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A GAROTA QUE CONTAVA FOLHAS 

VALESKA BERARDO 
[EDITORA ASES DA LITERATURA] 
 
 
Resumo 

Esta é a história de uma garota que  amava contar as folhas da árvore africana do

jardim de sua avó.  Seu mundo divergia de uma maioria mas era lindo. Seus pais

foram  informados que ela não seria capaz de ler ou escrever quando  tinha quatro

anos. O amor que recebeu foi o que a ajudou a se  desenvolver e se adaptar. Ela

encontrou na arte, principalmente na pintura e na escrita, seu caminho para se

expressar. Ao longo de seu desenvolvimento sua escrita foi evoluindo, seu prazer em

ler e declamar poesias também.

A garotinha que contava as folhas das árvores do quintal de sua avó, se tornou uma

escritora apaixonada. Nunca parou de ler e escrever, contrariando o prognóstico que

lhe deram. Da matemática à métrica e rimas ela evoluiu. Esta história é sobre

superação e  um alerta em relação às crenças limitantes. Cada ser humano é um

universo de possibilidades. A garota cresceu e aqui conta alguns de seus contos.


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O  Mundo era o Jardim da minha Avó 
 

Capítulo 1 
 

O cheiro da grama molhada se misturava com as pitangas que caíam na terra.

Havia dois pés de Jambo  e uma árvore que meu avô trouxe da África. Qual era o

nome da árvore? Ela tinha uma fruta muito diferente, do tamanho de uma manga

porém mais parecida com o gosto da graviola. Gostaria de ter memória boa para

nomes mas não tenho . Minha mente divergente sempre foi melhor para situações e

números. Se fechar os olhos neste momento, posso me ver lá, no meu mundo, o

jardim da minha avó com quem morava. Agora estou ouvindo o mesmo som que ouvi

por toda a infância , o som das folhas da árvore que não lembro o nome.

 As folhas tinham tons diferentes de marrom e verde , eram brilhosas e 

liberavam um líquido quando partidas que gruda nos dedos. É uma pena que não

lembro o nome dela,  era linda e eu aproveitava a grande sombra que fazia . Perto

dela havia um pé de canela, era muito bom sentir o cheiro da canela enquanto ficava

observando as folhas da árvore africana.  Eu contava as  suas folhas e meus olhos se

perdiam na dança dos seus movimentos e isso era tão bom. Nada me atrapalhava,

nada me tirava dali, um mundo à parte repleto de paz. Só o comando da minha mãe

para sair me tirava daquele mundo. 

Amava tanto aquela árvore que decidi ser igual a ela e passei a me regar toda

manhã na esperança de me tornar uma igual, com troncos largos e muitas, muitas,

muitas folhas. Não sei quantas horas passava segurando a mangueira do jardim me

regando na esperança de me tornar uma árvore, mas lembro da minha avó pedir para
eu parar porque adoecia. Gripes, faringites, asma ... Mas eu era atraída pela água, pela

árvore e pela paz do jardim da minha avó Julieta.  

● Dona Juju a Valeska está de novo alagando o jardim , avisava o

jardineiro.  

● Mas será possível ... dizia docemente a minha avó.   -  Vem pra dentro

Valeskinha vou te fazer uma bananada .  


 

Uma outra mania minha , só comer banana . Não sei quanto tempo fiquei só

comendo bananas mas minha  avó era uma grande cozinheira e inventava várias

receitas com banana . Torta de banana , banana com mel , bananada , coquetel de

frutas com banana , banana amassada com várias coisas , banana com feijoada...e

assim eu comia. Humm, que delícia eram as comidinhas da minha avó e quando

adoecia ela ainda me dava na boquinha. Hummm

Dormíamos juntas , eu só dormia se agarrasse a mão esquerda dela , outra

mania e por um tempo precisava pôr a ponta do indicador fazendo um movimento

repetido na boca do meu irmão Rogério, como petelecos suaves, o único que deixava

eu relaxar fazendo aquele movimento. Acordava sempre na madrugada e ficava

quieta . Minha mente via coisas na escuridão , naves , planetas , estrelas cadentes,

coisas estranhas que eu não conseguia dizer pra ninguém. Só voltava a dormir quando

o Sol raiava e minha visão voltava ao normal. 

Se estava agitada dava voltas na varanda , ia brincar na praça , na casa da outra

avó , vovó Celina . As duas eram irmãs, uma era avó biológica com quem pareço

fisicamente e a outra era minha tia avó que criou minha mãe e todos os cinco filhos ,

seus netos . Em ordem : Maria das Graças , promessa da minha mãe a Nossa

Senhora . Meu pai era brasileiro mas morava em Nebraska nos Estados Unidos , fazia
pesquisa sobre o sorgo que hoje é plantado no Brasil , ele se chamava Gilberto e

minha mãe é Maria Brenda. Voltando para a promessa... Eles se conheceram na

década de 50 no Brasil  mas papai foi estudar em Nebraska e lá teve a oferta de ficar ,

mamãe fez a promessa de se casar com ele e tivessem uma filha ela se chamaria

Maria das Graças e assim aconteceu.  Ele voltou por ela.  

O segundo filho é Paulo, nome do pai de criação da minha mãe, que era primo

legítimo das minhas avós. O terceiro é Rogério , que gentilmente me deixava mover

seus lábios para conseguir dormir . Depois de Rogério houve uma pausa de 7 anos .

Minha mãe teve abortos e não conseguia mais filhos , porém queria. Desejava mais .

Meus pais moraram um tempo no Rio e lá mamãe fez um tratamento e engravidou de

mim. Nasci em Recife , onde todos os filhos nasceram e meu nome também foi

escolhido por minha avó Julieta. Juju, pode até existir alguém tão doce quanto ela,

porém mais doce eu duvido. Maria Valeska nasceu em 31 de agosto de 1973 , às 9 e

meia da manhã . Sol em Virgem a ascendente em Escorpião, Lua em Libra . Uma

neuro divergente de quase 4 kg , muito branca, gorducha, de olhos verdes e cabelos

loiros. Me contaram muito sobre como nasci porque minhas fotos foram perdidas na

cheia de 1976 , ano de nascimento do meu irmão caçula que se chama Romero, nome

escolhido por meu Pai.  

Comentavam que eu nasci muito gorducha e bonita , que era um bebê que não

chorava , nem mesmo para comer. Disseram que era um bebê tranquilo e que tive um

problema com meus pés, que pisaram diferente para andar , mas fiquei bem. No

entanto, não conseguia ficar na escola. Não conseguia ficar junto de outras crianças e

isso eu lembro bem. Não conseguia mesmo pois meus ouvidos doíam . Estar juntos

de várias crianças gritando era o oposto do que eu gostava. Gostava do jardim da


minha avó, da árvore africana e de ouvir o som de suas folhas e contá-las . Saí de

várias escolinhas até receber o veredicto da diretora de uma delas .  

- Brenda a sua filha não é capaz de ficar nesta escola nem em nenhuma outra .É

melhor aceitar que ela , jamais, vai aprender a ler ou escrever .


  

Eu não estava na hora desta conversa mas estive em algumas das conversas

que meus pais tiveram sobre mim . Em uma delas decidiram me colocar no piano e na

escola de artes e deu certo . Nelas não havia barulho e eu aprendi piano muito rápido ,

tão rápido e tão nova que o conservatório de música chamou minha mãe e disse que

eu tinha muito talento e iria para aulas individuais pois poderia ser uma grande

pianista. Mas papai dizia que era pouco, que acreditava sim que eu ia ler e escrever

porque se eu entendia a partitura porque não entendia as letras? Ele descobriu que

existia em Recife em 1978 uma turma nova para crianças diferentes. A Escola se

chamava Solar das Crianças .  

As crianças diferentes , como eu , entravam mais cedo saiam mais tarde e

tinham um recreio a parte longe do barulho das demais e todos nós da turma dos

diferentes éramos felizes juntos. Nós estudávamos mais e aprendemos muito .

Naquele mesmo ano eu aprendi todo o alfabeto e muitas outras coisas . Evolui tão

bem que no ano seguinte passei para o colégio maior . Chorava todos os dias neste

colégio maior , não conseguia comprar meu lanche porque as crianças empurravam

na fila , não conseguia falar para as outras crianças o que queria dizer . Tinha muitas

saudades da minha turma dos diferentes, lá a gente não empurrava ninguém , todos

levavam lanches e dividiam juntos no recreio ... fui para o único lugar seguro o

banheiro do Colégio . Ficava trancada no banheiro , longe do barulho e dos

empurrões todos os dias , no recreio e sempre que conseguia fugir das aulas .  
Depois descobri que a Capela do colégio grande, às vezes,  também ficava

aberta  e a biblioteca sempre. Descobri o melhor de todos os recantos dentro do

Colégio Marista São Luís, o pequeno bosque de pinheiros ao lado do campo de

futebol . Aquelas árvores não eram tão lindas como a árvore Africana do Jardim da

Vovó Juju, mas era igualmente silencioso. Como nesta época já sabia escrever,

comecei a escrever sobre tudo que queria falar e não conseguia . O piano não era

mais a única opção para expressar o que sentia. Havia a escrita e com ela a liberdade

de me expressar com lápis e papel em qualquer local e a qualquer hora. Meu esporte

na época era a natação, que praticava no mesmo colégio. Mas meu pediatra e

psiquiatra na época disse que não devia ficar tão só.

- Mas eu gosto de ficar só  

- Sei que gosta de ficar só. Porém, tem que se esforçar para ficar em grupo e  se

quiser ficar na natação tem que escolher um esporte coletivo . Caso contrário

vai sair da natação.

