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ELASTICIDADE (Preliminar)

Bouzid Izerrougene
Aula: Introdução à Economia
Universidade Federal da Bahia

ELASTICIDADES
A elasticidade mede a variação da demanda ou da oferta de um bem ou serviço frente à
determinada variação de preços ou de renda.

ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA - Ed
Mensura o quanto a quantidade demandada de um produto responde à variação de preço.
Ela serve para avaliar a possibilidade ou impossibilidade que o consumidor possui de
alterar a sua demanda por determinado produto quando o preço muda.
Quando responde de forma expressiva, a demanda será qualificada de elástica, ao passo
que quando responde ligeiramente será caracterizada como demanda inelástica.

Gráfico - TENDÊNCIA DA ELASTICIDADE


Diferentes fatores determinam a elasticidade-preço da demanda:
• as preferências dos consumidores que, por sua vez, são definidas por forças
sociais, culturais e econômicas que moldam as necessidades e desejos de
consumo;
• o quanto os desejos do consumidor se encontram realizados. Se o consumidor está
saciado com o consumo de um bem ou serviço, a queda do preço deste bem ou
serviço não gera aumento na sua demanda;
• a natureza do bem. Se o bem é essencial, como medicamento, pão e gasolina, o
aumento do preço não contrai significativamente a demanda, caracterizando-a de
inelástica. Em oposição, os bens superficiais, como sorvete, viagem de passeio,
cinema, apresentam demanda elástica, uma vez que são menos consumidos
quando seus preços aumentam;
• o nível de renda, que impacta seriamente a sensibilidade do consumidor aos
preços;
• a existência de bens substitutos, como o álcool para a gasolina para automóveis
que podem rodar com ambos os combustíveis. O aumento de preço de um implica
no vazamento da sua demanda para o outro substituto, apresentando uma demanda
elástica para ambos. Evidentemente, a demanda seria inelástica caso não houvesse
nenhum substituto, como por exemplo no caso da eletricidade.
• o grau da elasticidade no tempo. No curto prazo, a demanda tende a ser inelástica,
porque não há tempo suficiente para encontrar o produto substituto ou mudar os
hábitos de consumo e de compras em geral. No longo prazo, em oposição, os
compradores encontram meios de mitigar sua dependência em relação a
determinado bem ou serviço, reduzindo suas compras deste produto e tornando
sua demanda elástica.
Ed = variação percentual da quantidade / variação percentual do preço

Exemplo: o preço de um bem x passa de 4 para 6. Em consequência, a quantidade


demandada passa de 100 para 90.
Aplicando a fórmula, a variação percentual da quantidade demandada = Δ%Qd = (100 –
90) / 95 = 0,1;
A variação percentual do preço = Δ%P = (6 – 4) / 5 = 0,4
EPd = 0,1 / 0,4 = 0,25 = 25%
O resultado significa que quando o preço aumentou em 100%, a demanda se
contraiu em 25%, quatro vezes menos que a variação do preço. Uma reação,
portanto, bastante leve, caracterizando uma demanda inelástica. Nesse caso, o bem,
para esse caso de consum, pode ser essencial ou não possuir substituto bastante
satisfatório
DIFERENTES GRAUS DE ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA
GRÁFICOS

EPd < 1: demanda inelástica


EPd = 0: perfeitamente inelástica.
EPd = 1: elasticidade proporcional
EPd > 1: demanda elástica
EPd = ∞: demanda perfeitamente elástica

O caso de uma elasticidade infinita ocorre quando os consumidores, ao preço P,


consomem qualquer quantidade do bem ofertado e, ao menor aumento de P, não
consomem nada do produto. É uma configuração mais teórica do que real.
No outro caso, de uma elasticidade nula, o consumidor irá sempre demandar a mesma
quantidade do bem, independentemente do preço. Alguns medicamentos apresentam uma
demanda perfeitamente inelástica.
Podemos observar que à medida que a elasticidade-preço da demanda aumenta, a curva
se inclina.

