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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

MATHEUS CHUERY PINTO

AUTOMAÇÃO COMO MÉTODO PROJETUAL: O USO DE FERRAMENTAS


COMPUTACIONAIS NO PROCESSO DA PRODUÇÃO ARQUITETÔNICA

CURITIBA
2023
MATHEUS CHUERY PINTO

AUTOMAÇÃO COMO MÉTODO PROJETUAL: O USO DE FERRAMENTAS


COMPUTACIONAIS NO PROCESSO DA PRODUÇÃO ARQUITETÔNICA

Monografia apresentada à disciplina Orientação de


Pesquisa (TA040) como requisito parcial para a
conclusão do curso de graduação em Arquitetura e
Urbanismo, Setor de Tecnologia, da Universidade
Federal do Paraná – UFPR

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Jabur.

CURITIBA
2023
Dedico este trabalho aos meus dois tios, ambos já falecidos, tio Jorge e tio
Márcio. O primeiro, o pintor, que me apresentou o desenho e a pintura. O segundo,
realizava sua arte transformando salões vazios em festas de carnaval, utilizando de
seus tecidos e andaimes. A convivência com ambos em minha infância, me fez
entender que é possível transpor para o mudo físico as ideias que surgem no
imaginário da mente humana. Talvez, se não fosse por esses momentos do passado,
mas ainda existe na memória, não teria escolhido cursar Arquitetura e Urbanismo.
AGRADECIMENTOS

Iniciar um texto de agradecimento é algo difícil, pois é querer resumir e


relembrar a existência, que por mais curta que seja é complicada demais para ser
moldada em palavras. Portanto, trago aqui apenas um pequeno texto, mas que nem
de longe pode ser entendido como completo, pois representa apenas uma parte dos
agradecimentos que poderia fazer.
Em primeiro lugar, agradeço à minha família, aos meus avós e à minha mãe,
a ela tenho uma enorme gratidão, principalmente por esse tumultuado período que se
finda. Também, agradeço aos meus amigos e amigas por proporcionarem momentos
que não serão esquecidos. Sem eles, a faculdade não mais passaria de uma etapa
burocrática da vida, mas graças as experiências que vivemos, estes cinco/seis anos
foram parte integrante de mim. Tenho um agradecimento especial a duas amigas, que
apesar de não citar nominalmente sabem quem são. Com elas e as viagens que
realizamos juntos, este trabalho tornou-se uma tarefa menos árdua de se realizar. Por
fim, preciso agradecer tanto a universidade pública, que mesmo com os inúmeros
desmontes que vem sofrendo, segue sendo a real produtora de conhecimento neste
país e ao meu orientador, por ter aceito meu tema, mesmo que de início nada
parecesse fazer sentido.
RESUMO

As mudanças políticas económicas do mundo e os avanços tecnológicos dos


últimos anos, impactaram significativamente as relações sociais e de trabalho. Na
sociedade contemporânea, a informação, o conhecimento e o domínio sobre outrem
são os dados: trocados e manipulados de forma digital, tornam-se tão valiosos quanto
comodities como ouro e petróleo. O campo da Arquitetura e do Urbanismo, como parte
integrante da sociedade, não está aquém de tais mudanças. O arquiteto urbanista
contemporâneo, não trabalha mais apenas no mundo analógico, seu trabalho é
principalmente desenvolvido no mundo digital, onde inúmeras relações complexas
existem. Tal mudança de paradigma no método de se projetar em arquitetura traz
novas possibilidades de exploração nos projetos, como o uso de modelos
paramétricos e aprendizado de máquina para elaboração deles, podendo assim
aprimorá-los e otimizá-los. Com isso, projetos que precisam ser construídos em escala,
como edifícios escolares do ensino público, podem ser mais bem desenvolvidos e
otimizados para cada localidade.

Palavras-chave: Colonialismo de dados. Dados. Modelos digitais. Métodos projetuais.


Arquitetura escolar.
ABSTRACT

The political and economic changes of the world and the technological
advances of the last years have significantly impacted social and work relations. In
contemporary society, information, knowledge, and control over another person are
transformed into data, which is exchanged and manipulated in digital form and
becomes as valuable as commodities like gold and oil. The study area of architecture
and urbanism is an integral part of society and is not exempt from these exchanges.
Contemporary architects and urbanists don't work only in the analog world, their work
is mostly developed in the digital world, where many complex relationships exist. This
paradigm shift changes the methodology of architectural projects and brings new
possibilities for project explorations, such as working with parametric models and
utilizing machine learning to develop projects. With this, projects that needed to be
constructed in scale, like public school buildings, can be better developed and
optimized for each location.

Keywords: Data colonialism. Data. Digital model. Design models. School architecture
design.
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1– Localização das sedes das empresas ................................................... 38


FIGURA 2 – Exemplo de fractal construído no Rhinoceros/Grasshopper ................. 47
FIGURA 3 – Imagem mostrando os galhos de uma árvore ....................................... 47
FIGURA 4 – Ilustração exemplificando as possíveis relações existentes em uma janela
parametrizada ........................................................................................ 53
FIGURA 5– Exemplo de código de programação visual no Daynamo para criação de
pisos paramétricos ................................................................................. 56
FIGURA 6– Resultado da programação visual no Daynamo .................................... 57
FIGURA 7– Resultado da operação no Revit Python Shell ....................................... 58
FIGURA 8– Exemplo 01: paredes criadas de maneira paramétrica por meio de
programação ........................................................................................ 61
FIGURA 9– Exemplo 02: paredes criadas de maneira paramétrica por meio de
programação ............................................................................................................. 62
FIGURA 10– Utilização do Archicad conectado ao Grashopper ............................... 63
FIGURA 11– Código de programação visual para criação de elementos no Archicad
............................................................................................................. 63
FIGURA 12 – Resultado da operação de criação de paredes no Archicad ............... 64
FIGURA 13 – Programação Python no Blender ........................................................ 65
FIGURA 14– Vista frontal dos cubos paramétricos criados por programação ........... 66
FIGURA 15 – Exemplo do uso de parametria para elaboração de salas de aula ..... 69
FIGURA 16– Resultados 265, 275 e 301 dos layouts gerados ................................. 88
FIGURA 17– Exemplo de layout de campus universitário gerados a partir das
setorizações resultantes das primeiras gerações .............................. 89
FIGURA 18 – Diagrama do processo desenvolvido por Zhang, Liu e Wang (2021) .. 91
FIGURA 19– Resultados dos modelos gerados classificados quanto a carga
energética .......................................................................................... 92
FIGURA 20 – Fachada da Casa Tadeo ..................................................................... 94
FIGURA 21 – Residência Papagaio .......................................................................... 94
FIGURA 22– Processo de construção do labirinto de tijolos ..................................... 96
FIGURA 23– Resultado finalizado do labirinto .......................................................... 96
FIGURA 24– Disposição dos tijolos gerado pelo script ............................................. 97
FIGURA 25– Exemplos de rotações dos tijolos ......................................................... 98
FIGURA 26– Exemplo de inclinação dos tijolos ........................................................ 98
FIGURA 27 – Fotografia do CEU Jambeiro ............................................................. 100
FIGURA 28 – Bloco Cultura pavimento superior ..................................................... 102
FIGURA 29 – Bloco Cultura pavimento Intermediário ............................................. 102
FIGURA 30– Elevação e planta do CEU Roas da China ........................................ 103
FIGURA 31 – Blocos programa de necessidade ..................................................... 105
FIGURA 32 – Arranjos básicos para os CEUs......................................................... 105
FIGURA 33– Pavimento de uso misto referente ao projeto apresentado no ano de
2015 ................................................................................................... 106
FIGURA 34 – Pavimento de uso misto referente ao projeto disponível no site da
prefeitura, ano 2022 ........................................................................... 106
FIGURA 35 – Arquivos das bandas pancromática e espctrais e importados para o Qgis
................................................................................................................................ 113
FIGURA 36 – Resultado da mesclagem das bancadas espectrais ......................... 114
FIGURA 37 – Sistema de anos escolares ............................................................... 116
FIGURA 38 – Regionais selecionadas para a análise de terrenos .......................... 122
FIGURA 39 – Imagem mostrando uma das áreas segmentadas ........................... 124
FIGURA 40 – Erros nas classificações das imagens .............................................. 126
FIGURA 41 – Erro na classificação das regiões com água (rios e lagos) ............... 127
FIGURA 42 – Sobreposição da vegetação nas delimitações dos lotes ................... 132
FIGURA 43 – Exemplo de áreas desconsideradas ................................................. 133
FIGURA 44 – Primeiro lote selecionado .................................................................. 139
FIGURA 45 – Segundo lote selecionado ................................................................. 139
FIGURA 46 – Terceiro lote selecionado................................................................... 141
FIGURA 47 – Quarto lote selecionado .................................................................... 141
FIGURA 48 – Catálogos disponibilizados pelo FDE de São Paulo ......................... 142
FIGURA 49 – Imagem mostrando os modelos de janelas em BIM disponibilizados pelo
FDE .................................................................................................... 143
FIGURA 50 – Ambientes da edificação escolar para ensino f fundamental ............ 145
FIGURA 51 – Organograma proposto pelo FNDE................................................... 146
FIGURA 52 – Exemplo de lista com o mobiliário para o projeto de uma sala de aula
elaborado pelo FDE de São Paulo ................................................... 149
FIGURA 53 –Modelos de layout de salas de aula ................................................... 150
LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1– Valor histórico das ações da empresa Autodesk (ADSK) ................... 31


GRÁFICO 2– Valor histórico das ações da empresa Nemetscheck (NEM)............... 32
GRÁFICO 3– Valor histórico das ações da empresa Adobe (ADBE) ........................ 33
GRÁFICO 4– Valor histórico das ações da empresa KKR & Co Inc (KKR) ............... 34
GRÁFICO 5– Valor histórico das ações da empresa Microsoft (MSFT) .................... 35
GRÁFICO 6– Valor histórico das ações da empresa Alphabet (GOOGL) ................. 37
GRÁFICO 7 –Softwares de modelagem utilizados pelas IES públicas brasileiras nos
cursos de Arquitetura e Urbanismo ...................................................... 82
GRÁFICO 8 – Percentual de utilização de software de modelagem livre pelas IES
públicas brasileiras nos cursos de Arquitetura e Urbanismo .............. 82
GRÁFICO 9– Softwares de edição utilizados pelas IES públicas brasileiras nos cursos
de Arquitetura e Urbanismo................................................................ 85
GRÁFICO 10– Softwares GIS utilizados pelas IES públicas brasileiras nos cursos de
Arquitetura e Urbanismo ...................................................................... 86
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Porcentagem de ações por investidor das empresas estadunidenses


listadas na Bolsa de Valores citadas no capítulo ...................................... 39
TABELA 2– Código para criação de paredes paramétricas no revit .......................... 59
TABELA 3 – Código para criação de cubos paramétricos no Blender ....................... 67
TABELA 4 – Softwares de modelagem utilizados pelas IES públicas brasileiras nos
cursos de Arquitetura e Urbanismo ........................................................ 80
TABELA 5 – Softwares de edição utilizados pelas IES públicas brasileiras nos cursos
de Arquitetura e Urbanismo ...................................................................... 83
TABELA 6 – Áreas mínimas e áreas recomendadas para os ambientes de uma escola
................................................................................................................................ 147
TABELA 7– Média de alunos por turma das escolas municipais urbanas do município
de Curitiba-PR referentes aos anos de 2018 a 2022.............................. 151
TABELA 8 – Quadro de áreas ................................................................................. 152
TABELA 9 – Níveis mínimos de iluminação e ventilação para os ambientes de uma
escola ................................................................................................. 155
LISTA DE MAPAS

MAPA 1 – Construção colorida de satélite do munícipio de Curitiba-PR ................. 115


MAPA 2 – Sobreposição dos dados: distribuição das escolas públicas municipais de
Curitiba e número de moradores entre 0 a 14 anos por setor censitário. . 118
MAPA 3– Sobreposição dos dados: distribuição das escolas públicas municipais de
Curitiba e densidade habitacional de moradores entre 0 a 14 anos por setor
censitário. ................................................................................................. 119
MAPA 4 – Primeiro resultado da classificação de imagem multiespectral ............... 125
MAPA 5 – Segundo resultado da classificação de imagem multiespectral .............. 128
MAPA 6 – Áreas com vegetação ............................................................................. 129
MAPA 7 – Lotes com área oficial acima de 6400m² ................................................ 130
MAPA 8 – Lotes com área oficial entre 6400m² e 8000m²....................................... 131
MAPA 9 – Localização dos lotes resultante dos processes de classificação ........... 134
MAPA 10 – Cruzamento da localização dos lotes com as regiões de declividade
superior a 5% ..................................................................................... 135
MAPA 11 – Lotes selecionados ............................................................................... 137
LISTA DE ABREVIATURAS OU SIGLAS

4IR - Fourth Industrial Revolution


AI - Artificial Intelligence
BIM - Building Information Modeling
CAD - Computer Aided Design
CEUS - Centros Educacionais Unificados
FAU-USP - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo
FDE - Fundação para o Desenvolvimento da Educação
FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
IA - Inteligência Artificial
IAU-USP - Instituto de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo
IES - Instituições de Ensino Superior
LAI - Lei de Acesso à Informação
LPV - Linguagem de Programação Visual
TFG - Trabalho Final de Graduação
UFBA - Universidade Federal da Bahia
UFC - Universidade Federal do Ceará
UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso
UFPE - Universidade Federal de Pernambuco
UFPI - Universidade Federal do Piauí
UFPR - Universidade Federal do Paraná
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
UFSJ - Universidade Federal de São João Del-Rei
UFT - Universidade Federal do Tocantins
UFU -Universidade Federal de Uberlândia
UnB - Universidade de Brasília
UNESP - Universidade Estadual Paulista
UNICAMP - Universidade de Campinas
UNILA - Universidade Federal Latino Americana
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 16

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA ............................................................................ 16

1.2 OBJETIVOS ................................................................................................. 18

1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 18

1.4 METODOLOGIA ........................................................................................... 19

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO ..................................................................... 21

2 POR UMA TECNOLOGIA DECOLONIAL.................................................... 23

3 OS DETENTORES DA SINTAXE ................................................................. 29

3.1 PROGRAMAS PROPRIETÁRIOS ................................................................ 30

3.2 PROGRAMAS LIVRES (OPEN SOURCE) ................................................... 40

4 ARQUITETURA EM UM MUNDO DE COMPLEXIDADES .......................... 42

4.1 MODELOS COMPUTADORIZDOS .............................................................. 47

4.2 MODELOS PARAMÉTRICOS ...................................................................... 50

4.2.1 Da proximidade paramétrica à evolução da discussão................................. 54

4.2.1.1 Programação paramétrica no Grashopper ................................................... 55

4.2.1.2 Programação paramétrica no Revit .............................................................. 55

4.2.1.3 Programação paramétrica no Archicad ........................................................ 62

4.2.1.4 Programação paramétrica no Blender .......................................................... 64

4.2.1.5 Exploração prática da programação paramétrica ......................................... 68

4.2.2 Parametria, um primeiro estágio no processo .............................................. 70

4.3 MODELOS DE APRENDIZADO DE MÁQUINAS ......................................... 72

4.3.1 O segundo estágio: modelos de aprendizado de máquina (Machine


Learning)........................................................................................................73

5 REALIDADE NACIONAL: UM RECORTE DO USO DE SOFTWARES


PELAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOS PÚBLICAS BRASILEIRAS
NOS CURSOS DE ARQUITETURA E URBANISMO .................................. 77
5.1 RESULTADOS DA PESQUISA DE SOFTWARES ....................................... 79

6 EXPLORAÇÕES TEÓRICAS E PRÁTICAS ................................................ 87

6.1 ESTUDO DE CASO 01: UTILIZAÇÃO DE ALGORÍTIMOS GENERATIVOS


PARA ELABORAÇÃO DE LAYOUTS.............................................................87

6.2 ESTUDO DE CASO 02: MODELOS DIGITAIS PARA UMA ARQUITETURA


POSSÍVEL.....................................................................................................93

6.3 ESTUDO DE CASO 03: O PROJETO PADRÃO .......................................... 99

7 INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE: PROCESSO DE COMPREENÇÃO


TERRITORIAL............................................................................................ 108

7.1 APROXIMAÇÃO DO SÍTIO: O MUNICÍPIO ................................................ 112

7.2 APROXIMAÇÃO DO SÍTIO: A REALIDADE ............................................... 116

7.3 O SÍTIO 120

8 DIRETRIZES GERAIS DE PROJETO ........................................................ 142

8.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES ............................................................ 143

8.1.1 Layout das salas de aula ............................................................................ 149

8.1.2 Quadro de áreas ......................................................................................... 150

8.2 COMPLEMENTAÇÕES TÉCNICAS PARA ALÉM DO ESPAÇO MATERIAL


.....................................................................................................................154

9 CONCLUSÃO............................................................................................. 158

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 160

ANEXO 1 – CÓDIGO PROGRAMAÇÃO VISUAL DAYNAMO PARA


CRIAÇÃO DE PISOS DE MANEIRA PARAMÉTRICA .............................. 168

ANEXO 2 –RESPOSTAS OBTIDAS ACERCA DOS SOFTWARES


UTILIZADOS NOS CURSOS DE ARQUITETURA E URBANISMO .......... 173
16

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho busca compreender como o avanço tecnológico possibilitou a


utilização de novas ferramentas para auxiliar na produção de projetos arquitetônicos
e urbanísticos. Nele, apresentaremos brevemente quais são esses métodos a que no
referimos, tratando criticamente dos meios que dão suporte a eles. Além de trazermos
quais são as implicações político econômicas oriundas dessa inserção cada vez maior
da tecnologia e consequentemente dos dados na sociedade.
Por fim, como proposta de exploração prática de alguns conceitos
apresentados ao longo do trabalho, estruturaremos a elaboração de um projeto
arquitetônico escolar. Para tanto, os capítulos finais do trabalham tratam das
informações técnicas para embasar o desenvolvimento de um edifício escolar.

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

O tema do trabalho surgiu da vontade de entender como a análise e o


cruzamento de dados e de informações podem auxiliar no desenvolvimento de
projetos arquitetônicos, não apenas como meios representativos, mas sendo parte
integrante do processo projetual. Durante meu período na graduação o tema foi muito
pouco explorado, em algumas aulas de urbanismo trabalhou-se com dados
georreferenciados, porém sem entrar de modo mais aprofundado nas lógicas e em
métodos de cruzamentos deles, muito menos em teorias que embasassem suas
construções e utilizações. A parte teórica acerca dessa exploração do uso de dados
para produção arquitetônica e urbanística, foi apenas explorada em uma matéria
optativa de Tópicos Especiais em Urbanismo1, na qual em uma das últimas aulas
mencionou-se como modelos de programação podem auxiliar na elaboração projetual.
Porém, como a monografia teórica deve servir de base para o
desenvolvimento de um produto físico na segunda etapa do Trabalho Final de
Graduação no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPR, foi necessário encontrar
uma temática que desse conta dos conceitos apresentados ao longo do trabalho. Em
conversa com o meu orientador e lembrando de uma matéria optativa, sobre

1 A matéria optativa teve duração de 30h e foi ministrada pela professora Dra. Maria Carolina Maziviero.
17

Arquitetura Escolar no Paraná2, realizada no ano de 2022, tivemos a ideia de trabalhar


com os métodos de automação projetual para aprimorar o desenvolvimento de
edificações escolar públicas.
Durante o processo de discussão sobre qual seria o projeto final do TFG,
também surgiu a ideia de realizar o trabalho para exploração de layouts residenciais
voltados para programas habitacionais, como Minha Casa Minha Vida. Porém, além
de tais estudos já serem comumente realizados, entendemos que a utilização dos
mecanismos de automação voltados para produção residencial tem por finalidade uma
lógica contrária ao da otimização dos projetos: servem como meios de barateamento
dos projetos e das construções, a fim de incrementar o lucro de grandes
incorporadores, sem trazer benefícios reais aos futuros habitantes.
Acreditamos que o uso dos métodos de automação para o desenvolvimento
de projetos escolares, pode resultar em situações diferentes do que aquelas utilizadas
apenas para habitações. Durante minhas aulas da matéria optativa de Arquitetura
Escolar do Paraná, lembro que uma das grandes problemáticas das construções
escolares é que muitos municípios não tem equipes capazes para elaborar projetos e
licitações. Ademais, há uma urgente necessidade no país de se ampliar o número de
escolas, isso faz com que órgãos governamentais desenvolvam projetos predefinidos,
que contam com plantas, quantitativos e documentos licitatórios para auxiliarem os
municípios no desenvolvimento de novos edifícios educacionais. Porém, a utilização
de soluções previamente elaboradas, acabam não dando conta das problemáticas e
especificidades de cada localidade. No trabalho queremos explorar como os métodos
de automação projetual podem aprimorar o desenvolvimento dessas edificações,
possibilitando a utilização de algumas soluções predefinidas de projeto, mas ao
mesmo tempo permitindo que tenham certa flexibilidade.

2A matéria optativa teve duração de 30h e foi ministrada pela professora Dra. Elizabeth Amorim de
Castro.
18

1.2 OBJETIVOS

Com o presente trabalho buscamos explorar os métodos de automação para


os desenvolvimentos projetual por meio da utilização de modelos digitais complexos3,
buscando entender como tais artifícios podem auxiliar no desenvolvimento de projetos.
Para isso, além de uma exploração teórica dos métodos e dos meios que permitem a
elaboração dos modelos, também realizaremos um trabalho prático: explorando como
alguns dos métodos apresentados no trabalho podem auxiliar no desenvolvimento de
um edifício escolar. Essa parte servirá como base para a segunda etapa do Trabalho
Final de Graduação, onde elaboraremos um projeto arquitetônico de uma escola
pública com o uso de modelos digitais.

1.3 JUSTIFICATIVA

Explorar os métodos digitais de desenvolvimento projetual, não é apenas


aprender sobre um software ou saber transpor o que outrora era feito no meio
analógico, para o digital. Primeiro, porque trabalhar com modelos digitais complexos
exige que se repense a lógica projetual, entendendo que não se trabalha mais apenas
com informações simplificadas e isoladas, a utilização das novas possibilidades de se
projetar permitem e exigem que se cruze e analise dados. Segundo: para trabalhar
com modelos digitais, principalmente estando em um país do Sul Global é necessário
que se discuta quais são os meios utilizados para elaboração projetual, como esses
meios operam e quem os fornece, pois, caso contrário, corre-se o risco de perder o
controle sobre a própria criação. Essa discussão foi explorada, no capítulo 2 desta
pesquisa.
Posto isso, caso exista um real entendimento de como se trabalhar com
modelos digitais, entendendo suas peculiaridades e a forma de se trabalhar com eles
é possível obter resultados que não seriam capazes de se ter apenas trabalhado
analogicamente. Por exemplo, como modelos digitais de aprendizado de máquina é
possível explorar inúmeras possibilidades de implantação de um edifício, o que

3Complexos aqui não é utilizado como sinônimo de difícil. Quando nos trazemos no texto a questão
dos modelos complexo, nos referimos aos sistemas complexos, que são compostos pelas interrelações
dos elementos que constituem esse sistema. A temática é melhor abordada no capítulo 4 do trabalho.
19

apenas um arquiteto em sua prancheta seria incapaz de conceber. Essa possibilidade


de exploração de inúmeras soluções para um projeto, por meio da utilização dos
dados, além de permitirem o desenvolvimento de muitos projetos que antes eram
inconcebíveis, também auxiliam no aprimoramento de projetos já elaborados
anteriormente.
A exploração de tais métodos podem auxiliar em muito no desenvolvimento
de projetos arquitetônicos de escolas públicas. Durante o passar dos anos diversas
experiências nacionais tentaram padronizar o edifício escolar, no intuito de que fosse
possível suprir a demanda pelo desenvolvimento desse modelo de edificação.
Atualmente podemos citar os modelos padronizados devolvidos pelo FDE de São
Paulo. Porém a padronização, como será vista ao longo do trabalho, ocasiona
inúmeros problemas, tanto porque não leva em consideração questões topográficas,
como caba por ignorar as especificidades de cada região.
Acreditamos que valendo-se desses novos métodos projetuais é possível
aprimorar o desenvolvimento de edifícios escolares, que precisam ser construídos em
larga escala e para tanto, necessitam de um certo grau de padronização. Conseguindo,
portanto, elaborar projetos com layouts mais flexíveis, além de aprimorar a
implantação das edificações nos terrenos.

1.4 METODOLOGIA

O trabalho foi baseado tanto em pesquisas teóricas como em pesquisas de


campo e explorações práticas. Nas pesquisas teóricas sobre os modelos digitais,
paramétrica e aprendizado de máquina utilizamos muitos livros e artigos em língua
inglesa, sendo alguns deles inclusive elaborados para outros campos que não o da
Arquitetura e do Urbanismo – algumas publicações que utilizamos para a pesquisa
eram voltadas aos estudos da Ciência da Computação. Essa foi uma das principais
dificuldades nesta etapa, pois apesar de existirem livros nacionais que tratam do tema,
como “Arquitetura Contemporânea e Automação: Prática e Reflexão”, organizado por
Celani e Sadrez (2018), grande parte da literatura ainda se encontra em língua
estrangeira e é de difícil acesso.
Já para as pesquisas teórica acerca da arquitetura escolar, baseamo-nos
principalmente no livro “Arquitetura Escolar: o Projeto do Ambiente de Ensino”, da
20

professora Kowaltowski (2011), visto que é uma obra muito completa, apresentando
desde questões construtivas até análises de conforto das edificações. Além disso,
também empregamos dos materiais e reflexões resultantes da disciplina de
Arquitetura Escolar do Paraná e dos manuais disponibilizados pelo Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação e pelo Fundação para Desenvolvimento da
Educação do Estado de São Paulo.
O trabalho também contou com algumas pesquisas de campo: realizamos
pesquisa entre os cursos de Arquitetura e Urbanismo das instituições de ensino
superior públicas brasileiras, para compreender quais softwares são utilizados e estão
instalados em seus laboratórios. Essa pesquisa foi realizada por e-mail:
encaminhamos uma solicitação de informação para cinquenta IES, em dois casos
(UNICAMP e UNESP) utilizamos o mecanismo da Lei de Acesso à Informação para
realizar a solicitação e no caso da UFMT, após encaminharmos o e-mail foi solicitado
se haveria um formulário para que pudessem inserir as respostas. Esse foi o único
caso que utilizamos um formulário. Não optamos incialmente por trabalhar com
formulários, pois acreditávamos que os Departamentos de Arquitetura e Urbanismo
das IES tinham essas informações previamente catalogadas e organizadas, porém
como descobrimos ao longo da pesquisa essa não é uma realidade na maioria das
instituições.
O mecanismo da LAI, além de ser utilizado na pesquisa entre as universidades,
também embasou os questionamentos realizados por nós junto ao Fundo Nacional de
Desenvolvimento das Educação Básica. Questionamos junto à autarquia o motivo do
manual elaborado por eles para embasar o desenvolvimento de projetos
arquitetônicos escolares ainda não estar finalizado, além de buscarmos entender qual
foi a metodologia utilizada pelo órgão para elaborá-lo.
Outra fonte de informação utilizada foram as pesquisas em sites. Utilizamos
os domínios eletrônicos das Bolsas de Valores, para extrairmos e analisarmos
informações a respeito das empresas detentoras dos softwares proprietários utilizados
pelos arquitetos urbanistas. Também utilizamos informações dos sites para embasar
nossas pesquisas sobre os próprios softwares apresentados no decorrer do trabalho.
21

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO

O trabalho está dividido em três blocos principais, sendo cada um composto


por capítulos. Importante ressaltar que apesar de existir essa divisão em três partes,
alguns capítulos, mesmo que de blocos diferentes, acabam por se intercalar.
Na primeira parte iniciamos com os capítulos introdutórios acerca da questão
do colonialismo de dados e como tal problemática afeta o campo da Arquitetura e do
Urbanismo. Além disso, debatemos do porquê é necessário discutir tal temática
quando pretende-se trabalhar com métodos digitais complexos para desenvolvimento
de projetos. Essa primeira parte é composta pelos capítulos: “Por Uma Arquitetura
Decolonial”, no qual apresentamos a questão do colonialismo de dados e como ele se
expressa na sociedade contemporânea, no seu fechamento correlacionamos os
conceitos apresentados durante o texto com a profissão do arquiteto e urbanista. Em
seguida há o capítulo: “Os Detentores Da Sintaxe”, em que analisamos algumas
empresas detentoras dos softwares proprietários comumente utilizados pelos
arquitetos e urbanistas, em um dos subcapítulos que o compõem, também existe uma
breve descrição de softwares livres que são uma alternativa aos programas
proprietários, os quais costumam ter um licenciamento oneroso aos usuários. Por fim
nessa primeira parte, temos o capítulo: “Realidade Nacional: Um Recorte Do Uso De
Softwares Pelas Instituições De Ensino Superior Públicas Brasileiras nos Cursos De
Arquitetura e Urbanismo”. Nele, buscamos entender como é a realidade do uso de
softwares nos cursos de Arquitetura e Urbanismo das IES públicas brasileiras.
O segundo bloco do trabalho é composto por apenas um capítulo: “Arquitetura
Em Um Mundo De Complexidades”, apesar disso, o capítulo está subdividido de em
algumas partes. Nele, começamos explicando o conceito de complexidade, que
apesar de ser comumente confundida como algo difícil está ligada ao campo da
Teorias Dos Sistemas Complexos. Em seguida, temos três subcapítulos, o primeiro
trata dos modelos digitais CAD e BIM, o segundo traz explicações e exemplos de
modelos paramétricos, por fim no terceiro capítulo apresentamos a teoria e alguns
modelos de aprendizados de máquina, os quais são considerados no campo da IA
como uma evolução dos modelos paramétricos.
Por fim temos a terceira parte do trabalho na qual apresentamos o estudo para
embasar a segunda etapa do TFG, na qual desenvolveremos um projeto de edificação
22

pública escolar. Ela é composta pelos capítulos: “Explorações Teóricas e Práticas”,


que conta com três estudos de caso, os quais exemplificam as possibilidades do uso
dos modelos digitais e servem de base para o desenvolvimento do Projeto Final de
Graduação; “Interpretação Da Realidade: Processo De Compreensão Territorial”, no
qual buscamos compreender o município de Curitiba-PR, localidade escolhida para
implantação do edifício escolar, com finalidade de encontrar um possível lote para a
inserção do equipamento público. O último subcapítulo é: “Diretrizes Gerais De
Projeto”, em que resgatamos as normativas e exigências básicas para o
desenvolvimento do projeto, além do dimensionamento mínimo das áreas e definição
do número de ocupantes.
Como a ideia do trabalho é entender como os modelos digitais e a análise de
dados podem auxiliar no desenvolvimento de um edifício escolar baseado nas
predefinições desenvolvidas pelos órgãos educacionais brasileiras como FNDE e FDE
de São Paulo, ao logo de todo o texto buscamos sempre estar correlacionando as
informações técnicas exigidas para o desenvolvimento projeto, com as possibilidades
trazidas pelos modelos digitais para o atendimento delas.
23

2 POR UMA TECNOLOGIA DECOLONIAL

Con su ritual de acero, Com seu cerimonial de aço


sus grandes chimeneas, suas grandes chaminés
sus sabios clandestinos, seus sábios clandestinos
su canto de sirenas, seus discursos grandiloquentes
sus cielos de neón, seus céus de néon
sus ventas navideñas, suas vendas natalinas
su culto de dios padre seu culto ao deus pai
y de las charreteras, e aos galardões
con sus llaves del reino, com suas chaves do reino
el norte es el que ordena. o Norte é quem ordena

pero aquí abajo, abajo, mas aqui embaixo, embaixo


el hambre disponible, a fome disponível
recurre al fruto amargo colhe o fruto amargo
de lo que otros deciden, do que outros decidem
mientras el tiempo pasa enquanto o tempo passa
y pasan los desfiles, e passam os desfiles
y se hacen otras cosas e se fazem outras coisas
que el norte no prohíbe, que o Norte não proíbe
con su esperanza dura, com a sua firme esperança
el sur, el sur también existe o Sul também existe
[...] [...]
(BENEDETTI, 1985)

O mundo tal qual concebido hoje, foi moldado a partir de inúmeras relações
de dominação e exploração colonial. Primeiro, com os antigos impérios europeus, que
se impuseram sobre o chamado novo mundo. Depois, com o que Hobsbawm (1988)
caracteriza como: A Era dos Impérios Modernos, que controlaram grande parte do
mundo, subjugado e explorado, para satisfazer os desejos de uma expansão
impetuosa.