Então deixei de ir 5 dias para a natação e fiquei dois no meu primeiro esporte

coletivo chamado na época de ginástica rítmica. Havia uma coreografia coletiva mas

o resto da aula era individual . Eu gostava das crianças só não conseguia me

comunicar com elas e não gostava das muito barulhentas nem das que agrediram

outras crianças, inclusive a mim. Lembro de começar a frequentar também o parque

de brinquedos , mas em horários que as outras crianças não iam. Certa vez , eu estava

lá no balanço sentindo o vento no rosto e o cheiro das árvores quando a menina do

lado gritou , outras três chegaram batendo nela e eu fui ajudar , eu era grande elas

eram maiores e a menina não se defendia. Estávamos perdendo feio, quando minha

mãe chegou e fez com que parassem , não sei como mamãe chegou naquela hora ali
naquela briga mas chegou na hora certa. Fiquei feliz demais que ela chegou e ela

ficou super feliz por eu ter brigado para defender a outra .  

Minha primeira amiga é amiga até hoje e se chama Ana Paula, Aninha. Na época

acho que se tornou minha amiga porque ela falava muito, ria muito e eu nem

precisava falar nada, já falava por nós duas. Durante os primeiros anos do ensino

fundamental eu comecei a escrever melhor e ganhei algumas notas altas das

professoras de português mas também ia muito bem em matemática. Os números

faziam sentido e minha mente mergulhava profundamente neles .

Resolver problemas de matemática era uma delícia . Descobri que poemas

seguiam regras e descobri a literatura de cordel .  Certa vez, meus pais me levaram a

Caruaru, onde meu pai nasceu . Lá existe uma feira bem conhecida, a Feira de

Caruaru , onde há barracas com diversos produtos regionais e  com vários cordéis e

repentistas que criam sextilhas na mesma hora, métrica e rima criadas na hora , de

repente, sobre qualquer assunto. Seis versos de sete sílabas , com rimas nos versos

pares. Virei a garota que contava sílabas e descobri que a literatura era mesmo mais

gostosa que a matemática .  

Eu escrevia e comecei a cantar na frente do espelho tal qual os repentistas só

que baixinho para ninguém ouvir . Como aqui no Nordeste do Brasil falamos de um

jeito cantado, minha comunicação verbal começou a ficar bem melhor depois de

aprender o Cordel . Minha mente se encantou com a  música , palavras e matemática

que existem no Cordel. Os sentimentos e  emoções que geralmente não conseguiam

ser  expressas começaram a  surgir  em forma de sextilhas e das outras métricas e

rimas da Literatura de Cordel : Versos de 4 , 5 e 7 sílabas e sextilhas com versos

abertos , fechados ou soltos . 


Até hoje quando passo por uma emoção muito forte gosto de fazer rimas e

instintivamente expressar meus sentimentos. 


 

No jardim, contava mais de mil  

Minha voz, ninguém ouviu  

Aprendi na Escola disciplina e ser gentil 

Fui  Mundo Afora com coragem  

Escrever e ser feliz 

Muito além do meu Brasil 


 

Um ponto forte em ser neurodivergente , no meu caso, é a leitura rápida, que

meu pai também parecia ter. Com uma mente capaz de ler muito rápido e gostando

muito de ler, me tornei uma leitora voraz e fui acumulando conhecimento. Meu pai

me entendia bem, ele também lia muito rápido e gostava de ler sobre  assuntos

diversos. Certa vez , nunca vou esquecer aquele dia, ele chegou em casa com uma

caixa enorme repleta de livros sobre o Mundo. 

- São todos para você .  

Naquele dia eu fui tomada por uma alegria tão grande que até hoje não sei

como explicar, como traduzir. Mas que , em parte, se repete sempre que vejo

uma biblioteca ou livraria.Vários assuntos diferentes , estilos e línguas

diferentes. Abrindo um mundo muito maior a cada novo livro. Aprendi

também a  contar estórias através da escrita. Escrevendo sobre assuntos

diferentes mas com o mesmo prazer de estar olhando a Árvore Africana.

Aprendi que o mundo é muito maior que aquele jardim. Continuo ávida para

conhecê-lo . 
 
Cheguei na adolescência praticando voleibol , com notas altas e algumas boas

amizades . Gostava mais de andar com os meninos porque falavam menos ,

geralmente . Mas tinha amigas que são amigas até hoje. Se havia paqueras na época,

passaram despercebidos. O Amor é o tal do Amor . Eu não entendia as indiretas que

os garotos davam na escola ou fora dela . 


 

- Seus olhos são tão distantes  

- Distantes ? Você nem é tão baixinho assim  


 

-Presta atenção nessa música é muito importante, o que acha ? 

-Sim, ela é linda . Conheço mas porque tenho que prestar atenção agora? 
 

-Mas fulano você não marcou a prova na agenda ? 

-É porque a agenda que eu quero eu não consegui ainda  

-Eita que agenda é essa ? É feita de Ouro ?  

E fulano riu como se fosse uma piada 


 

   Cheguei aos 15 anos e me roubaram um beijo e eu não fiquei bem. Havia

uma certa pressão para que eu namorasse, mas eu não tinha essa vontade. Era

bem mais fácil ficar só com meus estudos , livros e mais livros. Disciplinada e

organizada fazia as tarefas antes mesmo do professor pedir . Adiantava as

matérias. Minha mãe ficava louca quando abria minha mala nas férias e via que

em metade dela eu tinha posto livros e na outra metade algumas roupas, a

escova de dentes e um frasco de lavanda e só.


 

- São férias , larga os livros


-Mas eu gosto de ficar lendo nas férias. 

 Sou  sensível a sentimentos e emoções, isso me impulsiona a querer ajudar.

Acredito que virou um comportamento meu quando comecei a ensinar outras

crianças da escola. Comecei ensinando matemática e no ensino médio ensinava

matemática e física . Também ensinava gratuitamente outras crianças. Se

alguém chorava ao meu lado eu me sentia triste automaticamente, porém não

expressava , não chorava junto . Mas sentia profundamente , ficava congelada ,

sem conseguir extravasar e geralmente era no meu diário que escrevia sobre o

que aconteceu e o que estava sentindo . 

A escrita me permitia  expressar o que havia ocorrido e o que sentia e

com isso eu me entendia melhor e conseguia elaborar as emoções internas. A

hipersensibilidade no espectro autista é bastante comentada: sons , cheiros ,

toques... mas falam pouco sobre como processamos sentimentos,

provavelmente porque a maioria dos cientistas não conseguem entender as

mentes divergentes. Nós passamos a vida tentando ser neurotípicos mas não

somos . Mesmo que sejamos bem adaptados ao mundo e às vidas sociais,

somos divergentes.   

Isso deveria ser bom , trazer a possibilidade de escutar divergentes é

abrir portas para entender que há pessoas que possuem uma outra forma de

captar os estímulos de processá-los e de agir no campo social . Demorei para

aceitar que mesmo não sendo normal eu sou feliz e que o que há de divergente

em mim , depois de tantos anos de adaptações é porque tem que ficar assim .

Aceitar as diferenças que me fazem ser o que sou não é fracassar é ter

resiliência. Mais ainda é desenvolver a sabedoria .  


Aceitar mudar o que podemos mudar e acolher também aquilo que não

podemos . Esta é a parte onde quero falar sobre espiritualidade . Desde

pequena me dirigia a Deus com intimidade e ele estava em tudo. Quando

comecei a ler a bíblia e ir às missas desenvolvi  um ciúme incrível do Rei Davi.

Sim,, sim , sim ... Porque ele falava com Deus com tanta intimidade como eu

fazia antes e agora, na catequese, eu tinha que ir às missas cheias de gente e de

barulho e não conseguia rezar como antes. 

Antes minha oração era espontânea e minha conversa era em silêncio e

em linha direta . Mas começaram a me  ensinar que não era assim . Que eu

precisava ir à missa para falar com Deus e que precisava confessar meus

pecados aos padres para que eles intercedam por mim... Mas Deus era meu

Pai , meu criador , o ser que conhecia tudo de mim mesmo que eu não o visse.

Davi o via , ouvia e podia se comunicar de diversas formas . Orando ,

caminhando , dançando , amando e sendo amado por Deus. A bíblia inteira era

importante para mim . Mas havia uma atração por Davi e pelo Rei Salomão .

Sou descendente de uma Judia Sefaradi morta pela inquisição e por isso

também sou Portuguesa .  

Resgatar essa parte judaica em mim foi me permitir acessar mais da

cultura de ancestrais. Salomão era um Rei muito sábio que foi bastante

distorcido e resumido para os católicos . Talvez a Sabedoria não seja algo que

a Igreja Católica Apostólica “ROMANA” gostaria de estimular na época da

Inquisição . Talvez também Abstrair Lilith , primeira mulher de Adão e

culpabilizar Evah por todas as desgraças do Mundo fosse interessante .

“Cherchez la Femme”. Mas o que desejo pontuar aqui é a Importância de


refletir sobre tudo e sobretudo crenças cristalizadas em nós e nas sociedades ,

refletir .  

Crenças limitantes causam danos individuais e coletivos . Se meus pais

tivessem acreditado que a criança que fui jamais iria aprender a ler e escrever ,

você não estaria lendo este livro agora. Eu , provavelmente, não teria chegado

até aqui . Me sinto muito sortuda por tudo e muito grata a Deus. Não deixo

nenhuma religião me impedir de conversar com Deus sempre e em todo lugar e

quanto mais me desenvolvi mais minha fé se fortaleceu. Na pandemia escrevi

um livro e publiquei um livro assinando com um pseudônimo “Prem Charyo” . 

Recebi esse nome espiritual e conto sobre ele no pequeno livro chamado

Ganapati Garden. 

Mas como uma escritora brasileira e portuguesa , criada com fortes

raízes judaicas e cristãs escreve um livro sobre um Jardim de Ganesha e o

publica em Inglês ?  Porque fui surpreendida pela visão de um jardim maior e

ainda mais cheio de paz e alegria , durante uma meditação em um retiro .

