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Crianças e cavalos:
Uma visão neuropsicopedagógica
na Terapia Assistida por Equínos
e Equoterapia
Autores
Santo Ângelo, RS
2018
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos com:
e-mail: suzana-vinas@yahoo.com.br
robertoaguilarmss@gmail.com
1ª edição
2
Autores
3
Pensamento
4
Apresentação
.
5
Dedicatória
Aos que nos precederam, pelo o que construíram.
Monty Roberts.
7
Sumário
Introdução.......................................................................................9
Parte 1. O cavalo na mitologia.....................................................10
Capítulo 1. O cavalo na mitologia.................................................11
Parte 2. Origem e comportamento dos cavalos...........................17
Capítulo 2. Sobre a origem, evolução e propagação dos
equídeos.......................................................................................18
Parte 3. Comunicação entre humanos e cavalos.........................66
Capítulo 3. Uma linguagem própria: a comunicação entre
humanos e cavalos.......................................................................67
Parte 4..........................................................................................81
Capítulo 4. Interações entre crianças e cavalos na Terapia
Assistida por animais e
Equoterapia.............................................82
Capítulo 5. Hipoterapia e Equoterapia........................................103
Bibliografia consultada................................................................148
8
Introdução
Existem muitas hipóteses sobre a história da domesticação
do cavalo. Os cavalos apareceram pela primeira vez na arte das
cavernas paleolíticas em torno de 30 mil a.C. Estes eram cavalos
selvagens que eram caçados por sua carne. No entanto, é
conhecido exatamente como e quando o cavalo se tornou
domesticado. Uma evidência clara do uso precoce do cavalo é
como meio de transporte. Esta evidência data de enterros de
carruagens em torno do ano 2000 a.C., encontrados em tumbas.
Já a utilização do cavalo, com a finalidade de reabilitação,
não é uma descoberta recente. Desde 458-370 a.C. já existiam
estudos e/ou publicações, que traziam a utilização do cavalo
como método terapêutico. Hipócrates, o pai da medicina, já
aconselhava a equitação para regenerar a saúde e preservar o
corpo humano de muitas doenças.
Várias terapias, que envolvem interações com cavalos e
outros equídeos são usadas para indivíduos com e sem
necessidades especiais, incluindo aqueles com problemas físicos,
cognitivos e emocionais. As terapias e terminologia mais comuns
usadas para descrevê-las são aqui discutidas.
9
10
Capítulo 1
O cavalo na mitologia
O Centauro
Na mitologia grega, o centauro (em grego Κένταυρος,
Kentauros, "matador de touros", plural Κένταυρι, Kentauri; em
latim Centaurus/Centauri) é uma criatura com cabeça, braços e
dorso de um ser humano e com corpo e pernas de cavalo. Os
centauros viviam nas montanhas de Tessália.
Tessália
Tessália (em grego: Θεσσαλία; transl.: Thessalía; em
tessálio: Πετθαλία - Petthalía) é o nome tradicional de
uma antiga região geográfica e de uma moderna região
administrativa da Grécia. Faz fronteira com a Macedônia
ao norte, o Épiro no oeste, a Grécia Central no sul e o
Mar Egeu no leste. As Espórades também fazem parte
da região. Antes da Idade das Trevas grega, era
conhecida como eólia (Aeolia; Αἰολία) e é com este nome
que ela aparece na Odisseia de Homero. A região
tornou-se parte da Grécia moderna, em 1881, depois de
quatro séculos e meio de controle otomano. Desde 1987,
a região passou a ser uma das 13 regiões do país e está
subdividida (desde o plano Kallikratis de 2010) em 5
unidades regionais e 25 municípios. A capital da região é
Lárissa. O porto mais importante é Vólos, o terceiro mais
importante de toda a Grécia. Ao contrário da crença
popular, a cidade de Tessalônica não fica na Tessália,
mas na província da Macedônia (Thessaloniki significa
"vitória sobre os tessálios" e não "vitória dos tessá
11
Mapa antigo da Grécia, mostrando a região da
Tessália (borda vermelha) ao centro.
3 Íxion figura entre os três maiores vilões da mitologia grega, ao lado de Sísifo e
Tântalo. Tanto a culpa de Tântalo quanto a justiça no castigo de Sísifo são
questionáveis, contudo, não há argumentos capazes de defender Íxion. Íxion,
filho de Flégias, descendente do deus-rio Peneu foi rei dos Lápitas, um povo
que habitava a Tessália, próximo aos montes Pélios e Ossa. Tendo-se
apaixonado por Dia, filha de Eioneu, prometeu-lhe seus cavalos em troca da
mão de sua filha. Após o casamento, Íxion negou ao seu sogro os cavalos que
lhe havia prometido, ao que este reagiu com a tomada à força do que lhe era
12
Tessália e alimentavam-se de carne crua.
Alternativamente, consideravam-se filhos de Kentauros (o
filho de Íxion e Nefele) e algumas éguas magnésias, ou de Apolo5
devido, fazendo com que Íxion jurasse vingança. Não tendo conseguido decidir
entre a morte e o sofrimento para seu sogro, Íxion optou por ambos: construiu
uma câmara incendiária e camuflou-a em sua casa como um cômodo. Eioneu,
tendo aceitado um convite de Íxion para uma reconciliação dirigiu-se à casa
deste e caiu em sua armadilha. Enquanto era incinerado, seus gritos de
desespero levaram Íxion ao arrependimento, mas era tarde. Ao abrir a porta da
câmara, Íxion se deparou com o corpo carbonizado de seu sogro.
4 Na mitologia grega, Nefele era esposa de Atamante e a mãe de Frixo e Hele.
No entanto, ela foi repudiada por causa de Ino, filha de Cadmo, rei de Tebas e
da deusa Harmonia. Ino forjou um oráculo, para que Atamante matasse os
filhos, pois Ino queria herdeiros apenas do seu sangue. Então Nefele,
adoradora de Apolo, pediu ajuda ao seu deus, que inclusive não gostou do
falso oráculo. Então ele mandou o carneiro com o velo de ouro para salvar as
crianças. O problema é que Hele caiu no Helesponto. Frixo chegou a Cólquida
onde foi muito bem recebido pelo rei Eetes.
5 Apolo (em grego: Ἀπόλλων, transl. Apóllōn, ou Ἀπέλλων, transl. Apellōn) foi
manto, um arco e uma aljava de flechas, ou uma lira, e com algum de seus
animais simbólicos, como a serpente, o corvo ou o grifo.
6 Hebe (em grego antigo: Ήβη, transl.: Hēbē), na mitologia grega, é a deusa da
Oceano e Tétis. Ela se casou com Náuplio, com quem teve vários filhos. Ela
também foi mãe do centauro Quíron, com Cronos. Quando Quíron nasceu, ela
ficou tão triste com sua aparência que o abandonou. Ela é a deusa do perfume,
escrita, cura, beleza e papel. Ela ensinou a humanidade a fazer papel.
14
Centauro.
Quíron
Quíron (em grego: Χείρων, transl. Kheíron, "mão"[Nota 1]),
na mitologia grega, era um centauro, considerado superior por
seus próprios pares. Ao contrário do resto dos centauros que,
8 Os lápitas, na mitologia grega, eram um povo da Tessália, que vivia próximo aos
maciços de Pindo e Ossa, de onde expulsaram os Pelasgos, que eram os
primitivos habitantes. A linhagem real dos lápitas tinha como antepassado o deus-
rio Peneu, pai de Hipseu e Stilbe. Stilbe e Apolo foram os pais de Lápito e
Centauro.
15
como os sátiros, eram notórios por serem bebedores contumazes
e indisciplinados, delinquentes sem cultura e propensos à
violência quando ébrios, Quíron era inteligente, civilizado e
bondoso, e célebre por seu conhecimento e habilidade com a
medicina.
Quíron.
Pégaso
Pégaso (em grego: Πήγασος; transl.: Pégasos) é um cavalo
alado símbolo da imortalidade. Sua figura é originária da mitologia
grega, presente no mito de Perseu e Medusa. Pégaso nasceu do
sangue de Medusa quando esta foi decapitada por Perseu.
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Belerofonte matou a poderosa Quimera, montando Pégaso após
domá-lo com ajuda de Atena e da rédea de ouro, que em seguida
tentou usá-lo para chegar ao Monte Olimpo. Mas Zeus fez com
que ele derrubasse seu cavaleiro fazendo uma vespa o picar, e
Belerofonte morreu devido à grande altura. Zeus o recompensou
transformando-o na constelação de Pégaso, onde deveria dali em
diante ficar à serviço dos deuses. Outra história diz que quando
Zeus mandou a vespa e Belerofonte caiu, Atena ordenou que o
chão ficasse macio, assim ele não morreria pela queda. Pégaso é
considerado por muitos, o Rei do Céu. Perseu usou-o como
transporte, exemplo no filme Fúria de Titãs. (Mas lembrando que
na mitologia grega, Perseu jamais montou Pégaso, o único que
montou Pégaso foi Belerofonte).
Belerofonte9 e Pégaso.
20
Representação em formato de relógio mostrando algumas
unidades geológicas e alguns eventos da história da Terra.
21
Mioceno
Mioceno ou Miocénico é a quarta época da era geológica
Cenozoica, e a primeira época do período Neogeno. O
nome desta era veio das palavras gregas μείων (meiōn,
“menos”) e καινός (kainos, “novo”) e significa "menos
recente" por ter 18% menos invertebrados marinhos
modernos que o Plioceno. Está compreendida entre
cerca de 24 milhões de anos e cerca de 5 milhões de
anos. A época Miocena sucede o Oligoceno (do período
Paleogeno, de sua era) e precede o Plioceno. Divide-se
nas idades Aquitaniana, Burdigaliana, Langhiana,
Serravalliana, Tortoniana e Messiniana, da mais antiga
para a mais recente. Caracteriza-se principalmente pela
adaptação final de espécies marinhas principalmente de
focas e baleias. Ao contrário de outras divisões do tempo
geológico, não existe um evento mundial que separe o
Mioceno de seu antecessor ou sucessor, sendo
identificadas vários limites eventos regionais. Diversas
cordilheiras, como os Pirenéus, os Alpes e o Himalaia,
continuaram com seu soerguimento, produzindo muitos
sedimentos e criando alguns depósitos de petróleo
atuais em zonas, que na época, eram costas marinhas
rasas. Com relação a deriva continental, o planeta já
estava com aspecto muito próximo ao atual, sendo
mínimas as diferenças com as modernas características
geológicas. Dentre elas se podem destacar a ausência
da ponte de terra (istmo do Panamá) interligando as
duas Américas e ainda existiam alguns remanescentes
do mar de Tétis separando a Península Arábica (na
época ainda totalmente unida à África) do restante da
Eurásia. Porém, ambas as diferenças desapareceriam
ao final do Mioceno.
23
Mapa do período Mioceno
24
Fósseis de Hipparion do Mioceno
Superior de Baogeda Ula, Mongólia
Interior, China
Cavalos Hipparionine foram amplamente distribuídos na
América do Norte e Velho Mundo, e eles eram especialmente
abundantes durante o Mioceno e Plioceno, na Eurásia. Como
resultado, os fósseis Hipparion são marcadores biológicos
importantes para correlações estratigráficas bem como
reconstruções climáticas e ambientais (ROSSETTI, 2017).
Gênero Hipparion.
A evolução do cavalo
Os primeiros ossos fósseis de equídeos, que chegaram à
luz da ciência, foram escavados em Montmartre na cidade de
Paris. Foram enviados ao Conservatório de Paris para serem
estudados pelo famoso Barão Georges Cuvier, que em 1825
ilustrou e descreveu os restos, que ele chamou de Paleotherium.
Cuvier, considerado o pai da paleontologia, estava correto ao
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considerar o Paleotherium do eocene como morfologicamente
semelhante ao tapir.
Paleotherium
O Palaeotherium (bicho antigo) é um gênero extinto de
ungulado de perissodactilo primitivo. George Cuvier originalmente
os descreveu como um tipo de tapir e, como tal, o Palaeotherium
é reconstruído popularmente como um animal similar a uma anta.
Reexaminações recentes dos crânios mostram que a cavidade
nasal não foi moldada para suportar um tronco pequeno, iniciando
assim uma tendência recente de reconstruí-los como mais
parecidos.
Estudos anatômicos recentes também sugerem que o
Palaeotherium, juntamente com outros gêneros, como
Hyracotherium, estavam intimamente relacionados aos cavalos. A
espécie média de Palaeotherium tinha cerca de 75 cm de altura
no ombro e vivia nas florestas tropicais cobrindo a Europa há
cerca de 45 milhões de anos, durante o início do meio do Eoceno.
A maior espécie, P. magnum de Mid Eocene France, tornou-se
quase tão grande como um cavalo.
Palaeotherium.