Isto se deu entre 1880 e 1914, e a maior parte do mundo, à exceção da


Europa e das Américas, foi formalmente dividida em territórios sob governo
direto ou sob dominação política indireta de um ou outro Estado de um
pequeno grupo: principalmente Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália,
Holanda, Bélgica, EUA e Japão.
(HOBSBAWM, 1988, p. 58).

Entretanto, com o fim da Primeira Guerra Mundial, a era do colonialismo


clássico, começa a se desfazer. “[...] em fins da década de 1950 já ficara claro para
os velhos impérios sobreviventes que o colonialismo formal tinha de ser liquidado”
(HOBSBAWM, 1995, p. 175).
24

Porém, com a expansão do capital mundial e a consolidação de uma


economia globalizada e multipolar, que teve início com a criação dos organismos
financeiros internacionais e se consolidou com o fim da União Soviética (1991), os
países do Norte Global se impõem de maneira indireta sobre os países do Sul Global4,
muito por meio da criação de uma dependência econômica.

A autoridade dos organismos financeiros internacionais estabelecidos depois


da Segunda Guerra Mundial, sobretudo o Fundo Monetário Internacional e o
Banco Mundial. Apoiados pela oligarquia dos grandes países capitalistas, que,
sob o vago rótulo de “Grupo dos Sete”, se tornaram cada vez mais
institucionalizados a partir da década de 1970, eles adquiriram crescente
autoridade durante as Décadas de Crise, à medida que as incontroláveis
incertezas das trocas globais, a crise da dívida do Terceiro Mundo e, após
1989, o colapso das economias do bloco soviético tornaram um número cada
vez maior de países dependentes da disposição dos países ricos de
conceder-lhes empréstimos.
(HOBSBAWM, 1995, p. 332).

Essa dependência, aliada à expansão dos mercados internacionais, permitiu


às empresas multinacionais, com sede em países do Norte Global, se instalarem nos
países do Sul, tanto em busca de mão de obra barata, quanto de mercado consumidor.
No século XXI, principalmente com a 4° Revolução Industrial, uma nova forma
de colonialismo começou a imperar, o colonialismo de dados.

5 […] A quarta revolução industrial é a junção de muitas tecnologias, tais como,


mas não apenas: nanotecnologia, biotecnologia, informação, tecnologia e
comunicação, no processo de não as pensar apenas individualmente, mas
também seu produto tecnológico. Uma característica da quarta revolução
industrial é a noção da Internet das Coisas. A Internet das Coisas ampliou e
difundiu os limites entre o biológico, o espiritual, o tecnológico e o humano.
(BENYERA, 2021, p. 34 e 35, tradução nossa).

4 O Sul é aqui concebido metaforicamente como um campo de desafios epistémicos, que procuram
reparar os danos e impactos historicamente causados pelo capitalismo na sua relação colonial com o
mundo. Esta concepção do Sul sobrepõe-se em parte com o Sul geográfico, o conjunto de países e
regiões do mundo que foram submetidos ao colonialismo europeu e que, com excepção da Austrália e
da Nova Zelândia, não atingiram níveis de desenvolvimento económico semelhantes ao do Norte global
(Europa e América do Norte). (SOUSA, 2009, p. 12 e 13).
Texto original: 5 The 4IR is the amalgamation of many technologies such as, but not limited to,
nanotechnology, biotechnology, and information, technology and communication (ICT), in the process
blurring not only the traditional distinction between these technologies but also the resultant
technological products. A characteristic of the 4IR is the notion of the internet of things (IoT). The internet
of things has broadened and blurred the boundaries between the biological, the spiritual, the electronic,
and the human.
25

Este novo modelo de dominação, em muito se assemelha às formas clássicas


do colonialismo. Com a diferença de que, no colonialismo de dados, a matéria prima
extraída, resultante do processo de exploração, não é mais o ouro, a prata ou madeira,
mas sim os dados, os quais, muitas vezes são extraídos e apropriados por grandes
corporações sem que as pessoas nem mesmo se deem conta: “6Na 4º Revolução
Industrial, as novas fazendas são as fazendas de dados e as novas minas são as
pessoas, que são mineradas para extrair suas informações, sem que elas saibam. As
minas de dados, são agora as mais lucrativas” (BENYERA, 2021, p. 138, tradução
nossa). Benyera (2021), inclusive, quando discute a recolonização da África no século
XXI, pelas grandes empresas multinacionais de tecnologia do Norte Global, afirma
que hoje não são mais os países que são colonizados, mas as pessoas que neles
vivem, as quais tem suas vidas dataficadas e tais dados, são comercializados a
despeito do consentimento delas.
Podemos citar como exemplo da afirmação acima o caso do ChatGPT7, que
graças sua fácil usabilidade tornou-se amplamente utilizado, fazendo com que a
empresa dona do produto, a OpenIA, recebesse aportes bilionários, meses após o
lançamento da plataforma para o público em geral 8 . De acordo com reportagem
investigativa publicada na revista Time (2023) o ChatGPT foi treinado e testado com
o uso de mão de obra barata em países como Quênia, Uganda e Índia. Os
trabalhadores, que precisavam ler e catalogar textos para separar e classificar
conteúdos opressivos, recebiam entre 1,32 a 2 dólares por hora.
Em resumo: o colonialismo de dados é exploração, por parte de grandes
empresas de tecnologia - muitas vezes situadas em países do Norte global -, dos
dados produzidos pelas pessoas. Tais recursos, não mais minerais, como os do
colonialismo clássico, mas sim digitais, após serem extraídos e gerarem lucro pelas
empresas exploradoras, servem como elemento de dominação sobre as pessoas que
os produziram, mantendo assim uma relação extremamente assimétrica entre ambos.

Texto original: 6 In the 4IR, the new farms are data farms and the new mines are people, who are being
mined for their information, unknowingly so. Data mines are now the most lucrative forms of mines.
7 ChatGPT é um modelo de linguagem desenvolvido pela OpenAI que gera respostas para diversas

perguntas e comandos, tendo a capacidade de entender o contexto e produzir textos.


8 De acordo com notícia publicada no início de 2023 em grandes empresas de mídia como a revista

Time e na Boomberg, a Microsoft estava negociando o aporte de 10 bilhões de dólares na OpenIA ao


longo dos anos. Além disso, OpenIA já é listada como uma das grandes corporações multibilionárias
da atualidade, graças a um acordo que estava sendo negociado em janeiro de 2023, a empresa está
avaliada na casa dos 27 a 29 bilhões de dólares (THE WALL STREET JOURNAL, 2023).
26

“9No colonialismo de dados, os dados são elaborados e usados para iniciar, manter,
rotinizar e normalizar uma relação assimétrica de poder entre os (antigos)
colonizadores e os (antigos) colonizados” (BENYERA, 2021, p. 32, tradução nossa).

10O colonialismo de dados é o controle sobre o fluxo de informação e como


ela é transmitida. Interessando-se na aquisição dos dados, assim como o
colonialismo estava interessado na aquisição do território físico e epistêmico
e dos recursos econômicos que poderiam ser extraídos deles.
(BENYERA, 2021, p. 24, tradução nossa).

Tal qual apresentado, na quarta revolução industrial: os dados, que se


tornaram a matéria prima explorada pelas grandes empresas multinacionais de
tecnologia, estão presentes em todas as áreas, desde as mais visíveis como as mídias
digitais, até na produção arquitetônica e urbanística da atualidade.
Como será visto ao longo do trabalho, muitos dos softwares utilizados para a
produção em Arquitetura e Urbanismo na era da tecnologia, que busca valer-se da
complexidade para a produção projetual (ver capítulo 4). Em geral, são de
propriedades de empresas situadas em países do Norte Global - as quais tem o total
controle sobre o software, o que as possibilita cobrar o quanto desejarem e da maneira
que queiram, para que tais produtos possam ser utilizados.
Além disso, tais corporações também detêm controle sobre os dados do que
é produzido nos programas, mas, de maior gravidade, estas detêm o domínio sobre o
conteúdo. Isso, pois, em programas proprietários, os criadores dos conteúdos
somente podem acessar a sua produção se detiverem a licença do programa, ou caso
o arquivo seja compatível com algum outro programa. Essa relação é justamente o
que Benyera (2021) discute como sendo uma assimetria entre o colonizador e o
colonizado, na qual o segundo tem seus dados explorados pelo primeiro, ademais,
precisa pagar ao colonizador para continuar a ser explorado.
A discussão da dominação sobre a produção, não se restringe apenas à vida
profissional, mas ao próprio ambiente de ensino, “[...] diversas universidades federais
brasileiras têm aceitado, com relativa naturalidade, a incorporação de tecnologias

Texto original: 9 In the coloniality of data, data is weaponized and used to initiate, maintain, routinise,
and normalize asymmetrical power relations between the (former) colonisers and their agents and the
(former) colonized.
Texto original: 10 Data coloniality is the control over the flow of information and how it is transmitted. It is
concerned with the acquisition of data, just like colonialism was concerned with the acquisition of both
physical territory and epistemic territory and resources from which economic value is then extracted
27

educacionais privadas em suas rotinas operacionais” (MIAN, 2021, p.129), o que faz
com que elas fiquem presas e tenham seus dados explorados por empresas
estrangeiras.

Assim, similar as colônias históricas de exploração de recursos naturais,


essas grandes empresas, que operam a partir da dinâmica de coleta e
tratamento de dados para aperfeiçoar suas práticas mercadológicas, manter
sua supremacia no mercado global e continuar escalando marcas colossais
de lucro, encontram, nas universidades federais brasileiras, solo fértil e
amplamente disponível para extração de sua matéria-prima principal.
(MIAN, 2021, p. 138),

Quando se discute, “Automação como método de produção projetual” é


imprescindível debater-se também, os meios nos quais tais métodos são elaborados.
Compreende-se método como sendo a resultante de um pensamento, neste caso: um
pensamento complexo, que concebe a produção e o desenvolvimento arquitetônico e
urbanístico, não mais de uma maneira simplificada, mas como produto das
interrelações de inúmeros sistemas, os quais, interagem em si e entre si (ver capítulo
4 ).
Já o meio é o espaço onde o pensamento e por conseguinte, o método, se
expressam. Em tempos idos, o meio foi o papel, ainda é, mas não somente. Com a
tecnologia, o meio passou de analógico ao digital e, portanto, tornou-se dados, o qual,
como visto, é o novo ouro, e desta maneira, objeto de exploração.
Entende-se que a compreensão do meio amplia o pensamento, que é criador
do método, se elaborado de maneira crítica, compreendendo toda lógica envolvida,
torna-se próprio11, pois além de ampliar o horizonte de conhecimento, reflete acerca
dos meios, não sendo, portanto, o pensamento objeto de dominação. Em última
instância, tal crítica e reflexão só podem ser concebidas quando se tem compreensão
do método, o que permite reinventar o meio.
No caso da produção arquitetônica e urbanística, o meio: os programas de
computador - os quais são em sua maioria controlados por multinacionais localizadas
no Norte Global, são utilizados como apoio para o desenvolvimento de um método,
neste caso, que se vale da complexidade. Portanto, uma ampliação da discussão

11O conceito de “próprio”, trazido no texto, reflete a ideia de que ao se elaborar um pensamento crítico
acerca de um método, este passa a ser compreendido como parte do processo criativo, o qual utiliza
um “meio”, mas não é refém deste. Permitindo assim, que o ser pensante, não se torne refém do meio,
mas detentor do conhecimento.
28

sobre os métodos de produzir Arquitetura, também passa por refletir sobre os meios,
principalmente, quando se está em um país do Sul Global.
29

3 OS DETENTORES DA SINTAXE

A sintaxe na programação consiste em um conjunto de regras e convenções


específicas aceitas em determinadas linguagens. Cada linguagem de programação
contém sua própria estrutura sintática e semântica. Sendo essa última, referente à
forma com que os códigos serão interpretados. Os programas mesmo que não
dedicados a programação, também tem uma “sintaxe”, que se refere a forma de utiliza-
lo, a qual é criada por uma empresa ou de maneira colaborativa, quando ele é um
software open source.
Entender e discutir quem está por trás desse desenvolvimento é de suma
importância, tendo em vista a problemática apresentada no capítulo anterior, do
colonialismo de dados. Ademais, analisar quem são os responsáveis pelos softwares,
também permite discutir a ideia de propriedade do conhecimento produzido. Visto que,
em softwares proprietários o usuário para ter acesso ao que produziu, muitas vezes é
obrigado a pagar a licença do produto para tal. A situação é ainda pior quando o
modelo de licenciamento não é vitalício, em licenças por assinatura o usuário sempre
precisa pagar para ter acesso ao produto e consequentemente ter acesso às suas
produções, muitas empresas inclusive já vem adotando apenas esse modelo de
licenciamento.
Exemplificamos tal situação: Ao utilizar um software proprietário de
manipulação de imagem é necessário que o usuário tenha uma licença do produto.
Caso o usuário opte por uma licença de assinatura, ele sempre precisa pagar para
utilizar o produto e consequentemente trabalhar em suas criações. Parando de
realizar o pagamento e não possuindo copias de suas criações salvas em outro
formato de arquivo que não o pertencente ao software de manipulação de imagem
proprietário, o usuário fica impossibilitado de acessar as suas criações. Portanto,
perde o direito de visualizar e manipular o conteúdo que ele produziu, pois aquele está
vinculado ao software de uma empresa. Sendo ela, a única, que nesse momento,
pode permitir ao usuário acessar o conteúdo.
Muitos dos softwares citados ao longo do trabalho e que são utilizados pelos
arquitetos e urbanistas em seus projetos, são proprietários e trabalham com sistemas
de licenciamento, alguns vitalícios outros por assinatura. Portanto achamos
necessário trazer uma breve contextualização destes softwares e das empresas que
30

os controlam. Além disso, também apresentamos a listagem de programas livres,


muito dos quais, apesar de desconhecidos são ferramentas que desempenham papel
semelhante ao de soluções licenciadas.
Entende-se que tal catalogação, apesar de prolongar o trabalho, contribui para
que tenhamos um melhor entendimento dos meios atuais que estão sendo utilizados
para produção arquitetônica, pois uma das propostas deste trabalho é discutir
tecnologia, automação em arquitetura e pensamento crítico acerca da tecnologia, dos
processos de projeto e das formas de dominação trazidas por esta.

3.1 PROGRAMAS PROPRIETÁRIOS

Categorizou-se nesse subcapitulo os programas proprietários mais


comumente utilizado por arquitetos e urbanistas para o desenvolvimento projetual,
indo desde soluções de edição à programação visual. “O software proprietário proíbe
redistribuição e alteração pelo usuário, e a maior parte dos softwares comercialmente
distribuídos hoje se enquadra nessa categoria” (RUSCHEL, BIZELLO, 2011, p. 406).
Entretanto, optamos por não inserir softwares dedicados unicamente a renderização,
pôr a representação gráfica final não ser o foco do trabalho.
Como as empresas detentoras dos programas proprietários costumam ter
mais de um software em seu portifólio de produtos, optamos por realizar uma
catalogação por empresa, pois assim podemos obter uma leitura melhor do cenário e
da força destas corporações.
Autodesk: A Autodesk é uma empresa multinacional de capital aberto,
sediada no estado da California, Estados Unidos. Seus produtos são principalmente
destinados a atender profissionais das indústrias de construção civil, manufatura,
mídia e entretenimento. Entre os produtos mais conhecidos da Autodesk estão o
AutoCAD - software de desenho assistido por computador (CAD) amplamente
utilizado em projetos de arquitetura e engenharia; o Revit - plataforma de modelagem
de informações da construção (BIM) para projetos de construção e o Maya - software
de animação e modelagem 3D usado em filmes, jogos e produções de TV.
31

A empresa negocia da bolsa da Nasdaq com o código ADSK já chegou a ser


avaliada em 73,88 bilhões12, atualmente tem valor de mercado de 42,6 bilhões de
dólares13.No GRÁFICO 1 é possível ver a evolução histórica do valor dos papeis da
companhia, que desde que começaram a ser negociados tiveram uma alta
significativa, apenas tendo uma desvalorização nos últimos tempos, tal qual ocorreu
com inúmeras empresas de tecnologia14.

GRÁFICO 1– Valor histórico das ações da empresa Autodesk (ADSK)

$400,00

$350,00

$300,00

$250,00

$200,00

$150,00

$100,00

$50,00

$0,00
2017

2021
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016

2018
2019
2020

2022

FONTE: O autor (2023)


DADOS: Nasdaq

Graphisoft: A Graphisoft é uma empresa de software especializada no


desenvolvimento de soluções para arquitetura, engenharia e construção. Fundada em
1982 e sediada em Budapeste, na Hungria, a Graphisoft é reconhecida como uma das
principais fornecedoras de programas de modelagem BIM. O principal produto da
Graphisoft é o Archicad- software BIM que permite modelar e visualizar projetos (para
mais informações ver subcapítulo 4.2), além dele, a empresa oferece soluções
complementares, como o BIMcloud - plataforma de colaboração em nuvem para

12 O valor de 73,88 bilhões refere-se ao valor de mercado da companhia em 11 de agosto de 21 e foi o


maior valor já atingido.
13 O valor de mercado de 42,6 bilhões de dólares da Autodesk é referente ao dia 26 de maio de 2023,

data em que o trabalho estava sendo escrito.


14 Em reportagem de janeiro de 2023, o Valor Econômico destaca que em 2022 as Big Techs perderam

US$ 4,6 trilhões em valor de mercado.


32

equipes de projeto, e o BIMx - aplicativo de visualização e navegação interativa de


modelos BIM em dispositivos móveis.
A companhia Graphicsoft desde 2006 passou a pertencer ao grupo
Nemetscheck, que recebeu opção de compra da maioria das ações pelo preço de 9
euros por ação. Portanto, hoje a Graphicsoft está sobre controle do grupo alemão
Nemetschek, que opera no segmento de Arquitetura e Construção, tendo em seu
portifólio outras 13 marcas, como por exemplo o Solibri – software de análise de
modelos BIM.
O grupo Nemetschek é negociado na bolsa de valores de Frankfurt, com
ações cotadas por volta de 72 euros e com valor de mercado de 9,19 bilhões de
euros15. Apesar de ser negociado na bolsa de Frankfurt a tendencia de valorização
das ações do grupo se assemelha com a de sua concorrente a Autodesk, estas
empresas tiveram uma enorme valorização nos últimos anos (
GRÁFICO 2). Justamente quando as soluções de softwares de modelagem
BIM se tornaram ainda mais utilizados.

GRÁFICO 2– Valor histórico das ações da empresa Nemetscheck (NEM)

€ 140,00

€ 120,00

€ 100,00

€ 80,00

€ 60,00

€ 40,00

€ 20,00

€ 0,00
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022

FONTE: O autor (2023)


DADOS: Börse Frankfurt

Cotação das ações em 73,36 euros no fechamento do mercado na data de 26 de maio de 2023
15

mesma data em que se verificou o valor de mercado da companhia.


33

McNeel: A Robert McNeel & Associates é uma empresa privada fundada em


1980 e que atualmente tem como um dos seus principais produtos o Rhinoceros –
programa de modelagem 3D utilizados tanto por designs como por arquitetos e
engenheiros (para mais informações ver subcapítulo 4.2). A sede da McNeel fica na
cidade de Seattle nos Estados Unidos.
Adobe: A Adobe Systems Incorporated fundada em dezembro de 1982 por
John Warnock e Charles Geschke é hoje uma das líderes no mercado de ferramentas
para designs. A empresa com sede em San José, cidade localizada no estado da
California, Estados Unidos, está listada na bolsa da Nasdaq com um valor de mercado
de 190,54 bilhões de dólares, suas ações que já atingiram o valor de 670 dólares cada,
hoje estão por volta de 400 dólares 16 . No GRÁFICO 3 é possível observar a
valorização das ações da Adobe ao longo do tempo e o pico que tiveram em 2021.

GRÁFICO 3– Valor histórico das ações da empresa Adobe (ADBE)

$800,00

$700,00

$600,00

$500,00

$400,00

$300,00

$200,00

$100,00

$0,00
1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

2008

2010

2012

2014

2016

2018

2020

2022

FONTE: O autor (2023)


DADOS: Nasdaq

A empresa oferece uma variedade de produtos e serviços, como Adobe


Photoshop -programa de edição de imagens; Illustrator – programa de design vetorial;
InDesign – programa para diagramação de documentos; Premiere Pro – programa de

16O valor de mercado da companhia refere-se a data de 26 de maio de 2023 mesma data para a
cotação de 416 dólares por ação (valor de fechamento do mercado). Já a cotação de 600 dólares é
referente a fevereiro de 2021.
34

edição de vídeos; entre outros. Vale ressaltar que a Adobe, nos últimos anos vem
realizando um movimento para modificar seu sistema licenciamento para um model
de assinatura e soluções na nuvem, através do Adobe Creative Cloud.
Alludo: A empresa Corel Corporation fundada em 1985 por Michael Cowpland
é uma empresa de software canadense com sede em Ottawa, Canadá, que
desenvolve progrmas para a área criativa. Sendo os principais deles o CorelDRAW –
programa de design vetorial e o Corel Photo Paint -programa de edição de imagens.
A Corel Corporation passou por um processo de reestruturação de marca no ano de
2022, passando a compor o grupo Alludo, que agora além dos programas Corel
também conta com outros produtos em seu portifólio.
O grupo Alludo, por sua vez integra o portifólio do grupo de investimentos KKR
& Co Inc, que adquiriu a Corel Corporation ano de 2019. O grupo financeiro, está
sediado na cidade de Nova York nos Estados Unidos e é negociado na Bolsa de
Valores de Nova York (NYSE), sendo avaliado em 58,68 bilhões de dólares17. Seus
papeis que costumavam estar na casa dos vinte, trinta dólares, tiveram uma enorme
valorização partir de 2020 (GRÁFICO 4).

GRÁFICO 4– Valor histórico das ações da empresa KKR & Co Inc (KKR)

$90,00

$80,00

$70,00

$60,00

$50,00

$40,00

$30,00

$20,00

$10,00

$0,00
2019
2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2020

2021

2022

FONTE: O autor (2023)


DADOS: New York Stock Exchange (NYSE)

17 O valor de mercado da companhia refere-se a data de 26 de maio de 2023.


35

Esri: A Esri é uma empresa privada estadunidense, fundada em 1960, com


sede na California, Estados Unidos, que desenvolve soluções softwares GIS,
localização e mapeamento de informações, prestando serviços tanto para o mercado
privado, quanto para órgãos governamentais e instituições de ensino. Um exemplo de
órgão público que utiliza soluções da empresa é a Prefeitura de Curitiba-PR: o portal
GeoCuritiba conta com ferramentas de mapas e imagens de satélite que rodam em
plataformas da Esri.
O software mais popular da empresa é ArcGIS que permite criar, gerenciar,
analisar e exibir dados geográficos. Sendo utilizado em diversas áreas, como
planejamento urbano, gestão de recursos, análise ambiental.
Microsoft: A Microsoft Corporation é uma empresa de tecnologia
estadunidense de capital aberto, sediada nos arredores de Seattle, Estados Unidos.
Seus papeis são negociados na NASDAQ com o código MSFT e ela é uma das
maiores empresas de tecnologia do mundo, avaliada em 2,48 trilhões de dólares18, no
GRÁFICO 5 é possível verificar a valorização das ações da companhia, que desde
2016 seguiram uma tendência de alta, atingido seu máximo valor em 2021. Elas
sofreram uma queda em 2022, mas já voltaram a se valorizar.

GRÁFICO 5– Valor histórico das ações da empresa Microsoft (MSFT)

$400,00

$350,00

$300,00

$250,00

$200,00

$150,00

$100,00

$50,00

$0,00
2002
2004
1986
1988
1990

1992
1994
1996
1998

2000

2006
2008
2010

2012
2014
2016
2018

2020
2022

FONTE: O autor (2023)


DADOS: Nasdaq

18 Valor de mercado da companhia na data de 26 de maio de 2023.


36

A Microsoft, apesar de ter se tornado muito conhecida graças aos seus


sistemas operacionais para computador, apresenta uma infinidade de outros produtos
e soluções, tanto para o mercado doméstico quanto corporativo, citamos por exemplo
o pacote de programas Office 365. Vale ressaltar, que já algum tempo, a Microsoft
vem se aproximando das instituições de ensino para que essas adotem suas soluções
de e-mail, de editores e de nuvem.
Apesar de oficialmente as soluções da empresa serem menos aplicadas que
a do Google, a ela já tem seu serviço de e-mail utilizado por 11 instituições públicas
brasileiras, segundo dados do Observatório Educação Vigiada, que mapeia a
plataformização19 da educação pública no Brasil e na América Latina. Ademais, o caso
se compara aos dados divulgados pelo observatório com pesquisa publicada no artigo
“Coletando dados sobre o Capitalismo de Vigilância nas instituições públicas do
ensino superior do Brasil” no ano de 2019 pelos professores Cruz, Saraiva e Amiel,
constata-se que há uma crescente adoção das soluções da Microsoft pelas
instituições de ensino. Como exemplo temos os casos das Universidades Federais:
em 2019, quando o artigo foi publicado somente a UnB adotava os serviços de e-mail
da companhia, já nos dados do Observatório Educação Vigiada, 4 Universidades
Federais passaram a utilizar os serviços de e-mail da Microsoft. Ressaltamos, que
esses dados são referentes aos serviços de e-mail, não entrando em outras análises
como a adoção de softwares de texto nas IES ou a utilização dos serviços de nuvem
e/ou IA que podem vir a serem utilizados em pesquisas realizadas por servidores das
universidades.
Google: A empresa Google, que além do seu mecanismo de busca na internet,
também conta com ferramentas de edição de texto, tabelas planilhas, as quais
permitem edições simultâneas entre vários usuários, a partir de 2015, passou a ser
uma subsidiária da Alphabet Inc. A holding foi criada para administrar tanto a Google,
como outras empresas que antes estavam vinculadas a ela. Com sede no estado da
California, Estados Unidos, o conglomerado faz parte da lista de empresas trilionárias
da Bolsa de Valores estadunidense. Suas ações, que já chegaram a valer

19 Poell, Niebor e Dijick (2019) no artigo Platformisation definem o termo da seguinte maneira:
“plataformização como a penetração de infraestruturas, processos econômicos e estruturas
governamentais de plataformas em diferentes setores econômicos e esferas da vida. E, a partir da
tradição dos estudos culturais, concebemos esse processo como a reorganização de práticas e
imaginações culturais em torno de plataformas”.
37

US$ 149,84 20 , atualmente estão na casa dos 124 dólares, fazendo com que a
companhia tenha um valor de mercado de 1,58 trilhões de dólares21 .
No GRÁFICO 6 é possível observar a evolução histórica dos papeis da
Alphabet e o pico que tiveram em 2021. Tal qual a Microsoft, a Alphabet, por meio da
empresa Google também mantem serviços voltados para as áreas da educação.
Sendo inclusive os contratos do Google com as IES públicas brasileiras muito mais
volumosos que de sua conterrânea. Segundo os dados do Observatório Educação
Vigiada, 71,53% das 144 instituições de ensino brasileira pesquisadas, utilizam os
serviços do servidor do Google em seus e-mails institucionais. Além disso, as
ferramentas do Google, como o Google Classroom, vem sendo cada vez mais
utilizadas nas escolas das redes públicas de ensino brasileiras, graças a acordos
firmados entre as Secretariais de Educação dos Estados e a empresa (LAVITS, 2018).

GRÁFICO 6– Valor histórico das ações da empresa Alphabet (GOOGL)

$160,00

$140,00

$120,00

$100,00

$80,00

$60,00

$40,00

$20,00

$0,00
2010

2021
2004
2005
2006
2007
2008
2009

2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020

2022

FONTE: O autor (2023)


DADOS: Nasdaq

Percebe-se que a totalidade das empresas apresentadas estão localizadas


em países do Norte Global, sendo a maioria localizada nos Estado Unidos, onde
também tem suas ações negociadas. Algumas empresas, como Graphicsoft, apesar

20O máximo valor dos papeis da Alphabet foi atingido em 18 de novembro de 2021.
21Os dados citados, são referentes aos valores das ações da companhia na data de 26 de maio de
2023, após o fechamento dos mercados.
38

de possuírem suas sedes fora dos países compositores do G7, são controladas por
empresas mães, as quais encontram-se nos grandes polos econômicos mundiais. Na
FIGURA 1 foi espacializada geograficamente a localização das sedes das empresas
citadas. Para empresas que pertencem a grupos empresariais, consideramos como
localidade a sede do grupo, pois ele é em última instância o controlador da empresa.

FIGURA 1– Localização das sedes das empresas

FONTE: O autor (2023)

Outra questão importante de se notar é quem são os principais investidores


dessas empresas, visto que um seleto grupo de investidores costuma ter posições em
mais de uma companhia. Realizamos a análise dos investidores das ações
negociadas em bolsa das cinco empresas estadunidenses, que apresentamos
anteriormente. Para a amostra, consideramos apenas os dados de ativos negociados
na Bolsa de Valores, pois, para nosso estudo é mais importante entender a dinâmica
de poder que grandes grupos de investimentos têm sobre um segmento do mercado.
Na TABELA 1 está representado quem são os principais detentores de papéis das
cinco empresas listadas na Bolsa estadunidense e qual é a porcentagem de ação que
os gestores de investimentos e bancos detém delas.
39

TABELA 1 – Porcentagem de ações por investidor das empresas estadunidenses listadas na Bolsa de
Valores citadas no capítulo
INVESTIDOES INSTITUCIONAIS ADBE ADSK GOOGL KKR MSFT
CAPITAL INTERNATIONAL INVESTORS 8,71% 1,54%
VANGUARD GROUP INC 10,49% 9,68% 10,51% 8,20% 11,80%
BLACKROCK INC. 9,89% 8,94% 9,11% 7,25% 9,76%
STATE STREET CORP 4,98% 4,51% 4,68% 2,30% 5,31%
CAPITAL WORLD INVESTORS 2,63% 1,59%
MASSACHUSETTS FINANCIAL SERVICES 2,07% 1,33%
FMR LLC 2,86% 2,94% 4,48% 3,64%
MORGAN STANLEY 2,67% 2,18% 2,19%
JPMORGAN CHASE & CO 1,94% 1,12% 1,72%
BANK OF NEW YORK MELLON CORP 1,85% 1,20%
NORTHERN TRUST CORP 1,47% 1,41% 1,49% 1,51%
NORGES BANK 1,40% 2,04% 1,57%
ALLIANCEBERNSTEIN L.P. 1,39% 1,70%
POLEN CAPITAL MANAGEMENT LLC 1,30% 4,11%
GEODE CAPITAL MANAGEMENT, LLC 2,09% 2,56% 2,62%
BANK OF AMERICA CORP 2,07% 1,49% 1,43%
OFI INVEST ASSET MANAGEMENT 2,82% 4,41%
PRICE T ROWE ASSOCIATES INC 2,32% 3,02%
FONTE: O Autor (2023)
DADOS: Nasdaq (2023)
NOTA: Os dados são referentes a data de 31 de março de 2023. Para extrair a porcentagem de
ações que cada acionista possui, dividimos o total de ações que eles possuíam em 31 de março de
2023, pelo montante de ações da empresa.

