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DESENVOLVENDO

O SEU DOM PROFÉTICO


DESENVOLVENDO
O SEU DOM PROFÉTICO

Graham Cooke

Danprewan
Editora
2016
Publicado originalmente por Sovereign World Ltd
PO Box 777 Tonbridge Kent TN11 OZS England
Traduzido do original em inglês
Developing Your Prophetic Gifting
Tradução de: Josué Ribeiro
Os textos bíblicos citados estão conforme a versão Almeida, Revista e Atualizada, 2a. Edição, da
Sociedade Bíblica do Brasil, a menos que outra tradução seja indicada.
Primeira edição: outubro/2005
Capa: Ronan Pereira
Revisão: Segisfredo Wanderley
Diagramação: Printmark Marketing Editorial
Coordenação de Produção Editorial: Jorge Wanderley
Primeira edição em epub: outubro/2016
Formatação para e-book: Arnaldo Taborda dos Santos
Tel.: (21)98622-2571 – arnaldo.rj@gmail.com

Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados pela:
Danprewan Editora e Comunicações Ltda.
Rio de Janeiro - RJ Brasil - CEP. 20540-300
Fone/Fax (21) 3083-7387
E-mail: danprewan@danprewan.com.br; wanda.lucia@danprewan.com.br
Site: www.danprewan.com.br

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte poderá ser reproduzida, gravada em qualquer sistema
eletrônico de arquivamento de dados ou transmitida sob qualquer forma, sem a permissão por escrito do
detentor dos direitos.
Dedicatória

Dedico este livro a Heather Cooke, minha esposa. Ela é um grande


e importante dom que recebi de Deus. Heather me ama, me faz rir, me
surpreende com sua honestidade e lealdade e sempre me apoiou, em todas as
situações!
Meu filho Ben, um bom homem com um coração terno e um
verdadeiro espírito de justiça. Que rapaz!
Meu filho Seth, engraçado, criativo e barulhento. Certamente ele é
um líder de homens.
Minha filha Sophie, bondosa, reflexiva e bem divertida. Ela é
amante das coisas boas da vida, como o time do Manchester United e seu
velho pai.
Por que todos os meus filhos se parecem com minha esposa?
Agradecimentos
Meus agradecimentos e meu reconhecimento a todas essas pessoas:
À minha mãe Gladys, uma mulher notável e corajosa, que
nunca desistiu da vida. Ao meu padrasto Harry, um homem bom e decente.
A John e Dorothy Bentliffe, que me levaram ao Reino e desde então
mantiveram o interesse e o envolvimento neste “filho na fé”.
A Dee e Maggie, que me deram amor de família e me apoiaram em
momentos críticos. A Duncan e Jane Foster, que durante muitos anos me
deram notável apoio e amor.
A Graham Perrins, que me deu um amor pelas Escrituras e uma
grande base no ensino sobre profecias. Um excelente mestre!
A Kevin Allan, meu bom amigo, uma pessoa que amo por sua
sabedoria e fidelidade. Um homem confiável.
À Igreja City Gate, em Southampton. Uma boa família, barulhenta,
divertida, cuidadosa, ocasionalmente frustrante, mas que com freqüência
inspira afeição. É um bom lugar para se estar!
À Rede Pioneer, cheia de pessoas apaixonadas e com um
enorme desejo de estabelecer o Reino e construir a Igreja do Novo
Testamento.
À Equipe Pioneer de líderes e ministros. Pela honestidade,
integridade, verdade e senso de humor, no que são inigualáveis, em
qualquer lugar do mundo.
A Charles e Paula Slagle, bons amigos, cheios de graça e
bondade.
A todos os meus parceiros de oração e àqueles que sustentam
financeiramente o meu ministério. Apertem os cintos, vamos
decolar!
A Carole Shiers, minha secretária particular, que administra
maravilhosamente minha agenda e é extremamente útil. A despeito de minha
influência, ela continua fazendo as coisas corretamente e dentro dos prazos!
Incrível!
A todas as milhares de pessoas treinadas na Escola de Profecia.
Mantenham a fé. Mantenham o padrão. Jamais esqueçam de dar exemplo de
tudo o que é bom no ministério profético.
Finalmente, e mais importante, ao nosso gracioso Pai celestial.
A Pessoa mais bondosa que já conheci. Minha gratidão eterna.
Dedicatória
Agradecimentos
Prefácio
INTRODUÇÃO:
ENTENDENDO A PROFECIA
Capítulo Um
Entendendo a profecia
Capítulo Dois
O valor da profecia
PARTE UM:
O DOM DA PROFECIA
Capítulo Três
Primeiros passos na profecia
Capítulo Quatro
A prática da profecia
Capítulo Cinco
Diretrizes para o manuseio da profecia
Capítulo Seis
Profecia pessoal
PARTE DOIS:
A PROFECIA NA IGREJA
Capítulo Sete
Julgando e pesando a profecia
Capítulo Oito
O papel do profeta cristão
Capítulo Nove
Ser ou não ser?
Capítulo Dez
Esquema da profecia nas igrejas locais
Capítulo Onze
Mantendo a profecia viva
PARTE TRÊS:
O PAPEL DA LIDERANÇA
NA PROFECIA
Capítulo Doze
O papel da liderança da profecia
Capítulo Treze
Lidando com profecias erradas
Capítulo Quatorze
As parcerias proféticas

Prefácio
Conheci Graham Cooke há mais de uma década. Logo depois ele
tomou a difícil decisão de se mudar, com a esposa Heather, e os filhos, para
se unir à igreja em Southampton. Em termos geográficos a mu- dança foi
insignificante, apenas uns 40 quilômetros de estrada. Em termos sociais e
econômicos, a mudança foi enorme. Graham não tinha dinheiro, nem
trabalho e nem moradia. Como igreja nós fizemos o que pudemos,
procurando casas temporariamente vazias, ou, em muitos casos, residências
cedidas por membros da igreja, muitas vezes com prejuízo pessoal, a fim de
criar espaço para uma família de cinco pessoas. Era o mínimo que podíamos
fazer, e embora possa soar nobre, era algo insignificante comparado com o
sacrifício que Graham e a família estavam fazendo. Além do mais, nós
realmente queríamos a presença deles conosco, e quando você realmente
deseja algo (ou alguém), nenhum esforço parece grande demais.
Pela graça de Deus, no ano seguinte, embora ele ainda estivesse
desempregado, um empréstimo foi feito e uma residência foi comprada.
Muitos meses se passariam antes que Graham arranjasse um trabalho secular
e conseguisse organizar sua vida financeira e começasse a encontrar um
caminho para fora das adversidades e incertezas. Foi um período
extraordinário! Extremamente difícil, mas muito abençoado. Eu ainda olho
para trás com um misto de incredulidade, surpresa e afeição.
A igreja à qual Graham se uniu na época tinha cerca de 50 ou 60
membros. Era uma típica igreja iniciante, com pessoas comuns buscando
servir ao Senhor. Aparentemente nós não tínhamos nada a oferecer,
principalmente em relação a coisas materiais. Não podíamos garantir a ele
nem mesmo um cargo na liderança. Eu sei que na época Graham tinha
outras opções, pois havia outras oportunidades ministeriais para ele.
Contudo, opções mais fáceis foram ignoradas em favor da amizade, do
relacionamento e – acima de tudo – para ser parte de uma igreja local.
Aí está o coração do homem e a decisão que ele tomou. Graham de
fato tem uma extraordinária unção profética, o que nos últimos anos criou
uma grande demanda internacional no seu ministério. Mesmo assim, ele
sempre esteve disposto a deixar isso de lado, em favor da igreja local.
A mensagem que ele traz nas profecias é clara e empolgante. Mas
ele tem, acima de tudo, os pés no chão. Durante muito tempo o profeta, a
profecia e a ministério profético foram marginalizados e depreciados. E
ultimamente perderam o propósito, porque o homem e a mensagem muitas
vezes falham em trabalhar dentro dos limites da igreja local. Por outro
lado, líderes eclesiásticos aterrorizados mantêm o ministério profético
debaixo de repressão por causa do medo e da ignorância. De qualquer forma,
o resultado final é que as igrejas sofrem e o ministério profético se torna
fragmentado.
As páginas desse livro revelam uma rota diferente, mapeando um
caminho por meio do qual o pulsar da palavra profética de Deus pode ser
liberado na Igreja de hoje. Esta é a mensagem que Graham expõe com grande
habilidade e com o auxílio de vasta experiência pessoal. O mais significativo
é que esta é a mensagem que Graham tem exposto por meio do seu estilo de
vida e as decisões que toma em sua vida.
Há coisas pelas quais vale a pena lutar!
Kevin Allan
Líder da Igreja City Gate em Southampton
INTRODUÇÃO:
ENTENDENDO A PROFECIA
Capítulo Um

Entendendo a profecia
Profecia é um dom do Espírito Santo. Ele não depende das pessoas. O
Espírito Santo dá dom segundo o Seu querer. Qualquer pessoa pode ser usada
no dom profético, desde que seja nascida de novo, cheia do Espírito Santo,
disposta e aberta para se mover no sobrenatural.
Sabendo que todo cristão cheio do Espírito pode profetizar, temos de
reconhecer também que nem todos os que o fazem são profetas. Há vários
níveis e estágios de unção profética, começando com a finalidade
fundamental da profecia, que é encorajamento, edificação e conforto. No
entanto, o movimento através do ministério profético até a função de um
profeta exige considerável treinamento, experiência e desenvolvimento – o
que leva muitos anos. Em média, é preciso cerca de quinze anos para se
formar um profeta, dependendo do treino, discipulado e supervisão que o
indivíduo recebe no processo.
Nós servimos a um Deus maravilhoso que tem prazer em
expressar Seu coração e revelar Seus pensamentos. Esses pensamentos
jamais contradizem as Escrituras, a qual é útil
para o nosso ensino, correção, repreensão e exortação. De
fato, foram as palavras inspiradas dos profetas, dadas a eles pelo
Espírito, que os capacitaram a escrever as Escrituras nos
tempos bíblicos. Até mesmo a Lei começou como profecia (2 Pe 1.21).

Profecia e as Escrituras
Quando liderava Israel durante a jornada pelo deserto, Moisés tinha
de ouvir os problemas cotidianos e dificuldades de mais de um milhão de
pessoas. Em cada caso particular, ele tinha de orar e buscar a mente do
Senhor. Era algo que o desgastava e que foi a principal causa de
preocupação do seu sogro, Jetro.
Notando um padrão entre o fluxo constante de perguntas e respostas
no trabalho de Moisés, Jetro propôs um plano. Os problemas e as soluções
começaram a ser anotados. Para os problemas similares, Moisés teria
assessores que podiam tratar com aquelas reclamações, usando a palavra
escrita das respostas proféticas anteriores dadas pelo profeta. Moisés,
enquanto isso, continuaria presidindo e lidando com situações novas, ouvindo
e oferecendo a Palavra de Deus.
Desta maneira, o povo aprendeu a conviver com a Palavra de Deus
escrita ou revelada e com as novas palavras dadas por Moisés por meio dos
pronunciamentos proféticos. Este sistema ainda chama a nossa atenção hoje,
onde temos a palavra de Deus revelada nas Escrituras que nos possibilita dar
uma resposta imediata de obediência aos mandamentos do Senhor. Esta
situação enfatiza a necessidade de firmarmos as pessoas na Bíblia, a fim de
que sejam capazes de discernir o coração e a vontade de Deus para suas
vidas.
Quando nos deparamos com situações que parecem não ter
uma resposta clara nas Escrituras, podemos ter de acessar o ministério
profético. Esse ministério se harmonizará fielmente com as Escrituras e nos
conduzirá aos pés de Jesus, embora sem usurpar
nossa vontade e sem nos forçar a fazer julgamentos incorretos ou ações
precipitadas.
Os profetas continuamente se deparam com uma questão
importante: “‘A necessidade desta pessoa será mais bem suprida por um
maior entendimento das Escrituras?’ Neste caso, apontemos para ela o
ministério de ensino; ou ‘elas precisam de uma palavra agora, aliada a uma
Escritura que personalize a Palavra de Deus de uma forma que aumente a fé
e a confiança, enquanto liberta a pessoa de obstáculos e cadeias?’”.
A Bíblia faz uma distinção entre profecia e ensino. Em vários
lugares, ela menciona profetas e mestres como dons ministeriais,
enfatizando claramente que os dois têm funções separadas com o propósito
comum de levar as pessoas à maturidade. Sempre houve uma necessidade de
ambos, e um não tem prioridade ou preferência sobre o outro. Não são as
nossas preferências ou preconceitos que determinam qual deve ser usado,
mas sim as demandas da situação na qual nos encontramos. Cada dom tem
um propósito diferente, e os dois são vitais para que possamos compreender o
Senhor e seus caminhos.
Colocando de forma mais simples, o ensino nos proporciona um
pleno entendimento dos princípios de Deus para a vida, crescimento,
serviço... A profecia transmite o propósito expresso de Deus em nossa atual
situação. Podemos entender isso melhor se pensarmos em termos de mente
e coração.
O ‘ensino’ nos mostra a mente de Deus enquanto a profecia muitas
vezes nos revela Seu coração. É sempre importante lembrar que servimos ao
Sumo Sacerdote que pode ser tocado pelas mesmas coisas que afetam nossas
vidas. Deus pensa e sente.
Muitas pessoas estão preocupadas (com razão) que haja uma
dependência exacerbada das experiências em detrimento do fundamento
sólido da Palavra, provido pelo bom ensino, e que isso leve ao erro e ao
exagero. Do outro lado da balança está a preocupação real (igualmente bem
justificada) que o ministério da Palavra sem o espírito de revelação, que a
profecia oferece, possa levar a uma forma que, embora correta, seja sem
inspiração e estéril.
O envolvimento no dom profético simples e básico exige um
entendimento da mente e do coração de Deus e de como liberá-los. As
palavras proféticas têm forças de impacto diferentes, de acordo com a
situação, circunstâncias, nível de fé e entendimento do receptor; e também
da habilidade, experiência, entendimento e relacionamento do transmissor
com o Espírito Santo.
Um relacionamento forte com Deus, puro e cheio de propósito,
arraigado numa vida de oração, estudo e meditação das Escrituras, sempre
será mais produtivo do que uma familiaridade casual nessas áreas.
O dom da profecia também tem um aspecto futuro. Tem em si um
elemento que diz ‘agora’, e outro que diz ainda não. O livro de Apocalipse é
um excelente exemplo dessa expressão profética. Ele é inteiramente
profético, de capa a capa, lidando com eventos futuros, prevendo e
predizendo.
O dom da profecia pode ser intensamente pessoal e também unir as
pessoas diante de Deus. Muitas palavras proféticas nas
Escrituras foram transmitidas por indivíduos. Eram palavras de bênção,
encorajamento, advertência, direção, correção e julgamento.
Pronunciamentos proféticos similares foram feitos para grupos
inteiros, tribos, cidades e nações.
Estratégia e Táticas
A profecia pode proporcionar dinâmicos insights em situações que
não estão claras nas Escrituras. Ela proporciona uma percepção distintiva das
coisas de Deus, a qual não pode ser adquirida mediante o conselho
comum das Escrituras.
A Bíblia proporciona uma visão geral; o grande desígnio de Deus e
como devemos viver no Espírito. Nem sempre, porém, ela
nos oferece meios ou métodos para fazer isso efetivamente.
Simplificando, a Bíblia oferece estratégias, enquanto a profecia oferece
táticas.
Por exemplo, na história de Josafá (2 Cr 20), o povo se reuniu para
buscar ao Senhor. Estavam fazendo o que sabiam que tinham de fazer: reunir
e orar diante de circunstâncias aflitivas. Num momento de intenso medo, em
que corriam o risco de exílio e extinção, eles se levantaram e recontaram a
história (literalmente, as Escrituras) das antigas experiências com o Todo-
poderoso. Eles tinham a estratégia bíblica da oração e do jejum para aquele
tipo de eventualidade. No entanto, foi a entrada da profecia que causou um
enorme aumento da fé e da confiança. A profecia tornou-os taticamente
conscientes dos planos de Deus para a situação. Foi a profecia que lhes
revelou os planos exatos do inimigo, mostrou-lhes como lutar e o que
esperar a seguir. Depois da entrada da profecia, surgiu uma maior confiança
e determinação de fazer a vontade de Deus.
Precisamos viver de toda palavra que procede da boca de Deus –
para ordenar nossa vida de acordo com as Escrituras e para sermos
liderados pelo Espírito. Uma parte vital de sermos filhos de Deus é o
desejo intenso de nos movermos na profecia.
Humildade é um pré-requisito
A profecia não é mais para alguns do que para outros. Não é uma
recompensa por anos de serviço fiel. Não pode ser comprada. Trata-se de
um dom dado gratuitamente pelo Espírito Santo. É inevitável que haja
algumas pessoas às quais Ele confia esse dom em bases mais regulares.
Aqueles que estão se movendo numa crescente unção de revelação
podem dizer que estão se movendo num ministério profético, e não apenas no
uso extensivo do dom.
Quando esse ministério começa a causar impacto em grupos inteiros
de pessoas, nações e governos, significa que houve uma mudança do
ministério profético para a função de profeta.
Profecia não torna algumas pessoas melhores do que as outras; não
existe hierarquia estrutural dentro do dom. Não existe crentes superiores ou
inferiores. Aqueles cristãos que realizam façanhas nos dons sobrenaturais,
ou que têm imensas responsabilidades dentro do Reino, construíram essa
influência sobre uma sólida base de humildade e dependência de Deus.
Esse nível de unção carrega consigo uma profunda sensibilidade para com a
pessoa do Espírito Santo.
Um dos grandes problemas na esfera da profecia hoje é a falta de
humildade diante de Deus; a ausência de sensibilidade para com o Espírito
Santo e a falta de compaixão para com as pessoas.
Profecia e História
A profecia sempre foi uma rica parte da herança do povo de Deus
em todas as épocas. Jesus se eleva supremo como Profeta, Sacerdote e Rei.
O dispensacionalismo profético é um erro comum nas igrejas de hoje, que
pregam como se só tivessem apenas dois terços de Jesus. Quando nós
temos Jesus como Sacerdote e como Rei do Seu Corpo, mas não como
Profeta, despimos a Igreja de todo poder sobrenatural. Quer dizer, o
dispensacionalismo decreta que o derramamento do Espírito Santo com
todos os seus dons e graça foi dado apenas para a Igreja dar a partida, há dois
mil anos atrás. Agora que temos as Escrituras, é argumentado, não temos
mais necessidade daqueles atos portentosos do Espírito; o mover do
Espírito pertence a outra época ou dispensação. A própria Escritura
claramente admoesta certas pessoas a não desprezar as profecias, mas sim
examinar tudo cuidadosamente e reter o que é bom, depois de ponderar (1 Ts
5.20,21).
A profecia esteve em uso durante toda a história da Igreja, sendo mais
usada em algumas épocas do que em outras. Geralmente ela entra em declínio
quando os líderes eclesiásticos usurpam sua autoridade e tentam controlar o
que é dito e feito no Corpo de Cristo.
Apegando-se ao que é falso
Graças a Deus, atualmente nós estamos vendo o ressurgimento do
dom e do ministério profético. Infelizmente, junto com o verdadeiro
surgem também as imitações. Exagero, uso indevido e engano serão
abundantes juntamente com o uso correto da profecia. Precisamos saber
claramente como lidar com o dom, com o ministério e com seu impacto na
obra de Cristo.
Através de toda a história eclesiástica, sempre houve falsa
profecia junto com o falso ensino. Mais igrejas já foram arruinadas por falso
ensino do que por falsas profecias. Por exemplo, o ensino sobre a
necessidade de prestação de contas nos anos 70 levou muitos pastores a
um estilo pesado de liderança e gerou acusações de controle exagerado e
domínio. A prestação de contas é correta e apropriada, mas somente quando
é centralizada em Deus e não no homem. A verdade da prestação de contas
bíblica apropriada foi maculada pela prática que foi encorajada. Será que
agora devemos abandonar essa verdade por medo dos exageros e usos
indevidos? Ou devemos buscar introduzir o uso adequado da prestação de
contas como um meio de honrar a Deus?
Onde houve exagero, temos de trabalhar ainda mais duro para
restaurar o terreno perdido. A alternativa é não ter áreas cegas (sem
ensino) em nossas igrejas.
Muitas pessoas já tiveram suas vidas danificadas por maus
conselhos pastorais, muito mais do que por profecias. Parece que há muito
pouco (ou nenhum) tipo de avaliação e de limitação para o papel do
pastor. A impressão é que eles podem fazer o que quiser. De fato, há
pastores que não admitem ser questionados ou confrontados sem uma boa
briga. Questionar as atividades e comportamentos de certos líderes é um
convite para a excomunhão ou execução... a nossa!
Um dos principais problemas das igrejas hoje é o número de pessoas
que são incluídas indevidamente no Reino de Deus. A salvação é mais um
processo do que um evento instantâneo. Muitas pessoas são tocadas de uma
forma poderosa pelo Espírito Santo e são levadas a uma mudança real e
dinâmica. No entanto, se esse fato não for seguido pelo efetivo cuidado
pastoral e o discipulado com bom ensino, então a vida das pessoas não pode
ser totalmente tocada pelo evangelho.
Precariedade na evangelização e na pregação cria uma porta dos
fundos no cristianismo pela qual as pessoas se aproximam de Cristo com
base no suprimento de suas necessidades e não na exigência de se submeter
ao Seu senhorio.
A despeito desse fato, quando as pessoas falam sobre equilíbrio e
prestação de contas, inevitavelmente conectam esses elementos ao
ministério profético. É verdade que um profeta entregue a si mesmo fica
fora de equilíbrio... Da mesma forma, porém, que acontece a um pastor,
um professor ou um evangelista.
Isso tem causado mais dano nas igrejas do que os canhões
proféticos fora de controle.
A única resposta para o uso indevido em todas as áreas da vida das
igrejas não é a suspensão do uso, mas sim o uso apropriado. A verdade é
sempre nossa melhor salvaguarda contra os desvios.

Vencendo os Negativos
Não devemos desencorajar o uso dos dons com base no fato de que
pode ser errado ou perigoso. Temos de usar cada oportunidade para exercitar
nosso povo no uso correto da Palavra da verdade. Lamentavelmente, muitos
líderes estão mais preocupados em evitar situações de conflito do que em
extrair algo de positivo delas.
É muito mais fácil criar suspeita e medo na mente das pessoas do que
lidar com as questões envolvidas. Permitir esse tipo de situação é uma
fonte de tristeza para o Espírito Santo, e a única resposta deve ser o
arrependimento e uma mudança nas práticas.
Desde os tempos bíblicos mais remotos, sempre houve falsa
profecia. E não devemos nos surpreender que isso ocorra em nossos
dias. Devemos lembrar que a imitação do que quer que seja prova a
existência do verdadeiro.
Temos de permitir que nosso coração seja inundado por um
desejo pela verdade. A integridade é criada quando estamos preparados
para irromper através das barreiras, sem nos importar com o preço pessoal,
a fim de viver e ser aquilo que é certo e apropriado. Precisamos ser a
verdade e não somente conhecê-la. A verdade referente à profecia deve ser
apropriada por toda a igreja. Parte dessa apropriação é uma determinação de
trabalhar em todas as anomalias e dilemas da liberação adequada do dom e
do ministério profético.
A Igreja está grávida da palavra profética e do ministério profético. É
preciso que se tome cuidado para trazer toda a semente profética à sua
plenitude. As dores de parto ainda estão por vir; a alegria do nascimento de
um novo ambiente profético em todo o Corpo de Cristo fará valer a pena
todo o sofrimento que temos de suportar.
O material a seguir é oferecido como diretrizes para alcançarmos esse fim.
Contra-argumentos na liberação da profecia
1. A Bíblia substitui os dons espirituais
Este argumento é: temos toda a revelação de Deus nas Escrituras,
então os dons não são mais necessários. Essas pessoas adotam a visão de que
a profecia cessou quando veio o que é perfeito (quer dizer, as Escrituras). A
profecia sendo uma revelação parcial num dado tempo em particular, torna-
se redundante agora que a verdade plena das Escrituras está presente (1 Co
13.8-10). Mesmo assim, essa palavra perfeita continua a encorajar a Igreja. É
interessante que as pessoas que sustentam essa opinião também oram por
milagres e por cura sobrenatural!
“Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas
principalmente que profetizeis” (1 Co 14.1)
Esta noção plena de dispensacionalismo tem sido corretamente
desacreditada em grande parte das igrejas cristãs. Ela simplesmente entra em
conflito com várias coisas que Jesus disse concernente à pessoa e à obra do
Espírito Santo nos capítulos 14–16 do Evangelho de João.
Além disso, tal visão não se harmoniza totalmente com a visão geral
da morte, sepultamento, ressurreição e ascensão de Cristo e o lugar e a obra
do Espírito Santo na continuação da vida da Igreja.
O dispensacionalismo, como uma doutrina cristã, se choca com toda
ferocidade e constrangimento de um sino tocando forte e desafinado numa
orquestra que de outra forma tocaria uma bela e harmoniosa peça musical.
Trata-se de uma hipótese confusa, ofensiva e perturbadora que não se
harmoniza (e nem pode) com as Escrituras.
O pleno significado de 1 Coríntios 13.8-10 refere-se simplesmente
ao fim de todas as coisas e a plena revelação de Deus a cada crente. Por
enquanto (em comparação à plena revelação vindoura), vemos difusamente,
mas então (no porvir) quando estivermos face a face com tudo o que Deus é
... teremos o pleno entendimento e compreenderemos todas as coisas.
Evidentemente o texto não fala sobre esta vida, mas sobre
estarmos face a face com Deus no porvir... finalmente! Nesse contexto de
conhecer todas as coisas, obviamente não precisaremos de profecias que
operam de acordo com nossa fé. A perfeição absoluta reinará. Mal posso
esperar! Tenho tantas perguntas! Será tão empolgante estar face a face com
Deus e conhecer tudo.
Neste contexto, o dispensacionalismo é um insulto à pessoa de
Jesus. Em todo o Seu ensino sobre o Espírito Santo, Ele jamais mencionou
que o dom do Espírito seria temporário, ou que os Seus dons durariam até
a Sua volta.
O Espírito Santo (com Seus dons e graças) é uma figura constante na
Igreja, que capacita a Noiva de Cristo a estar preparada e apresentável e a
pregar o evangelho, com os sinais que seguem, até os confins da Terra – e
então virá o fim. Há muito trabalho por terminar. Precisamos do Espírito
Santo mais do que nunca. Se Ele foi dado com todos os Seus dons, graça e
poder somente para uma geração, como poderíamos cumprir tudo o que
Deus deseja que façamos?
Apenas como curiosidade: quando esta barreira dispensacional caiu?
Por que não há menção dela em nenhum escrito cristão antigo? Eu
pensaria que toda a cristandade de repente teria se dado conta de que o “céu
se tornou em bronze”. Como isso aconteceu? Será que subitamente, na tarde
do dia 20 de abril do ano 85 d.C., a barreira dispensacional caiu?
Supostamente, às 11:55h ainda podíamos ser curados de enfermidades ou
receber um milagre. No entanto, às 12:01h, tudo cessou. Não podíamos mais
fazer nada, o céu se fechou! Esqueçam a cura e a plenitude, agora vamos ter
de suportar. Num momento a cura é um sinal do poder de Deus e a
expressão de Seu coração para o mundo por meio de Cristo... No momento
seguinte, tudo isso está proibido.
No Dia de Pentecostes, Pedro falou essas palavras:
“A promessa [dos dons] é para vocês, para os seus filhos e para
todos os que estão longe [de Deus, no tempo e no espaço]”.
A parte mais importante dessa declaração maravilhosa é a última frase:
“Para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar” (At 2.39)
Essa palavra é dada, e a promessa é feita, no contexto de um
poderoso derramamento do Espírito. É feita no contexto de línguas e
interpretação. É feita no contexto do sobrenatural invadindo a Terra,
causando uma explosão de entendimento e desejo por Deus. É feita no
contexto do Espírito Santo colocando uma comunidade e uma grande
cidade de cabeça para baixo e viradas pelo avesso. É feita no contexto de
uma revolução na sociedade que teria repercussões enormes por toda a Terra.
Neste contexto, Pedro falou profeticamente para aquelas pessoas não salvas
reunidas para testemunhar um milagre. Ele se levantou e falou da história,
aplicando a verdade de Jesus no tempo presente e profetizando sobre o
futuro.
2. A preocupação com os dons impede a evangelização
efetiva
O argumento diz que devemos nos despir de tudo o que nos afasta
de nosso objetivo primário de pregar o evangelho. Não podemos negar que
muitas igrejas se tornaram clubes de autoindulgência (“me abençoe”) onde
os crentes praticam os dons espirituais visando seus próprios interesses.
Muitas pessoas estão buscando novas experiências no relacionamento com
o Espírito Santo com o propósito de excitação e autogratificação. Grande
parte desse comportamento de adolescente espiritual se deve ao fato de que
muitos cristãos têm um entendimento precário do Reino de Deus.
Estamos aqui para pregar o evangelho do Reino e não somente para
edificar a Igreja. A Igreja procede do Reino e não vice-versa. Quando
entendermos que devemos deixar tudo de lado para buscar o Reino,
então veremos uma renovação ocorrer, a qual verdadeiramente honrará ao
Senhor.
Quando apreciamos o fato de que tudo que sabemos e temos deve ser
canalizado para o estabelecimento do Reino, vemos a Igreja, a liderança, o
estilo de vida, o ministério pastoral, o ensino e os dons do Espírito Santo
sob uma luz totalmente diferente. Quando isso ocorre, o avivamento está a
caminho.
Eu creio em evangelização profética; palavras de conhecimento para
os não salvos; dons de cura ocorrendo por toda a comunidade; o coração de
Deus sendo revelado profeticamente pela Terra, para todos os povos. Tive o
privilégio de ver não cristãos respondendo a uma palavra profética e
iniciando a jornada no Reino. A presença sobrenatural do Espírito Santo
por meio de Suas graças e dons podem causar impacto numa comunidade
dura de uma forma que a simples pregação não consegue. Paulo disse que
sua pregação consistia não somente de palavras, mas também de
demonstrações do Espírito Santo.
A verdade é que os dons espirituais atraem a atenção das pessoas,
tornando assim a penetração da Palavra mais vibrante e irresistível. Eu já
profetizei muitas vezes para não crentes e vi resultados espetaculares
quando eles “abraçaram a fé”. Uma senhora ficou sem ver a filha durante
quatro anos, depois de um conflito familiar. Um dia, ela decidiu ir a uma
igreja onde eu estava pregando e ficou profundamente tocada quando eu
profetizei que sua filha estava em segurança, e que as duas se encontrariam
dentro de quatro dias e o relacionamento entre ambas seria restaurado. Na
ocasião ela ficou surpresa (ninguém a conhecia na igreja), e mais ainda
quando a palavra se cumpriu, dentro do prazo mencionado. Em suas
próprias palavras, “foi como se o céu tivesse sido aberto e eu percebi que
Deus me conhecia, embora eu não o conhecesse; o conhecimento de que Ele
estava preocupado e interessado em minha família me levou a desejar
conhecê-lo melhor”.
3. O fruto do Espírito não é mais importante do que os
dons espirituais?
Há muitas pessoas nas igrejas com dons sobrenaturais, mas com
um caráter difícil e desprovido de amor. Também é verdade que há muitos
cristãos piedosos sem nenhuma manifestação do poder do Espírito Santo em
suas vidas. O que realmente precisamos é de cristãos piedosos e cheios do
Espírito Santo.
Embora, sem dúvida, seja verdade que os dons sem o fruto sejam
inúteis (1 Co 13.1,2), também é verdade que o evangelho não pode ser
pregado de forma efetiva sem poder (Rm 1.16). A Palavra deve ser
confirmada com os sinais que se seguem. As pessoas eram atraídas a Jesus
por causa do Seu caráter e autoridade, mas também por causa dos milagres.
Em meus cursos sobre profecia, muitas vezes já vi pessoas
sendo aperfeiçoadas no amor por causa do treinamento no dom de profecia.
Profetizar é comunicar o coração de Deus às pessoas. O Deus Pai é a pessoa
mais bondosa que eu já conheci. Ele é cheio de uma graça incomparável, paz
e descanso. Seu amor dura para sempre. Sua graça, misericórdia,
paciência e longanimidade são legendárias. Ele é tardio para se irar e
rápido para abençoar e abundante em amor e benignidade. Essas verdades
não podem ser comunicadas sem causar um efeito no transmissor, assim
como no receptor.
O fruto não é mais importante do que o dom. Não devemos deixar o
inimigo nos impor uma escolha que o Espírito Santo
não nos pediu para fazer. Em questões de moralidade, o fruto
do nosso caráter deve sempre ter precedência. Em tempos de
desenvolvimento, fruto e dons crescem juntos. O fruto não se
desenvolve bem num vácuo. Precisamos da plenitude de Deus, o que
significa dons e frutos juntos. Temos de insistir nisso em todos os nossos
empreendimentos de discipulado.
4. Os dons do Espírito são perigosos
Assim eu espero! Perigosos para o mundo, prejudiciais para a saúde
do inimigo e uma ameaça contra a apatia e a indiferença.
Profetizar significa atacar, estimular e provocar. A profecia é
designada para colocar um limite claro no nosso relacionamento com Deus,
em termos de como vivemos e manuseamos a verdade.
A verdade é perigosa. A Bíblia diz que a Palavra de Deus é como
espada de dois gumes. Pode cortar dos dois lados e precisa ser manuseada
com cuidado. Será que devemos deixar de usar as Escrituras porque
podemos nos cortar?
Você acha que pode ignorar as coisas só porque elas são
perigosas? A apatia é a atitude mais perigosa na Igreja, mas
conheço igrejas que não evitam essa armadilha. Incredulidade é
um câncer perigoso, mas milhões de pessoas em todo o mundo sofrem
com ela.
Será que devemos parar de pregar ou de ensinar para evitar o
risco de erros? Absolutamente não! O que temos de fazer é trabalhar
na defesa da verdade e da proclamação da Palavra de
Deus. Na profecia temos de ensinar as pessoas como estar no
Espírito quando falam. Quando pregamos ou ensinamos, então o mesmo
princípio se aplica; há segurança na unção de Deus.
Capítulo Dois

O valor da profecia
Sem dúvida, a profecia é um dom e um ministério que devemos
encorajar ao máximo em nossas igrejas. Muitos dos conceitos errados sobre
profecia se devem à falta de conhecimento e de entendimento sobre o que é
profecia, como ela funciona e a forma como devemos liberá-la na igreja local.
O ser humano tem a tendência de denegrir aquilo que não compreende. Nosso
interesse neste capítulo é oferecer uma visão geral do valor da profecia nas
igrejas locais. Esperamos que ele contribua para o nosso entendimento e
apreciação desse importante dom.
A profecia restaura a dignidade
e o auto respeito das pessoas
Muitos cristãos estão sentados nas igrejas com uma idéia muito
pequena de seu valor e importância para o Senhor. O inimigo e a vida de
modo geral podem conspirar para roubar das pessoas sua identidade e valor
pessoal. Muitas pessoas têm dificuldade para estabelecer um
relacionamento com Deus como Pai, devido às experiências pessoais
negativas com a família.
Mágoas, feridas, rejeição e traumas emocionais fazem parte de nossas
vidas, antes e depois da salvação. A Boa Notícia é que nós servimos a um
Deus que tem compromisso com nosso bem-estar em todos os níveis (físico,
mental, emocional e espiritual). O propósito de Deus é a nossa integridade e
plenitude no Espírito. A profecia é uma parte maravilhosa nos processos de
cura e de renovação. Ela nos coloca, por meio da comunicação verbal direta,
em contato com a perspectiva real de Deus em nossa vida e na nossa situação
atual.
O objetivo da profecia neste contexto é abrir nossos olhos para o
amor e cuidado de Deus, especialmente nos capacitando a discernir as
situações e escapar de qualquer artimanha que o inimigo empregue para
nos apanhar. A profecia nos lembra, de forma direta, sem rodeios, porém
com amor, tudo o que Deus nos providenciou em Cristo Jesus. A profecia
restaura nossa alma, renova nossa mente e reaviva nosso espírito.
Ela irrompe através das trevas trazendo luz real, fé real e
confiança. Ela contém nossas atitudes precárias e nossos conceitos negativos
sobre nós mesmos, e cria um entendimento e apreciação em relação ao nosso
valor pessoal.

A profecia edifica, encoraja e conforta a Igreja


Esses três elementos da profecia, encontrados em 1 Coríntios 14.3,
são o resultado ou produto final necessário de uma profecia, como também
o conteúdo estabelecido dentro de uma palavra de revelação.
Se uma palavra profética fala da grandeza, da majestade e da
supremacia de Deus nos céus, pode incentivar a Igreja à luta, a permanecer
firme, a entrar em oração e batalha espiritual. A profecia nos exorta a
continuar firmes.
Se uma palavra fala sobre a compaixão de Deus, Seu perdão e
disposição de estender misericórdia e purificação, fará com que as pessoas
tenham um desejo de se aproximar dele e restaurar a vida. A palavra edifica o
espírito das pessoas e libera o tipo de fé através da qual o Espírito Santo
pode operar e edificar.
A profecia não permite que a igreja se sinta confusa, degradada ou
condenada. Ela impede que as pessoas se sintam inferiorizadas ou
intimidadas. Parte do propósito da profecia é fortalecer os vínculos entre
Deus e Seu povo. A palavra edificar (fortalecer e construir) ocorre sete vezes
somente neste capítulo de 1 Coríntios.
Quando é feita da forma correta, no tempo oportuno e com as
palavras apropriadas, a profecia também traz encorajamento. O Senhor
libera uma bênção magnífica por meio dos pronunciamentos proféticos. Esse
tipo de palavra dá um forte empurrão na Igreja; ela assegura, inspira e incita
as pessoas à gratidão. Estimula a fé e cria um senso de bem-estar na
congregação.
Cada igreja enfrenta testes de caráter, integridade, compromisso com
Deus e uns com os outros e lealdade à visão e à liderança local. Esses
testes são uma parte vital de nosso crescimento e desenvolvimento como
corpo. Quando falhamos, perdemos terreno vital na esfera do Espírito.
As igrejas enfrentam muitas barreiras, obstáculos e empecilhos; cada
ataque à nossa identidade e visão de corpo reduz a expectativa do
sobrenatural e elimina qualquer fé ativa de nosso estilo de vida comunitária.
Teremos de lutar constantemente contra o desânimo. Como uma regra áurea,
em tempos de desânimo libere a profecia no meio de congregação ou
busque um profeta.
O encorajamento da profecia libera a perspectiva de Deus, a qual
traz confiança (o que a Bíblia chama de esperança!). No entendimento
ocidental, esperança é um termo desvalorizado. O verdadeiro significado é
confiança absoluta, o tipo de confiança que descansa no meio dos
tumultos, ri das ações do inimigo e produz fé suficiente para pelo menos
permanecer firme e olhar para Deus, ou até para marchar ativamente adiante,
cheio de poder e expectativa.
A profecia também libera conforto na vida das pessoas amarguradas
pelas adversidades, dores e dificuldades. Nem sempre Deus nos livra das
dificuldades da vida, embora Ele prometa estar conosco quando passarmos
pelo fogo. A cada dia pessoas morrem por causa da fé. Por todo o mundo,
somente no ano de 1993, houve 200.000 mártires. Entes queridos morrem,
crianças contraem doenças terminais; de repente tragédias inexplicáveis
podem se abater sobre nós; a vida das pessoas pode ser reduzida a
escombros pela infidelidade conjugal e pelo divórcio. Muitas pessoas estão
perdendo o emprego e a carreira, perdendo suas casas, e outros bens, por
causa de dívidas.
Na tragédia humana, o Espírito Santo pode derramar uma palavra
de consolo. A palavra profética pode aliviar a dor, reduzir o estresse,
revigorar o coração, dissipar a tensão e proporcionar um apoio saudável que
no final trará novo ânimo e alegrará o coração das pessoas.
A profecia pode trazer correção e advertência
Há muitos casos nas Escrituras de pessoas que receberam
advertências por meio da profecia para abandonarem seus caminhos
perversos e se arrependerem. As cartas às sete Igrejas (Ap 2 e 3) contêm
advertências e exortação ao arrependimento e a mudança.
Esse tipo de profecia precisa da aprovação antecipada dos líderes das
igrejas (veja o Capítulo Cinco, “Diretrizes para o manuseio da profecia”).
É muito importante que falemos com os líderes e pessoas
responsáveis antes de qualquer pronunciamento público que envolva
denúncia de pecados ou advertência. Essas reuniões prévias podem servir
como filtro para fazer distinção entre aquilo que é pessoal (como
frustrações, mágoas ou negativismo) e a mensagem. Isso capacita o profeta
a transmitir uma mensagem pura e clara.
A profecia pode oferecer direção e melhorar a visão
Direção, propósito e visão são elementos vitais para indivíduos e
grupos. Onde não há visão, sempre há muitas pessoas perecendo!
A partir do interior das igrejas, a palavra profética pode ser liberada e
proporcionar um foco mais aguçado, no qual podemos nos concentrar
nos nossos objetivos e planos.
Visão pessoal e corporativa pode ser liberada com maior
profundidade de fé e confiança. É essencial que cheguemos a um nível de
entendimento e confiança concernente ao chamado do Senhor em nossas
vidas.
Onde há grande quantidade de profecia interna trazendo direção e
visão, pode ser necessário que haja alguma cautela. Todas as mensagens
precisam ser avaliadas; em especial, eu acrescentaria, aquelas que dizem
respeito à direção de um trabalho que está para começar entre os membros da
igreja. Para evitar enganos, pode ser uma boa idéia pedir a um ministério
profético reconhecido e não ligado ao trabalho para que dê uma palavra de
confirmação. Essa pessoa não tem interesses em jogo e pode ser imparcial e
objetiva no processo de julgamento e ao trazer a palavra de confirmação.
Palavras de direção e visão que chegam à igreja vindas de fora
podem ter um efeito transformador sobre o trabalho. Já perdi a conta das
ocasiões em que Deus me usou dessa forma por todo o mundo. Muitas vezes
eu relatei profeticamente idéias inteiras, quase que palavra por palavra,
conceitos e definições sobre liderança, quando os líderes se reuniam para
discutir o futuro da obra.
Numa ocasião, eu profetizei a respeito de uma conversa que dois
presbíteros tinham travado ao vir para a reunião na qual eu estava pregando!
No caminho, os dois ficaram surpresos ao descobrir que tinham o mesmo
desejo de se envolver no ministério pastoral. Durante a reunião eu chamei os
dois, impus as mãos sobre ambos para recebe- rem uma nova unção pastoral.
Deus faz as coisas na hora certa!
A profecia proporciona uma agenda para oração
A coisa mais sábia e sensata que podemos fazer em reuniões de
oração é descobrir o que Deus deseja fazer e pedir que Ele faça.
Muitas iniciativas de oração bem sucedidas têm suas raízes no ministério
profético. A profecia cria uma agenda para oração.
Em 1982, o Senhor começou a me mostrar coisas que
aconteceriam na igreja britânica:
a. Eu vi que a Comissão de Caridade receberia mais poder para denunciar
práticas erradas em todas as agências voluntárias, incluindo as igrejas.
Muitos cadastros de instituições sem fins lucrativos seriam revogados.
Agora a legislação está sendo alterada para que isso seja feito.
Muitas igrejas serão levadas aos tribunais e seus líderes serão
acusados de improbidade administrativa.
b. O Governo tem planos de investir milhões de libras esterlinas na
comunidade e atualmente está fiscalizando com maior rigor as agências
não governamentais. Instituições antigas serão desativadas e novas
entidades serão fundadas. É tempo das igrejas se sacrificarem e se
unirem para estabelecer um plano de ação social conjunto que
restabeleça a posição da igreja no coração da comunidade.
Deus está abrindo uma porta no céu por meio do Governo, o qual
liberará grandes quantias de dinheiro no Reino. Precisamos
restabelecer a credibilidade de nossos programas e desenvolver
programas sérios de treinamento, com paciência e sabedoria, a fim
de restabelecermos o respeito das comunidades pelas igrejas.

c. Haverá uma rede de ministérios de libertação e de intercessão se


espalhando por todo o país. Isso proporcionará uma estratégia para a
batalha e a formação de grupos de oração mistos (com membros de
várias igrejas) por todo o país. Essas redes compartilharão informações,
programas de treinamento e de capacitação, e estratégias comuns de
batalha.
d. A unidade é o grande alvo do Espírito Santo a partir dos anos 90.
Veremos um mover de Deus ocorrendo, passando por todas as
denominações. Como alguém disse, “o dia dos córregos terminou; agora
é o tempo dos rios”.
e. Nós veremos barreiras locais, regionais, nacionais e culturais sendo
derrubadas, quando o Senhor começar um processo totalmente novo de
unidade e liberdade.
Haverá realmente um Reino Unido. Eu costumava pensar que esse
nome fosse uma piada. No entanto, em 1983 o Senhor me mostrou
que era um nome profético. O Senhor está levantando um campeão
nas nações célticas que terá uma tremenda unção para unidade e que
voltará o coração das nações umas às outras. A falta de unidade é
uma das maiores barreiras para o avivamento.
Nós teremos conferências e convenções, não somente com
propósito de falar sobre unidade, mas de promover ativamente a
reconciliação, pedidos de perdão e restauração. Perdão e cura
fluirão. A divisão Norte/Sul na Inglaterra cairá por terra. A
rivalidade entre as cidades e municípios morrerá. Lancashire deixará
de lutar a Guerra das Rosas com Yorkshire. As cidades estarão
unidas no coração e no espírito. Liverpool deixar a de odiar
Manchester. Esse tipo de rivalidade se repete por toda a nação.
Na esfera do Espírito, a Inglaterra deve reconhecer que precisa dos
seus irmãos célticos. O arrependimento deve fluir e antigas rivalidades
devem ser deixadas de lado.
Essas conferências se destinarão a derrubar fortalezas históricas de
intolerância, ameaças e traições. Quando essas coisas finalmente forem
tratadas, veremos avivamento econômico e espiritual irrompendo por todo o
país.
Há bênção na unidade que atrai o Espírito Santo. Há uma
maldição na desunião que atrai os demônios. A desunião começa com uma
pessoa contra outra e se multiplica pelas cidades, regiões e nações. A
unidade começa com uma pessoa assumindo uma posição de amor e
recusando-se a tomar partido. O que precisamos é promover a unidade nos
níveis pessoal, individual e corporativo em todas as igrejas, lares e cidades,
até atingirmos toda a nação.
Há um despertamento sobre a Igreja britânica, principalmente no
cristianismo estabelecido, institucional. Há vários anos atrás o Senhor me
mostrou que eu devia separar 25% de meu tempo (minha agenda) para as
igrejas denominacionais. Tenho estado no movimento de novas igrejas por
mais de 20 anos. Tirando seis meses com os Irmãos, as novas igrejas são tudo
o que eu conheço. Não tenho nenhuma confusão ou problemas emocionais
dos quais tenha conhecimento, tendo gastado toda a minha experiência cristã
num estado de alegre ignorância concernente ao fenômeno da vida fora do
ambiente de uma igreja nova.
Felizmente agora, vários anos mais tarde, aproximadamente 70% do
meu tempo é dedicado às denominações. Estou extremamente feliz com os
relacionamentos, fazendo muitos amigos novos e vendo um avivamento
irrompendo diante dos meus olhos.
Há um despertamento em todas essas igrejas, uma mistura
fascinante de crescimento, mudança, uma paixão por Jesus e um novo
radicalismo sobre a plantação de igrejas e envolvimento comunitário. Há
uma fome enorme pela realidade e pela presença sobrenatural de Deus.
O que achamos que pode levar anos para acontecer, pode ocorrer em
poucos meses. Os meses podem ser resumidos a semanas, enquanto o
Senhor se move em Seu cronograma.
Cada uma das palavras dessa agenda profética me proporcionou uma
agenda de oração. Na profecia a vontade de Deus é expressa. Onde a vontade
divina se faz conhecida, nós temos a base para reuniões constantes de oração
até que essa vontade seja cumprida.
A profecia abre espaço para o ensino da Palavra e
confirma a pregação
“Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios
e todo o conhecimento...” (1 Co 13.2)
Na linguagem bíblica, um mistério é um segredo, pensamentos ou
planos escondidos, etc., às vezes ocultos da humanidade. Muitas vezes o
Senhor já me deu vislumbres de revelações que me levaram a examinar as
Escrituras e abriram novas áreas de verdade em minha vida pessoal. Até
aquela revelação, para todos os efeitos, aquelas coisas estavam ocultas para
mim. A revelação inspira a busca por conhecimento novo, nas Escrituras.
A tragédia é que algumas pessoas têm o vislumbre de revelação mas
não seguem adiante, dando assim início a uma heresia ou erro em vez de
uma verdade reveladora. A verdade estará presente em parte, mas não
plenamente. A corrupção entra na forma de ideias e conceitos humanos que
se não forem avaliados, podem causar danos reais às igrejas. A revelação
contínua leva ao estudo e à oração (e vice-versa!).
Nos últimos anos eu recebi várias profecias sobre a minha vida,
acerca de um fluxo de revelações. Agora estou no processo de desistir de
partes do ministério a fim de ter tempo para estudar e orar como parte de
minha resposta a essas palavras proféticas.
A profecia pode inspirar o entendimento dos mistérios e do
conhecimento. Paulo confirmou isso quando escreveu sobre sua
“compreensão do mistério de Cristo... [que] não foi dado a
conhecer aos homens doutras gerações, mas agora foi revelado ...
aos santos apóstolos e profetas de Deus” (Ef 3.4,5)
Esta é outra razão porque temos de promover e provocar o julga-
mento e a avaliação ativa de todo pronunciamento profético. Agora temos o
perigo da falsa doutrina acrescentado à ameaça da falsa profecia. Tenho de
dizer pessoalmente, que prefiro enfrentar o perigo da falsa revelação do que
viver na pobreza da ausência de revelação.
A profecia em si não nos salvará da ignorância e nem resolverá todos
os nossos problemas. A igreja de Corinto tinha uma presença profética bem
estabelecida, mas isso não a livrou dos problemas com pecados, imoralidade
e carnalidade.
O apóstolo Paulo admitiu:
“Em parte conhecemos e em parte profetizamos” (1 Co 13.9)
Às vezes, há algo de incompleto em nossos pronunciamentos
proféticos. A profecia também pode confirmar o ensino da Palavra, antes ou
depois do ensino. Em muitos casos, uma profecia é transmitida durante o
louvor e confirma ao pregador que o texto ou ensino que ele preparou
realmente foi ordenado por Deus. Semelhantemente, eu já profetizei em
igrejas os conceitos e idéias que já tinham sido transmitidos em momentos
anteriores de ensino e pregação.
A profecia pode proporcionar oportunidades evangelísticas
O cenário em 1 Coríntios 14.24, 25 é algo que toda igreja deveria
aspirar:
“Se entrar algum descrente ou não instruído quando todos
estiverem profetizando, ele por todos será convencido de que é
pecador e por todos será julgado, e os segredos do seu coração
serão expostos. Assim ele se prostrará, rosto em terra, e adorará
a Deus, exclamando: ‘Deus realmente está entre vocês’”
Imagine um descrente entrando numa reunião onde há vários
pronunciamentos proféticos. O resultado da profecia pode ser dinâmico e
dramático. A profecia é reveladora por meio de inspiração, Deus pode
revelar todas as coisas, mesmo os segredos mais profundos.
Já vi muitos ateus e céticos sendo persuadidos por Deus por meio
da profecia. O Espírito convence do pecado (Jo 16.8-11). A profecia pode
descobrir problemas passados que precisam ser acertados. Pode
proporcionar uma situação de arrependimento, restituição e avivamento.
A evangelização profética é um fenômeno crescente nas igrejas de
hoje. Ela conscientiza as pessoas da presença sobrenatural de Deus. Um dos
meus bons amigos, Charles Slagle, é um evangelista profético. Em essência,
ele é um evangelista com uma poderosa unção profética. Ele também tem
grande sensibilidade ao Espírito e uma real compaixão pelas pessoas. Meus
colegas pastores e eu recebemos Charles e Paula para uma turnê de seis
semanas pelo Reino Unido – e os resultados foram dramáticos. Foi tremendo
como selecionávamos pessoas não cristãs dentro de um recinto lotado e
falávamos com elas profeticamente.
Muitas igrejas com as quais trabalhei estão incentivando o
trabalho porta a porta com palavras de conhecimento e profecias. O Senhor
sabe quais lares estão prontos para a ceifa. Ele sabe o que está acontecendo
em cada casa. Ver as coisas da perspectiva de Deus nos proporciona uma
agenda de oração que nos possibilita ir a certos lares com algo específico
para dizer, e não apenas uma mensagem generalizada.
Envie os intercessores, descubra em que lares Deus está interessado e
está envolvido, libere palavras proféticas em oração e envie os evangelistas
depois, a fim fazerem a colheita.
A profecia pode liberar as igrejas em novas doutrinas e
práticas
Em primeiro lugar, permita-me qualificar esta afirmação. Não
estamos falando sobre novas doutrinas e práticas que nunca foram adotadas
na Igreja universal. Pelo contrário, estamos nos referindo a novas doutrinas e
práticas que podem ser completamente novas para uma certa igreja local.
Deixe-me ilustrar.
Há vários anos atrás, o Senhor me deu uma série de profecias para
certas igrejas concernentes ao tipo de pessoas que o Senhor lhes daria em
cinco anos. Uma igreja em particular era composta por pessoas brancas,
ricas e de classe média. A palavra foi que o Senhor estava enviando
pessoas quebrantadas e oprimidas, pobres e necessitados, pessoas que
sofreram abusos e que causaram abusos, pessoas viciadas em drogas e álcool;
pessoas envolvidas com ocultismo, mães solteiras, órfãos e pessoas
marginalizadas.
Louvado seja Deus, algumas semanas mais tarde a igreja me
procurou pedindo ajuda. Eles tinham compreendido plenamente que a
entrada dessas pessoas mudaria por completo o perfil da igreja. As
repercussões da palavra foram fantásticas. Eles sabiam que tinham vários
anos para fazer as mudanças necessárias para acomodar o tipo de pessoas e o
crescimento que Deus lhes daria.
O que foi prometido profeticamente foi uma colheita de pessoas que
Satanás vinha escravizando. Eles teriam mais ataques do inimigo contra
a igreja e esta precisaria de um novo entendimento e prática de batalha
espiritual com os quais não estava familiarizada até aquele momento. Não
podemos conquistar terreno do inimigo se ele tiver conquistado terreno em
nossa vida.
Começamos a ensinar a igreja sobre batalha espiritual defensiva.
Como manter nossos lares e nossas vidas livres dos ataques do inimigo,
lutar contra as enfermidades e problemas financeiros, etc. Era um campo
desconhecido para muitos membros – uma nova verdade e uma nova
prática.
Posteriormente nós ensinamos a eles sobre batalha ofensiva na vida
(enfrentar o inimigo onde o encontrarmos), em oração e em adoração.
Tornamo-nos mais militantes em nosso aspecto em toda a questão de batalha
espiritual. Na adoração, adoramos a Jesus como o Rei guerreiro, e
declaramos nossa supremacia em Deus. Graças a Deus, sem exagerar e cair
no triunfalismo, começamos a delimitar a autoridade dos crentes.
Mais tarde nós percebemos que estava na hora de mudar para
aqueles locais. Deus está levantando uma geração de “Josués”, prontos
para a batalha. Pessoas que penetram em território novo e desconhecido,
esperando grandes lutas e grandes vitórias!
Derrubando fortalezas, conquistando a terra e aprendendo a defender
o que foi conquistado, ocupando posições estratégicas até a volta do Senhor –
é assim que o Espírito Santo está operando em nossos dias.
Depois do chamado, vem o treinamento. Aquela igreja está pronta
para se estabelecer em sua herança. Agora seus membros têm uma
consciência da batalha espiritual e da autoridade que receberam e que não
tinham antes da mensagem profética. Para eles, a profecia serviu para
introduzi-los numa nova doutrina e prática.
A profecia proporciona insight em situações de
aconselhamento
O aconselhamento é um ministério extremamente necessário nas
igrejas de hoje. Trata-se de uma parte necessária do desenvolvimento da
salvação diante de Deus. O problema hoje nas igrejas é que um
evangelho de qualidade muito precária tem sido pregado. Elas recebem
uma mensagem evangelística que fala que “suas necessidades serão supridas
em Cristo”. Isso cria uma geração de pessoas que esperam que Deus e a
igreja façam tudo por elas.
O verdadeiro evangelho pregado em Atos era que Deus tinha feito
esse mesmo Jesus Senhor e Cristo. A inferência era que: “Jesus é Senhor:
o que faremos sobre isso?”. Atualmente temos igrejas cheias de inválidos e
não de guerreiros.
O aconselhamento, em especial, deve ser conduzido como parte da
introdução do indivíduo na vida da igreja e nos fundamentos de uma
caminhada com Deus cheia do Espírito. Para ser efetivo, o aconselhamento
precisa da cooperação do evangelista, do pastor, dos professores e dos
profetas, sendo que todos colaboram juntos para realizar um bom
nascimento e um crescimento efetivo nas coisas de Deus.
A profecia pode chegar ao âmago de uma situação de uma forma
muito profunda, lançando o machado na raiz dos problemas.
Ela também nos permite focar a atenção em Jesus, o que em si já
cria movimento e mudança. Sem o elemento sobrenatural, o
aconselhamento pode focar nos problemas e nos processos e não em Jesus, o
libertador.
No aconselhamento, a profecia pode nos ajudar a economizar tempo.
Ela lança fora atitudes inúteis e camadas de engano, debaixo das quais as
pessoas tentam se esconder. A profecia, em conjunto com as palavras de
conhecimento e de sabedoria, pode nos livrar de horas intermináveis de
diálogo, expondo situações e trazendo rápido alívio. Ela proporciona uma
fonte de insights e de poder para o conselheiro.
A entrada do sobrenatural significa que não podemos tolerar mentiras,
enganos e fingimentos. Ela provoca um nível de honestidade e de temor
piedoso que quebrará qualquer fortaleza de pecado na vida dos crentes.
A profecia proporciona um espírito de gratidão e de louvor
Normalmente, nós perseveramos na oração até que Deus nos diga para
parar, a questão seja resolvida, ou tenhamos uma certeza (pela fé) que nossa
oração foi ouvida.
A profecia pode revelar às pessoas exatamente o que Deus tem no
coração naquele momento, e o que devemos fazer a seguir em resposta ao
mover do Espírito. Falando numa conferência, há alguns anos atrás, o
Senhor me mostrou que na audiência havia uma mulher que estava jejuando
e orando por sua filha que havia fugido de casa. O Senhor me mostrou que
aquela mãe estava profundamente preocupada com a filha rebelde, ansiosa de
que ela não se envolvesse com drogas, nem imoralidade.
Quando impus as mãos sobre ela, o Senhor me deu a certeza em
profecia de que Ele estava ativamente envolvido na vida da garota e que
ela voltaria para casa sem dano algum. Além disso, a palavra profética
disse à mãe que Deus ouvira suas orações e estava se movendo para
responder. Em resposta a isso, a profecia continuou, a mãe devia parar de
suplicar e começar a agradecer e a louvar a Deus por Seu livramento.
Durante vários meses, aquela mãe agradeceu e louvou a Deus. A princípio,
nada mudou e, de fato, a situação até piorou. A mulher, contudo, manteve-
se firme à palavra profética e continuou a louvar ao Senhor e a agradecer. No
final, não somente sua filha voltou para casa totalmente restaurada pelo
Senhor, como sua própria vida foi transformada. Agora aquela mulher tem
um espírito agradecido a Deus e um coração cheio de louvor a Deus. Ela é
uma mulher que sabe ser liberada em louvor e adoração. Como tal, ela
própria é um agente catalisador, levando outras pessoas a ter um espírito de
gratidão.

A profecia proporciona uma injeção de fé


A profecia muda a atmosfera da igreja, abrindo a porta para
milagres, além de proporcionar uma injeção de fé.
Há vários anos atrás, eu liderei um evento num fim de semana numa
igreja. Havia muito ceticismo em relação aos dons sobrenaturais,
principalmente a profecia. A incredulidade, desconfiança e suspeita eram
tangíveis. Eu sabia que a menos que Deus se movesse e fizesse algo especial,
seria um final de semana bem difícil.
Em situações como esta, o profeta deve descansar no Senhor, pois a
tentação é tentar fazer algo espetacular em vez de deixar o Espírito se mover
na esfera sobrenatural.
Eu coloquei toda a minha energia para estar quieto e em paz diante
de Deus, escolhendo deixar minha visão se encher do Senhor em vez de ficar
controlando as circunstâncias.
O inimigo de fato tenta transformar o ministério ungido num show
espetacular. Precisamos lutar contra isso nos humilhando, diminuindo, para
que o Senhor possa crescer. Não estamos aqui para provar o quanto somos
poderosos, mas apenas para servir ao Senhor.
Eu sabia que não devia reagir à incredulidade e à atitude negativa das
pessoas, mas sim estar quieto e bem consciente da presença do Senhor.
Na primeira reunião, quando comecei a ensinar, o Senhor me deu
uma visão e uma interpretação profética para um jovem presente. Eu vi o pai
dele dirigindo um caminhão amarelo. O Senhor me mostrou em que empresa
ele trabalhava e onde estava naquele momento. Eu disse ao rapaz onde ele
podia encontrar seu pai e que o Senhor estava fazendo uma obra de
reconciliação. A igreja estarreceu! Aparentemente o jovem era novo
convertido e a igreja tinha estado orando para que o Senhor lhe permitisse
encontrar seu pai, a quem ele não via desde os quatro anos de idade.
Às vezes o Senhor não deseja se concentrar nos elementos
negativos, como incredulidade, por exemplo. Ele se move no espírito oposto
e realiza algo que faz a fé crescer ou explodir. Aquela palavra profética
abriu as portas em todo o fim de semana para que a presença
sobrenatural de Deus viesse e transformasse as pessoas. A fé começou a
crescer nas pessoas, que viram que Deus é poderoso e tinha interesse nelas. O
jovem cumpriu a palavra profética e desde então se reconciliou com o pai,
que agora também está buscando ao Senhor.

A profecia é vital para a batalha espiritual


Paulo instruiu Timóteo:
“Segundo as profecias já proferidas a seu respeito, seguindo-as
você combata o bom combate” (1 Tm 1.18)
Precisamos usar o ministério profético para combater, lutando contra
o inimigo e as circunstâncias da vida.
O rei Josafá derrotou os inimigos com base numa palavra
profética pronunciada por Jaaziel (2 Cr 20.14-17). Num momento, o povo
mudou, deixando de ser uma multidão chorosa, cheia de auto piedade,
esperando ser aniquilada a qualquer momento, para ser um corpo de
guerreiros decididos e tão confiantes em Deus que foram cantando para a
batalha. Jamais subestime o poder da profecia.
Josué seguiu um padrão similar de ouvir a palavra profética e
obedecer (Js 6.1-5). Recebendo instruções proféticas e um plano de batalha
mediante uma palavra de profecia, ele viu Jericó cair exatamente como a
profecia tinha predito.
Nenhum desses métodos estaria num manual de guerra como
procedimento padrão para se vencer uma batalha. Não há registro de outro
exército sendo destruído por meio de cânticos e nem de cidades fortificadas
tomadas por meio de marcha e vozes gritando!
Profecia e batalha espiritual caminham juntas.
PARTE UM:
O DOM DA PROFECIA
Capítulo Três

Primeiros passos na profecia


Já perdi o número de vezes em que, nos últimos vinte anos, as pessoas
me perguntaram: “Quando profetizo, como posso saber se é o Senhor que
está falando por meu intermédio, ou se sou eu ou até mesmo o inimigo?”. É
claro que se trata de uma pergunta muito oportuna. Nós somos humanos,
sujeitos a dores, desilusões, mágoas, sonhos, aspirações, anseios e desejos.
Tudo isso pode conspirar contra nós e colorir a mensagem profética,
dando-lhe um tom diferente do que Deus tencionava.
É possível que uma pessoa frustrada fale profeticamente transmitindo
seus próprios pensamentos e opiniões misturados àquilo que Deus
realmente está falando sobre a situação. O inimigo pode inspirar esse tipo de
fenômeno ou a pessoa pode estar sendo usada por outro espírito que não
vem do Senhor. Isso tende a ocorrer principalmente quando as pessoas
enterram suas mágoas e sentimentos de rejeição e afundam em ira –
transformando suas vidas num solo fértil para a atividade do inimigo. Por
outro lado, o inimigo também pode usar nossos pensamentos e impulsos
descontrolados e, quando falamos movidos pelo nosso próprio espírito, ele se
move por trás de nossas palavras para causar engano.
Assim, podemos estar sob a influência direta do inimigo (por meio de
amargura e questões não resolvidas em nossa vida) ou indiretamente (por
meio de atitudes erradas ou a simples falta de bons relacionamentos).
Isso, é claro, destaca os problemas que todos os verdadeiros profetas
devem enfrentar. Como podemos pronunciar uma mensagem profética pura
que glorifica ao Senhor, livre das misturas do nosso próprio coração e das
influências do inimigo? Então, temos de adicionar o elemento da fé à
equação, porque às vezes teremos de trabalhar sem ter plena certeza; teremos
de profetizar até onde nossa fé permitir.
O que precisamos, quase que como uma garantia de que não
desonraremos o Senhor Jesus, não desacreditaremos o ministério profético, e
não causaremos dano ao Corpo de Cristo, é uma enorme dose de humildade.
Nesta vida, ou nós nos humilhamos ou somos humilhados. A
humildade não é uma característica natural em qualquer ser humano –
ninguém nasce com ela. Nosso relacionamento com Deus se edifica mais
eficazmente quando submetemos nossa vida, pensamentos e perspectivas a
Ele. Nosso alvo sempre deve ser viver da melhor forma possível a fim de que
o Espírito Santo não se entristeça, mas seja bem-vindo em nossa vida.
Se profetizarmos em humildade e cometermos um erro, o Senhor nos
dará graça para enfrentar a questão e acertar as coisas. Os erros são
inevitáveis enquanto aprendemos a nos mover no sobrenatural. Por isso a
Bíblia é tão clara em 1 Tessalonicenses 5.19-21:
“Não apaguem o Espírito. Não tratem com desprezo as profecias,
mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom.
Afastem-se de toda forma de mal”.
Por implicação, significa que precisamos ser capazes de separar o que
é bom do que é mau; os equívocos e as interpretações errôneas. Falaremos
mais disso no próximo capítulo.
O que temos de fazer, com a ajuda do Espírito Santo, é viver nossa
vida da melhor forma possível, a fim de que não haja áreas que não estejam
sujeitas ao Senhor Jesus.
Neste capítulo quero destacar algumas áreas chave de
preparação de modo que possamos exercitar nossa mente e coração no
entendimento e na prática. Especificamente, examinaremos os elementos da
Preparação, Expectativa e Operação.
Preparação
Oração
Em termos de preparação, a oração é absolutamente vital para nós. Ela
é importante em tudo o que fazemos, mas especialmente para o ministério
profético. Oração e profecia são elementos inseparáveis, em termos do seu
processo de comunicação; ambas envolvem ouvir antes de falar.
Às vezes eu acho que não ouvimos o suficiente quando oramos.
Quando eu oro por algo, fico atento para ouvir, pois nunca sabemos em que
momento Deus dirá, “Muito bem, vou conceder o que você está pedindo”.
Às vezes oramos mais do que precisamos porque não prestamos atenção
quando Deus responde: “Estou com você neste projeto”. Sempre que você
estiver orando, não importa o que esteja pedindo, adquira o hábito de
ouvir com atenção. Estou entrando numa fase em minha vida em que Deus
está respondendo minhas orações quase imediatamente! Antes eu
costumava ter de orar durante vários dias e até semanas sobre um assunto,
mas agora estou aprendendo a ouvir a voz de Deus mais claramente. Minhas
expectativas em termos de ouvir estão aumentando, e estou ouvindo Deus
começar a dizer “sim”, e a sentir um senso maior de fé quando eu oro por
algo que na verdade Deus já liberou e já respondeu. Pode não haver nenhuma
evidência na esfera física visível, mas sei que algo mudou no meu espírito.
Obviamente, nós sabemos que oração não é somente apresentar a
Deus uma lista de pedidos. O elemento mais maravilhoso sobre a oração é
que você pode conversar com Deus sobre qualquer assunto onde quer que
você esteja; não importa como você esteja se sentindo ou o que esteja
pensando, você pode falar com Deus sobre isso. Você pode abrir o seu
espírito e caminhar com Deus. Eu gosto de ser bem específico e orar em
duas ou três frases: “Senhor, ajude tal pessoa”; “Pai, lembre-se dos meus
amigos que estão na África”
– mantendo o fluxo da oração, mantendo o canal de comunicação aberto o
máximo possível.
Além disso, oração é uma questão de pedir continuamente ao
Espírito Santo que se manifeste e fale – “Pai, fale comigo”, “Espírito Santo,
venha sobre mim neste momento e fale comigo”. Qual foi a última vez que
você pediu um novo encorajamento ao Senhor? Especificamente? “Pai, nesse
exato momento eu preciso de encorajamento. Por favor, faça algo. Por favor,
me diga algo. Por favor, me ajude”. A seguir, você pode fazer pequenos
intervalos durante o dia para orar.
Antes de ser chamado pelo Senhor para o ministério, eu era gerente
de treinamento numa grande empresa de treinamento e recrutamento.
Minha vida era um emaranhado confuso de questões administrativas,
problemas de gerência, pesquisas, envolvimento com o Governo, sessões
de treinamento, organização de eventos e elaboração e supervisão de
estratégias para a empresa.
Naquela época estafante havia dias em que eu dizia às secretárias e
recepcionistas que queria um intervalo de dez minutos e não desejava ser
perturbado. Eu entrava no meu escritório, fechava a porta e me sentava
quieto, agradecendo a Deus e ouvindo, orando e esperando ver as coisas da
perspectiva divina. Muitas decisões acertadas fluíam daqueles intervalos
de oração. Não posso dizer honestamente que sempre ouvia a Deus falando
especificamente naqueles momentos (embora às vezes eu ouvisse!). No
entanto, meu progresso na empresa, juntamente com as constantes
promoções que recebia, provavelmente indicam que o Senhor me
influenciou muito mais do que eu de fato percebia na época.
Há outro fato importante: aqueles curtos intervalos para oração
mantinham meu coração livre da pressão da carne. A oração mantém os
canais de comunicação abertos.
Provavelmente dois terços do resto do mundo gostaria de trocar de
lugar conosco que vivemos nos países ocidentais, não importa o quanto
sejamos pobres. Para muitos, nós somos ricos além dos sonhos mais
ousados deles.
Conte suas bênçãos, pois há muitas coisas acontecendo em sua
vida pelas quais você deve ser grato. É muito importante sermos
agradecidos a Deus. Creio que às vezes, quando não somos agradecidos, há a
possibilidade de que nos tornemos ingratos para com as pessoas e vivamos
uma vida desprovida de graça. São coisas como gratidão, louvor e adoração
que realmente mantêm a presença de Deus sempre renovada em nosso
coração. Elas nos capacitam a manter a consciência de Deus e daquilo que
queremos ser. Uma das coisas que Deus tinha contra Israel era que Ele não
ocupava o pensamento do povo. Um estilo de vida de ações de graças. Temos
tanto a agradecer. Apliquemos 1 Tessalonicenses 5.16... Não é um modo
ruim de viver.
Meditação
Depois da oração, creio que a meditação é muito importante.
Vivemos numa época em que, devido às influências das religiões orientais,
meditação se tornou quase que uma palavra proibida nos círculos cristãos. Eu
sempre afirmo que essas religiões extraem o que há de melhor na Bíblia e
depois apresentam essas verdades de uma forma diferente. A meditação fez
parte do relacionamento do ser humano com Deus durante milhares de anos.
A Bíblia com frequência menciona sua prática – principalmente nos Salmos
(ex. Sl 119). Há muitas passagens que falam da necessidade da meditação.
Meditar significa simplesmente “considerar profundamente, refletir, estar
absorto em pensamento”. Não nos dói sentar e refletir sobre Jesus, meditar
sobre Sua Pessoa – como Ele é bom, como é amoroso. Para mim, Jesus é a
Pessoa mais bondosa que já conheci. Ele também é a pessoa mais feliz e bem
disposta que já conheci. Quando entramos em contato com o céu, podemos
ouvir risos. Quando realmente entramos na presença de Deus, tremenda
alegria, bem-estar e paz são derramados em nossa vida.
Num retiro de fim de semana de uma igreja, um dos participantes
estava enfrentando tempos realmente difíceis e eu tive um discernimento de
que muitas coisas em sua vida estavam em estado deplorável. Numa das
reuniões, senti-me compelido a impor as mãos sobre ele e orar para que
fosse novamente cheio com o Espírito Santo. Ele caiu no chão e riu por
quase meia hora. Realmente riu. Ninguém podia fazer nada. A reunião
mudou completamente. Todos os presentes começaram a ter acessos de riso.
Foi uma das melhores reuniões que já participei. Aquele homem não
conseguia parar de rir porque o poder de Deus desceu sobre ele, a alegria do
Senhor o encheu, e, por intermédio dele, Deus começou a encher todos os
presentes. Ninguém conseguia ficar quieto. Todos começamos a andar de um
lado para o outro, algumas pessoas caíram no chão e todos riam, enquanto
uma enorme alegria do Senhor enchia o local.
Já vi algumas imitações preocupantes desse tipo de unção nos últimos
anos, com pessoas cobrando grandes quantias das igrejas para trazerem a
alegria do Senhor. Orações são feitas invocando o assim chamado riso do
Espírito Santo sobre as congregações, repetidamente, em muitas reuniões.
Creio que alegria do Senhor não deve ser invocada como se fosse um
gênio saindo de uma garrafa; também não é uma manifestação espiritual que
atende a ordem de um homem. Trata-se do resultado da presença de Deus no
meio do Seu povo, quando Ele, soberana e graciosamente, faz rios de água
viva jorrarem dos corações. A alegria do Senhor vem de dentro, não é
derramada sobre nós como o açúcar no café.
Às vezes fico meditando vários dias, ou até semanas, numa única
passagem das Escrituras. Quando Deus fala claramente comigo sobre um
assunto, não faz muito sentido ficar lendo outras coisas, desde que Ele está
me mostrando algo naquela passagem. Fico meditando nas coisas que Deus
vai me mostrando. Fico totalmente absorvido por aquela verdade.
Quando penso profundamente nas ações de Deus, fico imaginando
que todo cristão tem histórias para contar sobre como chegou até ali, como
foi transformado, como vive, trabalha e adora da forma como faz. É incrível
quando pensamos em como Deus aproxima pessoas com histórias tão
diferentes.
Há muitos anos atrás o Senhor falou comigo sobre trabalhar no
Caribe. Desde então tenho me divertido fazendo piadas quando estou a sós
com Deus sobre meu “ministério de praia e sol”. Durante anos trabalhei em
igrejas de periferia, com telhados caindo aos pedaços, onde parte do
ministério era tirar poeira dos hinários! Eu continuava a dizer: “Um dia
desses, Senhor, tu me darás um ministério numa ilha deserta”. Isso passou a
ser uma piada constante, enquanto eu andava por igrejas em regiões
geladas. “Senhor, lembre- se da minha ilha ensolarada!”.
Novamente o Senhor falou comigo sobre o Caribe. Várias
pessoas confirmaram essa palavra, de várias formas. Meses mais tarde,
enquanto eu falava numa conferência profética em Londres, conheci um
homem no local das conferências.
Eu tinha terminado um seminário e, aproveitando o intervalo, sentei-
me no escritório do pastor titular, para descansar. O pastor tinha acabado de
encerrar uma entrevista com aquele homem e deixou o escritório, deixando
nós dois sozinhos lá dentro. Naquele momento eu estava exausto e só
conseguia pensar em tomar um café e descansar. O homem e eu
começamos uma conversa sobre a conferência que eu estava liderando. Eu
lhe dei um dos meus panfletos promocionais pensando que ele morava nas
imediações e estava interessado em participar da conferência nos próximos
dias.
Ele demonstrou interesse em organizar outra conferência. Foi nesse
ponto da conversa que descobri que seu nome era Dr. Noel Woodroffe, e ele
era de Port Spain, em Trinidad e Tobago, onde liderava uma igreja. Ele me
perguntou se eu gostaria de ir até lá e ser o preletor. Para ser honesto, pensei
que ele estava apenas sendo gentil. No entanto, alguns meses mais tarde o Dr.
Noel me enviou passagens aéreas e minha longa piada com o Senhor
chegou ao fim. No meu espírito, eu podia ouvir risadas. Noel permaneceu
pouquíssimo tempo em Londres... Mas foi o suficiente para o Senhor nos
reunir e criar uma amizade que já dura vários anos. Incrível!
Podemos pensar sobre muitas situações semelhantes. Todos nós
passamos por situações como essa, onde coisas imprevisíveis ocorrem e
modificam o rumo de algumas áreas de nossa vida; de vez em quando é bom
sentarmos e relembrarmos o que Deus tem feito em nossas vidas. Creio que
isso nos ajuda a ser agradecidos, pois há tantas coisas, tantas pequenas
“coincidências” na forma como as coisas acontecem. É bom meditar sobre a
nossa vida – para lembrar e dar graças.
Os antigos profetas estavam sempre relembrando sua história com
Deus. Eles costumavam transmiti-la dizendo, “lembram quando o Senhor fez
isso...” e vemos que centenas de anos mais tarde as pessoas ainda
conversavam sobre o Mar Vermelho, por exemplo, e o que aconteceu lá.
Esperar em Deus
É muito importante esperar em Deus, mas com um senso de
propósito. Eu sempre carrego um bloco de notas onde quer que vá, porque
Deus fala nos lugares mais peculiares. Ainda não encontrei um bloco de notas
a prova de chuveiro, mas estou procurando! Às vezes esperar em Deus
significa mostrar para Ele que você de fato o ama, que Ele é importante para
você, que você tem prazer em quem Ele é. Às vezes quando esperamos em
Deus nada nos ocorre, mas não tem problema, pois estamos apenas colocando
nosso tempo com Ele em ordem. Deus pode não falar logo, mas Ele sempre
fala. Precisamos estar preparados quando Ele o fizer.
Esperar em Deus significa que precisamos ir a um local de
silêncio e sossego. Não é suficiente encontrar um local tranquilo, mas sim (o
que é mais importante) aprender a calar todo o clamor dentro de nossa mente
e coração.
Meditar (pensar profundamente, refletir) e esperar em Deus muitas
vezes andam juntos, ou um pode levar ao outro. As religiões orientais
declaram que a meditação consiste em esvaziar a mente. Algumas até
oferecem tipos de mantras que em muitos casos é apenas a repetição do
nome de divindades hindus. Assim, a repetição monótona daquelas palavras
na verdade é um tipo de adoração.
Na fé cristã, meditar e esperar em Deus é encher a mente com
pensamentos divinos: tomar consciência de Deus. Nesta atividade quieta e
tranquila, Deus derrama Suas palavras como o orvalho da manhã, trazendo
um novo frescor à nossa alma e ao nosso espírito.

