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GOIÂNIA
2020
ANNA LUIZA PEREIRA DE OLIVEIRA
MARCO ANTÔNIO HORÁCIO JUNIOR
GOIÂNIA
2020
ANNA LUIZA PEREIRA DE OLIVEIRA
MARCO ANTÔNIO HORÁCIO JUNIOR
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
Aurisberg Leite Matutino Professor Orientador
___________________________________________________
Flávio De Lima Ferreira Professor Avaliador
___________________________________________________
Priscila Monique Teixeira Rodrigues Professora Avaliadora
RESUMO
This project presents surface design as a design tool for territorial valorization and
identification. A discussion is proposed between the relationship of society that
transits the object of study in question to the city, and the urban visualities presented
in space, specifically urban art in art deco architecture. We have as a general
objective the creation of prints that build and enhance the identity of the territory,
based on the visual elements characteristic of the graffiti and muralism of the artists
Kboco and Selon, who were relevant participants for the case study carried out
during the research and Art Déco in architectural surroundings observed in Goiania.
In addition, the project has the following specific objectives: to study the definition of
surface design; understand and explain elements and techniques used in the
creation of prints; develop compositions based on urban visual elements
characteristic of Goiania; design patterns with the elements created; and, apply the
standards. The work also discusses the way that territorial design can be used as a
tool for valuing a region and how to recognize the identity of a territory as a
methodological procedure and reports the process of creating the prints, going
through the stages of development, experimentation and application.
1 INTRODUÇÃO 9
2 REFERENCIAL TEÓRICO 11
2.1 VISUALIDADES URBANAS 11
2.1.1 Cidades globalizadas 11
2.1.2 O espaço urbano e a produção de imagens 12
2.1.3 Identidade territorial 12
2.2 ARTE URBANA 13
2.2.1 A arte-manifesto das ruas 13
2.2.2 Goiânia e a arte urbana 13
2.2.3 O eixo Centro-Setor Sul 18
2.2.4 Intervenção e manifesto a partir do sujeito 19
2.3 MOVIMENTO ART DÉCO NO MUNDO 20
2.3.1 Belle Époque 20
2.3.2 Belle Époque no Brasil: ecos de Paris 21
2.3.3 A Belle Époque e suas dicotomias 21
2.3.4 Art Déco no mundo 22
2.3.5 Art Déco no Brasil 25
2.3.6 Art Déco em Goiânia 26
2.3.7 O projeto 30
2.4 DESIGN DE SUPERFÍCIE 33
2.4.1 Princípios do design de superfície 33
2.4.2 O design gráfico no design de superfície 33
2.4.3 Design de superfície como ferramenta projetual 33
2.4.4 Valorização territorial por meio do design 34
3 ESCOLHAS METODOLÓGICAS 35
3.1 METODOLOGIA CIENTÍFICA 35
3.2 METODOLOGIA PROJETUAL 37
4 TRABALHO DE CAMPO 38
4.1 ESTUDO DE CASO: A CASA ROSA 38
4.2 ENTREVISTA 39
4.2.1 Análise da entrevista 39
4.3 QUESTIONÁRIO 41
4.3.1 Análise do questionário 48
5 PROCESSO DE CRIAÇÃO 49
5.1 PESQUISA VISUAL DE BASE 49
5.1.1 Elementos visuais urbanos através da fotografia 49
5.1.2 Painéis semânticos 52
5.1.3 Análise de similares 55
5.1.4 Módulos 58
5.1.5 Encaixes 64
5.1.6 Sistemas de repetição 66
5.1.7 Malhas 68
5.1.8 Simetria 69
5.2 PRODUTO 71
5.2.1 Público-alvo 71
5.2.2 Naming 71
5.2.3 Cores 75
5.2.4 Coleção de padronagens 77
5.3 APLICAÇÕES E RESULTADOS 79
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 81
REFERÊNCIAS 83
APÊNDICE A - ENTREVISTAS 87
9
1 INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 VISUALIDADES URBANAS
Tomamos por arte contemporânea toda arte que, ocupando espaços como
muros e placas, quebra as barreiras entre o público e o privado com o intuito de
manifestar algo (TOCHETTO, 2016). Essa forma de expressão data desde a
antiguidade, quando se utilizava dos muros da cidade como meio de manifesto,
abrangendo desde declarações de amor a protestos políticos. Durante os anos
1960, a arte urbana teve um papel importante para a sociedade, que protestava
contra autoridades políticas e sistemas econômicos. Cartazes, panfletos e grafites
eram distribuídos por toda cidade, trazendo críticas e poemas que buscavam
retratar a sociedade e seus costumes. Desde então os muros se tornaram um meio
recorrente de fixar manifestos nos grandes centros urbanos. Ferreira (2012) ainda
afirma que no Brasil, durante a ditadura, a frase “Abaixo a ditadura” era grafitada
em muros e espaços vazios, dando voz à juventude que fazia ligação entre a arte e
a política, ou seja, construindo uma nova linguagem, a linguagem das ruas.
