de gravidade do cavaleiro. O
centro de gravidade desloca-se quando o corpo do cavaleiro e do
cavalo se desloca, e quando é exercida pressão nas mãos do
cavaleiro.

Deslocamento do centro de gravidade durante a cavalgada.

Assim, não há uma só posição da perna para todas as


ocasiões. Contudo, há uma regra prática para a localização da
posição inferior da perna. Imaginemos um fio-de-prumo (uma
linha que cai sempre a direita no sentido da atração da gravidade)

135
que cai da barra do estribo da sua sela. Na maior parte das vezes
o loro deve estar nesse alinhamento. Mas ajustando-o
ligeiramente para a frente pode ser muito útil se for feito no
momento certo. Para se acomodar à largura do cavalo, o
cavaleiro tem de abrir ligeiramente os joelhos. Em consequencia,
os dedos dos pés viram-se para fora, mas isto não deve
ultrapassar os cerca de 15 graus. Não é necessário virar mais. Se
os dedos se viram mais, fará com que a base de suporte não
cumpra as suas funções corretamente. Se os dedos virarem
significativamente mais do que isso, o tronco desloca-se e usa o
tornozelo e os músculos da barriga da perna para se manter
equilibrado.
Assim, todas as vezes que fechar as pernas como
segurança, está a pisar no “acelerador” e cria também outros
problemas. Para as pernas serem simultaneamente firmes e
elásticas, tem que se isolar os controles. Enquanto os músculos
adutores da coxa se apresentam firmemente para o cavaleiro se
segurar, os joelhos e tornozelos devem permanecer elásticos. Isto
dá à parte inferior da perna a independência de que precisa para
colocar os calcanhares sob o centro de gravidade em todas as
circunstâncias. Os grupos de músculos que controlam estes
movimentos, são diferentes. Mas coordená-los de maneira a que,
quando aperta um, o outro continua elástico, não é fácil. A
separação dos dois é importante para o equilíbrio. Se se
concentrar em fazê-lo corretamente, ficará surpreendido com a
sua capacidade. Uma vez que o possa fazer conscientemente,
será fácil tornar-se num hábito. Embora o cavaleiro esteja em
movimento no cavalo, sob o ponto de vista dos pés, está parado.
Quando o cavaleiro está montado, os pés devem trabalhar como
se estivessem no chão. Grande parte do tempo os pés suportam
uma boa porção do seu peso. Quando se está de pé no chão, os
calcanhares suportam o peso do corpo. Devem fazer o mesmo
quando se está montado. Mas não é natural. Estamos a ludibriar o
equilíbrio quando colocamos os estribos na frente do pé em vez
136
de os pôr nos calcanhares. Se os estribos fossem colocados nos
calcanhares seria muito mais fácil. Todavia, perder-se-ia grande
parte da elasticidade e de absorção de choque.
Os tornozelos são articulações muito flexíveis e fazem com
que os calcanhares descaiam consideravelmente abaixo da planta
do pé. A força da gravidade puxa-os para baixo. O que evita que
eles caíam é a pressão que a planta do pé exerce empurrando
para baixo os estribos. Afim de baixar o calcanhar tem que se
dobrar o pé, (levantar a frente do pé). Este movimento é
complexo, e inicialmente é por vezes desconfortável. É mais fácil
procurar outra maneira de dobrar os tornozelos. Mas qualquer
outra maneira é fraca e não resulta. Os músculos que dobram o
pé estão localizados na parte da frente da tíbia. Quando os usar
para levantar a frente do pé assegure-se de que o levanta a
direito sobre a planta do pé no seu todo e não apenas sobre o
dedo grande ou sobre o dedo pequeno. Para a máxima
flexibilidade e estabilidade, deve-se também flexionar os
tornozelos revirando os pés de modo a que as plantas dos pés
fiquem ligeiramente viradas para fora. Mas ao fazer isto não deve
virar os dedos dos pés para fora. Se for feito corretamente, isto
permite dar aos tornozelos uma posição natural e elástica e faz
com que os pés assentem com segurança nos estribos. Ajuda a
que se obtenha o ótimo comprimento dos estribos. Para se
determinar o comprimento correto dos estribos, retiram-se ambos
os pés dos estribos os deixando confortavelmente pendurados.
Sem olhar para baixo, a plataforma dos estribos deve tocar
ligeiramente nos pés abaixo dos tornozelos.

Interação com o cavalo ativa áreas do


cérebro responsáveis pelo desempenho
educacional

137
Em entrevista ao site Vida Equilíbrio (2017), a
fisioterapeuta Letícia Junqueira afirmou que a prática da
equitação lúdica, na qual a criança realiza atividades junto com
o cavalo, faz com que seu processo evolutivo seja aprimorado,
principalmente no começo da infância, entre os 2 e 8 anos
quando o desenvolvimento do cérebro é intenso. Os principais
objetivos da atividade é buscar as potencialidades de cada
criança, aperfeiçoar suas habilidades motoras e trabalhar a
autoconfiança. “Durante a prática, além de ser estimulada com
brinquedos educativos, a criança montada no cavalo irá
receber de 1.800 a 2.200 estímulos cerebrais, devido ao
deslocamento tridimensional do animal, que faz com que o
corpo da criança realize movimentos automáticos de
adaptação ao movimento do cavalo. Os estímulos chegam ao
sistema nervoso central, por meio da medula espinhal, e
colaboram com o processo evolutivo e para o melhor
desempenho do aprendizado”. Isto ocorre porque os estímulos
cerebrais que chegam ao sistema nervoso atingem uma parte
do cérebro que é responsável pela cognição e o equilíbrio (o
sistema vestibular). Com isso, reações de aprendizado e
noções de equilíbrio são estimuladas na criança. A equitação
lúdica faz uso de diferentes artifícios, como brinquedos e jogos
educativos, para estimular a criança, que terá o cavalo como
referencial, buscando conhecer seus limites e fortalezas. “Ao
alimentá-lo, por exemplo, ela percebe que o animal tem
necessidades essenciais parecidas com as dela, como de
alimentação e higiene. Ao tocar, brincar e conduzir um ser
maior e mais forte que ela, a criança tem a sensação de poder
e isso aumenta sua autoestima”, afirma Letícia. A atividade é
recomendada para qualquer criança entre 2 e 8 anos, pois
além de mudanças nos hábitos do dia a dia, como na
alimentação, a prática pode ajudar na melhoria da
concentração, coordenação motora, sensibilidade, formação de
caráter e autoestima. A equitação lúdica deve ser feita de uma
138
a três vezes na semana. Os primeiros resultados aparecem a
partir do terceiro mês.

A importância das andaduras do cavalo na


Hipoterapia
Conceitos do passo, trote e galope
Segundo Nogueira (2017), antes dos grandes cavaleiros e
amazonas serem os melhores montadores a cavalos, tiveram que
aprender uma série de conceitos-chave e dominá-los para, cada
vez mais, aperfeiçoarem a arte da equitação.

Amazonas
As amazonas (em grego antigo: Αμαζόνες, transl.:
Amazónes), na mitologia grega, eram as integrantes de
uma antiga nação de mulheres guerreiras da mitologia
grega. Heródoto as colocou numa região situada às
fronteiras da Cítia, na Sarmácia. Entre as rainhas
célebres das amazonas estão Pentesileia, que teria
participado da Guerra de Troia, e sua irmã, Hipólita, cujo
cinturão mágico foi o objeto de um dos doze trabalhos de
Hércules. Saqueadoras amazonas eram frequentemente
ilustradas em batalhas contra guerreiros gregos na arte
grega, nas chamadas amazonomaquias. Na
historiografia greco-romana, existem diversos relatos de
invasões das amazonas na Anatólia. As amazonas foram
associadas com diversos povos históricos, ao longo da
Antiguidade tardia. A partir do período moderno, seu
nome passou a ser associado com as mulheres
guerreiras da atualidade. O termo Amazonas é
frequentemente utilizado para se referir a mulheres que
montam a cavalo, participando em provas de equitação
em destreza ou salto (Wikipédia, 2017).

139
De acordo com a mesma autora, fazem parte dos conceitos
chave os diferentes andamentos do cavalo e são eles, o passo, o
trote e o galope.

O passo

O passo caracteriza-se como o passo de andamento calmo


do cavalo que equivale ao caminhar de uma pessoa. Este
andamento serve para começar a trabalhar o cavalo antes dos
outros andamentos mais apressados. Serve também para, depois
de trabalhado o cavalo, ele não parar logo, já que pode se
lesionar. Portanto, depois do trabalho do cavalo é importante que
ele dê mais umas voltas a passo.