Depois descobri que o elefante que me levou até aquele jardim era conhecido

como Ganesha ou Ganapati e daí escrevi Ganapati Garden por Prem Charyo ,

meu nome espiritual.Não queria que descobrissem de onde era , que era médica

no Brasil .  

Toda vez que escrevo sobre Espiritualidade gosto de assinar com meu nome

Espiritual . Ser médica no Brasil ainda é muito frustrante porque não posso atuar

como acredito . Acredito no ser humano de forma Integral , as partes não são mais

importantes do que o todo . A verdadeira saúde é estar em harmonia com nosso

corpo, emoções , pensamentos e nossa alma . Níveis energéticos . Não sei se viverei a

Era da Medicina Integral . Mas ela virá . Sempre que posso e o paciente aceita, entro
no campo de suas crenças e dou  meu testemunho de que o resultado é muito

melhor.  
 

A paixão pelo suspense


 

Capítulo 2  
 

Minha vida amorosa foi quase nula até o final do ensino médio, mas minha

escrita era otimista , inclusive no Amor. Ganhei o prêmio de melhor livro de crônicas

no ensino médio da escola e o elogio de uma extraordinária professora de literatura

com quem tive aulas particulares para continuar desenvolvendo a escrita. Porque

escrever também exige esforço, estudo e prática. Dona Inalda me falou : 

- Valeska eu não acredito que você vai desperdiçar seu tempo em medicina ao

invés de estudar e praticar a língua portuguesa. 

- Mas eu quero ajudar as pessoas , quero ser médica e ajudar as pessoas. 

- Eu entendo mas me prometa que você não vai parar de escrever , que vai

estudar e vai praticar sempre.  

- Prometo . 

Aqui estou , eu nunca parei de escrever , cursei medicina durante o dia e

jornalismo durante a noite. Terminei as duas . Meu trabalho de conclusão de curso

em jornalismo foi sobre Comunicação em Saúde e minha dissertação de  Mestrado

em Saúde Pública foi também sobre Estratégias de comunicação em Saúde .Continuei

minha carreira médica e nunca parei de estudar  e praticar a escrita. Fiz oficinas de

literatura , participei de concursos , fiz curso de roteiro de cinema e de tv e oficina de


dramaturgia . Todos os meus mestres perceberam o meu estilo otimista e assim me

descreveram a vida inteira. Foi acreditando em um deles que me desafiei a concorrer

em um concurso cujo tema era os sete pecados e escolhi escrever 3 contos assim :  

Escrevi um conto sobre o pecado da vaidade no estilo suspense,  "A Dose

Certa “ .  Escolhi a Luxúria em um conto erótico sob o  Titulo “ Camisa Polo”  e por

fim , escolhi  escrever sobre um personagem mais complexo um que  cometia todos

os pecados e confesso que adoro esse personagem e  ainda estou transformando este

conto em um livro porque acontece isso com o autor a gente , às vezes , se apaixona

por um personagem e sente que precisa de mais tempo e espaço para contar a sua

estória. O Topo ainda não está concluído mas  tenho a intenção de publicá-lo

também. 

No entanto, ao deixá-los  disponíveis na internet, senti pela primeira vez o

impacto de escrever assinando Valeska Berardo , meu nome , o dano quase me fez

desistir de escrever de novo. O conto erótico repercutiu na minha vida social, muitas

pessoas ao redor confundiram personagens com a autora. Escrever sobre uma 

ninfomaníaca ? Sim , esta era a proposta . Outros escritores já escreveram sobre

ninfomaníacas ... Por que não escrever sobre este assunto se inclusive como médica

já tive pacientes com diversas questões que envolvem sexualidade . Mas aprendi que

os pseudônimos nos servem bem, principalmente quando vamos abordar temas

polêmicos ou tabus. Os autores tem seu estilo e a capacidade de contar histórias

através de personagens que podem ter semelhanças com algo que foi observado e não

literalmente vivido. Gabriel Garcia Marquez , em Me alugo para Sonhar, descreve

bem demais essa arte criativa que transforma retratos da vida em arte escrita, a

literatura.
 Só recentemente voltei a assinar como Valeska Berardo.Não vou compartilhar

o conto erótico porque não é o gênero que quero desenvolver como escritora . Amo

as histórias infantis e os livros sobre espiritualidade e tenho uma paixão por suspense

por admiração a Agatha Christie . Li todos os livros dela, todos. Meu preferido é o

assassinato de Roger Acroyd. Em homenagem a ela que me proporcionou tantos

momentos incríveis de forte emoção durante toda a adolescência, eu compartilho

aqui  os  contos “ a Dose Certa”  e “Caravelas” . 


 

A  DOSE CERTA   

Flashes, aplausos, sorrisos, lágrimas de emoção ao ser coroada Miss

Universo 2033. Nascida em 16 de janeiro de 2013 sabia que esse era seu

destino. Desde pequena sentia que esse era o grande momento da sua vida.Um

a um os jurados caíram, logo socorridos, transferidos para o melhor Hospital

daquela metrópole fascinante. Apenas uma jurada sobreviveu, ilesa. Todos

morreram envenenados.  

A Miss Universo  2033 deu entrevista com seguranças ao seu redor e

nada bebia ou tocava se não tivesse sido rigorosamente analisado. Ela

respondia as perguntas, traumatizada, mas confiante na polícia. Ela não tinha

inimigos, não que soubesse. Não recebeu nenhuma mensagem ameaçadora.

Nada em suas redes sociais indicavam qualquer perigo. Eram elogios de fãs e 

felicitações pelo título que era unanimidade. Ela mereceu ser  a Miss Universo

2033, sua beleza era incomparável.  

Nem mesmo a segunda colocada discordou do resultado final. Em seu

depoimento disse que estavam lado a lado aguardando o resultado já esperado

e enquanto ela se afastava para dar espaço para a coroação viu uma

movimentação na área dos jurados e foi só o que viu.  Soube depois como
todas as outras que eles haviam sido envenenados. Ela , no momento, era o

alvo principal das especulações, teria envenenado todos os jurados por

vaidade? Ela se mantinha tranquila. Entendia que pessoas que não a

conhecessem imaginassem algo tão absurdo. Mas permanecia muito tranqüila.  

A polícia isolou o local. O mesmo veneno, Belamorte, foi encontrado em

níveis diferentes no sangue de todas as vítimas. A única jurada que sobreviveu

foi interrogada. Lembro que estávamos todos alegres conversando na sala de

apoio, já tínhamos entregado as notas para serem computadas e comemos o

que estava no coquetel. Depois fomos chamados para as nossas cadeiras e em

alguns minutos o meu colega ao lado começou a suar frio e ficar sem fôlego,

outra na ponta caiu e de repente um a um foi sendo retirado. Eu também

comecei a pensar que ia cair ou ficar sem ar, mas nada aconteceu comigo.  

Dentro da mala da segunda colocada foi encontrada uma caixa rosa de

madeira com um fundo falso onde o veneno foi encontrado. A moça ficou

atônita, não tinha como explicar o que aconteceu , repetia que não tinha feito

nada, mas tinha motivo e o veneno estava escondido em sua mala. Com certeza

não agiu sozinha, alguém a ajudou a colocar o veneno em algum alimento ou

bebida que foi servido para o júri. Alguém que tinha acesso às notas e que

sabia que ela não venceu. Mas este alguém não foi encontrado.  

 No ano seguinte  toda a equipe foi trocada. A segurança foi redobrada, o

concurso  de  2034 seria um sucesso. Apesar de um clima tenso tudo ocorreu

bem até as cinco mais belas. Enquanto o Júri ouvia as respostas das entrevistas,

uma jurada se levantou e os flashes a seguiram. A sobrevivente do ano anterior

não se sentiu bem. Houve um breve intervalo, tomou uma medicação e revelou
aos colegas que ainda estava traumatizada. Todos compreenderam. Entregaram

as notas e ninguém mais se levantou até a vencedora ser anunciada.  

A Miss Universo  2033 veio caminhando lindíssima, após um ano

glorioso. Acenou para as câmeras e enfiou um punhal na sua sucessora. Logo

depois foi contida pelos seguranças e as câmeras captaram os mesmos

sintomas que os jurados do ano anterior. O Mundo assistiu à sua morte. Ela

morreu sem entregar a sua coroa.  

Um vídeo foi postado  um minuto antes de sua morte, nele a Miss

Universo 2033 contou  toda a história. Cenas do concurso e como teve acesso

às notas que lhe deram e como envenenou os jurados por terem tido a ousadia

de não lhe darem nota dez. Só uma reconheceu que sua beleza merecia dez e

por isso sobreviveu.  A coroa era dela e de mais ninguém pro resto de sua vida

e morte. 

CARAVELAS  

Venâncio já estava rouco de tanto gritar enquanto assistia ao jogo do

Corinthians naquele Sábado. Através de uma TV na portaria ele assistia a tudo com

os olhos grudados na tela, nem piscava. O ofegante aguardava o apito final e aí sim,

suspirou e comemorou. Era um empate importante, principalmente em uma disputa

de Mundial. 

Saiu da portaria do prédio para assistir aos fogos da comemoração, subiu os

cinco degraus que levavam à área de lazer do prédio, nas varandas da via e ouvia a

alegria de moradores que dividiam com ele a mesma paixão. Próximo à piscina

avistou alguém deitado na grama, de longe parecia uma mulher. Andou em sua
direção e pegou no caminho um celular que estava ligado tocando uma playlist de um

aplicativo de música.

“São as águas de março fechando o verão é a promessa de vida no seu

coração…”

Venâncio segurou o celular e o viu apagar por falta de bateria. Foi em direção a

mulher.

- Senhora olá, posso ajudar?

Não demorou muito até entender que o corpo inerte no chão, estava morto. O

rosto desfigurado e coberto de sangue. Correu para a portaria e avisou o Síndico. 

A polícia demorou cerca de quarenta e cinco minutos para chegar, alguns

moradores desceram para ajudar. Ninguém que estava ali reconhecia aquela Mulher.