Como é possível observar na TABELA 1, alguns investidores institucionais


possuem porcentagem significativa dos papeis das cinco empresas catalogadas,
mesmo outros que não tem de todas, mantem posição em pelo menos duas delas.
Dentre os investidores com papeis de todas as empresas temos: o Vanguard Group
INC. – gestora de investimentos -; Blackrock INC. – gestora de investimentos – e o
State Street Corp – companhia financeira, que também tem suas ações listadas em
bolsa-, ambos os três tem suas sedes no Estados Unidos. Essa rápida análise
permite-nos compreender como os principais softwares utilizados por arquitetos e
urbanistas no mundo inteiro, estão sobre o controle de um grupo de investidores.
40

Por fim, achamos valido ressaltar que os dados apresentados neste


subcapítulo, não têm a intensão de realizar uma análise aprofundada das finanças e
dinâmicas econômicas das empresas citadas. Também não procuramos entrar em
questões macroeconômicas como a alta da taxa de juros nos Estados Unidos e nos
países europeus, que afeta principalmente as empresas de tecnologia, fazendo com
que reduzam o valor de mercado. Além disso, há inúmeros fatores que afetam a
economia mundial, como a guerra na Ucrânia, que desestabilizou consideravelmente
a economia mundial, impactando significativamente os preços de comodities e
consequentemente tendo impacto no mercado financeiro como um todo.
A intenção com os dados apresentados foi de demonstrar quem são as reais
empresas detentoras dos softwares utilizados por arquitetos urbanistas, localizá-las
geograficamente e demonstrar que, mesmo tendo perdido valor de mercado nos
últimos tempos, seus papeis vem crescendo expressivamente ao logo dos anos.
Ademais, buscamos demonstrar como alguns poucos conglomerados são donos de
parcela significativa das empresas desenvolvedoras dos softwares utilizados no
campo da Arquitetura e do Urbanismo.

3.2 PROGRAMAS LIVRES (OPEN SOURCE)

Como alternativa aos softwares proprietários, que somente podem ser


acessados e utilizados via pagamento do licenciamento, existem inúmeras soluções
de programas livres, que “oferece ao usuário o direito de usar, modificar e redistribuir
o software” (RUSCHEL, BIZELLO, 2011, p. 406). Nesta seção do trabalho,
catalogamos e descrevemos brevemente alguns softwares livres, explicações mais
detalhadas sobre alguns dos programas citados serão apresentados no capítulo 4,
onde exemplificamos alguns processos paramétricos.
Programas CAD: Existem alguns inúmeros programas CAD de código aberto,
como QCAD, PythonCAD, BRL-CAD e Varkon (RUSCHEL, BIZELLO, 2011), cada
qual com suas especificidades e capacidades. Porém como Ruschel e Bizello (2011)
demonstraram em sua pesquisa de sistemas CAD livres, os programas livres ainda
não conseguem ser tão completos quanto a solução da Autodesk.
Blender: O Blender é um software de modelagem e animação 3D, podendo
também ser utilizado para outras finalidade como criação e edição de arquivos IFC,
41

graças ao plugin IfcOpenShell. O programa que nasceu dentro da empresa Not a


Number, tornou-se a partir de 2002 um programa livre e de código aberto22, licenciado
pela Licença Pública Geral GNU23.
GIMP: O GIMP é um programa livre de edição e manipulação de imagens
distribuído pela licença GNU e serve como uma alternativa a programas proprietários
como o Adobe Photoshop.
Inkscape: O Inkscape é um programa livre e de código aberto de desenhos
vetoriais. O programa que faz parte da Software Freedom Conservancy24 é mantido e
desenvolvido pela comunidade e serve como alternativa ao Adobe Illustrator.
Scribus: O Scribus é um software de código aberto e gratuito para
diagramação de documentos, permitindo também a inserção e criação de desenhos
vetoriais. O programa, tal o GIM e o Inkscape, também serve de alternativa para
programas proprietários como o Adobe InDesign.
Qgis: O QGIS é um projeto oficial da Open Source Geospatial Foundation
(OSGeo) de Sistema de Informação Geográfica (SIG), sendo um software livre e
código aberto, licenciado pela Licença Pública Geral GNU.O programa é uma
alternativa a programas GIS proprietários, como o Arcgis. Nele é possível realizar
operações como: visualização e análises de dados geográficos e geoespaciais;
cruzamento de informações; construção de mapas; entre outras. A capacidade e o
poder do Qgis, tornam se ainda maiores graças a enorme variedade de plugins
existentes para o software.

23 A GPL baseia-se em 4 princípios: liberdade de executar o programa, para qualquer propósito;


liberdade de estudar como o programa funciona e adaptá-lo para as suas necessidades; acesso ao
código-fonte e a liberdade de redistribuir cópias do software; liberdade de aperfeiçoar o programa, e
liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie deles. (UFRGS, 2023).
24 A Software Freedom Conservancy é uma organização que busca promover e estimular

desenvolvimento de iniciativas de programas livres e de código aberto.


42

4 ARQUITETURA EM UM MUNDO DE COMPLEXIDADES

A simplificação racional do mundo 25 , foi muito explorada pelos arquitetos


modernos: no seu ímpeto de simplificar e massificar as produções arquitetônicas e
urbanísticas, buscaram o modelo cartesiano – das duas retas que se cruzam e formam
um ângulo perfeito -, criando obras e projetos que se valiam das formas geométricas
euclidianas. Tais pressupostos, presentes nos cinco pontos de arquitetura de Le
Corbusier 26 e muito explorados nos congressos internacionais de arquitetura
moderna27 moldaram grande parte da produção arquitetônica do século XX e ainda
servem de base para muito do que se produz hoje. Tal constatação, não deve ser
entendida como uma negação dos postulados modernos, pois, entende-se que tais
pressupostos, são resultados de um período histórico específico e contribuíram para
a evolução da discussão e produção da Arquitetura e do Urbanismo.
Entretanto, o artificial mundo projetado pelos modernos, das formas
euclidianas, desenhadas sobre planos ortogonais, não encontram anteparo no mundo
natural. Este, onde a interrelação dos seres vivos e dos não vivos, constitui a
existência, não é retilíneo e muito menos se molda perfeitamente em formas
geométricas puras.28
No mundo natural, uma linha reta não constitui o melhor traço, as formas da
natureza não se resumem a uma geometria euclidiana e nem mesmo existe um
padrão universal: como defendido veementemente pelos modernos. No mundo natural,
pequenas modificações podem desencadear consequências inimagináveis e a
interrelação entre os seres é indispensável para compreendê-lo. É nesse sentido, que

25 Na matemática expressões simplificadas são expressões em que o numerador e o denominador não


contam com fatores comum. Por exemplo, a simplificação de 30/6 é 10/3. Na simplificação encontra-se
uma fração irredutível. A apropriação do termo simplificação para se referir a obras modernistas se deu
pelo fato de que, para os modernos: um projeto deve conter apenas os elementos essências e não
deve possuir ornamentos, portanto precisa ser o mais “irredutível” possível. Já o termo racional faz
referência ao próprio pensamento moderno de concepção de racionalidade.
26 Os cinco pontos defendidos por Le Corbusier como primordiais para uma construção moderna são:

Planta livre; Fachada livre; Janela em fita; Pilotis e Terraço jardim.


27 Os CIAMS - Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna-, serviram tanto como espaços de

debates, como também, foram responsáveis por definir o que hoje se entende como arquitetura
moderna. Muitas das produções arquitetônicas da metade do século XX tiveram suas bases nas
diretrizes elaboradas nos ciams.
28 Classifica-se aqui formas geométricas puras como sendo: Polígonos - quadrado; triângulo; retângulo;

círculo e hexágono. Poliedros – cubo; paralelepípedo; prisma; etc.


43

se discute o mundo natural como um espaço onde inúmeros sistemas 29 acontecem,


sendo um deles, os sistemas complexos. Neste caso, o mundo natural, que segundo
Luhmann, não pode ser meramente classificado como um sistema: mas sim onde
todos os sistemas se encontram.

Luhmann, na sua teoria social, assume o “mundo” (Welt) como a mais alta
unidade de referência. O mundo não é um sistema porque ele não possui um
entorno do qual poderia ser delimitado. O mundo também não pode ser
concebido como entorno, porque cada entorno pressupõe um interior que,
por sua vez, não pertence ao entorno. Assim, o mundo não é sistema nem
entorno, mas engloba todas os sistemas e os entornos respectivos, ele é a
unidade sistema/entorno.
(NEVES; NEVES,2006, p. 09 e 10).

A discussão acerca dos sistemas complexos se inicia no século XX 30 , a partir


deste período, a complexidade passa a ganhar espaço em diversos campos do
conhecimento como “na física, na biologia, na economia, na matemática e na filosofia,
e contam com nomes como Ludwig von Bertalanffy, John Holland, Ilya Prigogine e
Edgar Morin” (ALÃO, 2015, p. 45).
Os sistemas complexos, são caracterizados pela existência de uma
interdependência entre os vários elementos constituidores do sistema, que são
dotados de grande diversidade e podem se auto adaptar, modificar e evoluir. Este
processo não acontece de uma só vez, mas ao longo do tempo: “[...] num sistema
complexo, as interações locais podem gerar padrões cuja dinâmica se desenvolve por
várias escalas de espaço e de tempo” (MACAU, 2002, p. 06). Essa existência de um
grande número de elementos, que interagem entre si - podendo se modificar- faz com
que haja inúmeras possibilidades de mudanças no sistema: quanto maior o número
de elementos no sistema, maior a capacidade desses se interrelacionarem e gerarem
modificações. Portanto, quanto maior a complexidade dos sistemas: “[...] com o
crescimento do número de possibilidades, cresce igualmente o número de relações
entre os elementos, logo, cresce a complexidade” (NEVES; NEVES, 2006, p. 10).

29 Sistemas são definidos como sendo a parte do universo que se pretende definir. A depender do caso
“o que é um sistema, pode vir a ser parte de outro sistema” (MACAU, 2002, p. 01), quando um está
inserido em outro.
30 “O tema da complexidade ganha referência teórica somente no século XX, pelo menos no sentido

comumente veiculado hoje em dia.” (NEVES; NEVES, 2006, p. 02)


44

O conceito de complexidade torna-se assim, mais completo e mais realista


ao se levarem em conta o número de elementos, o número de possíveis
relações, o tipo de elementos e o tempo específico da relação entre os
elementos.
(NEVES; NEVES, 2006, p. 15)

Além disso, nos sistemas complexos, caso haja um estímulo em algum ponto
do sistema, esse estímulo pode resultar em grandes modificações futuras ou em
nenhuma modificação significativa do sistema (ALÃO, 2015). O resultado é a
dificuldade de se prever o comportamento de sistemas complexos, porém, ao mesmo
tempo em que é difícil prever o produto final das evoluções e modificações dos
sistemas complexos “[...] a evolução temporal destes sistemas pode gerar padrões
impressionantes de comportamento” (MACAU, 2002, p. 06).
Entende-se que o debate a respeito da complexidade demanda muito mais
aprofundamento teórico – são inúmeros autores e pesquisas dedicadas ao tema-,
além disso, debater complexidade envolve o estudo aprofundado de diversas áreas
do conhecimento, pois a temática não se restringe apenas à um campo, sendo
estudada, tanto pela Biologia, quanto Física, Sociologia, Economia, etc. Ademais, ao
se propor debater complexidade é necessário também discutir a Teoria dos Sistemas,
visto que, “[...] os sistemas complexos se inserem num contexto mais amplo, o da
Teoria Geral dos Sistemas 31” (ALÃO, 2015, p.45).
A intenção neste capítulo foi apenas apresentar a temática, para permitir uma
melhor compreensão da etimologia da palavra. Justifica-se tal necessidade, tendo em
vista que, o termo complexidade, muitas vezes é compreendido de forma errônea: há
no senso comum a ideia de que a palavra complexidade está relacionada a algo de
difícil compreensão, incompreensível, inexplicável, etc.
Porém, tal como visto, a complexidade está ligada a um campo de estudo,
que busca compreender o comportamento dos elementos constituidores dos sistemas
e, portanto, do mundo natural.
Contextualizar o termo complexidade é de suma importância quando
pretende-se discutir modelos de automação nos métodos de produção arquitetônicos,
pois, os modelos digitais de automação, em muito se assemelham aos conceitos de

31 A teoria geral dos sistemas busca tratar dos sistemas complexos em todos os campos do
conhecimento. A teoria geral dos sistemas classifica os sistemas em 4 categorias: Sistemas estáveis;
Sistemas cíclicos; Sistemas caóticos; Sistemas complexos.
45

sistemas complexos e muitas vezes, conceitos do mundo natural são trazidos para
dentro do desenvolvimento dos modelos computacionais.
Ao se desenvolver modelos digitais, como processo para evolução de
métodos projetuais, trabalha-se diretamente com complexidade: tanto na criação dos
códigos, quanto no desenvolvimento dos próprios modelos. Portanto, assim como
ocorre com os sistemas no mundo físico, nos sistemas do mundo digital, a depender
de como um código está configurado a modificação em um input32 de dados pode
desencadear uma alteração em cadeia, que altera significativamente o resultado final
do processo, ou pelo contrário, a depender de como o modelo está configurado, a
modificação desse input pode em nada alterar o resultado. Sendo assim, trabalhar
com automação na arquitetura, não envolve apenas trazer os processos antes
executados no mundo analógico para o computador, faz-se necessário, entender a
complexidade do processo.

A complexidade impõe diversos limites para a prática projetual, dentre eles a


dificuldade cada vez maior de trabalhar com abordagens de planejamento
fechado e em longo prazo, além da ausência de modelos e referências de
ação passíveis de aplicação direta. O raciocínio utilizado em contextos
complexos reivindica frequentemente a habilidade de articulação de
respostas rápidas, originais e contextualizadas. A variabilidade na
configuração de uma situação-problema complexa exige do projetista um
constante estado de alerta e uma predisposição para adaptar, adequar e
reconfigurar rapidamente suas táticas e ações.
(ROCHA, 2015, p. 205)

Soma-se a problemática apresentada acima o fato de que a compreensão da


complexidade pelos arquitetos e urbanistas também serve como referência para
produção projetual, principalmente quando pretende-se utilizar a natureza como um
referencial construtivo. São inúmeros os casos, em que as formas de construção de
modelos digitais se assemelham a elementos do mundo natural - que são em sua
natureza, complexos – pois, fazem partes de sistemas e que por conseguinte, estão
integrados a outros sistemas.

32Input, significa entrada de dados. Em códigos computacionais, os inputs são os dados fornecidos
para execução dos códigos e os outputs, são os resultados obtidos - produto do que foi executado. Por
exemplo, imaginemos um código que tem a função de contar quantos anos uma pessoa terá daqui 15
anos. Para executar o código é necessário fornecer qual é a idade atual da pessoa, esse é o input. Já
o resultado final, a idade da pessoa daqui a 15 anos é o output.
46

Num sistema complexo o que ocorre é que as diferentes escalas de


comportamento presentes se tornam acopladas. Como consequência, podem
surgir estruturas auto similares que se revelam por várias escalas, muitas
vezes representadas por uma estrutura fractal.
(MACAU, 2002, p. 06)

Uma forma muito comum de correlação entre sistemas naturais e formas


produzidas digitalmente, são as construções digitais de modelos fractais, que são
estruturas compostas por inúmeras copias de si mesma. Tais copias, se originam do
desmembramento da figura primária 33 : “[...] as principais propriedades que
caracterizam os fractais são: a autossemelhança, a complexidade infinita e a sua
dimensão” (ASSIS; MIRANDA; BRITO; et.al, 2008, p.02). A FIGURA 2 exemplifica um
modelo de fractal construído digitalmente.

Alguns sistemas generativos clássicos, como os fractais e outros sistemas


baseados em regras, vem sendo estudados e implementados com o auxílio
da computação desde a década de 70, abrindo um novo horizonte para o
projeto de formas complexas. Além disso, novos meios de fabricação
controlada por computador permitem que tais formas sejam produzidas.
(SEDREZ, 2018, p.22)

Como exemplo de fractais no mundo natural temos os galhos das arvores:


cada novo galho se origina de um já existente e tende a seguir um padrão de formação,
como pode ser visto na FIGURA 3.
Visando contextualizar melhor quais são os métodos de trabalho com
complexidade na Arquitetura, nos próximos subcapítulos serão apresentados
brevemente alguns modelos de processos computacionais voltados para a produção
projetual. O entendimento acerca desses processos, permite ampliar o debate sobre
a maneira pela qual os modelos digitais complexos podem auxiliar no método projeto,
posto que no neste mundo a ortogonalidade se desfaz frente à complexidade.

33 Existem dois modelos de fractais: auto similares e os auto afins. No primeiro, cada nova
cópia originária mantem as mesmas proporções do elemento antecessor, além disso existe um padrão
de escalonamento entre as cópias já nos fractais auto afins ao passar de uma cópia para outra não são
mantidas as mesmas proporções originais (ASSIS; MIRANDA; BRITO; et.al, 2008).
47

FIGURA 2 – Exemplo de fractal construído no Rhinoceros/Grasshopper

FONTE: O autor (2023)

FIGURA 3 – Imagem mostrando os galhos de uma árvore

FONTE: O autor (2019)

4.1 MODELOS COMPUTADORIZDOS

Os sistemas CAD (Computer Aided Design), foram os primeiros, a permitir em


maior escala a transposição de projetos arquitetônicos para o mundo digital. O termo
foi criado em 1959 e utilizado pela primeira vez em 1960, em um projeto do MIT
(RUSCHEL, BIZELLO, 2011, p. 395). O CAD está baseado no conceito de desenhos
48

vetoriais em um plano de coordenada, onde a modelagem acontece por comandos


(RUSCHEL, BIZELLO, 2011). Após o lançamento, os sistemas CAD tornaram-se
muito populares e difundidos. No início os sistemas CAD permitiam apenas a
modelagem de forma bidimensional (2D), porém, com o passar dos anos, foram
surgindo soluções de CAD tridimensional (3D). Além disso, tornou-se possível realizar
algumas operações de parametria e no começo dos anos 2000, viabilizou-se a
utilização de rotinas automatizadas, para a otimização de alguns processos de
trabalho (ANDIA; SPIEGELHALTER, 2015).
Algumas empresas como a Autodesk, com o seu programa de modelagem
CAD: AutoCAD, por muito tempo controlaram, praticamente sozinhas, o mercado de
software voltado para a arquitetura. Isso não significa a falta de soluções alternativas,
mas criou-se a ideia de programa CAD como sendo sinônimo de AutoCAD. Muito
disso se deve, pois, a solução da Autodesk é a mais utilizada pelos usuários do setor:
“[...] os estudos de Freitas e Ruschel (2000) e Tse, Wong e Wong (2005), apontam
uma utilização de 59% e 93%, respectivamente, do produto AutoCAD, da Autodesk,
como software convencional de CAD” (RUSCHEL, BIZELLO, 2011, p. 410, apud
FREITAS, RUSCHEL, 2000, apud TSE, WONG, WONG, 2005) 34.
Porém, com o passar do tempo os sistemas CAD perderam espaço para
outras ferramentas mais evoluídas de elaboração de projetos como os programas BIM
(Bulding Model Information), que “[...] pode ser considerado uma tecnologia para o
desenvolvimento e uso da informação do projeto do edifício [...] visando a
documentação do projeto, simulação da construção e operação do edifício”
(ANDRADE; RUSCHEL, 2011, p. 422). A qual possibilita que arquitetos 35 “ [...]
construam modelos virtuais de projetos, que reproduza com precisão os sistemas
construtivos, materiais performance e o ciclo de vida dos edifícios” (ANDIA;
SPIEGELHALTER, 2015, p. 22, tradução nossa). Os modelos BIM são classificados
em 3D, 4D, 5D e 6D.

34 Entendemos que apesar dos estudos serem do início dos anos 2000, eles são representativos para
demonstrar como a solução CAD da Autodesk era a mais adotada pelo ramo da construção civil em
uma época que os modelos CAD passavam a substituir as pranchetas nos escritórios.
35 Texto original: to construct virtual models that accurately replicate building systems, materials,

performance, and lifecycle processes.


49

363-D BIM refere-se a modelos de detecção de colisão; o BIM 4-D é usado


para modelos sequenciais de construção; modelos BIM 5-D estão associados
à estimativa de custo construtivos; e modelos BIM 6-D são usados para
gerenciamento das instalações durante a vida útil do edifício.
(ANDIA; SPIEGELHALTER, 2015, p. 22, tradução nossa).

Segundo apresentado por Andrade e Ruschel (2011), tais modelos BIM ainda
podem ser agrupados em uma lista de estágios: BIM 1.0; BIM 2.0; BIM 3.0. O primeiro,
reúne apenas a modelagem da geometria tridimensional e as representações gráficas
bidimensional, contando normalmente com apenas um modelo de projeto 37. Esses
arquivos podem ser utilizados para a extração de quantitativos, adição de informações
rápidas e geração de documentação de maneira automática (ANDRADE; RUSCHEL,
2011).
Já o segundo estágio, BIM 2.0, envolve a entrega tanto dos modelos 3D como
dos modelos 4D e 5D, permitido assim a elaboração de cronogramas e orçamentos
mais acurados. “Nesse estágio, o BIM permite centralizar o controle e o fluxo das
informações que devem ser utilizadas no processo de projeto, planejamento e
produção do edifício [...]” (ANDRADE; RUSCHEL, 2011, p. 424).
O último estágio é o do BIM 3.0, o qual também é chamado de BIG BIM
(ANDRADE; RUSCHEL, 2011), nele é possível realizar a integração de modelos de
diversas disciplinas e além da checagem de colisões entre elas.
A utilização do BIM, muda significativamente a maneira de se projetar
(ANDRADE; RUSCHEL, 2011), diferente dos antigos sistemas CAD, que apenas eram
a transposição de desenhos do meio físico para o digital, com o BIM é necessário se
pensar nos inúmeros sistemas que compõem um projeto, desde a materialidade da
informação, que será inserida em um elemento, até a sua interrelação com outras
disciplinas. O arquiteto precisa conhecer o projeto e pensar na sua concretude desde
as fases iniciais, pois diferente dos sistemas CAD, onde uma linha é apenas uma
representação gráfica, em BIM os objetos carregam informações que servem para a
transposição do modelo digital para o mudo físico. Tal necessidade de se criar
modelos digitais que sejam extremamente similares aos modelos que serão

Texto original: 36 3-D BIM refers to collision detection models; 4-D BIM is used for construction sequence
models; 5-D BIM models are associated with cost estimation; and 6-D BIM models are used for facilities
management during the life span of the building.
37 Os modelos de projeto podem ser, arquitetônicos, estruturais ou projetos complementares.
50

construídos, se reflete no conceito de gêmeo digital: criar modelos virtuais que 38“[...]
utiliza dados para refletir o mundo real em qualquer momento e, portanto, pode ser
usado para observar e entender o desempenho do sistema e para sua manutenção
preditiva” (SINGH; FUENMAYOR; HINCHY; Et. Al, p. 04, tradução nossa).

39Uma coisa que une a maioria das definições de gêmeos digitais, além de
ser uma representação virtual de um objeto físico, é a transferência ou
compartilhamento bidirecional de dados entre o correspondente físico e o
digital, incluindo dados quantitativos e qualitativos (relacionados a material,
fabricação, processo, etc.), dados históricos, dados ambientais e, mais
importante, dados em tempo real.
(SINGH; FUENMAYOR; HINCHY; Et. Al, p. 3, tradução nossa).

Portanto, o BIM se transformou em uma importante ferramenta de projeto e


execução de obras, tornando-as muito mais organizadas e precisas tanto nos
quantitativos, quanto nos prazos. No Brasil, apesar de a utilização do BIM ter se
difundindo de maneira lenta, nos últimos anos houve uma aceleração desse processo,
pois se tornou obrigatório para a realização de obras pública40.

4.2 MODELOS PARAMÉTRICOS

A incansável busca por padrões é indissociável das evoluções técnicas e


tecnológicas da humanidade. No cerne da vida humana existe a eterna angústia de
se compreender qual é o padrão que rege os elementos da natureza, tal busca,
inclusive, pode fazer com que se caia em falsas simplificações do mundo natural,
como visto no início deste capitulo.
No caminho de se encontrar os padrões geradores das formas materiais,
surgiram muitas das relações matemáticas e regras que moldam as produções
arquitetônicas ao longo do tempo.

Texto original: 38 uses data to reflect the real world at any given point of time and thus can be used for
observing and understanding the performance of the system and for its predictive maintenance
Texto original: 39 One thing that binds most definitions of DT (Digital Twin) other than being a virtual
representation of a physical object is the bidirectional transfer or sharing of data between the physical
counterpart and the digital one, including quantitative and qualitative data (related to material,
manufacturing, process, etc.), historical data, environmental data, and most importantly, real-time data.
40 O Decreto nº 10.306, de 2 de abril de 2020 estabelece, a utilização do Building Information Modelling

- BIM ou Modelagem da Informação da Construção na execução direta ou indireta de obras e serviços


de engenharia, realizada pelos órgãos e pelas entidades da administração pública federal, no âmbito
da Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information Modelling - Estratégia BIM BR.
(BRASIL, 2020)
51

O desenvolvimento de um regramento para produções arquitetônicas é


descrito por GODOI (2018) em “Procedimentos algoritmos: o método albertiano”. No
texto o autor analisa o tratado de arquitetura de Alberti publicado em 1485 41 ,
demonstrando de maneira gráfica, as proposições e relações matemáticas descritas
por Alberti como ideais para a produção arquitetônica de templos. Tal análise, como
conclui o autor do estudo, serve para demonstrar que o pensamento algoritmo e
paramétrico não está ligado a necessidade de uso de modelos computadorizados,
mas a um método construção das relações entre os componentes de um projeto
(GODOI, 2018).
O pensamento paramétrico é mais um exemplo dessa iminente busca humana
por encontrar padrões e regramentos para elaborações formais: “ 42O pensamento
paramétrico e algorítmico não é sobre um software de computador ou sobre uma
sintaxe específica, mas sim sobre logica, geometria, topologia e interações” (JABI,
2013, p. 06, tradução nossa).
Um sistema paramétrico costuma ser composto por algumas características:
programação orientada a objetos; classes ou famílias; métodos e parâmetros (JABI,
2013). Alguns desses conceitos, como programação orientada a objetos, são muito
estudados e discutidos em outras áreas do conhecimento: “43Programação orientada
de objetos é um tópico muito bem estabelecido no campo da ciência da computação”
(JABI, 2013, p. 10, tradução nossa). Já outros, como classes ou famílias e parâmetros,
acabam estando mais próximos da vida profissional de arquitetos e engenheiros.
Classes ou famílias são o conjunto de elementos que compartilham, entre si,
atributos em comum. Por exemplo, uma família de janelas pode conter diferentes
janelas, mas que possuem parâmetros gráficos compartilhados. O conceito de família

41O tratado de arquitetura “O De Re aedificatoria libri decem” foi escrito Leon Battista Alberti em 1452,
mas somente publicado em 1485 e é considerado como o primeiro tratado de arquitetura da época
moderna (RAMOS, 2011, p. 56).
Texto original: 42 parametric and algorithmic thinking is not about any one piece of computer software or
any one particular syntax, but about logic, geometry, topology and interaction.
Texto original: 43 Object-oriented programming is a well-established computer science topic.
52

paramétrica em modelagem computacional, voltada para projetos de construção civil


é muito utilizado em softwares como Revit da empresa Autodesk44.
Já os parâmetros, são definidores de valores, na matemática os parâmetros
costumam estar atrelados às equações. Em softwares de modelagem paramétricos,
voltados para construção civil, parâmetros são variáveis definidoras de valores em
equações, as quais resultaram em modificações formais de elementos.

45 A palavra parâmetro é normalmente confundida com variável, porém,


parâmetro é algo mais específico. Na matemática é definido como um termo
variável em uma função que determina uma forma específica da função, mas
não sua natureza geral.
Em softwares paramétricos CAD, o termo parâmetro normalmente significa
um termo variável em uma equação, a qual determinará outros valores.
Diferente de constantes, os parâmetros são caracterizados por permitirem
inúmeras possibilidades de valores. Uma das mais interessantes funções de
sistemas paramétricos é a possibilidade de se explorar muitas modificações
de design, apenas modificando os valores de alguns parâmetros.
(JABI, 2013, p.11, tradução nossa).

Em resumo a parametrização é a elaboração de elementos, os quais são


constituídos por parâmetros, ao se alterar tais parâmetros, altera-se a forma do
elemento. Além disso, como em modelos paramétricos, existe a possibilidade de se
vincular parâmetros, a alteração de um parâmetro pode alterar as variáveis de outros
parâmetros, caso estejam vinculados.

O desenho paramétrico permite a exploração de diferentes alternativas em


um modelo interativo, facilitando as decisões de projeto. A parametrização é
uma ferramenta que ajusta o desenho automaticamente quando se modifica
um elemento com um novo valor
(OLIVERA; FABRICIO, 2011, p. 461)

44 Segundo descrição da própria Autodesk “Uma família é um grupo de elementos com um conjunto
comum de propriedades chamado de parâmetros e uma representação gráfica relacionada. Os
diferentes elementos pertencentes a uma família podem ter diferentes valores para alguns ou todos os
parâmetros, mas o conjunto de parâmetros (seus nomes e significados) é o mesmo. (AUTODEKS.
Sobre famílias. Disponível em: https://help.autodesk.com/view/RVT/2023/PTB/?guid=GUID-
6DDC1D52-E847-4835-8F9A-466531E5FD29. Acesso em: 04 abr. 2023.).
Texto original: 45 The word parameter is often confused with variable, but it is more specific. In
mathematics parameter is defined as a variable term in a function that ‘determines the specific form of
the function but not its general nature […].
In parametric CAD software, the term parameter usually signifies a variable term in equations that
determine other values. A parameter, as opposed to a constant, is characterized by having a range of
possible values. One of the most seductive powers of a parametric system is the ability to explore many
design variations by modifying the value of a few controlling parameters.
53

Uma maneira simples para entender o funcionamento de sistemas


paramétricos, é o exemplo da construção de uma janela parametrizada: em uma
janela com duas folhas de abrir, podemos ter alguns parâmetros como largura e altura
das folhas da janela; dimensão da esquadria; tamanho dos painéis de vidro, sendo
todos esses vinculados aos parâmetros de largura e altura da janela completa
(FIGURA 4). Ao modificar o tamanho completo da janela, estando as folhas de abrir e
as esquadrias, com parâmetros compartilhados, estas também terão suas dimensões
ajustadas.