Falar em línguas
O dom de línguas, para aqueles que o têm, é um elemento muito
importante na vida devocional e no relacionamento com Deus; ele edifica o
espírito e renova a mente. Eu gosto desse dom porque por meio dele posso
derramar meu coração diante de Deus em qualquer situação em que esteja,
muitas vezes apesar da dor e do cansaço. Quando falo em línguas, tenho a
expectativa de que Deus vai se manifestar e fazer algo. Não gosto de exercer
o dom sem um senso de expectativa porque aprendi que essas duas coisas
andam juntas.
Há momentos em que desejo passar dez minutos adorando a Jesus,
quando me sento quieto e derramo meu coração, dizendo o quanto Ele
significa para mim, o quanto eu o amo e quanto tenho a agradecer. Quando
me posiciono dessa forma e me proponho a desafiar as circunstâncias, a
primeira coisa que ocorre em meu coração é uma reação espiritual. A
primeira coisa que sai de minha boca é uma reação piedosa, de reverência a
Jesus. É muito importante que aprendamos a nos mover no espírito oposto
àquele que está em operação no mundo. Era o que Jesus queria dizer quando
afirmou: “Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem”.
Assim, estamos agindo no espírito oposto. A primeira reação em nós é algo
que honra a Deus. Esta é a única forma correta de viver.
Como sabemos que estamos sendo liderados pelo Espírito Santo?
A única forma efetiva de saber que estamos sendo liderados pelo Espírito é
fazendo a pergunta: “Qual é a nossa reação na situação?”. Se algo difícil ou
ruim acontecer e a nossa reação for de paz, alegria, gratidão, mansidão,
humildade, saberemos que estamos sendo liderados pelo Espírito. Se o que
sair de nossa boca for algo totalmente diferente e oposto, há chances de que
estejamos sendo liderados pela nossa própria carne. Sabemos que estamos
sendo liderados pelo Espírito pelo tipo de caráter que manifestamos em dadas
situações. Assim, é muito importante nos movermos no espírito oposto –
para nós e para Deus.
Falar em línguas constrói um reservatório dentro de nós,
ajudando-nos a encher nosso poço interior. O dom de línguas nos
mantém desbloqueados e em constante comunhão com Deus.
Desejo de profetizar
No caso particular da profecia, é muito útil ter o desejo de
profetizar, pois esta é metade da batalha (1 Co 14.1). Eu descobri que há
ocasiões em que me sinto cansado e faminto numa situação e Deus me diz:
“Quero que você prepare seu espírito”. No meu coração eu digo: “Pai, tu
sabes o quanto estou cansado” e Ele responde: “Filho, tenha o desejo,
porque se você desejar, eu posso operar”. Eu me levanto e digo: “Senhor, eu
quero...” e subitamente me vejo esquecendo o cansaço, indo adiante e
fazendo a vontade de Deus. Tenha o desejo. Deseje ardentemente. Busque.
Espere.
Expectativa
Em adição a tudo o mais, se formos nos mover em qualquer coisa,
seja fé, um dos dons sobrenaturais, seja a pregação do evangelho, qualquer
coisa que fazemos para Deus, precisamos ter um senso de expectativa. Estou
esperando que algo aconteça hoje. Não desejo viver nem um dia sem
expectativa. Não posso imaginar nada pior.
Quando nos damos conta, é noite de sexta-feira e vemos que durante toda a
semana não tivemos nenhuma conversa significativa com Jesus, e ficamos
à deriva. Não é uma boa forma de viver. Quando me levanto pela manhã,
desejo ter uma expectativa de que Deus fará algo naquele dia.
Há vários anos, o Senhor falou comigo sobre me mover no dom de
profecia todos os dias e desenvolver maiores expectativas no Espírito
Santo. Não estou afirmando que já alcancei definitivamente esse propósito;
entretanto, o alvo e a prática me ajudaram a aguçar o dom e ampliar
consideravelmente minha visão profética.
Quando me movo na profecia, na verdade estou crendo que Deus
pode falar numa determinada situação, ou na vida de uma pessoa. O
próximo passo, a partir daí, é crer que Ele falará por meu intermédio. Então,
nós pedimos: “Senhor, unge meus olhos, ouvidos e boca”. Com nosso
intelecto, nós cremos que temos a mente de Cristo (1 Co 2.16). Se eu tiver a
chance, desejo canalizar minha forma de pensar, quero começar a pensar
como Jesus pensa, pois o Espírito de Deus conhece a mente de Deus, e o
mesmo Espírito habita em nós. Total sabedoria. Total entendimento. Total
conhecimento. Todas essas coisas são colocadas à nossa disposição por Deus.
Basta que as exploremos.
Operação
Uma das coisas que precisamos para nos mover na profecia é uma
carga e uma preocupação. Olhe à sua volta, pois Deus pode colocar uma
pessoa em particular em seu coração. Você deve orar por essa pessoa. Tenha
uma carga por ela. Preocupe-se diante de Deus por ela. Ore assim: “Senhor,
fale com esta pessoa. Se desejares, fale por meu intermédio”. Creio que
temos de permitir que as cargas cresçam e se desenvolvam em nosso coração.
Que Deus nos livre das pessoas que profetizam em nossa vida mas que não
sentem nada por nós.
São essas cargas que revelam o coração de Deus. Quando temos uma
carga por algo e estamos orando, o Espírito Santo nos capacita a colocar isso
em palavras; assim, começamos a sentir que Deus deseja dizer ou fazer algo.
Isso nos leva a um senso de convicção – que produz expressão. Quando
estamos convencidos de que Deus deseja dizer algo, subitamente temos os
meios e a vontade de expressar isso e Deus reúne todos esses elementos.
Dentro da operação do dom de profecia, às vezes precisamos
reconhecer que o dom precisa ser acionado. As cargas podem nos levar a
buscar o Senhor. Deus nos dá uma carga porque deseja falar e agir. Sempre
que Ele nos dá uma carga, precisamos ter expectativa, pois no que diz
respeito ao Senhor, trata-se de uma declaração de que Ele deseja se
envolver e falar por nosso intermédio, usando- nos em determinada situação.
Ele nos escolheu para cooperar com Ele. Ele próprio tem uma carga por
aquela determinada pessoa. Ele compartilhou conosco a carga como uma
declaração de intenção. Ele quer falar e nós somos o vaso que escolheu.
Portanto, temos de ser claros sobre como tudo isso funciona. Quando temos
uma carga, é porque Deus nos escolheu para fazer algo. Devemos ter um
senso de raro privilégio.
Podemos reavivar nosso dom. Isso quer dizer que nos moveremos
pela fé e com os motivos corretos. Queremos ver a pessoa abençoada, curada,
restaurada, etc. A seguir nós nos colocamos numa posição onde Deus pode
nos usar. Nesse ponto, espera-se que já tenhamos a consciência de que o
dom da profecia está em nós. Todo cristão pode profetizar. Podemos não ser
chamados para ser profetas, mas todos nós podemos profetizar e minha
esperança é que todo cristão tenha o desejo de ser mais usado dessa forma.
Podemos invocar o dom que há em nós.
Às vezes eu estou me movendo em expectativa e digo: “Pai, como tu
desejas fazer isso?”. Às vezes posso apontar para uma pessoa e pedir-lhe que
fique em pé. Outras vezes Deus me manda apontar uma pessoa e pedir-lhe
que venha à frente. Até esse momento posso não ter recebido nenhuma
palavra profética para elas. É nesse ponto que as coisas se tornam mais
interessantes. Eu as chamo cheio de expectativa e pergunto ao Senhor: “O
que eu faço agora?” – e Ele não responde nada! Quando Deus não diz nada,
eu acho que devo começar em algum ponto e seguir adiante. Por isso me
dirijo à primeira pessoa e subitamente Deus começa a falar e o dom flui.
Fazemos essas coisas movidos por um senso de expectativa porque
esperamos que Deus faça algo. Esperamos que Deus se manifeste e que Ele
se mova. Portanto, quando vamos a algum lugar, a expectativa significa que
há a possibilidade de que tenhamos de nos mover no dom profético.
Precisamos ter expectativa e antecipar o que Deus deseja fazer. Percebemos
de antemão que Ele pode desejar fazer algo naquela situação, e escolhemos
cooperar. Por isso a preparação é tão importante. Preste atenção no Espírito
Santo e reavive o dom.

Como a profecia pode vir?


Visões
Às vezes ela vem por meio de visões, figuras ou até figuras em
movimento. Provavelmente pouquíssimos cristãos costumas ver essas
figuras, as quais acionam algo dentro de nós. Em geral existem dois tipos de
visão. Em primeiro lugar, há as visões ordinárias, que empregam objetos do
dia-a-dia que estão ao nosso redor, ou até mesmo empregam nosso
próprio entendimento para falar profeticamente; a exemplo de Jeremias
1.11,12.
O Senhor perguntou ao profeta: “O que você vê?”. Jeremias olhou
ao redor e viu um ramo de amendoeira, que realmente chamou sua
atenção. Uma visão perfeitamente comum e corriqueira. A interpretação,
porém, juntamente com a circunstância e a necessidade específica do
povo naquele momento, se combinaram para produzir uma mensagem
profética positiva e significativa.
Às vezes, a visão ou figura que temos podem empregar nosso próprio
conhecimento humano. Certa vez, eu estava numa reunião onde havia
centenas de pessoas, e quando eu ia começar a falar, o Senhor me dirigiu a
uma pessoa no meio da audiência, uma moça de uns 25 anos de idade. Eu lhe
pedi para se levantar e tudo o que vi foi a figura de uma aveleira – a qual eu
reconheci porque meu pai e eu éramos paisagistas. Tudo o que tinha era a
imagem daquela árvore, de modo que perguntei ao Senhor: “O que tu queres
falar?”. Não houve resposta. Então eu comecei pelo que sabia: “Estou vendo
uma aveleira...”. E comecei a descrever as características dessa árvore,
lembrando-me dos meus conhecimentos do assunto.
Eu comecei a dizer: “A aveleira tem flores bonitas e dá frutos, pode
crescer em praticamente qualquer lugar, é bem resistente, o miolo do caule e
as folhas podem ser usados para fins medicinais, podem ser usados como
tônico ou como sedativo, o qual traz conforto e alívio para a dor. A aveleira
pode crescer e se fortalecer em qualquer lugar; ela é resistente e resiliente...”.
Assim que terminei de dizer o que sabia sobre a aveleira, subitamente
comecei a profetizar: “É assim que Deus vê você; Ele acha você bonita, você
vai produzir bons frutos em sua vida, não precisa se preocupar, pois você é
forte, é capaz de resistir ao inimigo e é capaz de crescer em qualquer
situação...”. Comecei a me mover profeticamente. A jovem estava chorando e
todos os seus amigos estavam rindo.
Eu terminei, orei por ela e prossegui com o seminário. No final da
reunião ela se aproximou de mim e disse: “Obrigado pelas suas palavras.
Você não sabe, mas meu nome é Hazel” [aveleira, em Inglês]. Ao que
parece, naquela mesma tarde, ela e os amigos estavam tomando chá juntos
e ela estava bastante mal-humorada. Ela começou a dizer: “Hazel, que nome
idiota. Por que meus pais me deram esse nome? Por que não me deram um
nome mais bonito? Eu odeio o meu nome. Gostaria de poder trocá-lo”.
Na reunião, Deus apontou para ela e me deu a visão da aveleira. Isso
demonstra que Deus tem um incrível senso de humor. No fundo, foi
como se ele estivesse dizendo: “Desculpe, fui eu que escolhi o seu nome e
fiz isso com um propósito”. Depois a jovem me disse que estava chorando
porque subitamente percebeu que recebeu seu nome de Deus. Quando
estava no ventre de sua mãe, Deus lhe deu o nome de Hazel. Uma mensagem
profética poderosa, baseada numa fonte ordinária e comum.
Em segundo lugar, a visão pode ser sobrenatural. Atos 10 narra a
história de dois homens, um romano, piedoso, bondoso, confiável, escolhido
por Deus para ser o recipiente de uma revelação poderosa e soberana. O outro
era um judeu, barulhento, impetuoso e racista. O problema era: como
poderíamos reunir esses dois homens, tão separados pelas barreiras da
cultura e da religião? Especialmente no coração de um deles, o qual aprendeu
a viver separado desde o nascimento?
Deus escolheu ministrar uma visão sobrenatural a Pedro a fim de
destrancar o que tinha se tornado uma forma de preconceito em seu
coração, contra as outras nacionalidades. Ele recebeu uma visão de um
lençol que desceu do céu, contendo “toda espécie de quadrúpedes, bem
como de répteis da terra, e aves do céu”; uma voz disse: “Levante-se, Pedro;
mate e coma”.
A reação de Pedro foi dizer: “De modo nenhum, Senhor! Jamais comi
algo impuro ou imundo!”. A palavra de Deus veio a ele poderosamente:
“Não chame impuro ao que Deus purificou”. A mesma visão se repetiu três
vezes e Pedro ficou totalmente confuso. O que significava aquilo? Ele não
teve nenhuma interpretação no momento; no entanto, enquanto meditava, o
Espírito Santo lhe disse: “Simão, três homens estão procurando por você.
Portanto, levante-se e desça. Não hesite em ir com eles, pois eu os enviei”.
Ele obedeceu e foi com os homens. Mais adiante na narrativa, quando ele
estava pregando na casa de Cornélio, o Espírito Santo desceu sobre os
presentes e um tipo totalmente novo de igreja foi criado a partir daquele
momento.
Às vezes podemos ver figuras com um significado profético. Às
vezes elas são um diagnóstico, no sentido de que oferecem informações
sobre alguma coisa. Às vezes recebemos uma visão e a própria visão nos
leva a uma palavra de conhecimento – a qual em geral é um diagnóstico. Ela
nos diz algo que está acontecendo ou que aconteceu. Uma vez que temos
esta informação, o próximo passo é dizer: “Bem, Pai, à luz dessas
informações, o que tu queres me falar?”. Não se precipite em falar as
primeiras coisas que você receber, porque pode ser apenas um diagnóstico,
pode ser que Deus esteja dando informações sobre alguém e, se não
tomarmos cuidado, podemos acabar criando um problema.
Se praticarmos a arte de esperar pacientemente, pelo menos por
alguns minutos, antes de abrir nossa boca para profetizar, podemos glorificar
mais a Deus ao falar, e evitar sérios problemas. Muitos erros nas profecias
ocorrem porque nos precipitamos em transmitir aquilo que cremos que Deus
está nos dizendo, enquanto Ele ainda fala!
Às vezes podemos ter figuras em movimento – como numa tela de
cinema. Certa vez, os líderes de uma igreja em Liverpool me pediram
para orar por um homem que estava tendo dificuldades no casamento. Os
líderes lhe disseram: “Por que você não conta ao Graham algumas das coisas
que estão acontecendo?”. Ele começou a compartilhar sobre sua esposa e
como estavam encontrando dificuldades no relacionamento. Ele tinha de
fazer sua própria comida e cuidar de suas coisas. A esposa mal falava com
ele. Ele relatou como ela parecia ter perdido o interesse em Deus; recusava-
se a orar junto com ele; evitava as reuniões da igreja; em geral suas atitudes
traziam dificuldades espirituais para toda a casa.
Enquanto aquele homem falava, eu comecei a me inquietar em meu
espírito. Pensei: “Pai, por que estou me sentindo assim? Não tenho razão
para me sentir dessa forma, a menos que venha de ti”. Eu realmente gosto de
fazer perguntas a Deus. Para mim, é uma das melhores formas de
aprendizado. Se eu não entendo, eu pergunto. Subitamente comecei a ver
uma “figura em movimento”; eu vi o homem que falava comigo usando um
paletó azul, gravata vermelha de listras, carregando uma pequena mala e
uma valise e se dirigindo para um hotel. Junto com ele havia uma mulher
ruiva muito bonita, trajando uma roupa verde e também carregando uma
mala. Eles entraram no hotel – o Connaught Hotel – e foram à recepção.
Atrás do balcão estava o gerente, um homem baixo, careca, de bigode preto,
paletó escuro, camisa branca e gravata verde. Ele registrou os dois recém-
chegados com o nome de Coleman e lhes deu um quarto de casal, nº 213. Eu
vi os dois se encaminhando para o elevador e pressionando o botão do
segundo andar. A porta do elevador se fechou e a visão terminou.
Eu pensei: “O que significa o que estou vendo, Senhor?”. Tudo o que
eu recebi foi uma impressão: “Diga tudo o que você viu, filho”. Eu
relatei toda a visão às pessoas presentes e o homem ficou completamente
pálido e começou a tremer. Os líderes lhe disseram: “Sua esposa não é
ruiva e seu sobrenome não é Coleman. O que está havendo?”. Descobrimos
então que há três anos aquele homem estava tendo um caso extraconjugal
com uma das colegas do escritório. Não era de admirar que seu casamento
estivesse em dificuldades. Sua esposa não podia provar nada, mas ela
desconfiava que algo estava acontecendo e que seu casamento estava
morrendo. Ela sabia que o marido estava tendo um caso. Ela não sabia como,
mas o fato era que ela sabia.
Novamente, nós vimos a maravilhosa bondade do Senhor nos
capacitando a irromper numa situação na qual o pecado e o inimigo tinham
fechado e que aparentemente era impossível de investigar.
Sonhos
Às vezes podemos ter sonhos. Eu não durmo muito e, talvez, por
isso, também não tenho muitos sonhos. Pelo menos, não me lembro deles
quando acordo. Pelo que me lembro, tive apenas dois sonhos em minha vida
que pareceram muito significativos. Em geral eu não lembro dos meus
sonhos. Minha esposa sonha bastante e muitos dos seus sonhos têm um
significado profundo (Nm 12.6). Deus falou com Faraó num sonho que só
José conseguiu interpretar; o mesmo aconteceu com o rei Nabucodonosor,
cujo sonho somente Daniel conseguiu interpretar. José teve um sonho com
Maria; o anjo lhe disse: “Case-se com essa garota!”. Para ele, o sonho
representou uma mudança de idéia, porque antes ele estava em dúvidas (Mt
1).
Os assim chamados “três reis magos” foram advertidos num sonho para não
retornarem a Herodes. Sonhos muito práticos. Mais tarde, José teve outro
sonho no qual recebeu uma ordem: “Pegue o menino e vá para o Egito”.
Daniel podia compreender todos os tipos de visões e sonhos (Dn
1.17). Um dos meus melhores amigos tem o dom de interpretar sonhos. Se
você costuma ter sonhos, precisa anotá-los, meditar sobre o significado e
depois compartilhar. Abra para comentários e oração. A mensagem do
sonho pode ser para você mesmo ou para outra pessoa. O sonho pode ou
não ter um significado, pode ter sido dado com antecedência, de modo que
você precisa anotá-lo. Desenvolva o hábito de anotar as coisas. Trate os
sonhos como se fossem profecias. Escreva e compartilhe com pessoas
responsáveis.
Impressões
A profecia pode vir por meio de impressões. Uma convicção interior
– forte ou leve – sobre algo. Por isso precisamos nos acalmar diante de
Deus. É muito importante. Temos de aquietar nosso espírito. Às vezes
temos uma sensação de dor ou de angústia. Um senso de que estamos
olhando para o passado de uma pessoa. Temos de aprender a ler os sinais.
Pode haver algo no passado da pessoa que está lhe causando dor e angústia.
Podemos perguntar: “Senhor, estou começando a ter uma impressão; como
falo sobre ela?”.
Numa reunião, eu estava orando por uma mulher e senti uma
tremenda paz se abater sobre mim e senti que estava olhando para o futuro.
Perguntei a Deus o que estava acontecendo e então tive a impressão de que a
paz de Deus estava vindo sobre a vida dela naquele momento e no futuro de
uma forma grandiosa. Quando começamos a profetizar na vida dela,
surgiram muitas coisas que Deus queria fazer, no entanto, tudo começou
com uma impressão.
Muitas pessoas começam a orar por outros e então percebem que o
que estão orando é de fato uma mensagem profética. Assim, mudam de
oração para profecia no meio do percurso.
Falando de modo geral, se pudermos orar, provavelmente poderemos
profetizar. Em vez de abrir nossa boca para orar, o que é uma reação natural e
correta, pode ser melhor esperar um momento. Devemos recuar um
momento no nosso espírito, fazer algumas perguntas ao Senhor e então
nos mover no dom de profecia – se assim o Espírito nos liderar.
Ver palavras
Às vezes podemos ver palavras sobre as pessoas. Uma ou duas
palavras. Já vi palavras como cura ou fé aparentemente surgirem na testa
das pessoas. Elas surgem para nos alertar que Deus deseja falar algo. Então,
podemos aquietar nosso espírito, ir a Deus e perguntar o que ele deseja
dizer. Deus pode nos dar uma mensagem profética.
Aquela primeira palavra fundamental ativa nosso espírito. Em geral
ela aciona um entendimento conceitual do que o Espírito Santo quer falar.
Por exemplo, ouvir ou ver a palavra cura sobre alguém pode nos levar a
fazer perguntas como:
• É cura para a própria pessoa?
• É cura para um membro de sua família, ou alguém próximo?
• Pode indicar que um dom de cura será derramado em sua igreja?
• Deus está dando àquele indivíduo o dom de cura?
• Deus está iniciando um ministério de cura?
Enquanto fazemos perguntas ao Senhor no nosso espírito, o conceito
sobre onde ou como a cura será liberada se tornará mais claro. Então
podemos direcionar corretamente a palavra que vimos.
O mesmo princípio se aplica a palavras menos específicas como paz.
Você crê que o Espírito Santo deseja falar uma palavra específica (como
oposto de uma palavra geral) de paz na vida de um indivíduo. Onde? Como?
Por que? Paz em qual área? Qual é a área onde está havendo tumulto, e na
qual é preciso introduzir a paz?
É paz sobre: preocupações financeiras, dificuldades de emprego,
problemas de relacionamento, questões de saúde, etc., etc.? Onde podemos
introduzir uma palavra como esta? Em que área o Senhor deseja trazer paz?
É neste ponto que precisamos nos certificar de que o nosso coração está
em sintonia com o Senhor. A Bíblia ensina que temos um Sumo Sacerdote
que pode se compadecer de nossas fraquezas e enfermidades. Ele está
sintonizado com nossos sentimentos. Na profecia, nós buscamos comunicar
o espírito da palavra e não somente o conceito. A profecia deve causar
impacto no espírito das pessoas e não somente na mente.
É importante estar quieto
Às vezes a voz do Senhor é como um sussurro (1 Rs 19). A voz de Deus é
tão delicada que temos de nos calar para ouvi-la; por isso é muito importante
aprendermos a nos aquietar. Estar quieto não significa necessariamente estar
em um local quieto. Significa que temos de aquietar os ruídos dentro de nós
mesmos. Colocar todas as coisas, em nosso espírito, alma e coração num
estado de calma. É bom aprender a nos aquietar. Praticar isso. Não quer dizer
que devemos esvaziar a mente e os pensamentos. Não é tentar transformar
nossa mente num vácuo; é estar quietos e na paz de Deus, Ele fala. A
quietude é um elemento muito importante para o profeta.
Uso das Escrituras
A Bíblia pode ser de grande auxílio na profecia. Muitas vezes eu
profetizo usando um texto bíblico. A Bíblia salta em nosso coração e mente e
subitamente o espírito profético começa a se mover.
Certa vez eu orei por um homem que tinha um trabalho de alta
responsabilidade, num local onde havia muita política e intrigas entre os
funcionários. As pessoas o odiavam porque ele era um cristão cheio do
Espírito. Havia muita hostilidade para com ele. As pessoas boicotavam seu
trabalho, escondiam informações e faziam todo tipo de obstrução. Todos os
dias ele sofria grande pressão, a ponto de começar a pensar, “será que devo
continuar aqui?”. Algumas pessoas estavam fazendo tudo para que ele fosse
afastado porque queriam dar o cargo dele para um amigo.
Quando estávamos orando, Deus me deu o Salmo 35 e quando eu li
fiquei maravilhado porque fala justamente da luta contra os inimigos; sobre
vestir a armadura; que Deus é a nossa salvação; aqueles que são contra
nós serão envergonhados e confundidos, desonrados e humilhados diante de
Deus; os anjos estão conosco; sejamos fortes, alegremo-nos em Deus e Ele
nos livrará. Era isso que o Salmo dizia e eu fiquei maravilhado. Fechei a
Bíblia e disse ao homem: “Creio que é isso que Deus está lhe
dizendo...”; a seguir comecei a profetizar. Pouco tempo depois muitos dos
seus antagonistas no trabalho foram processados por fraude, uso de
drogas e estelionato – e foram demitidos. O mais interessante é que as
vagas foram preenchidas por cristãos cheios do Espírito. Foi uma palavra
vital para ficar firme, lutar e ver a salvação de Deus, a qual veio pela leitura
das Escrituras.
A profecia pode vir a nós de várias maneiras diferentes e é bom não
ficar limitados a uma só maneira; nosso coração e espírito devem estar
abertos para tudo aquilo que Deus desejar fazer.
Capítulo Quatro

A prática da profecia
A profecia começa com o recebimento de uma carga. É muito
importante que o nosso coração esteja em plena sintonia com o coração de
Deus. Creio que Ele deseja compartilhar com cada um de nós um senso de
carga.
Que Deus nos livre de pertencer a uma igreja onde a maioria dos membros
não possui nenhum senso de responsabilidade pela obra. Quando não temos
um senso coletivo de assumir o peso pela igreja, significa que deixamos de
sentir o coração de Deus pela comunidade. Todos os membros da igreja
devem ter consciência de que pertencem à obra e à comunidade na qual estão
inseridos. É por meio de cargas que Deus expressa o Seu coração.
Objetivo – a carga do coração de Deus
Na profecia, a primeira coisa que precisamos receber é um senso de
responsabilidade. Precisamos olhar ao redor primeiro em nossas igrejas,
dizendo: “Com quem, Senhor, tu desejas falar em minha igreja, no meu
bairro e no decurso do meu dia? Senhor, me dê uma carga”. Atualmente eu
vivo com um senso de carga por cinco pessoas e tenho certeza que receberei
alguma mensagem profética para a vida de cada uma delas.
Quando recebemos uma carga, devemos fazer perguntas ao
Senhor. Por quem é a carga? O que o Senhor deseja fazer? No final da
profecia, o que o Senhor deseja realizar na vida dessa pessoa? Qual é o
objetivo? Essas perguntas são muito importantes para a vida da igreja em
geral. O que estamos fazendo e por quê? Essas são as duas perguntas mais
importantes que podemos fazer na igreja. Às vezes é o fracasso em fazer
essas perguntas que leva a obra à estagnação, em termos do que estamos
fazendo e do senso de visão que estamos comunicando. A cada dois anos as
igrejas deviam fazer uma revisão radical e examinar tudo o que está
sendo feito. A revelação que tivemos no ano anterior pode não servir mais
para os anos vindouros.
Em relação à profecia, precisamos fazer perguntas a Deus;
precisamos de um senso de objetividade. É importante desenvolver um
entendimento de como o coração de Deus opera para com as pessoas. Por
que Ele está selecionando essa pessoa para receber uma profecia? O que
Ele deseja alcançar por meio dessa palavra profética?
É esse senso de objetivo que nos ajuda a ser claro, específico e
significativo quanto ao que estamos profetizando. Ele foca o coração de Deus
na vida da pessoa. Sem esse senso de objetividade, às vezes nós
complicamos a mensagem ou inserimos na profecia muita percepção
humana. Isso ocorre porque não temos uma visão real e clara daquilo que
Deus deseja fazer.
Diagnóstico e prognóstico
Com muita frequência, a primeira coisa que recebemos é um
diagnóstico. Há uma diferença entre diagnóstico e prognóstico. Às vezes
podemos ter uma visão ou uma impressão, e aquilo que recebemos
inicialmente pode ser bem negativo. Podemos ver um pecado ou um erro.
Muitas vezes isso pode ser um diagnóstico simplesmente porque a
profecia é composta de três elementos.
Há a palavra de conhecimento, o dom da profecia e a palavra de sabedoria.
A palavra de conhecimento abre a questão; a palavra de profecia fala sobre o
coração de Deus; a palavra de sabedoria encerra nos dizendo como devemos
responder a Deus.
A primeira coisa que recebemos pode bem ser uma palavra de
conhecimento e não a profecia em si. Deus está nos dando informações sobre
a vida da pessoa ou sobre sua situação. Ele está dizendo: “Eis o que está
acontecendo e eu quero que você compreenda”. Ele está dando ao profeta um
contexto no qual falar.
Muitas pessoas profetizam as primeiras coisas que recebem. De
fato, nós podemos profetizar uma palavra de conhecimento que Deus nos
deu como informação. Isso se chama profetizar o problema e provavelmente
já causou mais danos na vida das pessoas do que qualquer outra coisa
relacionada à profecia. Não transmita a primeira coisa que você receber; não
se apresse a profetizar. Muitos profetas acham que as palavras precisam sair
de sua boca o mais rápido possível.
Pode ser que Deus esteja nos mostrando algo sobre a situação ou
sobre a vida do indivíduo. Precisamos nos aperfeiçoar na arte de acalmar
nosso espírito e orar: “Obrigado, Pai. Estou entendendo a situação dessa
pessoa. Agora, à luz disso, o que tu queres dizer a ela?”. Aquilo que Deus nos
manda dizer pode ser completamente oposto ao que vimos primeiro, porque
a graça de Deus pode precisar entrar em operação.
A palavra de conhecimento, nesse caso, é um diagnóstico. O
Senhor nos revela a situação como ela se encontra naquele momento. No
entanto, a palavra profética que pronunciamos pode se relacionar ao que o
Espírito Santo irá fazer naquele momento e no futuro. Isso é prognóstico.
Em termos simples, o diagnóstico identifica o que é, enquanto o prognóstico
indica o que virá!
Não é suficiente apenas apontar o que está errado – temos de estar
dispostos a participar da restauração. Temos de determinar o seguinte:
“Essa primeira palavra é um diagnóstico? Em caso afirmativo, ela é para
mim pessoalmente, para que eu me familiarize com a situação?”. Se a
resposta às duas perguntas for afirmativa, então temos um contexto (um
conjunto de circunstâncias) no qual Deus deseja falar. O contexto sempre
determina aquilo que Deus deseja falar.
Agora temos informação privilegiada sobre uma pessoa ou uma
situação, a qual precisamos usar com sabedoria, com grande sensibilidade
ao Espírito Santo e também com grande respeito pela pessoa interessada.
Há muitos anos atrás eu estava ministrando num retiro em Gales.
Durante uma reunião com os líderes, eu recebi uma visão relacionada a um
dos presbíteros presentes. Vi a figura dele com uma faca na mão, atingindo o
pastor nas costas. Pedi uma interpretação ao Senhor; Ele me mostrou que
aquele homem estava aproveitando todas as oportunidades para criticar o
pastor e para solapar sua autoridade. Sua atitude parecia espiritual e
piedosa, mas no fundo ele estava tentando se promover. Ele não era um
servo. Ele desejava aparecer e tinha profunda inveja da popularidade do
pastor. Para efeito de ilustração, vamos chamar o pastor de Davi e o
presbítero de Estêvão.
Eu tinha recebido um diagnóstico; uma palavra de conhecimento, que
me mostrou o que estava acontecendo. Não era uma profecia. Eu tinha de
aquietar o meu espírito e fazer várias perguntas ao Senhor: “Por que estás
me mostrando essas coisas? O que desejas que eu faça?”.
Senti a direção de chamar os dois na frente e pedi que ficassem um de
costas para o outro. Coloquei uma escova de cabo comprido nas mãos de
Estêvão e lhe pedi que fingisse que era uma espada. O Senhor me deu uma
palavra profética:
“O Senhor reuniu vocês dois. Ele colocou os dois um de costas para o
outro, o que é uma posição de batalha. Ele lhe deu uma tarefa,
Estêvão, que é guardar a retaguarda de Davi; você deve cuidar dele
porque o inimigo vai tentar destruí-lo, derrubando- o de qualquer jeito.
Deus está encarregando você de guardar a vida dele e orar por ele.
Defenda a vida dele contra o inimigo. Cuidado porque a estratégia do
inimigo é arruinar Davi por intermédio de homens com sede de poder.
O Senhor deu você a ele como um amigo que vigiará sua vida. Para
orar por ele, abençoá-lo e estar ao seu lado. O Senhor deseja que você
seja seu amigo e irmão”.
Nesse ponto Estêvão começou a chorar. Todos pensaram que era por
causa do enorme privilégio que o Senhor estava lhe dando. A realidade,
porém, é que subitamente ele tomou consciência do seu pecado e do fato de
que seus esquemas o tinham colocado do lado errado. O trabalho do
Espírito Santo é nos fazer sentir mal quando estamos errados. Isso se chama
culpa. A culpa é uma amiga porque ela nos mostra que estamos errados e
que precisamos nos arrepender e pedir a ajuda de Deus. Julgamento
também nos leva a entender que fizemos algo errado, mas ele nos convence
de que não podemos nos aproximar de Deus para acertar as coisas. A
condenação nos persuade de que Deus está zangado, decepcionado e que não
receberá nossa oração.
Estêvão estava chorando por duas razões. Primeiro, porque sabia
que estava errado e precisava se arrepender. Segundo, porque a graça de
Deus estava sendo derramada em sua vida. Em vez de juízo, ele estava
recebendo misericórdia. Estava percebendo que tinha cooperado com o
inimigo, mas agora estava determinado a aproveitar a oportunidade que
estava recebendo de Deus para voltar ao lado certo.
Todas essas coisas aconteceram em seu interior, sem que fosse preciso
que eu dissesse nada publicamente. Na profecia, é essencial que façamos o
que o Senhor nos diz para fazer e deixar o Espírito Santo fazer o resto. Ele é
competente naquilo que faz e não precisa de nossa ajuda. Sem que eu
mencionasse seus pecados em público, o Espírito Santo levou Estêvão ao
arrependimento.
Isso é muito importante. Se não entendermos o princípio do
diagnóstico, nossas profecias causarão problemas e trarão muitos danos. O
evangelho é redentor; o profeta deve trazer boas notícias, mesmo que sejam
de arrependimento! Há momentos em que o Senhor não tem outra
alternativa a não ser proclamar algo de cima dos telhados – mencionar algo
publicamente. Quando isso ocorre, em geral as pessoas envolvidas já foram
longe demais e não têm como voltar; essa é a única forma de levá-las à
redenção.
Normalmente é a bondade e a misericórdia de Deus que trazem
arrependimento. Depois de receber o quadro original de Estêvão com uma
faca na mão, eu me prontifiquei a fazer várias perguntas ao Senhor. Uma
pergunta pertinente foi: “Pai, qual é o teu objetivo? O que tu queres realizar
entre esses dois homens?”. Creio que o Senhor queria redimir o
relacionamento deles, para que ambos estivessem absolutamente
próximos, no coração e no espírito. Quando perguntei ao Senhor como
isso seria feito, Ele me deu a idéia de colocar os dois lado a lado e encenar a
luta.
Nem sempre nós temos de mencionar as coisas negativas.
Depende do propósito. Se mantivermos claro em nossa mente que o
propósito do evangelho é a redenção, isso nos providenciará uma diretriz
muito útil.
Mais tarde, no mesmo fim de semana, eu chamei Estêvão de lado
para me certificar de que tudo estava bem com ele. Ele me disse: “Você
não tem idéia de como Deus me abençoou neste final de semana!”. Eu senti
(para o bem dele) que devia lhe contar tudo o que aconteceu. Ele irrompeu
em lágrimas; um espírito contrito conhece a bondade de Deus. O fato de
que o Senhor conhecia seu pecado, redimindo-o e abençoando-o sem
exposição pública, realmente amoleceu seu coração.
A graça de Deus continua fluindo em nossa vida na maior parte do
tempo. Às vezes é a Sua bondade e misericórdia que quebranta nosso
coração. Não há nenhuma pessoa na igreja a quem Deus não deseja revelar
sua incrível bondade. Algumas de nossas experiências com as pessoas com as
quais convivemos são tão ruins e precárias que nós acabamos pensando o
mesmo de Deus. Ele porém, é completamente diferente – Ele não é
humano. Ele é divino e tem um caráter totalmente diferente.
A Bíblia diz que o propósito principal da profecia é edificar,
encorajar, confortar, animar e alegrar (1 Co 14.1-5). Isso é profetizar. O
aspecto central da profecia é realizar essas coisas em nossas vidas. Deus
deseja nos edificar e para isso emprega todos os meios. Ele deseja nos
despertar e nos animar, mas também quer que saibamos que conhece nossas
dores. Ele deseja trazer conforto quando precisamos de conforto.
Deus é assim: 90% da mensagem profética nesse nível básico
consiste em repetir o óbvio. Deus nos ama. Ele cuida de nós. Ele deseja o
melhor para nós. Sua bondade e fidelidade estão ao nosso dispor. Seu amor
é infinito. Sua bondade é eterna. Ele sabe tudo sobre a nossa vida. Nós já
sabemos de tudo isso, mas às vezes ficamos tão amarrados pelas
circunstâncias que perdemos de vista até mesmo os atributos mais básicos do
caráter de Deus, e precisamos ser lembrados. Podemos ler textos bíblicos
que contenham essas verdades vitais, mas às vezes precisamos do elemento
“agora” da profecia, aliado às Escrituras, para de fato trazer a Palavra às
nossas circunstâncias de uma forma dinâmica.
Quando profetizamos, não devemos nos desculpar se aquilo que
falarmos não for novo. Se recebermos uma palavra que Deus ama alguém,
então devemos transmitir essa mensagem da melhor forma possível.
Na profecia, o objetivo afeta a forma de pronunciamento. Se o
objetivo da profecia for fortalecer uma pessoa, acrescentar dinamismo e
determinação à sua vida, nossa mensagem profética deverá refletir esse
propósito. Iremos profetizar de uma maneira ousada e direta, enfatizando a
soberania de Deus e cuidando para transmitir confiança à pessoa.
Semelhantemente, quando recebemos uma palavra do Senhor sobre
Seu amor por um indivíduo, devemos tentar comunicar isso de uma forma
que faça com que o amor divino se espalhe pelo seu coração. Convicção
produz expressão. Quando nós mesmos estamos convencidos do amor de
Deus ao falar desse fenômeno maravilhoso, vamos incorporar o espírito da
mensagem e não somente o seu conteúdo.
A profecia comunica espírito para o espírito, assim como fala à
nossa mente.
A essência da profecia consiste em deixar o Espírito Santo
incendiar nosso espírito. Pessoalmente, é provável que o fato de que Deus
me ama seja a verdade isolada mais importante em minha vida. O fato é que
Deus ama Graham Cooke – eu! Eu sei que Deus me ama. Eu acordo todas as
manhãs convencido do amor de Deus, convencido de que algo maravilhoso
está para acontecer hoje entre eu e o Senhor, porque Ele me ama. Tenho
convicção de que Deus me ajudará a encontrar uma solução para os
problemas que enfrento em minha vida neste momento. Deus fará algo
maravilhoso e dinâmico e me ajudará a derrotar o inimigo e superar as
dificuldades. Por quê? Porque Ele me ama. Não importa o que eu esteja
enfrentando neste momento, sei que Deus anda ao meu lado. O pior que pode
acontecer é que as circunstâncias não mudem; no entanto, terei convicção da
presença de Deus. Ele passará por tudo junto comigo. Eu terei de atravessar
tudo, suportar tudo. Ainda assim, porém, Deus não me abandonará. A
presença de Deus estará comigo. Ele estará comigo até o final dos tempos.
O melhor de tudo é que Ele pode mudar tudo e fazer as minhas
preocupações desaparecerem. O pior que pode acontecer é que eu tenha de
caminhar um pouco mais pela fé, sem ver mudanças. Mas a presença de
Deus estará comigo enquanto eu perseverar. Isso é maravilhoso!
Como um dos meus amigos diz, profecia é 80% preparação; 20%
inspiração; 100% transpiração e 100% trepidação!

Negativismo e atitude de julgamento


É muito importante evitar o negativismo e a atitude de julgamento.
Se temos qualquer tendência para transmitir palavras duras, há algo errado
com o nosso espírito. Se tivermos facilidade para transmitir palavras
negativas, então não temos entendimento da graça e da bondade de Deus.
Sempre há uma tensão entre o ideal e o real. Ao entrar em cena, o
profeta sempre olha para o horizonte. Ele verá o ideal. É para onde Deus está
nos levando. É o que Ele está fazendo em nossa vida. O profeta pintará um
quadro porque seu propósito é erguer a visão e a perspectiva da
congregação para que todos vejam para onde Deus os está levando. Os
líderes das igrejas locais convivem com a realidade, ou seja, como as coisas
realmente são. O meio termo entre o ideal e o real chama-se frustração. O
problema com muitas pessoas que têm o dom profético é que elas têm uma
visão do ideal e não têm entendimento da realidade. Um profeta chega a
uma cidade, dá às pessoas uma visão do ideal e os líderes locais têm de fazer
um esforço enorme para aplicar aquele ideal ao cenário real. Estou cansado
de ver aquilo que chamamos de “profetas gaivotas”
– pessoas que voam em círculos, fazem muito barulho, mergulham na vida
das pessoas e depois voam novamente! Na maior parte do tempo eles não
entendem como suas profecias serão aplicadas nas igrejas locais!
Precisamos entender que os profetas são parte do ministério
quíntuplo (Ef 4.11) que é essencialmente um ministério de edificação. Muitos
profetas desejam ter um ministério abençoado: irromper numa situação,
pronunciar algumas profecias, abençoar algumas pessoas e desaparecer
novamente. Quero afirmar aqui, publicamente, que não creio que essa
prática seja boa.
O profeta faz parte do ministério de edificação. Se formos
profetizar em nosso local de trabalho, o mínimo que podemos fazer é estar
disponíveis para conversar e aconselhar. Eu trabalho com um número
limitado de igrejas cada ano. Costumo compartilhar algumas mensagens
proféticas nessas igrejas, e nos meses seguintes procuro voltar lá algumas
vezes para dar acompanhamento e conselhos. Posso fazer duas ou três
visitas, para realmente consolidar a palavra profética na realidade da igreja.
Há uma tensão entre o ideal e o real, e eu estou disposto a trabalhar com os
líderes que têm uma visão “real” do seu ministério. Ver o horizonte é uma
coisa, mas a questão é: “Senhor, como fazemos para chegar lá, partindo
daqui?”. É neste ponto que o profeta se torna um construtor, trabalhando
com o apóstolo, com o pastor e com o mestre para criar passos que
movimentem a igreja do real onde se encontra para o ideal onde Deus
realmente deseja levá-la.
Lidando com a frustração
Um dos inimigos do ministério profético é a frustração. Ela sempre
anuvia nossos pensamentos, afeta a palavra que transmitimos e nos dá uma
perspectiva distorcida da vida da igreja. Se quisermos representar bem o
coração de Deus e ser servos fiéis, temos de aprender a controlar a
frustração. Precisamos que nosso coração seja movido pelo entendimento e
pela graça de Deus e não pela nossa irritação e insatisfação.
Quando nos sentimos rejeitados, temos de abrir o nosso coração de
modo que o amor de Deus possa fluir. Muitas pessoas com dom
profético sentem-se rejeitadas porque não possuem nenhum relacionamento
profundo ou de qualidade.
Muitas vezes os profetas são acusados de ser pessoas místicas,
temperamentais, emotivas e até estranhas. Em locais onde não há muita
informação sobre o papel dos profetas, esse tipo de comportamento é
visto como peculiar dos profetas. Os profetas, porém, não são os únicos de
aparência estranha; há muitos outros ministérios que parecem oscilar entre o
esquisito e o engraçado!
Um profeta deve ter um relacionamento de amor com o Senhor, numa
base pessoal. Ele sempre deve ser portador de boas novas, mesmo quando
se tratar de arrependimento. Profecia trata da restauração da dignidade e
do respeito próprio das pessoas. Eu odeio o inimigo porque ele arranca
essas coisas das pessoas. Ele tira nossa dignidade e respeito próprio e cria em
nosso coração um senso de desilusão em relação a nós mesmos. Ele nos deixa
com um sentimento de que não temos valor, não somos bons e não servimos
para nada. Ele arranca de nós tudo o que é bom ou tem valor. Por isso eu
acredito que as propagandas muitas vezes são inspiradas por demônios,
porque a maioria se propõe a criar nas pessoas um senso de insatisfação com
a própria vida. Tudo gira em torno disso. A propaganda deve deixar a pessoa
insatisfeita com algum aspecto de sua vida e quando conseguem esse
propósito, há uma enorme possibilidade de vender seus produtos.
A propaganda cria em nós uma insatisfação com o nosso estilo de
vida, nossa aparência, com as roupas que usamos e com o que temos. No
vácuo que se cria, os anunciantes introduzem seus próprios produtos,
esperando nos seduzir e nos levar a comprá-los para preencher o vazio que
eles próprios criaram, em primeiro lugar. Eles trabalham com base em nossa
insegurança e nossa necessidade de ser amados e valorizados.
Toda a estratégia do inimigo funciona sobre esse mesmo princípio.
Ele se esforça para nos fazer sentir insatisfeitos com o que nós somos. Ele
deseja nos separar de Deus, da Igreja, dos nossos amigos e de qualquer
função útil que possamos adotar para produzir frutos no Reino.
Se o inimigo conseguir nos fazer odiar a nós mesmos e nos
convencer de que não fazemos falta para ninguém, de modo que tanto faz ir
ou não às reuniões, aos cultos de oração ou de adoração – então caímos na
apatia. Se permitirmos que a apatia entre em nossa vida, então ela abre as
portas para a incredulidade, condenação, amargura, ansiedade, medo,
miséria e egoísmo. Todas essas coisas geram uma postura passiva diante da
vida e a desmoralização da obra de Deus em nós.
A profecia tem como propósito desafiar todo esse processo. Por
isso é tão importante que entendamos o lugar das palavras negativas na
mensagem profética – pois há um lugar apropriado para elas. Há espaço
para palavras negativas e para julgamento (veremos mais sobre isso no
capítulo sete). No entanto, precisamos de uma base sólida na graça de Deus
antes de receber profecias de julgamento. Primeiro, o Espírito Santo
precisará nos educar na verdade do amor de Deus, Sua graça, bondade e
misericórdia. Segundo, Ele fará que de nós fluam palavras de profecia que
edifiquem, encorajem e confortem o povo de Deus. Em 1 Coríntios 14 a
palavra-chave “edificar” é repetida várias vezes. Tudo deve ser feito para
edificação.
Não seja super espiritual
Com demasiada frequência, a principal causa de fracasso no
ministério profético é devida ao fato do profeta se sentir pressionado, em vez
de sentir paz e tranquilidade no conhecimento de Deus. Onde quer que eu
vá, e cada vez que sou usado por Deus em profecia, sinto uma enorme
pressão. Eu aceito essa pressão como parte do ministério, mas não há como
sobreviver sob o peso de falsas expectativas.
Muitas igrejas encaram o ministério profético como um atalho
glorioso. Em vez de se empenhar para criar visão na congregação mediante o
ensino e se aproximar das pessoas, os líderes convidam um profeta para vir e
profetizar sobre uma visão, a qual então pode ser imposta sobre as pessoas de
cima para baixo.
A profecia confirma e amplia a visão; ela não pode criar visão onde
não há nenhuma. A visão é criada por meio da oração, da busca da
presença de Deus e quando as pessoas compartilham umas com as outras
aquilo que têm no coração. Se esses elementos estiverem ausentes,
precisamos restaurar as pessoas diante de Deus e não tentar criar visão em
corações vazios.
Todos os dias eu tenho de tirar de cima dos meus ombros as
expectativas das outras pessoas – para poder me aquietar, viver na graça de
Deus, ter consciência de Sua presença e para me tranquilizar em relação aos
objetivos do ministério profético. Nesse ambiente o Senhor pode derramar
Sua Palavra, criar fé e liberar o pronunciamento profético.
A adoração é importante para o profeta, pois é vital que ele esteja
em paz e descanso em seu relacionamento com Deus.
Revelação e informação
Se não nos movemos em paz e descanso, acabamos reagindo às
situações. Para um profeta, reagir em vez de descansar é anátema. Pessoas
que se movem por pressão muitas vezes se envolvem numa ginástica mental
em vez de ouvir a voz de Deus no espírito.
Muitas pessoas acham que profecia é algo que vem “de fora” para
dentro de nossa mente. Não é assim. Não podemos receber mensagens
proféticas na mente. A mente recebe informação. Nosso espírito recebe
revelação. Só podemos receber palavras proféticas em nosso espírito, nunca
em nossa mente. Profecia vem de dentro, por meio do nosso espírito e do
elo entre nosso espírito e nossa mente, pela fé. Fé é o veículo que leva a
mensagem profética do nosso espírito para nossa mente consciente. Nossa
mente é muito boa para colocar as coisas em ordem. Às vezes a revelação
vem fragmentada, em pequenas porções. Você pode receber a parte 4,
depois a parte 2, a seguir a parte 3 e por fim a parte 1. A mente humana é
brilhante e tem grande capacidade de ordenar as coisas e apresentá-las
corretamente. O elo entre nosso espírito e nossa mente é a fé. Sempre
devemos permitir que a fé libere a palavra profética em primeiro lugar, para
podermos crer que a palavra que temos verdadeiramente procede de Deus.
Às vezes uma palavra pode chegar ao nosso espírito e não fazer
nenhum sentido para a nossa mente. Isso ocorre porque nossa mente não pode
compreender a revelação; só pode processá-la e colocá-la em ordem. Às
vezes a revelação não é lógica. Não faz nenhum sentido. Se permitirmos que
nossa mente interfira, ela nos dirá que a palavra não parece lógica e que
não faz sentido. Se tentarmos processar a revelação com nossa mente,
cairemos na incerteza e no medo. Teremos medo de estar enganados; medo
de falar bobagem; medo do embaraço e de fazer papel ridículo na frente de
outras pessoas. Esse medo nos levará a nos calar.
Então nos limitaremos a dizer algo geral (numa linguagem
espiritual), algo que a nossa mente consiga lidar, em vez de proferir a palavra
sobrenatural e significativa.
Numa série de reuniões que eu estava realizando em Londres, num
certo momento, fiz um apelo às pessoas que estavam enfrentando
dificuldades nos relacionamentos para que viessem à frente e recebessem
uma oração. Quando me aproximei das pessoas em fila, fui dirigido a um
homem de uns cinquenta anos de idade. Eu não tinha idéia de qual era o
seu problema ou a sua dor; o homem também não me disse nada. Tudo o
que eu podia fazer era me concentrar em meu espírito e perguntar ao Senhor
qual era a Sua perspectiva.
Naquele ponto eu tinha 50% de chance de estar correto ao afirmar
se seu problema era com um homem ou com uma mulher. Depois, minhas
chances diminuiriam bastante para acertar se era com esposa, mãe, irmã,
filha, patroa, a esposa do pastor... Ou todos os equivalentes masculinos!
Quando senti o coração de Deus, eu disse ao homem: “O Senhor
deseja falar com você sobre sua esposa”. Nesse ponto eu tive uma visão de
uma jovem de uns vinte e poucos anos, longos cabelos loiros e bem alta.
Minha mente queria provar para mim que se tratava da filha dele. No
entanto, no meu espírito eu ouvia a palavra “esposa”.
Eu esperei e descansei em meu espírito, deixei minha fé
trabalhar na palavra original, ignorei minha mente e comecei a falar
profeticamente. A mensagem principal era que ele estivera casado durante
três anos com uma mulher vinte anos mais jovem. Debaixo do seu amor e
cuidado, a personalidade dela desabrochou e mudou consideravelmente,
deixando de ser uma jovem tímida e introvertida e se tornando uma mulher
madura e decidida. Obviamente essas mudanças alteraram a dinâmica do
relacionamento. Ele se tornou inseguro em relação ao amor dela e ficou com
medo de ser trocado por um homem mais jovem. Nesse contexto o Senhor
lhe deu uma linda palavra de conforto e de confiança, que elevou seu
espírito.
Com muita frequência é travada uma verdadeira batalha dentro de
nós, entre nossa mente e nosso espírito. Basicamente nossa mente deseja estar
no controle, enquanto Deus criou nosso espírito para conhecê-lo e se
mover nele. Por isso é tão importante que nosso espírito esteja em paz,
sossego e livre das pressões externas.
Algumas pessoas sentem mais no ministério profético. Sentem a
dor das pessoas, a alegria, etc. Também sentem o coração de
Deus. Outras pessoas vêem mais. Têm visões e sonhos. Outras
pessoas ouvem mais. Às vezes podemos nos mover entre todos
esses elementos. Sempre é bom não ficar presos a apenas uma
metodologia. Tente experimentar formas variadas de receber e transmitir
as mensagens proféticas; Deus é infinito em variedade.

Não procure “pistas”!


Não se guie na profecia por aquilo que vê ou entende na esfera
natural. Muitos profetas cometem o erro de procurar “pistas” na vida das
pessoas – tentando captar algo na aparência (no semblante), na maneira como
se sentam ou na aparência geral que indique qual é o problema ou a
necessidade.
Tal atitude é muito carnal, e em geral a mensagem profética segue o
mesmo modelo. Quando realmente nos movemos no ministério profético, a
pessoa para quem devemos olhar e ouvir é o Senhor. Não tente captar
pistas no aspecto das pessoas ou nas circunstâncias. Isso nunca funciona e
quase sempre o resultado dá errado. Isso nos leva à esfera da alma e da mente
onde podemos dar a Satanás a oportunidade de confundir o que está
acontecendo. O que conseguimos pode parecer espiritual, mas é somente
informação e não revelação. Às vezes podemos errar completamente o alvo.
Eu estava falando num culto de celebração e fiz um apelo que causou
uma enorme resposta. Enquanto eu observava as pessoas indo à frente, vi
um homem idoso usando muletas, acompanhado por um jovem vestido no
estilo punk, com o cabelo pintado de verde, com muitos piercings; várias
outras pessoas acompanhavam o homem idoso, pareciam todas da mesma
família. Junto com eles, notei também uma mulher extremamente atraente
vindo à frente.
No final, depois de uma hora de oração, ministrando cada pessoa,
encontrei-me frente a frente com a mulher bonita que notara antes. Perguntei
seu nome e ela respondeu, numa voz rouca. Concentrei- me no meu espírito,
para ouvir a voz de Deus. O Senhor me disse o seguinte: “Diga a ele que não
estou feliz”. Ora, não podemos deixar de ouvir a voz de Deus quando Ele fala
no nosso espírito. Perguntei ao Senhor o que Ele queria dizer, e percebi que
minha mente estava enviando sinais de alarme e de preocupação (o que
geralmente acontece quando recebemos esse tipo de revelação). O Senhor
falou novamente: “Filho, o nome dele é Richard e eu quero que você lhe
diga que sei seu nome e que ele precisa mudar de vida”.
Respirei fundo e olhei para a mulher. Não tinha como dizer aquilo
para ela; todas as evidências diziam que era de fato uma mulher.
Escolhendo dar ouvidos ao meu espírito, trouxe um pouquinho de paz à
minha mente, que estava quase me implorando para não dizer nenhuma
bobagem. Naqueles segundos de silêncio, eu também tinha de superar o
medo e o constrangimento. Falando do fundo do meu ser, eu disse àquela
mulher: “Richard, Deus sabe seu verdadeiro nome e Ele não está feliz com
sua vida. Você precisa mudar de vida”. Antes que pudesse dizer qualquer
outra coisa, a “mulher” proferiu uma série de impropérios, levantou um
pouco seu longo vestido e correu para fora da igreja, seguida por várias
outras! Ninguém as conhecia e até onde sei ninguém mais as viu desde
então. De vez em quando eu oro para que o Senhor complete Sua obra na
vida de um travesti chamado Richard!
Deixe-me dar outra ilustração. Quando eu estava realizando uma
série de cultos na América, enquanto profetizava, o Senhor me deu uma
palavra para um homem que estava lá no fundo. Ele estava extremamente
mal vestido, com as roupas desalinhadas e amarfanhadas.
Deus começou a me dar uma mensagem para aquele homem: ele
doaria centenas de milhares de dólares à igreja; em seu trabalho ele teria
oportunidade de levar empresários importantes a Cristo; ele financiaria vários
projetos na comunidade e na nação. Olhei para ele e tive a impressão de que
ele precisava mais era de uma esmola! O problema era que sentado logo
atrás desse homem havia um outro de aparência distinta e bem vestido,
parecendo um executivo. Assim, eu olhava para o homem desalinhado,
olhava para o outro bem vestido e pensava: “Fique firme em sua primeira
impressão, pois a palavra é para o desarrumado”. No entanto, eu olhava para
trás e pensava: “Será que estou confundindo as coisas?”.
Não consegui chegar a nenhuma conclusão; por isso me afastei e
compartilhei algumas palavras para toda a congregação; em seguida, me
concentrei novamente nos dois homens, pensando: “A mensagem deve ser
para o homem do banco de trás”. Depois de hesitar mais alguns segundos,
pensei: “Tenho de fazer isso. Tenho de ir adiante com o que sinto em meu
espírito”.
Às vezes temos de ser corajosos o bastante para ir adiante. Pedi ao
homem desarrumado que se levantasse e comecei a profetizar para ele.
Ninguém o conhecia na igreja e eu tive a nítida impressão que todos deviam
estar pensando a mesma coisa: “O profeta errou; essa mensagem é para o
homem bem arrumado que está atrás”. O homem também não me ajudava
muito. Ficou olhando para mim, como que paralisado, sem nenhuma reação
em seu semblante.
Algumas pessoas, ao receber uma mensagem profética, não nos dão
nenhuma ajuda; às vezes fazem isso porque não sabem como se comportar;
muitas nunca receberam uma profecia antes. Não sabem bem o que fazer,
como se portar e ficam tão embaraçadas quanto o profeta. Algumas vezes o
semblante das pessoas muda e elas revelam que estão recebendo a
mensagem – fazendo com que o profeta se sinta mais confiante. Outras
vezes elas não esboçam nenhuma reação. A palavra pode estar sendo
totalmente recebida, mas nós nunca sabemos disso apenas olhando para a
expressão do rosto do recipiente. Já encontrei pessoas que se levantaram e
ficaram me encarando de uma forma quase insolente; parece que estão
pensando: “Vamos ver se você é bom mesmo”.
Ao profetizar, tente não buscar confirmação no semblante das
pessoas. Nossa própria paz e descanso no Senhor devem ser
suficientes para nos encorajar.
Eu profetizei para aquele homem mal vestido e depois descobri que
era extremamente rico, mas que gostava de roupas simples e não se
preocupava muito com a aparência. Ele tinha ouvido sobre a conferência e
decidira ver de perto. Depois que eu profetizei, ele voltou a se sentar e eu
dei continuidade à reunião.
Minutos mais tarde, eu recebi uma palavra para o homem que
estava de terno no banco de trás. A palavra que ouvi em meu espírito foi: “O
emprego ao qual você acabou de se candidatar é seu!”. Eu ainda estava meio
em dúvida em relação à palavra anterior ao homem mal vestido. Agora,
estava completamente em dúvida em minha mente... “Será que confundi
tudo? Será que misturei a primeira profecia?”. À primeira vista parecia que a
primeira palavra era para o sujeito de terno e a segunda para o sujeito que
parecia desempregado, vivendo de doações.
Como você pode imaginar, o inimigo não costuma ficar em
silêncio nessas situações. Tudo dentro de mim gritava: “Seu tolo! Seu idiota!
Você fez tudo errado!”. Estava no púlpito tentando ficar calmo, mas por
dentro estava um turbilhão. Numa situação dessas, tudo o que podemos fazer
é nos humilhar diante do Senhor. Silenciosamente, eu orei: “Senhor, se eu
errei, vou encarar essa situação; vou me arrepender e acertar tudo com as
pessoas envolvidas; vou confessar e me retratar publicamente e me certificar
de que ninguém sofrerá dano por causa do meu erro”.
O inimigo odeia a humildade. Ele não pode penetrar nela. A
humildade sempre abre a porta para o Senhor tocar nossa vida. Enquanto
eu silenciosamente me humilhava, experimentei paz e descanso no Senhor.
Continuei sentindo a mesma palavra para o homem de terno. Pedi que ele se
colocasse de pé e lhe transmiti a profecia, observando com alegria enquanto
ele e a família levantavam os braços, empolgados.
Quando conversei com ele mais tarde, soube que estava
desempregado há dois anos e naquela tarde tinha feito sua primeira entrevista
depois de vários meses. Uma semana mais tarde ele foi contratado.
Devo dizer que fiquei profundamente aliviado e agradecido ao
Senhor. O ministério profético nunca funciona em linha reta. É muito fácil
cometer erros, mesmo depois de vários anos de experiência. As pessoas
aplicam ao ministério profético padrões elevadíssimos, que não aplicam a
nenhum outro ministério. Algumas pessoas ficarão chocadas com essas
afirmações. Minha opinião é que se relaxássemos um pouco esses padrões
e demonstrássemos mais graça, na verdade teríamos menos erros e muito
mais honestidade e integridade no uso desse dom.
O ministério profético é colocado sob imensa pressão para
desempenhar sua função. É como se o profeta tivesse de ser super espiritual.
As pessoas criam uma aura de sensacionalismo e de misticismo em torno
do dom e das personalidades – as quais muitas vezes são claramente imorais
e perigosas. Somos chamados para ser autênticos no Senhor, dentro da esfera
da nossa função. Não preciso estar sob pressão para ser profeta. Tenho de ser
autêntico em Jesus, e as pessoas terão de me aceitar como eu sou. É quase
inevitável que vamos empolgar algumas pessoas e desapontar outras,
dependendo do que esteja acontecendo quando vamos a um certo local.
Jesus disse: “Só posso fazer o que meu Pai faz e dizer o que meu Pai
diz”. Uma diretriz útil: nunca se mova com base naquilo que você vê; todas
as vezes que fizer isso, terá problemas. Não se estribe em seu próprio
entendimento.
O ministério profético mostra às pessoas o que o Senhor já realizou
em suas vidas e não traz necessariamente algo novo. Às vezes ele mantém
um pé no passado e o outro no futuro, trazendo esses dois extremos ao
presente, para ajudar a pessoa a perceber onde estão agora.
Considere a pessoa à qual você está ministrando
Quando profetizamos às pessoas, temos de aprender a fixar limites
para a mensagem. Não fique ansioso para transmitir tudo o que recebeu.
É mais fácil acrescentar do que subtrair. Não fique tão ansioso para
profetizar a ponto de deixar de respeitar as necessidades do outro. Se
profetizarmos para uma pessoa ainda que por um breve momento, podemos
proferir centenas de palavras. O que a pessoa ficará fazendo enquanto nós
estivermos falando? Provavelmente vai ficar sentada, fazendo um
esforço enorme para tentar memorizar tudo o que estiver ouvindo. No final,
não conseguirá lembrar de nem uma única palavra ou frase. Na maioria das
vezes, a memória se torna muito seletiva, separando as palavras que tiverem
uma aplicação mais imediata e melhor se relacionar à circunstância. A
pessoa só reterá uma pequena porcentagem do que ouvir. A principal parte
da mensagem pode ser sobre o futuro e pode ser ignorada. Mais tarde, ela
sentirá pânico quando não conseguir lembrar do que ouviu na profecia. O
inimigo fará tudo para convencê-la de que a parte que esqueceu era a mais
importante. Assim, ela poderá desenvolver um senso de desapontamento que
durará muito tempo.
O que é pior, as pessoas podem lembrar do conjunto de palavras, mas
reter pouco ou nada do espírito por trás delas. Além de falar à mente, a
profecia também se comunica com o espírito. Há um elemento espiritual na
profecia que a coloca acima de todas as outras formas de comunicação.
Juntamente com a profecia que ouviu há tempos atrás, a pessoa ainda pode
reviver também o impacto espiritual dela em seu coração. O espírito é
eterno e ainda pode ouvir a linguagem do espírito do Senhor através dos
anos. Podemos ler as transcrições de uma profecia, mas se o Espírito Santo
tocou nosso espírito no momento da transmissão da mensagem, então não
importa quanto tempo passe, nosso coração continua retendo o frescor e o
poder da palavra original.
A profecia trata da comunicação de um espírito para outro, e por
isso creio que precisamos ser sensíveis. Se formos profetizar na vida das
pessoas, temos de nos certificar de que o que falarmos será lembrado. Eu
carrego um gravador comigo quando vou ministrar. Quando o Senhor me
manda dizer algo a uma pessoa e estou sem o meu gravador, procuro me
certificar de que haja alguém disponível para anotar. Peço que anote os
detalhes do conteúdo, de modo que o recipiente possa relaxar e prestar
atenção. Quero que recebam a comunicação do Espírito de Deus no seu
espírito, de modo que o conteúdo seja lembrado durante muito tempo.
Mais tarde podem receber a mensagem escrita, para que possam ler e
meditar, mas na realidade é o espírito daquilo que Deus falou que
permanecerá com eles e mudará suas vidas.
Precisamos ser sensíveis. É importante nos certificar de que as
pessoas ouçam, entendam e possam responder ao que Deus deseja fazer e
falar. Entretanto, nada disso é possível se simplesmente jogarmos uma
mensagem em cima delas. Ao fazer isso, estaremos exercitando nosso dom
profético para o nosso próprio benefício e não das pessoas. Todos podem
achar que fomos “brilhantes”, mas na verdade fizemos pouco bem.
Registrando as profecias
Temos de desenvolver o bom hábito de registrar as profecias. Uma
grande porcentagem das Escrituras consiste no registro de profecias,
anotadas à medida que eram recebidas. Os sacerdotes tinham secretários;
os exércitos também tinham pessoas que registravam fielmente as
narrativas das batalhas; os reis e profetas também tinham escribas
trabalhando com eles, como uma prática normal. O Novo Testamento
continua a tradição.
Em várias ocasiões, Isaías recebeu instrução de escrever coisas numa
tábua ou num rolo (Is 8.1; 30.8). Jeremias tinha um assistente chamado
Baruque que o ajudava a registrar todas as suas palavras proféticas para
Israel e para Judá (Jr 36).
Como já mencionei, sempre carrego um gravador portátil e
algumas fitas, onde quer que eu vá. Se não puder fazer isso, insista para que
haja uma pessoa na equipe para registrar as palavras e ser testemunha.
Isso é especialmente importante se a profecia que estivermos dando
for para correção ou direção (veja o Capítulo Cinco). Palavras gerais de
encorajamento não precisam ser registradas; no entanto, pode ser importante
para dar às pessoas a opção de como querem receber a mensagem profética.
Quando têm opção, a maioria prefere receber a palavra escrita ou gravada
em fita, de modo que podem se concentrar na dimensão espiritual da
profecia.
Profecia pessoal e privativa
Eu creio na profecia pessoal. No entanto, não incentivo e nem
creio em profecia privativa. A profecia é pessoal quando os indivíduos
recebem uma palavra vinda do céu diretamente em suas vidas e
circunstâncias. A profecia privativa se relaciona mais com métodos e
práticas. É levar as pessoas a um local isolado para dar- lhes a palavra; ou
então profetizar fora do local das reuniões e da supervisão dos líderes.
Trata-se de práticas pouco aconselháveis e que carecem de integridade. É o
que meus amigos americanos chamam de “profecia de estacionamento” –
algo que não deve ser encorajado.
Temos de conquistar o direito de ministrar na vida das pessoas. Se
vivemos de forma piedosa e buscamos ser responsáveis, não temos nada a
temer, em termos de prestar contas a outras pessoas. As pessoas devem ser
protegidas. Este é o papel do pastor. Não devemos violar este princípio.
Capítulo Cinco