28
Esqueleto do Palaeotherium magnum.
Hyracotherium ou Eohippus
Era um pequeno animal de floresta nos primórdios do
Eoceno, há cerca de 55 milhões de anos – “apenas” 10 milhões
de anos depois de se extinguirem os dinossauros. Este pequeno
ancestral do cavalo moderno, que não media mais de 30
centímetros ao garrote, era muito diferente em aparência dos
cavalos que vemos hoje. Era, na verdade, um pouco parecido
com um cão: dorso arqueado, pescoço curto, pernas curtas e uma
longa cauda. A sua alimentação baseava-se em frutas e folhagem
de árvores. Graças à sua morfologia, este pequeno animal tinha
tanta facilidade em saltar como um veado, sendo apenas mais
lento e um pouco menos ágil. O equídeo foi em tempos conhecido
pelo nome de Eohippus, que significa “cavalo do
amanhecer”.
29
Hyracotherium
Características do Hyracotherium:
Sendo um animal de floresta e de pântano, possuía quatro
dedos em cada membro anterior e três em cada membro
posterior. Aquilo que é atualmente o casco era uma das unhas,
estando ainda presente em alguns cavalos a segunda unha
vestigial.
A forma como o Hyracotherium apoiava as patas era
semelhante a dos cães, exceptuando o fato de ter pequeninos
“cascos” em cada dedo, em vez de ter garras; cérebro pequeno,
30
com lobos frontais especialmente pequenos; baixa inserção dos
dentes, sendo a dentição composta por três incisivos, um canino,
quatro pré-molares distintos e três molares “moedores” em cada
lado de cada mandíbula (esta é a constituição dentária dos
mamíferos mais primitivos). As cúspides dos molares foram
ligeiramente unidas em cristas baixas, dentição típica de um
animal onívoro.
Nesta altura da era Eoceno os equídeos não eram muito
diferentes dos restantes membros do grupo perissodáctilo. O
gênero, em que se inclui o Hyracotherium, inclui também outras
espécies que podem estar até relacionadas (ou mesmo ser
ancestrais) com o rinoceronte e o tapir.
Fazendo uma retrospectiva, o Hyracotherium, apesar de
ser bastante primitivo, foi um animal que se adaptou
perfeitamente ao meio onde habitava. Aliás, ao longo da maior
parte do Eoceno, esta espécie sofreu poucas alterações. O corpo
e membros mantiveram-se praticamente inalterados, apenas com
ligeiras diferenças nos dedos. A maior alteração deu-se ao nível
da dentição. À medida que os equídeos começavam a comer
mais plantas e menos fruta, começaram a desenvolver mais
dentes de moer, para melhor lidar com o novo tipo de
alimentação.
Orohippus
Aproximadamente a meio do Eoceno houve uma gradual
transição do Hyracotherium para um parente próximo.
O Orohippus era em tudo semelhante ao Hyracotherium,
costas arqueadas, pescoço curto, “patas de cão”, focinho curto,
etc. A alteração mais significativa verificou-se nos dentes. A forma
do último pré-molar alterou-se, dando ao animal mais um “dente
moedor”. A juntar a isto, as cristas nos dentes eram mais
pronunciadas, indicando que o Orohippus estava a comer
alimento mais rijo.
31
Orohippus.
Epihippus
O Epihippus surgiu do Orohippus. Tal como os seus
antecessores, possuía ainda bastantes semelhanças com
um cão. Cérebro pequeno, quatro dedos nos anteriores e
três nos posteriores, patas com almofadas plantares. No
entanto, a forma dentária continuava a evoluir. Nesta
altura, os dois últimos pré-molares tornavam-se
semelhantes aos molares, proporcionando ao animal cinco
“dentes moedores”. Há uma fase posterior do Epihippus,
algumas vezes chamada de Duchesnehippus. Não está
provado se seria um subgênero ou uma espécie de
Epihippus. Este animal era basicamente um Epihippus
com uma dentição semelhante ao mesmo, apenas um
pouco mais primitivo do que o posterior cavalo do
Oligoceno.
32
Epihippus.
33
Fauna típica do Oligoceno.
Mesohippus
A espécie Mesohippus celer surgiu “repentinamente” no
último período do Eoceno. Este animal era ligeiramente mais largo
e mais alto que o Epihippus, medindo cerca de 50 centímetros ao
garrote. Já não era tão semelhante a um cão. Tinha o dorso
menos arqueado, os membros mais compridos, o pescoço mais
longo e mais fino, o chanfro estava também mais largo e mais
comprido. O Mesohippus tinha três dedos nos seus posteriores e
nos anteriores, o que era o quarto dedo estava agora reduzido a
uma unha vestigial que com o passar do tempo acabaria por
desaparecer.
Mesohippus.
Miohippus
Pouco depois do aparecimento do Mesohippus celer e do
seu parente próximo, o Mesohippus westoni, surgiu um animal
semelhante, o Miohippus assiniboiensis. Esta transição ocorreu
“repentinamente”, mas felizmente foram encontrados alguns
fósseis de transição que permitiram relacionar os dois gêneros.
Um Miohippus era notoriamente mais largo do que o típico
Mesohippus, possuindo um crânio ligeiramente mais longo. O
Miohippus começou também a apresentar uma crista nos seus
dentes superiores. Esta crista tornou-se uma característica nas
mais recentes espécies equinas.
Miohippus
Primórdios do Mioceno
Mesohippus
36
Planície do Mioceno.
37
Kalobatippus
Kalobatippus
38
Parahippus
Surgiu no início do Mioceno. O típico Parahippus era um
pouco mais largo que o Miohippus, mas mantendo uma forma
corporal semelhante e um tamanho de crânio igual. O Parahippus
ainda mantinha os seus três dígitos, mas estava a começar a
desenvolver os ligamentos elásticos que seriam de grande
utilidade quando fosse um animal com apenas um dígito.
Parahippus
39
Merychippus gunteri
Merychippus
Um Merychippus media aproximadamente cerca de 80
centímetros, o maior cavalo daquela altura. O chanfro alongou
mais um pouco, o maxilar tornou-se mais profundo, os olhos do
cavalo “moveram-se” um pouco mais para trás, para dar espaço
às grandes raízes dos dentes, o cérebro aumentou de tamanho,
tendo um neocortex fissurado e um maior cerebelo, o que fazia do
Merychippus um cavalo mais inteligente e mais ágil do que os
restantes.
O Meryhippus possuía ainda três falanges, no entanto o
peso de cada membro já assentava unicamente sobre um casco,
que mantinha o seu movimento através de uma rede de
ligamentos bastante elásticos e resistentes. O rádio e o cúbito do
antebraço fundiram-se, eliminando assim a rotação do membro.
Do mesmo modo, a fíbula sofreu uma diminuição no seu tamanho.
Todas estas mudanças ocorreram para que o cavalo em corrida
conseguisse ter mais velocidade e agilidade de movimentos,
mesmo em terrenos difíceis!
40
Fim do Mioceno
Nos fins do Mioceno, há cerca de 5 milhões de anos, o
Merychippus foi um dos primeiros animais a habitar as planícies.
Este animal rapidamente evoluiu e deu origem a 19 novas
espécies de cavalos que se dividiram em três grandes grupos:
Protohippus.
41
O Merychippus dividiu-se em quatro
diferentes gêneros e cerca de 16 espécies.
Estes espalharam-se desde o Novo Mundo
até o Velho Mundo.
Pliohippus
Surgiu a meio do período Miocênico como um animal ainda
com três unhas. A perda gradual das unhas é visto no Pliohippus
através de três diferentes épocas do Mioceno. O Pliohippus era
bastante semelhante ao posterior Equus, o que fez com que até
recentemente se pensasse que seria o seu antecessor direto.
Duas diferenças significativas esclareceram este ponto. O
Pliohippus tinha uma fossa nasal bastante funda, enquanto que a
do Equus não era tão funda. Além disso, os dentes do Pliohippus
eram bastante mais curvados do que os do Equus. Apesar de o
Pliohippus estar relacionado com o Equus, não foi uma evolução
direta de um para o outro.
Pliohippus
43
Astrohippus
O Astrohippus foi um dos descendentes do Pliohippus,
outro cavalo que tinha apenas uma unha (casco). Este animal
possuía também uma fossa nasal bastante pronunciada.
Astrohippus
Dinohippus
44
Dinohippus
Equus
45
Equus
47
Equídeos atualis.
A mente do cavalo
Antes de considerar as características acima como
relacionadas ao manuseio e equitação de cavalos, talvez valesse
a pena considerar primeiro a mente equina. Os cavalos foram
considerados animais de baixa inteligência. No entanto, existem
diferentes tipos de inteligência e nenhuma medida geral. A
pesquisa demonstrou que os animais têm diversas habilidades ou
aptidões para diferentes tipos de trabalho. A inteligência inclui a
capacidade de raciocinar. Alguns disseram que o cavalo não é
capaz de raciocinar.
49
No entanto, alguns estudos demonstram que o cavalo tem
alguma habilidade de raciocinar. Tenha em mente que o cavalo
não precisa de um alto nível de capacidade de raciocínio para a
sobrevivência.
Também é importante entender que o cavalo aprende
prontamente. Novas tarefas não são difíceis de aprender, se as
pistas forem influenciadas pelos sentidos mais fortes, como toque,
visão e audição.
Os cavalos têm boas lembranças. Todas as experiências
são registradas no mesmo nível de consciência e não são
facilmente esquecidas. Os formadores de cavalos, bem-
sucedidos, estão conscientes da habilidade de raciocínio limitado,
que eles possuem em relação a outras espécies animais. Sabe-se
portanto, que o treinador deve focar nas características positivas
do cavalo para determinada função que esse animal deverá
desenvolver.
Os sentidos do cavalo
Os sentidos são uma parte importante do que faz os
cavalos serem distintos em seu comportamento. Os animais
compartilham os cinco sentidos básicos: visão, audição (audição),
olfação (cheiro), gustação (gosto) e toque. Os sentidos são as
ferramentas que um animal usa para interagir com seu ambiente.
Como tal, os sentidos podem ser considerados iniciantes de
comportamento.
Há uma tentação de relacionar os sentidos humanos com
os cavalos, mas os cavalos e as pessoas têm diferenças básicas
em como vêem, sentem, sabem, cheiram e ouvem seu ambiente.
Nós não compreendemos completamente os sentidos dos
cavalos, mas as coisas que aprendemos aumentaram muito o
conhecimento do nosso cavalo. Uma revisão desta informação
pode ser útil na compreensão dos cavalos.
50
Visão
Você já olhou para o olho de um cavalo? Se tiver olhado,
provavelmente notou algumas coisas. Primeiro, eles têm um olho
muito grande e uma pupila muito grande. Em segundo lugar, o
globo ocular é colocado mais ao lado da cabeça, o que dá aos
cavalos um campo de visão mais amplo.
Olho do cavalo.
51
Cavalos sendo predados por coiotes.
52
O campo de visão do cavalo.
53
Audição
Apesar da sua importância, há informações limitadas sobre
o sentido auditivo dos cavalos. Sabemos que os cavalos são
sensíveis a ruídos agudos e a liberação de hormônios
relacionados ao estresse em resposta a ruídos altos e repentinos,
como fogos de artifício ou cães latindo. Os cavalos tornam-se
nervosos e difíceis de manusear quando os hormônios do
estresse são elevados, por isso pode ser útil evitar ruídos altos ou
estranhos ao manipular ou mover cavalos.
Orelhas do cavalo.
55
Cavalos movendo as orelhas para a fonte do som.
56
Cavalo com as orelhas próximas da cabeça.
Indicando agressividade.
Olfato ou cheiro
O sentido do cheiro do cavalo (olfativo) pode ser o mais
difícil para os seres humanos entenderem. Os cavalos têm um
sentido de olfato mais desenvolvido do que os humanos, e eles
usam a habilidade para distinguir diferentes odores no cotidiano.
57
O olfato do cavalo.
Resposta de Flehmen.
Gosto
A sensação de gosto em cavalos provavelmente não é tão
importante quanto o sentido do olfato, e é difícil separar as
59
respostas comportamentais que se devem principalmente ao
gosto das respostas causadas pelo sentido olfativo. Usando seu
senso de gosto, no entanto, os cavalos podem contar um “feed”
de outro. Quando apresentado com uma variedade de feeds, os
cavalos selecionarão certos “feeds” sobre outros. Em situações
práticas, tais como condições de pastagem com múltiplas
espécies forrageiras presentes, o cavalo selecionará diferentes
tipos e espécies que qualquer ovelha, cabra ou gado.
Houve experimentos para determinar se os animais têm
"sabedoria nutricional". Isso se baseia na premissa de que os
cavalos tentam comer alimentos que lhes proporcionem os
nutrientes necessários. Na maioria dos casos, no entanto, é
provável que os cavalos equilibrem a própria ração quando for
fornecida uma variedade de alimentos.