FIGURA 4 – Ilustração exemplificando as possíveis relações existentes em uma janela parametrizada

FONTE: O autor (2023)

A exemplificação da parametria pela construção de uma janela, apesar de


simplória, auxilia na compreensão do funcionamento dos parâmetros em objetos
paramétricos. A seguir, serão apresentadas construções mais complexas de
parametria e que demonstram como tal método pode ser utilizada na elaboração de
projetos.
54

4.2.1 Da proximidade paramétrica à evolução da discussão

O exemplo das janelas é um caso comum de modelo paramétrico, estando


muito presente em softwares de modelagem computadorizada, tanto CAD: como
Autocad, da Autodeks; ZWcad da ZWsoft, quanto em softwares de modelagem BIM:
Archicad, da Graphisoft; Revit, da Autodesk; FreeCad, ferramenta Opensurce.
Entretanto, como será demonstrado, com auxílio de linguagens de programação, tanto
por linguagem de programação visual (LPV), quanto por linguagem de códigos é
possível construir relações paramétricas muito mais avançadas.
Na programação visual “definimos as instruções e as relações do programa
por meio de uma interface gráfica (ou ‘visual’) do usuário. Em vez de digitar texto
vinculado pela sintaxe, conectamos os ‘nós’ pré-empacotados” (DAYNAMO PRIMER,
2019, não paginado). A LPV ocorre dentro de um programa especifico para isso, no
qual se pode adicionar “nós”, que são os componentes a serem conectados para
elaborar a programação, “cada ‘nó’ executa uma operação: às vezes pode ser tão
simples quanto armazenar um número ou pode ser uma ação mais complexa, como
criar ou consultar geometria” (DAYNAMO PRIMER, 2019, não paginado). Sendo eles,
dotados de duas portas: entrada de dados (inputs); saída de dados (outputs). Os
vários “nós” da LPV são conectados por meio de “fios”, que conectam os outputs de
um “nó” aos inputs de outro “nó”, estabelecendo assim um fluxo dados.
Por fim, na LPV, existem as bibliotecas: que são os espaços onde os “nós”
são armazenados. As plataformas que permitem programação visual, costumam vir
apenas com sua biblioteca nativa, porém existe a possibilidade de baixar bibliotecas
de terceiros, sendo algumas delas gratuitas e outras licenciadas por meio de
pagamento.
A seguir está ilustrado alguns modelos do uso de programação nos softwares
de modelagem, os exemplos trabalham com variáveis simplificadas, como criação de
paredes, pisos, blocos, etc. O nosso propósito foi desenvolver modelos de códigos
que possam auxiliar no melhor entendimento do uso da programação em tais
softwares. Optou-se também, por disponibilizar integralmente os códigos
desenvolvidos para tais aplicações, permitindo assim a maior compreensão da lógica
de cada modelo.
55

4.2.1.1 Programação paramétrica no Grashopper

Um dos principais programas utilizados, por arquitetos, quando decidem


começar a trabalhar com modelagem por meio de programação visual é o Grashopper,
que 46“[...] é um editor de algoritmo, que está totalmente integrado com as ferramentas
de modelagem 3D do Rhino [...]” (GRASSHOPPER, não paginado, tradução nossa),
desta forma, permitindo a elaboração de códigos visuais.
Como descrito no próprio site do Grashopper, o programa funciona atrelado
ao Rhinoceros (Rhino), da empresa Robert McNeel & Associates, que é um software
de modelagem 3D baseado na no método NURBS47.
Mais à frente será demonstrado alguns exemplos da utilização do Grashopper
para elaboração de modelos digitais. Além disso, também será demonstrado como o
Rhinocero e o Grashopper podem se atrelar a outros softwares de modelagem, para
permitir a elaboração de modelos digitais oriundos de programação.

4.2.1.2 Programação paramétrica no Revit

O Revit, da empresa Autodesk, permite tanto a modelagem de famílias


paramétricas, as quais resultam em exemplos tais como o da janela, citado no início
do capítulo 4.2 , quanto o uso de ferramentas de programação para elaboração de
projetos paramétricos.
Nativamente a versão completa do Revit48 já vem com o Daynamo instalado,
que é uma ferramenta de programação visual. Com o Daynamo é possível, por meio
de LPV, manipular a geometria e as informações dos elementos inseridos no Revit,

Texto original: 46 (Grashopper) […] a graphical algorithm editor tightly integrated with Rhino’s 3D
modeling tools
47 NURBS, são representações matemáticas de geometrias 3D, que podem representar desde

formas mais simples 2D, como linhas, círculos, arcos ou curvas, até as formas 3D mais complexas,
com geometria livre. Por causa dessa flexibilidade e precisão, modelos NURBS, podem ser
utilizados em qualquer processo, desde ilustração e animação a fabricação (RHINOCEROS, não
paginado tradução nossa). Texto original: NURBS, Non-Uniform Rational B-Splines, are mathematical
representations of 3D geometry that can accurately describe any shape from a simple 2D line, circle,
arc, or curve to the most complex 3D organic free-form surface or solid. Because of their flexibility and
accuracy, NURBS models can be used in any process, from illustration and animation to manufacturing.
(RHINOCEROS, não paginado).
48 No ano em que o presente trabalho está sendo escrito, a Autodesk disponibiliza duas versões do

Revit, a completa e o Revit LTE, que é uma versão mais simplificada do Revit e não conta com todos
os recursos da versão completa.
56

desde as fases de modelagem até as fases de documentação de projetos: “O Dynamo


nos permite criar programas visuais em um espaço de trabalho conectando ‘nós’ com
fios para especificar o fluxo lógico do programa visual resultante [...]” (DAYNAMO
PRIMER, 2019, não paginado).
A FIGURA 5 demonstra uma possível aplicação do Daynamo ao
desenvolvimento de projeto. Foi criado um código visual, para definir elementos de
piso, os quais são multiplicados e escalonados dada uma variável definida.

FIGURA 5– Exemplo de código de programação visual no Daynamo para criação de pisos


paramétricos

FONTE: O autor (2023)

O código ilustrado acima (FIGURA 5), foi configurado com os seguintes


parâmetros: o primeiro elemento de piso, tem a dimensão de 1m x 1m; serão feitas
cinco cópias de piso, cada uma espaçada uma da outra; cada cópia deve ser 2 vezes
maior que a sua antecessora. Além disso, também é possível definir qual o tipo de
material dos pisos e em qual nível do projeto serão inseridos. O resultado da execução
do código pode ser visto na FIGURA 6, já a explicação mais detalhada da sua
configuração encontra-se no ANEXO 1.
57

FIGURA 6– Resultado da programação visual no Dynamo

FONTE: O autor (2023)

Outro método de se trabalhar com programação visual no Revit é utilizando o


plug-in, Rhino Insid Revit, o qual permite com que o programa Rhinoceros trabalhe
associado ao Revit. Assim é possível utilizar a ferramenta de programação visual
Grasshopper, que funciona atrela ao Rhinoceros.
Além das ferramentas de programação visual, no Revit também é possível se
trabalhar diretamente com códigos, um dos métodos é pelo plug-in RevitPythonShell,
o qual interpreta a linguagem IronPython 49 . Na figura FIGURA 7 está ilustrado a
utilização do RevitPythonShell para rodar um código de criação de paredes
paramétricas no Revit.

49 O Iron Python tem como base a sintaxe do Python e suas bibliotecas.


58

FIGURA 7 – Resultado da operação no Revit Python Shell

FONTE: O autor (2023)

O código para criação de paredes paramétricas, permite modelar de maneira


“automática” um valor x de paredes. Tal valor (x), está atrelado a uma variável de
multiplicação que é inserida na programação. Por exemplo, caso a variável seja 10,
serão criadas 10 paredes. Além disso, cada nova cópia da parede pode ter uma
dimensão diferente da antecessora e estar distanciada dela.
Na TABELA 2 estão detalhadas todas as linhas do código, nesse exemplo as
variáveis foram configuradas da seguinte maneira: o tipo da parede é "Genérico - 140
mm Alvenaria" (a qual já existe na lista de paredes do Revit); as novas paredes foram
criadas no “Nível1”; a altura inicial da parede é de 1,5 m e sua largura de 2 m; foram
criadas 5 cópias da parede; no eixo y, as cópias estão distanciadas 2 m uma da outra;
no eixo x, cada cópia tem sua distância igual a metade da largura da parede anterior.
O resultado gerado pode ser visto na FIGURA 8. Um outro exemplo do mesmo código,
rodado com variáveis de dados diferentes está disponível na FIGURA 9, comparando
as duas figuras é possível entender as diferenças que ocorrem, quando se modifica
os inputs do código.
59

TABELA 2– Código para criação de paredes paramétricas no revit


1 import clr
2 clr.AddReference("RevitAPI")
3 from Autodesk.Revit.DB import *
4 import math
5
6 doc = __revit__.ActiveUIDocument.Document
7
8 # EXTRAIR OS DADOS DE IDENTIDADE
9
10 # Dados de identidade do modelo de parede, que irá servir de base
11 # 1 passo: Especificar o nome da parede
12 nome_parede = "Genérico - 140 mm Alvenaria"
13
14 # 2 passo: Criar uma lista com todas as paredes do projeto
15 paredes = FilteredElementCollector(doc).OfCategory(BuiltInCategory.OST_Walls).ToElements()
16
# 3 passo: Encontrar o nome da parede na lista de paredes do projeto e extrair o número de
17
identidade da mesma
18 for parede in paredes:
19 if parede.Name == nome_parede:
20 parede_id = parede.Id
21 break
22
23 # Dados de identidade do nível em que as paredes serão inseridas
24 # 1 passo: Especificar o nome do nível
25 nome_nivel = "Nível 1"
26
27 # 2 passo: Criar uma lista com todos os níveis do projeto
28 niveis = FilteredElementCollector(doc).OfCategory(BuiltInCategory.OST_Levels).ToElements()
29
# 3 passo: Encontrar o nome do nível na lista dos níveis de projeto e extrair o número de identi-
30
dade do mesmo
31 for nivel in niveis:
32 if nivel.Name == nome_nivel:
33 nivel_id = nivel.Id
34 break
35
36 # criar variáveis referenciando os valores de identidade (parede e nível) extraidos anteriormente
37 numero_id_parede = ElementId(int(parede_id.ToString()))
38 numero_id_nivel = ElementId(int(nivel_id.ToString()))
39
40 # Definir a geometria inicial da parede em metros
41 altura_inicial_parede = 1.5
42 largura_inicial_parede = 2
60

43 numero_copias_paredes = 5 # número de paredes a serem criadas


44
45 # Converter os valores de metros para pés
altura_parede_pes = UnitUtils.Convert(altura_inicial_parede, UnitTypeId.Meters,
46
UnitTypeId.Feet)
largura_parede_pes = UnitUtils.Convert(largura_inicial_parede, UnitTypeId.Meters,
47
UnitTypeId.Feet)
48
49 # Padrão de crescimento
50 multiplicador_altura = 2 # Padrão de crescimento altura (multiplicador)
51 multiplicador_largura = 2 # Padrão de crescimento altura (multiplicador)
52
53 # Distância entre cópias eixo Y
54 eixo_Y = 2
55
56 # Deslocamento eixo x em metros
57 deslocamento = 0
58 deslocamento_x = UnitUtils.Convert(deslocamento, UnitTypeId.Meters, UnitTypeId.Feet)
59
60 # Criar as paredes
61 t = Transaction(doc, "criar parede")
62 t.Start()
63 for i in range(numero_copias_paredes):
64 # Calcula as dimensões das paredes
65 novas_alturas = altura_parede_pes * math.pow(multiplicador_altura, i)
66 novas_larguras = largura_parede_pes * math.pow(multiplicador_largura, i)
67
68 # Calcula a distância em x
69 distancia_x = novas_larguras / 2
70
71 # cria a parede
72 start_point = XYZ(i*deslocamento_x + distancia_x, i*eixo_Y, 0)
73 end_point = XYZ(novas_larguras+i*deslocamento_x + distancia_x, i*eixo_Y, 0)
74 line = Line.CreateBound(start_point, end_point)
wall = Wall.Create(doc, line, numero_id_parede, numero_id_nivel, novas_alturas, 0, False,
75
False)
76 t.Commit()
FONTE: O autor (2023)
NOTA: As linhas em amarelo da tabela são os inputs do código, portanto: são as variáveis, que podem
ser alteradas, para se obter resultados diferentes. O resultado da operação do presente código (com
os inputs nele já configurado) está representado na FIGURA 8, imagem superior.
61

FIGURA 8 – Exemplo 01: paredes criadas de maneira paramétrica por meio de programação

FONTE: O autor (2023)


NOTA: A figura ilustra o resultado das operações de criação de paredes paramétricas por meio do
código (TABELA 2). Neste exemplo as variáveis de entrada de dados (inputs) são os mesmos da
TABELA 2, sendo eles:
- nome_parede: "Genérico - 140 mm Alvenaria"
- nome_nivel = "Nível 1"
- altura_inicial_parede = 1.5
- largura_inicial_parede = 2
- numero_copias_paredes = 5
- multiplicador_altura = 2
- multiplicador_largura = 2
- deslocamento = 0
-eixo_Y = 2
- distancia_x = novas_larguras/2
* A escrita dos inputs segue o padrão do código, por isso não se utiliza letras maiúsculas e acentos.
62

FIGURA 9 – Exemplo 02: paredes criadas de maneira paramétrica por meio de programação

FONTE: O autor (2023)


NOTA: A figura ilustra o resultado das operações de criação de paredes paramétricas por meio do
código (TABELA 2). Neste exemplo as variáveis de entrada de dados (inputs) são diferentes dos da,
sendo eles:
- nome_parede: "Genérico - 140 mm Alvenaria"
- nome_nivel = "Nível 1"
- altura_inicial_parede = 1
- largura_inicial_parede =1
- numero_copias_paredes = 4
- multiplicador_altura = 2
- multiplicador_largura = 2
- deslocamento = 4
-eixo_Y = 2
- distancia_x = novas_larguras
* A escrita dos inputs segue o padrão do código, por isso não se utiliza letras maiúsculas e acentos.

4.2.1.3 Programação paramétrica no Archicad

O Archicad é um software BIM, da empresa Graphisoft. A forma nativa de se


criar objetos no Archicad é por meio da programação GDL, que é uma linguagem
paramétrica, a qual descreve tanto sólidos 3D, como portas, janelas, moveis, quanto
representações dê símbolos 2D (GRAPHISOFT GDL CENTER, não paginado). Outra
maneira de se criar objetos para o Archicad é pela plataforma de programação
visual PARAM-O50, lançado em 2020 pela Graphisoft.

50O PARAM-O é um ambiente baseado em nós, feito para criar objetos paramétricos do ARCHICAD.
Você pode projetar seus objetos em uma interface gráfica e o PARAM-O salva como um objeto regular
na Biblioteca Interna do ARCHICAD. (GRAPHISOFT, 2021, não paginado)
63

Entretanto, quando se pretende elaborar projetos mais complexos de


parametria, onde ela ocorra não apenas em objetos específicos, mas faça parte do
desenvolvimento do projeto é necessário utilizar complementos externos ao programa.
Uma das maneiras é pelo Grasshopper – Archicad Live Connection, que permite
enviar informações do Archicad para o Grashopper e vice-versa. A FIGURA 10
demonstra o fluxo do trabalho utilizando a conexão entre os softwares.

FIGURA 10– Utilização do Archicad conectado ao Grashopper

FONTE: O autor (2023)

O projeto que aparece sendo executado na FIGURA 10, é resultado do código


presente na FIGURA 11, o qual permite a elaboração de conjuntos de paredes
paramétricas, que formam quadrados. Cada quadrado formado, tem as medidas de
suas arestas calculadas pela: distância entre o início do quadrado anterior e o início
do novo quadrado, dividida por 16. Já a altura das paredes, é 1.5 vezes o valor da
aresta a que pertence. O resultado obtido com essa exploração está na FIGURA 12.

FIGURA 11– Código de programação visual para criação de elementos no Archicad

FONTE: O autor (2023)


64

FIGURA 12 – Resultado da operação de criação de paredes no Archicad

FONTE: O autor (2023)

4.2.1.4 Programação paramétrica no Blender

Por fim, serão apresentados modelos paramétricos elaborados no Blender,


ferramenta open source, que “possibilita a criação de animações, simulação,
renderização, composição e rastreamento de movimento, edição de vídeo e pipeline
de animação em 2D” (IPELAB, não paginado).
Tal qual o Daynamo e o Grashopper, o Blender também dispõem de uma
plataforma para programação visual, entretanto, esta conta com menos “nós”
nativos. O programa também permite desenvolver e rodar códigos Python para a
criação ou alteração de elementos, os códigos podem ser desenvolvidos no editor
de texto ou inseridos diretamente no console. A FIGURA 13 mostra a janela o
Blender rodando um dos códigos Python desenvolvidos para esta pesquisa, a direita
da figura está o editor de texto e na parte inferior esquerda o console.
65

FIGURA 13 – Programação Python no Blender

FONTE: O autor (2023)

Na exploração do uso do Blender para construções paramétricas foi optado


pela criação de cubos, que tem suas dimensões dadas por um fator de escala. O
código desenvolvido, permite a elaboração de múltiplas cópias de um cubo, cada
cópia está inserida dentro do cubo predecessor e pode ter sua dimensão alterada por
um fator de escala. O resultado e código Python utilizado para operação pode ser visto
a FIGURA 14 e na TABELA 3 respectivamente. Na FIGURA 14 também está
representada a utilização do mesmo código, mas com variáveis de entrada diferentes
das presente na TABELA 3.
.
66

FIGURA 14 – Vista frontal dos cubos paramétricos criados por programação

FONTE: O autor (2023)


NOTA: Para a criação dos cubos da direita, foram utilizados os seguintes inputs:
- tamanho_cubo = 10
- quantidade_cubos = 8
- distancia_cubos = 5
- fator = 0.8
- cor = (0, 0.5, 1, 1) # cor azul
Tais inputs são os mesmos presentes na TABELA 3.
Já para os cubos da esquerda os inputs utilizados foram:
- tamanho_cubo = 5
- quantidade_cubos = 5
- distancia_cubos = 5
- fator = 1.5
- cor = (0, 0.5, 1, 1) # cor azul
* A escrita dos inputs segue o padrão do código, por isso não se utiliza letras maiúsculas e acentos
67

TABELA 3– Código para criação de cubos paramétricos no Blender


1 import bpy
2
3 # DEFINIR O TAMANHO DO PRIMEIRO CUBO
4 tamanho_cubo = 10
5
6 # DEFINIR A QUANTIDADE DE CUBO
7 quantidade_cubos = 8
8
9 # DEFINIR A DISTÃNCIA ENTRE OS CUBOS
10 distancia_cubos = 5
11
12 #FATOR DE ESCALA
13 fator = 0.8
14
15 # CIRAR O PRIMEIRO CUBO
16 bpy.ops.mesh.primitive_cube_add(scale=(tamanho_cubo, tamanho_cubo, tamanho_cubo),
location=(0, 0, 0))
17 cubo_anterior = bpy.context.active_object
18
19 # CRIAR UMA LISTA PARA ARMAZENAR OS DADOS
20 cubos = [cubo_anterior]
21
22 # CRIAR OS CUBOS
23 for i in range(quantidade_cubos - 1):
24 tamanho_cubo *= fator # Definir a dimenção baseado no fator de escala
25 altura_cubo = cubo_anterior.location.z + cubo_anterior.scale.z + (2*tamanho_cubo ) + dis-
tancia_cubos
26
27 bpy.ops.mesh.primitive_cube_add(scale=(tamanho_cubo, tamanho_cubo, tama-
nho_cubo), location=(0, 0, altura_cubo))
28 cubo_atual = bpy.context.active_object
29 cubos.append(cubo_atual)
30
31 # MOVER O CUBO CRIADO
32 bpy.ops.object.select_all(action='DESELECT')
33 bpy.context.view_layer.objects.active = cubo_atual
34 cubo_atual.select_set(True)
35 cubo_anterior.select_set(True)
36 bpy.ops.object.parent_set(type='OBJECT', keep_transform=True)
37
38 cubo_anterior = cubo_atual
39
40 # DESSELECIONAR OS OBJETOS
41 bpy.ops.object.select_all(action='DESELECT')
68

42
43 # DEFINIR UMA COR PARA OS CUBOS
44 cor = (0, 0.5, 1, 1) # cor azul
45
46 # CRIAR O MATERIAL
47 material = bpy.data.materials.new("Azul")
48 material.use_nodes = False
49 material.use_fake_user = True
50 material.diffuse_color = cor
51
52 # APLICAR O MATERIAL AOS CUBOS
53 for cubo in cubos:
54 cubo.data.materials.clear()
55 cubo.data.materials.append(material)
FONTE: O autor (2023)

4.2.1.5 Exploração prática da programação paramétrica

Os conceitos apresentados, de ajustes paramétricos- seguindo padrões de


crescimento-, podem ser aplicados no momento de elaboração de estudos
preliminares de ambientes de ensino. Normalmente, escolas de ensino público pelo
mundo, adotam um número de 25 à 30 alunos por sala de aula. Entretanto “[...] esse
número não é o ideal para todas as atividades educacionais e para todas as faixas
etárias. Recomenda-se grupos menores para crianças menores” (KOWALTOWSKI,
2009, P. 49).
Caso pretenda-se elaborar ambientes de aprendizados variados, onde exista
uma correlação da evolução do tamanho das salas de aula e do número de alunos,
de acordo com a progressão dos anos escolares, pode-se utilizar os conceitos
apresentados.
Assim, nos primeiros anos, haverá uma maior quantidade de salas de aula,
em que, um menor número de alunos estuda. Conforme os alunos vão evoluindo nos
anos escolares, ocorre o processo de agrupamento de alunos, consequentemente,
uma diminuição do número de salas de aula.
Supondo a existência hipotética de uma escola com apenas três anos letivos
e que em todos os anos, entram 30 alunos, os quais nunca reprovam e nem mudam
de escola, portanto, cada ano letivo, sempre é composto por 30 alunos. Ficando a
organização da escola da seguinte maneira 1° ano = 30 alunos; 2° ano = 30 alunos;
69

3° ano = 30 alunos. Como, pela lógica apresentada, a quantidade de aluno por sala
de aula deve crescer conforme se evoluem os anos escolares, a quantidade de salas
deve ser maior nos primeiros anos, para comportar os 30 alunos. Utilizando como
base o fator de divisão 3, tem-se que: o 1° ano é composto por 3 salas de aula, cada
uma comportando 10 alunos; o 2° ano é composto por 2 salas de aula, cada uma
comportando 15 alunos; já o 3° ano é composto por uma sala de aula, comportando
todos os 30 alunos51.
O pensamento paramétrico, apresentado acima, foi convertido em um código
visual no Grashopper, atrelado programa Rhinoceros, o resultado encontra-se na
FIGURA 15. O código desenvolvido apesar de ser bem simples, contando apenas
alguns parâmetros, serve bem para ilustrar a lógica. Além dos fatores já descritos
acima, de definir o tamanho das salas de aula, conforme o número de alunos, o código
também define a dimensão mínima das aberturas de entrada de luz natural. Utilizou-
se para tanto as dimensões mínimas de janelas para ambientes escolares estipulada
pelo Ministério da Educação. Segundo o MEC as janelas dos ambientes escolares
devem contar com abertura mínima de 1/5 da área do piso, permitindo a ventilação e
a iluminação natural (MEC, 2006).

FIGURA 15 – Exemplo do uso de parametria para elaboração de salas de aula

FONTE: O autor (2023)

51 Os valores apresentados de alunos por sala de aula são apenas hipotéticos, não devendo

ser entendido como valores ideais de alunos por sala de aula. Optou-se por utilizar tais valores, por
resultarem em divisões inteiras, facilitando assim a compreensão da lógica proposta.
70

O exemplo apresentado é uma rápida demonstração de como os conceitos


paramétricos podem ser explorados em estudos de projetos arquitetônicos. Vale
ressaltar que a proposta, foi apenas apresentar um pensamento paramétrico, que
pode ser utilizado no momento de elaboração de estudos iniciais de projetos, no caso
projetos escolares. Não sendo, portanto, uma discussão acerca das dimensões ideais
para salas de aula e qual deve ser a relação do tamanho das salas de aula com a
idade dos alunos.

4.2.2 Parametria, um primeiro estágio no processo

Entretanto, os modelos paramétricos, apesar de permitirem inúmeras


modificações de objetos, apenas alterando alguns parâmetros, são considerados
umas das formas mais iniciais de automação: 52 “A teoria do design na ciência da
computação, considera os sistemas paramétricos como os estágios mais primitivos e
arcaicos da inteligência artificial (ANDIA, 2015, p. 191, tradução nossa).
Essa definição de que os sistemas paramétricos são um primeiro estágio em
modelos de automação computadorizada, justifica-se pela necessidade de se inserir
os inputs de maneira manual nos modelos. Tomando como exemplo o modelo da
janela apresentado início do subcapítulo: caso haja a necessidade de se modificar o
tamanho da janela é necessário entrar de maneira manual com o novo dado de altura,
ou então, vincular tal parâmetro (altura) a outra variável e a essa realizar de maneira
manual o input de um valor. Portanto, mesmo sendo possível realizar vínculos de
parâmetros, todo o processo de entrada de dados (inputs), necessita ser realizado de
maneira manual.

Texto original: 52 In design theory in computer science parametric systems are considered the most
primitive and archaic stage of artificial intelligence (AI)
71

53Nos estágios iniciais e mais primitivos das inteligências Artificiais é possível


encontrar sistemas paramétricos, que por meio de ajustes ou combinações
de parâmetros realizam operações inteligentes básicas [...]. A parametria
permite a racionalização do conhecimento humano, no entanto, sempre será
necessário que um programador observe as potenciais etapas do processo.
Os contemporâneos esforços de paramétricos voltados para o projeto de
edifícios são bons exemplos desse primeiro estágio da inteligência artificial
na área da arquitetura e da engenharia. Esse primeiro estágio permitiu com
que os arquitetos deixassem mais explicito os seus processos de design,
entretanto, a maioria desses sistemas não são auto organizacionais nem
autopoiéticos. Esses sistemas paramétricos apenas conseguem guardar
alguns parâmetros. Podendo ser utilizados em algumas avaliações
específicas, mas não automatizar todo o processo de trabalho.
(ANDIA; SPIEGELHALTER, 2015, p. 193, tradução nossa)

O fato da parametria ser o estágio inicial no processo de automação de


trabalhos, somado com o fato de existir uma evolução extremamente acelerada das
tecnologias, caracteriza o presente momento, segundo ANDINA e SPIEGELHARTER
(2015), como um tempo pós paramétrico.

54 Plataformas paramétricas e CAD/BIM permitiram aos arquitetos e


engenheiros organizar e analisar formas em ambientes digitais. No entanto,
à medida que diferentes tecnologias têm contemplado aspectos significativos
da prática, os designers de hoje estão fazendo perguntas de um nível mais
elevado: Como os fluxos de trabalho de design podem ser simplificados e
automatizados? Como os procedimentos de automação podem ajudar a
aumentar o número de soluções de design candidatas em ciclos de design
mais curtos e complexos?
(ANDIA; SPIEGELHALTER, 2015, p. 35, tradução nossa)

Texto original: 53 In the first and most prehistoric stage of AI one can find parametric systems that via
parameter adjustments or combinatorial search do basic intelligent operations. […] Parametric allows
for the coding of human reasoning; however, it always requires the hand of a coder that is expected to
be able to observe all the potential steps of every condition of intelligent behavior.
Contemporary parametric endeavors in the design of buildings are good examples of the first age of AI
in the architecture and engineering domain. This first age has allowed architects to make more explicit
their design processes, but most of these systems are not self-organizing or autopoietic. These
parametric systems can usually only tackle a few parameters. They are usually used in very particular
evaluations but cannot fully automate large workflows of design processes.
54 Parametric and CAD/ BIM platforms allowed architects and engineers to organize and analyze form

in digital environments. But as different technologies have infi ltrated signifi cant aspects of practice,
today’s designers are asking higher-level questions: How can the design workfl ows be simplifi ed and
automated? How can automation procedures assist in increasing the number of candidate design
solutions in shorter and more complex design cycles?
72

4.3 MODELOS DE APRENDIZADO DE MÁQUINAS

Em modelos digitais de automação, 55 “[...] os designers em sistemas de


inteligência artificial (IA), podem ser divididos em três diferentes estágios de
aprendizado computacional [...]” (ANDIA, 2015, p. 192, tradução nossa):

I) O primeiro estágio, são os modelos paramétricos, tal qual os


apresentados no subcapitulo anterior (subcapítulo 4.2), que como visto, são
considerados pela teoria computacional, os modelos mais primitivos e
arcaicos de automação (ANDIA, 2015).
II) O segundo estágio, são os dos modelos de aprendizado de máquina
(Machine Learning), “Trata-se de algoritmos matemáticos, estatísticos e
computacionais que são capazes de realizar um processo de inferência por
meio de aprendizado baseado em exemplos” (CID, 2019, p. 16). Costuma-se
utilizar o aprendizado de máquina em diversas áreas, para a detecção de
padrões em dados, com o objetivo de automatizar tarefas que podem ser
simples ou complexas (CID, 2019).

56Para resumir, Aprendizado de Máquina servem para: Problemas nos quais


soluções existentes requerem muita afinação manual ou longas listas de
regras: um algoritmo de Aprendizado de Máquina pode frequentemente
simplificar o código e executar melhor. Problemas complexos para os quais
não há boa solução usando uma abordagem tradicional: as melhores técnicas
de Aprendizado de Máquina podem encontrar uma solução. Ambientes
flutuantes: um sistema de Aprendizado de Máquina pode se adaptar a novos
dados. Obter insights sobre problemas complexos e grandes quantidades de
dados.
(GÉRON, 2019, p. 07, tradução nossa)

III) O terceiro estágio é o da Inteligência artificial geral57 (General AI), que


ainda é um conceito hipotético de que “máquinas autônomas seriam capazes

Texto original: 55 the design of AI systems would come in three different stages of computer learning.
Texto original: 56 To summarize, Machine Learning is great for: Problems for which existing solutions
require a lot of hand-tuning or long lists of rules: one Machine Learning algorithm can often simplify code
and perform better. Complex problems for which there is no good solution at all using a traditional
approach: the best Machine Learning techniques can find a solution. Fluctuating environments: a
Machine Learning system can adapt to new data. Getting insights about complex problems and large
amounts of data.
57 Tal como foi feito para o termo aprendizado de máquina, também se optou por utilizar a terminologia

em português e inserir entre parênteses o termo em inglês.


73

de ações inteligentes amplas, mais próximas ao que fazem seres humanos”


(Plonski; Cozman; Neri, 2021, p. 413).

58 O terceiro estágio da inteligência artificial irá aparecer quando os


dispositivos não precisarem mais serem programados, sendo capazes de se
desenvolverem e evoluir por aprendizado e poderem produzir outras
máquinas ainda mais inteligentes do que eles mesmos.
(ANDIA, 2015, p. 198, tradução nossa)

Como o estágio inicial da inteligência artificial já foi apresentado no subcapitulo


4.2 e o terceiro estágio, ainda está no campo apenas teórico. Será discutido neste
subcapitulo, a aplicação de modelos de aprendizado de máquina (Machine Learning)
no processo de produção projetual, referentes ao segundo estágio de sistemas de
inteligência artificial.