Diretrizes para o manuseio da profecia


Neste capítulo, nós vamos ver três aspectos da profecia: Revelação,
Interpretação e Aplicação.
Temos de começar entendendo a diferença entre profecia
inspiradora e profecia reveladora. Todo crente é capaz de profetizar num
nível inspirador, especialmente em momentos de adoração. Trata-se do tipo
de profecia que traz edificação, exortação e conforto. É o tipo de profecia que
renova as pessoas, levando encorajamento às suas vidas; leva conforto
quando estão sentindo dor, incentiva-as a continuar seguindo ao Senhor e
motiva o espírito, em especial para a adoração – que é uma parte vital da vida
da Igreja. Uma das coisas mais importantes que podemos fazer em nossa vida
é aprender a adorar a Deus. A profecia inspiradora libera a alegria do
Senhor; traz paz às vidas; aumenta a fé e promove a reverência a Deus.
Todas essas coisas ocorrem no nível da profecia inspiradora.
A profecia inspiradora pode se tornar bem inócua. Neste nível, as
pessoas, especialmente os iniciantes, têm dificuldade de fazer distinção
entre o estímulo espiritual e o sentimentalismo carnal. Isso pode ter um
efeito especialmente negativo sobre as congregações e as reuniões.
Falando de modo geral, é bom não ter muitas profecias inspiradoras numa
reunião, ou os profetas podem assumir o controle. Muitas vezes o profeta
pode fazer tudo direito, mas a insegurança dos líderes pode ser o problema
principal. Às vezes, a profecia é incômoda porque traz arrependimento,
mudança e uma nova direção. Precisamos exercer algum tipo de controle.
Creio que quando esse tipo de profecia se torna muito comum e repetitivo,
principalmente nos cultos públicos, as pessoas aprendem a fechar os ouvidos
e deixam de responder e prestar atenção.
Deus fala conosco por meio de profecia porque deseja fazer algo em
nossa vida. A fim de que Deus possa cumprir Seus propósitos, é preciso que
haja alguma resposta de nossa parte. Precisamos compreender que sempre
que recebemos palavras proféticas numa reunião, temos de dar algum tipo de
resposta. Um dos principais elementos do dom profético (em especial nos
líderes) é saber como interpretar essa resposta; o que devemos fazer? Trata-
se de uma habilidade que precisamos desenvolver em nossas igrejas.
Qualquer profecia que seja mais do que inspiradora pode conter
elementos de correção ou orientação.
Como um princípio diretivo, a profecia reveladora precisa ser
analisada antes de ser apresentada. Eu nem sonharia em me colocar em pé
num culto e pronunciar uma palavra de profecia reveladora. Ela precisa ser
submetida à liderança antes. A profecia reveladora precisa ter a aprovação
prévia dos líderes da igreja, porque há princípios de governo eclesiástico
em jogo.
Deus não me deu a liderança geral de nossa igreja em Southampton.
Ele a deu a Kevin Allan, um dos meus melhores amigos. Nós cremos que eu
estou servindo ao Senhor Jesus com meu dom, minha vida e meu ministério.
No entanto, também estou servindo Kevin com meu dom e meu ministério.
Para mim é muito importante que ele tenha sucesso nas coisas que Deus lhe
deu para fazer. Eu desejo ser parte do seu sucesso. Se eu tivesse de escolher
entre o sucesso dele ou o meu, escolheria o dele. Se houvesse apenas uma
bênção para nós dois, eu preferiria que ele ficasse com ela. Assim é a vida no
Reino. Provavelmente se isso acontecesse nós iríamos brigar, porque ele iria
querer que eu ficasse com a bênção. Estamos juntos.
Não deveria existir nenhuma inimizade nas igrejas. A inimizade é
algo demoníaco e precisamos lutar contra ela. Não importa as razões para
as inimizades, a origem é sempre demoníaca. O inimigo está contra nós e se
ele puder jogar uns contra os outros, então ele vence. Se quisermos
resolver as inimizades, então teremos de lidar primeiro com o diabo,
porque nossa luta não é contra carne e sangue. Precisamos restabelecer a
unidade e trabalhar juntos, porque não pode haver divisões e inimizades nas
igrejas.
Dê uma olhada numa concordância bíblica e veja a quantidade de
vezes que aparece no Novo Testamento a expressão “uns aos outros”;
“amem uns aos outros”, “honrem uns aos outros”, “incentivem uns aos
outros ao amor e às boas obras”, “orem uns pelos outros”; “animem uns
aos outros”; e assim por diante – a lista é enorme. Assim é a vida na Igreja
e no Reino do céu, onde repetimos as mesmas atitudes que vemos na
Trindade.
O Pai pode dizer sobre o Filho: “Este é o meu Filho amado em quem
me agrado; ouçam-no”. Ele promove Jesus como centro de todas as
atenções: “Ouçam-no”. O que Jesus faz? Ele caminha com os homens e
diz: “Estou fazendo o que o meu Pai celestial faz. Estou dizendo o que meu
Pai diz”. Então Ele fez um surpreendente comentário aos Seus discípulos:
“Eu lhes afirmo que é para o bem de vocês que eu vou. Se eu não for, o
Consolador não virá para vocês; mas se eu for, eu o enviarei”.
Os discípulos devem ter se perguntado sobre o que Jesus estava
falando! Certamente teriam preferido continuar andando com Jesus! O que
queria dizer: “É para o bem de vocês que eu vou?”. Jesus queria dizer que a
próxima fase da vida deles seria mais bem administrada pelo Espírito Santo.
O Espírito da verdade viria. O Espírito Santo é absolutamente competente
para nos ensinar a verdade, nos guiar, nos dar poder e para liderar e edificar
o Corpo de Cristo.
Quando o Espírito vem, Ele fala especificamente de Jesus,
revelando-o e magnificando-o. Essa é a forma de vida da Trindade: cada um
deles promovendo, honrando e dando preferência ao outro. Eles abençoam e
bendizem uns aos outros. Assim é a vida no Reino e é a atitude que
precisamos em nossas igrejas. Estou servindo a Kevin com meus dons e
meu ministério; quero que ele tenha sucesso e desejo isso acima do meu
próprio desejo de ser aceito.
Avaliação antes da liberação
A profecia reveladora deve ser analisada em particular antes de ser
pronunciada em público. Quando compartilhamos uma palavra de revelação,
é muito útil anotar o máximo possível. Pelo menos tente resumir as linhas
gerais da profecia. Isso facilitará o processo de comunicação e facilitará a
compreensão da liderança ao ouvir a mensagem.
Entregamos a profecia aos líderes quando percebemos que a
responsabilidade pela mensagem passará do transmissor para o receptor.
Assim, os líderes terão de prestar contas a Deus quanto à sua reação e
resposta à profecia. No mínimo terão de levar a mensagem
suficientemente a sério para poder avaliá-la.
Temos de deixar a profecia com eles. Daí para frente, não somos
mais responsáveis por ela. Podemos acompanhar o progresso enquanto os
líderes submetem a palavra à avaliação. Isso é bem natural e normal,
porque às vezes continuamos sentindo a carga, mesmo depois de transmiti-la
à liderança.
No entanto, temos de tomar cuidado para não assumir uma atitude
arrogante, de fiscais dos líderes. A liderança, por sua vez, deve ser graciosa e
paciente no processo. Os dois lados precisam de muita humildade e
entendimento; é importante que a comunhão e a unidade sejam preservadas
em todo o processo.
O fracasso em seguir este princípio pode gerar conflitos dolorosos. Já
tive de lidar com situações desse tipo nos meus anos de ministério; já tive de
visitar igrejas e curar os danos causados pelo ministério profético. Esta é uma
das razões para a criação da Escola de Profecia: há muitos danos causados
nas igrejas locais em nome do ministério profético. Pode surgir uma tensão
muito nociva entre o ministério profético e a liderança local – e esta tensão
pode ser explorada por pessoas inescrupulosas e pelo diabo.
Com frequência a tensão é um dos componentes dessa dinâmica de
avaliação. No entanto, nem sempre tensão significa que algo está errado;
pode significar somente que algo está acontecendo. Não existe movimento
sem tensão. Posso estar sentado relaxado numa cadeira e então esticar o
braço para pegar minha caneca de café; a parte do meu corpo que está em
movimento ficará tensa, enquanto as outras partes podem continuar
descansando.
Tais situações são típicas do Corpo de Cristo ao redor do mundo.
Todos os ministérios experimentam tensão, pois envolvem um misto de
relacionamentos, questões administrativas e desejos humanos. Quando as
tensões ocorrem, temos de ter o cuidado de separar as questões que têm
potencial para causar divisão e colocá-las de lado. Podemos aproveitar as
tensões para renovar as amizades, permitindo que o óleo do Espírito Santo
possa permear todos os pontos de atrito.
Muitas vezes o inimigo tenta tirar proveito desses momentos de
tensão, com o propósito de dividir e assumir o controle. Deus também tem
Sua própria agenda, a qual é sempre baseada no amor, honra e fidelidade.
Temos de entender que o inimigo não pode sustentar um ataque.
Temos de permitir que o Senhor nos aproxime ainda mais uns dos outros
nesses momentos de tumulto. O inimigo faz com que as questões pareçam
mais sérias do que são na realidade. O Espírito Santo busca elevar o amor
e a amizade a novas alturas. Esse processo é chamado de unidade do
Espírito e é mais precioso para Deus do que qualquer questão.
Podemos adiar a análise de uma profecia. Podemos nos concentrar
nela mais tarde. Nossa prioridade deve ser o amor e a amizade. Podemos
renovar nossos relacionamentos, fortalecer nosso amor mútuo e reafirmar
nossos compromissos.
Somente quando essas coisas são feitas, sob a direção do Espírito
Santo, podemos retornar à questão a ser analisada. Neste ponto
descobriremos que em 90% dos casos toda a questão perdeu seu poder
destruidor de dividir. O inimigo não pode sustentar seu ataque quando o amor
de Deus é colocado no centro de nosso coração. Inspirados pelo Espírito
Santo, todos nós somos capazes de exercitar a graça e a humildade; somos
capazes de agir com amor e bondade. Quando esses atributos do caráter de
Deus prevalecem em nosso coração, então a concordância e a unidade ficam
ao alcance de nossas mãos.
Quando nos damos conta, a amizade entre os envolvidos se
fortaleceu, analisamos juntos a situação e no final podemos olhar para o
assunto a ser tratado e perceber que ele perdeu o poder de causar divisão.
Isso é muito importante. Principalmente no que diz respeito ao ministério
profético, no qual, em geral, a tensão será um dos ingredientes com os quais
teremos de lidar. Pessoas que profetizam criam tensão. Quando Deus
intervém em nossas vidas calmas e bem ordenadas, isso cria tensão.
Precisamos aprender como lidar com a tensão e como preservar a comunhão
– senão o ministério profético pode abrir brechas e permitir a ação demoníaca
na igreja.
Se a liderança não estiver pronta ou disposta a tratar com essas
questões, a tensão que emana do ministério profético causará problemas.
Quando isso acontece, muitos líderes, infelizmente, acham mais fácil
desprezar a profecia e rotular os profetas como causadores de problemas.
Trata-se de uma forma fácil de resolver um dilema e ela tem sido empregada
em muitas situações.
A falta de entendimento sobre como a profecia funciona de fato causa
muitas dificuldades e interpretações erradas. Infelizmente é muito mais fácil
culpar o profeta em vez de encarar a necessidade revelada na profecia de
mudança na igreja.
Também existe uma tensão entre o “ideal” para onde Deus está nos
encaminhando e o “real”, onde estamos agora. A profecia se relaciona com
o ideal e pinta um novo quadro, ampliando nosso horizonte e elevando
nossa visão. Os líderes na maioria das vezes lidam com a realidade atual da
igreja (onde ela está agora).
O meio termo entre o ideal e o real é chamado de frustração! Ambas
as partes devem ocupar corretamente seu lugar. Se, como as figuras
proféticas envolvidas, nós nos movermos baseados num senso de frustração
com eventos, ou rejeição no ministério, então fica mais fácil profetizarmos
nossas próprias opiniões. Também devemos nos certificar de que não
estamos vivendo sob qualquer influência negativa que possa afetar nossa
mensagem profética. É perfeitamente possível ter uma palavra positiva
quanto ao futuro da Igreja, vendo profeticamente um novo horizonte, com as
coisas novas que Deus irá realizar.
No entanto, nossa frustração ou negativismo podem nos privar do que
temos de melhor. Em vez de profetizar bênção e mostrar as coisas novas de
Deus para elevar nossa visão, em vez de falar do ideal e dizer “é para lá que
o Senhor quer nos levar”, em nosso negativismo e frustração nós falamos da
realidade, em vez de apontar para o ideal... dizendo, “tenho isso contra vós,
diz o Senhor, vocês não são assim!”.
Os líderes também podem falhar nessa área. Há necessidade de
cuidar das pessoas que têm dom profético, dando-lhes amor, respostas
exatas, bondade e discipulado. Acima de tudo precisamos estabelecer uma
liderança que tenha no mínimo um entendimento básico de como a profecia
funciona. Muitas vezes eu fico surpreso ao ver quantos líderes de igrejas que
organizam eventos proféticos não participam eles próprios dos eventos. É
essencial que aprendamos a lidar com esse meio termo de frustração.
Temos de entender, também, que essas diretrizes aplicam-se a todas
as pessoas, independente do “status” dentro do ministério profético. Temos
de assumir o compromisso de aguardar uma confirmação sobre as
mensagens proféticas que recebemos.
Trazendo uma perspectiva exterior
Alguns amigos receberam várias mensagens proféticas de
pessoas da sua própria congregação. Essas palavras eram diretivas e
criariam uma agenda para os trabalhos da igreja durante algum tempo. Os
líderes tinham recebido tantas profecias que não estavam mais conseguindo
ser objetivos e julgar cada mensagem de forma apropriada. Eles entraram em
contato comigo e me pediram para que eu buscasse algo do Senhor a fim
de proporcionar-lhes uma visão externa da situação.
Eles não me disseram nada a respeito do conteúdo das profecias
anteriores. Estavam querendo usar minhas impressões como confirmação,
colocando minha perspectiva externa lado a lado com as profecias internas.
Eles pediram que eu fosse até lá e trouxesse uma palavra profética numa
reunião organizada especialmente para esse fim.
Eu comecei a orar, mas achei que o que estava recebendo para a
igreja era tão diretivo e específico que chamei meu amigo e disse que não
poderia realizar a reunião. Eu sabia que podia subir à plataforma e
profetizar, mas as mensagens que estava recebendo eram tão específicas que
precisava que ele as ouvisse primeiro, para julgar e analisar. Ele disse que a
liderança estava muito feliz e que eu devia fazer a reunião conforme
planejado. Eu agradeci, mas continuei preocupado, por isso pedi para me
encontrar com ele e com os outros líderes para discutir e decidir o que fazer.
Quando me reuni com os líderes e compartilhei as palavras
proféticas que tinha recebido, uma grande empolgação tomou conta deles.
Aparentemente não só o Espírito Santo tinha confirmado muitas
mensagens anteriores, como também tinha levado a igreja muitos estágios
adiante, dando-lhes toda uma estratégia para os cinco anos seguintes.
Quando a empolgação pela bênção de Deus arrefeceu um pouco, nós
reconhecemos, em oração, que precisávamos organizar uma reunião
profética para toda a igreja, a fim de criar um ambiente onde toda a
congregação pudesse ficar impregnada com as palavras proféticas do Senhor.
Aquela reunião, além de ser um tremendo sucesso, foi também um
marco; foi um divisor de águas na vida daquela igreja em particular, a
qual tem experimentado grande crescimento numérico, um impressionante
crescimento espiritual e agora desenvolveu uma crescente influência em toda
a região.
Esta é uma pergunta fundamental que sempre temos de fazer: “Como
introduzir uma palavra profética significativa nas igrejas?”. A Bíblia não
oferece diretrizes claras sobre esta questão. Assim, somos deixados com
dois extremos; a palavra profética espontânea, dada a qualquer momento, e a
mensagem profética preparada e bem elaborada. Ambos são igualmente
válidos. Na maioria das vezes é mais comum os dois andarem juntos do que
termos de escolher entre um ou outro método.
Grande parte do ministério profético no Antigo Testamento
certamente era planejado e elaborado. Muitos profetas tinham secretários e
associados que funcionavam como escribas. Jeremias tinha Baruque, o qual
escrevia suas mensagens. Se o Senhor falasse com o profeta quando este
estivesse em Jericó, dando-lhe uma mensagem para o rei que estava em
Jerusalém... o profeta tinha tempo de orar e repassar a mensagem enquanto
se encaminhava para a outra cidade. Podia ser uma jornada de várias horas,
ou até dias, e durante esse tempo a mensagem ia sendo lapidada, mediante a
oração.
É bom preparar um esquema profético por meio do qual o
Espírito Santo pode soprar e acrescentar outras palavras de forma
espontânea.
Palavras diretivas que foram analisadas com antecedência podem
receber esse investimento de oração. Direção e preparação são da parte do
Espírito Santo. As pessoas sentem segurança que a profecia diretiva já foi
analisada. Quando a mensagem é liberada, cria um impacto imediato sobre
a fé no coração dos ouvintes.
Se trabalharmos da outra forma e trouxermos uma palavra
direcional a uma congregação sem que seja analisada antes, muitas vezes
não teremos a resposta esperada. Primeiro, esse método abre a
congregação para o perigo de profecias irresponsáveis que semeiam
desordem. Segundo, a resposta pode ser o silêncio, porque a mensagem
ainda não foi analisada.
Haverá uma lacuna entre a mensagem dada e a sua aprovação. Mesmo
assim temos de planejar a entrada bem sucedida da palavra no coração das
pessoas. É como oferecer um prato de comida saborosa a um homem
faminto e depois tomar o prato de suas mãos para averiguar se a comida foi
feita adequadamente. Quando ele recebe o prato de volta, a comida já pode
estar fria!
Se julgarmos as profecias antes de seu pronunciamento em
público, podemos resguardar o rebanho e criar um ambiente dinâmico, onde a
mensagem profética será facilmente transmitida, recebida e aplicada.
O ponto final aqui é que apesar de eu ter a amizade, as oportunidades
e a base de confiança para falar profeticamente (naquela igreja em particular)
sem precisar consultar a liderança, não segui esse caminho. Eu queria que
eles recebessem, em sua congregação, a mesma cortesia por parte de um
profeta visitante que eu espera- ria receber em minha própria igreja. Os
limites estabelecidos pelo Espírito Santo não apagam Seu ministério; pelo
contrário, eles nos ajudam a realizar Seus propósitos. O método de
liberação deve corresponder de alguma forma ao resultado desejado.
Profecia reveladora e caráter
A profecia reveladora traz correção e direção de Deus à Terra.
Quando aspiramos esse nível no nosso ministério profético, temos de tomar
um cuidado enorme com o nosso caráter; de outra forma nosso dom pode
destruir uma igreja. Palavras de correção dizem respeito à moralidade e
pureza da congregação; esse alvo deve se refletir em nossa própria vida.
“Quando um profeta se transforma num lobo em pele de
cordeiro?”. Isso ocorre quando ignoramos as questões de caráter com as
quais Deus deseja tratar. Desprezo por um estilo de vida de responsabilidade
produz uma natureza ingovernável e indigna de confiança.
Os riscos são muito elevados para permitirmos que pessoas sem senso
de responsabilidade falem na igreja. O caráter de qualquer ministro deve
estar aberto à avaliação e ao questionamento de pessoas maduras. Este é
um pré-requisito. Temos de conquistar o direito de profetizar, pregar ou
ensinar na igreja. A responsabilidade da liderança é guardar o rebanho e
estabelecer um exemplo de humildade e responsabilidade que a igreja possa
seguir.
Não podemos esperar que o caráter de um indivíduo seja 100%
correto, senão ninguém estaria qualificado para papéis de liderança. No
entanto, devemos agenciar para que haja um esquema em torno de suas vidas
para o desenvolvimento do caráter. Deve haver um progresso real nesta área
antes das pessoas terem permissão para entrar no ministério e assumir
responsabilidade sobre a vida de outros.
É importante permitir que outras pessoas tenham acesso aos nossos
relacionamentos, nosso casamento, sexualidade, finanças, à forma como
agimos como pais, como administramos nosso lar, nosso ministério, etc., a
fim de que possam interferir em qualquer uma dessas áreas, quando houver
necessidade. As áreas de nossa vida que não compartilhamos com outros são
sempre as áreas nas quais Jesus Cristo não é o Senhor. O inimigo fica
sobrevoando nossa vida buscando um lugar para aterrissar; relacionamentos
abertos e honestos destroem todos os terrenos férteis onde o pecado poderia
germinar.
Somente por meio da responsabilidade chegamos ao autogoverno e
aprendemos a policiar nossa própria vida. Isto é: nos tornamos governáveis
nas áreas da vida que realmente são importantes, ou seja, nas áreas privadas.
Aquilo que fazemos em público em geral tem pouquíssimo a ver com nosso
verdadeiro estilo de vida. As reuniões públicas são a parte menos importante
na vida da igreja. Elas são importantes, mas realmente ... não são as mais
importantes. Aquilo que ocorre em nossos lares traz consequências muito
maiores. O nosso lar é onde o Reino de Deus é ou não estabelecido, é
onde a realidade do senhorio de Cristo é vista ou não – não no nosso
comportamento em público.
O ministério profético se torna difícil quando perdemos nosso espirito
de servos, porque isso faz com que recebamos mensagens de Deus para todas
as pessoas, menos para nós mesmos. Revelações precisas não são sinônimo
de caráter piedoso. Só porque eu profetizo para algumas pessoas aqui e ali e
acerto “na mosca” todas as vezes, não quer dizer que sou uma pessoa
maravilhosa em minha vida privada, na minha casa. São duas coisas
distintas e nós não devemos cair na armadilha de achar que não são; não
devemos pensar que só porque uma pessoa recebe revelação, tudo está bem
com sua vida particular.
Balaão, no Antigo Testamento, tinha uma unção profética
genuína quando começou seu ministério, mas apesar disso levou Israel a
cometer um grande pecado. Saul profetizou movido pelo Espírito Santo e
causou comentários em todo o Israel por causa da unção. Criou-se até um
ditado popular: “Saul não está no meio dos profetas?”. Ele estava
pronunciando palavras de revelação que provocaram um tipo de resposta;
apesar disso, porém, ele terminou atormentado por um espírito maligno. A
igreja de Corinto tinha dons espirituais tremendos, mas era amplamente
reconhecida como uma igreja carnal.
Temos de ser cuidadosos com as pessoas na área do caráter. Temos
o direito de insistir que um certo nível de caráter seja demonstrado antes
de permitir que as pessoas ingressem em algum ministério ou ocupem
posições de liderança.
Quando o Senhor me dá uma mensagem profética, geralmente sobre
o futuro ou o ministério de uma pessoa, pode não haver referência ao
caráter ou estilo de vida da pessoa. O silêncio de Deus sobre o caráter ou
o estilo de vida de alguém não implica em Sua aprovação. Só porque Deus
não mostra áreas de nossa vida ao profeta, não significa que Ele aprova o
que está acontecendo. Eu descobri que toda profecia pessoal tem alguma
aplicação direta ou indireta no caráter, pois toda profecia possui um
imperativo moral. Podemos receber uma profecia relacionada ao nosso
ministério, nosso futuro, sobre o que faremos, para onde viajaremos,
quem iremos ajudar e como Deus irá nos usar. A questão é: “Que mudanças
terei de fazer no meu caráter para chegar lá?”; a única coisa capaz de impedir
o cumprimento de uma profecia em nossa vida é a falta do desenvolvimento
do caráter adequado na nossa vida pessoal.
Há um protocolo que deve ser observado aqui. Quando nosso povo
recebe uma profecia diretiva sobre sua vida, temos de nos certificar que
ela seja registrada, transcrita e que fique disponível para os líderes e outras
pessoas maduras. Os líderes por sua vez devem se certificar de que, a fim de
cumprir as demandas futuras, as pessoas façam as mudanças no estilo de
vida, caráter, moralidade e relacionamento com o Senhor; essas mudanças
devem receber a mesma consideração que os desenvolvimentos ministeriais
e as novas oportunidades abertas pelo Espírito Santo.
As pessoas que cometem recorrentemente os mesmos pecados no
exercício dos dons espirituais, criam um abismo cada vez maior na própria
personalidade, que resulta em fracasso espiritual, colapso emocional, vários
tipos de debilidade mental, enfermidades físicas, dificuldades nos
relacionamentos e muitas vezes completo fracasso moral. Ao vir pessoas se
levantar com dons e chamado ministerial, precisamos ter pessoas dispostas a
moldar o caráter e a vida desses candidatos. Ministério sobrenatural pode
significar a intensificação dos ataques de Satanás e se comprometermos o
desenvolvimento do nosso caráter podemos nos tornar um canal aberto
para que espíritos malignos entrem na igreja. Jesus disse:
“Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês
vestidos de
peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores
... Então
eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se
de mim
vocês que praticam o mal!” (Mt 7.15-23)
Temos de observar o fruto na vida das pessoas que têm dons
sobrenaturais, tanto em termos de ministério como de caráter. Ao mesmo
tempo, é importante permitir que nosso ministério seja inspecionado e
testado. Mesmo a nossa folha de serviços anteriores precisa ser analisada,
para que não nos acomodemos no ministério.
Eu espero que meu ministério seja provado e inspecionado até o dia em que
eu morrer. “Ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom” (1
Ts 5.21).
O uso regular da plaina tira as arestas da madeira.
Interpretação
Concernente à interpretação, 1 Coríntios 13.9 diz o seguinte:
“Em parte conhecemos e em parte profetizamos”.
A revelação pode ser precisa, mas a interpretação pode ser
totalmente diferente. Às vezes a revelação vem em fragmentos, partindo de
diferentes pessoas e Deus deseja que todas as partes sejam reunidas.
Certa vez, recebi uma chamada telefônica de um irmão (a quem
chamarei de “João”) de uma igreja onde eu costumava ir bastante. Ele estava
passando por uma situação que os líderes não conseguiram resolver, por
isso aconselharam que ligasse para mim. Aparentemente eles tinham
recebido na igreja um profeta com um ministério internacional e este profeta
disse que tivera uma visão com João, na qual o viu com trajes militares,
caminhando por uma praia com um detector de metais nas mãos. O profeta
dera a seguinte interpretação: a praia era a igreja e Deus tinha dado a João
um ministério na batalha espiritual, que seria de detectar as atividades do
inimigo. Ele estaria deliberadamente procurando por artefatos do inimigo
(bombas não explodidas, minas e granadas). Deus ia usá-lo para vasculhar
a igreja e detectar todas as atividades do inimigo na vida das pessoas. Ele
seria usado para desativar as armas do inimigo; estaria cercado por
atividade demoníaca no mundo. Isso faria dele um alvo e ele teria de
aprender como rechaçar as intervenções diretas do diabo em sua vida e em
sua família. João não ouviu nenhuma palavra de esperança!
O problema foi que tal interpretação trouxe grande confusão, medo e
incerteza. Tal mensagem não tinha relação com nenhuma mensagem
profética anterior na vida de João. Não havia nenhuma conexão dessa palavra
com seu atual ministério ou algo que já tinha feito antes. Isso não significava
necessariamente que a mensagem estava errada, mas havia uma clara
incongruência. João não sentiu paz em seu coração, o mesmo ocorrendo com
seus amigos mais próximos. Sua esposa também ficou profundamente
preocupada. Então, coisas começaram a acontecer em seu lar; seus filhos
começaram a acordar gritando no meio da noite; cheiros horríveis apareciam
do nada. As crianças afirmavam estar vendo monstros na sala e nas escadas
e às vezes sentiam uma “presença” que causava medo.
Ninguém sabia como lidar com essa situação. Uma coisa que
ninguém fez foi questionar a interpretação da visão. Todos pensaram que os
acontecimentos eram parte do preço que João teria de pagar pelo novo
ministério. Quando me telefonou, ele chorava enquanto falava. Eu pedi que
ele me contasse apenas a revelação, sem a interpretação. Eu lhe disse que iria
orar.
O Senhor me mostrou a seguinte interpretação. “A praia de fato era a
igreja e o Senhor ia usar João como um detector de metais”. No entanto, a
palavra metal devia na verdade ser pronunciada de outra maneira. Há um
antigo termo inglês, que também significa “metal”, mas que era usado nos
tempos dos cavaleiros especificamente para armaduras, escudos e espadas.
Significa “qualidade de espírito, coragem, temperamento, encorajar alguém
a fazer um grande esforço, mostrando zelo e determinação”. Assim, o
antigo ditado “vamos ver de que ‘metal’ você é feito”, era uma alusão à
coragem, à fibra e à determinação das pessoas.
Longe de João ter de procurar atividades do inimigo e desativar seus
artefatos (bombas, minas, etc.), de fato Deus o estava levantando como
caçador de talentos! Ele estaria vasculhando a igreja em busca de tesouros
nas vidas das pessoas: os ricos depósitos do amor e do cuidado de Cristo; os
depósitos celestiais de dons, poder e unção que havia no coração das
pessoas.
Na vida de algumas pessoas, esses tesouros estão enterrados sob
camadas de pecados, sentimentos de inferioridade, incredulidade e
ignorância. No entanto, João traria cada tesouro à superfície, limpando,
polindo e revelando a beleza de Cristo. O Senhor estava lhe dando um
ministério particularmente importante numa área da igreja onde há muitas
pessoas que sentem que se afastaram de Deus, perderam o significado e não
estão indo a parte alguma. O Senhor enviaria João para detectar o que o
Espírito estava fazendo na vida dessas pessoas e traria isso à superfície.
Quando compartilhei essa perspectiva aos líderes e a João, houve um
sentimento profundo de que “esta era a interpretação correta”. Então nós
pudemos ir adiante e orar especificamente pelas atividades do inimigo na
casa de João, sabendo que não tinham nada a ver com o preço do ministério,
mas simplesmente o inimigo tinha tirado vantagem da situação. As
palavras são poderosas, pois elas criam coisas. Podem trazer bênção ou
maldição; podem trazer entendimento ou confusão; fé ou desesperança.
Quando nós assumimos autoridade e pronunciamos a interpretação correta
da profecia na vida de João, vimos Deus se mover na situação e trazer as
coisas de volta ao normal.
A revelação estava correta, mas a interpretação estava totalmente
distorcida. Não caia na tentação de “manufaturar” uma interpretação quando
as coisas não estão bem claras. Com muita frequência vemos que as pessoas
têm uma habilidade enorme de moldar a interpretação que preferem em
torno de uma palavra profética.
Precisamos ser cuidadosos em relação às profecias. Muitas vezes já vi
pessoas que eram excelentes no recebimento de revelações, mas não eram
boas na interpretação. É neste ponto que precisamos trabalhar em equipe na
igreja. Quando o ministério profético funciona em equipe e vinculado ao
ministério pastoral, há uma brilhante combinação.
Se não tivermos a interpretação de uma mensagem em
particular, precisamos orar com a pessoa e crer que ela virá. Às vezes eu
profetizo e não entendo qual é a interpretação. Simplesmente obedeço. Não
recebi a interpretação, mas sei que naquele momento tenho a permissão de
compartilhar a profecia e por isso obedeço. A pessoa que está recebendo a
palavra não necessariamente a compreende. Outras pessoas ao redor podem
dizer: “Nós sabemos o que significa”. Às vezes, porém, ninguém sabe o que
significa! O que temos de fazer, então, é pegar aquela mensagem profética
em particular e colocar na “prateleira”.
Devemos encorajar as pessoas a terem uma “prateleira” espiritual
onde possam colocar todas as palavras que não compreendem ou que não têm
uma aplicação naquele momento de suas vidas. Deus falou algo, mas a
plenitude do significado será revelada posteriormente. Devemos esperar, em
atitude de oração, pela interpretação e por uma maior clareza.
Muitas vezes já vi profecias sendo transmitidas com bastante
antecedência. Nesses casos, por meio da oração e da espera, as pessoas
podem se preparar para o que Deus irá fazer. Subitamente nos vemos no meio
de uma série de circunstâncias que são iluminadas pelas palavras proféticas
que recebemos algum tempo antes.
Certa vez eu dei uma palavra profética a um homem, que a
situação em seu emprego ia piorar, que seu chefe se voltaria contra ele e
tornaria sua vida tão difícil que ele ia desejar pedir demissão. O Senhor,
porém, ia ensiná-lo a confiar e a ficar firme na fé, confiando no Senhor e
resistindo ao inimigo. Ele devia se aquietar sob a mão de Deus durante aquele
período de provação e finalmente herdaria uma posição de autoridade.
Na época o chefe daquele homem era um primo seu e os dois
eram ótimos amigos. Sua reação inicial foi insinuar que eu tinha errado
completamente. Eu o encorajei a guardar a profecia no coração, em vez de
desprezá-la. Ironicamente, motivados pela profecia, ele e seu primo (um
cristão cheio do Espírito)começaram a orar pela empresa onde
trabalhavam. Durante um tempo as coisas melhoraram. Vários meses
depois da profecia, seu primo se transferiu para outro emprego. O homem
que o substituiu se opunha violentamente ao cristianismo. Seguiram-se
dezoito meses de inferno naquela empresa, pois o homem aproveitava todas
as chances para demitir os cristãos. Durante aquele período, a única coisa
que aquele irmão tinha para se apoiar era a promessa que recebera de
Deus em forma de profecia. Dois anos depois da profecia, o próprio gerente
foi demitido e aquele irmão foi promovido!
Nos primeiros estágios da palavra profética, quando parecia que
estava acontecendo o oposto, o homem precisou guardar a profecia num local
seguro em vez de rejeitá-la. Nessas ocasiões há um grande conforto em
saber que o Senhor viu tudo com antecedência. A palavra profética se torna
um portal entre o céu e a Terra por meio do qual o Senhor passa no tempo
oportuno. Podemos ficar firmes em nossas circunstâncias e declarar, como
Pedro no Dia de Pentecostes, “Isto é o que foi predito...”; a profecia se torna
uma arma poderosa em nossas mãos. O Senhor é sempre maravilhoso em
situações assim; Sua bondade é incrível.
Aplicação
A revelação, a interpretação e a aplicação podem ser dadas por três
pessoas diferentes. Por isso é importante que não olhemos somente para a
profecia em busca de direção; devemos encorajar as pessoas a ter uma
“prateleira”, a anotar as revelações e a compartilhá-las com outras pessoas.
A revelação pode abrir toda uma área da vida de uma pessoa. Às
vezes, quando estou profetizando, nem sempre sei o que está acontecendo
na vida do indivíduo, mas a revelação pode abrir algo que o Senhor deseja
tocar e tratar.
Toda profecia pode ser dividida em três partes. Há a palavra de
conhecimento, que pode abrir uma situação; a palavra de profecia que fala à
situação e a palavra de sabedoria, que vem e diz: “Eis o que você deve fazer
com respeito a isso”.
Com muita frequência, na aplicação nós buscamos uma palavra de
sabedoria: “Senhor, o que devemos fazer agora?”. Tivemos uma verdadeira
revelação, uma interpretação precisa, mas para onde vamos agora? Com a
aplicação, eu sempre desejo me certificar sobre quem mais deve ouvir a
mensagem profética. Eu sempre tento encorajar as pessoas, dizendo: “Você
deve procurar seus líderes ou um irmão maduro e compartilhar com eles o
que recebeu”; alguém mais deve ouvir a profecia e anotá-la. Por isso eu
gosto que as profecias sejam registradas.
Há alguma aplicação que necessita ser colocada em prática? Todas
as vezes que uma pessoa recebe uma profecia concernente ao seu ministério,
temos de conversar sobre seu caráter. O caráter pode não ter sido mencionado
na profecia, mas mesmo assim precisamos conversar a respeito.
E quanto ao tempo? Temos de garantir que as pessoas não se apressem,
pedindo demissão do emprego para se envolver no ministério antes de ter
uma confirmação. Já vi isso acontecer! As pessoas se apressam a se
engajar no ministério, por querer isso agora! No entanto, depois do
chamado é necessário que haja um tempo de treinamento. Quando alguém
recebe uma profecia referente a um chamado ministerial, deve se submeter a
um período de treinamento.
Há alguma condição óbvia à qual a profecia claramente faz
alusão? Precisamos ajudar as pessoas a pensar em termos de “o que eu faço a
seguir?”. O tempo pertence a Deus. A preparação pertence a nós. Temos de
cooperar com Deus na preparação, caso contrário podemos jamais ver algo
se concretizar. Certa vez eu profetizei para um homem e disse: “Você já
devia estar nesse ministério há três anos atrás, mas não está porque não se
preocupou com a preparação”. A palavra se tornou um chamado para ele se
despertar, se arrepender e buscar ao Senhor.
Se não cuidarmos da preparação, tudo o que acontecerá será fora de
tempo. Deus pensa: “Não posso entregar isso na mão dessa pessoa; ainda
não posso confiar nela”. Em nossa vida, temos de prestar atenção na
preparação, a fim de ver as profecias se cumprir, senão, elas nunca se
tornarão realidade. Há muitas pessoas vivendo sem ver o cumprimento das
profecias em suas vidas porque não se preocupam com a fase de preparação e
de respostas – fatores que Deus leva em consideração.
Capítulo Seis

Profecia pessoal
Nos últimos anos tem havido debates sobre a validade de uma única
pessoa profetizar para um grande número de pessoas numa reunião.
Certamente uma única pessoa profetizando para grupos seria a norma
em muitos locais. Seria correto, ou seria bíblico, uma pessoa se mover no
dom profético durante várias horas seguidas?
A Bíblia oferece vários exemplos de pessoas recebendo profecia
pessoal. No entanto, ela não diz nada sobre a questão se um único indivíduo
deve transmitir todas as profecias. A Bíblia não diz se é certo ou errado.
Em meu próprio ministério, constantemente fico surpreso ao
constatar a enorme expectativa que as pessoas têm em relação àqueles que
são usados no ministério profético. Certa vez um pastor me telefonou
desejando que eu marcasse uma data para visitar sua igreja. Na conversa, eu
lhe perguntei o que esperava que eu fizesse em termos de ministério.
Basicamente, sua resposta foi que desejava que eu fosse lá durante
vários dias, profetizasse para a igreja (em termos corporativos) sobre
visão e ministério e também que eu profetizasse para todos os membros da
congregação! Perguntei se ele queria que eu ensinasse sobre profecia e
fizesse algumas oficinas nas quais os membros da igreja tivessem
oportunidade de exercitar o dom. Sua resposta foi negativa: “Queremos que
você venha para profetizar e não para ensinar sobre profecia!”.
Fiz uma segunda pergunta ao pastor: “Suponhamos que eu vá, mas o
Espírito Santo não me dê nenhuma palavra profética ...o que acontecerá?”.
Ele ficou em silêncio durante alguns instantes e finalmente disse: “Mas você
é um profeta!...”.
Na verdade, nos últimos vinte anos já houve várias ocasiões em
que não recebi nenhuma mensagem profética. A mais recente ocorreu
durante uma campanha de fim de semana numa igreja. Ao entrar no prédio da
igreja, senti o Espírito Santo me dizendo: “Você não profetizará neste final de
semana”.
Durante todo o tempo, a liderança me colocou debaixo de grande
pressão, de forma sutil e também aberta. Senti grande ímpeto de falar sobre a
natureza da igreja, sobre verdadeira comunhão e unidade nos
relacionamentos dentro do Corpo local. Na manhã de segunda-feira, depois
de um dos finais de semana mais difíceis que eu já experimentara, eu
soube que o pastor titular pediu demissão do cargo, por causa de traição,
espírito crítico e falta de compromisso por parte dos presbíteros e dos
membros. Era simples: ao me convidar, a intenção dele era que eu
chegasse na igreja, sacudisse uma “varinha mágica” e profetizasse mudança
no coração de toda a congregação.
Em vez disso, eu cheguei lá e ensinei (com base numa palavra
revelada nas Escrituras) o que eles precisavam saber. Aquele pastor
confessou seu desapontamento comigo e com meu ministério. A verdade,
porém, é que se primeiro não estivermos dispostos a obedecer à Palavra,
perdemos o direito de receber alguma revelação fresca e específica de Deus.
Em segundo lugar, não podemos e não devemos tratar os profetas como
mágicos. Os profetas não foram levantados por Deus para tirar objetos de
uma cartola, fazer coisas desaparecerem ou causar mudanças miraculosas no
caráter das pessoas sem que elas precisem responder ao Senhor!
Um pastor me convidou para visitar sua igreja e falar sobre um
assunto em especial (nada sobre profecia – ótimo!). Depois de orar, senti
que devia aceitar. No entanto, quando cheguei lá, ele fez uma introdução
espalhafatosa sobre o meu ministério, o que me deixou bem desconfortável.
A seguir começou a chamar as pessoas da congregação pelo nome, mandando
que ficassem de pé para receber uma mensagem do profeta.
Subitamente, me dei conta de que não estava lá para falar sobre
“Edificando uma Igreja Pioneira” – na verdade estava lá para profetizar
na vida das pessoas mais complicadas da igreja! Quando protestei (em voz
baixa) no púlpito, o pastor me informou que o Senhor tinha acabado de lhe
mostrar que eu tinha recebido mensagens para todas aquelas pessoas.
Minha inclinação foi encerrar meu dom e abandonar aquela igreja.
Concordei, por uma questão de cortesia, em orar por algumas pessoas.
Depois da reunião, um homem me informou que vários dias antes o pastor
tinha lhe telefonado convidando-o para vir com a expectativa de receber
alguma profecia.
É vital estabelecer diretrizes para a realização do ministério quíntuplo
na igreja. Os ministros não são mágicos, não são levantados para assumir o
lugar de Deus. Quando há uma expectativa geral de que o profeta sempre
deve ter mensagens proféticas para todos, em todas as reuniões, a própria
igreja cria uma situação em que o ministério profético fica sujeito a exageros.
Revelações contínuas, sem interrupção, podem causar fadiga, perda de
concentração e pressão em relação aos resultados e tudo isso pode levar o
profeta a cometer erros.
Há muitos exemplos nos quais grupos inteiros receberam mensagens
corporativas de uma só pessoa. Há também muitos exemplos nos quais
indivíduos receberam mensagens proféticas dadas pelo presbitério.
O que é presbitério?
Ao examinar a história da Igreja, vemos que a função do
presbitério é bem variada. Em alguns locais o presbitério significa uma
equipe de conselheiros que se reúne em tempos de adversidade para oferecer
à Igreja o benefício de sua sabedoria em situações estressantes. Em outros
locais, pode ser definido como as pessoas que representam suas
congregações e regiões nas conferências nacionais, onde haja votação. Os
presbíteros podem fazer parte de uma equipe denominacional regional
(presbitério), que busca refletir os pontos de vista das igrejas de uma região
em particular.
Quando, porém, examinamos a função bíblica do presbitério, vemos
algo diferente. A Bíblia indica que presbitério era o nome de um grupo de
pessoas com unção profética, que orava e profetizava sobre indivíduos e
igrejas, conforme a situação exigia (At 13.1-3; 1Tm 4.14). Esse grupo pode
ser a equipe de anciãos da igreja local, ou um grupo de vários ministros
quíntuplos que estão presentes na igreja por uma razão ou ocasião em
particular.
Além de edificar, exortar e confortar, o propósito do presbitério é
trazer direção, trazer um chamado claro de Deus às vidas, autenticar o
ministério ou a função dos indivíduos e ministrar a Palavra ou a bênção
divina nas vidas. O presbitério também pode ser usado para separar as
pessoas para o ministério ou para a liderança pastoral; para ajudar as pessoas
a receber uma visão fresca e novo ânimo no serviço do Senhor; para trazer
direção profética a todo um projeto. Os presbíteros podem realmente
fortalecer a fé da igreja e podem ser a fonte de liberação de bênçãos
fundamentais para todo o Corpo.
Durante as conferências proféticas, eu sempre uso uma equipe de
ministros ungidos para agir como um presbitério naquele evento, com a
permissão e a bênção da liderança local.
O presbitério, como qualquer ministério profético individual, está
sujeito à liderança da igreja local, diante de quem deve prestar contas daquilo
faz e diz. Neste caso, precisamos determinar quem será o “cabeça” do
presbitério, em caso de haver necessidade de uma palavra final ou alguém
que assuma a responsabilidade pelo grupo. No meu caso, eu assumo a
liderança de toda a equipe, o que significa que “pago o pato” se algo der
errado. Depois das conferências, eu incentivo as pessoas a entrar em contato
primeiro com os membro da equipe (os quais me prestam relatórios);
caso não recebam resposta ou não concordarem com algo, então podem
entrar em contato comigo e eu procuro o membro da equipe responsável. Por
outro lado, caso haja algum problema com a minha resposta, então entramos
em contato com um árbitro independente que pode nos ajudar a resolver a
questão de forma imparcial.
Profetas no plural
Na Bíblia há muitas menções de grupos organizados de profetas,
todos trabalhando juntos. Na época de Samuel havia escolas de profetas (1
Sm 10.5-10; 19.20). No tempo de Elias, um homem chamado Obadias
(mordomo do rei Acabe) escondeu cem profetas numa caverna (1 Rs 18.4).
Há muitas referências aos filhos dos profetas em Betel e Jericó, que pareciam
ser dois dos principais centros de atividade profética (2 Rs 2.3-7). Profetas
(note o plural) chegaram a Antioquia, vindos de Jerusalém (At 11.27; 13.1).
“Judas e Silas, que eram profetas, encorajaram e fortaleceram os
irmãos com muitas palavras” (At 15.32).
O texto acima não diz se essas “muitas palavras” foram individuais ou
corporativas – ou ambas! Nenhuma distinção é feita neste caso.
“Tratando de profetas [plural], falem dois ou três...” (1 Co 14.29).
Em 1 Coríntios 14.1-5, Paulo faz várias observações sobre profecia.
Ele afirma que falar em línguas é um dom intensamente pessoal, a menos que
haja interpretação pública, a fim de que todo o grupo seja abençoado. Ele
também parece dar a entender que há um aspecto individual e corporativo na
profecia. “Quem profetiza o faz para edificação, encorajamento e consolação
dos homens [individual]... Quem profetiza edifica a igreja [corporativo]”.
A Bíblia, porém, tem mais a dizer a respeito de todos profetizando do
que a respeito de um profetizando sobre todos! (1 Co 14.24, 31). Eu creio
firmemente que o papel do profeta é treinar, equipar e liderar as pessoas no
uso correto dos dons; é capacitar o Corpo a ministrar profeticamente e não
se levantar e profetizar sobre todos; trazer o ofício profético para a igreja,
juntamente com o ministério apostólico.
Quem precisa de profecia?
Primeiro, há as pessoas óbvias. Aqueles que não estão indo bem
em alguma área e que precisam de uma palavra de exortação, edificação ou
consolo. Os líderes locais devem examinar o estilo de vida dos seus
membros, para detectar as necessidades antes de iniciar um ministério
profético. Em muitas ocasiões é mais importante que as pessoas recebam
ensino sistemático da Palavra, creiam nela, e a apliquem em suas vidas, do
que esperem “ouvir” algo novo de Deus na profecia.
Muitas vezes as pessoas se metem em problemas porque ignoram ou
desobedecem as verdades reveladas no ensino sistemático. Temos de
encorajar as pessoas a não tratar a profecia como um atalho para Deus. Os
cristãos do Novo Testamento não tinham o hábito de buscar palavras
proféticas todas as vezes que tinham de tomar uma decisão. Eles usavam as
Escrituras, a presença interior do Espírito Santo, a comunhão dos santos e o
relacionamento pessoal com o Criador amoroso.
A busca contínua de profecias ou de profetas nos limita a uma vida de
mediocridade espiritual e de imaturidade, pois é fundamental para o nosso
crescimento individual que aprendamos a discernir por nós mesmos a
vontade de Deus. Se não conseguimos ouvir Deus por nós mesmos, como
podemos esperar ouvir Deus por intermédio de outrem? O relacionamento
pessoal com Cristo é o nosso maior privilégio e nosso direito quando
nascemos de novo. Temos de tomar cuidado para não violar esta liberdade.
O Espírito Santo é quem nos lidera a toda a verdade. Ele é a
nossa inspiração na verdade. Quando as pessoas me procuram na
expectativa de receber uma mensagem profética, normalmente eu faço
várias perguntas concernente ao seu relacionamento com Deus, estilo de vida
e vida de oração. Muitas vezes já fui dirigido a dar conselhos sobre
intimidade com o Senhor e orar pela bênção... em vez de profetizar. Nos
últimos anos, nós incluímos um seminário sobre “Conhecendo a Vontade de
Deus” como parte do currículo nas conferências sobre Profecia.
Quando é certo profetizar e quando devemos abrir as
Escrituras?
A resposta a esta pergunta, para um profeta, é: verificar sempre o
contexto no qual estamos exercendo o ministério. Eu peço ao Senhor
informações complementares (conhecimento sobrenatural das
circunstâncias); isso me ajuda a determinar se devo pedir ao Senhor uma
passagem bíblica para ensinar ou uma mensagem profética.
Certa vez um adolescente me pediu para orar por ele e trazer uma
palavra profética porque o inimigo o estava oprimindo no local de trabalho,
em casa e na igreja. Ele sentia que estava a ponto de penetrar num novo
nível com Deus e que essas situações estavam sendo usadas pelo inimigo
para retê-lo. Ele sentia que uma palavra profética de minha parte liberaria a
unção do Espírito em sua vida.
Quando pedi ao Senhor que me desse algumas revelações para
determinar o contexto, tive várias visões. Um deles mostrava o rapaz
chegando atrasado no trabalho. Sua mãe odiava chamá-lo de manhã porque
ele se recusava a sair da cama. Depois o rapaz acusava a mãe por chegar
atrasado e era extremamente agressivo com ela. Outra visão me mostrou
que o quarto do rapaz estava sempre em desordem e sujo, parecendo uma
pocilga. A terceira visão mostrou-o roubando dinheiro da bolsa da mãe. Veio
à minha mente a passagem de Êxodo 20.12, onde há um mandamento:
“Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa...”.
Tive de dizer àquele rapaz que não era o inimigo e nem as outras
pessoas que estavam contra ele, na presente situação. Na verdade era Deus
se opondo a ele, em favor de sua mãe. Ele não precisava de uma mensagem
profética – precisava se arrepender e mudar sua forma de vida.
Líderes, ministros, pessoas que estão agindo bem
Todos precisam de mensagens proféticas que os ajudem a
melhorar. Nosso ministério é levantar campeões – homens e mulheres de
grande valor, dispostos a dedicar suas vidas à causa do Reino de Deus.
O grande problema, principalmente no mundo ocidental, é que nossas
igrejas são orientadas pelas necessidades. As pessoas estão sendo
introduzidas inadequadamente no Reino. Mas, em síntese, o evangelho é:
“Jesus Cristo é o Senhor, o que você pretende fazer a respeito disso?”. As
pessoas não estão recebendo a mensagem verdadeira de Jesus como
Salvador e Senhor. Estão recebendo uma mensagem açucarada que exibe
um Jesus que suprirá todas as necessidades e resolverá todos os problemas.
Isso não é verdade.
Nem mesmo Jesus fez essas reivindicações sobre si próprio. Ele
afirmou claramente que aqueles que o seguissem sofreriam oposição. A
decisão de seguir a Cristo pode custar perda dos pais, da família e dos
amigos. Por causa da nossa fé, as pessoas tentarão nos prender, ferir e até
matar. Os crentes devem estar preparados para perder a vida (literal e
figurativamente), por causa de Jesus. Ele disse:
“Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz,
mas espada” (Mt 10.34)
“Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu
venci o mundo” (Jo 16.33)
Evangelho é problema. Também é redenção, paz e perdão,
purificação, restauração e amor. Apesar disso, ele nos causará problemas
(por favor, Senhor!) porque nos coloca em conflito com o sistema do mundo
que é contrário do Reino dos céus. Assim, há necessidade de levantar
pessoas de real qualidade, que fiquem firmes e liderem outros. Essas pessoas
sempre estarão sob os piores ataques, porque representam um tipo de vida
que o inimigo está empenhado em destruir.
As igrejas cometem dois grandes erros nesta área. Primeiro,
devido ao evangelho orientado para as necessidades que é pregado, os líderes
gastam grande parte de seu tempo em ministério de manutenção e
motivação. As pessoas com necessidades recebem toda a atenção,
enquanto aqueles que aparentemente não têm necessidades recebem
pouquíssima ajuda ou apoio. Aqueles que ajudam mais são os últimos a
receber ajuda. A única forma de receber um pouco de atenção é quando
eles próprios sucumbem. Assim, temos um sistema que transforma heróis em
vítimas.
Nosso segundo erro é que praticamente não temos estruturas de
treinamento e capacitação nas igrejas. Não estamos engajados ativamente na
tarefa de fazer campeões, pessoas que podem ir cada vez mais longe. A
profecia tem um papel extremamente importante a desempenhar nesse
cenário. As pessoas que estão se saindo bem devem ser alvo de ensino,
oração, mais treinamento e capacitação e também devem receber profecias
específicas.
Se quisermos evitar que nossos heróis se tornem vítimas, precisamos
avaliar como os estamos usando e apoiando. O uso contínuo de um dom
pode causar desgaste, como uma lâmina que perde o corte. A profecia
funciona como um amolador de facas, restaurando o corte na vida de
pessoas leais, confiáveis e comprometidas. Ela ajuda a estabelecer essas
pessoas ainda mais nas áreas dos dons, responsabilidade e influência.
A profecia também pode livrar as pessoas das dúvidas e da
incredulidade, ajudando-as a ver as coisas da perspectiva divina. Pode
também abrir novas oportunidades para o serviço. Pode aumentar a
visão individual e corporativa. Ela dá ao ensino sistemático da Palavra
um ímpeto que promove o crescimento da fé e cria expectativas. A profecia
resulta numa ampliação, a criação de novo espaço em nosso coração para o
Senhor, para a fé, para o entendimento e para o serviço.
Ao responder as palavras proféticas de Deus, devemos reconhecer que
há três características inerentes a todas as profecias pessoais. Sempre que
uma profecia é proferida, ela será sempre incompleta, constante e
progressiva, ou então será provisional e dependerá de nossa obediência.
Precisamos entender todas essas qualidades a fim de ver a Palavra
de Deus cumprida em nossas vidas.
A profecia é incompleta
O apóstolo Paulo declarou:
“Em parte conhecemos e em parte profetizamos” (1 Co 13.9)
Uma palavra de conhecimento é somente uma parte ínfima do
conhecimento pleno de Deus. Da mesma forma, uma profecia oferece
somente uma pequena revelação da vontade de Deus para nossas vidas.
O texto de Deuteronômio 29.29 diz:
“As coisas encobertas pertencem ao Senhor, o nosso Deus, mas as
reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para
que sigamos todas as palavras desta lei”.
Trata-se de uma visão muito amável da verdade. Deus tem coisas
ocultas, que ainda serão reveladas. E Ele espera que guardemos com cuidado
as verdades que nos revela. Elas “pertencem” a nós e aos nossos
descendentes. A verdade deve passar de geração a geração; entregue aos
nossos filhos e passadas adiante. O ponto fundamental da verdade é que ela
precisa ser obedecida; nós a recebemos “para que a sigamos”.
Profecia também é verdade; ela reflete a exatidão do coração de
Deus e dos Seus propósitos. Ele é verdade, de modo que tudo o que fala
sobre Ele (com exatidão) automaticamente também é verdade.
Deus só revela o que precisamos saber a fim de que façamos Sua
vontade naquela situação em particular. As coisas que não deseja que
saibamos, Ele mantém em segredo até daqueles que profetizam. Eliseu disse:
“O Senhor nada me revelou e escondeu de mim...” (2 Rs 4.27). Em outras
palavras, ele queria dizer “eu não sei”.
Houve muitas profecias concernentes à vida de Jesus, pronunciadas
por uma grande variedade de pessoas. Muitas delas tiveram partes diferentes
no quebra-cabeça profético. Um profeta viu o Cristo como o servo sofrendo
sob a aflição do açoite, suportando sofrimentos e morte; outro viu o governo
vitorioso de Jesus; outro falou sobre o reino eterno e o governo do Filho de
Deus. Há ocasiões em que várias profecias sobre a vida de uma única pessoa
são como um quebra-cabeça. É preciso reunir todas as peças para ver o
quadro todo.
As profecias pessoais não nos suprem todas as informações.
Muitas vezes ela dá detalhes em uma área, oferece alguns comentários sobre
outro aspecto de nossa vida, mas pode não falar nada sobre outra área. Há
ocasiões em que a profecia traça vários passos ou fases pelos quais nossa
vida irá passar.
A profecia pode nos oferecer vislumbres positivos sobre o que
faremos ou teremos no futuro, mas pode não mencionar nada sobre os
obstáculos que poderemos encontrar. Pode não se referir à oposição do
inimigo, às pessoas que nos atrapalharão ou aos desapontamentos que
poderemos experimentar ao tentar ser fiéis ao nosso chamado. Às vezes, ao
olhar para trás, já desejei que algumas palavras proféticas que recebi
tivessem me alertado sobre as tribulações que enfrentaria. Pelo menos eu teria
me preparado e talvez estivesse mais apto para suportar e superar
algumas situações.
O sonho de José (Gn 37) não lhe deu nenhuma idéia da virada que sua
vida daria depois que contasse aos seus irmãos. O fato de ele ser atirado
dentro de uma cisterna não fazia parte da visão dele governando sobre seus
irmãos. O pesadelo continuou a partir daí, quando ele foi vendido como
escravo e finalmente acabou num calabouço, aguardando a execução no
Egito. Demorou um longo tempo (cerca de 24 anos) até que ele viu o
cumprimento da visão que tivera.
Quando Davi foi ungido por Samuel para ser rei (no tempo oportuno)
– 1 Samuel 16 – não houve menção de que ele passaria parte de sua vida se
escondendo em cavernas na companhia de bandoleiros. Samuel não
mencionou que ele viveria entre os filisteus e trabalharia para eles. Samuel
também não disse que seu próprio povo o perseguiria por todo o deserto a fim
de matá-lo. A profecia não destacou que ele fingiria ser louco a fim de
escapar de uma situação de perigo ou que perderia seu melhor amigo!
A profecia sempre revela uma parte dos propósitos de Deus em
nossas vidas. Não desanime, se a profecia deixar de mencionar aspectos
particulares que consideramos importantes.
A misericórdia de Deus jamais endossa o pecado
Se tivermos problemas ocultos, pecados, áreas de escravidão ou
desobediência em nossas vidas, e se mesmo assim recebermos uma profecia
totalmente positiva, não devemos concluir que o Senhor está aprovando
totalmente a nossa vida e está sendo complacente com o nosso pecado ou
com a nossa situação.
Moisés estava numa situação similar em Êxodo 3 e 4. Ele recebeu
uma profecia concernente ao livramento de Israel da escravidão e a promessa
da Terra Prometida (Canaã). Essa profecia foi confirmada por manifestações
do poder divino. A vara se transformando em serpente e sua mão ficando
leprosa foram dois sinais relacionados à profecia.
Depois de algum tempo, Moisés se encaminhou para o Egito. No
caminho, Deus foi ao seu encontro na intenção de matá-lo. Por que? Moisés
tinha pecado contra Deus deixando de circuncidar seu filho (E 4.24-26).
Como libertador do povo de Israel, Moisés não poderia desenvolver um
ministério efetivo se ele próprio não cumprisse cabalmente o
relacionamento de aliança com o Senhor. A circuncisão era uma parte vital da
aliança. Em sua desobediência, ele tinha quebrado a aliança com Deus.
Assim, apesar de ter uma profecia e um propósito, ele continuava numa
atitude de oposição a Deus, pois não obedecera à Palavra revelada!
Seu encontro profético com o Senhor não tinha revelado nenhuma
das circunstâncias ocultas de sua vida. O fato da profecia não ter revelado o
pecado não significava que o Senhor estava sancionando a desobediência
de Moisés. Seu fracasso em obedecer a aliança de Abraão o colocara em
oposição a Deus.
Sem dúvida nós já vimos isso acontecer muitas vezes na Igreja
moderna, onde ministérios importantes fracassam por causa do pecado. Já
compartilhei o púlpito com muitos homens, testemunhei enquanto recebiam
palavras proféticas maravilhosas, mas mesmo assim, meses (ou anos) mais
tarde testemunhei também a queda moral deles, devido a pecados cuja raiz
estava em atitudes profanas cometidas muitos anos atrás.
Já presenciei pessoas com as quais tinha íntima amizade ou um
relacionamento muito próximo de trabalho caírem terrivelmente em
imoralidade ou fraude. As raízes do pecado tinham se firmado há muito
tempo, mas durante toda a nossa amizade, eu nunca vi ou ouvi nada.
Olhando para trás, posso ver um padrão de comportamento comum
em todas essas pessoas. Todos acreditavam que devido ao fato de
ter um ministério ungido e bem sucedido e as palavras
proféticas que recebiam não fazer nenhuma menção de seus caminhos
impiedosos, podiam concluir que Deus não estava se importando com o
que faziam.
Uma vez que esse tipo de mentalidade começa a criar força em nossa
mente, podemos não dar outra alternativa ao Senhor a não ser proclamar as
coisas de cima dos telhados. Nenhuma dessas pessoas confessou a
necessidade e nem pediu ajuda. Todos foram expostos pelos acontecimentos.
Nenhum deles aceitou a disciplina da igreja e nem houve real humildade.
Houve um sentimento de pesar por ter sido apanhado, mas houve também
resistência quanto à implantação de novos sistemas de prevenção e de
prestação de contas.
Às vezes a profecia não fala às áreas de nossa vida nas quais
desejaríamos receber luz. É importante não reagir com desaponta- mento. A
profecia fala às partes da nossa vida nas quais o Senhor deseja fazer algo e
estimular. Portanto, temos de prestar atenção ao Espírito Santo.
Às vezes nossa vida pode estar uma verdadeira confusão, cheia de
problemas, mas mesmo assim a mensagem profética fala do nosso futuro de
forma clara e positiva. Bem, pelo menos sabemos que se permitirmos que o
Espírito trabalhe, vamos sair daquela bagunça em algum ponto ao longo do
caminho!
A profecia é constante e progressiva
O Senhor nunca compartilha tudo aquilo que tem no coração numa
única mensagem profética. Pelo contrário, Ele nos oferece mensagens que
nos proporcionam um foco para o momento atual e para o futuro imediato.
Quando trabalhamos com base nessas profecias e permitimos que nos
dêem encorajamento e moldem
nossa vida, podemos ver que a profecia vai sendo construída mediante
várias mensagens sucessivas.
Já recebi uma série de profecias, dadas por intermédio de uma ampla
variedade de fontes diferentes e sem conexão entre si e aos poucos cada
profecia foi me dando uma perspectiva do que Deus estava fazendo e para
onde estava me conduzindo. Cada palavra confirmava e fortalecia o
objetivo final. Às vezes eu recebia uma nova mensagem que abria um
novo horizonte. Ocasionalmente uma profecia reforçava e enfatizava uma
mensagem que eu tinha recebido há muito tempo atrás, a qual eu já havia
esquecido ou não estava aplicando totalmente.
Quando a profecia é progressiva, o conceito que precisamos
entender é que o Senhor está estabelecendo uma aliança conosco. Ele faz
isso por meio da verdade revelada nas Escrituras. No entanto, Ele também
pode usar as profecias. Olhando para trás, posso ver a aliança e o coração
de Deus em operação no ministério profético que recebi ao longo dos anos.
Para compreender realmente esse conceito de profecia, temos de examinar
a primeira vez que ele ocorre na Bíblia. Falando em termos gerais, a
primeira vez que Deus faz algo, Ele estabelece um precedente. Ele
proporciona um modelo, um padrão que pode ser seguido.
O estudo clássico nesse aspecto é a vida de Abraão, pai de muitas
nações, um patriarca e aquele com quem o Senhor fez uma aliança eterna.
Abraão é o modelo de relacionamento de aliança, por isso é bom examinar as
palavras proféticas em sua vida. Ao fazer isso, veremos um padrão distinto
emergindo mediante as sucessivas profecias.
Como cada profecia é edificada sobre uma mensagem anterior,
veremos palavras de confirmação, para que reforcem as profecias anteriores,
algumas palavras de instrução sobre o que se deve fazer, outras palavras que
restabelecem promessas anteriores e finalmente nova revelação que abre uma
área diferente de atividade.
A primeira palavra ocorreu quando Abraão tinha 75 anos de idade.
Ele recebeu uma grande promessa que dele procederia uma grande nação e
por seu intermédio todas as nações da Terra seriam abençoadas (Gn 12.1-5).
Ele recebeu instrução para deixar sua casa e ir para uma terra que Deus lhe
mostraria.
Abraão recebeu uma segunda palavra quando chegou a Canaã (Gn
12.7). Era uma palavra de confirmação, que aquela terra pertenceria aos
seus descendentes.
Depois que ele e o sobrinho Ló se separaram, Abraão recebeu uma
terceira palavra (Gn 13.14-17). Essa palavra reforçou que a terra era sua e
de seus descendentes. Ele recebeu instrução para “olhar” para todos os
pontos cardeais e também para “percorrer a terra de alto a baixo, de um
lado a outro”. Instruções como esta em profecia geralmente nos incentivam a
ir, explorar e tomar posse do que o Senhor está nos dando. Neste caso,
Abraão estava tomando posse tanto para si mesmo como para as futuras
gerações. Ao obedecer a instrução, ele estava exercitando o direito de posse.
Abraão também recebeu uma nova revelação: sua descendência seria
“tão numerosa como o pó da terra”. Expressões como esta são usadas pelo
Senhor a fim de expandir nosso pensamento. Muitas vezes nosso raciocínio
humano é muito pequeno. Nosso conceito de Deus é pequeno demais.
Muitas vezes, na profecia, o Senhor usa expressões que fazem nossa
mentalidade crescer, ampliam nosso entendimento de Deus e fazem
aumentar nossa fé.
Aos 83 anos de idade, Abraão recebeu uma quarta profecia. Esta
mensagem continha novas revelações específicas, além de fortalecer e
estabelecer as mensagens anteriores (Gn 15). Abraão não tinha filhos e
sofria muito por causa disso. Deus lhe deu uma promessa sobre um filho
“gerado por ele mesmo”. Uma palavra muito clara; teria seu próprio filho,
não um filho adotivo, mas gerado por ele próprio. Era uma nova palavra,
que também reforçava uma palavra anterior. Anteriormente, a palavra foi
“sua descendência será tão numerosa como o pó da terra”. Agora, sua
descendência também será “numerosa como as estrelas do céu, que não se
pode contar”.
Novamente, houve outra palavra de reforço: “Para dar-lhe esta terra
como herança” (Gn 15.7). Isso foi reafirmado, mas com as palavras
adicionais estabelecendo os limites territoriais da Terra da Promessa (Gn
15.18). Tudo isso torna ainda mais difícil a compreensão da incredulidade e
desobediência de Israel em Cades-Barnéia (Nm 13 e 14).
A quarta profecia de Abraão não somente delineou os limites da
Terra prometida, como também identificou as nações específicas que deviam
ser subjugadas na conquista da terra.
Neste ponto, a palavra profética cobriu 400 anos de história. Previu
a escravidão de Israel no Egito, a libertação e a punição dos opressores, além
da expulsão remunerada!
Todo esse cenário profético foi selado com uma aliança que fora
iniciada pelo Senhor. A profecia progressiva inspira a formação de
alianças. Ela nos liga ao Senhor e ao nosso destino. Esse tipo de profecia
constante e de desenvolvimento contínuo é uma parte viável e significativa
do ministério profético.
Aos 99 anos de idade, Abraão recebeu uma quinta mensagem
profética, na qual foram acrescentados vários elementos novos e
importantes (Gn 17).
Em primeiro lugar, ele recebeu uma palavra nova: “Seja íntegro”.
Deus estava começando a estabelecer seus termos para que as profecias
fossem cumpridas. Em segundo lugar, houve um reforço e o
restabelecimento das palavras anteriores (Gn 17.2-8). É interessante notar,
também, que houve uma ênfase tripla em relação às “muitas nações” que
procederiam de Abraão. Isso significa a intenção absoluta de Deus! No meio
de tudo isso, o nome foi mudado de Abrão para Abraão, que significa “Pai
de uma multidão”, o que clarificou e determinou a resolução de Deus em
relação a Abraão. Cada vez que ouvia seu novo nome, a frase “pai de muitas
nações” ecoaria em seus pensamentos. Ao dar-lhe esse nome, Deus
salvaguardou a promessa. O cumprimento estava no nome e o nome era a
promessa! Assim como o nome de Jesus – peçam tudo em meu Nome e Eu
farei! (Jo 15.16).
Houve uma expansão nessa profecia de pai de nações para pai de
multidões. Novamente, a terra foi restabelecida como sua possessão (Gn
17.8).
Havia novos elementos nessa última profecia que eram instrutivos.
Abraão recebeu detalhes específicos de uma nova aliança que o Senhor
estava firmando com ele. Um aspecto progressivo dessa profecia era que ela
se tornava mais pessoal e íntima à medida que se desenvolvia. Há uma
separação para Deus, tipificada no ritual da circuncisão.
Além disso, pela primeira vez em 24 anos, Sara foi especificamente
mencionada como mão do herdeiro prometido. Seu nome mudou de Sarai
para Sara (princesa, rainha, mãe de uma nação), refletindo o fato de que ela
era parte de todas as profecias recebidas pelo seu marido. Ela teria um filho!
Nesta profecia, vemos uma boa mistura de novas revelações,
palavras de confirmação, fortalecimento e restabelecimento de palavras
anteriores e um forte elemento de instrução. Todos esses elementos dão à
profecia um aspecto constante e progressivo.
A sexta profecia (Gn 18.17-19) foi dada no contexto de Sodoma
e Gomorra. Parece quase uma profecia indireta... não dada diretamente a
Abraão, mas pronunciada em sua presença. Era como se o Senhor estivesse
falando a respeito de Abraão com os dois outros homens. Eu incluí essas
palavras como profecia porque elas refletem o coração e as intenções de
Deus em relação a Abraão. Trata-se de um fascinante vislumbre da mente de
Deus e as palavras mostram Seus processos de pensamento alinhados com as
palavras proféticas que Ele profere.
Na profecia, nós podemos ter a empolgação inicial ao ouvir os
pronunciamentos. A seguir temos de exercitar a fé para superar as
circunstâncias. Essa situação mostra o Senhor se unindo às palavras
proféticas proferidas sobre Abraão e assumindo-as para si.
Em vinte anos de ministério profético, já encontrei centenas de
pessoas que abrem mão das mensagens proféticas que recebem, preferindo se
concentrar nas circunstâncias. Eu creio que o Senhor jamais esquece aquilo
que fala. Quando Ele fala, Ele cria algo novo. Sua palavra é evento, ela
gera ação. Ele jamais esquece uma profecia.
Nesta palavra, há o restabelecimento dos dois temas do v. 18, “uma
nação grande e poderosa” e “[por meio de Abraão] todas as nações da terra
serão abençoadas”. Há um novo aspecto da revelação também no v. 19.
“Eu o escolhi, para que ordene aos seus filhos e aos seus
descendentes que se conservem no caminho do Senhor, fazendo
o que é justo e direito, para que o Senhor faça vir a Abraão o que
lhe prometeu”.
Este é o nervo central do cumprimento da profecia. Nossa intenção
na vida deve ser “fazer o que é justo e direito”. Nesse contexto Deus
sempre cumpre Sua palavra, tanto a Palavra revelada nas Escrituras como os
pronunciamentos proféticos. O que o Senhor exige de nós?
“Pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com
o seu Deus” (Mq 6.8)
A sétima e última profecia (Gn 22.15-18) ocorreu na vida de Abraão
depois do teste com Isaque, quando recebeu instrução para oferecer seu filho
como sacrifício. O teste é um ingrediente essencial em todas as nossas
situações proféticas com o Senhor. O Senhor deseja saber o que é mais
importante para nós, nossos destino e chamado, nosso relacionamento com
Ele.
O teste é um elemento absolutamente vital no cumprimento das
profecias. Quando Abraão foi aprovado no teste, a profecia deixou de ser
uma promessa e se transformou num juramento selado e ratificado.
“Juro por mim mesmo... que por ter feito o que fez... esteja certo
de que o abençoarei...” (Gn 22.16-18)
Neste ponto a profecia adquiriu uma nova dimensão, saindo do
provisional/condicional e entrando no absoluto/incondicional.
Ela seria cumprida porque o nome do próprio Deus (“Juro por mim mesmo”)
estava em jogo. Abraão provou quem era e foi aprovado no teste. Agora era
a vez do Senhor mostrar quem era e manter Sua palavra.
Nesse contexto, vemos novamente a confirmação das mesmas
palavras que foram dadas cerca de 50 anos antes. “Farei seus
descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia das
praias do mar”.
Há um elemento novo também na promessa: “Sua descendência
conquistará as cidades dos que lhes forem inimigos...” – uma referência à
conquista de Canaã, entre outras. É interessante que a primeira batalha dos
filhos de Israel em Canaã envolveu a conquista de uma cidade baseada numa
mensagem profética dada a Josué (Js 6). Assim, a progressão continuou por
toda a vida de Josué. Ele recebeu grande parte dos cumprimentos das
promessas feitas a Abraão sobre sua descendência e a terra. É maravilhoso
travar batalhas cujo resultado já foi determinado há mais de 400 atrás!
É algo tremendo e maravilhoso viver o cumprimento de uma
promessa. Chegar a um ponto onde podemos afirmar como Pedro: “Isto é o
que foi predito”.
Eu estou vivendo a realização de palavras proféticas que recebi em
1974. Em todas as profecias que recebi desde então, posso traçar a natureza
progressiva do coração de Deus para comigo.
Com base na vida de Abraão, podemos ver que durante a sua vida
inteira o indivíduo pode receber muitas profecias pessoais, mediante as
quais Deus vai lhe revelando Seus planos. O tempo do cumprimento pode
demorar e muitos anos podem se passar. No entanto, o Senhor mantém
nossa visão clara com profecias progressivas.
Abraão e Sara esperaram 25 anos por Isaque. Davi esperou mais de 20
anos para ser rei de fato. José esperou 22 anos para ver seu sonho realizado.
Em 1976, eu recebi uma mensagem profética de que estaria trabalhando na
América e teria influência no cenário eclesiástico nacional. Em 1992, depois
de 17 anos de espera, oração e preparação, finalmente dei minha primeira
palestra na América. O cristianismo instantâneo é o inimigo da persistência.
O cristianismo instantâneo não suporta os tempos de provação. O
cristianismo instantâneo jamais produzirá homens maduros e mulheres
de Deus.

A profecia é provisional e depende da obediência


Não existe mensagem profética pessoal incondicional. A
profecia pessoal refere-se a possibilidades e não a inevitabilidades. Se a
nossa resposta for pobre e cheia de incredulidade, ou se o nosso estilo de
vida continuamente entristece o Espírito Santo, não podemos esperar que
as profecias se cumpram em nossa vida. No máximo, as mensagens
proféticas serão reformuladas ou serão tremendamente reduzidas. É possível
que sejam totalmente revogadas, como aconteceu com o rei Saul e com os
filhos de Israel durante a peregrinação no deserto. É preciso que haja um alto
nível de resposta e cooperação por parte do recipiente.
Por isso eu creio que toda profecia pessoal deve ter um
acompanhamento de uma pessoa madura. Se a profecia não mencionar
nenhuma condição, ou se o profeta não der nenhuma instrução, então os
líderes devem tomá-la e acompanhar seu desenvolvimento e cumprimento.
Já vi muitos casos quando profetas imaturos transmitiram às
pessoas mensagens que terminavam com as seguintes palavras: “Você não
terá de fazer nada. Deus fará tudo para você!”. No que se refere a profecias
pessoais, tal afirmação não tem nenhuma base bíblica. Toda profecia
pessoal possui um imperativo moral. As palavras são proferidas para
instigar uma resposta, seja no estilo de vida ou nos relacionamentos.
A falta de resposta pode invalidar uma profecia, como aconteceu com
Israel durante a jornada à Terra Prometida (Nm 14). Todas as mensagens
proféticas pronunciadas por Moisés no Egito foram invalidadas e depois
foram reativadas pelos dois únicos homens que deram uma resposta
positiva – Josué e Calebe.
Deus está continuamente monitorando nossa resposta a todos os Seus
pronunciamentos, seja no ensino, discipulado ou mensagens proféticas. Como
meu amigo Graham Perrins disse numa aula sobre profecia em 1980: “Deus
está procurando um... porque. O termo porque pode significar que foi dada
uma resposta positiva que foi antecipada, procurada e esperada. Por outro
lado, pode significar que uma resposta negativa foi dada, a qual não agrada
ao Senhor e incorre numa reação negativa de Sua parte. Literalmente
significa “por causa disso” (de nossa resposta); “desde que” (em relação à
nossa resposta) e “já que” (nós respondemos dessa forma) ... então eu
também cumprirei minha parte... ou não, conforme for o caso.
Na Bíblia, vemos que esta palavra é usada várias vezes para denotar
que as pessoas foram abençoadas e prosperaram, ou
sofreram perdas devido às suas atitudes e falta de disposição de obedecer
ao Senhor e à Sua Palavra.
Novamente, olhemos para a primeira vez em que o termo é usado
neste contexto (Gn 3.17). Adão recebera uma palavra do Senhor
concernente a comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn
2.16,17). Ele desobedeceu essa palavra e por causa disso foi expulso do
Jardim do Éden. Porque ele preferiu ouvir sua esposa em vez de ouvir ao
Senhor, foi proibido de permanecer no Jardim. Tudo o que antes era
conquistado com facilidade agora seria adquirido mediante o trabalho árduo
e o suor.
Como já vimos, no teste de Abraão com Isaque, a palavra
“porque” é novamente a base da situação (Gn 22.16-18). Porque ele não
negou seu filho, então todas as profecias anteriores se tornariam “sim” e
“amém”! Neste ponto, as promessas se tornam um fato, quando Deus jurou
por Si mesmo que aquelas coisas iriam acontecer. Nas mensagens proféticas,
há um momento em que a promessa condicional se torna um fato
incondicional. A profecia muda de promessa para uma verdade absoluta
(que não pode ser detida); “[porque] você fez o que fez...”.
É interessante notar também que, anos mais tarde, quando Isaque
estava enfrentando um período de fome , o Senhor lhe falou a mesma coisa
que falara ao seu pai Abraão (Gn 26.3-5). A palavra se cumpriu para Isaque
porque seu pai obedeceu. Isso é digno de nota. Algumas mensagens
proféticas não são apenas para nós, mas podem ser também para nossa
família. Já recebi várias mensagens que diziam que a promessa profética
continuaria em minha família por intermédio dos meus filhos. Isso faz com
que eu examine ainda com mais atenção algumas palavras que recebi nos
últimos anos. Certa vez eu disse a um amigo (brincando, claro) que eu teria
de viver
150 anos para ver cumpridas todas as palavras proféticas que tinha recebido.
Algumas delas incluem meus filhos e meus descendentes. Em alguns casos,
ainda não cheguei a nenhuma conclusão, mas as possibilidades são
interessantes.
Hebreus 6.11-15 refere-se à situação de Abraão e exorta: “Não se
tornem negligentes, mas imitem aqueles que, por meio da fé e da paciência,
recebem a herança prometida [a profecia]”. A seguir o texto bíblico cita
Abraão como um exemplo positivo nessa questão.
Atualmente, mais do que nunca, precisamos de tais modelos que nos
dêem exemplo do tipo de resposta que o Senhor requer quando recebemos
Suas mensagens proféticas.
O rei Saul foi outro personagem que, infelizmente para ele,
fracassou em experimentar o cumprimento da profecia por causa da
desobediência. Ele ignorou instruções específicas dadas por Samuel (1 Sm 9–
10). O resultado da rebelião foi que o seu reino foi tirado dele (1 Sm
13.13,14). Novamente, a palavra porque é um aspecto importante na
situação.
Numa segunda situação, um pouco mais tarde, Saul novamente
desobedeceu instruções específicas dadas pelo profeta (1 Sm 15.3). Ele
recebeu ordens de destruir completamente os amalequitas, matando tudo e
todos, incluindo o gado e os animais domésticos. A falha de Saul em
obedecer esta instrução profética representou mais um prego no caixão de seu
reinado, culminando com a mensagem que sua rebelião e insubordinação se
assemelhavam a feitiçaria e idolatria.
“[Porque] você rejeitou a palavra do Senhor, ele o rejeitou como
rei” (1 Sm 15.23)
No Novo Testamento, vemos uma referência a Davi, sucessor de Saul,
como sendo um homem que “fará tudo o que for da minha vontade” (At
13.22). O rei Asa, de Judá, seguiu ao Senhor de todo o coração (2 Cr 14). Ao
enfrentar um exército etíope de dois milhões de soldados (duas vezes maior
do que o seu exército), ele clamou ao Senhor. Deus ouviu sua oração, viu
sua confiança e desbaratou o inimigo, dando-lhe uma grande vitória.
Mais tarde, o Senhor enviou o profeta azarias para entregar a Asa a
seguinte mensagem:
“escutem-me, Asa e todo o povo de Judá e de Benjamim. O
Senhor está com vocês quando vocês estão com ele. Se o
buscarem, ele deixará que o encontrem, mas, se
o abandonarem, ele os abandonará” (2 Cr 15.2).
A mensagem tinha mais coisas, mas esta foi a palavra fundamental.
Anos mais tarde, Baasa, rei de Israel, declarou guerra contra Judá. Em vez de
buscar ao Senhor, como fizera antes, Asa enviou uma quantidade de ouro
e de prata a Ben-Hadade, rei da Síria, a fim de estabelecerem uma aliança e
lutarem juntos contra Israel. A aliança foi feita e funcionou bem na solução
do problema. No entanto, o profeta Hanani entregou a seguinte mensagem
ao rei Asa:
“Porque você pediu ajuda ao rei da Síria e não ao Senhor, seu
Deus, o exército do rei da Síria escapou de suas mãos. Por acaso os
etíopes e os líbios não eram um exército poderoso, com uma grande
multidão de carros e cavalos? Contudo, quando você pediu ajuda ao
Senhor, ele os entregou em suas mãos. Pois os olhos do Senhor estão
atentos sobre toda a terra para fortalecer aqueles que lhe dedicam
totalmente o coração. Nisso você cometeu uma loucura. De agora em
diante terá de enfrentar guerras” (2 Cr 16.7-9)
O que poderia ser um tempo prolongado de paz, se tornou um tempo
de guerra e derramamento de sangue.
Em Jeremias 25.1-9, nós vemos Judá sendo levado ao cativeiro e ao
exílio. Durante 23 anos Jeremias tinha profetizado exortando a nação ao
arrependimento. Muitos profetas tinham pronunciado mensagens
semelhantes. Esta palavra em particular termina assim:
“‘Porque vocês não ouviram as minhas palavras, convocarei
todos os povos do norte e o meu servo Nabucodonosor, rei da
Babilônia’, declara o Senhor, ‘e os trarei para atacar esta terra...’”
(Jr 25.9-12)
Podemos ver que o princípio de ouvir a voz profética e obedecer ao
Senhor são vitais para o cumprimento das profecias. As profecias são
condicionadas à nossa resposta.
Quando um profeta diz que não teremos de fazer nada, que Deus
fará tudo, está profetizando falsamente. Muitas vezes isso ocorre devido à
pura ignorância. Eles não entendem o texto bíblico que diz:
“A batalha não é de vocês, mas de Deus” (2 Cr 20.15)
Nesse episódio em particular, e no caso específico dessa profecia,
havia instruções muito definidas, as quais exigiam uma resposta distinta.
Primeiro, o povo não devia ter medo. Segundo, devia marchar contra o
inimigo. Terceiro, devia tomar posição e quarto, devia ficar firme. A profecia
não disse que não teriam de fazer nada. Ela deu instruções precisas, que
exigiram obediência. Na profecia pessoal, sempre há algo que devemos
fazer.
Há uma outra razão para esse erro básico na profecia: as pessoas não
compreendem a diferença entre profecia condicional e profecia incondicional.
Como já vimos, toda profecia pessoal é condicional. Exige uma
resposta do receptor. Toda profecia pessoal traz um imperativo moral.
A profecia não precisa mencionar que precisamos ser puros e viver sem
pecado, que devemos ser santos e justos. Nós já sabemos disso. É claro que
temos de ser assim. Toda a Bíblia declara essas verdades! Não precisamos
ficar repetindo essas verdades nas profecias, embora às vezes, em
situações particulares, é útil mencionar atos específicos de comportamento
correto exigidos.
Por exemplo, certa vez eu profetizei para um líder de uma igreja
que sua liderança passaria por várias provações dentro e fora do
ministério. A mensagem dizia que ele devia se humilhar e se purificar. Ele
ouviu que rebater uma acusação com outra acusação era agir como o
inimigo, o acusador. Ele devia ser como Jesus, que ficou como uma ovelha
muda diante dos tosquiadores e não abriu a boca. Era melhor ficar quieto e
ser tosquiado do que abrir a boca e agir como lobo!
Aquele irmão suportou 18 meses de provação, com toda sorte de
pessoas, inclusive muitos líderes de igrejas locais, que criticavam
abertamente seu trabalho, sem se preocupar em ouvi-lo primeiro. Os rumores
se multiplicavam, os mal-entendidos eram constantes e graves, mas mesmo
assim ele manteve seu espírito limpo. Hoje, vários oponentes já se foram, e
suas igrejas foram fechadas. Ele, todavia, tem experimentado tremendo
crescimento em seu ministério, e está liderando a maior igreja da área.
A profecia deu-lhe instruções estritas sobre a sua moralidade. Muitas
profecias pessoais não são assim – embora devessem ser! Nossa vida está
fundamentada nas Escrituras e a Bíblia é muito clara em relação à justiça e
caráter piedoso. A profecia pessoal é provisional e condicional.
Entretanto, há algumas profecias que são incondicionais. O seu
cumprimento depende unicamente de Deus. Normalmente elas se
relacionam a uma visão geral dos planos e propósitos divinos para a
humanidade como um todo. Há algumas áreas da vida que as profecias não
podem alcançar para trazer mudança. O desenvolvimento de uma nação, a
elevação e a queda dos poderes terrenos, os governos e as autoridades
humanas, tudo isso é posto sob a supervisão do coração de Deus para a
Terra. Ele enxerga o fim desde o princípio.
“Ele se assenta no seu trono acima da cúpula da terra, cujos
habitantes são pequenos gafanhotos... e reduz a nada os juízes
deste mundo” (Is 40.22-25)
Houve épocas em que o Senhor pronunciou Seus propósitos para as
nações por meio dos profetas. Daniel, por exemplo, interpretou os sonhos do
rei Nabucodonosor (Dn 2.26-45). A cabeça de ouro da estátua simbolizava o
próprio rei Nabucodonosor, governante da Babilônia. O peito e os dois
braços de prata ilustravam o Império Medo-Persa, que venceu o Império
Babilônio em 539 a.C.. O abdômen e as coxas de bronze representavam o
governo grego e macedônio sob Alexandre, que venceu o Império Medo-
Persa 330 a.C.. As pernas de ferro simbolizavam Roma, que conquistou os
gregos em 63 a.C.
Os pés de barro e ferro falavam da divisão no Império Romano, sendo
uma parte forte e uma fraca. A pedra cortada da montanha representava o
Reino de Deus que se ergueria e dominaria sobre todos os outros.
Trata-se de uma profecia incondicional, porque dependia
inteiramente do poder de Deus para se cumprir – não importando o que as
nações fizessem ou deixassem de fazer. Quando Deus decreta uma mudança
num governo, então o governo tem de mudar. Nada e nem ninguém pode
evitar que isso aconteça.
Quando olhamos o livro do Apocalipse, vemos que esse mesmo
princípio é aplicado. Vemos as promessas incondicionais de Deus se
cumprindo por causa do Seu incrível e inexaurível poder. Nada pode impedir
o fim de todas as coisas da maneira como foi profetizado.
No final, todos os inimigos de Deus serão derrotados, as nações serão
julgadas, o Cordeiro se casará com a Noiva e haverá um novo céu e uma
nova Terra.
No entanto, entre a profecia incondicional e a resposta humana há
um elo que não deve ser ignorado. Raramente as coisas são “preto e
branco”, especialmente na profecia. Temos de lembrar que a misericórdia e a
bondade de Deus são de eternidade a eternidade. Deus é justo e bom e Ele
não rejeita as pessoas que estão tentando dar a melhor resposta possível à
Sua Palavra.
A referência mais comum usada nas Escrituras para descrever essa
situação é o livro de Jonas. O Senhor decretou o fim do Império Assírio e
Jonas foi despachado para Nínive com uma mensagem profética. Os
assírios eram poderosos, cruéis e inimigos ferozes de Israel. Era um
povo sem coração, que exercia o poder com selvageria. Jonas, não é de
estranhar, preferiu fugir na direção oposta! Finalmente ele entregou a
mensagem profética e, para sua consternação, o povo de Nínive se
arrependeu. Por causa da resposta que deram à profecia, o Senhor mudou
Sua agenda profética e ajustou Seu calendário.
O cumprimento da profecia foi postergado. Jonas ficou infeliz, pois
queria vingança contra a Assíria e não misericórdia. O arrependimento
daquela geração não se transferiu para as gerações seguintes, de modo que
houve um retorno gradual para o pecado e para a depravação. Cem anos mais
tarde, a palavra profética dada a Jonas foi reativada e dada a Naum. O
Império Assírio foi esmagado, sua crueldade foi destruída e a nação nunca
mais se levantou. A própria cidade de Nínive foi destruída pelos babilônios
de forma tão completa que suas ruínas só foram descobertas em 1845 (cerca
de 2.500 anos mais tarde)!
A profecia condicional depende da resposta humana para o seu
cumprimento. Sempre há algo que devemos fazer. A profecia incondicional,
porém, depende apenas do poder e dos propósitos de Deus, que não podem
ser obstruídos. Ocasionalmente ela pode ser adiada por um tempo, mas não
pode ser cancelada. Ela se cumprirá, pois a boca do Senhor disse.
PARTE DOIS:
A PROFECIA NA IGREJA
Capítulo Sete