Cabelos curtos pretos com mechas cobres, magra, estatura mediana. Vestia uma calça

jeans, camiseta lilás com mangas curtas e um tênis que parecia pintado à mão. Um

anel dourado no dedo anelar direito, uma meia-aliança. 

O investigador da homicídios começou a interrogar o porteiro enquanto a

polícia técnica avaliava o local. 

- Você foi o primeiro a encontrar o corpo não foi? Como explica isso?

- Explicar o quê? Eu estava aqui na portaria fazendo meu trabalho e saí só um

minutinho pra esticar as pernas. Foi quando vi uma pessoa na grama, quase

pisei neste celular que lhe entreguei, que estava ligado e tudo. Quando cheguei

junto foi que vi que era uma mulher morta. 


- Me diga uma coisa, você não viu nem ouviu nada antes disso? Alguma briga,

um grito, um pedido de socorro, o barulho do corpo caindo de algum andar

desse prédio?

- Não senhor, eu não ouvi nada, nem vi nada. A não ser o que eu lhe disse.

- Você conhece essa mulher?

- Nunca a vi na vida, trabalho aqui há quinze anos. Posso lhe garantir que não é

moradora daqui. Só temos sete andares, quatorze famílias. Quer dizer

atualmente treze famílias, porque o apartamento de número quatrocentos e um

está desocupado.

- Sei, e você conhece bem todas as treze famílias? Viu alguém entrando com

essa moça no prédio?

- Conheço todas as famílias e não vi ninguém entrando com ela no prédio. 

A conversa foi interrompida por outro policial que chegou trazendo uma bolsa

pequena, preta, com uma flor lilás perto de uma alça fina. Dentro o investigador

Rodrigues encontrou a carteira de habilitação, um batom, uma carteira com

cartões de crédito, um ticket de estacionamento de um bar e vinte reais.

- Ana Rosa de Melo, 29 anos.

- Deixa eu ver Doutor? Não, nunca vi essa mulher por aqui, não mesmo. 

- Ok, meu colega vai continuar conversando com o senhor sobre as famílias

daqui e agradecemos sua colaboração, mas vamos nos encontrar de novo.

A família foi avisada, a filha não morava com os pais. Era publicitária, dividia

um apartamento com uma colega de trabalho que está fora do País há 5 dias e o noivo

também estava fora da cidade a trabalho no Rio. A mãe e o irmão mais novo não

compreendiam nada do que havia ocorrido. Ana estava morta, mas por que? Como?
Desconheciam qualquer amizade dela com alguém do Edifício Caravelas, há menos

de dez quilômetros da casa da família.  

- A última vez que falei com minha filha foi quinta-feira à noite e estava

bem, tranquila. Me disse que a amiga que dividia o mesmo apartamento

estava na Argentina e iria pra casa de Roberto. 

- Roberto é o noivo de sua filha ?

- Sim, Roberto Simões , eles ficaram noivos há dois meses e desde então

ela costuma passar mais tempo na casa dele.

- Eu preciso do telefone e endereço do Roberto, por favor. Ah e preciso

que reconheça sua filha e estes objetos pessoais.

- Este celular não é dela. Interrompeu o irmão mais novo. 

- Tem certeza? Nem do noivo?

- Absoluta, este aparelho de celular não é de nenhum dos dois

O legista confirmou relação sexual antes da morte, havia presença de sêmen na

vagina. As contusões foram provocadas por queda, levando a trauma crânio

encefálico e morte no choque contra o chão. 

- Tem como saber a que altura? 

- Olha depende  de como ela tenha sido lançada mas foi um impacto forte, eu

arrisco dizer que acima do segundo andar. 

Rodrigues lia o relatório do andamento do caso. Não houve grandes avanços

depois do seu plantão. Apenas o depoimento de Amanda, amiga de Ana. Segundo

a amiga, na noite anterior Ana chegou feliz para um encontro com amigos.

Avisou que ia ao banheiro, retornou estranha, estava sentada mas estava muito

distraída, ficou inquieta. Disse que ia de novo ao banheiro e não voltou mais..
Não passava das oito da noite quando ligou para Ana e notou que o celular havia

ficado no bar, então guardou para lhe entregar no dia seguinte.

- Regina, é Rodrigues da polícia, tem um minutinho?

- Sim.

- Sua filha tinha carro?

- Não, às vezes dirigia o do noivo, mas acho que ele trocou o carro

recentemente. 

- Obrigado. Aliás o Roberto, noivo da sua filha, já está aqui?

- Sim. Ele está muito confuso, desnorteado como nós. Vou avisar que o Senhor

quer falar com ele.

- Sim, preciso falar com ele.

Ligou para a polícia técnica e soube que havia duas digitais no aparelho. Uma

combinava com a do porteiro e a outra não era do cadáver.

- Olá detetive, pode entrar. 

- Bom, sei que o momento é difícil mas há perguntas que preciso lhe fazer.

- Eu entendo

- Como era o relacionamento de vocês?

- Muito bom, bem felizes. Ana sempre foi muito intensa em tudo que fazia e

tínhamos brigas como qualquer casal, nada demais.

- Sabe dizer se ela tinha alguma preferência de playlist

- Na verdade não.

- Não, não tinha ou não, você não sabe. 

- Não, ela costumava ouvir as minhas. 

- Quantos anos você tem?


- Trinta e quatro. Tenho também uma vida bastante corrida em função do

trabalho, sempre viajando. Ana tinha a chave daqui, da casa dos pais e da casa

dela, lógico. 

- Você acha que ela tinha algum amante?

- De jeito nenhum, ela sempre foi muito sincera. Sabia que não sou do tipo

passional, que entenderia se ela quisesse partir para outra.

- E ela? Se você quisesse terminar?

- Nenhum de nós queria terminar. Digo com toda certeza que ela nunca me

traiu. 

- Vocês pensavam em filhos? 

- Não. Ainda queríamos viajar muito e realizar muitas coisas antes de termos

filhos.

- Ela tomava pílula?

- Sim. Mas por que estas perguntas ? Não entendo ... o que aconteceu com ela

naquele sábado ? 

Naquela altura Rodrigues imaginava que ela estava tendo um caso sim.

Provavelmente com alguém do Edifício Caravelas. O telefone de Rodrigues

tocou e o dono do celular foi localizado e forneceu o material para exame de

DNA.

- Claro,  estou indo agora.

Levantou do sofá, anotou algumas coisas e avisou que precisava ir. Antes de

sair da casa do noivo deixou o número do celular caso tivesse alguma novidade. 
- Eu não fiz nada com aquela mulher. Repetia o dono do duzentos e um. Vocês

já coletaram meu DNA, eu sou inocente.

- E como explica o seu celular estar ao lado do corpo?

- Eu estava no meu apartamento na hora do jogo e o barulho era insuportável,

estou cercado de vizinhos Corinthianos e sou Santista. Não aguentei ficar

ouvindo o barulho e resolvi descer pra dar uma caminhada, aumentei o som do

meu celular e fiquei na lateral do prédio sentado no banco quando de repente

ouvi e senti um estrondo no chão, olhei pra trás e vi a mulher, o sangue. Me

aproximei, vi que estava morta. 

- Por que não chamou alguém ? não avisou a polícia ?

- O jogo tinha acabado de acabar, não vi de onde ela caiu e vi o porteiro subindo.

Saí correndo com medo, sei lá. Saí, simplesmente saí. Meu celular caiu e por

isso estou aqui, mas não tive nada com ela. 

- Essa estória está mal contada. 

- É a única que vai ouvir de mim porque é a verdade. A única coisa que fiz foi

estar no lugar errado na hora errada. Por causa de um maldito empate no

futebol.

Aquele Santista não era nenhum santo mas deu uma inspiração para o caso.

A maioria que mora no prédio torce pelo time e aquela partida era muito

importante então:
   

  Rodrigues com a lista de moradores na mão riscava os apartamentos cento e

um, cento e dois, duzentos e um, duzentos e dois e quatrocentos e um. Riscou

também seiscentos e um e os dois apartamentos da cobertura. Todos torceram pelo


Timão, time do Rodrigues. Ele mesmo se tivesse que matar alguém não seria durante

aquele jogo de um Mundial.

  Decidiu seguir seus instintos e se fixou nas famílias dos trezentos e um e trezentos e

dois, quatrocentos e dois, quinhentos e um, quinhentos e dois e dos seiscentos e dois.

Estes não eram torcedores do Timão e estavam na altura mais provável para as

contusões causadas pela queda.

  Não incluiu o dono do celular como grande suspeito.

Até porque o DNA foi coletado e ele seria muito estúpido de tê-la estuprado, matado

e espontaneamente ter fornecido o seu DNA.  Anotou as seis placas dos carros das

garagens desses apartamentos e todos os detalhes que pudessem ajudar, depois voltou

ao bar onde a vítima havia deixado o celular 

- Bingo. 

O Sedan preto do apartamento quatrocentos e dois estava registrado no

estacionamento ao lado do bar onde Ana deixou o celular. O dono do apartamento

era um viúvo não Corinthiano que morava sozinho com a filha. 

- O senhor pode me dizer por que matou  Ana?

- Eu não tenho ideia do que você está falando.

- Você tinha um caso com ela e ela ia terminar?

- Eu nunca a vi na vida, só sei que morreu no meu prédio.

- Mas se encontrou com ela neste bar, seu carro foi estacionado pelos

manobristas e eles guardaram os bilhetes até o domingo.

- Deve haver algum engano. Eu nem estava na cidade, fui com amigos ao

interior. Pode checar com todos.


Rodrigues parou por um minuto ou dois e perguntou

- Onde está sua filha?

- Clara ? Minha filha está aqui em casa.

- Ela não foi com você?

- Não, ela estava febril. Preferia não ir. 

- Então ela ficou sozinha em casa? 

- Sim.

- O Senhor pode chamá-la, por favor?