Fonte: O Popular.
Por ser uma capital ainda em evolução, Goiânia conta com artistas jovens e
ativos por todos os cantos da cidade. A forma como técnicas e estímulos são
compartilhados para promover a arte urbana acaba se distinguindo justamente por
conter poucas pessoas interessadas em permitirem-se usufruir dos espaços da
cidade, entendendo que ainda é muito burocrático o modo como funciona o
processo de se expor “clandestinamente” como artista de rua. Apesar de certas
restrições impostas pelo conservadorismo, exigindo-lhe cautela para que não
corram o risco de serem vistos como marginais e vândalos por suas intervenções
numa cidade ainda pequena, são muitos os artistas que buscam o reconhecimento
e garantem sua liberdade de continuar realizando seus grafites, lambe-lambes,
murais, stêncils, etc.
Há os que produzem na rua por uma questão de provocação, com o principal
intuito de intrigar por meio de suas performances anônimas. É o caso de artistas
que consideram suas obras como uma arte muito mais política e construtiva do que
ornamental e decorativa.
O grafite goiano conta com vários artistas cujos trabalhos dialogam com
diferentes assuntos e recortes temáticos, sempre explorando técnicas e ocasiões.
Como registra Nathália de Freitas (2014), a prática do grafite tem início em Goiânia
logo após o acidente radioativo com o Césio-137, em 1987. Foi com o intuito de
melhorar a autoestima da cidade surgiram grupos de grafiteiros como o Pincel
Atômico, que procurava trabalhar com o bom-humor como forma de expor e lidar a
delicada situação da cidade naquele momento. Além dos grupos que surgiram
espontaneamente, o governo da época, por meio de sua Secretaria de Cultura,
colocou em prática o projeto Galeria Aberta, uma ação de grafite dedicada a
convidar artistas locais para revitalizar o Setor Central, de modo que enriquecessem
a visualidade urbana da cidade ao passo que, como observa Salvio Farias (2005),
apostavam numa temática regional, evidenciando as cores, a fauna e a flora de
Goiás.
Por sua vez, em artistas como Decy e Wes Gama podemos reconhecer tanto
a proposta de uma discussão social quanto de um imaginário racial. Suas obras são
marcadas por grafites de grande escala representando figuras humanas negras,
18
Kboco vem atuando por todo o Brasil, onde cria um diálogo entre sua arte e
a arquitetura local. No exterior, o artista possui obras no Chile, criadas durante o
período de dois meses que morou no país, e também exposições que passaram
pela Europa e por outras cidades da América (LOPES, 2014).