Julgando e pesando a profecia


SEÇÃO A – OS PRINCIPAIS TESTES
Ao examinar profecias, todo cuidado é pouco. A Bíblia nos
encoraja a “pôr à prova todas as coisas” (1 Ts 5.20,21). Pode ser um
processo bem cansativo, pois há muito a ser considerado.
Para evitar que este capítulo fique demasiadamente longo, o que
poderia dificultar sua leitura e compreensão, nós o dividimos em duas
partes. A primeira parte aborda os principais testes da profecia e apresenta
os principais critérios de avaliação. Se a profecia for reprovada em algum
desses requisitos, não deve ter permissão para continuar sendo pronunciada.
A Parte 1 é a seção do microscópio, onde examinaremos tudo em detalhes. Se
a palavra falha, temos de traçar seu caminho de volta até a fonte e trabalhar
nas dificuldades e anomalias com as pessoas envolvidas, para o bem delas e
para o bem da Igreja.
Os principais critérios que examinaremos juntos são os seguintes:
• O padrão bíblico
• A palavra edifica, exorta e conforta?
• Qual é o espírito por trás da profecia?
• A profecia está em harmonia com as Escrituras?
• A profecia glorifica a Jesus Cristo?
• A mensagem é de manipulação ou controle? Em caso
afirmativo, quais são os sinais de manipulação e de
controle?
• Como tratamos as profecias negativas?
• Como aplicamos o teste?
Uma visão geral das Escrituras nos ajuda a ver que, na Igreja do Novo
Testamento, o exercício da profecia não tinha a mesma base do Antigo
Testamento. Na Antiga Aliança, geralmente o profeta era uma voz isolada
apresentando uma mensagem de justiça para uma nação religiosa e
corrupta. Muitas vezes eram indivíduos perseguidos, que experimentavam
imensas adversidades, que compartilhavam as alegrias e, com frequência, as
amarguras da vida do povo.
Quem não se sente tocado ao ler a vida do profeta Ezequiel? Ainda
com pouca idade, ele foi avisado que seria enviado a um povo que não
ouviria sua palavra. No início do seu ministério, ele recebeu uma profecia
que o Senhor faria sua testa dura como pederneira (Ez 3.9); durante toda a
sua vida ele combateu a rebelião do povo. Ele tinha de falar, quer ouvissem
ou não (Ez 3.11). Aqui há uma lição clara para todo candidato a profeta que
se sente frustrado por não ser ouvido!
No Novo Testamento, o profeta é essencialmente um membro do
Corpo de Cristo. Portanto, ele é obrigado a funcionar em comunhão e
cooperação com os outros membros. Isso coloca algumas restrições sobre ele,
boas para o ministério e para o Corpo de Cristo.
Como membros do Corpo, nós temos o direito de insistir (nas igrejas
locais) que aqueles que têm ministério profético assumam responsabilidade
pelo dom. Temos o direito de questionar, por exemplo, se os profetas
itinerantes estão filiados a alguma igreja local; se estão sujeitos a uma
liderança local. Eles recebem alguma cobertura espiritual quando estão fora?
Que ajustes poderão ser feitos se algo sair errado? São essas as perguntas
que devemos fazer. No mínimo, chegaremos à conclusão que certas pessoas
não deveriam ser trazidas para ministrar em nossas igrejas (o que não seria
ruim). No caso de serem convidadas, não deveriam profetizar, o que
provavelmente seria melhor. O que não devemos permitir é que pessoas
levianas se levantem nas igrejas para falar em nome de Deus – pessoas que
não permitem que ninguém interfira em suas vidas.
Somente pessoas muito tolas ou muito destemidas colocam esse tipo
de laço em torno do próprio pescoço. No entanto, não são só os profetas que
devem se submeter a critérios de responsabilidade. Os evangelistas,
mestres, pastores e apóstolos devem se submeter a um sistema de
prestação de contas, ter um grupo de pessoas às quais devem responder
por suas atitudes na vida pessoal e no ministério. O problema evidente é que
nem só os profetas se movem no ministério profético. Um evangelista,
pastor, ou mestre, pode transmitir uma profecia e trazer problemas e
dificuldades, embora os profetas sejam responsabilizados e estigmatizados!
Esse problema é ainda mais agravado pelo fato de que todo cristão pode
profetizar
– o que aumenta a pressão sobre o ministério profético.
Durante muitos anos eu tenho liderado escolas de profecia por todo o
mundo. Em cada novo local eu tenho de enfrentar e vencer muita suspeita,
enfado, desconfiança, experiências subjetivas negativas e antagonismo. Em
muitos casos, descubro que sou o primeiro profeta que as pessoas conhecem
pessoalmente. A maioria das experiências negativas ocorrem devido ao
ministério precários nas igrejas locais, ou aos ministros itinerantes que
ensinam e profetizam sem assumir a devida responsabilidade para com as
autoridades locais. Trataremos dessa questão no Capítulo Quinze, “A
Parceria profética”.
No Novo Testamento, o profeta é obrigado a funcionar como
um membro da Igreja universal e não como um ministro superstar – e
temos de insistir nisto. Em todas as passagens que falam sobre ministério
profético no Novo Testamento, nós lemos sobre a pluralidade dos profetas.
Pode não ser uma pluralidade na igreja local, mas precisamos garantir que se
tivermos figuras fortes no ministério profético, elas têm de estar
relacionadas às outras figuras proféticas com as quais nós nos sentimos
confortáveis. O ferro afia o ferro, e às vezes os profetas precisam estar
juntos para se afiarem mutuamente, dentro de um processo de submissão
e responsabilidade.
Há um grande número de pessoas com dom profético, de várias
igrejas diferentes, e de todas as denominações, que trabalham comigo nas
escolas de profecia e nas conferências. Todas elas têm a autorização e a
bênção dos líderes de suas igrejas locais. Em muitos casos, eu estabeleci
diretrizes e práticas no ministério profético nessas igrejas e fui usado
pelo Senhor como instrumento para restaurar ministérios que estavam fora
dos trilhos.
A implicação bíblica é que um profeta individual é membro de um
grupo e, portanto, seu ministério deve estar alinhado com outros. A Escritura
declara de forma clara e enfática que toda profecia nas igrejas do Novo
Testamento eram sujeitas a avaliação sem exceção.
“Tratando-se de profetas, falem dois ou três, e os outros julguem
cuidadosamente o que foi dito” (1 Co 14.29)
“Não tratem com desprezo as profecias, mas ponham à prova
todas as coisas e fiquem com o que é bom” (1 Ts 5.19-21)
O padrão bíblico
Na Igreja atual, há dois extremos no que concerne à profecia
– ambos errados. O primeiro extremo rejeita totalmente a profecia em nossos
dias. Esse grupo acredita que profecia pertence a outra época e a outra
dispensação. Hoje nós não precisamos de profecia porque temos a Bíblia. A
profecia foi substituída pelo ensino, pela pregação e pelo estudo bíblico, e
esses ministérios são considerados como os únicos meios legítimos de
comunicação entre o céu e a Terra. A Bíblia, argumenta-se, é o único meio
de revelação em nossos dias.
O outro extremo é aquele que aceita todas as profecias
indiscriminadamente, sem critério algum. É claro que a atitude de alguns
supostos profetas tornam isso extremamente perigoso. São pessoas escravas
da síndrome do “homem de Deus”. Dizem: “Eu sou um homem de Deus e
vocês têm de me ouvir”. Qualquer tentativa de chamá-los à responsabilidade,
qualquer pedido de explicação, ou tentativa de avaliar seus pronunciamentos,
é visto como um insulto à sua integridade. Já vi muitos casos nos quais o
pastor local se sentiu pressionado, intimidado e sutilmente manipulado para
aceitar a revelação. Muitos líderes não estão equipados para resistir a armas
táticas fortes e indiretas. Em termos proféticos, não podemos permitir que a
hierarquia do Antigo Testamento prevaleça sobre a cultura do Novo
Testamento. Os profetas não podem se posicionar acima dos líderes das
igrejas locais. Os cinco ministérios operam dentro de um conceito de equipe,
a fim de providenciar salvaguardas para a igreja.
O padrão do Novo Testamento é que devemos estar abertos ao
ministério profético. Devemos dar respeitosa atenção à revelação profética,
e submeter cada mensagem a um exame bíblico minucioso. E só aceitar as
profecias que passem no teste.
Quando a mensagem profética é duvidosa, temos de ter
liberdade de questionar o profeta. É obrigação dos pastores proteger o
rebanho. Todos os profetas sérios entenderão e cooperarão com esse
importante aspecto do ministério pastoral.
Muitos líderes sentem que não podem se aproximar dos profetas
porque parece que estão questionando a credibilidade do ministério deles.
Outros varrem a sujeira para baixo do tapete porque sabem que confrontar
o profeta pode causar mais problemas do que a situação merece. Eu creio
que os profetas têm a responsabilidade de estabelecer um relacionamento
correto com a igreja local durante a visita deles.
Os líderes das igrejas devem se sentir confortáveis com o
comportamento dos profetas. Nós profetas não devemos exercer domínio
sobre as pessoas e nem ficar amarrados por um espírito subserviente. Linhas
de confiança, amor e amizade devem ser estabelecidas e fundamentadas
numa firme estrutura de responsabilidade mútua. Os líderes das igrejas locais
devem se sentir à vontade com os profetas visitantes. E, do mesmo modo, os
profetas devem se sentir confortáveis, e não sob um microscópio, onde tudo
o que fazem e dizem é submetido a um exame minucioso.
Todo profeta deve ter um esquema estabelecido e uma rotina de
prestação de contas. Todo ministro itinerante e todo pastor local devem
responder a alguém. Um profeta entregue a si mesmo (i.e., que não precisa
prestar contas a ninguém) fica desequilibrado. No entanto, um pastor,
mestre, evangelista ou apóstolo, também fica fora de equilíbrio quando
entregues a si mesmos.
Creio que erros doutrinários na prática cristã, abusos em termos de
controle e manipulação, e vidas arruinadas decorrem muito mais de pastores
que não prestam contas a ninguém do que dos profetas. Tanto nas
denominações como nas igrejas autônomas, a palavra do pastor é lei e não
pode ser questionada sem que as pessoas sejam classificadas como difíceis ou
rebeldes.
A resposta ao mal uso nunca deve ser o não uso, mas sim o uso
apropriado. Todo líder e ministro deve assumir o compromisso de
estabelecer linhas de credibilidade e integridade a fim de que todo o Corpo
fique protegido.
Permitir a comunicação de profecias sem que antes sejam
examinadas é algo que contraria o ensino do Novo Testamento. Tal atitude
cria exageros dentro do ministério, leva a descrédito o dom profético,
oferece um modelo precário para os cristãos seguirem e frustra os
propósitos que devem ser buscados pela verdadeira profecia.
Embora a profecia seja sobrenatural, cabe a nós saber como
manuseá-la. Em sua primeira carta aos Coríntios, Paulo escreveu sobre os
dons do Espírito. No cap. 13, ele diz que devemos usar o amor como
ingrediente básico de toda manifestação sobrenatural. O cap. 14 explica como
manusear os dons.
Permita que os profetas falem, e a seguir: examine. Tome cuidado
com o perigo de fazer qualquer modificação na vida da igreja ou dos
indivíduos antes de completar o processo de avaliação. Separe o que é bom
por meio do exame sadio e objetivo. Trate com as palavras que não passem
no teste.
Profecias não examinadas produzem superficialidade no dom e no
ministério. Elas encorajam a formação de modelos precários, com o
florescimento de baixo nível de competência. Profecias não examinadas
permitem que os charlatões grassem e cresçam estimulados pela nossa
ignorância. Isso fará com que a profecia continue sendo tratada com
desprezo e desconfiança. Isso é algo tremendamente prejudicial para os
profetas sérios e para a Igreja, porque a obra de Deus pode, assim, privar-se
desse dom tão importante.
Os testes
Edifica, exorta e conforta? (1 Co 14.3)
O verdadeiro propósito da profecia é edificar, admoestar e
animar, encorajando e libertando as pessoas da dor e do desconforto; é
capacitar as pessoas a conhecer e entender o coração de Deus.
Se esses propósitos não forem alcançados, então não é verdadeira
profecia. A profecia deve se encaixar nessas limitações. Se o efeito da
profecia for confusão, condenação ou desânimo, então ela não deve ser
aceita e, em alguns casos, eu sugiro que ela seja fortemente rejeitada para
evitar que haja maldição sobre a vida de alguém. Conforme veremos mais
adiante, há uma linha muito tênue dividindo o dom de profecia e o espírito
de adivinhação. Temos de garantir que as pessoas sejam abençoadas por
Deus e não que incorram em maldição.
O propósito supremo da profecia sempre é positivo, e nunca
negativo. Com muita frequência a mensagem é negativa. Há um aspecto
negativo que é correto e apropriado na economia de Deus. O ministério
profético de Jeremias (Jr 1.5-10) consistia em “arrancar, despedaçar,
arruinar e destruir”. Graças a Deus, seu chamado não parou aí. Seu
ministério também seria de “edificar e plantar”. Às vezes temos de derrubar
a fim de substituir por algo melhor. Às vezes é preciso que primeiro venha
o negativo, pois há elementos que Deus deseja despedaçar, arrancar e
destruir. No entanto, Ele faz isso a fim de substituir por aquilo que deseja
plantar e construir. A primeira parte pode ser negativa, mas o resultado
final é positivo.
É importante lembrar que há um princípio claro concernente à
pregação do evangelho, ao exercício dos dons espirituais e ao desempenho
da liderança. O princípio em todas essas áreas é que estamos edificando,
edificando e edificando. Estamos edificando pessoas e construindo a Igreja.
Em todos os aspectos de nosso ministério na igreja, estamos sempre
no contexto da edificação. Paulo escreveu sobre a autoridade que recebeu de
Deus. Em 2 Coríntios 10.8, ele disse: “Essa autoridade é para edificá-los e
não para destruí-los”. Em 2 Coríntios 13.10, ele diz:
“Escrevo estas coisas estando ausente, para que, quando eu for, não
precise ser rigoroso no uso da autoridade que o Senhor me deu para
edificá-los, e não para destruí-los”.
Assim, embora tenhamos algumas coisas negativas a dizer, a
motivação geral por trás das palavras é edificar a obra.
Encontramos esse mesmo princípio em 1 Coríntios 14, onde o
apóstolo aborda o uso correto dos dons vocais, línguas, interpretação e
profecia. A palavra chave no capítulo, empregada sete vezes, é “edificar”.
Testar os espíritos
A segunda área de teste é a necessidade de provar os espíritos:
“Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os
espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos
profetas têm saído pelo mundo. Vocês podem reconhecer o Espírito
de Deus deste modo: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio
em carne procede de Deus; mas todo espírito que não confessa Jesus
não procede de Deus. Esse é o espírito do anticristo, cerca do qual
vocês ouviram que está vindo, e agora já está no mundo”
(1 Jo 4.1-3).
Todas as profecias procedem de três fontes possíveis: do Espírito de
Deus, do espírito do homem ou de um espírito maligno. Temos de ter em
mente que a profecia comunica de espírito para espírito, ao mesmo tempo em
que fala também à nossa mente. Precisamos discernir o espírito que está por
trás da profecias, antes de discernir as palavras. Nos nossos dias, as igrejas
em geral fazem o contrário. Nós olhamos e examinamos o conteúdo das
palavras, mas nem sempre examinamos o espírito que está por trás do que
foi dito. Temos de pesar o espírito por trás das palavras e a seguir olhar para a
exatidão delas. A profecia deve se harmonizar com as Escrituras e o espírito
que está por trás também, pois há um espírito de profecia.
Mesmo quando as palavras não estão totalmente adequadas,
podemos receber o espírito da palavra e o espírito mediante o qual ela é
dada. A seguir podemos isolar a palavra e examinar seu conteúdo, bem como
sua exatidão.
Durante uma viagem pelo Caribe, eu profetizei para um homem. O
Senhor me deu uma visão de quando ele tinha oito anos de idade. Sua
mãe o proibira de nadar sozinho na praia. Um dia, ao desobedecê-la, ele
quase se afogou em águas profundas. Ao clamar a Deus pedindo ajuda, uma
grande onda surgida do nada o arrastou e o lançou na areia da praia. Ele
voltou para casa correndo e não contou a ninguém o ocorrido. Vinte anos
mais tarde, o Senhor me mostrou tudo o que tinha acontecido e eu pude
encorajá-lo dizendo que o Senhor tinha poupado a sua vida naquela tenra
idade com um propósito. A seguir o Espírito Santo disse, em profecia, qual
era esse propósito. Mais tarde o homem me procurou e agradeceu pela
palavra e disse que tinha uma dúvida. Disse que parte da mensagem não tinha
sido exata. Na época do incidente, ele não tinha oito anos, mas sete. Ele me
perguntou: “isso invalida a profecia?”.
Eu lhe expliquei a necessidade de avaliar a mensagem profética por
meio do nosso espírito e pelas Escrituras, bem como sobre a interpretação de
pessoas maduras e dotadas de sabedoria. Uma amigo, ouvindo nossa
conversa, perguntou ao irmão qual era a sua idade correta na época. Ele disse
que tinha sete anos e onze meses, ou “quase oito”, conforme suas próprias
palavras. Eu não creio que o Senhor ficou aborrecido comigo por ter errado
por um mês num detalhe! Podemos receber o espírito da palavra, a despeito
de uma ou duas pequenas anomalias nos detalhes.
Pessoas que ficam obcecadas com a exatidão e o conteúdo da
profecia antes de pesar o espírito da mensagem correm o risco de
cometer grandes erros. Precisamos fazer as duas coisas. No entanto,
quero sugerir que, como prioridade, nós adotemos o
seguinte procedimento como diretriz básica. E se uma das áreas a seguir
estiver errada, então temos de tratar imediatamente da situação:
• Qual é o espírito por trás da profecia?
• A profecia se harmoniza com as Escrituras?
• A profecia glorifica ao Senhor Jesus?
Qual é o espírito por trás da profecia?
O testemunho de Jesus (Ap 19.10), quer dizer, o conteúdo, é o
espírito ou a essência da profecia (i.e., o coração e a vontade de Deus
expressos por intermédio de pessoas). A mensagem nos conduz aos pés de
Jesus? Temos de fazer perguntas sobre o espírito no qual estamos falando,
ou podemos ser facilmente enganados. Atos 16,16-18 trata exatamente
dessa situação:
“Certo dia, indo nós para o lugar de oração, encontramos uma
escrava que tinha um espírito pelo qual predizia o futuro. Ela
ganhava muito dinheiro para os seus senhores com adivinhações.
Essa moça seguia a Paulo e a nós, gritando: ‘Estes homens são
servos do Deus Altíssimo e lhes anunciam o caminho da salvação’.
Ela continuou fazendo isso por muitos dias. Finalmente, Paulo ficou
indignado, voltou-se e disse ao espírito: ‘Em nome de Jesus Cristo eu
lhe ordeno que saia dela’. No mesmo instante o espírito a deixou.”
O que a jovem dizia era inteiramente verdadeiro. Não havia nenhum
problema com o conteúdo. Entretanto, não era o Espírito de Deus que estava
falando e Paulo ficou indignado em seu espírito. Ele pesou o espírito por trás
das palavras e ficou indignado. Esta foi a sua reação. Se ele tivesse pesado
somente o conteúdo e a exatidão, poderia ter sido enganado.
Quantas pessoas e igrejas não foram induzidas em erro por não
ter julgado primeiro o espírito? Naquela ocasião, Paulo se encontrava
numa cultura de religiões variadas. As palavras da jovem eram quase
reverentes: “Estes homens são servos do Deus Altíssimo”. Ela exaltou o
nome de Deus diante das pessoas ao redor. Além disso, suas palavras
continham um conteúdo evangelístico: “[Eles] lhes anunciam o caminho da
salvação”. Não encontramos nenhuma falha no conteúdo, mas vemos o
inimigo fazendo sua melhor jogada; mascarando-se como anjo de luz.
A imitação sempre se parecerá muito com o objeto real, como o joio
que cresce no meio do trigo. O inimigo invadiu as igrejas com falsas
profecias, da mesma forma que faz com falso ensino, apresentações
precárias do evangelho e um espírito independente e rebelde, apenas para
mencionar alguns aspectos.
As palavras eram verdadeiras. Todavia, não vinham do Espírito de
Deus. Esse mesmo fenômeno ocorre em nossos dias por todo o mundo. Em
muitos casos, eu tive de exercer autoridade sobre espíritos malignos ocultos
e liberar igrejas e pessoas do poder do espírito de adivinhação e das falsas
profecias.
No episódio registrado em Marcos 1.23-26, o demônio disse a Jesus:
“Sei quem tu és: o Santo de Deus”. Ele reconheceu Jesus diante dos
discípulos, mas apesar disso Jesus ordenou que se calasse.
Temos de pesar o espírito por trás da profecia. Nosso próprio espírito
seria um bom indicador. O Espírito Santo manifesta Sua presença por meio
do Seu fruto. Amor, alegria e paz estão presentes quando Ele se move. Por
isso podemos nos sentir desconfortáveis e sem paz diante de alguns
pronunciamentos proféticos. As palavras se chocam contra o nosso espírito e
não se encaixam. Esse “testemunho inicial do espírito” é um bom guia; uma
presença demoníaca também será sentida. O dom de discernimento de
espíritos também pode ser usado nessas ocasiões.
Para ser efetivo na área do discernimento espiritual, precisamos
entender a cultura do julgamento e da avaliação. Primeiro, é certo e bíblico
fazer isso. Segundo, nenhum ministério pessoal está isento desse processo de
julgamento. terceiro, não é falta de respeito ou de lealdade avaliar as palavras
de outra pessoa. Quarto, os líderes locais e regionais devem se submeter ao
julgamento. Quinto, o processo de julgamento é vital porque ele remove
qualquer influência do inimigo, ao mesmo tempo em que reforça os
propósitos de Deus em nossa mente consciente.
A profecia se harmoniza com as Escrituras? (Is 8.20)
É fundamental notar que estamos edificando nossas vidas sobre as
Escrituras e não sobre as profecias. Em caso de conflito, sempre devemos
abandonar a palavra profética em favor das Escrituras, a Palavra revelada de
Deus. Temos de ser especialmente cuidadoso para que o conteúdo da
revelação extra bíblica não contradiga a Bíblia, mas esteja de acordo com a
mensagem revelada.
A profecia não deve ser usada para estabelecer novas doutrinas ou
práticas. Temos de fazer mais uma distinção aqui. Quando falamos sobre
novo, nos referimos a doutrinas ou práticas nunca ouvidas, mas não
nunca ensinadas. Como mencionamos no Capítulo Cinco, “Diretrizes para
o manuseio da profecia”, é possível que a congregação receba uma
mensagem profética que a desperte para buscar a Palavra de Deus numa
área em particular, como resposta à revelação. A profecia age como um
estímulo ou um agente catalisador, incentivando a busca da revelação nas
Escrituras, causando assim mudanças nas práticas ou uma nova abordagem
na vida com Deus.
Por exemplo, certa vez eu profetizei para um homem que Deus o
estava chamando para um ministério de intercessão. Na época ele tinha um
profundo desejo de se aprofundar mais na oração e estava bem frustrado por
não conseguir se desenvolver. Na ocasião em que recebeu a palavra
profética, ele nunca tinha ouvido falar em intercessão. Ao orarmos e
conversarmos sobre a questão com ele e com seus líderes, nós pudemos
indicar-lhe alguns recursos por onde poderia começar a aprender.
Temos de reconhecer que esta área é como um sutil campo
minado, cheia de armadilhas enganadoras e obstáculos. Quando você tiver
dúvidas, faça uma checagem! A profecia jamais deve ser usada para
determinar nosso entendimento das Escrituras. Jamais se deixe enganar pela
notável exatidão das profecias. Podemos ficar empolgados e agradecidos a
Deus pela revelação profética, mas, no entanto, no momento em que nos
engajamos no ensino, na pregação ou em questões de doutrina, temos de
dedicar toda nossa concentração. As Escrituras são o teste supremo de toda
doutrina e prática cristã.
Às vezes, porém, pode ser difícil alinhar uma profecia com um
texto bíblico em particular. Alguns aspectos de se avaliar as profecias à luz
das Escrituras podem ser bem diretos. Sempre que uma profecia contradiz
ou desafia uma doutrina cristã ou uma verdade fundamental, então a
profecia deve ser abandonada. Isso é muito claro.
Entretanto, há também as áreas cinzas, onde não há nenhum ensino
bíblico específico que possa ser usado para pesar uma profecia. Nesses
casos, temos de nos esforçar ao máximo para avaliar a profecia à luz do
ensino geral da Bíblia. Para onde a fé nessa profecia nos levará? Ela nos
conduzirá aos pés de Jesus? Ela causará transtorno no Corpo?
Esta última questão é particularmente difícil. O que um profeta faz
quando se depara com as imensas necessidades das pessoas nas igrejas
governadas por líderes corruptos e gananciosos? Como entregar mensagens
às igrejas onde o principal problema é uma liderança que governa com
vara de ferro? Obviamente podemos falar aos líderes em particular, mas o
que acontece se não houver mudança? Devemos optar por uma vida mansa e
tranquila, salvaguardando nossa reputação e adotando uma política de não
envolvimento? É incrivelmente difícil ficar em silêncio quando corações
estão sendo despedaçados e vidas estão sendo arruinadas à nossa volta.
Este é o outro lado da moeda profética, o qual a maioria das pessoas
não aprecia. Onde os líderes estão tendo dificuldades por causa da dureza
do coração das pessoas, a questão é clara em termos proféticos e bíblicos. No
entanto, com muita frequência os profetas têm de se colocar numa posição
diferente. Se falar, pode abençoar e libertar as pessoas, mas ficam
vulneráveis às acusações de sedição e podem ser classificados de “rebeldes”
pelos líderes. Em muitos casos onde a palavra dos líderes é aceita, a opinião
do profeta jamais é ouvida.
Pode haver áreas cinzas onde não há uma Escritura específica e clara
que ajude a determinar se uma palavra profética está correta. Então é preciso
que haja alguns limites. Se eu entregar uma palavra profética numa cidade,
como Londres, Frankfurt, Chicago ou São Petersburgo, sobre qual
passagem bíblica posso basear minhas palavras? Tais lugares não são
mencionados na Bíblia. Esta é uma limitação.
Temos de fazer o possível para confirmar ou negar a palavra
profética mediante o uso apropriado das Escrituras. No entanto, precisamos
reconhecer que em algumas ocasiões pode ser difícil fazer isso. Haverá
momentos em que o profeta falará sobre coisas que não são mencionadas na
Bíblia. A palavra não pode ser refutada e nem autenticada pelas Escrituras.
Em tais circunstâncias, não podemos rejeitar e negar a mensagem. Temos de
submeter a profecia a uma bateria completa de testes e ver como ela se sai.
Para complicar mais a questão, há situações em que a profecia trata
de uma questão sobre a qual as pessoas sentem que já possuem uma resposta
da Bíblia.
Certa vez eu dei uma palavra a um homem, advertindo-o para não
aceitar uma proposta de emprego, mas sim para esperar no Senhor. Eu
senti fortemente que a empresa na qual ele se preparava para entrar não era
honesta e ele teria de fazer coisas incompatíveis com a sua caminhada com
Deus. O problema era que ele estava desempregado há dois anos. Toda a
igreja estava intercedendo e todos estavam vendo aquela proposta de
emprego como resposta.
Eu cheguei ao local para realizar uma reunião, sem saber o que estava
acontecendo e apontei para esse homem, entregando-lhe a mensagem. A
igreja não sentiu que minha palavra era uma bênção. Algumas pessoas
tinham até textos bíblicos relacionados ao novo emprego daquele irmão. Ele
foi incentivado a aceitar o emprego e eu fui informado que tinha errado o
alvo. Depois de algumas semanas no novo emprego, pediram àquele irmão
que mentisse num certo assunto. Essa situação se repetiu algumas vezes,
levando aquele homem a um estado deplorável de estresse e problemas
nervosos. Surgiu um outro emprego que seria apropriado para ele, mas uma
semana depois a vaga foi preenchida enquanto ele estava fora da cidade.
Logo aquele homem teve de deixar aquele trabalho por causa da falta
de ética e ficou novamente desempregado. Teve dificuldades de receber a
indenização, pois saíra voluntariamente. A igreja não lidou bem com a
situação. Não houve nenhuma retratação e nenhuma oferta de ajuda. Agora
há um homem desiludido, desempregado, sem dinheiro e sem igreja.
Neste caso, a igreja estava orando durante meses. Pessoas tinham
recebido “palavras” do Senhor e textos bíblicos. Um emprego tinha
aparecido. Ele se inscreveu para a vaga e foi aprovado. Todos ficaram
eufóricos: caso encerrado. Mais um ponto a favor. Veio, então, uma
palavra de advertência que parecia ir de encontro aos versículos bíblicos que
as pessoas tinham recebido. Na ocasião eu disse que as passagens bíblicas
estavam corretas, mas não para aquele emprego em particular. Elas
estavam corretas em relação à segunda oportunidade de emprego e não para
a primeira. A palavra profética e os textos bíblicos não estavam se
contradizendo. A dificuldade era o “tempo”.
A mensagem profética que entreguei foi julgada com base no que a
igreja tinha recebido das Escrituras. Minha palavra se chocou com outras. A
congregação sentiu que estava orando há bastante tempo e que a resposta
tinha chegado. Qualquer pessoa familiarizada com a intercessão sabe que
essa é uma situação extremamente perigosa. Teremos a impressão de que
a questão está se encaminhando para uma solução e como resultado há
uma diminuição em nossa vigilância e concentração.
Geralmente na batalha, na oração e na intercessão há períodos de
vulnerabilidade. Perseverança significa manter o mesmo foco até o final.
Sempre devemos lutar até o apito final. Permita que o guia seja Deus, não as
circunstâncias. Às vezes o inimigo faz uma última tentativa antes de cair por
terra. Podemos perder a corrida quando já temos os olhos na linha de
chegada.
A profecia glorifica ao Senhor? (1 Co 12.3)
O ministério primordial do Espírito Santo é trazer glória ao
Senhor Jesus (Jo 16.14). Qualquer pronunciamento profético, sonho ou
visão deve alcançar esse propósito.
Qualquer palavra ou ministério que exalta o ser humano em
detrimento da glória de Jesus deve ser considerado indigno. O ministério
profético também deve nos ensinar como ouvir Deus individualmente,
evitando a criação de uma dependência exagerada dos profetas.
Muitas pessoas ficam profundamente desapontadas e tristes quando
não recebem nenhuma profecia. A principal razão para isso é que elas
colocam toda a esperança no ministério e não no Senhor do ministério.
Todos os cinco ministérios são dados para que o Corpo de Cristo
esteja bem equipado para fazer a obra do ministério. O pastor equipa as
pessoas para não precisar de conselho, e para aconselhar outros. O mestre
expõe a Palavra de Deus, mas também incentiva as pessoas ao exame das
Escrituras, para que recebam por si mesmas a palavra da verdade. O
evangelista não somente lida com missões e reuniões de avivamento para os
não salvos, mas também equipa o Corpo para a obra de evangelização. O
apóstolo edifica e consolida o Corpo de Cristo e incentiva à aceitação do
processo de autogoverno e de implantação de igrejas.
De forma similar, os profetas compartilham as mensagens de
Deus, mas também incentivam as pessoas ouvirem a voz de Deus por si
mesmas. Em cada um dos cinco ministérios, o objetivo central é Cristo e Seu
senhorio. A criação de um povo que chegue à plenitude de Cristo e cresce em
tudo à semelhança dele, como Cabeça (Ef 4.13-15).
Há manipulação ou controle? (Em caso afirmativo, quais são as
evidências?)
Manipulação e controle são duas maldições no Corpo de Cristo. A
profecia pode ser usada para esses propósitos. O profeta pode ser tentado a
induzir as pessoas a fazerem o que ele quer. E levá-las a apoiá-lo numa
determinada situação. Um profeta pode profetizar por motivos desonestos
ou interesses ocultos. Às vezes, até para fazer com que as pessoas se sintam
em débito com ele, em vez de serem gratas a Jesus.
A palavra “controle” tem dois significados distintos. Primeiro, ela se
relaciona à supervisão, fiscalização, liderança ou direção. Toda a ênfase está
em governar bem uma situação. Envolve todos os aspectos da liderança,
como o governo de um país, a gerência de uma empresa, a liderança de uma
igreja, o trabalho dos pais e a administração de uma escola. Envolve criar
áreas de controle e supervisão. Nesses casos, os elementos de controle são
salvaguardas para o benefício daqueles que são menos maduros, indefesos
ou precisam de algum nível de ajuda e apoio.
O segundo significado distinto de “controle” é exercer “poder
sobre”. É tirar proveito de outros. É obrigar o outro a fazer coisas contra a
vontade. É dominar, reprimir e sufocar; engendrar eventos e circunstâncias;
manobrar as pessoas e exercer uma influência ruim sobre elas.
Há uma linha divisória muito tênue entre a operação desses dois
significados distintos. A única forma de andar efetivamente dentro da linha é
mediante um processo conhecido como prestação de contas.
Responsabilidade e prestação de contas são os dois lados da moeda da
liderança. Sem essas duas características gêmeas, os governantes se tornam
opressores, os administradores se tornam enganadores e exigentes e os
líderes eclesiásticos pendem para a repressão e o comportamento tirânico. Os
pais se tornam ditadores. E as escolas proporcionam um regime de repressão.
Toda liderança deve prestar contas a alguém – e isso é um princípio de
bem comum e de democracia, bem como bíblico e de comportamento
piedoso.
Lamentavelmente há muitas igrejas e ministérios onde a palavra do
líder é lei. O medo de homens tem alcançado proporções enormes em alguns
segmentos do Corpo de Cristo. Todo ministério onde não há um sistema de
prestação de contas é perda de tempo. Um homem pode ter um ministério
maravilhoso durante alguns anos, mas mesmo assim pode cair em pecado
porque não há ninguém falando em sua vida. Quando pessoas em posição de
liderança se desvia da graça, a questão nunca é somente pessoal. Sempre há
também uma falha corporativa, onde pessoas se tornam amarguradas, feridas
e desiludidas com os homens, com as igrejas e, finalmente, também com
Deus.
É nesse ambiente que nós entramos com o ministério profético e com
a revelação profética. Temos de examinar a motivação e a força impulsora
por trás de cada pessoa que profetiza.
As palavras são somente um meio de comunicação do espírito. A
profecia comunica espírito com espírito. No hebraico, a mesma palavra é
usada para definir sopro e espírito. Não deve haver diferença entre o
espírito e o conteúdo do que está sendo dito. Ambos precisam estar
alinhados.
Há uma fina divisão entre a profecia liderada pelo Espírito Santo
e a profecia movida por espírito de adivinhação, controle ou bruxaria.
Controle e manipulação têm as raízes na esfera da feitiçaria. A natureza
da bruxaria é controlar. A natureza dos espíritos malignos é trazer
controle e manipulação. Temos de tomar cuidado com qualquer controle
sendo exercido por meio da profecia. O propósito do ministério profético é
libertar as pessoas e não prendê-las. Ele capacita as pessoas a descobrir a
vontade de Deus para suas vidas. O ministério profético não vincula as
pessoas ao profeta.
Gálatas 5.16-21 nos adverte contra a feitiçaria como obra da carne,
envolvendo controle e manipulação, o que pode culminar no indivíduo
sendo dominado espiritualmente pelo inimigo. Essas são algumas das
áreas de manipulação e controle que podem ser exercidas por meio da
liderança profana e o falso ministério profético.
A usurpação da vontade de outrem pode ocorrer facilmente no
ministério profético. Sem a adequada prestação de contas, as pessoas se
acostumam a se comportar como um tipo de oráculo, embora não tenham a
bênção e nem a aprovação de Deus. Quando a humildade se afasta de nossa
vida, deixa um enorme buraco no qual a arrogância, a soberba, o egoísmo e
a auto complacência podem crescer para preencher o espaço. Se não dermos a
outras pessoas a liberdade para avaliar nosso ministério, podemos perder o
senso de disciplina e de mansidão que deve caracterizar a vida do profeta.
Moisés era o homem mais manso da Terra na época e por isso levou toda
uma nação à liberdade. Mansidão não é fraqueza – é a força sob controle.
Sem esses elementos, podemos confundir a vontade de Deus com os
nossos próprios desejos e necessidades. Certa vez eu recebi um telefonema de
líderes de uma igreja com os quais tinha tido um contato prévio. Eles me
contaram sobre um profeta que tinha sido uma grande bênção na igreja,
durante quatro anos. Esse homem tinha sido maravilhosamente exato e
oportuno em suas profecias. Os líderes o admiravam e respeitavam.
Entretanto, em sua última visita, ele chamou de lado uma das jovens da
igreja e lhe entregou uma profecia. Era uma moça linda, e a profecia dizia
que Deus queria que ela se casasse com o profeta! Ele disse também que se
ela obedecesse a Deus, receberia bênçãos tremendas.
Os líderes ficaram perplexos. Aquela jovem também. O profeta
sempre acertava. Ele tinha um excelente histórico. Ainda assim, esta última
profecia alarmou a liderança – por isso me telefonaram, para ouvir minha
opinião. Sempre é útil ter uma visão externa nas áreas de dificuldade. Eu já
fui grandemente abençoado ao ouvir opiniões vindas de pessoas de fora do
meu ambiente cotidiano.
Como sair desse dilema? Suponhamos que o homem estivesse correto
e que Deus realmente quisesse que a jovem casasse com ele. Bem, ainda
assim, ele estaria completamente fora do padrão por ter ido até a garota e
profetizado somente para ela. Tratava-se de uma profecia diretiva, que
devia ser compartilhada primeiro com os líderes. Eles deviam ter a
oportunidade de avaliar e pesar a mensagem. Em casos como esse, a
liderança deve agir como um filtro entre o profeta e a pessoa.
Além disso, trata-se de uma profecia diretiva mediante a qual o
profeta também se beneficia... ganha uma esposa! Tal situação é duplamente
perigosa e exige muito cuidado no seu trato. Esse profeta quebrou todas as
diretrizes da mensagem reveladora. Ele devia falar primeiro com a liderança,
não devia falar com a jovem sozinha. Ele devia ter registrado a mensagem,
deixando-a à disposição de todos os interessados. Ao deixar de cumprir esses
passos, ele se afastou da ordem divina e claramente estava errado.
Também foi interessante notar que não houve nenhuma declaração de
amor por parte do profeta. A própria jovem reconheceu que sentia um certo
respeito e admiração por ele, mas nenhum tipo de sentimento além do amor
fraterno. Entretanto, mesmo assim ficou bastante confusa, por causa da
natureza do ministério dele, seu excelente histórico e a alta estima que tinha
na igreja. Ela devia obedecer ao Senhor e confiar que o amor viria com o
tempo? Devia se casar com um homem que não conhecia bem e se mudar
para longe dos amigos e familiares?
A vontade da jovem tinha sido usurpada. O poder da decisão efetiva
tinha se perdido. Ela se sentia confusa e assustada. Sua angústia se
revolvia em medo. Tinha medo de obedecer a Deus e entrar num casamento
sem amor. Também tinha medo de não obedecer ao Senhor e se afastar do
plano divino para sua vida.
Mesmo que a profecia estivesse correta, o profeta agiu errado. Na
verdade, devia ter se calado, para o bem da moça. Aquela manipulação
sutil da vontade dela devia ser evitada. Ela precisava ser livre para poder
seguir com sua vida e ter uma experiência romântica no tempo oportuno –
sem medo. Se o profeta tivesse falado com os líderes em particular, eles
poderiam tê-lo ajudado a carregar a carga e podiam ter orado a respeito. O
desenvolvimento do amor podia ter seguido seu curso natural e a Palavra de
Deus podia ter confirmado o namoro, uma vez que o relacionamento
tivesse sido formalizado.
Nesta situação, temos de tirar a pessoa de qualquer influência que
afete seu direito de exercitar sua vontade. Atualmente aquela jovem está
muito feliz, casada com outra pessoa, e tem dois filhos.
Pular hierarquia é outro sinal de controle e manipulação. Essa
tendência se manifesta numa atitude de superioridade que só recebe
conselho de alguém que esteja acima. Podemos facilmente menosprezar as
mensagens de Deus transmitidas por pessoas que achamos que são inferiores.
Nesta base, Naamã, o sírio, não seria curado se tivesse recusado dar ouvidos
a uma menina escrava.
Nós criamos uma hierarquia quando nos elevamos a uma posição na
qual as pessoas não têm coragem de se expressar, com medo de contradizer o
“homem de Deus”! Há muitos líderes que não admitem ser questionado.
Pedir uma explicação ou um esclarecimento é visto por eles como rebelião e
desafio à autoridade. “Não me questione, sou um homem de Deus!”, parece
ser a atitude constante. Algumas pessoas deliberadamente cultivam esse
espírito de separação, gostam de criar uma distância entre elas e as outras
pessoas; tornam-se inalcançáveis a qualquer comentário ou discussão.
Temos de tomar cuidado com a profecia e a vaidade, que é outro
sinal de um sutil processo de manipulação. Pode haver uma variedade de
ligações de alma entre as pessoas, sendo que nem todas são boas ou dignas de
honra. Pode existir uma ligação de alma entre pais e filhos, marido e esposa,
entre bons amigos, entre irmãos em Cristo, discípulo e mentor. Davi e Jônatas
tinham uma boa ligação de alma, assim como Paulo e Timóteo. Somos
encorajados a permitir que Deus una nossos corações e nossas vidas para
que sejamos um (Ef 4.16).Tenho pessoas com as quais eu pessoalmente faço
discipulado tratando nas áreas de caráter, estilo de vida, ministério e
liderança. Há um elo entre nossas vidas que é correto e apropriado. Trata-se
de uma ligação espiritual e também emocional, porque a amizade é
emocional. É uma ligação de alma. Deus está nos unindo e ligando nossos
corações. O próprio ato de ligar é pegar dois fios e trançá-los juntos. Há
uma interação entre ambos.
Uma ligação de alma é boa onde há um fluir de amor, afeição, bênção
e crescimento mútuo entre as pessoas e seus dons. Cada um deseja que o
outro tenha sucesso e cresça em Deus, a fim de cumprir Seus propósitos.
Há honra, dignidade e um desejo mútuo de bendizer e buscar o melhor para
o outro.
Se tentarmos usar um relacionamento para usurpar a vontade de outra
pessoa, para dizer o que devem pensar, mandar nelas ou dominar sua
personalidade – então a ligação de alma se torna negativa e nós colocamos a
outra pessoa num processo de escravidão.
Assim, quando o tráfego entre duas pessoas é de mão única, o
relacionamento fica marcado pelo domínio e controle. Todos nós já vimos
maridos dominadores, esposas estridentes, amizades mórbidas, pais
controladores e relacionamentos carnais nas igrejas: todos marcados pela
manipulação.
Quando uma pessoa diz a outra continuamente o que deve pensar,
ou como deve se comportar, surge uma má ligação de alma. Quando um
indivíduo reluta em tomar iniciativa por medo de ser reprovado por outro,
isso é evidência de que existe uma ligação de alma errada. Quando um
captura o coração do outro por meios ilícitos, então a ligação de alma se torna
mais aguda. Essas ligações precisam ser tratadas e a libertação precisa ser
efetuada. As pessoas precisam ser liberadas para ser ela mesma, a fim de que
as ligações de alma sadias possam ser restabelecidas adequadamente.
Em nenhum outro lugar esta realidade é mais evidente do que no
relacionamento entre homens e mulheres. Há uma dinâmica concernente à
proximidade entre os sexos que pode produzir uma relação ilícita com
extrema facilidade. Casos entre chefe e secretária, pastor e membro de sua
equipe, são exemplos do quero dizer. Os profetas não são imunes a esse
risco. E isso deve ser preocupante.
Na profecia, temos de ser sensíveis às pessoas e ao Espírito Santo.
Temos de ter nosso coração sintonizado com o coração de Deus. No
desempenho ministerial, é muito fácil nos sintonizar nas vulnerabilidades e
fraquezas das pessoas. Já vi muitos casos em que os homens simplesmente
sintonizaram na dor e na solidão de uma mulher. É fácil ter empatia com a
dor e a tristeza das pessoas. Se não tomarmos cuidado, as pessoas ficam
carentes e querem receber mais do que uma profecia!
Pode surgir um relacionamento especial entre um profeta e uma
mulher. O inimigo certamente tentará tirar proveito disso. Por isso é tão
importante que no ministério, todos, especialmente os homens, tenham de
prestar contas a alguém sobre sua sexualidade. Isso nos ajuda a evitar
relacionamentos carnais e as atividades que atraem e seduzem as pessoas.
Por mais esta razão o ministério privado e exclusivo (pessoa para pessoa)
deve ser evitado. A dinâmica sexual é forte demais em certos casos. Ela
proporciona uma oportunidade para o diabo – e isso já é razão suficiente
para abandonar tal prática.
Dar advertências duras é outra forma de controlar as pessoas.
Quando a profecia é usada para adquirir controle sobre as pessoas, muitas
vezes ela carrega um tom de ameaça. Por exemplo: “Se você não fizer o
que o profeta está dizendo, pode sofrer terríveis consequências” (sua
família será ferida, você pode perder o emprego, sofrer um acidente, etc.). Há
uma ameaça implícita de que a bênção de Deus pode ser removida porque
não ouvimos a voz do profeta.
Outra ameaça extrema usada na profecia é dizer que as pessoas serão
entregues a Satanás para aprender a lição. O apóstolo Paulo não fez isso
porque alguém não deu ouvidos ao seu dom profético. O homem foi
entregue a Satanás porque persistia em blasfemar, resistia aos conselhos e
precisava ser tratado num nível diferente.
A ameaça (implícita ou explícita) destina-se a elevar o ministério a
um nível inviolável onde não sofrerá oposição. Por que as palavras deleitosas
“venha conosco e nós lhe faremos bem” são substituídas pelas sinistras e
ameaçadoras “se não vier conosco, sofrerá a pena”?
Não permitir nenhuma opinião de fora é outra forma de abuso
espiritual dentro do ministério profético. Muitas vezes isso ocorre na
liderança. Pode ser muito prejudicial. As pessoas ficam engessadas na
opinião de uma única pessoa e não têm acesso a nenhum outro ponto de
vista. Na Igreja Primitiva, nós podemos deduzir que nunca se tencionou
que isso acontecesse. Equipes apostólicas e jornadas missionárias muitas
vezes permaneciam num local por longos períodos e não temos informação
de abusos.
No ambiente atual de comunicações avançadas e facilidade de
locomoção, esse problema deveria ser ainda menor. Em todos os aspectos
da vida da Igreja, com frequência precisamos de diálogos externos. Todas as
igrejas deveriam buscar ser menos exclusivas e mais abertas para
comentários oportunos e dignos de confiança.
Profecia nunca é uma questão de interpretação pessoal. Temos de
encorajar o crente a ouvir e respeitar a opinião dos outros. Na comunidade,
nossos líderes devem conversar com pessoas que tenham uma opinião
objetiva. Isso é particularmente necessário quando a profecia chega às
congregações dando direção e ampliando a visão.
Antes de embarcar em mudanças drásticas em resposta a uma
profecia, é aconselhável que a congregação busque uma palavra com outros
ministérios ou profetas maduros. Quando nós proibimos essas opiniões
externas, temos de nos basear unicamente em nosso recursos interiores, que
podem não ser fortes ou sábios o bastante para lidar com a situação. O
isolamento é uma grande porta para o engano. Abertura, honestidade e
humildade são grandes portas para a verdade. Alguns líderes resistem às
opiniões externas por medo que elas diminuam seu status e sua autoridade.
Se são tão inseguros, provavelmente estão certos!
O uso da frase “O Senhor me disse” pode ser muito inoportuna. Em
muitos casos, ela é dita por pessoas bem intencionadas que acreditam
sinceramente que esta é a maneira correta de apresentar uma profecia. Ao
compartilhar uma verdade de modo geral, muitas pessoas dirão: “o Senhor
me mostrou uma coisa”. Se alguém discordar, pode ser muito incômodo
ouvir algo como “na verdade o que você acabou de dizer não tem fundamento
bíblico!”.
Muitas pessoas não têm um motivo secreto para empregar essa frase.
Para os puros, tudo é puro. Apesar disso, isso dá ao diabo oportunidade de
manipular e prejudicar. Na maioria das vezes o uso dessas frases demonstra
um nível de imaturidade ou de insegurança. Nem sempre nós temos plena
convicção sobre a revelação ou sobre como lidar com ela. Às vezes
desejamos que outras pessoas prestem atenção no que estamos dizendo e por
isso usamos as expressões para enfatizar o que vamos dizer.
O diabo, porém, é muito competente em manipular palavras. Se nós
usamos esta frase quando compartilhamos uma verdade geral, as pessoas
com as quais falamos podem não ter a confiança ou a liberdade de nos
relatar algo com que não concorde. Então podemos supor que a revelação
que estamos compartilhando é exata e que estamos ouvindo corretamente a
voz de Deus. Dessa forma, ocorre uma pequena dose de engano, a qual pode
se fortalecer com o passar do tempo. O engano nunca acontece da noite para
o dia; vai se acumulando em pequenas doses, durante muito tempo.
Revelação exige uma resposta precisa, sensível e boa. As pessoas
devem ser corrigidas com amor. Devemos criar um ambiente no qual uma
interação positiva possa ocorrer. Onde a reposta honesta das pessoas é
irregular ou ausente, pode entrar o orgulho, fazendo com as pessoas se
tornem resistentes à autoridade.
Com a mensagem profética, o sistema de respostas é absolutamente
essencial. O conteúdo, a atitude do coração, a método de transmissão e os
resultados alcançados devem ser avaliados e comentados em todas as
oportunidades. O que as pessoas têm a dizer (o conteúdo) pode ser
completamente perdido pela forma como elas falam (a transmissão),
principalmente por causa da atitude errada. As pessoas precisam ser
instruídas sobre o que fizeram direito e o que fizeram errado. A resposta
honesta é uma parte vital do pro- cesso de aprendizado; quando é
negligenciada, gera problemas. A falta de uma resposta adequada permite
que o inimigo tenha acesso ao ministério das pessoas, criando tumulto e
desordem.
Cristãos novos, e as pessoas que estão sendo renovadas pela
revelação, ou pelo mover do Espírito, são um alvo para os ataques do
inimigo. Não podemos deixar brechas. O uso da frase: “O Senhor me disse”
deve ser desencorajado até que a pessoa esteja madura o bastante para lidar
com ela de forma adequada e eficiente.
Na maioria dos casos, trata-se de um estilo que aprendemos ou
copiamos de outros ministros. Em vez disso, devemos copiar elementos
que sejam menos propensos à manipulação e controle. Para evitar confusão
e até a aparência de controle, é melhor modificar nossa linguagem. Eu
creio que é mais recompensador usar uma terminologia mais humilde, como
“eu creio que o Senhor está dizendo” ou “acho que Deus quer que você
saiba...”.
É absolutamente vital identificar a motivação por trás da
profecia. Em outras palavras, procurar saber “qual é o espírito em operação
nessa pessoa?”. Muitas vezes o uso da frase “o Senhor me disse” pode ser
outro sinal de que o indivíduo pode estar tentando alcançar algo que não
provém de Deus. O único meio de clarificação e entendimento é o confronto.
Quando alguém declara “Deus me mostrou”, dá aos ouvintes pouquíssimas
opções. Priva as pessoas da iniciativa de responder com uma pergunta,
quando necessário.
Pessoas sem muita confiança sentirão que não poderão dar uma
resposta contrária à profecia. Ela pode ser usada de forma muito cruel por
algumas pessoas. Pode ser um afastamento total do evangelho da graça e da
bondade. O evangelho tem um caráter redentor e a profecia objetiva liberar
as pessoas numa expressão mais ampla do amor de Deus. Muitas pessoas
usam tais frases como prefixo em suas profecias porque têm pouca
confiança na própria profecia. Estão tentando revestir a mensagem com uma
autoridade que elas próprias não possuem.
Também estão tentando dificultar que as pessoas contradigam suas
palavras. É uma forma de revestirem a vida e o ministério com uma
autoridade que o Senhor não lhes deu. Além de ser incrivelmente
arrogante e de mau gosto, o uso constante dessa frase pode revelar uma
imaturidade e uma inadequação que é desesperadora.
A revelação tem poder próprio. Em geral, ela não necessita de
nenhuma introdução do tipo “o Senhor me disse”. Nosso espírito sempre
reconhecerá a verdade. O Espírito Santo, o Espírito da verdade, tem a Sua
forma peculiar de causar impacto em nosso espírito com a verdade. Ele não
precisa de nossa ajuda nesta questão.
Eu sempre fico surpreso com as pessoas que usam esse clichê. Em
muitos casos as necessidades em sua própria vida são óbvias. Se são
capazes de ouvir Deus lhes dizendo algo, por que nunca são capazes de
ouvir certas verdades básicas? Por que Deus não disse àquele profeta para
amar sua esposa ou tratar seus filhos com dignidade? Por que a profetisa não
ouviu Deus lhe dizendo que a preocupação, a ansiedade e a amargura devem
ser substituídas por confiança, fé e perdão? Por que essas pessoas não ouvem
Deus falar sobre contribuição financeira, fidelidade, compromisso e sobre a
necessidade de se submeter às autoridades? Sobre a importância de levar o
evangelho aos perdidos e sobre o Espírito Santo e Sua obra entre os
pobres?
As pessoas são seletivas em relação à verdade. Nós acolhemos as
coisas que irão nos abençoar e descartamos aquelas verdades inconvenientes
que alteram a nossa rotina normal. Se não estivermos preparados para ouvir o
Senhor falando toda a verdade e ordenar nossa vida numa base regular, não
devemos desonrá-lo introduzindo coisas que não ouvimos dele com “o
Senhor me disse”.
Esse tipo de super espiritualidade é anátema para o Espírito e pode
ser um dos principais fatores nos esquemas de domínio e manipulação.
Onde não há graça, há domínio. Onde não há amor, há uma mentalidade que
encara as pessoas como objetos que podem ser manuseados de acordo com a
nossa conveniência. Nós movemos os objetos e os colocamos nos lugares
onde terão maior utilidade para nós, assim como fazemos com a mobília
de nossa casa ou escritório.
Cometemos um grande crime contra o Corpo de Cristo quando
falhamos em ver o valor das pessoas; quando deixamos de olhar para elas
como Deus olha; quando deixamos de ver o melhor das pessoas e a vida de
Cristo nelas.
Uma atitude super espiritual tem como único propósito preservar seu
próprio bem-estar. Pessoas assim fazem com que tudo pareça
profundamente espiritual e místico. Elas não conseguem tolerar a idéia de
que outros podem saber o que elas sabem. Tentam tornar os dons e o
conhecimento de Deus inacessíveis às pessoas. O simples pensamento de
equipar e ativar os santos a fim de que possam se envolver no ministério é
uma abominação para elas. A raiz dessa anomalia encontra-se no desejo de
domínio e na manipulação; no desejo de exercer controle espiritual sobre as
pessoas, tornando-as dependentes do nosso ministério. Pessoas com esse tipo
de atitude precisam de muita ajuda a fim de reconhecer o amor de Deus de
forma mais profunda. Podem precisar de libertação da inadequação,
insegurança e de uma atitude dominadora.
A profecia busca conduzir as pessoas à plenitude do desejo de Deus e
do Seu propósito para elas. A profecia sempre coopera e se fundamenta na
glória da verdade revelada. É maravilhoso sentar diante do Senhor com uma
Bíblia na mão e permitir que o Espírito Santo fale por meio de suas páginas,
trazendo confiança, alegria, mudança real e renovação. É um enorme prazer,
um grande deleite, sentar numa reunião de estudo bíblico e ouvir uma
exposição ungida das Escrituras. Olhe ao redor nessas reuniões e observe a
concentração e a alegria das pessoas enquanto são ensinadas.
A revelação traz alegria. A entrada da revelação pessoal sempre me
deixa com o desejo de adorar ao Senhor Jesus, tirar os sapatos e dançar,
gritar de alegria e sorrir de prazer na direção do Senhor. Às vezes é bom ter
o ensino antes da adoração a fim de que, depois da revelação, tenhamos mais
motivos para bendizer o Senhor.

Como lidamos com profecias negativas?


O dom de discernimento de espíritos nos capacita a determinar a
origem espiritual ou a fonte dos eventos atuais ou das palavras faladas. Pode
haver um “testemunho” imediato em meu espírito em relação a algo que foi
dito ou feito. Essa impressão inicial pode ser confirmada por outros meios;
pelas Escrituras ou pela opinião de outras pessoas maduras.
Onde não há o testemunho interior para a profecia, temos de exercitar
nosso coração com mais cautela. Nesse ponto, estaremos tentando descobrir
o seguinte:
• A fonte da palavra pode ser um espírito maligno?
• A palavra está emanando do espírito da própria pessoa?
• A palavra é humana?
Com as palavras de avaliação, devemos entender que a verdadeira
profecia não produz escravos. Palavras negativas, de julgamento e de
condenação trazem um tipo errado de temor. Há o temor de Deus que é
certo e saudável. O tipo errado de profecia não pode produzir o temor certo.
O profeta deve trazer boas novas, mesmo que fale de “arrependimento”.
Mensagens que destacam pecados devem conter um claro chamado ao
arrependimento. Há uma forma de lidar com profecias negativas que são
completas, positivas e alcançam os propósitos de Deus. Os capítulos 2 e 3
de Apocalipse contêm várias palavras proféticas para as igrejas da Ásia. Nem
todas as palavras foram elogios! Precisamos notar o contexto, as palavras e a
resposta exigida de cada igreja:
“Conheço as suas obras, o trabalho árduo e a sua perseverança. Sei
que você não pode tolerar homens maus, que pôs à prova os que
dizem ser apóstolos mas não são, e descobriu que eles eram
impostores. Você tem perseverado e suportado sofrimentos por causa
do meu nome, e não tem desfalecido”.
Isso é bom. Essa mensagem contém algumas excelentes e
positivas contribuições ao coração. É assim que vocês são, e por isso eu amo
vocês.
A fim de trazer uma palavra efetiva de julgamento que realize os
propósitos de Deus, temos de ter uma idéia da situação e das
circunstâncias. Profecias negativas devem ser fundamentadas no
contexto do que está acontecendo. É vital que entendamos o contexto, quer
dizer, como as coisas estão sendo difíceis para a igreja ou para o
indivíduo.
Temos de elogiar as pessoas nas áreas onde estão fazendo as coisas
direito, ou estão prosseguindo de forma piedosa debaixo de lutas
intoleráveis.
Então podemos focalizar nas áreas que Deus deseja tocar e que
exigirão mudanças, com um claro chamado ao arrependimento.
Quando prosseguimos lendo as profecias para a igreja de Éfeso, vemos
essas distinções emergindo.
“Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor”.
Esta palavra é negativa. “Lembre-se de onde caiu! Arrependa- se...”. Volte,
mude sua mente, volte atrás, volte para Deus. “Pratique as obras que
praticava no princípio. Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu
candelabro do lugar dele”. Há uma palavra duplamente negativa na
profecia, mas o resultado final é: queremos que esta situação se reverta.
Estamos falando algo negativo a fim de alcançar um resultado positivo e isso
é muito importante.
O padrão da profecia negativa deve ser:
• Compreender o contexto da situação que a igreja está
enfrentando;
• Reconhecer as áreas onde o comportamento é digno de elogio;
• Destacar as áreas onde é preciso haver mudança;
• Apresentar um claro chamado ao arrependimento.
Podemos ver claramente esse procedimento aplicado de novo na
palavra profética para a igreja de Pérgamo (Ap 2.12-17):
“Sei onde você vive – onde está o trono de Satanás. Contudo, você
permanece fiel ao meu nome e não renunciou à sua fé em mim, nem
mesmo quando Antipas, minha fiel testemunha, foi morto nessa
cidade, onde Satanás habita. No entanto, tenho contra você algumas
coisas: você tem aí pessoas que se apegam aos ensinos de Balaão,
que ensinou Balaque a armar ciladas contra os israelitas, induzindo-
os a comer alimentos sacrificados a ídolos e a praticar imoralidade
sexual. De igual modo, você tem também os que se apegam aos
ensinos dos nicolaítas. Portanto, arrependa-se! Se não, virei em breve
até você e lutarei contra eles com a espada da minha boca. Aquele
que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas”.
Assim, nós vemos que há um elemento negativo, mas, como disse
antes, o resultado final é: queremos reverter esta situação e queremos ver
um arrependimento positivo.
Não há nada errado com a profecia negativa, desde que o
resultado final seja um retorno a Deus. Palavras negativas que não contêm
nenhum elemento positivo e que apenas deixam as pessoas com sentimento
de condenação devem sofrer restrição. Do contrário, elas podem permitir que
o inimigo consiga uma base de ação na igreja. Esse tipo de profecia
negativa é profana e não tem base bíblica; não é espiritual e por isso deve
ser confrontada. Palavras negativas devem produzir arrependimento e não
condenação.
Temos de tomar cuidado com aquelas pessoas que profetizam suas
próprias opiniões. Elas oferecem uma palavra negativa que pode conter
elementos da verdade, mas na realidade é uma plataforma para o que elas
pensam. Elas aplicam a mensagem “vocês precisam se arrepender” no final
para dar à palavra uma certa credibilidade. Pode ser que haja áreas na vida
da congregação que precisam de atenção e sempre é bom permitir que a luz
de Deus brilhe, não importa quem esteja segurando a tocha! Nunca despreze
a verdade porque não gosta de quem a apresenta. Nossa lealdade sempre
deve ser para com a verdade.
As pessoas acrescentam a mensagem de arrependimento a fim de se
sentir espiritual e segura. Qualquer resposta contrária pode ser chamada de
rebelião e desobediência, orgulho ou arrogância. Algumas situações
simplesmente não merecem o peso desse tipo de profecia e as pessoas
corretamente a rejeitam.
Algumas pessoas não conseguem fazer distinção entre suas próprias
opiniões e a Palavra do Senhor. Elas não conseguem perceber a
diferença entre uma indignação legítima diante do erro e do pecado e o
rancor e amargura de sua própria frustração. Essas pessoas precisam de
ajuda e apoio para que possam amadurecer. Novamente, vemos a
importância do sistema de respostas. Não podemos permitir que as pessoas
levem adiante esse modelo de profecia, pois estaríamos gerando problemas
para a igreja.
Se tivermos de entregar uma palavra negativa, há um procedimento a
seguir para glorificar o nome de Deus.
Primeiro, temos de corrigir nossas próprias atitudes. Tire
primeiro a trava do seu olho antes de compartilhar a palavra com
pessoas responsáveis. Segundo, dedique-se ao jejum e oração.
Esta é uma forma maravilhosa de purificar nossos motivos e permitir
que o Espírito Santo filtre nossas opiniões, frustrações e ressentimentos.
Tente alimentar frustrações com o estômago vazio! Terceiro, durante esse
tempo diante do Senhor, temos de nos tornar nós mesmos obedientes.
Temos de nos certificar que não temos nada contra ninguém e se
tivermos, temos de acertar as coisas. Finalmente, compartilhe a palavra com
os líderes e com pessoas maduras e permita que avaliem com antecedência,
antes do pronunciamento.
Há uma responsabilidade peculiar na profecia negativa, a qual temos
de conduzir com integridade diante do Senhor. Em muitos casos, Ele nos dá
uma palavra negativa como parte do Seu processo de trazer mudança em
nossa própria vida. Se acharmos fácil pronunciar mensagens negativas,
então há algo errado conosco; talvez precisemos ser ministrados. Sejamos
cuidadosos com as profecias negativas. A verdade deve sempre prevalecer!
Eu não permitiria que as pessoas transmitissem mensagens
negativas nos primeiros anos do seu desenvolvimento profético. Os profetas
mais experientes devem assumir a responsabilidade por esse tipo de
pronunciamento. Os mais experientes têm caráter mais forte, mais tempo de
serviço e demonstram mais amor por Deus e pela igreja. É bom manter as
pessoas numa dieta de edificação, exortação e conforto até que conheçam a
ternura do coração de Deus para com as pessoas. Eu encorajaria tais
pessoas a filtrar suas mensagens com pessoas maduras que podem elas
mesmas transmitir as profecias mais pesadas. É claro que a fonte sempre
deve ser citada.
Permitir que uma pessoa entregue uma palavra negativa deve ser um
marco em seu ministério e em seu progresso. Ficará evidente para todos que
aquela pessoa está “crescendo” no dom, e pode ser aceita com confiança
pelos líderes das igrejas locais.
Há um preço a pagar na transmissão de palavras negativas. Não deve ser
fácil. Haverá dor. É preciso examinar o coração. Há um pré-requisito de
fazer um acerto prévio com Deus.
Como aplicamos os testes?
Quando vamos a um médico para um exame completo, somos
submetidos a uma bateria de exames para avaliar nosso estado de saúde. Um
ou dois resultados positivos não garantem um atestado de saúde plena. Há
uma série de testes prioritários que são aplicados para determinar o estado
geral nas áreas principais. Se falharmos nesses testes, temos problemas. Não
podemos ir adiante. Há uma regra similar na profecia. Se a mensagem
não passa nos testes básicos mostrados na Seção A, não podemos levá-la
adiante. Temos de voltar à pessoa que profetizou, fazer perguntas
específicas e tomar resoluções.
Na medicina, se a pessoa passa pela bateria inicial de testes, é
submetida a outra bateria de testes diferentes para determinar a saúde em
outras áreas. Semelhantemente, na profecia há outra série de observações
que precisam ser feitas a fim de determinar alguns aspectos mais detalhados
da mensagem. Esta segunda série de testes nos ajudarão a determinar o tipo
da profecia e a resposta mais apropriada que devemos dar. Também nos
proporciona algumas ideias das questões mais amplas envolvidas na
avaliação de uma profecia.
SEÇÃO B – OS TESTES SUPLEMENTARES
A seção B nos ajudará a entender algumas das questões mais amplas
na avaliação da profecia. Na Seção A nós examinamos a profecia sob o
microscópio para determinar as principais áreas de teste. Podemos encarar
esta seção como a abordagem da lente de aumento. Estamos buscando
compreender algumas das minúcias envolvidas nas profecias. As profecias
aprovadas na parte um pode ser geralmente aceita. No entanto, pode precisar
de um “pente fino” a fim de que qualquer detalhe duvidoso seja erradicado.
A Seção B é um filtro final da veracidade da palavra profética.
Podemos encarar esta segunda seção como um teste suplementar que
refina a mensagem que passou pelo teste principal. Ela nos ajuda a tomar
certas decisões que nos capacitam a apresentar a palavra da melhor forma
possível.
As áreas subsequentes de teste e avaliação são as seguintes:
• Foco no resultado final.
• Reconhecimento que toda profecia é parcial; que parte do todo a
profecia está abordando?
• Que tipo de profecia é? É para agora ou para o futuro? É uma
palavra nova ou é palavra de confirmação?
• Distinção entre falsa profecia e profecia precária.
• Não faça ajustes precipitadamente.
Foco no resultado final
No que concerne à profecia, nossa ênfase principal deve ser na
avaliação anterior. Com palavras de correção e direção, a palavra deve ser
avaliada antes de ser pronunciada em público. Há também um teste
retrospectivo em andamento, porque a profecia deve ser aprovada em todos
os testes principais e suplementares. Apesar disso, ela pode levar anos para
se cumprir. Calebe teve de esperar 45 anos até que a profecia de Moisés se
cumprisse e ele tomasse posse de sua própria terra em Hebrom (Js 14).
Davi esperou 24 anos até que a palavra de Samuel se cumprisse e ele fosse
feito rei.
Em 1975, eu recebi uma palavra profética sobre ter um ministério
significativo nas igrejas americanas. Em 1992, depois de ter orado e
esperado em Deus por 17 anos, eu finalmente tive permissão do Espírito
Santo para aproveitar algumas oportunidades para falar. Durante todo o
tempo de espera, temos de enfrentar as dúvidas quanto à questão se a profecia
é verdadeira e se a demora provém de Deus.
A tentação é pensar que se a mensagem não se cumprir dentro de um
tempo determinado, não pode ser de Deus. Esse raciocínio pode levar muitas
pessoas ao desprezo das profecias. Trataremos melhor desse assunto no
capítulo sobre os obstáculos para o cumprimento das profecias e as respostas.
Aqui é suficiente dizer que não podemos passar nossa vida
simplesmente esperando o cumprimento de uma palavra. Temos de seguir
com nossa vida, envolvendo-nos na obra de Deus agora, e ao mesmo tempo
usando a profecia para manter contato com a agenda de Deus para o
nosso futuro. A profecia sempre nos proporciona uma agenda de oração.
No exemplo que dei acima, eu continuei trabalhando no Reino Unido e
Europa, realizando Escolas de profecia e implantando igrejas. Ao mesmo
tempo, continuei a orar pelos Estados Unidos. Sempre pedia a Deus que
falasse comigo sobre esse grande país.
Obviamente, quando o Senhor falou comigo sobre as igrejas
americanas, eu não tinha nenhum contato para compartilhar essa
mensagem. Por isso tive de gastar centenas de horas em oração,
compartilhando as palavras somente com Deus, em confiança. As profecias
me deram uma agenda de oração pelos Estados Unidos. Quando comecei a
visitar a América, fiquei feliz ao constatar que muitas das coisas pelas quais
tinha orado estavam começando a acontecer. Coisas como abraçar o
ministério apostólico; entender o papel dos ministérios de Efésios 4.11;
dinâmicas de grupos de células; cristianismo não religioso; evangelização e
implantação de igrejas; reestruturação do governo eclesiástico; fogo do céu
caindo sobre ministérios e igrejas estratégicas. A obra purificadora do
Espírito Santo, o retorno da pregação do evangelho do Reino, treinamento e
desenvolvimento dos santos são elementos prioritários nas agendas das
igrejas americanas. O resultado das orações é que me sinto completamente
em casa nos Estados Unidos e tenho sido recebido de forma maravilhosa
onde quer que vá.
Temos de nos concentrar no resultado final sempre que o tempo nos
permita. A profecia produziu algum elemento negativo? Que elementos
positivos o Espírito Santo está destacando para nós?
“Se aparecer entre vocês um profeta ou alguém que faz predições por
meio de sonhos e lhes anunciar um sinal miraculoso ou um prodígio,
e se o sinal ou prodígio de que ele falou acontecer, e ele disser:
‘Vamos seguir outros deuses que vocês não conhecem e vamos adorá-
los’, não dêem ouvidos às palavras daquele profeta ou sonhador. O
Senhor, o seu Deus, está pondo vocês à prova para ver se o amam de
todo o coração e de toda a alma. Sigam somente o Senhor, o seu
Deus, e temam a ele somente. Cumpram os seus mandamentos e
obedeçam-lhe; sirvam-no e apeguem-se a ele. Aquele profeta ou
sonhador terá que ser morto, pois pregou rebelião contra o Senhor, o
seu Deus, que os tirou do Egito e os redimiu da terra da escravidão;
ele tentou afastá-los do caminho que o Senhor, o seu Deus, lhes
ordenou que seguissem. Eliminem o mal do meio de vocês”. (Dt 13.1-
5)
Temos de aprender a trabalhar com o ministério profético – tanto
com o dom que desenvolvemos internamente, quanto com a revelação
profética que recebemos da obra exterior. Internamente precisamos mudar a
forma como a profecia é administrada. O governo da igreja não pode ser
usurpado e o rebanho não pode sofrer danos. O tempo todo a Palavra de Deus
deve ter plena liberdade, não importa o quanto ela seja desagradável para a
liderança local.
A verdadeira profecia promove a obediência à Palavra em todos
os níveis da vida da igreja, desde a liderança até os cristãos mais novos. Ela
deve trazer maior intimidade com Deus, mesmo que tenhamos de dar uma
guinada de 180º em arrependimento. O profeta e sua mensagem devem
exaltar Jesus e promover uma resposta piedosa.
Exatidão na profecia não é o bastante. Milagres, sinais e maravilhas
não são evidências de verdadeira profecia. Se qualquer mensagem profética
for acompanhada por sinais e maravilhas, ainda temos de avaliá-la pelos
critérios estabelecidos na Seção A. É fundamental perguntar: onde a fé nesta
mensagem profética nos levará? Ela nos afastará dos propósitos de Deus e de
seus padrões morais? Conheço pessoas que há dez anos atrás receberam
uma profecia que teriam um ministério específico e viajariam para certos
lugares. Na época, ninguém mais testemunhou a palavra; mesmo assim,
esses irmãos se apegaram à mensagem e atualmente estão isolados do Corpo
de Cristo. Não estão mais na igreja. Estão sozinhos. O resultado final da
profecia foi extremamente negativo, mas eles continuam se apegando a ela.
Para o verdadeiro profeta, a glória de Deus é absolutamente
essencial. Nós vivemos para a Sua glória, para que Seu nome seja exaltado.
O modelo que João Batista nos deixou, “que eu diminua e que Ele cresça”
deve ser a marca registrada do verdadeiro espírito profético. Simplesmente
devemos glorificar ao Senhor Jesus.
O ministério primário do Espírito Santo é revelar e glorificar a Jesus.
Temos de nos guardar contra toda revelação que enfatize uma pessoa ou um
ministério mais do que Jesus. A verdadeira profecia tem sempre como
objetivo reproduzir o caráter de Jesus nas pessoas. Essa deve ser sempre a
natureza do ministério profético: temos de reproduzir o caráter de Jesus. Em
minhas conferências, eu não me desculpo por enfatizar a mudança de caráter.
O verdadeiro ministério profético deve estar interessado na natureza e no
caráter da obra; na ética e na moral; na justiça e na integridade; na santidade
da obra. Porque Deus é santo. Trata-se de uma parte essencial do dom
profético. Romanos 14.17 fala sobre justiça, paz e alegria como sendo os
principais resultados da vida no Espírito. Efésios 5.9 diz que “o fruto do
Espírito consiste em toda bondade, justiça e verdade”. Gálatas 5.22,23 fala
sobre as nove formas do fruto produzido pelo Espírito Santo.
Quando esse fruto não está evidente na vida de um cristão, temos
de tomar cuidado. O texto de Mateus 7.15,16 diz: “Vocês os reconhecerão
por seus frutos”. É importante que em qualquer tipo de ministério,
principalmente na profecia, sempre enfatizemos o caráter acima do dom.
A profecia cria rivalidades? Ela causa divisões? É contrária à visão?
Fala contra a liderança? Pode haver problemas na igreja, mas a profecia não
pode ser vista como uma forma de resolvê-los! Usar a profecia dessa forma
trará a ira de Deus sobre as nossas cabeças.
Nós profetizamos em parte
1 Coríntios 13.9 diz que
“Em parte conhecemos e em parte profetizamos”.
Toda mensagem profética fala somente a uma parte de nossa vida e
circunstâncias. Quando recebemos uma palavra, é importante que não
lancemos fora todas as mensagens proféticas e ensinamentos que já
recebemos. Essa última mensagem pode ser diferente das outras porque o
Senhor está proporcionando revelação para uma parte diferente de nossa
vida.
Quando temos certeza de que o espírito por trás de uma profecia está
correto, mas mesmo assim sentimo-nos inseguros quanto ao seu conteúdo,
precisamos colocá-la numa prateleira e esperar. Temos de encorajar todos
os cristãos a ter uma “prateleira do Espírito Santo”, onde colocamos as
coisas que não entendemos. Para esperar. Podemos orar e mais tarde
abordarmos novamente o assunto, com um novo entendimento. Tirar a
poeira e colocar a questão de novo diante do Senhor.
Algumas profecias que eu recebi foram direto para a prateleira. Elas
foram transmitidas por pessoas bem intencionadas, mas não produziram nada
em termos práticos. O Espírito Santo sempre trará à nossa lembrança coisas
que foram faladas no passado, por meio das Escrituras ou de profecia. Isso
não é um problema para Deus, e nós temos de ser graciosos para com as
pessoas.
A profecia pode ser parcial. Às vezes pode ser mista: parte feita
por Deus e parte pelo homem. A revelação foi divina, mas a interpretação
pode ter muito do entendimento humano. A profecia oferece uma palavra
parcial a uma área de nossa vida que Deus deseja estimular. Por isso Ele
fala conosco, pois destaca uma parcela de nossa vida que deseja encorajar e
trazer à vida. Essa palavra parcial pode não se referir à área na qual nós
estamos interessados! Deus sabe o que faz e apresenta uma mensagem
profética referente a uma área de nossa vida na qual está operando.
Certa vez eu entreguei uma profecia a um homem: Deus queria que
ele demonstrasse mais amor por sua esposa. Ele estava se dedicando
demasiadamente ao ministério e negligenciando a esposa e o Senhor não
estava contente. Depois da reunião ele me disse que tinha certeza de que
Deus iria lhe falar algo sobre o ministério naquela reunião. Enquanto
conversávamos, lutei para lhe mostrar que Deus tinha feito isso de forma
indireta. Nós somos instruídos para amar nossas esposas como Cristo amou a
Igreja. Creio que a inferência correta é que se falharmos em amar nossas
esposas e nos dedicar a elas, não podemos amar e nos dedicar corretamente à
Igreja, que é a Noiva de Cristo.
Se um homem não puder amar sua esposa de uma maneira que
glorifique ao Senhor, será que conseguirá ser competente em
algum ministério na Igreja? Lamentavelmente aquele irmão foi
embora convencido de que o profeta tinha errado o alvo. Ficou
desapontado.
Precisamos manter nosso coração sempre aberto. Não podemos nos
dar ao luxo de alimentar desapontamento em nosso espírito. Precisamos
permitir que a área que Deus quer tratar em nossa vida receba oração e
atenção. Deus pode estar abrindo uma área de nossa vida na qual quer tratar.
E se Ele deseja fazer isso, nós temos de permitir imediatamente, pois sem a
intervenção de Deus nossa situação tende a piorar. Se Deus deseja tocar em
nossa vida e nós não permitimos, podemos ficar dando voltas pelo deserto,
sempre voltando ao mesmo ponto, à mesma questão, ao mesmo local.
Como Israel em Cades-Barnéia, voltamos ao ponto de partida, só que desta
vez com os problemas ampliados. Mais tarde, isso vai nos custar um
pouco mais de tempo e de energia. Por quê? Porque tivemos um ano, ou
mais, de desobediência. O problema criou raízes mais fundas em nossa vida
e agora será muito mais difícil arrancá-lo.
Os problemas crescem, de modo que devemos enfrentar o que Deus
deseja fazer agora e permitir que Ele faça. Se não fizermos isso, vamos
vagar pelo deserto mais uma vez. Deus está aberto para arrazoar! Ele
pode não interferir, mas fica feliz em conversar conosco. Ele disse por meio
do profeta Isaías:
“‘Venham, vamos refletir juntos’, diz o Senhor. ‘Embora os seus
pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos
como a neve” (1.18).
Deus pode não mudar de opinião, mas fica feliz em dialogar!
Existem diferentes categorias de mensagem profética
Em geral, todas as profecias se enquadram em quatro tipos.
Veremos inclusive que a mesma profecia pode conter elementos dos
quatro tipos.
Há uma mensagem para agora. Ela é dirigida a nós exatamente onde
estamos. Neste momento, na vida e no ministério. Pode se referir ao nosso
passado, mas tem implicações para o presente. Pode nos proporcionar uma
agenda para futuras mudanças e pode ser usada como agente catalisador para
outras pessoas que trabalham em nossa vida.
Lembre-se: a profecia sempre nos oferece algum tipo de
agenda de trabalho ou de oração.
Por isso é muito importante compartilhar com pessoas maduras as
palavras proféticas que recebemos. Profecia nunca é uma questão de
interpretação pessoal. Ela pode exigir que outras pessoas olhem e vejam
coisas que nós mesmos não conseguimos ver, e nos ajudem a aplicar. Uma
palavra agora estimula a área na qual Deus deseja operar no momento atual.
A falta de resposta humana pode significar que nosso progresso ficará
suspenso durante um tempo, até que permitamos que o Espírito Santo faça
Sua obra em nós.
Uma palavra de confirmação estabelece e fortalece as pessoas
naquilo que sabem que é certo. O uso contínuo de um dom pode deixá-lo
sem corte, como uma faca cega. Nessas circunstâncias, a profecia é usada
para “afiar” novamente as pessoas. As pessoas podem ficar (legitimamente)
cansadas no trabalho do Senhor. Entretanto, sem alguma forma de
confirmação profética e de encorajamento, podem também ficar cansadas do
trabalho do Senhor. Eu entreguei uma profecia para um amigo, a qual dizia
simplesmente, “continue fazendo aqui na Terra aquilo pelo que você é
famoso no céu”. Essa mensagem renovou sua alegria e fé, o que liberou nele
uma nova força e confiança para continuar seu ministério. Uma palavra de
confirmação fortalece a fé porque as pessoas sabem que estão no centro da
vontade divina para suas vidas. Traz uma nova iniciativa e ímpeto na
batalha espiritual. Dá um novo ânimo e perspectiva na luta cotidiana.
Então há também a palavra futura. Ela fala sobre a próxima fase ou
os próximos estágios de nossa caminhada. Esse tipo de profecia nos dá um
contexto e significado ao que estamos atravessando agora e o que virá a
seguir. Ela deve ter um elo essencial com o presente, de modo que fica
efetivamente vinculada à nossa vida. Embora fale sobre o futuro, tem um
senso de “encaixe” com o presente.
Esse tipo de profecia nos ajuda a traçar um curso em particular e
também nos ajuda a perceber que estamos dentro do curso que já foi traçado.
Pode conter sugestões de treinamento e desenvolvimento, ou áreas de
preparação que precisam ser consideradas para atender as demandas da
próxima fase.
Essa profecia pode ser pronunciada no tempo presente. Gideão, por
exemplo, recebeu uma palavra profética relacionada ao seu futuro,
embora o anjo tivesse falado no presente do indicativo:
“O Senhor está com você, poderoso guerreiro” (Jz 6.12)
Naquele momento Gideão estava se escondendo e sentindo tudo,
menos que era poderoso. Entretanto, ele respondeu a Deus e aquela palavra
tornou-se sua experiência real. A visão de Deus do futuro é diferente da
nossa. Sua visão, porém, é tão certa que Ele a comunica no tempo presente,
pois Deus vê o final desde o princípio. Quando Deus fala, é um evento;
trata-se de uma palavra criativa que faz com que algo aconteça.
Finalmente, temos a palavra nova. O Senhor tem coisas no coração
para nós, as quais nós nem imaginamos. Jamais poderíamos conceber o que
Ele tem preparado para nós (1 Co 2.9,10). Essa profecia abre novas áreas e
cria novas oportunidades para servir a Deus de outras maneiras.
A palavra nova é diferente da palavra futura porque ela pode ter
pouca ou nenhuma ligação com o presente. Às vezes ela pode se referir a um
futuro tão distante que pode ser difícil compreendê-la. Em 1973/74 eu recebi
várias palavras proféticas que diziam que um dia eu estaria levantando
profetas por todo o mundo, profetizando a reis e governos e pessoas em altas
posições. Na época eu nunca tinha profetizado nem sabia o que era profecia.
Jamais tivera contato com esse dom! No entanto, em seis meses eu comecei a
profetizar. Doze anos depois daquelas profecias, comecei a realizar Escolas
de Profetas na Grã-Bretanha. Atualmente eu realizo conferências proféticas
por todo o mundo e já entreguei mensagens proféticas a primeiros-ministros
e pessoas em altas posições.
Inicialmente, a palavra profética estava além de minha imaginação.
Eu não conseguia conceber tal coisa em minha mente ou coração. Mesmo
assim, aquelas palavras moldaram minha vida daquele momento em diante.
Profecia abre novos horizontes. Ela nos proporciona um alvo de longo
prazo. Podemos usar a profecia como uma bússola, que nos mantém na
direção certa da vontade de Deus. Ela nos instiga a buscar mais a Deus;
exige disciplina e nos empurra para as áreas de treinamento e de preparação.
No final, ela nos proporciona uma visão de longo prazo que nos ajuda a
criar os limites em nossa vida. Não podemos fazer outras coisas porque
temos uma visão em particular, fundamentada na profecia e moldando nossa
vida.
Durante anos eu viajei da Inglaterra até Gales uma vez por mês para
visitar Graham Perrins, um profeta ungido e mestre da palavra. Aqueles
momentos de estudo e oração faziam valer a pena a viagem de carro de mais
de 300 quilômetros numa noite! Graham me deu um amor enorme pelas
Escrituras e pela sua exposição. Provavelmente eu era o membro mais tímido
do grupo de estudo, mas gostaria de pensar que tive um excelente
aproveitamento. Eu absorvia como uma esponja tudo o que ele dizia e
depois ficava ponderando. Nunca deixava de tomar notas e as examinava
com cuidado em casa. Eu assimilava tudo o que ele ensinava e voltava
querendo mais. Graham tem sido considerado por mim como uma figura
paterna em meu treinamento profético.
Obviamente há justaposições nessas quatro categorias,
principalmente entre a profecia agora/confirmação e futuro/nova, bem como
muitas outras nuances. Algumas profecias podem conter ele- mentos das
quatro categorias.
Examine o histórico
Reconheço que às vezes é difícil aplicar este princípio à pessoa que
profetiza. Pode ser alguém que está apenas começando ou alguém que não é
de nossa igreja e que não conhecemos bem. Entretanto, nesse último caso,
temos de buscar algum tipo de recomendação de alguma fonte confiável.
Pedir recomendação de outras igrejas e ministérios é importante. Os
líderes devem sempre proteger seus rebanhos. No entanto, por favor, tenha
em mente que não é apenas com o currículo do profeta que temos de nos
preocupar. Precisamos examinar o histórico de todos os ministérios:
mestres, evangelistas, pregadores itinerantes, ministérios de libertação e de
cura... qualquer cristão que tenha um ministério público precisa ter um
currículo que possa ser avaliado.
É importante notar que devemos ser graciosos com pessoas novas
e permitir que adquiram experiência, e que aprendam. Avaliação de
qualidade e em amor é absolutamente vital. Não permita que as pessoas
prossigam no erro, mesmo que seja um erro pequeno. Coloque toda a
correção num contexto de amor, bondade, boa vontade e um desejo de ver
as pessoas crescendo e se desenvolvendo. Esse processo é chamado de
discipulado. Temos de desenvolver pessoas no dom profético e no
ministério. Por favor, note que são duas coisas diferentes! Em termos de dom,
todo cristão tem um potencial profético que precisa de desenvolvimento e
treino. No entanto, precisamos mais do que possibilidades para reconhecer o
dom como um ministério. Precisamos de evidências contínuas. Precisamos
de provas objetivas de que as palavras do profeta estão se cumprindo e que
Deus está com ele.
Nós lemos o seguinte em Deuteronômio 18.22:
“Se o que o profeta proclamar em nome do Senhor não acontecer
nem se cumprir, essa mensagem não vem do Senhor. Aquele profeta
falou com presunção...”.
As pessoas precisam ter um histórico que mostre que suas
profecias se cumprem. Se não houver confirmação depois da avaliação da
mensagem, ou não houver cumprimento, temos de procurar a pessoa que
trouxe a profecia.
Outras pessoas que nos conhecem podem dar testemunho da palavra,
embora continue necessitando de confirmação. Um testemunho é um bom
indicador que nos inspira a julgar corretamente.
Distinção entre falsa profecia e profecia precária
Falsa profecia tem sua raiz no engano. Envolve uma tentativa sutil e
muitas vezes deliberada de afastar as pessoas do Senhor. Pode elevar homens
e mulheres à posição de deuses. Move as pessoas da posição vital de
humildade diante de Deus, a qual todos nós devíamos buscar. Humildade de
coração é uma importante característica de todo ministério público no Corpo
de Cristo. Algumas pessoas confundem ousadia com arrogância, ou
mansidão com fraqueza.
A ousadia procede da confiança em Deus que se eleva do nosso
conhecimento profundo de quem Ele é e de nossa herança em Cristo. A
mansidão é simplesmente força sob controle. Humildade e confiança andam
juntas. São lados diferentes da mesma moeda. É lamentável, mas raramente
temos oportunidade de ver as duas juntas nas pessoas.
Um coração humilde é aquele que se dedica à verdade, não
importa o preço. Busca a verdade como um amante apaixonado. Com
frequência a falsa profecia cria ídolos colocando algo ou alguém entre as
pessoas e Deus. Qualquer coisa na profecia que afasta Deus do Seu povo
deve ser erradicado.
Profecia precária, por outro lado, precisa ser compreendida. A
profecia pode ser impura porque mesclamos nossos pensamentos e opiniões
pessoais à mensagem de Deus, deixando-a distorcida. As pessoas podem
colocar algum recheio em torno da profecia, tirando parte do seu valor. Em
muitos aspectos, trata-se apenas de uma questão de estilo e formação
pessoal. Quando vivemos entre pessoas acostumadas a transmitir profecias,
podemos bem assimilar suas características. Se este for o caso, podemos não
saber como lidar com uma mensagem curta de Deus. Algumas das
profecias mais profundas que já pronunciei foram apenas uma frase.
Às vezes a profecia pode ser pobre porque copiamos um estilo e uma
linguagem de outra pessoa. Em alguns círculos pentecostais, não sou
considerado como profeta porque meu estilo é diferente. Não coloco as mãos
sobre a cabeça das pessoas e nem fico vociferando palavras
incompreensíveis, com perdigotos voando para todos os lados! Quando
profetizo, uso a mesma linguagem e tom de voz que uso quando
converso. Temos de tentar ser autênticos. Somos pessoas normais em
contato com um Deus sobrenatural. Quando realmente tocamos o coração do
Senhor, descobrimos que Ele é a pessoa mais normal, lúcida, equilibrada do
universo.
Afinal, quem enviaria um homem idoso ao reino mais poderoso e
mais idólatra da face da Terra, para falar a um governante tirano e exigir que
três milhões de pessoas fossem libertadas da escravidão e liberadas para ir
embora, e servir a Deus? Quem reduziria o exército de 32.000 soldados a
apenas 300, só para dar ao inimigo uma chance de sobreviver? Quem mais
instruiria um general militar a ordenar a seus homens que circundassem uma
cidade em silêncio durante uma semana, e que gritassem no sétimo dia,
fazendo os muros da cidade desabarem?
Captou a mensagem? Deus é normal, exceto quando está sendo
extraordinário. Muitas vezes nós interpretamos mal as obras de Deus. Isso é
visto particularmente na forma como acolhemos as profecias.
Algumas pessoas gostam de vestir suas profecias com uma linguagem
rebuscada; ou elevando o tom de voz; ou falando durante um tempo
prolongado. Nada disso é evidência do poder do Espírito Santo.
Também pode haver profecias fracas. Isso acontece quando nos
movemos com base num sentimento ou numas poucas palavras. Há uma
escola de pensamento que diz que “se tudo o que você tiver forem umas
poucas palavras, então deve se levantar pela fé, abrir sua boca e Deus a
encherá!”.
Muitas vezes os defensores dessa idéia citam Marcos 10.18-20, Lucas
12.11,12 e 21.12-15, que à primeira vista parecem dizer: “Não se preocupem
com o que vocês vão dizer, eu colocarei as palavras na boca de vocês”. No
entanto, nós tiramos essas passagens do contexto quando as usamos em
relação às profecias. Todos esses textos claramente se referem a situações
onde as pessoas estão sendo arrastadas diante dos líderes civis e religiosos e
obrigadas a dar explicações sobre a pregação do evangelho. Nessas
circunstâncias, Deus nos dará sabedoria (não profecias!), a qual será
difícil de contradizer. Trata-se da mesma promessa que Deus deu a Moisés
(Êx 4.10-12), quando o enviou a faraó com a mensagem para liberar o povo
de Israel.
Muitas pessoas acham errado planejar ou ensaiar as mensagens
proféticas. É claro que não podemos manufaturar as mensagens, mas
também não precisamos nos despedir do nosso cérebro! A definição de
muitas profecias nessa era pós-carismática é “um pensamento vazio
passando através de uma mente vazia”!
No Antigo Testamento, se Deus falasse com o profeta em Berseba e
lhe entregasse uma mensagem para o rei que estava em Jerusalém, ele
levaria muitos dias para chegar lá. Durante esse tempo provavelmente ele
oraria, ensaiaria e planejaria a entrega da profecia, principalmente se a
palavra ao rei não fosse muito otimista (o profeta corria o risco de ser
decapitado). Ele podia até escrever antes de chegar lá! Mais de um terço do
Antigo Testamento consiste em mensagens proféticas, recebidas e anotadas.
Há um lugar para a profecia espontânea. No entanto, a Bíblia tem
muito a dizer também sobre profecias planejadas e ensaiadas. A realidade é
que precisamos dos dois estilos, e avaliação efetiva. Um método não é
melhor do que o outro; são apenas diferentes.
Todos os profetas devem crescer e se desenvolver. Há uma
mentalidade que acha que se o nosso coração estiver disparado, se as palmas
de nossas mãos estiverem suadas e os cabelos de nossa nuca estiverem
arrepiados, se tivermos algumas palavras ecoando em nossa mente e
tivermos um senso da presença de Deus... então temos de nos levantar e
profetizar!
Sempre temos de pedir permissão a Deus para profetizar
Nunca tire conclusões precipitadas! Com muita frequência, em minha
experiência, quando encontro esses mesmos sentimentos, trata-se apenas de
Deus tentando chamar minha atenção. Muitas vezes é uma forma de eu
saber que Ele quer me falar algo. Não é um indicador de que ele deseja falar
com outras pessoas por meu intermédio.
Nossa prioridade deve ser perguntar ao Senhor: “O que estás me
dizendo?” ou como Samuel foi instruído a dizer: “Fala Senhor, porque o teu
servo ouve” (1 Sm 3.10).
Nessas ocasiões, podemos ter de determinar algumas coisas. A
mensagem é pessoal? É para alguém que está presente? É para toda a igreja?
É corretiva, diretiva, ou simplesmente inspiradora? Que tipo de mensagem é:
agora, futura; se for uma palavra de confirmação, o que ela está confirmando?
Ou é uma palavra nova? Ela se harmoniza com o tipo de reunião? Ela irá
interromper o andamento da reunião? Há algum elemento negativo ou de
advertência? Há muitas coisas nas quais devemos pensar aqui. A questão
crucial que muitas vezes suplantará todas as outras é: “Eu tenho
permissão divina para falar?”.
Em muitas ocasiões o poder do Espírito Santo veio sobre mim em
minha própria congregação; às vezes era algo tão forte que eu mal conseguia
me levantar. O Espírito começava a me mostrar muitas coisas. Às vezes
havia um entendimento completo. Outras vezes era uma revelação parcial
para a igreja. Em muitas ocasiões o Senhor não me deu permissão para falar
aquela palavra naquela reunião.
Às vezes Deus queria que eu orasse sobre a revelação durante vários
dias ou até semanas. Outras vezes, a revelação me levava a tempo de jejum
e intercessão pela situação. Eu não me levantava para profetizar, porque
minha obrigação era somente interceder. A profecia sempre nos oferece uma
agenda de oração.
Em algumas ocasiões eu recebia uma forte revelação profética em
minha própria igreja, mas não tinha liberdade para falar. Várias semanas
depois, depois de muita oração, eu entregava aquela mesma mensagem para
outra igreja, a milhares de quilômetros de distância dali, em outro continente.
A profecia se encaixava exatamente na situação da outra igreja.
Meu ponto é: se nos movermos unicamente com base em algo que
sentimos, ou porque temos algumas frases ou uma visão, podemos acabar
diante do microfone com muito pouco para dizer. Para cobrir nosso
embaraço, podemos elevar o tom de voz ou repetir algumas frases de efeito,
para tornar a mensagem mais aceitável.
Esse quadro, em geral, resulta em indivíduos falando de coisas
subjetivas que “sentiram”. A profecia fica fraca à medida que se torna mais
carnal. O próprio profeta pode estar experimentando algo poderoso, mas
não consegue articular naquele momento o que está vendo ou sentindo. Pode
ser simplesmente uma questão de tempo certo e de não ter buscado
permissão para falar. A profecia flutua acima da cabeça da audiência e não
encontra um lar, deixando todos confusos e desanimados.
O Senhor pode simplesmente estar dizendo ao profeta: “É com você
que eu quero falar. Ponha-se de lado!”.
Todos nós já experimentamos situações em que alguém falou
“profeticamente” e desceu um espírito de torpor desceu sobre a reunião,
causando um certo embaraço. Por “torpor” quero dizer uma incômoda
ausência de reação. Em geral esse é o resultado da profecia fraca. Muitas
vezes ocorre no final das reuniões. Pode causar uma certa confusão. Quero
sugerir que é provável que a última palavra da reunião dessa semana que não
gerou nenhuma reação de fato poderia ser a primeira mensagem da reunião
da semana seguinte. Teríamos uma semana para orar, lapidar a mensagem e
submetê-la a alguns líderes, para descobrir o que o Senhor queria dizer.
Lamentavelmente, parece que no processo de trazer mensagens
proféticas às igrejas, muitas pessoas dão adeus ao próprio cérebro. Em vez
de haver um crescimento na igreja toda (incluindo a liderança) em
relação aos procedimentos proféticos, tudo o que vemos é a introdução de
policiais de púlpito cujo principal objetivo é impedir as pessoas de ouvir as
profecias bizarras. Falaremos mais sobre isso no Capítulo Catorze.
Na distinção entre falsa profecia e profecia precária pronunciada por
pessoas imaturas, não devemos cometer o erro de rejeitar a profecia por
causa do vaso no qual ela estava acondicionada.
Nossas objeções quanto aos métodos de pronunciamento profético
não devem nos impedir de ouvir a verdade que uma profecia pode conter.
É um fato bem conhecido que o inimigo usará todos os meios possíveis para
nos impedir de receber revelações do coração de Deus.
Os testes suplementares nos ajudam a moldar o vaso, bem como a
mensagem. Nosso propósito é produzir obreiros que ouçam com nitidez e
transmitam corretamente as mensagens proféticas. A Seção B nos oferece
algumas diretrizes que são parte do processo de avaliação das mensagens e
de seus porta-vozes.
Não faça ajustes
É importante não fazer nenhum ajuste antes que o processo de
avaliação esteja completo. Precisamos esperar uma confirmação de que a)
a mensagem está correta e o b) tempo está correto (agora).
A palavra pode estar correta, mas o tempo pode estar vários anos
adiante. A questão vital nesse aspecto quase sempre se relaciona ao caráter e
à preparação. Falaremos mais no Capítulo Nove.
É muito importante escolher sempre pessoas maduras e preparadas
para avaliar e pesar uma mensagem profética. Profecia nunca é questão de
interpretação privativa. Se submetermos cada profecia a um processo de
avaliação e julgamento, não há como sairmos dos trilhos. Na primeira
instância, precisamos dos testes de microscópio da Seção A, seguidos dos
elementos de lente de aumento da Seção B, a fim de que possamos examinar
com cuidado e entender totalmente a mensagem profética.
Capítulo Oito