- Sim, posso. Mas tenho certeza que tem alguma explicação pra tudo isso.

- Também acho. 

         Voltou sem um pingo de cor no rosto, ela sumiu. O quarto estava revirado,

roupas no chão. A chave do carro sumiu. 

- Eu não entendo isso tudo, Clara não tem habilitação. 

- Mas parece que sabe dirigir bem e é rápida não é?

    Rodrigues estava satisfeito com o resultado do DNA, agora só faltava a confissão. 

Roberto confirmou o caso com Clara. Mas ele não queria terminar o noivado.

Estacionou na frente do prédio de Clara e Ana apareceu do nada do lado da porta do

passageiro, batia com força no vidro. Ele abriu a porta, ela começou a beijá-lo e pedir

que não a deixasse. 

-  Ana estava transtornada, eu disse várias vezes que eu a amava e que estava no

prédio para terminar tudo, ela me disse que soube do caso por uma conversa num

banheiro de Bar. Imagina isso, ela ouviu Clara dizer no banheiro do Bar o meu nome,
detalhes do nosso caso é que eu viria encontrá-la no Sábado, então Ana decidiu seguir

Clara, saber onde morava e ficar no Sábado aguardando eu aparecer.

- Clara viu meu carro da varanda parado e ligou e eu expliquei a situação, ela

desceu e abriu o portão da garagem. Estacionei na vaga do apartamento. 

- O porteiro abriu 

- Quando estávamos dentro,na garagem, as duas começaram a discutir.

Começaram a brigar. Separei as duas.  Falei para Clara subir e fiquei com Ana no

carro,

- Ana então me abraçou e ficamos loucos de paixão, ali mesmo na garagem. Eu

disse que ia terminar com Clara. Ficamos juntos na garagem. Clara voltou e nos viu,

veio batendo em mim e disse que ia se matar. Ficamos alguns minutos culpando um

ao outro e discutindo. 

- E Ana ?

- Não vi Ana na garagem, desapareceu. Fui atrás de Clara porque sei que ela já

teve depressão forte e subimos no elevador juntos, discutindo. Entramos no

apartamento, ela havia deixado a porta aberta. Ana estava na varanda, olhou pra gente

e simplesmente se jogou. 

- Como assim ? Ana simplesmente se jogou ? mesmo você dizendo que ficaria

com ela ?

- Eu não entendi, fiquei em choque, porque Ana não era assim , não se

descontrolava. Nunca, nunca me falou que seria capaz de se matar . 

- Onde está a Clara agora?


- Eu não sei. Não planejei nada disso. Simplesmente foi acontecendo. Logo

depois que ela se jogou nós vimos que um homem se aproximou do corpo, Clara o

reconheceu. Descemos pelas escadas até o meu carro e fomos embora do Prédio e ela

pediu para parar no metrô.

- É ….Um suicídio a essa altura fica muito cômodo pra vocês.  Mas escute bem

o depoimento mentiroso que você acabou de dar e me diga você mesmo como eu sei

que é mentira. 

- Não, não é mentira. Eu errei ao ter um caso, jamais imaginei que fosse

terminar assim. Eu imaginei minha vida com Ana e nem no pior pesadelo eu teria

imaginado que terminaria assim 

- Então você e Ana eram o casal ideal. Mas com a descoberta da traição ela se

descontrolou e se jogou do nada ? As únicas testemunhas são você e a sua amante

que está desaparecida ?

- Exatamente.

- Eu sei que você está mentindo. Apesar de não termos as imagens dos

elevadores e nem da garagem, provavelmente porque sua amante apagou. Sabemos

que o ato sexual não foi consentido, Ana lhe disse Não. 

- Você acha que estuprei minha noiva e a matei. Eu lancei  seu corpo no

apartamento da minha amante ?

- Você estuprou sua noiva e algum dos dois. Você ou Clara ou até mesmo os

dois a jogaram. 

- Isso você terá que provar.


O universo de possibilidades da Escrita

Capítulo 3 
 

A resiliência é muito mais do que uma linda palavra em português ela é

também um lindo conceito da física mecânica e uma propriedade adquirida

pelo ser humano. Ser resiliente  é ter a capacidade de se expandir também , de

resistir e de retornar ao seu ponto de equilíbrio mesmo que tenha sofrido .

Gosto muito de personagens resilientes e otimistas. Gosto ainda mais de

personagens que mesmo com as forças contrárias ficam melhores, não só

resistem como evoluem. Vão muito além da resiliência, transcendem. 

Quando abrimos o Notebook e todo o Universo se abre. Mil

possibilidades vezes mil. Qualquer pessoa, fato, sonho, emoção serve de

gatilho. Qualquer personagem é possível. 

A Retirante

Era uma manhã fria de domingo. Na praia de Araranguá, no Sul de Santa

Catarina, as baleias nadavam em grupo. Vento forte batia na janela, pela fresta o

uivo  tomava conta do quarto de Gilda. Uma pernambucana que foi morar em Santa

Catarina.  Deitada numa cama de bronze Dona Gilda franzina sorria embrulhada no

cobertor de lã. Ouvia o vento, pensava na vida. Não tinha saudades do sertão, era

feliz.

A vida em Pernambuco foi muito dura. Casou cedo demais e sofreu

muito...Agora uma lágrima escorria na face, na mesma velocidade que a gota de


chuva na janela. O Francisco com quem casou aos 16 anos era 15 anos mais velho,

era muito bruto , muito violento . Beijo  com hálito de cachaça, mãos de onça entre

suas pernas. Aos  23 anos, Gilda já tinha quatro filhos.

Gilda trabalhava, apanhava e paria. Era assim ano após ano. Uma noite Chico

do Brejo, como era conhecido, desapareceu. Última vez que o viram estava bêbado

de bicicleta na estrada que iria dar em outra estrada e em outra pra chegar em casa.

Foi nesta noite que o meteoro passava no Sertão que por misericórdia divina ele

desapareceu. Dizem até que foi abduzido por um ET. 

Gilda ficou só com 4 filhos, Trabalhava muito mas não apanhava mais. Ela e os

filhos foram morar numa cidade vizinha, costurava bem e arrumou clientela.

Sustentava a família Arnaldo, Osvaldo, Giselda e Rosinha. Tudo encarrilhado. Aos

vinte e sete anos conheceu  Orlando, caminhoneiro galego que se encantou pela

nordestina de quadris largos, cabelos de índia e boca carnuda. Se juntaram e vieram

para o Sul. Foi um bom pai para as crianças, bom marido. Gostava do jeitinho

educado dele  fazer amor nas manhãs de domingo. 

O homem morreu na estrada, o acidente envolveu duas carretas e um ônibus.

Muitas mortes e feridos. Dona Gilda ficou  só aos cinquenta e cinco anos. Os quatro

filhos já estavam crescidos. Arnaldo era advogado, logo cedo foi pra São Paulo e de

lá foi puxando os irmãos. Toda Páscoa eles chegavam e em todo Natal ela ia.  Com o

tempo ficou preguiçosa e mudou as regras. 

- Venham pra Araranguá quando quiserem. 

Cansou de pegar a mesma estrada onde seu amor morreu. Preferia que a família

também ficasse longe das estradas. Ela nunca quis sair de Araranguá, porque ali ela

foi feliz com Orlando. Cada detalhe daquele litoral trazia as lembranças bonitas de
um amor verdadeiro. Gilda morreu numa manhã de Domingo, encontraram seu corpo

franzino enrolado num cobertor de lã. 

Antes de morrer olhava a chuva e a cama vazia.

- A cama vazia é péssima conselheira. Foi sua última frase pra si mesma.

Seu último pensamento foi o agradecimento a Deus por ter tido a coragem de

enfrentar o miserável naquela noite do meteoro , matou, em legítima defesa . Só

depois que enterrou o corpo na beira da estrada teve paz. A única pessoa que sabia a

verdade era Orlando. 

Quando vale a pena. 

André e Maria. Ele é piloto, ela enfermeira. Uma paixão que sobrevivia ao

Mundo. Ela o aguardava angustiada naquela noite, no bar onde se conheceram

sempre comemoravam o dia 27 de setembro.

- Você bebeu quantas caipirinhas? 

- Umas três ou quatro. 

Cinco, conferiu com o garçom. 

- Bonito isso, muito bonito…

- Você demorou demais, não tinha nada melhor para fazer. 


 Sem nenhuma conversa a mais André agarrou  Maria pela nuca e cabelos. A outra

mão tocava meu rosto como se fosse uma peça de mármore, exceto pela

temperatura. 

O beijo explorava a boca , invadia a alma. 

- O tempo perde o sentido toda vez que te vejo...Eu tenho febre de você. 

Ele sorriu e  voltou a lhe beijar como se fosse a única boca possível de ser

beijada. 

-Tudo isso aqui é meu... Tocando cada pedaço dela, ele repetia apaixonado 

- Que saudade de você.

- E eu então, e eu então . 

O silêncio marcava os momentos em que não existiam palavras a serem ditas.

Olhos nos olhos e ruídos de prazer. Febre que não se quer curar.  

Daquela vez uma surpresa a letra M tatuada nas costas como prometeu. 

- Isso nunca vai dar certo.

-  Isso sempre deu certo ... 

O despertador chamava para outro voo. Na pressa ou de propósito esqueceu um

monte de coisas. E assim André vivia , indo e vindo na vida de Maria mas de

alguma forma sempre permanecendo 

-Cheguei

-Que saudade de você. 


- E eu então, beijando seu colo repetia trêmulo, e eu então...Com verdade nos

olhos repetiu, e eu então. 

Alguns dias depois e a mesma rotina na despedida. 

-Não bata na minha porta outra vez se não for pra ficar junto de vez.

- Ameace, tente me esquecer, eu sempre volto para você....você sabe que eu sou

louco por você...Mas..

-Ah sem mas, odeio esse mas, mas, mas. Vai embora logo, sai, volta  pra tua vida

maluca.