ELASTICIDADE-PREÇO DA OFERTA - Es
A elasticidade-preço da oferta mede a resposta da quantidade oferecida de um
determinado bem ou serviço a variações de preço.
Serve para avaliar a possibilidade ou impossibilidade que o vendedor ou produtor possui
de alterar a sua oferta quando o preço muda.
Es: variação percentual da quantidade / variação percentual do preço
Exemplo: uma empresa oferece 1000 unidades de um produto x por 100 reais. A demanda
pelo bem em questão aumenta e, com ela, o preço no mercado passa para 120 reais,
levando a empresa a aumentar sua oferta para 2000 unidades. Qual é a elasticidade-preço
dessa oferta?
Aplicando a fórmula,
Es = Δ%Qs / Δ%P = 100 / 20 = 500%
O resultado é uma oferta bastante elástica, pois quando o preço aumentou em 100%,
a oferta aumentou 500%, cinco vezes mais. Nesse caso, pode se tratar de uma
empresa que operava com capacidade ociosa, devido à insuficiência da demanda e
ao preço baixo. A elevação posterior do preço permitiu aumentar a exploração da
planta produtiva e elevar significativamente a oferta.
A elasticidade-preço da oferta é refletida na curva de oferta. À medida que aumenta a
elasticidade, a curva de oferta se inclina. Quanto mais inclinada, maiores serão as
possibilidades do vendedor de reduzir a oferta quando o preço cai e de aumentá-la quando
o preço sobe.
A elasticidade não depende somente do preço, mas de outros fatores como o horizonte do
tempo e o grau de utilização das capacidades de produção. No curto prazo, a oferta tende
a ser menos elástica, uma vez que os ofertantes não dispõem de tempo hábil para ajustar
suas ofertas em função da variação do preço, coisa que é mais factível no longo prazo.
Num horizonte maior de tempo, o aumento de preço pode desencadear novos
investimentos e, consequentemente, maior oferta, acentuando a inclinação da curva.
Também, a elasticidade pode apresentar um comportamento cíclico. Em geral, as
empresas funcionam parte do tempo com capacidade ociosa de produção. Aí, quando
aumenta o preço, aumentam o uso das capacidades produtivas e com ele a oferta, o que
se traduz por uma elasticidade alta. Mas, à medida que se aproximam do pleno emprego,
o aumento da oferta irá exigir novos investimentos, o que significa menores
possibilidades de resposta (elasticidade baixa) e maiores pressões inflacionárias.
A elasticidade-preço da oferta varia de zero ao infinito

GRÁFICOS

EPo < 1: oferta inelástica


EPo = 0: perfeitamente inelástica.
EPo = 1: elasticidade proporcional
EPo > 1: oferta elástica
EPo = ∞: oferta perfeitamente elástica

O caso de uma infinita elasticidade-preço da oferta ocorre quando os vendedores, ao preço


P, atendem plenamente a qualquer quantidade demandada e, à menor queda de P,
abandonam totalmente o mercado. É uma configuração mais teórica do que real.
No outro caso, de uma elasticidade nula, o vendedor irá sempre oferecer a mesma
quantidade do bem, independentemente do preço. Um exemplo mais flagrante de
elasticidade nula é a oferta de imóveis à beira-mar.
De modo geral, a oferta reage ao preço por um tempo, mantendo-se elástica no curto prazo
e, em seguida, à medida que se esgotam as capacidades de elevar a oferta, a reação perde
intensidade até se tornar negativa, no longo prazo. NOTA Supõe-se que os
empreendimentos iniciam com capacidades ociosas. O gráfico abaixo mostra esse
movimento da curva da elasticidade-preço de oferta.
Em resumo, a elasticidade-preço da oferta é positiva quando a quantidade ofertada estiver
ainda relativamente pequena, quando existem capacidades ociosas e quando se trata de
longo prazo. Aí, há possibilidade de responder à variação da demanda.
Um bom exemplo disso é a forte elevação do preço do petróleo na década de 1970 que
não gerou, de imediato, um correspondente aumento na oferta, em razão da inelasticidade
a curto prazo. Para retornar a preços menos elevados, teve que esperar novos
investimentos na área do petróleo, que vieram se adicionar aos esforços de economia de
energia, assim como à busca de energias alternativas.
Gráfico: Elasticidade de curto prazo e Elasticidade de longo prazo
Por fim, vale mencionar o impacto da elasticidade sobre a alocação dos recursos. Uma
elasticidade baixa significa oferta rígida, que pode ser flexibilizada através de novos
investimentos.