O trote

O trote é já o passo mais trabalhado do cavalo. É um


andamento diagonal a dois tempos, no qual o cavalo salta de uma
diagonal para a outra. Quando estiver correto, o cavaleiro levanta
o rabo da sela quando a mão de fora e o pé de dentro do cavalo
estiverem levantados, e senta-se na sela quando a mão de dentro
e o pé de fora estiverem levantados. Caso isto não aconteça, é
preciso acertar a diagonal do trote e para isso o cavaleiro deve
penas bater com o rabo no arreio duas vezes e depois retomar o
movimento do trote normal.
O trote para o cavaleiro e para o cavalo é o andamento
mais complicado e mais cansativo, pois não é um andamento
natural. Contudo, o trote tem duas variações: o trote levantado e o
trote sentado. No trote levantado o cavaleiro acompanha o
movimento do cavalo. Deve ter as pontas dos pés apoiadas nos
estribos e faz um movimento de “um-dois”, isto é, levanta o rabo
do arreio e senta o rabo do arreio e assim sucessivamente. O
cavaleiro deve levantar-se no arreio na altura em que o cavalo
avança a mão de fora, porque o cavalo faz mais esforço para
140
avançar a mão de fora uma vez que esta percorre uma distância
maior do que a mão de dentro. Logo, precisa de ter o dorso mais
aliviado para poder avançar melhor a espádua.
No trote sentado as pernas vão ser o meio de transmissão
entre as forças ascendentes e as forças descendentes, a pélvis
vai ser a ponte ou alavanca das forças ascendentes e
descendentes permitindo, quando bem relaxada e nivelada, fazer
o amortecimento destas forças e evitando as vibrações. Tal como
o nome indica, neste trote o cavaleiro não levanta e senta. Este
tipo de trote é essencial para trabalhar o equilíbrio e a postura.

O galope

O galope é o movimento natural do cavalo num ritmo


acelerado. É um andamento a três tempos. Para o galope ser
bem feito o cavalo, a mão que vai à frente tem que ser sempre a
mão de dentro em relação ao lado do movimento que está a ser
executado. Por exemplo se o cavaleiro quer que o cavalo galope
para a direita deve pôr o cavalo a olhar à direita e colocar a sua
perna direita mais à frente a fazer pressão e a perna esquerda
mais a trás a pressionar também. Se o cavalo não estiver a
galopar corretamente, estará a galopar invertido, isto é, a avançar
a mão contrária. Um cavaleiro com muita experiência e
sensibilidade consegue sentir se o cavalo está a galopar
corretamente ou invertido sem ter que olhar para o chão, pois
sente se o movimento estiver descoordenado.
Com relação as andaduras dos equínos utilizadas na
Hipoterapia de acordo com Caçador (2014), citado Ande-Brasil
(200249), ela dá as definições a seguir. Segundo a autora o cavalo
possui três andamentos naturais e instintivos, que são: o passo, o

49ANDE-BRASIL. Fundamentos Doutrinários da Equoterapia no Brasil. In


Ande-Brasil. (Eds.) Curso Básico de Equoterapia, pp.11 – 24, Brasília:
Associação Nacional de Equoterapia, 2002.
141
trote e o galope. As andaduras50, como o trote e o galope
correspondem aos andamentos saltados, ou seja, existe um
tempo de suspensão em que o cavalo não toca com os membros
no solo. Caracterizam-se por movimentos muito rápidos e bruscos
quando executa a recepção, exigindo do cavaleiro uma maior
preparação a nível coordenativo para conseguir acompanhar os
movimentos do cavalo (cf. Ande-Brasil, 2002).
O passo, é o andamento básico da equitação e é com este
que se executam a maioria dos exercícios na Hipoterapia.
Caracteriza-se por ser um andamento ritmado, cadênciado e
composto por quatro tempos, o que significa que não existe tempo
de suspensão; é simétrico, ou seja, todos os movimentos
produzidos de um lado do animal, reproduzem-se de igual forma
do outro lado, em relação ao seu eixo longitudinal. É também, um
andamento mais lento que o cavalo possui.
Por fim, segundo Ande-Brasil (2002: 116) a característica
mais importante para a equitação com fins terapêuticos é que “o
passo transmite ao cavaleiro uma série de movimentos
sequenciados e simultâneos, tridimensionais”. Estes movimentos
tridimensionais, traduzem-se, no plano vertical, em movimentos
para cima e para baixo; no plano horizontal, em movimentos para
a direita e para a esquerda; e segundo o eixo transversal do
cavalo, em movimentos para a frente e para trás. Todos estes
movimentos são complementados por uma pequena rotação da
bacia do cavaleiro, provocada pelas flexões laterais do dorso do
cavalo que transmitidas à cintura pélvica do cavaleiro, produzem
um movimento similar à marcha humana, e exigem do cavaleiro

50Andadura: é um tipo de andamento que alguns equínos apresentam, que se


caracteriza pela movimentação alternada dos bípedes laterais (anterior direito +
posterior direito/anterior esquerdo + posterior esquerdo). Esse andamento é
considerado defeito desclassificante na maioria das raças, pois contraria a
movimentação natural do cavalo, que é de bípedes diagonais alternados
(anterior direito+posterior esquerdo/anterior esquerdo+posterior direito).
142
uma resposta para que este mantenha o equilíbrio sobre esta
base móvel (Ande-Brasil, 2002).
Neste seguimento, realça que “ (…) a grande vantagem do
cavalo, é que este é capaz de fazer mover a cintura pélvica do
cavaleiro de um modo idêntico ao de uma pessoa saudável, numa
passada regular, além de que não existe equipemento algum
capaz de simular este movimento num ginásio”.
O ritmo do passo do cavalo, é também um fator importante,
uma vez que corresponde, sensivelmente, ao nosso ritmo
cardíaco, favorecendo a calma e a descontração. Os movimentos
rítmicos e harmoniosos do cavalo, a emissão do calor produzido
pelo seu corpo, descontraído e distendido, favorecem assim uma
primeira aproximação de atividade muscular.
Os músculos dos membros inferiores asseguram o contato
com o cavalo e permitem uma melhor percepção tátil (…) os
músculos da parede abdominal e da cintura pélvica têm a função
de amortizar as forças.
Durante as sessões com o recurso do cavalo, o trabalho
muscular é constante para que o cavaleiro mantenha o equilíbrio
e acompanhe os movimentos. Neste seguimento, os grupos
musculares anteriores e posteriores do tronco devem agir em
sinergia: se os abdominais contraem, os dorsais devem
descontrair-se para permitir a mobilidade lombar e a função
amortecedora. Os músculos dos braços e antebraços permitem a
elasticidade do gesto, destinada a compensar os movimentos do
pescoço do cavalo, durante o trabalho de supinação e de
afastamento do antebraço em relação ao eixo do cavalo (Ande-
Brasil, 2002).
Utilizam-se exercícios de descontração, com o objetivo de
evitar/inibir as contrações inúteis e nocivas; combater as posições
defeituosas, levando a um maior conforto corporal e obtendo uma
noção completa das diferentes partes do corpo; desenvolver a
coordenação e dissociação, necessárias à condução do cavalo.

143
De acordo com Ande-Brasil (2002) a velocidade, por
mínima que seja, e os deslocamentos do cavalo obrigam, sob
pena de queda a colocar em ação, de uma forma reflexa, os
músculos que mantem o equilíbrio. Este equilíbrio tem de ser
mantido, qualquer que seja o passo ou a mudança de direção, e o
seu ajustamento tem de ser rápido, uma vez que é dele que
depende a segurança em cima do cavalo.

Os cavalos precisam ser treinados


Por que os cavalos devem ser treinados?
Segundo o site Dressage51 Arte Equestre (2017), a razão
principal de treinar os cavalos é que só há um caminho para o
entrosamento e equilíbrio. Treinar um cavalo para qualquer
modalidade que seja é sempre um árduo caminho. Há muitas
teorias, muitas experiências, mas na verdade, sempre há uma
dúvida: qual caminho pegar? Os grandes mestres de equitação
também dizem, que só há um caminho: o caminho do
entrosamento e do equilíbrio! Com isso eles criaram há séculos a
Escala de Treinamento. A Escala de Treinamento pode ser
desenhada da seguinte maneira:
Esta escala mostra um plano a se seguir com o cavalo,
seja ele novo ou já treinado, para chegar a reunião e então poder
competir ou dar segurança maior aos cavaleiros ou clientes da
Hipoterapia ou Equoterapia.
A escala possui 6 degraus, abaixo descritos:

51 O adestramento (em francês, Dressage, derivada do verbo Dresser, que


significa "treinar"), também chamado "Ensino de competição", é uma das três
modalidades equestres olímpicas, regulada pela Federação Equestre
Internacional (FEI).
144
Escala de treinamentos.

