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LANA SILVA
 
 
Copyright 2023©

1° edição – abril 2023

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A LANA SILVA

Capa: Snake Designer

Revisão: @gramaticaperfeita
Sumário
Sinopse

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16
Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Epílogo

Agradecimentos

Série Estrelas do Alabama

Redes Sociais
 
 
Josh Dawson é o capitão do time de beisebol da universidade,

badboy e cafajeste assumido, conhecido como o coração de gelo. Ele


sabe o que é ter o coração quebrado e para mantê-lo intacto, ele foi
obrigado a rejeitar uma das garotas mais doces que conheceu quando

ainda era um calouro.

Dakota Evans estuda para ser professora, romântica assumida,

ela só quer encontrar seu príncipe encantado e viver seu conto de fadas.
Ela tem certeza de que esse príncipe não é Josh, o idiota que ela

conheceu no primeiro semestre da faculdade.

Os dois não deveriam se encontrar outra vez, muito menos em

uma aula de teatro. Dakota não suporta Josh, Josh evita Dakota, porém
eles serão obrigados a serem os dois protagonistas de uma peça teatral

romântica.

Dakota será capaz de quebrar as barreiras que Josh construiu ao

redor do seu coração? Josh conseguirá não se apaixonar por Dakota?


Para todas que esperaram ansiosamente pelo Josh, principalmente
a Ingrid.

E mais uma vez, eu escrevi um conto de fadas contemporâneo.


 

2 ANOS ANTES

Dakota

O lugar é afastado da cidade, quase uma casa de campo e está

repleto de universitários. Estamos em uma fila diante uma mesa em que


os estudantes responsáveis pela organização da festa conferem nossos

ingressos, uma bilheteria improvisada.

Eu levo minha mão até minha testa e tento me proteger do sol,


quem faz uma festa logo após o almoço? Está no ápice do calor e estou
prestes a começar ficar suada.

— Hey, será legal.

Abby sussurra ao meu lado, viro-me para o lado e encaro minha

melhor amiga.

— Não duvido, mas ainda acho que deveríamos ter vindo um

pouco mais tarde.

Minha amiga que assim como eu está com a mão sobre sua testa

faz uma careta.

— Talvez, mas já estamos aqui e o táxi foi caro.

Ela tem razão, suspiro e assinto.

— Estamos destinadas a ficarmos sofrendo sobre o sol.

Soo dramática e Abby empurra seu cotovelo contra minha barriga

— Não seja tão mal-humorada, é a nossa primeira festa

universitária.

É a minha vez de fazer uma careta.

— Realmente, estou na pior... a rainha das mal-humoradas está

me chamando de mal-humorada.

Abby sorri debochada e balança a cabeça.

— Não sou mal-humorada.


— Você é.

Ficamos nessa discussão idiota até chegar a nossa vez, então

entregamos nossos ingressos para os organizadores e entramos no local.


É um imenso jardim com um local coberto que parece ser uma casa, mas

é apenas um salão. Pelo gramado, há tendas com bares e até mesmo

locais para comprar comida. Existem puffs, bancos e sofás, lugar para

tirar foto e caixas de som de onde ecoa música eletrônica.

Apesar de ser uma festa universitária, tudo está organizado. O que

me surpreende, esperava ser mais bagunçada, na verdade estava

esperando o caos.

— Vamos pegar uma bebida.

Abby chama minha atenção e eu sigo minha amiga até uma das
tendas, nós pegamos nossos copos de cerveja e saímos caminhar pelo

local. Essa é a maior festa da Universidade do Alabama, organizada pelos

veteranos para recepção dos calouros e arrecadação de fundos.

O lugar é bonito, e no alto, sendo assim é possível observar a

cidade. A decoração é caprichada, apesar de simples, com alguns balões

e assentos para se sentarem e socializarem. Pena que não sinto muita

vontade de socializar, por que eu tenho de ser horrível no quesito de fazer

novas amizades?
Tenho que lembrar a mim mesma que estou na faculdade e aberta

a novas experiências, a conhecer novas pessoas, a fazer amizades e quem


sabe conhecer alguns garotos, a última parte faz meu coração bater

acelerado. Droga!

Por que essa merda tem que ser tão difícil pra mim? Eu consigo

ser desapegada, não é? Não preciso ver romance em absolutamente tudo.

— Você está bem?

— Estou.

Respondo Abigail no automático.

— Você parece distraída, espero que não esteja pensando no


idiota do seu ex.

Abby me conhece desde o jardim de infância, é claro que ela sabe

quando estou distraída.

— Não estou pensando no Ryan, não em absoluto.

Sinto o olhar de Abby sobre mim, olho para o lado e ela tem as
sobrancelhas erguidas.

— Você ainda está pensando naquela sua ideia idiota?

Faço uma careta.

— Não é uma ideia idiota.

Abby revira seus olhos.


— É sim, você não tem jeito para bancar a desapegada, Dakota.

Minha amiga não está tentando me ferir pelo contrário, ela está
tentando me ajudar, porém me sinto ofendida.

— Quem disse que não?

Abby suspira e bebe o restante da cerveja que há em seu copo.

— Você só está tentando superar aquele idiota do seu ex e da


maneira errada, você não é assim, Dakota. — Ela não está errada, mas eu

preciso provar a mim mesma que posso ser diferente. — Não há nada de
errado em ser como você é.

Engulo em seco e olho em frente.

— Nem tudo é sobre Ryan. — Bebo restante da minha bebida. —


Vamos buscar mais cerveja.

Normalmente, não bebo. Normalmente, eu não faço muitas


coisas.

Conforme os minutos passam, mais pessoas chegam e o local está


quase lotado, para onde eu olho há alguém. Abby e eu bebemos,

dançamos e interagimos. Abby não é simpática, mas é melhor do que eu


em socializar.

Pra mim é tudo muito exaustivo, mesmo com o álcool fazendo


efeito e me deixando mais alegre e solta. O sol está se pondo quando
Abby inicia uma conversa com um cara, pelo olhar, entre eles irá rolar
algo bem mais do que uma conversa, por isso faço um sinal para minha
amiga e me afasto. Uma de nós duas merece se divertir.

Eu encho minha caneca com mais cerveja e fico andando pelo


local, as pessoas estão claramente bêbadas e eu estou começando a ficar

embriagada, as luzes estão mais brilhantes e meu equilíbrio não está


perfeito. Procuro um lugar para sentar e encontro um assento de madeira,

com algumas almofadas e é possível observar a cidade e o sol se pondo.


Sento-me e fico pensativa enquanto encaro a vista à minha frente.

Minha primeira festa na faculdade e não flertei com ninguém. Eu

deveria procurar alguém para beijar e provar para eu mesma que eu posso
ser ousada e desapegada. Por que, eu quero fazer isso mesmo?

Porque meu último namorado foi um idiota. Eu acreditava que ele


gostava de mim e que iríamos nos casar no futuro, mas ele terminou

comigo, disse que eu estava sendo uma trouxa em acreditar que o nosso
relacionamento seria duradouro. Pelo amor de Deus, nós temos dezoito
anos, é lógico que terminaríamos em algum momento, essas foram as

palavras deles.

Bebo da cerveja em meu copo.


Ryan me disse que sou romântica e a vida não é um conto de
fadas. Ele está certo, mas eu só achava que seria diferente, que seria
como meus pais que são apaixonados desde sempre. Droga, eu sou

péssima e iludida.

E eu não quero ser mais assim. Minha consciência acusa que não

consigo ser diferente e uma vozinha em meu interior fala que deveria me
levantar e provar a mim mesma que posso não ser a garota romântica.

É só flertar, beijar e transar com alguém desconhecido. Só isso.

Porém, só de pensar em fazer algo assim, meu estômago embrulha.

Trago minha caneca até meus lábios e deixo que o álcool desça
pela minha garganta, quem sabe bêbada, eu consiga ter coragem.

— Por que a princesa está aqui sozinha?

A voz soa perto de mim, mas não a reconheço. Será que alguém

está falando comigo? Olho para o lado e um garoto se aproxima, ele tem
cara de garoto problemático, é loiro, cabelo bagunçado, com alguns fios

na sua testa, seus olhos são escuros e tem um belo maxilar marcado. Ele

é bonito, mas um alarme surge em minha mente, ele parece ser problema

e não preciso de problemas.

Ele claramente está falando comigo e sorrio antes de respondê-lo.

— Estou à espera do príncipe encantado para me salvar.


Zombo e ele faz uma careta. Ele claramente não é nenhum

príncipe.

— Para sua decepção, estou longe de ser um príncipe encantado.

Continua caminhando em minha direção e se senta ao meu lado.

— É uma pena.

Sussurro e bebo o restante da cerveja no copo. Vislumbro a


paisagem de frente e tento ignorar o garoto ao meu lado, apesar de ser

pouco difícil, porque ele é alto, aparenta ser malhado e seu corpo emana

um calor que me faz querer me aconchegar contra ele.

— Você não parece estar se divertindo.

Dou de ombros e continuo observando o sol se pôr.

— Acho que estou na fase em que a bebida me deixa

melancólica.

Ele fica em silêncio e quando acredito que ele desistiu, escuto sua

voz outra vez.

— Estou quase entrando nessa fase também.

Sorrio em solidariedade ao meu novo amigo.

— Sinto muito, é uma péssima fase.

Ele ri e gosto do som que sai da sua boca.


— E o que está deixando você melancólica, princesa?

Suspiro.

— Você já tentou ser alguém diferente?

Falo a verdade e culpo a bebida, jamais me abriria com um


estranho se estivesse sóbria.

— Mais do que você imagina.

Ele fala com tanto pesar que quase sinto sua dor. Talvez seja a

mesma que a minha.

— Bem-vindo ao clube.

Ele ri outra vez e sua risada causa uma sensação estranha em

minha barriga. O vento trás seu perfume até mim, ele é cheiroso.

— Então, por que você fugiu?

Olho para ele e inclino minha cabeça para o lado.

— Eu não fugi.

Seus olhos estão brilhando e aposto que é a bebida, mas gosto


como ele me encara.

— Enquanto todos estão bebendo e dançando, você está aqui.

Volto a deixar minha cabeça reta e dou de ombros.

— Estou observando o pôr do sol.


Faço um gesto na direção que o sol está se pondo e o cara ao meu

lado ergue suas sobrancelhas.

— Só isso?

Sorrio e balanço minha cabeça negando.

— Confesso que festas e bebidas não são muito a minha praia.

Ele me encara curioso.

— E por que está aqui?

— Tentando ser alguém diferente, lembra?

Ele me analisa e eu faço o mesmo. Não me lembro de tê-lo visto,

mas ele parece ser tão novo quanto eu, talvez seja um calouro. Algo em
seus olhos me puxa na sua direção.

— Nós podemos ir para um outro lugar.

Normalmente, eu não faria algo assim, porém hoje não quero

pensar, eu só quero uma fuga. O estranho ao meu lado me oferece sua


mão e eu coloco meus dedos sobre os seus.

Ele fica em pé e me ajuda a levantar, então de mãos dadas,

deixamos as festas e seguimos para seu carro. Meu coração bate


acelerado assim que me sento no banco ao seu lado.

Seu carro grita caro e é óbvio que ele tem dinheiro. Mais uma

vez, minha mente me alerta que provavelmente ele é um garoto


problemático e que deveria me manter longe.

— Espero que você não seja um serial killer.

Zombo, mas uma parte grita que estou maluca por estar confiando

em um estranho. O que tinha nessa bebida?

— Para sua sorte, eu não sou, mas você não deveria ter entrado

em um carro com um estranho.

Ele liga o carro e dirige para longe do estacionamento.

— Eu não faria isso normalmente só para deixar claro.

Ele ri e gosto de como seu rosto se transforma quando curva seus

lábios, some a cara de garoto problemático e o deixa bem mais leve. No

quesito beleza, qualquer expressão que seu rosto assuma, ele continuará
lindo.

— Sorte a sua então que não sou um serial killer.

Ele liga o som do carro e uma música do Elton John inicia, Your

Song, uma música romântica e meu coração dá um solavanco em meu


peito. Droga, Dakota, não vá por esse caminho.

— Um clássico.

— Eu gosto de clássicos.

Quero dizer que eu também, mas apenas assinto e fico em


silêncio. Não trocamos mais nenhuma palavra e mais uma vez, pergunto-
me o que eu estou fazendo.

Encaro a janela ao meu lado e observo as ruas, o sol desaparece


totalmente no horizonte e a lua assume o seu lugar. Ele entra na garagem

de um prédio e meu coração volta a acelerar.

— Eu estou morando aqui por enquanto.

Mais uma vez, assinto e saio do carro. O estacionamento é normal


e olho ao redor enquanto espero por ele, ele não demora a dar a volta e a

se aproximar de mim, entrelaça minha mão na sua e me guia na direção

do elevador.

Assim que a caixa metálica para, entramos e minha mão continua


presa a sua. Eu o encaro e ele faz o mesmo. É como se uma corrente

elétrica estivesse se formando onde temos nossos dedos unidos, ele faz

com que sinta um frio em minha barriga e uma pontada abaixo do meu
ventre.

É impossível fingir que não existe uma tensão entre nós.

Estou suando e não é por conta do calor, meu corpo todo está em
alerta à espera de um toque, de um esbarrão... de qualquer migalha.

Minha respiração está alterada e minha pulsação acelerada.

Enfim, o elevador para e respiro aliviada. Ele me guia para fora e

na direção da primeira porta à direita, abre-a e entramos em um


apartamento, em uma sala ampla, mas com poucos móveis, apenas uma
televisão e um sofá.

— Sinta-se em casa.

Continuo com minha mão presa à sua e o seguindo. Ele me leva


até a cozinha e então solta minha mão.

— Cerveja?

Escuto a voz da minha mãe dizendo para não aceitar bebida de

estranhos, mas a ignoro.

— Sim.

Ele vai até uma geladeira de duas portas e eu me apoio no balcão

que há no cômodo. Enquanto pega as cervejas, envio uma mensagem


para Abby, avisando que estou com alguém, ela me responde pedindo

para que me cuide e não faça nada contra minha vontade.

Guardo o celular em meu bolso. Ele se aproxima com a cerveja e


me entrega, depois cruza seus braços sobre o balcão, ficando de frente

para mim.

— Obrigada.

Agradeço e ele sorri.

— Pela cerveja, ou por ter te resgatado?

Dou de ombros.
— Pelos dois.

Nós dois sorrimos e bebemos a cerveja em silêncio e assim que


nossas garrafas estão vazias, ele se afasta do balcão e vem até mim, ele

para ao meu lado e viro-me ficando de frente para ele.

O ar de repente parece mais denso e algo invisível me puxa em

sua direção.

— Eu posso beijar você?

Meu peito sobe e desce cada vez mais rápido, minha pele está
arrepiada e minha boca seca.

— Você pode me beijar.

Ele diminui a distância entre nós e sua boca quase encosta na

minha. Todo meu corpo anseia por esse toque e fecho meus olhos. Não
sei o que esperar, mas quando seus lábios encontram os meus é como se
uma explosão acontecesse.

É um beijo cru, carnal e repleto de luxúria. Todo meu corpo se


tensiona e implora por mais. Sua língua explora minha boca e ele me
empurra contra o balcão, apesar da minha blusa, sinto o mármore frio

contra minhas costas.

Apoia suas mãos ao lado do meu corpo e sua boca desce pelo
meu pescoço, inclino minha cabeça para o lado e facilito seu acesso. Meu
clitóris vibra e aperto minhas pernas uma na outra, ele percebe e então
traz uma das suas mãos até minha coxa, ele a aperta e um gemido escapa
dos meus lábios.

Continuo de olhos fechados quando ele abre o zíper do meu short


e o empurra para baixo junto com minha calcinha. Não tenho vergonha e

nem receio, nem mesmo quando ele fica de joelhos e aproxima sua boca
do meu clitóris, esqueço completamente enquanto ele me chupa e me
leva a um orgasmo com sua língua e seus dedos me penetrando.

Estou com corpo mole e me sentindo em êxtase quando ele se


afasta e fica em pé. E quando abro meus olhos, ele está a minha frente,

com olhos escuros e um sorrisinho idiota em seus lábios. Ele não fala
nada, apenas puxa minha blusa para cima e me deixa completamente nua,

então me pega em seus braços e me carrega para seu quarto.

Ele me deixa sobre sua cama e tira as suas roupas, eu o observo e


caralho, ele é lindo. É claro que malha, seu abdômen forma aquele V

perfeito, suas coxas são grossas e definidas. Ele pega uma camisinha no
bolso da calça, coloca-a e o meio das minhas pernas volta a desejar mais
dele. Ele é uma visão e tanto.

Olha em meus olhos enquanto caminha na minha direção e meus


seios pesam, levo minhas mãos até eles e ele me encara hipnotizado.
Seus joelhos tocam o colchão e paira sobre mim, suas mãos afastam as
minhas e seus dedos tocam meus mamilos. Fecho meus olhos e deixo que
a sensação percorra meu corpo e resulte em uma fisgada no meio das

minhas pernas.

Debruça-se sobre mim, afasta as suas mãos e as deixa ao lado da

minha cabeça enquanto aproxima sua boca da minha orelha.

— O que você quer, princesa?

Sussurra. Viro meu rosto, abro meus olhos e minha boca fica a
centímetros da sua.

— Quero você dentro de mim.

Seus olhos brilham, ele se guia para dentro de mim e nós dois
fechamos nossos olhos. Assim que me preenche completamente, nós dois

gememos e ele não é delicado, ele me fode sem piedade. Abaixa sua mão
até minha perna e a enrola ao redor da sua cintura, seus dedos me
apertam com força e sei que ficarei marcada.

Nossos gemidos ecoam pelo seu quarto e ele continua entrando e


saindo de dentro de mim com rispidez, o prazer em mim ganha cada vez

mais intensidade, meu corpo queima, convulsiona e pela segunda vez na


noite tenho um orgasmo. Ele continua me penetrando mais algumas

vezes até enfim gozar.


Eu continuo de olhos fechados e minha respiração aos poucos se

normaliza. A sensação de plenitude ecoa pelo meu corpo e gosto de


como estou me sentindo.

Ele se afasta e continuo deitada, volta e me puxa para seus braços.

Não nos conhecemos, mas é agradável estar em seus braços. Eu consegui


cumprir meu objetivo de estar com outra pessoa, de ser algo casual.
Provei a mim mesma que não sou a romântica alucinada como Ryan

disse.

Suas mãos sobem e descem pelas minhas costas, eu me sinto


sonolenta e exausta, não tenho intenção de dormir e até tento me manter
acordada, porém falho.

Acordo sozinha na cama e ao olhar ao redor do quarto, encontro


minha roupa sobre a cadeira em frente a mesa de estudo, então me
levanto e visto minha roupa. Pego meu celular no bolso do meu short e

confiro o horário, são seis da manhã. Ainda é cedo.

Minha boca tem um gosto horrível e o efeito do álcool segue em

meu corpo, a prova disso é o meu equilíbrio e zunido em meus ouvidos.


Eu vou até o banheiro anexado ao quarto e lavo minha boca com água e
pasta de dente, eu daria tudo por uma escova de dente. Arrumo meu

cabelo em um coque bagunçado e suspiro. O que eu faço? Qual são as


etiquetas pós-sexo com um desconhecido? Droga, eu nem sei o seu
nome.

Arrependimento começa a martelar em minha mente e em meu

coração. Que merda eu fiz? Olho para o espelho logo acima da pia e me
sinto deplorável.

Eu não sou assim. Não sou essa Dakota, por mais que tenha sido
bacana, não sou assim.

Envergonhada e com ressaca moral, saio do banheiro e deixo o


quarto do estranho. Encontro-o na cozinha, ele está com uma xícara em
mãos e com o corpo apoiado contra o balcão.

— Você precisa que eu chame um táxi?

Soa rude totalmente diferente do cara da noite passada. Ergue seu


rosto e detesto o seu olhar frio. Ergo minhas sobrancelhas e ele ri

debochado, meu coração para e meu estômago embrulha.

— Você não achou que isso seria mais que uma noite, não é? —
Idiota! Não tenho tempo de respondê-lo, porque ele continua com seu
discurso desagradável. — Você não é do tipo que vê romance em tudo,

não é? Porque, se for, é melhor esquecer qualquer tática que pensa que
irá funcionar comigo.
Cadê aquele cara legal e gentil que conheci na noite passada? Ele
se vira ficando de costas para mim.

— Não estou procurando um relacionamento e muito menos


garotas apaixonadas e românticas atrás de mim.

Fecho meus olhos e respiro fundo, ele precisava jogar na minha


cara exatamente o que Ryan falou? O pior é que nem esperava nada dele.
Não esperava absolutamente nada e ele me deu o seu pior.

— Você é sempre assim? — Sorrio amarga, ele olha para trás e


me encara sem entender. — Usa seu charme, conquista a garota e a trata

como um lixo.

— Não fiz nada demais, você que se iludiu com pouco.

Odeio seu sorrisinho, odeio sua expressão de pena.

— Você é um idiota.

Dá de ombros e volta a ficar completamente de costas para mim.

— Você não é a primeira a dizer isso.

Reviro meus olhos e o deixo na sua cozinha. Ele é um idiota, mas

eu sou mais ainda. Deveria ter confiado no alarme que soou em minha
mente. Estou me sentindo patética, lágrimas acumulam-se em meus
olhos, porém me recuso a chorar e saio do seu apartamento.
 

2 ANOS DEPOIS

Dakota

Guardo minhas coisas em minha mochila, deixo a cadeira que

estava ocupando e subo dois degraus da sala que tem um formato de


anfiteatro, então escuto a voz da minha professora me chamando.

— Dakota Evans.

Eu suspiro e me viro ficando de frente para a mulher alta e

elegante.
— Sim.

Sorrio, um sorriso forçado. Eu sei exatamente o porquê ela está

me chamando.

— Nós podemos conversar?

Eu não tenho nenhuma aula a seguir e nenhum compromisso. E se

mentir? A professora continua me encarando à espera de uma resposta.

Apesar de não estar a fim de conversar com ela, não sou uma fujona e
nem uma mentirosa.

— Claro.

Desço os degraus e paro à frente da sua mesa. Ela está em pé e

continua assim.

— Mais uma vez, você não tem uma dupla para um trabalho.

Mordo meu lábio inferior.

— É a primeira matéria com a senhora.

Justifico na esperança de que ela não tenha conversado com

outros professores.

— Mas não a primeira no departamento e conversei com outros

professores. — É claro que eles conversaram. — Em todas as matérias,

você nunca tem uma dupla e sempre fica nos grupos que sobra vagas.

Suspiro.
— Eu prefiro fazer meus trabalhos sozinha. — Ela me encara
com uma expressão de pena e faço uma careta. — Não é tão ruim assim.

— Você lidará com pessoas, Dakota, pós-universidade.

Dou de ombros.

— Com crianças e com elas, consigo me relacionar. — Justifico,

mas a professora que ensina como podemos aplicar a arte no ensino e

educação para crianças não me parece muito convencida. — Eu tenho

amigos, não são muitos, sou seletiva.

Ela me olha com gentileza e me sinto mal. Meu Deus, é como se

eu estivesse cometendo um crime e apenas não estou fazendo amigos.

— Você tem um ótimo currículo e deveria desenvolver mais a sua

questão social.

— Irei me esforçar.

Minto para que ela me deixe em paz e possa sair dessa sala. Pela
forma como me encara, não acredita em mim. Droga!

— Você deveria fazer aulas de teatro, ajudaria no seu


desenvolvimento.

— Vou pensar.

Eu não vou fazer.


— A matrícula para as aulas de teatro não está aberta, mas eu

falei com a professora e ela irá abrir uma exceção para você.

Fecho meus olhos rapidamente e respiro fundo e quando volto a

abri-los, Gemma está me encarando determinada. Eu não tenho


alternativas.

— Eu não tenho alternativas, não é?

— Não se você quiser recomendação para estágios.

Eu não posso me formar sem estágio e sem recomendação dos


professores é quase impossível conseguir alguma vaga.

— Ok, eu farei as aulas.

Ótimo, ela sorri, abaixa sua cabeça e pega um papel em sua mesa,
em seguida me entrega. É um formulário para a aula de teatro e na parte

inferior do papel, há o nome da professora, e-mail, os dias e local da aula.

A primeira aula é agora.

— Como você pode ver, a aula está prestes a começar.

Sorrio.

— Talvez seja melhor não ir hoje, afinal não será legal chegar
atrasada.

Forço-me a parecer gentil, porém Gemma segue me encarando


com um olhar irredutível.
— A professora estará esperando por você.

Assinto, eu posso fazer algo? Não consigo pensar em nada.

— Melhor eu ir logo.

Dessa vez, não há como vencer. Gemma assente e sorri.

— Você é ótima, Dakota, apenas precisa deixar que as pessoas te

conheçam.

Mostro meus dentes em um sorriso completamente fingido e

aceno para ela.

— Tchau, professora Reese.

— Tchau, querida.

Viro-me, subo os degraus e caminho na direção da saída com um

sorriso falso e pensando em algum modo de fugir dessa maldita aula. O


fato é que não posso não fazer, não quando os professores estão me

pressionando, talvez se fizer algumas aulas e interagir mais com outras


pessoas seja liberada desse mártir.

Sigo para meu carro, um civic antigo e respiro fundo. Eu tenho


bolsa e não posso perdê-la, isso significa que preciso manter minhas
notas altas e os professores ao meu lado, uma reclamação, ou um porém

deles e minha bolsa pode ser reconsiderada, além disso preciso começar a
estagiar.
Suspiro e dirijo para o prédio de artes cênicas. Deixo meu carro
no estacionamento e caminho rapidamente na direção da sala, ou melhor
do auditório. Espero que a aula não tenha começado e espero não chamar

a atenção, não gosto de ser o centro das atenções.

Para meu desespero, não há ninguém na parte de fora do auditório

e a porta está fechada. A aula já iniciou. Suspiro e abro a porta, um grupo


de pessoas estão sentados no chão do palco, uma mulher loira, com

algumas mechas verdes, fica em pé e acena para mim, eu retribuo o gesto


enquanto me aproximo do grupo.

— Olá, Dakota, eu estava esperando por você.

É a professora e ela soa animada, então forço um sorriso.

— Olá e desculpa o atraso.

Foco meu olhar na professora, mas sinto os olhares sobre mim.


Eu coro e continuo caminhando na direção do grupo.

— Recém iniciamos, ainda nem começamos as apresentações.

Ótimo, terá apresentações. Eu gostaria de cavar um buraco no

chão e sumir assim como o Pernalonga[1] faz nos desenhos animados.


Aproximo-me, subo no palco e a mulher simpática me aponta um lugar
no chão.

— Sente-se.
Assinto e olho para baixo, deparo-me com os rostos dos meus
colegas. É uma turma para iniciante e amadores, pelo menos não é
ninguém que entende de atuação. Não serei julgada pela minha

incapacidade de atuar. Os rostos são desconhecidos para meu alívio,


sorrio gentilmente e me sento no lugar indicado pela professora.

A professora está se abaixando para se sentar em seu lugar


quando ouvimos o som da porta sendo aberta, ela volta a ficar totalmente
em pé e eu olho para o intruso, estou longe e não consigo enxergar seu

rosto.

— Opa, desculpa pelo atraso.

Essa voz não é desconhecida. Meu coração dispara. É apenas

parecida, pessoas aleatórias e diferentes têm vozes quase iguais.

— Não se preocupe, nós ainda nem fizemos nossas

apresentações.

O cara que está de boné se aproxima e a primeira coisa que

consigo distinguir é que é um boné de beisebol e do time da

universidade, Crimson Tide. Deus, por favor não seja ele. Eu sou uma

boa garota e não mereço esse carma.

Ele se aproxima e meu coração para em meu peito. É ele. O

maldito Josh Dawson. Merda, milhões de vezes merda. Eu devo ter feito
algo muito ruim na vida passada.

Olho em frente e me recuso a encará-lo. O pior de tudo é que


nosso encontro há dois anos volta a ecoar em minha mente e o ódio que

sinto do babaca vibra em meu peito.

— Eu estava em uma reunião com meu treinador.

Quase deixo um som de desdém sair da minha boca. Imbecil!

Arrogante que acredita que o mundo gira ao seu redor.

— Sem problemas, Josh, sente-se.

Há um lugar vazio ao meu lado, por favor, aqui não. Universo


está decidido a me punir, a professora indica o lugar ao meu lado. Fecho

meus olhos e respiro fundo. Meu dia está mesmo destinado a ser

horrível?

Escuto seus passos e o sinto se sentando à minha esquerda, abro


meus olhos e encaro a professora. Estou tensa e me recuso a olhar para o

Josh, respiro devagar como se isso fosse me evitar mais problemas.

— Estamos todos aqui e podemos iniciar a aula.

Enquanto a professora se apresenta e fala um pouco do curso, sou


atingida pelo perfume do cara ao meu lado. O mesmo idiota que me disse

aquelas grosserias há dois anos, descobri um tempo depois que ele é Josh
Dawson, o jogador de beisebol, se tornou popular rapidamente e é

conhecido como Estrela do Alabama. Uma estrela apática e sem brilho.

Eu não deveria guardar rancor e normalmente não guardo, mas

dele eu tenho e muito. Josh e Ryan ocupam todo o espaço em mim


existente para o desprezo.

Concentro-me na professora que se chama Dayse Hampton, ela

frisa que devemos chamá-la apenas de Dayse e diz que todos iremos
aprender muito em suas aulas. Ela é uma pessoa alegre e comunicativa,

um fato que reflete nas suas roupas coloridas.

— Bom, agora é o momento de vocês se apresentarem. — Sorri

animada e ninguém parece muito entusiasmado. — Você primeiro.

Aponta para a menina ao seu lado, a garota suspira, seu rosto fica

vermelho, mas ela se apresenta. Em seguida, o garoto ao seu lado se

apresenta e assim por diante até a minha vez.

— Meu nome é Dakota Evans, sou de Montgomery, estudo


pedagogia para ser professora das séries iniciais, tenho 20 anos e estou

aqui na aula de teatro para melhorar as minhas relações interpessoais.

Sinto o olhar do idiota sobre mim, mas não olho para ele. Olho
para todos e sorrio, menos para ele.

— Bem-vinda, Dakota.
Assinto para Dayse.

— Obrigada.

Os outros colegas acenam em minha direção e retribuo com o

mesmo gesto. Ótimo, estou interagindo como outras pessoas exatamente

como a professora Gemma queria, será que está bom?

— Você é o próximo.

Dayse faz um gesto na direção de Josh. Mais uma vez, controlo-

me para não olhar em sua direção. Não preciso encarar esse idiota,

egocêntrico e imbecil.

Minha consciência, novamente, acusa que não deveria guardar


rancor, mas foda-se.

— Meu nome é Josh Dawson, sou de Birmingham, estudo

nutrição, mas meu objetivo é ser jogador profissional de beisebol, tenho


20 anos e estou aqui na aula de teatro porque estou precisando de horas.

Eu vejo o brilho no olhar de algumas garotas e reviro meus olhos,

se elas soubessem que ele é do tipo que as descarta como lixo, não

olhariam para ele dessa forma, ou talvez sim, nem todas se importam
com serão tratadas e sim com o status que estar com Josh pode trazer.

— Ótimo. — A professora fica em pé. — Obrigada pelas

apresentações, agora ficaremos em pé e faremos alguns exercícios.


Eu fico em pé assim como meus colegas, nós continuamos em um

círculo.

— Nós iremos nos alongar, porque é importante estarmos

relaxados.

Enquanto reproduzimos os mesmos exercícios de alongamento

que ela, Dayse nos explica o porquê precisamos estar relaxados, está

relacionado com cordas vocais, desenvoltura, timidez e um monte de


outras coisas.

— Perfeito. — Para com os alongamentos e fizemos o mesmo. —

Agora, nós precisamos nos conectar com nossos colegas, então vamos

nos dar as mãos e fazer alguns exercícios de respiração, afinal na


apresentação de peças teatrais, é importante as pausas e respirar

corretamente.

Merda, merda, merda! A minha vida parece estar piorando a cada

segundo. Todos seguram na mão do colega do lado, eu entrelaço meus


dedos na garota à minha direita, mas continuo sem tocar no babaca ao

lado.

Meu coração está acelerado e rezo para que ele simplesmente não
queira segurar na minha mão, sei que minha oração não foi ouvida

quando o sinto se aproximando da minha orelha.


— Eu não mordo, querida.

Querida? Querida, é o caralho. Viro-me para o lado e o encaro


com ódio, ele se afasta e seu olhar encontra com o meu, e então vejo

reconhecimento na sua expressão. Ele só se deu conta de que não é a

primeira vez que cruzamos um com o outro nesse momento. Ele é tão

idiota que ainda consegue me surpreender.

— É claro que você não tinha me reconhecido.

Sussurro apenas para que ele escute, ele me encara surpreso.

— Você!?

Sorrio debochada.

— É um desprazer rever você.

Apenas de olhar para Josh, suas palavras voltam a ecoar em

minha mente. Não estou procurando um relacionamento e muito menos


garotas apaixonadas e românticas atrás de mim.

Sua expressão de surpresa some e ele sorri debochado.

— Você não deveria guardar rancor do que aconteceu há dois

anos.

— Quem você pensa que é para me dizer que não devo guardar

rancor?
Claro, ele pensa que é o rei do universo. Ele abre a boca para me
responder, mas somos interrompidos pela professora.

— Vamos iniciar.

Viro-me em frente e o imbecil pega minha mão e une meus dedos


aos seus. Ódio triplica em meu peito e me pergunto como irei suportar

duas aulas por semana com esse idiota, talvez eu acabe comento um

homicídio.
 

Josh

Desde que eu cheguei, a ruiva ao meu lado me chamou a atenção


e agora, entendi o porquê, é a garota daquele dia. O seu perfume está ao
meu redor desde que cheguei, ele é doce, lembra ao cheiro de flores, e é

achei familiar, porém achei que fosse por ser comum, mas não, é porque

é ela.

A garota daquele dia.

Entrelaço sua mão com a minha e sinto em minha pele uma


sensação de choque, como se uma eletricidade estivesse percorrendo meu

braço, e meu corpo. Aqui está o que tentei evitar naquele dia, a conexão
estranha que sinto ao tocá-la, a sensação de estar sendo puxado na sua

direção. É como se nós dois fôssemos imãs.

Faz dois anos daquela noite e alguns dias ela ainda volta à minha

mente, e agora ela tem nome. Dakota Evans. Maldito momento que
acreditei que fazer teatro seria conquistar horas fáceis.

Péssima ideia, e se eu voltar atrás? Mas preciso de horas e não

conseguirei me matricular em mais nenhuma outra aula, além do mais

não pode ser tão complicado dividir uma aula com Dakota, nós podemos
nos evitar e apenas coexistir um com o outro.

— Todos respirando comigo.

Olho para professora e tento imitar seus movimentos. Ignoro a

garota ao meu lado e me concentro em respirar da maneira correta.


Minha mente é uma merda, porque mesmo evitando, continuo pensando

em Dakota e imagens daquela noite voltam em meus pensamentos,

empurro-as para longe, entretanto seguem insistindo em aparecer em

minha cabeça.

Eu fui um babaca, mas não poderia ser amigável, não poderia

deixar que ela insistisse, porque cederia. Porra, eu estava miserável

naquele dia e ela fez meu humor mudar, ela me fez esquecer de tudo e
sorrir, não sorria há dias. Dakota fez com que meu coração voltasse a
bater e quando acordei com ela em minha cama, eu soube que precisava a
manter distante, nunca poderia saber seu nome, ou dar a oportunidade de

nos tornamos amigos. Precisei ser um idiota.

Mesmo depois de dias, depois da noite que compartilhamos, eu

ainda pensava nela, em seus olhos, no seu toque e principalmente em seu

sorriso. Ela é um perigo, ela é exatamente o que tenho evitado.

A professora encerra o exercício e diz que podemos soltar as


mãos um do outro, faço imediatamente e sinto falta do seu contato.

Minha vontade é me virar para o lado, observá-la e fazer alguma

piadinha, talvez conseguir a irritar, afinal ela fica linda irritada, mas não

faço, porque um alarme soa em minha mente.

Manter a distância.

Dayse inicia um pequeno discurso sobre como devemos ter

segurança e como devemos nos sentir protagonistas da nossa própria

vida. Ela até faz um exercício onde devemos fechar nossos olhos e nos

imaginar como um Sol, é patético e preciso me controlar para não rir

enquanto mantenho meus olhos fechados.

Não converso com a garota ao meu lado, não olho para ela e faço

de tudo para ignorar sua existência. Ela é apenas uma desconhecida.


Preciso repetir essa frase a mim mesmo mais vezes do que gostaria,

principalmente quando seu perfume me atinge.

Droga, faz dois anos... ela deveria ter trocado de perfume.

A aula parece durar uma eternidade, não sei se é pelo meu estado
de espírito, ou se realmente é um tédio. Assim que a professora encerra,
pego a mochila que deixei no chão e saio do palco. Não falo com

ninguém e caminho na direção da porta. Não vim fazer amigos, nem


interagir, só preciso das minhas horas.

Meu celular vibra em meu bolso, então apoio meu corpo contra a
parede ao lado da porta e pego o aparelho. É uma mensagem de Ethan em

nosso grupo, ele está lembrando Aiden que hoje é o seu dia de fazer o
almoço. Se nós não o avisarmos, ele esquece por conta do TDAH. Ele

ainda não respondeu, mesmo assim, envio uma mensagem e o marco.

“Espero que você esteja inspirado, porque estou morrendo de fome.”

— Você é sempre assim?

Desvio o olhar do celular e ergo minha cabeça. Deparo-me com


Dakota deixando a sala e parando logo à minha frente, ergo minhas

sobrancelhas e ela sorri debochada.

— Mal-educado, nem um tchau, ou até logo.


Mesmo com uma expressão debochado em seu rosto, ela é fofa e

doce, ela é como uma princesa dos contos de fadas. Dou de ombros.

— Não estou aqui para fazer amigos como você.

Sorrio e ela faz uma careta.

— Sempre tão gentil.

Há raiva em seus olhos. É claro que ela guarda rancor do que


aconteceu no passado, se eu fosse ela, também guardaria.

— Eu fui gentil com você. — Dou um passo em frente e me


aproximo dela. — Quando estava dentro de você.

Suas bochechas assumem um tom de vermelho e a raiva em seus


olhos se intensifica.

— Você é um idiota.

Quero a manter longe, quero que ela realmente acredite que eu

sou um idiota, mas há algo sobre provocá-la que faz uma sensação de
satisfação vibrar em meu peito.

— Não é a primeira vez que você me diz isso, princesa.

Se um olhar fosse capaz de matar, eu estaria morto nesse


momento.

— Espero que alguém acerte uma daquelas bolas de beisebol em


sua cabeça e você sangre até morrer.
Ela deveria soar ameaçadora, porém ela é tão adorável que
preciso me controlar para não rir. Dakota percebe e revira seus olhos, ela
se vira ficando de costas para mim e se afasta enquanto resmunga uma

série de xingamentos. Não é a primeira vez que sou xingado por uma
garota.

Observo-a caminhar pelo corredor, ela é bonita e mantenho meus


olhos em sua bunda. Perco-a de vista, então me afasto da parede e

também sigo para a saída.

Eu vou até o estacionamento, entro no meu Jeep e como não


tenho aula pela tarde, dirijo para casa. Espero que hoje Aiden esteja

inspirado para cozinhar.

O som está ligado em uma rádio qualquer e toca uma música pop,

uma música que me lembra a Dakota, ela tem cara de quem gosta do
estilo musical. A garota que por muito tempo não teve nome, agora tem

um, Dakota, e combina com ela.

Se fechar meus olhos e forçar minha mente, eu posso sentir o

gosto dos seus lábios.

Balanço minha cabeça e foco meus pensamentos em outra coisa.

Antes da aula de teatro, eu estive com meu treinador, nós conversamos


sobre os objetivos do time esse semestre e sobre a próxima temporada,
como sempre trabalharemos para ganhar o College World Series[2], nós

ainda não temos um título, mas estamos trabalhando arduamente por isso,
e é com esse intuito que mesmo longe do início da temporada, iremos

iniciar os treinos e os amistosos.

Eu como capitão do time irei fazer o meu melhor, darei tudo de

mim.

Não demoro a chegar em casa, deixo o carro estacionado na

entrada, pego minha mochila e caminho na direção da entrada. As vozes


vindas da cozinha denunciam que os caras estão aqui, vou até lá e os

encontro cozinhando, melhor Aiden está cozinhando, enquanto Ethan e

Dylan estão sentados de frente para a ilha que ocupa o meio do cômodo.

— O que você prefere ser mordido por um tubarão ou ser picado


por mil formigas ao mesmo tempo?

Olho para Ethan com as sobrancelhas erguidas.

— Qual motivo da pergunta?

Sorri debochado.

— Estamos em um dilema.

Eu vou até ele, jogo minha mochila no chão e me sento ao lado de

Dylan.

— A mordida do tubarão pode ser em qualquer parte do corpo?


Os três me encaram sem saber como me responder e sorrio

vitorioso.

— Nós não tínhamos pensado nisso.

Aiden confessa.

— Sempre soube que sou o mais inteligente de nós quatro.

Ethan revira seus olhos e Dylan faz uma careta.

— Eu sou o mais inteligente.

Balanço a cabeça negando.

— Você é o mais sensível, Dylan.

— Você é o mais idiota.

Dylan resmunga e dou de ombros.

— Você não é a primeira pessoa que me chama de idiota no dia.

— O importante é que eu sou o mais bonito.

Aiden se vangloria e no mesmo instante Ethan fica em pé.

— Eu sou o mais bonito e o mais aclamado.

Abre os seus braços e em seguida a ponta para si mesmo. Às

vezes, eu acho que ele realmente acredita que é um deus.

— Ethan, você é ridículo.


Meu melhor amigo desde a infância simplesmente ergue o dedo

do meio em minha direção e segue rindo.

— Como as garotas podem gostar dele?

Dylan me pergunta e faço uma careta.

— Eu me pergunto todos os dias como ele e Aiden conseguem ser

tão populares.

— Eu sou uma ótima pessoa.

Nós três discordamos de Aiden e entramos em uma discussão de


qual de nós três é o melhor.

— Talvez, devêssemos fazer uma pesquisa de opinião.

Ethan sugere, ele realmente está convencido de que é o melhor.

— Uma enquete no Instagram.

Embarco na sua ideia, podemos estar apenas nos provocando e

zoando, porém não temos limites. Nunca tivemos e não será agora que

passaremos a ter.

— É óbvio que o vencedor será o dono do Instagram.[3]

Aiden está certo e uma ideia surge em minha mente.

— Vamos criar uma conta e podemos divulgar em nossos storys.

— Dou de ombros. — É o mais justo.


Meus amigos concordam e começamos a fazer a nossa conta na

rede social, usamos a maneira como chamados na universidade, Estrelas


do Alabama, nós fizemos a enquete, quem é o mais incrível de nós

quatro, divulgamos em nossas contas individuais e claro que

incentivamos a votarem em nós.

Aiden termina o almoço, sentamo-nos os quatro ao redor da ilha e


almoçamos. Assim que acabamos, eu começo a limpar a cozinha, porque

é a minha vez. Meus amigos ficam assistindo e seguimos acompanhando

nossa enquete, nós já temos mais de dois mil seguidores e Dylan está
ganhando, Ethan está em segundo, depois Aiden e eu sou o último.

— Não estou entendendo o porquê estou perdendo.

Resmungo e Ethan aponta seu dedo em minha direção.

— Deve ser, porque você já quebrou o coração da metade das


garotas do campus.

Balanço minha cabeça negando, porém há um sorrisinho

debochado em meu rosto.

— Isso é uma calúnia contra minha pessoa.

Eu não tenho culpa se elas são iludidas.

— Você é tão idiota.


Dou de ombros e não me sinto nem um pouco culpado, melhor

elas do que eu, além do mais não é exatamente como eles estão falando.

— Sempre deixo claro que é apenas sexo, aliás elas conhecem

minha índole, por que insistem em achar que irei mudar?

Não é como se eu prometesse o mundo para elas, entretanto elas

sempre esperam mais, talvez, atraia mulheres assim.

— Isso é uma ótima pergunta, inclusive acho que irei usar para o
meu trabalho de conclusão de curso. — Ethan debocha. — Por que

continuam caindo na conversa de Josh mesmo sabendo da sua fama de

sem-coração?

Sorrio.

— Se conseguir uma resposta, por favor compartilhe comigo.

Nós continuamos a conversa por mais um tempo até que meus

amigos me abandonam para irem jogar videogame na sala. Eu termino de

limpar, pego minha mochila e subo para meu quarto.

Retiro o meu celular do meu bolso, deixo a mochila sobre a mesa

de estudos e me jogo na cama. Abro o perfil da minha irmã e a envio

uma mensagem.

“Hey, como você está?”

Ela me responde imediatamente.


“Bem e você?”

“Estou bem, eu conversei com nosso pai ontem...”

Respiro fundo, sento-me no colchão com as costas apoiadas na

cabeceira e passo minha mão livre pelos meus cabelos. John Dawson me

enviou uma mensagem e pediu para que eu conversasse com minha irmã

rebelde, porque ele claramente não tem tempo para fazer isso, assim
como a idiota da sua mulher.

“Ele enviou mensagem fazendo fofoca, não é?”

“Ele me disse que você fez mais uma tatuagem e está chegando em casa

pela madrugada bêbada.”

Ele utilizou a palavra chapada, mas é melhor não contar isso para

Tessa.

“Eu estou apenas me divertindo.”

“Cuidado, Tessa, não faça besteiras apenas para desafiar seus pais.”

Eu posso imaginar o porquê das escolhas da minha irmã, só

queria que ela entendesse que vivendo dessa maneira, seus pais ainda

estão vencendo.

“Eu não estou fazendo nada demais, o único problema é que não estou

sendo a filha perfeita que eles esperam que eu seja.”


Encaro o aparelho procurando as palavras certas, não sou o
melhor em conselhos. Uma parte minha inclusive queria incentivar

minha irmã a continuar desafiando seus pais, os idiotas com certeza

merecem, porém, a parte racional que existe sabe que se ela está apenas
sendo rebelde, ela está se prejudicando também, vivendo de qualquer

forma em função deles.

“Faça apenas o que é melhor para você, Tessa.”

Ela demora a me enviar uma nova mensagem e quando faz, me

surpreendo com o que está escrito.

“Eu fui aceita na universidade, Josh.”

Tessa terminou o ensino médio no semestre passado e se recusou


a entrar na faculdade, um claro desafio aos seus pais e estou realmente

surpreso com sua decisão.

“Qual universidade você irá escolher?”

Tessa é inteligente e tem escolhas, uma parte minha quer que ela

venha para Tuscaloosa, ela é a única pessoa da minha família que me


importo e gostaria de tê-la por perto.

“Eu vou para Tuscaloosa.”

Sorrio animado e pelos próximos minutos conversamos sobre a


universidade. Estou feliz com sua escolha. Ela se despede de mim,
porque irá encontrar uma amiga, eu continuo com o celular em mãos,
então abro o Instagram e procuro pelo seu nome, Dakota Evans.

Apesar do tempo com meus amigos e com minha irmã, lá no

fundo da minha mente, ainda continuo pensando nela.

Encontro sua conta e fico um tempo vendo as suas fotos. Ela é só

uma garota normal, por que ela me chama tanta a atenção?


 

Dakota

Uma semana de aula e já estou precisando de férias, como a


universidade tem a capacidade de sugar sua alma? Caminho pelo
corredor, buscando todo ânimo existente em mim, porém é difícil,

primeiro porque será a minha segunda aula de uma manhã de quinta-feira

e segundo porque será a terceira aula de teatro.

A segunda aula foi tão chata quanto a primeira, porém para minha

sorte, não me sentei ao lado de Josh e nem fui obrigada a interagir com

ele, por mais que tenha sido difícil, evitei até mesmo olhar para ele. Eu
agi como se ele não existisse e espero conseguir fazer o mesmo hoje.
Eu entro na sala e como nas outras aulas, estou atrasada, a culpa

não é minha, a culpa é da minha primeira aula que é do outro lado do


campus.

— Hey, Dakota.

Sorrio e a respondo assim que estou perto o suficiente para ela me


ouvir, minha voz não é tão alta quanto a sua.

— Hey, professora Dayse.

Ela está sorridente e está usando um dos seus vestidos coloridos,

semana passada ela usou um verde e um vermelho, hoje ela está de azul.

— Só faltava você.

Ela não está me acusando, mesmo assim sorrio, um sorriso

forçado.

— Desculpe, minha aula anterior a essa é um pouco longe.

Segue sorrindo compreensiva. Meu Deus, essa mulher é a rainha

do bom humor!

— Desculpa, querida, hoje nós iremos continuar trabalhando em

círculo em um primeiro momento.

Posiciono-me no círculo ao lado de uma garota, cumprimentamos

com um sorriso e a professora inicia os exercícios, primeiro os focados

em oratória e depois os de desenvolvimento de autoestima, afirmamos


que somos o Sol, os protagonistas das nossas vidas, pessoas únicas e
especiais. Eu me sinto envergonhada de fazer o que estou fazendo, e

miserável.

Depois de alguns minutos, fazendo alguns gestos bastante

constrangedores, a professora para, sorri e deixa suas mãos apoiadas em

sua cintura.

— Hoje, nós iremos fazer algo que ainda não fizemos. — Faz
uma pausa para criar uma expectativa. — Conhecermos um ao outro.

Seus olhos estão brilhando, seus lábios curvados em um sorriso


imenso, ela realmente está empolgada. Olho para meus colegas e nem

um compartilha a animação da professora.

— Vamos nos dividir e nos sentarmos um de frente para o outro,


faremos rodadas de cinco minutos e quero que vocês falem de

qualidades, defeitos, hobbys e todos devem conversar entre si, cada vez

que meu apito soar, vocês devem trocar de dupla.

Continua nem um pouco abalada pelo nosso desânimo. Após sua

última palavra, leva o apito até sua boca e o som ecoa pelo ambiente.

Demoramos alguns segundos, até enfim começarmos a procurar alguém

para conversarmos e assim que achamos, nos sentamos e iniciamos o

bate-papo forçado.
A primeira pessoa com que converso é uma garota da

administração, ela assim como eu não é muito boa de interação e ficamos


cinco minutos tentando encontrar um assunto em comum. Somos

péssimas. É um alívio quando o apito soa, rapidamente ficamos em pé e


procuramos pela próxima dupla.

A segunda é mais extrovertida e conduz nossa conversa, ela faz


direito, é de uma cidadezinha pequena, não tem irmãos e ama cozinhar.
Eu realmente gosto de conversar com ela.

Conforme os minutos vão passando, eu vou me soltando e


consigo manter boas conversas. Descubro que uma das meninas ama

livros e filmes de romance e nos empolgamos no assunto. Um dos caras


me chama para sair e eu nego, outro me conta que é gay, e o último fala
do seu gato.

O apito soa, despeço-me do meu colega e fico em pé, procuro por


alguém que ainda não conversei, mas não encontro.

— É a última rodada, ou seja, existe uma única pessoa para cada


um.

Respiro fundo e entro em negação. Ele não, ele não, ele não. Um
arrepio sobe pelo meu corpo ao mesmo tempo que escuto sua voz.

— Somos você e eu, princesa.


O idiota teve coragem de me chamar de princesa. Como não

posso simplesmente sair correndo, viro-me e fico de frente para ele.


Sento-me e fico analisando minhas unhas. Continuarei fingindo que ele

não existe e evitando olhar em sua direção, como eu fiz até agora.

— Pontualidade não é uma das suas qualidades. — Sigo em

silêncio, embora minha vontade seja xingá-lo. — Nós deveríamos


conversar e nos conhecer.

Dou de ombros.

— Eu não quero conhecer você.

Continuo fitando minhas unhas, elas estão precisando de um


esmalte novo, talvez deva pintá-las de rosa.

— Não acho que temos uma escolha.

Sorrio debochadamente.

— Eu conheço você o suficiente, um idiota que se acha o rei do

universo.

— Do universo não, mas da Universidade do Alabama meio que

sim.

Inacreditável! Ergo minha cabeça e ele tem os braços cruzados e

me encara com um olhar divertido.


— Tudo isso pelo título ridículo que associam a você e a seus
amigos?

Enruga seu nariz, como se estivesse pensando. Como se ele fosse


capaz de pensar...

Balança a cabeça negando.

— Não apenas isso. — Ergue sua mão e começa a enumerar os


motivos por quais se considera um rei. — Um todos me conhecem, dois

tenho muitos fãs, três as garotas me amam e os cara me bajulam.

Reviro meus olhos.

— Você é ridículo, Josh.

Abaixa sua mão e o seu sorriso se desfaz.

— E você, Dakota? — Ergo minhas sobrancelhas. — Você se


considera uma rainha?

Olha em meus olhos como se estivesse me analisando. Faço uma


careta, o que ele está querendo dizer? Melhor onde ele quer chegar?

— Não sou uma maluca egocêntrica como você.

Sorri, um sorriso irônico e uma sombra estranha surge em seu


olhar. Qual o problema desse garoto?

— Você é perigosa.

— Eu sou perigosa?
Pergunto incrédula e ele assente.

— A garota que aparenta ser romântica, gente boa, sorridente e

ingênua.

Odeio a forma como ele se refere a mim, como se me conhecesse.


Ele não sabe nada sobre mim.

— Você não me conhece. — Ele apenas segue me encarando. —

Você é maluco.

Nós dois ficamos em silêncio e volto a olhar para minhas unhas,

sinto seu olhar sobre mim, mas continuo ignorando o maluco.

— Você deveria desistir dessa aula.

Paro por alguns segundos, o que ele falou? Ele falou essa merda
mesmo? Olho para cima e o fuzilo.

— O que você está querendo dizer?

— Desista dessa aula, não nos suportamos, então é melhor nos

evitarmos.

Sorrio incrédula.

— Desista você.

Quando eu acho que ele não pode piorar, ele consegue me provar
que estou errada.

— Eu preciso mais dessas horas que você.


Suspira, como se não estivesse me pedindo nada demais.

— Por que você não me suporta, Josh?

Não desvio os olhos dos seus. Eu tenho motivo para não o

suportar, porém eu nunca fiz nada para esse maluco.

— Tenho meus motivos.

Cruzo meus braços assim como ele e o encaro com meu olhar
mortal.

— Josh, se você quiser, você desista, eu não vou desistir por

causa de um idiota como você.

O apito soa, mas continuo sentada, assim como o idiota a minha

frente. Fuzilamo-nos através dos nossos olhos.

— Não vou desistir.

Dou de ombros e sorrio.

— Eu também.

— O exercício terminou, pessoal.

Olho uma última vez para Josh, com todo desprezo que há em

mim, e fico em pé.

— Tenha um péssimo dia, Josh Dawson.


Viro-me e me afasto do babaca. Quem ele pensa que é para me

pedir para desistir de algo? Egocêntrico, idiota, tolo, imbecil... falta

adjetivos no meu vocabulário para o xingar.

A professora usa o restante da aula para falar sobre a parte teórica


do teatro, eu não consigo assimilar muito do que ela está falando, porque

estou com muita raiva e tudo que consigo fazer é encarar Josh e desejar

socar seu rosto bonito.

Por que ele tem que ser bonito? Cabelos loiros, olhos escuros,

maxilar quadrado e marcado, uma mistura de Ken[4] com badboy.

Assim que Dayse diz que estamos liberados, eu pego minha

mochila e caminho para a saída. Tudo que eu quero é fingir que essa

manhã nunca existiu.

Sigo para o estacionamento e entro em meu Honda Civic[5]. A

raiva ainda está vibrando em meu peito e respiro fundo. Aquele idiota
não merece nem meu ódio, eu preciso continuar ignorando sua

existência, como fiz na aula passada.

É exatamente isso que eu farei, irei o ignorar e será como se nem

estivéssemos no mesmo ambiente.

Como hoje é terça, dirijo para o lar de idosos. Toda terça-feira eu

vou até o Sweet Home e almoço com os senhores e senhoras, a maioria


deles quase não recebe visitas e ficam alegres com a minha presença.

Eu comecei a fazer as visitas em um lar de idosos em


Montgomery para receber pontos para a admissão na faculdade e gostei

mais do que achei que iria gostar. Os senhores e senhoras amam

conversar, sempre tem histórias para compartilhar e em cada visita

sempre acabo rindo muito.

Deixo o carro no estacionamento e sigo para o prédio, na entrada

a recepcionista sorri para mim e aceno para ela. Eu sigo até a sala de

convivência onde a maioria sempre está, encontro ela cheia, algumas


senhoras estão fazendo seus crochês, alguns estão jogando xadrez e

damas, e outros estão ao redor de uma mesa redonda jogando carteado.

Eles sorriem e acenam na minha direção, eu vou até alguns,


recebo abraços e beijos, e até algumas reclamações, do tipo “minhas

costas estão doendo”, outros o problema é a hérnia de disco.

Phillip, um senhor de cabelos brancos e um dos meus preferidos,

me chama para ir jogar damas com ele e eu vou, sento-me na cadeira à


sua frente e uma mesa com o tabuleiro fica entre nós.

— Hey, querida.

Sorri animado.

— Hey, Phillip, tudo bem?


Faz um tempo que fui proibida de chamá-lo de senhor.

— Tudo sim e com você?

Suspiro e mordo meu lábio inferior. Não são apenas eles que

desabafam comigo, eu também desabafo com eles.

— O senhor era do tipo babaca quando jovem?

Ele faz sua primeira jogada e seus olhos me analisam.

— Defina babaca?

Faço minha jogada enquanto o respondo.

— Do tipo que trata mal uma garota.

Faz uma careta.

— Eu não trataria uma garota mal, ainda mais se ela fosse bonita.

Confessa e reviro meus olhos. Phillip tem oitenta anos e foi


casado quatro vezes, ele com certeza foi um cafajeste quando mais novo,

além do mais ele foi um jogador de futebol americano. Atletas e suas

índoles duvidosas.

— Vocês homem são um problema, sabia?

Ele ri e balança a cabeça de um lado para o outro.

— Qual motivo da sua aversão repentina a homem?