Eloísa Pereira Barroso (2012) comenta que esse novo repertório visual
impactou Walter Benjamin, outro importante influenciador de sua época, que adotou
novas formas de percepção estética na modernidade e que tecia crônicas sobre a
arte de perambular com inteligência por ruas e cruzar multidões em busca de uma
nova essência advinda do progresso; esse ritual foi chamado de flâneur. Já pelas
ruas da maior cidade do Brasil à época, João do Rio, um legítimo flâneur, publicou
crônicas e livros, como A alma encantadora das ruas, no qual destacava, logo na
abertura do primeiro parágrafo, o desejo de provocar e de fazer refletir sobre a vida
urbana:
De acordo com Simone Koff Barbosa (2005), o estilo Art Déco surge com o
intuito de evocar modernidade por meio de linhas suaves, dispostas de maneira a
dar foco e ênfase às curvas e suas funções. O estilo adotava a beleza das formas
geométricas limpas e claras, proporções exatas, ritmo, harmonia, cores vibrantes e
o uso de metais e pedras. Em seus grafismos, os principais motivos eram o
feminino, os raios de sol, folhagens, animais, de modo que todos esses elementos
eram dispostos repetidamente, formando um padrão visual.
Essas características são reforçadas pelo professor Khaled M. Dewidar
(2018, p. 08) ao lembrar que “o estilo foi parcialmente inspirado por artefatos
descobertos em 1922 na tumba do rei Tut, e muitos edifícios Art Déco incluem
desenhos repetitivos e cores vivas comuns nas obras de arte egípcias”. Com isso,
percebemos o quanto a herança histórica do estilo Art Déco não se restringe apenas
a uma noção de modernidade europeia, também se revelando devoto a culturas que
à primeira vista poderiam parecer inconciliáveis, como a egípcia.
Fonte: ArchDaily
O Brasil possui algumas cidades influenciadas pela Art Déco, como Cipó -
BA, Iraí – RS, Rio de Janeiro - RJ e, claro, Goiânia – GO, concebida tendo o estilo
como sua principal vertente construtiva. Nasr Fayad Chaul (2009) comenta que,
com o fim da República Velha nos anos 1930, Pedro Ludovico Teixeira deu início
ao plano de mudar a capital do estado de Goiás, plano este que já era esperado por
muitos anos, criando, assim, a marcha para o oeste.
26
Mesmo em seu declínio como estilo em Paris, a Art Déco seguia regras de
design que eram firmadas com a finalidade de manter uma unidade e criar uma
nova face para a cidade. Com isso em mente, Attilio Corrêa adaptou seu projeto
para o centro brasileiro, desenvolvendo zonas distintas de moradia, lazer e comércio
buscando, assim, proteger e delegar áreas independentes para melhorar a
qualidade de vida das pessoas e dar-lhes um sentimento de pertencimento. Em
Goiânia, as principais características da Art Déco se concentraram nas cores em
tons pastéis, nas linhas distintas e suntuosas, nos jardins com palmeiras e
gramados, e em grandes vãos apoiados por pilares circulares (ibidem).
Figura 13 – Museu Zoroastro Artiaga
28
2.3.7 O projeto
Patrick Vieira (ibidem) afirma que essa falta de cuidado acabou com a
diferenciação arquitetônica entre os edifícios institucionais e privados, o que
culminou em um contraste. O autor ainda comenta que se por um lado se via maior
riqueza de ornamentos e composições, por outro, percebia-se apenas uma ou outra
característica Art Déco, com pequenas mudanças para camuflar os telhados
coloniais, deixando a cidade, embora recentemente construída, infelizmente
33
Com base nessa conclusão, pode-se dizer, portanto, que o valor agregado
ao produto, quando desenvolvido no seu contexto social, ganha importância entre
a população do local, uma vez que passa a criar uma conexão entre o objeto
produzido, o contexto e o sujeito.