60
evidências de que o consumo excessivo de sal cause problemas
de saúde, se houver água adequada.
Tato
A sensação de toque é certamente bem desenvolvida em
cavalos, e é um dos sentidos mais importantes em termos de
interação humana. O nariz, os lábios, a boca e possivelmente as
orelhas são as áreas mais sensíveis ao toque e,
consequentemente, mais facilmente se prestam a sentir
comportamento. Embora os cascos não respondam ao toque, não
devem ser considerados como sem sentimento. De fato, várias
partes do casco são capazes de apresentar sensibilidade, já que
qualquer uma pessoa que tenha os cascos do seu cavalo
cortados pode observar o aumento da sensibilidade no local.
Outras áreas do corpo são também, sensíveis ao toque. Os
flancos por exemplo, são particularmente sensíveis e podem ser
tocados levemente pelo cavaleiro como um sinal para o cavalo
andar em frente. A região das costelas, cernelha e das costas do
animal são igualmente sensíveis.
61
Compreender o grau em que os cavalos são sensíveis ao
toque pode ser valioso para o treinador ou cavaleiro. Por exemplo,
saber que os cavalos podem sentir o menor contato com os
lábios, ressalta a importância de desenvolver "um leve toque" nas
rédeas, e certificando-se de que as rédeas se encaixam
corretamente na cabeça e na boca dos cavalos.
Saber que o cavalo pode sentir o menor deslocamento de
peso na sela, ilustra porque a posição do cavaleiro é importante,
pois a posição é orientada para um salto ou outra manobra.
Posição errada, movimento exagerado ou força excessiva são
confusos aos cavalos e resultam em mau desempenho.
Posição do cavaleiro.
62
Contato entre a égua e o potro.
63
Altura da cerca elétrica para cavalos e pôneis.
64
Cerca elétrica bem construída.
Sexto sentido
Os cavalos têm um "sexto sentido" ao avaliar a disposição
dos que os rodeiam. Eles podem ser hipersensíveis na detecção
dos modos de seus manipuladores e cavaleiros. Um bom cavalo
para Equoterapia é escolhido por sua resposta sensível ao piloto.
Às vezes, pode existir um conflito de personalidade entre
manipuladores e cavalos. É importante deixar um membro da
equipe saber se você está tendo dificuldade com um cavalo
particular.
Personalidade do cavalo
Ao longo da domesticação do cavalo (Equus caballus),
características específicas foram selecionadas para diferentes
propósitos, resultando na diferenciação de cavalos domésticos em
tipos ou raças morfologicamente distintas. A seleção pode se
concentrar em atributos físicos, como tamanho, força e
velocidade, mas também pode se concentrar em comportamentos
desejáveis. As raças são, muitas vezes, descritas como tendo
65
comportamentos típicos pelas associações de criadores, que a
promovem. Muito embora, cada animal tem a sua personalidade.
Por essa razão as avaliações necessitam ser individualizada. Por
exemplo, o pônei Highland10 é descrito como tendo uma "natureza
bondosa e mesmo temperamento".
Pônei Highland.
A raça Irish Draught11 é descrita como tendo uma "natureza
inteligente e gentil" e é conhecido pela docilidade e sentido". Por
67
de testes de comportamento e através do uso de classificações
fornecidas pelos manipuladores. Tais estudos demonstraram que
avaliações confiáveis de diferenças individuais são viáveis e suas
aplicações potenciais foram revisadas.
Recentemente, Lloyd e cols. (200712) desenvolveram um
método de avaliação baseado em traços da personalidade do
cavalo. O Questionário de Personalidade do Cavalo (HPQ) (ver
Anexo) é uma adaptação do Stevenson Hinde e cols. (1980)
questionário de classificação de personalidade, que já havia sido
validado em uma ampla gama de espécies animais. Usando o
HPQ, Lloyd et al. (2007) avaliaram a personalidade de 61 cavalos
e alcançou um nível de concordância de 72,13% entre os
avaliadores. Além disso, as classificações mostraram-se
correlacionadas com as medidas do comportamento observado
coletadas enquanto os cavalos estavam no pasto. Usando a
análise de componentes principais (PCA), os dados da HPQ
mostraram seis componentes de personalidade subjacentes que
foram usados para descrever a personalidade do cavalo. Foram
dominância, ansiedade, excitabilidade, proteção, sociabilidade e
curiosidade e explicaram 79,3% da variância.
As estruturas dos componentes resultantes foram
comparáveis aos cinco fatores identificados por Creighton
(200313), que anteriormente foram comparados aos do Big Five
Humano (extroversão, conveniência, emocionalidade,
receptividade e conscienciosidade) (por exemplo, Costa e
McCrae, 1992). As taxonomias de personalidade identificadas por
Creighton (2003) e Lloyd et al. (2007), incluíram elementos como
in the reactions of horses to humans. Appl. Anim. Behav. Sci. v. 76, p. 339–344,
2000.
17 MCCALL, C.A.; HALL, S.; MCELHENNEY, W.H.; CUMMINS, K.A. Evaluation
compulsive behaviour (stable vices) in horses. Equine Vet. J. Suppl. v. 27, p. 14–
18, 1998.
19 REDBO, I., REDBO-TORSTENSSON, P., ODBERG, F.O., HEDENDAHL, A.,
RUVINSKY, A. (Eds.), The Genetics of The Horse. CABI, Oxon, UK, pp. 281–
306, 2000.
69
Influência genética no comportamento
Hoje, é bem aceito que o comportamento e a personalidade
são afetados até certo ponto por genes. A pesquisa está
começando a quantificar a herdabilidade de comportamentos
específicos e construções de personalidade. Por exemplo,
dominância em chimpanzés; comportamentos exploratórios e
outros em Chapim-real21 (Parus major); o domínio em cães tem
demonstrado ser hereditário. Esta crescente evidência de
influência genética no comportamento ainda apoia a hipótese de
que as raças podem diferir em personalidade.
Ansiedade e excitabilidade
Os componentes ansiedade e excitabilidade mostraram o
maior nível de variação entre raças e os rankings de raças nesses
dois componentes foram comparáveis. Os Pôneis e Puro-sangue
Inglês, Árabe e Galês foram classificados como as três principais
raças em ambos os componentes. Os resultados inferem que
essas raças se comportaram significativamente mais excitadas e
ansiosas do que as outras raças incluídas neste estudo. Isto é
72
comparável aos resultados de Hausberger et al. (2004) que,
usando um teste, descobriram que o Puro-sangue Inglês e o
Árabe eram os mais reativos em uma amostra de 16 raças de
cavalos. Os altos níveis de ansiedade e excitabilidade para essas
três raças podem ser parcialmente atribuídos à ascendência
Árabe dos Puro-sangue Inglês e Galês.
Observou-se que fatores genéticos pareciam ter grande
influência sobre as respostas neofóbicas dos cavalos. Além disso,
influências dos pais foram encontradas na emotividade do cavalo
e na tendência de desenvolver comportamentos estereotipados.
Devido às ligações propostas com o estresse e, portanto, a
ansiedade, é provável que comportamentos estereotipados e
emocionalidade sejam susceptíveis de serem influenciados pelos
componentes ansiedade e excitabilidade.
O alto nível de variabilidade na ansiedade e excitabilidade,
entre raças, sugere que a seleção artificial tem sido excelente
nessas características particulares. Parece que a seleção artificial
desenvolveu raças que mostram uma variedade de excitabilidade
e ansiedade, e, portanto, são comportamentalmente adaptadas
para sua função. Por exemplo, McGreevy e Thomson (200623)
observam que, para fins de corrida, o Puro-sangue Inglês deve
ser altamente reativo aos estímulos e, portanto, aumentar as
respostas de fuga ou corrida. Como resultado, eles são rápidos na
linha de partida das corridas. Da mesma forma, parece provável
que as raças esportivas e polivalentes, como o cavalo de Tiro
Irlandês e o Pônei Highland, sejam selecionadas para baixos
níveis de excitabilidade e ansiedade. A maior força e o maior
volume de tais raças poderiam torná-los difíceis e perigosos de
manipular. Portanto, a seleção de tipos de personalidade
apropriados pode ajudar a gerir e manipular cavalos e torná-los
mais adequados às suas funções relevantes.
Dominância e proteção
Os escores médios de dominância para todas as raças
foram negativos, indicando que, em geral, os indivíduos estavam
recebendo pontuações altas nas características mais desejáveis.
A variação entre raças neste componente foi baixa, com as
diferenças mais significativas ocorrendo entre essas raças nas
extremidades opostas da escala de classificação. Os Pôneis e os
Puro-sangue Inglês e Galês foram classificados mais alto e o
Pônei Shetland e o cavalo de Tiro Irlandês foram classificados
como os mais baixos neste componente.
Os baixos níveis de variância entre as raças também foram
mostrados no componente proteção. A pontuação média para
todas as raças foi alta, indicando que todas as raças
75
apresentaram altos níveis de proteção. As raças consideradas
mais protetoras foram o cavalo árabe e Irish Draught e os menos
protetores foram os cavalos Puro-sangue Inglês, Quarto de Milha
Americano e os Pôneis Galeses e Cobs.
O presente estudo também, descobriu que a raça
Appaloosa tem pontuações moderadas a baixas em todos os
componentes em comparação com as outras raças. Além disso o
cavalo Árabe é descrito como um aprendiz rápido, enérgico,
brincalhão e reativo tanto para o medo como para a fuga. O
Árabe, em comparação com as outras sete raças, apresentou
altas pontuações em cinco componentes e moderado na
dominância. Os resultados também se comparam bem às
descrições das sociedades das raças de criadores. Por exemplo,
o cavalo de Tiro Irlandês foi descrito como uma raça inteligente
com uma natureza gentil e docilidade.
Os resultados deste estudo forneceram evidências
adicionais para personalidades típicas da raça e são apoiados por
descobertas de outros estudos (Hausberger e Muller, 2002;
Hausberger et al., 2004).
As diferenças de raça e a semelhança de personalidade
entre raças, que ligaram a ascendência, proporcionam maior
apoio à herança do comportamento e suscitam questões sobre os
efeitos maternos e paternos sobre a herança do comportamento e
a personalidade nos cavalos. Espera-se que esses resultados
induzam novas pesquisas sobre a herdabilidade da personalidade
e do comportamento do cavalo. Os achados deste estudo e outros
que exploram as diferenças comportamentais entre as raças
devem ser disponibilizados aos proprietários e manipuladores de
cavalos. Informações sobre o comportamento típico e a
personalidade de uma raça podem permitir decisões mais
informadas durante a seleção de cavalos tanto para passeios de
lazer quanto para outras áreas da equitação.
76
A fuga como instinto natural
Geralmente os cavalos escolhidos para trabalhar em uma
instituição de equitação terapêutica têm temperamentos calmos.
No entanto, se assustado por um movimento repentino ou ruído,
os cavalos tendem a fugir da situação. Fale com o cavalo numa
voz calma, calma e reconfortante. Um cavalo assustado sendo
segurado com força pode tentar fugir puxando para trás. Relaxe
seu controle ou solte-o rapidamente e geralmente ele vai relaxar.
Se a fuga não for possível, o cavalo pode tentar sair,
especialmente em uma área confinada como um estábulo.
77
. Alimentar cavalos individualmente para reduzir a agressão e
para permitir que os animais mais lentos ao comer obtenham suas
rações completas.
. Sempre que possível, alimente os cavalos com uma dieta rica
em fibras para reduzir problemas digestivos e comportamentais.
. Para reduzir o tédio e os problemas digestivos, alimente os
cavalos com porções pequenas e refeições frequentes em vez de
refeições grandes.
. Se os cavalos são alimentados em grupos, forneça mais cochos
do que o número de cavalos no grupo e distribua o alimento
rapidamente para que todos os cavalos possam começar a comer
aproximadamente ao mesmo tempo.
. Pratique um bom gerenciamento das pastagens para incentivar
os cavalos a pastar a maior parte da forragem disponível.
. Faça cercas e outras barreiras facilmente visíveis aos cavalos.
. Acompanhe de perto os novos cavalos ao introduzi-los em um
rebanho estabelecido, e esteja pronto para separar os cavalos se
eles se tornarem muito agressivos.
. Observe a hierarquia dos cavalos e sinais de agressão ao
trabalhar com um grupo de cavalos.
78
79
Capítulo 3
Uma linguagem própria: a
comunicação entre
humanos e cavalos
Uma relação bem-sucedida entre cavalo e cavaleiro é uma
parceria baseada na compatibilidade e muitas vezes é designada
como uma boa combinação. O presente capítulo, inclui a boa
interação e cooperação entre cavalo e cavaleiro, bem como a
experiência positiva relacionada. Uma boa cavalgada é importante
para o bem-estar dos cavalos, a segurança do piloto e o bom
desempenho.