— Há um idiota sendo um idiota comigo.


Segue rindo e faz um sinal com a mão para que eu conte mais,

então eu faço. Faço um breve resumo da minha relação com Josh.

— Eu acho que ele tem medo de você.

Uma risada irônica escapa entre meus lábios.

— Medo de mim? Eu sou inofensiva.

Phillip me encara com um olhar que diz que eu não sei de nada
sobre a vida.

— Talvez, ele tenha medo de se apaixonar por você.

Balanço minha cabeça negando.

— Nós ficamos apenas uma vez, ele não iria se apaixonar por
mim em um único dia.

Phillip continua me encarando com seu olhar superior.

— Mas poderia ter sentido que se apaixonaria por você. —

Enrugo minha testa e mordo meu lábio inferior. Não faz sentindo algum,
ou faz? — Ou você desperta algum dos seus medos, ou lembre alguém,

ou ele seja do tipo que não acredita em você.

Ergo minhas sobrancelhas.

— Não acredita em mim?

Essa conversa está confusa e Phillip parece estar falando por

códigos, um código que não estou entendo.


— Você é diferente, Dakota, você tem um brilho, uma leveza,
você poderia ser uma protagonista de um conto de fadas, uma princesa.

— Engulo em seco, porque é como Josh me chamou quando nos

conhecemos e hoje. — Nem sempre é fácil acreditar que pessoas como


uma aura tão boa realmente existam.

Ele faz sua jogada e encaro o tabuleiro. Suas palavras ainda são

confusas e continuo não entendo o porquê Josh foi e é tão idiota comigo.

— Sabe, o idiota não merece que nós dois perdemos nosso

precioso tempo falando sobre ele, vamos mudar de assunto. — Faço

minha jogada e ergo meus olhos até o seu rosto. — Me conte sobre você

quando era jovem.

— Eu ainda sou jovem.

Controlo-me para não rir.

— Claro.

— O que importa é alma, garota.

Nisso eu concordo com ele e por isso apenas assinto. Pelos


próximos minutos enquanto jogamos, Phillip me conta sobre seus casos
de amor e sobre como era um cafajeste.

— Você era um idiota, Phillip.

— Eu era solidário, tinha Phillip para todas.


Nós rimos e continuamos o jogo, Phillip como sempre ganha,
então vamos para o refeitório, nós pegamos nosso almoço e nos juntamos
a um grupo de senhores e senhoras que estão ocupando uma das mesas

espalhadas pelo lugar.

É um almoço repleto de histórias e risadas e meu rosto está


doendo de tanto que eu rir quando deixo o lar. É bom estar com eles,

porque me faz esquecer do Josh e da nossa conversa desastrosa de mais


cedo.

Após deixar o lar, eu vou para minha aula de Psicologia


Educacional e assim que ocupo uma cadeira, escuto as meninas à minha

frente conversando sobre as Estrelas do Alabama, curvo meu corpo para


frente e tento escutar sobre o que estão falando. Elas estão olhando uma
foto deles, no Instagram do jogador de hóquei, não as conheço, mas

quando elas falam que Josh é o mais bonito, reviro meus olhos e não
consigo me controlar.

— Ele é um idiota.

As duas olham para trás.

— Você o conhece?

Sorrio debochada.
— Sim, nós tentamos ficar, mas não aconteceu, porque ele não
deu conta.

As garotas me encaram surpresas e uma sensação satisfatória ecoa


em meu peito.

— Ele brochou?

Suspiro, deixo que uma expressão desolada tome conta do meu


rosto e assinto.

— Infelizmente.
 

Josh

Entro no auditório onde acontece as aulas de teatro e procuro por


ela, claro que Dakota não está aqui, porque sempre chega atrasada.

A professora nos orienta a nos sentarmos nas cadeiras de frente


para o palco, porque hoje aprenderemos algumas teorias sobre a arte de

interpretação. Escolho uma das poltronas da ponta e do lugar sou capaz


de enxergar a entrada, eu quero ver Dakota quando ela chegar. Quero

olhar em seus olhos. Quero que ela saiba que eu sei da sua mentira.

Dakota parece ingênua e inofensiva, mas inventou que eu

brochei. Isso nunca aconteceu comigo e agora tem garotas duvidando da


minha capacidade sexual. Há dois dias recebi uma mensagem em meu

direct de uma das minhas seguidoras me perguntando se Dakota Evans


estava falando a verdade quando disse que eu não tinha dado conta, é

claro que desmenti, mesmo assim o boato está rolando pela universidade.

É uma questão de tempo até meus amigos e meus colegas de time

ficarem sabendo. O que ela estava pensando quando criou essa mentira?

Eu tenho uma reputação a zelar. A maioria das pessoas pode não


acreditar, mas uma parcela usará dessa mentira para me difamar. E se os

times rivais ficarem sabendo?

Deus, eu estou prestes a me tornar uma piada.

Dayse está sobre o palco e fala sobre o que iremos conversar

durante a aula, eu não consigo prestar atenção nela, porque estou

concentrado na porta. Será que ela não vem? E se ela desistiu como

sugeri na terça-feira? Seria ótimo se ela tivesse atendido meu pedido.

Como Dakota é a pedra no meu sapato, abre a porta depois de

cinco minutos do início da aula. A professora a saúda animada e Dakota

olha ao redor do auditório, mas desvia os olhos ao me perceber. Cretina.

Ela se senta do outro lado do corredor e não olha em minha

direção em nenhum momento, ela está me ignorando completamente.


Minha raiva se intensifica. Dakota me incomoda por mexer comigo, por
sua mentira e agora por me ignorar.

Minha consciência acusa que dou muita importância para uma


garota, deveria simplesmente a ignorar e seguir minha vida como se

nunca a tivesse acontecido.

Porém, não consigo e isso me deixa com mais raiva.

A professora Hampton fala sobre técnicas de interpretação usada

por atores e atrizes, entretanto não consigo absorver nada do que ela fala.

Sigo olhando para Dakota e observando escrever algo em seu caderno,


ela está concentrada e está mordendo parte do seu lábio e franzindo seu

nariz.

Seu cabelo ruivo está preso em um rabo de cavalo e posso ver


algumas das suas sardas. Ela é tão linda, como um anjo. Um anjo que

está tentando acabar com a minha reputação.

A aula chega ao fim e espero ela sair, Dakota está caminhando

pelo corredor, então deixo meu lugar e caminho logo atrás dela. Ela me

deve satisfações.

— Por que você mentiu?

Pergunto assim que passamos pela porta e pisamos no corredor,

ela para e olha para trás.


— Menti?

Encara-me com uma falsa indignação em seu rosto. Dou um

passo em frente e sussurro para que apenas ela escute.

— Você espalhou por aí que eu brochei.

— Eu espalhei? Nem lembro de ter dito algo assim.

Estreito meus olhos.

— Desminta esse boato.

Sorri e dá de ombros.

— Por que eu faria isso?

Seus olhos refletem sua determinação e suspiro.

— Porque é mentira.

— Eu não farei isso.

Estreito meus olhos.

— Você fará.

Seu olhar ganha um brilho provocativo.

— Só faço isso se você desistir da aula de teatro.

O quê? Ela está maluca? Dou um passo para trás e passo a minha

mão pelo cabelo.

— Não vou desistir.


Ela me encara determinada e dá de ombros.

— Então, não vou desmentir o boato.

— Isso não é um jogo, Dakota, minha reputação está em risco.

Ela ri e tapa sua boca com a mão para evitar a gargalhada.

— Desculpe ter ferido a reputação do coitado do capitão do time

de beisebol.

Sua voz soa cheia de desdém. Droga, ela está levando meu apelo

como brincadeira.

— Eu estou falando sério, Dakota.

— Eu também.

— Por que você está fazendo isso?

Ela não hesita e nem parece constrangida por estar mentindo.

— Porque você foi um idiota comigo.

— Então, é uma vingança?

Sorri, um sorriso de quem está muito satisfeita com sua mentira.

— Sim, você não pode ser um idiota e achar que está tudo bem.

Inacreditável, ela está se vingando de mim.

— Nunca te contaram que vingança envenena a alma?

Faça uma expressão de deboche.


— Olho por olho, dente por dente, querido.

Eu abro minha boca, porém antes que possa dizer algo, ela se vira

de costas e se afasta. Fico a observando, talvez, devesse desistir dessa


aula, eu posso implorar para meu treinador me ajudar a conseguir outra
matéria, porém não quero que Dakota vença.

Entrar nesse jogo com ela pode ser perigoso, mas foda-se, eu sou
competitivo e não vou perder para uma garota. Não vou desistir.

Eu deixo o prédio de artes cênicas e dirijo para casa. Nenhum dos


caras está e não virão para almoçar, por isso peço comida por aplicativo e
almoço enquanto assisto a uma série na televisão.

Como não tenho treino e as aulas ainda são recentes para ter algo
para estudar, eu fico na sala durante a tarde jogando videogame, perco

noção do horário e mesmo quando Ethan chega e se senta ao meu lado,


continuo concentrado jogando.

— Está ganhando?

Faço uma careta.

— Não exatamente.

O idiota do meu amigo ri e pega um dos controles.

— Vou te ensinar como jogar.

Reviro meus olhos.


— Primeiro, você teria que aprender a jogar.

Ethan e eu ficamos em silêncio e direcionamos toda nossa

atenção para a televisão a nossa frente. Nós somos péssimos e depois de


perdemos duas vezes, desistimos. Deixamos os controles de lado,
colocamos em um canal de esporte e nos jogamos contra o sofá.

— Tessa virá para Tuscaloosa mesmo?

Ethan é meu melhor amigo há anos, ele conhece minha família e


seus problemas.

— Acho que sim. — Dou de ombros. — Mas tudo pode mudar,

minha irmã continua tentando chamar a atenção dos pais.

— Ela irá ficar com a gente?

Faço uma careta.

— Lógico que não, quero minha irmã longe de vocês.

Olho para o lado e ele está me encarando com malícia.

— Iríamos adorar ter uma garota nessa casa.

Ethan está apenas me provocando, ele conhece Tessa desde que

ela tinha quatro anos, nunca tiveram nada e ele nunca deu em cima dela.

— Uma garota nessa casa?

Aiden escolhe esse exato momento para entrar em casa e suspiro.


Agora terei que aguentar os dois me provocando.
— O que você acha da irmã do Josh morando com a gente?

Aiden sorri debochado e caminha em nossa direção.

— Ela pode ficar no meu quarto.

Eu pego a almofada ao meu lado e jogo na sua direção.

— Fiquem longe da minha irmã.

Os dois ficam rindo de mim, Aiden ocupa a poltrona ao lado do


sofá e me encara com as sobrancelhas erguidas.

— Isso é sério?

Balanço minha cabeça negando.

— Não, minha irmã não irá ficar com a gente.

— Eu seria um ótimo cunhado.

Pisca para mim e faço uma careta.

— Você é um puto, Aiden.

Segue com o sorriso debochado em seu rosto.

— Sua irmã não é nenhuma puritana, Josh.

Ergo meu dedo do meio em sua direção. Aiden assim como Ethan

conhece a minha irmã e ele está certo, minha irmã não é nenhuma
puritana, mas isso não significa que desejo a ver com um dos putos dos

meus amigos.
— Foda-se, vocês estão proibidos de olharem para minha irmã.

Mais uma vez, a porta é aberta dessa vez é Dylan a entrar.

— O que tem a sua irmã?

Meu amigo pergunta e não esboço nenhuma reação negativa,


afinal dos três, sei que Dylan será o menor dos meus problemas, ele é o

mais quieto e o menos cafajeste.

— Estamos tentando convencer Josh que sua irmã deveria vir

morar com a gente.

Ethan o responde.

— E ocupar o meu quarto.

Aiden complementa, Dylan apenas ri e balança a cabeça.


Realmente, inofensivo.

— Eu tenho uma novidade. — Ele caminha em nossa direção e

encaramos Dylan curioso. Ele continua em pé e de frente para a poltrona

onde Aiden está. — Eu sou o novo capitão do time de basquete.

Nós três ficamos em pé e vamos até nosso amigo. Pulamos,

batemos em suas costas e assobiamos. Sou o primeiro a me afastar e bato

minhas mãos uma na outra e chamo a atenção.

— Precisamos comemorar.

Ethan se desvencilha de Aiden e Dylan.


— Eu vou buscar a cerveja.

Nós concordamos e o quarterback do time de futebol americano


sai da nossa casa para ir buscar bebidas. Aiden, Dylan e eu vamos para o

jardim, afinal é uma noite quente, ocupamos as espreguiçadeiras que

ficam ao redor da piscina e Dylan nos conta como está se sentindo. É

óbvio que ele está feliz.

Agora somos os quatro capitães, eu sou o capitão do time de

beisebol, Aiden, do time de hóquei, Ethan, do futebol americano e Dylan,

do time de basquete. Realmente, somos as Estrelas do Alabama.

Ethan chega com as cervejas, então ligamos o som e começamos

a beber. Amamos uma festa e não precisamos de muitas pessoas para

fazer uma.

Fazemos um churrasco e continuamos bebendo, ao fim da noite


estamos bêbados e é impossível dizer quem é o mais sóbrio.

— Vamos pular na piscina.

Aiden grita, mas continuo deitado na espreguiçadeira que estou.


Está quente e uma piscina seria ótimo, mas não estou nas minhas

melhores condições.

Apenas observo Dylan, Ethan e Aiden ficando apenas de cueca e

pulando na piscina. Pego meu celular e gravo os três idiotas até que
Ethan e Aiden decidem que irão me jogar a força na piscina.

Droga!

Largo meu celular sobre a espreguiçadeira e fico em pé, assim

que Ethan deixa a piscina, viro-me de costas e corro para longe, porém
paro quando escuto um som estranho e seguido de um grito de dor do

meu melhor amigo.

Eu olho para trás e me deparo com Ethan de costas no chão e


urrando de dor. Caralho, ele caiu. Como ele não está rindo, deve ter sido

algo sério, por isso vou até ele e o ajudo a se levantar. Ajudo-o a se sentar

em uma das espreguiçadeiras e Aiden e Dylan saem da piscina e se

aproximam.

— Você está bem?

Pergunto.

— Não, meu ombro. — Chora. — Eu machuquei meu ombro.

Ele está chorando. Nós três olhamos para o seu ombro e o


analisamos, não somos médicos, mas somos atletas e sabemos que algo

aconteceu com o ombro de Ethan.

— Droga, nós precisamos ir para o hospital.

Eles concordam comigo e como sou o único vestido e seco, sou o


responsável por levar o nosso quarterback para o hospital.
Ethan está vestindo apenas uma cueca quando entramos no

hospital, mas não estamos nos importando, porque estamos preocupados,


uma lesão pode significar estar fora dos jogos e prejudicar a carreira

profissional do meu amigo.

Eu fico à noite toda sentado em uma cadeira desconfortável,

esperando por Ethan e quando é liberado, olho para ele e ele está apenas
de cueca, é impossível não rir. Minha gargalhada ecoa pela sala de

espera, Ethan se aproxima e suspira.

— Não seja um idiota.

Fico em pé e continuo rindo enquanto deixamos o hospital.

— Porra, você está só de cueca e com o braço imobilizado. —

Mordo meu lábio para conseguir parar de rir. — Isso é algo que irei

adorar contar para os seus filhos.

— Vou me lembrar de manter você o mais distante possível dos

meus filhos.

Seguimos para meu carro e balanço minha cabeça.

— Serei padrinho de todos eles.

Ethan balança a cabeça, mas por fim também acaba sorrindo, um

sorriso que se desfaz assim que entramos no carro.

— É tão ruim assim?


Suspira e assente.

— Desloquei o ombro e provavelmente, irei ficar uns jogos fora.

— Já falou com seu treinador?

Assente.

— Sim, só vou para casa para trocar de roupa e em seguida, vou


ir encontrá-lo.

Ligo o carro.

— Sinto muito.

— Eu também, Josh, eu também.

Vamos para casa e eu subo para meu quarto dormir um pouco

antes da minha aula, Aiden fica responsável por levar Ethan até o seu

treinador. Eu não queria ser Ethan, porque seu treinador irá acabar com
ele.

E o treinador realmente acaba com ele, assim como sua mãe, o


treinador atlético do seu time e o idiota do seu agente, inclusive eles

anunciam que a partir de amanhã, colocarão uma pessoa para estar quase
vinte e quatros horas com Ethan para o auxiliar na recuperação e evitar

que ele tenha atitudes irresponsáveis.

Para aproveitar seu último dia sem uma babá, à noite eu vou com

Ethan para o maior bar universitário das redondezas. Nós queremos


apenas beber e esquecer de todos os problemas, eu só não esperava
encontrar com Dakota e muito menos beijá-la.
 

Dakota

Eu consigo ignorar Josh boa parte da aula, mas ele vem tirar satisfação
comigo na hora da saída. Não sou uma pessoa vingativa, mas ele me tira do
sério, ele desequilibra todos meus chakras e eu nem entendo absolutamente
nada sobre chakras.

Não sou má, mas gosto de vê-lo desesperado, gosto de vê-lo


praticamente implorar e acho genial a ideia de pedir para que ele desista da aula

de teatro. Posso não ser famosa como Josh, mas tenho uma boa reputação, não
sou do tipo de garota que ama jogadores e fama, sequer sou o tipo deles, ou do

tipo que quer fama, ou seja, não tenho o porquê estar mentindo e é por isso que
a minha invenção se torna mais real e o boato está se espalhando.
A última frase é minha e enquanto me afasto, sinto seu olhar sobre mim,

há uma sensação de vitória que nunca senti antes. Estou aliviada e com um
sorriso em meu rosto. Não sou uma cadela do mal, mas Josh merece, ainda me

lembro da forma como ele me tratou naquela noite, além do mais teve aquela

história de ele me pedir para desistir da aula de teatro na aula passada, terça-
feira.

Idiota, o rei dos idiotas.

Sigo meu dia normalmente, ou tento seguir normalmente. Eu preciso

restringir minha conta no Instagram, porque algumas pessoas estão começando


a me seguir, recebi alguns directs perguntando se Josh realmente brochou, não

respondo nenhuma. Será que o boato realmente se espalhou? Impressionante.

Meu dia é ótimo, chego sorrindo no apartamento que divido com

Brooke e Abby no fim da tarde, minhas amigas perguntam o motivo da minha


felicidade e apenas dou de ombros. Eu amo essas duas, mas elas nunca ficaram

sabendo que o garoto que me rejeitou no primeiro semestre foi uma das Estrelas
do Alabama.

Estou de tão bom humor que quando Brooke e Abby me chamam para
sair, eu topo. Eu, Dakota, a rainha do “eu vou ficar em casa”, aceito sair para

curtir uma festa em uma quinta-feira. Até mesmo minhas amigas ficam
surpresas, mais uma vez, dou de ombros quando elas me perguntam o que
diabos está acontecendo.
Vamos para uma festa de alguém que não faço a mínima ideia de quem

seja, algum amigo do amigo do amigo de um conhecido de Brooke. É divertido


eu danço e até mesmo converso com outras pessoas que não são minhas
amigas, mas como estou de bom humor e não maluca, eu não bebo.

A noite é ótima, porém é horrível acordar de manhã para a primeira aula

do dia, apesar de não estar morrendo por causa da ressaca como Abby, estou
com sono, sortuda é Brooke que não tem aula e pode ficar dormindo.

Eu tomo meu café e vou para a minha primeira aula do dia. Dirijo com

meus olhos pesados e bocejo a cada segundo. A matéria é uma das minhas
preferidas e mesmo assim, preciso me concentrar para não cochilar em alguns
momentos. Nunca mais irei sair em plena quinta-feira, é como se um caminhão

tivesse passado por cima de mim.

Sobrevivo a primeira aula, a segunda é ainda pior, porque não gosto do


conteúdo e a professora tem uma voz suave. Eu me sento logo na primeira
fileira e a professora me encara com um olhar de julgamento. Droga, lá se vai

minha fama de boa aluna. 

Almoço em um dos restaurantes do campus e sigo para biblioteca até o


horário da minha última aula e tento estudar, porém meu sono vence, eu cruzo
meus braços escondo meu rosto entre eles e cochilo. Realmente, estou perdida,

dormindo na biblioteca, quem diria?

Meu celular vibrando em meu bolso me desperta, abro meus olhos e


sonolenta pego o aparelho, é uma notificação sinalizando que recebi um e-mail,
abro-o e sorrio ao ler o texto. Meu professor está cancelando a última aula.

Junto minhas coisas, deixo a biblioteca e dirijo depressa para casa. Ao


entrar em nosso apartamento, encontro com Brooke sentada no sofá e pintando

as suas unhas dos pés.

— Hey, Brooke.

Minha amiga sorri.

— Hey, Dakota.

Jogo minha mochila ao seu lado e me sento ao seu lado.

— Como você não está destruída?

Brooke está com um aspecto ótimo, nenhuma olheira e nada que indique
que passou a noite em claro. Pleníssima.

— Meu corpo assim como eu ama festas, ou seja, quanto mais festas
feliz e disposta eu fico.

Faço uma careta.

— Isso não faz sentindo nenhum.

Tiro meus tênis, minhas meias e dobro minhas pernas sobre o sofá.

— Você só está assim tão mal, porque quase nunca sai de casa e sabe o
que cura desânimo pós-festa?

Encaro-a com minhas sobrancelhas erguidas.

— O quê?

Sorri animada.
— Uma outra festa.

Balanço minha cabeça negando enquanto pego um esmalte do seu

cestinho.

— Nem pensar.

— Não seja careta, Dakota.

— Não sou careta, eu apenas não amo festas como você.

Entramos em uma discussão sobre eu ser careta ou não enquanto


pintamos nossas unhas e ainda estamos com o esmalte em mãos quando a porta
é aberta. Abby entra e sorri debochada ao se deparar com nós duas.

— Abrimos um salão e eu não sabia?

Brooke revira seus olhos e eu apenas sorrio. Abby larga sua mochila e
se senta no puff que está bem à nossa frente.

— Por que chegou tão cedo? Ficou milionária e decidiu parar de


estudar?

Brooke indaga, porque esse horário era para Abby estar em aula.

— Não, pelo contrário, sou uma pobre desempregada que faltou aula
para ir em uma entrevista de emprego.

Abby está precisando de um emprego, porém não parece muito

animada.

— Conseguiu a vaga? Fará o quê?

Pergunto curiosa e Abby suspira.


— Serei babá de um idiota.

Ergo minhas sobrancelhas. Como assim ela será babá?

— Babá? Que idiota? Explique-se, garota.

Brooke faz a pergunta que está rodeando a minha mente enquanto


balança suas mãos para que o esmalte seque mais rápido. Abby curva seu corpo
para frente e apoia seus cotovelos nas pernas. Deus, ela parece estar destruída.

— Lembram que no semestre passado me inscrevi para um programa de

estágio para treinamento atlético? — Assinto e Brooke também. — Surgiu uma


vaga.

Minha amiga queria muito a vaga e sorrio.

— Então, você irá trabalhar com o time de basquete feminino?

Ela bufa ao ouvir minha pergunta e balança a cabeça negando.

— Um dos jogadores do time de futebol americano deslocou o ombro e


está precisando de alguém para supervisioná-lo, porque o idiota é um
irresponsável.

Algumas das suas atitudes começam a fazer sentido na minha cabeça.


Abby ama esportes, com exceção de futebol americano por causa do idiota do
seu pai, é por isso que ela deve estar tão revoltada em ter de trabalhar com um

jogador, porém analisando seu olhar, percebo que há algo a mais.

— O que você quer dizer por supervisioná-lo?

Olha em minha direção e me responde.


— Estar com ele todo tempo possível, em suas aulas, em casa, no
treinamento... se precisar até mesmo dormir na sua casa.

Apesar da sua resposta seca, não é isso que a está incomodando.

— Por que ele precisa de uma babá?

Brooke continua com nosso interrogatório.

— Ele deslocou o ombro bêbado, não sei exatamente como, mas foi
bêbado. — Frisa a última palavra e suspira dramaticamente. — Esse é o tipo de

cara que ele é.

— Sinto muito, ele deve ser um idiota. — Brooke se solidariza com


Abby que faz um coração com as mãos para nossa amiga. — Quem é ele? Ele é
pelo menos bonito?

— Vocês não irão acreditar quem é.

Encaro-a curiosa, ao mesmo tempo que me pergunto quem pode ser, não
chego nenhum um nome. Abby continua fazendo suspense até que Brooke
perde a paciência.

— Fale logo, caralho!

— Ethan Lewis.

Abby praticamente grita o nome do quarterback do time de futebol


americano e arregalo meus olhos. Esse nome carrega muita informação.

— O seu Ethan Lewis?

Ela faz uma careta ao ouvir a minha pergunta.


— Hey, ele não é meu.

Dou de ombros. Ethan Lewis é uma das Estrelas do Alabama, até onde
eu sei, o melhor amigo de Josh, porém o principal problema de Abby é que ele
é agenciado por Liam, o seu pai, ou melhor seu doador de esperma e Abby o
odeia por esse motivo.

— O seu Ethan Lewis. — Brooke aponta seu dedo na direção de Abby.


— Aquele que você odeia.

Ela suspiro.

— Eu tenho certeza de que são os astros, algo na astrologia está


mexendo com a minha vida e a estragando.

Abby faz um beicinho infantil e Brooke ri.

— Ele é agenciado pelo seu pai, não é?

Pergunto mesmo sabendo a resposta.

— Ele é. — Aponta seu dedo em minha direção. — E um dos motivos


por odiar Ethan Lewis é exatamente esse, ele e meu pai parecem ser muito
amigos, inclusive meu pai vive colocando foto dos dois juntos nas redes sociais.

Uma expressão de nojo toma conta do seu rosto.

— E ele irá deixar você trabalhar com alguém que trabalha com ele?

A pergunta de Brooke é totalmente pertinente. Sabendo como Liam é,


provavelmente ele não deixará a filha estar com alguém que é tão próximo a
ele.
— Liam não sabe que sou eu, segundo Miller, o agente do quarterback
não quer ter que lidar com isso.

Abby sorri e é evidente que está se divertindo.

— Você está se divertindo com isso.

Abby dá de ombros para as palavras de Brooke.

— Claro que eu estou, principalmente porque é ele que irá pagar a

minha bolsa e não a universidade, logo o cartão que ele está me obrigando a
pagar será com o próprio dinheiro dele.

Abby parece animada, Brooke ri, porém eu franzo minha testa. Liam
não é uma boa pessoa e não quero que minha amiga se machuque.

— Espero que isso não acabe mal.

Além do mais, Ethan Lewis é melhor amigo do Josh, se Josh é um


idiota, então tem grandes probabilidades de que o seu amigo também pode ser.

— O que poderia acontecer?

Abby me pergunta e dou de ombros.

— Nunca se sabe.

Assim que termino de falar, Brooke fica em pé.

— Como a partir de amanhã, você será todinha do QB idiota, hoje você


é nossa.

Eu tenho até medo do que Brooke está sugerindo.

— O que você está querendo dizer?


Abby pergunta receosa e Brooke sorri maliciosa.

— Vamos para o Crimson Giants.

Suspiro dramaticamente. Brooke está sugerindo irmos para o bar mais


frequentado pelos universitários, um bar que seu nome e é em homenagem a
Universidade do Alabama.

Espero que Abby perceba que sairmos hoje é uma péssima ideia, porém
por fim ela sorri.

— Ok, mas mais tarde. — Levanta-se do puff. — Eu preciso descansar


por alguns minutos.

— Nós já saímos ontem à noite e definitivamente não deveríamos fazer


o mesmo hoje.

Resmungo.

— Deixa de ser chata, Dakota.

Brooke me repreende e aponto minha língua na sua direção.

— Abby estará péssima em seu primeiro dia de trabalho.

Abby pega sua mochila, acena para nós duas e segue para seu quarto.

— Ela precisa se distrair, ou irá ficar pensando no idiota do Liam.

Faço uma careta, porque Brooke está certa. Liam está cobrando Abby,
exigindo que a própria filha pague o cartão de crédito que usou para comprar
comida. Nossa amiga pode bancar a durona e fingir que não está se importando
com atitude do pai e da mãe que se recusa a ajudá-la, mas isso a machuca.
Como é para o bem-estar da minha amiga, concordo em ir para o bar
com ela e Brooke.

Duas horas depois estamos saindo de casa, eu mais uma vez não irei
beber e sou a motorista do dia. Abby até tenta me convencer ao contrário, mas
não cedo. Não quero beber, eu e bebidas não somos uma boa combinação.

Chegamos cedo, ou cedo para os universitários da UA[6]. Música ecoa


pelo local e escolhemos uma mesa, o ambiente está escuro e há luzes coloridas,
em uma televisão está passando um jogo de beisebol e algumas pessoas estão
ao redor de uma mesa de sinuca. Brooke e Abby bebem cerveja e eu fico no
refrigerante.

Os minutos passam, nós rimos, cantamos, e o local começa a encher. O


ambiente fica cada vez mais caótico. Brooke e Abby estão um pouco bêbadas e
presencio a palhaçada das duas, elas observam os caras e julgam a beleza deles
com notas de 0 a 10.

— Eu preciso ir ao banheiro.

Abby interrompe seu julgamento e fica em pé, Brooke e eu assentimos e


ela se afasta.

— Ela está bem melhor do que se estivesse em casa.

Concordo com Brooke e ela sorri vitoriosa. Apenas balanço minha


cabeça e bebo o restante do refrigerante que há em meu copo.

Abby não demora para voltar para nossa mesa, porém para a minha
esquerda e não se senta em seu lugar, ela está fitando algo e quando olho na
direção em que está olhando, me deparo com Ethan.

— Onde você está indo?

Sorri.

— Indo cuidar do bebê rebelde.

Ela se afasta e Brooke e eu a observamos.

— Espero que ela saiba o que está fazendo.

— Eu também.

Brooke concorda comigo. Nós ficamos assistindo Abby se aproximar de


Ethan, não estamos tão perto, então não conseguimos ouvir nada e nem decifrar
a reação dos dois.

— Droga, o que será que eles estão conversando?

— Não faço a mínima ideia, Brooke.

Pessoas ficam à nossa frente e perdemos a visão dos dois. Quando Abby
volta, ela está sorrindo. Ela não se senta e pega minha mão e a de Brooke.

— Vamos dançar.

Brooke e eu apenas trocamos um olhar e ficamos em pé. Seguimos


Abby na esperança de que ela nos fale algo, mas minha amiga fica em silêncio.
Quando perguntamos o que aconteceu, ela somente balança a cabeça e começa
a dançar, sem alternativas, apenas dançamos.

Apesar de não ser a maior fã de festas, eu gosto de dançar.


Mexo meu corpo no ritmo da música até que sinto sede, então aviso
minhas amigas que estou indo até o bar e me afasto. Eu vou até o balcão, curvo
meu corpo para frente e peço meu refrigerante para um dos atendentes, ele
assente e se vira de costas para buscar meu pedido.

— Me perseguindo?

Não preciso me virar para o lado para reconhecer a quem a voz


pertence.

— Eu tenho mais o que fazer do que perseguir você, Josh.

Olho para o lado e ele dá um passo em minha direção, diminuindo ainda


mais a distância entre nós.

— Você precisa desmentir para as pessoas que eu brochei.

Ele sussurra e sinto sua respiração em meu rosto, um arrepio sobe pelo
meu corpo e o ignoro.

— Desista da aula de teatro.

Viro-me completamente ficando de costas para o balcão para me


distanciar dele, mas Josh é um cretino e para à minha frente, traz as suas mãos
até o balcão e me prende entre seus braços.

— Qual é o seu problema?

Ele me fuzila.

— Qual é o seu problema?


Repito sua pergunta. Nós nos encaramos, a tensão entre nós aumenta.
Deus, eu me esqueço do que estamos falando quando meu olhar encontra o seu.
Minha respiração falha, meu peito sobe e desce, tremo de antecipação e

excitação percorre meu corpo.

— Meu problema é você, Dakota.

Sua boca encontra a minha e não hesito, eu deixo que ele me beije,
fecho meus olhos e correspondo aos seus lábios com a mesma intensidade. Não
o empurro quando traz sua mão até minha cabeça e segura os fios do meu
cabelo e não o afasto quando sua língua duela com a minha.

Ele faz com que tudo em mim desperte e faz com que eu me esqueça de
tudo. Minha boca está dormente e meus lábios inchados quando ele se afasta.

Abro meus olhos e ele está me encarando. Nossas respirações estão


alteradas e ficamos segundos sem trocarmos nenhuma palavra, o que parece
uma eternidade.  

Josh dá um passo para trás e em silêncio, vira-se e caminha para longe.


 

Dakota

Eu deixo o bar, vou até minhas amigas e ajo como se nada tivesse
acontecido, comporto-me como se meu coração não estivesse acelerado,
sorrio e ignoro todas as sensações que estão em meu peito.

Essa noite quando voltamos para casa e me deito em minha cama,

demoro a dormir, eu fico pensando no beijo, nos seus lábios sobre os


meus.

Eu odeio Josh, odeio como meu corpo reage ao seu. Como gosto
do seu beijo e do seu toque.
Tento esquecê-lo, mas é como se ele estivesse em todo o lugar,

mesmo três dias depois ainda consigo me lembrar do beijo nitidamente.


Como faço para simplesmente deletá-lo da minha mente?

Como será quando nos encontrarmos daqui a alguns minutos na


aula de teatro? Eu faço o máximo para prolongar a minha ida até o prédio

de artes cênicas. Normalmente, vou o mais rápido possível, porém hoje

dirijo como alguém que acabou de obter a licença para dirigir e tem medo
de pisar no acelerador.

Como se não bastasse a aula de teatro, agora minha amiga está

trabalhando com seu melhor amigo e frequentando sua casa. Abby fala

de Josh, Dylan e Aiden como se eles fossem legais e preciso morder


minha língua para não falar que Josh é um babaca.

Abby e Brooke sabem do que aconteceu no primeiro semestre

quando tentei ser desapegada e adapta ao sexo casual, mas elas não

sabem quem foi. Elas não sabem que no semestre seguinte, descobri que
o garoto que me rejeitou era um dos garotos que estava ganhando fama

por ser bonito, jogador de beisebol e dividir uma casa com outros três

atletas.

Não sei o porquê mantenho essa informação oculta das minhas

amigas, talvez por vergonha, talvez porque não queria parecer interessada

no idiota, ainda mais que eu fiquei obcecada depois que descobri a


identidade do cara daquela noite, inclusive criei um fake para o
acompanhar Josh em suas redes socais. Totalmente, vergonhoso.

Quando Abby fala sobre os meninos eu tento ao máximo não


demostrar meu desprezo por Josh, finjo que nunca cruzei com ele. Ela e

Brooke sequer sabem que nós dois estamos fazendo aula de teatro juntos,

eu nem contei que estou fazendo teatro. Tenho sido uma péssima amiga e

vou culpar Josh por isso, porque quero encontrar um culpado e ele é o

alvo perfeito.

Será que ele sabe que Abby e eu somos amigas? Acho que não,

porque Abby não mantém suas redes sociais muito atualizadas, não

consigo me lembrar se tem alguma foto nossa em seu Instagram.

Droga, eu estou pensando demais! Empurro o assunto Josh para o

fundo da minha mente e deixo meu carro no estacionamento. Conforme

caminho pelos corredores e me aproximo do auditório, meu coração

acelera ainda mais. Será que conseguirei fingir que aquele beijo não

aconteceu?

Espero que sim.

Eu coloco minha mão sobre a maçaneta e respiro fundo, é só

ignorá-lo, continuar ignorando sua existência, não é tão difícil. Abro a

porta e assim que entro no auditório, procuro por ele e não o encontro.
— Olá, Dakota.

— Olá, professora Dayse.

Sorrio e ocupo uma das cadeiras em frente ao palco. A professora

continua falando sobre as técnicas do teatro. Olho ao redor da sala,


analisando cada detalhe, esperando encontrar sua mochila, mas ele não
está na sala e nenhuma das suas coisas.

Será que ele desistiu?

Uma sensação de vazio, decepção e alívio se misturam em meu


peito. Eu fico esperando que ele entre a qualquer momento e interrompa
a aula, mas não acontece. Depois de alguns exercícios de respiração, de

oratória e de expressão corporal, Dayse encerra a aula.

Nada de Josh, ele realmente não veio para a aula. Estou aliviada,
é o que digo a mim mesma, e espero que ele tenha desistido da aula de
teatro, porém ao entrar no auditório na quinta-feira, encontro Josh

sentado na primeira poltrona. Meu coração dispara quando meu olhar


encontra o seu e ele sorri debochado.

Imbecil.

Sento-me no lado contrário ao seu, não olho em sua direção, mas


sinto como se estivesse sendo observada. Preciso me controlar para não

me virar e conferir se é ele que está mesmo me encarando.


Dayse faz os exercícios de sempre, porém acaba a aula um pouco

antes, ela pede nossa atenção e sorri animada.

— Eu tenho uma ótima notícia. — Faz uma pausa para criar uma

expectativa. — Iremos participar do festival de talentos no final do


semestre.

Faço uma careta. Não é uma notícia animadora, não para mim.

— Espero que vocês estejam dispostos a atuarem.

Ela continua.

— Estou super disposta a ser a árvore.

Sussurro para a garota que está sentada ao meu lado, Edith, e ela
ri.

— Seremos um desastre.

Sorrio e assinto. Essa é uma turma só de amadores, ninguém

realmente faz artes cênicas, ou tem talento, a maioria de nós está aqui ou
para desenvolvimento pessoal, ou para obter horas fáceis.

Ela continua falando sobre como será incrível, nem um de nós


parece concordar com ela. Dayse pede sugestão de peças teatrais e tenta
nos animar, é totalmente em vão. Por fim, ela apenas suspira derrotada e

encerra a aula.

— Espero que ela desista da ideia.


Concordo com Edith, nós trocamos mais algumas palavras,
cumprimentamos outros colegas e uma ao lado da outra, deixamos o
auditório. Estou cruzando a porta, quando escuto a sua voz.

— Sentiu minha falta?

Meu coração dá uma leve acelerada. Traíra.

— Até mais, Dakota.

Olha de mim para Josh com malícia. Maldito Josh, ela vai ficar

pensando que temos algo.

— Até mais, Edith.

Ela se afasta e me viro para o lado, Josh está com parte do seu
corpo apoiado na parede e seus pés à frente do seu corpo.

— Ela vai pensar que temos algo.

Sorri debochado.

— É uma honra para você ser vista com alguém como eu.

Alguém pede licença e sou obrigada a me afastar da porta, eu


paro de frente para Josh, porque ainda não estou pronta para ir embora.

— Preferia ser vista com Voldemort do que com você.

Há um brilho repleto de malícia em seus olhos.

— Ele nem existe, seria impossível.


Inclino meu corpo para frente e paro com meu rosto a centímetros
do dele.

— Você entendeu. — Seu perfume me atinge e dou um passo para


trás antes que pensamentos indesejados ecoem em minha mente. —
Achei que você tinha desistido.

Josh continua me encarando com uma expressão de deboche.

Essa forma como ele está me olhando me irrita de uma forma


inexplicável.

— E deixar você sem a minha ilustre presença?

— Você estaria me fazendo um favor.

Ele sorri de lado, o que faz com que uma covinha surja em seu
rosto, uma mistura de fofo com cretino.

— Sabe, seu boato caiu no esquecimento, nem meus amigos

ficaram sabendo da sua mentira infame.

Soa vitorioso e dou de ombros.

— Porque eu fui legal com você e não respondi nenhuma das

mensagens que me enviaram, mas cuidado, posso não ser tão boazinha e

acabar confirmando que seu amiguinho não subiu.

Olho para baixo e encaro a frente da sua calça.

— Não seja má, Dakota.


Ergo meus olhos.

— Não seja um idiota, Josh.

Pisco e me viro de costas.

— Alguns pedidos são impossíveis de se realizarem, Dakota.

Sua voz chega aos meus ouvidos enquanto caminho para longe e

eu mordo meu lábio inferior para não sorrir.

...

Evito pensar em Josh e até sou bem-sucedida, porém no sábado,


no fim da manhã, estou deitada no sofá lendo um livro quando meu

celular que está sobre minha barriga vibra, eu o pego e é uma mensagem

de Abby no grupo que estamos ela, Brooke e eu.

“Os meninos estão organizando uma festa, será hoje à noite e

vocês estão convidadas.

P.S.: por favor, venham me salvar, porque eu não quero ficar à noite

inteira com esses quatro jogadores imaturos e irresponsáveis.”

Ela está nos chamando para uma festa na casa de Josh, sem

chance. Sei que ela prometeu os apresentar para Brooke, mas eu estou

fora, não quero encontrar Josh e muito menos conhecer seus amigos.
Uma mensagem de Brooke chega e não fico nenhum pouco surpresa ao

ler seu texto.

“Quando você diz meninos, você está falando sobre as Estrelas do

Alabama, não é?”

Eu fico com o celular em mãos acompanhando a troca de

mensagens entre elas.

Abby: Sim, eu estou falando deles.

Brooke: Finalmente você será uma boa amiga e irá me apresentar a eles.

Abby: Finalmente você poderá conhecê-los, Brooke, mas já aviso que

eles são quatro idiotas, bagunceiros e irresponsáveis.

Brooke: Estou louca para saber o quanto eles são irresponsáveis.

Abby: KKKKKK... você não presta, Brooke.

Alguns segundos passam e nenhuma nova mensagem chega,

então volto a colocar o celular sobre meu corpo e a ler meu livro. Não

consigo ler nenhuma página, porque escuto os passos de Brooke pelo


corredor. Interrompo minha leitura assim que ela se senta no puff, abaixo

meu livro e olho na sua direção.

— Você leu as mensagens de Abby?

— Eu li.

Não deixo nenhuma emoção transparecer em minha voz.


— E?

Ergue suas sobrancelhas. Ela claramente está animada.

— Você não se cansa de festas?

Sorri e balança a cabeça negando.

— Não, e para minha defesa, essa semana eu ainda não fui em

nenhuma festa.

Sei que não devo ir, mas existe uma parte em mim que quer ir e

desafiar Josh, eu quero ver a sua cara ao me ver em sua casa.

— Se você for, eu vou.

Digo sem pensar nas consequências e Brooke sorri.

— É óbvio que eu vou. — É claro que ela vai e minha

consciência pesa, não deveria ir, deveria ser madura e responsável. —

Algo está acontecendo?

É claro que ela percebeu meu incômodo, porque sou péssima em


não demostrar as minhas emoções. Sento-me no sofá e sorrio, um sorriso

forçado.

— Não, então festa mais tarde?

— Hey, Abby não ficará chateada se você não for e eu posso ir

sozinha.
Eu deveria aceitar sua oferta, mas a parte que quer irritar Josh

vence.

— Eu sei e eu vou.

Estou sendo tão imatura.

— Ok. — Escuto minha amiga, mas em minha cabeça está

acontecendo uma batalha. Ser madura e não ir versus provocar Josh. —

Qual será o almoço?

Brooke me encara, então empurro meu questionamento para


longe e sorrio.

— É a sua vez, porque a última vez fui eu.

Faz uma careta.

— Você não quer ser uma amiga legal e cozinhar duas vezes

seguidas?

Balanço minha cabeça e volto a me sentar no sofá.

— Não.

Brooke tenta me persuadir, mas não cedo. Sem alternativa minha

amiga vai preparar o nosso almoço. Como nossa cozinha e sala é

conjugada, nós conversamos enquanto ela cozinha nosso frango

grelhado, legumes picados e uma salada fresca.


Almoçamos enquanto assistimos aos episódios aleatórios de

Friends[7]. Logo após comermos, Brooke segue para seu quarto e eu fico

limpando a cozinha, afinal quem cozinha, não limpa.

Assim que termino de limpar, pego meu livro e vou para meu
quarto. Eu estou em uma parte ótima do meu romance de época. Perco o

horário lendo e quando me dou conta a tarde já chegou ao fim e a noite

tomou o seu lugar.

Abandono meu livro e saio do meu quarto. Encontro Brooke na

cozinha, ela prepara um sanduíche para mim e outro para ela e nos

sentamos no sofá.

— Qual deles você acha mais bonito? — Encaro-a sem entender.


— Dos meninos... os jogadores famosinhos... os meninos da Abby.

Sorrio, porque ela usa a expressão “meninos da Abby” e

aproveito para desviar da sua pergunta. O mais bonito é Josh, mas me

recuso a citá-lo.

— Eu os vi poucas vezes e não sou capaz de julgar qual deles é o

mais bonito.

Trago o sanduíche até minha boca e espero que ela desista do


assunto. Brooke pega seu celular, desliza seu dedo pela tela e em seguida
o vira em minha direção. Ela está me mostrando uma foto dos quatro
juntos.

— Eu talvez prefira o Aiden, embora Ethan seja bem bonito, Josh

não seja de se jogar fora e Dylan seja tão gostoso.

Sorrio enquanto em minha mente procuro algo para dizer.

— Eu acho que fico entre Dylan e Ethan, Josh definitivamente

não.

Digo por fim.

— Pobre Josh.

Apenas sorrio e ela faz o mesmo. Para meu alívio, Brooke não

continua insistindo no assunto e ficamos em silêncio. Assim que


terminamos de comer, vamos nos arrumar para a festa.

Brooke é a primeira a ir para o banheiro, eu fico no meu quarto

escolhendo uma roupa, opto por uma saia e um top. Logo que Brooke sai
do banheiro, eu o ocupo.

Após o banho, volto para meu quarto, visto minha roupa, prendo
meu cabelo ruivo em uma trança lateral e quase não passo maquiagem.
Estou encarando meu reflexo no espelho quando Josh surge em minha

mente. Droga, eu estou indo na sua casa.


Meu coração acelera e respiro fundo várias vezes. Não há motivos
para ficar ansiosa, muito menos nervosa.

Assim que estou pronta, deixo meu quarto e encontro Brooke na

sala, eu me sento no sofá enquanto ela está tirando fotos. Nós duas
ficamos conversando enquanto esperamos Abby.

Em alguns momentos, Josh volta à minha mente.

— Você parece nervosa.

Brooke aponta.

— Impressão sua.

Sorrio, um sorriso forçado. Brooke encara-me desconfiada, porém


antes que possa me fazer perguntas, Abby abre a porta e entra em nosso

apartamento. Suspiro aliviada e me concentro totalmente em minha


amiga.

Nós trocamos algumas palavras e ela vai para o seu quarto se

arrumar para a festa. Eu observo minha amiga caminhar pelo corredor e


Abby não aparenta estar triste por estar sendo praticamente uma babá do
cara que ela odeia. Faz uma semana que eles estão sendo obrigados a

conviver e aos poucos, ela parece estar se acostumando com o


quarterback.

— Ela não parece assim tão triste por estar com Ethan.
Viro-me para Brooke e ela assente.

— Acho que ele realmente não é tão ruim quanto ela acredita que

ele é.

— Talvez.

Será que eles se tornarão amigos? A romântica que existe em


mim, torce para que sim.

Abby não demora a retornar para a sala, então nós vamos para o
meu carro e eu dirijo com as coordenadas de Abby para a casa das
Estrelas do Alabama, afinal ela conhece o caminho. Estamos quase

chegando quando Abby me faz entrar em uma rua errada.

— Meu Deus, Abby, você é horrível, era melhor ter colocado o


endereço no GPS.

Reclamo.

— Não sou horrível e essas ruas que são todas iguais.

Ela continua me guiando e se justificando. Quando Abby fala


para estacionar em frente a uma mansão, encaro o local abismada. Não

esperava que o lugar fosse tão grande e luxuoso. Eles são só


universitários!

— Uau.

Exclamo impressionada.
— Já tinha ouvido falar que eles moram em um lugar luxuoso,
mas não esperava algo assim.

Brooke está tão surpresa quanto eu e Abby abre a porta ao seu


lado.

— Vamos lá.

Ela sai do carro e a seguimos. O gramado de entrada é bem

cortado e cuidado e andamos por um caminho de pedra. É Abby a abrir a


porta, ela apenas faz sinal para entrarmos, então entramos e continuamos
a seguindo. Cruzamos por um hall e chegamos a uma sala que no

momento se transformou em uma pista de dança, com música ecoando


pelo ambiente e luzes coloridas.

— Hey, eu cheguei.

Abby grita e alguém a responde logo em seguida.

— Estamos na cozinha.

Enquanto caminhamos na direção da cozinha, meu coração

dispara, minhas mãos estão suando e há um frio em minha barriga. Será


que Josh está na cozinha? Como será quando ele se deparar comigo?
Talvez, ele saiba que Abby e eu somos amigas, talvez não.

Meu Deus, são muitas possibilidades.


— Ela chegou. — Alguém soa animado logo que entramos no

cômodo. — E suas amigas.

Não sei quem falou, porque minha atenção está totalmente


voltada para o loiro que acaba de fechar a porta do freezer. Seu olhar

encontra o meu e ele me encara totalmente surpreso.


 

Josh

O que Dakota está fazendo aqui? Dakota está em minha casa.


Juro que consigo ouvir meu coração batendo. Caralho, não era para ela
estar aqui.

— Essas são Brooke e Dakota.

Abby apresenta suas amigas. Suas amigas. Dakota é sua amiga.

Abby, a garota que está auxiliando Ethan na sua recuperação e está

frequentando minha casa diariamente é amiga da Dakota, como eu não


soube disso? Tudo bem que não bisbilhotei as redes sociais de Abby e
ninguém sabe sobre Dakota e eu, até mesmo porque não há nada entre

nós.

Caralho! Estou totalmente desnorteado.

Dakota não está surpresa, ela sabia que iria me encontrar aqui. Ela

fez de propósito? Ela está tentando me irritar?

— Vocês se conhecem?

Abby pergunta, eu não a respondo e continuo encarando Dakota.

Porra, ela está aqui.

— Nós estamos fazendo teatro juntos.

Dakota responde, ela curva seus lábios em um sorriso discreto.

— Desde quando vocês fazem teatro?

Abby continua com seu interrogatório.

— Segundo a minha professora de artes, precisava desenvolver

minha relação com as pessoas.

Dakota responde e desvia seus olhos dos meus. Por alguns


segundos, sigo a encarando.

— E eu preciso de horas.

Justifico e um silêncio se instala na cozinha.


— Se são amigas da Abby, são minhas amigas. — Aiden enfim se
manifesta e acaba com o silêncio. — Sintam-se em casa.

Abby e suas amigas se sentam de frente para o balcão, eu


continuo guardando as cervejas e bebidas no freezer e Aiden flerta com

Brooke. Algo em mim continua me puxando na direção de Dakota e

preciso me controlar para não olhar em sua direção.

Porra!

Ethan e Dylan voltam do jardim depois de alguns minutos, Abby

e Ethan trocam algumas farpas como sempre e todos nós nos sentamos ao
redor da ilha que ocupa boa parte da nossa cozinha.

Nós ficamos bebendo e conversando, eu faço de tudo para ignorar

Dakota, mas é impossível. É como se existisse a porra de um imã que nos


conectasse.

É um alívio quando outras pessoas começam a chegar e somos


obrigados a nos dispersar. Eu tento ao máximo me manter o mais longe

possível de Dakota, entretanto como o universo é meu inimigo número

um, meus olhos sempre acabam encontrando-a.

Dakota está dançando com Brooke e Abby. Seu sorriso ocupa


parte do seu rosto e seu corpo balança no ritmo da música. A saia curta

deixa suas pernas à mostra, seus seios pulam do seu top e mexe com
minha imaginação. Lembranças daquela noite passeiam em minha mente.

Caralho!

Eu vou para a cozinha e completo meu copo que está ficando

vazio com mais cerveja, então volto para a sala e caminho por entre as
várias pessoas que agora estão espalhadas pela minha casa.

Converso com alguns caras, mas meu foco são as mulheres.

Quem será a escolhida para terminar a noite comigo? Flerto com


algumas e danço com uma loira que me puxa pela mão.

Ela sorri, deixo minha mão em sua cintura e aproximo minha


boca do seu pescoço. Meus lábios encostam em sua pele e o rosto de

Dakota ocupa minha mente. Fecho meus olhos e tento empurrar a


imagem para longe, é em vão.

Meus pensamentos seguem sendo Dakota e quando beijo a garota,


são seus lábios que gostaria de estar beijando. Por mais que me esforce é

Dakota que eu desejo.

Desapontado e querendo bater minha cabeça na parede, afasto-me

da loira bonita. Ela não entende e eu apenas sorrio. Caminho para longe
transtornado.

É exatamente por isso que tenho que me manter distante de

Dakota, ela é um perigo, porque me desperta emoções que não deveria


sentir. Não mais, não de novo. Ela faz com que me recorde de um Josh

que não sou mais e não devo ser.

Eu vou até Dylan que está apoiado em uma parede e observando

o lugar ao seu redor.

— Você parece tenso.

— Impressão sua.

Resmungo.

— Você sabia que Ethan e Abby estão no Beer Pong?

Olho para o lado e o encaro surpreso.

— Não, e o ombro de Ethan?

Dylan dá de ombros.

— Acho que ele não se importa muito com seu ombro e espero
que Abby derrote ele.

Ethan se acha o rei do Beer Pong e seria ótimo se Abby o vencer.

— Vamos torcer para que ela vença.

Sorrimos e volto a olhar em frente. Deparo-me com Dakota


conversando com um cara. Não é algo agradável de se ver, porém não

posso interrompê-los. Não tenho esse direito, aliás ela pode conversar
com quem bem entender.
— E Aiden?

Pergunto seco e rude.

— Olhe para sua esquerda.

Eu faço o que ele pede e o encontro com Brooke.

— Aiden realmente não perde tempo. — Dylan concorda comigo


e sorrio debochado. — Vamos interrompê-los.

Como dois adolescentes, vamos até Aiden e Brooke, o


interrompemos e os provocamos. Para meu alívio, Brooke se afasta
depois de alguns minutos para afastar Dakota do idiota que ela está

conversando.

Dylan conta para Aiden que Ethan e Abby estão no Beer Ponge,
eu fico observando Brooke segurar a mão de Dakota e a puxar na sua

direção. Dakota sorri para amiga assim que está longe do cara, ela não
estava gostando de estar com ele e isso faz com que uma satisfação vibre

em meu peito.

As duas amigas se aproximam e Dakota me encara com um olhar

mortal. Ergo minhas sobrancelhas e ela revira seus olhos. Aiden se vira
para mim com um olhar questionador e apenas dou de ombros. Ninguém

precisa entender o que se passa entre nós.

— Precisamos de mais cerveja.


Dylan sugere e o seguimos para cozinha. Nós encontramos Ethan
e Abby e os dois não estão brigando e Abby não está encarando meu
amigo como se estivesse prestes a matá-lo.

— Vocês não parecem estar brigando.

Digo ao me aproximar dos dois.

— Nós somos amigos.

É Ethan a me responder e o encaro surpreso. O que está


acontecendo? Ele finalmente conseguiu convencer Abby de que não é um

idiota?

— Eu perdi uma aposta e agora Ethan está tentando me

convencer de que não é tão ruim quanto eu acho que ele é.

Encaro meu melhor amigo desde o quarto ano com deboche.

— Quer dizer que você precisou de uma aposta para conquistar a

amizade de uma garota?

Ele faz uma careta.

— Quem diria, hein, Ethan, quem diria?

Aiden continua a provocação.

Ethan apenas segue nos fuzilando com o olhar, porque sabe que
se falar algo, será ainda pior.
— Você perdeu no Beer Pong? — Dylan pergunta e Abby

assente. — Você tem que ser muito ruim para perder para alguém que
está com o ombro deslocado.

Ele zomba dela e Abby revira seus olhos.

— Vocês são uns idiotas.

Faz uma semana que Abby tem frequentado nossa casa e ela é

divertida, apesar do seu humor ácido, além de tudo, o ódio que ela sente

por Ethan faz com que tenhamos vários momentos de entretenimento.

Ethan ficou horas preso na varanda, porque ela está com enxaqueca.

Aiden e Brooke buscam cervejas e ficamos nos provocando,

bebendo e conversando. Conforme os minutos passam, o álcool faz efeito

e nos deixa uma bagunça, minha visão está embaçada e tudo ao meu

redor está mais vibrante, colorido e caótico.

Algumas vezes meu olhar encontra Dakota e é difícil ignorá-la.

Ela sorri para outras pessoas e gostaria de que fosse comigo. Gostaria de

estar sorrindo com ela como há dois anos.

Vamos os sete para a sala, Aiden e Brooke são os primeiros a se

afastarem, Dylan sobe para seu quarto e Ethan e Abby parecem estar em

um mundo só deles.

— Você não me contou que era amiga de Abby.


Sussurro para a garota ao meu lado.

— Não contei.

Olha para mim com um sorriso debochado.

— Você sabia, não é?

Ethan e Abby se afastam e ficamos apenas nós dois. Dakota fica

completamente de frente para mim e nos encaramos uma intensidade que

altera minha respiração. Nada mais importa, nem as pessoas ao nosso

redor, nem o lugar em que estamos.

— Do que você está falando?

— Você sabia que essa é a minha casa, você sabia que Ethan é o

meu melhor amigo e mesmo assim veio aqui.

Ela sequer demostra surpresa, ou tenta fingir que não sabe do que

estou falando.

— Claro, minha amiga me convidou e eu vim.

Estreito meus olhos e tento entender o que ela queria vindo até a
minha casa.

— Você está aqui para me irritar.

Meus pensamentos estão mais devagar e são um caos. Dakota

sorri e seus olhos brilham.

— O mundo não gira em torno de você, Josh.


Dou um passo na sua direção e a encurralo contra a parede.

— Então, você não está aqui para me irritar?

Seu peito sobe e desce acelerado e ela continua com os olhos nos

meus. Dakota não foge, ela fica e dá tudo de si para vencer.

— Estou aqui para me divertir, Josh.

Segue sorrindo debochada enquanto pega o copo que tenho em


mãos e o leva até sua boca, ela toma o restante da minha bebida.

— Você não significa nada para mim. — Ela está mentindo, nós

dois sabemos disso. — Você acredita ser o mais esperto, o mais incrível...

perfeito, mas na verdade não passa de um idiota, egocêntrico que não


consegue ver nada além do seu umbigo.