1.) Ritmo / Cadência / Regularidade

O primeiro degrau fala sobre Ritmo / Cadência /


Regularidade. Aqui, é onde começa o desafio do Dressage, seja
para adestramento, salto ou qualquer outra modalidade. Este
degrau implica em fazer o cavalo andar em todas as suas
andaduras (passo, trote e galope) com ritmo, vontade de ir para
frente, e relaxado tanto mentalmente como psicologicamente. É a
faze que muitos chamam de: cavalo para frente e para baixo. Mas

145
só para frente e para baixo não é o suficiente para se passar para
a próxima fase.
Um dos quesitos mais importantes para se ter o cavalo por
muitos anos competindo, dando o melhor de si, sendo o melhor
que ele pode ser, é manter seu equilíbrio correto. Naturalmente,
os cavalos possuem seu equilíbrio corporal entre as mãos e o
pescoço. Isso é facilmente observado quando vemos o cavalo
pastando, seja escolhendo o que comer, ou comendo alguma
coisa. Dentro da equitação tradicional o equilíbrio do cavalo, nesta
primeira fase deve ser deslocado um pouco mais para traz,
ficando um pouco atrás de suas mãos, no centro de seu corpo.
Com o equilíbrio correto, a meta é qualidade dos andamentos
naturais do cavalo. Esta qualidade é resultado da movimentação
solta, fluência e espontaneidade. Neste primeiro degrau da
Escala, o cavalo deve ter andamentos bem marcados, ritmados,
de acordo com as batidas que definem cada um deles: quatro
batidas no passo, duas no trote e três (alguns autores definem
quatro) para o galope.
Após conseguirmos manter o cavalo em equilíbrio é que
vamos para o próximo degrau.

2.) Descontração / Flexibilidade / Fluência

Qualquer cavalo de trabalho é acima de tudo, um atleta. E


como qualquer atleta tem que desenvolver sua flexibilidade. Mas
é necessário lembrarmos de um ponto importantíssimo: o círculo,
a flexão e a encurvatura são pontos cruciais para equínos.
Quando soltos em liberdade, nunca vemos potros andando em
círculos. É neste degrau que devemos pensar em equilíbrio
correto, com encurvatura, desenvolvimento da flexibilidade e
fluência dos andamentos. O equilíbrio deve estar novamente
abaixo do cavaleiro.

146
Nesta fase é muito importante saber qual é a assimetria
natural do cavalo, sabendo qual a musculatura que deve ser mais
desenvolvida, flexionada, alongada, contraída e fortalecida.
A descontração é o que irá trazer vida longa ao cavalo.
Cavalos que tem um lado mais difícil que o outro precisam
retornar a este ponto na escala de treinamento para desenvolver
ambos seus lados de forma a ficarem iguais e o mesmo conseguir
desenvolver seus exercícios da melhor forma que cada um possa
fazer. Quando um cavalo está descontraído, fica feliz, se move
com facilidade, suavidade, masca suavemente a embocadura e,
muitas vezes, balança a cauda no ritmo da andadura.

3.) Contato / Conexão

Aquele que pensa que “contato” está ligado ao contato da


boca do cavalo com a mão do cavaleiro através das rédeas, está
redondamente enganado. Contato é um conceito que pode ser
definido pelo perfeito entrosamento, atendimento e entendimento
das ajudas do cavaleiro pelo cavalo. Sabe quando pensamos em
galopar e de repente o cavalo está galopando? Então, isso
acontece porque há harmonia e o cavalo entendeu e aceitou as
ajudas sutis que o cavaleiro pediu.
A conexão entre cavalo e cavaleiro se dá pelas formas que
estas ajudas são dadas. Muitas pessoas pensam que um cavalo
engajado deve ser impulsionado contra a mão do cavaleiro,
formando um “paredão” na frente do cavalo. Este conceito
também não é o conceito descrito pelos grandes mestres.
“Quando você souber o que quer, o cavalo fará” – Dominique
Barbier. Esta frase explica exatamente o que é contato e conexão.
Outra frase de Dominique Barbier que a explica bem é: “Faça
menos para obter mais”. Aqui mais uma vez precisamos pensar
em equilíbrio e não em força. Muitos cavalos possuem muita
dificuldade de entender o comando do cavaleiro ao movimento da
garupa e pescoço. É nesta fase que precisamos estabelecer esta
147
conexão entre a garupa e o resto do corpo do equíno. Então com
contato leve, mentalizando o quê e como queremos, pedimos os
movimentos laterais como espádua a dentro e garupa a dentro
para colocarmos o equilíbrio em seu local de direito e conectar a
garupa, o dorso e o pescoço do cavalo.
Para ter um contato leve, correto, o cavaleiro nunca deve
ter mãos pesadas, ou puxá-las em direção a si ou na direção para
cima, bem como todo movimento de quadril deve ser feito de traz
para frente e as pernas devem estar devidamente colocadas,
porém serem leves também. Para pedir algo ao cavalo temos que
pensar e nos conectar com ele para termos o resultado de um
cavalo feliz e leve que agrada a todos, incluindo cavalo e
cavaleiro. A conexão deve ser estabelecida de forma que o cavalo
e cavaleiro formem um só corpo e se transforme no tão sonhado
centauro.

4.) Impulsão

Muitos autores, instrutores e interessados conceituam


impulsão como o resultado direto da energia criada pelas ajudas
do cavaleiro. Impulsão na verdade é a vontade que o cavalo
expressa em andar. É fácil de ser entendida. Quando estamos
olhando pessoas andando na rua e nos deparamos com uma
olhando para o chão, andando com as mãos no bolso, com os
olhos caídos sempre dizemos: puxa aquela pessoa está triste, ou
cansada. Mas quando vemos uma criança andando de mãos
dadas com a mãe, pulando, olhando, agitada dizemos: puxa como
ela está feliz. Isso quer dizer que um cavalo impulsionado é como
a criança do exemplo acima. Quando montamos queremos
sempre ser centauros. Na verdade, queremos formar um só
conjunto, queremos ser harmoniosos, como se fóssemos um
dançando. Por isso, muitos mestres e instrutores dizem que no
adestramento temos sempre que perguntar ao cavalo: quer

148
dançar comigo? A impulsão é a resposta sim do cavalo ao
cavaleiro.
O cavalo sempre deve estar apto para dançar com a gente,
e claro estar no ritmo da música. Impulsão é, portanto, o nível de
energia em nossa mente que passamos ao cavalo. Devemos
obter a impulsão, imaginando-nos dançando em pleno ar. A regra
de ouro é ter o mínimo de impulsão necessário para o movimento
que se quer realizar, em total relaxamento final até mesmo um
passo com rédeas soltas tem que ter impulsão.
A impulsão não é muita velocidade e correria em uma
posição contraída. Devemos ter uma impulsão controlável, vinda
de um cavalo consciente, que se comunica com o seu cavaleiro,
que seja suficiente para, primeiro manter a posição correta com
relaxamento, e em seguida seu movimento.
Porém deve-se tomar cuidado para se ter um equilíbrio
correto entre impulsão e relaxamento. O cavalo não pode deixar
de estar relaxado por causa da impulsão. E também não deve
estar totalmente relaxado sem impulsão. Devemos dar ao cavalo
a impulsão suficiente para mantê-lo na mão. O assento é a
torneira por onde flui a impulsão. Sempre buscamos ter impulsão,
pouca mão e pouca perna. O cavalo está feliz quando
encontramos o equilíbrio entre reunião, equilíbrio corporal do
cavalo, impulsão e relaxamento.

5.) Retidão

A retidão de um cavalo é conseguida através do equilíbrio


correto. Isso significa que o equilibro do cavalo deve estar no local
correto. Na época de Baucher, em emados do século XIX,
equilíbrio era sinônimo de centro de gravidade. Baucher dizia que,
quando a sensação parece correta, é porque está correta.
Naturalmente cavalos são destros e canhotos.
Ao treinarmos cavalos, precisamos em um primeiro
momento analisar as características físicas do companheiro.
149
Então, temos que pensar que sempre há um lado mais fácil e
outro mais difícil. Há um lado em que toda a musculatura do
cavalo é mais encurtada e do outro lado é mais alongada. Para
conseguirmos retidão precisamos manter os posteriores do cavalo
seguindo a mesma linha dos anteriores, e seu corpo paralelo à
direção do movimento. Para isso é preciso realizar muita ginástica
e um trabalho focado no equilíbrio do cavalo. Devemos ensinar ao
cavalo a encontrar seu equilíbrio e, se manter nele antes de ser
montado, através de trabalho como: trabalho de guia, trabalho de
chão, também chamado a vara, trabalho a mão, entre outros.
A retidão é de suma importância no desenvolvimento do
cavalo, pois permite que seu peso seja distribuído igualmente
para ambos os lados, que o cavalo empurre-se com os
posteriores equilibradamente, e para atingir a reunião, uma vez
que essa depende do deslocamento do centro de gravidade para
trás.