O papel do profeta cristão


A ênfase principal deste livro é o desenvolvimento prático do dom
de profecia, sua recepção nas igrejas locais, e o entendimento necessário para
o manuseio efetivo da profecia.
Neste capítulo nosso propósito será abordar a ampla questão do
ministério profético e a função profética. Este assunto já seria suficiente
para um livro. Não estou propondo apresentar uma exposição detalhada
nestas páginas, mas apenas proporcionar uma visão geral que nos ajude a
situar o dom profético em seu contexto mais amplo.
O dom de profecia
A profecia é como uma piscina (Figura A). Há uma parte rasa que
todos podem usar com segurança. O alvo da profecia é inspirar, encorajar,
edificar e confortar as pessoas. Trata-se de uma mensagem não diretiva, não
corretiva, que busca apenas abençoar as pessoas e glorificar a Deus em
termos simples. Quando Paulo declarou que desejava que todos
profetizassem (1 Co 14.1, 5) era este nível de profecia que ele tinha em
mente. Não se tratava de um chamado geral para que todos se tornassem
profetas.
O ministério profético
Depois da parte rasa da piscina, há uma seção intermediária onde a
água se torna cada vez mais profunda. Assim também na profecia há um
momento em que as pessoas podem se encaminhar para uma expressão cada
vez mais profunda do coração de Deus. O ministério profético é bem
diferente do dom de profecia. Muitas pessoas podem experimentar a
profecia como uma manifestação única para um tempo e propósitos
particulares.
O uso contínuo do dom de profecia nos encaminha na direção de um
ministério, deixando para trás o uso casual do dom. A capacidade de
colocar alguns tijolos enfileirados não torna o indivíduo um pedreiro.
No entanto, se continuarmos a praticar, trabalhando continuamente com
tijolos para aumentar a velocidade e a precisão, então o aumento de minha
habilidade finalmente me garantirá o título de pedreiro.
O movimento no ministério profético é similar. Significa entrar em
águas mais profundas em termos de fé, i.e., crer e receber mensagens mais
reveladoras e mais específicas e não somente mensagens gerais de
encorajamento. Isso ampliará o nosso uso do dom para incluir uma variedade
maior de pessoas, situações e atividades. Nós precisaremos considerar um
conjunto mais extenso de questões e não somente o manuseio da profecia no
âmbito da igreja local.
Por isso nós não podemos encarar a profecia como a pregação
oportuna da Palavra de Deus numa situação particular. Profecia não
significa simplesmente ter um insight especial das Escrituras. Obviamente
isso faz parte do ministério profético. Apesar disso, há uma dinâmica em
torno da profecia que a separa do ordinário e a lança no sobrenatural.
A pregação e o ensino podem falar à nossa mente, nossas
emoções e nosso espírito. A pregação inspirada pode liberar a nossa fé,
liberar a nossa mente, criar um entendimento profundo e induzir uma
resposta ao Senhor. A profecia, porém, é muito mais do que isso. A
Escritura pode proporcionar diretrizes gerais sobre uma multidão de coisas
relacionadas à nossa vida, relacionamentos, comunhão com Deus,
casamento, emprego, família, igreja e ministério. A profecia pode acrescentar
detalhes específicos aos princípios gerais. Por exemplo, a Bíblia pode nos
dizer como viver, mas não onde devemos viver. Pode nos dizer como
congregar, mas não o local de nossa igreja. Ela pode nos lembrar da
necessidade de trabalhar, mas não nos oferece informações sobre o tipo de
trabalho que devemos fazer.
Um amigo me contou como a sua igreja começou a procurar um
local para comprar, quando o lugar onde se reuniam, que era alugado, ficou
pequeno. Ao se reunir para orar, eles receberam uma mensagem bíblica
que dizia que Deus lhes daria um local. Continuaram a orar. Um dia, um
dos membros teve uma visão na qual apareceu uma construção baixa,
comprida e com portas de incêndio azuis. Na reunião seguinte, eles
contaram com a presença de um profeta visitante que lhes deu uma
mensagem profética. Falando sobre a divisão da terra de Canaã entre as
tribos de Israel (Js 18), ele se moveu numa mensagem profética que dizia:
“Deus está lhes dando um ministério entre os pobres e necessitados,
principalmente aqueles que vivem em prédios de apartamentos e o novo
prédio de vocês será perto de seis blocos de apartamento”.
No dia seguinte eles foram até a parte da cidade onde havia uma
enorme população carente. Perto de um conjunto de seis blocos de
apartamentos, havia um edifício comprido com portas de incêndio azuis! Eles
entraram no prédio para falar com o administrador, o qual contou que
acabara de receber um telefonema do dono do prédio, dizendo-lhe para
colocar a propriedade à venda! O profeta era de outro país e nunca tinha
estado naquela igreja ou naquela região do país antes.
Nós precisamos da revelação dupla: da palavra geral da
Escritura, que proporciona princípios e direção para a vida, e da palavra
específica da profecia, que acrescenta os detalhes ao quadro geral da Bíblia.
O ministério profético preocupa-se com a igreja e com a direção que
tomamos, bem como com quem liderará e como chegaremos ao nosso
destino. Todas as igrejas passam por tempos de teste, batalhas que
devem ser vencidas e obstáculos que precisam ser superados. O
ministério profético traz a perspectiva de Deus, libera a visão e o
chamado, além de enfraquecer o inimigo. Seu propósito principal é ver a
Igreja cumprindo o seu chamado. Ele atrai a atenção para a majestade e
supremacia de Deus em tempos de tribulação. Ele tem um olhar no passado e
um no futuro, mas é capaz de trazer esses dois elementos ao presente para
nos ajudar a entender o que estamos enfrentando. O ministério profético vê
a continuidade dos propósitos de Deus desde o nosso passado até o nosso
futuro. O conhecimento dessas duas coisas nos ajuda a chegar a uma
perspectiva diferente – e muitas vezes radical – dos atuais eventos. Esta
perspectiva profética acende a fé e a esperança e nos dá a energia para lutar e
seguir adiante.

A função de um profeta
A função do profeta deve continuar ao longo dessa mesma linha, mas
indo ainda mais fundo na esfera sobrenatural de ouvir a voz de Deus e ser o
seu porta-voz.
O profeta se preocupa com a santidade e a pureza da Noiva de
Cristo, buscando prepará-la. O tema recorrente será importante enquanto
edificam a Igreja e estabelecem valores do Reino e práticas para a volta do
Senhor. O profeta tem uma perspectiva do Reino que motiva a Igreja
universal na prática da unidade do Espírito.
O profeta falará para igrejas, cidades, regiões e nações. Suas palavras
serão ouvidas por todas as autoridades: líderes eclesiásticos e governantes.
Suas palavras serão acompanhadas por sinais e maravilhas, milagres de
cura e sinais claros da presença sobrenatural do Senhor e seus anjos. O
profeta reveste a Igreja de fé sobrenatural enquanto pronunciam a Palavra
do Senhor e predizem seus propósitos.
A importância do desenvolvimento
Essas coisas não ocorrem por acaso. Nós temos de olhar para a nossa
habilidade profética, praticar, e planejar melhorá-la. Eu estou
constantemente surpreso por ver como tantas igrejas enviam e encorajam
pessoas para participar de minhas conferências, mas jamais enviam uma
delegação composta por membros da liderança.
As pessoas precisam de treinamento na profecia da mesma maneira
que na oração, na batalha espiritual, adoração, evangelização e ministério de
cura. Na parte mais rasa da piscina há uma grande mistura dos nossos
pensamentos competindo com a mente do Espírito (veja Figura B). Quando
recebemos treinamento, discipulado e oportunidades de usar o dom, nós
desenvolvemos o nosso potencial de ouvir. Nós aprendemos a filtrar nossos
próprios pensamentos, e discernir a voz do inimigo e nos manter dentro da
palavra do Senhor. No ministério profético há menos mistura. Nós
crescemos no dom, estabelecemos nossa credibilidade e criamos um bom
histórico.

Quando nos movemos para a Função Profética, chegamos a um fluxo


maior de unção de revelação e responsabilidade no cenário nacional e
internacional. Todos os ministérios devem crescer. Quando interrompemos
o nosso processo de desenvolvimento, o nosso ministério atinge um nível e
fica estagnado.
Sem o treinamento adequado, o nosso dom não ultrapassa um certo
nível. Uma das principais causas de dificuldade na esfera profética hoje
em dia é a falta de desenvolvimento, de treinamento e de discipulado.
Todas as pessoas têm aspirações. Por isso a igreja se torna um
lugar excelente. Ela está repleta de pessoas maravilhosas que desejam ser
maiores e melhores para a glória de Deus. Às vezes a igreja pode ser um
lugar difícil e doloroso. Pode estar cheia de amargura e frustração. No
entanto, basta olhar mais de perto uma pessoa frustrada e descobrimos
aspirações não cultivadas. Como diz meu amigo Gerald Coates, “as
aspirações se transformam em realizações por meio do desenvolvimento”.
Os cinco dons ministeriais (Ef 4.11), apóstolo, profeta, evangelista,
pastor e mestre, têm como principal função “o aperfeiçoamento dos santos,
para a obra do ministério” (Ef 4.12, ARC).
Há vários tipos de profetas com diferentes tipos de unção. O mesmo
ocorre com os líderes das igrejas. Há diferentes unções e ministérios, e nós
não podemos forçar todos os líderes a agir da mesma maneira ou a se
envolver em ministérios similares dentro do Corpo.
Os métodos de operação e os resultados contrastarão, às vezes de
forma bem aguda, entre os indivíduos. Eu conheço ministérios proféticos que
são fundamentados na evangelização e nas situações pastorais. Outros
empregam seu dom para resolver questões difíceis, porque a sua habilidade
profética é canalizada por meio da palavra de conhecimento. Alguns
profetas são claramente envolvidos em pronunciamento, usando as
mensagens bíblicas para inspirar a congregação com uma palavra
oportuna e relevante. Outros se movem particularmente na profecia de
revelação, por meio das predições. Alguns se movem somente na profecia
pessoal, enquanto outros gostam mais de falar em termos corporativos.
Nós não podemos nos encaixar todos no mesmo molde. Portanto,
devemos ter uma atitude de “viva a diferença!”. Algumas pessoas só
conseguem se mover dentro de uma esfera de ação profética, enquanto
outras sentem-se confortáveis se movendo dentro de uma ampla variedade de
atividades proféticas. A regra mais importante é permitir que as pessoas
aprendam qual é a sua esfera específica de influência. Conhecer os limites é
tão importante quanto localizar o território. A influência e a atividade se
expandirão mediante os relacionamentos e por meio do desenvolvimento
pessoal e das oportunidades.
Aspectos dos profetas do Antigo e do Novo Testamento
Em seu ministério, às vezes o Senhor Jesus dizia “ouvistes o que foi
dito” e a seguir citava uma passagem do Antigo Testamento. A seguir ele
dizia “eu, porém, vos digo” (Mt 5). Essas novas palavras traziam mudança,
um entendimento diferente e uma nova prática.
Há muitas coisas que fluem do Antigo Testamento para a Nova
Aliança. Há algumas coisas que claramente não seguem esse curso, como o
sacrifício de animais, a poligamia e o ato de apedrejar pessoas apanhadas em
pecado.
Quando nós examinamos o ministério profético através das duas
Alianças, percebemos que há áreas de similaridade, mas também há áreas de
divergências.

Similaridades
Nas duas Alianças, as pessoas empregam títulos similares, como
profeta, homem de Deus, servo do Senhor e mensageiro do Senhor.
Existem muitas similaridades em termos da função que as pessoas
exercem como profetas. Nas duas alianças, eles agem como porta-vozes de
Deus. Eles se engajam em pronunciar e predizer. Eles pronunciam juízo e
interpretam a Lei. Eles comunicam suas profecias da mesma maneira: por
palavra falada, sonhos e visões, por ações e gestos simbólicos, estranhas
cargas e também pela palavra escrita.
As duas Alianças têm profetas de visão como Daniel e Zacarias na
Antiga e João (Apocalipse) na Nova Aliança. Nas duas Alianças há profetas
de juízo. Há profetas de Escrituras como Isaías na antiga Aliança, e como as
muitas Epístolas de Paulo, escritas com uma enorme carga profética.
Os profetas das duas Alianças se preocupam com a moralidade do
povo (Israel e Igreja, respectivamente), e se engajam ativamente na
preparação da Igreja para ser a Noiva de Cristo. Há também um forte espírito
de justiça em operação em todos os profetas que falam contra toda a
corrupção e injustiça moral, social e política. Eles são parte daquela voz no
Reino de Deus que chama todos os homens, em todos os lugares, ao
arrependimento da idolatria, do pecado e da infidelidade para com Deus.

Diferenças
Os profetas do Antigo Testamento eram também chamados de
videntes, um termo não usado pela Igreja. Na Antiga Aliança os profetas
davam orientação às pessoas que buscavam uma palavra do Senhor. Em 1
Samuel 9.4-10, Saul e seu servo saíram em busca de uns animais
extraviados e em vez disso Saul encontrou um reinado!
Buscar direção do Senhor e orientação por parte do profeta era uma
parte importante do ministério profético sob a Antiga Aliança e que foi
totalmente banida na Nova Aliança.
Sob os termos da Nova Aliança todos nós recebemos o Espírito Santo
e podemos experimentar um relacionamento íntimo com o Senhor.
Orientação é resultado de um relacionamento correto com Deus. No Antigo
Testamento, os sacerdotes representavam os homens diante de Deus e os
profetas ouviam a voz de Deus e a transmitiam aos homens.
Agora nós temos Jesus Cristo, o grande Sumo Sacerdote e o
Espírito Santo, que é nosso Ajudador e que habita em nós. Nenhum profeta
do Novo Testamento jamais foi usado para profetizar mensagens que
guiavam, ou governavam as pessoas na vontade de Deus. Em vez disso,
eles eram usados para dar confirmação às pessoas. Mesmo quando
recebemos palavras novas ou futuras, nós somos instruídos a avaliar e pesar
tais palavras, esperando uma confirmação.
Há uma checagem sobre este tipo de atividade na Igreja, pelo
processo de examinar cada mensagem profética. Os profetas cristãos
não dizem às pessoas o que elas devem fazer – eles apenas confirmam o que
Deus está dizendo. Buscar num profeta cristão direção ou orientação é
violar a Nova Aliança que nos oferece acesso direto e o privilégio de nos
aproximar de Deus por meio de Cristo, pelo Espírito Santo. As pessoas
não “precisam” de profecia – elas precisam de Jesus Cristo. Não há
absolutamente necessidade de buscar profecias. As pessoas do Novo
Testamento recebem orientação, direção e supervisão em suas vidas mediante
a Escritura, que é infalível e mediante a habitação do Espírito Santo. A
profecia, bem como outros ministérios, pode confirmar o que nós recebemos
pessoalmente do Senhor.
Nós precisamos entender a diferença entre direção e profecia
diretiva. A direção ocorre quando as pessoas procuram o profeta e pedem
que lhes dê uma revelação profética para suas vidas ou situação (1 Sm 9).
Trata-se de uma abordagem da Antiga Aliança porque o Espírito Santo veio
sobre as pessoas.
Na Nova Aliança, o Espírito Santo habita dentro das pessoas e as
ensina a reconhecer a voz do Senhor por si próprias. Portanto, uma profecia
diretiva é uma palavra não buscada, compartilhada soberanamente pelo
Senhor em nossas vidas, para trazer confirmação ou abrir nossas vidas para
um propósito completamente novo. A iniciativa fica totalmente com o
Senhor. No entanto, nós devemos avaliar e pesar tudo, de forma responsável.
Quando procurados para dar direção, os profetas cristãos devem
fazer perguntas para examinar a qualidade da caminhada do indivíduo com
Deus. Nós não podemos assumir o lugar de Deus nesta área, mas devemos
incentivar as pessoas a melhorar o seu relacionamento com o Senhor Jesus
por meio das atividades do Espírito Santo.
Na Antiga Aliança os profetas eram alguns dos principais
historiadores e foram usados para escrever a Escritura infalível. Este
aspecto do seu ministério foi dado aos apóstolos na Igreja primitiva, os
quais, como João, podem ter tido um forte elemento profético acrescentado
aos seus dons.
No Antigo Testamento, os profetas eram muito diretos ao
repreender, advertir e disciplinar o povo e muitas vezes foram
usados para denunciar o povo e seus pecados. Na Igreja, os
profetas ministram palavras de exortação, ensinando exemplos e
confirmações. O evangelho é redentor e nós estamos servindo ao Deus da
graça e da misericórdia. Portanto, nossos pronunciamentos proféticos são
temperados pela mensagem do Reino.
Os profetas cristãos não devem ter a função ou a personalidade dos
profetas do Antigo Testamento. Antes do tempo de Jesus, os profetas
eram temidos. Eles eram indivíduos excêntricos, autoritários e assustadores
que entregavam mensagens grandiosas, muitas vezes com um senso de
urgência e de juízo iminente que parecia pairar sobre as cabeças das pessoas.
Eles eram estranhamente independentes, difíceis de conviver e muitas vezes
extremamente impopulares. Não se sabe se a falta de aceitação se devia à
aparência deles, personalidade ou ao conteúdo das mensagens (ou uma
combinação de tudo isso).
O profeta cristão, por outro lado, deve exibir o fruto do Espírito com
toda graça e humildade. Devem ser membros responsáveis do Corpo de
Cristo e viver sob a autoridade enquanto agem como membros de uma equipe
e não como um ministério individual.
No Antigo Testamento, na maior parte do tempo, o ministério
profético era uma bênção que ao longo dos séculos revelava o coração de
Deus aos homens. No Novo Testamento, o ministério profético é um
ministério de edificação, trabalhando com os apóstolos para lançar o
fundamento e estabelecer a Igreja como a Casa do Senhor. Por esta razão o
ministério profético está sujeito ao ministério apostólico e fica sob a sua
autoridade (1 Co 12.28,29).
O último profeta da Antiga Aliança, João Batista, submeteu sua vida e
ministério aos pés de Jesus, que é o primeiro de uma nova linhagem
profética no Novo Testamento.
Lamentavelmente, muitas pessoas estão apresentando um ministério e
personalidade no modelo do Antigo Testamento, no ambiente da Igreja do
Novo Testamento. Isso, eu creio, se deve ao grande número de filmes de
terror, mal entendidos e interpretações errôneas que diminuem o ministério
profético e desacreditam esse dom. Eu já vi muitas vezes, em nossas Escolas
de Profecia, pessoas com dom e potencial, mas com um entendimento
limitado, e que buscam uma unção do Antigo Testamento.
Pessoas que têm o dom profético, mas são imaturas, muitas vezes
tentam entender palavras negativas, julgamentos e pronunciamentos sem um
entendimento preciso da graça ou como lidar com as próprias
frustrações, sentimentos de rejeição e falta de humildade. É preciso tempo,
esforço e treinamento especializado para tirar essas coisas e desenvolver os
profetas cristãos a fim de que se encaixem na Igreja do Novo Testamento.
O profeta cristão
Ironicamente, o propósito de um profeta do Novo Testamento não é
primariamente profetizar! Primeiro, ele deve treinar as pessoas para ouvir
ao Senhor por si mesmas. Segundo, é ensinar os crentes como descobrir a
vontade de Deus e viver nela. Terceiro, é instruir e treinar as pessoas no dom
de profecia, ajudando as igrejas a estabelecer o ambiente e os
procedimentos corretos em torno desse ministério. Finalmente, é trazer a
palavra do Senhor por meio da pregação inspirada ou pelos pronunciamentos
proféticos sobrenaturais.
Obviamente essas áreas não se apresentam necessariamente nesta
ordem. Tudo pode depender de onde a igreja local se encontra em termos
espirituais quando recebe a visita de um profeta. Eu usei esta ordem para
ilustrar como é importante que as pessoas ouçam a Deus, conheçam a sua
vontade e sejam treinadas no dom profético.
O profeta do Novo Testamento é chamado para manter um
relacionamento funcional com o ministério apostólico. Esta interação
proporciona o ambiente e o equilíbrio necessário para os dois ministérios.
O profeta do Novo Testamento funciona como um agente
catalisador dentro da Igreja, i.e., eles fazem as coisas acontecerem. Deus
tem abundantes planos e propósitos para a sua Igreja. O profeta tem visão
e chama a Igreja (e os indivíduos) para entender e aceitar esses planos e
propósitos. Deus continua revelando os seus planos para os seus servos, os
profetas.
Deus está sempre falando. Infelizmente, porém, nem sempre a
Igreja está ouvindo. Pessoas incapazes de discernir a voz do Senhor
muitas vezes têm palavras no coração das quais não sabem a origem. Muitas
vezes eu já profetizei para pessoas e foi como se uma lâmpada se acendesse.
Subitamente a iluminação vem: “Então é assim!”.
As pessoas se preocupam demais em receber coisas novas e deixam
de fazer algo a respeito daquilo que o Senhor já lhes falou. Com frequência
eu profetizo para pessoas e a resposta delas é: “Eu já sabia disso. Conte-me
algo que eu não saiba”. As pessoas sempre querem algo novo. Esta
preocupação exagerada com novidades realmente pode nos impedir de
ouvir a voz do Senhor de forma renovada. Aqui estou eu, um completo
estranho, profetizando todas essas coisas aos corações e as pessoas não
percebem a importância do que está acontecendo!
Na verdade a questão deveria ser: “Se você já sabe de tudo, então
por que Deus me enviou para lhe dizer estas coisas?”. Pode ser que o
momento seja oportuno para que essas coisas comecem a acontecer. Depois
de cada chamado e revelação de visão, há um tempo de morte e
sepultamento. Isso é chamado de preparação, quando o Senhor coloca o
nosso chamado na prateleira e trata de quem nós somos como pessoas.
Durante esse tempo “no chão”, a realidade do chamado se afasta de nós por
um tempo. Portanto, quando subitamente alguém começa a reafirmar o
nosso chamado profeticamente, pode ser o tempo que o Senhor está
abrindo as portas e fazendo as coisas acontecerem.
Por outro lado, nós podemos profetizar coisas que as pessoas já sabem
simplesmente porque elas não obedeceram a palavra original. Deus não fala
coisas sem importância. A palavra de Deus deve criar em nós algo que
garanta o cumprimento.
Talvez uma das respostas para o “eu já sei disso”, que gera
impaciência e desapontamento nas pessoas seja perguntar-lhes o que fizeram
em relação à mensagem original.
Os profetas também são ativos em termos de preparação. Eles
preparam as pessoas para o Senhor como em Isaías 40.3 e Lucas 1.17. Além
disso eles trabalham com os outros quatro ministérios para equipar e
preparar os santos para a segunda vinda de Cristo.
Parte dessa preparação consiste em receber e compartilhar
revelações específicas sobre a Terra. O apóstolo Paulo e, presumivelmente, o
profeta Silas (seu companheiro) receberam revelação como parte do seu
ministério (Ef 3.1-7). Uma revelação verdadeira sempre causa revolução.
Há muitas mensagens que devem se cumprir antes da volta de Cristo
e nós precisamos da revelação profética para interpretar esses sinais. Onde
houver profetas ativos e confiáveis a Igreja não tropeçará na ignorância.
Deus não faz nada sem comunicar aos profetas (Am 3.7).
É preciso um profeta para que os sinais sejam interpretados
corretamente. Os escribas e fariseus não discerniram o maior de todos os
sinais, o Messias caminhando entre eles. Foi preciso que João Batista
dissesse:
Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! ... Pois eu, de
fato, vi e tenho testificado que ele é o Filho de Deus (Jo 1.29, 34)
Os profetas também estão preparando a Noiva de Cristo, literalmente
“preparando um povo para o Senhor”. A Igreja é este povo, pessoas especiais
(embora não pareça!) que foram compradas por um alto preço: o sangue do
Senhor Jesus. É este grupo de pessoas que Deus está santificando e
purificando, para apresentá-lo sem mancha, rugas ou mácula. Um povo de
santidade e glória (Ef 5.25-27).
A Noiva deve estar no centro de tudo em termos de beleza e
preparação. Sem nenhuma mancha de imaturidade adolescente ou as rugas de
uma velhice senil e improdutiva. Jesus está se casando com uma Igreja
composta por pessoas feitas à sua imagem, cheias de justiça e de graça (Os
2.19,20), uma virgem casta (2 Co 11.2).
Os profetas são ativistas. Eles participam da equipe de
“aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério” que toda igreja deve
ter em nossos dias (Ef 4.11).
Timóteo foi exortado a “não negligenciar o seu dom, que lhe foi
dado mediante profecia”. Esse dom foi-lhe concedido por meio da
imposição de mãos do presbitério (1 Tm 4.14). É fundamental que
coloquemos os santos em ação na Igreja e no mundo. Algumas pessoas
são de “igreja”, no sentido de que todo o seu foco ministerial e influência são
voltados para o Corpo de Cristo. Outras pessoas são pessoas do Reino, e
possuem sua principal esfera de influência no corpo mais amplo e no mundo
secular. Alguns cristãos são chamados para ser policiais, professores,
políticos, jornalistas, propagandistas, ou envolvidos em obras sociais e na
legislação.
É interessante notar que quando um membro ungido da igreja
discerne um dom em outra pessoa, a profecia pode despertar a atenção da
pessoa pra o seu dom. No entanto, quando um apóstolo ou profeta impõe as
mãos sobre uma pessoa, o que ocorre é que ela recebe o dom naquele
momento.
Atualmente nós temos uma Igreja subnutrida no mundo porque os
ministérios de Efésios 4 não assumem o seu lugar correto em grande parte
da Cristandade. Esses ministérios equipam as pessoas para que se unam e
trabalhem juntas, cada uma dando a sua contribuição. A Igreja cresce à
medida que cada membro é efetivo em seu trabalho (Ef 4.16).
Os verdadeiros profetas promovem o ministério e têm paixão para
treinar e liberar outros para o ministério.
Os profetas também têm a responsabilidade de declarar as
mensagens do Senhor, i.e., fazer pronunciamentos. É comunicar o coração
de Deus para a época presente. Este pronunciamento pode ser por meio de
pregação, ensino, mensagens proféticas, visão, interpretação e atos
simbólicos. Ele serve para exortar, edificar, confortar e admoestar, trazendo
advertências ou repreensões (Ap 2,5).
Outro aspecto do papel profético é a profecia chamada de
predição, i.e., comunicar eventos futuros conforme se delineiam no
coração e na mente de Deus. Ela é usada para dar direção à Igreja; para
gerar um desejo pela piedade; para capacitar e liberar as pessoas. Muitas
vezes o Senhor já me capacitou para entender a história de uma igreja, ver
seu futuro em termos de visão e de chamado. E a seguir trazer essas duas
coisas para o tempo presente de uma forma que ajuda as pessoas a ter um
sentido real do que está acontecendo.
Certa vez eu falei com uma igreja sobre a necessidade de ter um
espírito de reconciliação em relação ao ministério com os pobres, e para com
os lares e casamentos desfeitos. Eles precisavam trabalhar em favor da
unidade na igreja. Antes o Senhor havia me mostrado que a história daquela
igreja estava repleta de situações de divisão. Eu também vi que atualmente
havia um sentimento de frustração e havia dificuldades nos trabalhos.
Colocando todos esses elementos juntos, eu sugeri que houvesse um
tempo de oração e jejum pela igreja. Durante esse período tivemos vitória e
expulsamos da igreja várias influências demoníacas que estavam assolando
os trabalhos. Não há nada melhor do que um período de jejum para
enfraquecer o inimigo.
Os profetas devem trabalhar bem próximos dos outros cinco
ministérios. Há várias parcerias que o Senhor pode criar em tempos
diferentes. Na Igreja primitiva vários profetas viajavam juntos como uma
equipe (At 11.27). Em minha experiência, trabalhar em equipe produz
resultados melhores do que trabalhar sozinho. O ferro afia o ferro.
Obviamente mais coisas podem acontecer mediante o trabalho de uma
equipe. Recentemente, durante uma conferência na Alemanha, minha equipe
foi tomada por um espírito de profecia, quando centenas de pessoas
receberam mensagens proféticas e houve evidências de curas e livramentos
em todo o auditório. Profetas trabalhando juntos podem inspirar um ao outro
e chegar a um nível mais elevado de unção.
O trabalho em equipe nos capacita a encorajar e fortalecer as igrejas
como Judas e Silas fizeram no livro de Atos (15.32). Pessoalmente, eu
gostaria de ver igrejas em todas as partes do mundo realizando Escolas
de Profecia e encorajando as pessoas a trabalharem juntas no ministério.
Profetas e mestres trabalhavam juntos em Antioquia (At 13.1-3).
Eles foram usados como instrumentos no chamado e liberação de Paulo e
Barnabé para a obra missionária. Trata-se de uma interessante combinação,
pois os dois amavam a Palavra de Deus, embora se aproximassem dela de
formas diferentes.
Os mestres desejam consolidar a mensagem do evangelho,
assegurando que as pessoas estão praticando o que aprenderam. Meu amigo
Martin Scott diz que nada está ensinado enquanto não for assimilado.
O profeta está sempre trabalhando para ir adiante em novas
revelações e buscando desafios, batalhas para vencer e obstáculos para
superar.
Um profeta pode transmitir uma mensagem revelando todo o
panorama profético daquilo que a igreja deve fazer em sua comunidade.
Pode haver numerosos aspectos relacionados à visão, mas nenhum passo
claro que mostre como chegar lá. Um mestre entrará em cena e vislumbrará
uma estratégia sobre os passos relevantes ao longo do caminho, mediante
os quais a igreja possa ser equipada e preparada para o seu papel no futuro.
Os mestres tornam as coisas acessíveis.
Semelhantemente, o mestre precisa do profeta para abrir novos
horizontes, o que por sua vez inspira as pessoas a receberem revelação. Os
profetas também podem pegar o ensino e lhe dar uma aplicação profética que
resulta numa resposta por parte das pessoas àquilo que o Senhor está
dizendo.
Alguns profetas podem usar também o dom de ensino, embora não
necessariamente no mesmo grau de intensidade. Do mesmo modo, os mestres
podem profetizar embora talvez não com a mesma autoridade e poder. Não é
necessário haver nenhum conflito entre os dois ministérios, desde que
entendam seus papéis individuais e tenham respeito mútuo.
Apóstolos e profetas são claramente unidos nas Escrituras (Ef 2.20).
O fundamento adequado na Igreja não pode ser estabelecido sem esta
parceria. O profeta verá o resultado final em termos do edifício que
Deus está construindo. O apóstolo, como sábio construtor, tem a
capacidade de construir tijolo por tijolo.
A cada estágio da obra, profecias e palavras de sabedoria serão necessárias
para manter as coisas nos devidos lugares. Há um papel duplo de edificar e
fortalecer a Igreja, equipando e liberando os santos a fim de que a igreja
cresça. Quanto maior a construção, mais pessoas terão de ser liberadas e
equipadas para participar.
Muitas vezes se diz que profetas e pastores não se misturam. Isso é
uma mentira. É verdade que pode haver maior tensão neste relacionamento
do que nos outros. No entanto, eu creio firmemente que tensão nem sempre
quer dizer que haja algo errado. Pode indicar simplesmente que algo está
acontecendo. Os profetas têm uma forma de revirar o solo e causar
distúrbio. Às vezes é o que precisa ser feito. Eu conheço muitos pastores que
quando encontram um solo duro, simplesmente estendem um tapete e
deixam as coisas como estão! Por definição, a profecia é agressiva,
estimulante e provocativa. O trabalho pastoral consiste em restaurar a calma
e a ordem. Os profetas desafiam, enquanto os pastores acalmam.
Eles precisam de entendimento mútuo. Os profetas precisam
procurar os pastores e compartilhar suas cargas. Os pastores precisam ter
acesso à revelação profética, não para diluí-la, mas para incluir a sua
sabedoria na situação. Então, juntos, devem apresentar uma solução unificada
para a igreja: uma parceria que deve ser vista e apreciada. Com demasiada
frequência uma mensagem profética é transmitida sem nenhuma consulta
prévia. O pastor se coloca na defensiva e rapidamente os membros
percebem a tensão e a discórdia. Alguns tomarão o partido do profeta,
enquanto outros se alinharão com o pastor, na esperança de evitar qualquer
problema. É assim que surgem as divisões e as facções.
A cooperação e a oração antes, durante e depois da profecia
garantirá que todos assimilarão a mensagem, os planos do inimigo serão
frustrados e a igreja seguirá adiante em seus propósitos. Os pastores
precisam ter acesso ao ministério profético depois que a profecia é
transmitida.
Quando um pedaço de solo é arado e a terra é revirada, pode brotar
toda sorte de coisas. A profecia pode revelar muitas coisas e é correto e
apropriado que o profeta ajude a corrigir as coisas. Os profetas que vêm de
fora devem estar dispostos a formar uma equipe de trabalho com os
pastores e profetas locais.
Se eu sei que a minha mensagem profética para a igreja é séria,
de correção ou direção, eu peço com antecedência para ter uma reunião com
certas pessoas da igreja. Eu tento garantir que depois que for embora a
profecia que entreguei ficará em boas mãos. Também quero garantir que
eles possam me encontrar para perguntas, discussão ou planejamento. Nesses
momentos pode se criar uma estratégia muito valiosa, com base na situação.
Quando estamos juntos, todos nós fazemos parte de uma equipe e
precisamos agir em acordo. Os profetas devem formar parcerias funcionais
que glorifiquem o Senhor, enfraqueçam o inimigo e edifiquem o Corpo de
Cristo.
Capítulo Nove

Ser ou não ser?


“Ser ou não ser?” foi a pergunta que Hamlet fez a si mesmo no Ato
três, cena dois, da tragédia de Shakespeare. Hamlet estava deliberando
sobre se era melhor viver e lutar para mudar as circunstâncias ou
desistir e morrer.
Provavelmente nós precisamos fazer a nós mesmos uma
pergunta semelhante em relação às profecias que recebemos. Nós
permitiremos que ela viva, ou deixaremos que morra? Claramente vemos que
a resposta que damos ao Senhor quando ouvimos a sua Palavra é de
importância fundamental. Por isso Tiago nos exorta “sejam praticantes da
Palavra e não somente ouvintes” (Tg 1.22-24). Pessoas que apenas ouvem a
Palavra estão sempre inclinadas ao engano, porque continuamente esquecem
aquilo que o Senhor lhes falou.
É muito fácil perder de vista parte do senso do poder, da glória, da
maravilha e do milagre de ouvir Deus falando em nossas vidas. O Deus
Todo-poderoso, o Criador de todas as coisas tem um coração tão grande que
pode se relacionar ao mesmo tempo com milhões de pessoas. Ele encontra
tempo para ouvir, falar e responder milhões e milhões de orações feitas todos
os dias. Ele transmite mensagens de amor, de paz, verdade e bênção.
Quando Deus fala, Ele o faz com um propósito: criar vida,
esperança, fé e a consciência da sua presença na vida do seu povo.
Ele deseja trazer mudanças, ajustes, correção, direção, renovação,
restauração e encorajamento. Suas palavras sempre são estratégicas, contendo
um propósito real e revelando seu coração e seus planos para nós. Em tudo
isso, Deus espera uma resposta da nossa parte. Neste capítulo nós veremos
os elementos da nossa resposta e examinaremos algumas das consequências
do nosso fracasso em responder às mensagens do Senhor.
Fatalismo cristão
Antes de examinarmos essas questões, precisamos reconhecer a
mentalidade de “Deus falou, então vai acontecer”. As pessoas se tornam
fatalistas com muita facilidade, porque isso convém aos seus propósitos e as
isenta de qualquer responsabilidade.
Durante os últimos vinte anos no ministério profético, muitas vezes eu
já me deparei com a atitude “Deus vai fazer tudo, o homem não tem de
fazer nada”. As pessoas com esta mentalidade com frequência citam as
passagens bíblicas abaixo, para fundamentar seus argumentos.
“Bendito seja o Senhor, que deu repouso ao seu povo de Israel,
segundo tudo o que prometera; nem uma só palavra falhou de todas
as suas boas promessas, feitas por intermédio de Moisés, seu servo”
(1 Rs 8.56)
“Eu, o Senhor, falarei, e a palavra que eu falar se cumprirá e não
será retardada; porque, em vossos dias, ó casa rebelde, falarei a
palavra e a cumprirei, diz o Senhor Deus” (Ez 12.25)
“Assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para
mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a
designei” (Is 55.11)
Vamos olhar cada passagem individualmente, começando com 1 Reis
8. Primeiro, nós temos de concordar que as promessas divinas para Israel não
falharam. Elas se cumpriram plenamente, de forma maravilhosa. No entanto,
elas se cumpriram na segunda geração. A primeira geração, a que saiu do
Egito, e que recebeu as promessas, não viu o seu cumprimento. Essas
palavras proféticas, declaradas primeiro por Moisés em Êxodo 6.6-8,foram
canceladas em Números
14.20-23 em favor da primeira geração de israelitas livres.
A questão aqui não é se a promessa do Senhor se cumpriu, mas quem
recebeu a promessa!
Também é interessante notar os versículos seguintes na passagem de 1
Reis 8 (vs. 57-61), nos quais, depois de falar que a Palavra de Deus não falha,
Salomão declara que há quatro requisitos/respostas e mais um mandamento,
que precisam ocupar o lugar central em nosso coração.
(1) A presença de Deus deve estar conosco (v. 57);
(2) Nosso coração deve se voltar para Deus, a fim de obedecê-lo em
tudo (v. 58);
(3) Nossas orações serão ouvidas e nossas necessidades serão
supridas (v. 59);
(4) A glória de Deus será vista em toda a Terra (v. 60).
A seguir ele diz: “Seja perfeito o vosso coração para com o
SENHOR, nosso Deus” (v. 61).
Passando para Ezequiel 12, vemos que o v. 12 mostra o
contexto de Israel sendo uma nação rebelde. Eles tinham olhos, mas não
enxergavam; tinham ouvidos, mas não ouviam, pois eram rebeldes (v. 2). O
profeta falava profeticamente do exílio de Israel na Babilônia. A resposta do
povo foi: “A visão que tem este é para muitos dias, e ele profetiza de tempos
que estão mui longe” (v. 27). Em outras palavras, achavam que não
precisavam responder; a mensagem podia esperar!
Nessas condições, a falta de pesar e de arrependimento da parte deles
ocasionou o cumprimento da mensagem de julgamento, como a nossa falta de
resposta nos priva da bênção.
Quando examinamos Isaías 55.11, temos de ter duas coisas em
mente. Primeiro, há uma diferença entre a profecia bíblica e a profecia
pessoal. Segundo, não devemos confundir a questão entre o livre-arbítrio
humano e a soberania de Deus.
A profecia nas Escrituras se relaciona aos propósitos supremos de
Deus para a Terra e para o seu povo. Ele declara o final (Apocalipse) e o
princípio (Gênesis) e desde os tempos mais remotos ... seu propósito será
estabelecido e seu beneplácito será cumprido (Is 46.10).
Todas aquelas palavras se relacionam à aliança eterna de Deus com o
seu povo. Tendo nos dado o seu Espírito, Ele declara que a sua Palavra
jamais se afastará dos nossos lábios e nem dos nossos descendentes, agora e
para sempre (Is 59.21). Neste contexto, Jesus declarou “o céu e a terra
passarão, porém as minhas palavras não passarão” (Mt 24.29-35).
A profecia das Escrituras contida em Isaías 55.11 sempre aponta para
um Deus imutável que é o mesmo ontem, hoje e para sempre. Ele tem
propósitos fixos e por isso transmite profecias fixas que sem dúvida se
cumprirão, embora não necessariamente na geração que a recebeu primeiro.
Nós não devemos considerar as profecias a indivíduos nesse mesmo
nível. Isaías 55.11, sem dúvida se refere a uma profecia bíblica, o desejo
supremo de Deus para a Terra e a Humanidade. Neste contexto, a Palavra
de Deus se cumprirá e seus propósitos serão alcançados.
Eu creio, porém, que essa profecia contém também o ideal de Deus
para os indivíduos. Se fôssemos perguntar a intenção de Deus para cada
profecia pessoal pronunciada a indivíduos, creio que Ele apontaria para esse
versículo como o padrão do seu desejo para nós. Nós sabemos, porém, que o
desejo e intenção de Deus não suplantam o nosso livre-arbítrio. Ele não
impõe palavras pessoais a nós com base em sua soberania. Ele fala
graciosamente sobre possibilidades e não inevitabilidades.
Como nós vimos em Números 14, uma profecia foi cancelada em
relação a dois milhões de adultos e depois foi reativada para seus filhos
adolescentes e crianças. Saul teve uma mensagem pessoal cancelada em 1
Samuel 13. De fato, o Senhor disse a Samuel que tinha se arrependido de ter
colocado Saul como rei, porque ele tinha deixado de seguir ao Senhor e não
obedeceu as suas palavras (1 Sm
15.11). Neste ponto, Deus está expressando tristeza e não admitindo que
cometera um erro. Sua intenção era que Saul recebesse a promessa
completa. A realidade dos fatos foi uma tristeza.
Durante 23 anos Jeremias profetizou continuamente para Israel,
proclamando a mensagem, “convertei-vos agora, cada um do seu mau
caminho e da maldade das suas ações” (Jr 25). Muitos profetas falaram a
mesma coisa para a nação. A intenção e o desejo de Deus era ver Israel se
arrependendo. Durante 23 anos, a palavra do Senhor tinha sido
graciosamente pronunciada, mas não houve nenhuma resposta.
Indo além na história de Israel como nação, descobrimos alguns
princípios fundamentais que baseiam cada pronunciamento profético dado
àquele grupo de pessoas. Levítico 26.14-33 expressa em detalhes a
penalidade para a desobediência à palavra do Senhor, à rejeição dos seus
estatutos e à quebra da sua aliança: problemas de saúde; destruição pelos
inimigos; uma terra improdutiva e céu de ferro; pragas; ataques de animais
selvagens; pestes; escassez de comida; canibalismo; desolação nas cidades
e por toda a terra, culminando com o exílio e cativeiro. Em sua história, Israel
sofreu tudo isso.
Deuteronômio 28 continua com o mesmo tema, começando com as
bênçãos decorrentes da obediência à palavra de Deus e a seguir mostrando
as maldições decorrentes da desobediência. O v. 14 é central neste tema:
“Não te desviarás de todas as palavras que hoje te ordeno, nem para
a direita nem para a esquerda”
Quando Deus fala profeticamente em nossa vida pessoal, sua
intenção e seu desejo é que aquilo que foi falado aconteça. No entanto,
não deve haver nenhuma idéia de fatalismo no coração do cristão. Não
devemos cair na armadilha da síndrome de Doris Day, “O que será, será!”. A
profecia pessoal sempre fala em termos potenciais e nunca de coisas
inevitáveis ou inescapáveis. Temos de dar uma resposta positiva.
Há três pontos que temos de levar em conta ao responder à mensagem de
Deus e evitar obstáculos potenciais para o cumprimento da profecia.
A. Aceitação e Reconhecimento
B. Absorção e Assimilação
C. Submissão e Apego
Se quisermos tirar Nota 10 em nossa resposta ao Senhor, temos de
considerar com cuidado esses pontos.
SEÇÃO A – ACEITAÇÃO E RECONHECIMENTO
A Seção A trata das questões de criar uma recepção favorável à
profecia. Também explora a necessidade de concordar com os termos
apropriados na resposta à mensagem e da confissão de fé e o ato de se
apossar da palavra com ações de graças. Também examinaremos a
importância de lutar na defesa da profecia e identificar os obstáculos que
impedirão o seu cumprimento.
A fim de dar uma boa resposta à profecia, temos de ter certeza de
que ouvimos a mensagem corretamente. Na recepção da mensagem
profética, é um erro muito comum as pessoas ouvirem apenas os elementos
que se aplicam ao momento atual. As partes principais da profecia podem se
referir a um tempo futuro e podem fazer pouco sentido no momento atual.
Por isso é muito importante registrar as mensagens proféticas. Isso nos
permitirá olhar de uma forma mais objetiva para a palavra e selecionar as
partes que são para agora e as que dizem respeito a um futuro previsível.
Muitas vezes nossa recepção imediata da profecia é feita num nível
muito subjetivo e nossa resposta com frequência segue esse padrão de
comportamento. Certifique-se de que a mensagem profética seja registrada e
a seguir preste atenção ao que está sendo falado.
Opiniões estabelecidas obstruem a resposta
Muitas pessoas vivem baseadas em preconceitos sobre si
próprias e sobre Deus. A teologia delas pode impedir uma boa resposta
à mensagem profética. Há um excelente exemplo disso em Mateus 16.21-
23, onde Pedro discordou de Jesus a respeito de uma profecia que ele
acabara de pronunciar! Jesus estava falando profeticamente sobre a sua
morte, sepultamento e ressurreição. Os discípulos não entenderam. A palavra
trouxe confusão, tristeza e incompreensão. Não era a intenção de Jesus que
eles se sentissem daquela forma. Nem sempre nós podemos culpar o
profeta ou a profecia pela confusão que pode ser gerada. A confusão
surgiu porque a mensagem profética entrou em choque com a mentalidade
dos ouvintes.
Pedro se levantou e repreendeu Jesus, dizendo, “Senhor, de modo
nenhum isso ocorrerá”. Em outras palavras, ele estava afirmando que
Jesus estava errado e não sabia o que iria acontecer. Por quê? Pedro se
ressentiu e rejeitou a palavra profética porque ela não estava de acordo
com os seus objetivos pessoais em relação a Jesus. A mensagem não
concordava com as suas pressuposições sobre o Cristo. Os judeus tinham
um conceito político da vinda do Messias. Uma palavra contrária a essa
idéia, mesmo que fosse uma mensagem profética do próprio Jesus sobre a
sua morte e sepultamento era incompreensível e inaceitável. A palavra de
Jesus não se harmonizava com o entendimento de Pedro, de modo que ele a
rejeitou. Ela entrou em choque com a mentalidade dele.
Há muitos problemas similares ao nosso redor hoje em dia. Certa
vez eu compartilhei uma mensagem profética com um homem que era
ministro anglicano, a qual consistia de três palavras de conhecimento
sobre a sua infância. Eu não tinha como conhecer aqueles detalhes. Ele
olhou para mim e disse que não podia negar a exatidão das minhas palavras,
mas que não acreditava em profecia! Em sua opinião, a Igreja precisou de
profecias para ser inaugurada há dois mil anos atrás, mas hoje nós não
precisamos de profecia porque temos a Bíblia. Algumas pessoas exaltam a
Bíblia quase ao ponto de colocá-la como a quarta pessoa da Trindade. Mas a
Palavra de Deus é Jesus. A Bíblia é a Escritura da Palavra de Deus.
A Bíblia é muito clara em Apocalipse 19.13, ao falar sobre a
Segunda Vinda de Cristo:
“Estava vestido de uma veste salpicada de sangue, e o nome pelo qual
se chama é a Palavra de Deus” (ARC)
O Evangelho de João é iniciado com uma declaração maravilhosa:
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus. Ele estava no princípio com Deus” (Jo 1.1)
Novamente, em 1 João 1.1 nós somos informados sobre as coisas
que tocamos, contemplamos e ouvimos desde o princípio, concernentes à
Palavra da Vida.
“O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de
verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo
1.14).
João deu testemunho dessa pessoa, a Palavra que se tornou carne, o
homem Jesus. A Bíblia é bem clara a respeito de quem é a Palavra de Deus!
Ela também diz o seguinte sobre si própria:
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que
o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda
boa obra” (2 Tm 3.16,17)
Às vezes os evangélicos me surpreendem com a maneira que
defendem a Bíblia. Eu os admiro por isso. Mas é lamentável, porém, que
muitos não vivem e não praticam aquilo que defendem. Se nós
praticássemos a Palavra de Deus com o mesmo zelo com que a defendemos,
provavelmente não veríamos os abusos que vemos hoje dentro do ministério
profético! É irônico que a nossa falta de entendimento e de experiência para
com a Palavra revelada das Escrituras tenha uma influência tão profunda
sobre a forma como recebemos profecias.
Não será uma versão com letras douradas da Bíblia que voltará
montando um cavalo branco no final dos tempos. É Jesus, com uma espada
saindo de sua boca. Jesus, a encarnação viva da Palavra de Deus.
A Bíblia é a mensagem escrita, e é maravilhosa. Nela nós podemos ler sobre
o coração e o caráter de Deus, quem Ele é, como Ele é, e as coisas que Ele
pode fazer. A Bíblia é um presente maravilhoso que nós recebemos de Deus!
Todos os cristãos devem ter um profundo amor pela Bíblia. No entanto,
devemos dedicar a nossa adoração e a nossa reverência para a pessoa do
Senhor Jesus Cristo. A Bíblia não é o quarto membro da Trindade. É triste
constatar que muitos cristãos colocam a Bíblia acima da pessoa do Espírito
Santo. Elevam as Escrituras a um nível no qual negam a pessoa e a obra do
Espírito na igreja dos nossos dias.
O ministro anglicano ao qual eu entreguei a profecia não sabia o que
fazer com ela. Ele me telefonou e fez várias perguntas: “Eu não sei o que
fazer. Será que devo colocar esta profecia no final da minha Bíblia e começar
algo novo no cânon das Escrituras?”. A profecia entrou em choque com suas
opiniões e pensamentos e por isso ele procurou o Bispo seu superior, o qual
lhe disse que a profecia parecia suspeita e o aconselhou a rejeitá-la. O
ministro obedeceu. Ele me ligou novamente e disse que não podia aceitar a
mensagem profética porque ela entrava em choque com suas opiniões e
convicções. Por causa disso, ele é um homem mais pobre. Ele não podia
negar a exatidão da mensagem, pois ela continha detalhes que jamais
contara a ninguém, sobre seus sonhos e aspirações de muitos anos. Ele
chorou ao telefone. Deus falara uma palavra em sua vida, mas ela não se
harmonizou com as suas opiniões pessoais.
O testemunho do espírito
Há um testemunho inicial do espírito ao qual nós temos de prestar
atenção em primeira instância. Para ter esse “testemunho do espírito”, nós
precisamos reconhecer a voz de Deus. Temos de reconhecer não somente a
voz do profeta, mas também nos sintonizar espiritualmente com a presença
de Deus e ter consciência de que ele está falando. A profecia comunica
coração com coração e espírito com espírito. Quando alguém está falando
profeticamente, seu espírito dá testemunho dessa mensagem e você sente que
algo em seu interior está se conectando à mensagem. Isso significa
reconhecer a voz de Deus. Não é somente uma questão de receber palavras
na mente, mas também permitir que o espírito interaja com o Espírito de
Deus e nos leve além do mero entendimento, mas que desperte o
reconhecimento interior. Assim, nós teremos consciência quando Deus
estiver falando, sabendo que não se trata de homens. Tudo isso faz parte da
nossa resposta, da forma como recebemos a mensagem de Deus.
Nós precisamos receber formalmente a mensagem. Quando
recebemos uma carta, em geral nós assinamos um recibo atestando o
recebimento. Eu gosto de pessoas que têm facilidade para aceitar
formalmente a mensagem profética, reconhecendo-a no processo de
avaliação.
A parábola do semeador (Mt 13.9-23)
Os quatro tipos de solo representam as diferentes respostas à Palavra
de Deus. As pessoas respondem de formas diferentes porque o coração pode
estar em estágios diferentes de preparo. Alguns corações são duros;
outros são muito superficiais; outros foram contaminados pelas
preocupações da vida; outros são abertos e estão prontos para receber a
Palavra. É importante identificar onde estamos em relação à Palavra e fazer
os ajustes apropriados.
Esta parábola nos esclarece sobre o processo de recepção das
“palavras”, sejam a mensagem das Escrituras ou mensagens proféticas. A
Palavra pode ser “arrebatada” pelo inimigo (v. 19).
A Palavra pode ser recebida com alegria, mas a oposição e as
tribulações podem fazer com que nos afastemos da Palavra (v. 21). No caso
de algumas pessoas, sua habilidade de ficar firme na palavra é determinada
pelos cuidados do mundo ou pelas riquezas que podem ganhar (v. 22).
Quando uma pessoa ouve a Palavra e dá passos para compreendê-la,
ela produz frutos em vários níveis: 100%, 60% ou 30%, dependendo da força
da nossa resposta ou da disposição.
A desobediência nos impede de ouvir a voz do Senhor
A dureza de coração leva a Palavra a ficar longe da nossa vida.
Ela não pode nos influenciar. Ela não penetra fundo, e não vai além do
exterior da nossa vida e por isso não tem o poder de criar nada. A dureza do
coração pode ser devido a vários fatores: medo; experiências negativas com
profecias no passado; falta de entendimento do coração de Deus;
confusão ou engano; uma mentalidade inflexível; atitude insubmissa ou
falta de obediência àquilo que Deus já falou no passado. Muitas vezes eu
percebo esse quadro quando as pessoas dizem: “Eu não estou ouvindo a voz
de Deus”. Não quer dizer que Deus não esteja falando, mas sim que a
pessoa não tem uma vida de obediência. Deus não falará se ele souber que
não obedeceremos. Sua Palavra nunca é vã. Ela sempre realiza algo. Ela tem
um significado e devemos obedecer.
Muitas vezes, quando as pessoas me dizem que não conseguem ouvir
a voz do Senhor, eu faço perguntas sobre o estilo de vida, sobre o
relacionamento delas com Deus, se há áreas de ressentimento ou de
amargura e atitudes de falta de perdão. Pessoas que não conseguem ouvir a
voz de Deus podem estar sendo atacadas. Nesse caso é preciso uma palavra
de autoridade e não de uma profecia. Pode ser que haja áreas da vida ou do
caráter que exijam ensino bíblico e discipulado em vez de profecia. Nessas
circunstâncias, a melhor pergunta é: “Você está sendo obediente?”. Eu
reconheço que se trata de uma pergunta que muitos cristãos não gostariam de
responder, principalmente quando a resposta é negativa! A primeira resposta
pode ser a negação. Entretanto, o dom de discernimento de espíritos (i.e., a
verdade do Espírito de Deus; do espírito humano ou a presença de espíritos
malignos) nos capacitará a perceber se a resposta é verdadeira. O testemunho
do espírito e o discernimento de espíritos operam a partir da mesma fonte e
raiz.
O mundo vive mergulhado em mentiras e enganos, coisas que fazem
parte do espírito deste século. A Igreja de Jesus Cristo tem sido seduzida
pelo espírito deste século de modo que às vezes não conseguimos ouvir a
voz de Deus sobre questões fundamentais da vida. Nós nos acostumamos
tanto a viver com base naquilo que aceitamos como verdade (coisas que
muitas vezes desagradam a Deus) que nossa mente não está aberta para
realmente ouvir o Senhor. Nós precisamos aprender a ouvir e não somente
escutar. Precisamos cultivar um coração aberto e disposto a aprender.
Precisamos ter certeza de que estamos vivendo em obediência àquilo
que Deus falou anteriormente, porque, com frequência, Ele não acrescentará
mais nada. Ele não irá aumentar o nosso nível de desobediência. Ele não irá
nos colocar numa posição de teste.
Registrar os elementos da verdade
Os elementos da verdade e da revelação que realmente causam
impacto durante a profecia devem ser registrados em nosso coração. Eles
podem oferecer indicações sutis concernentes ao que devemos colocar como
prioridade da nossa resposta.
Toda profecia deve receber uma resposta – mesmo que seja uma
resposta simples de gratidão e de louvor. Mensagens que realmente têm um
significado profundo para nós exigem toda a atenção na primeira
oportunidade. Deus não é um Deus de confusão. Ele sempre fala com um
propósito. Ele faz para esclarecer situações. Fala para mostrar seu coração
para conosco e também para nos dar esperança quanto ao futuro.
Se recebermos a mensagem profética e não conseguirmos entender o
que Deus está falando, podemos questionar se é o Senhor mesmo que está
falando. Nem sempre podemos determinar isso por nós mesmos. Podemos
estar vivendo errado numa área da nossa vida, e quando uma palavra de
correção é dada, nós a rejeitamos. Compartilhar a profecia com pessoas
responsáveis nos ajudará a evitar essa armadilha.
E quando acontece o oposto do que foi falado na
profecia?
Na parábola do semeador, Jesus afirmou que a perseguição e a
tribulação podem vir por causa da palavra que recebemos. Isso é verdadeiro
em relação à profecia, assim como é verdadeiro em relação à verdade
revelada. O inimigo sempre se opõe à Palavra do
Senhor. “Deus não falou?” é o primeiro ato registrado de tentação e
batalha espiritual na Bíblia.
Há uma ilustração dramática dessa verdade no livro de Êxodo. Moisés
se reuniu com os anciãos de Israel e profetizou para eles tudo o que Deus
tinha lhe mostrado concernente à saída deles do Egito. A profecia foi
suportada pela demonstração de sinais (o cajado que se transformou em
serpente, a mão leprosa, etc.). O povo creu e adorou ao Senhor (Êx 4.29-31).
Moisés, porém, falou com o Faraó e o resultado imediato foi que o
trabalho dos israelitas foi intensificado. Teriam de fabricar tijolos sem o
suprimento de palha que recebiam antes. Teriam de ajuntar sua própria
palha e fabricar a mesma quantidade de tijolos. Longe de serem libertados, o
que aconteceu foi exatamente o oposto (Êx 5.6).Quando Moisés profetizou
novamente em Êxodo 6.6-8 (a famosa profecia “eu farei”), a reação do povo
foi de incredulidade e desânimo. A última palavra profética se cumpriu
em parte naquela geração. Somente dois adultos, Josué e Calebe, receberam
o cumprimento total (Nm 14). Todos os outros com idade acima de vinte
anos não herdaram o cumprimento da profecia.
Podemos ver exatamente o mesmo roteiro de operação na vida de
José. Ele contou aos seus irmãos o sonho profético que tivera, no qual
reinava sobre eles e foi lançado no fundo de um poço!
Longe de governar sobre os irmãos, foi vendido como escravo e a
seguir foi preso como um criminoso (Gn 37, 39). Apesar de todas as
adversidades, José se manteve firme no Senhor. No final, recebeu o
cumprimento da profecia. Ele não permitiu que as circunstâncias
determinassem sua resposta. A mensagem profética que ele reinaria o guiou
na casa de Potifar e na prisão, pois José manteve-se fiel!
Ao receber uma profecia, você desperta a atenção do inimigo. Eu
devo confessar que isso me dá um grande senso de empolgação. A profecia
nos coloca no limite, entre o choque de dois reinos. Eu prefiro ser atacado
pelo inimigo do que ser abandonado por Deus. Você já se perguntou por que
às vezes parece que acontece o oposto do que foi profetizado?
Certa vez, durante uma conferência no Reino Unido, eu entreguei uma
mensagem profética para um homem. A mensagem dizia que ele entraria
num tempo de prosperidade sem paralelos, pois Deus o abençoaria com
abundância de bens materiais. Menos de uma semana depois aquele mesmo
homem me telefonou e disse que eu era um falso profeta.
Depois de ouvi-lo, eu lhe disse que sentia que havia três
possibilidades a serem consideradas naquela situação. Primeiro, o profeta
poderia estar errado? De alguma maneira, parecia que eu tinha me
enganado completamente e não conseguira discernir o coração de Deus. Se
este fosse o caso, então eu teria de retornar à sua igreja e falar com ele e com
os líderes. Eu tinha feito a profecia publicamente. Eu teria de apresentar um
pedido de desculpas formal em público. Além disso, eu estaria disposto a
convidar aquele homem a se sentar comigo, com os seus líderes e os meus a
fim de discutir a ação mais apropriada em relação ao meu ministério. Se eu
realmente estivesse errado, precisaria de ajuda e aconselhamento para me
corrigir. Certamente eu desejava que ele se sentisse seguro e protegido do
meu erro.
Outra possibilidade era que o inimigo estava tentando arrebatar a
profecia. Jesus disse em Mateus 13.19 que isso é possível. Pessoalmente, eu
não sei quanto poder o inimigo tem para fazer algo assim. Houve centenas de
profecias relacionadas a Jesus: sobre seu nascimento, sua vida e sua morte na
cruz. Se o inimigo realmente tivesse entendido o significado da morte de
Jesus na cruz, teria destruído todas as árvores de Israel! Há a possibilidade
dele roubar as palavras que recebemos, mas provavelmente não em todas
as ocasiões. No entanto, a possibilidade precisa ser considerada.
A última possibilidade é que Deus sabia de antemão que aquele
homem seria demitido. Portanto, o Senhor foi bondoso e lhe deu uma palavra
profética na qual ele pudesse se apoiar enquanto estivesse no processo de
demissão e de busca de outro emprego.
Eu lhe disse que contasse tudo para seus líderes e depois me desse um
retorno. Ele me ligou novamente, e pediu desculpas por ter me chamado de
falso profeta. Ele disse que a terceira possibilidade tinha recebido um
testemunho genuíno da parte dele e dos líderes.
Naquele ponto nós oramos juntos pelo telefone. Ele me contou que
dentro de alguns dias teria uma reunião para discutir o valor da sua
indenização. Aparentemente todos os funcionários receberiam o mesmo
valor: 2.500 libras. Enquanto nós orávamos, senti que o Senhor estava
dizendo que ele devia pedir 5.000 libras e mais o carro da empresa com o
qual trabalhava! A princípio, ele relutou. Ele acreditava que a empresa não
mudaria sua política de pagar o mesmo a todos os demitidos. Eu lhe disse que
não haveria problema em pedir, afinal ele não poderia ser demitido duas
vezes! Finalmente ele concordou. E nós oramos pedindo a bênção de Deus.
Quando ele se apresentou na empresa, soube que o gerente financeiro
estava doente e que a reunião seria dirigida por um outro diretor. Esse diretor
estava ocupado tentando negociar partes da empresa e por isso pediu que a
reunião fosse transferida para uma outra data, a fim de que pudessem
discutir o valor da indenização, sem tantas pressões. Meu amigo recusou
polidamente. E então o diretor lhe perguntou quanto ele queria de
indenização. Ele replicou: “Quero 5.000 libras e o carro com o qual
trabalhava”. O diretor disse prontamente: “Feito”. Apertaram-se as mãos e
prontamente assinaram os papéis da demissão. Meu novo amigo foi o único
funcionário demitido a receber aquela quantia. Ao mesmo tempo, ele era o
único funcionário que recebera uma mensagem profética sobre prosperidade.
Nos meses seguintes, nós conversamos várias vezes. Ele procurava
um outro emprego. Finalmente, depois de um contrato temporário, ele
encontrou um emprego com um salário quase três vezes maior!
Aquele homem cometeu o erro comum de permitir que as
circunstâncias contrariassem a profecia, em vez de usar a profecia para
desafiar as circunstâncias. Deus sabe tudo o que está acontecendo nas nossas
vidas. Ele vê o fim desde o princípio.
Aquele homem iria perder o emprego de qualquer jeito. O
Senhor foi bondoso e lhe deu uma promessa de bênção financeira antes da
demissão, de modo que ele teria uma promessa na qual se apoiar durante a
situação. Quando Deus fala, Ele revela a intenção do seu coração para
conosco. Ele não fala sobre fábulas. Ele fala para desafiar as nossas
circunstâncias reais. A palavra profética parece colocar tudo fora do lugar,
mas isso é parte da sua natureza.
O Senhor está nos movendo em áreas onde os recursos
humanos não são suficientes. Toda igreja terá de assumir projetos
impossíveis. Muitos desses projetos têm suas raízes nas profecias. O Senhor
está libertando a Igreja de um cristianismo que se preocupa com “a
segurança em primeiro lugar”. O Espírito do Senhor está nos incentivando
a assumir riscos. Há momentos em nossa vida como igreja que temos de sair
do barco e enfrentar uma situação incompreensível. Fé significa caminhar
na esfera invisível. A profecia abre a porta para essa esfera.