Odeio suas palavras, odeio como elas têm capacidade de tocar

feridas que luto todos os dias para cicatrizar.

— Você não significa nada para ninguém, Josh.

Suas palavras martelam em minha mente e raiva em meu peito.

Porra! Lembranças invadem minha mente e o caos se instala em mim.

Dou mais um passo em frente e tenho meu rosto a centímetros de Dakota.

A forma como nos encaramos é como se quiséssemos nos matar e

ao mesmo tempo nos beijar. Eu deixo o copo cair no chão e levo minha

mão até seu pescoço enquanto aproximo meus lábios dos seus.
— Você não sabe do que está falando, Dakota.

Sinto sua respiração se alterar e seu perfume me atinge. Por que

ela tem que cheirar tão bem? Minha vontade é jogar tudo para o alto e

obedecer a meu corpo, porém não faço, sigo a vontade de machucá-la


assim como ela fez comigo.

— Eu poderia levar você para meu quarto e você não hesitaria. —

Abaixo meu rosto e meus lábios encostam em seu pescoço. — Foderia-a


e você gritaria meu nome.

Toco sua coxa e ergo um pouco da sua saia para cima. Dakota não

se afasta e vejo sua pele se arrepiar. Adoraria subir meus dedos pela sua

pele e a beijar, mas quero que ela se sinta tão ferida quanto eu estou.
Dessa vez, não irei perder para uma mulher.

Dou um passo para trás e a encaro. Ela está ofegante, lábios meio

entreabertos, bochechas coradas e olhos fechados. Totalmente perdida

nas sensações que causei em seu corpo com simples toques.

— Mas não irei escolher você, porque garotas iguais a você é o

que mais tem no mundo, até mesmo nessa sala não consigo sequer contá-

las. — Abre seus olhos e me encara com raiva e frustração. — Você não
tem nada de especial, Dakota.
Minha voz é repleta de desdém e de mentira. Nunca conheci

alguém como Dakota, e é isso que me assusta. Seus olhos verdes ficam
escuros, quer dizer que ela está magoada. Ótimo, antes ela do que eu,

então por que não me sinto bem? Por que meu peito está apertado?

Dakota continua me encarando enquanto me afasto. Viro-me de

costas e tenho vontade de olhar para trás, entretanto não faço. É melhor
assim. Procuro por outras garotas, nenhuma me chama atenção, nenhuma

é Dakota, mas me aproximo da primeira que me encara com desejo.

Não sei quem é, não pergunto seu nome, apenas paro a sua frente
e ela traz suas mãos até meu peito, não a afasto. Sorrio, um sorriso

forçado e deixo que ela me beije, eu a beijo de volta, porém é algo

mecânico, porque é tudo que realmente quero é que Dakota veja, e assim
que interrompo o beijo, viro-me na sua direção.

Dakota está me encarando e seu olhar é devastado. Eu consegui o

que queria e me sinto um idiota, o pior dos seres humanos e mesmo

assim, eu não paro.[AMF1]

Viro-me para a garota e ela continua repetitiva, então entrelaço

minha mão na sua e a levo para o meu quarto. Eu a beijo, porém não

consigo continuar, é impossível. Peço desculpas e ela deixa meu quarto.

Eu fico sozinho sentado na cama e encarando a parede à minha frente.


Dakota deve estar me odiando e espero que seja o suficiente para
a manter longe.

Eu me deito e tento fechar meus olhos, porém meu passado surge

para me atormentar. A cena da garota que amei durante praticamente toda


minha adolescência me deixando por dinheiro se repete em minha mente.

Juro que escuto as palavras ditas pela minha mãe quando descobriu o que

aconteceu.

“Você é como eu, Josh, você atrai o caos.”

Não deveria acreditar no que Scarlett fala, porque sempre está

drogada, entretanto algumas coisas entram em nossa mente e em nosso

coração e fazem morada.

Sem conseguir dormir, eu me levanto e paro de frente para minha

janela. Encaro o jardim e me deparo com Dakota deitada em uma


espreguiçadeira, em certo momento leva as mãos até o rosto e o limpa.

Ela está chorando.

Minha vontade é ir até ela e pedir perdão, mas não faço, continuo

aqui, observando-a e me sentindo horrível. Ela segue no jardim e eu sigo


com os olhos fixos nela.

Dakota se senta quando o sol começa a nascer e depois de alguns


minutos Brooke se aproxima dela, as duas conversam e em seguida ficam
em pé e as perco de vista.

Eu apoio minha testa no vidro e suspiro. Não importa o que meu


coração deseje, não importa pelo que implora, ele não está mais no

comando.
 

Dakota

Josh me machuca como achei que não poderia me machucar. Eu


não espero nada dele, mas como eu pude cair na sua provocação? Como
meu corpo foi capaz de reagir ao seu? E ele está certo, eu subiria com ele

para o quarto.

Odeio as lágrimas que caem em meu rosto quando fujo para o


jardim depois de vê-lo subir para o quarto com a garota que acabou de

beijar em minha frente.

Estou me sentindo humilhada, usada e magoada. Sequer posso ir

embora, porque estou bêbada e não vou dirigir assim. Fico contemplando
o nada e pensando no quão idiota eu sou.

Depois daquela festa no primeiro semestre, não voltei a transar

com pessoas desconhecidas. Eu sou romântica e simplesmente não

consigo não ser. Quero alguém para estar comigo e segurar minha mão.
Mesmo depois de Ryan, não desisti de relacionamentos e fiquei por um

ano depois de Josh marcando de sair com caras que pareciam legais,

porém todos foram fracassados e nenhum deles passou do primeiro


encontro.

Qual o problema comigo?

É como se todos se dessem conta de que não valho a pena, como


se fosse inadequada, como se não fosse especial. Não deveria doer, mas

dói.

Continuo no jardim enquanto as pessoas se divertem, sigo aqui

enquanto vão embora e me sento para assistir o nascer do sol e ainda

estou perdida em pensamentos quando Brooke me encontra. Desvio das

perguntas das minhas amigas e vamos embora.

Não choro por causa de Josh outra vez. Nas aulas de teatro,

ignoro-o, sequer olho para ele, algumas vezes é como se algo em mim

implorasse para procurar por ele, porém me mantenho firme. Abby


continua trabalhando na casa de Josh, ela até cita seu nome em algumas
conversas e eu mudo de assunto rapidamente. Minhas amigas desconfiam
de algo, porém sempre que me perguntam o que aconteceu entre nós,

respondo nada.

Mesmo fingindo que Josh não existe, em alguns momentos ele

surge em meus pensamentos, minha mente é uma traíra.

São duas semanas que consigo me manter longe de Josh. 

...

Minha sexta-feira é normal, aula pela manhã, logo após almoçar

em um restaurante do campus, fico um tempo estudando na biblioteca e

no meio da tarde vou para minha última aula.

Chego em casa quando o sol está se pondo, então tomo um banho,

visto uma roupa confortável, pego um dos meus livros de romance de


época e como nenhuma das meninas está em casa vou para sala e me

deito no sofá. Antes de começar a ler, confiro meu celular e há uma

mensagem de Abby em nosso grupo.

“Os meninos irão preparar meu prato preferido/costela de porco e molho

barbecue, vocês não querem jantar com a gente?


P.S.: Faz tanto tempo que não janto com as minhas amigas e queria

muito vocês aqui.”

Meu coração bate acelerado, eu me sento e encaro a parede à

minha frente. Não quero ver Josh, mas Abby está certa, como ela está
praticamente vinte e quatro horas com Ethan, quase não nos vimos e

tenho saudade da minha melhor amiga. Seria ótimo jantar com ela, se ele
não estivesse presente.

Merda, o que eu faço?

Talvez, consiga ignorar sua existência. Quem sabe, ele não esteja
em casa.

Continuo ponderado se devo ou não ir enquanto começa minha


leitura, minha concentração está péssima e preciso ler e reler as mesmas

frases várias vezes. Estou relendo uma parte pela quarta vez quando a
porta é aberta e Brooke entra em nosso apartamento.

Largo meu livro de lado, já que minha leitura não está fluindo e
encaro minha amiga. Brooke está com os cabelos bagunçados, olheiras e

está com uma expressão de derrota em seu rosto.

— Você parece acabada.

Ela fecha porta, entra e se joga no sofá ao meu lado.

— Estou morta.
Apoia sua cabeça contra o estofado e fecha seus olhos. Ela

realmente parece estar morrendo.

— Então, vai recusar o convite de Abby?

Ela abre seus olhos e me encara com sua testa franzida.

— Convite?

— Não leu as mensagens que ela enviou no nosso grupo?

Ergo minhas sobrancelhas e ela balança sua cabeça. Brooke pega

seu celular e lê a mensagem que Abby nos enviou. Ela reflete sobre o
convite e olha para mim novamente.

— Você irá?

Mordo meu lábio inferior. Eu quero e não quero ao mesmo

tempo.

— Não sei.

Brooke faz uma careta.

— Você não parece muito empolgada.

— Quando eu estou muito empolgada para sair?

Uso como desculpa e sorrio, um sorriso forçado e falso.

— Você está escondendo alguma coisa.


Brooke não parece muito convencida, mas eu estou determinada a
não conversar sobre. Se falar de Josh, ele vai tomar uma importância da
minha vida que não merece.

— Juro que não estou.

Brooke assente e muda de assunto.

— Eu confesso que estou muito cansada, porém estou


extremamente entediada de ficar em casa.

— Realmente é o seu recorde: duas semanas em casa.

Debocho.

— Então, vamos? — Assinto por fim. — Ok, eu vou tentar tirar


um cochilo e podemos ir lá pelas sete, o que acha?

Assinto mais uma vez e Brooke fica em pé.

— Estou indo tentar descansar.

Acena e vai para o seu quarto, eu fico encarando a parede à minha


frente de novo. Devo ir mesmo? Quão ruim será? Mas não posso deixar

Josh comandar minha vida. Eu quero ver minha amiga e irei vê-la.

Volto para o meu livro e dessa vez, minha leitura flui. Leio alguns
capítulos e decido ir tomar meu banho, demoro embaixo do chuveiro e

quando vou para meu quarto com a toalha em volta do meu corpo, coloco
música em meu celular, escolho minha roupa e me visto ao som de
Beatles

É algo simples, então visto apenas um vestido, deixo meu cabelo


solto e calço uma rasteirinha. Saio do meu quarto, colocando meus
brincos e encontro Brooke na sala sentada no sofá e com o celular em

mãos. Ela tem um sorrisinho em seu rosto, aposto que está conversando
com algum garoto.

— Estou pronta, vamos?

Brooke olha para mim e seus olhos estão brilhando.

— Vamos.

Brooke fica em pé e saímos do nosso apartamento.

— Quem era o responsável pelo sorriso em seu rosto?

Provoca-a enquanto caminhamos para o seu carro.

— Não estava sorrindo.

Nega.

— Estava sim.

Dá de ombros.

— Apenas estava conversando com Aiden.

— Aiden e Brooke, eu shippo, hein!?


Brooke age como se não fosse nada demais e eu zombo dela.

Durante o caminho até a casa dos meninos, eu vou a provocando e


Brooke negando que aja algo entre eles. Segundo ela, foi apenas uma

vez, porém pela sua animação, ela está disposta a repetir.

Nós chegamos e é Abby que abre a porta, ela está tão à vontade
que você juraria que ela é a dona da casa.

— Olha só, Dakota, ela já age como se a casa fosse dela, será que

iremos perder a nossa colega de apartamento?

Brooke provoca e Abby revira seus olhos. Eu abraço minha


amiga e entramos na casa. Meu coração acelera enquanto seguimos para

a cozinha, não sei se estou pronta para ver Josh.

Assim que entramos na cozinha, nos deparamos com os quatro

meninos, Dylan, Josh, Ethan e Aiden. Minha respiração se altera, eu não


o encaro, apenas aceno na direção deles e sigo Abby. Ela se senta ao lado

do Ethan e eu ocupo o banco do outro lado do quarterback. Josh está à

nossa frente e mantenho meu olhar no balcão, eu não quero o ver.

— Eu acho um máximo vocês cozinharem, ricos, famosos,

jogadores e bons na cozinha, qual é o defeito deles?

Brooke ri e sigo tensa. Meu Deus, eu não deveria ter vindo.


Quero voltar para casa.
— Eles não prestam.

Abby responde e as duas riem. Eu estou suando e prestes a ter um

colapso.

— Isso não é verdade, eu sou o genro que toda mãe quer.

Dylan se defende e em seguida, Josh. Ouvir sua voz faz com que

uma sensação estranha se instale em minha barriga.

— Eu estou cozinhando para você e você me caluniando, Abby.

Respiro fundo e ergo minha cabeça. Foco em Aiden que está


falando no momento.

— Você está sendo ingrata, Abby, eu te trato como uma princesa.

— Bom, se minha amiga está dizendo, eu acredito nela.

Brooke põe fim no assunto e minha amiga flerta com Aiden


enquanto pega algumas cervejas na geladeira. Continuo evitando Josh e

assim que Brooke me entrega uma cerveja para dividir com Abby, trago a

garrafa até minha e bebo um longo gole da bebida.

Hoje, eu preciso de muito álcool.

Os meninos cozinham e conversamos. Eu me mantenho mais

quieta e com os olhos em Abby e Ethan, assim não corro o risco de


esbarrar com Josh. Ouvir sua voz já é ruim o suficiente.
Aiden de repente bate no balcão e no automático viro-me para

ele.

— Nós deveríamos fazer uma festa de Halloween.

Sorrio e balanço minha cabeça.

— Ainda falta semanas para o Halloween.

Digo ao mesmo tempo que Josh e meu sorriso morre. Sinto seu
olhar sobre mim, meu peito vibra com emoções diversas e não consigo

mais me controlar, eu olho em sua direção. Meu olhar encontra com o

seu e é como se de repente ele estivesse vendo a minha alma e eu a sua.


Ele parece triste, arrependido e em meio a uma batalha.

Nossos amigos falam ao nosso redor, mas continuamos nos

encarando até que ele desvia os olhos dos meus e se vira para Aiden.

— Eu quero ficar com as bebidas.

Engulo em seco, tento esquecer essa interação entre Josh e eu e

me concentrar em meus amigos. Nós conversamos sobre a festa,

organizamos e nos planejamos e continuamos no assunto enquanto

jantamos. Eu sigo bebendo como se não houvesse amanhã e meu olhar


volta a cruzar com Josh outras vezes. É uma tortura e por isso quando

Dylan sugere irmos para o jardim, pulo do banco que estou sentada e o

apoio.
Nós sete vamos para o jardim. Eu sei que estou ficando bêbada,

porque meu equilíbrio está péssimo e não pretendo parar de beber. Nós

ocupamos as espreguiçadeiras ao redor da piscina e continuamos

bebendo. Eu me mantenho quieta e distante. Como o álcool está fazendo


efeito em meu sistema, quando meu olhar encontra com Josh, não o

desvio, encaro-o e meu coração acelera.

Odeio como ele tem a capacidade de mexer comigo. Por que não
consigo fingir que ele não existe? Por que ele segue como se estivesse

impregnado em mim?

Bebo a ponto da minha visão estar totalmente nublada, o ruim de

beber pouco é que quando você bebe, fica bêbada com pouco. Estou me
sentindo leve e meu corpo está um pouco dormente.

Caralho, bebi demais.

Aiden e Brooke pulam na piscina e logo em seguida Dylan e Josh

fazem o mesmo, eu continuo na espreguiçadeira e me deito. Melhor me


manter distante do loiro de olhos castanhos.

Fecho meus olhos e deixo que minha mente me guie, ela me leva

para um lugar calmo, tão tranquilo... tão bom. Alguém está me


chamando, resisto, mas a pessoa segue me chamando.

— Que merda!
— Olha a boca, princesa.

Reconheço a voz e fico irada. Por que ele está me chamando?


Abro meus olhos e Josh está curvado em minha direção e tocando meu

braço.

— Não me toque.

Ele ri e afasta sua mão da minha pele.

— Você fica linda babando, sabia?

— Vá a merda, Josh! — Josh continua rindo e me encarando

como se fosse uma peça de joia em exibição. — Pare de me olhar.

Dá de ombros, ajeita-se ficando com suas costas retas e me


estende sua mão.

— Você pode dormir em meu quarto.

Uma risada irônica escapa entre meus lábios.

— Nem morta.

Sento-me na espreguiçadeira e vejo o mundo ao meu redor girar.

Droga, não deveria ter bebido tanto.

— Você está bêbada e não pode ir embora. Abby subiu com


Ethan, Aiden e Brooke estão quase se comendo na piscina, ela com

certeza vai dormir com Aiden hoje.

Ele está certo, minhas amigas me abandonaram.


— Vou de táxi.

— Você esta bêbada demais para entrar em um carro com um

estranho.

Estou bêbada, mas sei que ele está certo e não sou uma
irresponsável. Não costumo ser pelo menos.

— Vou continuar dormindo aqui.

Tento voltar a me deitar, mas Josh toca minhas costas e me

impede.

— Já disse para não me tocar.

— Não seja teimosa.

Faço uma careta. Não estou conseguindo ver seu rosto

nitidamente, apenas as luzes da noite ao seu redor. Quase como se ele


fosse um anjo, um anjo caído.

— Não vou dormir com você, Josh.

— Não seria a primeira vez. — Dou um chute em sua perna. —

Não seja agressiva.

— Então, não seja um idiota.

Ele ri e dá um passo para trás.

— Não vou tocar em você, prometo. — Balanço minha cabeça, o

que faz com que tudo gire ainda mais. — Não vou ficar no quarto.
Encaro-o, minha cabeça gira e meus olhos estão pesados. Droga,
eu preciso dormir.

— Vamos, Dakota.

Volta a me estender sua mão. Eu recuso e fico em pé sozinha, o


que é horrível. Tudo está duplicado e balanço para o lado. Josh tenta me

segurar, mas dou um tapa em seu braço.

— Vou dormir no sofá.

Afirmo enquanto me afasto dele e tento caminhar sozinha, o que é


horrível. O chão está se movendo. Tudo está se movendo. Estou quase
entrando na casa quando meu corpo encontra algo.

— Ai, caralho.

— Aí é a porta, princesa.

Josh ri, eu procuro pela maçaneta e consigo abrir a porta. Apesar


da dor em meu corpo, entro na casa, a luz está mais forte e meus olhos

doem. Por que, parece que estou mais bêbada a cada segundo?

Eu quase caio no meio da cozinha, mas Josh me segura de novo, e


de repente, passa seus braços pelas minhas pernas e me pega em seu

colo.

— O que você está fazendo?


Mando meu corpo reagir, porém ele não me obedece e apenas
apoio minha cabeça em seu peito.

— Sendo seu herói.

— Impossível, porque você é o vilãoooo.

Sorrio da forma como arrasto minha voz na última palavra. Josh


não fala nada e segue comigo em seus braços para a escada.

— Você não está me levando para sala.

— Não, não estou.

Estou tonta demais para protestar e deixo que ele me leve para
seu quarto. Assim que abre a porta, meu estômago protesta e a ânsia de
vômito se torna insuportável.

— Eu preciso de um banheiro.
 
 

Josh

— Droga.

Levo Dakota para o banheiro. Eu posso não estar sóbrio, porém

não estou tão bêbado quanto ela. Coloca-a no chão com cuidado e ela se
curva sobre o vaso sanitário.

Eu já vi muitas vezes meus amigos perderem a linha na bebida

para ter nojo de vômito, além da minha mãe, então me aproximo de

Dakota e seguro seu cabelo. Assim que ela para de vomitar, dá um passo
para trás e se distancia do vaso. Ela se senta no chão com as costas

apoiadas na parede.
Seu cabelo está uma bagunça, ela está pálida e seus lábios estão

tremendo. A expressão em seu rosto não é nada saudável.

— Quão mal você está?

— Eu não estou mal.

Sussurra e sorrio ironicamente.

— Claro que não, eu que estou.

— Você precisa parar de ser um idiota e ser um cavalheiro, Josh.

Ela fecha seus olhos e suspira. Droga, ela está com sono, ela deve

estar prestes a dormir e não posso a deixar com essas roupas, elas estão
sujas e devem estar fedidas. Faço uma careta.

— Você nem bebeu tanto assim, princesa.

Abaixo-me e a ajudo a ficar em pé. Dakota abre seus olhos e me

encara com uma expressão de inocência.

— Não costumo beber, então quando bebo, não preciso de muito

para ficar bêbada.

— Percebi. — Resmungo e dou um passo para trás. — Você

precisa de um banho.

Ela faz um beicinho adorável e enruga o nariz, por que até mesmo

bêbada ela precisa estar linda?

— Realmente, estou precisando de um banho.


Olho para o lado e encaro o box.

— Você consegue tomar um banho sozinha?

— Claro que consigo.

Assinto.

— Ok, eu vou pegar uma roupa para você.

Viro-me e deixo o banheiro. Quem diria que estaria cuidado de

Dakota bêbada? De tudo que poderia acontecer, isso é o mais

improvável. Eu pego uma camiseta, uma cueca e uma bermuda. E ao


voltar para o banheiro, encontro-a embaixo do meu chuveiro, sem

nenhuma roupa. Porra!

— Hey, você não pode entrar assim.

Ela protesta e coloca uma das mãos sobre seus seios e a outra

sobre sua virilha. O vidro do box não a deixa tão exposta e eu viro meu

rosto para não a olhar.

— Era para você ter esperado eu trazer as roupas antes de ficar

nua e entrar no box.

Coloco as roupas sobre o balcão da pia

— Você não me disse para esperar.

Reviro meus olhos.

— Era para você supor que entraria no banheiro.


— Vai se foder, Josh!

— Olha, a princesinha diz palavrões. — Olho em seus olhos e me

viro ficando de costas. — E não entendi o porquê está preocupada, não

há nada que não tenha visto.

Sorrio debochado.

— Imbecil, idiota, babaca...

Abro a porta, saio do banheiro e ainda posso a ouvir me

xingando. Ainda há um sorriso em meu rosto enquanto vou até minha


cama e me sento sobre o colchão, porém ele se desfaz e encaro a parede à
minha frente.

Eu sabia que continuaria vendo Dakota depois daquela festa, só

não sabia que seria tão difícil a ignorar. A cada aula de teatro queria ir até
ela e pedir desculpas, queria que ela olhasse em minha direção e parasse
de me ignorar. Não é algo agradável de admitir, mas seu desprezo doeu

em mim.

Passo as mãos pelos fios do meu cabelo. O que essa garota tem?
Por que me puxa em sua direção como um imã? Por que simplesmente

não consigo ignorá-la?

Eu não esperava vê-la aqui hoje, mas desde que ela entrou na

cozinha, meu olhar procura por ela. Nós nunca nem tivemos uma
conversa normal, a não ser a daquela noite e estávamos bêbados.

Por que então ela me chama tanta atenção? Deve ser aquele lance
de querer o que você não pode ter. Minha consciência acusa que não

existe nada que me impeça de me aproximar dela, apenas motivos


baseados literalmente em vozes da minha cabeça. Será que estou sendo

ridículo?

Poderia ter a deixado na espreguiçadeira, porém não consegui.


Ela estava dormindo tão mal e no outro dia, a assisti pela janela, talvez

fizesse o mesmo hoje.

A porta do meu banheiro é aberta e Dakota surge usando as

minhas roupas, uma onda de excitação percorre meu corpo e minha


respiração se altera. Há algo tão sexy em vê-la vestindo as minhas

roupas. Minhas.

Encaro-a enquanto minha vontade é ir até ela e a beijar. E tomar

seus lábios e fazê-la gemer meu nome. Quando se torna insuportável,


desvio meus olhos e fico em pé.

— Você pode dormir na minha cama.

Aponto para cama e quando volto a olhar para ela, encontro seus
olhos que ainda estão brilhando por conta do álcool.

— Ok.
Ela se aproxima da minha cama e acompanho com meus olhos,
ela irá se deitar no meu colchão, meus lençóis e travesseiro possuirão o
seu cheiro. Que tipo de armadilha estou fazendo para mim mesmo?

Dakota puxa o lençol e edredom e se vira para mim.

— Você irá dormir aqui?

Sorrio.

— Onde mais irei dormir?

Balança sua cabeça negando.

— Não quero que você durma comigo.

Assinto e continuo com um sorriso em meu rosto, porque suas


palavras estão mais arrastadas que o normal, apesar de ter vomitado e do
banho, Dakota segue bêbada.

— Tá bom.

Levanto a mão para cima em sinal de rendição e ela se deita em


minha cama. Dakota está de barriga para baixo, abraça um dos meus
travesseiros e fecha seus olhos. Eu fico a observando e não demora muito

para que sua respiração indique que está dormindo.

Enquanto estou olhando Dakota, me lembro das suas palavras:


Impossível, porque você é o vilãoooo.

— E você, Dakota, é a heroína ou a vilã da minha história?


Suspiro, viro-me e vou até o banheiro. Eu tomo um banho, coloco
roupas limpas e pego as minhas roupas. Encontro as de Dakota, as
apanho e desço até a lavanderia. Lavo-as na lava e seca, porque assim ela

poderá vesti-las assim que acordar.

Eu fico fitando a parede enquanto a máquina faz o seu trabalho. A

imagem de Dakota vestindo minhas roupas ecoa em minha mente. Não


consigo de parar de pensar nela. Ela tem sido meu tormento.

Assim que as roupas estão lavadas e secas, recolho-as e volto para

o meu quarto. Deixo-as dobradas sobre a cômoda e me ocupo o lugar ao

lado de Dakota. Ela disse que não me queria dormindo com ela, porém
eu não disse que não dormiria.

Fecho meus olhos e antes de dormir, sinto Dakota se

aproximando, ela passa seu braço pela minha barriga e apoia sua cabeça

em meu peito. Eu relaxo e a abraço.

Dakota

Acordo com braços ao redor do meu corpo e não consigo


reconhecer a quem os braços se referem. Abro meus olhos e como tudo
está escuro, demoro a me acostumar com a falta de luz, assim que me

adapto à baixa da luz, dou conta-me que estou nos braços de Josh.

Droga, ele veio dormir comigo e ainda me abraçou. Quem ele

pensa que é? Minha mente acusa que pela posição fui eu que me

aproximei dele.

Com raiva de mim, desvencilho-me dele com cuidado para ele

não acordar e deixo sua cama. Meu pé pisa no chão e tudo parece estar se

movendo lentamente, droga, ainda há álcool em meu sistema. Nunca

mais irei beber.

Olho ao redor do seu quarto e me deparo com as minhas roupas

dobradas sobre a sua cômoda. Eu vou até elas e me dou conta de que

estão limpas, então Josh as lavou. Ele não deveria ter gestos assim, ele
precisa ser apenas idiota.

Suspiro, pego minhas roupas e vou para o banheiro. Minha

cabeça está doendo e minha garganta está seca, além de existir um gosto

horrível em minha boca. Realmente, nunca mais irei beber.

Eu troco minha roupa, vasculho as gavetas da pia de Josh e

encontro com uma escova de dente na embalagem, pego-a e escovo meus

dentes. Por fim, prendo meu cabelo em um coque com os meus próprios
fios e deixo o banheiro. Então, deixo suas roupas sobre a cômoda e saio

do seu quarto

— O que você estava fazendo no quarto de Josh?

Olho para o lado e me deparo com Abby. Merda, não pretendia

me encontrar com ninguém, só queria ir para casa. Encaro minha amiga e

antes que ela possa dizer algo, balanço a cabeça e me justifico.

— Não aconteceu nada entre nós, eu dormi na espreguiçadeira e


ele me trouxe para o seu quarto, foi isso, apenas isso.

Abby apenas assente e suspiro aliviada.

— Café?

Mordo meu lábio inferior.

— Estava pensando em ir embora.

— E Brooke?

Abby se aproxima e caminhamos uma ao lado da outra na direção

da escada.

— Com Aiden.

Respondo minha amiga, embora não tenha visto Brooke subir

para o quarto com Aiden, acredito que os dois estejam juntos pela forma

como os dois estavam juntos ontem à noite.

— Espero que esses dois não acabem se machucando.


Assinto, embora minha atual preocupação seja eu mesma não sair

machucada. Nós descemos o último degrau e dou um passo na direção da


porta, porém Abby engancha seu braço no meu e sou obrigada a parar.

— Fique mais um pouco e vamos preparar algo para comermos.

Reviro meus olhos, porque ela faz uma expressão de cachorro


abandonado.

— Ok, ok.

Cedo por fim e vamos para a cozinha. Abby prepara nosso café

enquanto faço os ovos, ela é quem pega tudo que precisamos para
preparar o que iremos cozinhar, minha amiga realmente está como se

estivesse em casa. Logo que temos tudo pronto, nos sentamos nos bancos

que ficam de frente para a ilha, que ocupa a metade da cozinha dos

meninos.

— E você e Ethan? — Eles parecem bem próximos e ela dormiu

com ele. Abby encara os ovos em seu prato. — O que vocês têm?

— Nada.

Minha amiga na minha frente responde muito rápido e por essa


razão, eu rio, porque ela claramente está mentindo.

— Vocês não parecem não ter nada.

Dá de ombros e ergue seus olhos até me encarar.


— Nós somos amigos.

Ela não tem determinação em sua voz e nem em seus olhos.

— E tudo está sobre controle?

Ergo minhas sobrancelhas e seus ombros cedem.

— Não, nada está sobre controle.

Suspira.

— O que nada está sobre controle?

Brooke pergunta ao entrar na cozinha, nós duas olhamos para ela


e não a respondemos. Brooke se senta ao lado de Abby e ela está nos

encarando, esperando por uma resposta. Abby olha para nós duas com

uma expressão estranha.

— A minha situação com Ethan.

— Qual é o problema?

Brooke pergunta sem entender. Abby suspira mais uma vez.

— Eu não o odeio mais e às vezes... tenho vontade de beijá-lo.

— Sabe o nome disso? — Encaramos Brooke curiosa. — Tesão.

Eu não consigo me controlar e acabo rindo, Abby faz uma careta.

— Nome disso é: eu estou ferrada.

— Acho que você está apaixonada.


Sou direta e Abby arregala seus olhos.

— Você está errada.

Conheço Abby desde o jardim de infância e sei reconhecer

quando ela está em negação.

— É apenas uma questão de tempo até você admitir.

Dou de ombros e Abby me fuzila com seus olhos.

— Você está enganada.

Ela não soa nenhum pouco determinada, Brooke e eu nos

olhamos e Abby bufa.

— Aiden e você?

Muda de assunto e pergunta para Brooke, que se levanta e enche

uma xícara com café.

— Repetimos a dose. — Sorri maliciosa. — Já disse que ele é

ótimo? Seu brinquedo é do tamanho perfeito e ele sabe o usar.

— Detalhes demais, detalhes demais.

Tapo meus ouvidos e zombo dela. Brooke apenas ri e volta a se

sentar.

— Não seja tão recatada, certeza que ela não é virgem?


Provoca-me fazendo a pergunta para Abby, reviro meus olhos e as
duas riem.

— E você e Josh?

Abby pergunta e engulo em seco.

— Nós não temos nada.

Bebo do meu café e Abby estreita seus olhos.

— Por que é tão estranho quando vocês estão por perto?

Balanço minha cabeça.

— Você está vendo coisas demais, Abby.

— Por que você não nos contou do teatro? E principalmente, por

que não nos contou que um dos seus colegas é uma das Estrelas do

Alabama?

Abby está desconfiada e por isso está me desafiando.

— Esqueci.

Minto e bebo mais um pouco do meu café para evitar continuar


falando.

— Vamos mesmo organizar a festa de Halloween, não é?

Graças a Deus, Brooke muda de assunto. Pelos próximos minutos


conversamos sobre a festa e sobre o que podemos fazer e qual fantasia
usaremos. Nós terminamos de comer, então limpamos o que sujamos e
Brooke e eu vamos embora, Abby fica, porque continua sendo a babá de
Ethan.

Brooke dirige e vamos conversando sobre assuntos aleatórios,


apesar de ter passado mal e estar com dor de cabeça, estou melhor do que
acreditava que estaria.

Nós chegamos em nosso apartamento e eu vou direto para meu

quarto, e assim que entro no cômodo, me deparo com o espelho e meu


reflexo, acabo me dando conta de que não estou usando a correntinha que
sempre uso.

Droga, eu tirei minha correntinha para tomar banho e a esqueci


em cima do balcão da pia do banheiro de Josh.
 

Josh

Acordo e Dakota não está mais ao meu lado, porém seu cheiro
está impregnado nos meus lençóis e em meu travesseiro como eu
suspeitava. Suspiro e faço a idiotice de trocar o meu travesseiro pelo que

ela usou, só para sentir como se ela estivesse ainda aqui bem ao meu

lado.

Isso me faz tão patético que eu mesmo tenho vergonha de mim.

Volto a dormir e sonho com Dakota. Sonho com ela em meu


quarto, em minha cama, com minha boca sobre a sua e com minhas mãos

tocando seu corpo. Acordo ofegante e excitado. Assim que me dou conta
de que tive um sonho erótico com Dakota, suspiro, fico com raiva de

mim mesmo e me levanto.

Vou para o banheiro e entro debaixo da água fria. Estou

precisando disso para me acalmar. É realmente o fim do poço, a


humilhação só não é maior, porque não preciso me tocar.

Raiva de mim faz ferver o meu sangue e me deixa de mal humor.

Tudo culpa daquela ruiva. Saio do banho e enrolo a toalha ao redor da

minha cintura, paro em frente à pia e escovo meus dentes e quando


termino, constato duas coisas.

Ela usou uma das escovas embaladas que eu tinha em minha


gaveta e ela esqueceu a sua correntinha. Guardo a minha escova, pego a

sua correntinha e a ergo a fim de analisá-la melhor.

O pingente é um coração brilhoso. É delicado, assim como

Dakota, combina perfeitamente com ela. Volto para meu quarto e meu

humor está um pouco melhor.

Deixo a correntinha em cima da cômoda enquanto me visto, meu

olhar nunca desvia da joia. Eu me visto e pego meu celular, sento-me na

beirada do colchão e confiro as notificações. Para minha infelicidade, há

uma de Gavin.

“Hey, Josh, ela me pediu mais dinheiro.”


Não preciso ser um gênio para adivinhar de quem ele está
falando. Passo a mão pelos fios do meu cabelo, suspiro e encaro o teto.

Como não há como evitá-lo, envio uma mensagem.

“Quanto?”

Ele me responde imediatamente.

“Mil dólares.”

— Caralho.

Eu não preciso perguntar o porquê, os motivos são sempre os


mesmos. Dívidas com agiotas e com traficantes. Entro no meu aplicativo

do banco e faço a transferência.

“Feito, obrigado cara e desculpa meter você nessa confusão.”

Odeio ter envolvido Gavin com a história da minha mãe, mas ele

é o único que ela deixaria entrar em sua casa e contaria seus problemas.

Ela só me ligaria quando tudo estivesse no limite e talvez nem pudesse


resolver a encrenca da vez daqui.

“Você não precisa me agradecer, você sempre me ajudou no que


precisei.”

Gavin e eu temos uma dívida de gratidão um com o outro, ele é


filho da vizinha da minha mãe, uma viciada como ela, porém seu pai não

é rico como o meu. Ele não teve a mesma sorte, se é que podemos
chamar de sorte. Quando estava com minha mãe e ela estava ou drogada,

ou em surto por falta de droga, era para casa de Gavin que eu corria para
me afastar dela. Se sua mãe estava na mesma situação, íamos até o

parquinho na esquina e ficávamos lá tentando encontrar novas


esperanças.

Foi lá que eu conheci Laylah e achei que tinha encontrado a


minha esperança. No fim, estava enganado e as palavras da minha mãe
fizeram sentido: pessoas como nós não vencemos.

Coloco o celular sobre a minha cama à minha direita, curvo meu


corpo para frente, apoio meus cotovelos nas minhas pernas e deixo minha

cabeça entre minhas mãos.

É claro que nosso DNA não define quem seremos, Scarlett não

está certa. Mentalizo, porque é irracional acreditar nela, é tolice acreditar


que estou fadado ao fracasso. Eu sei disso, só é difícil de aceitar algo
quando tudo te leva crer ao contrário.

Antes que fique com mais raiva da minha mãe e da minha vida, e
caia em um poço de autodepreciação, me levanto, apanho a correntinha

de Dakota para guardar no meu bolso da calça e deixo meu quarto. Desço
as escadas e encontro Ethan e Abby na cozinha, eles estão preparando o

almoço.
— A bela adormecida acordou.

Ethan zomba e ergo o meu dedo do meio em sua direção


enquanto me aproximo e me sento no banco de frente para os dois.

— Acorda quase três horas da tarde e ainda está de mau humor.

Abby me provoca e sorrio debochado.

— Hoje é sábado, o dia mundial do descanso.

— Se você tivesse descansado, não estaria de mau humor.

Dou de ombros.

— Tenho meus motivos para não estar com um humor

espetacular.

Ethan ergue suas sobrancelhas, Abby larga a faca que estava

usando para cortar a salada, lava as mãos com água da torneira e enxuga
com o pano de prato, por fim cruza seus braços em frente do seu corpo.

— Espero que isso não tenha a ver com a minha amiga.

— Não totalmente.

Ela tem a testa franzida e um olhar mortal, poderia ficar com


medo dela se não fosse tão baixinha. É uma cena cômica.

— Não magoe minha amiga, ou irei matá-lo. — É impossível não


rir da sua ameaça. — Não ria, eu estou falando sério.
— Você tem quase a metade do meu tamanho.

Revira seus olhos, descruza seus braços e volta a cortar a salada.

— Não seja exagerado.

Resmunga.

— Ok, não sou assim tão alto, mas você não seria capaz de me
matar.

— Sempre posso pagar alguém.

Ela dá de ombros, como se realmente fosse capaz de pagar um


assassino de aluguel. A garota baixinha que na maioria das vezes parece

estar zangada pode tentar, mas não coloca medo em ninguém, na verdade
é ao contrário.

Eu adoro Abigail, porque ela me lembra da Tessa, as duas agem


como se odiassem o mundo, porém são inofensivas. A maior diferença
entre as duas é que Tessa é mais extrovertida e expansiva, até demais.

— Você se daria bem com a minha irmã.

Abby ergue suas sobrancelhas e Ethan gargalha, ela se vira para


meu amigo.

— Qual o motivo da risada?

Desafio-o e os observo com curiosidade. Os dois se odiavam,


agora são amigos e pela forma como estão se olhando, não ficaram
apenas na amizade. Espero que eles não se machuquem, pois gostar de
alguém quando você é jovem, é um perigo.

Ethan ergue as mãos para o alto e respira fundo algumas vezes até
enfim conseguir parar de rir.

— Você e Tessa juntas seriam um problema para sociedade.

— Isso é verdade.

Concordo com meu melhor amigo. Abby olha desconfiada para


nós dois.

— Por que nós somos parecidas?

Ergo minha mão e enquanto falo, enumero a semelhança entre

elas usando os dedos.

— Vocês são debochadas, têm humor ácido, são irônicas e

baixinhas. São rebeldes.

— Eu não sou rebelde.

Defende-se e apenas balanço minha cabeça negando.

— Ela só é um pouco mais sociável que você.

Ela dá uma leve cotovelada em sua barriga e se vira para Ethan.

— Sou super sociável.


Ela aponta a língua para Ethan. Eu sorrio do seu gesto super

infantil e Ethan continua a provocando.

— Demorou semanas para você aceitar ser minha amiga.

— Você merecia. — Aponta na direção dele. — Eu fui super

sociável com seus amigos.

— Nisso sou obrigado a concordar com você.

Concordo com Abby, que sorri vitoriosa para Ethan.

— O problema sempre foi você.

Ela o acusa e os dois se encaram. Há uma intensidade na forma


como os dois se olham.

— Por favor, se vocês forem transar, façam isso em um quarto.

Abby se vira para mim com uma expressão de quem está prestes a

matar alguém.

— Idiota!

É a minha vez de apontar em sua direção.

— É esse jeito esquentadinho que minha irmã tem.

Sorri.

— Sua irmã deve ser incrível se for mesmo parecida comigo e iria
adorar a conhecer.
— Talvez, semestre que vem você a conheça.

— Ela virá para universidade? — Assinto. — E quantos anos ela

tem?

Respondo dezoito e pelos próximos minutos enquanto

conversamos sobre minha irmã, Ethan e Abby cozinham. Quando o

almoço está pronto, Abby deixa a cozinha para ir ao banheiro, então

Ethan espalma as mãos sobre o balcão e me encara preocupado.

— O que aconteceu para o estar de mau humor? — Estou prestes

a negar, mas Ethan é mais rápido. — E não me diga mais nada, porque

sei que algo está o perturbando.

Ethan e eu nos conhecemos no quarto ano, quando fui morar com


meu pai e precisei mudar de escola, foi lá que conheci Ethan e o beisebol.

— O de sempre.

Ethan faz uma careta.

— Você deveria tentar a clínica.

Sorrio, um sorriso totalmente sem humor.

— Você sabe que não adianta, ela fica uns meses sem droga, mas

sempre acaba retornando para o vício.

— E se você parar de dar o que ela pede?


Nós já tivemos essa conversa e entendo Ethan, porém algumas

questões não são tão simples de resolver como imaginamos.

— Sei que não é saudável apoiar seu vício e que provavelmente

uma hora ele irá matá-la, mas se não der o dinheiro, ela irá pegar

emprestado e se não tiver como pagar, os agiotas irão bater nela, ou fazer

pior.

Meu estômago embrulha só de recordar vê-la com as roupas

rasgadas em cima do sofá, eu tinha nove anos e mesmo assim pela sua

expressão, pelas lágrimas descendo pelo seu rosto, soube que havia sido
abusada sexualmente. Naquele dia, eu liguei para a polícia, esse meu ato

foi o que meu pai precisou para conseguir minha guarda e minha mãe foi

para uma clínica de reabilitação.

Achei que ela ficaria bem e que um dia voltaríamos a viver

juntos, e dessa vez, seria melhor, porque ela estaria bem, mas ela não

ficou bem. Não por muito tempo.

— Não quero estar relacionado à morte da minha mãe de alguma


forma, então se ela quer dinheiro, dinheiro ela terá.

É nítido que Ethan não concorda, mas também sabe que não

tenho muito o que fazer.

— Sinto muito, cara.


— Eu também, Ethan.

Encerramos o assunto assim que Abby se aproxima, ela entra na

cozinha mexendo em seu celular. Ergue seus olhos do aparelho e para ao

lado de Ethan, porém olha em minha direção.

— Dakota pediu para eu pegar uma correntinha que esqueceu no

seu quarto.

Sorrio ao me lembrar da joia que tenho em meu bolso, pego-a e a


coloco em meu pescoço.

— Fale para ela que se quiser, terá que pegar diretamente comigo.

Deveria entregar para Abby e a continuar evitando, mas foda-se.

— Não seja um idiota, Josh.

Abby está tentando me coagir, mas balanço a cabeça negando.

— Não vou entregar para você.

— Vamos, Josh, não seja um cuzão.

Rio do palavrão da Abby.

— Vocês ficaram?

Ethan interrompe nós dois.

— Não.
Ele está perguntando de agora e não de dois anos atrás e de

qualquer forma iria mentir.

— Juro que se você fizer minha amiga sofrer, eu corto seu pinto,

ou no mínimo quebro o seu nariz como fiz com Ryan.

Abby volta a me ameaçar, porém não é a sua ameaça que me

chama a atenção.

— Quem é Ryan?

— O ex idiota da Dakota.

Quero perguntar o porquê ele é um idiota, mas não faço.

— Vamos comer que estou morto de fome.

Assinto e olho para a porta.

— E Dylan e Aiden?

— Aiden está estudando e Dylan saiu.

Ethan me responde enquanto pega os pratos no armário. Nenhum


de nós fala mais nada e almoçamos em silêncio. Após o almoço, subo

para meu quarto, troco de roupa e vou para The Joe, o apelido do estádio

de beisebol da Universidade do Alabama. E o lugar onde me sinto


realizado.

Assim que estaciono o carro, deixo-o e caminho na direção da

sala de imprensa. Passo pelos corredores e posso sentir meu coração


vibrando mais forte. Eu amo o beisebol, é a minha vida e meu maior
medo é fracassar como atleta.

O estádio é enorme, com sua última reforma, o lugar ficou ainda

mais incrível, contando com Lounge para jogadores, suítes, sala de


imprensa, vestiário e uma sala de treinamento com equipamentos de

elevado padrão.

Mal posso esperar para o início da temporada.

Encontro com alguns dos meus colegas de time nos corredores e


trocamos tapinhas nas costas. Alguns encontrei nas festas, outros eu não

via desde o fim da temporada passada.

— Capitão, qual o objetivo desse ano?

Um dos calouros me pergunta enquanto caminhamos na direção


da sala de imprensa.

— Chegar a Men's College World Series[8] com certeza.

— E nós temos capacidade?

Sorrio.

— É claro que nós temos, afinal vocês têm a mim jogando com

vocês.

Os veteranos que estão com a gente riem e me chamam de


arrogante. Nenhum deles está realmente falando sério e eles sabem que
comigo no time as chances realmente são melhores.

Entramos na sala de imprensa e o treinador já está em pé logo em


frente a mesa que normalmente é ocupada por ele e os melhores

jogadores do jogo.

— Bem-vindos.

O treinador Turner nos saúda e ocupamos as cadeiras que estão


espalhas pela sala. Ele soou seco como sempre. Um fato sobre meu

treinador é que ele pode parecer ser durão e um idiota, porém é só


aparência dele. Todos nós do time o admiramos.

Ele fica em silêncio e conversamos um com o outro até que o

restante do time, os calouros e veteranos, chegam e ele inicia o seu


discurso.

— Bem-vindos mais uma vez. — Seu olhar percorre pelos nossos

rostos. — Estamos aqui para falar sobre a próxima temporada,


conversaremos sobre objetivos e estratégias.

Como nós já nos encontramos particularmente para uma reunião,


eu sei sobre o que ele irá falar, mesmo assim quando meus colegas

assentem, faço o mesmo gesto e continuo escutando atentamente o que o


treinador está falando. 

— Vou chamar a equipe técnica que fará parte da temporada.


Ele chama os nomes e o pessoal entra pela porta que fica na
lateral. A maioria são conhecidos, porém há alguns nomes novos e os
calouros não os conhecem.

— E por último, mas não menos importante o capitão do nosso


time: Josh Dawson.

Sou aplaudido e alguns dos meus colegas assobiam, eu fico em pé


e faço uma reverência na direção deles. O treinador faz sinal para que eu

vá até lá na frente, então, vou lá. Walker Turner manda eu proferir


algumas palavras de incentivo para nosso time e assim eu faço.

Digo que temos de ter garra que não será fácil, mas se tivermos
comprometimento em conjunto tanto quanto individual, conseguiremos
conquistar tudo que almejamos. Ao fim, berro o nosso grito de guerra e

eles me seguem, levantando mais o grito.

Sorrindo, volto para o meu lugar e o treinador comenta sobre


nosso primeiro jogo que será um amistoso contra UT Martin, time que

representa a Universidade do Tennessee em Martin. Estou morrendo de


vontade de colocar minhas luvas, porém nesse jogo provavelmente não
serei um titular, porque é apenas um amistoso.

Assim que a reunião é finalizada, combinamos de ir para um bar,


então animado vou para o meu carro e antes de dirigir para o Crimson
Giants, o estabelecimento que sempre vamos para comemoramos nossas
vitórias, pego meu celular e confiro as minhas notificações. Há uma

mensagem de alguém que não me segue, abro-a e é um texto de Dakota.

“Eu quero minha correntinha de volta, seu idiota.”

Sorrio, abro minha câmera, puxo a gola da minha camiseta e tiro


uma foto da correntinha em meu pescoço.

“Ela agora tem um novo dono”


 

Dakota

Entro no auditório e procuro por aquele idiota. Josh está com meu
colar desde sábado, simplesmente me enviou uma foto o usando e me
ignorou quando mandei que me devolvesse. 

Quem ele pensa que é para estar usando minhas coisas?

Ele está sentado na primeira fila e vou até ele, hoje não quero o

evitar, só quero a minha correntinha. Sento-me ao seu lado e o encaro

com raiva.

— Devolva a minha correntinha.


Ele se vira para mim e sorri vitorioso.

— Bom dia, princesa, tudo bem?

O imbecil está com a minha correntinha.

— Josh, tudo está péssimo, aliás desde que estou sendo obrigada
a conviver com você, tudo está péssimo.

Digo entre dentes e ele segue rindo. Idiota!

— Acho que alguém não dormiu bem.

— Josh, só me faça o favor de devolver o que é meu.

A professora começa a falar, mas a ignoro e nem presto atenção

no que está falando.

— Como disse anteriormente por mensagem, ela tem um novo

dono.

E se eu enforcar Josh? Aposto que ninguém sentirá sua falta,

inclusive será um alívio para as pobres pessoas que são obrigadas a

conviver com ele.

— Isso é roubo.

Olha em meus olhos e dá de ombros.

— Achado não é roubado.

— Não seja infantil, Josh.


— Silêncio, por favor.

Mais uma vez ignoro a professora e sigo encarando Josh.

— Vou considerar a correntinha um pagamento por ter cuidado de

você bêbada.

Ergo minhas sobrancelhas e abro a boca para o xingar, mas ele e

eu somos chamados pela professora. Só nessa vez que olho para ela.

— Josh, Dakota, vocês podem compartilhar conosco o que é tão

importante para estarem interrompendo a minha aula?

Dayse, a professora compreensiva e fofa, chama nossa atenção.

Maldito Josh, o idiota ri e eu morrendo de vergonha.

— Desculpa, professora.

Ela assente.

— E que isso não se repita.

É a minha vez de assentir. Apesar de estar furiosa e querer matar

Josh, fico em silêncio.

— Bom, hoje irei ler a peça teatral para vocês e depois faremos
um teste para descobrir o papel de cada um, ok?

— Ok.

Todos presentes dizem ao mesmo tempo, então Dayse pega um

papel que há sobre a mesa e inicia a leitura da peça. Ela caminha de um


lado para o outro enquanto faz a leitura.

É uma peça autoral e de romance. Eu fico fascinada pelo texto. É

uma história que se passa no período regencial, de um duque que é

obrigado a se casar com uma desconhecida, após serem pegos sozinhos


em uma biblioteca durante um baile. Ele só queria fugir das mães

casamenteiras e ela só queria não ter mais que responder o porquê tinha
recusado a oferta de casamento de um dos melhores partidos da
temporada. E Emma, a personagem, só queria se casar por amor.

Lembra-me um pouco dos meus romances favoritos. Eu adorei o


enredo e irei adorar ser uma das figurantes, ou talvez possa ser a diretora,

ou estar na equipe que cuida da caracterização.

— Subam todos.

Fico em pé, deixo minha mochila na poltrona e sigo na direção da


professora animada.

— Adorei o texto.

Elogio-a e ela sorri animada.

— Obrigada, Dakota. — Sorrio e me afasto, porque meus colegas


também pisam no palco. — Formem um círculo.

Fazemos o que a professora pede e ela entrega uma cópia do


roteiro para cada um de nós.
— Quero que cada um de vocês escolha um trecho em que tenha

fala de alguns dos personagens principais e a intérprete, escolham de


acordo com o gênero de identificação, ou que mais se identificam, ou que

gostariam de interpretar, não importa.

Estou suando só de pensar em falar algo na frente de todo mundo.

Sempre fui a melhor aluna desde que não precisasse apresentar trabalhos.
E agora?

— Quem será o primeiro? — Ninguém se voluntaria. — Eu

preciso que alguém comece, se ninguém se prontificar, irei escolher


aleatoriamente.

Abano-me com o papel. Deus, eu por favor não! Para meu alívio,
uma garota ergue o braço.

— Obrigada, Amanda, venha até o centro do círculo.

Assim a garota faz e interpreta o seu trecho escolhido. Ela é ótima

e seria uma ótima filha de um conde. O próximo a se voluntariar é um


garoto, ele interpreta o duque, ele não é incrível, mas poderia ser

escolhido.

Um por um dos meus colegas faz a apresentação, o que significa


que a minha vez irá chegar. Minha respiração se altera, minhas mãos

estão tremendo e sinto uma pontada em meu peito.


Merda, merda, merda. Esse não é o momento para uma crise de
pânico. Vamos lá, eu já superei o problema de falar em público. Não
preciso ficar ansiosa. É algo normal, ninguém irá me julgar.

— Hey, vai ficar tudo bem.

Josh toca meu braço. Sua voz não soa debochada e muito menos

irônica. Não sei o porquê ele está me ajudando e no momento nem me


importo.

Por fim, ficamos apenas Josh e eu. Fecho meus olhos e respiro
fundo. Tudo ficará bem.

— Eu vou primeiro.

Josh vai para o centro do círculo e se vira em minha direção. Seus

olhos encontram os meus.

— Pode começar, Josh.

— Não tenha medo, eu não farei nada contra sua vontade e se for

possível, farei o possível para que tenha a melhor vida possível. — Ele
sorri, seu sorriso cafajeste. — Não sou tão mal quanto pensa, na medida

do possível, eu sou um cavalheiro. 

Continua sorrindo e de alguma forma ele consegue me

tranquilizar. Josh continua encenando o seu trecho e enquanto isso segue


me encarando. Ele finaliza e a professora bate palmas assim como fez
com todos.

Ele com certeza não foi o melhor, porém, eu achei que ele foi o
melhor.

— Sua vez, Dakota.

Josh se afasta e volta para seu lugar. Eu continuo parada

esperando por um milagre, Deus, eu sequer escolhi um trecho.

— Dakota.

Dayse me chama mais uma vez, dou um passo em frente e cruzo

com Josh, estou tão perto que meu braço esbarra com o seu.

— Página dois, terceiro parágrafo.

Sussurra. Não sei o que ele quis dizer, mas assinto. Caminho até o

centro do círculo como se estivesse caminhando na direção de uma forca.

Eu paro no meio dos meus colegas e minha garganta está seca. Abro a
boca e nada sai.

— Pode começar.

Fito o papel. O que droga eu vou fazer? E se sair correndo?

Parece uma ótima ideia. Lembro-me do que Josh falou e viro a página,

percorro meus olhos pelo papel até o terceiro parágrafo.


É a cena seguinte a que ele escolheu, a resposta da protagonista.

Suspiro, busco toda a coragem existente em meu ser e como não decorei
o texto, leio-o.

— Muito me admira, milorde... o senhor como um cavalheiro ser

um dos frequentadores das noites londrinas... e é impossível eu ser


agraciada com uma vida agradável... sendo obrigada a casar-me com o

senhor.

Eu estou praticamente com o rosto coberto pelo papel e minha

voz falha, porque estou nervosa demais. As pausas que eu faço são
ridículas. Continuo e a cada palavra que deixa minha boca fico mais

vermelha. Os minutos são intermináveis e quando enfim termino, respiro

aliviada.

Talvez hoje eu seja expulsa da aula de teatro.

— Obrigada, Dakota.

Volto ao meu lugar e mantenho o olhar no chão. Não quero ver os

sorrisos de deboche no rosto de ninguém.

— Na próxima aula, quinta, decidiremos os papéis de cada um.

Dayse finaliza a aula, eu praticamente saio correndo do palco e

pego minha mochila, na pressa derrubo todos meus cadernos e canetas no

chão. As coisas poderiam ser mais humilhantes? Lágrimas se acumulam


em meus olhos e preciso respirar fundo várias vezes para não as deixar

cair. Alguém se abaixe ao meu lado e só sei que é Josh, por causa do seu

perfume. Não olho para ele, porque se olhar, irei chorar.

— Está tudo bem.

Ele me ajuda a juntar as minhas canetas e cadernos e continuo

sem o encarar.

— Nada está bem.

Resmungo.

— Não foi tão ruim quanto imagina.

Sorrio irônica, pego meu último caderno e o soco dentro da

mochila.

— Foi horrível, Josh, vergonhoso.

Pego minha mochila, coloco sobre meu ombro e corro do

auditório. Não olho para os lados e me mantenho assim até estar dentro

do carro e quando estou atrás do volante, me permito chorar.

Não sou chorona, mas hoje foi demais. Essa maldita aula me

desencadeou um gatilho gigante. E hoje, ainda é a primeira aula da

semana. Deus, tem como piorar?

Apesar de estar péssima retoco minha maquiagem, passo em um

Drive-Thru, almoço no carro e em seguida dirijo para o Sweet Home, eu


posso estar acabada, mas estarei lá. Quem sabe, eles consigam mudar o

saldo do meu dia.

Eu chego, aceno para todos e vou direto me sentar ao lado de

Phillip, ele está lendo um jornal e ocupo a poltrona ao lado da sua. Ele

abaixa o jornal e se vira para mim com um sorriso no rosto.

— Hey, querida.

Suspiro e apoio minha cabeça contra o estofado da poltrona.

— Hey.

— Nem vou perguntar se tudo está bem, porque claramente não

está.

Faço uma careta.

— Meu dia foi péssimo.

— O que aconteceu? — Mordo meu lábio inferior e respiro


fundo. — Você sabe que pode me contar o que quiser que não irei julgá-

la.

Solto meu lábio dos meus dentes e sorrio, um sorriso tímido,

porém um sorriso.

— Nem rir da minha cara?

— Isso será um pouco difícil, mas farei o possível, querida.

Meu sorriso se desfaz.


— Primeiro, meu dia já começou caótico quando fui pegar um

ovo na geladeira e acabei derrubando a bandeja toda de ovos no chão,

você consegue imaginar a bagunça que eu fiz no chão?

Phillip ri e me viro para ele.

— Hey, não ria.

— Eu disse que faria o possível para não rir. — Nós dois rimos.

— E o que mais aconteceu para seu dia ser tão ruim?

— Eu tenho aula de teatro para melhorar minhas habilidades


sociais... — Reviro meus olhos. — Fui quase obrigada por uma das

minhas professoras e até então tudo estava ok, porém hoje tivemos que

ler um texto na frente de todos e odeio falar em público, eu fiz terapia e


tudo mais, porque são momentos que me desencadeiam crises de pânico,

e estou melhor, porém ainda é difícil.

Afasto minhas costas da poltrona e curvo meu corpo para frente.