6.) Reunião

No topo da pirâmide está a síntese de todos os estágios


anteriores, e o objetivo final do adestramento: a reunião. Esta
envolve o “abaixamento” da garupa, levantamento – e leveza – da
frente, passadas mais curtas e alçadas. Os posteriores passam a
mover-se bem abaixo do corpo do cavalo, para sustentar o
levantamento da frente. A consequência natural é uma mudança
do centro de gravidade do cavalo, à qual ele deve responder com
perfeito equilíbrio. É na reunião que a auto sustentação do cavalo
fica mais evidente e, através dela, todos os andamentos são
aperfeiçoados.
A reunião é preponderante na realização de movimentos de
alto grau de dificuldade, como mudanças de pé ao galope e
piruetas. Requer grande força muscular, daí a importância de
desenvolver um trabalho escalonado com seu cavalo antes de
tentar obtê-la. Na Escala original, utiliza-se a palavra
150
“durchlässigkeit”: o fluxo de energia e das ajudas do cavaleiro,
através do cavalo, da frente para trás e de trás para frente ou, em
tradução direta, “permeabilidade”. Em outras palavras, o cavalo
deve estar “permeável”, disponível a responder às ajudas com
ritmo, descontração, contato, impulsão, retidão, e deve ser capaz
de atingir a reunião, num movimento cíclico de energia, que
influencia todo o trabalho.
Assim, é a finalidade de todo o treinamento, e deve ser
encarada como tal. A reunião não é, como muitos pensam,
apenas um exercício que acontece ou tem início a partir de certo
grau competitivo. A reunião é o mais importante objetivo de um
programa de treinamento. Reunir um cavalo, significa convidá-lo a
encurtar seu padrão de movimentação, o que permite que ele se
desloque para frente, para trás, para os lados, e até para cima, no
tempo mais otimizado possível. A reunião é um mecanismo
natural de defesa do cavalo. Ele se reúne e parte em direção
oposta a qualquer perigo que o ameace. Escala de Treinamento
serve para formar cavalos de forma harmoniosa e gradual,
visando conservar graça e atitudes e de movimentos que o cavalo
apresenta naturalmente em liberdade. O trabalho harmonioso de
todo cavalo exige: método, ou seja, permeabilidade, cultura
estética, ginástica contínua e progressiva; desenvolvimento
muscular harmonioso, ou seja, força, equilíbrio, elasticidade e
equilíbrio mental; movimentos expressivos e elegantes, carisma e
comunicação imperceptível entre cavalo e cavaleiro.

As fases da Escala de Treinamento:

FASE 1: entendimento e confiança:

Regularidade
Flexibilidade
Contato

151
FASE 2: desenvolvimento do poder de impulsão:

Flexibilidade
Contato
Impulsão
Retidão

FASE 3: desenvolvimento da auto sustentação:

Impulsão
Retidão
Reunião

FASE 4: permeabilidade:

Reunião de todos os itens das fases anteriores. Pernas


sem hesitação e resistência – mãos passivas e leves. Apesar, de
termos examinado a Escala de Treinamento com vistas ao
Adestramento, ela pode – e deve – ser utilizada no treinamento de
qualquer cavalo, para qualquer modalidade. Por privilegiar o
trabalho analítico e progressivo, é a mais efetiva ferramenta
disponível a cavaleiros e treinadores, para a formação e
aperfeiçoamento do cavalo de esporte.
É importante ressaltar que ela orienta uma direção de
treinamento. Só se deve passar para o degrau acima, quando
estamos com o degrau atual totalmente bem executado e perfeito.
Porém, esta mudança muitas vezes acaba não sendo fácil e
provoca que o conjunto se sinta um pouco perdido. Então é hora
de voltar atrás, descer um degrau, arrumar “a casa” e então pedir
o degrau superior de novo. Muitas vezes para subir um degrau,
antes temos que descer dois. A constância, perseverança e
atitude mental positiva sempre nos levará ao topo da Escala de
Treinamento.

152
Benefícios da Hipoterapia
A Hipoterapia é um método único que estimula crianças a
superar os seus problemas, contribuindo para a melhoria do
estado psicológico, desenvolvendo uma sensação de orgulho e
vitória contra a doença e consequentemente, facilita a remoção do
complexo de inferioridade. Alguns benefícios da prática da
Hipoterapia no desenvolvimento global do indivíduo que se
refletem nos seguintes níveis (Caçador, 2017):

A Nível Neuromotor:
✓Diminui a espasticidade;
✓Melhora a coordenação e a dissociação de movimentos;
✓Melhora o controle postural;
✓Regulariza o tônus muscular, no andamento a passo, ao
serem movimentados trezentos músculos, fomentando o equilíbrio
tônico;
✓Desenvolve a lateralidade;
✓Promove a coordenação psicomotora grossa e fina;
✓Potencia desenvolvimento da elasticidade, agilidade,
flexibilidade e força muscular;
✓Estimula o sistema sensório-motor;
✓Melhora a rapidez dos reflexos;
✓Aumenta a capacidade de movimentos das articulações;
✓Reduz os padrões de movimentos anormais;
✓Melhora a capacidade respiratória e circulatória.

A Nível Sensitivo:
✓Desenvolve e melhora a noção de esquema corporal;
✓Aumenta e melhora a capacidade de perceção senso-tátil;
✓Aumenta a integração sensorial: tátil (o contato com o pelo,
boca e corpo do cavalo), visual (o aumento do campo visual
estando em cima do dorso do cavalo), auditiva (o relinchar, o
mastigar, o som da respiração, o golpe da ferradura contra o solo
153
do cavalo e os sons do campo ou picadeiro) e olfativa (o odor das
cavalariças, da pele do cavalo, da comida e do campo).

A Nível Psicológico-cognitivo:
✓Melhora e aumenta a comunicação gestual e oral;
✓Aumenta o vocabulário;
✓Ajuda a construir frases corretamente;
✓Melhora a articulação das palavras;
✓Melhora a concentração.

A Nível de Socialização:
✓Melhora a relação com as pessoas que não pertencem ao seu
meio familiar (através da interação estabelecida com toda a
equipe envolvida na terapia);
✓Cria laços de amizade com os companheiros e terapeutas;
✓Desenvolve respeito e amor pelos animais e pela natureza;
✓Desenvolve o sentido de autocontrole emocional;
✓Promove o gosto pela prática de desporto.

Destinatários da Hipoterapia e equitação


terapêutica
A Hipoterapia/equitação terapêutica como um complemento
terapêutico no tratamento de crianças com Necessidades
Educativas Especiais (NEE). Este tratamento é eficaz nos
portadores das seguintes condições (Caçador, 2017):

•Atrasos gerais no desenvolvimento neuro psicomotor;


•Atrasos mentais;
•Autismo;
•Desordens emocionais, que podem englobar, transtornos alimentares,
toxicomanias, sociopatias e psicomanias;
•Dificuldades de atenção, da fala, de aprendizagem e de comunicação;
•Distrofia muscular;
154
•Distúrbios visuais e/ou auditivos;
•Epilepsia;
•Esclerose múltipla;
•Espinha bífida;
•Hiperatividade;
•Paralisias, hemiplegias e amputações;
•Perda de mobilidade pela ocorrência de um AVC;
•Problemas de adaptação social;
•Reabilitação de estados de ansiedade, stress e doenças
psicossomáticas associadas tais como a depressão e o luto;
•Síndrome de Down;
•Traumas crâneo-encefálicos.

No entanto, e de acordo com Ande-Brasil (2002), a prática


desta terapia não é aconselhável para problemas como: coluna
instável, tumor na coluna, deslocamento do quadril ou das
primeiras vértebras do pescoço, vertigens, medo incontornável
entre outros problemas.

A importância da Hipoterapia nas


crianças autistas
O Autismo é uma doença que tem sido estudada pela
ciência há quase sete décadas, mas que ainda permanecem
algumas divergências sobre a mesma. Assim, não é tarefa fácil
definir Autismo. O termo Autismo provém da palavra grega
“autos”, que significa “Eu/Próprio”, isto é, voltar-se para si mesmo.
Dando origem ao termo Autismo que é “o estado de alguém que
tende em afastar-se da realidade exterior, concentra-se apenas
em si próprio”.
O Autismo, é um problema neurológico que afeta a
percepção, o pensamento e a atenção, manifestando-se a partir
dos primeiros anos de vida, expressa numa perturbação
155
comportamental. Na opinião deste autor, esta desordem pode
igualmente estar relacionada a outras problemáticas tais como:
deficiência visual, auditiva e epilepsia.
Segundo New Lexicon Webster’s Encyclopedic Dictionary
(1991), o “Autismo é uma desordem psiquiátrica em que o
indivíduo se recolhe dentro de si próprio, não responde a fatores
externos e exibe indiferença relativamente a outros indivíduos ou
a acontecimentos exteriores e a ele mesmo”. O Autismo é uma
síndrome definido por alterações presentes desde muito
precoces, tipicamente antes dos três anos, e que se caracteriza
sempre por desvios qualitativos na comunicação, na interação
social e no uso da imaginação. Por tudo isto, a criança portadora
de Autismo tem uma aparência harmoniosa e ao mesmo tempo
um perfil irregular de desenvolvimento, com bom funcionamento
em algumas áreas enquanto outras se encontram bastantes
comprometidas (Caçador, 2014).
Segundo Carla Patrícia Moreira Caçador (2014), na
Monografia de Mestrado em Ciências da Educação na
Especialização em Educação Especial: Domínio Cognitivo e Motor
pela Escola Superior de Educação João de Deus em Lisboa,
Portugal, intitulada A importância da Hipoterapia nas crianças
autistas, ressalta que “a Hipoterapia é um método de intervenção
terapêutica global e analítico, extremamente rico, que engloba o
indivíduo no seu complexo psicossomático, quer seja praticado
com deficientes físicos ou mentais”.
O principal objetivo da Hipoterapia consiste em melhorar a
postura do indivíduo, equilíbrio, mobilidade e função. Trata-se de
um tratamento individualizado com uma aproximação de equipe,
em que o cavalo é usado como o instrumento terapêutico, e o
indivíduo que o monta, é um paciente e não um cavaleiro.