Conforme Keri Brandt (2004), nas ciências sociais, há
poucas pesquisas sobre os relacionamentos que os seres
humanos compartilham com os companheiros equínos.
Brandt (2004), usando os princípios orientadores da
interação simbólica para entender as maneiras pelas quais duas
espécies diferentes criam um mundo de significado
compartilhado, explora o processo pelo qual os seres humanos e
os cavalos criam um sistema de linguagem - uma linguagem
própria. O significado do corpo como veículo de expressão - dado
o corpo como base para a interação simbólica tem sido
amplamente inexplorado. O autor também explora os vários
elementos e regras da "gramática" que possibilitam a efetiva
comunicação cavalo-homem e permite que os dois se envolvam
em uma ampla gama de atividades em conjunto.
A natureza incorporada da comunicação cavalo-homem
levanta duas questões: como o corpo pode ser um veículo para a
80
interação simbólica e, mais amplamente, qual a possibilidade de
interação simbólica em uma base não-dispersiva? Finalmente, e
talvez o mais importante, a aplicação de abordagens teóricas
simbólicas interacionistas para o estudo da comunicação não-
verbal desafia o binário humano / animal originalmente - e
ironicamente - impondo, tornando todos os seres linguísticos -
humanos e não-humanos.
O interacionismo simbólico
O interacionismo simbólico é uma abordagem
sociológica das relações humanas que considera de
suma importância a influência, na interação social, dos
significados bem particulares trazidos pelo indivíduo à
interação, assim como os significados bastante
particulares que ele obtém a partir dessa interação sob
sua interpretação pessoal. Originada na Escola de
Chicago, essa abordagem é especialmente relevante na
microssociologia e psicologia social. O interacionismo
simbólico não se limita a essa interpretação. Segundo a
proposição de Hegel, por exemplo, e de outros filósofos
que escreveram sobre a linguagem, o mundo simbólico
só se constrói por meio da interação entre duas ou mais
pessoas e, portanto, o simbolismo não é resultado de
interação do sujeito consigo ou mesmo de sua interação
com um simples objeto. Apesar de ser um sentido
individual e uma base para todos e quaisquer sentidos
que cada um dá às suas próprias ações, ela é fundada
nas interações do indivíduo, ou naquilo que o "eu" faz
sendo regulado pelo que "nós" construímos socialmente.
Relacionamentos únicos
A nova pesquisa humano-animal dentro de uma tradição
interacionista simbólica fornece as bases teóricas e empíricas
para a compreensão das relações humanas. No entanto, a
interação homem-cavalo difere muito da interação humano-cão e
humano-gato; portanto, a qualidade única das relações homem-
81
cavalo deve ser observada. A diferença mais óbvia é o tamanho
grande dos cavalos em comparação com seus parceiros
humanos. Isso traz um elemento de perigo na interação que
raramente está presente com cães e gatos e torna crucial o
estabelecimento de um sistema de comunicação eficaz.
Outra distinção importante é o alto nível de contato corpo-
a-corpo entre humanos e cavalos quando envolvidos na interação.
Certamente, os humanos e seus companheiros cães e gatos
ligam seus corpos por motivos de carinho, brincam, fazem afagos
ocasionais e, às vezes, por treinamento visando a obediência. No
entanto, os humanos não pedem que façam tarefas físicas e
mentais complexas como fazem com os cavalos, enquanto
cavalgam.
Devido a essas qualidades únicas, é essencial uma
exploração explícita do papel do corpo (humano e cavalo) na
comunicação homem-cavalo. Diante disso, uma compreensão da
interação simbólica é fundamental para entender como a
comunicação não-verbal facilita a criação de significado entre as
duas espécies.
A linguagem do cavalo opera, através do corpo, de modo
que os cavalos devem usar seus corpos para comunicar sua
presença subjetiva. Como os seres humanos não podem
transmitir intenções aos cavalos através da linguagem falada, eles
também devem usar seus corpos para gerar um estilo de
comunicação ao qual o cavalo pode responder. Na relação
homem-cavalo, o corpo é a base a partir da qual um sistema de
comunicação pode crescer. Como a ideia de Shapiro (199025),
citado por Brandt (2004), de "empatia cinestésica26", a
comunicação entre humanos e cavalos é uma experiência
incorporada.
25 SHAPIRO, K. J. Understanding dogs through kinesthetic empathy, social
construction, and history. Anthrozoös, v.3, p. 184-195, 1990.
26 A empatia cinestésica é o estado de ter uma ligação emocional com um objeto
quando está na mão, o que não tem quando está fora da vista.
82
Dado que a habilidade humana para verbalizar os
pensamentos é vista como o ponto de partida para o idioma,
sugerimos que o corpo, também, pode ser uma base para o novo
idioma. A interação simbólica, em particular, tradicionalmente
privilegia a comunicação verbal. Essa tendência nasceu das
ideias de Mead (193427), conforme Brandt (2004), de que a
linguagem verbal é o mecanismo pelo qual a mente é socialmente
constituída. Para Mead (1934), a linguagem, na forma de gestos
vocais, deve estar disponível para o surgimento da mente e do eu.
Através da linguagem, os seres humanos passam de organismos
biológicos para indivíduos mentais. Os animais, no entanto, são
seres impulsivos porque não têm capacidade de linguagem verbal
(Mead).
Uma abordagem interacionista para a comunicação
homem-cavalo pode explorar como as duas espécies criam
significados compartilhados que - mesmo na ausência de
compartilhada linguagem verbal - forma a maneira como eles
inter-relacionam e vivem juntos. Na sua pesquisa sobre relações
homem-felino, Alger e Alger (199728, 199929), citados por Brandt
(2004) escreveram:
Corpo a corpo
Os seres humanos não podem "falar" (a linguagem dos
animais), e os cavalos não usam linguagem verbal como meio de
comunicação. Isso significa que, em conjunto, o ser humano e o
cavalo devem criar um sistema de comunicação, usando um meio
que ambos possam entender. Para ambas as espécies, o corpo é
uma ferramenta, através da qual eles podem comunicar uma
ampla gama de emoções e desejos.
30 IRVINE, L. If you tame me: Animal identity and the intrinsic value of their
lives. Philadelphia: Temple University Press, 2004.
84
Tanto os cavalos quanto os humanos podem aprender um
sistema complexo de linguagem corporal diferente dos elementos
da linguagem falada, permitindo que cada um expresse sua
presença subjetiva para o outro e trabalhe em conjunto de forma
orientada para objetivos.
Na discussão a seguir, usa-se trechos de entrevistas e
observações de campo para ilustrar como o corpo pode ser um
site para a interação simbólica e, mais amplamente, para explorar
a possibilidade de interação simbólica em uma base não
discursiva.
87
A linguagem das orelhas dos cavalos.
88
Para os seres humanos, aprender como os cavalos se
comunicam com outros cavalos é uma parte importante desse
processo de construção de linguagem. Aprender como os cavalos
se comunicam entre si é a base para o desenvolvimento de um
estilo de comunicação, que os cavalos compreenderão. Eles
devem ver os cavalos interagindo uns com os outros e devem
aprender os significados de certos gestos corporais e sinais
emitidos pelos cavalos.
91
cavalo, "vá para a direita". Quando o cavalo se move para a
direita, a pressão deve ser liberada.
Os cavaleiros principiantes geralmente são instruídos por
um cavaleiro experiente ou profissional que combina o cavaleiro
com um cavalo bem-educado, muitas vezes mais velho. Da
mesma forma, em geral, os cavalos jovens ou "verdes" aprendem
de cavaleiros conhecedores e experientes. Por causa do grande
tamanho de um cavalo, pode ser um esforço perigoso para até
mesmo o cavaleiro mais experiente trabalhar com um cavalo que
não aprendeu o básico da gramática humano-cavalo. Pessoas
que "treinam" os jovens cavalos geralmente são aquelas que têm
uma riqueza de conhecimento sobre o processo de comunicação
humano-cavalo. Da mesma forma, os cavaleiros novatos que não
compreendem os elementos e as regras da comunicação cavalo-
homem correm o risco de colocar seu bem-estar em perigo: é por
isso que eles geralmente devem ser emparelhados com um
cavalo mais velho.
92
Comunicação com cavalos usando palavras e gestos.
96
97
Capítulo 4
Interações entre crianças
e cavalos na Terapia
Assistida por animais e
Equoterapia
Princípio Básicos das Terapia
Assistida Por Animais (TAA)
Os animais sempre estiveram próximos do homem
participando de atividades de caça, tração, locomoção, pastoreio,
guarda, companhia e tantas outras. Ao longo da história da
humanidade, a domesticação de algumas espécies transformou
tanto os animais, quanto os hábitos e o estilo de vida das
pessoas. Sendo que povos de diferentes culturas mantêm
vínculos afetivos com essas espécies (Colosio, 2009).
A Terapia Assistida por Animais (TAA) é uma prática com
critérios específicos onde o animal é a parte principal do
tratamento, objetivando promover a melhora social, emocional,
física e/ou cognitiva de clientes humanos. O paciente aqui é
tratado como cliente. Ela parte do princípio de que o amor e a
amizade que podem surgir entre seres humanos e animais geram
inúmeros benefícios. A zooterapia pode servir como auxílio no
tratamento de diversas patologias como síndromes genéticas,
98
hiperatividade, depressão, mal de Alzheimer, lesão cerebral, entre
outras.
A TAA deve ser supervisionada por profissionais da saúde
devidamente habilitados e pode ser praticada por profissionais,
técnicos especializados e voluntários devidamente treinados. Os
animais devem ter o acompanhamento de médico veterinário
garantindo o bom estado sanitário do animal e minimizando o
potencial zoonótico; e principalmente zelar pelo bem-estar do
animal com respeito e muito carinho, pois a qualidade de vida
desses terapeutas animais é essencial para o bom funcionamento
da TAA (Machado e cols, 2008).
Conforme Foden (2017), existem vários papéis que um
animal pode desempenhar na vida de uma pessoa que está
doente ou que vive com uma deficiência, de iluminar seu dia para
protegê-los de danos. Muitas vezes, foi sugerido que uma
variedade de animais, de cavalos a cães e golfinhos, pode
fornecer a terapia real para uma pessoa. Por exemplo, afirmou-se
que eles podem aliviar o sofrimento emocional, aliviar a dor física,
reduzir a frequência cardíaca e pressão arterial, ajudar com o
desenvolvimento de habilidades motoras e reduzir o
comportamento estereotipado, diminuir a sensibilidade sensorial,
e aumentar o desejo e a capacidade de se conectar socialmente
com os outros.
Conforme Machado e cols (2008), citando Friedman
(199034), foi um dos pioneiros no estudo dos efeitos da interação
homem-animal sobre parâmetros fisiológicos e saúde
cardiovascular humana, sendo que os resultados de diferentes
estudos demonstraram que a TAA pode promover a saúde física
através de três mecanismos básicos que incluem a diminuição da
solidão e da depressão; diminuindo a ansiedade, os efeitos do
34FRIEDMANN, E. The value of pets for health and recovery in: Waltham
Symposium 20, 1990, Proceedings… Pets, benefits and practice. 1st European
Congress of the British Small Animal Veterinary Association, Cheltenham,
England: BVA Publications, p.8-17.
99
sistema nervoso simpático e aumentando o estímulo para prática
de exercícios.
A TAA pode ser aplicada em áreas relacionadas ao
desenvolvimento psicomotor e sensorial, no tratamento de
distúrbios físicos, mentais e emocionais, em programas
destinados a melhorar a capacidade de socialização ou na
recuperação da auto-estima. Os recursos da TAA podem ser
direcionados a pessoas de diferentes faixas etárias, instituições
penais, hospitais, casas de saúde, escolas e clínicas de
recuperação. É fundamental o trabalho de uma equipe
multidisciplinar capaz de escolher o método mais adequado a ser
aplicado, acompanhando as atividades e o bem-estar dos animais
e dos clientes, que irá refletir no benefício real da qualidade de
vida dos mesmos.
De acordo com as mesmas autoras, no Brasil, a médica
veterinária e psicóloga Hannelore Fuchs coordena um importante
projeto de TAA em São Paulo, denominado “Pet Smile”, há quase
dez anos. Tendo fundado a Abrazoo (Associação Brasileira de
Zooterapia) essa profissional, com a ajuda de voluntários tem
atuado no sentido de proporcionar uma interação dos animais
(cães, gatos, coelhos) com crianças e adolescentes de hospitais
ou instituições. Há bons profissionais da área da saúde que se
interessam pelo tema, mas não têm conhecimento sobre os
animais. Por outro lado, há profissionais da medicina veterinária
que conhecem bem o animal, mas sabem pouco sobre os seres
humanos.