Haverá confronto
O confronto ocorrerá em duas frentes: espiritual e circunstancial. A
batalha espiritual ocorrerá porque a profecia nos coloca no limiar entre dois
reinos. Quando Deus nos dá uma direção profética, sua intenção é nos atrair
mais para perto da perspectiva do seu Reino, envolvendo-nos na sua
extensão. Sempre que nós respondemos ao desafio, nos tornamos objeto do
interesse e atenção do inimigo.
O inimigo não tem o tempo nem os recursos necessários para afligir
todos os cristãos pessoalmente. Muitas vezes ele utiliza a nossa carne e o
mundo para nos afastar da vontade de Deus. Sempre que nós resistimos
nessas duas áreas, andando e vivendo no Espírito, geralmente entramos num
confronto direto e pessoal com o diabo.
Nessas situações, temos de aprender a dar as respostas apropriadas no
nosso comportamento. Tudo aquilo que se opõe a mim se opõe diretamente
ao senhorio de Cristo. Por quê? Porque eu estou em Cristo. Deus me
colocou num lugar, na pessoa do seu Filho, onde o inimigo sabe que é muito
difícil me vencer. Por isso a maior necessidade da Igreja hoje é edificar
homens e mulheres que permaneçam em Cristo. Na guerra nós fazemos
aquilo que sabemos fazer: oramos, cremos, nos purificamos, esperamos
em Deus ... firmes; não nos permitindo nos afastar do Deus imutável do
evangelho.
O inimigo prefere que sejamos apáticos e passivos. Assim ele pode
controlar a nossa vida. Quando o espírito profético se move em nós, Deus
incita o nosso coração e nos torna ativos. Neste ponto ocorre um outro tipo de
batalha. Há uma clara ligação entre profecia e batalha espiritual.
Paulo escreveu a Timóteo:
“Este é o dever de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as
profecias de que antecipadamente foste objeto: combate, firmado
nelas, o bom combate” (1 Tm 1.18)
Paulo estava encorajando Timóteo a examinar o conteúdo das suas
profecias e se revestir delas. Timóteo devia lutar contra o inimigo,
usando as profecias como armas de guerra: firmando-se nelas, citando-as e
usando-as nas batalhas. Quando o inimigo faz oposição numa certa área da
nossa vida, nós usamos contra ele as profecias que recebemos.
A palavra profética coloca tudo fora do lugar e a seguir coloca tudo
no lugar certo. O confronto também será circunstancial. Cada profecia que
tem um contexto diretivo terá um resultado físico e prático. Deus é
extremamente prático. Ele fez roupas para Adão e Eva. Ele providenciou para
que os egípcios pagassem os israelitas quando estes saíram do Egito,
garantindo assim o sustento inicial deles em Canaã. Ele providenciou o café
da manhã durante toda a jornada no deserto. No meio de situações
estressantes e de tensão, é incrível como Deus se preocupa com os detalhes.
A introdução da profecia em nossa vida provavelmente anunciará
mudanças nas circunstâncias. Às vezes as nossas circunstâncias parecerão
ser adversas. Pode parecer que as coisas estão caminhando na direção
contrária. É neste ponto que precisamos examinar o conteúdo da profecia.
Ela pode nos dar indícios sobre nossa relação com o Senhor.
Nós não podemos permitir que entremos num debate com o diabo
sobre a nossa atual condição. Nós precisamos enfrentar as circunstâncias
com base na palavra profética ou então o contrário acontecerá. Nós nos
encontraremos defendendo nossa atual situação e questionando a profecia.
É aqui que a oração desempenha um papel importante na
mensagem profética. Nós precisamos nos aproximar do Senhor e clamar
pela sua ajuda: “Senhor, tu fizeste esta promessa. Parece que tudo está
acontecendo ao contrário. Eu estou sob ataque do inimigo. Pela tua graça, e
na tua força, eu vou caminhar à luz da tua promessa. Pela tua unção e pelo
poder do Espírito Santo, eu verei o cumprimento da profecia que recebi em
minha vida”.
Nós batalhamos com base na oração e aprendemos como ficar firmes no
Senhor e na força do seu poder.
Examine a sua fé para uma boa confissão
Sempre é bom ter um tempo para reavaliar o nosso atual nível de fé.
No que cremos hoje? Em termos do meu relacionamento com Deus, em que
estou exercitando a minha fé? Concernente a pessoas, questões da vida da
igreja, progresso para o futuro, no que estou crendo conscientemente? O
que estou pedindo? Qual é o meu nível de expectativa? Estou dando um
exemplo de fé para as pessoas à minha volta? Elas podem ver a minha fé
crescendo e se fortalecendo? Todas essas são perguntas importantes que
temos de responder.
Oração significa descobrir o que Deus deseja fazer e a seguir pedir
que Ele faça. De modo similar, a profecia revela o coração e as intenções de
Deus para nós. Assim, a profecia nos fornece uma agenda de oração e de fé.
Quando falou com o povo de Israel no Egito, por intermédio de
Moisés, Deus revelou seu coração e sua intenção. Em Êxodo 6.6-8, a palavra
profética ofereceu a Israel uma agenda de oração e de fé composta de sete
itens:
• Eu vos tirarei de debaixo das cargas do Egito
• Eu vos livrarei da sua servidão
• Eu vos resgatarei com braço estendido
• E com grandes manifestações de julgamento.
• Eu serei vosso Deus
• Eu vos levarei à terra a qual jurei dar a Abraão, a Isaque e a Jacó
• Eu vo-la darei como possessão. Eu sou o Senhor.
Esta profecia começa e termina com uma declaração de identidade:
Eu sou o Senhor.
Quando os espias foram enviados para observar a terra de Canaã e
retornaram com um relatório, somente um homem realmente saiu e
retornou pela fé. Somente Calebe reconheceu que a profecia pronunciada no
Egito tinha poder na atual circunstância que estavam enfrentando. Na
primeira reunião para apresentação do relatório dos espias, Calebe ficou
sozinho. A princípio Josué não disse nada. No dia seguinte, porém, ele
tomou uma posição e lutou ao lado de Calebe.
Inicialmente Calebe ficou sozinho. Contra os outros espias. E
contra mais de dois milhões de adultos. Não é de estranhar que Deus tenha
dito que “nele houve um outro espírito” (Nm 14.24).
Sua resposta inicial ao relatório negativo dos outros espias e ao
silêncio de Josué foi uma declaração positiva que interrompeu as opiniões
negativas que estavam sendo apresentadas.
“Então, Calebe fez calar o povo perante Moisés e disse: Eia!
Subamos e possuamos a terra, porque, certamente, prevaleceremos
contra ela” (Nm 13.30)
No dia seguinte, os dois, Josué e Calebe se uniram e ficaram firmes
contra a crescente incredulidade dos israelitas. Os pontos principais da
posição positiva deles contra a incredulidade servem como lembrete, através
dos séculos, dos ingredientes dinâmicos da agenda da fé, a qual serve em
qualquer situação (Nm 14.8,9)
• Se o Senhor se agradar de nós
• Ele nos fará entrar nessa terra
• E no-la dará
• Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor
• Não temais o povo dessa terra, porquanto, como pão, os podemos
devorar.
• Retirou-se deles o seu amparo
• O Senhor é conosco; não os temais
Sete declarações de fé que se igualam às sete declarações proféticas
de Êxodo 6.6-8.
Agradar a Deus deve ser um elemento central na vida de todo
cristão verdadeiro. Nós não pertencemos a nós mesmos, mas
pertencemos ao Senhor (1 Co 6.19,20). Como templos vivos do Espírito
Santo, nós vivemos somente para fazer e falar tudo o que procede do coração
de Deus. Agradar a Deus é tudo para nós. Temos de conduzir a nossa vida de
tal maneira que o Senhor se agrade.
Jamais devemos esquecer que o Senhor está nos liderando. Dia
após dia, Ele assume a direção da nossa vida. Ele nos guia no caminho da
justiça (Sl 23.3). Quando nós nos desviamos, é a bondade de Deus que nos
conduz ao arrependimento (Rm 2.4). Nós servimos a um Deus que nos
conhece pelo nome. Ele chama o seu povo pelo nome e o conduz. Ele vai na
frente do seu povo, como o pastor vai adiante do rebanho. Ele se relaciona
com suas ovelhas de uma forma linda, permitindo que elas conheçam e
reconheçam a sua voz (Jo 10.3,4).
Deus está constantemente abençoando seu povo. Seu maior presente
foi Jesus (Jo 3.16). Deus está constantemente dando presentes aos seus
filhos. O Espírito Santo é outro presente maravilhoso de Deus para a Igreja
(Lc 11.11-14). Jesus é a nossa herança. Ele representa para a Igreja o que a
Terra Prometida representava para Israel – uma herança. Um presente dado
gratuitamente pelo nosso Pai celestial. Nosso Deus é doador.
Nossa parte em tudo isso é abandonar a rebelião e estar dispostos a
nos submeter à vontade do Senhor. Devemos oferecer os nossos corpos
como sacrifício vivo (Rm 12.1). O Espírito Santo é quem efetua esse
processo. É sempre Deus quem opera em nós “querer e efetuar” a vontade
divina (Fp 2.13).
Não existe absolutamente nada a temer em termos de oposição. O
Senhor já destruiu todo o poder do inimigo, desarmando-o
completamente. Um triunfo total e público (Cl 2.15).
Por isso Calebe podia dizer que o amparo do inimigo tinha sido
retirado, porque ele conhecia a natureza do Deus a quem servia. Nosso Deus
jamais pode ser derrotado. Nosso papel na batalha é sempre ficar firmes e ver
a salvação de Deus em ação (2 Cr 20.17; Ef 6.11-13).
Deus prometeu que jamais nos deixará nem nos abandonará (Dt 31.6;
Hb 13.5). Ninguém será capaz de se opor a nós todos os dias de nossas
vidas. Deus está conosco e jamais nos deixará (Js 1.5). Essa é a nossa
herança. Quando Josué e Calebe se levantaram e enfrentaram grande
oposição humana, estavam declarando verdades antigas que ainda hoje têm
a mesma validade de quando foram pronunciadas a Israel. A única resposta
aceitável que podemos dar é a fé. Quando somos confrontados com a
natureza maravilhosa de um Deus cuja vontade é sempre o melhor para nós
– a única resposta válida que podemos dar é a fé.
Qualquer outra resposta seria incredulidade, a qual é uma afronta
direta ao caráter de Deus. Incredulidade é um insulto pessoal que entristece
profundamente Deus. Na Bíblia, isso é chamado de “perverso coração de
incredulidade” (Hb 3.12), que nos afasta de Deus. Se não estivermos do
lado de Deus, do lado de quem nós estaremos? Jesus disse: “Quem não é
por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha” (Mt 12.30).
Quando o povo israelita respondeu à grande declaração de fé em
Deus de Josué e Calebe, ameaçando apedrejar os dois, o próprio Deus
interferiu (Nm 14). A sua resposta a Moisés foi: “Até quando me provocará
este povo e até quando não crerá em mim, a despeito de todos os sinais que
fiz no meio dele?” (Nm 14.11). a reação de Deus foi ameaçar destruir o povo
com pestilência e com praga. Deus detesta a incredulidade!
Moisés intercedeu, mas não conseguiu impedir que o povo fosse
banido para o deserto. Deus estava irado e chamou Israel de
congregação maligna e perversa. A partir desse episódio, não
resta dúvida de que Deus trata a incredulidade de forma dura e pessoal.
O que tudo isso tem a ver com a nossa profecia pessoal? O ponto
é: sempre que Deus fala conosco, Ele declara sua intenção e sua vontade
aos nossos corações. Se nós não cremos que Deus cumprirá aquilo que
disse, nós blasfemamos. Nós pecamos quando não damos as respostas
adequadas em preparação para que a vontade divina seja liberada. A falta de
uma resposta adequada à mensagem profética nos coloca na esfera da
incredulidade – o que significa que teremos enormes problemas! A
incredulidade nos leva à falta de frutificação e a falta de fruto nos leva à
infidelidade. Nosso desafio é garantir que a nossa vida esteja na melhor
forma possível a fim de que a palavra do Senhor seja cumprida (Mt 13.23).
Como fazemos isso é o assunto da Seção B deste capítulo.
SEÇÃO B – ABSORÇÃO E ASSIMILAÇÃO
A fim de que a profecia funcione plenamente, nós precisamos estar
totalmente ocupados com aquilo que Deus falou. Independente da forma
como respondemos à verdade revelada ou à profecia, o Espírito Santo nos
tratará segundo a nossa resposta, transformando-nos e nos tornando um com
a Palavra de Deus. A Seção B examina todas as questões necessárias para
alcançarmos este alvo.
Abra a profecia para que seja avaliada por pessoas
maduras
Paulo deu alguns conselhos excelentes a Timóteo:
“Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi
concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do
presbitério. Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu
progresso a todos seja manifesto” (1 Tm 4.14,15)
Sempre que recebemos uma profecia, nós devemos nos
aproximar de pessoas verdadeiramente maduras para discutir o teor da
mensagem e receber conselhos. Jamais devemos guardar a profecia
apenas para nós. Isso pode nos levar ao engano e ao não cumprimento pleno
da promessa.
Muitas profecias não se cumprem por si. Nós temos uma
responsabilidade no seu cumprimento. Nossa parte consiste em assumir a
responsabilidade de aplicar a mensagem profética. O conselho de pessoas
maduras será de grande auxílio nesta questão. Nós precisamos da ajuda de
outras pessoas para avaliar e pesar a profecia e identificar corretamente o
que o Senhor realmente está dizendo.
Um jovem recebeu uma palavra profética sobre evangelização e
sobre a bênção do Senhor. Sua interpretação pessoal foi que ele tinha
recebido um chamado para ser um evangelista internacional com um
ministério significativo. Ele se via como o próximo Billy Graham.
Subitamente ele se desinteressou por todos os programas ordinários de
evangelização da igreja. Dizia que fora chamado por Deus para coisas
maiores.
Entretanto, quando pessoas mais maduras examinaram o conteúdo da
profecia, descobriram que a mensagem se relacionava a um sucesso
significativo na evangelização e não ao chamado para ser evangelista.
Depois de um tempo de aconselhamento e oração, aquele jovem diminuiu
seus sonhos de grandeza e foi liberado para buscar um outro tipo de
ministério; logo ele se tornou bem sucedido na evangelização pessoal. Até
este momento ele já levou muitas pessoas a Cristo entre seus colegas de
universidade, seus vizinhos e amigos. A profecia se relacionava
especificamente a um tempo de bênção na evangelização; não se referia ao
ministério de evangelista.
Prestação de contas
Foi a disposição do jovem de prestar contas a outras pessoas
naquela situação que o salvou de um embaraço potencial e de entrar num
beco sem saída na estrada da vida. É fundamental que estejamos sempre
dispostos a prestar contas de nossa vida para outras pessoas (com ou sem
profecia), em especial à nossa liderança local. Precisamos estar abertos em
relação àquilo que Deus está dizendo. Estar abertos em relação a áreas da
nossa vida nas quais enfrentamos lutas. Tal atitude representa uma enorme
bênção e uma fonte de frustração para o inimigo.
Primeiro, temos de estar dispostos a prestar contas de nosso estilo
de vida. Nossa vida deve ser aberta para pessoas maduras e responsáveis que
nos amam e se preocupam conosco.
Na área da sexualidade, seja como solteiros ou casados, precisamos
da orientação de outras pessoas. Trata-se de uma área vulnerável que exige
real honestidade e integridade. O inimigo fica sobrevoando a nossa vida,
buscando um local para aterrissar. Quando pessoas maduras conhecem as
nossas fraquezas nessa área, o inimigo não pode descarregar nenhuma de
suas cargas em nossa vida.
Na área financeira, temos de garantir que haja uma boa administração
e mordomia. Muitas vezes pessoas boas ficam profundamente endividadas.
As dívidas devem ser pagas e os compromissos financeiros devem ser
honrados como prioridade, para a glória de Deus. Talvez nós precisemos de
ajuda para vencer hábitos nocivos na forma como lidamos com o nosso
dinheiro. A ordem deve ser: contribuir ao Senhor; aprender a viver bem com
aquilo que ganhamos; gastar o dinheiro com sabedoria e ser abertos e
generosos para com os outros.
Nas áreas de casamento e família, nós temos de garantir que um estilo
de vida justo prevaleça. Deve haver um padrão pleno e mensurável de
amor pelo cônjuge. As pessoas que estão à nossa volta precisam ver que
nós estamos percebendo e suprindo as necessidades dos nossos entes
queridos. Nossos filhos precisam ser educados de uma forma que libere o
seu potencial, promova o amor e segurança e traga grande honra ao Senhor.
Depois do nosso amor pelo Senhor, o nosso amor pela família deve ser o
principal em nossa vida e atitudes. A seguir deve vir o nosso amor e serviço
pela Igreja, onde estamos para servir, e estar disponíveis para ser
edificados. Finalmente, nosso próprio ministério deve estar em quarto
lugar em termos de importância.
É importante que em todas essas áreas nós andemos na luz e sejamos
conhecidos por Deus e por nossos irmãos.
Em segundo lugar, devemos estar dispostos a prestar contas para
outras pessoas no que diz respeito ao nosso futuro. Enquanto nos movemos
no nosso amor e dedicação ao Senhor, Ele abrirá portas de oportunidades
para que sejamos abençoados e cresçamos na unção. É importante que
aproveitemos cada oportunidade que surge para sermos discipulados e
treinados. O discipulado é um elemento central no desenvolvimento da nossa
vida, nosso ministério e nosso futuro.
Estar com pessoas influentes e aprender com elas evitará que nós
caiamos em armadilhas que podem ser facilmente evitadas.
Lamentavelmente, muitos cristãos estão tão preocupados em se engajar o
quanto antes no ministério que desperdiçam muitas oportunidades de
verdadeiro treinamento e desenvolvimento espiritual.
Muitos cristãos não gostam da idéia do aprendizado, preferindo se
engajar no ministério e mostrar o que sabem fazer. Para elas parece que o
caminho para o ministério, via discipulado e ensino, é longo e cheio de
curvas. No entanto, eu conheço pessoas que rejeitaram o caminho do
discipulado e por isso não se saíram muito bem e nem duraram muito no
ministério. A caminhada ministerial é longa. Não devemos pegar atalhos no
processo de desenvolvimento. Se pegamos atalhos, acabamos dando dois
passos para frente e três para trás. Acabamos caindo em armadilhas que
poderiam ser evitadas. Nós ficaremos tão ocupados fazendo coisas que não
aprenderemos a lidar com a nossa própria natureza.
Em terceiro lugar, todo ministério precisa ter prestação de contas.
Existem milhares de falsos profetas, falsos mestres, apóstolos que não têm
atitude de pai e nem edificam, evangelistas medíocres e, o que é pior,
péssimos pastores no Corpo de Cristo em todo o mundo. As pessoas
podem estar no ministério por várias razões erradas (e ocultas).
Acrescente ainda milhares de pessoas que em algum momento do
ministério pronunciam uma mensagem profética errada; ensino precário que
conduz ao erro; mau conselho aos líderes; pessoas com pouco
entendimento da salvação (i.e., querem que suas necessidades sejam
supridas, em vez de colocar Jesus Cristo como Senhor); conselho
inadequado para os pobres e necessitados. E o número de pessoas feridas
que resulta desses desvios pode ser espantoso. No âmago de toda essa
questão está a falta de prestação de contas no ministério. Se um indivíduo sai
do caminho, e não tem de prestar contas a ninguém, é provável que
continue fora do caminho e exercendo seu ministério! Possivelmente se
afastará cada vez mais, e se tornará cada vez mais perigoso. Provavelmente
oferecerá seus ensinos errados a muitas outras pessoas antes de ser corrigido
(se for corrigido).
Nós podemos pronunciar profecias erradas para muitas pessoas até
que alguém nos confronte e aponte o nosso erro. Podemos estar promovendo
um novo nascimento inadequado na vida de muitos novos convertidos,
causando enormes problemas para as igrejas no futuro. As evidências estão
aí, para serem vistas: um processo de novo nascimento inadequado pode
exigir anos de cuidado pastoral para ser corrigido.
Muitas igrejas se desviaram do caminho porque confiaram em
homens que não eram apóstolos, mas que apesar disso tentaram
desempenhar a função apostólica. Temos visto muitos danos na vida das
pessoas, causados pelo mau uso do aconselhamento, cura interior e ministério
de libertação, por parte dos pastores.
Se o nosso ministério segue adiante sem acompanhamento, nós
podemos aprender modelos de comportamento profano. Se o nosso
ministério não for examinado, podemos ser enganados e enganar muitas
pessoas. Se o conteúdo das nossas mensagens não for analisado para ver a
exatidão, podemos causar danos ao Corpo de Cristo. Quanto mais
crescemos num ministério no qual não há prestação de contas, mais
dificuldade nós teremos para assumir responsabilidade pelas nossas ações.
E mais fácil será, para qualquer um de nós, endurecer e isolar-se numa
atitude de orgulho, do que a submissão aos irmãos.
A questão fundamental da prestação de contas é a autoridade. Se
nós mesmos não estivermos sujeitos a autoridade, jamais teremos plena
autoridade sobre outros. Mostre-me um homem ou mulher que não está
debaixo de autoridade, mas que tenta exercer autoridade sobre outros e eu
lhe mostrarei uma situação clara de abuso de poder. Para lidar devidamente
com a autoridade, nós temos de desenvolver um espírito de servos. Mesmo
aqueles que estão nos níveis e nos escalões mais elevados de liderança têm de
lembrar que líderes são simples servos dos outros!
Jesus disse que veio para servir e não para ser servido (Mt
20.28). Ministério e liderança significa servir as pessoas e não usá-las. Um
verdadeiro ministro tem um verdadeiro coração de servo e se coloca à
disposição dos outros para ajudar.
Jesus se esvaziou, assumindo a forma de servo. Ele se humilhou e se
tornou obediente até a morte. Esta mesma abordagem e atitude são requisitos
para todos os cristãos, especialmente aqueles que estão envolvidos no
ministério e na liderança. É uma questão de ambição egoísta e abuso de
poder contra humildade e um espírito disposto a servir. Acrescente
autoridade a esta equação e o resultado é a capacidade de destruir as pessoas
ou de edificar efetivamente suas vidas. Se nós não tomarmos cuidado, aquilo
que construirmos com os nossos dons será destruído pelo nosso caráter.
Nós podemos escolher as nossas atitudes. Podemos esperar ser
servidos, ou desenvolver um desejo constante de servir.
O apóstolo Paulo queria ser considerado como servo e
mordomo de Cristo (1 Co 4.1). Nós não podemos usar a autoridade
adequadamente a menos que nos coloquemos nós mesmos sob ela. O
centurião romano tinha uma perspectiva sobre fé que surpreendeu Jesus. Esta
perspectiva estava fundamentada em seu entendimento sobre autoridade e
serviço:
“Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, tenho soldados às
minhas ordens...” (Mt 8.5-13)
Note as palavras: ele não disse, “sou um homem com autoridade, com
soldados sob as minhas ordens”. Ele disse: “Sou um homem sujeito à
autoridade”. Para ele, o fato de ter pessoas sob suas ordens não era o mais
importante; ele estava sob autoridade. A partir desse ponto de vista, ele
entendeu a natureza da autoridade e do poder. “Apenas manda com uma
palavra...”, o centurião disse. Ele acreditava que não era necessário que Jesus
fosse até a sua casa para curar seu servo. Ele sabia que Jesus tinha tal poder e
autoridade que sua palavra viajaria pelo tempo e pelo espaço e levaria cura.

A Profecia contém um imperativo moral


Toda profecia pessoal exige uma resposta moral, que pode ou não se
referir à própria profecia. Isso ocorre porque toda profecia contém um
imperativo moral. “Você faz isto”, diz o Senhor, “e eu faço aquilo”.
Muitas vezes essas condições não são pronunciadas. Não precisamos
de profecia para saber como devemos viver. Para isso, nós usamos a Palavra
revelada do Senhor nas Escrituras. Nossa vida é edificada sobre as Escrituras
e não sobre profecias. A mensagem profética pode moldar nossa vida no
sentido de proporcionar visão e direção. No entanto, o padrão e o molde de
nossa vida são estabelecidos pela verdade revelada. A profecia, então,
direta ou indiretamente sempre nos fala sobre a obediência a Deus nas
Escrituras. A guarda da Palavra de Deus é um elemento fundamental no
ensino profético. O pensamento essencial aqui é: se nós não pudermos
obedecer à vontade divina revelada na Bíblia, tampouco seremos capazes
de cumprir as palavras de profecia que recebemos.
Evite o fatalismo. O simples fato de que Deus falou em profecia não
quer dizer que nós podemos sentar e esperar pelo cumprimento. A profecia
pessoal declara possibilidades e não inevitabilidades.
Provavelmente nós teremos de fazer ajustes em nosso estilo de
vida e nos aproximar mais de Deus como resultado da profecia que nos é
dirigida.
Deus tem sua própria agenda na profecia
Nós temos de fazer a nós mesmos a seguinte pergunta: qual é a
agenda de Deus nesta mensagem profética? Com muita frequência o Senhor
tem seus próprios planos em relação à profecia.
Enquanto viajava, Jesus recebeu a notícia que seu amigo Lázaro
estava doente. Em vez de ir fisicamente ao seu encontro, Jesus enviou uma
mensagem profética:
“Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a
fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado” (Jo 11.4)
Jesus permaneceu onde estava por mais dois dias e finalmente foi
para a Judéia. No caminho para a casa de Lázaro, Ele disse claramente aos
discípulos que Lázaro tinha morrido. Apesar disso, prosseguiu.
Quando Jesus chegou a Betânia, Lázaro já tinha sido sepultado havia
quatro dias, provando sem qualquer sombra de dúvida que estava realmente
morto. Jesus ouviu duas acusações similares por parte das duas irmãs de
Lázaro, Maria e Marta: “Senhor, se estiveras aqui, não teria morrido meu
irmão”. Em outras palavras, elas queriam dizer que Jesus chegara atrasado!
Jesus, porém, tinha enviado uma profecia: “Esta situação não
acabará em morte, mas na glória de Deus”. A agenda de Deus não era curar
Lázaro; sua intenção era ressuscitá-lo dentre os mortos. Para isso, Jesus não
estava atrasado!
Muitas vezes, Deus espera até que não haja nenhuma possibilidade de
intervenção humana. Portanto, o Senhor se manifestará somente quando
nós estivermos completamente dependentes do seu poder e soberania.
Sempre há uma lacuna entre a promessa profética e seu cumprimento.
Enquanto estivermos vivendo nessa lacuna, que pode ser um tempo de
profundo crescimento, temos de nos lembrar da profecia e confiar em Deus.
Sua agenda pode ser totalmente diferente da nossa. Ajuda muito enxergar
além das circunstâncias e das situações. Às vezes nós só conseguimos fazer
isso em retrospecto, enquanto em outras ocasiões o Senhor nos permite
enxergar seu propósito maior.
Na situação citada acima, a profecia dera a Marta e a Maria dois
indícios enormes concernentes ao propósito ou à agenda de Deus.
Primeiro, uma promessa relacionada a Lázaro: “Esta enfermidade não é
para morte”. Segundo, o propósito real por trás das circunstâncias era “para
a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado”.
A partir da reação dos discípulos e das irmãs de Lázaro, fica claro
que ninguém compreendeu plenamente as palavras de Jesus. Os discípulos
pensaram que a saúde de Lázaro estava melhorando. E que ele dormia. Tomé
disse estar disposto a morrer também! As duas irmãs estavam tristes por
Jesus ter se atrasado e não poder fazer mais nada. Numa conversa íntima
sobre a ressurreição, Jesus ajudou Marta a chegar a uma revelação mais
profunda sobre quem Ele era, culminando com a confissão dela: “Tu és o
Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo”.
No entanto, como muitos cristãos de hoje, Marta demonstrou que
tinha entendimento sobre a pessoa de Cristo, mas não tinha uma revelação e
experiência do seu poder. Quando Jesus pediu que removessem a pedra que
fechava o sepulcro de Lázaro, Marta liderou o coro de objeções: “Senhor, já
cheira mal, porque já é de quatro dias”. Ela ainda se mantinha firme em seu
primeiro entendimento da situação, que era “Jesus chegou tarde demais”.
Ela recebera uma medida de revelação e de entendimento, mas não
prosseguira para uma experiência de fé mais profunda. A revelação deve ser
experimentada, porque a fé é ativa. A mensagem profética tinha atingido
sua mente, levando ao entendimento, mas não tinha sido traduzida para uma
resposta do coração, levando à ação. A verdade que se revela na mente só
poderá nos levar a debates e discussões, mas não à ação.
Jesus teve de levar Marta pelo mesmo campo de revelação,
relacionando-a à profecia original. “Eu não lhe disse?”. Em outras palavras,
“acorde, Marta! Eu lhe dei uma profecia sobre a glória de Deus, lembra?”.
A questão concernente à palavra de Deus, seja uma profecia ou a
verdade revelada das Escrituras é esta: “Eu não lhe disse? Eu não lhe
falei?”. A base de ataque do inimigo é sempre: “Deus falou?”. Jesus
respondeu, da mesma forma que todo cristão deve responder, citando a
Palavra de Deus: “Está escrito”. Eu creio que obviamente ele se referia às
Escrituras, mas também à palavra falada das profecias. Por isso Paulo
aconselhou Timóteo: “Segundo as profecias de que antecipadamente foste
objeto: combate, firmado nelas, o bom combate” (1 Tm 1.18). Parte da
agenda de Deus também consiste em trazer mudanças ao nosso caráter
pessoal – o que nós veremos a seguir.
Não negligencie a resposta do caráter
Em um certo ponto da resposta às profecias, nós devemos considerar
nossa posição em relação à justiça. Deus pode nos dar uma palavra
concernente ao futuro, a qual coloca os nossos olhos num horizonte
diferente. Nós podemos enxergar algo novo que não conseguíamos ver
antes daquele momento. No entanto, nós não podemos viver com os olhos
no horizonte, senão tropeçaremos naquilo que está diante de nós. Tente
andar na rua com o olhar fixo num ponto distante e veja o que acontece
com os seus pés! No mínimo seu andar será trôpego, fazendo com que você
corra o risco de cair. O mesmo ocorre com a nossa visão espiritual. Se os
nossos olhos estiverem muito fixos na visão futura e não na vida cotidiana,
corremos o risco de cair.
Nós só podemos experimentar Deus no presente, aqui e agora. Nós
devemos usar a profecia como uma bússola, para checar nosso progresso na
caminhada com Deus. Quando estamos andando por uma rua, nossos
olhos normalmente procuram ver para onde estamos indo. Então, novamente
com os olhos fixos no chão à nossa frente, nós seguimos adiante.
Ocasionalmente nós erguemos a cabeça para checar o caminho, identificar os
obstáculos, a distância a ser percorrida e o quanto já caminhamos.
Podemos usar este mesmo padrão no que diz respeito às
respostas do nosso caráter às profecias. O Senhor nos dará uma visão do
horizonte e onde estamos indo. Com muita frequência o próximo passo
deve ser baixar os olhos e ver o que está à nossa frente, que quase sempre é
um traço de caráter que Ele deseja mudar e ajustar.
Quando recebemos uma profecia direcional que fala sobre o
nosso futuro, seja visão ou ministério, o céu desaba e o chão se abre! É
muito comum isso. Às vezes nós entramos num tempo de lutas terríveis.
Tudo dá errado: não conseguimos orar, é como se o céu fosse de bronze,
somos mal compreendidos e nos sentimos profundamente desiludidos. Um
amigo meu observou, depois de nos dar uma palavra de brilhante esperança:
“É como se o Senhor nos colocasse numa sala escura e nos privasse da clara
luz do dia!”.
Eu creio que nos sentimos assim porque não entendemos o
princípio da agenda de Deus na profecia. O Senhor falou profeticamente.
Suas profecias são sempre chamadas de promessas nas Escrituras,
simplesmente porque seu Nome e sua Palavra estão por trás. Deus é
extremamente prático e sempre deseja que as coisas se realizem. Uma vez
que Ele tenha nos mostrado o horizonte, a seguir Ele deseja nos mostrar as
pedras de tropeço, os obstáculos que estão bem à nossa frente. Tendo nos
mostrado o futuro, Ele então deseja nos mostrar o que poderia impedir
aquele futuro de se tornar uma realidade.
Nós andamos com Deus vendo o que Ele está vendo, ouvindo o que
Ele ouve e respondendo ao que Ele está fazendo. As dificuldades surgem
porque nós continuamos com a cabeça nas nuvens, enquanto o Senhor deseja
firmar os nossos pés no chão.
Quando pronunciamos uma profecia direcional, ela nos oferece
a oportunidade de ter acesso à vida das pessoas. Durante o processo de
avaliação que segue a recepção, nós temos a chance de discutir a futura
caminhada do indivíduo com Deus. Nesse momento, que em geral é de
grande bênção e encorajamento, as pessoas ficam vulneráveis ao Espírito
Santo. Elas ficam estáticas e totalmente abertas para o que o Espírito trará a
seguir. Líderes que se comportam como verdadeiros pais aproveitarão este
momento para graciosamente promover mudanças e ajustes no caráter do
indivíduo.
Eu me lembro quando um indivíduo particularmente difícil (vamos
chamá-lo de John), estava resistindo a todas as tentativas de
desenvolvimento de caráter, prestação de contas e mudanças em seu estilo
de vida. Durante várias semanas eu escolhi não vê-lo, preferindo apelar para a
oração, pedindo ao Senhor que interferisse e quebrasse sua resistência. Às
vezes nós podemos lutar com pessoas até quase perder a cabeça, deixando
de lado a bondade e a graça. Eu reconheci que estava correndo o risco de
tomar a dureza dele como uma afronta pessoal à minha liderança e
ministério. Orando, eu pedi ao Senhor que o abençoasse. Na minha
experiência, sei que a bênção abre as pessoas tanto quanto a aflição. Como
pai da igreja, eu prefiro ver os membros experimentando o favor de Deus do
que o seu desagrado. Entregar as pessoas à aflição por meio da oração deve
ser o último recurso. Isso ocorre quando tudo falhou e tememos perder
aquela pessoa para a impiedade completa.
Eu pessoalmente creio que é falta de ética e até mesmo imoral orar e
pedir aflição sobre as pessoas e a seguir tirar proveito da situação para
apontar o pecado. Pelo contrário, é melhor orar e pedir as bênçãos de Deus
sobre as pessoas e a seguir mostrar-lhes por que a bênção cessou ou não se
cumpriu plenamente.
No caso de John, eu orei e pedi ao Senhor que o abençoasse. Um
presente aponta e abre o caminho para o doador. Várias semanas
depois, ele recebeu uma mensagem profética maior e mais significativa, a
qual eu imediatamente reconheci como verdadeira, bem como os outros
líderes envolvidos. John ficou eufórico, pois a profecia falava sobre todos os
seus sonhos e aspirações. Nos dias que se seguiram ele continuou fechado.
Eu reconheci que o Senhor estava me dando uma oportunidade de falar
com ele e por isso marquei um encontro.
A humildade é sempre a melhor abordagem. Ela não é ameaçadora e
desarma completamente as pessoas. As pessoas não podem manter uma
atitude defensiva diante da humildade, sem demonstrar arrogância e
impiedade. John estava enfadado, achando que eu iria reprovar a mensagem
profética que ele recebera. Ele foi apanhado de surpresa quando eu fiz o
contrário. Eu lhe disse que estava feliz por ele, dando-lhe parabéns pela
mensagem profética. Eu declarei a minha aprovação. Disse-lhe que
acreditava nele e que queria ajudá-lo a desenvolver seu dom e seu
ministério. Nós conversamos sobre treinamento e sobre as oportunidades que
ele teria de crescer em seu chamado. Buscamos elaborar um plano de ação
para o seu progresso. Ele não conseguia esconder a empolgação enquanto
conversávamos sobre o seu futuro.
Num certo ponto da conversa, eu casualmente lhe perguntei que
porcentagem da profecia ele desejava que se cumprisse. Ele mostrou não
entender a pergunta e eu então mencionei a parábola do semeador e a
frutificação da semente: 30%, 60% e 100%. Da forma mais bondosa
possível, eu lhe disse que sentia que havia somente uma possibilidade
realista de 40% de cumprimento da sua profecia. Eu lhe perguntei que tipo de
caráter ele precisaria demonstrar a fim de atender o coração de Deus em seu
novo chamado.
Nós conversamos sobre isso por algum tempo. Eu lhe disse que
obviamente o Senhor acreditava nele, por isso lhe dera a profecia. Reiterei a
minha fé nele e o meu desejo de ajudar e dar apoio. Eu lhe pedi que
pensasse em seu espírito sobre as nossas conversas infrutíferas anteriores.
Gentilmente eu lhe mostrei as áreas de caráter que impediriam a profecia
de se cumprir na totalidade. Essas coisas, e não eu, eram o obstáculo.
Perguntei-lhe se eu poderia ter o privilégio de ajudá-lo a trabalhar naquelas
áreas. Ele ficou sentado na minha frente, em silêncio.
Eu novamente o surpreendi ao dizer: “John, eu creio que você deseja
ser um homem honesto e íntegro. Eu creio que o Senhor está com você agora
mesmo. Depois do chamado vem o treinamento. Agora é tempo de sentar e
calcular os custos. Eu não desejo colocar nenhuma pressão emocional sobre
você, para que dê uma resposta. Eu quero que você pense profundamente
sobre isso nos próximos dias. A decisão que você deve tomar deverá se
basear no seu desejo de obedecer e não nas emoções. O que você acha?”. Nas
duas semanas seguintes, vimos profundas mudanças no caráter de John. Ele
estava realmente amadurecendo em seu caráter e em seus dons.
Nesses momentos de tensão, nós precisamos nos mover no
espírito oposto. Temos de abençoar aqueles que nos perseguem e orar por
aqueles que nos maldizem. O evangelho é redentor. Deus é bom e gracioso.
As pessoas precisam ser conquistadas.
A mensagem profética de Deus sempre contém promessas,
porque sua vontade está sempre em sua palavra. O cumprimento dessas
promessas sempre dependerá da resposta do nosso coração e do nosso
caráter. Nós vemos isso claramente na carta de Paulo à igreja de Corinto (2
Co 6.14–7.1).
O tema central dessa passagem trata do cristão ser o templo do
Deus vivo e a necessidade de se evitar o jugo desigual com os ímpios. Neste
contexto Paulo menciona várias mensagens proféticas do passado
concernentes à purificação, separação e caminhar com Deus (vs. 16-18).
Essas profecias se referem a promessas anteriores feitas pelos profetas
Ezequiel (37.26,27), Jeremias (31.1, 9, 32; 33.38), Isaías (52.11) e Moisés
(Lv 26.12).
Trata-se de promessas (ou profecias) muito reais. Paulo
prossegue e diz:
“Tendo, pois, ó amados, tais promessas [profecias], purifiquemo-nos
de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a
nossa santidade no temor de Deus” (2 Co 7.1)
Quando a profecia entra em nossa vida, vem também a oportunidade
de purificação e de renovação em santidade. Nós vemos essa mesma idéia em
2 Pedro 1.3-10. Essa passagem também se refere às preciosas e mui grandes
promessas de Deus. Essas promessas estão sempre subentendidas nas
mensagens proféticas. O Senhor fala do seu coração, vontade e intenção por
meio da profecia. É por meio dessas mensagens que nós nos tornamos
participantes da natureza divina e escapamos da corrupção que busca nos
derrubar.
A profecia nos permite experimentar o coração de Deus num sentido
de urgência. O conhecimento do amor e do cuidado de Deus fará com que
nos tornemos mais apegados à sua Pessoa. O alvo da obra do Espírito Santo
em nossa vida é que nos tornemos semelhantes a Cristo. O alvo do profeta é
levar as pessoas a conhecer, submeter-se e amar a pessoa de Jesus.
Deus fala profeticamente para nos capacitar a entrar na sua natureza
divina. Devemos prestar muita atenção à resposta do nosso caráter a fim de
que sejamos cooperadores do Espírito Santo nesse processo.
A profecia causará um abalo
Quando a profecia vem, ela cria geralmente algo novo, e traz
profundas mudanças. É uma situação muito semelhante a um furação no
mar. O vento vem primeiro, e nós aprendemos a lidar com ele, acostumamos
com o mover do Espírito Santo. No entanto, quando o vento sopra, não temos
idéia do que está acontecendo em alto-mar, até que ondas enormes nos
atingem. O mesmo ocorre com o mover do Espírito na profecia.
Não temos idéia sobre qual será os efeitos posteriores em nossa vida.
Quando a palavra é compreendida e traz mudanças, ocorre um abalo em
nossa vida. A profecia abala o sistema. Ela perturba a ordem. A profecia nos
faz caminhar para fora de nossas áreas de segurança e de conforto. Nós
aprendemos novamente, em primeira mão, que não pertencemos a nós
mesmos. Nós acostumamos com a nossa vida transcorrendo de uma certa
maneira, e então o Senhor envia uma palavra profética para perturbar a
nossa calma e nos colocar em movimento.
Os profetas sempre provocam as pessoas. A ironia é que
raramente estão dispostos a fazer isso deliberadamente. A própria natureza da
profecia direcional é colocar algo que está estagnado em movimento. É
causar mudanças.
A profecia traz visão. Inicialmente o aumento da visão traz
liberação. A visão nos tira do confinamento da visão estreita que temos de
nós mesmos. Ela nos dá novos horizontes, eleva a nossa cosmovisão e nos
leva a um local muito mais amplo no Senhor.
A visão, porém, também traz restrição. Depois do chamado vem o
treinamento. Nós temos de dar um novo rumo à nossa vida. A maneira como
vivemos até aquele momento se torna inútil e inadequada. Podemos ter de
parar de fazer certas coisas a fim de que poder realizar coisas em outras
áreas.
Depois da euforia inicial por ter sido chamado para o ministério
profético, gradualmente eu comecei a me dar conta da dimensão do
chamado que o Senhor me dera. Junto com este entendimento veio a
compreensão de que a vida que eu conhecera até ali estava terminando.
Tudo o que eu fazia antes se tornou inadequado à luz da nova
visão. Minha vida teve de sofrer mudanças. E junto com as mudanças
veio também um tempo de instabilidade e de abalo. Eu comecei a caminhar
com outro tipo de pessoas, de modo que meus relacionamentos mudaram. Eu
tive de financiar meu próprio desenvolvimento, de modo que também tive
de mudar a forma como administrava minhas finanças. Meus hábitos de
estudo e os assuntos do meu interesse mudaram. Assim, minhas conversas
também mudaram, bem como as pessoas com as quais conversava. Quando a
profecia direcional chega, as mudanças chegam lodo depois. Essas
mudanças serão libertadoras e restritivas – o que explica o nosso sentimento
de instabilidade e de abalo.
A profecia nos testa
A mesma palavra profética que traz a alegria, esperança e
empolgação de Deus às nossas vidas, também nos levará a um tempo de
teste. Depois da promessa em geral chega um problema: um conjunto de
circunstâncias destinadas a nos capacitar para suportar a mensagem que
recebemos. Já tratamos desse assunto na seção A, sob o título “E quando
acontece o oposto do que foi falado na profecia?”.
É suficiente dizer aqui que a mesma profecia pode bem receber vários
testes. Cada fase de teste tem como objetivo nos levar a um nível mais
profundo de fé e de confiança. Cada fase de teste pode ter um nível de
dificuldade e duração diferente.
José compartilhou seu sonho profético (reinar sobre os familiares)
com seus irmãos (Gn 37). Como teste número 1, ele foi lançado numa
cisterna. Ele pensou provavelmente que seus irmãos só queriam assustá-lo
e que logo ele voltaria para casa. O teste número 2 veio quando ele foi
vendido como escravo para os midianitas – sendo transformado na mais
reles figura humana. Em tempos como este, quando o nosso mundo parece
desabar, nós podemos ser tentados a rejeitar a mensagem profética e até
mesmo nos afastar de Deus.
José não fez assim. E na casa de Potifar, a quem foi vendido ao
chegar ao Egito, pela primeira vez, a mensagem profética sobre governar
pareceu se cumprir. Ele foi colocado numa posição de proeminência. A
seguir, em seu terceiro teste, ele teve de lidar com uma mulher sem pudor
– a esposa de Potifar – que tentou levá-lo a cometer adultério. A resposta de
José nos dá uma forte indicação de que longe de esquecer de Deus, ele
continuava firme na fé: “Como, pois, cometeria eu tamanha maldade e
pecaria contra Deus?”.
Esse terceiro teste ocorreu insistentemente até que ele fugiu da
mulher, e então foi acusado injustamente. No quarto teste, ele voltou ao ponto
de partida. Depois de ter experimentado o sucesso, tornou- se novamente um
marginal. José ficou na prisão durante dois longos anos, antes de ter uma
oportunidade de ser libertado. Durante o período de prisão, ele se dedicou
diligentemente a trabalhar e servir, sendo novamente elevado a uma posição
de proeminência no sistema carcerário. A profecia se cumpriu quando ele se
tornou o segundo no governo do Egito. A Bíblia diz:
“Até cumprir-se a profecia a respeito dele, e tê-lo provado a palavra
do Senhor” (Sl 105.19)
José foi liberado da prisão e se tornou Primeiro-Ministro do Egito,
abaixo somente do próprio Faraó. Então, 24 anos depois de ter contado seu
sonho profético para a família, ele se cumpriu em sua totalidade.
Nós teremos muitas oportunidades de ficar firmes na profecia que
recebemos em tempos de teste. Saibamos, porém, que o Senhor é
incrivelmente fiel. Sempre que enfrentamos problemas por causa da nossa fé,
Deus estará conosco. O Senhor concedeu favor a José diante de Potifar,
diante do chefe da prisão e diante de Faraó antes de cumprir suas promessas
para ele e para sua família.
Os testes são permitidos para que a nossa fé seja provada, e para
examinar nossa disposição de ficar firme na promessa que recebemos.
Todo cristão deve ter sempre em mente as palavras de Pedro:
“Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós,
destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos
estivesse acontecendo” (1 Pe 4.12)
É normal o cristão ser testado. Veja os testes da maneira que eles
são: oportunidades de crer no Senhor e se apegar mais a Ele.
SEÇÃO C – SUBMISSÃO E APEGO
A parte final da nossa resposta correta às profecias envolve
responsabilidade, estratégia e entendimento sobre tempo e preparação. Para
evitar as armadilhas e o risco de não experimentar o pleno cumprimento da
profecia, nós precisamos considerar o papel que a esperança, a fé e a
perseverança desempenham na recepção das profecias.
A Seção C se concentra na certeza de trazer a mensagem
profética a uma conclusão plena e feliz.
Reconhecer a nossa responsabilidade
Muitas profecias no nível pessoal não se cumprem automaticamente.
Elas precisam de cooperação. Nós temos a responsabilidade de estar
envolvido no processamento da mensagem, mediante a obediência. Fé e
obediência são respostas constantes que devemos dar ao Senhor. Como já
vimos, a palavra do Senhor nos testará. E nós precisamos nos apegar
positivamente a ela. E fazermos nossa confissão de fé. A forma como nós
respondemos à profecia determina o que acontecerá a seguir: ela se cumprirá
ou será descartada?
A obediência abre o caminho para a bênção de Deus sobre nós. A
obediência nos capacita a começar uma parceria com a mensagem profética
que promoverá o seu crescimento, florescimento e cumprimento. A Escritura
nos diz o seguinte:
“Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo” (Cl 3.16)
Nós precisamos formular uma estratégia para o cumprimento da
profecia. Se a profecia for direcional, nos dando uma visão do futuro, nós
precisaremos de um plano inspirado por Deus que nos capacite a ir desde a
recepção inicial até o pleno cumprimento.
A visão pode ser frustrante. Na profecia Deus fala de
coisas que não existem como se existissem. Esta é a linguagem da profecia e
também a linguagem da fé. Deus fala em fazer coisas que ainda não foram
feitas.
A profecia simples (i.e., mensagens gerais de encorajamento para
edificar, exortar e confortar) nos firma em coisas que já estão presentes e já
estão acontecendo. A profecia direcional em grande parte declara o que
não é, mas será. É claro que de tempos em tempos se abrirá um espaço
entre as duas coisas. O espírito profético vai ofuscar as linhas entre as
profecias gerais e direcionais. Elas não são compartimentadas e os limites
entre elas nem sempre são claros e bem definidos.
Quando o Senhor fala sobre o nosso futuro, nós precisamos
conhecer o alvo e também os passos necessários para chegar lá. Muitos
cristãos, ao receber uma profecia, se concentram no alvo, mas não levam em
conta os passos necessários.
A menos que nós tenhamos uma estratégia que envolva outras pessoas
e a cooperação com o Espírito Santo, só experimentaremos fracasso, o qual
gerará frustração e finalmente incredulidade. Esteja preparado para submeter
a mensagem profética e a sua própria vida àqueles a quem você presta
contas, para que possam ajudar na elaboração de um plano de ação.
Quando buscamos o cumprimento de uma profecia direcional, nós
precisamos de outras pessoas. Caso contrário, nós tentaremos fazer que a
profecia se cumpra pelos nossos próprios meios. Abraão fez isso com a
mensagem profética que recebeu sobre o filho e herdeiro. Movido pela
impaciência e falta de confiança, ele gerou um filho (Ismael) com a escrava,
que não era o que Deus tinha em mente.
O Senhor nos mostrará os passos fundamentais que teremos de dar
para ficarmos em harmonia com Ele. Na maioria dos cumprimentos das
profecias direcionais, haverá um elemento sobrenatural: Deus manterá o
controle sobre as circunstâncias que estiverem fora do nosso controle. Nós
precisamos lembrar que não somos o único instrumento que Deus usará
para cumprir a sua promessa. Ele preparará outras pessoas e outras
circunstâncias para realizar o seu propósito.
Em 1991, o Senhor começou a me mostrar que estava me
enviando para igrejas de negros para que eu fizesse amizades e construísse
relacionamentos. Na época, eu nunca tinha estado numa igreja de negros. Eu
já tinha falado em várias igrejas multirraciais, mas não numa igreja
predominantemente negra. Eu comecei a orar e pedir a bênção de Deus
sobre a população de cristãos negros. Vários membros da minha equipe de
intercessores me disseram que o Espírito os tinha levado a orar fortemente
para que o Senhor me desse um papel entre o povo caribenho.
Em 1992, eu estava falando numa conferência profética em
Londres, no Templo Kensington. Tendo completado um seminário completo,
com ensino e ministração, eu fui ao gabinete do pastor para tomar uma
caneca de café. Em momentos como este, nós temos idéia de que a nossa
vida está prestes a mudar radicalmente, ou que Deus está realizando sua
vontade em nossas vidas de forma sobrenatural. Tudo o que eu queria era
sentar, descansar e tomar café.
No escritório de Colin Dye (o pastor titular do Templo Kensington),
havia um pastor negro, o Dr. Noel Woodroffe, de Trinidad e Tobago.
Quando eu entrei no escritório, o Pr. Colin já estava de saída. Ele me
apresentou ao Dr. Noel e saiu. Noel tinha de sair rápido para um
compromisso, de modo que só tínhamos alguns minutos para conversar.
Naqueles dois ou três minutos, o Senhor uniu os nossos corações. Foi um
“encontro promovido por Deus”, e no final eu tinha convites para falar em
conferências de igrejas negras em Londres e no Caribe.
Às vezes nós olhamos para uma profecia e humanamente não
conseguimos imaginar como ela irá se cumprir. Tudo o que podemos fazer
é dar um passo de cada vez em obediência, sabendo que Deus fará aquilo que
não pudermos fazer. Nós ficamos firmes na fé e obedecemos a tudo o que o
Senhor diz – e Ele providencia o livramento que necessitamos.
Tempo e preparação
O tempo é o elemento mais difícil no que diz respeito à profecia. Seja
na liberação, seja na realização. Muitas pessoas, ao receber uma profecia,
pressionam o profeta para que ele declare o tempo do cumprimento. Elas
querem saber, acima de tudo, quando algo ocorrerá. Às vezes, quando eu
profetizo, o Senhor me mostra o tempo dentro da própria mensagem
profética. Eu tenho uma regra simples nesta questão. Se o Senhor não me
mostrar o tempo dentro da profecia, eu não busco esta informação
posteriormente. As pessoas pressionam. Elas tentam manipular. E contam
histórias tristes. Algumas até ficam furiosas. Outras me chamam de falso
profeta, ou comparam o meu ministério com outros (e é claro que eu
sempre saio perdendo nessas comparações!).
Muitos profetas já fracassaram nessa área porque permitiram que as
pessoas os empurrassem para além da mensagem inicial. O Espírito Santo
mostra uma certa medida de revelação profética para pessoas e situações. É
perigoso quando o profeta é pressionado a ir além daquilo que foi revelado.
Nós precisamos dizer, como os antigos profetas, “o Senhor escondeu esta
informação de mim!”.
Durante o processo de avaliação de uma mensagem, ela pode ser
considerada como proveniente do Senhor, mas o tempo pode ser depois. Às
vezes a profecia tem um caráter urgente, possivelmente por causa das
circunstâncias nas quais Deus está falando. Outras vezes, porém, o tempo do
cumprimento pode estar bem distante. Nesses casos, nós sabemos que
teremos de esperar com paciência e com perseverança.
Temos de ter sempre em mente que a vida cristã é uma corrida de
longa distância. Temos de pensar sempre em termos de dez a vinte anos à
frente. Uma das grandes dificuldades das pessoas e das igrejas em geral é a
insistência em viver pensando sempre nas coisas imediatas, minuto a minuto.
Igrejas e cristãos individuais devem permitir que o Espírito Santo nos dê
uma visão muito mais ampla. Temos de estabelecer alvos de longo prazo, de
5–10 anos.
Também podemos estabelecer alvos de médio prazo, de 2–5 anos,
que podem funcionar como postos intermediários no progresso em direção
aos alvos de longo prazo. Esses postos intermediários podem funcionar
como momentos de avaliação e redefinição da visão de longo prazo.
Também precisamos ter alvos de médio prazo que não se relacionem com os
alvos de longo prazo. Esses alvos podem ser para a família, para a nossa
vida pessoal, ou talvez o nosso afastamento de certas atividades a fim de
abrir espaço para o cumprimento de um destino mais amplo nos anos
vindouros.
Finalmente, há também os alvos de curto prazo (0–2 anos) que podem
servir como bases de lançamento, um elemento de transição para os alvos
mais amplos que o Senhor nos der.
Deus conhece o cronograma no qual Ele se pronuncia. Quando nós
nos dedicamos ao processo de oração e de avaliação das mensagens
proféticas, Ele nos falará mais especificamente em termos de tempo e de
processo. Depois do chamado vem o treinamento e a preparação. A profecia
proporcionará uma agenda para a oração e para a ação.
Vejamos um exemplo: eu dei uma palavra profética para um casal,
que o Senhor estava chamando para a América do Sul – ou para o Brasil em
particular. Eles não conheciam ninguém naquela região e não conheciam a
língua. Eles concordaram que a profecia confirmava seu chamado e desejo de
servir o Senhor naquela região. Por um período de dois anos, eles
começaram a reunir uma agenda de oração pelo Brasil, pedindo ao Senhor
para abrir portas e lhes dar contatos. Também fizeram um alvo para
aprender Português em três anos.
Nós não devemos perder de vista os propósitos de Deus. Como Jesus,
nós precisamos estar em constante comunhão com o Pai. Deus nunca faz
nada de modo apressado, mas está sempre dentro do prazo.
Nós temos de permitir que o Senhor faça tudo o que idealizou
em nossa vida, no nosso caráter e no nosso temperamento. Umas das
coisas mais sensatas que podemos fazer é planejar o desenvolvimento
do nosso caráter em alvos de curto e médio prazo. Se formos
suficientemente corajosos, podemos tentar fazer o seguinte exercício:
• Escolha doze pessoas. Algumas devem conhecer bem você; outras
devem ser líderes ou pessoas maduras; uma ou duas pelo menos
devem ter habilidades analíticas.
• Escolha um grupo de 3 ou 4 pessoas que possam compilar as
informações necessárias e tomar parte na fase de discussão que se
seguirá.
• Se você estiver sendo discipulado, os seus discipuladores devem
fazer parte do grupo pequeno.
• Dê a cada pessoa uma folha de papel e peça que escrevam um
comentário sobre as seguintes áreas:
· Quais são as suas maiores qualidades e seus
maiores defeitos?
· Que frutos do Espírito Santo são evidentes em
sua vida e quais estão faltando?
· Você é confiável? Você é organizado? Você
termina aquilo que começa?
· Que tipo de temperamento você tem?
· Que habilidades você possui?
· Quais são os seus principais dons; você é um
cristão bem desenvolvido, mediano ou
precário?
· Você possui habilidades de liderança? Em caso
positivo, quais precisam ser mais aprimoradas?
· Você deseja fazer algum comentário adicional?
• Garanta que as informações sejam estritamente confidenciais.
Todos os papéis deverão ser devolvidos ao líder do grupo pequeno e
ficar sob seus cuidados.
No final do exercício, nós conheceremos as áreas onde precisamos
melhorar. Podemos incluir essas informações no nosso plano de ação e nos
alvos de curto e médio prazo. A importância de um exercício como este não
pode ser subestimada. Essas serão as áreas da nossa vida onde o Espírito
Santo definitivamente terá de agir nos próximos anos de preparação. Isso
acontecerá de duas formas.
Primeiro, nós precisamos determinar o que pode ser feito em termos
de treinamento e desenvolvimento com os nossos mentores a fim de
erradicar as debilidades e deficiências e melhorar as habilidades e
talentos. Isso pode ser mediante o treinamento formal ou nas
oportunidades informais. Nós podemos ser chamados para melhorar
nossas habilidades no trato com pessoas enquanto cultivamos um espírito
mais forte de servos.
Segundo, o Espírito Santo se engaja no desenvolvimento
situacional. Ele nos colocará em conjuntos de circunstâncias destinadas a
nos ensinar paciência, domínio próprio, fidelidade, etc. Algumas delas serão
testes rápidos que nos mostrarão se as nossas reações naturais são adequadas
ou se precisam ser transformadas. Esses testes terminam antes mesmos
que tomemos consciência deles. Eles produzem um vislumbre do estado da
nossa capacidade de andar no Espírito.
Outras circunstâncias são mais complexas. O propósito deles é
produzir em nossa vida os atributos do caráter de Deus. Algumas situações
promovem a bondade e a mansidão. Outras testam e fortalecem a nossa
fé. Outras fortalecem a nossa perseverança e o poder sobre o inimigo.
Algumas são designadas para nos trazer maior alegria. Haverá situações que
nos deixarão mais resistentes, com uma habilidade maior de suportar
adversidades e agir como soldados.
Algumas circunstâncias têm como alvo melhorar nosso sistema de
crenças. Será que nós cremos na Palavra de Deus? Nós estamos preparados
para ficar firmes na palavra revelada das Escrituras? Outras circunstâncias
testarão e desenvolverão a nossa capacidade de seguir adiante no ministério
em tempos de adversidade, com problemas pessoais, problemas de saúde ou
de melancolia.
Deus está produzindo um exército de homens e mulheres que sejam
fortes e estejam em forma; que sejam resistentes e confiáveis; que sejam
bem treinados e capazes nas esferas da Palavra e do Espírito, a fim de
conquistarem terreno do inimigo.
Tempo e preparação são elementos absolutamente essenciais para o
nosso crescimento. A falta de preparação faz com que o tempo de certas
coisas acontecerem tenha de ser adiado. Se nós cooperarmos com Deus, há
toda possibilidade de que Ele se encarregue de fazer as coisas acontecerem no
tempo certo. A coisa mais importante que temos de lembrar é: Deus não
mede tempo, ele mede crescimento!
O ministério do Espírito Santo é nos preparar para o serviço do
Senhor. Muitas vezes as pessoas me perguntam depois de receber uma
profecia: “Quando isso acontecerá?”. Minha resposta usual é:
“Provavelmente assim que você estiver pronto; você está disposto a deixar o
Senhor esperando?”.
A profecia nos oferece uma agenda para ação e oração. Por isso
procurei falar bastante sobre a nossa resposta apropriada ao Senhor, na
profecia. Lembremos sempre que a profecia declara possibilidades e não
inevitabilidades. Só porque nós recebemos uma profecia não significa que
ela se cumprirá automaticamente. O Senhor busca uma resposta. Ele mede
o crescimento e não o tempo. Para que o seu sonho profético se cumprisse,
José teve de crescer e amadurecer. O Senhor sabia que pretendia tornar José
Primeiro-Ministro do Egito, para administrar o país no lugar do Faraó. José
cresceu e se preparou para esse papel administrando a casa de Potifar, todas
as suas propriedades e bens.
Ele administrou tão bem e se tornou tão confiável que Potifar chegou
ao ponto de nem saber ao certo a plena medida das suas riquezas (Gn 39.6).
Ele prosperou porque o Senhor estava com José. José não defraudou Potifar
em nada, incluindo sua esposa!
A seguir, José revolucionou completamente o sistema carcerário
egípcio, enquanto crescia em sua preparação para ser assistente do
governador. Tudo o que aconteceu na prisão foi por meio da habilidade, do
planejamento e da organização de José. O carcereiro confiava tanto em José
que lhe deu completa liberdade dentro da prisão (Gn 39.23).
A Escritura diz que até que se cumprisse a palavra da profecia, a
mesma palavra testou José (Sl 105.19). Passaram-se 24 anos até que a
palavra inicial da profecia se cumprisse. Abraão, o “pai de nações”,
esperou mais de 40 anos pelo filho prometido, Isaque. Davi cresceu em
estatura e em nobreza no deserto, onde esperou mais de 20 anos pelo
cumprimento da profecia de que seria rei. Os israelitas tiveram de crescer no
relacionamento com Deus enquanto esperavam 40 anos para entrarem na
terra de Canaã.
Deus está mais interessado na nossa fidelidade do que no nosso
sucesso. Nós medimos as pessoas pelo sucesso que elas alcançam na vida. O
Senhor também deseja que nós sejamos bem sucedidos. Ele deseja nos
dizer: “Muito bem, servo bom e fiel!”. No entanto, na economia de Deus, a
fidelidade tem maior proeminência do que o sucesso.
O rei Saul obteve sucesso na guerra contra os amalequitas, mas foi
infiel a Deus no processo (1 Sm 15). Ele tentou torcer a palavra de Deus a
fim de que ela se encaixasse em seus desejos e necessidades (v. 9). Quando
sua atitude foi descoberta e denunciada, ele rapidamente disse que os
animais (somente os melhores rebanhos) tinham sido poupados para
sacrifícios a Deus.
A resposta de Samuel foi que Deus não tinha prazer em ofertas
queimadas em detrimento da obediência e da fidelidade. A partir daquele
momento, aos olhos do Senhor, Saul não era mais o rei de Israel.
Como nós medimos o sucesso? Ezequiel foi chamado para ser profeta
de Deus para Israel. Deus lhe disse que o estava enviando a um povo que
jamais ouviria nada do que ele dissesse. Deus o enviou a um povo rebelde e
de coração duro, que faria oposição ao seu ministério (Ez 3.7-9). Por causa
dessa oposição Deus endureceria o rosto do profeta contra toda oposição.
Durante 22 anos Ezequiel profetizou para um povo que rejeitou seu
ministério. Como nós mediríamos seu sucesso? Só podemos medi-lo em
termos de fidelidade em continuar proclamando a palavra do Senhor
mesmo em face de duras adversidades e constante rejeição. Ezequiel foi um
atalaia bem sucedido que obedeceu ao Senhor, aparentemente sem
resultados. Ele começou seu ministério com Israel no cativeiro. Os
israelitas continuavam no exílio na Babilônia quando Ezequiel terminou
seu ministério.
Meu bom amigo Peter Stott disse: “Deus está mais interessado na
nossa fidelidade e na nossa disposição de ser coerente e fiel à sua Palavra do
que nos resultados do nosso ministério”.
Muitos cristãos com os quais eu converso declaram sua
frustração e tristeza porque suas profecias foram rejeitadas ou desprezadas
pelas igrejas locais. Muitos desses profetas se tornam irados e amargurados.
Alguns se afastaram das igrejas, sacudindo a poeira das
roupas numa atitude de “não vou mais atirar pérolas aos porcos”.
Eu já ouvi muitos desses comentários. Os verdadeiros profetas não
devem mostrar esse tipo de comportamento infantil. Eles devem ter um
senso da história do seu próprio chamado e entender a época em que
vivem. Para podermos ser fiéis ao nosso chamado e ficar firmes mesmo
quando não estamos obtendo nenhum progresso ou experimentando nenhum
resultado positivo, nós precisamos entender a importância da esperança.
A verdadeira esperança cristã
Para começar, esperança não significa otimismo. Não significa olhar
o lado positivo das coisas. Não é ter um forte desejo que algo aconteça.
Na cultura ocidental, a esperança contém um forte elemento de resignação.
Um homem, que ficou desempregado durante dois anos, foi chamado
recentemente para uma entrevista. Quando lhe perguntaram se achava que
tinha conseguido o emprego, ele respondeu: “Espero que sim! Eu gostaria
desse emprego, mas não sei se vou conseguir. Eu diria que tenho 50% de
chances de ser escolhido. Ainda assim, agora só o que eu posso fazer é ter
esperança”.
A esperança daquele homem se baseava na resignação e num vago
desejo de ser afortunado. Toda a sua atitude era de aquiescência passiva. Um
estoicismo abnegado. Era melhor ter esperança (embora improvável) do que
desistir. No entanto, interiormente, ele já tinha desistido. Estava usando a
esperança apenas para manter as aparências em público.
Na tradição judaica, esperança é algo totalmente diferente.
Esperança significa ter confiança e expectativa inabalável no caráter de Deus.
A esperança tem quatro níveis de resposta ativa.
Primeiro, “Eu sei quem é Deus” – Ele é o Todo-poderoso que tem
poder sobre todas as coisas. Ele reina supremo!
Segundo, “Eu sei como Deus é” – Ele é a Pessoa mais bondosa que
eu já conheci. Ele é o meu Pai. Ele me escolheu e derramou o seu amor sobre
a minha vida.
Terceiro, “Eu sei o que Deus prometeu” – Ele fez para mim grandes
e preciosas promessas. Eu sirvo a um Deus cuja vontade é sempre coerente
com a sua Palavra. Quando Ele fala, Ele age!
Quarto, “Eu sei que Deus tem o poder para fazer aquilo que
diz” – O meu Pai é Todo-poderoso. Ele me deu o Espírito Santo e tudo
aquilo que concerne à vida e à piedade. Ele me concedeu o poder de receber
suas bênçãos. Até mesmo a fé é um presente que recebi do céu de modo que
posso receber todas as bênçãos espirituais concedidas pelo Pai.
Ele é o Deus imutável que sempre faz o que diz. E sempre será o que
é! Isso é esperança: uma expectativa alegre e confiante da graça e da
bondade de Deus porque Ele não muda. Deus me colocou no lugar onde seu
favor sempre brilhará e será derramado sobre mim – em Cristo. Ele me
colocou no lugar onde eu sempre serei aceito por Ele – em Cristo. Um lugar
onde eu sempre receberei as respostas às minhas orações e ouvirei a sua voz
– em Cristo. Ele me colocou no lugar onde nenhum demônio, nenhuma
circunstância, ou incredulidade, ou pessoa odiosa poderá me tocar – em
Cristo.
Em Cristo, Deus é o mesmo para comigo ontem, hoje e para sempre
(Hb 13.8). Num mundo em constante mudança, nós descansamos nos
braços de um Deus imutável!
A esperança olha para o futuro e declara: “Deus continuará a ser o
mesmo para comigo, como Ele sempre foi. Ele agirá da mesma maneira para
comigo. Ele é imutável!”.
A Escritura diz o seguinte:
“De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb
13.5)
Esta promessa é proferida veementemente! Ela tem um tom forte,
decidido, como se Deus dissesse essas palavras “olhando nos nossos olhos”.
Eu gosto da tradução da Bíblia Ampliada:
“Em hipótese alguma eu falharei e nem desistirei de você; eu não
deixarei você sem apoio. De maneira alguma, de maneira alguma, de
maneira alguma eu deixarei você desamparado. Eu não abandonarei
você. Eu não relaxarei o meu amparo na sua vida; definitivamente,
não!”.
Nós podemos sentir o poder por trás dessas palavras. Trata-se do
mesmo poder que está por trás de toda palavra profética, não importa quem
a esteja pronunciando.
Quando Deus fala, seja por meio da sua verdade revelada ou por
meio do ministério profético, Ele busca imprimir a força do seu poder e
também a segurança da sua vontade. Esperança é ter a certeza de que Deus
continuará sendo o mesmo durante todos os dias da nossa vida, para sempre.
A esperança diz: “Eu conheço a graça de Deus hoje. Essa graça será a
mesma na semana que vem, no mês que vem, e no ano que vem. Sempre.
Deus é imutável. Ele jamais me abandonará”.
A esperança é a precursora da fé. Nossa confiante expectativa de que
Deus é imutável em seu coração para conosco nos dá o suporte necessário
para o exercício da nossa fé na sua natureza imutável. Deus é constante. Mais
constante do que o Sol, a Lua ou as estrelas. A esperança permite que
andemos confiantemente pela fé.
Há três coisas que trabalham juntas na nossa vida, colocando-nos
em harmonia com o nosso grande e imutável Pai: a fé, a esperança e o
amor. A esperança é a âncora entre a fé que toma posse no presente e o
profundo amor de Deus, demonstrado na Pessoa de Cristo.
A esperança, aquela confiante expectativa, mantém alegremente a fé e
o amor em nosso coração e experiência. A esperança deve ser plena de
alegria e de riso. Ela é confiança (crença, dependência) na constância de Deus
– eternamente o mesmo para conosco.
Há duas coisas imutáveis sobre Deus, nas quais nós devemos crer.
Primeiro: a natureza de Deus é imutável, constante e plenamente
confiável. Segundo: quando Deus promete algo, tudo o que Ele é está por
trás dessa promessa. A promessa de Deus é tão confiável quanto o seu
nome! Seu nome é tão confiável quanto a sua natureza!
Deus incorpora toda a verdade, de modo que Ele não pode mentir.
Ele é a verdade (“Eu Sou o caminho, a verdade e a vida”), nós podemos
confiar totalmente nas suas promessas. Nossa esperança (confiante
expectativa) é segura e inabalável, ancorada no próprio Deus.
Por isso o salmista foi tão eloquente ao falar da esperança. Em tempos
de adversidades e de estresse, ele se reanimava expressando uma alegre
esperança em Deus:
• “Tu és a minha esperança, Senhor Deus, a minha confiança
desde a minha mocidade” (Sl 71.5)
• “Quanto a mim, esperarei sempre e te louvarei mais e mais” (Sl
71.24)
• “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas
dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu
auxílio e Deus meu” (Sl 42.5)
• “E eu, Senhor, que espero? Tu és a minha esperança” (Sl 39.7)
Quando lidamos com profecias em nossa vida, nós fundamentamos a
nossa fé firmemente na nossa confiante expectativa de que o Senhor
cumprirá sua promessa, da sua maneira, e no seu tempo. Nosso papel é
garantir que vivemos a nossa vida da melhor maneira possível. Nós sabemos
que quando vivemos corretamente diante de Deus,
“o Senhor Deus é sol e escudo. O Senhor dá graça e glória; nenhum
bem sonega aos que andam retamente” (Sl 84.11)
A esperança jamais nos desapontará, porque ela se baseia no
amor de Deus, derramado em nossos corações pelo Espírito
Santo que nos foi dado por Deus (Rm 5.5). Tal esperança é a âncora da
alma, segura e firme, levando-nos à presença de Deus (Hb 6.17-20).