— Eu gaguejei e foi horrível, além disso, no final, derrubei meus


cadernos e canetas todos no chão. — Só de lembrar, lágrimas voltam a se

acumular em meus olhos. — Foi vergonhoso e humilhante.

— Sinto muito.

Ele dá leves tapinhas em minhas costas me confortando. E


ficamos em silêncio até que eu me viro para ele e Phillip faz uma careta.
— Você não estuda para ser professora? — Assinto. — Mas e a

vergonha em falar em público?

Dou de ombros.

— Serei professora de crianças, de crianças eu não tenho

vergonha, na verdade eles me ajudam a ser mais espontânea. — Dou de

ombros. — Depende da ocasião.

Há um motivo para minha mente reagir como reage, mas não

quero falar sobre, já estou um caos e não quero ficar pior.

— Isso não faz sentido.

— Na minha cabeça faz. — Ele sorri e balança a cabeça de um


lado para o outro. Eu empurro sua perna com a minha. — Acredite,

crianças e idosos são inofensivos.

— Você está iludida. — Nós dois rimos. — Algo mais aconteceu


no seu terrível dia?

Bufo irritada ao me lembrar de Josh.

— Sabe o idiota?

— Aquele mesmo idiota da outra vez?

— Esse mesmo.

— O que ele fez dessa vez?


Eu conto para Phillip o dia em sua casa, o furto da minha
correntinha e até mesmo do seu ato totalmente inesperado de

generosidade durante a aula de teatro.

— Ele gosta de você.

Abro minha boca e o encaro indignada.

— Impossível.

Sorri e me encara com olhos de quem sabe muito mais do que eu.

— Acredite, eu sou velho e homem, tenho experiência e ele gosta


de você e pela sua cara, você também gosta dele.

— Você está maluco.

Ele segue rindo.

— Estou ansioso para o desfecho dessa história.

— Você está maluco.

Repito mais uma vez, ele dá de ombros e continua me encarando


com uma expressão assustadora de sabedoria. Ergo minhas sobrancelhas,
ele faz o mesmo.

— Por isso, você não veio almoçar com a gente hoje?

Muda de assunto e assinto.

— Sim, eu seria uma péssima companhia.


Ele empurra minha perna com sua assim como eu fiz
anteriormente.

— Nós sentimos sua falta e perdeu uma briga entre Mary e Anne.

Pelos próximos minutos, ele me conta o porquê as duas senhoras


brigaram, ele só para quando um grupo nos chama para jogar cartas, eu

como tenho aula, sou obrigada a me despedir deles e deixo o lar.

Entro em meu carro e as palavras de Phillip voltam a ecoar em

minha mente: Ele gosta de você e pela sua cara, você também gosta dele.

Sorrio e balanço minha cabeça. Josh e eu gostar um do outro?


Impossível.
 

Josh

— Foi horrível, Josh, vergonhoso.

Mesmo com a ironia presente em sua voz, é possível perceber o

quanto ela não está confortável com a situação. Seu rosto continua
vermelho e há lágrimas presas em seus olhos.

Abro a boca para dizer algo, mas ela pega sua mochila, fica em pé

e corre do auditório. Eu me levanto e a observo se afastar. Ela parece

devastada.
Seu olhar em pânico enquanto esperava pela sua vez para

interpretar um dos trechos do texto segue ecoando em minha mente.


Dakota estava frágil e vulnerável e quando a vi daquela forma, me

esqueci de tudo e só precisava ajudá-la de alguma forma.

Estou confuso e meus pensamentos são uma bagunça. Mesmo

quando ela fecha a porta do auditório, continuo em pé, olhando na

direção do lugar pelo qual Dakota acabou de cruzar.

Meu medo é que Dakota seja uma farsa, assim como Laylah, essa
é a verdade, porém ninguém conseguiria fingir um olhar desses.

Eu pego minha mochila, aceno para as pessoas que ainda estão


aqui e saio do auditório. Continuo pensando no seu olhar e suas lágrimas

não derramadas, mesmo enquanto dirijo até o estádio.

Estou me sentindo culpado pela forma como a julguei, como a

tratei. Uma parte em mim justifica todas minhas ações com base no que

vivi com Laylah, a outra diz que sou um idiota.

Estaciono o carro, porém continuo sentado atrás do volante. Passo

as mãos pelos fios do meu cabelo. Minha consciência acusa que fui

imaturo e que joguei sobre Dakota um cargo que não era dela.

Mas e se o que aconteceu hoje não significa nada? E se ela

realmente for ardilosa?


— Porra.

Soco a direção à minha frente e a buzina dispara. Eu preciso

superar o que aconteceu com Laylah no passado. Faz mais de dois anos.
Não posso continuar desconfiando de todo mundo, muito menos julgando

as pessoas em base do que aconteceu comigo.

Não que eu queira arriscar que tudo se repita, não quero um outro

relacionamento, entretanto não posso continuar acreditando que todas


garotas são iguais a ela.

Saio do carro e bato a porta com força. Não estou com raiva da
Dakota, mas com raiva de mim mesmo, por ter acreditado em Laylah,

por ela continuar influenciado de certa forma a minha vida, por eu não

conseguir deixar o passado onde pertence, no passado.

Sigo até a praça de alimentação do estádio e almoço em um dos

restaurantes, há mais alguns atletas e dividimos uma mesa. Participo da

conversa e dou minha opinião sobre o draft[9] da temporada passada,

porém não é no assunto que minha mente está focada. E em Dakota, por

mais que tente, não consigo esquecê-la.

Quanto mais eu penso, mais eu chego à conclusão de que fui um

imbecil com ela em todos os aspectos. Eu a tratei mal por julgá-la, por
algo que aconteceu comigo. Descontei em outra pessoa os meus

problemas.

Ficamos na praça de alimentação até o horário do treino e em

seguida, vamos para o vestiário. Apenas de entrar no lugar repleto de


armários e de bancos, meu coração bate diferente.

Eu tiro minha roupa e visto meu uniforme, coloco minha roupa no

armário e deixo a correntinha de Dakota sobre a minha camiseta. Saio do


vestiário, segurando minhas luvas e alguns dos caras batem em minhas

costas. Estamos todos empolgados para o início dos treinos.

Saímos para o campo e juro que o ar é diferente. É libertador. O

treinador está em campo e vamos até ele.

— Boa tarde.

— Boa tarde.

Respondemos todos ao mesmo tempo e ele explica como será o

primeiro treino. É o treino normal de todo início de temporada, mas


temos calouros e eles não sabem como tudo funciona.

Iniciamos com um treino de aquecimento, correndo pelo campo


que tem um formato de diamante, damos algumas voltas e começamos a
fazer o circuito com alguns outros exercícios.
Mesmo estando no lugar que eu amo, fazendo o que eu mais

gosto de fazer, continuo pensando em Dakota. O seu olhar triste e frágil


não sai da minha cabeça.

O fato é que não consigo mais acreditar que ela não é o que
aparenta ser e isso está me matando. Deveria continuar acreditando que

ela é tão ardilosa quanto Laylah para o meu bem, porém simplesmente
não consigo.

O treino com a bola inicia e eu me posiciono na minha posição.

Ocupo a parte que fica no centro do campo interno, coloco minha luva e
me aproximo do montinho inclina onde preciso encostar o pé antes e

durante os arremessos.

O treinador chama os rebatedores e os receptores, nós treinaremos

juntos, eles ocupam os lugares a minha frente e iniciamos o treino. Não


estou na minha melhor atuação, porque minha concentração não está
totalmente aqui. Eu consigo acertar a área de strike, porém os rebatedores

algumas vezes conseguem rebater o meu arremesso.

De quatro rebatedores consigo eliminar dois, em outras ocasiões


conseguiria eliminar três, ou quatro.

Ao fim do treino, deixo o campo de cabeça baixa e um


sentimento de fracasso ecoando em meu peito.
— Bom treino, Dawson, mas você pode melhorar.

Assinto, porque o treinador tem razão, essa não foi a minha

melhor atuação. Sigo para o vestiário, tomo um banho, visto minha roupa
e volto a colocar a correntinha de Dakota.

— De quem é esse colar, hein, capitão?

Travis, o melhor rebatedor do nosso time, ao meu lado, me


provoca com um tom de malícia em sua voz. Sorrio e bato em sua barriga

com o meu cotovelo.

— De alguém que não te interessa.

Ele e os caras que estão por perto riem e me provocam. Eu apenas


continuo sorrindo e balanço minha cabeça negando qualquer

interpretação errada que eles possam ter.

Saio do estádio com minha mente tão perturbada quanto antes.


Três horas depois e ainda estou pensando no que aconteceu mais cedo.

Não quero ter nenhum envolvimento romântico com Dakota, mas e se


formos amigos?

Talvez, eu deva pedir desculpas pelos meus erros, e pelas vezes


que fui grosseiro com ela e possamos ser amigos, ou pelos menos

possamos ter uma relação mais amigável. Não precisamos continuar


agindo como se desprezássemos um ao outro.
 

...

Eu chego no auditório e Dakota ainda não está aqui, ela sempre


chega atrasada. A professora está no palco e os alunos ocupam as

poltronas, eu me sento na primeira logo ao lado do corredor e mantenho

meus olhos na porta.

Espero que ela não tenha desistido por causa do que aconteceu na

quinta-feira. Mesmo depois de dois dias seu olhar vulnerável segue em

meus pensamentos.

A porta é aberta, meu coração acelera e só volta a se normalizar


quando Dakota cruza a porta. Ela veio. Dakota não parece acuada, ou

com medo, ela parece determinada.

Caminha pelo corredor e se senta na primeira fileira das


poltronas, mas no lado contrário ao que estou. Continuo a encarando,

entretanto ela não olha pra mim. Cruza os braços e fica seus olhos na

professora à sua frente.

Franzo minha testa. Dakota está me ignorando como fazia antes


de terça. Será que para ela nada mudou? Para mim tudo mudou, não

quero mais agir com hostilidade.


Sigo olhando para Dakota e ela continua me ignorando.

— Bom dia, hoje eu irei definir os personagens de cada um e


faremos um cronograma de ensaio.

A voz de Dayse ecoa pelo auditório, entretanto continuo

encarando a garota ao meu lado. Vê-la como a vi na terça fez com que
algo mudasse em mim. Ainda acho que não posso me dar ao luxo de

estar tão próximo dela, porque ela é o tipo de garota que o Josh que já fui

um dia se apaixonaria. Porém, ela não é como Laylah, ela não está

tentando me enganar, aliás nunca deveria ter a comparado com a minha


ex.

Nos últimos dias continuei pensando em Dakota e cheguei à

conclusão de que eu realmente estava sendo um idiota e infantil. Eu


preciso consertar os meus erros.

— Eu pensei e decidi fazer algo diferente, não irei chamar os

melhores para serem os protagonistas.

Acho que deveria prestar a atenção no que a professora está


falando, mas não faço. Dakota segue tendo meu foco total.

— Porque quero que realmente aprendam e tenham um pleno

desenvolvimento, sendo assim que Josh e Dakota interpretaram o casal


principal.
Dakota faz uma careta. Eu demoro alguns segundos para entender

o que realmente a professora falou e quando compreendo, olho em frente

com a testa franzida.

— Como assim?

Minha voz soa alto o suficiente para que a professora possa

escutar. Ela ergue suas sobrancelhas.

— Você, Josh, e Dakota serão Emma e o duque de Windsor.

Olho para o lado e Dakota está encarando a professora surpresa.

— Eu sou péssima.

Dakota tenta se justificar e Dayse apenas dá de ombros.

— Exatamente, a peça será ótima para seu desenvolvimento,


querida. — Soa gentil. — Você será capaz de superar seu medo de falar

em público.

— Não serei o protagonista.

Interrompo-a e ela se vira para mim. O olhar doce e gentil da


professora cede lugar a um olhar determinado e rude.

— Vocês não têm escolha, Josh.

— Não posso ser obrigado a fazer algo.

Sorri, um sorriso irônico.


— Na minha aula eu dito as ordens e se você não concordar, sinto

muito, mas terá que desistir da matéria.

Droga, eu preciso das horas e não há como me matricular em

outra matéria, eu preciso de um mínimo de horas para continuar atuando

como atleta. Eu não tenho escolhas.

Vendo que não tenho outros argumentos, seu sorriso volta a ser

doce e olha ao redor do auditório.

— Hoje iremos fazer a observação de alguns pontos da história,

além de comunicar quem farão os outros personagens. — Vira-se de


costas, vai até a mesa e pega um papel. — Peguem o roteiro.

Eu faço o que ela pede e quando estamos todos com a peça em

mãos, Dayse volta para seu lugar e inicia a leitura do enredo. Ela faz

algumas observações, divide os outros personagens entre o restante dos


alunos e por fim, chama todos para o palco. Mais uma vez ficamos em

um círculo.

— Vocês precisam embarcar na história, vocês precisam se sentir

como se estivessem no final do século 19. — Caminha animada pelo


palco. — Vocês precisam se sentir nos bailes, nos costumes e acreditar na

história.

Faço uma careta.


— Como se um duque com tanto poder pudesse ser obrigado a se

casar.

Resmungo, porém, alto o suficiente para ser escutados por todos.

— Ela é filha de um conde.

Para minha surpresa, é Dakota a responder, viro-me para ela e

ergo minhas sobrancelhas.

— É uma história tosca.

Minha voz soa mais debochada que gostaria e ela me encara com
raiva refletida em seus olhos.

— Não é uma história tosca.

— É fantasiosa e absolutamente romântica demais.

— Não há um problema em ser romântica, Josh.

Dakota fala entre dentes. Eu não estava tentando a atacar, mas ela

acredita que sim. Ótimo, Josh! Abro a boca para me defender, mas Dayse

é mais rápida.

— Josh, você precisa se convencer que está sendo obrigado a se

casar, o duque tem poder como você mesmo apontou, mas estamos

falando de uma sociedade em que tudo gira em torno de aparências e ele

tem uma irmã, se manchasse seu nome com um escândalo, ela poderia
perder suas chances de um casamento.
Ela explica e entendo seu ponto, ou forço me entender para que

ela possa encerrar seu monólogo. Eu olho para Dakota e dessa vez, está
me encarando, mas é com um olhar de julgamento. Droga, eu estraguei

tudo e não foi de propósito.

— Nossos ensaios começam na próxima aula e usem o fim de

semana para lerem o roteiro, tentem inclusive decorarem algumas falas.


— Sorri em êxtase. — Por hoje, é só, pessoal, até semana que vem.

Assim que a última palavra deixa sua boca, Dakota se afasta,

desce do palco e pega sua mochila. Faço o mesmo e me apresso para


acompanhá-la. Ela deixa o auditório e sigo logo atrás.

— Dakota.

Chamo-a quando estamos ambos no corredor. Ela para e se vira

em minha direção.

— O que você quer?

Soa seca e rude, preciso respirar fundo para não ser irônico e

debochado.

— Você irá desistir?

Olha-me com raiva.

— Você está querendo que eu desista, não é? — Ela não espera

que eu responda e continua. — Vai ser horrível, mas farei questão de


continuar só para que você seja obrigado a me suportar, Josh.

Eu achei que ia ser fácil depois de ser um idiota?

— Não vai ser um problema.

Estou falando sério, mas ela acredita que estou debochado e


revira seus olhos. Ela se vira e dá um passo em frente, entretanto para e

se vira para mim outra vez.

— Você continua com a minha correntinha, por quê? — Mais

uma vez, não espera pela minha resposta. — Se você me odeia, por que
continua usando a minha correntinha?

Sorrio debochado.

— Nunca disse que odeio você, Dakota.

Ela franze sua testa.

— Tenho certeza de que você já disse em algum momento.

Cruzo meus braços.

— Diga-me em que momento.

— Eu não consigo me lembrar de nenhum, mas com certeza

existe.

Continuo sorrindo.

— Não existe, princesa.


Chamá-la de princesa deixa-a ainda mais irritada.

— O relevante é que eu te odeio e preciso da minha correntinha.

Ela dá um passo em frente e dou um para trás. Dakota faz um


gesto com as mãos e tenho a impressão de que ela está com vontade de
me enforcar.

— Quer saber, pode ficar com ela, não tem valor nenhum.

Vira-se e com passos longos se afasta de mim.

— Obrigado pelo presente, princesa.

Grito e posso ouvir Dakota bufar. Não pedi desculpas como

deveria e nem conversei com ela sobre tornar nossa convivência mais
amigável, porém, mesmo assim há um sorriso em meu rosto.
 

Josh

Eu vou para o meu treino com um sorriso em meu rosto. Dessa


vez, faço o meu melhor e consigo eliminar quatro de quatro rebatedores.
Realmente, minha melhor performance.

Como há um amistoso no sábado, fazemos uma rodada como se

fosse um jogo, eu não irei jogar, porque é um jogo sem muita


importância, então apenas passo algumas dicas para o meu reserva. Não

escondo as melhores táticas e estratégias, porque sei que mesmo ele fosse

bom, não conseguirá ser melhor que eu.


O treino chega ao fim com um saldo super positivo, todos do time

estão animados e confiantes. Depois de um banho, visto minha roupa,


deixo o estágio e dirijo para casa.

Não encontro nenhum dos caras, então subo para meu quarto e
me jogo na capa. Encaro o teto e imagens de Dakota nessa manhã voltam

para minha mente. Ela fica adorável quando está irritada.

Como não devo ficar pensando em garotas, muito menos em

Dakota, vou até minha mochila e pego o roteiro da peça de teatro, em


seguida volto para cama e me sento com as costas apoiadas na cabeceira.

Leio o roteiro e algumas vezes é impossível não rir, ora por causa
de cenas engraçadas, ora por trechos constrangedores. Há muitas palavras

que não utilizamos, como vossa graça, e o vocabulário formal é

engraçado.

O duque não pode chamar a própria noiva pelo nome, além disso

ele diz que os olhos dela são da cor do céu. Brega, muito brega.

Conforme avanço na leitura, me dou conta de que a protagonista e

Dakota são parecidas, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Emma,

a personagem, é ruiva, tem sardas, olhos azuis como Dakota, além de

corar facilmente. As duas são determinadas, não gostam de falar em


público, engraçadas, têm um senso de humor que apesar de não ser
totalmente ácido, têm a sua porcentagem de ironia, são gentis, leais,
comprometidas e não abaixam a cabeça para ninguém.

E o duque lembra um pouco a mim. Debochado, libertino


(palavra utilizada no texto), filho de um homem poderoso, mas que não

ligava para os filhos, tudo que priorizava é o status. Vincent, o duque,

também tem problemas em superar um acontecimento do passado, assim

como eu, a rejeição de uma garota.

As coincidências são gigantes, o som do meu celular tocando

ecoa pelo quarto e interrompe meus pensamentos. Largo o roteiro na

cama ao meu lado, pego o aparelho em meu bolso e é uma ligação em

vídeo da minha irmã. Ergo-o, deixando a frente do meu rosto e aceito a

ligação.

— Hey, irmãozinho querido.

Sorrio.

— Hey, irmãzinha. — Uso seu mesmo tom de voz e ela ri. —

Qual o problema?

Ela faz uma careta.

— Eu não ligo para você só quando estou com problemas. —

Ergo minhas sobrancelhas e ela faz um beicinho. — Tudo bem, a maioria

das vezes estou com problemas, mas dessa vez não é bem um problema.
— Seus pais?

Ela ri, mas dessa vez não é um sorriso feliz.

— Você sabe que ele também é seu pai.

Dou de ombros.

— Mas a mãe é apenas a sua.

Tessa suspira.

— Eles não querem que eu vá para Tuscaloosa, eles querem que

eu faça faculdade em New York, uma faculdade de moda, ou design de


interiores, porque devo apenas ter um diploma qualquer. — A tristeza é
evidente em seus olhos. — Não posso fazer engenharia, porque devo me

casar com alguém com dinheiro e ser apenas uma esposa troféu.

Tessa não soa rebelde, soa como se estivesse exausta. 

— O que você irá fazer?

Ela suspira.

— Não posso mais continuar vivendo uma vida que odeio. —


Sorri, o sorriso mais triste que já vi no rosto da minha irmã. — Eu vou

para Tuscaloosa.

Assinto.

— Estarei aqui, sempre estarei ao seu lado.


— Obrigada, já falei que você é o melhor irmão do mundo?

— Não, estou pronto para ouvir o elogio.

Tessa sorri, dessa vez um sorriso de verdade.

— Você é a melhor irmã do mundo.

Tessa e eu só passamos a morar juntos quando eu tinha nove anos

e ela sete, depois do incidente que chamei a polícia, e antes disso,


convivíamos apenas nos fins de semana e feriados. Embora nossa relação

fosse boa quando passamos a compartilhar a mesma casa, passamos a ser


inseparáveis.

Nós somos a família um do outro.

Ela me conta que olhou alguns apartamentos, mas como seus pais
não aceitaram suas escolhas, não sabe como fará com a questão do

pagamento de aluguel. Eu afirmo que farei o possível para ajudá-la.

Conversamos por quase uma hora e quando encerramos a

chamada, deixo meu celular ao meu lado e encaro a minha televisão à


minha frente. Tessa é a única parte boa da minha família. Meus avôs

paternos são pessoas mesquinhas que só pensam em dinheiro, meu pai é


igual a eles, meus avôs maternos, nunca os conheci e minha mãe desde

que a conheço usa drogas.


Meus pais tinham vinte anos quando se conheceram, minha mãe
trabalhava limpando a casa dos meus avôs e meu pai estava de férias da
faculdade, eles tiveram um caso e eu nasci. Um bastardo. Nessa época

minha mãe já estava usando drogas, só não era tão viciada e meu pai já
namorava a mãe de Tessa.

Um caos, uma bagunça.

Antes que me perca em pensamentos nada agradáveis sobre


minha família, levanto-me e desço para a cozinha. Hoje é meu dia de

preparar o jantar.

Estou temperando a carne quando Ethan e Abby entram na

cozinha.

— Olha só ninguém precisou ir buscá-lo a força.

Faço uma careta para Ethan.

— Não sou você que sempre tenta fugir das suas tarefas.

— Eu nunca fujo.

— Rá rá rá. — Forço uma risada. — Você sempre foge e

ultimamente tem usado seu braço como desculpa.

Meu amigo e Abby se sentam à minha frente.

— Eu desloquei meu ombro e isso foi extremamente grave.


Faz uma expressão de dor, Abby e eu reviramos os olhos para seu
drama.

— Não esqueça que está melhor. — Aponto a faca em sua direção


e Abby assente. — Inclusive a louça de hoje é sua.

Minto, porque a louça é de Dylan e Ethan estreita seus olhos em

minha direção.

— Você deveria ser meu melhor amigo.

Dou de ombros.

— Eu sou seu melhor amigo.

— Como vocês se conheceram? E como eram quando crianças?

Abby pergunta e seus olhos estão brilhando. Ela realmente está


querendo saber mais sobre a nossa infância, aliás sobre a infância de

Ethan.

Ethan e eu contamos para Abigail que nos conhecemos na escola,

na quarta série, quando mudei de escola e entrei no time de futebol


americano, não permaneci muito tempo no esporte, porque odiava o

treinador, porém foi o tempo suficiente para Ethan e eu nos tornamos

melhores amigos.

Abby faz uma careta quando menciono o treinador e quando


pergunto se ela o conhece, então ela volta a sorrir e diz que não, em
seguida pergunta se erámos muito terríveis na adolescência.

É nítido seu interesse em Ethan e não é apenas como amigo.


Droga, eu vou perder, porque na aposta que os meninos e eu fizemos

apostando quanto tempo demoraria para os dois ultrapassarem o limite de

amigos, apostei seis semanas, é óbvio que eles não irão mais duas
semanas sendo apenas amigos. O maldito do Dylan que apostou em

quatro semanas irá ganhar.

Continuo cozinhando enquanto conversamos e estou fazendo o

arroz no momento em que Dylan entra na cozinha com um sorriso


ocupando boa parte do seu rosto.

— O preferido delas chegou.

Nós três o encaramos com deboche.

— Quem te iludiu desse jeito?

Pergunto e ele só me responde depois de se sentar ao lado de

Abigail.

— Hoje alguém me parou no corredor para me dizer que era a


estrela do alabama preferida e ela me disse que deveríamos postar mais

conteúdo naquele nosso Instagram.

— Que Instagram?
Abby nos pergunta e olha para nós três e é Aiden que está

entrando na cozinha que a responde, se é que podemos chamar a sua

pergunta de resposta.

— Você não nos segue?

Ela ergue as sobrancelhas.

— Que porra de Instagram?

Aiden se aproxima e para ao meu lado com um sorrisinho em seu

rosto.

— Nós temos um Instagram, Estrelas do Alabama.

Finalmente, respondo-a e no mesmo instante, ela pega seu celular

e procura pelo nosso perfil.

— Vocês têm mais seguidores que eu.

Fala perplexa.

— Nós somos famosos. — Aiden se vangloria e pega seu celular.

— Se nossos fãs estão pedindo, vamos produzir conteúdo.

Ele faz alguns storys e só para quando o jantar está pronto.

Sentamo-nos os cinco ao redor da ilha e jantamos enquanto conversamos

sobre a festa de Halloween, precisamos começar a organizar antes que


fique muito em cima da hora.
Após terminar de comer, despeço-me dos meus amigos e volto

para meu quarto. Sigo para o banheiro, tomo um banho, visto uma calça
confortável e velha, então pego o roteiro e vou para cama.

Durmo lendo o texto. E sonho com um duque se apaixonando

sem querer pela garota com quem foi obrigado a se casar. No sonho eu

sou o duque e Dakota é a garota.

Acordo transtornado com o coração acelerado, como se realmente

estivesse apaixonado. Balanço minha cabeça e me levanto. Confiro as

horas em meu celular enquanto caminho de um lado para o outro e como


está perto do horário que meu despertador iria tocar, decido não voltar a

dormir e vou para o banheiro.

Apesar de começar meu dia com o sonho caótico, o resto do dia


segue sem mais acontecimentos estranhos. Eu assisto minhas aulas,

almoço no campus e termino o dia em uma festa com meus amigos.

Como no jogo de amanhã não irei entrar em campo, não fico sem

beber álcool como deveria se fosse jogar. Eu bebo e me divirto. Apesar


de ir com Aiden e encontrar com Dylan, Ethan e Abby, em certo

momento da festa, perco-os de vista e interajo com algumas pessoas que

fazem o mesmo curso que eu.


É divertido, estou bêbado, porém não correspondo nenhuma

menina que se aproxima de mim com segundas intenções, porque quando

olho para elas, não sinto nada. Nenhuma atração, nenhum tesão.

Absolutamente, nada.

O que está acontecendo comigo? Eu não faço a mínima ideia.

Volto para casa de táxi perto do amanhecer, eu me deito no sofá,

porque não terei muito tempo para dormir e se ir para minha cama será
pior. Eu fecho meus olhos e como estou bêbado, apago segundos depois.

Desperto com um estrondo, abro meus olhos assustado e sento-

me no sofá. Olho ao redor e me deparo com Abby. Ela está pegando do

chão um quadro que fica em nossa parede e deve ter caído.

— Não tive culpa, caiu do nada.

Dá de ombros e sorrio.

— Aposto que o jogou no chão apenas para me acordar.

— Infelizmente, não tive essa brilhante ideia, mas vou anotá-la


para fazer em outro momento quando encontrar com um de vocês

dormindo na sala.

Debocha de mim e segue para a cozinha, eu deixo o sofá e vou

atrás dela. Não estranho o fato de ela estar usando a mesma roupa que
ontem, uma saia e um top, porque é comum ela estar por perto desde que
começou a cuidar de Ethan. Ela se transformou na quinta integrante dessa

casa.

Abby vai até a parte do balcão onde está a cafeteira para preparar

seu café.

— Faça para mim também.

Sento-me de frente para a bancada e para Abby.

— Não sou sua serva.

Resmunga.

— Você não é minha serva, mas aqui nessa casa agimos

coletivamente.

Ela bufa, mas adiciona duas medidas de café na cafeteira.

Enquanto a máquina funciona, Abby se apoia no balcão e se vira para

mim. Ela me encara e franze sua testa.

— Você continua com a correntinha de Dakota.

Olho para baixo e encaro a correntinha que segue em meu

pescoço.

— Ela me deu de presente.

Volto a olhar para Abby que me fuzila com os olhos, ela

claramente não acredita em mim.

— Aiden e Brooke e agora você e Dakota.


Balanço minha cabeça negando e ergo minhas mãos em sinal de
rendição.

— Não irá acontecer nada entre Dakota e eu.

— Sei que vocês farão um casal em uma peça teatral. — Aponta


seu dedo em minha direção. — Não magoe a minha amiga.

Engulo em seco e não a respondo. É tarde demais para fazer essa

promessa. Para minha sorte, Dylan decide entrar nesse momento na

cozinha.

— Como você voltou para casa?

Senta-se ao meu lado e me viro para ele.

— Vocês me abandonaram e fui obrigado a chamar um táxi.

— Coitadinho, foi abandonado.

Abby debochada.

— Por que vocês foram embora?

Dylan responde que apenas não estavam no clima da festa. O café


fica pronto e Abby despeja o líquido em duas xicaras, então alcança-as

para nós dois.

— Pode tomar.

Tento entregar minha xícara para ela, já que não sobrou café para

ela e Abby balança a cabeça.


— Pode ficar, farei mais café e deixarei pronto para caso Aiden e
Ethan queiram beber mais tarde.

Abby coloca mais pó e água na cafeteira e antes que o café fique

pronto, Aiden entra na cozinha.

— O mais lindo chegou.

— Lembre-se que eu fui escolhido o mais incrível.

Dylan se manifesta e Abby revira seus olhos.

— Já que eu preparei o café, vocês preparem o restante.

Abby se senta e nós ficamos em pé. Estamos preparando torradas

e ovos quando Ethan se junta a nós. Ele chega como se estivesse


desesperado e então nos damos conta de que finalmente ele e Abby

transaram, nós o provocamos e Dylan declara sua vitória, afinal ele


venceu a aposta.

Após tomar café com meus amigos, subo para meu quarto, eu

tomo um banho e me deito ainda com a toalha ao redor do meu corpo


apenas para descansar, porém acabo dormindo e quando acordo, estou
quase atrasado para o jogo.

Droga, eu posso não jogar, mas ainda sou o capitão titular do


time.
Pulo da cama, visto uma roupa, escovo meus dentes, pego minha
mochila com uniforme e corro até a garagem. Entro em meu carro e
dirijo para o estádio. Minha sorte é que o jogo é em casa.

Almoço rapidamente na praça de alimentação e me junto aos


meus colegas no vestiário, embora não vá jogar, eu vou estar de

uniforme, além de animar meu time antes do jogo.

Logo que todos estamos vestindo, eu subo em um dos bancos e

assobio, no mesmo instante, todos ficam em silêncio e olham em minha


direção.

— Pessoal, jogo é jogo, não importa se é amistoso, não importa


se somos considerados superiores ao nosso adversário, entraremos em
campo e faremos nosso melhor, nós vamos jogar para ganharmos.

Todos gritam e ainda estamos gritando quando o treinador entra


no vestiário e faz seu próprio discurso.

Estamos empolgados quando deixamos o vestiário. Continuamos

animados durante o hino e apresentação dos jogadores, por fim eu animo


meu time e vou para o banco de reserva.

Eu fico ao lado do treinador e grito palavras de incentivo para


meus colegas. Como previsto, somos superiores e vencemos as quatro
primeiras entradas, só precisamos de mais uma, então Walker se vira para
mim e bate em minhas costas.

— Entre e faça um show para nossa torcida.

Coloco minhas luvas e entro no jogo. Eu faço o que o treinador


pediu, eu faço um show, elimino os três rebatedores e vencemos. Nós
comemoramos como se fosse uma vitória importante.

Entramos no vestiário, gritando e pulando. Nós tomamos banho,


colocamos nossas roupas e vamos para o bar Crimson Giants, porque é lá
que sempre comemoramos nossas vitórias.

Assim que entro no bar, meu olhar cruza com o da Dakota e por
alguns segundos, me esqueço do jogo, da vitória e do barulho ao meu

redor.
 

Dakota

Eu devo estar maluca, primeiro aceitei ir a um jogo de beisebol,


agora estou em um bar lotado com os seus torcedores e em breve os
jogadores do time estarão aqui.

Nada contra o Alabama Crimson Tide Beisebol[10], mas tudo


contra Josh. Ele zombou de mim na aula de teatro, ele consegue ser a

cada dia mais idiota. Talvez, só tenha aceitado acompanhar meus amigos

para esse bar, porque bebi muitas cervejas durante o jogo.

Quando vou aprender que sou fraca para o álcool?


A princípio nunca, porque estou em pé em uma rodinha formada

pelos meus amigos e bebendo mais cerveja. Digo a mim mesma que
estou bebendo, porque se estiver bêbada, será mais fácil fingir que Josh

não existe.

Fica óbvio quando o time de beisebol chega, porque todos

começam a pronunciar o grito de guerra do time, além de que começa a

tocar a música que eles sempre tocam durante os jogos, Cotton-Eyed

Joe[11]. Bebo o restante do álcool que há em meu copo e olho para a

entrada.

Josh é logo o primeiro a estar em evidência e o restante dos


jogadores está atrás dele. Ele está sorrindo e vários universitários se

aproximam dele como se ele fosse um deus. Ele os ignora e seu olhar
encontra o meu.

Meu coração bate acelerado e minha respiração se altera. Por que,


ele tem esse poder de tornar insignificante o que está ao nosso redor? É

como se tudo se paralisasse por alguns segundos.

Pisco e desvio os meus olhos dos seus, não precisamos ter esse

tipo de conexão. Um arrepio percorre meu corpo, então volto a olhar na

sua direção, somente mantenho meus olhos longe dos seus, ele está

caminhando na nossa direção.


Droga!

É lógico que ele está querendo conversar com seus amigos,

Dylan, Ethan, e Aiden, mas não quero nem esbarrar com ele. Por que
minhas amigas tinham que se envolver logo com as Estrelas do

Alabama?

Viro-me para Brooke que está ao meu lado e toco o seu braço.

— Vamos beber uma tequila?

É uma péssima ideia, porém é melhor que continuar aqui. Minha

amiga me encara sem entender, eu imploro com meu olhar e por fim, ela

assente. Antes de nos afastarmos, Brooke puxa Abby pela mão, ela não

compreende o que está acontecendo, mas não hesita em nos seguir

— Aonde vocês estão indo?

— Beber tequila.

Respondo-a, ela olha para Brooke à procura de respostas, que dá


de ombros.

— Josh.

— Faz sentido.

Minha amiga sussurra e eu não a corrijo. Foda-se!

— Três doses de tequila.


Peço para o atendente assim que estou de frente para o balcão de

pedidos, ele assente e sai para preparar a bebida. Apoio meus braços no
balcão e minhas amigas se posicionam ao meu lado.

— Você está zoando.

Abby não esconde o tom de provocação de sua voz.

— Está quente.

É a primeira desculpa que surge em minha mente. Brooke e ela se

olham e simplesmente as ignoro. Assim que o barmen coloca o copo a


minha frente, ignoro o sal e limão e trago a dose até minha boca e a tomo
de uma única vez.

— Você irá ficar tão bêbada.

Brooke avisa.

— É o que estou precisando.

Digo enquanto coloco o copo vazio sobre o balcão. Minhas


amigas bebem suas doses e Brooke nos arrasta para dançar. Concentro-
me em dançar com as minhas amigas, mas sinto alguém me observando,

olho ao meu redor e Josh está com Dylan, Aiden e Ethan, ele está
apoiado em um pilar e me encarando.

Ele sorri quando percebe que estou olhando para ele, então faço
uma careta e volto a dançar. Abby busca mais cerveja e bebemos
enquanto dançamos. O álcool se espalha pelo meu sangue, deixando-me

mais ousada e aplico isso na forma de dançar.

Rebolo e não evito de ser sensual, principalmente, porque ele

continua me observando. A cada música é como se a energia ao meu


redor aumentasse, tudo vai perdendo a importância e só quero me divertir

e viver, sem amarras e sem desculpas, quero me permitir.

A quanto tempo não ajo sem pensar? Uma vozinha sussurra em


minha mente que sempre quando Josh está por perto, eu ajo sem pensar,

empurro-a para o fundo da minha mente e sigo dançando.

Os meninos se aproximam e formamos um círculo. Josh e Dylan

estão ao meu lado, porém, é o da direita que causa arrepios em minha


pele, que me puxa em sua direção.

Sigo como se tudo estivesse normal, mas a verdade é que algo em


mim está queimando, minha respiração está totalmente irregular, Abby

me entrega uma garrafa de cerveja e bebo o restante que há no recipiente,


apenas um gole não é o suficiente.

Preciso prender meu cabelo em um coque para evitar que os fios


fiquem presos em meu pescoço suado. Algo vibra diferente em meu

peito. Não conversamos porque o som é alto, mas rimos e fazemos


dancinhas engraçadas, entretanto estou tensa, como se a qualquer
momento algo fosse acontecer.

É impossível esquecer que Josh está ao meu lado e em uma


tentativa de fugir quando um cara sorri na minha direção, sorrio de volta
e me distancio dos meus amigos. Eu vou até ele e o desconhecido deixa

suas mãos em minha cintura, não sinto nada, nenhuma faísca. Dançamos
e ele tenta diminuir a distância entre nossos corpos, mas não permito.

Foi uma péssima ideia. A música acaba e me desvencilho dele,

encaro-o com um sorriso forçado.

— Obrigada pela dança.

Ele franze a testa e apenas assente. Viro-me de costas e dou um


passo na direção do bar, apesar de estar tonta, preciso de mais bebida.

Uma mão toca minha cintura e meu corpo todo reage. Dessa vez, sinto a
faísca. Fecho meus olhos, respiro fundo e ele se aproxima deixando seu

peito quase encostado em minhas costas.

— Hey, princesa.

Abro meus olhos e viro-me ficando de frente para ele.

— Não te dei permissão para encostar em mim.

Seus olhos estão brilhando, claramente ele está tão bêbado quanto
eu.
— Ele estava encostando em você.

Soa amargo e faz um gesto na direção que deixei o desconhecido.

Estamos tão perto um do outro que conseguimos nos ouvir.

— Porque eu permiti.

Sorrio maliciosa e ele dá um passo em frente. Não me distancio,

deixo que ele se aproxime de mim.

— Então, me permita encostar em você.

Seu peito sobe e desce, sua respiração atinge meu rosto e todo
meu corpo e meu ser têm noção de que ele está perto, muito perto.

Encaro-o sem desviar meus olhos dos seus e parece que há borboletas

sobrevoando meu estômago.

— Não.

Nego, mas não dou nenhum passo para trás. Não me afasto.

— Se você dançar comigo, devolvo a sua correntinha.

— Uma dança é tudo que você terá, Josh.

Ele ri e ergo minhas sobrancelhas.

— Você está falando igual Emma.

— Emma?
Ele está doido? Josh não me responde imediatamente, ele se

aproxima, volta a tocar minha cintura e balança seu corpo no ritmo da


música. Não me afasto, mas não o toco.

— A protagonista da peça, ela fala assim com o duque.

Sorrio debochada.

— Você leu a peça?

Ele assente.

— É claro que eu li, você não leu?

— Ainda não comecei a ler. — A música ganha intensidade e


sensualidade. Faço uma careta e Josh somente ri. — Por que você está

aqui?

Encara-me sem entender.

— Por que você está dançando comigo?

Faço outra pergunta mesmo que não tenha obtida resposta da

anterior.

— Porque eu quero.

Dá um passo em frente e aproxima ainda mais seu corpo do meu.

— O que está acontecendo para você não ser um idiota comigo?


Espalmo minhas mãos em seu peito, ele me encara e não desvio

meus olhos dos seus.

— Não quero mais ser um idiota com você.

Bufo e sorrio debochada.

— Você está bêbado demais.

Tento me afastar, mas ele segura meus pulsos.

— Estou falando sério, nós podemos ser amigos, ou pelo menos

ter uma relação mais amigável.

Faço uma careta.

— Não quero ser sua amiga.

Josh sorri, ele ri como se estivesse fazendo uma piada.

— Você ama tanto assim me odiar?

Reviro meus olhos.

— Você é tão egocêntrico, Josh. — Liberto minhas mãos das

suas. — Você não pode ser um idiota comigo e de repente, decidir não
ser mais um idiota.

Suspira.

— Eu sei, eu queria te pedir desculpas por ter sido um idiota com

você.
— Você só está falando isso, porque está bêbado.

Meu peito aperta e uma vontade imensa de que ele esteja falando
sério ocupa meu coração. Por que eu quero tanto que ele esteja falando

sério? Eu o odeio, não é?

Droga, eu estou bêbada demais.

— Dança comigo e só esqueça de tudo

Oferece-me sua mão, eu deveria recusar, deveria me afastar,

porém, coloco meus dedos sobre os seus. Nós tornamos o espaço entre

nós mínimo, suas mãos tocam minha cintura e eu deixo as minhas ao


redor do seu pescoço.

Nossas respirações estão alteradas, meus olhos estão fixos nos

seus, é como se nesse instante nossos corações estivessem batendo no

mesmo ritmo, como se fôssemos o ar um do outro, o universo um do


outro. A música ecoa pelo ambiente, nós seguimos dançando, pessoas

continuam ao nosso redor, entretanto tudo perde a importância.

É como se estivéssemos em outra dimensão, em um outro


universo, onde Josh e eu não nos desprezamos.

Meu corpo está tocando no seu e todas as células do meu corpo

estão despertas, queimando e implorando por mais.

Nunca me senti assim.


Ele apoia sua testa na minha, nossas respirações se misturam e ele

desce o olhar até minha boca.

Eu quero que ele me beije, ardo por isso, mas antes que ele cubra

minha boca com a sua, a música chega ao fim e me dou conta do que
estávamos prestes a fazer.

Dou um passo para trás, desvencilho-me de Josh, dessa vez ele

deixa que eu vá.

Desnorteada com meu coração acelerado, caminho sem rumo pelo

bar, inclusive esbarro em algumas pessoas. Acabo indo para o banheiro,

paro em frente a pia, respiro fundo e encaro meu reflexo no espelho.

Estou vermelha e ofegante. Meu exterior reflete a bagunça que


está meu interior. Abro a torneira e molho meu pescoço, então percebo

que algo não voltou para o meu pescoço.

— Droga, ele não devolveu minha correntinha.

Falo em voz alta e uma menina me encara com uma expressão de


julgamento. Apenas dou de ombros e volto a molhar meu pescoço.

Ao sair do banheiro, estou mais recuperada, procuro pelas minhas

amigas e só encontro Abby. Ela ainda está com Ethan e Dylan. Eles estão
sentados em uma mesa e me sento ao lado da minha amiga.

— E Brooke?
Pergunto e Abby sorri maliciosa.

— Provavelmente transando em algum lugar com Aiden.

— Abby.

Ela ri.

— Apenas estou falando a verdade.

Dylan e Ethan que também a ouvirão riem. Nós quatro ficamos


bebendo e cantando as músicas bem alto como se fôssemos os próprios

cantores. Aiden e Brooke aparecem depois de um tempo, os dois estão

vermelhos e com os cabelos uma bagunça.

— Meu Deus, vocês estavam mesmo fazendo sexo.

Abby grita e os dois sequer ficam vermelho. Eles puxam uma

cadeira e se sentam com a gente. Josh é o único que não está aqui no

momento e olho ao redor, mas não o encontro. Será que ele está com
alguém?

E se estiver? Não tenho nada a ver com a vida dele.

Eu fico inquieta, mesmo não querendo e só me tranquilizo

quando Josh se aproxima e se senta ao lado de Dylan.

Droga, não era para eu estar me sentindo assim.

Nós continuamos bebendo até que um dos funcionários nos

informa que eles estão fechando. Com tristeza e resmungando, deixamos


o bar, nós paramos na calçada e Josh e Dylan se entreolham, depois para
a frente, onde se situa o estúdio de tatuagem vinte e quatro horas. Daí

eles começam a rir.

— Então, vamos fazer uma tatuagem?

Josh indaga o amigo.

— Se você tiver coragem, eu tenho.

Os dois mais uma vez se olham, assentem e atravessam a rua, nós

os seguimos.

— Eles não podem estar falando sério. — Exclamo incrédula. —

Quem faz uma tatuagem bêbado?

Abby dá de ombros e Ethan vem me responder.

— Acredite, aqueles dois são idiotas o suficiente para fazerem


algo assim.

Adentramos, Dylan e Josh entram na sala e ficamos na recepção


do estúdio. Abby está no colo de Ethan, os dois finalmente se entenderam

e estão em um clima de romance e paixão, Aiden e Brooke também,


embora digam que apenas são amigos com benefícios. Sou a única
sozinha e isso me causa uma estranha sensação de solidão.

Estou quase dormindo na poltrona quando Abby grita animada.

— Nós vamos fazer uma tatuagem.


Ela está falando dela e de Ethan, faço uma careta e eles seguem
sorrindo.

— Vocês estão loucos.

Eles me ignoram e assim que Dylan e Josh deixam a sala, eles


voltam para recepção onde estou. Josh ocupa a poltrona ao meu lado e

me mostra sua tatuagem. É uma luva de beisebol com uma bola dentro, é
pequena e está na parte interior do seu braço.

— Gostou da minha tatuagem, princesa?

É linda, mas ergo meus olhos e o encaro.

— Não me chame de princesa.

Ele apenas ri, aproxima seu rosto do meu e beija minha bochecha.

Eu fico sem saber como reagir ao toque inesperado. Josh fica em pé e


olha para Dylan.

— Estou indo embora, você vem?

Dylan assente, deixa a poltrona, então os dois acenam para nós e


saem do estúdio.

— O que foi isso? Você não o odeia?

Brooke me pergunta curiosa e dou de ombros.

— Eu o odeio.

Nem eu mesma acredito em minhas palavras.


Assim que Ethan e Abby deixam a sala, vamos para o carro do
quarterback. A tatuagem que os dois fizeram é brega, brega até mesmo
para mim que sou romântica. Vamos debochando dos dois durante todo o

caminho.

Brooke e eu ficamos em nosso apartamento e Abby vai com

Ethan para sua casa. Nós duas seguimos cada uma para seu quarto, eu
fecho a minha porta e me apoio contra ela.

Fecho meus olhos e suspiro, o beijo de Josh em minha bochecha


ainda segue queimando em minha pele.
 

Josh

Eu chego no auditório e a professora está no palco, assim como


meus colegas.

— Bom dia, Josh, nossa aula será aqui no palco.

— Bom dia, professora.

Caminho até o palco e procuro por Dakota, é claro que ela ainda

não chegou. Será que ela tem uma aula antes por isso sempre chega

atrasada? Eu me junto ao círculo, mas me posiciono de modo que


consigo encarar a porta.
— Vamos fazer alguns exercícios de relaxamento.

Ela inicia os exercícios de alongamento e relaxamento do corpo,

porque segundo ela, temos que ter o corpo relaxado e pronto para a

interpretação. Coloco a minha mochila no chão, imito a professora e sigo


olhando para a porta.

Eu não vejo Dakota desde sábado, desde o dia do bar. O dia em

que dançamos e beijei sua bochecha. Digo a mim mesmo que foi por

causa da bebida, mas sei que não foi o único fator.

É como se quando estou com Dakota, perdesse o controle de mim

mesmo. Ela faz com que as emoções assumam minha mente, meu corpo
e meu coração. Eu volto a ser um Josh que luto para não ser e o mais

assustador é que gosto de quem eu sou quando me permito ser assim.

A porta finalmente é aberta e Dakota entra por ela, mantenho meu

olhar sobre ela enquanto ela caminha na direção do palco.

— Bom dia, Dakota, nós já iniciamos os exercícios de

relaxamento.

— Bom dia.

Dakota sorri alegre para nossa professora e sobe no palco. Seu

olhar esbarra com o meu, mas ela o desvia rapidamente. Ela se posiciona
ao meu lado de forma que não consigo olhar para ela, ela fez de
propósito.

Dakota põe sua mochila no chão e continuamos os exercícios até


que Dayse os finaliza e deixa seu lugar para ocupar o meio do círculo.

— Leram o roteiro? — Assinto e a maioria dos presentes faz o

mesmo. — Ótimo, hoje iremos começar o ensaiar.

Ela fala como se fossemos ótimos, verdadeiros artistas, quando na

verdade somos péssimos, a maioria de nós pelo menos.

— Peguem seus roteiros. — Fizemos o que ela pede e pegamos

os roteiros nas mochilas. — Nós vamos apenas ler alguns trechos hoje,

claro que cada um lerá trechos dos seus personagens, quero descobrir a

capacidade inicial de vocês.

Minha capacidade inicial é -1.

— Prontos? — Ninguém a responde. — Vou considerar isso um

sim.

Como ela segue animada com uma turma como a nossa?

— Dakota e Josh, vocês são os primeiros.

Ela dá um passo para trás e espera nossa aproximação, eu vou até


Dayse e paro à sua frente, olho para Dakota e seus olhos têm aquele

medo e pavor. Encaro-a e tento transmitir tranquilidade.


— Irá dar tudo certo.

Sibilo para que apenas ela entenda. Dakota respira fundo e dá um

passo em frente, é possível perceber a sua luta e seu esforço. Ela para a

minha frente e está tremendo.

— Hey, está tudo bem.

Sussurro.

— Confie em você, Dakota, além do mais não estamos aqui para

julgá-la. — Dayse dá a volta em torno de nós. — Escolham uma cena e


comecem.

Abro o roteiro e pego uma das minhas partes preferidas.

— Você deveria dançar uma vez com seu noivo.

Leio que o duque disse a Emma no primeiro baile que eles


compareceram após ficarem noivos.

— Deveria?

Dakota lê a resposta de Emma, sua voz está tremendo e é

praticamente um sussurro.

— Sim, nós ficamos noivos, lembra.

Eu tento fazer o meu melhor, o que é uma imitação horrorosa do

que imagino ser a voz de um duque. Nunca vi um duque, como irei saber
como ele fala.
— Estou sendo obrigada a casar com o senhor, lembra?

Preciso me controlar para não rir ao ouvir a voz de Dakota,


porque Emma às vezes é tão insole quanto ela.

— Jamais poderia me esquecer desse fato, minha cara. — Nós


dois não estamos nos olhando, porque estamos encarando o papel. — Irá

me conceder uma dança ou não?

Desvio os olhos do roteiro para Dakota, eu preciso ver o seu rosto

quando pronunciar a próxima fala.

— Uma dança é tudo que você terá, vossa Alteza.

Ela continua olhando para o papel, mas suas bochechas ficam


vermelhas. Dakota se lembrou de sábado quando ela me disse a mesma

frase.

— Ok. — Dayse nos interrompe e caminha ao nosso redor


fazendo suas observações. — Vocês precisam dar mais a liberdade aos

artistas que vivem dentro de vocês.

Artistas? Não tenho um artista dentro de mim. Encaro a

professora com certo deboche e Dakota percebe, ela ergue suas


sobrancelhas e apenas dou de ombros.

— Vocês precisam sentir o enredo, sentir os personagens, quanto


mais sentirem o real, mais conseguirão convencer os outros que é real.
Faço uma careta e Dakota balança a cabeça me repreendendo em
silêncio.

— O teatro é um tipo de arte e não precisamos de vergonha. —


Ela para atrás de Dakota e toca seus ombros. — Relaxe, querida. Feche
olhos e relaxe.

Dakota fecha os olhos, assim como Dayse. Eu preciso morder


meu lábio para não rir.

— Ninguém irá julgá-la, ninguém irá rir de você, desbloqueie


suas travas e viva a Emma. — Abre seus olhos, dá um passo para trás e
sorri. — Dakota e Josh, repitam o trecho.

Dakota abre seus olhos, eu a encaro com deboche e ela revira seus
olhos.

— Podem começar.

Repetimos a cena e somos tão horríveis quanto a primeira vez.

— Vocês estão ótimos. — Dayse força um sorriso, acho que nem


ela mesmo acredita em nós dois. — Próximos.

Dakota e eu voltamos para o círculo e outras pessoas ocupam


nosso lugar para apresentarem seus trechos. Eles são incrivelmente

melhores, o sorriso e o brilho no olhar de Dayse até se intensificam.


Espero que com a nossa clara falta de talento, ela coloque outras pessoas
para serem os protagonistas.

Apesar de não conseguir ver Dakota, às vezes viro-me apenas


para a observar e ela me ignora, olha em frente como se não soubesse que
estou a olhando, porém pela forma como seu corpo reage, eu sei que ela

sabe.

Enfim, os últimos se apresentam e fica apenas Dayse no meio do


círculo. Ela olha para nós com um sorriso no rosto. Está quase na hora

do fim da aula, encaro o relógio que há na parede e acompanho os

ponteiros. Cinco minutos e estarei livre. Preciso almoçar e ir para o


treino, estou ansioso para me encontrar com meu time depois da vitória

de sábado, deveremos estar todos animados.

— Estão liberados com exceção de Josh e Dakota. — Volto a

olhar para a mulher e franzo minha testa. Não esperava ficar aqui além
do horário. — Será rápido, eu prometo.

Não tenho como fugir, então apenas assinto e continuo no palco.

Olho para Dakota e ela apenas dá de ombros. Ficamos observando o

auditório se esvaziar e assim que ficamos apenas nós três, Dayse faz um
sinal para que nos aproximemos dela, Dakota e eu vamos até ela e

paramos na sua frente, um ao lado do outro.


Minha mão quase toca a sua e sinto o calor da sua pele.

— Bom, eu escolhi vocês, porque não são os melhores atores do


mundo. — Ela fala alegre, como se não estivesse nos criticando. —

Porém, quero um desafio, quero tornar vocês melhores e para isso

precisamos de mais ensaios.

Ergo minhas sobrancelhas.

— Mais ensaio?

A professora assente.

— Vocês não estarão prontos até o dia 16 de dezembro se


ensaiarem somente durante as aulas.

Ela claramente está agindo como se estivéssemos super

empolgados para realizarmos essa peça.

— Vamos mesmo nos apresentar no festival de talentos?

Dayse sorri, é quase um sorriso maquiavélico.

— Claro, Dakota, será uma experiencia incrível para vocês.

Preciso me controlar para não dizer que uma experiência incrível

para mim é um jogo de beisebol e não uma peça de teatro.

— E se a senhora escolher outras pessoas?

Sugiro e ela faz uma careta.


— Isso não vai acontecer, Josh.

— Quando será os ensaios?

Dakota pergunta e ela volta a sorrir.

— Isso vocês podem decidir. — Ela começa a caminhar de um


lado para outro. — Eu não estarei presente nos ensaios, porque irei passar

o que devem fazer, as técnicas e como devem executar a cena durante a

aula e vocês só precisam ensaiar.

Só ensaiar... simples assim.

— E não tentem me enganar, porque se não evoluírem, saberei

que não estão ensaiando.

Ótimo, estamos sendo pressionados.

— Ainda acho que a senhora poderia escolher as pessoas mais

capacitadas.

Professora Dayse dá de ombros.

— Isso não está em discussão, Dakota. — Ela volta a ficar parada


a nossa frente. — Alguma dúvida?

Balanço minha cabeça negando e Dakota faz o mesmo.

— Ótimo, tenham um bom dia.

Acena, vira-se e caminha na direção da porta. Observo-a


indignado. Primeiro, ela nos escolheu para protagonistas, sabendo que
somos ruins, e agora está exigindo que ensaiemos mais vezes, fora do

horário de aula, e por fim, ela ainda não estará presente.

Totalmente injusto. Talvez deva mesmo abandonar essa aula.

Foda-se, eu não preciso de um diploma.

Antes de abrir a porta, ela olha para trás e encara nós dois. Não
posso ver com nitidez o seu rosto, mas é óbvio que está sorrindo.

— Josh, seu treinador mandou lembranças e Dakota, querida, a

professora Gemma Reese está entusiasma para ver você em cima de um

palco.

Sua voz é doce, mas tendenciosa. Vira-se em frente e deixa o

auditório. Ela está praticamente dizendo que não podemos desistir,

porque há pessoas que querem a gente aqui. E ela está certo, meu

treinador quer que eu tenha horas para me formar, assim que for
convocado no draft, se é que serei convocado.

— O que foi isso?

A voz de Dakota me chama atenção e olho para o lado.

— No meu caso, um lembrete do porquê não posso desistir.

Ela suspira.

— Eu estou me sentindo como se estivesse em um experimento.

— Dakota zomba. — Vamos ver se conseguiremos transformar aqueles


alunos horríveis em atores decentes.

Sorrio apesar da situação não ser muito agradável.

— Parece que passaremos mais tempo juntos, princesa.

Ela revira seus olhos.

— Infelizmente.

Sigo sorrindo, uma parte em mim, talvez bem infantil, gosta de

irritar Dakota, a mesma que adora provocar e irritar meus amigos.

Realmente, estou levando a sério esse negócio de sermos amigos.

— Então, quando começaremos nossos ensaios extras?

— Nunca é uma opção?

Resmunga e balanço a cabeça negando.

— Não, princesa.

Suspira, olhando para o teto e em seguida olha para mim

novamente.

— O que você acha de terça e quinta?

— Eu tenho treino, só posso no início da noite.

— Pra mim fica bom.

— Começamos hoje?

Ela bufa diante a minha pergunta e balança a cabeça.


— Podemos começar na quinta? Eu tenho que me preparar

mentalmente para suportar você por mais horas que o normal.

Sorrio.

— Claro, princesa.

Ela revira seus olhos.

— Já disse para parar de me chamar assim.

Dou de ombros.

— Continuarei te chamando assim.

Revira seus olhos e olha ao redor.

— Será que conseguiremos ensaiar nesse auditório?

— Eu acho que sim.

Ela assente.

— Quinta às seis e meia?

— Isso.

Respondo-a, ela volta a olhar para mim e nos encaramos até que
ela desvia seus olhos.

— Ok, Josh — Dakota pega sua mochila e dá um passo em

frente. — Até quinta-feira.


Dakota caminha até as escadas na lateral e deixa o palco. Eu pego
a minha mochila e a sigo. Ela sabe que estou logo atrás dela, mas não

olha para trás. Nós dois deixamos o auditório e Dakota continua na

minha frente.

— Tchau, Dakota

Ela não me responde e eu sorrio.