Benefícios da Hipoterapia e da equitação


terapêutica aos autistas
156
A família é a base afetiva do indivíduo, é a esta que se
delega a responsabilidade de satisfazer as necessidades básicas
da criança logo à nascença, para além disto a transmissão de
cultura que envolve todas as práticas e saberes acumulados de
geração em geração dá-se também no seio desta instituição.
Neste sentido, a família assume o importante papel de agente de
socialização, as famílias são consideradas as primeiras
instituições educativas da criança, pois é no seio delas que se
inicia o processo de socialização, cabe à família integrar a criança
na sociedade.
Ao encontro destas palavras, Caçador (2014), citando Glat
e Pletsch (200452), afirmou que “a família é o primeiro grupo social
ao qual o ser humano pertence (…) as fronteiras individuais são
fluídas (…) tudo o que acontece com um dos membros afeta
diretamente os demais”. Por outro lado, o terapeuta também
assume um papel importante, que passa por proporcionar às
crianças com NEE (Necessidades Educativas Especiais),
atividades que promovam o aperfeiçoamento da sua performance,
enquanto pessoas. Quando o veículo terapêutico é capaz de
gerar prazer, possibilita a formação de imagens positivas.
A importância da prática da Hipoterapia, que através do
movimento como meio de expressão, fornece o aspeto cinético da
imagem de si, projetando o mundo com uma nova dimensão de
vida.
Se entrelaçarmos, o que é referido no ponto um deste
trabalho com a percepção anteriormente referida, concluímos que
a prática das terapias descritas ao longo da revisão da literatura,
só trazem benefícios a quem as pratica.

52 GLAT, R.; PLATSCH, M.D. (2004). Orientação familiar como estratégia


facilitadora do desenvolvimento e inclusão de pessoas com necessidades
educativas especiais. Revista do centro de educação. Consultado a 20 de
fevereiro de 2013,em http://coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2004/02/a3.htm
157
Segundo Caçador (2014), são diversas as evoluções
observadas nas crianças autistas, ao nível da interação (cognitiva,
psicológica e social) com outras pessoas.
Os gestos e o contato físico aumentam (quando recebem
ajuda para limpar o cavalo, ou para subir para cima dele, ou ainda
o apoio físico dado durante grande parte da sessão), diminui a
distanciação dos outros, e ainda, são capazes de dar respostas
emocionais e pessoais (o que quer fazer quando está perto do
cavalo).
Conforme Caçador (2017), este tipo de terapia influencia a
aprendizagem da capacidade adaptativa e comportamental. O
terapeuta, através do uso de atividades intrinsecamente
motivadoras, vai ajudar a criança autista a desenvolver e a
adquirir um reportório de capacidades desenvolvimentais e
padrões comportamentais de imitação. Esta intervenção promove
sensório-motoras, psicossociais e cognitivas, para que a criança
conheça as suas necessidades e se adapte ao meio que a
envolve.
De acordo com a mesma autora, segundo Freire (199953),
as crianças com perturbações psicossociais, têm revelado
interagir mais facilmente com animais, do que com pessoas ou
materiais. Alguns estudos descritivos sobre equitação terapêutica
concluem que existem progressos ao nível da postura e do
equilíbrio, salientando-se: o aumento da autoestima, a capacidade
de se relacionar com os outros, comunicação, aumento do tempo
de atenção/concentração e socialização, foram também
observados em crianças autistas que seguem um programa de
equitação terapêutica.
Freire (1999), defende que a importância do cavalo na
Hipoterapia com crianças autistas começa com a ligação que se
desenvolve entre a criança e o animal. Desenvolve-se assim, uma

53FREIRE, H. G. Equoterapia: Uma experiência com crianças autistas. São


Paulo: Vetor Editora Psico-pedagógica, 1999.
158
relação especial ampliando os contatos que a crianças tem no seu
meio (percepção que a interação social pode ser uma atividade
agradável). Não só ao nível da interação, mas também a
execução de exercícios (imitação) em cima do cavalo. Seguindo
as ordens do terapeuta, e mais tarde se ela própria for capaz de
dar ordens ao cavalo, estimulam, o desenvolvimento da
comunicação (benefícios do uso da linguagem, em que a criança
dá ordens e por sua vez, o cavalo reage). Desta forma cria-se um
incentivo ao aumento da interação e do uso da linguagem.
Reforçando tudo aquilo, que tem sido referenciado,
destacamos o autor Wickert (200354), que identifica o movimento
tridimensional do cavalo, uma vez que fornece uma combinação
de estímulos sensoriais (contato com o corpo quente do cavalo),
motores (através do uso de vários grupos musculares), e
neurológicos (estimulação do sistema vestibular55 e sistema
propriocetivo), contribuindo para o melhoramento do estado do
paciente/criança.

Propriocepção (ou cinestesia)


A propriocepção (ou cinestesia), termo empregado por
Sherrington por volta de 1900, é definida como sendo
qualquer informação postural, posicional, encaminhada
ao sistema nervoso central pelos receptores encontrados
em músculos, tendões, ligamentos, articulações ou pele.
Em outras palavras, é a consciência dos movimentos
produzidos pelos nossos membros. Para falar sobre
propriocepção, é necessário falar sobre os receptores
sensoriais, afinal, são eles que transmitem ao SNC a
posição articular e o nível de tensão muscular. Os

54WICKERT, H. O Cavalo como Instrumento Cinesio-terapêutico. In Ande-


Brasil. (Eds.) Curso Básico de Equoterapia, pp. 117 – 125, Brasília: Associação
Nacional de Equoterapia, 2003.
55 O sistema ou aparelho vestibular (também conhecido como órgão

gravitoceptor) é o conjunto de órgãos do ouvido interno dos vertebrados


responsáveis pela detecção de movimentos do corpo, que contribui para a
manutenção do equilíbrio.
159
receptores sensoriais são encontrados dentro do sistema
nervoso somático, responsáveis pelas distintas
experiências sensoriais recebidas e interpretadas pelo
nosso corpo. A função mais básica dos receptores
sensoriais é fornecer ao sistema nervoso central (SNC)
informações sobre as condições internas das estruturas
orgânicas e do meio externo. São eles que definem os
ditos sentidos (visão, olfato, tato, paladar, audição e
sensibilidade corporal). Todavia, apenas um receptor
não possui a capacidade de identificar sozinho todos os
estímulos diferentes que o corpo recebe a cada
segundo. Deste modo, somos supridos com diferentes
receptores sensoriais, cada um com sua particularidade,
possibilitando a sensação de diferentes estímulos
(Meldau, 2017).

Segundo Caçador (2017), com grande relevância é o


sentido de autoconfiança que a criança ganha através da
capacidade de controlar o cavalo, um outro ser que também tem
vontade própria. A criança passa a ver-se com capacidade, não
só de controlar o seu próprio comportamento (autocontrole),
sendo capaz de influenciar o comportamento de outros,
nomeadamente, o cavalo.
Conforme a mesma autora, de acordo com a Psicologia
Analítica de Jung (197356), o homem nasce com uma herança
biológica e psicológica. É esta última, que ele se refere como
sendo o inconsciente coletivo: “...não são aquisições individuais,
são essencialmente os mesmos em qualquer lugar e não variam
de homem para homem. O inconsciente coletivo é constituído por
arquétipos (estruturas psíquicas sem forma ou conteúdo próprio,
que servem para canalizar e/ou organizar o material psicológico,
dando origem às fantasias individuais)”. O cavalo é um animal que
sempre influenciou, indiretamente, o homem através da sua figura

56JUNG, C.G. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira,
1973.
160
arquetípica. É neste seguimento, que Rhodes (199957) refere o
cavalo como objeto de transferências (facilitador de novas
condições, de novas experiências). A relação com o cavalo
baseia-se na troca. Este autor adaptou ainda alguns dos
conceitos da sua teoria a esta prática. O papel de holding
presente na relação estabelecida com o cavalo e com o terapeuta
vai dar uma segurança suficiente e necessária à aquisição de
noções como espaço e tempo.

Significado de holding em psicologia


Ao discutir as condições para a saúde, Winnicott aponta
as características do meio e do cuidado oferecidos ao
bebê. Dentre elas, cita o holding, que se apresenta não
apenas como a sustentação física dada ao bebê, mas
também como o cuidado materno de forma mais ampla.
Abram58 citando Winnicott, ao conceituar holding,
sinaliza que todas as particularidades do cuidado
materno que antecedem e advêm depois do nascimento
convergem para a composição do ambiente de holding.
Isso inclui a preocupação materna primária da mãe, que
lhe possibilita fornecer ao bebê o necessário suporte
egóico. Tanto o holding psicológico como o físico são
essenciais ao bebê ao longo de seu desenvolvimento, e
o serão por toda sua vida. O ambiente de holding jamais
perde sua importância (Sei e Paiva, 2011).