35
3 ESCOLHAS METODOLÓGICAS
3.1 METODOLOGIA CIENTÍFICA
4 TRABALHO DE CAMPO
4.1 ESTUDO DE CASO: A CASA ROSA
realizadas com os artistas urbanos, foi possível analisar as possíveis razões que
levaram os sujeitos a intervirem nesse local patrimonial. Levantamos quatro
hipóteses para explicar a ocorrência desses fenômenos:
a) No sentido da teoria de produção do espaço de Henri Lefebvre (2009), os
responsáveis pelo início da ocupação do local buscavam modificá-lo e renová-lo por
meio da instauração de intervenções artísticas no espaço urbano, na tentativa de
se aproximarem do território do qual são nativos, já foram residentes e no qual
desenvolveram sua linguagem artística visual;
b) Os interventores realizaram processos de formas, escalas e cores
atribuídas ao método de visualização e observação arquitetônica, resultando em
uma harmonia do mural pintado e grafitado com o estilo Art Déco da edificação do
local;
c) Os artistas buscavam um processo próximo à institucionalização de um
espaço de instauração de obras de grafite e arte urbana, na expectativa de atingir
uma quantidade maior de pessoas e um público transeunte que permeia
cotidianamente a cidade em questão;
d) Com financiamento do Fundo de Arte e Cultura local e com a pretensão
de se tornar um fenômeno anual, os artistas visavam expandir seus projetos visuais
sem se preocupar com a maneira como estes seriam recebidos pela população
(FERREIRA, 2019).
4.2 ENTREVISTA
arquitetônico que inclua um mural de gosto influenciado pelo cliente final, gera-se
uma reflexão muito apropriada quando a arte urbana não está inserida na cidade,
na rua, para que os transeuntes observem e apreciem. O espaço privado limita e
monetiza os processos do grafite e do muralismo, mas a partir do momento que se
diferencia o público do privado, compreendendo e assumindo que seus respectivos
trabalhos artísticos foram desenvolvidos ocorreu nas ruas, essa relação entre os
dois espaços distintos torna-se menos distante e passa a complementar a intenção
do artista de levar sua arte para diversos âmbitos, reconhecendo, assim, várias
formas de ampliar e comunicar seus trabalhos.
Com o Projeto Base Central, os artistas entrevistados intervêm no eixo
Centro-Setor Sul de Goiânia de forma que dialogam com a arquitetura da cidade,
com os elementos Art Déco de maneira alguma passando despercebidos. Desse
modo, a influência de uma linguagem tridimensional conceitua o trabalho de Selon,
cuja arte representa bidimensionalmente essa linguagem visual arquitetônica, e
também amplifica as dimensões do trabalho de Kboco, que, por sua vez,
desconstrói as formas da visualidade urbana que harmonizam com elementos
ocasionais da cidade. Uma vez esclarecido o processo criativo de desconstrução
das formas e da resolução de padrões visuais de acordo com os elementos visuais
encontrados na cidade, consideramos, para nosso produto final, a utilização desses
métodos construtivos e artísticos, atribuindo, por fim, valores locais e visuais.
4.3 QUESTIONÁRIO
Nossa enquete foi motivada pelo fato de que precisamos voltar o olhar para
o centro. Com isso em mente, desenvolvemos perguntas a fim de compreender
algumas das principais características que resultam na evasão de uma parcela da
sociedade do centro de Goiânia.
Nos dias atuais, as metrópoles brasileiras já não são (se é que já foram)
capazes de esconder o que têm de desigualdade e segregação, oriundas de muitos
anos de descasos e atritos entre classes, que, como consequência, veem definhar
as características que as tornam singulares e distintas umas das outras.
Decadências assim não acontecem repentinamente, são frutos de muitos anos de
descaso político e social (VIEIRA, 2012).
42
dessas informações, ainda inferimos que um projeto que vise dar chamar atenção
para o centro seria algo capaz de melhorar a visibilidade dessa área tão importante
para a cultura e vida em sociedade.