Paciência e perseverança
Uma vez que nós temos certeza de que a profecia é verdadeira, temos
de lutar para manter a paciência e a confiança. Não podemos nos permitir ser
privados da bênção.
“Não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e
pela longanimidade, herdam as promessas” (Hb 6.12)
Nesse mundo instantâneo em que nós vivemos, queremos que tudo
seja feito imediatamente. É uma vergonha que o movimento da fé esteja
sendo maculado por algumas pessoas com um ministério que prega
“determine isso; reivindique aquilo e tudo será seu imediatamente”.
No âmago do ensino sobre a fé há dois extremos. De um lado, a
habilidade que adquirimos no Espírito de nos apossar agora. Do outro lado, a
força para perseverar e esperar com paciência, e nos manter firmes durante o
aperfeiçoamento da nossa fé. O Espírito Santo é excelente em reconciliar
esses dois extremos dentro de nossa experiência de vida. Ele usa a
esperança como uma ponte entre essas situações tão diferentes.
“Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande
galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que,
havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa” (Hb
10.35,36)
Entre a profecia e o seu cumprimento pode haver um conjunto de
circunstâncias que exigem respostas apropriadas. Uma dessas respostas é
ficar firme na promessa. É não abandonar a confiança. Temos de ficar
firmes e perseverar (com paciência). E fazer a pergunta: Qual é a vontade
de Deus nesta situação?
Primeiro, pode haver áreas de nossa vida que o Espírito Santo deseja
purificar ou transformar. No espaço de tempo entre a profecia e o seu
cumprimento o Espírito Santo estará tratando do nosso caráter. Nós
estamos respondendo adequadamente? Estamos recebendo conselho,
orações e apoio de outras pessoas, a fim de conseguirmos fazer as
alterações em nossa vida?
Em segundo lugar, nós estamos aprendendo como ficar firmes na fé.
Toda a vida cristã consiste em assumir posições firmes (Ef 6.10-17). Ficar
firmes no poder de Deus. Ficar firmes contra as artimanhas do maligno.
Ficar firmes, vestindo a armadura de Deus e preparados para resistir ao
diabo.
A vontade de Deus é que nós demonstremos a nossa fé nele o tempo
todo. Para Deus é extremamente importante que nós creiamos nele. Por isso
Ele coloca todo o seu ser por trás de cada palavra, de cada promessa. Ele
odeia a incredulidade, mas recompensa aquele que persevera com paciência.
A paciência se relaciona com a nossa atitude pessoal. É uma calma
perseverança. É nos aquietar sob a mão dele, sem resistir àquilo que Ele
planeja fazer. É não ficar ansioso, mas esperar no Senhor sem
preocupação.
“Os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas
como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam”
(Is 40.31)
A perseverança é mais ativa do que a paciência. Perseverar
significa ficar firme diante das tribulações; é ter a disposição de superar os
obstáculos e seguir em frente a despeito das circunstâncias. É algo ativo!
Quando Deus fala profeticamente, a mensagem que Ele transmite
contém substância. Ela cria aquilo que Deus falou. A profecia nos dá um
ponto de partida. Ela representa a vontade do Senhor. Nós temos de praticar
essa vontade; ela é uma promessa que se aplica à nossa situação. Nós temos
de lançá-la na face do inimigo (1 Tm 1.18), usá-la como arma e estarmos
totalmente dispostos a nos submeter a ela.
A paciência e a perseverança muitas vezes se combinam nas nossas
experiências. Elas nos ajudam a manter os nossos olhos em Deus por meio
daquilo que Ele falou. Nós podemos expressar a nossa confiança em Deus
adorando e louvando a Ele pelo que nos falou. Podemos dizer: “Obrigado,
Senhor, porque tu falaste comigo; me deste uma promessa; me deste uma
palavra; tu disseste... E por isso eu confio em ti, eu te adoro e eu te louvo.
Obrigado!”.
É importante repetir as promessas de Deus para Ele, citando- as na
oração e no louvor. Devemos agradecer a Deus citando suas promessas. Esta
é uma arma contra o inimigo, um escudo contra as suas setas inflamadas. O
inimigo insinuará: “Deus não falou?” (Gn 3.1). Nós temos de replicar com
alegria: “Sim! Ele falou!”.
Temos de ter certeza de que a nossa atitude não está neutralizando a
profecia que recebemos. Temos de assumir uma posição. Temos de nos
alinhar com Deus. Temos de suportar as adversidades, e esperar no Senhor.
A paciência e a perseverança, alinhadas à fé e esperança, levarão ao
cumprimento de tudo aquilo que Deus prometeu para nós.
Capítulo Dez

Esquema da profecia nas igrejas locais


O contexto da profecia é sempre na igreja local. A Igreja é idéia de
Deus: um grupo de pessoas separadas e reunidas por meio da vida, morte e
ressurreição do Senhor Jesus Cristo.
Por meio do sangue de Jesus derramado nós somos purificados,
renovados e libertados para servi-lo, juntos, com humildade e alegria no
coração. A igreja é descrita como Corpo, Noiva, Exército, Família e uma
Cidade. Em toda a Bíblia nós temos este quadro maravilhoso daquilo que a
Igreja é designada a ser e fazer na perspectiva de Deus.
Então nós entramos numa igreja local e percebemos que nós
estamos aplicando apenas uma pequena porcentagem da revelação de Deus
para o seu povo. Há uma lacuna de credibilidade entre o ideal das
Escrituras e a realidade da nossa prática normal.
O alvo dos líderes das igrejas deve ser produzir homens e
mulheres maduros, que viverão dentro da realidade prática e ao mesmo
tempo lutando para alcançar o ideal por meio do desejo, da oração e da
estratégia.
A profecia nos ajuda a reduzir a lacuna de credibilidade entre o ideal e
o atual. A profecia revela a mente e o coração de Deus para o seu povo. Ela
encoraja, exorta e conforta. Ela ajuda na edificação da igreja. A profecia
ajuda a criar intimidade entre Deus e seu povo, e entre os irmãos. A profecia
estimula as pessoas a melhorar mais e mais na presença de Deus. Ela
conforta e mostra a bondade do coração de Deus em nossa aflição. Ela nos
mantém em movimento mesmo sob fogo cerrado. Ela ajuda a produzir
verdadeiros homens e mulheres de Deus, dispostos a pagar o preço para estar
na linha de frente de tudo o que Deus estiver fazendo.
Portanto, é muito importante entender que dentre todos os dons,
talvez o dom de profecia seja o que sofre os maiores ataques. O inimigo fará
tudo para solapar, imitar e desacreditar esse ministério fundamental dentro
das igrejas locais.
Os líderes, principalmente, devem fazer todo o possível para
encorajar o uso correto da profecia. Dentro das igrejas locais há uma grande
mistura de relacionamentos, ministérios, alvos e visões. Há diferentes
perspectivas. Há líderes e liderados. Há ministérios pastoral, profético,
evangelístico. E há também: tensões, pressões e frustrações.
A mensagem profética funciona como um agente catalisador dentro
do cenário da igreja local. Os cientistas têm uma palavra que define esta
atividade peculiar: quimiotaxia – “mudança de orientação de organismos de
vida livre ou células, em resposta a um estímulo químico”. A profecia
causa exatamente o mesmo efeito: move toda a congregação numa certa
direção em resposta ao conteúdo da mensagem profética.
A fim de que o dom de profecia ou o ministério profético
assumam seu legítimo lugar na igreja local, nós temos de estabelecer algumas
regras fundamentais. Elas são fáceis de compreender e de usar.
Profecia Inspiradora
É o tipo mencionado em 1 Coríntios 14.3:
“O que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e
consolando”.
Ela pode vir mediante pronunciamentos espontâneos durante a
adoração ou a oração. Também pode ser usada efetivamente em estruturas
mais restritas, como grupos familiares (alguns estudiosos afirmam que este é
o melhor ambiente para o exercício do dom profético). Sempre que
possível, devemos fazer um esforço para que a qualidade da vida espiritual
da igreja se manifeste em diferentes ambientes e em diferentes formatos de
reunião.
Espera-se que isso seja um incentivo para que as pessoas cuidem e
orem pelas outras em seus relacionamentos fora da igreja. Devido ao seu
caráter de encorajamento, estímulo e conforto, a profecia deve desempenhar
um papel importante no processo dos membros abençoarem e edificarem uns
aos outros.
Quando se estabelece uma regra que diz que a profecia só pode
ser usada nas reuniões ordinárias, o Corpo é privado de uma dinâmica
maravilhosa e enriquecedora. As regras jamais devem substituir o
relacionamento e a confiança. Líderes inseguros tendem a tomar decisões e
criar regras em torno do dom das pessoas em vez de aproveitar as
oportunidades para melhorar e aprofundar os relacionamentos entre as
pessoas.
Encorajar bons hábitos
Eis aqui uma diretriz que deve ser usada nas profecias inspiradoras.
Na igreja nós sempre devemos ter pessoas que estão aprendendo a exercitar
o dom profético e aqueles que estão amadurecendo no uso do dom. A
profecia inspiradora se concentra na provisão de encorajamento, estímulo e
conforto geral nas coisas de Deus. A profecia inspira as pessoas a confiar no
amor de Deus, e estar em paz e descanso. Ela proporciona fé e encoraja a
revelação do poder do Senhor. E estimula à adoração e oração. Ela libera a
fé em Deus e traz um senso da sua presença na vida das pessoas. Todas essas
coisas são alvos básicos da profecia na parte mais rasa da piscina – a parte
inspiradora do dom profético.
No estágio do aprendizado, é preciso que as pessoas tenham um
mentor ao qual recorrer e receber ajuda com todas as mensagens proféticas
que recebem. O mentor pode ser uma pessoa madura que esteja num
estágio avançado do uso do dom ou um líder de um grupo pequeno. Ele
deve ser uma pessoa responsável e de preferência que não faça parte da
liderança principal da igreja. A idéia de um mentor para os aprendizes é que
este funcione como um filtro para a liderança principal.
A liderança principal, por sua vez, deve providenciar um mentor para
todos aqueles que estão amadurecendo no uso do dom. O alvo esperado é que
os integrantes do ministério profético sejam ouvidos, se desenvolvam e
assumam responsabilidade por suas palavras e atitudes.
Na fase de aprendizado, a pessoa deve começar a desenvolver
relacionamentos responsáveis, nos quais as suas palavras possam ser
avaliadas e ela possa receber instrução e palavras de sabedoria no protocolo
profético. Quando um indivíduo cresce no desenvolvimento do seu dom,
pode ir recebendo responsabilidade. Num determinado ponto, o aprendiz
deve receber a liberdade de pronunciar profecias inspiradoras sem necessitar
que cada palavra seja avaliada. Neste ponto ele se uniu àqueles que são
maduros na profecia e poderá entrar num regime mais profundo de
desenvolvimento.
De forma bem simples, podemos dizer que eles desenvolveram um
espírito de servo no uso dos dons e agora podem se mover para outro nível de
crescimento, responsabilidade e maturidade.
Na fase de aprendizado, tudo deve ser avaliado. Na fase madura, o
profeta recebe liberdade para pronunciar mensagens espontâneas de
inspiração. Entretanto, um protocolo é desenvolvido, no qual as pessoas que
progridem para a profecia de revelação podem exercitar o dom dentro de um
critério de maior responsabilidade.
A profecia de revelação tem uma abordagem mais planejada, ela está
ligada ao ministério. Ela contém mensagens que trazem direção, há
elementos relacionados à administração. Ela traz um senso de alvo a ser
alcançado. E contêm instruções para que a igreja siga numa direção em
particular. Pressupõe melhoria da visão e abertura de novas portas e novos
horizontes. A profecia de revelação também contém palavras de correção
que envolvem aspectos de julgamento, ações disciplinares, denúncias e
acertos de coisas erradas. Ela envolve também admoestações e ajustes, um
claro chamado ao arrependimento e a administração de tais momentos.
Todos esses aspectos do dom de revelação exigem um certo protocolo (veja o
Capítulo Cinco, “Diretrizes para lidar com a profecia”).
Não é minha intenção repetir aqui o conteúdo já declarado. Mas
quero oferecer um rápido guia de referência para o protocolo exigido pelo
dom de revelação na igreja local. Há seis elementos do protocolo
concernente à entrega de mensagens de revelação nas igrejas.
1. Apresente a mensagem primeiro em particular e não em
público
Resista à tentação de falar assim que a palavra chega ao seu
espírito. Nossa primeira reação deve ser orar e buscar ao Senhor. A profecia
de revelação pode ser uma enorme bênção ou causar danos terríveis – se
houver abuso ou mau uso.
Muitas profecias de revelação devem esperar no mínimo 24 horas
(muitos casos exige um tempo maior). Eu creio que podemos descobrir que,
na profecia, Deus, de fato, oferece um intervalo de tempo para que o
protocolo seja aplicado efetivamente. Neste ponto nós precisamos orar e ter
clareza sobre o que Deus está falando.
A profecia de revelação tem implicações administrativas e por
isso deve ser compartilhada primeiro com aqueles que têm responsabilidade
e unção de Deus para liderar as mudanças. Nós devemos tomar cuidado
para não colocar o ministério profético na frente daqueles que têm unção
e autoridade. Se fizermos isso cometeremos um grave erro aos olhos do
Senhor e será uma profunda demonstração de falta de respeito pelas
autoridades constituídas.
2. Registre as profecias
Quando a mensagem é registrada, ela pode ser analisada e
interpretada. E pode se transformar em ações positivas por parte dos líderes
da igreja.
Uma mensagem profética não registrada tem pouca utilidade. Os
detalhes mais importantes podem ser esquecidos, ou ser mal interpretados,
com o passar do tempo, pois teremos de depender da memória em vez de
termos um registro exato.
Registrar as mensagens era uma prática comum entre os
profetas do Antigo Testamento. Isaías recebeu instrução específica para
escrever suas palavras (Is 8.1), e também explicar por que era importante
fazer isso.
“Vai, pois, escreve isso numa tabuinha perante eles, escreve-o num
livro, para que fique registrado para os dias vindouros, para sempre,
perpetuamente” (Is 30.8)
A profecia tem uma aplicação constante, que pode durar muito tempo
depois do seu pronunciamento. A profecia de revelação continuará a servir
mesmo depois que o contexto particular que motivou o seu pronunciamento
já foi resolvido.
O profeta Habacuque recebeu uma instrução similar a de Isaías:
“O Senhor me respondeu e disse: Escreve a visão, grava-a sobre
tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. Porque a visão
ainda está para cumprir-se no tempo determinado” (Hc 2.2,3)
A mensagem dizia: esta revelação não é para agora, é para mais tarde!
Há vinte anos atrás uma igreja localizada na região central da
Inglaterra (chamada de Midlands) recebeu uma palavra profética dividida
em duas partes. A primeira parte dizia que deviam comprar um prédio em
determinado local e reformá-lo. A segunda parte da profecia dizia que
naquele prédio Deus levantaria uma nova geração de líderes e ministérios
fundamentais que afetariam toda a região. Os membros da igreja
obedeceram. A muito custo compraram o prédio, e passaram vários anos
reformando-o, para deixá-lo em condições de funcionamento. A segunda
parte da profecia, porém, jamais se cumpriu. E com o tempo a igreja
esqueceu a profecia e se acomodou, tornando-se uma igreja complacente e
obscura de classe média.
Eu fui convidado para passar um fim de semana naquela igreja e o
Senhor me deu uma profecia de direção dividida em duas partes para a igreja.
Os líderes me pediram que compartilhasse a mensagem para toda a
congregação.
A primeira parte da profecia começou assim: “Deus lhes deu este
prédio. Neste local, Ele está levantando uma nova geração de líderes e
ministérios fundamentais que afetarão toda a região”. A mensagem foi
praticamente idêntica à segunda parte da profecia original que tinham
recebido.
Quando eu terminei de falar, várias pessoas na congregação com
idades entre 50 e 70 anos começaram a levantar as mãos e louvar ao Senhor.
Muitos choravam. Durante todo o fim de semana pessoas traziam pedaços de
papel com a profecia original escrita – inclusive líderes. Muitos membros da
atual liderança não estavam na igreja na época da profecia original. “Escreve
a visão, grava-a sobre tábuas... Porque a visão ainda está para cumprir-se
no tempo determinado”.
Toda a igreja, incluindo os membros mais novos, podia entender
que eles estavam vivendo o cumprimento de uma profecia que fora
pronunciada há vinte anos. Foi um fim de semana cheio de
empolgação, louvor, renovação e reafirmação diante do Senhor.
Para mim, foi um imenso privilégio fazer parte daquilo. No entanto,
devemos dizer que o poder daquela ocasião teria sido totalmente perdido
se a profecia anterior não tivesse sido registrada e lembrada.
“Assim fala o Senhor, Deus de Israel: Escreve num livro todas as
palavras que eu disse” (Jr 30.2)
No capítulo 36 do seu livro, Jeremias recebe mais instruções sobre a
questão de registrar as profecias. Quando o rei confiscou o rolo de
Baruque, secretário de Jeremias, e o queimou, Jeremias recebeu instrução
de escrever outro. Fazer uma pausa para escrever as profecias de revelação
(talvez não na íntegra, mas pelo menos as ideias principais) nos ajuda a
adquirir um senso de carga e de propósito. O que Deus está dizendo? Por que
ele está dizendo isso? O que Ele sente pelas pessoas e pela situação? O que o
Senhor deseja que seja feito a partir do que foi dito?
Essas questões são válidas e nos ajudarão a determinar certos
elementos sobre a mensagem profética. Qual é o tipo da profecia? Trata-se
de uma advertência? Ela traz direção? Ela afetará a visão? Em caso
afirmativo, como ela afetará? Trata-se de correção? Nós teremos de fazer
algum ajuste? Há necessidade de arrependimento?
A resposta a todas essas questões afetará o método de
pronunciamento e sua recepção pelos líderes e pela congregação. Assim,
nós seremos levados a considerar um obstáculo principal, ou pedra de
tropeço, que pode impedir que a mensagem seja liberada e recebida. Esse
obstáculo é... nós mesmos!
3. Temos de permitir que o Senhor toque primeiro o nosso
coração
Como saber que se trata de uma genuína mensagem profética e não
a glorificação da nossa própria opinião? A “revelação” pode confirmar
nossos próprios desejos e sentimentos. Como podemos saber que a
mensagem profética não surgiu das nossas próprias frustrações ou
sentimentos de rejeição?
A resposta mais simples a essas perguntas é: não podemos ter
certeza das respostas! Há somente uma forma de filtrar nosso próprio
orgulho, frustrações, sentimentos de rejeição ou o nosso desejo de estar
certos e de dizer às pessoas “eu bem que avisei!”! Literalmente, a precaução
é: nós temos de nos humilhar e orar.
Quando se tratar de uma mensagem profética simples de correção ou
revelação, recomendo uma semana de oração e jejum. Com uma palavra mais
“pesada” de correção ou direção, eu recomendo pelo menos duas semanas
de oração e jejum antes de falar com os líderes.
Esse ato alcança vários propósitos. Primeiro, ele promoverá um nível
saudável de humildade, de modo que poderemos compartilhar bem a
profecia. Segundo, ele dissipará os sentimentos de frustração e o orgulho.
Em terceiro lugar, nossas próprias opiniões e sentimentos
tendem a desaparecer quando o nosso estômago está roncando! Algumas
pessoas acreditam que o jejum ajuda a limpar o organismo de todas as
toxinas, tornando-o assim mais saudável. No contexto profético, o jejum nos
dá a oportunidade de purificar a nossa alma e espírito, livrando-os das toxinas
das nossas frustrações, opiniões, orgulho e amarguras. Desta maneira, nós
podemos filtrar e extrair todos os elementos humanos e pecaminosos que
poderiam perverter as verdadeiras palavras proféticas.
Na profecia de revelação, antes de fazer qualquer coisa, nós
devemos permitir que o Espírito Santo fale primeiro ao nosso coração.
Esse tipo de mensagem exige especialmente um coração puro, motivos
puros e lábios puros. Nós precisamos ser muito honestos neste ponto. Se
tivermos facilidade de entregar mensagens negativas para as pessoas,
definitivamente há algo errado com o nosso espírito. Deve ser custoso
para nós entregar palavras de correção. É no jejum que nós começamos a
pagar o preço. Se não estivermos dispostos a pagar esse preço, então também
não devemos estar dispostos a entregar a profecia. Nós temos de permitir que
o Senhor examine o nosso próprio coração.
“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os
meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me
pelo caminho eterno” (Sl 139.23,24)
4. Entenda a sua própria responsabilidade
Nas profecias, com muita frequência, em especial nas mensagens de
revelação, nós tentamos fazer com que as outras pessoas assumam
responsabilidade em relação às nossas palavras. Todo aquele que se envolve
no ministério profético deve entender que profecia e responsabilidade
andam de mãos dadas. É bem simples: em caso de problemas, alguém tem
de assumir a responsabilidade!
Antes de pronunciar uma profecia de revelação, nós temos de
pagar o preço. O que Deus está nos pedindo? Pode ser que tenhamos de
acertar algumas coisas em nossa própria vida antes de profetizarmos. Como
é o nosso relacionamento com os líderes? Por que permitimos que as coisas
ficassem tão ruins? A falha pode estar em ambas as partes e por isso a
responsabilidade é dupla. Mas a questão é: Qual é a nossa parte?
Sob nenhuma circunstância nós devemos compartilhar a profecia com
nossos amigos ou colegas. Devemos buscar o Senhor, e a seguir procurar os
líderes. Pode parecer agradável ou atraente compartilhar a mensagem com
os amigos mais chegados. No entanto, posso afirmar com base na
experiência que em 90% dos casos ocorre um desastre. Nem sempre nós
sabemos o que há no coração dos nossos amigos. Muitas vezes, há
ressentimentos, feridas ou opiniões equivocadas não declarados.
Não estou encorajando o leitor a esperar o pior das pessoas ou pensar
mal delas. Pelo contrário, desejo garantir que o princípio da autoridade seja
bem compreendido. Os líderes merecem ouvir as profecias em primeiro
lugar. As opiniões de outras pessoas podem distorcer a profecia. Seria
uma vergonha se o meu jejum tivesse filtrado o veneno em minha própria
vida somente para vê-lo substituído por meio de conselhos insensatos.
Muitos profetas fracassam porque dão o tiro certo, mas no alvo errado! Nós
temos de nos colocar diante de Deus e dos líderes e permitir que nos
examinem em busca de indícios de falsa humildade, orgulho, frustrações e
atitude de julgamento.
5. Reunião com a liderança
Inevitavelmente haverá momentos de tensão entre os profetas e os
líderes. Quando o verdadeiro profeta fala, as coisas acontecem. A liderança
deve estar preparada para esses acontecimentos. Por isso deve haver um
ambiente saudável de respeito, amor e cooperação entre o ministério
profético e a liderança.
Durante um longo tempo, o ministério profético foi visto apenas como
fonte de bênção. Os profetas eram convidados às igrejas, participavam de
algumas poucas reuniões, abençoavam as pessoas e partiam. Em sua
essência tal metodologia não tem fundamento bíblico. No Novo
Testamento o ministério profético é visto primariamente no contexto da
edificação, ao lado do ministério apostólico, lançando o fundamento da
Igreja de Deus (Ef 2.20).
A tensão entre os profetas e os líderes das igrejas locais nem sempre
significa que algo está errado. Pode significar simplesmente que algo está
acontecendo! Não existe movimento sem tensão. Muitas igrejas locais têm
líderes sem visão. Essas igrejas tendem a crescer mais lentamente e
permanecem mais tempo estáticas, em vez de avançar. O papel do profeta,
entre outras coisas, é suprir, confirmar, estabelecer e desenvolver a visão da
obra e das pessoas.
Eu creio que isso significa que os profetas devem pronunciar as suas
mensagens e ficar por perto para ajudar. As igrejas locais que contam com
membros com dom de profecia devem abrir espaço para que eles façam parte
da liderança ou pelo menos do corpo de presbíteros. Os líderes sensíveis
reconhecem o papel dos profetas. Pessoas diferentes possuem diferentes tipos
de unção. Por exemplo, eu não tenho a mesma unção que outros presbíteros.
Não me arrisco a participar de reuniões financeiras ou administrativas. Da
mesma forma, eu não me envolvo em reuniões que tratam de questões
pastorais.
Entretanto, reuniões que discutem nosso planejamento financeiro
de longo prazo, ou estratégias pastorais, podem ser enriquecidas
com uma perspectiva profética. Qualquer reunião
que envolva estratégia, crescimento ou desenvolvimento pode se
beneficiar por ouvir as vozes proféticas da congregação. Não é
suficiente que os profetas falem nessas reuniões. É preciso que continuem
disponíveis para colocar em prática as implicações das profecias que
pronunciam.
Quando o profeta se reúne com os líderes, é muito útil ter algo
escrito para compartilhar. A forma como nós escrevemos e comunicamos
geralmente demonstra como nos expressamos. As pessoas que escrevem
melhor do que falam preferem anotar a profecia na íntegra. Os líderes
então podem ler e fazer perguntas a fim de esclarecer.
Outras pessoas podem preferir escrever apenas os pontos
principais da profecia e então apresentar os detalhes verbalmente. Em
qualquer caso, a anotação por escrito é de grande ajuda. A anotação ajuda
o profeta a ser mais claro, moderado e específico, e ajuda os líderes a
entenderem o que há no coração do profeta.
Ao escrever uma profecia de revelação, nós podemos começar a orar
por um processo de comunicação sem empecilhos. Nós podemos orar por
clareza na recepção e pedir o mover do Espírito Santo. Devemos buscar
um tempo especialmente separado para oração e avaliação da mensagem a
ser transmitida. Esse período pode ser de várias semanas ou até meses. Não
devemos desanimar.
Lembre-se que Deus permitirá que haja um intervalo suficiente para
que tudo seja pesado e avaliado. É importante que os líderes mantenham o
profeta informado sobre o que está sendo feito com a profecia, para que
ele não seja tomado pela frustração ou sentimentos de rejeição.
Em suma, devemos buscar uma parceria entre a liderança da igreja
local e os membros do ministério profético. Os líderes devem fornecer
informações regulares. Os profetas devem aguardar com uma atitude de
humildade. Depois de transmitir a mensagem profética aos líderes, os
profetas devem reconhecer que a responsabilidade pela profecia passou deles
para os líderes. Quando recebemos uma mensagem profética e a
transmitimos, aceitamos a responsabilidade que a acompanha.
A mensagem então deve ser deixada por conta da liderança. O
profeta não deve atrapalhar o processo de tomada de decisão. É necessário
que haja uma atitude de humildade e de respeito mútuo de ambos os lados. É
muito difícil transmitir uma mensagem profética num ambiente privativo e
depois ter de confiar nas pessoas. É como ter de abrir mão de uma parte do
próprio ser. Por isso ajuda muito quando o profeta pode acompanhar o que
está sendo feito com a mensagem.
6. Planejar o próximo passo
Depois que a mensagem profética é aceita pelos membros da
liderança da igreja, deve haver maior comunhão entre os líderes e o profeta
envolvido. É sempre bom reunir as duas partes na discussão concernente
aos próximos passos. Isso dará continuidade ao desenvolvimento da
comunhão e do relacionamento e promoverá um senso mais profundo de
compromisso na parceria.
O profeta pode ser capaz de oferecer mais informações sobre a
aplicação da mensagem e sobre a resposta adequada. Os líderes podem reter
a autoridade geral no desenvolvimento de uma estratégia efetiva. Às vezes a
mesma pessoa que pronunciou a mensagem profética pode não ser
adequada para determinar o que a igreja deve fazer a seguir.
Muitas vezes, na melhor das hipóteses, o profeta pode oferecer alguns
conselhos úteis. Na pior das hipóteses, podem oferecer ideias impraticáveis.
A realidade provavelmente ficará em algum ponto intermediário. O mais
importante é que os envolvidos tenham um espírito generoso e uma
disposição graciosa.
A igreja exige uma estratégia efetiva para apoiar a profecia. Eu
sugiro que a congregação adote todos ou alguns dos pontos a seguir:
(a) Conversar abertamente com a liderança principal
Além do grupo de líderes envolvidos no assunto, deve haver uma
equipe mais ampla de líderes que deve assumir a responsabilidade de uma
forma ou de outra sobre os membros da igreja. Essa equipe mais ampla deve
ser bem definida na igreja ou simplesmente composta por aqueles membros
que são mais comprometidos.
Líderes de grupos pequenos em especial devem ser envolvidos nesses
movimentos de oração e discussão. Essa equipe mais ampla deve ter tempo
para assimilar a profecia e entendê-la. Lembremos que os líderes
envolvidos diretamente já estarão lidando com a mensagem profética
durante várias semanas antes desse estágio. Não é realista esperar que
algumas pessoas entendam em pouco tempo aquilo que outros levaram
semanas para entender.
É bom que os envolvidos providenciem transcrições da profecia para
ajudar na discussão e nas orações. Também pode ser útil ter algumas ideias
sobre as implicações práticas da profecia. Lembremos que neste ponto não
estaremos buscando aprovação para a mensagem. Nós já reconhecemos este
fato e o envolvimento de um número maior de pessoas prova que a profecia
foi aceita como verdadeira. Agora é o momento dos envolvidos se reunirem
para discutir os efeitos da mensagem sobre o trabalho. É o momento dos
líderes assumirem a responsabilidade pela profecia. Esta responsabilidade
deve ser compartilhada com o maior número de pessoas influentes dentro da
congregação.
A questão agora não é aceitação, mas responsabilidade. A oração,
o diálogo e a comunhão que segue devem promover um senso de “Deus
falou. Como nós devemos nos alinhar com a sua palavra?”. Quando levamos
a mensagem profética para toda a congregação, as pessoas devem poder
enxergar várias características em ação:
• A mensagem foi examinada com atenção e a seguir foi aceita.
• Todos os líderes envolvidos concordam quanto ao conteúdo
profético.
• Há um elevado nível de unidade e responsabilidade em torno da
profecia.
• A profecia é recebida com seriedade e, portanto, terá
implicações na vida prática da congregação.
• Os líderes estão empolgados por terem recebido uma
mensagem do Senhor.
• Haverá um tempo de mudanças na igreja, que refletirá
positivamente no futuro.
• Como consequência, haverá um tempo de nova visão, de
fortalecimento da fé e de reflexão em relação à atual condição da
congregação.
Todos esses elementos precisam ser comunicados com clareza nas
reuniões da liderança. É preciso que apresentem um senso de unidade e de
propósito para toda a congregação. Portanto, é bom que todos os
envolvidos tenham tempo disponível para expressar suas preocupações,
objeções e temores. Sempre é bom que tais comentários sejam
verbalizados – caso contrário eles acabarão sendo ventilados por toda a
congregação.
É muito útil discutir os perigos e repercussões da profecia nesse
nível. Assim os envolvidos poderão responder as questões complicadas,
antecipar possíveis reações e o humor das pessoas. Todos esses elementos
terão um efeito positivo sobre a apresentação da profecia para toda a
congregação.
(b) A reunião com a igreja
Convoque uma reunião geral, com ampla divulgação. Tente reunir
o maior número possível de membros da igreja. Tente providenciar
pessoas para cuidar das crianças pequenas. É uma forma de envolver todos
os membros.
É possível organizar uma creche ou uma gincana com as crianças
enquanto os adultos se reúnem. Os líderes devem procurar determinar a idade
das crianças que poderão participar. As igrejas bem organizadas já têm
esquemas montados para esse tipo de contingência.
Um cuidado especial deve ser tomado em relação a quem fará a
apresentação. Pode ser apropriado que o profeta original transmita a
mensagem que recebeu. Se este for o caso, os líderes podem oferecer as
diretrizes básicas. É bom que aqueles que ocupam posições de autoridade
assumam a direção.
É apropriado que os líderes apresentem a profecia. E nesse caso é
importante que o profeta seja honrado. Nesse tipo de reunião é importante
que haja um tempo de adoração, criando um senso de empolgação e de
expectativa na presença de Deus. É preciso que seja feita uma apresentação
clara com o máximo de participação das pessoas. Não é bom que as pessoas
fiquem sentadas passivamente, apenas ouvindo.
Profecia é revelação e, portanto, a sua apresentação não deve
envolver um mero exercício de transmissão de informações. Pode ser uma
boa idéia dividir a mensagem em várias partes. Permita que cada parte seja
transmitida por uma pessoa capaz. Incentive os ouvintes a manterem uma
atitude de oração. O tipo de profecia que recebemos desempenha um papel
importante na forma como conduzimos a reunião extraordinária da igreja.
Se for uma mensagem do tipo agora, ou uma revelação que todos
tenham condições de ouvir e receber, então podemos incentivar a
congregação a dar uma resposta imediata. Esse tipo de profecia serve para
confirmar a nossa atual herança e visão. Ela nos mostra que estamos no rumo
certo, mas que precisamos fortalecer o nosso compromisso. Uma resposta
imediata pode proporcionar aos líderes a oportunidade de orar pelas pessoas e
envolvê-las na oração ativa. É claro que também se pode enfatizar que as
próximas reuniões de grupos pequenos serão usadas para se discutir as
implicações da profecia no planejamento de longo prazo. Temos de garantir
que as transcrições da mensagem, bem como os comentários dos líderes, e os
tópicos para oração estejam disponíveis para que todos levem para casa.
Se a profecia for uma mensagem de algo novo ou futuro, então pode
ser necessário realizar um tipo diferente de reunião. Será preciso que os
líderes enfatizem um pouco da história dessa igreja, e suas atuais
circunstâncias, a fim de estabelecer uma relação entre onde a igreja está e
para onde irá no futuro. Nesse caso o assunto tratará mais de planejamento,
mudanças e coisas novas que não precisam ser transmitidas para toda a
congregação (de uma só vez, numa só reunião). Os grupos pequenos
devem dedicar tempo à oração pelos pontos principais da profecia. Tais
grupos devem ser liderados com firmeza pelos líderes principais da
congregação, apoiados pelas pessoas mais influentes.
Precisamos enfatizar o objetivo de todo esse processo: nas
semanas seguintes, ou meses, criar nos grupos pequenos, um
ambiente propício para uma resposta individual ou corporativa, mais
oração, diálogo e esclarecimentos sobre a profecia. Para isso é preciso que
cada grupo tenha à sua disposição as transcrições sobre os principais pontos
da profecia, motivos de oração e material para as conversas.
É claro que certas profecias podem conter elementos de todos os tipos
de profecias: agora, confirmação, algo novo ou algo para o futuro. Para
maiores detalhes sobre esses aspectos, retorne ao Capítulo
7, Seção B, sobre os “Testes Subsidiários”. Nesse caso precisamos pensar
sobre qual será a resposta mais adequada no momento, e quais elementos
deverão ser separados para discussão.
(c) Discutir nos grupos pequenos
A profecia é algo importante demais para ser deixado de lado. Depois
da reunião com toda a igreja, é importante que se crie uma estratégia que
coloque a nova mensagem da parte de Deus em foco e seja analisada por
todos os interessados. Novamente, a questão fundamental é a
responsabilidade. As pessoas tendem a se sentir responsáveis pelas
coisas das quais participam ou para as quais contribuem, e por isso é muito
importante que haja períodos de discussão e de oração. Jamais devemos
subestimar o valor da comunicação pessoal em todo esse processo. Os
líderes devem dar às pessoas a oportunidade de fazer comentários positivos
ou negativos, pois ambos são válidos. Por isso é essencial que os líderes
principais estejam presentes nas reuniões para evitar mal entendidos.
Lembremos que durante todo o processo o inimigo estará rondando,
buscando oportunidades para causar problemas, divisões e
desentendimentos. É preciso que os líderes tenham sabedoria para lidar
com as pessoas que se opõem, e com as questões complicadas. Nesses
momentos a paciência é uma qualidade muito necessária.
Se a igreja lidar bem com toda essa situação, certamente dará passos
importantes em seu processo de crescimento e de desenvolvimento.
Qualquer erro pode resultar em problemas maiores no futuro. Com certeza
esse processo mostrará claramente quais são as pessoas verdadeiramente
comprometidas com a visão da igreja. No período de discussão, os líderes
deverão tentar conversar com as pessoas individualmente. É preciso que
cada membro dê uma resposta pessoal, porque o sucesso de toda profecia
corporativa depende da aplicação pessoal.
Esse tempo pode ser usado para a fortalecimento da visão
corporativa e da fé e para que os indivíduos possam compartilhar seus alvos e
visão pessoais. Portanto, o processo criará um grande senso de compromisso
enquanto as pessoas oram. Coisas surpreendentes podem acontecer nesse
período. Mudanças de atitudes de coração, renovação da fé, crescimento
espetacular e o aumento geral da fé e da oração corporativa, podem ser
apenas alguns exemplos das mudanças trazidas pela profecia e suas
implicações.
(d) Planos e ajustamentos para o futuro
A profecia nos dá uma agenda de fé e oração que nos permite olhar
para o futuro. E a estratégia requerida para que possamos ser cooperados
do Senhor. Ao receber uma profecia, precisamos pensar em termos de
mudança e de alvos de curto, médio e longo prazo, bem como um prazo
razoável para que as mudanças sejam efetivadas.
Depois da profecia, vem o tempo de ajustes Uma estratégia nos
ajudará a unir as pessoas em torno de alguns alvos comuns, de modo que
todos possam caminhar juntos para frente.
Sempre é bom incluir no processo tempos de revisão, de modo que a
igreja possa verificar se está no rumo certo e manter as prioridades
corretas. Ao determinar ou verificar o nosso curso de ação, é sábio
olharmos não somente para frente, mas também atrás.
Capítulo Onze

Mantendo a profecia viva


Depois que a profecia de revelação é pronunciada na igreja, é preciso
esforço para que ela não caia no esquecimento. A profecia de direção
funciona como um estímulo para a visão corporativa. Ela fornece à igreja
uma agenda de oração e de fé – extremamente necessária.
A profecia de direção apresentada no contexto da igreja local, com o
pleno apoio da liderança, serve para unir as pessoas em torno dos propósitos
de Deus. Ela capacita o cristão a descobrir o coração de Deus para o
ministério corporativo ao qual somos chamados.
A profecia de revelação confirma e fundamenta aquilo que o Senhor
já falou aos nossos corações. Ela expressa pensamentos, conceitos e idéias
que anteriormente poderiam ter pouca ou nenhuma substância, exceto no
coração de um número reduzido de pessoas. A profecia diretiva estabelece
esses elementos publicamente, como um tesouro que é exposto à vista de
todos.
Quando a igreja enfrenta uma fase de problemas e estresse, a
profecia diretiva pode ser uma fonte de alegria e de inspiração para os
membros. Ela lembra a todos a majestade, a soberania e os propósitos
eternos e constantes de Deus. Ela capacita todos os membros da
congregação a ficar firmes, suportar a oposição, e irromper em novos níveis
de crescimento e de atividades.
Portanto, é fundamental que a igreja indique pessoas que garantam
que a mensagem profética permaneça como parte central da visão corporativa
e ajudem a congregação a lembrar que Deus está diretamente envolvido na
vida da igreja.
Os líderes devem submeter a profecia ao processo de avaliação. É útil
que os líderes sejam os primeiros a participar do processo, seguidos das
pessoas influentes e com experiência no ministério profético. Quando se
tratar de mensagens de direção que causarão impacto profundo na vida da
igreja, é sábio buscar ajuda de pessoas de fora, que sirvam como
referência. Deve ser um líder de considerável experiência e sabedoria, de
preferência alguém acostumado a lidar com esse tipo de situação.
Uma vez que fique claro que de fato se trata de uma mensagem do
Senhor, a igreja pode envolver um grupo mais amplo de pessoas. Podem ser
outros pastores, figuras de autoridades ou líderes de grupos pequenos. É
necessário que haja transcrições da mensagem disponíveis.
O envolvimento de um número maior de pessoas ajuda a igreja a ter
uma visão mais ampla de toda a situação. Também ajuda a igreja a expandir
a responsabilidade dentro do grupo.
O próximo nível da estratégia é que o grupo encarregado pegue a
profecia e discuta o seu conteúdo nos grupos pequenos. Novamente: é
importante que haja transcrições disponíveis para todos os membros.
Nesse ponto o objetivo é aproximar as pessoas e envolvê-las a fim de que
façam comentários e assumam responsabilidade pela mensagem na sua
prática ministerial.
Se a liderança tiver certeza de que a mensagem profética é para toda
a igreja, deve aproveitar todas as oportunidades de plantá-la no coração dos
membros. Incentivar mais pessoas a estudar a mensagem, orar a respeito e
discutir abertamente o seu conteúdo. Isso é fundamental. Mesmo que as
pessoas discordem de algum ponto, estarão envolvidas e pensando no
futuro da igreja – o que é saudável e deve ser incentivado. Tal ação aguça a
visão e fortalece o compromisso individual.
Uma vez que todos os comentários foram assimilados, a igreja deve
discutir qual será o próximo passo na estratégia – e deve envolver oração
e intercessão. A liderança deve fazer todo esforço possível para reunir a
igreja em torno da mensagem profética para que possa orar e pedir sabedoria
para os líderes. As pessoas saberão que a igreja terá de fazer planos como
resultado da mensagem profética e terá de orar pelo sucesso prático no
futuro.
Uma pregação curta durante essas reuniões pode ajudar a manter a
chama da visão acesa e manter as pessoas informadas. Os líderes não devem
esquecer de agradecer a cada membro por sua participação individual. E
sempre demonstrar empolgação pelo que o Senhor está fazendo. Além disso,
devem ser humildes e pedir oração para que sejam capazes de tomar decisões
sábias.
Essa atitude propagará o entendimento de que todos estão juntos e
criará um senso mais profundo de unidade. É uma oportunidade
maravilhosa de envolver todos os membros nos projetos para o futuro.
Seria tolice dos líderes perder tal oportunidade. À medida que a liderança
examina a mensagem profética, ora a respeito, mas elabora uma estratégia
sem o envolvimento de toda congregação como um, haverá sérios sinais de
alarme.
Neste caso os líderes estariam insinuando que somente eles teriam
acesso às revelações sobrenaturais. Somente eles teriam direito de planejar
o futuro da igreja. Eles sozinhos tomariam todas as decisões. A igreja só seria
informada no tempo oportuno e teria a obrigação de se alinhar e obedecer,
como na brincadeira “fazer tudo o que o líder mandar”.
A oração e intercessão trarão os membros para perto do Senhor,
compartilhando a empolgação de ver algo novo sendo criado no coração de
todos. Orações corporativas com propósito específico são incrivelmente
valiosas. A profecia diretiva oferece à igreja uma agenda de oração que pode
durar um tempo considerável e criará um senso de antecipação e
responsabilidade pelo que virá.
Os líderes da igreja devem mencionar a profecia e os planos futuros
em todas as oportunidades: na pregação, no ensino, nas reuniões de
oração, na adoração e nas conversas. Sempre que for possível devem
incentivar os músicos e compositores a usar o conteúdo da profecia como
tema de músicas e programações especiais. É preciso encontrar formas
criativas de manter a mensagem profética diante dos olhos das pessoas. Em
minha igreja local, em Southhampton, nós temos dois irmãos – Nigel e Alun
Leppitt que são excelentes líderes de adoração e compositores. Os dois já
escreveram várias letras de músicas baseadas em mensagens proféticas
trazidas para a igreja. Enquanto cantamos nos períodos de adoração, tenho
consciência de que nós estamos trazendo as mensagens de Deus de volta
para a igreja.
Há alguns anos atrás, Nigel, Alan, eu e mais uma equipe fomos
a Liverpool, no norte da Inglaterra, para realizar um curso de treinamento
sobre profecia e adoração. O Senhor me deu uma palavra profética para a
cidade vários meses antes de irmos para lá. Eu compartilhei a palavra com
Alan e Nigel e eles escreveram uma música com três estrofes e um
estribilho. Na celebração do início do curso, eu pronunciei a profecia em
três partes, fazendo uma pausa no final de cada parte e permitindo que eles
cantassem a música e a ensinassem para a audiência. Enquanto eles
cantavam, eu liderava um período de oração, intercessão e resposta.
Enviamos fitas com a gravação da profecia e da canção para todas as
igrejas da cidade. Nós ainda recebemos mensagens dizendo como a canção
profética tem sido uma bênção para igrejas e indivíduos.
As pessoas gostam de cantar. Elas gostam de ouvir boa música e
aprender as letras. As canções proféticas são ferramentas poderosas no
processo de manter a profecia viva na mente e no coração das pessoas.
Elas nos capacitam a pronunciar a palavra de Deus repetidamente,
recebendo-a de volta em nosso espírito e criando uma oportunidade de todos
darem graças e reafirmarem a confiança no Senhor.
A igreja também pode usar a profecia como parte do nosso
diálogo de mudanças. É sábio pensar nos potenciais obstáculos ao
cumprimento. É preciso que a igreja se concentre na atitude corporativa e no
estado de ânimo do trabalho e inicie um tempo de encorajamento e
renovação.
Pode ser que haja necessidade de haver mudanças na liderança, no
estilo e na frequência das reuniões, na estrutura da igreja e na administração
das finanças.
Nós não devemos menosprezar tudo o que a igreja está fazendo por
causa da profecia. Também não devemos tentar fazer mudanças impossíveis.
É preciso discutir todas as possibilidades e ramificações da mudança,
trazendo ajuda externa quando for necessário ter uma visão ou opinião
imparcial.
A igreja deve permitir que uma estratégia se desenvolva a partir
da profecia. Novamente, os líderes sábios envolverão no processo um
grande número de pessoas influentes e respeitáveis. Podem começar a
elaborar uma estratégia para mudanças e crescimento, não se esquecendo de
que em geral são necessários cerca de dois anos para se implementar as
mudanças. Com isso eu me refiro a mudanças corporativas que mantêm as
pessoas unidas e evitam divisões ou um êxodo de ovelhas desanimadas e
frustradas.
Mudanças corporativas bem sucedidas dependem de transformação
pessoal efetiva. Isso quer dizer que todos os membros da congregação
precisam fazer ajustes onde forem necessários. Não é algo que deva ser
imposto sobre os membros, como um fardo. Os líderes devem aproveitar
todas as oportunidades para mencionar que é preciso fazer mudanças para
que a mensagem profética se cumpra. Devemos evitar, porém, assustar as
pessoas com as mudanças. As ovelhas se assustam facilmente. Com brandura
e humildade, os líderes devem falar das mudanças como parte da resposta
que a igreja deve dar ao Senhor na nova visão que foi criada. Essa verdade
deve ser instilada lentamente na vida das pessoas e não despejada sobre elas
de uma só vez!
Nós podemos usar a mensagem profética para influenciar e
inspirar a visão corporativa e pessoal. Todos os membros da igreja devem
ter alvos, e devem estar indo para algum lugar em Deus. Os líderes podem
usar a profecia como uma pedra fundamental que ajude os membros a
descobrir seu chamado pessoal. A liderança efetiva capacita as pessoas a
descobrir sua identidade pessoal e o chamado do Senhor. E busca liberar
esse chamado por meio do treinamento e do discipulado e da provisão de
oportunidades para o serviço ministerial. A profecia corporativa deve abrir
caminho para o fluxo de profecias pessoais, enquanto a congregação busca
responder ao Espírito Santo no desenvolvimento da revelação. A visão
corporativa sempre é implementada e alcançada por meio da liberação das
aspirações pessoais. Transformar aspirações em realizações é uma parte
importante do trabalho dos líderes das igrejas locais.
Uma profecia diretiva importante cria uma onda de oportunidades
em toda a igreja. Para tirar o maior proveito dessa situação nós temos de
mobilizar o maior número possível de pessoas. Precisamos lançar as
pessoas na correnteza daquilo que o Espírito Santo está fazendo.
Esse tipo de situação, quando tratada corretamente, também liberará
um fluxo de inspiração por meio da verdade revelada das Escrituras.
Igrejas que lidam bem com as profecias diretivas corporativas terão
necessidade de ser conduzidas à verdade presente. É a revelação que está
moldando a nova Igreja de Deus, que Ele próprio está edificando por toda a
Terra. Isso inevitavelmente nos levará a buscar odres novos.
Eu creio que o fracasso do movimento carismático, principal- mente
nas igrejas tradicionais, foi que seus precursores se limitaram a incluir nas
estruturas já existentes as coisas novas que Deus estava trazendo. Nos anos
seguintes isso levou a um período de desânimo, desilusão, seguido por um
período de reflexão e reavaliação. Em muitos círculos, esse processo é
chamado de depressão pós-carismática. Agora estamos apenas fazendo o que
deveríamos ter feito desde o início, se tivéssemos obedecido plenamente
ao Senhor. A Igreja pertence ao Senhor, bem como as suas estruturas. A
desilusão é uma parte vital e muitas vezes precede o crescimento. A
autocrítica é saudável porque leva à conscientização e às verdadeiras
mudanças. Não podemos simplesmente criar novas formas de adoração, ou
iniciar grupos caseiros. Não podemos apenas reorganizar a ordem dos
assentos, mudar as equipes de liderança e elaborar novas formas de
evangelização, tentando nos convencer de que fizemos mudanças profundas
e radicais.
A profecia exigirá acompanhamento efetivo de longo prazo. A
revelação profética nos dá um horizonte, uma visão de longo prazo para
seguir. Quando fazemos as mudanças necessárias e nos alinhamos com tudo
aquilo que Deus tem preparado para nós, temos de trabalhar no presente com
os olhos no futuro.
Devemos nos esforçar para não ficar tão envolvidos com os
trabalhos que esquecemos de olhar o horizonte para avaliar se estamos
no curso certo. As profecias proporcionam placas de sinalização que nos
ajudam nas caminhadas longas e nos alvos de médio e curto prazo. Objetivos
de longo prazo oferecem marcas de sinalização para cinco ou dez anos. Os
alvos de médio prazo nos proporcionam pontos de parada nos períodos de
dois a cinco anos. Os objetivos de curto prazo mantêm a igreja se
movendo dentro dos dois primeiros anos.
Enquanto nos movemos com Deus, precisamos manter os olhos nos
objetivos proféticos a fim de garantir que estaremos fazendo os ajustes
necessários para nos manter no caminho certo. Todo igreja tem diante de si
uma corrida de longo percurso. Se os líderes viverem preocupados apenas
com o dia a dia, ou semana a semana, negam aos seus membros um futuro
bem sucedido, porque sua visão é apenas de sobrevivência, e não de
conquista. Não é suficiente nos manter no curso, mas sim tomar posse de
tudo aquilo que Deus tem para nós. Líderes bem sucedidos e igrejas
excelentes sabem como se apossar do futuro. Manter a profecia viva é uma
parte vital do processo.
PARTE TRÊS:
O PAPEL DA LIDERANÇA
NA PROFECIA
Capítulo Doze

O papel da liderança da profecia


As pessoas sempre olham para os seus líderes quando a igreja
precisa tomar uma nova iniciativa ou mudar de direção. Muitas igrejas
permitem o surgimento de confusões, mal entendidos, doutrinas fracas ou
ignorância porque não encaram os problemas quando eles surgem, e não
oferecem ensino equilibrado para instruir, informar e encorajar a criação de
uma teologia saudável. Essa é a receita para o desastre. E traz enorme
frustração e um discipulado de má qualidade.
Muitas igrejas são pobres nas áreas de adoração, evangelização,
ministérios de cura, intercessão, batalha espiritual, libertação,
aconselhamento pastoral, fé e também profecia. Os sinais que elas emitem
são sentidos por todo o corpo. Nós não podemos enterrar a cabeça na areia, e
não fazer nada. Os líderes que não fazem nada não devem reclamar quando
suas ovelhas começam a se dispersar, em busca de pastos mais verdes. Boas
pastagens são um elemento importante no processo de crescimento do
rebanho. As ovelhas precisam ser bem alimentadas. Maus pastores podem
arruinar o rebanho. No que concerne à profecia, é muito importante que os
líderes dêem a direção certa, encorajando o exercício do dom e do ministério.
Os líderes podem desprezar a profecia
Há momentos em que a transmissão de uma mensagem profética
perturba as áreas de conforto da igreja. Muitas vezes a profecia é uma
convocação para a ação, e traz um desafio que a igreja precisa responder. A
profecia edifica, conforta e encoraja. Ela também ataca, estimula e
provoca.
Se a liderança da igreja der demasiada ênfase ao ministério
pastoral, pode haver uma tendência de resistir ao chamado para a ação e a
batalha. A Igreja é descrita como Família, Casa, Corpo, Noiva, Cidade e um
Exército. Há uma tendência de se enfatizar as três primeiras figuras, em
detrimento das outras três.
Eu creio que ouviremos muitas profecias falando sobre santidade e
pureza nos próximos anos, pois o Espírito Santo está empenhado em
embelezar e preparar a Noiva de Cristo. Ouviremos também
pronunciamentos proféticos sobre unidade, sobre a necessidade dos cristãos
se unirem e trabalharem juntos como um só povo.
Hoje em dia nós estamos vendo a restauração do ministério
apostólico na Igreja universal. As Escrituras têm muito a dizer sobre
equipes apostólicas e igrejas apostólicas. Nós veremos igrejas diferentes na
mesma região se unindo para criar uma perspectiva do Reino, evangelizar a
comunidade e ter uma visão apostólica de conquistar as cidades para Deus.
Nesse momento o Espírito Santo tem falado sobre a Igreja como
um exército. Ele está dando uma ênfase na batalha espiritual, intercessão,
libertação e evangelização, tudo com base no elemento sobrenatural. As
Escrituras revelam com clareza que todo cristão é chamado para a batalha.
No livro de Jó vemos que nossa vida é um campo de batalha, com Deus de
um lado e Satanás do outro. Como Josué, nós temos de declarar: “Eu e a
minha casa serviremos ao Senhor”.
A profecia é usada para trazer a perspectiva de Deus sobre cada
aspecto da vida da Igreja. Nós temos de reconhecer nosso chamado profético
para a batalha e para seguir o Senhor.
Os líderes podem menosprezar a profecia porque eles estão
sobrecarregados e desanimados. Todo líder pode ficar legitimamente cansado
devido ao trabalho. Os líderes cristãos trabalham debaixo de pressão de
todos os lados. Sua principal arma é o descanso e a gratidão. Os líderes não
podem ceder às pressões ou ser engolidos pelas adversidades. Nos momentos
de descanso, eles ouvem a voz do Senhor e recebem o encorajamento
necessário para ficar firmes e manter a fé.
A fé ouve a voz de Deus e não presta atenção nas circunstâncias.
Quando os líderes perdem a capacidade de descansar, a fé é enfraquecida e o
resultado é a sobrecarga. Uma coisa é o líder estar cansado no ministério;
outra coisa bem diferente é estar cansado do ministério.
Se o líder de uma igreja estiver cansado e espiritualmente abatido,
a última coisa que desejará será mudanças na igreja, pois isso representará
mais áreas para cuidar e mais questões para resolver. A profecia pode
trazer um novo foco e uma clareza que muitas vezes é difícil de ignorar.
Os líderes podem menosprezar as profecias porque não sabem como
a profecia funciona – são ignorantes. Por isso todo líder precisa ter um
pouco de conhecimento sobre o assunto. Eles terão de assumir a liderança e
criar um procedimento apropriado à igreja. A falta do fator de controle é
outro problema. As profecias lembram a quem a Igreja verdadeiramente
pertence!
Algumas profecias podem trazer mensagens que obrigam os líderes
a mudar seus planos. A tendência de muitos é considerar o profeta como
rebelde e menosprezar a mensagem. Toda profecia deve ser examinada com
honestidade. Certa vez fui convidado para passar um fim de semana em
uma igreja e dar um treinamento aos líderes sobre ministério profético.
Na primeira noite, eu me encontrei com todos os líderes da igreja no
gabinete pastoral. Depois de um tempo de oração, eles me perguntaram se eu
tinha alguma mensagem profética para a igreja. Eu nunca tinha estado
naquela igreja e não sabia nada do que acontecia ali. O Senhor me mostrou
claramente que haveria um forte ministério de implantação de igrejas e que
eles teriam oito congregações espalhadas pela região. Quando eu comecei a
compartilhar o que estava vendo no meu espírito, caiu um profundo silêncio
sobre todo o grupo. Subitamente o ambiente se tornou carregado e cheio de
tensão.
Mais tarde eu soube que a visão do líder principal (que não era
compartilhada pelo resto do grupo) era ter a maior igreja da região, com seu
próprio instituto bíblico e um auditório bem maior.
Eu não tinha como saber que enquanto profetizava meu cotovelo
estava apoiado sobre uma pilha de panfletos sobre os próximos passos
nessa visão e chamado. A mensagem profética atravessou na frente dessa
visão, perturbando o líder principal, que imediatamente perdeu todo o
interesse na programação do fim de semana!
A mensagem profética fez com que ele perdesse parte de sua
credibilidade e foi um duro golpe em suas ambições pessoais. No entanto,
ela também levou o grupo a reconsiderar seus alvos e o chamado – o que
envolvia toda a igreja, e não somente os líderes.
A visão não pode ser imposta de cima para baixo. Ela deve crescer
por meio dos debates, da unidade, oração e comunhão, a partir das raízes.
As pessoas assumem maior responsabilidade pelas coisas nas quais estão
diretamente envolvidas. Quando os líderes impõem uma visão pessoal sobre
os membros, não devem estranhar o surgimento de divisões. “Divisão”
literalmente significa “visão dobrada”. E ocorre quando a nossa visão
pessoal não é respeitada, e nós temos de nos submeter a uma visão que é
colocada sobre nós em forma de edito e não como prelúdio de discussão e
debate.
Se não conseguirmos enxergar como a nossa visão pessoal se encaixa
na visão corporativa da igreja, então teremos uma visão dobrada. Cada
cristão deve ter um compromisso com a sua visão pessoal e com a visão da
igreja. Nós não podemos nos sacrificar e trabalhar em favor daquilo que
nega nosso chamado pessoal. Não somos clones ou abelhas operárias com
uma identidade que é subjugada pela coletividade.
Algumas igrejas praticam um tipo de Comunismo cristão que no
final impede que as pessoas dêem expressão pessoal ao governo e chamado
de Deus em suas próprias vidas. O espírito profético sempre militará
contra essa forma de governo eclesiástico, por causa da natureza pessoal
da profecia. Em várias ocasiões, eu recebi antecipadamente uma cópia da
visão da igreja onde eu iria ministrar. Em geral, esse documento é
acompanhado por uma carta dizendo que para evitar erros e confusões, as
minhas profecias devem estar em harmonia com a declaração de visão da
igreja.
Como eu mesmo sou líder, gosto de passar tempo com outros líderes.
Gosto de colocar meu dom profético a serviço das igrejas. Gosto de conversar
sobre as implicações das mensagens proféticas nas igrejas locais. Gosto de
estar à disposição dos líderes das igrejas que visito. No entanto, não
podemos permitir que o ministério profético seja controlado ou manipulado,
da mesma maneira que não devemos permitir que a liderança da igreja seja
manipulada.
A profecia testa a liderança
A profecia testará a liderança de três maneiras. Primeiro, ela testará
a disposição dos líderes de ouvir a voz de Deus e fazer os ajustes
necessários concernentes ao trabalho geral e a direção da igreja. Segundo, a
disposição de trabalhar junto com o profeta e criar com ele um
relacionamento digno e valioso. Terceiro, a profecia também testará o
coração dos líderes, buscando sinais de justiça, humildade e um senso de
responsabilidade para com o espírito profético.
Justiça é necessária quando os líderes tratam com os profetas. Eles
são seres humanos e precisam de correção, orientação, amor e amizade. É
muito fácil rejeitar a mensagem profética porque não gostamos do vaso que
está sendo usado. Devemos encarar o fato de que de acordo com os nossos
critérios, muitos dos discípulos originais de Jesus não seriam aceitos em
nossas igrejas para ocupar cargos de liderança. Pedro seria rejeitado por causa
da sua covardia e outros defeitos de caráter. Tiago e João seriam
disciplinados por causa da sua impetuosidade, ao pedir que caísse fogo do
céu sobre as pessoas que discordavam deles.
Humildade é exigida quando recebemos uma mensagem profética
em nosso ministério. Um coração humilde nos capacitará a garimpar através
da apresentação e das palavras, a fim de encontrar as pepitas douradas da
verdade. A humildade não permitirá que rejeitemos as pessoas por causa das
suas idiossincrasias. Ela nos ajudará a encorajar e influenciar pessoas na
direção do trabalho.
Um coração manso é acessível, e capaz de oferecer aceitação e
treinamento para os profetas, enquanto eles crescem e aprendem. É verdade
que quando começamos a fazer algo novo, geralmente aprendemos primeiro
o que não fazer! Às vezes o nosso processo de aprendizado nos coloca em
situações embaraçosas, quando cometemos nossos erros. A maioria dos
cristãos pode olhar para trás e reconhecer os erros que cometeu no início do
ministério.
Infelizmente, muitos erros no ministério profético são cometidos em
público. É muito fácil nós nos levantarmos e nos afastarmos de pessoas que
fizeram algo errado.
É neste ponto que precisamos de um senso de responsabilidade para
com os profetas que estão sob os nossos cuidados. Nós não podemos viraras
costas para as pessoas quando elas mais precisam de nós. Se nós aprovarmos
e aceitarmos as pessoas somente quando acertam, então, nós não somos
melhores do que o não cristão. O teste se realmente somos feitos à imagem
de Cristo é a forma como nos conduzimos quando as pessoas fracassam.
Precisamos também ter um senso de responsabilidade para criar uma
comunidade profética que viva com base em toda palavra que sai da boca do
Senhor.
As igrejas que promovem e apoiam o desenvolvimento do ministério
profético ainda são raras. Em muitos casos, o ministério profético é bem
precário nas igrejas locais por causa da imaturidade dos seus membros e da
forma precária como os líderes lidam com eles.
Nossa atitude de coração deve ser positiva. Ninguém começa a
construir algo sem primeiro avaliar os custos. Se desejarmos ter um
ministério profético forte em nossas igrejas, temos de pagar o preço e
investir nas pessoas.
Os líderes não devem se sentir intimidados pelo ministério
profético ou ridicularizar aqueles que cometem erros. As pessoas que se
colocam na linha de fogo e afirmam ter uma mensagem de Deus para a
igreja demonstram uma imensa coragem. Eu tenho profunda admiração
pelas pessoas que são usadas no ministério de cura e que convivem com o
fato de que as pessoas podem ser curadas ou podem permanecer doentes.
Lidar com o desapontamento e encorajar o dom são aspectos vitais do
processo de capacitar essas pessoas a caminhar para a maturidade na esfera
sobrenatural.
Eu aprecio muito os líderes que não se movem na esfera
profética, mas que também não têm medo daqueles que são usados por Deus
dessa forma. Deus nem sempre fala com a liderança, mas sempre fala com o
Corpo. Por isso é tão necessário que profetas e líderes tenham justiça,
humildade e responsabilidade.
A profecia afeta o sistema estabelecido
Uma mensagem profética pode levar a igreja a uma área que está
fora da esfera de conhecimento ou de experiência do líder principal. A
responsabilidade por essa área pode vir a ser colocada sobre uma outra
pessoa – até mesmo alguém que não faz parte da equipe de liderança. A
profecia oferece uma agenda de fé, oração e mudanças.
Quando a igreja entra numa nova esfera de atividade, pode ser
que os líderes existentes tenham de pensar na possibilidade de incluir novas
pessoas na equipe de liderança.
Certa vez eu pronunciei uma profecia que falava sobre um tempo
de crescimento numérico e unção evangelística numa igreja em particular.
Há muitos anos não havia nenhuma mudança na equipe de liderança, a qual
tinha uma forte ênfase pastoral – que era o dom do líder principal. A igreja
funcionava de forma comodista, numa série de reuniões e ministérios
voltados para a própria igreja. O papel mais predominante da liderança era
cuidar das pessoas e manter uma rotina pré-definida que tinha pouquíssimo
efeito sobre o mundo exterior.
Mesmo sem ser este o seu objetivo, a profecia pode ameaçar áreas
que não estão sob o controle e a bênção de Deus. Quando transmiti a
profecia, eu não tinha idéia das suas implicações. Nos anos seguintes, a
igreja experimentou enorme crescimento, com novas iniciativas no
trabalho com jovens, e obras sociais. Posteriormente, conversei com os
líderes sobre a profecia, e soube que na ocasião não houve, por parte da
liderança, o impulso e a iniciativa de obedecer.
Quando começamos a conversar sobre as mudanças que teriam de
ser feitas, muitos líderes se recusaram a aceitar. Então nós descobrimos
que muitos deles se preocupavam mais com posição do que em servir.
Alguns ameaçaram abandonar a igreja se fossem obrigados a abrir mão de
sua posição. É triste ver algumas pessoas assumirem a liderança da igreja
como meio de promoção e de domínio.
No final, eles votaram a favor de não fazer nenhuma alteração na
liderança, e promover uma série de eventos dispendiosos de evangelização.
Nenhum deles tinha unção para inspirar a igreja, nem elaborar uma
estratégia efetiva de evangelização. Depois de muito esforço infrutífero,
chegaram à conclusão que a profecia era falsa. Não é difícil imaginar quem
levou a culpa!
A profecia pode atacar a base falsa da nossa segurança: nossa
posição, nossos dons, nosso ministério. A profecia promove a base
verdadeira: o Senhor. Pessoas que andam em intimidade com Cristo não se
sentem ameaçadas diante das mudanças.
É fácil os líderes rejeitarem a profecia e o profeta. Principalmente,
quando há questões de caráter não resolvidas na vida do profeta. Isso
oferece uma justificativa legítima às pessoas para a rejeição da mensagem.
Embora não tenham nisso o aval de Deus. A profecia serve como teste dos
nossos verdadeiros motivos.
Os líderes têm uma responsabilidade com o profeta e a profecia.
E devem alimentar e cuidar do profeta. E providenciar
um ambiente no qual a profecia seja corretamente aceita. As pessoas
precisam de reconhecimento. Todos os dons devem ser levados a sério na
igreja. As pessoas têm direito a treinamento
por meio do ensino e das oportunidades ministeriais, bem
como de apreciação responsável. As pessoas precisam saber
quando têm um bom desempenho por meio de um processo de afirmação,
encorajamento e aceitação.
A apreciação é absolutamente vital. Ninguém consegue florescer
numa atmosfera de rejeição e de críticas.
As pessoas precisam de afirmação, encorajamento e aceitação mesmo
quando cometem erros. Também precisam entender onde erraram, e ser
corrigidas com brandura. As igrejas estão repletas de pessoas dispostas ao
trabalho. Elas precisam ser valorizadas e incentivadas. Uma pequena
reprimenda, baseada na apreciação, e feita com um certo humor, pode fazer
maravilhas na autoestima de uma pessoa, bem como no seu desenvolvimento.
No que concerne ao cuidado com a profecia, é bom que ela seja
devidamente avaliada. Às vezes será preciso que a igreja local ouça a opinião
imparcial de pessoas de fora. A igreja deve seguir uma linha de
procedimento que permita extrair o máximo proveito da situação.
Moralidade corporativa
Por que o Senhor nos deu grandes e preciosas promessas? Por que
ele nos dá mensagens proféticas? A fim de que possamos participar da
natureza divina e escapar da corrupção (2 Pe 1.3-10). Esta passagem bíblica
fala sobre o fruto que precisamos ter em nossa vida para ver o cumprimento
das promessas de Deus.
Descobrimos a mesma agenda em 2 Coríntios 6.14-19. Ela contém três
mensagens proféticas. No contexto do jugo desigual com os incrédulos, o
texto menciona três profecias. Nós somos o templo e a habitação do Deus
vivo. As três palavras se relacionam: purificação, separação e caminhar com
o Senhor.
A Escritura diz que desde que temos essas promessas proféticas,
devemos nos purificar (2 Co 7.1). Trata-se de uma mensagem para toda
a igreja. Nós somos o templo de Deus tanto no sentido pessoal como
comunitário. A purificação também é uma atividade corporativa. Deus nos
colocou no Corpo. Devemos prestar constante atenção na purificação, cura e
renovação. Precisamos ser humildes, e fazer as perguntas mais incômodas
sobre a moralidade da nossa igreja. Precisamos ser santos tanto no nível
pessoal, como na comunidade.
Eu creio firmemente que toda igreja precisa ter alguém que se
preocupa com a moralidade. Se a igreja inicia um ministério sem a direção
de Deus, não pode atribuir a Deus os resultados. E tornar Deus injusto.
Toda igreja precisa de pessoas que atuem como guardiões da
integridade do corpo. Esse papel não precisa ser necessariamente da liderança
principal. Mas é difícil encontrar alguém para desempenhar essa função.
Todavia, os líderes devem fazer todo o possível para encorajar tal iniciativa.
Eles devem orar para que Deus levante um Natanael, um homem “em quem
não há dolo!” (Jo 1.47).
Em nossa igreja local, nós temos um homem chamado André. Ele faz
parte da equipe de supervisores. Ele raramente fala nas reuniões. E, embora,
sempre aceite com alegria orar pelas pessoas, insiste em afirmar que não
possui nenhum dom ou talento especial. Ao longo dos anos, eu percebi que
grande parte da contribuição de André nas discussões da liderança gira em
torno de questões de integridade e justiça. Sua pergunta mais frequente é:
“Qual é a coisa certa a fazer?”.
Há uma pureza no espírito de André que reflete na liderança. Eu
creio que ele é um presente de Deus para a nossa igreja por causa do seu
senso de maturidade, justiça e integridade. É esse tipo de influência que leva
o Senhor a confiar em nós e abençoar os nossos empreendimentos.
Alguns líderes podem ser pessoas extremamente inescrupulosas.
Podem pegar a profecia e usá-la para satisfazer seus interesses pessoais e
promover sua própria pessoa. Podem escolher apenas as partes da profecia
que lhes interessa e empurrar o que não interessa para debaixo do tapete.
Uma mensagem profética corporativa deve ser seguida de um
cuidadoso escrutínio da integridade geral do grupo. Nós não podemos
endossar uma profecia sem olhar as questões de caráter relacionadas a ela e
ao grupo. Esse processo pode e deve incluir um exame da própria liderança.
Como os líderes estão tratando os membros da congregação? Que tipo de
exemplo eles estão dando? Cada líder deve dar exemplo individualmente.
Mas que tipo de exemplo estão dando coletivamente?
Certa vez eu transmiti uma mensagem profética para os líderes de
uma igreja em Belfast, na Irlanda do Norte. Pronunciei uma mensagem
concernente aos trabalhos daquela igreja. Falei sobre o ministério de
reconciliação e unidade. Falei sobre o efeito que a igreja irlandesa teria sobre
a igreja inglesa. Um inglês profetizando para irlandeses sobre a sua
influência sobre a igreja inglesa foi um momento pungente! Todos os
presentes estavam com os olhos úmidos. Alguns choravam abertamente.
O líder da igreja se levantou e abriu os braços numa atitude de total
vulnerabilidade e me perguntou: “Graham, há algo sobre o nosso ministério
ou sobre este grupo de homens, que você gostaria de criticar? Se houver
alguma palavra, queremos ouvir”.
Meu coração deu um salto. Muitos líderes teriam se
contentado com a profecia que fora dada. Aquele homem, porém,
entendeu que aquilo que nós somos é mais importante do que aquilo que
fazemos. Por quê? Porque a igreja deve ser um lugar onde Deus pode
habitar. Deus pode gostar de visitar a nossa igreja. Mas será que gostaria de
morar nela?
Nós podemos aprender muito de uma igreja pela qualidade da sua
adoração. Na próxima reunião em sua igreja, dê uma olhada em volta.
Quantas pessoas estão realmente envolvidas no louvor e adoração? Será que
nós conseguimos criar um ambiente propício para a verdadeira adoração?
As pessoas realmente adoram, ou apenas cantam corinhos, ainda que com
entusiasmo? Nós conseguimos perceber a diferença?
Em City Gate, nós mantemos uma Escola de Adoração a fim de
treinar pessoas na arte de liderar a adoração. Alan e Nigel Leppitt foram os
instrumentos usados por Deus para fundar e dirigir a Escola. Eles também
treinam grupos nos lares e organizam encontros de adoração da igreja. Eles
também compõem lindas canções de louvor e adoração. As pessoas
precisam aprender a louvar e a adorar.
A força de uma igreja está na sua habilidade de adorar ao Senhor.
Exaltar o seu nome, e agradar o coração de Deus por meio do louvor. Toda
igreja precisa ter um espírito agradecido. É maravilhoso ter a capacidade de
alegrar o coração de Deus. A alegria dele é a nossa força.
Também podemos aprender muito sobre uma igreja observando como
ela trata os seus líderes. Há pouquíssima diferença entre a forma como
tratamos os nossos líderes e o nosso relacionamento com Deus. Os membros
de uma igreja devem fazer com que os líderes sintam alegria em pastorear o
rebanho. Brigas, ciúmes, ressentimentos, vingança, fofocas, calúnias e
dissensões inevitavelmente caem sobre os líderes e afetam a forma como o
Senhor vê a obra. A falta de união reflete a falta da presença de Deus. A
unidade atrai a bênção de Deus.
Já conheci muitos líderes que foram destruídos pelas suas ovelhas. O
coração deles foi despedaçado. O espírito foi esmagado. E seus corpos
ficaram enfermos pelo abuso verbal e mental, e pela angústia física que
experimentaram. Qual foi o crime desses pastores? Tentaram liderar um
bando de pessoas nas coisas de Deus.
Há certas igrejas que eu gosto de visitar. Eu posso olhar para a liderança e
para a congregação, e sentir a harmonia e o amor.
Erros são cometidos. Há momentos de tensão. Mas há também uma profunda
unidade e admiração mútua. Há compromisso mútuo.
Usar a história das pessoas contra elas
Este tópico trata de uma praga nas igrejas que afeta profunda- mente
a integridade do corpo, da liderança, da congregação. Todos nós estamos em
fase de aprendizado. Porém, enquanto o Senhor aperfeiçoa o nosso caráter e
os nossos dons, nós cometeremos erros.
A igreja deve ser um local onde as pessoas têm liberdade de
fracassar. Se nós não tivermos liberdade de cometer erros, jamais teremos
sucesso. As pessoas se acomodam naquilo que sabem fazer, em vez de buscar
novos desafios. Essa atitude leva à estagnação.
As pessoas cometem pecados, erros de julgamento e atitudes
imaturas. Tudo isso faz parte do processo de crescimento. Há poucos pais na
obra de Deus. Paulo disse à igreja de Corinto:
“Ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis,
contudo, muitos pais; pois eu, pelo evangelho, vos gerei em Cristo
Jesus” (1 Co 4.15)
Há muitos instrutores, mas onde está a compreensão e a aceitação
das figuras paternas que nos disciplinam com humildade e graça?
Todos nós precisamos de afirmação e aceitação no momento em
que cometemos erros. É a bondade de Deus que nos conduz ao
arrependimento (Rm 2.4). Ele é fiel e justo para perdoar o nosso pecado e
nos purificar (1 Jo 1.9). Ele não nos trata segundo as nossas iniquidades (Sl
103.10). Ele é um Deus que perdoa e esquece (Jr 31.34). Ele é um Deus que
dá um novo começo e renova todas as coisas (Ap 21.5).
Percebi que na Igreja as pessoas podem perdoar, mas não esquecem.
As pessoas são catalogadas segundo os seus fracassos.
Alguns líderes só conseguem pensar em termos de punição e não de
restauração. As pessoas que cometem deslizes na moralidade podem ser
sumariamente afastadas do ministério e submetidas a uma série de ações
disciplinares.
Embora seja extremamente necessário, raramente é oferecida uma
mão estendida em amizade. Verdadeira amizade, sem reservas. Por que
alguns líderes se afastam quando as pessoas mais precisam deles? Nós
fazemos discursos sobre amor e compromisso, mas nos afastamos quando as
pessoas falham e precisam de nós. Em vez de amizade, nós oferecemos
sessões de aconselhamento. Não desmereço o processo de aconselhamento,
mas ele jamais deve substituir a amizade honesta, a lealdade e o
compromisso. Nós precisamos das duas coisas juntas.
O pecado afeta a nossa comunhão com o Senhor, mas não a nossa
relação. Quando pecamos, nós temos um advogado, um amigo na corte, o
qual nos lidera através do processo de arrependimento e restauração. Deus
escolhe esquecer o nosso pecado quando nós permitimos que o Espírito
Santo coloque a nossa vida em ordem. Mas na Igreja, o pecado pode afetar o
relacionamento e a comunhão.
Nosso objetivo nesses tristes momentos é triplo. Primeiro, restaurar
a comunhão do indivíduo com Deus. Nosso comportamento pecaminoso
muitas vezes é resultado de um sistema defeituoso de crenças. Aquilo que
nós cremos afeta o nosso comportamento. Por que as pessoas fazem certas
coisas? Nós temos de ir além do fruto e olhar a raiz, a causa do pecado, que
está no nosso sistema de crenças. Nós queremos restaurar o indivíduo a
Cristo, e melhorar a forma como ele se relaciona com o Senhor em sua vida
cotidiana.
Segundo, nós precisamos apoiar e aconselhar aqueles que foram
vítimas do pecado de outras pessoas, direta ou indiretamente. As vítimas
diretas são aqueles que foram o alvo do pecado e sofrem os maiores danos.
As vítimas indiretas podem ser membros da família ou amigos de ambas as
partes que podem ser feridos ou devastados pela situação. Nós devemos
fazer todo o possível para promover a cura de todos os envolvidos na
situação.
Terceiro, nosso objetivo deve ser a restauração do ministério. O
inimigo age para obstruir ou destruir o ministério. E nosso objetivo é não
permitir que ele tenha sucesso. O evangelho é redentor. Nós temos de
trabalhar para promover o fruto do arrependimento com verdadeira graça e
humildade. O tempo de restauração é determinado pela natureza do pecado e
pela resposta submissa da pessoa envolvida.
É importante que nós façamos uma diferença entre o ministério e o
pecado. As boas coisas e as bênçãos alcançadas pelos indivíduos por meio do
ministério não devem ser esquecidas. No caso, por exemplo, onde o
ministério profético foi usado para alcançar lucros desonestos, nós não
podemos desacreditar todas as profecias anteriores pronunciadas por aquela
pessoa. Nós temos de isolar os casos específicos onde houve indiscrição e
tratá-los de acordo. Em todos esses incidentes desagradáveis, nós temos de
lembrar as palavras do apóstolo Paulo:
“Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois
espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que
não sejas também tentado” (Gl 6.1)
Nos casos extremos onde há pecado deliberado, o caminho fica bem
claro e nós sabemos como proceder. No entanto, erros que ocorrem por
causa de imaturidade, ignorância, falta de conhecimento e de sabedoria, às
vezes são mais difíceis de tratar.
Muitos líderes tendem a deixar as coisas seguirem em frente, sem
confrontar o mal. A longo prazo essa atitude pode ser desastrosa. Sem o
tratamento apropriado, as pessoas continuarão achando que fizeram bem,
quando a verdade será o oposto.
Então os líderes podem construir uma imagem negativa da pessoa,
sem que ela saiba. Os pequenos erros tendem a ser repetidos e com o
acúmulo vem também a quebra de confiança. Com o tempo, se os envolvidos
não tomarem cuidado, podem chegar a um ponto sem retorno. Precisarão de
um milagre para que haja mudança nos corações e possa haver plena
restauração.
Às vezes é uma simples questão de compatibilidade. Pode ser uma
questão de estilo, roupas, apresentação, personalidade, ênfase ministerial ou
simplesmente pessoas que não se sentem parte da “turma”. Pode ser difícil
conhecer algumas pessoas e caminhar com elas, pois é preciso mais tempo
e esforço para estabelecer a amizade.
Muitas vezes eu tenho problemas de adaptação. Eu sou uma pessoa
bem quieta, que gosta de observar e pensar. Às vezes tenho dificuldade de
manter conversas superficiais. Minha contribuição tende a ser específica,
em vez de geral ou social. Às vezes eu perco totalmente as palavras.
Raramente meu rosto reflete minhas emoções. E não consigo sorrir com
facilidade. Eu sou uma pessoa feliz, mas tenho de estar sempre me
lembrando para demonstrar isso em minhas expressões faciais. Quando
estou pensando ou me concentrando, meu rosto assume uma expressão de
aborrecimento. Quando estou transmitindo uma mensagem profética, as
pessoas olham para mim e ficam desconcertadas! Meus filhos dizem: “O
papai está no modo robô”. Por natureza, eu não sou muito falante. Falar em
público, embora seja agradável, exige um esforço enorme da minha parte. Às
vezes eu sinto uma necessidade enorme de estar quieto, olhando
abstratamente.
Como profeta, tenho praticado ficar quieto interiormente, para ser
capaz de silenciar todos os clamores interiores, estar tranquilo e ouvir a voz
do Senhor. Pode haver tensão por todos os lados, mas o meu espírito é como
um lago tranquilo num dia calmo. Creio que esta é a razão porque eu
consigo manter a calma em tempos de dificuldade.
Eu não sou uma pessoa difícil ou antipática – apenas tímida. Creio
que cada um tem as suas manias. O problema é que a minha mania é mais
pública. Eu gosto de estar cercado por meus amigos e ficar sentado quieto,
observando, ouvindo, demonstrando amor por eles e sem ter de ser o
profeta. Meus amigos me conhecem e me entendem – e eu sou grato por
isso. Nem sempre eu consigo me sair bem.
Qual é o meu ponto? As pessoas não são o que aparentam ser. Eu
tenho certeza de que se todos nós praticássemos mais o amor, paciência e
aceitação, a Igreja seria um lugar melhor e o Senhor seria glorificado por
nossas ações.
Não é justo lançar o passado e os erros de uma pessoa em seu rosto
sem lhe dar amor, apoio e a oportunidade de mudar. Quando as mudanças são
feitas, nós temos de encerrar aquele capítulo por meio do perdão. Esquecer e
aceitar aquele indivíduo como uma nova pessoa. Não há nada mais
devastador para a autoestima de uma pessoa do que ela não ter uma nova
chance, ser tratada com desconfiança e suspeita.
Quando as mudanças ocorrem, nós precisamos reconhecer
formalmente o fato. Cada mudança deve ser acompanhada por uma dose
generosa de aceitação e de aprovação – verbais. Não devemos permitir que
fique nenhuma dúvida quanto a isso. Não devemos dar lugar ao diabo. Eu
não gostaria de fazer parte de uma igreja que não oferece às pessoas
oportunidades de recomeçar.
Criar um ambiente propício para a profecia
O papel principal da Igreja é criar ambientes para que as coisas
aconteçam. Se nós devemos encorajar a revelação da plenitude de Cristo na
Igreja, temos de criar um ambiente para que isso aconteça.
As estruturas denominacionais e eclesiásticas e a forma como
conduzimos as nossas reuniões podem ser grandes obstáculos ao
crescimento e a maturidade dos cristãos. A estrutura da igreja deve servir
para promover a ação do Espírito Santo na vida das pessoas.
Lamentavelmente, o que ocorre muitas vezes é o contrário. A vida do Espírito
é forçada num molde que perpetua o estilo, as tradições e o modus operandi
da igreja. Isso causa enorme frustração, o que desmoraliza a igreja e a torna
infrutífera.
Depois de anos de renovação e de derramamento do Espírito, a
questão principal continua sendo a mesma do início do movimento
carismático. Não podemos colocar vinho novo em odres velhos. No próximo
mover de Deus, nós seremos novamente confrontados com esta questão. O
mais interessante é que haverá inúmeras igrejas locais que terão de mudar
seus odres para acomodar a obra do Espírito Santo. Nós não devemos ser
escravizados pelas tradições, estruturas e metodologias à custa do mover de
Deus.
Nossa história e nossas tradições devem ser mantidas à luz dos
planos atuais de Deus. Nossas estruturas devem ser flexíveis e capazes de
acomodar mudanças e crescimento. Nossas reuniões devem realizar todos os
propósitos de Deus.
Se quisermos encorajar o dom de cura, por exemplo, temos de fazer
todo o possível para treinar, desenvolver e dar oportunidade para que as
pessoas possam amadurecer no uso do dom. Isso pode significar organizar
reuniões de cura. O mesmo ocorre com adoração, evangelização, batalha
espiritual, oração e profecia. Em algum lugar ao longo do caminho o
incentivo nessas áreas causará um impacto sobre a forma como conduzimos
as nossas reuniões. Se tentarmos forçar essas coisas e encaixá-las no
formato das nossas reuniões, provavelmente o resultado será insatisfatório
para todos.
Em relação a cada área da igreja que nós queremos desenvolver,
temos de separar tempo e realizar reuniões com o propósito de cultivar a
visão e as estratégias e criar oportunidades para crescimento. Na prática isso
significa criar um ambiente adequado para aquilo que nós desejamos que
aconteça.
Portanto, apegar-se à rotina e manter o mesmo formato de reunião
será uma medida contra produtiva. Nós precisamos de fases de mudança
para acomodar aquilo que Deus está fazendo. Se desejarmos desenvolver o
ministério profético, precisamos criar na igreja uma parceria que possa
realizar esse propósito. Esse será o assunto do último capítulo, “A parceria
profética”.
Capítulo Treze