- Eu sei, estou cada vez mais distante, as rotas não estão ajudando...Tenso segurou

seu rosto. Eu não consigo viver sem acreditar que vou te ver de novo...Que tal um

filho? 

-Ele teria o teu nome. 

-Não importa que nome ele tenha desde que seja meu...Nosso filho. Me leva na

porta ?

- Você e essa mania, maluco completo, superstição boba. 

-Ninguém  tem chance entre nós, você sabe disso... 

-Você é muito convencido e sempre acaba bagunçando a minha vida mas não

consigo ter raiva de você. 

- Desista, ninguém tem chance entre nós...sempre vou estar presente na sua vida....

-Abusado, convencido, maluco. 

-Vem, me leva até a porta…


-Eu não. Deixa de ser bobo, vai sozinho e bate com força.

Ninguém tinha chance entre os dois. O avião caiu . Para ela, foi como ser

abduzida e passar a viver em um mundo desbotado e insípido. Quando lembrava

dos dois juntos, era o posto. Não havia nada tão perfeito , tão bom , tão feliz,

suspirava com saudade certa que tudo, absolutamente tudo valeu a pena.
 

 
 
 
Os desafios dentro da escrita
 
 
Capítulo 4 
 
 O último curso que fiz em dramaturgia, ano passado, me abriu a vontade
de escrever para o teatro pela primeira vez. Daí surgiu Evah. Enviei para uma
amiga, atriz de teatro e ela amou. Então mergulhei neste roteiro de  que
compartilho em parte agora. Não é a peça final mas acho interessante colocar
aqui. Primeiro para dar ao leitor a possibilidade de ler em um formato
diferente, roteiro de teatro. Para incentivar que leia mais peças de teatro . 
Evah é um desafio grande porque reconta uma história já estabelecida no
inconsciente coletivo como um dogma. É uma história que também desafia o
leitor a quebrar antigos conceitos e pensar se fosse diferente ? Se o que temos
por verdade fosse o conto contado de forma tendenciosa.  Não quero possuir a
verdade, apenas gosto de sentir e refletir sobre as outras possibilidades . Se a
história verdadeira fosse diferente, o que mudaria em você ? Em muitos ? 
 

EVAH

Personagens 
EVAH , a Mulher no Éden 
A COBRA , amigo fiel da Evah
ADÃO,  o primeiro Homem no Éden 
O CORVO ,  aliado a Adão 
A TULIPA BRILHANTE , a Sábia 
DEUS , o criador de Tudo que é 
ADAM , o Homem evoluído
CRIS , a dona da casa, com TOC
ATO 1 : O princípio do Tudo 

Duas grandes macieiras , repletas de maçãs de cores diferentes.  Um lago azul


translúcido 
Por onde podemos ver imagens digitalizadas de criaturas coloridas nadando pelo
lago . 
Uma Rocha onde está a Tulipa Brilhante , recebendo Luz direto do Sol e
espelhando a Luz . Muito verde ao fundo com borboletas . 
A Cobra , Evah e depois o Corvo 

Cobra : Evah olha aí a sua amiga , já mudou de Rocha outra vez .

Evah : Cobra essa é a graça em procurar a Tulipa Brilhante . Todo dia tudo pode
acontecer com ela , inclusive nada. em cada dia podemos ter uma nova Tulipa sendo a
mesma.  Assim , aqui no Eden , nenhum dia é como o outro , tem dias que Sim e dias que
Não . 

Cobra : Seu olhar poético sobre o Éden às vezes me comove, de verdade. 

Tulipa : Você está cada dia mais sábia Evah . Um bom conceito para você refletir Cobra.
Há dias que sim e dias que não logo : nem todo dia é sim , nem todo dia é não.
  
Cobra : hummm tenho um conceito para você Tulipa , nem todo veneno vem de Cobra.

Tulipa : Isso Cobra e nem toda Cobra tem veneno , apesar de poder picar .

Cobra : Eu tenho veneno, o criador me concedeu o poder de me defender através dele.

Tulipa : Verdade , seu veneno pode ser Letal . O criador te deu e se ele deu ele confia
que você vai saber usar . 

Cobra : Você é intrigante ( examinando bem a Tulipa Brilhante )  muito intrigante de


verdade. Não está enraizada em lugar nenhum e mesmo assim vive e brilha .
Aparece,desaparece e reaparece, ou não . Simples assim .

Tulipa : Sou tão parte da criação como você.


Cobra : Você vive de quê? De luz? 

Tulipa : Luz e Escuridão.

Cobra : Misteriosa !  Não sei que encanto lançou para Evah gostar tanto de você ! 

Evah : Gosto mesmo,tanto que não sei explicar o quanto me sinto bem quando te
encontro. É como se outra Evah estivesse aqui .Na verdade, mesmo quando não te
encontro, posso lembrar de cada momento que já estive com você e isso me deixa bem.
A lembrança da sua presença me faz bem e não me importo de te procurar por todo o
Éden para ter dias assim, como hoje.

Cobra : E eu ? Você faz parecer que só a Tulipa é importante que só ela te faz bem. Mas
eu fico atrás de você nesta busca dos dias sim e não , atrás da Tulipa brilhante. Eu te sigo
Evah porque me sinto … me sinto uma cobra melhor perto de você. 

Evah : ( tocando o rosto da cobra ) Obrigada por estar sempre comigo , por me apoiar e
achar que pode me proteger. ( os dois se entreolham e a Tulipa brilha mais forte).

Cobra : Estou aqui dia sim e dia também . Não há dia se não estou com você. Mas
quando estou é como se também não existisse o tempo.

Evah : Você é meu melhor amigo, também não sei como seria existir aqui sem você. Mas
muitas vezes mesmo com você aqui no Éden comigo me bate um vazio, uma tristeza. Me
sinto presa, já pensei em te pedir um pouco do seu veneno.

Cobra : ( intrigada )  O meu veneno ?  O que o Adão fez desta vez ? 


Evah : o de sempre , manda e manda e depois manda e manda mais um pouco e manda
de novo …. E depois se eu não faço ele manda o que mandou antes e depois e de novo .
Afinal ele é o Macho e eu sou a Fêmea 

Cobra : e daí ? Tem criaturas hermafroditas Sabia? Nem macho , nem fêmea. A rainha
das abelhas é  uma fêmea. Você como mulher se considera abaixo de uma Abelha
Rainha. 
Evah : Eu devia ser a Rainha ao menos da nossa caverna, mas não tem jeito. Adão só
faz o que quer , o que decide está decidido e pronto. Tenho que concordar ou então não
sou uma boa mulher , estou me tornando a Lilith. A primeira mulher de Adão.
 
Cobra : A Lilith não aguentou viver sob o domínio de Adão.  Me pergunto se o Criador já
fez para Adão uma esposa e depois teve que fazer outra … talvez vocês duas foram
criadas para perceber que precisam se amar em primeiro lugar. O Criador sabe tudo,
sabe também da dificuldade de agradar Adão. 

Evah : Mas eu saí da costela de Adão e fui criada a partir dele .

Cobra : Já ouvi esta história centenas de vezes mas já contou as costelas dele ? Porque
eu contei. Não falta nenhuma . Acho essa conversa de costela uma enrolação de Adão
pra fazer você devedora dele. 

Tulipa: Com verdade o Amor se manifesta com maior força. ( a Tulipa vai desaparecendo 

Evah:  Já ? Você já está partindo ? 

Tulipa: Me guarde com você e eu não partirei, mas agora preciso apenas seguir o meu
fluxo de existência. Pegue para você , e cai de uma macieira uma maçã dourada, Evah
segura a Maçã. ( a Tulipa desaparece e a escuridão encerra o primeiro Ato ) 
Ato 2  -  A noite de Adão e Evah.

Mesmo cenário , a floresta, as macieiras . A lua cheia ilumina a noite do casal. Adão
encontra Evah olhando a lua sentada na rocha onde antes estava a Tulipa. A cobra
se esconde atrás da árvore do lado de Evah a maçã dourada dada pela Tulipa e
todas as demais maçãs coloridas continuam no chão. Adão se aproxima de Evah. 

Adão : Evah o que ainda faz por aqui ? Precisei  mandar o corvo em sua busca. Ele me
disse que você estava aqui com aquela Serpente venenosa e conversando com uma flor
brilhante. 

Evah : ( deixando a maçã ao lado da rocha) Sim , verdade. O Corvo contou exatamente o
que fizemos , passamos a tarde com a Tulipa.

Adão : Você , a Cobra e a Tulipa ? Por que não me chamou ?

Evah : olha ( Evah sorri  e continua) , veja como a lua está linda , cheia ,  brilhante , hoje
ela está com o brilho azul , queria saber por que. 

Adão : não sei se está azul Evah mas você deveria ter mais cuidado , a floresta tem seus
perigos …. a Cobra é um deles .

Evah : Não , a Cobra e a Tulipa são meus amigos  e amo estar aqui dentro da floresta .
( Evah respira fundo) Sinta essa luz , é algo mágico .

Adão : A  Cobra e a Tulipa são mais importantes que eu ? Você prefere passar tempo
com essas criaturas  do que comigo ? (Adão põe a mão no suposto local da costela
retirada, Evah  se aproxima) 

Evah : Sente dor nesta noite ?

Adão : Um pouco sim …você sabe o quanto me custou ter você comigo , dei um pedaço
de mim por você, os ossos dos meus ossos , carne da minha carne . 
Evah : Me sinto mal por minha existência te causar dor .Não compreendo por que fui
criada se te faço sofrer assim. Não entendo porque você e a Lilith não permaneceram
unidos. Porque  ele teve que tirar um pedaço de você por minha criação.
Adão :  Não fale o nome daquela mulher, eu fui criado à semelhança do criador e me
faltava algo , sempre senti que me faltava algo. Aquela criatura não me entendia, nem
obedecia, ela não pertencia ao Paraíso. Eu sim e você também. 