5 PROCESSO DE CRIAÇÃO
5.1 PESQUISA VISUAL DE BASE
Montagem: Autores.
Fonte: Pinterest.
a) Estampas potiguares.
d) Coleção Brasiliana.
5.1.4 Módulos
Figura 48 – Multimódulo
60
Quanto mais próximo das bordas laterais do modulo, maior é a relação que
se forma entre eles, fazendo com que os módulos se conectem e formem padrões
visuais geométricos e que nos passe a impressão de continuidade (ibidem).
Comunicar, por meio de um módulo, formas encontradas nas visualidades urbanas,
como os módulos geométricos de artistas locais ou de grades de edificações e
mobiliário no estilo arquitetônico Art Déco, foi essencial para a criação de
padronagens que visam difundir a arte de rua e chamar a atenção aos pequenos
detalhes encontrados nas visualidades urbanas; O módulo, um elemento estrutural
em forma de unidade, compõe uma criação de padrão contínuo e marcante
(RÜTHSCHILLING, 2002).
O módulo foi projetado a partir de uma pesquisa sobre as formas e
ornamentos da Art Déco e dos padrões visuais dos artistas locais, de modo que
possamos difundir e enaltecer a arte inspirada pelas ruas e seus pequenos detalhes,
que fazem toda diferença. Ao caminhar pelas ruas do centro da cidade identificamos
formas ornamentais e, a partir de um estudo com fotos, encontramos um detalhe
que passa despercebido e que possui uma beleza única na sua forma. A seguir,
demonstramos o processo percorrido para alcançar um de nossos módulos:
O resultado foi um modulo que possui uma forma bem ornamentada e que
nos remete ao estilo Art Déco, podendo ter ou não ter encaixe.
63
Por sua vez, com o Projeto Base Central, a Casa Rosa foi a nossa maior
fonte de pesquisa, pois une a Art Déco e o grafite de maneira harmônica e orgânica,
de forma que uma complementa a outra. O grafite, no caso, foi nossa maior fonte
de inspiração.
5.1.5 Encaixes
Por isso uma das coisas mais importantes na área é aprender como criar
e projetar um desenho, pois uma imagem relativamente simples pode se
tornar uma composição interessante e cativante, em virtude de ter sido
habilmente uma padronagem cujo desenho básico está em repetição.
(ibidem, p. 36).
5.1.7 Malhas
Ao termos uma malha como base para o projeto, ela acaba por auxiliar de
modo que possa dar mais volume ou rigidez. A partir do modelo de quadro com
tipos de malhas de Barison (2008 apud SCHWARTZ, 2008), definimos que:
Já no padrão Casa Rosa foi utilizada a malha quadrada, uma das mais
populares devido a sua regularidade, a qual nos forneceu a estabilidade que
procurávamos.
5.1.8 Simetria
Figura 64 - Dilatação
5.2 PRODUTO
5.2.1 Público-alvo
5.2.2 Naming
Nesse caso, o mapa mental foi um exercício que funcionou para estimular a
ramificação dos termos que identificam as palavras-chave temáticas, que, quando
em conjunto, se tornaram o conceito do design de superfície. Ao final do processo
do mapa mental exploramos combinações de duas palavras, buscando assim
entender qual seria a melhor forma de expressar o intuito da coleção e seu diálogo
com o público. Além do naming, a escolha de uma tipografia que traduza e expresse
visual e legivelmente a estética da coleção de padronagens é essencial para que o
público perceba, já no primeiro contato, qual é a ideia central do projeto, tornando
possível harmonizar a comunicação verbal com a comunicação não-verbal, com
suas próprias formas e cores preponderantes do produto final.
A partir do mapa mental definimos o nome Elemento Rua, pois identifica as
nossas inspirações principais, que foram os elementos visuais urbanos das ruas do
centro de Goiânia.
Figura 67 - Goiânia Palace Hotel, tipografia
Fonte: Conad.