Os olhos de um cavalo
Há uma razão pela qual os cavalos possuem uma
consciência mais aguda sobre o seu meio ambiente e aqueles
que estão nele. Os cavalos são conhecidos por “Pensadores
Visuais” ou “Pensadores Espaciais”. Isso significa que eles
"pensam" em imagens e não em ideias abstratas como a maioria
dos humanos. Porque eles vêem ou notam tudo ao seu redor, são
capazes de encontrar perigo de predadores à grande distância.
Isso significa que são altamente orientados para detalhes, e é por
isso que eles são tão proficientes em ler a linguagem corporal.
Dentro da população humana existe um conjunto de pessoas que
também são “Pensadores Visuais”. A maior porção daqueles que
são “Pensadores Visuais” são pessoas com Autismo. Pessoas
com Autismo processam principalmente pensamentos através de
imagens mentais, e é por isso que eles dificuldade em habilidades
verbais; eles primeiro têm que converter suas imagens mentais
em palavras faladas.
103
precisam ser mais livres para responder aos clientes. Os clientes
recebem feedback sobre os cavalos que irão reagir conforme a
sua vontade. Os cavalos certamente são treinados conforme a
maneira de se comportar, como não morder, chutar ou reagir
agressivamente por razões de segurança (Wilson, 2012).
Interações entre crianças e
cavalos na Terapia Assistida por
Equínos
Os cavalos interessam e motivam as crianças, para que
possam ser incluídos como co-terapeutas ou parceiros que
possam promover a projeção das experiências da criança e / ou a
identificação de um problema de saúde mental infantil em escolas,
hospitais, lares de idosos, centros de tratamento e prática privada
(Quiroz-Rothe e cols, 2005).
Os cavalos fazem parte do campo de fisioterapia desde o
início dos anos 1970, e mais recentemente desempenhando um
papel no campo da saúde mental. Numerosos termos são usados
para descrever os papéis que os cavalos desempenham na
educação e nas terapias físicas ou psicológicas. Os seguintes
itens estão incluídos sob o guarda-chuva terapêutico: terapia
equina, Hipoterapia, psicoterapia facilitada por equídeos e
psicoterapia assistida por equíno.
A psicoterapia facilitada com cavalos é uma forma
emergente de terapia assistida com animais que incorpora a
interação do homem com o cavalo como guia. O comportamento
de um cavalo sensível proporciona ao terapeuta o meio para
ensinar diferentes competências ao cliente (Quiroz-Rothe e cols,
2005).
Conforme os mesmos autores, a psicoterapia facilitada por
equínos baseia-se no poder da motivação do cavalo. É usado o
104
risco do foco da incapacidade para a capacidade. Os objetivos da
psicoterapia facilitada por equínos incluem atividades de
organização envolvendo cavalos, o que exigirá que as crianças
desenvolvam e apliquem certas habilidades como comunicação
verbal e não-verbal, pensamento criativo de assertividade,
resolução de problemas, liderança, responsabilidade, relações de
trabalho em equipe, confiança e atitude.
A Psicoterapia Facilitada pelos Equínos (EFP) permite às
crianças testar e melhorar suas habilidades de autogestão quanto
à coordenação motora e habilidades cognitivas.
105
eficácia e auto-estima, etc.) (Beck e Katcher, 199639; Dyer,
200040, citados por Quiroz-Rothe e cols, 2005).
As crianças estão mais acostumadas do que os adultos ao
trabalho experiencial, tendem a se identificar com animais ou a
antropomorfizar animais. Esta situação permite a projeção de
desejos, necessidades e comportamentos de uma criança através
dos cavalos (Katcher e WiIkins, 199841; Tucker, 199742, citados
por Quiroz-Rothe e cols, 2005). Levar um cavalo pode demonstrar
como a criança se sente sobre ser conduzida por outros. A
criança pode retratar seus próprios sentimentos, quer deixando os
cavalos livres ou querendo que eles sejam mais restritos.
O sentido de liderança traz questões importantes de
colocação do corpo em relação aos outros, e percebendo
situações perigosas, pode solicitar assistência dos monitores
(Lawrence, 198443). Crianças com problemas psicossociais e
problemas de saúde mental que resultam em qualquer variação
significativa na cognição, comunicação, dificuldades
comportamentais, habilidades sociais e ansiedade, bem como
aqueles com distúrbios de humor, Autismo, depressão ou
L. Hart and L. A. Hart (Eds.), The pet connection: Its influence on our health and
quality of life (pp. 38- 43). Minneapolis, MN: University of Minnesota, 1984.
106
estresse pós-traumático, devem ser considerados para equínos
terapia facilitada (Tedeschi, 199244).
A psicoterapia facilitada por equínos para crianças pode
incluir, mas não se limita a, uma série de atividades, como
manipulação e limpeza (através da escovação), equitação e
condução. A propensão dos seres humanos a interpretar
verbalmente os comportamentos do cavalo é endêmica
(disseminada). A pesquisa atual não categorizou todas as
maneiras pelas quais os cavalos se comunicam. Ambos os
cavaleiros e profissionais de saúde mental envolvidos na EFP
podem utilizar a interpretação do significado de sons e
movimentos de cavalos. Embora a interpretação seja necessária
para que os participantes permaneçam seguros, o treinamento
específico sobre o que é realmente conhecido, sobre as maneiras
pelas quais os cavalos se comunicam irá adicionar clareza e
integridade ao trabalho (Quiroz-Rothe, 2005).
108
refletir a emoção humana, o uso de equídeos no tratamento da
doença mental tornou-se cada vez mais popular na última década.
Ao contrário de gatos ou cachorros, os cavalos são animais
presa e devem estar em sintonia com o meio ambiente para
45
45Cavalo é animal de fuga, uma presa, que tem como natureza fugir para
sobreviver.
109
experiências e sentimentos autênticos. Quando essa conexão é
fraca ou desconectada, podem ocorrer doenças mentais.
Interagir com a natureza e os animais ajuda muitas
pessoas a rejuvenescer sua conexão mente-corpo. Devido à sua
vontade de expressar emoção, o uso de cavalos em um ambiente
terapêutico cria um meio efetivo através do qual os clientes
podem se reconectar com seus eus autênticos. Isso pode ser
visto a partir do momento em que um indivíduo entra em contato
com os cavalos. As pessoas frequentemente são atraídas por um
cavalo que reflete sua personalidade, muitas vezes sentindo uma
conexão imediata com os cavalos que ressoam com seus
problemas centrais.
Transferência
A transferência é a repetição dos pensamentos ou
sentimentos não resolvidos de um indivíduo em relação a um
determinado evento ou relacionamento. A transferência
normalmente resulta de um indivíduo que está sendo lembrado de
seus pensamentos ou sentimentos ocultos. Como os cavalos são
considerados espelhos emocionais, eles oferecem ampla
oportunidade de surgir a transferência. Enviar mensagens não
verbais não claras a um cavalo é irritante e confusa para o animal.
Se os clientes não são exteriormente congruentes com o seu
estado emocional, o cavalo não será cooperativo, agitado e
rapidamente perderá o respeito e a confiança no manipulador.
Consequentemente, a desobediência do cavalo cria sentimentos
negativos no cliente.
Quando essas emoções surgem, a transferência
normalmente ocorre, proporcionando uma oportunidade para o
cliente processar problemas não resolvidos. À medida que o EFP
avança, os clientes começam a se concentrar no comportamento
do cavalo para entender como eles se sentem e, eventualmente,
110
começam a conhecer seu próprio estado emocional, reparando e
fortalecendo sua conexão mente-corpo (Brandt, 2013).
Metáforas
111
A exploração de fronteiras durante EFP pode ser
especialmente benéfica quando se trabalha com casais ou
famílias. Como a EFP é orientada para objetivos, o clínico é capaz
de observar a dinâmica familiar no presente, enquanto os
membros trabalham para realizar uma tarefa especificada.
Através da observação e discussão dos padrões de interação da
família à medida que ocorrem, surgem ideias que podem passar
despercebidas por um longo período de tempo dentro de um
ambiente terapêutico tradicional (Brandt, 2013).
Estrutura de tratamento
Normalmente, o cliente se reúne com o terapeuta em uma
configuração terapêutica tradicional (consultório) para completar
uma avaliação inicial, estabelecer um plano de tratamento e
objetivos e discutir o formato para futuras sessões. É importante
que o clínico discuta com o cliente suas experiências passadas e
nível de conforto com animais e equínos. Deve-se ter cuidado
para garantir que a incorporação de atividades equinas não seja
apressada, particularmente se os clientes apresentam medo ou
têm pouca ou nenhuma experiência em torno dos cavalos. Além
disso, as considerações de segurança quando se trabalha com
cavalos são discutidas antes da sessão EFP inicial e
periodicamente ao longo do processo de tratamento. Após a(s)
sessão(ões) inicial(is), o cliente é introduzido no(s) cavalo(s) e são
realizadas atividades introdutórias, incluindo observação da
dinâmica do rebanho, limpeza e tarefas estáveis e trabalho de
base (Brandt, 2013).
Os clientes se baseiam em habilidades aprendidas, e as
atividades equinas tornam-se cada vez mais desafiadoras e
podem incluir montadas e bases. As sessões de terapia
geralmente incorporam check-ins breves antes e após cada
sessão, bem como sessões completas ocasionais dentro de uma
configuração terapêutica tradicional. Durante a(s) sessão(ões)
final (is) da EFP, o terapeuta precisa ter consciência de que os
clientes estão encerrando sua relação com o terapeuta e o cavalo.
113
Assim, deve-se ter cuidado para enfrentar ambas as perdas. Ao
longo do tratamento, os terapeutas frequentemente incorporam
técnicas da EBP (Escola Brasileira de Psicanálise) em sessões
EFP.(Equine Facilitated Psychotherapy) na Terapia
comportamental cognitiva (TCC ou em inglês Cognitive behavioral
therapy, CBT), terapia de Gestalt, técnicas centradas na pessoa e
terapia de jogo são comumente utilizadas durante EFP (Brandt,
2013).
114
face aos recursos que o indivíduo dispõe. Esta
experiência pode assim repercutir-se em dificuldade de
responder de forma adaptativa aos fatores indutores de
estresse (estressores), quer seja manifestada através de
dificuldades na regulação emocional, quer seja através
de dificuldades na resolução eficiente do problema. O
distress psicológico pode conceber-se como um estado
de mal-estar em resposta a acontecimentos de vida
significativos para o indivíduo, sendo caracterizado pela
experiência subjetiva de cada um. Neste sentido, o modo
como cada pessoa experiencia e atribui significados a
determinada situação exprime um valor subjetivo, no
qual são influentes internos (e.g. auto-estima, percepção
de controle) ao indivíduo, bem como fatores
externos/sociais (e.g. apoio social), que medeiam e
caracterizam o contexto da vivência do distress. No
entanto, enquanto dificuldade (percebida pelo próprio) de
adaptação às (auto e/ou hétero) exigências, a
experiência de distress pode contribuir para
vulnerabilizar o indivíduo e manifestar-se sob a forma de
sintomatologia ansiosa (e.g. dificuldade de concentração;
insônia ou depressiva (e.g. humor depressivo, perda de
interesse nas atividades; desesperança) (Knoow, 2017).
115
Psicoeducação é um aspecto importante da CBT (do
inglês, Cognitive Behavioral Therapy) ou TCC (Terapia
Comportamental Cognitiva) e é frequentemente usado em
sessões EFP (Psicoterapia Facilitada pelos Equínos ou do inglês
Equine Facilitated Psychotherapy). O terapeuta educa o cliente
sobre o comportamento e a segurança dos equídeos, bem como
fornece feedback durante as atividades dos equídeos. Além disso,
o terapeuta tem ampla oportunidade de modelar habilidades
sociais e de comunicação, bem como um toque e limites
apropriados. O trabalho de casa é um componente integral da
CBT (TCC ou em inglês Cognitive behavioral therapy) e muitas
vezes é atribuído após uma sessão EFP.
O trabalho de casa é adaptado aos objetivos individuais do
cliente, embora muitas vezes envolva experiências
comportamentais, atividades de atenção e relaxamento,
monitorando pensamentos automáticos e registro em jornais.
Através do uso da lição de casa, os clientes conseguem fazer a
transição das habilidades aprendidas para outros aspectos de
suas vidas, levando a mudanças positivas a longo prazo na
percepção de si próprios de seus clientes.
116
através do mesmo processo de Pensamento Visual (do inglês
Visual Thinking), o que lhes confere um vínculo inexplicável.
A importância da avaliação do
temperamento dos cavalos utilizados na
Psicoterapia Facilitada por Equínos
Nosso conhecimento sobre o comportamento natural e as
habilidades mentais dos cavalos, também deve ser usado para
informar sobre nossas ações durante o manejo, treinamento e
tratamento dos animais. Por exemplo, entendendo como os
cavalos se comunicam e interagem, é possível tratar os cavalos
sem coerção.