Evah : Este algo que te faltava ainda parece que te falta.  Sinto que não importa quanta
atenção eu e outras criaturas te dão , nunca é suficiente. 

Adão : Deus me criou para ser o protetor do Éden , também não entendo o criador e
talvez seja esta a minha maior busca . Mas hoje eu busquei você e aqui estamos . 
(Adão beija Evah, sob a Luz da Lua. Ela toca o local a partir de onde foi criada .)

Adão : o que há, Evah ? 

Evah : Não existe nenhuma deformidade de onde ele tirou a costela , nem há cicatriz . 

Adão : Você não vê cicatriz porque ele não deixou cicatriz .Para  te criar ele tirou um
pedaço de mim e foi assim. Você foi criada a partir de mim , para me apoiar aqui no
paraíso.

Evah : sim já sei , fui criada para te apoiar , te ajudar e te obedecer. mas posso contestar
não ? 

Adão :( olha pra Evah  irritado) Sim apoiar ,ajudar e obedecer ! Contestar o que ?  Não te
falta nada . Não me faça me arrepender de ter trocado parte de mim por tua companhia. 

Evah : Me leve para falar com Deus na próxima vez , tenho coisas a perguntar ao
criador . Também quero pedir que tire suas dores, não é justo que você tenha dores tão
frequentes por minha causa , ele é o criador , ele pode tudo . 

Adão : Sim ele pode tudo , não sei como ele pode tudo , mas sei que pode e isso , isso
me inquieta. queria também poder criar tudo. 

Evah : É  por isso que comes as sementes de sabedoria de algumas maçãs ?  
Adão :( Esquivando o corpo e se levantando )
como assim ? quem te disse que existem sementes de sabedoria ? a Cobra ? 
Evah : Não , a Tulipa . Mas a cobra me disse que já viu restos de maçãs com marcas de
mordidas humanas e sei que não fui eu. Nunca comi uma maçã .Foi  você mesmo que me
proibiu . 

Adão : Evah ! Você foi criada a partir de mim para me apoiar e ajudar aqui no Éden, não
para pensar ou contestar as minhas verdades . Se digo que é assim, assim é ! Não me
faça arrepender de ter dado parte de mim por você ( toca outra vez no local da costela
com cara de sofrimento ) 

Evah : Me desculpe , não posso ser ingrata com você ,você não deixa me faltar nada e
sempre me protege dos perigos da floresta. Talvez tenha encontrado boas sementes de
sabedoria para você . 

Adão : como assim ? 

Evah :  ( indo em busca da maçã dourada que a tulipa havia dado, mostra a Adão e
entrega a ele ) 
Hoje cedo a tulipa me deu esta maçã dourada de presente , ela me falou sobre sementes
de sabedoria . Talvez esta maçã seja especial . 

Adão : Estranho nunca vi uma maçã dessa cor, é difícil entender porque essa Tulipa te
daria uma maçã assim, aliás … quem é essa Tulipa? o que é essa Tulipa ? não deve ser
coisa boa vindo da Cobra . Esta maçã deve estar envenenada pela cobra e vocês querem
me enganar, me trair !!! Você e sua cobra querem me trair , é isso . 

Evah: Não Adão , estou te falando a verdade , podemos dividir a maçã se acha que está
envenenada . 

Adão : isso não quer dizer nada, a maçã deve estar envenenada e morreríamos os dois
ao comê-la. Seria um plano seu contra mim da mesma forma. 

Evah : Então posso comê-la primeiro, um pedaço e se nada me acontecer você pode ficar
com ela, talvez encontre as sementes que você tem procurado. 
Adão : As sementes que procuro me fariam um criador também , é isso que desejo .
Poder criar o que bem quiser , quando quiser e como quiser. 

Evah : Talvez nesta maçã , você finalmente encontre o que quer ! 


Adão : Quanta bobagem ,uma Tulipa te deu a maçã das sementes de toda a sabedoria?
a você??? por que?? e ao lado da Cobra ? A Cobra é mesmo perigosa ela está
envenenando sua mente contra mim  é ela que tem passado estas ideias para você.  Vou
dar um jeito nela de uma vez por todas . 

Evah : Não, que loucura, não diga isso. A Tulipa tem muita sabedoria e me deu esta
maçã diferente como um presente, a Cobra não fez nada. Somos amigos de verdade, só
estava me ajudando a  encontrar a Tulipa. 

Adão : Vocês são amigos de verdade ? Você e a Cobra? E nós ? Eu sou seu amigo ,e
você deveria ser também . De hoje essa cobra não passa , ela esta querendo me matar
com essa maçã envenenada e com a ajuda da tal Tulipa . Também vou encontrar essa
Tulipa e arrancar essa criatura do Éden. Não precisamos dela .
 
Evah: Não faça isso, você está errado, não tem nada a ver com você. Não existe nenhum
plano para te machucar.  A Cobra e a Tulipa são criaturas boas . São bons amigos que
tenho, não faça nada contra eles , eles não te fizeram nada. 

Adão : Evah ! Sou eu que decido, eu decido quem faz bem ou não em existir por aqui .
( adão sai de cena joga a maçã dourada ao lado de evah e ela permanece ) 
 Ato 3 - Confissões de Evah 

No mesmo cenário ao amanhecer Evah segura a maçã e assiste ao nascer do sol. 

Evah: Um novo dia nasce… Criador eu não conheço os seus desejos .Você nunca me
disse o que quer de mim .  Porque me fez ser uma eterna devedora de Adão? Porque
Lilith não ficou com ele?  Se você criou tudo isso sozinho, inclusive o Adão, porque
precisou dele para me criar ? Isso me faz submissa ,uma criatura menor ! Se eu sou
menos que Adão, por que não sinto que sou menos? Meu coração deseja  a liberdade de
ser simplesmente uma criatura tua, como essa árvore , como este lago ,como a lua. 
(Evah segura a maçã dourada e começa a refletir)

Evah: Se te mordo e estás envenenada acabo comigo ? E se tens as sementes de  


criação e poder que Adão tanto busca, o que ele fará comigo ? Deus me oriente, vem
falar comigo. Eu te amo apesar de não te conhecer, nunca  ter te visto ou te escutado. Te
amo em cada nascer do Sol, no cheiro da grama, no som da cachoeira, te amo em tudo
que criou. 
(Evah segura a Maçã decidida )

Evah: Se meu destino for  pagar por te comer,assim será. Sigo meu coração. ( Evah
morde a maçã dourada, após a mordida a tulipa ressurge, desta vez flutuando no lago )

Tulipa : Muito bem, ah que bom Evah ! Finalmente fez algo por você mesma ! Continua,
come a maçã inteira , nela existem sementes da criação especialmente para você. 
(Evah olha para a Tulipa)
Evah: Obrigada por estar aqui, agora.

Tulipa : Sempre estou , lembra? Estou sempre com você mesmo quando não me vê.
Você sente o que sou, quem sou mas não acredita que sabe.Acredite em si mesma.
 
Evah: Acredito  sim, você me deu um presente e é meu desejo comê-la por inteiro
(Evah dá várias mordidas na maçã mas é interrompida com a chegada de Adão que
segura a cobra presa com ele)

Adão : Pronto, aqui está a praga que te envenenou contra mim,trouxe para que assista o
fim deste mal e aprenda a me obedecer.
Evah : Não ! Não machuque a Cobra. Ela nunca te fez mal . Solta, deixa ela em paz. 
(Evah vai em direção a Adão para tentar ajudar a Cobra)

Adão: Quem decide o bem e o mal, aqui, sou Eu ? 

Cobra : Evah não se preocupe, não tenho nenhum medo a não  ser te ver sofrer . 

Adão: Mas é o quê? Não tem medo de mim criatura? Pois deveria ter, em minhas mãos
está o poder da tua existência. 

Evah : Adão veja , eu comi a maçã e não morri , ainda tem sementes de sabedoria aqui,
toma. Poupe a vida da Cobra e fique com as sementes.

Adão: Por que você quer defender a vida desta criatura ? Por que se desespera assim
para defendê-la ?

Cobra : Você é uma criatura também Adão. Aprende com a doçura de Evah. Seja mais
grato e menos frustrado por não ser o criador. Come a Maçã Inteira Evah, faz isso por
você mesma, é teu presente. Você merece, se liberte do  domínio deste ser mentiroso e
ingrato. 
(Adão esgana a cobra na frente de Evah que suplica pela vida da cobra, em vão.  
a cobra cai morta e Evah vai em direção a ela enquanto Adão vai em direção a Maçã
Dourada que Evah deixou pela metade)

Evah : Cobra não…. não se vá cobra. ( Enquanto Evah chora e se desespera com a
morte da Cobra. Adão termina de comer a maçã, indiferente . 

Tulipa : Satisfeito Adão?


 
Adão : Ah você é a tal tulipa brilhante? Agora é tua vez (e segue para arrancá-la mas ela
não possui raiz alguma .Adão surpreso se dirige ao novo local onde a tulipa apareceu , na
rocha.)

Tulipa : Não dê nem mais um passo criatura. ( fixa os pés de adão ) Veja o que fez.
Matou a cobra que nada te fez. Você matou a cobra porque quis mostrar seu poder frente
às outras criatura . Matou por que quis e pronto. Matou para provar o poder , você destrói
sem remorso e diz querer ser criador.  Deseja criar o que ? O que te falta ? 

Adão: Sim, eu sou o protetor do Éden . Eu decido. 


Tulipa: Sim você deveria ser o protetor do Éden. Um dia entenderás a criação e o seu
curso. Mas por agora és apenas uma criatura ciumenta, gananciosa, cheia de ódio e
frustração. Para a mulher que devia ser tua companheira e estar ao teu lado costela a
costela,  fizeste muito mal. A  manipulaste com mentiras e a fez  acreditar ser uma
criatura menor , submissa a qualquer decisão que você tome. 