4.3.1 O segundo estágio: modelos de aprendizado de máquina (Machine Learning)

O estudo e as técnicas acerca do aprendizado de máquina, que até os anos


1990, era apenas uma das áreas de atenção dentro do estudo da IA, tornou-se na
última década, um dos principais focos de atenção dentro do campo da inteligência
artificial (Plonski; Cozman; Neri, 2021). Existem hoje, diversos modelos de
aprendizado de máquina, os quais são categorizados da seguinte maneira: (i)
aprendizado supervisionado; (ii) aprendizado não supervisionado; (iii) aprendizado
semi supervisionado; (iv) aprendizado por reforço (ANDIA, 2015) (GÉRON, 2019).
i) Nos sistemas de aprendizado supervisionado os dados são resultado de
treinamento por catalogação “59o sistema de filtro de spam é um bom exemplo
desse tipo de sistema: é treinado com muitas classes de e-mail (spam ou não)
e precisa aprender a classificar novos e-mails (GÉRON, 2019, p. 35, tradução
nossa).
ii) Nos sistemas de aprendizado não supervisionado “60o sistema é treinado
a aprender sem um professor” (GÉRON, 2019, p. 36, tradução nossa).

Texto original: 58 A third generation of AI will emerge when a device is no longer programmed but evolves
and develops primarily by learning and can produce other machines even more intelligent than itself.
Texto original: 59 The spam filter is a good example of this: it is trained with many example emails along
with their class (spam or ham), and it must learn how to classify new emails.
Texto original: 60 The system tries to learn without a teacher.
74

iii) Nos sistemas de aprendizado semi supervisionado alguns algoritmos


trabalham com a catalogação de dados e outros não (GÉRON, 2019).
iv) Nos sistemas de aprendizado por reforço 61“o sistema de aprendizagem,
chamado de agente neste contexto, pode observar o ambiente, selecionar e
executar ações e receber ‘recompensas’ em troca” (GÉRON, 2019, p. 40,
tradução nossa).

Um dos usos possíveis de aprendizado de máquina é na elaboração de


plantas de ambientes, como o estudo apresentado por ANDINA (2015) no livro Post-
Parametric Automation in Design and Construction, referente à pesquisa do professor
Koltun, da Universidade de Stanford. O docente elaborou um estudo para a criação
de plantas residenciais automatizada. Nele foi desenvolvido um algoritmo, que
primeiro analisou 120 programas arquitetônicos já existentes para entendê-los, em
seguida, o algoritmo criou automaticamente centenas de layouts de plantas
residenciais, os quais foram classificados e escolhidos os mais condizentes, dada
algumas restrições impostas, como tamanho mínimo das áreas, formato das plantas,
relações dos ambientes, etc. Em seguida o programa desenvolvido pelo professor foi
capaz de transformar as plantas 2D em modelos 3D (ANDIA, 2015). O trabalho
desenvolvido por Koltun 62 “[...] é uma metodologia altamente sofisticada de
aprendizado computacional aplicada ao campo da arquitetura [...]” (ANDIA, 2015, p.
197, tradução nossa).
Outra aplicação de automação para auxilio no processo projetual é com o uso
de algoritmos evolutivos para a criação de elementos de sombreamento, tal qual
apresentado por Martino (2018), no capítulo 8 - Algoritmos evolutivos: aplicações em
uma estrutura para sombreamento, do livro Arquitetura contemporânea e automação:
prática e reflexão. O sistema desenvolvido, foi testado em cinco experimentos, cada
um com critérios específicos, ao realizar as simulações o algoritmo testou as possíveis
soluções para a geometria e posicionamento da cobertura de sombreamento
(MARTINO, 2018).

Texto original: 61 The learning system, called an agent in this context, can observe the environment,
select and perform actions, and get rewards in return.
Texto original: 62 […] is a highly sophisticated machine learning methodology applicable to the archi-
tectural domain […].
75

O experimento permite concluir que o uso de um sistema generativo evolutivo


na fase inicial do desenvolvimento de projeto pode tornar mais eficiente o
processo de busca de soluções otimizadas, assumindo características
exploratórias e investigativas, através de constante reconfigurações das
variáveis ou dos elementos arquitetônicos. O entendimento sobre o projeto
ganha outra dimensão, quando as curvas dos gráficos são observadas e o
comportamento dos experimentos durante a execução do algoritmo evolutivo
são comparados; a informação numérica passa a ser a matéria prima a ser
gerenciada, manipulada, avaliada e tratada, se tornando extremamente
importante durante todo o processo de projeto.
(MARTINO, 2018, p. 97).

Por fim é valido citar que os sistemas de IA para o desenvolvimento de


projetos, não se restringem a produção do espaço arquitetônico, podem ser utilizadas
em outras áreas da arquitetura e do urbanismo. Como demonstrado no estudo
realizado por estudantes da graduação da universidade de Harvard, no qual foi
desenvolvido sistemas de relevo, por meio de design generativo e arquitetura
performativa63, que responderiam aos fluxos de água, inundações e infiltrações. O
sistema gerou inúmeras soluções de acomodação de terras (REED, 2018).
Antes de finalizar o capítulo é importante se atentar ao fato de que os modelos
de aprendizado computacional costumam demandar enorme poder computacional, o
que exige um massivo investimento em hardware, principalmente quando se trabalha
com modelos mais complexos, onde há a interação de muitos sistemas. Uma das
consequências disso, além da necessidade de se trabalhar com máquinas que
suportem os processos demandados, é o enorme gasto energético que se tem para
realizar determinadas operações.

64Assim,uma parte significativa dos esforços de aprendizado de máquina até


o momento tem se baseado em algoritmos orientados para estatística que
empregam a força bruta, utilizando uma enorme capacidade computacional
para realizar um número colossal de cálculos em um grande número de
conjuntos de dados
(ANDIA, 2015, p. 198, tradução nossa)

63 A arquitetura performativa refere a projetos de edifícios e espaços arquitetônicos concebidos levando


em consideração sua capacidade se adaptar a eventos, atividades e interações. Entendendo que as
relações humanas e ambientais modificam um edifício, a arquitetura performativa busca explorar essa
iteração entre o edifício com o ambiente, os usuários e contexto social, sendo portanto o edifício não
mais um ente inerente as relações que nele e ao seu entorno ocorrem.
Texto original: 64 Thus, a signifi cant part of machine learning efforts to date has been based on
statistical-oriented algorithms that employ brute force, using massive computer power to perform a
colossal number of calculations on a huge number of data sets.
76

Hoje já são encontrados estudos de otimização dos hardwares, com o uso de


processador neuromórfico, que buscam trabalhar de maneira similar ao cérebro
humano. Porém, apesar dos avanços nas áreas de chips, os muitos sistemas
computacionais atuais ainda trabalham com o uso de força bruta65 (ANDINA, 2015).

65Desde o lançamento do livro em 2015, muito já se avançou nesta área principalmente pelas
empresas IBM, Qualcomm e Intel, porém tal modelo de processador ainda não é amplamente acessível.
77

5 REALIDADE NACIONAL: UM RECORTE DO USO DE SOFTWARES PELAS


INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOS PÚBLICAS BRASILEIRAS NOS CURSOS
DE ARQUITETURA E URBANISMO

A produções de modelos digitais e/ou a análise de dados para embasar o


desenvolvimento projetual estão apoiados no uso de ferramentas digitais. Como visto
no capítulo anterior, os modelos digitais complexos utilizam como meio para suas
construções softwares tanto de modelagem como de programação, sendo alguns
proprietários e outros livres. No caso dos softwares proprietários temos a problemática
de serem desenvolvidos e estarem sobre o controle de empresas do Norte Global, tal
qual apresentado nos capítulos 2 e 3. Porém, durante a elaboração desta pesquisa,
nos deparamos com o questionamento sobre quais programas são utilizados nos
laboratórios de Arquitetura e Urbanismo das instituições de ensino superior (IES)
públicas brasileiras, tendo em vista que há cada vez uma tentativa maior das
empresas privadas desenvolvedoras de softwares em se aproximar das universidades,
tanto por meio de licenciamentos gratuitos para estudantes, quanto por programas
especiais voltados para as IES. Assim, as grandes empresas de tecnologia
conseguem se beneficiar de duas maneiras: primeiro, aumentam sua capilaridade
dentro das IES públicas, que são as principais desenvolvedoras de pesquisas no país,
segundo, com softwares educacionais gratuitos, conseguem estimular o uso por parte
dos alunos e o ensino por parte dos docentes, de suas ferramentas. Isso faz com que
uma gama de novos profissionais seja treinada para apenas saber trabalhar com
determinados softwares e da maneira com a qual ele permita executar as tarefas.
Posto essas questões e a dificuldade em se obter informações detalhadas
sobre os programas utilizados nos laboratórios de arquitetura das IES públicas,
optamos por realizar uma breve pesquisa sobre o tema. Outros trabalhos já se
propuseram analisar tal fator, podemos citar, por exemplo, a pesquisa da arquiteta e
urbanista Yone Natumi (2013). Na pesquisa, a autora enviou um questionário online
para os professores de informática aplicada à Arquitetura e Urbanismo das IES do
país, com onze questões a serem respondidas, incluindo tanto questões de múltipla
escolha quanto questões em aberto, afim de entender como era na época o ensino de
informática aplicada a arquitetura e o perfil dos professores que lecionavam a matérias
(NATUMI,2013). Na época, os resultados obtidos por Natumi (2013), que pesquisou
78

tanto IES públicas quanto particulares, foi de que predominava o ensino de softwares
CAD 2D e 3D nos cursos de Arquitetura e Urbanismo66.
Na nossa pesquisa, diferente de Natumi (2013) buscamos apenas analisar a
situação das IES públicas, além disso também não nos concentramos em entender
como ocorre o ensino das ferramentas computacionais nos cursos nem na formação
dos professores, apenas buscamos compreender quais são os programas instalados
e disponíveis nos laboratórios dos cursos de Arquitetura e Urbanismo.
Para isso, primeiro localizamos nos domínios eletrônicos das IES os
endereços de e-mail para os quais poderíamos tentar contato. Encaminhamos e-mail
para os departamentos e coordenações dos cursos e em dois casos utilizamos
mecanismos da Lei de Acesso à Informação (LAI)67. Das 50 instituições de ensino
públicas que tentamos contato, até a data de 6 de junho de 2023, apenas 17 haviam
respondido integralmente à pesquisa, algumas universidades responderam
solicitando que entrássemos em contato com o departamento ou com o laboratório
responsável, porém a maioria não retornou os e-mails. A pesquisa foi realizada de
forma aberta sem restringir softwares específicos, tanto que muitos softwares que
aparecem nas respostas nem são citados neste trabalho, em apenas um dos casos
realizamos um formulário com uma lista de softwares, pois foi solicitado pela
universidade para que ela pudesse encaminhar aos professores responsáveis68.
Por fim antes de apresentar os dados obtidos achamos valido ressaltar as
palavras escritas por Natumi (2013) na conclusão de sua dissertação: mesmo dez
anos após a publicação da pesquisa da autora o problema da falta de informações
nos sítios eletrônicos das IES ainda ocorre. Além disso, apesar de algumas

66 Tentamos obter o contato da autora do trabalho, pois gostaríamos de saber se ela havia dado
continuidade a pesquisa e se teria algum dado mais atual sobre o tema. Como não obtivemos o e-mail
da Yone Natumi, tentamos contato com o seu orientador na época da tese de mestrado, o professor
Marcelo Eduardo Giacaglia da FAU-USP. Na sua visão, a principal mudança no ensino de softwares
nos cursos de Arquitetura e Urbanismo das IES desde a elaboração da tese, foi que houve um esforço
na tentativa de inserção do BIM na graduação. Além disso, segundo ele foram criados grupos de estudo
sobre o assunto em diversas Universidade. Encaminhamos um e-mail para a professora que coordena
as reuniões entre esses grupos, afim de verificar se havia publicações mais recentes sobre o tema,
porém até a data de finalização do presente texto não havíamos obtido resposta.
67 A LAI foi utilizada em apenas duas situações, para obter os dados da UNICAMP e da UNESP.

Optamos por não utilizar a solicitação via esse meio para todas as universidades, pois é algo mais
burocrático, porém acreditamos que como não obtivemos muitas respostas esse seria um meio para
no futuro pudéssemos dar prosseguimento a pesquisa.
68 Neste caso, catalogamos os principais softwares principais em uma lista de seleção e ao final

deixamos uma caixa em aberto para que pudesse ser adicionado outros softwares que não estavam
na lista previamente elaborada.
79

universidades públicas disponibilizarem sites e documentos explicando como funciona


seus laboratórios de informática69 ainda há uma grande defasagem de dados entre as
IES.

Encerra-se aqui como um desabafo: os resultados da pesquisa, tanto


quantitativos quanto qualitativos, poderiam ter sido melhores caso todas as
instituições de ensino superior disponibilizassem informações completas;
ocorreu que informavam ou a ementa, ou a carga horária ou o tipo da
disciplina de Informática Aplicada ou o semestre em que eram oferecidas. Os
professores também deixaram de atualizar seus currículos na plataforma
Lattes em alguns casos. Algumas disciplinas ministradas pelos professores
fornecidas na plataforma Lattes não correspondiam com as oferecidas pelas
IESs.
(NATUMI, 2013, P. 159)

5.1 RESULTADOS DA PESQUISA DE SOFTWARES

Do Universo de 50 instituições de ensino públicas com as quais tentamos


contato, até a data de encerramento deste texto apenas 17 haviam encaminhado
resposta de quais softwares utilizam. Apesar de ser um universo pequeno de resposta,
já nos permite ter um panorama geral da situação na atualidade. Nesta seção
catalogamos apenas os softwares principais que eram de nosso interesse para a
pesquisa, a lista de respostas completas obtida pode ser vista no ANEXO 2.
Quando se analisa os softwares de modelagem tanto 2D quanto 3D pelas
universidades percebe-se que há um predomínio de alguns programas. No caso de
modelagem em softwares CAD, todas as IES que responderam à pesquisa e que
utilizam programas CAD trabalham com o software AutoCAD da Autodesk, nenhum
curso respondeu que disponibiliza algum programa CAD livre. Quanto aos programas
de modelagem BIM e tridimensional, quase 95% das IES tem em seus laboratórios o
Revit, em seguida vem o software ArchiCAD instalado em 70% das IES. Vale ressaltar
que segundo os dados obtidos na pesquisa via e-mail, ambos os softwares são
licenciados pelas universidades via licença educacional gratuita fornecida pelas
empresas e os contratos firmados diretamente com elas via plataforma digital. Já um
número bem menor de instituições tem instalado o software Rhinoceros, somente 30%

69 Universidades como a Universidade Federal de Uberlândia disponibilizam no site


(www.informa3d.xyz) do laboratório informações sobre pesquisas realizadas por eles. Já a
Universidade Federal de São João Del Rei, realiza relatórios sobre a situação dos seus laboratórios de
informática, detalhando os hardwares e os softwares disponíveis e estudos para upgrades deles.
80

delas e somente 17% tem o programa livre Blender. Na TABELA 4 é estão catalogados
os Softwares de modelagem utilizados pelas IES e no GRÁFICO 7 é mostrado um
comparativo dos softwares utilizados.

TABELA 4 – Softwares de modelagem utilizados pelas IES públicas brasileiras nos cursos de
Arquitetura e Urbanismo
INSTITUIÇÃO AUTOCAD REVIT ARCHICAD RHINOCEROS BLENDER

Universidade de
X X X
Brasília (UnB)

Universidade de
Campinas X X X X
(UNICAMP)
Universidade de
São Paulo (FAU- X X X X
USP)
Universidade de
São Paulo (IAU- X X X X
USP)
Universidade
Estadual Paulista
X X X
- Campus Bauru
(UNESP)
Universidade
Estadual Paulista
- Campus
X X X
Presidente
Prudente
(UNESP)
Universidade
Federal da Bahia X X
(UFBA)

Universidade
Federal de Mato X X X
Grosso (UFMT)

Universidade
X X
Federal de
81

INSTITUIÇÃO AUTOCAD REVIT ARCHICAD RHINOCEROS BLENDER


Pernambuco
(UFPE)

Universidade
Federal de Santa X X X X
Catarina (UFSC)
Universidade
Federal de São
X X X X
João Del-Rei
(UFSJ)
Universidade
Federal de X X
Uberlândia (UFU)
Universidade
Federal do Ceará X X X X
(UFC)
Universidade
Federal do Piauí X X
(UFPI)
Universidade
Federal do Rio
X X X X
Grande do Norte
(UFRN)
Universidade
Federal do X
Tocantins (UFT)
Universidade
Federal Latino
X X
Americana
(UNILA)
FONTE: O autor (2023)
82

GRÁFICO 7 –Softwares de modelagem utilizados pelas IES públicas brasileiras nos cursos de
Arquitetura e Urbanismo

18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
AUTOCAD REVIT ARCHICAD RHINOCEROS BLENDER
FONTE: O autor (2023)

Percebe-se pelo resultado, que das instituições que responderam à pesquisa


a grande maioria adota em seus laboratórios soluções de softwares proprietários,
mesmo que via licenciamento educacional. Das 17 IES, somente 3 tem um software
de modelagem livre no laboratório. Como pode-se ver no GRÁFICO 8 isso representa
um pequeno percentual no universo estudado.

GRÁFICO 8 – Percentual de utilização de software de modelagem livre pelas IES públicas brasileiras
nos cursos de Arquitetura e Urbanismo

SOFTWARES LIVRES

FONTE: O autor (2023)


83

Já no quesito softwares de edição, que contempla tanto edição de imagem,


ilustração vetorial e diagramação de documentos, as IES que adotam soluções
proprietárias trabalham exclusivamente com programas da Adobe, nas respostas
nenhuma instituição menciona utilizar algum outro programa licenciado como por
exemplo o CorelDraw. Porém, diferente do que acontece com os programas de
modelagem, com os de edição há uma adoção maior por parte das IES de soluções
livres, principalmente pelo programa Inkscape, que é utilizado em 35% dos cursos,
valor similar a adoção da solução proprietária da Adobe. Os dados dos softwares de
edição utilizados estão catalogados na TABELA 5 e no GRÁFICO 9 há um comparativo
numérico acerca da utilização dos programas.

TABELA 5– Softwares de edição utilizados pelas IES públicas brasileiras nos cursos de Arquitetura e
Urbanismo
PROGRAMAS
INSTITUIÇÃO GIMP INKSCAPE SCRIBUS
ADOBE

Universidade de
X
Brasília (UnB)

Universidade de
Campinas
(UNICAMP)

Universidade de São
X
Paulo (FAU-USP)

Universidade de São
X X X
Paulo (IAU-USP)

Universidade
Estadual Paulista -
X X X
Campus Bauru
(UNESP)
Universidade
Estadual Paulista -
Campus Presidente
Prudente (UNESP)
84

PROGRAMAS
INSTITUIÇÃO GIMP INKSCAPE SCRIBUS
ADOBE

Universidade Federal
da Bahia (UFBA)

Universidade Federal
de Mato Grosso
(UFMT)

Universidade Federal
de Pernambuco
(UFPE)
Universidade Federal
de Santa Catarina
(UFSC)
Universidade Federal
de São João Del-Rei X X X X
(UFSJ)

Universidade Federal
de Uberlândia (UFU)

Universidade Federal
X X
do Ceará (UFC)

Universidade Federal
do Piauí (UFPI)

Universidade Federal
do Rio Grande do X X
Norte (UFRN)

Universidade Federal
do Tocantins (UFT)

Universidade Federal
Latino Americana X X
(UNILA)
FONTE: O autor (2023)
85

GRÁFICO 9– Softwares de edição utilizados pelas IES públicas brasileiras nos cursos de Arquitetura
e Urbanismo

0
PROGRAMAS GIMP INKSCAPE SCRIBUS
ADOBE
FONTE: O autor (2023)

Por fim apresentamos uma catalogação dos softwares GIS utilizados nas IES
públicas brasileiras. No GRÁFICO 10 trouxemos um comparativo da utilização das
duas principais ferramentas GIS disponíveis hoje: o ArcGIS e o QGIS, sendo a
primeira um software proprietário pertencente a ESRI e o segundo uma solução de
software livre. No caso dos programas GIS, diferente do que acontece com outros
softwares há uma predominância pela utilização da aplicação livre.
Os resultados da breve pesquisa realizada entre as IES, nos permite
vislumbrar a situação da utilização dos softwares nos cursos de Arquitetura e
Urbanismo das instituições públicas nacionais, tanto federais quanto estaduais.
Percebemos que ainda há um grande domínio de softwares proprietários, a explicação
disso pode ser dada por muitos fatores, como a usabilidade, a facilidade de acesso a
licenças educacionais gratuitas ou a necessidade em se adaptar a exigências do
mercado de trabalho. Este resultado permite-nos questionar até que ponto as
universidades públicas estão formando profissionais capazes de trabalhar com
modelos digitais sem estarem presos a softwares proprietários e pagando por
licenciamentos exorbitantes?
Importante ressaltarmos, que não achamos errados o ensino e a utilização de
softwares licenciados nas universidades, porém o que questionamos aqui é o
predomínio deles em detrimento da exploração de soluções livres. Entendemos que
muitas vezes as soluções livres são problemáticas tanto no quesito de usabilidade,
86

pois tendem a ter uma curva de aprendizado maior do que as soluções proprietárias70,
quanto no quesito de terem algumas limitações. Entretanto, em alguns casos, a
exemplo do QGIS e do Blender as soluções livres podem ser tão poderosas quanto
as proprietárias, sendo o maior impeditivo para o uso delas um desconhecimento de
sua existência e o medo inicial em se trabalhar com um novo software que pode não
ter uma interface tão agradável para um usuário leigo.

GRÁFICO 10– Softwares GIS utilizados pelas IES públicas brasileiras nos cursos de Arquitetura e
Urbanismo

ArcGIS QGIS

FONTE: O autor (2023)

70As soluções de softwares livres não costumam ter uma interface amigável ao usuário, além de em
alguns casos, exigir que se percorra mais etapas para a realização de uma tarefa.
87

6 EXPLORAÇÕES TEÓRICAS E PRÁTICAS

Nos estudos de caso do trabalho buscamos trazer três exemplos distintos,


tanto para proporcionar um melhor entendimento das possíveis aplicações dos
métodos digitais de modelos complexos, quanto para embasar o desenvolvimento da
exploração prática dos métodos, que será realizada na segunda etapa do trabalho.
Os dois primeiros exemplos são resultados de pesquisas acadêmicas: no primeiro
estudo de caso apresentamos pesquisas que utilizaram modelos de IA para elaborar
ação de layouts e no segundo caso, focamos na pesquisa das professoras Sahar
Abdelwahab e Yomna Elghazi (2016) que desenvolveram um algoritmo para otimizar
construções de paredes de tijolos, buscando uma melhor incidência de iluminação
natural nos ambientes.
Por fim, o terceiro estudo de caso que trazemos é sobre os Centros
Educacionais Unificados (CEUs) da cidade de São Paulo. Optamos por analisá-los,
visto que o projeto prático da pesquisa será a exploração dos métodos projetuais
digitais, para a aperfeiçoar a elaboração de projetos escolares, que utilizem as
predefinições do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e da
Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) do Estado de São Paulo
.
6.1 ESTUDO DE CASO 01: UTILIZAÇÃO DE ALGORÍTIMOS GENERATIVOS
PARA ELABORAÇÃO DE LAYOUTS

No primeiro estudo de caso, apresentaremos algumas pesquisas que


trabalharam com algoritmos evolutivos para o desenvolvimento de layouts.
Entendemos que certos exemplos apresentados aqui, não são de fácil replicação,
demandam tempo de pesquisa, elaboração e treinamento dos algoritmos, porém
achamos validos os exemplos, pois demonstram o estágio em que se encontra os
estudos acerca do tema.
No artigo “Exploration of Campus Layout Based on Generative Adversarial
Network” (2021), os professores Yubo Liu, Yihua Luo, Qiaoming Deng e Xuanxing
Zhou, da School of Architecture, South China University of Technology, apresentam o
resultado da pesquisa que desenvolveram para geração de layouts de campi de
universidades e de escolas primarias baseados em aprendizado de máquina, por meio
88

do algoritmo Pix2Pix. Para o treinamento dele, os autores, ao invés de trabalharem


com uma grande quantidade de dados de layout de campi já existentes, optaram por
utilizar uma pequena quantidade de amostras, mas que atendessem aos critérios
estabelecidos por eles. Sendo por exemplo: para escolas primárias as amostras
deveriam ter uma clara disposição espacial dos; não haver desníveis topográficos;
edifícios conectados em apenas um dos lados por corredores, já para os campi de
universidades alguns critérios eram ter uma clara disposição de espaços e haver uma
área central.
O primeiro teste que Liu, Lou, Deng, Zhou (2020) realizaram com o modelo foi
o da geração de escolas primárias, o resultado segundo os professores, foi que alguns
layouts como o 265 mantiveram uma boa relação com os prédios de ensino, o ginásio,
o estádio e as ruas de transição entre eles, já o 301 teve uma boa implantação em
relação aos pontos cardeais. Entretanto outros resultados como o 275, que
apresentou falha na geração do grupo dos prédios de ensino, não foram satisfatórios.
Os resultados apresentados no artigo podem ser visualizados na FIGURA 16 .

FIGURA 16– Resultados 265, 275 e 301 dos layouts gerados

FONTE: Liu, Lou, Deng, Zhou (2021)

Os autores, em seguida também realizam a geração dos layouts para os


campi de universidades, mas por se tratar de modelos mais elaborados, optaram por
89

realizar outra abordagem. Primeiro geraram modelos de setorização das áreas e em


seguida trabalharam com as disposições dos elementos de cada setor 71, na FIGURA
17 está um dos exemplos de resultados obtidos, na segunda etapa já com a
setorização previamente gerada.

FIGURA 17– Exemplo de layout de campus universitário gerados a partir das setorizações resultantes
das primeiras gerações

FONTE: Liu, Lou, Deng, Zhou (2021)

As pesquisas dos professores demonstram como é possível a partir de uma


amostra de dados gerar inúmeras soluções de layouts apenas fornecendo a forma
dos terrenos e algumas variáveis. Porém, esse é um exemplo mais avançado de
aprendizado de máquina, que envolve o treinamento de um algoritmo a partir de um
banco de dados de amostragem, que pode ser pequeno como o utilizado por Liu, Lou,
Deng, Zhou (2020), mas que para isso exige uma classificação prévia dos dados, ou
um vasto banco de dados.

71Para informações completa sobre a pesquisa ver o artigo dos professores, publicado nos anais da
The International Conference on Computational Design and Robotic Fabrication de 2021.
90

Liu e Deng, somado a presença de Zhilan Zhang, no artigo “Exploration on


Diversity Generation of Campus Layout Based on GAN” (2022), exploram mais a fundo
a utilização de modelos de aprendizado de máquina para o desenvolvimento de
layouts de campis universitários72.
Existem maneiras mais simplificadas de se trabalhar com design generativo
para geração de layouts, onde fornecemos informações previas e regras paramétricas
para o algoritmo, e finalizada a execução dele, trabalhamos filtrando os resultados.
Este não é um método tão aprimorado como o apresentado anteriormente, porém é
mais fácil de ser executado e replicado.
No artigo “Generative Design and Performance Optimization of Residential
Buildings Based on Parametric Algorithm” Zhang, Liu e Wang (2021) apresentam um
estudo de design generativo baseado em parâmetros algorítmicos para a geração de
um modelo otimizado de uma típica residência chinesa, localizada em uma área
urbanizada. Para isso primeiro foi necessário criar os inputs das informações básicas
como área dos ambientes, função do ambiente orientação, entre outros. Porém, para
criar esses parâmetros que embasam o modelo generativo foi preciso entender como
uma típica casa é organizada, para tanto eles estudaram 300 plantas de casas
chinesas localizadas em áreas urbanas.
Inseridos os inputs no algoritmo, que foi elaborado no software
Rhinoceros/Grasshopper, executou as combinações, resultados que não atendiam a
regras impostas eram automaticamente descartados. O resultado foi a geração de
inúmeras possibilidades de layouts dos ambientes, que em seguida foram convertidos
de modelos bidimensionais (plantas 2D) em modelos tridimensionais. Além disso, no
processo também foi definido o tamanho e a localização das janelas e das portas das
residências. Na FIGURA 18 pode ser visto um esquema do processo de elaboração
dos modelos.

72 Optamos por não discorrer sobre o artigo publicado pelos autores em 2022 que também trata da
temática da geração de campus universitários, pois entendemos que o primeiro artigo exposto já
permite um entendimento do processo elaborado por eles. Caso seja de interesse, recomendamos a
leitura do texto completo, na qual é explicado todo o processo desenvolvido por Liu, Zhilan, Deng,(2022).
91

FIGURA 18 – Diagrama do processo desenvolvido por Zhang, Liu e Wang (2021)

FONTE: Zhang, Liu e Wang (2021)

Por fim foram feitos estudos de eficiência energéticas para calcular a carga
térmica total dos modelos obtidos e os resultados finais apresentados a um arquiteto
para que ele pudesse analisar e definir, qual dos resultados apresentava o melhor
design73. A tabela com os resultados, já classificados com a carga energética pode ser
visto na FIGURA 19.

73Nesse trabalho apresentamos resumidamente os métodos desenvolvido por Zhang, Liu e Wang
(2021). Para informações mais completas sobre o processo recomendamos a leitura do artigo
“Generative Design and Performance Optimization of Residential Buildings Based on Parametric
Algorithm”, escrito por eles.
92

FIGURA 19 – Resultados dos modelos gerados classificados quanto a carga energética

FONTE: Zhang, Liu e Wang (2021)

O último exemplo apresentado nesse estudo de caso, por não exigir o


treinamento de um algoritmo evolutivo pode ser mais facilmente replicando. Ademais,
como visto o modelo de Zhang, Liu e Wang (2021), foi elaborado no
Rhinoceros/Grasshopper, que além de ser uma plataforma de programação visual, o
que não exige conhecimentos aprofundados de programação textual, permite o
acesso a uma vasta biblioteca de plugins que podem auxiliar na elaboração dos
códigos visuais. Por esse motivo estamos inclinados na segunda etapa do Trabalho
Final de Graduação em testar a construção de um script similar, mas voltado para a
elaboração de projetos escolares. Entretanto, não podemos deixar de comentar que
93

essa é uma escolha que leva em conta o escasso tempo para elaboração da segunda
etapa do TFG, pois entendemos que com avanço dos modelos de IA, rapidamente
essa escolha - de um modelo mais simples de design generativo-, estará ultrapassada.

6.2 ESTUDO DE CASO 02: MODELOS DIGITAIS PARA UMA ARQUITETURA


POSSÍVEL

No segundo estudo de caso, buscamos trazer pesquisas e exemplos que


demonstrem como os modelos digitais de parametria e aprendizado de máquina
podem auxiliar na elaboração de uma arquitetura menor escala. Muitas vezes quando
se lê acera da utilização de modelos digitais baseados em códigos ou se pesquisa por
exemplos, surgem estruturas e edifícios de grandes proporções e extremamente
onerosos. Além disso, em inúmeros casos a parametria acaba sendo apenas utilizada
para se chegar em uma forma plástica do edifício, o que resulta em uma arquitetura
desconexa com o espaço e com a realidade.
Porém, os modelos digitais complexos se bem utilizados, auxiliam na
elaboração de projetos arquitetônicos que mantenham relação com o espaço e com
as tradições construtivas locais. As professoras Sahar Abdelwahab, do departamento
de arquitetura da Universidade Azhar localizada no Cairo e a professora Yomna
Elghazi, do departamento de Arquitetura da Universidade do Cairo e que também
integram a Academia Árabe para Ciência e Tecnologia, na pesquisa “Generative
Performance Based Design For Low-Cost Brickwork Screens” (2016), estudaram a
utilização de modelos paramétricos de fachadas de tijolos atrelados a simulações de
iluminação natural, afim de se chegar em um desenho de fachada mais otimizado para
incidência de iluminação natural.
No Egito, tal qual no Brasil a utilização de técnicas construtivas com tijolos é
muito utilizada atrelada a uma tradição construtiva local. Além disso, os tijolos vêm
sendo utilizados em construções pelo mundo por milênios, sendo considerado a
matéria construtiva mais antiga (ABDELWAHAB; ELGHAZI, 2016). Tradicionalmente
os tijolos são assentados em fiadas paralelas, porém arquitetos contemporâneos,
subvertem a tradicional disposição do elemento, criando rotações e subtrações de
tijolos, o que além de criar uma plasticidade para as vedações, permite a entrada de
iluminação e ventilação natural. Na América Latina temos alguns exemplos como a
94

casa Tadeo (2015) do estúdio mexicano de arquitetura Apaloosa (FIGURA 20) e a


Residência Papagaio (2018) dos mexicanos Ariel Valenza e Diego Ledesma (FIGURA
21), que cria uma fachada paramétrica com a mistura do uso de design computacional
com métodos de construção tradicional (ARCHIDAILY, 2021).