Os cavalos diferem em seu temperamento, capacidade de
foco e como o meio ambiente afeta sua saúde. Uma avaliação
individual de como o cavalo está respondendo ao trabalho seria
necessária.
119
Avaliação do temperamento dos cavalos
utilizados na psicoterapia facilitada por equínos.
NARHA Guide. Denver, CO: North American Riding for the Handicapped
Association, 1999.
120
Os assistentes sociais devem colaborar com profissionais de
animais, especialmente os veterinários, ao estabelecer programas
para prevenir e evitar o excesso de trabalho, tratamento
inadequado e risco para os animais.
123
Capítulo 5
Hipoterapia e Equoterapia
Conforme Botelho (1997), o histórico da utilização do
cavalo na área de saúde é tão antigo quanto a própria história da
medicina. Hipócrates (458-377 a.C.) se refere à equitação como
fator regenerador da saúde em seu compêndio Das Dietas.
Galeno também enfatizou os benefícios da atividade equestre. Na
Idade Média, os árabes apresentam inúmeras referências, tendo
em vista suas contribuições para o desenvolvimento da ciência
em um quadro de cultura equestre.
Em 1569, Merkurialis em A Arte Ginástica mencionava que
a equitação exercita não só o corpo, mas também os sentidos.
Em 1676, o médico Thomas Sydenham emprestava seus cavalos
para pacientes sem recursos. Em 1734, Charles Castel, médico e
abade de Saint Pierre, cria a cadeira "tremoussoir" que reproduzia
movimentos similares aos do cavalo. Em 1747, Samuel T.
Quelmaz faz a primeira referência histórica ao movimento
tridimensional do dorso do cavalo. Joseph C. Tissot, em Ginástica
Médica e Cirúrgica (1782), descreve o passo do cavalo como a
andadura mais benéfica e faz algumas contraindicações. Em
1901, o Hospital Ortopédico de Owenstry, na Inglaterra, faz a
primeira utilização da Equoterapia em contexto hospitalar.
Na área esportiva, Liz Hartel, portadora de sequelas de
poliomielite, é vice-campeã olímpica em adestramento equestre
nas olimpíadas de 1952 e 1956. Na França, em 1965, a
Universidade de Salpentiére inaugura a matéria didática de
Equoterapia. A primeira tese de doutorado sobre Equoterapia foi
defendida pela Dra. Collete Picart Trintelin, na Universidade de
Paris - Val de Marne, em 1972. O uso do cavalo com fins
terapêuticos, segundo literatura médica europeia, iníciou-se por
124
volta de 1735. Em 1950, esses programas se estabeleceram na
Inglaterra e logo depois nos outros países europeus.
Na Alemanha e na Suíça, a montaria vem sendo utilizada
como forma de terapia há mais de 20 anos. O Deutsches
Kuratorium für Therapeutisches Reiten (Conselho de Curadores
Alemães para Equitação Terapêutica), centro alemão
especializado neste tipo de tratamento, forma profissionais
hipoterapeutas e edita regularmente a revista Terapeutisches
Reiten (Equitação terapêutica). Por volta de 1960 foi iniciada a
Hipoterapia nos Estados Unidos. Em 1969, foi criada a
Associação Americana de Hipoterapia para Deficientes,
coordenando esforços para divulgar o método naquele país, que
conta hoje com mais de 400 programas de Hipoterapia.
125
- 1772: Giuseppe Benvenutti escreve em Reflexões acerca dos efeitos dos
movimentos do cavalo que a equitação tem ativa função terapêutica.
- 1782: Na França, Joseph C. Tissot define o passo como a andadura com
maior ação terapêutica, e é o primeiro a descrever contra-indicações à prática
exagerada da equitação.
- 1792: Surge na Inglaterra a Terapia Assistida por Animais (TAA), também
denominada por Zooterapia e foi aplicada numa instituição de tratamento de
portadores de deficiência mental. Desde este momento, o Dr. Tuke descobriu
que os animais poderiam oferecer experiências humanas a nível emocional a
estes pacientes.
- 1875: O neurologista francês Chassiagnac descobre que o movimento do
cavalo era capaz de melhorar o equilíbrio, o movimento articular e o controle
muscular dos seus pacientes.
- 1890: O fisiatra sueco Gustavo Zander afirma que vibrações com frequência
de 180 oscilações por minuto seriam capazes de estimular o sistema nervoso
simpático.
- 1901 e 1917: O Hospital Ortopédico de Oswentry e o Hospital Universitário de
Oxford, respetivamente, são os primeiros a estabelecer ligação entre a
atividade equestre e hospitais. “Após a Primeira Guerra Mundial o cavalo
entrou definitivamente na área da reabilitação, sendo empregado como
instrumento terapêutico nos soldados com sequelas do pós-guerra. Os países
escandinavos foram os primeiros a utilizá-lo com tal finalidade, obtendo
resultados satisfatórios, estimulando o nascimento de outros centros na
Alemanha, França e Inglaterra”.
- 1952: Olimpíadas de Helsinki, a dinamarquesa Liz Hartel, apesar das
sequelas de poliomielite, conquistou a medalha de prata no adestramento e
despertou a atenção da classe médica. Repetiu a façanha quatro anos depois,
em Melbourne.
- Década de 60: Grande desenvolvimento da Equoterapia na Europa,
principalmente na França. Neste período a equitação era usada empiricamente
e os seus resultados relatados em alguns livros (Reeducação através da
equitação de Delubersac e Lalleri, De Karen com amor de Killilea) até que, em
1965, torna-se matéria didática na Universidade Salpetrièri.
- 1972: Defendida a primeira tese de doutorado sobre Equoterapia, na
Universidade de Paris – Val-de-Marne, pela Dra. Collete Picart Tritelin.
- 1974: Iniciada a realização de congressos internacionais sobre Equoterapia,
com repetição a cada três anos.
- 1984: Na Universidade Martin Luther, Alemanha, o suíço Detlvev Rieder
mediu a frequência de oscilações do dorso do cavalo, chegando ao número de
180 por minuto, o mesmo recomendado por Zander, em 1890.
126
- 1985: Criada a Federation Riding Disabled International (Frdi), Federação
Internacional de Equoterapia, atualmente sediada na Bélgica.
- 1989: No Brasil, fundada a Associação Nacional de Equoterapia (Ande-
Brasil), com sede em Brasília.
- 1997: A Equoterapia é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como
recurso terapêutico por meio do parecer 06/97 de 9 de abril de 1997.
- Em Portugal, a equitação com fins terapêuticos deu os primeiros “passos” em
1980, no Algarve, onde, Beverly Gibbons e Katheryn Watson desenvolveram e
dirigiram a Associação Hípica para deficientes de Faro, destinada a portadores
de Paralisia Cerebral. Posteriormente, criaram uma filial em Lisboa,
(Associação Hípica para Deficientes de Cascais) tendo como principal objetivo
assistir às carências detectadas na região. Atualmente, as duas associações
supramencionadas, em colaboração com diversos núcleos de associações
para deficientes, têm vindo a proporcionar a implementação desta terapia
noutros distritos de Portugal (Beja, Braga, Coimbra, Évora, Porto e Aveiro –
escola equestre de Cacia e Albergaria), suscitando grande procura, em
oposição à pouca oferta, não só para este tipo de deficiências, mas também
para autistas e crianças com problemas de comportamentos.
Ao longo da segunda metade do séc. XX, foi-se assistindo a um
desenvolvimento das práticas terapêuticas, nomeadamente em tratamentos
fitoterapêuticos, psicoterapias, correção de comportamentos antissociais,
problemas afetivos ou de comunicação entre outros.
Hipoterapia
O termo “Hipoterapia” foi introduzido em 1966 pelo
neurologista suíço H.F. Kaser. Hipoterapia deriva da palavra
grega hippos, significando cavalo, montar a cavalo, sendo usado
com uma forma do tratamento. O cavalo, com o seu movimento
rítmico, dinâmico será usado para influenciar na postura do
praticante, equilíbrio e mobilidade.
127
Na Hipoterapia trabalha-se sobre e com o cavalo, no qual
são estimuladas as funções cognitivas, motoras, sociais e
emocionais, proporcionando equilíbrio e percepção do próprio
corpo, despertando interesse pelo ambiente envolvente. O
indivíduo é trabalhado como um todo e não em partes,
proporcionando-lhe formas terapêuticas e educacionais de
desenvolvimento. A Hipoterapia é, assim, considerada como o
método terapêutico e educacional que utiliza os andamentos do
cavalo como recurso para crianças e indivíduos deficientes a
vários níveis: Paralisia Cerebral, Deficiência Mental, Síndrome de
Down, Autismo, Alterações Sensório-motoras, Dificuldades na
Aprendizagem, Distúrbios de Linguagem e Fala, entre outras.
Esta atividade terapêutica contribui para a educação, reeducação
e reabilitação de pessoas portadoras de deficiências (Terapia
Animais, 2017).
Conforme a Butterfly Dreams Farm (2017), dos Estados
Unidos da América (EUA), a Hipoterapia é uma estratégia em que
os movimentos únicos de um cavalo são incorporados com
terapia física, ocupacional e fonoaudiológica para envolver os
sistemas sensoriomotores e neuromotores de um paciente para
promover mudanças funcionais em várias habilidades.
Professional Association of Therapeutic Horsemanship
International – PATH, em português Associação Internacional
Profissional de Equitação, certifica os terapeutas e exige que
ambos e a fazenda mantenham os mais altos padrões de
segurança.
128
para promover atividades e terapias com equídeos (do
inglês, North American Riding for the Handicapped
Association to Promote Equine-Assisted Activities and
Therapies - EAAT) para indivíduos com necessidades
especiais. Com mais de 4.800 instrutores certificados e
especialistas em equínos e 881 centros membros, mais
de 8.000 PATH Intl. membros de todo o mundo ajudam
mais de 66 mil crianças e adultos - incluindo mais de
6.200 veteranos e pessoal militar ativo - com dificuldades
físicas, cognitivas e emocionais, encontrar força e
independência através da utilização do cavalo . Além da
equitação terapêutica, nossos centros oferecem uma
série de atividades terapêuticas relacionadas com
equídeos, incluindo Hipoterapia, saúde mental facilitada
por equídeos, condução, exercício de salto, competição
e trabalho no solo. Mais recentemente, os programas
oferecem serviços de desenvolvimento humano para
atender públicos abrangentes para fins educacionais tais
como treinamento de liderança, treinamento de equipe e
outras habilidades de aprimoramento da capacidade
humana para o local de trabalho e para uso diário. PATH
Intl. é a organização de credenciamento para centros de
acreditação e instrutores de certificação e especialistas
em equíno. Através de programas de certificação e
acreditação, além de uma ampla variedade de recursos
educacionais que incluem uma conferência internacional
anual que pode atrair cerca de 1.000 participantes, a
associação ajuda os membros a iniciar e manter
programas EAAT bem-sucedidos. Existem mais de
62.000 voluntários, 5.011 profissionais credenciados,
7.800 equídeos e milhares de contribuidores de todo o
mundo no PATH Intl. Centros de membros inspiradores e
enriquecedores do espírito humano.
129
significativas na postura, força, flexibilidade, músculo simetria e
uma série de outros benefícios.
Em uma sessão de Hipoterapia o cavalo se junta com o
terapeuta durante a sessão, com o atividades direcionadas e
servem para abordar metas específicas para o indivíduo. Os
alunos que recebem Hipoterapia têm a assistência de dois a
quatro voluntários que ajudam a orientar o cavalo e proporcionar
estabilização e assistência ao piloto, conforme necessário. Andar
de forma independente não é um objetivo inerente da Hipoterapia,
mas alguns estudantes alcançam este lugar e também se
envolvem em equitação terapêutica.
131
Andar, seria demasiado assustador. Teríamos de gatinhar
de um lado para o outro. E a cavalo, o equilíbrio tem que
funcionar para dois. O cavalo é soberbamente capaz de utilizar o
seu próprio equilíbrio. Mas, só o usará para fazer coisas que
tenciona fazer. Muitas vezes (a maior parte das vezes com um
cavalo inexperiente) este não tem a mais pequena intenção de
fazer o que nós pretendemos que ele faça. O seu equilíbrio não o
manterá equilibrado durante esses movimentos. De fato, poderá
usá-lo para o ajudar a fugir em vez de obedecer e fazer o que
queremos que ele faça.
Embora seja totalmente rotineiro usar o equilíbrio quando
se está no chão firme, não é rotineiro quando dele se necessita
noutras situações. Dar um passo dum cais para dentro dum bote
não é rotina para a maioria das pessoas. Algumas pessoas têm
dificuldades em dar o passo para entrar numa escada rolante. O
uso do equilíbrio pode também não ser natural para o cavaleiro.