5.2.3 Cores
durante a pesquisa e também das obras Art Déco locais. Nas edificações, é possível
notar uma maior recorrência dos tons de rosa de alto valor tonal, seguidos por uma
paleta de tons pastéis que passam pelo verde, amarelo e azul, colorações que, por
sua vez, se destacam ainda mais na ambiência sóbria e acinzentada da cidade. Em
combinação com o preto, o dourado e o bronze são as principais cores do estilo Art
Déco global, e, não surpreendentemente, também são encontradas nas edificações
Goiânia. Em seus trabalhos, os artistas também utilizam cores em tons pastéis e
tons amarelados próximos ao dourado, que dialogam com a arquitetura patrimonial
histórica da cidade. Mesmo em trabalhos que não são em superfícies de Art Déco,
os artistas representam essas cores em seus diversos murais e grafites.
Figura 77 – Mockup 1
Figura 78 - Mockup 2
Figura 79 - Mockup 3
80
Figura 80 - Mockup 4
Figura 81 - Mockup 5
81
Figura 82 - Mockup 6
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Simone Koff. A forma segue a emoção: o Art Nouveau e o Art Deco
na comunicação gráfica contemporânea. 2005. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Escola de Comunicação Social,
Porto Alegre.
BONSIEPE, Gui. Design como prática de projeto. São Paulo: Blucher, 2012.
DEWIDAR, Khaled M. Art Deco architectural style: Art deco style and its
influence on architectural thinking and philosophy. Egito, v. 1, n. 1, p. 1-11,
abr./2018.
FARIAS, Salvio Juliano Peixoto. Galeria Aberta: uma história por múltiplos atores.
2005. 266 f. Dissertação (Mestrado em Cultura Visual) - Universidade Federal de
Goiás, Faculdade de Artes Visuais, Goiânia, 2005.
<http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/encontros-nacionais/8o-encontro-
2011-
1/artigos/Arte%20Urbana%20no%20Brasil%20expressoes%20da%20diversidade
%20contemporanea.pdf/view>. Acesso em: 15 abr. 2020.
HOBSBAWM, Eric J.. A era dos impérios: 1875 - 1914. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 2012.
KOOLHAAS, Rem. The generic city. Nova Iorque: The Monacelli Press, 1995.
Disponível em:
<https://monoskop.org/images/7/78/Koolhaas_Rem_1995_The_Generic_City.pdf>.
Acesso em: 20 mai. 2020.
LIMA, Natália Dias de Casado. A Belle Époque e seus reflexos no Brasil. In: XI
SEMANA DE HISTÓRIA UFES. Anais... Universidade Federal do Espírito Santo,
29 dez. 2018.
LUPTON, Ellen. Intuição, ação, criação: graphic design thinking. São Paulo:
Gustavo Gili, 2012.
RIO, João do. A alma encantadora das ruas. 1. ed. Rio de Janeiro: Fundação
Biblioteca Nacional, 1908.
LOPES, Yuri. Kboco e Selon pintam murais nas ruas de Goiânia. A Redação.
Goiânia, 18 nov. 2014. Disponível em:
<http://www.aredacao.com.br/cultura/50889/kboco-e-selon-pintam-murais-nas-
ruas-de-goiania>. Acesso em: 14 abr. 2020.
APÊNDICE A - ENTREVISTAS
SELON: Eu acho que a arte urbana, hoje, ela já e vista com bons olhos, tanto
por quem aprecia, como também por um público mais consumidor em diversos
níveis, desde colecionadores até empresas, que querem relacionar o seu nome ou
produto a alguma atividade artística. Já essa influência da arte com o cidadão, do
entendimento do espaço, eu acho que é um pouco amplo. Mas existe uma
identificação, desde a pessoa que mora no bairro que tem um grafite ou uma pintura
na rua, até quem já conhece o artista de uma maneira mais próxima, que sabe que
tem uma pessoa ali que produz um trabalho específico, e que é um produto que é
uma arte criada na cidade de Goiânia, na cidade que a pessoa habita, sabe que é
um artista local. Então eu acho que isso traz uma noção de pertencimento, de grupo.