FIGURA 20 – Fachada da Casa Tadeo

FONTE: Mandujano (2015)

FIGURA 21 – Residência Papagaio

FONTE: Valenza; Ledesma (2018)


95

Apesar de não podermos afirmar se o primeiro exemplo utilizou de modelos


paramétricos, o segundo sabemos que sim. Além disso, mesmo que o primeiro projeto
tenha sido elaborado de maneira manual, detalhando o posicionamento de cada tijolo,
consideramos que os métodos computacionais permitem elaborar soluções similares
de tijolo, para a definição das disposições das fiadas.

74Na prática contemporânea, existem dois principais campos que influenciam


o projeto e a construção da arquitetura com tijolos. Primeiro: o uso de
ferramentas digitais nos projetos, que oferece novas oportunidades para os
designs projetarem as formas dos edifícios. Segundo: o uso de tecnologias
robóticas na construção dos edifícios, o que além de demonstrar um processo
alternativo de automação da construção, também exemplifica como os
métodos tradicionais de construção no local podem ser potencialmente
superados pelos avanços nas tecnologias robóticas automatizadas.
(ABDELWAHAB; ELGHAZI, 2016, p. 3, tradução nossa)

A utilização de robôs para assentamento de tijolos já vem sendo estudado há


algum tempo, podemos citar os estudos realizados no laboratório pelo grupo de
pesquisa Gramazio Kohler75 que desde 2008 lidera pesquisas no tema (XU; LUO;
GAO, 2019) ou mais recentemente o artigo dos pesquisadores XU; LUO; GAO (2019)
do projeto que realizaram da utilização de um robô para uma construção de um
labirinto de tijolos em uma zona rural chinesa76, o processo de execução e o resultado
do projeto podem ser visto na FIGURA 22 e FIGURA 23, respectivamente. Porém a
utilização de robôs não é um fator determinante na elaboração de projetos com tijolo,
inclusive é algo que foge à regra e costuma estar mais restrito a pesquisas e
experimentações77.

Texto original: 74 In contemporary practice; there are two main fields have a great influence on the design
and construction of brick architecture. First, the use of digital tools in design that provides new
opportunities for designers to create parametric objects for building form generation. Second, the use
of robotic technologies for building construction not only demonstrates an alternative construction
automation process, but exemplifies how traditional on-site construction methods can be potentially
outperformed by the advances in robotic automated technologies.
75 Na página do grupo é possível ver os projetos desenvolvidos por eles (. Também existem vídeos

mostrando alguns experimentos com braços robóticos. Link para a página:


https://gramaziokohler.arch.ethz.ch/web/d/projekte/index.html.
76 Para mais informações ver o artigo “Automatic Brick Masonry System And Its Application In On-Site

Construction” (2019).
77 Além dos exemplos em maior escala citados no texto, recomendamos também a leitura do artigo

“Construção Automatizada Em Blocos Cerâmicos Do Processo Paramétrico À Aplicação Robótica”


(2021), dos professores Júlio César Pinheiro Pires, Júlio César Pinheiro Pires e Olavo Avalone Neto da
UFSM, na qual desenvolvem uma versão em escala reduzida e de baixo custo de um braço robótico
96

FIGURA 22– Processo de construção do labirinto de tijolos

FONTE: Xu; Luo; Gao (2018)

FIGURA 23– Resultado finalizado do labirinto

FONTE: Xu; Luo; Gao (2018)

capaz de dispor alguns blocos que simulam tijolos. Afim de construir com auxílio de um braço robótico
em escala uma parede paramétrica de alvenaria elaborada no Revit.
97

Como visto, existem inúmeras possibilidades de assentar os tijolos o que


resulta em uma variedade de soluções, além de permitir inúmeras formas de entrada
de luz. Foi justamente a relação plástica de assentamento de tijolos que as
professoras Abdelwahab; Elghazi (2016) testaram em sua pesquisa. Para isso elas
desenvolveram um script capaz de dispor os tijolos de diferentes maneiras, criando
inúmeros modelos de paredes. O script rodava seguindo alguns parâmetros como
números de tijolos e espaçamento entre eles, na FIGURA 24 pode-se ver alguns
resultados gerados.

FIGURA 24– Disposição dos tijolos gerado pelo script

FONTE: Abdelwahab; Elghazi (2016)

A fim de ter uma maior amostra para testes, as professoras também testaram
diferentes ângulos de rotação dos tijolos (FIGURA 25) e inclinações possíveis
(FIGURA 26).
98

FIGURA 25– Exemplos de rotações dos tijolos

FONTE: Abdelwahab; Elghazi (2016)

FIGURA 26– Exemplo de inclinação dos tijolos

FONTE: Abdelwahab; Elghazi (2016)

Terminada a definição das possíveis combinações e disposições de tijolos,


Abdelwahab; Elghazi (2016) utilizaram a plugin DIVA no Rhinoceros/Grasshopper
para simular a entrada de iluminação natural pelas frestas das geometrias geradas
anteriormente. O processo, que testou 270 casos e levou cerca de dois dias para ser
finalizado, permitiu encontrar alguns bons exemplos de disposição de tijolos para
entrada de iluminação e que podem ser facilmente reproduzidos com técnicas
convencionais de construção (ABDELWAHAB; ELGHAZI, 2016).
99

A pesquisa das professoras e os exemplos de construções com tijolos de


alguns arquitetos contemporâneos, demonstram como um elemento tradicionalmente
utilizado na construção civil como o tijolo, atrelado a métodos projetuais complexos
pode gerar inúmeras soluções otimizadas de projetos. É certo que alguns resultados
de disposições de tijolos gerados por modelos computacionais, somente podem ser
executados utilizando-se de técnicas mais aprimoradas. Porém, isso não é uma regra,
como visto no trabalho de Abdelwahab; Elghazi (2016), em que todos os resultados
poderiam ser executados com técnicas e saberes construtivos tradicionais.
A definição de quão difícil será a execução de um projeto não é resultado da
utilização de um ou outo método projetual, mas sim das definições preliminares
elaboradas pelo arquiteto. Caso ele proponha a realizar uma obra exequível e que se
valha de técnicas vernaculares, os modelos digitais apenas complementam o
processo de projeto e não impossibilitam a execução da obra e nem mesmo resultam
em construções desconexas das realidades locais.
Experiencias como a apresentada neste estudo de caso podem ser explorar
em projetos de arquitetura escolar, pois trabalham com materiais relativamente
baratos e já muito utilizados nas construções. Além disso, permitem obter resultados
tanto técnicos (aberturas para entrada de luz natural), quanto plásticos (geram
volumetrias interessantes) muito interessantes para os projetos.

6.3 ESTUDO DE CASO 03: O PROJETO PADRÃO

Entendemos que devido ao trabalho tratar-se de uma exploração de métodos


de produção arquitetônica com a utilização de modelos digitais, seria necessário
construir um grande banco de dados com informações acerca dos projetos escolares
já desenvolvidos no país, para que pudéssemos definir as variáveis necessárias para
a elaboração dos modelos que serão produzidos na segunda etapa do trabalho. Tal
qual demonstrado no primeiro estudo de caso da pesquisa, onde para a construção
dos modelos geradores de layouts, os autores analisaram inúmeros projetos já
previamente executados. Porém, devido ao exímio tempo para execução do presente
texto isso seria uma tarefa inalcançável, portanto, visando suprir essa demanda do
trabalho, utilizaremos como base os dados mínimos para um projeto escolar, já
elaborados pelos órgãos educacionais como o FNDE e o FDE de São Paulo (ver
100

capítulos 7 e 8). Posto este fato, optamos por trazer no último estudo de caso um
exemplo de projeto arquitetônico escolar padronizado, tanto para que possamos
compreender as problemáticas do projeto padrão, quando para entender como os
modelos complexos podem auxiliar a dar mais flexibilidade aos projetos escolares,
mas sem perder um certo grau de padronização, que como será visto mais adiante,
facilita a execução de novos projetos pelas prefeituras municipais.
Trazemos o exemplo do dos Centros Educacionais Unificados (CEUs) da
cidade de São Paulo, criados em 2002 na gestão de Marta Suplicy, como um projeto
de educação popular que unisse diversas áreas, como educação, saúde, cultura,
esporte e lazer em um único espaço, trazendo novas centralidades para regiões mais
pobres e periféricas da cidade de São Paulo. Na FIGURA 27 temos a imagem do CEU
Jambeiro, localizado em Guaianazes, na zona leste da cidade de São Paulo a primeira
unidade entregue, inaugurada no ano de 2003.

A localização dos CEUs objetiva atender à finalidade central do projeto:


transformar o acentuado quadro de exclusão social, cultural, tecnológica e
educacional vivido, principalmente, nas regiões periféricas da cidade. Como
polo de desenvolvimento da comunidade, o CEU integra experiência culturais,
configurando-se também como um espaço de referência e de inovação das
experiências educacionais, a serem partilhadas com as demais escolas da
região.
(GADOTTI, 2004, p.4)

FIGURA 27 – Fotografia do CEU Jambeiro

FONTE: Prefeitura da São Paulo (2015)


101

O programa arquitetônico dos CEUs foi elaborado para além de atender as


necessidades da Educação Infantil, Ensino Fundamental, Educação de Jovens e
Adultos, também ser um espaço para toda a comunidade do seu entorno.

A ideia desses projetos escolares, como centros educacionais, é


acompanhada de programas pedagógicos bastante abrangentes. Os centros
atendem a todos os níveis de ensino, da pré-escola até o ensino
profissionalizante. São incluídas as necessidades da comunidade, como
bibliotecas públicas, teatro, piscinas e áreas de lazer e de estimulo a cultura
da população. O ensino é inicialmente programado para ser em período
integral, e a criança o dia todo na escola, com refeições saudáveis,
atendimento médico e atividades culturais e sociais após as aulas.
(KOWALTOWSKI, 2011, p. 100)

Para dar conta de suprir toda a demanda de usos, os CEUs contam com os
seguintes espaços:

14 Salas de Atividades no CEI (Centros de Educação Infantil – antigas


Creches), 10 Salas da EMEI (Escolas Municipais de Educação Infantil), 14
Salas de Aula de EMEF (Escolas Municipais de Ensino Fundamental),
Laboratório de Ciências, Laboratório de Informática, Anfiteatro, 3 Cozinhas, 3
Refeitórios, 3 Pátios Internos, Salas de Recepção, Sala de Leitura, Diretoria
e Secretaria, 3 Piscinas, Vestiários Femininos e Masculinos, Quadra Coberta
e Descobertas, Telecentro, 3 Ateliês, 4 Estúdios, Teatro, Biblioteca, Estação
de Rádio - EDUCOM. Rádio, Sala de Dança, Ateliê de Artes, Foyer/
Exposições Sala de Reunião do Conselho Gestor, Padaria, Pista de Skate.
(GADOTTI, 2004, p.6)

Esses espaços presentes no projeto arquitetônico dos CEUs são organizados


por setor e passam a compor um dos modelos de planta padrão. Por exemplo o
Bloco Cultura: Cine Teatro, conta tanto com uma planta para sua construção no piso
superior (FIGURA 28), quanto com uma versão para o piso intermediário (FIGURA
29).
102

FIGURA 28 – Bloco Cultura pavimento superior

FONTE: Prefeitura da São Paulo (2022)

FIGURA 29 – Bloco Cultura pavimento Intermediário

FONTE: Prefeitura da São Paulo (2022)


103

As unidades do CEUs foram desenvolvidas pela Divisão de Projetos do


Departamento de Edificações (EDIF) da prefeitura de São Paulo com o uso de
estruturas pré-moldadas. As primeiras versões são compostas por um grade volume
linear com três pavimentos e um segundo volume cilíndrico elevado onde encontrava-
se a creche e o jardim da infância, além disso também há piscinas, quadra e duas
torres cilíndricas de caixa d’água. A FIGURA 30 mostra a planta baixa do CEU Rosas
da China, onde é possível ver a disposição dos volumes no terreno. Entretanto, a
localização das salas de aula infantis elevadas do nível térreo, ocasionava inúmeros
problemas, principalmente por uma falta de integração entre os ambientes internos e
externos do prédio. Tal problemática foi solucionada mais à frente, com a modificação
da educação infantil para o nível térreo da edificação (KOWALTOWSKI, 2011).
Segundo KOWALTOWSKI (2011), esse é um tipo de problema dos projetos
padronizados e que poderia ser evitado casos eles fossem mais flexíveis e incluíssem
um processo participativo de decisões, além disso ela também destaca a questão das
caixas d’água, que em muitos casos foram construídas, pois fazem parte do projeto
padrão, mesmo sem necessidade para tal na região.

FIGURA 30– Elevação e planta do CEU Roas da China

FONTE: Anelli (2004)


104

Um das principais dificuldades dos projetos padrão é a questão da


implantação das edificações, que não levam em conta as peculiaridades topográficas
de cada região, com os CEUs isso não foi diferente, no texto “Educação Com
Qualidade Social: Projeto, implantação e desafios dos Centros Educacionais
Unificados (CEUs)” , Gadotti (2004) traz um texto da então Chefe da Assessoria
Técnica e de Planejamento da Prefeitura de São Paulo discorrendo acerca das
dificuldades de se implantar um projeto padrão em uma cidade como São Paulo.

Há uma demanda crescente de equipamentos sociais na cidade de São Paulo,


especialmente nas regiões da periferia da cidade onde vive a população mais
pobre, onde há uma enorme carência de creches, escolas, centros culturais
e comunitários, teatros, postos de saúde, telecentros, etc.
Por outro lado, há uma enorme escassez de terrenos municipais livres para
a construção de equipamentos sociais nestas regiões. Outro problema é o
fato de que em muitas regiões da cidade, os terrenos são muito acidentados,
e a implantação de projetos padrão envolve altos custos de terraplanagem.
(GADOTTI, 2004, p.4, apud Elizabeth Avelino)

Além disso, por serem instalados em regiões periféricas da cidade


normalmente há falta de terrenos que comportem um equipamento desse porte, como
visto no próprio texto de Avelino, por isso o CEUS acabaram sendo instalados em
regiões de fundo de vales perto de córregos, ocupando regiões que deveriam servir
como áreas de preservação e escoamento das águas (KOWALTOWSKI, 2011)
Como observado, a grande problemática arquitetônica dos CEUs se refere ao
modelo de projeto padrão que dificulta a sua implantação no terreno, em virtude disso
a prefeitura de São Paulo propôs novos modelos padrão, que buscam dar mais
flexibilidade de implantação. Os novos modelos são compostos de blocos que
constituem os programas de necessidades (FIGURA 31) e são unidos para formar três
arranjos básicos: linear; paralelo e vertical (FIGURA 32). Além desses, segundo
documentação da prefeitura apresentada em 2015 existe a possibilidade de se variar
ainda mais a disposições, com implantações desencontradas, em níveis distintos ou
em L. Porém, no site da prefeitura atualizado no ano de 2022 não encontramos mais
essa informação, então não sabemos se ainda é válida, constam as implantações
oficiais: linear; paralelo e vertical.
105

FIGURA 31 – Blocos programa de necessidade

FONTE: Prefeitura da São Paulo (2015)

FIGURA 32 – Arranjos básicos para os CEUs

FONTE: Prefeitura da São Paulo (2015)

Quanto ao layout das plantas, da versão de 2015 para a mais recente, de


2022 foram identificadas algumas mudanças de layouts arquitetônicos, mas não
parece ter havido mudanças estruturais nos modelos, eles aparentam seguir a mesma
modulação de vigas e pilares apenas modificando-se o modulo da escada central.
Quanto aos layouts arquitetônicos, notamos que houve a supressão de alguns
ambientes e aplicações de outros. A FIGURA 33 e FIGURA 34 mostram as plantas
arquitetônicas dos anos de 2015 e 2022 respectivamente, referentes ao pavimento de
uso múltiplo. Como pode-se notar, as diferenças são mais visíveis nas plantas
106

arquitetônicas, mesmo um dos módulos de banheiros que foi suprimido, na versão de


2022, foi substituído por um laboratório que conta com uma bancada de pias, dando-
nos a entender que mesmo essa modificação acarretou em pequenas mudanças na
prumada hidráulica da edificação.

FIGURA 33– Pavimento de uso misto referente ao projeto apresentado no ano de 2015

FONTE: Prefeitura da São Paulo (2015)

FIGURA 34 – Pavimento de uso misto referente ao projeto disponível no site da prefeitura, ano 2022

FONTE: Prefeitura da São Paulo (2022)

As comparações trazidas acima são apenas para ilustrar as poucas diferenças


que ocorreram no projeto mesmo com 7 anos de diferenças entre eles. Não trouxemos
mais análises de plantas e layouts, pois esse não é o propósito principal desse estudo
de caso, posto que pretendemos utilizar certas definições já elaboradas pelos órgãos
educacionais. Além disso, também optamos por não nos aprofundarmos nas técnicas
construtivas e nos acabamentos dos CEUs, visto que com esse estudo de caso
procuramos compreender como um projeto modularizado de escola se comporta e
quais as problemáticas e vantagens da elaboração de projetos padronizados. Também
107

não detalhamos tamanhos e dimensões dos espaços pois para nossa pesquisa
utilizaremos as dimensões mínimas definidas nos documentos do FNDE e do FDE78.

78Entendemos que caso o foco do trabalho não fosse explorar a utilização dos modelos digitais
complexos para a otimização dos projetos já desenvolvidos pelo FNDE e pelo FDE, seria válido estudar
os espaços e as dimensões das escolas padronizadas já elaboradas, como os CEUs.
108

7 INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE: PROCESSO DE COMPREENÇÃO


TERRITORIAL

A exploração da complexidade, apoiada no uso de modelos computacionais-


onde inúmeros dados são cruzados e analisados -, auxilia no processo de elaboração
projetual. Como forma de exploração prática de tal proposição, propomo-nos
investigar modelos complexos para a elaboração de escolas públicas de ensino
fundamental, baseadas em definições arquitetônicas já desenvolvidas pelos órgãos
educacionais do país, as quais servem de base para auxiliar os municípios na
construção e aprimoramento das escolas municipais.
A Constituição Federal, em seu artigo 211, que trata da organização e das
competências para a elaboração do regime de ensino nacional, em seu inciso 2º,
define que: “Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na
educação infantil” 79 (BRASIL, 1996). Ademais, em tese de repercussão geral, o
Supremo Tribunal Federal reafirmou o direito à educação básica como um direito
constitucional (STF-RE 1008166- PLENÁRIO, 2022).

1. A educação básica em todas as suas fases - educação infantil, ensino


fundamental e ensino médio - constitui direito fundamental de todas as
crianças e jovens, assegurado por normas constitucionais de eficácia plena e
aplicabilidade direta e imediata. 2. A educação infantil compreende creche (de
zero a 3 anos) e a pré-escola (de 4 a 5 anos). Sua oferta pelo Poder Público
pode ser exigida individualmente, como no caso examinado neste processo.
3. O Poder Público tem o dever jurídico de dar efetividade integral às normas
constitucionais sobre acesso à educação básica.
(STF-RE 1008166- PLENÁRIO, 2022)

Entretanto, muitas prefeituras de pequenos e médios municípios não contam


com equipes para o desenvolvimento de projetos para ambientes escolares, o que
pode acarretar com que tais prefeituras necessitem da contratação terceirizada para
elaboração dos projetos. A escassez de equipes técnicas nos municípios nacionais,
não atrapalha apenas o desenvolvimento de projetos escolares, mas afeta inúmeras
outras áreas de atuação do Estado. Segundo estudo elaborado pela Confederação
Nacional de Municípios, a maior dificuldade para se elaborar projetos de regularização

79 Redação dada pela emenda constitucional n° 14, de setembro de 1996.


109

fundiária é a falta de equipes técnicas nas prefeituras 80 . Vê-se que a falta de


profissionais capacitados nos quadros de funcionários dificulta a atuação das
prefeituras em diversas áreas. Por esse motivo, o Governo Federal e os Governos
Estaduais buscam desenvolver modelos e manuais para auxiliar os municípios, na
elaboração de projetos, tal qual os manuais técnicos para obras escolares
desenvolvidos pelo FNDE81 e pelo FDE de São Paulo.

Os órgãos centralizadores da produção de arquitetura escolar no município e


Estados, como a FDE (Fundação para o Desenvolvimento Escolar) no Estado
de São Paulo, são um esforço para melhorar a qualidade da educação e o
ambiente físico, de modo a transmitir conhecimento de projetos de qualidade.
A experiência desses órgãos, acumulada no decorrer de cada obra, e o fato
de serem responsáveis pela manutenção dos espaços escolares podem
proporcionar realimentação de novos processos de projeto, com informações
do anteriormente realizado.
(KOWALTOWSKI, 2011, p. 206).

O manual do FDE de São Paulo é considerado um dos materiais mais


completos acerca do tema, contando tanto com layouts de ambientes, quanto com
modelos BIM, para auxiliar na elaboração dos projetos. Já os manuais e catálogos do
FNDE, também apresentam descrições detalhadas das exigências mínimas para
elaboração de um projeto escolar, além do órgão disponibilizar plantas arquitetônicas
completas para diversos tamanhos de escolas. Entretanto, o terceiro volume do
manual técnico elaborado pela autarquia federal, voltado para o desenvolvimento
projetos para edificações escolares do ensino fundamental, ainda se encontra em fase
de desenvolvimento82:

80 O estudo técnico “Panorama Municipal Regularização Fundiária Urbana – a implementação da Lei


13.465/2017”, de abril de 2023, elaborado pela Confederação nacional de municípios, buscou identificar
os desafios órgão municipais para a aplicação da REURB. Para 59,8% dos municípios a falta de equipe
técnica é a maior dificuldade na aplicação da lei. Além disso, a pesquisa também identificou que 42,6%
dos municípios contam apenas com um a dois funcionários dedicados a trabalhar com regularização
fundiária urbana.
81 O FNDE por meio da Coordenação de Desenvolvimento de Infraestrutura – CODIN, vinculada à

Coordenação Geral de Infraestrutura Educacional – CGEST e à Diretoria de Gestão, Articulação e


Projetos Educacionais – DIGAP desenvolveu três manuais básicos: Volume I “Seleção de Terrenos para
Edificações escolares”; Volume II “Elaboração de Projetos para Edificações Escolares: Educação
Infantil” e Volume II “Elaboração de Projetos para Edificações Escolares: Educação Fundamental”. O
último ainda se encontra em fase de desenvolvimento. Além desses volumes o FNDE também
disponibiliza projetos completos em DWG de edificações escolares em variados tamanhos (1 até 12
salas), eles podem ser acessados no seguinte link: https://www.gov.br/fnde/pt-br/acesso-a-
informacao/acoes-e-programas/programas/par/infraestrutura-fisica-escolar?b_start:int=0.
82 Além da resposta obtida via Lei de Acesso a Informação, a qual encontra-se citada no corpo do

trabalho, também obtivemos resposta via contato eletrônico encaminhado à presidência do FNDE:
110

O “Manual de Orientações Técnicas Volume 03: Elaboração de Projetos de


Edificações Escolares Ensino Fundamental” integra uma série de volumes
elaborados pela Coordenação-Geral de Infraestrutura Educacional (CGEST).
O referido documento é uma revisão e compilação de diversos documentos
relacionados à elaboração de projetos de edificações para a educação básica:
manuais de projeto de arquitetura, normas técnicas, cartilhas de
recomendações, estudos técnicos e acadêmicos. Como resultado, buscou-se
descrever, de forma clara e objetiva, as principais exigências e procedimentos
constantes de normas e recomendações brasileiras aplicáveis a projetos de
construção de escolas de ensino fundamental. Em relação ao pedido
supracitado, informamos que o Manual para Elaboração de Projetos de
Edificações Escolares: Ensino Fundamental, está em processo de edição
final, muito em breve será disponibilizado no site do FNDE.
(COAPI, 2023, e-SIC n° 23546.041771/2023-90)

Além os layouts e especificações técnico/construtivas, os manuais e catálogos


também trazem outras descrições, como especificações de mobiliários. No caso do
FDE de são Paulo:

As especificações técnicas de mobiliário e equipamento para prédios


escolares e administrativos que são sistematizadas nos Catálogos Técnicos
de mobiliário apresentam os projetos e detalhamento, definem os materiais,
processos e acabamentos e estabelecem a documentação e laudos
laboratoriais necessários para comprovação de atendimento às normas
técnicas, aos processos de certificação e à legislação. As pesquisas para
elaboração desse material consideram os processos disponíveis na indústria,
impacto ambiental, a procedência dos materiais, os requisitos de segurança,
robustez e durabilidade, e a busca pela melhor relação custo-benefício.
(FDE, não paginado)

Entende-se, que o ideal seria que todos os municípios, tivessem nas


prefeituras um amplo quadro de funcionários, das mais diversas áreas do
conhecimento, para elaborar projetos próprios e específicos para cada localidade.
Entretanto, essa é uma realidade muito difícil de ser alcançada, visto que no Brasil

“Em resposta à solicitação, informamos que o Manual para Elaboração de Projetos de Edificações
Escolares: Ensino Fundamental, está em processo de edição final, muito em breve será disponibilizado
no site do FNDE.
Ele integra uma série de volumes elaborados pela Coordenação-Geral de Infraestrutura Educacional
(CGEST). O documento é o resultado da revisão e compilação de diversos documentos relacionados
à elaboração de projetos de edificações para a educação básica: manuais de projeto de arquitetura,
normas técnicas, cartilhas de recomendações, estudos técnicos e acadêmicos.
Como resultado, buscou-se descrever, de forma clara e objetiva, as principais exigências
procedimentos constantes de normas e recomendações brasileiras aplicáveis a projetos de construção
de escolas de ensino fundamental” (DIGAP, 2023, não paginado).
111

existem 5568 municípios83, com grande heterogeneidade econômica e social entre


eles.
Porém a replicação pura e simples de soluções projetuais padronizadas
ocasiona inúmeros problemas, muito atrelado a relação com a implantação no sítio,
as condicionantes ambientais de cada localidade e a própria percepção dos espaços
que pode variar de região para região, visto a enorme heterogeneidade de culturas
que compõem o Brasil.

Muitas edificações escolares seguem um projeto padrão. Entretanto, a


padronização nem sempre leva em conta situações locais específicas,
resultando em ambientes escolares desfavoráveis, com problemas de
conforto ambiental. O projeto padrão necessita de flexibilidade, para permitir
ajustes a condição peculiar de implantação
(KOWALTOWSKI, 2011, p. 101).

A estandardização de projetos é criticada por não levar em conta as


peculiaridades do local e do momento de construção, além de faltar uma
adequação às situações específicas. Os dados mostram que o projeto padrão
desencadeia a proliferação de falhas, quando deveria ocorrer exatamente o
processo inverso.
(KOWALTOWSKI, 2011, p. 108).

Com modelos computacionais complexos, tentaremos explorar métodos de


elaboração dos projetos que contornem essas problemáticas oriundas de
padronizações dos elementos projetuais. Além disso, com os modelos digitais também
é possível realizar análises e simulações para contornar outras problemáticas do
projeto padrão, como os aspectos de conforto.

O principal aspecto ignorado pelos projetos padrão é a implantação (Barros,


2022). A orientação solar e de ventos dominantes é peculiar a cada situação
e demanda ajustes para a proteção solar das aberturas, sem prejuízo à
captação de ventos desejáveis.
(KOWALTOWSKI, 2011, p. 108).

O primeiro passo, na exploração metodológica foi a definição do sítio para a


implantação do espaço arquitetônico. Por ser apenas uma exploração conceitual de
ideias e métodos, escolheu-se a cidade de Curitiba-PR, como espaço de análise
primário para a implantação do projeto. Entretanto, buscamos trabalhar com análises
de dados que possam ser replicadas para outros municípios, para tanto, tentamos não

83 Dado referente a estrutura político-administrativa vigente em 31/07/2022.


112

utilizar apenas informações disponibilizados pelos municípios para os cruzamentos de


dados.

7.1 APROXIMAÇÃO DO SÍTIO: O MUNICÍPIO

Antes de começar as análises de terrenos para uma possível implantação de


um equipamento escolar, foi necessário obter as imagens de satélite da região de
estudo, a qual estará dentro do município de Curitiba-PR. Para isso, utilizou-se as
imagens produzidas pelo satélite sino-brasileiro CBERS 04A. O equipamento faz parte
da parceria CEBER, firmado ente o Brasil e a China, que já resultou na produção e
lançamento de 5 satélites, desenvolvidos e mantidos pelo Instituto nacional de
pesquisa aeroespacial (INPE), Agência Espacial Brasileira (AEB), Chinese Academyof
Space Tecnology (CAST), China National Space Administration (CNSA). Sendo
públicos os arquivos do banco de dados resultante do projeto CIBERS, podendo ser
acessado e descarregado gratuitamente no site disponibilizado pelo INPE por
qualquer usuário.
O satélite CBERS 04A “é equipado com câmeras para observações ópticas
de todo o globo terrestre, além de um sistema de coleta de dados e monitoramento
ambiental” (INPE, 2019, não paginado). As câmaras que compões o equipamento são:
Câmera Multiespectral e Pancromática de Ampla Varredura (WPM); Câmera
Multiespectral (MUX); Câmera imaginadora de Campo Largo (WFI).
Como a região de estudo da pesquisa é uma área urbanizada do município
de Curitiba, optou-se por utilizar a câmera WPM, pois esta conta com uma melhor
resolução espacial84: 2 metros para a banda pancromática e 8 metros para as bandas
espectrais. Isso permite que após a realização de algumas operações, se chegue a
uma imagem colorida com resolução espacial de 2 metros.
Foi escolhida uma captura do dia 28 de fevereiro de 2022, pois era a que
melhor cobria a área de estudo e a que estava com menor nebulosidade (até 10%). A
captura selecionada é composta por 5 arquivos, que precisam ser tratados para se

84A resolução espacial de uma imagem refere-se ao tamanho físico que cada pixel representa na
realidade. Em um sensor remoto específico, cada pixel representa consistentemente uma área com as
mesmas dimensões na superfície da Terra.
113

obter a imagem final. A FIGURA 35 mostra os arquivos sem tratamento inseridos no


software livre Qgis.
O processo de união dos arquivos foi feito da seguinte maneira: primeiro,
mesclou-se as imagens das 4 bandas espectrais, resultando em um raster colorido
com resolução espacial de 8m. Em seguida foi feita uma operação de fusão do
primeiro resultado com a imagem da banda pancromática, obtendo-se então uma
imagem colorida com resolução espacial de 2m.O resultado da operação descrita
pode ser visualizado na FIGURA 36. Posteriormente ainda foi necessário realizar mais
algumas correções de cores para se obter as cores reais. Como o raster resultante
cobria uma área maior que o município de Curitiba, foi realizado o processo de recorte
dele. Obtendo-se então uma imagem de satélite colorida do município de Curitiba (
MAPA 1).