...

Almoço e vou para o meu treino, como suspeitei, todos estão

animados com a vitória, principalmente os reservas que jogaram boa


parte do jogo. A maior parte do treino e com a bola, eu foco em treinar

arremessos e me sinto realizado, porque é tão satisfatório ocupar meu

lugar, arremessar a bola e acertar a zona de strike[12], além de na maioria

das vezes, o receptor consegue segurar a bola.

Deus, eu amo o beisebol.

Parte do time marca de ir jogar sinuca mais tarde, então vou para

casa apenas com o intuito de trocar de roupa. Eu tomei banho após o


treino, mas minha roupa segue sendo a mesma que estava usando pela
manhã.
Dirijo animado, deixo o carro estacionado em frente à minha
casa, como vou sair daqui a pouco e ao entrar, deparo-me com Aiden e
alguma garota no sofá da sala. Para minha sorte, Aiden está vestido e não

consigo ver a garota, porque Aiden está a cobrindo. Sorrio malicioso.

— Não acredito que você está transando na sala.

— Feche os olhos.

Resmunga e não o obedeço. Não que queira ficar os assistindo,

mas quero o provocar por alguns segundos.

— Se ela for gostosa, sempre podemos dividir, o que você acha


de um ménage?

— Me respeite, Josh!

A garota grita e a reconheço imediatamente, é a Brooke.

— Desculpe, Brooke, não sabia que era você. — Sorrio


debochado, Brooke tem estado cada vez mais por perto e gosto dela,

assim como gosto dos meus amigos. — Estou subindo para meu quarto.

Deixo-os em paz e subo para meu quarto. Eu troco de roupa e


como ainda falta alguns minutos para o horário que marcamos, sento-me

na cama para ficar mexendo no celular, porém ao olhar para o lado,


encontro o roteiro, pego-o e o releio mais uma vez. Deve ser a terceira,
ou quarta vez que estou o relendo. 
Qual a minha ficção com esse enredo? Eu também não sei.

Só paro de ler a maldita da peça quando está quase na hora de

encontrar com meus colegas de time, então volto a deixá-la sobre o


cômodo que fica ao lado da minha cama, fico em pé, pego minha
carteira, celular, chave do carro e deixo meu quarto.

Desço a escada e estou caminhando na direção da porta quando


escuto alguns barulhos vindo do jardim. O que está acontecendo?

Minha curiosidade vence minha pressa, desisto de seguir para a


porta e vou até o jardim. Deparo-me com Aiden, Brooke, Ethan e Abby

na área de lazer, as meninas estão sentadas ao redor da mesa e Aiden e


Ethan estão de frente para a churrasqueira.

Aproximo-me e assim que estou perto o suficiente, pergunto o

que estão fazendo.

— Um churrasco.

É Aiden a me responder.

— Quem mais virá?

Na verdade, só quero saber se uma pessoa irá vir.

— Seremos apenas nós, Dakota e Dylan estão chegando.

Assim que escuto Ethan responder a minha pergunta e mencionar


o seu nome, decido que não irei encontrar meus colegas de time. Eu irei
ficar.
 

Dakota

Eu sei que sou péssima tomando decisões quando estaciono em


frente à casa dos meninos. Fito o volante à minha frente e me pergunto o
porquê não disse não quando Abby me convidou para um churrasco na

casa dos meninos. Há muitos motivos por quais deveria recusar o

convite.

Primeiro: É terça-feira, não é dia de churrasco.

Segundo: Não sou assim tão sociável.

Terceiro: Josh mora aqui.


Então, por que estou aqui?

Digo a mim mesma que é porque gosto das minhas amigas, não

tinha comida em casa e de qualquer forma, serei obrigada a conviver com

Josh, afinal minha melhor amiga está praticamente namorando seu


melhor amigo.

São motivos plausíveis, não são?

Minha consciência fala que não e me acusa de ser uma mentirosa.


Não odeio Josh e nem tento o evitar, pelo contrário gosto de estar com

ele, quando não está sendo um idiota. Até mesmo quando estamos

provocando um ao outro, eu gosto dele.

Sou masoquista? Louca? Talvez deva voltar para a terapia.

Antes que minha mente exploda, pego minha bolsa e saio do

carro, foda-se, não importa os motivos, estou aqui, vou entrar e me


divertir.

Determinada sigo na direção da entrada e toco a campainha.

Espero alguém vir me receber, porque ao contrário de Abby, não tenho

intimidade para simplesmente invadir a casa dos meninos.

Espero alguns segundos até a porta ser aberta, é Dylan a abri-la

para minha surpresa, esperava que Abby viesse me receber, afinal ela me
disse por telefone que seria somente nós e os meninos, então sabia que a
única que poderia estar tocando a campainha seria eu.

— Hey, Dakota.

O jogador de basquete se aproxima e beija minha bochecha.

— Hey, Dylan.

Cumprimento-o assim que nos afastamos, entramos na sua casa e

o acompanho.

— Você deveria ter simplesmente entrado, porque estamos no


jardim e não teríamos ouvido a campainha tocar, sua sorte é que eu

estava na cozinha, porque vim buscar sal.

Isso explica, porque não foi Abby a abrir a porta.

— Não sou muito fã de invadir a casa dos outros.

Brinco e Dylan sorri.

— Essa casa não se importa de ser invadida principalmente por

garotas bonitas.

Reviro meus olhos e em seguida suspiro, um suspiro repleto de


drama.

— Até você, Dylan? Achei que fosse o único que se salvasse


nessa casa.
Apesar de estar brincando, Dylan é realmente o mais quieto dos

quatro, não que ele seja um santo, ele só é diferente, não consigo
encontrar uma palavra que o defina. 

— É impossível andar com idiotas e não se contaminar.

Nós dois sorrimos e seguimos para o jardim. O restante do


pessoal está na área de lazer. Uma área com churrasqueira, mesa,

cadeiras, pia, fogão e uma geladeira. Ser herdeiro realmente tem suas
vantagens.

Ele e eu nos aproximamos e os cinco se viram em nossa direção,


porém é em uma única pessoa que detenho meu olhar. Em Josh que está

apoiado na parede ao lado da churrasqueira e tem uma latinha de cerveja


em mãos. Ele me encara e seu olhar encontra o meu.

— Encontrei Dakota apertando a campainha.

— Você deveria ter me enviado uma mensagem avisando que

estava chegando. — Desvio os olhos de Josh e encaro Abby. — Eu teria


esperado por você.

Dou de ombros.

— Esqueci.

Vou até minhas amigas que estão sentadas ao redor de uma mesa
redonda de vidro e ocupo uma das cadeiras ao lado de Abby. Passo meu
braço pelos ombros da minha amiga e abraço-a, só para provocá-la, já

que ela não é muito fã de abraços.

— Eu não ganho abraços.

Brooke faz drama e jogo um beijinho em sua direção assim que


me afasto de Abby.

— Não chore, eu também amo você. — Ela ri e faz um coração


com suas mãos em minha direção. — Só sinto falta de Abby, porque ela

está praticamente morando com Ethan e nos abandonou.

Faço um beicinho.

— Eu estou sendo obrigada a ficar tanto tempo com Ethan.

Abby se justifica.

— Você estava sendo obrigada, porque Ethan não está mais com
braço imobilizado e não precisa mais ser a sua babá.

Brooke a acusa, viro-me para Abby e ela faz uma careta. Brooke
e eu rimos da sua expressão e de repente, sua careta é substituída por um
sorrisinho debochado e ela olha em minha direção.

— Sabe quem passou a tarde toda aqui, Dakota?

Ergo minhas sobrancelhas.

— Quem?

— Brooke.
— Sua fofoqueira.

Brooke grita e me viro para ela.

— O que você estava fazendo aqui?

— Ela e Aiden estavam transando.

Não é Brooke a me responder e sim Josh, ela abre a boca


indignada e balança a cabeça negando.

— Não estávamos transando e sim organizando nossa parte da


festa de Halloween.

Desvio os olhos para Josh e ele está encarando minha amiga com

deboche.

— Eu não sabia que para organizar uma festa, as pessoas

precisavam ficar uma sobre a outra em cima de um sofá.

Aiden dá um tapa em Josh e os dois começam a trocar tapinhas

ridículos, é nítido que são tapas de brincadeiras, eles parecem duas


crianças.

— Dylan, você deveria convidar a Dakota para sair.

A voz de Abby deixa claro que ela está brincando, porém Josh
interrompe a brincadeira com Aiden e a encara com uma expressão de

poucos amigos. Eu deveria olhar para Dylan para ver qual é a sua reação,
mas continuo encarando Josh.
— Por quê?

Ele pergunta a Abby, sua voz soa sem emoção, como se não fosse

nada demais. Finalmente, eu olho para Dylan e ele está sorrindo


debochado. Nós nunca olhamos um para o outro com algum interesse e
não será agora que isso irá mudar.

— Porque eu estou com Ethan, Brooke com Aiden e poderíamos

sair de casal se Dakota tivesse com Dylan.

Conheço Abby e sei que ela está apenas zombando. Nem ela e

nem Brooke são do tipo que gostam de encontro de casais. Dylan se vira

para Josh e sorri.

— Eu acho que Dakota e eu combinamos.

Eu começo a rir e Josh faz uma careta.

— Vocês não combinam.

Dylan claramente está provocando Josh e ele está caindo na


provocação.

— Você não estava saindo com Kim?

Josh pergunta irritado e Dylan dá de ombros.

— Nós somos apenas amigos.

— Esqueça Dakota.

Josh diz entre dentes, paro de rir e ergo minhas sobrancelhas.


— Eu acho que podemos ter um encontro, Dylan.

Josh morde seu lábio inferior e posso ver uma veia em sua testa.

— Vamos marcar, Dakota.

Josh amassa a latinha de cerveja.

— Foda-se, vamos assar essa maldita carne.

Ele se vira para churrasqueira. Dylan pisca em minha direção, eu


sorrio e volto a olhar para minhas amigas. Brooke e Abby estão sorrindo

maliciosamente.

— Eu não vou realmente sair com Dylan.

Sirvo um dos copos descartáveis que há sobre a mesa com o

refrigerante que está ao lado dos copos.

— Claro que não irá.

Abby realmente está afirmando, não está debochando.

— Então, qual motivo do sorriso?

Trago o copo até minha boca e bebo o refrigerante enquanto

espero por sua resposta.

— Josh está com ciúmes.

Largo o copo sobre a mesa e balanço a cabeça negando.

— Ele não está com ciúmes.


— Ele está sim.

Brooke afirma assim como Abby.

— Vocês estão malucas.

— Não estamos.

As duas falam ao mesmo tempo e faço um gesto de desdém com

as mãos. Ignoro-as e olho para Brooke.

— O que vocês decidiram sobre a festa?

Mudo de assunto, porque é óbvio que Josh não está com ciúmes.

Elas estão malucas. Minhas amigas aceitam minha troca de assunto e

conversamos sobre a festa que ocorrerá daqui a algumas semanas, os

meninos quando percebem do que se trata nossa conversa se intrometem.

De repente, estamos conversando sobre sábado e a tatuagem de

Ethan e Abby, os chamamos de bregas e os dois não têm nem

argumentos, simplesmente riem.

Saímos de um assunto e entramos em outro completamente


diferente sem percebermos. Aiden e Dylan preparam a salada e assim que

Josh finaliza a carne, jantamos ao redor da mesa e seguimos conversando

e rindo.

Algumas vezes meu olhar esbarra com o de Josh, mas não é


desagradável. Talvez, realmente possamos coexistir em um mesmo
ambiente.

Como os meninos cozinharam, nós somos as responsáveis por


limparmos. Eles vão para a piscina e assim que terminamos, vamos até

eles. Ninguém está bebendo, porque é terça-feira, mas estamos rindo

como se estivéssemos.

Eu tiro meu vestido, o deixo sobre uma das espreguiçadeiras e

fico apenas de maiô, sinto alguém me olhando e quando olho na direção

da piscina, vejo Josh me observando. Mesmo sem estar conseguindo

enxergar o seu rosto nitidamente, um calor sobe pelo meu corpo.

Por que tenho que reagir assim a ele?

— Vamos?

A voz de Abby chama minha atenção, desvio meus olhos de Josh,

viro-me para Abby e assinto.

— Vamos pular juntas?

Concordamos com Brooke e então nos posicionamos em frente à

piscina, entrelaçamos as nossas mãos. Abby inicia a contagem e no três,

pulamos na piscina. Soltamos nossas mãos assim que entramos em


contato com água gelada e logo que imergimos, nos olhamos e

começamos a rir.
Apesar da água estar fria, não demoro a me acostumar, afinal é

uma noite quente.

Os meninos se aproximam com uma bola, ficamos brincando e

jogando, e nossas gargalhadas ecoam pela noite.

Ethan e Abby são os primeiros a deixarem a piscina, eles dizem

que é porque Ethan não pode forçar muito o ombro, nós o provocamos

dizendo que é porque eles querem é transar, eles nos ignoram e seguem
para dentro de casa.

Eu sou a próxima a sair, após alguns minutos, porque estou com

frio. Assim que pego meu vestido sobre a espreguiçadeira, me dou conta

de que não trouxe nenhuma toalha.

— Eu preciso de uma toalha.

Grito e é Dylan a me socorrer.

— No banheiro lá de dentro há toalha no armário.

— Obrigada, Dylan.

Pego meu vestido e corro até o banheiro que fica em um espaço

entre sala e cozinha. Encontro uma toalha no armário abaixo da pia e me

seco. Ao encarar meu reflexo no espelho, percebo que não deveria ter

molhado meu cabelo, ele está parecendo um ninho de passarinho. Sem


alternativa, tiro o excesso de água dos meus fios ruivos e faço um coque.
Estou ridícula, como não há muito o que ser feita, deixo a toalha sobre o

balcão da pia e saio do banheiro.

Um grito escapa dos meus lábios ao encontrar alguém parado a

minha frente, apoiado na parede e com os braços cruzados.

— Sou só eu, princesa.

Meu coração está disparado e respiro fundo algumas vezes até


enfim conseguir me acalmar.

— Que merda, Josh.

Ele ri.

— Desculpe, princesa.

Escutar o apelido faz com que a faísca que sempre parece existir

entre nós volte a acender.

— O que você está fazendo aqui?

Seu sorriso some, sua postura muda e descruza seus braços.

— Você realmente irá sair com Dylan?

Abro a boca para responder que é claro que não, mas a parte

irracional da minha mente se lembra de Brooke e Abby dizendo que ele


está com ciúmes e mudo minha resposta.

— Isso não é da sua conta.


Ele dá um passo em frente, olha em meus olhos como se fosse
capaz de obter a sua resposta.

— Você realmente irá sair com Dylan?

Repete sua pergunta, aproxima-se ainda mais até ter seu rosto a
centímetros do meu. Não o respondo, porque quero saber qual será sua

reação.

— Dylan não é eu, princesa.

Toca minha cintura e abaixa seu rosto até que seu nariz toque meu
pescoço.

— Jamais confundiria vocês dois.

Fecho meus olhos ao sentir sua respiração em minha pele.

— Não é Dylan que deixa seu corpo arrepiado. — Sua mão aperta
minha cintura. Eu poderia me afastar, mas não me afasto. Continuo aqui,

ansiando por mais dos seus toques. — Não é Dylan que você deseja,
princesa.

Espalmo minhas mãos em seu peito e inclino meu pescoço para o


lado. Seus lábios encostam minha pele e sua mão desce até minha bunda,
ele me puxa para mais perto e não ofereço resistência nenhuma.

Finalmente, ele beija meu pescoço e seus dedos erguem meu vestido e
tocam minha coxa.
— Não deveria perder o controle assim, Dakota. — Sobe os
beijos pela minha pele. — Mas você faz com que eu perca muito mais do
que meu controle, você faz com que eu perca as batidas do meu coração.

Afasta seu rosto do meu pescoço e aproxima os seus lábios dos


meus, ao mesmo tempo que aperta minha bunda. Suspiro e espero
ansiosa por seu beijo, porém antes que ele cubra minha boca com a sua,

escuto meu nome ser chamado e me dou conta do que estávamos prestes
a fazer.

— Dakota, vamos? Eu estou pronta.

Abro meus olhos e dou um passo para trás. Josh me encara

totalmente desnorteado. Nunca um segundo durou tanto. Brooke me


chama novamente, então me obrigo a respondê-la.

— Estou indo, Brooke.

Atordoada viro-me, deixando Josh para trás e sentindo seu olhar


em minhas costas e vou encontrar minha amiga. Que merda nós
pensamos que estamos fazendo?
 

Josh

Bato o lápis em meu caderno ansioso, essa maldita aula não


termina nunca, eu não quero saber sobre Ciência Gastronômica, só quero
que chegue ao fim para que possa ir para minha aula de teatro.

Minha consciência zomba de mim, mas porra, faz um dia. Um dia

daquele quase beijo e não sai da minha mente. É difícil admitir, porém
preciso ver Dakota.

Minha mente está um caos, uma briga interna se instalou em


minha cabeça, deveria me manter longe, entretanto não quero. Razão e

emoção brigando mais uma vez.


O professor continua falando a minha frente e sigo sem conseguir

me concentrar. Ontem meu dia foi um fracasso total, não prestei a


atenção em minhas aulas e quando cheguei em casa e tentei estudar, a

única coisa em que conseguia pensar era em Dakota.

Eu tenho certeza de que qualquer envolvimento com ela seria um

desastre, porque eu sou um desastre, só que quanto mais longe tento me

manter, mais ela parece se infiltrar em meu sistema.

É como um vício. Como algo que você se proibi e fica mais


atrativo. Talvez, se nos tornamos amigos tudo passe, quem sabe assim

consiga a tirar do meu sistema.

Estou convencido de que precisamos ser amigos, colocamos um

fim em nossas briguinhas que são uma armadilha para despertarem tesão

e descobrimos que somos ótimos como amigos. Apenas amigos.

É um plano péssimo, mas o que me resta?

Mais uma vez, o quase beijo da noite de terça me atormenta,

posso inclusive me lembrar do seu cheiro, do calor da sua pele. Caralho!

Nunca mais conseguirei esquecer essa maldita cena? Ela foi o suficiente

para me fazer arder de desejo, para me fazer sonhar com Dakota e com

seu corpo abaixo do meu, merda... foi o suficiente para ter que me tocar
como um adolescente.
Empurro meus pensamentos para longe antes que tenha uma
ereção em plena sala de aula, mais uma vez tento me concentrar no

professor a minha frente, porém é tarde demais para conseguir entender

algo.

Suspiro e passo as mãos pelo meu cabelo.

São minutos de agonia e quando o professor finalmente finaliza a

aula, pego minha mochila e apressado, deixo a sala de aula. Eu apenas


aceno para alguns colegas e vou para o estacionamento, entro em meu

carro e dirijo para o prédio de artes cênicas, minha sorte é que não fica

tão longe do prédio de Ciências Ambientais.

Não sou o primeiro a chegar na aula de teatro, mas não sou o

último, a última sempre é Dakota.

— Bom dia, Josh.

A professora Dayse me cumprimenta assim que entro na sala,


então a cumprimento de volta e sigo para o palco onde estão todos

sentados no chão em um círculo.

Deixo minha mochila ao mau lado e me sento na rodinha, Dayse

sorri e explica que hoje iremos começar a criar conexões entre nós,
porque precisamos estarmos conectados com quem iremos dividir as
cenas e está no meio da explicação quando Dakota chega, então ela para

e se vira para a ruiva.

— Bom dia, Dakota.

Olho na direção de Dakota que caminha na direção do palco.

— Bom dia, professora.

Ela se aproxima e seu olhar cruza brevemente com o meu. Não


consigo identificar claramente suas emoções, mas pelo menos tenho

certeza de que não é desprezo.

— Sentem-se ao lado de Josh.

A voz da Dayse ecoa pelo auditório e sorrio, parece que a sorte

está ao meu favor hoje. Dakota assente e faz o que a professora pediu, ela
vem até mim e ocupa o lugar ao meu lado.

Inclino meu corpo na sua direção, seu perfume me atinge e


aproximo minha boca da sua orelha.

— Bom dia, Dakota.

Percebo seu corpo se arrepiar e um sorriso satisfatório surge em


meu rosto.

— Bom dia, Josh.

Para meu azar, sigo sem conseguir decifrar suas emoções.


— Bom, como estava dizendo hoje, iremos começar a criar

conexões e no finalzinho da aula começaremos a ensaiar com o foco, é


claro, nas técnicas e conceitos sobre conexões que aprenderemos.

Dayse fica em pé e caminha ao redor de nós que continuamos


sentados. Ela explica sobre como teremos que tocar um ao outro, ela fala

sobre o respeito e sobre não exceder limites, sobre confiança e parceria.


Por fim, ela explica que faremos alguns exercícios para desenvolvermos

confiança e parceria.

— Ficaremos em pé e faremos alguns exercícios de alongamento


em dupla, e a dupla será com aquela pessoa que fará mais cenas com

você, ok? — Assentimos e ela continua. — Então, fiquem em pé.

Ficamos em pé, ela separa as duplas e é claro que Dakota e eu

ficamos juntos. Dayse descreve o primeiro exercício e tentamos o colocar


em prática, segundo ela, poderia demonstrar os exercícios, mas faz parte
do processo transformarmos o que ouvimos em gestos, ajuda a

desenvolvermos nossa imaginação.

O primeiro exercício devemos ficar um de frente para o outro,


então uma de cada vez apoiaremos as mãos no braço do parceiro e nos
curvaremos.

Dakota e eu nos encaramos, e tentamos não rir, porém falhamos.


— Como sou um cavalheiro, você pode começar.

Ela segue sorrindo.

— Obrigada por ser um cavalheiro.

— Estou tentando entrar no personagem.

Pisco em sua direção e sorrimos ainda mais. Sorrir com Dakota é


como tirar um fardo das minhas costas.

— Ok, ok, não me deixe cair.

Dakota traz suas mãos até meus braços e se segura em mim. O


contato causa uma energia diferente em meu corpo, é como se onde

estivesses nos tocando, produzisse uma corrente elétrica. Paramos de rir e


seu olhar segue preso ao meu. 

— Jamais deixaria você cair.

Sussurro e ela assente. Ela se curva para frente e me concentro em

observar se ela está equilibrada, se ela se desequilibrar, devo a segurar e


impedir que caia.

Dayse se aproxima e caminha ao nosso redor. Ela está nos


analisando, então coloca sua mão sobre as costas de Dakota.

— Confie no seu parceiro. — Empurra sua mão contra as costas

de Dakota e a empurra mais para baixo, o que faz com que Dakota aperte
ainda mais os meus braços. — Josh e Dakota vocês são os protagonistas,
é preciso que vocês tenham uma sintonia a mais, vocês precisam de
muito companheirismo para convencer o público de que são um casal
apaixonado, vocês precisam fingir haver uma química entre vocês.

Preciso me conter para não rir. Não precisamos fingir química,


pelo contrário precisamos fingir não existir nada entre nós.

A professora retira a mão das costas de Dakota.

— Ótimo e agora, duplas troquem de lugar.

Dakota volta a ficar ereta e afasta suas mãos dos meus braços,

instantaneamente sinto falta do seu toque. Não perco tempo e levo

minhas mãos até seus braços.

— Cuidado, eu posso ser pesado.

Toco-a e volto a sentir a sensação de uma corrente elétrica

vibrando em meu corpo.

— Com medo de cair, Josh?

Sorrio debochado.

— Não posso danificar meu rosto bonito.

Ela revira seus olhos e me curvo para frente. Eu tento ao máximo

não pressionar seu braço, porém para manter meu equilíbrio, preciso me
apoiar nela. Parece que dura uma eternidade até que Dayse grita que

podemos interromper o exercício.


Ergo-me e antes de me afastar de Dakota, passo minha mão pela

sua pele que está um pouco vermelha.

— Desculpe.

Ela dá de ombros.

— Não foi nada.

Dayse faz mais alguns exercícios e inicia o ensaio de fato da peça,


como o foco é toque e confiança, escolhe cenas em que temos que nos

tocar para encenarmos.

— Dakota e Josh serão os primeiros, escolhi a cena do baile para


vocês. — Engulo em seco ao me dar conta de que ela está falando da

cena do baile em que eles dançam. — Hoje focaremos na confiança e

toque, então não iremos abordar o ritmo e forma de dançar, embora eu vá

colocar a música.

Assentimos.

— Se posicionem um de frente para o outro no centro do círculo.

— Fazemos o que ela pede e Dayse liga a música, uma música clássica.
— Agora dancem, hoje finjam que é uma valsa e tentem reproduzir o

diálogo que acontece enquanto Emma e Vincent estão dançando.

Engulo em seco, estendo meu braço e ofereço minha mão

esquerda para Dakota, então ela coloca seus dedos sobre os meus. A
música continua tocando enquanto coloco sua mão esquerda em meu

ombro direito e por fim deixo minha mão direita abaixo da sua escápula

direita. Mais uma vez, é como se existisse uma corrente elétrica


transitando entre nós.

Seu olhar está preso ao meu, nossas respirações estão alteradas e

seguindo a música, dou um passo em frente com meu pé esquerdo,

Dakota dá um passo para trás com seu pé direito, depois ambos vamos
para o lado e em seguida juntamos nossos pés, ficamos fazendo esse

ciclo da valsa simples.

Mantemos o olhar um no outro e há uma intensidade ao nosso


redor, concentro-me nela e me esqueço de todos e de onde estamos.

— Devemos fingir que estamos apaixonados, milorde?

Escuto a voz de Dakota e demoro alguns segundos para me dar

conta de que ela está referindo a Emma, a que Emma fala enquanto está
dançando com o duque.

— Não acho que seja necessário, todos sabem da verdadeira

procidência do nosso casamento.

— Muito cavalheiro.

Resmunga, assim como está descrito que Emma faz no roteiro.

— Irei fingir que não escutei sua insolência, senhorita.


Os olhos de Dakota estão brilhando e morde seu lábio para não

rir.

— Talvez deva lhe avisar que um dos meus muitos defeitos é a

insolência, senhor.

É a minha vez de precisar morder meus lábios para não rir.

— Está tentando me convencer a desistir do casamento?

Não soo tanto irônico como deveria, porque não consigo me

concentrar o suficiente.

— Está pensando em desistir, Vossa Alteza?

Dakota soa divertida e não debochada. Nós dois entreolhamos e

não conseguimos mais evitar, começamos a rir.

— Ótimo, você nem gaguejou, Dakota, perfeito. — Dayse bate

palmas. — Vocês serão perfeitos.

Dayse nos lembra de que não estamos sozinhos, apesar de

continuarmos nos olhando, Dakota e eu nos desvencilhamos.

— Podem voltar para o lugar de vocês.

A professora escolhe os próximos a encenarem enquanto Dakota


e eu voltamos a nossos lugares. Ainda há um sorriso em meu rosto

quando estamos aqui no círculo e ficamos um ao lado do outro.


Eu assisto meus colegas encenarem suas cenas, porém continuo

sentindo a garota ao meu lado. É como se todo meu corpo estivesse em

alerta esperando por um momento de tocá-la.

O restante da aula ficamos apenas observando outras pessoas se


apresentarem e não voltamos a conversar, sequer olho para ela, porque

não encontro um motivo para me virar para o lado. 

Assim que encerra a aula, Dayse encara nós dois. 

— Vocês marcaram os ensaios?

— Iremos ensaiar todas as terças e quintas às seis e meia.

Sou eu a respondê-la e sorri animada.

— Ótimo, hoje treinem a cena da dança.

Pisca em nossa direção e deixa o palco empolgada. Eu olho para

o lado e Dakota está com sua mochila em suas costas.

— Hoje, às seis e meia? — Assinto. — Ok, então até mais, Josh.

— Até mais, Dakota.

Encaramo-nos por alguns segundos até que Dakota dá um passo

para trás, vira-se, pula do palco e caminha na direção da porta. Eu a

observo se afastar com uma sensação estranha em meu peito. Uma parte

da minha mente está contabilizando quantas horas falta para nosso


ensaio.
Totalmente insano.

Antes que eu surte ainda mais, pego minha mochila, coloco-a em


meu ombro e deixo o auditório. Eu vou para casa, é hora do almoço e

para minha sorte, Dylan está preparando o almoço. Almoço com meu

amigo e em seguida sigo para o estádio.

O treino é pesado e intenso, porque a temporada está prestes a


iniciar. Estou exausto ao fim, porém tenho pressa, porque preciso

encontrar com Dakota. Saio praticamente correndo do campo, vou para o

vestiário, tomo um banho rápido e paro em frente ao meu armário para


trocar de roupa. Chris, o nosso melhor rebatedor, para ao meu lado.

— Por que tanta pressa?

Dou de ombros.

— Tenho um compromisso.

— Pela pressa, espero que seja com uma garota.

Não o respondo e ele e os cara começam a me provocar, somente

sorrio, porque não tenho tempo para argumentar com eles. Visto-me,

coloco a sua correntinha e deixo o vestiário e sigo para o estacionamento,


assim que entro em meu carro, confiro o horário e droga, eu preciso

acelerar, ou irei chegar atrasado.


Mesmo acelerando, chego alguns minutinhos atrasado, Dakota já
está no auditório, ela está sentada no palco com as costas apoiadas na

parede e lendo algo.

Fecho a porta, logo após entrar e ela ergue seus olhos ao ouvir o
barulho. Caminho na sua direção, subo no palco e ao me aproximar, me

dou conta de que está lendo um livro.

— Demorei?

Ela guarda o livro e não tenho a chance de descobrir o título.

— Não muito.

Fica em pé e eu paro a alguns centímetros dela.

— Desculpe, eu estava no treino.

Ela assente e nos encaramos, como se estivesse um abismo entre


nós, mas ao mesmo tempo quiséssemos atravessá-lo.

— Vamos começar.

Dakota acaba com nosso dilema e assinto.

— Eu trouxe algo.

Abaixo-me e pego a caixinha de som em minha mochila.

— O que é isso?
Fico em pé e mostro a caixinha para a Dakota, ela ergue suas
sobrancelhas sem entender.

— Para colocar a música.

Ela sorri ao enfim entender.

— Ótimo.

Deixo a caixinha sobre a mesa que há no canto do palco, conecto-


a ao meu celular e escolho uma das músicas que escolhi enquanto dirigia

para o estádio mais cedo. Girls like you versão Vitamin String Quartet
ecoa pelo auditório.

Ao voltar a olhar para Dakota, encontro seus olhos e há um brilho

neles que denuncia que gostou da minha escolha.

— Acertei na escolha?

Não preciso da sua resposta para saber que sim, porque a sua
expressão a entrega.

— Como você chegou a essa música?

Dou de ombros e me aproximo de Dakota.

— Eu pesquisei uma playlist de músicas atuais no ritmo clássico


e ela foi a primeira que encontrei.

Minto, porque escutei toda uma playlist e escolhi essa pela letra.
Estendo minha mão em sua direção, ela coloca seus dedos sobre os meus
e a puxo em minha direção.

— Essa música faz parte da trilha sonora de uma série baseada

em um dos meus livros favoritos.

Assim como pela manhã, paramos um de frente para o outro e

assumimos a posição da valsa. Mantemos o olhar um no outro e


iniciamos os passos, para frente, para trás, para o lado, juntamos os pés, e
fazemos isso circulando pelo palco.

— Devo assistir essa série para aprender a me portar como um


duque?

Dakota morde seu lábio inferior e assim que o solta, sorri.

— Talvez, inclusive a primeira temporada que é sobre um duque.

— Qual nome da série?

— Bridgerton.

Ela me encara com malícia, não está acreditando que eu vá


assistir.

— Irei assistir, afinal tenho que convencer as pessoas que sou um

duque. — Dakota ri e faço com que ela rodopie ao redor da minha mão.
— Inclusive, o termo Vossa Alteza combina perfeitamente comigo.

Volta a ficar a minha frente.

— Menos, Josh, bem menos.


Continuamos sorrindo e ficamos em silêncio. Dançamos como
sempre tivéssemos feito isso. É estranho, talvez seja por causa da música,

porém é como se realmente estivéssemos em um mundo diferente. Um


mundo só nosso, onde o tempo é outro.

Seu olhar segue no meu e mesmo quando faço com que rodopie
assim que volta a sua posição, voltamos a nos olhar.

Deveríamos ensaiar os diálogos, mas não fazemos.

A música ecoa pelo auditório e apesar de ser apenas instrumental,


a letra passeia em minha mente.

“Porque garotas como você ficam com caras como eu

Até o Sol se pôr, quando eu chegar

Eu preciso de uma garota como você, sim, sim”

E assim que chega ao fim, paramos e entreolhamos sem saber o

que fazer ou como agir. São segundos assim, talvez minutos até que
Dakota se desvencilha e dá um passo para trás.

— Onde aprendeu a dançar valsa?

— Precisei aprender para o aniversário de quinze anos da minha


irmã.

Minha voz está rouca e meu coração está acelerado.


— Acho que por hoje está ótimo. — Assinto, mal ensaiamos, mas

não podemos continuar, não quando minha mente é uma confusão. — Eu


vou indo.

Dakota afirma, mas continua me encarando como se precisasse de

respostas. Eu também não as tenho.

Observo a pegar sua mochila e se afastar. Fico parado em pé no


meio do palco como um pateta. Dakota abre a porta e se vira em minha
direção.

— Não esqueça de assistir a série.

Grita e não espera por uma resposta, deixa o auditório. Parte de


mim quer ir atrás dela, a outra está me alertando que não deveríamos

seguir por esse caminho.

Lembranças do meu passado voltam para minha mente, porém

elas não permanecem por muito tempo, porque são substituídas pelo
rosto de Dakota enquanto dançávamos.

Ainda pensando em Dakota, pego minha mochila e saio do


auditório. Vou para o meu carro, dirijo para casa e assim que chego, subo
para meu quarto e assisto a primeira temporada completa da série.
 

Dakota

Passar o fim de semana estudando para uma prova não deveria ser
um problema, porém é, porque não consigo me concentrar por estar
pensando em coisas que não deveria, melhor em alguém que não deveria.

O ensaio de quinta-feira não sai da minha cabeça, o que

aconteceu? Por que parecíamos tão à vontade um com o outro? Por que
toda minha irritação pareceu evaporar?

O fato é que desde a aula de manhã de quinta, eu não conseguia


mais olhar para Josh com desprezo e tudo por culpa daquele quase beijo.

Um beijo que também segue em minha mente.


Merda, merda, merda!

Enquanto dirijo do prédio de educação para o de artes cênicas,

xingo-me mentalmente. Josh já me machucou algumas vezes e eu vou

dar mais uma chance para ele decidir ser um idiota?

Deve ser essa maldita peça totalmente romântica que está me


fazendo acreditar que há um motivo pelas vezes que ele foi um idiota e

me afastou.

Talvez ele realmente queira ser meu amigo, mas eu quero ser sua

amiga? Meu cérebro acusa que não posso ser amiga dele, porque em

algum momento irei me iludir.

Droga, sequer estou conseguindo raciocinar, meus pensamentos

são uma bagunça.

Assim que estaciono meu carro, olho em frente e respiro fundo


algumas vezes tentando encontrar o controle da minha mente. Não

preciso surtar. Josh e eu podemos ter um relacionamento amigável,

apenas amigos. Não vou me apaixonar e ele não irá quebrar meu coração,

existe vários motivos que comprovam essa tese.

Primeiro: Somos totalmente diferentes.

Segundo: Só sentimos atração um pelo outro, porque já ficamos


uma vez e gostamos de nos provocarmos.
Terceiro:...

Tento encontrar um terceiro motivo, mas não encontro. Apoio

minhas mãos no volante e curvo minha cabeça para frente.

O que eu faço? Volto a ser hostil? Abandono essa maldita peça?

Finjo que ele não existe? Mando ele se manter longe de mim? Peço para

ele voltar a ser um idiota?

Odeio todas as opções.

Quer saber, foda-se, não vou perder meu tempo surtando. Nada

irá acontecer, sou uma adulta e posso muito bem ser amiga de um cara

sem esperar da nossa relação algo amoroso.

Minha consciência acusa que estou mentindo para mim mesmo,

porém a ignoro, assim como o alarme que dispara em minha mente.

Saio do carro, bato a porta com força e caminho determinada na

direção do auditório.

Como sempre sou a última a chegar e assim que fecho a porta,

sinto seus olhos sobre mim e meu coração bate acelerado, vamos lá, você

faz parte de mim, não pode ser assim tão traiçoeiro.

Meu coração me ignora completamente, porque segue batendo

acelerado, na verdade, mais forte que antes e para piorar, as perguntas do


tipo “Como será quando meu olhar cruzar com o de Josh?” martelam em

minha mente.

— Bom dia, Dakota.

A professora me cumprimenta assim que piso no primeiro degrau


da escada que leva até o palco.

— Bom dia, professora.

Apesar de senti-lo me observando, me recuso a procurar por ele e

encaro a professora Dayse, que como sempre está sorrindo. Subo o


terceiro e último degrau e piso no chão do palco.

— Bom dia, ocupe seu lugar ao lado de Josh.

Merda! Sou obrigada a procurar por ele, Josh está à direita da


professora e seu olhar está sobre mim. Caminho até ele com minha

respiração alterada e com meus batimentos totalmente irregulares.

— Bom dia, Dakota.

Ele se inclina na minha direção e seu perfume preenche o espaço


à minha volta. Mesmo que tentasse, não conseguiria ignorá-lo e não

quero o ignorar.

— Bom dia, Josh.

Olho para ele e ele está sorrindo, sorrio de volta e só voltamos a


olhar em frente quando Dayse inicia a aula. Ela explica que hoje
começaremos a ensaiar a peça desde o início e que ela irá nos corrigir e

ensaiar as técnicas conforme avançamos. Por fim, pergunta se temos


dúvidas, ninguém levanta a mão, então ela chama os participantes do

primeiro ato para o centro do círculo.

Eu estou incluída, o primeiro ato é a protagonista caminhando

pelos arredores do salão de baile na tentativa de evitar ter de responder o


porquê recusou o pedido de casamento e é finalizado quando ela foge do

salão. Há uma melhor amiga e alguns figurantes na cena, apesar de não


entrar em pânico, sigo gaguejando e meu desempenho só melhora
quando olho para Josh e ele me encoraja com seu olhar a continuar.

Dayse nos rodeia e nos ensina como devemos nos portar,


principalmente porque a mulher tinha uma postura padrão e trejeitos
específicos a seguir.

Após repetirmos algumas vezes a cena, ela troca de ato. O ato 2 é


o duque chegando no baile e mães dispostas a casarem sua filha com o

melhor partido da temporada e é encerrado quando ele deixa o salão.

Josh é o protagonista da cena e é divertido assisti-lo. Ele é


engessado e a professora tenta ensiná-lo como se soltar mais. As caretas
que ele faz enquanto encena são engraçadas. Nós dois não temos talento

algum.
O ato três e o encontro dos dois na biblioteca, então ficamos Josh
e eu no centro do círculo e protagonizamos o trecho.

O mais irônico é que eu amo o enredo da peça, assemelha-se aos


romances que eu gosto de ler, é como se estivesse dentro de um dos meus
livros. Poderei vestir um vestido bonito e dançar, como se realmente

estivesse no século XIX, porém, terei que me apresentar em frente a


outras pessoas e isso acaba com todo o encanto.

Josh e eu iniciaremos o ato se encontrando um com o outro, ou

melhor, o duque e Emma, e a partir daí, os dois começam a trocar farpas.


O fim do ato acontece quando eles são pegos sozinhos perto um do outro

pela maior fofoqueira da cidade.

O cenário será uma biblioteca escura e iniciaremos um de costas

para o outro, então iremos nos esbarrar e nisso, o penteado de Emma


será desfeito, ela ficará furiosa por ser importunada e ter seu cabelo

bagunçado.

Ao se virar e ficar de frente para o duque, o encara com raiva,

além disso, ignora o fato de ser um homem a sua frente por estar farta de
tudo ao seu redor, principalmente por estar sendo questionada pelo
pedido de casamento negado.
Josh e eu encenamos o esbarrão, finjo que meu cabelo foi
bagunçado e me viro para ele com raiva, pelo menos imito estar com
raiva.

— O que o senhor está fazendo aqui?

Josh/duque ergue suas sobrancelhas.

— O que a senhorita está fazendo aqui? — Josh franze sua testa,

conforme está estipulado no roteiro para fazer, e nós dois nos seguramos
para não rir. — A senhorita é a moça que recusou o pedido de casamento

de Avebury.

Pobre Emma.

— Esse fato não vem ao caso, o senhor não deveria estar aqui.

— É por que não deveria estar aqui? Se bem sei, a senhorita não é

a dona da residência.

Continuamos encenando a discussão dos dois e mais de uma vez,


precisamos morder nossos lábios para não rir. Josh e eu nos encaramos

como se estivéssemos compartilhando um segredo, seus olhos brilham

assim como os meus.

— Vocês são péssimos separados, mas juntos se completam de


uma maneira fenomenal.
Dayse exclama ao fim do segundo ato, Josh e eu entreolhamos e

apenas rimos. Como ainda estaremos na próxima cena, continuamos no


meio do círculo.

Nós seguimos ensaiando e é divertido, meu nervosismo cede

lugar a empolgação e consigo parar de gaguejar. Josh e eu trocamos


alguns olhares e sorrimos em certos momentos.

Paramos no quinto ato e somos elogiados pela professora,

segundo ela, estamos melhorando e iremos arrasar no dia da

apresentação, só de pensar em pessoas me assistindo, meu estômago


embrulha, melhor continuar fingindo que é apenas uma brincadeira.

— Dakota? — Viro-me para o lado e Josh está me encarando —

Até mais tarde?

Sorrio.

— Até mais tarde.

Ele assente e continuamos nos olhando. Droga, uma parte minha

não quer ir embora, uma outra não sabe o que fazer, ou o que falar, e por
fim, algo em minha mente sussurra apenas para reagir.

— Então, tchau, Dakota.

Josh dá um passo para trás, mas continua me encarando.

— Tchau, Josh.
Sorrio e desvio meus olhos dos seus. Eu estou tremendo quando

me abaixo para pegar minha mochila e assim que fico em pé, olho para

Josh uma última vez e caminho para longe. Desço o palco com meu
coração acelerado e minha respiração totalmente alterada.

Sinto seu olhar sobre mim enquanto vou até a porta e me controlo

para não olhar para trás. Assim que saio do auditório e piso no corredor, é

como se pudesse respirar normalmente.

Deus, em que bagunça eu me transformei!?

Minha mente é um caos completo. Eu caminho na direção do

estacionamento no automático, mal consigo assimilar as coisas ao meu

redor. 

Josh e eu estamos tão estranhos. Não é algo ruim, e só que

hesitamos em alguns momentos, eu hesito, porque não quero desenvolver

sentimentos, não quero me iludir. E ele? Por que Josh age como se não
soubesse como lidar comigo?

Ele me faz gostar de estar com ele, só que sinto a necessidade de

refrear nossas interações, de me proteger.

Entro em meu carro, jogo minha mochila ao banco ao lado e


respiro fundo. Talvez só esteja sendo surtada, talvez esteja agindo como

uma louca, eu realmente estou parecendo uma maluca.


Essa nossa despedida foi ridícula, despedimo-nos como dois

estranhos, como duas pessoas que recém se conheceram. Ao me lembrar


da cena, uma gargalhada escapa entre meus lábios.

Meus Deus, nós somos dois malucos. 

Recomponho-me e dirijo para Sweet Home, ligo o som e deixo


que a música ocupe minha mente, ou melhor tento, porque entre um

refrão e outro, volto a pensar em Josh. Em como de repente não sabemos

como agir na presença um do outro. 

Chego no lar, deixo meu carro no estacionamento e sigo até a


recepção, aceno para as recepcionistas e adentro o local. Como sempre,

eles estão na ala de convivência, alguns jogando, outros costurando e

fazendo crochê e Phillip está sentado de frente para a parede de vidro,


observando o imenso jardim, eu vou até ele e ocupo a poltrona vazia ao

seu lado.

— Perdido em pensamento?

— Hey, querida.

Vira-se para mim com um sorriso em seu rosto.

— Hey, Phillip, como você está?

Sorrio de volta.
— Bem e você? — Ele estreita seus olhos, me analisa e não

espera pela minha resposta. — Você parece atordoada.

Mordo meu lábio e balanço minha cabeça.

— Acho que não deveríamos falar sobre mim hoje.

Sorri debochado.

— E o idiota?

Droga!

— Sim, é ele.

Confesso e narro todos os últimos acontecimentos para Phillip,

ele me escuta atentamente com um sorriso em seus lábios.

— Você está com uma expressão de quem está apaixonada.

Encaro Phillip indignada.

— Depois de tudo que falei, é isso o que tem para me falar? Cadê

seus anos de experiências?

— Meus anos de experiências estão falando que isso é paixão ou

tesão.

Reviro meus olhos.

— Você está errado.


Apesar de negar, meu coração bate acelerado. Não posso estar

apaixonada.

— Nunca estou errado, querida.

— Não seja tão convencido, Phillip, faz mal para o coração.

— Ele deve estar tão apaixonado quanto você.

Para minha sorte, somos interrompidos por uma funcionária que


vem nos chamar para o almoço. Nós vamos para o refeitório e nos

sentamos com outros senhores e senhoras. Como sempre, é divertido

estar com eles.

Minha tarde, é uma tarde normal de terça-feira, com duas aulas e


a única diferença é que sigo para o auditório para encontrar Josh ao fim

da tarde.

Durante o dia, consegui deixar Josh em segundo plano, ele ainda


esteve em minha mente, mas não a todo instante, não a ponto de me

deixar desnorteada, porém agora a ansiedade está de volta, porque

estamos prestes a nos encontrar mais uma vez. 

Eu pego a chave na secretaria e sigo para a sala, abro-a, acendo as


luzes e subo para o palco. Pego o livro que estou lendo Uma dama fora

dos padrões da Julia Quinn, sento-me no chão e apoio minhas costas na

parede.
Abro na página em que parei e tento ler o primeiro parágrafo,
porém não consigo entender nada do que estou lendo, porque tudo que

consigo pensar é em como será quando nos encontrarmos. Será como

antes com desprezo? Será embaraçoso? Ou agiremos como dois amigos? 

Deus, eu pareço uma adolescente.

Sigo tentando me concentrar e imaginando as mais diversas

possibilidades. E quando enfim a porta é aberta e Josh entra por ela, meu
coração dispara.

Fecho meu livro e ele caminha na minha direção. Ele está

vestindo uma calça jeans, camiseta preta, par de tênis e seu cabelo está

molhado o que significa que recém tomou banho e assim como na


semana passada, sinto o perfume do seu sabonete. Vai ser uma tortura,

para minha sorte, não iremos ensaiar a dança do baile, eu espero pelo
menos.

— Hey, princesa.

Não usa as escadas e dá um pulo até estar sobre o palco.

— Hey, Josh.

Guardo meu livro na mochila, pego o roteiro e fico em pé.

— Vamos passar o trecho que ensaiamos na aula? — Assinto. —


Ok.
Josh pega o roteiro do seu bolso traseiro e em silêncio,
começamos a ensaiar, reproduzimos a cena do esbarrão e os diálogos
seguintes. Apesar de estarmos encenando, o ar ao nosso redor carrega

tesão, como se realmente fôssemos o duque e Emma, um casal destinado


a se apaixonar.

Foco, Dakota!

Passamos a cena três vezes e Josh termina a última sorrindo

debochado.

— Por que está rindo?

Paramos de encenar, ficamos um de frente para o outro e nos

encaramos.

— Porque será impossível decorar esses diálogos.

Aponta o roteiro em minha direção.

— Não seja pessimista, Josh.

Ele ri e balança a cabeça.

— Eu já li mais de oito vezes esse maldito roteiro e não o decorei.

— Você leu oito vezes?

Josh fica vermelho e passa sua mão pelos fios do seu cabelo.

— Sim, eu estou empenhando em fazer o meu melhor.


Essa não parece ser a verdadeira razão, mas apenas dou de
ombros.

— Tenho certeza que se ler mais oito vezes você irá decorar todos
os diálogos.

Josh somente segue rindo e se vira de costas ficando na posição


inicial do ato 2.

— Vamos lá, princesa, mais uma vez.

Ensaiamos mais três vezes e na última inclusive deixamos o


roteiro de lado. A cena final é nós dois discutindo um perto do outro, e

estamos tão perto que sinto sua respiração em meu rosto, a tensão ao
nosso redor atinge o ápice e por um momento esqueço o que devo falar,
abro e fecho minha boca e nada sai.

Josh não pronuncia nenhuma palavra, seu pomo de adão desce e


sobe em sua garganta. Expectativa percorre pelo meu corpo e anseio por
sentir suas mãos em mim.

Um centímetro e o tocaria, se ele abaixar sua cabeça poderia

encostar seus lábios nos meus. Seria apenas um beijo. 

— Ótimos, perfeitos.

Dou um pulo para trás, meu coração salta em meu peito e demoro

alguns segundos para me dar conta de que é Dayse. Olho para o lado e
ela está em frente ao palco nos encarando com os olhos brilhando.

— Há tanta tensão entre vocês.

Ela não sabe que é real. Forço um sorriso.

— Estamos fazendo nosso melhor, não é, Josh?

Olho para ele e seu peito está subindo e descendo em um ritmo


acelerado.

— Claro.

— Repitam o ensaio.

Olho para Josh, ele suspira e dá de ombros. Repetimos a cena,


mas dessa vez, é mais difícil, não porque temos alguém nos assistindo,

mas porque a tensão entre nós é insuportável.

Ao fim, ela nos aplaude e diz o quanto estamos evoluindo. Nós


agradecemos, eu pego minha mochila e deixamos os três o auditório, a

única a falar entre nós é Dayse, Josh e eu apenas concordando com tudo
que deixa sua boca.

Na entrada do prédio, Dayse se despede de nós dois, porque vai


de bicicleta para casa. Ela se afasta e olho para Josh, ele está me
encarando com seus olhos castanhos como se estivesse tentando decifrar

algo.

— Eu vou para o estacionamento.


Minha voz é praticamente um sussurro.

— Eu também.

Assinto e seguimos juntos, ele me acompanha até meu carro,


então para e me observa caminhar até a porta.

— Tchau, Josh.

Aceno para ele que acena de volta.

— Tchau, Dakota.

Trocamos um último olhar e entro no carro, sento-me no banco e


solto a respiração que estive perdendo todo esse tempo.

 
 

Josh

Dirijo para o prédio de artes cênicas com uma sensação de


ansiedade correndo meu peito, droga, é como a sensação que eu sinto
antes de um jogo importante.

Porra!

Desde a terça-feira, tenho tentado evitar pensar em Dakota, mas é

impossível, ela fez morada permanente em minha mente, eu posso ficar

alguns segundos distraído, pensando em algo, porém de repente, ela


surge e toma conta da minha mente.
É em seu sorriso, é nas cenas que encenamos no teatro, é na

anseia de tocá-la que eu penso, como um obcecado, como um viciado.

Talvez precise transar, há quanto tempo não faço sexo? Semanas?

Meses? Estou perdido, maluco, não me reconheço. Caralho, eu usei o


fato de ensaiar para o teatro como desculpa para não ir com Aiden em

uma festa na sexta-feira, não era dia de ensaiar e menti, na verdade,

fiquei lendo o maldito roteiro.

Suspiro, estaciono, pego minha mochila e saio do carro. Caminho


na direção do auditório, cumprimento algumas pessoas e sorrio. Apesar

de estar mais quieto que o normal, ainda sou uma das Estrelas do

Alabama, ainda sou o capitão de beisebol, com fama de cafajeste e bad


boy.

Por que meu coração não acelera mais ao pensar nessas coisas

como acelerava há algum tempo? O que mudou?

Faz muito tempo que não converso com meu psicólogo, talvez

deva marcar uma consulta.

Entro no auditório, Dayse sorri e acena na minha direção, ela com

certeza é a professora mais animada que eu conheci. Subo no palco e me

junto ao círculo.

— Iremos esperar nossa protagonista chegar.


Ela está empolgada e aposto que deve ser pelo que presenciou o
nosso ensaio particular na terça. Mal sabe ela que não estávamos

encenando, se bem que não sei se realmente é algo negativo.

O cara e a garota que estão ao meu lado conversam comigo sobre

a temporada de beisebol, eu os respondo, mas olho para a porta à espera

de Dakota. Enfim, ela entra e está usando uma calça jeans colada ao seu

corpo e uma blusa de alcinha com cardigã rosa por cima e seus cabelos

ruivos estão soltos. Dakota tem um estilo natural que a deixa tão bonita,

apesar de que ela linda de qualquer jeito.

Dayse e ela trocam algumas palavras, ela sobe no palco e

finalmente, seu olhar encontra o meu. Abro espaço para que ela ocupe o

lugar ao meu lado, o garoto que está à minha direita entende a minha

intenção e dá um passo para outro lado.

Dakota se aproxima e para à minha esquerda, então me inclino na

sua direção, deixando meu rosto a centímetros do seu. 

— Bom dia, princesa.

Nós temos uma diferença de alguns centímetros de altura e

quando ela olha para cima, meu nariz quase toca com o seu.

— Bom dia, Josh.

— Você está linda hoje.


Pisco em sua direção e ela cora. É com ela que gosto de ser um

cafajeste, de flertar e de ser o bad boy debochado. 

— Vamos começar?

Dayse chama nossa atenção e olhamos em frente. Ela explica que


hoje focaremos nos gestos daquela época, na maneira como eles se
portavam, e vamos aprender a dançar.

Um de seus alunos de mestrado se junta a nós e ela demonstra


como devemos dançar. Dayse nos explica passo por passo, diz que

devemos dançar como se estivéssemos pisando em uma nuvem, devemos


sentir a música e a deixar que nos guie. Ela é bem poética. Por fim, se

vira para nós e nos encara com seus olhos azuis brilhando de
empolgação.

— Alguém tem alguma sugestão de música?

Ninguém se manifesta, então eu faço.

— Eu tenho uma sugestão. — Todos olham para mim surpresos e


sorrio. — Eu posso ser surpreendente.

— Qual a sua sugestão, Josh?

Pego meu celular para responder à pergunta de Dayse, eu coloco

para tocar a música que Dakota e eu usamos para ensaiar. A expressão no


rosto da nossa professora evidencia que adorou minha sugestão.
— Ótima escolha, Josh.

Sorrio satisfeito e Dayse pede para que eu conecte meu celular no


aparelho de som, além de colocar a música em loop. Faço o que ela pede

e ela nos junta em pares, é claro que Dakota e eu ficamos juntos.

Dayse dança com seu aluno e mande que dancemos, os imitando.

Enquanto ela dança, dita o que devemos fazer, Dakota e eu não temos
dificuldade em seguirmos seus comandos. A dança não é muito diferente
da valsa convencional e nos adaptamos bem. Somos ótimos dançarinos,

pelo menos somos ótimos em alguma coisa no teatro.

— Onde você aprendeu a dançar assim?

Faço a mesma pergunta que Dakota me fez outro dia.

— Minha mãe é professora de dança.

Ergo minhas sobrancelhas.

— Sério?

Assente, não sei o porquê, mas essa informação é extremamente


surpreendente.

— Eu fiz balé, dança de salão e até mesmo jazz.

— Uau.

Encaro Dakota admirado e ela sorri.

— Eu posso ser surpreendente.


Ela me provoca e faço uma careta.

— Usando minhas palavras contra mim?

— Claro, uma pessoa esperta sempre utiliza a frase dita por uma

pessoa contra ela mesmo.

Dakota rodopia enquanto seguro sua mão e quando voltamos a

nos encarar, ela continua sorrindo.

— Vou me lembrar disso.

Ela abre a boca para dizer algo, porém somos interrompidos por
Dayse, ela não está mais dançando e caminha ao nosso redor.

— Ótimo, fantásticos, brilhantes.

Bate palmas, mordo meu lábio inferior para não rir e Dakota faz o

mesmo. Assim que a professora se afasta, Dakota sussurra.

— Ela usou todo seu vocabulário de elogios.

— Rindo da professora, que feio, princesa.

— Logo quem está me repreendendo.

— Eu sou o preferido da professora.

Continuamos rindo enquanto dançamos, ora por causa das nossas

provocações, ora pelos passos que temos de fazer. Apesar de cansarmos,


poderia continuar fazendo isso por muito mais tempo.
Dayse encerra o momento de dança e formamos novamente o
círculo, até o restante da aula, ela fala sobre comportamentos, gestos e
postura.

Assim que encerra a aula, o pessoal começa a juntar suas coisas,


eu faço o mesmo e pego minha mochila, Dakota também, porém antes

que possamos descer do palco, Dayse se vira na nossa direção.

— Vocês irão ensaiar hoje à tarde, não é? — Assinto. — Treinem


a dança com o diálogo que acontece durante os passos.

— Ok, professora.

Dessa vez é Dakota a respondê-la, então a professora acena e me

viro para Dakota, ela dá um passo para o lado.

— Tchau, Josh.

Antes que ela fique de costas para mim, seguro seu pulso, ela me

encara sem entender. Curvo meu corpo para frente e beijo seu rosto.

— Tchau, Dakota.

Afasto-me e ela está me encarando incrédula. Sorrio, viro-me e

caminho para longe de Dakota com um sorriso em meu rosto.

O que eu estou fazendo? Não faço a mínima ideia.

Eu vou para o estacionamento e assim que entro em meu carro, o

meu celular em meu bolso começa a vibrar, pego-o e é uma ligação de


John, o que meu pai quer?

Aceito a ligação e trago o aparelho até minha orelha.

— Hey.

Minha voz soa sem sentimento algum.

— Hey, Josh, como você está?

Sua voz é grossa, formal e determinada, mesmo meu pai


conversando com a família parece um político. A única coisa que ele

sabe ser na vida é um político.

— Estou bem e você?

— Bem, eu liguei para conversar sobre Tessa.

O relacionamento do meu pai e eu sempre gira em torno de Tessa,

ou em alguns momentos específicos nele tentando interferir em minha

vida, mas esses são mais raros, apenas quando ele acha que possa
comprometer seu nome namorando alguém sem status e dinheiro.

— O que aconteceu com a minha irmã?