Conforme Caçador (2014), a criação de novas ligações,


nomeadamente a criação de um objetivo relacional, resulta
também numa estrutura de handling59. Esta função vai permitir a

57 RHODES, G.. Vaulting – A dynamic approach to therapeutic riding.


American vaulting association. Nahra Vaulting Committee, 1999.
58 ABRAM, J. A linguagem de Winnicott. Rio de Janeiro: Revinter, 2000.
59 Handling – diz da manipulação do bebê pelos cuidados maternos. São os

toques, o dar banho, trocar fraldas, mantendo o seu bem-estar físico. É através
do exercício desta função que o bebê experimenta-se num corpo unido à sua
vida psíquica. Winnicott (1988) chama de personalização. Holding é a
disposição empática e afetiva para perceber e atender às necessidades do
161
passagem de estados fusionais a uma maior autonomia e
independência (personalização do indivíduo, diferenciação do
outro). O cavalo como objeto de diferenciação, vai ajudar a esta
autonomização, a partir do momento em que o paciente
reconhece que este ser tem vontade própria e que nem sempre
faz o que ele pretende. A criança autista quando está em cima do
cavalo dá a sensação de que se vai “desintegrar” (encolhe-se,
estica-se, corre o risco de cair, porque lhe é difícil estabilizar em
equilíbrio com o movimento do cavalo). Parecem defender-se do
contato com qualquer tipo de estímulos exteriores, para além do
fato de recusarem ajuda, pelo contato físico, que nesta situação é
exigida.
Neste seguimento de ideias, Freire (1999), considera ainda,
que à medida que a criança autista vai montando, vai-se
estabelecendo uma relação entre terapeuta e ela, relação
semelhante à da mãe (uma mãe suficientemente boa) com o seu
bebê. À medida que o cavalo transporta o paciente o terapeuta vai
dizendo palavras tranquilizadoras.
A equitação terapêutica convida também, à imitação
através da possibilidade de identificação cinestésica. Através da
comunicação do terapeuta, a criança vai tentar descobrir o cavalo
como um objeto transicional, apoiando-se nele para chegar ao
terapeuta. Como já esclarecido anteriormente, é no seio da família
que se começa a elaborar o comportamento social, resultado de
uma aprendizagem, que se inicia quando a criança é capaz de
interiorizar a imagem do “outro”. Assim, a família ajuda à inserção

bebê e que se concretizam através do handling. A função do holding leva em


conta a sensibilidade da pele do bebê: o toque, a temperatura, a sensibilidade
visual, auditiva etc... É ela que protege o bebê de agressões fisiológicas. Então,
tanto o holding psicológico como o físico são essenciais ao bebê ao longo de
seu desenvolvimento, e o serão por toda sua vida. O ambiente de holding
jamais perde sua importância (Jabbour, 2017).

162
na sociedade e oferece um refúgio contra o mundo, ou seja, a
família põe a criança ao abrigo do mundo exterior.

Equoterapia
A Equoterapia baseia-se em jogos entre os cavalos e as
pessoas, de forma a que se crie uma relação dinâmica entre eles,
relacionando, assim, as áreas da educação e da saúde. Este tipo
de terapia é mais utilizado por crianças com problemas de
Autismo, timidez, insegurança, medo, agressividade e
hiperatividade. No entanto, não se aplica só a pessoas portadoras
de deficiências: qualquer um a pode realizar.

A Equoterapia e a Hipoterapia não são a


mesma coisa
Conforme Terapia com Animais (2017), a Equoterapia e a
Hipoterapia não são a mesma coisa, contendo várias diferenças:
a segunda corresponde à terapia montada a cavalo, que trabalha
doentes que tenham alguma doença visual ou mental, enquanto
que a primeira utiliza os cavalos, não sendo montados,
simplesmente para funcionarem como um modo de fazer emergir
a vida emocional e despertar os afetos.
Tanto numa como noutra, o elemento terapêutico utilizado
é o cavalo. Este animal, quando utilizado para realizar terapia,
pode ser bastante benéfico: o seu andamento a passo produz
cerca de 60 a 75 movimentos tridimensionais por minuto –
equivalentes aos da marcha humana, havendo um deslocamento
da cintura pélvica para trás e para a frente, para a direita e para a
esquerda. Assim, para as pessoas com lesões cerebrais, este tipo
de terapia pode ser bastante benéfico, uma vez que ao estarem
em cima do cavalo, o seu sistema nervoso central recebe o
163
estímulo do que é a marcha, uma informação que este não possui
devido à lesão que apresenta.

Equoterapia como método terapêutico e


educacional
Equoterapia é um método terapêutico e educacional, que
utiliza o cavalo dentro de uma abordagem multidisciplinar e
interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação,
buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com
deficiências e/ou necessidades especiais. Conceito da ANDE-
BRASIL (Associação Nacional de Equoterapia)60, 1999.

Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL)


A Associação Nacional de Equoterapia, cuja sigla oficial
é ANDE-BRASIL, foi fundada em 10 de maio de 1989 e é
uma entidade civil sem fins lucrativos, de caráter
filantrópico, assistencial e terapêutico. Tendo sede em
Brasília – DF, atua em todo o Território Nacional. Os
profissionais da ANDE-BRASIL, que trabalham na área
equoterápica, tanto em sua Sede como em cerca de 280
centros de Equoterapia, espalhados pelo Brasil inteiro,
sentem-se muito realizados por serem partícipes de
atividade nobilitante, realizada em proveito da melhoria
da qualidade de vida de pessoas tão especiais, onde
aparece, de modo marcante, o cavalo como o grande
facilitador do procedimento terapêutico.
Principais Finalidades
• Contribuir para a reabilitação e educação de pessoas
com deficiência e/ou com necessidades especiais,
mediante a prática da Equoterapia;
• Normatizar, supervisionar, controlar e coordenar, em
âmbito nacional, a prática da Equoterapia;
• Colaborar com órgãos governamentais ou não-
governamentais para a execução das mesmas ações

60 http://Equoterapia.org.br/
164
acima mencionadas junto a outras entidades que
pratiquem qualquer terapia com o emprego do cavalo;
• Capacitar recursos humanos, promovendo e
estimulando a realização de cursos, pesquisas, estudos
e levantamentos estatísticos, propiciando condições para
o avanço científico-tecnológico e a formação de pessoal
técnico especializado;
• Estimular e apoiar a implantação e desenvolvimento de
Centros de Equoterapia, com a observância dos mais
rígidos padrões de ética, eficiência e segurança;
• Utilizar a equitação de forma didático-pedagógica na
educação e formação do caráter de jovens e na inserção
e reinserção social de pessoas com distúrbios
comportamentais;
• Utilizar a competição esportiva como complemento
terapêutico e educativo;
• Formar recursos humanos nas áreas de equitação e
veterinária e outras com estas correlatas; e
• Estimular a prática do esporte hípico, principalmente na
formação de novos valores.

Princípios básicos da Equoterapia


(aspectos motores)
A andadura do cavalo imprime movimentos tridimensionais,
ou seja, em três eixos distintos para cima e para baixo, para um
lado e para outro e para frente e para trás, que são estímulos
somatossensorial, proprioceptivos e vestibulares para o praticante
cavaleiro (Wikipédia, 2017).
. Desenvolver o controle postural do praticante pelo estímulo à via
dos substratos do controle motor local.
. Desenvolver o equilíbrio do praticante pelo estímulo aos
substratos de controle motor postural, reações de ajuste, de
defesa e de endireitamento corporais.
. Aperfeiçoar o assento do praticante sobre o cavalo pelo estímulo
do controle motor global. Nesta fase o praticante aperfeiçoa e
165
aplica feedback/feedforward adquiridos, que o permitem manter-
se equilibrado sobre à sela e unir-se coordenada e
harmoniosamente aos movimentos do cavalo, desenvolvendo
com o animal um conjunto biomecânico melodioso.

Metas (motoras) a serem atingidas


. A meta terapêutica é chegar ao máximo de função do praticante.
. A meta funcional motora da Equoterapia é: desenvolver no
praticante, capacidades funcionais que permitam sua
independência nas atividades de vida diária.

Programas de Equoterapia
É sabido que cada indivíduo, com deficiência e/ou com
necessidades especiais, tem o seu “perfil”, o que o torna único.
Isto evidência a necessidade de formular programas
individualizados, que levem em consideração as demandas
daquele indivíduo, naquela determinada fase de seu processo
evolutivo.
A Equoterapia é aplicada por intermédio de programas
individualizados organizados de acordo com:
•as necessidades e potencialidades do praticante;
•a finalidade do programa;
•os objetivos a serem alcançados, com duas ênfases: a
primeira, com intenções especificamente terapêuticas, utilizando
técnicas que visem, principalmente, à reabilitação física e/ou
mental; a segunda, com fins educacionais e/ou sociais, com a
aplicação de técnicas pedagógicas aliadas às terapêuticas,
visando à integração ou reintegração sócio familiar.