FIGURA 35 – Arquivos das bandas pancromática e espctrais e importados para o Qgis

FONTE: O autor (2023)


114

FIGURA 36 – Resultado da mesclagem das bancadas espectrais

FONTE: O autor (2023)


115

MAPA 1 – Construção colorida de satélite do munícipio de Curitiba-PR

FONTE: O autor (2023)


DADOS: CBERS 04A (2022)
116

7.2 APROXIMAÇÃO DO SÍTIO: A REALIDADE

O próximo passo antes de se delimitar a área de estudo na cidade de Curitiba-


PR, para um possível equipamento deducional, foi compreender como é a distribuição
de escolas em relação aos habitantes de 0 a 14 anos. A idade de 14 anos foi escolhida
pois compreende a fases antecessoras do ensino fundamental e as fases em que os
alunos estarão no ensino fundamental (FIGURA 37).

FIGURA 37 – Sistema de anos escolares

FONTE: O autor (2023)


DADOS: CNE

Antes da implantação de um equipamento educacional em uma cidade é


necessário analisar diversos fatores, tanto sociais, como econômicos, para se definir
onde tal equipamento deve ser implementado. Além de realizar previsões acerca da
dinâmica populacional da cidade.

A aplicação do processo de projeto tradicional ao ambiente escolar público


no Brasil começa com o planejamento da rede física de escolas do Estado ou
Município, que leva em conta as escolas existentes, sua capacidade e o
crescimento populacional da região de interesse. Cada escola atende a uma
zona num raio de alcance, em função de diversos ciclos de ensino, da sua
capacidade e da densidade populacional da região. Avaliam-se os dados de
censo escolares anteriores dos ciclos de ensino, os índices de repetência em
cada serie e a expansão das áreas urbanas, bem como fatores como o
adensamento em regiões ocupadas.
(KOWALTOWSKI, 2011, p. 206).

A escolha de um terreno adequado começa com o planejamento do processo


de seleção, que se inicia com o diagnóstico de alguns fatores essenciais: a
demanda existente, as escolas existentes no entorno, o raio de atendimento,
a mobilidade dos usuários, a legislação vigente, as características físicas e a
infraestrutura urbana local.
(FNDE, 2017, p. 13)

Como a proposta do trabalho é estudar o processo de elaboração de projetos,


tendo como base o projeto escolar, optamos por suprimir alguns critérios que são
necessários na hora de se definir a construção de uma escola.
117

Para essa compreensão primeiramente construiu-se um mapa contendo o


número de habitantes que estão dentro dessa faixa de idade delimitada por setor
censitário85. Como na data de elaboração da pesquisa o censo de 2022 ainda não
estava com os dados finalizados, foi necessário utilizar os dados do censo de 2010.
Os dados do Censo dos habitantes de 0 a 14 anos foram agrupados por setor
censitário e o valor total de habitantes representado, em seguida cruzou-se tais
resultados com as localizações de escolas municipais. Os resultados dessa primeira
análise encontram-se no MAPA 2.
Porém tal dato apresenta um desvio da realidade, pois os setores censitários
são definidos conforme o número de habitantes por uma certa área, portanto optou-
se por elaborar um novo mapa, da densidade de habitantes de 0 a 14 anos por setor
censitário e então cruzar o dado com a distribuição das escolas municipais (MAPA 3).
O novo mapa (MAPA 3) apresenta resultado bem diferente do anterior. Por
esse novo mapa ser mais representativo da real distribuição de crianças optou-se por
utilizar tal mapa.

85O setor censitário é a unidade territorial estabelecida para fins de controle cadastral, formado por
área contínua, situada em um único quadro urbano ou rural, com dimensão e número de domicílios que
permitam o levantamento por um recenseador. (IBGE, 2010, não paginado).
118

MAPA 2 – Sobreposição dos dados: distribuição das escolas públicas municipais de Curitiba e
número de moradores entre 0 a 14 anos por setor censitário.

FONTE: O autor (2023)


DADOS: IBGE 2010; IPUC
119

MAPA 3– Sobreposição dos dados: distribuição das escolas públicas municipais de Curitiba e
densidade habitacional de moradores entre 0 a 14 anos por setor censitário.

FONTE: O autor (2023)


DADOS: IBGE 2010; IPUC
120

7.3 O SÍTIO

A definição do lote para a implantação de um edifício escolar é uma etapa de


suma importância para a elaboração dos projetos, mesmo em projetos pré-elaborados,
pois o terreno pode influenciar significativamente na distribuição dos espaços. “Na
prática brasileira de projetos escolares é comum encontrar lotes com dimensões e
topografia que geram complexidades para inserção dos programas de necessidades
da escola” (KOWALTOWSKI, 2011, p. 194). Os próprios manuais para elaborações de
projetos escolares, contam com capítulos ou manuais inteiros86 dedicados a escolha
de um lote adequado para inserir um edifício escolar.
Para nossa pesquisa, como a proposta é explorar métodos projetuais que
trabalhem com a análise e cruzamento de dados e informações, optamos por utilizar
técnicas digitais para a localização de terrenos no desenvolvimento da segunda etapa
do TFG. Entendemos que, os resultados obtidos podem não ser os melhores nem
mesmo os ideais, porém, nos permite buscar novas explorações dos usos das
informações para a definição dos lotes. Para isso realizamos alguns estudos, sendo o
primeiro uma análise de classificação de imagem de satélite para encontramos áreas
vazias na cidade em que é possível implantar um equipamento escolar. A classificação
de imagens multiespectrais, consiste em identificar e categorizar grupos de atributos
espaciais, assim é possível distinguir os diferentes materiais que compõem a imagem.
Para essa análise utilizamos o método de classificação híbrida, que consiste em
trabalhar tanto com métodos de classificação supervisionado quanto não
supervisionado. O primeiro foi utilizado para definir a segmentação da imagem
multiespectral, nele o algoritmo analisa agrupamentos de pixel com características
multiespectrais semelhantes e os agrupa. Já o método de classificação
supervisionado foi utilizado para realizar a classificação dos elementos que compõem
a imagem, a partir de um treinamento prévio do algoritmo.

86 O Volume I dos manuais desenvolvidos pelo FNDE, intitulado de “Seleção de Terrenos para

Edificações escolares” trata exclusivamente do tema.


121

Os métodos de classificação digital podem ser agrupados em função da


presença ou não de uma fase de treinamento onde o analista interage com o
computador. O método é dito não-supervisionado quando o classificador
não utiliza a priori nenhum conhecimento sobre as classes existentes na
imagem e define, sem a interferência do analista, a estratificação da cena,
atribuindo a cada pixel uma determinada classe. Tal abordagem corresponde
à técnica de segmentação de imagens, onde as mesmas são divididas em
certas classes sem conhecimento prévio. O algoritmo define estas classes
com base em regras estatísticas pré-selecionadas (Richards, 1986).
O método de classificação é dito supervisionado quando existe um
conhecimento prévio de algumas áreas em que se deseja trabalhar, o que
permite a seleção de amostras de treinamento confiáveis. O algoritmo
classificador opera com base na distribuição de probabilidade de cada classe
selecionada (Adeniyi, 1985). Numa linguagem mais popular, o analista
inicialmente treina o classificador, para depois associar os demais pixels a
uma determinada classe (previamente definida), através de regras
estatísticas preestabelecidas.
(VENTURIERI, SANTOS, 1998, p. 353, apud RICHARDS 1986, apud ADNIYI
1985)

Como o município de Curitiba tem uma dimensão considerável, optamos por


não realizar o estudo para toda a cidade, pois isso demandaria um hardware capaz
de processar toda a informação e muito tempo de processamento. Foram
selecionadas regionais para realizarmos a exploração de classificação de imagens:
As regionais do Boqueirão, Cajuru e Boa Vista, as quais podem ser vistas na FIGURA
38 ,essa escolha se justifica, pois acreditamos que tais localizadas podem nos permitir
uma boa amostra de estudos dado os seguintes fatores:

i) A Regional do Boqueirão, tem em sua divisa com a Regional do Bairro


Novo uma grande densidade de habitantes de 0 a 14 anos, além disso
apresenta uma concentração de edifícios escolares municipais, como visto no
MAPA 3 . Assim podemos explorar a relações de proximidade com as escolas
já existentes, além de identificar e localizar se ainda há possibilidade e
necessidade de inserção de um novo equipamento educacional na região.
ii) A Regional do Boa Vista apresenta uma divisão esparsa de escolas, o
que causa um contraponto com a realidade do Boqueirão, permitindo assim
que tracemos correlações e diferenças nos dados a serem trabalhados. Além
disso a regional do Boa Vista apresenta glebas o que será interessante para
o estudo de classificação de imagens.
iii) Já a Regional do Cajuru, foi selecionada por ser um elemento de
conexão entre as duas anteriores, além disso, assim como o Boqueirão, conta
122

com sua região central bem urbanizada, o que pode acabar sendo algo
interessante para se explorar na classificação de imagens: tentaremos ver até
que ponto conseguimos diferenciar terrenos desocupados em uma área tão
adensada por edificações.

FIGURA 38 – Regionais selecionadas para a análise de terrenos

FONTE: O autor (2023)

Vale ressaltar que para o nosso estudo, como se trata apenas de uma
exploração dos métodos projetuais, optamos por não considerar a condicionante
financeira das regiões. Entendemos que esse é um elemento importante, porém traria
novas complicações para esta experiência, visto que necessitaríamos traçar outras
correlações e dado o tempo para a elaboração do presente trabalho poderíamos não
obter um resultado satisfatório.
123

A classificação das imagens foi feita utilizando o programa QGIS e o Plugin


Orfeo ToolBox 87 . A imagem de base utilizada para a classificação, foi a imagem
previamente construída, apresentada no subcapítulo 7.1 (FIGURA 35, FIGURA 36,
MAPA 1), a qual como dito está com uma resolução espacial de 2 metros, o que apesar
de atrapalhar a classificação de pequenos detalhes, permite-nos localizar os possíveis
terrenos para a inserção de um equipamento escolar.
Antes de se realizar a classificação dos elementos da imagem de satélite foi
necessário realizar algumas operações: A imagem original estava mostrando todo o
município de Curitiba, porém como dito anteriormente, seria um processo muito
dispendioso realizar a classificação da cidade inteira, visto o hardware que tínhamos
disponível no momento da execução das operações88. Portanto recortamos somente
as regionais escolhidas, em seguida realizamos a segmentação da imagem de satélite:
na FIGURA 39 é possível ver um recorte do resultado da operação. O próximo passo
foi utilizar a ferramenta de estatísticas zonais para se obter a “média” e o “desvio
padrão” de cada uma das bandas do raster (imagem de satélite). Finalizado esses
passos iniciais, que apesar de simples dispenderam tempo considerável, dado o
tamanho da região a ser processada utilizamos as ferramentas” TrainVectorClassifier”
e VectorClassifier” do OTB para classificar os elementos da imagem.

87 O Orfeo ToolBox (OTB) é é um projeto de código aberto que permite realizar sensoriamento remoto,
processando imagens ópticas, multiespectrais e de radar de alta resolução em escala de terabytes.
Nas versões anteriores a 3.8 do QGIS era necessário instala-lo como um complemento, porém a partir
da versão 3.8 o OTB passou a ser integrado ao QGIS. (OTB, 2023).
88 Tentamos inicialmente realizar a operação para a cidade inteira, porém com o hardware que

estávamos usando a operação inicial para classificação de imagens que é a segmentação da imagem
de satélite levou aproximadamente um dia para ser finalizada e gerou um arquivo extremamente
pesado e que fazia com que o programa QGIS trava-se inúmeras vezes no momento de renderizar os
shaps.
124

FIGURA 39 – Imagem mostrando uma das áreas segmentadas

FONTE: O autor (2023)


DADOS SATÉLITE: CBERS 04A (2022)

No primeiro teste de classificação de imagem, consideramos os seguintes


elementos: árvores; gramas e vegetação baixa; solo sem vegetação; água (rios e
lagos); construções, arruamentos e pavimentação não naturais. O resultado obtido,
que pode ser visto no MAPA 4, foi satisfatório, porém ainda apresentou alguns erros
tais como:

i) Rios e lagos com tonalidade da água muito escura na imagem de satélite


foram classificados como árvores, como pode ser visto na a esquerda na
FIGURA 40.
ii) Muitas residências foram classificadas como solo sem vegetação. Na
imagem da direita da FIGURA 40 é possível verificar tal erro.
iii) Os arruamentos e a pavimentação não naturais não foram considerados
em sua integridade.
125

MAPA 4 – Primeiro resultado da classificação de imagem multiespectral

FONTE: O autor (2023)


126

Visando aprimorar o resultado da classificação, realizamos algumas


modificações: O número de elementos a serem classificados foi reduzido, retirando-
se da classificação o solo sem vegetação, pois este não é predominante nos grandes
lotes disponíveis e estava ocasionando o maior problema na catalogação dos
elementos. Além disso, aumentamos a amostra dos elementos a serem classificados,
por exemplo foi considerado uma maior gama de tonalidades de grama, um maior
número de rios e lagos foi catalogado na amostra inicial e foram selecionadas novas
regiões de arruamentos e pavimentações não naturais.
Mesmo após as modificações, algumas regiões de água ainda estavam sendo
classificadas como vegetação (árvores, grama e vegetação baixa), por se tratar de um
problema pequeno, optamos por realizar a correção de maneira manual, o resultado
antes e depois da correção pode ser visto na FIGURA 41.

FIGURA 40 – Erros nas classificações das imagens

FONTE: O autor (2023)


DADOS SATÉLITE: CBERS 04A (2022)
NOTA: A imagem a esquerda mostra o erro na classificação dos rios e a da direita o erro de
classificação dos solos sem vegetação, onde telhados foram considerados como sendo solo
127

FIGURA 41 – Erro na classificação das regiões com água (rios e lagos)

FONTE: O autor (2023)


NOTA: A imagem a esquerda mostra o erro na classificação dos lagos e a da direita o resultado da
correção manual realizada na região dos lagos.

Finalizado os ajustes, geramos o mapa final da região (MAPA 5). Importante


ressaltar que algumas áreas apesar de estarem consideradas como grama, são
pertencentes a espaços já construídos, algumas são campos de futebol, quadras,
pistas, entre outros89.Portanto, neste momento, consideramos regiões para possíveis
implantações de equipamentos escolares, as regiões com árvores, grama e vegetação
baixa, as quais podem ser visualizadas no MAPA 6.

89 Com o modelo de análise que utilizamos no trabalho separar essas regiões não seria algo simples,
primeiro pela resolução espacial das imagens que utilizamos, que apesar de se uma resolução alta,
não permite com que distingamos detalhes específicos. Segundo pelo método de classificação,
entendemos que com algoritmos e modelos mais elaboradas de reconhecimento de imagem é possível
realizar separações muito mais elaboradas do que as que fizemos.
128

MAPA 5 – Segundo resultado da classificação de imagem multiespectral

FONTE: O autor (2023)


129

MAPA 6 – Áreas com vegetação

FONTE: O autor (2023)

O próximo passo no processo de definição do terreno foi realizar o cruzamento


dos dados obtidos na classificação de imagens multiespectrais, com os loteamentos
130

oficiais, disponibilizados pela Prefeitura de Curitiba. Optamos por realizar esta


operação, pois com a classificação de imagem, não nos permite ter os limites oficiais
de cada lote. Porém, antes de realizar tal operação definimos o valor de área mínimo
que cada lote deveria ter para ser considerado na análise. Para isso utilizamos como
base as dimensões ideais de um lote para inserção de um equipamento escolar térreo,
com 9 salas de aulas: segundo o projeto padrão desenvolvido pelo FNDE90, o terreno
ideal para implantação de uma escola térrea com 9 salas de aula deve ter dimensões
de 80m de largura por 80m de profundidade, um total de 6400m² de área. O resultado
da filtragem que pode ser visto no MAPA 7 foi de 1645 lotes com área oficial superior
a 6400m².

MAPA 7 – Lotes com área oficial acima de 6400m²

FONTE: O autor (2023)

90O FDNE disponibiliza modelos de escolas padrões, sendo um desses modelos o das escolas com 9
salas de aula, que pode ser acessado no seguinte link: https://www.gov.br/fnde/pt-br/acesso-a-
informacao/acoes-e-programas/programas/par/infraestrutura-fisica-escolar/escola-9-salas-terreo.
131

Como muitos dos lotes apresentavam valores de áreas superiores a 10000m²,


optamos por definir um valor máximo de área que os lotes pudessem ser considerados
na etapa de cruzamento dos dados, o valor máximo definido foi de 8000m², referente
à área ideal para uma escola com 12 salas de aulas, segundo o projeto padrão do
FNDE. O novo resultado da filtragem (MAPA 8) reduziu significativamente o número
de lotes que se encaixam nos parâmetros mínimos e máximos definidos.

MAPA 8 – Lotes com área oficial entre 6400m² e 8000m²

FONTE: O autor (2023)

Com essa nova amostra de lotes, que agora se encaixa nos parâmetros que
definimos, realizamos o cruzamento entre os lotes e as regiões de vegetação (árvores,
grama e vegetação baixa) obtidas na etapa de classificação de imagem. Um exemplo
do resultado obtido pode ser visualizado na FIGURA 42. Como pode-se notar, em
alguns casos as regiões de grama não cobriam nem metade do lote, isso porque, em
132

algumas situações, a região de grama era apenas um jardim ou um quintal e já havia


uma edificação construída na localidade. Portanto, apenas iremos considerar lotes
onde a área de vegetação cubra mais de 90%. Além disso, desconsideramos lotes
que tenham forma muito irregular, mesmo que ele esteja com cobertura vegetal acima
de 90% e lotes que se encontravam em regiões não adensadas, como os lotes
ilustrados na FIGURA 43.
Finalizadas as filtragens de dados, obtivemos um total de 37 lotes que
atendem aos critérios estabelecidos, sendo que a maioria deles encontra-se na
regional do Boa Vista, próximo ao limite do município, como pode ser visto no MAPA
9.

FIGURA 42 – Sobreposição da vegetação nas delimitações dos lotes

FONTE: O autor (2023)


NOTA: A figura mostra um exemplo das regiões com vegetação (laranja), extraídas da etapa de
classificação de imagem, sobrepostas nos lotes que se enquadravam nos quesitos de áreas mínimas
e máximas. Em situações onde as regiões de vegetação cobrem menos de 90% da área dos lotes,
eles foram desconsiderados para a próxima etapa de análise.
133

FIGURA 43 – Exemplo de áreas desconsideradas

FONTE: O autor (2023)


DADOS SATÉLITE: CBERS 04A (2022)
NOTA: A figura mostra em laranja, os lotes que atendem aos critérios de área mínima e máxima e de
cobertura vegetal em mais de 90% de sua área, porém foram desconsiderados por estarem em áreas
pouco urbanizadas.

Entendemos que, certas regiões da cidade mesmo tendo disponibilidade de


área para a construção de um equipamento escolar, não são propícias para tal, dado
seu nível de inclinação, portanto, cruzamos os dados obtidos anteriormente, com um
mapa de declividade, construído com base nas curvas de nível disponibilizadas pela
prefeitura de Curitiba91. Os terrenos que se encontravam inteiramente em regiões com
declividade acima de 5% - foram desconsiderados para nosso estudo, pois este
parâmetro é considerado ideal, segundo o volume I do manual do FNDE (2017). Já
terrenos com até 50% de sua área fora de locais com declividade superior à 5 %,
foram considerados. O MAPA 10 mostra a localização dos 37 lotes resultantes das
análises anteriores, sobrepostos com um mapa de declividade das regiões onde estão
localizados.

91 O mapa foi construído no software QGIS, utilizamos os valores das camadas das curvas de nível
principais (5 em 5 metros) para construir um raster e em seguida extraímos os valores de declividade.
134

As características do relevo do terreno destinado à construção da nova


Unidade de Educação devem ser facilmente verificáveis mediante a execução
de levantamentos planialtimétricos, satisfazendo as exigências técnica
possibilitando uma construção economicamente viável. Recomenda-se:
Apresentar superfície regular, plana e horizontal, com declividades suaves.
Para melhor aproveitamento dos sítios, indicam-se terrenos com declividade
até 5%; são toleráveis terrenos com declividade máxima admitida até 20%,
porém devem ser evitados – serviços de terraplanagem para adaptações e
regularização do terreno são de responsabilidade do ente federado.
(FNDE, 2017, p. 27)

MAPA 9 – Localização dos lotes resultante dos processes de classificação

FONTE: O autor (2023)


DADOS SATÉLITE: CBERS 04A (2022)
135

MAPA 10 – Cruzamento da localização dos lotes com as regiões de declividade superior a 5%

FONTE: O autor (2023)


NOTA: O mapa acima mostra em azul a localização dos terrenos oriundos das análises anteriores e
em vermelho estão demarcadas as regiões ao redor desses terrenos que tem uma declividade
superior a 5%.

Realizada a filtragem dos lotes, eliminando terrenos que se encontravam em


regiões com declividade superior à 5%, cruzamos as localizações dos lotes restantes
com os dados de densidade de moradores com idade de 0 a 14 anos e com os dados
136

das escolas municipais já existentes, a fim de selecionar os terrenos para a segunda


etapa do TFG.
Optamos por não definir neste momento qual será o terreno para a inserção
do edifício, pois pretendemos ainda realizar mais algumas análises, como estudos de
acesso, análise dos fluxos e estudos lumínicos de cada um dos terrenos escolhidos.
Isso será realizado na segunda etapa do Trabalho Final de Graduação. Portanto,
secionamos quatro terrenos, utilizando como critério a densidade, a proximidade à
equipamentos escolares já existentes e posteriormente uma verificação das imagens
de satélite. Em um dos casos o terreno escolhido ficou próximo a uma escola já
existente, porém optamos por selecioná-lo, visto que a região apresenta um grande
número de moradores na faixa etária considerada para o estudo. Os lotes
selecionados podem ser visualizados no MAPA 11.
137

MAPA 11 – Lotes selecionados

FONTE: O autor (2023)


138

O primeiro lote selecionado (FIGURA 44) fica Regional do Boqueirão, próximo


da divisa com a regional do Bairro Novo 92 , uma área com grande densidade de
moradores de 0 a 14 anos e onde também há um grande número de escolas
municipais. O terreno que tem metragem de 7164,64 m², fica no cruzamento da Rua
Primeiro de Maio com a Rua Nova Fátima, no bairro do Xaxim. Uma questão que
observamos ao verificar a imagem de satélite desse terreno é que nele encontra-se
um campo de futebol provavelmente privado. Esse é um dos pontos problemáticos da
classificação de imagem, como nossa amostra considerava grama, o algoritmo
entendeu que este campo era uma região válida. Por esse trabalho ser uma
experimentação, optamos por manter o terreno, mesmo entendendo, que caso esse
fosse um projeto oficial, existiria inúmeras implicações em se considerar um terreno
já ocupado.
O segundo lote escolhido (FIGURA 45), fica entre a Rua Engenheiro Ademar
Munhoz e a Rua Ivo Ferro, no bairro do Uberaba93. Sua metragem é de 6532,29m² e
ele está inteiramente ocupado por árvores. Optamos por manter o terreno, mesmo ele
estando inteiramente ocupados por árvores, pois acreditamos que essa questão pode
ampliar as possibilidades de estudos dos terrenos na segunda etapa do trabalho.

92 A indicação fiscal do lote é 81204122.


93 A indicação fiscal do lote é 88227117.
139

FIGURA 44 – Primeiro lote selecionado

FONTE: GeoCuritiba (2019)

FIGURA 45 – Segundo lote selecionado

FONTE: GeoCuritiba (2019)


140

O terceiro terreno (FIGURA 46) fica na Av. Prefeito Maurício Fruet, no bairro
do Cajuru 94 . Sua forma é triangular e ele conta com e área de 7787,00 m².
Acreditamos que esse formato do lote pode ser interessante para as experimentações
iniciais de implantação
O último lote escolhido95 (FIGURA 47), oriundo das análises digitais realizada
fica em frente à rodovia PR-092, e tem área de 6882,00. Tal qual o segundo lote, ele
apresenta uma boa cobertura vegetal, aparentemente de mata nativa.
O resultado da utilização do algoritmo de classificação de imagens para
definição dos terrenos mostrou alguns resultados interessantes. Primeiro, que caso
quiséssemos, poderíamos ter realizado a classificação para todo o município de
Curitiba, o que apesar de aumentar o tempo de processamento, nos permitiria ter uma
visão completa dos lotes da cidade sem edificações construídas. É claro que a
utilização de mecanismos de classificação de imagens para a escolha de terrenos
pode acarretar em alguns erros, tal qual ocorreu com nosso primeiro lote escolhido,
entretanto acreditamos que mesmo assim o mecanismo amplia as possibilidades de
análises e entendimentos para embasar estudos iniciais de implantações.
Ressaltamos que optamos por manter esses quatro lotes nessa etapa do
trabalho, pois como dito, pretendemos realizar novas analises, até definir qual será o
lote oficial escolhido.

94 A indicação fiscal do lote é 28048016.


95 A indicação fiscal do lote é 91071030.
141

FIGURA 46 – Terceiro lote selecionado

FONTE: GeoCuritiba (2019)

FIGURA 47 – Quarto lote selecionado

FONTE: GeoCuritiba (2019)


142

8 DIRETRIZES GERAIS DE PROJETO

Como mencionado no capítulo 8, o Fundo para o Desenvolvimento da


Educação do Estado de São Paulo, disponibiliza uma completa coleção de catálogos
técnicos voltados ao desenvolvimento de projetos escolares (FIGURA 48). Os
documentos do FDE contemplam além dos projetos arquitetônicos, detalhamentos
complementares, normativas de incêndio, previsões básicas para o canteiro de obras,
entre outros.

FIGURA 48 – Catálogos disponibilizados pelo FDE de São Paulo

FONTE: FDE

Os documentos dos catálogos em PDF do FDE, apresentam as plantas


arquitetônicas dos ambientes constituidores de uma escola, a descrição do ambiente,
imagem ilustrativa do ambiente construído, tabela de quantitativos, previsões de
pontos elétricos, exigências estruturais mínimas, níveis de iluminação natural (lux)
previstos, entre outros. O Fundo de Educação do Estado de São Paulo, além dos
manuais com projetos completos, também disponibiliza modelos digitais em BIM de
143

alguns manuais: templates, modelos e famílias para Revit (FIGURA 49). “Essa
metodologia permite aos gestores da construção e da edificação escolar ter maior
controle e precisão durante as fases de projeto, na execução da obra, e ao longo da
vida útil da edificação” (FDE, não paginado).

FIGURA 49 – Imagem mostrando os modelos de janelas em BIM disponibilizados pelo FDE

FONTE: O autor (2023)


DADOS: FDE

Como pretende-se neste trabalho estudar o uso de modelos complexos, para


a elaboração de métodos projetuais de ambientes escolares, optou-se por se basear
nos catálogos disponibilizados pelo FNDE e pelo FDE de São Paulo, por serem
públicos e conterem as descrições e especificações detalhadas de cada ambiente.

8.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES

O programa de necessidades para projetos escolares “[...] não é apenas uma


lista de ambientes, mas um documento que interage com as pedagogias e o modo de
abrigar as atividades essenciais para o tipo de ensino almejado” (KOWALTOWSKI,
2011, p. 63), o qual, além de definir quais serão os ambientes projetados deve
descrever suas características e suas respectivas disposições na edificação
(KOWALTOWSKI, 2011).
144

Como a proposta do trabalho é compreender como se pode elaborar um


método de projeto para espaços escolares padronizados, com base nos complexos
métodos projetuais contemporâneos. Onde, os modelos digitais permitem uma
exploração quase que infinita de proposições que norteiam o desenvolvimento de um
projeto. Não nos propomos neste trabalho a discutir o programa de necessidade em
si, mas, como é possível utilizar-se da complexidade, trabalhando-se com modelos
paramétricos; design generativo; análise de dados e simulações, para exercitar um
método de articulação dos programas mínimos já exigidos para elaboração de escolas
públicas municipais.

[...] o prédio escolar de ensino público, principalmente no Estado de São


Paulo, é controlado e, em relação ao programa de necessidades, as
edificações são padronizadas por programas fixos e fechados, determinados
pela Secretaria de Educação do Estado.
(KOWALTOWSKI, 2011, p. 92).

O Fundo Nacional De Desenvolvimento Da Educação por meio da Diretoria De


Gestão, Articulação E Projetos Educacionais define as diretrizes básicas que devem
nortear o desenvolvimento de um projeto escolar: “deve ser fundamentalmente
baseada nas necessidades de desenvolvimento e parâmetros pedagógicos dos
alunos, tanto no aspecto físico, psicológico, como no intelectual e social” (FNDE, sem
data, p. 44). Para isso, o programa deve ser desenvolvido com setorização dos
conjuntos funcionais principais: Administrativos; Serviços; Esportivo e Pedagógico. Na
FIGURA 50 consta uma tabela com os ambientes que devem constar no projeto de
uma escola fundamenta, agrupados em conjuntos.
145

FIGURA 50 – Ambientes da edificação escolar para ensino fundamental

FONTE: FNDE (sem dada)


146

Além da tabela com ambientes já setorizados, o FNDE também disponibiliza


um organograma de distribuição (FIGURA 51). Porém, tal organograma não será
adotado desta maneira no projeto a ser elaborado: a distribuição dos ambientes será
realizada na segunda etapa da pesquisa com a utilização de modelos de design
generativo para distribuição e arranjo de ambientes.