Adão: Evah tem que me obedecer ( tenta ir em direção a Tulipa mas os pés não
obedecem)

Tulipa : Veja …Sinta. Nem teus pés te obedecem agora. 


(Adão olha para a Tulipa com ódio e emite sons de Ira)

Evah : Tulipa , a cobra está morta. Você tem como ajudar ? 

Adão : que besteira, que burra que você é Evah , como uma tulipa ajudaria uma cobra?

Tulipa : Esta cobra  vai evoluir no reino do criador  e quanto a outras cobras ,   serão mais
sensíveis a qualquer movimento do homem na natureza e algumas terão venenos tão
letais que os humanos sempre as temerão. Assim ajudarão a criação.
 
Evah : Mas e esta cobra , a minha amiga Cobra podes ajudar ?
 
Tulipa : Esta vai evoluir na criação Evah e outras vezes vocês vão se encontrar. A mulher
e a cobra sempre serão lembradas pela eternidade. Quanto a você , será banido do
Éden.  Vai aprender que para criar é preciso amor. É preciso muito mais do que desejo e
fome de poder. Vai aprender que é bem mais fácil destruir do que construir, porém vai
lutar todo dia para construir. Vai aprender a dar valor à vida e a toda  Criação.

Adão : ( rindo ironicamente) Então uma tulipa brilhante vai expulsar o protetor do Éden?

Tulipa : O criador se apresenta de muitas formas Adão . Sim ele te expulsará.


Evah : Mas tulipa , se ele for o que será de mim?
 
Tulipa : não acreditas em ti mesma mulher ? Não acreditas no Amor do criador ? Queres
ir com ele então ? 
Evah : Adão tem seus defeitos mas também é bom. Eu sou a companheira dele, sim vou
com ele .

Tulipa : Então assim seja evah , vocês dois sairão do Éden e  irão viver na Terra . vocês
vão poder gerar novos seres e vão amá-los , criá-los e entenderão a dor sobre a
criação ,a responsabilidade sobre o livre arbítrio e as consequências sobre todo o
conhecimento. 

Adão : Não dê ouvidos a esta insana, eu sou o protetor do Éden e aqui ficaremos.

Tulipa : Nem todas as sementes do conhecimento, podem derreter um coração como o


teu,mas vais aprender a amar e  respeitar a criação . E que assim seja. 
( o cenário fica escuro , desce a cortina )
Ato 4 - O Mundo e suas criaturas 

Desce uma tela com imagens sobre a terra e a humanidade . Guerras e agressões
contra a humanidade e a natureza causadas pelo homem . O cenário agora é
urbano, uma sala de estar em rua de cidade cosmopolita . Dois amigos na sala
ainda na pandemia aguardam mais um casal . 

Adam : ( retirando a máscara) O Universo não reconhece limites . Tudo é possível mesmo que
não seja  provável. 

Cris: (com duas máscaras , spray de álcool na mão ) . Acredito que quase tudo é possível , tudo
mesmo não. Tipo uma vaca voar não é possível . 

Adam : Mas é se a vaca for levada por um tornado ela vai voar 

Cris:  ( enquanto limpa a casa continua a conversa) . Sem tornado . Uma vaca criar asas e voar.

Adam : mas se houvesse uma mutação genética e a vaca criasse asas ela voaria .

Cris: Mas daí não seria mais uma vaca, seria outra coisa com outro nome.

Adam : Essencialmente continuaria sendo a mesma vaca com asas. 

(A campainha toca e Cris vai atender o casal de amigos , Ema e Carlos. Cris já abre a porta
oferecendo o álcool gel )

Carlos : Opa, é para ficar com máscara ou não ? 

Cris : Acho que todos deveriam ficar, mas o Adam já decidiu tirar a dele, então agora já está tudo
contaminado . Podem entrar, fiquem à vontade . Eu não consigo parar de limpar tudo o tempo
todo .

Maria : (Tira a máscara e tenta abraçar a Cris, que se esquiva do abraço)

Cris : Menos né Maria ? Abraço é um pouco demais .


Maria : Abraços liberam ocitocina e endorfina ou seja melhor que chocolate. 

Carlos: ( abraçando Maria ) Eu quero muitos . 

Cris : ( Levantando a mão) Gente eu tinha esquecido como vocês são melosos , argh. 

Adam : ( rindo alto ) Você é contra o Amor ?

Cris : Acredito tanto no Amor quanto na vaca voando. 

Carlos:( senta perto de Adam e também tira a máscara) . E aí sentiu minha falta ?

Adam: Sempre meu amigo, essa pandemia me fez ver o quanto eu sinto falta das pessoas que
importam na minha vida e de como é bom simplesmente sentar e conversar.

Carlos : Quer um abraço ?

Adam : ( ri alto ) Assim a Cris vai surtar antes do jantar. 

Cris : Você agora é o Espiritualizado , mestre Zen . 

Adam : Eu estudei , meditei, orei essa pandemia inteira . Toda “Live# de Guru eu assisto  e
aprendi que quando aceitamos que tudo passa a gente fica em paz. Então encontrei a Paz nesta
pandemia quando entendi que ela também vai passar.

Maria : Nem tudo passa , o Amor nunca passa (dá um beijo no Carlos)

Cris : Essa pandemia separou muitos casais, o fato de vocês ainda


estarem juntos é bem legal. 

Adam : não sei se separou casais ou só revelou aqueles que já não eram
mais casais e só se suportavam. 

Cris : Mas eles eram casais sim , em crise, mas eram. Eu tinha um
relacionamento saudável. Ficamos doentes na pandemia. 
Maria : Talvez vocês retornem 

Cris : Impossível , melhor acreditar que a vaca vai voar. 

Adam : Isso mesmo. Deixa as mudanças acontecerem , é importante 


mesmo aceitar as situações sem gastar energia tentando segurar o que
precisa ir. 

Cris : Se continuar com essa conversa de Guru, pode ir, não vou te
segurar. 

Carlos : Mas eu concordo, deixa a vida me levar sou feliz e agradeço


tudo que Deus me deu. Grande Zeca pagodinho. E aí vamos colocar
música para animar essa festa ? 

Maria: Tive muito medo nessa Pandemia ainda tenho , mudei bastante.
Hoje valorizo mais momentos em família, eu evito aglomerações. Mas o
que me ajuda a lidar com o medo é não ficar pensando nele. Ele chega
eu respiro e não alimento aquela imagem ou pensamento

Cris :  (Segurando o pano , o álcool gel senta também no sofá e chora )


Eu tô cansada de viver com esse medo. Sonhos que eu tinha também
mudaram. Ser mãe , por exemplo. Era meu grande sonho mas não
consigo mais pensar nisso. Primeiro não tenho vontade de me relacionar
. Mesmo que fosse fazer uma produção independente … Não acho justo
colocar uma criança num Mundo assim, tão caótico. 

Maria : ( sentando junto da amiga ) Eu também penso da mesma


forma . 

Adam : Mas se as mulheres , os casais pensarem assim não vai ter mais
crianças no Mundo. 
Carlos : Mas é disso que elas estão falando meu amigo. Não sabem se
vai existir um Mundo que mereça as crianças .  

Adam : Isso eu concordo tudo afeta todos. Um vírus se espalha no


Mundo e mostra como o Mundo é frágil. 

Cris : Eu sou frágil , me sinto muito mais frágil agora na pandemia. ( a


Panela de Pressão apita e Cris sai correndo ) Nosso jantar , esqueci .
( Sai da cena )

Adam :  Eu vou te ajudar ( Sai da cena )

Carlos : ( abraçando Maria no Sofá e colocando a mão na barriga dela)


Vai dar tudo certo , nossa filha já está aqui . 

Maria: Devia ser um momento feliz mas eu só penso em como é difícil


viver nesse Mundo agora.  O que será que nossa filha vai ter que
enfrentar ?

Carlos : O ser humano sempre enfrentou dificuldades e o fato de ter


encontrado soluções fez com que a humanidade evoluísse. Ela vai ficar
bem , nós seremos bons pais. 

Maria : Você acha que nosso Amor vai ser suficiente para protegê-la
neste mundo?

Carlos : Não . Mas talvez não seja sobre isso . Sobre proteção,
garantias ou viver no Paraíso . Talvez seja simplesmente permanecer
acreditando e amar. O amor incondicional que quer o bem , faz o bem e
entrega a Deus.  Sabemos muito pouco sobre o Mundo, a criação, o que
é o Universo e tudo isso . Mas se precisasse enfrentar mil guerras faria
por vocês. Então essa é a verdade que conheço o Amor que sinto por
você e por ela. Esse amor me faz vencer o medo.
 (Maria e Carlos  se beijam e permanecem abraçados )
 (Cris e Adam retornam)

Cris: Um caos, perdemos o jantar inteiro.

Adam : Eu já pedi pizza. 

Maria :  Humm pizza , eu estava com desejo de pizza.

Carlos : Vamos ser Pais . Pronto falei . Alice está a caminho.

Cris: Como assim? 

Carlos:  Não planejamos mas é isso. Maria está apavorada porque


pensa como você . O Mundo é um caos . Mas é o mundo que temos e
Alice vai ter pais que a amam muito e dois padrinhos maravilhosos.
Vocês dois. 

Cris : Madrinha , eu eu não sei.  Desculpa mas não sei. 

Adam : Eu sei . Sim . Vou ser o padrinho da Alice ( e corre para abraçar
o casal )

( a campainha toca )

Cris : Eu atendo, deve ser a pizza .

(Assaltantes entram Cris grita , luzes se apagam ) 

Mas a história continua ...


Continua em Evah e continua para a garota que contava as folhas da árvore africana do jardim da
avó. Agora conto as palavras e páginas deste livro. Passo a mão sobre as folhas desta história e
sinto a mesma paz que sentia no jardim, sinto o cheiro de canela e sonho com mais dias assim.

 
 

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