166
Os benefícios da Equoterapia no
tratamento de pacientes portadores da
Síndrome de Down
Conforme Ferreira (2008), a Síndrome de Down é uma
condição genética caracterizada pela presença de um
cromossomo a mais nas células de quem é portador e acarreta
um variável grau de retardo no desenvolvimento motor, físico e
mental. Esse cromossomo extra se acrescenta ao par de número
21, por isso o termo utilizado para sua denominação é trissomia
21. Porém, outros problemas são detectados nessas crianças,
como a translocação e o mosaicismo.
A Síndrome de Down apresenta características dismórficas,
que variam entre os pacientes, porém produzem um fenótipo
distintivo. Quando visualizada de frente, a criança com esta
síndrome costuma ter uma face arredondada. Lateralmente, a
face tende a apresentar um perfil achatado. Pode existir uma
pequena prega cutânea direcionada verticalmente entre o canto
interno do olho e a ponte nasal, denominada de epicanto. Em
alguns pacientes, os olhos podem exibir formações pontilhadas de
coloração branca ou branca amarelada, que circundam a íris,
chamadas de Manchas de Brushfield.

Manchas de Brushfield
Manchas de Brushfield são pequenos pontos brancos
presentes na periferia da íris do olho humano devido a
uma agregação de um elemento normal da íris (tecido
conjuntivo). Estes pontos são normais em crianças, mas
também são uma característica da Síndrome de Down.
Recebem o nome em homenagem ao médico Thomas
Brushfield, quem primeiro as descreveu em 1924
(Wikipédia, 2017).

167
O diagnóstico
O diagnóstico pode ser feito também após o nascimento da
criança e inicialmente por parte das características que são muito
comuns aos portadores de Síndrome de Down, como por
exemplo, cabeça mais arredondada, olhos puxados, boca
pequena, entre outras. Apesar de não haver cura, pesquisas no
mundo todo têm sido realizadas nesse sentido e a qualidade de
vida dessas pessoas tem sido melhorada significativamente. O
mais importante é descobrir que o sindrômico pode alcançar um
bom desenvolvimento de suas capacidades pessoais e avançar
crescentes níveis de realizações e autonomia. Sendo capaz de
sentir, amar, aprender, se divertir e trabalhar. Em resumo, ele
poderá ocupar um lugar próprio e digno na sociedade, sendo
como qualquer outra criança normal, em certos momentos
(Torquato e cols., 2013).

Alterações físicas
Segundo (Ferreira, 2008), o pescoço é mais alargado e
curto com pele redundante na nuca. A ponte nasal é plana, as
orelhas são de implantação baixa e a boca é aberta, mostrando a
língua sulcada e saliente. Problemas visuais e auditivos são
comuns nestas crianças. Os déficits visuais incluem catarata
congênita e de início em idade adulta, miopia (50%),
hipermetropia (20%), estrabismo e nistagmo. De acordo com o
mesmo autor, muitas crianças com esta síndrome (60 a 80%) têm
perda leve a moderada de audição. A otite média é um problema
clínico que ocorre frequentemente e que pode contribuir para
perda auditiva intermitente ou persistente. É frequente existir uma
braquicefalia acompanhada de um occipital relativamente
achatado. O perímetro cefálico costuma ser menor que o das
crianças normais da mesma faixa etária e é comum o fechamento
168
tardio das fontanelas. Aproximadamente 50% dos pacientes com
Síndrome de Down possuem uma única linha de flexão nas
palmas, chamada de linha simiesca.

Retardamento mental

Conforme o mesmo autor, essas crianças apresentam


graus variados de retardamento mental. Elas aprendem mais
vagarosamente e apresentam dificuldade de raciocínio complexo
e de julgamento. O retardo mental é grave. Aproximadamente
80% dos afetados tem um quociente intelectual (QI) de 25 a 50.
QI é a relação entre idade mental e cronológica, sendo 100 o QI
normal (idade mental = idade cronológica).

Quociente de inteligência
Quociente de inteligência (abreviado para QI, de uso
comum) é uma medida padronizada obtida por meio de
testes desenvolvidos para avaliar as capacidades
cognitivas (inteligência) de um sujeito. É a expressão do
nível de habilidade de um indivíduo num determinado
momento em relação ao padrão (ou normas) comum à
sua faixa etária, considerando que a inteligência de um
indivíduo, em qualquer momento, é o "produto" final de
uma complexa sequência de interações entre fatores
ambientais e hereditários (Wikipedia, 2017).

Observa-se também uma persistência de vários reflexos


primitivos além do tempo que deveriam normalmente
desaparecer. Entre eles estão os reflexos de preensão palmar e
plantar, o reflexo de marcha e o Reflexo de Moro (Ferreira, 2008).

Reflexo de Moro
O Reflexo de Moro é um reflexo apresentado somente
em neonatos, nos três primeiros meses de vida,
desencadeado naturalmente por um susto, barulho ou
movimento brusco. É considerado um reflexo primitivo.

169
Foi descoberto por Dr. Ernst Moro, um neurologista
italiano (Wikipedia, 2017).

Alterações musculoesqueléticas
De acordo com Ferreira (2008), quanto as alterações
musculoesqueléticas, são observados déficits de crescimento
linear, incluindo uma diminuição na velocidade de crescimento em
estatura, ocorrendo principalmente entre os 6 e os 24 meses de
idade, redução do comprimento da perna e 10 a 30% de redução
no comprimento dos metacarpos e falanges. Segundo este
mesmo autor, as diferenças musculoesqueléticas mais
significativas, entretanto, são devidas, em grande parte, à
hipotonia e à frouxidão ligamentar características dessa doença. A
frouxidão ligamentar resulta em pé plano, instabilidade patelar,
escoliose e instabilidade atlantoaxial. A frouxidão ligamentar
constitui uma importante característica vinculado com
instabilidades articulares, podendo ocasionalmente gerar
luxações. A instabilidade atlantoaxial pode predispor a criança a
compressão da medula espinhal. Os sinais e sintomas de
compressão raquimedular decorrente de luxação atlantoaxial são:
arreflexia, babinski, reflexos tendinosos rofundos vigorosos,
clônus, alterações da marcha, reflexo extensor plantar, cefaleia,
tendão do calcâneo tenso, falta de coordenação, aumento do
tônus muscular, limitação do movimento cervical, bexiga
neurogênica (incontinência ou retenção), dor no pescoço,
espasmos da musculatura do pescoço, postura em tesoura,
alterações sensoriais, torcicolo, vertigens e fraqueza muscular.
Cerca de 40% destas crianças nascem com cardiopatias
congênitas; as mais comuns são defeitos no canal atrioventricular
e no septo ventricular. Embora normalmente reparadas na
infância, as cardiopatias não-corrigidas até os 3 anos de idade
estão altamente associadas com os maiores atrasos no
desenvolvimento de habilidades motoras.
170
Neuropatologias
Do ponto de vista neuropatológico, pode-se encontrar
atrofia cerebral, particularmente nos lobos frontais e no giro
temporal superior. Alterações neurofibrilares e placas neuríticas,
similares às encontradas na doença de Alzheimer, podem estar
presentes nos pacientes com Síndrome de Down, que
ultrapassam os 40 anos (Ferreira, 2008).