Neste caso, pode ser desenvolvido. Os olhos podem ser
considerados quase como sinônimos de equilíbrio.
132
O equilíbrio e o Sistema Nervoso Central e Periférico.
135
que cai da barra do estribo da sua sela. Na maior parte das vezes
o loro deve estar nesse alinhamento. Mas ajustando-o
ligeiramente para a frente pode ser muito útil se for feito no
momento certo. Para se acomodar à largura do cavalo, o
cavaleiro tem de abrir ligeiramente os joelhos. Em consequencia,
os dedos dos pés viram-se para fora, mas isto não deve
ultrapassar os cerca de 15 graus. Não é necessário virar mais. Se
os dedos se viram mais, fará com que a base de suporte não
cumpra as suas funções corretamente. Se os dedos virarem
significativamente mais do que isso, o tronco desloca-se e usa o
tornozelo e os músculos da barriga da perna para se manter
equilibrado.
Assim, todas as vezes que fechar as pernas como
segurança, está a pisar no “acelerador” e cria também outros
problemas. Para as pernas serem simultaneamente firmes e
elásticas, tem que se isolar os controles. Enquanto os músculos
adutores da coxa se apresentam firmemente para o cavaleiro se
segurar, os joelhos e tornozelos devem permanecer elásticos. Isto
dá à parte inferior da perna a independência de que precisa para
colocar os calcanhares sob o centro de gravidade em todas as
circunstâncias. Os grupos de músculos que controlam estes
movimentos, são diferentes. Mas coordená-los de maneira a que,
quando aperta um, o outro continua elástico, não é fácil. A
separação dos dois é importante para o equilíbrio. Se se
concentrar em fazê-lo corretamente, ficará surpreendido com a
sua capacidade. Uma vez que o possa fazer conscientemente,
será fácil tornar-se num hábito. Embora o cavaleiro esteja em
movimento no cavalo, sob o ponto de vista dos pés, está parado.
Quando o cavaleiro está montado, os pés devem trabalhar como
se estivessem no chão. Grande parte do tempo os pés suportam
uma boa porção do seu peso. Quando se está de pé no chão, os
calcanhares suportam o peso do corpo. Devem fazer o mesmo
quando se está montado. Mas não é natural. Estamos a ludibriar o
equilíbrio quando colocamos os estribos na frente do pé em vez
136
de os pôr nos calcanhares. Se os estribos fossem colocados nos
calcanhares seria muito mais fácil. Todavia, perder-se-ia grande
parte da elasticidade e de absorção de choque.
Os tornozelos são articulações muito flexíveis e fazem com
que os calcanhares descaiam consideravelmente abaixo da planta
do pé. A força da gravidade puxa-os para baixo. O que evita que
eles caíam é a pressão que a planta do pé exerce empurrando
para baixo os estribos. Afim de baixar o calcanhar tem que se
dobrar o pé, (levantar a frente do pé). Este movimento é
complexo, e inicialmente é por vezes desconfortável. É mais fácil
procurar outra maneira de dobrar os tornozelos. Mas qualquer
outra maneira é fraca e não resulta. Os músculos que dobram o
pé estão localizados na parte da frente da tíbia. Quando os usar
para levantar a frente do pé assegure-se de que o levanta a
direito sobre a planta do pé no seu todo e não apenas sobre o
dedo grande ou sobre o dedo pequeno. Para a máxima
flexibilidade e estabilidade, deve-se também flexionar os
tornozelos revirando os pés de modo a que as plantas dos pés
fiquem ligeiramente viradas para fora. Mas ao fazer isto não deve
virar os dedos dos pés para fora. Se for feito corretamente, isto
permite dar aos tornozelos uma posição natural e elástica e faz
com que os pés assentem com segurança nos estribos. Ajuda a
que se obtenha o ótimo comprimento dos estribos. Para se
determinar o comprimento correto dos estribos, retiram-se ambos
os pés dos estribos os deixando confortavelmente pendurados.
Sem olhar para baixo, a plataforma dos estribos deve tocar
ligeiramente nos pés abaixo dos tornozelos.
137
Em entrevista ao site Vida Equilíbrio (2017), a
fisioterapeuta Letícia Junqueira afirmou que a prática da
equitação lúdica, na qual a criança realiza atividades junto com
o cavalo, faz com que seu processo evolutivo seja aprimorado,
principalmente no começo da infância, entre os 2 e 8 anos
quando o desenvolvimento do cérebro é intenso. Os principais
objetivos da atividade é buscar as potencialidades de cada
criança, aperfeiçoar suas habilidades motoras e trabalhar a
autoconfiança. “Durante a prática, além de ser estimulada com
brinquedos educativos, a criança montada no cavalo irá
receber de 1.800 a 2.200 estímulos cerebrais, devido ao
deslocamento tridimensional do animal, que faz com que o
corpo da criança realize movimentos automáticos de
adaptação ao movimento do cavalo. Os estímulos chegam ao
sistema nervoso central, por meio da medula espinhal, e
colaboram com o processo evolutivo e para o melhor
desempenho do aprendizado”. Isto ocorre porque os estímulos
cerebrais que chegam ao sistema nervoso atingem uma parte
do cérebro que é responsável pela cognição e o equilíbrio (o
sistema vestibular). Com isso, reações de aprendizado e
noções de equilíbrio são estimuladas na criança. A equitação
lúdica faz uso de diferentes artifícios, como brinquedos e jogos
educativos, para estimular a criança, que terá o cavalo como
referencial, buscando conhecer seus limites e fortalezas. “Ao
alimentá-lo, por exemplo, ela percebe que o animal tem
necessidades essenciais parecidas com as dela, como de
alimentação e higiene. Ao tocar, brincar e conduzir um ser
maior e mais forte que ela, a criança tem a sensação de poder
e isso aumenta sua autoestima”, afirma Letícia. A atividade é
recomendada para qualquer criança entre 2 e 8 anos, pois
além de mudanças nos hábitos do dia a dia, como na
alimentação, a prática pode ajudar na melhoria da
concentração, coordenação motora, sensibilidade, formação de
caráter e autoestima. A equitação lúdica deve ser feita de uma
138
a três vezes na semana. Os primeiros resultados aparecem a
partir do terceiro mês.
Amazonas
As amazonas (em grego antigo: Αμαζόνες, transl.:
Amazónes), na mitologia grega, eram as integrantes de
uma antiga nação de mulheres guerreiras da mitologia
grega. Heródoto as colocou numa região situada às
fronteiras da Cítia, na Sarmácia. Entre as rainhas
célebres das amazonas estão Pentesileia, que teria
participado da Guerra de Troia, e sua irmã, Hipólita, cujo
cinturão mágico foi o objeto de um dos doze trabalhos de
Hércules. Saqueadoras amazonas eram frequentemente
ilustradas em batalhas contra guerreiros gregos na arte
grega, nas chamadas amazonomaquias. Na
historiografia greco-romana, existem diversos relatos de
invasões das amazonas na Anatólia. As amazonas foram
associadas com diversos povos históricos, ao longo da
Antiguidade tardia. A partir do período moderno, seu
nome passou a ser associado com as mulheres
guerreiras da atualidade. O termo Amazonas é
frequentemente utilizado para se referir a mulheres que
montam a cavalo, participando em provas de equitação
em destreza ou salto (Wikipédia, 2017).
139
De acordo com a mesma autora, fazem parte dos conceitos
chave os diferentes andamentos do cavalo e são eles, o passo, o
trote e o galope.
O passo
O trote
O galope
143
De acordo com Ande-Brasil (2002) a velocidade, por
mínima que seja, e os deslocamentos do cavalo obrigam, sob
pena de queda a colocar em ação, de uma forma reflexa, os
músculos que mantem o equilíbrio. Este equilíbrio tem de ser
mantido, qualquer que seja o passo ou a mudança de direção, e o
seu ajustamento tem de ser rápido, uma vez que é dele que
depende a segurança em cima do cavalo.
145
só para frente e para baixo não é o suficiente para se passar para
a próxima fase.
Um dos quesitos mais importantes para se ter o cavalo por
muitos anos competindo, dando o melhor de si, sendo o melhor
que ele pode ser, é manter seu equilíbrio correto. Naturalmente,
os cavalos possuem seu equilíbrio corporal entre as mãos e o
pescoço. Isso é facilmente observado quando vemos o cavalo
pastando, seja escolhendo o que comer, ou comendo alguma
coisa. Dentro da equitação tradicional o equilíbrio do cavalo, nesta
primeira fase deve ser deslocado um pouco mais para traz,
ficando um pouco atrás de suas mãos, no centro de seu corpo.
Com o equilíbrio correto, a meta é qualidade dos andamentos
naturais do cavalo. Esta qualidade é resultado da movimentação
solta, fluência e espontaneidade. Neste primeiro degrau da
Escala, o cavalo deve ter andamentos bem marcados, ritmados,
de acordo com as batidas que definem cada um deles: quatro
batidas no passo, duas no trote e três (alguns autores definem
quatro) para o galope.
Após conseguirmos manter o cavalo em equilíbrio é que
vamos para o próximo degrau.
146
Nesta fase é muito importante saber qual é a assimetria
natural do cavalo, sabendo qual a musculatura que deve ser mais
desenvolvida, flexionada, alongada, contraída e fortalecida.
A descontração é o que irá trazer vida longa ao cavalo.
Cavalos que tem um lado mais difícil que o outro precisam
retornar a este ponto na escala de treinamento para desenvolver
ambos seus lados de forma a ficarem iguais e o mesmo conseguir
desenvolver seus exercícios da melhor forma que cada um possa
fazer. Quando um cavalo está descontraído, fica feliz, se move
com facilidade, suavidade, masca suavemente a embocadura e,
muitas vezes, balança a cauda no ritmo da andadura.
4.) Impulsão
148
dançar comigo? A impulsão é a resposta sim do cavalo ao
cavaleiro.
O cavalo sempre deve estar apto para dançar com a gente,
e claro estar no ritmo da música. Impulsão é, portanto, o nível de
energia em nossa mente que passamos ao cavalo. Devemos
obter a impulsão, imaginando-nos dançando em pleno ar. A regra
de ouro é ter o mínimo de impulsão necessário para o movimento
que se quer realizar, em total relaxamento final até mesmo um
passo com rédeas soltas tem que ter impulsão.
A impulsão não é muita velocidade e correria em uma
posição contraída. Devemos ter uma impulsão controlável, vinda
de um cavalo consciente, que se comunica com o seu cavaleiro,
que seja suficiente para, primeiro manter a posição correta com
relaxamento, e em seguida seu movimento.
Porém deve-se tomar cuidado para se ter um equilíbrio
correto entre impulsão e relaxamento. O cavalo não pode deixar
de estar relaxado por causa da impulsão. E também não deve
estar totalmente relaxado sem impulsão. Devemos dar ao cavalo
a impulsão suficiente para mantê-lo na mão. O assento é a
torneira por onde flui a impulsão. Sempre buscamos ter impulsão,
pouca mão e pouca perna. O cavalo está feliz quando
encontramos o equilíbrio entre reunião, equilíbrio corporal do
cavalo, impulsão e relaxamento.
5.) Retidão
6.) Reunião
Regularidade
Flexibilidade
Contato
151
FASE 2: desenvolvimento do poder de impulsão:
Flexibilidade
Contato
Impulsão
Retidão
Impulsão
Retidão
Reunião
FASE 4: permeabilidade:
152
Benefícios da Hipoterapia
A Hipoterapia é um método único que estimula crianças a
superar os seus problemas, contribuindo para a melhoria do
estado psicológico, desenvolvendo uma sensação de orgulho e
vitória contra a doença e consequentemente, facilita a remoção do
complexo de inferioridade. Alguns benefícios da prática da
Hipoterapia no desenvolvimento global do indivíduo que se
refletem nos seguintes níveis (Caçador, 2017):
A Nível Neuromotor:
✓Diminui a espasticidade;
✓Melhora a coordenação e a dissociação de movimentos;
✓Melhora o controle postural;
✓Regulariza o tônus muscular, no andamento a passo, ao
serem movimentados trezentos músculos, fomentando o equilíbrio
tônico;
✓Desenvolve a lateralidade;
✓Promove a coordenação psicomotora grossa e fina;
✓Potencia desenvolvimento da elasticidade, agilidade,
flexibilidade e força muscular;
✓Estimula o sistema sensório-motor;
✓Melhora a rapidez dos reflexos;
✓Aumenta a capacidade de movimentos das articulações;
✓Reduz os padrões de movimentos anormais;
✓Melhora a capacidade respiratória e circulatória.