E eu acho que quando você tem um trabalho de arte num espaço público, você vai
criando ponto de referência.
através de outros estímulos sensoriais. Então a minha expressão, ela vai sair como
um resultado dessa afetação.
3) Goiânia é uma cidade que lida com a arte urbana de forma que ela
faça parte da identidade territorial contemporaneamente?
KBOCO: Pinto há muito tempo, quando ainda não existiam muitas pessoas
se mobilizando em Goiânia nesse segmento, desde a época que a linguagem do
grafite era embrião dentro do hip hop, pintando temas do hip-hop. O grafite ainda
não era visto e definido como arte porque não tinha linguagens próprias, traços
desenvolvidos e estudados pelos artistas, só existiam referências no hip hop. Por
conta disso, parei de grafitar por um tempo, até buscar e entender o meu estilo.
Depois disso voltei pras ruas, explorando mais o meu universo, definindo o que eu
faço nos muros como arte depois de entender que, na verdade, tudo é arte. E o
mais interessante disso é a diversidade, o processo de se descobrir, e a vivência da
rua potencializa isso: dividir um muro e entender que a arte urbana é coletiva tanto
pra quem intervém, quanto pra quem é atingido visualmente e esteticamente por
ela.
SELON: Eu acredito que Goiânia tem, sim, uma aceitação da arte urbana
como parte da identidade do território contemporâneo, tanto por parte de agentes
do meio da arte, de curadores, produtores, até da parte pública, prefeitos que
enxergam que aquilo existe e afeta as pessoas, e também abraçam isso como parte
da identidade. Eu percebo a inclusão da arte urbana dentro do contexto da cidade
tanto pela parte governamental, quanto por instituições de arte, e também pelas
pessoas que se interessam.
KBOCO: Como disse, a rua é um suporte para ampliar a minha arte. A partir
do momento que se diferencia e entende o lugar que está ocupando no espaço
público e no espaço privado, consigo separar esses dois momentos e considerar o
que agrega e o que não agrega no meu trabalho. Atualmente vejo muitos casos de
artistas que começam a experimentar o spray em uma tela, o que interfere no
processo do grafite de fazer parte da rua e estar em contato direto com a cidade se
manifestando. A partir do momento que me expresso nas galerias com minhas
técnicas de grafite em telas, depois de ter uma bagagem cultural urbana, vejo que
estou aproximando meu trabalho de outro público, de outro contexto mais privado
mesmo, mas que ainda me entendem como um artista que veio da rua e só buscou
outra forma de expor o meu trabalho, expandindo a minha liguagem. Mas há quem
ainda acha estrelismo e desconsidera artistas que vieram das vivências da cidade
e que hoje atuam em galerias de arte e em projetos de interiores, entendendo como
uma forma de comercializar e formatar a nossa arte, se inserindo no mercado e
priorizando o espaço privado, como se as intervenções nas ruas fossem só uma
fase, e não é exatamente isso. Estender a minha arte pra galerias é uma forma de
também chamar a atenção pra quem ainda interfere na cidade sem uma intenção
comercial, de receber em dinheiro por aquela arte no muro. Tudo depende da
intenção e existe espaço para todo mundo na rua. Agora, no mercado de arte acaba
sendo mais restrito, o que gera essa distância dos muros e das telas. Não acho que
existe um estímulo liberal em buscar conhecimento em arte, não só urbana, mas na
arte e na cultura geral em Goiânia. É um lugar ainda muito limitado, que
desconsidera muito a nossa área de criatividade. Sinto falta do investimento
financeiro e principalmente de atenção e apreciação. O Projeto Base Central
mesmo: era para acontecer anualmente, fomentando a arte urbana e valorizando
artistas que se identificam com a linguagem visual da cidade, mas não houve
capital, nem atenção do governo pro projeto, e são eles que muitas vezes
conseguem influenciar a arte urbana, por terem esse poder de manipular os
conteúdos que entram e saem da cidade e valorizá-los. Ou seja, muitas pessoas só
vão enxergar a arte urbana e aceitar ela se houver uma permissão dos “superiores”
para intervir organizadamente e dentro da lei, com um tipo de processo burocrático
pra intervir naquele espaço. Fora disso, os artistas acabam sendo visto por muitos
como um marginal, pintando ou grafitando em um muro que não cabe a ele
91
manipular. Infelizmente, o estímulo muitas vezes acaba tendo que vir desses meios
governamentais, pra só assim expandir a visão da sociedade goiana, pra entender
que arte urbana contribui e retribui de forma cultural pra cidade, e não de forma
marginal.