FIGURA 51 – Organograma proposto pelo FNDE

FONTE: FNDE (sem dada)

Cada ambiente, compositor do projeto arquitetônico escolar, tem dimensões


mínimas de áreas exigidas. Por exemplo “[...] para o ensino fundamental, recomenda-
se no mínimo 1,50 m² por aluno em sala de aula comum, com ensino tradicional, e
uma lotação máxima de 30 alunos por professor” (KOWALTOWSKI, 2011, p. 122). Já
para outros ambientes como o refeitório, recomenda-se no mínimo 1,80m² por aluno
(FNDE, sem data). A TABELA 6 mostra as áreas mínimas e as áreas recomendadas
para cada tipo de espaço.
147

TABELA 6 – Áreas mínimas e áreas recomendadas para os ambientes de uma escola

AMBIENTE ÁREA MÍNIMA ÁREA RECOMENDADA

Recepção /
0,10 m² por aluno da escola 0,15 m² por aluno da escola
Atendimento ao público
Secretaria /
0,10 m² por aluno da escola 0,20 m² por aluno da escola
Orientação
Sala de Reunião /
Aproximadamente 20 m² Aproximadamente 25 m²
Sala de professores

Coordenação pedagógica Não há área mínima Aproximadamente 10 m²

Diretoria Não há área mínima Aproximadamente 10 m²

Almoxarifado / Depósito Não há área mínima Aproximadamente 10 m²

Salas de aula 1,30 m² por aluno da ocupante 1,50 m² por aluno da ocupante

Sala multiuso -Sala de artes


1,30 m² por aluno da ocupante 1,50 m² por aluno da ocupante
plásticas
Sala multiuso – Sala de
1,30 m² por aluno da ocupante 1,50 m² por aluno da ocupante
multimeios
Sala multiuso – Sala de dança/
1,50 m² por aluno da ocupante 2 m² por aluno da ocupante
teatro/ jogos

Laboratório de informática 1,30 m² por aluno da ocupante 1,50 m² por aluno da ocupante

Sala de EAD 1,30 m² por aluno da ocupante 1,50 m² por aluno da ocupante

Biblioteca / Sala de leitura 1,30 m² por aluno ocupante 1,50 m² por aluno da ocupante

Sala de recursos
Não há área mínima 15 m²
multifuncionais

Sanitários / Vestiários Não há área mínima

Cantina Não há área mínima

Refeitório 1,50 m² por aluno* 1,80 m² por aluno*

Sala de acolhimento Aproximadamente 9m² Aproximadamente 12 m²


148

AMBIENTE ÁREA MÍNIMA ÁREA RECOMENDADA

Cozinha 0,075 m² por aluno da escola 0,10 m² por aluno da escola

Despensa 15% da área da cozinha 25% da área da cozinha

Depósito de material de
Aproximadamente 2,5 m²
limpeza

Lavanderia 0,80 m² por sala de aula 1 m² por sala de aula

Copa Aproximadamente 6 m² Aproximadamente 8 m²

1/3 da soma das áreas das


Pátio coberto
salas de aula
1/3 da soma das áreas das 1/2 da soma das áreas das
Pátio descoberto
salas de aula salas de aula

Quadra coberta Não há área mínima Não há área mínima

Corredores área administrativa Dimensão mínima 1 m

Corredores área pedagógica Dimensão mínima 1,5 m

* Considerando revezamento de 3 turmas por vez


FONTE: O autor (2023)
DADOS: FNDE (sem data)

Tanto no caderno de orientações do FNDE, como nos cadernos do FDE de


São Paulo, também constam as dimensões mínimas de pé direito para os ambientes
da escola: Segundo o FNDE os valores devem ficar entre 2,70 m e 3 m; já nos
documentos do FDE o pé direito mínimo é de 3 m. Para o projeto a ser elaborado será
adotado o valor de 3 m, pois utilizaremos como base para os estudos projetuais os
documentos de projetos fornecidos pelo FDE.
Além dos valores de áreas e dimensões, ambos cadernos de orientações
trazem as descrições dos elementos que devem compor os ambientes. Por exemplo
no documento do FDE para a elaboração de uma sala de aula existe uma lista com
todos o mobiliário necessário (FIGURA 52)96. Tal mobiliário segue uma padronização,

96Para verificar a descrição completa do mobiliário para cada ambiente ver os Cadernos técnicos do
FDE de São Paulo e o Manual De Orientações Técnicas Volume 03 do FNDE.
149

o que além de simplificar a reposição, facilita a elaboração de processos licitatórios


para a aquisição do mobiliário.

FIGURA 52 – Exemplo de lista com o mobiliário para o projeto de uma sala de aula elaborado pelo
FDE de São Paulo

FONTE: FDE SÂO PAULO (2023)

8.1.1 Layout das salas de aula

Apesar de a característica e o layout das salas de aula das escolas públicas


brasileira pouco ter se modificado ao logos dos últimos anos97 , sendo comumente
edificações com plantas tradicionais de salas de aula enfileiradas lado a lado, com um
corredor no centro e a disposição do mobiliário: carteiras enfileiradas. Existem
modelos diferentes de organização dos ambientes de aprendizagem. Por exemplo A
sala em formato de “L” ou em “Z”, que oferecem possibilidade de variar os
planejamentos das atividades em sala de aula, dado a disposição variada de espaços
(KOWALTOWSKI, 2011). A FIGURA 53 retirada do livro “Arquitetura Escolar o Projeto
de Ambiente de Ensino”, exemplifica alguns dos possíveis modelos de salas de aula.

97No livro Arquitetura escolar, Kowaltowski (2011), sita o dado de que a característica da sala de aula
pouco se modifico nos últimos 20 30 anos. Apesar do livro ter sido escrito em 2011 tal afirmação
continua ocorrendo, na data de publicação desse trabalho.
150

FIGURA 53 –Modelos de layout de salas de aula

FONTE: Kowaltowski (2011)

Apesar dos modelos de layout de salas de aula citados acima não estarem
nos projetos de salas de aula padrão disponibilizados pelo FNDE e FDE de São Paulo
e que serão utilizados como base para os estudos desse trabalho, achamos oportuno
citar alguns desses modelos. Pois com design generativo e parametria podemos testar
inúmeras soluções de distribuição espacial e formatos de uma sala de aula.
Realizaremos tais estudos, na segunda etapa do trabalho, não buscando
necessariamente aplicar ao projeto, mas tentando entender possíveis distribuições
espaciais.

8.1.2 Quadro de áreas

Com base nos valores de áreas e dimensões mínimas e recomendadas,


apresentados na TABELA 6 foi elaborado o quadro de área dos ambientes e o valor
aproximado da área total construída da escola. Tais valores servirão de base para o
início dos estudos de elaboração projetual, entretanto, ressaltamos que por se tratar
de um trabalho exploratório de métodos projetuais, tais valores podem sofrer
significativas modificações, a depender dos resultados que obtivermos no decorrer do
processo.
151

Como a maior parte dos valores de área mínima dos ambientes necessita da
variável “número de alunos”, antes de elaborar a tabela com o quadro das áreas totais,
foi preciso definir o número de alunos da escola. Para a definição desse valor utilizou-
se como base os dados do Censo Escolar98 realizado pelo Inep nos anos de 2018;
2019; 2020; 2021; 2022.Como pode ser visto na TABELA 7 a média de alunos por sala
de aula das escolas públicas municipais, referente aos anos do ensino fundamental
possuem variações. Por ser apenas um estudo exploratório, não entramos em
maiores especificidades, nem especializamos os dados dos números de alunos por
sala de aula pelas escolas da cidade. Entendemos que esse é um dado geral, que
pode mudar de região para região do município. Porém para nós interessa apenas um
valor de base para ser possível realizar os estudos dos métodos projetuais. Além disso,
optamos por definir um valor padrão de alunos para todos os anos letivos. Portanto
realizamos a média simples entre os valores da TABELA 7 dos anos letivos, para
cada ano base, chagando nos valores de: 29,7 alunos por sala em 2018; 28,9 alunos
por sala em 2019; 29,5 alunos por sala em 2020; 29,1 alunos por sala em 2021; 28,7
alunos por sala de aula em 2022. A média entre os cinco anos analisados foi de 29,18
alunos por sala de aula, arredondando o valor para cima temos um total de 30 alunos
por sala de aula. O valor de 30 alunos será a base para todos os anos letivos, portanto,
supondo que a escola terá apenas um turno, a escola será dimensionada para 270
alunos.

TABELA 7– Média de alunos por turma das escolas municipais urbanas do município de Curitiba-PR
referentes aos anos de 2018 a 2022
Data 1º Ano 2° ano 3° ano 4° ano 5° ano 6° ano 7° ano 8° ano 9° ano
2022 26,2 24,0 26,7 28,6 29,3 32,6 32,4 30,0 29,2
2021 22,4 27,4 27,0 29,5 30,3 32,5 30,1 31,0 32,0
2020 26,9 26,8 27,0 29,8 30,6 31,5 32,2 30,2 30,7
2019 25,3 26,4 27,4 28,6 30,1 32,4 31,0 29,4 29,8
2018 26,4 27,5 27,8 28,8 30,9 31,9 32,3 31,7 30,3
FONTE: O autor (2023)
DADOS: INEP (2018; 2019; 2020; 2021; 2022)

98O Censo Escolar é o principal instrumento de coleta de informações da educação básica e a mais
importante pesquisa estatística educacional brasileira. É coordenado pelo Inep e realizado em regime
de colaboração entre as secretarias estaduais e municipais de educação e com a participação de todas
as escolas públicas e privadas do país. (INEP, 2022, não paginado)
152

Definido o número de alunos da escola: 30 alunos por turma, compondo 9 turmas, o


que resultou em 270 alunos no total, foi possível realizar o dimensionamento inicial
das áreas, que está detalhado na TABELA 899.

TABELA 8– Quadro de áreas

AMBIENTE ÁREA

Recepção /
40,5 m²
Atendimento ao público
Secretaria /
54 m²
Orientação
Sala de Reunião /
25 m²
Sala de professores

Coordenação pedagógica 10 m²

Diretoria 10 m²

Almoxarifado / Depósito 10 m²

Salas de aula* 405 m²

Sala multiuso -Sala de artes


45 m²
plásticas
Sala multiuso – Sala de
45 m²
multimeios
Sala multiuso – Sala de dança/
60 m²
teatro/ jogos

Laboratório de informática 45 m²

Sala de EAD 45 m²

Biblioteca / Sala de leitura 45 m²

Sala de recursos
15 m²
multifuncionais

99Para alguns valores de áreas que não havia variáveis multiplicadoras, optou-se por utilizar os valores
de metragem quadrada dos projetos do FDE de São Paulo.
153

AMBIENTE ÁREA

Sanitários / Vestiários 170,1 m²

Cantina 9,72 m²

Refeitório 162 m²

Sala de acolhimento 12 m²

Cozinha 27 m²

Despensa 6,75 m²

Depósito de material de
2,5 m²
limpeza

Lavanderia 9 m²

Copa 8 m²

Pátio coberto 202,5 m²

Pátio descoberto Não estipulado

Quadra coberta 700 m²

Corredores área administrativa Não estipulado

Corredores área pedagógica Não estipulado

Área total 2164,07 m²

* Cada sala de aula terá 45 m² de área.


FONTE: O autor (2023)

Percebe-se que o ambiente com a maior área é o da quadra coberta, caso


desconte-se a área da quadra, o valor da área total do projeto cai para 1464,07 m².
Tal espaço costuma influenciar em muito no resultado muitas vezes modificando
significativamente a volumetria das edificações escolares (KOWALTOWSKI, 2011).
154

Por se tratar de um estudo exploratório de métodos de projeto, veremos as soluções


que poderemos encontrar para posicionar o espaço quadra coberta no projeto, mesmo
que possam ser soluções pouco usuais. Isso, pois acreditamos, que no momento de
iniciar os estudos de planta, com design generativo, poderemos obter soluções
peculiares e pouco ortodoxas para o posicionamento da quadra, dada suas dimensões.

8.2 COMPLEMENTAÇÕES TÉCNICAS PARA ALÉM DO ESPAÇO MATERIAL

Muitas edificações escolares brasileiras não são corretamente projetadas


para melhor atender aos níveis de conforto dos seus usuários, no caso das escolas
os alunos e os funcionários (KOWALTOWSKI, 2011). Soluções projetuais que não
tragam níveis de conforto satisfatório aos usuários, não apenas são incômodas, mas
podem atrapalhar o próprio desempenho dos estudantes em sala de aula: “Vários
estudos comprovam a importância da luz do dia em salas de aula para o bem esta
dos ocupantes do espaço escolar” (KOWALTOWSKI, 2011, p. 122).
Os manuais e normativas100 para elaboração de projetos escolares trazem
algumas exigências mínimas, principalmente quanto aos níveis de iluminação natural,
artificial e de ventilação. A TABELA 9, sistematizam algumas dessas normativas, que
devem ser seguidos no momento de projeto segundo o FNDE.
Além de seguir as normativas é necessário estar atento a outros fatores, que
muitas vezes não estão descritos na norma. Como por exemplo o ofuscamento que
pode ser causado por excesso de iluminação direta ou decisões incorretas quanto aos
materiais de acabamento das superfícies.

Uma das grandes queixas dos alunos quanto a iluminação em sala de aula é
a reflexão veladora, um tipo de ofuscamento que dá a sensação de que a
imagem está apagada em alguns trechos do quadro-negro e que provém da
irradiação direta do objeto
(KOWALTOWSKI, 2011, p. 147).

100A NBR 5413 trata a respeito dos níveis mínimos de iluminação no plano de trabalho, para a
realização de tarefas.
155

TABELA 9 –Níveis mínimos de iluminação e ventilação para os ambientes de uma escola


NIVEIS DE NÍVEIS DE
VELNTILAÇÃO
AMBIENTE ILUMINAÇÃO ILUMINAÇÃO
NATURAL(ϒ)
NATURAL(α) ARTIFICIAL (ᵝ)
Recepção /
1/5 300 lx 1/10
Atendimento ao público
Secretaria /
1/5 300 lx 1/10
Orientação
Sala de Reunião /
1/5 300 lx 1/10
Sala de professores
Coordenação
1/5 300 lx 1/10
pedagógica

Diretoria 1/5 300 lx 1/10

Almoxarifado / Depósito 1/5 150 lx 1/20

Salas de aula 1/5 500 lx 1/10

Sala multiuso -Sala de


1/5 500 lx 1/10
artes plásticas
Sala multiuso – Sala de
1/5 500 lx 1/10
multimeios
Sala multiuso – Sala de
1/5 500 lx 1/10
dança/ teatro/ jogos
Laboratório de
1/5 500 lx 1/10
informática

Sala de EAD 1/5 500 lx 1/10

Biblioteca / Sala de
1/5 500 lx 1/10
leitura
Sala de recursos
1/5 500 lx 1/10
multifuncionais

Sanitários / Vestiários 1/10 200 lx 1/20

Cantina 1/5 200 lx 2/15

Refeitório 1/8 300 lx 1/16


156

NIVEIS DE NÍVEIS DE
VELNTILAÇÃO
AMBIENTE ILUMINAÇÃO ILUMINAÇÃO
NATURAL(ϒ)
NATURAL(α) ARTIFICIAL (ᵝ)

Sala de acolhimento 1/6 300 lx 1/16

Cozinha 1/5 300 lx 215

Despensa 1/8 150 lx 1/16

Depósito de material de 1/20 (ventilação


Não se aplica 150 lx
limpeza cruzada)

Lavanderia 1/5 150 lx 2/15

Copa 1/8 150 lx 1/16

Pátio coberto Não se aplica 150 lx Não se aplica

Pátio descoberto Não se aplica Não se aplica Não se aplica

Quadra coberta Não se aplica 150 lx Não se aplica

Corredores área
Não se aplica 100 lx Não se aplica
administrativa
Corredores área
Não se aplica 100 lx Não se aplica
pedagógica
(α) Relaçãomínima entre a área de abertura e a área de piso do ambiente.
(ᵝ)Valoresde iluminação artificial medidos em LUX.
(ϒ)Relação mínima entre a área de abertura e a área de piso do ambiente. Os valores são referentes as

zonas bioclimáticas Z1 a Z8 (com exceção da Região Norte).


FONTE: O autor (2023)
DADOS: FNDE (sem data)

Tais níveis de iluminação natural e artificial, controle de ofuscamento da luz


natural e de temperatura interna dos ambientes, podem ser aprimorados nos projetos
com a utilização dos modelos computacionais. Visto que eles, além de
proporcionarem a possibilidade de múltiplas explorações espaciais e plásticas,
também auxiliam na construção de espaços mais adequados ao conforto dos usuários.
Um dos métodos de realizar tais análises é com o Ladybug – Ferramenta
Open Source de programação visual-, que permite a realização inúmeras simulações,
157

como: conforto térmico e lumínico. O Ladybug trabalha atreladas a outros programas:


para análises lumínicas utiliza como base o Radiance 101 , desenvolvido pelo
Lawrence Berkeley National Lab (LBNL), localizado os Estados Unidos; já para as
análises de conforto térmico, a ferramenta trabalha com os motores de cálculo do
EnergyPlus 102 , desenvolvido pelo U.S. Department of Energy’s (DOE) Building
Technologies Office (BTO) e mantido pelo National Renewable Energy Laboratory
(NREL) dos Estados Unidos. Esse é apenas um dos muitos programas hoje já
existentes, que permitem a análises de conforto das edificações, permitindo a
elaboração de projetos escolares que melhor atendam ao conforto dos estudantes.
A utilização de ferramentas computacionais para a simulações de projetos
permite que se chegue a projetos a soluções mais eficazes. Além disso, a utilização
de regras práticas 103 para as definições de aberturas e posicionamento das
edificações não garante um bom desempenho do edifício, sendo o ideal realizar
simulações por algoritmos, para se chegar em decisões arquitetônicas mais assertivas
quanto ao desempenho térmico e lumínico das edificações (CAMPOS,2018). Mesmo,
quando as regras práticas obtêm resultados corretos, quanto a sua preposição, podem
não resultar nas soluções ideais para os usuários em determinados horários.

Os fatores culturais influem na noção de que uma fachada com orientação


leste é saudável, pois recebe “sol da manhã”. No entanto, muitas escolas
começam as atividades acadêmicas cedo de manhã e, assim, expõem os
alunos à insolação direta nas salas com orientação leste.
(KOWALTOWSKI, 2011, p. 145).

101 O Radiance é um conjunto de programas gratuito e de código aberto para simulações de iluminação,
tanto natural como artificial.
102 O EnergyPlus é um programa de simulação energética dos edifícios.
103 As regras praticas buscam orientar o arquiteto quanto ao posicionamento do edifício em relação ao

sol, sugerindo métodos passivos para melhorar o desempenho térmico, ventilação cruzada, iluminação
natural, entre outros. (CAMPOS,2018, p.122). Um exemplo de regra prática é a ideia de que estando
no hemisfério sul, deve-se posicionar o edifício com sua fachada para o norte, para se obter melhor
incidência solar.
158

9 CONCLUSÃO

No trabalho buscamos apresentar brevemente alguns modelos de automação


projetual, entendendo que esses modelos trabalham correlacionando inúmeras
formas de dados e, portanto, são considerados modelos complexos. Isso faz com que
ao utilizá-los, tanto com métodos mais arcaicos de IA como a paramétrica ou quanto
com modelos mais sofisticados de aprendizado de máquina, é possível otimizar e
aprimorar o desenvolvimento de projetos arquitetônicos. Assim o arquiteto e urbanista
capaz de trabalhar com dados, algo indispensável na contemporaneidade, amplia
suas possibilidades projetuais.
Entretanto, como visto, os modelos digitais complexos necessitam de um meio
para serem construídos. Este meio, é de domínio de grandes empresas, que estão
situadas em países do Norte Global. Sendo assim, apesar dos novos métodos de
produção projetual ampliarem a capacidade do arquiteto e urbanista de desenvolver
suas criações, impõem a ele uma nova amarra. Portanto, se os meios que sustentam
os novos métodos projetuais forem utilizados, sem que tenhamos uma visão crítica
deles, podem ser extremamente danosos. Ademais, na pesquisa entre as
universidades, mostramos como ainda é incipiente a utilização de softwares de
programação tanto visual, quanto textual nos cursos de Arquitetura e Urbanismo, pois
costumam imperar softwares de modelagem CAD e BIM, os quais são todos de
propriedade de empresas do Norte Global.
Na parte final da pesquisa trazemos a nossa proposta para a transposição dos
conceitos aqui apresentado para o desenvolvimento de um projeto de arquitetura
escolar. Algumas análises, como a definição exata do sítio para implantar a edificação,
ainda serão mais aprofundadas na segunda etapa do TFG, porém acreditamos já ter
uma boa base para dar início aos estudos de desenvolvimento do projeto final.
Pretendemos com os dados obtidos até agora realizar novos cruzamentos, analisando
distância entre meios de transporte, as condicionantes físicas ambientais de cada
localidade, entre outras, para então definir o lote exato para inserção do equipamento
escolar.
Nessa segunda etapa de desenvolvimento do projeto, também pretendemos
trabalhar com modelos de design generativo para estudar a implantação dos espaços
no terreno. Posteriormente, iremos transpor os vários modelos digitais gerados, para
159

maquetes físicas, podendo assim comparar o modelo computacional com o resultado


real. Para a realização do design generativos utilizaremos métodos mais simplificados,
como os modelos paramétrico, o resultado dessas análises servirá de base para que
possamos dar início a elaboração do projeto escolar.
Por fim achamos valido ressaltar que o conteúdo apresentado neste trabalho
é uma breve sintetização do tema, o qual é bastante amplo para ser apresentado por
completo em uma monografia de graduação. Porém, julgamos que conseguimos de
maneira breve cercar alguns conceitos, além de ampliar o entendimento de como os
dados podem auxiliar na elaboração de projetos.
160

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168

ANEXO 1 – CÓDIGO PROGRAMAÇÃO VISUAL DAYNAMO PARA CRIAÇÃO DE


PISOS DE MANEIRA PARAMÉTRICA

No anexo está exemplificado o código do Dynamo para criação de pisos de


maneira paramétrica. Para a criação do código foram utilizados os “nós” nativos do
Dynamo e construídos para o trabalho - criados por meio de programação Python,
dentro do nó Python Script.
O código foi subdividido em 4 grupos, cada uma está representada por uma
cor:
a) Azul: variáveis iniciais para modelar a primeira peça de piso;
b) Verde: variáveis de escalonamento e os nós que realizam a operação;
c) Laranja: variável de espaçamento entre peças e os nós que realizam a
operação;
d) Roxo: variável de tipo de piso de piso, variável de nível e nós que
realizam a operação de criar os pisos no modelo do Revit.

FIGURA 1 – Representação da rotina construída

FONTE: O autor (2023)


169

a) Grupo Azul (FIGURA 2).

FIGURA 2 – “Nos” pertencentes ao grupo azul da rotina

FONTE: O autor (2023)

Os “nós” utilizados foram: Number, para definir o tamanho da primeira peça e


Rectangle.ByWidthLenth, para criar um retângulo, que serve de base para a primeira
peça.
b) Grupo Verde (FIGURA 3).

FIGURA 3 – “Nos” pertencentes ao grupo verde da rotina

FONTE: O autor (2023)


170

Os nós utilizados foram: Number, para definir o número de repetições; Code


Block, para definir a variável de escala; Python Script para escrever o código, que cria
listas de objetos e define os fatores de escala para cada elemento (TABELA 1);
Geometry.Scale, para escalonar os elementos.

TABELA 1 – O Código inserido no componente Python Script


1 # CARREGAR AS BIBLIOTECAS
2 import clr
3 clr.AddReference('ProtoGeometry')
4 from Autodesk.DesignScript.Geometry import *
5
6 # INPUTS
7 valor_inicial = IN[0]
8 numero_rep = IN[1]
9 escala = IN[2]
10
11 # DEFINIR O VALOR INICIAL DA LISTA
12 valor_inicial = valor_inicial
13
14 # DEFINIR A QUANTIDADE DE ITENS DA LISTA
15 tamanho_lista = numero_rep
16
17 # CRIAR A LISTA
18 lista = [valor_inicial]
19
20 # LOOP PARA GERAR OS VALORES DA LISTA
21 for i in range(1, tamanho_lista):
22 valor_atual = lista[i - 1] *escala
23 lista.append(valor_atual)
24
25 # OUTPUT
26 OUT = lista
FONTE: O autor (2023)
171

c) Grupo Laranja (FIGURA 4).

FIGURA 4 – “Nos” pertencentes ao grupo laranja da rotina

FONTE: O autor (2023)

Os nós utilizados foram: Code Block, para definir a variável espaçamento;


Multiply; Python Script, para escrever o código que cria listas de distância entre os
elementos (TABELA 2); Geometry.Translate, para mover os elementos.

TABELA 2 – O Código inserido no componente Python Script


1 # # CARREGAR AS BIBLIOTECAS
2 import sys
3 import clr
4 clr.AddReference('ProtoGeometry')
5 from Autodesk.DesignScript.Geometry import *
6
7 # INPUTS
8 distancia_geometria = IN[0]
9 lista_geometrias = IN[1]
10
11 # DEFINIR VARIÁVEL DE ESPAÇAMENTO PADRÃO
12 variavel_de_entrada = distancia_geometria
13
14 # DDEFINIR A LISTA DE ELEMENTOS DA GEOMETRIA
15 lista_anterior_de_valores = lista_geometrias
16
172

17 # CRIAR LISTA PARA ARMAZENAS OS NOVOS VALORES


18 lista_de_valores_movidos = []
19
20 # VALOR ANTERIOR = PRIMEIRO VALOR DA LISTA
21 valor_anterior = lista_anterior_de_valores[0]
22
23 # LOOP PARA MOVER VALORES DA LISTA
24 for i in range(len(lista_anterior_de_valores)):
25 valor_movido = 2*valor_anterior + variavel_de_entrada
26 lista_de_valores_movidos.append(valor_movido)
27 # Atualizar o valor anterior com o valor movido para o próximo cálculo
28 valor_anterior = valor_movido
29
30 # OUTPUT
31 OUT = lista_de_valores_movidos
FONTE: O autor (2023)

d) Grupo Roxo (FIGURA 5)

FIGURA 5 – “Nos” pertencentes ao grupo roxo da rotina

FONTE: O autor (2023)

Os nós utilizados foram: “Floor Types”, para selecionar o tipo de piso que será
utilizado – a lista de pisos é extraída do projeto no Revit-; “Levels”, para definir em que
nível os pisos serão criados – a lista de níveis é extraída do projeto no revit-;
“ Floor.ByOutlineTypeAndLevel”, para cirar os pisos com base nos inputs fornecidos.
173

ANEXO 2 –RESPOSTAS OBTIDAS ACERCA DOS SOFTWARES UTILIZADOS


NOS CURSOS DE ARQUITETURA E URBANISMO

REGIÃO NORTE REGIÃO NORDESTE


Universidade
Universidade Universidade Universidade
Universidade Federal de
Federal do Federal da Federal do Federal do Piauí
Pernambuco
Tocantins (UFT) Bahia (UFBA) Ceará (UFC) (UFPI)
(UFPE)
Pacote de
AutoCAD AutoCAD
Revit (Autodesk) Programas ArcGIS
(Autodesk) (Autodesk)
Autodask

Impressora Doro ArchiCAD ArchiCAD


Revit (Autodesk)
(para PDF) (Graphisoft) (Graphisoft)

Google
Onbox GIMP Workspace for Enscape
Education
Google
Pacote Office Photoshop
Workspace for QGIS
(Microsoft) (Adobe)
Education

Sketchup (versão
QGIS Inkscape Sketchup
gratuita de 2017)

Room Finishing Libreoffice Vray

Sketchup Microsoft Teams

Pacote de
Programas
Autodask

QGIS

Rhinoceros

FONTE: O autor (2023)


174

REGIÃO
REGIÃO CENTRO OESTE REGIÃO SUDESTE
NORDESTE
Universidade Universidade
Universidade Universidade
Universidade de Federal de Federal de São
Federal do Rio Federal de Mato
Grande do Norte Brasília (UnB) Uberlândia João Del-Rei
(UFRN) Grosso (UFMT)
(UFU) (UFSJ)

AutoCAD Suite Education AutoCAD ArchiCAD


SOL-AR
(Autodesk) Office (Microsoft) (Autodesk) (Graphisoft)

ArchiCAD AutoCAD
Revit (Autodesk) QGIS Revit (Autodesk)
(Graphisoft) (Autodesk)

Pacote de
ArchiCAD Office 360°
Programas Revit (Autodesk) Revit (Autodesk)
(Graphisoft) (Microsoft)
Autodask
Adobe Creative
ArchiCAD
Blender Ecotech Suite (Adobe
(Graphisoft)
CS6)

ArchiCAD
Enscape ArcGIS Pacote Adobe
(Graphisoft)

Geogebra Adobe Creative Programas da Arduino


Cloud
Microsoft

GIMP Programas do Blender


Google
Google
Workspace for QGIS DIALux
Education

Inkscape GIMP

QGIS Google Earth

Rhinoceros Inkscape
175

REGIÃO
REGIÃO CENTRO OESTE REGIÃO SUDESTE
NORDESTE
Universidade Universidade
Universidade Universidade
Universidade de Federal de Federal de São
Federal do Rio Federal de Mato
Grande do Norte Brasília (UnB) Uberlândia João Del-Rei
(UFRN) Grosso (UFMT)
(UFU) (UFSJ)

Sketchup LibreOffice

Twinmontion Processing

QGIS

Rhinoceros 6
(processo de
compra da
licença)

Scribus

Sketchup

FONTE: O autor (2023)

REGIÃO SUDESTE
Universidade
Universidade Estadual
Universidade de Estadual Paulista -
Universidade de Universidade de
Campinas São Paulo (IAU- São Paulo (FAU- Paulista - Campus
(UNICAMP) USP) USP) Campus Bauru Presidente
(UNESP) Prudente
(UNESP)

AutoCAD 3DS Max 3DS Max ArchiCAD


Abaqus
(Autodesk) (Autodesk) (Autodesk) (Graphisoft)
176

REGIÃO SUDESTE
Universidade
Universidade Estadual
Universidade de Estadual Paulista -
Universidade de Universidade de
Campinas São Paulo (IAU- São Paulo (FAU- Paulista - Campus
(UNICAMP) USP) USP) Campus Bauru Presidente
(UNESP) Prudente
(UNESP)

Recap Pro AutoCAD AutoCAD


ArcGIS ArcGIS
(Autodesk) (Autodesk) (Autodesk)

ArchiCAD Map 3D AutoCAD


Revit (Autodesk) Revit (Autodesk)
(Graphisoft) (Autodesk) (Autodesk)

Agisoft Adobe Creative


Bentley Revit (Autodesk) Revit (Autodesk)
MetaShape (ϒ) Cloud

ArchiCAD ArchiCAD Adobe Creative


Flow 3d
(Graphisoft) (Graphisoft) Cloud

GEO 5 GIMP Arduino IDE 2.0.3 Adobe Reader

Google
Bentley
Mathematica Workspace for Audacity
SynchroPro
Education

DesignReview
Matlab Inkscape Blender
(Autodesk)

Microsoft Office Rhinoceros DIALux Evo 11 CutePDF

Sketchup Pro
(processo de DWGTrueView
Origin Firefox
compra da (Autodesk)
licença)
Pacote de
Epic games
Programas Suíte Adobe CS6 Google Chrome
Unreal Engine
Autodask
177

REGIÃO SUDESTE
Universidade
Universidade Estadual
Universidade de Estadual Paulista -
Universidade de Universidade de
Campinas São Paulo (IAU- São Paulo (FAU- Paulista - Campus
(UNICAMP) USP) USP) Campus Bauru Presidente
(UNESP) Prudente
(UNESP)

WPS Office
Rhinoceros Fontlab Studio 5 Inkscape
(versão gratuita)

Fusion 360
SAP 2000 LibreOffice
(Autodesk)

TopoEVN GDvelop 5 Scribus

GStreamer 1.0 Scrite

IronPython 3.4.0 SolidWorks

Processing 4.1.2 Subtitle Edit

Subtitle
QGIS
Workshop

Rhinoceros 7.26 Synfing

Sublime Text VELUX Daylight


3211 Visualizer

VLC
178

REGIÃO SUDESTE
Universidade
Universidade Estadual
Universidade de Estadual Paulista -
Universidade de Universidade de
Campinas São Paulo (IAU- São Paulo (FAU- Paulista - Campus
(UNICAMP) USP) USP) Campus Bauru Presidente
(UNESP) Prudente
(UNESP)

VSDC

FONTE: O autor (2023)

REGIÃO SUL
Universidade Federal Latino Americana
Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) * (UNILA)

AutoCAD (Autodesk) AutoCAD (Autodesk)

ArchiCAD (Graphisoft) ArcGIS

Revit (Autodesk) Revit (Autodesk)

FTOOL GIMP

LibreOffice Google Workspace for Education

Rhinoceros Inkscape

LibreOffice

QGIS

*Além dos softwares instalados nos computadores do laboratório do Departamento de Arquitetura e


urbanismo, a Universidade Federal de Santa Catarina disponibiliza os Terminais de Software online via
Desktop virtual. A lista completa pode ser acessada pelo link:
https://servicosti.sistemas.ufsc.br/publico/faq.xhtml?faq=5453
FONTE: O autor (2023)

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