ELASTICIDADE DEMANDA E OFERTA


Uma demanda elástica ao preço significa que o consumidor possui condições de
modificar sua demanda. Se o preço cai, ele compra mais, incrementando o seu bem-estar.
Se o preço do bem aumenta, ele o substituirá por outro ou deixará simplesmente de
consumi-lo, escapando assim, total ou parcialmente, da elevação do preço. Caso
contrário, o consumidor terá que aturar o aumento de preço, arcar com custo maior e ver
o seu bem-estar material encolher. Portanto, uma demanda elástica ao preço beneficia o
comprador, ao passo que uma demanda inelástica o desfavorece.
Quanto ao vendedor (produtor), ocorre o contrário, sendo que ele seria beneficiado
quando a demanda por seus produtos for inelástica e desfavorecido quando esta demanda
se encontrar elástica. No primeiro caso, ele possui mais margens para ajustar seus preços
sem que haja redução da quantidade vendida.
Do lado da oferta, a situação é favorável tanto ao vendedor quanto ao consumidor quando
a oferta esteja elástica à elevação de preço. Um aumento de preço gera ampliação da
oferta e o processo resulta em mais receita para o vendedor e em retenção do aumento do
preço.
Quando se trata de queda de preço, uma oferta elástica significa que os vendedores
reduzem a quantidade ofertada de forma expressiva, de modo a estancar a queda do preço
e sustentar a receita. Isso não beneficia os compradores.
O grau de intensidade na relação dos compradores e vendedores com a variação do preço
define quem se encontra em melhor posição no mercado.
A elasticidade impacta, portanto, a distribuição de renda numa economia.
ELASTICIDADE-RENDA DA DEMANDA - Erd
Mede o grau em que o consumidor responde a uma variação em sua renda, comprando
mais ou menos de um determinado produto. É a resposta da demanda, d, face a uma
mudança de nível de renda, R.

Erd < 1 : o aumento da renda reduz a demanda. Nesse caso, o bem em questão passa a
ser inferior para o consumidor cuja renda aumenta. Trata-se, para o determinado
consumidor, de bem inferior que pode ser substituído por um outro mais caro. É o caso
quando uma pessoa, ao ganhar mais, deixa de usar ônibus para se locomover de taxi.
0<Erd < 1 : a variação da renda é acompanhada por uma variação mais ou menos
proporcional na variação da demanda. Trata-se, para o determinado consumidor, de um
bem normal.
Erd > 1 : o aumento de renda eleva a demanda de determinado produto numa proporção
maior do que o aumento da renda, caracterizando uma situação em que o consumidor
(ainda) está ávido daquele bem ou serviço. Trata-se, para o determinado consumidor, de
um bem superior.
Exemplo: com uma renda de 8 mil, o consumidor compra 10 unidades de um bem x. Sua
renda passa para 12 mil e a quantidade demandada cai para 6.
Calcular elasticidade-renda. Que tipo de bem?

Aplicando a fórmula,
Erd = Δ%Qd / Δ%R
Erd = [(10-6)/8] / [(12-8/10)] = 0,5/0,4 = 1,25 = 125%
Quando a renda aumentou 100%, a demanda caiu em 125%. Demanda elástica. O
consumidor estaria próximo de ter sua demanda satisfeita, ficando saciado neste
consumo. Trata-se de um bem inferior para o consumidor em questão.