Lidando com profecias erradas


É inevitável que as pessoas engajadas no ministério profético
cometam erros e excessos. Quando estamos desenvolvendo o dom e o
ministério profético nas nossas igrejas, precisamos criar um ambiente
onde as pessoas tenham a liberdade de errar. Se nós insistirmos na
perfeição ou na maturidade nos primeiros estágios do desenvolvimento, não
conseguiremos treinar as pessoas da maneira correta.
Em vez de levarmos as pessoas a crescer na fé, nós criaremos um
medo que as fará recuar. Em vez de ousadia, nós criaremos a intimidação.
Em vez de produzir homens e mulheres maduros, nós condenaremos as
pessoas à mediocridade e estagnação. Esse nível será estabelecido pela
medida da nossa reprovação à inexperiência e nossa falta de disposição de
reconhecer que discipulado envolve correção amorosa.
Pessoas em fase de crescimento nos trarão trabalho duro, não só um
pouco de dor de cabeça. Mas as pessoas merecem o sacrifício. Nós temos de
cultivar uma atitude em nossas igrejas que mostre que todas as pessoas são
importantes e têm valor.
Pessoalmente eu ainda me lembro dos meus sentimentos quando
comecei a me mover no sobrenatural, há muitos anos atrás. O senso de
assombro, medo, tremor, incerteza, insegurança e inadequação. Às vezes eu
tinha a sensação de que estava fazendo tudo errado. Eu me sentia um idiota
quando não conseguia pronunciar bem as palavras. Tinha a sensação de que
todos estavam zombando ou criticando as minhas profecias. Lembro-me
também do orgulho lamentável e da arrogância que senti quando comecei a
me acostumar a falar e a me mover na esfera sobrenatural. Quando nós
olhamos para trás, creio que a maioria das pessoas tem um elevado senso
crítico em relação ao próprio desenvolvimento. Eu me lembro o quanto
necessitava de aprovação, bondade e, acima de tudo, de verdadeira ajuda em
meu desenvolvimento.
As pessoas precisam ter liberdade para errar e fracassar. Por isso é
muito importante que os pastores criem em suas igrejas um ambiente no qual
possam ser estabelecidas regras para o ministério profético (veja o Capítulo
14).
Quando os pastores elaboram um protocolo para ser seguido no
ministério profético e nomeiam alguém para supervisionar essa área, podem
finalmente relaxar. O protocolo profético nos ensinará como usar a profecia
de revelação, e a responsabilidade exigida. Nós podemos semear esse ensino
nas classes de “fundamentos” e nos programas de preparação para o
ministério. Deve ser conhecimento comum à toda a igreja. Então nós
podemos determinar quais são os erros honestos que precisam de correção
amorosa e o que são brechas no protocolo que exigirão disciplina e ajustes.
Nós temos de aprender a lidar com os fracassos e transformá-los em
experiências positivas de aprendizado. Não podemos simplesmente afastar
as pessoas que erram ou proibi-las de profetizar. Temos de trabalhar
com elas a fim de ajudá-las a superar as dificuldades. Devemos ser bondosos,
humildes e cheios de misericórdia, embora firmes, cuidadosos e bem
disciplinados. O papel do pastor é equilibrar o cuidado pelo indivíduo que
errou e a proteção do rebanho. Nós não somos empresários. Não podemos
simplesmente demitir as pessoas, separando-as da vida da igreja e do
ministério só porque criaram um momento de tensão e de dificuldade. As
pessoas merecem que lutemos por elas, e por isso o coração do pastor deve
estar sempre disposto a ganhar as pessoas.
A graça de Deus é superabundante quando o pecado é
abundante. Precisamos ter uma reação piedosa diante do fracasso alheio.
Nosso amor, calor e aceitação precisam ser abundantes. As pessoas precisam
mais dos pastores quando fracassam. Não é fácil começar a se mover na
esfera sobrenatural. Ela é cheia de pressões e de incertezas, até que o profeta
desenvolve sua prática da forma correta. Grande parte do aprendizado vem
por meio da experiência e da prática. E custa caro. Muitas vezes o profeta
aprende como não fazer as coisas, antes de adquirir uma boa prática
positiva. Nós devemos ser gratos, e respeitar qualquer pessoa que se coloca
nessa linha de fogo. Sempre que uma pessoa começa a se mover na esfera
sobrenatural é como se ela desenhasse um alvo nas costas e escrevesse:
“Atire em mim!”. Ela se tornará alvo dos ataques do inimigo. As pessoas da
igreja devem se concentrar na redenção, e não nos empecilhos.
Eu preciso mais dos meus irmãos quando fracasso do que
quando tenho sucesso. O sucesso deve trazer aprovação. O fracasso deve
trazer aceitação. Agir de outra forma é ser mundano e não piedoso.
Saiba a diferença entre falsa profecia e profecia pobre
A falsa profecia é enganadora e deliberadamente leva as pessoas para
longe do Senhor. Muitas vezes a profecia é um sonho baseado na imaginação
humana (Jr 23.16-18) e nos pensamentos. As pessoas podem falar do
engano dos seus próprios corações (Jr 23.26). A profecia enganosa é como
o estilo de vida. Ela não se desenvolve da noite para o dia. E é causada pela
falta de prestação de contas. Tais pessoas devem ser tratadas com firmeza.
Tenha cuidado com um ministério que não é vinculado a nenhuma igreja
local.
A falsa profecia procede de inspiração humana. As pessoas
realmente não recebem nenhuma mensagem do Senhor. Eles
simplesmente inventam (Ez 13.1-3). A falsa profecia procede do espírito do
próprio homem, e se baseia nas aspirações humanas. Como acontecia nos
tempos bíblicos, hoje também nós temos pessoas profetizando em troca de
dinheiro (Mq 3.11). Pedro advertiu a Igreja do Novo Testamento contra os
falsos profetas:
“Movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras
fictícias...”
(2 Pe 2.1-3)
A falsa profecia fala deliberadamente aquilo que as pessoas querem
ouvir. Ela é pronunciada por pessoas manipuladoras, que servem aos seus
propósitos pessoais e não ao Senhor. A falsa profecia é usada como meio de
controle sobre as pessoas, para prender as pessoas nas igrejas e prender as
igrejas nas redes – geralmente com objetivo de prestígio pessoal e riqueza.
Jamais devemos considerar uma falsa profecia como insignificante. O
inimigo também usa palavras. E a falsa profecia funciona como uma
maldição. Ela abre a porta para atividades humanas e demoníacas sinistras.
Os falsos profetas precisam ser expulsos e tratados de forma apropriada. A
igreja deve anular o território onde os falsos profetas atuam.
A profecia pobre com frequência ocorre por causa da inexperiência e
da falta de prática que não foram percebidas e nem tratadas. Esse tipo de
profecia é impura porque mescla pensamentos humanos com a mensagem
divina, causando distorções. Um grande amigo e excelente mestre da Bíblia
sobre profecia, Graham Perrins, certa vez definiu muitas das profecias dos
nossos dias como “um pensamento vazio, passando através de uma cabeça
vazia!”.
Nos primórdios do movimento carismático, muitas vezes as pessoas
ficavam revoltadas contra as formas e as tradições. Durante um tempo o
pêndulo foi para o lado oposto e as pessoas se deleitavam na espontaneidade
e em ser conduzida pelo Espírito em todas as coisas. Elas se tornaram
intolerantes e super espirituais.
Algumas pessoas começaram a menosprezar seus líderes, preferindo
ser totalmente lideradas pelo Espírito Santo. Outras se envolviam em
reuniões onde pouca coisa acontecia, e todos ficavam “esperando no
Senhor”, para saber o que fazer. Ocasionalmente as coisas funcionavam
maravilhosamente bem e a reunião tinha a unção de Deus. Muitas vezes as
pessoas mais inflamadas ou que falavam mais alto assumiam o controle das
reuniões e “ministravam’ as outras. Planejamento e preparação eram
menosprezados como falta de espiritualidade ou falta de fé. Toda essa
“espontaneidade forçada” tinha um impacto sobre a profecia. Mal-entendidos
enormes cresceram em torno das profecias e persistem até os nossos dias.
Primeiro, havia a regra áurea da espontaneidade que dizia
que não era preciso preparar nada: “simplesmente abra a boca e
Deus dará as palavras”. Esta falácia sobre profecia se baseava em
vários textos bíblicos: Mateus 10.19,20; Marcos 13.11; Lucas
12.11,12; 21.12-15; Êxodo 4.12 e 2 Pedro 1.21. Todas elas eram citadas
nas conferências proféticas que participei.
No entanto, conforme veremos em passagens dos Evangelhos, a
Bíblia estava falando sobre uma palavra de testemunho, não sobre profecia. O
contexto diz que, ao pregar o evangelho, o cristão pode ser levado diante de
autoridades, que exigirão uma explicação sobre a nossa atitude e nossa
mensagem.
“Quando, pois, vos levarem e vos entregarem, não vos preocupeis
com o que haveis de dizer, mas o que vos for concedido naquela hora,
isso falai; porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo”
(Mc 13.11)
“Antes, porém, de todas estas coisas, lançarão mão de vós e vos
perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-
vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome; e isto
vos acontecerá para que deis testemunho. Assentai, pois, em vosso
coração de não vos preocupardes com o que haveis de responder;
porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem
contradizer todos quantos se vos opuserem” (Lc 21.12-15)
Jesus estava instruindo seus discípulos sobre a atitude que deviam
adotar quando fossem chamados a dar explicação sobre o evangelho.
Primeiro, não deviam se preocupar. Segundo, não deviam dar respostas
premeditadas. Terceiro, deviam aproveitar a ocasião para dar testemunho.
Tais instruções não têm nada a ver com profecia. Nós podemos ver a prática
desse ensino de Jesus em Atos 4, quando Pedro e João foram levados diante
dos sacerdotes Anás e Caifás e diante das autoridades da Lei. Sem dúvida
essa cena foi repetida milhares de vezes na história.
A passagem do Antigo Testamento refere-se à ocasião em que
Moisés foi convocado a voltar ao Egito e dizer ao Faraó “deixa meu povo
ir”, em nome do Senhor. Moisés argumentou que tinha dificuldade para
falar e temia não conseguir cumprir a tarefa. A resposta de Deus foi:
“Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás
de falar”
(Êx 4.12)
Novamente, não tem nada a ver com profecia. Moisés tinha de
transmitir uma ordem, em nome do Deus Altíssimo, para a mais poderosa
autoridade da Terra. Naquelas circunstâncias, qualquer pessoa ficaria
nervosa e apreensiva! O sentimento de inadequação de Moisés era tão forte
que ele não conseguia descansar em Deus. O Senhor lhe deu Arão, que
serviria como seu porta-voz.
Muitas vezes as pessoas citam também os versículos de 2 Pedro 1.21:
“Nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana;
entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo
Espírito Santo”.
Novamente nós temos de examinar o contexto no qual a verdade é
apresentada. A Bíblia fala nesse texto sobre a profecia das Escrituras, e não
sobre o dom de profecia e os pronunciamentos proféticos espontâneos. A
Escritura não foi elaborada mediante criatividade e inspiração humana. Deus
usou os talentos, a educação e o contexto cultural de cada escritor, no
entanto, a Escritura foi soprada por Deus e elaborada sob a sua inspiração
especial (2 Tm 3.16).
Quando nós usamos essas passagens bíblicas como base para as
profecias espontâneas, estamos retirando-as do seu contexto original.
Quando nós tiramos um texto bíblico do seu contexto, nós o transformamos
em pretexto para fazer algo contrário à Bíblia.
Não estou dizendo aqui que todas as profecias devem ser
meticulosamente preparadas e bem elaboradas antes de serem
pronunciadas. O que quero dizer é que creio que para nos movermos
efetivamente na profecia nós precisamos ter um entendimento sólido das
Escrituras, do caráter de Deus e da sua forma de agir. Sem esse fundamento,
ficamos vulneráveis em nossa ignorância e podemos falar de coisas que não
sabemos.
Eu creio que a profecia é operada pelo Espírito Santo, mas é
resultante de vários elementos: nosso conhecimento de Deus, e nossas
experiências com ele; nosso conhecimento da Bíblia; tempo de oração;
comunhão e preparação; e também os pronunciamentos espontâneos. Eu
creio que esses elementos são pré-requisitos para o ministério profético
sólido. Nós não devemos nos basear no nosso estado de espírito
circunstancial.
Há momentos em que certas profecias são preparadas e planejadas.
Elas são importantes e dignas de serem analisadas. Outras vezes nós
recebemos o esqueleto de uma profecia, com palavras principais ou frases
que vão ganhando substância enquanto nós falamos. Em outras ocasiões nós
recebemos certas impressões que precisam ser seguidas com cuidado e
sabedoria. É claro que ao longo dos anos eu já pronunciei centenas de
profecias espontâneas. Entretanto, o curso da minha vida é estabelecido sobre
o fundamento da oração, meditação e estudo das Escrituras; da comunhão
com o Senhor.
Outro erro comum envolvendo a profecia é: as sensações físicas
são o indicador da presença e unção do Espírito Santo.
Nosso coração começa a bater mais rápido, os cabelos da nuca se arrepiam,
as palmas das mãos ficam úmidas e chegamos a ter a sensação de que algo
está se movendo pelo ar. Esses sinais podem indicar várias coisas.
Primeiro, pode ser simplesmente nervosismo. Muitas pessoas ficam
nervosas face ao que se lhe exige, antes de discernir o que é! A necessidade
de orar ou dedicar tempo lendo a Bíblia não significa que seremos
conduzidos ao ministério profético.
Segundo, o Espírito Santo pode estar apenas querendo falar
conosco pessoalmente. Ele está dizendo algo que deve ser guardado somente
para nós e não para a igreja em geral – pelo menos não naquele
momento. Devemos ser cuidadosos e compartilhar qualquer revelação com
pessoas maduras, a fim de evitar o engano, e aumentar o nosso entendimento.
Terceiro, o Espírito Santo está se movendo sobre nós. Os
sintomas físicos que experimentamos podem ser apenas uma forma de
conseguir a nossa atenção. Em muitas ocasiões, eu evitei compartilhar
qualquer palavra, profética ou não, ao sentir esses sintomas físicos. O
Espírito Santo estava indicando que queria que eu me retirasse de lado para
poder ouvir. Os sintomas podem indicar que precisamos de um tempo de
oração, jejum ou de preparação.
Algumas profecias podem esperar até o outro dia, ou mais
tempo, para serem pronunciadas. Depende do propósito do Espírito Santo. Eu
retive uma profecia por mais de dois anos, enquanto orava e esperava que a
pessoa certa surgisse à minha frente. Às vezes uma profecia necessita de um
tempo de preparação e oração a fim de amadurecer antes de ser
pronunciada. Talvez o profeta tenha de se separar para buscar o Senhor.
Muitas vezes eu já vi as “supostas profecias” serem rejeitadas porque
os profetas não conseguiram discernir o que estava acontecendo. Eles tinham
recebido algumas poucas palavras e se precipitaram a transmiti-las. E
descobriram que não tinham mais nada. Apelaram para a
“complementação” (humana) a fim de contornar a situação.
Lidando com profecias erradas numa reunião
Em nossos cultos, nós precisamos buscar o equilíbrio correto entre
encorajar o ministério profético e proteger o rebanho dos danos potenciais
de algumas profecias, não permitindo que a reunião seja dominada pelos
“cadetes do espaço”!
Muitas igrejas parecem optar pelo processo de correção e prevenção.
Aqueles que se envolvem na correção dos incidentes normalmente fazem
isso porque:
a) acreditam que todos têm o direito de profetizar e ninguém deve ser
privado da oportunidade;
b) não avaliaram devidamente as implicações de ter profecias sendo
pronunciadas livremente na igreja, sem a necessária supervisão e o suporte.
Todo ministério exige uma definição apropriada e limites
suficientes para que haja um equilíbrio satisfatório. Ter um elemento sem o
outro é como um pássaro tentar voar com uma asa só e fica girando em
círculos. Os problemas ficam girando em volta. Quando uma profecia errada
é pronunciada na igreja, os pastores reagem de maneiras diferentes.
Primeiro, podem não dar atenção ao acontecimento na hora. Pode ser
melhor deixar a reunião seguir do que parar tudo para tentar corrigir o
erro. O pastor pode fazer um breve comentário no final da reunião. Nem
sempre é sábio tentar fazer algo durante a reunião. É só uma questão de
“bem, vamos adiante!”. Se houver avisos a fazer, ou for o momento de
recolher as ofertas, é bom que isso seja feito, e a reunião prossiga.
Segundo, se a situação exigir, talvez o pastor tenha de fazer algum
tipo de abordagem imediata do assunto. O mais importante é não destruir as
pessoas ou criar um confronto público. O pastor deve ser o mais brando
possível, dizendo algo assim ao profeta: “Obrigado por suas palavras. Nós
apreciamos as pessoas que dizem o que sentem”. Assim ele não estará
chamando o pronunciamento de profecia e nem indo atrás dele, mas apenas
preenchendo a lacuna entre as palavras do profeta e o resto da reunião.
Naturalmente a resposta do pastor dependerá do que foi dito e da
forma como o profeta fez o pronunciamento. O pastor deve se esforçar para
responder sem se alterar, mantendo um tom calmo e comedido: “Eu creio
que o nosso irmão falou movido pelo seu próprio espírito; vamos seguir
adiante...”.
Em outras ocasiões o profeta pode assumir uma atitude que não deixa
ao pastor nenhuma outra alternativa a não ser a repreensão pública e
imediata. A reunião foi feita com um propósito e o pastor não pode permitir
que a profecia errada se torne o foco principal. O objetivo é neutralizar o
que foi dito, advertir o indivíduo e evitar confusão na congregação,
mantendo o objetivo principal da reunião.
Novamente, deixe-me enfatizar que tudo isso pode ser feito sem
agitação desnecessária. Não há necessidade do pastor piorar a situação
provocando um conflito. Se a palavra branda desvia a ira (Pv 15.1), então
uma repreensão branda poderá dissipar a tensão de uma situação
potencialmente explosiva. O pastor não precisa provar a sua autoridade em
momento como este, mas apenas agir como um pai amoroso. Onde for
necessário, ele pode dar uma explicação curta e razoável.
Há três razões porque nós devemos repreender publicamente os
profetas em casos de profecias pobres:
1) Se eles tiverem dado uma palavra diretiva ou uma palavra de
correção/julgamento, precisamos fazer com que saibam do seguinte:
“Esse tipo de profecia não é adequado a reuniões públicas. O local
adequado para esse tipo de mensagem é a reunião da liderança, de
modo que a profecia possa ser analisada de forma apropriada. Eu
sugiro que oremos juntos e busquemos compreender o que o Senhor
está fazendo”. Isso pode ser dito rapidamente, sem prejuízo da
reunião. Provavelmente será conveniente que de tempos em tempos o
pastor reforce para a igreja o protocolo adequado ao exercício do
ministério profético.
2) Se a profecia foi uma mensagem dura ou condenatória, a resposta
do pastor pode ser: “Esta palavra não testifica em meu coração. Ela
não é a voz de Deus. Agora vamos nos concentrar no Senhor Jesus.
Nós não desejamos que nada interfira em nossa adoração e no mover
do Espírito Santo”. Então a reunião pode prosseguir com uma canção,
oração ou outra atividade.
3) Se uma pessoa profetizou a sua própria opinião ou apresentou uma
atitude negativa, a resposta do pastor pode ser: “Irmão, eu creio que
esta é a sua própria opinião. Você está falando com base em sua
frustração pessoal. O culto não é o lugar adequado para isso. Eu
gostaria de conversar com você mais tarde. Agora, vamos...”.
Deixe-me enfatizar o seguinte: o pastor deve ser manso e
bondoso.
Falar com brandura, sorrir, ser firme, enfático e dar uma
resposta direta e objetiva. Deve desviar a atenção da audiência da
situação e a seguir dar continuidade à reunião. Ele deve dar
uma rápida repreensão, com voz mansa e a seguir erguer a voz, atraindo
atenção da audiência para outra atividade. Não dê ao pronunciamento o
título de profecia, chamando de palavra, pois isso é menos
embaraçoso para o profeta.
Outras igrejas operam no sistema de prevenção. Elas procuram
guardar o rebanho a qualquer custo. É praticamente impossível levar uma
mensagem profética até a congregação e os líderes suspendem quase que
totalmente a autonomia dos profetas. Muitas vezes eu já descobri que tal
“proteção” se baseia na falta de confiança. Os líderes estabelecem um
campo minado para evitar as profecias. Imagine a cena. Um indivíduo crê
que tem uma mensagem profética para a igreja. Para ser ouvido por todos, ele
tem de ir à frente, onde estão situados os sistemas de defesa.
Assim, ele se encaminha para o microfone. No caminho, ele se
defronta com o “fiscal do microfone”, que é o encarregado de proteger o
microfone dos ataques de pessoas com segundas intenções! O profeta tem de
convencê-lo de que sua mensagem realmente veio de Deus. É quase
impossível resumir toda a mensagem em poucas frases. Diante dos olhos de
toda a congregação e dos líderes que estão no púlpito, ele tenta organizar
seus pensamentos num padrão compreensível. O “fiscal do microfone” tem
apenas alguns segundos para discernir a voz do Senhor. Para o horror do
profeta, o “fiscal” diz “NÃO!”. Não lhe resta alternativa a não ser voltar ao
seu lugar, envergonhado. Você já viu essa cena? Quantos profetas já
passaram por isso, sem receber nenhuma explicação posterior?
Para ser justo, temos de reconhecer que situações assim são
difíceis para ambos os lados. Com frequência há muito barulho ao redor,
com instrumentos musicais, vozes, etc.; em geral a audiência está num
período de louvor e de adoração. Muitas igrejas precisam dos “fiscais de
microfone” porque nunca ensinaram a congregação sobre profecia. Não foi
criado um ambiente profético onde a congregação sabe que somente
pessoas maduras e sérias terão liberdade de profetizar. A congregação não
aprendeu sobre os tipos de profecia.
Se os pastores querem que suas ovelhas cresçam no entendimento da
profecia nas reuniões públicas, eles devem colocar pessoas maduras, com
dom profético reconhecido no fundo do auditório. Não devem colocá-las
na frente, à vista de todos. Não devemos colocar as pessoas em situações
embaraçosas. Isso é injusto e humilhante! Mas se os “fiscais de microfone”
estiverem lá para desencorajar as pessoas de exercitar o dom, então a igreja
perdeu totalmente de vista a noção de corpo e de treinamento efetivo
No fundo do auditório geralmente o ambiente é mais silencioso. Os
profetas podem ser acompanhados por um supervisor mais experiente. Ao
receber uma mensagem profética, pode falar com o supervisor e este pode
ajudá-lo a discernir se veio ou não de Deus. Se o supervisor achar que não
seria sábio compartilhar a mensagem para toda a igreja naquele
momento, pode explicar isso calmamente ao profeta, com amor e respeito.
A seguir, pode agradecer ao profeta e este retornará ao seu posto sem se
sentir envergonhado ou humilhado. Ninguém mais presenciará a cena. Caso
o supervisor considere apropriado, pode conduzir o profeta até a frente da
igreja, dando um sinal de aprovação aos líderes que estão no púlpito, os quais
então podem autorizar o pronunciamento da mensagem para toda a igreja.
Tal procedimento é muito mais efetivo do que a cena de reprovação ilustrada
anteriormente.

Fazendo críticas construtivas


A interação é uma habilidade fundamental que todo líder deve
desenvolver e usar. Alguns terão mais facilidade do que outros. Se o líder
quiser ser efetivo em sua tarefa de treinar, equipar e liberar as pessoas no
uso dos seus dons, deve reconhecer que a crítica construtiva é essencial ao
processo.
Avaliar eventos e situações é uma prática normal e natural na
existência humana. Fazemos isso nos negócios e nos esportes, apenas para
citar algumas áreas. Nós próprios somos avaliados muitas vezes durante a
nossa vida. Algumas vezes nem nos damos conta que estamos sendo
observados, avaliados e aprovados. Outras vezes, a experiência da
reprovação foi dolorosa e humilhante. Raramente nós sentimos prazer
em ser avaliados. Seja devido à falta de experiência da pessoa que
avalia ou à nossa atitude defensiva. Nenhum ser humano nasce com a
habilidade de analisar as ações dos outros. Trata-se de uma habilidade que
precisa ser aprendida. Lamentavelmente, tal habilidade nunca é ensinada
nas igrejas, embora seja um elemento fundamental no processo de
treinamento.
Quando avaliamos pessoas que exercitam o dom de profecia, nós
temos de avaliar em primeiro lugar a sua atitude. O ministério profético exige
um espírito humilde e de servo. A mensagem deve ser pronunciada com
ousadia e poder. E o profeta deve assumir uma postura de força. Entretanto,
seu espírito deve ser de mansidão e ternura. Moisés foi um profeta que falava
com grande coragem. Mas mesmo assim, ele foi considerado o homem mais
manso da Terra. Mansidão não é fraqueza. Mansidão é força sob controle.
A forma como as pessoas se conduzem antes, durante e depois do
pronunciamento profético é algo que merece observação e comentário.
Nós podemos ter a mensagem correta, mas podemos transmiti-la da
forma errada. As pessoas não podem receber a nossa mensagem se a nossa
atitude contradiz aquilo que falamos.
O método de liberação da profecia é o segundo elemento que
devemos observar. A apresentação é muito importante. O profeta foi discreto
ou pomposo? Seu pronunciamento foi demasiadamente longo? Ele falou de
modo apressado? Ele demonstrava confiança ou insegurança? As palavras
foram claras e bem compreensíveis? A sua mensagem entrou em harmonia
com o andamento da reunião ou “atravessou” no meio dela? Os dois últimos
pontos podem estar corretos. Eu já vi reuniões medíocres serem literalmente
salvas por uma mensagem profética.
A observação do método de pronunciamento e sugestões apropriadas
farão com que s profetas considerem outros elementos importantes, além do
conteúdo da mensagem.
Terceiro, a mensagem foi devidamente filtrada? Algumas mensagens
proféticas precisam passar pelo escrutínio da liderança com antecedência.
Ao examinar uma profecia, é bom que os líderes providenciam a presença de
alguém que tenha um claro dom profético. A pessoa que está trazendo a
profecia deve, sempre que possível, participar dessas conversas, pois isso
ajudará no seu crescimento. Em quarto lugar, por mais precário que seja o
desempenho do profeta, os líderes devem sempre procurar fazer com que a
avaliação seja o mais positiva possível. Nós devemos ser confiáveis, mas
podemos também ser graciosos. Os pastores não devem esquecer de
agradecer às pessoas que se dispõem a se expor dessa maneira. Eles devem
fazer recomendações e dar conselhos apropriados. Se for adequado, podem
também estabelecer limites específicos para o ministério profético no futuro.
As pessoas devem profetizar de acordo com a proporção da fé (Rm
12.6). Com base na experiência, nós identificamos quando uma pessoa está
tentando ir além desse limite, ou quando fica aquém. Às vezes é preciso que
se coloque restrições ao dom de profecia, a fim de que as pessoas possam
crescer e madurecer no seu caráter. Outras vezes elas devem ser mantidas
num determinado nível para poder desenvolver plenamente sua confiança e
experiência.
Finalmente, devemos permitir que os profetas ajudem na
administração do ministério profético. Podemos pedir que dêem sugestões
em termos dos próximos passos ou sobre como proceder. Nem sempre as
sugestões serão úteis, mas sempre é bom permitir que elas sejam oferecidas.
Depois de algum tempo o nosso processo de avaliação nos
ajudará a determinar o padrão de qualidades e defeitos de cada profeta.
Esses elementos podem ser trabalhados no decurso do processo de
discipulado. Uma vez que as pessoas se familiarizam com um sistema de
avaliação amigável, útil e realista, que as ajuda a crescer, o processo todo se
tornará fácil de ser administrado.
Lidando com as frustrações e com as opiniões contrárias
Os relacionamentos sempre são uma questão fundamental no
desenvolvimento das pessoas. Muitas vezes ocorre frustração porque as
pessoas sentem que não são ouvidas e não são amadas. Eu reconheço que
certas pessoas são difíceis de ser amadas. No entanto, precisam ser
ouvidas assim mesmo. Quando as pessoas são rejeitadas, acabam
expressando emoções e atitudes negativas. A amizade reduz a tensão que as
pessoas sentem em suas vidas.
Um indivíduo dominado por frustração, ainda que possa enxergar e
ouvir de modo correto, as suas interpretações serão erradas. Ele pode ser
dominado pelas emoções, percepções e situações. Esses elementos podem
refletir negativamente nas suas profecias.
Ocasionalmente profetas imaturos podem ser alvo de críticas. Essas
críticas podem influenciar suas decisões e suas mensagens. Os líderes devem
procurar identificar sinais de manipulação ou controle tanto no profeta quanto
nas pessoas que estão ao redor. Esse tipo de coisa cria nas igrejas as
“panelinhas”, e o pastor deve estar atento a esse tipo de processo e aos
relacionamentos negativos decorrentes. É claro que esse perigo se aplica a
todas as pessoas e não somente aos envolvidos no ministério profético. No
entanto, na prática, é fácil vermos profetas envolvidos nesse tipo de
comportamento.
As pessoas que se sentem frustradas, e que profetizam seus próprios
pensamentos, necessitam de amor, paciência e disciplina. Precisamos
encontrar a chave redentora que destranca o coração delas. Para cada
problema humano existe um plano de resgate, uma chave redentora que libera
a resposta correta. O Espírito Santo é maravilhoso no seu ministério de
atender e recuperar. Esse é o seu papel. Encontrar a chave, porém, não
significa que poderemos usá-la. Além disso, podemos encontrar a chave e
não saber como usá-la, o que pode piorar a situação.
A frustração também pode ser um sinal de que a pessoa se
preocupa tanto com a igreja que chega a perder a noção da realidade. Elas
podem sentir que as coisas estão acontecendo muito devagar ou que a igreja
está deixando de lado algo vital. É claro que podem estar com a razão. Por
isso a avaliação dos pastores deve se basear numa atitude de real
integridade. Nosso compromisso sempre deve ser com a verdade.
Tenha integridade quando estiver organizando a bagunça
“Meus irmãos, se alguém for apanhado em alguma falta, vocês que
são espirituais devem ajudar essa pessoa a se corrigir. Mas façam
isso com humildade e tenham cuidado para que vocês não sejam
tentados também” (Gl 6.1)
Restauração, mansidão e consideração pelas outras pessoas são
elementos vitais no processo de redenção.
Mateus 18.15 fala sobre como podemos ganhar o irmão que está em
pecado. Não devemos simplesmente rejeitar as pessoas, pois isso é errado. O
pastor deve sempre sair à procura da ovelha perdida e trazê-la de volta para o
aprisco com alegria (Mt 18.13).
Seja honesto e aceite repreensão. Aprenda a reconhecer seus erros, caso
tenha contribuído de alguma forma para uma situação desconfortável.
Finalmente, deixe-me enfatizar novamente que nós reduziremos
significativamente o risco das profecias erradas se treinarmos toda a igreja
no ministério profético. A profecia é um dom importante demais para ser
ignorado pelas igrejas cristãs.
Nós devemos edificar igrejas onde o conhecimento de Deus, os
dons espirituais e a pessoa do Espírito Santo são valorizados. Durante as
conferências proféticas, constantemente eu sou surpreendido pelo pequeno
número de membros da igreja anfitriã que participam de todo o evento. Fico
ainda mais chocado com a ausência de líderes.
Tudo o que alcançamos nessas circunstâncias é uma congregação que
tem mais conhecimento, entendimento e experiência na esfera da profecia do
que os líderes. Há igrejas hoje em dia onde grande parte dos problemas em
torno das profecias surgem na própria liderança. Muitos membros
foram treinados nas Escolas de Profecia, enquanto muitos líderes se
recusaram a participar. Essas congregações agora estão tentando ajudar seus
pastores e muitas pessoas bem intencionadas estão sendo acusadas de
arrogantes!
A ignorância, quando não temos acesso a mais conhecimento, é
aceitável e compreensível. Quando o conhecimento está ao alcance de todos,
a ignorância é algo lamentável e desnecessário.
Nós temos de desejar ardentemente os dons espirituais, especialmente
a profecia. Não podemos fazer isso sem buscar o dom e sem aprender a
usá-lo. A única resposta para o mau uso da profecia é o uso apropriado. Isso
deve ser uma realidade em todas as nossas igrejas.
Capítulo Quatorze

As parcerias proféticas
O dom e o ministério profético não podem encontrar seu lugar correto
no Corpo de Cristo a menos que haja um forte envolvimento dos líderes. Em
todos os meus anos de ministério com a Escola de Profecia, e falando em
conferências proféticas em várias partes do mundo, eu já testemunhei uma
torrente de tragédias.

Controlar ou liberar?
Muitos líderes desejam controlar o ministério profético. A maioria
das perguntas que eu tenho de responder gira em torno do menosprezo pelo
dom de profecia. Há profetas que são impedidos de se colocar “na brecha” ,
em suas igrejas. E há necessidade dos profetas assumirem responsabilidade
e prestar contas diante dos líderes. Eu creio firmemente que são
questões pertinentes que precisam ser respondidas.
Mesmo assim, eu fico surpreso ao ver como muitos líderes
colocam controle e restrições aos profetas que não colocam sobre si
próprios. A liderança sem responsabilidade não tem base bíblica, e fica
vulnerável a controle externo, manipulação, engano e domínio espiritual.
Ironicamente, só os profetas estão sujeitos a determinados controles. Por que
não aplicar as mesmas precauções a todos? A tendência de projetar nos
outros os próprios erros não é uma enfermidade do ministério profético, mas
é uma enfermidade da condição humana.
Pouquíssimos líderes parecem interessados em saber como
desenvolver e acompanhar profetas. Poucos demonstram desejo de liberar o
ministério profético em suas igrejas, de modo responsável. Se nós desejarmos
promover o ministério profético e os profetas em nossas igrejas, temos de
estar dispostos a amar as pessoas e trabalhar com as dificuldades e
debilidades que surgirão.
Se o pastor desejar que surja em sua congregação uma verdadeira voz
profética, deve estar preparado para assumir alguns riscos e permitir que as
pessoas se desenvolvam na esfera do sobrenatural.
Controle excessivo, desprovido de amizade e de amor, sufocará os
dons proféticos e produzirá um tipo de ministério tímido e sem nenhuma
contundência, profundidade ou clareza. Eu creio que enquanto praticamos
as diretrizes e os procedimentos mostrados neste livro, desenvolvendo-os
num ambiente de amor e de aceitação, veremos o surgimento de um
ministério confiável e ungido que causará verdadeiro impacto na igreja.
Tenho visto mais pastores esquisitos do que profetas. Infeliz-
mente, os pastores estranhos passam despercebidos porque a atenção geral
sempre recai sobre os profetas. As igrejas precisam desenvolver parcerias
efetivas entre pastores e profetas. Pessoas que parecem estranhas e bizarras
geralmente sentem falta de amizades profundas e apoio pessoal. Todos os
cristãos, independente da função, precisam da ajuda e do cuidado do Corpo
para se desenvolver.
Critério geral
As igrejas devem estabelecer um sistema apropriado de
responsabilidade e de prestação de contas em todos os seus ministérios.
Pessoas que nos acompanham e dão opiniões saudáveis em todas as áreas da
nossa vida não é opção, mas um pré-requisito para a liberação da unção
naquilo que fazemos. Ser aberto e honesto sobre a nossa própria vida é um
elemento vital na nossa vitória contra o inimigo e para manter a nossa
natureza humana sob controle.
O nosso processo de crescimento inclui a integridade pessoal e o
compromisso de prestar contas a alguém daquilo que fazemos com os nossos
dons. Permitir que outras pessoas nos moldem e acompanhem enquanto nos
movemos no nosso ministério é uma parte importante do nosso
desenvolvimento em Deus. Todo cristão precisa de um mentor. Isso é parte
essencial do processo de discipulado. Todo líder deve ter em seu coração uma
porta aberta para todas as pessoas. O rebanho precisa ter acesso ao coração
do pastor para receber calor, ensino e aceitação.
Devemos dar às pessoas envolvidas no ministério profético acesso
regular àqueles que lideram as reuniões. Dessa forma, damos aceitação e
receptividade à função de suas vidas. Deus é mestre em criar ordem. Nós
precisamos ter um senso da ordem divina em nossas reuniões,
principalmente em relação às grandes profecias.
Uma vez que todos entendam as regras básicas e as aceitem, os
pastores podem respirar um pouco mais aliviados e relaxar. Pode parecer
que as regras fundamentais colocam restrições sobre o dom das pessoas. Mas
isso pode ou não ser uma coisa ruim, dependendo da pessoa envolvida. As
regras evitarão que as coisas saiam do controle nas reuniões públicas e na
vida geral da igreja.
Entretanto, as regras em si não são a resposta definitiva. Elas devem
ser acompanhadas de um desejo de se construir relaciona- mentos sólidos e
valiosos. A profecia sem os canais apropriados pode ser destrutiva, em vez
de ser criativa. Prestação de contas sem amizade é uma força destrutiva. Ela
destrói a autoestima das pessoas e esmaga a alma.
Treinar, equipar e liberar
as pessoas com dom profético
Uma das melhores coisas que nós podemos fazer é nomear
alguém para supervisionar, alimentar, apoiar, corrigir e treinar as pessoas no
uso da profecia dentro da igreja local.
Os líderes precisam providenciar programas de treinamento,
oficinas, recursos pedagógicos e acesso a eventos confiáveis fora da igreja
local. Sempre que possível, devem convidar pessoas reconhecidas com dom
profético para vir e falar aos candidatos ao ministério de profecia. É bom que
pessoas que estão sendo treinadas no ministério profético passem tempo com
outros profetas de outras igrejas. Isso é bom para elevar o moral do grupo,
para o aprendizado, para o diálogo e para oração. Isso também envia uma
mensagem da liderança para o grupo: o seu dom é digno de investimento.
Polinização ativa
Há uma necessidade mútua por parte dos líderes e dos profetas de
estabelecer um bom relacionamento. É preciso haver definição e
entendimento para que funcione. Nesse relacionamento deve-se evitar os
sentimentos de apreensão, pressão, insegurança e discriminação de parte a
parte.
Até mesmo os melhores amigos podem ter mal entendidos! Nós temos
de reconhecer que ambos os dons têm suas áreas peculiares de
responsabilidade.
Os líderes devem guardar o rebanho e manter a unidade como parte
do seu papel pastoral. Regular o fluxo dos ministérios internos e externos é
parte do escopo da autoridade dos pastores.
Os profetas são responsáveis por ouvir a voz do Senhor e
pronunciar mensagens confiáveis, da forma apropriada (Capítulos 5 e 10). Os
líderes, em parceria com os profetas, são responsáveis pela aplicação das
profecias. Às vezes a parceria pode ser limitada em seu alcance pelas
circunstâncias. Em outras ocasiões, os profetas podem desempenhar um papel
ativo na determinação dos próximos passos em relação à profecia.
Alguns profetas são parte da liderança de uma igreja estabelecida e
podem ter uma unção especial para este papel. É a minha experiência.
Ministério externo
Eu creio que hoje, mais do que nunca, nós devemos estabelecer um
sistema nas igrejas para determinar a qualidade dos ministérios externos que
chegam às nossas igrejas.
Muitos ministérios nasceram durante o movimento de Renovação
Carismática. Regularmente eu recebo telefonemas de pessoas que estão
passando pela minha região e se oferecem para ministrar em nossa igreja.
Hoje em dia há um grande número de ministérios que não são baseados em
nenhuma igreja local. Muitas pessoas passam tanto tempo “na estrada” que
não têm tempo de participar de um trabalho local. Muitas delas ficam soltas,
sem ter de prestar contas a ninguém.
Muitos ministérios são organizações semelhantes a empresas. Têm
escritórios, centros de treinamento, secretarias... mas não têm uma igreja!
Nós precisamos entender a diferença entre profetas imitadores e
profetas falsos. Ministérios imitadores jamais foram verdadeiros ou reais.
São carnais, mundanos e inspirados por demônios. Os falsos profetas um dia
já foram verdadeiros, mas caíram no engano, deixaram de ser confiáveis e se
tornaram dúbios. Na melhor das hipóteses, suas profecias são uma mescla
de verdade e mentira. As pessoas ficam sem saber quando estão sendo
enganadas. O coração é enganosamente corrupto. Por isso os relacionamentos
sinceros e abertos são essenciais.
Há certas questões que nós precisamos fazer ao convidar ministérios
de fora para a nossa igreja:
• A que igreja seus integrantes pertencem? Qual é o nome e
endereço do líder, para contato?
• Qual é a função deles em suas igrejas?
• A quanto tempo estão envolvidos no ministério integral?
• Os seus líderes sabem onde eles estão?
• Com que frequências eles se ausentam de suas igrejas?
• A quem poderemos recorrer, em caso de algum problema durante a
visita deles?
• Quem podemos procurar, na igreja deles, para pedir ajuda?
• Para quem eles prestam contas enquanto estão viajando?
• Eles foram recomendados por alguém?
Obviamente nós não iremos bombardeá-los com uma lista de
perguntas, como se fosse um interrogatório. No entanto, nas conversas
gerais, devemos procurar identificar as respostas às perguntas acima. Os
ministros genuínos terão respostas apropriadas e não se sentirão ofendidos
com as perguntas diretas.
Gentilmente, o pastor da igreja local deve deixar claro que se os
profetas aceitarem o convite, o ministério deles será registrado. Na realidade,
as profecias pessoais sempre devem ser registradas. Diante disso, o profeta
terá de ser corajoso para aceitar ministrar nessas condições. Eu faço isso o
tempo todo! Por isso insisto nisso. Quando visito outras igrejas, tenho
consciência de que estou servindo ao Senhor e também à liderança local.
Tento oferecer-lhes as mesmas garantias que eu esperaria dos ministros
itinerantes que visitam a minha própria igreja. Eu chamo isso de cortesia.
Eu creio que se todas as igrejas adotassem esse comportamento
poderíamos diminuir o número de pessoas mal intencionadas e
diminuiríamos o campo onde elas atuam.
Os bons líderes promovem a interação entre os ministérios
Eu fui inspirado pelo meu bom amigo Jonathan David da
Malásia. Numa Reunião Internacional da Conferência de Profetas em Muar,
Malásia, ele disse o seguinte sobre os profetas e mestres trabalhando juntos:
“Em Atos 13.1 nós lemos sobre profetas e mestres presentes na igreja
de Antioquia. Esses ministérios oferecem diferentes dimensões da
verdade. Os profetas proporcionam um espectro da verdade
progressiva. Profetas e mestres precisam de uma confiança mútua
ou o mestre agirá com demasiada cautela em relação à profecia,
acabando-a por interrompê-la. O profeta, por sua vez, poderá reagir
com frustração devido à oposição que estará sofrendo.
Esse quadro é uma receita para o desastre. Nós temos de reunir os
profetas e mestres. O profeta libera a palavra rhema para o momento,
enquanto o mestre revela os princípios para que essa palavra seja
estabelecida. Os mestres devem crer na veracidade da profecia para
ajudarem no seu estabelecimento. Eles não estão lá para pesar a
profecia, mas sim para interpretá-la corretamente. Não deve haver
nenhuma contradição entre os dois ministérios.
Os profetas enxergam muito adiante e fazem predições,
enquanto os mestres cavam fundo e têm e oferecem informações. O
último avivamento reunirá mensagem profética e espírito, trabalhando
juntos para criar um movimento apostólico. O profeta inspira o
espírito das pessoas, enquanto o mestre explica as coisas e alcança
a mente das pessoas. Mente e coração devem estar de acordo. Nós
precisamos de um coração inspirado e uma mente cheia de
conhecimento.
O profeta se move por revelação, enquanto o mestre se move pelo
entendimento. Nós precisamos de um forte fluxo profético e de um
profundo compromisso pedagógico trabalhando juntos.
O profeta dá a direção e o mestre traz a consolidação. Dessa maneira
nós andamos para a frente e estabelecemos raízes para baixo.
Quando nós ouvimos o profeta, entendemos o que Deus está dizendo.
Quando ouvimos o mestre, entendemos o que Deus . Não há nova
revelação à parte da verdade que já foi revelada. No entanto, o profeta
pode derramar nova luz sobre o que Deus já disse e extrair dali uma
nova direção. Ambos os ministérios trabalham juntos na edificação de
uma igreja forte”.
Deve haver um relacionamento saudável entre o pastor e o profeta. Sinto-
me profundamente incomodado quando dizem que esses dois ministérios
não podem ser combinados. Os melhores conselheiros cristãos são aqueles
que têm uma habilidade profética, e são capazes de enxergar além do natural
e colocar o machado na raiz das árvores.
Os profetas podem inspirar um atalho legítimo que o pastor deve
seguir para chegar a uma conclusão bem sucedida. Um profeta pode enxergar
algo dentro de uma situação, mas não conseguir entender o que está sendo
revelado. O pastor, porém, terá uma visão diferente. Ele trabalhará na base da
intuição e da interpretação e será capaz de captar o âmago do problema.
Mal-entendidos ocorrem quando pastores e profetas não gastam
tempo tentando entender uns aos outros. É necessário que haja diálogo
para que sejam discutidos os relacionamentos e os parâmetros em
termos amplos. Não é preciso muitas definições, pois o resultado seria um
livro de regras. Um trabalho prático e conciso é o ideal.

Criando uma equipe profética


Geralmente há perigos associados com o início de qualquer equipe
ministerial dentro da igreja. A criação de uma equipe de evangelização,
por exemplo, pode levar o resto da congregação a arrefecer e até mesmo
interromper o ímpeto evangelístico. As equipes pastorais podem ser
usadas como base, bastando que alguns membros acrescentem algumas
funções às que já exercem. Com frequência as pessoas demonstram menos
empenho em se desenvolver numa certa área ministerial quando são
deixadas de fora do “grupo”. O mesmo ocorre com a profecia. A formação
de uma equipe pode levar outros a não buscar revelação ou palavra
profética. No entanto, eu creio os benefício e as bênçãos superam muito
qualquer perigo potencial na criação das equipes.
Faça um início simples
Não chame o grupo criado de “equipe profética” ou algo assim.
Chame simplesmente de grupo de encorajadores, por exemplo. Dessa forma,
pode-se manter o grupo aberto para pessoas em diferentes níveis de
progresso. Para encorajar os iniciantes e também os veteranos, é útil ter
uma ampla variedade de pessoas com diferentes níveis de entendimento e de
experiência dentro do grupo. Dessa forma os mais experientes podem ajudar
e apoiar os mais novos.
Uma equipe é importante porque permite o desenvolvimento dos
dons, promove a idéia de trabalho em grupo. É importante que os profetas
iniciantes desenvolvam a idéia de equipe. Isso evita que as pessoas se
acomodem no ministério.
Todos os membros da equipe devem ter um plano de discipulado e
devem ter um mentor que os acompanhe. Chamar o grupo de
“encorajadores” evita que haja uma pressão exagerada sobre os
propósitos a serem alcançados com as pessoas e por intermédio delas. Eu
chamava um dos nossos primeiros grupos de profetas de “Barnabé”, que
significa “filho da consolação”. O grupo teve liberdade de crescer e se
tornar uma equipe de profetas com uma influência cada vez mais profunda e
definida. Tínhamos uma base de treinamento, e também uma base para o
exercício e a prática dos dons.
Propósito da equipe
O propósito deve ser definido e compreendido pela liderança e pelos
membros do grupo. Pode haver vários objetivos. Primeiro, que o grupo seja
uma fonte de inspiração para a igreja, proporcionando oração e
encorajamento. Segundo, liberar um fluxo de profecias simples de edificação,
exortação e conforto. Isso suprirá a igreja de uma plataforma de
encorajamento que capacitará o grupo a conquistar a simpatia da congregação
e também a sentir os problemas das pessoas. Também ajudará os
componentes da equipe a se conhecerem bem, antes que comecem a emergir
as profecias mais diretivas.
Em terceiro lugar, ajudará as pessoas a crescerem na fé e nas
expectativas. Quarto, ajudará também os indivíduos a manterem o foco
ministerial. Quinto, capacitará a liderança a tomar parte em algumas das
atividades da equipe e servirá como elemento catalisador, promovendo um
ambiente de aprovação e de aceitação.
Em sexto lugar, encorajar o grupo a buscar o Senhor e
desenvolver uma vida de oração e de intercessão numa escala mais ampla.
Finalmente, liberar um elemento profético na igreja por meio de uma
equipe capacitada e que tem o apoio e a supervisão dos líderes.
Talvez a igreja precise de vários anos para ter um forte ministério
profético e um fluxo de revelação que traga direção e correção à
congregação. Os líderes precisam estar constantemente redefinindo seus
alvos a fim de que o ministério cresça efetivamente. A todo momento,
trabalhando por intermédio dos líderes das equipes, os pastores podem
influenciar e encorajar todo o programa.
Elementos positivos e negativos em relação à equipe
No lado positivo, a equipe profética ajuda a igreja a visar
necessidades específicas das pessoas, oferecendo bênçãos e encorajamento.
Ela pode ser um agente poderoso de mudança porque se baseará na oração
efetiva, na intercessão e no ato de levar as cargas.
A equipe capacita os pastores a supervisionar o crescimento e o
desenvolvimento do ministério profético confiável. Os membros da equipe
podem ser tratados individualmente e ser retidos quando houver alguma
atitude pendente ou quando for necessária alguma mudança no caráter. Isso
fortalecerá e promoverá o princípio da responsabilidade pessoal desde o
começo. Finalmente, capacitará também a igreja a construir e estabelecer
uma cultura profética.
Nos aspectos negativos, há algumas desvantagens óbvias. Qualquer
equipe está sujeita ao elitismo e à exclusividade. Isso é particularmente
perigoso para os profetas, devido à natureza do seu dom. Outro perigo é a
falta de realismo e a super espiritualidade. As pessoas podem passar dos
limites e fazer tudo errado, às vezes com resultados devastadores. Os
profetas devem estar fundamentados na relevância de um relacionamento
correto com Deus e ter vidas abertas para os comentários das outras
pessoas.
Finalmente, as pessoas podem ser subvertidas pelas próprias
frustrações, paixões e o peso das cargas. Sem uma liderança forte e uma visão
clara, o grupo pode solapar a autoridade dos líderes profetizando suas
opiniões pessoais. A última coisa que nós precisamos na igreja é um bando
de “colunistas” sociais trabalhando nos bastidores.
O trabalho em equipe exige a presença de um líder firme e
talentoso, trabalhando com a bênção dos pastores da igreja. Esta pessoa deve
ter consciência dos perigos potenciais e saber como prevenir o grupo das
várias tentações que surgirão.
Estabeleça algumas regras fundamentais
Para evitar os perigos e garantir que a equipe trabalhará junta de
forma honrosa, os pastores precisam estabelecer desde o início o critério
mediante o qual a equipe irá operar.
As pessoas devem ter envolvimento em todas as atividades da igreja.
Eu creio que a equipe profética deve ser uma atividade de tempo parcial. Os
seus membros devem estar ativamente envolvidos em outras atividades,
usando seus dons em outros ambientes e não somente no ambiente
“especial” da equipe profética.
Isso os colocará sob a autoridade de outras pessoas na igreja. Sob a
liderança dos pastores diretamente, ou dos líderes dos grupos pequenos ou da
equipe na qual estiverem trabalhando: adoração, trabalho com crianças, com
jovens, teatro, etc.
Os pastores devem enfatizar que a equipe de profetas deve ter tanto
interesse no treinamento e no crescimento espiritual quanto tem pela criação
de um ambiente controlado para o desenvolvimento do ministério profético.
Portanto, só devem ser admitidos como membros do grupo as pessoas que
estiverem ativamente envolvidas nos programas gerais da igreja.
O selo de aprovação da liderança é muito importante para a equipe
de profetas. O trabalho do grupo, e o conceito de trabalho em equipe, devem
estar abertos para avaliação, interação e acompanhamento por parte de
pessoas maduras que podem ou não ser parte da liderança da igreja. As
pessoas só deverão se unir à equipe se forem convidadas. Isso será feito
mediante a aprovação prévia dos pastores. Dessa forma, a igreja pode
afastar as pessoas potencialmente problemáticas ou que simplesmente
necessitem de mais tratamento do caráter.
Relacionamentos abertos são essenciais para todos os membros da
equipe de profetas, incluindo os líderes. Os pastores devem evitar a todo
custo a Síndrome do Cavaleiro Solitário. O ideal é que as pessoas estejam
envolvidas em relacionamentos profundos e significativos. Os membros da
equipe de profetas devem ser capazes desenvolver e manter relacionamento
sadio com os demais membros da igreja. Esses relacionamentos devem
incluir acompanhamento e um bom nível de abertura e honestidade no
casamento, família, finanças e trabalho. É claro que pessoas solteiras são
bem-vindas e exigirão um critério diferente de acompanhamento.
É importante não permitir que um indivíduo passe a integrar o grupo
sem que haja progresso significativo no discipulado. As amizades gerais
podem não conter os critérios específicos que buscamos em termos de
responsabilidade. Nós podemos dar a qualquer pessoa a liberdade de falar em
nossa vida. Mas será que todas elas têm maturidade e serão capazes de nos
acompanhar nas verdadeiras mudanças de caráter? Nós não podemos ser
vagos neste ponto.
Nós podemos dizer em termos gerais para algumas pessoas: “Se
você perceber algo em minha vida que você não goste, eu lhe dou
permissão para falar a respeito. E farei o possível para levar a sua opinião
em consideração”. Dependendo de quem você dá tal liberdade, isso pode ser
muito bom.
Entretanto, o que buscamos aqui é algo que exige mais peso e mais
profundidade. É preciso que haja a seguinte definição: “Eu lhe dou o direito
de me fazer qualquer pergunta pessoal sobre qualquer área da minha vida,
sempre que você perceber algo”.
Há uma enorme diferença entre essas duas perspectivas. A
prestação de contas é sempre específica e direta, e deve envolver as pessoas
profundamente no caráter do Senhor. Todos os membros da equipe de
profetas devem entender que qualquer quebra no processo de prestação de
contas comprometerá a sua participação na equipe. Trata-se de uma regra
importante que deve ser cumprida.
As pessoas devem conquistar o direito de participar no ministério.
Portanto, é importante que os pastores tenham plena confiança nas pessoas
que estão adquirindo a liberdade de pronunciar profecias na vida dos outros.
A responsabilidade operacional é um requisito básico na vida de
todos os líderes da igreja. Ela é vital para todos aqueles que se movem
nos dons sobrenaturais, especialmente profecia. Isso envolve registrar as
mensagens e submetê-las a julgamento. A equipe deve trabalhar de forma
responsável, de preferência, em duplas. Os pastores não devem dar aos
indivíduos carta branca para profetizar como quiserem.
Os pastores também devem tomar cuidado para evitar a dinâmica
homem/mulher nas parcerias. A proximidade demasiada entre pessoas de
sexo oposto, mesmo que seja com o propósito de buscar o Senhor, deve ser
evitada.
Para que a equipe profética possa cumprir adequadamente o seu papel,
deve-se evitar a introspecção. A equipe não é um grupo de autoajuda e nem
está criando um ambiente somente para que seus membros sejam
beneficiados. Deve-se evitar qualquer tendência para a subjetividade
quando os membros estiverem reunidos.
Quando houver um problema, deve ser tratado em particular pelo
líder da equipe. Todavia, pode ser que a necessidade seja melhor suprida por
outra fonte fora da equipe.
A equipe de profetas deve ser orientada e instruída a desempenhar o
ministério dentro das regras que foram estabelecidas e com as quais todos
concordaram.
Quando eu comecei a equipe Barnabé, o alvo era proporcionar uma
fonte de encorajamento para a igreja. A equipe não iria se envolver em
questões do ministério pastoral, de libertação ou de aconselhamento. Nós
tínhamos outras pessoas fazendo isso na igreja. Quando alguém da equipe
discernisse algum problema, ele seria levado às pessoas encarregadas de
tratar com aquela questão.
O grupo de profetas só se envolveria mediante a permissão dos
encarregados e com o apoio deles. Assim, toda equipe de profetas deve ter
uma política semelhante como parte do seu ambiente ministerial. Desta
forma nós evitamos interferir no ministério de outras pessoas. Além disso,
evitamos a manipulação por parte de pessoas sem escrúpulos. Ninguém
deseja ter uma equipe de profetas que se oponha ao trabalho da equipe
pastoral. Também não é bom que as perspectivas da liderança sejam
suplantadas – e isso ocorre quando inconscientemente os pastores se opõem à
visão profética. Toda comunicação verbal está sujeita a mal-entendidos e
exageros. Quando houver dúvidas, o melhor é esclarecer!
Estrutura operacional
O pastor deve decidir qual será o padrão da equipe de profetas em sua
igreja. Deve decidir também quem liderará a equipe em termos de
responsabilidade. Em caso de problemas, quem responderá pelo ministério?
Quem tem a visão pela equipe? Pode ser mais de uma pessoa. Na
verdade, é muito bom para o andamento da equipe quando a visão é
compartilhada por um pequeno grupo de pessoas. Quem administrará a
equipe? Todas as equipes ministeriais devem ter um registro de atividades
com datas e um relato dos eventos. Eu sempre encorajo os profetas a manter
algum tipo de registro.
Os grupos de oração devem fazer o mesmo, pois caso contrário não
haverá um controle das orações respondidas, e o Senhor deixa de receber a
glória específica e só receberá o louvor geral.
O pastor deve definir áreas de responsabilidade na equipe, à medida
que as funções são distribuídas. Deve determinar as áreas específicas de
treinamento e desenvolvimento exigidas pelo grupo.
Também é importante que os líderes decidam qual será o nível de
comprometimento dos indivíduos para com o grupo. Algumas pessoas são
muito mais ocupadas do que outras, devido à profissão, família e outras
atividades na própria igreja. De modo geral é bom que não se estabeleça um
padrão rígido de comprometimento de tempo, ao qual todos os integrantes
devam se submeter independente da situação pessoal. Os pastores devem ser
generosos e flexíveis, permitindo envolvimento em tempo integral, parcial
ou ocasional
– assim as pessoas terão muito mais disposição de fazer parte da equipe
durante longos períodos.
O pastor não deve esperar que todos os integrantes da equipe de
profetas tenham o mesmo comprometimento de tempo. Pessoas só devem ser
excluídas com base em problemas de caráter.
O pastor deve permitir que as pessoas estabeleçam individual-
mente seu compromisso com a equipe, principalmente aqueles que estão
envolvidos em outras atividades da igreja. Na equipe Barnabé, nós temos
pessoas que pertencem a outras equipes ministeriais, como adoração e
liderança pastoral. É bom que se estabeleça uma política de tolerância e de
compreensão, a fim de que as pessoas tenham liberdade de ir e vir. E assim
possam crescer em outras áreas de suas vidas. É claro que isso
ocasionalmente criará problemas logísticos, mas provavelmente não será
nada grave que não possa ser solucionado.
É preciso que haja arranjos flexíveis entre todas as equipes
ministeriais em operação na igreja. Os pastores podem negociar com cada
pessoa a sua adesão a um grupo e o desligamento de outro. Muitas vezes
é muito importante quando a igreja oferece aos profetas um período de
descanso a fim de poderem se envolver em outros ministérios. Tudo, porém,
deve ser feito com um senso de unidade e de comunhão.
Tenha objetivos definidos
O que visamos em nossas igrejas e por quê? Qual é o nosso critério
e nosso propósito? Ajuda muito quando a igreja tem um senso definido de
como o Senhor deseja que ela opere, pois isso cria fé e expectativa. Na
Igreja City Gate, nós temos cinco alvos específicos que nos deram uma
considerável influência.
Primeiro, o nosso principal alvo era os obreiros chave da igreja, os
líderes, pessoas envolvidas no ministério, e aquelas pessoas que têm enorme
potencial, mesmo não estando diretamente envolvidas em nenhuma área.
É importante que haja manifestações de agradecimento e de elogio.
Deus valoriza tudo o que nós fazemos para Ele. Os pastores podem anunciar
tempos de confraternização e de bênção na vida das pessoas. Geralmente as
pessoas ficam cansadas na obra. O ministério profético traz
encorajamento e impede que as pessoas se cansem da obra.
A profecia pode confirmar as pessoas em seus dons e ministério,
estabelecendo um novo nível de fé em relação às suas atuais atividades. O
contínuo uso de um dom pode deixá-lo sem fio, como uma faca cega. A
profecia afia e renova a vida das pessoas. Ela também pode abrir novas
portas de oportunidade. Em várias ocasiões, eu indiquei novas áreas de
serviço que o Espírito Santo deseja conferir às pessoas. Quando há palavras
diretivas envolvidas, nós temos de seguir as diretrizes apropriadas
(Capítulos 5 e 10).
A profecia pode ser usada para ampliar o dom das pessoas e também o
seu entendimento de Deus. Ela capacita as pessoas a assumirem novos
desafios, aumentando a sua fé e expandindo seus horizontes.
A profecia também alerta as pessoas chave sobre as atividades do
inimigo. Pessoas influentes na igreja são um alvo constante de Satanás. É
possível estar sob ataque do inimigo sem perceber. O inimigo é astuto e
raramente lança ataques frontais, preferindo se infiltrar através das nossas
defesas. Ele pode usar pessoas ou situações para nos derrubar. Ele tem três
objetivos principais contra os santos: infiltração, desmoralização e
subversão.
Ele tenta se infiltrar nos trabalhos, no nosso relacionamento com
Deus, e de uns com os outros, e nos levar à depressão, frustração e
negativismo. Esses sentimentos enfraquecem a nossa fé e confiança,
causando a desmoralização. Depois vem a indiferença, falta de
sensibilidade e apatia; aí o cristão foi subvertido.
A profecia é uma arma importante que Deus colocou nas nossas mãos em
nossa batalha contra o diabo. A Palavra de Deus em nossos lábios, por meio
da memorização e da citação, é sempre uma ferramenta importante que
podemos usar quando o inimigo ataca a nossa fé. “Está escrito...” é uma
defesa poderosa e uma arma letal contra todas as artimanhas do inimigo. O
dom da profecia é uma ferramenta essencial da igreja para encorajar,
confortar e incentivar os santos.
A profecia nos alerta contra o inimigo. Ela nos dá uma
perspectiva nova e saudável em circunstâncias adversas. Ela nos oferece o
conhecimento e a direção sobre como devemos proceder diante da situação.
Conforme nós aprendemos na história do rei Josafá (2 Cr 20), a palavra
revelada das Escrituras, nos dá estratégia, e a profecia proporciona as táticas
de combate. Naquela história o inimigo foi descoberto, identificado e um
plano de batalha foi elaborado por meio da palavra profética de Jaaziel.
A mensagem profética para pessoas chave na igreja fará com que
elas continuem motivadas, iluminadas e fortalecidas na fé e na direção de
Deus. pessoas chave precisam do apoio do pastor. Quando elas tropeçam
ou caem, isso pode causar um duro golpe na igreja, diminuindo o ânimo e a
fé geral a um ponto onde muitas vezes a recuperação é demorada e
complicada. A profecia ajuda essas pessoas a manterem a visão e faz com que
cresçam e melhorem. A profecia torna pessoas competentes em campeãs.
Faz com que as pessoas busquem alvos maiores. Por isso, as pessoas chave
na igreja são alvos fundamentais do ministério profético.
Segundo, o grupo alvo que nós colocamos como prioridade era o
segundo escalão de pessoas com potencial na igreja. Nós estávamos
procurando deliberadamente entre as pessoas recém- chegadas à
congregação. Os profetas estão sempre examinando o potencial das pessoas
e, como equipe, nós queríamos que houvesse na igreja um rico fluxo de
encorajamento e apoio.
Com muita frequência as pessoas com potencial não estão na linha
de frente na guerra entre Deus e Satanás. Elas estão assumindo
responsabilidades cada vez maiores, crescendo e amadurecendo,
preparando-se para entrar na brecha. Elas serão alvos de ataques do inimigo
quando ainda são inexperientes em termos de batalha espiritual. A profecia
será necessária para fortalecê-las em sua luta pessoal contra o inimigo.
A profecia libera a aprovação e a bênção de Deus. Ela pode ser
usada para confirmar áreas de atividade e utilidade no Corpo de Cristo. A
profecia serve para anunciar coisas novas, tempos de bênção e portas
abertas para serviço. Ela também serve para enfatizar a necessidade de
bons relacionamentos, responsabilidade pessoal e discipulado. Há princípios
ministeriais fundamentais onde a profecia pode acompanhar o ensino e o
treinamento. Nesse nível a igreja precisa também de relacionamento
pessoal mais íntimo com o Senhor.
A profecia é uma forma maravilhosa de desenvolver, aguçar e preparar as
pessoas para o futuro serviço. O ministério profético já foi usado muitas
vezes para cultivar um plano de ação para desenvolver um objetivo ou
direção em particular. A equipe profética é uma fonte de inspiração para a
liderança e para a igreja em geral. Visando as pessoas, orando por elas e
liberando palavras de bênção e de encorajamento, a profecia se torna uma
parte essencial do processo de crescimento da igreja. Nós sempre devemos
garantir que os líderes tenham uma cópia dos pronunciamentos proféticos e
que tenham conhecimento dos alvos específicos de oração da equipe de
profetas.
Terceiro, os pastores precisam olhar para aquelas pessoas que
estão enfrentando lutas na igreja. Elas podem ser pessoas desempregadas,
enfermas, com problemas emocionais, mentais ou espirituais. Podem ser
pessoas recém-chegadas ou aquelas que já têm uma história na congregação.
Tudo aquilo que os profetas recebem da parte de Deus
deve ser checado e compartilhado com a liderança ou
com os supervisores responsáveis por essas pessoas.
O profeta não pode interferir no aconselhamento. Ninguém deseja
que mensagens proféticas bem intencionadas sejam motivo de confusão para
as pessoas por interferir em questões de disciplina ou de aconselhamento. As
pessoas têm uma incrível habilidade de manipular palavras e de dar às
profecias a interpretação que mais lhes convém.
A profecia deve se alinhar com o acompanhamento pastoral que está
sendo ministrado. O profeta não deve fazer ajustes na sua mensagem para
que ela se encaixe nas perspectivas pastorais. Eu já vi muitos casos onde os
pastores estavam sendo duros demais com as pessoas ou até mesmo
legalistas. A mensagem profética nesses casos foi usada para que os
pastores tivessem uma visão do coração de Deus e fizessem alterações em
sua conduta. A mensagem transmitida para o indivíduo que está sob cuidado
pastoral especial traz reconciliação, restauração e liberação.
Quando a profecia vem numa situação, temos de evitar querer mudar
as coisas com as nossas próprias mãos. Devemos permitir que o Espírito
interfira nas nossas opiniões e traga as mudanças necessárias na nossa visão
geral da situação.
Normalmente as profecias dirigidas às pessoas que estão em
dificuldade alcança vários objetivos diferentes. Ela interrompe o processo
de afastamento do Senhor, de outras pessoas, e da fé ativa. Ela proporciona
esperança a pessoas que estão confusas, desesperadas e que se sentem
inúteis. Lembremos que a esperança cristã é sempre definida como “uma
expectativa alegre e confiante na bondade de Deus”.
A profecia busca reaproximar as pessoas do Deus que é todo consolo
e cuidado. Ela traz encorajamento e consolo, e reanima as pessoas. E
oferece um renovo na fé. Ela proporciona uma segurança no amor e na
graça de Deus. Ela enfatiza a necessidade de arrependimento e de se fazer
acertos onde forem necessários. Ela aponta para o ministério do Espírito
Santo, despertando a atenção do indivíduo para o sangue de Jesus, levando-o
ao pé da cruz em busca de perdão.
A profecia enfatiza o poder e a majestade de Deus. Ela fala sobre o
milagre da intervenção divina. Ela auxilia a equipe pastoral na reabilitação
e restauração das pessoas problemáticas.
A equipe profética e a equipe pastoral devem estar num
relacionamento de parceria que traga um efeito dinâmico nas situações
difíceis. Um machado pode ser colocado na raiz de uma árvore que parecia
endurecida e não respondia aos conselhos ou à oração. O profeta deve
permitir que a equipe pastoral participe da decisão sobre como a mensagem
profética será administrada. Uma mensagem verdadeira, mas pronunciada da
maneira errada, ou na hora errada, pode causar danos graves. Temos de ser
sábios, construir parcerias e criar um ambiente de confiança e respeito,
entendendo os princípios de autoridade/submissão em cada situação.
Haverá momentos em que o profeta deverá se submeter à equipe
pastoral em relação ao tempo e à aplicação da sua profecia. Em outras
ocasiões os papéis poderão se inverter e a equipe pastoral seguirá atrás do
profeta. O mais importante é que o objetivo seja o bem das pessoas. É
importante que todos entendam como os ministérios operam juntos. Isso
ajuda na saúde da igreja.
Em quarto lugar, a equipe de profetas pode proporcionar um contra-
ataque efetivo contra as obras do diabo em toda a igreja. Ministérios desse
tipo são gerados na oração, jejum, intercessão e entendimento. Em todos os
níveis do trabalho da igreja, nós temos de formar pessoas sábias que
identificam os esquemas do maligno.
É vital que haja na igreja pessoas com dom de discernimento de
espíritos, que tenham a mesma perspectiva de Deus do mundo invisível.
Nesse caso a equipe profética faz o trabalho de atalaia, advertindo a igreja
sobre os ataques do inimigo. O papel do atalaia (Ez 33) é: “[Ver] que a
espada vem sobre a terra, tocar a trombeta e avisar o povo”. Quer dizer,
“ouvir a palavra que sai da boca de Deus e advertir o povo”.
Há momentos na vida da igreja em que nós temos de identificar as
pessoas que estão sob ataque pesado do inimigo, e nos colocar ao lado delas,
liberando o conselho profético do Senhor. Outras vezes temos de
identificar os ataques malignos contra a igreja e advertir o grupo para estar
vigilante. Nossa luta não é contra carne e sangue. Não devemos nos engajar
em batalhas pessoais dentro do rebanho.
O inimigo tenta trazer divisão e tira proveito de mal-entendido,
problemas de comunicação, e diferenças de opinião, para semear a discórdia.
Direta ou indiretamente, ele busca a destruição de duas coisas: a liderança e
a visão.
Sem uma liderança estável a igreja entra num estado de anarquia,
onde cada um faz o que perece certo aos próprios olhos. Sem visão as
pessoas perecem. Elas entram em estagnação. E no final não alcançam
nada. Qualquer ofensiva do inimigo contra a liderança e a visão é um
ataque contra o estado de espírito, a unidade e a força da igreja.
Infiltração, desmoralização e subversão são táticas fundamentais do diabo.
A profecia nos ajuda na defesa.
Em tempos de crise, dificuldade, desentendimentos e oposição é
preciso que os ouvidos do profeta estejam sintonizados em Deus. A voz
profética também deve ser encorajada em tempos de adoração e oração. A
profecia sempre revela a majestade e a soberania de Deus. Ela declara sua
grandeza e sua glória. Ela revela que nós podemos confiar plenamente em
Deus. Além disso, ela denuncia as atividades do inimigo.
Em tempos de adversidade, o ministério profético mostra aquilo que
Deus está falando agora, mas também age como um lembrete daquilo que
Deus já falou em outras ocasiões. O ministério profético é o guardião de tudo
o que Deus falou, trazendo essas palavras à atenção das pessoas nos
momentos de necessidade. Ao fazer isso, o profeta está renovando a resposta
da igreja à Palavra de Deus.
Finalmente, a equipe profética faz um enorme investimento no
nascimento e no crescimento da profecia corporativa. Por meio da ação da
equipe, nós veremos o dom da profecia liberado nos grupos nos lares, nas
reuniões públicas, na liderança, nas outras equipes, nos grupos de oração e
na vida geral da igreja.
Por meio da profecia, podemos observar as pessoas sendo
estabelecidas, fortalecidas e capacitadas. Veremos as pessoas crescendo nos
seus relacionamentos, e na unidade. A grandeza de Deus será exaltada em
nossos corações. A profecia corporativa dará aos profetas o reconhecimento
necessário para o exercício do ministério. A igreja que realmente apoia o
ministério profético, dando-lhe boa liderança e suporte, sempre terá pessoas
com visão e que vivem de acordo com aquilo que Deus está dizendo e
fazendo.
Uma equipe de profetas com os objetivos bem definidos causará um
impacto único na obra de Deus nas igrejas locais.
Equipe com dons e ministério
Dentro de uma equipe de profetas haverá uma variedade de
administrações proféticas. A igreja precisa que haja variedade de dons e um
entendimento prático dos diferentes elementos da profecia.
Algumas pessoas recebem profecias claras e significativas que
iniciam mudanças. Essas mensagens proporcionam a motivação para a
igreja colocar coisas em movimento e faz com que barreiras sejam
derrubadas. Elas podem vir na forma de palavra de conhecimento, e se tornar
diretiva. Elas têm como alvo a tradição estabelecida, e são afirmativas.
Algumas pessoas trazem profecias de confirmação que têm um forte
elemento de testemunho e de fortalecimento. Esse tipo de profecia traz um
senso de importância às situações. Ela se baseia em palavras pronunciadas
anteriormente e pode ter um entendimento e conhecimento das pessoas,
porque busca destacar a progressão histórica de suas vidas e mostra a
transição das coisas antigas para as coisas novas. Esse elemento de verdade
progressiva é uma parte importante da confirmação profética e não deve ser
subestimada.
A afirmação profética também é uma parte importante do
exercício do dom. Os profetas precisam liberar a aprovação de Deus na vida
das pessoas. A profecia deve restaurar a dignidade e o respeito próprio das
pessoas. O Senhor sempre busca honrar as pessoas e fortalecer sua
autoestima. Há profetas que têm sensibilidade para com a palavra, outros têm
sensibilidade para com a situação, e ainda há outros que têm sensibilidade
para com o indivíduo.
Outro elemento importante da profecia é o estabelecimento, ou seja,
ajudar as pessoas a entender o sentido de acontecimentos passados,
percebendo como eles se aplicam ao presente, em relação aos propósitos de
Deus, harmonizando os eventos com os planos divinos. A igreja precisa de
pessoas capazes de aplicar a Palavra de Deus às realidades atuais. Muitas
pessoas têm aquilo que só pode ser descrito como “caminhar nas nuvens”
quando estão profetizando. É importante ter na equipe profética pessoas que
possam trazer as mensagens para a realidade, de modo que a igreja possa
dar uma resposta concreta e efetiva.
Por isso é muito bom quando os membros da equipe trabalham juntos,
pois é possível reunir vários aspectos da profecia, de forma coerente. Essa
habilidade de resumir e dar conselho é um aspecto importante da equipe de
profetas. Os profetas podem ter uma visão ampla do panorama, e colocá-la
numa perspectiva concisa. E ao mesmo tempo destacar os pontos principais,
onde haja necessidade de ação.
Também é preciso que haja uma forte influência interpretativa
dentro da equipe profética. Muitas mensagens proféticas têm sua origem
em visões, sonhos, revelações e impressões. Esse dom de interpretação
capacitará a igreja a reunir todos os elementos da profecia, buscando
elementos fundamentais que servirão como chaves na vida do indivíduo,
liberando a provisão de Deus e abrindo portas para futuras oportunidades.
A igreja necessita também de mensagens proféticas que em sua
natureza sejam especificamente mensagens de fortalecimento. Muitas vezes
nas Escrituras nós somos exortados a “não temer”, “nos aquietar” e “nos
fortalecer no Senhor”. Pode ser que esse tipo de profecia não represente
uma palavra nova, mas seja somente a repetição de uma palavra anterior.
Nesse caso, a igreja deve se concentrar no resultado final. A pessoa precisa
de um influxo de força e poder para enfrentar uma situação particular.
Possivelmente deverá estar sob algum tipo de ataque, a ponto de embarcar
numa nova fase da vida, ou está apenas cansada ou desanimada.
Qualquer que seja a razão, não é somente uma questão de
compartilhar uma profecia, mas também de liberar a ação do Espírito
Santo. É preciso que a força do Senhor seja liberada, para que a pessoa
assuma uma atitude diferente.
Finalmente, também é preciso que haja pessoas que selem a
profecia por meio da oração, assumindo autoridade sobre o inimigo onde for
necessário e liberando a presença de Deus. É importante que depois de
receber a mensagem profética, nós oremos aplicando aquela palavra na vida
da pessoa, a fim de que ela tome posse.
Nós temos de lembrar que uma figura profética, por mais forte que
seja, não pode criar um ambiente profético. É preciso uma equipe
comprometida com os princípios do trabalho, responsável com os líderes da
igreja, para que se possa construir um ambiente profético estável e maduro.
Somente um bom ambiente poderá produzir as marcas de um povo
profético que tenha todas as características da visão, poder, perseverança,
força, mente aberta e um coração coletivo disposto a cumprir os propósitos
de Deus.
Um possível modelo
Na Igreja City Gate, nós construímos uma base sólida. A primeira
reunião da primeira semana do mês é de oração e adoração. Nessa reunião
nós visamos pessoas específicas. Alguns membros da equipe profética
chegam com cargas especiais por pessoas específicas. Outros ficam
felizes quando recebem a indicação de uma pessoa. Nas duas semanas
seguintes a equipe profética busca o Senhor e ora.
Alguns membros da equipe fazem parceria com os membros de outras
equipes para orar juntos, enquanto outros ficam circulando pelas várias
equipes. O número de alvos de oração do mês depende do tamanho da
equipe. Nós gostamos de ter dois ou três membros da equipe orando por cada
alvo.
Esses membros se reúnem da forma mais conveniente, durante o dia,
nos horários de refeições, de manhã cedo, ou à noite, para orar e
compartilhar. Nesse tempo eles compartilham ideias, textos bíblicos, visões,
etc., anotando tudo.
Na segunda reunião da terceira semana, toda a equipe se reúne à noite. Este é
um evento tipo oficina, destinado a delinear a mensagem profética. Nós
então pegamos cada pessoa alvo, compartilhamos nossos pensamentos e
começamos a delinear a mensagem profética que será comunicada a ela. É
empolgante ver os membros da equipe compartilhando e se surpreendendo ao
ver que todos receberam palavras similares. É maravilhoso ver como a
expectativa e a fé vão crescendo!
Nós começamos a entender que tipo de mensagem é, escolher o
método de pronunciamento, e conhecer o objetivo que o Espírito Santo
deseja alcançar. Nesse ponto, nós escolhemos a pessoa mais indicada
da equipe para compartilhar a mensagem e lhe damos autorização para
que faça isso. Geralmente, aqueles que receberam as palavras
compartilham a profecia. Ocasionalmente, porém, pode ser melhor que um
membro mais maduro da equipe faça isso. Depende do tipo de mensagem.
Nesse caso, a pessoa que originalmente recebeu as palavras deve ir junto
para observar o método de pronunciamento, como parte do seu treinamento.
Nessa reunião de oficina nós designamos as datas apropriadas nas
duas semanas seguintes para que a profecia seja entregue e a equipe possa
receber o retorno. Inevitavelmente há situações que não se encaixam no
esquema mensal. Pode ser impossível conseguir a confirmação e aprovação
para as profecias diretivas. Às vezes é difícil, em termos logísticos, reunir as
pessoas dentro de um limite de tempo.
É importante que a igreja não fique muito restrita aos
esquemas mensais. O mais importante é cumprir corretamente o ministério e
observar os procedimentos adequados concernentes a responsabilidade e
prática.
Registre as mensagens
Na noite da oficina profética, os componentes do grupo devem anotar
as linhas gerais da mensagem que será compartilhada. Às vezes é adequado
escrever a mensagem num cartão, ou enviá-la em forma de carta, para a
pessoa, juntamente com uma nota onde a equipe fala do seu interesse e
orações.
Quando a mensagem for entregue verbalmente, é bom que haja um
gravador ou uma pessoa que faça o papel de escriba. Os líderes devem
providenciar para que a equipe receba uma cópia assim que for possível.
Quando for possível, os líderes também devem ter cópias.
A equipe profética deve manter um diário que contenha o nome
das pessoas, a data, a transcrição da profecia e um resumo dos procedimentos
que se seguiram.
Resposta/Acompanhamento
Os líderes devem garantir que os destinatários entendam a profecia,
para que não haja confusão. Eles têm algum comentário inicial? Há alguma
ação que deve ser colocada em prática? Os líderes devem aproveitar para dar
os conselhos apropriados, encorajando as pessoas a compartilhar a profecia
com outros, principalmente com seus líderes. Os profetas devem orar com
os destinatários, ajudando-os a identificar qualquer área onde precisarão de
ajuda e de apoio.
Nos meses seguintes, os profetas devem estar disponíveis, e
observar se as pessoas que receberam profecias estão firmes na palavra, a
fim de que ela não se perca sob pressão. Eles devem checar o progresso de
cada profecia meses depois do evento. Usando o diário da equipe, podem
desenvolver um sistema de acompanhamento, para observar o que está
acontecendo com os antigos destinatários de profecias.
Duas ou três vezes por ano, a igreja pode realizar um mês de
acompanhamento, onde não haja novas profecias. Durante esse período os
líderes podem dar acompanhamento às pessoas que receberam profecias e
ficar à disposição delas para oração, conselho ou apoio.
Isso ajudará a igreja a dar continuidade às profecias antigas, no
tempo oportuno. Eu creio na profecia progressiva. Dar acompanhamento às
profecias na igreja cria um clima de aceitação, propício para as respostas
afirmativas. Nesse ambiente as pessoas não abandonam as profecias e há
uma porcentagem muito maior de cumprimento.

Cultive expectativa na igreja


O pastor deve ser criativo, sensível e dinâmico. Deve promover os
dons na congregação! Mantenha as equipes proféticas trabalhando juntas e
com um profundo senso de expectativa. Esse sentimento será transmitido às
outras pessoas em cada atividade. Um ambiente sobrenatural cria fé e
confiança. Garanta que a equipe de profetas seja capaz de responder à equipe
da liderança quando esta precisar dos seus serviços.
Continue a desenvolver a equipe profética por meio do discipulado,
treinamento e acompanhamento. Obtenha ajuda externa convidando profetas
e pregadores experientes. Crie em todos os profetas um espírito de servo.
A fim de aprofundar o nível dos dons e melhorar a qualidade do
ministério nos grupos, alguns profetas precisarão de cuidados especiais. Eu
já recebi várias pessoas com enorme potencial nas Escolas de Profecia.
Promova uma cultura profética
Tudo o que nós fazemos como equipe visa criar uma atmosfera na
igreja que permita cultivar o dom de profecia. Podemos ensinar as pessoas
por meio do exemplo sobre como lidar com profecia, e evitar o que
impede o cumprimento. Podemos ensiná-las como julgar, avaliar, e manter
um procedimento de aceitação geral que segue as diretrizes corretas.
Os pastores devem favorecer ao ministério profético a construção de
parcerias com a liderança. Devem ensinar as pessoas sobre como responder
às profecias. Devem dar e receber apreciação e acompanhamento. Devem
ser humildes o suficiente para receber correção com alegria e gratidão.
Em todos os níveis, nós precisamos promover o dom e o ministério
profético, sendo um bom exemplo para o rebanho. O objetivo é aumentar
o nível de conscientização, entendimento e cooperação com o espírito
profético.
A equipe de profetas deve ser uma ferramenta maravilhosa no
crescimento e desenvolvimento do povo de Deus. Assim como a igreja
cresce e experimenta mudanças, o mesmo deve ocorrer com a equipe
profética. Sempre deve haver épocas de crescimento e mudança enquanto as
pessoas se movem e novos profetas são levantados.
A equipe deve estar em constante processo de mudança e
desenvolvimento. Ela será o agente de grandes bênçãos para a igreja. Seu
objetivo sempre deve ser dar às pessoas poder, estatura, fé e flexibilidade –
criar um povo que conhece a Deus e que é capaz de ser tocado por Ele e ser
usado por Ele no ministério.
Uma equipe profética que tenha disposição de ser exemplo de tudo o
que é bom no ministério, e dos procedimentos corretos no exercício do dom,
será um instrumento poderoso na edificação do Reino de Deus e no
estabelecimento das igrejas locais.
Se você estiver interessado em obter informações sobre a Escola
de Profecia ou sobre as outras iniciativas desenvolvidas pelo Ministério
Cristãos Unidos, por favor escreva para:

Graham Cooke – Diretor


Ministérios Cristãos Unidos
P.O. Box 91
Southampton SO15 5ZE
Reino Unido

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