A Nível Sensitivo:
✓Desenvolve e melhora a noção de esquema corporal;
✓Aumenta e melhora a capacidade de perceção senso-tátil;
✓Aumenta a integração sensorial: tátil (o contato com o pelo,
boca e corpo do cavalo), visual (o aumento do campo visual
estando em cima do dorso do cavalo), auditiva (o relinchar, o
mastigar, o som da respiração, o golpe da ferradura contra o solo
153
do cavalo e os sons do campo ou picadeiro) e olfativa (o odor das
cavalariças, da pele do cavalo, da comida e do campo).
A Nível Psicológico-cognitivo:
✓Melhora e aumenta a comunicação gestual e oral;
✓Aumenta o vocabulário;
✓Ajuda a construir frases corretamente;
✓Melhora a articulação das palavras;
✓Melhora a concentração.
A Nível de Socialização:
✓Melhora a relação com as pessoas que não pertencem ao seu
meio familiar (através da interação estabelecida com toda a
equipe envolvida na terapia);
✓Cria laços de amizade com os companheiros e terapeutas;
✓Desenvolve respeito e amor pelos animais e pela natureza;
✓Desenvolve o sentido de autocontrole emocional;
✓Promove o gosto pela prática de desporto.
56JUNG, C.G. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira,
1973.
160
arquetípica. É neste seguimento, que Rhodes (199957) refere o
cavalo como objeto de transferências (facilitador de novas
condições, de novas experiências). A relação com o cavalo
baseia-se na troca. Este autor adaptou ainda alguns dos
conceitos da sua teoria a esta prática. O papel de holding
presente na relação estabelecida com o cavalo e com o terapeuta
vai dar uma segurança suficiente e necessária à aquisição de
noções como espaço e tempo.
toques, o dar banho, trocar fraldas, mantendo o seu bem-estar físico. É através
do exercício desta função que o bebê experimenta-se num corpo unido à sua
vida psíquica. Winnicott (1988) chama de personalização. Holding é a
disposição empática e afetiva para perceber e atender às necessidades do
161
passagem de estados fusionais a uma maior autonomia e
independência (personalização do indivíduo, diferenciação do
outro). O cavalo como objeto de diferenciação, vai ajudar a esta
autonomização, a partir do momento em que o paciente
reconhece que este ser tem vontade própria e que nem sempre
faz o que ele pretende. A criança autista quando está em cima do
cavalo dá a sensação de que se vai “desintegrar” (encolhe-se,
estica-se, corre o risco de cair, porque lhe é difícil estabilizar em
equilíbrio com o movimento do cavalo). Parecem defender-se do
contato com qualquer tipo de estímulos exteriores, para além do
fato de recusarem ajuda, pelo contato físico, que nesta situação é
exigida.
Neste seguimento de ideias, Freire (1999), considera ainda,
que à medida que a criança autista vai montando, vai-se
estabelecendo uma relação entre terapeuta e ela, relação
semelhante à da mãe (uma mãe suficientemente boa) com o seu
bebê. À medida que o cavalo transporta o paciente o terapeuta vai
dizendo palavras tranquilizadoras.
A equitação terapêutica convida também, à imitação
através da possibilidade de identificação cinestésica. Através da
comunicação do terapeuta, a criança vai tentar descobrir o cavalo
como um objeto transicional, apoiando-se nele para chegar ao
terapeuta. Como já esclarecido anteriormente, é no seio da família
que se começa a elaborar o comportamento social, resultado de
uma aprendizagem, que se inicia quando a criança é capaz de
interiorizar a imagem do “outro”. Assim, a família ajuda à inserção
162
na sociedade e oferece um refúgio contra o mundo, ou seja, a
família põe a criança ao abrigo do mundo exterior.
Equoterapia
A Equoterapia baseia-se em jogos entre os cavalos e as
pessoas, de forma a que se crie uma relação dinâmica entre eles,
relacionando, assim, as áreas da educação e da saúde. Este tipo
de terapia é mais utilizado por crianças com problemas de
Autismo, timidez, insegurança, medo, agressividade e
hiperatividade. No entanto, não se aplica só a pessoas portadoras
de deficiências: qualquer um a pode realizar.
60 http://Equoterapia.org.br/
164
acima mencionadas junto a outras entidades que
pratiquem qualquer terapia com o emprego do cavalo;
• Capacitar recursos humanos, promovendo e
estimulando a realização de cursos, pesquisas, estudos
e levantamentos estatísticos, propiciando condições para
o avanço científico-tecnológico e a formação de pessoal
técnico especializado;
• Estimular e apoiar a implantação e desenvolvimento de
Centros de Equoterapia, com a observância dos mais
rígidos padrões de ética, eficiência e segurança;
• Utilizar a equitação de forma didático-pedagógica na
educação e formação do caráter de jovens e na inserção
e reinserção social de pessoas com distúrbios
comportamentais;
• Utilizar a competição esportiva como complemento
terapêutico e educativo;
• Formar recursos humanos nas áreas de equitação e
veterinária e outras com estas correlatas; e
• Estimular a prática do esporte hípico, principalmente na
formação de novos valores.
Programas de Equoterapia
É sabido que cada indivíduo, com deficiência e/ou com
necessidades especiais, tem o seu “perfil”, o que o torna único.
Isto evidência a necessidade de formular programas
individualizados, que levem em consideração as demandas
daquele indivíduo, naquela determinada fase de seu processo
evolutivo.
A Equoterapia é aplicada por intermédio de programas
individualizados organizados de acordo com:
•as necessidades e potencialidades do praticante;
•a finalidade do programa;
•os objetivos a serem alcançados, com duas ênfases: a
primeira, com intenções especificamente terapêuticas, utilizando
técnicas que visem, principalmente, à reabilitação física e/ou
mental; a segunda, com fins educacionais e/ou sociais, com a
aplicação de técnicas pedagógicas aliadas às terapêuticas,
visando à integração ou reintegração sócio familiar.
166
Os benefícios da Equoterapia no
tratamento de pacientes portadores da
Síndrome de Down
Conforme Ferreira (2008), a Síndrome de Down é uma
condição genética caracterizada pela presença de um
cromossomo a mais nas células de quem é portador e acarreta
um variável grau de retardo no desenvolvimento motor, físico e
mental. Esse cromossomo extra se acrescenta ao par de número
21, por isso o termo utilizado para sua denominação é trissomia
21. Porém, outros problemas são detectados nessas crianças,
como a translocação e o mosaicismo.
A Síndrome de Down apresenta características dismórficas,
que variam entre os pacientes, porém produzem um fenótipo
distintivo. Quando visualizada de frente, a criança com esta
síndrome costuma ter uma face arredondada. Lateralmente, a
face tende a apresentar um perfil achatado. Pode existir uma
pequena prega cutânea direcionada verticalmente entre o canto
interno do olho e a ponte nasal, denominada de epicanto. Em
alguns pacientes, os olhos podem exibir formações pontilhadas de
coloração branca ou branca amarelada, que circundam a íris,
chamadas de Manchas de Brushfield.
Manchas de Brushfield
Manchas de Brushfield são pequenos pontos brancos
presentes na periferia da íris do olho humano devido a
uma agregação de um elemento normal da íris (tecido
conjuntivo). Estes pontos são normais em crianças, mas
também são uma característica da Síndrome de Down.
Recebem o nome em homenagem ao médico Thomas
Brushfield, quem primeiro as descreveu em 1924
(Wikipédia, 2017).
167
O diagnóstico
O diagnóstico pode ser feito também após o nascimento da
criança e inicialmente por parte das características que são muito
comuns aos portadores de Síndrome de Down, como por
exemplo, cabeça mais arredondada, olhos puxados, boca
pequena, entre outras. Apesar de não haver cura, pesquisas no
mundo todo têm sido realizadas nesse sentido e a qualidade de
vida dessas pessoas tem sido melhorada significativamente. O
mais importante é descobrir que o sindrômico pode alcançar um
bom desenvolvimento de suas capacidades pessoais e avançar
crescentes níveis de realizações e autonomia. Sendo capaz de
sentir, amar, aprender, se divertir e trabalhar. Em resumo, ele
poderá ocupar um lugar próprio e digno na sociedade, sendo
como qualquer outra criança normal, em certos momentos
(Torquato e cols., 2013).
Alterações físicas
Segundo (Ferreira, 2008), o pescoço é mais alargado e
curto com pele redundante na nuca. A ponte nasal é plana, as
orelhas são de implantação baixa e a boca é aberta, mostrando a
língua sulcada e saliente. Problemas visuais e auditivos são
comuns nestas crianças. Os déficits visuais incluem catarata
congênita e de início em idade adulta, miopia (50%),
hipermetropia (20%), estrabismo e nistagmo. De acordo com o
mesmo autor, muitas crianças com esta síndrome (60 a 80%) têm
perda leve a moderada de audição. A otite média é um problema
clínico que ocorre frequentemente e que pode contribuir para
perda auditiva intermitente ou persistente. É frequente existir uma
braquicefalia acompanhada de um occipital relativamente
achatado. O perímetro cefálico costuma ser menor que o das
crianças normais da mesma faixa etária e é comum o fechamento
168
tardio das fontanelas. Aproximadamente 50% dos pacientes com
Síndrome de Down possuem uma única linha de flexão nas
palmas, chamada de linha simiesca.
Retardamento mental
Quociente de inteligência
Quociente de inteligência (abreviado para QI, de uso
comum) é uma medida padronizada obtida por meio de
testes desenvolvidos para avaliar as capacidades
cognitivas (inteligência) de um sujeito. É a expressão do
nível de habilidade de um indivíduo num determinado
momento em relação ao padrão (ou normas) comum à
sua faixa etária, considerando que a inteligência de um
indivíduo, em qualquer momento, é o "produto" final de
uma complexa sequência de interações entre fatores
ambientais e hereditários (Wikipedia, 2017).
Reflexo de Moro
O Reflexo de Moro é um reflexo apresentado somente
em neonatos, nos três primeiros meses de vida,
desencadeado naturalmente por um susto, barulho ou
movimento brusco. É considerado um reflexo primitivo.
169
Foi descoberto por Dr. Ernst Moro, um neurologista
italiano (Wikipedia, 2017).
Alterações musculoesqueléticas
De acordo com Ferreira (2008), quanto as alterações
musculoesqueléticas, são observados déficits de crescimento
linear, incluindo uma diminuição na velocidade de crescimento em
estatura, ocorrendo principalmente entre os 6 e os 24 meses de
idade, redução do comprimento da perna e 10 a 30% de redução
no comprimento dos metacarpos e falanges. Segundo este
mesmo autor, as diferenças musculoesqueléticas mais
significativas, entretanto, são devidas, em grande parte, à
hipotonia e à frouxidão ligamentar características dessa doença. A
frouxidão ligamentar resulta em pé plano, instabilidade patelar,
escoliose e instabilidade atlantoaxial. A frouxidão ligamentar
constitui uma importante característica vinculado com
instabilidades articulares, podendo ocasionalmente gerar
luxações. A instabilidade atlantoaxial pode predispor a criança a
compressão da medula espinhal. Os sinais e sintomas de
compressão raquimedular decorrente de luxação atlantoaxial são:
arreflexia, babinski, reflexos tendinosos rofundos vigorosos,
clônus, alterações da marcha, reflexo extensor plantar, cefaleia,
tendão do calcâneo tenso, falta de coordenação, aumento do
tônus muscular, limitação do movimento cervical, bexiga
neurogênica (incontinência ou retenção), dor no pescoço,
espasmos da musculatura do pescoço, postura em tesoura,
alterações sensoriais, torcicolo, vertigens e fraqueza muscular.
Cerca de 40% destas crianças nascem com cardiopatias
congênitas; as mais comuns são defeitos no canal atrioventricular
e no septo ventricular. Embora normalmente reparadas na
infância, as cardiopatias não-corrigidas até os 3 anos de idade
estão altamente associadas com os maiores atrasos no
desenvolvimento de habilidades motoras.
170
Neuropatologias
Do ponto de vista neuropatológico, pode-se encontrar
atrofia cerebral, particularmente nos lobos frontais e no giro
temporal superior. Alterações neurofibrilares e placas neuríticas,
similares às encontradas na doença de Alzheimer, podem estar
presentes nos pacientes com Síndrome de Down, que
ultrapassam os 40 anos (Ferreira, 2008).
176
Altura ideal do cavalo para Equoterapia.
177
BOTELHO, L. A. A. A Hipoterapia na medicina de reabilitação.
Revista Acta Fisiátrica, v. 4, n. 1, p. 1-6, 1997.
178
COLOSIO, S. A. R. Avaliação de alterações de comportamento
em crianças de uma creche após uso da terapia assistida por
animais. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado as
Faculdades Integradas (FAFIBE), para obtenção do Título de
Psicólogo às Faculdades Integradas FAFIBE, no curso de
Psicologia. Bebedouro, SP, 2009, 42 p.
180
infoescola.com/corpo-humano/propriocepcao/>Acesso em: 22 out.
2017.
182
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184