A elasticidade-renda de um consumidor para um bem ou serviço tende a ser mais


expressiva, isto é, elástica, quando:
• O consumidor ainda não está saciado com o produto;
• O bem é supérfluo;
• Houver tempo suficiente para o consumidor mudar o seu padrão de vida,
adaptando-o ao seu novo nível de renda.

Em geral, a elasticidade-renda da demanda segue o seguinte padrão:

ELASTICIDADE-CRUZADA DA DEMANDA – Exy


Mede em porcentagem o quanto a quantidade demandada, Q, de um dado produto
responde à variação no preço de um outro produto substituto, Y. Daria, por exemplo, de
quanto seria o aumento na quantidade demandada do combustível álcool se houvesse um
aumento no preço da gasolina.
Exemplo: Imaginamos que o preço do hamburger passe de 10,00 para 10,50. Em
consequência, a quantidade consumida de cachorro-quente aumenta de 480 para 500.

Calcular a elasticidade

Que tipo de bens?

Aplicando a fórmula,

Exy = ∆% Q cachorro quente./ ∆%P hamburguer.

Exy= (∆Qc/Qc)/(∆Ph/Ph)

Exy = (20/490)/(0,5/10,25) = 0,04 / 0,048 = 0,83 = 83%

Entendendo o resultado: para cada variação percentual de 100% no preço do hamburger,


a quantidade demandada por cachorro-quente aumentará 83%. Resultado que configura
uma reação expressiva do aumento da quantidade demandada do cachorro-quente à
mudança do preço do hamburguer. Por serem bens substitutos, é de se esperar que o
aumento do preço de um produto gere aumento da demanda de seu concorrente. Do
resultado apresentado não se pode inferir em quanto se reduziu a demanda por hamburger,
que pode ou não ter sido de 0,83%. Apenas podemos afirmar que a demanda por cachorro-
quente deve aumentar em 83% para cada 100% de aumento no preço do hamburger. Os
consumidores, em parte, podem ter migrado para outros substitutos que não o cachorro-
quente, como acarajé ou churrasquinho de gato, por exemplo.

Caso os bens fossem complementares e não substitutos, seria de esperar que a elasticidade
cruzada da demanda entre eles seja inferior a zero. Numa socieadde em que,
predominantemente, se consome café com açúcar, é de se esperar que um aumento das
vendas de café solúvel gere um aumento no consumo de açúcar. Então, um aumento no
preço do café causará uma redução na demanda por café e, consequentemente, uma
redução na demanda por açúcar.

Quando Exy < 0, estamos na presença de bens complementares, como cimento e areia;
Quando Exy > 0, os bens são substitutos, como gasolina e álcool para consumo de um
automóvel flex;
Exy = 0, os bens são autônomos, independentes um do outro, como bananas e livros.

ELASTICIDADE E INVESTIMENTO

Há uma diferença quando se investe para atender uma demanda elástica ao preço ou para
atender uma demanda inelástica.

Exemplo: Imaginamos uma introdução de novas técnicas no plantio de arroz que eleva a
produtividade e gera maior oferta do bem e queda no seu preço. No entanto, a demanda
do arroz é inelástica, isto é, aumenta menos que proporcionalmente à queda do preço.
Portanto, o agricultor inovador pode sofrer retração de suas receitas.

Supúnhamos que o preço do arroz caia de 3 para 2 e a quantidade vendida passe de 100
para 125. Aí, a receita diminui de 300 para 250, apresentando perda de 50.

Neste exemplo, o aumento da produtividade no cultivo do arroz é uma boa notícia para
os consumidores, mas uma má notícia para o agricultor.

Essa situação pode obstruir a produtividade, apresentando um caso em que se faz


necessária uma intervenção governamental para, via política econômica, assegurar um
preço mínimo. O preço mínimo protege o vendedor, mas o governo pode intervir também
para fixar um preço máximo para proteger o comprador. Veremos isso no capítulo sobre
políticas econômicas.

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