Equoterapia e atendimento fisioterapêutico na


Síndrome de Down
De acordo com Ferreira (2008), o atendimento
fisioterapêutico é importante para ajudar a criança que tem
Síndrome de Down e que está em crescimento a prevenir o
desenvolvimento de padrões anormais de movimentos
compensatórios. A fisioterapia visa estimular o desenvolvimento
neuropsicomotor destas crianças, tendo como base o
desenvolvimento normal, utilizando, para isso, métodos que
propiciarão maior independência, autoconfiança e ampliação da
relação com o meio ambiente.
É de grande importância que este trabalho de estimulação
seja realizado junto a bebês, pois as maiores aquisições
neuropsicomotoras ocorrem nos primeiros anos de vida, sendo
estes a base para os períodos que se sucederão. Segundo o
mesmo autor, os objetivos gerais abrangem a criação de
condições para que possa ser explorado o potencial motor da
criança, direcionando a mesma nas sucessivas etapas do
desenvolvimento motor e auxiliando-a na aquisição de padrões
essenciais e fundamentais do desenvolvimento.
Os objetivos específicos são a normalização do tônus
global, a inibição dos padrões anormais de movimentos e postura;
171
a indução e facilitação dos movimentos normais; o aumento do
limiar de sensibilidade tátil e cinestésica; o desenvolvimento de
reações de proteção, retificação e equilíbrio (estático e dinâmico);
a percepção corporal; a coordenação dinâmica global e
visomotora; a aquisição de um relacionamento socioemocional
positivo e o desenvolvimento da atenção, concentração e
compreensão. É importante que o fisioterapeuta observe as
necessidades de cada criança e de cada família, planejando uma
intervenção apropriada para cada situação. Reavaliações
periódicas determinam o grau de evolução conseguido, permitindo
a reprogramação do plano terapêutico. A falta de estimulação é a
grande responsável pela limitação do desenvolvimento motor
observado nestas crianças.
A fisioterapia também será direcionada para a aquisição de
habilidades preparatórias para a marcha, e habilidades avançadas
de marcha. As habilidades preparatórias para a marcha incluem
atividades de transição para a posição ajoelhada, para a posição
de pé e de agachado para de pé. As habilidades avançadas da
marcha incluem atividades em escada, andar sobre superfícies
irregulares e terrenos diferentes, correr, pular e chutar bola. O
fisioterapeuta deve ajudar durante a marcha, dando suporte na
altura da pelve de modo a forçar uma rotação mais medial e o
deslocamento para a frente do peso do corpo sobre os pés para
evitar o travamento do joelho em extensão.
Cavalgar é por si só um estímulo para o equilíbrio, mas
algumas manobras podem ser utilizadas para aumentar a
quantidade de estímulos: pode-se pedir ao praticante que feche
os olhos, retire os pés do estribo, faça exercícios com os
membros superiores; fique de pé sobre o estribo; fique ajoelhado
em decúbito dorsal ou ventral sobre o dorso do cavalo, realize um
volteio ou faça o cavalo andar e parar várias vezes (Torquato e
cols., 2013).
Além disso, a Equoterapia pode ajudar no desenvolvimento
das sinergias funcionais. O movimento do cavalo cria uma base
172
dinâmica de suporte, fazendo com que o praticante em tratamento
adquira padrões de movimentos coordenados de controle de
postura para manter seu centro de gravidade sobre essa base.
Pode-se perceber que as crianças portadoras da Síndrome de
Down possuem muitas deficiências motoras, como o atraso no
desenvolvimento motor e neurológico, déficit de equilíbrio e
hipotonia muscular.
Conclui-se que a Equoterapia, através da utilização do
cavalo, proporciona movimentos tridimensionais que fazem com
que a criança realize ajustes posturais para poder se manter
sobre ele, melhorando assim o equilíbrio, a força muscular, a
noção de espaço, o tônus muscular, a autoconfiança, a
coordenação motora e também ajuda na interação social.

Avaliação do Desenvolvimento em Crianças


com Síndrome de Down
Conforme Torquato e cols (2013) e Leite e cols (2016),
traçar o perfil da criança com Síndrome de Down é de grande
importância para o seu desenvolvimento motor, pois evidência
aspectos referentes ao desenvolvimento, destacando suas
dificuldades e potencialidades. A avaliação do repertório motor
fornecerá informações a seus educadores e à própria criança
quanto ao seu desenvolvimento.

A Escala de Desenvolvimento Motor - EDM


A Escala de Desenvolvimento Motor - EDM foi proposta por
Rosa Neto (200261), que tem como finalidade avaliar e
acompanhar a evolução motora de crianças de 2 a 11 anos,
atribuindo de maneira quantitativa a idade motora e um quociente
motor, determinando os aspectos fortes e fracos da motricidade e

61 Rosa F Neto. Manual de avaliação motora. Porto Alegre: Artmed; 2002.


173
subsidiando o planejamento do programa de intervenção motora
(Leite e cols, 2016).
Segundo Torquato e cols (2013), essa escala tem o
propósito de colocar à disposição de profissionais da saúde e da
educação um conjunto de instrumentos de diagnóstico, que lhes
permite utilizar um método eficaz para realizar estudos
transversais e longitudinais com o uso de provas/tarefas
construídas sobre princípios técnicos, científicos práticos e
coerentes. Consideram-se nessa escala as seguintes variáveis:
motricidade fina, motricidade global, equilíbrio estático, esquema
corporal, organização espacial, linguagem e organização
temporal.
Conforme os mesmos autores, O teste consiste em realizar
atividades motoras conforme a idade cronológica a partir de 2
anos. A partir de cada tarefa cumprida de acordo com o resultado
positivo ou negativo obtém-se a idade motora (IM), fator que
possibilita calcular o quociente motor geral (QMG) de cada
variável, valendo-se da equação QMG = IMG / IC × 100, em que
IMG = idade motora geral, e IC = idade cronológica. Para a
classificação dos resultados da escala EDM, foram considerados
os seguintes escores para o QMG: 130 ou mais equivale a muito
superior; 120–129, superior; 110–119, normal alto; 90–109,
normal médio; 80–89. normal baixo; 70–79, inferior; 69 ou menos,
muito inferior.

A avaliação em estudo sobre a Equoterapia e


fisioterapia em crianças com Síndrome de
Down
Torquato e cols. (2013), em estudo sobre a Equoterapia e
fisioterapia em crianças com Síndrome de Down, observaram que
na amostra composta por crianças com a síndrome, todos
apresentavam atraso no desenvolvimento motor. A Equoterapia e
174
a fisioterapia convencional influenciaram na aquisição de marcos
motores nos portadores da síndrome e em ambos os grupos
houve melhora nesse aspecto, sendo mais evidente no grupo da
fisioterapia.
Considerando o equilíbrio estático e o dinâmico e tendo
como referência os valores dos escores QMG, o grupo 1 da
Equoterapia foi considerado normal baixo para equilíbrio estático
e muito inferior para equilíbrio dinâmico; o grupo fisioterapia, por
sua vez, foi considerado normal médio para ambos os equilíbrios
estáticos e dinâmicos testados.

A avaliação sobre a Equoterapia em crianças


com Síndrome do Espectro Autista
Conforme Jesus e cols (2017) em artigo de revisão
observaram, que a Equoterapia se mostrou um tratamento
eficiente em crianças que apresentam o distúrbio autista. Houve
em alguns aspectos iniciação e melhora em outros,
principalmente no desenvolvimento perceptivo, motor, hábitos, de
independência corporal, coordenação motora, área emocional,
linguagem e no social desse indivíduo.

Caçador (2014), também fez um estudo onde utilizou


docentes de crianças autistas, onde o mesmo descreveu as
opiniões dos docentes com relação ao tratamento com
Equoterapia para essas crianças. A opinião desses docentes foi
dada depois que leram vários artigos falando sobre Equoterapia e
as suas repercussões, os mesmos responderam ao questionário
onde deixava claro as opiniões sobre o tratamento, se tinha ou
não benefícios para essa síndrome. A grande maioria entendeu,
que a Equoterapia era um tratamento favorável a esses
indivíduos, e disseram perceber mudanças e progressão no
comportamento e desenvolvimento dessas crianças.
175
A Equoterapia tem um efeito benéfico nesse tipo de
síndrome, principalmente em crianças, onde essa terapia se
beneficia da desorganização que ocorre com elas. Utilizou de
forma lúdica a Equoterapia e obteve resultados incríveis, na
interação social e despertou nessas crianças a empatia e o ato de
confiar.

Concluiu, que a Equoterapia pode sim, vir a ser um ótimo


tratamento em crianças autistas. Segundo eles, houve várias
comprovações de que o tratamento com cavalo traz diversos
benefícios para a criança, tais como, desenvolvimento motor e
sensorial, de linguagem, aprendizado, cognição, afetivo,
equilíbrio, empatia e um dos principais: as interações sociais.
Com a melhora desses aspectos as crianças são beneficiadas e
tem uma inserção maior na sociedade. Sendo assim,
comprovamos que esses estudos apresentam segurança em
relação ao tratamento com a Equoterapia.

Tipo de cavalo para a Equoterapia


De acordo com Ferreira (2008), não existe uma raça
própria para trabalhar na Equoterapia. Contudo, deve-se levar em
consideração algumas características básicas para escolher o
cavalo ideal. Ele deve ter os três andamentos regulares: passo,
trote e galope. Deve ser equilibrado o centro de gravidade abaixo
do garrote. O cavalo sendo equilibrado faz o praticante ficar mais
próximo do centro de gravidade do cavalo e seu corpo fique como
se estivesse em pé, com ombros e calcâneos em linha reta.
A altura do cavalo deverá ser, no máximo, de um metro e
meio, medindo-se do chão a cernelha do animal, a fim de não
cansar o auxiliar lateral que acompanha o praticante.

176
Altura ideal do cavalo para Equoterapia.

O cavalo deverá ser treinado para ser montado tanto pelo


lado direito, quanto pelo lado esquerdo. Deve, também, ser
treinado para o uso de brinquedos e objetos, de modo que não se
assuste com eles. Ainda segundo a autora, não há diferença entre
égua e cavalo, mas caso seja um cavalo, deverá ser castrado e
caso seja uma égua é necessário um alerta quanto ao período
crítico do cio, para não dificultar sua agilidade e a montaria pelo
indivíduo, fazendo com que ele fique com as pernas muito abertas
sobre o animal, dificultando, assim, o tratamento. O animal deverá
ter uma massa corporal necessária para carregar duas pessoas.
A prática demonstra que os cavalos mais adequados para a
Equoterapia são aqueles de estatura baixa (Ferreira, 2008).

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