Há muito tempo aprendi que John não sabe ser um pai, aliás ele

não sabe ser nada além de um político.

— Ela quer ir para Universidade do Alabama.

Respiro fundo, porque esse é o momento que eu terei que ajudar

Tessa.
— Por que isso não é uma boa ideia?

— Porque eu quero que ela vá para New York fazer algum curso

rápido de moda. Tessa tem um futuro brilhante e não precisa perder o

tempo em uma universidade.

Futuro brilhante ele diz casando-se com algum político e sendo

uma esposa troféu igual a minha madrasta.

— Talvez ela possa vir cursar moda aqui.

Sei que não é o que ela quer, mas pode transferir o curso ou algo
parecido, no momento precisamos convencer John de que ela vir para cá

é uma boa ideia.

— Universidade do Alabama não está entre as melhores


faculdades de moda do país.

Faço uma careta, ele não está preocupado com minha irmã, é

claro que ele quer dizer a todos que sua filha estuda na melhor escola de
moda do país. Fico em silêncio alguns segundos, tentando pensar em

algo, e um argumento surge em minha mente, que com certeza pode fazer

John mudar de ideia.

— Ela estudar aqui pode te ajudar a se tornar senador, afinal isso


seria ótimo na sua candidatura, inclusive poderia ajudar a conquistar

mais eleitores e utilizar na sua campanha eleitoral.


Sei que fiz um ponto quando ele demora alguns segundos para

responder.

— Convença ela a fazer moda e a esquecer dessa baboseira de

engenharia.

Desdém em sua voz é nítido. Como esse cara e eu temos o mesmo


DNA?

— E a deixará vir para o Tuscaloosa?

— Desde que se comporte, se Tessa sujar meu nome, ela entra em

um avião e embarca para Nova York.

Eu sei que ele encontraria os meios de obrigá-la a fazer o que ele


quer. Não tenho dúvidas.

— Ok.

— Ok, Josh, até mais.

É claro que nossa conversa terminou.

— Até mais.

Encerra a ligação, abaixo o aparelho e envio uma mensagem para

Tessa dizendo que precisamos conversar. Sei que ela não ficará feliz em
desistir de engenharia, porém às vezes temos que perder uma batalha

para ganhar um guerra.


Dirijo para casa, almoço com Dylan, Ethan e Abby, mesmo não

sendo mais a babá de Ethan, os dois passam muito tempo juntos, meu

amigo está apaixonado. Há um tempo o julgaria e o aconselharia a se

afastar de Abby, porém algumas coisas mudaram. Eu mudei.

Após o almoço, eu vou em meu carro para o estádio e enquanto

estou na estrada, pergunto-me se finalmente estou superando o que

aconteceu há quase três anos e se estou pronto para viver um novo


relacionamento. Talvez sim. Talvez não.

Lá no fundo, eu sei o porquê estou me fazendo essas perguntas,

mas ignoro e me recuso a pensar sobre.

O treino é exaustivo, eu erro alguns arremessos, não sei se é culpa


da conversa com meu pai, ou por conta de Dakota, ou por simplesmente

ser um dia ruim. Meu desempenho é péssimo e saio frustrado de campo.

Os meus colegas de time tentam conversam comigo e apenas os

respondo com palavras curtas. Odeio quando coisas externas interferem


em meu desempenho.

Eu vou para o vestiário, tomo banho, visto minha roupa e vou

para o carro ainda com raiva de mim mesmo. O que me tranquiliza é


saber que estou indo me encontrar com Dakota.
Ao entrar no auditório, encontro-a na mesma posição das vezes

anteriores, sentada no chão e lendo um livro. Caminho em sua direção e


ela guarda o livro em sua mochila, mais uma vez, não consigo ler o

título.

— O que você está lendo?

Pergunto ao pular no palco e Dakota fica em pé.

— Uma dama fora dos padrões.

Ergo minhas sobrancelhas.

— Você está apreendendo a ser uma dama fora dos padrões?

Uma gargalhada escapa dos seus lábios e continuo a observando,


ela é linda rindo. Quando consegue para de sorrir, ela me encara e faz um

gesto de não com a mão.

— É um livro de romance e de época.

Eu vou até o aparelho de som, conecto meu celular e coloco a


nossa música, então volto e estendo minha mão para Dakota. Assim que

seus dedos estão sobre os meus, nos posicionamos corretamente e

começamos a dançar.

— Como a peça? — Assente. — Como Bridgertons?

Ela me encara surpresa.

— Você assistiu a série?


— Eu assisti, você me falou que me ajudaria na interpretação do
duque.

— E o que você achou?

Tento fazer suspense, porém acabo rindo.

— Não é tão ruim quanto imaginei que seria, meu episódio

preferido é o sexto. — Dakota cora, porque sabe que estou falando do

episódio por causa das cenas de sexo. — Mas a segunda temporada é

horrível.

— Você assistiu a segunda temporada?

— Eu sempre faço a lição de casa completamente.

Não estou mentindo, entretanto além de estar tentando aprender


sobre a época, eu queria ter algo para conversar com Dakota, algo que

pudesse usar ao meu favor se ela decidisse continuar me desprezando.

— A segunda temporada é horrível e totalmente diferente do


livro.

Até o fim da música, Dakota reclama o quanto a segunda


temporada é diferente do segundo livro da série. Apenas escuto e rio, não
é algo enfadonho e continuamos conversando enquanto dançamos,

embora devêssemos estar praticando o diálogo.


A música toca mais uma vez e seguimos conversando, o assunto
Bridgerton evolui para séries e estamos falando das nossas séries
favoritas.

É quando a música está iniciando pela quarta vez que decidimos


nos concentrar e treinar os diálogos, como estamos com as mãos
ocupadas, somos obrigados a não utilizar o roteiro e quando esquecemos

alguma palavra, improvisamos.

Repetimos os diálogos várias vezes, rimos quando erramos e


quando estou sem fôlego, desvencilho-me de Dakota, dou um passo para
trás, curvo meu corpo para frente e apoio minhas mãos em minhas

pernas.

— Chega, não suporto mais reproduzir a mesma cena um milhão


de vezes.

Quem diria que dançar cansa tanto!?

— Você não treina um milhão de vezes a mesma coisa no


beisebol?

Ela me provoca, porém algo me chama atenção em sua frase.

Volto a minha posição normal e a encaro curioso.

— Como você sabe que treino um milhão de vezes a mesma


coisa?
— Você não é o pitcher do time?

Não sei o porquê, mas algo chama minha atenção.

— Como você sabe?

Ela desvia seus olhos, não me responde e se senta na beirada do

palco de costas para mim.

— A verdade?

— A verdade.

Confirmo e vou até ela, sento-me ao seu lado e espero pela sua

resposta.

— Uns meses depois daquela festa em que ficamos, você e os


meninos começaram a ficar famosos, as Estrelas do Alabama e quando

descobri que o famoso jogador de beisebol era você, o cara que tinha sido
um idiota comigo, fiquei obcecada e entrei em suas redes sociais, eu

coletei o máximo de informações possíveis, entre elas aprendi sobre a sua


posição no time de beisebol.

Detesto a mágoa existente em sua voz.

— Por quê?

Ela balança suas pernas que estão suspensas no palco e olha em

frente, eu continuo a encarando, mesmo que não possa ver seu rosto.
— Queria ter certeza de que era um idiota, queria me convencer
de que você era o problema e não eu.

Nunca quis tanto voltar no tempo como agora.

— Eu sou o idiota. — Dakota fica em silêncio. — Eu preciso que


você me perdoe.

Ela se vira para mim e seus olhos encontram os meus. Como pode

existir tantas coisas não ditas em uma única troca de olhar?

— Pelo que exatamente?

Sorrio, um sorriso triste.

— Por ter sido um idiota com você, por todas as vezes que a

magoei.

— Tem muitas coisas para eu perdoar, hein?

Ela está brincando, mas dói e me sinto um lixo. Como fui capaz

de magoar alguém como Dakota?

— Estou arrependido de verdade.

Assente e morde seu lábio inferior por alguns segundos. 

— Sabe o que mais doeu? Nunca acreditei que aquela noite fosse

significar algo e você me acusou de algo que meu ex também tinha me


acusado quando ele terminou comigo, me criticou por ser romântica e

enxergar romance em tudo.


É nítido em seu olhar o quanto a acusação a machucou, sua mão

está espalmada sobre o chão do palco, toco-a com a minha e acaricio sua
pele.

— Aquela noite significou algo, Dakota e foi por isso que fui um

idiota com você. Não é uma justificativa, mas é um fato. Eu não soube
lidar com tudo que tinha significado.

Nenhum de nós fala nada, Dakota não faz mais perguntas,


gostaria de que ela fizesse, porque poderia falar tudo, se ela quisesse, eu

faria um resumo da minha vida nesse exato momento.

O silêncio é esmagador, a tensão entre nós poderia ser cortada por


uma faca. Abaixo meu olhar e encaro sua mão e meus dedos sobre sua

pele, então Dakota gira sua mão, deixando a palma para cima.

— Eu perdoo você, Josh.

Entrelaço nossos dedos e ergo meus olhos até encontrar os seus.

— Amigos?

Pergunto e Dakota aperta minha mão contra a sua.

— Amigos. — Sorrio, é como se um peso deixasse minhas costas.

— Obrigado, Dakota.

Ela abre sua boca, mas suas palavras morrem quando curvo meu

corpo para frente e aproximo minha boca do seu rosto. Seus olhos
acompanham meus movimentos e nossas respirações mudam.

Por alguns segundos, olho em seus olhos e por fim, beijo sua
bochecha. Meus lábios se demoram em sua pele. Seu perfume me

cercando e o calor do corpo é uma tentação, um convite para mais, mas


me afasto.

Dakota que tinha os olhos fechados, abre-os, respira fundo e um


sussurro deixa seus lábios.

— Pelo que exatamente?

— Por ser a minha esperança.

Ela claramente não entende e talvez não seja o momento de

entender. Antes que ela faça perguntas, eu fico em pé e estendo minha


mão.

— Vamos?

Coloca sua mão sobre a minha.

— Vamos.

Ajudo-a se levantar, pegamos nossas mochilas e em silêncio,


deixamos o auditório. Nós seguimos para o estacionamento, acompanho-

a até o seu carro e me despeço com mais um beijo em seu rosto.

Ao caminhar para o meu carro, os últimos acontecimentos ecoam


em minha mente e tenho absoluta certeza de que Dakota é a minha
esperança.
 

Dakota

As palavras de Josh repetem em minha mente “por ser a minha


esperança”.

O que ele quis dizer com isso? Eu não faço a mínima ideia, por
mais que tente entendê-lo, simplesmente não consigo. Dirijo para casa

com o coração acelerado, com uma sensação de êxtase vibrando em meu


peito e uma quantidade expressiva de perguntas em minha mente.

Como assim aquela noite significou algo para ele? Por que Josh
agiu como um idiota? Tenho certeza de que não foi em vão. O que fez
com ele mudasse? Por que ele não está mais agindo como um idiota? Por

que ele não está mais me afastando?

Eu queria ter feito essas perguntas para ele, porém não estou

pronta para saber suas respostas, não sem que a Dakota romântica que
existe em mim tome conta da situação.

Minha consciência zomba dizendo que não tenho mais como agir

com a razão com Josh, porque meu coração está no controle, mesmo eu

dizendo que não.

Deixo meu carro no estacionamento que fica no outro lado da rua,

já que nosso prédio não possui garagem e sigo para o apartamento que
divido com as meninas. Abby e eu compartilhávamos um quarto no

início da faculdade, só depois de um tempo que conseguimos um ótimo

apartamento no campus para três pessoas, daí escolhemos Brooke a partir

de um formulário e foi a escolha perfeita. 

Abro a porta e me deparo com minhas amigas sentadas no sofá, a

luz está deligada e há um balde de pipocas entre elas.

— Finalmente você chegou. — Brooke exclama enquanto pausa o

filme que estão assistindo. Eu largo minha mochila no chão e a encaro

sem entender o que está acontecendo. — Noite das meninas.


Brooke me explica, então vou até elas e me sento ao lado de
Abby.

— Qual motivo da noite de meninas repentina?

Sempre marcamos quando faremos algo específico juntas, já que

normalmente sempre estamos uma com a outra.

— Temos gastado muito tempo com as Estrelas do Alabama.

É Abby a me responder e a encaro maliciosa.

— Principalmente você, não é!? Aposto que seu quarterback está


chorando por você não estar com ele.

Ela me aponta sua língua e sorrio.

— Inclusive hoje é proibido falar sobre eles.

Brooke aponta seu dedo em minha direção e me repreende, pego

um punhado de pipoca.

— Ok, ok...nada de Estrelas do Alabama hoje.

Trago a pipoca até minha boca e Brooke sorri satisfeita enquanto

aperta o botão de play no controle da televisão.

Assistimos Ao filme de terror que Abby escolheu, em seguida

pedimos pizza, nós fofocamos enquanto comemos e terminamos a noite

pintando nossas unhas e fazendo skin care[13].


Não conversamos sobre os garotos, o que é ótimo, porque não

quero falar sobre Josh. Eu consigo me distrair e esquecer a nossa


conversa, porém assim que me deito para dormir, depois de um banho,

volto a pensar sobre o pitcher.

Durmo e acordo pensando em Josh, ele continua em minha mente

durante a sexta-feira. No sábado me concentro em estudar para as provas


da semana seguinte, só paro para comer e ir ao banheiro, porém quando
Abby bate em minha porta, me chamando para ir jantar com ela e Ethan

na casa dos meninos, não hesito em aceitar o convite.

Diferente das outras vezes, eu torço para que Josh esteja em casa.

E para minha sorte, ele está, assim que entramos na cozinha para
encontrar Ethan, deparamo-nos com Josh também. Eles cozinham

enquanto nós apenas os observamos.

É divertido estar com minha amiga, com Ethan e Josh, nós

conversamos sobre a festa de Halloween na próxima semana. Ethan e


Abby brigam comigo e Josh, porque praticamente não ajudamos na
organização. Nenhum de nós dois se sente culpado, mas prometemos nos

envolvermos na reta final da organização da festa.

Eles nos perguntam da peça de teatro, nós nos olhamos e somente

dizemos que tudo está bem. Não prolongamos o assunto e mudamos o


foco para Ethan, perguntando se ele está preparado para o jogo no

sábado.

Em nenhum momento Josh e eu ficamos sozinhos, ou

conversamos apenas nós dois, porém a todo instante estamos nos olhando
e em alguns momentos até mesmo sorrimos. Ao fim da noite, ele se

despede de mim com um beijo na bochecha.

Ele apenas encosta em meu rosto, mas é o suficiente para meu


coração reagir batendo mais rápido.

Abby e eu vamos para o seu carro depois de nos despedirmos dos


meninos na varanda.

— Você e Josh não parecem estar mais tão distantes.

Ela comenta assim que liga o carro e dou de ombros como se não
fosse nada demais.

— Nós nos entendemos.

— Eu fico feliz, ele não é tão idiota quanto aparenta.

— Eu sei... eu sei.

...

 
Nós não nos falamos no domingo, nem na segunda e apesar de
seguir minha vida como sempre, é como se algo tivesse mudado, é em
Josh que penso quando vou dormir e ao acordar.

Na terça, quase não consigo me concentrar em minha primeira


aula, porque estou contabilizando os minutos que falta para a aula de

teatro, para vê-lo.

E ao entrar no auditório, meu olhar procura pelo seu, ele está lá


no palco ao lado de Dayse e ele está me encarando. A professora fala

comigo, respondo no automático e continuo olhando para Josh.

Conforme me aproximo, seu rosto, seus traços e suas expressões

ficam mais nítidos. Ele está me encarando como se estivesse ansioso para
ver e isso me anima.

Subo no palco e vou até ele, ocupo o lugar ao seu lado e ele se
inclina até sua boca estar próxima a minha orelha.

— Hey, Dakota.

Viro-me para ele e meu nariz quase toca o seu.

— Hey, Josh.

Não tento mais fingir que ele não existe, não faço uma lista

mental dos motivos por quais devo continuar o desprezando.

— Como você está, princesa?


Ele se afasta, mas apenas alguns centímetros, ainda sou capaz de
sentir o calor e energia do seu corpo.

— Bem e você?

Ele apenas assente, porque Dayse começa a falar. Nós dois


olhamos em frente e prestamos atenção na professora. Continuaremos os

ensaios da peça teatral desde o início e o objetivo é ir até o final.

Segundo não temos muito tempo e precisamos correr contra o relógio. 

Dessa vez, não ficamos em um círculo. Dayse pede para que

apenas quem esteja no primeiro ato fique no palco, o resto deve ocupar as

poltronas. Assim nós fizemos e iniciamos o ensaio.

Vamos fazendo as trocas de participantes conforme os atos vão


mudando e conseguimos ensaiar toda peça teatral. Claro que não fica

incrível e na maioria das vezes estamos lendo o roteiro, mas podemos

começar a perceber que talvez a apresentação não seja um desastre.

Josh e eu estamos na maioria das cenas e é claro nos divertimos

muito atuando. Ele é o parceiro perfeito, principalmente, porque

consegue me manter calma, quando ele está comigo, não tenho medo de

fracassar.

Por fim, todos nós nos sentamos nas poltronas e Dayse fica

sozinha no palco, porque ela tem um comunicado.


— Eu tenho uma ótima notícia. — Como sempre soa animada. —

Irá rolar um beijo.

Ela está olhando para Josh e eu, o que só pode significar que o

beijo será entre nós.

— Um beijo?

Sussurro, mas ela escuta, porque assente.

— Um beijo ao fim da peça, um beijo entre o duque e Emma é

perfeito, tudo que o público quer.

Faço uma careta, não porque não quero beijar Josh, só que já é
difícil tirar ele da minha cabeça sem beijo, com beijo irá tornar minha

vida ainda mais difícil.

— Não se preocupe, Dakota, iremos conversar sobre o beijo

técnico.

Engulo em seco e somente concordo com ela.

— Bom é isso, pessoal, continuem ensaiando em casa, decorando

as falas e nos vemos na quinta-feira.

Eu pego minha bolsa sem olhar para Josh que está ao meu lado e
é somente quando fico em pé que o encaro. Ele está em pé assim como

eu e segura alça da mochila que está em seu ombro.

— Um beijo, então, hein, princesa?


Seus olhos percorrem meu rosto como se estivesse procurando

por algo. É óbvio que nenhum de nós está confortável com o fato de

termos que nos beijar.

— É, um beijo.

Concordo e sinto meu rosto ficando vermelho. Droga, péssima

hora para corar. Josh passa sua mão livre por seu cabelo indicando que

está desconfortável com algo.

— Podemos cancelar o ensaio hoje? Eu tenho uma reunião com

meu treinador após o treino.

Sorrio, embora decepção pisa forte em meu peito.

— Claro.

Ele fica de lado para que eu possa passar e assim eu faço, meu

braço esbarra em seu peito e a faísca que sempre desperta quando

estamos muito próximo acende em meu corpo.

Eu saio para o corredor e Josh me segue, então deixamos o


auditório um ao lado do outro.

— Eu acho que estamos bem melhor.

Não preciso ler mentes para saber que ele está falando da nossa

atuação.
— Concordo, inclusive acho que merecemos até sermos

indicados ao Oscar de melhor atuação.

Empurra meu ombro com o seu.

— Engraçadinha.

— Mas você tem razão, estamos bem melhor, eu inclusive estou

gaguejando menos e isso é culpa sua, porque me passa tranquilidade.

Josh segura minha mão com a sua.

— Sempre que precisar estarei aqui.

— Obrigada.

Continuamos de mãos dadas até o estacionamento e meu coração


está aos pulos. Como nas vezes anteriores, Josh se despede de mim com

um beijo no rosto em minha bochecha.

Eu entro em meu carro e respiro fundo. Meus Deus, essa


aproximação entre nós é uma péssima ideia. Até quando conseguirei não

me apaixonar por Josh?

Com a pergunta ecoando em minha mente, dirijo para Sweet

Home. Para minha sorte, Phillip não me faz perguntas sobre Josh e
conversamos sobre a nossa fofoca, Matilde, uma das novas morados do

lar está apaixonada por Phillip, embora ele negue, sinto que também está

gostando da senhora.
Após almoçar no lar, sigo novamente para o campus, assisto

minhas aulas e no fim do dia, enquanto estou dirigindo para casa, ligo

para minha mãe. Estou precisando ouvir sua voz, sentir o conforto da sua

voz. Ela não demora a me atender.

— Hey, querida.

Minha mãe tem a voz tão gentil e doce, ela causa uma paz a

qualquer um que a escuta.

— Hey, mãe, como você está?

— Bem e você?

— Estou ótima e papai?

Minha mãe suspira e sorrio, porque sei que é um suspiro falso.

— Ele acabou de chegar da empresa e está no jardim tentando

plantar rosas pela milésima vez.

Mordo meu lábio inferior enquanto uma imagem do meu pai todo

sujo de terra surge em minha mente.

— Um dia ele irá conseguir.

— Seu pai e eu somos casados há trinta anos e desde o nosso

primeiro ano de casado, ele está tentando plantar rosas.

Apesar do comentário, é possível notar o carinho nas palavras da


minha mãe. Ela e meu pai são um casal repleto de carinho e
cumplicidade. Eles são tudo que almejo ter na vida.

— E você mamãe, o que está fazendo?

— Estou preparando o jantar e você, querida?

— Dirigindo para casa e antes que pergunte, estou com o celular

conectado no carro. 

Ela ri.

— Ótimo e o teatro?

Comentei superficialmente sobre a peça para minha mãe e como

dona Ramona tem uma memória incrível, deve estar lembrando que

deveria estar ensaiando com Josh.

— Está indo muito bem e surpreendentemente estou evoluindo.

— Você não deveria estar tendo ensaio com o idiota?

Inclusive em nossa conversa, chamei Josh de idiota.

— Ele teve um imprevisto e não, ele não é um idiota.

— Não?

Mordo meu lábio inferior enquanto dobro em uma rua.

— Não... nós nos entendemos.

Minha voz falha e com certeza minha mãe percebeu.

— Você está gostando dele?


— Não.

Nego rápido demais e minha mãe suspira, dessa vez não é

dramático.

— Não senti firmeza em seu não.

É a minha vez de suspirar.

— É complicado.

Confesso algo para minha mãe que tenho evitado confessar a mim

mesma.

— Eu vi Ryan essa semana, acho que ele veio visitar a irmã e o

novo sobrinho, ele me perguntou de você.

Faço uma careta.

— Ryan é meu passado.

Sei que esse é o ponto que ela queria me mostrar assim que as

palavras deixam minha boca.

— Exato e um verdadeiro idiota, então não deixe que ele dita a


sua vida.

Ela está certa.

— Só tenho medo de só estar sendo a garota romântica como


sempre.
— Não há mal nenhum em ser essa garota, Dakota.

As palavras da minha mãe seguem ecoando em minha mente


mesmo depois que encerramos a chamada. Uma parte minha sabe que ela

está certa, a outra sabe que é tudo mais complexo do que parece.

É o medo da rejeição. O medo de passar por tudo de novo.


 

Josh

A reunião com treinador me deixa mal-humorado, ocorreu uma


mudança no calendário dos jogos e um jogo contra a Universidade do
Tennessee, uma das nossas principais rivais, foi transferido para o mesmo

dia do festival de talentos e será praticamente no mesmo horário.

O que irei fazer?

O treinador mandou que eu desistisse, mas não posso desistir.

Não agora. Se eu não for o duque, outra pessoa será, outra pessoa irá
beijar Dakota. Sem chance.
Eu chego em casa após reunião, ignoro meus amigos que estão na

sala, jogando videogame e corro para meu quarto. Sento-me de frente


para minha mesa de estudo e tento formular uma alternativa. Não há

como trocar o horário de nenhum dos eventos, mas posso tentar com que

sejamos os primeiros a se apresentar no festival de talentos, logo após


poderei ir para o jogo, talvez chegue um pouco atrasado para a

concentração, mas chegarei a tempo de jogar e isso é tudo que importa.

É isso, eu tenho uma alternativa.

Suspiro aliviado e envio um e-mail para a professora Dayse,

explicando minha situação e implorando para que consiga fazer com que

sejamos os primeiros a se apresentarem.

Como ela não me responde e provavelmente não irá responder

por conta do horário, levanto-me e bem mais humorado, saio do meu

quarto e me junto aos caras que continuam jogando videogame.

Nós jogamos por um tempo e em seguida, vamos para a cozinha.

É a vez de Dylan cozinhar e enquanto ele prepara nosso jantar, tentamos

acalmar Ethan que está surtando com o seu jogo de sábado. Ele sabe que
é o melhor quarterback da liga universitária, mas recentemente deslocou

o ombro e está nervoso com medo de algo acontecer.


Após o tempo com meus amigos, subo novamente para meu
quarto, eu ligo para Tessa e conversamos sobre ela vir para Tuscaloosa,

ela não está muito feliz com ter de cursar moda, porém irá aceitar, pelo

menos por enquanto.

Assim que encerramos a chamada, vou para o banheiro, tomo um

banho e me deito em minha cama, encaro o teto e Dakota surge em

minha mente.

Ela tem ocupado boa parte dos meus pensamentos ultimamente.

Irei beijar Dakota ao fim da apresentação, só de pensar em seus


lábios, uma onda de excitação percorre meu corpo. É nela que tenho

pensado, é ela que eu desejo.

Adormeço pensando em Dakota e mais uma vez sonho com ela. 

A quarta-feira se arrasta e pela noite conversando com meus

amigos, confesso que irei beijar Dakota na peça de teatral e que não será
a primeira vez, porém deixo eles achando que estou chateado com isso,

porque sei que se eles souberem o que realmente está acontecendo, nunca

mais terei paz.

Além de que Ethan e Aiden sabem do meu passado, eles


entenderiam no mesmo momento a intensidade do que eu sinto por
Dakota. Eles acabariam jogando na minha cara algo que ainda não

consigo admitir nem a mim mesmo.

...

Acordo na quinta animado e é claro que essa animação tem um


motivo específico, é o dia que me encontro com Dakota.

Minha primeira aula demora horrores para passar, eu olho para o


meu celular para conferir o horário a todo instante e os minutos não

passam. Mal presto a atenção no que o professor está dizendo e assim


que encerra a aula, pego minha mochila e deixo a sala.

Dirijo para o prédio de artes cênicas, estaciono meu carro e me

controlo para não correr na direção do auditório, afinal Dakota sempre


chega atrasada. Dessa vez, Dayse é a única no palco, ela me cumprimenta

e me orienta a ocupar uma das poltronas.

Eu me sento na primeira da primeira fila e do lado do corredor,

Dayse está falando sobre figurinos, mas não estou prestando atenção, a
cada minuto olho para trás, para a porta, e depois do que parece uma
eternidade, Dakota chega. Ela vem direto até mim e ocupa o lugar ao

meu lado, então aproximo meu rosto do seu e beijo sua bochecha.
Dakota não se afasta e não me ignora. Ela somente cora e faz uma

piadinha sobre o fato de Dayse estar usando preto, nós dois rimos e
olhamos em frente quando a professora chama nossa atenção. É tão

satisfatório ter esse tipo de relacionamento com ela.

Nós rimos durante toda aula, inclusive quando estamos

encenando. Nós temos um tipo de parceria que não existia há algumas


semanas, porém, o tempo que compartilhamos não é o suficiente.

Mais uma vez nos despedimos no estacionamento e meu coração

fica apertado. Droga, eu pareço um adolescente bobo. Eu mesmo me


sinto constrangido por mim.

— Josh, menos, bem menos.

Falo em voz alta ao entrar no carro e sorrio sozinho. Estou

completamente maluco, rindo e falando sozinho.

Eu vou para o estádio, almoço no centro de alimentação e passo

um tempo na academia até o horário do treino.

O treino é exaustivo, o treinador está empenhado em nos fazer


sofrer e saio do campo com meus braços doendo, esgotado fisicamente,

tudo que eu adoraria é ir para casa e dormir por horas seguidas, mas não
irei encontrar meu colchão e não estou triste por isso, porque vou me

encontrar com Dakota outra vez.


Ela vale todo o esforço.

Apesar de estar exausto, sigo feliz para o prédio de artes cênicas

após um banho rápido. Quando foi a última vez que estive assim? Porque
estou feliz, feliz de verdade.

Dakota está sentada no palco, com as pernas dobrados abaixo do

seu corpo e lendo seu livro, essa é a forma como ela sempre me espera.

— Já descobriu como ser uma dama fora dos padrões?

Provoco-a enquanto caminho pelo corredor formado entre as


poltronas espalhadas pelo auditório e ela coloca o livro ao seu lado.

— Na verdade já terminei esse.

Ela fica em pé e me espera no centro do palco.

— Qual é a sua atual leitura?

— Um marido de faz de conta. — O título faz com que uma

gargalhada escape da minha boca. — Hey, não ria é um ótimo título.

Eu paro de rir e pulo no palco.

— Acho que preferia quando você estava sendo uma dama fora

dos padrões.

Aproximo-me e ela dá um soco em meu braço.

— Só para sua informação, essa é uma série que conta sobre

alguns parentes dos Bridgertons.


— Você realmente gosta dessa autora, hein?

Ela dá um passo para trás e caminha de um lado para o outro pelo

palco.

— Ela é minha autora preferida.

Eu faço o mesmo que ela e caminho de um lado para o outro,

ficamos fazendo isso e meio que andando em círculos e um de frente para

o outro.

— Eu gosto de Liev Tolstói.

Ergue suas sobrancelhas.

— Guerra e Paz? — Faço um gesto afirmativo. — É um bom

livro.

— O melhor romance.

Provoco-a e ela faz uma careta.

— Há controvérsias.

Discutimos sobre o livro até que ela me lembra de que


precisamos ensaiar. Nós ensaiamos a peça completamente e como já

estou exausto do treino ao fim, estou morto. É como se um caminhão

tivesse passado por cima de mim.

— Precisamos parar, ou você ficará viúva de parceiro de teatro.


Pego minha garrafinha de água na mochila e me sento no chão do

palco com as costas apoiadas na parede. Dakota pega sua água em sua
bolsa e se senta ao meu lado.

— Você cansa tão rápido.

— Hey, eu estava treinando — Justifico-me. — Hoje o treino foi


pesado.

— Eu feri o ego do pitcher.

Viro-me para ela e encontro seu olhar debochado. Empurro

levemente seu ombro com o meu, o que faz com que ela derrame um
pouco de água e nós dois começamos a rir.

Nossas risadas cessam, ela apoia sua cabeça contra a parede, eu

faço o mesmo e continuamos nos encarando. Seus olhos estão brilhando

e tudo que vejo neles me faz ter certeza de que nunca poderemos ser só
amigos. Não sei ser só seu amigo, não sei nem como agir como amigo de

Dakota, parece estranho, parece que falta algo.

É difícil de admitir, mas estou apaixonado. Tentei evitar, fugir de


tudo que é forma, mas não consegui.

— Eu tentei não gostar de você.

Confesso e Dakota segue me olhando como se eu fosse a pessoa

mais importante do universo.


— Por quê?

Eu demoro a responder, porque não é tão simples. Nem sei se

estou pronto para essa conversa, mas não posso mais procrastinar, não

consigo mais.

Olho em frente, distancio minhas costas da parede, dobro minhas

pernas e apoio meu cotovelo em meus joelhos.

— Eu sou praticamente um bastardo filho da empregada. Minha


mãe trabalhava na casa dos meus avôs e meu pai estava na faculdade,

porém em uma das visitas, eles se envolveram, meu pai era um babaca e

minha mãe aproveitou a oportunidade de transar com o filho dos patrões,

importante salientar que usava drogas e era viciada em jogos de azar,


nenhum dos meus pais prestava.

Não escondo o desgosto da minha voz.

— Por que você está me contando isso?

Olho para ela e sorrio.

— Porque para entender o que aconteceu naquela noite há dois

anos, você precisa saber de tudo.

— Se for muito difícil para você, não precisa me contar, o que


passou, passou, Josh, não podemos mudar o passado.

— Eu quero que você saiba, se você puder me ouvir...


Ela toca meu braço.

— É claro que eu posso ouvir você.

Assinto e volto a olhar em frente.

— É claro que quando minha mãe descobriu que estava grávida,

ela obrigou meu pai a me assumir e como meu avô já era político na

época, eles fizeram tudo que ela pediu, e mais um pouco, porque tinham
uma reputação para preservar. — Faço uma pausa. — Meu avô comprou

uma casa para minha mãe, carro, minha pensão sempre foi altíssima

mesmo antes de eu nascer.

Conto a parte que eu sei, as partes da minha história que ouvi,

porque nunca ninguém fez questão de realmente contá-la.

— Eu nasci e fiquei com minha mãe, não sei se meus avôs me

visitavam e nem meu pai, é algo que nunca soube. Minhas lembranças da
infância são a partir de quatro anos, eu ficava os fins de semana com meu

pai, que após a faculdade, casou-se com a mãe da minha irmã e lá eu

ficava com as babás, assim como minha irmã que tinha dois anos.

Não há nenhum afeto ligado à minha infância.

— Meu pai nunca foi carinhoso, nem meus avôs e muito menos a

minha mãe, que nessa época já estava viciada em drogas e totalmente

endividada com agiotas, afinal também era viciada em jogos, meu pai já
não pagava minha pensão diretamente a ela, porque sabia que iria jogar

tudo fora, então pagava minha escola, abastecia a casa com comida e um

fato importante, ela já tinha perdido a casa e carro que meus avôs tinham

dado a ela.

Mudo de posição e apoio minhas costas contra a parede

novamente.

— Meu pai tentou pagar um tratamento de reabilitação, mas após


sair da clínica, ela ficou apenas quatro meses lúcida e voltou a se drogar e

jogar. E esses meses foram difíceis, porque embora não estivesse

drogada, estava em constante luta com a abstinência e mesmo assim

foram os melhores meses que tivemos juntos, ela pelo menos tentou ser
uma mãe, ganhei até alguns abraços.

As lembranças são dolorosas e encaro o teto para que lágrimas

não desçam pelo meu rosto.

— Ela tentou ir para a reabilitação mais duas vezes ao longo de


todos esses anos e em nenhuma das vezes ela realmente conseguiu ficar

limpa. — Dakota segura minha mão com a sua e olho para o lado. —

Estou te cansando?

Ela balança a cabeça negando.

— Sequer consigo imaginar pelo que você passou.


Continuo olhando para ela.

— Sei que é muita informação, mas quero que saiba tudo,


Dakota, quero que não exista segredos entre nós. — Ela assente e

prossigo. — Gavin é um dos meus melhores amigos, ele e Ethan foram

as pessoas que me mantiveram inteiro muitas vezes, ele morava ao lado

da casa da minha mãe e sua mãe também era viciada, nós criamos um
vínculo e quando tudo estava demais, corríamos para a casa um do outro,

ou para o parquinho na esquina. Uma outra informação importante...

algumas vezes minha mãe vendia seu próprio corpo, ou pagava dívidas
com sexo, então sempre tinha algum homem em minha casa e nem todos

eram gentis com minha mãe.

Dakota faz uma careta.

— Seu pai nunca fez nada?

Dou de ombros.

— Ele perguntava se queria ir morar com ele, mas negava, porque

não queria deixar minha mãe sozinha, a criança que eu fui acreditava que

um dia ela iria se libertar, além de que era eu a ajudar quando passava
dos limites, eu que segurava seu cabelo enquanto vomitava. — Faço uma

careta. — Minha infância foi assim, dias de semana com minha mãe

viciada e os fins de semana com meu pai que tinha por sua única
preocupação manter a aparência para os eleitores do meu avô. E claro ele
estava se preparando para ingressar na política. Quase nunca o via, assim

como a sua esposa, minha irmã e as babás eram minha companhia, aliás

Tessa e eu somos próximos por isso, aprendemos ser o suporte um do


outro.

— Quem é seu pai?

É claro que Dakota percebeu que meu pai não é um simples


político.

— John Dawson.

— O Governador?

— O Governador.

Ela abre e fecha a boca

— Como não descobri essa informação nas minhas pesquisas?

— Suas pesquisas não foram tão eficientes, princesa.

— Não esperava estar conversando com o filho do governador. —

Apenas sorrio e Dakota faz o mesmo. — Agora que já sei quem é seu
pai, você pode continuar.

Ela pisca.

— Lembra de Gavin? — Dakota assente. — Desculpe pela

confusão, sou um péssimo contador de história.


— Tudo bem, Josh, apenas continue.

Suspiro e entro na parte mais dolorosa.

— Quando eu tinha sete anos, Gavin e eu, um dia, encontramos


uma garota no parquinho, Laylah, ela era tímida, doce, parecia uma
boneca, seu olhar era triste e frágil, assim como nós, também era filha de

pais viciados, e por essa razão, nos tornamos amigos, principalmente ela
e eu, ela me fazia rir, me fazia esquecer dos meus problemas e de quem

eu era. Minha mãe costumava dizer que eu estava destinado ao


fracassado, porque eu era seu filho e eu acreditava nela, porém quando
estava com Laylah, acreditava que tudo seria diferente.

Volto a olhar em frente e Dakota segue com minha mão presa a


sua.

— Quando eu tinha nove anos, cheguei da escola e encontrei

minha mãe desacordada sobre o sofá, ela tinha o nariz sangrando, suas
roupas estavam rasgadas e havia marcas vermelhas pelo seu corpo,
mesmo sendo criança, entendi o que estava acontecendo, ela tinha sido

estuprada por um dos caras que devia dinheiro, nunca soube se era dívida
de droga, de jogo, ou um agiota.

Só de lembrar desse dia, meu estômago embrulha.


— Liguei para a polícia, eles vieram até minha casa, chamaram
uma ambulância e meu pai, a partir de então fui morar com ele, um
marco dessa época é que precisei trocar de escola e foi lá que conheci

Ethan e o beisebol.

Volto a olhar para Dakota e há algumas lágrimas em seus olhos.

— Eles levaram minha mãe do hospital para uma clínica de


reabilitação, mesmo quando voltou para casa, não voltei e meses depois,

ela estava tão viciada quanto antes, eu continuei a visitando, porque ela
era minha mãe e porque queria ver Laylah. — Sorrio, um sorriso triste.
— Eu amei Laylah como nunca amei ninguém e achava que ela me

amava, começamos namorar quando tínhamos treze anos, meu pai não
aprovava, porque ela era pobre, filha de pessoas viciadas, segundo ele,

ela não tinha um futuro promissor.

As lembranças ecoam em minha mente e surpreendentemente não


causam mais tanta dor.

— Quando estava no último ano da escola, eu tinha um plano de


entrar para liga de beisebol profissional, sabia que seria escolhido e
Laylah viria comigo. Meu pai queria que eu fosse para universidade, nós

praticamente não conversávamos e de repente, estávamos discutindo


sobre meu futuro.
Respiro fundo antes de continuar e Dakota aperta minha mão.

— Neguei seus planos, então ele ofereceu dinheiro para Laylah

para ela me deixar e ela aceitou, ele conseguiu me provar que ela sempre
esteve interessada em meu dinheiro, uma parte minha morreu quando

descobriu que ela tinha se vendido e quando a confrontei, confirmou que


apesar de gostar de mim, ela ficava comigo por causa do dinheiro.

— Sinto muito, Josh.

Assinto.

— Eu jurei nunca mais abrir meu coração, não queria ser

machucado e aquela noite que compartilhamos fazia meses que isso tinha
acontecido, era tão recente e de repente, você estava ali me fazendo rir,

despertando sentimentos de esperança, eu me senti como me sentia com


Laylah.

— Então, você me comparou a ela?

Faço uma careta.

— Sim, eu fiz isso e fui um idiota, porque não queria sentir nada
do que estava sentindo. — Ergo minha mão e acaricio a lateral do seu
rosto. — Aquela noite significou muito, Dakota.

Ela fecha seus olhos e suspira.

— Eu o entendo e entendo mais do que pode imaginar.


Abre seus olhos e há neles uma sombra de dor.

— O que está querendo dizer?

Sorri, mas não é um sorriso que chega aos seus olhos.

— Em outro momento, eu conto a minha história, hoje é sobre


você. — Afasta minha mão do seu rosto e volta a entrelaçar nossos

dedos. — Obrigada por compartilhar sua história comigo, sinto muito por
tudo que aconteceu com você e odeio a sua ex.

Sorrimos e a puxo para meu colo, seguro Dakota como um bebê e

ficamos em silêncio. Não há nada a ser dito. Não por enquanto e estou
tranquilo por ter compartilhado a minha história com ela. Beijo o topo da
sua cabeça e ela espalma sua mão sobre meu coração.

Ficamos assim por um tempo até minhas pernas ficarem


dormentes, então nos levantamos e deixamos o auditório. De mãos dadas,

a acompanho até seu carro e nos despedimos com um beijo no rosto.

Enquanto a observo entrar em seu carro, uma certeza passeia em

meu peito.

Não posso esperar para beijar essa garota somente daqui a seis
semanas e em cima de um palco com várias pessoas nos assistindo.

Precisa ser antes. O mais breve possível.


 

Dakota

Olho para meu reflexo no espelho e respiro fundo, estou vestida


como Peach, a princesa de Mario Bros, ou uma versão da princesa, já que
o vestido rosa é curtíssimo e metade dos meus seios estão quase pulando

do decote.

Há uma coroa em meu cabelo e meus fios ruivos estão parte


presos, parte soltos. Minhas sardas estão cobertas por maquiagem, meus

cílios estão mais volumosos por conta do rímel e meus lábios vermelhos.

Isso tudo é culpa de Brooke que achou superengraçado que

fossemos de Peach e Dayse, porque Josh e Aiden irão fantasiados de


Mario e Luigi. Minha amiga ainda acredita que nós nos odiamos, ou pelo

menos era nisso que acreditava quando comprou as fantasias, não posso
negar, eu acho superdivertido que nossos amigos ainda acreditem que nós

não nos gostamos, talvez possamos continuar os enganando.

Volto a prestar atenção no espelho à minha frente e empurro meus

pensamentos para longe. Eu estou bonita.

E estou nervosa, porque irei me encontrar com Josh. Nós já nos

encontramos, porque depois da aula, fui com Brooke para casa deles
ajudar na decoração da festa, porém não conversamos, em nenhum

momento nossos amigos nos deixaram sozinhos, apenas trocamos alguns

olhares.

A cada momento que o encarava, me recordava de estar em seus

braços ontem à noite, nunca me senti tão segura com alguém, nem com

Ryan. Eu precisei me controlar para não ir até ele, implorar por respostas

e torcer para ouvir da sua boca aquilo que meu coração tanto anseia.

Não quero um eu te amo, mas quero a certeza de que não estou

me iludindo, de que não estou sendo a garota que espera demais, que cria
expectativas e histórias que nunca irão se tornar reais.

Meu coração quer acreditar que há um motivo especial para ele


ter me contado a sua história de vida, porém minha razão diz que Josh
apenas estava justificando o porquê agiu daquela forma há dois anos.
Mas é que aquele abraço não parecia um simples abraço, ele me puxou

para seu colo, ele deixou claro que aquela noite significou algo para ele.

Deus, eu vou ficar maluca.

— Dakota, eu estou pronta e vou te esperar na sala.

O grito de Brooke ecoa pelo meu quarto.

— Estou indo.

Grito de volta, olho uma última vez para meu reflexo, respiro
fundo e então me viro, pego meu celular e deixo meu quarto.

Encontro Brooke na sala, caminhando de um lado para o outro e

gravando um vídeo para sua rede social. Ela abaixa o aparelho do seu

rosto ao perceber minha aproximação, olha em minha direção e sorri


maliciosa.

— Nós estamos tão lindas.

Faço uma careta enquanto caminho na direção da porta.

— Nós estamos parecendo duas princesas pornôs.

Brooke ri e em seguida me aponta a língua.

— Estamos lindas.

Abro a porta e fico de lado para que Brooke possa passar por

mim.
— Você realmente está linda.

Brooke transformou seu vestido em uma saia e um cropped, seu

cabelo preto está solto e usa tiara de coroa.

— Estou mesmo.

Ela ri e passa por mim, saindo do nosso apartamento, eu fecho a

porta e vou atrás dela. Nós seguimos para seu carro, assim que entramos
em seu carro, enquanto ajusta o seu banco, vira-se para mim e me encara
com malícia.

— Eu acho que Josh e Aiden irão amar nossas fantasias.

— Com certeza Aiden irá amar a sua fantasia.

Soo debochada, ela faz uma careta e olha em frente.

— Você e Josh realmente se odeiam?

Eu preciso morder meus lábios para não rir, é muito engraçado

eles ainda não terem percebido que não nos odiamos mais, além do mais
já cometei que nossa relação mudou, ou foi com Abby? O fato é que se a
conversa foi com Brooke, ela provavelmente esqueceu e irei me

aproveitar disso.

— Nós não nos odiamos.

Não nego completamente, porque é divertido manter nossos


amigos no escuro, espero que isso não me leve para o inferno.
— Então, vocês só se detestam.

— Sim. — Concordo, posso não ser uma ótima mentirosa, mas


Brooke acredita em mim. — E como está a sua amizade com Aiden?

Mudo de assunto para que ela não possa me fazer perguntas.

— Eu gosto muito dele e de ser sua amiga.

Brooke ri, como se não fosse nada demais, porém é nítido que
minha amiga está apaixonada. É uma questão de tempo até os dois

evoluírem de uma amizade colorida para um namoro. Vamos


conversando sobre ela e Aiden durante todo o caminho.

Quando Brooke estaciona em frente a casa dos meninos, olho


para o luar e suspiro, nunca vou me acostumar com universitários

morando em uma mansão, meu cérebro me lembra de que Josh é filho do


governador. Minhas pesquisas foram péssimas, porque isso eu não
descobri e ontem assim que cheguei em casa, joguei seu nome na barra

de pesquisa, fotos com seu pai foram as primeiras que apareceram. Se


bem que a única pesquisa que fiz a cerca do seu nome foi em redes

sociais e não há nenhuma foto dele e do pai.

— Vamos?

Brooke me chama e assinto.

— Vamos.
Deixamos o carro e caminhamos na direção da entrada. O lugar
está todo decorado com abóboras assustadoras e logo que entramos, nos
deparamos com muitas teias de aranha.

— Estou satisfeita com o que fizemos.

Sussurro para Brooke e ela entrelaça seu braço no meu.

— Eu também.

Nós sorrimos e vamos para sala que virou uma pista de dança

apavorante, Josh, Dylan, Ethan, Aiden e Abby estão em um canto


conversando, vamos até eles e os meninos estão provocando Ethan e

Abby, porque eles estão usando uma fantasia ridícula de Shrek e Fiona, é
realmente horrorosa.

Sinto Josh olhando em minha direção e minha vontade é de olhar


para ele, porém algo me impede, uma vontade imensa de provocá-lo,
talvez seja o clima da festa.

Com um sorrisinho em meu rosto, continuo sem olhar para Josh.

Nós continuamos a provocar Ethan e Abby, e ainda sinto Josh me

encarando, apenas de saber que ele está me olhando, faz com que um
calor suba pelo meu corpo.

Eu fico conversando com meus amigos até que me desvencilho de


Brooke para ir buscar algo para beber. Sirvo um copo com cerveja, trago-
o até minha boca e bebo a bebida de uma única vez. Foda-se, não estou
dirigindo e me sinto mais corajosa, talvez seja o fato de estar em uma
festa, talvez seja o caos que minha mente se encontra.

Não quero estar apaixonada, mas estou. Não quero mais uma vez
me machucar, porém algumas coisas são impossíveis.

Volto a encher meu copo com mais cerveja e antes de voltar para

a sala, apoio-me contra o balcão da pia, olho em frente e respiro fundo.

E se apenas tiver me enganando? E se Josh não estiver

apaixonado por mim? E se for apenas um jogo para ele? Ou se

simplesmente, quiser só meu amigo?

Bebo mais do álcool em meu copo. Eu queria ser como minhas


amigas, gostaria de não me apegar tão fácil, ser menos romântica e

menos esperançosa, só que não consigo. Há única vez que tentei ser

assim, terminei machucada de todas as maneiras.

Josh me deixa uma bagunça ao mesmo tempo que é fácil estar

com ele, é difícil quando me afasto, porque todas dúvidas e medos

voltam a martelar em minha mente.

Queria simplesmente me permitir ser apenas a Dakota que o


provoca, que responde ao seu flerte, que vive sem pensar no depois, só

que eu não consigo.


Sinto-o mesmo antes de o ver, os pelos em meu braço estão

arrepiados e é como se borboletas estivessem dançando em meu


estômago. Finalmente, olho para o lado e encontro Josh caminhando em

minha direção. A cada passo ele fica mais perto de mim e a ansiedade em

meu peito aumenta de intensidade.

Ele faz com que tudo desapareça ao meu redor.

Josh se apoia no balcão ao meu lado e mantém seus olhos fixos

em meu rosto.

— Você estava me ignorando de propósito, não é?

Sorrio com malícia.

— E se eu estiver?

— Está no momento de parar de me ignorar.

Continuo olhando em seus olhos e trago o copo até minha boca,


bebo o restante da cerveja enquanto ele continua me fitando. Assim que

abaixo minha mão e deixo o copo sobre o balcão ao meu lado, Josh

segura meus dedos e entrelaça com os seus. Sorri, puxa-me e sem hesitar
o acompanho.

— Para onde está me levando?

Só pergunto quando estamos subindo os degraus, ele não me

responde. Deixamos as escadas e pisamos no corredor, Josh solta minha


mãe e me encurrala contra a parede.

Seu olhar desce pelo meu corpo e minha respiração muda. Meu

coração salta em meu peito e todo meu corpo encontra-se em alerta. Seus

olhos encontram os meus e a forma como ele me faz sentir é


inexplicável. A faísca, que só acende quando ele está por perto, queima e

faz cada parte de mim se contorcer por mais. Mais dele, mais contato.

Josh dá um passo em frente e poderia me derreter nesse momento,


minhas pernas estão tremendo e a ansiedade toma conta do meu peito. O

que nos separa são centímetros e sinto a sua respiração em meu rosto.

São segundos que duram uma eternidade. E quando sua mão toca

minha coxa é como receber água depois de caminhar por longos minutos
no Sol. E é só um toque.

— Estou decidindo se amo ou odeio essa fantasia.

Sorrio.

— Eu gosto dela, principalmente de como deixou meu peito.

Abaixa seus olhos e encara meus seios.

— Você está me provocando.

— Eu estou.

Ele volta a me encarar e seus olhos ficam escuros. Somente

mantemos nossos olhares, sem emitirmos alguma palavra. Nada mais


importa nesse momento a não ser nós dois.

Josh ergue sua mão e acaricia a lateral do meu rosto, há tanto


afeto, tanto carinho e cuidado em seu gesto. Preciso me segurar para não

fechar meus olhos.

— Não quero que a próxima vez que eu te beije seja em um


palco, não quero que seja algo falso. — Sua mão deixa meu rosto, toca

meu braço e aproxima seu rosto do meu, seus lábios praticamente

encostam a lateral da minha boca. — Porque nunca é falso quando estou

com você, Dakota.

Meu coração para, minha respiração fica suspensa e tudo só volta

a funcionar quando sua boca cobre a minha. Nenhum de nós tem calma,

ou delicadeza, nos beijamos como se fosse uma necessidade.

Sua língua toca meu lábio e abro minha boca, permitindo sua
exploração e fazendo o mesmo com ele. Nosso beijo tem gosto de

cerveja e desespero. Não nos fazemos de rogado.

Nosso encaixe é perfeito e o beijo transforma as faíscas em uma

fogueira. Meu corpo queima e pulsa por ele. Subo minhas mãos pelo seu
peito e as deixo ao redor do seu pescoço.

Falta fôlego e nos separamos, mas por poucos segundos, só nós

olhamos e voltamos a nos beijar. Josh morde meus lábios entre um beijo
e outro. Ele se posiciona entre minhas pernas e tem um dos seus braços

apoiados na parede.

A cada segundo o ímpeto com que nós beijamos aumenta, como

se quiséssemos nos fundir em um só e necessidade pulsa entre minhas


pernas, posso sentir minha calcinha molhada.

Seus dedos que estão em minha coxa sobem, infiltram-se por

baixo do vestido e aperta minha bunda. Um gemido escapa entre meus


lábios e Josh se afasta, encara-me por alguns segundos e abaixa seu rosto

para beijar meu pescoço.

Inclino minha cabeça para trás e ele distribui beijo pela minha

pele, todo meu corpo está arrepiado e encolho o meu dedinho do pé em


meu tênis. Beija o topo dos meus seios descobertos pelo decote generoso

e acaricio sua cabeça incentivando o a continuar.

Ondas de excitação flutuam em meu corpo e fecho meus olhos.

— Droga, Josh.

Sinto o sorrir contra minha pele e sua mão deixa minha bunda,

sobe pela minha barriga e segura meu seio por cima do tecido do vestido.

Minha respiração se altera mais uma vez e outro gemido deixa minha
boca. Minha reação é o que Josh precisa para puxar o vestido para baixo
e deixar meus seios totalmente nus, eles estão rígidos, implorando por

serem tocados e para meu alívio e prazer, ele os ataca.  

Qualquer um poderia nos pegar aqui, mas não importa, pelo

contrário me deixa mais excitada.

— Por muito tempo, eu sonhei com você, Dakota, sonhei com

aquela noite. — Ele ergue seu rosto e abro meus olhos. Ele está me
encarando com uma intensidade arrebatadora. — E tudo que eu queria

era estar com você mais uma vez.

Sua boca cobre a minha e nos perdemos em um beijo, melhor nos


encontramos. Nada no momento importa a não ser estarmos aqui.

Mordemos os lábios um do outro, minhas mãos descem pelo seu

peito e toco seu abdômen. Uma das suas mãos aperta minha bunda, a

outra no meu seio. Seguimos gemendo sem medo de sermos pegos, sem
pudor nenhum.

Josh se afasta e ao abrir meus olhos, encontro seu olhar escuro,

repleto de desejo e luxúria. Ele continua me encarando enquanto afasta

sua mão da minha bunda e aproxima seus dedos da minha calcinha,


minha respiração falha e ofego quando coloca o tecido para o lado e seus

dedos tocam meu clitóris. Josh sorri malicioso, abaixa seu rosto e para

com sua boca a centímetros da minha orelha.


— Você está encharcada e se eu a foder aqui? Onde qualquer um
possa ver?

Contraio os músculos entre minhas pernas e Josh entra com seus

dedos dentro de mim, ele não é delicado, mas o gesto não me causa dor,
pelo contrário.

— Droga, Josh.

Minha voz soa alta, então retira seus dedos de dentro de mim e

me encara.

— Eu poderia ter você contra essa parede, mas quero você na

minha cama, princesa.

Josh segura minha cintura, eu enrolo minhas pernas ao redor da

sua cintura e ele me leva para seu quarto. Coloca-me com cuidado sobre
sua cama e paira sobre mim. Nós nos encaramos por alguns segundos e
sua boca volta a encontrar a minha.

Parece que nunca será o suficiente, que sempre irei necessitar

dos seus beijos.

Ele só afasta sua boca para descer seus lábios pelo meu pescoço,
minhas mãos deslizam pelas suas costas até que ele fica em pé, em frente

a cama.

— Você é uma visão e tanto, sabia!?


Posso imaginar, porque sou uma bagunça. Meu vestido está todo
torto pelo meu corpo, meus seios para fora, meus lábios inchados pelo
beijo e estou corada. Não o respondo, apenas sorrio e o encaro.

Josh começa a tirar sua roupa, então sento-me na cama, tiro meus
tênis, jogo a tiara que tenho em meus cabelos para longe e empurro meu
vestido para baixo. Continuamos nos encarando a todo instante.

Apenas de calcinha faço um sinal para que Josh se aproxime, ele

faz o que peço. Ele está só de cueca e levo meus dedos até a borda da sua
última peça de roupa, seu abdômen malhado se contrai e sorrio satisfeita.

Empurro a cueca para baixo e o tenho completamente a minha

frente, ergo meus olhos e encontro seu olhar enquanto, toco-o com
minhas mãos, faço alguns movimentos de vai e vem até que o tomo-o em
minha boca. Ele é grande e claro que não consigo levá-lo todo de uma

vez, Josh geme e seus sons são excitantes.

Tudo que eu preciso é dele.

Enquanto ele perde o controle e segura os fios do meu cabelo com

força, a minha calcinha fica cada vez mais encharcada. Seus gemidos
ficam mais alto e de repente ele puxa minha cabeça para trás.

Meus olhos encontram os seus e ele me encara como se fosse a


sua presa. Não fala nada e me empurra para trás, eu vou, ainda me
impulsiono para mais cima da cama e abro minhas pernas, Josh paira
sobre mim e seus lábios encontram meu pescoço.

— Não suporto mais, princesa, eu preciso de você. — Estende


sua mão para o lado e pega um pacote de camisinha na gaveta do cômodo
que fica ao lado da cama. — Mais tarde, eu quero você em minha boca,

mas agora eu preciso estar dentro de você.

Pego a camisinha das suas mãos, rasgo a embalagem com meus

dentes e enquanto ele mantém os braços ao lado da minha cabeça, coloco


o preservativo.

Seus olhos estão presos aos meus e nós dois suspiramos quando o
guio para dentro de mim. No início não é tão confortável, mas depois de
alguns segundos estou acostumada com seu tamanho e mexo meu quadril

na sua direção, ele entende o que preciso e se movimenta.

Fecho meus olhos e nós dois gememos a cada estocada, Josh


segura minha coxa e passo minha perna ao redor da sua cintura, ele me

toca em lugares que fazem com que meu corpo se sinta como se estivesse
prestes a entrar em combustão.

Sua boca explora meu pescoço, minhas mãos seguram o lençol

com força, meus gemidos ecoam pelo quarto, meus quadris vão ao
encontro do seu e estabelecemos um ritmo, rápido, duro e sem delicadeza
nenhuma.

Deixo que as sensações me dominem por completo e meu corpo


convulsiona, o prazer me percorre e me leva à plenitude.