KBOCO: Lembro que um tempo atrás a casa do lado da Casa Rosa, que eu
e o artista Selon intervimos no Projeto Base Central, também tinha características
Art Déco. Mas acabou sendo depredada. Essa casa foi o último muro que pintamos
no projeto, e o que acho mais interessante é justamente o poder que a linguagem
tem. Ao estipular formas, traços e cores que harmonizam com o estilo Art Déco
existente na arquitetura da casa, nós conseguimos propor uma ampliação do estilo
e destacar ainda mais o Art Déco dessa edificação. Mas, como disse anteriormente,
muitas vezes não é tão intencional a forma como eu trabalho a minha arte de acordo
com a arquitetura; muitas vezes acaba sendo coincidências, por eu estar
completamente aberto ao contexto urbano e minhas referências consistirem em ter
uma harmonização direta e espontânea com as superfícies da cidade. Revitalizar
acaba sendo uma forma de propor o novo sem ter que interromper a linguagem que
já existia naquele espaço, moldando e encaixando o melhor jeito de intervir sem
precisar reconstruir. Muito pelo contrário: é mais um processo de desconstrução
daquelas formas arquitetônicas para manipulá-las em um formato bidimensional,
que caiba no contexto daquela edificação sem fugir da memória afetiva e da
importância e contribuição que aquela casa tem. Ou seja, a arte urbana impõe uma
atenção visual ainda maior pra esse patrimônio histórico.
SELON: No Projeto Base Central o idealizador foi o Kboco, que possui uma
aproximação com a Art Déco, com o setor central, a localidade em si. Eu trabalhei
mais com questões de efetivação do projeto, mais burocráticas, de organização e
produção. Num segundo momento, realizamos o trabalho artístico em parceria, de
atividade mútua. A realização desse trabalho aconteceu quando as edificações
escolhidas estavam bem cuidadas, restauradas e conservadas, e os trabalhos de
arte urbana não são feitos para ficar na parede pra sempre. A relação da arte urbana
com esses prédios não seria nem tanto de valorizar, mas de gerar diálogos com a
arquitetura, a arte contemporânea com a Art Déco, pela execução do mural do
grafite ressaltar a pintura. Portanto acredito que seja mais uma troca entre o suporte
(as edificações), o artista e a sua arte.
93
KBOCO: O Art Déco é algo que acaba se destacando por ser um único
diferencial da cidade e fica muito em cima só desse estilo. Muitas pessoas não
sabem muito bem o que vem a ser esse estilo arquitetônico. A integração da arte
urbana e da arquitetura faz parte da humanidade desde tempos antigos, mas eu
prefiro fazer perguntas do que dar respostas sobre isso. Teria um arquiteto que se
interessaria em projetar um elemento na cidade já pensando na necessidade da
superfície do seu projeto para a arte urbana? Qualquer arquitetura que possibilite
uma interação eu acho interessante. Sou suspeito para falar dessa junção e acho
que é disso que o mundo precisa.