Ainda estou perdida em meu orgasmo quando Josh empurra-se


contra mim com força e atinge seu próprio ápice de prazer. Ficamos um

tempo parado, nossas respirações completamente instáveis demoram um


pouco a se acalmar e voltar ao normal, sua cabeça entre meu ombro e
pescoço e ele dentro de mim. Até que ele se levanta para descartar a

camisinha. Eu fecho meus olhos e me recuso a pensar sobre o que


aconteceu.
 

Dakota

Acordo de repente, sinto um peso ao redor da minha cintura e me


dou conta de que é o braço de Josh. Eu estou com parte do meu corpo
sobre o seu, rosto apoiado em seu peito e seu braço está ao redor da

minha cintura. Abro meus olhos, ergo meu rosto e ele ainda está

dormindo.

Flashs da noite passada surgem em minha mente, transamos uma

vez, ficamos abraçados sem falarmos nada por um tempo até que Josh

decidiu cumprir sua promessa de me ter em seus lábios, meu segundo


orgasmo foi tão incrível quanto o primeiro. Depois seguimos para um

banho e fizemos sexo contra os azulejos do box.

Meu corpo está dolorido e provavelmente repleto de marcas.

Olhando para Josh enquanto ele está dormindo, as lembranças

daquela manhã há dois anos voltam para minha mente. Faz dois anos e
ainda me recordo das suas palavras: Você não achou que isso seria mais

que uma noite, não é? Você não é do tipo que vê romance em tudo, não

é? Porque, se for, melhor esquecer qualquer tática que pensa que irá
funcionar comigo.

Um medo irracional de que tudo se repita ecoa em meu peito.


Uma parte em mim diz que estou sendo ridícula depois de tudo que

compartilhamos na noite passada, é impossível que ele me trate como

aquela vez, porém não consigo ficar tranquila. Se ele me rejeitar outra

vez, eu irei quebrar completamente, porque dessa vez, eu estou

apaixonada.

Droga, eu estou apaixonada.

Chegar a essa conclusão me deixa transtornada. Caralho! Minhas

inseguranças e o receio de não ser correspondida gritam em meu peito.

Lágrimas se acumulam em meus olhos e com cuidado desvencilho-me de


Josh.
Eu queria ficar aqui, mas eu não consigo.

Para minha sorte, Josh segue dormindo, tiro a sua camisa que

coloquei após o banho, visto a fantasia, faço um coque, vou ao banheiro e


lavo meu rosto e quando volto para o quarto, Josh segue com seus olhos

fechados. Encaro-o uma última vez e deixo seu quarto.

O que eu estou fazendo? Se estou fazendo o correto? Não faço a

mínima ideia.

Para meu azar, abro a porta e me deparo com Ethan, ele parece

totalmente atordoado.

— Está tudo bem?

Assinto.

— Sim, eu apenas sou uma idiota.

Só não sei se sou uma idiota por estar apaixonada, ou por ter

transado com Josh, ou por ter fugido. Não trocamos mais nenhuma
palavra e sigo na direção da escada enquanto ele entra em seu quarto.

Eu não posso ir embora, porque vim com Brooke e não vou


embora de táxi vestindo esse minivestido que está todo amassado, além

do mais minha aparência não é das melhores.

Sigo para a cozinha e preparo um café. Não paro de pensar na

noite passada e em Josh. Eu deveria ter ficado, será que volto para seu
quarto e espero ele acordar? Mas e se ele se arrepender? Não estou pronta

para uma rejeição.

Não sei o que fazer, então faço meu café e me sento de frente para

a bancada. Meus pensamentos continuam uma bagunça, assim como meu


coração.

Estou pensativa encarando a minha xícara de café quando Aiden e

Brooke entram na cozinha.

— Você dormiu aqui?

É claro que seria a primeira pergunta da minha amiga, apenas


assinto e espero que seja o suficiente. Aiden e ela se sentam na minha

frente e o jogador de hóquei me encara curioso.

— Com Josh?

Não respondo Aiden e mudo de assunto.

— Eu vi Ethan entrando em seu quarto um pouco transtornado,

vocês sabem se algo aconteceu?

Eles negam.

— Vou preparar algo para comermos.

Aiden se levanta e eu encaro Brooke.

— Você irá demorar para ir embora?

Minha amiga ergue suas sobrancelhas.


— Não sei, podemos tomar café e irmos embora, tudo bem?

Assinto e meu coração acelera. E se Josh acordar antes disso?


Pelo menos estaremos com nossos amigos, ele não poderá ser um idiota

na frente de todos, não pelo menos o idiota que quebra meu coração em
pedacinhos. Meu Deus, quando eu fiquei tão dramática?

Aiden, Brooke e eu conversamos sobre a festa, mas nenhum de


nós tem muitas informações sobre o que aconteceu, porque não ficamos
muito tempo aqui embaixo e só conseguimos saber das fofocas quando

Dylan entra na cozinha. Ele sabe quem ficou com quem, quem passou
mão e inclusive um dos calouros pulou na piscina só de cueca. Estamos

rindo da história quando Josh entra na cozinha.

Meu coração dispara, eu tento olhar para ele, mas sem olhar em

seus olhos. Ele está me encarando e não é com desprezo. Suspiro


aliviada, mesmo sem entender o que exatamente isso significa.

Josh se senta ao lado de Brooke e segue me encarando. Ele ergue


suas sobrancelhas e dou de ombros. Talvez, ele não esteja arrependido.

Talvez possamos conversar mais tarde.

Nossa conversa não acontece, porque nossas próximas horas são

caóticas. Abby e Ethan sumiram e quando voltam para a casa, é para


contar o que o imbecil do pai da Abby aprontou. Nossos amigos
precisam do nosso apoio e é isso que fizemos. Deixamos nossas questões
para depois e nos concentrarmos em sermos os melhores amigos que
Abby e Ethan precisam.

Brooke, Abby e eu almoçamos com os meninos, vamos em casa


apenas para trocarmos de roupas e vamos ao jogo de Ethan. Josh e eu não

conversamos sozinhos em nenhum momento, nossas únicas conversas


são em grupo, porém há uma tensão entre nós, nossos olhares sempre

estão procurando um ao outro.

O time de futebol americano vence o jogo com uma jogada


incrível de Ethan e ao fim do jogo, o quarterback pede minha amiga em

namoro durante uma entrevista para o maior canal de esporte do país.


Abby desce correndo para o campo e os dois trocam algumas palavras e

um beijo apaixonado. Estou feliz pelos dois, eles claramente estão


apaixonados.

Aiden e Brooke trocam algumas palavras e olhares apaixonados


ao meu lado, aposto que os próximos a se declararem serão eles. Sinto
alguém me observando e quando olho ao redor, encontro Josh ao lado de

Dylan e me encarando. Eu desvio meus olhos e me viro para Brooke.

— Estou com um pouco de dor de barriga, estou indo embora.

— Você está bem? Posso ir com você.


Balanço minha cabeça negando.

— Fique, você a leva embora não é, Aiden?

— Claro.

Eu me despeço do grupo com um aceno e me nego a olhar para


Josh. Deixo o estádio e sozinha volto para nosso apartamento, eu a mais

romântica, aquela que anseia por um romance retorna sozinha para casa.

Solidão me cerca e meu peito se aperta.

Volto a pensar em Josh e lágrimas se acumulam em meus olhos

mais uma vez.

Minha consciência acusa que estou sendo uma idiota, Josh e eu

nem conversamos e estou agindo como se ele tivesse quebrado meu


coração.

— Foda-se, tenho direito de ser dramática e imatura.

Digo a mim mesma enquanto dirijo e as lágrimas descem pelo


meu rosto. Quero ter o direito de sentir hoje, de chorar, de talvez, ser uma

idiota. Foda-se.

Eu chego em casa com o rosto marcado pelas lágrimas, então tiro

meus tênis e me jogo no sofá, continuo chorando enquanto ligo a


televisão e coloco para assistir a série que comecei a assistir com Brooke

no dia em que soube que Josh e eu iriamos protagonizar uma peça de


teatro, nesse dia eu estava triste e com raiva e minha amiga topou assistir

a uma série de romance comigo para que eu pudesse me animar.

Parece que foi há uma eternidade e faz semanas.

Apesar de olhar para a televisão, não consigo me concentrar.

Minhas lágrimas cessam, mas o sentimento de perda e solidão seguem


em meu peito. Não assisti nem a metade do episódio quando o som da

campainha ecoa pela pequena sala.

Quem será? E se for Josh? Será que existe a possibilidade de ser

ele?

Passo os dedos embaixo dos meus olhos para limpar o vestígio de

choro do meu rosto e fico em pé. Caminho na direção da porta com meu

coração aos pulos em meu peito, são apenas alguns passos, porém parece

que estou percorrendo quilômetros. Se não for ele, irei ficar


decepcionada. Estar apaixonada é uma droga.

Seguro a maçaneta e respiro fundo. Alívio e tensão tomam conta

de mim ao me deparar com Josh ao abrir a porta. Eu queria que fosse,


esperava que fosse ele, mas não estava pronta para encontrá-lo.

— Hey, princesa, nós precisamos conversar.

Engulo em seco.

— Hey, Josh, entre.


Fico de lado para que ele entre, ele dá um passo em frente, seu

braço esbarra com meu e prendo minha respiração. Um simples toque e a

faísca acende.

Ele entra e fecho a porta. Respiro fundo antes de me virar e


quando faço, Josh está parado no meio da minha sala, que agora diante

do seu tamanho, parece minúscula.

Nós ficamos um de frente para o outro e seus olhos encontram os


meus. Quero pular em seus braços, porém fico parada sem reação e sem

saber o que agir.

— Por que você fugiu, princesa? — A forma como ele diz

princesa traz mais lágrimas em meus olhos, ele percebe e dá um passo


em frente. — O que está acontecendo, Dakota?

Sua mão segura a minha, as lágrimas descem pelo meu rosto e ele

me puxa para seus braços. Eu choro com o rosto apoiado em seu peito,
soluços escapam dos meus lábios e ele apenas me segura.

Os meus sentimentos são uma bagunça, guerreando para saírem

do meu peito, lutando contra mim. Josh me aperta e choro, choro até que

aos poucos, meu coração se tranquiliza, as minhas lágrimas cessam e


minha respiração se normaliza.

Eu só precisava de um abraço.
— Do que você tem medo, Dakota?

Afasta-se e apoia sua testa na minha enquanto segura meu rosto


com suas mãos. Olho em seus olhos e digo a verdade.

— Que não seja real, que esteja apenas me iludindo, que mais

uma vez apenas esteja sentindo demais.

Acaricia a lateral do meu rosto e a intensidade com me encara me


fornece todas as certezas de que eu preciso.

— O que você precisa ouvir? Você precisa ouvir que eu estou

apaixonado? — Sorri. — Porque eu estou apaixonado por você, Dakota.

Meu coração dispara e suas palavras causam um frenesi em meu


peito. Ele está apaixonado por mim.

— Eu sempre soube que você seria alguém por quem me

apaixonaria, desde aquela noite e quando reencontrei você, apenas tive


certeza. — Aproxima seu rosto do meu e encosta seus lábios na lateral da

minha boca. — Você derrubou todas as barreiras que existiam ao redor

do meu coração, você me fez voltar a acreditar nas pessoas, você se


tornou a minha esperança, Dakota.

Meus olhos ainda seguem presos aos seus e entendo o que ele está

querendo dizer. Não há mais dúvidas, não há mais incertezas. Espalmo

minhas mãos em seu peito e as deixo sobre seu coração.


Lentamente Josh acaba com o espaço que existe entre nós e sua

boca cobre a minha. É um beijo que inicia calmo e que ganha intensidade

conforme os segundos passam. Sua língua brinca e duela com a minha,

nos perdemos entre suspiros, mordidas e sorrisos.

Desce seus lábios pelo meu pescoço e inclino minha cabeça para

o lado facilitando o seu acesso à minha pele. Seus beijos me incendeiam,

mexem com meu corpo como ninguém mais fez, ele me reivindica de
todas as formas possíveis.

— Onde fica seu quarto, princesa?

Josh desce suas mãos pelo meu corpo e as deixa em minha

cintura. Não o respondo, apenas viro-me, ficando com as costas contra


seu peito e o guio para meu quarto. Ele joga meu cabelo para o lado e

segue explorando meu pescoço com seus lábios.

Nós dois entramos em meu quarto e volto a ficar de frente para

ele. Sua boca encontra a minha mais uma vez e só nos separamos para ele
tirar minha blusa, em seguida tiro sua camisa e enquanto abro o zíper da

sua calça, ele libera meus seios.

Continuamos nos olhando e a cada toque, a excitação percorre


meu corpo ganha exuberância. A necessidade se acumula abaixo do meu

ventre e chega a se tornar doloroso.


Josh se abaixa para tirar minha calça e calcinha e beija a parte

interna das minhas coxas, respiro fundo e fecho meus olhos. Assim que
estou completamente nua, ele volta a ficar em pé e acaricia a lateral do

meu rosto.

— Eu estou apaixonado por você, princesa.

Dá um passo em frente e eu um para trás, fazemos isso até que


esbarro na cama, então sorrio e me deito na cama. E Josh continua em pé,

ele me olha com tanta adoração e devoção, ele faz com que eu me sinta

única, especial. Seu olhar percorre meu corpo e sem inibição, abro
minhas pernas, levo minhas mãos até o meio das minhas pernas e me

toco.

Ele assisti, seus olhos escurecem e fecho meus olhos quando as

sensações em meu corpo se tornam demais. Continuo sentindo seu olhar


sobre mim, meus seios pesam, acelero o ritmo dos meus dedos e respiro

fundo tentando encontrar o que tanto preciso. Ainda estou de olhos

fechados quando Josh afasta minha mão.

— Caralho, Josh.

— Calma, princesa.

Ri e abro meus olhos, ele está completamente nu, curvado sobre

parte do meu corpo e com a boca próxima à minha coxa. Meu olhar
encontra o seu e seus lábios encostam em minha pele.

— Eu estou apaixonado por você, princesa.

Beija novamente minha pele e segue repetindo a frase enquanto

distribui beijos pelo meu corpo. Minhas coxas, virilha, barriga, seios,
pescoço e por fim, meus lábios.

Dessa vez, sou eu a interromper nosso beijo. Afasto minha boca

da sua, espalmo minha mão sobre seu peito e o empurro para o lado. Ele

não hesita e cai ao meu lado, então monto sobre ele.

— Eu por cima dessa vez, baby.

Ele faz uma careta.

— Baby não, Dakota.

Sorrio e curvo meu corpo para frente.

— Baby. — Mordo seu lábio inferior. — Baby.

Meus seios encostam nele e esfrego meus quadris contra ele, nós
dois gememos. Josh sobe uma das suas mãos e enrola os fios do meu

cabelo ao redor dos seus dedos, enquanto com a outra mão aperta minha
bunda.

— Larguei a camisinha no colchão.

Sussurra, então o beijo uma última vez e me sento sobre sua

barriga, procuro pela embalagem e encontro ao seus pés. Mordo meu


lábio inferior e me viro, ficando com minha bunda em frente ao seu
rosto. Ele passa sua língua por minhas dobras e respiro fundo, preciso de
todo meu autocontrole para pegar a embalagem e voltar à minha posição

inicial.

— Adoraria um 69, princesa.

Pisco em sua direção.

— Outra hora.

Entrego a embalagem para ele, sento-me sobre suas pernas e o


assisto desenrolar a camisinha sobre todo seu comprimento. Ele se toca
de cima a abaixo, então dobro minhas pernas, apoio meus joelhos na

cama e pairo sobre ele.

Estamos nos olhando quando me sento sobre ele. Ele me


preenche completamente e ofego. Espalmo minhas mãos sobre seu peito

e cavalgo em Josh, subo e desce por todo seu comprimento, fecho meus
olhos e dito nosso ritmo. O prazer percorre pelas células do meu corpo e
me concentro em apenas obter a satisfação que tanto preciso.

Dessa vez, gozamos ao mesmo tempo e sou eu a ficar deitada

sobre seu corpo até que ele me afasta, Josh então descarta a camisinha e
volta a me trazer para perto. Apoio minha cabeça em seu peito e fecho
meus olhos.
Sua mão desce e sobe pelas minhas costas e me sinto em casa em
seus braços como nunca me senti em outro lugar. Josh beija a lateral da
minha cabeça e me aconchego-me ainda mais contra ele.

Há um silêncio ao nosso redor e sou eu a interrompê-lo, porque


preciso que ele saiba a verdade.

— Eu também estou apaixonada por você, Josh.


 

Josh

Por mais que Dakota tenha deixado claro que está apaixonada por
mim em cada gesto e em cada toque seu, é um alívio ouvir suas palavras.
Afasto meus dedos das suas costas e passo meu braço ao redor da sua

cintura e aperto ainda mais seu corpo contra o meu. Beijo a lateral da sua

cabeça mais uma vez.

— Sorte a minha. 

Ela ri e toca a sua correntinha que tem em meu pescoço.

— Ontem você não estava com ela.


Abro meus olhos e olho para o seu rosto.

— Ontem eu tirei por causa da fantasia.

Ela continua mexendo na correntinha e ficamos em silêncio. É

bom estar com ela, principalmente depois de acordar e me deparar com

minha cama vazia. Eu não sabia se ela tinha fugido, ou se estava


arrependida, porém foi apenas encontrá-la na cozinha com meus amigos

para entender que estava fugindo, assim que meu olhar cruzou com o seu,

eu soube que estava com medo de algo.

Com Abby e Ethan com problemas, não consegui conversar com

ela e assim que a vi saindo do estádio, vim atrás dela. Eu a segui e não
me sinto nenhum um pouco culpado por isso.

— Eu segui você.

Ela se senta sobre a cama, ao meu lado, com as pernas cruzadas


abaixo do seu corpo e me encara sem entender.

— Como assim me seguiu?

Dakota está nua a minha frente e é impossível não descer meus

olhos pelo seu corpo.

— Eu vi você saindo do estádio e como não sabia para onde

estava indo, eu te segui.

Respondo-a enquanto encaro seus seios.


— Josh, foco, meus olhos estão aqui em cima.

Sorrio e me sento com as costas apoiadas em sua cabeceira.

Dakota está com o rosto vermelho e adorável.

— É impossível ter foco. — Aponto em sua direção. — Você está

nua.

Digo como se fosse óbvio e ela revira seus olhos.

— Homens.

Dou de ombros.

— Você deveria vestir algo. — Curva-se, pega minha camisa e a

veste. — Eu acho que preferia você nua, porque você fica ainda mais

irresistível com a minha camiseta.

Provoco-a e ela pega uma das almofadas que fica sobre sua cama

e a joga em minha direção, apenas pego a almofada e sorrio. 

— Sobre sua perseguição, eu não reparei, acho que estava muito

concentrada tentando não surtar.

Continua o assunto e desvia os olhos do meu.

— E por que estava surtando?

Ela dá de ombros e fica em pé.

— Porque estava com medo de estar apaixonada sozinha,

sentindo coisas que não deveria. — Ela sorri, um sorriso sem humor. —
Eu tenho tendência de romantizar as situações.

Dakota fica de costas, caminha pelo seu quarto e para de frente

para o mural de fotos que tem pendurado na parede sobre seu mural de

fotos. Eu deixo sua cama, visto minha cueca e minha calça, aproximo-me
dela e paro ao seu lado.

— Você disse que seu ex tinha acusado você de ser romântica.

Ela olha para mim e sorri debochada.

— Você não é o único com uma ex tóxica.

Ergo minhas sobrancelhas e assim como ela, sorrio.

— Vamos fazer uma competição para quem ter o pior ex?

Dakota volta a encarar as fotos na sua frente.

— Você com certeza ganharia, Ryan só terminou comigo e me


disse palavras amargas, sua ex terminou com você por dinheiro, com

certeza é pior.

Eu me viro e apoio meu corpo contra sua mesa de estudo.

— O que aconteceu entre você e seu ex?

Faço a pergunta que ecoa em minha mente desde que Abby o


chamou de idiota e disse que quebrou o seu nariz.

— Ryan e eu nos conhecemos na escola no quinto ano,


começamos a namorar aos quatorze e eu acreditei que seríamos para
sempre, assim como meus pais, porque sou naturalmente romântica,

infelizmente amo contos de fadas e finais felizes.

Ela suspira.

— E um dia antes de ir para Tennessee por causa da faculdade,


ele terminou comigo, disse que era o melhor, porque erámos jovens e

precisamos aproveitar a faculdade por completo, eu tola perguntei o


porquê e ele riu e me disse que era romântica demais, que contos de fadas
não existem e era óbvio que não iriamos ficar juntos para sempre, afinal

tínhamos dezoito anos.

— Ele foi um idiota.

Dakota faz o mesmo que eu e se apoia contra a mesa de estudo

— Ele foi. — Dá de ombros. — Mas passou.

Faço uma careta.

— Foi por isso que ficou com tanto medo de estar apaixonada por

mim, você estava com medo de ser algo unilateral.

— Sim, não queria ser rejeitada de novo. — Ela olha para o lado

e me encara. — Superei Ryan, o que sentia por ele e o que ele me fez
passar, porém eu me recordo da dor que ele me causou, pode parecer

bobo, mas doeu e eu passei uma semana chorando.

— E quando Abby o socou?


Ela ergue suas sobrancelhas.

— Abby não o socou.

— Mas ela disse que quebrou o nariz do idiota do seu ex quando

me ameaçou caso fizesse você sofrer.

Dakota balança sua cabeça e ri.

— Ela mentiu, aposto que estava apenas tentando colocar medo


em você, embora tenha certeza de que Abby seria capaz de quebrar o

nariz de um cara se precisasse.

— Estou decepcionado.

Ela ri e eu faço o mesmo. Sou eu a parar de rir e a voltar ao nosso


assunto.

— Aquela festa, o seu término era recente?

Ela assente.

— Fazia quatro semanas e estava tentando provar a mim mesma


que era diferente, não era a garota apaixonada e iludida descrita por

Ryan.

— Deve ter sido péssimo o que eu te falei, não é!?

Olha para baixo e encara o chão.

— Sim, porque você usou os mesmos argumentos que Ryan.


Eu me sinto os piores do ser humano.

— Sinto muito.

Aproximo minha mão da sua, seguro-a e traço círculos invisíveis

em sua pele.

— De certo modo, sua reação me ajudou, porque entendi que não

poderia ser desapegada e que sexo casual realmente não era minha praia.

— Ela volta a em encarar. — Eu desisti de sexo casual e decidi focar em


encontrar alguém, durante um ano fui a encontros e tentei encontrar

alguém para se apaixonar.

Imaginá-la com outros caras não é algo saudável e tento não

pensar em seus encontros.

— Por que durante um ano?

— Porque depois de um ano de encontros ruins, desisti de

procurar por alguém e deixei o universo agir.

— E o universo me trouxe até você.

Ela sorri e assente.

— O universo tem maneiras estranhas de agir.

Concordo com ela e fixo meu olhar no seu.

— Se você sempre esteve disposta a se apaixonar, por que você

fugiu hoje pela manhã?


O quarto está totalmente escuro e a única luz entra pela janela,

mas é o suficiente para conseguir enxergá-la. Dakota está relaxada apesar


da nossa conversa e o fato de estar apenas com minha camisa, de pés

descalçados e cabelos soltos a deixam com um aspecto ainda mais

despojado. Olho para ela e vejo uma deusa, a minha deusa.

— Não sei, talvez porque estou apaixonada por você e temos um

passado. — Dá de ombros. — Talvez teria sido assim com qualquer outra

pessoa, porque pensar em se apaixonar e se apaixonar são coisas

totalmente diferentes.

Eu assinto e a puxo em minha direção, Dakota não hesita e se

aproxima até estar à minha frente, para entre minhas pernas e deixo

minhas mãos em sua cintura.

— Há alguma dúvida em seu coração? Você continua com medo

de ser machucada?

Eu farei de tudo para que ela não tenha nenhuma dúvida. Para que

ela saiba que não irei voltar a machucá-la.

— Não, Josh.

Afasto-me da sua mesa de estudo, abaixo meu rosto e meus lábios

ficam a centímetros do seus.


— Se restar qualquer dúvida, eu farei de tudo para a acabar com

ela, nem que precise passar a vida toda dizendo que estou apaixonado por

você.

— A vida toda?

Dakota está rindo, mas há um brilho esperançoso em seus olhos.

— Sou intenso, querida, e não sei se te contei, mas também

sempre gostei de contos de fadas.

Minha boca cobre a sua e a levo de volta para cama, dessa vez
sou eu no comando e tento deixar claro em cada toque, em cada beijo, em

cada gesto o quanto estou apaixonado por ela.

Estar com Dakota é incrível, ela é receptiva, ela gosta do mesmo


jeito que eu e há uma paixão entre nós que deixa tudo ainda mais

excitante.

Novamente, chegamos ao orgasmo quase ao mesmo tempo e ela


se deita sobre o meu corpo assim que retiro a camisinha e jogo na lixeira

que há em seu quarto. Minha mão desce e sobe pelo seu braço e ela traça

círculos invisíveis em meu peito.

— Precisamos de um banho.

Sorrio ao ouvir suas palavras.

— Isso é um convite?
Ela se afasta, apoia seu corpo em seu braço e seu cabelo cai sobre

parte do seu rosto

— Como eu sou uma pobre universitária e não a filha do

governador, meu banheiro é minúsculo. — Sorri debochada. — Seremos

obrigados a tomarmos banho separados.

Faço uma careta, ela beija meus lábios e pula da cama.

— Se comporte enquanto tomo meu banho.

Ela ri, pega uma toalha que está pendura em um prego atrás da

porta e sai do seu quarto. Fico sozinho e olho ao redor do cômodo. Essa é
a minha chance de bisbilhotar suas coisas. Levanto-me, visto minha

cueca e ligo a luz.

Caminho pelo seu quarto e analiso cada detalhe. O cômodo é

pequeno, possui a cama, um guarda-roupa, mesa de estudo e uma


prateleira de livros. A prateleira de livros que me chama a atenção e vou

até ela, há muitos livros e a maioria são de romance, capas com garotas

usando vestidos de séculos passados e caras de ternos. São romances de

época, do mesmo estilo da peça que iremos protagonizar.

Pego um deles, começo a folhar e ler algumas partes. Um sorriso

surge em meus lábios ao ler uma cena de sexo. Uma descrição de sexo.

Quem diria que Dakota leria algo assim!? Eu achando que seria histórias
de romance inofensivas. Com certeza, iria a provocar a respeito disso,

fecho o livro, mas continuo com ele em mãos.

Volto a andar pelo quarto e minha próxima parada é o seu mural

de fotos. Deixo o livro sobre a mesa de estudos e observo as fotos.

Dakota tem fotos com Abby e Brooke, algumas ela e Abby são

apenas crianças, e há Dakota criança em algumas apresentações de

dança, outros fotos são com um casal, acredito serem seus pais, porém
eles são extremamente diferentes da Dakota.

A porta é aberta, mas sigo encarando as fotos à minha frente,

sinto Dakota se aproximando e ela para ao meu lado.  

— Esses são seus pais?

Ela assente.

— Eles são bem diferentes de você.

— Eu sou adotada, Josh.

Abro e fecho minha boca.

— Sinto muito, eu não sabia.

Ela ri e empurra meu ombro com o seu.

— Você está pedindo desculpas por eu ser adotada?

Dakota está me provocando, franzo minha testa e me viro para


ela.
— Estou pedindo desculpa pela minha inconveniência.

Apoia a lateral do seu rosto em meu braço e segura sua mão com
a minha.

— Não precisa pedir desculpas. — Olha para as fotos. — Meus

pais me adotaram quando tinha quatro anos, eles são incríveis e não

tenho lembranças de antes deles.

— Você sempre soube que era adotada?

— Não, meus pais me contaram quando tinha dez anos. — Seu

tom de voz muda. — E foi a partir daí que criei um certo bloqueio com

apresentações.

— Por isso, você tem fotos em apresentações de dança?

Desvencilha-se de mim e pega uma das fotos. É ela em uma

apresentação de balé.

— Meus pais sempre me amaram, mas quando eles me contaram,

eu só pensava que alguém tinha me abandonado e na minha cabeça

infantil, tinha um motivo. — Suspira e encara foto que tem em mãos. —

Minha mente associou que eu seria descartada outra vez, que iria errar e
seria rejeitada, seja pelos meus colegas, pela professora, ou pelos meus

próprios pais.

Dakota coloca a foto no mural novamente.


— Eu fiz terapia e entendo que meu pânico de apresentações está
relacionado com o medo de rejeição, só que é algo quase inconsciente,

por mais que minha razão compreenda, por mais que ame meus pais e

não sinta necessidade de encontrar meus pais biológicos, alguns vestígios


estão aqui. Os machucados não estão mais sangrando, mas ainda estão

cicatrizando.

Ela sorri, não é um sorriso feliz, mas não é triste.

— A rejeição de Ryan e a minha logo em seguida não foram

gatilhos?

Morde seu lábio inferior.

— De alguma forma sim, porque machucaram feridas existentes.


— Dá um passo em minha direção e espalma suas mãos em meu peito.

— Porém, me tornaram mais forte.

— Mas fizeram você ter medo de estar apaixonada por mim,

fizeram você fugir.

Tudo podia ser diferente e odeio ter a feito sofrer.

— E você me mostrou que eu estava errada. — Sorri maliciosa.


— E você teve que correr atrás de mim.

Pisca em minha direção, eu ergo minha mão e coloco alguns fios


de seu cabelo para trás da sua orelha.
— Você é incrível, sabia?

— Sabia. — Empurra-me. — E você está fedendo a sexo, vá para


o banho, Josh.

— Ok, ok.

Dakota pega uma toalha em seu guarda-roupa, entrega-me e me

explica qual é a porta do banheiro, em seguida, deixo seu quarto e vou


para banheiro, que realmente é minúsculo.

Após o banho, enrolo a toalha ao redor da minha cintura, pego


minha cueca e volto para o seu quarto. Deparo-me com Dakota sentada
em sua cama e mexendo em seu celular.

— Abby estava perguntando se eu estou bem. — Olha na minha


direção com malícia, eu vou até ela e me deito ao seu lado. — Hey, você
vai molhar a minha cama.

Reviro meus olhos e continuo deitado.

— Estamos namorando a algumas horas e você já irá pegar no


meu pé? — Ela fica vermelha e sorrio com sua reação. — Adoro quando
você cora.

Ela pega seu travesseiro e acerta o meu peito, o que faz com que
apenas sorria ainda mais.

— O que você disse para Abby?


Dá de ombros.

— Que eu estava bem.

— Você falou que estava comigo?

Balança a cabeça negando e sorri maliciosa.

— Não quero contar para nossos amigos que estamos juntos.

Faço uma careta.

— Não quer?

Encara-me divertida.

— Quero ver quanto tempo eles demoram para descobrir que


estamos juntos.

A ideia ecoa em minha mente e gosto da possibilidade de enganar


nossos amigos. Realmente será divertido.

— Então, vamos fingir que não estamos juntos e aguardar eles


descobrirem por conta própria?

Assente.

— Sim, se eles demorarem muito, nós contamos.

— A peça é o prazo final, princesa.

Concorda comigo, então a puxo na minha direção, Dakota não


hesita e paira sobre mim, com suas pernas dobradas e apoiadas na cama
ao lado do meu quadril. Ela está usando uma camisola com um desenho
das princesas da Disney, o que me permiti tocar suas coxas.

— Acho que o problema não será nossos amigos, acho que o problema será
quanto tempo consigo fingir que não estou loucamente apaixonado por

você.
 

Dakota

Como Abby me falou que ela e Brooke ficaram na casa dos


meninos, Josh continua aqui, nós pedimos uma pizza, ele coloca sua
roupa e vamos para a sala. Eu ligo a televisão e escolho um programa

qualquer para assistimos, nos sentamos no sofá, eu estou apoiada sobre

seu peito e seus dedos brincam com os meus. É bom estar com ele, Josh é
o carinho e a todo momento ele me toca.

— Quando você se deu conta de que eu não era como sua ex?

Nós já conversamos sobre muitas coisas e ainda falta alguns

assuntos para abordarmos.


— Na aula de teatro quando precisou ler o trecho do roteiro na

frente de todos.

O dia em que eu quase entrei em pânico.

— Eu precisei surtar para você entender que eu não estava

fingindo?

Finjo uma falsa indignação e Josh ri.

— Acho que na verdade só precisava de um motivo para parar de

evitar e me aproximar de você. — Ele passa seus dedos entre os meus e

une nossas mãos. — Eu disse a mim mesmo que alguém que reagisse
como você reagiu, não poderia estar fingindo sobre quem era, mas

pensando agora, acho que realmente só estava criando um pretexto para

parar de tentar não gostar de você.

Morde o lóbulo da minha orelha e me encolho. Ele ri e me ajeito


no sofá até conseguir encarar o seu rosto.

— Naquela noite quando perguntei se já tinha tentado ser alguém

diferente, você me respondeu mais do que você imagina, o que você

estava querendo dizer?

— Isso é um interrogatório?

Seus olhos têm um brilho divertido.

— Estou sanando minhas dúvidas.


Ele ri e sobe seus dedos de outra mão pelas minhas costas.

— Porque eu sempre tentei me encaixar para pertencer a algo, à

minha família e à minha escola nova, e quando Laylah me magoou,


decidi virar o idiota sem-coração.

— Sinto muito.

Beija minha testa.

— O importante é que eu sobrevivi.

Pisca para mim e eu faço uma careta.

— Só não precisa ter se tornado um destruidor de corações, né?

Ele ri.

— Realmente, não precisava, mas o importante é que agora não

irei destruir o coração de mais ninguém, só de quem ficar muito chateada

por eu estar namorando.

Pisca mais uma vez e estreito meus olhos em sua direção.

— Josh, seja menos egocêntrico.

— Algumas coisas são impossíveis, princesa.

Eu suspiro de forma dramática e volto a me deitar em seu peito.

— E aquele apartamento? Você já o dividia com os meninos?

Quando que se mudou?


— E o interrogatório continua.

Bato em seu braço.

— Não seja chato e apenas me responda.

— Ok, mandona, Ethan, Aiden e eu dividimos aquele


apartamento durante o primeiro período e no segundo alugamos uma

casa, e Dylan passou a morar com a gente.

— Entendi.

— Posso fazer perguntas, ou esse é um direito exclusivamente


seu?

— Josh, vá a merda.

Ele ri e faz a sua pergunta.

— Quando você passou a gostar de festas? Se bem me lembro,


você estava fugindo de uma quando nos conhecemos.

Faço os círculos invisíveis em seu peito.

— Eu não estava fugindo, estava dando um tempo. — Ele ri e eu


continuo a minha explicação. — E confesso que hoje gosto bem mais de

estar em festas do que antes, só foi algo que aprendi a gostar com o
tempo, embora não seja meu programa preferido, às vezes gosto de sair

para dançar, beber e aproveitar com as minhas amigas.


— Entendi. — Segue descendo e subindo seus dedos pelas

minhas costas. — Abby e vocês já se conheciam antes da faculdade?

Pelos próximos minutos conversamos sobre minha amizade com

as meninas e sua com os meninos. Trocamos informações e histórias


constrangedoras. Quando a pizza chega, a colocamos sobre uma mesinha

e nos sentamos no chão, tentamos prestar a atenção no filme que está


passando na televisão, porém falhamos e continuamos conversando.

Mesmo quando terminamos de comer, permanecemos no chão,

nós rimos e nos tocamos mais vezes do que consigo tocar. É natural,
como se toda noite de sábado fizéssemos exatamente isso, não há

nenhuma dúvida, nem um estranhamento. 

É uma hora da manhã quando Josh suspira e encara-me com

pesar. Ele está ao meu lado com as costas apoiadas no sofá e braço
apoiado em seu joelho.

— Acho melhor eu ir embora se realmente vamos seguir com


essa ideia maluca de enganarmos nossos amigos.

Sorrio maliciosa.

— Melhor mesmo.

Josh ergue suas sobrancelhas.

— Você sabe que será extremamente difícil, não é?


— Não pode ser assim tão difícil, Josh.

...

É difícil para caralho!

Primeiro, assim que Brooke e Abby retornam para casa no

domingo, elas me perguntam o que está acontecendo. Aparentemente é


nítido que estou diferente, sou obrigada a mentir e dizer que não há nada
diferente em mim e que elas estão malucas.

Segundo, converso com Josh por mensagem durante o dia todo,


por sorte, tínhamos o número um do outro por causa do grupo de
mensagem do teatro e mais de uma vez, minhas amigas me flagram

sorrindo para o celular e me provocam querendo saber com quem estou


conversando, sou obrigada a desconversar.

Terceiro, eu escuto minhas amigas falando de Aiden e Ethan, e


algumas vezes quase abro a boca para falar de Josh.

É extremamente difícil manter segredo.

Na terça, eu vou ansiosa para a aula de teatro. Finalmente, iremos


nos encontrar, faz apenas dois dias que estivemos juntos, porém parece
fazer uma eternidade.
Estar apaixonada é uma loucura e uma avalanche de
sentimentos.

Entro no auditório e Dayse está no palco enquanto meus colegas


estão sentados nas poltronas.

— Hey, Dakota.

— Hey, professora.

Aceno para ela e procuro por Josh, ele está sentado na primeira
fileira e tem o rosto virado na minha direção. Eu vou até ele e ocupo a

poltrona ao seu lado.

— Hey, princesa.

Inclina-se na minha direção e beija meu rosto. Eu me viro para


ele e nossas bocas quase se tocam.

— Hey, Josh.

Olho em seus olhos e meu coração acelera, anseio por seu toque e

por algo mais dele.

— Bom, iremos começar por vocês dois, Josh e Dakota.

A voz de Dayse nos interrompe, então nós dois rimos e nos

afastamos. Olhamos em frente e encaramos nossa professora.

— Vocês dois podem subir aqui no palco, iremos começar pela

cena de Emma e o duque no dia do noivado.


Nós dois ficamos em pé e vamos para o palco. Posicionamo-nos

conforme as ordens da professora e recitamos os diálogos, ambos


sabemos a maioria das nossas falas e não precisamos ler.

Há uma parceria e uma cumplicidade entre nós e até mesmo

quando estamos atuando, tudo ao nosso redor perde a importância e é


como se fossemos apenas nós dois.

Ao fim somos aplaudidos pela professora, ela está tão animada

com a nossa atuação. Dayse encerra a aula radiante, Josh e eu pegamos

nossas mochilas e um ao lado do outro deixamos o auditório. Nossas


mãos se esbarram quando andamos e sinto todo meu corpo se eletrizar

com um simples toque.

Paramos ao lado da porta um de frente para o outro e Josh apoia


seu ombro contra a parede.

— Você irá almoçar onde?

Mordo meu lábio inferior, eu não contei para ele sobre o lar e

pensar em compartilhar essa informação com ele me deixa nervosa. É


algo extremamente pessoal e íntimo, somente meus pais e minhas amigas

sabem sobre.

— Em um lar de idosos.

Digo de uma vez e ele me encara sem entender.


— Como assim?

Sorrio diante da sua expressão de confusão.

— Um lar de idosos, todas as terças-feiras eu vou até lá e almoço


com eles.

— Eu vou com você.

Encaro-o sem reação.

— Como assim vai comigo?

— Preciso conhecer seus amigos, mesmo que eles tenham mais

de sessenta anos.

Reviro meus olhos, mas estou sorrindo. Conforme vamos para o

meu carro, o nervosismo me abandona. Não há motivos para estar


nervosa. Enquanto dirijo até o lar, eu falo para Josh sobre o que ele irá

encontrar no lar, sobre as pessoas, inclusive sobre Phillip.

Nós chegamos, Josh faz um breve cadastro na recepção e vamos

para área de convivência. Nós caminhamos de mãos dadas e é assim que


entramos no cômodo, somos recebidos por olhares curiosos.

Cumprimentamos alguns moradores do lar e os apresento a Josh, eu o

apresento como meu namorado e isso me deixa contente.

Josh sorri e claro conquista a maioria das senhoras. Deixo Phillip


por último propositalmente. Ele está sentado em uma poltrona lendo um
livro, aposto que ele está fingindo o desinteresse. Josh e eu puxamos duas

cadeiras e nos sentamos de frente para Phillip, ele olha para nós dois,
suspira e deixa seu livro sobre suas pernas.

— Bom dia, Phillip.

Sorrio animada e ele apenas curva seus lábios em uma linha fina.

— Bom dia, Dakota.

Ele olha para o cara ao meu lado e estreita seus olhos.

— Esse é o seu idiota?

Josh ri e eu encaro Phillip indignada. Eu estava esperando o


surpreender.

— Como você sabe?

Vira-se para mim e me encara presunçosamente.

— Seria uma questão de tempo até você aparecer com ele aqui.

— Dá de ombros. — Eu falei que ele estava apaixonado por você.

Nós três rimos e Phillip nos faz explicar como assumimos que

estamos apaixonados, Josh e eu fazemos um resumo e omitimos certas

partes. Quando os funcionários avisam que o almoço está pronto,


seguimos para o refeitório e nos sentamos ao redor de uma mesa,

continuamos conversando, e logo Phillip e Josh se tornam melhores


amigos assim que o Phillip revela que é um jogador de futebol americano

aposentado.

Após o almoço, nos despedimos de Phillip e do restante do

pessoal, e de mãos dadas, seguimos para meu carro. Eu dirijo de volta


para o campus e Josh vai me provocando sobre o fato de desabafar sobre

ele para um senhor de setenta anos. Ele nunca mais esquecerá isso. 

Assim que paro no estacionamento do prédio de artes cênicas


onde Josh deixou seu carro, soltamos nossos cintos e nos inclinamos um

na direção do outro. Sua mão se infiltra por entre os fios do meu cabelo e

sua boca cobre a minha.

Caralho, eu precisava desse beijo.

Rápido demais ele se afasta e protesto, Josh ri.

— Eu preciso ir. — Olha em meus olhos, segura meu rosto entre

suas mãos, então morde meu lábio inferior e se afasta. — Até mais tarde,

princesa.

— Até mais tarde, Josh.

Ele deixa meu carro, apoio minha cabeça contra o bando e

suspiro. Quantas horas falta até o nosso próximo encontro?

Eu vou para a aula, porém a única coisa que consigo pensar é


quanto tempo falta para nos vermos mais uma vez. Estou tão ansiosa que
passo boa parte do tempo batendo com minha caneta sobre meu caderno

e conferindo o horário em meu celular.

Ao fim da tarde, assim que minha aula termina, pego minhas

coisas e apressada sigo para o prédio de artes cênicas. Mesmo sabendo

que demorará alguns minutos para Josh chegar.

Eu me sento no palco com as costas apoiadas na parede, como


estou muito tensa, não pego meu livro, porém os minutos parecem se

arrastar. Inquieta pego o livro na mochila e tento me distrair com a

leitura. E eu consigo tanto que não escuto a porta sendo aberta, só noto
que Josh chegou quando sua voz ecoa pelo auditório.

— É um dos seus livros pornográficos?

Coloco o livro ao meu lado e fico em pé.

— Meus livros não são pornográficos.

Ele ri, joga a mochila sobre uma das poltronas e pula até estar

sobre o palco.

— Não foi isso que descobri quando li uma parte de um deles.

Ergo minhas sobrancelhas.

— Quando você leu meus livros?

— Enquanto, você tomava banho no sábado.

— Isso é invasão de privacidade.


Ele ri e se aproxima.

— Desculpe, mas estava curioso sobre o que você tanto lê.

Assim que está perto o suficiente, traz suas mãos até minha

cintura e me puxa em sua direção. Espalmo minhas mãos em seu peito e


como acontecesse toda vez que estamos juntos, cada célula em meu

corpo desperta e juro que o ar ao nosso redor muda. Esqueço-me

completamente sobre o que estávamos conversando.

Seus olhos passeiam pelo meu rosto e os fixa em meus lábios.

— Eu acho que está no momento de treinarmos o beijo final.

Minha respiração falha e uma onda de antecipação percorre pelo

meu sistema nervoso.

— Você acha?

Sussurro, Josh diminui a distância entre nós e seus lábios

praticamente encostam nos meus.

— Eu tenho certeza.

Sua boca cobre a minha, fecho meus olhos e levo minhas mãos
até seu pescoço. Ele desce suas mãos e toca minhas coxas. Nunca fui tão

feliz por ter escolhido vir de vestido para universidade.

Ele continua com seus lábios nos meus quando me impulsiona

para cima e enrolo minhas pernas ao redor da sua cintura. Josh me leva
até a mesa que há no canto no palco e me coloca sentada sobre ela, ele
afasta sua boca da minha e desce beijos pelo meu pescoço.

Apoio minha mão na madeira e me inclino para o lado,

facilitando seu acesso à minha pele. Seus dedos tocam minha coxa e
empurram meu vestido para cima. O fato de podermos ser pegos por
alguém me excita e não paro quando aproxima seus dedos da minha

calcinha, pelo contrário abro ainda mais minhas pernas.

— Porra, Dakota.

Sigo de olhos fechados e levo minha mão livre até sua cabeça.
Ele empurra minha calcinha para o lado e seus dedos me encontram

molhada.

— Você está tão molhada, princesa.

Um de seus dedos brinca com meu clitóris e inclino meu corpo na

sua direção.

— Me faça gozar em seus dedos, Josh.

Choramingo.

— Seu pedido é uma ordem.

Seus dedos entram em mim e um gemido escapa dos meus lábios.


Josh me fode com seus dedos, sua boca volta a cobrir a minha e ele
sufoca os sons que deixam minha boca enquanto gozo em seus dedos.
O prazer e a plenitude dominam meu corpo, apoio minha testa em
seu ombro enquanto as explosões em meu interior cessam. Josh retira
seus dedos dentro de mim, coloca minha calcinha no lugar e posso o

escutar chupando seus dedos.

Ao abrir meus olhos, me deparo com a minha correntinha ao

redor do seu pescoço.

— Quando você irá devolver a minha correntinha?

— Eu não vou, ela é minha agora, assim como você.


 

Josh

— Realmente acho que vocês combinam. — Continuo encarando


a garrafa de cerveja que tenho em mãos. O que acontece se eu matar meu
melhor amigo? — Dylan e Dakota, não seriam perfeitos um para o outro,

bonitinha?

Quem precisa de um melhor amigo? Ergo meu olhar e encaro


Abby e Brooke que estão à minha frente. Estamos todos na cozinha,

porque Brooke e Abby decidiram que iriam preparar um jantar e

chamaram Dakota, agora as três meninas estão em pé cozinhado


enquanto estamos sentados e bebendo cerveja.
Faz duas semanas que Dakota e eu estamos juntos e

consequentemente duas semanas que estamos fingindo para nossos


amigos que não temos nada um com o outro. E até então tinha sido

péssimo, mas suportável, porque não tínhamos nos reunido com eles,

entretanto agora nesse momento está insuportável. Estamos os sete


reunidos e preciso me controlar para não ficar encarando Dakota, além

disso não posso tocá-la e para piorar, agora Ethan está dizendo que a

minha namorada combina com Dylan.

Eles estão insistindo nesse assunto outra vez para meu desespero.

Esse jantar foi uma péssima ideia.

— Vamos marcar um encontro, Dakota, o que acha?

Viro-me para Dylan e o encaro com uma vontade imensa de

mandá-lo calar a boca.

— Nós não daríamos certos, Dylan.

Dakota para meu alívio recusa o convite do meu amigo que segue

rindo. Ele não parece muito preocupado com sua negativa.

— Vocês são perfeitos um para o outro.

Brooke os incentiva. Meu Deus, eu não vou ter paz hoje?

— Poderíamos sair em casal.


Aiden que está ao meu lado comenta. Realmente, não terei paz
hoje. Eu olho em frente, encaro Dakota e bebo minha cerveja. Ela está

usando um short curto, um moletom, está de chinelos, sem maquiagem

nenhuma e cabelo preso em um rabo de cavalo. Ela está linda e para

piorar, minha situação está sorrindo.

Caralho, era para ser uma brincadeira com nossos amigos, não

uma tortura para mim.

— Aproveite que Dylan foi eleito o melhor entre nós. — Ethan

continua oferecendo Dylan a Dakota. — Ou é ele, ou é Josh.

Meu nome é dito com deboche. Olho para meu melhor amigo que

está ao lado de Aiden e ergo meu dedo do meio em sua direção.

— Eu sou um ótimo partido.

— Você quebrou os corações da metade das meninas dessa

universidade, Josh.

Aiden me acusa e respiro fundo. Tudo bem, já entendi que estou

pagando todos meus pecados nessa noite.

— A metade dos corações da universidade?

Dakota pergunta curiosa. Olho na sua direção e dou de ombros.

Foi antes dela e ela sabe que eu estava tentando consertar o meu próprio

coração.
— Nosso amigo aqui foi eleito o maior cafajeste da faculdade.

Aiden bate em minhas costas e faço uma careta. Eu não posso

nem me defender, porque minha fama de cafajeste sempre foi algo que

me vangloriei.

Esse dia só piora.

— É, mas existe um boato que ele brochou com uma garota.

A voz de Dylan ecoa pela cozinha e todos ficam em silêncio.

Merda! Sempre tem como uma situação ficar pior. Meus amigos e as
namoradas deles olham em minha direção e eu olho para Dakota, ela dá
de ombros e me encara como se fosse inocente.

— Isso é mentira, invenção de uma garota.

— Por que ela inventaria algo assim?

Dakota tem a coragem de perguntar. Agora estamos provocando


um ao outro?

— Garotas apaixonadas tomam atitudes extremas.

Sorrio malicioso, essa parte é divertida, porque nossos amigos


estão pensando que estamos apenas brigando.

— Josh, você às vezes é tão idiota. 

Dakota estreita seus olhos e dou de ombros.

— Faz parte de quem eu sou.


Há um duplo sentido nas frases ditas por nós dois e é divertido

saber que somente nós dois sabemos exatamente o que está acontecendo.
Ainda estou a encarando quando Dylan fica em pé, dá a volta ao redor da

ilha e se aproxima de Dakota.

— Entre Josh e eu, acho melhor você ficar comigo, hein?

Ele passa seu braço pelos ombros de Dakota e a abraça. Ele está
tocando a minha garota.

— Vou pensar no seu caso.

Ela tem a coragem de o responder. Ah, Dakota...você que me

aguarde.

— Você está bem, Josh? Você está um pouco vermelho.

Olho para Dylan e sorrio.

— Estou ótimo.

— Que bom.

Meu amigo pisca em minha direção e tudo que continuo pensando

é que ele continua abraçado a Dakota. Antes que eu cometa um


assassinato, Dakota se desvencilha de Dylan, que volta para seu lugar.

Bebo o restante da cerveja que há em minha garrafa e volto a

respirar.
As meninas terminam de preparar o jantar e assim que tudo está
pronto, levamos as travessas para a mesa do quiosque e jantamos no
jardim. Nossas risadas ecoam pelo espaço aberto e aproveitamos o tempo

um com o outro. Apesar de apenas Aiden e Ethan compartilharem o


mesmo sangue, somos uma família.

Mesmo depois de jantarmos, permanecemos ao redor da mesa


bebendo. Meu olhar sempre procura por Dakota e quando ela fica em pé,

um alarme soa em minha mente. Ela deixa a mesa e segue para dentro de
casa. Minutos depois, faço o mesmo e a sigo. Dakota está na cozinha
pegando algo na geladeira, porém desiste ao perceber a minha presença.

Trocamos um olhar e faço um gesto para ela me seguir.

Estamos no corredor ao lado da sala, então me viro, seguro sua

mão com a minha e puxo para o banheiro. Assim que entramos, fecho a
porta, ergo minha mão e seguro seu rabo de cavalo.

— Vou pensar no seu caso.

Repito com desdém a frase que ela disse para Dylan.

— Apenas uma brincadeira, querido.

Dakota sorri e seus olhos brilham maliciosos. Puxo seu cabelo


para o lado e ela inclina seu pescoço, então abaixo meu rosto e passo

minha língua pela sua pele.


— Não gostei dessa sua brincadeira.

Dakota suspira, dá um passo para trás e apoia sua bunda contra o

balcão da pia, então ergo meu rosto e minha boca encontra a sua. Beijo
com furor e só me afasto quando espalma suas mãos em meu peito.

— Não precisa ficar com ciúmes, Josh, eu sou só sua.

Abro meus olhos e encontro os seus. Dakota me empurra até que

eu tenho as costas contra a parede, então se abaixa e fica de joelhos à


minha frente.

— Só sua.

Repete enquanto abaixa minha calça e cueca.

— Caralho, princesa.

Ela mantém o olhar em meu rosto enquanto toca-me e aproxima

sua boca da minha ereção. Perco a noção de tudo quando me toma em

sua boca, esqueço que nossos amigos estão no jardim, que estamos no
banheiro da minha casa e que sequer fechei a porta.

Dakota me leva ao mais profundo que consegue, eu enrolo meus

dedos ao redor dos fios do seu cabelo, apoio minha cabeça contra a

parede e gemidos escapam dos meus lábios.

Ondas de excitação percorrem meu corpo e me concentro apenas


na sensação de ter a sua boca em volta de mim. Ela continua até que não
consigo mais segurar e gozo, ela engole tudo, então sobe minha cueca e

calça e se afasta.

Quando abro meus olhos, ela está à minha frente com o rosto

vermelho e os olhos brilhando.

— Não importa como, mas essa noite não termina aqui, Dakota.

Ela sorri e volta a espalmar as mãos em meu peito.

— Pode apostar que não termina aqui.

Beija meus lábios e antes que possa aprofundar o beijo, dá um

passo para trás.

— Vamos voltar que já demoramos demais aqui.

Assinto e aponto para seu cabelo.

— É melhor arrumar seu cabelo.

Dakota se vira e arruma se cabelo enquanto encara o espelho. Eu


aproveito sua posição para olhar para sua bunda.

Não importa como, ou que faremos, mas essa noite ela ficará

comigo.

Como estamos nessa idiotice de enganarmos nossos amigos, só


dormimos juntos quando Brooke e Abby estão com Aiden e Ethan, então

eu vou até sua casa e compartilhamos sua estreita cama de solteiro.


Nossa sorte é que Abby e Brooke passam muitas noites com meus

amigos.

Dakota arruma seu cabelo e deixa o banheiro, eu demoro mais

alguns segundos para ninguém desconfiar. E logo que cruzo do corredor


para sala, deparo-me com Dylan apoiado na lareira e com Dakota à sua

frente. Ela olha para mim e sorri debochada.

— Ele acabou de descobrir nosso segredo.

Viro-me para Dylan.

— Vocês são péssimos mentirosos e você é muito ciumento.

Dou de ombros.

— Nunca mais abrace a minha garota.

Ergue suas mãos para o alto e sorri.

— Ok, ok.

Sorrio satisfeito e ele abaixa suas mãos.

— Vocês são péssimos mentirosos, não sei como ninguém ainda


desconfiou.

Dakota aponta em sua direção.

— Não conte para ninguém.

Ele assente.
— Pode deixar.

Dylan caminha em nossa direção e voltamos os três para o jardim.


Aparentemente ninguém desconfiou do nosso sumiço. Ficamos o restante

da noite com nossos amigos e para nossa sorte, Dakota volta sozinha para

casa, então minutos depois sigo para o meu carro e dirijo para seu

apartamento.

...

Entrar em um jogo sabendo que sua garota está assistindo é


diferente, é mais emocionante e sinto uma vontade ainda maior de

vencer. Quero que ela sinta orgulho de quem eu sou e do que eu faço.

Talvez seja algo totalmente idiota, mas estar apaixonado faz com que
tenhamos ações e gestos inexplicáveis.

Sigo pelo campo até meu lugar e a maioria dos presentes no

estádio chama pelo meu nome. Adrenalina percorre meu corpo e ocupo
meu espaço de frente para o rebatedor do time adversário e para o meu

receptor. Meus colegas de time, os outros oito, também se posicionam e

ficamos nove contra um.


O jogo é contra os Bulldogs, time da Universidade da Geórgia, e

inicia a temporada de fato. Começar ganhando será a motivação que

precisamos.

Eu preciso ganhar, por mim, pelo meu time e por Dakota.

Coloco minhas luvas e arremesso cada bola como se fosse a

última bola da minha vida. E consigo eliminar dois rebatedores em

sequência, o terceiro consegue avançar uma base, porém não deixo que o
time adversário conquiste a segunda base.

Comemoro a vitória do primeiro turno e ao deixar o campo, olho

pelo estádio à procura de Dakota, claramente não a encontro, porque as

luzes estão fortes demais e há muitas pessoas.

Perdemos o segundo turno, porque o arremessador dele é quase

tão bom quanto eu. Eu volto para o jogo no terceiro turno e vencemos.

No quarto, sento-me novamente no banco e assisto nossos rebatedores

tentarem conquistar as bases e mais um ponto.

Vencemos o quarto, o quinto perdemos, porém o sexto e sétimo

ganhamos e garantimos a nossa vitória. Estamos em êxtase,

comemoramos com nossa torcida e gritando vamos para o vestiário.

Enquanto estamos no vestiário, o caos é garantido, gritamos,

cantamos e pulamos nos bancos. Depois de finalmente tomar um banho,


marco de encontrar com os caras no Crimson Giants e vou para o

estacionamento.

Estou sorrindo e meu sorriso amplia ainda mais quando me

deparo com Dakota, Abby, Ethan e Dylan em frente ao meu carro, porém

é em Dakota que fixo meu olhar.

Ignorando totalmente nossos amigos e o fato de não saberem


sobre nós dois, Dakota corre em minha direção e se joga em meus

braços, eu a seguro enquanto ela enrola suas pernas ao redor da minha

cintura. Ela apoia sua testa na minha e nós dois sorrimos.

— Parabéns, capitão.

— Obrigado, princesa.

Sua boca cobre a minha e nos perdemos em um beijo apaixonado.

Um beijo seu era tudo que faltava para a noite ficar perfeita.

— Oh, meu Deus!

Nós separamos e rimos ao ouvir a voz de Abby.

— Vocês estão juntos?

Ethan parece tão incrédulo quanto a namorada. Dakota se


desvencilha de mim, coloca seus pés no chão e se vira para nossos

amigos, eu passo meu braço pela cintura e abraço enquanto apoia suas

costas em meu peito.


— Faz quase três semanas.

Dakota revela para nossos amigos que seguem nos encarando

surpresos.

— E você estavam nos enganando?

Ethan parece realmente chateado, olho para meu melhor amigo e

sorrio.

— Não leve para o pessoal, o único que sabe é Dylan, porque ele

descobriu antes de vocês.

— Não sei como eles te enganaram, porque eles são péssimos em

disfarçar.

Dylan os provoca e Abby revira seus olhos.

— Eu merecia mais respeito, Dakota, sou sua melhor amiga há


anos.

Dakota se desvencilha de mim, vai até a miga e abraça.

— Foi apenas uma brincadeira.

Abby e Ethan continuam resmungando, inclusive enquanto vamos

para o bar. Eles vieram com Aiden, mas como Brooke passou mal, eles
foram embora.

Terminamos à noite de quarta-feira em um bar e Dakota e eu não

conseguimos esconder que estamos juntos, não mais.


 

Dakota

Pela primeira vez em quase três semanas, acordo na cama de


Josh, abro meus olhos e ele me aperta ainda mais contra seu corpo, ergo
meu rosto e o encontro com olhos abertos.

— Bom dia, princesa.

— Bom dia.

Volto a me deitar em seu peito e ficamos em silêncio enquanto

sobe e desce suas mãos pelas minhas costas.

— Finalmente, todos sabem sobre nós.


Sorrio diante da sua animação.

— Nem todos, falta Aiden e Brooke.

— Depois de ontem? Eu te beijei naquele bar e metade da

universidade estava presente, com certeza seremos a fofoca em todo o

campus.

— Eu sou quase namorada de uma pessoa famosa.

Beija o topo da minha cabeça.

— Quase isso, princesa.

Nós voltamos a ficar em silêncio e dessa vez, só o interrompemos


quando o meu celular desperta. Josh suspira e eu o desligo.

— Falta muito para as férias?

Resmunga, eu me desvencilho dele e me sento.

— Não muito, algumas semanas, quatro para ser mais exata.

Ele faz uma careta.

— Não sei se eu fico feliz pelas férias, ou triste pelas provas que

estão se aproximando.

Ergo minhas mãos e tento fazer um coque, mas meu cabelo está

todo embaraçado.

— Eu preciso de um banho.
Sorri malicioso.

— Banho?

— Banho.

Concordo com ele, então Josh dá um pulo da cama, pega-me em

seus braços e me carrega para o banheiro. Não é um simples banho, nada

quando estamos juntos é simples. Josh sabe exatamente onde me tocar,

seus beijos são o suficiente para me fazer desejar mais e nosso encaixe é

perfeito.

Demoramos um tempo sob o chuveiro e quando saímos, estamos

atrasados, como preciso passar em meu apartamento antes de ir para o

campus, não conseguirei chegar a tempo da minha primeira aula.

Olho para Josh enquanto nos vestimos e faço uma careta.

— Você é uma péssima influência, eu nunca faltei um dia de aula

antes.

Ele coloca uma das suas calças jeans e me encara sem nenhuma

culpa.

— Eu não estou nem um pouco arrependido.

Balanço a cabeça, porém também não estou arrependida.

Nós terminamos de nos vestir e saímos do seu quarto, então

encontramos Ethan e Abby na cozinha e tomamos café com o casal,


ficamos um tempo com nossos amigos sendo interrogados sobre nosso

relacionamento, em seguida deixamos sua casa e Josh dirige até meu


apartamento para que eu possa trocar de roupa.

Josh me espera no carro enquanto eu troco de roupa, esbarro com


Aiden e Brooke, minha amiga continua enjoada e nenhum deles

menciona Josh e eu, acho que ainda não ficaram sabendo da fofoca.

Eu desejo melhoras para Brooke, peço para que ela me ligue caso
precise de algo e volto para o carro de Josh, ele dirige para o prédio de

artes cênicas e vamos para a aula de teatro.

Nossa aula se resume em ensaiar a peça e a tirar nossas medidas

para os figurinos. Dayse nos mostra os desenhos das roupas e estão


incríveis. Estou começando a ficar empolgada, principalmente, porque

não me sinto mais sozinha, não tenho mais medo, pois Josh está comigo.
Ele é a minha âncora, é nele que mantenho meus olhos.

Nossa química no palco é incrível e a cena da dança no baile está


de arrepiar.

Nós almoçamos juntos e como minha aula da tarde é cancelada,


eu vou com ele para o seu treino, sento-me na arquibancada e leio meu
livro enquanto ele treina.
Ele segue para o vestiário assim que o seu treinador encerra o

treino e eu fico o esperando. Josh não demora a me encontrar com cabelo


molhado e cheirando a sabonete, então guardo meu livro e fico em pé, ele

passa seu braço pelos meus ombros e beija a lateral da minha cabeça.

— O que você achou do treino?

— Sendo sincera, eu estava mais interessada no meu livro.

Nós dois rimos e seguimos para a saída do estádio. Alguns dos

seus colegas de time passam por nós dois e provocam Josh por ele estar
namorando, ele apenas dá de ombros e vamos para seu carro.

— Agora que estamos juntos, todos irão saber que seu boato
sobre eu ter brochado era falso.

Ele me provoca enquanto liga o carro e o encaro com falso


desdém.

— Você está realmente preocupado com isso?

Josh balança a cabeça e nega.

— Não mais.

Sorrio satisfeita e olho em frente.

— Acho bom.

Josh dirige para o prédio de artes cênicas e vamos conversando


sobre como o beisebol é importante para ele. O quanto representou em
sua vida entrar para o time, ele me conta que até tentou jogar futebol
americano, mas odiava o treinador.

Assim que entramos no auditório, vamos para o palco e ficamos


um de frente para o outro.

— Sabe o que eu mais gosto nessa peça?

Ergo minhas sobrancelhas.

— O quê?

— O fato de ela ter tudo a ver com a gente.

Encaro-o sem entender.

— Como assim?

Ele ri e caminha ao redor de mim de um lado para o outro.

— Emma assim como você, é mais tímida, doce, tem esse ar de


princesa em torno de si, é decidida, apesar de delicada, tem respostas

afiadas e não abaixa a cabeça para ninguém.

Ele tem razão.

— E o duque é como você, já teve seu coração partido e se


mantém distante, fingindo ser um cafajeste e um libertino, aparenta para

todos a arrogância quando na verdade tem um coração de ouro. — Josh


assente. — A história do duque e de Emma só é tão bonita e intensa,
porque ele tem um passado.
Josh me encara pensativo.

— Você está falando que se não tivesse um passado, eu não teria

me apaixonado por você?

Dou de ombros, assim como ele começo a caminhar em círculos e


continuamos nos encarando.

— Estou falando que não seria tão especial, não iriamos valorizar

tanto o que sentimos. Tudo o que vivemos nos trouxe até aqui.

Josh assente, para e me estende a sua mão. Coloco meus dedos

sobre os seus e ele me puxa para perto.

— Sorte a minha que encontrei você, princesa.

Josh e eu nos posicionamos na posição da dança do baile e


mesmo sem música, começamos a dançar. Seu olhar segue fixo no meu e

criamos nosso próprio ritmo.

Ele ergue nossas mãos, eu giro e quando volto ao meu lugar, meu
olhar encontra o seu e nós dois começamos a rir, nossas risadas ecoam

pelo auditório.

Estar com Josh é fácil, é natural, meu coração segue acelerando

quando ele está com perto, mas também se tranquiliza, se acalma,


encontro nele tudo que preciso.

Eu o amo.
Apesar de chegar a essa conclusão, mantenho as palavras só para

mim, pelo menos por enquanto. Direi que o amo no momento certo.

...

Pelas próximas duas semanas, as palavras continuam sendo só


minhas, não porque tenho medo, ou receio de que ele não sinta o mesmo

que eu, porém quero que seja especial.

São duas semanas turbulentas e repletas de acontecimentos,


primeiro, Aiden e Brooke descobrem que serão pais e surtam, nós como

bons amigos, os apoiamos. Em seguida, há um jogo de beisebol na quarta

e perdemos, o que deixa Josh de mau humor, é na quarta-feira e no dia

seguinte, na quinta de ação de graça, tentamos o animar com um almoço,


ele até se distrai, mas na sexta-feira, volta a choramingar como um bebê.

Deus, ser namorada de um atleta não é fácil.

Seu humor só melhora na sexta à noite, porque vamos para uma


festa e transamos no banheiro. Apesar da sua melhora, não acho que

dizer que o amo enquanto fazemos sexo em um banheiro alheio seja algo

especial, nem no dia seguinte quando acordamos de ressaca.


No sábado Brooke e Aiden, que estavam na casa dos pais,

retornam e nos mostram a primeira ultrassonografia do bebê. E

descobrimos que eles ainda não sabem sobre nós, então decidimos
continuar os enganando, inclusive Ethan, Abby, Dylan, Josh e eu

apostamos quanto tempo eles irão demorar para descobrir.

Os ensaios da peça continuam e estamos cada vez melhores,

Dayse descobriu que somos um casal e está radiante, segundo ela, somos
perfeitos juntos. Eu não discordo. O dia do festival de talentos se

aproxima e apesar de começar a ficar ansiosa, não estou com medo,

tenho certeza de que tudo dará certo.

E na quinta-feira da segunda semana, Brooke descobre sobre nós

dois, quer dizer ela pega Josh em nosso apartamento, então digo que

estamos juntos, porém omito a parte de que todos já sabem, porque se ela

souber que todos sabem, com certeza irá contar para Aiden. A intenção é
surpreender o jogador de hóquei de alguma forma, porém vamos ver o

jogo de hóquei pela noite e Aiden e Brooke protagonizam uma cena

muito fofa, o que faz com que todos os casais presentes se beijem, é claro
que Josh e eu não somos uma exceção. Foda-se, não conseguimos mais

nos manter longe um do outro.

Nós vamos para o bar comemorar a vitória do time de hóquei e

não nos mantemos afastados, assim que Aiden percebe que estamos
abraçados, encara-nos perplexo. Ele é quem ficou mais surpreso dos

nossos amigos por estarmos juntos. Nós sete escolhemos uma mesa e
revelamos para Aiden e Brooke que todos, com exceção deles, sabiam

sobre nós, Brooke me acusa de ser uma falsa por não ter contado toda a

verdade pela tarde.

Enquanto bebemos, continuamos provocando um ao outro e o


próximo alvo é Dylan, o único solteiro entre nós. Ele está bêbado e deixa

escapar a informação de que é virgem. Todos ficamos em choque, com

exceção de Ethan que já sabia da informação, perguntamos se é alguma


promessa e ele nega, apenas diz que não quer se envolver com ninguém,

porém há uma sombra em seu olhar. O que Dylan esconde?

Nosso próximo tópico, após conseguirmos superar o fato de


Dylan ser virgem, é Aiden e Brooke sendo pais e a mudança deles, os

dois estão procurando um apartamento para morarem juntos. É surreal

pensar que daqui a alguns meses haverá uma criança entre nós, é difícil

de imaginar a cena, porém há alguns dias seria impossível imaginar


Brooke bebendo suco ao invés de álcool, quem diria?

Josh e eu nos divertimos com nossos amigos e terminamos nossa

noite em seu quarto. Assim que ele fecha a porta, cobre minha boca com
a sua e nos beijamos com desespero. Sempre estamos desesperados um

pelo outro.
Afasta seus lábios dos meus, mas suas mãos seguem em minha

cintura e dá passos em frente me obrigando a ir para trás.

— Finalmente, todos sabem sobre nós dois.

Suspira aliviado, eu sorrio e puxo seu moletom para cima.

— Aposto que sentirá falta do nosso joguinho.

Apesar de tudo, foi divertido fingirmos que não estávamos juntos,

existe algo sensual em manter segredos. Jogo seu moletom para longe e

seu olhar volta a encontrar o meu.

— Talvez, mas saber que poderei beijar e tocar você em qualquer

momento compensa qualquer joguinho.

Sobe suas mãos pelo meu corpo e é a sua vez de tirar o moletom
do meu corpo. Nós dois não falamos mais nada e nos concentramos em

tirar as roupas um do outro.

Assim que estamos ambos nus, Josh me vira e fico com as costas

apoiadas em seu peito, então suas mãos apalpam meus seios, passeiam
pela minha barriga, entre minhas pernas até que seus dedos adentram

meu corpo. Gemidos escapam dos meus lábios e fecho meus olhos.

E quando estou quase me desfazendo, ele para. Protesto e Josh

afasta os meus cabelos para o lado e aproxima sua boca da minha orelha.

— Só vai gozar quando eu quiser.


Sua voz rouca e carregada de promessas me deixa ainda mais

excitada. Josh dá passos em frente e me empurra até a cama, então fico


de joelhos sobre o colchão e ele continua em pé colocando a camisinha.

Vibro de excitação e ansiedade. E quando estamos protegidos, sua mão

toca minha bunda, minha barriga, ajeita-me até estar na posição em que

ele quer e segura meu cabelo enquanto se guia para dentro de mim.

Nós dois gememos quando me preenche completamente, cada

investida sua e seguida de um tapa na lateral da minha coxa e as

sensações crescem abaixo do meu ventre, contraio os músculos do meio


das minhas pernas e me concentro ao máximo no prazer que domina as

células do meu corpo e da minha alma.

Seguro o lençol abaixo de mim com força e quando Josh traz seus
dedos até meu clitóris e o apertam, me desfaço e explosões acontecem

em meu interior.

Nada mais importa, nem Josh ainda investindo contra meu corpo,

nem suas mãos que continuam me tocando, nem quando atinge seu
próprio orgasmo.

Estou exausta, então assim que ele beija minhas costas e se afasta,

eu me jogo completamente na cama exausta e puxo um travesseiro e

adormeço.
Não faz muito que estou dormindo quando acordo com o som do
celular tocando, é o de Josh. Sigo de olhos fechados, ele atende e

conversa com alguém, ele troca breves palavras e as últimas me fazem

abrir os olhos.

— Obrigado, Gavin, daqui a duas horas eu estou aí.

Josh encerra a chamada, senta-se na cama com os pés no chão,

curva-se para frente e olha para baixo. Ele não parece bem.

— Aconteceu algo, Josh?

— Minha mãe morreu.


 

Josh

Uma parte em mim sempre soube que poderia receber uma


ligação de Gavin dizendo que minha mãe tinha morrido de overdose,
porém não esperava que fosse hoje, no meio da madrugada, depois de

uma noite incrível.

Dakota fica de joelhos na cama e paira logo atrás das minhas

costas, ela toca meu ombro e continuo encarando o chão tentando


entender o que estou sentindo.

— Eu sinto muito.

Suas palavras ecoam pelo quarto e pelo meu coração. Ela sente
muito e eu o que sinto? Não sei, há apenas um vazio em meu peito e uma

sensação distante de perda. Dakota se senta ao meu lado e ficamos em

silêncio pelo que parece uma eternidade. 

— O que você irá fazer?

Ela finalmente me pergunta e pisco algumas vezes. Eu preciso


fazer algo.
— O plano de saúde irá cobrir e fornecer o enterro e

sepultamento. — Passo as mãos pelo meu cabelo. — Eu preciso ir para


Birmingham.

Dakota toca meu braço.

— Ok, eu vou com você. — Assinto, mas nem sei se realmente


sei com o que estou concordando. — Josh, você está bem?

Eu olho para o lado e a encaro.

— Não sei. — Digo a verdade. — Não sei o que sentir, não sei o

que deveria estar sentindo.

Dakota fica em pé e me estende sua mão.

— Vamos para o banho.

Coloco minha mão sobre a sua, ela me puxa e me levanto, Dakota

me guia para o banheiro, como nenhum de nós está vestindo algo, vamos
direto para debaixo do chuveiro. Nós tomamos nosso banho em silêncio.

Não consigo parar de pensar. Minha mãe morreu. Nós nunca tivemos

uma relação de mãe e filho, mas era a minha mãe.

Dakota e eu deixamos o chuveiro depois de alguns minutos,

pegamos as toalhas e nos secamos. Com os tecidos enrolados ao redor

dos nossos corpos, voltamos para o quarto. Ela veste a roupa que estava
usando e eu escolho uma calça, cueca, camiseta e moletom em meu
guarda-roupa.

Não sinto vontade de chorar, mas lamento sua morte e o fato de


nunca ter tido uma vida realmente. Eu queria que tudo fosse diferente,

mas não foi. Infelizmente esse é o seu final e o nosso final.

— Josh. — Olho para Dakota, ela está vestida e segura a

maçaneta da porta. — Eu vou avisar os meninos.

Respiro fundo e balanço minha cabeça.

— Não precisa.

— Eles são sua família e irão querer estar lá com você.

Não espera por minha resposta, vira-se e deixa meu quarto.

Dakota está certa, eles são minha família e quero eles comigo. Enquanto
a espero voltar, arrumo uma mochila com algumas peças de roupa e me

sento na beirada da cama para colocar meus tênis.

Respiro fundo várias vezes e consigo colocar meus pensamentos

em ordem. Está tudo bem em estar sentindo o que estou sentindo. Está

tudo bem não ter lágrimas escorrendo pelo meu rosto, nem meu coração

despedaçado, estou triste e lamento, e adoraria que tudo fosse diferente,

mas não posso sentir muito mais que isso por alguém que nunca foi mais

do que um zumbi. 
Dakota volta para o quarto e para no batente da porta.

— Preciso passar em meu apartamento para pegar algumas

roupas. — Assinto. — Aiden e Brooke irão com a gente, Dylan e Abby

com Ethan, então buscamos minhas coisas e as de Brooke enquanto


Aiden e Brooke se organizam, na volta passamos e pegamos eles.

Mais uma vez, assinto e fico em pé. Pego minha mochila, deixo-a

em meu ombro e caminho na sua direção. Paro a sua frente e entrelaço


nossas mãos.

— Obrigado.

Trocamos um olhar repleto de sentimentos, ela aperta seus dedos

ao redor dos meus e seguimos até meu carro em silêncio, não há nada a
ser dito. Dakota e eu buscamos suas coisas e as de Brooke e voltamos

para pegar meu amigo e sua namorada.

Aiden aperta meu ombro e Brooke sorri, um sorriso triste e gentil.

O trajeto até Birmingham é realizado em silêncio. Nunca sabemos o que


falar diante da morte. 

No meio do caminho, Gavin me liga e como estou dirigindo,

conecto o celular no carro e todos ouvimos o que ele tem a falar. Ele foi
ver a sua mãe depois de sair de uma festa e acabou por passar na casa de

Scarlett, já que é do lado, e a encontrou desacordada no chão, ela já


estava morta, então ele ligou para o hospital e eles vieram a buscar. Nada

mais poderia ter sido feito.

Eu o agradeço e mais uma vez, lamento que tudo tenha que ter

acabado como acabou.

Assim que chegamos em Birmingham, dirijo para o hospital e eu

sou obrigado a responder um formulário para liberação do corpo. O


médico pergunta se quero a ver, mas recuso.

O administrativo do hospital aciona a funerária e assim que um


dos agentes chega, ele e eu somos direcionados a uma sala e ele me
questiona qual caixão irei escolher, roupa que ela deve ser enterrada,

como deve ser a cerimônia e todos os detalhes necessários.

É horrível, mas faço as escolhas da melhor forma possível. Ela

terá um enterro digno. Após tudo pronto, eles recolhem o corpo e como
opto por apenas o sepultamento, já que ela não tem tantos amigos assim e

nem família para algo mais longo, marcamos para daqui a quatro horas.

Deixo a sala e encontro meus amigos, inclusive Dylan, Ethan e

Abby, e Dakota no corredor, ela vem até mim e passa seus braços pela
minha cintura.

— Como você está?


— Ficarei bem. — Beijo seus lábios rapidamente, uno minha mão
a sua e olho para meus amigos. — O sepultamento será daqui a quatro
horas e o melhor é esperarmos na casa do meu pai.

Eles assentem, então olho para Dakota que faz uma careta.

— Não era assim que esperava conhecer seus pais.

— Nem eu, princesa, nem eu.

Nós deixamos o hospital, voltamos para nossos carros, eu ligo

para Tessa e conto o que está acontecendo e que estou indo para sua casa,
minha irmã lamenta e garante que estará me esperando. Então, seguimos

para a mansão do governador do Alabama.

Sinto Dakota tensa ao meu lado e seguro sua mão com a sua.

— Ficará tudo bem.

— Josh, sei que não é o momento, mas assim sou bem pobre
comparada a você, sou bolsista na faculdade e meu Deus, seu pai irá me

odiar.

Apesar da situação, sorrio.

— Você aceitará suborno?

— Lógico que não.

Acaricio sua pele com meus dedos.

— Então, não temos com que nos preocuparmos.


Ela apenas suspira e ficamos em silêncio o restante do caminho.
Brooke e Dakota comentam o tamanho da casa do meu pai assim que
estaciono em frente a mansão e Aiden e eu apenas rimos.

Ethan para logo atrás de mim e deixamos o carro, então Aiden e


eu pegamos as mochilas, eu entrelaço minha mão com a de Dakota e

seguimos até a porta. Eu aperto a campainha e segundos depois, minha


irmã abre a porta.

Tessa se joga em meus braços, então solto a mão da minha

namorada e abraço de volta. Sorrio ao tê-la tão perto. Tessa é minha

irmãzinha. Assim que se desvencilha de mim, vira-se para Dakota.

— Essa é Dakota, sua namorada?

Antes mesmo de respondê-la, ela está a puxando para um abraço.

Dakota ri e abraça minha irmã.

— Ela mesmo.

Sussurro. Tessa se separa de Dakota e volta a olhar na minha

direção.

— Sinto muito pela sua mãe.

Abraça-me mais uma vez e beijo o topo da sua cabeça

— Obrigado, fofinha.
Uso o apelido que usava quando éramos crianças, então ela se

afasta e soca meu ombro levemente.

— Não use esse apelido na frente dos seus amigos.

Nós dois olhamos para meus amigos e faço as apresentações.

— Adorei seu cabelo.

Abby aponta para as mechas azuis de Tessa e as duas trocam um


sorriso cúmplice. Eu me viro para Ethan e faço uma careta.

— Eu falei que as duas iriam se dar bem.

Ethan assim como eu, faz uma careta, por fim nós rimos e como
as apresentações foram feitas, deixamos a entrada da casa e seguimos

para a sala. Encontramos meu pai e minha madrasta sentados no sofá e os

dois ficam em pé com a nossa chegada.

— Sentimos muito, Josh.

John soa distante como sempre, não há abraço, porém pela

primeira vez em anos vejo algo em seus olhos além de frieza.

— Obrigado, pai. — Olho para minha madrasta. — Obrigado,

Lacey.

Os dois assentem.

— Podemos ficar aqui hoje?

— Claro, essa casa é sua também.


É meu pai a me responder. Assinto, agradeço-o e apresento meus

amigos, com exceção de Ethan e Aiden que ele já conhece. Dakota,

apresento como minha namorada, entrelaço minha mão com sua e ela
está tremendo, aperto seus dedos com os meus e espero que ela entenda

que nada será capaz de nos separar.

John os cumprimenta com um gesto com a cabeça, Lacey acena,

em seguida os dois pedem licença e se retiram. Tessa olha para nós sete e
sorri.

— Vocês estão com fome? Os funcionários preparam um café da

manhã.

Ela não espera pela nossa resposta e nos guia para a sala de jantar.
Sentamo-nos ao redor da mesa e comemos enquanto conversamos. Não

tocamos no assunto da morte e nem mantemos uma conversa divertida.

Apenas socializamos e ao fim, subimos para o segundo andar e nos


dividimos pelos quartos, Abby e Ethan ocupam um quarto, Dylan outro,

Aiden e Brooke o último e eu vou para meu quarto com Dakota.

Dakota entra no cômodo, caminha e olha ao redor. Eu me sento

na cama e a observo. Ela parece fascinada e gosto do brilho em seus


olhos.

— Não queria conhecer seu quarto em uma situação assim.


Vira-se para mim e sorrio.

— Está tudo bem.

Ela se aproxima e se senta ao meu lado.

— Tem certeza que tudo está bem?

Suspiro e olho em frente.

— Eu estou bem, talvez mais do que deveria, talvez devesse estar


chorando e sentindo mais, porém eu não a conhecia, eu lamento e estou

triste, mas é apenas isso. Não posso sentir muita falta de alguém que

nunca esteve presente.

Eu fiz o que pude por Scarlett, eu tentei a ajudar, sustentei seus

gastos e seus vícios, porém não podia a libertar, não se ela não quisesse.

— Se descobrisse que um dos pais biológicos morreu, eu ficaria

triste, porém não sentiria a ausência, porque nunca esteve presente.

Viro-me para o lado, seguro sua mão e beijo a lateral da sua

cabeça.

— Obrigado por estar aqui, por não me julgar e por não correr

para longe com a minha reação.

Apoia sua cabeça em meu ombro.

— Você não é frio por causa disso, Josh, sei disso, porque vejo

pela forma como ama a sua irmã e seus amigos.


Fecho meus olhos por alguns segundos e agradeço o universo por

ter colocado Dakota em meu caminho. Eu quero dizer que a amo, mas

Dakota, a minha garota que ama contos de fadas, não merece uma

simples declaração e em um momento como esse.

Nós seguimos no quarto, Dakota analisa cada detalhe enquanto eu

aviso os poucos vizinhos e amigos de Scarlett da sua morte. No horário

marcado, descemos e nos encontramos com nossos amigos, então vamos


para o cemitério.

Gavin está na entrada me esperando. Eu abraço meu amigo e o

agradeço por tudo, ele diz que fez o que eu faria por ele. Ele está certo.

Apresento Gavin a Dakota e quando um dos meus melhores amigos me


encara com suas sobrancelhas erguidas, dou de ombros. Eu disse que

nunca mais me apaixonaria e estava errado.

A cerimônia é rápida e ao final, jogamos rosas brancas sobre o


caixão, que ela vá em paz.

Não há vinte pessoas presentes, incluindo nós sete, minha irmã e

Gavin, porém é a presença de Laylah que me surpreende. Eu não sinto

nada ao encarar minha ex, nem raiva, nem saudade. Absolutamente nada
e quando ela se aproxima ao fim do enterro, Dakota beija minha

bochecha e se afasta com nossos amigos.


— Eu sinto muito por tudo.

Sei que ela não está falando apenas sobre a morte da minha mãe.

— Tudo bem, a vida aconteceu como tinha que acontecer.

Sorrio, porque não há ressentimento nenhum. Não mais.

— Tchau, Josh, e espero que você seja feliz.

Sorrio gentilmente.

— Tchau, Laylah, e espero que você também seja feliz.

Viro-me e me apresso até estar com minha família. Nós seguimos

para os carros e nos reunimos todos na casa do meu pai, até mesmo

Gavin. Nós vamos para a cozinha e almoçamos por lá mesmo. Após o


almoço, Gavin se despede e o levo até a porta.

— E como está a universidade?

Meu amigo faz direito em uma faculdade comunitária, porque não

quer deixar a mãe sozinha.

— Estou pensando em me transferir para Universidade do

Alabama, minha mãe disse que irá para reabilitação.

— Espero que dê certo, Gavin.

Ele assente.

— Eu também, Josh.
Gavin e eu nos despedimos com um abraço, ficamos de nos ligar
e fecho a porta. Ao entrar na sala, sigo para a cozinha, deparo-me com

meu pai subindo as escadas, porém ele para e olha em minha direção.

— Você está namorando.

Droga!

— Estou e pai, Dakota não é como Laylah.

Ele ri, um sorriso sem graça.

— Eu sei, eu soube no momento que vi ela olhando para você. —


Olha em meus olhos. — Ela gosta de você, é nítido na forma como te

encara.

Franzo minha testa e ele volta a rir.

— Você pode não acreditar, mas me importo com você e só fiz o


que fiz, porque sabia que aquela garota não gostava de você.

Ele se vira e sobe os degraus. Acho que essa foi a sua forma de
dizer que me ama.

Eu volto para a cozinha e como dispensamos os funcionários,


limpamos o que sujamos e assim que tudo está no lugar, subimos para os

quartos, porque estamos exaustos.

Dakota e eu nos deitamos em minha cama e ela adormece com

parte do seu corpo sobre o meu e com a lateral do seu rosto em meu
peito. Eu fecho meus olhos e permito minha mente desligar.

À noite acendemos uma fogueira em um lugar afastado da


propriedade e nós dois, nossos amigos e minha irmã nos sentamos ao

redor dela, Dakota está sentada entre minhas pernas e temos um cobertor
sobre nós. Conversamos sobre Tessa ir para Tuscaloosa e chegamos à
conclusão de que ela pode morar com a gente, já que Aiden se mudará

com Brooke.

Se Aiden e Ethan tivessem solteiros, seria uma péssima ideia, mas


como estão namorando e Dylan é Dylan, não há perigo nenhum.

Meus amigos e minha irmã continuam conversando, mas eu os

ignoro e olho para Dakota, ela se vira para mim e sorri.

— O que foi?

Seus olhos estão brilhando. A fogueira, o céu estrelado e a lua a

iluminam ainda mais.

— Obrigado por ser a minha esperança.

Dessa vez, ela não me pergunta o que estou querendo dizer. Ela
entende que ela é a minha esperança. Ela foi a responsável por quebrar

as barreiras ao redor do meu coração e me mostrar que sim poderia amar,


poderia ser amado. Nenhum destino esteve traçado pelo meu DNA, ou
por quem foram meus pais, ou pelo meu passado.
Ela me resgatou da escuridão que estive perdido por um tempo e
me deu expectativas de um futuro.
 

Josh

— Eu sou a obcecada por romance de época, mas é você que é


obcecado por essa peça.

Deixo o roteiro na cama ao meu lado e olho na direção da minha


namorada que acaba de entrar em meu quarto.

— A apresentação é amanhã e não quero esquecer nenhuma das

minhas falas.

Justifico-me e ela caminha até com um brilho malicioso em seus


olhos.
— Você sabe todas as suas falas de cor.

Dou de ombros.

— Relembrar nunca é demais.

Nós dois sabemos que estou mentindo, realmente sou obcecado


pela peça e perdi as contas de quantas vezes a reli.

— Confessa que você ama essa peça.

Dakota tira seus tênis, sobe na cama, aproxima-se e monta em

meu colo. Seguro suas coxas e sorrio.

— Ela me trouxe você.

Eu amo como ela reage às minhas frases bregas, seus olhos

ganham uma intensidade, seus lábios se curvam em um sorriso singelo e

suas bochechas ficam um pouco vermelhas.

— Nós teríamos nos encontrado de qualquer forma. — Traça

alguns círculos invisíveis em meu peito com a ponta dos seus dedos. —

Porque seu melhor amigo namora a minha melhor amiga.

Assinto, porque ela está certa.

— Devo confessar que gostei da peça desde o primeiro momento?

— Suspiro por fim e ela sorri vitoriosa. — Desde momento que nos vi

nos personagens e na história, eu confesso que fiquei meio obcecado por

ela.
Dakota ri.

— Eu amo o fato de você nos ver na história.

— Você não nos vê?

Dakota não está usando maquiagem o que me permite ver suas

sardas. Seu cabelo está solto e cai sobre o moletom rosa que está usando.

— Confesso que depois que você me falou que a peça lembrava a

nós dois, eu passei a enxergar certas semelhanças.

Franzo minha testa.

— Princesa, certas semelhanças? É como se Dayse tivesse se

inspirado em nós dois para escrever a peça.

Ela balança a cabeça e ri.

— Menos, Josh, bem menos.

— Emma é ruiva como você, o duque não tinha um bom

relacionamento com o pai como eu, eles tentaram se odiar por um tempo

e não conseguiram.

Ergo meus dedos conforme apresento meus argumentos para


Dakota, ela segue rindo e incrédula.

— Nós não fomos obrigados a nos casar.

— Mas fomos obrigados a sermos protagonistas de uma peça,

além disso até nossas personalidades são parecidas.


Ela ergue suas mãos para cima.

— Ok, Josh, há muitas semelhanças, melhor?

Subo uma das minhas mãos pelas suas costas até sua nuca, então

a empurro em minha direção, Dakota não oferece resistência e aproxima


seu rosto do meu até nossos lábios estarem quase se tocando.

— Bem melhor.

Encaro-a por alguns segundos, a energia ao nosso redor muda,

onde estamos nos tocando é como se existisse uma corrente elétrica. É


ela a tomar a iniciativa e cobrir minha boca com a sua, mas sou eu a ditar
o ritmo do nosso beijo, porque enrolo meus dedos ao redor dos fios do

seu cabelo.

Beijo-a como se estivéssemos dias sem nos vermos, porém a


verdade é que estávamos juntos ontem no último ensaio para a peça.

Minha língua duela com a sua, mordo seu lábio inferior, suas

mãos sobem pelo meu peito e meus dedos que seguem em sua coxa, a
apertam. Continuamos nessa pegação até que Dakota se afasta, ela tem os
lábios inchados e seu cabelo está uma bagunça.

— Como foi seu dia?

Pergunta-me enquanto passa as mãos pelos seus cabelos. Eu


continuo sentado com as costas contra a cabeceira e ela segue montada
em meu colo.

— Normal e o seu?

Ela suspira.

— Eu já disse que odeio o final de semestre?

— Muitas vezes nas últimas duas semanas.

Dakota faz uma careta e amarra seu cabelo em um coque.

— Então, vai escutar mais uma vez, eu odeio o fim de semestre,

hoje tive prova e precisei apresentar um trabalho.

— Não me contou que iria apresentar um trabalho.

Dá de ombros e morde seu lábio inferior por alguns segundos.

— Não queria criar expectativas e sabia que iria ficar preocupado.

Ergo minha mão e coloco algumas mechas do seu cabelo para trás
da sua orelha.

— E como foi?

Dakota sorri orgulhosa.

— Não fiquei tão nervosa, ainda não é algo que me sinto


confortável, porque essa sou, porém as aulas de teatro por incrível que

pareça realmente ajudaram. — Dakota soa tranquila e não há nenhuma


mágoa na forma como está falando. — Apesar dos professores
acreditarem que preciso socializar mais, não gostar de estar sempre
falando com pessoas que eu não conheço faz parte de quem eu sou, claro
que é bom aprender a superar alguns receios, mas não preciso ser

expansiva. Não preciso mudar para me encaixar em expectativas que


outras pessoas têm de mim.

Não há mais a sombra que antes existia em seu olhar, pelo


contrário, ela está determinada.

— Eu acho que você é super sociável, você só precisa conhecer a

pessoa.

Ela assente e espalma suas mãos em meu peito outra vez.

— Obrigada por ter me ajudado nesse processo.

Ergo minhas sobrancelhas.

— Eu ajudei?

— Sim, desde que me ajudou naquela aula quando entrei em

pânico, além disso, me ajudou a enxergar que não preciso ter medo da
rejeição e nem desejar ardentemente a aceitação.

Minhas mãos sobem e descem pela sua barriga e mantenho meus


olhos presos ao seu.

— Nós somos perfeitos juntos, princesa.


Dakota ri, curva-se para frente e mais uma vez, sua boca cobre a
minha. As palavras eu te amo estão implorando para serem ditas, mas
ainda não é o momento.

Reivindico seus lábios com os meus e espero que ela saiba que
seu coração é meu, assim como o meu é seu.

Continuamos nos beijando até que o som do meu celular tocando

ecoa pelo quarto, então somos obrigados a nos separar e pego o aparelho
que está no cômodo ao lado da cama.

Para minha surpresa, é meu pai, aceito a chamada e trago o

celular até minha orelha. Trocamos algumas palavras cordiais e


conversamos sobre a mudança de Tessa e ao fim, antes de desligar,

pergunta se irei para casa no Natal, respondo que ainda não sei, porque

não esperava pelo seu questionamento.

John encerra sua ligação dizendo que espera que eu vá para o


Natal e leve comigo minha namorada. Eu abaixo minha mão e encaro o

aparelho sem reação, sem saber o que pensar sobre sua atitude.

— O que seu pai queria?

Olho para Dakota e faço uma careta.

— Ele disse que espera que eu vá para casa no Natal e leve você

comigo.
Ela sorri animada.

— Talvez ele esteja querendo se aproximar de você.

Depois de 20 anos? Não sei se Dakota está certa, mas sua

intenção real é um problema apenas dele.

— Ou está pensando na sua eleição para Senador, mas não


importa. Não carrego mágoas, se ele quer se aproximar, estarei aqui, se

não quiser, tudo bem, posso seguir minha vida sem ele.

— Tão maduro.

Dakota me provoca, então estreito meus olhos, ela tenta fugir,


mas sou mais rápido e faço cócegas em sua barriga. Sua gargalhada ecoa

pelo quarto, ela grita para que pare e tenta se afastar, mas falha.

Quando paro, nós dois estamos sem fôlego e rindo. Dakota e eu

nos deitamos em minha cama e encaramos o teto por um tempo, até eu


me levantar e a puxar pela mão.

— Estou com fome, vamos ver se alguém cozinhou nessa casa.

De mãos dadas, saímos do meu quarto e descemos para a cozinha,

para nossa sorte, encontramos nossos amigos e Dylan está preparando o


jantar. Rimos, conversamos e nos provocamos, como uma família.

Antigamente, minha noite de sexta-feira, assim como as dos meus

amigos seria em uma festa, mas tudo mudou.


Após jantarmos, Dakota e eu vamos até seu apartamento,

buscamos suas coisas, principalmente o figurino que irá usar amanhã na

peça e voltamos para minha casa.

Não há como explicar, mas é muito melhor quando ela está por
perto. Eu me sinto como se finalmente estivesse completo.

...

Nosso sábado é um caos, porque não é somente o dia do festival,


eu tenho um jogo e é importante, por causa da nossa última derrota.

Acordo ansioso e nervoso e meu mal humor só não é pior, porque Dakota

está ao meu lado e a todo momento me lembra de que dará tudo certo.

Eu espero que sim. 

O jogo é praticamente no horário da apresentação, nossa sorte é

que Dayse conseguiu para sermos os primeiros, então, eu irei me

apresentar e correr para o estádio, inclusive embaixo do terno e da camisa

que usarei na apresentação, estarei com meu uniforme.

E tudo isso ainda não é o mais importante do dia.

Após almoçarmos com nossos amigos, pegamos as nossas

mochilas com figurinos e todos os itens que usaremos na peça e vamos


para o centro de convenções do campus, onde irá acontecer o festival de

talentos.
Irá acontecer várias apresentações, então os camarins são

divididos por divisórias móveis, o espaço que temos é pequeno, mas é o


suficiente, apenas as roupas que precisamos ir ao banheiro para

trocarmos.

Dayse caminha de um lado para o outro com seus alunos de pós-

graduação, eles estão nos ajudando e supervisionando. Ela está animada e


não é a única, nós nos empenhamos, ensaiamos e estamos empolgados.

Como seremos os primeiros, organizamos o palco, Dayse

organiza a troca de cenário e haverá pessoas designadas apenas a isso.


Conforme os minutos passam, o horário da apresentação se aproxima e

iniciamos a parte de caracterização.

Sento-me em uma cadeira e a pessoa responsável por arrumar os


cabelos se aproxima e passa muito gel nos meus fios, em seguida sou

liberado, então vou para o banheiro, coloco meu uniforme e por cima a

camisa branca e o blazer, por fim, calça preta, além de calçar os meus

sapatos pretos.

Ao olhar para espelho, quase não me reconheço e posso jurar que

sai de um dos livros da Dakota. Ela com certeza irá amar a minha

caracterização.
Ao voltar, não a encontro, alguém me diz que ela está trocando de

roupa e vou até o corredor que leva até os banheiros e a espero apoiado

na parede.

Eu estou nervoso e não é apenas pela peça, é o que o todo


significa. É bem mais que uma apresentação.

Assim que Dakota deixa o banheiro, meus pensamentos

desaparecem e meu mundo se reduz a ela. Ela está caracterizada de


Emma e Deus, ela está linda. A maquiagem é simples e natural, seu

cabelo está preso em um coque com alguns fios ao redor do seu rosto e o

vestido azul é como de uma princesa.

A minha princesa.

Seu olhar encontra o meu e ela caminha em minha direção com

um sorriso em seus lábios. Assim que está perto o suficiente, estendo

minha mão e Dakota coloca seus dedos sobre os meus.

— Você está linda, como uma princesa.

Ela sorri e percorre meu corpo com seu olhar.

— Você também não está nada mal.

Nós dois sorrimos e olho ao redor, procuro por algum lugar

menos movimentado, há um outro corredor e não parece haver ninguém


por ali, então a guio para lá e quando paramos, ficamos um de frente para

o outro.

— Você está nervosa?

Balança a cabeça negando.

— Você estará lá se caso eu surtar, não é? — Assinto. —

Encontrarei seu olhar caso algo dê errado, não é!?

Assinto mais uma vez e Dakota sorri.

— Então, não tenho o porquê estar nervosa.

Dou um passo em frente, seguro seu queixo e abaixo meu rosto

até estar com meus lábios a centímetros dos seus.

— Sempre estarei aqui para você, Dakota.

Beijo Dakota e ela me corresponde da mesma forma. Não importa

o quão jovem sejamos, nem o que irá acontecer no futuro, somos tudo

que precisamos e estamos aqui dispostos a sermos a âncora um do outro.


Eu estou aqui para lá como ela estava comigo há duas semanas. Eu vou

segurar sua mão assim como ela segurou a minha.

Assim que nos afastamos, não trocamos nenhuma palavra, apenas


sorrimos, entrelaçamos nossas mãos e voltamos a nos reunir com o

restante dos nossos colegas. Dayse bate palmas ao nos ver e juro que

posso ver lágrimas em seus olhos. Ela pede para que formemos um
círculo, faz um agradecimento e nos encoraja a subirmos no placo e
fazermos nosso melhor.

Perto do horário, subimos para o palco, uma cortina nos separa da

plateia, porém espiamos e o lugar está lotado. Olho para Dakota, ela sorri
e dá de ombros.

Dayse nos posiciona no palco e ao redor dele, alguém inicia a

cerimônia de abertura. Meu coração acelera, meu estômago embrulha e


respiro fundo.

Eu não estou na primeira cena, fico ao lado do palco, encarando

Dakota e a encorajando. Ela sorri em minha direção e quando as

cortinhas são abertas, eu vejo a minha garota se desafiar a cada segundo,


ela dá o seu melhor, não gagueja e não hesita em nenhum momento.

As cortinas são fechadas ao fim do primeiro ato, então a troca de


cenário ocorre, nossa sorte é que há muita projeção, e eu entro. Dakota e

eu nos encaramos por alguns segundos.

— Você foi incrível, princesa.

Ela pisca em minha direção e se vira ficando de costas para mim,


assumimos nossas posições e as cortinas são abertas outra vez. É

divertido, esqueço-me de todos os presentes e a forma como Emma e o


duque brigam e se implicam por motivos idiotas e fúteis são tão
parecidos com o início do nosso relacionamento.

Eles se implicam, eles são obrigados a ficarem noivos, há um

jantar de família nos próximos atos e no quarto, acontece o baile e nessa


parte é como se só existe Dakota, eu e a música ao nosso redor.

Em nenhum momento, meu olhar desvia do seu e é como se


estivéssemos em um mundo só nosso, mesmo quando precisamos falar,

não é algo mecânico.

Infelizmente, o ato termina e o próximo inicia, o casamento.


Após o casamento, há duas cenas de aproximação entre os dois e enfim,

chegamos à cena final, a cena em que eles se declaram e acontece o


beijo.

Ensaiamos o beijo algumas vezes, quer dizer nos beijamos

algumas vezes, é lógico que não iremos usar técnica. E na teoria é para
ser apenas um encostar de lábios.

A cena é na sala de estar deles, eles têm uma breve discussão e

ela diz que não significa nada para ele, então ele a interrompe e diz que
ela significa tudo e que a ama, em seguida ela confessa que também o

ama e ocorre o beijo.

— Você significa tudo.


Falo conforme o que está descrito, mas em seguida dou um passo
para trás e saio do roteiro. Dakota me encara sem entender e sorrio.

— Você significa tudo, desde sempre, desde o primeiro momento,


e tentei lhe manter afastada, porque tinha medo, mas não consegui e
esbarrar com você outra vez foi o melhor acontecimento da minha vida.

— Ela mantém seu olhar preso ao meu e ignoramos completamente onde


estamos. — Eu tentei não te amar, tentei fugir, ser um idiota, te
machucar, porém, você derrubou todas as barreiras do meu coração e o

tomou para si.

Dou um passo em frente, deixo minhas mãos sobre sua cintura e

apoio minha testa na sua.

— Você é a minha esperança, você é quem eu amo, você é meu

tudo.

Seus olhos estão fixos nos meus e a intensidade entre nós é


avassaladora.

— Não é sobre o duque e sobre Emma, é sobre nós dois, Dakota.

Minha boca cobre a sua e nos beijamos com paixão. Não é um


simples beijo como no roteiro, é um beijo digno de cinema, digno de um
casal apaixonado.

 
Dakota

Há palmas ao nosso redor, porém nada importa. Tudo que importa

é que ele me disse que me ama. Josh me ama, assim como eu o amo. E
esse beijo significa tudo. Significa o quanto nos amamos e o quanto
estamos apaixonados.

Não quero que esse momento chegue ao fim, não quero me


afastar dele, porém Josh interrompe nosso beijo e dá um passo para trás.

Abro meus olhos e encontro os seus. Há um brilho em seus olhos

castanhos e ele está sorrindo.

— Eu preciso ir.

Olho ao redor e me dou conta de que as cortinas estão fechadas.


Volto a encarar Josh, ele volta a se aproximar, beija meus lábios

rapidamente e mais uma vez se afasta.

— Eu preciso ir.

Abro a boca para dizer algo, porém ele se vira e caminha para
longe. Eu não disse que o amo. Preciso dizer. Droga! Reage, Dakota.
Dou um passo em frente e Dayse surge e para a minha frente.

— Vocês foram incríveis e todos aplaudiram de pé.


Dayse comemora e olho para os lados, cadê Josh? Não consigo o

encontrar.

— Ok, eu preciso ir.

Tento me afastar, mas engancha seu braço no meu.

— Você não pode, temos que esperar a premiação.

— Eu preciso encontrar Josh.

— Josh foi liberado, você não.

Pelos próximos minutos, tento fugir de Dayse, mas ela é um


carrapato. Preciso é ir atrás de Josh e lhe dizer que eu o amo, entretanto

tudo que consigo é me sentar em uma poltrona ao lado de Dayse e assistir


às próximas apresentações.

Não consigo me concentrar em nenhuma.

Brooke e Abby me encontram depois de algumas apresentações,


elas se sentam ao meu lado, o não ocupado por Dayse, e me contam que
ficaram, enquanto os meninos seguirão para o jogo.

Nós aguardamos ansiosamente pelo fim das apresentações e


quando o cerimonialista sobe no palco para anunciar os vencedores,

suspiro aliviada. Finalmente irá terminar logo.

Eu tenho uma surpresa quando ele anuncia o vencedor. Nós

vencemos. Dayse fica em pé ao meu lado, viro-me para as minhas amigas


e elas estão sorrindo.

— Vocês ganharam.

Brooke me confirma, em seguida Dayse me puxa, eu me levanto,


ela me abraça e em seguida vamos até o palco e recebemos o troféu, além

disso, iremos ganhar um prêmio em dinheiro.

Assim que deixamos o palco, encontro minhas amigas na saída e


caminhamos de pressa até o carro de Abby. Minha amiga dirige para o

estádio e ela e Brooke me dizem o quanto foi emocionante e que sabiam


que Josh não estava interpretado quando disse que me ama.

Eu ligo o rádio e escuto a narração do jogo. Os Crimson precisam

eliminar mais um rebatedor. Apenas mais um e para isso Josh precisa


acertar o próximo arremesso. Estamos quase chegando quando
escutamos o narrador dizer que ele se prepara, meu coração quase para e

só volta a bater normalmente quando o cara grita que ganhamos.

Josh ganhou!

Assim que Abby estaciona o carro, abro a porta e saio correndo.


Corro até a bilheteria, compro o bilhete e corro para o estádio. Todos

estão comemorando e abro caminho por entre os torcedores.

Ainda estou de Emma, meu cabelo está uma bagunça, porque o


coque se desfez, mas não me importo. Só preciso dizer que eu o amo.
Desço até a beira do campo e para minha sorte, o olhar de Josh
encontra o meu. Ele faz um sinal para o segurança, então deixa que eu

entre no campo.

Finalmente posso correr até Josh. Eu vou até ele e me jogo em


seus braços, ele me abraça e sorrio. Afasto-me alguns centímetros e Josh

traz suas mãos até meu rosto, me mantenho olhando para ele.

— Eu não disse que te amo.

— Eu estou aqui pronto para te ouvir, princesa.

Sorri e me encara como se eu fosse o seu mundo.

— Eu te amo, Josh, como nunca amei outra pessoa. Você é tudo


que eu preciso e tudo que eu quero.

Seus lábios cobrem os meus e eu tenho meu beijo de final feliz.


Eu tenho meu próprio conto de fadas.
 

5 ANOS DEPOIS

Josh

Caminho de um lado para o outro e confiro meu relógio pelo que

deve ser a milésima vez e não se passou um minuto desde que o conferi a
última vez.

Cadê você, Dakota? Ela deveria estar aqui há vinte minutos.

— Será que ela desistiu?


Claro que é Ethan. Olho para o lado e encontro meu melhor

amigo me encarando com deboche.

— Seu papel como meu padrinho é me manter calmo, não piorar

minha situação.

Ele segue rindo e ergo meu dedo do meio em sua direção.

— O juiz irá cancelar o casamento por mal comportamento do

noivo.

Aiden que está ao lado de Ethan zomba.

— Será que o juiz já teve que cancelar um casamento por mal

comportamento do noivo? Seria deprimente e com certeza sairia uma

manchete de vários jornais, jogador de beisebol é proibido de se casar


por mal comportamento.

Dylan também me provoca.

— Dakota iria ficar tão feliz por ter seu casamento cancelado.

Gavin, o último dos meus padrinhos se manifesta e olho para os


quatro com desdém.

— Eu nunca deveria ter chamado vocês para serem meus


padrinhos, aliás nós deveríamos ter fugido para Las Vegas.

— Dakota nunca teria aceitado isso.


Ethan está certo. Dakota demorou quase três anos para organizar
seu casamento dos sonhos. Eu a pedi em casamento logo após ser

recrutado para o Boston Red Sox, ela aceitou, nós viemos para Boston,

moramos juntos, porém ela demorou longo anos para organizar seu

casamento dos sonhos.

Estou prestes a voltar a caminhar de um lado para o outro quando

a marcha nupcial finalmente ecoa pelo salão do hotel que escolhemos

para casar. Suspiro aliviado e assumo meu lugar em frente ao juiz que

escolhemos para celebrar nosso casamento e meus padrinhos assumem

seus lugares ao meu lado.

Meu coração bate acelerado e minhas mãos estão suando. Há um

frio em minha barriga que nunca senti. Nem quando entrei no beisebol

profissional.

As portas são abertas e as madrinhas adentram o salão, eu

mantenho meu olhar sobre elas, mas não presto atenção exatamente em

como estão vestidas.

Elas se posicionam no lado oposto aos dos padrinhos, ao lado

direito do lugar onde Dakota irá ocupar. Minha respiração está suspensa e
juro que posso ouvir as batidas do meu coração.
Dakota pisa no corredor que irá a trazer até mim e se torna o

centro do meu universo. Meus olhos percorrem cada detalhe do seu rosto,
ela não usa muita maquiagem, seu cabelo está parte preso, parte solto e

há cachos na ponta. Desço para seu corpo e encontro o vestido perfeito,


ele é volumoso, com as alças caídas em seu ombro, é brilhoso e ao redor
do decote existe algumas flores bordadas.

Não demoro a perceber que é o mesmo modelo do vestido que


usou naquela peça há cinco anos. Ergo minhas sobrancelhas e ela dá de

ombros. Nós nos conhecemos o suficiente para saber sobre o que estamos
falando mesmo que nenhuma palavra deixe nossas bocas.

Seu pai acompanha e parece que demora uma eternidade até que
os dois estejam à minha frente.

— Faça minha princesa feliz, Josh.

— É o que tentarei fazer pelo resto das nossas vidas.

Ele sorri satisfeito, eu estendo minha mão e ele coloca a mão da


filha sobre a minha, então se afasta e se senta na primeira fileira junto

com o restante da nossa família.

Dakota me encara com ternura, amor e paixão. É o mesmo amor e


a mesma paixão de cinco anos. Nossos sentimentos não diminuíram e em

nenhum momento duvidamos do que sentimos.


— Você não tem algo emprestado, porque estarei te emprestado

algo. — Solto sua mão e ela me encara sem entender o que está
acontecendo. — Pedi para que ninguém te emprestasse algo, porque seria

eu a fazer isso e pedi para que não deixassem você usar nada no pescoço.

Levo minhas mãos até a correntinha que uso em meu pescoço

desde o dia que ela esqueceu em meu quarto e a tiro.

— Hoje estarei te emprestado a minha correntinha.

Sorri maliciosa e se vira ficando de costas. Com cuidado coloco


seu cabelo e seu longo véu para o lado e coloco a correntinha nela.

— Obrigada, Josh.

Dakota volta a ficar de frente para mim, unimos nossas mãos e

nos viramos para o juiz. Ele segue a cerimônia e continuamos nos


encarando. Sorrimos algumas vezes e de coisas que apenas nós dois
entendemos, esse é o tipo de parceria e conexão que temos.

Meu coração volta a acelerar quando o momento dos votos se


aproxima, antes Evelyn entra com nossas alianças, a pequena faz
conforme ensaiamos e vem até nós. Dakota e eu nos abaixamos,

beijamos as bochechas da pequena que corre para o colo do pai, assim


que pegamos as alianças e ficamos em pé.
Eu sou o primeiro, respiro fundo e como prometemos não
escrever os votos, procuro as melhores palavras para descrever o quanto
a amo.

— Você, Dakota, é a pessoa mais incrível que eu já conheci, você


foi e é a minha esperança, você é a força que eu preciso nos dias ruins,

também é o encaixe perfeito aos meus braços, você é a minha luz e quem
eu amo irritar. — Nós dois rimos. — Você é o meu equilíbrio e quem eu

amo proteger. Você é meu fôlego, a dona do meu coração, a mulher que
eu amo e sempre vou amar. E hoje, eu prometo estar ao seu lado nos
piores e melhores momentos, prometo te honrar, te amar, acima de tudo,

ser a sua âncora.

Coloco a aliança em seu dedo e Dakota inicia seus votos.

— Eu amo nossa história e tudo que nos trouxe até aqui, inclusive
as partes não tão bonitas e perfeitas, porque elas nos trouxeram até aqui.

— Seguimos nos encarando. — Você foi aquele que me tirou do eixo e


aquele que me colocou de volta, você me apresentou a uma Dakota
diferente, mas também me conecta com a Dakota que sempre fui, você

me mantém em pé nos dias ruins e melhora meus dias bons ainda mais,
você é o amor da minha vida e sempre será assim, eu prometo te amar e

ser a sua âncora quando necessário.


Coloca a aliança em meu dedo e não espero pela ordem do juiz,
diminuo a distância entre nós e a beijo. Como sempre nos esquecemos de
tudo quando estamos juntos e só nos separamos quando um dos nossos

amigos assobia. Idiotas.

Dakota e eu casamos e a nossa recepção acontece no salão ao

lado. Vamos até lá de mãos dadas e nossos convidados nos seguem. A


primeira coisa que fazemos como casados é nos posicionarmos no meio
do espaço, então a música ecoa pelo local e iniciamos a nossa primeira

dança como casados.

É a mesma música da peça de teatro, então esquecemos nossos


convidados e mantemos o olhar um no outro.

— Para sempre, princesa?

— Para sempre.
 

Hey, gente!

Escrever Josh e Dakota foi maravilhoso, mas confesso que surtei


bastante, porque sei que muita gente estava esperando por eles, então
espero que você tenha gostado. Eu confesso que amei o desfecho e os

dois me surpreenderam bastante, principalmente, porque o intuito não era


um livro fofo, quase um conto de fadas, mas Josh e Dakota lutaram pelo

final felizes dele até mesmo comigo.

Hoje, eu quero agradecer as minhas betas: Liv, Silvia, Larissa e

Pryscilla, muito obrigada por sempre estarem dispostas a me ajudar.

Também um agradecimento especial as meninas do grupo do whats que


sempre estão promovendo o caos.
E por fim, a você. Muito obrigada e espero que realmente tenha

gostado do livro.

Se você gostou do livro deixe sua avaliação, recomendo o livro

para suas amigas e me siga no insta (lanasilva.sm).

Beijos e até a próxima (e mais uma vez, obrigada por tudo).

 
Série Estrelas do Alabama
 

Aiden, Ethan e Josh já contaram suas histórias, Dylan será o

próximo, então me acompanhe e não perca o lançamento da próxima


Estrela do Alabama.

Livro 1 – O Quarterback que Eu odeio – (clique aqui e leia a


história de Abby e Ethan).

Livro 2 – O Winger que Eu amo – (clique aqui e leia a história de


Aiden e Brooke)
Redes Sociais
 

Instagram: lanasilva.sm

Facebook: Lana Silva

TikTok: lannaa_silva

[1]
Pernalonga é o protagonista das séries de TV animadas Looney Tunes e Merrie
Melodies.
[2]
Torneio anual de beisebol realizado em junho em Omaha, Nebraska. O MCWS é o
ponto culminante do campeonato de beisebol da Divisão I da National Collegiate Athletic
Association (NCAA).
[3]
O Instagram é uma rede social online de compartilhamento de fotos e vídeos entre
seus usuários.
[4]
Boneco da Barbie.
[5]
Marca de carro.
[6]
Universidade do Alabama.
[7]
Série americana de televisão.
[8]
É um torneio anual de beisebol realizado em junho em Omaha, Nebraska. O MCWS
é o ponto culminante do campeonato de beisebol da Divisão I da National Collegiate Athletic
Association (NCAA).
[9]
Recrutamento de jogadores.
[10]
Time de beisebol da Universidade do Alabama.
[11]
Música da banda Rednex.
[12]
É um espaço (retângulo) em que a bola de beisebol deve passar quando arremessada
para que seja marcado um strike.
[13]
Cuidado com a pele.

[AMF1]carambaaa

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